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ALMANAQUE DITO POR AÍ
Warner
Play a bullshit, Sam!
O acesso fácil a arquivos fotográficos digitais, e a ajuda do Google, protetor dos desinformados que ao menos se dão ao trabalho de procurar, eliminaram em grande parte os riscos de publicação de uma imagem que nada tem a ver com o texto, embora isso ainda ocorra de vez em quando. Nos tempos em que o editor ainda gritava “pega lá no arquivo a foto tal”, eram comuns certas gafes, mas poucas como a cometida pelo Diário Catarinense, que ilustrou uma matéria sobre
Casanova com uma cena do filme Casablanca. Que o arquivista ou o contínuo tivessem confundido o sedutor italiano com o clássico de Hollywood vá lá, mas alguém editou esta página. Ou já teria o editor se mandado e deixado a página com o diagramador que, por sua vez, não prestava a mínima atenção ao que desenhava? Ou ambos também não sabiam a diferença? E será que boa parte dos leitores percebeu a gafe ou também não se deu conta? São tantas perguntas, Sam!
Marvel
BEN URICH Ele trabalhou por muito tempo com o irascível J. J. Jameson, dono do Clarim Diário, mas acabou, como quase todo mundo, desentendo-se com o patrão e saiu para criar seu próprio jornal, o Linha de Frente. Repórter competente e ético, descobriu a identidade secreta do Demolidor e, a seu modo, com bloco, caneta, máquina de escrever e papel, ajudou na guerra contra bandidos como o Rei do Crime. Urich cobriu eventos importantes como Invasão Secreta e Guerra Civil, entrincheirado nas páginas do Demolidor e do Homem-Aranha.
“O jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginála. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são.” Gabriel García Márquez (1927-2014)
“O jornalismo nunca pode ficar em silêncio: esta é a sua maior virtude e o seu maior defeito. É preciso falar, e falar imediatamente, enquanto os ecos da maravilha, as alegações de triunfo e os sinais de horror ainda estão no ar”. Henry Anatole Grunwald (1922-2005)
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MIX Correio, 121 anos Divulgação
A redação do Correio do Povo fez festa em 3 de outubro para comemorar os 121 anos do jornal, completados dois dias antes. Matérias especiais publicadas ao longo daquela semana também marcaram a data. Em 2016, o Correio apresentou novidades, como o caderno +Domingo, além de iniciativas em realidade aumentada e a digitalização do acervo de mais dois milhões de páginas. Depois de concluído o processo, o material estará à disposição do público.
Bom pra cachorro Que jornal velho era usado para embrulhar peixe, carne e assemelhados, ou servir de forração para banheiros de cães e gatos, isso sempre se soube. O usual, no entanto, era os consumidores comprarem o jornal para aquilo que ele é feito, ser lido, e depois reaproveitá-lo de alguma forma. A coisa anda tão feia para os jornais impressos que agora eles chegam ser vendidos exclusivamente para a segunda função, e anunciados como “jornais para cachorro”, conforme registrou ao andar pela cidade e postou no Facebook a jornalista Cristiane Segatto, da revista Época.
Desinformado é pouco Coberturas ao vivo sempre apresentam riscos, mas isso não justifica o que aconteceu com o repórter francês Martin Weill, do Canal+. Neste caso, por absoluto despreparo, ele cometeu uma gafe antológica durante a cobertura da Assembleia Geral da ONU, realizada em setembro. Weill falava ao vivo de Nova York quando começou a entrevistar um cidadão, para ele, desconhecido. Somente a certa altura da conversa ele resolveu perguntar que delegação o homem integrava. “A de Portugal”, foi a resposta
que antecedeu o desastre. “E qual a sua função?”, questionou Weill na sequência. “Sou o presidente da república de Portugal”, respondeu, sorrindo, Marcelo Rebelo de Sousa. A emissora dividiu a tela para mostrar a imagem do estúdio, em Paris, onde o apresentador levou no bom humor, acompanhado das gargalhadas da plateia, enquanto Weill estampava um semblante abobalhado. O vídeo do episódio não demorou a bombar nas redes sociais e nos canais de TV da França e, principalmente, de Portugal.
Força-tarefa Mais de 550 profissionais do Grupo RBS foram envolvidos na cobertura do primeiro turno das eleições municipais. A Rádio Gaúcha, por exemplo, transmitiu, além da sede da emissora, de estúdio móvel instalado no Colégio Champagnat, na PUC, local com maior número de seções eleitorais de Porto Alegre, e do Gaúcha Sports Bar. Já a RBS TV levou ao ar programa especial com na análise dos resultados, no final da noite de domingo. A cobertura dos jornais impressos e online, é claro, também foi reforçada.
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A premiação será no dia 22/11, na Assembleia Legislativa do RS
vem aí a 17ª EDIÇÃO DO PRÊMIO PRESS,
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MIX Trajano fora A ESPN demitiu José Trajano, que tinha 21 anos de casa. Polêmico, Trajano é admirado por muitos e criticado por tantos outros em função de suas posições sempre muito firmes, que o levaram a comprar muitas brigas neste tempo todo. Nos últimos anos, provocava polêmica principalmente pelo comportamento de militante de esquerda, declaradamente favorável ao PT, o que se misturava com os comentários esportivos. Ele saiu dizendo coisas como “o macartismo está no ar”. Previsíveis o desfecho e a reação.
Charge-correção O incidente envolvendo os nadadores americanos na Olimpíada do Rio deu origem a um curioso caso de correção de charge que merece registro. O desenho original foi publicado com base nas declarações iniciais de Ryan Lochte, Gunnar Bentz, Jack Conger e Jimmy
Feigen, de que teriam sido vítimas de um assalto. Um suspeito aparece com as medalhas no peito. Desmentida a farsa, nova charge mostra um policial dizendo: “Acho que vocês estão do lado errado do vidro.”
Repressão turca Bravo na rede
Perdeu de novo, Playboy!
A revista Bravo!, que a Abril deixou de publicar em 2013, está de volta por obra dos jornalistas Helena Bagnoli e Guilherme Werneck. A publicação digital pode ser lida no endereço bravo.vc, e versões impressas circularão a cada três meses. A equipe conta com sete profissionais, além de colaboradores. A ideia é que não seja mais apenas uma revista, e sim uma plataforma cultural que incluirá prêmios, eventos e outras iniciativas.
Primeiro, a Playboy deixou de ser publicada pela Editora Abril. Em abril deste ano retornou, agora pela editora PBB. Passados poucos meses, boa parte da equipe já foi afastada na tentativa de viabilizar o produto economicamente. Na última leva foram demitidos Roberto Saraiva (editorchefe), Gregório Souza (editor de moda) e os repórteres Natalia Horita e Felipe Seffrin. Foi o quarto enxugamento desde a montagem da operação, em janeiro. Mas a editora descarta o cancelamento da revista.
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A polícia turca invadiu o canal de televisão IMC, em 4 de outubro, e cortou o sinal, sob o pretexto de que a emissora vinha fazendo propaganda do terrorismo. O fato é que o governo estava irritado com a postura crítica do canal. Foi o segundo corte no sinal do IMC. Para tornar a situação, além de abusiva, irônica, o sinal foi cortado enquanto era transmitida a notícia da suspensão do sinal de outra emissora. Desde que foi decretado o estado de emergência no país, em 20 de julho, mais de 100 jornalistas foram presos, 775 tiveram o registro profissional cassado e 2.300 foram demitidos.
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CARTA AO LEITOR
A Press e eu Eliziário Goulart Rocha
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sta edição traz matérias que mexem com minha memória afetiva e aludem a momentos importantes de minha trajetória: os 50 anos da Famecos/PUC-RS e o livro de Ricardo “Kadão” Chaves. Graduei-me em jornalismo pela Famecos em 1982. Na foto eu recebo, em janeiro de 1983, a “colação de grau”, outorga de grau acadêmico como “bacharel em comunicação social, especialidade jornalismo”, do lendário Antoninho Gonzalez. Com Kadão eu fiz a viagem mais interessante de minha vida profissional, ao Vietnã, em 1995 – depois de ir a Tóquio acompanhar o Grêmio, com ele e o Guaracy Andrade, o entrevistado desta edição –, fato que está registrado no livro. Na foto, Kadão e eu com nosso intérprete, Nguyên ˜ Ngam. E foi por puro acaso que esta se tornou minha Nghiêm última edição na Press/Advertising. Agradeço ao Julio Ribeiro, à Nelci Guadagnin, aos designers João Paulo e Rodrigo Moraes, ao fotógrafo Jefferson Bernardes e equipe, aos entrevistados, aos articulistas, às fontes, aos anunciantes e, em especial, aos leitores. Tchau! A gente se lê por aí!
