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Manchete
ALMANAQUE
NASCE A
O
Há 75 anos, em abril de 1952, começou a circular no Rio de Janeiro a revista Manchete. Criada pela Bloch Editores, empresa fundada pelo imigrante ucraniano Adolpho Bloch (19081995), a publicação era inspirada na revista ilustrada de fotojornalismo Paris Match.
objetivo de Bloch com a criação da Manchete era fazer concorrência à revista O Cruzeiro, publicada pelos Diários Associados, grupo pertencente ao empresário Assis Chateaubriand (1892-1968). Inicialmente, a revista era pouco atraente: papel de qualidade inferior, diagramação ruim, e a matéria de capa era a única colorida. Por volta de 1956, com a aquisição de novas impressoras, o padrão gráfico ganhou qualidade. Nahum Sirotsky, que sucedeu a Henrique Pongetti no cargo de editor geral, foi o responsável pelas mudanças. O apogeu da revista coincidiu com o declínio de O Cruzeiro e com a transferência de dezessete jornalistas deste periódico para a Manchete, em 1958, por divergirem da postura ética de Assis Chateaubriand. Do quadro de repórteres e colaboradores fizeram parte David Nasser, Jean Manzon, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Joel Silveira, Orígenes Lessa, Otto Maria Carpeaux, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues, entre outros. Sob o comando do gaúcho Justino Martins, ex-diretor da Revista do Globo de Porto Alegre, a Manchete acabou superando O Cruzeiro em circulação. Três décadas após o sucesso da revista, foi lançada a TV Manchete em 5 de junho de 1983. Em 1995, morre Adolpho Bloch e o grupo entra em decadência. Em 10 de maio de 1999 fecha a televisão e, no ano seguinte a revista deixa de circular.
A HORA DA VINGANÇA Em março de 1952 também era lançado o filme Deadline - U.S.A. (A Hora da Vingança, na tradução brasileira). Escrita e dirigida por Richard Brooks, a produção era estrelada por Humphrey Bogart, que interpretava Ed Hutcheson, um editor idealista que expõe os crimes de um gângster enquanto também tenta impedir o seu jornal - The Day - de ser fechado. A história é levemente inspirada no fechamento do jornal New York World, ocorrida em 1931.
Dito
“No trabalho jornalístico, processo criativo muitas vezes é o nome que se dá ao pânico. É preciso cumprir prazos, e você acaba produzindo, inspirado ou não.” Luis Fernando Veríssimo
“Jornalismo objetivo e uma coluna de opinião são tão similares quanto a Bíblia e a revista Playboy.” Walter Cronkite (1916 - 2009)
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SUMÁRIO
Sumário
Diretor-Geral JULIO RIBEIRO Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN Textos: MARCO SCHUSTER MARCELO BELEDELI
Diagramação/ Arte Final ESPARTA PROPAGANDA Imagens: Fotografia: Jefferson Bernardes/ Agência Preview Assinaturas atendimentoad@terra.com.br Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA
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RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE - RS CEP 90160-240 FONE/FAX (51) 3231 8181 www.revistapress.com.br comercial@revistapress.com.br
Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 9971 5805 com NELCI GUADAGNIN PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DA REVISTA.
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Almanaque
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Aquário: Julio Ribeiro
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Entrevista: Marcos Losekann
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Opinião: José Luiz Prévidi
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Capa: Uma revolução no meio da guerra
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Grandes Nomes: Joseph Pulitzer
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Galeria: Lady Di
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PREOCUPAÇÃO
No início de março, relatores especiais da ONU sobre liberdade de expressão já haviam divulgado uma declaração conjunta afirmando que as "notícias falsas", a desinformação e a propaganda representam uma preocupação global. Além das Nações Unidas, o comunicado foi assinado também pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pela Organização para Cooperação e Segurança na Europa e pela Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos.
Efeito Trump ajuda os jornais
No último trimestre de 2016, o New York Times ganhou 276.000 assinantes digitais, a maior quantia desde que começou a vender assinaturas virtuais em 2011. Especialistas atribuem isso ao chamado "Trump bump", o impacto positivo da cobertura do novo presidente para o jornalismo nos Estados Unidos. Levantamento do consultor e analista de mídia Ken Doctor mostra que efeito semelhante foi observado em outros veículos de alcance nacional e global, como o Washington Post e o Financial Times, e até em alguns regionais, como o Boston Globe, que, assim como o New York Times, têm sistemas de assinatura digital. Revistas como a New Yorker e a Atlantic também tiveram números positivos.
CASA BRANCA EM GUERRA COM A IMPRENSA Apesar da eleição de Donald Trump ter gerado bons resultados para os jornais, a relação do novo governo norte-americano com as empresas de comunicação segue turbulenta. Em uma ação sem precedentes, a Casa Branca impediu a participação em briefing de veículos como CNN, New York Times, Los Angeles Times, os sites BuzzFeed, Huffington Post, Politico e os britânicos BBC e Daily Mail. Foi permitida a presença apenas de redes consideradas mais “conservadoras”, como NBC, ABC, CBS, e Fox, assim como os veículos Breitbart, Washington Times e One America News Network.
VAGA SEM REMUNERAÇÃO
Jorge Wakabara, jornalista do site Lilian Pacce, publicou em seu Facebook pessoal no dia 3 de março, um post divulgando uma vaga sem remuneração para a cobertura da São Paulo Fashion Week. Indignados com as exigências do trabalho e com a falta de pagamento, internautas compartilharam prints nas redes sociais.No dia, 6, Lilian Pacce usou sua página no Facebook para se desculpar pelo ocorrido. "Erramos. Antes de mais nada nos desculpamos", disse a jornalista. Nos comentários dos internautas, muitos disseram que já se depararam com a situação em outros veículos.
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AQUÁRIO
Boa leitura!
Ao escrever sobre os 20 anos da revista PRESS ADVERTISING é forte a tentação em falar do passado, porque duas décadas é uma eternidade nos dias de hoje.
O mundo — como diria a Carla Perez (a gurizada nem sabe quem é) — deu uma volta de 360º. Quanta coisa surgiu neste tempo. Banda larga, wi-fi, smartphones, pen drives, o Google (como vivíamos antes dele?), Youtube, Facebook, Twitter e todas as demais redes sociais que usamos atualmente, Netflix e todos os serviços de streaming, Skype, Messenger, Whatsapp e outros aplicativos de comunicação (surgiram os aplicativos!), os tablets, os super computadores na mesa de casa, os serviços de geolocalização, o Uber, Cabify e outros quetais. Isso tudo só para ficar na tecnologia mais usada no cotidiano de qualquer um de nós. Mas, todas as áreas do conhecimento humano foram, também, impactadas de forma contundente e radical por novas tecnologias. O comportamento humano e as relações sociais, igualmente, mudaram muito nesses 20 anos. Então, eu poderia escrever sobre todos os esses instantes da permanente mudança que a revista vivenciou, testemunhou e registrou desde a sua primeira edição, em março de 1997. Poderia discorrer sobre as transformações profundas que a indústria da comunicação experimentou neste período. A publicidade e as agências de não são mais as mes-
mas, definitivamente. O negócio da propaganda mudou e nunca mais será o que foi até os anos 90. A imprensa a mesma coisa, os veículos tiveram que se ajustar, reinventar e ainda um tanto tontos buscam um novo modelo de negócio que viabilize a produção de conteúdos que os diferencie no mar de noticias falsas que se propagam no mundo (as fake news sempre existiram, mas atualmente elas assumiram o caráter de pandemia). Ou então, tratar aqui do futuro, tentando antever as novas mudanças que, certamente, virão avassaladoras nos próximos 20 anos. Algumas delas já em fase de teaser, como os carros autônomos, a realidade aumentada, a internet das coisas, e por ai vai. Mas isso, de alguma forma já tratamos na matéria de capa da AD. Poderia escrever sobre tudo isso. E acabei escrevendo (risos). Mas, gostaria de tratar, especialmente, desta edição. Porque ela é representativa de tudo o que tentamos ser e fazer nesses 20 anos e que pode ser resumido em inovação permanente (projeto aberto, sempre em versão Beta), respeito ao passado e olhar no futuro, e produzirmos conteúdo relevante para nossos leitores. Então, circulamos com um novo projeto gráfico — o sexto em 20 anos —, que junta o clássico e o moderno, valorizando ainda mais os textos e estimulando a leitura e com pautas que olham para trás e para frente com a mesma seriedade e serenidade, sem paixões e sem verdades absolutas. Na Press, inauguramos o registro histórico de grandes efemérides, com a reportagem sobre os 100
JULIO RIBEIRO
julioribeiro@terra.com.br
anos da Revolução Russa, iniciada em março de 1917 com a deposição do czar Nicolau II. Como se deram os fatos e como a imprensa mundial e brasileira analisou e informou o que acontecia no leste europeu, há um século. Na AD, nosso olhar é para o que está começando a despontar como a grande novidade nas relações de consumo no mundo, a radicalização do marketing one-to-one, proporcionada pela convergência de várias tecnologias que colocam o indivíduo no centro, de fato, das decisões de compra. Ambas as reportagens de capa trazem a assinatura do competente Marco Schuster, que foi editor da Press Advertising por dez anos. Mais uma vez fico feliz de escrever a expressão que caracterizou grande parte dos meus artigos nesta revista nesses 20 anos e que, ao mesmo tempo, soam como um convite e uma constatação: boa leitura!
