Revista Anchieta - Setembro 2015

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4 Editorial 5 Espaço APM

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SUMÁRIO

APM e os 125 Anos do Colégio Anchieta

6 Perfil Anchietano Pe. Janjão

8 Fala, Professor Anchieta, a minha segunda casa!

11 Homenagem dos alunos Um parabéns especial

12 Destaque De Albert Einstein - Para Alunos do Colégio Anchieta, Brasil

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15 Acontece Semana Anchietana 2014 - Concerto da OSPA Semana Literária e Cultural 2015

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18 Especial O perfil do educador inaciano

21 Por dentro da Sala de Aula Desafio 125 Anos

23 Campus Anchieta ontem e hoje

24 Esporte A tradição anchietana no esporte

26 Jesuítas que fizeram história Pe. Balduíno Rambo, SJ (1905-1961)

28 Cultura Uma vida chamada Show Musical Anchieta

31 Memória Vila Oliva: que saudade!

33 Ação Social Solidariedade: Uma marca anchietana

36 Artigo Um projeto educativo em permanente construção: a dimensão pedagógica do Currículo.

38 Artigo Lugar de ser!

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EDITORIAL

Colégio Anchieta: Um Aniversário Para mim, é uma alegria muito grande saudar os leitores da “Revista Anchieta” que, neste número, recorda alguns aspectos e momentos importantes da já longa história dos 125 anos do Colégio Anchieta. Ela também nos convida a elevar nosso louvor a Deus pelos muitos frutos que inspirou nos alunos e dirigir nosso agradecimento a todos aqueles que colaboraram, em cada momento, nessa importante história de educação. Em 13 de janeiro de 1890, os jesuítas, as autoridades locais e a comunidade de Porto Alegre, então estimada em 52 mil pessoas, acompanhavam com expectativa e entusiasmo a fundação do “Colégio dos Padres”, como então foi denominado. As aulas iniciaram com 40 alunos e eram ministradas, por falta de instalações próprias, numa residência familiar gentilmente cedida para esse fim. Ao final do primeiro ano, o número de alunos havia duplicado. Oferecia dois cursos: o curso inferior e o curso superior, tendo como objetivos a instrução literária e a formação humana e cristã. O Colégio iniciou pequeno e com as dificuldades próprias de um novo empreendimento de educação, no entanto, não faltou fé, ousadia e dedicação dos padres e irmãos jesuítas para vencer esses e outros desafios. Da denominação “Colégio dos Padres” passou, poucos anos depois, para “Colégio São José” (em homenagem a São José), e mais alguns anos “Ginásio Anchieta” e, finalmente, Colégio Anchieta. Seu desenvolvimento foi constante e correspondeu às expectativas dos seus fundadores e da comunidade em geral. Dos muitos fatos e eventos que marcaram sua trajetória registro somente alguns. Consolidada sua fundação, o “Colégio dos Padres”, já com instalações próprias na Rua Duque de Caxias, centro da cidade, deu uma importante contribuição ao incipiente processo de educação e formação das crianças, adolescentes e jovens do final do século 19 e início do século 20. Por suas salas de aula passaram personalidades da sociedade gaúcha, com presença destacada nas áreas cultural, política, religiosa, empresarial e social. Com o passar dos anos, o Colégio Anchieta, em permanente atualização e renovação, foi reconhecido nacionalmente pela qualidade do ensino e aprendizagem, que lhe valeu a equiparação ao Colégio Dom Pedro Segundo, do Rio de Janeiro Os jesuítas atentos às novas exigências da educação, já na década de 1940, pensaram em

melhores condições de espaço, instalações, recursos didáticos e ensino para qualificar ainda mais seu trabalho educativo e evangelizador. Após longos estudos, decidiram pela transferência do Colégio do centro da cidade para o bairro Três Figueiras, junto à Avenida Nilo Peçanha, na época ainda uma área descampada. A transferência, com a conclusão das novas instalações, iniciou em 1963, sendo concluída, com a inauguração da Igreja da Ressurreição, em 1967. Fato que trouxe novas perspectivas e novos desafios. O Colégio Anchieta é um sinal eloquente da união de corações e da soma de esforços, de dedicação, de amor, de sacrifício, de vida e esperança entre jesuítas, professores, funcionários, famílias, antigos alunos, associações, organismos complementares e amigos. Sem a presença e a dedicação de todos eles, a história dos 125 anos teria muitos capítulos incompletos, talvez nem escritos. Graças aos princípios e orientações da Proposta Educativa da Companhia de Jesus, à análise criteriosa da realidade e à implantação das principais inovações pedagógicas e administrativas, conseguiu aprimorar e manter atualizado seu projeto educativo, adequando-o permanentemente, sem nunca acomodar-se às glórias do passado. Uma frase muita grata aos jesuítas e à Companhia de Jesus resume bem a missão dos seus colégios hoje: “Formar homens e mulheres para e com os outros”. Este é o objetivo que se persegue por meio da educação integral de qualidade, atingindo o aluno em todas a suas dimensões, em vista da formação de pessoas capazes de dar um pouco de si para os outros e, assim, colaborar de maneira consciente, competente, compassiva e comprometida na construção de mundo melhor, mais humano, justo e solidário. A comemoração dos 125 anos do Colégio Anchieta é um momento especial para louvar a Deus por ter permitido essa rica e bonita história de educação com tantos frutos produzidos nos alunos e alunas e, agradecer a todas as pessoas que nela colaboraram. Por fim, cabe ao Colégio Anchieta olhar corajosamente para o futuro e reafirmar seu compromisso com a educação integral de qualidade, humana e acadêmica, iluminada pelos valores evangélicos. Pe. João Claudio Rhoden DIRETOR GERAL

EXPEDIENTE DIRETOR GERAL:

Pe. João Claudio Rhoden, SJ DIRETOR ACADÊMICO:

Carlos Augusto Velazquez Sobrinho DIRETOR ADMINISTRATIVO:

Inácio Reinehr CONSELHO EDITORIAL:

Pe. João Claudio Rhoden, Carlos Augusto Velazquez Sobrinho, Isabel Tremarin, Dário Schneider, Cleiton Gretzler e Fernando R. Meyer. COORDENAÇÃO EDITORIAL:

Setor de Comunicação e Marketing do Colégio Anchieta REDAÇÃO/JORNALISTA RESPONSÁVEL:

Valéria Machado (MTB-RS 14.876) REVISÃO:

Fátima Áli FOTOGRAFIAS:

Magis Produções, arquivos do Colégio e arquivos pessoais PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO:

Anderson Muniz - Clemente Design PRODUÇÃO GRÁFICA:

Cristina Guzinski PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO:

Gráfica Ideograf TIRAGEM:

4.000 exemplares

A REVISTA ANCHIETA 125 ANOS é um órgão oficial de divulgação do Colégio Anchieta.

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ESPAÇO APM

APM e os 125 Anos do Colégio Anchieta m 2015, temos grandes desafios e, também, motivos para comemorar e agradecer. Neste ano, a APM completa 50 anos de atividades junto ao Colégio Anchieta, que, por sua vez, comemora seus 125 anos de existência. Nossa grande tarefa é dar continuidade às ações que a APM desenvolve e que estão em pleno funcionamento e, ao mesmo tempo, inovar, objetivando ampliar novos horizontes e conquistas para a comunidade do Colégio. Procuramos desenvolver ações e projetos que visam a aproximação das famílias, contribuindo de forma significativa na qualificação das relações, propiciando o convívio saudável e enriquecedor à comunidade anchietana. Em 2013, revitalizamos a sede da APM, tornando-a uma casa acolhedora e aberta a todos que a qualquer momento queiram vir tomar um “café” conosco. É um desejo nosso que esta sede que nos é tão preciosa, seja cada vez melhor utilizada. Para os próximos anos, cremos ser fundamental a maior participação, através da Rede de Pais, nas atividades da APM e do

Colégio Anchieta, preparando Entre os principais novas lideranças para o futuro. eventos do Colégio Como nós, outros tantos em parceria com a passaram e passarão, APM estão a Festa contribuindo com o seu melhor Junina e a Família Anchietana Solidária. para a construção desta história, nunca esquecendo o motivo que nos une: a presença de nossos filhos no Colégio Anchieta. Nossos 50 anos foram construídos com muitas mãos! Ao longo desses anos, pais e filhos deixam um pouco de si e levam na memória saudosos momentos de convivência e crescimento mútuo.

Em 2015 faça parte desta história! Maria Inês e Sérgio Augusto Schiavi CASAL PRESIDENTE

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PERFIL ANCHIETANO

Pe. Janjão Pe. João Darci John é um dos ícones do Colégio Anchieta. Talvez você não o conheça por esse nome, mas temos certeza que se dissermos “Pe. Janjão”, muitas lembranças irão brotar na sua mente! Para a maioria dos anchietanos, as lembranças mais queridas desse colégio envolvem essa figura carismática que trabalhou sua vida junto aos jovens e que cativou gerações de alunos que passaram por aqui.

Desde padre fiquei aqui e sempre aqui. E, de fato, não me arrependi, gosto do trabalho com os jovens até hoje.

REVISTA ANCHIETA - Quando o senhor

descobriu sua vocação para o sacerdócio? PE. JANJÃO: Foi o exemplo de um padre. Eu sou de uma família bastante religiosa. De modo especial, a minha mãe era o esteio da família na oração. Quando eu era menino, queria ajudar um pouco na igreja, e havia um padre e, o exemplo dele, o modo de ser dele, me encantou, então eu também quis ser assim. REVISTA ANCHIETA - Como o senhor chegou ao Colégio Anchieta? Em que ano foi isso? PE. JANJÃO: Depois que eu fiz toda a minha Filosofia e Teologia, lá pelo terceiro ano da Teologia, eu já saí como padre; hoje em dia só no quarto ano isso acontece. Nessa época, o Colégio Anchieta pediu um padre para acompanhar uma turma à Vila Oliva, para ajudar. Depois voltei para a Faculdade Cristo Rei para terminar meus estudos de Teologia. Aí o Pe. Paulo Englert me convidou para trabalhar aqui, mas o meu sonho era trabalhar numa paróquia do Paraná, onde fiquei um mês e meio. Lá eu me encantei pelo povo; nós, como jovens padres, queríamos trabalhar em paróquias. Mas então o Pe. Englert sugeriu que eu ficasse algum tempo no Anchieta e depois fosse para o Paraná, então eu vim pra cá, e esse “algum tempo” dura até hoje. Desde padre fiquei aqui 6

REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

e sempre aqui. E, de fato, não me arrependi, gosto do trabalho com os jovens até hoje. Me encantou essa juventude. REVISTA ANCHIETA - Quais as atribuições que o senhor já assumiu na instituição? PE. JANJÃO: Primeiro eu fui professor de ensino religioso; então, às 7h30min eu entrava na sala de aula, por vários anos. Depois passei para a orientação religiosa, junto às equipes de série. E, nesses últimos anos, estou admiravelmente, aposentado, só com as atividades extraclasse, atividades essas que marcam muito o aluno anchietano. Eles vão por esse mundo afora e, quando se fala de Anchieta, eles se recordam da Vila Oliva e do Morro do Sabiá. E também das saídas de estudos: Missões, Itaimbezinho, Projeto 6º Ano, São Paulo e, agora, Brasília; são os projetos de cada série. Sempre gostei de trabalhar com os jovens, as vezes encontro pessoas que me perguntam “Janjão, ainda no Anchieta”? E eu respondo: “Ainda no Anchieta”. REVISTA ANCHIETA - Teria algum episódio (ou alguns episódios) marcante nessa sua trajetória no Anchieta? PE. JANJÃO: Acho que todos são marcantes. A juventude me encanta; eles são muito


humanos, compreensivos. Em qualquer contato que temos com eles, a reposta deles é fabulosa nesse aspecto. REVISTA ANCHIETA - O senhor acha que a juventude de hoje é diferente daquela outra de anos atrás? PE. JANJÃO: É diferente. É outra geração. Quarenta e tantos anos que estou aqui e percebo que hoje eles vivem em um mundo bem diferente. Até digo para eles: apesar desse mundo, que pode ser mau, hostil, vocês têm aí tantos exemplos, modelos. Então, conservem a cabeça no lugar. Sempre digo: vejam com olhar crítico, olhem como gente ajuizada, e não se deixem levar. REVISTA ANCHIETA - O que é ser anchietano para o senhor? PE. JANJÃO: Uma vez, uma mãe, que foi à Vila Oliva nesses encontros de famílias, mandoume um e-mail. Ela não era anchietana, mas o marido sim. Aí ela escreveu: “agora compreendo por que os anchietanos são tão fanáticos e lamento não ter estudado aqui.” É que é uma união entre ex-alunos, entre os pais, e tem alguma coisa assim… Não sei… Típica do anchietano. ­Durante os reencontros de ex-alunos e ex-alunas no Morro do Sabiá, há alguns anos, as alunas choravam. Eles se emocionam e recordam os tempos de colégio, as vivências. Muitos ex-alunos que moram fora vêm para reencontrar os colegas. REVISTA ANCHIETA - Quais são as lembranças mais marcantes da Vila Oliva, mesmo para o senhor, que já acompanhou tantas gerações?

