Revista [B+] Edição 21

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sum á rio EDITORIAL 14 ON-LINE E MURAL 16 FÓRUNS [B+] 18 BLOCO DE NOTAS 20 MÍDIA+

Desconstrutora 28

IMÓVEIS+

notas 32 Moura Dubeux 34 D’Avila Empreendimentos 36

nEGÓCIOS 37

A Geradora 40 Uranus2 42 Natural Gurt 44 Helado Monterrey 45 Comércios de Rua 46 Capitão Pintura 48 Jogo de Damas 50 Empreender no Futebol 52 Info Júnior 56 [c] Shirley Silva 58 [c] Luiz Marques 60

EDUCAÇÃO 61

Jorge Portugal 62 Escola de Negócios 68 Escola Kennedy 70

SUSTENTABILIDADe 71

MPEs com diferencial 72 Sede sustentável 76 [c] Isaac Edington 78

LIFESTYLe 79

O lucro dos cafés 80 Robério Sampaio 84 Decoração 86 Pense como imigrante 90 [C] Ingrid Queiroz 93 Sabor 94

aRTE E ENTRETENIMENTO 95 Jovens e criativos 96 Galerias de arte 100 Irá Carvalho 102 The Amazon 103 Aplausos 104

CONTE AÍ 106

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e x p ediente A edição 21 traz na capa a criação do baiano Cristiano Franco e ilustração de Cadu Blanco.

Tiragem: 10 mil exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Grasb Capa impressa em papel Couché Suzano® Gloss 170g/m2 e miolo impresso em papel Couché Suzano® Gloss, 95g/m2, da Suzano Papel e Celulose, produzidos a partir de florestas renováveis de eucalipto. Cada árvore utilizada foi plantada para este fim.

Realização Editora Sopa de Letras Ltda. CNPJ 13.805.573/0001-34 [Presidente] Rubem Passos Segundo [Diretor Executivo] Claudio Vinagre (claudio.vinagre@revistabmais.com) [Editor Chefe] Fábio Góis (fabio.gois@revistabmais.com) [Diretora de Marketing] Bianca Passos (bianca.passos@revistabmais.com) [Repórteres] Carolina Coelho, Murilo Gitel e Pedro Hijo (redacao@revistabmais.com) [Projeto Gráfico e Diagramação] Person Design [Fotografia] Stúdio Rômulo Portela [Revisão] Rogério Paiva [Colaboradores] Ana Paula Paixão, Andréa Castro, Carlene Fontoura, Carlos Vianna Junior, Carol Vidal, Edileno Capistrano, Felipe Arcoverde, Lucas Matos, Núbia Cristina, Renato Ato, Uilma Carvalho, Victor Lima [Colunistas] Ingrid Queiroz, Isaac Edington, Luiz Marques Filho, Shirley Silva, Virgílio Pacheco [Portal] Enigma.net [Redes Sociais] ADSS Presença Digital [iPad] uTochLabs (www.revistabmais.com/ipad) [Conselho Editorial] César Souza, Cristiane Olivieri, Fábio Góis, Geraldo Machado, Ines Carvalho, Isaac Edington, Jack London, Jorge Portugal, José Carlos Barcellos, José Roberto Mussnich, Luiz Marques Filho, Maurício Magalhães, Marcos Dvoskin, Reginaldo Souza Santos, Renato Simões Filho e Sérgio Nogueira [Conselho Institucional] Aldo Ramon (Júnior Achievement), António Coradinho (Câmara Portuguesa), Antoine Tawil (FCDL), Jorge Cajazeira (Sindipacel), José Manoel Garrido Gambese Filho (ABIH-BA), Mário Bruni (ADVB), Adriana Mira (Fieb), Laura Passos (Sinapro), Pedro Dourado (ABMP), Renato Tourinho (Abap), Wilson Andrade (Abaf)

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Reserva de anúncio publicidade@revistabmais.com Salvador - Bahia 71 3012-7477 Av. ACM, 2671, Ed. Bahia Center, sala 1102, Loteamento Cidadela, Brotas CEP: 40.280-000

Representação em outros estados Grupo Pereira de Souza www.grupopereiradesouza.com.br

Pontos de Venda A Revista [B+] pode ser lida no site, iPad e encontrada nas principais livrarias e bancas de revista da cidade. Pergunte na banca mais próxima da sua casa.


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editorial

Em movimento por uma Bahia mais próspera Dentro dos sentimentos mais íntimos, está aquela ebulição de dúvidas, respostas, incertezas, coragem, desconfiança, fé. Análises e mais análises são feitas. Conversas nos bastidores, conversas consigo mesmo. A imaginação está ativa, antevendo a construção de um novo negócio. Toda essa mistura de emoções promove a criatividade, a sensibilidade e a persistência de qualquer empreendedor. Antes de idealizar, durante a execução até a chegada aos louros da vitória, a caminhada pode ser longa ou até mesmo curta. Mas as lições dessa trajetória ninguém esquece. Para compartilhar histórias similares a essas é que nossos repórteres foram às ruas conversar com empresários em seus mais diversos níveis de sucesso econômico, setores de atuação e realização pessoal. Escutamos os aprendizados de gente que empreende, que constrói as bases da economia do país, seja investindo grandes volumes de capital ou a suada poupança reservada ao longo de anos. Afinal de contas, o empresário brasileiro é, acima de tudo, um lutador. O relatório Doing Business 2013, elaborado pelo Banco Mundial, mostra que o Brasil é o 130º colocado, entre 185 países, no quesito de abertura de uma empresa. A posição revela as dificuldades dos empresários no país. Muitos negócios bem-sucedidos atrofiaram em razão de obstáculos básicos, como a burocracia. Shirley Silva, sócia-líder da EY na Bahia, descreve em sua coluna (pág. 58) que o tempo gasto para resolver questões tributárias é de 2.600 horas por ano, enquanto nos demais países, esse período não ultrapassa 347 horas. Quando supera-se isso, esbarra-se na falta de mão de obra, principalmente qualificada, o que especialistas dizem ser o reflexo do descaso com a nossa qualidade da educação. Para se ter uma noção, no Brasil, 49% dos pequenos negócios não passam do primeiro ano. 14

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O compromisso da [B+] é com o desenvolvimento da Bahia, em todas as áreas, por meio da geração de negócios lícitos, éticos e com respeito ao meio ambiente, o que acreditamos gerar uma cadeia infinita de prosperidade. Assim sendo, produzimos essa edição especial com 40 casos inspiradores, que reúnem inovação, experiência, atitude, inteligência e juventude, a fim de estimular uma nova geração de empreendedores, com criatividade e conectada a uma economia complexa e global. O Grupo [B+] se movimenta nesse sentido. Estamos atentos ao setor produtivo, às políticas públicas e nos comprometemos a promover uma massa crítica de pensamentos e diversidade de opiniões. Disseminamos conteúdos jornalísticos relevantes, por meio da revista, site e dispositivos móveis - isentos, apartidários e independentes. Promovemos ricos debates com especialistas nos Fóruns de Liderança. Compartilhamos conhecimentos com universitários na Escola de Negócios. E lançamos, a partir de dezembro, o novo projeto [B+] Qualifica, uma plataforma on-line de educação, com conteúdos de ensino para assinantes. É com esse intuito também que convidamos todos os setores produtivos, entidades empresariais, faculdades e universidades a compartilharem do mesmo propósito, com a intenção de criar um movimento espontâneo por uma Bahia mais rica, diversa, crítica e sustentável. Boa leitura. Fábio Góis, editor-chefe da Revista [B+]


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online e mural

Matéria O desafio da economia criativa A edição 20 está ótima. Parabéns pela atenção à economia criativa, sempre presente na [B+]. Ernesto Eduardo Britto Ribeiro, pelo Facebook

Matéria Infraestrutura para a inovação Que bom ver iniciativas empresariais como essas na Bahia. Espero que mais startups apareçam e que mais espaços como esse sejam criados! Maíra Garrido, pelo Facebook

Entrevista com Guy Ferreira É incrível como as pessoas têm resistência a mudanças. Os hábitos mudaram, o mercado tem que mudar... Por isso inove! Léo Felipe Paranaguá, pelo Facebook

Da nossa fanpage As mais curtidas

[01] Brincadeira levada a sério [02] Infraestrutura para a inovação [03] À margem da crise [04] American Dream

As obras que ilustram as colunas desta edição são de Iuri Sarmento, artista plástico mineiro, que vive e trabalha em Salvador, Bahia. Suas premiadas pinturas misturam o barroco com referências pop e já foram expostas em diversas galerias ao redor do mundo e, mais recentemente, estamparam os vestidos do casamento da cantora Daniela Mercury.

Queremos te ouvir A Revista [B+] abre espaço para que você, leitor, dê a sua opinião, crítica e sugestão sobre as nossas matérias. O que te agradou? O que poderíamos melhorar? Qual a sua dúvida? Queremos saber o que você tem a dizer para que o conteúdo da [B+] esteja sempre alinhado com o que você quer ler. Existem diversos canais pelos quais podemos manter este contato.

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Site www.revistabmais.com E-mail redacao@revistabmais.com Telefone 71 3012-7477


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fórum de liderança

9º Fórum de Liderança [B+]

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“Quebrar os muros das instituições é o melhor caminho para inovar na saúde” José Henrique Germann Ferreira, diretor de consultoria e gestão do Hospital Albert Einstein

[01] Público do 9º Fórum de Liderança [B+]; [02] José Henrique Germann e Renato Simões; [03] Eraldo Moura Costa (Promédica); [04] Laura Ziller e Claudia Santana (HSR); [05] José Elio (Sebrae); [06] Monica Lima e Carlos Alberto (H. Espanhol); [07] Fábio Brinço (Itaigara Memorial); [08] Silvio Vasconcelos, Leila Brito e Herbem Maia (FJS); [09] Daniel Bello (Grupo Delfin);

Diretores e empresários do ramo da saúde se encontraram na manhã do dia 22 de outubro no Hotel Matiz, em Salvador, para conferir o nono Fórum de Liderança [B+]. Com patrocínio da Promédica, Fundação José Silveira, Hospital Espanhol, Sebrae e Desenbahia, o evento contou com um café-palestra ministrado pelo diretor de consultoria e gestão do Hospital Albert Einstein, Dr. José Henrique Germann Ferreira. Na ocasião, Germann apresentou para os convidados o modo como alinha a estratégia dos resultados no Albert Einsten. A modernização da gestão tem ajudado o hospital a aumentar o faturamento em 10% ao ano. Para o doutor, quebrar os muros das instituições é o melhor caminho para inovar na saúde. “Vai ter sucesso a instituição que levar o atendimento para o paciente sem que ele tenha que estar necessariamente dentro de suas dependências”, opinou.

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+ No site: confira fotos e palestras na íntegra

10º Fórum de Liderança [B+]

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“A escolha pela sustentabilidade não é um ecomarketing, é uma necessidade” Thales de Azevedo, engenheiro eletricista pela Escola Politécnica da Ufba, e conselheiro do Sinduscon-BA

[10] Thales de Azevedo, Natasha Thomas, Ângela Márcia e Mário Sérgio; [11] Rubem Passos e Renato Simões; [12] Eduardo Valente (Civil); [13] Ernesto Simões (Artemp); [14] André Fontes (Artemp); [15] Carlos Alberto Vieira Lima (Sinduscon-BA); [16] Carlos Henrique Passos (Gerdau); [17] Adelson Prata (Caixa); [18] Thiago Ribeiro e Sérgio Silva (Desenbahia)

O Fórum de Liderança [B+] completou dez edições com o tema Eficiência Energética e trouxe o engenheiro eletrisista Thales de Azevedo, a engenheira civil Natasha Thomas e o engenheiro mecânico Mário Sérgio para um café-palestra no Hotel Matiz. Com patrocínio da Civil Pré-moldados, Artemp, Desenbahia e Caixa, o evento foi realizado no dia 21 de novembro e contou com a presença de arquitetos e engenheiros interessados no case do Sinduscon Bahia, que, na necessidade de ampliar o espaço, aproveitou para reconstruir uma nova sede incorporando inovações tecnológicas modernas com critérios mundiais de sustentabilidade. Este foi o último Fórum de Liderança [B+] de 2013. Para o próximo ano, estão agendados mais 12 encontros, oito na capital e quatro no interior do estado, para debater sobre os mais diversos temas que estão em destaque na Bahia.

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blo co de n o t a s

38% É a chance que um trabalhador com formação técnica tem a mais de conseguir um emprego com carteira assinada do que um formado no ensino médio regular Dados do estudo Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)

A inauguração teve a presença do ex-presidente Lula em Alagoinhas

foto: Carol Garcia/SecomBA

FÁBRICA DA ITAIPAVA INAUGURADA EM ALAGOINHAS GERA 3.600 EMPREGOS A primeira fábrica de produção de cerveja do Grupo Petrópolis Itaipava na região Nordeste foi inaugurada no dia 22 de novembro, em Alagoinhas, sendo responsável pela geração de 3.600 postos de trabalho. A cidade foi escolhida pela localização estratégica e qualidade da água, uma das melhores do mundo. O município é sede também de unidades da cervejaria Brasil Kirin e da fábrica de refrigerantes e bebidas Indústrias São Miguel. Os primeiros testes de produção da fábrica começaram em agosto. A empresa projeta ampliar a produção e a criação de empregos nos próximos anos, quando pretende aumentar a participação no mercado nacional a partir do Nordeste. “Essa planta possui capacidade de expandir a produção para 900 milhões de litros de cerveja, o que vai depender do crescimento da demanda. Mas, com essa expansão, ampliaremos a geração em pelo menos 50%”, disse o diretor de mercado do Grupo Petrópolis, Douglas Costa.

MARAGOGIPE TERÁ POLO INDUSTRIAL NAVAL Polo 2 de Julho é o nome do novo complexo industrial que será construído no município de Maragogipe, a cerca de 130km de Salvador, dando suporte ao Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP). O protocolo de intenções foi assinado, dia 26 de novembro, entre o governo da Bahia, o EEP e as empresas ASK, OAS, Odebrecht e UTC. A obra prevê investimentos de R$2 bilhões na implantação do empreendimento e a expectativa é gerar oito mil empregos diretos e 12 mil indiretos.

foto: Elói Corrêa/SecomBA

Polo de Camaçari terá 17 mil vagas até 2015 O Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic) espera criar 17 mil vagas de emprego, diretas e indiretas, para atuar na operação das plantas do polo até 2015. Com grande necessidade de mão de obra especializada e com formação técnica, a indústria tem investido em caçar talentos nas escolas técnicas e em capacitar trabalhadores recém-formados para as necessidades específicas das empresas. A maioria das vagas deve ser resultado de ampliações das fábricas existentes e da abertura de novas unidades previstas para os próximos anos. Os setores de destaque são o químico, o petroquímico e o automotivo. Profissões que exigem conhecimentos de como operar e manter as plantas são as com maior oferta. 20

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en t revi st a

Uma eleição como a FIEB ainda não havia visto CARLOS GILBERTO FARIAS É alagoano, engenheiro agrônomo, e vive há 41 anos em Juazeiro, onde construiu a Agrovale, agroindústria que emprega cerca de cinco mil funcionários. Afirma conhecer bem as dificuldades por que passa um industrial do interior baiano, fora do círculo de poder da capital. “Em 2010, retirei a minha candidatura em favor da unidade da Fieb, mas nesses quatro anos não houve a atenção que esperávamos ao pequeno e ao médio industrial, principalmente o do interior da Bahia”

Por que o senhor é candidato à presidência da Fieb? Sou o candidato da maioria dos 41 presidentes de sindicatos que compõem a Fieb e desejam mudar. Eles querem atenção, assistência, interiorização, coisa que a nossa federação não faz. Um projeto como o do complexo acrílico, da Basf, é vital para a nossa economia, mas o pequeno industrial que luta em Vitória da Conquista, em Teixeira de Freitas, em Barreiras, em Feira de Santana, em Alagoinhas, também merece a presença mais robusta do Sistema S, com a Fieb, o Senai, o Sesi e a grande estrutura do Cimatec. Formar doutores é importante, mas é fundamental também preparar destiladores, caldeireiros, soldadores, mineiros, carpinteiros. O senhor concorda que a Fieb passa por um momento de expansão, com aumento de investimento nos serviços de educação e interiorização? O que propõe como renovação? O próprio presidente Mascarenhas, que reputo como um homem probo, admite que o processo de interiorização está incompleto. Eu seria um pouco mais agudo e diria que falta um planejamento eficaz para trabalhar com a questão da regionalização do desenvolvimento industrial baiano. Em Maracás, no 22

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sudoeste, a Largo vai dar partida em fevereiro na sua planta de vanádio, com investimentos de R$550 milhões. Qual é o papel da Fieb neste processo? O mesmo pode-se falar sobre o polo de bebidas em Alagoinhas. Em relação à energia eólica, o Senai nacional assinou um convênio de cooperação com uma agência alemã para o treinamento de pessoas, mas não existe uma ação da Fieb em nível estadual para ampliar esta capacitação. Quanto ao Cimatec, é um projeto extraordinário que vamos dar continuidade e levar ao interior. A instituição começa a montar o supercomputador da América do Sul, mas não mantém nenhuma sinergia com o Polo de Informática de Ilhéus. Vamos fomentar essas sinergias, para que o interior também possa se desenvolver. Essa intenção de levar as indústrias para o interior não pode esbarrar em um certo lobby das empresas que querem as indústrias perto da capital? Nos últimos anos, segundo dados da Junta Comercial do Estado da Bahia e da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração, o número de indústrias em implantação no interior é maior do que na RMS, em uma proporção de mais ou menos 60% a 40%. Por desconhecimento, a atual direção da Fieb não dá a devida atenção a importantes segmentos que tomaram impulso nos últimos anos, como a mineração e a energia eólica, que obrigatoriamente, por causa da natureza do negócio, se implantarão no interior.


A Federação das Indústrias do Estado da Bahia está às vésperas de decidir quem será seu próximo líder. O atual presidente, José de Freitas Mascarenhas, quer mais quatro anos para concluir o trabalho iniciado na atual gestão. Carlos Gilberto Farias, vice-presidente da Fieb, deseja renovação e representatividade do sistema no interior do estado. Com uma disputa nunca antes vista, a eleição será realizada no dia 28 de janeiro, quando os 41 presidentes de sindicatos patronais afiliados à Fieb definirão a nova diretoria, que comandará um orçamento de quase R$700 milhões, além das instituições de ensino e qualificação profissional Senai, Sesi, IEL e Cieb JOSÉ DE FREITAS MASCARENHAS Formado em engenharia civil, executivo do Grupo Norberto Odebrecht, é o atual presidente do Sistema Fieb e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Tem a experiência de conduzir a federação entre os anos de 1992 e 2003. Retornou à presidência em 2010, com diretrizes prioritárias em interiorização, infraestrutura, meio ambiente, inovação e tecnologia, internacionalização e a representação política e institucional do setor.

Por que o senhor é candidato à presidência da Fieb? Na minha vida nunca gostei de deixar um trabalho pela metade. Em 1974, quando terminei um período no governo da Bahia, na Secretaria das Minas e Energia, recebi dois convites para ser secretáriogeral de ministérios. Não aceitei porque conduzia o processo de implantação do Polo Petroquímico e queria concluí-lo. Isso aconteceu e hoje o polo está aí. Agora, vivo uma situação semelhante. Desejo completar o processo de interiorização com a conclusão das várias obras que iniciei, implantar os novos e importantes avanços conseguidos na área de inovação do Cimatec, concluir a implantação do ensino de qualidade no Sesi e outros programas já iniciados. O senhor foi eleito por unanimidade, em 2009. Hoje, a Fieb vive uma eleição acirrada. A que se deve essa mudança? Entendo que a disputa pela presidência da Fieb faz parte do jogo democrático. Entretanto, se hoje há uma disputa é porque a Fieb ganhou uma dinâmica própria, cresceu em todas as direções, tornou-se uma entidade relevante e respeitada. E isso, modéstia à parte, é também fruto do trabalho que estamos executando.

