Revista [B+] edição 15

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s u m á r io

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fórum de gestão empresarial

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Diamante líquido

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A 128 quilômetros de Salvador, Alagoinhas ganha fama internacional entre as empresas de bebidas que começam a perceber as vantagens de se investir na região. A água pura da cidade, proveniente do Aquífero de São Sebastião, é o motivo dos investimentos bilionários que atraem as fábricas.

on-line e mural

zoom+

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bloco de notas

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mídia+

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imóveis+

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experiências

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conte aí

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Carlos Leite

O arquiteto e professor Carlos Leite reuniu 15 anos de pesquisa na área de desenvolvimento urbano sustentável para lançar o livro Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes. Da teoria à prática, o autor já fez mais de 40 visitas a cidades que se reinventaram pelo mundo e aborda os desafios atuais enfrentados por Salvador.

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negócios 33 cotidiano 42 Como alguns profissionais veem a cidade de Salvador e quais são os principais entraves para que exerçam suas atividades.

Startup 34 Máquinas de venda reversa são inspiração para jovem baiano gestão 36 Os principais gargalos para a modernização da cidade [C] Luiz Marques 48 | [C] Adary Oliveira 50 [C] Gabriel Melo Salgado 52

sustentabilidade 53 Pro Bem 58 Veja como empresas investem na melhora da qualidade de vida urbana.

Tendências 54 As melhores e piores cidades para se viver [C] Isaac Edington 62

lifestyle 75 moda 82 O estilista baiano Vitorino Campos mostra por que ganhou as passarelas da SPFW.

lazer 76 Salvador é uma cidade boa praça? notas de tec 88 decoração 90 Priscila Diniz e Andréa Lago criam o espaço do quarto do bebê na Casa Cor 2012

arte & entretenimento 91 Literatura 92 O escritor João Ubaldo Ribeiro fala sobre a vida e conta planos.

criatividade 96 Você conhece o Instituto Sacatar? Aplausos 102 Destaques do cenário cultural baiano [C] Cris Olivieri 104 | [C] Marco Pellegatti 44

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e d ito r ia l

Fotos: Rafael Martins/AGECOM

Nós acreditamos nas cidades Como encontrar soluções para as cidades? Não é à toa que essa é a pergunta feita hoje em todo o mundo. Mais da metade da população mundial é urbana. As megacidades contemporâneas impõem desafios para lideranças, gestores e sociedade, ao mesmo tempo que revelam oportunidades para o desenvolvimento sustentável e gestão inteligente. Na capital da Bahia, são mais de 2,6 milhões de habitantes para um Produto Interno Bruto (PIB) de quase R$ 33 bilhões registrados em 2009, gerando recursos da ordem de R$ 350 milhões anuais. O paraíso, entretanto, não é mais o mesmo. Salvador transformouse no terceiro maior problema urbano do país. Sob determinados recortes, como o desemprego de quase 18%, nenhuma capital brasileira é um problema maior do que Salvador. Outras questões deixam a população ainda mais perplexa: o trânsito não anda, a violência paralisa, o custo de vida é alto. Por que a capital baiana chegou a esse ponto? O que outras cidades menores podem aprender com isso? E, talvez a principal pergunta, como Salvador pode se reinventar? Fomos em busca de respostas para essas perguntas e é o que apresentamos ao longo de toda a edição 15. Urbanistas, arquitetos, administradores, técnicos e especialistas dão soluções, compartilham experiências e projetam caminhos para que tanto a capital baiana como qualquer outra cidade aceitem o desafio de se remodelar e entrar nos trilhos do desenvolvimento. Exemplos de sucesso existem, definições práticas e acadêmicas 8

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também. A próxima etapa é vestir a camisa e encarar com seriedade os primeiros passos que vão nos levar a um outro nível social, econômico e ambiental. O município de Alagoinhas vive essa oportunidade e é o tema da capa desta edição. Grandes empresas nacionais se instalam na região, atraídas pela riqueza natural das águas que ali jorram. De que maneira cidadãos e poder público se preparam para aproveitar o momento positivo, tornando-o sustentável por anos e anos? A repórter Gina Reis foi até a cidade saber o que está acontecendo por lá. Ainda nesta edição, conhecemos projetos inovadores, que nos mostraram a viabilidade de modelos originais de negócios e o alcance do sucesso: o Instituto Sacatar, na Ilha de Itaparica, e o fomento às artes; as experiências do Armarinho Popular, na Liberdade, da NNova Imobiliária e da primeira empresa de coworking baiana, a CWK; e a revitalização urbana através dos espaços públicos, analisada na matéria de Lilian Mota. Tem também o feirense Vitorino Campos, que contou um pouco da sua história e como conseguiu ser a estrela do São Paulo Fashion Week, dando um exemplo de profissionalismo e criatividade. Para finalizar, tivemos o enorme prazer de fazer uma entrevista com o grande escritor João Ubaldo Ribeiro, que nos falou sobre novos planos e antigas vontades.

Boa leitura. A Redação.


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e x p ed iente Conselho Editorial César Souza, Cristiane Olivieri, Fábio Góis, Geraldo Machado, Ines Carvalho, Isaac Edington, Jack London, Jorge Portugal, José Carlos Barcellos, José Roberto Mussnich, Luiz Marques Filho, Maurício Magalhães, Marcos Dvoskin, Reginaldo Souza Santos, Rubem Passos Segundo e Sérgio Nogueira Conselho Institucional Aldo Ramon (Júnior Achievement) Antônio Coradinho (Câmara Portuguesa) Antoine Tawil (FCDL) Jorge Cajazeira (Sindipacel) José Manoel Garrido Gambese Filho (ABIH-BA) Mário Bruni (ADVB) Adriana Mira (Fieb) Paulo Coelho (Sinapro) Pedro Dourado (ABMP) Renato Tourinho (Abap) Wilson Andrade (Abaf) Diretor Executivo Claudio Vinagre claudio.vinagre@revistabmais.com Editor Chefe Fábio Góis fabio.gois@revistabmais.com

Projeto Gráfico e Diagramação Person Design Fotografia Stúdio Rômulo Portela Revisão Raul Rodrigues Colaboradores Ana Paula Paixão, Andréa Castro, Clara Corrêa, Emanuelle Xisto, Felipe Arcoverde, Gina Reis, Ines Grimaux, Leonardo Brasiliense, Lígia Rizério, Lilian Mota, Lise Lobo, Marcos Maciel, Milena Miranda, Núbia Cristina, Patrick Silva, Raimundo Dantas, Raíza Tourinho, Rogério Borges, Uilma Carvalho, Yasmin Queiroz Colunistas Adary Oliveira, Cristiane Olivieri, Gabriel Melo Salgado, Isaac Edington, Luiz Marques Filho Portal Enigma.net Assessoria de Imprensa Frente & Verso Comunicação Integrada

Repórteres Brisa Dultra, Carolina Coelho e Murilo Gitel

iPad uTochLabs www.revistabmais.com/ipad

Realização Editora Sopa de Letras Ltda. CNPJ 13.805.573/0001-34 Redação [B+] 71 3022-8762 redacao@revistabmais.com www.revistabmais.com Publicidade publicidade@revistabmais.com Cidinha Collet - gerente comercial Walter Monteiro - executivo de conta Salvador - Bahia 71 3012-7477 Av. ACM,2671, Ed. Bahia Center, sala 1102, Loteamento Cidadela, Brotas CEP: 40.280-000 Representação em outros estados Grupo Pereira de Souza www.grupopereiradesouza.com.br

A edição 15 traz na capa a produção do escritório Person Design. Agradecemos a Ana Paula Paixão (diretora de atendimento), Livia Fauaze (executiva de atendimento), Felipe Arcoverde (diretor de design), Júlia Amoroso (estágiaria em design) e Cátia Martins (diretora de marketing). Fotos do Stúdio Rômulo Portela. A cada edição, uma nova equipe é convidada para produzir a capa da Revista [B+]. Uma iniciativa que visa dar destaque aos profissionais do nosso mercado.

Tiragem: 10 mil exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Grasb Capa impressa em papel Couché Suzano® Gloss 170g/ m2 e miolo impresso em papel Couché Suzano® Gloss, 95g/m2, da Suzano Papel e Celulose, produzidos a partir de florestas renováveis de eucalipto. Cada árvore utilizada foi plantada para este fim.

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f ó ru m d e g estão em presa ri a l

Empreendedorismo baiano em Angola A história do baiano Raimundo Lima, presidente do Grupo Aldeia, foi compartilhada com o setor empresarial baiano, que esteve presente no primeiro Fórum de Gestão Empresarial [B+], realizado dia 21 de agosto, no restaurante Baby Beef, em Salvador. O evento, promovido pela [B+] em parceria com o Sebrae, foi uma oportunidade para empresários e executivos debaterem o tema empreendedorismo e conhecerem mais sobre as oportunidade de negócios e investimento em Angola, país onde o Grupo Aldeia atua. Para Fabrício Barreto, gestor do Programa Sebrae +, “o evento traz a possibilidade de promover um network direcionado tanto aos micro e pequenos quanto aos médios empresários do estado, proporcionando a discussão de temas relevantes para os diversos segmentos empresariais”. Fotos: Paulo Souza

Vista geral do Fórum de Liderança

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Raimundo Lima entre os sócios da [B+] Luiz Marques, Claudio Vinagre, Rubem Passos e Isaac Edington

Adriana Pimentel (Minilab) e Cristina Ferrari (Salvador Daqui)

Alexandre Paupério (Brain Brasil Inovação)

Antônio Caramelo (Caramelo Arquitetos Associados) e Enio Carvalho (Marketing Consultoria)

Antônio Coradinho (Presidente da Câmara Portuguesa de Comércio)

Carla Martins (Sebrae), Ivo Cardoso (Projeto1 Consultoria) e Cidinha Collet (Revista [B+])

Carlos Artur dos Santos Pires (procurador público) e Avelmir Nascimento (OBotequim)

Cyro Valentini Junior e Francisco Carlos Carvalho (Daxoil Refino SA)

Dr. Prof. Antônio Andrade (presidente da Fundação de Neurologia)

Dulce Carneiro (Cheville)

Edvaldo Almeida e Analice Barboza Almeida (Alcon Ass e Consul Contabil)

Fabricio Lacerda (Sebrae) e Sérgio Coelho (DNZ Consultoria)

Fernanda Carvalho (Frente&Verso Comunicação Integrada)

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on - l i n e e m ura l

O que os leitores falaram da edição 14

Fernando Passos (Engenhonovo)

Flávio Osmo (Global Card), Flávio Almeida (CNBA-Centro de Neg Bahia Angola) e Raimundo Lima (Palestrante)

A edição anterior foi um presente maravilhoso. Sempre gostei de ler os artigos publicados nessa revista, porém ela estava melhor que nunca. Espetacular! A entrevista com o arquiteto Caramelo foi uma escolha maravilhosa. Analice Barbosa, via e-mail Parabéns à competente equipe da Revista [B+] e ao amigo, jornalista e empresário de sucesso Raimundo Lima. Fernanda Carvalho, via Facebook

Isaac Edington (Instituto EcoD) e Sérgio Guanabara (Sefaz)

José Manoel G. Cambese Filho (Presidente da ABIH Bahia)

Joice Grave Barretto (Suzano Papel e Celulose)

Luiz Marques (FEA) e Bianca Passos (Galpão de Estilo)

Excelente iniciativa na Bahia. Formação de massa crítica para a circulação de ideias e incentivo a futuros empreendedores. Sou baiano e fico feliz com isso. Odilon Guilherme Paraense Filho, via Facebook Adoro o site da [B+], muito interessante, tiro muito proveito dele. Carla Thayllane, via comentário no site

[+] no site www.revistabmais.com Marcelo Oliveira (Desenbahia) e Tio Paulinho (Tio Paulinho Produções)

Moacir Vidal (Femicro)

[+] Na matéria Para Velhos Problemas, Cidades Inteligentes, assista ao vídeo de apresentação da tecnologia que pretende acabar com as esperas nos pontos de ônibus. [+] A cobertura completa da conferência TEDx Pelourinho para o desenvolvimento sustentável de uma sociedade orgânica em Salvador.

Murilo Vilpert (Empresa Junior Ufba) e Arlene Vilpert (Tintas Festcor)

Samuel Artur Prado (Presidente do Creci-BA) e Neuza Marques (NNova Soluções Imobiliária)

[+] Leia a sinopse e veja os trailers dos filmes que estarão na programação do Oitavo Panorama Internacional Coisa de Cinema em Salvador e Cachoeira.

www.revistabmais.com/ipad Comentários, sugestões de pautas e correções: redação@revistabmais.com Renato Simões (Grupo A Tarde)

Vera e Rubem Passos (RP2)

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z o o m+

Todos os caminhos...

Fotos: Rômulo Portela

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uem mora em Salvador sabe: basta imaginar que vai ter que passar pelo Iguatemi para antecipar o mau humor. O problema que é antigo atinge picos inacreditáveis. “Antes o engarrafamento era esperado em alguns momentos do dia. Hoje, é 10h ou 16h, toda hora é hora do rush”, conta o médico Fábio Ribeiro, que mora no Costa Verde e trabalha em Ondina. Para tentar responder à pergunta sobre o problema que assola, quase todos os dias, a maioria dos soteropolitanos, convidamos o economista Miguel Kertzman, sócio da consultoria em gestão, planejamento e engenharia JHE e ex-secretário de transportes de Salvador, durante a gestão de Lídice, em 1994, que esclarece alguns pontos que poderiam melhorar o trânsito no local e na cidade como um todo. 14

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“Um problema de trânsito é sempre consequência de outros problemas, como um projeto de engenharia de tráfego ruim, falta de vias adequadas para escoar esse fluxo, mas, sobretudo, falta de planejamento urbano”, analisa Kertzman. Segundo o especialista, o último grande planejamento do qual se tem notícia foi projetado pelo engenheiro geógrafo Mário Leal Ferreira, na década de 40, que apontou como solução as avenidas de vale - Bonocô, Garibaldi, Vasco da Gama, Juracy Magalhães, Vale dos Barris. Essas vias ficam nos inúmeros vales da cidade, que é localizada em um terreno acidentado e cheio de morros.


...levam ao Iguatemi

“Foi uma decisão acertada, mas deveria ter sido apenas o começo de uma mega transformação que nunca veio porque, além das avenidas de vale, teriam que projetar ligações entre as comeadas os pontos mais altos dos morros - através de passarelas e sistemas de transporte, como bondinhos, dando mais mobilidade para a população. As vias transversais, principalmente, fariam o contraponto ao eixo norte-sul, ao longo do qual a cidade se desenvolveu”. Esse, inclusive, parece ser o grande problema de Salvador: se você observa a Paralela, a Garibaldi, o Comércio, tudo aponta para o eixo norte-sul. O leste e o oeste ficam sacrificados. “A Avenida Pinto de Aguiar foi um ensaio para solucionar esse problema, mas ela morre no São Rafael, não tem uma saída. A Luis Eduardo Magalhães seria outra solução, caso estivesse completa e fosse até o mar”, pondera Kertzman.

Por que a região fica tão engarrafada? Existe solução?

O último grande planejamento do qual se tem notícia foi projetado por Mário Leal Ferreira, na década de 40

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Fotos: Carolina Coelho

Com as vias de acesso entre o leste e o oeste, não seria necessário passar pelo Iguatemi para ir para quase todos os lugares da cidade. Porque em Salvador é assim: todos os caminhos levam ao Iguatemi. “Diariamente, cerca de 50% da frota da capital passa pela região, coisa que só acontece em cidade do interior, onde todo mundo passa pelo mesmo lugar todos os dias”, compara Kertzman. Esses são problemas de vias inadequadas para escoar o fluxo. Para o ex-secretário, uma alça entre a BR e a Bonocô facilitaria para quem vai em direção à Barra, Graça, Nazaré. “Essas pessoas não precisariam passar pelo Iguatemi”, dá o exemplo.

A solução do transporte é o não transporte

“Diariamente, cerca de 50% da frota da capital passam pela região, coisa que só acontece em cidade do interior” Miguel Kertzman, ex-secretário de transportes de Salvador

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Uma grande medida seria um planejamento urbano e econômico. É justamente o aspecto de uma definição de planejamento econômico que pode criar novos centros urbanos e tirar essa centralidade do Iguatemi, criando novas alternativas de centralidade. “Esquecemos a Península de Itapagipe, viramos as costas para a orla marítima. Só se prioriza o vetor norte”, declara Kertzman. Se não há atividade econômica, não adianta. “Os bairros devem se bastar, reunindo todos os serviços básicos necessários a uma população, como posto de saúde, escola, correio. Menos pessoas precisando se deslocar diminui o engarrafamento”. Somada a isso vem a questão da mobilidade urbana, com novas rotas e equipamentos para fazer o transporte de pessoas e mercadorias. Kertzman conclui ainda que o órgão gestor de trânsito também precisa passar por um trabalho de recuperação institucional, desde seus agentes e suas condições de trabalho até a tecnologia utilizada: “É preciso que o órgão melhore, com novos equipamentos e valorização do seu papel e agentes”. A conta de tantas horas perdidas no trânsito vai para o próximo prefeito, que tem o dever de ter a sensibilidade e visão de um urbanista, para entender que a solução do trânsito não está descolada da solução do transporte, do planejamento econômico da cidade e da solução de novos caminhos de saída de desenvolvimento para quebrar o monopólio do setor norte. Só assim para não engarrafar no Iguatemi. [B+]


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b lo c o d e n otas Foto: Divulgação

Foton Motors assina protocolo para instalação em Camaçari

A empresa é a maior fabricante de caminhões do mundo

A chinesa Foton Motors firmou protocolo de intenções, no dia 14 de setembro, para a instalação de uma unidade em Camaçari, na Bahia. Com investimento de US$ 300 milhões, a unidade será construída em uma área de um milhão de m2 e inicialmente vai trabalhar com duas linhas de produção paralelas, lançando dois modelos de veículos comerciais no mercado. A previsão é de que a produção seja iniciada no final de 2013 e que sejam produzidos 30 mil veículos por ano até 2017, gerando mil empregos diretos e 6.000 indiretos. O planejamento prevê ainda a instalação de 130 pontos de vendas em todo o país nesse período. “Dependemos apenas da licença ambiental, se depender de nós, começamos a terraplanagem na segunda-feira”, disse o diretor executivo do Grupo Mater, que representa a Foton Motors no Brasil, Osmar Hidalgo. O vice-presidente executivo da Foton Motors, Jiang Feng, disse que a parceria com a Bahia é importante para a estratégia da empresa. “Em 2011, as vendas mundiais de veículos comerciais ultrapassaram 3,4 milhões de unidades. As vendas da Foton foram de mais de 700 mil veículos”. Com atuação nas áreas ambiental e de óleo e gás, a empresa chinesa tem mais de 50 anos de experiência no comércio de veículos e prestação de serviços. A produção irá contar com os fornecedores do parque fabril já existente na região e também deverá atrair novos sistemistas para a Bahia. A previsão é de que o índice de nacionalização dos veículos produzidos seja de 65% até 2017.

O vice-presidente executivo da Foton Motors, Jiang Feng, esteve na Bahia

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Varejo tem expansão de 8,7% nas vendas

PIB baiano registra alta de 2,6%

Exportações baianas caem no segundo semestre

O comércio varejista do estado da Bahia apresentou, no mês de julho, expansão de 8,7% no volume de vendas. A taxa é significativa, considerando-se que a base de comparação em igual mês de 2011 foi elevada e que houve uma pressão sobre alguns produtos que compõem a cesta básica. Os dados foram apurados pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), realizada em âmbito nacional pelo IBGE, e analisados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).

A economia baiana apontou expansão de 2,6% no segundo trimestre de 2012, comparada ao mesmo período de 2011. A alta tem como causa o crescimento no setor de serviços e da administração pública. O maior destaque vai para o comércio varejista, com incremento de 7,9% no trimestre. No entanto, a produção industrial, e consequentemente o PIB de atividades ligadas a esse setor, poderiam ser prejudicados a longo prazo com os engarrafamentos e congestionamentos da cidade, segundo dados do Conselho de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Mesmo alcançando, em agosto, o valor de US$ 1,03 bilhão, o segundo da história para os meses de agosto, as exportações baianas tiveram uma redução de 11,6% comparadas a igual mês do ano passado, período em que o estado alcançou seu recorde mensal histórico. O principal entrave às exportações baianas em agosto continua sendo a desaceleração das principais economias do mundo. Os produtos que mais contribuíram para a queda foram a soja, com redução de 30%; automóveis, com queda de 91,7%; e metalúrgicos, com 77%.

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Sistema de dessalinização de água no semiárido baiano A região semiárida da Bahia vai receber 385 sistemas de dessalinização de água para enfrentar os efeitos da seca. Nesta primeira etapa serão beneficiados 30 municípios baianos, com investimento de R$ 61 milhões, sendo R$ 55 milhões do Ministério do Meio Ambiente e cerca de R$ 6 milhões de contrapartida do Governo do Estado, para serem executados entre 2012 e 2014. As cidades serão escolhidas de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e com as indicações pluviométricas do município, ausência ou dificuldade de acesso a fontes de abastecimento de água potável e altos índices de mortalidade infantil, entre outros. O Sistema Integrado de Reuso dos Efluentes da Dessalinização, além de produzir água potável, reaproveita o concentrado enriquecido em sal, proveniente da dessalinização, para a criação de tilápias e no cultivo de uma planta conhecida como erva-sal, utilizada na alimentação de caprinos e ovinos.

Charuto produzido no Recôncavo Baiano será exportado para a China O estado da Bahia está autorizado a exportar charuto para o mercado chinês. A decisão do governo da China foi comunicada à Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado (Seagri) no final de agosto, pelo diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Cosám Coutinho, que esteve no país asiático para discutir os últimos detalhes do acordo de comércio bilateral. A exportação vai abrir um nicho de mercado para a agricultura familiar e tem como objetivo a recuperação econômica e social do Recôncavo Baiano, que vive da cultura do fumo. De acordo com o Sinditabaco, a cultura do fumo envolve mais de 12 mil trabalhadores, a maioria do sexo feminino. No auge da produção de charutos, entre as décadas de 60 e 80, somente a fábrica da Suerdieck chegava a produzir 100 milhões de charutos/ano. Atualmente, as oito fábricas que sobreviveram conseguem, juntas, produzir apenas 10 milhões/ano.

Francisca da Encarnação, operária, durante processo de fabricação dos charutos

Foto: Felipe Oliveira


b lo c o d e n otas Foto: Adenilson Nunes/SecomBA

Prédio de R$ 53 milhões é inaugurado no Parque Tecnológico da Bahia No dia 19 de setembro, foi finalmente inaugurada a primeira fase do Parque Tecnológico da Bahia, empreendimento que concentrará empresas e instituições voltadas à pesquisa científica e inovação tecnológica. No local, já funcionam 25 empresas, como a IBM, a Portugal Telecom e a recém-criada Ericsson Inovação. O edifício inaugurado, batizado como Tecnocentro, custou cerca de R$ 53 milhões e abriga empresas de pesquisa e desenvolvimento de software. Uma das primeiras empresas a se instalar no local foi a PT Inovação do Brasil, braço nacional de tecnologia da operadora Portugal Telecom, que já investiu R$ 3 milhões no novo endereço, onde desenvolve o software Active Campaign Manager (ACM), dedicado a campanhas publicitárias em tempo real. O escritório baiano concentrará o desenvolvimento de novas funcionalidades do software, possibilitando a personalização da publicidade por meio digital. As instalações do Tecnocentro, segundo funcionários já instalados, são bastante atrativas, a começar pela beleza da Mata Atlântica nos arredores. Além disso, o centro oferece escritório de patentes e de negócios, balcão de serviços de apoio à inovação e rede de fibra óptica, entre outros. A concentração de várias empresas do setor no mesmo local também ajuda. Foto: Aristeu Chagas/SecomBA

Ituaçu ganhará nova fábrica de cimento Ituaçu, município baiano com menos de 20 mil habitantes, se prepara para receber uma fábrica de cimentos. O importante passo para a economia local promete gerar 750 empregos diretos e indiretos. A Companhia Brasileira de Cimento (CBC) investirá R$ 200 milhões no projeto.

