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S U M Á R IO
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ANTÔNIO CARAMELO Família, religião, literatura, trabalho, manias, arte e envelhecimento. Um dos arquitetos mais ativos da Bahia, Caramelo abriu as portas de seu mais novo escritório em Salvador, conversou sobre a profissão e revelou o que pensa.
IMÓVEIS+
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EXPERIÊNCIAS
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O mercado privado de saúde investe alto. Esse volume cresce, ao longo dos anos, com a expansão de empresários baianos, tanto na capital como no interior, e com a chegada de novos players nacionais ao estado. Ao mesmo tempo, surgem novas oportunidades e ampliam-se também os desafios do setor.
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NEGÓCIOS 27 EMPREENDEDORISMO 36 Raimundo Lima conta sua história, demonstrando que investir no social proporciona resultados positivos também para os negócios.
STARTUP 28 Um movimento de startups em Salvador INDÚSTRIA NAVAL 30 Novo estaleiro deve alavancar o desenvolvimento COMÉRCIO 40 O que é tendência em shopping center [C] LUIZ MARQUES 44 | [C] ANTONIE TAWIL 46
SUSTENTABILIDADE 47 PRO BEM 48 Especialistas buscam encontrar a melhor forma para avaliar o progresso de uma nação, estado ou sociedade. Você sabe como eles medem a sua felicidade?
SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS 52 Mantenha-se bem sobre duas rodas RIO+20 PAG 54 Pituaçu agora com energia solar [C] ISAAC EDINGTON 58
LIFESTYLE 71 DECORAÇÃO 72 Tendências do setor e mostras que prometem surpreender com moda, cultura e engajamento social.
SAÚDE 78 Coma bem em casa ou fora dela MERCADO 82 O terceiro ato da vida PLANO+ 86 Jack London reflete sobre as etapas da vida VIAGEM 88 | SABOR 90 | VARIEDADE 92 | NOTAS DE TEC 94
ARTE & ENTRETENIMENTO 95 TEATRO 96 Jackson Costa e outros artistas baianos contam como fazem para gerir a carreira com sucesso.
MÚSICA 102 O samba de Alaor CINEMA 104 Os diretores de “Depois da Chuva” APLAUSOS 105 | [C] CRIS OLIVIERI 106 | [C] MARCO PELLEGATTI 44
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EDITORA SOPA DE LETRAS E GRUPO PEREIRA DE SOUZA
Personalidade é uma propriedade inerente ao empreendedor. É o atributo que faz a diferença nos negócios, na equipe, e marca a sociedade de alguma maneira. Nesta edição 14 da Revista [B+], conhecemos verdadeiros personagens que fazem de seus trabalhos instrumentos para tornar realidade, se não tudo, pelo menos boa parte do que pensam e acreditam. Antônio Caramelo é um deles. O arquiteto é um dos destaques do ramo ao projetar, ao longo dos últimos anos, alguns dos principais empreendimentos na capital baiana. Em visita ao seu escritório, vimos que a personalidade desse homem vai, sim, além dos pequenos óculos e da tradicional roupa branca. Caramelo nos conta detalhes do que pensa sobre arquitetura, família, religião, sucesso, a respeito da cidade de Salvador, e realça, sob seu ponto de vista, a importância da observação. Do outro lado do Atlântico, o baiano Raimundo Lima conquista o povo angolano e faz crescer o Grupo Aldeia ao apostar na responsabilidade social e no desenvolvimento do país africano – reflexos do que traz de sua história e personalidade. Já do lado de cá, a atitude e o empreendedorismo de médicos fazem expandir o mercado privado de saúde, apesar dos grandes desafios no setor.
Os quatro pilares O conteúdo da Revista [B+] é sustentado em quatro pilares com temas que contribuem para o desenvolvimento da economia baiana: Negócios, Sustentabilidade, Lifestyle e Arte & Entretenimento. Nesta edição, você também conhece o movimento que reúne experiências de startups baianas, entende melhor qual é o cenário da indústria naval no estado, fica sabendo o que aconteceu de mais importante na Rio+20 e o que está sendo discutido nos debates sobre o valor do progresso em nossa sociedade. O número também traz informações importantes sobre o crescimento do mercado da terceira idade e ensina onde comer de forma saudável em Salvador. E se quiser saber como atores e diretores mantêm o teatro vivo no estado e sobrevivem sem precisar se mudar para o eixo Rio-São Paulo... Boa leitura. A Redação. 6
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Desde o dia 1º de agosto, a Revista [B+] faz parte dos veículos de comunicação representados comercialmente pelo Grupo Pereira de Souza, uma das mais conceituadas empresas de representação do Brasil. A parceira amplia, para todo o país, a área de atuação comercial da [B+]. “Fazer parte desse grupo, é um reconhecimento à qualidade do conteúdo e importância deste veículo para os negócios no estado”, afirma Claudio Vinagre, diretor-executivo da revista. Para Roberval Luania, diretor da Pereira de Souza, essa parceira é uma confirmação do interesse nacional pelo conteúdo de qualidade da publicação e dos assuntos sobre negócios e economia da região. “Para o Grupo Pereira de Souza, representar a Revista [B+] significa mostrar aos maiores anunciantes do Brasil este excelente veículo de comunicação, que se consolida, a cada dia, na Bahia e no Nordeste”, afirma Roberval.
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E X P ED IENTE Conselho Editorial César Souza, Cristiane Olivieri, Fábio Góis, Geraldo Machado, Ines Carvalho, Isaac Edington, Jack London, Jorge Portugal, José Carlos Barcellos, José Roberto Mussnich, Luiz Marques Filho, Maurício Magalhães, Marcos Dvoskin, Reginaldo Souza Santos, Rubem Passos Segundo e Sérgio Nogueira Conselho Institucional Aldo Ramon (Júnior Achievement) Antônio Coradinho (Câmara Portuguesa) Antoine Tawil (FCDL) Jorge Cajazeira (Sindipacel) José Manoel Garrido Gambese Filho (ABIH-BA) Mário Bruni (ADVB) Mauricio Castro (Fieb) Paulo Coelho (Sinapro) Pedro Dourado (ABMP) Renato Tourinho (Abap) Wilson Andrade (Abaf) Diretor Executivo Claudio Vinagre claudio.vinagre@revistabmais.com Editor Chefe Fábio Góis fabio.gois@revistabmais.com Repórteres Brisa Dultra, Carolina Coelho e Murilo Gitel
Projeto Gráfico e Diagramação Person Design Fotografia Stúdio Rômulo Portela Revisão Raul Rodrigues Colaboradores Agnes Cajaíba, Alice Britto, Ana Paula Paixão, Andréa Castro, Danilo Lima, Davidson Botelho, Débora Castelo Branco, Emanuelle Xisto, Felipe Arcoverde, Gina Reis, Ives Padilha, Jack London, Lilian Mota, Luiz Talis Speggiorin, Marcos Maciel, Milena Miranda, Raíza Tourinho, Rogério Borges, Uilma Carvalho, Yasmin Queiroz, Yuri Rosat Colunistas Antonie Tawil, Cristiane Olivieri, Isaac Edington, Luiz Marques Filho, Núbia Cristina Portal Enigma.net
iPad uTochLabs www.revistabmais.com/ipad
Itamara Morais itamara.morais@revistabmais.com Walter Monteiro walter.monteiro@revistabmais.com
Tiragem: 10 mil exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Grasb Capa impressa em papel Couché Suzano® Gloss 170g/ m2 e miolo impresso em papel Couché Suzano® Gloss, 95g/m2, da Suzano Papel e Celulose, produzidos a partir de florestas renováveis de eucalipto. Cada árvore utilizada foi plantada para este fim.
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Redação [B+] redacao@revistabmais.com www.revistabmais.com Publicidade publicidade@revistabmais.com Cidinha Collet - gerente comercial cidinha.collet@revistabmais.com
A cada edição, uma nova equipe é convidada para produzir a capa da Revista [B+]. Uma iniciativa que visa dar destaque aos profissionais do nosso mercado.
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CNPJ 13.805.573/0001-34
Assessoria de Imprensa Frente & Verso Comunicação Integrada
A edição 14 traz na capa a produção do escritório Person Design. Agradecemos a Ana Paula Paixão (diretora de atendimento), Livia Fauaze (executiva de atendimento), Felipe Arcoverde (diretor de design), Júlia Amoroso (estágiaria em design) e Cátia Martins (diretora de marketing). Fotos do Stúdio Rômulo Portela.
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Realização Editora Sopa de Letras Ltda.
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SALVADOR 71 3012-7477 Av. ACM,2671, Ed. Bahia Center, sala 1102, Loteamento Cidadela, Brotas CEP: 40.280-000 SÃO PAULO 11 3438-4473 Rua José Maria Lisboa. 860/83 CEP: 01.423-001
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ON -LIN E E M U RA L
O que os leitores falaram da edição 13
[+] NO SITE www.revistabmais.com
A produção musical “artesanal” baiana está sendo mais difundida nos últimos tempos, muito por conta de movimentos como os citados na reportagem “MPB com H”, além do Facom Som, do Música no Parque, dentre outras festinhas underground que rolam por aí. Salve a música baiana. Saulo Miguez - via Facebook FOTO: Eduardo Pelosi/Setur
FOTO: Rômulo Portela
MPB com H Belíssimo, Lílian Mota. Ler seu artigo me fez relembrar o Jam no MAM. Tudo de bom. Francisca Costa - via Facebook Identidade dentro da fotografia Pra quem só sonha, ainda, em ter talento pra essa arte, essa entrevista é um grande estímulo para ir fundo e fazer o sonho acontecer. Camila Andrade - no site da [B+] De onde vêm os jovens talentos E pensar que já fui diretora dessa Empresa Júnior… Foi uma experiência maravilhosa! Continuem a trilhar esse caminho. Perla Mf M: no site da [B+]
[+] Na matéria de capa com o estrelado Antonio Caramelo, você encontra opiniões do arquiteto sobre diversos temas, como religião, família e rotina produtiva. Para quem ficar curioso, no site listamos os grandes empreendimentos que marcaram a sua carreira. [+] Na reportagem o Terceiro Ato da Vida, você confere os principais serviços oferecidos em Salvador para a terceira idade. No site, um conteúdo exclusivo, com fotos e histórias de idosos que continuam ativos, complementa a reportagem sobre o mercado soteropolitano. [+] Ouça os sambas-enredo do CD Lira Imperial do Samba, de Alaor Macedo, dando voz a composições antigas da cidade, que embalavam os desfiles das escolas nas décadas de 60 e 70.
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Z O O M+ FOTO: Alberto Coutinho/Secom-BA
Grandes empresas no Brasil já realizam há anos programas de prevenção, que alertam sobre os riscos do consumo de álcool, tabaco e outras drogas
O ETERNO DESÂNIMO DAS SEGUNDAS-FEIRAS O espantoso crescimento do consumo de drogas no Brasil traz à tona uma série de dúvidas enfrentadas pelos empregadores na relação de trabalho com um dependente químico. O tema, ainda considerado tabu, tem sua importância ofuscada pelo preconceito e falta de informação. Este debate envolve aspectos não só trabalhistas, mas também médicos, sociais e até políticos por ALICE BRITTO
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dependência química é atualmente um dos mais sérios problemas de ordem biopsicossocial, ao afetar homens e mulheres de todas as idades, não importando o nível socioeconômico ou intelectual. Estima-se hoje que 20% ou mais de uma população são portadores da dependência química e, segundo dados revelados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 70% das pessoas que fazem uso abusivo de bebidas alcoólicas e 63% das pessoas que fazem uso de drogas estão empregadas no mercado formal, diferente do que muita gente julga. A produtividade do dependente químico no ambiente de trabalho é até 30% menor do que a do funcionário comum. O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, PhD em dependência química pela Universidade de Londres, alerta: “Os principais parâmetros são as faltas, principalmente na segunda-feira e nos dias após os pagamentos, queda de produtividade e acidentes de trabalho”. A psiquiatra baiana Grace Lopes aponta outros indícios: “Mudanças de comportamento, atrasos, faltas injustificadas, empréstimos, dívidas”. O risco de acidentes de trabalho entre os usuários de drogas também é cinco vezes mais elevado, em torno de 65% dos registros estão relacionados à utilização de substâncias psicoativas. Entretanto, a queda na produtividade e a falta de motivação nem sempre
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são por esse motivo. Programas de prevenção e combate ao uso de drogas encontram barreiras dentro das empresas. Álcool e drogas ilícitas são mais frequentes no ambiente de trabalho do que se possa imaginar, mas seu uso muitas vezes passa despercebido. Uma das poucas pesquisas a respeito de drogas no ambiente de trabalho no país, realizada em 107 cidades do território nacional pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), registrou a dependência de álcool em 11,2% dos entrevistados. De acordo com o estudo, o segundo colocado é o tabaco, seguido pela maconha e pela cocaína. É no trabalho que o dependente químico passa a maior parte do dia e, aos poucos, as empresas passam a encarar o assunto como um problema de saúde que exige olhar médico e não punição, afinal, as empresas são responsáveis por seus trabalhadores e precisam expandir e ampliar suas ações para que tal atributo tenha efeito na sua comunidade. “No ambiente de trabalho, é importante promover palestras a respeito dos vários níveis de comprometimento com o uso das drogas e oferecer possibilidades para que os funcionários entendam de que se trata de um problema de saúde, sentindo-se à vontade para procurar ajuda. A maioria das pessoas tem uma ideia errada a respeito do assunto”, indica Grace Lopes. O álcool é a substância mais usada pelos profissionais que recebem licença por 15 dias ou mais para tratar a dependência química. Ele representa 33,2% dos 36.434 afastamentos concedidos em 2010, seguido pela cocaína, com 16,1%. Mas o ranking de auxílios-doença é liderado pela mistura de vários entorpecentes. O estresse causado pelo trabalho pode não ser o fator determinante, mas é um facilitador para a dependência química. O álcool e outras drogas funcionam como redutores da fadiga e da ansiedade, dando um novo - e perecível - estímulo ao trabalhador. Médicos e enfermeiros estão entre os profissionais com maior índice de envolvimento com substâncias químicas. Entre caminhoneiros e motoristas de ônibus, as drogas mais utilizadas são as anfetaminas. Já publicitários e jornalistas estão entre os profissionais que, à procura de estímulos constantes para produzir em locais de trabalho altamente competitivos, também podem se tornar suscetíveis ao uso de drogas.
Estão empregadas no mercado formal
70%
das pessoas que fazem uso abusivo de bebidas alcoólicas
63%
das pessoas que fazem uso de drogas FOTO: Nelson Takeyama
O psiquiatra Ronaldo Laranjeira indica as faltas, principalmente na segunda-feira e nos dias após os pagamentos, como sinais de alerta
Prevenir custa sete vezes menos do que tratar Um país que tem um exemplo eficiente no combate às drogas no ambiente de trabalho é os Estados Unidos. Como o consumo abusivo de álcool e drogas ilícitas fugiu do controle, e resultou em grandes perdas econômicas e sociais, o governo criou leis contra a dependência. Dos 50 estados americanos, 22 possuem leis obrigando corporações a manter programas permanentes de prevenção e reabilitação antidrogas. Entre elas, Caterpillar,
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FOTO: Rômulo Portela
que trabalham por áreas de atuação, relacionadas aos bairros onde residem os usuários, devendo ter acompanhamento psiquiátrico, psicológico, terapia ocupacional e oficinas terapêuticas. Em Salvador ainda dispomos do Centro de Estudos e Terapia de Abuso de Drogas (Cetad)”.
Programas de auxílio
“A dependência química vem sendo tratada como uma enfermidade. Por si só, não pode ensejar a demissão por justa causa” Marcio Bastos, advogado Shell, Esso e United Airlines adotam os testes antidrogas como procedimento obrigatório para seus funcionários, além de programas rigorosos de combate às drogas desde a década de 1980. Segundo o advogado Marcio Bastos, “o empregador que constatar que um dos seus funcionários é dependente químico poderá determinar que o funcionário realize exames periódicos. Tal direito é previsto no art. 168 da Consolidação das Lei Trabalhistas (CLT) e na Norma Regulamentadora 7 (NR-7). Caso o empregado se recuse a fazer estes exames, aí poderia se estar diante de uma dispensa por justa causa em decorrência da insubordinação, mas jamais pela dependência química.” Embora a NR-7 estabeleça a obrigatoriedade da elaboração e implementação do Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO) por parte do empregador, não há definições claras das obrigações com relação aos procedimentos para dependentes químicos. A psiquiatra Grace Lopes indica que “no Brasil, o dependente químico pode procurar tratamento gratuito, através dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), 14
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Grandes empresas começam a aderir aos programas de prevenção e auxílio-tratamento. No Brasil, temos casos como a Volkswagen, onde o índice de recuperação dos funcionários que participam do programa de prevenção e tratamento é de cerca de 60%. “Nas grandes empresas, onde esses programas existem há anos, faz-se uma prevenção constante, alertando sobre os riscos do consumo de álcool e tabaco. Essa normalmente é a ênfase nesses programas. As drogas ilícitas costumam ficar um pouco mais de lado. Nas empresas que fazem algo, busca-se fazer a identificação precoce com exames de urina ou de fio de cabelo” conta Laranjeira. Já na Avon, outra grande multinacional instalada no Brasil, a média é de 70% de sucesso no tratamento. A situação é complicada para patrão e funcionário, já que envolve conceitos de doença, além de comportamento nocivo para a imagem da empresa. Sobre a possibilidade de desligamento por justa causa, Marcio Bastos explica: “Diante da atual conjuntura social, na qual a dependência química vem sendo tratada como uma enfermidade, possibilitando, inclusive, que o dependente químico receba o benefício previdenciário do auxílio-doença, enquanto perdurar o tratamento, o simples fato de haver uma queda no rendimento do funcionário dependente químico, por si só, não pode ensejar a demissão por justa causa”. Especializado em direito trabalhista, o advogado que atua no escritório Marcio Bastos Advocacia e Consultoria completa: “Ressalte-se, ainda, que o empregador não tem como associar a dependência química com a queda de rendimento do funcionário, a qual pode ter diversos outros fatores, a exemplo de problemas familiares, amorosos, ou até a própria fadiga ou desmotivação, em decorrência da rotina do funcionário. Os tribunais brasileiros têm determinado a reintegração do empregado e condenado as empresas ao pagamento de danos morais, quando a justa causa for fundamentada tão somente na dependência química”. [B+]
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B LO C O D E N OTAS FOTO: Carla Ornelas/SecomBA
Aeroporto de Salvador será modernizado com investimentos de R$ 100 milhões Mais balcões de check-in, mais esteiras de bagagem no desembarque, torre de controle com 63 metros de altura e ampliação do estacionamento são algumas das melhorias prometidas para o Aeroporto Internacional de Salvador, que devem ficar prontas até dezembro de 2013. O projeto ainda contempla a substituição de todo o sistema eletrônico, incluindo climatização, iluminação, segurança, informação de voos, combate a incêndio e demais serviços essenciais ao bom funcionamento do aeroporto. FOTO: Carol Garcia/SecomBA
Bahia terá mais três mil empregos diretos com instalação de cervejaria A implantação, no estado, do Grupo Petrópolis, responsável pela produção das cervejas Itaipava e Crystal, foi consolidada em julho, com a assinatura de protocolo de intenções entre o governo estadual e o grupo, que atua no Sudeste do país. A cervejaria começa a operar na Bahia, no município de Alagoinhas, em maio de 2013. Serão investidos no empreendimento R$ 1,01 bilhão, ao longo de cinco anos, com a geração de três mil empregos diretos, sendo 500 na unidade industrial e 2,5 mil nas distribuidoras que estarão espalhadas pelo interior baiano.
