Press Agrobusiness - Edição 06

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ANO 2 - EDIÇÃO Nº 06 - DEZEMBRO DE 2016

Mais tecnologia no campo para produzir mais alimentos

Em 2050. a população mundial será de 10 bilhões de pessoas. Como alimentar toda essa gente? Aumentar a produtividade por hectare plantado é umas das alternativas Sem lactose mesmo ou com lactase adicionada? A verdade e o mercado dos laticínios e derivados funcionais Como as iniciativas para diminuição do consumo de cigarro afeta milhares de pequenos agricultores no RS Eduardo Logemann, presidente do Grupo SLC fala sobre como administra 15 fazendas, com 400 mil ha plantados

O interior da Capital

Apesar do crescimento imobiliário, Porto Alegre conta com uma zona rural bastante produtiva, especialmente no setor hortifrutigranjeiro


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EDITORIAL

Conhecimento é tudo!

O

tema da matéria de capa desta edição é TECNOLOGIA. E isso vai muito além de máquinas e equipamentos modernos. Estes, na verdade, são uma consequencia natural de algo anterior e que é o grande diferencial nas nossas vidas individualmente, nas vida das empresas, das instituições e do países no concerto mundial. Esse grande diferencial chama-se CONHECIMENTO. Vivemos a Era do Conhecimento, um período de evolução científica e tecnológica que não encontra similar na história da humanidade. Atualmente, todo o conhecimento produzido no mundo dobra a cada dois anos; na virada da próxima década isso vai se dar a cada três meses. Então, como imaginar, a vida da gente, da nossa cidade, dos nossos empreendimentos sem conhecimentos novos? Como imaginar a economia do campo sem avanços permanentes e contínuos de conhecimento acumulado, capaz de produzir novas tecnologias, novas formas de trabalhar a terra, plantar, colher, estocar, gerar e criar gado, manejar, abater, industrializar, exportar, enfim, como não buscar introduzir novos conhecimentos à produção primária? O Brasil tem algumas condições naturais privilegiadas, como a disponibilidade de terras, a fartura de recursos hídricos, clima favorável e culturas diversificadas. Mas, isso não é tudo. É quase nada se não soubermos trabalhar tudo isso a nosso favor. Se apenas extensão de terra fosse determinante para o desempenho agropecuário, o Japão não seria, por exemplo, o 8º maior produtor do mundo no setor. Até meados da década de 1960, ou seja há 50 anos, o Brasil tinha apenas com 60 mil tratores em atividade. Isso dava conta do tamanho da nossa ativida-

de primária e a precariedade de nossa produção. A primeira colheitadeira brasileira foi produzida pela SLC, em 1965. Hoje, cerca de 1 milhão de máquinas agrícolas varam as terras brasileiras. Máquinas de todos os tipos e tamanhos. Em 1970, o Brasil possuía uma fronteira agrícola de 27 milhões de hectares e produzia 29 milhões de toneladas de grãos. Hoje, cultivamos 57 milhões de hectares e produzimos 200 milhões de toneladas de alimentos. Ou seja, enquanto a área plantada dobrou, a produtividade triplicou. E isso se deu pelo conhecimento advindo da pesquisa. Em 1973 surgiu a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, que hoje emprega mais de 10 mil funcionários e desenvolve pesquisas em 46 centros espalhados pelo país. A Embrapa, sem dúvida, foi e continua sendo um dos principais vetores de produção de conhecimento e tecnologia da agropecuária brasileira. As lavouras e fazendas brasileiras começam a se acostumar com tratores de última geração — alguns funcionando de forma remota, sem condutor —, com drones, chips, tablets, mapeamentos por satélite de localização, e outras modernidades. No entanto, tão ou mais importante que o aparato tecnológico é que a cabeça dos administradores do campo estejam voltadas para o futuro, buscando a melhor forma de aplicar no cotidiano de seus negócios o conhecimento já adquirido e produzindo e/ou apropriando novos conhecimentos, capazes de fazer frente aos movimentos do mundo nas próximas décadas. Conhecimento, que vira tecnologia, que se traduz em novos produtos, máquinas e equipamentos, deve ser o principal insumo do agronegócio. No Brasil e no mundo. Agora e para sempre.

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SUMÁRIO 3

Editorial

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Mix

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Entrevista: Eduardo Logemann

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Capa: a Tecnologia no campo

20 Canola com ganho recorde 22

A encruzilhada do fumo

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Caminho tortuoso do arroz

26 Erva Mate: da floresta para a cuia

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE CEP 90160-240 FONE: (51) 3231.8181

www.revistapress.com.br/agrobusiness | e-mail: agro@revistapress.com.br Diretor Geral JULIO RIBEIRO

Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA

Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN

Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 9971 5805 com NELCI GUADAGNIN

Reportagem CRISTIANO VIEIRA Designer RODRIGO MORAES Fotografia: JEFFERSON BERNARDES/ Agencia Preview

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AGRO MAIS: Na busca pela eficiência

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Verde que alimenta a Capital

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Incremento na produção leiteira

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Mix

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Mix

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Vinho: brinde brasileiro mundo afora

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Desperdício de alimentos

46 Balanço: a caminho da recuperação 50 Bem-estar no consumo do leite 54

Trigo: pão em franco crescimento

58 Agroindústria familiar

A revista PRESS AGROBUSINESS é uma publicação trimestral da Athos Editora Ltda, com circulação por mailling regional e nacional, voltada aos diversos segmentos produtivos e institucionais do setor primário do Rio Grande do Sul. Os artigos assinados e opiniões emitidas por fontes não representam, necessariamente, o pensamento da revista e de sua editora.

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MIX

Estímulo ao azeite Para atender a uma reivindicação dos produtores gaúchos de azeite de oliva, o governo do Estado reduziu a carga tributária, através de crédito fiscal de ICMS presumido, passando a alíquota de 18% para 7% nas vendas internas (dentro do estado) de azeite fabricado com azeitonas produzidas no Brasil. A resolução estimula a cadeia produtiva de oliveiras no Rio Grande do Sul, cultura que ocupa, hoje, dois mil hectares no Estado.

Crédito no Campo Líder Mundial A Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) do Ministério da Agricultura desenvolve um grande estudo para verificar o potencial de crescimento do agronegócio brasileiro. O Brasil detém 6,9% do comércio mundial do agronegócio, estimado em US$ 1,1 trilhão. A meta do governo é atingir 10% deste total em cinco anos. Em alguns segmentos, como carne bovina, já somos líder mundial em exportações. Os resultados do levantamento devem ser divulgados em 2017.

As contratações do crédito rural da agricultura empresarial na safra 2016/2017, até fim de setembro, somaram R$ 33,4 bilhões. Do total, R$ 20,7 bilhões são para custeio, R$ 7,2 bilhões, para comercialização e R$ 5,6 bilhões, para investimento. Os desembolsos representam 18% dos R$ 183,9 bilhões programados para o ciclo agrícola 2016/17. Em todos os segmentos houve elevação nas contratações, segundo o balanço divulgado pelo governo federal.

Crédito no Campo Mais uma região deve ampliar a compra de carne bovina brasileira. Em outubro, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) assinou acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) para aumentar os negócios com os países árabes. Estes compraram, até setembro, US$ 1 bilhão em carne bovina do Brasil – o Egito, com US$ 505 milhões, é o maior mercado. A ideia é fomentar a parceria para aumentar – e muito – o volume embarcado.

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Mais maçã na mesa Incentivos à cadeia produtiva da maçã é o que buscou, recentemente, a Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi) em reunião da Comissão de Agricultura e Reforma do Senado. Segundo a entidade, o Brasil 4 mil produtores de maçã, que ocupam 36 mil hectares com o cultivo da fruta. A safra anual alcança 1,3 milhão de toneladas, com destaque para Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Patrocínio O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) está com edital aberto para receber propostas de patrocínio para 2017. O Irga patrocina eventos como feiras, exposições, seminários, congressos e fóruns ligados ao setor do arroz. As entidades que pretendem solicitar patrocínio ao instituto devem ficar atentas ao prazo limite para o encaminhamento do pedido: até 60 dias antes do evento. Mais informações em www.irga.rs.gov.br



ENTREVISTA EDUARDO LOGEMANN FILHO

“Hoje a SLC Agrícola planta cerca de 400 mil hectares, contra os 117 mil que plantávamos antes de abrirmos o capital da empresa, em 2007.”

Por: Cristiano Vieira

Fotos: Divulgação

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Já se passaram 71 anos desde que o grupo SLC nasceu em Horizontina, no interior gaúcho. De uma pequena ferragem até o conglomerado que fatura R$ 3 bilhões nos dias de hoje, muita coisa mudou na agricultura e na economia. A sigla remete às famílias fundadoras – Schneider e Logemann – pioneiras no agronegócio no interior gaúcho. Hoje, à frente da holding familiar que comanda os negócios está Eduardo Logemann, da terceira geração. Das quatro empresas – SLC Comercial, SLC Alimentos, Ferramentas Gerais e SLC Agrícola – esta última responde por mais da metade da receita do grupo. Com 15 fazendas espalhadas por seis estados brasileiros, a SLC Agrícola controla 397 mil hectares plantados com três culturas principais: soja, milho e algodão. Na entrevista, Logemann fala da história do grupo, de agronegócio, crise econômica e a curiosa história dos nomes das fazendas – todas iniciando com a letra P. Já se passaram 71 anos desde a fundação do grupo. Como está a SLC hoje? O Grupo SLC é uma holding, que continua tendo a família Logemann como maior acionista. No grupo temos a SLC Agrícola, uma empresa de capital aberto desde 2007 – 48% das ações estão no mercado de capitais. Temos também a Ferramentas Gerais, a SLC Alimentos e a SLC Comercial – estas três são controladas 100% pelo grupo SLC. Somos a terceira geração, começou com meu avô e depois meu pai, que é filho único. Nestes 70 anos começamos como uma pequena ferraria, uma oficina lá em Horizontina, fundada pelo meu avô, Frederido Jorge Logemann, e viemos sempre crescendo. Cada geração que assume o negócio tem como missão torná-lo ainda maior. Há uma preocupação em profissionalizar um grupo familiar? Evidente. No Brasil, são raras as empresas que ultrapassam a segunda ge-

A SLC produziu a primeira colheitadeira do Brasil em 1965. Em 1979 nos associamos à John Deere, e aí vieram todas as multinacionais para cá ração e, mais difícil ainda, a terceira. No nosso caso, a quarta geração já está sendo preparada – não necessariamente para participar como executivos, mas sim como acionistas do grupo. Acreditamos na profissionalização. Isto pode ocorrer de duas maneiras: com executivos contratados que fazem carreira na empresa ou com a própria família. Temos na presidência da SLC Agrícola e da Ferramentas Gerais, por exemplo, executivos de fora, contratados, que fizeram carreira aqui dentro. Da família, por enquanto, temos eu como presidente da holding e o Jorge Luiz Logemann como vice-presidente, além de um sobrinho. Nada impede que outros familiares entrem desde que exista competência, formação, experiência e dedicação ao negócio. A abertura de capital da SLC Agrícola foi uma maneira de buscar o crescimento da empresa? Começamos a trabalhar neste projeto em 2004 porque percebemos que era uma maneira de aumentar o tamanho da companhia. Naquela época havia possibilidade de encontrar terras no Brasil com preços bastante atrativos comparados com outros países. A abertura de capital foi muito bem-sucedida e, hoje, a SLC Agrícola planta, aproximadamente, 400 mil hectares (sendo 337 mil de área própria) contra 117 mil hectares em 2007. Triplicou de tamanho em nove anos. Somos um

dos maiores exportadores de commodities agrícolas do Brasil. Veja bem, a empresa poderia crescer sem abrir o capital, mas em ritmo muito diferente. O acesso ao mercado foi fundamental para fazer isso em menos de dez anos. Qual a participação hoje da SLC Agrícola na receita do grupo? Uum pouco mais da metade, cerca de 55%. Esse percentual tem crescido e pode ser maior, mas tudo ‘depende’. Depende das commodities, cujo preço é volátil e varia muito. A SLC Agrícola tem crescido em área plantada anualmente e o preço das commodities também evoluiu. Acredito que o ideal é que ela fique entre 50% e 60% dos negócios do grupo. Hoje, na agricultura, se busca produzir mais na mesma área. A modernização neste processo é essencial, não é? Sem dúvida. Quem não investe em tecnologia, ‘morreu’. Por exemplo, qual o motivo do fracasso de todos os programas de reforma agrária no Brasil? Fracassaram porque não deram condições ao pequeno agricultor de ter acesso à tecnologia. Atiraram as pessoas num pedaço de terra lá no Mato Grosso ou aqui no Rio Grande do Sul sem educação, sem tecnologia e queriam que produzissem. Ora, isso não existe. Agricultura é uma área de capital muito intensivo. É um sonho fazer agricultura sem tecnologia de ponta – e não falo apenas de um trator ou colheitadeira, mas entra semente, adubação, controle de pragas, manejo da terra, enfim. Aqui na SLC falamos em agricultura digital. Internet das coisas, mapas de precisão do plantio, tudo hoje é online. Veja, não sou contra a reforma agrária, mas sou a favor desde que ela seja feita de uma maneira completamente diferente da que ocorre hoje. Mas para tudo isso é preciso telecomunicações no campo, algo que sabemos faltar no Brasil. Assim como infraestrutura de logística.

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ENTREVISTA

Sim, mas são duas coisas diferentes. Na logística, as estradas e portos do Brasil tu sabes o caos que é. Mesmo assim, o Brasil é muito competitivo no agronegócio mundial. Imagina quando tivermos uma infraestrutura decente então? Esse é o meu grande lema: olhar para frente e saber que temos muito o que fazer ainda. Com tudo funcionando direitinho, acredito em uma maior valorização do Brasil, que hoje é um dos maiores exportadores de commodities. E as telecomunicações? Este é outro lado. Quando não tem, tu faz. Foi o nosso caso. Construímos torres de telecomunicações, por exemplo, e esse tipo de estrutura o campo ainda está carente. Aos poucos, vai-se fazendo. Hoje, quando sai a nota fiscal de um caminhão carregado de soja no interior do Maranhão ela é gerada aqui em Porto Alegre, é tudo online. Isso evolui numa rapidez bastante grande. O termo “novas fronteiras agrícolas”ainda se aplica ao Brasil? Há terras disponíveis? Eu sou um dos maiores defensores do meio ambiente. Temos 337 mil hectares de área própria e mais de 120 mil hectares são de reservas ambientais.

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Isso também ajuda no nosso negócio. O Brasil planta, hoje, em menos de 10% da área total de seu território e é o país que mais preserva suas florestas no mundo. Não sejamos hipócritas, claro, há desmatamento na Amazônia, mas é uma questão que diminui dramaticamente. Outra coisa: o Brasil passou, nos últimos 20 anos, de 30 milhões de hectares para 48 milhões de hectares utilizados no plantio de commodities agrícolas. No mesmo período, a produtividade em geral triplicou. Aqui no Rio Grande do Sul tinha safra de verão e de inverno. Hoje o campo não para mais: tem safrinha, safra de verão, de primavera, de outono. E a renda do agricultor, apesar das crises, também aumentou. O Brasil é, sim, uma das últimas fronteiras agrícolas e temos muita área ainda para abrir, podendo até mesmo duplicar a área utilizada hoje no país. Agora, também temos que aumentar a produtividade em cada hectare plantado. As duas coisas o Brasil tem feito e muito bem. O Brasil tem produtividade maior na soja que nos Estados Unidos. No algodão, ganhamos da Índia e da China. As fazendas da SLC hoje estão espalhadas por diversos estados brasileiros. Como ocorreu isso?