SUMÁRIO 3
Almanaque
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Mix
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Carta ao Leitor
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Entrevista: Guaracy Andrade
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Capa: O desafio de lidar com a fartura de meios
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Especial: Prêmio Press
22 História: Os 50 anos da Famecos 24 Grandes Nomes: Gore Vidal 27 Opinião: Mario Rocha 28 Cultura: Ricardo Chaves, o Kadão 30 Galeria: Audrey Hepburn na Life
As capas desta edição foram criadas pela agencia MORYA-RS Diretor de arte: André Mosquito Redator: Marlon Abrahão
Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN
RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE - RS CEP 90160-240 FONE/FAX (51) 3231 8181
Editor ELIZIÁRIO GOULART ROCHA
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Diretor-Geral JULIO RIBEIRO
Diagramação/ Arte Final ESPARTA DESIGN Imagens: Fotografia: Jefferson Bernardes/ Agência Preview Assinaturas atendimentoad@terra.com.br Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA
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Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 9971 5805 com NELCI GUADAGNIN PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DA REVISTA.
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ENTREVISTA
ENTREVISTA GUARACY ANDRADE
“Sem credibilidade um jornalista está morto”
Eliziário Goulart Rocha e Julio Ribeiro Fotos: Marcos Nagelstein / Agência Preview
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ENTREVISTA Guaracy Andrade começou a carreira como repórter fotográfico de coluna social, virou colunista e depois apresentador de TV. Recentemente, assumiu a direção da TV Urbana, de Porto Alegre e deu início à reformulação da emissora. Os programas independentes começam a dar lugar a atrações próprias, o visual está sendo renovado e a TVU já conta com alguns nomes importantes em seu elenco. Nesta entrevista à Press, Guaracy fala de sua experiência no universo do colunismo social e de suas metas à frente da emissora. Como se iniciou sua trajetória profissional? Eu comecei na Zero Hora como repórter fotográfico, e mais tarde fui trocando de função, fiz outros negócios, como uma revista própria. Entrei na ZH para ser o fotógrafo fixo da coluna do Gasparotto, embora cumprisse outras pautas de vez em quando. Fiquei 17 anos com o Gasparotto e depois, quando ele saiu do jornal, eu permaneci por mais três anos fazendo a coluna social, então foram 20 anos de RBS. Não deve ter ninguém da alta sociedade gaúcha que você não conheça. Eu conheço todo mundo, os empresários todos. O que me ajudou muito foi esta relação com os empresários, foi o que me deu status para assumir um cargo como este, a diretoria da TVU. Foi fundamental passar por essa escola. Mas aí entra também sua habilidade em usar bem esses relacionamentos, em criar uma imagem ao longo dos anos. Exatamente. Criar uma credibilidade. Para um jornalista ser bem recebido ele precisa ter credibilidade. Sem isso, está morto. Quando eu fui para a televisão fiquei surpreso com o fato de que qualquer um tinha um programa de TV, e na base do toma lá, da cá. O que é isso? O cara não vende publicidade, vende entrevista. Uma matéria não pode custar nada, do contrário não tem valor algum. Aí só tem preço, não tem valor. No meio do qual você vem, o colunismo social e, sobretudo, no colunismo eletrônico, tal prática é ainda mais frequente.
Hoje em dia você olha em qualquer lugar e tem um programa de sociedade. O cara não tem o que fazer, vai fazer um programa de sociedade. O meio já é deturpado, sociedade vista como futilidade, mas é possível aproveitar este meio para trazer uma boa informação, conversar com empresários, saber o que está acontecendo de relevante. O colunismo social deu nomes importantes ao jornalismo brasileiro, como Ibrahim Sued, Ricardo Boechat... ... tem muita gente boa na lista, lembra do Zózimo Barroso do Amaral? O Zózimo era uma grande personalidade, nunca será esquecido.
Eu nunca recebia presentes quando estava na coluna social. Quando alguém mandava, eu devolvia muitos destes presentes, e quando não era possível eu entregava para a empresa encaminhar para doação Vocês acabam tendo muita informação, pois convivem de maneira mais próxima com pessoas que fazem as coisas acontecerem. Cobrindo eventos eu já vi muita empresa começar e muita empresa morrer. O cara perto de mim está conversando com alguém e dizendo que está mal de grana, enfim, muitas coisas acontecem. As pessoas estão bebendo um vinho, um espumante, então se pode tirar informações dali que ninguém tiraria em outra situação. Quando as pessoas estão descontraídas elas contam as coisas. A tentação de virar fofoqueiro é grande, pois acaba sabendo coisas mais pessoais também. É claro, mas esse tipo de informação eu guardo comigo, não vou ficar divulgando, se não vira tititi eletrônico. É inte-
ressante saber o que está acontecendo na vida privada, até para não cometer gafes, mas sem divulgar. Tem aquela história antiga do colunista social que, quando estava mal de grana, ameaçava escrever um livro, e aí recebia muitas ligações e doações para não escrever o livro. Você já pensou em escrever um livro (risos). Não, nunca pensei nisso. No futuro, quando eu me aposentar, de repente, né? (risos). Nem livro de fotos? Você deve ter um belo acervo de pessoas da sociedade. De fato, eu acompanhei a trajetória de muitas pessoas importantes. Eu fiz várias mostras no início de carreira. Na época não havia muitas opções de coluna social, era praticamente só a Zero Hora. Não havia a revista Caras, não tinha internet. Quando o Gasparotto e eu chegávamos estendiam o tapete vermelho. Se a gente não aparecesse, a festa não tinha acontecido. Este mundo mudou muito rápido. Hoje em dia qualquer um pega um celular, faz uma foto e posta “estou na festa tal”. Como foi a transição de repórter fotográfico para colunista de jornal e depois para apresentador à frente da câmera? Quando se consegue ter credibilidade, isso abre portas e dá força para se seguir um caminho. Eu nunca recebia presentes quando estava na coluna social, quando alguém mandava, eu informava ao Marcelo Rech (então diretor de redação de ZH) e, seguindo o manual de ética do jornal, devolvi muitos desses presentes, e quando não era possível eu entregava para a empresa encaminhar para doação. O manual era para todos, mas eu, como colunista social, tinha de ficar ainda mais atento à questão ética. Logo que o Gasparotto saiu e eu assumi a coluna, uma pessoa me mandou uma cesta de natal e um cheque. Procurei o Marcelo, e ele encaminhou o cheque para doação e mandou uma correspondência para quem havia enviado, informando que os colunistas da empresa não podiam receber esse tipo de presente, que o valor seria doado a uma instituição de caridade
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ENTREVISTA que ele informou o nome, e que quando a pessoa quisesse doar para aquela instituição, seria bacana. Achei uma coisa maravilhosa. Só que o cara não se dá comigo até hoje. Mas esse tipo de relação nunca me interessou mesmo. Desenvolver uma boa reputação leva tempo, não dá para ter pressa. Se tiver pressa em subir e aceitar esse tipo de situação, a imagem que estava sendo construída se desmonta em seis meses e a pessoa vira um charlatão, um mercenário. Quando começou a trabalhar como fotógrafo do Gasparotto, você imaginava um dia virar colunista social e depois ir trabalhar na TV? Eu nunca tive metas, concentrava-me em fazer o melhor possível o que estava fazendo naquele momento. Sempre procurei respeitar as pessoas, entrar na intimidade delas, mas de forma a valorizá-las cada vez mais, nunca para divulgar fofocas. E assim fui ganhando credibilidade. Eu fiz, por exemplo, a primeira foto do casal Alexandre Grendene e Norinha, quando eles apareceram juntos em público pela primeira vez. Ele estava lançando uma Melissinha no Rio, e a foto foi no porta-aviões Minas Gerais. Saiu na coluna do Gasparotto. Você deve ter muitas histórias interessantes para contar de todo este tempo trabalhando com sociedade. A sociedade de Porto Alegre é muito conservadora. E quem está ganhando dinheiro está em certa posição, daqui a pouco deixa de ganhar dinheiro e desaparece, o dinheiro sempre trocou de mãos muito rapidamente, mas hoje ainda mais. Mas há aqueles que não têm dinheiro e aparecem do mesmo modo. Sim, mesmo sem dinheiro, aparecem por estarem fazendo algo relevante. Eu sempre pensei que em coluna social se deve divulgar quem faz alguma coisa, junto com o charme. Como você lida com aqueles que vão aos eventos só para aparecer mesmo, e não tem qualquer conteúdo para oferecer em uma entrevista? Isso tem muito. Eu trato como amigo,
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vou cumprimentar, bato um papo e fica nisso. Coluna social não é para isso, para se fazer política. Antigamente as colunas sociais publicavam notas tipo “fulana de tal abre as portas de sua morada em Torres”, “sicrana volta de viagem à Europa”. Hoje ainda há espaço para isso? Não, esse tempo passou, a não ser em veículos dirigidos especificamente para aquele público. Além disso, na época em que se publicavam essas notas era muito mais difícil ir para a Europa, hoje é bem mais acessível.