PE. JANJÃO: Acho que o encontro com as famílias na

Pe. Janjão

acompanhou capelinha. Eu sempre digo: aqui quem vai falar não é o muitas gerações Janjão, é o coração de vocês. Esse ambiente religioso de anchietanos à de Vila Oliva e a convivência e o diálogo entre os pais Vila Oliva, sempre são sempre as lembranças mais marcantes. ensinando valores importantes O aprendizado sobre valores como a amizade, para a vida. respeito, coleguismo, aprender a conviver e a aceitar as diferenças, também é muito importante. A diferença é sempre a beleza do grupo; se fôssemos todos iguais até seria monótono né? E isso sempre se aprende na Vila Oliva e em outras atividades extraclasse. Eu sempre digo, na sala de aula é aprender para ciência; nas atividades extraclasse, é a convivência, é o aprendizado do coração. Essas atividades extraclasse auxiliam na formação da personalidade, do caráter.

1968

Quando jovem, Pe. Janjão desejava trabalhar em uma paróquia no Paraná. Veio para o Anchieta a convite do Pe. Paulo Englert e aqui ficou.

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FALA, PROFESSOR!

Anchieta, a minha

segunda casa!

O Anchieta é a minha segunda família, da qual lembro com muita saudade, às vezes chego a sonhar”. As palavras do professor Delvino Algeri definem o que o Colégio Anchieta representa na vida de muitas pessoas que por aqui passaram. São lembranças e histórias que se confundem com a trajetória da instituição, estando ligadas umas às outras para sempre.

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Grupo de ex-professores encontrou-se no Museu Anchieta.

ada um deu um tempo na sua agenda, desmarcou compromissos e fez o possível para estar presente. À medida em que chegavam ao local marcado, o Museu Anchieta, uma mistura de sentimentos tomava conta de todos. A satisfação do reencontro era visível em cada rosto, expressada também nos abraços trocados. Era um prazer e uma alegria estarem ali novamente. O encontro com ex-professores do Anchieta foi proposto como uma das pautas dessa revista, mas revelou-se muito mais do que uma tarde de entrevistas. Foi um momento para voltar no tempo, emocionar-se com as lembranças e celebrar o que se vivenciou. “Eu abro mão de qualquer coisa, porque vale a pena estar aqui.

REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

Eu tenho muito a agradecer a esta escola”, diz a ex-professora de Português do 5º Ano, Miriam Escher, que também foi aluna do Anchieta, é mãe de alunas anchietanas, das quais uma seguiu os seus passos: a professora Celine Escher, do 4º Ano. Além de Miriam, os professores Luiz Osvaldo Leite, Fernando R. Meyer, hoje coordenador do Museu Anchieta de Ciências Naturais, e Fiore Marrone também assumiram diferentes papéis dentro da instituição. “Aqui no Anchieta já fui tudo: aluno, frater ou mestre, padre, diretor, diretor de serviços, eu fui pai... Às vezes eu olho as fotos e digo: isso aqui foi ontem...”, lembra Leite. “Eu tenho uma vida no Colégio Anchieta, só faltou nascer aqui”, emenda Fernando. Fiore estudou oito anos no Anchieta e, quando foi para a universidade, sugeriram tentar uma vaga de


professor de física

Delvino Algeri 1964 (Velho Anchieta) 1965 a 1995 “Esses tempos fui fazer uma consulta com o médico e, quando entrei na sala, ele disse: ‘não, não, vou embora!’ Era o Dr. Renato Brito. Fiz com ele uma cirurgia nos dois joelhos e antes da anestesia disse: ‘olha, Brito, cuida bem de mim que cuidei bem de ti, nunca te dei zero em Matemática”. professor de Matemática e assistente de série

Aqui no Anchieta já fui tudo: aluno, frater ou mestre, padre, diretor, diretor de serviços, eu fui pai... Às vezes eu olho as fotos e digo: isso aqui foi ontem...

Luiz Carlos Gomes 1985 a 2008 “Meus filhos estudaram aqui também. Guardo com muito carinho esse tempo todo que estive aqui. Deixei muitos amigos. Este colégio foi um universo na minha vida de contatos, de coisas novas que eu vi. Aqui é minha casa, foi minha casa, me sinto muito bem aqui”.

professor no Colégio. “O ano era 1977 e eu cursava uma cadeira na Faculdade de Educação ministrada pela professora Margot Bertolucci Ott. Ela era coordenadora pedagógica do Anchieta e sugeriu que eu preenchesse uma ficha no Colégio, em função dos trabalhos criativos que eu apresentava. E para cá voltei e foi o único local de trabalho que eu realmente me senti em casa”, revela. Tanto apreço pelo Anchieta nasceu das amizades cultivadas aqui dentro e as possibilidades oferecidas pela instituição. Luiz Carlos Gomes, hoje professor de Física do Colégio Militar de Porto Alegre, diz que o Anchieta desafiou o seu modo de ensinar, possibilitando um trabalho mais prático. “Entrei para participar de um projeto de laboratório. Eu vinha de um ensino muito linear da Física, e aqui me foi proposto trabalhar dentro da linha da educação evangélica libertadora, onde eu sairia um pouco do ensino tradicional do quadro-negro. Isso me fez crescer muito no entendimento das pedagogias, tanto que fiz mestrado na área de educação”, conta. Além de desafiante, o Anchieta também foi um lugar que sempre acolheu o debate e a exposição de ideias, de acordo com o professor Carlos Alberto Gianotti. “Eu dava Física, mas nas minhas aulas eu falava de Literatura, de Cinema, sempre tive uma postura muito crítica. Nunca me omiti de dizer aquilo que eu penso. Aqui dentro, eu sempre tive a liberdade de dizer. Convivi com grandes colegas a quem eu devo grande parte daquilo que eu formei. Colegas leigos e colegas jesuítas, grandes amigos”, emociona-se. O professor Delvino, conhecido pela célebre frase “Gente, primeiro e último aviso: estudem que o fim do ano está chegando!”, foi o primeiro assistente de série do Anchieta, hoje conhecido como Orientador de Convivência Escolar. “Fiquei no Velho Anchieta até 1964, e de 1965 a 1995 aqui. Tenho a honra de ter sido o primeiro leigo a ocupar cargo; o primeiro assistente do Colégio Anchieta fui eu.Dei Matemática e também Ensino Religioso, quando era necessário. A grande formação que eu tive foi aqui”, recorda.

Luiz Osvaldo Leite

Fiore Marrone 1978 a 2011 “Em 1961, participei de uma missa solene da Congregação Mariana, junto com os meus pais e a tia Adelina, no Morro do Sabiá, onde passamos a noite. Lembro de andar de barco a remo pelo rio G ­ uaíba, nos arredores do Morro. Uma aventura e tanto!”. aluno e professor de química

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FALA, PROFESSOR!

UM NOVO ANCHIETA Dono de uma memória invejável, o professor Luiz Osvaldo Leite relembra muitos aspectos da construção do Novo Anchieta e da figura do Pe. Pauquet, entusiasta das obras na Nilo Peçanha. “O Pe. Pauquet era um grande educador; poucos conhecem essa faceta dele. Era um homem que sabia lidar com o jovem, tinha uma alegria Miriam Escher irradiante, personalidade enorme, era um gigante. 5º Ano – 1981 a 2001 E depois ele entrou nas obras, e de uma certa “Na primeira semana de maneira é uma perda para educação”, diz. aula, na 5ª Série, levantei Segundo Leite, ninguém imaginava o Anchieta no para ir ao banheiro, e o local em que está localizado hoje. Dois padres que professor Eduardo me pegou pelo cangote, tinham ido até os Estados Unidos, o Pe. Dutra, que no corredor, e me levou trouxe a mensagem do Einstein, e o Pe. para minha classe. Eu não Schwemberg, voltaram relatando que os padres sabia que tinha que pedir americanos passavam pelo mesmo problema em licença, porque no João construir um colégio fora da cidade. “Não tinha XXIII eu levantava e saía da aula; lá eram 18 alunos; absolutamente nada aqui, e o Pauquet conseguiu aqui 51, sete meninas e o que o Ildo Meneghetti fizesse essa avenida que resto meninos”. vinha da Carlos Gomes até aqui, ou seja, do nada a aluna e professora lugar nenhum, não tinha casa, não tinha nada. E eu de português redigi a primeira carta aos pais, porque eles estavam revoltados com a transferência. A noção de cidade era diferente; a cidade era o centro”, conta Leite. O professor Meyer também guarda na memória esse período de transição e, apesar da mudança, o Velho Anchieta continua presente por meio de fotos, documentos e artigos da época. “Lá por 1963, o Colégio abriu as portas aqui e nós saímos do antigo local. Esvaziou-se o prédio todo, depois foi demolido”, lamenta. Hoje, há mais de 200 mil fotos no Memorial do Colégio Anchieta, vários relatórios Carlos Alberto Gianotti 1972 a 1992 e espelhos de classe digitalizados desde 1908. “Vamos deixar uma bela relíquia para esta “Coisas que eu dizia em sala de aula, se fosse instituição!”, vibra Fernando. O Memorial do hoje, os pais entrariam Colégio vem sendo organizado pelo professor Fiore com uma representação desde 2012. contra mim. Reconheço que algumas vezes posso “A ideia é manter viva a memória desses 125 anos de história da instituição contados a partir de fatos ter me excedido e, acho importantes e pessoas que fizeram parte dessa até que nos primeiros anos fui um bobalhão, um trajetória”, explica. pretensioso, um cara que achava que sabia, mas com o amadurecimento fui me transformando”. professor de física

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Fernando R. Meyer Atual coordenador do Museu Anchieta de Ciências Naturais “Toda minha trajetória aqui faz com que meu modo de vida seja dedicado a esta escola e à minha família. É o futuro que vai dizer se o trabalho que nós todos fizemos aqui e estamos fazendo ficará na memória. Quando encontramos os alunos na rua, eles lembram da gente com muito carinho, e isso é o que vale: dar carinho para o aluno”. aluno, professor de Biologia, Diretor de 2º Grau

Luiz Osvaldo Leite 1957 a 1960/ 1965 a 1969/ 1974 a 1978 “O que eu posso dizer é que o meu Anchieta foi fantástico, eu tive professores extraordinários. O Balduíno Rambo, por exemplo, lecionou Geografia e, naquela época, ele correu toda a Amazônia em um teco-teco que o exército disponibilizava pra ele. Na primeira vez que eu fui ao Itaimbezinho, fomos em um grupo de anchietanos, com o Pe. Rambo nos explicando”. aluno, professor de

Filosofia, ­Religião, História, Diretor de 2º Grau


HOMENAGEM DOS ALUNOS

Um parabéns especial Nossas recordações são como tesouros guardados lá no fundo de nossas almas. Quando resgatamos e revivemos esses momentos em nossas mentes, descobrimos a verdadeira riqueza que possuímos. E foi resgatando lembranças que os alunos homenagearam o Colégio nesse ano de 2014. As memórias escolares são abordadas em dois textos

que selecionamos: um do Projeto Meu Primeiro Livro, escrito pelos alunos do 4º Ano do Ensino Fundamental e o outro do Projeto E-book, desenvolvido pelos alunos da 3ª Série do Ensino Médio de 2014. Vivendo distintos momentos da vida, os textos mostram algo em comum: o amor pelo Colégio Anchieta!

Lívia Pilau Turma 302 de 2014

125 anos do meu querido colégio Gabriela Ingrácio Porto - Turma 40C de 2014

Qual anchietano que nunca... ...escutou da bibliotecária para colocar a mochila no armário ...ficou todo queimado na Semana Anchietana ...teve medo de entrar na casa velha da Vila Oliva sozinho ...tentou entrar pelo portão 2, mas só podia pelo 1 ou ao contrário ...brigou pela bola nos recreios no ensino fundamental ...congelou por ter que deixar as janelas abertas no inverno ...foi na enfermaria e, independente do que tinha, sempre tomava um chazinho ...tocou na flauta Carruagem de Fogo nas aulas de músicas ...amou aprender fração com uma barra de chocolate ...recebeu balinha de troco do bar ...(para as gurias) escutou do assistente que o short era 4 dedos acima do joelho ...jogou Coelho Sabido nas aulas de informática ...fez milhões de trabalhos sobre sustentabilidade ...morreu de calor no turno inverso ...quis saber o que o professor escrevia no livro azul ...escutou as milhões de versões da lenda do Maba ...fez a trilha até o Guaíba no Morro do Sabiá ...odiou ir até o Centro de Línguas nos dias de chuva ...comeu as balinhas do Ivanor ...adorou brincar com o material dourado ...participou da caminhada da Semana Anchietana ...participou das aulas de sexualidade ... foi barrado por tentar entrar ou sair pelo saguão ...escutou sobre a piscina dos padres E foram por esses e outros motivos que fizeram cada ano que eu passei nesse colégio ser único!