Essa dispersão é intencional. Tem aquela velha teoria: não se coloca todos os ovos na mesma cesta. A primeira fazenda foi comprada por meu pai em Goiás, pertinho do Distrito Federal, depois fomos para Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Maranhão e, mais recentemente, chegamos à Bahia. Há 20 anos, os agricultores do Sul nem imaginavam plantar no Nordeste. Tem suas vantagens e desvantagens. A terra está mais perto dos portos, tem frete menor, mas possui um clima um pouco mais instável também. Mas há áreas excelentes por lá. O custo de produção é menor porque as áreas estão mais pertos dos portos. Tudo se mede no porto. Seja uma tonelada de adubo que tu importa ou uma tonelada de soja que tu exporta. O resto do custo é transporte via caminhões e aí está o grande atraso do Brasil. Ferrovias como a Ferroeste e a Transnordestina, por exemplo, nenhuma está finalizada. A hidrovias estão aumentando mais – já temos o corredor do rio Madeira, o corredor do rio Tocantins. Temos duas fazendas no Maranhão que utilizam ainda parte de uma ferrovia da Vale para escoar a produção. Há muito por ser desenvolvido ainda.


E porque os nomes de todas as fazendas começam com a letra P? Isso começou com três fazendas que tínhamos aqui no Sul: Pessegueiro, Paineira e Pioneira. Achamos legal, uma coincidência que indicava que o negócio estava dando certo, e começamos a procurar outras. Achamos a Pamplona, a Planalto, a Paiaguás, a Planorte, a Parnaíba, a Planeste, a Panorama e por aí foi. Agora está mais difícil ainda: tem que começar com P, ter oito letras e terminar com A (risos). Hoje o grupo não tem mais nenhuma fazenda no Rio Grande do Sul. Por que? Não tem nada a ver com não gostar do Rio Grande do Sul, absolutamente, mas sim com o tamanho das fazendas. Nosso módulo de produção utiliza áreas grandes, de 15 mil a 20 mil hectares, e era muito difícil, também por questões de preço, encontrar áreas assim aqui. Também por questões como custos com logística, fomos procurar terras maiores em outros estados e mais próximas de portos. O maior desafio de produzir no campo ainda é a imprevisibilidade climática? Sem dúvida, e para isso existe a tecnologia da irrigação. O Nordeste registrou a maior seca da sua história neste último ano e nós também tivemos uma perda significativa de produção nas fazendas por lá. Também houve problemas climáticos severos em uma parte do Centro-Oeste. Isso faz parte do negócio, não adianta. Procura-se adaptar épocas de plantio mais adequadas, há previsões climatológicas mais seguras, enfim, algumas medidas. Mas agricultura é uma fábrica sem telhado. Infelizmente ainda não existe uma semente que se desenvolva sem água. As perdas nas lavouras da SLC Agrícola se concentraram em alguma cultura? Não, em todas - milho, soja e algodão. Foi muito severo. Chegamos a perder, em toneladas, 20% da nossa produção

total em função deste verão extremamente seco que tivemos. Para 2017, a perspectiva de produção da empresa é positiva? Sim, pois aumentamos a área plantada em cerca de 25 mil hectares. E quando fazemos o planejamento, levamos em conta um clima normal, ou seja, sem expectativa de supersafra nem de seca. Quando há um clima excepcional, você ultrapassa a meta, é ótimo. Mas quando há seca, você corta no balanço, não adianta. Essa expectativa positiva, então, decorre do orçamento executado para os 396 mil hectares e estamos começando a plantar agora (novembro).

A maior parte da produção hoje é exportada? Para quais os mercados? Depende do produto. Soja, 95% dela é exportada. Não negociamos diretamente, usamos as grandes tradings, como Bunge, ADM, Cargill e Louis Dreyfus. Também não escolhemos destino, mas o grande mercado para soja do Brasil hoje é a Ásia – a China, em particular. Na soja, aliás, o Brasil só não é o maior produtor do mundo porque os Estados Unidos estão na quarta supersafra deles e nós tivemos seca neste ano. Mas é o maior exportador. No milho é o mesmo caminho, a venda é via tradings e não determinamos mercado. No algodão, ex-

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ENTREVISTA compramos a Ferramentas Gerais, em 2001 fundamos a SLC Alimentos. Na época, tínhamos revenda de máquinas agrícolas que, por coincidência, vendia John Deere. Expandimos esta empresa e seguimos atuando na região do Alto Uruguai por meio da SLC Comercial. São sete revendas que temos atualmente.

portamos 40% dele diretamente para tecelagens da Ásia, para países como Vietnã, Turquia, Malásia, Indonésia, China e Tailândia. É onde se concentra, hoje, a indústria têxtil do mundo. O maior competidor do algodão no mercado global é a fibra sintética? Eu diria que a fibra sintética é o maior concorrente não só do algodão, mas de qualquer outro tecido. Hoje, cerca de 60% do mercado têxtil é do sintético, algodão fica com 30% e o restante sobra para as outras fibras, como lã, seda e linho. Aí entra outro ponto: o que é melhor para o meio ambiente? Uma fibra natural, como algodão, ou uma sintética, de plástico, de leva muitos anos para se degradar? Essa preocupação com o meio ambiente ficou mais forte nos últimos 20 anos. É possível produzir sem agredir a natureza? Nos anos 1970, nas nossas plantações aqui no Rio Grande do Sul, não se achava uma cobra ou uma perdiz nos campos porque os insumos realmente eram agro ‘tóxicos’. Hoje, nas nossas fazendas, é preciso usar botas porque tem cobra, tem tamanduá, tem avestruz, tem onça. A natureza, nas áreas

de agricultura, é mais exuberante que há 20 ou 30 anos. Os defensivos agrícolas são defensivos. Eles são controlados e tolerados pela saúde humana, e dos animais também. Pode ir em qualquer terra de um produtor qualquer no Brasil que essa biodiversidade está lá. O Brasil é o país do mundo que mais recicla embalagens e tem um controle rigoroso sobre os defensivos. A SLC foi pioneira na produção de colheitadeira no Brasil e teve parceria com a John Deere. Como foi esse período? A SLC produziu a primeira colheitadeira do Brasil em 1965. Meu pai e os sócios dele criaram uma colheitadeira automotriz em Horizontina. Em 1979, nos associamos com a John Deere e aí vieram todas as multinacionais para o mercado brasileiro. Fomos parceiros até 1999, quando vendemos a nossa participação de 60% na SLC John Deere para eles mesmos. Eles ficaram, também, com a fábrica de máquinas de Horizontina. Aí que veio o grande crescimento da área agrícola. Já tínhamos fazendas, plantávamos quase 100 mil hectares na época, mas o pulo mesmo foi a partir deste negócio: escolhemos a agricultura para crescer. No ano seguinte, em 2000,

A crise econômica dominou o ano. Na agricultura, o setor que ainda está melhor, o impacto também foi forte. O Brasil vive uma crise séria sim. O agronegócio, nos anos bons da economia, é o pilar forte, e nos anos ruins, é o pilar mais forte ainda. É o único setor da economia que ainda apresenta um pequeno crescimento e só não vai crescer mais por causa desta seca que atingiu forte parte do Brasil neste ano. Para a indústria o ano foi terrível. Neste último trimestre de 2016, espero que tenhamos chegado ao fundo do poço. A recuperação deve começar no primeiro ou segundo trimestre do próximo ano. A maior perda do Brasil, creio, foi de empregos. Não há coisa mais devastadora para um pai de família ou uma mulher perder seu emprego, seja na indústria, no varejo ou na agricultura. Esta deve ser a primeira preocupação do governo. Para isso, é fundamental a recuperação da economia. A perspectiva da SLC é de fechar 2016 repetindo os números do ano anterior, com receita de R$ 3 bilhões? Vamos ficar, mais ou menos, no zero a zero. A SLC Comercial cresceu, por incrível que pareça. A SLC Alimentos subiu bem, quase 20%. A Ferramentas Gerais ficou estável, com uma pequena redução de 5%. Já a SLC Agrícola deve terminar o ano com queda de 10%. Nossa previsão era chegar a R$ 2 bilhões, mas o faturamento dela deve ficar em R$ 1,65 bilhão. No total, vamos chegar muito perto ou passar um pouco esses R$ 3 bilhões verificados pelo grupo no ano anterior.

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UMA ASSEMBLEIA FEITA COM DIÁLOGO PARA O CIDADÃO. O Rio Grande é cada gaúcho, cidade, região. E ninguém sabe melhor o que um lugar precisa do que as pessoas que vivem nele. A Assembleia faz democracia com vez e voz para o cidadão.

782 PROPOSIÇÕES

APRESENTADAS A Assembleia debateu durante mais de 750 horas e aprovou 118 projetos de lei de interesse dos gaúchos.

263

REUNIÕES E AUDIÊNCIAS

PÚBLICAS

Promovidas pelas Comissões e Frentes Parlamentares, nas quais os deputados debatem com a sociedade soluções para defender os direitos e necessidades de cada área.

1,6

MILHÃO DE ACESSOS

Ao Portal da Assembleia, que foi remodelado com ferramentas aprovadas pelo Acessibilidade Brasil.


CAPA

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Aumento da população traz desafios para a agricultura

E

m 2050, a população mundial deve saltar dos atuais 7 bilhões para 10 bilhões de indivíduos, de acordo com projeções da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Esse cenário vai exigir que a produção de alimentos seja incrementada em até 70% em comparação com o volume disponibilizado hoje em dia. Partindo desse mote, a 12ª edição do Agrimark Brasil debateu a modernização do agronegócio e a relevância das novas tecnologias na produção sustentável de alimentos. O evento ocorreu em 4 de novembro, na sede da Federasul, em Porto Alegre. O presidente do Instituto de Educação no Agronegócio (I-UMA), José Américo da Silva, destacou que atender a essa demanda é um dos principais desafios do mundo nos próximos 40 anos. Para isso, a produtividade no campo deverá aumentar substancialmente. “É necessário praticamente dobrar a produção de comida, para garantir a alimentação das pessoas, e também tornar a produção agrícola sustentável”, enfatizoua o dirigente. Segundo ele, nas próximas décadas, o Brasil, hoje responsável por 6,9% dos alimentos disponibilizados ao redor do globo, deve aumentar sua participação para algo em torno aos 10%. Para que o País garanta seu papel entre os protagonistas nesse processo, um dos principais elementos a serem levados em consideração é o incremento de tecnologia nas propriedades rurais. Um

processo que começa na introdução de ferramentas para realizar a gestão da propriedade e chega até ao momento de realizar o plantio. “Estamos na era da agricultura de precisão. É necessário acompanhar as novas tecnologias que são criadas para que o setor continue gerando renda e emprego”, definiu Ernani Polo, secretário de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul. Além de tratores, colheitadeiras e outros equipamentos tradicionalmente utilizados, surgem uma série de novas ferramentas que podem ajudar o agricultor a alavancar sua produtividade. Entre elas estão drones, veículos aéreos não tripulados (VANTs), robôs e satélites, que se integram com dispositivos conectados à internet e agora podem ajudar a detectar problemas e encontrar soluções. “A fazenda do futuro será toda conectada”, vislumbra Eduardo Logemann, presidente do Grupo SLC. Por conta disso, a conectividade no campo é um dos gargalos a serem enfrentados, já que em muitas localidades do País a internet é precária e o sinal de telefonia enfrenta dificuldades. Nas últimas décadas, segundo ele, a produtividade agrícola cresceu muito acima da área ocupada com lavouras no Brasil. “Por outro lado, há grande extensão degradada, principalmente de pastagens, que poderiam ser incorporadas à produção, tirando a pressão de zonas ainda preservadas”, disse. Logemann destacou a Fazenda do Futuro conectada, que terá que ter pessoas capaci-

tadas para o mundo digital, usar softwares que consigam transformar dados em informações úteis para tomada de decisão, desenvolver uma gestão mais qualificada e sustentável (big data, rastreabilidade e certificações).

Nas próximas décadas, o Brasil, hoje responsável por 6,9% dos alimentos disponibilizados ao redor do globo, deve aumentar sua participação para algo em torno aos 10%.

Aumentar a produtividade Ao longo dos últimos 40 anos, o aumento de produtividade conseguido no Brasil esteve ligado à expansão da fronteira agrícola. O diretor de assuntos corporativos da Syngenta Brasil, Pablo Casabianca, recorda que o País passou de 1,5 tonelada de soja colhida para 3 toneladas por hectare. “Dobramos a produção realizando melhores plantios, utilizando melhores sementes e defensivos. Daqui para a frente é necessário usar a mesma fórmula com mais intensidade. Só que antes o Brasil pôde expandir muito sua fronteira agrícola, numa velocidade que não é sustentável daqui para frente. Agora a discussão é como produzir o dobro no mesmo hectare”, sinaliza. Se o nível de produtividade do início da década de 1990 fosse

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CAPA

mantido, seriam necessários 132,4 milhões de hectares para obter o volume da atual produção brasileira, recorda Casabianca. Atualmente, o plantio está concentrado em 57,2 milhões de hectares. Quando a análise é mundial, o país não faz feio: segundo os números mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na safra 2016/2017 o Brasil foi responsável por 17% da exportação global – o valor chega a 68% no caso da soja e a 29% para o milho. Casabianca defende que deve se estimular ainda mais a otimização do cultivo de alimentos, combinando a melhoria das técnicas de plantio com o uso de insumos. Além disso, outras

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frentes de atuação seriam a recuperação de cerca de 10 milhões de hectares de terras à beira da degradação e aumentar a biodiversidade em outros 5 milhões de hectares de terras cultiváveis. Conforme Casabianca, o tempo entre as primeiras pesquisas em laboratório e a introdução no mercado de um novo produto passou de 8,3 anos em 1995 para 11,3 anos em 2014. Os valores investidos também aumentaram. No mesmo período, o custo para iniciar a comercialização foi de US$ 152 milhões para US$ 286 milhões. Somente no ano passado, a Syngenta investiu US$ 1,4 bilhão em pesquisas. “O Brasil tem um sistema regulatório muito rigoroso, exigente, científico e equilibra-

do entre agricultura, saúde e ambiente. Isso nos permite uma grande visão de sustentabilidade”, explica Casabianca.

“É necessário praticamente dobrar a produção de comida, para garantir a alimentação das pessoas, e também tornar a produção agrícola sustentável”


Modernização vai além das máquinas O uso de equipamentos modernos, por si só, é insuficiente para alcançar o objetivo de alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050. Essa é a análise que faz a diretora administrativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS), Silvana Dalmás. A dirigente salienta a importância da agricultura familiar e das pequenas propriedades e destaca que é necessário estar atento a outros fatores tão relevantes quanto ter máquinas com tecnologia de ponta. “Há pesquisas que apontam que o cuidado com o solo e com a água são a maior preocupação no meio rural”, relata. Nesse sentido, Silvana sinalizou que “se não cuidarmos da água, do solo e dos recursos naturais, não haverá tecnologia que dará conta do aumento de produtividade necessário para as próximas décadas.” Dessa maneira, a realização de um trabalho sólido de pesquisa e desenvolvimento no campo é fundamental, até porque realizar uma boa gestão dos recursos existentes pode trazer resultados bastante significativos. Por outro lado, o secretário da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, destacou que mudanças em algumas normas e legislações obsoletas também podem facilitar a vida dos agricultores. “Existe uma série de regras e normas feitas no passado, que em nenhum momento acabaram sendo revogadas, e que já não fazem mais sentido hoje em dia”, reclamou. O superintendente do Senar-RS, Gilmar Tietböhl, defende que é preciso criar uma política nacional para o setor. “Até agora, o Brasil teve apenas planos para

a agricultura, nunca teve uma política. É necessária uma política não de intervenção, mas que dê mais segurança para alavancarmos a produção”, analisa.