O colunismo social se baseia muito na vaidade das pessoas, que podem ter dinheiro, serem bem sucedidas, mas querem o reconhecimento da sociedade
O colunismo social se baseia muito na vaidade das pessoas, que podem ter dinheiro, serem bem sucedidas, mas querem o reconhecimento da sociedade. De fato. Quando a Fernanda Zaffari e eu assumimos a coluna RSVIP, começamos a dar mais destaque a pessoas que estavam fazendo algo bacana. Hoje é mais assim, está mais diversificada, abriu um pouco o leque. O público em geral ainda tem interesse em saber o que pessoas da sociedade estão fazendo? Acho que não, hoje não mais. Na nossa época havia nomes como Livia Chaves Barcellos, Suzana Chaves Barcellos, Lívia Bortoncello, Lucila Osório, havia um grupo de umas dez famílias que fazia as coisas acontecerem na sociedade. No Country Club entravam o Gasparot-
to, o Eduardo Conill e ninguém mais. Hoje abriu tanto que diversificou, na verdade, entram vários programas de TV, o mundo foi caminhando para isso. Houve casos de você dar um furo no pessoal da geral, da economia, de outras editorias? Teve um caso muito interessante em relação à Athina Onassis. Ela veio a Porto Alegre participar de um campeonato. Eu sempre tive uma relação muito profissional com o dr. Jorge Gerdau Johannpeter, e ele também tinha uma admiração pelo meu trabalho, mas eu nunca havia pedido algo a ele. Na abertura do torneio The Best Jump havia um torneio de carros e cavalos. Eu sabia que no meio da semana o dr. Jorge ia receber a Athina e o Doda (Miranda, cavaleiro olímpico, de quem ela pediu divórcio recentemente), mas era muito fechado, a imprensa não podia entrar. Eu já era colunista naquela época. Chamei o dr. Jorge a um canto e disse: “Nunca lhe pedi nada, mas eu gostaria que o senhor me deixasse entrar nesse jantar.” Ele concordou, mas pediu para não ir com carro com logotipo da Zero Hora, nem equipamento fotográfico à mostra. Fui em carro discreto e com uma câmera de bolso. Cheguei lá no haras dele e comecei a conversar com as pessoas. Havia três seguranças da Athina, eles me viram fotografando, mas agi como se fosse algo bem amador. A Athina e o Doda estavam num canto, namorando. Os garçons me conheciam, e eu pedi para eles não falarem que eu era da imprensa, caso os seguranças perguntassem algo. De repente eu vi o casal se beijando, fiz duas fotos na corrida e já virei para o outro lado para fotografar um garçom servindo. Aí veio um segurança e perguntou para quem eu estava fazendo as fotos. Eu disse que era amigo da família, e que ia dar para eles depois. O segurança acreditou e se afastou. Tirei o cartão de memória da câmara, guardei no bolso, coloquei outro e segui fotografando. Veio outro segurança, eu dei a mesma desculpa. Corri para a redação e publiquei a foto bem grande na coluna. No dia seguinte, cheguei na Hípica para cobrir o evento e a Athina estava na arquibancada com o segurança ao lado. Quando ele me viu, desceu a es-
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cadaria a mil. “Fotógrafo da família, é?”. E continuou: “Foi a primeira vez que alguém conseguiu me enrolar tão bem, parabéns.” Tentar fazer a foto era obrigação jornalística minha, mas isso me marcou muito, até porque o cara não ficou brabo comigo, até me cumprimentou (risos). Encarar o segurança foi fácil, mas, e a ciumeira na redação? Muitos colegas recebiam elogios pelo fato de o jornal ter dado este furo, o importante é que eu sabia que era eu que havia conseguido. Você era fonte de informação, por exemplo, para o pessoal da economia?
Sim, muitas vezes eu ajudei, passei informações, dava dicas. Lembro que na primeira vez em que o Romero Britto veio a Porto Alegre eu fiz pela coluna e passei matéria para o pessoal do Segundo Caderno. Agora, além de usá-las no meu programa, sempre que puder vou passar informações para o Felipe Vieira e para o pessoal que estará com a gente aqui na TVU. Quando você estreou em TV? Um belo dia eu fui à sala do Marcelo Rech e disse que estava a fim de fazer televisão. Eu já fazia social havia 20 anos. Quando comecei a coluna com a Fernanda eu tinha certeza de que não ficaria muito, eu já não me via mais no jornal. Na época eu tinha três lojas de
fotografia, que iam muito bem, mas depois começou a era digital e eu resolvi fechá-las para não ter problemas. O Marcelo queria me passar para a geral, mas eu não queria mais jornal. Saí e fui negociar com o Canal 20. E já comecei ganhando cinco vezes mais do que ganhava no jornal. Aí tem que dominar também a arte da venda, e jornalistas geralmente não sabem vender. Na verdade eu não sei vender, é que meu programa se vende sozinho. Você não se acha bom vendedor? Eu sou péssimo vendedor. Se você me der uma barra de ouro para vender por 10 centavos eu sou capaz de entregar de
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graça. Eu não sei vender, nunca vendi nada para ninguém. O que consigo é espontâneo, ligam-me e dizem que querem estar no meu programa, aí mando uma tabela de preços. Ofereço anúncio, rodapé e, se for o caso, merchandising, mas prefiro não, porque acho que não sei fazer merchandising direito. Aí eles mandam a agência me procurar. Aqui na TV estamos montando um departamento comercial para vender os produtos que estamos criando. Eu tinha loja, mas era de balcão, uma venda diferente, as pessoas iam lá para comprar, para revelar fotos. O programa tem quantos anos? Vai fazer 12 anos, comecei logo depois de ficar 20 anos na RBS. Eu tinha certeza de que queria mudar de vida, não queria mais aquele salário lá. É claro, foi um grande aprendizado lá, aprendi tudo na RBS, eu estaria mentindo para mim mesmo se não admitisse isso. Aprendi muito, primeiro trabalhando com o Gasparotto, depois comecei a fazer coberturas, fiz o Grêmio em Tóquio,
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em 1995, cobri 17 carnavais na Marquês de Sapucaí, fiz Jogos Panamericanos na Argentina. Eu gostava muito de fazer esportes. Como surgiu o convite para assumir a TV Urbana, agora TVU? A partir do dia em que cheguei aqui pedi para mudarmos de TV Urbana para TVU, pois acho que tem mais apelo de marketing, é mais forte e mais fácil de gravar. Bem, há um ano e meio tenho programa aqui, ao mesmo tempo em que seguia no Canal 20 da NET. Um dia eu cheguei para fazer o programa e encontrei o Lenine Neves, filho do Airton, que é o presidente de emissora. O Lenine é diretor, é uma empresa familiar, dirigida pelo Airton e por três filhos. Ele me disse que haviam chegado à conclusão de que eu deveria tocar a TV. Eu disse que a ideia me agradava, até porque poderia ser um belo desafio, e eu gosto disso, mas que precisava pensar, pois isso não havia passado pela minha cabeça. Pedi dois dias e então faríamos uma reunião.
