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COZINHA
HISTÓRIAS DO BAIXO BRASILEIRO O baixista curitibano Glauco Solter acaba de lançar Levadas Brasileiras (Ás Editorial), livro em que conta a história do contrabaixo no Brasil, desde o início do século 20 até agora, passando por todos os estilos. Com 216 páginas, o livro tem o prefácio do trombonista Raul de Souza, a revisão técnica das partituras do clarinetista, arranjador e professor Sérgio Albach e ilustrações de Luiz Antonio Solda. Como material adicional há um vídeo para cada partitura que pode ser acessado através de um QR Code impresso. “Após mais de trinta anos de experiência como baixista resolvi escrever um método. Percebi que havia muito pouco ou quase nenhum material sobre os baixistas que fizeram história e suas ‘levadas’ imortais. No entanto eu queria fugir do formato catálogo e criei um enredo para este personagem, o baixo brasileiro, passando pelas mãos de grandes mestres desde seu surgimento na Música Popular Brasileira até os dias de hoje”, resume o autor. À venda por R$ 39,90.
3 APPS SELECIONADOS
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Se você ainda está em dúvida se o instrumento é para você, vale começar com aplicativos que ensinam ao menos as primeiras levadas.
Bass Guitar Tutor Um dos mais fáceis e intuititovs para quem está começando. O app ensina os principais fundamentos, que você pode pular se estiver muito fácil. Baixistas mais experientes podem usar a ferramenta para revisar acordes e escalas. Disponível para iOS e Android, com mais recursos por US$ 2,99.
Learn To Play Bass Guitar O app reúne mais de 70 lições que ajudam quem quer aprender os principais fundamentos do instrumento. Com animações em cada exercício, é bem visual e ainda conta com ensinamentos que vão do funk ao jazz. Gratuito para iOS e Android.
Real Bass Este aplicativo também converte a tela do dispositivo em um baixo acústico ou elétrico simulado. O Real Bass vem com amostras realistas de diferentes tipos e estilos. Gratuito para iOS e Andoid na versão com anúncios.
HORA DE AJUDAR
Mesmo antes de a D’Addario, empresa líder mundial em acessórios musicais, ser forçada a fechar suas fábricas por conta do avanço da pandemia do coronavírus, eles começaram a criar uma maneira de usar seus conhecimentos de engenharia e fabricação para ajudar a aliviar a terrível falta de equipamentos de proteção para a cidade de Nova York e para os profissionais de saúde dos Estados Unidos. Liderada pelo diretor de inovação, Jim D’Addario, a equipe de engenharia descobriu que poderia fabricar protetores faciais usando o filme transparente de seus populares cabeçotes de bateria Evans G2. Trabalhando dia e noite, três dias depois, a equipe teve seu primeiro protótipo. E como a empresa já produz produtos de fisioterapia através de sua marca Dynatomy aprovada pela FDA, eles conseguiram trabalhar rapidamente em soluções de fabricação e distribuição. “É nossa intenção fabricar esses escudos pelo tempo que for necessário em Nova York ou em qualquer lugar do mundo. Assistimos aos incríveis esforços de nossos profissionais de saúde e serviços essenciais em todo o mundo com grande admiração. Embora não possamos igualar os esforços incomensuráveis desses heróis altruístas, sentimos uma imensa responsabilidade de fazer nossa parte para superar a crise do COVID-19”, declarou Jim D’Addario.
PARA FACILITAR MUITO A VIDA
Com a maioria dos bateristas afiando suas costeletas em casa durante esse bloqueio global, a Gruv Gear avança com produtos inovadores, preparando os músicos para viajar novamente. O novo sistema VELOC One-Trip Drum Transport permite que os bateristas carreguem um kit de 5 peças em uma única viagem. O VELOC totalmente integrado consiste em um carrinho de alumínio leve com um engenhoso trilho magnético no qual as caixas se prendem e empilham verticalmente, criando um sistema semelhante a uma prateleira com aberturas frontais convenientes para cada caixa. Isso significa que os estojos podem ser deixados no carrinho, permitindo que os bateristas montem e desmontem com muito mais agilidade. Bateristas, roadies e técnicos de bateria podem manobrar facilmente através de portas, corredores estreitos e estacionamentos movimentados usando apenas uma mão.