Qual são os maiores gargalos do desenvolvimento da indústria na Bahia e como a Fieb pode contribuir? A infraestrutura é o nosso maior gargalo. Não dispomos de ferrovias e temos problemas em outros modais, mas o pior é a falta de porto. Aratu é o porto industrial por excelência na Bahia e ele é, praticamente, o mesmo equipamento que ajudei a implantar nos anos 1970. É preciso modernizá-lo e promover sua concessão à iniciativa privada. Além disso, é necessário apoiar a solução do Porto Sul, para viabilizar o embarque da carga que utilizará a Fiol. Do que as micro, pequenas e médias indústrias do estado, tanto da RMS como do interior, mais necessitam para expandir e movimentar a economia baiana? As MPMEs têm o desafio de ser competitivas. Para isso, precisam de suporte na área de gestão, na qualificação de mão de obra e, especialmente, na busca da inovação. Em todas essas tarefas, contam com todo o respaldo do Sistema Fieb. Elas serão positivamente impactadas por iniciativas como o programa de supercomputadores em implantação no Cimatec. Em todas as áreas, já atendemos a muitas e muitas delas. Este ano, até setembro, o Sesi atendeu mais de 2,3 mil empresas, das quais 74% são de micro e pequeno portes, 18% são médias. No próximo ano serão 3.400. Eu sempre observo que as grandes empresas não são tão dependentes do Sistema Fieb quanto as MPMEs. Em grande parte, é para estas que existimos. w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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blo co de n o t a s Máquina de Vendas inaugura novo conceito de loja em Salvador A Máquina de Vendas inaugurou em Salvador quatro unidades da MV Connect, marca especializada em produtos e serviços de alta tecnologia e de comunicações móveis. Ela consiste na criação de novos espaços e na modernização das atuais áreas de telefonia das lojas das bandeiras da Máquina de Vendas (Ricardo Eletro e Insinuante) dos Shopping Barra, Shopping Iguatemi, Salvador Shopping e Salvador Norte. “Queremos proporcionar uma experiência única. Por isso, desenvolvemos um projeto que busca aproximar o produto do cliente e oferecer um atendimento dedicado e especial”, diz Marcelo Almeida, diretor de novos negócios da Máquina de Vendas. foto: Divulgação

Presidente da Insinuante, Joaquim Sousa e Marcelo Almeida, diretor de novos negócios da Máquina de Vendas

Lançada a Liga Universitária de Empreendedorismo em Salvador A liga foi lançada no dia 7 de dezembro, incubada pela Fundação Estudar e endossada pela Escola de Administração da Ufba. Ligas universitárias são grupos formados por estudantes universitários com o objetivo de contribuir para a formação profissional dos alunos de uma ou mais instituições de ensino superior para uma área de atuação específica – ex.: mercado financeiro, gestão empresarial, empreendedorismo. Fazem isso promovendo a área de atuação no meio universitário, atividades de capacitação, e oportunidades de envolvimento e ingresso nessas áreas. São exemplos de atividades que realizam: palestras abertas ao público, cursos, treinamentos, grupos de estudo, simulações, resoluções de caso, competições, eventos de networking e programas de mentoring.

FITINHAS DO SENHOR DO BONFIM VOLTARÃO A SER FABRICADAS NA BAHIA APÓS 20 ANOS Ícone tradicional da religiosidade baiana, a Fitinha do Senhor do Bonfim será novamente fabricada no estado da Bahia, após 20 anos. De acordo com o coordenador da Cooperativa de Produtores de Artigos Religiosos e Culturais (Cooparc), Moisés Cafezeiro, a entidade vai gerir uma fábrica dedicada à produção artesanal variada de estatuetas, mobiliário sacro, além de velas e outros artigos, entre eles a tradicional fitinha do Senhor do Bonfim. “A fita que é vendida hoje não arrebenta [é fabricada em material sintético] e os três pedidos aos santos dificilmente são atendidos. Vamos fazer um material em algodão e o santo vai voltar a fazer graças”, disse Cafezeiro. O espaço, segundo ele, funcionará na Avenida Beira-Mar, no bairro da Ribeira, Península de Itapagipe.

Membro do Prêmio Nobel investe na Bahia A startup baiana Lisan – Health & Internet, criadora do Raduniverse, uma espécie de simpósio de medicina na internet, ganhou o investimento do professor doutor Scott Atlas, da Universidade de Stanford e membro do comitê de indicação ao prêmio Nobel de Medicina. O valor não foi revelado, mas Atlas esteve na Bahia para fechar o contrato. “A Lisan é a combinação perfeita sobre como usar as ferramentas para beneficiar o Brasil, em um momento em que a assistência médica tornou-se mais complicada do que nunca”, afirmou o doutor.

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ford em camaçari lança Ka Concept

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Italianos querem investir em turismo náutico Empresários italianos do Grupo Azimuth Benetti Yachts, um dos maiores do mundo, reuniram-se com o secretário estadual Domingos Leonelli, e manifestaram a intenção de investir no turismo náutico na Baía de Todos os Santos. Os executivos Roger Zichelli e Davide Breviglieri, da Azimuth, querem implantar uma unidade de gerenciamento de embarcações de passeios (charters) na baía. Além disso, pretendem administrar um projeto de escola náutica para capacitação da mão de obra local.

O novo veículo global da Ford, batizado de Ka Concept, desenvolvido pela equipe de engenharia da empresa na Bahia, foi lançado para o Brasil e o mundo no dia 13 de novembro, com a presença do presidente do conselho de administração da Ford, William Clay Ford Jr, bisneto do fundador da companhia, Henry Ford. O desenvolvimento do novo veículo foi todo liderado pelo centro de engenharia da Ford, em Camaçari. “Este centro de engenharia da Ford na Bahia é um dos mais importantes que temos no mundo”, enfatizou Willian Clay Ford Jr. A empresa investe na ampliação da unidade de Camaçari e na construção de uma fábrica de motores no estado. A expectativa é que, até 2015, a unidade baiana atinja uma produtividade 300 mil unidades/ano.

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arte: Iuri Sarmento

O aumento do IPTU e a cidade do Salvador por Virgílio Pacheco

O foco da nossa preocupação são os efeitos econômicos do aumento proposto para o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), cujo debate superficial, senão a sua ausência, é simplesmente desolador. A Câmara Municipal (a Casa do Povo da cidade), onde mais se deveria discutir a proposta, optou de forma atabalhoada e rito sumário pela aprovação, cuja mensagem continha erros crassos no que tange à técnica legislativa. Salvo as exceções conhecidas concernentes às qualificações, fatos assim revelam a subordinação histórica e o atrelamento dos nossos representantes ao Executivo, que sabe tirar vantagens do perfil fisiológico cristalizado no processo político e secularizado historicamente. Há de se chamar a atenção para o fato de que o Estado não deve ter por missão precípua a arrecadação ou o seu aumento, mas a justiça fiscal. Adam Smith, considerado o pai da economia moderna, na sua famosa obra de 1776, A Riqueza das Nações, já registra os elementos da necessidade da equidade da tributação. Assim, os benefícios recebidos pelo contribuinte pelos serviços prestados pelo Estado, sobretudo sua capacidade contributiva, são precondições fundamentais ao alcance dessa justiça, condição sabiamente homologada na Constituição de 1988. O IPTU é um imposto essencialmente inelástico em relação à renda. Sendo assim, para que os resultados do aumento do imposto repercutam favoravelmente na arrecadação, de acordo com as expectativas do governo municipal, será necessário que esta cobrança seja exercida ao nível da extorsão, senão do confisco, o que a torna inconstitucional por não respeitar a capacidade contributiva do cidadão. A uma variação do produto ou renda, a arrecadação do imposto se dá em proporção inferior 26

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a essa variação, sobretudo em uma cidade com o perfil de renda per capita extremamente baixo como Salvador. Para que se tenha ideia do que se vislumbra no horizonte, a trava é de 35% ao ano, ou seja, o aumento anunciado pelo prefeito de Salvador no período do seu mandato alcançará o índice de aproximadamente 3,32. Assim, para cada R$1.000,00 do imposto hoje, ao longo do período do governo que patrocina a atual proposta, serão cobrados R$3.332,00, um aumento de 232%, enquanto a inflação no mesmo período será de 26%, correspondendo ao aumento real de, aproximadamente, 206%. A proposta é uma bazófia. O efeito devastador dessa política se projetará sobre a classe média, já bastante desencantada pelo desgoverno dos últimos anos. Ainda que houvesse distorções, estas só poderiam ser corrigidas dentro de um processo gradual, respeitadas as condições constitucionais relacionadas à capacidade contributiva, o que certamente não é nem de longe observado pela proposta de aumento do IPTU em Salvador. Mesmo que, como é do senso comum, o IPTU esteja abaixo do potencial, o aumento da sua participação no produto não pode ocorrer sem considerarmos a elevada carga tributária, que ameaça alcançar 40% do PIB. O aumento do IPTU em Salvador, tal como proposto, tem por objetivo exclusivamente o aumento da arrecadação de forma abusiva. Desta forma, o resultado pode ser o aumento da inadimplência e a judicialização inevitável face à natural busca do direito pelo contribuinte e consequente diminuição da receita esperada. Virgilio é economista, professor e conselheiro do Conselho Regional de Economia


5 apps essenciais (e gratuitos) para o empreendedor

Trello

IFTT

BizExpense

Sebrae

Instagram

O aplicativo é uma espécie de mural de tarefas que permite que o usuário organize os seus projetos conforme as etapas nas quais ele está. Disponível em inglês.

Ele transfere conteúdo entre diferentes serviços on-line. O usuário consegue que um arquivo do Google Docs seja salvo no Dropbox automaticamente, por exemplo.

Para quem quer controlar gastos, esse app é uma mão na roda. É possível criar categorias de gastos, fazer gráficos, escanear recibos e exportar dados para o Excel.

O aplicativo é atualizado com notícias sobre empreendedorismo, cursos, palestras, oficinas, seminários e dicas para quem já é empreendedor ou quer abrir um negócio.

Melhor amigo dos fãs do e-commerce, o app é uma boa ferramenta para quem quer divulgar imagens de produtos. Funciona como uma ferramenta de marketing e propaganda.

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mídi a+ Imagem: Samuka Marinho

Samuka criou peças-conceito, mais próximas de seu estilo e metas de criatividade, para apresentar ao mercado de comunicação

Desconstruindo e Construindo Samuka Marinho criou a marca do Festival de Verão em 1999 e ganhou destaque por isso. Mas, há dez anos, o que ele segue desenvolvendo é uma empresa que redefine para o alto a qualidade das peças publicitárias no estado por Fábio Góis

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Revista Revista [B [B++]]

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poder de devastação de uma bola rompedora com suas mais de cinco toneladas arrasa até as mais difíceis estruturas que insistem em se manter de pé, abrindo espaços para novas realidades. A Desconstrutora usa o ícone da reconstrução em sua marca, estampada em roupas e bandeiras de personagens criados por Samuel Pimentel Marinho. Caso não ligue o nome à obra, estamos falando do artista que coloca sua arte a serviço do mercado publicitário e atende pelo codinome Samuka. Ele já passou por quase todos os setores de uma agência, mas em 2002 decidiu seguir seu próprio caminho. Criou a Desconstrutora e iniciou o trabalho para apresentar um então novo conceito de arte-finalização. De tão inovador, Samuka teve que trabalhar de graça por cerca de um ano. Experimentou, aprendeu e ensinou novas técnicas de como tratar e redefinir fotografias. Em 2013, teve o reconhecimento com a criação Anorexia, que ganhou o Leão de Ouro em Cannes. Vem agora amadurecendo junto com clientes e agências, quando se define pronto para alçar voos ainda maiores. Discreto, prefere não divulgar fotos próprias, mas sim dar luz a suas obras. Afinal de contas, o Samuka que criou a marca do rasta para o Festival de Verão em 1999 quer surpreender novamente.

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Por que Desconstrutora? A Desconstrutora é um estúdio de imagem que trabalha técnicas de fotografia e ilustração em tratamento de imagem para dar forma a ideias e pensamentos criativos de estúdios, produtoras e agências de publicidade. Comecei a pesquisar sobre conceitos artísticos e cheguei até a desconstrução ou desconstrutivismo, que é pegar coisas que já existem e transformá-las em coisas novas. É mais ou menos o que eu faço. Utilizo todas as técnicas que disponho na fotografia para ultrapassar os limites da realidade ou simplesmente atenuar partes que sejam invisíveis quando inclusas e totalmente perceptíveis se faltosas.

Samuel Pimentel Marinho (Samuka) Idade: 35 anos

Nascido em: Ipirá-BA

Trabalha com publicidade desde: 1998

Outras tentativas: Vendeu purificadores de água e colchões, mas não teve competência.

Já trabalhou na: Pedrinho da Rocha (ilustrador), Start (diretor de arte júnior), Mago (arte-final), Leiaute (diretor de arte), África-SP (assistente de arte), JWT (assistente de arte).

Em dez anos como empreendedor/artista, quais são as lições que aprendeu quando se fala em vender o próprio trabalho? Parecer é mais importante do que ser. Quais são as dificuldades administrativas de trabalhar sozinho? É muito complicado atender o telefone, ir à reunião, acompanhar a foto, tratar as imagens, descer para pegar a pizza, entregar o pen drive, fazer a nota e ligar três meses depois para perguntar sobre previsão de pagamento. Como você viu, começa e termina por telefone. Hoje, com toda a tecnologia que a gente tem, poderia ficar tudo no virtual (menos a pizza), mas eu acho importante fazer parte do mercado estando presente de verdade nos lugares. Você não pode ser somente um e-mail, uma voz ou uma marca. Você tem que ser (literalmente) alguém no mercado. Uma grande exigência de quem trabalha no mercado daqui da Bahia é o respeito. Respeito nos prazos, respeito equilibrado entre o que se pede e o que se oferece, respeito nos valores e tal. Respeitar um thumbnail é diferente de respeitar uma pessoa que está ali na sua frente, não é não? Tem que estar colado na galera, seja por lobby, carência ou por amizade.

Quem mais frequenta a lista de clientes da Desconstrutora? Aqui e fora da Bahia, eu trabalho muito com governos e prefeituras. Já fiz alguns trabalhos para empresas de lugares bem distantes, como EUA, Alemanha e Barreiras. Mas não são trabalhos frequentes. Contas públicas são realmente os grandes clientes. E não só meu. Acho que para todos do mercado publicitário da Bahia. w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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mídi a+ Como o mercado publicitário baiano pode inovar? Poderia e deveria experimentar. Dá para fazer muita coisa legal aqui e já tem gente buscando isso. Tem uma galera ainda com vontade. Só que tem muita gente que acha que inovação significa juventude. Eu vejo agências hoje em dia com muita gente jovem, determinada, mas com sangue no olho de pura infecção. Uma galera aguerrida, mas que nunca fez, apenas viu ou acha que é. Uma galera que não estuda o mercado do cliente. Estuda apenas o mercado publicitário. Quando tem um job sobre criação de gado, vai no site do AdsOfTheWorld e digita “cow” para ver o que já foi feito de anúncio sobre vacas em vez de ler sobre agropecuária. Talvez falte aí no meio desses jovens e promissores talentos um olhar mais experimentado, que já tenha feito, que já tenha errado e que já tenha acertado. Alguém que não queira mais provar nada apenas com premiação. Alguém que possa fazer publicidade para o público e não para os colegas de trabalho. Quando a gente fala isso, rebatem perguntando: “Mas onde é que eu vou achar alguém que seja bom, experiente, barato e que ainda esteja vibrante?” Rapaz, com essas características juntas, só mesmo na Marvel. Não estou sugerindo um herói. Apenas alguém que faça parte de um mecanismo e que cubra uma função específica no conjunto que ultimamente está muito capenga.

A agência de publicidade Revolution Brasil criou uma série de três imagens para a agência de modelos Star Models, como uma crítica ao desejo de extrema magreza comum no mercado de moda. A Desconstrutora foi a responsável pela arte-final das fotografias. A campanha ganhou o Leão de Ouro em Cannes 2013

Existe um limite para a criatividade na hora de criar uma peça para o cliente? Ofereça. Primeiro temos que oferecer. Não dá para dizer que não pode, não tem ou não vai, se você não oferecer. Se você não oferece outras músicas, a galera vai continuar ouvindo apenas pagode. Você é um cara que estuda muito. Quais são suas referências? O primordial é conhecer o realismo de uma imagem. Ver foto de batizado, fotos de celular, fotos do cotidiano. Observar a sombra do copo na mesa. Depois você começa a correr atrás de inspiração pesquisando imagens mais soltas, criativas e lúdicas. Aí mistura os rigores da realidade com a liberdade da fantasia. Já foi. 30

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É verdade que você tira três meses de férias por ano? Todo o verão. Não sou fanfarrão. É que eu trabalho nove meses sem parar, ficando de prontidão no sábado, domingo, madrugada. Sempre trabalhei em casa como home-office. Hoje temos internet rápida até em Ipirá. Daria para trabalhar de qualquer lugar, para qualquer cliente. Mas decidi ter uma sala em um edifício empresarial que é bem perto dos meus clientes. Em casa eu não tinha custo, mas também não tinha vida. Então, os custos de um escritório na verdade são um investimento na minha vida pessoal. Trabalhando em casa eu sempre tive disciplina. Meus clientes não. Quais são seus próximos passos? Eu sou daqueles que se perguntam “onde eu vou estar daqui a cinco anos?” Tudo o que dependia apenas de mim eu consegui. Tanto na vida pessoal quanto em relação à Desconstrutora. Para os próximos cinco anos, minha busca é por mais independência. Estou fechando esse ciclo agora com um portfólio impresso com 100 páginas e no formato físico de revista, para comemorar os dez anos de empresa. É um portfólio-conceito, sem peças de publicidade. O mercado não me permitiu trabalhos soltos o suficiente para gerar um portfólio que atenda a minhas metas. O mercado daqui tem uma cara. Eu fiz e faço parte dessa cara. Também sou responsável. O início desse novo ciclo, que começa agora em 2014, eu penso mesmo é em aproveitar melhor meu tempo com as pessoas e menos com as coisas. As metas são mais ambiciosas, só que agora tenho maturidade e experiência profissional suficientes para fazer as coisas com menos afobação. [B+]


Apoio:

economia 36 | Experiência 44 | [C] Luiz Marques 48

negócios

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Logística e distribuição

Foto: Carol Garcia/SECOM

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Celeiro de inovações

Foto: Manu Dias/SECOM


i m ó vei s+ Apoio:

Por Núbia Cristina

Sucesso de vendas A Siravol Brasil, empresa do grupo português Américo Amorim, está satisfeita com o desempenho dos negócios na Bahia e celebra o sucesso de vendas do condomínio Piscinas Naturais. São 110 hectares, com 505 lotes de 544 a 800 metros quadrados, inseridos em um projeto que prioriza a preservação das riquezas naturais da Praia do Forte e a completa infraestrutura de segurança, lazer e serviços. O grupo investiu R$45 milhões na aquisição do terreno, em 2007, acesso e construção de um clube (com quadra de tênis, fitness, espaço gourmet e salão de festas). O grupo Américo Amorim investe em vários setores da economia, em Portugal, Brasil, Moçambique e Angola.

Governo vai criar fundo imobiliário para o Centro Histórico Está em discussão no Governo do Estado da Bahia um projeto que prevê a concepção de um fundo imobiliário capaz de dar suporte financeiro à criação de empreendimentos residenciais no centro antigo de Salvador. O governo deseja atrair a iniciativa privada disponibilizando recursos e casarões que pertençam ao estado. “Existe ainda a possibilidade de desapropriar imóveis privados ociosos, que podem ser restaurados”, explica o secretário Robinson Almeida. A ideia é criar empreendimentos residenciais diferenciados para que as pessoas das mais variadas classes sociais tenham a possibilidade de morar na região histórica da capital baiana. Como a área é Patrimônio Mundial da Humanidade, tombada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o projeto está sendo estruturado com muito estudo e cautela.

OR inaugura Hangar Business Park A Odebrecht Realizações Imobiliárias (OR) inaugurou em novembro o primeiro campus corporativo da Bahia: o Hangar Business Park. Localizado em um terreno de mais de 28 mil m2 na Avenida Luiz Vianna Filho (Paralela), primeira rótula do aeroporto de Salvador, o complexo tem capacidade para mais de 800 salas. São nove torres no total, duas hoteleiras e sete empresariais, com espaços moduláveis que variam entre 33 e 845m2. A rede Accor iniciou a operação dos hotéis com as bandeiras Ibis e Novotel. Para o diretor regional da OR, Djean Cruz, o empreendimento requalifica a região e contribui para a melhoria da mobilidade urbana em Salvador. O projeto arquitetônico do Hangar, assinado por Antônio Caramelo, privilegia a convivência e estabelece a integração entre as empresas de vários segmentos. O empreendimento tem projeto paisagístico arrojado e um green mall com infraestrutura de serviços e mais de 50 pontos comerciais. São três pisos exclusivos para garagens, com mais de 2.500 vagas disponíveis, ligados diretamente à Paralela. 32

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Damha Urbanizadora expande atuação na Bahia Com sede em São Paulo e atuação em 14 estados, a Damha Urbanizadora lançou dois empreendimentos em Feira de Santana no primeiro semestre deste ano. Agora, anuncia investimento de R$235 milhões no município de Camaçari, em sete empreendimentos que serão lançados gradativamente em área nobre da cidade. No total, estarão à venda a partir do primeiro trimestre de 2014 quatro mil lotes urbanizados, de 300 a 400 metros quadrados, com preços que variam de R$100 a R$230 mil. O diretorsuperintendente da Damha, José Paranhos, ressalta que a Bahia, hoje, é prioridade na estratégia de expansão geográfica da empresa. Sucesso, o primeiro residencial da marca em Feira de Santana teve 610 lotes vendidos (um VGV de R$75 milhões) em apenas uma semana.