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Novas regras para
RADIODIFUSÃO
O Senado aprovou no dia 7 de março a Medida Provisória 747/2016, que modifica as regras de concessões de radiodifusão. O texto permite a regularização das concessões que estão vencidas e possibilita a essas emissoras regularizarem a situação junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações no prazo de 90 dias contados da data de edição da MP. A MP estabelece que as emissoras com a concessão em dia podem solicitar a renovação durante os 12 meses anteriores ao vencimento. Se o prazo acabar e a emissora não tiver feito o pedido, o Ministério das Comunicações faz um aviso à emissora e abre prazo de 90 dias para que ela se manifeste.
FIM DE A RAZÃO Depois de 82 anos em atividade, fechou as portas, no dia 25 de fevereiro, o jornal A Razão, de Santa Maria. Segundo comunicado da direção, a decisão se deu devido à crise econômica. Até o fechamento desta edição, havia a possibilidade da Rádio Santamariense, pertencente ao mesmo grupo, também ter as suas atividade encerradas. Fundado em 1934 pelo jornalista Clarimundo Flores, o veículo já pertenceu ao Grupo dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Em 1982, passou a ser administrado pela família De Grandi.
LEIA ANTES DE COMENTAR
O site da TV pública norueguesa NRK fez um experimento para melhorar o nível de sua caixa de comentários. Antes de comentar, o leitor precisa responder a um teste com três perguntas sobre o texto, que demora cerca de 15 segundos. O motivo foi uma publicação, feita no ano passado, que denunciava um fórum que postava fotos de garotas norueguesas menores de idade. O artigo foi inundado de comentários de "haters". 8 PRESS176
Fechamento de rádios Já em São Paulo, ocorreu o fechamento da Rádio Estadão, que operava no dial 92,9 FM. A programação ficou no ar até o dia 18 de março, quando a mesma frequência passou a veicular conteúdo da Comunidade Cristã Paz e Vida. Em comunicado, o Grupo Estado informou que a iniciativa é fruto da concentração cada vez mais intensa no segmento digital. Essa foi a segunda rádio, em São Paulo, que saiu do ar em março. No dia 12, também foi encerrada a programação da Bradesco Esportes, gerenciada pelo Grupo Bandeirantes.
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ENTREVISTA
MARCOS LOSEKANN
Depois de 33 anos no jornalismo
voltei a estudar
Direito
Trinta e três anos de carreira. O guri de uma cidade pequena do Noroeste do Rio Grande do Sul chegou mais longe do que imaginava, sendo que pensava em ser advogado, não? Pois é, eu queria mesmo ser advogado. Eram as referências que a gente tinha lá em Independência e Três Passos, onde acabei me criando. Saí de Independência antes dos 10 anos de idade. Meus pais tinham uma empresa lá, que acabou não dando certo, e eles foram buscar alternativas profissionais em Três Passos. Lá, fiz um círculo de amigos, e o pai de um deles era um advogado bastante conceituado, tinha um escritório bastante concorrido, e comecei a conviver com esse meio e gostar bastante dele. Então essas eram as referências que eu tinha. Não havia na cidade mais do que um jornal semanal. E a televisão não pegava quando fui morar lá. A Globo ainda não chegava em Três Passos. Daí você começa a fazer suas previsões de futuro, do que vai fazer da vida, em cima dessas circunstâncias. Gosto muito de citar uma frase do José Ortega y Gasset, que diz “eu sou eu e minhas circunstâncias”. Esse é fato. Então fui a Cruz Alta em busca do Direito, por que Medicina, e outras coisas que faziam parte de minhas referências não faziam minha cabeça, sempre fui um homem das letras, não das ciências. Teu pai é caminhoneiro, nunca teve interesse em seguir essa profissão? Não, o meu pai sempre quis que eu tivesse um “Dr” na frente do nome, ou seja, ser um doutor. Ele sempre quis que eu estudasse, que fosse para a universidade, que fizesse algo. Não queria aquela vida pra mim, dizia que não levava a nada. Mas leva sim, meu pai é caminhoneiro até hoje. E ele viajou o mundo inteiro, onde quer que eu fosse, o seu Ari e a dona Elaine foram atrás. Imagina como, na simplicidade deles, isso foi importante. Mas a questão do “Dr” mostrava qual era a intenção da família: “nosso filho tem que se formar, ir pra universidade, a gente vai se matar se for preciso mas vamos dar essa condição pra ele”. E assim foi, cresci nesse ambiente com essa certeza de que isso iria acontecer. Mas não adiantaria meus pais quererem, a família apoiar, se eu não tivesse amigos que me incentivassem. E tive muita sorte, porque ao chegar em Três Passos eu caí numa turma que
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tinha propósito, uma missão, e que me adotou. Então fui logo cercado por uma turma do bem, cujos integrantes são até hoje meus amigos e compadres. Quem te levou para o “mau caminho” foi o Flávio Damiani, então? Ele me levou para um vício (risos). Foi um acidente de percurso, literalmente. Eu fazia Direito em Cruz Alta, tinha aulas de manhã, algumas vezes à tarde e, com alguma frequência, à noite. Fui em uma aula noturna, que acabou em torno de 22h, peguei um ônibus, voltei para a cidade, fazia muito frio, 1ºC, e fui para meu canto na minha república. Éramos em nove morando juntos. Eu já estava na cama quando meu colega de quarto acende a luz e diz “fora, fora, vamos todos jantar na pizzaria”. Eu queria dormir, e estava sem dinheiro, mas ele disse que iríamos fazer uma vaquinha, me pagava a conta. Eles gostavam que eu fosse porque eu era animado, contava piadas. E lá fui
eu. Quando a gente entrou, havia vagado uma mesa perto da lareira que havia, que era o lugar mais disputado da pizzaria. Então meus amigos foram rapidamente ocupar aquela mesa, e eu fiquei me demorando, olhando quem frequentava o lugar. E nisso um cara desmaia na minha frente. Eu tento ajudar, vejo que ele está se recuperando, foi um mal súbito, e esse cara era o Damiani. Quando vi que ele estava bem eu disse que ia então sentar com meus amigos, mas ele fez questão de juntar as mesas, e fizemos um grande sarau aquela noite. Mas o que ele teve? Um mal súbito. Algo que só aconteceu pra gente se conhecer (risos). Não tem outra explicação. Viramos amigos, e ele me convidou para visitar a emissora de televisão. Ele perguntou se eu já conhecia, e eu disse que não, mas me interessaria, sempre fui curioso. Aí fui conhecer a TV, e nunca mais saí de lá.
Losekann já cobriu cinco guerras, entre elas, a entre Israel e Líbano, em 2006, na qual permaneceu no front os 33 dias do conflito
Estavas em que ano do Direito? Estava terminando o primeiro. Fiz mais um, mas esse segundo ano fiz muito capenga. Naquele tempo não existia esse “mar” de faculdades de Comunicação que existe hoje no Brasil. Então era possível contratar pessoas que não fossem formadas para ocupar uma vaga, desde que no mercado local não houvesse quem preenchesse. O que aconteceu é que, uns meses depois das minhas peregrinações à TV o Damiani me falou “tem uma vaga de repórter, a gente não está conseguindo fechar, te interessa?”. Eu disse que sim, até por experiência. Até então imaginava tudo para o Direito. Mas vamos brincar disso. No dia 21 de agosto de 1984 assinaram minha carteira como locutor e entrevistador. Um ano depois fui
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ENTREVISTA incentivado pelo próprio Maurício Sirotsky Sobrinho, que estava em Cruz Alta para receber uma distinção de cidadão cruzaltense da Câmara Municipal de Vereadores. Ele me disse que me via na televisão, pela rede regional de notícias, que gostava de mim, e que achava que eu deveria investir na carreira. Isso foi como uma ordem pra mim. Assim eu tranquei minha matrícula, fiz cursinho, passei no vestibular em Santa Maria e Pelotas. Acabei optando por Pelotas, porque lá tinha mais receptividade. Podemos dizer que Pelotas te abriu para explorar coisas maiores? Exatamente. Quando eu saí de Pelotas, três anos depois, eu estava completamente preparado para algo maior. Quando cheguei em Porto Alegre minha ambição era a TV Gaúcha, algo que não aconteceu, por algumas circunstâncias, não tinha vaga. Mas daí surgiu a oportunidade da Rádio Gaúcha, e pensei “é comigo mesmo”, porque eu estava sedento de novas experiências, eu tinha que fazer coisas novas. Então fui para a Rádio Gaúcha, trabalhei um ano e pouco. Depois, quando o Cleiton Selistre foi ser diretor da RBS TV em Florianópolis e me chamou, aí pensei “agora é hora de voltar para a televisão”. E em Santa Catarina tinha a oportunidade de fazer jornal também, porque tinha um pacotão que você podia fazer a TV e o Diário Catarinense. E essa história de que enquanto estava em Florianópolis você “entupiu” a Globo de matérias especiais? Isso é interessante, porque Porto Alegre tinha uns quatro ou cinco repórteres de rede. Santa Catarina só tinha eu. Em 1989, o primeiro ano inteiro em que fui repórter de rede, fiz mais matérias em Florianópolis
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Losekann morou 3 anos em Jerusalém, durante os quais cobriu os principais acontecimentos no Oriente Médio
do que os quatro ou cinco de Porto Alegre. Mas não havia uma competição, uma meta. Você já tinha o faro de repórter desde cedo? Acho que você tem que ter faro, tem que ser uma coisa nata, nascer com isso. Mas se você não trabalha isso, não tem pessoas que vão te incentivar essa qualidade, não vai acontecer. E eu tive no Damiani meu descobridor, o cara que me apontou a estrada. Depois tive, ao longo do caminho, pessoas muito importantes para minha carreira.. Dessas histórias de Santa Catarina, qual mais te marcou? Meu antes e depois em Santa Catarina foi quando teve greve dos mineiros da região de Criciúma. Entrei em uma mina, em que você descia 800, 900 metros, depois andava debaixo da terra três ou quatro quilômetros, e lá tinha máquinas bombando água para impedir