Caro Anchieta, meu querido colégio, Feliz aniversário, Já estás ficando velho. Já tem 125 anos de sua existência Que dá a consciência Aos seus alunos cheios de inteligência. Seus 125 anos não foram em vão E minha maior certeza é de que Passados esses lindos anos Vamos permanecer no teu coração.

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DESTAQUE

DE:

Albert Einstein PARA:

Alunos do Colégio Anchieta, Brasil rinceton, 1951. Em viagem de estudos aos Estados Unidos, o Pe. Gaspar Dutra teve contato com o mais célebre cientista do século XX: Albert Einstein, Nobel de Física em 1921. Possivelmente a pedido de Dutra, Einstein enviou uma mensagem aos anchietanos, junto com uma foto. Guardada por muitos anos no cofre do Colégio, a mensagem e a foto de Einstein eram conhecidas, pois constaram no anuário do Anchieta de 1965, além de povoarem o imaginário de quem sabia delas pelos comentários de professores, alunos, colaboradores. Eis que o assunto veio à tona, quando o Colégio buscava enriquecer seu repertório de fatos interessantes ao longo desses 125 anos. O incentivo de Einstein também foi utilizado pelo grupo que organizou a Mostra Científica do Colégio para promover o evento. Resgatadas carta e foto, o primeiro passo deveria ser atestar a veracidade dos documentos. E foi assim que a perita grafotécnica Liane Pereira deparou-se com um desafio inusitado. Acostumada a trabalhar em processos para a Justiça Federal e Estadual do RS, SC e PR e ainda em perícias particulares, trabalhos em que

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sempre há prejuízo para uma das partes, Liane passou por uma experiência diferente. “Ter a oportunidade de realizar um trabalho em que a perda é substituída por crescimento, conhecimento e orgulho é muito satisfatório”, diz ela. O resgate do material possibilitou que mais pessoas pudessem conhecer essa história em detalhes. A importância de Einstein aliada ao fato de que uma instituição de ensino abrigava uma relíquia dessas bastaram para que os veículos de comunicação passassem a noticiar o acontecimento até em âmbito internacional. “Eu li a história sobre a carta do Einstein na mídia brasileira, acho que foi no G1 e, quando a vi, eu achei uma história muito legal. Por ser um personagem de importância internacional, foi bom ver o carinho que o Einstein mandou para uma escola que ele não conheceu”, contou a correspondente do diário inglês The Telegraph, Donna Bowater. Foram muitas ligações, entradas nas rádios ao vivo, gravações para reportagens televisivas durante um curto espaço de tempo. A história que estava silenciada em um cofre tomou uma proporção jamais imaginada. “Quando tu encontras um aluno do 1º Ano no pátio, no corredor ou no intervalo,


e ele te diz assim: ‘eu te vi na TV’, isso não tem preço!”, conta o Coordenador de Unidade de Ensino de Ed. Infantil ao 5º Ano, Dário Schneider. Dário participou de muitas entrevistas sobre o assunto e acompanhou o efeito desse fato internamente na instituição. “As pessoas diziam: isso é minha história também! Os alunos sentiam-se orgulhosos e tinham pressa em fazer seus amigos de outros colégios saberem que aquela carta foi escrita para os alunos do seu colégio. E isso é um fato muito importante para nós como instituição de ensino, pois ele, um cientista, gerou um sentimento de alegria, de emoção, isso a educação tem muita dificuldade de fazer”, explica. Liane também teve participação assídua nas matérias, pois foi a pessoa que identificou que a assinatura de Einstein era verdadeira e, segundo ela, esse feito tornou-se um marco em sua carreira. “Trata-se da análise de um registro realizado por uma pessoa que faz parte da história mundial; dificilmente surgirá outra oportunidade comparável”, orgulhase. Com a instantaneidade e o alcance que as mídias sociais proporcionam, os fatos correm o mundo em pouco tempo. Foram mais de cem matérias sobre o assunto nas

diferentes mídias, tanto nacionais como internacionais. A correspondente Donna Bowater conta que por se tratar de uma figura tão importante, o veículo se interessou: “Meus editores também acharam uma boa história. Todo mundo conhece a contribuição de Einstein na ciência, mas a carta mostrou uma qualidade pessoal que, imagino, ter dado muito orgulho para todos vocês”. A repercussão também contribuiu para despertar o interesse pela área de perícia grafoscópica, segundo Liane. Hoje não há curso de formação superior ou técnico nessa área, nem há uma disciplina no curso de Direito ou em cursos de pós-graduação sobre isso. “Embora seja extremamente requisitado em processos judiciais, esse campo do conhecimento e de trabalho é muito pouco explorado”, explica. Com tantas reportagens sobre o assunto, Liane conta que esse trabalho não só a beneficiou como perita, mas como professora. Ela ministra cursos de extensão e cursos livres sobre o assunto.

EINSTEIN em

NUMEROS Rádio TV Sites nacionais

Sites internacionais Mídia impressa

+DE

100 FACEBOOK

+ DE100.000

PESSOAS ALCANÇADAS

+ DE2.000 + DE500

COMPARTILHAMENTOS

TWITTER O assunto alterou a rotina da instituição, que recebeu muitos jornalistas.

+ DE200.000

PESSOAS ALCANÇADAS

“Recebi muitos e-mails de ex-alunos e colegas me parabenizando, mas principalmente de pessoas interessadas em conhecer melhor esta ciência. Sou apaixonada pelo que faço e a repercussão trouxe o reconhecimento de um trabalho que, em sua rotina, é anônimo”, conta Liane.

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DESTAQUE

Encontro: fé e vida frase de Einstein “o pensar é para o homem o que é o voar para os pássaros” reflete a sabedoria em uma consigna de vida, um perfil humano forjado no conhecimento e, para a Educação Jesuíta, uma visão humanista de educação. O resultado do encontro de Gaspar da Costa Dutra, SJ e Albert Einstein, representando, o primeiro, a fé; e o segundo, a ciência, resultou numa carta aos alunos anchietanos de 1951; portanto, há 65 anos. Para o Colégio Anchieta, especialmente para os alunos de hoje, recordar e poder ter contato com esse fato histórico, dentre os eventos celebrativos dos 125 anos, pretende ressignificar nossa marca – ensinar a pensar! Esse fato desperta a busca, através do binômio fé e ciência, dos meios e dos recursos para ampliar os horizontes da vida, privilegiados pelo convívio humano e motivados pela mensagem de Einstein. A carta é um verdadeiro testemunho de vida, de genialidade humana e de personalidade marcante desse cientista. Para nós, um autêntico ato de “missão” – emblemática lição de vida. A perspectiva proposta pela Pedagogia Inaciana, de formar para a excelência acadêmica, humana e cristã, é conceito relacionado à visão humanista e a uma proposta prática de quem é fiel e criativo em tudo o que é e o que faz. Compreendida dessa forma, a carta indica várias dimensões do desenvolvimento humano e a força de que se reveste o ato de educar. Visa ao futuro para confiar nas pessoas, buscar o diálogo e não se resignar em aceitar o aparentemente estabelecido. Os caminhos de Deus são misteriosos e imprevisíveis. A educação jesuíta, compreendida como empreendimento humano, deseja focar as habilidades e as

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REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

O Museu Anchieta de Ciências Naturais agora abriga a carta de Einstein, que atrai ao local alunos de diferentes séries.

competências a que o ser humano é chamado a desenvolver e a deixar como legado para o futuro. A cada época, os métodos e as estratégias devem ser flexibilizadas e demonstrar abertura para as novas oportunidades de ensinar e de aprender. Novidades, encontros e perspectivas de cada época são desafios a serem enfrentados e a deixarem memória. Que o sabor e o saber da experiência do ato de se comunicar e da arte de educar, aplicando os cinco sentidos, sirvam de motivação e inspiração para a história da Instituição e para a nossa atuação profissional. Que o Colégio Anchieta, através da sua proposta educativa, possa contribuir para o pleno desenvolvimento das pessoas da atual e das futuras gerações em prol de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, como grande ideal comum. Os Jesuítas, os leigos e todos que fazem parte do passado e do presente do Colégio Anchieta, com a carta de Einstein, estejam sempre em plena sintonia espiritual com os princípios e os valores que inspiram a nossa missão educativa. Dário Schneider

Coordenador de Unidade de Ensino de Ed. Infantil ao 5º Ano


ACONTECE

Semana Anchietana 2014

A Semana Anchietana é motivo de muita alegria para os alunos, que aproveitam para integrarse com os colegas em um clima de amizade e descontração

PARA ABRIR AS COMEMORAÇÕES do aniversário do Colégio, a Semana Anchietana de 2014 trouxe como tema “125 Anos do Colégio Anchieta: essa história também é sua”. A abertura programada para o sábado, um desfile temático pela pista atlética do Colégio, infelizmente não ocorreu em função do mau tempo. Mas, durante a semana, o sol voltou a brilhar, e os anchietanos puderam aproveitar esse “break”nas atividades escolares. A Semana Anchietana é sempre motivo de muita alegria para os alunos, que aproveitam para integrar-se com os colegas em um clima de amizade e descontração. Os jogos são as atividades mais esperadas por eles, uma das grande atrações do evento, que também oferece oficinas e atividades diferenciadas para as séries.

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ACONTECE

Concerto da OSPA

Pe. João Claudio Rhoden fez a abertura do evento junto ao Presidente da OSPA, Ivo Nesralla.

O destaque da noite foi o regente e violinista italiano Emmanuele Baldini.

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REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

ORQUESTRA SINFÔNICA DE PORTO ALEGRE No dia 19 de maio, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) prestou uma bela homenagem ao Anchieta pelos 125 anos. O concerto, que ocorreu na Igreja da Ressurreição, integrou a Série Igrejas e foi aberto à comunidade. A abertura do espetáculo ficou por conta do Diretor Artístico da OSPA, Evandro Matté, do Presidente da OSPA, Ivo Nesralla, e do Diretor Geral do Colégio Anchieta, Pe. João Claudio Rhoden. Os músicos interpretaram duas obras do compositor alemão Felix Mendelssohn (1809-1847) sob a batuta do regente e violinista italiano Emmanuele Baldini, spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Ele também foi o solista da noite.


ACONTECE

Semana Literária e Cultural 2015

Contação de histórias na Educação Infantil

Alunos do 5º Ano participaram de um encontro com o escritor e ex-aluno do Colégio Rubem Penz.

Planetário móvel no Museu

Feira do Livro no pátio coberto

Hora do conto com os alunos do 1º Ano

Victor Hugo - O espetáculo

17ª SEMANA LITERÁRIA - 2ª SEMANA CULTURAL

O escrito José Airton Ortiz é o homenageado dessa edição

A 17ª Semana Literária e 2ª Semana Cultural também celebraram os 125 anos do Anchieta. A programação cultural, planejada para todos os alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio, homenageou a instituição por meio de atividades voltadas a essa temática. Foram oficinas, contação de histórias, peças teatrais, encontro com escritores, Feira do Livro, sessões de autógrafos com os alunos do 4º Ano de 2014 e lançamento do e-book dos alunos da 3ª Série do Ensino Médio de 2014, entre outras atividades. Aprendemos a ler o mundo com as experiências que a vida proporciona. Com 125 anos de ensino, muitas são as formas que nos cabe na missão de promover momentos significativos para a vida dos nossos alunos, e a Semana Literária representa bem este trabalho, pois é a culminância de várias atividades, diferenciadas para cada faixa etária, no intuito de alimentar o gosto pela leitura, esteja ela na forma impressa, digitalizada, teatralizada etc. Pensando nisso, ampliou-se a Semana Literária, incluindo a Semana Cultural, porque acreditamos que são múltiplas as formas de leitura que as artes proporcionam! Denise Pazetto, Coordenadora da Semana Literária e Cultural

Banda Recuperação Terapêutica participa da abertura do evento

Alunos da 2ª Série do EM apresentam peças teatrais

SETEMBRO DE 2015

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ESPECIAL

PE. MARIO SÜNDERMANN

O perfil do educador inaciano O Delegado de Educação da Província do Brasil, Pe. Mario Sündermann, fala sobre os desafios que se apresentam aos educadores nas instituições de educação jesuítas

Pe. Mario fala ao grupo de professores do Colégio Catarinense, do qual foi Diretor Geral, na ocasião da visita do Provincial.

