Revista [B+] edição 17

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s u m á r io

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Escola de negócios

Mulheres fortalecidas

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bloco de notas

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imóveis+

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mídia+

Para comemorar o mês da mulher, em março, apresentamos dez exemplos de mulheres profissionais baianas que fazem a coisa acontecer e revolucionam nos mais notórios setores de atuação.

56 O primeiro da Copa Após herdar do pai a construtora Andrade Mendonça, Antonio Andrade Jr. acumula realizações que são referência nacional na construção civil, a exemplo do Castelão, primeiro estádio entregue para a Copa de 2014.

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NEGÓCIOS 31 AGRONEGÓCIO 38 O município de Taperoá, no baixo sul baiano, é o maior produtor mundial de guaraná, superando a tradicional Amazônia, mas continua sem reconhecimento.

LOJAS-CONTÊINERES 32 Contêineres abandonados viram lojas de roupa CIÊNCIA E PESQUISA 42 Inovação nos institutos de pesquisa da Bahia EXPERIÊNCIAs 34 Butique de colchões de luxo STARTUP 36 | [C] Luiz Marques 46

SUSTENTABILIDADE 63 EMPRESA VERDE 64 Softwares de gestão instalados nas grandes empresas ajudam a mapear estratégias para a implantacão da cultura da sustentabilidade nos negócios.

ENERGIA EÓLICA 70 Empresas adaptam tecnologia aos ventos locais PRO BEM 68 Movimentos resgatam ações de amor por Salvador TENDÊNCIAS 71 Como se integrar ao comércio justo [C] ISAAC EDINGTON 74

LIFESTYLE 75 DECORAÇÃO 76 Ambientes profissionais requerem cada vez mais projetos arquitetônicos que otimizem o espaço para aumentar produtividade e qualidade de vida no trabalho.

COMPORTAMENTO 82 A conectividade na natureza social SABOR 86 Prepare um prato gourmet em casa NOTAS DE TEC 88

arte & entretenimento 89 CARNAVAL 90 Infraestrutura gigantesca e ações publicitárias fazem do período do Carnaval uma época de grandes negócios, movimentando R$1 bilhão nos seis dias de festa.

MODA 98 Um baiano no sambódromo MÚSICA 102 Nova Iorque no Nordeste de Amaralina APLAUSOS 94 [C] Cris Olivieri 104 | [C] Jorge Cajazeira 106

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e d ito r ia l Com a bola toda

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Antonio Andrade Jr. está mesmo com a bola toda. O CEO da construtora Andrade Mendonça estampa a capa de nossa edição 17 com os méritos de entregar o primeiro estádio da Copa do Mundo de 2014, o Castelão, em Fortaleza, além de empreendimentos do porte do Salvador Shopping e Salvador Norte Shopping, da ampliação do Shopping Barra, da construção das concessionárias Eurovia e HarleyDavidson, além das fábricas da Kimberly-Clark, Knauf e o Centro de Distribuição de O Boticário. O repórter Murilo Gitel conversou com Antonio Andrade para conhecer as tendências desse mercado, como a Andrade Mendonça ampliou sua atuação e o que ele espera para os próximos anos. E olha que não é pouca coisa. Se o assunto é oportunidades do mercado, aproveitamos para falar sobre as carreiras que andam na crista da onda. A jornalista Andréa Castro traz informações sobre as áreas do conhecimento que têm alta demanda por profissionais. Uma delas é a área de ciência e pesquisa, em que aprofundamos o tema para conhecer como as instituições de pesquisa se comportam na Bahia e como as empresas se apropriam desse conhecimento para investir em inovação. É claro que não podíamos esquecer da grande festa momesca, que atrai turistas, negócios e investimentos para Salvador. Veja um panorama do que aconteceu nos circuitos, as parcerias firmadas, as ações de marketing e opiniões sobre como deixar um legado socioeconômico para a cidade. Indo para o interior, a repórter Carolina Coelho foi para dentro das plantações da região que mais produz guaraná no mundo. O munícipio baiano de Taperoá bate recordes em exportação, com um grão bem avaliado e que deixa o guaraná amazonense para trás.

ESPECIAL MULHERES A Revista [B+] também homenageia todas as mulheres, baianas e brasileiras, com um especial dedicado a ressaltar a força feminina. Anna Penido, Claudia Tourinho, Eliana Calmon, Goya Lopes, Ines Carvalho, Leila Brito, Lila Lopes, Lise Weckerle, Malu Fontes e Tereza Paim são algumas delas, entre tantas outras, que inspiram homens e mulheres por suas atuações profissionais e pessoais, e nos servem de exemplo para construir uma sociedade mais justa e igualitária, com oportunidades para todos. Feliz Mês da Mulher. Boa leitura.

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Escreva para a [B+] Comentários, sugestões de pautas e correções: redação@revistabmais.com

Pontos de Venda A Revista [B+] pode ser lida no site, iPad e encontrada em pontos de vendas, como: Livrarias Cultura (Salvador Shopping), Nobel (Shopping Paralela), Leitura (Shopping Bela Vista), Saraiva (Iguatemi e Salvador Shopping), Soler (Hiperbompreço Iguatemi), e bancas do aeroporto, rodoviária, Campo Grande, Pituba, Dois de Julho, Nazaré, Barra, Rio Vermelho. Pergunte na banca mais próxima da sua casa.


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expe d ie nte Conselho Editorial César Souza, Cristiane Olivieri, Fábio Góis, Geraldo Machado, Ines Carvalho, Isaac Edington, Jack London, Jorge Portugal, José Carlos Barcellos, José Roberto Mussnich, Luiz Marques Filho, Maurício Magalhães, Marcos Dvoskin, Reginaldo Souza Santos, Rubem Passos Segundo e Sérgio Nogueira Conselho Institucional Aldo Ramon (Júnior Achievement) António Coradinho (Câmara Portuguesa) Antoine Tawil (FCDL) Jorge Cajazeira (Sindipacel) José Manoel Garrido Gambese Filho (ABIH-BA) Mário Bruni (ADVB) Adriana Mira (Fieb) Paulo Coelho (Sinapro) Pedro Dourado (ABMP) Renato Tourinho (Abap) Wilson Andrade (Abaf) Diretor Executivo Claudio Vinagre claudio.vinagre@revistabmais.com Editor Chefe Fábio Góis fabio.gois@revistabmais.com Repórteres Brisa Dultra, Carolina Coelho e Murilo Gitel redacao@revistabmais.com

Projeto Gráfico e Diagramação Person Design Fotografia Stúdio Rômulo Portela Revisão Rogério Paiva Colaboradores Alessandra Lori, Ana Paula Paixão, Andréa Castro, Clara Corrêa, Emanuelle Xisto, Felipe Arcoverde, Gina Reis, Jessica Sandes, João Alvarez, Josefa Coimbra, Lilian Mota, Lise Lobo, Márcia Luz, Marcus Claussen, Margarida Neide, Max Haack, Núbia Cristina, KinKin, Pedro Hijo, Renata Prezza, Renato Ato, Rogério Borges, Uilma Carvalho, Valter Pontes, Yasmin Queiroz Colunistas Cristiane Olivieri, Isaac Edington, Jorge Cajazeira, Luiz Marques Filho Portal Enigma.net Assessoria de Imprensa Frente & Verso Comunicação Integrada iPad uTochLabs www.revistabmais.com/ipad

A edição 17 traz na capa a produção do escritório Person Design. Agradecemos a Ana Paula Paixão (diretora de atendimento), Livia Fauaze (executiva de atendimento), Felipe Arcoverde (diretor de design), Júlia Amoroso (designer) e Cátia Martins (diretora de marketing). Foto do Stúdio Rômulo Portela.

Tiragem: 10 mil exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Grasb Capa impressa em papel Couché Suzano® Gloss 170g/ m2 e miolo impresso em papel Couché Suzano® Gloss, 95g/m2, da Suzano Papel e Celulose, produzidos a partir de florestas renováveis de eucalipto. Cada árvore utilizada foi plantada para este fim.

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Realização Editora Sopa de Letras Ltda. CNPJ 13.805.573/0001-34 Redação [B+] 71 3022-8762 redacao@revistabmais.com www.revistabmais.com Publicidade publicidade@revistabmais.com Cidinha Collet - gerente comercial Salvador - Bahia 71 3012-7477 Av. ACM,2671, Ed. Bahia Center, sala 1102, Loteamento Cidadela, Brotas CEP: 40.280-000

Representação em outros estados Grupo Pereira de Souza www.grupopereiradesouza.com.br

Trabalhe na [B+] A Revista [B+] abre vaga para o departamento comercial. Buscamos profissionais com experiência em veículos de comunicação. Favor enviar currículo para contato@revistabmais.com


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E s c o la d e Neg ó c io s

A escolha profissional E Seja por oportunidades que o mercado oferece ou pelo caráter de inovação dessas áreas, algumas carreiras se destacam como as mais promissoras da atualidade. Diante de um cenário cheio de caminhos e alternativas, que escolhas tomar e como estar bem preparado, seja na graduação, pós ou MBA? por Andréa Castro

Foto: Manu Dias/SecomBA

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scolher uma graduação ou pós-graduação está longe de ser uma tarefa simples. Assim como decidir a sua carreira, se especializar requer planejamento e cuidado. É fundamental pesquisar e saber quais são nossas reais necessidades profissionais, pois, a cada situação, uma pós é mais indicada do que outra. Para quem já tem experiência no mercado de trabalho e está em busca de uma formação complementar, o headhunter Márcio Lopes alerta: “Formação acadêmica é importante, mas não é um fator determinante na contratação de um executivo no mercado local. Então, escolher um curso que de fato faça a diferença é essencial”. Ele lembra que, mesmo assim, um profissional tem que voltar várias vezes à sala de aula para manter-se competitivo e capaz. “Dar o próximo passo na carreira exige atualização e o mercado de educação é farto, basta averiguar para achar o seu lugar certo”, conclui Lopes. “Todas as escolhas abrem portas. É importante que se observem as oportunidades de trabalho e o perfil da formação, mas é fundamental que procure fazer algo que realmente irá gostar”. A orientação é de Carolina Stilhano, gerente de marketing da Catho, maior site de classificados de currículos e vagas de emprego da América Latina. Segundo ela, tal atitude permitirá que o profissional se dedique mais à ocupação escolhida e tenha chances de sucesso. Incontestável. No entanto, o mercado é exigente e revela preferências por algumas carreiras e tipos de formação diante das demandas criadas pela sociedade contemporânea. Exploração de petróleo, tecnologia da informação, biotecnologia, engenharia de obras, design, meio ambiente e turismo são algumas das áreas que estão em alta, apresentando excelentes oportunidades de trabalho, tanto para quem almeja um cargo valorizado em uma organização, como para quem deseja empreender e ser dono do seu próprio negócio.


Fotos: Divulgação

O geólogo Antônio Huoya Mariano trabalha na Petrobras e afirma que há bastante campo de atuação na Bahia, inclusive no interior do estado

[1] Exploração de petróleo, gás e mineração Diante das possibilidades oferecidas pelas descobertas do pré-sal no Brasil, essa área tornou-se ainda mais promissora. É o que afirma Antônio Huoya Mariano, que atua há seis anos como geólogo de campo na Petrobrás, acompanhando as buscas por áreas de interesse de petróleo. “Quando me formei, em 2005, havia uma carência muito grande por profissionais na área. Hoje, já existe muita gente qualificada, mas o mercado segue aquecido e a demanda é crescente”, destacou Mariano. O geólogo trabalha em escala de plantão durante 14 dias e folga 21. “Muita gente acha que é moleza, mas não é fácil ficar praticamente isolado, durante duas semanas, em uma espécie de contêiner climatizado”, alerta. No entanto, Mariano gosta do que faz e não se arrepende. “Meu pai, que também é geólogo, me apresentou a profissão e me interessei por essa possibilidade de trabalhar fora de escritório, em maior contato com a natureza, e excelentes oportunidades surgiram”, lembra. O geólogo trabalhou também na Vale, em Minas Gerais, e afirma que há bastante campo de atuação na Bahia, inclusive no interior do estado. Segundo ele, só a Petrobras abre concurso com cerca de 50 vagas pelo menos uma vez por ano para profissionais da área. A média salarial estimada está em torno de R$12 mil.

Carolina Stilhano, da Catho, diz que é importante observar as oportunidades do mercado para tomar uma decisão

[2] Engenharia de obras “É uma das áreas que apresentam e ainda apresentarão crescimento em ofertas de emprego, devido ao aquecimento econômico e aos eventos que serão realizados no país, como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016”, destaca Carolina Stilhano, gerente da Catho. O engenheiro de obras pesadas Jorge Vieira trabalha há cerca de oito anos construindo estradas e pontes e acredita ter acertado na profissão. “É uma área em que nunca falta trabalho e, quando a economia vai bem, as oportunidades são ainda melhores”, comemora o profissional da Contek Engenharia S/A, que presta serviços para o Governo do Estado, através do Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (Derba). De acordo com o engenheiro, se depender dos investimentos que estão sendo alocados para o setor pelo governo, tanto estadual como federal, a área promete gerar ainda muito mais emprego e renda. Só na Bahia, até 2014, serão restaurados mais de dois mil quilômetros de estradas, atingindo a meta de nove mil quilômetros de rodovias revitalizadas. O engenheiro Jorge Vieira seguiu a profissão do pai e lembra que desde garoto o acompanhava em obras, se interessando pelo ofício. Mas faz a ressalva: “É uma profissão que exige sacrifício, muitas vezes fico longe da família, moro praticamente no local de trabalho”. Em compensação, estima-se que um engenheiro de obras iniciante ganhe em torno de R$5 mil, enquanto o salário de um já estabelecido no mercado chegue a R$15 mil.

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[3] Engenharia em biotecnologia e bioprocessos Cada vez mais presente no mercado, com atuação em diversas modalidades da indústria (química, farmacêutica, de biocombustíveis, biomassa, entre outras) e na utilização de tecnologias focadas para a recuperação dos impactos causados ao meio ambiente, o engenheiro especializado na área tem sido demandado de forma crescente. Esses profissionais são habilitados a conceber, projetar, construir e operar equipamentos destinados a reproduzir, em escala industrial e econômica, os processos controlados por transformações biológicas envolvendo células vivas de natureza microbiana, animal ou vegetal. Diante da notória demanda do mercado, a Universidade Estadual da Bahia (Uneb) passará a ministrar o curso em biotecnologia a partir do primeiro semestre de 2014 no campus de Juazeiro. “O curso faz parte do projeto de expansão da universidade por percebermos que esta é uma área que está sendo cada vez mais solicitada e Juazeiro foi escolhido por se tratar de um município com bastante potencial, sobretudo no agronegócio, e pouca oferta desse tipo de serviço”, afirma o relator do projeto de implantação do curso, Jairton Fraga. Segundo ele, um profissional iniciante na área recebe em torno de R$5 a 7 mil por mês, mas com perspectivas bem maiores, caso se qualifique, embora ressalte que a cultura empresarial baiana ainda valorize pouco a área de pesquisa.

[4] Gestão ambiental “É uma área em ascensão. As empresas demandam processos com tecnologias mais limpas, avaliação de impactos ambientais, ações sustentáveis, que englobem o desenvolvimento econômico, ambiental e social”, explica o coordenador do curso superior tecnológico em gestão ambiental da Universidade Salvador (Unifacs), Nilton Tosta. De acordo com o acadêmico, o profissional da área também deve desenvolver habilidades e características além daquelas inerentes à profissão, buscando conhecimentos na área de administração, línguas, entre outras, e o mercado tende a valorizar não só o conhecimento técnico, mas a ética do profissional. Tanto empresas privadas como instituições governamentais têm exigido cada vez mais a qualificação especializada nessa área. “Temos alunos que estão iniciando a carreira e outros que já estão no mercado de trabalho, como administradores e engenheiros, buscando um upgrade na qualificação”, informa. Tosta também ressaltou que muitas empresas no interior da Bahia estão buscando especialistas na área e o Polo já tem demandado esse tipo de mão de obra há algum tempo. A faixa salarial está em torno de R$4 mil, para engenheiro ambiental, podendo chegar a R$22 mil, no caso de diretor de engenharia de meio ambiente.

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[5] Segurança da informação “Tudo se move em torno da informação. É um bem que as empresas precisam preservar”, destaca Charles Lima Soares, coordenador do novo curso de segurança da informação oferecido pelo Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge). A área envolve profissionais aptos a zelar pela integridade e proteção das informações no âmbito das organizações, principalmente contra acessos não autorizados, prezando pela confidencialidade, integridade e disponibilidade dos dados. Estes profissionais são preparados para realizar análises de riscos, administrar sistemas de informação, projetar e gerenciar redes de computadores seguras, realizar auditorias, planejar contingências e definir planos de recuperação de sinistros. “Sabemos que existe uma forte demanda de mercado, que foi o que nos motivou a apostar no curso”, afirmou Charles. Segundo o acadêmico, as oportunidades nessa área se concentram mais nas empresas de médio e grande portes. Ele também ressalta a importância de uma qualificação paralela à graduação, focada em plataformas específicas (Linux e/ou Windows, por exemplo), e a busca por certificações internacionais. “O profissional que quer ter um perfil diferenciado e deseja ampliar o mercado de atuação tem que buscar essas certificações. Hoje ele está em Salvador, amanhã pode estar em São Paulo, onde tem outras oportunidades, e depois, até fora do país”, destaca o coordenador. Segundo Charles, na Bahia, o profissional da área pode encontrar propostas em torno de R$3 a 4 mil. [6] Sistemas para internet Quantas horas você passa conectado à internet em seu computador, smartphone, tablet ou televisão, acessando notícias, redes sociais, vídeos, jogos? É essa sua necessidade que amplia o mercado para os profissionais de sistema para internet. Para se inserirem nesse mercado, os profissionais aprendem sólidos conhecimentos teóricos e práticos no ambiente internet, aspectos inerentes à atividade de planejamento e desenvolvimento de sistemas web, aplicações multimídia e banco de dados. São qualificados em assuntos como e-commerce, projetos de ensino a distância, design, além de PHP e Java, entre outras linguagens de programação. O profissional pode atuar em agências digitais, gerenciar sistemas de comércio eletrônico e provedores de conteúdo, atuar em empresas de tecnologia da informação ou em órgãos públicos. “O mercado está em franca expansão, bastante aquecido em Salvador. Inclusive, muitas empresas locais estão importando profissionais do Rio de Janeiro e de São Paulo por falta de mão de obra qualificada em nosso estado”, alerta o coordenador do curso superior de graduação tecnológica em sistemas para internet da Unifacs, Alex Coelho. A implantação do Parque Tecnológico na Bahia permitirá que novas empresas de tecnologia da informação se instalem na região. O salário estimado para o profissional da área está em torno de R$3 mil na Bahia, segundo Coelho. 16

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[7] Tecnologia em jogos digitais “A área de games é a que mais cresce no mundo do entretenimento”, palavras de Lynn Alves, responsável pelo projeto do novo curso de tecnologia em jogos digitais que está sendo implantado pela Uneb. De acordo com a Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais - Abragames, esse mercado já movimenta US$68 bilhões no mundo. Cada vez mais presente no cotidiano das pessoas e das empresas, os jogos digitais contribuem para diversos setores, desde a indústria até a educação, passando pela agricultura e o entretenimento. O mercado é tão promissor, que a Microsoft oficializou a produção do console de jogos Xbox 360, fornecido pela Flextronics Brasil. Segundo a consultoria PWC


Foto: Divulgação

(PricewaterhouseCoopers), o mercado brasileiro de jogos eletrônicos, que em 2011 movimentou R$840 milhões e é quarto maior do mundo, crescerá em média 7,1% por ano até 2016, quando atingirá R$4 bilhões. A indústria de jogos eletrônicos mantém, atualmente, mais de cinco mil profissionais empregados no país. Em 2008, a realidade era outra e o número era somente 560, de acordo com a Abragames. A evolução do setor em tão pouco tempo deve-se a crescentes investimentos na tecnologia e um aumento no consumo da cultura digital, dizem especialistas. Diante do potencial revelado pelo mercado, o governo federal também tem investido na área. A tecnologia de desenvolvimento e produção de jogos digitais está entre as estratégias do programa TI Maior, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que movimentará cerca de R$500 milhões no país. Segundo Lynn Alves, na Bahia, o mercado ainda é incipiente, mas deve aquecer bastante nos próximos cinco anos, sobretudo com a implantação do Parque Tecnológico. Capitais como Recife e São Paulo, que já sediaram grandes eventos do gênero, já apresentam um mercado mais maduro e profissionalizado.

[8] Design “O design é um fator decisivo no novo cenário competitivo. Ele agrega valor ao produto e desencadeia um processo de estímulos visuais que afetam a própria empresa e sua força de vendas. A empresa que valoriza o design como diferencial, seja na sua linha de produtos, serviços ou ações promocionais, transmite uma imagem avançada de alto padrão organizacional”, destaca o designer Vinícius Carvalho, executivo da empresa Cocada Design. Em pleno desenvolvimento nas diversas modalidades da indústria, a área de design encontra cada vez mais campo, seja na construção de produtos - embalagens, móveis, carros, aviões, ou na área de programação visual - editoração, identidade visual, web. A vinda de grandes eventos esportivos para o Brasil também tem melhorado as perspectivas do mercado. “A Copa e Olimpíadas serão eventos que já aguardamos como momento de um boom em todos os setores, principalmente no nosso setor promocional”, afirma o executivo. O designer ressalta que os desafios do profissional que atua na região Nordeste são grandes. “É uma profissão que aqui se confunde muitas vezes com as áreas de publicidade, arquitetura e decoração. Temos que trabalhar muito o lado do convencimento com o cliente final para que o mesmo entenda e valorize a importância deste profissional”. Segundo ele, um profissional já estabilizado na Bahia ganha, em média, R$ 4mil, enquanto um designer sênior em São Paulo chega a receber numa faixa salarial de R$8 mil. Ainda assim, o mercado baiano tem atraído novos profissionais pelo seu potencial promissor. Na Uneb, o curso é um dos mais disputados. “No vestibular de 2012, a concorrência chegou a cerca de mil candidatos para as 40 vagas oferecidas”, revela o coordenador do curso de design, Antônio da Silva Neto.

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Foto: Raul Golinelli/GovBA

[9] Biomedicina “O fato de a população estar cada vez mais esclarecida tem aumentado a busca por exames complementares, tanto de diagnóstico como de prevenção, o que amplia o mercado de trabalho para profissionais da área. Os serviços de análises clínicas e imagem são os mais demandados”, declara a coordenadora do curso de biomedicina da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Luciene Lessa. O profissional pode escolher entre especializar-se em análises clínicas, hematológicas, citológicas e moleculares ou em acupuntura, reprodução humana assistida (fecundação invito), imagem, dentre outras. “É uma área que abre muitas perspectivas, pois permite ao profissional não só conseguir com certa facilidade uma vaga de trabalho, mas também empreender, ter seu próprio laboratório ou clínica de análises, de imagem, acupuntura, citopatologia e, até mesmo, de estética”, destaca Lessa. A acadêmica afirma que na própria faculdade há a disciplina de empreendedorismo, que permite ao profissional abrir o seu negócio. “Antigamente, quem fazia o tratamento de uma imagem, por exemplo, tinha que ser um médico, os custos eram bem mais caros”, esclarece. Outro campo destacado como promissor pela coordenadora é o de pesquisa, seja por novas vacinas ou exames de DNA, desde que o profissional se especialize.

Foto: FMU

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[10] Gestão em Turismo Depois do dia 30 de outubro de 2007, de uma forma ou de outra, o Brasil foi para o centro das discussões na mídia internacional. Além de uma economia que já se destacava, o país acabara de ser formalizado sede da Copa do Mundo de 2014 pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). Os holofotes estão em nossa direção e o Brasil está em evidência. Para receber bem o turista, o profissional dessa área cuida do planejamento, organização, promoção e divulgação de viagens, eventos e atividades de lazer e negócios; gerencia a organização de feiras, congressos e exposições; em prefeituras e órgãos públicos, coordena a exploração turística de uma região, promovendo e divulgando as atrações locais; entre outras atividades. Os números revelam que, na Bahia, muito está sendo investido e ainda há muito a se investir, o que pode gerar oportunidades. De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em pesquisa para o Ministério do Turismo em 2011, o setor movimentou R$7,8 bilhões na Bahia. O estudo aponta ainda que o estado é o terceiro principal destino turístico e o líder absoluto do Nordeste, com mais visitantes do que a soma de todos os outros estados. O turismo da Bahia cresceu de nove milhões para 11 milhões de turistas de 2009 para 2011, incluídos os brasileiros de outros estados, os baianos viajando pela Bahia e os estrangeiros, esses últimos chegando ao número de 558 mil. Para transformar o estado em um destino náutico, já foi aprovado pelo Tesouro Nacional um investimento de R$170 milhões em recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para aplicação na zona turística da Baía de Todos os Santos. Ou seja, perspectivas para boas oportunidades de negócio e aumento da empregabilidade na área não faltam. [B+]


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b lo c o d e n otas Foto: Divulgação

Camaçari é sede da primeira fábrica da Kimberly-Clark no Nordeste

Grupo Boticário investe R$535 milhões nas unidades na Bahia

Fabricante líder mundial de produtos de higiene pessoal, a Kimberly-Clark irá se englobar à forte onda de investimentos que está transformando o cenário econômico do Nordeste com a construção de uma nova fábrica e um centro de distribuição no Polo Industrial de Camaçari. Com investimentos iniciais de R$100 milhões, as instalações são estratégicas para a expansão dos negócios na região, que nos últimos dois anos teve um aumento de 30% nas vendas. Com quatro unidades produtivas nas regiões Sul e Sudeste, a K-C Brasil está construindo, em Camaçari, sua primeira fábrica na região. A unidade será responsável pela produção de fraldas, absorventes e papel higiênico, além de gerar 430 empregos diretos e 1.200 indiretos, contando com um centro de distribuição e instalada em área de 220 mil m2. A K-C Brasil utilizou instrumentos de medição e avaliação do impacto ambiental para planejar a fábrica e o centro de distribuição em Camaçari, com objetivo de reduzir os efeitos negativos e ampliar os positivos.