Caramelo Arquitetos Associados conquista prêmio internacional O escritório Caramelo Arquitetos Associados conquistou, pelo quarto ano consecutivo, o Americas Property Awards. A premiação é parte do International Property Awards – uma das mais prestigiadas comendas do segmento imobiliário mundial. Nesta 20ª edição, o escritório recebeu o título nacional nas categorias “Multiple Residence” com o Hemisphere 360o⁰, da Queiroz Galvão Empreendimentos Imobiliários, e “Retail”, com a expansão e retrofit do Shopping Barra - administrado pela Enashopp. Os projetos foram julgados por uma comissão formada por cerca de 70 profissionais renomados.

Camaçari tem ampla oferta de condomínios horizontais O olhar das empresas especializadas na construção de empreendimentos horizontais volta-se para o município de Camaçari, na região metropolitana de Salvador. Marcas como Alphaville e Design Resorts chegaram antes da Cipasa Urbanismo, que anunciou recentemente investimentos de mais de R$30 milhões na cidade. O projeto é criar um bairro inteligente, o Vívea Nova Camaçari, que vai reunir um mix de loteamentos residenciais e comerciais, com total infraestrutura de lazer e serviços. A empresa comprou um terreno à beira da BA-535, mais conhecida como Via Parafuso, agora em fase final de duplicação. Com acessibilidade garantida, ficará a poucos minutos do centro de Camaçari.

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Em primeiro lugar, o Nordeste Os números da Moura Debuex mostram que acreditar nos potenciais da região pode ser um bom investimento

Gustavo Dubeux, diretor da construtora MD

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aquecimento da economia no país e o potencial de crescimento da região Nordeste são os motivos para que a construtora e incorporadora pernambucana Moura Debuex sinta que 2014 pode ser um ano animador para os investimentos da empresa. Por isso, será investido R$1,3 bilhão em lançamentos no Nordeste, região em que a empresa já está presente em cinco estados. Deste valor, R$1 bilhão serão voltados para empreendimentos residenciais, R$150 milhões para empresariais e R$150 milhões para resorts. Gustavo Dubeux, diretor da construtora, faz as contas. “O resultado vai significar um crescimento de 16% em relação à receita operacional bruta de 2012, que foi de R$950 milhões.” A curva de crescimento da receita operacional bruta da MD é de 70% nos últimos quatro anos. Passou de R$648 milhões, em 2010, para mais de R$1 bilhão em 2013. Com 30 anos de mercado, os irmãos Aluísio, Gustavo e Marcos Dubeux viram grandes chances na região Nordeste, quando resolveram apostar no negócio. “Quando começamos, sabíamos que a região cresceria muito e se tornaria um celeiro de oportunidades”, diz Gustavo. A Moura Dubeux iniciou sua história investindo em empreendimentos de alto padrão, com a construção de condomínios fechados. Mas para poder crescer foi necessário fazer outros tipos de produtos, quando apostou também em construções de médio padrão. “Em 1999, 34

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Fernando Arraes, diretor regional na Bahia


02 criamos a marca Beach Class, nos fortalecendo no segmento de flats e residenciais com serviços. Em seguida, criamos a marca Vivex e, em 2006, demos início às atividades da MD Urbanismo, voltada para empreendimentos de grande porte”, conta Gustavo. O espírito empreendedor instalado na empresa fez com que, em 2008, viesse para a Bahia. Gustavo não nega as dificuldades de empreender fora do estado de origem. “Nos primeiros anos, é um pouco difícil, pois as primeiras obras exigem uma equipe montada e treinada e isso, muitas vezes, sacrifica a produção. Mas, com o passar dos anos, com uma equipe totalmente pronta, a empresa vai se aperfeiçoando e igualando a qualidade dos produtos feitos na matriz”, comenta. A Bahia tem, atualmente, cinco canteiros de obras em andamento assinados pela empresa. Eles se concentram em Salvador que, segundo Fernando Arraes, diretor regional, tem um potencial de desenvolvimento enorme. Na capital baiana, a Moura Debeux assina empreendimentos na região do Horto Florestal, Costa Azul e Caminho das Árvores. “Em dezembro vamos lançar, no bairro da Graça, o nosso empreendimento mais importante em Salvador. E ainda estamos no aguardo da solução judicial do PDDU para que possamos dar continuidade ao nosso projeto hoteleiro, em Ondina”, adianta Arraes.

Primeiro lançamento da MD em Salvador foi o Reserva do Horto

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A arte de empreender exige obstinação foto: Rômulo Portela

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o início da década de 90, Cláudio d’Ávila decidiu empreender, deixando a segurança do emprego bem remunerado na área de tecnologia da informação para perseguir o sonho de criar uma empresa bem-sucedida. Em 1992, criou a D’Avila Empreendimentos Imobiliários, cuja atividade principal era a consultoria e assessoria na área de planejamento econômico-financeiro de incorporações imobiliárias. Graças a uma receita que mistura obstinação, técnica e trabalho, a empresa galgou novas posições e passou a atuar como incorporadora, a partir de 1997, em parceria com grandes construtoras do mercado baiano. Da fase inicial até hoje, Cláudio d’Ávila coleciona vitórias, mas guarda os maiores ensinamentos daqueles períodos onde a estratégia que adotou não teve o resultado esperado. Para esse empreendedor, as crises e os erros ensinam muito, desde que esteja aberto para aprender com eles. D’Avila prefere não entrar em detalhes, mas já teve que recomeçar praticamente do zero, em decorrência de projetos de expansão que não deram certo, liderados por um sócio. Ele desfez a sociedade em 2002 e decidiu que seus sócios seriam 36

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os filhos. O fundador da D’Avila Empreendimentos ensina que é preciso muita cautela no momento da escolha dos sócios e em caso de incompatibilidade a melhor solução é desfazer a parceria e seguir caminhos distintos. “Planejamento é tudo”, diz. Longe da zona de conforto e sempre em busca de novos desafios, em 2009, o empresário decidiu que se dedicaria à incorporação e construção. “Resolvi que eu e minha equipe iríamos construir, então surgiu o primeiro empreendimento totalmente nosso: o Residencial Costabella, no Imbuí”. A D’Avila está erguendo outro residencial, o Varandas da Fonte Nova, localizado na Ladeira dos Galés, Brotas, próximo à Arena. O prédio de dois quartos deve ser entregue em 2015 e é procurado por investidores que desejam comprar para alugar. “Estamos trabalhando para lançar dois empreendimentos em 2014: um em Salvador, de dois, três quartos, para a classe média, e um condomínio de apartamentos de luxo no Litoral Norte”, adianta Cláudio D’Avila. Otimista por natureza, ele acredita que essa é uma característica imprescindível para o empreendedor. “Além disso, é necessário saber planejar, quem atua na área de incorporação imobiliária, por exemplo, precisa projetar pensando em um horizonte de dez anos”, diz. Para o CEO da D’Avila Empreendimentos, empreender em um país como o Brasil exige muita obstinação.


Apoio:

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[C] SHIRLEY SILVA 58 | [C] Luiz Marques 60

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negócios | co n s t ru ção c i vil foto: Rômulo Portela

“Acredito muito na sorte, mas é necessário estarmos no lugar certo e aproveitar a oportunidade. Se o cavalo passa selado, tem que pular em cima” Enilson Moreira, presidente do conselho de administração

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DE OLHO NAS OPORTUNIDADES Como a empresa A Geradora conseguiu transformar um único gerador de energia em uma frota de locação para todo o país por Victor Lima

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proveitar as chances logo quando elas aparecem foi a grande sacada de Celso Reis e Enilson Moreira, sócios na A Geradora. Há cerca de 25 anos, atuam no ramo de locação de equipamentos nos segmentos de infraestrutura, construção civil, indústria, eventos, óleo e gás, mineração, usinas termelétricas, comércio e serviços. A história começou em abril de 1989, quando os empresários adquiriram um gerador de energia usado, descontinuado, que passou a ser alugado para empresas de pequeno porte. “Reservávamos uma parte das nossas economias para o giro da empresa e assumimos o compromisso de não fazer retiradas e viver com economias próprias, enquanto fosse possível. Não tiramos nada durante muito tempo. O negócio foi crescendo e fomos adquirindo novos geradores”, lembra Moreira. A virada Um dos momentos mais importantes para os sócios de A Geradora foi quando começou a ser construída a Linha Verde, estrada que liga Salvador a Aracaju pelo Litoral Norte da Bahia, no início dos anos 90. Ocorreu que, naquele período, a empresa possuía apenas oito grupos geradores disponíveis. A construtora Odebrecht ganhou a licitação da estrada e solicitou 20 equipamentos de geração de energia. A garantia do contrato entre a empresa licitada e A Geradora promoveu um crescimento acentuado nos serviços prestados e foram comprados mais 12 grupos. Mesmo com as transformações na economia, as instabilidades iniciais do Plano Real, o momento da empresa foi de expansão. A ameaça do “bug do milênio” (temor por um colapso total dos computadores no início dos anos 2000) e o apagão elétrico em 2002 foram outras alavancas de vendas de contrato. Se o mercado se apresentava interessado, era hora de encontrar novas soluções para ampliar a atuação da empresa.

foto: Divulga;ção

Acreditar na expansão Enilson Moreira, hoje presidente do conselho de administração da empresa, lembra que a decisão de expandir as atividades para outros estados surgiu da oportunidade de ocupar áreas inexploradas: “Percebemos que existia uma demanda para locação de equipamentos com uma oferta quase inexistente em outras cidades. Por isso, em 1994, iniciamos o plano de expansão geográfica, com a abertura de uma unidade em Recife”. Atualmente, a empresa possui mais de mil colaboradores distribuídos em 19 unidades de negócios espalhadas em quase todo o país. Apenas a região Sul ainda não é atendida pela empresa. O alvo também foi além da construção civil. Celso Reis e Enilson Moreira criaram uma parceria com a marca Poliservice para fornecer serviços a eventos e shows. A união fez com que A Geradora adquirisse uma frota de equipamentos locáveis com cerca de quatro mil geradores de energia, mais de mil compressores de ar e duas mil torres de iluminação. O que era um investimento cauteloso feito com as reservas econômicas dos sócios tornou-se uma estrutura com mais de dez mil itens locáveis e cerca de 120 veículos de carga para logística própria, com parceiros e fornecedores multinacionais como Stemac, Cummins, Caterpillar e Scania. Na expansão de A Geradora, foi ampliada a área de atuação e diversidade de produtos. Em 2010, ganhou um novo sócio: a GG Investimentos, uma gestora de recursos focada na administração de patrimônios. A Geradora deixou de ser sociedade limitada (LTDA) para figurar como sociedade anônima (S.A.). Em 2012, com a saída da GG Investimentos do quadro societário, a Angra Partners, um fundo de gestão e investimentos em private equity, assumiu a administração desta fatia de ações, dando continuidade ao processo de governança e gestão de A Geradora. “Estamos muito bem posicionados e sólidos, com a marca forte e inseridos em um tipo de negócio que faz parte do futuro, já que o país precisa de infraestrutura. Acredito muito na sorte, mas é necessário estar no lugar certo e aproveitar a oportunidade. Se o cavalo passa selado, tem que pular em cima”, afirma Enilson. [B+] w w w. r e v i s t w a bwm w.ari e sv . ci sotm a b moaui st.ucb or mo / n do ev zembro 2013

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negócios | co m u n i ca ção

arregaçando as mangas Como Pedro Dourado conseguiu crescer aprendendo com a própria experiência

O PRIMEIRO PASSO “Trabalhávamos para o mercado de eventos durante o carnaval de Salvador e para a política, aumentando o faturamento. Logo no primeiro ano, percebemos que a empresa deu certo e continuamos”.

O DESAFIO “Nenhuma empresa deixa de mudar ao longo de sua vida. É preciso inovar, testar novas tecnologias para sair na frente”.

O MAIOR ACERTO “É preciso saber o que é viável para o mercado no qual você está inserido. Saber o que é certo para a empresa. Aplicar moldes de São Paulo em Salvador pode ser um tiro no pé”.

A MAIOR LIÇÃO “Antigamente, eu apostava em aumentar o faturamento da empresa em vez de focar nos resultados. Hoje, nossa postura é diferente, nenhuma empresa cresce se não tiver produtividade”.

Agradecimento: Tabacaria Talvis

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Olhando

à frente Como a Uranus2 consegue ultrapassar a concorrência enquanto inova o mercado de comunicação visual

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por PEDRO HIJO

foto Rômulo Portela

m 2000, Pedro Dourado sentiu que precisava ampliar seu negócio. O bom lucro que mantinha com a sede da Uranus2 em Lauro de Freitas impulsionou o empresário a investir cerca de R$1,2 milhão na abertura de mais duas lojas, inauguradas nos anos seguintes. Nada perto dos R$40 mil aplicados na abertura da matriz, na região metropolitana de Salvador, em 1994. Na época, Dourado investiu toda a reserva de capital que tinha, contou com ajuda de financiamento, analisou o mercado e percebeu uma oportunidade no segmento de comunicação visual. Antes, ele já havia apostado em uma panificadora e uma promotora de eventos. A Uranus2 - que ganhou este nome após consulta a uma numeróloga - é muito maior do que a gráfica rápida que parecia ser quando foi fundada. O idealizador comprou a parte do primeiro sócio, tocou o negócio sozinho, até que a empresa cresceu e ele passou a dividir o trabalho e os lucros com mais dois outros sócios. A expansão do negócio fez com que a empresa ocupasse um lugar de confiança no atendimento a clientes como Propeg, Gerdal, Odebrecht e Iguatemi. O destaque veio ao usar a tecnologia a seu favor. Passou a buscar formas mais simples de fazer aquilo que todos estavam fazendo. “No carnaval, a divulgação das marcas era feita com pinturas nos trios elétricos, mas isso demandava muito trabalho e tempo. Então estudamos uma tecnologia que permitisse a passagem de som através de um tecido com furos”, conta Dourado. Em pouco tempo, todo o mercado passou a seguir o mesmo modelo.

O mesmo aconteceu com os lançamentos imobiliários. Eles eram feitos com marca de chapa galvanizada e estrutura de madeira, que comprometia o acabamento. A Uranus2 incluiu o padrão metálico com uso de lona, mais fácil de montar. As atitudes do empreendedor foram, aos poucos, mudando o curso do mercado, que acompanhou as inovações. As invenções deram credibilidade à empresa, que passou a fidelizar sua carta de clientes e a ter mais segurança no tratamento com eles. Pedro Dourado afirma que o dilema do custo alto versus inovação é exposto para o cliente de forma direta. “É preciso saber se ele está disposto a usar um produto mais caro, de melhor qualidade e mais tecnologia, ou algo mais barato que pode durar pouco. Depende da vontade do cliente”, conta. A empresa também sofre com os solavancos do mercado. Apesar de ser a região em que o segmento de comunicação visual mais cresce, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), o Nordeste sofre com a falta de investimento que empurra os grandes clientes para outros centros econômicos e impede o crescimento das empresas locais. Segundo Dourado, são poucas as empresas que contratam serviços baianos de comunicação visual. A maioria delegou essa demanda para o mercado paulista ou carioca. “Neste caso, é um grande mérito manter o faturamento anual”, orgulha-se. “Justamente por conta dessa situação do mercado, comecei a focar nos resultados e não só na receita”. [B+] w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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Análises que geram Resultados As estratégias da Natural Gurt para usar a pesquisa de tendências a seu favor e fechar 2013 faturando R$30 milhões por carol Vidal foto Rômulo Portela

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“Nosso grande diferencial sempre foi investir pesado na produção para que nossos produtos estivessem sempre disponíveis no mercado, o que gera incentivo de compra” Paulo Cintra, diretor de negócios da Natural Gurt 44

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nálise de mercado é assunto sério dentro da Natural Gurt, empresa baiana com sede em Alagoinhas, que expande seu arco de ação desde 1996, com crescimento médio entre 15% e 20% por ano. A expectativa é fechar 2013 com faturamento de R$30 milhões. Esses números são resultados da linha de produtos vendidos em toda a Bahia, além de Sergipe, Alagoas e a cidade pernambucana de Petrolina, o que atinge um raio de 900km da sede. Paulo Cintra é diretor de negócios da empresa, mas antes de adquirir a Natural Gurt – que, na época, era uma franquia – investiu em uma fábrica de queijos, que acabou não indo para frente por conta da grande concorrência. Parou, refez estratégias e investiu em uma pesquisa de mercado, que indicou a fabricação de iogurtes e bebidas lácteas como forte potencial. “Na época, havia muita concorrência com produtos vindos da Europa. Por isso, optamos pelo iogurte, que, por ter curta duração e necessitar de consumo imediato, não era importado”, explica Cintra. A empresa começou a produção de 40 litros por dia, atendendo apenas estabelecimentos do próprio município e de cidades vizinhas. O que era feito com apenas dois funcionários, hoje conta com 270 colaboradores, o que permitiu o aumento em dez vezes da produção diária de iogurte. Hoje a Natural Gurt conta com uma frota de 60 caminhões para fazer a distribuição dos produtos e, em 2014, vai inaugurar uma fábrica de garrafas plásticas - onde é armazenado o iogurte. “Como nossa demanda por garrafas é muito grande, justifica o investimento de cerca de R$4 milhões para construir a fábrica, pois, dessa forma, economizaremos com o frete das garrafas, que são fabricadas em Minas Gerais”. Acompanhando o crescimento da empresa e as tendências de mercado, a Natural Gurt quer criar novos produtos, participando, inclusive, de missões técnicas no exterior. Coalhada e iogurte grego são as próximas novidades e a meta está estabelecida: atingir a produção de 65 mil litros por dia. [B+]


negócios | va rejo

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vendendo que nem... picolé O picolé natural se multiplica nos shoppings de Salvador. Ele pode ter ares de México, mas é produzido em Buraquinho, em Lauro de Freitas por Carolina Coelho

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foto Rômulo Portela

Pablo Cirne Helado Monterrey Tempo de mercado Desde setembro de 2013

Primeiro passo

Adaptação dos sabores e desenvolvimento da marca

Investimento

Mais de R$3 milhões

Pontos de venda 13 em apenas 3 meses

Próxima meta

Avançar pelo Nordeste

endidos em charmosos carretinos nos shopping centers, os picolés da Helado Monterrey surpreendem o paladar de quem gosta de se refrescar no calor baiano. Com menos de três meses de atividade, a novidade se espalhou por nove pontos de Salvador, além de Lauro de Freitas, Feira de Santana e Aracaju. Por trás do negócio, estão três primos que enfrentam o desafio de dar conta da produção de 20 mil picolés por dia na fábrica instalada no bairro de Buraquinho. Caio, 25 anos, Bruno, 27, e Pablo Cirne, 31, investiram mais de R$3 milhões de capital próprio na marca, mas como os pedidos não param, os investimentos também não, e a equipe de funcionários já precisou ser dobrada, de 60 para 120. Os desapercebidos podem achar que os picolés vêm do México. Afinal de contas, a ideia veio mesmo das famosas frutas congeladas no palito, sem corantes e conservantes, produzidas artesanalmente e vendidas pelo nome de “paletas” nas ruas mexicanas. Os sabores de abricó, pepino e manga com pimenta, habituais por lá e exóticos para cá, foram modificados para receitas de paçoca, morango com leite condensado, nozes e chocolate com brigadeiro, além de outros 21 sabores. Para garantir a semelhança e a credibilidade do produto, os Cirnes trouxeram ao Brasil um mexicano que desvendou o segredo original da verdadeira paleta mexicana. Após os 18 meses de pesquisa para lançar o produto no mercado, a meta agora é alcançar a produção de 50 mil picolés diários e expandir as vendas pelo Brasil, sem medo de crescer. “Produção é como andar de bicicleta. Primeiro tiramos uma roda, depois outra e quando vemos já estamos andando sozinhos”, assegura Pablo Cirne, que sonha além. “Queremos chegar até a América do Norte e outros países, mas agora estamos focados no Nordeste, que é nossa casa”, diz. [B+]

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Vida nova no Centro Antigo O comércio de rua do centro antigo de Salvador começa a ser revitalizado. De decadente, passa a ser visto como um futuro shopping a céu aberto por Carlos Vianna

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ntes do surgimento dos grandes shopping centers em Salvador, em meados de 1975, o grande point do comércio da capital era o centro antigo. Uma realidade estranha para os mais novos que percorrem os corredores refrigerados dos shoppings e vivem a decadência da região, mas não para aqueles que, assim como os empreendedores Joaquim Ruas e Israel Alves, sabem dos potenciais do local. Os investimentos na revitalização do centro antigo comprovam a sua importância para a cidade. Segundo a diretora da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder), Beatriz Lima, mais de R$26 milhões estão sendo aplicados pelo governo estadual em obras de requalificação da Baixa dos Sapateiros, incluindo também Pelourinho, Rua Chile e a recuperação do Quartel do Corpo de Bombeiros, que faz parte do acervo de prédios antigos do local.