REVISTA ANCHIETA - Historicamente a

tradição jesuíta de educação tem como objetivo o desenvolvimento global da pessoa. Na prática, qual é o papel dos professores diante desse desafio? PE. MARIO - A Companhia de Jesus enveredou pelo caminho da educação por visualizar a possibilidade de contribuir mais eficazmente na construção do Reino. Desde o princípio, desenhou uma educação de excelência capaz de dialogar com um mundo em constante transformação e foi capaz de deixar-se interpelar pelo diferente, visualizando saídas criativas para o “novo mundo” que se descortinava. Durante os primeiros séculos, a Companhia de Jesus pautou seu labor educativo pela “Ratio Studiorum”, documento publicado em 1599. Nos séculos XIX e XX, surgiram novas perspectivas educativas, novas leis do estado que normatizam cada vez mais a educação. Na Companhia de Jesus e 18

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na Igreja, no século XIX, surge o desafio do diálogo entre fé e razão e no século XX o diálogo entre fé, justiça e cultura e o diálogo interreligioso. Com a aceleração das mudanças sociais e culturais, novas necessidades e teorias educativas exigiam novas diretrizes, orientações e planejamentos para o apostolado educativo da Companhia de Jesus. Assim, nos anos 1960, com o advento do Concílio Vaticano II, os jesuítas buscaram reposicionar-se no serviço à igreja e à sociedade. Depois de muitos estudos em diferentes espaços e lugares, após ampla escuta de profissionais Jesuítas e não Jesuítas nos anos 1980, surge o Documento das Características da Educação da Companhia de Jesus (1986) e já nos anos 1990 o Paradigma Inaciano, uma proposta prática (1993). Neles é reafirmada a formação integral, o ensinar a pensar e o forjar, por uma educação de excelência, homens e mulheres para

O educador inaciano é alguém encantado pela própria existência, reconhece-se finito e é aberto ao transcendente. É capaz de encontrar sentido e sabor na arte de aprender sempre, procurando consolação e prazer na arte de ensinar. os demais, com senso crítico e comprometidos com a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário. Pouco a pouco também foram sendo incorporados no corpo educativo muitos profissionais não jesuítas. Essa presença enriqueceu a educação oferecida e ao mesmo tempo trouxe novos desafios, como manter a identidade inaciana dos colégios e qualificar os profissionais no que é específico da Companhia de Jesus. O papel do professor é imprescindível no processo formativo dos alunos. Ele é a primeira e mais constante referência da pessoa que queremos formar para o aluno. Ele deveria tornar visível os valores que propomos, sendo capazes de integrar conhecimento e vida, saber e compromisso de transformação, fé e cultura. Nesta perspectiva, o professor vai além de administrar conteúdos acadêmicos, ele é testemunha da busca e construção do conhecimento, deve ser capaz de


encantar o estudante e chamá-lo para a aventura da aprendizagem contextualizada. Portanto, o professor deveria ser alguém encantado pelo aprender e comprometido com o ser para os demais. Isso, certamente, é um grande desafio numa sociedade em que os indivíduos estão voltados, geralmente de forma egoísta, para si mesmos. REVISTA ANCHIETA - Existe um perfil do educador inaciano? Quais são as características essenciais que esse profissional deve ter? PE. MARIO - O educador inaciano é alguém encantado pela própria existência, reconhece-se finito e é aberto ao transcendente. É capaz de encontrar sentido e sabor na arte de aprender sempre, procurando consolação e prazer na arte de ensinar. É aberto ao diálogo, disposto a escutar o aluno e a reinventar-se cotidianamente. Eu ainda destacaria a capacidade de promover boa mediação em sala ou nos lugares escolhidos para a aprendizagem; estar atualizado e contextualizado nos conteúdos e na didática; incomodado com o possível fracasso escolar de alunos; aberto às novas formas de ensinar e aprender. No Seminário Internacional sobre Pedagogia e Espiritualidade Inacianas (SIPEI), realizado em Manresa (Espanha), em novembro de 2014, foi amplamente debatida a necessidade de qualificar os meios da mediação, pois o meio não é apenas um instrumento, mas já é conteúdo. Dizia-se que muitos dos nossos alunos em sala “ou estão chateados ou estão dormindo” e é desse modo que gastam boa e importante parte de suas vidas em nossas escolas. Cabe ao educador inaciano encontrar respostas para esta nova juventude que se apresenta. Para tanto, uma última característica que destaco, não

Na época em que era Diretor do Colégio Catarinense, Pe. Mario valorizava o encontro com os jovens.

menos importante, é que seja um profissional capaz de trabalhar em equipe, de somar forças com os companheiros na busca educacional. REVISTA ANCHIETA - Poderíamos estender esse perfil aos demais colaboradores? PE. MARIO - Com certeza! É consenso cada vez maior que a aprendizagem acontece o tempo todo e em todos os espaços e lugares, dentro e fora da escola. Por isso, dizemos com razão que os profissionais que atuam em nossas escolas são educadores. Nem todos são professores, mas todos educam. Educam pela acolhida, pelo sorriso, pelo testemunho de seriedade e fidelidade com que assumem as diferentes tarefas e funções. Um ambiente agradável, acolhedor e profissional é fundamental para o êxito da/na aprendizagem do aluno. A escola toda deve estar impregnada dos valores da cultura inaciana. O ativo mais importante de uma instituição da Companhia de Jesus são os profissionais que nela atuam e qualificam a missão. REVISTA ANCHIETA - Como deve ser um colégio da Companhia de Jesus? PE. MARIO - A pergunta é complicada, pois temos colégios espalhados pelos quatro cantos do mundo, em contextos muito distintos, com desafios bem

específicos, mas em todos pretendemos educar inacianamente. Antes de tudo, o colégio, sendo missão da Igreja e tendo uma orientação religiosa, deve ser uma Escola. Não uma “miniparóquia”, nem obra social ou casa de retiro. Deve ter foco na aprendizagem, promover o crescimento integral de todos, alunos e educadores, cuidando para que cresçam humana, intelectual e espiritualmente, com propostas curriculares e pedagógicas diversificadas e adequados aos respectivos contextos. São espaços propícios para o crescimento integral, onde a arte de ensinar e aprender é motivo de satisfação para todos: colégios inclusivos, livres do corporativismo que exclui o diferente, o qual nos desafia e faz crescer. Devem ser colégios atualizados, nas propostas pedagógicas e em suas estruturas, que promovam a formação integral. REVISTA ANCHIETA - A fim de manter a qualidade no ensino e os professores motivados, em que medida é importante a reflexão dos docentes sobre suas práticas educativas? Como isso é proposto a eles? PE. MARIO - Os professores são imprescindíveis para o êxito da educação que desejamos. Professores encantados com a vida e com o conhecimento têm adesão SETEMBRO DE 2015

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ESPECIAL Durante a formação docente no Colégio Catarinense, em 2012, Pe. Mario explorou as características do educador inaciano.

maior dos alunos, favorecendo o crescimento contínuo e sistemático. Profissionais que não buscam se aperfeiçoar, que não reconhecem nos estudos e na aprendizagem um investimento na própria dignidade, dificilmente terão êxito junto aos alunos. Cientes do grande desafio de encantar e motivar os docentes para a nobre arte de educar, os colégios têm no seu planejamento espaços reservados para incentivar e promover a formação continuada, deles e dos demais profissionais de nossas escolas. De modo geral, os profissionais buscam cursos, seminários, congressos do seu interesse, que podem qualificar o serviço prestado na escola; pedem ajuda de custo (dispensa do trabalho, inscrições, hospedagem) da instituição. Além disso, outros espaços de formação continuada são promovidos pela instituição, como assessorias, jornadas pedagógicas, apoio para graduações e pós-graduação etc. Graças à criação da Rede Jesuíta de Educação (RJE) do Brasil, em 2014, começam a ser definidas estratégias formativas em nível nacional. Em 2015, o foco está na construção de um Projeto Educativo Comum (PEC)

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REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

para a Rede, e esse processo prevê estudos, pesquisas, cursos, que podem ser realizados de forma presencial e a distância, local e nacionalmente, favorecendo um processo de formação continuada. Assim, a partir de 2016, a formação continuada dos educadores poderá ter apoio, orientações e diretrizes nacionais. REVISTA ANCHIETA - Na obra Pedagogia Inaciana – Uma proposta prática, afirma-se que o Paradigma Pedagógico Inaciano deveria nortear o trabalho do educador. Como se aplica na prática esse paradigma? PE. MARIO - Atualmente há alguns documentos, como as Características e o Paradigma Pedagógico que dão as diretrizes para os educadores das nossas escolas e colégios. A pedagogia proposta nos nossos colégios é bastante eclética. Ela faz uso de diferentes correntes e pensadores da área da educação, está atenta para inserir e não ocultar os princípios e valores inacianos e desta forma vai atualizando-se na reflexão e na prática. Merece destaque o movimento amplo e universal da Companhia de Jesus que está gestando um novo documento para educação básica, e

almeja ser um passo além das Características e do PPI. Neste processo já se realizaram encontros amplos com profissionais Jesuítas e leigos do mundo todo. Vale destacar o Colóquio dos Diretores de Colégios Jesuítas de todo o mundo, realizado em Boston (EUA), em 2012, e o SIPEI (2014). Esses encontros foram precedidos e acompanhados por fóruns virtuais com ampla participação de educadores dos cinco continentes. Esse novo documento fornecerá as diretrizes educacionais para os próximos anos e tem no horizonte a compreensão da formação integral. Desejamos formar pessoas conscientes, competentes, compassivas e comprometidas, capazes transformar a própria vida e a realidade que interpela atualmente. Em suma, temos no horizonte educar os alunos e alunas para que sejam mais que homens e mulheres de sucesso, sejam pessoas de virtudes e valores. REVISTA ANCHIETA - Quais seriam suas indicações de leitura sobre o assunto? PE. MARIO

• Características da Educação da Companhia de Jesus (1986); • Paradigma Pedagógico Inaciano. Uma proposta prática (1993); • Nossos Colégios Hoje e Amanhã (1980) – Pedro Arrupe, SJ • Projeto Educativo Comum (PEC), 2005, da CPAL. Para leituras de documentos importantes e também ter acesso à produção mais atual sobre Pedagogia Inaciana, sugiro visitar o Centro Virtual de Pedagogia Inaciana http://pedagogiaignaciana.com é em espanhol, mas vale a pena. Tellechea, S.J. Ignacio. Inácio de Loyola: A aventura de um cristão, 1997. Um texto mais simples e que aproxima o leitor da vida de Santo Inácio.


POR DENTRO DA SALA DE AULA

Desafio 125 anos LINHA DO TEMPO

RESGATAR FATOS MARCANTES da vida e construir uma linha do tempo. Essa foi a atividade proposta aos alunos do 3º Ano do Ensino Fundamental, que integrou a história de vida de cada aluno com a trajetória do Colégio Anchieta no contexto da cidade de Porto Alegre. A partir desses referenciais, as turmas confeccionaram painéis com fatos importantes de sua vida e expuseram nos corredores do Prédio do Ensino Fundamental. O trabalho teve como inspiração um texto da Orientadora Pedagógica de 1º a 3º Ano, Adriana Fantin, intitulado Tudo tem uma história. Confira um trecho:

“...Pertencer a uma escola é escrever junto com ela novos capítulos. Passamos muitos anos dentro dela; natural que a nossa história de vida e a da escola se misturem. E, quando a gente olha as fotos antigas da escola, é quase como olhar as fotos antigas da família da gente. Observamos aquelas fotos amareladas e, quase que automaticamente, imaginamos como seria viver naquele tempo e naquele espaço. O que alguém da minha idade pensava naquele tempo? De que coisas gostava? O que estudava? O que mudou de lá pra cá? O que permaneceu? Quando a gente também sente isso olhando as fotos antigas do Colégio Anchieta, é sinal de que o nosso sentimento de pertencimento já mora no coração...”

EXPOSIÇÃO HISTÓRIA DO ANCHIETA

LIVRO DE POESIAS

HÁ 14 ANOS, os alunos do 4º Ano do Ensino Fundamental estudam o gênero poesia e são desafiados a compor um livro. A iniciativa faz parte do Projeto Meu Primeiro Livro, que busca a aproximação do aluno com a linguagem poética, motivando-o a expor suas emoções e fluir sua imaginação por meio da escrita. Em 2015, o tema dos 125 anos foi proposto às turmas, que mostraram seu amor pelo Anchieta na edição Sou Anchietano: faço parte dessa história. São 228 histórias dedicadas aos momentos vivenciados no Colégio e em passeios de estudos. Ao final do trabalho, já no 5º Ano, os alunos participaram de uma sessão de autógrafos que reuniu familiares e amigos no saguão do Prédio A.

“Ficamos muito contentes com essa experiência, pois os alunos adoraram, e os convidados emocionaram-se muito. Foi muito bonito esse encontro de gerações!”