O Grupo Boticário, que controla as unidades de negócio O Boticário, Eudora, quem disse, berenice?, The Beauty Box e Skingen Inteligência Genética, investe R$535 milhões no estado da Bahia. Os recursos são aplicados para a construção de uma fábrica em Camaçari e de um centro de distribuição (CD) em São Gonçalo dos Campos, região metropolitana de Feira de Santana (BA). A construção se iniciou em agosto de 2012, gerando mil postos de trabalho temporários e tem previsão para iniciar os empreendimentos no segundo semestre de 2013, quando serão abertas 700 oportunidades de emprego diretas e indiretas. A Bahia foi escolhida por se tratar de um estado geograficamente estratégico para escoamento dos produtos para os estados das regiões Norte e Nordeste. As obras devem gerar cerca de 1.000 postos de trabalho temporários.

Foto: Divulgação

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ISM ganha novo gerente A fábrica da Indústria São Miguel (ISM), em Alagoinhas, produtora do refrigerante Goob, está sob o comando do novo gerente geral e também gerente comercial, Francisco Galdos Anduaga. Ele tem mais de 18 anos liderando equipes e desenvolvendo negócios em empresas multinacionais. A unidade baiana da ISM, que tem capacidade para produzir 15 milhões de litros ao mês, prepara-se para lançar energético e água mineral. O presidente do grupo, Jorge Añaños, revela que os planos da empresa até 2015 são ampliar presença nas Américas, expandir para a Ásia e a África, além de duplicar a cada três anos o faturamento anual da empresa. O Grupo ISM conta com dez mil colaboradores diretos e indiretos em 64 cidades e nos 193 mil pontos de vendas.

Foto: Paulo Cesar Lopes Jr

Foto: Divulgação

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b lo c o d e n otas Russos mostram interesse em investir na Bahia “A Bahia é o primeiro estado fora do eixo Rio-São Paulo com perspectivas reais para a realização de negócios”. A afirmação foi feita pelo diretor do Conselho Empresarial Rússia-Brasil, Aleksander Medvedovsky, durante o primeiro Encontro Empresarial Bahia-Rússia, realizado em 18 de fevereiro, na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), no Stiep. Medvedovsky disse que as áreas de infraestrutura para o setor de óleo e gás, mineração, energia, petroquímica, agronegócio e ferrovias são as preferidas entre os russos. Como é o caso de um grupo de altos executivos deste país, que aportaram para vasculhar as minas de escândio, o tálio e o lítio, de propriedade do ex-rei da soja Olacyr de Moraes. Esses metais largamente usados pela indústria de tecnologia de ponta e que chegam a ser dez vezes mais caros que o ouro.

Bahia terá primeira mina de vanádio das Américas Em fase de implantação no interior baiano, a Vanádio de Maracás S/A, primeira mina de vanádio das Américas, conta com um aporte de R$555 milhões em investimentos. Parte desse valor é proveniente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outra parte de acionistas do grupo canadense Largo Resources, sócio majoritário da empresa de mineração. No pico das obras de construção do empreendimento, cerca de 1,5 mil empregos diretos serão gerados no município. O lançamento da pedra fundamental da Vanádio de Maracás aconteceu no dia 21 de fevereiro, em Maracás (a 365km de Salvador), com a presença do governador da Bahia, Jaques Wagner. 22

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Fotos: João Alvarez/Sistema Fieb

Aeroportos da Infraero têm nova forma de acesso à internet A Infraero disponibilizou uma nova forma de acesso gratuito à internet sem fio nos seus 12 terminais, incluindo o Aeroporto Internacional de Salvador. Para acessar o serviço, o passageiro cadastrado entra com a data e o número do voo, assento e aeroporto de origem. A mudança também é válida para os passageiros em conexão que tenham vindo de terminais que ainda não oferecem o serviço.

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Exportações baianas crescem e já representam 60% do Nordeste Segundo dados são da Coordenação de Comércio Exterior da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), a Bahia teve um crescimento na participação de exportações do Nordeste e atingiu 60% do total da região, se tornando líder no setor. Em 2012, as vendas externas baianas alcançaram US$ 11,27 bilhões, um recorde histórico para o estado. Em razão do desempenho das commodities agrícolas e minerais e do aumento das vendas para a Ásia, lideradas pela China, as exportações baianas cresceram 2,3% no ano passado em relação a 2011.

Programa Winning Women Brasil estimula empresas de mulheres brasileiras A consultoria internacional Ernst&Young Terco lançou no Brasil o programa Winning Women, com objetivo de unir empresárias de sucesso e empreendedoras com potencial de crescimento. A iniciativa, que já funciona nos EUA e no Reino Unido, irá reunir 15 líderes de negócio de médio porte parra receber apoio e aconselhamento de executivas de empresas brasileiras de grande porte, como Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza), Lisa Folkersma (ONU) e Sylvia Coutinho (HSBC).

Projeto da ponte Salvador-Itaparica deve ser concluído em 2018 O projeto da ponte Salvador-Itaparica está previsto para ser licitado no primeiro semestre de 2014 e concluído em 2018. Uma consultoria a ser contratada pelo governo da Bahia irá concluir os estudos e lançar o edital de licitação para a ponte, que integra o Sistema Viário Oeste (SVO). A previsão de orçamento é de R$7 bilhões, englobando os 12km de ponte, a duplicação das rodovias e os investimentos com infraestrutura.

Foto: Divulgação


b lo c o d e n otas ABIH-BA reúne associados no Sheraton Hotel da Bahia A ABIH-BA reuniu seus associados no Sheraton Hotel da Bahia, no final de fevereiro, para que o presidente do grupo, Guilherme Paulus (fundador da operadora CVC), apresentasse o novo empreendimento e sua diretoria aos hoteleiros baianos, além de discorrer sobre as perspectivas do turismo nacional e internacional para o ano de 2013. “Este encontro foi um dos primeiros eventos no Sheraton Hotel da Bahia, ainda em soft openning, marcando a reabertura de um ícone da hotelaria baiana”, pontuou José Manoel Garrido, presidente da ABIH-BA. Foto: Divulgação

Bahiatursa e American Airlines fecham parceria

Um terço do café consumido no mundo é produzido no Brasil

Um acordo feito entre a Bahiatursa e a American Airlines irá promover a Bahia junto ao mercado norte-americano. As realizações contam com três eventos com os principais agentes de turismo das cidades de New York, Chicago e Miami, a ser feito ainda no primeiro semestre. A nova rota direta Salvador-Miami, que entrou em operação desde o dia 15 de novembro de 2012, tem operado com uma média de 80% de ocupação, segundo divulgação da companhia.

Segundo uma pesquisa realizada pela Organização Internacional do Café (OIC), das 144,5 milhões de sacas de café consumidas no mundo, 50,8 milhões foram produzidas no Brasil. Com isso, é possível dizer que, de cada três xícaras de café consumidas no mundo, uma é de origem brasileira. De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), as exportações do produto geraram uma receita de US$6,4 bilhões para o país em 2012.

Foto: Divulgação

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Salvador está entre os melhores destinos da América do Sul A pesquisa Travellers Choice 2012, feita através de notas atribuídas por 75 milhões de internautas de mais de 30 países, apontou Salvador como um dos 25 melhores destinos na América do Sul. Salvador ocupa a 12ª posição do ranking, atrás de outras cidades brasileiras como Rio de Janeiro (3ª), Florianópolis (7ª), São Paulo (10ª) e Búzios (11ª). Entraram também para o ranking as cidades de Foz do Iguaçu (14ª), Parati (17ª), Manaus (18ª) e Bonito (19ª). Foto: Divulgação

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i m óv e is + Quintas de Arembepe A Design Resorts ainda celebra o sucesso de vendas da primeira etapa do Jardins do Litoral, mas já planeja o lançamento de outro empreendimento em Camaçari: o Quintas de Arembepe. No momento, a empresa se dedica aos aspectos de licenciamento ambiental, adequando o projeto que deve ser lançado no segundo semestre de 2014. A ideia é criar um novo bairro planejado em um terreno de 340 hectares, um mix de residências, comércio e serviços, em área próxima ao Jardins do Litoral. O diretor da Design Resorts no Brasil, Luis Festas, divide o seu tempo acompanhando o cronograma do Jardins do Litoral, que terá ainda mais duas etapas, e planejando esse novo empreendimento.

Entrega do Hangar O diretor de novos negócios e marketing da OR - Odebrecht Realizações Imobiliárias, Franklin Mira, confirma a entrega do Hangar em 2013, um dos principais acontecimentos do mercado imobiliário local. Localizado em um terreno de mais de 28 mil m2 na primeira rótula do Aeroporto de Salvador, o complexo vai reunir mais de 800 empresas. São nove torres no total, com sete ou oito pavimentos cada: duas hoteleiras e sete torres empresariais, com espaços moduláveis que variam entre 33 e 845m2. O Hangar terá ainda um Green Mall com infraestrutura de serviços e mais de 50 pontos comerciais. Três pisos exclusivos para garagens, com mais de 2.500 vagas disponíveis, ligados diretamente à Avenida Luiz Viana Filho (Paralela). Existem ainda outras novidades em curso: “Estamos trabalhando em novos projetos com a marca e as características da Odebrecht. Inovação e produtos diferenciados, que trazem a satisfação de produtos únicos”, afirma Mira.

Por Núbia Cristina

Iberostate e Ponto 4/Coelho da Fonseca consolidam parceria institucional O Iberostate Praia do Forte e a imobiliária Ponto 4/ Coelho da Fonseca firmam parceria para comercialização de unidades. O pontapé inicial da parceria foi o lançamento do Reserva do Mar Premium Residences by Iberostate, condomínio com 36 apartamentos de frente para o mar e uma estrutura exclusiva que oferece aos moradores todos os serviços do Hotel Iberostar. Com projeto do arquiteto Ivan Smarcevski, as unidades foram divididas em blocos, com apartamentos térreos (150m2) e duplex (220m2), todos localizados a menos de 80 metros do mar. Para criar um ambiente de privacidade e conforto, o projeto prevê ainda grandes espaços comuns, em um condomínio fechado, com recepção, concierge e área de lazer exclusiva com uma piscina com mais de 800m2 com bar molhado. Os corretores da Ponto4/Coelho da Fonseca atendem no stand de vendas do Iberostate, em Praia do Forte.

Novidade no Rio Vermelho Tentando desconversar, o arquiteto Antonio Caramelo confirma a informação de que está trabalhando em um novo projeto para a Odebrecht Realizações (OR) no Rio Vermelho. A OR teria comprado imóveis na Rua Barro Vermelho, um local eminentemente residencial que dá acesso à paradisíaca Praia do Buracão, e planeja erguer um empreendimento de alto padrão. “Existem estudos, a Odebrecht pesquisa muita coisa”, afirma o arquiteto. Uma fonte do mercado imobiliário baiano confirma que a empresa comprou vários imóveis na região. Foto: Divulgação

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A força da MRV no Nordeste

Energia Renovável A Produman Engenharia foi contratada pela ERB - Energias Renováveis do Brasil, para a implantação global de um empreendimento de energia renovável que está sendo instalado no município de Candeias. Trata-se de uma unidade de cogeração que vai atender ao complexo industrial da Dow Brasil, localizado em Aratu, utilizando eucalipto de reflorestamento como matéria-prima para geração do vapor (fonte de energia para o parque industrial). Até o momento, as obras do projeto, que é fruto de uma parceria entre a Dow e a ERB, geraram 223 empregos para a comunidade de Candeias e localidades próximas. A unidade vai entrar em operação no segundo semestre deste ano. Foto: Divulgação

Terras Alphaville Fontes do mercado imobiliário apontam que a Alphaville Urbanismo planeja seis novos lançamentos no interior do estado em 2013 com a marca Terras Alphaville, mas o diretor comercial e novos negócios da Alphaville, Fábio Valle, não confirma, embora reforce a importância do estado para os planos de crescimento da empresa. “Acreditamos que a Bahia e o Nordeste são estratégicos, por isso, destinamos grande parte dos nossos investimentos para essa região”. Ele reforça que a Alphaville já tem sete empreendimentos na Bahia, “tendo a sua presença consolidada”.

Foto: Divulgação

O diretor comercial do Nordeste da MRV Engenharia e Participações S/A, Yuri Chain, acredita que este será um ano excepcional para a empresa na região. Em 2013, a MRV pretende lançar oito mil unidades no Nordeste. No primeiro semestre está previsto o lançamento de um empreendimento de 400 apartamentos em Salvador, no bairro de Narandiba, e outro nas proximidades do Salvador Norte Shopping, em São Cristóvão. Além disso, dois novos empreendimentos serão lançados na cidade de Feira de Santana. “Somos hoje uma das maiores construtoras de projetos residenciais do Nordeste. Os planos para a região são ambiciosos, apostamos cada vez mais nos projetos aqui desenvolvidos e o nosso grande objetivo é retribuir toda a confiança em nossa marca, possibilitando às pessoas a compra do primeiro imóvel, ajudando a melhorar a qualidade de vida”, destaca Chain. Em 2012, a empresa bateu recorde de lançamentos e vendas no Nordeste, alcançando a posição de maior regional da MRV Brasil em vendas, celebrando um crescimento de 50% em relação a 2011. “Vendemos quase seis mil imóveis na região e isso só foi possível em virtude de algumas conquistas pontuais”. A MRV se consolidou na Bahia como uma das duas maiores construtoras em volume de obras e vendas no estado, conquistando dois novos e importantes mercados: Camaçari e Feira de Santana. Graduado em administração de empresas, com MBA em marketing pelo IBMEC, esse mineiro que fixaria residência em Salvador, se a rotina de viagens pelas principais cidades nordestinas permitisse, ingressou na MRV Engenharia em 1997, como estagiário da área de marketing. Nessa época a empresa era uma pequena construtora local, que ensaiava dar os primeiros passos em outras cidades do interior de São Paulo. “Tive a felicidade e o privilégio de acompanhar o crescimento da companhia, a cada ano nossas metas eram mais desafiadoras e sistematicamente nos surpreendíamos em superá-las”. Em 2007, no momento em que a construtora estava comprando os primeiros terrenos em Salvador e Fortaleza, o diretor comercial aceitou o desafio de criar a regional Nordeste. “De imediato, percebi que seria uma grande oportunidade de crescimento pessoal e profissional, por isso aceitei prontamente o desafio de começar tudo praticamente do zero, numa região desconhecida para mim”. Hoje, ele conhece bem a cultura, o comportamento e as diferenças regionais. “Considero-me o mais nordestino dos mineiros”, diz.

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publicitário Paulo Coelho acumula a experiência de 20 anos à frente da Mago Comunicação, uma das principais agências baianas, tendo como clientes hoje Festival de Verão, Carnaval de Salvador, Sammar Veículos, Churrascaria Boi Preto, além de ter sido presidente do Sindicato das Agências de Propaganda (Sinapro Bahia). No dia 13 de dezembro de 2012, o reconhecimento: a Associação Baiana do Mercado Publicitário premiou Paulo Coelho como o melhor dirigente de agência de propaganda no estado da Bahia. Tal vivência faz Paulo conhecer a fundo a realidade do mercado tanto na Bahia como no Brasil. Por isso critica o atual modelo do mercado publicitário nacional, onde faltam investimentos regionais dos grandes anunciantes, e o fraco desempenho da economia baiana. Para ele, a verdade é que a propaganda baiana diminuiu. “É um sentimento de saudosismo, talvez, de um tempo em que o mercado baiano era pujante, com clientes e profissionais ótimos para trabalhar”.

É preciso repartir o

bolo Paulo Coelho, diretor da Mago Comunicação, anda nada satisfeito com as oportunidades do mercado baiano e declara que as agências que trabalham só com o setor privado estão “dentro d’água” 28

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A Bahia ainda é uma escola para a publicidade como nos tempos em que exportamos grandes profissionais? Já foi! Era assim em uma época em que a propaganda na Bahia era pulsante. Aqui a gente não tem mais um mercado vigoroso, para formar bons profissionais de publicidade. Você lembra da Romelsa, Tio Correia e tantas outras lojas de eletrônicos e supermercados que eram locais? Pois é, hoje não temos mais nada. A verdade é que, sem anunciantes, a propaganda baiana diminuiu. Pernambuco tem um PIB muito menor do que o nosso e já passou a gente em termos de publicidade. Os únicos grupos grandes que ainda existem aqui são a Odebrecht e a OAS. E a Odebrecht, dentro do seu campo de atuação industrial, não tem grande interesse em publicidade e os setores de comunicação estão baseados em São Paulo. A situação é que nada anda quando você tira o centro de decisões daqui. A Bahia recebe grandes indústrias, como Ford, Bosch, Nestlé, mas só o setor operacional está aqui. O cara que pensa o desenvolvimento da marca e dos produtos está fora. E os grandes anunciantes nacionais seguem sem investir aqui, mesmo com a força que o Nordeste ganhou comercialmente? A relevância que o Nordeste ganhou na econômica ainda não se reflete na publicidade. Se você observar, nosso percentual de consumo está em torno de 12% da


economia do Brasil. Agora nossa participação no bolo de mídia publicitária é de 3,5%. É desigual. Poucas empresas nacionais fazem uma atuação como a Vivo faz, por exemplo. A Mago atende a Vivo dando suporte para as três agências nacionais da marca (Young, África e DPZ) para ações dentro da realidade da Bahia. Quem é que não reparte esse bolo? Um diretor de marketing não quer repartir o seu poder por todo o país, em agências menores, em veículos menores. Se o cara tem R$10 milhões para investir, é claro que todos os veículos gigantes nacionais vão ficar babando por esse dinheiro. Se repartir por todo o país, é claro que teria resultado nas vendas, mas o cara iria perder seus benefícios, viagens e tudo mais. Você já conseguiu furar esse modelo? Olha que eu tenho 20 anos de mercado e só consegui uma vez. Foi quando fizemos uma campanha da Bombril com Ivete Sangalo. Agora por quê? Porque foi a área comercial de Recife que pressionou, alegando que estavam perdendo mercado para o Assolan no Norte e Nordeste. Assim foi destinada uma verba para cá e a gente ganhou a concorrência. O resultado é que deu um impacto fortíssimo. Isso deveria servir de case para mostrar que devemos fazer isso toda hora!

Quem é o mercado anunciante que sustenta as agências na Bahia hoje? Como não temos os grandes anunciantes, o mercado é varejo e serviço. Para se ter uma ideia, o mercado de educação antes tinha 20 instituições que anunciavam. Agora, com a consolidação [das empresas], só temos cerca de dez anunciantes, e destes, cinco são atendidos por agência de fora. Uma Área 1 e Ruy Barbosa, depois que foram compradas por grupos de fora do estado, são clientes de agência de Recife. Até nisso estamos perdendo. Há algum movimento para solucionar essas questões? Estamos conversando com o governo do estado, mas ainda de forma muito incipiente, para cobrar das empresas que estão vindo para cá que trabalhem com as agências locais. Não faz sentido uma indústria se instalar aqui e trazer toda a inteligência de fora. Mas há uma pobreza tão grande de nessa gestão que estamos caminhando para ter um estado de massa, onde cinco ou dez famílias são ricas e todo o resto não tem oportunidade.

As marcas perdem então oportunidade de venda e de posicionamento? Claro. A Ford está aqui já tem tanto tempo e parece não perceber que em Salvador tem uma praia de nome Placaford. Esse nome surgiu por causa de uma grande placa promocional da Ford que existia em frente à praia, que foi moda durante os anos 60. Imagine se fazem um acordo com a prefeitura e colocam novamente a placa, explicando que ela remete à história do lugar, à origem da empresa no Brasil! Não acontece porque quem pensa marketing não está aqui para conhecer a nossa história.

Em 2012, você ganhou o prêmio de melhor diretor de agência da Bahia. Está satisfeito com os resultados que vem alcançando? Empresarialmente não estou nem um pouco satisfeito com as oportunidades que o mercado nos dá. Como empresário ainda não consegui ser aquele médico que não sente a dor do paciente. Eu sinto dor e me incomodo muito em ver um monte de estagiário sem conseguir entrar no mercado, ou quando atendo um cliente em potencial e a coisa não decola. É um sentimento de saudosismo, talvez, de um tempo em que o mercado baiano era pujante, com clientes e profissionais ótimos para trabalhar. Hoje poucos clientes ligam para as imagens deles, só querem vender, e isso não é culpa só deles, mas é porque não existe uma formação do mercado.

Mas por que as agências locais não propõem essas ações? Olha, a gente já bateu cabeça com algumas coisas. No primeiro momento, achamos que era inocentemente falta de conhecimento das agências nacionais. Então, fomos nos apresentar como parceiros proativos, capazes de criar soluções regionais. Eles nos recebem muito bem, mas ao virar as costas nos dão “uma banana”! São muito vorazes e agressivos para manter o mundo deles. Só quem tem o poder de mudar isso é o anunciante, mas nem sempre conseguimos sem o apelo da área de venda.

Como presidente da Sinapro, você acompanhou todo o mercado das agências. Essa situação que você aponta é uma realidade de todas as agências? Quando falamos no cenário geral das agências, temos que ir com calma. A gente tem que reconhecer que a Bahia tem as agências que mais atendem contas públicas do país. Link, Propeg, SLA, Leiaute são algumas delas que atendem enormes contas de governos e empresas estatais. As agências com esse viés político estão muito bem atendidas. Na área comercial, privada, é que estamos dentro d’água. [B+]

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APOIO Inst it u cio nal

Foto: Divulgação

Bruno Cartaxo na Morya Bahia Depois de 11 anos atuando na Ideia3 Comunicação, Bruno Cartaxo retorna à Morya, agência onde iniciou sua carreira, ainda como estagiário. Premiado em diversos festivais nacionais e internacionais, Cartaxo assume a direção de criação. Desde 2011, a Morya Brasil faz parte do Grupo ABC, maior holding de comunicação do Brasil e um dos 18 maiores grupos de marketing e comunicação do mundo.

A armadilha do crack Galo Skol: ideia com resultados gigantes Visibilidade, engajamento social, responsabilidade com o meio ambiente, reciclagem, incentivo à cultura local e valorização da arte. Esses foram os ingredientes usados pela agência baiana Marcativa Comunicação Estratégica na criação do Galo Skol, um gigante de 15 metros de altura e 12 toneladas, fabricado com mais de 37 mil latinhas de Skol pela artista plástica pernambucana Thiana Santos. A iniciativa foi uma homenagem prestada à cidade de Recife e ao Galo da Madrugada, o maior bloco de Carnaval do mundo. O projeto envolveu cinco associações de catadores de latas e ONGs, e mais de 60 trabalhadores locais, durante os meses de janeiro e fevereiro. “Foi um projeto que gerou orgulho para todos os envolvidos, pois conseguimos através de uma estratégia de marketing diferenciada ativar a marca do nosso cliente Skol somando valores sustentáveis”, afirmou Aline Lasza, diretora de atendimento e novos negócios da Marcativa.

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Para conversar com o jovem tem que chocar positivamente, sair do anonimato dos comerciais tradicionais, dialogar com as redes sociais e ser de fácil entendimento. A campanha contra o crack criada pela Engenhonovo para a Secretaria da Segurança Pública faz parte do programa Pacto Pela Vida, do governo da Bahia. É uma campanha real, feita após conversas com usuários reais, que também deram depoimentos para o rádio e para vídeos na internet. Também é realista quando afirma que o crack é uma armadilha, uma ilusão.

SLA realiza campanhas do governo federal Com atuação na Bahia, Ceará, Sergipe e Distrito Federal, a SLA possui uma carteira diversificada de clientes, e, entre eles, os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Justiça; e Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Duas produções tiveram destaque nacional: a campanha nacional do desarmamento e a de recadastramento do Bolsa Família. Com o conceito “Proteja sua família. Desarme-se”, a campanha do desarmamento trouxe uma abordagem emocional e buscou desconstruir a ideia de que ter arma é proteção, tendo utilizado os meios TV, rádio, revista, mobiliário urbano, painel de metrô, busdoor e internet. Já a campanha do Bolsa Família teve como objetivo convocar os beneficiários do programa para a atualização cadastral.

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Experiências 34 | Startup 38 | [C] Luiz Marques 48

negócios

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Bahia: Maior produtor de guaraná do mundo

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A ciência aqui e agora


n e gó c io s | e x p e r i ê n c i as Foto: Rômulo Portela

Terra à vista: Lojas-contêineres descobrem a Bahia Ambientalmente corretas e atraentes no aspecto visual, as estruturas reaproveitadas viram negócios cada vez mais lucrativos. A primeira loja em Salvador foi inaugurada em novembro. Mais oito franquias devem ser criadas na Bahia durante 2013

por

Murilo Gitel

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empresário gaúcho André Krai desejava investir em uma rede própria de lojas de roupa, mas o valor alto dos aluguéis fez com que ele guardasse a ideia na gaveta, durante certo tempo. Uma viagem a Cingapura, no entanto, reacendeu o sonho adiado. Foi no país asiático que ele conheceu uma loja móvel instalada em uma caixa de metal que lembrava um contêiner. Ele conta que achou a ideia sensacional e, quando voltou para o Brasil, viu na grande quantidade de contêineres abandonados nos portos a matéria-prima ideal para as suas lojas. “É uma estrutura inteligente, barata, ecologicamente correta, sustentável e, principalmente, versátil”, destaca Krai, que afirma ter feito o maior acerto na vida. “Poucos

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As sócias Ana Santiago (à esq.) e Patrícia Fernandes tiveram que enfrentar a burocracia do TVL para inaugurar a loja feita dentro de um contêiner

acreditaram que daria certo, porque o contêiner tem uma estrutura feia, bruta e transformá-lo em algo delicado, bonito e confortável foi um desafio”, declara. Atualmente proprietário da franquia Container Ecology Store, o empresário possui cerca de 80 lojas em quase todos os estados do país (menos Piauí e Acre) e algumas no exterior, principalmente na Espanha. Os negócios em contêineres do grupo administrado por André Krai abrangem os setores de moda, alimentação (rede de temakerias), salões de beleza e rede de produtos para crianças e bebês. “Abrimos 30 franquias em 2012 e temos a meta de inaugurar mais 50 em 2013”, projeta o empresário. Segundo ele, o crescimento médio na receita supera os 80% ao ano.


Foto: Edson Pelence

Eles mandam uma equipe de montagem para içá-los e padronizá-los no próprio terreno onde vai ficar a loja”, explica Patrícia, que afirma ter tido um investimento total de R$ 450 mil para viabilizar o negócio. As estruturas das lojas utilizam também materiais reciclados internos e externos, tais como araras que são feitas de corrimão de ônibus, decks de casca de arroz, prateleiras de madeira legal e cadeira de latão.