Eu aceitei o desafio por entender que a TVU tem um imenso potencial neste mercado, vamos começar com digital no final deste ano, início do próximo, e nossa posição de canal 11 é maravilhosa, entre a Bandeirantes e a Globo. Havia uma programação independente. Eu falei que assumiria, mas que queria mudar essa imagem, ter programas nossos, que sejam de nosso domínio. O que mais me sensibilizou foi o fato de que, quando cheguei para a reunião, o Lenine abriu uma pasta e tirou o termo de posse do novo diretor da TV. Eu nem tinha negociado ainda e eles já haviam preparado o termo de posse. Eles nem sabiam se eu tinha condições, qualidades para o cargo, mas sabiam que eu tenho credibilidade, foi o que eles salientaram. Como é o acerto dos programas próprios? O Felipe Vieira, por exemplo, é contratado de vocês? Eu precisava encontrar uma solução para trazer esse pessoal para cá. O Felipe tem uma boa participação nos negócios
ENTREVISTA envolvendo o programa dele, além de um pequeno cachê. É a única forma de viabilizar. Nós não dispomos de recursos, não temos dinheiro para contratar uma Rosane Marchetti, por exemplo. Temos de fazer acontecer com o pouco que tempos, dando liberdade de trabalho e participação na comercialização. Assim conseguimos trazer gente de qualidade, como o Felipe. O José Fortunatti começa aqui depois da eleição, em 4 de outubro, e em seguida tem a estreia do Ico Thomaz. Os caras da Band são maravilhosos, liberaram sem problemas. Como deverá ser a grade da emissora? Eu preciso colocar mais programas que atinjam os variados segmentos. Teremos programas de turismo, de automóveis, que já estreou, com os meninos do Top Drive, um grande sucesso na internet, só testes com carros de alto nível, sensacional. Temos de aproveitar este momento em que a TVCom deu uma parada em função do OCTO (N. da R.: A entrevista foi realizada antes de o Grupo RBS tirar o OCTO do ar) para entrar nesse nicho da programação local. Meu objetivo principal aqui é trazer gente boa e construir uma grade própria. Teremos cultura, teremos esporte, tenho a ideia de fazer um programa pós-jornada nos jogos de Grêmio e Internacional, entre outros. Também teremos um programa de pets com a Regina Becker. A reformulação do meu programa fica para depois, vamos dar prioridade a quem está vindo para nos reforçar. E tem gente boa disponível no mercado. Tem sim, ótimos profissionais que não estão sendo devidamente aproveitados, até em função da crise. Então, por que não trazê-los. O Felipe Vieira, por exemplo, queria mesmo voltar à TV. Liguei para ele numa sexta e na segunda já acertamos tudo. As novas plataformas reforçam a audiência ao facilitar o acesso, como a transmissão pelo site da TV ou pelo Facebook. Nós temos 10 mil acessos pelo TVU Play, o espectador pode assistir em qualquer equipamento e em qualquer lugar. E os detalhes visuais de qualidade tam-
bém vão nos ajudar. O Lenine, nosso diretor, é o nosso Hans Donner, faz um trabalho fantástico em vinhetas, aberturas, cenários. Qual a meta para daqui a dois anos, por exemplo. O tempo vai dizer. Se fizermos um trabalho, honesto, com qualidade, o mercado haverá de dar uma resposta rapidamente. Eu não quero esperar dois anos. No final de novembro deveremos fazer um coquetel no Grêmio Náutico União para lançar oficialmente os novos programas. É claro que vamos seguir valorizando os programas independentes que temos, não vamos virar a cara para isso, até porque precisamos de dinheiro. Mas o objetivo a partir de agora são os programas próprios, e os independentes terão de se adaptar ao novo padrão estético da programação. O Cadu Oliveira já está mudando, com vinheta e cenário feitos pelo Lenine. Nem todos poderão ser ajustados, em alguns casos será visível que não fazem parte da grade da emissora. Quero promover a estreia dos novos programas e aí dar uma parada para consolidá-los e depois lançar outros. Eu tenho a ideia, é claro que sem a pretensão de imitar, mas quero criar um programa tipo Conversas Cruzadas, ou o Roda Viva, do Augusto Nunes, a gente tem espaço, tem estúdio para fazer. Vamos estrear estes primeiros programas e, até a metade do ano que vem, mais dois ou três, aí a grade estará feita e passaremos a aprimorá-la. E jornalismo? Eu quero um telejornal, mas hoje ainda não temos condições, porque manter equipes de reportagem nas ruas é muito caro. Mas creio que até meados do ano que vem a gente consegue lançar um telejornal aqui, com umas três equipes na rua. Estamos montando um comercial com uns dez vendedores e vamos lidar com as agências com uma equipe e os anunciantes diretos com outra. Vamos ao mercado oferecer nosso portfólio de programas. Antes não havia o que vender, os programas eram todos independentes. Agora vamos mostrar nossa programação própria e a nova cara da TVU. Você acha que os jovens estão assistindo à televisão convencional? Ou
só assistem nas novas plataformas? A interação com as redes sociais é muito importante. O Felipe, quando abre o programa, está sempre ao vivo no Facebook. Todos os programas próprios farão isso. E todos podem ser vistos ao vivo no TVU Play, tem pessoas daqui que se encontram no exterior e assistem pela internet. Tem um programa de gastronomia, com o Newton Kalil, que é o chef do União Cooks, o cara sabe tudo de gastronomia, não é só chef, faz gastronomia com prazer e amor, isso ajuda muito na interação com o público também. A TVU será uma TV de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul... O primeiro passo é Porto Alegre. Nós temos uma retransmissora no 55 UHF para todo o Estado, o canal 11 da NET que vai para toda Porto Alegre, começamos como canal aberto, então temos o direito legal de estarmos na grade da NET. Querem ser uma TVCom? Seria muita pretensão querer isso, não conseguiríamos. Não temos a pretensão de disputar com algo tipo TVCom ou TV Pampa, nada disso. Mas queremos, sim, seguir um caminho como o da TVCom. Estamos montando uma programação para que o público de Porto Alegre se ligue na gente. Nosso slogan hoje é “a nova TV dos gaúchos”. Falar em plano de voo, isso você conhece bem, não é? Você é piloto de avião? Não, sou só metido. Meu filho, Matheus Becker, é piloto. Como ele estava sempre voando e eu voava com ele muitas vezes, queria entender melhor o mecanismo, aí fiz um curso. Meu filho pilota desde os 15 anos, fez cursos de planador, ultraleve, piloto privado e, agora, piloto comercial. Ainda não terminei o curso, mas já piloto, decolo, aterrisso. Que os pilotos não leiam isso, mas é mais fácil do que dirigir um carro. Pilotar é o seu hobby? Não, meu hobby é navegar. Veleiro? Não, tenho uma lanchinha. Eu gosto de velocidade. Sou tão acelerado que corto os pulsos se tiver que gastar horas para chegar a algum lugar num veleiro.
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REPORTAGEM DE CAPA
O desafio de lidar com a fartura de meios
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Adjusting Course
QuestĂŁo complexa: administrar um universo de possibilidades pode se mostrar mais difĂcil do que simplesmente fazer jornalismo
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Next Issue Midia
REPORTAGEM DE CAPA
Na palma da mão: escolher e comprar a revista predileta é uma atividade que já não exige a ida à banca mais próxima
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m seus primeiros tempos, quando ainda estava a séculos de ser reconhecida como tal, a atividade jornalística se limitava a inscrições esculpidas em pedras e, depois, caligrafada em papiros, em cartazes colados às paredes externas de casas, além da divulgação dos fatos de viva-voz por meio dos arautos, ou pregoeiros. Era tudo muito simples e direto, e o jornalismo e a propaganda só se diferenciavam pelo conteúdo da mensagem, se institucional – como a comunicação de um decreto real, por exemplo – ou destinada a vender algum produto ou serviço além da informação. Mesmo aí a diferença era, por vezes, sutil, pois, embora qualquer ideia ou intenção dos governantes naquele tempo fosse sempre imposta, fazer o povo “comprá-la” poderia levá-los a economizar tempo, energias e forças re-
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pressoras, ao evitar muxoxos, protestos ou rebeliões. O passar do tempo aperfeiçoou a arte da escrita, desenvolveu-se o sistema de impressão e o encargo de contar os fatos para um público cada vez maior foi reconhecido como prerrogativa de jornalistas. Mas, durante muito tempo, desde Gutenberg, no século XV, a impressão foi, além da viva voz, a única forma de se divulgar notícias. Os jornalistas se limitavam a utilizar a pena, depois a caneta e, a partir do século XIX, a máquina de escrever, que provocou uma verdadeira revolução na profissão, não apenas por permitir um trabalho mais limpo, mas pela precisão e pela praticidade. Como somente no começo os jornalistas eram seus próprios impressores, tendo posteriormente as atividades se desmembrado, a máquina de escrever perdurou
como única ferramenta de trabalho do jornalista até o século seguinte, quando nasceu efetivamente a máquina fotográfica, apesar de seu processo de desenvolvimento remontar à Antiguidade. Também no final do século XIX seria gestada uma nova plataforma de divulgação de notícias. Em 1893, o padre Landell de Moura fez as primeiras transmissões de rádio do mundo, entre o bairro Medianeira e o Morro Santa Tereza, em Porto Alegre, mas as emissoras de rádio com fins comerciais só surgiram a partir de 1920, com a inauguração da KDKA, de Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos, em 2 de novembro daquele ano. Logo em seguida veio a televisão. A americana CBS (Columbia Broadcasting System), atualmente a terceira maior rede de TV do mundo – atrás apenas da ABC (American Broadcasting