Walter Faria, presidente do grupo Petrópolis
FOTO: Divulgação
Le Biscuit expande e chega a Simões Filho Com um investimento de R$ 1,8 milhão, a nova unidade da Le Biscuit em Simões Filho possui conceito de rua e irá gerar 30 empregos diretos. A empresa passa a ter 24 lojas distribuídas em cinco estados (Bahia, Pernambuco, Sergipe, São Paulo e Maranhão). A previsão é inaugurar mais 16 lojas em 2012, e 20 em 2013.
Bahiagás tem 2º melhor desempenho do país no setor de petróleo e gás Ação do Boticário em Salvador O Boticário, mais uma vez, trouxe para Salvador o Circuito de Beleza, ação de marketing que oferece sessões de massagem, curso de automaquiagem e diagnóstico de pele para as soteropolitanas. Realizado na última semana de julho, no Shopping Salvador, o lançamento do evento, no dia 23, contou com a participação do maquiador Fernando Torquatto. 16
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A Companhia de Gás da Bahia (Bahiagás), concessionária estadual dos serviços de distribuição de gás natural canalizado, foi considerada a segunda empresa de petróleo e gás com melhor desempenho do país, de acordo com o anuário Melhores do Brasil, da revista Brasil Econômico. A instituição ficou atrás apenas da multinacional Petrobras, mantendo-se à frente de tradicionais empresas de petróleo e gás, como CEG, Repsol, Gasmig, Manati, CEG Rio, Compagas e SC Gás.
Feira de produtos para o setor hoteleiro A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA) realiza a BahiaHotelBizz, nos dias 23 e 24 de agosto, no Centro de Convenções da Bahia. Durante o evento, será realizado um seminário e a feira de produtos e serviços para o setor hoteleiro. O objetivo é gerar oportunidades de negócios e fornecer informações atualizadas para empresários e gerentes de empreendimentos hoteleiros. A BahiaHotelBizz acontece em paralelo ao quinto Encontro de Turismo da Bahia (Entur/BA). O estado possui, atualmente, mais de 3.500 meios de hospedagem, 74 mil unidades habitacionais e 200 mil leitos. “A projeção para o ano 2020 é de que o estado tenha ainda mais 30 mil unidades habitacionais”, afirma o presidente da ABIH-BA, José Manoel Garrido.
FOTO: Felipe Oliveira
Inscrições abertas para o Prêmio TOP de Marketing A estratégia está em todos os lugares. Nas grandes, médias e pequenas empresas. Está na super-rede de fast food e também na lanchonete da beira de estrada. Não importa o tamanho do negócio, a estratégia é fundamental, imprescindível para se diferenciar do concorrente e conquistar o mercado e o consumidor. E para premiar as ações de marketing mais eficazes e diferenciadas, já estão abertas as inscrições da próxima edição do Prêmio TOP de Marketing da Bahia, realizado pela Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), que será realizado em novembro. “O TOP de Marketing é uma excelente oportunidade para o setor produtivo apresentar suas melhores práticas e realizar um grande intercâmbio de estratégias, produtos e serviços oferecidos na Bahia, desenvolvendo o mercado”, afirma o presidente da ADVB, Rubem Passos. Para João Gomes, diretor de relações institucionais da Rede Bahia, um case bem sucedido independe do setor: “Ele estimula os profissionais de todo o mercado a entender que boas práticas e boas ideias, firmadas em um trabalho estruturado e focado, geram resultado, geram valor. E isto é o que todos os profissionais buscam”. Pra fazer parte dessa iniciativa, é necessário ligar para a ADVB-BA (3018-6663) ou consultar mais informações no site www.advb-ba.com.br.
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APO IO INST IT U CIO NAL
Uma ação diferenciada de relacionamento com clientes O Check in Salvador Shopping é um programa de fidelidade integrado às redes sociais, disponível desde o dia 20 de julho. A campanha é assinada pela agência Morya, que desenvolveu as peças de comunicação que explicam o programa. A ação permite que os clientes sejam contemplados com promoções das lojas do shopping, sinalizadas nas vitrines através de um QR Code. Ao passar por uma loja que esteja participando da iniciativa, é possível fazer o check in com o smartphone cadastrado. A cada check in realizado, o cliente ficará informado dos benefícios e vantagens. No site www.checkinsalvadorshopping.com.br é possível encontrar mais informações.
Cezaltina Lélis assume núcleo de Eleições da Frente & Verso Fonte de informação disputada pela mídia baiana, Cezaltina Lélis elegeu a Frente & Verso Comunicação Integrada para lançar sua nova trajetória profissional. Depois de quase três décadas de atuação no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE), a jornalista, que instituiu a assessoria de imprensa no órgão, assume o núcleo de Eleições da agência. “Aposentei-me no início deste ano e nem tive tempo de pensar em descansar. Estou recebendo muitos convites para palestras, consultorias”, comemora a jornalista que não titubeou ao receber o convite da Frente & Verso. Ela assume a coordenação dos novos projetos de consultoria em propaganda eleitoral e curso de oratória política.
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Tempo de Olimpíadas No ensejo das férias escolares, o Shopping Piedade promoveu as “Olimpíadas Virtuais” para proporcionar muita diversão à criançada. A ação foi divulgada pela Engenhonovo, que criou uma campanha com cores alegres, mascotes infantis e temas esportivos, bem no clima das Olimpíadas de Londres. A campanha foi veiculada em outdoor, busdoor e material de PDV.
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I M ÓV EIS + Mondial Salvador As incorporadoras Helbor Empreendimentos S.A. e Setin Empreendimentos Imobiliários apostam no sucesso do Mondial Salvador. Localizado na Alceu Amoroso Lima, em frente ao Salvador Shopping, o complexo imobiliário reúne salas comerciais, apart-hotel com serviços exclusivos e terá um Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 150 milhões. O projeto inclui duas torres com acessos independentes, totalizando 200 unidades. O apart-hotel será o primeiro do país a ter a marca Adagio City, do grupo Accor, que compreende um novo conceito em hospedagem para estadas prolongadas. Os apartamentos terão de 44 a 120 m2, com uma ou duas suítes e a opção de três quartos nos apartamentos duplex. As salas comerciais terão metragens de 29 a 356 m2 e podem atender a vários tipos de negócios. A comercialização das unidades é de responsabilidade exclusiva da Brasil Brokers Brito & Amoedo.
POR NÚBIA CRISTINA
Nova fábrica da Festcor Tintas Ainda em 2012 serão iniciadas as obras para a construção da nova Festcor, fábrica de tintas genuinamente baiana, que cresce mais de 30% ao ano. “A perspectiva é que a primeira etapa do projeto seja concluída em 2014 e aproveite o cenário propício da Copa do Mundo”, afirma a diretora executiva Arlene Vilpert. Localizada no Centro Industrial de Aratu, a Fest-cor produz mensalmente meio milhão de litros de tinta, gerando cerca de 70 empregos diretos e indiretos. Com a conclusão da primeira etapa, a marca vai dobrar a produção, multiplicar os postos de trabalho e ampliar a carteira de clientes em outros estados do Nordeste.
Vedacit do Nordeste
FOTO: Divulgação
Empresa socialmente responsável, a Vedacit/Otto Baumgart recentemente passou a integrar a Associação Green Building Council Brasil (GBC). A organização mundial reúne empresas que realizam obras com menor índice de agressão ao planeta e fabricam produtos com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis (VOC). No país, quase 500 empresas integram a associação. A marca, que está presente no mercado brasileiro há 76 anos, tem uma unidade industrial localizada no Porto Seco Pirajá, em Salvador. A fábrica foi inaugurada em 1979 e tem a liderança na comercialização de impermeabilizantes para o Nordeste.
Moura Dubeux Engenharia investe no Cone Aratu As empresas pernambucanas Cone S/A Condomínios de Negócios e a Moura Dubeux Engenharia anunciaram investimento de R$ 1,3 bilhão para implementar o Cone Aratu. O empreendimento irá atender à demanda de galpões e infraestrutura de logística industrial, com soluções multimodais, ocupando um terreno de aproximadamente quatro milhões de metros quadrados, entre os municípios de Simões Filho e Candeias. As obras devem ser iniciadas no último trimestre de 2012.
Angelo Bellelis, vice-presidente de Mercado da Cone S/A; Marcos Roberto Dubeux, CEO da Cone S/A; e Marcos Dubeux, cofundador do Grupo Moura Dubeux
FOTO: Sérgio Figueiredo
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Queiroz Galvão lança o Hemisphere 360° A Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário (QGDI) acaba de lançar o Hemisphere 360°, localizado no bairro de Pituaçu, com Valor Geral de Vendas (VGV) de aproximadamente R$ 480 milhões. O empreendimento terá condomínios com acessos separados (Hemisphere Norte e Hemisphere Sul), infraestrutura de lazer e segurança independentes e será construído num terreno de aproximadamente 40 mil metros quadrados. Com projeto arquitetônico de Antônio Caramelo e paisagismo assinado por Benedito Abbud, o Hesmisphere 360° vai oferecer apartamentos de alto padrão, com fácil acesso tanto pela orla como pela Av. Luiz Viana Filho (Paralela). São quatro quartos com opções de 140 m2, 142 m2, 165m2 e 200 m2 nas quais o cliente poderá escolher entre duas ou mais plantas.
RE/MAX no interior O master franqueado da regional RE/MAX Bahia e Sergipe, Azevedo Filho, aposta no crescimento da rede de franquias imobiliárias no interior do estado. O plano de expansão inclui as cidades de Barreiras, Luis Eduardo Magalhães e Paulo Afonso. O escritório regional RE/MAX Bahia e Sergipe conta com uma rede de 35 franqueadas. A meta é chegar a 50 até o final deste ano, realizar R$ 500 milhões em vendas e dispor de 350 corretores na rede. Em Salvador, 15 imobiliárias estampam a marca RE/MAX. São 11 franquias no interior da Bahia.
O LÍDER DA EMPRESA DO ANO O presidente e fundador do Grupo Civil, Eduardo Valente, tem vários motivos para celebrar. Criada em 6 de outubro de 1961, a Civil Construtora foi eleita Empresa do Ano pelo Prêmio Ademi 2012. Cinquentenária, ela se mantém alinhada com as tecnologias construtivas de vanguarda. No maior empreendimento comercial da empresa, o Civil Towers, que teve as obras iniciadas em 2011, o conceito de lean construction (construção enxuta) é seguido desde a concepção à finalização do projeto. “Acabamos de comemorar 50 anos e para o grupo essa é uma data muito importante, pois ter tanto tempo de atuação ininterrupta, prezando pela ética e buscando sempre a alta qualidade dos nossos empreendimentos, é cumprir uma missão muito difícil”, afirma Velente. Ao todo, foram construídos 48 empreendimentos residenciais, 35 comerciais e 28 industriais, totalizando mais de um milhão de metros quadrados. Além do sucesso da construtora, o grupo vivencia um momento de ampliação e diversificação dos negócios. No início deste ano, entrou em operação a Civil PréMoldados, uma fábrica de produtos de concreto, a exemplo de blocos para vedação, blocos de concreto estrutural, pisos intertravados e meio-fios, por conta da demanda das obras imobiliárias, de infraestrutura e indústrias de Salvador e da Região Metropolitana. Hoje, a Civil é uma holding que investe em diversos segmentos do setor da construção. Além da construtora, o grupo é formado pela Civil Empreendimentos (incorporações e locações) e pela Civil Industrial, que inclui a Pedreira – empresa de mineração implantada em 1979 –, além da Civil Pré-Moldados: “Nosso maior desafio é disseminar o ‘Padrão Civil’, tanto no mercado imobiliário baiano, quanto internamente, para nossos colaboradores e parceiros”, declara o presidente. Motivado, Eduardo Valente não acredita em previsões pouco otimistas em relação ao desempenho do mercado imobiliário. “A Civil sempre cresceu de maneira sustentável”, pontua. “Nossa prioridade é continuar buscando a perfeição em tudo que fazemos, e se não podemos ser a maior, que sejamos a melhor”, ensina.
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JUSBRASIL: STARTUP BAIANA É REALIDADE NACIONAL A experiência de jovens e talentosos estudantes baianos virou um dos sites mais acessados do país. A meta: tornar a informação pública acessível e gratuita aos cidadãos FOTOS: Rômulo Portela
Da (esq.) para (dir.): Daniel Murta, Gustavo Maia, Osvaldo Matos, Rafael Costa, Rodrigo Barreto
ACESSOS POR DIA: 550.000 visitas ACESSOS POR MÊS: 6,5 milhões de usuários FACEBOOK: 150 mil curtições Ranking ComScore
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m escritório que tem mesa de sinuca, videogame e uma geladeira cheia de cerveja pode até parecer irreal. Mas esse “ambiente dos sonhos”, inspirado em salas como a do Facebook e Google, está localizado em plena avenida Tancredo Neves e abriga a equipe de 25 jovens profissionais formados em economia, ciências da computação, biblioteconomia, engenharia civil, design e direito. Estamos falando do JusBrasil (jusbrasil.com.br), um dos principais sites brasileiros com conteúdos sobre direito e gestão pública. O projeto nasceu em 2008 por uma iniciativa de estudantes da Universidade Federal da Bahia (Ufba): Rafael Costa (direito), Gustavo Maia (ciências da computação), Osvaldo Matos (ciências da computação), Rodrigo Barreto (engenharia civil), Daniel Murta (engenharia civil) e Luís Paulo Pinho (engenharia civil). Apesar de graduações distintas, a programação de computador é uma habilidade em comum entre eles. No JusBrasil, a equipe desenvolve ferramentas de tecnologia da
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informação para agregar conteúdos de mais de 5.000 fontes de informação sobre decisões judiciais do país e deixá-las acessíveis de maneira rápida e gratuita. “Entre os nossos melhores programadores tem até um físico”, conta Rafael Costa, sobre a equipe multidisciplinar que possui. Porém, encontrar bons profissionais é um dos maiores desafios da empresa, apontado pelos sócios. Segundo Rafael, a qualidade das universidades baianas está longe da ideal: “Nós pegamos o estudante dos primeiros semestres, principalmente de ciências da computação, e tentamos fazer uma espécie de universidade aqui dentro, realizando palestras e aulas de leitura”. A publicidade no site viabiliza o projeto economicamente. Contudo, a meta para o futuro é buscar novas fontes de receita e reduzir a dependência dos anúncios. O faturamento tem crescido desde 2008. Para este ano, a previsão de crescimento é de 200% em relação a 2011. [B+]
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As sócias da Galpão de Estilo: Bianca Passo, Manuela Andrade e Fabiana Durán
A MODA EM UM SÓ LUGAR Foi-se o tempo em que era preciso recorrer ao eixo Rio-São Paulo para adquirir as grandes marcas desenhadas pelos principais estilistas do país. Prova disso é a Galpão de Estilo, que reúne uma respeitada seleção em suas lojas por MURILO GITEL
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ianca Passos, Fabiana Durán e Manuela Andrade são sócias da Galpão de Estilo, loja inaugurada há cinco anos com o objetivo de reunir os principais nomes da moda contemporânea nacional. Com duas lojas no Jardim Apipema, em Salvador (Galpão de Estilo e Galpão de Estilo Closet), e uma loja pop up (feita para durar um período de tempo pré-determinado) na Praia do Forte, os negócios crescem entre 15% e 20% ao ano. A clientela é de alto padrão, exigente, composta principalmente por profissionais liberais. Para atender tal público, as sócias atraíram peças e acessórios de expoentes da alta costura brasileira, que inclui nomes como Andrea Marques, Adriana Degreas, Cris Barros, Samuel Cirnansck, Huis Clos, Pátricia Bonaldi, Reinaldo Lourenço e Pedro Lourenço. “Os estilistas que tínhamos como meta estar em nossa loja já fazem parte de nosso mix”, comemora Bianca. “Somos respeitadas e procuradas pelas grande marcas,” completa Fabiana. Estilistas baianos, como Luciana Galeão e Vitorino Campos, também têm espaço reservado. Vitorino, por exemplo, foi a grande revelação da São Paulo Fashion Week deste ano, mas, antes disso, já era uma aposta das sócias da loja. “Acreditamos desde a primeira coleção dele, quando ganhou o Barra Fashion”, lembra Fabiana.
Inovação como aliada nas vendas
Delivery e e-commerce
Em Salvador, elas mantêm a exclusividade de algumas peças, como a moda praia de Adriana Degreas e os lenços da grife paulista Scarf Me, entre outras. Mas reinventam o mercado local também. A sócia Fabiana define como foco do negócio “sempre um atendimento de excelência, aliado a serviços diferenciados, como consultoria especializada, delivery e loja virtual”. Em 2011, lançaram o projeto Galpão de Estilo Closet, espaço situado também no Apipema Center, voltado às roupas para ocasiões mais especiais, onde é prestado um atendimento personalizado às clientes que se preparam para as festas. “Era uma necessidade de mercado. Trata-se de um ambiente intimista, reservado e exclusivo. Ajudamos a pessoa a sair pronta para a festa: roupa, cabelo e acessórios, prestamos consultoria”, afirma Bianca.