Burocracia para o TVL

“A Bahia vem crescendo muito. Temos a expectativa de abrir mais oito franquias em 2013 e já temos candidatos em diversas cidades do estado” André Krai, proprietário da Container Ecology Story

Fotos: Divulgações

Mercado baiano E se engana quem pensa que o mercado baiano apenas assiste aos negócios em contêineres virarem uma tendência cada vez mais viável no Brasil. “Temos a expectativa de abrir mais oito franquias na Bahia em 2013 e já temos candidatos em diversas cidades”, adianta André. A primeira inauguração aconteceu em novembro, na Barra (Rua Francisco Otaviano n° 78), por meio de iniciativa das empresárias Patrícia Fernandes, Ana Santiago e Veruska Quaresma. Formada por três contêineres, a loja vende marcas como Abercrombie, Índigo Jeans, Hollister, Lacoste Live, Coca Cola Clothing, Shop 126, Lança Perfume (beachwear e acessórios) e Triton. “Os clientes ficam encantados. Não imaginavam que aqui dentro fosse tão lindo e aconchegante. Ficam surpresos, muitos nunca viram [loja em contêiner]”, relata Patrícia. Segundo a empresária, o pacote disponibilizado pela franqueadora inclui o transporte das estruturas e a instalação dos contêineres no terreno por uma equipe local da Ecology Store. “São contêineres com mais de 20 anos de uso, que são reciclados e preparados para a montagem da loja. Cada contêiner veio em uma carreta.

Mas como toda ideia nova costuma implicar dificuldades para ser aceita, viabilizar um negócio com esse grau de inovação também pode ser um caminho de espinhos. “Achei que teríamos menos trabalho quanto a preparar o terreno, colocar todas as ferragens embaixo, construir piso, montar deck, área de estacionamento, aprovação de prefeitura”, enumera Patrícia. De acordo com a empresária, os funcionários da prefeitura não sabiam como aprovar o projeto porque ele ficava “dentro de um contêiner”, desconheciam sobre qual categoria enquadrá-lo. “Tive que tentar a aprovação três vezes. Só para liberar o TVL [Termo de Viabilidade de Locação], eu tive que explicar, mandar arquiteto, engenheiro e mexer com uma pessoa conhecida para conseguir a liberação”, relembra. Outra batalha para a sócia da loja foi conseguir a aprovação do seguro junto ao banco. Como os negócios em contêineres só começaram a se desenvolver no Brasil nos últimos cinco anos, o fator risco pode ser levado em conta. “O Itaú, do qual sou correntista há muitos anos, reprovou nosso pedido. Já a Caixa Econômica Federal aprovou.” Mesmo assim, as perspectivas são as melhores possíveis. “Queremos abrir mais duas lojas em Salvador em curto prazo, mas ainda é tudo muito novo, estamos sentindo o mercado”, pondera Patrícia, cuja meta é fechar dezembro com um faturamento 100% maior em relação aos resultados dos últimos meses de 2012. [B+]

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Luxo até na hora de dormir

É possível um colchão ser tão desejado a ponto de ser um artigo de grife? A resposta de Wilna Carneiro é sim. Butique de colchões desperta interesse das classes A e B de Salvador por Renata Prezza

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ilha de Feira de Santana, a empresária Wilna Carneiro apostou na ideia de vender colchões de luxo e levou para a Alameda das Espatódeas, em Salvador, a loja da Vivar Sleep Center, direcionada às classes A e B. Optar por investir em um produto bastante segmentado não foi uma escolha aleatória. Consolidada no Rio Grande do Sul há 11 anos, a vinda da marca para terras baianas foi pensada em conjunto, como explica Wilna: “A Vivar foi fundada por Bruno Dias, que cresceu dentro de uma fábrica de colchões acompanhando os negócios com o pai Rubens. A experiência lhe permitiu perceber que a redução da qualidade dos colchões em busca de melhores preços, que o mercado impunha, era um caminho prejudicial para o consumidor e também para o comerciante. Com isso, procurou, além de produtos com alto padrão de qualidade, oferecer um atendimento consultivo que garantisse a compra mais adequada para cada cliente”. Segundo a franqueada, assim como acontece no Sul do país, os consumidores baianos já começaram a dizer que querem comprar um Vivar, ao invés de, simplesmente, colchões e travesseiros, comparando a grife às luxuosas marcas de roupa, carros e joias. Ocupam o estoque da loja os melhores colchões do mundo: Restopedic, Serta e a linha exclusiva Vivar, que segue o padrão norte-americano. Os produtos variam de R$2 mil a R$20 mil. Adaptada ao cenário baiano, a franquia soteropolitana já ensina à matriz. “O start-up de uma empresa envolve, além de dinheiro, muita energia e dedicação. Desde a concepção do projeto, passando pela reforma e adaptação da loja, investimos também em treinamento. Técnicos da rede vieram para cá e até hoje realizam treinamentos constantes. O interessante é que tem ocorrido uma troca muito positiva, pois eles ficam encantados com o jeito de ser do baiano e isso dá mais leveza ao grupo”, avalia Wilna. Com pouco mais de um ano em Salvador, a franqueada diz já assegurar um bom retorno sobre o generoso investimento inicial. O planejamento comercial foi realizado em 90%, contrariando a realidade do setor, que não teve a expectativa atendida em 2012. “Hoje já estamos com o dobro do faturamento relativo ao mesmo período do ano passado”, garante Wilna, que estuda inaugurar a segunda loja ainda em 2013. [B+]

Fotos: Divulgação

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O shopping na palma da sua mão Iniciativa de startup de três jovens baianos une a tecnologia às lojas de shoppings para levar ao consumidor as promoções das melhores vitrines através de um aplicativo para celulares. A inovação rendeu a segunda colocação do concurso Wayra Contest no Campus Party por Carolina Coelho fotos Rômulo Portela

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o entrar no shopping, você se depara com 400 lojas e três andares à sua frente. Para achar o que procura é preciso gastar algumas horas e bater muita perna em meio a multidão que não para de circular. Quem nessa situação nunca desejou ter uma bússola para ir direto à loja que oferece o produto desejado com o melhor preço? Pensando em unir quem quer comprar a quem quer vender, a equipe do SmartPanda criou um aplicativo que mostra todas as promoções disponíveis do shopping direto no seu celular. Com download gratuito, o programa quer trazer a tecnologia existente nos celulares para facilitar as compras e aumentar as vendas. A ideia partiu de três jovens baianos, Davi Barbosa (28), Ivo Machado (25) e Vicente Machado (27), que após se conhecerem no evento do Startup Weekend Salvador, realizado em agosto de 2012, puderam mesclar experiências e campos de atuação para criar o aplicativo SmartPanda. Lançado em janeiro deste ano, a novidade já está funcionando nos shoppings Paseo Itaigara e Estrada do Coco, e tem previsão para agregar o shopping Itaigara, Iguatemi e Salvador Norte ainda no primeiro semestre.

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“Nossa geração está muito atenta às inovações online, mas ainda não perdemos a vontade de tocar no produto’’ Davi Barbosa, sócio do aplicativo

Davi, Vicente e Ivo mostram os diversos dispositivos para acessar o aplicativo Smart Panda

Mesmo com toda a ascensão do e-commerce, o trio aposta nas lojas físicas como principais alvos de consumo. “Nossa geração está muito atenta às inovações online, mas ainda não perdemos a vontade de tocar no produto, experimentá-lo antes de comprar”, explica Davi. “Além disso, ainda existe muita gente que se sente inseguro com as compras online por estar mais exposto a fraudes no cartão de crédito, sem contar com o tempo que é preciso esperar para o produto chegar até você”, ele continua. A aliança dos lojistas e do aplicativo é fundamental para o sucesso do SmartPanda: “Os vendedores contribuem 90% para que nossa ferramenta atenda as necessidades dele”, explica Vicente. São os próprios lojistas que cadastram as promoções no programa, de uma a cinco por dia, dependendo do plano escolhido entre os pacotes que variam de R$34,90 a R$151,90 mensais. O SmartPanda TV vem integrado ao aplicativo, que possibilita a interatividade da mídia indoor, com a passagem de todos os anúncios da promoção para uma televisão. O serviço também pode ser útil para os shoppings, divulgando os descontos através dos painéis interativos existentes em algumas praças de alimentação. A novidade tem agradado os lojistas, que veem o produto como incremento para as vendas. “Como temos certa deficiência de público, é uma ótima iniciativa para atrair as pessoas. Diferente de uma placa de outdoor, sei que estou alcançando o público-alvo certo”, afirma Camila Alemary, lojista do shopping Paseo. Para prevenir que o consumidor receba uma enxurrada de promoções que não lhe interessa, o aplicativo faz uma análise do perfil da pessoa assim que ela faz o login através do Facebook. Dados como gênero, idade e futuramente a identificação de palavras mais escritas são usadas como informações para personalizar as promoções exibidas. Assim o aplicativo não corre o risco de ser considerado uma forma de panfletagem online. Apesar de recente, o aplicativo ganhou credibilidade nacional depois de conquistar o segundo lugar do Wayra Contest no Campus Party, em São Paulo. Mais de 90 startups do Brasil inteiro se inscreveram na competição da Telefônica. Os vencedores levaram para casa um smartphone e o prêmio mais cobiçado da noite: o contato para o acesso direto com o presidente da Wayra, Carlos Pessoa. Animados, os rapazes já planejam novos serviços a serem adicionados no programa a longo do ano. O próximo passo é permitir que o consumidor possa reservar o produto via o aplicativo, indo à loja apenas para fazer o pagamento e retirar a peça. “Estamos indo bem para quem está no começo. Isso só mostra que podemos fazer muito mais”, comemora Davi. [B+]

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GUARANÁ:

MAIOR PRODUTOR DO MUNDO FICA NA BAHIA No baixo sul baiano, o município de Taperoá vem chamando a atenção pela quantidade de guaraná que produz. Na última temporada, entre novembro de 2011 e março de 2012, foram colhidas 2.540 toneladas do fruto. O número já supera a produção do tradicional guaraná amazonense e empresas alemãs já importam da região. No entanto, o guaraná baiano continua sem reconhecimento nacional e investimento para se tornar um polo de exportação por Carolina Coelho

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oucos sabem, mas a Bahia é o maior produtor de guaraná do mundo. O cipó paullinia cupana, originário da Amazônia e famoso pelo seu efeito estimulante, parece ter se adaptado bem às terras baianas e vem rendendo bons frutos para os agricultores da região do baixo sul. Na colheita passada, feita entre novembro de 2011 a março de 2012, os mais de 15 mil agricultores familiares da região conseguiram 2.540 toneladas de guaraná, contra 1.080 toneladas colhidas na Amazônia. A expectativa para este ano é ainda maior. A atual safra espera atingir a marca de 2,8 mil toneladas. Taperoá tem a liderança mundial da produção, com 800t por ano, mas outros municípios situados na Costa do Dendê, como Valença, Ituberá, Igrapiúna, Camamu, Nilo Peçanha, Maraú, Tancredo Neves e Gandu,

Foto: Carolina Coelho

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também são fortes produtores, englobando juntos cerca de 7.600 hectares de área plantada. Enquanto na Amazônia a produção é de 130kg por hectare, a Bahia chega a produzir 400kg na mesma área. O interesse cada vez maior das fábricas de bebidas e indústrias farmacêuticas pela cafeína obtida do guaraná (também conhecida como guaraína) tem estimulado os agricultores e aumentado o preço do guaraná baiano no mercado. Se em 1999 o quilo do grão do guaraná era comercializado por R$0,90, atualmente o preço chega a R$14. Para elevar o lucro, os agricultores precisam transformar o grão em pó, o que, apesar de causar uma perda de 30% do produto, faz o produto a ser vendido por R$40 o quilo. O manejo desta técnica mais precisa, entretanto, ainda não abrange todas as famílias produtoras. Com uma taxa de cafeína de 3,5 a 5,5%, em média, o guaraná pode atingir até 8% do composto em sua composição. A preferência das indústrias compradoras pelo guaraná de teor mais alto tem feito os agricultores buscarem o melhor método de secamento e processamento para alcançar o padrão desejado. Ainda sem as pesquisas necessárias e a tecnologia adequada, os agricultores continuam trabalhando na base da tentativa para descobrir o que fazer para manter o nível da cafeína elevado.

Amazônia x Bahia Até os anos 80, o município de Maués, no Amazonas, era líder absoluto na produção de guaraná, porém a ampliação do uso comercial da semente animou os agricultores da antiga zona cacaueira e em menos de dez anos a Bahia se transformou no maior produtor mundial. O solo vermelho da região do baixo sul, seus elevados teores de compostos de ferro, com boa drenagem interna, são adequados para a produção de mais de 70 culturas viáveis comercialmente - uma das maiores taxas do Brasil, se tornando o principal aliado para o sucesso do plantio. Além do excelente solo, a Bahia leva mais uma vantagem. Os danos causados pelas doenças fúngicas, muito frequentes nas plantações de guaraná do Amazonas, como antracnose e fusariose, chegam a resultar perdas de 100% nas colheitas, o que não ocorre por aqui. Outra doença na cultura, como o superbrotamento, que causa o excesso das gemas vegetativas do fruto, também não são vistas na plantação baiana. A idade dos guaranazeiros também é um fator que influencia, já que depois que as plantas passam dos 20 anos a produção do fruto do guaraná cai Fotos: Carolina Coelho

(em cima) Depois de colhido, o guaraná leva de três a quatro dias para atingir maturação. (ao lado) Colheita feita entre os meses de novembro a abril pretende bater a marca das 2,8 mil toneladas

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gradativamente. Por manter uma longa tradição de cultivo, as plantas da Amazônia já não produzem mais como antigamente. Para evitar que isso aconteça por aqui, a Câmara Setorial do Guaraná da Bahia já pensa em fazer a substituição das plantações antigas por mudas mais novas. Todas essas constatações foram feitas quando uma equipe de técnicos da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) fez uma visita, em agosto de 2012, às plantações de guaraná na Amazônia para conhecer as tecnologias utilizadas pelos produtores amazonenses. “Vimos que o sistema de produção está mais avançado por aqui”, confirma Gerval Teófilo, técnico da EBDA e secretário executivo da Câmara Setorial do Guaraná da Bahia. O sistema de reprodução da planta, porém, se mantém como uma das grandes diferenças entre o guaraná amazonense e o baiano. Enquanto o Amazonas trabalha por meio da estaquia e da enxertia com alta produtividade, a Bahia continua utilizando o método de reprodução das sementes por falta de pesquisas.

Padronização, comercialização e consumo Inaugurada em 2010, a Câmara Setorial do Guaraná tem acompanhado a atividade e organizado as famílias e cooperativas da região para estimular a produção do guaraná. O grupo promove anualmente palestras, seminários e atividades em campo com técnicos especializados para instruir os agricultores sobre a melhor forma de fazer o plantio e comercialização, além de realizar concursos para eleger o melhor guaraná. São eles também os responsáveis por solicitarem pesquisas especializadas à Embrapa sobre o guaraná baiano. Além de buscar promover a divulgação do produto em grandes feiras de agricultura, a Câmara quer instaurar um padrão de qualidade do guaraná baiano. “Por enquanto não há um padrão para o guaraná daqui porque cada agricultor faz e vende de um jeito, e isso acaba sendo prejudicial para o crescimento em conjunto da região”, observa Norival Vieira, ex-vice-prefeito de Taperoá. Atualmente, a Ambev é a maior compradora do guaraná da região. Os grãos baianos vão de caminhão até Belém para depois seguir viagem por vias marítimas até chegar à fábrica da Ambev em Manaus, onde os grãos são processados e comercializados para consumo nacional e internacional em forma de bebidas, extrato e pó. 40

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Você conhece a lenda do guaraná? Existem muitas lendas que explicam a origem do guaraná. A mais famosa conta a história de um casal de índios da tribo Maués, que por muitos anos sonhou em ter um filho e pediu a Tupã para dar a eles uma criança. Sabendo que eram boas pessoas, o rei dos deuses concedeu o pedido, trazendo a eles um lindo menino. O tempo passou e o menino cresceu sadio, generoso e bom. No entanto, Jurupari, o deus da escuridão, com extrema inveja da felicidade alheia, se transformou em uma serpente venenosa e mordeu o rapaz, matando-o imediatamente. A triste notícia se espalhou pela aldeia e fortes raios caíram naquela noite, um deles enviado por Tupã com a mensagem de que deveriam tirar os olhos do curumim e plantar em terra firme, regando com lágrimas durante quatro luas. Dali nasceria a planta da vida, que daria força aos jovens e revigoramento aos mais velhos.

Agricultores familiares são os únicos produtores de guaraná na região do baixo sul

Máquinas artesanais fazem todo o processamento do guaraná da região

Após debulhamento, guaraná é torrado e o grão se desprende da casca


Fotos: Carolina Coelho

Secretário da Câmara do Guaraná, Gerval Teófilo aponta área que precisa receber novas mudas de guaraná

Outras empresas, além de cooperativas baianas, também compram o guaraná baiano para a produção de cosméticos, a exemplo da Natura, e bebidas naturais, como a Frutyba, que há 11 anos fabrica seus produtos no município de Ituberá. Para Norival, a comercialização ainda é pouca se comparada ao potencial de produção da região. “Temos condições para ampliar quatro ou cinco vezes mais a nossa produção, mas antes disso precisamos investir em marketing e incentivar o consumo interno do guaraná para aumentar nossa demanda”, diz ele. Já Gerval Teófilo vai por outra linha de pensamento para aumentar a produção. O secretário acredita que a região precisa dominar a transformação do guaraná em cafeína para poder vender diretamente para as indústrias farmacêuticas e de bebidas energéticas. Porém a falta da tecnologia e maquinário necessários impossibilita a realização do projeto. Uma antiga fábrica de guaraná existente em Nilo Peçanha, mas que nunca chegou a ser ativada por questões de políticas governamentais internas, continua sem poder beneficiar os agricultores.

Guaraná orgânico direto para Alemanha

Gerval e o agricultor Cosme avaliam condições das plantações que não recebem chuva desde dezembro

De onde veio o guaraná de Taperoá? Em meados de 1970, cerca de 35 famílias japonesas oriundas do Amazonas e do Pará se instalaram em terras taperoenses movidas pela promessa de melhoria de vida em solos férteis, após a decadência do seu principal produto, a pimenta-do-reino, na região Norte. Junto com eles, vieram algumas sementes de guaraná, além de pimenta jamaicana, baunilha, noz-moscada, cravo-da-índia e canela, fato que influenciou para sempre a vida social, cultural e agrícola do lugar. Atualmente, são poucos os japoneses que ainda continuam no município, mas as especiarias continuam sendo cultivadas na região, junto com outras culturas, tais quais dendê, cacau, mamão, mandioca, mangostão, fazendo da agricultura a principal fonte de renda de Taperoá.

Fundada em 1992, a Cooperativa do Projeto Onca nasceu depois que um alemão comprou alguns hectares de terra em Taperoá e as distribuiu para agricultores da região, para que produzissem guaraná orgânico e exportassem diretamente para a Alemanha. Na safra de 2011/2012, as 60 famílias do projeto exportaram para a empresa Zinfo cerca de oito toneladas de guaraná em pó, vendidos a US$17 o quilo. Certificado pelo IBD, que todo ano manda técnicos às plantações para fazer as avaliações, o selo orgânico é garantido pelo uso de exterco e biogel na compostagem do adubo e técnicas mais precisas no processamento do guaraná. Além de exigir a certificação orgânica, a empresa alemã só compra o guaraná que contém mais de 4% de cafeína em sua composição. E depois, bem longe das terras brasileiras, a empresa faz a extração e usa o guaraná para a fabricação de doces e bebidas. Este ano a safra orgânica não promete superar a do ano anterior. “Vamos sofrer uma queda de 30% na nossa produção por conta da seca. A chuva é fundamental durante a floração e aqui não chove desde dezembro”, lamenta o agricultor Carlos Cosme, há 30 anos produtor de guaraná na região. Como as plantações de Taperoá ainda não são equipadas com sistema de irrigação, a solução é torcer pela chuva para assegurar a sobrevivência das plantas e famílias. [B+]

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n e gó c io s | i n ova ção Foto: Brisa Dultra

futuro da ciência é agora

Dentre os desafios, buscar soluções para doenças complexas através do uso de células-tronco

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Depois de anos com sua indústria de transformação pouco expressiva, a Bahia e o Brasil buscam formas de fortalecer o setor de pesquisa e inovação local por Brisa Dultra

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ma curiosa pesquisa da Universidade Federal da Bahia (Ufba) divulgou, em 2011, que a maioria dos jovens entrevistados no estado não conhece nenhuma instituição de pesquisa ou nomes de cientistas baianos. A investigação explicitou um desconhecimento que pode ser sentido empiricamente: Você sabe o que é um instituto de pesquisa? Conhece algum da Bahia? Quem seriam os pesquisadores baianos da contemporaneidade? De acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), instituição científica ou tecnológica é “qualquer órgão ou entidade da administração pública estadual – direta ou indireta – ou privada, que tenha por missão institucional executar atividades de pesquisa básica ou aplicada, de caráter científico e/ou tecnológico”. Alzir Antonio Mahl, coordenador da diretoria de inovação da Fapesb, explica mais: “Pesquisa básica é aquela mais geral, que não necessariamente tem uma utilidade específica, também chamada de pesquisa científica. Já a pesquisa aplicada é aquela que serve para o desenvolvimento de um produto específico, tem uma meta, ajuda no desenvolvimento de algum produto”, afirma. Ele acrescenta: “Apesar de os institutos serem, em sua maioria, instituições públicas ou sem fins lucrativos, existem empresas privadas que contam com um departamento de pesquisa e desenvolvimento, fazendo investigações para desenvolver projetos ou produtos, como a Braskem, IBM, Telecom e tantas outras. Entretanto, elas não são consideradas institutos de pesquisa, justamente por não ter como atividade-fim a pesquisa”.


Os setores de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de uma organização podem levar a uma vantagem competitiva. Sendo assim, a criação de um setor de P&D pode proporcionar ganhos diretos à organização, como no caso do Grupo BB: “Instauramos um setor de pesquisa e desenvolvimento para inovar em produtos sustentáveis, para introduzir no mercado produtos úteis e diferenciados. Unimos”, disse Plínio Bevervanson, palestrante do Fórum de Sustentabilidade do EcoD e Sebrae. O grupo criou a Linha Green de produtos sustentáveis, aproveitando um nicho pouco explorado, alongou o ciclo de vida de caixas de papelão, chegando ao reaproveitamento de 120 mil unidades no ano, reduzindo consumo e alcançando lucros. Segundo Plínio, bons resultados também foram alcançados buscando novos insumos, como a fibra de coco, utilizada por ele na fabricação de canecas. Ao ser perguntado sobre os planos para a área de pesquisa e desenvolvimento das indústrias, em coletiva sobre as perspectivas para a economia industrial baiana em 2013, o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José de Freitas Mascarenhas disse que ainda existe resistência dos próprios empresários em investir em pesquisa: “É preciso que seja feito um trabalho de cataquese com esses agentes da economia. Além disso, estamos investindo principalmente em educação, pois acreditamos que, sem uma mão de obra preparada, nenhuma mudança na inovação e indústria de transformação acontecerá”, declarou.

O Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia) é um dos poucos conhecidos como instituto de pesquisa pelos baianos. Para o diretor Mitermayer Galvão, o reconhecimento é fruto de um competente trabalho de pesquisa: “Nós trabalhamos em diversas frentes, desenvolvendo pesquisas básicas que, em grande parte, se tornam pesquisas aplicadas. Desenvolvemos um teste para diagnosticar leptospirose que salva vidas, além de agilizar o trabalho dos médicos. É importante que, cada vez mais, gestores, industriais e pesquisadores trabalhem em conjunto para que o resultado das pesquisas beneficie ainda mais a sociedade”, declarou, lembrando que o maior desafio da pesquisa, hoje, é formar cidadãos aptos a trabalhar com ciência. “É preciso diminuir a quantidade de aulas teóricas, aumentando a parte prática; é preciso que, na alfabetização, os meninos já aprendam um pouco do trabalho de pesquisa, que os meninos tenham contato com laboratórios”, listou. Em fevereiro de 2012, a Fiocruz recebeu a visita do ministro Alexandre Padilha, que destacou a importância deste centro para a produção brasileira de ciência e tecnologia na área de saúde, propiciando um melhor tratamento de pacientes com câncer e Aids: “Fiquei impressionado com o perfil dos pesquisadores e a qualidade do trabalho realizado na Fiocruz Bahia. A perspectiva é de que continue produzindo pesquisa de ponta, aplicada e científica, inovação tecnológica e construindo nomes e produtos para a saúde pública do Foto: Rômulo Portela

Plínio Bevervanson acaba de instaurar um setor de pesquisa e desenvolvimento na BB Brindes, empresa da qual é o diretor

A bióloga Rejâne Lira é uma das principais responsáveis por levar o conhecimento científico a escolas públicas de Salvador

Foto: Brisa Dultra

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Fotos: Brisa Dultra

Marco Vinícius é um dos alunos bolsistas do projeto “Ciência, Arte e Magia”. A pesquisa dele investiga propriedades especiais da carapaça do escorpião, que fica fluorescente quando absorve luz

país” afirmou. A Fiocruz Bahia tem tradição e destaque na formação de alunos e produção científica, contando com pesquisadores concursados, verbas estaduais e federais e parcerias com outras instituições, públicas e privadas. Exemplos de crescimento econômico demonstram o desempenho determinante da pesquisa científica e da inovação na competitividade das empresas, na melhoria de qualidade de vida, na universalização dos acessos, na redução das desigualdades, e na garantia de um equilíbrio ético e ambiental do nosso desenvolvimento. Além disso, é uma fatia de mercado que precisa de profissionais.