que a mina alagasse, e era a única coisa que os mineiros mantinham em funcionamento. Então andar lá embaixo, sabendo que se a máquinas parassem aquilo alagaria em questão de minutos, era uma sensação absolutamente estranha. Dava medo, mas ao mesmo tempo era muito legal estar lá. Era a primeira vez que uma equipe de televisão estava descendo naquelas entranhas da mina. Eu pensei “é isso que eu quero pra mim”. E como surgiu a oportunidade de ir para Brasília? Eu estava trabalhando em Florianópolis durante a Copa do Mundo de 1990, quando o Brasil perdeu com aquele gol do Caniggia para a Argentina. Eu ia fazer uma entrada ao vivo da Avenida Beira-Mar, que não houve porque o Brasil perdeu, e fui para casa frustrado. Aquela noite fui dormir cedo. Menos de 10 horas depois do jogo sou acordado por um telefone de alguém se dizendo o
Schroeder - Carlos Henrique Schroder, hoje diretor geral da Globo. Ele é de Santo Ângelo, também da minha região, e ele já estava numa chefia quando o Alberico de Sousa Cruz comandava a Central Globo de Jornalismo. Ele me disse que tinha uma proposta para ir a Brasília, que iria abrir uma vaga lá, e queria saber se eu tinha interesse. Hoje eu sei que a gente tem que pensar mais, ver salário, negociar, mas na hora falei que queria. Por que achei que tinha chegado o momento. Aquela cobertura da Copa do Mundo tinha encerrado uma fase da minha vida. E eu já tinha recebido uma proposta para ir para a Globo um ano antes que não tinha aceitado, achava que ainda tinha que explorar a oportunidade que a RBS me dava de eu ser repórter local. No final daquele jogo foi como se um sininho tivesse tocado: “velho, chegou tua hora, vamos embora que você tá pronto”. E o que tinha que acontecer foi muito rápido. E em Brasília é um cenário nacional, onde as coisas do País oficial acontecem. Como foi tua chegada lá? Já tinha vários gaúchos em Brasília também. Tinha, estava lá o Alexandre Garcia, que era diretor da TV, e tinha muitas coisas acontecendo. Era o momento do Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito diretamente desde 1960, e eu estava fazendo parte daquilo tudo, aprendendo cobertura política. Fiquei feliz com esse trabalho em 1990, 1991, mas daí iria haver uma coisa no Brasil chamada Rio 92, a Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Foi aí que te mandaram fazer matérias na Amazônia? Não, na verdade meio ano antes havia caído um avião de garimpei-
ros na selva e o governo da Venezuela dizia que tinha sido por falta de combustível. Mas na verdade o avião tinha sido abatido. Eu achei o avião, e aquilo me colocou num novo patamar do jornalismo, por que era um dos primeiros grandes furos que a TV brasileira dava em toda a imprensa, especialmente de jornal. A gente foi e provou que o havia havia sido abatido, por que tinha buraco de bala. Como achou esse avião? Tinha um sobrevivente, um garimpeiro. Havia cinco pessoas dentro do avião, quatro tinham morrido, e um sobreviveu. Ninguém deu bola pra isso, porque a versão oficial sempre é mais confortável. E a versão oficial era da forma que a Venezuela contava. Mas o garimpeiro, o Alarico, se dispunha a levar o primeiro jornalista que aparecesse para contar a história. E fui até o Alarico, numa operação louca, decolando de uma pista clandestina, porque a Funai controlava o espaço aéreo dos Yanomami e não deixava que ninguém voasse na área. Usando a linguagem de garimpeiro, o Alarico me convenceu que eu ia encontrar “ouro em pó” se fosse com ele. Eu fui, e depois de três dias de caminhada encontramos o avião na selva, crivado de balas. Toda a história do garimpeiro se confirmava. Filmamos a aeronave, e voltamos até o posto da Polícia Federal de onde nós iríamos pedir para um avião para nos buscar. Quando chegamos no posto da Polícia Federal descobrimos que a Guarda Nacional da Venezuela estava alardeando que havia encontrado o avião e que ele estava incendiado na selva. Incendiado como, se encontramos ele inteiro? Então, se é que tinham encontrado, colocaram fogo. Moral da história: virou reportagem internacional, foi um grande momento da TV Globo, e me permitiu seis
meses depois ser repórter na Amazônia durante o período da Eco-92, para ficar na região durante três meses, um antes, outro durante e um depois do evento. Mas depois disso tu saiu da selva e foi para São Paulo, para a matriz. Passei seis meses depois no Rio de Janeiro e quatro anos em São Paulo. Foi uma experiência importante, porque lá se faz coisas grandes, tudo de relevância repercute em São Paulo. Depois de mais uma temporada de um semestre no Rio, e aí o Evandro Carlos de Andrade me chamou para Londres. Você já estava pensando em alçar um voo internacional, não? Não, na verdade depois da Amazônia eu achava que minha missão longe de tudo e de todos estava meio que completa. Eu não estava esperando. Quando o Evandro Carlos de Andrade me procurou foi uma surpresa. Não que isso nunca esteja nas possibilidades de um repórter da Globo, uma das poucas emissoras do mundo que tem essa tradição de ter muitos correspondente internacionais. Mas eu não achava que ia acontecer comigo, tinha pessoas que batiam na porta e que pediam, queriam, e eu não fazia isso. Pra mim foi uma grande surpresa. E como foi tua preparação para essa mudança? Fui convidado em 1999, ainda em São Paulo, e fui para o Rio antes por alguns meses antes de ir para Londres em agosto de 2000. Ainda em São Paulo aproveitei para dar um tapa no inglês. Contratei uma professora de inglês para dar uma ajuda, e essa professora é hoje minha esposa, Ana Lélia. Fui pro Rio, a gente se viu algumas vezes, e um mês depois que fui para Londres ela foi
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ENTREVISTA também, pra fazer um curso, trabalha na Cultura Inglesa em São Paulo. Qual era tua situação como correspondente lá? Fiquei dois anos como funcionário. Aí eu tive que sair da Globo. A emissora precisou enxugar a estrutura em Londres, e aí era ou voltar pro Brasil ou ficar por conta e risco. Eu achava que era muito cedo retornar. Minha esposa tinha acabado de entrar num mestrado de Linguística, que era o sonho da vida dela fazer, e eu achava que voltar naquele momento, após apenas dois anos, era muito rápido. Então fiz um acordo com a Globo de ficar como freelancer. Não tinha nenhum compromisso com a emissora, e eles me chamariam mediante interesse. Mas eu dei sorte, porque um ano depois que cheguei lá o Bin Laden destruiu duas torres em Nova York, e saí da Globo nesse período. Logo depois começou a guerra do Afeganistão, e eles me chamavam muito. Então o telespectador no Brasil nem notou. Claro que não queria um 11 de Setembro, não queria uma guerra. Mas, para um jornalista que vive de fatos, aqueles fatos foram decisivos para me empregar e me manter no ar. Você também estava em Jerusalém quando começou guerra contra o Líbano em 2006. Sim, cobri essa guerra também. No total, eu cobri cinco guerras. Uma na América Latina, entre Equador e Peru, em 1994. Depois cobri a do Afeganistão, a do Iraque, a de Israel e Líbano, e a última foi a da Líbia, quando derrubaram o Muammar Gaddafi. E em alguma delas você sentiu o perigo de perto, um risco grande de uma fatalidade? Aqui, na do Peru com Equador, não teve grandes problemas, era
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uma guerra mais tradicional, trincheira contra trincheira, mas a gente sabia onde se posicionar. Afeganistão, Iraque e Líbia também foram tranquilas para trabalhar. Mas a de Israel com o Líbano, que foi rápida, apenas 33 dias, era uma guerra onde jornalista vai onde quer. E eu escapei por pouco de ser atingido por um míssil katiucha do Hezbollah, que eles atiram a esmo, pois não tem tecnologia. Caiu muito próximo de nós. Se não fosse por um pomar de macieiras entre o local onde eu e o cinegrafista estávamos e o local onde caiu, e essas macieiras absorveram os estilhaços, eu acho que não estava aqui contando essa história. Mas sabe como é nosso trabalho, só cai a ficha que foi perigoso depois que passa. A cobertura de uma guerra, do ponto de vista profissional, é gratificante ou é frustrante, pelas dificuldades de informação? A guerra seduz jornalistas. A gente acha interessante, grandioso. Há uma sedução em ter no currículo correspondente de guerra. Mas depois que cobri, descobri que meu sonho era ter feito uma grande cobertura de paz, ter testemunhado um acordo histórico. A cobertura de guerra você consegue a informação, mas é mais descritiva. É tiro e briefing do exército. Só que a guerra é contada pelos vencedores, então a história é unilateral. Por mais que você apure, você sempre tem que estar em uma das trincheiras. E como foi ser sequestrado pelo Hezbollah? Tinha ido ao Líbano, para fazer uma reportagem de uma mulher criada no Paraná, filha de libaneses, que foi levada pelos pais para se casar com o primo, e por esse primo ser violento, querer matá-la ela resolveu fugir. Fomos acompa-