Famílias gastam menos com material de leitura Mais pessoas conquistaram o diploma de nível superior, segundo o censo do IBGE 2010, mas o brasileiro ainda gasta muito pouco com material de leitura. É o que atesta a pesquisa O Livro no Orçamento Familiar (LOF), realizada pela Associação Nacional de Livros (ANL). Em Salvador, os números seguem a tendência: a família soteropolitana deixou de gastar R$ 160 com material de leitura para gastar R$ 130, o que significa apenas 0,4% da renda familiar dos entrevistados. Em 2002, pelo menos 71% das famílias com mais de cinco salários compravam materiais de leitura com frequência. Hoje, esta porcentagem foi reduzida para 65%. Enquanto isso, o gasto com equipamentos eletrônicos, que era de R$ 563,38, passou para R$ 665. O ramo da telefonia celular também lucrou com as prioridades das famílias brasileiras: de R$ 260 para R$ 425.

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m í dia + Morya investe na Bahia com foco em qualificação e crescimento

APOIO Inst it u cio nal

Com o objetivo de captar novos negócios, ampliar os jobs e qualificar ainda mais a operação na entrega ao cliente, a Morya Brasil ganhou um novo sócio para compor o board da agência na Bahia. O baiano Cid Andrade, com mais de 20 anos de experiência em grandes agências de publicidade, assumiu o cargo de diretor de Atendimento/Operações da empresa.

Ideia 3 lança campanha de refrigerante de indústria peruana O grupo peruano Indústria São Miguel (ISM), um dos maiores fabricantes de bebidas não alcoólicas da América Latina, quer conquistar o público brasileiro com o lançamento do novo refrigerante Goob. A proposta da campanha, produzida pela agência baiana Ideia 3, é convidar as pessoas, crianças e jovens, para experimentar os sabores da bebida fabricada em Alagoinhas, cidade que oferece como matéria prima uma das melhores águas do país.

Campanhas criativas definem agência Design Print Dois anúncios produzidos pela Design Print circulam a mídia baiana e chamam a atenção pela qualidade de sua comunicação. Para marcar o Dia Nacional do Combate ao Fumo, foi lançado um layout impactante, que faz alusão ao peso desse vício na vida e na saúde dos fumantes. Já para fortalecer a imagem da Bahia Vidros, a agência criou o slogan Nossos vidros também são vendidos a prazo. Mas nossa qualidade está sempre à vista.

Roberval Luânia da Chaves Outdoor, Ivan Lopes e José Linhares da A Linhares Outdoor

Foto: Divulgação

O Dia do Outdoor Assuntos alheios à política e à administração municipal tornaram ainda mais especial a sessão da Câmara de Vereadores de Salvador, realizada em 31 de julho, data em que se comemora o Dia do Outdoor. Os 35 anos de fundação da Central de Outdoor/ BA, presidida por Ivan Lopes, e o lançamento do Prêmio Aderbal Linhares, que vai classificar os trabalhos regionais que concorrerão ao Prêmio da Central de Outdoor em âmbito nacional, foram destaques no plenário.

Sesc apresenta nova marca Para comemorar os seus 66 anos, o Serviço Social do Comércio (Sesc) apresentou ao país a sua nova marca. A mudança é fruto de um extenso estudo, baseado nas últimas ações e atividades realizadas junto ao público-alvo da instituição e à sociedade em geral, para adequar a marca à demanda de sua clientela. O projeto, desenvolvido pelo escritório de design Packaging Brands, foi baseado em depoimentos de funcionários de todo o país, proporcionando um perfil mais moderno do Sesc.

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i m óv eis + Barreiras Shopping Um consórcio formado pelas empresas Sacs Empreendimentos (SP), Pró-Shopping (AL), JC Empreendimentos (AL), Construtora NM (BA) e Lincoln Salvador Patrimonial (MG) vai construir um shopping com 150 lojas na cidade de Barreiras, no oeste do estado, em 2013. O Barreiras Shopping terá área bruta locável de 22 mil m2, ocupando um terreno de 100 mil m2. Já estão confirmadas as lojas-âncoras Americanas, Marisa, Riachuelo, Le Biscuit, Insinuante e G. Barbosa, além de cinco salas de cinema. O shopping será construído na saída para Riachão das Neves, a 2,5 km do centro de Barreiras. Fotos: Divulgação

Por Núbia Cristina

Construir Bahia 2012

Expositores e mercado baiano puderam se encontrar durante a Construir Bahia

Os principais players mundiais do setor de equipamentos marcaram presença na Construir Bahia 2012 e Expo Máquinas & Equipamentos, o mais completo balcão de negócios da construção do Nordeste. O evento, realizado pelo Sindicato da Indústria da Construção na Bahia (Sinduscon-BA), com promoção e organização da Fagga|GL Exhibitions, foi realizado de 12 a 15 de setembro, no Centro de Convenções, em Salvador, com a participação de marcas como JCB e Case, representadas por suas concessionárias Tratormaster e Technico. Sustentabilidade e inovação tecnológica foram os temas centrais da 12ª edição da feira, que reuniu um total de 300 marcas, atraindo cerca de 35 mil pessoas e movimentando aproximadamente R$ 150 milhões.

Alphaville em Feira de Santana As obras do Alphaville Feira de Santana estão aceleradas e começam a modificar a paisagem da região. O empreendimento, que teve todos os quase 400 lotes residenciais vendidos em apenas três horas, está com mais de 50% da terraplanagem da área externa executados e as edificações já começam a ganhar forma. A previsão é que as obras estejam concluídas em dezembro de 2013. O loteamento terá mais de 44 mil m2 de área comercial (28 lotes) e destinará cerca de 167 mil m2 (397 lotes) para o setor residencial. Ao todo, o empreendimento terá mais de 440 mil m2. O AlphaVille Feira está no km 430 da BR-116 Sul, a cerca de cinco minutos do centro do município.

Vista da área onde está sendo construído o Alphaville Feira

Foto: Ag Probrasil

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Foto: Divulgação

Momento de expansão Condomínio Nova Campo Formoso, da construtora feirense L. Marquezzo

Em 2012, os planos de expansão da construtora L Marquezzo, sediada em Feira de Santana, incluem novos empreendimentos em Jacobina, Conceição do Coité e Itaberaba, além de Feira de Santana. Em janeiro deste ano, a empresa assinou quatro contratos com a Caixa Econômica Federal para a construção de empreendimentos em Feira, Conceição do Coité, Jacobina e Itaberaba. “Temos presença, inclusive, fora da Bahia e estamos finalizando um projeto residencial de grande porte no estado de Sergipe”, afirmou o diretor executivo, Ricardo Marques. “Estamos com vários projetos prontos para atender a outros segmentos e ao programa Minha Casa, Minha Vida”, comemora o empresário que aproveita as oportunidades de crescimento do interior baiano.

Novo modelo de franquia A Century 21 Brasil Real Estate busca parceiros no Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Manaus, Porto Alegre, Salvador e em outras 20 cidades com maior PIB/ITBI e maior população - exceto a capital de São Paulo - para implementar um novo modelo de franquia, pelo qual é possível representar a marca com exclusividade em determinado município. A nova modalidade permite ao franqueado abrir quantas unidades desejar com uma única taxa inicial de franquia - quantidade mínina de cinco lojas nos primeiros 60 meses de contrato. O investidor poderá expandir sozinho os negócios no município ou buscar sócios. O modelo de exclusividade, inédito no Brasil, também é aplicável no Uruguai, para onde a Century 21 Brasil Real Estate expandiu sua operação neste ano.

Presidente da Ademi-BA, Nilson Sarti, diretor da Odebrecht Realizações Imobiliárias, Franklin Mira, e Rodrigo Carvalho, do Banco do Brasil

Foto: Studio Kin Kin

Salão de Negócios Imobiliários A sétima edição do Salão de Negócios Imobiliários da Bahia, realizado de 26 a 30 de setembro no Centro de Convenções, aqueceu o mercado e espantou o pessimismo criado pela batalha judicial entre a Prefeitura de Salvador e o Ministério Público Estadual (MP). Em junho, a pedido do MP, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia suspendeu a nova versão da Lei de Ordenamento, Uso e Ocupação do Solo (Louos), alegando inconstitucionalidade. De acordo com o presidente da Ademi, Nilson Sarti, o cenário de insegurança jurídica criado em torno do episódio praticamente paralisou os lançamentos na capital baiana. “O fato colocou na fila de espera o lançamento de pelo menos duas mil unidades em Salvador, um investimento que pode ultrapassar R$ 1,5 bilhão”. Esta edição do Salão de Negócios Imobiliários teve a participação de mais de 60 empresas. Foto: Divulgação

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i m óv eis + PERFIL

“A gente nunca consegue se reconhecer” Provocador, Fernando Peixoto recorre à nossa história, fazendo referências à colonização portuguesa no Brasil, para tentar explicar por que não conseguimos enxergar singularidade na arquitetura baiana por Núbia Cristina

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Minha avaliação é que estamos em péssima fase. Basta ver o amontoado de prédios na Avenida Luiz Viana Filho e no Horto Florestal. Isso é urbanismo?

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rítico contumaz, o arquiteto Fernando Peixoto mantém um discurso indignado e ao mesmo tempo consciente dos limites da sociedade atual. Aos 65 anos, com mais de dois milhões de m2 de projetos residenciais e comerciais realizados no Brasil e no exterior , o arquiteto, que modifica a paisagem urbana com figuras geométricas e cores quentes, não vê com bons olhos o cenário atual da capital baiana. Em tom pessimista, afirma: “Eu acho que ainda precisa piorar muito para começar a melhorar. As coisas têm de chegar ao ponto do inaceitável para a reação existir”.


Fotos: Divulgação

Salvador hoje, do ponto de vista da arquitetura e urbanismo

Obras do arquiteto Fernando Peixoto, que já realizou mais de dois milhões de m2 emprojetos no Brasil e no exterior

Minha avaliação é que estamos em péssima fase, nos dois sentidos. Basta ver o amontoado de prédios na Avenida Luiz Viana Filho e no Horto Florestal. Isso é urbanismo? E os prédios em si: arquitetura? O boom da construção trouxe muito mais oportunidades. O ponto fraco é um quase igual número de oportunidades perdidas. Acho que no momento não existe nem arquitetura brasileira, quanto mais baiana. Na cena local, há uma paulistização, porque até os nomes dos empreendimentos são importados de São Paulo. A capital paulista pensa que é Nova Iorque, o interior pensa que é o Texas e a gente pensa que é São Paulo.

Singularidade É uma complicação isso, porque a gente sempre quer ser o outro. Com a chegada de Dom João VI e da Missão Francesa, todo mundo queria ser francês. Houve uma época em que ser português ou crioulo não era chique. Depois veio a fase americana. Todo mundo queria ser norte-americano, ser francês já não era coisa boa. Em resumo, a gente nunca consegue se reconhecer. E esse não se reconhecer é um problema muito mais da academia, da intelectualidade, da universidade, do que do povo em si. A arquitetura não é causa de nada, é consequência de tudo isso.

Cidade feia? O que seria sanar a feiúra da cidade? Vamos pensar primeiro que a gente tem um preconceito do que seria bonito. Tem que ser loiro? Nós não somos loiros. Vamos dizer à universidade, à elite, para reconhecer

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essa raiz miscigenada e trabalhar em cima dela. Salvador não é diferente da maioria das cidades brasileiras. Aqui, pelo menos 70% das construções são irregulares, muitas em áreas de risco. Esse seria o número oficial. Mas quem compra cobertura e faz um puxadinho, fecha a varanda, muitas vezes não comunica à prefeitura, então é irregular também. Eu tenho um raciocínio meio invertido. Sou canhoto, então meus circuitos são instalados trocados. Mas creio que uma lei que 90% das pessoas não cumprem está errada.

Centro Histórico Todo mundo venera o Centro Histórico, mas não aprende nada com ele e fica copiando coisas. Estabeleceu-se um padrão de ocupação da cidade que é completamente destoante de nossa cultura de ocupação. Então esse conflito entre o que é real e o que a inteligência resulta nessa desordem. É bem típico a gente dizer: “É tão bonito que parece até que não estamos na Bahia”.

Cadeira africana na universidade O que falta é a gente não rejeitar aquilo que tem. Dar valor, no sentido de reconhecer nosso perfil cultural. Mas a universidade ensina o contrário, faculdade é coisa de loiro, principalmente a de arquitetura. Lá estudam-se todas as escolas gregas, mas não tem uma cadeira de arte africana, que é fantástica. Essa dissociação vem de baixo e permeia tudo. As pessoas perguntam: o que se pode fazer? A gente não pode fazer nada.

Eu tenho um raciocínio meio invertido. Sou canhoto, então meus circuitos são instalados trocados

Ignorar o legado africano é racismo? Minha dificuldade é que não consigo dar razão a lado algum. Porque acho detestável esse negócio de Mama África. O samba, o jazz, a arquitetura colonial não foram criados na África. Nasceram a partir de conflitos e combinações. Dentro da África, as inimizades étnicas eram até maiores que as inimizades raciais entre negros e brancos. Acho que essa romantização é péssima para os dois lados. É equívoco achar que somos brancos, loiros ou que aqui é a Mama África. Lá não acontece o que ocorre aqui. A inter-relação é a essência das coisas.

A cidade ainda vai piorar muito para começar a melhorar Eu sou um pessimista, apesar de não parecer. Eu acho que o otimista é um pessimista mal informado. O que me preocupa não é a situação ruim, mas que daqui a alguns anos a gente diga: bons tempos aqueles. As coisas sempre podem piorar, porque há uma injustiça divina (para quem acredita): inteligência tem limite, mas burrice não tem. Não vejo uma conjuntura de coisas acontecendo para achar que a cidade vai melhorar. Eu acho que ainda precisa piorar muito para começar a melhorar. As coisas têm de chegar ao ponto do inaceitável para a reação existir. [B+]

Fachada do Shopping Paralela, na Avenida Luis Viana Filho

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EXPERIÊNCIAS

Na Bahia também tem coworking

Fotos: Carolina Coelho

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Não tão distante das novidades do mercado, Salvador já conta com uma unidade da nova filosofia de trabalho

Diferença entre o espaço coworking e o escritório virtual Muitos confundem os dois serviços. Para começar, o coworking foca no conceito de compartilhamento, de comunidade, sendo mais informal que o escritório virtual. Nestes, as salas ficam separadas, o que dificulta o relacionamento. Além disso, os escritórios virtuais atendem a um público mais corporativo, buscado por grandes empresas. “O cowrokers são geralmente freelancers e autônomos”, conta Sandra.

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dvogados, profissionais de TI, designers. Todos trabalhando em um mesmo espaço. Essa é a filosofia do coworking, onde a palavra de ordem é compartilhar. A tendência, que nasceu nos Estados Unidos em 2005, chegou a Salvador em 2011 e reúne, em um mesmo lugar, gente de diversas áreas, para dividir o local de trabalho, ideias e experiências. Liderada por Sandra Damasceno, a CWK ganha adeptos à medida em que cresce na cidade o número de autônomos e pessoas que trabalham em casa. “Trabalhar em casa é cômodo, mas existem muitas interrupções. Além disso, o isolamento acaba afastando o profissional das inovações do mercado”, afirma a bibliotecária Sandra, que estava prestes a se aposentar do serviço público quando percebeu a oportunidade de continuar no mercado de trabalho. O negócio também nasceu de forma compartilhada. “Existia esse espaço enorme, de 260 m2, ocupado por um escritório de representação da Cequipel, fábrica de móveis escolares e corporativos. Sugeri que dividíssemos o espaço e funcionássemos também como mostruário dos móveis”. Parceria fechada. Salas individuais, de reunião e de treinamento, lounge e 38 estações de trabalho são os espaços que compõem a CWK Salvador, oferecendo comodidade para todo tipo de cliente. “A maioria das pessoas procura a CWK por causa do baixo custo – o valor da taxa mensal é de R$ 115 para 20 horas, em média”, conta Sandra. As facilidades são muitas: networking, endereço comercial e fiscal, sala de reunião, recebimento e controle de correspondências e recados, Wi-Fi de alta velocidade, agendamento de reuniões e de treinamentos para até 40 pessoas e disponibilidade de serviços administrativos - como fotocópia, fax, impressão, tradução, digitação e motoboy. Com um custo reduzido e um time multidisciplinar para dar palpites, fica fácil manter um negócio eficiente e de qualidade. Profissionalizando aquilo que poderia ficar amador, a CWK Salvador serve como um ponto de apoio para o início de pequenas empresas. [B+]

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O poder de convencimento das mulheres

Fotos: Carolina Coelho

A NNova Imobiliária investe em serviços tecnológicos para atrair mais clientes e prestar um serviço diferenciado. Mas a história dessa empresa tem um destaque especial para o tino feminino

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s sócios Neuza Marques e Noel Silva fundaram a NNova Imobiliária em janeiro de 2009. No ramo há 18 anos, Neuza começou a carreira como captadora de imóveis em uma pequena imobiliária. A competência foi reconhecida através do convite para gerenciar o setor de locação em uma outra imobiliária. Fez o trabalho direito, galgou espaço e conseguiu entrar na sociedade, sendo a única mulher entre quatro sócios.


“A profissão de corretor de imóveis, apesar de ter sido regulamentada em 78, é bem conservadora ainda. Nossa meta é romper esse modelo, dialogando com as novas tecnologias” Noel Silva, sócio da NNova “Tinha 22 anos quando iniciei e quase não existiam mulheres corretoras. Os clientes chegavam a estranhar quando descobriam que quem ia vender o imóvel era uma mulher. Hoje, nós representamos 30% desse mercado, provando que não importa o gênero, o que vale é a competência”, afirmou a empresária. O jeitinho feminino, detalhista e observador de Neuza mostrou ser um grande diferencial. Foi aí que Noel, um dos sócios, propôs à parceira que os dois montassem a própria imobiliária. “Eu e Noel éramos parecidos, tínhamos o mesmo ponto de vista sobre inovação e gerenciamento. Dividimos a sociedade e, como acordo, trouxemos a carteira de locação para a NNova, que já foi inaugurada funcionando a todo vapor”, contou. A imobiliária já nasceu, então, com experiência e fatia de mercado. Tendo como principais produtos imóveis usados, os sócios vêm apostando em um bom atendimento para aumentar a freguesia. Hoje, 70% do quadro de funcionários são mulheres. Os números são coincidência, garante a empresária, sem esconder, entretanto, que acredita no poder de convencimento das mulheres. “Hoje o poder aquisitivo feminino aumentou. Aumentou, por exemplo, o número de mulheres que compram imóveis pra investir. A mesma coisa vale para as vendas, observamos melhor, somos mais detalhistas”.

Tecnologia em benefício do cliente Dentre os diferenciais da empresa, está a divulgação dos imóveis através de vídeos no Youtube, que dão uma maior dimensão de como é o espaço, além de apresentar os serviços do bairro. “O primeiro contato que a pessoa tem é esse e ela está curiosa para saber sobre a vizinhança, se tem padaria, escola, etc. O retorno do serviço está sendo muito positivo, todo mundo elogia, quem oferta e quem procura”, conta. Em tempos de smartphone, outra novidade é o aplicativo disponibilizado no novo site da empresa, que mostra aos usuários as últimas novidades na telinha do celular. “O nome é NNova porque nossa missão é inovar. A profissão de corretor de imóveis, apesar de ter sido regulamentada em 78, é bem conservadora ainda. Nossa meta é romper esse modelo, dialogando com as novas tecnologias”, afirmou Noel.

O serviço on-line para o locatário e proprietário de imóveis é outro exemplo. “Se o locatário não recebe o boleto para pagar o aluguel em casa ou por email, vai entrar no site com login e senha, para ter acesso ao documento; e o proprietário vai ter um relatório em tempo real sobre o imóvel dele, ferramenta disponível no novo site”, afirma Noel. A modernização acontece em um período em que o mercado imobiliário brasileiro começa a dar os primeiros sinais de desaceleração. A realidade não abala as perspectivas dos sócios. “Logo que abrimos, o mercado vivia um momento de euforia. Agora está tudo mais estabilizado. A diminuição dos contratos não nos preocupa, pois ainda há um enorme déficit habitacional e aumento do poder aquisitivo da população soteropolitana”, acreditam. [B+]

O que oferecer Os 20 funcionários da NNova têm o objetivo de despreocupar locatários e inquilinos, como descrevem os sócios Neuza Marques e Noel Silva. Dentre os serviços prestados, estão:

Consultoria sobre como agregar valor aos imóveis; Empenho na divulgação das unidades; Administração de contas: condomínio, aluguel e IPTU; Inovações digitais; Recrutamento dos recursos humanos da empresa; Adequação do imóvel às necessidades dos clientes; Divulgação de relatório; Consultoria sobre reformas, tipos de armários, pisos, luminárias. w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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EXPERIÊNCIAS

Armarinho Popular: tradição em costura

Maria de Fátima e seu filho Marcel Sachini são os responsáveis pela administração do negócio

Foto: Carolina Coelho

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m formigueiro humano é a primeira imagem que vem à cabeça quando se chega à Rua Lima e Silva, área comercial do bairro da Liberdade. É lá que está localizado o Armarinho Popular, referência no mercado de produtos para costura, com cerca de três mil itens para o varejo. Fundado em 1970, o labirinto de linhas, fitas e elásticos nasceu do trabalho de Walter Sampaio, comerciante de Jacobina, que decidiu abrir um armarinho em Salvador. Escolheu o bairro da Liberdade pela efervescência do seu comércio e especializou-se em itens para costura. Nesses 42 anos de existência, entretanto, houve o decréscimo de costureiras e alfaiates no bairro, à medida em que progredia o mercado das roupas prêt-à-porter. “As pessoas, antes, faziam suas próprias roupas. Hoje em dia, todo mundo prefere comprar já pronto, é mais rápido, mais simples e muitas vezes mais barato”, conta a filha de Walter Sampaio, Maria de Fátima, que comanda a empresa juntamente com sua mãe, Zeuzi Sampaio, desde o falecimento do marido, em 1998.

“Uma dezena de zíperes chineses custa o valor de apenas uma unidade brasileira. A qualidade não é a mesma, mas muitas pessoas optam pelo preço” 32

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A abertura do mercado nacional para outros países, como a China, tornou desleal a concorrência dos produtos de fora. “Os armarinhos foram fechando e tivemos que aumentar a variedade de produtos, importar. Pra você ter uma noção, uma dezena de zíperes chineses custa o valor de apenas uma unidade brasileira. A qualidade não é a mesma, mas muitas pessoas optam pelo preço”, afirma Fátima. A empresária, que chega a vender 500 itens por dia, diz que quem é da Liberdade prestigia o comércio local. “Aqui tem muita gente, o que gera um alto volume de vendas, permitindo que o negócio se mantenha”. Para ela, a receita do sucesso do Armarinho Popular foi unir um comércio ativo à sua especialidade no setor, com a maior variedade de itens para costura da cidade. “Os clientes falam que muitos produtos só são encontrados aqui. Além disso, apesar das grandes confecções comprarem os itens diretamente com os fornecedores, nos tornamos uma espécie de apoio local para as fábricas de roupas, que compram aqui o que ficou faltando para finalizar as coleções”, conta Fátima.