Estímulo a inovação e ciência Para a bióloga Rejâne Lira, ninguém nasce cientista ou pesquisador, mas trilha um caminho que o leva à carreira. Para incentivar que mais meninos sigam nessa direção, a cientista e pesquisadora está à frente de uma pequena, mas valorosa equipe. Ela coordena o projeto Ciência, Arte e Magia, que começou em 2005, tendo como objetivo criar e incentivar entre os jovens uma cultura científica: “Só 2,7% dos nossos jovens querem seguir a carreira científica, se isso continua, a economia do país sofrerá impactos enormes”, conta. O projeto dá bolsas a estudantes de escolas públicas interessados na área: “Fazemos uma seleção em algumas escolas de Salvador, como o Thales de Azevedo, Alfredo Magalhães, Nilton Sucupira. Temos professores que orientam esses alunos em suas pesquisas e que têm como apoio um grupo de consultores que inclui profissionais de diversas áreas”, explica. Os estudantes podem estudar o que quiserem, desde que se dediquem com afinco ao tema. É o caso de Marco Vinícius dos Santos, 15 anos, que está estudando escorpiões: “Eu adoro esses bichos e, pesquisando, descobri que a carapaça deles possui cumarina, uma substância fluorescente que os proteje dos raios ultravioletas. A partir disso podemos pensar em produtos como camisas feitas desse material, por exemplo”, diz Vinicius, mostrando a aplicabilidade do tema. De acordo com Rêjane, houve um considerável aumento de investimento estatal na área: “Nesses 20 anos, muita coisa vem mudando. Inclusive os incentivos, que hoje existem em maior quantidade, o que mostra que o governo está realmente preocupado com a questão da inovação”. O Brasil vem, então, fortalecendo o sistema público de ciência e tecnologia, nas últimas décadas. Segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, o montante aplicado nas áreas de pesquisa tecnológica, entre recursos públicos e privados, passou de 1,3% do PIB, em 2000, para 1,72% em 2009, totalizando o investimento de R$54,2 bilhões naquele ano. A quantidade de pesquisadores e pessoal de apoio

Vista aérea do complexo de laboratórios e pesquisa da Fiocruz, em Brotas

Foto: Divulgação

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envolvido em pesquisa e desenvolvimento cresceu 72% entre 2000 e 2008, aumento direcionado principalmente para as instituições de ensino superior. Dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) 2008 apontam que as empresas privadas brasileiras ainda investem pouco em pesquisa e desenvolvimento. Mesmo com as iniciativas de incentivo à inovação, há uma grande dificuldade em se obter indicadores que demonstrem o desenvolvimento inovador nas empresas brasileiras, como aponta estudo de João Fernando Gomes de Oliveira, diretorpresidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). As causas para esta realidade vêm de longe, durante formação do nosso sistema industrial, na década de 1950, quando havia concentração de multinacionais nos setores de bens de capital e de consumo duráveis. “As empresas estatais ficavam à frente de setores de infraestrutura - como os de transporte e energia -, e as empresas nacionais privadas, grosso modo, permaneciam nos bens de consumo perecíveis e semiduráveis. A atuação das multinacionais no Brasil era focada na produção para atender mercados específicos, enquanto investimentos em pesquisa e desenvolvimento eram realizados em seus países de origem. Esse fato certamente limitou o estímulo à inovação, já naquela época. O desenvolvimento industrial brasileiro estabelecia-se sem a cultura de P&D na empresa”, escreveu João Fernando, em artigo publicado na revista USP de maio de 2011.

Cenário baiano Os avanços realizados nas diversas áreas de conhecimento científico no Brasil começam a ganhar força na Bahia e ser utilizados na produção industrial do estado. O histórico de fomento à inovação é recente, mas já apresenta os primeiros resultados. “No apoio para o desenvolvimento tecnológico e para o empreendedorismo, poderiam ser citadas as atividades da Incubadora Inavapoli, na Escola Politécnica da Ufba, sob a liderança do professor Armando Ribeiro; o curso de especialização em jornalismo científico e tecnológico, sob a coordenação da professora Simone Bortoliero, só para citar alguns”, afirmou Antonio Renildo Santana Souza, diretor de inovação da Fapesb. Os recursos são obtidos, principalmente, através da submissão de propostas de projetos de pesquisa a editais e chamadas públicas de agências de fomento como a Fapesb, em nível estadual, e a Capes, o CNPq e a Finep, em nível federal. São também fontes de financiamento o Ministério da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento e Integração, o Ministério das Comunicações, entre outros, e também empresas privadas que investem em ciência, tecnologia e inovação.

“Desde 1950, a atuação das multinacionais no Brasil era focada na produção para atender mercados específicos, enquanto investimentos em pesquisa e desenvolvimento eram realizados em seus países de origem. Esse fato certamente limitou o estímulo à inovação”

Embora a pesquisa básica seja muito relevante para a geração de conhecimento, é imprescidível o investimento em pesquisa aplicada, pois há ainda no Brasil um distanciamento entre o desenvonvolvimento da ciência e as reais necessidades do mercado, ou seja, existe uma grande dificuldade para transformar o conhecimento gerado em riquezas e serviços necessários e úteis para a sociedade. Neste sentido, é preciso aproximar mais as universidades dos órgãos de governo e das empresas brasileiras. “É imperativo disseminarmos a cultura da inovação nas cadeias produtivas, diminuirmos também a burocracia e os custos para o registro de patentes e estimularmos ainda mais os empreendedores tecnológicos”, afirmou o presidente da Fapesb, Roberto Paulo Machado Lopes. Felizmente, isso já vem acontecendo, mesmo que de maneira incipiente. O estudante de engenharia Daniel Veiga é prova de que não há fórmulas para se alcançar o sucesso. No seu caso, para ajudar um irmão que perdeu os movimentos após acidente vascular cerebral (AVC), ele passou meses num laboratório de robótica até desenvolver uma palmilha inteligente, batizada de Motus, capaz de levantar a ponta do pé de uma pessoa com deficiência física, ainda que o cérebro não seja capaz de emitir tal comando. É torcer para que este seja o começo de uma geração mais voltada ao campo de pesquisa e desenvolvimento tecnológico na Bahia. Talento nós temos. [B+]

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n e gó c io s | e con om i a

O Sétimo Selo

luiz marques Filho

Economista, superintendente da FEA-Ufba, diretor da ADVB-BA e professor da Faculdade Baiana de Direito

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No filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, um cavaleiro medieval cheio de orgulho e soberba convida a morte para uma disputa através de uma partida de xadrez. Caso ele vencesse, ficaria vivo, ao contrário, iria embora com a própria morte. O ano de 2013 parece ser o ambiente em que a economia brasileira, outrora cheia de orgulho e soberba, está jogando uma espécie de partida de xadrez. Nós crescemos nos últimos anos do governo Lula. De 2007 a 2010, nossa média de crescimento do PIB foi de 6,3% ao ano excluindo 2009, devido à crise bancária dos Estados Unidos. Viramos o queridinho dos Brics, com mercado interno aquecido. Contudo, 2011 e 2012 demonstraram que o modelo “lulista” de crescimento, puxado por explosão de crédito interno, aumento da renda das famílias e pelas exportações de commodities, chegou ao final. As famílias já estão no limite do endividamento, as exportações caíram com a redução do crescimento chinês e mundial, e o investimento interno das companhias privadas anda a passo de tartaruga, em uma espécie de armadilha da liquidez criada pelo excesso de intervenção federal na economia. Para piorar, o investimento público teima em não sair do papel. Onde estão as megaobras de infraestrutura para a Copa do Mundo? Onde está a exploração do pré-sal? O B dos Brics já começa a ser questionado e tem gente querendo entrar nesse time, que não significa nada, mas não deixa de ser uma marca para nosso país. Tenhamos cuidado com México, Indonésia e Turquia. Eles já ameaçam nossa posição. O ano começa com o medo da inflação e a luta para turbinar um crescimento econômico que em 2012 foi muito baixo. Para piorar nosso déficit em transações correntes, a relação do Brasil com o mundo (comércio, serviços e transferências) continua alto e sendo financiado com dinheiro especulativo que vem de fora para aplicar em nossos papéis de renda fixa. Afinal, mesmo com a

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Selic baixando, ela ainda é muito elevada para os padrões internacionais. No ano passado, nosso déficit em conta corrente foi de quase U$50 bilhões. Nos últimos cinco anos, nosso déficit externo acumulado foi de U$203 bilhões (números do Banco Central). Esta elevada dependência de moeda estrangeira é preocupante, mas para o governo parece que está tudo bem. Porém, para não trazer apenas más notícias, que bom que nossas multinacionais continuam a fazer negócios e crescendo no exterior. Somos hoje um player internacional. Ao mesmo tempo ainda somos atrativos em muitos setores, mas é fundamental destravar os investimentos privados e públicos. Temos que ter um novo modelo de crescimento não mais baseado no crédito interno, mas sim na expansão dos investimentos produtivos. Quando somos orgulhosos, somos incapazes de ver as nossas próprias falhas e de realizar autocríticas. Não podemos enrolar a realidade da economia. Não dá para enrolar. Voltar a investir é fundamental. O governo Dilma precisa entender isso e deixar a área privada atuar, além de tirar os investimentos públicos do papel. No filme de Bergman, ao final da partida de xadrez, o orgulhoso cavaleiro medieval, confrontado por um xeque-mate dado pela morte, e sabendo que iria perder, derruba as peças do tabuleiro tentando enrolar a morte e terminar a partida, sem vencedores. Ela sorri, coloca as peças no lugar e fala irônica: “Calma amigo, eu conheço todos os truques. Não dá para enrolar”.

“O B dos Brics já começa a ser questionado e tem gente querendo entrar nesse time. Tenhamos cuidado com o México, Indonésia e Turquia. Eles já ameaçam nossa posição”


E S P E CIAL MUL H ER

ELAS fazem a diferença H por Pedro Hijo

á algo comum a todas as mulheres que é o poder de desempenhar diversos papéis ao mesmo tempo com maestria. Ter de ser mãe, filha, esposa, profissional bem-sucedida, cuidar de si e ser feliz são tarefas tão bem desempenhadas por elas que só nos cabe admirar a força da mulher. Se na história fez-se necessário marcar um dia para que todos reconhecessem tais feitos - celebrado no dia 8 de março como o Dia da Mulher -, aproveitamos então esta edição para unir exemplos de dez mulheres baianas que fazem as coisas acontecerem. Mulheres que, por exemplo, revolucionam o Judiciário brasileiro, lutam para melhorar o setor da educação no país, rompem as barreiras do machismo, desistem de carreiras consolidadas para seguir sonhos ainda maiores e firmam seus nomes entre os mais notórios nos setores de atuação.

“Empoderar mulheres e promover a equidade de gênero em todas as atividades sociais e da economia são garantias para o efetivo fortalecimento das economias, o impulsionamento dos negócios, a melhoria da qualidade de vida de mulheres, homens e crianças, e para o desenvolvimento sustentável” ONU Mulheres e Pacto Global das Nações Unidas

ícones: thenounproject.com

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Foto: Divulgação

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Eliana Calmon

ombudswoman do poder Primeira mulher a integrar o Superior Tribunal de Justiça, a ministra Eliana Calmon é símbolo de um judiciário mais aberto e transparente

Aos 68 anos de idade, a ministra Eliana Calmon diz sentir falta de Salvador, sua terra natal. “Sinto saudades do mar, de quando morava no bairro do Canela e podia caminhar na beira da praia”, lembra. Faz 24 anos que ela é uma moradora de Brasília, transferida para lá depois de ser promovida ao Tribunal Regional Federal da capital do país. Teve que se adaptar à nova realidade. Mas Eliana não tem medo de mudanças. Quando se tornou corregedora do Conselho Nacional de Justiça, em 2010, trouxe com ela a responsabilidade de fiscalizar o desempenho de juízes de todo o país. Logo em seu discurso de posse, anunciou que teria tolerância zero com qualquer desvio do Judiciário. A promessa foi cumprida. Ao deixar o cargo, dois anos depois, a ministra conseguiu firmar o seu nome como um dos que mais revolucionaram o poder sem ceder à politicagem barata. Quando expôs as mazelas e a conduta irregular de uma série de juízes, virou símbolo de idoneidade e deu o primeiro passo para um Judiciário mais transparente. Sem medo de falar, a ministra protagonizou polêmicas e foi, muitas vezes, o centro das discussões, principalmente após dizer, em entrevista, que estaria sendo atrapalhada por “bandidos que estão escondidos atrás da toga”, referindo-se aos juízes corruptos. “Eu sou uma pessoa que sempre chamo as coisas pelo nome que elas têm”, diz. “O poder Judiciário ficou hermético e nós não podemos ter cortinas de fumaça, porque estamos trabalhando com interesse público”, completa.

Em sua gestão, foi aberto um número recorde de processos para apurar a conduta irregular dos juízes. Além disso, Eliana Calmon fomentou a quebra de sigilo sobre dados dos rendimentos dos magistrados, expulsou corruptos de seus cargos e diminuiu práticas que permitiam às autoridades receber vários salários extras. “Eu agi com transparência”, diz. “Eu entendia que não era possível passar a mão por cima da corrupção e encontrei muitos desafios, principalmente pela má gestão acompanhada desse sigilo absoluto de ninguém saber como administrar a coisa pública”. Os desafios surgiram muito antes de Calmon se tornar corregedora. Primeira mulher a integrar o STJ, ela teve que vencer o chamado “Clube do Bolinha do Tribunal”, como ela mesma diz. Eliana Calmon tem suas raízes fincadas no movimento feminista dos anos 70 e diz que se o preconceito existiu, para ela nunca teve importância. Mas ela sabe o peso de ser mulher em um meio dominado por homens. “Quando me candidatei a uma vaga, muitos colegas me disseram que ainda não era hora de uma mulher ocupar aquele cargo. Respondi que só conhecia a Constituição, e por ela não havia diferença entre homens e mulheres”, diz. Hoje, Eliana Calmon chefia a escola de jovens magistrados, Enfam, e se diz otimista com o quadro dos alunos. “Eu tenho encontrado ao longo da minha carreira uma série de jovens juízes magníficos, e que querem mudanças. Tenho de acreditar na juventude e na força deste discurso pela modernidade”, diz a ministra.

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ESP E CIAL MUL H ER Foto: Rômulo Portela

Anna Penido

Educação coletiva ex-coordenadora do Unicef e atual diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido cria soluções inovadoras para antigos problemas da educação no país. “A educação é a alavanca da transformação social”

Ainda adolescente, Anna Penido entrou para um grupo de jovens de sua escola que desenvolvia oficinas de escrita na periferia de Salvador. Foi lá que percebeu que a realidade era maior do que imaginava. As oficinas eram uma forma de fazer com que aquela comunidade pudesse falar de si mesma, através da produção de matérias e jornais. A ideia cresceu quando começou a cursar jornalismo. “Tudo o que eu aprendia na faculdade eu passava para aqueles meninos da comunidade”, lembra. “Ali, vi que com a comunicação eu poderia dar visibilidade ao invisível”. O resultado foi tão significativo que Anna aproveitou a possibilidade de estagiar em multinacionais para espalhar a ideia das oficinas por todo o Brasil. Para onde seu trabalho a levava, ia junto a possibilidade de conhecer novas comunidades e pôr em prática aquilo que já tinha sido aprovado em Salvador. Em 1999, depois de se profissionalizar, ela deu origem à Cipó - Comunicação Interativa, uma organização sem fins lucrativos para formar jovens da rede pública de Salvador através de cursos voltados para a área da comunicação. Desde então, a Cipó é responsável pela inclusão de mais de dois mil jovens no mercado de trabalho. Em 2007, foi convidada para ser coordenadora do Fundo das Nações Unidas para a Criança (Unicef), 50

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em São Paulo e Minas Gerais. “Foi durante estes quatro anos a frente do Unicef que pudemos criar uma ação para centros urbanos, fortalecer as lideranças jovens de comunidades populares e colocá-las em contato com o poder público”, lembra. Os sonhos da jornalista ultrapassaram a fronteira do Brasil. Anna Penido passou o ano de 2010 na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, participando de um programa de liderança do impacto social. A ideia foi potencializar a promoção de mudanças sociais e pensar sobre a relação dos jovens com os adultos, ou seja, como adultos podem empoderar estes adolescentes para que eles possam expandir suas liberdades e tornarem-se cidadãos mais efetivos. Na prática, Anna percorreu seis países desenvolvendo oficinas entre os mais variados grupos de jovens: desde adolescentes franceses que veem na cultura do hip-hop sua única fonte de aprendizagem, até jovens da cidade de Dacca, em Bangladesh, considerada pela revista britânica The Economist, em 2012, como a pior cidade do mundo para se viver. O convite para dirigir o Inspirare surgiu logo que Anna voltou ao Brasil. O primeiro programa do instituto, encabeçado por ela, chama-se Porvir, uma iniciativa de comunicação e mobilização social que produz e compartilha livremente na internet conteúdos voltados à educação.

“Eu gosto de construir coletivamente coisas a partir do zero. Não adianta sentar e esperar pelo governo. Mudar o mundo é uma tarefa de todos”

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Tal como os traços inconfundíveis de Carybé ou o olhar certeiro de Verger, a estamparia de Goya Lopes mostra a Bahia através de sua raiz: a África. A cultura afro-brasileira é a principal fonte de inspiração dessa soteropolitana de jeito manso e voz calma, criadora da grife Didara que, há mais de 25 anos, firma seu nome entre as principais referências do gênero no país. Depois de estudar design na Europa nos idos dos anos 70 e perceber a falta que as estampas étnicas faziam, Goya voltou ao Brasil para por em prática o seu sonho de contar por meio de roupas e peças de decoração a história e os resultados da diáspora africana. Criou então a Didara. Desenvolveu peças de decoração e roupas tão emblemáticas que ganhou fãs como o cantor Moraes Moreira, a banda Ara Ketu e o americano Jimmy Cliff. O trabalho de estamparia levou Goya a ser convidada a fazer parte do grupo criativo do setor que discute a moda no Ministério da Cultura. “Eu vejo marcas baianas que se apoiam no conceito étnico para se firmarem, então, por que a moda não seria cultura?”, pergunta. Hoje, a artista já desenha um novo caminho para ampliar a grife e montar peças inspiradas em outras culturas brasileiras.

Goya Lopes

Moda afro-brasileira “O meu papel é o de contar uma história, disseminar a descendência a partir do belo, através das cores e dos traços”

Foto: Divulgação

Lila Lopes

Cultura empresarial “Acho que talvez a multiplicidade de papéis seja o maior desafio que uma mulher pode ter na vida”

Foto: Rômulo Portela

Você pode não ter ouvido falar em Lila Lopes, mas, com certeza já foi a algum evento, consumiu um produto ou ouviu a música de algum artista que ela assinou. Não seria exagero falar que, na área de empresariado e marketing, Lila é um dos nomes que mais despontam no Norte/Nordeste, principalmente depois da criação da 8BISZ, empresa de ativação promocional fruto da união do Grupo EVA, da Lícia Fábio Produções e de Pagana Carvalho, com clientes que vão desde o setor coorporativo até produtos culturais. O cantor Magary Lord, revelação do carnaval de 2012, por exemplo, foi um achado da empresa. Formada em administração de empresas, Lila coleciona passagens por companhias de gêneros bem distintos. Já foi executiva de empresas como o shopping Iguatemi, Banco Econômico, Rede Bahia e Centro Universitário Jorge Amado. O currículo, tão variado, é um diferencial para ela. “Acho que tenho essa sensibilidade de dialogar com as especificidades de cada indústria e adequá-las aos princípios do marketing e da comunicação que são universais”, defende. Faz dois anos que Lila uniu-se à Lícia Fábio Produções para criar o grupo Farol que ela mesma define como um dos maiores desafios de sua carreira. O grupo engloba quatro empresas: a Usina, UP, 8BISZ e a Lícia Fábio Produções. Apesar de promover tantos eventos, Lila se diz avessa à badalação. É que, além do papel empresarial, Lila Lopes ainda é esposa e mãe de três crianças. “Eles sabem que eu preciso estar trabalhando na maior parte do tempo, eu explico e eles entendem”, diz.

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Ines Carvalho

em prol da sustentabilidade

Foto: Divulgação

Baiana, de Salvador, e administradora de empresas, Ines Carvalho iniciou o seu contato com a sustentabilidade quando foi convidada para formar o conselho estratégico do Instituto Faça Parte, organização que trabalha no fomento à cultura do voluntariado educativo dentro das escolas. A organização deu origem ao movimento Todos Pela Educação, uma tentativa de certificar qualitativamente o ensino brasileiro e incentivar a formação de política pública. Sempre envolvida nas questões de mobilização social, Ines Carvalho atendeu ao convite de Isaac Edington, em 2008, para fundarem o Instituto EcoDesenvolvimento. No EcoD, é responsável por mobilizar atores sociais e engajálos em prol do desenvolvimento sustentável. A principal dificuldade, segundo ela, é mostrar que a sustentabilidade vai muito além da preservação do verde. “O mundo mudou, os recursos ficaram escassos, então, como podemos rever a nossa noção de convivência?”, provoca. A resposta está na conscientização: “Se todos sabem o que é sustentabilidade, a sociedade passa a discutir o assunto”. Desde o ano passado, Ines é uma das mulheres que formam a Rede de Líderes em Sustentabilidade do Ministério do Meio Ambiente. São cerca de 300 personalidades que participam de encontros para discutir meios de incluir o assunto na pauta de discussões da sociedade.

Não é novidade que o setor de saúde no Brasil sofre pela escassez de recursos para financiamento do serviço público. De encontro a este quadro, estão as redes filantrópicas, que desempenham um papel de fundamental importância. Estimativas indicam que 51% da assistência prestada ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil vem de instituições beneficentes. Órgãos como a Fundação José Silveira, que atende cerca de um milhão de pessoas por ano e emprega aproximadamente seis mil colaboradores em todo o estado da Bahia. À frente desta instituição, está Leila Brito que há mais de 20 anos trabalha na fundação e há quatro ocupa o cargo de superintendente. Assistente social de formação, a baiana Leila Brito entrou na FJS como estagiária do curso de administração hospitalar. Desde então, viu a instituição crescer e aumentar seu número de projetos. Hoje, aos 45 anos, Leila é a líder de um dos principais órgãos sem fins lucrativos do país. “Quando aceitei o convite de comandar esta equipe, aproveitei algumas características essencialmente femininas, como a habilidade de saber ouvir e de construir relacionamentos sólidos”, diz. O desafio é grande. A Fundação José Silveira, com mais 76 anos de história, passa por uma fase de modernização e ampliação de suas áreas de atuação. Além de contribuir com a promoção da saúde dos baianos, também atua em mais 13 estados do país. 52

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Leila Brito

Líder da saúde

Foto: Divulgação


Tereza Paim

Amor pela comida Tereza deixou a consolidada carreira de engenheira para se dedicar a um sonho. Não deu outra: hoje ela é um dos maiores nomes da gastronomia baiana

Falar com Tereza Paim é ter a sensação de que você está conversando com uma velha amiga, mesmo sem nunca a ter conhecido antes. Já pergunto sobre a tatuagem que tem grifada no pulso, a palavra atitude. “A tatuagem é para me lembrar de que o mundo precisa de atitude... Às vezes gosto de olhar para o meu pulso e pensar ‘está na hora de tomar uma atitude’”, diz. Tereza conhece o poder desta palavra. Aos 41 anos largou uma bem-sucedida carreira como engenheira para abraçar a gastronomia e teve que enfrentar a indignação dos amigos e parentes mais próximos. “Eu era feliz no que eu fazia, mas teve uma hora que uma pedra bateu na minha cabeça e me disse: Eu quero cozinhar”. A pedra na cabeça atende pelo nome de João, seu filho de 11 anos que, ao nascer, despertou nela a ideia de correr atrás de seu sonho. “Quando a gente não segue um dom, o dom segue a gente”, filosofa a baiana nascida no município de Tanquinho, próximo a Feira de Santana, e que chegou a Salvador com apenas 13 anos. Faz nove anos que ela resolveu se entregar à culinária, que antes era apenas um hobby. Estudou, se profissionalizou e hoje tem dois restaurantes, o Casa de Tereza, no Rio Vermelho, e o Terreiro Bahia, na Praia do Forte, além de um serviço de catering (bufê), voltado para a área coorporativa, que, inclusive, foi o escolhido pela produção do show da cantora norteamericana Beyoncé, quando veio a Salvador.

Em tão pouco tempo de história como cozinheira, Tereza já acumula prêmios. Em 2012, foi escolhida pela edição soteropolitana da revista Veja como a chef do ano e seus dois restaurantes são pontos certos não só para os locais como também para os turistas que visitam a cidade. “Com o bobó de camarão e a moqueca de peixe, qualquer um fica louco”, garante. Sempre que Tereza se refere ao restaurante é no coletivo. Substitui o esperado “eu”, de quem já se sente consagrada, por um humilde “nós”, como quem aplaudisse a participação da equipe que, com ela, integra os restaurantes. “Toda a minha equipe edificou esse prédio, levantou essas paredes”, diz. “Acho que deu certo porque formamos um grupo que tem vontade, que tem boa vontade. O sucesso não é meu, não acredito no mito, o sucesso é da equipe. É como um time de futebol: Ronaldo não faria o gol se ninguém cruzasse para ele”, completa em estilo bem brasileiro. Dá para notar a participação coletiva até mesmo na decoração do Casa de Tereza. O restaurante, que vai além de ser um espaço para a boa comida, é um centro cultural detalhadamente ornamentado por 11 artistas plásticos baianos.