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A prefeitura aplica atualmente R$4 milhões na solução do problema de ocupação irregular dos ambulantes na Avenida Sete. O aporte financeiro atrai investidores de outros estados, como o mineiro João Philip Dias. O empresário especialista em logística aplicou R$6 milhões no primeiro shopping popular de Salvador, o JJ Center, construído na Baixa dos Sapateiros. Conhecida no passado como a região do glamour e da boemia, a Rua Chile, segundo Beatriz, é o símbolo mais representativo da difícil situação por que o comércio do centro antigo passa. Ela revela que o projeto de revitalização da área está baseado em um conceito muito usado em cidades históricas: “Temos que tornar o centro antigo habitável, para energizar a vocação comercial do local, o que é difícil, já que a maioria dos prédios é privada e encontrar seus proprietários tem se provado uma tarefa árdua”.


fotos: Rômulo Portela

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Coisa de família

A ideia de transformar o comércio de rua do centro antigo de Salvador em um shopping center a céu aberto era algo impensável para Joaquim Ruas na época em que ele abriu seu primeiro empreendimento, na Rua do Taboão, há 53 anos. Foi com seu pai, Antônio Ruas, que Joaquim, hoje com 85 anos, aprendeu o ofício de vender e a coragem para empreender. Em maio de 1958, assumiu o desafio de ter seu próprio negócio. Uma das únicas cinco casas comerciais que ocupavam a Rua do Taboão passou a ser sua. Hoje, com o auxílio do filho Joaquim Ruas Junior, 52, comanda uma rede de cinco lojas, que ocupa a primeira posição entre as revendedoras de piso e revestimento no estado. Para ele, a receita do sucesso das lojas, cuja matriz continua no Taboão, foi a aposta na qualidade dos produtos e no bom ambiente organizacional. “Investimos muito na relação com nossos empregados. São pessoas que, assim como eu e meu filho, têm um sentimento de amor pela empresa”, ressalta.

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Mais que colaboradores

Israel Nascimento, 41, enxerga um futuro ainda melhor para o comércio de rua do centro antigo. As melhoras, segundo ele, passam pela mudança da imagem que muitos consumidores ainda têm de áreas como o Taboão. “Ao contrário do que pensam, é uma área segura, com a vantagem de oferecer qualidade com preços 50% mais baratos”, explica. Sua loja, Casas Pelourinho, especializada em materiais de decoração, ramo pouco explorado naquele local, tem 18 anos de crescimento constante - média de 10% ao ano. O empresário não esconde a fórmula do seu sucesso: o foco nos profissionais que formam grande parte de sua clientela: os estofadores, capoteiros e cortineiros. “São clientes VIP”, ressalta. A valorização dos profissionais é ordem dentro da empresa. Tanto é que motivou Israel a criar o Dia do Estofador. Celebrado no dia 14 de outubro, a comemoração começou em 1998 com entrega de camisas e mostruários. Na edição 2013, o evento reuniu 500 profissionais no Teatro da Casa do Comércio para palestras de aprimoramento técnico e shows musicais.

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Um belo horizonte à vista

O mineiro João Philip Dias simboliza a chegada de um novo momento e representa uma nova geração de empreendedores no comércio de rua do centro antigo. O seu shopping popular, o JJ Center, na Baixa dos Sapateiros, vai disponibilizar 250 boxes para microempreendedores cujo públicoalvo é principalmente a classe C. A ideia do shopping popular nasceu da necessidade de diversificar seus investimentos. “No centro antigo de Belo Horizonte, os shoppings populares são uma realidade e um grande sucesso comercial. A ideia era buscar um mercado menos concorrido e optamos por Salvador”, conta. A fé do empresário na revitalização do comércio de rua no centro antigo de Salvador é tanta que ele pretende construir mais um shopping similar na região. Será na Avenida Sete, na área localizada aos fundos do Mosteiro de São Bento. Mais dois estão sendo pensados para outras áreas da cidade. Um em Cajazeiras e para o outro está sendo negociada uma área na região do Iguatemi. [B+] foto: Divulgação


negócios | serviço 2011

Augusto Alagia cria a Capitão Pintura para comercializar máquinas de pintura

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A empresa realiza o primeiro serviço de pintura, ampliando seu ramo de atuação

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Faturamento da empresa é de R$250 mil Janeiro de 2013 A Capitão Pintura conclui o trabalho na Arena Fonte Nova Dezembro de 2013 Faturamento chega a casa dos R$3 milhões

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Super-herói

com lucro Apostando no crescimento do mercado da construção civil, empresa de serviços e venda de produtos de pintura fechará 2013 com faturamento de R$3 milhões por Carol Vidal

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foto Rômulo Portela

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apitão Pintura é um super-herói diferente. Ele não pode voar, não tem poderes sobrenaturais e nem foi picado por nenhum inseto contaminado. Sua missão é criar um exército para atender ao mercado de construção civil. A ideia vem dando certo. Criada em 2011, a Capitão Pintura cresce no faturamento. Saiu dos R$250 mil de 2012 para, aproximadamente, R$3 milhões no fim de 2013. Por isso, tem a meta, em 2014, de crescer de micro e pequena empresa para média. “Até 2017, a gente quer ser a maior empresa de pintura do Brasil”, completa Augusto Alagia, identidade do Capitão Pintura quando não está em ação. Apesar de nova no mercado, a empresa tem em seu portfólio feitos como a pintura da Arena Fonte Nova, Ceasa do Rio Vermelho, Universidade Federal de Aracaju e os shoppings Bela Vista e Barra. Além disso, é uma das distribuidoras da Graco, maior marca de máquinas de pintura do mundo. “Por isso podemos oferecer a nossa rede um acesso mais fácil e mais barato para a questão tecnológica”, explica Alagia. Formado em comércio internacional, Augusto Alagia chegou à área de construção civil quase que por acaso. De início, a empresa funcionou como representante e revendedora de máquinas de pintura estrangeiras. Mas, enquanto divulgava seu trabalho em feiras, conseguiu seu primeiro trabalho na área de serviço em pintura: a obra de uma loja Renner em São Paulo.

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[Missão um] salvar a obra Mesmo sem nunca ter atuado na área, e sem noção alguma sobre orçamento de obras ou gestão de pessoas, Alagia aceitou o trabalho. Ele comprou mais equipamentos e enviou os profissionais para realizar a pintura do prédio. No entanto, no decorrer do serviço, as demandas aumentaram e ele mesmo embarcou para São Paulo a fim de concluir a pintura. “O nome da empresa caiu como uma luva nessa obra, porque eu realmente tive que ser um super-herói para poder terminar o trabalho”, conta. A partir daí, não tinha mais como fugir. Já tinha investido dinheiro, estava com as máquinas à disposição e começou a receber indicação de serviços. [Missão dois] valorizar os profissionais Para manter um padrão de qualidade e satisfação de clientes e funcionários, o espírito de família é um dos pilares da empresa. A ideia é passar para os funcionários que todos ali fazem parte de uma equipe que está construindo algo maior em conjunto. “E a gente tenta transmitir isso na ponta do nosso negócio, no front, na frente de batalha, onde estão nossos soldados da pintura”. Por isso, outro foco da Capitão Pintura é na replicabilidade, a capacidade de fazer de novo tão bem feito ou melhor. Nesse aspecto, está incluído o treinamento entre os membros da equipe, em que um pintor mais experiente treina outro, que vai passar a treinar outros mais adiante. É um trabalho que funciona em cadeia. Não só os pintores estão incluídos nesse princípio, mas todos os profissionais da empresa, do engenheiro ao responsável pela área comercial e publicidade. [Missão três] multiplicar para crescer Paralelo ao processo de consolidação da empresa, Augusto Alagia investe na ideia de transformar a Capitão Pintura em uma franquia. Esse processo já está em fase de finalização e conta com a consultoria do Grupo Cherto, da Franshise Store, que é responsável por franquias de grande sucesso, como Samsung e Havaianas. [B+]


negócios | g e s t ã o

Empreendedorismo

de salto alto As pesquisas não mentem. Conversas sobre empreendedorismo, negócios e carreira são realidade entre as mulheres

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pesar de os homens serem maioria entre os empresários brasileiros, o número de empreendedoras cresceu 21,4% nos últimos dez anos, enquanto a participação dos homens subiu apenas 9,8%, segundo estudo feito pelo Sebrae, em 2013. Para confirmar isso, as empresárias Deb Xavier e a baiana Karina Limeira percorrem o país com as palestras do Jogo de Damas, reunindo mulheres que buscam uma realização pessoal abrindo seu próprio negócio. Nos encontros, são convidadas empreendedoras de diversos setores para compartilhar histórias que sirvam de experiência e inspiração a quem quer começar. Conversamos com a dupla para saber como a singularidade feminina é um diferencial para os negócios. foto: Divulgação

Por que as mulheres ainda são deixadas de fora dos cargos mais altos das empresas? As empresas ainda são habitats masculinos, isso é, foram criadas por homens cujas referências de mulher, mãe e esposa, não trabalhavam. Funciona como uma questão geracional, até porque muitos RHs e gerentes, ao perceberem as dificuldades encontradas pelas próprias filhas no mercado, passam a ver com outros olhos a situação das mulheres em suas próprias empresas. As mulheres têm um jeito diferente de empreender? No geral, as mulheres se preparam mais. Abrem negócios pensando mais em satisfação pessoal do que em oportunidade de negócio. Isso significa que empreendem em atividades que gostam de realizar, enquanto os homens buscam uma oportunidade e aprendem sobre novas áreas que podem ser promissoras. As mulheres também tendem a empregar mais membros da família e amigos, além de centralizar mais as tarefas em si, querendo controlar o processo todo. Por último, as mulheres são mais inseguras, buscando opinião de terceiros e arriscando menos, mas isso faz com que seus negócios tenham uma menor taxa de falência, embora cresçam mais devagar. Quais são as maiores dificuldades encontradas? Acesso a crédito é uma das maiores dificuldades, mesmo sendo melhores pagadoras. A insegurança também é uma dificuldade, pois as mulheres postergam o início do negócio pensando na perfeição, e isso, obviamente, é um empecilho, porque o negócio cresce muito a partir dos feedbacks do público. Qual o setor que elas têm preferência para empreender? Mulheres empreendem mais em comércio e serviço do que na indústria. Também empreendem buscando transformar em negócio algo que já faziam previamente. É a busca pela satisfação pessoal de uma forma abrangente, por isso não empreenderiam em um ramo que não gostassem apenas pensando na possibilidade de lucro. [B+]

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Carlos Falcão quer R$100 mi de receita rubro-negra em 2016

ALÉM DAS QUATRO LINHAS 13

Gestores de cinco dos principais clubes de futebol da Bahia receberam heranças bem indigestas das administrações anteriores, mas driblam as dificuldades para vencer o difícil desafio de equilibrar as contas, fazer receita e obter conquistas nos gramados por Murilo Gitel

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fotos Rômulo Portela


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ocê já ouviu alguma vez a expressão “administrar dentro do aquário”? Se a resposta for não, talvez você precise ler o livro de cabeceira de dez em cada dez gestores esportivos de todo o mundo, a obra A bola não entra por acaso, de autoria do espanhol Ferran Soriano, ex-administrador do Barcelona. Administrar dentro do aquário, segundo Soriano, significa “trabalhar sob o olho inquisidor de milhares de pessoas que, em muitos casos, consideram que têm o direito, a obrigação e o conhecimento suficiente para emitir juízo de valor constante sobre o trabalho que você faz”. O Esporte Clube Vitória profissionalizou a gestão nos últimos anos. Recentemente, o rubro-negro figurou na segunda colocação do país em transparência e marketing (com a campanha Meu sangue é rubro-negro) e em quarto lugar em eficiência financeira (entre 23 clubes de maior faturamento do país), segundo rankings da Pluri Consultoria. “Encontramos um clube praticamente falido, sucateado, com salários e impostos vencidos, praticamente sem atletas, contas bloqueadas, e acima de tudo com todo patrimônio comprometido, porque estava garantindo uma dívida com os sócios argentinos”, relembra Carlos Falcão, vicepresidente do Vitória. Segundo o gestor, o Vitória deu um salto no faturamento, de R$12 milhões em 2007 para mais de R$60 milhões até o final de 2013. “Pelo nosso planejamento estratégico, temos que chegar a R$100 milhões até 2016. Precisamos chegar a 30 mil sócios, aumentar nossa participação nas cotas de TV aberta, no pay-perview, e nas captações de patrocínio”, projeta. Para melhorar a situação financeira do clube, o passivo foi avaliado e dívidas supostamente irregulares foram questionadas e renegociadas. “Além disso, substituímos os ditos profissionais que recebiam salários milionários por conselheiros que assumiram as principais diretorias sem ônus para o Vitória”, pontua Falcão. Em campo, nos últimos seis anos, o rubro-negro ascendeu da terceira para a primeira divisão do Brasileirão, chegou a uma final de Copa do Brasil, conquistou cinco campeonatos estaduais e, até o fechamento desta matéria, mantinha chances matemáticas de conquistar uma vaga na Taça Libertadores de 2014.

Ederlane Amorim: de ex-jogador e ex-técnico a presidente

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foto: Júnior Patente

Começar do zero Outro bom exemplo vem do sul do estado, com o Primeiro Passo Vitória da Conquista. O “Bode”, como é carinhosamente chamado o clube alviverde, nasceu da aposta do ex-jogador, técnico e agora dirigente Ederlane Amorim, que em 2001 criou o projeto Primeiro Passo, voltado apenas para jovens atletas com até 18 anos. Em 2006, Amorim incorporou o nome da cidade ao clube, estreitou a relação com a população local e fez da agremiação uma nova fonte de lazer do município. “Já são três títulos de Copa Governador, sete vagas obtidas em competições nacionais e grandes campanhas no Baianão”, comemora o empreendedor, que em 2014 verá seu Bode disputar a Copa do Nordeste e o Campeonato Brasileiro da Série D. Para a “conta fechar”, o Conquista conta com a receita da TV no primeiro semestre, programa de sócio-torcedor, apoio de empresas locais, vendas de produtos e jogadores negociados (há atletas no Internacional e no Fluminense). “No segundo semestre, fica mais difícil. A receita sem a TV cai quase 70%. O empresário quer retorno, que a marca dele apareça. Mas temos pouco espaço na mídia”, afirma Amorim, ao enumerar alguns dos desafios na gestão. w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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Marca Bahia “Pegamos o paciente na UTI e nossa missão é recuperá-lo para que ele vá ao quarto”. É dessa forma que o diretor de negócios do Bahia, Pablo Reis, define os primeiros meses de trabalho no tricolor, após a intervenção da Justiça que destituiu a gestão anterior e convocou os sócios para escolher o presidente até o final de 2014: Fernando Schmidt foi eleito em setembro. “Só temos 16 meses pela frente, mas estamos empreendendo desde o início. Dividimos nosso plano de negócios em duas partes, uma voltada para sobreviver, cortando os custos da folha, fornecedores, repactuando as dívidas para o futuro. Já iniciamos a segunda fase, que é a estruturante, para que a gestão que vier em 2015 assuma com o clube já organizado”, explica Reis, que reforça a necessidade de não depender apenas das receitas da TV. Com 25 mil sócios em 2014, o Bahia garantiria uma receita líquida de R$10 milhões, calcula o dirigente. A meta, segundo ele, é que o clube venha a ter 50 mil sócios em 2015 (hoje são 18.500). Entre os benefícios para os associados, Reis adianta a implantação de uma “carteira inteligente”, que também pode funcionar como cartão de débito, lançamento de um aplicativo capaz de viabilizar a compra de ingressos via celular, agência de viagens para o torcedor e até mesmo um camarote no Carnaval para atrair os tricolores. Ele também aposta em convênios com universidades norte-americanas, ampliação da receita de bilheteria e da TV fechada, exposição de placas de publicidade estáticas e em mídias eletrônicas, ativação em publicidade e vendas de camisas. “Vamos montar o melhor time dos 20 anos da história do Bahia”, promete.

Meta de Pablo Reis é ver Bahia com 50 mil sócios em 2015

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Tradição Galícia e Ypiranga, dois “gigantes adormecidos”, também têm o que mostrar. Depois de 14 anos na famigerada segunda divisão do Campeonato Baiano, o clube fundado pela colônia espanhola retornará à elite em 2014. “Nosso trabalho consistiu na união de todos”, destaca o diretor de marketing do Galícia, Tiago Seixas. Segundo ele, o “granadeiro azulino” carece de recursos para ter uma gestão totalmente profissionalizada e são os diretores abnegados que fazem o clube funcionar. Em 2014, com a receita e a visibilidade proporcionadas pela TV, a situação do Galícia tende a melhorar. “Nossa meta é lançar um novo plano de sócios com mais benefícios e modalidades. Atrair três mil associados e fazer que eles nos apoiem nos estádios”, estima Seixas. Foco no social Já o Ypiranga renasceu em 2009 graças a Emerson Ferretti, ex-goleiro da dupla Ba-Vi, que vislumbrou no “Mais Querido” o potencial para voltar aos tempos áureos. “Estava abandonado. O único bem do clube era a Vila Canária, que estava arrematada em um leilão pela Receita Federal”, relata o hoje presidente. Inicialmente, Ferretti tirou do próprio bolso para que o aurinegro pudesse dar seus primeiros passos - o time caiu para a segunda divisão estadual em 1999 e voltou a disputar o acesso em 2010. “Promovemos eventos como jantares, vendemos camisas, colocamos o time em Pituaçu para trazer a torcida, o que é importante também para contratar atletas. Profissionalizamos o trabalho. Tivemos uma equipe de marketing atuante”, pontua o dirigente. Ferretti aposta no fator social para alavancar o futebol do clube. Situada em uma região vulnerável de Salvador, onde estão cerca de 20 bairros de baixa renda, a Vila Canária abriga hoje o projeto Canarinho, desenvolvido pelo Ypiranga em parceria com o Instituto Íris, que beneficia 400 crianças - o patrocínio é da Petrobras. O dirigente pretende atrair mais empresas com iniciativas semelhantes para financiar ações no local. “O trabalho fora de campo é quase invisível para o torcedor. Estamos pagando dívidas antigas, arrumando a casa, preparando o crescimento. Quando for para a primeira divisão, a base estará preparada”, antevê Emerson Ferretti, ao reforçar que, no futebol, não basta um grande trabalho de empreendedorismo. A bola precisa entrar. [B+]

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Tiago Seixas diz que a união trouxe o Galícia de volta à elite

“Agarrar” a responsabilidade social é o plano de Emerson Ferretti para o Ypiranga

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negócios | t e c n olog i a d a info r m a çã o

Lição universitária Não os julguem pela aparência jovial. Quem faz parte da equipe da InfoJr, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ainda frequenta as salas aulas, mas desenvolve soluções para peixes grandes. Em 15 anos no mercado, a empresa já teve clientes como Braskem, Bloco Camaleão e Grupo Protázio, fazendo o que bons alunos de computação e sistema de informação sabem fazer: desenvolver sites e sistemas web. A cada semestre, parte da equipe se renova. Chegam com a meta de criar novos produtos. Os atuais 17 membros desenvolvem um sistema de mapeamento das baianas de acarajé em todo o Brasil, a pedido da Abam, associação que regula as profissionais do setor. Foram eles também que trouxeram o fundador do IG, Aleksandar Mandic, e o diretor executivo do Linux Internacional, Jon “Maddog Hall”, para a Semana de Computação da Ufba, realizada durante quatro dias de outubro para movimentar a comunidade de TI local. O objetivo “não é ficar rico, mas ficar mais caros”. Os jovens abrem mão da remuneração para se valorizar e apostam todo o lucro em capacitação e no desenvolvimento da empresa.

É cada vez mais comum a busca por empresas juniores. Especializados em suas áreas, os estudantes são capazes de definir desde plano de negócios e estratégias de comunicação a projetos de instalações elétricas. Há cerca de 180 empresas juniores em todo o Brasil, alojadas dentro de campi de cursos.

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[Pró] A qualidade dos serviços se equipara à do mercado. Os preços são menores do que a média. A empresa contratante ainda estará incentivando a causa das empresas juniores.

[Contra] Às vezes os prazos precisam ser maiores, já que os estudantes precisam dividir o tempo com os estudos. E como a empresa está em permanente rotatividade, a equipe pode ser trocada durante o projeto.