Durante a SEMANA LITERÁRIA E CULTURAL DE 2015, os alunos do 7º Ano prepararam uma exposição com artigos que contaram um pouco da história do Anchieta. Parte do material, exposto no saguão do Prédio A, era de avós, tios e foi trazido pelos próprios alunos. A professora de Português da série, Clarice Behar, conta que uma das roupas expostas foi o primeiro uniforme do Show Musical. “Conseguimos contato com um aluno que participou do grupo que, na época, chamava-se Pequenos Cantores”, conta. O trabalho de resgatar a história do Colégio junto aos alunos da série acontece desde a edição de 2014 da Semana Literária. Na ocasião, a professora propôs um bate-papo entre os alunos do 7º Ano e três ex-alunos da época do Velho Anchieta, da Duque de Caxias: Antônio Carlos Mansur, Nilton Barcelos e Luiz Carlos Aragão. “Ficamos muito contentes com essa experiência, pois os alunos adoraram, e os convidados emocionaram-se muito. Foi muito bonito esse encontro de gerações!”, relembra a professora. SETEMBRO DE 2015

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POR DENTRO DA SALA DE AULA

E-BOOK

PARA PRESTAR UMA HOMENAGEM ao Colégio, os alunos da 3ª Série do Ensino Médio de 2014 reviveram emoções da vida escolar e transformaram essas lembranças em textos, reunidos no e-book Memórias Anchietanas. O lançamento da publicação digital, pioneira entre as escolas de Porto Alegre, aconteceu durante a 17ª Semana Literária e 2ª Semana Cultural. O desafio lançado aos alunos que participaram dessa iniciativa colaborativa era buscar, na memória, episódios felizes, engraçados, surpreendentes ou emocionantes, que tivessem marcado sua passagem pelo Anchieta. A ex-aluna América Azevedo conta como foi participar dessa iniciativa.

“A proposta do projeto Memórias Anchietanas é encantadora. Para nós, na condição de ex-alunos, é muito reconfortante saber que teremos nossas lembranças da vida escolar eternizadas nas páginas desse e-book. Admito, porém, que foi dificílimo escolher o que colocar no papel em meio a tantas boas recordações. Acabei dando mais espaço para as vivências fora do ambiente de sala de aula, apesar de ter plena convicção de que sentirei muito mais falta dos dias comuns de aula às 7h30min no Prédio Central”.

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REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

MOSTRA DE FOTOGRAFIA

“...foi um projeto divertido que misturava duas línguas. A experiência de fotografá-lo nos ajudou a conhecer melhor o Colégio e seus espaços...” O ANCHIETA PELO OLHAR DO 5º ANO é o título da mostra fotográfica produzida pelos alunos da série a partir das disciplinas de Língua Portuguesa e Língua Inglesa. As turmas estudaram a fotografia enquanto gênero textual por meio da análise de imagens históricas e depois fizeram registros fotográficos dos ambientes do Colégio. “A ideia foi explorar diferentes ângulos e possibilidades de registro de um símbolo, um cantinho especial, algo que representasse a sua história no Colégio até o momento”, explicam as professoras de Língua Portuguesa, Bruna Souza e Simone Artico. As professoras de Língua Inglesa Danielle Contessa e Fernanda Montenegro trabalharam com uma atividade chamada Scavenger hunt, na qual os alunos exploraram os diferentes lugares do Colégio. Elas também utilizaram a leitura de textos, a noção estrutural e o conceito de mini-city para designar esse espaço do campus. “Os alunos, então, puderam criar seus textos livremente e corrigir o resultado conosco ao final. Eles ficaram muito orgulhosos em demonstrar seu carinho pelo Anchieta”, contam as professoras. O aluno Eduardo Dieter, da turma 57, conta como foi participar desse trabalho. “Foi um projeto divertido! A experiência de fotografá-lo nos ajudou a conhecer melhor o Colégio e seus espaços”, relata.

VIII FESTIVAL DE PROPAGANDAS

USAR A CRIATIVIDADE para criar um roteiro, um enredo que prenda o espectador: esse é o desafio proposto aos alunos do 6º Ano, todos os anos, durante a Semana Anchietana, desde 2007. Junto com a Agência Escala, que desenvolve as campanhas do Colégio, os alunos aprendem conceitos de Publicidade e Propaganda, que aplicam na prática, na produção de um vídeo. Em função das comemorações dos 125 anos, os alunos usaram essa temática em suas produções, e as criações foram variadas. O Orientador de Convivência do 6º Ano (tarde), Luiz Feijó, considera que os alunos foram muito além do que foi solicitado. “Eles fizeram mais, eles colocaram alegria, emoção, vivência, orgulho, vibração e muito amor. Sempre que temos oportunidades estamos mostrando os vídeos para quem possa assistir”, orgulha-se. Para os alunos Joana K. Sabin (turma 60B/2014 e turma 76/2015) e Rafael M. Da Cunha (turma 64/2014 e turma 74/2015), a atividade foi muito significativa. “Foi uma ótima experiência! Quando nos deram o tema da propaganda veio uma explosão de ideias na cabeça. Por fim decidimos comparar a evolução do telefone com a evolução do Colégio. Pois é assim que me sinto, sempre evoluindo”, conta Joana. “O meu grupo mostrou a evolução

das roupas que os alunos usavam, as músicas que escutavam e o jeito que se comportavam no Colégio”, diz Rafael.


CAMPUS

Anchieta ontem e hoje 2015

Hoje o Colégio possui 8 acessos e estacionamentos internos

O entorno desenvolveu-se e hoje é uma das maiores áreas comerciais da cidade.

1965

A representação do campus em 1965 previa até piscinas.

A Av. Nilo Peçanha terminava no Colégio Anchieta.

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ESPORTE

A tradição anchietana no esporte

O salão de Educação Física do Velho Anchieta, na Duque de Caxias, em 1939.

1919 - Time de futebol

1958 - Campeonato de voleibol

1960 - Alongamento no pátio

No princípio, DESDE O INÍCIO DE SUAS ATIVIDADES as equipes O Colégio Anchieta sempre estimulou a prática esportivas do das atividades físicas e esportivas como parte Colégio eram importante da formação do aluno, dentro da sua proposta pedagógica. No princípio, as equipes formadas esportivas do Colégio eram formadas por aqueles por aqueles alunos que demonstravam uma maior habilidade alunos que nos esportes durante as aulas de Educação Física. demonstravam Os professores convidavam os alunos que se uma maior destacavam e estes compunham os grupos. Com o passar do tempo, foi criado o sistema de habilidade Escolinhas Esportivas e de Treinamentos. nos esportes No primeiro caso, os alunos participantes buscam durante as conhecer e desenvolver as habilidades e técnicas aulas de específicas de uma determinada atividade Educação esportiva; no segundo, é dado um enfoque também aos sistemas táticos de cada uma das Física. modalidades trabalhadas. 24

REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

1982 - Alunos jogam futebol na quadra do Primário

1975 - Atletismo

1975 - Alunas ginastas


ESPORTE

Por: Manoel Augusto Ohlweiler dos Santos

| COORDENADOR DO CENTRO ESPORTIVO

2013 - Equipe de Basquete do Colégio que participou dos Jogos Escolares da Juventude em Natal (RN).

2014 - Encontro dos Colégios Jesuítas do Conesul

Prof. Fernando Meyer com a equipe de alunos

2015 - Campeonato de voleibol - ANEC 2015 - Campeonato de voleibol - ANEC

INTERCÂMBIOS E CAMPEONATOS ESCOLARES Os alunos participantes são os que representam o Colégio Anchieta em Encontros Esportivos, Intercâmbios e Campeonatos Escolares. Hoje em dia, contamos também com o projeto Criança no Esporte, que atende os alunos desde a Educação Infantil até o 4º Ano, proporcionando vivências e estimulando o desenvolvimento de habilidades motoras em diversas modalidades esportivas, a fim de experimentarem e descobrirem seus gostos e suas aptidões pessoais. Atualmente, temos mais de uma dezena de equipes formadas a partir desse processo representando o Colégio Anchieta nas modalidades coletivas de Basquetebol, Handebol, Voleibol, Futsal e Futebol, além de uma equipe de Ginástica Rítmica Desportiva. Hoje, aproximadamente 900 alunos fazem parte do grupo de praticantes de atividades esportivas do Colégio Anchieta.

900 alunos fazem parte do grupo de praticantes de atividades esportivas do Colégio Anchieta

Escolinhas esportivas SETEMBRO DE 2015 25


JESUÍTAS QUE FIZERAM HISTÓRIA

Pe. Balduíno Rambo, SJ (1905-1961) Balduíno Rambo nasceu em 11 de agosto de 1905 no interior de Tupandi, próximo a Montenegro família de pequenos agricultores, muito religiosa, vivia em uma propriedade de 70 hectares, e mais da metade dessa área era de mata nativa. As flores e plantas foram os brinquedos preferidos de Rambo em seus primeiros anos de vida. Aos sete anos, Rambo vai para uma escola comunitária do município, e suas primeiras professoras foram as Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade. Naquela época, as pessoas comunicavam-se por meio do dialeto alemão, língua comum na comunidade. Já na escola, ele teve contato com o primeiro alfabeto alemão em escrita gótica. O interesse por idiomas e escrita é constante na vida de Pe. Rambo, tanto que, anos mais tarde, ele aprende o grego, o latim e o português e decifra o Código de Hamurabi, em escrita cuneiforme. Aos 12 anos, Rambo ingressa na Escola Apostólica de Pareci Novo junto com 11 seminaristas e inicia seus estudos em latim. Nessa época, descobre seu gosto pela Geografia, seu “primeiro amor científico”. Ele passa horas a fio debruçado em mapas, um prenúncio do viajante que iria percorrer o Estado, descrevendo paisagens, relevos, a memória arqueológica do solo, plantas e animais. Em 1919, entra para o Seminário Maior de São Leopoldo, onde registra em um diário seu admirável desempenho escolar. É nesse período que inicia, por conta própria, os estudos do grego. Também escreve poemas e, nos dias de folga, coleta plantas. Sua trajetória como professor inicia no Ginásio Catarinense, em Florianópolis, quando lecionou Geografia, História do Brasil e Corografia. Nessa época, suas pesquisas renderam um artigo, No planalto de Santa Catarina, no Brasil, publicado na revista austríaca missionária Die Katholische Missionen. Além disso, produz uma série de contos para o suplemento cultural dessa revista e

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REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

Novembro 11 Comecei há algum tempo uma coleção de plantas. Recebi uma carta do Raymundo e da mãe com 75$000. Respondo logo com um cartão. Trecho de seu diário elabora o Atlas Geográfico Melhoramentos. Em seguida, Pe. Rambo vai estudar Filosofia em Pullach, na Alemanha. Em 1931, começa a lecionar no Colégio Anchieta, onde escreve alguns livros didáticos, como Elementos de História Natural para a Terceira Série. Em 1936, ordena-se padre e realiza missas na paróquia de Tupandi. Em 1938, percorre 11 mil quilômetros pelo Estado a bordo de um avião do 3º Regimento de Aviadores, de Canoas. A Fisionomia do Rio Grande do Sul, cuja primeira edição foi lançada em 1942, foi a obra resultante desse sobrevoo pelo RS, que misturou ciência, literatura, botânica, ecologia, geologia, antropologia. Com textos e fotos das paisagens, a obra traz descrições com o rigor científico que era peculiar a Pe. Rambo. Em 1939, ele volta a lecionar no Colégio Anchieta e ali passa a maior parte da sua existência. “Tem então, mesmo muito jovem, a vocação definida, ou melhor, a multiplicidade de vocações. Sacerdote de notável oratória, professor, filósofo, botânico, poeta, escritor, é também o homem dos caminhos, dos voos, do deslumbramento diante do mais bárbaro da natureza” (Trecho de Aparados da Serra: na trilha do Padre Rambo, p. 120).


