Amazônia 123

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Ano 17 Número 123 NOVEMbro/2023 R$ 29,99 €

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SELO VERDE BRASIL 2023, ANO DE EXTREMOS RECORDES 26º 26 º FÓRUM DOS GOVERNADORES DA AMAZÔNIA LEGAL capa individual6.indd 1

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PLANO SAFRA

2023/2024 - O MAIOR DA HISTÓRIA

O Brasil com força para crescer CONHEÇA OS INCENTIVOS QUE DÃO FORÇA PARA O PRODUTOR E FAZEM O BRASIL CRESCER COM SUSTENTABILIDADE. Mais recursos de custeio para o médio produtor. Investimento em máquinas com taxa de juros de 10,5% a.a. (Pronamp). Renovagro: financiamento para recuperação de áreas naturais. Redução nas taxas de juros para quem tem práticas sustentáveis. Mais investimentos para a construção e ampliação de armazéns.

Acesse gov.br/ planosafra e saiba mais

MINISTÉRIO DA A G R I C U LT U R A E PECUÁRIA

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EXPEDIENTE PUBLICAÇÃO

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O Brasil está próximo de criar um mecanismo para fortalecer a competitividade dos produtos e serviços obtidos com baixa emissão de carbono. O governo federal prepara o programa Selo Verde Brasil, uma certificação única a ser elaborada para reconhecimento das práticas responsáveis e que atendam aos requisitos socioambientais exigidos pelos mercados globais em todo o ciclo de vida da produção. Uma minuta do decreto que institui o Selo Verde Brasil foi colocada para

26º FÓRUM DE GOVERNADORES DA AMAZÔNIA LEGAL

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ECONOMIA VERDE É DEBATIDA DURANTE CONGRESSO BRASIL COMPETITIVO 2023 O Movimento Brasil Competitivo (MBC) reuniu em São Paulo, na sexta-feira (27/10), lideranças importantes dos setores público e privado para debater o papel do Brasil na economia verde mundial. Indo ao encontro com diversas iniciativas em pauta no país, como a transição energética e a descarbonização, o Congresso Brasil Competitivo 2023, trouxe luz e destaque para ações essenciais e urgentes para o avanço da agenda. Promovido pelo MBC...

“PAREM COM ESSA LOUCURA”

Os telhados do mundo estão desabando”, disse Guterres durante uma visita à região do Everest, no montanhoso Nepal, acrescentando que o país perdeu quase um terço do seu gelo em pouco mais de três décadas. “As geleiras são reservatórios gelados – os que estão aqui no Himalaia fornecem água doce para mais de um bilhão de pessoas”, disse ele. “Quando eles encolhem, o mesmo acontece com os fluxos dos rios.” Os glaciares do Nepal derreteram 65% mais rápido na última década do que na anterior, disse Guterres, que está numa visita de quatro dias ao Nepal. Os glaciares nas cadeias mais amplas...

DIRETOR

Rodrigo Barbosa Hühn pauta@revistaamazonia.com.br

PRODUTOR E EDITOR

Ronaldo Gilberto Hühn amazonia@revistaamazonia.com.br

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Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn comercial@revistaamazonia.com.br

ARTICULISTAS/COLABORADORES

Aaron Wagner/ Penn State, Brian Clark/Pac, Embrapa Agroenergia, Márcia Cristina de Faria, Mary Gagen, Paavan MATHEMA,,Ronaldo G. Hühn, SECOM, The Conversation;

FOTOGRAFIAS

Academia de Ciências da Califórnia, Agência Brasil, AFP, Anders Priemé,, Arquivo/Secom, BBC, BC Wildfire Service, Brett Monroe Garner, Cadu Gomes/VPR, CBMA/Divulgação, Center for Ecosystem Science and Society, Charles Q. Choi, Chien C Lee/PA,, Diego Lourenço Gurgel, Divulgação, DS Kaufman, Eloisa Lasso, Emily Stone, Environmental Research Health, Erika Berenguer, Earth’s Future, Federação Canadense de Vida Selvagem, GCARE, Getty/Michael Dantas, Graham Rush, Hamilton Garcia, IISD/ENB/Anastasia Rodopoulou, Instituto de Nutrição e Saúde de Xangai/CAS, Internet, IF/USP, IPCC, Kathryn Whitney, Leader, Luke Mosley, Mary Fetzer, Michael WI Schmidt, Miguel Monteiro (IDSM), Museu de História Natural da Universidade de Michigan, Nature, NASA/Goddard Space Flight Center Scientific Visualization Studio, NASA/Joshua Stevens, Nature Reviews Earth & Environment (2023), Northern Arizona University, NP McKay, 2022, Observatório da Terra da NASA, OsakaWayne Studios via Getty Images, Pedro Biondi/Agência Brasil, PeerJ (2023), Penn State News, Pixabay/CC0 Domínio Público, Peter Roopnarine, PNAS, PNUMA, Polícia Federal, Prevfogo, Roy Kaltschmidt/Berkeley Lab, Science (2023), Science Advances (2023), Sean Gladwell via Getty Images, Stuart Wagenius, The Prairie Ecologist, Universidade da Colúmbia Britânica, Universidade de Copenhague, Universidade Estadual de Michigan, Universidade Estadual da Pensilvânia, Universidade Federal do Pará, Universidade de Adelaide, Universidade de Leeds, Universidade de Minnesota, Universidade de Utrecht, Universidade de Zurique, Unsplash, Unsplash/CC0 Domínio Público, Victor Leshyk, Visible Infrared Imaging Radiometer Suite (VIIRS) da NASA, Wanmei Liang;

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A seleção natural pode atuar em locais isolados. Foto: Birger Strahl/Unsplash, CC BY.

O CALOR EXTREMO CAUSADO PELO CLIMA PODE TORNAR PARTES DA TERRA QUENTES DEMAIS PARA OS HUMANOS

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Após três dias de reuniões técnicas do 26º Fórum de Governadores da Amazônia Legal, os chefes dos poderes estaduais amazônicos divulgaram uma carta aberta em que destacam o compromisso dos Estados em ações integradas para o combate de crimes ambientais como desmatamento e queimadas. “Estamos cientes da importância dos nossos biomas para a manutenção do equilíbrio climático do planeta, e por isso consideramos essencial efetivar a ação global conjunta e cooperada para fortalecer os esforços...

EDITORA CÍRIOS

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GOVERNO PREPARA SELO VERDE BRASIL PARA CERTIFICAR PRODUTOS SUSTENTÁVEIS

Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

I LE ESTA REV

Esses são os resultados de um novo estudo de pesquisadores da Penn State College of Saúde e Desenvolvimento Humano, Purdue University College of Sciences e Purdue Institute for a Sustainable Future. Os humanos só conseguem suportar certas combinações de calor e umidade antes Se as temperaturas globais aumentarem 1 grau Celsius (C) ou mais do que os níveis atuais, todos os anos milhares...

ESPAÇOS VERDES PODEM SALVAR VIDAS

Num contexto de alterações climáticas globais, os fenômenos de calor extremo estão a tornar-se mais quentes, mais longos e mais frequentes. Este calor extremo e sustentado teve um impacto grave na saúde das pessoas em todo o mundo. É geralmente reconhecido que algumas características da paisagem urbana, como os espaços verdes, podem oferecer alívio às altas temperaturas. No entanto, poucos estudos demonstraram como a mudança da paisagem de uma cidade afeta a capacidade dos seus residentes para lidar com o calor extremo e o efeito sobre a mortalidade...

MAIS CONTEÚDO [12] 2023, ano de extremos recordes [17] Brasil perde 15% de florestas naturais em quase 40 anos [20] Desmatamento da Amazônia ligado ao aquecimento climático de longa distância [23] As florestas são vitais para proteger o clima [28] ONU emite alerta sobre ameaça à saúde das mudanças climáticas [30] Tempo para parar o aquecimento global acima de 1,5ºC está “acabando rapidamente” [33] Emissões globais de CO2 estão a caminho de atingir um máximo histórico este ano [44] Relatório da UNU oferece soluções para mitigar pontos críticos de risco [46] Agro continuará com papel importante na produção das energias do futuro [50] A análise da rede climática ajuda a identificar regiões com maior risco [54] Como ajudar a salvar as plantas da extinção [57] Os climas tropicais são os de maior biodiversidade da Terra - mas não é apenas por serem quentes e úmidos [60] Espécies exóticas invasoras são uma ameaça crescente e dispendiosa em todo o mundo [63] Enorme floração de algas marinhas no Atlântico [64] Anéis de árvore revelam: nunca esteve tão quente nos últimos 1200 anos

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Governo prepara Selo Verde Brasil para certificar produtos sustentáveis Proposta, que entrou em consulta pública na segunda-feira (23), visa criar estratégia nacional de certificação de produtos e serviços com menor impacto socioambiental para ampliar acesso a mercados internacionais Fotos: Divulgação, Divulgação/MDIC

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Brasil está próximo de criar um mecanismo para fortalecer a competitividade dos produtos e serviços obtidos com baixa emissão de carbono. O governo federal prepara o programa Selo Verde Brasil, uma certificação única a ser elaborada para reconhecimento das práticas responsáveis e que atendam aos requisitos socioambientais exigidos pelos mercados globais em todo o ciclo de vida da produção. Uma minuta do decreto que institui o Selo Verde Brasil foi colocada para consulta pública no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O texto definitivo será formalizado depois de colhidas as sugestões da população. O programa tem o objetivo de facilitar e desburocratizar o acesso de produtos e serviços brasileiros a mercados internacionais, reduzir custos para produtores e exportadores no processo de certificação e, sobretudo, reforçar a imagem do Brasil no exterior quanto à sustentabilidade dos produtos nacionais. Para os consumidores, o Selo proporcionará um instrumento de informação segura para identificar e optar pela compra de produtos e serviços com menores impactos socioambientais. No mercado nacional, a adoção de um selo nacional que identifique produtos e serviços com os princípios de sustentabilidade deve promover a neoindustrialização nacional, estimular o crescimento da economia verde e do mercado de produtos sustentáveis no país, com a promoção da inovação, além de incentivar a economia circular no país.

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MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO. INDUSTRIA, COMERCIO E SERVIÇOS

Acesse a consulta pública na plataforma Participa+Brasil: www.gov.br/participamaisbrasil/consultas-publicas

Pela proposta elaborada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria,

Comércio e Serviços (MDIC), a ser avaliada pela sociedade, o Selo Verde Brasil será voluntário e poderá ser obtido por quaisquer produtos e serviços do setor primário, secundário ou terciário da economia nacional que atendam aos critérios exigidos pelo programa — critérios que ainda serão elaborados em parceria com o setor privado e formalizados em uma norma técnica da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Poderão ser incluídos, por exemplo, critérios relacionados à rastreabilidade da produção, pegadas de carbono, resíduos sólidos e consumo de água. As diretrizes do programa preveem a adoção de padrões internacionais de rotulagem ambiental, com reciprocidade, cooperação e reconhecimento nos mercados externos.

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“A descarbonização, a transição e a segurança energética são missões desse processo de neoindustrialização do país”, afirma Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde do MDIC. “Com a certificação dos produtos, teremos uma condição competitiva superior, que pode nos colocar no papel de liderança mundial do ponto de vista da economia verde”, acrescenta Rollemberg. Para Manuela Amaral, assessora especial do ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e coor-

denadora do projeto, o Selo Verde Brasil será uma espécie de “passaporte para exportar”. “Os produtos que tiverem o selo conseguirão acessar os mercados mais facilmente”, afirma. Atualmente, a multiplicidade de regulamentos, normas e padrões para a exportação de produtos brasileiros acaba sendo um dificultador para muitos produtores nacionais. Para se ter uma ideia, as exportações de soja do Brasil para a União Europeia dependem de 50 exigências de governo e 46 exigências do setor privado do bloco. MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO. INDUSTRIA, COMERCIO E SERVIÇOS

A análise dos pedidos de certificação será feita por empresas certificadoras acreditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). O decreto também instituirá o Comitê Gestor, de caráter deliberativo, para elaborar o planejamento estratégico do programa, definir os produtos e serviços prioritários para a adoção do selo e estabelecer as diretrizes para a definição dos critérios a serem atendidos para a obtenção do Selo Verde Brasil. A secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC terá a função de secretaria executiva do comitê.

Por isso, afirma Manuela, o selo pode ser abrangente, capaz de incluir as principais exigências que hoje recaem sobre os produtos brasileiros em relação a critérios ambientais e critérios sociais, sejam governamentais ou privados de países importadores e, até mesmo, nacionais.

Comitê gestor

Critérios relacionados à rastreabilidade

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Integrarão o colegiado os seguintes órgãos e entidades: ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; Meio Ambiente e Mudança do Clima; Agricultura e Pecuária; Ciência, Tecnologia e Inovação; Fazenda; Gestão e da Inovação em Serviços Públicos; Relações Exteriores; Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; Casa Civil da Presidência da República; Integração e do Desenvolvimento Regional; Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Mulheres; Igualdade Social; Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO); BNDES; Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI); (APEX-Brasil); Sebrae; Confederação Nacional da Indústria (CNI) ; Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC); Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN); Câmara de Comércio Exterior (CAMEX); e a Universidade de São Paulo (USP).

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26º Fórum de Governadores da Amazônia Legal antecedendo a COP 28 em Dubai

26º Fórum de Governadores da Amazônia Legal Fotos: Ascom/SECOM, Bruno Carachesti /Agência Pará, EBC

“Carta de Manaus” afirma colaboração mútua no combate a crimes ambientais. Programa será apresentado na COP 28, em Dubai

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pós três dias de reuniões técnicas do 26º Fórum de Governadores da Amazônia Legal, os chefes dos poderes estaduais amazônicos divulgaram uma carta aberta em que destacam o compromisso dos Estados em ações integradas para o combate de crimes ambientais como desmatamento e queimadas.

“Este evento precedeu o momento importante de ida de nossa delegação à COP 28 em Dubai, onde o Consórcio de Governadores estará presente, como tem feito nos anos anteriores, e chega com os subsídios das câmaras setoriais, dos debates que foram feitos por cada secretário dos seus respectivos temas de todos os Estados na construção de conteúdo em debates e conciliação de esforços e ações integradas da Amazônia Legal”, explica o presidente do Consórcio Amazônia Legal (CAL) e governador do Pará, Helder Barbalho. No documento assinado pelos governadores, é informada a colaboração mútua no combate a crimes ambientais. “Anunciamos à sociedade nossos esforços de colaboração mútua expressos no ‘Programa de Cooperação Regional para Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas da Amazônia Legal (TBC)’”, informa o documento. A “Carta de Manaus” informa ainda que o programa será apresentado ao mundo durante a COP 28. “Trata-se de um Programa necessário, especialmente nesse momento em que várias regiões da Amazônia sofrem com uma seca histórica e com as fumaças oriundas de queimadas e incêndios florestais”, pontua o documento, que também faz menção aos desafios provocados pela seca em consequência do El Niño. 08 REVISTA AMAZÔNIA

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“Estamos cientes da importância dos nossos biomas para a manutenção do equilíbrio climático do planeta, e por isso consideramos essencial efetivar a ação global conjunta e cooperada para fortalecer os esforços de comando e controle e de adaptação à mudança do clima. Em tempo, ressaltamos o posicionamento já manifestado por nós governadores de que continuaremos executando ações para o desenvolvimento sustentável inclusivo e a transição para uma economia baseada na natureza, de forma que possamos garantir qualidade de vida para os quase 30 milhões de brasileiros que aqui vivem”, posicionaram os governadores.

Os governadores da Amazônia Legal, que abrange Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão estiveram reunidos nesta sexta-feira (26), em Manaus (AM), firmando parcerias institucionais junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para avanços e investimentos na segurança públicas dos Estados. Somente nesta área foram assinados quatro convênios que preveem investimentos em equipamentos e ferramentas de inteligência. Os investimentos têm como objetivo fortalecer os órgãos de segurança com suas atuações nas áreas urbanas e preservação da floresta com combate aos crimes ambientais e na região de fronteiras

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, lançou o Programa AMAS que destina mais de R$ 480 milhões para reforçar ações de segurança na Região Amazônica revistaamazonia.com.br

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“Todos os Estados da Amazônia Legal estão reunidos aqui em Manaus para debater e discutir os desafios de nossa região e também aproveitar para o lançamento, junto com o Ministério da Justiça, do Plano Específico de Segurança para a Amazônia. O objetivo é atender as cidades, mas também as comunidades tradicionais, os povos ribeirinhos, as fronteiras da Amazônia e, claro, cuidar e dar segurança para a nossa população”, explica o presidente do Consórcio Amazônia Legal (CAL) e governador do Pará, Helder Barbalho. Durante a reunião com os governadores, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, relatou que as ações demonstram o início de uma atuação mais articulada junto aos Estados Amazônicos. “Parceria e integração de ações, principalmente, já com repasses de recursos”, afirmou o ministro. O presidente do BNDES, Aluízio Mercadante, detalhou que são recurso destinados para diferentes instituições da região. “Esses recursos estão distribuídos para Polícia Federal e Rodoviária Federal, Força Nacional e forças policiais estaduais. Um conjunto de investimentos que pretendemos avançar”, ponderou. Durante a reunião também foi assinado, junto a representantes do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, um de acordo de cooperação técnica para pactuação de uma agenda de desenvolvimento regional, com foco em projetos no segmento de Bioeconomia e na estratégia Rotas de Integração Nacional, com todos os nove Estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), bem como a elaboração dos Planos Estaduais para o Desenvolvimento

O presidente do BNDES, Aluízio Mercadante, detalhou que são recurso destinados para diferentes instituições da região

e a Integração da Faixa de Fronteira - PDIFFs, sendo estes elaborados com os sete Estados localizados na área de fronteira (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima).