Desafios A violência do bairro ainda é um entrave para os comerciantes locais e, segundo Fátima, reformar qualquer estabelecimento é chamariz para assaltos. “Continuamos do mesmo jeito porque não nos sentimos à vontade pra deixar o espaço mais moderno. Até pra informatizar o caixa e trazer o computador foi um processo, pois tínhamos medo de chamar a atenção de ladrões”. De acordo com a empresária, cuidados como sair todos juntos da loja, no máximo às 18h, são necessários. A busca por mão-de-obra qualificada é outro desafio, pois a loja precisa de profissionais especializados, que entendam de costura. “O funcionário leva um tempo até descobrir a lógica do espaço, onde estão guardados os materiais, quais os nomes de cada coisa. Requer um longo treinamento”, diz Fátima, que conta com apenas oito colaboradores. Para quem gosta de costura, vale uma visita à loja e ao bairro. Certamente encontrará o que procura, além de experimentar a vivacidade do comércio da Liberdade. [B+]


Startup 34 | [C] Luiz Marques 48 [C] Adary Oliveira 50 | (C) Gabriel Melo Salgado 52

negócios

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Problemas e soluções para Salvador

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A dinâmica urbana de cada negócio


n e gó c io s | s t a r t u p

Agarre essa chance

Uma ideia revolucionária, um projeto premiado e ninguém para concretizar – ainda. Conheça uma prática que já ocorre em alguns países europeus e que pode estimular a reciclagem no Brasil por Carolina Coelho

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ocê já pensou em poder trocar materiais recicláveis por créditos em supermercados, lojas e no transporte público? Essa foi a ideia que o estudante baiano de engenharia mecânica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jonathan Pedreira, de 20 anos, desenvolveu para o concurso Siemens Student Award Brasil 2011. Intitulado Crédito Verde, o projeto conquistou o primeiro lugar da competição promovida pela empresa alemã, que desafiou os estudantes brasileiros a elaborarem uma solução sustentável para a Copa do Mundo de 2014, que pudesse melhorar o cotidiano das cidades após o evento. Inspirado nas máquinas de venda reversa encontradas em alguns países da Europa, o estudante desenvolveu um modelo de política social baseada na troca de material reciclável por pagamentos cotados em crédito verde. O sistema funcionaria da seguinte maneira: turistas e cidadãos brasileiros receberiam um cartão magnético e o usariam para receber créditos eletrônicos ao depositar materiais recicláveis nas máquinas coletoras. As máquinas de venda reversa, adaptadas para identificar e coletar qualquer tipo de material reciclável, estariam dispostas em pontos estratégicos da cidade, como aeroportos, supermercados e estádios, para computar no cartão o valor do material depositado. Com os créditos verdes, as pessoas poderiam comprar produtos em estabelecimentos com o selo sustentável, usar transporte público ou fazer compras dentro dos estádios. As máquinas em questão já são realidade em países como a Alemanha, onde Jonathan mora há um mês por ter sido selecionado para estagiar como assistente de pesquisa na Instituição Fraunhofer. “Aqui, as crianças compram refrigerante e já vão

Jonathan exibe o troféu do prêmio Siemens Student Award, conquistado em abril deste ano

Foto: Patrick Silva/LABFOTO

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Foto: Toinho Junior

direto pra máquina receber moedinhas em troca da lata”, conta, empolgado, o estudante. Diferente da sua proposta, na Alemanha, os cidadãos recebem dinheiro em troca dos recicláveis, em vez dos créditos. Jonathan defende, entretanto, que simplesmente fazer a troca por dinheiro acabaria desperdiçando o potencial da ideia. Em seu projeto, os créditos só poderiam ser gastos com outras escolhas sustentáveis, o que incentivaria as empresas a reverem suas práticas empresariais para conquistarem esses clientes. A ideia para o projeto surgiu depois que o jovem participou de uma palestra com José Roberto Giosa, diretor da Latasa, responsável por implantar o primeiro mecanismo de coleta de latas de alumínio do país e autor do livro A Moeda de Lata. Durante o evento, Giosa criticou a forma como a reciclagem é feita no Brasil, chamando a atenção para os catadores de latinhas, únicos responsáveis por direcionar para a reciclagem 98,2% das latas de alumínio do mercado. Na opinião do especialista, para o Brasil alcançar uma educação ambiental, a reciclagem precisaria envolver todas as classes. Prestes a sediar a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas em 2016, o Brasil estaria no melhor momento para a implantação desse sistema. Ao levar em conta que cada pessoa que mora nas capitais produz 1,5 quilo de lixo por dia, a geração de resíduos aumentaria durante os eventos esportivos, quando são esperados mais de meio milhão de turistas em todas as cidades-sede. Segundo Jonathan, os caminhões de lixo não dariam conta do montante, pois fazem um trabalho de formiguinha ao pegar uma pequena quantidade de resíduos para levá-la aos aterros. A solução seria incentivar uma prática mais sustentável, fazendo com que as pessoas tivessem o papel ativo de recolher esse material, ganhando por isso. “A única saída para o caminho das embalagens é a logística reversa. É inevitável. Tudo o que você produz tem que ir para algum lugar. Então, por que não trazer de volta e reaproveitar?”, diz Jonathan. O rapaz, que agora vê a prática dando certo em outro país, acredita que por aqui não seria

Na Alemanha, Jonathan guarda suas embalagens para depositar nas máquinas de venda reversa dispostas nos restaurantes universitários

COMO FUNCIONARIA A MÁQUINA 1. Consumidor vai até um dos pontos de coleta - supermercados, aeroportos, shoppings, estádios, faculdades, etc. - levando suas embalagens usadas; 2. Insere o cartão na máquina e aguarda identificação; 3. Coloca os materiais recicláveis, como garrafas pet, latas de alumínio, garrafas de vidro, plásticos e outros, dentro da ‘boca’ da máquina; 4. Espera a máquina identificar e aceitar cada um dos materiais; 5. Créditos verdes vão sendo computados no cartão à medida que os materiais vão sendo identificados e avaliados; 6. Consumidor finaliza a operação e retira o cartão e um recibo.

diferente. “O Brasil está na moda na Europa. Com o crescimento econômico e os eventos esportivos chegando, o país está virando potência. Para permanecer assim, só precisamos ser ousados e tomar atitudes como essa”, avalia. Além disso, o Brasil teria um fator extra para a viabilidade do projeto: a forte cultura das promoções, que mobiliza consumidores e aquece a economia como um todo. Apesar de ser uma solução para inúmeros problemas enfrentados atualmente nas grandes cidades brasileiras, o estudante não conseguiu patrocinador enquanto estava no Brasil. Depois de apresentar o projeto a alguns representantes do governo, Jonathan percebeu que seria preciso muita vontade política para realizar tal façanha. Com previsão para retornar ao país apenas alguns meses antes da Copa, ele revela o desejo de ver algum brasileiro interessado em concluir o projeto e fazê-lo virar realidade. [B+]

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n e gó c io s | g e s t ã o

Uma insustentável

soterópolis

Fotos: Rômulo Portela

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m estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que os problemas de mobilidade nas grandes cidades afetam diretamente a produtividade dos trabalhadores e a competitividade das empresas. De acordo com a CNI, o tempo médio gasto em deslocamentos aumentou 20% entre 2003 e 2010. No mesmo período, a quantidade de veículos em circulação no Brasil expandiu 66%. Em contraste, o país registrou um crescimento demográfico de 13%. Hoje, o indivíduo gasta, em média, uma hora e quatro minutos para se locomover em qualquer grande cidade brasileira, Salvador incluída. 36

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A verdade é que a capital baiana, do tamanho e da importância que tem para o país, “não tem indicadores para medir a sustentabilidade”, dispara o urbanista Osny Bomfim Santos, 47 anos. O que há são avaliações empíricas, ainda que emolduradas por números: quantos quilômetros tem o congestionamento, quantos passageiros os ônibus transportam por quilômetro, quantos automóveis foram emplacados este mês. Em todos os casos, a impressão é negativa. Para Santos, economia, meio ambiente, sociedade e instituições são fatores de uma mesma equação. Este último mereceu maior atenção do urbanista nos últimos anos porque “a tendência é fazer gestões individualizadas e não integradas” das demandas. A habitação, por exemplo, não conversa com o transporte – até que populações inteiras tenham sido instaladas a quilômetros de


De que maneira a capital do estado da Bahia pode se reinventar e voltar a ser um destino atrativo para turistas e, principalmente, um lugar melhor para seus próprios cidadãos? Especialistas apontam caminhos por

Andréa Castro e Rogério Borges

distância dos centros de produção econômica da cidade. O urbanista aponta que “a população sujeita a este espraiamento é especialmente aquela com menor poder aquisitivo, que se instala nas áreas periféricas da cidade”, o que faz surgir a necessidade de transporte coletivo. É nesse instante que nasce uma minicerteza: o transporte de massa é para ontem. E o transporte de massa é sustentável? Ninguém realmente sabe, até porque “não há indicadores”. O metrô, longe de ser uma solução, é medida salvacionista – válida apenas até a próxima emergência urbana. Na antevéspera do projeto executivo da linha dois, que vai percorrer a Avenida Paralela até Lauro de Freitas, prefeitura e Governo do Estado ainda se desencontravam quanto à demanda: quantos passageiros há mesmo para transportar? Fábio Barros, 25 anos, é um deles. Morador de Vida Nova, no Caji, em Lauro de Freitas, ele faz todos os dias o percurso de uma hora e meia até a Pituba, onde trabalha. Foi em busca de tranquilidade que a família se mudou da Boca do Rio, em Salvador. “A rua em que eu morava lá era muito barulhenta, cheia de oficinas”, recorda. Para ele, vale a pena cumprir o percurso até a Pituba todos os dias “pela qualidade de vida” que Lauro de Freitas oferece. No contrapeso desse cotidiano de qualidade estão os congestionamentos e o transporte coletivo desqualificado, cada vez menos usado por uma sociedade cada vez mais motorizada. Mas nem por isso os ônibus circulam mais vazios. Para aumentar a rentabilidade, a concessionária de transporte público que serve Vida Nova agora atravessa outros bairros de Lauro de Freitas antes de seguir para a Pituba. Não por acaso, Barros planeja trocar o ônibus por um veículo próprio, assim que for possível.

Uma herança com nome: falta de planejamento Especialista em gestão para a sustentabilidade, Fábio Rocha trabalha diariamente na formação de lideranças que contribuam com um novo modelo de gerenciamento para as organizações. Diante do atual cenário da cidade em que vive, Rocha declara: “Salvador é uma cidade em que o ‘deixa a vida me levar’ é o slogan principal da gestão” – chamando a atenção ainda para o fato de que não é só uma culpa do poder público, mas também da iniciativa privada e do cidadão. Para o urbanista e arquiteto Gilberbet Chaves, o primeiro desafio que Salvador precisa superar para, a partir daí, tomar os rumos necessários ao seu desenvolvimento de forma mais ordenada, é criar uma identidade. “Falta apropriação da cidade, definir uma ideia, uma filosofia, um perfil que dê personalidade. Salvador

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não tem uma concepção. Que cidade é essa?”, indaga o arquiteto. Segundo ele, a capital precisa ser lapidada para que, emblematicamente, seja algo. O urbanista cita Londres como exemplo de cidade que cresceu com uma identidade. A capital inglesa foi planejada antes do desenvolvimento industrial, própria para se tornar uma cidade proletária. Mais perto, Chaves cita Brasília, planejada para ser sede do governo federal, seguindo o modelo criado pelo arquiteto francês Le Corbusier. E não é porque Salvador é uma cidade histórica que deveria ser diferente e se manter desordenada. Outro exemplo é a cidade norte-americana de Boston, histórica, onde começaram os Estados Unidos, na qual, hoje, as pessoas circulam bem, vivem bem, dispõem de vários teatros e museus, e o patrimônio histórico é preservado. Mas a realidade da capital baiana é outra. “Não houve planejamento estrutural. A cidade cresceu de forma desordenada, sem formação, sem priorizar os transportes de massa, e continua assim. É uma cidade onde não se consegue circular”, ressalta o urbanista.

A mudança envolve um novo olhar para a cidade Na opinião de Fábio Rocha, as cidades citadas por Gilberbet Chaves são também exemplos de como se reinventaram a partir de uma nova gestão municipal. “Se uma metrópole ou megalópole não tiver algo de diferente em seu modelo de gestão, dificilmente seus cidadãos vão ter uma qualidade de vida, no mínimo, razoável”, declara. Sendo assim, as soluções para as cidades passam por uma reinvenção no modelo de gestão municipal que envolve, principalmente, três pontos. O primeiro é entender que uma grande cidade é como um organismo vivo, com diferentes contextos. “Salvador, por exemplo, tem algumas cidades dentro dela. Podemos entender a cidade da orla, a cidade com bairros de padrão elevado, o Subúrbio Ferroviário, a Liberdade... Cada região tem suas particularidades. Se pensarmos uma única solução para todos esses contextos, não vamos ter sucesso”, defende Fábio Rocha. O novo modelo adotado por importantes cidades do mundo é se enxergar como um agrupamento de outras cidades de menor porte, com busca de soluções heterogêneas e integradas.

Foto: Quarta Via Comunicação

“Salvador é uma cidade em que o ‘deixa a vida me levar’ é o slogan principal da gestão” Fábio Rocha, consultor

Fábio Barros, morador de Vida Nova, é mais um que planeja trocar o ônibus por um veículo próprio Foto: Rômulo Portela

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Foto: Rômulo Portela

O segundo ponto é reestruturar a máquina pública e ter um poder público condutor e facilitador da mudança. “Não adianta ter ideias mirabolantes, se a máquina pública não corresponde a isso. Não tem milagre”, enfatiza Rocha. Segundo o especialista, nós precisamos fazer algumas perguntas para, então, avançar com as soluções: será que todas as lideranças, como os secretários, vão entender esse novo modelo de gestão de cidades e retransmiti-lo? Como enxergariam um programa de avaliação de desempenho das suas atividades? A maioria dos servidores entenderia uma bicicleta elétrica como solução para o problema de mobilidade urbana? “É importante lembrar que todas as cidades que conseguiram um desenvolvimento e avanços fantásticos tiveram a figura de um prefeito forte. É importante ter o setor empresarial ativo, a sociedade mobilizada, mas é fundamental ter a prefeitura liderando esse processo, caso contrário não funciona”, reforça o especialista.

Fortalecimento da identidade cidadã O professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gilberto Almeida, explica que a cidade é feita de sua estrutura física e de pessoas. Sendo assim, planejar a sua gestão sem priorizar esse segundo e primordial elemento e não envolvê-lo no planejamento é um erro injustificável, mas comum na gestão pública. Assim se apresenta o terceiro elemento: a reconstrução do valor de cidadania. “Educação cidadã é chamar a atenção para o fato de que a cidade é um resultado de nosso ato de cidadania. Quanto menos cidadão formos, mais problemas teremos em nossas cidades”, explica Fábio Rocha. Ele defende o papel do cidadão-fiscal, que não permite lixo nas ruas, que

Elisabeth Matos e Gilberto Almeida, professores da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia

cobra seus direitos em qualquer circunstância e cumpre seus deveres. “Eu sempre preciso me perguntar: de que forma posso contribuir para que haja desenvolvimento onde moro?”. O especialista destaca outros aspectos. “Ao ver exemplos positivos em outras cidades, podemos nos perguntar: os gestores e empresários de outras cidades são tão melhores do que nós? Não. É a sociedade que é diferente. Até quando a gente se reúne para discutir um pacto pela mobilidade urbana, ficamos com receio de as pessoas não virem. Se eu quero que o sistema funcione, eu tenho que exigir do sistema”. Os cidadãos têm hoje uma concepção bastante pessimista sobre a política e isso precisa ser mudado. “As pessoas têm uma imagem muito negativa do âmbito político, de um modo geral, constantemente reforçada pela grande imprensa. É claro que existem péssimos governantes, mas não podemos generalizar. Temos que resgatar o sentimento de cidadania e a imagem do político enquanto pessoa que deve trabalhar em prol da sociedade”, afirma Gilberto Almeida. Para uma gestão participativa eficiente, o acadêmico cita como diretrizes básicas dois vetores: a transparência, tornando acessíveis todas as informações para que o cidadão possa acompanhar e intervir no processo de gestão, e a educação social, problematizando as questões públicas para pessoas locais. “O mais importante é envolver e engajar o cidadão nas decisões. Alguns conselhos - de educação, saúde, mobilidade, entre outros - precisam se consolidar”. Segundo a professora Elisabeth Matos, também da Faculdade de Administração da Ufba, há cerca de dez anos, existe um movimento de institucionalização, com a criação dos conselhos, que poderia promover a democratização da gestão. No entanto, ela afirma que houve avanço, mas há um problema cultural, que faz com que na prática isso não funcione. “Em alguns municípios, não encontramos pessoas com o perfil necessário para ser um conselheiro. Sobretudo no interior, é muito incipiente a gestão democrática. As conferências estaduais, por exemplo, são promovidas pelo governo federal e seguem conceitos de uma cultura que vem de fora para dentro, só que deveria ser o inverso”, declara.

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Fotos: Rômulo Portela

Participação do setor privado O urbanista Gilberbet Chaves acredita que a iniciativa privada também pode dar a sua contribuição de forma efetiva, sobretudo investindo em cultura e preservação do patrimônio público. Ele lamenta, por exemplo, que o maior teatro da Bahia, o Teatro Castro Alves, não tenha segurança, estacionamento, uma estrutura em seu entorno. “O empresário também pode ajudar a promover o bem-estar na sua cidade, até para que ela exista”, completa. Isso certamente é fundamental para o desenvolvimento de um negócio. O professor Gilberto Almeida defende o ponto de vista do urbanista e lembra que em muitos países a contribuição da iniciativa privada na administração pública é muito mais efetiva do que no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, são bastante comuns doações de empresários às universidades ou bibliotecas públicas. “À medida que a gestão pública é boa, as empresas, assim como os cidadãos, se dão bem. Aqui no Brasil, não vemos muito isso, é como se o que acontece com a cidade fosse exclusivamente de responsabilidade e risco do poder público. E o que é pior, muitas empresas acabam dilapidando o patrimônio público, ao invés de ajudar a preservá-lo, corrompem servidores...”, analisa. No entanto, ele ressalta que existem algumas iniciativas isoladas de empresas com uma consciência social mais avançada.

“Salvador não tem indicadores para medir a sustentabilidade” Osny Bomfim Santos, urbanista

Princípios norteadores Os conceitos para o desenvolvimento de grandes cidades também podem ser aplicados em municípios menores. Gilberbet Chaves defende que a questão da identidade se aplica também às cidades do interior, sobretudo àquelas que mantêm um ritmo acelerado de crescimento. “Cada cidade tem fundamentos que devem ser identificados para se planejar a gestão municipal”, explica. Feira de Santana, por exemplo, é apontada pelo arquiteto como um polo que tem vocação tanto cultural, devido à sua proximidade com Salvador, como industrial. Barreiras, grande polo agrícola, precisa investir pesado em vias para escoamento da produção. “É necessário primeiro traçar o perfil, ver o território onde a cidade está localizada, quais os seus elementos disponíveis, suas potencialidades e provocar o próprio desenvolvimento, sobretudo com políticas que fixem as pessoas no local”, conclui Gilberbet Chaves. [B+] 40

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“Falta apropriação da cidade, definir uma ideia, uma filosofia, um perfil que dê personalidade. Salvador não tem uma concepção. Que cidade é essa? É necessário ver suas potencialidades e provocar o próprio desenvolvimento” Gilberbet Chaves, urbanista


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n e gó c io s | co t i d i a n o

A cidade e os negócios por

Carolina Coelho e Brisa Dultra

Violência nos bairros, serviços sem qualidade, engarrafamentos intermináveis, educação deficiente. Os moradores da capital baiana dão seus depoimentos sobre as dificuldades que a cidade impõe em seus campos de trabalho e o que falta para alcançarmos uma melhor qualidade de vida

O profissional do trânsito na região do Iguatemi, um dos pontos mais críticos da cidade, diz amar o trabalho, apesar do medo que enfrenta

Fotos: Carolina Coelho

Augusto Lopes, 50 anos

Taxista em Salvador há 28 anos, ele defende que a mudança no trânsito é possível, desde que os baianos adquiram uma consciência social

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“Quando eu comecei a exercer a profissão, em 1984, eu tinha orgulho de ser baiano. As pessoas se respeitavam, havia um clima de fraternidade. Hoje, o trânsito reflete o medo no rosto das pessoas, todo mundo é muito agressivo, aquela calma que tínhamos acabou. A questão não é a cidade, a questão somos nós, seres humanos, que dirigimos essa cidade. O que está faltando na mobilidade urbana são pessoas que parem de criticar e se perguntem: Quem sou eu atrás de um volante? Enquanto ficarmos botando a culpa nos governantes ou órgãos incompetentes, não vamos a lugar nenhum. Temos que nos preparar para nos reeducarmos, porque estamos perdendo a base de tudo”.

“Temos que ter coragem para assumir nossas falhas e mudar”

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Menelaw Sete, 49 anos

Crescido no subúrbio, em Itacaranha, o artista plástico conta que a liberdade vivida no bairro foi imprescindível para o seu contato com a arte “Fico muito triste com o lixo na rua, que é a extensão da nossa casa. Não é a quantidade de garis que vai tornar Salvador mais limpa, mas a consciência de que aquele espaço também é nosso, de que, ao sujar a praça, estamos sujando a sala de casa. O que falta é educação doméstica, intelectual e artística. Como artista, sinto que nossa sociedade requer uma apuração do gosto, uma educação de maior qualidade, através de mais bibliotecas, teatros e espaços culturais. São poucos os que têm acesso às artes, que desenvolvem sua sensibilidade artística. O homem é evolução. E essa evolução tem de ser democratizada. O poder público precisa, de alguma forma, travar um contrato com a sociedade para que ela participe dessa mudança”.

“O que falta é educação doméstica, intelectual e artística”

Em seu estúdio no Pelourinho, Menelaw vive entre a arte e a certeza de que a educação é a base para a qualidade de vida

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Márcia Kalid, 63 anos

Uma das fundadoras do Colégio Oficina e professora de geografia, a educadora vê uma cidade repleta de problemas sendo dirigida pelos interesses exclusivamente econômicos

Rodeada por seus alunos, a professora acredita que a escola é um referencial fundamental para a formação de cidadãos conscientes

“Planejamento é a palavra mágica. De curto, médio e longo prazo”

Marilanja Bispo dos Santos, 32 anos

Baiana de acarajé no ponto do Cidade Jardim e moradora do bairro de Periperi, ela vê a vida ficar limitada por conta do aumento da violência na cidade “O problema que mais me afeta hoje em dia é a violência da cidade. Lá em Periperi, onde moro, a gente precisa tomar uma série de cuidados pra fazer coisas normais, como sair de casa. Não se pode voltar tarde, tem que gradear tudo pra evitar os arrombamentos, nossos filhos não podem brincar na rua. É injusto. Mesmo aqui, no Cidade Jardim, um bairro mais rico, a violência também afeta os negócios. Roubam carros, as pessoas são assaltadas, e, por isso, não podemos trabalhar até tarde, como antes. E tem mais: usuários de drogas, volta e meia, importunam os clientes, afastando o pessoal. Tem cliente que nem sai de dentro do carro. Então, tanto como baiana quanto como cidadã, minha rotina toda é afetada pela violência que só cresce. Hoje, a gente tem que lidar com essas coisas e eu já não acredito que isso possa melhorar”.

“Tem cliente que nem sai de dentro do carro” 44

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“Como professora e como cidadã, minha indignação é grande e diária, quando percebo que a cidade que me acolheu sofre um processo de expansão principalmente vertical. Isso atende muito mais aos interesses do grande capital do que propriamente à população e suas necessidades vitais. Planejamento é a palavra mágica. De curto, médio e longo prazo. Salvador continua sendo uma cidade inacabada, com dificuldades de mediação de conflitos, de moradias, saúde, transportes... resumindo: qualidade de vida. Não aguento mais ver a cidade sendo maquiada, para derreter após as chuvas. Não aguento mais soluções de apaga fogo em vez de soluções programadas e preventivas. Eu quero uma Salvador decente, para todos os seus habitantes”.