É possível para um jornalista, por exemplo, produzir uma bela reportagem para uma revista, replicá-la no site do título, reproduzi-la em seu blog e em sua página no Face, comentá-la no Twitter e no Whats, exibi-la – ou a um making off – no Instagram e obter sucesso em todos estes ambientes
veríamos em seguida. Mas era o instrumento fundamental, a base de lançamento da magnífica transformação pela qual o jornalismo passaria em breve. O conceito data do início da década de 1960, e em 1969 os Estados Unidos lançaram o embrião do que se tornaria a rede mundial de computadores, mas apenas no âmbito militar, com a criação da Arpanet. A rede de comunicação das forças armadas – cabe lembrar que a agilidade na troca de informações e a preservação do sigilo eram ainda mais cruciais em plena Guerra Fria com a extinta União Soviética – recebeu este nome por ter sido desenvolvida pela Advanced Research Projects Agency (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada), ou ARPA. Em 1992, o físico e cientista da computação britânico Tim Berners-Lee criou a World Wide Web, que deu origem ao famoso WWW dos endereços de internet e, em seguida, a Netscape – dona do navegador de mesmo nome, que era o de maior sucesso até ser engolido pelo Explorer – criou o HTTPS (HyperText Transfer Protocol Secure – Procolo Se-
Reprodução
Company) e da Globo –, foi fundada em 18 de setembro de 1927, sendo que em 6 de outubro levou ao ar o célebre e polêmico The Jazz Singer (O Cantor de Jazz), no qual o branco Al Jolson teve a pele pintada de preto e a boca de branco para interpretar o personagem. Assim, dos anos 1920 até as últimas décadas do século passado, o jornalismo contou basicamente com três plataformas: jornal, rádio e TV – eventualmente, utilizou meios como o cinema; no Brasil, o cinejornal Canal 100 virou um clássico. Os equipamentos evoluíram, as máquinas de escrever se tornaram elétricas, as câmeras fotográficas e de TV foram ganhando avanços enquanto perdiam peso e viam crescer sua portabilidade, até que os computadores invadiram as redações de jornal e as emissoras de rádio e TV, no final dos ’80. No entanto, tratava-se de um equipamento que, embora muito útil e avançado em relação às velhas máquinas de escrever, e capaz de organizar informações e manter arquivos digitais, estava longe de representar uma revolução como a que
Excesso de oferta: o jornalismo precisa disputar espaço com o entretenimento em todas as plataformas, incluindo o streaming
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REPORTAGEM DE CAPA guro de Transferência de Hipertexto), que possibilitou o envio de dados criptografados, recurso fundamental para a segurança de transações realizadas pela rede. A internet consagrou-se e cresceu na velocidade que ela própria ditaria aos novos tempos. No Brasil, desenvolveu-se comercialmente em especial a partir da segunda metade da década de 1990. Desde então, uma sucessão de fatos começou a mudar o modo de as pessoas se comunicarem e, portanto, o modo de se fazer jornalismo. O advento da telefonia celular e, particularmente, dos smartphones, bem como a o desenvolvimento de computadores com cada vez maior capacidade, notebooks, tablets e o lançamento das redes sociais propuseram ao jornalismo um novo ambiente repleto de desafios com os quais ainda se está aprendendo a lidar. Tatear no escuro é sempre complicado, mas o melhor a fazer é utilizar da forma mais produtiva possível as novas ferramentas e plataformas e, acima de tudo, fazer jornalismo bem feito, com cada vez mais qualidades, pois, por mais importante que seja a forma, o conteúdo haverá de prevalecer. O jornalista já não pode se limitar a fazer o que sempre fez. No caso dos impressos, por exemplo, além de produzir material para ir às bancas, o profissional precisa ajudar a formatar uma versão on-line, não mera reprodução do impresso, mas com o uso de ferramentas como áudio e vídeo. Quem trabalha em rádio e TV, igualmente, precisa escrever algo para alimentar o site. Acrescentar à versão tradicional a versão online é apenas o começo. Tem ainda as páginas pessoais, ou blogs, que muitas vezes são apenas sites disfarçados para usar o nome mais moderno, redes sociais como Facebook, Twitter, Insta-
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gram e aplicativos como o WhatsApp, meios nos quais os jornalistas aproveitam para divulgar seu material mediante um sistema de degustação, ou mesmo oferecendo links para o conteúdo completo. E tudo isso pode ser consumido pelo público comprando a revista ou o jornal, mas também por meio do PC, do note, do tablet, do smartphone, da smartTV e o que mais venha por aí. Há três desafios básicos: o primeiro, mais imediato e inescapável, porém simples, é ter tempo e senso de organização
suficiente para dar conta de tantas mídias. O segundo, bem mais complexo, é utilizar a variedade de meios de forma harmônica, de modo a que um acrescente algo aos demais, em vez de se sobrepor a eles ou torná-los obsoletos, evitando o efeito conhecido como cobertor curto. O terceiro desafio, decisivo para o futuro da profissão, é como se destacar em meio a uma enxurrada de informações, muitas delas falsas, outras desconectadas com a realidade, outras requentadas e por aí vai, com as quais o consumidor de informações é bombardeado todos os dias. É possível para um jornalista, por exemplo, produzir uma bela reportagem para uma revista, replicá-la no site do tí-
tulo, reproduzi-la em seu blog e em sua página no Face, comentá-la no Twitter e no Whats, exibi-la – ou a um making off – no Instagram e obter sucesso em todos estes ambientes. Mais complicado é oferecer um diferencial, e o maior deles segue sendo a qualidade, e por qualidade entenda-se apuração precisa, a isenção possível, capacidade de contar histórias, raciocínio lógico e português impecável, fora o resto. Fala-se muito em inovação, mas a palavra mágica nem sempre resolve a questão. Na quinta-feira 22 de setembro, o Grupo RBS anunciou o fim do Octo, projeto supostamente revolucionários em forma e conteúdo, estudado durante dois anos, forjado a partir de milhares de dados, entrevistas e tendências, com uma proposta inovadora no modo de fazer TV e integrar as diversas mídias e etc. Durou dez meses, nos quais não disse a que veio. Melhor teria sido ficar com a velha e boa TVCom, esta sim, uma experiência inovadora na época em que foi lançada, baseada em produção tradicional voltada para o público local, coisa simples, mas honesta, sem o vício de origem da soberba. E que agora não voltará, pois a concessão acabará em três anos, não é possível, segundo a empresa, digitalizar o sinal e, portanto, não valeria o investimento. O grupo RBS estuda com a NET o destino do canal 36. A ânsia pelo novo pode levar ao naufrágio. Desde que o mundo é mundo, por exemplo, sabe-se que televisão é, principalmente, luz, muita luz. Estúdio escuro, capaz de gerar um clima mais cool e intimista, por exemplo, dificilmente dá certo. Os exemplos são muitos, mas, o essencial em qualquer ofício, e mais ainda na comunicação, é que não se deve tentar reinventar a roda.
PRÊMIO PRESS
Um prêmio que valoriza a busca pela verdade
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17ª edição do Prêmio Press está, como diziam os antigos, a pleno vapor. Nos primeiros 30 dias de Voto Popular e Voto Profissional foram registrados mais de 230 mil indicações, nas 17 categorias de premiação, o que demonstra o grau de participação dos jornalistas, radialistas e do público do Rio Grande do Sul. A campanha de divulgação deste ano, criada pela agência Integrada.net, destaca a busca da verdade por parte dos profissionais de imprensa e ressalta o reconhecimento que o Prêmio Press dá a este esforço de bem informar o público leitor, ouvinte e telespectador. O Troféu Sistema Fiergs Homenagem Especial deste ano se desdobrará em dois tributos. O primeiro aos 50 anos de criação da Famecos - Faculdade dos Meios de Comunicação da PUC/ RS e o segundo, intimamente ligado a este será uma homenagem in memoriam a um dos mais emblemáticos diretores da história dessa instituição de ensino, o jornalista e professor Antonio Gonzalez, carinhosamente chamado por quantos o conheceram de Antoninho. Ambos, Famecos e Antoninho, são lembrados em matéria nas páginas 22 e 23 desta edição da Press. Já o Troféu Advertising é uma janela que abrimos na cerimônia do Prêmio Press para destacar o nome de um em-
presário, executivo ou profissional que tenha uma importante contribuição à imprensa gaúcha por meio do uso da publicidade na formação e sustentação das marcas da empresa que dirige, e, por consequencia papel fundamental na garantia da liberdade de imprensa. Neste
Faça a sua indicação
DE 01/09 A 30/10
em revistapress.com.br
A premiação será no dia 22/11, na Assembleia Legislativa do RS
vem aí a 17ª EDIÇÃO DO PRÊMIO PRESS,
O PRÊMIO QUE VALORIZA O ESFORÇO E A DETERMINAÇÃO DOS NOSSOS JORNALISTAS PARA ENCONTRAR A NOTÍCIA ONDE ELA ESTIVER.
STICC
ano, o Troféu AD — que tem o apoio da ABAP-RS e SBT-RS — será entregue ao empresário Clovis Tramontina, que há mais de 20 anos preside uma das maiores e mais longevas empresas brasileiras, com 105 anos de fundação.
