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EDITORIAL
A inovação dos “conservadores”
P
or muitos anos, eu ouvi que o Rio Grande do Sul era atrasado porque sua economia era, eminentemente, “agropastoril”, e que precisávamos de indústrias para modernizar o estado e vitaminar nosso PIB. “Bullshit”! O pessoal do campo ouviu isso calado, nas últimas décadas, e baixou a cabeça a trabalhar, enquanto aprimorava suas técnicas, aumentava sua produtividade e avançava em importância na economia gaúcha. E o que temos visto nesses anos de crise aguda no país e no Rio Grande? A indústria patinando, fábricas fechando, empregos sumindo no setor, enfim, crescendo como rabo de cavalo. Enquanto isso, o setor primário (ou primeiro, como gosta de dizer o querido Carlos Sperotto, presidente da Farsul) vai muito bem, obrigado, batendo recordes de produção, safra após safra, ganhando mercados mundiais e segurando as pontas para que nosso estado não afunde de vez. Entre 2010 a 2015, o setor industrial gaúcho caiu 8,7%, enquanto o setor de serviços cresceu 7,2% e a agropecuária avançou 27,1%. Está bem, vai se dizer que a indústria sofre mais com o desaquecimento da economia, porque se compram menos produtos manufaturados e tal e que comer todo mundo continua comendo, mesmo em tempos de crise. Mas, isso é apenas um atenuante para o fato de que a inovação não veio da indústria como era de se esperar, veio do campo, que muita gente dizia ser conservador, ultrapassado e tal. Os teóricos da inovação, a gurizada dos MBAs, e muitos de nós, jornalistas, deveríamos passar uma temporada no campo, vendo como agricultores e pecuaristas driblam os humores do clima, as pragas, as
altas e baixas dos preços, as trapalhadas de Brasília e conseguem produzir cada vez mais e melhor. Isso sim é inovação, isso sim é “case” de sucesso. E isso não está restrito apenas aos grandes produtores rurais. Nas pequenas propriedades, o melhor manejo, a melhor técnica, as melhores práticas, também, estão presentes. Cada vez mais. Até porque, como a terra é pequena, ela precisa ser aproveitada ao máximo, num sistema que permita a sustentabilidade das famílias produtoras e uma melhoria em sua qualidade de vida. Por tudo isso, parabéns aos “conservadores” do campo, que nos últimos 40 anos fizeram saltam a produção de grãos de 40 milhões de toneladas para 240 milhões, ou seja, seis vezes mais, sem que a extensão de terra plantada não tenha crescido mais do que 50%. Aumentou mesmo foi a produtividade, como no caso do milho, que passou dos 1.400 quilos por hectare, no início da década de 70, para mais de 4.000 quilos por hectare em meados dos anos 2.000. O mesmo se dá na pecuária, que neste mesmo período passou de uma produção de 2.700 mil toneladas de carne para próximo de 18.000 mil toneladas. Só a produção de carne de aves cresceu 22 vezes nessas quatro décadas. Certamente, isso não se deu por conta de um favor de São Pedro. Foi muito trabalho, muita inovação, aumento substancial de produtividade e olhar no futuro. Por falar nisso, estima-se que nos próximos dez anos, a nossa safra de grãos terá um crescimento batendo na casa dos 30%, chegando a um volume de produção na ordem das 300 milhões de toneladas. É pouco, ou quer mais!?
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SUMÁRIO
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Editorial
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Elas no campo
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Entrevista: Carlos Joel da Silva
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Capa: Pequenos gigantes do campo
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Fomento à produção
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Saudáveis e imunes à crise
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Dinheiro que irriga a produção
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Infraestrutura
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Mix
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Formalização que gera renda
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Gestão e sucessão rural
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Rodas que promovem o crescimento
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Biodiesel
www.revistapress.com.br/agrobusiness | e-mail: agro@revistapress.com.br Diretor Geral JULIO RIBEIRO
Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA
Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN
Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 9971 5805 com NELCI GUADAGNIN
Reportagem CRISTIANO VIEIRA Designer ESPARTA PROPAGANDA Fotografia: JEFFERSON BERNARDES/ Agencia Preview
A revista PRESS AGROBUSINESS é uma publicação trimestral da Athos Editora Ltda, com circulação por mailling regional e nacional, voltada aos diversos segmentos produtivos e institucionais do setor primário do Rio Grande do Sul. Os artigos assinados e opiniões emitidas por fontes não representam, necessariamente, o pensamento da revista e de sua editora.
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TRABALHO
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Elas no campo
N
o Brasil, 45% dos produtos são plantados e colhidos por mãos femininas – segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, mais de 14 milhões de mulheres estão trabalhando na agricultura familiar no País – seja em pequenas propriedades, comunidades quilombolas ou indígenas. Se na cidade a valorização da mulher ganha força a cada dia, na agricultura as iniciativas são mais recentes. Este ano, a Secretaria Especial da Agricultura Familiar (Sead) lançou uma campanha chamada #MulheresRurais, mulheres com direitos. O objetivo é dar visibilidade a essas mulheres e ao trabalho que desempenham para o desenvolvimento socioeconômico e sustentável. Conforme informações da secretaria, as mulheres têm papel fundamental na agricultura familiar e camponesa do País, mas não têm o reconhecimento merecido. Sofrem com o preconceito, com a desigualdade de gênero e com tantos outros problemas que herdaram da vida. Segundo dados do Censo do IBGE 2010, as mulheres rurais são trabalhadoras, responsáveis, em grande parte, pela produção destinada ao autoconsumo familiar e contribuem com 42,4% do rendimento familiar. O índice é superior ao observado nas áreas urbanas, de 40,7%. De acordo com a Sead, são elas que garantem a produção dos alimentos, cuidam das sementes, do manejo ambiental adequado, das águas,
As mulheres contribuem com 42,4% do rendimento familiar no campo garantindo assim a qualidade de vida na família e sociedade. Para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), as mulheres rurais cumprem uma série de funções-chave para a segurança alimentar regional, mas enfrentam altas taxas de pobreza, insegurança alimentar e obesidade. Além disso, têm menos acesso aos recursos produtivos como terra, água, crédito e capacitação, fatores que impedem que as mulheres rurais da América Latina e do Caribe desenvolvam todo o seu potencial. Para qualificar o trabalho da mulher no campo, diversas ações estão em execução, como a emissão de documentos civis e trabalhistas, realizados pelos mutirões do Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural e o acompanhamento dos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater); até o acesso diferenciado a financiamentos de projetos, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e a comercialização para os mer-
cados institucionais do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). A legislação do PAA, por exemplo, determina como obrigatória a participação de, no mínimo, 40% de mulheres do total de produtores para que a associação ou cooperativa possa participar das operações feitas nas modalidades de Compra da Agricultura Familiar e Compra Direta com Doação Simultânea. O aumento na participação impactou também na renda anual das mulheres, que saltou de R$ 4.045,07, em 2011, para R$ 7.337,26, em 2016. A iniciativa é liderada pela FAO e pela Reunião Especializada em Agricultura Familiar no Mercosul (Reaf) e abrange a América Latina e o Caribe. No Brasil, a Sead vai realizar ações e publicar uma série de reportagens que darão visibilidade ao trabalho feminino no campo, além de oficinas, encontros de capacitação e empreendedorismo feminino, mutirões de serviço e atividades culturais.
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A agricultura familiar já produz com a mesma qualidade e produtividade dos grandes produtores rurais Por: Cristiano Vieira e Julio Ribeiro Fotos: Marcos Nagelstein/ Agência Preview
CARLOS JOEL DA SILVA PRESIDENTE DA FETAG-RS
Natural de Cachoeira do Sul, Carlos Joel da Silva é o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), entidade que luta por melhores políticas públicas, mais renda e qualidade de vida para a agricultura familiar, segmento responsável por boa parte do que produz o campo. A FETAG-RS reúne 348 sindicatos de trabalhadores filiados, representando 380 mil famílias que trabalham na agricultura. Tanta gente merece mais espaço: está nos planos a ampliação da estrutura física da entidade em Porto Alegre, com um centro de formação com foco na agricultura familiar. Na entrevista, este colorado que não abre mão de um chimarrão enquanto bate-papo, fala dos planos da FETAG-RS, do que precisa ser feito para alavancar a renda do trabalhador do campo, de política e explica por que o estande da agricultura familiar na Expointer é o ponto mais visitado da feira. O que avançou a agricultura familiar em termos de inovação e produtividade na última década? Nestes dez anos, a agricultura familiar ganhou a identidade que ela merece, até então, inexistente. A definição era de uma agricultura familiar atrasada. Hoje, aqui no Sul, a produção do pequeno agricultor concorre de igual para igual com a da patronal. Temos disponível tecnologia tanto em maquinário da propriedade quanto no plantio, no manejo. A pesquisa e a tecnologia para a agricultura familiar realmente avançaram muito. E quais são os entraves ainda? Um dos maiores é fazer a pesquisa chegar no campo. A assistência técnica precisa melhorar bastante. Temos uma assistência técnica ainda mais focada na venda de produtos do que em levar as novas tecnologias para o agricultor. Essa tecnologia, hoje, chega lá no campo via empresas, que têm o in-
tuito de vender apenas o produto. Um exemplo: tem uma tecnologia para desenvolver a soja e apenas isso. Ela não vai levar a tecnologia para desenvolver a propriedade como um todo. Essa é a grande falha hoje na nossa assistência rural: a falta de um olhar global para a propriedade. O que seria esse foco mais amplo? O agricultor familiar não está centrado em uma cultura, pelo contrário, ele tem duas ou três atividades ao mesmo tempo naquela terra. Então, a falta desse olhar ampliado ainda atrapalha. No nosso entender, a agricultura familiar é diferente da patronal, que busca produzir e vender, enquanto o pequeno produtor vive e depende daquela terra. Queremos essa assistência técnica sistêmica na propriedade, que converse com a família e explique: aqui podemos aumentar a produtividade, lá podemos plantar outra coisa. Mas, também há pequenos produtores virando empresários, não? Querendo comprar mais terras... O agricultor sempre quer crescer, mas este espaço hoje não há. Primeiro lugar, a agricultura familiar não tem dinheiro para comprar terra. Você tem financiamento para tudo nos bancos, pode até comprar uma máquina de R$ 1 milhão financiada, mas não tem recursos para compra de terras. Tem o crédito fundiário, mas está devagar, quase parando e tem um limite de R$ 60 mil. O que se compra de terra com esse valor? Nada. Isso acaba por concentrar nas mãos de poucos. Um exemplo prático, que ocorre muito no Rio Grande do Sul: morreu o pai e deixou três filhos. Um está na propriedade e os outros dois estão na cidade. Sem o pai, eles dividem a terra em três partes. Os que mo-
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ENTREVISTA ram na cidade querem vender sua parte porque não é daquilo que eles vivem, mas o filho que ficou lá não tem dinheiro para comprar a parte dos irmãos. O que acontece? Um médio ou grande produtor, vizinho, adquire aquela área. Isso concentra mais um pouco. Por isso a sucessão rural é uma questão urgente Esta é a maior preocupação hoje no meio rural, a sucessão. As pessoas não ficam lá na propriedade, vendem, e aí fecha tudo. Por que tem escola, posto de saúde, CTG, comunidades por perto. Clubes deixam de existir. E isso vira um problema social também lá no meio urbano. Mais gente buscando emprego na cidade. Enquanto isso, o campo deixa de produzir e perde mão-de-obra. Qual o tamanho médio das propriedades da agricultura familiar? No Rio Grande do Sul falamos em 16 hectares, não chega a um módulo rural. O censo do IBGE em andamento deve retratar essa questão fundiária e atualizar os dados da agricultura familiar Sim. Temos muita dificuldade em obter dados – muita coisa nós “chutamos” – porque o último censo ocorreu em 2006. Faz dez anos que nada é atualizado. Agora teremos um levantamento que vai nos nortear melhor. Creio que teremos muitas alterações, como as pessoas que moram no meio rural e trabalham nas cidades. Isso, com certeza, aumentou. Se você olhar para região dos Vales, tem muito disso, a chamada multifunção. Até porque são próximos campo e cidade. Tem muita chácara de lazer, mas também muito agricultor criando seu bichinho ou cultivando uma horta lá.