NA LEVADA
Vindo de uma família ligada a música, André Dea se interessou pela bateria lá pelos anos 2000. “Meus avós tocavam violão e sanfona, e meu pai tocava violão”, conta o músico. Aos 14 anos, o baterista se inspirava em artistas como Travis Barker - “o Blink-182 tinha acabado de lançar o Enema of the State e estava no seu auge” - e em grandes nomes como Stewart Coperland, John Bonham e Dave Grohl.
“Por muito tempo eu senti que queria imitar outros artistas. Hoje em dia, percebo muito mais um jeito meu de tocar. Antigamente, eu ouvia uma música tentava pensar o que tal baterista faria, hoje em dia eu realmente tento encontrar um caminho que seja meu”, conta o paranaense, que afirma ter aprendido bastante com o tempo, tanto em matéria de “tocabilidade” quanto em expressão.
Antes de se tornar parte integrante de uma banda, André trabalhou por um tempo fazendo trabalho freelancer como músico de sessão e de palco. “Quando você toca com um artista que não é do seu projeto principal, você está ali pra resolver o problema dele da melhor maneira”. Segundo ele, esta foi uma boa forma de aprender os limites do instrumento e como se inserir na música de uma forma artística e criativa.
Em seu currículo estão nomes como Sugar Kane, Vespas Mandarinas e, mais recentemente, Supercombo. “Sugar Kane foi a primeira banda grande com quem toquei”, relembra, dizendo que recebeu um convite por Orkut, em 2006, do próprio frontman do grupo, Alexandre Capilé. “Eles entraram em hiato nessa época e, quando voltaram, o antigo baterista Renê já não queria seguir tocando e me indicou para entrar em seu lugar”. Foi no mesmo ano que André se mudou para São Paulo para trabalhar em seu primeiro álbum com o Sugar Kane: “a gente gravou todo o instrumental ao vivo no estúdio, se alguém errasse uma nota teríamos que gravar tudo de novo, então a gente ensaiou bastante antes disso”.
André foi recentemente efetivado como baterista fixo do Supercombo e já gravou no estúdio com a banda: “o Léo e o Pedro (integrantes do Supercombo) também tocam bateria muito bem, então eles sempre me dão umas ideias criativas para usar”, conta o baterista. O músico também afirma que, quando está trabalhando em sessões, gosta de gravar primeiro as músicas mais fáceis e deixar as mais cansativas pro meio do dia para que as coisas possam fluir melhor e mais rápido.
Nas redes sociais, Deá posta frequentemente drumcams em suas redes sociais: vídeos nos quais ele se filma tocando as músicas dos seus diferentes projetos. Ao gravar-se tocando músicas do Supercombo, tanto em estúdio quanto ao vivo, o baterista achou uma maneira criativa de se apresentar pros fãs da banda. “Muita gente tem dúvida de como tocar as músicas. É como uma aula rápida. A resposta que eu tive disso foi ótima, a galera gostou muito”. O artista chegou até a gravar um vídeo especial para a marca de baquetas Vic Firth e afirma: “para você ser colocado no YouTube deles não é tão fácil. Eles têm que pedir, você tem que chamar a atenção deles”.
Por último, o baterista aconselha os músicos: “o mais importante de tudo é se sentir bem tocando bem. Antes de pensar qualquer coisa do tipo: quero tocar na banda tal, você precisa pensar em ser um instrumentista bom, que esteja feliz com a sua performance”.