Atenção ao meio ambiente não de intervenção, mas que dê mais segurança para alavancarmos a produção”, analisa. É preciso aumentar e muito a produção de alimentos mas sem descuidar do meio ambiente. Este ponto é essencial, segundo a secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado, Ana Pellini. “Nós temos agora uma ferramenta muito importante que é o CAR [Cadastro Ambiental Rural]. Aqui no Rio Grande do Sul a gente conseguiu que mais de 90% dos proprietários de terra fossem registrados. Neste levantamento, percebemos também que a grande maioria dos plantios é da agricultura familiar”, analisou. O investimento em melho-

ramento genético e tecnologia também são dois pontos extremamente importantes para uma das cadeias mais importantes do agronegócio gaúcho, a do leite. Segundo Ernesto Krug, diretor-presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), o Estado desenvolve um papel de destaque na produção nacional desta que é a quinta atividade mais relevante do agronegócio brasileiro. “Em 1976, o Rio Grande do Sul era o oitavo produtor de leite do país. Hoje, é o segundo maior e o primeiro em produtividade e qualidade. Enquanto o Brasil cresceu 4,5% nos últimos 13 anos, o RS cresceu 7,5%”, avalia. Já o presidente da Ocergs, Vergílio Perius, utilizou cases que ilustram o avanço tecnológico, que hoje já faz parte da rotina das cooperativas. Um dos exemplos mais impactantes é o Programa Associativo de Produção Leiteira, da Cosuel. Seu grande diferencial é ordenha robotizada, a primeira na América Latina, e que oferece um aumento de desempenho de até 7 vezes.

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CAPA

Combate a pragas protege Estudo divulgado mês passado pela Embrapa revela que, de 1977 a 2013, as ações desenvolvidas pela empresa impediram a entrada de 75 diferentes espécies de pragas agrícolas no Brasil. De 2014 a 2016, mais quatro espécies foram barradas. Todas essas pragas, que incluem insetos, ácaros, nematoides, fungos, vírus e bactérias, possuem um predicado em comum: são exóticas. Isso significa que não existem no País e, por isso, não há formas conhecidas para combatê-las. Justamente em uma época em que se discute o aumento da produtividade na mesma área, a atenção a pragas torna-se vital. Para se ter uma ideia, a entrada em 2013 de apenas um animal, a lagarta Helicoverpa armigera, causou danos de cerca de US$ 1,7 bilhão aos cofres nacionais. Segundo a Embrapa, o intercâmbio de material vegetal entre os países é uma atividade imprescindível ao enriquecimento do patrimônio genético e para a geração de novas variedades agrícolas. No Brasil, cerca de 80% dos alimentos consumidos têm origem exótica. Um dos piores problemas enfrentados pela agricultura é a ocorrência de organismos nocivos que levam à redução da produção de alimentos, fibras e bioenergia. Esses organismos se enquadram no conceito de praga. Quando um material vegetal é importado, cumpre o que se chama de quarentena. Nela, as plantas são alvo de ações voltadas a prevenir a introdução e disseminação de pragas agrícolas. A quarentena é realizada no Brasil desde a década de 1970. A atividade começou com a criação da Estação Quarentená-

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ria na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em 1977. Ao longo de mais de três décadas, com o crescimento do comércio internacional e do fluxo de turistas, as atividades de quarentena se intensificaram, levando a Empresa a criar, em 2014, uma nova unidade exclusivamente voltada às atividades: a Embrapa Quarentena Vegetal, localizada em Brasília. O objetivo é modernizar a análise das sementes e outros materiais de propagação que são introduzidos no País ou intercambiados com outras instituições de pesquisa.

A IMPORTÂNCIA Balança comercial DA TECNOLOGIA

Tecnologia a serviço da renda Não é mais a posse da terra nem o tamanho da fazenda o que diferencia fazendeiros pobres e ricos. Hoje, o que gera mais riqueza, e a concentra nas mãos de uma minoria dos fazendeiros, é a maior capacidade que esses fazendeiros têm de usar bem as tecnologias agrícolas disponíveis. A conclusão é do estudo sobre concentração da renda agrícola feito pela Embrapa e divulgado recentemente.

Brasil com baixa tecnologia (dados 1991)

Produção total

57,9 milhões de toneladas

Produtividade

1.500 kilos por hectare

Balança comercial

Cerca de 40% inferior à atual


Os pesquisadores calcularam o que chamam de “função de produção”, para saber que influência teria, separadamente, a terra, o trabalho e conjunto de insumos tecnológicos (fertilizantes, defensivos, rações, energia, máquinas, etc.) no crescimento da renda bruta dos fazendeiros e, assim, ter uma ideia sobre o que influenciou na concentração da renda bruta observada entre os agricultores brasileiros. Eles usaram as informações de 74 mil produtores, escolhidos ao acaso, e encontraram que, para cada 100% de ganho na renda

Brasil com o Agronegócio (dados 2015) 202,2 milhões de toneladas 3.500 kilos por hectare Saldo positivo em US$83 bilhões

bruta, o incremento no uso de insumos tecnológicos contribuiu com 67,86% desse aumento da renda. O aumento de trabalho contribuiu com 22,81% e o aumento da área explorada contribuiu com apenas 9,3% para o aumento da renda. Isto equivale a dizer que se um produtor, que explora 10 hectares com uma renda de R$ 10 mil, resolver dobrar a área explorada e, em decorrência, dobrar a quantidade de trabalho, ele vai conseguir aumentar a sua renda em apenas 32,14% (9,3%, por conta da área, mais 22,81%, por conta do trabalho a mais), ou seja, em R$ 3.214,00. Para dobrar a renda, ele terá que dobrar também quantidade de insumos tecnológicos aplicados, nos mesmos 10 hectares, o que aumentará sua renda em mais R$ 6.786,00, totalizando os R$ 10 mil. O estudo indica que a intensidade no uso de tecnologias é mais determinante para a geração de rendas para o produtor do que a quantidade de terras utilizadas. Em outras palavras, um produtor com menos terras, se for mais eficiente e intensivo no uso de tecnologias, pode ter renda maior do que um grande produtor. Como usar mais terras também significa usar mais trabalho, os dados sugerem que a quantidade de tecnologias usadas também é mais determinante na geração de rendas do que a quantidade de trabalho. Também indicam que foi a eficiência em usar tecnologias disponíveis que possibilitou a 500 mil produtores aumentarem suas rendas a ponto de concentrar, em suas mãos, 87% da produção e da renda bruta agrícola nacional. O desafio que se coloca é saber o que impediu os demais produtores de seguirem o mesmo cami-

nho de facilidade e eficiência na intensificação tecnológica.

Estudo indica que a intensidade no uso de tecnologias é mais determinante para a geração de rendas para o produtor do que a quantidade de terras utilizadas

O AGRONEGÓCIO NO BRASIL A população rural é de 6 milhões de famílias; Mais de 200 milhões de toneladas produzidas em pouco mais de 57 milhões de hectares; O agronegócio é responsável por mais de 30% dos empregos gerados no Brasil; O agronegócio responde por cerca de 25% do PIB brasileiro (cerca de R$ 1 trilhão); US$ 100 bilhões em exportação (41,3% do total nacional); 62% do território nacional é composto por vegetação nativa intacta; O Brasil é um dos países mais eficientes do mundo em utilização de agrotóxicos à quantidade de defensivos utilizados por kg de produto agrícola produzido.

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GRÃOS

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Canola com ganho recorde

N

ovembro marcou o fim da colheita da canola no Rio Grande do Sul, maior produtor brasileiro. Segundo a Embrapa, o crescimento da área esteve acompanhado de incremento na produtividade das lavouras, favorecidas pelas condições climáticas do inverno. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra atual apresentou 7% de aumento de área em relação ao ano passado, registrando mais de 47 mil hectares no Brasil. A produtividade média também deverá ser 30% maior – superando 1,6 mil quilos por hectare. Estima-se que a produção total de grãos atinja 75 mil toneladas, um incremento de 36,6%. Para o analista de transferência de tecnologia da Embrapa Trigo Paulo Ernani Ferreira, a canola tem ganhado destaque entre os cultivos de inverno tanto como alternativa para a rotação de culturas quanto para a geração de renda. Segundo ele, a canola apresentou crescimento constante nos últimos três anos, com rendimentos variáveis em função das condições climáticas e da experiência do produtor. A produtividade média, hoje é de 1,6 mil quilos por hectare, era de apenas 812 quilos por hectare em 2014. Dos 58 mil hectares destinados à cultura no Brasil, 47 mil estão no Rio Grande do Sul. Frente à última safra, a área cultura aumentou 28% no pasto gaúcho. “A canola ainda é vista como alternativa na rotação de culturas, muitas vezes cedendo espaço para cereais como o milho safrinha e a aveia. Finalmente

os produtores têm conseguido boas produtividades e constatam os benefícios da canola para os cultivos subsequentes”, destaca Gilberto Tomm, também da Embrapa Trigo. O clima favoreceu a safra gaúcha de canola, com vários produtores indo além da média e alcançando rendimentos próximos aos 2.400 kg/ha. Foram registradas perdas isoladas em lavouras mais tardias, especialmente na região Noroeste do Estado, devido a chuvas fortes que causaram debulha de lavouras prontas para colher. No Paraná, onde a área cultivada apresentou redução de 20% em relação a 2015 devido ao alto preço do milho safrinha, a canola sofreu perdas devido a geadas

na floração – mesmo assim, encerrou a colheita com média de 1.400 kg/ha. Para a Conab, os resultados desta safra deverão estimular os produtores a investir ainda mais na cultura, posicionando a canola, ao lado da aveia, como cultura de inverno de melhor resultado ao produtor. Os preços seguem atrativos, oscilando entre R$ 66,00 e R$ 68,00 por saca de 60kg. Terceira oleaginosa mais cultivada no mundo, a canola é atrativa também por suas múltiplas aplicações. Serve tanto para produzir óleos comestíveis quanto óleos na indústria de biocombustíveis e, ainda, para produzir farelo para ração animal (cerca de 38% do grão da canola é composto de proteínas).

INCREMENTO DE

36,6% A produção total de grãos de canola no Brasil deve chegar a 75 mil toneladas.

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FUMICULTURA

A encruzilhada do fumo

É

fácil entender a importância econômica do tabaco – a despeito de todos os malefícios causados pelos cigarros. Na safra passada, o Brasil plantou 283 mil hectares com a cultura. A produção alcançou 540 mil toneladas e uma receita de R$ 5,2 bilhões. Comparativamente, para se obter o mesmo valor com a soja, é necessário cultivar uma área cinco vezes maior: 1,5 milhão de hectares. Cada hectare de tabaco gera R$ 18 mil, contra R$ 3,4 mil por hectare de soja.

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Segundo maior produtor de fumo do mundo, o Brasil exporta 87% da produção. Em 2015, a receita com as vendas de tabaco para o exterior somou US$ 2,2 bilhões. Mas, para além dos números, o que a cadeia produtiva do tabaco encara, de uns anos para cá, é uma readequação no sistema produtivo frente ao aperto da legislação antifumo em todo o mundo. As medidas vão desde restrições a crédito para a produção, passam pelo incentivo à diversificação na lavoura e che-

gam à ausência total de imagens nos maços de cigarros, algo ainda não em prática no Brasil. O mais recente capítulo deste embate ocorreu entre os dias 7 e 12 de novembro deste ano, em Nova Delhi, na Índia, com a realização da 7ª Conferência das Partes (COP7). O encontro é um desdobramento da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, primeiro tratado internacional da história sobre saúde pública. O acordo foi adotado em 21 de maio de 2003 e entrou em vigor


Segundo maior produtor de fumo do mundo, o Brasil exporta 87% da produção.Em 2015, a receita com as vendas de tabaco para o exterior somou US$ 2,2 bilhões

em 27 de fevereiro de 2005. É uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde, negociada por 194 países (o Brasil entre eles), que reconheceram os danos sanitários, sociais e econômicos decorrente do uso do tabaco. No último encontro, houve queixas quanto à pouca transparência nos debates – jornalistas foram retirados do prédio onde ocorreu a conferência e até mesmo integrantes da comitiva brasileira tiveram que apelar ao Ministério da Relações Exteriores do Brasil para tentar acessar o local. Apesar destes percalços, a conferência encerrou destacando o que já é feito no Brasil: a necessidade de incentivar a diversificação gradual de outras culturas em áreas ocupadas hoje pelo tabaco. Um ponto pode favorecer os agricultores brasileiros: nações que não produzem tabaco se comprometeram a não iniciar o plantio – isso deve aumentar a demanda por tabaco dos maiores produtores, como Estados Unidos, Brasil e Zimbabwe. O crédito aos produtores de tabaco quase ficou mais restrito neste ano. Duas medidas, com

intervalo de 30 dias, levaram o setor da preocupação ao alívio. Na Expointer, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou que os produtores de fumo continuam tendo acesso ao crédito rural como ocorre com agricultores de outras culturas. A iniciativa, conforme o ministério, pretende fortalecer o agronegócio brasileiro como forma de o Brasil sair mais rapidamente da crise. Um mês antes, a resolução 4.483 do Banco Central causou alvoroço na cadeia produtiva do tabaco. Ela exigia que, para ter acesso a financiamentos, os produtores deveriam aumentar, gradativamente, a proporção de sua renda obtida com outras culturas. Atualmente, esse percentual é de 20%. A norma aumentava a proporção para 30% já nesta safra; passaria para 40% na safra 2017/18 e chegaria a 50% a partir de 2018/19. Terminou revogada. De acordo com o presidente da comissão do fumo da Farsul, Mauro Flores, em média, o produtor planta 2,5 hectares com tabaco. Com isso, ele tem uma renda anual próxima de R$ 50 mil. “Não tem outra atividade que dê tanto resultado financeiro positivo quando o tabaco”, explica ele. Flores concorda que é preciso abrir espaço para outras culturas na propriedade rural – segundo ele, isso já ocorre. “O fumo garante a renda, mas estamos incentivando, por exemplo, o plantio de milho e feijão nas propriedades rurais para a subsistência”, completa ele. As medidas restritivas nos últimos anos têm surtido efeito quando se analisa desde o plantio até a comercialização de cigarros. De 2004 a 2015, a área plantada com tabaco caiu de 443 mil hectares para 283 mil hectares no Brasil – redução de 36%. O volume de cigarros vendidos

Mauro Flores, presidente da Comissão do Fumo da Farsul caiu de 75 bilhões de unidades em 2013 para 63 bilhões em apenas dois anos, queda de 13%. Quanto ao consumo, segundo o Ministério da Saúde, desde 2005 o número de fumantes caiu 35% no Brasil. Da população total, 63% dos brasileiros nunca fumou na vida. Entre os que fumaram alguma vez, a notícia é positiva: 56% conseguiram suspender o consumo de tabaco e já estão livres do vício. Para quem insiste no hábito, além das medidas cada vez mais restritivas aos fumantes em vigor nas cidades, outro vilão deve ser merecedor de atenção: os cigarros contrabandeados. Cerca de 40% dos cigarros vendidos no Brasil são ilegais, geralmente contrabandeados via Paraguai. Isso corresponde a R$ 5 bilhões por ano em impostos que deixam de ser arrecadados em um produto sem a mínima garantia de produção.