Para acelerar o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal de forma integrada e cooperativa

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Desenvolvimento integrado O Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal é formado por nove Estados, que ocupam 59% do território brasileiro e abrigam mais de 29,3 milhões de pessoas. Sua missão é acelerar o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal de forma integrada e cooperativa, considerando as oportunidades e os desafios regionais. O Consórcio visa ser referência global em articulação, estratégia e governança, para transformar a Amazônia Legal em uma região competitiva, integrada e sustentável até 2030. [*] SECOM

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Durante o Congresso Brasil Competitivo 2023

Economia verde é debatida durante Congresso Brasil Competitivo 2023 Evento reuniu lideranças para tratar de assuntos, projetos e soluções para que o Brasil assuma o protagonismo na agenda verde mundial Fotos: Tiago Mendes

“O congresso é uma oportunidade de fomentarmos discussões importantes que contribuam para o avanço da qualidade de vida da população brasileira. Queremos, nesta edição, auxiliar o país a evoluir e ser protagonista na economia verde”, comenta Tatiana Ribei-

ro, diretora executiva do MBC. Na 20º edição, que teve como tema central a sustentabilidade, o MBC realizou uma parceria importante com a AYA Earth Partners, o primeiro e maior ecossistema dedicado a acelerar a economia regenerativa e carbono zero do Brasil.

Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners: o valor agregado pode virar o jogo para o Brasil, ele é referência quando o assunto é commodities

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Movimento Brasil Competitivo (MBC) reuniu em São Paulo, na sexta-feira (27/10), lideranças importantes dos setores público e privado para debater o papel do Brasil na economia verde mundial. Indo ao encontro com diversas iniciativas em pauta no país, como a transição energética e a descarbonização, o Congresso Brasil Competitivo 2023, trouxe luz e destaque para ações essenciais e urgentes para o avanço da agenda. Promovido pelo MBC há 20 anos, o congresso abre espaço para discutir temas relevantes que impactam o desenvolvimento do país.

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“Precisamos não só exportar nossas commodities e nossos ativos, mas trazer o valor agregado para o Brasil. Precisamos planejar no longo prazo e ter um olhar muito mais sistêmico. Biobunker e BioLinker são dois tipos de combustíveis que são utilizados agora em frotas marítimas de grande escala. Um dos modelos mais avançados hoje de processamento pode utilizar a biomassa da cana do milho. No Brasil, batemos recorde de exportação de cana e de milho. E se batermos recorde de exportação de BioLinker, Biobunker e amônia verde? O valor agregado ficaria aqui, a produtividade ficaria aqui”, explica Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners. Durante o evento realizado no espaço AYA Hub, na Cidade Matarazzo, o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, Arnaldo Jardim, apresentou aos presentes o programa de aceleração da transição energética, PL 5.174/2023, que estará em pauta no Congresso Federal nas próximas semanas. “O projeto traz a proposta de um fundo de investimento lastreado por dívidas da União com as empresas, criando oportunidade de financiamentos para o avanço, de forma contundente, da transição energética para fontes renováveis. Essa iniciativa reafirma a nossa convicção com o projeto que temos de país, com reformas estruturais e a neoindustrialização”, diz o deputado.

O presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo - deputado federal Arnaldo Jardim, detalhou os planos do Congresso, no próximo mês, para a agenda verde

Arnaldo Jardi m, Deputado Federal e Presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, ao lado da deputada estadual Marina Helou (Rede-SP) e do deputado federal Vitor Lippi (PSD-SP), no painel “O papel do parlamento na agenda verde”

Guilherme Pessini, diretor de Estratégia e Planejamento do Itaú BBA (1º da esq.), João Paulo Resende, assessor especial do Ministério da Fazenda, Pedro Vilela, CEO da Rise Ventures e Fabio Kono, assessor especial no BNDES

Ao centro, Leonardo Pontes, da Cosan, no painel “Neoindustrialização verde — A visão do setor produtivo” ao lado de Gustavo Werneck, da Gerdau, Ana Costa, da Natura&CO, e Viviane Valente, da Tigre, discutindo a transição verde

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O evento contou com a realização de três painéis que abordaram aspectos relevantes como a neoindustrialização verde a partir da visão do setor produtivo; os desafios do financiamento da agenda climática brasileira; e, o papel do parlamento na agenda verde. “O Brasil já teve várias oportunidades de assumir o protagonismo quando falamos em economia verde, e hoje temos, mais uma vez, uma condição extraordinária de consolidar essa posição que já temos naturalmente. João Paulo Resende, assessor especial do Ministério da Fazenda, tem a perspectiva de que o Brasil pode ser a “Arábia Saudita da energia limpa” ao fazer o paralelo com o maior produtor de petróleo do mundo. Mas tudo que é grande e importante, se não tiver a participação do Congresso, do Executivo e do empresariado não avança. O trabalho do MBC está em evolução, contribuindo para que esse tripé possa trabalhar em conjunto”, finaliza Jorge Gerdau, presidente do conselho superior do MBC.”

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2023, ano de extremos recordes

O estado do relatório climático de 2023: entrando em território desconhecido Fotos: USDA, CC BY 2.0. © herraez - stock.adobe.com

Inundações e danos causados pela água nos condados de Cavalier, Pembina e Cavalier em North Dacota, EUA

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vida no planeta Terra está sitiada. Estamos agora em um território desconhecido. Durante várias décadas, os cientistas alertaram consistentemente para um futuro marcado por condições climáticas extremas devido à escalada das temperaturas globais causada pelas atividades humanas em curso que libertam gases nocivos com efeito de estufa na atmosfera. Infelizmente, o tempo acabou. Estamos assistindo à manifestação dessas previsões à medida que uma sucessão alarmante e sem precedentes de recordes climáticos são quebrados, provocando o desenrolar de cenas de sofrimento profundamente angustiantes. A extensão do gelo marinho (a, b), as temperaturas (c – e) e a área queimada no Canadá (f) estão atualmente muito fora dos seus intervalos históricos. Estas anomalias podem dever-se tanto às alterações climáticas como a outros factores. Cada linha corresponde a um ano diferente, com o cinza mais escuro representando os anos posteriores. Estamos a entrar num domínio desconhecido no que diz respeito à nossa crise climática, uma situação que ninguém jamais testemunhou em primeira mão na história da humanidade. Em 2023, anomalias como altas temperaturas, aquecimento dos oceanos

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Reduzir simultaneamente as emissões de ozônio de baixo nível e outros poluentes climáticos de vida curta, bem como o dióxido de carbono de vida longa, poderia reduzir a taxa de aquecimento global pela metade até 2050, mostra um novo estudo

e incêndios florestais mais frequentes atingiram recordes sem precedentes até agora, mostra um novo relatório de uma equipe internacional de pesquisadores, entre eles Johan Rockström, Diretor do Potsdam Instituto de Pesquisa de Impacto Climático (PIK). Os

cientistas descobrem que estes registos enfraquecem os sinais vitais da Terra e alertam que as ocorrências cada vez mais frequentes relacionadas com o clima poderão pôr em perigo a vida na Terra até ao final deste século se os negócios continuarem como de costume.

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Série temporal de atividades humanas relacionadas ao clima

Os dados obtidos desde a publicação de Ripple e colegas ( 2021 ) são apresentados em vermelho (cinza escuro na impressão). No painel (f), a perda de cobertura arbórea não leva em conta o ganho florestal e inclui uma perda devida a qualquer causa. Para o painel (h), a hidroeletricidade e a energia nuclear são mostradas emfigura S1 Os cientistas observam que 20 dos 35 sinais vitais planetários usados para acompanhar as alterações climáticas estão em extremos recordes. Novos

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dados ilustram que muitos recordes relacionados com o clima foram quebrados por “margens enormes” em 2023, especialmente os relativos às tempera-

turas dos oceanos e ao gelo marinho. Tais anomalias podem ocorrer com mais frequência e ter impactos cada vez mais graves na vida na Terra.

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Série temporal de respostas relacionadas ao clima

Os dados obtidos antes e depois da publicação de Ripple e colegas (2021) são mostrados em cinza e vermelho (cinza escuro na impressão), respectivamente. Para a área queimada (m) e a frequência de inundações de milhares de milhões de dólares (o) nos Estados Unidos, as linhas horizontais pretas mostram estimativas do modelo de pontos de mudança, que permitem mudanças abruptas (ver o suplemento). Para outras variáveis com variabilidade relativamente alta, as linhas de tendência de regressão local são mostradas em preto. As variáveis foram medidas em diversas frequências (por exemplo, anual, mensal, semanal). Os rótulos no eixo x correspondem aos pontos médios dos anos. A frequência de inundações de milhares de milhões de dólares (o) é provavelmente influenciada pela exposição e vulnerabilidade, além das alterações climáticas Os autores propõem a transição para uma economia global que priorize o bem-estar humano e reduza o consumo excessivo e as emissões excessivas. As recomendações específi-

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cas incluem a eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis fósseis e a intensificação dos esforços de proteção florestal. A equipe de investigadores sublinha que condições me-

teorológicas extremas e outros impactos climáticos estão a ser sentidos de forma desproporcional pelas pessoas mais pobres, que menos contribuíram para as alterações climáticas.

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Entre os principais números do relatório: ☆Os subsídios aos combustíveis fósseis – ações dos governos que reduzem artificialmente o custo da produção de energia, aumentam o preço recebido pelos produtores ou reduzem o preço pago pelos consumidores – praticamente duplicaram entre 2021 e 2022, de 531 mil milhões de dólares para pouco mais de 1 bilião de dólares. ☆Já este ano, os incêndios florestais no Canadá contribuíram para mais de 1 gigatonelada de dióxido de carbono na atmosfera, superior às emissões totais de gases com efeito de estufa do Canadá em 2021, de 0,67 gigatoneladas. ☆Em 2023, já se passaram 38 dias com temperaturas médias globais mais de 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Até este ano, esses dias eram uma raridade, observam os autores. ☆ A temperatura média mais alta da superfície da Terra já registrada ocorreu em julho passado, e os cientistas dizem que pode ser a temperatura superficial mais alta que o planeta já viu nos últimos 100.000 anos.

Grandes eventos climáticos extremos e catástrofes

Em 2023, as alterações climáticas provavelmente contribuíram para uma série de grandes eventos climáticos extremos e catástrofes. Vários destes acontecimentos demonstram como os extremos climáticos estão ameaçando áreas mais vastas que normalmente não têm sido propensas a tais extremos; por exemplo, graves inundações no norte da China, perto de Pequim,

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mataram pelo menos 33 pessoas. Outros desastres recentes incluem inundações repentinas e deslizamentos de terra mortais no norte da Índia, ondas de calor recorde nos Estados Unidos e uma tempestade mediterrânica excepcionalmente intensa que matou milhares de pessoas, principalmente na Líbia (ver tabela 1 para detalhes e atribuição ) . À medida que estes im-

pactos continuam a acelerar, é urgentemente necessário mais financiamento para compensar as perdas e danos relacionados com o clima nos países em desenvolvimento. O novo fundo global para perdas e danos das Nações Unidas, estabelecido na COP27, é um desenvolvimento promissor, mas o seu sucesso exigirá um apoio robusto por parte dos países ricos.

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Série de fotografias que retratam os impactos dos desastres relacionados com o clima. Primeira fila (da esquerda para a direita): Proprietários de casas separam escombros depois que incêndios florestais destruíram sua casa no estado da Califórnia (Estados Unidos, 2008; FEMA/Michael Mancino), “Guarda [nacional] carregando uma mulher em enchentes que chegam até a cintura” (Estados Unidos, 2017; Zachary West/Guarda Nacional; CC BY 2.0). Segunda linha: “meninas são apanhadas por uma tempestade de areia a caminho da escola” (Afeganistão, 2019, Solmaz Daryani/Climate Visuals Countdown; Creative Commons), “mulher madura sentada em sua casa, submersa em águas profundas, fumando um cigarro” (Brasil, 2015; Fabrice Fabola, CC BY-SA 2.0). Terceira linha: consequências do ciclone Idai (Moçambique, 2019; Denis Onyodi: IFRC/DRK/Climate Centre, CC BY-NC 2.0), “residentes caminham numa estrada repleta de detritos depois do supertufão Haiyan ter atingido a cidade de Tacloban” (Filipinas, 2013; Erik de Castro/Reuters; CC BY 2.0). Todas as citações são do projeto Climate Visuals (https://climatevisuals.org)

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Brasil perde 15% de florestas naturais em quase 40 anos Rede atribui perdas ao avanço da agropecuária no país

Fotos: Ascom Ibama, MapBiomas, Christian Braga/Greenpeace

E

m novo levantamento, a rede MapBiomas constatou que, entre 1985 e 2022, houve redução de 15% da área ocupada por florestas naturais no país, passando de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares. O mapeamento considera diversos tipos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. De acordo com o MapBiomas, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. Quando todos são considerados, a Amazônia (78%) e a Caatinga (54%) aparecem como os biomas com maior proporção de florestas naturais em 2022.

O MapBiomas observou, ainda, que dois terços da área destruída, ou seja, 5,8 milhões de hectares, foram de formações florestais, que são áreas de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e dossel contínuo como as florestas que prevalecem na Amazônia e na Mata Atlântica. A diminuição das formações florestais foi de 14% nos 38 anos analisados. O Pampa foi o único em que o patamar se

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Imagem do Ibama, mostra área desmatada neste ano em Lábrea, no Amazonas

manteve estável, mesmo com o passar dos anos.Pelos cálculos da organização, quase todo o desflorestamento (95%) se deu como consequência do avanço da agropecuária, que implica tanto a transformação de floresta em pastagens como a utilização das áreas para cultivo agrícola. Nas duas primeiras décadas do período sob análise, registrou-se aumento da perda de florestas, seguido de período de redução

da área desmatada a partir de 2006. As florestas alagáveis também fazem parte da paisagem da Amazônia e passaram a ser monitoradas pelo MapBiomas neste ano. Tais florestas são caracterizadas por se formar nas proximidades de cursos d’água. Nesse caso, no intervalo de quase 40 anos, foram perdidos 430 mil hectares de florestas, que ocupavam 18,8 milhões de hectares ou 4,4% do bioma em 2022.

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HISTÓRICO DA COBERTURA E USO DA TERRA NOS BIOMAS 1985 - 2022

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Amazônia e Cerrado foram os biomas que mais perderam área de vegetação nativa

Amazônia e Pantanal são os biomas com maior proporção de vegetação nativa

Cerrado e Pampa foram os biomas que mais perderam área de vegetação nativa proporcionalmente

+80% AMAZÔNIA

CAATINGA

CERRADO

Perda de Veg. Nativa 1985 a 2022

Perda de Veg. Nativa 1985 a 2022

Perda de Veg. Nativa 1985 a 2022

11% (6,0 Mha)

25% (32,1 Mha)

13% (53,2 Mha)

56% 56% 90% 90%

78% 90% 90% 78%

3% 3%

1985 1985

16% 16% 3% 3%

2022 1985 1985 2022

78% 90% 78% 90%

16% 16%

3% 3%

1985 2022 2022 1985

MATA ATLÂNTICA

28% 26% 28% 26% 28% Perda de Veg. Nativa 28% 26% 28% 28% 26% 1985 a 2022

66% 65% 65% 66%

1985 1985

2022 1985 1985 2022

1985 2022 2022 1985

Formações florestais

51% 51%

12% 15% 12% 15%

12% 12%

40% 40%

28% 28% 40% 40% 7% 7%

28% 28%

28% 28%

16% 16%

2022 2022

26% 26%

66% 66%

2022 2022

Formação savânica

40% 40%

7% 7%

7% 7%

9% 9%

9% 9%

9% 9%

33% 33%

40% 33% 40% 33%

40% 33% 40% 33%

40% 40%

34% 34%

50% 34% 34% 50%

50% 34% 50% 34%

50% 50%

1985 1985

2022 1985 1985 2022

1985 2022 2022 1985

2022 2022

1985 1985

2022 1985 1985 2022

1985 2022 2022 1985

2022 2022

PAMPA 12%

12% 12% 12% 12%

12% 12% 12% PANTANAL 12% 12% Perda de12% Veg. Nativa

19% 19%

16% 19% 16% 19%

16% 19% 16% 19%

16% 16%

48% 34% 48% 34%

34% 48% 34% 48%

17% 17%

16% 17% 16% 17%

16% 16% 17% 17%

16% 16%

36% 36%

36% 49% 36% 49%

49% 36% 49% 36%

49% 49%

5% 5%

5% 5%

5% 5%

23% 23%

15% 23% 15% 23% 5% 5%

15% 23% 15% 23% 5% 5%

Perda de Veg.12% Nativa 1985 a 2022

24% 48% (2,8 Mha) 48%

66% 65% 66% 65%

51% 56% 51% 56%

12% 15% 12% 15%

78% 78%

7% (2,4 Mha)

65% 65%

56% 51% 56% 51%

15% 15%

1985 a 2022*

10% (1,5 34%Mha) 34%

29% 29%

44% 29% 29% 44%

44% 29% 44% 29%

44% 44%

9% 9%

9% 9% 9% 9%

9% 9% 9% 9%

9% 9%

1985 1985

2022 1985 1985 2022

Formações naturais não florestais

1985 2022 2022 1985 Agropecuária

2022 2022

1985 1985

Área não vegetada

2022 1985 1985 2022

1985 2022 2022 1985

15% 15% 5% 5%

2022 2022

Corpo d’água

* A perda é conversão para uso antrópico e desconsidera o aumento do campo pela diminuição da água no Pantanal.

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Desmatamento da Amazônia ligado ao aquecimento climático de longa distância Desmatamento da Amazônia provoca forte aquecimento regional. O desmatamento na Amazônia faz com que superfícies terrestres de até 100 quilômetros de distância fiquem mais quentes, de acordo com um novo estudo. A investigação, realizada por uma equipa de cientistas britânicos e brasileiros, liderada pelo Dr. Edward Butt, da Universidade de Leeds, sugere que as florestas tropicais desempenham um papel crítico no arrefecimento da superfície terrestre – e esse efeito pode ocorrer ao longo de distâncias consideráveis por *Universidade de Leeds

S

abe-se que quando as florestas tropicais são desmatadas, o clima nas imediações fica mais quente. Neste último estudo, os investigadores queriam saber se a desflorestação na Amazónia estava a resultar no aquecimento climático mais longe, e o estudo examinou o impacto da perda florestal em locais até 100 quilómetros de distância.

Fotos: Dra. Jess Baker, Carboncredits, PNAS, Unsplash

A Floresta Amazônica vista do Amazon Tall Tower Observatory, um centro de pesquisa científica na floresta amazônica do Brasil

Importância crítica

Série temporal anual de contagem total de incêndios e área total de desmatamento (incrementos) em todo o bioma Amazônia Brasileira (BAB). Anos de seca indicados por sombreamento cinza. O coeficiente de correlação de Pearson (e valor p) é incluído como parte do gráfico de dispersão inserido

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Butt, pesquisador da Escola de Terra e Meio Ambiente de Leeds, disse: “Compreender o impacto da perda florestal na Amazônia é de importância crítica. “O mundo está a ficar mais quente como resultado das alterações climáticas. É importante que compreendamos como a desflorestação do ecossistema amazónico está a contribuir para o aquecimento climático. Se a desflorestação estiver a aquecer as regiões vizinhas, isso teria grandes implicações para as pessoas que vivem nessas áreas”.