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O trabalho cooperativo não é uma boa alternativa para a agricultura familiar? Seria. Junto com uma assistência técnica de qualidade, o cooperativismo hoje é o que pode manter a agricultura familiar produzindo no campo. O caminho passa por aí, tanto para baixar custo para produzir quanto para vender depois. Mas faço uma crítica às nossas cooperativas. Elas pregam a cooperação para os agricultores, mas não estão cooperando entre si, ou fazem muito pouco disso. Se você olhar o leite. De novo, vamos para a região dos Vales. Tem duas ou três cooperativas disputando o mesmo produtor. Levam um técnico para fazer a assistência, depois enviam um caminhão com ração, depois outro coletando o leite... podiam fazer tudo isso de modo cooperativado, entre elas, baixando o custo para o produtor. Muitas famílias deixaram de entregar leite para as indústrias nos últimos anos aqui no Estado... Tudo está concentrando. Diminuiu o número de produtores, mas a produtividade aumentou. Para se manter na atividade, o agricultor enxuga a margem de lucro. Tem que produzir mais, plantar mais, para garantir o padrão de vida ou a sustentabilidade da lavoura. Isto garante uma renda qualificada no campo? Não. Se olharmos a maior parte dos produtos, tem agricultor no prejuízo. No caso do leite, por exemplo, alguns estão no empate, mas muitos perdendo dinheiro. Mas, porque ele não para, então? Por que é pior. Para recomeçar depois, não tem como. Se fosse a agricultura patronal, já tinha trocado de cultura. Mas o pequeno não consegue e por que ele se
mantém mesmo assim? Por que ele tem o leite aqui, mas também tem outras pequenas fontes de renda, um pouco de grão aqui e ali. Então vai compensando até a situação melhorar. Muitos não conseguem e desistem. E aí você tem esse número da Emater que 19 mil famílias desistiram do setor leiteiro no Estado ano passado. Além do leite, que outras atividades não estão bem para a agricultura familiar? O trigo hoje está com prejuízo e o arroz, apesar de as pessoas acharem que o arroz é de grandes produtores, 65% do grão vem da agricultura familiar. E do jeito que está o preço, acabam vendendo abaixo do custo de produção também. São três atividades muito ruins hoje: leite, arroz e trigo. Por outro lado, temos o frango, indo muito bem, com uma renda razoável. Os suínos já estiveram melhor, o preço caiu um pouco. O milho uma hora está bom, outra não. Mas ele é assim. Subiu muito há uns dois anos, baixou, este ano subiu de novo e agora reduziu um pouco. E as políticas públicas para o setor? Temos que ampliar os valores do que o poder público oferece hoje. Temos um Pronaf com juro inadequado, de 5% ao ano, quando a inflação deve fechar em 3%, ao que parece. Talvez menos até. Então se olharmos em todos os anos do Pronaf essa relação juro e inflação, 2017 é o ano com juro mais elevado. Recursos não podemos reclamar, está sobrando. São R$ 30 bilhões, e não usamos tudo. Há seguro agrícola? O seguro, operado via Proagro, é bom, mas tem que ser ampliada a cobertura. O Proagro Mais cobre 60% da renda líquida esperada,
com teto até R$ 20 mil. Acima disso, sobra para o produtor. Um entrave histórico é a infraestrutura deficiente no campo... É ruim, muito precária no Rio Grande do Sul. Se olharmos a agricultura em si, os agricultores conseguiram produzir mais utilizando a mesma área. Mas a infraestrutura, que depende do poder público, não anda na mesma velocidade. As estradas são péssimas, e no interior dos municípios são ainda piores. A ponto de um caminhão ter dificuldade para buscar o leite na propriedade em dia de chuva. Isso aumenta custo. Quanto à energia elétrica, não é que não tenha: na maioria das propriedades tem luz mas não tem energia. Falta força para um motor ou uma ordenhadeira. E que dirá para a irrigação...aí sim, fica muito pior. A energia solar e as pequenas centrais hidrelétricas, funcionando de maneira cooperativada, podem ajudar? Hoje, no Rio Grande do Sul, a melhor energia que temos vem do sistema cooperativo. Há cooperativas como a Celetro (Cachoeira do Sul), a Certel (Teutônia), a Coprel (Ibirubá) com atendimento muito bom. Na minha propriedade, no interior de Cachoeira, a luz é da RGE e, a três quilômetros dali, tem a cooperativa. Ano passado ou retrasado, que deu um temporal feio, nós ficamos 12 dias sem energia elétrica. Já a cooperativa restabeleceu a energia no dia seguinte, perto do meio-dia. Então é uma grande dificuldade. Se entrar na questão do sinal de celular e da internet, é uma vergonha. E isso é um fator importante para o jovem ficar no campo. Claro, e quando falamos em baixar custos, a internet ajuda muito.
Pode consultar preço, tendência de mercado, pode fazer negócios via e-mail, utilizar planilhas – administrar toda a propriedade. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) se tornou um grande aliado da agricultura familiar? É importantíssimo, mas o orçamento dele está caindo. A peça orçamentária do governo federal tira 35% do destinado à agricultura familiar para 2018. O PAA tem algumas modalidades com redução de até 90%. Claro que continua a venda direta para as escolas, para a merenda, e para órgãos públicos, como o Exército. Mas tem que ser melhorado, simplificado. Como os agricultores familiares estão fazendo com sistemas de armazenagem? Temos muitas dificuldades. Aqui mesmo no Estado, se olharmos a Cesa (Companhia Estadual de Silos e Armazéns) era importante, mas foi desmantelada. Hoje a armazenagem está nas mãos das empresas cerealistas. Você colocou teu produto lá, não vende para outra, somente para ela. Fica à mercê dos grandes grupos. Quando você tem um armazém próprio, pode esperar venda e melhor preço. Então essa logística de armazenagem está nas mãos das empresas e sai caro para o agricultor familiar. O uso compartilhado não é uma alternativa? Sim, mas o problema é a cultura do agricultor. Você tem a qualidade do seu produto e pode misturar outros ali. Aí entra o trabalho das cooperativas, de trabalhar isto. Mas temos dificuldades por causa de algumas que quebraram. No Sul, ali em Pelotas, a Cosulati, do leite, com todo aquele problema. Aquela potência da Cooperativa
de Ijuí quebrou e os produtores ficaram com grande prejuízo. Lá em Cachoeira do Sul, duas fecharam e deixaram os agricultores a ver navios. Alguns exemplos ruins mancharam essa questão, mas tem que mudar isso. Tanto é que, no leite, tem grandes cooperativas, como a Dália, a Languiru, a Piá, a Santa Clara. A exportação pode ser viável para a agricultura familiar? Dá para fazer, acho que esse é o caminho do futuro. Inclusive tem muitos produtores já exportando – caso dos suínos, do frango. Hoje a pecuária familiar entra muito forte também. Carnes estamos bem neste ponto. Temos dificuldade no leite, no trigo. Olha também o vinho, a uva hoje está na mão do pequeno agricultor a produção. Mas também não está fácil. Fiquei sabendo há pouco tempo que, de cada 10 garrafas de vinho fino vendidas aqui, sete são importadas. E por que isso? São os acordos comerciais. Estamos aqui do lado do Mercosul, com livre comércio, e o Brasil quer abrir mercado. Quer vender carro, fogão, etanol, geladeira, para o Uruguai, o Paraguai, a Argentina...E o que eles têm para vender para cá? Leite, trigo, vinho, arroz. Compete diretamente com o que produzimos. A agroecologia, com os orgânicos, é um outro caminho importante Muito importante e que cresce dia a dia. Não é para todos, é mais lento, vai buscando mercado. Mas o governo de fato não mostrou, ainda, que a agricultura familiar pode ir por esse caminho. Ah, tem um programa de agroecologia do Estado, também tem o Pronaf Agroecologia...e quando você vai olhar, são as mesmas regras de um Pronaf comum, só muda o nome. Não é uma política direcionada e
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ENTREVISTA atrativa. O governo poderia criar um programa que realmente incentivasse o produtor a caminhar por aí, mas não existe. A produtividade é menor porque não usam agrotóxicos, mas há culturas que não perdem em nada quando comparadas à agricultura tradicional. A assistência rural em orgânicos está centrada em entidades ligadas ao governo, como Emater, Senar, Embrapa, e técnicos de sindicatos rurais e prefeituras. Não há interesse das empresas privadas. Os estandes da agricultura familiar são os mais visitados em feiras como a Expointer? Sim, e nossa demanda é maior a cada ano que passa. Existe um projeto para ampliar o pavilhão da agricultura familiar no Parque de Exposições Assis Brasil desde o governo Tarso Genro, inclusive com verba liberada pelo falecido ex-ministro da agricultura Mendes Ribeiro Filho. Mas a obra não andou. Temos produtos coloniais, queijos, doces, um pouco de tudo para mostrar a força da agroindústria também, hoje o principal segmento para reter o jovem no campo. Também trabalhamos forte para unificar os sistemas de inspeção sanitária. Atualmente, um queijo com selo municipal não pode ser comercializado fora. Mas, você chega em Esteio, na Expointer, e lá tem o queijo. Ou seja, pode por nove dias, na feira, mas depois é proibido? Um absurdo. Estamos trabalhando nisso. Quais as principais linhas de ação da Fetag? Trabalhamos para desenvolver a agricultura como um todo. Mantendo a família no campo com renda. Nós trabalhamos pela saúde, pela educação, pela infraestrutura. Não é só dar crédito e pronto. Falta mais. Por que brigamos por escolas no meio rural? Por
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“A sucessão é a maior preocupação, hoje, no meio rural. As pessoas não ficam lá na propriedade, vendem, e aí fecha tudo: desde a escola ao CTG.”
que queremos qualidade de vida. O agricultor não só produz – ele vive, ele precisa do meio rural. Sabemos que, para ficar no campo, as famílias querem qualidade de vida, querem renda. Produzir e não ficar com dinheiro no bolso ele não fica lá, principalmente a gurizada. Sabemos que o agricultor de hoje não é o mesmo de tempos atrás. O que fazem lá em Brasília o agricultor enxerga – ele olha na internet, na tv a cabo. Ele é um agricultor mais bem informado, esclarecido. Antes, a maior parte dos agricultores familiares, no máximo, tinham até a quinta série de estudo. Agora, daqui a pouco, eles terão o ensino médio completo e alguns, até mesmo, ensino superior. Muitos jovens saíram, se formaram, e estão voltando. E a previdência social no campo? Talvez seja hoje a política que mais distribui renda no campo. Se você chegar em grande parte das famílias, a maior renda é da aposentadoria. Parte das pessoas
está perto de conseguir o benefício ou se aposentou. Dependendo, aqueles dois salários mínimos mensais, no fim do ano, dão mais que a produção dele. E ele continua produzindo - se aposenta, mas não para. Esse agricultor está buscando mais conhecimento, se capacitando. O quadro político-eleitoral do ano que vem é algo que preocupa os pequenos agricultores? Entendemos que os agricultores devem se preocupar sim. Hoje é preciso olhar da porteira para fora e entender o mundo. A política interfere em tudo. Desde saúde, educação, mas no custo de produção, no preço final do produto, na infraestrutura. Então é preciso saber escolher, mas temos visto que escolhemos mal. O que eu digo? A classe política fez muita besteira nos últimos tempos e não é só no governo federal não, aqui também. Temos prefeituras quebradas, trabalhando meio turno porque não conseguem pagar a conta de luz, um Estado pagando parcelados os salários e um governo federal fazendo cortes por que não tem mais dinheiro. Como reverter isso, dentro daquela perspectiva de que ninguém quer perder direitos? Isso é um problema, mas todos os privilégios devem ser atacados. Aqui no Rio Grande do Sul, quem são os prejudicados? Os funcionários públicos do poder Executivo. A Assembleia recebe em dia, o Judiciário recebe em dia...O poder público não mexe nos seus privilégios e lá em cima não é diferente. Querem fazer reforma da previdência, mas o militar já foi tirado. E o Judiciário louco para sair...acaba ficando apenas o setor privado.
MATÉRIA DE CAPA
Pequenos gigantes do campo
É
de pequenas propriedades rurais espalhadas rincões afora pelo Brasil que saem 70% dos alimentos produzidos no País. Mais do que impressionar, o dado demonstra a importância econômica e social
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da agricultura familiar – são 4 milhões de pequenos estabelecimentos rurais no Brasil (380 mil deles no Rio Grande do Sul), com tamanho médio de 16 hectares. O trabalho desses pequenos gigantes responde por um terço de tudo que o agronegócio brasileiro produz em um ano - em 2016, a agricultura familiar contribuiu com R$ 430 bilhões dos R$ 1,31 trilhão gerados pelo campo na composição do PIB do Brasil. Em solo gaúcho, a participação é ainda maior: cerca de 55% de tudo que é produzido no campo vem
de pequenas propriedades rurais. Apesar de rico, o universo da agricultura familiar (e da agropecuária em geral) carece de informações atualizadas – o último censo foi realizado em 2006. Agora, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) produz um novo levantamento e deve divulgar, até meados de 2018, um retrato preciso da agricultura do Brasil. Mas, há outras fontes. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-Esalq-
-USP) é a principal referência na produção de estatísticas para o agronegócio brasileiro e suas principais cadeias produtivas. Aqui no Rio Grande do Sul, por sua vez, a Fundação de Economia e Estatística publica, anualmente, o Painel do Agronegócio do RS, assim como a Emater disponibiliza levantamentos. No Brasil, a área é merecedora de atenção pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD), órgão federal vinculado à Casa Civil. Conforme a Sead, a
atividade tem dinâmica e características distintas em comparação à agricultura não familiar. Nela, a gestão da propriedade é compartilhada pela família e a atividade produtiva agropecuária é a principal fonte geradora de renda. Além disso, o agricultor familiar tem uma relação particular com a terra, seu local de trabalho e moradia. A diversidade produtiva também é uma característica marcante desse setor.De acordo com o IBGE, no Rio Grande do Sul a agricultura familiar engloba um contingente de 900 mil pessoas.