Custo médio de serviço: A partir de R$1.500

foto: Coralina Coelho

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negócios | e co n om i a

arte: Iuri Sarmento

O poder do empreendedorismo por Shirley Silva

A expansão dos negócios no Brasil é visível. Despontam no cenário nacional nomes de empresas que nasceram e cresceram significativamente nos últimos cinco ou dez anos. Não faltam oportunidades em vários setores da economia, sobretudo no Nordeste. Ampliam-se também as opções de captação de recursos para sustentar esse avanço, com um mercado de capitais mais acessível, internacionalizado e em claro processo de amadurecimento e diversificação. Além disso, ampliam-se as fontes de financiamento internas, através dos bancos de fomento e das instituições financeiras públicas e privadas que, com a redução gradual das taxas de juros, aumentaram o acesso ao crédito. Em um momento em que o mundo se esforça para sair de uma das mais graves e profundas crises econômicas da história, os empreendedores são peças-chave para impulsionar o crescimento brasileiro, ao oferecer um recurso essencial: o otimismo. Quando suas ideias saem do papel e se tornam negócios sustentáveis, estimulam inovação e geram mais e melhores empregos. Segundo recente estudo da EY, empreendedores são responsáveis por mais da metade dos empregos gerados nos países do G20. Porém de forma contraditória, embora no Brasil haja um forte prestígio à cultura “self-made”, as empresas em estágio inicial têm mais dificuldade em conseguir recursos financeiros necessários para começar ou ampliar seus negócios. Soma-se a isso a complexidade de nossas regulações e de nosso sistema tributário. São necessários 119 dias para iniciar um negócio no Brasil, um período seis vezes maior 58

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do que na média dos países do G20. O tempo gasto para resolver questões tributárias é de 2.600 horas por ano, enquanto que, nos demais países, esse período não ultrapassa 347 horas. Essa dificuldade não apenas desestimula nossos jovens a optar pelo empreendedorismo como projeto de vida e carreira, como resulta em uma mortalidade precoce das empresas. No Brasil, 49% dos pequenos negócios não passam do primeiro ano. Para mudar esse cenário, criando um ecossistema de fomento ao empreendedorismo que colabore com a perenidade dos negócios, é preciso unir esforços de governos, empresas e dos próprios empreendedores, garantindo assim a saúde econômica do país. É o que chamamos de triplo poder, que deve atuar em quatro frentes: facilitar o acesso a financiamentos, sobretudo para as start-ups; simplificar a estrutura tributária e as regulamentações; aprimorar o sistema de educação e capacitação; e estimular uma cultura empreendedora. Se, por um lado, as notícias mostram que há desafios de curto prazo que fazem as empresas apertar os cintos, também existem possibilidades e oportunidades de desenvolvimento num mercado cada vez mais dinâmico e globalizado. Nossa vocação é olhar para a frente e de forma impaciente querer crescer com a gestão de todos os recursos de forma sustentável e não se acomodar no curto prazo com as angústias do querer sobreviver. Shirley Silva é sócia-líder da EY na Bahia


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Economia em 2014 por Luiz Marques de Andrade Filho

arte: Iuri Sarmento

O economista austríaco Joseph Schumpeter, pai de frases geniais, afirmou certa feita: “Não acredito em dois tipos de profissionais - arquitetos que prometem construir barato e economistas que afirmam ter respostas simples.” Ademais, inferências em economia são complicadas. É tipo prever a taxa de câmbio, ou seja, como dizia um velho professor: profecia sobre o câmbio de amanhã, só depois de amanhã. Mas a nossa profissão tem a responsabilidade de pensar sobre cenários econômicos futuros. Isto é importante como forma de planejamento prévio empresarial em relação ao que tende a ocorrer. 2014 se revela um ano em que duas grandes variáveis macro, totalmente exógenas, darão o tom da economia mundial. A primeira, não em ordem de importância, é o início do aperto monetário nos Estados Unidos, o chamado tapering; a segunda é a possibilidade de a economia chinesa reduzir ainda mais seu ritmo de crescimento. O tapering do BC americano virá mais cedo ou mais tarde, mas ninguém sabe quando, se em 2014 ou em 2015. O que se sabe é que a economia norte-americana está conseguindo sair do fundo do poço da crise de 2008. Para 2014 o FMI estima um crescimento da economia dos EUA levemente superior ao do Brasil, 2,6% ao ano frente aos nossos 2,5%. Parece pouco, mas devemos lembrar que os EUA são 22,8% da economia global, e o Brasil representa 3,0%. Ou seja, o gigante yankee está acordando, embalado em tecnologia, flexibilidade do seu mercado de trabalho e na redução dos custos de energia pela revolução do gás de xisto. Quando o BC de lá resolver que a política de afrouxamento monetário não é mais necessária, vai iniciar o aumento dos juros internos, o que levará ao aumento das taxas de juros ao redor do globo e aqueles países (como o Brasil) extremamente

dependentes de capital externo para fechar o balanço de pagamentos tenderão a sofrer desvalorização em suas moedas. Já a redução do crescimento chinês não é certo que ocorra, mas, se ocorrer, levará a uma queda mais forte da compra de commodities mundiais pela economia chinesa, o que afetará nossas principais exportações (minério de ferro, petróleo bruto, soja e derivados, e carne de frango e bovina). A possível queda das exportações trará mais pressão sobre o balanço comercial e balanço de pagamentos, afetando ainda mais o câmbio. O câmbio é um preço que, quando em alta, afeta a inflação interna para cima, e o déficit ou superávit na conta corrente influencia o câmbio. Notícia para termos atenção: já somos um dos maiores déficits em conta corrente no mundo. Em 2014, seremos o segundo maior déficit externo mundial, atrás apenas do gigantesco buraco externo dos EUA. Contudo nosso estoque de reservas nos garante alguma tranquilidade. Ano que vem teremos eleição presidencial, quando tradicionalmente a política fiscal tende a ser mais benevolente. Dilma não poderá vacilar com a inflação e o crescimento econômico, pois tem um mandato a defender. Copa do Mundo e eleições estimularão a demanda interna, mas sempre pressionada pelas duas variáveis exógenas citadas. Nossa capacidade de crescer e domar a inflação mesmo em ambiente externo inóspito será decisiva para o eleitor que irá às urnas, e para os empresários que terão que passar por 2014 com o jogo de cintura e perseverança de 2013. O jogo é este. Luiz é superintendente da Fundação Escola de Administração da Ufba (FEA) e professor de finanças e economia

Cenário médio: economia brasileira tenderá a sofrer com desvalorização do câmbio, mas o déficit externo não tenderá a ser tão mais pressionado do que atualmente

Pior cenário: tendência de aumento dos juros internos e desvalorização do câmbio devido à pressão sobre a conta corrente, levando ao crescimento abaixo do esperado

Redução (aperto) da flexibilidade monetária nos EUA: início do tapering

Economia chinesa com crescimento razoável

Economia chinesa com maior perda de dinamismo

Manuntenção da flexibilidade monetária nos EUA

Cenário médio: economia brasileira tenderá a sofrer mais com a queda das exportações do que com a desvalorização do câmbio

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Melhor cenário: câmbio e contas externas não serão mais pressionados do que já são hoje, maior facilidade para crescimento


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Metade músico, metade professor, Jorge Portugal mistura suas várias facetas para mudar a educação no estado por Pedro Hijo

foto: Rômulo Portela

astam dez minutos andando na rua para que, pelo menos, cinco pessoas reconheçam Jorge Portugal e acenem para ele. De dentro de um ônibus, um homem aponta para ele e grita: “Aprovado!” Pergunto se é sempre assim. “Já me acostumei, hoje estou mais relaxado”, responde o professor famoso. Tem sido assim há 36 anos, desde que Jorge Portugal, na época aluno de um cursinho pré-vestibular, topou substituir, de brincadeira, um professor que se ausentara em uma aula. De lá para cá, Portugal, santo-amarense dado às artes, deixou um pouco de lado a veia musical e percebeu que tinha tino para ser professor de língua portuguesa e redação e não parou mais. Nesse tempo, Portugal esteve não só na sala de aula, mas também compondo (ele é autor de A massa, vencedora do Festival da Nova MPB 80), tocando projetos educativos na televisão (entre eles o programa Aprovado, exibido semanalmente na Rede Bahia há 13 anos e que atinge mais de dois milhões de telespectadores) e fora dela, como o Educação em Movimento. E ele não para. A iniciativa Professor na Estrada, liderada por ele, leva profissionais para conversar com alunos sobre diversos temas em dez municípios baianos por ano. Os projetos são coordenados pela Abaís Conteúdos Educativos e Produção Cultural, empresa da qual Portugal é consultor pedagógico, mas com muita serenidade, como lhe é de costume. Foi com serenidade também que Portugal conseguiu desassociar a imagem da sua empresa do polêmico caso envolvendo a Abaís e a Secretaria da Educação da Bahia, em julho de 2012. Na época, um contrato feito pelas duas partes previu o pagamento de R$1,6 milhão por aulões preparatórios, considerado alto por muitos, o que gerou críticas do corpo docente. “Faria mil vezes se fosse necessário. Se fosse hoje, todos estariam me homenageando pela atitude”, diz. Por mais que Jorge Portugal não seja de todo um empresário, é fácil encontrar o espírito empreendedor em suas ações. “Se eu quisesse ganhar dinheiro com educação, seria dono de cursinho, mas o meu caminho é mesmo fazer uma empresa que ajude na formação de conteúdo para os alunos da rede pública”, declara.


educação | p ro fe s s or foto: Divulgação

No sentido horário: (1) Jorge Portugal, durante a Flica, com a filósofa Márcia Tiburi e o jornalista e escritor Xico Sá; (2) Professor famoso; (3) Durante lançamento do programa É Bom Saber em 2011; Em gravação do Aprovado, da TV Bahia, programa que apresentou até 2010. Hoje ele faz parte do conselho editorial da atração

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Qual a sua avaliação da educação na Bahia? Antes de falar da educação na Bahia, é importante falar da educação no Brasil. Porque a Bahia é um apêndice do que acontece no país. Nós temos 500 anos na história do Brasil que negaram veementemente determinados segmentos, fazendo um verdadeiro apartheid através da educação. O dinheiro até hoje constrói esse abismo entre o aluno e o ensino de qualidade. Quantos milhões de estudantes gostariam de estar bem preparados para fazer o Enem e galgar uma vaga em uma universidade? Mas muitos não conseguem isso, têm que ir para uma escola da rede pública, o que não atende aos anseios da estudantada. Já houve um avanço de uns 13 anos para cá. Temos hoje milhões de alunos na escola, mas o momento agora é de pensar na qualidade. 64

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A diferença entre rede privada e pública é muito grande? A diferença é que, na rede privada, o professor vai e dá a aula, ele não falta. Na rede pública, existem várias escolas em que os alunos nunca viram o professor de matemática, química ou física. Eu me lembro que no meu segundo ano à frente do Aprovado, eu entrevistei o então governador Paulo Souto, e ele me disse que não sabia o que fazer para levar professores para o interior. A situação só piorou de lá para cá.

A filósofa e professora Viviane Mosé, em entrevista à edição 20 da Revista [B+], disse que a educação brasileira forma pessoas passivas criticamente. Você concorda com esta afirmação? Eu concordo com ela. O vestibular, no seu modo inicial, regional, influenciou de uma forma retroativa, criou o aluno para passar e não para refletir. Quando uma mãe vai matricular um filho de oito anos em uma dessas escolas particulares, ela

“Concordo com a frase que diz que um dos grandes dilemas do ensino do país é que nós temos uma escola do século 19, um professor do século 20 e um aluno do século 21”

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foto: Divulgação

No sentido horário: (1) Fora do palco, olhar de espectador; (2) Público dos aulões para o Enem em Teixeira de Freitas; (3) Jorge Portugal em reunião com o governador Jaques Wagner para discutir os rumos da educação no estado

dificilmente pergunta sobre o projeto pedagógico. O que ela pergunta é: quantos alunos aquela escola aprova no terceiro ano? É esse o foco da preocupação da família: colocar o filho na universidade a qualquer preço, em vez de formar elementos pensadores, que possam interferir na cena social. O ensino médio não forma absolutamente nada, além de pessoas treinadas para poder passar. Então a culpa deste pensamento de que o aluno deve ser um mero decorador de conteúdo é da família? A família de classe média reforça isso. Ela quer ter o filho num curso de uma universidade de prestígio como se fosse um troféu, como um título de nobreza.

Em uma entrevista recente, você diz que outros assuntos poderiam ser colocados no currículo escolar, entre eles citou empreendedorismo. De que forma esta inclusão pode ser benéfica? O empreendedorismo já está potencialmente em cada menino desses que você vê na rua vendendo picolé, geladinho. Empreendedorismo é a criatividade que já está no sangue desses meninos, principalmente daqueles que se viraram desde cedo. De que adianta aprender sobre números complexos se o aluno

não vai usar em nada na vida dele? A meninada se entope de conteúdos desnecessários e deixa de aprender o que poderia despertar esse grande potencial empreendedor que eles têm. O problema todo é o academicismo. Dos sete milhões de estudantes que estão nas universidades, seis milhões estão fazendo cursos acadêmicos enquanto só um milhão está fazendo cursos técnicos. O Brasil está desesperadamente precisando de profissionais com formação técnica, e o menino,

“A diferença é que na rede privada, o professor vai e dá a aula, ele não falta. Na rede pública existem várias escolas em que os alunos nunca viram o professor” w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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educação | p ro fe s s or por não ter esta informação, faz o curso de direito que a família sempre sonhou, para depois, quem sabe, prestar um concurso público e alcançar uma estabilidade financeira. Você quebrou tabus ao levar os alunos para fora da sala de aula e misturar aulas com música. Enfrentou críticas? Eu acho que hoje nós temos instrumentos tecnológicos poderosíssimos e ainda não estamos sabendo aproveitar de uma forma adequada. Eu concordo com a frase que diz que um dos grandes dilemas do ensino do nosso país é que nós temos uma escola do século 19, um professor do século 20 e um aluno do século 21. Quando eu tirei os alunos da sala de aula e dei aula na praia de Itapuã, as pessoas acharam um escândalo. Mas quando você tira o aluno de um ambiente fechado, você faz com que ele crie uma relação afetiva com aquele conteúdo, e aí ele não esquece. Quando me perguntam se tem sentido eu colocar seis mil alunos na Concha Acústica, se eles aprendem alguma coisa, eu digo que sim. É claro que eles aprendem. Só pelo fato de ter saído da sala de aula, de ter música nos intervalos, o

aluno associa o conteúdo àquele momento que ele está tendo ali. Em parte eu acho que existe um grande preconceito da academia, que é ainda muito clássica. Fui chamado de Chacrinha porque estava fazendo educação em uma TV aberta e afiliada da Globo, mas quantos alunos me falaram que o Aprovado serviu para eles como um curso pré-vestibular? Muitos. Só aqui na Bahia que existe um programa de televisão com esse perfil educacional. Se você percorrer o Brasil de ponta a ponta, no horário do Aprovado, só tem desenho animado. O Aprovado é um dos produtos da sua empresa, Abaís. Como é o Jorge Portugal empreendedor? Eu sou consultor pedagógico da Abaís, penso no projeto, articulo, corro atrás dos parceiros e a Abaís executa. Mas somos muito movidos por idealismo, pois não se ganha dinheiro com educação. Se eu quisesse ganhar dinheiro, eu teria aberto um cursinho e transformado em um grande colégio. Mas eu resolvi sair deste caminho porque acreditava que a minha era mesmo me associar a uma empresa que ajudasse na formação de conteúdo para os alunos da rede pública.

“O empreendedorismo já está potencialmente em cada menino desses que você vê na rua vendendo picolé. De que adianta aprender sobre números complexos se o aluno não vai usar na vida dele?”

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Em 2012, você recebeu muitas críticas depois de a sua empresa ter firmado um contrato de R$1,6 milhão com a Secretaria da Educação da Bahia para promover aulões. Qual é a sua versão deste assunto? Faria mil vezes se fosse necessário. Os alunos da rede pública estavam tomando porrada do governo do estado e do sindicato dos professores. Há quatro meses sem aula e com um Enem pela frente, os alunos me encontravam nas ruas e pediam para que eu fizesse alguma coisa. Foi aí que eu tive a ideia de montar uma tenda no centro da cidade para dar curso de redação. Daí Osvaldo Barreto, secretário da Educação, me ligou e propôs o projeto de fazer aulas especiais para esses alunos em diversas cidades do estado. Mas eu sou um só. Ele, então, articulou uma parceria com a minha empresa e me pediu para que eu montasse uma equipe. Contando com professores, data show, telões e outros materiais para aula, deu R$1,6 milhão, o que para ele, que estava acostumado com os altos valores da educação, era irrisório. Mas nós estávamos no meio de uma campanha eleitoral. Daí eu recebi porrada do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia, de todos os candidatos em oposição ao PT e virei a Geni daquele momento. Mas, se fosse hoje, todos estariam me homenageando pela atitude. Você tem pretensões políticas? Não, jamais. Eu não tenho vocação. Eu não entro em um jogo desses jamais. Não tenho vontade nenhuma de me expor para pedir voto. Mas eu estou fazendo política, o que eu faço é política educacional, cultural. [B+]


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“Empreender sem planejar é como construir uma casa sem planta, vira uma favela” por pedro hijo

fotos rômulo portela

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ublicitário, especialista em planejamento estratégico e fundador da escola Homo Sapiens, o mineiro Eduardo Shana foi o primeiro convidado a participar do projeto Escola de Negócios [B+]. Na ocasião, Shana tratou sobre empreendedorismo, formação de lideranças e sobre a metodologia TEvEP, uma ferramenta criada por ele que pode ser usada para revisar e melhorar eventos pessoais e sistemas de comunidades produtivas. De que forma o planejamento é capaz de aumentar qualitativamente o empreendedorismo no país? No Brasil, o empreendedorismo muitas vezes nasce de uma vontade e alguém resolve fazer um empreendimento que começa a ser pilotado de acordo com o que ele avança para cima disso. Para montar uma pizzaria, por exemplo, o sujeito é muito guiado pelo sentimento. “Preciso alugar uma casa”, daí ele vai e aluga a casa. “Preciso contratar um pizzaiolo”, vai lá e contrata. Depois monta um cardápio. Isso para mim não é empreendedorismo. Empreender é sinônimo de planejar. Sem isso, é como construir uma casa sem planta, o resultado é uma favela. Para montar um negócio, é preciso ficar muito tempo desenhando aquele sonho em uma prancheta, de forma que se possa simular todas as hipóteses e descobrir se o seu sonho contempla 68

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as inerências daquele empreendimento. Este planejamento evita perda de dinheiro, falência, sofrimento, briga, etc. Mas o Brasil não é um país com um viés de planejamento. Dificilmente as pessoas planejam a vida. Sou um crítico desse modelo de empreendedorismo que existe, porque ele é cruel com os jovens, que acabam pensando que esta é a forma certa de empreender. Qual a alternativa para criar a cultura do planejamento, então? Acredito que, além da questão cultural, falta ferramenta. Por exemplo, se a pessoa não sabe subir em uma árvore, mas daí ela recebe uma escada, ela consegue e começa a gostar de fazer aquela tarefa. O TEvEP, que significa Tempo, Evento, Espaço e Pessoas (os quatros princípios de um evento), vem ocupar esta lacuna e de um modo fácil. Planejamento é a capacidade de antecipar ao máximo e pensar o futuro. E o futuro vem cheio de eventos para ocupar o seu tempo, quer você queira ou não. Então, como se preparar para o que está por vir? Esta é a pergunta. Se você tem a capacidade de imaginar a ação, você já começa a planejar. E nós temos essa capacidade, só não trabalhamos isso porque já nos entregaram tudo pronto. Somos macacos digitais, copiamos tudo sem pensar que podemos fazer diferente. Como iniciar um planejamento? Você é capaz de definir três finais com uma boa ferramenta de planejamento. Ainda pegando o exemplo da pizzaria, ao planejar o negócio, eu posso montar o pior final, que é falir, o melhor final, que é fazer um grande sucesso, e um final razoável. A dica é desenhar os três finais e o caminho para alcançá-los. Um sonho se constrói com algumas perguntas. Por exemplo: qual a utilidade da minha pizzaria? Com ela, eu quero ganhar dinheiro? Gerar emprego? Para quem eu vou servir? Qual a inovação que eu posso dar para as pessoas? Sabendo qual é a sua proposta, você deve partir para o que é inerente à pizzaria e fazer um elenco de coisas que você vai precisar para montá-la, como cadeira, mesa, garçom, contador, etc. A partir destas perguntas, o empreendedor pode saber se continua com o sonho ou se desiste.