Um dos diferenciais da Galpão de Estilo é o serviço delivery, por meio do qual as clientes podem receber, em suas casas ou escritórios, opções de peças de acordo com seu perfil e necessidade, sem custos adicionais. As vendas pela internet estão disponíveis no site da loja (www. galpaodeestilo.com.br) e a projeção das sócias é de que o projeto decole na próxima estação. “É o nosso projeto mais recente, que adotamos depois de analisar as tendências de mercado. Também temos um blog que alimentamos com posts diários para apontar tendências da moda às nossas clientes” enumera Fabiana.
Na Galpão de Estilo Closet, as clientes já saem prontas para a festa. A consultoria inclui sugestões para maquiagem, roupa, cabelo e acessórios
Novos negócios As sócias, com a experiência prática adquirida no varejo e com o conhecimento teórico adquirido com a formação em administração de empresas, prestam hoje consultoria para pequenas empresas no setor de moda varejista e de outros segmentos que buscam a diferenciação dos seus serviços. “Assessoramos desde a confecção do plano de negócios até as primeiras compras para a loja”, comenta Fabiana. Um conselho para os novos empreendedores, segundo Bianca, é: “Não comece nenhum negócio sem um bom planejamento e com a ilusão que negócios em moda só possuem o lado glamuroso. Existe a gestão do negócio que é complexa e deve ter um acompanhamento minucioso por parte dos empreendedores.” [B+]
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Marcos Almeida na loja do Caminho das Árvores
MADEIRAS DE DEMOLIÇÃO Há cinco anos no mercado, os sócios da Mega Madeira Móveis decidiram restaurar madeiras e outros elementos desperdiçados em antigas construções. O resultado de aliar requinte e sustentabilidade conquistou o gosto dos mais sofisticados e a empresa acumula um crescimento médio de 50% ao ano
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s canteiros de obras, amontoados do que ainda chamamos de lixo, são na verdade uma verdadeira fonte de matérias-primas para os sócios Marcos Renê Almeida, Ricardo Soares Damasceno, Angelita Pavão e Marcos Vinícius Mendonça. Fundadores da Mega Madeira Móveis, eles transformam madeiras de demolição, dobradiças, ferragens, garrafas, portas, janelas em móveis de design moderno, sofisticado e exclusivo, cativando arquitetos e decoradores baianos. A nova vida dada a peças que seriam amontoadas em um aterro é o que Marcos Almeida explica como a “consciência ecológica” que já nasceu com a empresa: “Evocamos elementos como a reciclagem e a reutilização de produtos em nosso projetos”, enfatiza. 26
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A empresa produz e comercializa móveis de tipos variados, como mesas de centro, armários, balcões, cadeiras, peças raras e modelos de época, a exemplo de antigas máquinas registradoras, balcões de bares e farmácias, dormentes, monjolos e rodas d’água. Há projetos executados e sob medida. O músico e também arquiteto Durval Lelys já desenhou e contribuiu com o trabalho da Mega Madeira, a exemplo da linha Coco Bambu, da mesa de centro Gladiador e do sofá Padang Beach. No mercado há cinco anos, com fábrica própria na região da estrada do CIA-Aeroporto e loja no bairro Caminho das Árvores, o faturamento da Mega Madeira Móveis cresce a uma média de 50% ao ano. “Nosso principal público é de alto padrão, que costuma ter uma consciência ecológica mais avançada”, ressalta Marcos. Entre os clientes da loja estão o condomínio Reserva Imbassaí, Pousada Tayuana e restaurantes como Pereira e Casa de Palha.
Aposta de mercado Os sócios apostam ainda mais na área de sustentabilidade e decidiram investir na técnica de Madeira Laminada Colada (MLC), proveniente de florestas plantadas, principalmente de eucalipto e pinus. “A sustentabilidade é o único caminho”, defende Marcos. A MLC alia colagem com laminação, uma reconstituição da madeira a partir de lâminas (tábuas). A alta resistência ao fogo e a substâncias químicas é outra vantagem apontada pelos especialistas. Marcos lembra que os órgãos fiscalizadores, como o Ibama, apertam cada vez mais o cerco contra os que insistem em fornecer e comercializar madeira oriunda de desmatamento e adianta: “Planejamos a implantação de uma fábrica de MLC até 2014, nas imediações da Região Metropolitana de Salvador”. [B+]
STARTUP 28 | [C] LUIZ MARQUES 44 | [C] ANTONIE TAWIL 46
NEGÓCIOS
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A INDÚSTRIA NAVAL NA BAHIA
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A HISTÓRIA DE RAIMUNDO LIMA
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TENDÊNCIAS GLOBAIS EM SHOPPINGS LOCAIS
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Nos encontros semanais, a associação elabora novas abordagens para suas startups com as sugestões de todos
STARTUPOLITANOS Iniciativas de jovens baianos estão movimentando o cenário empreendedor do estado com a criação da primeira associação de startups de Salvador por CAROLINA D’AVILA fotos IVES PADILHA
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nquanto a Bahia se preparava para a realização de mais um carnaval, jovens soteropolitanos interessados em aprender a empreender viajavam até São Paulo para participar do Campus Party 2012, o maior encontro de tecnologia do país. Foi lá que eles se conheceram e tiveram a oportunidade de trocar experiências com os maiores especialistas em projetos de startups. Cientes do que era preciso para começar a estruturar suas próprias ideias, eles voltaram com uma missão: desenvolver a primeira associação soteropolitana de startups, a Salvador Startups. Atualmente, 25 pessoas e seis empresas compõem o grupo, formando juntos uma grande rede empreendedora. “Nunca foi tão fácil montar um startup”, diz Juliana Reichow, uma das integrantes do grupo e sócia da startup #crossjoin. Ela conta que, com as possibilidades que a internet oferece, só é preciso ter um computador para encontrar novos produtos com potencial para integrar um modelo de negócios inovadores. Nas reuniões semanais, o grupo aproveita para compartilhar as ideias e dar sugestões, com o objetivo de trocar experiências e evitar erros comuns a iniciantes. Nos meetups, encontros abertos ao público realizados a cada 45 dias, eles difundem para curiosos o que é preciso fazer para tirar uma ideia do papel e concretizá-la. Com inovação e ousadia, três empresas da Salvador Startups já movimentam o cenário empreendedor soteropolitano e buscam soluções para novas necessidades.
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Cinquenta e quatro horas para montar uma startup. Esse é o desafio proposto pelo Startup Weekend Salvador, evento realizado nos moldes da Kauffman Foundation, pela primeira vez na Bahia entre os dias 17 e 19 de agosto. Os inscritos terão oportunidade de apresentar suas ideias, votar nas melhores e montar equipes para tornar dez delas startups prontas para o mercado. Mentores estarão acompanhando todo o processo e instruindo os grupos a tomarem as melhores decisões. Terminado o prazo, juízes premiarão as três melhores startups com ferramentas online gratuitas para que elas deem continuidade ao negócio. “É muito importante trazer um evento como esse para Salvador e abrir espaço para a economia criativa se desenvolver aqui”, diz Ândlei Lisboa, um dos realizadores do evento e sócio de outra startup associada, a Acelere-me. As inscrições estão abertas e podem ser feitas através do site oficial www.salvador.startupweekend.org.
Aproveitando a onda das compras coletivas, dois sócios, Jean Fernandes e Guilherme Macêdo, se juntaram para criar um aplicativo que permite às empresas criar suas próprias ofertas no Facebook. Eliminando a equipe de vendas, eles conseguiram baratear o serviço e arrecadam 2% do valor das compras concretizadas, muito diferente dos grandes sites, que chegam a cobrar uma taxa de 30 a 50% do valor arrecadado. Em dois meses de funcionamento, eles já conseguiram cem downloads do aplicativo e a parceria com o PagSeguro, PayPal e o Pagamento Digital. “Uma oferta lançada no Facebook é viral, espalha rápido. Além disso, você pode ver quem de seus amigos já comprou, tornando ainda maior a interatividade”, diz Jean. Entusiasmados com o sucesso do negócio, a dupla já trabalha para criar uma interface mais atualizada do serviço.
Craques em montar sistemas, os quatro sócios se tornaram especialistas em criar sites para eventos científicos, oferecendo facilitadores como inscrições com pagamento online e presença nas redes sociais. Atualmente são eles que instalam o serviço, mas estão desenvolvendo um modelo self-service para que o próprio cliente possa aperfeiçoar seu site. “A idéia é criar um software livre, para que outros desenvolvedores possam se apropriar do código, ganhar dinheiro com isso e promover melhorias para a comunidade”, diz Thiago Colares, um dos sócios da empresa. Alguns dos integrantes da Salvador Startups. Juntos eles planejam movimentar o cenário do empreendedorismo coletivo. Startup #crossJoin recebe o prêmio de Ideias Inovadoras 2011, oferecido pelo programa de fomento da Fapesb ao empreendorismo
Desde Fevereiro, seis sócios dividem as tarefas do Vitrine Inversa, um site especializado em realizar desejos. Ao invés de publicar anúncios de usuários que querem vender, eles expõem os produtos que as pessoas desejam, mas que ainda não encontraram no mercado. Por enquanto, o site se dedica a divulgar quereres de livros e quadrinhos. Com mais de trezentos usuários cadastrados, a intenção é conseguir agregar vendedores em potencial e realizar todo o processo de venda sem sair da página.
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A BAHIA ENTRA PARA O CLUBE DA
INDÚSTRIA NAVAL
FOTO: Manu Dias/Secom BA
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Na esteira da política de governo que reativou o setor em todo o país, a Bahia implanta o maior parque industrial do setor no Nordeste por ROGÉRIO BORGES
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Bahia entra em breve para o seleto clube da indústria naval brasileira, há muito capitaneada pelo Rio de Janeiro, a bordo do Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP), já em construção em Esplanada, município de Maragojipe, a cerca de 150 km de Salvador. O setor está em plena expansão no país, com 386 obras em andamento, 6,9 milhões de Tonelagem de Porte Bruto (TPB) em construção e 58 mil trabalhadores diretamente empregados. Das obras atualmente em execução, 19 são plataformas de produção de petróleo – 14 delas inteiramente construídas no país. Para o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore, é nítida a ênfase na construção local desse tipo de equipamento, implantando no Brasil uma ampla capacidade industrial para atender à demanda do segmento de produção de petróleo offshore – justamente o nicho a que será dedicado o EEP. Isto que poderá vir a ser a idade de ouro da indústria naval brasileira atende uma política do governo federal especificamente dirigida ao setor desde 2006. Os investimentos privados são turbinados pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM), com desembolsos que cresceram 350% nos últimos cinco anos. Do patamar de R$ 658 milhões disponibilizados pelo FMM em 2006, a indústria passou a quase R$ 3 bilhões em 2010. O secretário estadual da Indústria Naval, Carlos Costa, destaca que a foz do rio Paraguaçu é considerada uma das melhores localizações para a implantação de estaleiros por ter águas profundas e abrigadas. Mas o EEP, que será o maior parque de construção naval do Nordeste, ocupando uma área de 1,2 milhão de m2 de pátio industrial, é apenas um dos nove que acabam de chegar ao cenário nacional. Dois deles já estão em operação, cinco têm obras iniciadas e dois outros tiveram as licenças de instalação concedidas. Cento e setenta operários já trabalham na construção do EEP, realizando a supressão da vegetação e a terraplanagem. A conclusão da obra está prevista para 2014.
De acordo com a Secretaria da Indústria Naval e Portuária do Estado da Bahia (Seinp), até lá serão investidos R$ 2 bilhões e mais de três mil operários serão contratados. O projeto prevê capacidade de construção em dique seco para cascos de navios, naviossonda e módulos para plataformas, além da integração dos equipamentos. Para atrair o investimento, o Governo da Bahia implantou um programa de incentivos à indústria de construção naval, o Pronaval, e aderiu ao Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação. Um dos resultados mais importantes dessa política de estímulos foi a adesão da japonesa Kawasaki Heavy Industries Ltd. ao consórcio que reúne Odebrecht, OAS e UTC no Estaleiro Enseada do Paraguaçu. Controlando 30% do futuro estaleiro, a Kawasaki vai transferir tecnologia e capacitar mão de obra, no que deverá representar a efetiva implantação da indústria naval na Bahia. O presidente do EEP, Fernando Barbosa, garante que o parceiro japonês vai trazer “toda a tecnologia na fabricação, elaboração de projetos, planejamento e treinamento de pessoas”.
O novo estaleiro deve alavancar o desenvolvimento regional, mas em função da futura integração logística da RMS com o Recôncavo O Enseada do Paraguaçu já recebeu uma encomenda para produção de seis navios-sonda de exploração de petróleo, parte de um contrato com a Sete Brasil, empresa fornecedora da Petrobras. Mais 24 naviossonda foram encomendados a outros cinco estaleiros. A indústria prevê que 1.871 postos de trabalho sejam gerados pela encomenda inicial – o que representará pouco mais de 3% da força de trabalho do setor em todo o país. Já o governo estadual estima em quatro mil os postos de trabalho que serão gerados. A perspectiva é de um faturamento anual da ordem de R$ 600 milhões. Maior investimento da iniciativa privada na Bahia, o governador Jaques Wagner comparou o porte ao da implantação de uma fábrica de automóveis, paradigma da indústria de transformação na Bahia desde a chegada da Ford. “Para se ter uma ideia da grandiosidade desse investimento, basta ver que para montar uma indústria automobilística são necessários R$ 900 milhões”, disse.
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O estaleiro representa um investimento “equivalente a duas indústrias automobilísticas”. Wagner sublinha ainda a demanda de mão de obra, que vai “impactar positivamente no Recôncavo e região, com mais empregos”. Em Esplanada, distrito de Maragojipe que já convive com as obras do estaleiro, em breve deve se estabelecer a infraestrutura básica de apoio ao pessoal especializado, como pousadas para pessoal em trânsito pelo canteiro de obras, pequenos restaurantes e comércio – tal como ocorreu a partir de 2010 em São Roque do Paraguaçu, do outro lado do canal, com a reativação do canteiro naval da Petrobras.
A portaria do canteiro de obras do estaleiro em Esplanada: conclusão prevista para 2014
FOTOS: Rogério Borges
O canteiro naval da Petrobras (dir) e o canteiro de obras do EEP, vistos da foz do rio Paraguaçu: nascimento da indústria naval
É nítida a ênfase na construção local de equipamentos para a indústria do petróleo, implantando no Brasil uma ampla capacidade industrial O Consórcio Rio Paraguaçu (CRP) executa ali serviços de engenharia, suprimentos e construção da plataforma de perfuração auto-elevatória P-60. Uma primeira plataforma, a P-59, foi lançada ao mar com sucesso no mês passado. A área de cerca de 400 mil m2 foi adaptada para as atividades ao longo de oito meses, com a instalação de pórticos, pontes rolantes e painéis para fabricação de blocos. De acordo com o consórcio, o período de pico das obras deve contar com cerca de 2,5 mil pessoas empregadas, “com maior concentração de mão de obra nas atividades diretamente ligadas à construção das plataformas”. Os empreendedores informam que “pelo menos 70% dos integrantes são da Bahia, com prioridade para as cidades circunvizinhas ao canteiro”.
Obras de supressão da vegetação e terraplenagem já começaram na localidade de Enseada, em Maragojipe
Cenário ainda incerto O cenário amplamente positivo para a indústria naval brasileira e para a entrada da Bahia nesse mercado já desperta a atenção de responsáveis por outros setores. De acordo com o “Monitor Mercantil”, do Rio de Janeiro, a presidente da Comissão de Direito Marítimo, Portuário e Aduaneiro da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Sul, Daniela Ohana Barbosa, demonstrou preocupação com o futuro da indústria naval, ainda dependente de um único comprador. Em junho último, a advogada teria chamado atenção para o “monopsônio” que a Petrobras representa. O problema é que a companhia
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Localização do Estaleiro Enseada do Paraguaçu, em águas profundas e abrigadas, é tida como das mais privilegiadas do país
Jaques Wagner com os japoneses da Kawasaki, nova sócia do EEP: investimento equivalente a duas indústrias automobilísticas FOTO: Carol Garcia/Secom BA
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FOTO: Agência Petrobras
pode a qualquer tempo mudar a sua linha de ação e optar por importações em vez de estimular a produção local de plataformas e navios-sonda. “Interiorizar a produção”, uma das prioridades do governo estadual, oferecendo condições para a instalação de outras empresas do setor naval, pode estar dependente de um futuro mais seguro. Também por isso, para especialistas do setor, discorrer sobre a expansão da indústria naval na Bahia ainda é um exercício de futurologia. O novo estaleiro deve alavancar o desenvolvimento regional, mas em função da futura integração logística da Região Metropolitana de Salvador (RMS) com o Recôncavo, por sobre a Baía de Todos os Santos (BTS) – estimulada pelo EEP. É na esteira disso que potencialidades endógenas, mesmo dissociadas da indústria naval, ganharão novo fôlego e dimensão, segundo prevê o novo Plano Diretor de Maragojipe: uma “enorme gama de novos fluxos econômicos irá se estabelecer na região, vinculados a transações de maior amplitude, como é o caso da própria indústria naval, do turismo de negócios que surgirá como seu desdobramento, operadoras logísticas de grande porte e diversos itens sofisticados de demandas que são geradas por esse conjunto, tudo isso criando escala para atividades que hoje seriam inviáveis no município”. O complexo que se desenha para implantação nos próximos anos, interligando Salvador às BR-101, 116 e 242, partindo da futura ponte até Itaparica, representará uma inflexão no contexto econômico de toda sua área de influência. A pavimentação da estrada Maragojipe – Cruz das Almas e a futura conexão à BR242 através de São Felipe é um dos efeitos secundários da implantação do estaleiro que prometem levar efetivo desenvolvimento à região. Os municípios de Saubara e Salinas da Margarida – este com acesso privilegiado ao canteiro de obras – fazem parte do território que sentirá mais imediatamente os efeitos do novo investimento. Apesar do nome, o estaleiro está localizado do outro lado do canal que separa São Roque do Paraguaçu e Esplanada, comunidade bem mais acessível a partir de Salinas. [B+]
O Pronaval e a adesão ao Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação atraíram o investimento privado à Bahia
FOTO: Manu Dias/Secom BA
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RAIMUNDO LIMA: UM “ACROBATA NA RAÇA”
FOTO: Rômulo Portela
Em seu escritório no Belas Business Park, em Talatona, um dos mais elegantes centros empresarias de Luanda, Angola, o baiano Raimundo Lima relembra de detalhes de uma trajetória profissional e pessoal marcada por transformações, explica os fatores que levaram o Grupo Aldeia ao sucesso no país africano e adianta planos que tem para a Bahia por MURILO GITEL
“Todo mundo vai ao circo/Menos eu/ Menos eu/Como pagar ingresso/Se eu não tenho nada/Fico de fora escutando a gargalhada”...