No Parque de Pituaçu, Lúcia reclama da falta de policiamento na trilha de um dos passeios mais agradáveis da cidade

Fotos: Carolina Coelho

Lúcia Saraiva, 52 anos

Pedala em Salvador há 30 anos e há sete fundou o grupo Amigos da Bike, com o intuito de integrar os ciclistas e disseminar os benefícios da bicicleta como transporte e lazer “O transporte público caro e precário fez com que aumentasse por demais o número de pessoas que usam a bicicleta, diariamente, para ir ao trabalho. Mesmo assim, a política governamental estimula a venda de carros. Você não vê incentivo para a utilização de bicicletas. O Nordeste, infelizmente, está muito atrasado nesse sentido, como se a nossa região só servisse para o turismo. Salvador, atualmente, dispõe apenas de 20 quilômetros de ciclovias, que ligam nada a lugar nenhum. Só as consideramos para atividades de lazer, nos finais de semana. E mais, não adianta ter ciclovias na cidade se não existe educação. Antes da implantação das ciclofaixas, precisamos humanizar o trânsito”. No posto de trabalho, a baiana tem os lucros diminuídos por conta da violência que atinge a todos

“Salvador, atualmente, dispõe apenas de 20 quilômetros de ciclovias, que ligam nada a lugar nenhum” w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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“Ao construir uma casa ou empreendimento, precisamos de uma série de documentos. O alvará de construção, por exemplo, é a liberação de um determinado projeto em uma determinada localização. O processo para conseguir esse alvará gera uma série de transtornos. Os prazos são longos e desrespeitados. Quando resolvemos modificar o projeto inicial, acontece a mesma ineficiência. Para conseguir o Habite-se, é a mesma novela. Não sou contra os alvarás, mas o processo deve ser mais acelerado. É caótico ir à Sucom, conseguir as informações corretas, tirar dúvidas. Toda obra pública deve ser feita através de licitação pública, mas seria melhor que isso acontecesse via concurso de projetos: ao invés de priorizar o menor preço, a administração pública estaria escolhendo o melhor projeto – aquele que atende mais adequadamente às demandas da comunidade ou o mais ecoeficiente.”

Gustavo Argollo, 29 anos

Arquiteto, trabalha com planejamento de interiores, construção e urbanismo. Deseja trabalhar sem tanta burocracia Fotos: Carolina Coelho

No escritório que divide com mais um sócio, Gustavo arquiteta seus projetos em meio à burocracia da fiscalização

“Os prazos são longos e desrespeitados”

Francisco de Carvalho, 30 anos

Sócio da distribuidora de materiais hospitalares e odontológicos Vital Procifar, o administrador encara o desafio de entregar pedidos urgentes em uma cidade com o trânsito congestionado No depósito, o administrador mantém uma frota de carros que poderia ser reduzida, caso o trânsito fosse mais fluente

“Hoje, os engarrafamentos da cidade aumentam meu custo de logística” 46

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“Trabalhamos com distribuição de materiais hospitalares, como agulhas, luvas e materiais cirúrgicos e odontológicos. Quando acontece um acidente e o hospital não está preparado para aquela demanda, por exemplo, somos acionados com urgência. Hoje, os engarrafamentos aumentam meu custo de logística porque eu preciso de mais motoristas e mais frota na rua para poder fazer as entregas diárias, que poderiam ser feitas com metade dos recursos disponibilizados para isso, se não houvesse tanto engarrafamento. Outra coisa que afeta os negócios é a baixa qualidade da educação. Tenho muita vontade de instaurar aqui o serviço de atendimento online ao cliente. Não faço isso pela dificuldade de encontrar profissionais que escrevam corretamente o português e dominem a área de materiais médicos, que requer um vocabulário bem específico”. [B+]


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n e gó c io s | e co n om i a

Hugo luiz marques Filho

Economista, superintendente da FEA-Ufba, diretor da ADVB-BA e professor da Faculdade Baiana de Direito

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Naquela tarde, no meio da semana (e depois de intensas quinzenas de trabalho e pressão), o pai tirou algumas horas para se dedicar às pequenas e importantes coisas. Ele levou seu filho à aula de piano, e se viu renascido naquele menino, lendo partitura e brincando com os clássicos. Nada mal para um quarentão, que quando jovem largou a faculdade para tocar bateria em bandas de rock. Nada mal para aquele baterista que notou, ainda quando jovem, que deveria voltar a estudar avidamente, e trabalhar. Ele entendera que, no capitalismo, o trabalho e o estudo são a base do avanço individual excluídas as exceções musicais e esportivas de praxe, e também os gênios. No capitalismo não existe sombra sem preço. Ele é excludente. Sua competição darwinista deixa muitos pelo caminho, mas é o modelo através do qual o ser humano mantém a sua liberdade de escolha, e pelo qual o mérito do trabalho, suor e dedicação prevalece. Ok, concordamos que a sorte às vezes conta. O capitalismo se renova sempre através das suas crises, como nós nos renovamos em nossos filhos. Ter um filho é um momento catártico, de crise, muitas vezes financeira, de projetos de vida, de responsabilidade. Mas que crise boa! Nós vivemos novamente. O capitalismo poderá até morrer de morte morrida, mas não de morte matada. Ele sobreviveu às crises do final do século 19, à terrível depressão dos anos 30, às duas grandes crises do petróleo, e está sobrevivendo à bomba de 2008 e à crise do Euro. Ele se renova, pois o seu pilar é o ser humano. O homem e seu trabalho, suas ideias, sua arte, seu brilhantismo em inovar e querer viver cada vez melhor. Sim, viver melhor não é pecado. Adam Smith disse um dia: “Não é da boa vontade do padeiro, do açougueiro e do cervejeiro que teremos nosso

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jantar, mas sim da sua extrema necessidade de ganhar dinheiro”. Quando a América Latina quebrou na década de 80 do século passado, nós éramos tratados como criancinhas pelo restante do mundo. E o ano de 1989 foi de ruptura, principalmente com a queda do muro de Berlim e o consenso de Washington. O primeiro nos mostrou a terrível realidade de que o capitalismo, com todas as suas falhas, é o modelo vencedor. O segundo nos mostrou que, naquele instante da história, o vencedor tinha um diapasão, que era o liberalismo novamente, e não o capitalismo intervencionista keynesiano. Foi neste clima ideológico que vivemos os anos 90, que foram anos duros, de ajuste, em toda a América Latina. A partir daí, o Brasil institucionalizou sua democracia, teve cinco governos pró-mercado e abertura, e elegeu sua primeira mulher presidente. Botamos as manguinhas de fora em função do excelente desempenho de nossa economia, puxada pelo apetite voraz chinês por nossas commodities e pelo crescimento do mercado interno. Fomos para outro patamar. De exportadores de mão de obra, viramos importadores. De hiperinflacionários e de subgovernos descontrolados, viramos case de sucesso internacional devido ao plano Real e à lei de responsabilidade fiscal. De devedores, viramos credores do FMI. De criancinha, viramos adulto. Nada disto aconteceria se não tivéssemos sofrido tanto com nossas crises. O Brasil era assim e hoje é melhor do que já foi. Era uma criança e virou pai. Naquela tarde, o pai chegou à conclusão que o trabalho, a vida, os acertos e erros do homem são muito parecidos, em essência, com o que observamos na economia. E aí nos surpreendemos com as notas vindas do piano de um menino - menino que um dia nós fomos. Nada está perdido.


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n e gó c io s | i n f ra e s t ru t u ra

Salvador e seu porto

Adary Oliveira

Doutor em planejamento territorial e desenvolvimento regional pela Universidade de Barcelona

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O porto de Salvador foi o mais movimentado do Atlântico Sul durante os primeiros séculos do Brasil Colônia, quando a cidade era a capital administrativa das terras portuguesas. Pelo Porto do Brasil, como era chamado, circulavam as mercadorias comercializadas com a metrópole e outras nações. A sua importância começou a diminuir com o uso das máquinas a vapor na navegação marítima, o início de operação do Canal de Suez, em 1869, e com a construção do Canal do Panamá, inaugurado em 1914. O atual porto da capital baiana, naturalmente protegido pela Baía de Todos-os-Santos, foi inaugurado em 13 de maio de 1913. Sua administração passou à Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba) em 17 de fevereiro de 1977, quando foi criada. O funcionamento do porto de Salvador reúne, em torno de si, mais de uma centena de empresas da cadeia do transporte marítimo, que prestam serviços aos usuários do equipamento em atividades que vão da intermediação financeira ao despacho aduaneiro, serviços de transporte e armazenamento. O relacionamento do porto com a cidade passa a ser mais estreito quando são considerados esses serviços, que interferem de sobremaneira na vida econômica e social de Salvador. Todo serviço realizado na administração e operação do porto, e pelas empresas intervenientes, geram para a Prefeitura Municipal de Salvador o recolhimento do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Este tributo é a maior fonte de recursos da prefeitura, chegando a representar cerca de 30% da receita bruta. Daí a importância dos serviços portuários para a economia do município. Aliás, quando

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o prestador preenche a nota fiscal eletrônica, ao classificar o tipo de serviço, tem apenas três opções - serviços portuários, construção civil e outros -, revelando a importância da atividade para o município. O porto de Salvador, após a dragagem realizada em 2010 e a ampliação do cais do terminal de contêineres, próxima de ser concluída, terá sua capacidade de movimentação de carga duplicada, podendo receber navios porta-contêineres de mais de 300 metros de comprimento e capazes de transportar até 11 mil contêineres de 20 pés. A sua contribuição tributária para o carente município de Salvador será ampliada na mesma proporção dessa movimentação de cargas. Estudiosos afirmam a urgência da construção de um novo terminal de contêineres, que avance mais 500 metros de cais, na direção da Feira de São Joaquim. Se por um lado a ampliação da capacidade operacional do porto fortalece as finanças da prefeitura e contribui para reduzir o desemprego de seus habitantes, por outro, a construção da nova estação de passageiros, que está em fase adiantada, atrairá mais navios de cruzeiro marítimo ao longo de todo o ano - não só no período de carnaval. Com a demolição dos armazéns 1 e 2, e a abertura da linda paisagem do mar calmo e azul da Baía de Todos-os-Santos, o porto volta sua frente para a cidade que começou a erguer. Assim deixa de dar as costas para os soteropolitanos e para os turistas de todo o mundo. Deixo também uma mensagem ao futuro prefeito sobre a importância da relação do porto com a cidade, para que inclua em seus projetos de modernização uma relação amistosa com esse porto.


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n e gó c io s | d e s e n vo lvi m e nt o eco nô m ico

A força que vem do interior A integração entre as regiões mais dinâmicas da Bahia é fundamental para a criação de uma alternativa de desenvolvimento sustentável

Gabriel Melo Salgado

Assessor de Comunicação do Banco do Nordeste, mestre em cultura e desenvolvimento e em gestão empresarial internacional

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O estado da Bahia tem a maior extensão territorial da região Nordeste, com 567.295,669 km², uma área maior do que a França, ocupando 6,64% do território nacional, sendo que 68,7% do território baiano encontra-se na região do semiárido. Dentre os estados nordestinos, a Bahia também tem a maior população, cerca de 14 milhões de habitantes, segundo o último Censo, de 2010, e o maior Produto Interno Bruto (PIB), R$ 137 milhões, considerado o sexto do país. O estado responde por cerca de 30% do PIB do Nordeste e por mais da metade das exportações da região. A economia baseiase na indústria - química, petroquímica, informática, e automobilística e suas peças -, agropecuária - soja, algodão, café, laranja, mandioca, feijão, cacau e coco -, mineração, turismo e nos serviços. Salvador, com população de 2,6 milhões de habitantes, é a terceira maior metrópole do país. Além da capital estadual, há outras cidades influentes na rede urbana baiana, como Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna, Ilhéus, Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, Juazeiro, Eunápolis e Teixeira de Freitas. A influência econômica destes municípios é muito importante para cada região onde estão inseridos, pois criam uma rede entre as cidades circunvizinhas, as quais são estimuladas na oferta de novos produtos e serviços, seja da esfera pública ou privada. Próximo a Salvador, por exemplo, o Polo Industrial de Camaçari (PIC) tem a presença de empreendimentos de diversos setores, como a indústria química e montadora de automóveis. Uma das novidades por lá é o recente investimento de R$ 9 bilhões para a implantação de um polo acrílico, o que

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gera uma expectativa positiva, pois vai oferecer cerca de 250 empregos diretos e a possibilidade da criação de outras pequenas e médias indústrias, necessárias para atender à cadeia produtiva do acrílico. Portanto, um investimento desta natureza torna-se multiplicador de oportunidades e deverá impactar, definitivamente, o crescimento das economias de Salvador e região metropolitana. No oeste da Bahia, temos o caso de Luís Eduardo Magalhães. O que era um pequeno povoado, distrito do município de Barreiras, cresceu sua população em quase dez vezes por conta da forte atuação do agronegócio. Durante a década de 80, investidores, em sua maioria do sul do país, atraídos pelo baixo preço das terras do cerrado brasileiro, instalaram novos empreendimentos na região, mudando o cenário vermelho do cerrado para o verde e branco das vasta áreas de plantação de soja, milho e algodão. Outros exemplos estão espalhados pelo vasto território baiano, onde encontramos a fruticultura irrigada em Juazeiro, café e mineração na região de Vitória da Conquista, informática em Ilhéus. O grande desafio é desenvolver as regiões centrais da Bahia, que possuem municípios com economias estagnadas. Somente a integração destes polos econômicos será capaz de oferecer uma alternativa para essas cidades. A presença de empresas-âncoras, que estimulam a demanda e a criação de novos investimentos, é comum em países desenvolvidos, como nos Estados Unidos. Neste modelo, a população torna-se melhor distribuída entre os municípios, devido à presença de pequenas e médias empresas, gerando emprego e aproveitando a vocação econômica e cultura de cada região. Fica evidente a importância da instalação de polos econômicos descentralizados. Porém, a atenção dos poderes públicos é necessária para evitar problemas sociais que podem ser gerados por um crescimento populacional rápido. Gestores públicos devem estar atentos para possíveis problemas, como a habitação, malha viária, ferroviária e os impactos ambientais, e ter a habilidade de enxergar seu município no futuro para que suas decisões venham a melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos gradativamente, evitando desperdícios.


Apoio:

sustentabilidade Tendências | 54 [C] Isaac Edington | 62

Para velhos problemas, cidades inteligentes Muitas empresas já investem em soluções para os problemas cotidianos de cidades superpopulosas e desordenadas.

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s ustenta b ilida d e | t e n d ência s

As melhores e piores cidades do mundo para se viver A revista britânica The Economist elaborou um estudo com 140 cidades ao redor do mundo e determinou quais delas seriam as piores e as melhores pra se viver. As cidades foram avaliadas em 30 fatores, divididos em cinco áreas: saúde, violência e estabilidade, educação, infraestrutura e, por fim, meio ambiente e lazer. Conforme estes critérios, a cidade ideal seria média, com baixa densidade populacional, com um bom leque de atividades recreativas, boa infraestrutura e baixos índices de criminalidade.

TRÊS MELHORES

TRÊS PIORES Foto: Divulgação

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Foto: Divulgação

Melbourne (Austrália)

Dacca (Bangladesh)

É a capital e a maior cidade do estado de Victória, na Austrália. Com cerca de quatro milhões de habitantes, Melbourne obteve as pontuações máximas nas áreas de educação, saúde e infraestrutura.

Dacca tem péssima qualidade do transporte público, violência, altas taxas de criminalidade, sérios problemas de poluição e o sistema educacional público foi classificado pelo levantamento como “intolerável”.

Viena (Áustria)

Porto Moresby (Papua-Nova Guiné)

Além de imensamente arborizada, a capital austríaca possui um legado cultural muito forte: na cidade não faltam museus, teatros e cinemas.

A cidade acumula altos índices de pobreza, criminalidade, acesso restrito à saúde e uma cultura de gangues que dissemina ainda mais a violência no lugar.

Vancouver (Canadá)

Lagos (Nigéria)

Cercada de montanhas cobertas de neve e portos com águas azuis cristalinas, em Vancouver há vários parques, estações de esqui e opções de lazer.

A segunda maior cidade africana só tem eletricidade em algumas horas do dia. Além disso, possui 40% do território imerso sob a água, não consegue absorver a demanda e garantir a infraestrutura necessária para toda a população.

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Foto: Divulgação

Soluções integradas são saída inteligente para cidades mais sustentáveis Eleita em 2010 a capital mais verde da Europa, Estocolmo já foi a pior cidade do continente em questões como qualidade da água, do ar e de saúde. A receita do sucesso foi justamente as soluções integradas, como aconteceu no bairro de Hammarby Sjöstad. O local, hoje um dos mais disputados da capital sueca, era uma zona industrial com cais e portos na década de 1990. Esses resultados foram obtidos justamente devido aos sistemas complexos: os resíduos do tratamento de água e esgoto são reutilizados e geram energia (biogás) para as residências; a arquitetura é pensada junto ao planejamento de habitações energeticamente eficientes; há sistemas subterrâneos automáticos de coleta de lixo; a eletricidade e a água quente são geradas por energia solar e sistema de transporte de bicicletas.

Terceira maior cidade da China vai limitar carros novos O governo municipal de Guangzhou, terceira maior metrópole da China e um dos centros da produção automobilística do gigante asiático, introduziu mecanismos de leilão e sorteio de placas de licença na última semana de agosto, com o objetivo de reduzir à metade o número de carros novos nas ruas, informou reportagem do The New York Times. A medida funciona assim: quem comprar carros novos vai precisar passar por sorteio de placas para conseguir a licença. É como o rodízio que já acontece em São Paulo, só que ele só vale para os carros novos. Foto: Divulgação

C-40 pretende engajar 100 cidades pela sustentabilidade até 2025

ONU-Habitat lança Índice de Prosperidade da Cidade

O C-40 (Large Cities Climate Leadership Group), grupo que reúne os prefeitos das 59 maiores cidades do mundo, quer engajar 100 metrópoles no caminho do desenvolvimento sustentável até 2025. Elogiada durante a Rio+20, quando a iniciativa anunciou a meta de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 248 milhões de toneladas até 2020, a C-40 ganhou visibilidade e trabalha na ampliação do projeto. O foco da entidade está no lançamento de redes temáticas. Cidades que possuem bons exemplos em determinadas áreas ambientais terão um contato mais próximo com capitais que enfrentam dificuldades.

O Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) lançou, em setembro, uma nova ferramenta para medir o progresso das cidades. O Índice de Prosperidade da Cidade avalia produtividade, infraestrutura, qualidade de vida, igualdade e sustentabilidade ambiental. Segundo o ONU-Habitat, a proposta é ajudar os tomadores de decisão a criar políticas claras de intervenções nos municípios, além de identificar oportunidades e áreas potenciais para a prosperidade. w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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Movimenta, Nossa Salvador C

om o objetivo principal de contribuir para o desenvolvimento sustentável da terceira maior cidade do Brasil, o Movimento Nossa Salvador vem atuando no cenário soteropolitano desde março de 2011. O pontapé inicial da organização, que classificou Salvador como uma das piores cidades do país em questões fundamentais, foi a divulgação de 55 indicadores sociais em áreas como educação, saúde, segurança e meioambiente. Desde então, a entidade já produziu uma série de mobilizações com apoio da sociedade civil e do governo para debater soluções que contribuam para a construção de políticas públicas no espaço urbano. A campanha Salve Salvador foi a primeira iniciativa desenvolvida pelo movimento na capital baiana. Lançada em outubro de 2011, a campanha publicitária incentivava a população no que diz respeito a uma mudança positiva de comportamento em relação à cidade. As mensagens abordavam alguns dos hábitos comuns dos cidadãos, que de alguma forma prejudicam a cidade em nível de desenvolvimento, ambiental e ético. Diversos tipos de mídia, como TV, rádio, jornais, outdoor, busdoor e internet, foram ativados para convocar a participação da população por uma cidade melhor e mais justa. Em Junho deste ano, a organização lançou o Programa Cidades Sustentáveis com a participação dos pré-candidatos à Prefeitura de Salvador, que tiveram a oportunidade de assinar uma Carta Compromisso em apoio à iniciativa. O documento escrito atribui ao prefeito eleito a responsabilidade de incorporar a sustentabilidade de forma transversal às políticas públicas da cidade, além de indicar a necessidade de promover a participação da sociedade civil e de prestar contas das ações desenvolvidas. O Programa Cidades Sustentáveis está vinculado a Rede Latinoamericana por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis, e já atua em 11 países da América Latina. Atualmente, o Movimento Nossa Salvador realizou uma pesquisa de percepção da sociedade soteropolitana sobre a cidade, a fim de revelar a visão, o grau de satisfação, as queixas e os anseios da população com relação ao 56

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município. Temas como mobilidade urbana, segurança pública e educação, entre outros, foram abordados pelo questionário online, que pôde ser respondido pelos cidadãos até o dia 10 de outubro. O resultado será entregue ao futuro prefeito em um evento que irá ocorrer nos dias 11 e 12 de dezembro. [B+]


Foto: Divulgação

Bicicletas elétricas devem dominar mercado do setor A venda de veículos elétricos motorizados de duas rodas vai superar a de veículos elétricos de quatro rodas, segundo a previsão dos estudos feitos pela montadora Dafra. Pela estimativa da empresa, as bicicletas elétricas vão responder por 56% das vendas, enquanto as motos ficarão com 43% e as scooters com 1%. A busca por uma maior mobilidade nos grandes centros, a procura por um veículo de transporte próprio mais acessível e o lazer, são os principais motivos para o crescimento deste mercado.

Resíduos sólidos separados em casa se misturam ao lixo comum, revela pesquisa Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 – Perfil das Despesas do Brasil, do IBGE, três entre dez domicílios brasileiros (29,7%) separam o lixo biodegradável do não degradável. No entanto, apenas 40% desse montante são posteriormente coletados de forma seletiva quando chegam às ruas, o restante é misturado ao lixo comum. Dentre as regiões do país, o Sul apresentou o melhor resultado, onde 92% do lixo separado é coletado corretamente.

Sustentabilidade em um empreendimento começa antes da construção Empreendimentos sustentáveis são opções cada vez mais comuns para construtoras que querem agregar qualidade e reduzir custos na obra. Contudo, antes de cimentar o título de verde em cada tijolo do empreendimento, deve-se ser feito uma elaboração que começa no computador. Para isso, um novo software de modelagem de dados, o BIM (Modelagem das Informações da Construção, em português), mais avançado do que o Cad, tem conquistado o mercado da construção civil como um poderoso aliado no planejamento.

Agricultura sustentável urbana melhora alimentação em comunidade carioca Os moradores da favela carioca Morro da Babilônia, se inspiraram na tendência mundial dos telhados verdes para plantar hortas orgânicas na laje de suas casas. Além de melhorar a alimentação, a população de baixa renda aproveita para ganhar um dinheiro extra com isso. As aulas técnicas para o plantio das hortas urbanas foram oferecidas pela associação civil Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

População de Salvador pode trocar materiais recicláveis por desconto na conta de luz O benefício do projeto esteve disponível para moradores de 12 bairros de Salvador durante toda a segunda semana de setembro, por meio do programa Vale Luz, da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba). Metal, papelão, plástico e papel foram recebidos para a reciclagem, que ao serem pesados concederam um desconto às famílias cadastradas de R$ 0,05 a 1,30 por quilo de material. Foto: Mila Cordeiro

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s ustenta b ilida d e | p ro bem Foto: Divulgação

Para velhos problemas,

cidades inteligentes

O crescimento desordenado de grandes centros urbanos costuma vir acompanhado de caos em diversas áreas, que afetam os serviços públicos mais imprescindíveis às populações. Muitas empresas já contam com unidades de negócios exclusivamente destinadas a desenvolver soluções inteligentes, em um mercado que movimenta 1,2 trilhão de dólares

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ra mais uma tarde de setembro em Salvador, quando o estudante de sistemas da informação, Rafael Menezes, de 21 anos, entrou no ônibus que faz a linha BarraTancredo Neves, da empresa União. O jovem ficou surpreso ao ver um aviso colado no vidro, que informava: “Este coletivo tem internet wireless”. Entusiasmado, sacou seu aparelho de celular para checar a novidade. E funcionou! Lá estava Rafael acessando redes sociais, além de fazer pesquisas no Google. “Foi um grande ganho para as pessoas que andam de ônibus em Salvador. O tempo passa mais rápido, dá para acompanhar as notícias e postar em rede sociais, em momentos que certamente estaria ocioso”, comemora. Adequado ao conceito de cidades inteligentes (smart cities), o serviço existe na capital baiana desde 2011 e atende pelo nome de Techbus (http:// goo.gl/DlyPy). O sistema foi desenvolvido pela empresa baiana Softwell Solutions, com tecnologia 58

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por Murilo Gitel

da multinacional IBM, e encontra-se implementado nos ônibus do Grupo Evangelista (Gevan), que controla 35% da frota municipal: Axé Transportes, Praia Grande, Joevanza, Boa Viagem e União. Além da internet, o Techbus também tem ferramentas de inteligência para o gerenciamento de frotas, manutenção dos veículos, segurança, GPS, além de um sistema de mídia indoor. Os passageiros, inclusive, podem ser informados, em tempo real, da localização exata do ônibus via SMS. “Algumas grandes cidades do mundo, a exemplo de Estocolmo e Cingapura, começaram suas transformações pelos seus sistemas de transportes, adotando soluções da IBM de cidades mais inteligentes. Em Salvador, estamos seguindo esse caminho”, destaca o CEO da Softwell, Wellington Freire.

