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De Londres o Sol brilha

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RESENHAS

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DE LONDRES O SOL BRILHA CONHEÇA A ANCHOR THE SUN, BANDA QUE REÚNE DOIS BRASILEIROS E UM GALÊS NA CAPITAL INGLESA

Durante uma sessão na Abbey Road, Lilly J. e sua banda se colocaram a tarefa impossível de mostrar que podiam ancorar o Sol. Nenhum lugar no mundo é mais adequado para se fazer o impossível com música, foi naquelas salas que nossos maiores ídolos nos levaram dos corações partidos às imagens abstratas em arranjos e timbres maravilhosos. Lilly, Bruno e Spud, três expatriados atravessaram a faixa de pedestres mais fotografada do mundo para dar vida às suas criações no mais mitológico laboratório musical que existe.

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Anchor the Sun nasceu como Lilly J. e sua banda quando a jovem brasileira, formada em Design e Artes do Som na Universidade de Londres e que trabalhava como tour manager na Marshall Arts, começou a compor canções para uma banda em seus momentos de solidão em trens e quartos de hotel. “Eu via aqueles artistas que eu acompanhava, eles no palco e eu nos bastidores, e sentia que estava no lugar errado” conta Lilly J.

A relação de Lilly com a música começou ainda pequena, aos 3 anos, fazendo aulas de musicalização, depois piano, até que, aos 10 anos, ela decidiu que queria ser igual ao David Gilmour e começou a estudar guitarra elétrica. Seu irmão mais velho havia estudado violão clássico e abandonado, ela achava que aquilo devia ser chato e insistiu, ela queria tocar guitarra! As primeiras composições não demoraram a aparecer. Ao longo dos anos atravessou várias fases, copiando seus ídolos ao escrever canções: “Quando tive uma fase Johnny Cash, eu escrevi canções que as pessoas ouviam e juravam que eram dele”. Nessa dedicação, seguiu o rumo da música até o vestibular, quando decidiu fazer audiovisual pensando que isso poderia dar algum suporte técnico à música. Desiludida com o curso, mudou-se para Londres, onde havia o curso mais adequado ao que ela queria.

Certo dia, em uma comunidade virtual de brasileiros que vivem em Londres, um cara pediu ajuda para a revisão de seu currículo. Era de Bruno, músico e produtor experiente, que já havia trabalhado com gente como os Titãs e Ultraje a Rigor. Não apenas ficaram amigos, como começaram a colaborar.

O galês Spud chegou por uma rede social agregadora de músicos, a Musicians Landing, formando uma banda de quatro elementos: voz, guitarra, baixo e bateria. Assim, ao subir no palco e anunciar pela primeira vez Lilly J. e sua banda, ela sentiu que aquilo não refletia a realidade daquele grupo, ainda que fosse a frontwoman. Eles tinham um processo de criação comum e eram uma banda, nascia assim a Anchor the Sun. “Ao discutir algo que tínhamos em comum, che

gamos à conclusão de que nós três sentíamos falta do sol e da natureza de nossos países. A partir daí, eu analisei o tema e a imagem contraditória entre âncora e sol. Um está no céu, o outro no mar. Um na luz, outro na escuridão. Um é vida, esperança, felicidade, iluminação, emoção. O outro arrasta, atrasa, é prisão, peso, escuridão. Os membros da banda, e, consequentemente, a música, trazem consigo a questão da angústia do mundo, as dificuldades que a vida impõe. Daí o conceito de ancorar o sol - é ambicioso e impossível. Um desejo de ter controle sobre o universo, a antítese da pequenez do ser humano e a grandeza de ideias e desejos - a noção de que devemos buscar a perfeição, mesmo sabendo que isso nunca será alcançado. O conceito é que, em um único ser, há progresso, avanço e, também, atraso, imobilidade.”

Do primeiro show da banda, no The Monarch, para os estúdios da Abbey Road, onde ela cantou no mesmo microfone que um dia foi

designado para Lady Gaga e David Bowie (que pressão!) , foi feito um plano para tocar em diversas casas, lançar singles e o EP antes da temporada de festivais na Europa. Mas veio a pandemia do Corona Vírus. Neste momento a banda trabalha na produção das faixas gravadas, com calma, enquanto se replaneja.

As faixas “I Don’t Know”, que tem forte relação com o espírito da banda de paradoxos e antíteses, e “Not Enough”, uma belíssima canção de coração partido com uma guitarra que soa como John Frusciante em suas baladas, já foram lançadas. Ainda que sejam faixas de estreia, ainda que seja um trabalho independente, sobra experiência para a banda, os arranjos são bem cuidados e a produção soa orgânica, sem exageros de produção. Na medida certa, tem a vivacidade das gravações iniciais e surpreendentes de um artista com produção represada, mas também com o cuidado que os iniciantes raramente têm. É uma combinação comum em álbuns-solo de artistas que saem de bandas ou daqueles que recebem a atenção de um dinossauro pela sorte do destino. Anchor the Sun é um ponto fora da curva, uma ovelha negra.

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