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Como parte do estudo, os pesquisadores combinaram dados de satélite sobre a temperatura da superfície terrestre e a perda de florestas na Amazônia para o período de 2001 a 2020. O estudo, “O desmatamento da Amazônia causa forte aquecimento regional”, foi relatado na Proceedings of the National Academy of Ciências . Os dados foram analisados em 3,7 milhões de locais em toda a bacia amazônica. Os pesquisadores compararam o aquecimento ocorrido em regiões com níveis variados de desmatamento local e regional. Os pesquisadores classificaram o desmatamento num raio de 2 km de um ponto de coleta de dados como local. Se estivesse mais longe, entre 2 e 100 quilômetros de distância, era classificado como regional. Analisando os dados, os cientistas descobriram que nas áreas onde houve pouco desmatamento, tanto local como regionalmente, a mudança média na temperatura da terra durante o período de 2001 a 2021 foi de 0,3°C. Locais com 40% a 50% de desmatamento local, mas pouco desmatamento regional, aquecidos em média 1,3°C.

Perda florestal e mudança na temperatura da superfície durante 2001 a 2020

(A) Perda em pontos percentuais (%) na fração florestal. (B) Mudança na temperatura da superfície (Δ T , Kelvin) do mês mais seco. A mudança na fração florestal e no Δ T entre 2001 e 2020 é calculada como a diferença entre a média dos primeiros 3 anos e dos últimos 3 anos do período de estudo (ou seja, 2001–2003 versus 2018–2020). Os dados são mostrados para a bacia amazônica com o limite do bioma amazônico brasileiro também mostrado Em comparação, em áreas com desmatamento local e regional, o aumento médio da temperatura foi de 4,4°C. Escrevendo no artigo, os pesquisadores acrescentaram: “O aquecimento regional

devido ao desmatamento da Amazônia terá consequências negativas para os 30 milhões de pessoas que vivem na bacia amazônica, muitas das quais já estão expostas a níveis perigosos de calor”.

Impacto cumulativo da perda florestal regional (A) O modelo previu Δ T a partir de 693 simulações cobrindo toda a gama de perdas florestais locais e regionais. Os valores medianos previstos são calculados usando valores médios do conjunto de dados para latitude, elevação e distância até a costa. (B) O modelo previu Δ T em função do aumento da perda florestal apenas local (azul) e local mais regional (laranja e vermelho). O Δ T observado em função do aumento da perda de florestas tropicais é proveniente de três estudos observacionais diferentes ( 6 , 15 , 30 ). (C) Δ T observado (2000 a 2020) e previsto pelo modelo (2020 a 2050) para o bioma Amazônia brasileira. Δ T previsto para futuras alterações na cobertura do solo num cenário intermédio (SSP2_RCP45) e num cenário de forte desigualdade (SSP1_RCP70). Os valores medianos de Δ T são fornecidos em cada boxplot. (D) Δ T observado (2000 a 2020) e previsto pelo modelo (2020 a 2050) para dois estados brasileiros localizados no bioma sul da Amazônia brasileira: Rondônia (polígono azul) e Mato Grosso (polígono vermelho).

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Perda florestal e mudança na temperatura da superfície durante 2001 a 2020

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A floresta amazônica foi degradada em uma extensão muito maior do que os cientistas acreditavam anteriormente, com mais de um terço da floresta remanescente afetada por seres humanos, de acordo com um novo estudo publicado em 27 de janeiro na revista Science

Impacto do desmatamento na Amazônia Os cientistas também analisaram como o desmatamento futuro poderia aquecer ainda mais a Amazônia brasileira ao longo dos 30 anos a partir de 2020. Eles analisaram dois cenários, um em que o Código Florestal é ignorado e as áreas protegidas não são salvaguardadas. A segunda, onde existe alguma proteção.

No sul da Amazónia, onde a perda florestal é maior, a redução da desflorestação teria o maior benefício, reduzindo o aquecimento futuro em mais de 0,5°C no estado do Mato Grosso. O professor Dominick Spracklen, da Universidade de Leeds e coautor do estudo, disse: “É bem sabido que proteger as florestas tropicais é crucial na luta contra as mudanças climáticas globais. Nosso trabalho mostra que proteger as florestas também trará grandes benefícios em escala local, regional e nacional.

A desflorestação na Amazónia está aquecendo superfícies terrestres até 100 quilómetros de distância, de acordo com o novo estudo liderado pelo Dr. Edward Butt, da Universidade de Leeds

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“Mostramos que a redução do desmatamento reduziria o aquecimento futuro em todo o sul da Amazônia. Isto beneficiaria as pessoas que vivem em toda a região através da redução do estresse térmico e da redução dos impactos negativos na agricultura.” Celso von Randow, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil e coautor do estudo, disse: “No Brasil, são comuns estudos sobre a importância da conservação das florestas para o armazenamento de carbono, mas ainda faltam estudos sobre os seus efeitos biofísicos, o que é importante porque a Amazónia está a aquecer rapidamente devido às alterações climáticas e agora é agravada pela desflorestação. “Novos esforços para controlar o desmatamento em toda a Amazônia brasileira foram bem-sucedidos e as taxas de desmatamento diminuíram no último ano, e agora vemos benefícios na possível redução do aquecimento que afeta as pessoas que vivem nesta região. Espera-se que o reconhecimento de tais benefícios resulte em um apoio mais amplo pelos esforços contínuos para reduzir o desmatamento e proteger as florestas”.

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As florestas são vitais para proteger o clima Mas o mundo está muito aquém dos seus objetivos. O mundo está ficando para trás nos compromissos de proteger e restaurar as florestas, de acordo com a recente Avaliação da Declaração Florestal por *Mary Gagen

Fotos: Avaliação da Declaração Florestal 2023 , CC BY-SA, NASA, WWF

Mais de metade das florestas do mundo encontram-se em apenas cinco países (Federação Russa, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América e China) e dois terços (66%) das florestas encontram-se em dez países

N

ão existe um caminho sério para resolver as alterações climáticas enquanto as perdas florestais continuarem aos ritmos atuais, porque as metas climáticas globais, os objetivos de desenvolvimento sustentável e os compromissos

florestais dependem uns dos outros. Mas não é tarde demais. A Avaliação foi publicada juntamente com o Relatório de Percursos Florestais que liderei para a organização conservacionista WWF, que estabelece um modelo de como podemos reverter as nossas falhas florestais globais e seguir no caminho certo para florestas protegidas, restauradas e geridas de forma sustentável.

Cerca de 1,6 mil milhões de pessoas vivem suficientemente perto das florestas para depender delas para a sua subsistência, e as florestas absorvem cerca de um terço das nossas emissões de CO 2 provenientes de combustíveis fósseis. A ONU estima que as florestas geram diretamente 250 mil milhões de dólares (206 mil milhões de libras) em atividade económica por ano. O seu valor mais amplo e indireto poderá ascender a 150 biliões de dólares (12 biliões de libras) por ano – o dobro do valor das reservas globais – em grande parte devido à sua capacidade de armazenar carbono. Apesar disso, os subsídios ainda proporcionam incentivos para as pessoas converterem as florestas em agricultura.

Falhar promessas

Desmatamento global entre 2010 e 2022, em milhões de hectares

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Houve vários compromissos globais com as florestas, com centenas de governos e empresas a assinarem compromissos com os nomes das cidades onde foram assinados: Bona em 2011, Nova Iorque em 2014, Glasgow em 2021.

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Mas estes compromissos não foram concretizados e a desflorestação as metas de redução estão diminuindo a cada ano. A perda florestal global em 2022 foi de 6,6 milhões de hectares , uma área aproximadamente do tamanho da Irlanda. Isto representa 21% mais do que o montante que nos manteria no caminho certo para atingir a meta de desflorestação zero até 2030, acordada em Glasgow. A perda de floresta tropical é ainda mais pronunciada: 33% acima da meta necessária. O desmatamento em 2022 representou um retrocesso de 4% em relação ao progresso de 2021.

Por que não estamos protegendo as florestas Não existe uma explicação simples para o motivo pelo qual as florestas continuam a desaparecer. Os factores incluem a falta de direitos dos Povos Indígenas aos seus territórios, sistemas financeiros e comerciais que prejudicam as florestas e os efeitos físicos das alterações climáticas e dos incêndios. Comércio ilegal de madeira

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A falta de direitos consistentes e seguros de posse da terra para os Povos Indígenas e as comunidades locais ameaça as florestas e as pessoas que delas dependem. Nos trópicos, onde as florestas estão sob a sua responsabilidade, a evidência é clara: a desflorestação e a degradação são menores . Os subsídios que podem levar à desflorestação valem entre 381 mil milhões de dólares (314 mil milhões de libras) e 1 bilião de dólares (825 mil milhões de libras) por ano. Estas poderiam incluir a distribuição de terras públicas aos colonos, a construção de estradas ou condutas para permitir a agricultura em escala industrial, a manutenção de impostos sobre produtos agrícolas artificialmente baixos ou subsídios a culturas específicas cultivadas em terras anteriormente florestadas. Existem também atividades ilegais . Segundo uma estimativa recente , 69% da floresta tropical desmatada para a agricultura entre 2013 e 2019 violou leis e regulamentos nacionais. Estima-se que o comércio ilegal de madeira valha 150 mil milhões de dólares por ano a nível mundial.

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Simplesmente não há dinheiro suficiente para apoiar as florestas. O financiamento público para as florestas é inferior a 1% do montante investido em atividades que são prejudiciais ao ambiente ou que incentivam a desflorestação. Em todo o mundo, as florestas também estão a ser prejudicadas pelas alterações climáticas e pelas mudanças nos padrões de incêndios florestais. As alterações climáticas estão a causar mais incêndios , inclusive em florestas que normalmente não ardem , e a produzir incêndios mais quentes que causam danos a longo prazo, mesmo em florestas adaptadas ao fogo. A duração e a gravidade das secas estão a aumentar, provocando stress hídrico que mata árvores. Uma combinação de tensões relacionadas com o clima significa que as árvores nos trópicos e nas florestas temperadas e boreais estão a morrer mais jovens e as “mortes” massivas estão a acontecer com mais frequência. Se os efeitos do fogo e das alterações climáticas continuarem, as florestas pós-Antropoceno serão provavelmente mais pequenas, mais simples em espécies, esvaziadas de vida selvagem e restritas a terrenos mais íngremes, onde a agricultura é menos favorecida. Simulações computacionais do clima futuro, conhecidas como modelos climáticos , retratam resultados muito diferentes para as florestas, dependendo de limitarmos ou não o aquecimento global. Se as emissões forem controladas e deixarmos algumas terras cultivadas à natureza, 350 milhões de hectares de floresta poderão regressar até 2100. Essa é uma área aproximadamente do tamanho da Índia. Contudo, num futuro onde as emissões permanecerão elevadas

Comércio ilegal de madeira

De volta à pista

Relatório de Caminhos Florestais

e o uso da terra não mudará, os modelos sugerem uma perda adicional de 500 milhões de hectares de floresta até 2100.

Parceria dos Líderes Florestais e Climáticos assinada em Glasgow

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O novo Relatório de Caminhos Florestais em que trabalhei estabelece um plano de ação para voltar ao caminho certo. Pede aos líderes e empresas globais que: Acelerar o reconhecimento do direito dos Povos Indígenas e das comunidades locais de possuir e administrar suas terras, territórios e recursos. Fornecer mais dinheiro, tanto público como privado, para apoiar economias florestais sustentáveis. Reformar as regras do comércio global que prejudicam as florestas, retirando as matérias-primas que provocam a desflorestação das cadeias de abastecimento globais e removendo barreiras aos produtos amigos das florestas.

Mudança para economias baseadas na natureza e bioeconomias Na próxima cimeira climática COP28 no Dubai, há a promessa de anúncios bilaterais entre nações doadoras ricas e nações florestais nos trópicos, como parte da Parceria dos Líderes Florestais e Climáticos assinada em Glasgow, há dois anos. Estes pacotes poderiam apoiar uma evolução no sentido de uma gestão florestal sustentável e de cadeias de abastecimento livres de desflorestação em todo o mundo. Isto seria um sucesso valioso, mas é desesperadamente necessária liderança noutras questões, como os subsídios prejudiciais ao ambiente ou a exploração madeireira ilegal, cuja escala financeira supera o financiamento fornecido para proteger as florestas. [*] Em A Conversa

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“Parem com essa loucura”

Chefe da ONU pede ao mundo parar as alterações climáticas O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu ao mundo para: “parar a loucura” das mudanças climáticas, ao visitar regiões do Himalaia que lutam contra o rápido derretimento das geleiras para testemunhar o impacto devastador do fenômeno por *Paavan MATHEMA

Fotos: AP Photo/Ashwini Bhatia, Kiril Rusev, Tshering SHERPA / AFP

O

s telhados do mundo estão desabando”, disse Guterres durante uma visita à região do Everest, no montanhoso Nepal, acrescentando que o país perdeu quase um terço do seu gelo em pouco mais de três décadas. “As geleiras são reservatórios gelados – os que estão aqui no Himalaia fornecem água doce para mais de um bilhão de pessoas”, disse ele. “Quando eles encolhem, o mesmo acontece com os fluxos dos rios.” Os glaciares do Nepal derreteram 65% mais rápido na última década do que na anterior, disse Guterres, que está numa visita de quatro dias ao Nepal.

Os glaciares do Nepal derreteram 65% mais rápido na última década do que na anterior, disse Guterres, que está numa visita de quatro dias ao Nepal

O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, visita Syangboche, na região do Everest, no distrito de Solukhumbu, em 30 de outubro de 2023

Os glaciares nas cadeias mais amplas do Himalaia e do Hindu Kush são uma fonte de água crucial para cerca de 240 milhões de pessoas nas regiões montanhosas, bem como para outros 1,65 mil milhões de pessoas nos vales fluviais do Sul e Sudeste Asiático abaixo. Os glaciares alimentam 10 dos sistemas fluviais mais importantes do mundo, incluindo o Ganges, o Indo, o Amarelo, o Mekong e o Irrawaddy, e fornecem direta ou indiretamente a milhares de milhões 26 REVISTA AMAZÔNIA

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de pessoas alimentos, energia, ar puro e rendimentos. Os cientistas dizem que estão a derreter mais rapidamente do que nunca devido às alterações climáticas , expondo as comunidades a desastres imprevisíveis e dispendiosos. “Estou aqui hoje para gritar do topo do mundo: parem com a loucura”, disse Guterres, falando da aldeia de Syangboche, com o pico gelado da montanha mais alta do mundo, o Everest, elevando-se atrás dele. revistaamazonia.com.br

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O rio Sutlej flui no vale abaixo dos altos picos nevados no distrito de Kinnaur, no estado de Himachal Pradesh, no Himalaia, Índia, em 13 de março de 2023

“Catástrofe” “Os glaciares estão a recuar, mas não podemos. Temos de acabar com a era dos combustíveis fósseis”, disse ele. O mundo aqueceu em média quase 1,2 graus Celsius desde meados de 1800, desencadeando uma cascata de condições meteorológicas extremas, incluindo ondas de calor mais intensas, secas mais severas e tempestades que se tornaram mais ferozes devido à subida dos mares. Os mais atingidos são as pessoas mais vulneráveis e os países mais pobres do mundo, que pouco fizeram para contribuir para as emissões de combustíveis fósseis que provocam o aumento das temperaturas.

“Devemos agir agora para proteger as pessoas na linha da frente e limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus, para evitar o pior do caos climático”, disse Guterres. “O mundo não pode esperar.” Na primeira fase dos efeitos das alterações climáticas, o derretimento dos glaciares pode desencadear inundações destrutivas.“O derretimento das geleiras significa a inundação de lagos e rios, varrendo comunidades inteiras”, acrescentou.Mas muito em breve, os glaciares secarão se não forem feitas mudanças, alertou.“No futuro, os principais rios do Himalaia, como o Indo, o Ganges e o Brahmaputra, poderão ter fluxos reduzidos enormemente, disse ele. “Isso significa catástrofe”.

A geleira Imja, perto do Monte Everest, se transformou em um grande lago nos últimos 20 anos

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ONU emite alerta sobre ameaça à saúde das mudanças climáticas por Daniel Scheschkewitz

A

s alterações climáticas representam uma ameaça à saúde através do aumento dos desastres climáticos e do calor extremo, afirmou a ONU recentemente, apelando a melhores sistemas de alerta que possam ser integrados nas políticas de saúde pública. “As alterações climáticas ameaçam reverter décadas de progresso no sentido de uma melhor saúde e bem-estar, particularmente nas comunidades mais vulneráveis”, afirmou a Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas. A OMM afirmou que a informação climática não estava suficientemente integrada no planeamento dos serviços de saúde.

Fotos: Karen Robinson

A OMM disse que o calor anormalmente elevado causa a maior mortalidade de todas as condições meteorológicas extremas

“O conhecimento científico e os recursos podem ajudar a restabelecer o equilíbrio, mas não são suficientemente acessíveis ou utilizados”, afirmou. O relatório anual sobre o estado dos serviços climáticos da OMM afirma que são necessárias informações climáticas personalizadas para apoiar o sector da saúde no combate às condições meteorológicas mais extremas e à má qualidade do ar , à mudança dos padrões de doenças infecciosas e à insegurança alimentar e hídrica. O relatório saiu semanas antes da cimeira climática COP28, de 30 de novembro a 12 de dezembro, no Dubai.

Calor extremo

“Saúde: o preço real das alterações climáticas”

A OMM disse que o calor anormalmente elevado causa a maior mortalidade de todas as condições meteorológicas extremas

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ONU emite alerta sobre ameaça à saúde das mudanças climáticas.indd 28

A OMM disse que o calor anormalmente elevado causa a maior mortalidade de todas as condições meteorológicas extremas, mas os decisores de saúde em apenas metade dos países afetados podem aceder a serviços de alerta. Entre 2000 e 2019, as mortes estimadas devido ao calor foram de aproximadamente 489 mil por ano, afirmou, acrescentando: “os impactos estão subestimados, uma vez que a mortalidade relacionada com o calor pode ser 30 vezes superior ao registado atualmente”. O chefe da OMM, Petteri Taalas, adotou uma nota mais sombria: “Praticamente todo o planeta sofreu ondas de calor este 2023”, disse ele.