Ensina cosmologia, geografia, biologia, assume o Museu Botânico e colabora na Associação Volksveiren (Sociedade União Popular), entidade teuto-católica, em que escreve mensalmente para o jornal. Nesse período, Pe. Rambo organizava o herbário anchietano, que já contabilizava 33 mil espécies. Em 1941, é convidado a inaugurar a cadeira de Antropologia e Etnologia na UFRGS. Depois assume a cadeira de Filosofia Natural. Lecionou também na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Leopoldo, que depois se tornaria a Unisinos. As viagens eram constantes, tanto que, em 1940, viajou no avião da FAB pelo Brasil leste e central, até as proximidades do Amazonas. Nessa época, o herbário já tinha aumentado de volume: cerca de 50 mil espécies. O material passava por um

“Sua obra processo de secagem e era guardado mantém viva em pastas de cartolina para uma alma conservação. inquieta, um Em 1955, Pe. Rambo passa a dirigir o olhar poético, Museu de Ciências Naturais da uma procura Secretaria de Educação e Cultura. É aí incessante que que inicia a criação das áreas de parece nunca se preservação, entre elas o Horto esgotar. Ficou a fé materializada Florestal de São Leopoldo e o Parque num princípio: dos Aparados da Serra, além do Jardim Deus está em Botânico, em Porto Alegre. Todo o toda parte. trabalho realizado rendeu-lhe convites Mas é preciso do governo dos Estados Unidos e da enxergar o Alemanha para visitar museus, parques todo para vê-lo e jardins botânicos, em 1956. melhor” Uma de suas grandes obras é o diário (Trecho de Aparados da Serra: na trilha do Padre que escreveu de 1919 a 1961, porém Rambo, p. 141). uma parte apenas desse trabalho é conhecida, pois um pedaço é escrito em estenografia, entre 1919 e 1945. Entre 1945 e 1961, o diário foi redigido Fonte: em alemão gótico e, só desse período, Aparados da serra:na são mais de 10 mil páginas. trilha do Padre Rambo = No final da vida, já cansado, ainda Aparados da Serra: pedia a Deus por um pouco mais de on the path of Father tempo para terminar seu herbário, que Rambo/ coordenador: contava com cerca de 83 mil espécies Martin Sander. de plantas. Falece em setembro de São Leopoldo: 1961, aos 56 anos de idade. Unisinos, 2007.

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CULTURA

Uma vida chamada Show Musical Anchieta O grupo que começou como Coral Pequenos Cantores do Colégio Anchieta expandiu sua atuação e arrebatou várias gerações, que respiraram arte e cultura enquanto estiveram na instituição osse o Pe. Vicente Konzen ainda vivo, teria a oportunidade de ver como seu empreendimento, iniciado lá em 1966, deu tão certo. Foi a iniciativa desse jesuíta que possibilitou a crianças e jovens aprenderem valores como autonomia, cidadania e fraternidade. Naquela época, embora as meninas já houvessem ingressado no Colégio Anchieta, o Coral Pequenos Cantores do Colégio Anchieta só aceitava meninos. O ex-aluno Edson Erdmann iniciou sua trajetória nesse período e conta como entrou no grupo. “Eu estava na 1ª série, entrou um cara na sala e disse: ‘Quem quer participar do Coral dos Pequenos Cantores do Colégio Anchieta?’. E na verdade, eu não ia sair da sala, mas meus amiguinhos saíram e eu fui junto sem saber o que era”, relembra. Erdmann, hoje Diretor Artístico na Rede Globo e na empresa Histórias Incríveis Entretenimento, sempre teve a música muito presente em sua família. Além de ter 17 tios-avós, todos músicos, ele também aprendeu a tocar piano e flauta muito cedo, aos cinco anos de idade. “A minha tia-avó Zeny Moraes, que é pós-doutora em música, me levou para o Belas Artes. Depois, quando eu entrei no Anchieta eu já gostava muito de música”, explica. Laura Matte Doering, que terminou a 3ª Série do Ensino Médio em 2014, também entrou na “onda” das colegas que se inscreveram para participar da atividade extracurricular, mesmo que a dança não fosse uma de suas habilidades. “Naquele dia, cheguei em casa, contei o feito para a minha mãe e ela me alertou: ‘Laura, não quero que tu fiques chateada se não passares na prova, afinal, tu nunca dançaste!’”, conta. Grande parte da família de Laura estudou no 28

REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

Confira ao longo da matéria recadinhos dos nossos entrevistados a quem faz ou fará parte do Show Musical:

Anchieta e participou do Show. A avó foi a primeira da família a ter um vínculo com o grupo, foi ela que apresentou a costureira Maria Emília Mattos Rillo, que passaria a trabalhar por longos anos na equipe do Show. Já a mãe estudou no Colégio somente para entrar no grupo. “Quando contei para minha família sobre a aprovação, todos ficaram felizes. Naquele dia ouvi diversas histórias de muitas gerações diferentes, o que me deixou ainda mais animada e Aproveitem porque eufórica para desvendar esse é uma experiência novo mundo”, diz. A influência da única na vida! Tu família também foi o caso do nunca mais vais ter arquiteto Alexandre Grivicich, essa oportunidade aluno do Anchieta de 1986 a 1996. em outro lugar. Ali “Eu fui praticamente criado dentro eu conheci grandes do Show, minhas primas músicos, formei-me participaram do grupo e eu com grandes músicos, sempre acompanhava as virei um músico, apresentações. Meu tio foi deixei de ser músico. apresentador durante anos, e a Tia Nilva “me pegou no colo”, conta. Viajei muito! A minha maior experiência Uma das vivências mais de vida, de relação marcantes para todos aqueles humana, quem me que passam pelo Show Musical é deu foi o Show. Eu o convívio com realidades conheci muita gente totalmente diferentes, já que as de muitos lugares. crianças e jovens ficam em casas Foi uma experiência de família nas cidades em que se extremamente apresentam. “Em uma semana interessante e única. eu ficava em um palácio no Paraná e na outra eu estava em uma Edson Erdmann


CULTURA

Show Musical 1960

LINHA DO TEMPO

Regente Wilson comanda apresentação do Coral - 1960.

1965

Inauguração do Coral - 1966

1972 Show Pequenos cantores Dançarinas

1972

Convite para apresentação em Pelotas

No programa da Hebe Camargo, em turnê por SP - 1968

1971

1970

1968

1966

Apresentação na Granja do Torto em 1965

1978

Show Musical em Brasília

1976

1975

Jantar na Granja do Torto

1980

1975-Pequenos Cantores na TV 1980-Show Apresentação

1985

1982

1978-Show-Nordeste

1985-Show - Dance

2005-Show Câmara Municipal de Porto Alegre

2010

2005

2004

2000

1995

1982-Show sons coreanos

2010 - Portugal Estampa 29


CULTURA

casa em Tunas, que não tinha nem comida direito”, lembra Erdmann. Outra lembrança, segundo a ex-integrante Laura, tinha a ver com disciplina. “Devo admitir que todas as lembranças do Show são especiais para mim, inclusive aqueles xingões que eu recebia da Curtam cada coreógrafa por esquecer ensaio, cada um acessório de uma fantasia, cada ritmo, cada casa fantasia ou errar algum passo na apresentação, ou de família, cada até mesmo nos ensaios”, apresentação, diverte-se. cada salva Grivicich também lembra de palmas e das viagens e das amizades cada choro proveniente do que fez ao longo do tempo Show. Cultivem em que participou do Show os valores Musical, mas uma das proporcionados passagens mais marcantes nesse ambiente para ele teve a ver com o espetacular, pois avô. “Uma das lembranças no futuro vão mais emocionantes foi formar o caráter quando encenamos a de vocês. E essas memórias história do Pe. José de Anchieta e na plateia vi vão ser as meu avô emocionado com melhores histórias a serem o espetáculo”, relembra. FORMAÇÃO POR MEIO contadas para quem quer que DA ARTE E DA CULTURA queira ouvir Nesses quase 50 anos de essa verdadeira existência, o Coral epopeia, que é Pequenos Cantores do o Show. Colégio Anchieta Laura Matte Doering transformou-se em Show

Musical Anchieta Canto e Dança e, atualmente, Show Musical Anchieta. Duas personalidades tiveram papel fundamental na formação de centenas de crianças e jovens durante um longo tempo: a coreógrafa Nilva Pinto e o maestro Tercílio Poffo. Eles foram os padrinhos artísticos e referências de disciplina, um legado que marcou a vida de muitos alunos, conforme conta Grivicich: “A professora Nilva, que é uma mãe pra mim, foi quem me ensinou a arte da dança. O maestro Tercílio Poffo me ensinou a educar a voz e perder a inibição no palco. Ele realmente era muito exigente, mas sabia ensinar também”. Erdmann, que ficou 13 anos no Show, pois continuou depois que saiu do Colégio, também afirma que ter esses professores foi muito importante para sua formação, além da sua dedicação todo esse tempo à música, junto com o audiovisual. “Música e audiovisual é exatamente o que eu faço até hoje. Eu faço os musicais em televisão, cinema, uma grande quantidade de shows, os maiores do Brasil, tudo por causa Aproveitem o deles: do Tercílio e da Nilva, meus momento e estejam padrinhos artísticos”, diz. Laura abertos a aprender. destaca que além dos conhecimentos Fácil não é, mas, técnicos, o aprendizado inclui valores com certeza, para a vida. “Responsabilidade, no futuro vocês respeito, educação, solidariedade, agradecerão por aqueles momentos confiança, união e outros tantos constituem a essência que eu tento de que abriram mão para conhecer a descrever. Essa essência só é cultura e se dedicar alcançada por aqueles que a isso. desvendam o mistério do Show: a

paixão pela arte!”, explica.

Alexandre Grivicich

Parabéns Família Anchietana pelos seus 125 anos de HISTÓRIA e TRADIÇÃO!

Agradecemos a oportunidade de vivenciarmos dentro desta grande Casa o êxito do nosso trabalho e trilharmos juntos para construir novas histórias e conquistas.


MEMÓRIA

Vila Oliva: que saudade! A Vila Oliva é um lugar muito querido por anchietanos de todas as gerações! É lá que que eles vivem grandes experiências e aprendem a conviver com disciplina, respeito e amizade. Nesses 125 anos, muitos alunos passaram por lá, e as lembranças que têm desse lugar especial estão guardadas na memória e no coração. JOTA PADOVA Vamos lá: o ano com exatidão não sei, mas deve ter sido entre 1973 e 1976. Estávamos com o Grupo Escoteiro Manuel da Nóbrega, Páscoa na Vila... Um amigo que se chama Vanderlei estava “acantonando” pela primeira vez e teve uma crise de asma no meio da noite. Não conseguia dormir de tão nervoso, e sua respiração estava ficando cada vez mais difícil. Nenhuma bombinha, nenhum remédio, a estrada pra Caxias parecia algo inviável no meio da madrugada. O que fazer? Descemos na cozinha e resolvemos preparar um remédio (uma verdadeira bomba-placebo), misturando Coca-Cola, vinho (sim, tinha na geladeira aquele que usavam pra preparar o sagu) e um pouco de Olina (tinha que ficar amargo pra parecer remédio). Voltamos para o dormitório e, após inventar uma história cabeluda de como havíamos arranjado o tal “remédio”, ministramos a poção mágica... Não sei se demorou 5 minutos e o nosso paciente já estava bom e dormiu... Ufa! Deu certo e fomos todos dormir, sem antes combinar que não iríamos contar nada aos outros que não tinham participado da alquimia noturna. Poderíamos precisar do remédio de novo, nunca se sabe! João Padova, aluno de 1973 a 1980; com ótimas lembranças deste tempo.. RENATA ESBROGLIO Não só fui como aluna, mas como chefia algumas vezes! Amo a Vila e sinto muita saudade desse lugar. Foi onde despertou em mim o amor pela natureza. Hoje em dia viajo o mundo fazendo trilhas em montanhas maravilhosas! Gosto do que a Vila despertou em mim. Eu acho que fui umas 500 vezes pra vila e nunca vi o tal Maba*, frustração de infância. Estudei no Anchieta de 1986 a 1996.

E para conhecer um pouco mais esses momentos saudosos passados na Vila, pedimos a ajuda de toda a comunidade anchietana, através da nossa página oficial no Facebook. Foram muitos comentários, e também alguns e-mails, contando aventuras diversas. Compartilhamos com você essas belas histórias aqui.