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trecho da música O Circo, composição do baiano Batatinha, é uma lembrança que o empresário e jornalista Raimundo Lima guarda de sua infância em Feira de Santana. Em 1965, aos nove anos de idade, o filho de Bertulino Lima e Diva dos Santos não pôde entrar para assistir um famoso circo que se apresentaria na cidade por falta de condições financeiras. “Uma experiência que me marcou e ajudou a sonhar muito, mas com os pés no chão”, diz hoje o presidente do Grupo Aldeia, uma das organizações brasileiras mais prósperas no continente africano, com sede em Luanda, capital de Angola. 36
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Raimundo segura “O Pensador”, uma das mais belas estatuetas de origem tchokwe, constituindo um referencial da cultura inerente a todo angolano
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Reconstruir faz parte da vida de Raimundo Lima, 56 anos. Além de transformar sua própria vida, ele ajuda a mudar um país que viveu cerca de três décadas em guerra civil, até 2002, investindo em negócios que promovam a economia e bem-estar social. Empreender também foi uma atividade que aprendeu bem ao longo da carreira, ao ponto de tornar-se presidente da Assembleia Geral da Associação dos Empresários e Executivos Brasileiros em Angola (Aebran). A vida atribulada de compromissos e ideias tornou-se comum para esse baiano, como mesmo descreve: “Durmo pouco, engordei mais (risos) e me dedico demais aos negócios e às pessoas. Mas continuo tendo prazer pelas coisas simples”. Entre essas coisas está o sonho de poder ajudar. “O social sempre esteve presente em mim. Fui líder de sala de aula, depois acabei eleito jovem comunitário do ano de 1970 em Feira de Santana”, relembra com seu natural bom humor, e completa: “Gostaria que todas as pessoas pudessem viver confortavelmente, esse seria o mundo ideal”. E a chegada em Angola foi um impulso para a realização dos sonhos de Raimundo. “Cresci muito como pessoa em Angola, não só como empresário, profissional, mas como ser humano. As pessoas brincam aqui dizendo que sou pai deles, funcionários, inclusive. São muito generosos. Eu procuro ser um empresário que busca o crescimento econômico, claro, mas preservando a cultura local e ajudando a trazer desenvolvimento sustentável a Angola. Aprendi muito com eles”.
“O Grupo Aldeia cresce por nossa aposta em diversificação dos negócios” FOTO: Divulgação
Grupo de formação de professores em Angola
Você é jornalista e professor. Como foi que enveredou para o mundo empresarial? Eu sou formado em comunicação social e pósgraduado em direito eleitoral. Na Bahia, eu cheguei a ter uma pequena empresa de comunicação, chamada Aldeia Global. Mas entrei mesmo nesse universo aqui em Angola. Eu fui assessor de um exministro das Finanças. Ele dizia que eu tinha espírito empreendedor, o que me estimulou. Ainda no Brasil, resgatar o jornal Tribuna da Bahia foi uma mostra do seu tino empreendedor? Eu havia sido sócio da Tribuna da Bahia em 1995, quando o jornal esteve próximo de fechar. Ajudei a liderar um processo junto aos jornalistas, formando uma espécie de cooperativa, que passou a ter 40% da empresa. Obtivemos sucesso, à época. Esse foi seu passaporte para ir a Angola? Eu vim pra cá a convite do Edson Barbosa, principalmente, do Sérgio Guerra, Maurício Santana e Paulo Alves, que eram os sócios da Link Propaganda. Eles precisavam de alguém que tivesse a habilidade de formar os jornalistas, capacitar uma equipe, além de ter o espírito empresarial. Eu fui para coordenar a parte técnica da reforma do Jornal de Angola, mas acabei envolvido com um pouco de tudo, uma reforma mais ampla: política e física, inclusive. Estou aqui há 12 anos. O Grupo Aldeia tem seis anos. E como o grupo conseguiu crescer em Angola? Nós crescemos por diferentes circunstâncias. Nosso foco foi a diversificação dos negócios, primeiro pela demanda que existe no país e também em busca da própria sustentação, já que os lucros não são tão elevados. Começamos com a área da comunicação e depois com a da educação. Em seguida, ao conquistarmos credibilidade no âmbito empresarial, em razão de fatores como seriedade, qualidade dos serviços e respeito à cultura local, conseguimos o auxílio de outros empresários e desenvolvemos outros segmentos de atuação. Quais são esses segmentos? São quatro núcleos de atuação: educação, empreendimentos, agroindústria e responsabilidade social, esse último muito ligado à educação.
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EMPRESAS DO GRUPO ALDEIA EDUCAÇÃO: Ok Tecnology e Aldeia Global (em Angola) e IICE (no Brasil) COMUNICAÇÃO: Engenho Comunicação, Impressão Digital, Visual Ímpar, Giga Produções, Ipop e Future Generation AGRONEGÓCIO: ValeVerde Agroindustrial EMPREENDIMENTOS: RLZ de desenvolvimento de negócios, P&D de projetos e pesquisas, RLZ, que atua no desarme de minas provenientes da guerra RESPONSABILIDADE SOCIAL: Quality Cultural, de promoção à cultura, e a Fundação Kianda
FOTOS: Divulgação
A área de educação é um dos campos de atuação da Aldeia e proporcionou importantes premiações ao grupo
Artistas angolanos durante a gravação da campanha de educação
“Estamos com projetos na área de empreendimentos imobiliários na Bahia”
Como você avalia a relação do grupo com o governo de Angola? Nós prestamos serviços ao governo, principalmente na área da educação, com foco na alfabetização, ensinos técnicos, além de atividades conjuntas com o Unicef. Ganhamos o prêmio de melhor participação na Feira de Educação de Angola, em 2010. No ano seguinte, fomos homenageados pelo ministro da Educação de Angola, sendo a primeira vez que o órgão federal reconheceu o trabalho de uma empresa privada pelos trabalhos prestados à educação no país. Recentemente, recebemos o prêmio Quality Summer, em Nova York. Você pode citar um exemplo desses trabalhos? Em 2010, fizemos uma ampla campanha de alfabetização na mídia, com a produção de CDs e DVDs, cuja música foi composta por mim e gravada por dez artistas angolanos. Entregamos essa campanha gratuitamente ao governo. O objetivo foi incentivar a sociedade a se alfabetizar, porque o índice de analfabetismo aqui é muito alto. Essa canção foi levada a um congresso de educação no Quênia, com a participação de 12 ministros e, posteriormente, foi escolhida a música representante da África em um encontro na França, promovido pelo Unicef. Por que investir no social? É uma opção pessoal minha. Atuei na área social comunitária, em Feira de Santana. Fui presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) e sempre procurei dar alguma contribuição social. O Grupo Aldeia já fez uma série de doações para leprosários em Angola, bem como investiu algumas centenas de milhares de dólares em um centro social para as comunidades menos favorecidas de Viana (província angolana), com foco nas mulheres. Hoje o centro é administrado por uma entidade religiosa. Nós pensamos que temos o dever de dar algum retorno à população.
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FOTO 1: Rômulo Portela
E você sente um retorno positivo para o resultado da organização? A nossa filosofia é a de que devemos estar juntos pela melhoria de todos os angolanos. Eu penso que essa atuação até pode nos beneficiar indiretamente na questão comercial, porque nos dá mais visibilidade, mas não fazemos com essa intenção.
FOTOS 2 E 3: Divulgação
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Os angolanos são maioria quanto à mão de obra do Grupo Aldeia? Em termos gerais, sim. Mas na direção e na parte técnica, a maioria é de brasileiros. Já na parte operacional, os angolanos representam cerca de 80% dos funcionários. Como você analisa o modelo de negócios do grupo atualmente? Recentemente concluímos um projeto grande de ensino técnico, que foi realizado durante mais de três anos. Temos a certeza de que teremos lucratividade ao final de 2012, nada de muito excepcional, mas teremos números positivos. Estamos ampliando as nossas atividades, seja na alfabetização, comunicação, área de empreendimentos, e estamos projetando o lançamento de novos programas de cooperação BrasilAngola em agroindústria e outros segmentos que não são originariamente nossos. Fomos procurados por grupos estrangeiros da Alemanha, Espanha e África do Sul que querem fazer parceria conosco. Nossa lucratividade não é das maiores, mas atuamos em diversos negócios. Nós crescemos com a diversidade. Pode nos adiantar algum novo projeto? Eu fico receoso de falar dos projetos que ainda não estão no papel, com contratos assinados, mas estamos em entendimento com as Forças Armadas Angolanas para executarmos um projeto visando a reinserção socioeconômica de 18 mil militares desmobilizados. Este projeto prevê a implantação de polos de produção alimentar em 18 províncias, o que beneficiará 90 mil pessoas. Quando os militares deixam de exercer o ofício, muitos não conseguem uma ocupação econômica e acabam na marginalidade. Uma vez aprovado, faremos a gestão do projeto. Quais são as principais dificuldades do grupo em Angola? A principal dificuldade aqui é o alto custo de vida para estrangeiros, considerado o mais elevado do mundo. Há a dificuldade de se conseguir mão de obra
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(1) Raimundo com o sócio Maurício Santana, da Engenhonovo, em Angola. (2) Grupo Aldeia recebe, em Nova York, o prêmio Internacional de Qualidade, da Business Initiative Directions, na categoria “ouro” (3) Durante inauguração do centro social em Viana, província angolana, administrada por uma entidade religiosa
especializada. A produtividade dos angolanos costuma ser baixa, grande parte por causa dos problemas sociais, como doenças, a exemplo da malária, que aqui é como gripe aí no Brasil. Por outro lado, o povo tem imensa vontade de aprender, há integração e a boa receptividade, principalmente em relação aos brasileiros. Você tem planos para a Bahia? Estamos com projetos na área de empreendimentos imobiliários, por meio de uma pequena empresa, ainda engatinhando, que é a Aldeia Empreendimentos. Trata-se de uma incorporadora. Estamos nos preparando para atuar no programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, e deveremos ter novidades em breve. Também na Bahia, temos uma empresa de pesquisa mineral e o Instituto Internacional de Ciências da Educação (IICE), que atua na formação e gestão da área profissional. [B+]
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PRAÇAS MATRIZES CLIMATIZADAS Os shopping centers no Brasil confirmam as tendências norteamericanas. Praticidade, bons serviços, mix de lojas apropriado, sustentabilidade e conforto são alguns dos elementos básicos para o sucesso desses espaços que tornaram-se o ponto de encontro da sociedade “moderna”. A praça central de tempos outrora ficou bem diferente por MILENA MIRANDA
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entros de lazer, compra e entretenimento, os shopping centers surgiram nos Estados Unidos na década de 1950 e apenas 16 anos depois chegaram ao Brasil, especificamente em São Paulo, trazendo um novo conceito de compras para os brasileiros. De lá para cá, o número desses empreendimento não para de crescer e se popularizar nas cidades do país. “Os shoppings representam o que as praças matrizes eram no passado, locais onde grupos de amigos se encontravam”, explica o coordenador estadual da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Edson Piaggio. Para a empresária Gabriela Vieira, proprietária da loja Overend, no Salvador Shopping, a segurança aliada à ideia de praticidade e a facilidade de encontrar tudo no mesmo lugar são os principais fatores que atraem os consumidores aos shoppings. “Além de um ambiente agradável, os clientes contam com amplas ofertas de estacionamento”, destaca. FOTO: Divulgação
Salvador Shopping, que inaugurou sua expansão em setembro de 2009, foi o primeiro que trouxe para a capital baiana estas novas tendências
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Praticidade é a palavra de ordem nesses centros comerciais. Segundo o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Luiz Augusto da Silva, o mix de lojas, lazer, centros de gastronomia e alameda de serviços é imprescindível para manter um bom fluxo diário no empreendimento. “Quanto mais pessoas circularem pelo mall, melhor para os lojistas, pois teremos mais propensão a compras”, ressalta. Em termos de estrutura, atualmente, os projetos estão focados na valorização da ventilação, transparência e luz natural, além de um cuidado redobrado com o paisagismo dos ambientes. O arquiteto Antônio Caramelo esteve à frente de dois novos grandes projetos na capital baiana, a construção do shopping Horto Bela Vista e a expansão do Shopping Barra, e descreve a mudança de paradigma que houve: “Antes os shoppings eram ambientes fechados. O conceito que predominava na época era de que os clientes não podiam perceber a passagem do tempo, pois assim permaneceriam mais horas nas lojas. Hoje as pessoas vão a estes locais para se divertir, e eles precisam ser claros, alegres e convidativos”. Caramelo explica também que os shoppings estão priorizando a utilização de vidros de alta performance nas coberturas, já que eles reduzem em até 70% a entrada de calor, o que contribui com um ambiente bem iluminado e arejado. Acessibilidade, perfil do público e o impacto que o empreendimento trará ao meio ambiente são alguns dos fatores que são avaliados na concepção do projeto de um shopping, pontua o arquiteto. O Salvador Shopping, inaugurado em 2007, foi o primeiro que trouxe para Salvador algumas destas novas tendências. O empreendimento possui um sistema de captação das águas das chuvas, que são reaproveitadas nas descargas dos banheiros e para molhar as plantas das áreas verdes. “Além disso, há um sistema de esgoto a vácuo nos sanitários que reduz em até 90% o consumo com água”, ressalta o superintendente Gian Franco. O projeto foi pensado para tornar o espaço mais agradável aos consumidores, com corredores amplos, claros e de fácil circulação.
O empreendimento da JHSF, o shopping Horto Bela Vista, foi inaugurado no dia 13 de julho e faz parte de um complexo inclui 19 torres residenciais e três torres comerciais
FOTOS: Rômulo Portela
“Os shoppings representam o que as praças matrizes eram no passado, local onde grupos de amigos se encontravam” Edson Piaggio, coordenador estadual da Associação Brasileira de Shopping Centers
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FOTO: Rômulo Portela
De portas abertas para os vizinhos Território cativo de moradores e turistas da região, o Shopping Barra é um vizinho “querido” há quase 25 anos. Depois de uma pesquisa realizada em março de 2011 pela Potencial Pesquisas, os empreendedores do shopping constataram a necessidade de mudanças. Os consumidores citaram como sugestões para melhoria a ampliação da praça de alimentação e do estacionamento, modernização do cinema, além de mais investimentos na área de lazer e no mix de lojas. “Contemplaremos todos estes quesitos com a expansão”, afirma Naildo Macedo, sócio-diretor da Enashopp, empresa que administra o Shopping Barra. O Barra inaugura em setembro 55 novas lojas, megastores, centro de diversão, Barra Gourmet, complexo de cinemas com oito salas, além de um novo estacionamento com três mil vagas. O projeto arquitetônico inclui uma fachada totalmente revestida em vidro e alumínio composto, confirmando os conceitos de modernidade e sofisticação ao shopping, conhecido como um dos que mais concentram lojas de grifes em Salvador. Uma nova vizinhança surge também na área do Cabula, com o mais novo shopping do Grupo JHSF, o Horto Bela Vista. Seguindo o conceito de uso misto, o empreendimento faz parte de um complexo que leva o mesmo nome e inclui ainda 19 torres residenciais, três torres comerciais, hotel e escola. Fabiano Strelow, superintendente do Horto Bela Vista, confirma que o projeto inicial foi modificado, pois imaginava-se que o modelo do shopping de luxo Cidade Jardim, em São Paulo, seria replicado em Salvador. “Na época que o Horto Bela Vista foi lançado, a JHSF não possuía empreendimentos no varejo competitivo, por isso houve uma expectativa que o shopping atenderia exclusivamente o segmento de luxo. Atualmente, o mix de lojas e serviços reflete as necessidades do entorno, mas quando o complexo estiver pronto, atenderemos todas as classes sociais”, destaca. 42
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Vista da praça central do Shopping Barra
SHOPPINGS SE MULTIPLICAM NO INTERIOR Em 1997
65% em capitais 35% em cidades do interior Em 2011
49% em capitais 51% em cidades do interior Censo da Alshop em dezembro de 2011
PROPORÇÃO DE SHOPPINGS NO INTERIOR ULTRAPASSA A DAS CAPITAIS
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epois de invadirem as capitais, os investidores descobriram o potencial das cidades do interior com mais de 200 mil habitantes, por razões como o crescimento da classe C e do poder real de consumo da população brasileira. Outro fator que atrai os grandes empreendedores é a oferta de terrenos amplos e mais baratos do que nas capitais. Para se ter ideia do crescimento deste setor, há cerca de 15 anos, a proporção de shoppings no país era de aproximadamente 65% nas capitais e 35% no interior. Atualmente, segundo censo realizado em dezembro de 2011 pela Alshop, a proporção de estabelecimentos no interior (51%) já ultrapassa o número nas capitais (49%). Para Edson Piaggio, enquanto houver renda e manutenção das boas taxas de emprego no país, com mais pessoas com poder de consumo, o número de shoppings em construção continuará crescendo. Piaggio é um dos empreendedores do mais novo shopping que será inaugurado em Feira de Santana em 2014, segunda cidade mais populosa do estado e considerada a maior do interior nordestino em população. Ainda em fase de aprovação do projeto, o Park Shopping conta com investimento de cerca de R$ 80 milhões. Serão 140 operações entre âncoras, lojas e fast food, e um estacionamento com 1.800 vagas. A empresária Luciene Cruz acredita que o novo shopping vai atrair mais empreendimentos para o entorno do bairro do Papagaio, estimulando o crescimento da economia de Feira. “Condomínios residenciais estão sendo lançados e o comércio está ganhando galerias novas. Tudo isso movimenta a economia em geral”, destaca. Segundo Edson Piaggio, a equipe do Park Shopping dará apoio aos pequenos empresários que buscam uma franquia. “Quando surge uma crise, as últimas lojas que são afetadas são as que estão nos shoppings, porque há todo um processo de orientação, de marketing e planejamento com os lojistas”, ressalta. O Park Shopping será viabilizado pelos mesmos sócios do Boulevard, que já existe em Feira de Santana.