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“O início do El Niño em 2023 aumentará muito a probabilidade de quebrar ainda mais os recordes de temperatura, provocando calor mais extremo em muitas partes do mundo e nos oceanos”. Taalas disse que uma colaboração mais estreita aumentaria o impacto da ciência climática e dos serviços de saúde, para que o sector da saúde obtenha apoio “num momento em que mudanças sem precedentes no nosso clima estão a ter um impacto crescente”. Menos de um quarto dos ministérios da saúde possuem um sistema de vigilância da saúde que utiliza informações meteorológicas para monitorizar os riscos para a saúde sensíveis ao clima. Os países com uma cobertura limitada de alerta precoce têm uma mortalidade por catástrofes oito vezes superior à dos países com uma cobertura substancial a abrangente, de acordo com o relatório da OMM. E o número de catástrofes de média ou grande escala “prevê-se que chegue a 560 por ano - ou 1,5 por dia - até 2030”, afirmou a agência.

Chefe da OMM, Petteri Taalas

O relatório destacou a utilidade dos sistemas de alerta precoce para calor extremo , monitorização do pólen e vigilância por satélite para doenças sensíveis ao clima. “A crise climática é uma crise de saúde, provocando fenómenos me-

Mapa mostrando anomalias de temperatura registradas mundialmente

teorológicos mais graves e imprevisíveis, alimentando surtos de doenças e contribuindo para taxas mais elevadas de doenças não transmissíveis”, afirmou o chefe da Organização Mundial de Saúde. “Ao trabalharmos em conjunto para tornar os serviços climáticos de alta qualidade mais acessíveis ao sector da saúde, podemos ajudar a proteger a saúde e o bem-estar das pessoas que enfrentam os perigos das alterações climáticas”. O relatório afirma que é necessário conceber muito mais investimentos hidrometeorológicos para apoiar os resultados de saúde. “Na sequência da pandemia global da COVID-19, todos os países experimentaram as perdas e danos sociais e económicos que podem ocorrer quando a saúde da sociedade está comprometida”, afirmou a OMM. “É preciso fazer mais para preparar a comunidade de saúde para futuros choques e pressões que possam sofrer devido à variabilidade climática e aos efeitos prejudiciais das alterações climáticas”.

Cidades sob risco de aumento de 0,5 metros do nível do mar até 2050. Cidades projetadas para receber pelo menos 0,5 metros de aumento do nível do mar até 2050 sob RCP8.5. revistaamazonia.com.br

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Se as emissões permanecerem nos níveis atuais, o que é conhecido como “orçamento de carbono restante” estará esgotado antes do final da década

Tempo para parar o aquecimento global acima de 1,5ºC está “acabando rapidamente” A disponibilidade de CO2 no mundo, para 1,5°C, é menor do que o IPCC pensava O orçamento de carbono restante (RCB), a quantidade líquida de CO2 que os seres humanos ainda podem emitir sem exceder um limite de aquecimento global escolhido, é frequentemente utilizado para avaliar a ação política em relação aos objetivos do Acordo de Paris. As estimativas do RCB para 1,5 °C são pequenas e pequenas alterações no seu cálculo podem, portanto, resultar em grandes ajustes relativos. Aqui avaliamos avaliações recentes do RCB pelo IPCC e apresentamos dados mais recentes, refinamentos de cálculo e verificações de robustez que

aumentam a confiança neles. Concluímos que o RCB para uma probabilidade de 50% de manter o aquecimento até 1,5 °C é de cerca de 250 GtCO2 em janeiro de 2023, o que equivale a cerca de seis anos de emissões atuais de CO2. Para uma probabilidade de 50% de 2°C, o RCB está em torno de 1.200 GtCO2. As principais incertezas que afetam as estimativas do RCB são a contribuição das emissões não-CO2, que depende tanto das projeções socioeconómicas como da incerteza geofísica, e do aquecimento potencial após o CO2 líquido zero

Fotos: IPCC, Nasa, Nature Climate Change

O

limite “seguro” para o aquecimento global será ultrapassado em apenas 6 anos, dizem os cientistas. A nova investigação sugere que nos restam apenas seis anos para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, e duas décadas para manter as temperaturas abaixo do limite de 2ºC previsto no Acordo de Paris. A quantidade de CO2 que o mundo pode emitir e ainda limitar o aquecimento a 1,5°C é muito menor do que se pensava anteriormente e poderia ser consumida em seis anos com os atuais níveis de poluição, de acordo com uma pesquisa publicada recentemente Os cientistas disseram que o “orçamento de carbono” revisto significava que a humanidade tinha agora mais probabilidades de ultrapassar o limite de temperatura mais seguro do Acordo de Paris de 1,5 graus Celsius desde a era pré-industrial. janelaAMAZÔNIA para evitar 1,5 graus de aque30“AREVISTA

Janela para parar o aquecimento global acima de 1,5ºC está ‘fechando rapidamente’

cimento está a diminuir, tanto porque continuamos a emitir emissões como devido à nossa melhor compreensão da

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física atmosférica”, disse o principal autor do estudo, Robin Lamboll, do Imperial College London. revistaamazonia.com.br

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Mas com os impactos climáticos a aumentarem à medida que o aquecimento aumenta, os investigadores sublinharam que as descobertas fazem com que valha a pena lutar por cada fracção de grau. “Não é que a luta contra as alterações climáticas esteja perdida após seis anos”, disse Lamboll, acrescentando, no entanto, que se não houvesse uma “forte trajetória descendente” até então, seria tarde demais para esse limite de 1,5 graus. Os relatórios mais recentes do painel de peritos climáticos do IPCC da ONU afirmam que, para manter a temperatura de 1,5ºC em jogo, o mundo teria um orçamento de carbono de cerca de 500 gigatoneladas, a partir de 2020, alertando que as emissões teriam de ser reduzidas para metade até 2030. Esta nova avaliação, que se centra no principal gás com efeito de estufa, o CO2, calculou que o orçamento diminuiu agora para 250 gigatoneladas, medidas desde o início de 2023. O estudo, publicado na Nature Climate Change, foi apresentado como uma atualização dos números do IPCC, incorporando novas expectativas para o papel de outros poluentes, particularmente os impactos de arrefecimento dos aerossóis - emitidos com combustíveis fósseis que aquecem o planeta. Entretanto, as emissões permanecem teimosamente elevadas, apesar de uma ligeira queda no início da pandemia de Covid-19, e rondam as 40 gigatoneladas por ano.

Temos apenas seis anos até que as emissões de carbono ultrapassem o limiar de aquecimento de 1,5 C, descobriu uma nova investigação

Esta atualização do orçamento de carbono é esperada e totalmente consistente com o último Relatório Climático da ONU

As conclusões surgem um mês antes das negociações climáticas cruciais da ONU nos Emirados Árabes Unidos, encarregadas de salvar os objetivos do acordo de Paris, depois de a última ronda de relatórios do IPCC ter deixado claro que o mundo estava longe do caminho certo. O coautor Joeri Rogelj, também do Imperial College London, disse que as opções de alta probabilidade para limitar o aquecimento a 1,5ºC – 50% ou mais – “desapareceram”. “Isso não significa que estamos fora de controle para três ou quatro graus, mas significa que as melhores estimativas sugerem que estaremos acima de 1,5 de aquecimento global”, disse ele.

Líquido zero em 2034? A temperatura média da Terra já aumentou quase 1,2ºC, causando uma cascata de extremos climáticos mortais e dispendiosos.

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Embora as temperaturas este ano, impulsionadas pelo fenómeno climático El Nino, possam atingir uma média de 1,5ºC, a meta de Paris é medida ao longo de um período de décadas. O IPCC disse que a temperatura de 1,5°C poderá ser ultrapassada em meados da década de 2030, com os cientistas alertando que isso poderá desencadear perigosos pontos de inflexão nos frágeis sistemas de suporte à vida da Terra. O principal objetivo do acordo de Paris era limitar o aquecimento a “bem abaixo” dos 2°C, mas com as emissões de gases com efeito de estufa ainda em níveis recordes, o mundo está atualmente no caminho de aquecer 2,4°C ou mais até ao final do século. Lamboll disse que os pesquisadores também calcularam 2ºC como “último recurso” e descobriram que o orçamento para uma chance de 50% de limitar o aquecimento a esse limite era de 1.220 gigatoneladas. Para aumentar as probabilidades para

O mundo registrando temperaturas recordes

90 por cento, o orçamento cai para 500 gigatoneladas, ou cerca de 12 anos com as emissões atuais. O estudo deverá constituir uma “leitura desconfortável” para os decisores políticos, afirmou um

comentário publicado na Nature Climate por Benjamin Sanderson, do Centro Norueguês de Investigação Climática e Ambiental Internacional, que não esteve envolvido na investigação.

uma chance em três de que poderia ser tão baixo quanto sugere o último estudo. “Uma chance em três está longe de ser inesperada, é como jogar roleta russa com duas balas. Poucas pessoas ficarão surpresas se alguém levar um tiro com tais probabilidades”, disse ele. “No entanto, só quando reduzirmos as emissões e

nos aproximarmos do zero líquido é que poderemos ver como serão os ajustes de aquecimento e arrefecimento a longo prazo. “Cada fração de grau de aquecimento tornará a vida mais difícil para as pessoas e os ecossistemas. Este estudo é mais um alerta da comunidade científica. Agora cabe aos governos agir”. revistaamazonia.com.br

O mundo registrando temperaturas recordes

Ele disse que o novo orçamento de carbono significaria que o mundo precisaria atingir emissões “net zero” até 2034, e não em meados do século, como está previsto nas políticas climáticas em todo o mundo.Rogelj disse que o IPCC já reconheceu incertezas no cálculo do orçamento de carbono restante e deu 32 REVISTA AMAZÔNIA

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Aumento recorde: As emissões globais de dióxido de carbono (CO2 (CO2) deverão atingir um máximo histórico este ano — ilustrando a escala do desafio que o mundo enfrenta na luta contra as alterações climáticas

Emissões globais de CO2 estão a caminho de atingir um máximo histórico este ano As emissões globais de CO2 deveriam cair 5% este ano, diziam os cientistas. Mas, em vez disso, continuaram a subir e agora estão prestes a atingir um máximo histórico Fotos: AIE, Glen Peters, Office for National Statistics - ONS

A

s emissões globais de dióxido de carbono (CO2) deverão atingir um máximo histórico este ano — ilustrando a enorme escala do desafio que o mundo enfrenta na luta contra as alterações climáticas.

Os cientistas dizem que a poluição por carbono terá de ser reduzida quase para metade nesta década se o Acordo de Paris quiser cumprir o seu objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C (2,7°F) acima dos níveis pré-industriais.

Aviso: Glen Peters, o cientista por trás da pesquisa, disse à AFP que “seria muito provável que as emissões diminuíssem em 2023”. Este gráfico mostra como as emissões de CO2 aumentaram desde 1960

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Emissões globais de CO2 estão a caminho de atingir um máximo histórico este ano.indd 33

Acrescentaram que os níveis de CO2 deverão cair cerca de 5% este ano, mas deverão aumentar até 1,5%, de acordo com dados preliminares. Glen Peters, o cientista responsável pela investigação, disse à AFP que “seria muito improvável que as emissões diminuíssem em 2023”. Acrescentou que as atuais projeções sugerem que as emissões de CO2 – que são geradas por tudo, desde carros e aviões até eletricidade, aquecimento e produção de alimentos – aumentarão entre 0,5% e 1,5%. “A cada ano que passa, as emissões continuam a aumentar, tornando ainda mais difícil alcançar caminhos consistentes com Paris”, disse Peters, que é diretor de investigação do instituto de investigação climática Cicero, na Noruega. A sua análise final será publicada em dezembro, antes de uma reunião de líderes mundiais para as negociações climáticas da ONU nos Emirados Árabes Unidos. Espera-se que no topo da agenda esteja um debate sobre a utilização futura de combustíveis fósseis, que são o principal contribuinte para a poluição por CO2. Mas nem tudo são más notícias.

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O crescimento “espetacular” de tecnologias energéticas mais limpas e de carros elétricos significa que a procura mundial de petróleo, gás e carvão deverá atingir o pico nesta década, afirmou a Agência Internacional de Energia (AIE) no início deste ano. No entanto, o órgão de fiscalização da energia ainda alertou que as “emissões teimosamente elevadas” durante a recuperação económica pós-pandemia e a crise energética impulsionada pela invasão da Ucrânia pela Rússia representavam um problema para combater o aquecimento global. Peters disse que a energia limpa deveria começar a substituir a procura de combustíveis fósseis, mas acrescentou que “isto ainda não parece estar a acontecer de forma significativa, o que é decepcionante”.

A repartição das emissões de CO2: Em 2022, só as emissões provenientes do carvão (15,5 mil milhões de toneladas) foram maiores do que qualquer outro combustível fóssil, incluindo petróleo e gás natural

Resultados mais positivos Apesar das perspectivas globais, o Reino Unido ainda conseguiu reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em 2,2 por cento em 2022, de acordo com o Office for National Statistics

O Reino Unido produziu gases de efeito estufa equivalentes a 417 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2022

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Havia esperança de que as emissões de gases com efeito de estufa atingissem o seu pico primeiro em 2015 e depois durante a pandemia de Covid-19. No entanto, nenhuma das previsões se concretizou, com os níveis de CO2 ainda em ascensão e sem nenhum ponto de viragem à vista. Os cientistas alertaram que se as temperaturas globais eclipsarem 1,5°C (2,7°F) acima dos níveis pré-industriais, corre-se o risco de desencadear um perigoso ponto de viragem no sistema climático. “No entanto, aqui estamos novamente, com um novo pico em 2022, e mais um pico esperado novamente em 2023”, disse Peters. “A minha preocupação é que estejamos a fazer metade do trabalho, cultivando energia limpa, e não fazendo a outra metade do trabalho, abandonando os combustíveis fósseis”.

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Em 2022, as emissões de CO2 aumentaram 0,9 por cento, ou 321 milhões de toneladas, atingindo um novo máximo de 36,8 mil milhões de toneladas, afirmou a AIE. Isto deveu-se em grande parte ao facto de muitos países terem regressado ao carvão durante a crise energética global , embora o crescimento global das emissões tenha sido inferior ao temido. O carvão – que deverá ser eliminado como fonte de energia no Reino Unido a partir de 2024 – é responsável por mais de um terço do total de emissões de carbono do mundo. As emissões totais do carvão cresceram 1,6% ou 243 milhões de toneladas no ano passado, atingindo um novo máximo histórico de cerca de 15,5 mil milhões de toneladas. Apesar desta perspectiva global, o Reino Unido conseguiu reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em 2,2 por cento em 2022 , de acordo com o Gabinete de Estatísticas Nacionais ( ONS ).

Cortes: A queda deveu-se principalmente à eliminação progressiva da energia a carvão e à sua substituição pelo gás, ao declínio das indústrias de utilização intensiva de energia e ao crescimento das energias renováveis

Explicou que a queda foi motivada por dois factores: as casas utilizam menos combustível para aquecimento devido aos preços mais elevados da energia e

o clima mais quente, pelo que é necessário menos calor.A demanda por energia caiu para um nível não visto em 50 anos, acrescentou o ONS.

2022 foi o ano mais quente já registrado no Reino Unido, de acordo com o Met Office, e a temperatura geral foi 0,8°C mais quente do que 2021 ao longo do ano, disse o ONS. Na foto, os britânicos aproveitam o clima quente em Bournemouth em agosto de 2022

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O calor extremo causado pelo clima pode tornar partes da Terra quentes demais para os humanos por Aaron Wagner/ Penn State

Fotos: Mapas cortesia de Daniel Vecellio, Qinqin Kong, W. Larry Kenney e Matthew Huber; imagem composta por Dennis Maney, Cortesia de Daniel Vecellio, Qinqin Kong, W. Larry Kenney e Matthew Huber , Met Office, Rebecca McElhoe, Universidade Purdue

Se as temperaturas globais aumentarem 1 grau Celsius (C) ou mais do que os níveis atuais, todos os anos milhares de milhões de pessoas ficarão expostas a um calor e a uma humidade tão extremos que não conseguirão arrefecer naturalmente, de acordo com uma investigação interdisciplinar. Os resultados indicaram que o aquecimento do planeta além de 1,5 C acima dos níveis pré-industriais será cada vez mais devastador para a saúde humana em todo o planeta

O aquecimento do planeta além de 1,5 C acima dos níveis pré-industriais será cada vez mais devastador para a saúde humana em todo o planeta

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sses são os resultados de um novo estudo de pesquisadores da Penn State College of Saúde e Desenvolvimento Humano, Purdue University College of Sciences e Purdue Institute for a Sustainable Future. Os humanos só conseguem suportar certas combinações de calor e umidade antes

que seus corpos comecem a apresentar problemas de saúde relacionados ao calor, como insolação ou ataque cardíaco. À medida que as alterações climáticas aumentam as temperaturas em todo o mundo, milhares de milhões de pessoas poderão ser empurradas para além destes limites. Desde o início da revolução industrial,

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quando os humanos começaram a queimar combustíveis fósseis em máquinas e fábricas, as temperaturas em todo o mundo aumentaram cerca de 1 C, ou 1,8 graus Fahrenheit (F). Em 2015, 196 nações assinaram o Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura mundial a 1,5 C acima dos níveis pré-industriais.

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A equipe de investigadores modelou aumentos da temperatura global variando entre 1,5 C e 4 C – considerado o pior cenário onde o aquecimento começaria a acelerar – para identificar áreas do planeta onde o aquecimento levaria a níveis de calor e humidade que excedem os limites humanos. “Para compreender como os problemas complexos do mundo real, como as alterações climáticas, irão afetar a saúde humana, é necessário conhecimento tanto sobre o planeta como sobre o

corpo humano”, disse o co-autor W. Larry Kenney, professor de fisiologia e cinesiologia, da Marie Underhill Noll. Presidente em Desempenho Humano na Penn State e coautor do novo estudo. “Não sou um cientista climático e os meus colaboradores não são fisiologistas. A colaboração é a única forma de compreender as formas complexas como o ambiente afetará a vida das pessoas e começar a desenvolver soluções para os problemas que todos devemos enfrentar juntos”.