O período de indicações dos melhores profissionais de imprensa do Rio Grande do Sul em 2016, encerra no próximo dia 30 de outubro. Até lá, qualquer pessoa pode participar uma vez por dia, indicando os seus preferidos no site www. revistapress.com.br/premiopress2016. Igualmente, qualquer jornalista ou radialista profissional, devidamente identificado, pode participar uma única vez do Voto Profissional, também no mesmo site. No dia 1º de novembro será divulgada a lista quíntupla dos finalistas em cada uma das categorias de premiação. Essa lista, que será formada pelos três nomes mais votados no Voto Profissional e os dois mais votados no Voto Popular, irão à terceira e decisiva etapa do Prêmio Press, da qual participam 60 jurados convidados pela revista Press, entre autoridades, lideranças empresarias e institucionais e especialistas em comunicação. O resultado somente será conhecido na noite de 22 de novembro, em grande festa no Auditório Dante Barone. Desde já, como também diriam os antigos, reina grande expectativa.O Prêmio Press 2016 tem o patrocínio do Sistema FIERGS, Sistema FECOMÉRCIO-RS, CIEE-RS, SICREDI, SINDUSCON e STICC e conta, ainda, com o apoio do SBT-RS, da ABAP-RS, da KRIM BUREAU e da ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RS
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Guilherme Testa/Divulgação Famecos
HISTÓRIA
Reconhecimento: desde sua criação, a Famecos-PUCRS é referência na formação de profissionais da área da comunicação
Famecos, 50 anos
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s aulas da primeira turma do curso de graduação em Jornalismo – o terceiro do Brasil – da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), iniciaram-se em março de 1952. Criado em 1949, tivera seu currículo formatado no ano seguinte e fora aprovado pelo Ministério da Educação em 1951, mediante o Decreto-lei nº 29.831. Ainda não se tratava de uma unidade, e sim de um departamento da Faculdade de Filosofia. Para fechar a primeira turma, criar uma demanda e se integrar ao mercado, a PUC foi atrás de quem já trabalhava como jornalista. Entre os 64 alunos se encontravam, por exemplo, o célebre Arlindo Pasqualini – que depois daria nome ao centro acadêmico; o chefe da redação do Correio do Povo, Adail
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Borges Fortes da Silva; o cronista João Bergmann; e Carlos Reverbel, editorialista da Folha da Tarde. O curso foi reconhecido pelo MEC em 1956 e, oito anos mais tarde, em 1964, a disciplina finalmente se desmembrou da Faculdade de Filosofia, com a criação da Escola de Jornalismo. Em 1965 foi lançado o curso de Propaganda, o primeiro em nível universitário do País. Em 1º de dezembro daquele ano, a Escola de Jornalismo transformou-se em Faculdade dos Meios de Comunicação Social (Famecos), como é chamada até hoje. Quem começou a faculdade em 1966, já ingressou na Famecos. No ano seguinte, foi criado o curso de Relações Públicas. Até então, a faculdade funcionava nas instalações do Colégio Rosário que, a exemplo da PUC, pertence à congre-
gação Marista. A transferência para o campus da Av. Ipiranga ocorreu em 1968, mas ainda em local “emprestado”: o prédio 5 recebia a maioria das disciplinas, enquanto outras se espalhavam por unidades ao redor. A casa própria, o prédio 7, teve a pedra fundamental lançada em 5 de novembro de 1971 e ficou pronto um ano depois. Inaugurado em 8 de dezembro de 1972 pelo lendário reitor José Otão, o prédio 7 tornou-se o primeiro projetado especialmente para abrigar uma faculdade de comunicação no Brasil, com suas particularidades como estúdios de rádio e TV, laboratório fotográfico, auditório de cinema, agência de publicidade, entre outras. No mesmo ano, foi lançado o curso de Turismo. O diretor da Famecos na época era Alberto André e, o vice,
Fotos Arquivo Famecos
Memória da comunicação: o prédio da Famecos em construção, em 1972, vistoria às obras e Antoninho Gonzalez em 1959, quando presidia o DCE e foi o orador da turma
Elvo Clemente, tendo como diretores de departamentos Antônio Firmo de Oliveira Gonzalez (Jornalismo), Ito Ferrari (Publicidade), Iara de Almeida Bendati (Ciências da Comunicação), Roberto Simões (Relações Públicas) e Renato Masina (Turismo). Gonzalez, chamado por todos de Antoninho, foi o personagem mais importante deste meio século da Famecos. Ingressou na faculdade de Jornalismo em 1957, aos 19 anos de idade, e naquele ano foi convidado para assumir a direção do Departamento Universitário da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), tamanha a liderança que já demonstrava. Traço marcante de sua personalidade que o levou, no ano seguinte, à presidência do Diretório Central de Estudantes (DCE) e a um consequente
assento no Conselho Universitário. Tão logo se formou, em 1959 – na época o curso tinha duração de três anos – já pediu para lecionar, mas foi aconselhado a primeiro ganhar alguma experiência no mercado de trabalho. Em 1967, finalmente Antoninho tornou-se professor da Famecos, função que só deixou em um ano antes de sua morte, ocorrida em 1996. Assumiu a chefia do departamento de Jornalismo em 1969 e a direção da Famecos em 1976, aos 37 anos, tendo permanecido no cargo por 18 anos. Carismático, acelerado, lutador incansável, solidário, querido de todos, ótimo de oratória, apesar da gagueira – que superava colocando de tempos em tempos expressões como “as” e “mas” entre as palavras a fim de não quebrar o ritmo e seguir adiante –, Antoninho
era um apaixonado por jornalismo, respirava a profissão em tempo integral e cumpriu brilhante trajetória também fora do meio acadêmico, em redações e entidades de classe. Na Famecos, foi o responsável por importantes avanços de uma instituição que sempre foi reconhecida pela excelência e vive se modernizando e se reiventando. Aos completar meio século de existência, a Famecos continua sendo referência no ensino de jornalismo no Brasil, incorporando sempre as últimas novidades tecnológicas e conceituais do setor e contribuindo de modo expressivo para o debate sobre os rumos da profissão. Quem teve o privilégio se ser aluno de Antoninho sabe o quanto homenageá-lo é uma das melhores formas de homenagear a própria instituição.
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Créditos
GORE VIDAL 24 | Press 172
GRANDES NOMES
O genial narrador da saga americana “Por sorte, nada que é humano é constante. Hoje em dia os casamentos civis são mais numerosos do que os casamentos religiosos; o divórcio é uma coisa corriqueira; a prevenção da gravidez é universalmente praticada, enquanto o aborto é legal para quem tem dinheiro. Mas nossos governantes cederam terreno nestas questões sexuais-sociais com grande relutância, e não é nenhum segredo que há uma boa dose de frustração nas salas de reunião do país. “Umas das razões é que os trabalhadores, hoje, são menos obedientes do que costumavam ser. Quando despedidos, podem se apoiar na previdência social – uma invenção do Demônio. Além disso, o fato de a maior parte dos trabalhos que os homens fazem as mulheres também poderem fazer – e fazem – põe em perigo a velha ordem patriarcal. Uma mulher capaz de sustentarse e de sustentar seu filho é uma ameaça ao casamento, e o casamento é a instituição central através da qual os proprietários do mundo controlam as pessoas que realizam o trabalho. A homossexualidade também representa uma ameaça a seu antigo domínio, porque homens que não têm mulher nem filhos com os quais se preocupar não são tão facilmente domináveis quanto os que têm. “Em qualquer momento dado na vida de uma sociedade, há determinados botões ‘quentes’ que um político pode apertar para obter uma resposta previsivelmente ‘quente’. Há uma década, se você perguntasse ao presidente Nixon o que ele pretendia fazer com a questão do desemprego, provavelmente ele responderia. ‘A maconha é apenas uma etapa para coisas piores.’ Falar contra o pecado é uma boa política – e não se preocupem com os non sequiturs. Na realidade, é positivamente não-americano – chega a ser comunista – discutir um problema real como o desemprego ou quem está roubando todo o dinheiro do Pentágono.” *
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ara o establishment dos Estados Unidos, Gore Vidal converteu-se no mais indesejado dos biógrafos. Para os vigilantes das mazelas do grande império do Norte, um constante fornecedor de munição. Já os amantes de história contemporânea com visão crítica e apreciadores de textos deliciosos pontuados pela mais requintada ironia consideram Gore Vidal um gênio do romance histórico, além de uma personalidade ímpar e indispensável contraponto à caretice e à hipocrisia do american way, cuja formação ele retratou com mordacidade invulgar em sete livros: Washington D.C. (1967), Burr (1973), 1876 (1976), Lincoln (1984), Império (1987), Hollywood (1990) e A Era Dourada (2000). Gore Vidal desconstruía a casta dominante de seu país com a desenvoltura de quem era fruto dela. Eugene Luther Gore Vidal Jr. – aos 14 anos ele decidiu usar apenas o nome que tornaria famoso – nasceu em 3 de outubro de 1925 no hospital militar de West Point, filho único de Eugene Luther Vidal, pioneiro da aviação americana e instrutor na célebre academia, e Nina Gore, e neto de Thomas Pryor Gore, o senador cego de Oklahoma. Estudou na Universidade de New Hampshire, conviveu com a elite de Nova York e de Washington, conheceu a Casa Branca na intimidade e reescreveu a história americana com a fluidez de um bom romance e a crueza dos fatos – “Um escritor deve sempre dizer a verdade, a não ser que seja jornalista”, disse certa vez. O incomparável romancista, dramaturgo, roteirista, ensaísta, cronis-
* Trecho do artigo Sexo é Política, integrante da coletânea De Fato e Ficção.