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BÊ-Á-bá dos negócios

Estudantes e personalidades se encontraram no auditório da Unime, em Salvador, para debater sobre planejamento

O auditório da Unime, em Salvador, foi palco para a primeira edição da Escola de Negócios [B+], novo projeto da Revista [B+] em parceria com a rádio CBN Salvador. Estudantes universitários, recém-formados e jovens empreendedores ganharam uma ótima oportunidade para disseminar experiências e se inspiraram com novas ferramentas de negócios. A Revista [B+] e a rádio CBN Salvador lançaram o projeto Escola de Negócios [B+], que contou com o publicitário Eduardo Shana em sua primeira edição. De acordo com Cláudio Vinagre, diretor da revista, “precisamos fomentar o empreendedorismo e a inovação nas faculdades e universidades brasileiras e a Escola de Negócios [B+] CBN chegou para suprir esta lacuna.” A plateia do evento ainda contou com a participação de nomes como Pola Ribeiro, professor e atual diretor do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), e Roberto Ibrahim, presidente do Conselho Regional de Administração de Salvador. “Um evento como este é de extrema importância para o alunado, é um instante de aprendizagem que eles levarão para sempre”, opinou Ibrahim.

Depois de montar o negócio, é comum que uma pessoa centralize as demandas. Como fazer com que o líder de uma empresa possa disseminar seu conhecimento entre os funcionários e emponderá-los? Se todos os funcionários tiverem muita consciência do conjunto de eventos e da responsabilidade da empresa, é natural que eles não tenham uma dependência cega de um piloto. Toda empresa parece com o caso do engenheiro que comanda uma obra com vários funcionários que não sabem muito bem o que estão fazendo. O cara chega às seis da manhã, passa um monte de funções para a equipe e eles vão fazendo. As coisas não podem ser mais assim. Os gregos separaram o mundo entre pensadores e fazedores, e todos os funcionários de uma empresa podem ser os dois, não tem por que ter diferença. Cada funcionário tem um cacho de eventos em uma empresa. Ou seja, um repertório de demandas que precisa cumprir. Um porteiro, por exemplo, precisa abrir a portaria, arrumar o balcão, atender as pessoas, entregar correspondências e é comum que ele não fique satisfeito em fazer isso. Quando você desenvolve uma ferramenta de planejamento e o empondera, ele vira presidente da portaria, e o repertório de quatro coisas que ele fazia cresce e aquele funcionário renasce. Se isso acontece com um funcionário, imagina quando isso se perpetuar no restante da empresa. [B+]

“Antes de empreender, é importante desenhar três finais para a sua empresa e o caminho para alcançá-los” Eduardo Shana, fundador da escola Homo Sapiens


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Lições

de uma

adolescente

Antes mesmo de concluírem o colégio, três irmãs de Eunápolis abriram sua própria escola e provaram que empreendedorismo é atividade que se aprende e se ensina desde criança por carolina coelho

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udo começou dentro de uma garagem, no ano de 1984. Três filhas dedicadas improvisavam uma sala de aula para dar reforço escolar para dez crianças vizinhas. A fama de boas professoras se espalhou em Eunápolis e fez as gêmeas Gilsan e Gilsara, então com 15 anos, mais a irmã Gilsade, com 14, solicitarem ao Ministério da Educação (MEC) uma permissão para abrirem a própria escola. Passados quase 30 anos, a Escola Kennedy ganhou um investimento de mais de R$5 milhões, entre infraestrutura e capacitação de professores e pedagogos, para oferecer um ensino de qualidade para os atuais 600 alunos que aprendem por lá. Em 2009, a escola foi a vencedora da etapa nacional da categoria educação do MPE Brasil pelas práticas inovadoras de gestão de ensino e responsabilidade social. Após a conquista, cresceu mais de 30% em menos de dois anos. “Estamos sempre analisando o mercado e aumentando as possibilidades da escola com foco na inovação”, explica Gilsan Pessoa, atual diretora da escola e ganhadora do prêmio estadual Mulher de Negócios, em 2011, na categoria Pequenos Negócios. Atualmente, as irmãs-sócias investem R$1 milhão na construção de mais um pavimento, que dará início ao novo empreendimento, a Kennedy Baby, que vai abrir 200 vagas para alunos de quatro meses a cinco anos, um serviço que nenhuma escola oferece na cidade. Com toda a bagagem nos negócios, não é a toa que Gilsan faz questão de ser a professora de empreendedorismo. Seu lema é claro: “Acredite no seu sonho, porém, planeje”. Caso queira matricular seu filho lá, entre na longa lista de espera, pois não há mais vagas desde outubro de 2013.

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foto: Divulgação

“Temos uma equipe inquieta. Acreditamos que não basta a direção estar afinada, é preciso manter uma formação continuada para os nossos professores e pedagogos” Gilsan Pessoa, diretora da Escola Kennedy


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sustentabilidade | n e g ó cio s verd es

Um diferencial para as micros e pequenas É comum ouvir que sustentabilidade é para as grandes empresas, aquelas que contam com orçamentos milionários. O foco da pequena empresa tem que ser apenas a sobrevivência e a manutenção no mercado? Representantes de três micro e pequenos negócios mostram que é possível contrariar esse raciocínio

SALVE TERRA Criada em 2010, a partir de uma conversa sem muitas pretensões, o negócio surgiu com uma proposta bem básica e, até então, simples: conscientizar as pessoas através da moda. Guilherme Menezes dos Santos, de Salvador, decidiu transmitir valores sustentáveis por meio de estampas cheias de descontração e atitude em malhas de algodão com fios de poliéster de PET e embalagens ecológicas. A ideia inicial fez nascer a Salve Terra, empresa que produz camisetas, bolsas, acessórios e até mesmo móveis para casa com produtos reciclados e sustentáveis. A ideia deu tão certo que a Salve Terra foi a primeira loja de roupas a ganhar o prêmio de desempenho ambiental do sistema Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Segundo Menezes, a loja Salve Terra abandonou o espaço físico para gerar ainda menos resíduos. Trabalha apenas com vendas via internet e busca otimizar a produção para reduzir desperdícios. “Queremos mostrar ao público como é importante a conscientização e as possibilidades de reaproveitamento de materiais que seriam jogados nos aterros sanitários”, afirma. A empresa ainda desenvolve embalagens e acessórios de moda reciclados, além de produzir sabão em barra a partir de óleo de cozinha descartável. “No início, criamos formas de buscar o óleo, mas acabamos formando uma rede de fornecedores. Damos uma destinação ecológica a esse óleo, que seria descartado no meio ambiente. Estamos, inclusive, iniciando o trabalho experimental de reciclagem com o azeite de dendê, que vamos comercializar no futuro”, informa Menezes.

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Área de atuação Moda Tempo de mercado 3 anos Localização Salvador Ações sustentáveis de destaque Produtos com matériaprima reutilizada e reciclada, educação ambiental e redução de resíduos


Área de atuação Indústria plástica Tempo de mercado 13 anos (7 na Bahia) Localização Lauro de Freitas Ações sustentáveis de destaque Criação da Linha Green e mudança operacional para redução de embalagens

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grupo bb Com sede em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, o Grupo BB tem 13 anos de atuação e investe cada vez mais em sustentabilidade como diferencial competitivo. O paranaense Plínio Bevervanso veio para a Bahia para conhecer um novo mercado, mas decidiu ir além. Trouxe sua fábrica para cá e redefiniu a maneira de produzir brindes. Bevervanso relata que a primeira experiência da empresa com o tema sustentabilidade veio com a inquietação quanto ao desperdício das caixas de papelão: “Em vez de recebermos os produtos dos fornecedores nas caixas de papelão deles e depois trocá-las pelas nossas e só então enviarmos as encomendas aos clientes, sentamos juntos e decidimos utilizar somente as caixas deles para as entregas, sem as marcas das empresas”. A atitude alongou o ciclo de vida das caixas de papelão, chegando ao reaproveitamento de 120 mil unidades no ano, reduzindo consumo e economizando R$15 mil mensais.

Outra ideia da BB Brindes foi a de criar a Linha Green. Elas são canecas feitas com casca de coco, desenvolvidas junto com Senai, Settrel e Universidade de São Carlos, além de produtos com fibra de madeira reflorestada e até porta-lápis com a lâmina das caixinhas de leite longa vida, em parceria com a Tetrapak. Segundo Bevervanso, a chave para o sucesso nessa área é agregar valor aos produtos. “Assim nós valorizamos os resíduos e a reciclagem vai aumentar a demanda dos catadores e cooperativas”, exemplificou. A Linha Green recebeu por dois anos seguidos (2012 e 2013) o prêmio Going Green de design sustentável, concedido durante a Home & Houseware Fair, feira realizada anualmente em Chicago, Estados Unidos. “A sustentabilidade tem que ser feita de atitude. Não temos orçamento para grandes ações, mas podemos fazer pequenas coisas que geram grandes resultados”, defende o empresário. w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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lanchonete tedesco Imagine uma lanchonete sustentável. Você visualiza ela dentro de uma rodoviária? Pois é exatamente essa a proposta do restaurante e lanchonete Tedesco, que atua há 22 anos em Santo Antônio de Jesus, a 184km de Salvador. Ela contraria a ideia de que os empreendimentos instalados em terminais rodoviários costumam ser sujos. Limpeza, organização e sustentabilidade são a preocupação de Melentino Tedesco, proprietário do estabelecimento. A atenção com a qualidade do serviço e com o meio ambiente transformou o negócio em referência de boas práticas na Bahia. A prática da segurança alimentar é um pilar fundamental para Tedesco, desde o preparo dos alimentos, tempero até o processo de receber e armazenar ingredientes “Os fornecedores têm de ter selo da Vigilância Sanitária, senão não compramos deles”, garante. Os produtos têm de estar devidamente registrados e possuir alvarás. “Uma empresa sustentável jamais vai servir alimento com risco para sua clientela. Responsabilidade e sustentabilidade andam juntas”, enfatiza. Todo o óleo residual de cozinha é coletado e vendido para uma empresa

de ração animal da região por R$0,80/litro, assim como as latas de alumínio para empresa recicladora, depois de amassadas e separadas. “Faço isso mais por consciência ambiental do que por resultado econômico. Mas quando você cuida do meio ambiente, além de se sentir melhor, agrada desde o cliente até os fornecedores”, ressalta. Os resíduos orgânicos são doados para proprietário rural, que os recolhe para ser usado na alimentação de animais (porcos e vacas). “Só compramos produtos sem agrotóxicos e adquiridos junto aos pequenos produtores”, acrescenta Melentino. A água tem tratamento especial: passa por uma caixa, onde a gordura é filtrada, antes de ser descartada limpa no esgotamento sanitário. A gordura coletada é armazenada em caixa seca e é descartada de seis em seis meses. Todo o papelão acumulado é doado para cooperativas de catadores. “De 2006 a 2012 tivemos um crescimento de 80%. A sustentabilidade é um caminho sem volta”, conclui o empresário.

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Área de atuação Bares e Restaurantes Tempo de mercado 22 anos Localização Santo Antônio de Jesus Ações sustentáveis de destaque Compra de produtos certificados, coleta de óleo e descarte correto de resíduos, eficiência hídrica


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t en dênci as Da teoria à prática Para provar que os conceitos de responsabilidade ambiental estão diretamente atrelados às estratégicas econômicas das empresas, o Sinduscon Bahia adere às soluções de sustentabilidade em construções com o projeto da nova sede da entidade

Alguns dos diferenciais [01] Telhado verde diminui o efeito ilha de calor e fará captação das águas da chuva [02] Reutilização da chuva as águas pluviais, cinzas e de condensação do sistema de ar-condicionado serão usadas nas caixas de descarga [03] Energia limpa o edifício utilizará placas solares e energia eólica, além de vidros de controle solar [04] Ar-condicionado será aplicado um sistema a gás natural, que reduz em 90% a energia que condicionador de ar convencional gastaria

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Construtoras e incorporadoras ainda encontram dilemas para implementar práticas que garantam altos padrões de sustentabilidade nos canteiros de obras. Para muitos, construir com garantias de eficiência energética, hídrica, além de outras técnicas avançadas pode soar como um exercício apenas teórico, distante da prática. Para sair da teoria, o Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon) decidiu fazer da sua nova sede uma vitrine de conceitos e soluções de sustentabilidade na construção. A entidade quer demonstrar a viabilidade técnica e econômica da incorporação de novas tecnologias, processos construtivos e boas práticas na concepção, construção e uso do edifício. “Nossa proposta não é um ecomarketing, é criar um ambiente multiplicador de todas essas tecnologias”, ressalta Thales de Azevedo Filho, projetista de instalações da nova sede. As obras, já iniciadas, contemplam um novo patamar de crescimento socioambiental, que visa diminuir os impactos ambientais através do uso racional de materiais e dos recursos naturais, além da geração de energias limpas e aproveitamento da iluminação natural. O investimento nas novas práticas representou 15,6% o valor da obra, considerado um bom negócio. Afinal de contas, todas as implementações serão responsáveis por reduzir em 80% os gastos anuais do edifício, fase em que haverá o retorno do investimento em um período estimado de cinco anos e meio. “Não dá mais para pensar a construção apenas como custo inicial. Os investimentos iniciais são poucos comparados ao ganho posterior, pois, além de agregar um valor patrimonial e conforto ao empreendimento, as novas tecnologias oferecerão maior qualidade e durabilidade”, ressalta Natasha Thomas, engenheira técnica do projeto. A certificação da sustentabilidade do edifício foi analisada segundo os critérios do selo Aqua, concedido pela fundação Vanzolini. Com inauguração em dezembro, a nova sede do Sinduscon promete transformar o ambiente em uma troca de experiências entre os profissionais do setor de construção civil da Bahia e ser um incentivo para que mais projetos sigam esses passos.


foto: Divulgação

COP-19 aprova acordo para amenizar fracassos de Varsóvia Ano após ano, o filme se repete. Diante da falta de resultados das Conferências das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, os negociadores e chefes de Estado dos países aprovam, aos “45 do segundo tempo”, algum acordo para minimizar as pressões da comunidade internacional. Na conturbada COP-19, em Varsóvia, Polônia, o tratado diz respeito a normas sobre financiamento de projetos para florestas em nações em desenvolvimento, abrindo caminho para investimentos multibilionários de governos, órgãos de fomento e empresas privadas em esquemas para deter o desmatamento.

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sustentabilidade | m o b il id a d e

arte: Iuri Sarmento

Carro, o cigarro do futuro por Isaac Edington

A questão real é essa: motorista, você não está no congestionamento, você é o congestionamento. Os carros são responsáveis por congestionamentos, esta é a conclusão do estudo Indicadores de Mobilidade Urbana da Pnad, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso parece óbvio para você? E, de fato, é. Segundo o Ipea, mais da metade dos domicílios brasileiros já dispõe de pelo menos um veículo para atender aos deslocamentos de seus moradores, com forte tendência de crescimento da posse desse bem verificada nos últimos anos, principalmente depois que o governo passou a incentivar a compra de automóveis. Se, por um lado, isso indica que a população está tendo acesso a carros, por outro, significa grandes desafios para as cidades e seus sistemas de mobilidade, com reflexos diretos sobre a degradação das condições de mobilidade de todos. Viu? É óbvio. Se continuarmos incentivando a compra de veículos, cada vez mais domicílios terão acesso ao veículo privado, já que quase metade deles ainda não possui automóvel. Um dos grandes desafios das metrópoles brasileiras é atuar fortemente para reverter essa situação. E, para tanto, é necessário inicialmente reconhecermos o óbvio. Não dá para continuar simplesmente colocando mais carros nas ruas e achar que tudo se resume a novas obras de infraestrutura como a única solução. Do contrário, novos viadutos serão apenas caminhos mais rápidos de se chegar a novos congestionamentos, deixando os motoristas e passageiros cada vez mais estressados. Transporte público de qualidade e eficiente, políticas públicas e ações de estímulo a pedestres e ciclistas, implantação de sistemas públicos de bicicletas compartilhadas, hoje já presentes em mais de 500 cidades ao redor do mundo, de Dubai ao Havaí, e, agora, em Salvador, também são apontados como importantes para tornar as cidades lugares melhores, como relatou a conceituada revista britânica The Economist: “As comunidades que têm investido em projetos de pedestres e de bicicleta têm se beneficiado de melhoria da qualidade de vida, população saudável, maiores valores 78

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imobiliários locais, e redução da poluição atmosférica. Assim, como o transporte público de massa modificou o desenvolvimento dos subúrbios das cidades, o aluguel de bicicletas está moldando os centros urbanos de maneira sutil.” No entanto, no Brasil, o governo tributa mais as bicicletas do que os carros. Estudo divulgado pela Tendências Consultoria para a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) mostra que o imposto que incide sobre as bicicletas no país é de 40,5%, em média, contra 32% dos tributos no preço final dos carros. A falta de incentivo fica clara na comparação do IPI: a alíquota do tributo federal é de 3,5% para carros populares, ante 10% para as bicicletas produzidas fora da Zona Franca de Manaus. Com isso, o Brasil tem uma das bicicletas mais caras do mundo. Caso a situação atual não encontre novos rumos, estaremos muito perto de concretizar a profecia do urbanista Jaime Lerner, exprefeito de Curitiba. “O carro é o cigarro do futuro”. Levando-se em conta a poluição proveniente dos veículos movidos a gasolina, óleo diesel e outros combustíveis, é inevitável que países precisarão adotar em futuro próximo medidas em favor da sustentabilidade também nessa área. Não há outra alternativa. Assim como cigarros, os carros serão gradativamente proibidos nos locais públicos. Isto já acontece em várias cidades da Europa. Estados Unidos e Ásia, onde circular de carro pelo centro é um privilégio de poucos. O deslocamento diário será feito em um transporte público otimizado, seguro, e de qualidade. O automóvel será usado em viagens e para o lazer e não para ir e voltar todo dia do trabalho. Qualquer movimento diferente desse significa cidades caóticas, poluídas e cidadãos estressados e doentes. Mobilidade urbana no século 21 baseiase no tripé infraestrutura, planejamento urbano e mudanças comportamentais, tanto dos gestores, como dos usuários. É um esforço que depende do avanço dos “três pés” ao mesmo tempo. Isaac é secretário do Escritório Municipal para Copa do Mundo na Prefeitura de Salvador e articulador do Movimento Salvador Vai de Bike.


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lifestyle

decoração 86 | [C] ingrid queiroz 93


lifestyle | e s t i lo d e vi d a fotos: Acervo Pessoal

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Aquele que transformou carrinhos em franquias HISTÓRIA “Comecei a exportar grãos orgânicos certificados porque os clientes do exterior valorizam a origem do produto”. DICA “Ser empreendedor é acompanhar as tendências do mercado mundial e trazer inovações para seu negócio”. DIFERENCIAL Selecionado pelo Vaticano, Natura Gourmet foi o café degustado pelo papa Francisco na sua visita ao Brasil.

Transformar café em lucro Baianos apostam no faro para harmonizar grãos e fazer do hábito brasileiro de tomar café um bom negócio por carlene fontoura

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ocê conhece alguém que não dispensa um cafezinho? O hábito quase religioso para alguns ganhou requinte com a chegada dos cafés gourmet, versão mais aprimorada para aqueles que vão além do beber e preferem degustar a bebida. Empreendedores atentos ao mercado encontraram neste público um negócio promissor. 80

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Luca Allegro encontrou na fazenda de seu pai, no município de Ibicoara, região da Chapada Diamantina, a oportunidade de investir em café. Ativista do plantio orgânico, Luca e seu sócio Nelson Cordeiro criaram a marca Café Orgânico Natura Gourmet e, em quatro anos de trabalho, os produtores contabilizam cerca de 2.500kg de café por mês, dos quais 50% são comercializados no Brasil. Segundo Luca, esse não era o cenário de dez anos atrás. Na época, o negócio era voltado para exportação de grãos. “O brasileiro ainda não estava preparado para consumir cafés especiais”, explica. Chegou a vender grãos de café para os Estados Unidos, Inglaterra, Itália e Alemanha. Com a crise de 2008 nos Estados Unidos, Luca percebeu que era o momento certo de identificar seus clientes no Brasil. Na busca por aliar sustentabilidade e inovação, a equipe propôs a montagem de um carrinho de café para participar de feiras e eventos. Segundo o produtor, de dez pessoas que veem o carrinho, três questionam sobre franquias. “Não tínhamos pensado nisso até o momento”, revela. Com esse desafio à vista, o carrinho passou por um processo de redesign e foi inaugurado como ponto fixo no Aeroporto Internacional de Salvador. Para o próximo ano, mais três pontos serão fixados: Pelourinho, Porto da Barra e Assembleia Legislativa da Bahia. “Os carrinhos funcionarão como uma vitrine para os franqueados”, define Luca.


foto: Divulgação

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Aquele que achou o ponto certo do grão Foi na Alemanha que o baiano Léo Bittner conheceu o verdadeiro café. Ao se deparar com a arte da torrefação, que permite extrair diferentes tipos de café - aromático, cítrico, frutado -, Bittner passou a conhecer melhor os segredos da bebida. Assim como Luca Allegro, sabia da vocação da Chapada Diamantina para a produção de café. Dessa forma, seguiu para o município de Piatã, onde passara parte da sua juventude, com um torrefador portátil em mãos. “Quando comecei a torrar os grãos, percebi que o café de Piatã era melhor do que de muitos países”, diz. Essa descoberta o fez deixar o emprego em uma multinacional e se dedicar à torra de grãos. Certo da sua decisão, lançou a marca Terroá, nome inspirado no termo francês terroir (território), que reflete os fatores naturais que influenciam os cultivos de cada região. Com a marca, Léo quer contribuir para a mudança de hábito do brasileiro de tomar café de qualidade inferior. “Somos bons consumidores, mas fomos acostumados a tomar uma bebida amarga. Torrar o grão não é queimá-lo”. Aos poucos, Bittner vai se posicionando no mercado de cafés gourmet. Em 2011, o Terroá foi servido durante o Salon du Chocolat, em Salvador, e neste ano o Terroá foi selecionado, junto com mais 119 produtos brasileiros, para ser exposto no Le Bon Marché, em Paris. No ano que vem, pretende lançar uma segunda marca de café, com preço mais competitivo. “Isso irá diversificar as vendas e aumentar o faturamento”.