nhar a fuga dela pela fronteira com a Síria para o Fantástico. Aproveitamos o tempo que tínhamos em Beirute, à espera de uma solução diplomática que envolvia nosso consulado, para fazer uma matéria de uma lanchonete chamada Guns and Buns, “armas e pães”. Ela usava como tema de decoração a guerra, armas, metralhadoras, bombas, capacetes, o som ambiente era de tiros. Nós achamos que o nosso visto para fazer a outra matéria valesse para tudo, que não tinha problema ir no bairro do Hezbollah para fazer essa reportagem. E assim que nós começamos a gravar chegou um carro do Hezbollah e nos sequestraram: eu, o cinegrafista de Londres, e um tradutor local. Os carros tinha vidros pretos, não tinha como ver nada, e fomos levados em três locais diferentes, sem documentos, sem celulares, pés descalços, para prejudicar uma tentativa de correr. No final, nos colocaram cada um de nós em uma sala com água, uns 20 cm de água, com ratazanas nadando. A gente ficou sentado em cadeiras no centro da sala, com os pés na cadeira, pra não encostar na água, e eles entravam de botas, chutava os ratos, e faziam perguntas, e depois iam para outra sala e repetiam as perguntas, para ver se os outros respondiam da mesma forma. Ficaram cinco horas fazendo isso. E eu olhava para eles e pensava “esses caras vão me matar, vão descobrir que fui repórter em Israel, vão achar que sou espião”. Enquanto eles não se satisfizeram quanto à nossa inocência, enquanto não investigaram e ficaram satisfeitos conosco, eles não nos soltaram. Depois eles colocaram a gente num carro, e levaram para uma rua deserta. Achei que a gente seria executado. Eles mandaram descer, nossas coisas já estavam no chão, e disseram para ficar ali. Perguntei como a gente iria embora, e
eles falaram que quando passasse um táxi a gente podíamos pegar. Eles foram embora, e mal sumiram na curva apareceu um táxi. Ou seja, eles mandaram um táxi. E o que fizeram depois? Voltamos para o hotel, tomei banho, liguei para a direção da Globo para contar, e então a ficha caiu. Deu uma crise de choro nos três. Eu estava com filha recém nascida, com nem um ano de vida, e pensava que nunca mais ia vê-la. Minha mulher já estava grávida da Mariana, minha segunda filha, e eu não sabia. Que momento horrível para morrer. E personagens que valeram a pena entrevistar nesses 33 anos? Yasser Arafat foi um sujeito que me chamou muito a atenção. Ele me deu uma entrevista uma vez de cima de um caminhão onde fazia um discurso. Quando parava de falar em inglês para mim, ele falava em árabe para as pessoas, e elas vibravam. Eu pensava, falar de paz com Israel, sobre moderação, e as pessoas vibrarem, isso é muito bom. Mas depois, na hora de ir embora, meu motorista disse que ele falava uma coisa pra mim e outra para as pessoas (risos). Mas também entrevistei duas vezes o Shimon Peres, companheiro dele de Prêmio Nobel da Paz, um homem muito sábio, inteligente. Outro homem que fez história foi o Nelson Mandela, uma experiência interessante. Falei com ele em Maputo, em Moçambique. Ele era casado com a viúva de Samora Maciel, o homem que fez a independência de Moçambique, e ele foi morar lá. Quando eu estive lá o Lula (presidente Luiz Inácio Lula da Silva) estava visitando, e armei uma rápida entrevista com Mandela. Ele era muito interessante, toda a história do tempo em que esteve preso, e
Quantos países você conheceu como correspondente? Eu estive em mais de 120 países, contando as escalas de avião. Mas conhecer mesmo, de ficar ao menos uma noite, foram 79 países. Dos 54 países africanos estive em 38.
tecendo no planeta, senão nem começa uma conversa. E é preciso ter despojo. Especialmente no início da profissão, quando você ainda não tem experiência, não sabe como agir, é preciso estar preparado para trabalhar muito, ralar muito. Jornalismo não é padaria que você sabe que tem que abrir um horário certo, não é funcionalismo público.
E qual o lugar mais legal no exterior para ti? Londres. Tenho até cidadania inglesa, conquistada depois de cinco anos morando lá, eu e minha mulher. Minhas filhas já nasceram quando era cidadão, então elas são cidadãs natas, com dupla nacionalidade, brasileira e inglesa. A Helena vai fazer 10 anos e a Mariana vai fazer oito.
Tem algum projeto novo agora? Estou trabalhando algumas coisas. Ano passado comecei a cobrir o Supremo Tribunal Federal (STF) no impeachment de Dilma Rousseff, e gostei muito do ambiente. E a história tem que se fechar, o ciclo tem que se fechar. Então no ano passado, em julho, eu voltei a estudar, fiz vestibular, e agora estou cursando Direito de novo.
E alguma delas vai ser colorada? Não, gremistas (risos). A minha mulher cuida da religião, ela é católica, eu sou luterano mas não pratico. Eu cuido do futebol, avisei logo que nasceram (risos).
Vai ser “Dr” finalmente então? Estou que nem “alcoólico anônimo”, um dia de cada vez (risos). Eu quis fazer Direito agora porque sou um cara em busca do conhecimento certo. Acho muito ruim cobrir um centro de excelência, como é o STF, onde estão alguns dos melhores juristas do Brasil, não apenas como juízes mas circulando nos corredores, e você ter um conhecimento apenas razoável. Então achei que um curso na área do Direito seria bom.
o fato de ter acabado com o apartheid na África do Sul.
O que você recomenda para os futuros repórteres? Hoje você tem que desde cedo estudar línguas. Não fazer como a minha geração fez, que chegou à casa dos 20 anos sem saber outra língua. Eu sou autodidata em inglês, e aprendi. Não precisa casar com a professora, embora eu recomende (risos). Mas tem que saber, além do inglês, uma outra língua universal. Outra coisa é ler livros, clássicos, história, para ter um vocabulário melhor, mais requintado, para poder descrever coisas diferenciadamente. Então um repórter tem que gostar de ler. Quanto a notícias, para ler notícias internacionais tem que se desenvolver o gosto. É preciso saber não apenas o que acontece localmente, mas também no mundo. Tem que saber o que está acon-
As leis no Brasil não são complicadas demais? O Brasil tem algumas das melhores leis do mundo. O problema é aplicar as leis. No momento em que eu vejo a Operação Lava Jato no pé que está, que vejo um ex-governador preso, um ex-presidente da Câmara dos Deputados preso, eu acho que isso é uma chama de esperança para o País. Acho que estamos vivendo um momento histórico, em que as coisas estão acontecendo. Mas não garanto que vou ver tudo mudar ainda na minha existência
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OPINIÃO
O empoderamento da revolução
Não sei se já existe algum estudo ou mesmo uma tese de mestrado ou doutorado com o tema do título. Na dúvida, não desmereça e muito menos critique, porque nesses dias modernosos tudo é mais do que possível. Outro dia, o José Simão escreveu que “Hoje a palavra é empoderamento. Que eu não sei direito o que é, mas apoio! Rarará!”. Aliás, nem o corretor reconhece – grifa em vermelho e não tem jeito de tirar. Se o Simão não sabe, imagina eu. Já tentaram me explicar, mas não tem jeito. É mais ou menos como “concertação” (esta o corretor se nega a aceitar, também). Agora, imagina o empoderamento da revolução. Ainda bem que mudei, porque ia colocar como título “O empoderamento da concertação”. Alterei quando soube qual é a principal matéria da Press dessa edição comemorativa. Olha, já estudei várias revoluções. Na Filosofia da UFRGS passei um semestre ouvindo as histórias da Revolução Francesa. Tinha um prazer imenso em ouvir a professora falando e, por isso, não anotava nada, enquanto os colegas escreviam freneticamente. O resultado foi que me dei mal na única prova – contei a história da História, guri metido a jornalista, e a mestra não gostou da descontração. Depois também li bastante sobre a Revolução Russa, para não perder discussões no tempo das faculdades. Tentei até entender os milicos de 1964. E sempre cheguei a mesma con-
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clusão, que jamais tive coragem de externar: O poder é uma maravilha! Nada mais do que isso. Em todas as revoluções os objetivos são lindos e visam sempre o bem estar dos pobres e oprimidos. Sei. Mas eu tenho uma imagem ótima de revolução. Olha só. O sujeito sabe que tem uma reunião importantíssima no início da tarde. Aí almoça logo depois do meio dia para não se afobar. Come bastante uma mistureba danada num desses restaurantes de buffet. Toma duas cocas de latinha. Instalado na reunião, logo depois dos primeiros 20 minutos começa um ronco na barriga. No início, imperceptível para os vizinhos; pouco depois, o cara recebe um discreto olhar do vizinho da direita. A barulheira aumenta e sente que os gases pedem passagem. Suor frio na testa e no bigode. Não pode sair da sala. Mas não tem jeito. Antes que o pior aconteça, pede licença e sai que é um raio. Vai me dizer que isso não é uma revolução de verdade? Isso é uma verdadeira revolução!! Só tenho dúvida se intestinal ou estomacal. Ah, revoluções. Não me venham com elucubrações. É tudo cascata. Os mentores sempre têm interesses, acima daquilo que divulgam. Ou alguém acredita que os opositores do Maduro, na Venezuela, querem a salvação “del sofrido pueblo” ou o poder? Los dos! Há 17 anos o Julio me chamou para editar uma revista nova, a Press. Não lembro, mas devo ter dito: “vamos revolucionar o mercado editorial!”. Tudo bem, até poderia ter esse objetivo TAMBÉM, mas que-
JOSÉ LUIZ PRÉVIDI jlprevidi@gmail.com ria ganhar uns pilas decentes – e foi o que aconteceu. Bah, não foi mole. Começamos uma revolução midiática do zero, sem a menor idéia do que teria que ser feito. Tínhamos uma referência apenas, a revista Imprensa, que era editada em São Paulo. Nada mais. Lembro que o Julio chegou a sugerir a criação de um “conselho editorial”. Tirei da cabeça dele, com um argumento revolucionário: “Vamos arrumar sarna pra nos coçar, é só para encherem o nosso saco!”. A Press foi uma revolução no morno mercado editorial gaudério. Uma revolução como poucas. Bem comportada, certo, mas incomodou muita gente. E, acreditem, a Press é uma REVOLUÇÃO PERMANENTE, porque está aí há 17 anos. (a Advertising foi lançada em 1997 e completa 20 anos neste mês de março) Só não usa boina e não tem muita ternura. HAHAHAHAHA!!!!!!