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Benício Werner, presidente da Afubra

Incentivo ao plantio de outras culturas

O produtor planta, em média, 2.5ha com tabaco e tem uma renda anual próxima de R$50 mil

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Desde 2005, o Brasil conta com o Programa de Diversificação em Áreas com Cultivo de Tabaco. O objetivo é criar novas oportunidades de geração de renda e melhorar a qualidade de vida das famílias de produtores. O desafio é atender o artigo 17 da Convenção Quadro, que prevê apoio a atividades alternativas economicamente viáveis para produtores de tabaco. Pesquisa realizada pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário aponta que a diversificação da agricultura familiar vem crescendo em áreas de cultivo de tabaco. O levantamento mostra que, de 2011 a 2014, cresceu de 6,5% para


10,2% o percentual das famílias que deixaram a lavoura do fumo no universo de 11,2 mil atendidas pelo programa. O estudo ainda revela que 76% das famílias demonstram interesse em diversificar a produção, sendo as razões mais comuns a natureza cansativa da atividade, intoxicação por nicotina e a saída dos jovens do campo. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o tamanho médio das terras cultivadas por eles é de 15 hectares, ou seja, são pequenos produtores. Entre 2015 e 2017, o governo federal terá investido R$ 53 milhões em assistência técnica e extensão rural para os agricultores. Cerca de 30 mil famílias de fumicultores recebem esse tipo de orientação para que desenvolvam alternativas de produção conforme a decisão de cada agricultor.

tifrutigranjeiros”, explica. A mudança não é fácil, pois o plantio do tabaco é uma atividade tradicional, e na maioria dos casos, as famílias vêm produzindo por gerações. Conforme o

A CULTURA DO TABACO NO BRASIL - 158 mil famílias vivem do cultivo – 80 mil delas no RS - Produção anual de 540 mil toneladas Cada hectare resulta em R$ 18 mil em receita contra R$ 3,4 mil da soja na mesma área - 87% da produção é exportada - Receita anual com exportação alcança US$ 2,2 bilhões

O cigarro Marca Diabo

Cada hectare de tabaco gera R$ 18 mil, contra R$ 3,4 mil por hectare de soja

Presidente da Associação de Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner destaca que a diversificação das culturas é louvável mas deve ser feita com cuidado, sem eliminar completamente a renda das famílias com o tabaco. “A maior parte dos agricultores que simplesmente deixaram de plantar tabaco migraram para as cidades. Apenas um pequeno número permaneceu no campo, em atividades como o leite e hor-

ministério, diversificar possibilita aos agricultores mais oportunidades de geração de renda, mas exige a necessidade de conhecimento sobre outras culturas e seus modos de produção.

Foi em 1901 em Pelotas, no Sul do Estado, que uma iniciativa empresarial do escritor João Simões Lopes Neto viraria sinônimo de produto popular ou sem procedência. Ele lançou no mercado o cigarro Marca Diabo, produzido pela indústria Diavolus.

A irreverência de Simões Lopes Neto podia ser vista nas peças publicitárias e nas embalagens, tudo criado pelo autor de Lendas do Sul e Contos Gauchescos. Na época, a cidade do Sul gaúcho era sede de três empresas produtoras de cigarro: São Rafael, Santa Cruz e Santa Barbara. O cigarro “diabólico” de Simões Lopes Neto surgiu como um contraponto às outras marcas, todas “santas”. Com humor, a propaganda incentivava os consumidores a levarem o “diabo no bolso”. Quem não gostou nada foi a igreja católica, que ameaçou excomungar os fumantes adeptos do cigarrinho do demônio. Brincadeiras à parte, a fábrica não durou muito tempo – a produção foi encerrada cinco anos depois, em 1906. Simões Lopes Neto abandonou a produção devido aos altos impostos, uma queixa que não mudou nada e perdura ainda hoje em qualquer atividade no Brasil.

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ARROZ

Caminho tortuoso do arroz

O

último ano não foi fácil para os produtores de arroz no Rio Grande do Sul. O excesso de chuva no verão passado comprometeu parte das lavouras, resultando em grandes perdas para muitos agricultores. Mais recentemente, quando o plantio da nova safra estava pela metade, de novo o clima atrapalhou: a chuvarada de outubro forçou uma interrupção, à espera de um clima mais favorável, o que ocorreu no início de novembro. Essa gangorra na cultura do arroz obrigou muitos produtores a buscarem os bancos para renegociar os contratos de financiamento da safra passada, cuja quebra na produção alcançou 10%. “As renegociações seguem acontecendo de forma relativamente satisfatória. Cerca de 60% dos contratos são do Banco do Brasil”, destaca o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles. Dornelles salienta que um dos antigos anseios do setor é um se-

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guro agrícola mais adequado ao arroz, questão pleiteada junto ao Ministério da Agricultura. “Hoje o limite de cobertura é de 60%. No nosso entendimento é pouco, já que em outras culturas o percentual sobe para 80%. Dinheiro para isso não falta, o ministério tem conseguido equalizar bem a questão do seguro”, avalia ele. Mesmo assim, apesar dos percalços, a expectativa era de uma “supersafra” de arroz no Rio Grande do Sul – isso antes do excesso de chuva durante a semeadura. Conforme a Federarroz, a produtividade poderia alcançar cerca de 7,7 mil quilos por hectare, mas deve cair para 7,5 mil quilos. “Isso porque teremos parte do plantio ocorrendo fora do período ideal, já que tivemos que parar por causa do clima”, explica. Os problemas climáticos, de acordo com o dirigente da Federarroz, também trouxeram danos para o estabelecimento da lavoura, como a não germinação de sementes pelo excesso de chuvas,

obrigando o replantio destas áreas e aumentando o custo de produção, como reconstituição de curvas de nível. Em outras áreas, ocorreu desuniformidade no nascimento das plantas e já são registrados ataques de pássaros nas lavouras. “Também temos muitos relatos da ocorrência de arroz espontâneo excessivo, que é quando o grão cai na colheita e vem a emergir durante o plantio seguinte, podendo comprometer a colheita pelo número de plantas em demasia”, afirmou Dornelles, em novembro. A greve dos bancários, ocorrida em um momento de tomada de financiamentos, atrapalhou o planejamento dos arrozeiros gaúchos, travando também as renegociações, segundo o presidente da Federarroz. “Isto poderá agravar a comercialização da próxima safra, pois muitos produtores foram obrigados a buscar dinheiro no mercado privado, que tem um vencimento fixo sempre em abril de cada ano”, explica ele.


para o setor arrozeiro, enquantona soja e no milho, por exemplo, houve acréscimo de 20%. “Mas, dentro de um cenário positivo, há uma estabilidade de produção em outras regiões produtoras, com tendência de leve baixa na área em países como Uruguai e Argentina. Os estoques ajustados também devem ser uma realidade no próximo ano”, completa.

Proteção na lavoura Henrique Dornelles, presidente da Federarroz O dirigente da Federarroz pondera, ainda, que o produtor viu os custos de produção crescer e retirou o mesmo valor de custeio dos últimos anos, tendo uma menor parcela da safra sendo financiada por recursos oficiais. Isso acaba por diminuir a renda. Essa percepção de menor renda no cultivo de arroz não é somente sentida pelos gaúchos. Maior prova é o novo decréscimo da intenção de plantio nos demais estados da federação. Conforme dados da Federarroz, em determinado período, houve redução de 40% das vendas de adubos

Justamente para tentar reduzir as perdas com a instabilidade climática e a partir de uma demanda do setor arrozeiro, a Tovese Seguradora criou, há três anos, um produto específico para a cultura. Denominado Arroz Protegido, o seguro é o único do mercado que inclui o replantio por excesso de chuva na apólice. Conforme Otávio Simch, diretor da Tovese, o seguro cobre até R$ 5 mil por hectare em caso de granizo, por exemplo. O valor é suficiente para cobrir os custos de produção. “A cada ano o arrozeiro contrata mais seguro porque entende que é preciso se proteger”, avalia ele. O grande diferencial em rela-

Otávio Simch, diretor da Tovese ção aos outros seguros agrícolas já praticados no mercado está na forma de indenização. No caso do Arroz Protegido, a análise é técnica, avaliando o dano direto causado na área de cultivo para determinar um percentual de perdas. O mercado ainda tem muito para crescer. Conforme Simch, dos cerca de 1 milhão de hectares destinados ao arroz no Rio Grande do Sul, apenas 300 mil têm algum tipo de seguro. “Falta é conscientização do produtor a respeito da necessidade de proteger seu patrimônio”, finaliza Simch.

CARACTERÍSTICAS DO ARROZ PROTEGIDO Cobertura multirrisco - incêndio; estiagem, excesso de chuva; granizo; inundação; geada e vendaval Subvenção federal – 45% do custo do seguro. Garantia por hectare – depende da produtividade por município. Início da cobertura – após 70% das plantas atingirem 10 centímetros de altura. Carência – 15 dias para estiagem e 2 dias para os demais eventos.

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Foto: Ilar Wendling

ERVA MATE

Da floresta para a cuia

É

preciso abrir mais mercados para a erva-mate e incentivar o desenvolvimento de novos produtos à base da cultura. Estas são algumas das metas mais urgentes para a cadeia produtiva da erva-mate do Rio Grande do Sul. Hoje, o Estado responde por 45% da produção brasileira, estimada em 602 mil toneladas por ano. São 35 mil hectares com a cultura em solo gaúcho. Tida como milagrosa pelos antigas indígenas, a erva-mate tem mais de 150 princípios ativos, concentra magnésio em suas folhas, um dos elementos minerais tidos como responsáveis pela longevidade dos seres humanos. Também possui propriedades antissépticas,

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capazes de combater inflamações por bactérias. Já chegou a ser chamada de “ouro verde”. Gilberto Heck, presidente do Sindicato da Indústria do Mate do Rio Grande do Sul (Sindimate RS), explica que a maior parte das empresas que processam a erva são micro e pequenas, sem fôlego para prospectar novos mercados. “Temos, também, carência de pesquisas sobre o produto. Já está provado que a erva-mate é boa para a saúde, mas falta ainda um trabalho de incentivo a respeito”, diz ele. Com um consumo per capita de nove quilos por habitante, o Rio Grande do Sul lidera com folga as estatísticas nacionais: cerca de 60 milhões de quilos

são vendidos por aqui anualmente no varejo. São cerca de 100 mil famílias dependendo exclusivamente do plantio da erva-mate, a maior parte pequenos agricultores. O período atual é de desequilíbrio entre demanda e oferta de erva-mate. O preço ao consumidor, que estava em alta desde 2013, caiu neste ano devido, segundo ele, a restrições no orçamento familiar. “As pessoas não estão tomando menos chimarrão, mas a cuia está menor, justamente por motivos econômicos”, conta. Atualmente, acima do Sul do Brasil, o consumo de erva-mate é praticamente inexpressivo. Para ganhar mercado em outras


Foto: Fernando Dias/Seapi

metrópoles, Heck avalia que é preciso alavancas as vendas de chá mate, por exemplo, ou de refrigerante de erva-mate, produto já comercializado no mercado. “Há empresas aqui do Estado desenvolvendo também farinha de erva-mate. Ela pode ser utilizada para bolos e pães”, destaca. Uma outra saída para fomentar o setor é buscar novos mercados no exterior. Cerca de 97% das vendas de erva-mate são direcionadas para o Uruguai, nosso vizinho que tem o hábito do chimarrão. Alguns países, como a Alemanha, compram um pouco. “A Turquia e os países árabes também consomem erva-mate com água quente, podemos ganhar mercado por lá”, destaca o presidente do Sindimate. Outro foco de atenção é incentivar o consumo entre a população mais jovem – o que já vem ocorrendo no Rio Grande do Sul. Segundo Heck, estruturas como universidades e clubes disponibilizam locais para aquecer água e fornecem erva-mate, contribuindo para que o hábito do chimarrão permaneça entre os universitários. Notadamente nas grandes cidades, o consumo entre o público abaixo de 30 anos é menor. “Há casos de estudantes de outros Estados aqui no Rio Grande do Sul que se encantam pelo nosso produto”, completa ele. A Embrapa também realizou pesquisas com erva-mate nos últimos anos. O analista Ives Goulart, da Embrapa Florestas, destaca o sistema de produção Erva20, um programa de transferência de tecnologia que está em desenvolvimento e será lançado no próximo ano. O Erva20 pretende auxiliar o produtor de erva-mate a elevar o patamar de produtividade e qualidade dos ervais. “É uma junção de resultados de pesquisas, já validados, que a Embra-

O RS responde por 45% da produção brasileira de erva mate, estimada em 602 mil toneladas por ano

A erva mate tem mais de 150 princípios ativos, concentra magnésio em suas folhas, um dos elementos responsáveis pela longevidade pa Florestas vem realizando há mais de 30 anos com a erva-mate, e que agora estarão disponíveis de forma organizada e acessível pelos produtores”, explica Goulart. A ideia é adotar ajustes de manejo nos ervais, com soluções tecnológicas, para ajudar a cadeia produtiva a dar um salto para novos mercados. Conforme dados históricos do

Sagrada e milagrosa Sindimate RS, a erva-mate era uma planta sagrada para os índios Quichuas, antecessores dos Incas, que habitavam o Peru. Prova disso é que ela foi encontrada junto aos seus alimentos e túmulos. Para obtê-la, andavam

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3 a 4 mil quilômetros até o sul do Brasil. Tem-se registros de outras tribos do Chile e Bolívia que a permutavam com os aborígenes brasileiros. Seus semelhantes brasileiros, os índios caigangues e guaranis, também a consideravam uma “planta sagrada”, pois dela extraiam alimentos, remédios e estimulantes.No século XVII, chegaram ao Sul do continente os jesuítas da Companhia de Jesus com a missão de catequizar os índios sul-americanos, que viviam no pampa gaúcho, território composto pelos países no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Nas suas pregações, os jesuítas observaram que os índios tinham o hábito de alimentarem-se de uma bebida feita das folhas de uma planta-arbórea – a Ilexparaguariensis, a popular erva mate. Num primeiro momento, os jesuítas a classificaram como a “erva do diabo”, pois perceberam que a bebida daquela planta os deixava agitados e sexualmente mais ativos. De nada adiantou proibir seu uso. Passaram, então, a estudá-la. Suas propriedades atravessaram os mares e espalharam-se pela Europa como “chá dos jesuítas”. Após os jesuítas, os tropeiros, bandeirantes e mascates mantiveram a comercialização do produto, no lombo das tropas de mulas, desde o Rio Grande do Sul até Minas Gerais. No ano de 1804, há registros no Porto de Paranaguá (PR) da intensa exportação brasileira de erva mate em direção a mercados europeus, americanos e principalmente os países do prata. Por volta de 1930, os imigrantes que aportaram a região do Alto Uruguai, russos, poloneses, alemães, italianos, judeus e outros, já tinham aprendido o uso e a lida com esta planta, pois os

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ervais nativos eram abundantes. Assim, surgiram dezenas de empresas familiares, especialmente no município de Erechim e Getúlio Vargas, provocando o crescimento econômico destas comunidades – o chamado Ciclo da Erva mate. Os três Estados do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, reinavam absolutos na produção e comercialização da erva mate. Nosso estado, era o principal produtor e consumidor dos

produtos ervateiros até a década de 1960. Mas, o grande consumo e a exploração predatória de ervais nativos, aliada à intensa exploração madeireira, causou escassez no plantio. Para piorar, na década de 1970, a soja ganhou muito campo já que era vista como mais rentável. A partir de então, em área menor, a produção de erva-mate ganhou em produtividade e segue sendo um dos principais produtos da mesa dos gaúchos.