Tecnologias Para o diretor nacional de Cidades Inteligentes da IBM, uma das empresas pioneiras nesse conceito, Gustavo Rabelo, a proposta das smart cities é aproveitar as tecnologias já existentes, mas fazendo um melhor uso delas para ajudar


Foto: Raphael Lima

a solucionar os problemas urbanos. O executivo observa que, independentemente da geografia, as principais pedras nos sapatos das grandes cidades costumam ser as mesmas: engarrafamentos, emissões de poluentes, educação e saúde precárias. “Acreditamos no conceito dos 3Is: o mundo hoje está Instrumentado e Interconectado. Então ele precisa ser Inteligente. Existe uma infinidade de sensores em aparelhos como GPS, celulares e eletrodomésticos. Você tem acesso à banda larga, o seu carro já tem GPS, sua TV está conectada à internet sem fio. O que estamos agregando é a inteligência, ou seja, como é que eu uso o sensoriamento, a instrumentação das coisas, e crio uma massa de informações, de soluções”, explica Rabelo.

Prevenção No Rio de Janeiro, uma parceria da IBM com a prefeitura, firmada em 2010, está entre os principais cases da multinacional na área de cidades inteligentes. Costumeiramente castigada pelas chuvas no início de cada ano, a capital fluminense carecia de um sistema meteorológico que pudesse antecipar os riscos de tempestades. “Construímos, então, o sistema Previsão Meteorológica de Alta Resolução (Pmar). Com ele, podemos monitorar, com até 48 horas de antecedência, a quantidade de chuva que vai cair em determinada região de 1 km2. Antes, o sistema vigente antecipava em apenas seis horas”, compara o diretor da IBM. Hoje, 32 agências da prefeitura do Rio de Janeiro estão concentradas em um moderno centro de operações, abastecido com tecnologia IBM. “Desta sala é possível controlar a linha de metrô, a iluminação pública, as unidades móveis de saúde, o reforço policial, cortar o abastecimento de gás, caso haja algum risco”, enumera Gustavo Rabelo.

Zeladoria Em Porto Alegre, a solução encontrada tem o foco mais voltado para a zeladoria da cidade. Ferramentas tecnológicas estão a serviço da poda de árvores, coleta de resíduos sólidos, recuperação asfáltica, varredura de vias e iluminação pública. Quando uma lâmpada queima, sensores nos postes enviam sinal ao centro integrado de comando parceria da prefeitura com a IBM -, o que evita que a população tenha de entrar em contato com o

órgão competente, por exemplo. Centro de operações da Prefeitura do Rio de Janeiro, equipado com tecnologia da IBM

Foto: Divulgação

Rafael Menezes registrou, com o seu celular, informativo de internet sem fio no ônibus, em Salvador

“A IBM tem mais de 2.000 projetos de cidades inteligentes em todo o mundo. A empresa se instalou em setembro no Parque Tecnológico da Bahia”

“Além de melhorar a qualidade de vida e os serviços prestados aos cidadãos, a prefeitura de Porto Alegre se apoia na tecnologia para receber os jogos da Copa do Mundo de 2014”, projeta o diretor-presidente da Procempa, órgão de tecnologia da capital gaúcha, André Kulczynski. “Este é o primeiro projeto para tornar nossa cidade mais inteligente e constitui um grande salto tecnológico para o município”, completa.

Siemens A Siemens também lista entre as empresas globais que investem em desenvolvimento sustentável para megacidades, com soluções em energia, mobilidade, edifícios verdes e sistema de segurança. Um dos exemplos é o sistema Trainguard MT CBTC, que fez da cidade de São Paulo a primeira metrópole da América Latina a operar um sistema de

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metrô sem o condutor. A tecnologia é utilizada na linha 4 do metrô paulista, operado pela empresa Via Quatro. Para os usuários, fica o conforto dos serviço de celular 2G e 3G, do Butantã até a Estação da Luz. No setor de energia, as tecnologias da Siemens miram o mercado de energia eólica. Em 2011, a multinacional assinou contratos com as empresas Ersa, Enel e Tractebel com relação a uma capacidade total de 300 MW. A companhia fornecerá um total de 131 turbinas eólicas com uma capacidade de 2,3 MW cada. Cinco dessas fazendas eólicas com capacidade total de 145 MW serão construídas no Nordeste, nos estados do Ceará e Piauí, e deverão entrar em operação no fim de 2012.

Rede Em Pernambuco, um outro exemplo de como empresas privadas contribuem com o desenvolvimento urbano vem como PE Digital. O projeto é uma solução integrada de telecomunicação e informática que vai interligar todo o estado, em quatro anos, via fibra ótica, rádio digital e satélites. O consórcio Telemar/Unisys já implementou e conectou, por meio de uma solução que conta com o suporte da tecnologia Cisco, 28 pontos de acesso (PAS), situados em locais estratégicos, espalhados do sertão pernambucano à ilha de Fernando de Noronha. Esses PAS vão fornecer os serviços de telecomunicação e acesso à internet a um total de 731 pontos-clientes, como escolas, hospitais, prefeituras, universidades e secretarias, entre outros. Além dos 731 acessos dedicados, o projeto oferece também 960 acessos discados. Com essa primeira fase já concluída, todas as prefeituras, hospitais e escolas de Pernambuco, além de outros órgãos públicos municipais, estaduais ou federais, já estão aptos a se integrar à rede. “A tecnologia Cisco foi especialmente desenvolvida para extrair o máximo proveito das possibilidades oferecidas pela internet”, comenta o gerente de contas da Cisco no Brasil, José Paulo de Oliveira. “É muito gratificante, para a empresa, participar de iniciativas que visam facilitar a vida da comunidade como um todo”, completa. 60

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Brasil O diretor de Cidades Inteligentes da IBM, Gustavo Rabelo, evita comparar a situação do Brasil no quesito smart cities com outras metrópoles do mundo, onde o tema é bastante desenvolvido, como Estocolmo e Londres. No Japão, para se ter ideia, está sendo criada uma cidade com altos padrões de tecnologia e sustentabilidade, que vai abrigar cerca de mil residências. A Fujisawa Sustainable Smart Town terá uma rede energética inteligente, geração de energia solar residencial, sistema de transporte público movido a eletricidade e a biocombustível, além de edificações com o máximo possível de eficiência energética. A previsão é que a cidade esteja concluída em 2014. “Nenhuma cidade costuma ser inteligente de ponta a ponta. Você tem casos muito maduros, que trazem retorno para o gestor e a sociedade em áreas específicas. É um desafio. O Brasil está entrando nesse ciclo, estimulando que uma cidade influencie a outra, um contágio positivo”, defende Rabelo. De acordo com um estudo da consultoria de gestão Booz&Co, as cidades no mundo devem investir cerca de 37 trilhões de dólares nos próximos 25 anos para modernizar e expandir a infraestrutura. Estima-se que o mercado de soluções inteligentes para cidades já seja de cerca de 1,2 trilhão de dólares. [B+] Foto: Divulgação

Gustavo Rabelo, diretor nacional de Cidades Inteligentes do IBM

Foto: Luciano Lanes/PMPA

O sistema Trainguard MT CBTC da Siemens em operação em São Paulo (esq.) e a inauguração do centro IBM em Porto Alegre (dir.)


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Se Picar? *

Isaac Edington

Presidente do Instituto EcoDesenvolvimeto e membro do Conselho Editorial da Revista [B+]

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As cidades existem há muito mais tempo do que a maioria de nós pode imaginar. Historiadores afirmam que Jericó foi a primeira cidade do mundo, e surgiu há 8.000 anos, e o que conhecemos como estado só surgiu milênios depois. O significado de nação, então, esse ainda é um recém-nascido em termos históricos. Se entendermos o sistema representativo global como uma nação, formado pelos países-membros das Nações Unidas (ONU), que possui pouco mais de 190 países, aí, então, o bebê nem nasceu. Agora, imaginem essa turma representar 7 bilhões de pessoas, de culturas tão diferentes, que falam quase 7.000 línguas distintas. Muito difícil. Hoje, assistimos a crise da União Europeia, lembramos, na história recente, a queda da União Soviética, fazemos piada com o Mercosul e presenciamos a crise existencial por qual passa a ONU. Enquanto isso, a cidade ganha relevância. Entendam, não é por que estamos em ano de eleição aqui no Brasil. Tomo emprestado o título do amigo baiano Nizan Guanaes, em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, onde afirmou: O debate global é municipal. Outra citação que vem de encontro a essa constatação é do professor Carlos Leite, entrevistado nessa edição da [B+], em recente vinda a Salvador: O século 19 foi das nações, o século 20 foi dos países, o século 21 é das cidades. O significativo avanço de movimentos, sejam de organizações da sociedade civil, das empresas ou de lideranças municipais engajadas que têm acontecido ao redor do mundo, leva a crer que o debate municipal veio para ficar. É muito importante que fiquemos atentos a esse fenômeno e possamos tirar proveito dele. A quantidade de dados, informações, conteúdos dos mais diversos, iniciativas, projetos, inovações, oportunidades de negócios, políticas públicas, soluções nas mais diversas áreas

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do conhecimento, entre outras oportunidades, estão explodindo nos quatro cantos do mundo relacionados às cidades. Certamente, existe nesse momento alguma oportunidade que pode estar se abrindo para: o seu desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento da sua empresa, melhorar a vida de sua comunidade ou bairro, um novo produto ou serviço, para fortalecer a sua marca, implementar uma política pública nova ou para fazer andar alguma que esteja engavetada. Oportunidades para mudar para melhor. A hora é essa, vamos aproveitar a onda para mudar. Ou então, pode ser também a hora de mudar de cidade. Se você prefere fazer isso, recomendo se picar* para a Austrália ou Canadá. Entre as dez melhores cidades do mundo para se viver, esses dois países emplacaram nada menos que sete cidades, de acordo com o estudo divulgado em agosto pela revista britânica The Economist. O estudo contemplou 140 cidades ao redor do mundo e determinou quais delas são as melhores para se viver, de acordo com 30 fatores divididos em cinco áreas: saúde, violência e estabilidade, educação, infraestrutura e, por fim, meio ambiente e lazer. Será que um dia nossa cidade pode entrar nesse ranking? Não sei. Muitas cidades mudaram para melhor em poucas décadas, continuam se reinventando e encarando novos desafios. Para as cidades mudarem é preciso que nós comecemos a mudar nossa atitude para com elas. É preciso agir e compreender que nada irá mudar, se não fizermos nada. Cada um de nós pode fazer algo em torno de sua área de influência para melhorar algo em sua cidade. E pode se juntar com outras e outras e outras. Imagine se a moda pega, mudamos a nossa cidade e não vamos precisar nos mudar dela.

*Se picar: significa se mandar, ir embora. Dicionário de Baianês de Nivaldo Lariú – Baianês é uma das línguas que está entre as quase 7.000 faladas no mundo. Só que essa é só nossa.



CAPA

Diamante líquido baiano Com uma das melhores águas do Brasil, Alagoinhas já atraiu as empresas de bebidas Schincariol, Grupo ISM e Petrópolis, agora consolida-se como o novo polo industrial do estado. Porém, por conta do potencial aquífero impressionante que existe no município, é necessário um controle constante a fim de garantir que esse diamante líquido, como vem sendo chamada a água da região, se mantenha puro e vivo por Gina Reis

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elatos históricos contam que Alagoinhas começou a ser povoada no século 18, incentivada por um sacerdote português, cujo nome se perdeu no tempo, atraído, principalmente, pelo grande número de rios e lagoas da região. A escolha dele para construir um sítio e fundar uma capela foi decisiva para a formação da futura cidade das águas. Em 1816, o pequeno sítio já tinha se transformado e todo seu entorno começava a ser habitado por imigrantes vindos de Inhambupe, Irará e Santo Amaro. Nesse mesmo , segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o povoado consolidou-se como uma freguesia chamada de Santo Antônio de Alagoinhas.

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Fotos: Divulgação Prefeitura Municipal

Entrada da cidade

O nome Alagoinhas surgiu de forma espontânea, referenciando o principal recurso natural da localidade: suas águas. Alagoinhas pertenceu a Inhambupe até 1852, quando conseguiu sua emancipação política, oficializada em 1853. Já se vão 159 anos desde então: o município seguiu a crescer, beneficiado, sobretudo, por sua localização estratégica, que impulsionou a instalação das linhas ferroviárias ainda no século 19. A descoberta de poços de petróleo pela Petrobras em 1964 contribuiu ainda mais para o desenvolvimento econômico regional, focado, principalmente, no setor de serviços. Hoje, Alagoinhas volta a ser descoberta. Os olhos do mundo se voltam para a região, atraídos pela qualidade da água. Inserido na Bacia Hidrográfica do Recôncavo Norte e Inhambupe, mais precisamente na sub-bacia do rio Pojuca, que totaliza uma área de 4.341 km2, o município está se consolidando como um dos principais polos industriais de bebidas do Brasil. Não somente pela qualidade dessas águas, mas também pela potencialidade da formação geológica do aquífero chamado São Sebastião.

Um novo ciclo das águas se forma

Estação Ferroviária São Francisco: um dos primeiros meios de conexão entre Alagoinhas e as demais regiões da Bahia

Mais empregos e qualidade de vida: chegada das grandes indústrias é vista com bastante otimismo pela população local

O governo quer instalar um cluster em Alagoinhas, atraindo toda a cadeia produtiva do setor de bebidas

A pioneira no setor a chegar à região foi a Schincariol. Em 1997, a companhia investiu cerca de R$ 200 milhões para a implantação da sua primeira unidade produtiva fora do estado de São Paulo. “O município tem uma localização de sucesso e um aquífero com uma das melhores águas, além das vantagens logísticas. Tudo isso contribuiu para o desenvolvimento da companhia”, destaca o presidente da Schincariol, Gino Di Domenico. O interesse de uma das maiores indústrias de bebidas do país acaba de ser reafirmado com a ampliação em 33 mil m2 da sua unidade em Alagoinhas. A certeza da importância estratégica regional levou a Schincariol a investir, a partir de 2010, cerca de R$ 400 milhões para dobrar sua capacidade de produção e abastecer a unidade com novos equipamentos. A inauguração da ampliação foi realizada no último dia 29 de agosto, com a presença de Senji Miyake, CEO global da Kirin - grupo japonês acionista majoritário da empresa. “A unidade conta com uma estrutura de distribuição própria e terceirizada de grande capilaridade que atende, com elevados níveis de serviço e qualidade, às demandas das regiões Norte e Nordeste”, afirma Aurélio Fernandez Leiro Filho, diretor de unidade de negócios Bahia e Sergipe na Schincariol.

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Foto: Rômulo Portela

Com a implantação e a ampliação da Schincariol, muitas empresas foram atraídas para a região, inclusive as que produzem latas de alumínio, essenciais para a indústria cervejeira

Aurélio Fernandez Leiro Filho, diretor de negócios Bahia e Sergipe da Schincariol

Foto: Divulgação

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De acordo com estudo quantitativo e qualitativo dos recursos hídricos do município de Alagoinhas com ênfase nas águas subterrâneas, realizado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) em 2004, o ambiente geológico no município apresenta um potencial hidrogeológico que se caracteriza como um dos melhores da Bahia, tanto em quantidade quanto em qualidade, principalmente quando se trata do sistema aquífero constituído pelas formações Marizal/São Sebastião. “A água de Alagoinhas é de excelente qualidade. Os poços geralmente são de ótima vazão. O aquífero São Sebastião atende a quase 80% do consumo da sede do município”, afirma Sergio Nascimento, professor do Instituto de Geociência da Universidade Federal da Bahia, doutor em geologia e um dos membros da equipe responsável pelo estudo. Os motivos apontados pelo especialista são relevantes para atrair mais fábricas para a região, como a Indústria São Miguel (ISM), produtora de bebidas que escolheu Alagoinhas para sediar sua nova unidade. O grupo peruano e familiar Añaños Alcázar surgiu em 1987, na região de Ayacucho, a 554 km ao leste de Lima, na região central dos Andes sulamericanos. A empresa produtora de bebidas não alcoólicas possui duas fábricas no Peru, localizadas em Huaura (1993), ao norte, e em Arequipa (2000), na região sul. A terceira unidade fabril foi implantada na República Dominicana. A fábrica de Alagoinhas é a quarta do grupo, sendo a segunda fora do Peru. Para entrar no disputado mercado brasileiro, o Grupo ISM desenvolveu um produto inédito, adaptado ao paladar dos baianos e brasileiros. Goob, como foi batizado o novo refrigerante, foi lançado no dia 22 de agosto, simultaneamente à abertura oficial da unidade. Para o presidente do Grupo ISM, Jorge Añaños, a fábrica na Bahia é mais um reforço estratégico para a expansão da empresa na América Latina e seu crescimento mundial. “A escolha da cidade de Alagoinhas foi motivada pela excelente qualidade da água, pelos incentivos fiscais e pelo clima da Bahia, ideal para os negócios de bebida e semelhante ao da República Dominicana, onde foi aberta a primeira unidade fabril fora do Peru, em 2005”, ressalta Añaños. O grupo pretende operar com sua capacidade máxima em até 18 meses. Nesse primeiro momento, estão sendo investidos R$ 50 milhões e mais R$ 15 milhões serão aplicados na parte comercial e de insumos. O grupo brasileiro Petrópolis será o próximo a estabelecerse em Alagoinhas. Com uma estratégia agressiva que visa expandir sua presença para todo o território nacional até o fim desta década, a indústria de bebidas, fundada em 1994, pretende investir até R$ 1,1 bilhão nos próximos cinco anos, sendo R$ 500 milhões para o desenvolvimento da unidade fabril baiana e o restante no negócio de distribuição. Quando a unidade de produção e o centro de distribuição estiverem operando em plena capacidade, o faturamento


Foto: Divulgação

Uma das grandes coisas que uma indústria pode trazer para uma região é integrar o seu povo, sua cultura, suas possibilidades de fazê-los se desenvolver Guilherme Soares, gerente geral da ISM Brasil

anual da cervejaria deverá atingir a ordem de R$ 3,7 bilhões. A previsão é que a unidade de Alagoinhas seja inaugurada em 2013, com a produção das marcas Itaipava e Crystal. Após o anúncio da fábrica baiana, o Grupo Petrópolis divulgou a construção de mais uma unidade no Nordeste. Desta vez, na cidade de Itapissuma, em Pernambuco. “A instalação de duas fábricas no Nordeste está relacionada primeiramente com a estratégia da empresa em aumentar sua participação no mercado nordestino. Especificamente sobre Alagoinhas, a qualidade da água fatalmente atrai companhias da indústria de bebidas. Nesse sentido, o que nos favorece é a implementação de toda uma estrutura logística que atenda às necessidades da indústria”, afirma o diretor de mercado do Grupo Petrópolis, Douglas Costa. Especula-se que a quarta indústria do setor a escolher Alagoinhas para ampliar sua atuação no Brasil é a CocaCola. A intenção não foi confirmada pela assessoria nacional da Coca-Cola Brasil. Mesmo com anúncios divulgados na imprensa no início de 2012, o secretário de Indústria, Comércio e Mineração (SICM), James Correia, também não ratifica a chegada da empresa na região. “A SICM tem como princípio não divulgar as indústrias que ainda estão em fase de negociação. Quando todo o processo de instalação de um determinado empreendimento estiver definido e a empresa autorizar, faremos a divulgação”, afirmou o secretário.

Muito além das bebidas A corrida das indústrias de bebidas para a região do aquífero São Sebastião é favorável à implantação de uma série de outras empresas, produtoras e prestadoras de serviços necessários para a consolidação de um polo industrial do setor. De acordo com o secretário James Correia, o Governo do Estado tem trabalhado para instalar um cluster no município de Alagoinhas, atraindo toda a cadeia produtiva do setor de bebidas. O momento é ideal para quem deseja empreender e investir em projetos voltados para as demandas do setor, cuja curva de crescimento deve alcançar resultados animadores nos próximos anos. Para o diretor de mercado do Grupo Petrópolis, Douglas Costa, atrair empresas complementares da cadeia produtiva é favorável à localidade. “Isso é ótimo tanto para a Petrópolis, quanto para as demais empresas instaladas, e também para a população local, que recebe ofertas de trabalho e, consequentemente, aumenta o PIB per capita da região. Isso significa ainda maior poder de compra e oportunidades para os comerciantes locais”, ressalta o executivo. Atenta às oportunidades, a Latapack Ball - joint venture entre o Grupo PIN (Latapack S/A) e a norte-americana Ball Corporation - investiu cerca de R$ 200 milhões para a instalação de sua quarta unidade fabril em Alagoinhas. Foto: Rômulo Portela

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c apa A Latapack iniciou suas operações na região em junho de 2012, com aproximadamente 140 postos de trabalho diretos. Para Aurélio Fernandez Leiro Filho, diretor de unidade de negócios Bahia e Sergipe na Schincariol, quando uma grande indústria se instala em uma região, é natural que outras empresas da cadeia produtiva sejam atraídas para o local. “Com a implantação e a ampliação da Schincariol, muitas empresas foram sendo atraídas, inclusive as que produzem latas de alumínio, essenciais para a indústria cervejeira”, ressalta Aurélio Leiro. A importância de empresas fornecedoras de matéria-prima para a produção, como a Latapack Ball, é ressaltada por Douglas Costa. “Uma empresa de latas de alumínio é uma grande facilidade, sem dúvida, já que demandaremos bastante para envasar nossos produtos. Juntamente com esta, toda empresa da região que fabricar algo usado em alguma etapa da cadeia, desde garrafas de vidro a pneus para os caminhões, poderá eventualmente ser nossa parceira”.

Localização privilegiada Além da instalação de empresas a serviço do setor, uma boa posição geográfica para o escoamento da produção é um dos principais pré-requisitos para a criação de um polo industrial. E Alagoinhas está perfeitamente enquadrada nesse perfil. A 129 km de Salvador, a cidade está posicionada ao leste da Bahia, sendo referência para a região. Faz divisa com Inhambupe ao norte, e ao sul com Catu. A leste, a cidade limita-se com o município de Araçás e a oeste com Aramari. Além das diversas saídas, duas importantes rodovias federais cortam a cidade: a BR101, translitorânea que liga o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul; e a BR-110, uma das rodovias mais importantes do Nordeste, que liga o Rio Grande do Norte à Bahia. Tais rotas tendem a ser ampliadas com a recuperação do eixo viário que une Alagoinhas à Linha Verde.