ta e ativista político – tentou ser político formal duas vezes, mas não se elegeu – começou escrevendo contos e poemas na adolescência. Lançou seu primeiro romance, Williwaw, em 1946, aos 21 anos, produzido enquanto servia às Forças Armadas. O livro, o primeiro sobre a Segunda Guerra Mundial, abriu-lhe as portas para o sucesso, mas ele mostrou mesmo a que veio dois anos depois, com A Cidade e o Pilar, que provocou o maior reboliço por ser um dos primeiros romances da história – em qualquer lugar – a retratar a homossexualidade de maneira direta, sem disfarces ou ambiguidades. A obra foi dedicada a “J.T.”, cuja identidade permaneceu desconhecida por décadas, até Vidal confirmar que se tratava – conforme levantara a imprensa – de James ‘Jimmy’ Trimble III, morto em combate na batalha de Iwo Jima, em 1º de março de 1945, por quem era apaixonado quando estava em St. Albans e que, diria anos mais tarde, foi a única pessoa que ele realmente amou. A partir do livro, pela condição homossexual assumida desde cedo, tanto quanto pelas críticas mordazes ao belicismo americano, sofreu perseguições dos conservadores, fortalecidos pelo macartismo nos anos 1950. Era ousadia demais se assumir gay naqueles tempos, e um imperdoável tapa na cara dos moralistas escrever sobre o tema. Orville Prescott, por exemplo, crítico literário do jornal The New York Times, sentiu-se enojado com A Cidade e o Pilar, recusou-se a resenhá-lo e ainda impediu o jornal de divulgar os cinco livros seguintes do abusado rapaz. Mas o
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abusado rapaz sabia se virar, escreveu vários suspenses naqueles anos sob o pseudônimo de Edgar Box, artifício que lhe garantiu o bom sustento por uma década. A versatilidade sempre foi outro de seus traços. Escreveu roteiros de filmes, séries de televisão e peças de teatro, tendo emplacado êxitos na Broadway e em Hollywood. Em 1964, publicou Juliano, sobre o imperador romano e, em 1967, Washington, DC, o primeiro dos sete volumes da saga americana referidos no início deste texto. Já no ano seguinte veio a sátira Myra Breckinridge, um ícone da cultura pop transexual, que causou grande furou e saltou das páginas para os palcos e as telas. Os sucessos literários foram se sucedendo, bem como as polêmicas. Ao longo da carreira escreveu, além dos romances históricos, títulos como À Procura do Rei, Palimpsesto, Fundação Smithsonian, Kalki, Messias, Sonhando a Guerra, Myron, Duluth, O Julgamento de Páris, Ao Vivo do Calvário e Um Momento de Louros Verdes. Uma de suas melhores obras, ao lado dos volumes sobre a história americana, é Criação, de 1981, ambientado no século V. a.C., período fértil em ideias filosóficas, políticas e sociais que ajudariam a moldar a civilização ocidental. De convicções firmes e sem travas na língua, o escritor protagonizou muitas contendas ao longo da vida. Uma das mais famosas ocorreu no emblemático 1968, durante as convenções dos republicanos (que indicariam Richard Nixon) e dos democratas (Hubert Humphrey). A rede ABC decidiu promover debates entre um intelectual de direita e um de esquerda. O conservador escolhido foi William F. Buckley Jr., católico, crítico da onda progressista no meio acadêmico, simpatizante do macartismo e da segregação racial. Buckley sugeriu que seu oponente fosse Norman Mailer, mas aceitaria qualquer um, menos Gore Vidal, com quem já se digladiara na imprensa e nos tribunais. Mas a ABC convidou Vidal. Os confrontos épicos podem ser vistos no documentário Best of Enemies, disponível na Netflix. No clímax da série de embates, Vidal diz: “Cale a boca. Criptonazista.” Buckley, com ar abobalhado, responde: “Sua bicha. Vou socar essa sua maldita cara até você ter de aparecer engessado.” Vidal venceu. Quando Buckley morreu, ele saudou sua “entrada no inferno”. Gore Vidal morou por décadas na idílica altitude de Ravello, na Costa Almafitana, onde tiveram residências gente como Victor Hugo, H. Lawrence, André Gide, Giovanni Boccaccio, Jean Cocteau, Máximo Gorki, Richard Wagner, Pablo Picasso, Rudolf Nureyev, Franco Zefirelli, Greta Garbo, Jacqueline Kennedy Onassis e até, quem dirá, Vladimir Lênin. Retornou a Los Angeles no início do milênio. Morreu em Hollywood Hills, em de 31 de julho de 2012, aos 86 anos. “No final de sua vida, Vidal se considerava o último representante de uma espécie e, sem dúvida, tinha razão”, escreveu The New York Times em seu obituário. Sem dúvida. (Eliziário Goulart Rocha)
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Ousadia em filme bíblico: Gore Vidal aventurou-se também no cinema, sempre impondo seu estilo. Um dos maiores épicos de Hollywood – inclusive no tamanho, 3h32min –, Ben-Hur, de 1959, ganhou 11 Oscar. Ambientado em Jerusalém no início do século I, o filme conta a história de Judah Ben-Hur, um rico mercador judeu interpretado por Charlton Heston. Quando seu amigo da juventude Messala (Stephen Boyd) assume o comando das legiões romanas na cidade, condena-o a viver como escravo em uma galera romana, mesmo sabendo que ele não cometeu crime algum, mas esse jogo sofrerá uma grande virada. A seguir, Gore Vidal comenta um detalhe que ele acrescentou ao roteiro original: “Já faz alguns anos eu venho contando a história de como, ao me deparar com um script péssimo para o filme Ben Hur, eu convenci seu produtor, Sam Zimbalist (esse era um filme feito pela MGM, e o roteirista trabalhava junto ao produtor, não ao diretor; posteriormente o diretor, nesse caso William Wyler, fazia considerações) que a única maneira de se justificar várias horas de ódio entre dois rapazes – e aquele monte de cavalos – seria estabelecer, sem que isso fosse dito em palavras, um caso entre eles quando jovens; quando se reúnem no início do filme, o romano, interpretado por Stephen Boyd, deseja reatar a relação de onde ela havia parado, mas o judeu, Heston, o despreza. Essa é a cena que foi filmada e que aqueles que assistiram a The Celluloid Closet (documentário no qual o autor falou sobre o assunto pela primeira vez) viram, com meus comentários. O crítico de cinema Kenneth Turan escreveu que ‘assistir ao trecho do filme serve como um argumento forte a favor da veracidade das afirmações de Vidal de que Boyd sabia o que estava acontecendo, mas Heston não’.”