Você pode conferir o trabalho de André Dea em bandas como Sugar Kane, Violet Soda e Supercombo nas principais plataformas de streaming. Não deixe de conferir também suas drumcams em suas redes sociais. É SOBRE COLOCAR O Por Ian Sniesko CORAÇÃO NA PONTA DA BAQUETA
Conversamos com o baterista André
Dea, integrante das bandas Sugar Kane e Supercombo, sobre sua história e seu amor pelo instrumento. PONTA DA BAQUETA
De fenômeno da internet aos palcos do RiR, conheça Júnior Bass Groovador ALTO ASTRAL, FORRÓ E GROOVE
Por que você paga internet? Não é para assistir milhares de filmes, ouvir centenas de álbuns, visitar dezenas de lojas ou qualquer outra solução de problemas que você não tinha antes dela. Você viveria muito bem sem internet até aí. Você paga a internet porque sabe que, um dia, alguém vai te mandar um vídeo de um gordinho de regata preta e bermuda, tocando “Smells Like a Teen Spirit” em ritmo de forró no baixo e dançando como se não houvesse amanhã. E será incrível!
Nós amamos a internet porque, com ela, temos acesso a coisas que não teríamos sem. E Junior Bass Groovador é um alguém que dificilmente chegaria ao palco do Rock in Rio se não fosse pela internet. Talvez um amigo, ao chegar de Natal, te falaria sobre um músico talentosíssimo, cheio de groove, que conseguia transformar qualquer tema em forró e que fazia isso dançando da forma mais divertida possível. E você acharia engraçado e não acreditaria inteiramente. Talvez alguém, nos tempos da VHS, teria um trecho filmado, mas você não sacaria que ele realmente era um músico incrível.
Aos puristas, damos nosso abraço no
Groovador, como fez Dave Ghrol. A música também é diversão e não convém nos levarmos a sério demais.
Conte-nos um pouco sobre sua trajetória e história com a música: como começou a tocar, por quais bandas passou etc.
Comecei a tocar na igreja. Conheci o contrabaixo foi na Paróquia Santa Maria Mãe, onde formamos a primeira banda, que se chamava Grupo Renascer, no bairro em que eu moro. Depois que fui expulso da igreja devido a minha forma de tocar e de me vestir, comecei a me profissionalizar na música. As primeiras bandas foram Decreto Final, Ponto de Fuga, Natal Samba, Cafajestes do Forró e por aí vai.
Você sempre tocou forró ou também já tocou outros gêneros?
Na realidade eu comecei tocando rock. Depois fui para bandas de pagode, forró, axé e banda baile. Aqui em Natal é muito difícil você só tocar um gênero, por isso passei por vários gêneros e estilos musicais.
Quais são as suas principais influências no baixo?
Sempre gostei de Michael Jackson. Desde criança eu amo misturar um pouco de rock com forró, mas eu comecei
apreciar os VS de teclado, essa mistura de rock com forró e agreguei também.
Como foi o processo de pegar essas influências e desenvolver um estilo próprio pelo qual você é reconhecido?
Sempre tenho esse meu lado alegre, divertido. Desde a infância, sempre tive personagens de imitação, como o Sérgio Malandro, mas o alto astral se desenvol- veu quando as pessoas começaram a me dizer, depois dos shows, algo do tipo: como você é alto astral no palco, como você é alegre, divertido etc. Com isso, fui pegando essas palavras e colocando em todas as publicações, como por exemplo o meu bordão, que utilizo até hoje: “Va- mos Vencer na Vida! É Só Alegria”. Essa
é uma das minhas marcas registradas quando faço qualquer postagem de tra- balho.
Seu “alto-astral” e os seus movi- mentos são suas marcas registradas. Como isso se desenvolveu e posteriormente se tornou uma parte essencial da sua música?
Essa ideia não foi eu que criei. Assisti no YouTbe alguns VS de outros canais e eu apenas fiz com minha interpretação, colocando o contrabaixo em cima delas e fazendo com meu estilo groovado e dançante. Não me considero criador de nada, apenas um baixista que quer ven- cer na vida. (Risos)
Você também é bastante conhecido na internet por transformar músicas de rock famosas em forró. Quando foi que essa ideia apareceu e como ela se desenvolveu?