A agricultura familiar é responsável por 70% da safra nacional de feijão, 58% do leite produzido, 50% das carnes de aves e 59% da suína, além de 46% da produção de milho. Em solo gaúcho, os percentuais são ainda maiores: 84% da produção de leite, 70% da carne suína, 80% da carne de aves. Na soja, alcança 35% do total colhido no Estado. “Muitos agricultores aproveitam o pequeno pedaço de terra e, além de plantar feijão ou hortifrutigranjeiros, mantém algumas vacas leiteiras para aumentar a renda”, explica Márcio de Andrade Madalena, delegado federal da SEAD no Rio Grande do Sul. É essa diversidade e total aproveitamento da terra, com espaço para as culturas e mata nativa, que vem garantindo o crescimento da agricultura familiar na economia do Brasil. Mas quem é o agricultor familiar brasileiro? De acordo com a SEAD, a Lei 11.326 de julho de 2006 define as diretrizes para formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e os critérios para identificação desse público. É considerado agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, possui área de até quatro módulos fiscais (no Rio Grande do Sul, em média, 16 hectares), mão-de-obra da própria família, renda vinculada ao próprio estabelecimento ou empreendimento da família. Diretor técnico da Emater, Lino Moura destaca que a entidade mantém um total de 78 grandes eixos de atuação com foco na agricultura familiar. Essa diversidade é explicada pela sua importância econômica e social. “Basta ver no gráfico do PIB do Estado. Nos anos em que a agricultura vai mal, o PIB também vai mal, e o contrário também
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MATÉRIA DE CAPA ocorre. Essa relação intensa, da qual faz parte a agricultura familiar, demonstra a importância de uma política direcionada para este segmento”, afirma. Um dos focos de maior trabalho é o aumento da produtividade. Diferentemente do grande agricultor, que busca crescer também comprando mais terras, o pequeno produtor trabalha em menor escala. Para isso, precisa investir em gestão e tecnologia para produzir sempre mais no mesmo pedaço de chão. “Operamos um programa de gestão sustentável, no qual atendemos cerca de 10 mil famílias, e acompanhamos todas as atividades das propriedades. Temos, assim, indicadores sociais, ambientais e de qualidade de vida as pessoas”, destaca Moura. Um exemplo desse acompanhamento intenso é o aumento da produtividade no leite. Um diagnóstico do setor feito pela Emater indica que a produtividade por propriedade cresceu 24,9% no Rio Grande do Sul nos últimos dois anos. Em 2017, os produtores gaú-
Alexandre Guerra Presidente do SINDILAT-RS
Lino Moura Diretor Técnico da EMATER
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Márcio Madalena Delegado Federal da SEAD-RS
Em 2016, a agricultura familiar contribuiu com R$ 430 bilhões dos R$ 1,31 trilhão gerados pelo campo no Brasil chos alcançam 178 litros por propriedade por dia. Em 2015, a média era de 142 litros. Isso é importante uma vez que, nos últimos anos, a atividade leiteira tem enfrentado desafios – como a baixa remuneração ao produtor e a concorrência com o importado. “Hoje, 65 mil famílias gaúchas entregam leite para as indústrias do Estado. Este volume era de 84 mil famílias há dois anos. Reduziu o número de propriedades, mas aumentou a produtividade, o que termina por equalizar essa relação”, explica Alexandre Guerra, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e
Derivados (Sindilat-RS). No total, a atividade leiteira é fonte de renda para 175 mil famílias gaúchas. Além das que fornecem para a indústria, outras 110 mil vivem da produção leiteira por outros meios, como a fabricação de queijos. Na viticultura, segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Embrapa, são 14,4 mil propriedades cultivando uva no Estado com área média de 17 hectares. Apenas na região de Caxias do Sul, na Serra gaúcha, são 11,4 mil pequenas fazendas com área média de 13,8 hectares plantando uva em terreno acidentado.
Mesmo entre as atividades em que tradicionalmente a agricultura empresarial é forte, como a soja, a produção dos estabelecimentos familiares, de acordo com a Emater, é relevante, alcançando quase 36% do total da oleaginosa no Rio Grande do Sul. “Nas regiões Celeiro e Noroeste, grandes produtoras de soja, a maior parte do grão vem de pequenas áreas, inclusive de assentamentos rurais. A soja é atrativa por aquilo que já sabemos: tem procura, tem logística para escoar e o preço, embora caia um pouco, também sobe, não varia muito. É uma questão de mercado e o produtor quer aumentar
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MATÉRIA DE CAPA sua renda, como qualquer outro”, destaca o diretor técnico da Emater. Panorama similar se repete no tabaco. Segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), 87% das propriedades rurais que cultivam fumo têm menos de 20 hectares. Em média, a área é de 15,2 hectares. São 144 mil famílias que dependem da atividade rural – 75 mil delas apenas no Rio Grande do Sul. A diversidade de cultivo é uma realidade nos agricultores dedicados ao tabaco: além do fumo, muitos plantam milho, soja, feijão, frutas e hortaliças na propriedade. Apesar disto, é evidente a importância econômica do tabaco: a renda com a cultura representa 48% do faturamento das pequenas propriedades, deixando para trás os ganhos com os grãos e frutas. Isto é importante quando se percebe que 90% dos agricultores têm apenas o ensino fundamental incompleto e dependem de sua produção para sobreviver. De acordo com a Afubra, no total, a fumicultura garante emprego para 327 mil pessoas dos núcleos familiares, além de gerar mais de 101 mil empregos sazonais na contratação de mão-de-obra, principalmente, durante a colheita.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de tabaco, atrás somente da China. A estimativa da Afubra para a próxima safra (2017/2018) é de que sejam colhidas 693 mil toneladas de folhas de tabaco no País, sendo quase a metade (307 mil toneladas) no Rio Grande do Sul. O tabaco representa 10% de tudo que o Estado exporta. A atividade está presente em 238 municípios, sendo que Canguçu, Venâncio Aires e São Lourenço lideram o ranking brasileiro. Mas, ainda há muito o que fazer. Não só no Brasil, mas na América Latina, a agricultura familiar enfrenta desafios, segundo a FAO – órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Há limitações significativas em aspectos relacionados ao acesso a recursos produtivos, serviços sociais, infraestrutura básica, serviços rurais, financiamento e extensão agrícola. A porcentagem de pobreza em áreas rurais é quatro vezes maior que nas áreas urbanas e cerca de um terço das pessoas que moram no campo sofrem de pobreza extrema. Questões como a fuga dos herdeiros para os grandes centros exigem políticas urgentes de planejamento da sucessão rural, talvez o tema hoje mais importante para a agricultura familiar.
DADOS DA AGRICULTURA FAMILIAR • No Brasil: - R$ 430 bilhões (33% do R$ 1,31 trilhão do agronegócio) - 4 milhões de estabelecimentos rurais - Ocupa 25% da área dos estabelecimentos rurais no Brasil (80 milhões de hectares) - Área média da propriedade: 18 hectares - Mão de obra vinculada: 14 milhões de pessoas • No Rio Grande do Sul: - 380 mil estabelecimentos rurais (total de 440 mil) - Ocupa 30% da área das propriedades rurais (6 milhões de hectares) - Área média da propriedade: 16 hectares - Mão de obra vinculada: 900 mil pessoas • Brasil - por produto - mandioca (87%) - feijão (70%) - carne suína (59%) - leite (58%) - aves (50%) - milho (46%) - trigo (21%) - soja (16%) • Rio Grande do Sul (por produto) - trigo – 21% - soja – 36% - carne bovina – 36% - carne suína – 70% - aves – 80% - leite – 84% - mandioca – 92% - milho – 66%
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Empreendedores rurais e cooperativas encontram no BRDE crédito para investir na próxima safra, qualificar a produção e tornar o agronegócio ainda mais competitivo. Sempre com a orientação de profissionais especializados, que trabalham junto a cada cliente para encontrar o financiamento ideal para a sua necessidade. BRDE. O banco que liga você ao desenvolvimento.
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INCENTIVOS OFICIAIS
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Fomento à produção
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ntre os diversos instrumentos de incentivo à agricultura familiar no Brasil, duas iniciativas federais se destacam: o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Criado em 2003, o PAA busca enfrentar a fome e a pobreza no Brasil e, ao mesmo tempo, fortalecer a agricultura familiar. Para isso, o programa utiliza mecanismos de comercialização que favorecem a aquisição direta de produtos de agricultores familiares ou de suas organizações, estimulando os processos de agregação de valor à produção. Parte dos alimentos é adquirida pelo governo diretamente dos agricultores familiares, assentados da reforma agrária, comunidades indígenas e demais povos
e comunidades tradicionais, para a formação de estoques estratégicos e distribuição à população em maior vulnerabilidade social. A modalidade PAA - Compra Institucional amplia as oportunidades de mercado para a agricultura familiar, permitindo que órgãos de administração direta ou indireta da União, estados, Distrito Federal e municípios comprem, com seus próprios recursos, alimentos para atender as demandas regulares de restaurantes universitários, presídios, hospitais, academias de polícia, entre outros. A aquisição dispensa licitação, utilizando as regras do PAA. Na Compra Institucional, cada agricultor familiar pode vender até o limite de R$ 20 mil por ano para cada órgão comprador. Já para as cooperativas ou associações, o
limite é de R$ 6 milhões por ano por órgão comprador. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, a Ufrgs é a universidade federal com maior volume de compra de alimentos de produtores da agricultura familiar do Brasil. Apenas em 2016, a instituição abriu sete chamadas públicas, totalizando mais de R$ 7 milhões em produtos. Diariamente, são servidas 11 mil refeições nos seis restaurantes universitários mantidos em Porto Alegre. A Cooperativa de Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão do Rio Grande do Sul (Cooperav) é um dos empreendimentos que já participaram de compras da Ufrgs. Com 151 cooperados, a Cooperav tem como carro-chefe a produção de arroz orgânico. Além do cereal, a cooperativa produz ainda hortaliças, frutas e produtos panificados. No Rio Grande do Sul, foram R$ 58,5 milhões em compras institucionais no primeiro semestre de 2017. O Exército respondeu
Desde 2009, a Lei nº 11947 determina a utilização de recursos do PNAE para a alimentação escolar na compra de produtos da agricultura familiar
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INCENTIVOS OFICIAIS
No Rio Grande do Sul, foram investidos R$58,5 milhões em compras institucionais no primeiro semestre/2017 por 39% do total, enquanto as universidades federais ficaram com 22% e a Marinha com 14% do volume. “Ainda é muito pouco. Acreditamos que o mercado potencial para a compra institucional apenas no Rio Grande do Sul, por ano, seja de R$ 300 milhões”, avisa Márcio Madalena, delegado regional da SEAD. Já o Pnae, criado em 1955, garante, por meio da transferência de recursos financeiros, a alimentação escolar dos alunos de toda a educação básica (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos) matriculados em escolas
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públicas e filantrópicas. É ele que distribui os recursos da merenda escolar. O objetivo é atender às necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanência em sala de aula. Desde 2009, a Lei nº 11.947 determina a utilização dos recursos do Pnae para alimentação escolar na compra de produtos da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural, priorizando os assentamentos de reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas. A aquisição de gêneros alimentícios é realizada, sempre que
possível, no mesmo município das escolas. As escolas podem complementar a demanda entre agricultores da região, território rural, estado e País, nesta ordem de prioridade. O Pnae determina a utilização de, no mínimo, 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional da Educação para a compra de alimentos da agricultura familiar para serem servidos nas escolas da rede pública de ensino. A compra pode ser realizada por meio de chamada pública, dispensando procedimento licitatório. O número de agricultores familiares que passaram a pro-
PAA COMPRA INSTITUCIONAL
- Quem vende? Agricultores familiares, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores artesanais, indígenas e integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais, além de cooperativas formadas pelos mesmos. - Quem compra? Instituições que fornecem refeições como hospitais, quartéis, presídios, restaurantes universitários, refeitórios de creches e escolas filantrópicas, entre outros. - Quais os limites de venda? Cada família pode vender até R$ 20.000,00 anualmente para cada órgão comprador. Já as organizações como cooperativas podem vender, por ano, R$ 6 milhões para cada comprador. - Como ocorre a compra? A demanda pelos alimentos é divulgada por meio de chamada pública conforme as necessidades de um quartel ou hospital. A chamada deve conter o objeto a ser contratado, a quantidade necessária, o local de entrega, a relação de documentos necessários e os critérios de seleção. - Como é efetivada a venda? O comprador e o fornecedor assinam o contrato que estabelece o cronograma de entrega dos produtos, a data de pagamento aos agricultores familiares e todas as cláusulas de compra e venda.
PNAE – MERENDA ESCOLAR
- Quem vende? Agricultores familiares, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores artesanais, indígenas e integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais, além de cooperativas formadas pelos mesmos. duzir no âmbito do Pnae cresceu 63% entre 2012 e 2016. Ao todo, 34 mil produtores são beneficiados pela iniciativa. No Rio Grande do Sul, o mercado estimado é de R$ 182 milhões por ano. O delegado da Secretaria Especial da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead) no Rio Grande do Sul, Márcio Madalena, destaca que espera um aumento na participação dos pequenos agricultores gaúchos na modalidade compras institucionais. Muitos reclamam de burocracia ou de problemas na realização dos contratos. “Falamos com cooperativas e
- Quem compra? Escolas federais, prefeituras e secretarias estaduais de educação. É preciso obedecer ao mínimo estabelecido por lei de 30% de produtos da agricultura familiar na merenda. Não há limite máximo. - Como ocorre a compra? A demanda é divulgada por meio de chamada pública. A chamada deve conter o objeto a ser contratado, a quantidade necessária, o local de entrega, a relação de documentos necessários e os critérios de seleção. Os valores devem ser compatíveis com os vigentes no mercado local, conforme pesquisa prévia de preços. - Como é efetivada a venda? O comprador e o fornecedor assinam o contrato que estabelece o cronograma de entrega dos produtos, a data de pagamento aos agricultores familiares e todas as cláusulas de compra e venda.