Este mapa mostra regiões onde múltiplos impactos graves podem ocorrer em momentos semelhantes, com um aquecimento global de 4,0°C acima dos níveis pré-industriais. Estes impactos incluem o risco de stress térmico extremo, inundações de rios, seca e risco de incêndios florestais, sobrepostos a um indicador da atual insegurança alimentar. a

Uma ameaça para bilhões O limite de temperatura ambiente de bulbo úmido para pessoas jovens e saudáveis é de cerca de 31° C , o que equivale a 87,8°F com 100% de umidade, de acordo com um trabalho publicado no ano passado por pesquisadores da Penn State. No entanto, além da temperatura e da humidade, o limiar específico para qualquer indivíduo num determinado momento também depende do seu nível de esforço e de outros fatores ambientais, incluindo a velocidade do vento e a radiação solar. Na história da humanidade, temperaturas e humidade que excedem os limites humanos foram registadas apenas um número limitado de vezes – e apenas durante algumas horas de cada vez – no Médio Oriente e no Sudeste Asiático, segundo os investigadores. Os resultados do estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Science, indicam que se as temperaturas globais aumentarem 2°C acima dos níveis pré-industriais, os 2,2 mil milhões de residentes do Paquistão e do Vale do Rio Indo, na Índia, os mil milhões de pessoas que vivem no leste da China e os 800 milhões de residentes da revistaamazonia.com.br

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Este mapa composto mostra áreas terrestres que poderão enfrentar calor extremo se o planeta continuar a aquecer, indicadas em amarelo e laranja. Quanto mais escura a cor, maior será a exposição projetada ao calor extremo

África Subsariana irão experimentam anualmente muitas horas de calor que ultrapassam a tolerância humana. REVISTA AMAZÔNIA

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Essas regiões experimentariam principalmente ondas de calor de alta umidade. Ondas de calor com maior umidade podem ser mais perigosas porque o ar não consegue absorver o excesso de umidade, o que limita a evaporação do suor dos corpos humanos e a umidade de algumas infraestruturas, como refrigeradores evaporativos. É preocupante, disseram os investigadores, que estas regiões também se situam em países de rendimento baixo a médio, pelo que muitas das pessoas afetadas podem não ter acesso a ar-condicionado ou a qualquer forma eficaz de mitigar os efeitos negativos do calor para a saúde. Se o aquecimento do planeta continuar a 3°C acima dos níveis pré-industriais, concluíram os pesquisadores, os níveis de calor e umidade que ultrapassam a tolerância humana começariam a afetar a Costa Leste e o centro dos Estados Unidos – da Flórida a Nova York e de Houston. para Chicago. A América do Sul e a Austrália também experimentariam calor extremo nesse nível de aquecimento. Com os actuais níveis de aquecimento, disseram os investigadores, os Estados Unidos sofrerão mais ondas de

S. Tony Wolf, pesquisador de pós-doutorado em Cinesiologia na Penn State, conduz uma sessão de pesquisa nas instalações do Laboratório Noll da equipe

calor, mas não se prevê que estas ondas de calor ultrapassem os limites humanos com tanta frequência como noutras regiões do mundo. Ainda assim, os in-

vestigadores alertaram que estes tipos de modelos muitas vezes não contabilizam os piores e mais invulgares acontecimentos climáticos.

S. Tony Wolf, pesquisador de pós-doutorado em Cinesiologia na Penn State, à direita, e Rachel Cottle, estudante de pós-graduação em fisiologia do exercício, discutem os dados coletados durante uma sessão no laboratório

“Modelos como esses são bons para prever tendências, mas não prevêem eventos específicos como a onda de calor de 2021 em Oregon, que matou mais de 700 pessoas, ou Londres, que atingiu 40°C no verão passado”, disse o autor principal Daniel Vecellio, bioclimatologista que completou um pós-doutorado. bolsa de estudos na Penn State com Kenney. “E lembre-se, os níveis de calor estavam todos abaixo dos limites de tolerância

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humana que identificamos. Assim, embora os Estados Unidos consigam escapar a alguns dos piores efeitos directos deste aquecimento, veremos com mais frequência um calor mortal e insuportável. E – se as temperaturas continuarem a subir – viveremos num mundo onde as colheitas estão a fracassar e milhões ou milhares de milhões de pessoas estão a tentar migrar porque as suas regiões nativas são inabitáveis”.

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Compreender os limites humanos e o aquecimento futuro Nos últimos anos, Kenney e os seus colaboradores conduziram 462 experiências separadas para documentar os níveis combinados de calor, humidade e esforço físico que os humanos podem tolerar antes que os seus corpos já não consigam manter uma temperatura central estável. “À medida que as pessoas ficam mais quentes, elas suam e mais sangue é bombeado para a pele para que possam manter a temperatura central, perdendo calor para o meio ambiente”, disse Kenney. “Em certos níveis de calor e umidade, esses ajustes não são mais suficientes e a temperatura corporal central começa a subir. Esta não é uma ameaça imediata, mas requer alguma forma de alívio. Se as pessoas não encontrarem uma forma de arrefecer dentro de horas, isso pode levar à exaustão pelo calor, insolação e tensão no sistema cardiovascular que pode levar a ataques cardíacos em pessoas vulneráveis”. Em 2022, Kenney, Vecellio e seus colaboradores demonstraram que os limites de calor e umidade que as pessoas podem suportar são inferiores aos teorizados anteriormente. “Os dados recolhidos pela equipa de

Este mapa mostra as horas anuais projetadas de calor além dos limites humanos no Sul da Ásia (A – D), Leste Asiático (E – H), Norte da África (I – L), Oriente Médio (M – P) e América do Norte (Q– T) se o mundo aquecer 1,5°C, 2°C, 3°C e 4°C acima dos níveis pré-industriais. Crédito: Cortesia de Daniel Vecellio, Qinqin Kong, W. Larry Kenney e Matthew Huber

Kenney na Penn State forneceram provas empíricas muito necessárias sobre a capacidade do corpo humano de tolerar o calor. Esses estudos foram a base destas novas previsões sobre onde as alterações

climáticas criarão condições que os humanos não podem tolerar por muito tempo”, disse o coautor Matthew Huber, professor de ciências terrestres, atmosféricas e planetárias na Universidade Purdue.

Dr. Matthew Huber, retratado em frente ao modelo Voss da Sun of Purdue University, é uma autoridade líder em estresse térmico e seus impactos nas pessoas e nos ecossistemas

Quando este trabalho foi publicado, Huber, que já havia começado a trabalhar no mapeamento dos impactos das mudanças climáticas, contatou Vecellio sobre uma possível colaboração. Huber já havia publicado um trabalho amplamente citado propondo um limite teórico para os limites de calor e umidade dos humanos. Os pesquisadores, juntamente com o estudante de graduação de Huber, Qinqin Kong, decidiram explorar como as pessoas seriam afetadas em diferentes regiões do mundo se o planeta aquecesse entre 1,5 C e 4 C. Os pesquisadores revistaamazonia.com.br

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disseram que 3 C é a melhor estimativa de como muito o planeta aquecerá até 2100 se nenhuma ação for tomada. “Em todo o mundo, as estratégias oficiais de adaptação ao clima concentram-se apenas na temperatura”, disse Kong. “Mas esta pesquisa mostra que o calor úmido será uma ameaça muito maior do que o calor seco. Os governos e os decisores políticos precisam de reavaliar a eficácia das estratégias de mitigação do calor para investir em programas que abordem os maiores perigos que as pessoas enfrentarão”. REVISTA AMAZÔNIA

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Ficar seguro no calor Independentemente do quanto o planeta aqueça, os investigadores disseram que as pessoas devem estar sempre preocupadas com o calor e a humidade extremos – mesmo quando permanecem abaixo dos limites humanos identificados. Em estudos preliminares de populações mais velhas, Kenney descobriu que os adultos mais velhos sofrem stress térmico e as consequências para a saúde associadas a níveis mais baixos de calor e humidade do que os jovens. “O calor já é o fenômeno climático que mais mata pessoas nos Estados Unidos”, disse Vecellio, agora pesquisador de pós-doutorado no Centro Climático da Virgínia da Universidade George Mason. “As pessoas devem cuidar de si mesmas e dos seus vizinhos – especialmente os idosos e os doentes – quando as ondas de calor chegarem”. Os dados utilizados neste estudo examinaram as temperaturas centrais do corpo, mas os pesquisadores disseram que durante as ondas de calor, as pessoas também enfrentam problemas de saúde por outras causas. Por exemplo, Kenney disse que a maioria das 739 pessoas que morreram durante a onda de calor de Chicago em 1995 tinham mais de 65 anos e experimentaram uma combinação de temperatura corporal elevada e problemas cardiovasculares, levando a ataques cardíacos e outras causas cardiovasculares de morte.

Adultos mais velhos sofrem stress térmico e as consequências para a saúde associadas a níveis mais baixos de calor e humidade do que os jovens

O calor já é o fenômeno climático que mais mata pessoas nos Estados Unidos

Olhando para o futuro Para impedir o aumento das temperaturas, os investigadores citam décadas de investigação que indicam que os seres humanos devem reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, especialmente o dióxido de carbono emitido pela queima de combustíveis fósseis. Se não forem feitas mudanças, os países de rendimento médio e baixo serão os que mais sofrerão, disse Vecellio. Como exemplo, os investigadores apontaram Al Hudaydah, no Iémen, uma cidade portuária com mais de 700 mil habitantes no Mar Vermelho. Os resultados do estudo indicaram que se o planeta aquecer 4°C, esta cidade pode esperar mais de 300

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dias em que as temperaturas excedam os limites da tolerância humana todos os anos, tornando-a quase inabitável. “O pior stress térmico ocorrerá em regiões que não são ricas e que deverão registar um rápido crescimento populacional nas próximas décadas”, disse Huber. “Isto é verdade apesar de estas nações gerarem muito menos emissões de gases com efeito de estufa do que as nações ricas. Como resultado, milhares de milhões de pessoas pobres sofrerão e muitas poderão morrer. Mas as nações ricas também sofrerão com este calor e, neste mundo interligado, todos podem esperar ser afetados negativamente de alguma forma”.

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Espaços verdes podem salvar vidas

Análises de pequenas áreas usando projeto de série temporal de casos e diferentes medições de vegetação por *Yi Qian, Xi’an jiaotong, Universidade de Liverpool

Fotos: Jothamsutharson via Pixabay, Tingyaoh via Pixabay, Yi Qian

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um contexto de alterações climáticas globais, os fenômenos de calor extremo estão a tornar-se mais quentes, mais longos e mais frequentes. Este calor extremo e sustentado teve um impacto grave na saúde das pessoas em todo o mundo. É geralmente reconhecido que algumas características da paisagem urbana, como os espaços verdes, podem oferecer alívio às altas temperaturas. No entanto, poucos estudos demonstraram como a mudança da paisagem de uma cidade afeta a capacidade dos seus residentes para lidar com o calor extremo e o efeito sobre a mortalidade. Em dois artigos, investigadores da China, da África do Sul e do Reino Unido descobriram que os espaços verdes, como as árvores que revestem as ruas, podem aliviar os impactos negativos do calor extremo na saúde humana. Um dos dois artigos, “Modificações de efeito da visão aérea e da vegetação urbana no nível dos olhos em associações de mortalidade por calor: análises de pequenas áreas usando design de série

Espaços verdes urbanos na cidade de Kaohsiung

temporal de casos e diferentes medições de vegetação”, foi publicado em Perspectivas de Saúde Ambiental .

As árvores que revestem as ruas, podem aliviar os impactos negativos do calor extremo na saúde humana (Idênticas as Mangueiras da Av. Presidente Vargas, em Belém-Pará

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O outro artigo, “Efeitos da paisagem urbana nas associações de mortalidade por ondas de calor em Hong Kong: comparação de diferentes definições de ondas de calor”, foi publicado na Frontiers of Environmental Science and Engineering. Eles também observaram um risco maior de mortalidade associada a ondas de calor quando os edifícios estão mais densamente agrupados e quando a temperatura da superfície terrestre é mais alta à noite. Os resultados da investigação fornecem provas científicas para que os decisores políticos e designers urbanos formem e implementem estratégias e intervenções de saúde para condições de calor extremo, tais como a incorporação de diferentes tipos de vegetação nas cidades.

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Paisagens que afetam a saúde Os pesquisadores optaram por estudar Hong Kong devido aos seus verões quentes e úmidos, bem como à sua alta densidade predial e populacional. Eles analisaram dados de mortalidade, meteorológicos e de uso da terra coletados entre 2005 e 2018. Eles descobriram que os espaços verdes têm uma capacidade notável de proteger as pessoas de doenças relacionadas com o calor, especialmente sob ondas de calor mais longas e intensas, diz o Dr. Jinglu Song, o primeiro e correspondente autor dos dois artigos. Dr. Song é professor assistente no Departamento de Planejamento e Design Urbano da Xi’an Jiaotong-Liverpool University.

Hong Kong com seus verões quentes e úmidos, alta densidade predial e populacional

A vegetação urbana pode impactar nossa saúde, afirma novo relatório

“A vegetação tende a libertar mais vapor de água à medida que as temperaturas circundantes aumentam, conduzindo assim a um melhor efeito de arrefecimento do ar à sua volta. As árvores, em particular, também podem fornecer sombra para residentes e peões. “Em contraste, as áreas com alta densidade de edifícios são mais quentes, pois as estruturas de concreto absorvem mais energia solar e bloqueiam a passagem do ar entre elas, retendo assim o calor”. Dr. Song continua: “Durante eventos de calor prolongados, os edifícios podem não conseguir esfriar completamente à noite, o que aumenta as temperaturas noturnas. “As temperaturas noturnas mais elevadas da superfície terrestre podem contribuir para um efeito de ilha de calor urbano mais intenso, um fenómeno em que as áreas urbanas são mais quentes do que as zonas rurais próximas.

Diferenças de idade e gênero

Os idosos (acima dos 65 anos) e os homens têm maior probabilidade de serem afetados pelas alterações introduzidas na paisagem urbana

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Os investigadores descobriram também que, durante as ondas de calor, os idosos (acima dos 65 anos) e os homens têm maior probabilidade de serem afetados pelas alterações introduzidas na paisagem urbana. Song explica: “Os adultos mais velhos tendem a se envolver em menos comportamentos de adaptação ao calor, como ligar ventiladores ou ar-condicionado, tomar banho ou sair de casa. “As atividades diárias dos idosos são muitas vezes dentro ou perto das suas áreas residenciais. Portanto, eles estão mais suscetíveis à paisagem urbana circundante.

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Vegetação urbana na cidade de Suzhou

“Além disso, devido às diferentes distribuições de género nos sectores industriais, os homens podem trabalhar ao ar livre durante mais tempo e são mais propensos do que as mulheres a serem afetados por ondas de calor em determinadas situações”.

Medindo a vegetação urbana A vegetação urbana é normalmente medida através de imagens de satélite, no entanto, isto muitas vezes ignora aspectos que as pessoas veem no terreno.

Estudos anteriores podem, portanto, ter subestimado os benefícios para a saúde da vegetação urbana ao nível dos olhos contra eventos de calor extremo. Para superar esses problemas, os pesquisadores avaliaram a vegetação urbana usando dados de imagens de satélite e imagens do Google Street View. Em comparação com a avaliação da vegetação urbana vista de cima usando imagens de satélite, a medição da vegetação ao nível dos olhos é mais precisa ao refletir o que as pessoas veem e acessam quando caminham pela cidade.

Reduzem a exposição das pessoas a fatores prejudiciais à saúde

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Dr. Song diz: “É difícil usar imagens de satélite para detectar vegetação urbana, como muros verdes verticais ou arbustos e gramados cobertos por árvores. É por isso que usamos imagens panorâmicas de paisagens urbanas do Google Street View para ter uma compreensão mais precisa de como as ruas A vegetação de alto nível afeta a mortalidade por calor”. “Os espaços verdes e a folhagem ao longo das ruas pedonais podem melhorar o conforto térmico em climas quentes. Também reduzem a exposição das pessoas a fatores prejudiciais à saúde, como a poluição do ar e o ruído do trânsito. “O design das nossas cidades tornar-se-á cada vez mais importante na mitigação do risco de morte associada ao calor no futuro, à medida que se prevê que os eventos de calor extremo se tornem mais frequentes, mais longos e mais intensificados.” Os estudos foram conduzidos por pesquisadores da Xi’an Jiaotong-Liverpool University (XJTLU), China; Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Reino Unido; Universidade de Liverpool, Reino Unido; Universidade Municipal de Hong Kong, China; North West University, África do Sul; e Universidade de Zhejiang, China.

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Relatório da UNU oferece soluções para mitigar pontos críticos de risco O relatório propõe “um novo quadro para soluções”, com soluções que se enquadram em duas categorias: evitar, visando as causas profundas e os impulsionadores do risco para evitar completamente os pontos de inflexão do risco; e adaptar-se, para se preparar ou abordar melhor os impactos negativos dos pontos de ruptura dos riscos, caso estes não possam ser evitados. Para as duas soluções, o estudo recomenda dois tipos de ações: atrasar, trabalhando dentro do sistema existente de “business as usual” para retardar a progressão em direção a pontos de inflexão de risco; e transformar, através de uma “reimaginação fundamental de um sistema em algo mais forte e mais sustentável do que antes Fotos: Brian Clark/Pac, ONU, UNICEF

O Instituto Universitário das Nações Unidas para o Ambiente e a Segurança Humana (UNU-EHS) publicou um relatório que analisa seis pontos de inflexão de risco interligados e propõe um quadro de mitigação de riscos para ajudar a avaliar potenciais resultados e compromissos de soluções de mitigação de riscos.

• Detritos espaciais causando perda de múltiplos satélites; • Calor insuportável dificultando a vida em algumas áreas; • Futuro insegurável quando os riscos crescentes tornam as casas inacessíveis.