José Luiz Prévidi – Blogueiro (previdi.com.br) e jornalista diplomado
MATÉRIA DE CAPA
Uma revolução Pouca gente fora da Rússia sabia o significado da palavra “bolchevique” no início de 1917. Bolchevique, também, era o nome de uma fração de um pequeno partido de esquerda da Rússia. No final do ano, tornouse um substantivo próprio conhecido em todo o planeta.
O
mundo estava tenso por uma guerra iniciada em agosto de 1914, e depois da Batalha de Verdum, que matou mais de 700 mil, entre fevereiro e dezembro de 1916, e da Batalha de Somme, entre julho e novembro, com mais de 1 milhão de mortos, ambas em território francês, não havia mais ilusões sobre uma guerra rápida e de poucas baixas (a população mundial era de aproximadamente 1,8 bilhão). Duas batalhas entre a Tríplice Entente, a união de França, Inglaterra e Rússia, e a Tríplice Aliança, formada
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no
meio da guerra por Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro. Mas na Rússia estava acontecendo alguma coisa além da guerra. Às vezes, “alguma coisa” entra no noticiário, como aconteceu no jornal A GAZETA, de São Paulo, no dia 24 de janeiro, na página 8: “Informações precedentes de Berlim dizem que está iminente uma revolução na Rússia”, (grafia atualizada, estilo mantido). Era uma das notas sob o título geral A GUERRA EUROPEIA. O concorrente Correio Paulistano, na capa da edição de 25 de janeiro, discordou, sob a cartola A GUERRA EUROPÉIA: “Não passa de uma intriga a notícia de estar iminente uma revolução na Rússia”. Algumas linhas abaixo, porém, discordou de si mesmo: “A RÚSSIA ESTÁ PRESTES A CONVULSIONAR-SE Nova York, 24 de janeiro – A United Press, em despacho de seu correspondente em Berlim, diz que está iminente uma revolução na Rússia.”. Expressões como “revolução russa”, “revolução na Rússia”, não eram novidade. Foram usadas em
UMA NOVA ERA A chegada de Lênin na Estação Finlândia, em Petrogrado, em 3 de abril de 1917, foi um marco na revolução que abalaria o século
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MATÉRIA DE CAPA 1905, quando uma revolta obrigou o Czar Nicolau II a ceder um pouco o absolutismo e criar um parlamento, chamado Duma, com integrantes eleitos pela população. Também surgiram os sovietes (palavra russa para conselhos) organizações autônomas de trabalhadores e soldados. A guerra impediu maior aprofundamento jornalístico na excelente pauta que havia nas ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo, então capital do país) e Moscou, com manifestações contra a guerra e contra o czar, promovidas por uma multiplicidade de partidos. Um desses, era o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), marxista, com várias correntes, das quais duas se destacaram: bolcheviques e mencheviques, nomes surgidos após uma votação sobre organização partidária e forma de implantação do socialismo num congresso em 1903. Venceu a tese liderada por Vladimir Lênin (partido com estrutura centralizada, sem fazer alianças com outros partidos), e por isso seu grupo passou a se chamar bolchevique. A minoria, liderada por Julius Martov, ficou conhecida internacionalmente como menchevique. Era um partido pequeno, mas ativo, e muito perseguido. Esse congresso de 1903, por exemplo, foi realizado na Bélgica, já que seus principais dirigentes estavam exilados. Nem no exílio sossegavam e tinham sossego. Em 16 de janeiro de 1917, o colunista do The Washington Herald publicou a frase “O advogado da paz Leon Trotsky foi expulso de mais um país. Bem, atenção a este nome”. Trotsky era do POSDR, mas não pertencia a nenhuma das duas correntes Depois de expulso da Espanha (antes, da França) chegou dia 13 de janeiro em Nova York. Foi lá que ele leu, no Bronx, onde morava, o manchetaço do The New York Times, em 16 de março:
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REVOLUÇÃO NA RÚSSIA; CZAR ABDICA; MICHAEL FEITO REGENTE, IMPERATRIZ ESCONDIDA; GENERAIS PRÓ-GERMANOS MASSACRADOS. Em caixa alta, com ponto e vírgula, seguida de fotos do czar, seu filho hemofílico Alexis, seu irmão mais novo, Michael, e Michael Rdzianko, presidente da Duma. O jornal entendeu a grandeza do momento e num texto de duas colunas na capa que continuou até a metade da segunda página, resumia os
acontecimentos de uma semana. Começa afirmando: “Os sinais mais visíveis da revolução começaram na quinta-feira, 8 de março. Greves foram declaradas em várias fábricas de munição em protesto pela falta de pão”. Havia soldados nas ruas, mas tudo parecia calmo. “No sábado, entretanto, aparentemente sem provocação, as tropas receberam ordens de abrir fogo contra um grupo de manifestantes na rua Nevsky. Os soldados negaram-se a
atirar, mas a polícia, enviada em substituição a eles, atirou”. “Então, veio a cisão entre tropas e polícia”. Pelo relato do New York Times, os revoltosos estavam vencendo e conquistando adesões rapidamente. Na segunda-feira, “chegou um momento impossível de distinguir quem estava de um lado e quem estava do outro. O ponto de virada foi às 3 da tarde”. Na terça, os revoltosos cantavam a Marselhesa nas ruas e o presidente da Duma, Rodzianzko, enviou telegrama ao czar, que estava num front de guerra: “A situação é grave. O governo está paralisado”.
O czar perde força
A greve dos trabalhadores do moinho Potilov, em Petrogrado (em fevereiro de 1917), ajudou a acelerar a revolução protagonizada por Stálin, Lênin e Trotsky
Naquela época, a Rússia permanecia no calendário juliano, com defasagem de 13 dias em relação ao gregoriano (ao qual ela aderiu em fevereiro de 1918). Assim, enquanto o Ocidente estava na data de 8 de março, os russos estavam em 23 de fevereiro. A manifestação programada era pelo Dia da Mulher e logo foi ampliada para outras reivindicações. Apesar de se utilizar o atual calendário para todos aqueles eventos, ficaram consagrados os termos Revolução de Fevereiro e Revolução de Outubro, embora tenham sido em março e novembro. Naquele 16 de março, The New York Tribune divulgou: “Russos aqui dizem que a revolução significa mais vigor na guerra”, depois de ouvir exilados na cidade e encerra o texto com uma declaração de Trotsky: “Isso está apenas começando. Os revolucionários vão organizar o movimento republicano em todo o império e criar a República russa”. O Correio Paulistano de 16 de março noticiou a queda do czar sob o recorrente título A GUERRA EUROPEIA. “ Estalou uma revolução
na Rússia – a Duma, recusando-se a aceitar um ukase (NR: ordem do Czar) imperial contendo ameaças, proclamou o governo provisório – As tropas da guarnição de Petrogrado sustentam os rebeldes. O partido reacionário, favorável aos alemães, foi derrotado.”. Um equivalente carioca em importância ao Correio Paulistano era A Noite que tinha como um dos sócios majoritários Irineu Marinho, o fundador de O Globo anos depois. O MOVIMENTO LIBERAL NA RÚSSIA foi a chamada em duas colunas no canto direito da capa. O TIMES, na página 6, chamou de “Um movimento para ‘ganhar a guerra’” e com precisão londrina informou: "Guerra: 3º ano, 225º dia".
NASCE A REPÚBLICA RUSSA Em 18 de março, A Noite conta uma história detalhada:
Como o czar abdicou LONDRES, 18 (A NOITE) – O correspondente do “Times” de Petrogrado conta, num despacho aqui recebido de madrugada: “O Czar Nicolau assinou sua abdicação em Pskov, quando, do trem que se dirigia das linhas de frente para Petrogrado, teve notícia da revolução. O trem já havia mesmo saído de Pskov, quando chegou a notícia da revolução triunfante”. O trem retornou à Pskov e ali esperou a comissão da Duma. “O Czar, depois de inteirar-se da situação, manifestou o desejo de enviar fortes contingentes de tro-
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MATÉRIA DE CAPA pas para Petrogrado com o fim de dominarem o movimento. Mas todos os presentes aconselharam-no a que desistisse de tal intento, por que isso iria agravar a situação. ̶ Então, que quereis que eu faça? Perguntou o imperador. ̶ Que abdiqueis, majestade . Responderam os presentes O soberano ficou por uns instantes silencioso. Depois, disse: ̶ Pois, então abdicarei. Mas como me custa separar-me do meu filho, ele também abdicará. Em seguida, o imperador assinou o documento, que já ia preparado.” A Duma foi rápida. No mesmo dia, adotou a república, “sob forma federativa, constituindo os Estados Unidos da Rússia, sob a presidência do príncipe Lvov”. O ministro da Justiça do novo governo era Alexander Kerensky, membro do Partido Socialista Revolucionário. A primeira repercussão externa ocorreu ainda em março: “Os boatos de desordens em Berlim e outros lugares da Alemanha provam que a revolução russa produziu um efeito perturbador dos impérios centrais.”, era uma notícia de A Noite de 25 de março. Anúncios de reformas liberalizantes na Rússia (sufrágio universal, anistia política) encerraram o mês de março. Mas havia os desconfia-
dos: “Os jornais norte-americanos acharam estranho que a primeira notícia da revolução russa tenha sido divulgada justamente por uma ‘agência oficiosa alemã’. Para eles, isso é prova de uma perfeita organização de espionagem alemã na Rússia”, divulgou A Noite em 18 de março. Porém, abril traria mais surpresas ainda.