Outra cidade que está no centro das atenções dos grandes investidores é Teixeira de Freitas, no extremo sul do estado. Nos próximos dois anos, a cidade vai ganhar dois shoppings de grande porte. Um deles é do grupo carioca Pátio Mix, que vai investir R$ 95 milhões na construção do empreendimento. O Shopping Pátio Mix Teixeira de Freitas será construído em um terreno de aproximadamente 60 mil m2 de frente para a BR-101 e contará com três lojas âncora, quatro salas de cinema, praça de alimentação e 700 vagas de estacionamento. O outro empreendimento será uma iniciativa do Grupo Chaves, formado por empresários de Teixeira de Freitas, e será construído em um terreno também às margens da BR-101. A previsão é que o Shopping Jequitibá Teixeira de Freitas seja inaugurado em maio de 2014, exatamente 14 anos após a inauguração do Shopping Jequitibá, também do mesmo grupo, na cidade de Itabuna. “Vamos atrair os empresários locais demonstrando todas as vantagens que os lojistas terão ao abrir uma loja em um shopping center, com uma administração central e planejamento de marketing”, destaca um dos empreendedores Manoel Chaves Neto. Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, ganhará seu primeiro shopping com o investimento do Grupo Cornélio Brennand. O projeto será misto, com áreas residenciais e comerciais, além de construir uma nova via de acesso à cidade, que ligará a Avenida Jorge Amado à Via Parafuso. Ainda sem nome definido, o empreendimento entrará em operação no segundo semestre de 2014, e será construído na Avenida Jorge Amado com um investimento de R$ 76 milhões. Terá 19 mil m2 de Área Bruta Locável (ABL) e 90 lojas, com salas de cinema e praça de alimentação. [B+]
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GRANDE LIVRO PARA UM GRANDE HOMEM
LUIZ MARQUES FILHO
Economista, superintendente da FEA-Ufba, diretor da ADVB-BA e professor da Faculdade Baiana de Direito
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Vira e mexe acordamos assustados com notícias sobre a Europa, sobre a incapacidade da economia reagir, e, agora, sobre o “pibinho” brasileiro de 2012. Crise é a palavra da moda, a inexorabilidade do futuro nos envolve. É neste espírito que penso que os homens de negócios deveriam dedicar algumas horas dos seus raros momentos de lazer para se deliciar com o livro O Profeta da inovação, de Thomas K. McRaw, editado no Brasil pela Editora Record. É um livraço! O autor aborda, com profundidade de espírito, a vida e a obra de um dos maiores economistas da história, o austríaco Joseph Schumpeter. Ao lado de ter vivido as duas grandes guerras mundiais que destroçaram a Europa, de ter sofrido com a grande depressão dos anos 30, de ter tido paixões por mulheres que marcaram sua vida, e de ter produzido obras clássicas da economia (como Teoria do Desenvolvimento Econômico, Ciclos de Negócios e Capitalismo, Socialismo e Democracia), Schumpeter entendeu a alma da dinâmica capitalista. É dele a definição de que os ciclos de crescimento e depressão do capitalismo são resultados da intensa ação do empreendedor, base de sua lógica econômica. É o empreendedor, figura isolada ou participante de uma grande corporação capitalista, que desenvolve novos produtos, novos mercados, que traz à tona novas fontes de suprimento de matérias-primas. Esta ação incansável destrói o que está posto, o que – velho – não consegue acompanhar o novo. Novos produtos, novos desejos de consumo surgem da
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ação individual ou corporativa. Grandes companhias (incompetentes para acompanhar o novo) simplesmente quebram e deixam seus destroços pelo caminho. Empregos antigos definham, e novas possibilidades de colocação no mercado surgem de forma avassaladora. A dinâmica de empobrecimento e riqueza é uma constante no capitalismo. Schumpeter disse: “Nunca existe o equilíbrio, capitalismo em estabilidade é uma contradição em termos”. Ele foi também o pioneiro a entender que o empreendedor, ao criar novos produtos, passa a demandar uma estratégia de vendas para estimular o consumidor a acreditar que aquele novo produto deva ser consumido. Estratégia empresarial, termo hoje banal, nasce dos escritos de Schumpeter, ao analisar as grandes corporações: observem, marketing e estratégia nos anos 20 do século passado! As escolas de economia passaram a desprezar Schumpeter, que foi abraçado pelas escolas de administração em todo o mundo. Afinal, é difícil matematizar o empreendedorismo, colocá-lo em equações. Para Schumpeter, o verdadeiro economista tinha que conhecer profundamente história e sociologia (além de matemática). Mas como ele mesmo dizia: “Não confio em dois tipos de pessoas, arquitetos que afirmam construir barato e economistas que declaram dar respostas simples”. Em outubro de 2008, quando o mundo se equilibrava ante à quebra do banco Lehman Brothers, nos EUA, e a crise mostrava seus dentes de terror, o professor Delfim Netto, ao responder a uma pergunta dos jornalistas atônitos na TV sobre a crise, disse: “Meu filho, esta crise já está sendo resolvida; não se preocupe, pois outra crise, que ninguém sabe exatamente qual é, está começando a nascer agora e explodirá em breve”. Nada mais Schumpeteriano do que isto. Para encerrar, o bom dia dado por Schumpeter aos seus alunos em Harvard no primeiro dia de aula do ano letivo: “Sempre sonhei ser um grande cavaleiro, um grande economista e um grande amante; ultimamente tenho tido problemas com os cavalos.” Suas mulheres devem ter de fato o amado. Seus alunos e a história provaram o economista que ele ainda é. Quanto aos cavalos...
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ANTECIPAÇÃO DO ICMS: UMA REALIDADE DANOSA PARA AS EMPRESAS
ANTOINE TAWIL
Presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado da Bahia
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A reforma tributária é uma das necessidades mais urgentes do país e a falta dela é um dos obstáculos ao desenvolvimento. Os setores produtivos da economia vêm lutando por uma reforma com “justiça fiscal”, que melhore a qualidade e a distribuição da carga tributária entre os contribuintes. Até que alcancemos esse modelo, há diversos recursos que podemos adotar para minorar os prejuízos que o segmento empresarial tem sofrido. Aqui na Bahia, queremos contar com a sensibilidade do governador Jaques Wagner e do secretário da Fazenda, Luiz Alberto Petitinga. Um exemplo é a questão do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no que tange à data antecipada para o seu recolhimento e à antecipação parcial em relação a produtos adquiridos em outro estado. Em face de necessidades sempre crescentes, o Estado precisa repensar as condições fiscais para um melhor desenvolvimento macroeconômico e social. Uma das principais alavancas do desenvolvimento está no sistema de cobrança do ICMS, seja na função de propulsor do fortalecimento dos cofres públicos, seja na função de instituir políticas fiscais que permitam o aumento dos investimentos privados. Sem a conjugação desses fatores, a dinâmica e a escala da economia da Bahia ficarão prejudicadas, tornando-se quase impossível a superação dos desníveis regionais. Nesse contexto, nosso pleito é por mudanças urgentes que devem ser feitas no critério de cobrança do ICMS. A dilatação do prazo para o pagamento do imposto é uma dessas mudanças que temos requisitado.
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Sem o quadro inflacionário do passado, não se justifica uma antecipação com prazo exíguo para o recolhimento do imposto, como acontece hoje. O pagamento em prazo muito menor que a conclusão do ciclo comercial causa injustificáveis perdas aos contribuintes e também à dinâmica econômica e à sociedade em geral. É uma situação que causa problemas constantes para a gestão das empresas, especialmente pequenas e médias, que representam mais de 80% do universo dos varejistas baianos e não dispõem de recursos para fazer o pagamento dos tributos no vencimento. A data nem precisa mudar de forma abrupta, não há nenhuma intenção de trazer dificuldades ao fluxo de caixa do Estado. Sugerimos que seja feito um processo de implantação paulatino, dento de um tempo determinado. Outro aspecto do ICMS que compromete o capital de giro das empresas é a antecipação parcial de 10%, que incide sobre as mercadorias adquiridas em outro estado. As micro e pequenas empresas são obrigadas a recolher a antecipação – “a diferença de alíquotas” – sem que tenha havido o creditamento. Esse fato encarece as mercadorias, causando desequilíbrio, a descapitalização do contribuinte, a redução do seu capital de giro e a diminuição da escala dos seus negócios. Uma das consequências é a mortalidade elevada e precoce das micro e pequenas empresas. Queremos o cancelamento da antecipação tributária, principalmente para o segmento das micro e pequenas empresas, que acarretará uma renúncia fiscal de aproximadamente 1,5% da arrecadação total do Estado com o ICMS. Para as empresas, entretanto, os benefícios serão significativos no que se refere ao ganho de competitividade, melhora no ciclo econômico, capital de giro, desenvolvimento, geração de emprego, mais renda e maior consumo. A medida também beneficiaria o próprio Estado, qualificando e ampliando a arrecadação de tributos, reduzindo a sonegação fiscal, gerando novos empreendimentos e motivando o desenvolvimento dos negócios já existentes.
Apoio:
SUSTENTABILIDADE FOTO: Ascom Riotur
SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS | 52 PRO BEM | 54 [C] ISAAC EDINGTON | 60
ESPERANÇAS DA RIO+20 O que podemos esperar dos resultados e debates ocorridos na Rio+20? Traçamos algumas perspectivas dos pontos mais importantes e como a Bahia está inserida nesse contexto.
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S USTENTA B ILIDA D E | p ro bem
CAMINHOS PARA AVALIAR O PROGRESSO
Salvador é conhecida pela alegria de seu povo e admirada pelo estilo de vida. Porém, a pesquisa Proteste ouviu cidadãos de 21 capitais do Brasil e revelou, em junho de 2012, que Salvador ficou na pior colocação em habitação e mobilidade, além do segundo pior lugar em segurança, saúde e emprego, atrás de Maceió, Natal e João Pessoa, respectivamente. Então, qual é a melhor forma de medir o progresso? por CLARA CORRÊA www.ecod.org.br
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clima foi de festa quando confirmada a sexta posição do Brasil no ranking das maiores economias do mundo, em março deste ano. O país ultrapassou a riqueza do Reino Unido esbanjando o montante de 4.143 trilhões de reais do Produto Interno Bruto (PIB). Noticiários e economistas internacionais ressaltaram o crescimento da economia brasileira, em meio à crise nos países da Europa. Ponto positivo para o Brasil. Mas temos mesmo uma vida de país de “primeiro mundo”? De tempos em tempos, essa pergunta volta à tona. Analistas questionam se o PIB, medidor mais prestigiado entre os líderes globais, é mesmo o melhor mecanismo para avaliar o progresso de uma nação. O índice criado na década de 1930 pelo russo naturalizado norteamericano Simon Kuznets lhe rendeu FOTO: Sebastiao Barbosa/UN Photo
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FOTO: Mark Garten/UN Photo
inclusive um Prêmio Nobel de Economia e foca na soma em valor monetário de todos os bens e serviços produzidos por um país. Deixa de fora, por exemplo, a riqueza dos bens naturais, o acesso ao conhecimento, o bem-estar social, psicológico e a boa governança. Para ampliar essa avaliação, em 1990, o economista paquistanês Mahbud ul Hap lançou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ao classificar os países a partir de dados de expectativa de vida e saúde, educação e o PIB por habitante. Esse foi o início das avaliações centradas na qualidade de vida das pessoas. A consequência foi um forte contraste quando comparado aos números do PIB. O Brasil é a sexta economia do mundo segundo o PIB, mas figura na 84ª posição entre os 187 países avaliados em 2011 pelo IDH. O cenário atual, com crise climática, econômica e forte exploração dos recursos naturais, amplia os desafios dos estatísticos para saber quem está no caminho certo. Tanto que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, alertou: “A comunidade internacional deveria medir o desenvolvimento para além do Produto Interno Bruto e desenvolver um novo índice de desenvolvimento sustentável ou um conjunto de indicadores”.
Índice de Riqueza Inclusiva Uma resposta a essa necessidade veio durante a Rio+20, quando o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou o Índice de Riqueza Inclusiva (IRI). O novo indicador avalia o desenvolvimento de uma nação com base em ativos do capital manufaturado, humano e natural. Desenvolvido por especialistas da Universidade das Nações Unidas, a ferramenta reúne informações referentes à educação e expectativa de vida, os recursos florestais, além da produção industrial. Na prática, quanto mais alto é o IRI, mais sustentável é a nação. Segundo Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, o IRI faz parte de uma gama de potenciais substitutos à avaliação da geração de riqueza, cuja intenção é “concretizar o desenvolvimento sustentável e erradicar a pobreza”. Segundo a ONU, o novo indicador buscará incentivar a sustentabilidade dos governos e complementar o cálculo do PIB, ou mesmo substituir os atuais medidores da economia. Na primeira listagem, divulgada em junho, o Brasil foi considerado o país com o quinto maior crescimento sustentável anual per capita do mundo, atrás apenas de China, Alemanha, França e Chile, e à frente de potências econômicas como Estados Unidos, Canadá e Noruega.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (acima), pede por um índice que vá além do Produto Interno Bruto e Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, aposta no IRI como o substituto.
FOTO: Maria Elisa Franco/UN Photo
Apesar da criação de um novo índice, ainda mais completo, o debate em torno dos fatores que devem ser levados em conta na hora de medir o desenvolvimento de uma sociedade parece não ter fim. Para a administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Helen Clark, o progresso precisa ser definido e medido de uma forma que represente uma “perspectiva mais ampla do desenvolvimento humano e seu contexto”. Mas, afinal, qual seria essa perspectiva?
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FOTO: John Isaac /UN Photo
O pequeno e isolado reino do Butão reconstruiu seu modelo de crescimento e hoje figura entre as dez nações mais felizes do mundo
“Igualdade, dignidade, felicidade, sustentabilidade – são todos fundamentais às nossas vidas, mas ausentes no PIB” Helen Clark, administradora do Pnud
Tudo isso leva à felicidade? “Crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa”, já disse Ladislau Dowbor, economista e professor da PUC/SP em 2009. Naquele mesmo ano, enquanto lançava o livro Compêndio de Sustentabilidade de Nações, em que reúne 25 indicadores alternativos ao PIB elaborados no Brasil e no mundo, o economista defendia que já não era possível se basear apenas no crescimento econômico permanente, pois ele não se traduz em qualidade de vida. Foi essa condição que levou o pequeno reino do Butão, isolado entre as montanhas do Himalaia, a adotar, em 1972, o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB). Com uma população de aproximadamente 700 mil habitantes, o país foi classificado como um dos mais pobres do mundo pela ONU, mas também como um dos dez mais felizes por uma pesquisa da University of Leicester, no Reino Unido. A história começou quando o rei Jigme Singye Wangchuck, incomodado com as críticas de que seu país crescia de forma insatisfatória, firmou um compromisso de construir uma economia adaptada à cultura do país e baseada nos valores espirituais budistas - criando, assim, o FIB. Desde então, o progresso do Butão é calculado com base em aspectos que levem à felicidade. Hoje, o país não tem problemas com fome, o analfabetismo é zero, índices de violência são insignificantes, nenhum mendigo vive nas ruas e não há registro de corrupção administrativa. O país tem até um Ministério da Felicidade, que trabalha para garantir ao cidadão bem-estar psicológico, saúde, bom uso do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, cuidado com o meio ambiente e boa governança. A intenção é manter o padrão de vida sempre na lista de prioridades.
FOTO: LAI Ryanne
FOTO: Gill Fickling /UN Photo
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FOTO: Anja Disseldorp
Maiores PIBs:
Felicidade em números O modelo do Butão despertou a atenção das Nações Unidas, que apresentaram, em abril de 2012, o primeiro Relatório Mundial sobre Felicidade, produzido pela Universidade da Columbia. O documento analisou dados de 156 países, recolhidos entre 2005 e 2011. O resultado listou a Dinamarca, Finlândia, Noruega, Holanda e Canadá como os povos mais felizes os planeta. Do outro lado da lista, Togo, Benim, República Centro-Africana e Serra Leoa. Para avaliar a felicidade, o relatório considerou critérios que incluíram riqueza, liberdade política, existência de redes sociais fortes e ausência de corrupção. Em termos individuais, foram medidas a saúde física e mental, segurança no trabalho e estabilidade do ambiente familiar. O economista norte-americano Jeffrey Sachs, um dos autores do estudo, defende essas variáveis como fundamentais para se ter uma noção do real bem-estar de determinada população. “A felicidade, embora seja de fato uma experiência subjetiva, pode ser objetivamente mensurada, avaliada, correlacionada com funções cerebrais observáveis, e relacionada às características do indivíduo e da sociedade”, defende. Para Sachs, é preciso identificar as conexões da felicidade e usar as políticas públicas para produzir uma elevação da satisfação com a vida em toda a sociedade. De acordo com o relatório, elevar a renda pode elevar a felicidade, especialmente nas sociedades pobres, mas fomentar a cooperação e o sentido de comunidade pode fazer mais ainda.