Repito, eu não transformei nada, ape- nas sou um simples intérprete da músi- ca. Faço a música com amor. Tenho um amor infinito por músicas diferentes e apenas fiz, e faço, algumas interpreta- ções do meu jeito.
Recentemente você tocou no Rock in Rio ao lado do músico Jack Black. Conte-nos um pouco sobre como se deu e como foi a experiência de tocar para milhares de pessoas ao lado de uma verdadeira lenda.
A maior experiência da minha vida foi tocar com Jack Black. É fantástico! Ele mesmo me perguntou: “como você deixou o “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, uma música tão divertida?”. Eu apenas disse que sou um simples intérprete da música, que não me con- sidero o criador de versão. Sou apenas um baixista sonhador que só quero transmitir alegria para o público. E to- car no Rock in Rio, pode ter certeza, é uma sensação maravilhosa, a sensação de um sonho realizado. Mas também quero dizer que para mim, não tem di- ferença nenhuma de como tocar em um bar na minha cidade, em Natal, RN. (Ri- sos). Eu só quero vencer na vida! Tocar no Rock in Rio ou em qualquer lugar desse mundo, você sentido o calor do público, o carinho dos fãs, você sendo valorizado como músico profissional, isso não tem preço. É gratificante!
Por último, qual é o seu conselho para nossos leitores músicos que al- mejam o sucesso?
Meu melhor conselho é não desistir dos nossos sonhos. É lutar, acreditar que, com determinação, força e fé a gente chega lá. Eu ainda tenho mui- tos sonhos e objetivos, lógico. Os meus maiores sonhos, hoje, são ter minha casa própria, conseguir viver de música e montar meu projeto chamado “Va- mos Vencer na Vida”. Com este projeto, sonho conseguir dar o melhor para as pessoas que não têm uma oportunida- de, mas tem o talento e querem entrar no ramo da música! É isso.
Muito obrigado a todos, aos meus fãs, a vocês da Revista 440Hz, um beijão do Júnior Bass Groovador, este baixista dançarino alto-astral e, VAMOS VEN- CER NA VIDA!
ANGUS YOUNG E TODA ELETRICIDADE E nquanto o AC/DC anuncia seu retorno, a biografia do guitarrista Angus Young chega às livrarias. Em High Voltage (Editora BestSeller), o biógrafo Jeff Apter traz detalhes marcantes sobre a trajetória e revela bastidores de gravações e shows, entre estes a participação no primeiro Rock in Rio, em 1985. O caçula da família, hoje com 64 anos, é conhecido por ser guitarrista, compositor, líder e fundador, junto com o seu irmão Malcolm, da banda de rock AC/DC. Com o olhar do cronista, mas também de fã, Jeff conta sobre a influência de Richard Wayne e Chuck Berry para seu estilo musical, a morte de seu irmão e companheiro Malcolm, e as mudanças na estrutura da banda, como a substituição de Brian Johnson por Axl Rose, vocalista do Guns N’ Roses. À venda por 49,90.
FENDER TOMA DECISÃO SUSTENTÁVEL
A marca de guitarras mais famosa do mundo anunciou que vai deixar de usar a madeira ash na construção dos seus instrumentos. Conhecida como freixo, o material é usado na grande maioria dos produtos Fender, mas um problema ambiental fez a empresa tomar a decisão. Justin Norvell conta que a decisão foi tomada por conta da destruição de árvores freixo causadas pelo besouro Emerald Ash Boorer, uma praga que desceu desde o Canadá e avança cada vez mais pelos Estados Unidos. As alterações climáticas também têm atrapalhado a sua extração, o que faz com que a Fender use a ash armazenada até aqui apenas em linhas limitadas. A boa notícia é que a icônica marca está empenhada em reflorestar áreas em Detroit, no estado de Michigan, mas deve demorar pelo menos 30 anos.