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Crescimento sustentável Com as indústrias, chegam também novas oportunidades para os 141.949 habitantes do município, através de inéditas possibilidades de negócios, empregos diretos e acesso a projetos socioculturais. De acordo com o presidente da Schincariol, Gino Di Domenico, os investimentos feitos para a expansão da planta permitiram ampliar os 4.000 empregos gerados, entre diretos, terceirizados e indiretos, para os atuais 6.600 colaboradores. A empresa também investe em programas sociais, como o Schin Inclusão Eficiente, que capacita e absorve pessoas com deficiência para atuar nas unidades, e a parceria com a Cooperativa de Catadores e Recicladores de Alagoinhas (Coral), fazendo doações de carrinhos de coleta e materiais (plástico e sucata) para reciclagem. A Indústria São Miguel absorveu na sua estrutura 238 colaboradores, podendo chegar a 600 empregos diretos e indiretos, e garante investir na capacitação da mão de obra regional. “Uma das grandes coisas que uma indústria pode trazer para uma região é integrar o seu povo, sua cultura, suas possibilidades de fazê-los se desenvolver junto com a região”, afirma o gerente geral da ISM Brasil, Guilherme Soares. A promessa da ISM é replicar no Brasil experiências de sucesso realizadas em outras localidades onde o grupo tem presença. Gerente de comunicação do Grupo ISM na República Dominicana, Maritza Grullon destaca o resultado do trabalho desenvolvido no país caribenho. “Conquistamos 42,5% do mercado. Fechamos 2011 com o faturamento de US$ 88 milhões em vendas. Isso é um resultado de ouro, mas, para a ISM, o maior retorno foi alcançado através de projetos sociais importantes. Na República Dominicana, representamos 37% dos postos formais de trabalho na região onde fica situada a planta”, conta. A chegada da Petrópolis dará um impulso a mais para a população de Alagoinhas. “Criaremos aproximadamente 3.000 empregos com a fábrica e o centro de distribuição em Alagoinhas. Certamente priorizaremos o uso de mão de obra local, pois o Grupo Petrópolis mantém entre seus compromissos o estímulo ao desenvolvimento social, econômico e ambiental das regiões onde atua”, ressalta o diretor de mercado, Douglas Costa. O executivo destaca ainda entre as contrapartidas os impostos que serão recolhidos em benefício do município e a implantação do Projeto AMA, programa socioambiental do Grupo Petrópolis. “Igual ao que acontece nas quatro cidades onde já temos fábricas em operação, Petrópolis, Teresópolis, Boituva e Rondonópolis, criaremos ações que preservem o meio ambiente, como a plantação de mais de um milhão de


mudas de árvores, e promoveremos educação ambiental para as crianças por meio de ações com a prefeitura e atividades como trilhas ecológicas”, afirma.

Preservar é fundamental

Foto: Rômulo Portela

A instalação de duas fábricas no Nordeste está relacionada com a estratégia da empresa de aumentar sua participação no mercado nordestino Douglas Costa, diretor de mercado do Grupo Petrópolis

A partir de uma análise química, é possível medir a qualidade da água. Assim, é possível saber se ela é própria para o consumo humano ou não. No Brasil, essas propriedades são reguladas pela Resolução 396/08 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão que dita todas as normas e procedimentos necessários para assegurar as boas condições das águas. Para o professor e doutor Sergio Nascimento, é importante que haja uma fiscalização ativa dos órgãos responsáveis para garantir o tratamento adequado da água local que, após utilização, é devolvida pelas indústrias à natureza. “O aquífero tem uma grande potencialidade, mas devemos nos preocupar com dois importantes impactos. O primeiro é a superexploração. A exploração descontrolada faz com que o aquífero fique cada vez mais profundo. Em longo prazo, teríamos dificuldades e um maior custo para a captação da água. O segundo é a gestão dos efluentes dessas fábricas. Esses resíduos gerados pelos processos industriais devem ser corretamente tratados antes de ser lançados no meio ambiente. Caso isso não seja feito, esses efluentes podem se infiltrar e contaminar o lençol freático”, enfatiza Nascimento. Segundo informações da assessoria de comunicação da Prefeitura de Alagoinhas, o município segue a legislação do Conama na hora de conceder as licenças ambientais. Para que possam se instalar, de acordo com a Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração,

as empresas precisam apresentar seus projetos seguindo os critérios do órgão ambiental, o que inclui o desenvolvimento sustentável e a avaliação e controle dos impactos na região em torno do projeto.

Entendendo a gestão de resíduos Entre as empresas instaladas, a ISM ressalta seus investimentos na administração correta dos resíduos. Segundo o gerente geral da ISM Brasil, Guilherme Soares, a linha de produção do grupo é moderna e caracterizada pelo baixo consumo de água para a produção das bebidas, o que já representa um fator de sustentabilidade. “Além dessa preocupação com a redução do consumo, a unidade de Alagoinhas dispõe de uma estação de tratamento de efluentes de origem holandesa que trabalha o processo biológico da recomposição dos líquidos. Toda água que sai da planta desce para a estação e somente após tratamento é devolvida ao ambiente, no mesmo estado em que foi captada. Esse é um compromisso da Indústria São Miguel”, afirma Guilherme Soares. Com a ampliação da unidade da Schincariol em Alagoinhas, sua capacidade de tratamento foi quase triplicada, segundo o gerente de processos industriais da empresa, Alfredo Luís Ferreira. “O processo de tratamento de efluentes da unidade de Alagoinhas é um dos mais modernos no Brasil. Utilizamos um sistema biológico misto projetado com tecnologia Paques, empresa holandesa referência no tema”, afirma Ferreira. Para que a água volte à natureza com 100% de sua qualidade, ela percorre um longo caminho. A primeira etapa da tecnologia aplicada pela Schincariol é a remoção de partículas maiores a partir de uma peneira estática. Em seguida, o efluente passa por um tanque de equalização. Nesse momento são adicionados nutrientes e é feita a correção do pH. No reator anaeróbico, são removidos entre 80 e 90% de toda carga orgânica, com a geração de gás metano, posteriormente reaproveitado na fábrica, como combustível. Por fim, a água passa por lagoas de aeração e polimento. [B+]

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É possível reinventar uma cidade O urbanista Carlos Leite diz ser um otimista quando o assunto é desenvolvimento das cidades. Para Salvador, a receita é simples: devolver a vida ao Centro Histórico, cuidando do patrimônio e incentivando que as pessoas voltem a morar lá

Largo do Cruzeiro de São Francisco no Pelourinho

por Fábio Góis

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ascido e criado em São Paulo, maior cidade do país, poderíamos até dizer que Carlos Leite, 46 anos, já é um acostumado aos temas metrópole, mobilidade, verticalização... Mas esse arquiteto e urbanista mergulhou ainda mais fundo e tornou-se um dos principais especialistas do país em desenvolvimento urbano inteligente e sustentável. Mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), Leite é professor da faculdade de arquitetura e urbanismo desde 1997 e professor visitante da Fundação Dom Cabral, da Fundação Instituto de Administração e do Instituto Europeo di Design. Autor do livro Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes, fruto da experiência profissional e acadêmica, Carlos Leite oferece uma visão para além dos limites do pensamento urbano tradicional e uma análise das diversas cidades do mundo que conseguiram se reinventar, transformando o que eram territórios abandonados em importantes centros para a vida social e econômica. Conversamos com Carlos Leite sobre como as cidades brasileiras podem estar inseridas no mesmo contexto de desenvolvimento das cidades globais. Foto: Secom/BA

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Foto: Linconl Feres

“Cometemos um monte de erros em nossas cidades, principalmente na fase de urbanização acelerada do século 20” E o que são as cidades inteligentes? Esse conceito surgiu há três anos. Em resumo, é unir os avanços da tecnologia e da informação. A ideia é que a cidade possa gerir tudo o que acontece na vida urbana. Nós podemos ter um imenso centro de computadores que mapeie tudo o que acontece na cidade, todos os seus fluxos: desperdício de água, consumo energético, ilhas de calor, trânsito, violência... A cidade torna-se toda mapeada eletronicamente se tudo isso for gerido de maneira mais eficiente, sem desperdícios, com mais sustentabilidade e mais transparência. Algumas cidades do mundo já estão fazendo isso. Barcelona é uma das que estão mais na frente. Lá existe um lugar que se chama 22@Barcelona, em que eles estão fazendo tudo isso. É incrível. Há um ou dois anos, o tema cidade tornouse norteador para quem trabalha com desenvolvimento. Porém o que vemos são cidades sufocadas e com diversos problemas sociais. De que maneira você diz que elas podem se reinventar? O primeiro passo é entender que as cidades são como nós, organismos vivos. Elas podem ficar bem e, eventualmente, podem ficar doentes, até muito doentes. A cura vem com medicamentos e cuidado. Logo elas voltam a ter uma vida saudável. Ou seja, centros históricos que entraram em declínio, por exemplo, podem ser reativados de forma muito objetiva. Para isso é preciso ter planos, projetos, competência e seriedade para fazer a gestão. Por que reativar o centro da cidade seria uma boa solução? Esse é um problema de inúmeras cidades pelo mundo. As áreas centrais entraram em declínio, mas quando reativadas têm muito sucesso. As pessoas voltam a morar no centro, principalmente a classe média e alta, o que resolve problemas de falta de moradia e do trânsito. Se a gente fizer a lição de casa, as cidades se recuperam, as vezes mais rápido do que a gente imagina.

Estudos recentes mostram que a sustentabilidade pode ser aplicada de forma mais eficiente em grandes centros urbanos do que em áreas rurais. Por quê? Isso é uma coisa interessante, que o senso comum não vê. A tese de Eduardo Glaeser, autor do bestseller Os Centros Urbanos: a Maior Invenção da Humanidade, entre outros estudos recentes, prova que em uma cidade populosa, muito densa e compacta, você otimiza todos os recursos e gasta menos território. A Ilha de Manhattan, em Nova York, é um bom exemplo. Aquela é uma das áreas mais densas do mundo, com 300 pessoas por hectare. Se comparada ao modelo tradicional norteamericano de habitação, da vida no subúrbio, com casas espaçadas, usando carro excessivamente para fazer tudo, vemos uma grande diferença. Esse modelinho rural ocupa muito mais território do planeta – 25 habitantes por hectare. Se todos os cidadãos decidissem morar dessa maneira, precisaríamos de sete planetas. Ou seja, viver em locais com maior densidade permite economizar todas as infraestruturas e ocupar menos terra do planeta. Se esse espaço mais denso e mais compacto estiver bem planejado, como é o caso de Nova York, que tem mais 400 km de metrô, ciclovias, Central Park, extensa arborização viária, teremos indicadores positivos.

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Fotos: Divulgação

Então nosso destino vai ser viver em prédios? A solução não é só adensar e verticalizar, mas ordenar o crescimento, ver onde a cidade pode ser mais compacta e aplicar todas as infraestruturas necessárias, principalmente de mobilidade. Essa é a tese, ela é verdadeira e palpável. É possível aplicar esses conceitos em cidades que não foram planejadas? Não é fácil, mas é possível. Cometemos um monte de erros em nossas cidades, principalmente na fase de urbanização acelerada do século 20. Mas as coisas podem ser feitas em longo, médio e curto prazo. Eu gosto de citar exemplos do mundo para ficar mais claro. Em Seul, o rio que corta a cidade acabou de ser totalmente reinventado em apenas 12 anos. Ele era completamente poluído, poucos acreditavam em uma solução, no entanto investiram na limpeza, fizeram um parque linear, demoliram a via expressa, fizeram ciclovias e implementaram o veículo leve sobre trilhos (VLT). O mercado imobiliário voltou a ocupar a área, que antes era degradada, e foram lançados novos produtos residenciais muito interessantes. Tudo isso é possível. Tem coisa que pode ser rápida, mas outras vão durar mais do que os quatro anos de uma gestão municipal. A falta de continuidade dos governos é um problema para esse planejamento? Sim. Infelizmente os governos não têm continuidade. Uma nova gestão chega e não dá continuidade, mesmo a bons projetos do governo anterior. A gente precisa romper esse ciclo político mesquinho e começar a olhar para o Brasil e para as nossas cidades de uma maneira mais republicana. 74

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(Em cima) Em Barcelona, o distrito chamado 22@Barcelona é uma referência global em cidades inteligentes. (Embaixo) O rio de Seul foi totalmente reinventado e aprovado por sua população

Quem deve ser estimulado para que haja uma mudança? Quais são as medidas a curto prazo que já poderíamos começar a adotar? Talvez essas sejam as perguntas mais importantes. Acho que há dois caminhos. O primeiro é a conscientização da sociedade. Me alegro em dizer que isso já vem acontecendo, finalmente. De maneira geral, no Brasil, os cidadãos estão debatendo maneiras de como melhorar sua cidade. Até quatro anos atrás, eu só falava desse assunto para especialistas. Hoje eu falo para muitas pessoas: para empresários, na mídia, para moradores das favelas. Todo o mundo quer saber. Movimentos como a Rede Latino-Americana para Cidades Justas e Sustentáveis, como a Nossa Salvador, Nossa São Paulo, Nossa BH, todos inspirados no Bogotá Como Vamos, que teve início há 12 anos, fazem muita diferença. E a participação do poder público? Esse é o segundo ponto. Os governos precisam ser executores, com mais competência, com mais seriedade e com muito menos corrupção. Os planos para as cidades sempre existem, e são bons, o que falta é o gestor, aquele que é eleito e tem a capacidade para, em quatro anos, concretizar tais ações. Você espera um novo cenário nas cidades brasileiras? Eu sou muito otimista, apesar de nossas cidades estarem com sérios problemas de mobilidade, segurança, abandono dos seus centros. Salvador, por exemplo, tem um Centro Histórico de tamanha beleza e pujança, no entanto está largado, descuidado. É um potencial dormente que precisa ser despertado, voltar a ter vida, ruas limpas, pessoas circulando e morando lá. [B+]

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lifestyle 76 Praças públicas: espaço de todos

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moda

Baiano de Feira de Santana é revelação do maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week.

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Salvador é uma cidade boa praça?

por

Lilian Mota

Praça Ana Lúcia Magalhães, na Pituba

Foto: Rômulo Portela

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las fazem parte do cenário das cidades do mundo, são como oásis em meio ao vaivém das ruas. As praças enchem de verde e de vida o espaço público e convidam ao lazer. A origem da palavra vem do latim platus (liso, largo, sem relevo ), mas o conceito de praça como lugar de reunião dos cidadãos vem da Grécia, onde a ágora era o espaço destinado ao debate de ideias, à prática da democracia. Na Europa, até o século 18, as praças eram ligadas a construções importantes, como catedrais e palácios, e só depois começaram a ser projetadas por urbanistas como centros de convivência. O Brasil seguiu o modelo português, e a primeira capital, Salvador, ganhou sua imponente praça em frente à Igreja da Sé. Durante muitos anos, era ali que os soteropolitanos se reuniam para falar dos problemas da colônia e tomar uma fresca. O Campo Grande só seria criado anos mais tarde, em 1856, ainda com o nome de Praça Duque de Caxias. Só em 1895, quando foi construído o monumento em homenagem à independência da Bahia, passou a ser chamado de Praça Dois de Julho, nome que

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mantém até hoje, mas poucos baianos sabem – o local é conhecido como Campo Grande, o centro cívico de Salvador e ponto de partida do circuito tradicional do carnaval. Outro espaço importante foi o largo construído em 1805, no início da Rua Chile, a mais chic da capital, e que já teve vários nomes: Largo da Quitanda, Largo de São Bento e depois Largo do Teatro, por causa do Teatro São João, inaugurado em 1808, ao lado do jornal A Tarde. Em 1823, o local passou a se chamar Praça Castro Alves, e ganhou a estátua em homenagem ao poeta, que até hoje é admirada por baianos e turistas. Castro Alves defendia a praça para o povo, mas o progresso já vinha chegando com sua fome de espaços. Em 1930, travou-se uma batalha em Salvador a respeito da demolição da Sé para dar lugar aos bondes elétricos da Companhia Linha Circular de Carris da Bahia. Depois de muita polêmica, acompanhada dia a dia pelos jornais da época, os


Foto: Arquivo Ipac

A praça! A praça é do povo Como o céu é do condor É o antro onde a liberdade Cria águias em seu calor. Senhor!... pois quereis a praça? Desgraçada a populaça Só tem a rua de seu... Ninguém vos rouba os castelos Tendes palácios tão belos... Deixai a terra ao Anteu.

Quando Salvador ainda era a capital do Brasil, ganhou a imponente Praça da Sé

(Trecho do poema O Povo ao Poder, de Castro Alves) Foto: Rômulo Portela

Muito mais que espaços públicos, as praças possibilitam a sociabilidade

Uma boa forma de atrair o público e incentivar moradores no planejamento de atividades culturais, como as da Praça Mauá

partidários da mobilidade urbana venceram a outra parte da população que lutava para preservar o patrimônio religioso, histórico e paisagístico. A Sé veio abaixo e chegaram os bondes, sinalizando novos tempos. Na Primeira Semana de Urbanismo que Salvador sediou, em 1935, só se falava em aumentar as avenidas, construir novos prédios e substituir o modelo colonial pela Nova Arquitetura de Le Corbusier. Mas, em meio ao vaivém dos bondes e depois dos automóveis, as praças resistiram, e estão aí até hoje. A maioria, porém, não convida a uma visita, por causa da sujeira, dos mendigos e da falta de segurança. Algumas não têm sequer iluminação adequada. O resultado é um círculo vicioso: as pessoas não frequentam as praças porque não há segurança e falta segurança porque as praças ficam desertas, entregues aos bandidos. A preocupação não é só dos baianos. Em todo o mundo os urbanistas estudam soluções para revitalizar as praças. “Uma cidade inteligente é uma cidade viva”, diz a doutora em urbanismo e coordenadora do curso de arquitetura e urbanismo da Unifacs, Liliane Mariano. Ela participou, em setembro, do Eurau12, simpósio internacional realizado na cidade do Porto, em Portugal, que este ano teve como tema Espaço público e cidade contemporânea. Para a urbanista, há algum tempo as praças deixaram de ser apenas jardins e locais de passeio e passaram a exercer uma função sociocultural, ou seja, promover atividades permanentes ou frequentes de cultura e lazer para os cidadãos. “A melhor estratégia para revitalizar uma praça é envolver os frequentadores no planejamento das atividades e na gestão do espaço. A arte e a cultura podem dar uma grande contribuição, reforçando os valores e consolidando a identidade da região”, diz Liliane.

Foto: Divulgação

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Praças são espaços destinados ao lazer

Praças são espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos (Fábio Robba e Sílvio Macedo em Praças Brasileiras – Ed. IMESP, 2002)

Salvador tem muitas praças, de diferentes estilos Grande parte delas está abandonada, outras se tornaram polos de lazer e cultura no espaço urbano. Um exemplo é a Praça Ana Lúcia Guimarães, na Pituba. A praça foi reformada em 2006, por meio de uma parceria entre a prefeitura e empresas privadas. São 25 mil m2, com parque infantil, ciclovia e pista de corrida, cada uma com 536 metros, além de uma área para ginástica. Há também opções de lazer pagas, como aluguel de bicicleta e equipamentos para crianças - cama elástica, moto elétrica e patinete. Nos fins de semana, são promovidos eventos para todas as idades: feiras de artesanato e de quitutes, teatro adulto e infantil, shows musicais e de dança e novidades que surgem a cada estação. Maria Amélia Caldas, que caminha na praça todos os dias, diz que nos fins de semana o marido e a filha a acompanham. “Às vezes passamos o sábado inteiro aqui, a estrutura é boa, tem lanchonetes e restaurantes próximos e atividades para toda a família. É bem melhor do que ficar trancado em casa, vendo o tempo passar. Nós moramos em Brotas, mas achamos que vale a pena vir para cá. A única coisa que poderia melhorar é a segurança, porque vejo poucos guardas no fim da tarde”. Os frequentadores também reclamam da iluminação deficiente e do excesso de ambulantes que roubam espaço ao lazer. 78

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Outro exemplo de envolvimento dos moradores em relação a um espaço público é a Praça Aquarius, próxima à Avenida Magalhães Neto, mas aí a iniciativa privada dá uma mãozinha. A praça é mantida pela incorporadora Fator Realty, responsável pela construção dos prédios da região. Reformado no ano passado, o espaço, com sete mil m2, ganhou nova iluminação, projeto paisagístico e mobiliário. O local tem parque, pista para caminhada, espaço para atividades recreativas e até uma área reservada para o acarajé, quitute que é marca registrada da Bahia. O anfiteatro é o charme e o diferencial da praça, porque é lá que os moradores assistem a shows de graça, sem precisar enfrentar o trânsito da cidade. É o projeto Música na Praça, sucesso entre os moradores do bairro, que também podem se apresentar no programa Talentos da Praça. As atividades são diversificadas. Este ano já teve festa junina, exposição de carros antigos e sessões de cinema. A pernambucana Isaura Dias, que mora há dois anos em Salvador, elogia: “Quanto mais gente vem à praça para se divertir, menos violenta ela fica, acho que a cultura espanta o baixo astral”. Uma escultura da artista plástica Marianne Peretti, Pássaro Voando, sintetiza o espírito do lugar - a conquista de mais espaço e liberdade. A Praça Aquarius mostra que quando a sociedade, o poder público e a iniciativa privada se unem o resultado pode superar a expectativa. Ainda no bairro da Pituba, outra praça não teve a mesma sorte. A Praça Nossa Senhora da Luz também foi adotada por uma empresa, mas a manutenção não é constante. Apesar de ampla, com um projeto arquitetônico interessante e equipamentos em bom estado, a praça atrai mendigos e, segundo os frequentadores da igreja que fica bem em frente, também usuários de drogas e assaltantes. Raramente se vê um evento no local. O chafariz que encantava os visitantes quase não funciona mais. De dia ainda é possível se ver crianças, mas à noite pouca gente se arrisca. As grades parecem que foram feitas para manter os moradores do bairro do lado de fora.

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“Uma cidade criativa é uma cidade que surpreende, que atiça a curiosidade, o questionamento, o pensamento alternativo e com isso a busca de soluções” Ana Carla Reis, economista e urbanista Continuando nosso passeio, vamos até o tradicional bairro de Nazaré, no centro da cidade, onde nas manhãs de domingo a turma da terceira idade se reúne para ouvir música e dançar. O chorinho é o ritmo que comanda a festa, e os quitutes dão um sabor a mais à iniciativa do Grupo Cultural Canto da Praça. O projeto começou há oito anos, quando os amigos Euvaldo Carvalhal, Erivaldo Moradillo e João Dias resolveram se juntar para criar um evento musical ao ar livre, voltado para um público que normalmente não encontra muitos espaços acolhedores e seguros na cidade para uma convivência alegre e divertida. Os encontros enchem de alegria a Praça Almeida Couto e pessoas de todas as idades também são bem-vindas. Os organizadores bancam financeiramente o projeto e os músicos são voluntários, mas o grupo tem um padrinho de peso: as apresentações sempre começam com o Hino ao Senhor do Bonfim.