MARIANA DIAS CURRA Carolina Marostica, Regina Caballero Fleck, Milena Salomon, Isadora Lenz, Nicole Copetti, férias de inverno do terceiro ano 2008. BEATRIZ WILHELM DOCKHORN Essa casa era a casa da minha mãe quando era solteira. A Vila Oliva foi fundada pelos meus avós, Francisco Oliva e Antonietta Zatti Oliva. Eles doaram para os padres do Colégio Anchieta a casa e a igreja, que fica na frente, onde tem o nome dos dois. Fico muito contente de ver a quantidade de crianças que têm a Vila Oliva como uma parte de sua infância. JEANE DI PRIMIO Oração antes e depois das refeições com o padre Chiquinho! Saí do Anchieta em 1989. LUCIANE BONAMIGO VALLS São muitas as lembranças que guardo das temporadas na Vila Oliva, mas duas são

muito especiais: ter participado da primeira turma de gurias a passar as férias de julho lá e ter participado do grupo que foi de Vila Oliva até Gramado a pé em 1988! Estudei no Anchieta de 1979 a 1990. GUILHERME SOARES Quanta saudade... muitas lendas e histórias fantásticas! A foto é de 1978, tirei assim que chegamos. Sobre histórias marcantes: de noite me lembro de que contavam com “riqueza de detalhes” uma história que pela madrugada aparecia um “fantasma” chamado MABA. Com 9 anos, imaginem se eu consegui dormir na primeira noite. Estudei no Colégio Anchieta de 1975 até 1979, foram os momentos mais felizes da minha infância! FLAVIO JOSÉ VOLKMER Muitas recordações... Acampamentos e passeios, uva e cortes de lenha. JULIANA MATTE WINGE Aluna de 1991 a 2003 Vila Oliva sempre foi pra mim banho gelado atrás do ginásio, sapos na piscina, pipoca no ginásio, caçador noturno, escadas pequenas que precisávamos subir de lado, chão que gemia, céu estrelado na clareira e frio, muito frio de noite. Era

*Maba: figura lendária “que vaga” à noite nos arredores de Vila Oliva. SETEMBRO DE 2015

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MEMÓRIA

sempre uma das primeiras a correr até a secretaria com a ficha de inscrição devidamente preenchida e tinha todas as versões da camiseta clássica “Eu <3 Vila Oliva”. Embora sempre fosse muito bom ir com as meninas, era quando íamos com o pessoal do Show Musical Anchieta que as histórias ficavam mais engraçadas. Meninos no segundo andar, meninas no terceiro. Certa noite, lá por 2000, resolvemos que a hora das meninas mais velhas serem o Maba tinha chegado. Os meninos não nos aceitaram no programa deles, então nos munimos de sinalizadores, rojões, fumaça colorida e muita criatividade. Nos vestimos todas de preto e fomos para o tradicional caçador no ginásio. Algumas saíram discretamente e desligaram a chave geral e a gritaria e correria começaram. Saímos sorrateiramente e demos a volta na casa, subindo pelo mato costeando a cerca. Ao chegar na clareira a brincadeira começou. O povo todo subiu pro mato com as lanternas e a gente fugindo estrada abaixo deixando rastros de fumaça, luz e som. Até uma carcaça de gado achamos para enfeitar a descida aterrorizante dos outros. No fim, encontramos com os meninos no campo de futebol. Eles tinham se perdido no mato antes do caçador e não sabiam o que estava acontecendo. RENATA SASSI Bom D+! Sagu de vinho, passeios noturnos, “Maba”, torneios, brincadeiras, piscina, comprinhas na vila, Pe. Janjão, amigos, colegas...

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REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

CLAUDIA GABELLINI Sou ex-aluna da turma de 1980, que faz 35 anos de formada neste ano, junto com os 125 do Colégio. Sou também mãe de ex-aluna da turma de 2012, sobrinha, irmã, prima de muitos ex-alunos (exalunos, nunca ex-Anchietanos...) Fui para a Vila Oliva pela primeira vez passar as férias de verão de 1973/1974. Estava passando da 4ª para a 5ª Série, e isso era um grande evento. Minha mãe saiu comigo e comprou um enxoval para as ditas férias que, se não me engano, foram de duas semanas. Nunca vou esquecer. Foram dias de muitas emoções, de convívio social intenso e grandes aprendizagens, tudo orientado pelo Janjão e pelo Padre Adão. Lembro-me de muita coisa, mas para citar uma, o Janjão recolhia o dinheiro que queríamos “depositar” e nos dava um “talão de cheques” que podia ser usado nas “casas de comércio” da Vila. Íamos lá, fazíamos compras e o Janjão fazia a compensação. Foi a minha primeira experiência com cheques, com o controle de canhotos e saldo. Um aprendizado importante de vida prática de uma maneira superprazerosa. Só podia ter sido coisa do nosso amado Janjão, aquele santo, tendo todo esse trabalho todas as noites depois que nós, crianças, íamos dormir, para que nós tivéssemos essa experiência.

MARIA INÊS MILANEZ PEÑA SCHIAVI Entrei no Anchieta em 1974 e fui para a Vila Oliva pela primeira vez em 1981. Fiquei encantada com o Sr. Joanin e a Dona Nina, a Missa do Janjão, o Maba e tantas outras coisas. Foram 4 dias de muitas lembranças inesquecíveis. Nunca tinha tomado uma sopa de Capeletti tão deliciosa. Os passeios noturnos pela vila eram divertidíssimos; quando o Maba “aparecia” era uma gritaria só. Naquela época tínhamos dentro do Ginásio um palco com muitas fantasias e cenários. Lá assisti a muitas peças engraçadas, e muitos talentos surgiram. Vi neve pela primeira vez em Vila Oliva. O frio era muito intenso, dormíamos agarrados no “tomara que amanheça”, um cobertor muito fininho que existia na época. Depois que me formei no Anchieta, em 1984, continuei acompanhando por vários anos as turmas (como chefia). Hoje levo meus 3 filhos, o que me emociona muito. Todas amam a Vila Oliva também. Atualmente, sou presidente da Associação de Pais e Mestres do Colégio Anchieta e um de nossos projetos é Vila Oliva para as famílias anchietanas. Todas as famílias aguardam ansiosamente por estes encontros anuais.


AÇÃO SOCIAL

Solidariedade: Uma marca anchietana omo herdeiro da tradição jesuíta de educação, o Colégio Anchieta se esforça por oferecer uma educação que seja sólida academicamente e fecunda humanamente. Para que isso aconteça, várias atividades são oferecidas no Colégio. Dentre elas, há uma que tenta desenvolver a excelência humana: a ação social. Os alunos do 8º Ano realizam atividades de voluntariado, todas às sextas-feiras à tarde, em duas instituições caritativas: no Amparo Santa Cruz, que dá abrigo a pessoas idosas, e na Creche Santa Luiza, escolinha que atende crianças pobres da Vila Farrapos e redondezas. As atividades realizadas com as crianças têm duas vertentes: viver tardes de convívio e brincadeiras com as crianças e gerir campanhas de arrecadação de bens que possam ser úteis à Creche e às crianças, como, por exemplo, agasalhos, alimentos e presentes de Natal e Páscoa.

Com essa atividade, o Colégio Anchieta reafirma sua missão de formar “homens e mulheres para os demais”, como queria o ex-Superior Geral dos Jesuítas, padre Pedro Arrupe. Clóvis Lasta Waszkiewicz ORIENTADOR RELIGIOSO, ESPIRITUAL E DE PASTORAL DO 8º ANO

“O voluntariado é uma experiência muito legal, pois adoro brincar com crianças. Sinto que elas ficam mais felizes com nossa presença, porque precisam de muita atenção, dedicação e carinho. Nessa atividade há uma troca, pois assim como as divertimos, elas também nos divertem e nos proporcionam momentos muito especiais” Thayse Ducati Mancio, da turma 101

“Vale a pena cada minuto que estamos longe [de casa] porque nós temos uma ligação tão forte com vocês [crianças da creche] que agradecemos o lado cristão do ser humano: TODOS NÓS SOMOS IRMÃOS” Isabela Kunzler, da turma 91

Com a palavra, as instituições assistidas pelo Colégio Anchieta A INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS RECANTO SÃO FRANCISCO tem como missão assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições de promoção de autonomia, integração e participação na sociedade. Atendemos 50 idosos em situação de risco social, que, em sua maioria, foram abandonados, negligenciados e sofrem carência econômica própria ou da família; são oriundos de diversas localidades do Estado do Rio Grande do Sul. A parceria com o Colégio Anchieta e com o grupo de voluntários tem oportunizado aos nossos idosos atividades de integração intergeracional e momentos de descontração firmando vínculos entre os idosos e os jovens. Esse período em que é realizado o voluntariado tem trazido motivação aos nossos idosos, mesmo para aqueles que ficam como ouvintes; os momentos de recreação têm auxiliado na saúde mental dos nossos moradores seja pintando as unhas, jogando bocha ou, até mesmo, nos bate-papos. Isso traz para os nossos idosos a sensação de que ele pertence novamente à

sociedade, pois muitos dos nossos moradores não se sentem mais pertencentes ao meio social. Agradecemos de coração a todos que se disponibilizam a participar deste momento que, com toda certeza, ficará nos corações daqueles que já sofreram tanto com o abandono e o descaso da sociedade. Meninos e meninas, vocês deixam a nossa casa com o perfume da alegria, da solidariedade e, principalmente, do amor entre os irmãos. Sim, ficamos mais alegres e felizes com a presença de todos vocês. O nosso muito obrigado! Daniela Trindade COORDENADORA AMPARO SANTA CRUZ

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AÇÃO SOCIAL

Todas as semanas temos o nosso ambiente mais festivo, iluminado e alegre, com o sorriso e a alegria de tantos jovens e adolescentes, alunos e professores do Colégio Anchieta. Através do projeto de parceria, é realizada esta integração, com partilhas e convivências. Sentimos a importância das campanhas de roupas, agasalhos, brinquedos, doces e alimentos, que vêm fortalecer o nosso trabalho. Também percebemos o crescimento das crianças e dos jovens nesse relacionamento, gerando amizades e uma saudável convivência, desenvolvidas através de brincadeiras, dinâmicas e socialização por meio de atividades e eventos como: Natal, Páscoa, Dia das Crianças. Nosso desejo é promover sempre mais esses encontros e parcerias, desenvolvendo projetos sociais junto às comunidades carentes da Vila Farrapos. Com isso, agradecemos imensamente todo o apoio recebido, contribuindo assim à promoção humana e melhorando a qualidade de vida, sobretudo daqueles mais necessitados. Irmã Deonice Garcia OBRA SOCIAL SANTA LUIZA

A vocês do Colégio Anchieta, não poderíamos deixar de parabenizar, nesta comemoração dos 125 anos. Ressaltamos aqui a educação humanitária e inclusiva desenvolvida. Vocês, que de forma livre, responsável, têm estado presentes no Educandário – Centro de Reabilitação São João Batista, em forma de acolhida, carinho, agasalho e cultura, não imaginam o que essas ações nos auxiliam a elevar a autoestima de nossas crianças e adolescentes deficientes. Elas têm o poder de incluí-los numa sociedade que faz leis de inclusão, mas que quase não os vê. Eveline Streck PRESIDENTE DO EDUCANDÁRIO SÃO JOÃO BATISTA

Não é apenas um trabalho de apoio solidário. É muito mais, pois o carinho, a atenção e a parceria das turmas, professoras e coordenação dos primeiros anos, somados às ações que o Colégio Anchieta proporciona ao Abrigo João Paulo II. É uma relação fraternal e indispensável, pois toda a ajuda que recebemos proporciona um melhor atendimento aos nossos acolhidos, e esse carinho de certa forma é refletido e percebido quando eles recebem os presentes de Páscoa, os agasalhos, os presentes de Natal, a visita da Família Anchietana, dentre outras. Somos muito gratos por essa parceria. Lécimary Moreno ABRIGO JOÃO PAULO II

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REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

É com muita alegria e profunda gratidão que expressamos os nossos sinceros agradecimentos ao renomado Colégio Anchieta por todo apoio que recebemos ao longo de várias décadas. A Obra Social Imaculado Coração de Maria sempre contou com o reconhecimento dessa honrada Instituição de várias formas, quer seja através de assessoria financeira, repasse de valores para financiamento de projetos sociais, campanhas de alimentos, agasalho, material escolar e pedagógico, quer seja pela sempre expressa solidariedade e presença forte em nossos espaços. O Colégio Anchieta tem sido um alicerce extremamente importante para o desenvolvimento de projetos de grande relevância, integrando os seus alunos e suas famílias; entre eles, o de apadrinhamento. Essa parceria tem se comprometido, de forma importante, com a concretização de sonhos idealmente sublimes de muitas crianças e adolescentes atendidos pela OSICOM. O Colégio Anchieta, através do apadrinhamento, vem contribuindo, de forma significativa, para a celebração de datas como a Páscoa, Dia das Crianças e o Natal, permitindo que a luz do amor acalente a alma e alivie o sofrimento de mais de 950 crianças e adolescentes da família OSICOM. Dessa forma, destacamos o espírito de fraternidade, expresso pela participação das famílias Anchietanas, através da disponibilidade e atenção para com a nossa comunidade interna e externa, o que tem trazido como resultado saldos extremamente positivos. O Colégio Anchieta vem sendo a mola propulsora para que a OSICOM prossiga com a sua missão, garantindo o cumprimento do ECA na sua excelência. MUITO OBRIGADA! Zélia Maria Benvegnú PRESIDENTE DA OSICOM


AÇÃO SOCIAL

Falar do trabalho voluntário que o Colégio Anchieta vem desenvolvendo junto a nossa entidade é muito especial e também nos enche de orgulho. Pronunciar essa parceria dentro de nossa comunidade escolar é uma honra, é um trabalho extremamente organizado, planejado e cuidadoso, com vistas a que realmente todos se integrem e interajam com muito amor, carinho e incentivo. E diante da espera da próxima visita, há sempre a alegria da lembrança daquilo que já foi vivido; a cada novo encontro vemos que já existe uma marca da escola Anchieta impressa na nossa entidade, pois, a partir das trocas que são feitas com nossos pequenos, eles já reconhecem os amigos que fizeram e sentem falta deles, das brincadeiras e de cada palavra de amor que receberam. Muito obrigada, Família Anchietana, e mais uma vez, estamos orgulhosos de poder dizer que somos parceiros e que sabemos que, além de recebermos tantos presentes, alimentos, roupas e agasalhos, recebemos o maior deles, que é ter a chance de dividir nossos melhores sorrisos com vocês. Obrigada!!! Claudia Bueno SECRETARIA DIRIGENTE DE MOVIMENTO SOCIAL E COMUNICAÇÃO DA ESCOLA PÉ DE PILÃO