PIANOS PERDIDOS
Em uma viagem para a Mongólia, a jornalista britânica Sophy Roberts conheceu um jovem músico que lamentava não ter um piano para tocar. Tocada pela história, ela decidiu viajar até a Sibéria (já que estava relativamente perto) para encontrar um instrumento. A aventura se transformou no livro The Lost Pianos of Siberia (Os pianos perdidos na Sibéria, em tradução livre).
A autora revela a parte que o piano desempenhou na história do país, detalha como as influências de grandes nomes musicais como Field, Liszt e Chopin, Tchaikovsky e Rachmaninov aumentaram a demanda por piano. O instrumento se tornou símbolo de status social, além de um importante papel no dia a dia da população. No processo, ela descobre pianos em lugares que você menos esperaria encontrá-los. À venda por US$76,52 (e-book).
APRENDA COM REALIDADE VIRTUAL
Com um toque futurista de óculos 3D, o Rimie Mobile é um aplicativo que permite cantar ou tocar suas músicas preferidas em modo play along e backtrack, oferecendo total controle de todos os instrumentos. O ambiente virtual em realidade aumentada ajuda a deixar a experiência o mais próxima possível do acompanhamento de uma banda de carne e osso. A versão beta já está disponível em Android e, segundo o fabricante, em breve para iOS.
Saiba mais em: https://rimie.com.br/
VAI OU NÃO VAI?
STEVE VAI é sem dúvida um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Sua exuberancia e a musicalidade única influenciaram - e ainda influenciam - gerações de guitarristas e legiões de admiradores. Inteiramente colorido, com ilustrações desenhadas pelo próprio autor (incluindo a capa!), Vaideology é um verdadeiro mergulho na mente criativa desse brilhante artista, que compartilha não apenas seu conhecimento, mas suas impressões pessoais, seu percurso, suas descobertas. Vai convida o leitor a criar uma relação pessoal, íntima, emocional e – no mais puro sentido da palavra – uma relação transcendental com os elementos da música. A proposta profunda desse livro não é “aprender a tocar como o Vai”, mas antes “aprender a tocar como você”. Assim, ele oferece ao leitor a oportunidade de criar a sua própria trajetória. À venda por R$ 129 no site da Ed. Passarim.
O RESGATE DAS ORIGENS Nuno Mindelis lança Angola Blues para cantar as músicas de sua infância no ritmo que o consagrou
“E u quero que você saiba que em África, numa cidadezinha perdida, um menininho ouvia sua música.” Foi com estas palavras que Nuno Mindelis se apresentou a Steve Crooper, guitarrista do Booker T and the MG´s, banda que acompanhava um de seus maiores ídolos, Otis Redding. Nuno repetiria a frase de reverência outras vezes, a cada ídolo que o bluesman conhecia ao longo de sua carreira, que começou em 1975, mas que deslanchou após 1990, com o lançamento de seu primeiro álbum. Nuno, diz “em África”, assim como faz qualquer outro angolano para se referir a seu continente. Nascido em Cabinda, é cidadão português, uma vez que nasceu em Angola ainda colônia. Radicado no Brasil, se considera igualmente brasileiro. Mas, com a chegada da idade, o banzo o atinge e a necessidade de reconexão o fez trabalhar em músicas que ouvia na infância.
“Eu deixei Angola apenas com a roupa do corpo, mas o que dói a um expatriado é a perda de sua raiz”, repete Nuno duas ou três vezes durante a conversa. O músico, ao comentar o período de sua infância, se surpreende com alguns fatos, como a recordação de jogar bola com outros garotos que viviam costumes tribais em pleno século XX. Foi ali que aprendeu muitas das canções que canta neste álbum. “Minha memória está muito ruim. Eu preciso olhar a letra de músicas que cantei minha carreira inteira, mas não esqueço as músicas da minha infância. Esse é um dos motivos pelos quais decidi cantá-las”.