“A felicidade, embora seja de fato uma experiência subjetiva, pode ser objetivamente mensurada e avaliada“ Jeffrey Sachs, economista
Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Brasil
Maiores IDHs: Noruega, Austrália, Holanda, Estados Unidos e Nova Zelândia - Brasil 84ª
Maiores IRIs: China, Alemanha, França, Chile e Brasil
Maiores Índices de Felicidade: Dinamarca, Finlândia, Noruega, Holanda e Canadá - Brasil 25º
Felicidade bruta dos brasileiros O conceito do FIB chegou também ao Brasil. Desde 2010, a Fundação Getúlio Vargas trabalha com pesquisas para criar um índice adaptado à realidade brasileira. Segundo o professor Fábio Gallo, um dos responsáveis pela pesquisa, o índice no Brasil vai ser um pouco diferente e medirá pontos como educação, saúde, renda, violência e uso do dinheiro. Para traçar esse índice, os pesquisadores promoverão uma série de audiências públicas a partir do segundo semestre de 2012 para definir os critérios a serem medidos - e somente depois passarão para a fase de mensuração de cada fator do índice. “Muitos medem apenas objetivos. Vamos começar um caminho até mais doloroso, que é desenvolver, a partir de indicadores, objetivos e subjetivos, qual o comportamento padrão do bem-estar brasileiro. Antes de medir os números, queremos descobrir as perguntas”, afirmou. A expectativa é que o índice auxilie na formulação de políticas públicas e privadas não apenas em nível nacional, mas também local. “Queremos saber o que faz as pessoas felizes. Em uma cidade, o que as pessoas gostariam de ter mais? Equipamentos esportivos, culturais, de lazer, ambientes verdes?”, exemplifica. Para Gallo, as pessoas já não querem ser medidas apenas por fatores monetários, e o novo cenário mundial pede também uma nova concepção de desenvolvimento. “Queremos entender quais são os fatores determinantes para o bem-estar dos brasileiros. Não basta ser a sexta economia no PIB, é preciso saber se isso nos faz um país mais feliz”, concluiu. [B+]
FOTO: World Economic Forum
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MANTENHA-SE BEM SOBRE DUAS RODAS
FOTO: Carolina d’Avila
Seu Joel acompanha de perto os serviços da sua oficina no Vale das Pedrinhas
A bicicleta é o símbolo de uma nova mobilidade urbana. Em grandes cidades, as pessoas encontram na magrela uma alternativa aos engarrafamentos e precários sistemas de transporte público. O melhor amigo do ciclista aproveita a crescente demanda do mercado e dá algumas dicas para quem gosta de cuidar bem da sua bicicleta. Com a palavra, o mecânico por CAROLINA D’AVILA
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odo bicicleteiro que se preze tem um mecânico de confiança. Joel Pinheiro, de 44 anos, é um desses a quem podemos entregar nossas bicicletas de olhos fechados. Há 14 anos, ele é dono de uma pequena loja de manutenção de bicicletas no Vale das Pedrinhas, a Auto Peças Bike. Basta chegar à entrada da oficina para perceber que Joel atrai todos os tipos de usuários da magrela. As crianças do bairro, ávidas por aprender os macetes da manutenção, supervisionam cada serviço. Entre elas, misturam-se os clientes que vão desde os entregadores de garrafões de água até os ciclistas profissionais. Com a ajuda de dois mecânicos e um ajudante, Joel prima pelo atendimento à clientela, sem fazer distinção de preço de um para outro. O sucesso da oficina é comprovado pelo aumento de 30% no lucro dos últimos anos, o que motivou Joel a recentemente fazer uma reforma para conseguir atender melhor os clientes, que também são seus parceiros nas pedaladas dos finais de semana até Arembepe. 52
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Dicas de Joel para manter a bike sempre nova Ter um conjunto de chaves Allen por perto permite fazer pequenos reparos nos parafusos e porcas, como, por exemplo, a regulagem dos freios. Se a bicicleta começou a chiar, está na hora de lubrificar a corrente. Pingue óleo Singer, de maneira não exagerada, fazendo com que o produto entre pelas frestas. Para tirar sujeiras agarradas, como areia e barro, use uma escova de dente molhada com óleo diesel. Com exceção do aro, para não prejudicar o funcionamento dos freios. Um pano com água e sabão é o suficiente para lavar sua bicicleta. Lembre-se de não molhar a catraca. Toda semana passe vaselina líquida nas partes cromadas ou de ferro. Isso evitará a ferrugem. Quando for comprar peças novas, opte por materiais de aço inoxidável ou alumínio. Capacete, luva e sinalização dianteira e traseira são equipamentos de segurança indispensáveis para quem vai andar de bicicleta. Sempre pedale calçado. Faça uma revisão de três em três meses com um profissional. Ele pode indicar as peças que precisam ser trocadas, evitando surpresas desagradáveis durante o passeio.
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Durante nove dias do mês de junho, sociedade civil e lideranças globais estiveram reunidas no Rio de Janeiro, debatendo e soltando a voz por um mundo melhor. Representantes baianos estiveram presentes
DECISÕES ESTRATÉGICAS PARA O FUTURO DA HUMANIDADE
por
RAÍZA TOURINHO
www.ecod.org.br FOTO: Divulgação
A
s decisões estratégicas para o futuro da humanidade foram debatidas no Brasil durante nove dias do mês de junho. O Rio de Janeiro, palco da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, permitiu ao governo e população brasileira exercitar mais uma vez a liderança perante as nações de todo o mundo. O resultado de tal encontro, provavelmente, será percebido somente diante de uma perspectiva histórica, tal qual só se visualiza agora os resultados positivos da Rio 92, a “cúpula mãe”. No entanto, o encontro foi muito além dos resultados oficiais – que agradaram a poucos. Sobre o resultado oficial, as opiniões se dividiram basicamente em três correntes: aquela que comemorou a chegada de um consenso, reiterando que melhor algum acordo do que nenhum; os pessimistas, que se decepcionaram pela falta de ousadia da cúpula em propor ações concretas e chegaram a se reunir no último dia da conferência, abdicando da credencial do evento; por fim, os que relativizaram o resultado oficial, argumentando que a conferência foi apenas o ponto de partida, e não o que deve ser cobrado de cada governo. 54
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Do debate para a prática Por outro lado, os mais de três mil eventos paralelos à conferência oficial superaram as expectativas e lembraram que ainda há motivos para o otimismo. Quem teve a oportunidade de vivenciar um pouco da Rio+20 também não esquecerá facilmente o clima de “temos que fazer alguma coisa” pairando no ar. O baiano Eduardo Athayde, diretor da World Watch Institute (WWI) Brasil, foi um dos que estiveram presentes. Para ele, o evento foi um “sucesso total” como um momento de encontro da “comunidade global”. “As tendências e rumos gerados a partir daí, em diferentes setores, terão grandes resultados. Esperar um produto acabado da Rio+20 é como esperar, por exemplo, a cura do câncer em um congresso internacional do câncer”, define Athayde. O secretário de Meio Ambiente do Estado da Bahia, Eugênio Spengler, definiu a Rio+20 como uma oportunidade para aprender outros modelos de ecodesenvolvimento: “Vimos experiências e programas, desenvolvidos no mundo todo, que podem ser olhados e aplicados ao que já estamos fazendo”, ressalta. Segundo Spengler, a sociedade civil baiana também tem iniciativas importantes, “tanto setores de ONGs ambientalistas, como aquelas voltadas para o setor social, com experiências em reciclagem e em manejos mais adequados de florestas.
FOTO: Divulgação
Assim como há empresas baianas que estão na vanguarda da pesquisa, por exemplo, para reaproveitamento de resíduos e desenvolvimento de novas tecnologias”, afirma. O WWI apresentou, no encontro dos prefeitos, o C-40, o projeto Cairu 2030, no qual o município enfrenta os desafios de geração de renda, empregos e capacitação da população através da sustentabilidade. Desde 2005, a receita da cidade-arquipélago triplicou e a prefeitura vem investindo em ações sociais, focando na educação.
Gestão consciente Foi visível a preocupação das empresas em prestar contas de suas ações em torno da sustentabilidade. Novos acordos e parcerias em todos os níveis foram firmados. Os números são expressivos: foram firmados 715 compromissos voluntários entre organizações não governamentais (ONGs), empresas, governos e universidades. Os investimentos somam um montante de US$ 513 bilhões, a ser aplicado em ações que promovam o desenvolvimento sustentável na próxima década, com ênfase nas áreas de transporte e energia limpa, redução de desastres e proteção ambiental. As maiores empresas do mundo assinaram o Pacto Global da Organização das Nações Unidas. Dentre as 462 signatárias no Brasil, figuram nomes de gigantes dos setores da indústria, como Petrobras, Vale e Braskem. Ao todo, sete mil empresas ao redor do globo assinaram o documento. Para o paraguaio Raul Gauto, da Fundação Avina, a conferência fortaleceu a inserção da agenda ambiental no empresariado: “As empresas devem responder ao desafio, desenvolvendo produtos e serviços para uma economia que seja mais inclusiva e ecoeficiente”, afirmou. O executivo Jorge Cajazeira, presidente do Sindicato das Indústrias do Papel, Celulose, Papelão, Pasta de Madeira para Papel e Artefatos de Papel e Papelão no Estado da Bahia (Sindpacel), foi o único baiano a palestrar no Fórum Oficial da Rio+20. Ele discursou sobre a ISO 26000, norma internacional que define as diretrizes sobre responsabilidade social. Na ocasião, Cajazeira, também presidente do Comitê Mundial da ISO 26000, apresentou metas e resultados das iniciativas de responsabilidade social de diversas partes do planeta. A norma oferece orientações para que as organizações de qualquer porte assumam o compromisso voluntário de responsabilidade social, que se expressa pelo desejo e pelo propósito das organizações incorporarem considerações socioambientais em seus processos decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente.
Eugênio Spengler, secretário de Meio Ambiente do Estado da Bahia
FOTO: Ronaldo Silva/AgecomBA
FOTO: Marcello Casal Jr / ABr
“Esperar um produto acabado da Rio+20 é como esperar, por exemplo, a cura do câncer em um congresso internacional do câncer” Eduardo Athayde, diretor da WWI Brasil
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“As empresas devem responder ao desafio, desenvolvendo produtos e serviços para uma economia que seja mais inclusiva e ecoeficiente” Raul Gauto, da Fundação Avina
Tecnologia baiana Para uma empresa baiana em particular, a Rio+20 representou uma superação e a oportunidade de demonstrar a sua tecnologia ao mundo. Contratada pelo Ministério do Turismo e a Embratur para divulgar as belezas do país, a Comtecno, especializada em mídia digital, produziu uma plataforma com 95% do conteúdo baseados na sustentabilidade em apenas 15 dias. “Praticamente paramos toda a empresa para filtrar e adaptar o conteúdo. Foi bem intenso, mas tivemos um resultado excelente que superou as expectativas”, conta Gustavo Passos, sócio-diretor da Comtecno. A empresa instalou quatro totens no Riocentro e obteve mais de 5.800 acessos, somando cerca de 500 pessoas ao dia. O tamanho sucesso da máquina se deu, segundo Gustavo, à combinação de informação e entretenimento. O sistema Multitolky permite o usuário navegar por conteúdos informativos, tirar fotos com o Fotobook, ter acesso a ferramentas e serviços. O retorno foi tão positivo que os irmãos aproveitaram o evento para conquistar clientes em potencial. “Mostramos que temos condições de implantar o sistema nas cidades-sede da Copa”, diz. Atualmente, os totens da empresa já estão em dez aeroportos do país e diversos hotéis, inclusive na rede da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH). Gustavo alerta que o empresariado precisa estar atento às questões ambientais e critica o mercado baiano, que apesar do potencial se contenta com o business as usual: “Falta ousadia, confiança. A Bahia possui muito espaço a ser explorado e nós não nos limitamos”. FOTO: Carla Ornelas/SecomBA
Marcos Costa, da Multitoky, apresenta os recursos do totem que esteve na Rio+20
Três perguntas ao secretário de Meio Ambiente do Estado da Bahia, Eugênio Spengler. O que achou da Rio + 20? A diversidade de países, povos, movimentos sociais, ambientais e econômicos que participaram dessa conferência foi o grande destaque. Além disso, a Rio+20 trouxe para dentro dos debates a questão do desenvolvimento e do combate à miséria, a necessidade de termos políticas de desenvolvimento econômico que garantam a inclusão social, a geração e distribuição de riquezas com preservação ambiental. Na sua avaliação, o evento, inclusive os paralelos, deverá trazer resultados práticos em âmbito local? Vimos muitas experiências na Rio+20, a exemplo da utilização de energias alternativas, do desenvolvimento através do cooperativismo e do uso mais racional dos bens naturais. Experiências que vão desde a reciclagem de lixo até sistemas produtivos de agricultura familiar, artesanato e tecnologias limpas. Todo esse conjunto de experiências pode ser replicado na Bahia. Houve algum lançamento de políticas do estado na conferência? A Bahia apresentou o Programa Água para Todos, que desde 2007, quando foi criado, já beneficiou mais de três milhões de pessoas. O sucesso do Água para Todos serviu de referência para o Governo Federal, que criou a versão nacional como vertente do Plano Brasil Sem Miséria, em 2011. Outro tema colocado em pauta pela delegação baiana na Rio+20 foi o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE). A proposta é vincular as decisões do poder público e da iniciativa privada aos critérios de uso e conservação dos recursos naturais. [B+]
[+] NO SITE : Leia a entrevista completa com Eugênio Spengler, secretário de Meio Ambiente do Estado da Bahia, sobre a Rio+20
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QUATRO RECADOS Muito se falou do fracasso da diplomacia global em relação ao documento final aprovado na Rio+20, portanto, vou ser econômico nessa questão. Preferi refletir sobre alguns fatos e constatações que pude acompanhar durante os dias no Rio de Janeiro. No Rio Centro, por exemplo, um sinal da incapacidade do multilateralismo em cumprir com eficiência o seu papel.
ISAAC EDINGTON
Empresário, diretorpresidente do Instituto EcoDesenvolvimento e membro do conselho editorial da Revista [B+]
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RECADO 1: FALTAM LIDERANÇAS GENUINAMENTE COMPROMETIDAS COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. No Aterro do Flamengo, a Cúpula dos Povos demonstrou uma mistura de protestos, irreverência e forte engajamento da sociedade civil, ao falar alto e que este não é o mundo que queremos. Nesse mesmo cenário, uma comunidade de 500 cientistas (seis deles Prêmios Nobel) de 75 países produziu um relatório que resume a situação do planeta. O Prêmio Nobel de Química Yuan Tse Lee, de Taiwan, foi escolhido para uma missão quase impossível de resumir, em apenas dois minutos, para os chefes de Estado, o que de mais importante aparece no relatório. Quando perguntado sobre qual a mensagem mais importante do relatório, Yuan respondeu: “Não temos muito tempo para transformar a sociedade e torná-la sustentável. Se continuarmos nesse ritmo, vai ficar cada vez pior”. Logo em seguida, amenizou: “Não temos o direito de ficar pessimistas. Estou feliz de ver tantos jovens no Rio”. Foram registradas 23 manifestações durante o evento. A que reuniu maior número de pessoas foi quando ativistas, indígenas e estudantes ocuparam as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, no centro da cidade. Estima-se que mais de um milhão de pessoas participaram dos eventos paralelos na Cúpula dos Povos.
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RECADO 2: CRESCIMENTO EXPONENCIAL DO ENGAJAMENTO DA SOCIEDADE CIVIL EM POSICIONAR SUA INSATISFAÇÃO. No Forte de Copacabana, a inédita exposição Humanidades atraiu 220 mil pessoas para experiências relacionadas à questão ambiental. Foram pactuados 705 compromissos voluntários entre governos, ONGs e outros grupos, e anunciados investimentos para os próximos dez anos, na ordem de 513 bilhões de dólares, que abrangem programas e ações nas áreas de transporte, energia, economia verde, redução de desastres e proteção ambiental. As 24 companhias multinacionais presentes se comprometeram com a salvaguarda dos ativos naturais da Terra e assinaram o acordo intitulado O Novo Imperativo dos Negócios: Valorização do Capital Natural. RECADO 3: FORTE AVANÇO DE PARCERIAS ENTRE O SETOR EMPRESARIAL RUMO À ECONOMIA VERDE. Prefeitos das maiores cidades do mundo anunciaram metas globais e individuais para reduzir as emissões de carbono em 1 bilhão de toneladas até 2030. De acordo com estimativas da entidade, o número é equivalente ao total de gases poluentes produzidos por Brasil e México pelos próximos 18 anos. Incontáveis eventos paralelos, workshops, seminários empresariais de governos subnacionais e da sociedade civil trataram de questões relacionadas às cidades. Iniciativas alinhadas às cidades eclodem em todo o mundo: Greencities, Sustainablecities, TransitionTowns e a Rede Brasileira e Latino Americana de Cidades Sustentáveis. As empresas também se movimentam nessa onda e identificam fenomenais oportunidades de oferecer serviços e soluções para os graves problemas de nossas cidades. Dois exemplos são Siemens e IBM. O mundo voltar a se preocupar com as cidades. RECADO 4: O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL QUE QUEREMOS PASSA PELA FORMA COMO TRANSFORMAMOS AS NOSSAS CIDADES. Diante dos quatro recados, algum deles pode estar mais próximo de você, ao que você faz. O fato é que todos, de alguma forma, estão influenciando a sua vida, quer você queira ou não. A questão é: o que você vai fazer? Bom, o recado foi dado.