ERVA-MATE Área Plantada

Produção

Brasil: 77 mil hectares

602 mil toneladas por ano no Brasil

Rio Grande do Sul: 35 mil hectares

-Rio Grande do Sul: 45,8% - 276 mil toneladas

Paraná: 29 mil hectares

Produtividade no Brasil: 8,5 mil quilos por hectare

Santa Catarina: 13 mil hectares

-Produtividade no RS: 9,6 mil quilos por hectare

Exportações - US$ 101 milhões (2015) – maior parte (96%) para o Uruguai (RS responde por 79% do total)

Rio Grande do Sul – principais produtores (2014) 1 – Ilópolis: 59 mil toneladas 2 – Arvorezinha: 50 mil toneladas 3 – Palmeira das Missões: 21 mil toneladas 4 – Anta Gorda: 12,6 mil toneladas 5 – Fontoura Xavier: 11,7 mil toneladas


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SETOR PÚBLICO

Em busca de eficiência

O

Rio Grande do Sul tomou a dianteira e foi o primeiro Estado a anunciar, em novembro, a adesão ao Agro Mais, programa federal lançado pelo Ministério da Agricultura para desburocratizar o agronegócio. Chamada de Agro Mais RS, a iniciativa busca simplificar processos e normas de atendimento do setor produtivo para estimular o crescimento econômico. A finalidade do Agro+RS é diagnosticar os obstáculos na produção agropecuária e apresentar sugestões para melhorar a situação. O fluxo entre a Secretaria da Agricultura e as entidades

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do setor será desburocratizado e modernizado, o que diminui o tempo de resposta do Estado às necessidades do agronegócio gaúcho e tornará mais eficiente os serviços. No lançamento, o secretário da Agricultura, Ernani Polo, afirmou que o Agro Mais RS não vai deixar de lado a sustentabilidade. “Podemos tornar a produção primária mais ágil e menos burocrática, o que, lá na ponta, representa mais geração de emprego e renda para o estado”, enfatizou Polo. As sugestões recebidas serão submetidas à avaliação técnica da Seapi. Assim como foi feito pelo Ministério da Agricultura,

as demandas serão divididas em resoluções imediatas, de 60 dias (que não envolvam legislação); e em 120 dias (quando envolver legislação). No caso de necessidade de um prazo maior (alteração de texto de lei) as mesmas permanecem sob monitoramento pela equipe técnica. As principais demandas recebidas são das áreas de licenciamento ambiental relacionado à agropecuária; sanidade ambiental; sanidade vegetal; inspeção de produtos; fiscalização de atividades; revisão ou adequação de regulamentos e procedimentos. A Seapi já recebeu mais de 200 propostas de melhorias.


Burocracia que emperra investimentos Entre as ações do Agro Mais federal estão a busca de solução para a destinação das cerca de 500 mil toneladas de suínos e aves mortos por causas rotineiras (não por doença), como acidentes e desastres climáticos, nas propriedades rurais. Um grupo de trabalho deverá apresentar soluções para o problema, que envolve meio ambiente, saúde pública e questões trabalhistas. Outra medida adotada foi a alteração da legislação que estabelece a temperatura de -18°C para o congelamento dos cortes suínos. Pela nova regra, a temperatura passou para - 12º C. Isto tem impacto significativo no gasto de energia elétrica, aliviando o custo de produção dos frigoríficos. Por meio do Agro Mais, o Ministério da Agricultura também determinou a dispensa do carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) nas carcaças bovinas, dentro das plantas frigoríficas, sendo mantida apenas a carimbagem para os países importadores que exigem o selo do SIF. A medida vai garantir menos perdas na hora

da limpeza das carcaças e agilidade no processo de produção. De acordo com o vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), José Mário Schreiner, as medidas terão “efeito imediato nos elos das cadeias produtivas”, uma vez que, com as regras atuais, o Estado tendia a “transformar o ato de registro de um produto em uma verdadeira corrida de obstáculos”. “O que se precisa é de capacidade efetiva de fiscalização, e o desafio é construir cooperação sem preconceitos ideológicos”, completou. Os deputados da Frente Parlamentar da Desburocratização também estão empenhados em expandir o Agro Mais. Pelos dados da frente parlamentar, o custo anual da burocracia é de R$ 46 bilhões. No caso do agronegócio, a estimativa do Ministério da Agricultura é que os custos possam ser reduzidos em R$ 1 bilhão.

Menos regras Produtores de arroz, trigo, feijão e mais cinco culturas agrícolas podem aderir, desde novembro deste ano, a normas técnicas específicas para cada uma dessas culturas e aperfeiçoar os métodos de produção. Definidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento, em parceria com as cadeias produtivas e órgão de pesquisa e extensão, essas regras podem reduzir os custos em 35% a partir da racionalização no uso de insumos. “Essas normas vão garantir que os nossos produtos sejam saudáveis, produzidos de forma sustentável, além da garantia de rastreabilidade. Isso é muito importante e já praticado por países como os Estados Unidos e o Canadá”, diz o secretário executivo do ministério, Eumar Novacki. Ele explica que as normas técnicas funcionam como um “passo a passo” para os produtores, com orientações que vão desde a escolha das mudas ou sementes até o cuidado com o arcabouço jurídico relacionado aos aspectos econômicos e ambientais. “Essas regras estabelecem de que forma os produtores podem ser mais eficientes. Estabelecem os critérios de sustentabilidade aos quais ele deve atender e como pode atingir os mercados interno e externo com a rastreabilidade”, acrescenta. Novacki afirma ainda que a meta do Ministério da Agricultura é definir até junho do ano que vem as normas técnicas para todas as culturas consideradas importantes para o Brasil. “Há várias outras culturas a terem normas técnicas definidas. O ministro Blairo Maggi estabeleceu o prazo final para março do ano que vem, mas a ideia é que até o fim do primeiro semestre de 2017 todas as culturas importantes sejam normatizadas.” As normas técnicas assinadas para as 13 culturas estão disponíveis no site do Ministério da Agricultura e também serão repassadas aos produtores interessados por meio de técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que darão assistência in loco.

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PORTO ALEGRE

Verde que alimenta a Capital

M

uita gente nem sabe disso, mas Porto Alegre lidera o ranking dos municípios gaúchos em número de cavalos: são mais de 20 mil, mantidos em criações e em hospedarias da zona Sul da cidade. Esta é apenas uma das faces da zona rural da cidade, a maior parte dela formada por 3,4 mil hectares localizados nos bairros Lami, Lageado e Belém Novo. Isto equivale a 8% do total de 42 mil hectares que compõem a capital dos gaúchos. “É a segunda maior zona rural entre as capitais do Brasil, só perde para Palmas, no Tocantins”, ressalta Antonio Alberto

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Bertaco, coordenador da divisão de fomento agropecuário da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio (Smic). Mas a economia e diversidade da zona rural de Porto Alegre vai muito além dos equinos: das 750 propriedades estabelecidas na região saem boa parte dos hortifrutigranjeiros vendidos nas 53 feiras livres da cidade. Na fruticultura, a região se destaca em pêssegos, ameixas, uvas, laranjas, nectarinas , entre outras. Para uma cidade que tem nos serviços sua principal fonte de riqueza, é espantoso o que a zona rural de Porto Alegre produz. Das 567 mil toneladas negocia-

das no ano passado na Ceasa, por exemplo, 6 mil toneladas são de hortigranjeiros e frutas cultivados na cidade. “Porto Alegre ocupa o 28º lugar entre os 100 municípios do Estado que abastecem a central de alimentos. Quando falamos apenas de folhosas, como alface e rúcula, sobe para o terceiro lugar”, salienta Bertaco. Para tanto, foi essencial a criação, em 2011, do Serviço de Inspeção Municipal Vegetal (SIM Vegetal), inédito no Brasil. O mecanismo fornece acompanhamento técnico para as famílias que produzem e beneficiam produtos vegetais nas agroindústrias da zona rural de Porto Alegre. A


para os turistas que chegam até lá em busca de um passeio a cavalo, por exemplo”, explica Bertaco.

A zona rural

assistência nas propriedades rurais é prestada por especialistas do Centro Agrícola Demonstrativo (CAD). Não há uma estimativa da riqueza produzida pela zona rural, mas Bertaco estima que circulam pela região 30 mil pessoas – entre moradores e trabalhadores contratados. Quanto aos cavalos, são 30 hospedarias que recebem muitos animais cujos donos vivem a 40 quilômetros dali, na área densamente urbana e fervilhante da Capital. Há, ainda, cursos de equitação, comércio de produtos agropecuários, enfim, toda uma gama de atividades que auxiliam no desenvolvimento da equitação no extremo sul da cidade. A atividade também é característica do turismo rural, modalidade que tem ganhado mais importância entre os pequenos produtores da região. “Além de fornecer seus alimentos e produtos nas feiras, o agricultor vende diretamente

Foto: Joel Vargas / PMPA

Antônio Bertaco, coordenador da divisão de fomento agropecuário da SMIC

Tem apenas um ano a nova legislação que redefiniu a zona rural de Porto Alegre. Em 1979 (ano do primeiro plano diretor da cidade) foi demarcada como área rural 30% do território do município. Isso deixou de existir em 1999, com o segundo plano diretor, que extinguiu a zona rural e criou duas divisões: a de ocupação intensiva (urbana) e a de ocupação rarefeita, apelidada de “rururbana”. Com isso, por questões legais, deixou-se de cobraro Imposto Territorial Rural (ITR) e foi cobrado o Imposto sobre Propriedade Territorial Urbano (IPTU) em todo a área de Porto Alegre. Pode parecer apenas uma questão de nomenclatura, mas uma zona

rural legalmente definida permite acesso a modalidades de crédito mais vantajosas e deixa de exigir, por exemplo, licenciamento ambiental para pequenos empreendimentos. A mudança ocorreu em 2015, com a aprovação da nova lei. “Antes, o proprietário de um pedaço de terra na zona sul da cidade precisava cumprir com os mesmos requisitos de licenciamento ambiental de um shopping-center, isso é inviável economicamente”, destaca Antonio Bertaco, da Smic. Há alguns critérios a serem obedecidos. Pela lei, só existe zona rural na cidade se for estabelecida no plano diretor. Esta área, obviamente, deve concentrar propriedades rurais com alguma atividade econômica. E ela não precisa ser contínua. “Na zona Norte, por exemplo, próximo à free-way e à Ceasa, há propriedades com lavoura de arroz e com criação de gado. Elas são consi-

Todos os anos, produtores da zona sul da capital promovem a Festa do Pêssego da Vila Nova

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deradas pertencentes à zona rural”, relata Bertaco. Cleber Vieira, presidente do Sindicato Rural de Porto Alegre, salienta que a mudança na legislação era desejada há 40 anos. “O fato de não ser urbano nem rural nos gerou problemas fiscais. Passamos do ITR para o IPTU. Deixando também de ser rural, abriu espaço para as construtoras se estabelecerem aqui”, reclama ele. Não é permitido construir condomínios em área qualificada como rural, mas Vieira diz que há projetos pedindo a construção, na região, de loteamentos de uso social, o que também não pode, segundo a lei. Há, ainda, a questão das ocupações irregulares. “Na Restinga, muitos terremos já foram invadidos. Falta fiscalização do município também”, diz o presidente do Sindicato Rural de Porto Alegre. Apesar disso, ele se alegra ao dizer que, com exceção de soja e do milho, tem tudo na zona rural da Capital dos gaúchos. “Somos fortes em fruticultura, temos ovelhas, temos búfalos. Tem um agricultor aqui especializado em morangos – são 260 mil pés na propriedade. Mas, por outro lado, devido à insegurança, ele tem que ter vigias, senão roubam a produção”, alerta.

O proprietário de um pedaço de terra na zona sul da cidade precisava dos mesmos requisitos de licenciamento ambiental de um shopping center

A festa do pêssego Encerrou ainda neste mês de novembro mais uma edição da Festa do Pêssego, talvez a mais tradicional celebração da área rural de Porto Alegre. A primeira festa foi organizada em 1984 por um grupo de produtores interessados em ampliar o mercado consumidor e incentivar a fruticultura. Hoje, os pomares de pêssego de Porto Alegre ocu-

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Neste ano, a estimativa de colheita é de 150 toneladas de pêssego


pam 120 hectares da zona rural. Neste ano, a estimativa de colheita é de 750 toneladas, a mesma quantidade de 2013 e 2014. Em 2015, o clima provocou a quebra de quase metade da safra, que alcançou só 400 toneladas de pêssego. Entre as variedades plantadas em Porto Alegre destacam-se as de polpa branca (Premier, Pampeano, Charme e Sulina) e de polpa amarela (Maciel, Granada, Vanguarda e Peach).Os consumidores também podem comprar pêssegos e outras frutas na feira que funciona na praça Parobé, próximo ao Largo Glênio Peres, Centro Histórico.

Turismo ganha força

e flora nativas. “Um dos nossos focos, na associação, é fomentar a preservação ambiental. Para tanto, buscamos qualificação em gestão e procuramos sensibilizar os associados”, afirma Isabel. Todos os associados recebem grupos de pessoas e alguns deles ainda fornecem hortifrutigranjeiros para as feiras ecológicas de Porto Alegre. “Grande parte dos orgânicos que você encontra no Centro da cidade sai daqui. Em vários restaurantes conhecidos também”, destaca Isabel. Segundo ela, o turismo rural surgiu como segunda opção na geração de renda. “Temos também hotelaria de cavalos. Tem muita gente que nem sabe que nós estamos em Porto Alegre, que estamos a uma hora de carro do centro. É mais perto que a praia, uma ótima opção para passeios”, relata. Ela alerta, contudo, para o boom imobiliário da zona sul de Porto Alegre. “Não somos contra a urbanização, mas é preciso infraestrutura. O volume de carros aumentou muito e as estradas seguem iguais”, relata.