É com grande satisfação que a Pequena Casa da Criança pode dizer que tem amigos! Mesmo sem ganhar nada em troca, vocês doam seu tempo, seu esforço, suas energias, ajudando-nos na construção de uma realidade melhor para os atendidos pela Instituição e para a comunidade extremamente vulnerável onde estamos inseridos. Falamos com carinho especial do Colégio Anchieta, de seus colaboradores, alunos e familiares, que são pessoas fundamentais nesse processo, com atos de solidariedade e bondade e promovendo inúmeras ações acolhedoras . Obrigado por fazerem parte da Pequena Casa da Criança e de transformarem esta instituição em um lugar melhor. Janice Santana Massena de Lima

Já há alguns anos a Pequena Casa da Criança conta com esta parceria, que muitos benefícios trazem para as crianças atendidas na escola de Educação Infantil e Fundamental da nossa Instituição, por intermédio de doações, mobilizações solidárias e o apadrinhamento. A realização do apadrinhamento proporciona aos nossos alunos uma vivência especial, pois somos acolhidos com muito carinho e dedicação pelos Alunos, Pais e Mestres do Colégio Anchieta. A disponibilidade em saber e colaborar com as nossas necessidades demonstra o enorme envolvimento com os mais necessitados e é motivo de imensa gratidão a todos os envolvidos. Deus vos retribua em graças especiais. Ir. Pierina Lorenzoni PRESIDENTE DA PEQUENA CASA DA CRIANÇA

A escola recebe os alunos do colégio Anchieta, que fazem parte do grupo de voluntários, uma vez na semana e no período da tarde. Para as crianças de nossa escola, é um momento de muita alegria, pois os alunos interagem o tempo todo, brincando e, é claro, fazendo muita bagunça. O contato físico, o afeto e o carinho que eles compartilham é parte fundamental desse trabalho. Estamos muito contentes e satisfeitos, principalmente quando vemos a alegria estampada no rosto de nossas crianças. Entendemos o quanto esse momento, essa troca de experiências, é importante para os dois lados. Patricia Quadros COORDENADORA PEDAGÓGICA DA CRECHE PLANETA MÁGICO

ASSESSORA DE UNIDADE PEQUENA CASA DA CRIANÇA

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ARTIGO

UM PROJETO EDUCATIVO EM PERMANENTE CONSTRUÇÃO:

a dimensão pedagógica do Currículo.

As lições do educador Paulo Freire nos ensinaram a ler e a ter a realidade como foco de estudo.

Cultivar a ­troca ­multiplica exponencialmente os saberes de todo mundo

(Anita Zuppo Abed).

Os temas das Campanhas da Fraternidade, porque ­abordam os ­problemas ­concretos da sociedade ­brasileira, são motivos ­inspiradores para projetos interdisciplinares nas séries. 36

REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

125 ANOS DE HISTÓRIA

A educação que se pretende no Colégio Anchieta visa à formação de pessoas inseridas em seu tempo (relação de pertença a uma cultura, em um tempo e espaço local e global), que busquem transformar a sociedade numa perspectiva de igualdade e de justiça. Fundamentada na Pedagogia Inaciana, e na fé em Jesus Cristo, o Colégio assume, ao mesmo tempo, o compromisso de ser uma obra apostólica e um centro educacional de excelência. Faz parte desse entendimento a vivência e o ensino de valores éticos e morais. É nesse contexto que o Colégio Anchieta, ao longo de seus 125 anos de história, tem se dedicado a educar as diferentes gerações a partir de uma visão multicultural crítica, que leva em conta o reconhecimento da pluralidade e diversidade de sujeitos e de culturas com base no respeito e na tolerância recíproca. No processo formativo, a instituição, embasada na educação jesuíta, investe no valor da pessoa humana e de cada indivíduo em particular. Assim, valoriza e acolhe identidades plurais sem quaisquer formas de naturalização do preconceito e desrespeito à vida humana, inserindo no seu trabalho pedagógico metodologia crítica e reflexiva, na perspectiva de construção de uma sociedade baseada na justiça social.

A “FIDELIDADE CRIATIVA”

Ao longo de sua trajetória, o Colégio passou por muitas transformações e avanços pedagógicos resultantes de busca constante por uma inserção comprometida com as transformações ocorridas na sociedade e nas suas diferentes configurações socioculturais, políticas e econômicas. Com base no princípio inaciano da “fidelidade criativa”, o Colégio busca sempre posicionarse diante das novas exigências trazidas por cada época, num processo que reconhece a importância de se abrir para o novo, mas preservando os valores essenciais que distinguem e fundamentam a educação jesuíta.

A ERA DIGITAL: UM TEMPO DE RUPTURAS

Hoje, o tempo é de complexidade, de rupturas de fronteiras. O mundo tornouse globalizado, vislumbrando-se um contexto educacional marcado pela conectividade. No contexto educacional dessa era digital, da tecnologia e da sociedade do conhecimento, o desafio é de buscar uma escola que modifique seus espaços e tempos, inserindo novas tecnologias, arriscando propostas de currículos mais inovadores; uma escola onde o ensino não fique submisso a conteúdos descritivos e onde se reconheça que o saber é dinâmico e ultrapassa o aparente. Dentro desse contexto, a linha pedagógica do Colégio Anchieta que tem, como fundamento básico, os princípios teológicos, filosóficos e antropológicos da Companhia de Jesus, reconhece a importância de apropriarse dos conceitos inerentes à Teoria da Complexidade. Adota-se dessa forma, a ideia do pluralismo pedagógico, que supera tanto o dogmatismo e o fechamento em uma só postura metodológica, quanto os perigos do ecletismo inconsequente e vazio, servindo de paradigma para escolhas na diversidade das ações pedagógicas que se fazem necessárias para a viabilização de um currículo escolar afinado aos desafios contemporâneos.


Durante aproximadamente duas décadas, o ensino por núcleos caracterizou a metodologia do Colégio Anchieta.

NOVAS METODOLOGIAS

Para enfrentar os múltiplos desafios de educar na nossa época, o Colégio passa a ter como foco da aprendizagem a busca da informação significativa, da pesquisa, do desenvolvimento de projetos interdisciplinares e transdisciplinares, de um trabalho em rede de significações, e não apenas, ou predominantemente, a transmissão de conteúdos específicos. Isso porque, cientes da excessiva fragmentação a que o trabalho disciplinar tem conduzido, considera-se a necessidade de organizar os componentes curriculares em torno de objetivos que transcendam os limites e os objetos das diferentes disciplinas. Pretende-se, assim, manter, no cerne da organização curricular, as pessoas, com seus anseios e interesses e não apenas os objetos ou os objetivos disciplinares.

O DESAFIO DE SE TRABALHAR COM COMPETÊNCIAS COGNITIVAS E SOCIOEMOCIONAIS

O pensamento complexo, longe de substituir a ideia de desordem por aquela de ordem, visa a colocar em dialógica a ordem, a desordem e a organização

(Edgar Morin).

A educação empreendedora significa formas cidadãos éticos e solidários, futuros profissionais conscientes, responsáveis, compassivos e sustentáveis. (Teuler Reis)

Assume especial relevância na matriz curricular atual, paralelamente ao trabalho com as habilidades e competências cognitivas, o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, concebidas como disposições que favorecem as relações humanas. Elas garantem a tomada de decisões conscientes por qualquer pessoa, em qualquer época, lugar e situação, características que tornam os indivíduos capazes de lidar com problemas ou situações incertas em qualquer esfera da vida. Além disso, favorecem as relações interpessoais e a inteligência intrapessoal, fundamentais para qualquer ser humano viver em sociedade e estabelecer vínculos saudáveis consigo próprio e com os outros. As habilidades socioemocionais estimulam o desenvolvimento de atitudes conscientes, referência de uma pessoa protagonista da sua formação humana e capaz de inserir-se de forma competente no mundo.

EM BUSCA DO PROTAGONISMO

Considerando a volatilidade da época contemporânea, o Colégio Anchieta também deseja ter em seu currículo temas relacionados aos sonhos individuais de seus alunos, aos projetos de vida e ao desenvolvimento humano integral. Levam-se em consideração as necessidades atuais e futuras de todos os estudantes, para garantir sua inserção no mundo adulto e no mercado de trabalho. Com isso, também, inserem-se no currículo os princípios da pedagogia da educação empreendedora, resguardando o seu papel de capacitar o educando para ser um sujeito de iniciativas, bem como pessoa capaz de envolver-se na resolução de dilemas e na busca de soluções criativas, ferramentas que vêm sendo cada vez mais exigidas no mundo de hoje. A educação que tem estas características orienta o aluno a planejar seu próprio futuro. Assim, o estudante, como cidadão, passa a ser autor e protagonista nas questões de ordem individual e social, em vista do bem comum. Com base nesse trabalho pedagógico, estruturado a partir das habilidades e competências cognitivas e socioemocionais e referenciado pelos princípios do empreendedorismo, o Colégio acredita que poderá concretizar melhor a tarefa de educar crianças e jovens para o futuro, para um mundo em que os cidadãos, comprometidos com a promoção e defesa da dignidade humana, gerem atitudes responsáveis e proativas em relação à sustentabilidade planetária. Dóris Trentini e Maria Isabel Xavier Serviço de Orientação Pedagógica de 6º ao 9º Ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio

SETEMBRO DE 2015

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ARTIGO

Lugar de ser!

Viver a espiritualidade inaciana é atuar permanente na história, no sentido de colaborar com a obra criativa e criadora de Deus.

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s reflexões e vivências que realizamos no nosso espaço educacional perpassam e penetram nossa existência revelando a nossa consciência de ser, a nossa competência de fazer, o nosso compromisso com os outros, com a sociedade, com Deus e com a natureza. Elas são condição de possibilidade da nossa autoafirmação e da nossa existência. É nesse sentido que a pastoral do Colégio Anchieta conduz a missão educativa e se realiza nessa missão. No bosque, alunos sozinhos, compenetrados, em duplas ou em grupo, procuram traduzir a experiência de um certo peregrino para os dias de hoje! Isso é colocar, na prática, toda uma rica experiência de Inácio de Loyola – o peregrino, como gostava de se chamar. É deslocar-se do senso comum no sentido de encontrar-se consigo, com os outros, com a natureza e com Deus, buscando permanentemente o mágis inaciano. A mística inaciana permite ao ser humano dar um sentido ao ser e fazer e permeia toda nossa prática educativa. Momentos de estudo, reflexão, debates, oração, meditação, de campanhas solidárias são realizados, incentivados e permitem alcançar uma visão global da realidade, a qual ultrapassa a compreensão técnica e científica por muitos acentuada. A religiosidade expressa-se desde as mais remotas

REVISTA ANCHIETA 125 ANOS

eras do processo de evolução do ser humano, por meio da dimensão religiosa que, por sua vez, faz do ser humano criatura que se comunica com Deus. A transcendência ajuda o ser humano a viver a paz, a alegria e a caridade; dá sentido à dor, capta o mistério da pessoa e da natureza, de uma maneira que ultrapassa a matéria de que as coisas são feitas. Ao se encontrarem anchietanos do passado e de hoje, percebe-se que são pessoas espiritualizadas. Não são, necessariamente, pessoas que se movem com naturalidade no âmbito da piedade, mas são indivíduos abertos ao mundo, atuando na história de forma colaborativa no sentido dos bens comuns. Viver a espiritualidade inaciana é atuar permanente na história, no sentido de colaborar com a obra criativa e criadora de Deus. Como Serviço de Orientação Religiosa, Espiritual e de Pastoral (SOREP), procuramos desenvolver elementos que dão sentido para a vida dos queridos alunos. A nossa Fé não pode ser vazia, ela promove a justiça em todas as relações: sociais, culturais, espirituais, psicológicas, entre outras. A transformação exige a participação de todos. A nossa presença amorosa, iluminada pela espiritualidade inaciana, incentiva a vivência do amor, da vida e da liberdade. Todos somos importantes nessa missão. Cleiton Gretzler

Coordenador do Serviço de Orientação Religiosa, Espiritual e de Pastoral


PARABÉNS AO COLÉGIO ANCHIETA PELOS SEUS 125 ANOS!

Quem ensina a pensar, comemora o passado construindo o futuro.

Nós da Engenhosul Obras nos orgulhamos em construir parte desta história!



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