Os seis pontos de inflexão de risco, selecionados pela sua representação de grandes questões globais, são: • Acelerar extinções que desencadeiam reações em cadeia que levam ao colapso do ecossistema; • Esgotamento das águas subterrâneas que drenam a água, colocando em risco o abastecimento de alimentos; • Derretimento das geleiras das montanhas;

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‘Relatório sobre Riscos de Desastres Interligados de 2023’ define um ponto de inflexão de risco como “o momento em que um determinado sistema socioecológico não é mais capaz de amortecer os riscos e fornecer as funções esperadas, após o qual o risco de impactos catastróficos para esses sistemas aumenta substancialmente”. “Com esses pontos de inflexão de risco, é como se estivéssemos nos aproximando de um penhasco que não podemos ver claramente à nossa frente e, uma vez que caímos do penhasco, não podemos voltar facilmente”, explicou a vice-diretora da UNU-EHS, Zita Sebesvari.

O relatório propõe “um novo quadro para soluções”, com soluções que se enquadram em duas categorias: evitar , visando as causas profundas e os impulsionadores do risco para evitar completamente os pontos de inflexão do risco; e adaptar-se para se preparar ou abordar melhor os impactos negativos dos pontos de ruptura dos riscos, caso estes não possam ser evitados.

Para as duas soluções, o estudo recomenda dois tipos de ações: atrasar , trabalhando dentro do sistema existente de “business as usual” (BAU) para retardar a progressão em direção a pontos de inflexão de risco; e transformar , através de uma “reimaginação fundamental de um sistema em algo mais forte e mais sustentável do que antes”. A título de ilustração, uma abordagem de evitar-transformar poderia ser utilizada para abordar o insuportável ponto de viragem do calor, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), enquanto a instalação de aparelhos de ar condicionado em climas quentes é um exemplo de uma abordagem de adaptação-atraso. “Precisaremos desenvolver soluções que reúnam diferentes setores e abordem os impulsionadores e as causas profundas de uma forma sistémica”, disse Sebesvari. O relatório foi publicado em 25 de outubro de 2023, antes da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC COP 28), que terá lugar de 30 de novembro a 12 de dezembro.

Por exemplo, cerca de 70% das retiradas de águas subterrâneas são utilizadas para a agricultura, exercendo pressão sobre os aquíferos, que fornecem água potável a mais de 2 mil milhões de pessoas. Como resultado, mais de metade dos principais aquíferos do mundo estão a esgotar-se mais rapidamente do que podem ser reabastecidos naturalmente, colocando em risco os sistemas de produção alimentar. De acordo com o estudo, países como a Arábia Saudita já ultrapassaram o ponto de viragem do risco das águas subterrâneas e outros, como a Índia, estão a aproximar-se desse ponto. revistaamazonia.com.br

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Os impactos também podem propagar-se para outros sistemas e locais em todo o mundo, alertam os autores do relatório da ONU

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Agro continuará com papel importante na produção das energias do futuro Especialistas preveem diversificação de matérias-primas para biocombustíveis. Veículos híbridos movidos a etanol podem ser mais sustentáveis do que os totalmente elétricos. Etanol pode estar na cadeia de obtenção sustentável do hidrogênio. Resíduos orgânicos deverão ser cada vez mais usados para gerar biogás e biometano por *Márcia Cristina de Faria

Fotos: Envato

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participação do setor agropecuário será fundamental na consolidação de matrizes energéticas cada vez mais limpas e sustentáveis. Foi o que apontaram as tendências traçadas por especialistas em energia que participaram da elaboração da Rota Estratégica Nova Economia 2030 , organizada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ( ABDI ) A rota estratégica ou roadmapping é um processo de planejamento que facilita a identificação de novos produtos, processos e serviços necessários para enfrentar adversidades e aproveitar novas oportunidades. Para oito seções temáticas ( veja detalhes abaixo ), os especialistas traçaram ações de curto, médio e longo prazo, a fim de orientar o desenvolvimento de cada uma delas. No tema “Energias Renováveis”, o agro terá forte participação em bolsas de ações recomendadas. Entre o prazo de curto prazo está a consolidação da produção de biocombustíveis, área em que o Brasil tem grande experiência com etanol e biodiesel. No documento, os técnicos recomendam a expansão da produção e do uso desses combustíveis para cumprir as metas de descarbonização. O desenvolvimento do setor ainda deve passar pelo estímulo à implantação de biorrefinarias que geram, con-

No documento, os especialistas recomendam a expansão da produção e o uso de biocombustíveis, área na qual o Brasil tem experiência, para cumprir as metas de descarbonização

juntamente, biocombustíveis e outros bioprodutos como fertilizantes. Outra recomendação dos especialistas é o estímulo à renovação da frota por veículos híbridos ou de emissão zero. “Achamos muitas vezes que o veículo 100% elétrico é mais sustentável; no entanto, é preciso contabilizar as emissões envolvidas na produção das suas bate-

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rias e na fonte de energia que vai abastecê-lo. Nesse ponto, o veículo híbrido, que possui motores elétricos e a combustão, é bem menos impactante. E os híbridos movidos a biocombustíveis melhores ainda”, esclarece o pesquisador da Embrapa Alexandre Alonso , que participou do grupo de especialistas em Energias Renováveis da Rota Estratégica.

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Alonso, que chefia a Embrapa Agroenergia (DF), acredita que o setor agropecuário terá importância cada vez maior na transição para matrizes energéticas mais limpas. Ele explica que a pesquisa mundial se volta para o hidrogênio como combustível, com horizonte de longo prazo, uma vez que é uma fonte com zero emissão de CO2. Entre as várias rotas para a obtenção do elemento, o mais sustentável é o do hidrogênio verde, resultado de processos como a reforma do etanol, através do gás de biomassa ou pela eletrólise da água; nesse caso, com uso de energia solar ou eólica. “Mais uma vez, a agroenergia terá muito a contribuir para o balanço de carbono, uma vez que a reforma do etanol, chamada de rota verde-musgo, pode apresentar emissões neutras ou mesmo negativas, ou seja, é capaz de capturar carbono da atmosfera”, ressalta o pesquisador. Ele avalia que o agro pode ser um dos maiores participantes do mercado de carbono, nicho que deve favorecer diversas atividades agrícolas sustentáveis, inclusive as relacionadas à energia. O próprio roadmap recomenda, para o médio prazo, o desenvolvimento de modelos de negócio para o setor energético voltado para a comercialização de créditos de carbono. “Esse mercado poderá gerar um acréscimo de renda importante ao produtor rural brasileiro e o País tem um grande potencial no processo de descarbonização da economia”, analisa Alonso.

Biogás e biometano Oportunidade importante para as usinas sucroalcooleiras é a produção de biogás e biometano. Diferentemente do gás natural, que é de origem fóssil, o biogás vem de fonte renovável e é capaz

A pesquisa mundial se volta para o hidrogênio como combustível, com horizonte de longo prazo, uma vez que é uma fonte com zero emissão de CO2

A expectativa da pesquisa é que as refinarias do futuro utilizem materiais primas renováveis, como a cana-de-açúcar

de auxiliar na geração do hidrogênio por eletrólise da água e ainda obter no processo a amônia, fonte de fertilizantes nitrogenados. O pesquisador prevê aumento crescente de biocombustíveis como o biodiesel e o bioquerosene de aviação.

Alexandre Alonso, assinando acordo com a Carbom, na feira AgroBrasília

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A expectativa é que as refinarias do futuro utilizem materiais primas renováveis, como a cana-de-açúcar, que promovem a descarbonização do planeta, chamadas de biorrefinarias, bem diferentes das atuais refinarias de petróleo que atuam com fontes não renováveis e emitem CO2 em seus processos. O uso de biomassa para obtenção de energia será cada vez mais comum e, por isso, os participantes ouvidos recomendam, no prazo médio, a criação de um banco de dados sobre a produção de biomassa com potencial energético para reaproveitamento. “É importante saber que o conceito de energias limpas vai muito além da geração eólica, solar e congêneres. O Brasil, potência agrícola mundial, tem condições de estar entre os protagonistas dessa transição energética, além de ter capacidade para desenvolver e exportar tecnologias limpas para o mundo”, conclui o pesquisador da Embrapa.

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Ações recomendadas em energias renováveis no curto prazo ☆ Fortalecer a micro e minigeração de energia limpa no âmbito de regiões com limitações ao acesso a infraestruturas, a exemplo das comunidades remotas e rurais. ☆ Facilitar os processos de financiamento para empreendimentos voltados para energia renovável e eficiência energética. ☆ Estimular a modernização do ambiente de negócios e dos mecanismos de desenvolvimento da infraestrutura de energia no Brasil. ☆ Promover iniciativas em conjunto com os múltiplos agentes do setor energético e demais partes interessadas, a fim de alavancar a transição energética nacional. ☆ Aprimorar a indicação de oportunidades de investimento no setor de energia, de forma integrada e transparente, respeitando as particularidades regionais. ☆ Consolidar o consumo de biocombustíveis no Brasil e incentivar o desenvolvimento da mobilidade elétrica adequado à realidade nacional. ☆ Adequar a oferta de capital humano às demandas da transição energética. ☆ Estimular o desenvolvimento, produção e uso de novos combustíveis avançados renováveis para atendimento dos modais logísticos. ☆ Expandir a produção e uso de biocombustíveis, com vistas ao atendimento das metas de descarbonização. ☆ Estimular o uso de resíduos e a diversificação de materiais-primas para produção de biocombustíveis. ☆ Estimular a produção de biogás e biometano a partir de todos os resíduos orgânicos. ☆ Estimular o desenvolvimento de biorrefinarias planeadas à produção integrada de biocombustíveis e bioprodutos. ☆ Desenvolver políticas públicas que fomentem a eficiência energética, principalmente em energias renováveis.

☆ Financiar a cultura da eficiência energética junto às instituições financeiras.

O biogás vem de fonte renovável. Na foto, instalações para a produção de biogás

☆ Estimular a renovação da frota por veículos híbridos e de emissão zero. ☆ Aperfeiçoar os mecanismos regulatórios, mudando para a descarbonização da economia. ☆ Estimular a modernização do ambiente de negócios sustentável. ☆ Investir, ampliar e modernizar a infraestrutura de energia no Brasil. ☆ Incentivar o aproveitamento das potencialidades energéticas locais. ☆ Divulgar informações do setor energético, tornando-as compreensíveis para todos os públicos. ☆ Promover a comunicação entre academia, institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), startups, empresas e indústria, evoluindo à identificação das necessidades de desenvolvimento tecnológico. ☆ Ampliar oferta de editais específicos para fomento de energias renováveis e eficiência energética. Fonte: ABDI, Rota Estratégica Nova Economia 2030

Uma Embrapa sem roteiro A Rota Estratégica Nova Economia 2030 engloba oito dimensões temáticas: Agro 4.0, ASG (Ambiental, Social e Governança), Bioeconomia e Biotecnologia, Cidades Inteligentes e Sustentáveis, Economia Circular, Ecossistema e Tecnologias Digitais, Energias Renováveis e Indústria 4.0. Além de Alonso, que atuou na frente Energias Renováveis, participaram outros seis especialistas da Embrapa na elaboração do documento: Bruno Pena Carvalho ( Embrapa Acre ), Carla Geovana Macário ( Embrapa Agricultura Digital ), Everton Rabelo Cordeiro e Katia Emídio da Silva ( Embrapa Amazônia Ocidental ), Ricardo Yassushi Inamasu ( Embrapa Instrumentação ) e Rita Borges Faustino ( Embrapa Semiárido ).

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Projeto Masterplan 2030 dá continuidade ao debate Como desdobramento do projeto Rota Estratégica Nova Economia 2030, está sendo desenvolvido o projeto Masterplan 2030, que tem o objetivo de desenvolver e coordenar a implementação das ações estratégicas propostas na Rota Estratégica. O Masterplan é gerenciado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ( ABDI ), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial ( Senai ) e com o Observatório da Indústria do Sistema da Federação das Indústrias do Estado do Ceará ( Fiec ). O Masterplan deverá definir uma agenda prioritária de ações estratégicas no contexto da nova economia (economia digital e economia verde). Para esse trabalho, foram convocados especialistas da academia, da iniciativa privada, do poder público e do terceiro setor, com o propósito de debater, em quatro painéis, as 64 ações prioritárias apontadas a partir da Rota Estratégica. Dois pesquisadores da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza Júnior e Eduardo Fernandes Formighieri , foram convidados para compor o painel

No documento, os especialistas recomendam a expansão da produção e o uso de biocombustíveis, área na qual o Brasil tem experiência, para cumprir as metas de descarbonização

3, “Biotecnologia e Bioeconomia”, no qual foram discutidas as ações estratégicas nas duas áreas. Segundo Souza Júnior, o principal aspecto do debate foi o aproveitamento de resíduos. “Discutimos bastante a questão do aproveitamento de resíduos. Em qualquer sistema de produção agrícola há resíduos em maior ou menor grau.

Muitos são jogados de volta à natureza de uma forma não muito sustentável. Por isso, é importante investir no desenvolvimento científico-tecnológico, para viabilizar o aproveitamento e reduzir a quantidade que vai acabar sendo jogado na natureza, ao mesmo tempo em que são gerados diversos produtos de alto valor agregado”, defende.

Nova fase A partir dos painéis com os especialistas, a ABDI passa a trabalhar em uma nova etapa do projeto Masterplan 2030. “A ABDI angariou opiniões, visões e sugestões de especialistas e essas informações foram discutidas para refinar, melhorar e melhorar o trabalho da Rota Estratégica. Agora, a partir dos painéis, a ABDI está trabalhando no processo de sistematização e convergência das análises de todos os participantes, sem intenção de construir um documento que apresente as questões relevantes sobre a Nova Economia”, concluiu Souza. [*] Embrapa Agroenergia

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A análise da rede climática ajuda a identificar regiões com maior risco

A frequência crescente de eventos climáticos extremos em todo o mundo, tais como incêndios florestais e inundações, devido às alterações climáticas sublinha o facto de estes eventos não serem aleatórios, mas sim interligados Fotos: Divulgação, Divulgação/MDIC

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estudo destes fenómenos climáticos interligados, conhecidos como teleconexões, continua a ser um território relativamente desconhecido, mas é essencial para obter uma compreensão abrangente do nosso sistema climático. Na revista “Chaos”, publicada pela AIP Publishing, um grupo de pesquisadores associados à Universidade Normal de Pequim e ao Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático na Alemanha, em colaboração com a Universidade de Correios e Telecomunicações de Pequim na China, apresenta uma abordagem de análise de rede climática para investigar a força, os padrões geográficos e as mudanças nas teleconexões. As teleconexões descrevem como os eventos climáticos numa parte do mundo podem afetar o clima a milhares de quilómetros de distância. Pense nisso como um efeito dominó em escala global. Jingfang Fan, coautor do estudo, Universidade Normal de Pequim

A estrutura das teleconexões representada na rede climática

Jingfang Fan, coautor do estudo e afiliado à Universidade Normal de Pequim e ao Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, enfatiza que “ dentro de apenas cinco

anos, poderemos ver as temperaturas subindo para níveis sobre os quais os cientistas globais têm nos alertado. o planeta está com uma febre que piora cada vez mais”.

A estrutura das teleconexões representada na rede climática

(a) As localizações geográficas dos dois nós selecionados, eu (-42,5∘(−42.5°S,30∘30°Varinhaj (-17,5∘(−17.5°S,30∘30°E). (b) As evoluções temporais da anomalia de temperatura (em∘°C) nesses dois pontos. (c) A função de correlação cruzada entre as duas séries temporais, com um valor máximo de correlação de aproximadamente 0,19 observado em um intervalo de tempo deτ=2dias

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A estrutura das teleconexões representada na rede climática

A distribuição de intensidade das teleconexões na rede climática. (a) EUN (W) de links positivos; (b) Você _T( W) de links positivos; (c) EUN( W) de links negativos; e (d) Você _T( W) de links negativos As redes climáticas podem ser comparadas a mapas, com pontos de dados representando locais específicos e as ligações entre estes pontos revelando semelhanças. O método de análise de redes climáticas desenvolvido pelos investigadores combina as direções e padrões de distribuição das teleconexões para avaliar a sua força e identificar áreas particularmente suscetíveis. Esta análise baseia-se em técnicas sofisticadas de processamento de dados e algoritmos matemáticos para extrair informações críticas sobre as teleconexões climáticas. Nosso trabalho descobriu padrões em eventos climáticos impulsionados principalmente por ondas atmosféricas de Rossby, que são grandes ondas planetárias inerciais que ocorrem naturalmente em fluidos

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em rotação e causam movimento na atmosfera, disse Jingfang Fan, coautor do estudo, Universidade Normal de Pequim A equipe de investigação identificou regiões notavelmente afetadas por estes eventos inter-relacionados, com foco específico em áreas como o sudeste da Austrália e a África do Sul, que foram consideradas particularmente sensíveis. Uma revelação cativante do seu estudo é que estas ligações têm vindo a fortalecer-se ao longo do tempo, de 1948 a 2021, possivelmente influenciadas por uma combinação de fatores, incluindo alterações climáticas, atividades humanas e outras variáveis. Notavelmente, a extensão e a intensidade destes impactos das teleconexões tornaram-se mais pronunciadas no Hemisfério Sul ao longo dos últimos 37 anos.

Esta pesquisa oferece uma nova abordagem para avaliar e analisar teleconexões climáticas. Os investigadores pretendem aplicar estes novos conhecimentos para identificar regiões que poderão enfrentar riscos acrescidos no futuro e para desenvolver estratégias para enfrentar estes desafios emergentes. O próximo passo é como a previsão do tempo – mas com esteróides. Usando o que aprendemos, pretendemos prever como os eventos climáticos se desenvolverão e se conectarão. Estamos nos aprofundando para explorar por que esses eventos acontecem e como vários “pontos de inflexão” climáticos dentro do nosso sistema climático podem estar ligados, disse: Jingfang Fan, coautor do estudo, Universidade Normal de Pequim

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Plantas superpoderosas: heróis da crise climática

Árvores e culturas consumidoras de carbono, geneticamente alteradas para estimular a fotossíntese e armazenar carbono nas raízes, poderiam absorver milhões de toneladas de CO2 da atmosfera por Daniel Scheschkewitz

Fotos: Karen Robinson

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ma startup de biotecnologia da Bay Area - região da Baia de São Francisco, está combatendo as mudanças climáticas melhorando geneticamente a capacidade das árvores de capturar e armazenar dióxido de carbono. Quase um terço das terras do mundo está coberto de árvores. De forma simplista, eles absorvem e armazenam dióxido de carbono e expiram oxigênio fresco – um ato de equilíbrio requintado. No entanto, esse equilíbrio tem estado ameaçado devido a muitos fatores, incluindo a desflorestação, onde as árvores são cortadas, queimadas e danificadas em grande escala. Acrescente a isso a queima desenfreada de combustíveis fósseis. Estes fatores estão a colocar na atmosfera mais CO2, que provoca o aquecimento climático, do que a Mãe Natureza consegue suportar. “Lançamos esse sistema sem a nossa biosfera, que é em si um ecossistema, e desequilibramos esse sistema”, observou Maddie Hall, CEO da startup de biotecnologia da Bay Area, Living Carbon .