Foto: Rômulo Portela

“Quero continuar andando, continuar sonhando e acordando cedo para batalhar pela realização destes sonhos” ww ww w.w. r er ve ivsi tsat b ab mm a iasi .sc. o co mm mm a arrçç o /ea b ar b ri l il 2013

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Malu Fontes

Jornalismo provocativo “Meu papel é movimentar a dúvida, é falar: ‘Psiu! Talvez você não tenha visto isso”

Foto: Divulgação

Apesar de ter nascido em Salvador, o sobrenome denuncia: Lise Weckerle tem sangue alemão correndo nas veias. Seus pais chegaram muito jovens ao Brasil e aqui abriram as Óticas Ernesto, empresa com mais de 60 anos no mercado e que hoje é gerenciada por ela e seus filhos. Seu desempenho à frente da loja lhe rendeu não só prêmios (como o de Sensibilidade e Liderança, em 1997), como também o convite para presidir a Associação Comercial da Bahia em 2005. A gestão foi marcada pelo ineditismo. Lise foi a primeira mulher a presidir a associação, que é a mais antiga do país, com mais de 200 anos de história, e a focar as atenções da casa para as pequenas e médias empresas. Foi em seu mandato que os microempresários tiveram qualificação através de cursos, palestras e oficinas e muitos puderam sair da ilegalidade. Sobre ser a primeira presidente, Lise é clara: “A mulher, normalmente, tem mais sensibilidade para lidar com o outro. Acredito que isso tenha me ajudado, mas o que pesa mesmo é a competência do indivíduo”. Depois de oito anos de mandato, Lise encarou um novo desafio. Convidada para gerenciar o setor social da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, ela trabalha voluntariamente todos os dias na intenção de movimentar os projetos da instituição. 54

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Basta fazer uma rápida pesquisa para concluir que o número de desafetos é tão grande quanto o número de leitores ávidos pelo texto provocativo de Malu Fontes. E não é para menos: com quase 30 anos de carreira, a jornalista e doutora em comunicação já passou pelos principais jornais de Salvador, é um dos principais nomes da imprensa baiana atual e não pensa duas vezes antes de criticar aquilo que acha errado. Inquieta (basta perguntar para os seus alunos de jornalismo na Ufba), Malu se opõe àquilo que chama de “encantamento narcísico equivocado do baiano”, ou, trocando em miúdos, a linearidade de opinião e falta de crítica, principalmente, da imprensa local. Seja através de seus comentários em jornal, rádio ou Twitter - onde divide sua indignação diariamente com mais de dez mil seguidores -, ela não pretende ser a porta-voz da “boca no trombone”, quer apenas fomentar a polêmica para que surja a reflexão. Entre os assuntos preferidos, estão a política e a mídia baiana, principalmente a televisiva, a que se dedicou a criticar em sua extinta coluna no jornal A Tarde, na época, alimentando a fúria de apresentadores de TV de programas populares.

Lise Weckerle

Sensibilidade para o comércio proprietária das Óticas Ernesto, Lise foi a primeira mulher a presidir a Associação Comercial da Bahia e a voltar as atenções para o microempresário

Foto: Divulgação


Cláudia Tourinho

Justiça eficiente Juíza federal de Salvador, Cláudia Tourinho é a responsável por dar uma nova cara à Vara responsável por causas previdenciárias e agilizar os processos referentes ao setor. Sua gestão serve de modelo para outros estados do país

Quem vê todo o trabalho realizado pela juíza federal Cláudia Tourinho à frente 21ª Vara de Juizados Especiais da Bahia não imagina que ela tenha alguma vez na vida titubeado sobre qual profissão deveria escolher para seguir. Por sempre ter vivido no meio jurídico (sua família paterna é formada quase toda por juízes), Cláudia sempre teve uma rejeição à carreira de direito pela grande demanda de trabalho que a afastava de seu pai. Mas, por alguns acasos da vida, ela seguiu o caminho da família e, hoje, não se vê fazendo outra coisa. Desde então, Cláudia já foi assessora de subprocurador-geral da República e promotora de Justiça no Distrito Federal, só para citar alguns cargos. Foi em 2006, de volta a Salvador, que Cláudia Tourinho assumiu o controle de uma das seis varas da cidade. Na época, encontrou cerca de 18 mil processos esperando por conclusão e uma equipe desestimulada. Começou com uma triagem, separando os casos por assunto para organizar a casa. Aos poucos, foi mudando a equipe e escolhendo profissionais que se dedicavam a trabalhar com mais rapidez e incentivando esses servidores. “A cada pacote com mil processos

Foto: Rômulo Portela

que nós conseguíamos dar um resultado efetivo, a gente organizava uma festinha para comemorar, o que estimulava a produção”, diz Cláudia. Desde que assumiu, o número de processos na vara caiu para dois mil. O desafio foi grande. A vara coordenada por Cláudia recebe causas primariamente voltadas para as questões previdenciárias, o setor com o maior número de processos que tramitam nos juizados especiais, segundo pesquisa recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Além disso, estas causas demandam a presença de uma série de outros profissionais, como médicos ortopedistas para perícia, que, na maioria das vezes, estão em falta. Para resolver este problema, Cláudia realiza mutirões aos sábados, chamando médicos e servidores, enxugando o número de pendências e diminuindo o tempo de espera para a resolução dos casos. “Nós trabalhamos muito com pessoas idosas, pessoas doentes, gente que precisa daquele resultado”, diz a juíza. “Temos que trabalhar encarando cada processo como se fosse uma vida. É preciso ter essa sensibilidade”, completa. A gestão serve de modelo para outros estados do país e a região que engloba a vara coordenada por Cláudia Tourinho tem elevados índices de produtividade, segundo pesquisa do Conselho Nacional de Justiça. “A casa realmente precisava de mudanças e fico feliz por ter ajudado. É um trabalho muito gratificante”. [B+]

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DNA

de Empreendedor

Antonio Andrade Jr. está à frente da Andrade Mendonça, construtora baiana que entregou o primeiro estádio da Copa do Mundo de 2014, o Castelão. O gestor defende o modelo de PPP, comenta os projetos em curso e relembra os sapos que teve de engolir, conforme previu Paes Mendonça, para fazer da empresa uma das companhias que mais crescem no país por Murilo Gitel

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alvador, 1977. Depois de uma década de sucesso dedicada ao varejo de alimentos, onde foi sócio de Mamede Paes Mendonça, o empresário sergipano Antonio Andrade criava a construtora Andrade Mendonça. O primeiro empreendimento entregue pelo grupo foi um pequeno condomínio residencial, em Feira de Santana. A partir de então, realizou obras residenciais, comerciais e industriais, como a mansão de alto luxo Carlos Costa Pinto e os supermercados Paes Mendonça e Bompreço. Um acidente de carro, em 1988, entretanto, interrompeu a trajetória ascendente do empresário. Antonio Andrade Júnior, com apenas 22 anos, herda a construtora. “Foi quando o João Carlos Paes Mendonça me disse que eu passava a ter 32 anos, como se ganhasse mais uma década de vida”, relembra o atual presidente da empresa, em entrevista concedida à [B+] em seu escritório.

Imagem do pai, fundador da construtora, está presente até mesmo no escritório de Antonio Andrade Jr.

Foto: Rômulo Portela

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Foto: Acervo Pessoal

“Seu pai me falou uma vez que você não é de engolir sapos. Saiba que, a partir de hoje, você vai ter que engolir uma lagoa inteira de sapos”, advertira novamente o amigo João Carlos Paes Mendonça ao jovem. O conselho do experiente empresário fazia sentido. “Ainda quando eu era estagiário, aos 19 anos, ouvi uma vez de um dos diretores da construtora que eu não precisava trabalhar porque eu era filho do dono. Que eu devia surfar, curtir a vida”, recorda.

Consolidação Toninho, como é conhecido entre os mais íntimos, não ouviu o conselho. Quase 25 anos se passaram e a Andrade Mendonça acumula realizações. Da sociedade com a incorporadora Cyrela, nasceu a Cyrela Andrade Mendonça, em 2006. “Em quatro anos, a empresa conquistou oito prêmios Ademi, um recorde na história da premiação, e gerou R$2 bilhões em vendas.” Em julho de 2011, a Cyrela Brazil Realty comprou a participação da Andrade Mendonça na companhia. “Naquele momento não havia mais mercado para que continuássemos. A parceria foi a melhor possível. Foi bom para os dois lados. Se hoje eu tivesse que escolher uma incorporadora imobiliária para fazer parceria, eu escolheria a Cyrela”, avalia o empresário. O Salvador Shopping, considerado um divisor de águas na história da Andrade Mendonça, cuja construção e ampliação para o grupo JCPM foram realizadas entre 2007 e 2009, é tido pelo empreendedor como um dos grandes ícones da construtora. “É diferente em tudo. Ele mudou o conceito no Brasil. Os shoppings eram galpões com várias lojas. O Salvador Shopping foi concebido como uma grande avenida coberta, com estacionamento, ar condicionado, com vida e segurança”, pontua. Para Antonio Andrade Júnior, o empreendimento tornou-se referência nacional na construção comercial. O fortalecimento da parceria com o Grupo JCPM resultaria ainda na construção do Salvador Norte Shopping.

Primeira arena Juntamente com a Galvão Engenharia, a construtora baiana entregou a Arena Castelão no dia 16 de dezembro, quatro meses antes do prazo estabelecido pela Fifa – o que tornou o estádio de Fortaleza o primeiro a ser concluído em vista da Copa das Confederações (2013) e do Mundial de 2014.

(em cima) Entre os pais Antonio e Maria José Andrade, ainda menino. (embaixo) Com o amigo João Carlos Paes Mendonça, à época da construção do Salvador Shopping: divisor de águas

Foto: Divulgação

“O maior legado que a Copa do Mundo vai deixar para o Brasil são as PPPs. Sem elas, a Copa não seria realizada. Vamos acabar percebendo que elas também servem para resolver o problema da educação e da saúde, por exemplo”


capa

Com a bola “Cafusa”, da Copa das Confederações, em uma mão, e a réplica do estádio Castelão na outra - pioneirismo

Foto: Rômulo Portela

“O meu amigo João Carlos [Paes Mendonça] me disse que também vai construir estádio na próxima Copa do Mundo. Aí eu respondi a ele que até lá eu já vou ter construído foguetes para a Nasa”

“A Andrade Mendonça usou a expertise que tem no DNA, de tocar as obras do setor privado com eficiência e qualidade, aliada ao DNA da Galvão Engenharia, que é lidar com o cliente público”, destaca o empresário de 46 anos. O Castelão teve investimento de R$518 milhões, oriundos do BNDES e do governo do Ceará. Segundo o empresário, a maior dificuldade para construir o Castelão foi o fato de que, quando a obra começou, praticamente não havia projeto. “Tinha um anteprojeto. A nossa dificuldade era fazer a obra, os projetos e atender às exigências da Fifa, que às vezes criava uma nova demanda enquanto já estávamos com o empreendimento em andamento”. Tradicionalmente centrada no segmento privado, a construtora baiana mergulha, cada vez mais fundo, no setor de obras públicas. Antes de entregar o Castelão, a Andrade Mendonça já havia concluído, no primeiro semestre de 2012, o Centro de Eventos do Ceará (ExpoCeará), também em parceria com a Galvão Engenharia. Maior centro de convenções da América Latina, o empreendimento ocupa uma área de 170 mil m2 e demandou investimentos de R$357 milhões (governo cearense).

PPPs Antonio Andrade Júnior afirma que a experiência com a Galvão Engenharia só somou bons frutos e adianta que a construtora baiana está aberta para parceria com novas companhias a fim de construir obras públicas, com apenas uma condição: a empresa parceira precisa ter o que ele chama de “DNA de obra pública”. “O maior legado que a Copa do Mundo vai deixar para o Brasil são as PPPs. Sem elas, a Copa não seria realizada. Vamos acabar percebendo que elas também servem para resolver o problema da educação e da saúde, por exemplo”, aposta o empresário. Parte interessada nesse modelo de negócio, ele justifica sua opinião em pontos como a negligência e ineficácia que o poder público costuma ter ao lidar com grandes empreendimentos e recursos, que muitas vezes acabam comprometidos devido à corrupção.

Cronograma das obras do Castelão

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13/12/2010

11/11/2011

10/12/2011

15/05/2012

20/08/2012

início das obras

50,09%

54%

67,60%

83%

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“O setor privado faz um investimento. Se der prejuízo no futuro, o governo banca a diferença. Do contrário, as obras não saem. Ninguém investe para os outros baterem palma e não entrar dinheiro... Mas isso é muito melhor do que o Estado fazer tudo. Iria se gastar bem mais do que o previsto, a obra não ficaria pronta no prazo”, defende Antonio Andrade Júnior.

Já no ranking da revista Exame PME, a pesquisa da Deloitte apontou a Andrade Mendonça como a segunda empresa da indústria da construção que mais cresce no Brasil, com variação positiva no faturamento de 502,5%, no período de 2009 a 2011. “Se tudo o que estamos planejando para este ano for concretizado, é bem possível que consigamos até superar os resultados de 2012”, calcula o empresário, ao adiantar que a construtora está em vias de fechar um grande negócio ainda para 2013, sem revelar detalhes. “O meu amigo João Carlos [Paes Mendonça] me disse que também vai construir estádio na próxima Copa do Mundo. Aí eu respondi a ele que até lá eu já vou ter construído foguetes para a Nasa”, brinca um bem-humorado Antonio Andrade Júnior.

Investimentos Atualmente, o gestor considera que o mercado imobiliário na Bahia passa por um momento de ajuste, depois do boom que o segmento teve nos últimos anos. “Cresceu mais do que podia suportar. Hoje estamos só observando. Todo o dia tem maré cheia e maré baixa”, compara o empresário. A obra do setor que a construtora trabalha hoje é o residencial Adelaide, na Av. Contorno. No segmento comercial, depois de concluir a ampliação do Shopping Barra, a Andrade Mendonça também realiza a construção das concessionárias Eurovia (Renault/Nissan), em Lauro de Freitas, e Harley-Davidson, na avenida Paralela. Já no industrial, a construtora ergue em Camaçari as fábricas da KimberlyClark, Knauf e o Centro de Distribuição de O Boticário. “Em 2013, a nossa expectativa é de continuar crescendo, aproveitando as oportunidades de novas obras para os setores público e privado”, projeta Antonio Andrade Júnior. Ele acredita que os investimentos em infraestrutura serão intensificados por conta dos grandes eventos que se aproximam, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Mas será difícil para a construtora bater o desempenho de 2012, quando foi considerada uma das empresas do setor que mais crescem no país pelo Ranking da Engenharia Brasileira – 500 Grandes da Construção, da revista O Empreiteiro. Com variação de 93% em sua receita de 2010 para 2011, a companhia baiana deu um salto na classificação geral, ao passar da 164ª para a 63ª posição.

Variação de receita da Andrade Mendonça: De 2010 para 2011: 93%. Saltou da 164ª para a 63ª posição no ranking das maiores construtoras do país. Fonte: revista O Empreiteiro

2009-2010-2011: 502,5%. Segunda empresa da indústria da construção que mais cresceu no Brasil. Fonte: revista Exame PME

Veia de empreendedor O empresário, que é administrador por formação, embora também tenha cursado engenharia, pontua que a Andrade Mendonça tem como uma espécie de slogan o cumprimento de prazos, a seriedade e o bom acabamento das obras. “Tudo isso está na nossa veia”, acrescenta.

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19/10/2012

16/12/2012

27/01/2013

abril de 2013

87%

91,06%

100%

Primeiras partidas da nova Arena Castelão. Fortaleza x Sport Ceará x Bahia

Prazo-limite (Fifa)

inauguração com a presença da presidente Dilma Rousseff

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capa Foto: Divulgação

Ao ser perguntado sobre quais características profissionais ele teria herdado do pai e de Paes Mendonça, Antonio Andrade Júnior cita valores como a seriedade, a ética, a correção e a organização. “Meu pai era o primeiro a chegar ao escritório, antes mesmo das faxineiras, porque dizia que depois as demandas o impediam de trabalhar como ele gostaria.” Na concepção do jovem empresário, empreender é um risco. “Na época da Cyrella, cheguei a ser avalista de R$ 974 milhões. É preciso saber correr os riscos, ter estômago para isso. Administrar não é para qualquer um. Tem que estar no DNA”, ressalta. Relaxamento é palavra proibida no dicionário desse sergipano que veio ainda criança para a Bahia, onde chegou a receber o título de Cidadão Baiano em 2010. “Aqui na empresa, me dizem às vezes: o cliente está satisfeito. Aí eu respondo: sim, mas eu não estou”, conta. “Nós não podemos nos conformar, temos sempre que buscar o melhor”, prega o gestor. Sobre Paes Mendonça, faz um reconhecimento emocionado. “Quando eu perdi meu pai, ele me deu a mão, não só no sentido comercial, mas em várias questões de minha vida. João Carlos ajudou a formar minha conduta, meu modo de ser, de ver as coisas. O patrimônio não foi a maior herança que o meu pai deixou, mas sim a amizade com ele”, confessa.

Área externa da Arena Castelão

Nas horas vagas, o empresário troca a maratona de negócios por outra mais saudável. Em 2011, chegou a correr a Meia-Maratona de NY

Maratonista

Foto: Divulgação

Além de correr diariamente atrás das grandes obras para a construtora, o que pouca gente imagina é que o pai de Antônio, 12 anos, e Ana, 7 anos, é também maratonista nas horas vagas. Em 2011, o executivo-atleta completou os 21 quilômetros da tradicional Meia-Maratona de Nova York, que teve 67 mil inscritos. “É como se o Castelão, que acabamos de entregar, estivesse completamente lotado”, equipara. Antonio Andrade Júnior garante que também já percorreu do Farol da Barra ao Farol de Itapuã diversas vezes, e que mais difícil do que correr uma maratona é a preparação que essa modalidade do atletismo exige. Nas horas vagas, outro esporte praticado por ele é o tênis. 60

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No tempo que sobra para estar com a família, Antonio Andrade Júnior costuma reunir a mulher e os filhos na casa da Ilha de Itaparica, que ele pretende tornar em breve autossuficiente em energia, por meio de investimentos em tecnologias de baixo carbono. “Não dá para pensar o mundo de hoje sem sustentabilidade. É mais caro, mas o retorno compensa”, pondera. Para o empresário, a maratona dos negócios, que culmina na distância do convívio familiar, é um dos seus maiores obstáculos. “Cansei de passar semanas sem ver meus filhos, mesmo estando em Salvador. Quando eu saía, eles estavam dormindo. Quando eu retornava, eles também já estavam dormindo”, desabafa. São os ossos do ofício, Antonio. Ou melhor: como já previa Paes Mendonça: são os sapos da lagoa. [B+]

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Apoio:

sustentabilidade Pro Bem | 70 Tendências | 73 [C] Isaac Edington | 74

Responsabilidade social Gestão sustentável nas grandes empresas

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s uste nta b ilida d e | e m p resa verd e Foto: Rogerio Borges

SUSTENTABILIDADE GANHA STATUS NO SETOR DE ENERGIA por Rogério Borges

Ana Queiroz, na sede da Coelba, em Salvador

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gestão sustentável – esse mito dos nossos tempos – acaba de ser promovida à condição de realidade palpável no dia a dia empresarial, via indicadores tão absolutos como os de faturamento e contas a pagar. Na Coelba, distribuidora do grupo Neoenergia, entra em plena operação, em março, um software de gestão ampla que inclui os impactos socioambientais de todos os processos da empresa. O sistema, comum nas grandes corporações pelo menos desde os anos 90, já integrava todos os outros processos da empresa, fornecendo indicadores de desempenho em tempo real. A novidade, na Coelba, é a inclusão dos dados de sustentabilidade. Ainda muito identificado, no imaginário popular, com o ideal poético do “preserve o verde”, o termo sustentabilidade vem ganhando estatuto de condição absoluta para a gestão empresarial. À frente da área de sustentabilidade da Coelba desde 2006, a administradora Ana Queiroz explica que, sem isso, deixou de ser possível atender às macroestratégias tradicionais da empresa: desenvolvimento profissional, remuneração dos acionistas e satisfação dos clientes. De fato, o tema sustentabilidade, enquanto processo, é agora uma das

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macroestratégias do Balanced Scorecard (Indicadores Balanceados de Desempenho, uma metodologia de medição e gestão de desempenho) da Coelba. A integração via software de gestão representa, nesse sentido, para ela, “um salto qualitativo muito grande”. Longe de se tratar de uma atitude voluntarista ou poética, a ascensão da sustentabilidade “é um processo de amadurecimento também”, avalia Ana Queiroz, que está na empresa desde 2002. Há 13 anos o que havia era “projetos de meio ambiente e projetos sociais, muitas vezes filantrópicos, muito relacionados a clientes e comunidade em geral”, conta – “os conceitos foram evoluindo e nós fomos acompanhando as ondas do processo de responsabilidade social”. O grande salto deu-se em 2004, com a contratação de uma consultoria para fazer um diagnóstico e o planejamento estratégico ligado ao tema. Seguindo a agenda do Instituto Ethos, a Coelba desenvolveu um modelo de gestão da área, que na época ainda era chamada “de responsabilidade


social”, um conceito que começou a ser introduzido de forma transversal em todos os processos da empresa e no relacionamento com os seus diversos públicos. Foi aí que o tema começou a aparecer no mapa de estratégias da Coelba. Hoje existe um comitê gestor, multidisciplinar, que continua a seguir os valores do Ethos. Cada líder das diversas áreas da empresa conta com um grupo próprio que faz a gestão do tema que lhe diz respeito. A área de sustentabilidade faz a gestão do todo e apoia. Depois, em 2009, o grupo Neoenergia passou a tratar o tema da sustentabilidade “com um zoom maior”, define Queiroz. Foi quando se fez o mapeamento dos impactos socioambientais de todos os processos da distribuidora baiana de energia – que resultou no software integrado, com dados em tempo real. “A cada ano se avança um pouco mais”, explica ela. “Também não acreditamos em sair do oito para o oitenta. É impossível porque você, principalmente, tem que mudar a cultura”. Isso talvez explique a fusão de “sustentabilidade e comunicação” numa mesma estrutura gerencial, como acontece na Coelba. “São dois temas transversais a todos os processos”, diz Queiroz. O desafio, para ela, é fazer a gestão dos impactos, a gestão do tema e ainda auxiliar a força de trabalho a fazer a conexão entre a sua atividade e a sustentabilidade. “É um desafio muito grande traduzir para todos os nossos públicos os princípios de sustentabilidade presentes no nosso negócio”, afirma. Desafio que, de acordo com ela, vem sendo vencido. Exemplo disso é que a proposta de desenvolvimento do software que entra em operação em março não partiu da área de sustentabilidade, mas do setor de planejamento estratégico. A contratação da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, para treinar líderes e potenciais líderes da Coelba em relação ao tema foi outro passo nessa direção. A acelerada implantação da cultura da sustentabilidade verifica-se, por exemplo, no projeto “Produção Limpa”, em que a empresa “não faz o menor traçado, faz aquele traçado com menor impacto no meio ambiente”, ilustra Ana Queiroz. Na origem, em termos de tecnologia empresarial, o tema “meio ambiente” e depois o da “responsabilidade social” eram patrimônio da área de comunicação, especialmente no relacionamento com as comunidades envolvidas pelos empreendimentos. Como ferramenta de gestão ampla, os indicadores de sustentabilidade continuam a ser importantes para a gestão da imagem pública das corporações, mas com um novo viés. Um dos indicadores monitorados pela área de sustentabilidade da Coelba é, por exemplo, o número de reclamações de clientes. Ao identificar um aumento desses registros,

a área responsável recebe uma sinalização do problema nos relatórios de acompanhamento. A partir daí, a área de sustentabilidade atua nos processos internos para eliminar os problemas que deram origem às reclamações. Ao mesmo tempo, é verificado se esse aumento no número de reclamações está refletido nas publicações da mídia. A checagem na área de imprensa visa também aferir o índice de procedência do que o consumidor reclama na mídia – que tem reflexos na gestão da imagem da empresa.

Foto: Valter Pontes

Ney Maron, diretor de sustentabilidade e comunicação na Renova Energia

Renova A solução da simbiose com a comunicação repete-se na Renova Energia, que conta com uma diretoria “de sustentabilidade e comunicação”. À frente da estrutura, o engenheiro civil e advogado Ney Maron explica que nem sempre foi assim. Aqui não foi a comunicação que deu origem ao tema da sustentabilidade – uma diretoria estatutária da Renova desde a fundação – mas o oposto. A componente da comunicação foi incluída mais recentemente, numa mudança de estatuto que acabou de ser aprovada pelo conselho de administração. A comunicação passou a fazer parte do escopo da diretoria “pela própria característica do nosso negócio de relacionamento com as comunidades”. Já havia uma aptidão dentro da área de meio ambiente, direcionada às comunidades, “nosso principal stakeholder” na avaliação de Maron. A Renova, por exemplo, não adquire propriedades ao implantar geradores eólicos, mas trabalha em áreas arrendadas, o que leva a uma relação com a comunidade

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Foto: Divulgação

Um cenário em transformação no semiárido baiano. (embaixo) Renova investe em projetos socioeducativos nas comunidades onde atua

Fotos: Divulgação

que Maron define como visceral, o que demanda comunicação. “Nós trabalhamos, literalmente, nos quintais das casas das pessoas”, verifica. Mas a própria opção pelo arrendamento, pela convivência com o uso tradicional da terra, é uma decisão ligada à sustentabilidade na atividade-fim. A empresa atua exclusivamente com energias renováveis: solar, pequenas centrais hidrelétricas e energia eólica, sendo mesmo a maior do país neste último setor. No caso da eólica, a Renova já parte do princípio de compatibilidade com outras atividades de uma maneia geral. “Diferente de outras formas de geração de energia ou outro tipo de atividade em que você troca, altera completamente o uso do solo, no caso da eólica há sempre a possibilidade de convivência da atividade original com a nova atividade de geração”, explica Maron. 66

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Nem todos os parques eólicos do país vêm sendo implantados em propriedades arrendadas. Essa foi uma opção da Renova. Para ele, em vez da nova atividade “representar uma ameaça, a expulsão daquela pessoa do campo – por melhor que seja a remuneração você estaria trocando, alterando o modo de vida de uma forma muito intensa – ela tem representado a possibilidade de fixação do homem do campo”. Na região de Caetité, a 650km de Salvador, onde foi implantado o complexo de geração de energia eólica Alto Sertão I, o arrendamento da propriedade significa um aporte financeiro importante para as comunidades, que altera a realidade socioeconômica para melhor. Na maioria das propriedades arrendadas, além disso, o aerogerador da Renova ocupa as partes altas do terreno ou encostas de serras, que eram totalmente inexploradas. Projetos socioambientais, de geração de renda, também fazem parte das ações da Renova junto às comunidades. Assim como na Coelba, do ponto de vista da Renova a área de sustentabilidade tem caráter estratégico, embora o conceito tenha cores diferentes. Maron sublinha que “existe já uma característica forte de sustentabilidade no ramo de atuação”, ligado à geração de energia renovável. As tomadas de decisão ligadas à sustentabilidade permeiam as atividades da empresa de uma forma mais ampla do que no âmbito da diretoria que lhe toma o nome. O desenvolvimento de novos equipamentos e novas tecnologias de implantação dos parques eólicos é exemplo disso. A utilização de acessos menores, por exemplo, implica uma menor supressão, menor intervenção. Isso ocorre “não especificamente na nossa diretoria, mas na empresa como um todo”, sublinha. Um dos grandes problemas de implantação de empreendimentos de geração hídrica são os entraves de natureza socioambiental. “Quando você pensa naquilo apenas como um problema, um obstáculo, um entrave, você tem uma ação totalmente reativa, tentando se desvencilhar de uma situação que é totalmente desfavorável”, diz Maron, que tem especialização em direito ambiental. Quando a sustentabilidade é vista como uma possibilidade de ativo, de diferenciação, as perspectivas mudam. [B+]


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Movimentos para o bem de Salvador

A terceira maior capital do país anda carente depois de anos desprovida de cuidados. Para aumentar a autoestima dos cidadãos e aflorar o amor por sua capital, grupos sociais e empresariais se unem em campanhas para incentivar melhorias em Salvador Foto: Divulgação

Carlos Amaral, presidente da Fecomércio, Victor Ventin, presidente do Fórum Empresarial, e Renato Tourinho, presidente da Abap-BA. (ao lado) Jovens artistas lançaram o Musas, que coloriu as ruas da comunidade Gamboa de Baixo

Foto: KinKin

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Salvador Viva, Ame, Cuide

Nossa Salvador

Promovido pelo Fórum Empresarial da Bahia, o movimento reúne as principais entidades empresariais baianas em prol de um novo comportamento, de zelo e carinho, dos cidadãos pela capital baiana. Com a participação de artistas, empresários e publicitários, a campanha promete sensibilizar o soteropolitano a fazer a sua parte para que a cidade seja mais bela, humana e melhor de se viver. Os idealizadores lançaram a campanha em janeiro deste ano e querem alterar comportamentos como o de jogar lixo na rua, pichar e depredar monumentos e prédios, estacionar carros na calçada e ouvir som acima do volume permitido. Acesse a campanha no www.salvadorvivaamecuide.com.br.