As atividades nas praças têm aquele gostinho de cidade do interior, que muita gente traz na memória: o costume da boa vizinhança, o hábito de se vestir e ir para a rua encontrar os amigos, levar uma prosa, comentar os últimos acontecimentos da comunidade, contar piadas, comer e beber. Uma convivência que os grandes centros urbanos têm trocado pelas redes sociais. Salvador, com suas belezas naturais e o clima ameno, além da população com fama de ser ao mesmo tempo cordial e musical, tem vocação natural para os eventos em praça pública, que pode ser bem melhor aproveitada com apoio do poder público e do setor produtivo. Em alguns bairros, a criação de uma praça é capaz de transformar o cenário social do lugar. Quer um exemplo? A Praça Guaratuba, em Stella Maris, reivindicação antiga dos moradores do bairro, inaugurada em março de 2010. Com 20 mil m2, área verde, pista de corrida, ciclovia, equipamentos de ginástica, mesas de jogos e brinquedos para crianças, hoje o local é o ponto de encontro dos adolescentes que antes viviam presos em condomínios. Luana Andrade, de 15 anos, diz que antes da praça só ia a shoppings e a casa de amigos, agora ela passa as horas de folga ao ar livre e passou a conhecer muitos outros jovens que moram no bairro. “É como se minha vida tivesse se ampliado e ficado mais colorida”, diz ela. A segurança no local não é excelente, mas o grande número de pessoas utilizando o espaço intimida os assaltantes, que preferem locais desertos. Outra adepta da praça é a nutricionista e naturista Glauvânia Jensen, que costuma pedalar por lá. Moradora da região há 33 anos, Glauvânia diz que o local era um charco, e hoje se transformou em uma área verde

Foto: Rômulo Portela

Praça Ana Lúcia Magalhães e suas dezenas de atividades nos finais de semana atraem moradores de todos os cantos da cidade

“Uma cidade sem praças não é uma cidade. A praça é um elemento de sociabilidade, de difusão de cultura, de arte e preservação do ambiente. Sem praças, a cidade seria apenas um aglomerado de edificações” (Liliane Mariano, doutora em urbanismo) w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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Foto: Mariana Miranda

A Praça Aquarius mostra que quando a sociedade, o poder público e a iniciativa privada se unem, o resultado pode superar a expectativa onde as pessoas podem respirar melhor, fazer exercícios e principalmente conviver com a natureza. “O verde traz uma nova dimensão para a saúde e a existência humana”, defende ela. Mas a importância das praças pode ir além da preservação da natureza. No Jardim dos Namorados, belo espaço à beira-mar, existe um projeto que movimenta a economia em nível estadual e atrai os turistas. É a Feira Baiana de Artesanato, promovida em alguns fins de semana pelo Instituo Mauá. A feira, que é permanente nos meses de verão, reúne trabalhos de artesãos de vários municípios baianos, que vão de peças indígenas a produtos de economia solidária. Há também barraca com comidas típicas de várias regiões. No fim da tarde, grupos artísticos se apresentam de graça, trazendo para a capital um pouco da cultura do interior. O sucesso foi tão grande que o Instituto Mauá usou a mesma receita - artesanato, culinária e música - para animar os fins de tarde e as noites de sexta-feira da pracinha do Porto da Barra. Maniçoba, feijoada, rabada, caruru, xinxim e sarapatel são os pratos que os turistas adoram. Sem contar as sobremesas: cocadas, tortas de todos os tipos, tudo isso com direito a apresentações de MPB, forró, chorinho... E um por do sol deslumbrante. No livro Cidades Criativas – Perspectivas, a economista e urbanista Ana Carla Reis afirma que “uma cidade criativa é uma cidade que surpreende, que atiça a curiosidade, o questionamento, o pensamento alternativo e com isso a busca de soluções”. Três elementos são fundamentais, de acordo com a autora: inovações, conexões e cultura. 80

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Uma praça pode conter tudo isso e ainda história, tradição, preservação. É o caso do Campo Grande, palco de grandes batalhas e do maior carnaval do mundo, mas que no dia a dia cumpre a função de espaço de lazer, arte e cultura. Lá também tem feira de artesanato, promovida pela Associação dos Artesãos da Bahia (Adaba). O presidente, João Durães, diz que “a Bahia não pode viver só de carnaval, temos que ter todo tipo de ação cultural, o ano inteiro”. A Adaba realiza feiras de artesanato no Campo Grande e na praça do Imbuí, mas não tem apoio nem do governo nem de empresas privadas. São 165 artesãos cadastrados, além de 350 não associados que participam dos eventos. A feira funciona como uma espécie de cooperativa, cada artesão contribui com uma quantia para garantir a tenda, a iluminação e a segurança. No final de setembro, foi realizada no Campo Grande, durante cinco dias, a Feira da Primavera, com 130 tendas e um custo de 25 mil reais. Cada expositor contribuiu com 140 reais. A prefeitura só entrou com a liberação da praça. A média de público nesses eventos costuma ser de 3.500 pessoas por dia, mas quando o tempo está firme chega a 4.000. “Se tivéssemos apoio da prefeitura ou de empresas, poderíamos fazer algo ainda maior e percorrer todas as praças da cidade”, diz o presidente da Adaba. Além das peças de artesanato, a feira oferece culinária e apresentações artísticas. O evento movimenta a economia criativa da cidade e ao mesmo tempo se torna uma opção de cultura e lazer para a população. A maior dificuldade encontrada pela Adaba no Campo Grande é dividir o espaço com moradores de rua e viciados em drogas. “Devido ao abandono em que se encontram as praças, às vezes eles reagem negativamente quando começamos a montagem, mas à medida que as pessoas começam a chegar, eles se afastam e não voltam a incomodar”. Já a artesã Vanessa Cardoso acha que a


Fotos: Rômulo Portela

feira deveria ser permanente. “O baiano e o turista apreciam o artesanato, não existe forma melhor de vitalizar uma praça e incentivar o trabalho do artista local”. Não é só o artesanato que contribui para valorizar uma praça, a arte também. Em Salvador, um simples canteiro na Avenida Adhemar de Barros, em Ondina, se transformou em uma praça importante da cidade quando foram instaladas ali as famosas esculturas de Eliana Kertz. Trata-se do monumento As Meninas do Brasil, instalado em 2004. A partir deste ano, o local passou a ser conhecido pela população como Praça das Gordinhas e se tornou um ponto turístico da cidade. É comum passar por ali e ver turistas tirando fotos ao lado das obras. A realização de feiras com serviços voltados para a comunidade também ajuda a revitalizar as praças. No centro da cidade, no mês de setembro, a Praça Tomé de Souza, também conhecida como Praça Municipal, recebeu a Feira Baiana de Comunicação Solidária, promovida pela Arquidiocese de Salvador. Por lá passam cerca de vinte mil pessoas por dia, que durante cinco dias puderam conhecer o trabalho de ONGs, projetos sociais, e instituições que estimulam o empreendedorismo, como o Sebrae. Também foi possível participar de cursos e palestras sobre o mundo do trabalho, informática e segurança alimentar, além de conhecer e adquirir produtos da economia criativa e solidária. Tudo de graça, e com direito a comidas típicas e apresentações culturais. A opção pela praça pública é simples: eventos dessa natureza precisam ir onde o povo está. As comunidades de baixa renda também têm seus espaços de convivência, muitas vezes improvisados, sem muita estrutura, mas importantes. No Candeal, berço do cantor e compositor Carlinhos Brown, no mês de agosto os moradores se reuniram para realizar a Primeira Feira de Arte e Cultura do Candeal, com produtos feitos lá mesmo e apresentações de artistas locais. Foi um sucesso, e o evento já passou a fazer parte do calendário de atividades do bairro. A comunidade dos Alagados também se movimenta, com um projeto de oficinas artísticas envolvendo adultos e crianças, oferecido pela Fundação Cultural. Na Ribeira, os moradores têm se reunido para sessões de cinema na Praça Dodô e Osmar, através de um projeto da Fundação Gregório de Matos. Em todas as direções, as praças públicas parecem despertar de anos de abandono e chamar de volta os cidadãos para um novo pacto de convivência social. [B+]

(Em cima) O chafariz da Praça Nossa Senhora da Luz era um atrativo que não funciona mais (Embaixo) A turma da terceira idade se reúne na Praça de Nazaré para conversar e dançar

As praças são um espaço democrático e reúnem pessoas de todas as classes, permitindo que todos tenham acesso ao lazer

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Talento para as tesouras e agulhas Revelação do maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week, Vitorino Campos é de Feira de Santana e considerado hoje o embaixador da moda baiana, um dos estilistas mais desejados pelas brasileiras por Gina Reis

Foto: Divulgação

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“Referência regional não precisa ser caricata. Sou influenciado por onde eu passo. Eu não me privo de nada que está ao meu redor. Meu trabalho é focado no comportamento, no intangível”

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uem não o conhece e vê um jovem menino entre as araras de roupa não imagina que, por trás daquele sorriso discreto, do seu jeito elegante e até um pouco tímido, está o exemplo de um empreendedor nato. Considerado a revelação na última edição do maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week (SPFW), Vitorino Campos é hoje o nome de destaque da moda baiana, quiçá brasileira. Seu desfile no evento paulista, comandado por Paulo Borges, marcou o início de uma nova fase na sua carreira. Vitorino conquistou a crítica e foi destaque nas principais publicações de moda nacional, sendo rotulado pela Vogue Brasil como o embaixador da moda baiana. Na revista Elle, foi incluído entre os sete nomes da alta costura sob medida no país. Já a L’Officiel foi ainda mais ousada: indicou o baiano como um dos cincos estilistas da América Latina com futuro promissor na moda internacional. Suas roupas, que já eram desejadas por quem acompanha o surgimento de novos e talentosos criadores, agora são o anseio de toda mulher arrojada, feminina e sofisticada. Uma das primeiras formadoras de opinião a adotar as peças do estilista foi a blogueira de moda Lalá Noleto (Blog da Lalá Noleto). Lalá elegeu modelos da Coleção Verão 2013 para usar no jantar da Vogue e na festa da Maria Claire - eventos promovidos nos meses de julho e agosto. Outra prova do sucesso foi a alegria e os olhos brilhantes das clientes convidadas por Vitorino para o lançamento da coleção A Não-Tradução – a mesma desfilada no SPFW - na loja Galpão de Estilo, um dos seus dois pontos de venda em Salvador. Com apenas 24 anos, o jovem nascido no município de Feira de Santana vive um excelente momento profissional e demonstra bastante fôlego para disputar uma fatia do competitivo mercado fashion. “Estamos ampliando nossa equipe e mudando o ateliê para o centro de Salvador, no bairro do Rio Vermelho. O novo endereço facilitará o acesso para

o atendimento sob medida”, afirma. Após o turbilhão causado na sua vida, impulsionado pela visibilidade do SPFW, Vitorino se prepara para a crescente demanda que ainda está por vir. “Tudo aconteceu muito rápido. Fomos convidados para uma reunião com a equipe do SPFW em janeiro de 2012. Em março, recebi a notícia de que participaria do evento. Durante o evento, fizemos muitos contatos. Mas vamos sentir de fato a mudança durante o showroom de inverno que acontecerá em outubro de 2012”, conta. Quando perguntamos sobre projetos de abrir uma loja própria, ele pondera de forma segura e sensata. “Não tenho esse plano. A marca Vitorino Campos é nova, faz quatro anos em outubro de 2012. Hoje, temos 25 pontos de venda espalhados pelo Brasil. Já tive propostas, mas temos que ir com calma”.

Entre tubos e agulhas Filho do comerciante Edmundo e da costureira Elizier, Vitorino teve uma infância tranquila e caseira ao lado da sua irmã mais velha, Meire. Em Feira de Santana, estudou do infantil à quarta série no Colégio João Paulo. Já o ginásio e o segundo grau, cursou nos colégios Castro Alves e Visão, respectivamente. Ele conta que entre suas melhores recordações estão as sessões de filme com seu pai e as brincadeiras no ateliê de fardamento de sua mãe. “Na época de videocassete, meu pai alugava diversos filmes e eu adorava assistir Priscila, Rainha do Deserto e Edward, Mãos de Tesoura”, relembra. E foi no ateliê de fardamentos de sua mãe que Vitorino descobriu seu talento para as tesouras e agulhas. Entre o barulho das máquinas de costuras, cortes de tecido e aviamentos, Vitorino se sentia à vontade. “O ateliê de minha mãe ficava bem perto de casa. Quando eu voltava da escola, fazia as tarefas e depois passava o tempo no ateliê. Lá, brincava com pedaços de tecidos, tubos e alfinetes. Comprava também massa de modelar e funil plástico para criar vestidos. O funil permitia que eu moldasse a massa na sua estrutura”, recorda. Seu interesse pela arte era estimulado por toda a família. Seu pai costumava presenteá-lo com material de artes. “Meu pai tinha uma loja de autopeças. Aos sábados pela manhã, ele costumava me levar à loja. Quando a gente saía, ele sempre comprava cartolina e tinta para mim. Passava as tardes de sábado pintando”, conta. Além da vivência com sua mãe, Vitorino também teve muito estímulo de uma tia que trabalhava com costura sob medida. “Desde cedo, minha mãe e minha tia estiveram ao meu lado. Elas são muito observadoras e sempre participaram da construção de tudo que eu fiz”.

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Fotos: José Takahashi

Foto: Stúdio Rômulo Portela

Tino para os negócios Aos 11 anos, Vitorino Campos já rabiscava seus primeiros croquis. Nada pretensioso, mas ali já estava a essência de um grande criador com visão empreendedora. Ainda na adolescência, ele decidiu comandar a loja de t-shirts de sua mãe. Fez uma mudança geral no ponto de venda e assumiu o negócio. Aos 16 anos, já emancipado, lançou sua primeira grife. “A Tap Rumbeira foi um verdadeiro laboratório. Não lançava coleções. Lá, eu criava peças soltas. Eu tinha essa liberdade criativa. Era uma loucura, porque, na época, eu cursava o terceiro ano. Então, passava cedo na loja, seguia para a escola e voltava à tarde para a loja. A noite era reservada para os estudos”, conta. Depois de seis meses em Salvador, tentando conciliar a Tap Rumbeira com a faculdade, o estilista decidiu que aquele era o momento de dedicar-se à graduação no curso de design e gestão de moda na Universidade Salvador. “Acredito que o criador precisa estar concentrado no desenvolvimento. É muito trabalhoso você construir uma coleção com cerca de 80 a 100 peças. Contudo, essa vivência direta que tive com gestão é muito importante. Temos que ter a noção

O estilista exibe suas criações durante lançamento em Salvador

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do negócio como um todo. Sempre procuro acompanhar, com minha sócia, o andamento do negócio”, afirma o estilista. Para atender a essa necessidade, Vitorino Campos construiu hoje uma pequena empresa com uma equipe bem afinada e segmentada. “Minha sócia, Natália Troccoli, fica à frente da administração da empresa. São cerca de 20 pessoas trabalhando comigo, distribuídas entre comercial, financeiro e produção”, explica. A carreira de Vitorino deslanchou em 2008, um ano antes da conclusão da graduação, quando ganhou o primeiro lugar no concurso Novos Criadores da Moda, promovido pela empresária Vera Pontes. Em 2009, venceu um dos concursos mais disputados no estado, o Novos Talentos Barra Fashion. “Saí de lá com minha coleção toda vendida. Em 2009, participei também pela primeira vez do Rio Moda Hype. Sempre gostei do formato do evento carioca e acompanhava a participação de estilistas baianos, como Luciana Galeão, Marcia Ganem e Yuri Sarmento. Admiro o trabalho feito por eles”, observa. Além de sua visão estratégica, o segredo do sucesso de Vitorino Campos está essencialmente nas suas criações. Há quem afirme que suas roupas podem ser usadas até mesmo pelo avesso de tão primoroso que é o acabamento. “Faço uma roupa feminina, que valoriza a cintura, as formas da mulher”, conta. Para ele, as dificuldades próprias do mercado de moda regional nunca foram desculpa para se acomodar. “Na Bahia, no Brasil e no mundo, temos empecilhos para encontrar uma mão de obra qualificada. Esse é o principal obstáculo. Porém, nunca desisti por conta disso”, afirma. Quando questionado sobre suas referências, o estilista enfatiza a característica global de sua marca Vitorino Campos. Reforça ainda seu espírito livre e determinado, essencial para quem promete alçar voos ainda mais altos. “Referência regional não precisa ser caricata. Sou influenciado por onde eu passo. Eu não me privo de nada que está ao meu redor. Meu trabalho é focado no comportamento, no intangível”. [B+]

“Acredito que o criador precisa estar concentrado no desenvolvimento. É muito trabalhoso você construir uma coleção com cerca de 80 a 100 peças. Contudo, essa vivência direta que tive com gestão é muito importante. Temos que ter a noção do negócio como um todo”

Vitorino Campos e Natália Troccoli (ao centro) exibem suas peças sobre os corpos das modelos

Foto: Divulgação

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l i f e style | n ot as d e t e c Foto: Divulgação

iPhone 5 chega ao mercado com novos recursos À primeira vista, a sexta geração do smartphone da Apple, lançado no dia 21 de setembro, chama a atenção pelo seu design mais fino e leve, com tela Retina alongada para quatro polegadas. Outros avanços incluem processador A6, que permite acessar aplicativos mais pesados e duas vezes mais rápido que a versão anterior, e suporte à conexão de banda larga 4G, ainda não disponível no Brasil. Novos formatos para fones de ouvido e uma série de aplicativos atuais, como programas para criar músicas e editar fotos e vídeos, também incorporam o pacote de novidades. Apesar das inovações, o iPhone 5 decepcionou o público pela falta de uma grande surpresa.

5 aplicativos que não podem faltam no seu aparelho Qual Operadora? Revela qual é a operadora dos seus contatos, facilitando para quem quer economizar fazendo chamadas entre linhas da mesma empresa.

TED: Para quem gosta de aprender com novos pontos de vista, esse aplicativo disponibiliza mais de 500 palestras legendadas de nomes importantes da atualidade, como Bill Gates, Jane Goodall e Elizabeth Gilbert.

SoundHound: Sabe quando você ouve uma música e não sabe quem toca? Esse app identifica a música que está tocando no ambiente e te passa todas as informações.

Booking: Encontre mais de 210 mil hotéis no mundo, veja fotos, leia opiniões de hóspedes e reserve seu quarto sem complicações ou taxas.

Any.Do: Crie e organize tarefas de forma fácil e compartilhe por e-mail, Facebook ou SMS. Perfeito para os esquecidos e para os organizados.

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Positivo Informática vai lançar linha de celulares O presidente da empresa, Hélio Rotenberg, anunciou à imprensa o lançamento de cinco celulares da marca até novembro. A nova aposta faz parte do esforço da companhia de complementar seu portfólio de produtos, composto atualmente por computadores de mesa, laptops e tablets. Dos cinco aparelhos, três serão smartphones e os outros dois serão mais básicos, mas com capacidade para armazenar até três chips.

Briga de gigantes Na disputa para entrar no mercado de smartphones, a sul-coreana LG lança o Optimus G para concorrer com o Iphone 5, da Apple, e com o Galaxy SIII, da Samsung. O design é parecido com o dos concorrentes. O aparelho tem tela Retina de 4,7 polegadas, é compatível com redes de banda larga móvel de quarta geração e possui câmera com resolução de 13 megapixels. Com potencial para entrar na concorrência mundial, o Optimus G aposta nos jovens como público-alvo e leva G em seu nome em referência ao Gangnam Style, do bairro fashion de Seul, que se tornou hit mundial na canção do músico sul-coreano Psy.

Aplicativo monta relatório completo sobre seu perfil no Facebook O sistema de busca inteligente Wolfram Alpha desenvolveu uma ferramenta de análise que permite aos usuários do Facebook descobrir tudo sobre seus perfis na rede social. O relatório gerado mostra gráficos e tabelas detalhadas, com informações sobre as fotos mais curtidas ou comentadas, amigos que mais compartilham links na sua timeline, horário em que o usuário mais posta, entre outras estatísticas. Para experimentar, basta digitar Facebook Report no site www.wolframalpha.com

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l i f e style | d e co ra ção Fotos: Rômulo Portela

Quarto de bebê

O ambiente aconchegante e delicado foi composto com móveis com preços acessíveis e materiais sustentáveis

A suíte do bebê da Casa Cor 2012 traz novidades que podem te ajudar a montar o quarto do seu filhote

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iluminação, os móveis, as cores... Todos esses detalhes precisam ser escolhidos com esmero para compor um quarto de bebê. Pensando em facilitar a vida dos pais e utilizando a larga experiência como mãe de quatro filhos, a arquiteta Priscila Diniz, com a parceria de Andréa Lago, assina o quarto de bebê da edição 2012 da Casa Cor, que traz as últimas novidades de arquitetura e decoração para Salvador. A suíte do bebê foge do clichê de quarto para menina e projeta um ambiente contemporâneo, calmo, composto com detalhes provençais. O resultado é um ambiente aconchegante e delicado. “Pensamos em um espaço que tenha peças úteis e com preços acessíveis para os futuros papais”, conta Priscila, em sua primeira edição da Casa Cor.

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Priscila Diniz (foto) criou o espaço com a parceria de Andréa Lago

O quarto traz um mix de cores leves, com um lindo painel floral, mesclando o contemporâneo ao clássico e a tecnologia à moda. “Com apenas um toque no iPad, os pais podem controlar a luz, o som e as cortinas da suíte. Além disso, tivemos a preocupação de fazer um banheiro e varanda ultra-confortáveis, sempre pensando na sustentabilidade, já que usamos materiais adequados e corretos”, afirmou Priscila. O evento permanece até o dia 11 de novembro, no antigo Salvador Praia Hotel. [B+]


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Literatura Criatividade Entrevista com JoĂŁo Ubaldo Ribeiro

A residĂŞncia artĂ­stica no Instituto Sacatar

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art e & entr eten im ento | l it era t ura

João Ubaldo: ITAPARICA, Memórias e planos

Foto: Divulgação

O escritor baiano João Ubaldo Ribeiro reafirma seu amor pela Ilha de Itaparica e sua vontade de voltar para o Recôncavo Baiano. Membro da Academia Brasileira de Letras e considerado um dos principais escritores da atualidade, revela o que é, para ele, ter qualidade de vida, os desafios de um escritor e qual o seu papel na sociedade “Não escrevo nada de longo fora daqui, só crônicas e artigos, mas livro não sai. Eu gosto do Brasil, o que eu vou fazer? Me considero afortunado por ter nascido e sido criado aqui” 92

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Você disse que, quanto mais velho fica, mais vontade tem de voltar para a Bahia. O que tanto te encanta na Ilha de Itaparica e que você não encontra em nenhum outro lugar do mundo? Não sei se é um fenômeno comum a quem fica velho, mas, para mim, Itaparica só pode ser única. A casa onde eu nasci, embora muito diferente do que era na época, apenas com a mesma arcada redonda na varanda, está lá, onde passei grande parte das férias da infância. Lá é o mar que eu mais gosto, é o ar que eu mais gosto, são as árvores que eu mais gosto, tudo faz parte da minha formação e do meu espírito. As pessoas, hoje, vivem em função do trabalho, moldando seus horários de acordo com o tempo que se perde no trânsito. O que é, para você, ter qualidade de vida? Ter qualidade de vida varia de pessoa para pessoa, mas eu acho que é estar tão sadio quanto possível para as circunstâncias. É viver sem necessitar de assistência para as coisas mais elementares, como sair, andar e assim por


diante. Sem ansiedades quanto a ficar com um bom sistema de saúde, sem ansiedades quanto à segurança, ou seja, sem medo de ser assaltado, roubado ou torturado dentro de casa. Uma coisa complexa que eu espero que chegue a todos nós. Em 2011, você começou a escrever três livros e não terminou nenhum. Está conseguindo cumprir a meta de ter as manhãs livres e se dedicar à literatura? Um romance não pode ser abandonado, principalmente no começo. O escritor volta a ele e já perdeu a intimidade com os personagens, perdeu o pique da narrativa que estava apegado, perdeu o clima que estava sendo criado na hora. Eu tinha uma rotina produtiva, mas isso está acabando porque eu não consigo mais trabalhar. Em 2013, mais uma vez, eu tenho planos de me isolar para escrever, mas isso me rende até inimigos. Tem convites que eu recuso há anos, não tenho mais desculpas a dar. É uma coisa terrível que eu não sei como vencer. Às vezes, até amigos antigos que passam aqui, se eu não tirar um tempo pra ver, pronto, perdi o amigo. E é muito ruim perder um amigo. Não sei como é que eu vou fazer, estou meio amarrado mesmo.

Você foi um dos primeiros escritores nacionais a entrar no mercado digital, com Mistério e Grandeza do amor de Benedita, e escreveu bastante sobre sua relação de escrita no computador. Como vê a aproximação da tecnologia com a literatura? Eu não entrei propriamente no mercado digital porque ainda não existia e-book nessa época. Era o tempo da conexão discada, e por questões de segurança, o site que resolveu divulgar o livro tornou tão complicado baixar que só se fosse uma mulher muito apaixonada por mim para encarar toda a dificuldade do download. Então foi um fracasso comercial, mas como livro impresso vendeu direitinho. Sobre o futuro, ninguém sabe o que vai acontecer, não sei se os hábitos de leitura vão mudar. Uma mudança visível, que dá pra sentir, é que a vida do menino nascido e criado nessa era digital vai ser diferente.