Foto: Ricardo Giusti / PMPA

Na zona rural de Porto Alegre, além da produção agrícola, ganha importância o turismo rural. A ideia de aliar a atividade turística à rotina das pequenas propriedades da Zona Sul de Porto Alegre nasceu em mea-

dos da década de 1990, mas de forma isolada pelos empreendedores rurais. Outras gestões municipais também realizaram movimentos para viabilizar o roteiro. Mas só em abril de 2005 o projeto ganhou corpo a partir do inventário turístico da região realizado pela Secretaria Municipal do Turismo em propriedades indicadas pela Emater. A rota foi lançada oficialmente como produto turístico estruturado em novembro do mesmo ano. As atrações incluem desde passeios a cavalo, visitas às criações de animais como ovelhas até almoços nas casas rústicas da região ou mesmo hospedagem para passar a noite apreciando o luar. Isabel Pacheco, presidente da Associação, é dona de uma propriedade de 51 hectares, a Granja Lia. Existente desde 1906, a propriedade desenvolveu, ao longo desses anos, atividades como pecuária e agricultura. Atualmente voltada para o turismo rural, oferece gastronomia, trilhas, espaço para a prática de esportes e observação da fauna

Os hortifrutigranjeiros produzidos na zona sul de Porto Alegre abastecem as 53 feiras livres da cidade

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LEITE

Incremento na produção leiteira

U

m tipo de confinamento que aumenta o bem-estar animal e é utilizado em países de clima temperado está sendo avaliado para as condições brasileiras. A técnica tem chamado a atenção de pecuaristas do País de olho nos resultados ligados ao manejo do rebanho, ao aumento da produtividade e à saúde dos animais. O sistema, conhecido por Compost Barn em inglês, pode ser traduzido livremente como “Estábulo de Composto”. Trata-se de uma alternativa aos sistemas de produção de leite em confinamento denominados free stall, no qual as vacas ficam retidas em baias de poucos metros quadrados, ou tie stall, em que os animais são cria-

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dos, também em baias individuais, presos a correntes. O Compost Barn tem por característica deixar os animais livres no estábulo. Embora continue confinada, a vaca circula à vontade, interagindo com as outras, o que possibilita que ela exercite seus instintos sociais com o grupo e apresente cio com mais facilidade, o que melhora os índices reprodutivos. Esse sistema de produção chegou ao Brasil em 2011, sendo adotado em países como Estados Unidos, Canadá, Holanda e Israel desde meados de 1980. Cerca de 300 produtores brasileiros já optaram pelo Compost Barn, seja adaptando antigos free stalls, seja construindo um novo sistema.

Contudo, falta informação a respeito. Para suprir esta lacuna, a Embrapa Gado de Leite (MG) vem realizando, desde 2014, um estudo sobre o uso do Compost Barn. “Por ser uma tecnologia importada de países com clima temperado, é necessário que verifiquemos sua adaptabilidade às condições tropicais”, diz o pesquisador Alessandro Guimarães, que está à frente dos trabalhos. A principal característica do Compost Barn é a utilização de uma “cama” orgânica cobrindo todo o estábulo. Em função dessa característica, vários outros aspectos de engenharia agronômica foram modificados em comparação aos sistemas de confinamento tradicionais.


As baias, com suas camas de areia ou de borracha, por exemplo, foram abolidas. Em vez do concreto, que prejudica o casco dos bovinos, o piso do estábulo é formado por material orgânico que pode ser serragem e casca de amendoim, ou outro material orgânico que seja de baixo custo e de fácil disponibilidade para o produtor. A cama fica em contato com o solo, com uma altura entre 20cm e 50cm. As vacas fazem suas necessidades biológicas diretamente no material, dando início ao processo denominado “compostagem”, que controla a decomposição de materiais orgânicos. No caso do Compost Barn, os resíduos depositados pelos animais passam por uma semi compostagem aeróbica (em contato com o ar). Para que isso ocorra de forma efetiva, a cama deve estar sempre seca e passar por uma constante aeração, o que é feito por meio de ventiladores e com a escarificação duas vezes ao dia (revolvimento do material com tratores e enxadas mecânicas). O composto é removido e substituído de tempos em tempos. Dependendo do manejo, a cama pode ficar até um ano sendo utilizada no estábulo. Ao substituir por um novo composto, o material velho pode ser vendido como adubo orgânico ou utilizado na propriedade para fertilizar o solo, o que dá ao processo um importante apelo ambiental. Apesar das vantagens, os pesquisadores ainda são cautelosos em relação ao sistema. “Precisamos aprofundar os estudos para dar respostas sólidas aos produtores no que diz respeito à viabilidade econômica, com relação aos custos de implantação e manutenção do sistema”, avisa Guimarães. O custo de implantação do sistema de Compost Barn pode ser

50% mais barato do que um free stall. A expectativa é que o sistema pronto custe algo em torno de R$ 4.500,00 por vaca. Contudo, há outros pontos negativos a serem controlados, como a ele-

vada concentração de bactérias na cama, o que precisa ser bem estudado, e o aumento dos custos com energia elétrica, já que é necessário manter uma boa ventilação no estábulo.

O Compost Barn tem por característica deixar os animais livres no estábulo

Preço em queda Depois de bater os R$ 4,00 em março no varejo, o litro do leite vai fechando 2016 em queda – nas gôndolas, o preço final está abaixo de R$ 2,50. Segundo a Emater-RS, os dias com maior luminosidade e a boa umidade no solo propiciam condições mais adequadas de produção dos campos nativos, favorecendo a oferta de alimento para o rebanho e se refletindo no aumento da produção de leite. De acordo com o Informativo Conjuntural da entidade, as pastagens gaúchas apresentam bom desenvolvimento. O incremento da taxa fotossintética, favorecido pelas condições climáticas, associado ao manejo da pastagem (adubação e piqueteamento), incrementa a produção de massa verde e a oferta de pasto ao rebanho bovino leiteiro.

“Importante destacar que no ano de 2016 tivemos os melhores preços dos últimos anos, no entanto, a maior oferta de forragens aumentou de forma significativa a captação de leite pelas indústrias, que aliada a uma demanda retraída jogou os preços para baixo no terceiro mês consecutivo”, avaliou o diretor técnico da Emater, Lino Moura, em novembro. O que é bom para o consumidor, contudo, causa apreensão no meio rural. O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados do RS (Sindilat), Alexandre Guerra, salientou que o setor vive um momento difícil, onde as indústrias operam sem margem, algumas até no negativo. Em novembro, o preço de referência para o leite no mercado gaúcho ficou em R$ 0,9362, redução de 1,49% em relação a outubro.

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MIX

Ganhos maiores De acordo com a Fundação de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), agricultores que participaram do Programa Estadual de Correção da Acidez do Solo tiveram os rendimentos de suas lavouras de milho aumentados em quase 50%. Em 15 áreas avaliadas, antes da correção do solo, a produtividade era de 3.861 quilos por hectare. Com a adoção da prática, o volume aumentou para 5.671 quilos do cereal. Os dados foram divulgados durante o Congresso Nacional de Milho e Sorgo, realizado em Bento Gonçalves.

Mercado externo Meio ambiente Pesquisa da Embrapa revelou que, hoje, o Brasil tem 11,5 milhões de hectares com adoção do sistema integrado lavoura, pecuária e floresta. Destes, 1,4 milhão estão no Rio Grande do Sul. Segundo os produtores rurais que adotam a estratégia ouvidos pela pesquisa, o principal motivador para utilizar a prática é adequar ambientalmente a atividade devido a exigências de mercado e o interesse em recuperação das pastagens.

Os embarques de carne de frango, no acumulado do ano até outubro, subiram 5% em comparação ao mesmo período do ano passado. A informação é da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Em volume, o total soma 3,7 milhões de toneladas. Quando se analisa a receita, também houve crescimento: elevação de 3,9%, com R$ 20 bilhões decorrentes da venda de frango para o exterior entre janeiro e outubro.

Capacitação cooperativa Os governos do Rio Grande do Sul e da Alemanha começaram a discutir, em novembro, a assinatura de um termo de cooperação técnica para intercâmbio para cooperativas gaúchas. O interesse do governo é criar um protocolo de colaboração para ampliar a capacitação de gestores de cooperativas gaúchas para gestão e auditoria e também para fomentar negócios. O encontro resultou da missão gaúcha à Europa realizada em outubro.

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Sede chinesa A China é o próximo mercado a ser conquistado pelo vinho produzido no Brasil. Em novembro, uma comitiva nacional participou da ProWine China, evento no país asiático a respeito da cadeia vinícola. A projeção é de ampliar o mercado para os vinhos brasileiros num dos países que mais cresce em consumo.Segundo dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), os chineses consumiram 1,6 bilhão de litros em 2015, sendo o 5º

Seguro rural Mesmo com os cortes no orçamento da pasta anunciados no início do ano, em novembro o Ministério da Agricultura anunciou um aumento de R$ 30 milhões para o seguro agrícola destinado à fruticultura. Ao longo deste ano já foram liberados R$ 50 milhões em subvenção aos fruticultores interessados em contratar o seguro rural – somando, no total, R$ 80 milhões.


MIX

Leite premiado

O Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat) promoveu, na noite de 1 de dezembro, seu tradicional jantar de final de ano. O evento, no Hotel Plaza São Rafael, teve entrega de troféus para os Destaques do Agronegócio 2016 e o anúncio dos vencedores do 2º Prêmio Sindilat de Jornalismo nas categorias Impresso, Eletrônico, Online e Foto. Com a matéria Qualidade com mais rigor, publicada na Press Agrobusiness 4, o jornalista Cristiano Vieira recebeu o segundo lugar na categoria Impresso. Caio Cigana, da Zero Hora, com o trabalho Alimento Farto, ficou em primeiro. Solano Linck, do Jornal O Alto Taquari, foi o terceiro agraciado da noite. O presidente do Sindilat-RS, Alexandre Guerra, destacou a importância da imprensa na valorização da cadeia do leite, um dos pilares do agronegócio gaúcho e brasileiro. O troféu, também, reconheceu pessoas e entidades que estiveram ao lado do setor lácteo neste ano. Na categoria agronegócio nacional, foi escolhida a senadora Ana Amélia Lemos. Também foram agraciados o secretário de Desenvolvimento, Fábio Branco (Agronegócio Estadual); o deputado federal Alceu Moreira (Liderança Política); o deputado federal Jerônimo Goergen (Personalidade); o superintendente do Mapa/RS, Roberto Schroeder (Servidor Público); o servidor Roberto Lucena (Setor Público); a Lei do Leite (Inovação); a Emater (Responsabilidade Social); a pesquisadora Neila Richards/UFSM (Pesquisa) e a Cotrilac (Industrial).

Logística insuficiente Principal meio de transporte utilizado no escoamento da safra agrícola, a malha rodoviária brasileira pavimentada ainda é muito pequena quando comparada com outros países. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o Brasil tem 25 km de rodovias pavimentadas para cada 1.000 km2 de área – o que corresponde a 12,3% da nossa extensão territorial. Nos Estados Unidos, são 438,1 km por 1.000 km² e, na China, o indicador chega a 359,9 km.

Soja na frente Nos dez primeiros meses de 2016, a balança comercial brasileira acumulou superávit de US$ 38 bilhões com participação decisiva dos 15 principais produtos do agronegócio que representaram 39% das vendas totais do país no período. Conforme a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a soja foi o produto do agronegócio com maior participação nas exportações entre janeiro e outubro deste ano, 12% do valor total (US$ 18 bilhões). Em segundo lugar está o açúcar, com US$ 6,6 bilhões.

Mercado asiático A Malásia deve ser o próximo destino para bovinos vivos do Brasil. Técnicos do país asiático devem assinar com o Ministério da Agricultura, ainda neste ano, protocolo sanitário para permitir a medida, que tem como foco o abate e a reprodução dos animais. O país asiático está buscando diversificar seus fornecedores de gado vivo. Hoje, os malaios importam cerca de 250 mil cabeças/ano.

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VINHO

Brinde brasileiro mundo afora

D

e janeiro a outubro, gás não faltou nas vendas de espumante brasileiro no exterior. O aumento foi de 36% sobre o mesmo período do ano anterior, conforme informações do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Em valor, o desempenho cresceu 48,7%, atingindo US$ 636,7 mil. Reino Unido, Estados Unidos e Paraguai estão entre os principais destinos do produto. No mercado interno, devido a fatores como quebra de safra e conjuntura econômica, as vendas apresentaram retração de 11,6%, com a negociação de 11,4 milhões de litros. Entretanto, o desempenho comercial de 2016 da categoria apresenta alta de 8,2% em relação à média acumulada nos últimos cinco anos. O último trimestre, que no ano passado concentrou 49,5% das vendas anuais do produto, deve apresentar estabilidade nas comercializações. O presidente do Ibravin, Dirceu Scottá, analisa o cenário de vendas de espumantes em duas frentes. Na primeira, o dirigente destaca o aumento das exportações da bebida para alguns dos países-alvos do projeto setorial da entidade em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o Wines of Brasil, o que demonstra recuperação do fôlego no mercado externo e consolida a imagem do país como um produtor de espumantes de qualidade e identidade reconhecidas.

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tre pode ocasionar num resultado final de vendas semelhante ao registrado em 2015. “As comercializações neste período costumam ser maiores em volume em função das festas de final de ano, o que pode ajudar nesta recuperação das vendas”, estima o presidente do Ibravin. Para efeitos de comparação, em todo o ano passado, foram comercializados 18,8 milhões de litros de espumantes no Brasil, sendo que 9,28 milhões de litros foram efetivados apenas no último trimestre. O vice-presidente do Ibravin e presidente da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), Oscar Ló, também acredita numa recuperação nas vendas de espumantes nos dois últimos meses. O dirigente vê com otimismo o mercado para a bebida, apesar da retração registrada até outubro. “Todos os segmentos apresentaram queda nas vendas, inclusive suco de uva. Mesmo assim, acreditamos num

pequeno crescimento e torcemos para termos uma boa safra para podermos equalizar melhor os custos de produção com o preço na gôndola”, completa. Além de comemorar o aumento nas vendas de espumantes, o setor vitivinícola obteve uma grande vitória em outubro: passou a integrar o Simples Nacional. Além das micro e pequenas vinícolas, a alteração na lei inclui a entrada das microcervejarias e dos produtores de cachaça artesanal. A medida entra em vigor em 2018. O conjunto de medidas que alterou a lei do Simples Nacional, além de incluir o setor vitivinícola, aumentou de 60 para 120 meses o prazo de parcelamento de dívidas tributárias de empresas optantes do sistema. A legislação também esticou de R$ 60 mil para R$ 81 mil o teto anual de faturamento do Microempreendedor Individual (MEI) e elevou o teto do Simples Nacional de R$ 3,6 milhões para R$ 4,8 milhões.

Fotos: Marcos Nagelstein/ Agência Preview

Por outro lado, a queda verificada no mercado interno resulta de uma quebra de 57% na safra da uva, que aumentou os custos de produção e o preço final, e também reflete a crise econômica. “O setor vitivinícola não está descolado da realidade do país e também sofre com o momento conturbado que atravessamos. Nas exportações é cada vez mais visível a nossa vocação para espumantes e a ótima aceitação dos mercados”, relatou. Scottá também valoriza o grande número de premiações – de 2010 a 2015, foram mais de 1,3 mil medalhas em concursos internacionais para os espumantes brasileiros –, a divulgação na mídia e os investimentos das vinícolas em tecnologia que têm priorizado a elaboração da bebida para o resultado das exportações. Apesar da retração no mercado interno, o fato de grande parte do volume de espumantes serem comercializados no último trimes-

De janeiro a outubro as vendas de espumante brasileiro para o exterior aumentaram 36% em relação ao mesmo período do ano passado

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ALIMENTOS

Contra a perda e o desperdício

C

erca de 30% de tudo o que se produz vai fora, seja por meio da perda no transporte ou desperdício dos alimentos. O tema, segundo a Embrapa Agrobiologia (RJ), é preocupante uma vez que mostra-se como desafio para a produção de alimentos, ainda que ocorram seguidos aumentos na produtividade das culturas. Segundo o pesquisador Marcos Fonseca, perda e desperdício são coisas diferentes. A primeira refere-se à perda no processo de produção, pós-colheita, armazenamento e transporte, enquanto o segundo está diretamente relacionado com o varejo e com hábitos de consumo. O Brasil saiu do mapa da fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) em 2014, o que significa que tem menos de 5% da população em situação de fome. Isso, no entanto, não quer dizer que não haja o problema no País: 3,8% da população ainda não têm acesso à alimentação adequada, ou seja, mais de 7 milhões de pessoas. A redução das perdas e do desperdício não melhoraria esse índice diretamente, pois não implica, necessariamente, na redução da fome, mas é um importante fator econômico. “Haveria maior oferta, redução no preço e mais acesso aos alimentos”, avisa o pesquisador, que completa: “Alimento, há. O desafio é fazer chegar a quem precisa.”