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INCENTIVOS OFICIAIS com os produtores para entender quais são os problemas. Eles reclamam que alguns editais são complexos e há questões de sazonalidade também não respeitadas. Por exemplo, o agricultor não tem como fornecer bergamota no verão, a época da fruta é o inverno. Pequenas correções como essas que estamos trabalhando junto às instituições compradoras”, completa. Todas as informações para os agricultores familiares interessados, assim como a divulgação dos editais abertos, então no site www.comprasgovernamentais.gov.br.
De Caxias do Sul, um sucesso da alimentação A Cooperativa de Agricultores e Agroindustriais Familiares de Caxias do Sul e região (CAAF) reúne 230 cooperativados que produzem, semanalmente, cerca de 8 toneladas de hortifrutigranjeiros. Boa parte destes alimentos é enviada para escolas, quartéis de hospitais gaúchos – somente na merenda escolar, a CAAF atende a cerca de 50 mil alunos. “Nossa produção chega a escolas de Porto Alegre, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Nova Petrópolis, Caxias do Sul e muitas outras. Tem como buscar mais mercado, e é isso que pretendemos”, avisa o presidente da CAAF, Rodrigo Antonio Sirtoli. A CAAF surgiu em 2009 ainda como como Associação dos Agricultores e Agroindústrias Familiares de Caxias do Sul. Inicialmente, eram 25 associados agricultores familiares do interior do município serrano, concentrados em sua maior parte na zona de Vila Cristina. A adesão
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A CAAF reune 230 cooperativados, que produzem, semanalmente, 8 toneladas de hortifrutigranjeiros de novos associados e o aumento na demanda por alimentos da associação fizeram com que, em novembro de 2010, fosse constituída a cooperativa. De acordo com Sirtoli, a CAAF surgiu justamente para atender ao percentual de 30% que as leis exigem de produtos da agricultura familiar em órgãos públicos federais e na merenda dos alunos. “O pequeno produtor, sozinho, não tem mercado. Fica difícil para ele vender. A CAAF ajuda neste sentido”, destaca. A distribuição é realizada por meio de quatro caminhões próprios e mais cinco veículos de terceiros. Sirtoli avalia que seriam necessários mais três caminhões para dar ampliar a área de atuação da cooperativa, mas não está nos planos, agora, adquirir
financiamentos. Uma alternativa para ganhar escala foi participar da RedeCoop – Associação da Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária, lançada em julho deste ano. A RedeCoop promove a intercooperação de 39 cooperativas, situadas em 30 municípios gaúchos, reunindo mais de 12 mil famílias de agricultores. Um caminhão da CAAF, por exemplo, leva até Santa Maria um produto específico, que depois é distribuído para os municípios da região em veículos de outra cooperativa associada. “Já realizamos este trabalho para os colegas que plantam banana em Itati. Nós distribuímos aqui e na região. Depois, eles fazem a mesma logística para nós lá na região. É uma ajuda mútua”,
CENSO
Um retrato da agricultura
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m pouco mais de dois meses de trabalho, os 18 mil recenseadores contratados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para realizar em todo o Brasil o Censo Agro 2017 ultrapassaram dois milhões de estabelecimentos rurais visitados. A meta, conforme informou o IBGE, é de visitar outros 4,2 milhões de locais até o final de fevereiro de 2018. O trabalho é importante para mostrar um panorama atualizado do setor, principalmente da agricultura familiar. No Rio Grande do Sul, dos 442 mil estabelecimentos rurais, 37% deles (167 mil) já foram recadastrados. Os recenseadores buscam dados sobre a área, a produção, as características do pessoal ocupado, o emprego de irrigação e o uso de agrotóxicos, entre outros temas. A intenção do IBGE é de que os primeiros resultados do Censo Agro 2017 sejam divulgados em meados do próximo ano.
A coleta de dados do Censo Agro está sendo feita através dos Dispositivos Móveis de Coleta (DMCs), semelhantes a smartphones comuns, que utiliza tecnologias como GPS e imagens de satélite para localizar os estabelecimentos. Não são mais utilizados formulários de papel. A sistemática muda conforme o tamanho de cada Estado. Em Mato Grosso, por exemplo, a quantidade de grandes propriedades demanda mais tempo dos recenseadores. Cada um visita cerca de seis setores censitários (divisão territorial de trabalho) e só pode passar para a próxima área após concluir a anterior. Parcerias também facilitam o trabalho, pois ajudam na divulgação do Censo Agropecuário entre os produtores – isso facilita a recepção dos recenseadores nas propriedades e conscientiza os proprietários de estabelecimentos sobre a importância de dar respostas precisas aos agentes da pesquisa.
Em troca, o IBGE produzirá tabulações especiais para entidades parceiras, atendendo necessidades que elas tenham de informações sobre o setor. Uma das parceiras é a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), que representa as cooperativas de produtores rurais por todo o Brasil. “Como um segmento representativo na agropecuária brasileira, reunindo cerca de 1 milhão de produtores rurais em mais de 1,5 mil cooperativas, é essencial que o cooperativismo apoie a elaboração de políticas públicas alinhadas às necessidades do setor. O Censo Agropecuário tem um papel importante nesse sentido”, informa o presidente do Sistema OCB, Marcio Lopes de Freitas. A partir do cadastro de estabelecimentos agropecuários feito no censo, será possível criar a Pesquisa Nacional por Amostra de Estabelecimentos Agropecuários, para captar dados sobre receitas e despesas na produção, crédito e seguro rural, proteção de mananciais, conservação da fauna e flora, técnicas de produção, além da situação social e familiar dos trabalhadores do campo, entre outros temas.
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ORGÂNICOS
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Saudáveis e imunes à crise
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uase 18 mil agricultores no Brasil cultivam alimentos orgânicos – a área total alcança 750 mil hectares, segundo informações do Ministério da Agricultura. Boa parte dessas terras estão ligadas à agricultura familiar, que encontrou na agroecologia um nicho que parece resistir à crise econômica. São alfaces, cenouras, arroz, uva, cebolas, entre outros alimentos, inteiramente produzidos sem a utilização de agrotóxicos e com boas práticas de manejo nas lavouras. A agroindústria familiar, por sua vez, transforma parte dos produtos em sucos, vinhos e geleias. De um tímido canto nos supermercados do Brasil há cerca de dez anos, hoje os alimentos orgânicos ocupam gôndolas inteiras e são presença imprescindível nas principais redes de supermercados, além das feiras ecológicas. Mesmo tendo como fator contrário o preço final maior que o alimento cultivado com agrotóxicos, os orgânicos caíram nas graças do consumidor. Pesquisa recente do Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável (Organis Brasil) demonstrou que cerca de 15% da população urbana no Brasil consumiu algum produto orgânico nos últimos meses. A maior procura por este tipo de produto (34%) está na Região Sul, que ultrapassa o dobro do consumo nacional. Os produtos orgânicos mais consumidos são verduras, legumes e frutas. Seis em cada dez consumidores comem verduras orgânicas. Os le-
gumes e as frutas são escolhas de uma em cada quatro pessoas. Pela legislação, considera-se produto orgânico, seja ele in natura ou processado, aquele que é obtido em um sistema orgânico de produção agropecuária ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local. Traduzindo: não pode conter agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos em qualquer fase da produção, de acordo com parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Agricultura. E quando o tema é agroquímico na produção agrícola, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária mostra que o brasileiro deve ter cautela. O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de
Alimentos analisou 2.500 amostras de 18 tipos de alimentos nos estados brasileiros. O resultado é preocupante: 1/3 dos vegetais mais consumidos no Brasil apresentaram resíduos de agrotóxicos acima dos níveis aceitáveis. Os casos mais impressionantes são do pimentão (91% das amostras com resíduos); morango (63%); pepino (57%); alface (54%); cenoura (49%), e o abacaxi (33% das frutas testadas apresentaram sinais de agrotóxicos). Em último ficou a cebola, com 3% de resíduos. A Anvisa alerta que, mesmos aparentemente baixos, os percentuais indicam uso de agrotóxicos acima do permitido pela legislação. Conforme a Anvisa, o consumo duradouro e em quantidades acima dos limites aceitáveis de agrotóxicos pode causar vários problemas de saúde. Desde alergias e coceiras, até má formação fetal e câncer. O Rio Grande do Sul se destaca tanto na produção quanto no consumo de orgânicos. Atualmente, cerca de 10 mil hectares são dedicados à agricultura or-
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ORGÂNICOS
O RS se destaca tanto na produção quanto no consumo de orgânicos. Atualmente, cerca de 10 mil ha são dedicados à agricultura orgânica gânica – boa parte deles em pequenos empreendimentos familiares (cerca de 1,2 mil famílias). A agroecologia, por sinal, tem alcançado resultados favoráveis inclusive em lavouras historicamente ligadas ao uso de defensivos químicos. “Com auxílio da Emater, conseguimos reduzir em 46% a aplicação de inseticidas e de 18% a de fungicidas nas lavouras de soja que participam do nosso programa. É realizado, ainda, um trabalho de manejo integrado de pragas, monitorando o desenvolvimento das plantas”, destaca Lino Moura, diretor técnico da Emater. Para fomentar o segmento, o Estado implantou, em 2016, o Rio Grande Agroecológico - Plano Estadual de Agroecologia e de Produção Orgânica (Pleapo/RS). São ações, executadas em um período até 2019, de preservação, fomento e diversidade agrícola, tendo como princípios básicos a
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produção ecológica. Desde então, já foram criadas 110 publicações técnicas e de divulgação para fomento da agroecologia; realizados 1,1 mil encontros com agricultores para discutir o tema; participação em quase 100 eventos para trocas de sementes crioulas e mudas; além da revitalização de oito bancos de germoplasma.
Uma feira no Centro de Porto Alegre Desde o início de novembro, o saguão da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, no Centro de Porto Alegre, abriga uma feira de produtos orgânicos. A venda e exposição dos produtos acontecem sempre às quartas-feiras, das 13h às 19h, aberta ao público em geral que circula nos arredores da Praça da Matriz.
“A feira atende a uma demanda crescente da população, que busca alimentos saudáveis e livres de venenos. É também uma forma democrática de aproximação entre consumidor e produtor, de troca de experiências, de orientação”, explica o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edegar Pretto. Inicialmente, são 11 bancas ofertando produtos hortifrutigranjeiros e alimentos agroindustrializados, todos produzidos sem uso de qualquer tipo de agrotóxico. Participam da feira a Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana (RAMA); Coceargs (Cooperativa Central dos Assentamentos do MST do RS); Rede Ecovida e Opac Litoral Norte (Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade do Litoral Norte). “Muitos consumidores já despertaram para a necessidade de mudar seus hábitos de consumo, buscando saúde por meio da ali-
mentação”, completa Pretto. Segundo dados divulgados pelo Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável (Organis), Porto Alegre se destaca no consumo de orgânicos. Enquanto no Brasil o índice de pessoas que buscam incluir orgânicos na alimentação diária é de 15%, na capital gaúcha esse percentual sobe para 40%. O acesso a esse tipo de alimento também cresce a ano a ano: atualmente, são 14 feiras oferecendo produtos agroecológicos espalhadas pela cidade.
Coopeg: vinho orgânico premiado É a partir de Garibaldi, na Serra gaúcha, que delícias oriundas da produção orgânica, como vinhos,
espumantes, sucos e hortaliças, chegam a todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, além dos estados do Sudeste do Brasil. Fundada em 1999, a Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi (Coopeg) é formada, atualmente, por 58 associados de oito municípios da região. “A Coopeg nasceu com o objetivo de se diferenciar, de cuidar da saúde do agricultor e de oferecer um produto saudável para o consumidor”, relata seu presidente, Jorge Mariani. Os produtos da Coopeg são encontrados desde feiras até grandes redes como Zaffari e Pão de Açúcar. Tanto trabalho exige planejamento - a cooperativa mantém, em Caxias do Sul, uma escola agrícola com foco no ensino médio agropecuário para adolescentes. “O currículo é de-
dicado à agroecologia e temos 70 estudantes hoje”, conta Mariani. Pelo caminho, surgiram iniciativas de turismo rural vinculadas à produção ecológica. A primeira, Rotas do Sabor, começou em 2001, em Garibaldi, com foco no aumento da renda do agricultor familiar da região. A propriedade de Mariani, na Linha Marcílio Dias, oferece passeio pelos parreirais de trator e oferece a possibilidade de colher e degustar uva orgânica no próprio local. Para saborear são oferecidos pães, queijos, embutidos e frutas, e degustação de vinhos e sucos orgânicos. Mais recentemente, em 2016, a rota Via Orgânica foi implantada na região como mais uma oportunidade de geração de renda. Dos 10 empreendimentos rurais integrantes do roteiro, cinco são associados da Coopeg. Mariani destaca que é preciso reavaliar o conceito de que o produto orgânico é caro. “É um investimento em saúde e meio ambiente. Quando dizem que é caro, eu questiono: quanto vale tua saúde e a de um planeta sendo cuidado? E o ar que você respira? Hoje o agricultor orgânico não ganha incentivos e compete com o grande. Então é preciso reconhecer nosso esforço”, pede o presidente da Coopeg. Este esforço tem sido reconhecido, a julgar pelos bons resultados recentes. Neste ano, o vinho produzido pela Coopeg a partir da uva Bordeaux foi escolhido o melhor do pavilhão da agricultura familiar na Expointer. Vendido a R$ 18,00 na feira, o produto concorreu com 50 amostras. “O vinho é coisa de família. Ainda tenho na minha propriedade as videiras que meu bisavô plantou, em 1884, quando chegou no Brasil, e elas fornecem uvas fantásticas até hoje”, avisa Mariani.