Lênin e Trotsky entram em cena Na estação Finlândia, em São Petersburgo, há uma locomotiva a vapor, número 293, em exposição. Em 3 abril de 1917, ela puxou o trem que trouxe Lênin e outros 31 russos num vagão especial, do exterior, depois de um acordo com o governo alemão. Ao descer, Lênin fez o primeiro de seus discursos que repercutiriam no mundo, pregando uma revolução proletária e o fim da guerra. Enquanto a locomotiva fazia novas viagens, trazendo outros exilados, Lênin organizava os bolcheviques, lançou suas Teses de abril, com as diretrizes de ação política e duas palavras de ordem que rapidamente ganharam as ruas: “Pão, paz e terra” e “todo poder aos sovietes”. Esse período de março até novembro ficou conhecido como duplo poder: o da Duma e os dos sovietes, cada vez mais distan-
tes um do outro. A pauta russa ganhava cada vez mais atenção. Numa nota de 14 de abril, o NYT registra que o Partido Socialista defendia a continuação da guerra contra a Alemanha e que apenas um “grupo de social democratas extremistas continua criando problemas com suas publicações, Iskra em Petrogrado e A Social Democracia em Moscou”. O redator não esconde seu engajamento: “Seus temerários e inescrupulosos ataques não apenas ao governo, mas a todos os grupos socialistas, menos eles mesmos, provocaram uma saudável reação. Eles estão se isolando”. O mesmo assunto aparece no jornal O Estado S. Paulo, em 20 de abril, na matéria de capa o “O DISCURSO DO SOCIALISTA LÊNIN. Petrogrado, 10 – (“Estado”) Os jornais criticam severamente o discurso do socialista democrata Lênin, que acaba de chegar do exílio, aconselhando o governo a solicitar a paz à Alemanha”. Lênin alinhava-se, e em breve passaria a liderar, um ascendente discurso político inspirado nos textos de Karl Marx com forte base na Alemanha e Europa central. Partidos de esquerda da Europa mantinham, desde 1889, uma organização, chamada Segunda Internacional Socialista. A Internacional chamava a guerra de imperialista e que não interes-
Linha do tempo 22/01/1905: Domingo Sangrento. Multidão tenta invadir o Palácio de Inverno, em protesto contra a Guerra russo-japonesa e é repelida à bala. Seguiram-se greve e manifestações e a revolta ganhou o nome de Revolução de 1905. Para apaziguar o país, o czar aceitou diminuir seu poder e foram criados os conselhos (sovietes) dos delegados dos trabalhadores, estruturas auto-organizadas, e um parlamento, a Duma
07/03/1917: Invasão do Palácio
03/04/1917: retorno de Lênin
15/03/1917: Czar abdica.
JULHO 1917: forças ligadas ao Czar tentam derrubar o Governo Provisório. Sovietes são os principais combatentes em defesa do governo.
01/08/1914: Início da Primeira Guerra Mundial.
Instala-se o Governo Provisório, comandado pelo príncipe Georgy Lvov, um latifundiário, e tendo Alexander Kerensky como ministro da Guerra
Tríplice Entente (França, Inglaterra, Rússia) contra Tríplice Aliança (Alemanha, Império Autro-Húngaro, Itália)
Tauride,onde a Duma se reunia. Vários sovietes se reorganizam. Duplo poder: burguesia e aristocracia na Duma, operários e soldados nos sovietes
SETEMBRO 1917:
Bolcheviques assumem controle do soviete de Petrogrado
ÚLTIMO CZAR A queda de Nicolau II, em março de 1917, pôs fim ao Grande Império Russo, abrindo caminhos para a implantação da república
8/11 /1917: Bolcheviques no poder. Mas no calendário russo, 25 de outubro. 14/02/1918: Rússia adere
ao calendário gregoriano. Salta do dia 1º para o dia 14
03/03/1918: Assinado
tratado de paz em Brest-Litovsk (Ucrânia) e Rússia sai da guerra
08/03/1918: Bolcheviques
assumem o nome de Partido Comunista
11/03/1918: Capital da
Rússia passa a ser Moscou
JUNHO 1918: Início
da guerra civil russa
17/07/1918: Execução
do czar Nicolau II e sua família
sava aos trabalhadores. Por isso, era contra. A unidade foi quebrada em 1914, quando uma de suas principais agremiações, o Partido Social Democrata da Alemanha, aprovou no parlamento alemão a verba necessária para o país entrar em guerra. Depois dessa, o partido alemão rachou em dois, partidos de outros países saíram e a Segunda Internacional esfarelou-se em 1916. Talvez por não acompanharem atentamente tantos detalhes, a maioria da imprensa tenha confundido uma posição histórica com colaboracionismo e traição (várias vezes Lênin foi citado como agente alemão) e não como continuidade de um discurso anterior a 1914. Trotsky chegou na mesma estação, mas sua viagem foi mais conturbada. Partiu de Nova York em 27 de março de 1917. Mal saiu dos Estados Unidos, seu navio foi interceptado pela marinha britânica em Halifax, Canadá. Ali ficou até 29 de abril. Desembarcou em Petrogrado em 17 de maio, também fez discurso na estação, foi preso em 7 de agosto, e libertado 40 dias depois. Já unido aos bolcheviques, tornou-se presidente do Soviete de Petrogrado, em 8 de outubro. Era um aliado importante de Lênin contra Kerensky, que desde 11 de julho era presidente do Governo Provisório.
30/08/1918:
Atentado contra Lênin
NOVEMBRO 1920:
Fim da Guerra Civil russa
03/04/1922:
Josef Stálin eleito secretário geral do Partido Comunista
26/04/1922: Lênin sofre
primeiro acidente vascular cerebral
15/11/1922: Lênin sofre segundo AVC.
30/12//1922:
Criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
21/01/1924: Lenin morre.
MATÉRIA DE CAPA
Os dez dias que abalaram o mundo
M
uitos detalhes do que acontecia na Rússia só ficaram conhecidos a partir de janeiro de 1919, quando o jornalista John Reed publicou o livro Os dez dias que abalaram o mundo. Reed era filiado ao Partido Comunista norte-americano, tinha coberto a revolução mexicana de Pancho Villa e por causa de suas ideias e ações perdeu bons empregos. Mas tinha espaço na imprensa esquerdista do país. Foi num desses jornais, The Masses, que ele escreveu, quando os Estados Unidos decidiram entrar na guerra: "A guerra significa histeria coletiva, crucificando os defensores da verdade, sufocando os artistas… Esta não é nossa guerra." Pouco depois, embarcou para a Rússia, que já tinha visitado em 1915. Durante a viagem, toda redação do The Masses foi detida e o jornal, fechado. Em Petrogrado, Reed, engajando-se aos bolcheviques, não esqueceu o jornalismo e entrevistou pessoas, líderes, reuniu panfletos e documentos para seu livro. O que Reed viu foi o auge em pleno inverno, famoso pelo seu rigor, de uma crise econômica do país. O discurso em defesa da guerra perdia espaço nas ruas e no front: “ Sem o menor entusiasmo, os soldados sofriam e morriam na linha de frente. Os transportes ferroviários cessavam por falta de combustível. As fábricas fechavam suas portas. E, no auge do desespero, o povo gritava que a burguesia era responsável pelos sofrimentos do povo e pelas derrotas das tropas russas”. Lênin tornou-se um foco do noticiário. Em 10 de maio, NYT e Washington Post anunciaram “Lenin estava desaparecido” há dois dias.
Mistério desfeito dia 22, quando o NYT publica que “o anarquista Lênin” está em Petrogrado e tinha publicado ordens aos seus seguidores. Ao mesmo tempo, Kerensky crescia no noticiário. Em 14 de julho, já na presidência do Governo Provisório, o Post afirmava que sua “liderança atingia proporções lendárias”. Cinco dias depois, a notícia era de um tumulto em Petrogrado: “Outra manifestação de marinheiros e soldados armados, trabalhadores e mulheres aconteceu ontem na rua Nevsky”. A situação era tão confusa que o czar voltou aos noticiários, tentando restabelecer a monarquia, sem sucesso. Em agosto, os pólos político da república russa estavam em Kerensky de um lado e Lênin de outro. Bolchevique deixava de ser uma palavra obscura, e a suspeita de que não era uma simples troca de governo aumentava. A Noite, de 6 de agosto, reproduz texto do correspondente do New York Post, Hapgood, avaliando que “a revolução afetou também a
John Reed foi cronista engajado na Russia de 1917, assim como tinha coberto a Revolução Mexicana, de Pancho Villa, anos antes
Alemanha, principalmente as classes operárias”. E acreditou que “o programa dos socialistas alemães, expresso em Estocolmo, foi útil aos aliados. A Alemanha e a Áustria-Hungria deverão permitir às nacionalidades estranhas submetidas ao seu domínio o uso de seus idiomas e de sua religião. Mas a Inglaterra deverá abandonar a Irlanda, as Índias e o Egito, dando-lhes autonomia completa. Dentro de dez anos a revolução russa terá tido maior influência no mundo que a própria guerra, por maior que seja a derrota da autocracia alemã”. Não acertou tudo, mas quase. Greves e revoltas na Alemanha em 1918 resultaram na queda do Kaiser, proclamação da República e fim da guerra. Em 1º de janeiro de 1919 foi fundado o Partido Comunista Alemão, em abril, os comunistas, proclamaram a República dos Conselhos em Munique, reprimida e derrubada pelo governo comandado pela social democracia. De agosto até outubro, as notícias se tornaram cada vez mais apreensivas: “A Rússia atravessa um período de perigo mortal”, Washington Post29 de agosto. “Rebeldes abriram fogo contra as forças de Kerensky”, 12 de setembro E o ataque brutal relatado pelo Post de 25 de outubro: “Trotsky acusa Kerensky de favorecer o Kaiser e planejar entregar a cidade aos alemães”. E completa que há “rumores de uma manifestação bolchevique e a tentativa de tomar o poder em 2 de novembro”. Bolchevique já aparecia no noticiário, mas muitas vezes o grupo foi chamado de maximalista, provavelmente confundido com uma corrente do Partido Socialista Revolucionário, que era forte em 1905 mas pequena em 1917.