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Cerca de 30% de tudo o que se produz no Brasil vai fora

De acordo com ele, há medidas simples que podem ser implantadas para minimizar as perdas e o desperdício. No caso da primeira, as dicas referem-se, sobretudo, ao período pós-colheita: fazer colheita cuidadosa, selecionar e classificar bem os alimentos, manter o mínimo de movimento da lavoura para a casa de embala-


A Taioba (acima) e a Ora-pro-nobis (abaixo) são alguns dos vegetais que já fizeram parte da mesa dos brasileiro

gem, aplicar refrigeração adequada e armazenamento compatível. Quanto ao desperdício, Fonseca destaca uma necessidade de mudar a cultura entre os consumidores. “Planejar as compras e comprar somente o que for ser consumido, levar sobras alimentares de restaurante para casa, evitar a cultura da fartura e aprender receitas para aproveitamento de partes de alimentos não usadas são medidas simples que já fazem a diferença”, pontua. No caso da logística, a deficiência na infraestrutura de rodovias e portos do Brasil causa perdas anuais estimadas em R$ 3,8 bilhões, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT). Este valor corresponde a algo próximo de quatro milhões de toneladas de soja. Conforme a CNT, além de estradas deterioradas por todo o país, as distâncias entre as regiões produtoras e os terminais de exportação dos grãos são enormes. Ainda de acordo com o estudo, do Centro-Oeste aos portos do Sul e Sudeste do Brasil, as distâncias percorridas por caminhões passam de 2000 quilômetros, o que facilita as perdas no transporte.

Plantas não convencionais Quando se avalia a questão alimentar além do desperdício na colheita e no transporte, um outro universo de possibilidades surge no campo. Cerca de 90% do alimento mundial vem de apenas 20 espécies de vegetais – entre eles, os conhecidíssimos milho, soja, arroz, tomate etc. Mas existem ainda hortaliças e plantas raramente utilizados na cozinha e que são muito benéfi-

cos à saúde, além de representar um novo nicho de mercado para a agricultura. Ora-pro-nobis, serralha, taioba, capuchinha e bertalha. Os nomes podem parecer estranhos para os mais jovens, mas estes vegetais já fizeram parte da mesa de muitos idosos em outras épocas. Estes são apenas algumas das plantas alimentícias não convencionais, ou simplesmente, PANCs. Elas crescem espontaneamente em qualquer ambiente. Sua alta resistência faz com que sejam encontradas em quase todos os lugares, pois são nativas de cada região. Muitas PANCs não são utilizadas por falta de conhecimento da população. Algumas até são bem conhecidas, como a ora-pro-nobis, utilizada na culinária mineira. No Rio Grande do Sul, alguns chefs incluíram, em seus restaurantes, pratos que utilizam as PANCs entre os ingredientes. As PANC podem ser referir a partes das plantas (frutos, folhas, flores, sementes etc) que podem ser consumidas pelo homem, cruas e/ou após preparo culinário. O termo também inclui ‘partes não convencionais de plantas comuns’, como, por exemplos, o uso das folhas de batata-doce e do mangará (coração) da bananeira em receitas. Estas plantas têm potencial para complementar a alimentação, permitindo uma diversificação dos cardápios e atuando, também, no incremento da renda familiar – é possível, por exemplo, transformar partes das PANCs em produtos processados, como geleias, farinha e pães. O tema ainda é pouco conhecido, mas essencial quando se fala em diversificação da produção agrícola e alimentação de uma população que não para de crescer.

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BALANÇO

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A caminho da recuperação

Q

uando o tema é balanço do ano ou perspectivas da próxima safra, sempre há algum indicador que pode ainda mudar – devido a resultados ainda não contabilizados da colheita, por exemplo – ou mudanças inesperadas na economia. O que continua sendo unanimidade é que o agronegócio, no Brasil, ainda é o fiel da balança que impede uma queda maior no PIB, tanto nacional quanto estadual. Antonio Luz, economista do Sistema Farsul, avalia que 2016 se comportou dentro do esperado pela entidade quando o assunto é safra de grãos. A expectativa era uma pequena redução, cerca de 2,4%, na produção, mas foi de 1,2% no ano. Segundo ele, isso ocorreu devido ao desempenho melhor que o esperado da soja: a queda na colheita foi pequena e ficou concentrada em municípios da zona Sul, como Arroio Grande, Jaguarão e Piratini. O arroz, ao contrário, teve um ano difícil. “As perdas foram grandes, como já sabemos”, relata Luz. Para o próximo ano, Luz destaca que, mais do que o ambiente político, o econômico é decisivo quanto o tema são investimentos e produção agrícola. “Se não houver recursos disponíveis, se não houver uma taxa de juros decente, não tem como investir. O preço das commodities também é algo merecedor de atenção”, avalia. Luz concorda que os últimos meses de 2016 apontam um certo otimismo econômico após a mudança de governo. “Mas esse otimismo não é só do agronegó-

cio, é dos agentes econômicos em geral. O país estava indo para o abismo, com políticas econômicas que não dão certo em lugar nenhum do mundo”, lamenta. O economista da Farsul chama a atenção para o seguro rural – segundo ele, a política agrícola que mais beneficia o produtor. Ao mesmo tempo, é a que mais sofre cortes. “São necessários, no mínimo, R$ 2 bilhões por safra para atender às necessidades do seguro agrícola”, conta. Neste ano, o governo federal disponibilizou apenas R$ 400 milhões para a subvenção. Frente ao cenário econômico de cautela, o Banrisul permanece atento ao mercado e ajusta suas projeções conforme se confirma o desempenho no campo. “Com o PIB nacional caindo cerca de 7% no total dos últimos dois anos, procuramos ajustar nossa carteira de crédito. Nos direcionamos mais para os pequenos negócios, pois a inadimplência cresceu entre o grande produtor”, explica Oberdan Almeida, diretor de crédito do Banrisul. O Banrisul preferiu qualificar a carteira de crédito e manter os resultados do que necessariamente aumentar o volume contratado e perder em qualidade. Ano passado, o projetado para 2016 entre crescer 4% no total. Contudo, a perspectiva foi revisada e o banco espera, agora, finalizar o ano com uma redução de até 4%. Somente na pessoa jurídica, o crédito deve cair até 19% em volume contratado. Por isso é que, nos resultados até setembro, a carteira de crédito do Banrisul encolheu 3,4%

quando comparado ao mesmo mês do ano anterior e somou R$ 30,1 bilhões. O crédito rural, com R$ 2,4 bilhões em contratos, representa 8,1% do total. “A nossa ideia é permanecer com os contratos do agronegócio neste patamar, chegando até 8,5%” avalia Almeida. A retomada na contratação dos novos recursos do plano safra 2016-2017 já se percebe no Banrisul. “Disponibilizamos ano passado R$ 1,9 bilhão para o plano safra e, no plano safra atual, temos R$ 2,1 bilhões. Nosso objetivo é contratar, no mínimo, 95% deste total até dezembro com uma meta, quem sabe, de chegar aos 100%. Acreditamos sim na retomada econômica”, explica o diretor de crédito do banco.

A expectativa era de que a safra de grãos cairia 2,4% este ano, mas ela caiu apenas 1,2%. Entre os motivos para essa queda menor está o desempenho da soja

Odir Zalamena, superintendente de negócios rurais do Banrisul, salienta que os pequenos produtores são os maiores tomadores de financiamentos agrícolas na instituição. “Eles representam, hoje, cerca de 60% do volume contratado”, diz. Essa característica, segundo ele, decorre também por uma questão de limites imposta pelo Banco Central para financiamentos com recursos

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próprios. “Claro que atendemos também o grande produtor”, avisa Zalamena. Quanto aos grãos, Zalamena salienta que as perspectivas são positivas. No caso do milho, se verifica um incremento entre 3% e 5% na safra a partir do aumento de volumes alocados para essa cultura. “Isso é um reflexo do problema da estiagem no Centro-Oeste, que prejudicou a safra deles, e também do aumento dos estoques. Há uma demanda muito forte do milho aqui no Rio Grande do Sul, principalmente como matéria-prima para ração de animais”, completa.

Em 2016, o governo federal disponibilizou apenas R$ 400 milhões para o seguro agrícola, quando o mínimo necessário seriam R$ 2 bilhões

Estes fatores são importantes no planejamento do banco e responsáveis por uma estimativa, para 2017, de crescimento de 5% nos negócios. “O agronegócio tomou corpo de uma maneira que ele é fundamental para o Estado e para o Brasil. Se não fosse por ele, o desempenho do PIB, que não é bom, seria pior ainda”, relata Zalamena. Para Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), o momento atual é inédito no Rio Grande do Sul: são quatro safras consecutivas

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A soja continua muito atrativa, representando 46% da produção das cooperativas do RS sem grande seca – houve, segundo ele, uma perda no arroz neste ano, mas, mesmo assim, o cenário é positivo. “A soja, a principal cultura hoje presente nas cooperativas, com 46% do total, mesmo não tendo aquele preço que o agricultor sonha, ainda é muito atrativa”, avalia. Apesar disso, Pires salienta que os estoques de soja estão grandes porque muitos produtores seguraram a safra à espera de preços melhores. E o que o setor precisa, hoje, é abrir espaço para as

colheitas de outros grãos, como milho e trigo. “Hoje, temos cerca de 2 milhões de toneladas de soja guardadas no Rio Grande do Sul. Isso mostra, também, que foi um ano bom, em geral, para a produção de grãos”, destaca Pires. A forte alta que o milho registrou no último ano, com a saca chegando aos R$ 50,00, segundo o presidente da Fecoagro, serviu para chamar de volta aquele agricultor que tinha desistido da cultura. “Ainda é pequeno o crescimento de área no milho,


ram de preço no mercado internacional. O que ocorreu sim, segundo ele, foi uma elevação em itens como mão de obras e energia, repercutindo nos resultados das cooperativas. Outro ponto negativo é a escassez de crédito, com os empréstimos a juros altos. “Mas, dentro deste contexto, acredito que as cooperativas devem fechar o ano com crescimento, superando os R$ 22 bilhões em faturamento registrados em 2015”, relata.

As cooperativas devem fechar o ano com crescimento, superando os R$ 22 bilhões em faturamento registrados em 2015

A forte alta que o milho registrou no último ano, com a saca a R$ 50,00, serviu para chamar de volta o agricultor que havia desitido desta cultura mas pelo menos deixou de cair. Isso já é muito bom para o setor”, diz. Segundo a Emater, a área cultivada com milho deve crescer 8,9% na safra 2016-2017 – são cerca de 806 mil hectares com o cereal, com uma produção total de 4,9 milhões de toneladas. Na safra passada, a área era de 740 mil hectares. O trigo, por sua vez, vem de dois anos de fortes perdas – neste ano, a área plantada reduziu 18% no Rio Grande do Sul, somando 780 mil hectares. A pro-

dução deve somar 2,2 milhões de toneladas do grão. O cenário de comercialização, segundo o presidente da Fecoagro, é complicado. “Existe um excedente forte de trigo no mundo, com aumento de produção na Argentina. Hoje estamos no aguardo de medidas do governo federal para se conseguimos garantir, pelo menos, um preço mínimo para o produtor”, avalia Pires. O custo em geral para o produtor não subiu muito em 2016, porque os fertilizantes baixa-

Para o futuro, Pires aposta nas ferramentas de autogestão para incrementar os desempenhos das cooperativas agropecuárias. O exemplo vem das cooperativas do Paraná, que desde os anos de 1990 implementaram o projeto e obtêm bons resultados. Pelo sistema, as cooperativas mantêm suas individualidades, mas apresentam um crescimento conjunto, além de fortalecer a transparência na organização junto aos associados. “Este é um programa de construção.Se a cooperativa não vai bem ela não pode ajudar o produtor. Estamos buscando a profissionalização das cooperativas em seu dia a dia para que elas sejam cada vez mais competitivas em um mercado tão difícil”, observou.

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LATICÍNIOS

Bem-estar no consumo do leite

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cupando espaços cada vez maiores nos supermercados, os produtos autoproclamados zero lactose viraram um importante nicho comercial para os grandes laticínios. Leite UHT, iogurtes, queijos, creme de leite, entre outros alimentos, são produzidos tendo como foco as pessoas que têm algum tipo de intolerância, em maior ou menor grau, ao açúcar do leite, a conhecida lactose. É um universo estimado em quase 50% da população brasileira, segundo estimativas da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Formado pela união de galactose mais glicose, a lactose é um açúcar

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presente no leite e seus derivados. Esses produtos são amplamente utilizados na alimentação humana, estando presentes em quase toda refeição. Para processar – ou “quebrar” – a lactose no sistema digestivo, é necessário que uma enzima, chamada lactase, entre em ação. A falta dela causa a intolerância à lactose. O corpo humano produz a enzima lactase para ajudar na digestão do leite. Porém, na idade adulta, o corpo pode passar a produzir menos lactase quando comparado à infância, o que pode aumentar a probabilidade de um indivíduo apresentar intolerância à lactose. Por esta lógica, crianças sofrem

menos intolerância ao leite que adultos. Como alternativa, a indústria de alimentos desenvolveu os produtos zero lactose. Embora o consumidor seja levado a crer que um iogurte desta linha, por exemplo, seja livre de lactose, isso não ocorre: na verdade, é adicionada lactase na fórmula para que a lactose do leite ou do requeijão seja bem absorvida pelo organismo. “A Agência Nacional de Vigilância Sanitária permite esta adição. Este processo não causa males ao sistema digestivo e o leite não perde suas propriedades nutritivas”, avisa a nutricionista Vera Lisboa. Mas por que os fabricantes não


consumidores, avisa a nutricionista, é que pessoas que buscam uma dieta de redução de peso estão comprando derivados zero lactose. Estes produtos ainda contêm os açúcares e gorduras presentes no leite e são indicados para quem tem intolerância à lactose, não para quem deseja emagrecer. Aí sim, as alternativas são os leites desnatados ou com redução de gordura. Os produtos zero lactose, em um comparativo atual, são um dos nichos de mercado mais promissores que existem para a indústria alimentícia – junto com os produtos sem glúten, outra vedete do mercado. “São alternativas para uma vida com melhor bem-estar. Há 30 anos, as pessoas faziam em casa um pão sem glúten porque não existia, usando uma farinha diferente. É todo um mercado que se abriu para atender à população”, avalia a nutricionista.