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ORGÂNICOS
Desde novembro, o saguão da Assembleia Legislativa do RS abriga uma feira de produtos orgânicos - sempre às 4a feiras, das 13h às 19h
O produtor destaca que, entre outros produtos, a Coopeg teve o suco de uva integral reconhecido como um dos melhores do Brasil em pesquisa feita por revistas especializadas. Ainda segundo Mariani, em 2015 a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) destacou a Coopeg como exemplo a ser seguido de cooperativismo social e sustentável. Hoje, a Coopeg fatura R$ 4 milhões por ano. Mais do que a produção orgânica, muita pesquisa feita pelos próprios associados (como trocas de sementes crioulas), técnicas de gestão e o auxílio de entidades como Senar, Sebrae e Fetag auxiliaram a cooperativa familiar a manter os resultados positivos conquistados desde sua fundação. “Somos agricultores, mas também empresários”, completa Mariani.
SAIBA MAIS SOBRE OS ORGÂNICOS O que é alimento orgânico? Não é simplesmente um alimento sem agrotóxico, é o resultado de um sistema de produção agrícola que busca manejar de forma equilibrada o solo e demais recursos naturais: água potável, ar puro, solo, clima, biodiversidade mineral, vegetal, animal, insetos e de microvida, conservandoos no longo prazo e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos. - Como se produz Com uso de adubos e corretivos de solo sempre de origem natural e local, sem substâncias químicas sintéticas para não contaminar o
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meio, nem os produtos gerados, nem as pessoas que trabalham com a terra. Usa sementes crioulas, normalmente obtidas por meio de trocas entre os próprios agricultores. - Como saber se o alimento é orgânico? A Instrução Normativa nº.16 do Ministério da Agricultura dispõe que, para a venda desses produtos, a qualidade orgânica deve ser garantida por uma pessoa jurídica denominada Certificadora, que se trata de uma entidade especializada na avaliação da conformidade de produtos, processos e serviços. Assim, o alimento orgânico
certificado colocado no mercado de consumo recebe um selo de certificação (onde lê-se ORGÂNICO DO BRASIL) na rotulagem, com o objetivo e informar ao consumidor que ele foi auditado e está em conformidade com as normas da produção orgânica. - Por que consumir orgânicos? Além de mais saudável, o alimento orgânico tem sabor mais apurado, segundo pesquisas feitas com nutricionistas. Também possui cerca de 20% a mais de nutrientes. Sua produção, além de garantir um vegetal sem agrotóxicos, também evita danos ao meio ambiente, por exemplo.
CRÉDITO
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Dinheiro que irriga a produção
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este ano, o governo federal lançou um plano safra com prazo maior de vigência e destinado especificamente para a agricultura familiar. O Plano Safra 2017-2020 terá recursos de R$ 30 bilhões, segundo informações da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead). Os valores serão aplicados via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com juros que variam entre 2,5% e 5,5% ao ano. Criado em 1995, o Pronaf tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar. Por meio dele, os agricultores de pequeno porte podem acessar várias linhas de crédito de acordo com a sua necessidade. Podem ser projetos destinados para o custeio da safra, a atividade agroindustrial, seja para investimento em máquinas, equipamentos ou infraestrutura. Para acessar o Pronaf, a renda bruta anual dos agricultores familiares deve ser de até R$ 360 mil. Conforme informações do Banco Central, o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com a maior participação no volume de crédito do Pronaf. Em 2016, os agricultores familiares gaúchos contrataram R$ 5,3 bilhões (23,6% do total de R$ 22,7 bilhões do programa no País). Em 21 anos, o Pronaf já destinou R$ 100 bilhões para os pequenos agricultores brasileiros.
O Plano Safra 2017-2020 terá recursos de R$30 bilhões para fomentar a agricultura familiar no país Aproximadamente três quartos desse valor são absorvidos pelas atividades agrícolas, e o restante é destinado à pecuária. O número de contratos firmados no último ano foi de 219.437, tendo como principal finalidade o custeio das atividades (69,8%). Os recursos captados com esse fim financiam as despesas variáveis inerentes à produção agrícola e à criação animal. Superintendente da Unidade de Negócios Rurais do Banrisul, Odir Zalamena avisa: a instituição trabalha com todos os segmentos de clientes, mas tem na agricultura familiar o principal foco quando o assunto é crédito rural. “Estamos presentes em 96% dos municípios gaúchos. No Noroeste gaúcho, por exemplo, 99% das propriedades têm a agricultura familiar como principal atividade”, conta ele. No último ciclo fechado, da safra 2016-2017, 52% das operações de financiamento rural fo-
ram para a agricultura familiar. “A linha mais buscada é o Pronaf Investimentos, com juros atrativos, de até 5,5% ao ano”, explica Zalamena. Já no plano safra 2017-2018, cujas contratações iniciaram em julho último, ele salienta que o banco percebeu um aumento de 7% nos recursos para a agricultura familiar. O executivo do Banrisul informa que o pequeno produtor rural está mais organizado nos últimos anos, levando a gestão para dentro da porteira. “Ele estuda bem antes de adquirir uma nova máquina. Aprendeu a diversificar a produção – tem leite, tem fruticultura, um pouco de grãos também. Na Serra, por exemplo, há pequenas propriedades melhor estruturadas, com qualidade de vida e renda superior a muitos locais”, explica Zalamena. Os números também impressionam no Sicredi. Apenas no primeiro semestre de 2017, a Sicredi Central Sul/Sudeste liberou
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CRÉDITO
O RS é o estado brasileiro com a maior participação no volume de créditos do PRONAF, com 23,6% do total de R$22 bilhões do programa no país R$ 2,1 bilhões para o crédito rural (39% a mais do que no mesmo período do ano passado), divididos em operações de custeio, comercialização e investimento. O atendimento ao pequeno produtor na cooperativa de crédito continua bastante representativo, correspondendo a 27% do volume total liberado. De janeiro a julho, foram R$ 607 milhões em operações do Pronaf (alta de 32% sobre os R$ 472 milhões no mesmo período de 2016). Recentemente, foi no Sicredi que um grupo de agricultores de Cachoeira do Sul encontrou apoio para incrementar a produção. Eles formam o Cite 125 (Clube de Integração e Troca de
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Experiências), que consiste num modelo de associação em que um grupo de produtores rurais se reúne uma vez por mês para debater e trocar experiências de interesse em comum ao desenvolvimento de suas propriedades. O Cite 125, que integra a Federacite (Federação dos Clubes de Integração e Troca de Experiências), é formado por 12 empreendedores rurais que se reuniram para construir o projeto de investimento para a compra de uma máquina que produz feno. Segundo o coordenador do Cite 125, Maurício Tisato, o equipamento, avaliado em R$ 300 mil, foi adquirido pelo grupo onde cada integrante paga,
mensalmente, uma parcela igual sobre o valor total do bem adquirido. “Nós visitamos as propriedades e efetuamos a compra conjunta, com o diferencial de negociar preço mais em conta uma vez que a demanda é maior e, consequentemente, os preços são reduzidos”, explica Tisato.
Como solicitar financiamento Para o agricultor, antes de solicitar o financiamento nos bancos, é preciso ter a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). A DAP foi criada para identificar e qualificar o agricultor familiar
e permitir acesso diferenciado às políticas públicas. Cerca de 4 milhões de produtores possuem a DAP no Brasil. Atualmente, além do Pronaf, a DAP concede acesso a mais de 15 políticas públicas – entre elas, os programas de compras instrucionais, como o de Aquisição de Alimentos (PAA) e o de Alimentação Escolar (PNAE), a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), o Programa Garantia Safra e o Seguro da Agricultura Familiar.A declaração é emitida gratuitamente – deve ser solicitada em entidades e órgãos públicos credenciados pela SEAD levando apenas RG e CPF, do agricultor e do cônjuge. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil, o Pronaf precisa de mudanças para ampliar o atendimento a agricultores com menores rendas.A confederação estima que, das 4 milhões de famílias rurais, têm acesso ao financiamento cerca de 1,5 milhão. Caso houvesse ampliação nas condições de contratação, mais agricultores poderiam tomar o crédito ofertado. Outro pedido é que o financiamento seja ofertado por propriedade rural ou por proprietário e não por produto como é feito hoje. Para a confederação, isso acaba incentivando a monocultura e não uma produção diversificada, como é característica da agricultura familiar.
O Pronaf está dividido em 12 linhas de crédito: - Pronaf Custeio: para o financiamento das atividades agropecuárias e de beneficiamento ou in-
Em 21 anos, o PRONAF já destinou R$100 bilhões para os pequenos agricultores brasileiros. Cerca de 70% deste valor, destinados para atividades agrícolas, e o restante para a pecuária
dustrialização e comercialização de produção própria ou de terceiros enquadrados no programa; - Pronaf Mais Alimentos: promove a implantação, ampliação ou modernização da infraestrutura de produção e serviços, agropecuários ou não agropecuários, no estabelecimento rural ou em áreas comunitárias rurais próximas. - Pronaf Agroindústria: Linha para o financiamento de investimentos, inclusive em infraestrutura, que visam o beneficiamento, o processamento e a comercialização da produção agropecuária e não agropecuária, de produtos florestais e do extrativismo, ou de produtos artesanais e a exploração de turismo rural. - Pronaf Agroecologia: linha para financiar investimentos em sistemas de produção agroecológicos ou orgânicos, incluindo-se os custos relativos à implantação e manutenção do empreendimento. - Pronaf Eco: destinado aos investimentos em técnicas que minimizam o impacto da atividade rural ao meio ambiente, bem
como permitam ao agricultor melhor convívio com o bioma em que sua propriedade está inserida. - Pronaf Floresta: linha para investimentos em projetos para sistemas agroflorestais; exploração extrativista ecologicamente sustentável, plano de manejo florestal, recomposição e manutenção de áreas de preservação permanente e reserva legal e recuperação de áreas degradadas. - Pronaf Semiárido: crédito para investimentos em projetos no semiárido do Brasil, focados na sustentabilidade dos agroecossistemas, priorizando infraestrutura hídrica e implantação, ampliação, recuperação ou modernização das demais infraestruturas. - Pronaf Mulher: linha para o financiamento de investimentos de propostas de crédito da mulher agricultora. - Pronaf Jovem: financiamento de investimentos de propostas de crédito de jovens agricultores e agricultoras. - Pronaf Custeio de Agroindústrias Familiares: destinada aos agricultores e suas cooperativas ou associações para que financiem as necessidades de custeio do beneficiamento e industrialização da produção própria e/ou de terceiros. - Pronaf Cota-Parte: destinado a investimentos para a integralização de cotas-partes dos agricultores familiares filiados a cooperativas de produção ou para aplicação em capital de giro, custeio ou investimento. - Microcrédito Rural: voltado aos agricultores de mais baixa renda, permite o financiamento das atividades agropecuárias e não agropecuárias, podendo os créditos cobrirem qualquer demanda que possa gerar renda para a família atendida.