O Movimento Nossa Salvador foi lançado em março de 2011. A organização integra a Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, e teve seu pontapé inicial com a divulgação de 55 indicadores sociais em áreas como educação, saúde, segurança e meio ambiente. “Atuamos em três frentes de trabalho: programa de indicadores sociais, acompanhamento da gestão pública e educação para a cidadania”, explicou Aldo Ramon Almeida, executivo da organização. O prefeito de Salvador, ACM Neto, aderiu à Plataforma Cidades Sustentáveis e se comprometeu a promover no município princípios de sustentabilidade e a prestar contas das ações desenvolvidas por meio de relatórios acompanhados pelo Nossa Salvador.

Movimenta Salvador

Salvador, meu amor

O Instituto Movimenta Salvador nasceu em agosto de 2012, tendo entre seus conselheiros membros de entidades empresariais, culturais, científicas, da sociedade civil e representações de classe. Aberto à participação de qualquer grupo, o movimento apolítico funciona como um grande fórum de debate e discussão e, ao mesmo tempo, um gerador de projetos para solucionar os principais problemas da cidade, contribuindo com o poder público. As ações pretendem ajudar para que Salvador se estruture para erguer-se menos caótica e mais moderna rumo ao futuro.

Essa campanha surgiu com o objetivo também de resgatar o cuidado dos soteropolitanos por Salvador. O movimento é independente e estimula gestos voluntários de amor dos cidadãos. Idealizada pelo publicitário Maurício Galvão, a campanha reúne grupos, entre eles o Musas, o Balé da Comunidade, o Mobicidade Salvador e o Canteiros Coletivos, que querem fazer uma contribuição, mesmo que pequena, para ajudar a fomentar o potencial da cidade e valorizar os espaços públicos. Sem financiamento próprio, as ações são divulgadas via redes sociais, e usa como campanha o mote “Gente boa se atrai”.

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s uste nta b ilida d e | t e n d ência s

‘Caetitezação’: Renova e Alston firmam parceria de €1 bilhão Acordo entre a empresa líder na geração de energia eólica contratada no Brasil com a companhia francesa busca adaptar a tecnologia aos ventos do semiárido baiano, considerados os melhores do mundo para a atividade por Murilo Gitel*

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em adianta procurar nos dicionários: a palavra “caetitezação” não consta em absolutamente nenhum deles. O neologismo tampouco tem algo a ver com o músico Caetano Veloso, caso alguém arrisque por essa via. O termo está relacionado ao município de Caetité, no semiárido baiano, e não sai do vocabulário da Renova Energia e da francesa Alston, que anunciaram no dia 6 de fevereiro, em São Paulo, um memorando de entendimento orçado em um bilhão de euros (mais de R$2,7 milhões) para o fornecimento, ao longo de três a quatro anos, de 440 aerogeradores eólicos, cuja capacidade mínima instalada é de 1,2 GW. A entrega dos equipamentos, que serão produzidos pela fábrica da Alston em Camaçari, será iniciada em 2015. De acordo com as empresas, o volume de energia previsto na parceria equivale à quase totalidade de geração atual do mercado eólico brasileiro. O acordo com a Alston também inclui serviços de manutenção e operação. “Caetitezação significa o nosso entendimento de que não basta ‘tropicalizar’ a energia eólica, mas sim adaptar a tecnologia aos ventos locais, além de criar uma cadeia de suprimentos”, explica Mathias Becker, diretor-presidente da Renova Energia. Inaugurada em novembro de 2011, a fábrica da Alston em Camaçari tem capacidade instalada de 300 MW por ano, com um único turno de trabalho. Agora, depois da parceria com a Renova, será viabilizado um novo turno, ainda no primeiro semestre de 2013, o que deve elevar a capacidade para 600 MW anuais. Para o presidente mundial do setor de energia renovável da Alston, Jerome Pécresse, a parceria representa o maior acordo mundial on-shore (em terra firme) da companhia na área eólica. “Vamos produzir tecnologias adaptadas às condições climáticas locais, por meio da otimização das turbinas”, destaca o executivo francês.

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(em cima) Mathias Becker, presidente da Renova Energia, anuncia parceria com a Alston em evento em São Paulo (embaixo) Parque eólico da Renova em Caetité. Região chamada de “mina de ouro” concentra melhores ventos do mundo

Fotos: Divulgação

Linhas de transmissão Principal entrave ao projeto da Renova em solo baiano, as linhas de transmissão sob responsabilidade da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) ainda não estão prontas, o que impede a distribuição da energia produzida pelos parques da empresa. A construção envolve os municípios de Bom Jesus da Lapa e Igaporã. “Estamos apoiando a Chesf quanto à criação das linhas de transmissão, tanto nas questões de licenciamento, fundiária e de gerenciamento da obra”, ressalta Mathias Becker. O prazo que a Chesf estimou para a conclusão é dezembro de 2013. Enquanto isso, o governo federal tem um prejuízo semestral de cerca de R$100 milhões, por força de contrato, pois tem de pagar por uma energia que não está sendo consumida. * O repórter viajou a São Paulo a convite da Renova Energia.


Já ouviu falar em Comércio Justo? por Clara Corrêa www.ecod.org.br

O fair trade, como é conhecido internacionalmente, consiste em uma parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, em busca de uma maior equidade no comércio global. Entenda como ele funciona Fotos: Divulgação

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Federação Internacional de Comércio Alternativo (Ifat) define o objetivo do comércio justo como uma prática que estabelece contato direto entre o produtor e o comprador, desburocratizando o comércio e poupando-os da dependência de atravessadores e das instabilidades do mercado global de commodities. O conceito se baseia na importância de o consumidor adquirir produtos comercializados de maneira responsável, que possibilite remuneração justa e condições de trabalho favoráveis, incluindo o uso sustentável dos recursos naturais. Os principais personagens do comércio justo no mercado internacional são os produtores, os importadores, os licenciados e as world shops. A gama de produtos certificados pela Fairtrade Labelling Organizations International (FLO) inclui café, chá, arroz, cacau, mel, açúcar, frutas frescas e produtos manufaturados, tais como bolas de futebol. Eles são vendidos em 18 países, com 70 a 90 mil pontos de venda convencionais. As empresas podem ser especializadas em comércio justo ou atuar no comércio tradicional com marcas convencionais, incorporando itens com o selo de comércio justo em suas linhas. Os licenciados são empresas que têm o direito de usar o selo de Fair Trade mediante o pagamento de licenças, concedidas pelas iniciativas nacionais. Topa entrar nesse negócio?

(em cima) Produtos certificados com o Fair Trade. Garantia de uma produção justa do campo à prateleira (embaixo) O objetivo do comércio justo é também promover o desenvolvimento de famílias produtoras em todo o mundo

Princípios do Comércio Justo [1] Criação de oportunidades para os produtores economicamente desfavorecidos. [2] Transparência e responsabilidade: tratar de forma justa e respeitosa os parceiros comerciais. [3] Construção de capacidades: desenvolver as habilidades dos produtores. [4] Pagamento de um preço justo: esse valor, no contexto regional ou local, é aquele que tenha sido acordado através do diálogo e da participação. [5] Equidade de gênero: o trabalho feminino valorizado e recompensado. [6] Condições de trabalho: um ambiente de trabalho seguro e saudável para os produtores. [7] O meio ambiente: incentivo a métodos de produção sustentável.

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s uste nta b ilida d e | t e n d ência s Bahia inicia coleta de medicamentos em projeto piloto O lixo e o vaso sanitário podem se transformar, em breve, em um destino obsoleto para as farmacinhas domésticas na Bahia, juntando-se assim a outros nove estados que já possuem a coleta de medicamentos. O projeto, iniciado em dezembro de 2012, ainda será um piloto com tempo limitado de duração: apenas seis meses. De início serão dez pontos de descarte de medicamentos em desuso, vencidos ou restantes em Salvador. A coleta amostral deverá atingir também as cidades de Feira de Santana, Camaçari e Itabuna. Os rejeitos dos medicamentos coletados serão destinados à incineração. A coleta faz parte dos estudos de viabilidade técnica, econômica e avaliação dos impactos sociais para a implantação da logística reversa de medicamentos no estado, que subsidiará o acordo setorial realizado pela Anvisa. A ideia é que, durante esse período, seja coletada a maior quantidade possível desses resíduos para embasar a urgência da implantação. Pontos de coleta em Salvador: - Farmácias Santana do Shopping Iguatemi e Shopping Litoral Norte - Farmácia de Manipulação Erva Doce (Pituba) - Farmácias Wal Mart (Hiperbompreço Iguatemi e Hiperbompreço Cabula) - Farmácias Pague Menos (Itapuã e Brotas) - Farmácias Popular (São Caetano e Ribeira)

Tinta térmica reduz consumo de energia em até 60% Revestir o telhado com tinta térmica pode ser uma boa alternativa para economizar no consumo de energia, reduzir o impacto da radiação e a temperatura interna dos ambientes. O produto é feito à base de água e microesferas ocas de vidro, que possibilitam a redução de até 60% do consumo de energia elétrica na refrigeração de residências, galpões, prédios e armazéns. A tinta, que também diminui até 84% da radiação no telhado e entre 10% e 15% da temperatura por telha, foi desenvolvida para revestir navios, aeronaves, tubulações e alvenarias em geral. Além de custar menos, o produto é mais sustentável do que a espuma de poliuretano (derivado de petróleo), opção muito utilizada no mercado brasileiro, em obras de revestimento e isolamento térmico.

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s uste nta b ilida d e | d e s envo l vim ent o ur ba no

A MARCA SALVADOR O JOGO JÁ COMEÇOU

Isaac Edington

É secretário do Escritório Copa do Mundo Brasil Fifa 2014TM, da Prefeitura de Salvador

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Salvador irá sediar três jogos da Copa das Confederações, em 2013, e seis jogos da Copa do Mundo, em 2014. Investimentos que superam R$1,2 bilhão em infraestrutura, um forte portfólio de projetos, eventos e iniciativas devem contribuir para que esses megaeventos deixem legados na cidade. Não só de infraestrutura, que são os mais visíveis, mas que possam deixar um legado social, que contribua para melhorar a qualidade de vida do soteropolitano. Entretanto, devemos ampliar a nossa compreensão a respeito da oportunidade única que esses eventos, de magnitude sem precedentes na história de nossa cidade, podem trazer para o posicionamento e fortalecimento da nossa imagem, da “marca Salvador”. Um legado institucional de grande valia para o nosso desenvolvimento. Costumo dizer que uma Salvador ordenada, limpa, conservada, segura e hospitaleira é muito boa para os soteropolitanos, assim como para os que nos visitam, além de criar um importante posicionamento de imagem e positividade que fortalece a cidade sob todos os aspectos. Se formos bem sucedidos na experiência que nossos visitantes terão aqui, haverá um fluxo de retorno em efeito cascata. O turismo de eventos alavanca o turismo de lazer e o mercado de eventos está profundamente ligado à atividade turística. A questão, meus caros, é que a disputa entre as seleções participantes só irá começar lá na frente, com o advento de cada jogo. No entanto, a disputa entre os destinos já começou no Brasil. O Ministério do Turismo divulgou uma lista com 184 destinos turísticos em municípios distribuídos por 21 estados e estima que 600 mil estrangeiros e três milhões de brasileiros deverão circular pelo Brasil no mês da Copa do Mundo.

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Em termos mundiais, a captação e a promoção de megaeventos são consideradas atividades que mais oferecem retorno socioeconômico ao país e às cidades que os sediam. Portanto, sermos eficientes na atração de visitantes e darmos um show de bola de hospitalidade e organização promoverá uma imagem positiva da “marca Salvador” e poderá render frutos importantes para o nosso posicionamento em relação aos demais destinos, habilitando, assim, a cidade para captar novos megaeventos. Um fator muito importante nesse contexto é o fato de a Copa Mundo ser um momento inigualável de concentração da imprensa internacional nos países-sede. Entretanto, caro leitor, a cobertura da imprensa está além dos gramados. Essa turma, além de trabalhar, também anda pela cidade, dorme em hotéis, pega táxi, vai a restaurantes, a baladas, se diverte. Tudo como turistas normais, o que, por isso só, já mereceria a nossa atenção. Talvez antes de o homem pisar em Marte, não teremos outra oportunidade como essa de promover nossa cultura, nossa gastronomia, nossas praias, nosso patrimônio histórico e tantos outros atributos de nossa cidade. Portanto, vamos recebê-los de braços abertos e mostrar o que temos de melhor. Tenham certeza de que esse esforço valerá muito a pena. A prefeitura de Salvador e o governo do estado têm um papel muito importante para a realização das Copas em nossa cidade. Todavia, a população e os empresários não podem ser apenas expectadores. Todos podem e devem contribuir, cada um a sua maneira, investindo em qualificação de mão de obra, apoiando projetos e inciativas relacionadas às Copas, contribuindo para manter a ordem pública, ajudando a preservar o patrimônio público ou, simplesmente, sendo um cidadão consciente.


lifestyle

76 Funcionalidade no design dos escrit贸rios

sabor | 86 Notas de Tec | 88

82 Tecnologias digitais e o comportamento social


l i fe sty le | d e co ra ção

Muito estilo, funcionalidade e bem-estar nos escritórios

Planejamento, otimização dos espaços, ergonomia e a escolha correta dos materiais são imprescindíveis para quem deseja investir no ambiente de trabalho por Gina Reis

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m tempos de rotina intensa e congestionamentos infindáveis, investir em um ambiente profissional adequado é essencial para garantir bem-estar e produtividade à empresa. Esse novo modo de vida aumenta a demanda por profissionais que consigam adequar o seu espaço às necessidades da sua empresa. A partir do conhecimento da rotina produtiva, o arquiteto irá desenvolver um planejamento adequado e que caiba no bolso do cliente. “Ao estruturar um ambiente de trabalho, não se deve esquecer nenhuma necessidade. Devemos pensar desde a quantidade de pessoas que vai usar o ambiente à otimização do espaço”, ressalta a arquiteta Márcia Meccia. Para Maurício Lins, diretor de marketing do Núcleo de Decoração da Bahia e proprietário da Artline, loja especializada em móveis corporativos, é importante também oferecer soluções que se preocupem com o conforto da equipe, que, por sua vez, tende a ficar grande parte do dia nos escritórios. “A ergonomia é fundamental para aumentar a produtividade, garantindo qualidade de vida no trabalho. Hoje, o mercado oferece mesas e cadeiras apropriadas para longas jornadas, certificadas pelo Inmetro-ABNT”, afirma. Conformar o local à rotina da empresa envolve ainda a escolha de uma iluminação correta, investimento em acústica, em uma cartela de cores apropriada, revestimentos práticos, além de objetos e móveis decorativos que imprimam personalidade na medida. “O espaço não pode ser impessoal, nem pessoal demais. Deve haver um equilíbrio”, enfatiza Márcia Meccia. O objetivo é criar um ambiente que estimule e facilite a produção de forma inspiradora e agradável. Para ilustrar esse novo momento, a Revista [B+] selecionou projetos de diferentes perfis e conversou com os profissionais responsáveis sobre soluções e diferenciais. 76

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Foto: Rômulo Portela


Fotos: Rômulo Portela

60m de funcionalidade ²

Transformar 60m2²em um escritório que atendesse a duas empresas de ramos distintos. Esse foi o desafio da arquiteta Márcia Meccia ao desenvolver o projeto para abrigar seu escritório e da sua filha, Rafaela Meccia, que atua no setor de eventos. Para conseguir uma dinâmica interna e conciliar as duas atividades, Márcia explorou o uso de divisórias de vidro e alumínio abertas e fechadas, associadas às persianas. Na empresa, alguns espaços são compartilhados. Dentre eles, a copa, que fica no centro do escritório e permite que as pessoas - clientes, parceiros e funcionários - se sirvam. Outro importante diferencial no projeto é a instalação de duas entradas independentes. Isso permite um trânsito confortável de visitantes para as duas empresas. Márcia destaca ainda a ergonomia e a disposição dos móveis, que facilitam a circulação e a importância da iluminação. “Todos os ambientes exploram a iluminação natural. A luz garante conforto visual ao local de trabalho”, afirma. A arquiteta também dedicou atenção especial à acústica, através do uso de materiais específicos, pensados em parceria com a Audium, empresa especializada em consultoria e projetos de áudio e acústica e implantação de sistemas de áudio. Além da acústica, um projeto lógico de rede de computadores foi feito para o bom funcionamento do escritório, evitando, assim, desgastes futuros. Para a decoração, Márcia imprimiu personalidade, com pequenos toques e obras de arte do seu acervo pessoal. Dentre elas, uma tela da artista plástica Fátima Tosca e uma tela familiar de 1923. “Investir em uma obra de arte é uma das melhores formas de harmonizar bom gosto e identidade ao local de trabalho”.

Ficha técnica Pisos Eliane Móveis e divisórias Artline Armários planejados Bontempo Peças especiais de marcenaria Tomac Iluminação Arcluz Acústica Audium Obras de arte acervo pessoal

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Fotos: Rômulo Portela

Modernidade e eficiência Convidadas para assinar o espaço de 138m2 de uma agência marítima no bairro do Comércio, em Salvador, a arquiteta Beth Câmara e a designer de interiores Bharbara Ckamara concordam que o resultado do trabalho assegurou ao escritório uma atmosfera segura e confortável. Para isso, as profissionais investiram em um espaço e organogramas enxutos e eficientes que atendessem a uma equipe pequena. “Concebemos uma ilha central para concentrar o operacional da empresa. A sala de reunião atende, principalmente, os proprietários da empresa que não residem em Salvador. Quando eles estão aqui, precisam de um espaço provisório para atuar”, conta Bharbara Ckamara. Como o funcionamento da empresa é acompanhado via internet, era necessário um cuidado com essa conectividade para atender à matriz. “Por se tratar de um prédio antigo, tivemos que fazer alguns ajustes e milagres não aparentes”, ressalta Bharbara. Houve cautela, por exemplo, com a fiação, a tubulação e o cabeamento do prédio. O quadro de disjuntores foi substituído por um sistema DR (sistema de proteção à pessoa). As esquadrias antigas também foram substituídas por modelos de PVC para melhorar a acústica do local. A concepção da iluminação foi feita pela Construart. Para a decoração, a escolha foi por um mobiliário bonito, com preço competitivo e boa ergonomia, encontrado na Artline. “Um dos detalhes que me deixaram muito feliz foi o uso do backlight ocupando toda a parede com uma imagem do mar da Grécia. Nosso cliente é grego. Como o espaço só possui um amplo janelão que não atenderia à sala de reunião, conseguimos, através do backlight, trazer o exterior e a luminosidade para dentro deste ambiente”, destaca Bharbara. 78

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Ficha técnica Móveis, divisórias, piso vinílico e carpete Artline Marcenaria Modelli Iluminação Construart Bancada de vidro da recepção Ornato

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Fotos: Rômulo Portela

Ficha técnica Piso Portobello Shop Iluminação La Lampe Climatização Artemp Persianas Luxaflex Cadeiras da sala da diretoria Clássica Design/Toque da casa Móveis Jocal Moveis Tapetes persas Bagdá Obras de artes Galeria Fabio Pena Cal Escultura de Bronze Roberto Alban Galeria de Arte Acessórios e adornos decorativos Empório Magma e Bizâncio Mesa de reunião em mármore preto absolutto Pavimenti Marcenaria da diretoria, feita com lâmina de madeira nobre Madeireira Paulista Marcenaria do painel da recepção Movelare Marcenaria Marcenaria dos demais escritórios e cadeiras Modulare Officer

Seriedade e sofisticação Milena Saraiva foi a profissional responsável por transmitir para um espaço de 200m2 a elegância, a austeridade e a nobreza ao projeto de um grande escritório nacional de advocacia que inaugurou, recentemente, sua filial em Salvador. Aproximadamente 40 advogados atuam na empresa, dividida em recepção, sala de reunião, sala da diretoria, setor jurídico, departamentos comercial, contábil, administrativo e copa. “Os escritórios de advocacia, de uma forma geral, seguem um leiaute mais tradicional. É uma característica da profissão, assim como, na medicina, opta-se sempre por privilegiar ambientes mais claros. Por outro lado, nesse projeto, particularmente, fiquei surpresa pelo interesse do cliente em investir em obras de arte, peças de antiquário e mobiliário clássico. Sobretudo, por ele ser bastante jovem. Isso me fascinou”, revela a arquiteta. Todo o escritório foi decorado com obras de arte dos artistas Henrique Passos e João José Rescála, além de esculturas de bronze. Entre as exigências para a concepção do projeto, estava a utilização de materiais nobres. Destaca-se no escritório uma mesa de reunião feita em mármore preto absoluto, com cinco metros de comprimento, da loja Pavimenti. Parte dos móveis tem design assinado. As cadeiras da sala da diretoria, adquiridas na Toque da Casa, são revestidas em couro natural. Na recepção, um sofá em couro, uma poltrona em linho branco e uma cômoda clássica deixam o ambiente ainda mais elegante. Compõe ainda a decoração dos ambientes uma seleção de tapetes persas. As cores sóbrias utilizadas nos móveis e objetos de decoração passam a seriedade e a sofisticação tão desejadas para o local. Para complementar a ambientação, a iluminação desenvolvida pela Luxaflex tornou o escritório ainda mais intimista e, ao mesmo tempo, funcional.

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Fotos: Divulgação

Ficha técnica Estrutura Metálica Rótula Metalúrgica Estrutura Metálica Inox OMK Revestimentos Imarf, Eliane, Portobello, Atlas, Incopedras e 3A Composites Revest. paredes externas Ibratin Louças e Metais Deca Iluminação Philips, LG Abajures La Lampe

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Piso Elevado Remaster Cabeamento Furukawa Vidros Cebrace Acústica Sonnar Mobiliário de escritório Marelli Mobiliário recepção Natuzzi, Diagrama e Vintage Decor Elevador Thyssenkrupp

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Sustentabilidade e praticidade A nova sede da Caramelo Arquitetos Associados foi premiada pelo Americas Property Awards 2012 na categoria Melhor Arquitetura de Escritório do Brasil e das Américas (Central e Sul). Implantado em um terreno estreito, de 507m2, o escritório tem três pavimentos, contabilizando uma área total de 1.267m2. Os critérios para sua concepção foram: a escolha de materiais e conceitos construtivos ecológicos, conforto, praticidade, sustentabilidade e humanização dos ambientes. A fachada frontal é composta por pele de vidro autolimpante e, para uma maior penetração da luz natural, foram utilizadas claraboias “teto-piso” nas laterais dos pavimentos. As luminárias em LED – lâmpadas econômicas com vida útil de cerca de 60 mil horas complementam a iluminação natural. As faces laterais e posteriores do edifício são formadas por paredes duplas, tendo ao meio uma manta reciclada de garrafas PET. Nos três pavimentos, o projeto contempla recepção, salas de reunião, mezanino com sala multiuso para apresentação de projetos, salas individuais e coletivas, auditório com capacidade para até 50 pessoas, estação compacta de armazenamento e tratamento de águas cinza para reuso, área de serviço e apoio gastronômico. Ao desenvolver o projeto, Antonio Caramelo buscou criar um ambiente que inspirasse a coletividade e a integração através do uso da transparência e da fluidez. A decoração dos ambientes foi concebida por Antonio Caramelo em parceria com Milena Saraiva. Nas paredes e nos pisos, o predomínio é de cores claras. Já nos mobiliários, investiu-se em cores vibrantes, com forte presença do laranja.