OS BOLCHEVIQUES TOMAM O PODER A tomada do poder não foi dia 2, mas dia 8, quando os bolcheviques ocuparam o Palácio de Inverno, sede do Governo Provisório e Lênin imediatamente montou seu governo. Em vez de ministros, comissários do povo, em vez governo, soviete dos comissários do povo. Ele como presidente. Kerensky tentou a resistência, e A Noite se entusiasmou em 16 de novembro: “Se os telegramas que nos chegam da Rússia são sempre contraditórios e confusos, se a anarquia atingiu agora ao cúmulo, uma cousa a salientar que é certa e sem dúvida tranquilizadora, é que os minimalistas em Petrogrado estão em circunstâncias de impor condições e as demonstrações de autoridade do Bolchevique têm diminuído consideravelmente”. “Cossacos desenvolvem ativamente uma tarefa de polícia, maltratando rigorosamente os leninistas”. Mas, não. Não foi suficiente e Kerensky exilou-se em Paris, e depois nos Estados Unidos, onde viveu, combatendo os bolcheviques, até a morte, em 1970. Enquanto combatia Kerensky, o novo governo agia no front, e dava partida de uma disputa política que centralizou o mundo no século 20. As guerras deixariam de ser religiosas, como na Idade Média, ou de ser entre nações, como na Idade Moderna, agora seriam entre sistemas econômicos. Capitalismo contra comunismo. Para sair de uma guerra entre nações, o Soviete Supremo (o governo) aceitou um acordo ruim na cidade de Brest-Litovsk, na Ucrânia, em 3 de março de 1918, mas cumpriu uma das promessas do lema “Pão, paz e terra”.
E
Nasce a URSS
m 8 de março, os bolcheviques trocaram de nome para Partido Comunista. E, para o mundo político, bolchevique não quer dizer maioria, mas comunista radical. Em junho de 1918, a Rússia entrou em guerra civil, que só terminou em novembro de 1920. Nela, além de manter os comunistas no comando do país, o Exército Vermelho, novo nome do Exército russo, apoiou comunistas de países vizinhos a tomarem o poder e constituírem sovietes. Porém, ainda não estava totalmente montado o cenário do século 20. Isso aconteceu em 3 de abril de 1922, quando Josef Stalin elegeu-se secretário geral do Partido Comunista russo e em 30 de dezembro foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) reunindo Rússia e alguns países vizinhos. Com a morte de Lênin em 1924, os bolcheviques se dividiram em facções de ferozes inimizades e um retorno ao nacionalismo dentro da URSS. No mundo, imprensa, analistas e políticos tinham mais um tema a estudar: o comunismo não só como teoria, mas como prática de governo. Os comunistas criaram seus partidos. O brasileiro Astrojildo Pereira era um dos poucos que sabia o significado de bolchevique em 1917. Escreveu cartas para os jornais reclamando o tratamento da imprensa para Lênin e a revolução russa. Pouco adiantou. Em março de 1922, participou da fundação do Partido Comunista do Brasil (então com a sigla PCB) e elegeu-se secretário geral. Em 1924, o PCB fundou o jornal A Classe Operária, como faziam os comunistas no mundo todo. Parecia que muita coisa ia mudar no fim da Primeira Guerra Mundial. E mudou. O impacto do ocorrido em março de 1917 na Rússia ainda pode ser sentido hoje, cem anos depois, em todo o mundo. Alexander Kerensky foi ministro do primeiro governo da República Russa. Expulso pelos bolcheviques, se exilou nos EUA
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MATÉRIA DE CAPA Depois de novembro de 1917, os principais envolvidos na queda da monarquia russa e criação do primeiro estado socialista do mundo tiveram destinos diferentes.
CZAR NICOLAU II - Depois da abdicação, em 15 de março de 1917, ficou detido com a família em Tsarkoye Selo uma residência da família 28 quilômetros ao sul de São Petersburgo. Em agosto, a família foi transferida para uma moradia em Ecaterimburgo, onde foi executada a tiros em 17 de julho de 1918. O czar tinha 50 anos.
O DESTINO DE CADA UM
ALEXANDER KERENSKY - Exilou-se em Paris em 1918,
mudou-se para Nova York em 1940, depois da Alemanha invadir a França na segunda guerra Mundial. Kerensky fez palestras sobre o bolchevismo e a revolução russa. Morreu de câncer, em Nova York, em 11 de junho de 1970, aos 89 anos.
LÊNIN - Vladimir Ilich Ulyanov manteve o codinome de Lênin, que usava na clandestinidade, até o fim. Enfrentou uma guerra civil nos dois primeiros anos de governo e tentou apaziguar os ânimos entre Trotsky e Stalin dentro do Partido Comunista. Mas dois derrames cerebrais o incapacitaram de continuar no comando tanto do país quanto do partido. Em 30 de agosto de 1918, foi gravemente ferido a balas, mas sobreviveu. O atentado foi feito por Fanya Kaplan, uma anarquista ucraniana, que o acusava de trair a revolução. Lênin Morreu em 21 de janeiro de 1924, aos 53 anos. LEON TRÓTSKY - Codinome de Lev Davidovitch Bronstein. Como Comissário do Povo, representou a Rússia no acordo de paz com a Alemanha. Em seguida, comandou o Exército Vermelho, uma reorganização do exército russo, na guerra civil. Disputou contra Stálin o comando do Partido Comunista. Perdeu, integrou a “oposição de esquerda” ao governo, foi expulso do partido em 12 de novembro de 1927, ficou detido em Alma Alta em 31 de janeiro de 1928 E foi expulso da União Soviética em 1929. Morou na Turquia, França e Noruega, países de onde foi expulso até exilar-se no México, a convite do pintor e militante socialista Diego Rivera e sua esposa, Frida
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Khalo. Nessa fase final da vida, teve extensa produção literária, escrevendo livros sobre a Revolução Russa, sua vida, assinou manifesto pela arte com André Breton, e novas propostas para o socialismo. Foi assassinado em 21 de agosto de 1940, aos 60 anos, pelo agente da União Soviética, Ramón Mercader (Em O homem que amava os cachorros, Leonardo Padura conta bem esta história). A ironia é que, após expulsá-lo, Stalin passou a aplicar parte do programa de governo de Trotsky.
JOSEF STALIN - Codinome adotado por Iossif Vissariónovitch Djugashvili , no início do século 20, após algumas prisões por ser ativista do POSDR (Partido Operário Social Democrata Russo). Foi editor do Pravda (A Verdade) jornal fundado por Trotsky, órgão do POSDR, até 1913, quando foi preso novamente. Com a revolução, cresceu rapidamente na estrutura partidária. Venceu a disputa interna pela secretaria geral em 1920 , cada vez teve mais poder, e, mesmo com as críticas de Lênin, assumiu o comando do governo em 1924. Brigou com outros líderes bolcheviques, derrotou um a um. Promoveu a industrialização acelerada do país e a coletivização das propriedades rurais e cada vez mais fechou o regime, com prisões, deportações e execuções de opositores, mesmo que fossem comunistas. Estima-se que mais 15 milhões de pessoas morreram, além das causas políticas, também de fome, no governo stalinista. Além de fisicamente, muitos adversários foram apagados de documentos e fotos históricos. Um caso clássico é a foto de Lênin discursando num estaleiro tendo Trotsky ao lado. Nos anos stalinistas, a foto era apresentada sem Trotsky. Morreu em 5 de março de 1953, após um derrame. Mas alguns historiadores suspeitam de envenenamento. A URSS acabou em 25 de dezembro de 1991, depois de uma crise de pouco mais de dois anos. Seu último presidente foi Mikail Gorbachov, que nem era nascido em 1917.