HISTÓRIA “Aprendi a torrar café na Alemanha por curiosidade. Encantado, comprei meu torrefador e trouxe para casa”. DIFERENCIAL “Prezo pela qualidade do Terroá e não abrirei mão disso para competir com as marcas mais vendidas no Brasil”. HIGHLIGHT Na edição de dez anos, a revista Espresso selecionou 40 marcas brasileiras de café e Terroá aparece como única baiana. w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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lifestyle | es t i lo d e vi d a fotos: Rômulo Portela

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HISTÓRIA Inspirado na expressão “feito à mão”, o nome Feito a Grão traduz o trabalho de várias mãos para produzir um bom café: do agricultor, do mestre de torra e do barista. NOVIDADE Já disponível na unidade franqueada, o doce Brigadeiro Perfeito é resultado da parceria com Amma Chocolate. DICA “Se bem gerida, uma cafeteria pode lucrar entre 10% e 15% do seu faturamento bruto”, Marcelo Szporer.

Há sete anos em Salvador, a rede Feito a Grão inaugurou a primeira franquia em uma loja de rua em 2013. Foi conhecida por muito tempo como “cafeteria de livraria”, mas o casal Marcelo e Georgia Szporer precisou se aproximar mais dos seus clientes para se posicionar enquanto marca individual. “Hoje posso afirmar que a empresa tem personalidade própria porque conseguimos manter uma relação especial com o público. Nosso objetivo é fazer com que as cafeterias sejam o melhor lugar para as pessoas estarem”, aponta Marcelo. Com quatro unidades e um quiosque em Salvador, duas unidades em Recife (PE) e uma em Aracaju (SE), Marcelo demonstra que foi um desafio apresentar ao público novas maneiras de extrair e beber café. Ele mesmo teve que aprender mais sobre o assunto. “Tinha um restaurante, frequentava feiras de produtos e equipamentos para alimentação. Em uma ocasião, me deparei com um espaço sobre cafés especiais. Fiquei impressionado ao descobrir que café não era ‘tudo igual’ e decidi empreender nesta área que era tão carente em Salvador”. Até o fim de 2014, a marca pretende abrir mais dez unidades franqueadas. “Formatamos nossa franquia em um ano e agora este é o nosso vetor de crescimento”, assegura Marcelo. A rede ainda investe em campeonatos entre baristas e eventos de degustação de cafés.

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AGILIDADE Em quatro anos, a marca abriu oito unidades em Salvador, em shoppings e centros comerciais, e uma em Recife. APOSTA NA MARCA “Encaramos o desafio de desvincular a imagem da Seven Wonders Café como marca de livrarias”, revela Alexandre. CURIOSIDADE As bebidas são feitas com base na mixologia molecular, método que aguça os sentidos através de misturas inusitadas.

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Aqueles que uniram dois hábitos

Aquele que focou no atendimento personalizado

A Seven Wonders Café abriu oito unidades em Salvador e uma em Recife em apenas quatro anos. Quando o assunto é franquia, o sóciodiretor Alexandre Queiroz tem a resposta pronta: “Não nos sentimos preparados para passar nosso negócio para terceiros”. Com algumas unidades instaladas em livrarias, a marca também passou por estudos para ser identificada por seu público. Assim surgiu a campanha das Sete Maravilhas do Mundo. “A proposta é fortalecer a relação entre café e leitura. No nosso caso, utilizamos a campanha para apresentar às pessoas conhecimentos sobre as maravilhas mundiais”, explica Queiroz. Segundo Fernando Santos, gerente operacional, o atual desafio é preparar a equipe interna, com 150 colaboradores, para prestar atendimento diferenciado e diminuir a rotatividade de funcionários. “O barista tem que conhecer o processo completo de produção do café – do plantio à xícara”. Além disso, Santos destaca que o ambiente das cafeterias deve trazer a lembrança do café feito em casa. “Aqui em Salvador, somos os primeiros a servir café coado em doses unitárias”. Quanto aos projetos futuros, Alexandre Queiroz revela a fidelização de um novo público, formado por adolescentes com idade entre 13 e 17 anos. “Precisamos focar nessa clientela que consome nossos produtos também”. Já para o público adulto, há uma novidade, fruto de parceria com a Cervejaria Eisenbahn: a venda de cervejas gourmet.



lifestyle | m od a

Atravessando fronteiras 28 O estilista Robério Sampaio conseguiu costurar ideias, arrematar projetos e moldar seus objetivos às nuanças e gargalos do mercado da moda, ampliando seu negócio a outro estado por Andrea Castro foto rômulo portela

A marca da IO é um buldogue francês, raça dos dois cachorros de Robério. Na foto, o pet roubou a cena

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uem vê de fora pode achar que moda é puro glamour. Robério Sampaio é a pessoa certa para desmistificar esta ideia. A mente por detrás das marcas baianas Sarttore e IO, que juntas possuem mais de 20 anos de mercado, consegue êxito em um nicho cada vez mais difícil de se ter sucesso. A grife IO está presente nos principais shoppings de Salvador e abriu, este ano, sua primeira loja fora do estado, no Shopping Recife. O que o motivou a investir, enquanto empresário, na moda? A vontade de criar produtos para pessoas que se identificam com a moda e com o mundo da arte e da estética. Mas, para quem trabalha neste segmento ou faz faculdade para seguir carreira, não existem empregos bons na área na Bahia. Foi então que eu vi que era necessário capitanear meu próprio negócio. 84

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Quais os principais potenciais e desafios deste mercado? Operacionalmente, é muito difícil, principalmente devido à multiplicidade de impostos. É enlouquecedor o volume do que pagamos. Nos últimos 15 anos, vários governos prometeram a tal reforma tributária e nada aconteceu. Na Bahia, como no Brasil, o número de shoppings dobrou, as pessoas gostam muito porque se sentem mais seguras. Mas não são os lojistas que mais ganham com isso. Continua sendo bastante difícil ganhar dinheiro. Como fazer para expandir uma marca baiana para outros estados? Recentemente você abriu sua primeira loja em Recife. Está dando certo? Acho que o primeiro passo para expansão é estar funcionando bem, ter um case de sucesso incontestável que possa ser replicado. Quando você está nesse patamar, tudo conspira a favor. As empresas administradoras de shopping estão atentas e têm interesse em realizar parcerias boas para ambos. O mercado baiano tem o diferencial que é o próprio baiano. Temos uma conformação de balneário parecida com a do Rio de Janeiro e isso nos diferencia da moda feita em São Paulo, por exemplo. [B+]



lifestyle | d e co ra ção

fotos Luciano Oliveira

A arquiteta Renata Dantas deixou Londres por Salvador para abrir um negócio próprio e escolheu morar em um apartamento com jeitinho de uma galeria de arte

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Renascimento Renata Dantas recebe a [B+] em sua sala esbanjando simpatia. A mesa foi desenhada por ela e seu marido, o lustre era do antigo dono do apartamento, um colecionador de arte, e a peça sobre a mesa Ê assinada por Tunga.

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lifestyle | de co ra ção

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epois de concluir um mestrado em Londres e ter trabalhado por três anos com a iraquiana Zaha Hadid, a arquiteta Renata Dantas precisava tirar um tempo para saber qual rumo tomar em sua carreira. Decidiu aportar em Salvador, sua terra natal, para se inspirar e abrir um negócio próprio. Nada que um apartamento localizado em frente à Baía de Todos os Santos não pudesse ajudar. Se o visual já é naturalmente inspirador, o espaço interno não deixa por menos. O antigo dono, um colecionador de peças de arte contemporânea, passou o apartamento para Renata com vários objetos incluídos. O lustre na sala, que recepciona os convidados, por exemplo, era do dono anterior e foi estrategicamente colocado ao lado da mesa assinada por Renata e Pedro Reche, seu marido. “Desde o começo, eu sempre achei o apartamento a minha cara, porque ele é muito minimalista. Para se ter uma ideia, só tenho sete móveis na sala”, conta. O apartamento foi ganhando os toques de Renata, que imprimiu seu espírito desapegado. Esse estilo prático e cosmopolita se reflete em seu trabalho. Renata e o marido são os proprietários do escritório de arquitetura Dantas | Eche, localizado em Salvador, que atende clientes de todo o mundo. “Hoje em dia já está muito difundida a ideia de que o arquiteto responsável pelo projeto pode estar trabalhando em rede de qualquer lugar do mundo, não é preciso tocar o projeto presencialmente, isso fica a cargo de algum escritório local”, comenta. 88

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Saudades Durante os três anos que Renata trabalhou com Zaha Hadid, a baiana acumulou amigos. O livro assinado por eles ficou de recordação Splash A fruteira desenhada por Renata e Pedro é inspirada no movimento de uma gota de água em uma superfície líquida

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Xodó “O forte do apartamento são esses quadros do artista português José Pedro Kraft. São simples e têm muita presença”, diz Renata Escurinho Renata confessa que não gosta muito de objetos coloridos e de muita iluminação. Por isso, o candelabro, ponto alto da mesa de centro, vive com as velas apagadas. O quadro ao fundo foi pintado por ela

Crevasses Os vasos, assinados por Zaha Hadid, dão uma pista do gosto urbano de Renata, que prefere cores mais acinzentadas Referências O prato Fornasetti, Renata ganhou de uma amiga grega, que fez questão de enviar o objeto por correio. A mesa é do designer Tom Dixson

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Pense como um imigrante Eles chegaram como turistas, mas escolheram ficar de vez após perceberem os potenciais do mercado baiano em acolher uma culinária especializada oriunda dos seus países. Com uma perspectiva de imigrante, esses estrangeiros revelam como usaram suas raízes culturais para criar negócios de sucesso, sem medo de adaptar seus costumes para agradar os clientes nativos

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por carolina coelho Para Bertrand, o Brasil está sempre oscilando entre altos e baixos, mas com oportunidades constantes

foto: Coralina Coelho

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om um bom faro para oportunidades, os imigrantes europeus se aventuram na terra em que plantando tudo dá, atraídos pelo cenário da nossa economia estável e mais propícia para negócios frente à crise econômica que afeta seu continente. Abraçados ao que conhecem muito bem, eles empreendem com a tradicional gastronomia dos seus países de origem, abrindo restaurantes que oferecem pratos com o conceito e o padrão das receitas originais. A especialidade garante o diferencial, mas ainda é preciso afinar o paladar dos baianos ao sabor que é proposto, muitas vezes inabitual. Abrindo mão do patriotismo, a geração de imigrantes chega ao Brasil carregando na bagagem a disposição para correr riscos empreendendo longe de casa e a capacidade de se adaptar ante o choque cultural. Por isso, quando o assunto é flexibilidade nos negócios, os estrangeiros têm muitas lições a ensinar. Faça como eles e dê asas ao imigrante que existe dentro de você. 90

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Era fim de ano de 1979. Bertrand Feuntan desembarcava em Salvador com 1.700 marinheiros franceses para passar 15 dias de férias de uma viagem ao redor do mundo a serviço militar. Na época, com 18 anos, se encantou com a atmosfera baiana e voltou três vezes como turista, até que, há sete anos, percebeu que aqui era o seu lugar. Abriu o Taboada Bistrot, um pequeno pedaço da França no Rio Vermelho, que traz um cardápio fruto da experiência do chef nas cozinhas francesas, como a da famosa Fouquet’s, na Avenida Champs Elysées. Foi lá que aprendeu a empreender como cozinheiro, começando do lugar de onde vêm todos os chefs franceses, do chão. “Lá, antes de tocar em uma panela, você já limpou o chão por cinco anos”, reconhece. Esse longo caminho até se tornar chef forma uma mão de obra qualificada que muitas vezes Bertrand sente falta em Salvador. Por isso, faz questão de qualificar toda a sua equipe e de entrar na cozinha sempre que necessário. Sua missão diária fica na busca pelos melhores ingredientes, do hortifrúti ao peixe, que, se possível, ele quer ver saindo da água. Criterioso, nem olha o preço se o produto for de qualidade, e justifica seu comportamento alegando o paladar atinado dos clientes. “Baiano sabe comer e entende de comida. Muita gente que vai ao bistrot já foi à França e conhece os pratos clássicos”, explica. Apaixonado pelo que faz, Bertrand não reclama nem quando o assunto é sobre a carga tributária brasileira, e argumenta que na França é ainda pior. Mesmo assim, diz que empreender no Brasil não é brincadeira. “Aqui as oportunidades são maiores, mas o desafio está em apresentar renovação constantemente”, observa o francês.


Há seis anos, no início da Casa Lisboa, o chef Gualter Freire montou um cardápio diversificado com inúmeros pratos típicos de Portugal, mas os clientes só queriam saber do bacalhau. “Na primeira semana já tive que mudar o menu e criar uma página especial de pratos feitos com bacalhau”, lembra o chef. Sem poder ir contra a corrente da tradição portuguesa no Brasil, hoje ele importa e dessalga 650kg por mês do peixe Gadus Morhua Imperial direto do Porto para a sua segunda casa. Para beber, centenas de vinhos portugueses à disposição, mas os baianos só queriam saber de cerveja. Aos poucos, instruiu os garçons a apresentarem os rótulos aos clientes e conseguiu reverter o número de caixas vendidas, 30 de vinho e duas de cerveja, proporção que era inversa no começo. “É um jogo de paciência adaptar o paladar do

baiano, é preciso ir por trás, com cautela. Já ouvi muito dizerem que sou patriota, mas hoje os clientes já dão valor à proposta que quero apresentar”, explica Gualter. Para ele, a falta de profissionalismo e de compromisso de alguns brasileiros é o maior empecilho imposto ao querer fazer negócios na ex-colônia, mas nem por isso deixa de apostar no potencial do mercado para novidades. Atualmente, o português ajusta os últimos detalhes para seus dois próximos empreendimentos, Balcão Brasil e Frango Piri-Piri, com lançamentos previstos para janeiro de 2014. Enquanto o primeiro destaca os produtos do sul do Brasil, com venda de vinhos e especiarias em balcões instalados em hotéis e pousadas; o segundo homenageará mais uma vez a culinária portuguesa com um restaurante de linha rápida que servirá frango no churrasco com molho piri-piri, batata-frita e salada.

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Gualter preza por algo que na Bahia ainda falta. Para ele, o servir faz parte da perfeição

foto: Coralina Coelho

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lifestyle | ga s t ron om i a

A matéria-prima fundamental para uma autêntica receita italiana Roberto Scarpa trouxe consigo da Itália. A farinha de trigo 5 Stagioni tipo 00 não é nenhum segredo guardado no cofre do italiano, que está há 16 anos na Bahia, mas é a chave para uma massa de qualidade. Mesmo custando R$8 o quilo, ele não dispensa o uso no seu ristorante Bianco e Nero, que mantém em Morro de São Paulo após desistir do ramo de pousadas. Começou oferecendo massas e pizzas, mas em poucos anos incluiu carnes, frutos do mar e até moquecas para não ficar limitado e sujeito à sazonalidade dos turistas, clientes que dão um feedback do serviço através dos sites de guia de viagem TripAdvisor, Lonely Planet e Frommer’s. Com o negócio dando certo, Scarpa aproveitou e trouxe toda a família italiana para morar em Salvador. Agora, eles se preparam para abrir a segunda casa, a Fellini

Pizzaria e Pasta Gourmet, em Lauro de Freitas. Apesar das chateações burocráticas para abrir uma nova empresa e do custo alto dos financiamentos, com taxas mais altas do que as cobradas na Itália, ele investe recursos próprios para o público que tem apreço por produtos de qualidade. “O gosto e o mercado baiano têm evoluído a passos largos. Muitas pessoas já têm experiências fora do Brasil, e quando se experimentam algo melhor raramente se voltam atrás”, avalia. Na cozinha, abdicou do forno a lenha por questões ambientais e incorporou o sabor frango com requeijão no cardápio, uma combinação nada italiana. “Não há motivo para não agradar um gosto consolidado se respeitarmos nosso modo de fazer. A mesma coisa vale para o catchup e a maionese. Não vale a pena lutar contra, seria presunçoso e ofensivo”, reconhece. [B+]

foto: Coralina Coelho

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Perfeccionista com as massas, Roberto acredita que para um produto de qualidade nunca falta público consumidor

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lifestyle | t e c n olog i a

arte: Iuri Sarmento

O FUTURO DOS NEGÓCIOS É COMPARTILHAR Por Ingrid Queiroz

Muitas revoluções e mudanças aconteceram ao longo de muitos anos. Tivemos a revolução agrícola, a industrial e a digital e tecnológica. Cada vez mais, o ritmo das mudanças é maior e acontece de forma exponencial. Se eu te dissesse que, em um futuro muito próximo, você estará acessando a web, tirando fotos e ligando para um amigo através de óculos? Ou que, em menos de 30 anos, os carros poderão ser autônomos? Na verdade, nós já estamos inseridos em uma realidade tecnologicamente híbrida, onde extensões robóticas já fazem parte do corpo humano, como, por exemplo, o uso de próteses de braços ou outros órgãos, que podem ser impressos por impressora 3D. São ideias incríveis sobre o futuro, que nos fazem imaginar e nos questionar. Será que o relacionamento entre as pessoas poderá mudar e até ser substituído? É certo que a revolução digital e tecnológica tem trazido impactos positivos nas vidas das pessoas e pode ainda redefinir um novo conceito para as suas relações. Diferente da época da revolução industrial, quando as pessoas trabalhavam em linhas de produção, o atual cenário de mudanças tem feito o pensamento mudar. O que era linear é agora descontínuo, o previsível virou instável, o que era emprego agora é trabalho (em qualquer lugar, o que vale é bem-estar) e o que era apenas a busca por consumo, do “temos que ter” e do ‘’é meu’’, agora é a busca pela boa experiência após o aluguel, a troca ou compra de um produto (novo ou não). É nesse sentido, da relação de consumo que possui na sua

essência uma característica do individualismo ainda forte, que um movimento contrário a este consumo exacerbado, tem resgatado o sentimento de coletividade e de comunidade esquecido lá atrás. Tudo isso utilizando a tecnologia, a internet e o conceito de sociedade em rede a favor de um novo momento com maior conexão e interatividade com as pessoas. Com isso, novos estilos de vida podem ser vividos através de um modelo de negócio chamado consumo colaborativo, que tem transformado nossas vidas através da prática do compartilhamento e de geração de experiências positivas. Como exemplo, temos o Zazcar, no qual é possível alugar um carro e retirá-lo em diversos pontos da cidade. O Swap.com permite trocar itens infantis. Nos sites Catarse.me e Kickstarter , é possível levantar fundos para financiar um projeto. Então, respondendo a pergunta anterior, sim, a tecnologia irá mudar e até substituir a forma que lidaremos com as nossas relações. Porém, ela abre espaço para a troca de novas e melhores experiências com as pessoas. O consumo colaborativo é um exemplo, já que ele traz uma nova forma de pensar, de consumir e de fazer negócio para os próximos anos, contribuindo para um maior relacionamento entre as pessoas a favor de uma comunidade mais sustentável, colaborativa e menos individualista. Ingrid é sócia-diretora da DMI, agência de conteúdo e interatividade w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m

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lifestyle | s ab o r fotos: Acervo Pessoal

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fácil conhecer os trabalhos de Dito Martins. Sintonize uma rádio, ligue a TV ou ouça o som alto do vizinho, que em alguma dessas opções você, certamente, vai escutar arranjos, produções e locuções do Estúdio Elos. Entre seus produtos estão a música Celebrar, do Jammil, tema da novela Salve Jorge, além de propagandas de clientes nacionais como Brahma, C&A, Walmart, Avon, Insinuante e Coca Cola. O estúdio baiano nasceu quando Flávio Morgade convidou Dito para produzir um arranjo para um motel de Salvador, no final dos anos 90. A parceria que já dava certo na música também avançou nos negócios. Em apenas três anos, os sócios ganhavam os primeiros prêmios. Hoje ostentam títulos como o Profissionais do Ano da Rede Globo, além de terem levado todas as categorias do Bahia Recall dedicadas a produtoras de áudio. Os diferencias, Dito não esconde: “Creio que temos a sensibilidade de entender o que a agência e o cliente buscam muito rápido e entregamos o produto pronto com muita agilidade”. Ele conta que vai atender um cliente já com o violão na mão. Depois de um breve descritivo do que os clientes querem, senta em uma sala sozinho e, quando sai, já é tocando as primeiras notas da peça. “Gosto de aproveitar a ebulição de um briefing para promover a criação”. Dito também usa na cozinha essa sensibilidade. Foi por influência da avó que começou a manusear o fogão, há mais de 20 anos. Sua preferência são as massas, mas apresenta à [B+] sua receita do Bacalhau da Tita, ágil e simples de preparar. [B+] 94

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Agilidade na música

e na cozinha Bacalhau da Tita - Filé de bacalhau - Azeitonas pretas - Azeite de oliva - Cebola - Batatas Modo de preparo Coloque o bacalhau dessalgado em uma travessa, regue com bastante azeite, azeitonas pretas, cebola, batatas e leve ao forno coberto por papel alumínio por aproximadamente 20 minutos. Retire o alumínio e polvilhe uma mistura de parmesão e salsa sobre as batatas. Retorne ao forno para gratinar. Como servir “Com torradas e um bom vinho”. Como servir Coloque o bacalhau em uma travessa branca com rodelas de limão siciliano, salsa e pimentas dedo-de-moça.