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l i fe sty le | co m p or t a m e n t o Foto: Rômulo Portela

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conectados Como a utilização constante das novas tecnologias tem influenciado o comportamento social e profissional do homem moderno por Andréa Castro

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ablets, notebooks, netbooks, smartphones… A sociedade contemporânea conta com um verdadeiro arsenal de novos aparatos tecnológicos, cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas. O que pouca gente sabe – ou talvez ninguém ainda ao certo – são os efeitos do uso exacerbado dessas novas tecnologias no comportamento humano. Alguns “sintomas”, no entanto, são consenso entre os especialistas. O cidadão que, hoje, não possui telefone celular ou perfil em uma rede social é considerado, no mínimo, ultrapassado – quando não chamado de E.T.. O “normal” é que as pessoas estejam sempre conectadas, façam uso de diversas plataformas e dispositivos eletrônicos, tanto na vida social como profissional. Mas até que ponto o uso dessas tecnologias deixa de ser algo inofensivo para se tornar um transtorno? “Para uma atividade tornarse compulsiva, deve proporcionar algum grau de recompensa, prazer ou aliviar uma ansiedade. O uso contínuo e compulsivo da internet tem levado à fragilidade dos relacionamentos e cria uma dependência igual aos jogos, drogas e álcool”, alerta o psiquiatra Geonaldo Costa. De acordo com o especialista, uma pessoa pode ser considerada “viciada” quando passa, em média, sete horas em uso do computador todos os dias, a

Mesmo com contraindicações, o estudante de publicidade Diego Almeida agradece às tecnologias por elas reduzirem distâncias

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depender do tipo e do objetivo do uso. A adicção à internet seria comparada aos transtornos dos impulsos e do espectro obsessivo compulsivo, como o excesso de exercícios físicos, de trabalho, de sexo ou compras. “Alguns sintomas percebidos nessas pessoas são os sinais de abstinência - como agitação psicomotora e condutas e pensamentos obsessivos pelo que pode estar acontecendo na internet, necessidade de aumentar o tempo conectado, fadiga, déficit de atenção, depressão e ansiedade”, afirma o médico. O presidente da Fundação de Neurologia e Neurocirurgia – Instituto do Cérebro, Antônio Andrade, também destaca a ansiedade como um dos principais efeitos negativos causados pelo uso constante das novas tecnologias. “Algumas áreas do cérebro são excitadas com estímulos constantes provocados por essas tecnologias e têm que processar esses estímulos para dar respostas ao corpo, acarretando ansiedade, grau de hipervigília acentuado, dificuldade de aprendizado, inibição dos hormônios do sono, entre outros distúrbios”, explica o especialista.

“A família cobra um pouco mais de atenção nos eventos sociais, às vezes em um simples almoço em casa, quando eu fico checando e-mails e mensagens”, conta a executiva Ericka Gordiano, que passa cerca de 20 horas por dia conectada, tanto para uso profissional como pessoal. Ericka admite que bate um sentimento de abstinência se ficar sem os seus equipamentos eletrônicos. “Fico ansiosa, sinto que está faltando alguma coisa”, revela. Mas se, por um lado, ela pode ficar mais distante de quem está perto, por conta desses aparatos, acaba ficando mais próxima de quem está longe. Ericka morou no Rio de Janeiro e mantém contato com muitos amigos através das redes sociais. “Nos falamos basicamente pela internet, é muito mais prático e mais barato, nos aproxima”, reforça.

Foto: Rômulo Portela

Substituindo o real pelo virtual As mudanças na vida social, no entanto, são as mais perceptíveis. De acordo com Andrade, as pessoas, muitas vezes, deixam de lado o contexto real para buscar uma realização virtual. “Elas querem mostrar nas redes sociais algo que é imaginário, uma falsa impressão de êxito. Esses distúrbios ainda estão sendo estudados, não sabemos exatamente quais os impactos causados, mas já foi constatado que esse excesso de comunicação, muitas vezes, gera solidão”, alerta o neurologista. Segundo ele, as pessoas quando se mantêm sempre conectadas, em salas de bate-papo, por exemplo, ficam indisponíveis para vivenciar experiências concretas, se isolando do mundo real. O psiquiatra Geonaldo Costa também ressalta os prejuízos de natureza social causados pelo uso exagerado dessas tecnologias. Em alguns casos, comenta o psiquiatra, as pessoas chegam a colocar em risco o emprego – seja pelo uso inadequado de e-mails, redes sociais, ou pelo tempo gasto em atividades que concorram com as do trabalho. “Muitas vezes, as pessoas limitam o contato pessoal, perdem o interesse por outras atividades, preferem o mundo virtual ao mundo real, com perda da noção de tempo e negligenciando impulsos básicos, sentimentos de irritação, insônia, tensão ou depressão e, eventualmente, gerando desentendimentos com amigos e familiares”, explica.

“As pessoas, muitas vezes, deixam de lado o contexto real para buscar uma realização virtual” Antônio Andrade, presidente da Fundação de Neurologia e Neurocirurgia – Instituto do Cérebro w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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Foto: Rômulo Portela

Desenvolvendo habilidades

Para Geonaldo Costa, muitas vezes, as pessoas limitam o contato pessoal, perdem o interesse por outras atividades, preferem o mundo virtual ao mundo real

Ericka Gordiano busca meios eficientes de agilizar as tarefas do trabalho

Foto: Divulgação

Tanto a internet como os telefones móveis podem reduzir distâncias, ao facilitar o contato com pessoas que estão longe. O estudante de publicidade Diego Almeida bem sabe disso. Sua família vive em Paulo Afonso e o celular é o seu principal canal de comunicação com eles. “Ligo todo dia, principalmente para falar com minha mãe, que quer saber tudo o que acontece por aqui e me passar as novidades de lá”, comenta o estudante. Além de se dedicar aos estudos, Diego é atendente de call center de uma empresa da área de saúde. Ele passa boa parte do seu dia atendendo ligações por conta do trabalho, mas sempre que tem uma folga está no celular fazendo chamadas. “Eu fico ligado no celular 24 horas por dia. No horário do trabalho eu só recebo mensagens, mas sempre que tenho uma pausa, retorno as ligações perdidas”, afirma. Segundo Diego, ele nunca passou por uma situação de ficar muito tempo desconectado, sem rede de internet ou celular e brinca que o celular é praticamente um filho para ele, do qual não pode se separar. 84

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Diego também é usuário assíduo da internet. “Fico até altas horas trocando e-mails, postando coisas nas redes sociais... Tenho uma vida ativa na rede, preciso saber o que está rolando”, contou o estudante de 23 anos, que também acredita que esses recursos tecnológicos podem estimular a descobrir novos conhecimentos e a absorver um volume grande de informações. Se o uso constante das novas tecnologias pode potencializar uma série de efeitos negativos, também pode ajudar a desenvolver algumas habilidades. “Para a maioria das pessoas, a internet proporciona uma mudança positiva de hábitos. A busca por novos conhecimentos, a facilidade de obter informações, a realização de compras e transações bancárias e o estabelecimento de novas relações acabam estimulando a criatividade, capacidade de pesquisa, estudo e comunicação”, destaca Costa. A tecnologia também ajuda na vida profissional da designer Ericka Gordiano. Além da formação em design, ela possui MBA em gestão empresarial e trabalha para a empresa Agogô Marketing Promocional, como executiva de atendimento na Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014 (Secopa), além de desenvolver trabalhos paralelos como freelancer. Com tantas atribuições, Ericka busca meios mais eficientes de interagir e agilizar as tarefas no seu trabalho. “Quando participo de uma reunião, não uso papel e caneta. Já coloco todas as demandas no meu tablet e envio ao cliente tudo o que foi discutido imediatamente após o encontro”, destaca a profissional. Já Costa lembra também que, da mesma forma em que o uso da tecnologia pode induzir ao isolamento físico, pode ajudar as pessoas com traços de introversão e solidão a estabelecerem novas relações, participarem de grupos com afinidades, reduzindo a inibição e melhorando a autoestima. Com efeitos positivos ou negativos, a introdução desses “brinquedinhos” tecnológicos na vida do homem moderno é irreversível. Cabe a cada um tirar o melhor proveito dessa variedade disponível no mercado e ficar estar atento aos exageros. [B+]



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Um toque profissional ao HOBBY Não venha com essa de que prato gourmet é coisa de profissional. O comerciante e amante de corrida de carros Ricardo Castro ensina a preparar uma receita que parece ter saído direto da cozinha de um restaurante clássico, mesmo sem nunca ter feito curso para aprender a cozinhar por Carolina Coelho

Fotos: Carolina Coelho

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o chegar à casa de Ricardo Castro (35), percebese logo que o lugar principal da casa é a cozinha. Integrado à sala de estar, o santuário gastronômico foi desenvolvido especialmente por um arquiteto para ser palco de muitos encontros culinários. O projeto não foi à toa. Há dois anos o comerciante do ramo de concessionárias foi convidado a fazer parte da Confraria Prestige, grupo gastronômico formado por 25 empresários que têm em comum a paixão de cozinhar. Apesar de não ser profissional e de nunca ter feito curso na área, Ricardo conta que sua habilidade é resultado de muita prática. O interesse começou de uma forma, digamos, óbvia. “Sempre gostei de comer, e o prazer em comer me levou ao prazer de fazer”, conta ele. Desde criança, o cozinheiro já apontava certa vocação ao ficar responsável pelos churrascos dominicais na casa dos tios e, depois que atingiu sua independência financeira, pode custear seus próprios ingredientes e investir em equipamentos profissionais. No começo, ele conta que tudo era feito por

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instinto, mas, depois que entrou para a confraria, teve a oportunidade de aprender algumas técnicas com os confrades mais profissionais. Ao ser perguntado se já havia se intimidado por estar entre especialistas, revela que certa vez ficou responsável por fazer um prato com massa fresca, mas que, por nunca ter manuseado o alimento, jogou tudo de vez e claro, não cozinhou adequadamente. Para reparar a situação, colocou a massa no gelo e serviu com o molho quente. O prato virou motivo de chacota, mas não desestimulou o aprendiz. “Todo mundo está sujeito a erros na cozinha”, divaga. O descuido, entretanto, foi compensado quando seu chef preferido, Edinho Engel, avaliou como perfeito seu molho funghi ao gambero. “Foi uma grande realização pessoal como cozinheiro”, compartilhou. Para escolher esta receita, Ricardo contou com a ajuda do chef Severino Silva, do restaurante Oui, um dos seus amigos-confrades. E já que tudo começou com a paixão pela carne, essa receita não poderia ser diferente.


Prato do dia:

Magret de pato com batata dauphine e molho foie gras

Carne:

- 2 colheres de sopa de manteiga - 1 colher de sopa de farinha de trigo - 1 alho-poró - 1 colher de chá de mostarda - 250ml de caldo de carne básico

- 300g de magret de pato - Sal a gosto - Pimenta a gosto Modo de preparo: Retire o excesso de gordura dos lados e frite em uma frigideira sem óleo com a gordura virada para baixo.

(1 cenoura cortada em bastões, salsão, uma cebola roxa sem casca, um bouquet garni , 1 caldo de carne e 100g de ossobuco sem tutano e limpo)

Batata dauphine: - 1kg batata - 100g queijo parmesão - Noz-moscada - 1 colher de chá de fermento - Sal a gosto - Pimenta-do-reino a gosto - 2 ovos - 2 colheres de sopa farinha de trigo

- Sal a gosto - Pimenta-do-reino a gosto Modo de preparo1: Refogue com azeite o alho-poró junto com cebola laminada, salsa picada e alho. Após amolecida a cebola, acrescente 200ml de água e deixe três minutos em fogo baixo. Leve ao liquidificador, bata e reserve. Modo de preparo2: Misture em uma panela a manteiga e a farinha até formar uma pasta homogênea. Acrescente meia garrafa de vinho tinto, a mostarda e o caldo de carne. Mexa e acrescente a pimenta-do-reino e o molho de alho-poró em fogo baixo. Acrescente mais 200ml de vinho tinto e o vinho do porto. Depois da evaporação, acrescente o sal e o foie gras.

Modo de preparo: Coloque as batatas para assar e depois amasse até formar um purê. Adicione o restante dos ingredientes, deixando a farinha para o final, até dar consistência. Por último, acrescente o sal e a pimenta. Frite em fogo baixo.

Molho: - 2/3 garrafa de vinho Miolo seleção tinto - 100ml de vinho do porto - 70g de foie gras

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l i fe sty le | n ot as d e t e c Google terá Wi-Fi grátis em 150 bares brasileiros Smartphones, tablets e computadores poderão ter acesso ao novo projeto do Google, Free WiFi, que contemplará 150 bares e restaurantes das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis e Campinas. A conexão será entre 10 Mbps ou 30 Mbps, dependendo do tipo de rede utilizada pelo bar e será compartilhada entre todos os clientes do estabelecimento sem nenhuma restrição para a navegação. A iniciativa, exclusiva para o Brasil, foi criada em parceria com a Enox On-Life Media e terá duração de 90 dias.

5 aplicativos que não podem faltar no seu aparelho Paper Camera: Filtros para imagens transformam suas fotos do smartphone em um estilo de cartoon/ novela. As coleções são divididas em cartoon, sketch, comic book, half tone, noir e neon.

Yammer: Uma espécie de Twitter para fins corporativos, com o gerenciamento de equipes a distância por meio de atualizações que mostram o que cada membro do grupo está fazendo no momento.

Novo app do Google manda vídeos do iPhone para o YouTube Mais um aplicativo para iPhone foi liberado pelo Google, o YouTube Capture. O novo programa permite filmar, melhorar a qualidade dos vídeos e publicá-los no YouTube e nas redes sociais de forma simples e prática. Há também funções para reduzir tremores e corrigir desvios de coloração, opção para o vídeo ficar publicamente disponível ou não e a possibilidade de compartilhar apenas um trecho da filmagem. Com esse lançamento, o Google passa a ter 18 aplicativos para iPhone na App Store.

Aplicativo do Sebrae lança 438 ideias de negócios Lançado em dezembro de 2012, o aplicativo gratuito Ideias de Negócios tem como objetivo ajudar os potenciais empresários com informações sobre o comércio. Divididas em 29 setores, as 438 ideias propostas pela Sebrae apresentam diversos esclarecimentos específicos para cada tipo de negócio, como localização, mercado, equipamentos, investimento, capital de giro e custos. Para fazer o download da ferramenta, o usuário pode digitar o nome do aplicativo na busca da Apple Store.

Fuze Meeting: Um layout diferenciado facilita a realização das conferências online desse programa, que também permite o compartilhamento de arquivos durante as reuniões.

Adobe Ideas: Voltado para quem trabalha com design e usa programas como o Photoshop ou o Illustrator, esse aplicativo substitui o lápis e o papel pelos dedos e a tela.

CamCard: Funciona como um scanner de cartões de visita. Basta fotografar o cartão e o software reconhece nome, empresa, e-mail e telefones, criando um novo contato na agenda.

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LG lança celular concorrente do iPhone 5 A empresa coreana anunciou o lançamento do seu novo smartphone, Optimus G Pro, o primeiro com tela Full HD e concorrente direto do iPhone 5. Com tela de 5,5 polegadas, processador Snapdragon 600 com 1,7 GHz de quatro núcleos, câmera de 13 megapixels e 2 GB de memória RAM, o aparelho roda em sistema Android versão Jelly Bean. O dispositivo começou a ser vendido em fevereiro na Coreia do Sul, mas ainda não tem previsão para lançamento em outros mercados.

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arte & entretenimento

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Marketing Glamour Carnaval que gera R$1 bilh茫o

Estilista baiano no samb贸dromo

Aplausos 94 | Afr贸dromo 95 | Tambores em Amaralina 102 [C] Cristiane Olivieri 104 | [C] Jorge Cajazeira 106


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O mercado do Carnaval de Salvador Foto: Isabel Sant´Ana/SeturBA

Empresários nacionais investem no Carnaval de Salvador como uma boa oportunidade para os negócios. Prova disso é que a folia movimentou, em 2013, mais de R$1 bilhão na cidade. Mas cresce o número de pessoas que defende uma reinvenção do modelo da festa e da forma de se fazer negócios. A intenção é garantir um legado socioeconômico mais eficiente depois dos seis dias de festa por Jessica Sandes

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trio elétrico, criado para superar a Fobica de Adolfo Antônio do Nascimento (Dodô) e Osmar Alvares Macedo (Osmar), ultrapassou os limites do som, tornando o Carnaval de Salvador uma verdadeira vitrine para artistas, marcas e produtos. Dos cerca de três milhões de turistas que visitam a cidade anualmente, aproximadamente 500 mil chegam durante os seis dias da folia momesca. Em virtude disso, investir na capital baiana durante o período segue sendo atrativo para um grande número de empresas. Segundo informações da prefeitura municipal, apenas nesta época mais de R$1 bilhão foram movimentados em Salvador, este ano. Para construir a infraestrutura, contratar bandas, realizar ações publicitárias, auxiliar na limpeza das ruas e na saúde dos foliões, os patrocinadores oficiais do Carnaval da capital baiana investiram, em 2013, cerca de R$16 milhões: R$6,7 mi (Petrobrás), R$5,2 mi (Brahma) e R$3,9 mi (Itaú). Maior patrocinadora deste ano, a Petrobrás foi responsável pelo abastecimento de todos os 120 caminhões sonoros da festa, com aproximadamente 96,5 mil litros do biodiesel B50,


que reduz a emissão de gases do efeito estufa. A quantidade de combustível disponibilizada foi 20% maior neste Carnaval, quando comparada a 2012. Já o banco Itaú foi responsável pelo palco sustentável, localizado na Praça Castro Alves, entre os dias 10 e 12 de fevereiro. A iniciativa utilizou uma tecnologia holandesa que supre os gastos elétricos a partir da energia produzida pela dança dos foliões, e entre as atrações estiveram Gaby Amarantos, a banda Calypso, Moraes Moreira. A empresa também foi responsável pela saída de alguns trios sem corda. A Companhia de Bebidas das Américas (AmBev), por meio da marca Brahma, disponibilizou, nos circuitos do Carnaval, banheiros contêineres com ar-condicionado, espelhos e sabonetes. Outras ações foram o Brahma Zone, com internet wi-fi gratuita no circuito Dodô (Barra-Ondina), e o aplicativo GPS Brahma, que ofereceu informações sobre a localização dos trios elétricos. Gerente regional de eventos da AmBev, Gabriella Esper revelou que o Carnaval é, “sem dúvidas, um dos maiores investimentos da AmBev no Nordeste”. De acordo com a gestora, para atender às expectativas dos participantes, o investimento vai além dos dias de festa: “Uma equipe da empresa fica responsável por promover pesquisas ao longo do ano com o objetivo de identificar as principais demandas dos espectadores, para melhor atendê-los durante o Carnaval”. Nessa época do ano, as cervejarias apresentam um grande interesse em investir na folia momesca, fato que é explicado pelo pesquisador Paulo Miguez: “Anos após anos, os grandes anunciantes comparecem ao Carnaval da Bahia, principalmente companhias de bebidas e instituições bancárias. Isso, obviamente, ocorre pelo fato de que a festa tem uma grande visibilidade nacional e internacional”, comenta ao falar sobre a movimentação de turistas e moradores da cidade, e sobre as transmissões televisivas. Para se ter ideia, o setor hoteleiro registrou, em 2013, 85% de taxa de ocupação durante todo o período da festa carnavalesca, de acordo com a sessão Bahia da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIHBA). “É um palco privilegiado para apresentação e exibição das marcas”, frisa Miguez. Apesar dos pontos positivos, o especialista em marketing Claudio Cardoso questiona a Foto: Rômulo Portela

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Foto: Max Haack_Ag Haack

quantidade de marcas expostas ao mesmo tempo nas ruas e avenidas da cidade. Segundo ele, talvez o retorno para as empresas fosse maior caso houvesse apenas um patrocinador no evento. “Apesar de causar uma poluição visual, a exposição das marcas gera retorno para as empresas sim, porém a organização que patrocina todo o evento pode ter a mesma aparição na TV que aquela que patrocinou apenas alguns blocos ou camarotes, por exemplo”, explica Cardoso, ao falar da falta de exclusividade na divulgação das marcas. “Talvez o Carnaval não seja tão atrativo assim para os empresários”, provoca. O fato é que seja nas ruas, em blocos ou em eventos indoor, os empresários apostam no retorno gerado pela folia. Os camarotes, por exemplo, também são alvos das grandes marcas. As empresas chegaram a investir cerca de R$ 46 milhões neste segmento este ano. O destinos das verbas são diversos, desde salões de beleza a gastronomia e lounges de massoterapia. Os valores empreendidos variam entre R$500 mil e R$6 milhões, e geram mais de 25 mil empregos temporários entre a montagem e os dias de funcionamento dos serviços. 92

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Considerado um local frutífero para network, o camarote Casa de Daniela Mercury recebeu aproximadamente 1.500 pessoas por dia. Cerca de 200 profissionais de comunicação, entre repórteres de veículos impressos, TV, e rádio, foram credenciados diariamente pelo espaço. A promoter Lícia Fábio afirma que toda a badalação que envolve o Carnaval é um excelente meio de promover a cidade que, após a festa, colhe os frutos em áreas como turismo e negócios. “É preciso olhar o entretenimento como business e pode ser até uma solução para alguns problemas sociais. Toda a folia gera empregos, empresas vêm para cá fazer eventos e convenções. É como você imaginar uma Disney. E por que não?”, enfatiza.

Renovar é preciso Em meio aos confetes e serpentinas, tem quem defenda que a folia baiana precisa ser renovada. Uma possibilidade vista como interessante por alguns foi apresentada pelo músico Carlinhos Brown. O Afródromo desfilou este ano experimentalmente no circuito Osmar (Campo Grande).


Foto: Divulgação

A proposta carnavalesca, que deve ser implantada no Comércio a partir de 2014, gerou opiniões diversas, inclusive a de que a iniciativa é um equívoco. Segundo o presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues, o Afródromo isolaria os blocos afros e ainda obrigaria o poder público a ter mais gastos com a criação do novo circuito. O prefeito ACM Neto, que acompanhou o desfile comandado por Brown, assegurou o desenvolvimento do Afródromo para o próximo Carnaval. “Gostei muito da proposta. Para mim, foi uma decisão acertada trazê-lo para o Campo Grande este ano. Podem ter certeza do fortalecimento desta iniciativa para o ano que vem”, frisou. Quem também aposta na ideia é a cervejaria Nova Schin, da empresa Brasil Kirin, que investiu no desfile experimental do Afródromo e promete o patrocínio do movimento, em 2014, além de investimentos em eventos ao longo do ano, na cidade. Em 2013, a Brasil Kirin também patrocinou diversos camarotes e mais de 20 blocos nos dois circuitos. Presente no Carnaval de Salvador há 25 anos, o Shopping Iguatemi é responsável pela distribuição de 70% dos abadás e camarotes vendidos na cidade. O empreendimento registra um aumento de compra e venda de 22% em seus estabelecimentos. O número corresponde ao segundo melhor período de movimentação do shopping. O resultado é inferior apenas ao apresentado durante a época de Natal. Apesar de os números serem positivos, Ewerton Visco, um dos sócios do empreendimento, é um dos que defende que o Carnaval “precisa ser reinventado”. Visco, que foi homenageado pelo camarote da cantora Daniela Mercury, no dia 10 de fevereiro, pelo seu aniversário e pela parceria de 18 anos com o espaço, acredita também que o evento é uma oportunidade valiosa de internacionalizar marcas. “Em nossa cabeça, esse é o maior evento do mundo, queremos fazer parte da renovação dele, salienta o empresário. Apesar de toda a mobilização de empresários e artistas, o legado econômico do Carnaval de Salvador não supera as expectativas do secretário municipal de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, Guilherme Bellintani. Para ele, a ocupação média de 85%, atingida no setor hoteleiro durante os seis dias de folia, deve ser mantida durante todo o ano. “O Carnaval é um aperitivo importante para que turistas e empresas voltem em outro momento, mas precisamos explorar mais a cidade como turismo de lazer, com mais eventos festivos e coorporativos de qualidade, trazendo retorno para as marcas e para a cidade”, completou. Nos demais meses, a rede hoteleira atinge cerca de 68% de ocupação.

Lícia Fábio homenageia Ewerton Visco pela parceria de 18 anos do Iguatemi com o Camarote Daniela Mercury

Foto: Tatiana Azeviche/Setur

Foto: Agecom/BA

O prefeito ACM Neto, o ministro do Turismo, Galvão Vieira, e a ministra da Cultura, Marta Suplicy, o deputado federal Nelson Pelegrino e o governador Jaques Wagner

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art e & e ntr e te n im e nto | a pl a uso s d o ca r na va l Foto: Margarida Neide

Comercial A Gillete, líder no mercado de lâminas no Brasil, trouxe para os festejos, em parceria com Claudia Leitte, o coreano Psy, autor do sucesso da internet “Gangam Style”, para acompanhar a cantora no trio do seu bloco Largadinho. Para adaptar a música aos interesses comerciais, a empresa adaptou o refrão à expressão “quero ver raspar”, com o objetivo de estimular a comercialização dos seus produtos. Foto: Divulgação

A Cafusa, bola oficial da Copa

Isaac Edington (Ecopa), prefeito ACM Neto e Guilherme Bellintani (sec. de Turismo, Cultura e Desenvolvimento)

No domingo de Carnaval, Salvador entrou em contagem regressiva dos 125 dias para a Copa das Confederações da Fifa e iniciou ações de posicionamento da cidade como sede dos jogos de 2013. A bola oficial da competição, a Cafusa, foi usada para representar o pontapé inicial da mobilização. Por iniciativa do Escritório Municipal da Copa do Mundo, o secretário Isaac Edington percorreu os circuitos da folia e levou a bola para ser autografada por diversas estrelas do Carnaval baiano. Ela será leiloada posteriormente com o objetivo de arrecadar recursos para projetos de combate à pobreza na cidade de Salvador. Foto: Margarida Neide

Carnaval on-line Com transmissão ao vivo, os internautas puderam acompanhar os circuitos com alta qualidade de imagem e som. Pela terceira vez, ao vivo, no circuito Dodô (Barra-Ondina), o portal YouTube apresentou a folia baiana, com a chancela do Google. O espectador teve a opção de escolher o que queria ver entre quatro câmeras exclusivas. O canal de entretenimento Vevo Channel também fez a transmissão da boate do Camarote Salvador, ao vivo, para diversos países. A primeira experiência do canal com um evento musical no Brasil havia acontecido no ano passado, em um show do rapper Pitbull no camarote. O sucesso foi tanto que este ano o canal voltou para realizar mais uma transmissão durante todos os seis dias da folia.

Gastronomia requintada

Festa temática

Design

O camarote Contigo deu um show no quesito gastronomia. Algodão-doce sabor goiaba, saladas cremosas e pratos quentes de salmão foram algumas das especialidades escolhidas pelos chefs Douglas Van Der Ley, Isaac Azar e Micheli Biratoni, que ficaram responsáveis pelos pratos do local. O espaço gourmet contou ainda com a parceria dos restaurantes Boi Preto, Pizzaria Di Mari, Atelier da Cozinha, além da mesa especial de cozinha baiana, que ficou a cargo da quituteira Dadá e do tabuleiro da baiana Iracema.