Após 17 semanas, as mudas (setas azuis) apresentaram um aumento visível na altura em comparação aos controles (setas vermelhas). Após uma análise mais aprofundada, descobrimos que esses eventos demonstram altura significativamente mais alta com valor de p inferior a 0,01

A empresa espera colocar o sistema de volta nos trilhos, desenvolvendo choupos muito especiais. Estas árvores estão a criar raízes dentro de uma estufa na Península. “O que estamos tentando acrescentar ao quadro da captura de carbono é utilizar o poder natural das plantas”, observou Yuman Tao, diretor científico e biólogo sintético da Living Carbon.

Maddie Hall é CEO e cofundadora da Living Carbon

Esquerda: muda de choupo híbrido com característica de aumento da fotossíntese. À direita: controle de mudas de choupo híbrido

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Estas árvores jovens são bioengenhadas para ajudar a combater as alterações climáticas. Eles crescerão mais rapidamente e armazenarão mais CO2. Eles conseguem isso por meio da engenharia genética. As árvores são geneticamente melhoradas para captura e armazenamento de carbono. “Living Carbon usa ferramentas biotecnológicas avançadas para melhorar a taxa de crescimento, captura de carbono revistaamazonia.com.br

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e resiliência climática das árvores”, explicou Hall, ao mostrar à CBS News Bay Area o laboratório de sua empresa em East Bay. A equipe científica está buscando aumentar a capacidade dessas árvores de realizar a fotossíntese. Para realizar este feito, os cientistas incorporaram genes de outras plantas, incluindo algas, no ADN do choupo. A empresa afirma que suas mudas podem acumular 50% mais biomassa e capturar mais que o dobro de carbono por acre. Um estudo publicado recentemente na revista Forests descobriu que as árvores modificadas cresceram até 53% mais rápido em apenas quatro meses quando comparadas às árvores padrão.“Eu estava super, superanimado”, exclamou Tao. A Living Carbon está agora testando suas árvores modificadas ao ar livre em terras subutilizadas e danificadas, incluindo uma área de madeira de lei na Geórgia e uma mina abandonada em Ohio.

Crescimento das árvores e acúmulo de carbono no caule em florestas modificadas pelo homem

Crescimento individual médio (a) e carbono (b) acumulados ao longo de 3 anos em florestas primárias não perturbadas (verde), florestas exploradas (azul), florestas exploradas e queimadas (laranja) e florestas secundárias (vermelho).

Até agora, a Living Carbon plantou mais de 170.000 árvores, esperando que o poder das suas plantas crie raízes e seja parte de uma solução interessante para um planeta em aquecimento

“Nós nos concentramos especificamente em plantar essas árvores não em terras onde as árvores crescem bem, mas onde houve algum tipo de perturbação humana”, disse Hall.A empresa está agora trabalhando com a Oregon State University em um teste de campo de 4 anos envolvendo mais de 600 árvores. “Nós nos concentramos especificamente em plantar essas árvores não em terras onde as árvores crescem bem, mas onde houve algum tipo de perturbação humana”, disse Hall.A startup já arrecadou mais de US$ 36 milhões e recebeu US$ 500.000 em subsídios do Departamento de Energia dos EUA. A Living Carbon relata que seus choupos podem capturar até 27% mais carbono. A startup espera vender créditos para compensações de carbono. O Frontier Fund procura acelerar o desenvolvimento de tecnologias de remoção de carbono, investindo em startups promissoras. revistaamazonia.com.br

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O fundo, fundado por Stripe, Alphabet, Shopify, Meta e McKinsey para citar as maiores entidades, está investindo no

Living Carbon. Hall diz que tem havido muito interesse em sua tecnologia e modelo. “O feedback tem sido muito positivo. Recebemos pessoas de mais de 100 países que nos procuraram querendo comprar árvores”, disse Hall.No entanto, existem críticos. O Global Justice Ecology Project afirma que estas árvores modificadas são uma ameaça crescente e, numa campanha, alertou sobre consequências não intencionais, incluindo a preocupação de que as árvores possam potencialmente ameaçar os ecossistemas florestais. Hall diz que existem salvaguardas e que as alterações climáticas são um problema urgente. “Devíamos tentar todas as soluções possíveis para mitigar as alterações climáticas para termos uma oportunidade”, disse Hall.

Para Maddie Hall é importante abraçar suas árvores antes de medir sua biomassa de carbono

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Como ajudar a salvar as plantas da extinção Prever sua morte poderia mantê-las vivas. Agora é a hora de identificar as condições que causam a morte das plantas. Fazer isso nos permitirá proteger melhor as plantas, escolhendo alvos de conservação de forma mais estratégica, argumentam os botânicos por * Universidade da Califórnia - Riverside

Fotos: Pixabay/CC0 Domínio Público, Changku88, Ron e Patty Thomas / iStock / Getty, Serena Doose/USFWS, Serviço Nacional de Parques/Anthony Caprio

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ublicado na Conservation Physiology, o artigo demonstra como os cientistas podem aprender os limites além dos quais as funções vitais das plantas são encerradas e defende que não o fazer é um erro nesta era de secas crescentes e incêndios florestais. “Podemos medir a quantidade de perda de água que as plantas podem tolerar antes de começarem a murchar, e podemos aprender a temperatura na qual a fotossíntese para diferentes tipos de plantas”, disse Louis Santiago, professor de botânica da UCR e autor correspondente do artigo. “É muito importante medir os limites críticos de quando as coisas irão falhar, e não apenas como estão agora”, disse ele.

O lilás da Califórnia é uma das espécies cujos limites críticos são conhecidos

As sequóias gigantes são uma das muitas espécies de plantas ameaçadas pelas mudanças climáticas e pelos incêndios florestais cada vez mais frequentes e severos. Poderão em breve começar a ter mais dificuldade para sobreviver

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A equipe da UCR acredita que compreender o estado fisiológico atual de uma espécie de planta durante o stress – que tantas pessoas experimentam com mais frequência com temperaturas mais quentes e secas em muitos locais – pode ser muito útil para mostrar o quão próximas algumas plantas já estão da extinção local. Combinados com dados de limites críticos, os fundos de conservação limitados poderiam ser gastos de forma ainda mais sensata, revelando os sinais de alerta das plantas antes de se tornarem visíveis. No entanto, estes limites críticos de tensão nem sempre são considerados na avaliação da saúde das populações de plantas, em parte porque ainda não existem para a maioria das espécies. Existem cerca de 700.000 espécies de plantas na Terra, mas apenas cerca de 1.000 cujos limites são conhecidos.

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Yreka phlox, flora da Califórnia em perigo

As plantas podem, em alguns casos, ultrapassar os seus limites durante um curto período de tempo e recuperar. Por exemplo, as plantas domésticas murcham quando não recebem água suficiente e se recuperam quando finalmente a recebem. No entanto, se permanecerem murchas por muito tempo, provavelmente morrerão. “A murcha, o que chamamos de perda da pressão do turgor, nem sempre é fatal, mas é um passo em direção à morte”, disse Santiago.

“Assim como pessoas com pressão arterial extremamente alta podem morrer se não conseguirem baixar”. O laboratório de Santiago está focado na fisiologia vegetal , nos processos químicos e físicos associados à vida vegetal. No entanto, grande parte da atividade em seu laboratório mudou nos últimos anos para o estudo de limites críticos. “Tudo começou depois da última seca, quando vimos espécies sofrendo. Queríamos fazer essas medições para ver se

poderíamos ter previsto as mortes que vimos”, disse Santiago. Para este artigo, ele e seus alunos mediram os pontos de murchamento das folhas de seis espécies de arbustos chapparal do sul da Califórnia, incluindo o lilás da Califórnia e dois tipos de sálvia. O seu trabalho demonstra que existem vários meios para obter os limites críticos e mostra como a informação pode ajudar nos resultados de conservação. “Geralmente, temos a capacidade de

Lilás selvagem (Ceanothus). A vida é difícil para as plantas que ficam em um campo sem comida ou água

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Novo olhar sobre o murchamento das plantas

Diagrama esquemático representando (a) o funcionamento estomático, iniciado pelo transporte da absorção de água e nutrientes pelas raízes para as folhas da planta. As etapas em sequência representam o mecanismo de transpiração, indicado pela perda de água através da abertura e fechamento dos estômatos ao longo da seção foliar; (b) processo de fotossíntese dependente da luz. Os fotossiste-

mas (grupos de pigmentos fotossintéticos (incluindo moléculas de pigmento de clorofila) incorporados na membrana do tilacóide) absorvem energia luminosa para energizar os elétrons deslocalizados. Os elétrons energizados são transferidos para moléculas transportadoras dentro da membrana tilacóide (cadeia de transferência de elétrons) para posterior produção de ATP (fosforilação) e redução de NADP+

Flores primaveris de Sand Verbena e Desert Primrose no Anza Borrego Desert State Park, Califórnia

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encontrar as espécies mais vulneráveis e raras e focar nelas. Temos a capacidade de descobrir quais plantas correm maior risco com as mudanças climáticas, mas será necessária a colaboração de fisiologistas vegetais, biólogos conservacionistas , e administradores de terras”, disse Santiago. A maioria das espécies de plantas enfrentará um clima nas próximas décadas que não as colocará sob os mesmos tipos de estresse em que evoluíram para viver. Para os entusiastas das plantas que desejam ajudar na sua sobrevivência, Santiago recomenda o envolvimento com sociedades de plantas nativas. “Você pode se juntar a eles na retirada de espécies invasoras ou contar o número de organismos raros, e há inúmeros projetos voluntários”, disse Santiago. “Vamos trabalhar de maneira mais inteligente e juntos”.

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A seleção natural pode atuar em locais isolados

Os climas tropicais são os de maior biodiversidade da Terra - mas não é apenas por serem quentes e úmidos A vida existe em todos os ambientes concebíveis da Terra, desde os picos de montanhas imponentes até aos trechos remotos de ilhas isoladas, desde superfícies iluminadas pelo sol até às profundezas mais escuras dos oceanos. No entanto, esta intrincada tapeçaria de existência não está espalhada uniformemente por *Marco Túlio Pacheco Coelho ** Catarina Graham *** David Roberts

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ma equipe internacional de cientistas (Efi Rousi, Kai Kornhuber, Goratz Beobide-Arsuaga, Fei Luo, Dim Coumou) analisou dados observacionais dos últimos 40 anos e mostrou, pela primeira vez, que esse rápido aumento está ligado a mudanças na circulação atmosférica. Ventos de grande escala de 5 a 10 km de altura, a chamada corrente de jato, estão mudando na Eurásia. Os períodos durante os quais a corrente de jato é dividida em duas ramificações – os chamados estados de

Fotos: Birger Strahl/Unsplash , CC BY, Ciprian Boiciuc/Unsplash , CC BY Marco Túlio Pacheco Coelho, Kurit Afshen/Shutterstock

jato duplo – tornaram-se mais duradouros. Esses estados de jato duplo explicam quase toda a tendência ascendente das ondas de calor na Europa Ocidental e cerca de 30% no domínio europeu maior. Durante séculos, os cientistas ficaram maravilhados com a extraordinária variedade de espécies exibidas nas regiões tropicais. A impressionante biodiversidade da floresta amazónica, a vida abundante nos ecossistemas únicos de Madagáscar, as florestas nubladas ricas em espécies da Costa Rica – os trópicos mostram a opulência da natureza.

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O que torna os trópicos tão incrivelmente diversos Desde o início dos estudos sobre biodiversidade, os cientistas acreditam que o fator predominante é o clima – os padrões de temperatura, precipitação e outras condições atmosféricas a longo prazo. Pensadores como Alexander von Humboldt prepararam o terreno no início do século XIX com as suas observações perspicazes, destacando como as regiões ricas em vida partilhavam frequentemente certas características climáticas .

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Ameaças à biodiversidade não são distribuídas igualmente

Avançando para o presente, os cientistas correlacionam com segurança o clima com a biodiversidade . Simplificando, as regiões mais quentes, mais húmidas e ricas em recursos são verdadeiros berços da vida. Algumas condições climáticas espalham-se por vastas paisagens, enquanto outras parecem fragmentadas, assemelhando-se a ilhas isoladas no meio de climas variados. Esta diferença levanta uma questão intrigante: a biodiversidade de uma área deve-se apenas ao seu clima? Ou será que o tamanho e o relativo isolamento destas bolsas climáticas influenciam a riqueza e a abundância das espécies que nelas prosperam? Fazemos parte de uma equipe internacional e interdisciplinar interessada no quebra-cabeça de como a geografia do clima e os padrões globais de diversidade de espécies se encaixam. A geografia do clima é uma parte maior do quadro da biodiversidade do que se supunha anteriormente, de acordo com os resultados do nosso estudo publicado recentemente na Nature.

O clima mediterrâneo tem o nome de onde ocorre no sul da Europa, mas condições isoladas semelhantes estão espalhadas por todo o mundo em partes da Califórnia, centro do Chile, Cabo Ocidental da África do Sul e sudoeste da Austrália

Central para a nossa investigação foi a exploração da geografia destes climas, examinando tanto o seu tamanho como o seu isolamento. Alguns climas são generalizados e comuns, espalhando-se por vastas áreas.

Os investigadores normalmente consideram a distribuição geográfica das espécies, conforme apresentado neste mapa que destaca o número de espécies de anfíbios em várias regiões do mundo

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Outros são mais fragmentados, emergindo como bolsas isoladas no meio de diferentes zonas climáticas, reminiscentes de ilhas num vasto oceano de outros climas diversos. Consideremos os climas tropicais: eles cobrem vastas extensões cumulativamente, apesar de serem divididos em partes menores e desconexas, mesmo em continentes diferentes. Nossas descobertas foram esclarecedoras . O clima, é claro, foi um fator importante no número de espécies que floresceram num local. Mas ficámos intrigados ao descobrir que cerca de um terço da variação que encontrámos na diversidade de espécies em todo o mundo pode ser atribuída unicamente ao tamanho e ao grau de isolamento de todas as instâncias de um determinado clima. A biodiversidade responde não apenas ao tipo de clima, mas também à sua distribuição espacial. Para além dos efeitos conhecidos do calor e da humidade, descobrimos que climas maiores e mais isolados promovem uma maior diversidade de espécies.

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Além disso, estes climas expansivos e fragmentados não só albergaram um maior número de espécies, mas também alimentaram uma combinação mais única de espécies. Ao aproveitar, mas transcender as metodologias tradicionais, a nossa abordagem revelou novos conhecimentos sobre as características geográficas dos climas. Descobrimos que quanto maior é uma zona climática, mais fragmentada e dispersa ela tende a ser na paisagem.

O isolamento estimula a diversidade Tradicionalmente, os cientistas têm pensado nos climas tropicais como extensões coesas, constituindo barreiras entre os distintos climas extratropicais dos pólos do nosso planeta. A nossa análise confirmou que os climas extratropicais mais frios estão relativamente bem interligados em grande parte do planeta. No entanto, as nossas descobertas revelam uma narrativa diferente para os trópicos: os climas tropicais aparecem mais como ilhas fragmentadas no meio de um mar de climas diversos, em vez de reinos expansivos e interligados. A nossa revelação sublinha que os climas tropicais, embora abundantes, estão dispersos e desarticulados pela superfície da Terra. Fazendo um paralelo, considere como as regiões montanhosas abrigam vales isolados onde as pessoas falam dialetos distintos moldados pela sua reclusão. A natureza reflete isto: as espécies em nichos climáticos isolados evoluem distintamente, criando um quadro de vida diversificado e único.

O mapeamento de espécies neste espaço climático, em vez de análises geográficas tradicionais da diversidade de espécies, revelou insights mais profundos sobre as relações entre biodiversidade e clima. O espectro das alterações climáticas , no entanto, lança uma longa sombra sobre estas ideias. Um mundo em rápido aquecimento poderá testemunhar uma fragmentação ainda maior de climas outrora vastos. Tais mudanças poderão desafiar as espécies, obrigando-as a atravessar paisagens assustadoras para encontrar habitats adequados. Se estes climas outrora expansivos recuarem, isso poderá perturbar todo o equilíbrio das interações entre as espécies.

Os climas extratropicais mais frios conectam-se de forma mais coesa em todo o mundo

Rica está repleta de biodiversidade – em parte porque é uma ilha climática única no meio de um vasto oceano com condições variadas

Compreender a interação entre biodiversidade e clima não é apenas uma busca intelectual. Ele fornece orientação para ajudar as pessoas a protegerem e apreciar a sinfonia diversificada da vida em nosso mundo em evolução.

[*] Pesquisador associado de pós-doutorado, Instituto Federal Suíço de Pesquisa de Florestas, Neve e Paisagem (WSL); [**] Pesquisador Sênior do Instituto Federal Suíço de Pesquisa de Florestas, Neve e Paisagem e Professor Associado Adjunto de Ecologia e Evolução, Stony Brook University (Universidade Estadual de Nova York); [***] Professor Emérito de Ecologia, Montana State University ▶Em The Conversation revistaamazonia.com.br

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Vespa asiática

Espécies exóticas invasoras são uma ameaça crescente e dispendiosa em todo o mundo Fotos: Henk Wallays/Wirestock | Adobe Estoque, IPBES

De acordo com um novo relatório importante da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) , mais de 3.500 das 37.000 espécies exóticas que foram introduzidas por muitas atividades humanas em regiões e biomas ao redor do mundo representam grandes ameaças globais à natureza, economia, segurança alimentar e saúde humana.