LUANDA, O BLUES E DESTINO
Foi quando os pais decidiram se mudar de Cabinda para Luanda que a vida do pequeno Nuno começar a dar voltas. Indo para a capital do país, o menino se agarrou ao seu brinquedo favorito, Imagens: Divulgação
um violãozinho cuja afinação lhe era trabalhosa. Para onde Nuno ia, levava o violãozinho e, como manda o clichê, seu irmão, para importuná-lo, furtava o objeto de desejo e desafinava. Assim, nos primeiros dias na nova cidade, ainda vivendo em um hotel enquanto seus pais procuravam um lugar definitivo para morar, a devoção de Nuno ao brinquedo chamou a atenção de um outro hóspede. “Ele me disse, ‘vem cá puto’ – puto, em Angola, é garoto, menino. “Vejo que vais ser músico, não larga esse violão por nada”, e me deu um disco do Otis Redding. Aquilo mudou minha vida para sempre”, conta Nuno. “Eu gostaria de encontrar esse homem, se é que ele ainda está vivo”.
Ainda que tenha sido um divisor de águas para o menino, Nuno até hoje não sabe precisar se gostou daquele som logo de início ou se era algo que ele entendeu como a música de adulto de que precisava gostar. Mas, de uma maneira ou de outra, se tornou uma obsessão, passou a ouvir, reproduzir e tocar blues sem parar. Sua carreira musical começaria em breve, ainda na adolescência, em Angola.
“Eu me formei em Direito, mas nunca exerci. Meus pais achavam que eu precisava de um diploma ou não seria ninguém”, conta Nuno sobre sua formação. “Mas eu sempre quis ser guitarrista e isso atrasou um pouco minha carreira, por um lado; por outro, me abriu uma visão que poucos músicos têm. Até hoje eu reviso todos os meus contratos”. Assim, o músico precoce acabou maturando a seu tempo fora dos grandes holofotes, e criando sua própria linguagem.
Quando foi finalmente reconhecido, Nuno se sentia uma estrela solitária, tinha dificuldade de encontrar músicos que falassem a mesma língua que ele. “Eram músicos de rock ou de MPB que queriam tocar blues, mas faltava a linguagem”, na época ele dizia, sob uma saraivada de críticas. “Esses meninos de 11 ou 12 anos que vão aos meus shows terão o blues dentro deles”. Não era uma questão técnica que Nuno apontava, mas algo que recebe vários nomes tais como feeling, soul, gumbo, mojo... um elemento abstrato, indicativo de que aquela música e sua linguagem fazem parte de sua história e formação.
E, através de muitas coincidências (e muito trabalho), a música de Nuno chegou a Austin, no Texas, onde foi ouvida por Chris Layton e Tommy Shannon, o Double Trouble, lendária banda de Steve Ray Vaughan. Mas a adoração que Nuno tinha por Shannon não remetia ao trabalho (que ele, claro, adorava) com Vaughan. “Contemporâneos não influenciam uns aos outros, meu ídolo era o Johnny Winter, e ele era o baixista do Johnny Winter”. Com a banda foram dois álbuns e turnês que resultaram em muitos anos de amizade e gratidão. “O que eu aprendi nos anos em que excursionei com Tommy, não aprendi com nenhum outro músico”. ANGOLA BLUES
Se o novo álbum é o empreendimento de um expatriado para curar a dor de perder suas raízes, dar voz a um outro expatriado é uma delicadeza quase imperceptível que, quando revelada, faz irromper em lágrimas uma alma sensível. É a voz de Airto Moreira que abre o álbum (para saber mais sobre o percursionista, leia a matéria em nossa edição 0), na canção “Birim Birim”. Airto toca cantando, às vezes inaudível ao público, e Nuno extraiu um trecho de sua voz para abrir a faixa.