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arte & entretenimento | a ud iovisua l foto: REC Filmes

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Empreendedores 2.0 por Carolina Coelho

Um sopro de renovação, criatividade e experimento. Muito se fala do olhar jovem, mas o que seria essa linguagem transformada em negócios? Atraídos pelo mercado audiovisual, baianos mostram sua versão para o empreendedorismo dos vinte e poucos anos

Apostas musicais [Nome] Rec Filmes [Empresários] David, Jimmy e Bruno [Atuação] Videoclipe

A paixão pela música juntou os jovens baianos David Campbell, 25 anos, Victor Jimmy, 22, e Bruno Brito, 26, não para montar uma banda, e sim para abrir uma empresa especializada em videoclipes. Os três já trabalhavam juntos para uma produtora, mas sentiram a necessidade por sair do quadrado em busca por uma linguagem mais jovial. Assim nasceu a Rec Filmes, que, apesar de ter apenas um ano de fundada, já fez vídeos para as banda Eva, Duas Medidas, Filhos de Jorge e Psirico. A lista de clientes também reúne artistas ainda nem tão famosos no mainstream, mas que o trio aposta por acreditar no potencial e na possibilidade de crescimento coletivo rumo ao sucesso. “Alguns trabalhos pagam apenas os custos. A gente aposta no escuro, sem saber no que vai dar. Mas 96

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acreditamos que, quando o trabalho é feito de peito aberto, as consequências positivas tendem a acontecer”, diz David Campbell. Este tipo de investimento rendeu a produção de um DVD documental de Ju Moraes, finalista da primeira temporada do programa The Voice Brasil, após a própria cantora ter visto o portfólio on-line dos garotos. Com um tino para o que é moderno, os jovens buscam referências na estética do hip hop americano e nos tempos de corte dos curtas-metragens internacionais e adaptam para o que se encaixa ao gosto baiano. “Nosso segredo é que pensamos as cenas de acordo com a dinâmica da musica, assim o clipe fica mais envolvente, mais interessante de se assistir”, completa David.


fotos: Senhoritas Fotografia

Histórias de parto [Nome] Senhoritas Fotografia [Empresários] Ives Padilha e Ludy Siqueira [Atuação] Fotografia na hora do parto

A primeira fotografia da pequena Júlia é precoce. Enquanto a mãe se concentra no trabalho de parto e a recém-nascida respira pela primeira vez com seus próprios pulmões, dois jovens fotógrafos dão luz aos momentos registrados através de suas máquinas fotográficas. O estilo conhecido por fotografia de nascimento fez os baianos Ives Padilha e Ludy Siqueira, de 27 e 25 anos, montarem, há um ano, a empresa Senhoritas Fotografia para entrar em salas cirúrgicas e capturar as emoções de um parto. O olhar acompanha desde a entrada da grávida no hospital até a volta do neném para amamentação, com pausa para a babação dos familiares, processo que pode levar até mais de dez horas. “Parto é uma coisa incerta. Apesar de a maioria ser cesárea, não tem hora para acabar”, diz Siqueira. Geralmente anestesiadas, as mamães podem reviver tudo e se emocionam novamente ao verem o álbum, dessa vez mais lúcidas. Por ser um serviço um tanto quanto inovador, a dupla ainda precisa vencer a burocracia dos hospitais para conseguir permissão. Mas, apesar dos riscos de estarem em um ambiente hospitalar, não abrem mão de chorar um pouco em meio a tamanha comoção.

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De repente fotografia [Nome] 1.2 Imagem [Empresários] Igor Neves e Raoni Libório [Atuação] Fotografia de casamento, shows e mercado corporativo

Raoni Libório, 27 anos, caiu de paraquedas na fotografia. Insatisfeito com o mercado do curso de turismo, comprou uma máquina fotográfica e começou a trabalhar como freelancer ao lado de fotógrafos profissionais, o que lhe permitiu a liberdade de errar até encontrar sua própria técnica. Esse foi o primeiro passo para a abertura da sua empresa, a 1.2 Imagem, que viria três anos depois. No meio tempo, o jovem viajou para o Canadá para estudar a arte fotográfica e voltou com todo gás para empreender. Definiu nichos de mercado – casamento, corporativo e shows –, chamou mais um amigo fotógrafo, Igor Neves, 26 anos para ser sócio e se dedicou ao networking. Um trabalho abriu portas para o outro, e foi assim que ele conseguiu 98

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conquistar os olhares de grandes marcas como SBT, Multishow e Portal Terra, além de cantores como Margareth Menezes e Tuca Fernandes. “Fotografia é um investimento caro. Além do equipamento, é preciso estar sempre fazendo workshops e estudando para renovar o olhar”, diz Libório, que, para não ter mais uma despesa fixa, opta por reuniões em cafés em vez de manter um escritório. O bom portfólio garante a credibilidade, mas não é o suficiente para prospectar novos clientes. Para isso, investe no marketing on-line e nas parcerias com empresas do ramo, como bufês, assessorias e sites especializados, que o indicam a novos trabalhos. [B+]


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Comprando arte,

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inovação Galerias de arte na Bahia investem em estratégias para aproveitar a procura de investidores e fomentar de vez o mercado no Nordeste por Carol Vidal e Pedro Hijo foto rômulo portela

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mercado brasileiro de arte está em expansão, crescendo, inclusive, acima da média internacional. Em 2012, por exemplo, as galerias apresentaram média de 22,5% de crescimento, de acordo com o estudo do projeto Latitude, que abrange um universo de 44 galerias em diferentes lugares do país. Mas, depois do pico de crescimento, a tendência é que haja uma estabilização, e aí são necessárias estratégias para manter o mercado aquecido. A Bahia segue a tendência do país: diversas galerias buscam mecanismos para atrair investidores e incentivar a difusão de novos artistas. Espaço para inovar Aproveitando a solidez do mercado de arte contemporânea no Brasil, o casal Roberto e Cristina inaugurou, em abril de 2013, uma nova sede da galeria Roberto Alban com o objetivo de difundir a produção de artistas nesse mercado. Para conseguir receber exposições e instalações de diversos artistas nacionais e internacionais, o casal investiu no tamanho do espaço: 1.500 metros quadrados distribuídos em três pavimentos. A galeria, uma das maiores do país, reúne 100

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“Nosso objetivo é proporcionar espaço e visibilidade para arte contemporânea para que haja troca, circulação e produção de arte para além do eixo Sul/Sudeste” Cristina Alban novos e consagrados artistas, representando, inclusive, alguns artistas baianos com exclusividade no estado. “Nosso objetivo é proporcionar espaço e visibilidade para arte contemporânea, promovendo intercâmbio entre os artistas, curadores, críticos e colecionadores para que haja troca, circulação e produção de arte para além do eixo Sul/ Sudeste”, diz Cristina Alban. Para manter o interesse dos baianos em arte, a galeria tem mantido uma programação intensa de exposições, além de investir também em informativos sobre o tema. São realizados encontros com pequenos grupos não só de colecionadores, mas também de arquitetos. Além disso, os sócios são envolvidos com o que está acontecendo internacionalmente, para inserir a Bahia no circuito de arte contemporânea.


Crítica ao mercado Faz 27 anos que Veranice Gornik está à frente da Prova do Artista. Desde então, ela já presenciou todas as subidas e descidas do mercado e, atualmente, tem experiência para avaliar que as mudanças no consumo deste segmento vão muito além dos esforços dos galeristas. Segundo Gornik, novos clientes poderiam ser formados caso existisse vontade política para aumentar a divulgação dos espaços públicos voltados para a arte, como museus, por exemplo. “Atualmente, as pessoas valorizam mais um lustre do que um objeto de arte. Só que o lustre tem uma produção em série e a obra de arte é única. Valoriza-se muito mais o que se pode mostrar exteriormente. A nova abordagem de mercado para o jovem precisa ser trabalhada”, opina. Veranice acredita que a Bahia empobreceu-se culturalmente, o que influencia nos negócios de arte. “São Paulo traz grandes nomes internacionais, e tem público, a ponto de pessoas abrirem galerias por 24 horas. Infelizmente, não vemos isso na Bahia. Ao contrário, a dinamização vem se perdendo”. Atendimento diferenciado Se o mundo mudou, o mercado acompanha. Atualmente não basta mais deixar o quadro exposto para que o cliente venha até a galeria. Atendimento é palavra de ordem para Fábio Pena Cal, proprietário de uma galeria em Salvador que leva seu nome. Fábio conta com Corretora de Arte.com, uma ferramenta inédita no Brasil, na qual o vendedor e o comprador negociam suas obras em um ambiente web com todo acompanhamento feito pelos corretores da galeria. Inovar deste modo proporciona uma maior dinâmica ao mercado, segundo Fábio. “E ainda é possível a constituição de informação de mercado aberta para consulta, a partir de cada obra que é negociada pela corretora”, explica. Mesmo com um mercado em expansão, Fábio argumenta que o grande desafio das galerias é se firmar como referência, especialmente por esse trabalho ser desenvolvido em longo prazo. [B+]

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Espaços internos das galerias Fábio Pena Cal (acima) e Prova do Artista (abaixo)

“Precisamos inovar na forma de chegar ao cliente e encontrar os novos investidores” Fábio Pena Cal

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Enquanto você se diverte, ela trabalha Empresária e produtora cultural, Irá Carvalho revela que o segredo para o sucesso profissional é dominar o negócio

por Carlene Fontoura foto rômulo portela

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sorriso no rosto não nega. Com trajetória de 30 anos e mais de 50 shows no currículo, a produtora Irá Carvalho vive boa fase à frente da Íris Produções, empresa responsável pela vinda para terras baianas de grandes nomes da música nacional, como Titãs e Djavan. Ao longo do caminho, as dores e delícias foram muitas. Irá alega que atuar no mercado há tantos anos não garante o sucesso das suas produções, já que lida sempre com imprevistos, como público abaixo do esperado e mudanças climáticas. “Se chove no dia de um show ao ar livre, o evento pode ser cancelado ou não dar o lucro planejado”. Foi o que aconteceu no show de Lulu Santos, em 2012. Marcado para maio, o evento foi transferido para o mês seguinte, sendo que a equipe do cantor já estava em Salvador. “Com a alteração, as vendas perderam força e tivemos que arcar com custos de passagens aéreas, hospedagem, divulgação”, explica. Outro desafio é driblar a concorrência no setor. Irá conta que a dica para sair na frente é estudar o cenário. “Tenho que estar antenada, pois os artistas de hoje não são os mesmos de décadas atrás e nem fazem o mesmo som”. Se organizar também é um ponto importante. “Não vou marcar um evento de forró num sábado se outro produtor já reservou o domingo para shows de arrocha. São dois estilos que agradam o público, mas as pessoas não têm dinheiro para investir em ambos”, explica. Irá ainda revela o segredo de seu trabalho: “Um profissional deve dominar seu negócio e fazer com que os projetos superem as expectativas e tenham boa visibilidade para o público pagante”. [B+] 102

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COMO DRIBLAR A CONCORRÊNCIA “Estudo o cenário musical e selo parcerias. Tem artistas que só fazem show em Salvador se eu convidar.”

A MAIOR DIFICULDADE ATÉ HOJE “Escalei a banda Raimundos para o Rock Concha deste ano. Pouco antes de entrarem no palco, eles perderam o voo e mandei um jatinho para buscá-los. Consegui manter a plateia e conversei com a equipe da Concha para segurar o evento. Quando a banda chegou, foi só emoção. Mais de duas mil pessoas cantando numa só voz!” DICA PARA QUEM QUER SER PRODUTOR CULTURALNA BAHIA “Planejamento é a palavra-chave para um produtor cultural. É isso que vai garantir parcerias e evitar riscos.”

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arte & entretenimento | d a nça

LUZES NA IMAGINAÇÃO

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inspiração vem dos musicais da Broadway e a plasticidade, do Cirque Du Soleil, mas a produção é toda baiana. Ticiana Amorim, com seus 23 anos, apostou em um espetáculo diferente para os padrões locais e criou o The Amazon. Reuniu 35 bailarinos e contou com investimento de R$450 mil. O resultado é atração vista por mais de 2.700 espectadores em apenas dois dias de exibição no Teatro Castro Alves. Ticiana conta que o espetáculo foi gestado por oito meses e inspirado nos grandes shows que viajam o mundo. “Por que musicais como os da Broadway e Cirque Du Soleil atraem tanta gente? Porque conversam com as pessoas! Encontrar essa resposta foi minha motivação para tornar o The Amazon um produto cultural atrativo e compreensível”. Junto com os coreógrafos André de Amorim, 28, e Filipe Monte Verde, 25, Ticiana levou para o palco o tema da sustentabilidade, mesclando diferentes estilos de dança - hip hop, jazz contemporâneo e

“Por que espetáculos da Broadway e Cirque du Soleil atraem tanta gente? Porque conversam com as pessoas!” Ticiana Amorim

O sonho de jovens baianos de criar um espetáculo de classe internacional em palcos locais é realizado, espalhando inovação no cenário das artes por Carlene Fontoura

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afro - e elementos cenográficos, como cordas indianas, malabares, tecidos e arcos, além de projeção 3D. “Fiquei encantada com a dedicação da equipe para que adotássemos a causa do espetáculo”, aponta a bailarina Andreza Bastos do corpo de dança do show. Por ser iniciante na produção de eventos, a organizadora contou com uma equipe formada por profissionais experientes no mercado. “Essa foi a solução adotada para ter credibilidade perante o público e as empresas”, destaca Ticiana. A jovem também explica que a estratégia do projeto era transformá-lo em um negócio para o investidor, o que explica o fato de ainda não ter gerado lucro, já que a renda conseguida foi usada para custear o investimento feito. “Conseguimos recursos para o The Amazon e eu o transformei em produto. Apresento-o para as empresas e angario patrocínios para ressarcir o investimento inicial. Feito isso, o que gerar depois será lucro”, explica. O espetáculo agora parte para uma mini turnê, entre julho e setembro de 2014, por sete cidades Recife, Fortaleza, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba -, além de Salvador. “Buscaremos patrocínios por meio do Faz Cultura. Já recebemos sinalizações de algumas empresas”, revela a jovem. [B+]

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aplau sos GASTRONOMIA, ARTE E CULTURA A vila de pescadores que sediou a primeira fazenda de gado do país teve novamente as carnes no centro das atenções. A oitava edição do Festival Tempero no Forte foi realizada na Praia do Forte, de 28 de novembro a 8 de dezembro, em paralelo ao quinto Festival de Arte e Cultura. Tereza Paim, chef anfitriã e curadora do evento, e Djanira Dias, da 2D Promoções e Eventos, são as organizadoras do festival desde a primeira edição. O tema carnes foi o ingrediente principal de todos os pratos do evento, que teve a participação de 23 restaurantes e de cerca de 30 chefs de cozinha e cozinheiros, vindos de outros estados, de Salvador, da Praia do Forte e, pela primeira vez, de outros restaurantes localizados no Litoral Norte. Este ano, o festival extrapolou fronteiras e agregou os restaurantes Mar Aberto, de Arembepe, Manguezal Eco Turismo, da Barra de Pojuca, e Mistura da Dinha, de Açuzinho. “Esse crescimento é uma tendência natural do Tempero no Forte, que também já se tornou um evento turístico e atrai gente de toda a parte”, comemora Djanira Dias. Tereza Paim, também reitera a importância do evento como incentivador da qualidade que hoje é observada na atuação dos restaurantes de Praia do Forte durante o ano inteiro. “O Tempero no Forte mudou o pensamento do destino. Pessoas buscam experiências novas que tragam bemestar e já se sabe que 25% do motivo de escolha de um destino é a gastronomia. A comida ativa e deixa memórias. E hoje, na Praia do Forte, já há uma enorme consciência dessa importância. O festival motivou a capacitação de funcionários, cozinheiros e também dos donos dos restaurantes”, exemplifica. No dia 30 de novembro, foram lançado dos livros que causaram frisson. O blogueiro Alessander Guerra, do blog Cuecas na Cozinha, fez o lançamento nacional do livro Sex and the kitchen - O sexo e a cozinha, e o pernambucano Guga Rocha, um dos chefs convidados, lançou o livro Receitas para pegar mulher.

foto: Divulgação

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TCA é tombado pelo Iphan O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília, aprovou definitivamente o tombamento do Teatro Castro Alves, que passa agora a ser considerado patrimônio nacional. O TCA torna-se, com esta decisão, o primeiro patrimônio da arquitetura moderna tombado na Bahia e entra em uma lista que tem a Igreja de São Francisco de Assis da Pampulha, em Belo Horizonte (obra de Oscar Niemeyer), o prédio do Ministério da Educação e Saúde Pública, atual Palácio Capanema, e o Parque do Flamengo, ambos no Rio de Janeiro, entre outros monumentos históricos. “Diferente do que muitas pessoas pensam, o tombamento não impede as intervenções e melhorias no bem tombado, não o imobiliza. Ele é um passo fundamental, pois simboliza o reconhecimento do TCA como um complexo cultural vivo”, destaca Moacyr Gramacho, diretor do TCA. foto: Divulgação

Comquest

OSBA PARTICIPA DA ÓPERA PAGLIACCI Depois do sucesso da ópera Carmen, de Georges Bizet, apresentada no ano passado, a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) voltou a atuar em mais uma produção de ópera, junto com a Associação Lírica da Bahia, que desta vez apresentaram ao público a montagem, inédita em Salvador, da famosa Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo. O projeto contou com a regência do maestro José Maurício Brandão, direção artística do mineiro Francisco Mayrink e direção de cena de Elisa Mendes.


conte aí

arte: Iuri Sarmento

O diabo com aquele rabo chifrudo Por Manduca

No ano de 1957, eu havia recebido a incumbência de, junto com as minhas atividades de extensão rural, divulgar a disponibilidade dos financiamentos do Banco do Nordeste para pequenos agricultores. Porém algum sacripanta inventou de dizer que aquilo era coisa de comunistas! O que o banco queria, na verdade, era tomar as terras do povo! Ora, veja se tem cabimento... O medo do comunismo e dos comedores de criancinhas (no sentido figurativo, claro!) fazia com que a minha atividade fosse temerosa aos participantes. Ninguém comparecia às palestras que eu marcava. Era desanimador. No distrito de Tracupá, as atividades eram solitárias. Ninguém queria ouvir falar do Banco do Nordeste ou dos seus financiamentos. Desolado e pensando sobre o que fazer, queixei-me ao padre Giuseppe Roccio, um italiano muito simpático e meio desparafusado, que era pároco de uma cidade próxima. Prestativo, prometeu me ajudar imediatamente e da melhor maneira possível. 106

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E como foi convincente a ajuda que recebi! Veio direto dos quintos do inferno, com ordens celestiais. Em uma missa, em plena homilia, o prestimoso vigário falou sobre o encontro e a minha palestra no pátio da escolinha rural do vilarejo. Disse que era importante. Que eu e o banco estávamos bem intencionados. Falou que era bobagem o que diziam sobre a tomada das propriedades e o comunismo meu e do banco. E foi além! Para reforçar o convite a minha palestra, o padre afirmou com grande eloquência: - E quem não for verá o diabo, ele próprio e em pessoa, furar com seu rabo chifrudo a bunda dos ausentes! Oxe! No dia da apresentação, faltou lugar no pátio da escola! Nada como um bom e diabólico argumento para incentivar qualquer um. “O caso foi narrado por Armandinho Carneiro da Rocha, meu tio Manduca, enquanto se despedia para novas e celestiais aventuras. Eu registrei e dei fé!” Adriano Leal Bruni, professor titular da Universidade Federal da Bahia.


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