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Antônio Caramelo Um dos mais valorizados arquitetos baianos abre as portas do seu novo escritório e diz o que pensa
por BRISA DULTRA fotos RÔMULO PORTELA
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s pequenos óculos divertidos na ponta do nariz, sua marca registrada, dão a dica sobre a jovialidade de Antônio Caramelo, hoje apontado como um dos grandes nomes da arquitetura baiana. A diversificação dos seus trabalhos é impressionante e inclui cemitério, shopping, bairro-cidade, mercado gourmet, ultrapassando 800 projetos, ao longo dos 45 anos de carreira. Muito mais que um arquiteto, Caramelo é um grande pensador. Suas ideias originais são responsáveis pelo sucesso de suas construções, sempre carregadas de criatividade, referências literárias e sustentabilidade viável. As edificações trazem na essência o que ele viu, ouviu e viveu nesses 64 anos de vida. O costume de estar sempre atento parece inato e é fonte de inspirações. Por ser um homem visual, ele diz, sempre registrou o máximo que podia do seu entorno. “É triste ver que as pessoas não vivem o presente nem percebem a beleza do ambiente que as cerca”, divaga. Ao descrever determinado caminho que faz diariamente, por exemplo, ele cita as construções pelas quais passa, com uma riqueza de detalhes que faz você se questionar sobre a vida que leva e notar a fugacidade das experiências de quem vive pensando no futuro. Apesar de estar sempre fora de casa, Caramelo é um homem de família. Faz declarações para Iara sempre que pode, sua companheira há 49 anos, deixando claro como a mulher é também responsável pelo sucesso conquistado. Os filhos, que volta e meia questionavam a sua ausência, acharam uma ótima maneira de estar perto - trabalham com o pai. O negócio vai bem: prestes a ser inaugurado, o futuro escritório da Caramelo Arquitetos Associados Ltda é o primeiro prédio de arquitetura totalmente sustentável. Para quem não está acostumado com as tecnologias, o lugar parece mágico: ar-condicionados e lâmpadas inteligentes apagam quando percebem que não há ninguém no espaço, cortinas transparentes permitem que se veja a vida nas ruas, existe uma estação de tratamento de água, que é totalmente reutilizada. Para completar, obras de artistas enfeitam as paredes, reforçando o conforto e aconchego do espaço. Só na última década, Caramelo ganhou cinco vezes o prêmio Ademi de melhor arquiteto do ano; foi o responsável pela Perini na Pituba e na Graça; entregou o bairro-cidade Horto Bela Vista, que inclui o novo shopping e o condomínio residencial; assinou os projetos do Cemitério Colina da Saudade, ossuário e crematório do Jardim da Saudade; e assinou a reforma e expansão do Shopping Barra, para citar apenas alguns dos seus grandes projetos. Caramelo nos contou sua história e opinião sobre um tanto de coisas, como a situação de Salvador, suas crenças religiosas, o individualismo das relações e as manias que permeiam seu processo produtivo. Cheio de projetos, falou sobre seus mais novos filhos, o Movimento dos Artistas e o Programa de Trainee para recém-formados, que já se inicia no próximo ano.
''Ao escrever um projeto, você empresta a quem lê suas reflexões, potencializando uma experiência ''
Caramelo se veste de branco toda sexta, por conta de uma promessa feita para sua filha recém-nascida se salvar de uma icterícia
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Faixada do novo escritório da Caramelo Arquitetos Associados Ltda, o primeiro de arquitetura totalmente sustentável
Tecnologia O escritório de Caramelo não tem computador, mas o seu iPhone não para de notificar novas mensagens: “Acordo vendo meus e-mails, vou para o Facebook e Twitter. Isso eu levo uma hora no sanitário e minha mulher: ‘E aí, não vai sair, não?’. Não durmo antes de baixar todos os emails e respondêlos. Viciei”. A tecnologia, aliás, está no DNA do seu trabalho: buscando facilitar a vida dos usuários dos espaços que projeta, ele utiliza tecnologias de ponta, muitas vezes vindas de grandes centros como Dinamarca e EUA: “Os nanotubos revolucionaram a forma de construir, são ultrafinos e resistentes, permitindo uma série de facilidades para nós; tem também os vidro hidrofugantes, que não acumulam partículas; revestimentos com bactericida, onde não precisa usar produto químico para ter assepsia perfeita...”, mostrando como hoje, quase tudo já é possível. 62
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Workaholic Sim, ele é um e está feliz. Tudo bem que já teve três estafas, responsáveis, inclusive, por um longo processo de autoanálise. “Comecei a sentir angústia, a me desinteressar pelas coisas. Era um mal-estar inexplicável, suava sem explicação, tinha palpitações. Um dia, tive taquicardia e senti pânico. Subi pro escritório, tomei água com açúcar e deitei no chão. Procurei um clínico geral e ele falou que eu tava estafado e que precisava cair fora. Tava tão angustiado que cheguei em casa e falei pra Iara: ‘Pegue tudo que você vai precisar pra um mês e os meninos. A gente vai pra Porto Seguro’”. Nesse um mês, caminhou na praia, refletiu e voltou revigorado. Decidiu fazer terapia, mas não funcionou pra ele. Desde então (há mais ou menos 30 anos), vive em um processo de autoanálise, sempre em busca de respostas para os seus comportamentos e posturas. Ah, e continua workaholic – “arquitetura é vida”, diz.
Católico-espírita ou espírita-católico Caramelo cresceu em uma família católica. Filho de imigrantes religiosos, ele se disse “induzido ao catolicismo”. Por isso, foi buscar a verdade em outras crenças: “Eu sempre fui muito questionador e curioso. Fui no candomblé, na umbanda, na Igreja Batista... Mas foi no espiritismo que eu me encontrei. O espiritismo está dentro do catolicismo. Creio no Novo Testamento, mas já no velho... Não acredito no dilúvio, em arca de Noé. Agora, quando você pega a vida de Jesus pra cá, você vê que é outra história. Existiu um homem que chegou aqui com poderes fantásticos, o registro não está apenas na Igreja Católica, ele é contado em outras religiões”. Atento ao seu contexto Caramelo, a todo instante, faz observações muito lúcidas a respeito dos lugares que visitou e das experiências que viveu. Ele de fato registra o espaço, ouve com os olhos, vê com os ouvidos e registra tudo no cérebro multissensorial. “As pessoas vivem a cidade de uma forma que não a registram. A maioria sabe que houve uma batida, que fulano foi assaltado, mas o que mais ela registrou disso? O que viu da cidade de ontem? O que mudou para elas? Isso é falta de observação. Tem gente que fica surdo para cidade como fica surdo pra certas pessoas. Tem gente que pode passar o dia inteiro falando que você não vai perceber. A mesma coisa é a nossa cidade. Ela conversa com você, mas você muitas vezes não liga pra ela. Não percebe as árvores, as construções, as peculiaridades de cada bairro. O ser humano ainda se comunica muito pouco com o ambiente onde ele está. O descarte pelas coisas e o excesso de informações fazem com que você priorize um ou outro detalhe e se esqueça dos demais”.
Sou muito visual. Se tem alguma coisa que está em desarmonia com o espaço onde estou, eu tiro aquelas coisas de perto
'' Faço tudo no iPhone. Acordo vendo meus e-mails, vou para o Facebook e Twitter '' Caramelo e alguns vícios: o iPhone e os livros
As manias Caramelo diz que as manias vão sendo criadas com o tempo. Os filhos brincam ao dizer que é TOC, mas ele se defende: “É uma coisa de organização espacial, não é TOC”. “Se eu vou criar, eu tenho que estar com a mente limpa e focada naquele projeto. Então eu tento limpar minha cabeça das preocupações que ela tem: deixo uma folha de papel em branco do lado, onde vou anotando tudo que surge –
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C APA preocupações, outras ideias, compromissos. Se no meio de uma conversa, no meio de um trabalho ou de uma palestra, surge alguma coisa, eu vou lá e escrevo o que veio à minha cabeça e que está ocupando um espaço. Assim eu vou descarregando”. Outra mania é a questão visual. “Sou muito visual. Se tem alguma coisa que está em desarmonia com o espaço onde estou, eu tiro aquelas coisas de perto, para que meu campo visual só foque naquilo que eu quero, dentro de uma composição harmônica. É uma forma de arrumação mental. A mesa deve estar arrumada, os espaço, os objetos. Senão tudo fica caótico”. O arquiteto diz não usar a cor verde em prédios. “O verde é uma cor de Deus. O ser humano tenta executar com o verde e não funciona. Vejo prédios dessa cor em Salvador que, quando eles acabam de ficar prontos, já estão velhos, feios. Você nem registra. Tente aí lembrar de um... Já na natureza o verde é lindo, tem todos aqueles tons que se combinam e colorem o espaço. Uso verde só com as plantas e jardins dos meus projetos. Aí, sim, funciona”
Caramelo apresenta onde vai ser a central de dados do novo escritório, que terá recursos de eficiência energética
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O texto e o arquiteto “Ao escrever um projeto, você empresta a quem lê suas reflexões, potencializando, talvez, uma experiência. Por isso a leitura é tão importante, de uma maneira geral: muitas vezes, você não tem tempo ou sagacidade para chegar a certas conclusões e aquilo acaba te inspirando, se integrando ao que você pensa. Isso é importantíssimo em uma defesa de projeto. Tem objetos que significam coisas que as pessoas jamais imaginariam”. Caramelo dá um exemplo da sutileza na sua criação: “Fiz um desenho curioso para o ossuário do Jardim da Saudade, com uma reflexão: na vida, o artista fica no palco e a plateia fica na arquibancada. Aí fiz o desenho de um anfiteatro grego, onde no centro fica o palco; e nos degraus, a arquibancada. A plateia é a grande massa que assiste esse mundo, o dos vivos. A vida é representada pela água, no centro, que é onde nós ficamos. É o teatro da vida”. Em defesa da Soterópolis Pergunto a Caramelo o que ele pensa sobre Salvador, e suas críticas à cidade, constante alvo de reclamações. E Caramelo é otimista: “Todos os lugares que crescem são obrigados a passar por um conjunto de reformas. Quando você movimenta alguma coisa, tudo sai do lugar. Alguns desses elementos se transformam, evoluem e se ajustam. Outros não. E, entre eles, tem a parte de infraestrutura que depende de um corpo político.” 64
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3 (1) Caramelo e o parceiro Ronald Lago, no ano de 1975. (2) Recebendo diploma do curso de arquitetura. (3) Com os irmãos Eduardo (esq.) e Lino (dir.)
Para o arquiteto, por mais recursos que o poder público recebesse, ainda não seriam suficientes para que se fizessem todas as obras de infraestrutura necessárias. “Esses recursos são, ainda, mal utilizados. As pessoas se apropriam deles de forma indevida. Há um avanço tecnológico e científico e, por outro lado, há uma degradação moral. O que atrapalha o desenvolvimento das cidade é a falta de atitude política. Os cidadãos de Salvador precisam exigir mudanças. Tento defender Salvador dentro de uma situação macro. A desonestidade impera no mundo... Não é o baiano que é pior. O que acontece na capital baiana é um microcosmo do que acontece no mundo”. Velhice “Velhice pra mim não existe. Existe falta de mobilidade, falta de visão, é um desgaste natural. A velhice só acontece quando você começa a não ter imaginação, a se repetir. Hoje eu me sinto mais novo que antes”. Conselho a um jovem arquiteto “Em qualquer profissão, o sucesso e a vitória dependem de você fazer aquilo que gosta. Perceba se tem alguma habilidade e se acha que é capaz de fazer aquilo a qualquer preço, com muito amor, para o resto da vida. É preciso querer muito. Quando se faz uma escolha errada, muitas vezes, é difícil voltar atrás.”
O escritório de Caramelo é responsável pelos projetos de expansão do Shopping Barra e do Hangar Business Park
Novos projetos Caramelo conta que está fazendo o projeto de uma cidade para 180 mil habitantes, onde tenta aplicar tudo que seja viável dentro da sustentabilidade, sem revelar onde será: “Tenho visto muita coisa linda de cidades planejadas. Através delas, você cria infraestrutura e motivos para atrair moradores e empresas”. O Movimento dos Artistas é outro projeto, que tem como principal objetivo levar a arte para um grande público. “Reunimos artistas na galeria de Leonel Mattos, em um encontro que rendeu boas discussões, como sobre a necessidade de uma alteração na lei municipal nº 4.489/92 (que torna obrigatório contemplar com obras de valor artístico prédios construídos) para que ela de fato possa ser aplicada. Isso pode abrir novos caminhos para o artista no mercado de trabalho. Arquitetura e arte se complementam de forma indissociável. Então, todas as ações que possam colaborar para a evolução de ambas contam com meu interesse. Por conta desse movimento, lojas fechadas do Shopping Salvador estão sendo cedidas a artistas, para que eles façam galerias, exposições de arte e workshops”. Outro projeto importante está em gestação. A partir de 2013, 40 arquitetos recém-formados participarão de um treinamento durante um ano na Caramelo Arquitetos Associados Ltda: “Selecionaremos os currículos, através de uma banca examinadora, de quatro faculdades, que passarão um ano participando de palestras de arquitetos convidados e de oficinas com os fabricantes de materiais. Dez eu contratarei para o escritório, os outros trinta, coloco no mercado muito bem qualificados”. [B+] w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m
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OXIGÊNIO
NA SAÚDE PRIVADA Os investimentos em serviços privados de saúde crescem na Bahia e o potencial pouco explorado revela que esse ainda é um grande filão de mercado. Mas os gargalos do setor são muitos por ANDRÉA CASTRO
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iante de uma população emergente cada vez mais ampla, ávida pelo consumo de serviços de qualidade, e a busca, pelas camadas mais abastadas, ao que a medicina oferece de mais moderno, o segmento de saúde privada na Bahia revela grandes oportunidades de negócios. Com uma lacuna ainda a ser suprida para atender a esse público consumidor, o remédio tem sido investir. Apesar dos desafios da área, o quadro é promissor e mostra que ainda há muito potencial a ser explorado na capital e no interior. “Com a maior concentração de renda do brasileiro, as classes C e D passaram a adquirir acesso à saúde suplementar. Esse público possui, hoje, como maior desejo, um plano de saúde privado”, destaca Marcelo Britto, presidente da Associação de Hospitais e Serviços Médicos do Estado da Bahia. 66
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NOVOS INVESTIMENTOS
“Três desafios para o setor: falta de reajuste das operadoras, alta carga tributária e falta de linhas de crédito de longo prazo” Marcelo Britto, presidente da Associação de Hospitais e Serviços Médicos do Estado da Bahia Por outro lado, Britto aponta a falta de acompanhamento dessa demanda, no mesmo ritmo, por parte das prestadoras de serviço. Segundo ele, existe uma crise de três pilares que coexiste com o setor: a falta de reajuste das operadoras (SUS incluso), a alta carga tributária e a falta de linhas de crédito de longo prazo compatíveis com o baixo retorno do segmento. Mesmo diante de tantos desafios, a demanda pelos serviços é tão expressiva que o mercado de clínicas privadas continua expandindo. Há oportunidades em todos os campos da saúde. “Todos os segmentos têm seu nicho de mercado, a população compra cada um destes serviços por necessidade. Todos são favoráveis com a solução dos três pilares da crise”, ressalta Britto. O diretorpresidente da Clínica Delfin, Delfin Gonzalez, vê com otimismo as perspectivas para o mercado baiano. “O Nordeste é a menina dos olhos no Brasil e a Bahia se destaca pelo seu poder econômico e de crescimento”, defende. Nos últimos dez anos, a clínica tem crescido em média 25% ao ano.
Com o aquecimento do setor, alguns investidores de fora começam a atuar na Bahia. Presente em mais seis estados brasileiros, o Grupo Fleury inaugurou uma unidade da a+ Medicina Diagnóstica, no bairro da Pituba, e passou a oferecer exames de imagem na Graça. Com o intuito de disponibilizar a realização de exames de forma integrada, a unidade da Pituba foi implantada no mesmo prédio da Diagnoson, que também faz parte do grupo. E os empresários locais não ficam atrás. Até o final de 2012, o Instituto de Olhos Freitas lançará uma nova unidade no Mundo Plaza, que abrigará a parte clínica e diagnóstica. Na sede do Rio Vermelho, serão ampliados e modernizados o centro cirúrgico e a recepção. Já o Grupo CAM iniciará a construção de um prédio com 17 andares no bairro do Itaigara, onde abrigará novas unidades e locará salas para outras empresas. Visando qualificar ainda mais o seu atendimento, o grupo também investiu, recentemente, cerca de R$ 1 milhão em tecnologia da informação, ao implantar conceitos internacionais utilizados em larga escala, para garantir que as operações de suas empresas possam ter suporte a qualquer hora do dia. O investimento em tecnologia de ponta também tem sido um dos elementos propulsores da expansão do Labchecap. O laboratório disponibiliza de uma das mais modernas plataformas de automação laboratorial do mundo, a WorkCell, sendo o primeiro do Norte/Nordeste a contar com esse tipo de tecnologia, que dá mais qualidade nos resultados dos exames. Com a construção da nova sede no Imbuí, o Núcleo de Tecnologia Laboratorial deu corpo a essa estratégia. O laboratório também tem apostado na integração tecnológica, que facilita o acesso dos pacientes aos resultados, com serviços que vão desde o envio de SMS informando que o resultado já está pronto até o seu acesso pela internet ou diretamente na clínica onde o exame foi solicitado. Após inaugurar recentemente duas novas unidades em Salvador, uma no Rio Vermelho w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m
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“O foco de nossa gestão saiu do lucro e ficou voltado para as pessoas. O cuidado com os nossos clientes internos e nossos colaboradores passou a ser prioridade. O lucro veio como consequência” Ruy Cunha, diretor-presidente do DayHorc Hospital de Olhos
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e outra no Matatu, o Labchecap planeja lançar mais cinco unidades na capital baiana até o final do ano (Cabula, Itapuã, Imbuí, Cidade Baixa e Aeroporto). “Crescemos com uma média anual de 30%. E no acumulado dos últimos cinco anos, tivemos um crescimento de cerca de 200%”, contabiliza o diretor-executivo Maurício Bernardino. O Labchecap também demonstra confiança no potencial do interior baiano. “Pretendemos ingressar nossas atividades nos grandes centros do interior. Precisamos primeiro resolver uma questão de logística para que possamos levar o mesmo padrão de qualidade da capital para outros municípios”, conclui Bernardino. 68
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EXPANSÃO PELO INTERIOR Os investimentos aplicados na área no interior do estado ainda são bastante tímidos. Mas continuam a crescer. Hoje, o DayHorc Hospital de Olhos está presente em Itabuna e Eunápolis, além de Salvador, e, embora não revele os nomes dos municípios, tem planos de expansão de novas unidades no interior até o final do ano. Segundo seu diretor-presidente, Ruy Cunha, a proposta é de desenvolver a oftalmologia local, aproveitando o que já existe em cada um desses municípios, e agregar novas tecnologias. Presente, só na Bahia, nas cidades de Salvador, Lauro de Freitas (Vilas do Atlântico), Feira de Santana e Santo Antônio de Jesus, a Clínica Delfin irá inaugurar, em dois meses, uma outra unidade em Vilas, que irá ampliar as atividades da clínica para a radioterapia. A escolha pelas localidades é estratégica. “Vilas é o centro que mais cresce no estado. Salvador não tem muito para onde crescer, então, é para lá que migram as ofertas de serviços, e para atender a um perfil mais exigente”, explica Delfin. O empreendedor revela ainda que já estuda a implantação de novas unidades nos municípios de Vitória da Conquista, Itabuna e Barreiras. Quem também tem projetos de ampliação para o interior é o Grupo CAM. Desde 1980, funciona, em Feira de Santana, o Instituto de Oncologia da Bahia (ION), pioneiro nas áreas de radioterapia e quimioterapia no interior do estado. Hoje, o projeto em andamento é de ampliação desse instituto, dando espaço para a implantação de um day hospital no local, que ficará pronto até o final do ano. Os planos não param por aí. Mais dois outros municípios ganharão novas unidades do CAM. “As obras serão iniciadas ainda este ano. Uma será na região leste e a outra, mais próxima da capital”, afirma João Soares, que, por questões estratégicas, mantém em segredo os nomes dos municípios.