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INFRAESTRUTURA
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Mais energia, internet e estradas aumentam a produção e evitam o êxodo rural
O
s maiores entraves para um melhor desempenho do agronegócio, seja na pequena ou grande propriedade, são velhos conhecidos do meio rural: logística e infraestrutura de energia e telecomunicações precárias em um mundo conectado, em que a internet e os celulares, mais do que meios de comunicação, são ferramentas para fechar negócios. Delegado regional da Secretaria Especial da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário no Rio Grande do Sul (Sead-RS), Marcio Madalena conta que a falta de uma infraestrutura mínima, além de impactar negativamente na produção, contribui para aumentar o êxodo rural. “Não tem como segurar um jovem no campo sem sinal de celular. Ele vai ficar ali, desconectado? Esses tempos andei pelo interior de Bagé e de Aceguá e não funcionava o celular. Isso sem contar as péssimas estradas, muitas ainda sem pavimentação”, reclama ele. E quanto à energia elétrica? “Luz, exatamente, não falta. Mas falta, sim, qualidade e força da energia disponível hoje. Enquanto o poste não chegar lá no campo com qualidade, para o agricultor uma das saídas é a implantação de projetos com energia fotovoltaica”, explica Lino Moura, diretor técnico da Emater-RS. “A alternativa pode parecer cara no
início, mas se paga em sete anos. O investimento está disponível por meio do Pronaf Eco, com juros de 2,5% ao ano”, complementa ele. Em muitos campos gaúchos, as cooperativas de eletrificação rural viraram sinônimo de energia de qualidade para regiões inteiras. Atualmente, segundo dados da Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (Fecoaergs), são 15 cooperativas em ação no Estado, atendendo a regiões de 369 municípios – cerca de 1 milhão de pessoas são beneficiadas. No âmbito do governo do Estado, foi lançado neste ano o Programa Gaúcho de Incentivo às Pequenas Centrais Hidrelétricas. O inventário inicial inclui 91 projetos (todos de Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs) viáveis de licenciamento ambiental para geração de energia hídrica no Rio Grande do Sul. As PCHs são usinas hidrelétricas de tamanho e potência relativamente reduzidos, conforme classificação feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esses empreendimentos têm, obrigatoriamente, entre 5 e 30 megawatts (MW) de potência e devem ter menos de 13 quilômetros quadrados de área de reservatório. Apesar do nome, as PCHs são hoje responsáveis por
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INFRAESTRUTURA cerca de 3,5% de toda a capacidade instalada do sistema interligado nacional. O presidente da Associação Gaúcha de Fomento às PCHs, Luiz Antônio Leão, destaca que as pequenas centrais hidrelétricas são a fonte mais barata de energia elétrica no mundo e cada PCH, por obrigação legal, demarca uma área de preservação permanente (APP). “É uma cadeia 100% nacional e é a que gera o maior número de empregos diretos”, avisa. O potencial de investimento é de R$ 3 bilhões no programa gaúcho. Deste valor, R$ 15 milhões serão destinados a unidades de conservação ambiental. O programa deve gerar 12 mil novos postos de trabalho diretos e 480 megawatts de energia elétrica, o que equivale ao abastecimento de 1,4 milhão de residências, tanto nas cidades quanto nas áreas rurais. Quanto à telefonia, cenário não é animador. Pesquisa recente do Sebrae-RS identificou que o agricultor gaúcho é o que mais utiliza internet no País – isso quando há acesso no meio rural. O levantamento identificou que os agricultores estão descontentes com a qualidade do acesso à internet. O Rio Grande do Sul registrou uma das cinco piores avaliações de conexão do País, com uma nota de 5,6, ficando à frente apenas do Mato Grosso, Goiás, Pará e Roraima. Além disso, 51,4% dos gaúchos informaram que não possuem provedor ou o sinal da região é muito ruim. Outro dado da pesquisa que chama a atenção refere-se ao tipo de conexão utilizada nas atividades rurais no Estado. A maioria das propriedades do Rio Grande do Sul (44,2%) ainda usa internet via rádio, o que talvez explique a insatisfação com a qualidade do sinal, que costuma ser mais variável, em função de mudanças cli-
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máticas. Já o link dedicado via fibra ótica alcança apenas 1,9% dos entrevistados, o que demonstra uma oportunidade de expansão dessa tecnologia no Rio Grande do Sul. As dificuldades de acesso à internet, entretanto, não impediram a realização de compras virtuais, já que 65,4% dos produtores gaúchos ouvidos revelaram ter adquirido insumos ou mercados via web. Mesmo assim, ainda há muito por ser feito. “O pequeno produtor não é desinformado. Ele está capacitado, virando empresário e precisa ganhar competitividade. A internet não é luxo, é necessidade”, explica Márcio Madalena, delegado estadual da Sead.
Na Serra, painéis fotovoltaicos na produção de orgânicos A energia solar vem ganhando espaço em vários países e a tendência é de que seja uma das principais fontes de energia do futuro. Ao contrário do combustível fóssil, os painéis são uma tecnologia cuja eficiência aumenta e o valor diminui com o passar do tempo. No Brasil, conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), apenas 11 mil propriedades têm o sistema instalado. No agronegócio, a tecnologia está se expandindo na agricultura familiar, em função da linha de crédito incentivada pelo Pronaf Eco, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, direcionado para o financiamento de energia renovável e sustentabilidade ambiental. Na Serra gaúcha, em Bento Gonçalves, o produtor orgâni-
co Gilmar Cantelli instalou o sistema fotovoltaico em agosto deste ano e já percebe as diferenças. Em sua propriedade, que também faz parte do roteiro turístico Caminhos de Pedra, Cantelli produz hortifrutigranjeiros, como rúcula, alface, morango, cebolinha, repolho e beterraba para abastecer a Feira Ecológica da cidade. Há duas décadas na atividade, o pequeno produtor optou pela energia fotovoltaica tanto na sua residência quanto na área destinada ao plantio. “Coloquei um sistema de aquecimento da água via placas solares. Faço o reaproveitamento das águas da chuva que vão para um reservatório e também o reaproveitamento do sol para gerar energia elétrica, assim fica uma propriedade um pouco mais limpa, não sendo apenas consumidora, mas
Conforme a ANEEL, existem apenas 11 mil propriedades rurais no Brasil com sistema de energia solar instalado também geradora de energia que vai para a rede e é distribuída para as outras propriedades. E quando falta energia, puxamos da rede e vamos consumindo”, explica. Conforme Cantelli, a energia gerada pelo sistema fotovoltaico passa por um medidor de entrada que vai definir o que está sendo gerado e consumido. O sistema foi instalado para gerar uma potência média anual de 700 quilowatts mês, que é o consumo médio da propriedade, portanto, praticamente o consumo durante o ano ficaria zerado. “O meu consumo médio, nesta época do ano, é em torno de 600 quilowatts por mês, e desde o dia 17 de agosto, quando o sistema foi instalado, até agora, gastei em torno de 40 quilowatts. Então o benefício é imenso. Por exemplo, em setembro paguei R$ 170,00
de luz, e em outubro o valor ficou em R$ 25,00”, destaca. Cantelli investiu R$ 48 mil para a instalação das placas fotovoltaicas, realizada pela empresa catarinense Solar Inove. Do município de Tubarão, a empresa atende Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina e é tradicionalmente voltada ao setor agrícola, sendo que 95% dos seus clientes são produtores. Também é uma das cinco empresas credenciadas junto ao governo para o fornecimento do sistema de energia solar fotovoltaica. “Para ser cadastrado tivemos que atender diversas exigências e certificações, por isso, temos um produto diferenciado que pode ser financiado em até 10 anos com juros de 2,5% ao ano. O retorno do investimento ocorre em, aproximadamente, sete anos”, afirma Fernando
Ronchi, diretor da empresa. Além do benefício econômico do sistema fotovoltaico, Cantelli também destaca a sustentabilidade do equipamento. “A cabeça fica mais tranquila porque você está gerando a sua própria energia. Por exemplo, posso deixar o ar-condicionado ligado na hora de almoçar para ficar um pouco mais fresquinho sabendo que estou gerando energia lá fora”, explica ele. “O sol bate nas placas, transforma a luz dos raios em energia elétrica e depois vem a energia térmica, resfriando a cozinha, sem consumir energia gerada de fora. É a mesma coisa quando você vai consumir um prato que preparou com produtos da sua horta e fica com um estado de espírito leve ao pensar que produziu aquilo para si mesmo, e isto é muito bom”, finaliza.
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MIX
Cidadania
Oliva Uma das culturas que mais crescem no Rio Grande do Sul, principalmente entre pequenos produtores da região Central, a olivicultura é tema de um cadastro realizado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi). O levantamento já registrou, até o fim de novembro, 2 mil hectares e mais de 100 produtores de olivais no Rio Grande do Sul. Para criar políticas específicas e fomentar o setor, foi criado em 2017 o Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva) no Estado.
A Secretaria de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) formaram uma parceria para realizar uma ação de cidadania nos municípios brasileiros. A parceria consiste em uma série de atividades realizadas em todos os estados brasileiros, como mutirões de documentação para os agricultores rurais e assentados (Registro Geral, CPF, carteira de trabalho, certidão de nascimento), atendimentos de saúde e palestras sobre diversos temas voltados à agricultura familiar.
Origem
Leite O secretário da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), Ernani Polo, prorrogou por mais 90 dias o Decreto 53.688, de 25 de agosto de 2017, que trata da modificação da circulação de mercadorias e prestação de serviços no transporte interestadual, intermunicipal e de comunicações (RICMS). Segundo o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, a medida é fruto das reivindicações do Movimento Sindical dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais (MSTTR) na batalha para melhorar a remuneração do pequeno produtor de leite.
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Mais de 30 mil produtos vendidos no Brasil já utilizam o Sipaf, selo que identifica a origem dos produtos da agricultura familiar. Atualmente, cerca de 160 mil pequenos produtores aplicam a identificação nos seus alimentos. A adesão é voluntária e informa ao consumidor que aquele produto saiu do campo devido ao trabalho de agricultores familiares. Os estados com maior adesão ao selo são Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, respectivamente.
AGROINDÚSTRIA
Formalização que gera renda
D
eve estar na memória de muita gente a figura do colono, empunhando um carrinho de mão no interior dos municípios, para vender salames, doces e queijos feitos por ele e sua família lá na pequena propriedade. Era um mercado restrito, mas que garantia a renda do agricultor. O panorama mudou, assim como a legislação: hoje, a agroindústria é o caminho para a profissionalização da agricultura familiar. “Antes, andando pelo interior, você contava nos dedos quem produzia embutidos. Atualmente, há pequenas indústrias de salames e queijosem todo canto. É uma cadeia curta: o agricultor produz a matéria-prima, industrializa e coloca no mercado seguindo normas técnicas. Não existe mais a figura do atravessador”, pondera Márcio Madalena, da Secretaria Especial da Agricultura Familiar (Sead) no RS. De fato, os números comprovam o crescimento. O Programa Estadual da Agroindústria Familiar (Peaf), de um universo de 2.960 agroindústrias identificadas no Rio Grande do Sul, possui 1.016 delas integrando o programa. A partir do Peaf, o agricultor ganha mercados por meio do selo Sabor Gaúcho no rótulo dos produtos. A Emater é a entidade executora do programa. A preocupação com a agroindústria começou em 1955, primeiramente com foco no leite. A ideia era desenvolver a bacia leiteira do Rio Grande do Sul. O período ficou marcado
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pela organização dos agricultores em cooperativas, que hoje ocupam papel de destaque dentro do setor lácteo. Na década de 1980, ampliou a sua atuação e passou a atender as demais cadeias produtivas, com ênfase na cadeia da carne, das frutas, das hortaliças e da cana-de-açúcar. A partir dos anos 1990, a Emater priorizou o atendimento aos agricultores familiares em todas suas demandas. Quanto ao Peaf, são disponibilizados cursos de qualificação nas áreas de gestão, boas práticas de fabricação e processamento dos alimentos; além de assistência técnica para elaboração de projetos de regularização sanitária e ambiental. “Este universo de agroindústrias legalizadas representa cerca de 20 mil famílias envolvidas na produção de alimentos. Elas são regularizadas do ponto de vista ambiental, tributário e sanitário”, avisa Lino Moura, diretor técnico da Emater. Parte desses agricultores disputam, anualmente, as poucas vagas disponíveis para o Pavilhão da Agricultura da Expointer – o interesse é bem justificado: apenas na edição deste ano, as vendas no pavilhão cresceram 40%, somando R$ 2,8 milhões em faturamento. Costuma ser, de longe, o local mais visitado da gigantesca feira. O público procura queijos, salames, vinhos, sucos, mel, doces e geleias normalmente vendidos apenas nos municípios de origem. Para Tarcísio Minetto, se-
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AGROINDÚSTRIA cretário do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, há uma série de razões que explicam o avanço significativo da agricultura familiar. “A melhoria contínua dos produtos da agricultura familiar, a grande diversidade e, principalmente, o reconhecimento da sociedade para a segurança alimentar encontrada nos produtos coloniais”, explica.
Inspeção sanitária: a necessidade de unificar Um conhecido problema de legislação pode ser considerado a pedra no sapato do avanço da agroindústria familiar: as diferentes instâncias de inspeção alimentar para produtos de origem animal e vegetal. Há desde os Serviços de Inspeção Municipais (SIM – nos municípios); o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI/POA - federal), integrante do Sistema Unificado de Sanidade Agropecuária (SUASA); o Serviço Estadual de Inspeção (CISPOA – no Rio Grande do Sul) e, mais recentemente, o Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (SUSAF), este último criado justamente para facilitar a produção do pequeno agricultor. “Do ponto de vista sanitário, é um absurdo termos instâncias de inspeção diferentes. Veja os queijos e salames vendidos na Expointer. Por nove dias, pessoas do mundo inteiro comem esses produtos e nada acontece. Termina a feira, tudo muda. O queijo, se for vendido em uma feira de um município vizinho,
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pode ser apreendido. E acontece muito”, reclama Márcio Madalena, delegado da Sead no RS. Essa confusão legal termina por impedir o trânsito, entre cidades do mesmo Estado, por exemplo, de um queijo ou salame com selo municipal. Se o produto tem o selo estadual, pode ser comercializado em qualquer município do Estado. Contudo, sem o selo federal, não pode ser encontrado fora das divisas do Rio Grande do Sul. É uma burocracia que emperra, há anos, o crescimento das agroindústrias. “Se o cara vende aqui no município um produto inspecionado já por veterinários e liberado, por que esse produto faria mal a quem mora em outra cidade? É insano isso, mas há questões legais envolvidas e por isso preci-
samos mudar”, explica Moura, da Emater. Autor da lei que criou o SUSAF, o atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edegar Pretto, destaca a urgência de implantação do sistema. “Não é justo que, a cada edição da Expointer, o governador do estado baixe um decreto liberando a saída das agroindústrias de seus municípios para que possam comercializar seus produtos fora dos limites de suas cidades. E depois de uma semana, ao final da feira, esses produtores sejam obrigados a retornar e novamente terem suas vendas restritas aos municípios de origem”, destacou ele, na última Expointer. Para Pretto, o maior desafio para ampliar o número de empreendimentos com o selo do
O Rio Grande do Sul possui 2.960 agroindústrias, sendo que 1.016 delas participam do Programa Estadual da Agroindústria Familiar - PEAF
Queijo artesanal serrano – iguaria centenária
SUSAF é fazer com que as prefeituras façam um pequeno investimento para a regulamentação de seus serviços de inspeção (contratação de técnicos e formação de equipes) e o governo estadual confira maior agilidade aos processos burocráticos necessários. Além da Emater, entidades como Fetag-RS, Famurs e órgãos de governos estão unidos na implantação do SUSAF, que irá permitir a comercialização de produtos da agricultura familiar, pelo menos, em todo o território gaúcho. Por enquanto, apenas 21 municípios aderiram ao SUSAF. Podem integrar o sistema as agroindústrias familiares de produtos de origem animal, dirigidas ou não poragricultores familiares, que possuam área industrial de até 250 metros quadrados.