GRANDES NOMES
Joseph
Pulitzer
A
REVOLUCIONÁRIO
do jornalismo
formatação do modelo de negócio adotado pelos meios de comunicação em todo o mundo e a consolidação da imprensa como um quarto poder são definições que sem o faro empreendedor de Joseph Pulitzer provavelmente não existiriam. Pulitzer foi um dos jornalistas mais inovadores de todos os tempos, introduzindo uma série de medidas que impactaram na maneira como o jornalismo é feito até hoje. Nascido na cidade de Mako, na Hungria, em 10 de abril de 1847, Joseph Pulitzer cresceu em uma família abastada. Seu pai era um mercador de grãos húngaro e judeu, enquanto sua mãe tinha origem alemã e era católica. Seu irmão mais novo, Albert, inclusive, chegou a ser preparado para ser padre, mas nunca exerceu a profissão. Pelas boas condições financeiras dos Pulitzer, Joseph foi educado em escolas privadas e também por tutores particulares. Quando jovem, Joseph Pulitzer desejava seguir a carreira militar. No entanto, por sua saúde frágil e seus problemas de visão, acabou sendo rechaçado pelo exercito austríaco. Com isso, mudou-se para os Estados Unidos, com o objetivo de lutar na Guerra de Secessão. Após o conflito, instalou-se em Saint Louis, em 1868. Trabalho em atividades diversas até receber um convite para fazer parte da equipe de um jornal de língua alemã, o Westliche Post. Incansável, trabalhava desde às 10h da manhã até as 2h da madrugada, tinha o hábito de escrever compulsivamente e ia aonde fosse necessário para conseguir as informações para as suas matérias. Em 1872, com um Westliche Post à beira da falência, Pulitzer assumiu o controle do negócio e a publicação ganhou vitalidade. Seis anos depois, adquiriu o outro jornal da cidade, o St. Louis Dispatch por 2,7 mil dólares. Pulitzer resolveu fundir os dois veículos, criando assim o St. Louis Post-Dispatch. Começava sua incursão como um bem-sucedido empresário da mídia. Em uma época em que as publicações costumavam ter cunho político-partidário, Pulitzer resolveu mudar essa situação. O seu jornal investia em um jornalismo investigativo e os editoriais eram implacáveis com a corrupção do governo, com os ricos que sonegavam impostos e os apostadores. Curiosamente, Pulitzer chegou a fazer algumas tentativas para entrar na
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política. Chegou a ser eleito para a Assembleia do Estado de Missouri, em 1869, e para a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, em 1885. Porém, renunciou depois de poucos meses no cargo, por não se sentir realizado. Pulitzer tinha como meta tornar-se uma espécie de porta-voz do homem comum através das páginas do jornal. Dessa maneira, mudou a forma como os conteúdos eram publicados, classificando-os por temas e priorizando matérias de interesse público. O motivo dessa transformação era simples: quanto mais as pessoas se interessassem pelas matérias publicadas, mais publicidade o jornal conseguiria vender. A tática foi bem-sucedida, já que o St. Louis Post-Dispatch manteve um aumento contínuo em sua tiragem. Sua intensa rotina de trabalho estava debilitando ainda mais a sua saúde, mas nem mesmo a piora do problema de visão o fez diminuir o ritmo. Em 1883, Pulitzer, acompanhado de sua esposa, foi a Nova Iorque para pegar um navio rumo
Pulitzet tinha como meta se tornar o porta-voz do homem comum, através das páginas do jornal
a Europa. A ideia era passar férias e se distanciar da rotina na redação, cumprindo uma recomendação médica. No entanto, ao invés de embarcar, aproveitou para conhecer Jay Gould, dirigente do jornal The New York World, e negociou a aquisição do jornal, que se encontrava em uma situação financeira delicada. Pulitzer revolucionou o The World, aplicando as mesmas técnicas que utilizava no St. Louis Post-Dispatch. O jornal incorporou críticas à corrupção do setor público e às más práticas do setor privado, além de inserir colunas com um toque sensacionalista e ilustrações. A publicação ainda fez uma forte campanha para o levantamento de fundos públicos para a construção de um pedestal na entrada do cais de Nova Iorque para que pudesse abrigar a Estátua da Liberdade, que até então estava na França à espera de envio. A fórmula funcionou tão bem que a tiragem do The World se expandiu rapidamente até atingir os 600 mil exemplares diários, tornando-se a maior entre todos os jornais dos Estados Unidos. O sucesso de Pulitzer fez com que os concorrentes contra-atacassem. O empresário Charles Anderson Dana, publisher do The Sun, também de Nova Iorque, começou a fazer uma série de ataques pessoais a Pulitzer em sua publicação. O Sun chegou a publicar uma matéria intitulada “O judeu que negou sua raça e religião”, no intuito de que a comunidade judaica deixasse de ler o jornal de Pulitzer. Aos 43 anos de idade, com a saúde já debilitada, praticamente cego e com uma sensibilidade a ruídos, Pulitzer se afastou da edição do The World. A situação o levou a uma profunda depressão, já que durante boa parte de sua vida havia se
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GRANDES NOMES dedicado ao jornalismo. Ele tentou buscar a cura para suas doenças em diferentes lugares do mundo, mas não a encontrou. Nas duas décadas seguintes, dedicou-se a defender valores que considerava fundamentais, como a liberdade de imprensa. Na medida do possível, procurou manter-se na gestão dos seus jornais. Para garantir a confidencialidade de suas conversas relativas aos negócios criou uma série de códigos, que preenchiam um livro com mais de 20 mil nomes e termos. Por volta de 1900, Pulitzer foi o responsável indireto pela criação de um dos formatos de jornal mais conhecidos no mundo, o tabloide. Ele contratou um jovem jornalista inglês chamado Alfred Harmsworth para desenvolver uma edição especial, na virada do século. Harmsworth teve total autonomia para trabalhar na publicação e, assim, decidiu reduzir o formato para algo mais aproximado a um livro. Essa formatação viria a ser copiada por um sem-fim de jornais em todo o mundo. O The World se consolidou como uma publicação de destaque, aquecendo o debate público sobre os temas do momento nos Estados Unidos. Reportagens do jornal influenciaram a criação de uma série de legislações antitruste e na indústria de seguros. Em 1909, a publicação expôs o pagamento ilegal de 40 milhões de dólares feito pelo governo estadunidense à companhia responsável pela construção do Canal do Panamá. As reportagens despertaram a fúria do então presidente Theodore Roosevelt e do banqueiro J.P. Morgan, entre outros, que pediram retratação na justiça. A corte decidiu favoravelmente a Pulitzer e o jornalista foi aplaudido pelos presentes no tribunal. Por anos, um dos principais objetivos de Pulitzer era criar um espa-
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EMPREENDEDOR Poster promocional da edição dominical do New York World, de 28 de julho de 1895
ço dedicado à formação de profissionais da imprensa. Para isso, em 1892, procurou o presidente da Universidade de Columbia, Seth Low, e manifestou sua intenção em financiar a criação da primeira escola de jornalismo no mundo. A proposta foi negada pela universidade naquele momento, mas o empresário e jornalista não desistiria da iniciativa. Em 1902, com a ascensão de Nicholas Murray Butler à presidência da instituição, Pulitzer fez uma nova tentativa. Dessa vez, a ideia foi aceita. Além da faculdade, a ideia era instituir um prêmio que reconhecesse a excelência do trabalho jornalístico. Assim, deixou 2 milhões de dólares à universidade em testamento, o que permitiu, em 1913, a inauguração da Columbia University Graduate School of Journalism, uma das mais importantes escolas de jornalismo do mundo até hoje. A faculdade, entretanto, acabou não sendo a primeira. Esse posto foi ocupado pela Universidade de Missouri, também nos Estados Unidos. Joseph Pulitzer faleceu em 1912 e, portanto, não viu a criação da faculdade e tampouco a do prêmio que leva o seu nome e que se consolidou como a principal distinção do jornalismo mundial. O Prêmio Pulitzer foi criado em 1917 e tem em sua comissão julgadora acadêmicos e executivos da imprensa. Além do jornalismo, também premia os destaques da literatura e da música. Os vencedores recebem um certificado e 10 mil dólares. Já o vencedor da categoria Serviço Público em Jornalismo recebe, além dessas recompensas, uma medalha de ouro.
Lady Di GALERIA
No mês seguinte à morte da Princesa Diana, a revista People fez uma capa em seu tributo. Uma foto de Diana sorridente, em preto e branco, apenas isso. “Princesa do povo” era a manchete sugerida. A edição teve impressionantes 3,1 milhões de exemplares vendidos. Assim, tornou-se a segunda maior tiragem da história da publicação, sendo superada apenas anos mais tarde pela edição com a cobertura dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
D
iana Frances Spencer, a Princesa Diana, morreu em 31 de agosto de 1997, em Paris, capital da França. A partir do seu casamento com o Príncipe Charles, em 1981, Lady Di, como era carinhosamente chamada, tornou-se uma das mulheres mais conhecidas do mundo. Consolidou-se como um dos maiores ícones da moda, ideal de beleza e ganhou a admiração de milhares de pessoas com o seu trabalho de caridade. Não à toa, cada passo que dava sempre foi acompanhado de perto pelos paparazzis até o seu último dia de vida, literalmente. Diana faleceu em um acidente de carro, em meio a uma perseguição realizada por sete paparazzis, logo após sair de um jantar com seu então namorado, o empresário Dodi Al-Fayed, que também morreu no acidente.
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Ainda que um pouco a contragosto, Diana teve de se acostumar com os holofotes da imprensa. Sua relação com Charles e a posterior separação do casal, em 1996, resultaram em muitas capas de jornais e revistas em todo o mundo. O casamento foi um prato cheio para publicações tradicionais como Time, Vanity Fair, Vogue e Life e, também, para a imprensa sensacionalista britânica. Os nascimentos dos filhos do casal, Willian e Harry, segundo e terceiro na linha de sucessão do trono britânico, eram o foco das atenções dos meios de comunicação na primeira metade dos anos 1980. Com os anos, os jornais e revistas passaram a focar na crise do matrimônio. O divórcio de Diana e Charles foi um momento amplamente explorado pelos veículos. Não seria exagero afirmar que a princesa figurou em milhares de capas ao longo de sua vida. Mesmo após o acidente fatal, Diana segue sendo lembrada em publicações de diferentes partes do mundo. Em 2017 isso deve ganhar novo impulso, pois se completam 20 anos de sua morte. A edição de fevereiro da Harper’s Bazaar UK confirma isso, ao trazer um especial sobre Lady Di e sua relação com o mundo da moda.