Para deixar claro, Nuno Mindelis é um guitarrista de blues mundialmente reconhecido, apontado como um dos grandes nomes do estilo nos últimos 30 anos e comparado a gigantes como Steve Ray Vaughan. Airto Moreira é... Airto Moreira. Talvez o percursionista e baterista de jazz mais reverenciado em todo o mundo. Com ele tocaram Jaco Pastorius e Miles Davis. Formou bandas como Weather Report e Return to Forever. Ouvir esses dois músicos juntos em uma gravação é um privilégio. Perceber que existe uma sintonia musical entre eles, só faz desejar que se apresentem sobre o mesmo palco.
Nuno canta essas músicas sem emulações ou afetações. O canto é parte da música como mais um instrumento e se destaca por si. O sentimento é de familiaridade nas canções, que assim como a linguagem do blues a que foram transpostas, fazem parte de Nuno. É a virtuosidade que não demanda esforço em duas frentes.
Nos encontros de vozes expatriadas, Nuno trás Flora Purim e Jessica Areias. Ainda que dispense apresentações, nunca é demais dizer que, quando Flora foi buscar a carreira musical em Los Angeles, Airto Moreira foi atrás. O casal que sempre trabalhou junto mantém individualmente brilho próprio e, ao participarem da canção Muxima, dão ao shuffle mais arrastado uma emoção cortante e grandiosa ao tema. A guitarra de Nuno chora junto dos teclados em um sistema de frases e comentários que desenvolvem uma conversa de fundo à bateria e percussão. É uma música completa.
Já Jéssica Areias é uma cantora angola radicada em São Paulo que adiciona um tempero soul ao blues solto de Nuno. São os dois cantando suas origens com alegria. São muitas apresentações que Nuno propõe, de suas origens, dessa música, de suas linguagens, e dessa cantora talentosíssima.
Para encerrar o álbum, Nuno propõe sua ligação com o Brasil nessas linguagens. Canta “País Tropical” à sua maneira, numa homenagem a quem ele admirava antes mesmo de desembarcar no país que o recebeu. Ali, blues, Angola samba-rock, Nuno... são tudo uma mesma coisa. A raiz está fincada.
SOM, SENTIMENTO E BLUES Por Erico Malagoli
Quando pensamos a respeito da sonoridade blues, automaticamente já pensamos nas guitarras referenciais do estilo, como a 355 do BB King e na Strato do SRV. Mas conforme pensamos no assunto, mais guitarristas (e guitarras) vem a cabeça, até que passamos por Robert Johnson e... antes dele. E aí percebe-se que o estilo que influenciou tudo o que gostamos hoje, veio de cantigas, ladainhas de escravos nos EUA. E daí vem o nome, as músicas de lamentação, carregadas de tristeza, encontraram o violão e o resto é história. Um estilo tão completo não poderia ter somente um ou dois guitarristas como referência, mas vou ficar nos dois exemplos acima. BB. King tinha a sua Lucille, uma Gibson semi-acústica com captadores Humbucker tradicionais (na linha dos Malagoli Custom 55) e Stevie Ray Vaughan, com sua Strato SRV com captadores single um pouco mais fortes que os convencionais (na linha dos Malagoli Custom Dallas). Vejam que os captadores e guitarras usadas para o estilo são tradicionais, embora a signature do SRV tenha singles com mais “pegada”, as demais guitarras usavam captadores convencionais. A number one por exemplo usava caps Fender dos anos 50 (na linha dos Malagoli Custom 57/62) set parecido aliás com o da Blackie e até com o da Brownie de Eric Clapton. Interessante nesse sentido, notar as diferenças timbrísticas entre esses dois guitarristas, apesar da semelhança entre as guitarras. Lógico que existem outros elementos aí, mas a “pegada” blues de um é completamente diferente da do outro. Enfim, blues além de um estilo é um sentimento, um estilo de vida. Só precisa viver isso em sua alma e ter o equipamento correto.