Encontrado apenas em municípios dos Campos de Cima da Serra (Rio Grande do Sul) e na Serra Catarinense (região de Lages), o queijo artesanal serrano pode ser o primeiro queijo do Brasil com Indicação de Origem (IG). O pedido foi encaminhado neste ano ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). A Indicação Geográfica é uma forma de valorização do produto de uma região ou território, cuja procedência adquiriu notoriedade em decorrência do modo de “saber fazer”, das características ambientais, incluindo fatores naturais e humanos. Os doces de Pelotas são exemplo clássico de IG no Rio Grande do Sul. Segundo a Federação das Associações de Produtores de Queijo Artesanal Serrano de SC e RS (Faproqas), a área geográfica delimitada como produtora do queijo, denominada Campos de Cima da Serra, compreende 17 municípios da Serra Catarinense e 15 da região Nordeste gaúcha, totalizando 34 mil quilômetros quadrados. São aproximados 3,5
mil pecuaristas familiares que produzem o queijo, utilizando o leite das vacas de corte. Considerado o mais antigo do Rio Grande Sul (seus primeiros registros datam de 1831), o queijo serrano é 100% artesanal. A característica que o difere é ser feito a partir do leite cru de vacas de corte, sem a necessidade de pasteurização, produzido em pequena escala nas próprias fazendas, cujo sistema de produção é baseado na preservação dos campos nativos. Lino Moura, da Emater, conta que diversas pequenas agroindústrias com o selo do Peaf produzem o queijo serrano no Estado – após a obtenção da IG, este número deve aumentar (“nossa expectativa é alcançar 50 agroindústrias de queijo artesanal”, avisa ele). O exemplo a ser seguido é o do vinho gaúcho, segundo ele, ou do queijo canastra, de Minas Gerais. Ambos são reconhecidos pela qualidade na produção e história das regiões que os produzem. “O nosso sonho é atingir o mesmo status”, completa Moura. Os principais municípios produtores de queijo serrano, no Rio Grande do Sul, são Bom Jesus, Cambará do Sul, Caxias do Sul, Jaquirana, Muitos Capões, Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Vacaria, Ipê, São Francisco de Paula e São José dos Ausentes. Na mesma linha de raciocínio, os produtores acreditam que a concessão da IG estimule investimentos na área de produção, com valorização das propriedades, apoio ao turismo, elevação do padrão tecnológico e oferta de emprego. Criar vínculo de confiança com o consumidor e aumentar a competitividade são metas a serem alcançadas com a certificação. Outra preocupação é evitar
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AGROINDÚSTRIA que queijos encontrados em outros locais do Sul do Brasil sejam vendidos como “serrano”, o que acontece com frequência. “São queijos produzidos em regiões que não têm as características necessárias de geografia e produção, nem o saber fazer centenário encontrado na Serra. É uma usurpação de um nome reconhecido”, salientam as associações de produtores.
História do queijo artesanal serrano É produzido com leite cru logo após a ordenha. Tem massa semidura, baixa umidade, sabor e aroma acentuados e textura levemente amanteigada. Originalmente eram produzidas peças grandes, com peso superior a 5 kg, curadas por 40 a 60 dias e que eram comercializadas duas vezes ao ano. Com o passar do tempo, pelas facilidades de comércio e exigências dos consumidores, passaram a ser produzidos queijos menores, variando seu formato e tempo de maturação. Atualmente, são encontrados em forma retangular ou redonda, entre 1 e 2,5 kg. Originalmente em sua fabricação era usado o coalho de animais - em especial de tatu e bovinos, sendo considerado melhor o de tatu - mas a partir de 1960 este foi substituído pelo coalho industrial. Não se utilizam fermentos lácteos. É um dos queijos artesanais mais antigos do Brasil - sua fabricação provavelmente se iniciou junto com a povoação dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a partir da primeira metade do século XVIII, com a chegada, na região, de portugueses oriundos dos Açores.
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Lino Moura: “Se o produtor vende no seu município um produto já inspecionado e liberado por veterinários, porque este produto faria mal a quem mora em outra cidade?”
FUTURO
Gestão e sucessão rural: dois dos temas mais importantes na agricultura familiar
A
atividade leiteira, apesar da introdução da tecnologia, é uma das mais penosas na agricultura. Faça chuva ou faça sol, a vaca
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tem de ser ordenhada duas vezes ao dia. Não há feriados – é preciso coletar o leite diariamente. Perecível, o produto deve ser logo resfriado e enviado para
as indústrias, ou industrializado como queijos e manteigas. Depois de tanto trabalho, ainda tem o preço: a renda mal paga os custos do produtor rural. Por isso o leite é considerado, hoje, um dos setores com maior fuga de jovens da agricultura – boa parte deles na agricultura familiar. Se falta renda com a atividade, como manter o herdeiro no campo? A situação merece ser examinada sob vários fatores, incluindo gestão, capacitação rural e tecnológica, além de assistência técnica. “Há cooperativas que trabalham programas de sucessão
rural para a cadeia do leite. Isso ainda não ocorre com todos, mas é um trabalho social mesmo, quando vemos bem a questão. Tem que falar com os pais, com os filhos, mostrar a importância da atividade”, avisa Alexandre Guerra, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS). A concorrência externa é um fator preponderante na crise leiteira gaúcha. O Brasil é importador do produto dos vizinhos Uruguai e Argentina pelo Mercosul, que não exige tarifa de importação. Enquanto lá o
A concorrência externa é um fator preponderante na crise leiteira gaúcha. O Brasil importa o produto dos vizinhos Uruguai e Argentina, sem cobrar tarifa de importação
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FUTURO agricultor produz cada litro por 0,30 centavos de dólar, no Rio Grande do Sul o mínimo é de 0,36 centavos de dólar. “Se o produtor baixar muito, tem problema de rentabilidade. Então, querendo ou não, estamos concorrendo com quem tem custos menores. Fica inviável para muitas famílias”, avisa Guerra. Lino Moura, da Emater, concorda que o leite merece atenção especial quando se fala em gestão e sucessão rural. Pesquisa da entidade mostrou que 38,5% das propriedades leiteiras gaúchas têm falta de descendente ou este, quando existe, não tem interesse em seguir com a atividade. “Além do preço baixo e ser um trabalho mais difícil, a gurizada quer ir para a cidade trabalhar lá”, avisa. As dificuldades sucessórias se espalham por outras culturas, como o feijão. Tradicionalmente cultivado na Serra, é a cultura que mais espaço perdeu nos últimos anos, conforme a Emater. “Você tem que subir e descer morro para cultivar o feijão porque não tem como mecanizar a atividade nestas condições. Os jovens fogem dali, porque plantam com enxada, com arado a boi ainda. O feijão está saindo da agricultura familiar e ganhou espaço em áreas mais extensas, de relevo mais plano”, conta Lino Moura. Superintendente do Senar no Rio Grande do Sul, Gilmar Tietböhl, explica que a maior parte do público atendido pela instituição no Estado é formada por agricultores familiares. “Temos cerca de 120 mil alunos ao ano, grande parte de famílias de pequenas propriedades”, ressalta. A sucessão rural, conforme ele, deve ser trabalhada com atenção – mas, antes disso, “é preciso gerir a pequena proprie-
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dade e mostrar como ela pode dar renda, qualidade de vida e uma produção sustentável, não apenas do ponto de vista econômico, mas ambiental também”. Na área da capacitação, o Senar-RS está formando a primeira turma do Curso Técnico em Agronegócio, promovido pela instituição por meio da Rede e-Tec. São 32 alunos que frequentaram, de forma semipresencial, o curso no polo de Cruz Alta. A expectativa é realizar uma ceri-
mônia para marcar a formatura em fevereiro de 2018. O Curso Técnico em Agronegócio é voltado para estudantes com ensino médio completo. Tem por objetivo formar profissionais habilitados na aplicação dos procedimentos de gestão e de comercialização do agronegócio, visando os diferentes segmentos e cadeias produtivas da agropecuária brasileira. No Rio Grande do Sul, o curso é oferecido nos polos de Cruz Alta e
Quando a pequena propriedade é gerida de forma a gerar renda e qualidade de vida, isso se mostra um fator importante de fixação das famílias no campo
São Sepé. São duas seleções por ano para cada um dos polos. Cerca de 80% das aulas são conduzidas em ambiente virtual. Para qualificar a renda no campo, as ferramentas de gestão são poderosas aliadas. A agricultura de precisão, por exemplo, geralmente associada a grandes lavouras, pode e deve ser aplicada na agricultura familiar. “Quanto menor a propriedade, mais inteligência é preciso para explorá-la, gerando renda
com qualidade de vida”, destaca Tietböhl. Há pontos como a infraestrutura de energia elétrica ou telefonia que dependem do esforço de governos, mas as entidades como o Senar se mobilizam para levar o conhecimento até o homem do campo. “Um dos nossos programas mais procurados é o de inclusão digital. São os primeiros passos para entender equipamentos como smartphones e computadores”, avisa. Assim como em outras áreas da economia, na agricultura a tecnologia avança muito rapidamente – “mais do que nossa capacidade de passar o conhecimento até a produção, e de dar tempo ao produtor de absorver isto”, comenta o dirigente do Senar-RS. Há exemplos recentes e que podem ser aplicados não só na agricultura familiar, como o trator sem tratorista”. A máquina, da Case, foi apresentada no Agrishow deste ano, em Ribeirão Preto, e trabalha sozinha – basta que os comandos sejam digitados previamente no painel que o trator executará as tarefas. O equipamento deve estar disponível comercialmente em três anos. Existem também um curso de drones aplicados à agricultura – a utilização destes equipamentos tem crescido nas lavouras e faz parte da revolução chamada “smart farming”, ou fazendas
inteligentes. “A gente procurar acompanhar, mas não é fácil. A velocidade da tecnologia é fantástica”, relata o superintendente do Senar-RS. Com tudo isso, é possível imaginar o futuro da agricultura familiar? Sim, segundo o delegado da Secretaria da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead) no Rio Grande do Sul, Márcio Madalena. “O pequeno agricultor segue na produção familiar, mas cresce, vira empresário”. Há agricultores se transformando em pequenos empresários. Muitos têm uma lojinha vendendo seus produtos perto das estradas, explorando também o turismo rural. Este cenário é muito presente na Serra gaúcha, que tem um apelo turístico forte e em que algumas propriedades até uma pousada já têm. Neste ponto, pode ocorrer o que Madalena chama de “desenquadramento” – a renda dele supera os limites estabelecidos por lei para a agricultura familiar. Com isso, está sujeito a financiamentos mais caros, não pode mais fornecer para programas como PAA e PNAE, além de pagar mais tributos. “Então, por um lado, você consegue mais renda, o que é essencial para manter o jovem no campo. Mas, por outro, corre o risco de deixar de ser pequeno e ter mais custos”, destaca ele. “Esse aspecto tem que ser revisto para incentivar que o agricultor familiar permaneça nesse enquadramento mesmo com as mudanças econômicas. Com isso, podemos trabalhar a sucessão rural. Assim, o filho fica na propriedade, porque tem condições de ganhar com o pai dele o que não ganharia em um grande centro”, finalizao representante da Sead no RS.