A Suzano Papel e Celulose aproveitou os festejos do Carnaval para comemorar os 30 anos da linha Suzano Report. Nos camarotes da PM, o clima retrô esteve no túnel do tempo criado para recepcionar os foliões. Já no espaço de Daniela Mercury, um lounge foi ambientado com máquinas de fliperama e de chiclete bola. Nos dois circuitos, houve distribuição de minirremas da edição comemorativa. Com 750 folhas, o “resmão” conta com abertura flip-top e um design vintage que remete a um ícone da década de 1980: a fita cassete.

O Camarote Salvador também foi destaque em design. O patrocinador Le Blub Accor trouxe uma escultura da Torre Eiffel para homenagear a França, tema do camarote este ano. No Espaço Accor, desenvolvido pelo arquiteto Ruy Espinheira, dançarinas de “can-can” desafiavam os foliões a dançarem o ritmo em troca de brindes exclusivos da rede de hotéis.

Foto: Alessandra Lori

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Foto: Marcus Claussen


“Senhoras e senhores, esse é o Afródromo” Para nossa alegria, do Brasil e do mundo

Fotos: Divulgação

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s frases acima foram ditas pelo músico Carlinhos Brown durante o desfile que marcou o início do Afródromo, projeto que promete ser um grande marco no resgate da cultura afro no Carnaval de Salvador, patrocinado pela Nova Schin. O cortejo formado pelos principais blocos afros da Bahia, Ilê Aiyê, Filhos do Congo, Commanche do Pelô, Bankoma, Didá, Pracatum, Os Negões, Bloco da Capoeira, Filhos de Gandhy, Cortejo Afro, dentre outros, transformou a passarela do Campo Grande em um belo espetáculo a céu aberto. “É isso que buscamos. Reconhecimento do nosso valor cultural com desfiles em horários nobres junto com outros blocos. Só estamos reivindicando o nosso espaço”, disse Alberto Pitta, presidente da Liga dos Blocos Afros e Indígenas da Bahia.

A multidão que acompanhou o desfile ficou satisfeita com o que viu. “Confesso que não estava tão confiante quanto à aceitação do povo em relação ao Afródromo, mas me enganei. Além de bonito, o desfile está valorizando boa parte dos blocos afros que fizeram parte do Carnaval da Bahia e que estavam correndo risco de desaparecer”, disse a contabilista Cássia Reis, antes de seguir o cortejo ao som da música Asanshu, cantada por todos em alto e bom som. Dentre as muitas presenças ilustres que fizeram questão de prestigiar e acompanhar o desfile afro de perto, destacamse o secretário de cultura do Estado, Albino Rubim, o cineasta americano, Spike Lee, que aproveitou o momento para gravar imagens para o seu documentário ‘Go Brazil Go’, além de líderes do movimento negro baiano, como Vovô do Ilê e Silvio Humberto, do Instituto Steve Biko.

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Fotos: Valter pontes

ESTAÇÃO CERVEJÃO Baianos e turistas em clima de baile carnavalesco

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Museu du Ritmo também vestiu sua fantasia durante o Carnaval 2013. Bem caracterizado de baile carnavalesco, com direito a fanfarras e marchinhas da velha guarda, a estreia da Estação Cervejão foi uma alternativa triunfante em meio à folia momesca, atraindo baianos e turistas que queriam curtir o Carnaval longe dos circuitos oficiais. O evento inédito promovido pela Nova Schin em parceria com Carlinhos Brown foi na casa de eventos situada no bairro do Comércio, que durante todo o verão recebeu os Ensaios da Timbalada e o Sarau du Brown, também patrocinados pela Nova Schin. No segunda-feira, 11 de fevereiro, a banda percussiva feminina Didá foi a responsável pela abertura da festa e o cacique Brown foi o anfitrião da folia, recebendo como convidados especiais a banda Timbalada e a cantora Mira Callado, ex-participante do The Voice Brasil. “Estamos juntos aqui para fazer mais uma experimentação e recuperar a alma dos bailes carnavalescos”, disse Carlinhos Brown durante o show. O segundo dia do evento, 12 de fevereiro, encerrou o Carnaval com as canções carnavalescas da década de 70 cantadas pela banda Lateral Elétrica, e as apresentações da banda Vivendo do Ócio e Didá. Carlinhos Brown surgiu no palco com chapéu de caubói e agradeceu o público por mais uma noite inesquecível na Estação Cervejão. Durante os dois dias, o Museu du Ritmo foi envelopado com a comunicação visual da campanha de Verão e Carnaval da Nova Schin. “A alegria, diversão e descontração são os elementos que norteiam a nossa campanha e têm tudo a ver com essa festa. A Estação Cervejão no Museu du Ritmo veio para somar e ser mais uma opção de entretenimento para os foliões”, afirmou Guru, gerente de eventos da Brasil Kirin Bahia e Sergipe.

Ações no Carnaval e no ano inteiro Durante o Carnaval de Salvador, a Nova Schin patrocinou camarotes como o Cerveja & Cia, Oceania e Via Folia e mais de 20 blocos dos circuitos Barra-Ondina e Campo Grande–Centro, como Cerveja & Cia, Cheiro de Amor, Eva, Timbalada e Harmonia do Samba. Há 11 anos, a marca apoia o famoso Carnaval baiano pela sua relevância no Nordeste e no mundo. A diretora de marketing da Brasil Kirin, Maria Inez Murad, defende que, para haver a manutenção da efervescência cultural da cidade de Salvador, é imprescindível que existam projetos de entretenimento durante todo o ano. “Além das ações durante o Carnaval, investimos em Salvador durante todo o ano. Promovemos atrações de divertimento para a população que, além de trazer alegria para esta cidade, são também uma forma de fidelizar nossos clientes”, comenta.

Nova Schin em números

31,8% de market share na Grande Salvador. 5% de crescimento em volume de vendas em 2012 em relação a 2011. 10% é a previsão de

crescimento para 2013.

3,1% do total de embalagens do mercado no Nordeste são da recém-lançada de Nova Schin 300 ml retornável. 8,3 bilhões de litros foi o que

movimentou o mercado de cerveja no Brasil em 2012.

1,3 bilhão só no Nordeste.

Carlinhos Brown em dois momentos: cantando e dançando com Mira Callado e avaliando os bons resultados da ação com Guru, gerente da Brasil Kirin

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Moulin Rouge em terras baianas

Fotos: Valter pontes

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Camarote Salvador foi preenchido de irreverência, sensualidade e ousadia com as ações da cerveja Devassa by Playboy, que chegou pela primeira vez à Bahia diretamente para o camarote mais badalado da folia. Recém-lançada no mercado do Sudeste, o produto é uma parceria com a Playboy Enterprises e é direcionado para o público moderno e descolado, ideal para ser consumido em ocasiões de descontração. A marca Devassa patrocina pela quarta vez consecutiva o Camarote Salvador e este ano trouxe junto com o novo produto uma série de ações que reforçaram os atributos de ousadia e irreverência da marca, inspiradas no tema Moulin Rouge, um dos símbolos mais marcantes de Paris, tema do camarote. “A decoração este ano foi especial e tem tudo a ver com a atmosfera irreverente e ousada do nosso lançamento mais recente”, explica Aurelio Leiro, diretor regional da Brasil Kirin Bahia e Sergipe. No centro do Camarote Salvador foi montado o Moulin Devassa, com direito ao moinho de vento estilizado e dançarinas que deram um show à parte. As pin-ups da Devassa by Playboy, que estavam distribuídas por todos os espaços do camarote, também ajudaram a compor o clima Devassa, que envolveu os foliões noite afora. Ainda reunindo referências do que há de mais característico no entretenimento de Paris, a Devassa montou uma cabine de fotos, onde os foliões puderam posar com acessórios e adereços e deixar extravasar o lado devassa de cada um. Ao final da brincadeira, os foliões receberam uma tira de fotos com os cliques divertidos do grupo. A Devassa by Playboy é uma cerveja tipo pilsen, produzida com lúpulo especial, que permite o envase em embalagem transparente. Com teor alcoólico de 4,7%, a Devassa by Playboy é refrescante, seu sabor residual é mais agradável e o amargor tem duração mais curta.

Os executivos Aurelio Leiro (diretor regional da Brasil Kirin Bahia e Sergipe), Maria Inez Murad (diretora de marketing), Assis Carvalho (diretor comercial Norte), Guru (gerente de eventos da Bahia e Sergipe) e Paulo Góes (sócio do Camarote Salvador)

Alinne Moraes é a garota Devassa Criada pela agência Mood e produzida pela O2 Filmes, o filme da campanha lançada durante o Verão convida os consumidores a ter sua primeira vez com a Devassa. A história traz Deco Silva, de 30 anos e mostra a repercussão que a primeira vez do personagem causa na web e em veículos de comunicação. Além disso, expõe como hoje o mundo virtual interage com real. A atriz Alinne Moraes, de forma irreverente e ousada, incentiva Deco e os consumidores a terem sua primeira vez com uma Devassa, dizendo: “A Devassa te pega pelo colarinho, te seduz pelo aroma e te dá água na boca”. Assista: http://goo.gl/zAw1d

Fotos: Divulgação

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Carnavalesco da moda Chamado este ano para ser figurinista da escola de samba Porto da Pedra, no Rio de Janeiro, o estilista baiano Fábio Sande comemora a valorização do seu trabalho pela folia carioca e se arrisca a dizer: “O Carnaval de Salvador é feio” por Carolina Coelho 98

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Foto: Rômulo Portela

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Foto: Divulgação

“Em nenhuma época do ano há um respeito pelos estilistas daqui. Conheço excelentes profissionais que deixaram de trabalhar porque não eram bem remunerados. A moda da Bahia está acabando”

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m um visual despojado, vestindo short jeans rasgado e chinelo de dedo, Fábio Sande nos recebe em um dos seus ateliês personalizados com decoração toda em preto e branco, enquanto seu motorista o espera para levá-lo a uma hora marcada no salão. Quem acompanha as novidades do mundo da moda sabe que Fábio é uma figura marcada nos eventos fashions da capital baiana, além de ser o queridinho das noivas, misses, debutantes e formandas – e também das mães, irmãs e avós, coestrelas das festas – que depositam no estilista o sonho de estarem perfeitas no dia mais importante de suas vidas. Apesar de ter um tino afinado para embelezar mulheres, a paixão do estilista está mesmo é no Carnaval. Desde dezembro de 2012, Fábio está entre idas e vindas entre o Rio de Janeiro e Salvador, depois que foi convidado pelo carnavalesco Leandro Valente para confeccionar alguns dos figurinos da escola de samba carioca Porto da Pedra. As fantasias da musa da escola, do casal porta-bandeira e mestre-sala foram confeccionadas por Fábio aqui na Bahia e levadas para o Rio de Janeiro. Lá, o estilista ainda participou da composição dos carros alegóricos, arranjando os minuciosos detalhes que fazem do Carnaval carioca a festa do luxo e da beleza. Aos 39 anos e com a experiência de uma vida regada a muita moda e Carnaval, Fábio é enfático ao dizer: “O Carnaval de Salvador é muito feio, tudo é entupido de propagandas e ninguém se preocupa em deixar os trios bonitos”. Sem um cuidado especial com o patrimônio carnavalesco baiano, o estilista chama a atenção para as filmagens feitas pelas emissoras de televisão, que só mostram os trios e seus cantores e não o carnaval da pipoca. “Ninguém quer ver os ambulantes dormindo nas sarjetas, as caixas de isopor e a sujeira deixada no chão”, opina. E continua: “Os organizadores daqui ainda não entenderam que é preciso vender o belo. A escola de samba é o que é porque é uma coisa linda de se ver”, argumenta ele.

Convidada para ser musa do Galagay Bahia, Monique Evans veste e usa adereços produzidos por Fábio Sande

Foto: Alexandre Macieira/RIOTUR

Casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola de samba Porto da Pedra com fantasias confeccionadas pelo estilista

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Foto: Rômulo Portela

Com vestidos únicos e personalizados, Fábio não faz aluguel de roupas, mas mantém um ateliê com alguns modelos para exposição

Foto: Josefa Coimbra

Um dos vestidos de noiva produzidos pelo estilista para sua coleção de fim de ano

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No Carnaval do axé, Fábio já participa há 14 anos montando a decoração de alguns camarotes e confeccionando o figurino de cantoras baianas, como Emanuelle Araújo, Aline Rosa, Carla Cristina, Gilmelândia, Simone Sampaio e Viviane Tripodi. Mesmo as estrelas desfilando com seus vestidos em cima dos trios, o estilista afirma que não há uma valorização do trabalho dele por aqui. “É só as pessoas fazerem mais sucesso para começar a procurar profissionais de fora”, diz. Ele afirma que não há ressentimento, mas que esse comportamento desestimula o mercado de moda baiano. “Em nenhuma época do ano há um respeito pelos estilistas daqui. Conheço excelentes profissionais que deixaram de trabalhar porque não eram bem remunerados”. Por isso, o estilista lamenta não ter um concorrente no mesmo nível profissional que o seu, e afirma: “A moda da Bahia está acabando”. Sem o incentivo do mercado, que não absorve os novos estilistas e com a mão de obra custando muito caro para quem está começando, ele não vê um horizonte favorável para a produção da moda baiana. Mas ele conta que nem sempre foi assim. Ainda pequeno, podia acompanhar o trabalho dos estilistas baianos Di Paula, Ney Galvão e Júlio César Habbib, que despertavam nele admiração e identificação. Quando o Carnaval acaba, Fábio investe sua produção nos vestidos e acessórios de festa, que custam entre R$3 mil e R$15 mil, dependendo dos materiais usados. Todos os tecidos e os cristais diferenciados, ele traz do Rio de Janeiro. “Não encontro nada para vender aqui, então preciso trazer de fora. Não vou a São Paulo porque todo o mundo tem o que vende lá. No Rio ainda encontro coisas distintas”, revela. Trabalhando há dez anos com uma equipe formada por costureiras, bordadeiras, aderecista, secretária e motorista, ele consegue confeccionar cerca de 180 vestidos de festa por ano e ainda fazer o lançamento de uma nova coleção em dezembro. Agora, de volta à Bahia depois de três meses de intenso trabalho, Fábio retorna aos atendimentos às suas clientes, que esperavam ansiosamente pelo seu retorno. Ao ser perguntado sobre a possibilidade de deixar tudo aqui e ir morar no Rio de Janeiro, ele pensa e responde: “No Rio de Janeiro, eu sou apenas mais um, aqui já tenho meu público”. [B+]


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art e & e ntr e te n im e nto | m úsica Foto: Brisa Dultra

Meninos ensaiam atentamente: para eles, a música é um caminho promissor

Quabales, N performance e música O projeto criado pelo integrante do Stomp Marivaldo dos Santos traz novidades do grupo inglês para o Nordeste de Amaralina, como a íntima ligação entre performance e música, além da utilização de objetos pouco convencionais na percussão por brisa dultra

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ascido e criado no Nordeste de Amaralina, Marivaldo dos Santos foi morar em Nova Iorque em 1991, para dar aula de capoeira e se aprofundar na carreira de músico. Cinco anos após chegar à Big Apple, o baiano participou de uma seleção para ser o novo membro do Stomp, grupo inglês que mescla música e performance, utilizando instrumentos percussivos não convencionais. Foi convocado para fazer parte da trupe e, desde então, apresenta-se em empolgantes espetáculos que misturam música, dança e teatro: “Eu realmente não acreditava que ia ser escolhido. Era uma seleção muito grande. Hoje, o grupo faz parte da minha vida”. Há algum tempo, Marivaldo já vinha maturando a ideia de replicar o modelo artístico e performático do Stomp, através de um projeto social no Nordeste de Amaralina: “Sempre que nós estávamos em turnê, conhecíamos projetos sociais das cidades. Vi muita coisa diferente, que podia ser aplicada aqui no Nordeste. Eu queria retribuir ao meu bairro as oportunidades que tive na infância, dando chance a outros meninos de conhecer a música, de fazer com que a arte mude a vida deles, sendo também uma possibilidade profissional no futuro”.


Foto: Divulgação

(em cima) Marivaldo, entre Marquinhos e Denny, comanda ensaio do grupo Quabales, antes do Carnaval. (embaixo) De vassouras a vasos d’água, tudo pode ser um instrumento para o Quabales

Marivaldo em ensaio com o Stomp, em Nova Iorque

Fotos: Brisa Dultra

Quabales, nome de um instrumento criado por Marivaldo, é também o nome do projeto, que contou com a ajuda de muitas pessoas para ganhar corpo: “A sede onde acontecem as oficinas de percussão e expressão corporal é uma casa da Associação de Moradores do Nordeste de Amaralina, que acabou abraçando a ação. Além disso, recebi o apoio do Stomp e de pessoas iluminadas, como Daniela (Mercury) e Ivete (Sangalo) que me deram um grande suporte para divulgar a ação, ganhar espaço na mídia e mobilizar mais pessoas”. Hoje, são mais de 50 alunos matriculados, que todas as segundas e quartas participam de aulas com métodos semelhantes aos do grupo inglês: “Conto principalmente com a ajuda dos músicos Denny Conceição e Marquinhos Show, que são voluntários do projeto e dão aula para esses meninos”, conta Marivaldo. Para Denny, participar do Quabales é gratificante: “Assim como Marivaldo, eu também sou nascido e criado no Nordeste. Aqui aprendi a tocar. Quero poder ensinar também, trocar experiência com esses jovens, fazer crescer o projeto, para que ele de fato se torne algo tão grande como o Stomp”, declara o músico.

Marquinhos conta que ainda são muitos os desafios: “Falta mesmo estrutura, um local mais adequado para ensaios, apoio financeiro mesmo, para gente fazer manutenção dos instrumentos, comprar coisas novas, pagar professores, enfim, tornar o Quabales uma ação reconhecida pela sociedade e buscada pelos jovens do bairro”, conta o músico. Durante o Carnaval, o Quabales fez apresentação no Camarote Expresso 2222, de Gil, e também se apresentou na festa carnavalesca já tradicional do Nordeste: “O bairro tem uma programação especial no Carnaval e o Quabales fez uma apresentação no arrastão, que passeia pelas ruas do Nordeste fazendo muito batuque e performances como as do Stomp”. Depois da festa, Marivaldo retorna à Nova Iorque, onde vive com sua esposa Fernanda dos Santos. Lá, ele se apresenta no teatro do grupo Stomp, fazendo parte do elenco fixo que se apresenta na cidade. Além de ser um membro antigo do grupo, ele tem projetos independentes, como é o caso de uma banda em que toca rap: “É uma banda de elite, com trompete, trombone, sax, teclado e guitarra. Em maio, por exemplo, virei ao Brasil com o Blue Men, me apresentar nessa turnê”, conta. Durante a sua estada, vai aproveitar para vir ao Quabales, coisa que pretende fazer, pelo menos, de três em três meses: “Quero estar perto, para consolidar o projeto e fazê-lo crescer. Como disse um morador daqui – Prefiro o toque dos tambores do que a zoada dos tiros”. [B+]

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Uma Salvador nova

parecida com a antiga

CRISTIANE GARCIA OLIVIERI

Advogada, master em administração das artes e mestre em política cultural (USP- ECA)

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Apoiado pelos eleitores indignados com o abandono total da cidade, Salvador elegeu novo prefeito que assumiu em janeiro. Os desafios são enormes, face às tantas necessidades da população e ao tempo transcorrido sem qualquer projeto ou investimento público. Mas crise pode gerar soluções inusitadas. Há, de fato, ações prementes e emergenciais a serem implantadas de imediato – tão básicas quanto recolher o lixo das ruas, ou tentar organizar o trânsito. Mas, para além desse incômodos cotidianos, há, principalmente, a necessidade de desenvolver um plano estratégico para o futuro e para o desenvolvimento desta que foi a primeira capital do país, e é especialista em felicidade e hospitalidade. Torço, assim, para que essa nova gestão olhe para o potencial natural da cidade, que está ligado à produção musical e artística, ao turismo e à economia deles decorrente. Essa indiscutível vocação para produção de arte e de conteúdo, que parece simplesmente brotar das ruas, precisa ser incluída como prioridade da gestão pública e de suas políticas. Não para direcionar, classificar ou escolher, mas, para oferecer caminhos de formação, organização, distribuição, divulgação, e fortalecimento, gerando, assim, a implantação de uma indústria criativa com impacto econômico relevante. Experiências contemporâneas vividas por outras cidades têm demonstrado que o investimento e apoio às atividades artísticas e criativas geram desenvolvimento, empregos, sustentabilidade, auto estima, e a inclusão das comunidades. Em muitos casos, coloca a cidade no mapa de destinos do mundo. Ou seja, o investimento público em atividades da economia criativa gera não só emprego direto de suas atividades, como impacta no fluxo de

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turismo para a região, com desenvolvimento social, cultural, urbanístico e econômico. O caso do Museu Guggenheim é emblemático. A implantação do Museu em Bilbao mudou a história da cidade, que enfrentava crise econômica e estrutural. Foi construído pela gestão pública apesar da descrença de grande parte da população, e converteu Bilbao em destino para massa de turistas internacionais. Esse caso demonstra como o investimento em um espaço cultural criou, de fato, emprego, transformou a região, e gerou riqueza da mesma forma que faria a instalação de uma fábrica, mas com impacto bastante diverso para a população. E Salvador precisa de um Guggenheim? Provavelmente, não. Mas, a cidade precisa de um projeto novo e pode aprender com essa e tantas outras experiências que permitiram a requalificação de bairros e de patrimônio histórico, a transformação de cidades em cenário de filmes, ou a implantação de polos de criatividade. A partir dessa observação e aprendizado, criar seu próprio modelo de desenvolvimento. O principal e mais difícil insumo, que é a criatividade, já existe na cidade. Cabe, agora, agregar políticas que, usando talentos locais (soteropolitanos de nascença ou por opção), repensem e proponham novas formas de gerar riqueza e bem estar para os cidadãos. Uma Salvador nova, parecida com aquela antiga que produziu tantos artistas e pensadores, mas com projeto estratégico de médio e longo prazo. De acordo com o Diário espanhol Expansión, de 11 de Janeiro de 2006, desde a data da sua abertura, em 1997, até 2006, o museu já tinha coberto 18 vezes o seu custo de construção ao atingir os 1,3 bilhão de euros de lucro. No final de 2005, o PNB gerado pelo museu, 184.046.738€, representava 0,34% do PNB gerado pelo País Basco.

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Só não vai quem já morreu

Jorge Cajazeira

Executivo da Suzano Papel e Celulose, mestre e doutor em administração de empresas, presidente mundial da ISO 26000 para Responsabilidade Social e presidente do Sindpacel - Sindicato Patronal de Papel e Celulose do Estado da Bahia

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Surpreende-me as críticas que tenho lido e ouvido sobre o Carnaval da Bahia. Tais críticas dão coro às provocações de pernambucanos e cariocas que veem no nosso Carnaval um concorrente forte e que precisa ser vencido. O fato é que o Carnaval da Bahia é realmente um espetáculo, que me perdoem cariocas e pernambucanos, sem comparativo em criatividade e emoção. Aqui, não existe o patrocínio do dinheiro dos bicheiros, tampouco existem leis para barrar a musicalidade de outro lugar. A revista Veja, em 24 de fevereiro de 1993, publicou uma reportagem de capa intitulada “A Bahia Ganhou”, quando, capitaneada pelo sucesso de Daniela Mercury, a festa baiana começava a desafiar a hegemonia do Rio no gosto popular. Na época, discutiam-se dois modelos: o espetáculo promovido pelas escolas de samba, mais bonitos de ser ver pela televisão ou a festa de rua, em que cada folião é parte integrante. Curiosamente, o Carnaval da Bahia, como é hoje, descende diretamente do conceito carnavalesco pernambucano. Em 1950, o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife, em viagem ao Rio de Janeiro, foi convidado para uma apresentação em Salvador pelas ruas da cidade. Nessa época, a capital baiana comemorava o Carnaval de forma bucólica, sem trios, sem algazarras, eram os caretas sambando pelas ruas e tomando umas biritas para descontrair ao som de bandinhas de coreto. Os integrantes do bloco Vassourinhas não imaginavam o impacto daquela apresentação improvisada. Uma multidão contaminada com os frevos atropelou tudo pelas ruas com trombadas e empurrões, em um prenúncio de todo o arsenal que compõe hoje a pipoca do Chiclete, o que levou a banda se refugiar no Palácio do Governo, enquanto o povo pulava de alegria. O acontecimento histórico inspirou o clássico do Carnaval baiano “Varre, varre, varre Vassourinhas...”, cantado por Moraes Moreira. Hoje as críticas à festa soteropolitana focam na perda do princípio básico do

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Carnaval que é a participação popular. Criticam-se os blocos carnavalescos que com suas cordas privatizam o espaço público e os camarotes que tornaram a festa indoor, com seus bailes privados regados a champanhe que faz a alegria das celebridades convidadas. A meu ver, as críticas não procedem. Desde os tempos da mortalha, hoje abadás, a pequena burguesia e a elite se divertiam em clubes privados, com bailes de máscaras ao som de marchinhas. Quem tem mais de 40 anos se lembra da Segunda-Feira Gorda, do Bahiano de Tênis. O bloco carnavalesco Trazos-Montes, da Associação Atlética da Bahia, já tinha corda e para se diferenciar usava um macacão no lugar da mortalha, além do aparato de som e luzes inigualáveis no trio. Essas são as origens do Carnaval como é hoje. Dos bailes do Bahiano derivam os camarotes, do bloco Traz-os-Montes derivam os blocos pagos e do trio Tapajós (criado por Orlando de Campos) vem o Carnaval popular que se mantém vivo nos blocos sem corda e nas pipocas dos grandes trios. Na Baixa dos Sapateiros, no passado, a festa dos negros era embalada pelos grupos Embaixada Africana e Pândegos D’África. Hoje os blocos afros são parte do circuito principal e atração máxima pela indumentária colorida e o som dos atabaques. Mais uma prova de que cabe tudo na folia baiana. É claro que precisamos dar mais ordem à bagunça. É inaceitável o xixi pelas ruas, a exploração dos táxis, a ausência de controle e ordem com os vendedores ambulantes. Mas, se não aqui, em qual outro lugar no mundo se pode escutar artistas do quilate de Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Claudia Leite e Durval Lelys absolutamente de graça? Por isso, me surpreende a falta de carinho com que se trata essa festa maravilhosa, democrática, inovadora, brilhante. No Carnaval da Bahia, já diria Caetano, só não vai quem já morreu.


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