OPINIÃO
O feno e o caviar
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momento mais importante da entrevista jornalística acontece quando o repórter se prepara para ela. Sim, porque é a hora em que ele: a) avalia se a pauta recebida é boa, isto é, se serve ao povo ou simplesmente atende a pessoas ou grupos que se valem da Imprensa para tentar difundir seus próprios interesses; b) revisa e amplia o seu conhecimento sobre o tema; c) prepara boas perguntas. Jornalistas ingênuos – mesmo com longo tempo de profissão - e os foquinhas inexperientes, deslumbrados com o poder de perguntar, não se dão conta de que o produto final do seu esforço legítimo pode ser feno ruminado pelos leitores (a audiência!). Bem intencionados, orgulhosos de si mesmos, julgam estar servindo caviar. Pois lhes digo, coleguinhas ingênuos e foquinhas inexperientes, que há muitas pessoas – como eu - que assumem a frase atribuída a um parlamentar nordestino explicando o porquê de se retirar do plenário quando um opositor ocupava a tribuna: “Não sou obrigado a quadrupedar com a jumentice alheia”. Nem toda notícia é caviar, mas não me sirvam feno, por favor! Jornalistas sem caráter, independente do tempo de profissão, sabem quando estão servindo feno enquanto tentam nos fazer acreditar que se trata de caviar. São habilidosos em escolher palavras que buscam direcionar a notícia e em evitar perguntas que escamoteiam o nosso acesso à versão jornalística mais próxima possível da Verdade. As boas perguntas podem ser circulares e complementares, enredando en-
Jornalistas sem caráter, independente do tempo de profissão, sabem quando estão servindo feno enquanto tentam nos fazer acreditar que se trata de caviar
trevistados na teia de suas próprias contradições. Eles ficam, literalmente, em palpos de aranha. A boa pergunta também pode ser incisiva e perfurante como o picador de gelo na mão de Sharon Stone em Basic Instint. (No Brasil, Instinto Selvagem.) O bom repórter é apenas um bom perguntador. Não acho que tenha sido nem bom nem mau repórter entre 1971 e 1983, quando trabalhei intensivamente nos jornais Folha da Tarde e Correio do Povo e, episodicamente, na rádio Capital. Sofrível é um adjetivo adequado. Sofria eu e sofriam os leitores e ouvintes. Já como editor, a história é outra. Minha modéstia arrisca um bom alçado ao limiar inferior do muito bom. Para editar é preciso saber avaliar o material que chega à redação encaminhado pelos repórteres. Isto inclui identificar inconsistências, reordenar a apresentação de informações, determinar a complementação do que faltou e detectar perguntas
Mario Rocha
que poderiam ter sido formuladas. Sei fazer isto. Querem algumas? Onde está a revelação da origem da central de tratamento de esgotos industriais na beira do Guaíba? (Pista: é de antes do DC Navegantes). Quem é o proprietário da gaveta que acolhe em Segredo de Justiça, a caminho da prescrição, um processo da CEEE? (Pista: recupere colunas dominicais de Flávio Tavares). Quando ocorreu e qual o motivo do abandono do traçado original da saída do túnel da Conceição com pista projetada sobre a avenida Osvaldo Aranha e o campus central da UFRGS, desafogando a rua Sarmento Leite? (Pista: os mapas jazem na SMOV - Prefeitura de Porto Alegre). A Câmara de Vereadores de Porto Alegre é composta por representantes do povo, tudo bem, mas o povão - como o engraxate Bagé – tem assento nela para ser chamado de Vossa Excelência? (Pista: verificar os currículos educacional e profissional dos atuais legisladores e pesquisar as mesmas informações entre todos os candidatos da próxima eleição). Se ainda persistem cláusulas nos contratos entre Grêmio/OAS e Inter/AG tão na penumbra quanto o fog (nevoeiro) nas ruas londrinas por onde se esgueirava Jack, o Estripador, não seria o caso de revela-las? (Pista: é questão controversa, mas se os dois clubes particulares recebem qualquer tipo de apoio do Poder Público, uma ação judicial poderia exigir a transparência). Tem mais, tem mais...
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Fotos do Arquivo Pessoal
LIVROS
Tudo por uma imagem: muito esforço para registrar por um ângulo diferente o comício de Fernando Collor na corrida presidencial de 1989
A força do talento
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Anderson Astor
KADÃO CHAVES
A força do tempo
icardo Chaves é da época em que o fotojornalismo assumiu definitivamente sua condição de trazer em cada imagem informações que, de alguma forma, impactassem o leitor. Ele soube fazer isso com maestria e pontuou sua presença na imprensa brasileira com imagens que ajudam a contar a história recente do Brasil... Seguramente, neste livro, aprenderemos um pouco sobre o nosso país e teremos uma narrativa visual que relata e documenta a trajetória profissional impecável de Kadão.”
KADÃO CHAVES
icardo de Leone Chaves, ou simplesmente, Kadão, trabalhou nas principais publicações do País, viajou pelo mundo todo, cobriu muitos eventos importantes, tornou-se referência em fotojornalismo, mas jamais perdeu aquele brilho no olhar que identifica os talentos vocacionais. A curiosidade pelos fatos, o apuro estético, o capricho na busca do melhor ângulo e da melhor“R luz seguem intactos no menino sessentão. Boa parte de seu sucesso deve-se, por certo, ao fato de ter sempre se comportando como um principiante, no melhor dos sentidos que a palavra pode abrigar. Por tudo isso, e pelo talento inegável como repórter fotográfico, Kadão tem a admiração dos pares e é quase – concedamos o quase – unanimidade entre os que dividiram com ele redações, pautas, vôos, quartos de hotel, expectativas, frustrações e vitórias profissionais ao longo de uma carreira brilhante. Rubens Fernandes Júnior
Jornalista e crítico de fotografia
Produção
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Financiamento
A força do tempo Histórias de um repórter fotográfico à frente e atrás das lentes
O designativo “repórter fotográfico”, por sinal, cabe-lhe feito uma luva. Bem acima da média, Kadão sempre se preocupou em colher, junto com as imagens, todas as informações que pudesse a respeito do fato que ela ilustrava. Com isso, enriquecia seu olhar na hora de fotografar, bem como valorizava o conjunto a ser editado, contribuindo com detalhes dos quais nem sempre o repórter dispunha. Para um jornalista de texto, formar dupla com Kadão sempre foi uma garantia de contar com um parceiro bastante participativo. Em contrapartida, mesmo já bastante experiente, jamais dispensou sugestões, um gesto de sabedoria que os profissionais guiados pela soberba costumam ignorar. Kadão tem muita coisa para contar, e agora resolveu contar um pouco no livro A Força do Tempo – Histórias de um repórter fotográfico à frente e atrás das lentes, que está sendo lançado pela editora
Libretos, com edição de Pedro Haase Filho (Quati Produções Editoriais), projeto gráfico de Clô Barcellos, prefácio de Luiz Cláudio Cunha e financiamento do Fumproarte/Prefeitura de Porto Alegre. A obra tem 184 páginas de textos e fotos, tanto feitas por ele, quanto as que o mostram no front do fotojornalismo.
Nascido em Porto Alegre, em 21 de julho de 1951, Ricardo Chaves começou a carreira como auxiliar de laboratório na Zero Hora, em 1969, transferindo-se em seguida para a agência Focontexto, de Assis Hoffmann. Depois trabalhou na sucusal do Jornal do Brasil, atuou como free da Editora Abril, publicando seus trabalhos em vários títulos, em es-
pecial a Veja. Mais tarde se mudou para o Rio, em seguida para São Paulo, onde trabalhou na IstoÉ, depois para Brasília, contratado como coordenador de fotografia da Agência Estado, e novamente para São Paulo, como editor de fotografia do Estadão. Em 1992, voltou para Porto Alegre para assumir a editoria de fotografia de Zero Hora.
Cenários de uma carreira: infiltrado na formação dos Dragões da Independência para examinar as possibilidades de um ângulo melhor; exibindo orgulhoso seu equipamento na Copa do Mundo do México, em 1986; e destacando-se na paisagem branca da Antártida
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udrey Hepburn era uma ótima atriz, a voz suave a tornava uma interessante cantora ocasional, tinha uma história de vida interessante, um corpo que vestia bem qualquer modelito, virou ícone da moda, mito do cinema, onde poucas a alcançaram em prestigio e idolatria, e exibia beleza, charme, elegância e doçura que faziam plateias suspirarem mundo afora. Audrey era uma delícia. Sonho de consumo de milhões de marmanjos e modelo a ser perseguido por milhões de garotas. Audrey tinha estirpe: era filha de um banqueiro inglês e de uma baronesa holandesa descendente de reis ingleses e franceses. Mas sua vida não foi fácil. Durante a Segunda Guerra Mundial teve de comer folhas para sobreviver e esteve ligada à Resistência Francesa. Nascida em 4 de maio de 1929 em Ixelles, na Bélgica, morreu em 20 de janeiro de 1993 em Tolochenaz, na Suíça. Mas o mito resiste. Audrey é clássica, é cult, é diva. Audrey é tudo de bom. O olhar sapeca, com a dose certa da mistura infalível inocência-sensualidade, dotada de carisma incomparável, Audrey era um dos nomes mais cobiçados pelos grandes estúdios nos anos dourados de Hollywood. Sua simples – ou sofisticada – presença era garantia de sucesso para qualquer película. Mesmo que o restante do elenco não ajudasse, o roteiro não segurasse ou o diretor não se garantisse, sempre haveria Audrey. Mas ela não costumava enfrentar este tipo de problema, pois o talento se revelou tão logo arriscou a sorte como atriz. Atuou em diversos filmes inesquecíveis como A Princesa e o Plebeu, Sabrina, Guerra e Paz, Cinderela em Paris, Infâmia, Quando Paris Alucina, Como Roubar um Milhão de Dólares, My
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Durante a Segunda Guerra Mundial teve de comer folhas para sobreviver e esteve ligada à Resistência Francesa
Fair Lady, entre tantos outros. O maior sucesso foi Breakfast at Tiffany's, inspirado no livro homônimo de Truman Capote, e que no Brasil recebeu o ridículo título de Bonequinha de Luxo.
Sobre a capa da Life que ilustra esta página, bem, pode-se dizer que é uma capa clean, que o fotógrafo fez um belo retrato e etc. Mas o que importa é que Audrey era, e sempre será, uma delícia.