A

s espécies exóticas invasoras (EEI) desempenham um papel fundamental em 60% das extinções globais de plantas e animais e custam à humanidade mais de 400 mil milhões de dólares por ano – um montante que quadruplicou a cada década desde 1970. Com o aumento do movimento de pessoas e bens provocado devido à globalização, à degradação ambiental e às alterações climáticas, prevê-se que o número de espécies exóticas invasoras e os seus impactos aumentem no futuro. O Comissário responsável pelo Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius, afirmou: O relatório da IPBES sobre Espécies Exóticas Invasoras é uma ferramenta muito oportuna e valiosa para os decisores políticos, à medida que procuramos implementar os nossos compromissos globais em matéria de biodiversidade. Confirma que, com o Regulamento EEI, a UE está no caminho certo para enfrentar esta ameaça à biodiversidade, colmatando também as lacunas de investigação através do trabalho do Horizonte Europa e do Centro Comum de Investigação. Também nos comprometemos a tomar novas medidas através de uma meta ambiciosa de EEI na Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030. 60 REVISTA AMAZÔNIA

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Exemplos de espécies exóticas invasoras com impacto negativo na natureza (verde) e, em alguns casos, também as contribuições da natureza para as pessoas (amarelo) e/ou boa qualidade de vida (verde-azulado).

Muitas espécies exóticas invasoras têm impactos transversais negativos documentados, indicados por várias cores nos exemplos: 16 por cento de invasivos as espécies exóticas têm um impacto negativo tanto na natureza como nas contribuições da natureza para as pessoas; 7 por cento na natureza e boa qualidade de vida; e 5 por cento na natureza, nas contribuições da natureza para as pessoas e na boa qualidade de vida {4.2}. Os nomes científicos das espécies de exemplo são As espécies exóticas invasoras são um dos cinco principais motores diretos da perda de biodiversidade a nível mundial, juntamente com as alterações na utilização dos solos e do mar, a exploração direta de organismos, as alterações climáticas e a poluição. O relatório fornece evidências, ferramentas e opções para ajudar os governos e as partes interessadas a alcançar o novo e ambicioso objetivo

Lantana camara (lantana); Lates niloticus (perca do Nilo); Dreissena polymorpha (mexilhão zebra); Ciona intestinalis (vaso marinho); Lissachatina fulica (caracol terrestre gigante africano); Culex quinquefasciatus (mosquito doméstico do sul); Mnemiopsis leidyi (noz do mar); Pontederia crassipes (aguapé); Prosopis juliflora (mesquite); Solenopsis invicta (formiga vermelha importada); Vulpes vulpes (raposa vermelha); e Batrachochytrium dendrobatidis (fungo quitrídeo)

global sobre espécies exóticas invasoras – Meta 6 do recentemente adotado Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, que visa reduzir a introdução e o estabelecimento de espécies exóticas invasoras em pelo menos pelo menos 50% até 2030. Os especialistas do IPBES apontam para as medidas geralmente insuficientes em vigor para enfrentar estes desafios. Embora 80% dos países tenham

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metas relacionadas com a gestão de espécies exóticas invasoras nos seus planos nacionais de biodiversidade, apenas 17% têm leis ou regulamentos nacionais que abordam especificamente estas questões. Do lado positivo, o relatório conclui que, para quase todos os contextos, existem ferramentas de gestão, opções de governação e ações específicas que funcionam, tais como prevenção, erradicação, contenção e controlo.

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Espécies Exóticas Invasoras na EU Na UE, 88 espécies exóticas invasoras são estritamente regulamentadas, sendo 47 espécies animais que suscitam preocupação na União e 41 espécies vegetais que suscitam preocupação na União. O impacto e a distribuição das espécies exóticas invasoras na Europa foram descritos no início deste ano num relatório específico do Centro Comum de Investigação . A UE já aborda as espécies exóticas invasoras como uma ameaça à biodiversidade através do Regulamento da UE sobre a prevenção e gestão da introdução e propagação de espécies exóticas invasoras . Visa prevenir, minimizar e mitigar os impactos adversos causados por estas espécies na biodiversidade nativa e nos serviços ecossistémicos. As regras também visam limitar os danos sociais e económicos. O cerne do regulamento é a lista de espécies exóticas invasoras que suscitam preocupação na União (Lista da União). As espécies incluídas nesta lista estão sujeitas a restrições e medidas específicas, tais como restrições à manutenção, importação, venda, criação, cultivo e libertação no ambiente. Os Estados-Membros são obrigados a tomar medidas preventivas, a tomar medidas para a detecção precoce e a rápida erradicação destas espécies, bem como a gerir espécies que já estão amplamente espalhadas no seu território.

Na sua Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030 , a UE pretende colocar a biodiversidade da Europa no caminho da recuperação. A Estratégia contém o compromisso de gerir as espécies exóticas invasoras estabelecidas e diminuir em 50% o número de espécies da Lista Vermelha que ameaçam até 2030.

Em 1º de setembro de 2023, na 10ª Sessão da Plenária do IPBES , o lançamento do relatório da IPBES sobre Espécies Exóticas Invasoras

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Fundo Muitas vezes descrito como o “IPCC para a Biodiversidade”, o IPBES é o órgão global de política científica encarregado de fornecer as melhores evidências disponíveis aos decisores, para a natureza e as pessoas. A União Europeia é um grande doador do IPBES , com um orçamento total de 9 milhões de euros de contribuição direta. O relatório do IAS é o resultado de 4 anos de análise conduzida por 86 cientistas (de 49 países e de muitas disciplinas diferentes), apoiados por 200 autores colaboradores e com base em mais de 13.000 referências. É o primeiro relatório de síntese global que reúne o melhor conhecimento científico sobre espécies exóticas invasoras. Fornece uma visão geral com base científica das questões em jogo, analisa as tendências atuais e futuras e destaca possíveis opções de ação para a gestão da resposta – com o objetivo de informar os decisores.

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Enorme floração de algas marinhas no Atlântico Quase toda primavera e verão desde 2011, uma gigantesca floração de algas marinhas se desenvolve no Oceano Atlântico central. Manchas de algas marrons flutuantes conhecidas como Sargassum - se estenderam da costa oeste da África até o Golfo do México, no que é conhecido como “Grande Cinturão de Sargassum do Atlântico” Em março de 2023, os cientistas descobriram que a quantidade de Sargassum flutuando no cinturão era a maior de março já registrada. Imagem do dia 8 de abril de 2023. Instrumentos: Aqua — MODIS e Terra — MODIS

O

mapa acima mostra a densidade de Sargassum no Oceano Atlântico central (incluindo o Mar do Caribe e o Golfo do México) em março de 2023. As áreas vermelhas e laranja mostram onde as densidades de Sargassum foram as mais altas, em termos de porcentagem do pixel coberto com algas marinhas. Os dados para o mapa foram desenvolvidos por cientistas da Faculdade de Ciências Marinhas da Universidade do Sul da Flórida (USF) usando dados dos instrumentos MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) nos satélites Terra e Aqua da NASA. Pesquisadores da USF estimam que o cinturão de Sargassum em março totalizou cerca de 13 milhões de toneladas , um valor recorde para esta época do ano. “Até agora este ano, a abundância recorde de Sargassum é principalmente no centro do Atlântico Leste”, disse Brian Barnes, cientista marinho do Laboratório de Oceanografia Óptica da USF. “Mas em outras partes do Atlântico e do Caribe, sua abundância ainda é alta – no percentil 75 das medições feitas entre 2011 e 2022”. Em doses irregulares no oceano aberto, o Sargassum contribui para a saúde do oceano, fornecendo habitat para tartarugas, invertebrados, peixes e pássaros e produzindo oxigênio por meio da fotossíntese. Mas o excesso dessas algas perto da costa pode dificultar a movimentação e a respiração de certas espécies marinhas. Quando Sargassum afunda no fundo do oceano em grandes quantidades, pode sufocar corais e ervas marinhas. Na praia, Sargassum podre libera gás sulfídrico e cheira a ovo podre. Isso tem o potencial de causar grandes problemas tanto para a ecologia marinha quanto para o turismo local. Desde o seu desenvolvimento em 2011, o cinturão Atlântico Sargassum parece estar ficando maior, de acordo com Barnes e seus colegas. Os mapas acima mostram a densidade média mensal de Sargassum no Oceano Atlântico em cada mês de julho de 2011 a 2018. revistaamazonia.com.br

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O verão de 2018 registrou uma abundância recorde de 20 milhões de toneladas em julho, o que causou estragos nas costas do Atlântico tropical. Embora a causa desse crescimento não seja imediatamente clara, os pesquisadores descobriram em pesquisas anteriores que as entradas de nutrientes de fertilizantes e outras fontes estão correlacionadas com florescimentos maiores. A mudança dos padrões de circulação oceânica também é um fator porque o Sargassum cresce mais rápido quando as temperaturas da superfície do mar são normais ou mais frias que a média. A densidade de sargassum normalmente atinge o pico em junho ou julho, ainda a alguns meses, mas já havia sinais em março de que a floração em 2023 poderia ser a maior já registrada. “Grandes eventos de encalhamento são inevitáveis no Caribe e ao longo da costa leste da Flórida, à medida que o cinturão continua a se mover para o oeste”, disse Barnes. No entanto, os horários e locais exatos desses pousos são difíceis de prever. Aglomerados de alguns dos Sargassum deste ano já pousaram no sul da Flórida, nas praias de Key West, Miami e Fort Lauderdale. Imagens do NASA Earth Observatory por Lauren Dauphin e Joshua Stevens, usando dados MODIS cortesia de Brian Barnes da University of South Florida (USF), Optical Oceanography Lab e Wang, M., et al. (2019) . História de Emily Cassidy.

Média mensal de Sargassum no Oceano Atlântico em cada mês de julho de 2011 a 2018

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Os pesquisadores usaram madeira subfóssil de árvores preservadas em lagos de montanha

Anéis de árvore revelam: nunca esteve tão quente nos últimos 1200 anos Uma nova série temporal de 1.200 anos baseada em anéis de árvores mostra que o aquecimento atual não tem precedentes durante esse período. Isso foi relatado por pesquisadores do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Florestal, Neve e Paisagem WSL em “A anatomia dos anéis das árvores fennoscandianas mostra um clima moderno mais quente do que o medieval” Fotos: Håkan Grudd, Instituto Federal Suíço de Pesquisa Florestal, Neve e Paisagem WSL, Kristina Seftigen, Nature

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Árvores mortas no chão...

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Idade Média e os séculos seguintes foram turbulentos, também climaticamente: não só houve uma “Pequena Idade do Gelo”, mas também o seu oposto: a “Anomalia Climática Medieval”, durante a qual pode ter sido excepcionalmente quente. O último pode ser visto claramente em temperaturas reconstruídas de anéis de árvores anuais. Na verdade, as temperaturas medievais reconstruídas são muitas vezes retratadas como mais altas do que as temperaturas atuais. Isso tem sido um enigma, porque não há explicação física conhecida para esse calor medieval excepcional.

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Os modelos climáticos são, portanto, incapazes de simulá-lo e, em vez disso, mostram apenas temperaturas moderadamente quentes para a Anomalia Climática Medieval.

levam à mesma conclusão dos modelos climáticos: a Anomalia Climática Medieval era mais fria do que se pensava, pelo menos na Escandinávia, de onde se originou a madeira estudada. O aquecimento de hoje provavelmente está fora da faixa de flutuações naturais nas temperaturas nos últimos 1.200 anos, concluem os pesquisadores.

Suporte para modelos climáticos “As reconstruções anteriores são baseadas na largura ou densidade dos anéis das árvores anuais”, explica Georg von Arx, do Instituto Federal Suíço para Pesquisa Florestal, Neve e Paisagem WSL. “Ambos dependem muito da temperatura, mas às vezes outros fatores desempenham um papel na largura ou densidade de um anel de árvore”. Juntamente com outros pesquisadores, o chefe do grupo de pesquisa Dendrosciences criou uma nova reconstrução baseada em um método particularmente preciso para extrair informações de temperatura das árvores. Ao contrário de trabalhos anteriores, os novos resultados

50 milhões de células medidas

...e árvores vivas. No total, os pesquisadores analisaram anéis de 188 árvores

Para o estudo, eles usaram um novo método otimizado na WSL para medir diretamente a espessura da parede celular das células da madeira nos anéis anuais das árvores. “Cada célula individual em cada anel de árvore registra informações climáticas sob as quais foi formada. Ao analisar centenas, às vezes milhares de células por anel, informações extraordinárias sobre o clima puro podem ser obtidas”, explica o primeiro autor do estudo e pesquisador da WSL, Jesper Björklund.

Das florestas e lagos fennoscandianos aos dados de anéis de árvores baseados em QWA

a, Mapa mostrando a região geral de amostragem de árvores (polígono vermelho) onde os dados instrumentais de temperatura foram obtidos e para os quais os dados do modelo climático foram obtidos (amarelo, Suécia; azul, Finlândia). O mapa foi criado no ambiente de computação MATLAB usando o pacote de mapeamento M Map⁶⁷. b, Amostragem de madeira de árvores vivas e mortas. c, A partir dos perfis intra-anel de alta resolução resultantes, máximos e mínimos anuais, e valores anuais do lenho tardio e inicial da espessura da parede celular radial e densidade anatômica foram extraídos. d, Visualização de bandas de dados QWA agregados (linhas pretas grossas, limites de anéis de árvores; linhas pretas finas, bandas de 30 µm dentro de um anel de árvore), nas quais as células coloridas estão incluídas na banda final de agregação no lenho tardio. e, Ilustração das várias dimensões celulares consideradas neste estudo. CWA, área da parede celular; LA, área do lúmen

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X-FEN mostra o clima medieval como notavelmente mais quente do que o estimado por A-FEN

a, Reconstruções não filtradas com intervalos de confiança de 95% com base em ±1 e ±2 se do conjunto completo de árvores (n = 188) incluídas no Conjunto de dados A-FEN - isto é, não baseado nos membros do conjunto A-FEN subamostrados. A média e a variância das reconstruções são ajustadas para zero e unidade ao longo da sobreposição de 1850-2010. b, Resíduos de regressão entre X-FEN e A-FEN. A estatística Durbin–Watson (DW) mostra que os resíduos estão longe de serem aleatórios, ressaltando as diferenças sistemáticas e notáveis entre X-FEN e A-FEN. c, O mesmo que em a, mas os dados são filtrados em passa-baixa usando splines de 100 anos Para sua nova série temporal, os pesquisadores mediram as paredes celulares de 50 milhões de células. Estes vêm de 188 pinheiros escoceses suecos e finlandeses (Pinus sylvestris), vivos e mortos, cujos anéis anuais juntos cobrem um período de 1170 anos. Com base nessas medições, os pesquisadores reconstruíram as temperaturas de verão nessa região e as compararam com simulações de modelos do clima regional e com reconstruções anteriores baseadas na densidade dos anéis anuais.

Aquecimento sem precedentes O resultado foi claro: as temperaturas dos modelos e as novas séries temporais se alinham. “Isto significa que agora existem dois relatos independentes do clima regional que encontram temperaturas mais baixas durante o Medieval, fornecendo novas evidências de que esta fase não foi tão quente quanto se pensava”, diz Björklund. “Em vez disso, ambos mostram que o aquecimento atual é sem precedentes, pelo menos no último milênio, e enfatizam o papel das emissões de gases de efeito estufa na variabilidade da temperatura escandinava”.

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As reconstruções anteriores baseadas na densidade dos anéis das árvores, em contraste, indicaram temperaturas significativamente mais altas para a Anomalia Climática Medieval e temperaturas mais baixas para o aquecimento atual.“Isso é crítico porque essas reconstruções são consideradas ao avaliar a precisão dos modelos climáticos. Publicado recentemente na revista científica “Nature”. Se as reconstruções anteriores fossem usadas como referência, isso minimizaria significativamente a influência humana no aquecimento climático atual e reduziria a confiança nas projeções do modelo”, alerta von Arx.

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Resíduo orgânico

Esterco animal

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Gás de cozinha

Resíduo orgânico

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OS DESAFIOS, DERRUBAMOS. A FLORESTA, MANTEMOS EM PÉ. Enquanto a Amazônia sofre com os impactos negativos do desmatamento, com mais de 600 mil hectares de floresta perdidos nos últimos 9 meses*, nós da Agropalma seguimos na direção oposta, atuando de forma regenerativa e gerando impacto positivo.

Investimos intensamente na conservação de mais de 64 mil hectares de reservas florestais por meio do Programa de Proteção de Reservas Florestais. Monitoramos com dedicação mais de mil espécies de animas, protegendo 40 espécies em risco de extinção e 11 espécies endêmicas do Centro de Endemismo de Belém, em colaboração com a CI-Brasil e a UFPA.

Acreditamos e provamos que é possível criar valor sem destruir.

Saiba mais sobre nossas práticas sustentáveis:

*Terra Brasilis. “Análise - Amazônia Legal. Disponivel em: http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/alerts/legal/amazon/aggregated 12 REVISTA AMAZÔNIA

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revistaamazonia.com.br

16/11/2023 11:43:54


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Anéis de árvore revelam: nunca esteve tão quente nos últimos 1200 anos

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Enorme floração de algas marinhas no Atlântico

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Espécies exóticas invasoras são uma ameaça crescente e dispendiosa em todo o mundo

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Os climas tropicais são os de maior biodiversidade da Terra - mas não é apenas por serem quentes e úmidos

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Como ajudar a salvar as plantas da extinção

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Plantas superpoderosas: heróis da crise climática

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A análise da rede climática ajuda a identificar regiões com maior risco

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Projeto Masterplan 2030 dá continuidade ao debate

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Ações recomendadas em energias renováveis no curto prazo

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Agro continuará com papel importante na produção das energias do futuro

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Relatório da UNU oferece soluções para mitigar pontos críticos de risco

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Espaços verdes podem salvar vidas

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O calor extremo causado pelo clima pode tornar partes da Terra quentes demais para os humanos

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Emissões globais de CO2 estão a caminho de atingir um máximo histórico este ano

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ONU emite alerta sobre ameaça à saúde das mudanças climáticas

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“Parem com essa loucura”

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As florestas são vitais para proteger o clima

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Desmatamento da Amazônia ligado ao aquecimento climático de longa distância

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Brasil perde 15% de florestas naturais em quase 40 anos

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2023, ano de extremos recordes

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Economia verde é debatida durante Congresso Brasil Competitivo 2023

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26º Fórum de Governadores da Amazônia Legal

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Governo prepara Selo Verde Brasil para certificar produtos sustentáveis

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PLANO SAFRA

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