“Sou coroa e tento, de vez em quando, examinar se eu estou me comportandodentro dos limites de decoro esperados de um senhor”

Ao passar muito tempo em outro país, acabamos descobrindo características nossas que são, acima de tudo, culturais. Que João Ubaldo você descobriu ser na Alemanha? O que de positivo traria daquele país para a Bahia? É sempre bom viajar ou morar fora, porque a gente aprende muito. A pessoa se sensibiliza, se torna mais aberta à diversidade, se amplia culturalmente, então faz muito bem. Eu não descobri João Ubaldo nenhum na Alemanha. Sentia falta do Brasil porque eu não gosto de ser estrangeiro, mesmo tendo vivido períodos compridos fora, inclusive esse de 15 meses em Berlim. Mas não escrevo nada de longo fora daqui, só crônicas e artigos, mas livro não sai. Eu gosto do Brasil, o que eu vou fazer? Me considero afortunado por ter nascido e sido criado aqui. Apesar disso, a lista de coisas positivas que eu traria de lá pra cá é grande. Eles têm tanta coisa que nós não temos nesse nível de urbanização, como organização, assistência social, serviços públicos, transporte, convivência urbana, assistência médica e leis trabalhistas. Foto: leonardobrasiliense.blogspot.com.br

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A memória, que antigamente era parte dos currículos escolares, importantíssima para que se guardasse tudo, inclusive livros, não é mais tão fundamental. As pessoas não exercitam a memória nem para lembrar um número de telefone, o celular faz isso automaticamente. Daqui a 200 anos, provavelmente, o sujeito que souber tabuada vai ser encarado como um fenômeno, uma coisa sobrenatural. O senhor vê alguma mudança no papel do escritor? Como ele pode contribuir para a sociedade? O escritor, que lida com a palavra e com a escrita, de certa forma organiza a realidade para o leitor que precisa disso. Porque a vida é destituída de sentido, é completamente absurda, então, através do enredo, o romancista empresta algum sentido ao leitor e o ajuda a pensar. Quem diz que não lê ficção porque só lê a realidade não tem a menor noção do que é a realidade. Acha que lendo uma reportagem vai ler a realidade objetiva e não aquilo percebido pelo repórter, que por mais objetivo que seja, não pode ser. É uma condição inatingível para qualquer observador. Hoje se tem discutido muito o retrato da Bahia feito por Jorge Amado, o quanto ele plasmou, o quanto ele criou... Você, que conviveu com ele e é um grande admirador, o que acha? Jorge Amado é o homem que deu forma a toda mitologia baiana. Houve uma troca, uma relação dialética entre o que Jorge e Dorival Caymmi fizeram à terra deles. Os dois são como grandes espíritos baianos pairando sobre toda a nossa terra. Ninguém vai compreender a Bahia sem sentir o que Jorge descreveu e amou, as comidas, as mulheres, os hábitos, as paisagens... Jorge e Caymmi são também o povo da Bahia. Foto: leonardobrasiliense.blogspot.com.br

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Em recente pesquisa da Proteste Associação de Consumidores, divulgada no dia 2 de julho, data da independência da Bahia, a capital baiana ficou nas duas piores colocações do ranking nas seis categorias avaliadas: habitação, saúde, mobilidade, emprego e segurança. O senhor é otimista em relação a Salvador? Eu sei por informações que Salvador não anda bem, que está maltratada. Quando passei pela Conceição da Praia, em frente ao Elevador Lacerda, fiquei deprimido com o estado geral de abandono e decadência. Não sou otimista porque não me deram razão para ser, mas não deixo de ter esperança de que nossa terra volte a ser como era ou que fique até melhor. Qual a sua função como um dos embaixadores da Bahia para a Copa? Você sabe que eu não sei bem? Me escolheram para isso e eu não podia recusar. Disponibilidade e condições de viajar o tempo todo eu não tenho. Mas faço o que tiver ao meu alcance, o que me pedirem e eu puder fazer, claro que eu faço. Como acha que está envelhecendo? Quais são as maiores mudanças? Eu acho que estou envelhecendo bem, se é que se pode envelhecer bem. Até hoje eu tomo um susto quando sou chamado de ancião ou idoso, embora eu me aproveite disso em fila de avião. As mudanças são muitas, algumas são boas. Fiquei mais tolerante, menos vaidoso, menos apegado a coisas que na verdade a gente descobre que são supérfluas, menos sujeito a certas tentações, enfim, para repetir o lugar comum, mais sábio. Sabedoria essa refletida na conduta, com exceção dos velhos doidos. Não sei se estou incluído nessa categoria, porque eu não ajo propriamente como um ancião clássico. Mas sou coroa e tento, de vez em quando, examinar se eu estou me comportando dentro dos limites de decoro esperados de um senhor. Mas é isso mesmo, quem não morre fica velho. [B+]



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Residência Artística Artistas passam temporada na Ilha de Itaparica para estimular a criatividade por Milena Miranda

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ol, praia tranquila e 9.000 m2 de jardins em frente ao mar da Ilha de Itaparica, com hospedagem em uma bela suíte no casarão que pertenceu à educadora baiana Henriqueta Catharino. Essa poderia ser uma descrição perfeita de um disputado hotel do litoral baiano. Mas, em vez de turistas, o local recebe músicos, dançarinos, artistas visuais e escritores que participam do programa de residência artística do Instituto Sacatar, fundado em 2001 pelos norte-americanos Taylor Van Horne e Mitch Loch. É lá que os artistas passam dois meses com direito a suíte, estúdio, alimentação e, até mesmo, apoio logístico e serviços de lavanderia, tudo para estimular o ócio criativo. 96

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Foto: Ines Grimaux

Jardins do Sacatar inspiram tranquilidade e sossego aos artistas

Este conceito de residência se disseminou pelo Estados Unidos, Japão e países da Europa, a partir dos anos 1980. O objetivo é oferecer moradias temporárias com ajuda de custo para que os artistas possam se dedicar inteiramente ao seu trabalho de criação. O Instituto Sacatar foi a primeira residência internacional para artistas estabelecida no Brasil. Surgiu a partir de um antigo sonho do visionário Taylor, arquiteto de formação e um apaixonado pelas artes, que veio morar no Pelourinho, na década de 70, onde trabalhou com o arquiteto sergipano radicado na Bahia, Assis Reis, na construção de grandes projetos, como o prédio da Companhia Hidrelétrica São Francisco (Chesf). “Minha ideia inicial era criar uma residência artística no Sacatar, uma região montanhosa e isolada no Condado de Kern, na Califórnia. Mas eu e Mitch descobrimos que havia mais de cem modelos similares nos Estados Unidos, e desistimos de fundar o Sacatar naquele local”, lembra. Em 2000, Taylor soube que a antiga casa de veraneio do Instituto Feminino da Bahia estava à venda. “Para nossa felicidade, a casa ficava em Itaparica, uma joia esquecida pelo povo baiano”. Taylor destaca que o objetivo do Sacatar, entidade mantida pela Sacatar Foundation, instituição norte-

“A residência é o sonho de todo artista. Ter tempo integral para se dedicar a sua criação, sem ter que se preocupar com atividades rotineiras que tomam bastante o nosso tempo como ir ao supermercado, é uma experiência única. Além disso, promove um diálogo com outros artistas de diferentes nacionalidades” Viga Gordilho

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Fotos: Ines Grimaux

americana sem fins lucrativos, é oferecer tempo e espaço para que os artistas se dediquem às suas produções, trabalhando dentro do contexto cultural da Bahia. “Eu vivi muitos anos em meio à extraordinária cultura local e percebi que os baianos têm uma facilidade em assimilar influências externas e reinterpretá-las sob a ótica de sua própria herança cultural”, afirma. Essa troca de experiências culturais é uma das metas do Sacatar, que oferece um espaço onde os artistas podem conviver e interagir com a comunidade, tendo como intuito aumentar a visibilidade e o impacto cultural da Bahia. Em 11 anos, o instituto já recebeu mais de 220 artistas de 50 nacionalidades. O Instituto Sacatar oferece aos seus bolsistas cinco suítes e oito estúdios que podem abrigar projetos de diferentes artistas. Logo na primeira semana do programa, os artistas participam de um tour na Ilha de Itaparica e em Salvador, onde conhecem pontos turísticos e recebem orientações básicas sobre como se deslocarem entre a ilha e Salvador.

Ócio criativo e intercâmbio cultural

“Eu vivi muitos anos em meio à extraordinária cultura local e percebi que os baianos têm uma facilidade em assimilar influências externas e reinterpretá-las sob a ótica de sua própria herança cultural” Taylor Van Horne

Residência era antigo sonho do americano Taylor que se diz um “apaixonado” pelas artes

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A artista plástica Viga Gordilho foi a primeira baiana a integrar a equipe de residentes do Instituto Sacatar, no ano de 2004. Para ela, a residência artística foi uma das experiências mais ricas de sua vida. “É o sonho de todo artista ter tempo integral para se dedicar a sua criação, sem ter que se preocupar com atividades rotineiras que tomam bastante tempo, como ir ao supermercado, por exemplo. É uma experiência única. Além disso, promove um diálogo com outros artistas de diferentes nacionalidades”, destaca. No Sacatar, Viga participou de um projeto coletivo intitulado Tecido do Corpo Social, com mais três artistas da África do Sul, Espanha e França, e uma artesã da Ilha de Itaparica, Ana Maria da Silva. No período da residência, foram realizadas oficinas com um grupo de 13 artesãs que aprenderam a utilizar a matéria-prima da própria ilha como algas desidratadas, fibras de coqueiro e palha de pitanga, para a elaboração de objetos de arte e utilitários. “É enriquecedor trabalhar com a comunidade e ver a valorização das artesãs e o resgate da autoestima”, destaca Viga. Durante a residência, as artesãs produziram bordados em almofadas feitos com palha de pitangueiras, que reproduziam imagens de locais da ilha guardados em suas memórias. Outra obra resultante do projeto foi o “vestido fuxiqueiro”, um vestido longo branco todo feito em fuxico, que possui uma enorme cauda inacabada e está atualmente no ateliê de Viga, na Ladeira da Barra.


Foto 1: Ines Grimaux Foto 4: Mitch Loch Foto 7: Ines Grimaux

Foto 2: Ines Grimaux Foto 5: Arquivo Sacatar Foto 8: Ines Grimaux

Foto 3: Ines Grimaux Foto 6: Arquivo Sacatar Foto 9: Arquivo Sacatar

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Para a artista Giovana Dantas, o Sacatar é uma oportunidade de interagir, tanto com a comunidade, com outros artistas e com sua própria pesquisa de material. Ela participou duas vezes da residência no instituto, em 2008 e 2010. Da sua primeira experiência, resultou uma exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia, intitulada Imanências do Mar, em que parte do trabalho foi realizado na comunidade de Baiacu, na Ilha de Itaparica. Neste trabalho, ela utilizou materiais orgânicos retirados do mar, como rabos de peixe. Na segunda vez, Giovana conviveu com quatro escritores norte-americanos e montou o trabalho Insustentável Leveza, que foi exposta no Palacete das Artes-Rodin. “Ao possibilitar o isolamento, a residência artística estimula a gente a produzir mais. Acho que é o grande benefício do programa”, destaca.

(1) Arquiteto, Taylor construiu estúdio do músico com vista frontal e lateral do mar. (2) Homenagem à Fonte da Bica de Itaparica. (3) Entrada principal do antigo palacete de veraneio de Henriqueta Catharino. (4) Giovana Dantas durante a primeira experiência no Sacatar, em 2008, trabalhando com materiais orgânicos retirados do mar. (5) Cineasta afegão Mustafa Kia interagindo com o grupo de percussionistas da Coréia do Sul, The Gwangdae. (6) Artista lituano Sigitas Staniunas pinta seus quadros enquanto grupo de capoeiristas se apresenta na praça de Itaparica. (7) Vista da Praia dos Brasileiros, em frente ao Sacatar. (8) Vista frontal da casa grande que abriga as suítes dos artistas. (9) Sala de estar do palacete

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O que são as residências artísticas Residências artísticas são bolsas que podem durar de duas semanas a seis meses. Há, inclusive, algumas que duram mais de um ano. O objetivo é estimular o desenvolvimento de projetos no setor de artes plásticas. Para tanto, oferecem tranquilidade, isolamento, estúdios para o desenvolvimento dos projetos e infraestrutura de moradia e apoio logístico para os artistas. Geralmente, os programas deslocam os participantes para outra cidade para estimular a troca de experiências e pesquisas sobre a comunidade do local. O objetivo é tirar o artista do seu agito diário e incentivá-lo à total imersão em seu trabalho, para que sua única preocupação seja a produção da arte e o desenvolvimento de seus projetos pessoais. Ao formar um grupo com diferentes nacionalidades, pretende-se promover o intercâmbio cultural. Não há um modelo padrão quanto às condições de financiamento, hospedagem, infraestrutura, seleção e acompanhamento logístico entre as organizações que promovem as residências artísticas. O Instituto Sacatar oferece aos seus bolsistas cinco suítes e oito estúdios que podem abrigar projetos de diferentes artistas. Logo na primeira semana do programa, os artistas participam de um tour na Ilha de Itaparica e em Salvador, onde conhecem pontos turísticos e recebem orientações básicas sobre como se deslocarem entre a Ilha e Salvador.

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Casa tem acesso direto à Praia dos Brasileiros

A artista Maristela Ribeiro também concorda com Giovana.Quando ela ganhou a residência no Sacatar, em 2007, estava passando por uma fase em que não tinha tempo para se dedicar à criação em seu ateliê. “O Sacatar é uma experiência muito rica, pois o artista fica imerso integralmente em seu trabalho”, destaca. Ela participou do programa com artistas da Alemanha, Canadá, Síria e Estados Unidos. Além do trabalho de experimentação desenvolvido em ateliê, a artista coordenou, na Biblioteca Municipal de Itaparica, a oficina de narrativa contemporânea Leitura do Mundo, com moradores da ilha. No final da residência, apresentou o documentário Visões em Territórios Invisíveis na praça de Itaparica, onde mostrou algumas impressões acerca da formação da Baía de Todos os Santos, através de relatos dos moradores do local.


Foto: Ines Grimaux

Foto: Marisa Vianna

Vestido Fuxiqueiro é uma obra de Viga Gordilho que foi a primeira baiana a ser residente do Sacatar

Foto: Ines Grimaux

Seleção acirrada Estúdio do escritor ao fundo

O Instituto Sacatar oferece bolsas de residência artística. Uma das maneiras de conquistá-la é a seleção realizada a cada dois anos pelo instituto. A mais recente foi realizada em janeiro de 2012, quando contou com mais de 800 inscrições, superando a quantidade de todas as outras edições. No final do processo, 50 artistas foram agraciados com a bolsa de residência. O Sacatar também possui parceria com três programas de bolsas internacionais: a Unesco-Aschberg, aberto para artistas não brasileiros; o Los Angeles Department of Cultural Affairs (Ladca), que seleciona pessoas radicadas no Condado de Los Angeles, nos EUA; e o Africa Centre, que premia anualmente artistas vindos da África do Sul. Há ainda as parcerias com o Festival VideoBrasil e com a Bienal do Recôncavo, nos quais um artista participante de cada mostra são selecionados. [B+]

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art e & entr eten im ento | a pl a uso s Foto: Leo Monteiro

Cascadura é finalista do VMB da MTV Brasil A banda de rock baiana Cascadura garantiu lugar entre as cinco mais votadas pelo público para disputar o prêmio de Melhor Disco no Video Music Awards, uma das maiores cerimônias de premiação da música nacional. Comemorando 20 anos de estrada, a banda lançou, em maio deste ano, o álbum Aleluia, com a participação de grandes nomes da música brasileira, como o maestro Letieres Leite e sua Orkestra Rumpilezz, Móveis Coloniais de Acaju e Pitty. O álbum duplo com 22 faixas está disponível para download gratuito no site do Cascadura: www.bandacascadura.com/aleluia Foto: Ligia Rizerio

Bahia International Guide é lançado com novos roteiros turísticos baianos Em um guia de 304 páginas, a Bahia é apresentada em meio aos elementos característicos da cultura local. O Bahia Internacional Guide, lançado no final de agosto, oferece ao leitor opções nada óbvias para aproveitar o estado em sete diferentes editoriais: Cultura e História, Belezas Naturais, Gastronomia, Cafés e Quitutes, Compras, Dia e Noite e Corpo e Mente. Apresentado em formato de livro de arte, o guia vem escrito em três idiomas e traz QR Codes que dão direcionamento a mapas e sites.

Jam no Mam completa 13 anos com muita música A 253ª apresentação do projeto, que mistura improvisação e talento no Museu de Arte Moderna (MAM), celebrou os 13 anos de tardes musicais no primeiro sábado de setembro. A apresentação, transmitida ao vivo pela TVE Bahia, reuniu uma formação extraoficial da banda base, formada por quase duas dezenas de músicos. Com performances musicais únicas e especiais, o Jam no MAM já atraiu mais de 330 mil pessoas desde a sua retomada em 2007.

Revitalizada biblioteca em Cachoeira A Biblioteca Municipal Ernesto Simões Filho recebeu um novo acervo de livros, armários, mesas e cadeiras, além de um espaço infantil equipado com pufs para crianças. A iniciativa foi uma parceria entre a prefeitura de Cachoeira e a Fundação Pedro Calmon. Com um rico acervo de livros e jornais de época, a biblioteca também oferece opções de literatura francesa, alemã, russa, italiana e portuguesa, prontas para serem desfrutadas pelo público leitor. Foto: Divulgação

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art e & entr eten im ento | o ff bro a d w a y

E SE O POPEYE COMESSE ACARAJÉ?

CRISTIANE GARCIA OLIVIERI

Advogada, master em administração das artes e mestre em política cultural (USP- ECA)

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Todos sabemos quem é o Superman. Não é à toa que gerações de brasileiros conhecem tudo dos personagens da Disney, da Hanna Barbera, e os mais novos da Pixel, além de tantos outros. A causa desse imaginário, além do financiamento da produção, é, principalmente, acesso ao conteúdo. As produções americanas de cinema e televisão são distribuídas em massa pelo mundo e podem ser acessadas com facilidade e baixo custo para o espectador – não existe alguma coisa mais fácil e barata que TV na sala. E, além de todos os royalties de licenciamento, geram lucros indiretos com a venda de tudo o que está vinculado ao tal sonho americano. Antes de ser inventada, já praticavam a economia criativa. Esta não é uma posição brazuca, o que justifica porque é revolucionário que os canais de TV tenham que cumprir a cota de produção brasileira. Com essa medida regulatória, o governo garante espaço para nossa produção, para distribuição de ideias locais. Se os canais infantis precisam exibir programas nacionais, terão que buscar produções de qualidade, investir no seu desenvolvimento e, o melhor, para garantir a otimização dos recursos investidos, passarão a distribuir a produção brasileira pelo mundo. Já estão produzidas, e estarão no ar ainda este mês, as novas séries da Turma da Monica, do Peixonauta, e muitas produções antigas serão reprisadas. E a tendência é de expansão. Afinal, pela nova lei*, o tempo obrigatório de veiculação em horário nobre

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vai triplicar, nos próximos dois anos, dos atuais 70 para 210 minutos obrigatórios, a partir de setembro de 2013. Com os incentivos fiscais convidativos já existentes, que incluem as relações de licenciamento internacional, finalmente temos uma política com ações específicas para a cadeia do audiovisual, que estimula a produção e também garante o espaço da veiculação. Pode não ser o fim, mas será, de fato, uma diminuição de casos de filme na lata que ninguém viu. Com o tempo, as crianças terão heróis nacionais. A diversidade cultural brasileira poderá compor os personagens e as histórias poderão ser globais e também locais. Será possível pensar no desenvolvimento da indústria do desenho animado, pois a demanda está criada. A Kabum! e o Fala Aí, genuinamente baianos, têm a oportunidade de ampliar suas fontes de financiamento, produção e distribuição. E assim, poderemos unir a criatividade, a diversidade e a tecnologia disponíveis para participar como protagonistas em negócio da economia criativa. Geram-se, desta forma, não só lucros diretos da sua produção, mas também cria-se um universo de conteúdos e experiências que despertam no espectador a curiosidade, a experiência, o conhecimento e o desejo de participar. Se o Popeye nacional comesse acarajé no Farol da Barra, imaginem a demanda de conteúdo da Bahia. * Lei 12.485 de 12 de setembro de 2011.


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c o nte a í

Pizza no cemitério Por Raimundo Dantas

Um dos tabus mais fortes que nossa civilização ocidental cristã preserva com absoluto respeito é a morte. Tudo que a ela se refere fica envolto em medos, receios e constrangimento. Assim acontece com a casa dos mortos: o cemitério. Em geral, as pessoas pensam em cemitério como um lugar triste, soturno e assustador. Por isso, quase sempre, perdem a oportunidade de usufruir da beleza que reside na arte cemiterial e dos registros da história, que estão expostos nos cemitérios mais antigos. Tal local é também fonte para estudos da visão de mundo, crenças religiosas, formação étnica, genealogia, hábitos e costumes de uma população, ao longo do tempo. Talvez você jamais tivesse imaginado visitar uma exposição de arte e história em um cemitério a céu aberto. Porém, os cemitérios fazem parte dos roteiros turísticos de diversas regiões do mundo. Alguns exemplos são o PèreLachaise, em Paris, o de La Recoleta, em Buenos Aires, o cemitério de Gênova, de Milão, e tantos outros. Também o nosso tradicional Campo Santo é, na Bahia, o local de maior expressão da chamada arte silenciosa. Lá se encontram manifestações artísticas dos estilos renascentista, barroco, gótico, moderno e contemporâneo, permitindo traçar uma linha evolutiva da escultura, da arquitetura e até da poesia baiana e brasileira. Espaço democrático, no Campo Santo estão sepultados indigentes e abastados, anônimos cidadãos e ilustres figuras da Bahia, empresários, governantes, gente das mais diversas origens, compondo um completo mosaico da história da nossa terra. Dá-se que, quando estávamos instalando o Circuito Cultural do Campo Santo, hoje aberto à visitação guiada, muitos dias e noites foram gastos na montagem do material, o que nos fez frequentar forçosamente a noite da casa dos mortos. Em uma dessas madrugadas, a fome bateu na equipe que trabalhava na sala lateral da capela. O jeito foi ligar para um delivery e pedir pizzas. O pedido já foi recebido com estranheza. O local de entrega seria a capela do cemitério Campo Santo. Depois 106

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O motoqueiro que levou as pizzas, franzino e pálido, já era a própria estátua do medo de uns dois telefonemas de confirmação, convencidos de que não se tratava de brincadeira, resolveram atender ao pedido. O motoqueiro que levou as pizzas, franzino e pálido, já era a própria estátua do medo. Chegou à portaria e soube então que deveria subir a escada, passar pelo salão do velório e ir até a capela. Reagiu bastante, mas o porteiro explicou que ele não poderia receber a encomenda, não tinha como pagar, nem poderia sair do seu local de trabalho. O garoto teve que se aventurar. Pé ante pé, avançou pela escadaria, chegou devagar à sala do velório, viu de longe a capela e, com muitos vacilos, foi se aproximando, já em meio à escuridão. Dentro da sala do circuito cultural, a fome apertava. A nossa museóloga resolveu então ir ao encontro do mensageiro que demorava tanto para fazer o percurso. Por acaso, estava toda vestida de branco. Saiu da sala, passou por detrás de uma velha árvore e apareceu de vez, defronte do amedrontado motoqueiro. O susto foi colossal. O garoto jogou para cima a caixa das pizzas e saiu em desenfreada carreira, já gritando, no caminho de volta. Havia visto uma alma! Veio cair em frente ao porteiro, sem fôlego e quase infartado. Pobre rapaz. [B+]

Foto: Divulgação

Raimundo Dantas

É ex-gerente geral de administração do Grupo Paes Mendonça


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