Nutricionista Vera Lisboa

retiram simplesmente a lactose durante o processo de industrialização? Primeiro, porque o custo é muito alto e inviabilizaria a colocação, no mercado, de produtos zero lactose com preços relativamente atrativos para a maioria da população. Em segundo lugar, a lactose é um açúcar e, portanto, suas propriedades são muito importantes para o leite. “Este açúcar é o que dá aquele aroma doce do leite quando ele é fervido, por exemplo. Também ajuda a manter o sabor do leite. Se você retirar simplesmente a lactose altera muito o resultado final do produto”, destaca Vera. A confusão que ocorre entre os

Por dentro da intolerância à lactose O principal carboidrato presente no leite é o açúcar lactose. Esse açúcar contribui para o aumento da absorção intestinal de cálcio, magnésio e fósforo presentes no leite, assim como atua na utilização de vitamina D pelo organismo. Esses nutrientes são importantes para o metabolismo ósseo. A intolerância à lactose é um tipo de sensibilidade alimentar. Quem sofre deste problema tem deficiência da enzima lactase, necessária para “quebrar” ou processar a lactose no intestino. Isso acaba causando distúrbios gastrointestinais. A sensibilidade à lactose pode variar desde uma má digestão (digestão incompleta da lactose de-

vido à baixa atividade da enzima lactase) até a intolerância, quando ocorrem alguns distúrbios gastrointestinais após o consumo de uma quantidade de lactose maior do que aquela que o corpo pode digerir e absorver. A intolerância também pode ser confundida com outras doenças. Ela não é a mesma coisa que a alergia ao leite de vaca, situação em que o sistema imunológico desencadeia algumas reações alérgicas ao produto. Essas alergias estão relacionadas com as proteínas do leite e não com o sistema digestivo, como ocorre com a intolerância à lactose. Algumas pessoas percebem os efeitos da intolerância logo após a ingestão de pequenas quantidades de lactose, enquanto outros têm um limite mais elevado e é mais difícil de perceber a relação causa-efeito. Há, ainda, casos de consumidores que toleram queijo e iogurte perfeitamente – estes derivados passam por processos de fermentação e sofrem ação de bactérias. “No caso do iogurte, boa

Para processar – ou “quebrar” – a lactose no sistema digestivo, é necessário que uma enzima, chamada lactase, entre em ação

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parte da lactose se transforma em ácido lático, o que ajuda na absorção do produto. Ele perdeu quase 90% da lactose original”, explica Vera.

O que fazer em casos de intolerância? Para o consumidor, é importante buscar auxílio médico ou com nutricionista para identificar a intolerância por meio de exames e, após, montar um esquema alimentar com alternativas de redução de lactose na dieta. As alternativas: - Produtos zero lactose: há uma infinidade deles no mercado, desde leites UHT (em caixinha), passando por iogurtes, queijos, creme de leite, requeijão e leite condensado. - Dieta balanceada: alimentos sólidos, como cereais e frutas, podem ser consumidos em conjunto com o leite, pois ajudam a reduzir a velocidade da digestão e contribuem para que o corpo tenha mais tempo para digerir a lactose. - Incluir queijos e iogurtes na alimentação: estes derivados já passaram por processos de fermentação e têm baixo teor de lactose. - Adição de lactase: o consumidor pode adicionar lactase nos alimentos ou, ainda, ingerir a enzima em formato de medicamento. As alternativas existem no mercado e devem ser procuradas com auxílio de profissionais da saúde.

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Os produtos zero lactose são um dos nichos de mercado mais promissores que existem para a indústria alimentícia


Embrapa produz queijo probiótico O consumidor do Rio de Janeiro será o primeiro a provar um queijo probiótico fabricado com leite de cabra. Desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Agroindústria e da Embrapa Caprinos e Ovinos, o queijo, do tipo boursin, é inédito no Brasil e deve chegar ao mercado a partir do ano que vem. O queijo boursin é conhecido na França como um triplo-creme, de sabor sutil e consistência cremosa. O queijo probiótico de leite caprino é um produto de coagulação mista elaborado com coalho para queijo e bactérias do tipo Bifidobacterium animalis e Lactobacillus acidophilus. Por ser produzido com leite de cabra e não ser adicionado de creme, ele possui um percentual menor de gordura e lactose e níveis elevados de proteína e aminoácidos essenciais. O maior desafio tecnológico da equipe de pesquisa foi manter elevada a quantidade das bactérias probióticas até o momento do consumo. “Os queijos são considerados bons veículos para bactérias por apresentarem menor acidez e maior teor de proteínas. Fizemos testes com os queijos caprinos, que indicaram a sobrevivência das bactérias benéficas à saúde nas concentrações preconizadas internacionalmente. O produto atende às exigências para produtos probióticos”, conta a pesquisadora Karina Olbrich, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, que há mais de uma década se dedica ao desenvolvimento de produtos lácteos caprinos. O queijo caprino boursin é somente um dos produtos derivados do leite de cabra com carac-

O queijo Boursin possui um percentual menor de gordura e lactose, e nível elevado de proteínas e aminoácidos essenciais terísticas probióticas elaborados a partir de tecnologias da Embrapa. No portfólio da empresa estão diferentes tipos de queijos e bebidas lácteas deste tipo, como o queijo Minas Frescal

probiótico, queijo do tipo coalho adicionado de lactobacilos, leite caprino probiótico fermentado com suco de uva e bebida láctea probiótica à base de polpas de goiaba ou graviola.

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TRIGO

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Pão em franco crescimento

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asta olhar para o balcão de qualquer padaria hoje no Brasil para identificar uma profusão de cores, aromas e sabores em produtos de panificação. A indústria de farinhas desenvolve novos produtos pré-prontos ou já com fermento adicionado, por exemplo, dando mais praticidade tanto ao consumidor quanto às pequenas padarias. Essas novas delícias fazem companhia ao mais tradicional produto encontrado em panificadoras, o famoso pão francês. É um mercado em franco crescimento. Conforme dados da Associação Brasileira do Trigo, o Brasil produz 8 milhões de toneladas anuais de farinha. Quase 60% deste total são consumidos em panificação – 15% são destinados à produção de massas, 10% para biscoitos e outros 10% ficam para o consumidor final. No total, são 200 moinhos produzindo farinha no País. O Rio Grande do Sul é o quarto maior mercado de padarias, com 7,4 mil unidades, desde pequenas e médias. A vedete é mesmo o pãozinho francês – ou cacetinho, carinhosamente chamado pelos gaúchos – ele consome 46% da farinha adquirida pelas padarias. O restante é utilizado na produção de bolos, doces e biscoitos. Um dos mais tradicionais moinhos gaúchos pertence ao Grupo Estrela. Com quase 50 anos, a empresa inaugurou, em setembro passado, uma nova fábrica, ao custo de R$ 28 milhões, dedicada somente aos produtos da linha Panfácil. Ela ocupa um espaço de 15 mil metros quadrados junto à área do

moinho, que tem 30 mil metros quadrados. No total, são 45 mil metros quadrados no complexo industrial. Dali sairão produtos congelados e pré-prontos. A linha Panfácil conta com 70 itens. “O foco é atender aos pequenos mercados, padarias, enfim, ao varejo que busca agilizar sua produção”, relata Gerson Pretto, diretor industrial do Moinho Estrela. Ao longo dos últimos quatro anos de planejamento até a inauguração da unidade de congelados, os executivos e os sócios do Grupo Estrela, que vai completar 50 anos em 2017, confirmaram tendências que já eram percebidas por eles no Brasil e no exterior. “Produzir alimentos com eficiência nos processos e sem elevar custos é um desafio enorme”, completa Jaime Pretto, do Grupo Estrela. O Grupo Estrela consolidou faturamento de R$ 270 milhões em 2015 e projeta crescimento

de 10% em 2016. Hoje, 650 colaboradores diretos e 100 indiretos atendem as quatro empresas: Moinho Estrela (indústria de moagem de trigo com atuação nacional nos segmentos industrial, panificação e varejo), Panfácil (pães e lanches congelados), Mesasul (fornecimento de cestas básicas, produtos de alimentação e higiene para órgãos públicos e privados) e Presete (empresa do segmento imobiliário).

Mais sobre a farinha De acordo com a Associação Brasileira do Trigo, o processo de moagem do grão do trigo dá origem, em média, a 75% de farinha e 25% de farelo. Atualmente, há no mercado uma grande variedade de farinhas de trigo refinadas brancas e amarelas (especiais), farinhas integrais (grossa e fina), farelo, fibra, gérmen, flocos, grão inteiro e triguilho (grão triturado, usado no preparo de quibes saladas, por exemplo). A mais usada no Brasil é fari-

O Grupo Estrela consolidou o faturamento de R$ 270 milhões em 2015, e projeta crescimento de 10% em 2016

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nha Tipo 1 ou especial, produzida a partir da moagem do miolo do grão com um mínimo de farelo da casca. A do Tipo 2, é extraída da parte mais externa do grão do trigo (próxima da casca), apresenta uma coloração mais escura e amarelada, possui grãos mais grossos e absorve menor quantidade de água. Já a farinha integral é feita a partir da moagem do grão completo, por isso tem alta quantidade de fibras que promove maior absorção de água.

A planta da Samrig em Esteio, foi inaugurada em 1958, com capacidade de esmagamento de 45 mil toneladas de soja/ ano

O Brasil produz 8 milhões de toneladas anuais de farinha. Quase 60% deste total são consumidos em panificação

Todos esses produtos são destinados à fabricação industrial e artesanal de pães, massas e biscoitos e, também, ao segmento doméstico.

História de quase 90 É preciso voltar 87 anos no tempo para recontar a história de uma das mais antigas empresas da área de moinhos do Rio Grande do Sul, a Samrig. Absorvida pelo grupo Bunge mais tarde, a Samrig chegou a ser uma das maiores compradoras de trigo para produção de farinha do Brasil, além de atuar no esmagamento de soja, produção de óleo e margarina.

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O prédio do Moinho Porto Alegre, inaugurado em 1891 na região da Voluntários da Patria, foi declarado patrimônio histórico da cidade A Sociedade Anônima Moinhos Rio Grandenses (Samrig) surgiu em 1929 após a fusão de duas companhias moageiras: a S.A. Grandes Moinhos do Sul, que já contava com a participação da Bunge, e a Viúva Albino Cunha e Cia. Neste mesmo ano, o presidente Getúlio Vargas concedeu à Samrig uma autorização para o funcionamento do Moinho Porto Alegre em um prédio inaugurado em 1891, na zona Norte da

Capital, região da Voluntários da Pátria. Sua construção é de tal valor arquitetônico que, no ano de 1983, foi declarada patrimônio histórico da cidade por decisão da prefeitura municipal de Porto Alegre. No final da década de 1920, o Moinho Porto Alegre tinha uma capacidade produtiva diária de 100 toneladas de farinha de trigo de qualidade superior. Após a Segunda Guerra Mundial, a Samrig, cujos planos de


numa época em que a soja estava apenas começando a se firmar no agronegócio brasileiro –, a empresa torna-se uma das maiores incentivadoras da oleaginosa.

O Moinho Estrela emprega 650 colaboradores diretos e mais de 100 indiretos

O RS é o quarto maior mercado de padarias do Brasil, com 7,4 mil unidades estabelecidas evolução industrial exigiam uma participação maior que apenas moagem de trigo e fabricação de rações balanceadas, acreditou nas possibilidades da soja. Embora tenha iniciado como moinho de trigo, nas últimas décadas o foco da Samrig eram os derivados da oleaginosa. Quando a produção cresceu a ponto de ser aproveitada industrialmente, a Samrig já estava preparada. No início dos anos 1950, foi iniciado o projeto da

construção de sua planta em Esteio. A unidade foi inaugurada em 1958, com uma capacidade de esmagamento na ordem de 45 mil toneladas de soja/ano, sendo o maior parque industrial integrado de processamento de soja da América do Sul. Naquele ano, a empresa lança o óleo de soja Primor, produto que primeiro conquista a liderança de mercado na Região Sul e aos poucos chega ao restante do País. Para dar suporte ao produto –

A Samrig surgiu em 1929 após a fusão de duas companhias moageiras: a S.A. Grandes Moinhos do Sul, , e a Viúva Albino Cunha e Cia.

Em 1960, a Samrig lança a margarina Primor. Encontrada inicialmente apenas no Rio Grande do Sul, logo se torna o carro-chefe da empresa, em menos de um ano atingindo os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro e, pouco depois, o restante do País. A marca Samrig deixaria de existir oficialmente em 1994, quando o grupo Bunge decide unificar as operações de moinhos e derivados na subsidiária Santista Alimentos. A planta de óleos de Esteio representou um marco dentro do capítulo da utilização da soja no Rio Grande do Sul e no Brasil, tanto sob o aspecto de incentivo à lavoura como de difusão de seus produtos derivados. Em julho de 2003, as instalações de produção de trigo do Moinho em Porto Alegre foram transferidas para Canoas. Atualmente, a fábrica de Esteio ainda trabalha no processamento de soja e pertence ao grupo norte-americano Du Pont.

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AGROINDÚSTRIA FAMILIAR

Mais renda no meio rural

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e o caminho para sair da informalidade já é conhecido para quem mora nas cidades, quando as microempresas estão no campo a realidade é outra. Ainda há muito por fazer, mas, a partir de iniciativas do governo do Estado e do Sebrae, as agroindústrias do interior gaúcho buscam a regularização como premissa para atingir novos mercados. “O empreendedor quer sair da informalidade por mais oportunidade de mercado. Ele vai melhorar esteticamente a embalagem, fazer um rótulo diferente, criar uma marca, entre outros pontos”, explica Fabiano Nichele, técnico em agronegócio do Sebrae-RS. A iniciativa toca num ponto importante da agricultura hoje: como manter o homem no campo e ainda promover qualidade na renda? Segundo o governo do Estado, processar e comercializar a própria produção torna as famílias independentes de grandes complexos industriais. Permite, assim, qualificar a renda no meio rural. Uma das grandes alavancas de

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formalização para as pequenas agroindústrias do Estado é o Programa Estadual da Agroindústria Familiar (Peaf), gerido pela Secretaria do Desenvolvimento Rural e operacionalizado pela Emater. Por meio do selo Sabor gaúcho, as agroindústrias que integram o Peaf podem participar de feiras como a Expointer e a Expodireto, além de terem acesso a linhas de crédito específicas e a noções de gestão para incrementar seus negócios. No caso de feiras agropecuárias como a Expointer, os empreendedores interessados passam por processo seletivo seguindo critérios definidos em regulamento pelas comissões organizadoras, compostas por SDR, Emater, proponentes das feiras e entidades representativas dos agricultores. O governo do Estado costuma custear os espaços de exposição para Expointer e Expodireto, fomentando assim o empreendedorismo rural. Atualmente, estão cadastradas no Peaf 2.767 agroindústrias –

destas, estão inclusas 945. A inclusão ocorre após as microempresas já cadastradas cumprirem etapas como observância à legislação ambiental e critérios de sanidade animal e vegetal. Mas ainda há muito mais por fazer: levantamento da Emater indica que o universo de pequenos estabelecimentos rurais no Rio Grande do Sul é de 74 mil agroindústrias. “São produtores de queijos, doces, embutidos, aguardente, por exemplo”, relata Nichele. Para sair da informalidade, conforme o tipo de microempresa rural – produto animal ou vegetal, por exemplo – é preciso cumprir uma série de requisitos, que vão desde licenciamento ambiental, caso necessário, até normas para acondicionamento dos produtos e rotulação das embalagens. “A gente leva para esse pequeno produtor, também, a tendência da segurança alimentar, o cuidado na manipulação do produto. Também os orgânicos, hoje, são um importante mercado”, destaca o técnico do Sebrae-RS.


O QUE É ASSUNTO

NO MERCADO VIRA CONTEÚDO NA

PRESS AGROBUSINESS.

SAIBA MAIS EM REVISTAPRESS.COM.BR/AGROBUSINESS



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