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MÁQUINAS E IMPLEMENTOS
Rodas que promovem o crescimento
A
mecanização, mesmo em pedaços menores de terra, é um item importante no incremento à produtividade do agricultor familiar. Boa parte dos fabricantes de máquinas e implementos agrícolas está atento a este nicho e desenvolveu produtos específicos. Neste ano, a Massey Ferguson apresentou na Expodireto, em Não-Me-Toque, a nova colheitadeira híbrida MF 4690, adequada a propriedades de pequeno, médio e grande portes. Com 200 cv de potência, a máquina é ideal
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para a agricultura familiar e se enquadra no sistema de financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do governo federal. O equipamento é dotado do motor eletrônico AGCO Power (sistema iEGR) e possui alto desempenho para equipamentos de sua categoria, com baixo consumo de combustível, perdas reduzidas, alta capacidade de processamento e baixo custo de manutenção. A MF 4690 trabalha com 18 pés de plataforma,
proporcionando um alto nível de produção. “O segmento de agricultura familiar é de suma importância para a Massey Ferguson. A colheitadeira MF 4690 é um ótimo exemplo de solução voltada para pequenos produtores. Seu desempenho atende, especialmente, às culturas de arroz, soja e milho”, diz Rodrigo Junqueira, diretor de vendas da marca. Junqueira ressalta que esta é a única colheitadeira enquadrada no sistema de financiamento do Programa Mais Alimentos (MDA) que possui conceito híbrido de processamento e duplo rotor, aumentando a produtividade e a eficiência no campo. Além do alto desempenho, do baixo custo operacional e da alta
capacidade de processamento, a MF 4690 possui, ainda, um sistema de trilha e separação menos rude. “Isso é fundamental em uma máquina nesta categoria, pois colabora para a preservação da qualidade dos grãos e garante um maior rendimento na colheita”, diz. Junqueira explica que o pequeno agricultor é um público tão exigente quanto o médio e grande produtores. Para atender à demanda dele, a Massey Ferguson capacita as suas mais de 200 concessionárias distribuídas pelo Brasil com equipes de pós-venda estruturada, oferecendo cobertura de garantia. Para a agricultura familiar, segmento que a New Holland tem uma atenção especial, em 2017,
foram apresentadas ao menos três novidades. A semeadora PL6000, que é produzida a partir de 11 linhas, a colheitadeira TC5090 com motor eletrônico MAR-1/Tier 3; e o trator Série 30, um dos mais famosos do mundo e que este ano completa 30 anos de história. Os produtores rurais que buscam eficiência, alto rendimento operacional e agilidade na manutenção diária encontram essas características na nova semeadora PL6000. A máquina promove ainda uma sinergia com a linha de tratores e as soluções de agricultura de precisão da New Holland. Nos dados de campo, a nova semeadora gerou um aumento médio de 30% no rendimento operacional, comparado aos principais concorrentes, devido à economia de tempo na manutenção diária (somente dois pontos de lubrificação em toda a máquina), à autonomia da caixa de sementes e de adubo, além da maior velocidade de plantio. Já a colheitadeira TC5090 apresenta maior produtividade, menor consumo de combustível e menor perda na colheita quando comparada a uma máquina com motor tradicional. A mudança de motorização segue a nova legislação brasileira sobre emissão de gases poluentes para máquinas agrícolas com mais de 100 cv. Para o operador, o que muda é a adição de um botão eletrônico no lugar da alavanca do acelerador e a presença de um monitor que indica a carga do motor e permite acompanhar o quanto da potência da máquina está sendo utilizada. Os novos motores têm o conceito de reserva de potência, melhorando a reação da máquina em condições pesadas de lavoura, e que geram uma redução no con-
sumo de combustível, resultando, assim, em mais autonomia e lucratividade na colheita. O trator Série 30, fabricado na planta da New Holland em Curitiba (PR), completa 30 anos em 2017 – deste então, mais de 60 mil unidades foram comercializadas. Ele surgiu renovado neste ano: com 110 cv, o trator 7630 tem o design inspirado nos primeiros modelos da família, com uma pintura especial em branco no teto e nos para-lamas, e com adesivos comemorativos. Além do Série 30, a New Holland oferece também tratores de baixa potência, que podem ser usados tanto em lavouras quanto pecuária e no setor de fruticultura. Os tratores das linhas TT e TL vão de 55 a 100 cv e apresentam ampla tecnologia, semelhante às máquinas de maior potência. Já a Valtra disponibiliza um portfólio de tratores de 55 cv até 95 cv, máquinas extremamente versáteis e com várias possibilidades de configurações de motor (3 ou 4 cilindros, aspirados ou turbo alimentados), de câmbio e de rodagens. “Essa ampla oferta de produtos visa atender a todas as demandas do pequeno produtor sem deixar de lado o conforto operacional, economia de combustível e facilidade de manutenção, tudo que o pequeno produtor precisa para suprir suas demandas diárias”, comenta Luiz Cambuhy, gerente de vendas da Valtra. Segundo ele, a linha de tratores atende a demandas em diversos segmentos, como produção de hortifrutigranjeiros, pecuária ou na produção de grãos. “Entre os tratores, a faixa de 75 cv é a mais vendida e preferida pelo pequeno produtor, com destaque para o modelo A750 e A750 F, versão fruteira, que ganhou o prêmio Gerdau na categoria Novidade
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MÁQUINAS E IMPLEMENTOS
para a Agricultura Familiar há alguns anos”, destaca Cambuhy. Todos os tratores e plantadoras disponibilizados pela Valtra estão cadastrados no programa Mais Alimentos do MDA e BNDES, sendo aptos a serem financiados pelos Pronaf. Quanto à John Deere, o destaque são os tratores utilitários da Série 5E, produzidos na fábrica de Montenegro, uma das mais modernas instalações industriais agrícolas do mundo. São tratores com motores de diferentes faixas de potência, de 55 a 400 cavalos. Podem ser utilizados em pequenas propriedades, como cultivo de hortaliças, frutas e criação de
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gado, e também estão enquadrados nos critérios de financiamento do Mais Alimentos do governo federal. “Estes tratores representam a última geração em inovação e tecnologia, incorporando os recursos para agricultura de precisão, monitoramento de performance, desempenho e conectividade. A tecnologia vai ao encontro da necessidade dos agricultores em fornecer alimentos em larga escala e de forma sustentável, para alimentar a crescente população mundial”, salienta Paulo Rohde, gerente geral da fábrica da John Deere. Uma das maiores fabricantes
Luiz Cambuhy Gerente de vendas da VALTRA
Rodrigo Junqueira Gerente de vendas da MASSEY FERGUSON
Jalison Cruz Gerente comercial da MAHINDRA
de tratores do mundo, a indiana Mahindra tem na agricultura familiar o seu público-alvo principal. No Brasil, onde está presente desde 2013, a Mahindra assumiu a produção e comercialização da fábrica em Dois Irmãos em outubro de 2016. Hoje, a capacidade produtiva da fábrica é de 1,5 mil tratores por ano. A Mahindra tem o mercado consumidor concentrado no Sul e Sudeste. Mas está em andamento um plano para ampliar a rede de concessionárias. Atualmente são 15 pontos de venda. A projeção é chegar a 20 até o início de 2018, nas mesmas regiões. Neste ano, a fabricante apresentou na Expointer novos modelos da Série S. Os tratores 8.000 S, com motor de 80 cavalos, e 9.500 S, com 95, apresentam melhorias introduzidas pela Mahindra do Brasil, como novo design e plataforma integral de operação. Outra novidade é o trator modelo 6060, de 57 cv de potência, completando a linha voltada para o pequeno e médio produtor rural. Ele vem equipado com motor Mahindra MS-457, capacidade de levante de 2.200 kg e 15 marchas à frente e 15 marchas à ré com reversor sincronizado. Jalison Cruz, gerente comercial e de marketing da Mahindra, salienta que a empresa aposta no futuro da agricultura familiar brasileira, tanto que já anunciou a intenção de produzir colheitadeiras no Brasil, mas o local do investimento ainda não foi anunciado. Isso deve ocorrer em 2018. Quanto aos tratores, a fabricante indiana planeja dobrar a produção. Para isso, analisa a compra de uma fabricante de implementos ou tratores, ou mesmo a construção de uma nova fábrica. A Mahindra dispõe de US$ 70 milhões para investimentos nos próximos cinco anos.
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BIODIESEL
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O combustível do futuro. E o futuro é logo ali.
A
ntigo pleito da cadeia produtiva do biodiesel, a antecipação do aumento da mistura do produto ao diesel dos atuais 8% (B8) para o B10 vai ocorrer já em março de 2018. A mudança estava prevista apenas para março de 2019, mas a antecipação foi aprovada após demanda do setor e avaliação técnica. A decisão tem tudo para impulsionar a agricultura familiar – o Selo Combustível Social, programa do governo federal, incentiva a compra de matéria-prima dos pequenos produtores pelas usinas de biodiesel. De acordo com o coordenador de Agroecologia e Energias Renováveis da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead), André Martins, 72.485 famílias estão vinculadas ao Selo e fornecem matérias-primas a 37 usinas espalhadas pelo Brasil. Para ele, a antecipação do B10 pode impactar fortemente a agricultura. “Essa ação representa um aumento de 14% na demanda de produção de biodiesel para o setor e tem um impacto muito positivo em toda a cadeia. A perspectiva é que só em 2017, o consumo seja 4,2 bilhões de litros, mas que aumente com o passar dos anos. É uma chance para investirmos na diversificação das matérias-primas e para que mais agricultores possam ser associados ao selo”, explica Martins.
Em 2016, a produção nacional de biodiesel chegou a aproximadamente 3,8 bilhões de litros. A soja é atualmente a principal matéria-prima do produto no Brasil, com grande representatividade na região Sul. Em outras localidades, óleos de plantas nativas como a macaúba, copaíba, palma e coco seco têm se destacado e promovido a inclusão de mais famílias de agricultores no processo de produção. Além disso, as gorduras de aves, bovinos, suínos e até mesmo de peixes também têm gerado renda para produtores principalmente no Norte e Nordeste do País, onde a diversificação das matérias-primas é maior. Para Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), vantagens não faltam na antecipação do aumento da mistura: além da geração de 20 mil novos postos de trabalho na cadeia produtiva de oleaginosas e biodiesel, o Brasil deve economizar, em 2018, US$ 3,2 bilhões em divisas internacionais com a substituição do volume equivalente importado de diesel mineral. A participação do óleo de soja na produção de biodiesel alcança 80%. “Além da geração de emprego e renda, o biodiesel agrega valor à soja, promove a inserção da agricultura familiar e contribui para a redução de gases de efeito-estufa na atmosfera em mais de 70% em relação ao diesel fóssil”, destaca o executivo da Abiove. Desde que começou a ser adotado, em 2005, até 2017, o biodiesel gerou demanda para processamento doméstico de 98 milhões de toneladas de soja. Outras 4,2 milhões de toneladas de gorduras animais foram utilizadas na produção do combustível, evitando o descarte inadequado no meio ambiente. O biodiesel é produzido a par-
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BIODIESEL tir de fontes renováveis e utilizado de forma pura ou misturada ao diesel fóssil em motores automotivos (caminhões, tratores, camionetas, automóveis) ou estacionários (geradores de eletricidade, calor). Os percentuais de adição variam e denominam as misturas existentes. Futuramente, a ideia é usar o B100, ou seja, o biodiesel puro. Com o uso desse combustível, a redução da poluição emitida por automóveis pode chegar a 70% das emissões de gás carbônico se comparada ao diesel comum. O que contribui também para a diminuição de doenças respiratórias ligadas à poluição do ar. O diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, reforça que as vantagens ambientais do produto se somam às econômicas e sociais. “A produção de biodiesel envolve a agricultura familiar, gerando emprego e renda para milhares de pessoas. Além disso, ela também é um fator favorável para a balança comercial brasileira, pois nós deixamos de comprar diesel e petróleo de fora”, avisa.
energética brasileira. O objetivo é viabilizar a produção de biodiesel de forma sustentável, garantindo o suprimento do produto com preços competitivos e a partir de diferentes fontes de matérias primas. Uma das diretrizes do programa é a geração de emprego e renda de forma a promover a inclusão social e o desenvolvimento regional. Por isso foi criado o Selo Combustível Social. Os agricultores interessados podem participar estabelecendo contratos diretamente com as usinas produtoras de biodiesel, ou por meio de suas cooperativas. Os contratos são celebrados entre as próprias cooperativas e as usinas. Eles devem ser assinados antes do plantio das culturas – precisam, ainda, estabelecer a forma, a quantidade de aquisição e o local de entrega da matéria prima produzida. Também deve estar
no contrato a forma de prestação de assistência técnica para o agricultor. No Rio Grande do Sul, a Bianchini tem se despontado como uma das principais empresas de biodiesel que investem na agricultura familiar e com os maiores números de agricultores familiares parceiros. Recentemente, a empresa teve renovado até 2022 seu certificado para participar do Selo Combustível Social. Com um esmagamento médio anual de 1,5 milhões toneladas de soja e marcante presença na comercialização de grãos do estado, a Bianchini entrou também no mercado de biodiesel. Sua unidade industrial situada em Canoas possui a capacidade de produzir 324 milhões de litros de biodiesel por ano, figurando-se entre as cinco maiores empresas brasileiras do setor. A planta resulta de um investimento de R$ 90 milhões, realizado em 2010.
Incentivo à produção Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Social, cerca de 30% do combustível renovável do Brasil é originado de matéria-prima produzida por agricultores familiares. Mais de 100 cooperativas de agricultores familiares estão habilitadas a comercializar no âmbito do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) - é por meio dele que o Selo Combustível Social é implantado. O PNPB possibilitou a inserção do biodiesel na matriz
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Donizete Tokarski Superintendente da UBRABIO
Daniel Amaral Gerente da ABIOVE