FOTO: Divulgação
Maurício Bernardino e Josemar Fonseca são diretores do Labchecap, laboratório criado no bairro de Brotas em 1983. Hoje possui 16 unidades espalhadas em Salvador
DESAFIOS E GARGALOS DO SETOR Para o diretor do Labchecap, Maurício Bernardino, o mercado de saúde na Bahia tem muitas particularidades, com uma carência muito grande em serviços de qualidade, sem projetos de construção de novos hospitais ou grandes investimentos do governo, mesmo Salvador sendo a terceira cidade no país em população. “Existe uma demanda reprimida. A classe C hoje tem maior renda e as empresas também permitiram o acesso dos seus funcionários aos planos de saúde”, pontua. Por outro lado, o executivo ressalta que é um desafio trabalhar com esse movimento de concentração da fonte pagadora dos grandes players do mercado, os convênios de saúde. “Eles formam uma espécie de oligopólio, com um processo de negociação muito agressivo de credenciamento das empresas. Se o empreendimento for pequeno, não tem chance”, afirma. Bernardino cita ainda como gargalos para novos investimentos o processo burocrático, a baixa capacidade da vigilância sanitária para atender as demandas e a carência de profissionais mais qualificados. A falta de especialistas em algumas áreas é apontada pelo diretor do Grupo CAM, João Soares, como fator limitante, o que dificulta a diversificação das atividades para outros segmentos. O grupo também tem
“Com a maior renda do brasileiro, as classes C e D passaram a adquirir acesso à saúde suplementar. Esse público possui, hoje, como maior desejo, um plano de saúde privado”. Marcelo Britto, presidente da Associação de Hospitais e Serviços Médicos do Estado da Bahia.
apostado na qualificação dos profissionais da parte administrativa fora do estado. “Se o empreendimento não for bem planejado, está fadado ao fracasso. Tem que ser muito bem administrado e enxuto”, afirma. Para o diretor-presidente do DayHorc Hospital de Olhos, Ruy Cunha, a profissionalização da gestão foi o que deu um novo ritmo de crescimento ao empreendimento. O mapeamento da administração, o planejamento e a consultoria da Fundação Dom Cabral foram determinantes. “O foco da gestão saiu do lucro e ficou voltado para as pessoas. O cuidado com os nossos clientes internos, nossos colaboradores, assim como os externos, os pacientes, passou a ser prioridade. E o lucro veio como consequência”. Nos últimos anos, após a implantação do seu novo modelo de gestão, o crescimento médio do DayHorc saiu de cerca de 10% para 30% ao ano.
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA CONSTANTE O diretor do CAM, João Soares, aponta como um dos principais desafios do setor a exigência constante de inovação tecnológica. “Oferecemos o que há de mais moderno, é uma vaidade nossa e missão da empresa fazer bem feito, oferecendo o que tem de melhor. Mas, economicamente, é prejuízo, pois não
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[+] NO SITE : Saúde e Empreendedorismo. Conheça como começaram os trabalhos de importantes clínicas na Bahia.
Nos últimos dez anos, a clínica Delfin tem crescido, em média, 25% ao ano.
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João Soares foi pupilo de Carlos Aristides Maltez, que o convidou para fundar o Grupo CAM em 1978
Marcelo Freitas, durante o dia de trabalho no Instituto Olhos Freitas
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dividimos esses custos com os convênios”, informa. Soares explica que existem exames que tomam muito tempo do profissional e têm gastos dispendiosos. “Para fazer uma mamotomia, por exemplo, utilizamos uma agulha que custa R$ 2 mil e será descartada. Oferecemos esses exames porque clínica não é loja, não podemos fazer medicina no ganho”, defende. O Instituto de Olhos Freitas também não para de investir em tecnologia. Recentemente, eles adquiriram um novo equipamento de Excimer Laser e, até o próximo ano, há planos de aquisição de outros dois lasers de femtosegundo, também de última geração. Só o investimento nesses três equipamentos gira em torno de R$ 5 milhões. O diretorpresidente do Instituto, Marcelo Freitas, também aponta como o grande desafio desse segmento o acompanhamento do ciclo tecnológico. “Os equipamentos ficam obsoletos com muita rapidez. E para as empresas adquirirem esses novos equipamentos, que são muito caros, é necessário ter uma grande demanda de clientes porque os planos não absorvem esses custos”, reforça. Delfin Gonzalez, da Clínica Delfin, ressalta que não há correção nos preços dos serviços há 15 anos, o que dificulta a aplicação de novos investimentos para manter um padrão de atendimento qualificado com tecnologia de ponta. “Essa gangorra de custos altos com baixa rentabilidade, devido aos valores defasados, abaixo do ponto crítico, é um dos gargalos do empresariado na área”, lamenta. Hoje, existem cerca de três mil estabelecimentos de saúde privados na Bahia. [B+]
PLANO+ | 86
LIFESTYLE
VIAGEM | 88 VARIEDADES | 92 NOTAS DE TEC | 94
72 TEMPO DE DECORAR E REFORMAR
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78 ALIMENTOS SAUDÁVEIS
SABOR
O prato é o pierogi ao molho de linguiça Blumenau e a celebração são os dez anos de Confraria Prestige.
82 O TERCEIRO ATO DA VIDA
L I F E STYLE | d e cora ção
TEMPO DE DECORAR E REFORMAR E FOTO: Marcelo Negromonte
A presença forte do amarelo dando diferencial ao projeto residencial assinado por Luiz Claudio Motta e Marcus Lima
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Arquitetos e decoradores apresentam tendências e as mostras de decoração Casa Cor Bahia e Morar Mais por Menos prometem surpreender com moda, sustentabilidade, cultura e engajamento social por GINA REIS
uforia seguida de centenas de dúvidas. Essa sensação é a mesma tanto para quem deseja montar o primeiro apartamento como para aqueles que pretendem reformar, dar uma cara nova ao lar. Qual piso colocar? Ainda se usa porcelanato? E as cores? São tantas opções. Por isso, antes de tomar qualquer atitude, o conselho é pensar no que você realmente precisa e almeja para um espaço tão particular: sua casa. Mas, e as tendências? É preciso segui-las? Novidades são muitas e surgem a todo instante. Contudo, assim como a moda, o universo da arquitetura e decoração está cada vez mais democrático e personalizado. Hoje, tudo é permitido, desde que proporcione conforto e bem-estar de acordo com o estilo de vida de cada um. “Costumo dizer que a prioridade da casa é ditada pelo desejo do dono”, declara Tânia Dias, presidente do Circuito de Alta Decoração. O arquiteto Luiz Claudio Motta diz ainda que o cuidado inicial evita que a casa se transforme em uma colcha de retalhos. Afinal, decoração é uma arte que exige bom senso. “Antes de executar qualquer projeto, para não se perder, é essencial um estudo do espaço, pensar na função de cada ambiente, de cada móvel e, assim, definir seu estilo”, ensina Motta. Para começar a refletir e visualizar algumas ideias, uma dica é aproveitar a temporada de mostras de decoração que começa no segundo semestre - Casa Cor Bahia 2012 (21/09 a 6/11) e Morar Mais por Menos (05/10 a 04/12). Visitar essas exposições é um exercício para conhecer de perto projetos, soluções, saber o que está na moda quando o assunto é decoração e, até mesmo, escolher um profissional que esteja em sintonia com seu estilo de vida. “A variedade de estilos, soluções e materiais nessas mostras é enorme. Vale a pena fazer a visita com um caderninho de anotações. Registrar nele o que mais emocionou”, aconselha Maurício Lins, diretor de
As fitas de LED podem ser aplicadas em diversos pontos da casa, como neste quarto da criança
FOTO: Marcelo Negromonte
marketing do Núcleo de Decoração da Bahia. A opinião é compartilhada pelo arquiteto Luiz Claudio Motta. Para ele, é importante o visitante observar o que está sendo usado: os tecidos, as texturas, os efeitos visuais que agradam. Porém, tendo sempre em mente que cada espaço é único e deve ser pensado individualmente.
Ponte aérea Milão-Salvador Além de ser um das capitais da moda, Milão é a responsável por difundir as principais tendências de decoração para todo o mundo. Todos os anos, arquitetos, decoradores, empresários, designers e apaixonados por design vão conferir de perto os lançamentos no maior evento internacional do setor, o Salão de Milão que, em 2012, foi realizado em abril. Os olhares aguçados dos profissionais e suas diferentes visões e conhecimentos são responsáveis por traduzir essas tendências e aplicá-las no dia a dia. E não há dúvida: o que vem por aí este ano é uma profusão de cores.
“Há três anos, Milão lançou as cores amarelo, azul e magenta. Este ano elas chegam com força total. As mostras de decoração serão marcadas pelo colorido. Vamos ter ainda a presença marcante do color block (mistura de cores) em tons pastel”, afirma a arquiteta Cátia Bacellar. A tendência é reafirmada pela arquiteta Cristiane Pepe, que acrescenta ainda a presença dos tons terrosos. Para ela, “as cores podem ser exploradas em pontos da decoração, como em uma poltrona, sofá ou almofada. São detalhes que refinam o ambiente sem precisar muita intervenção”. O uso de cores é uma boa opção para quem deseja dar ar novo a determinado ambiente sem precisar investir muito alto em uma reforma completa. Para os profissionais do setor, são detalhes que fazem a diferença. Cátia Bacellar explica que 80% do sucesso de um projeto está na iluminação. “Um banho de luz na parede é uma excelente opção para valorizar um espaço. Atualmente, são feitos rasgos no gesso. Em seguida, são posicionadas lâmpadas iluminando esse rasgo, criando um efeito bem interessante. Outra tendência forte são os pendentes sobre as mesas de jantar e posicionados em pontos estratégicos da sala”, conta. É também cada vez mais comum a decoração explorar a automação nos seus projetos. “Através desses recursos tecnológicos, é possível criarmos diferentes ambientes dentro de um só espaço a partir de efeitos luminosos”, afirma Cátia. Outro recurso bastante utilizado e de fácil execução é a inclusão de fitas de LED em determinados pontos do ambiente. “Essas fitas têm uma durabilidade muito grande, estão mais acessíveis e dão um efeito muito bonito. Elas podem ser aplicadas em vários pontos da casa, como dentro de armários e em cabeceiras de cama”, explica Cristiane Pepe. Segundo Maurício Lins, as mudanças de comportamento interferem diretamente na concepção dos projetos. Uma muito atual é a incorporação da televisão novamente à sala. “O home office perde espaço, já que a TV passa a ser um atrativo. Ao redor dela, grupos de amigos se encontram para acompanhar shows, assistir filmes, lutas ou, simplesmente, ouvir uma boa música”, ressalta. A inclusão das varandas gourmet nos gabaritos dos prédios surge também de uma necessidade comportamental. As pessoas se reúnem para tomar um vinho e preparar uma massa na varanda. O espaço, por um tempo esquecido, agora ganha status e passa a ser peça-chave de socialização.
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“As mostras de decoração serão marcadas pelo colorido. Vamos ter ainda a presença marcante do color block (mistura de cores) em tons pastel” Cátia Bacellar, arquiteta
Pisos e Revestimento
“A tendência é mesclar objetos de design com valor agregado a peças de reaproveitamento” Cristiane Pepe, arquiteta “Costumo dizer que a prioridade da casa é ditada pelo desejo do dono” Tânia Dias, presidente do Circuito de Alta Decoração
Quando se pensa em piso, a preferência ainda é pelos mais claros. Tratando-se de material, destaca-se o piso Perfect White, com resina e pó de vidro, que não mancha e não risca. Os porcelanatos continuam sendo usados, porém aparecem maiores e acetinados. Uma boa escolha também são os pisos vinílicos, que dão a mesma impressão da madeira e são resistentes à umidade. Esse piso pode ser aplicado, inclusive, por cima do piso existente, podendo ser retirado a qualquer momento. Já entre os revestimentos, as pastilhas são perfeitas para dar personalidade ao espaço. Podem ser aplicadas em cores mais fortes em contraste com tons claros. As texturas vintage têm presença garantida, principalmente em ambientes que mesclam o clássico com o moderno. Os azulejos pintados coloridos são sugeridos para criar esse contraste bem contemporâneo. Vale, assim como na moda, mesclar texturas, como a madeira com o vidro. O papel de parede pode continuar a ser explorado em suas diversas estampas e cores. É prático e sofisticado. O importante sempre é atentar para o equilíbrio e a harmonia. Como os apartamentos estão cada vez menores, a dica da arquiteta Cristiane Pepe é valorizar os ambientes sem exageros.
FOTO: Marcelo Negromonte
Reaproveitar é preciso O tempo em que luxo era sinônimo de excesso e de custos elevados ficou para trás. Nos dias de hoje, a palavra luxo tem outro significado: responsabilidade socioambiental. Ser chique é saber viver bem, respeitando o próximo e o planeta. E, sem dúvida, as primeiras atitudes devem partir de dentro de casa. Alinhados com esse novo contexto, os profissionais das áreas de engenharia, arquitetura e decoração investem em pesquisas em busca de soluções para um maior aproveitamento dos materiais e dos recursos naturais. A Morar Mais Por Menos é uma das iniciativas do setor que contribuem para a difusão de recursos sustentáveis. “A Morar Mais por Menos traduz em sua exposição o bom gosto através da concepção de peças e/ou produtos ecologicamente corretos. A exposição incentiva os criadores a buscar o luxo em pequenos produtos da natureza e da cultura brasileira”, afirma a franqueada Sílvia Marmund. Para Tânia Dias, ainda estamos caminhando para termos de fato projetos sustentáveis. Por outro lado, para Cristiane Pepe, a partir de escolhas simples, é possível reaproveitar materiais e incorporar recursos ambientalmente corretos ao projeto. “Na edição 2011 da Morar Mais por Menos, assinei a bilheteria. Uma das peças utilizadas foi uma estrutura metálica retirada de um shopping center que seria descartada”, conta a arquiteta. Sustentabilidade é também optar por bens duráveis. Uma boa dica é transformar um móvel de época, por exemplo, em uma peça atual com um toque simples. “Caso você tenha uma peça antiga, pode forrá-la com papel de jornal ou gibi. Reuso está sempre na moda e é ecologicamente correto”, afirma. De acordo com Cristiane, a tendência é mesclar objetos de design com valor agregado a peças de reaproveitamento. Já a arquiteta Cátia Bacellar reaproveitou as garrafas pet para criar porta-lápis para compor o quarto infantil na última edição da Morar Mais por Menos. Outra sugestão da arquiteta é aproveitar os caixotes de frutas. “Se aplicarmos uma laca nas caixas de frutas, conseguimos enobrecer o objeto sem gastar muito. Um farol de carro inutilizado pode também ser transformado em um pendente na iluminação. O resultado é incrível”, conta. O mercado também está acompanhando essa tendência do reaproveitamento. Hoje, é possível encontrar revestimentos feitos com casca de coco, vidros de lâmpadas fluorescentes e telas de aparelhos eletrônicos usados. Sem falar no uso da madeira de demolição para a fabricação de móveis. Em meio a tantas opções, a regra é reaproveitar com criatividade. Vale pesquisar, informar-se e pensar que sustentabilidade é acima de tudo desenvolvimento humano com equilíbrio.
Reaproveitamento de garrafas pet para criar porta-lápis
Uma sugestão para a iluminação é incluir pendentes em pontos estratégicos, tornando o ambiente mais aconchegante
FOTO: Xico Diniz
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Começa a temporada de mostras 2012
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A Casa Cor Bahia 2012 escolheu o tema Sua casa está na moda para explorar a sintonia que existe entre moda e decoração. “Hoje, a decoração de uma casa obedece às tendências da moda. Isso já é feito constantemente, mas, na 18ª edição da Casa Cor Bahia, essa relação será ainda mais valorizada”, afirma a franqueada da marca na Bahia, Luisinha Brandão. Reconhecido como um dos maiores eventos de arquitetura e decoração do mundo, a Casa Cor apresentará aos baianos, em setembro, cerca de 50 ambientes com o que há de mais novo no segmento, explorando tecnologia, sustentabilidade e design. A grande novidade para a edição 2012, sediada no prédio do Salvador Praia Hotel, em Ondina, é o novo masterplan, desenvolvido pela dupla de arquitetos Luiz Claudio Motta e Marcus Lima. “A Casa Cor cresceu. São muitos profissionais e ambientes. Estamos com um projeto que busca facilitar a circulação através de uma programação visual eficiente, que dê maior comodidade aos visitantes. Vamos ter em cada extremidade pontos de conforto para um café e também banheiros”, revela Motta. A partir de outubro, a Morar Mais por Menos também abre as portas para os baianos. A mostra chega à sétima edição em Salvador sob o comando de novos franqueados: a administradora de empresas Sílvia Marmund e o engenheiro civil e economista Brorim Marmund. Segundo Sílvia, em 2012, a Morar Mais por Menos, além de apresentar novas ideias acessíveis para decorar e reformar, contemplará o lado social, em parceria com a Prefeitura Municipal de Salvador. A mostra beneficiará o abrigo Dom Pedro, instituição centenária localizada na Ribeira, Cidade Baixa, que abriga idosos carentes desde 1887. O prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) e é mantido pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Sedes), e por doações de empresas e pessoas. “Relíquia arquitetônica, o casarão passará por uma grande reestruturação em todos os seus 54 ambientes. À frente do projeto estão confirmados grandes nomes da arquitetura baiana, como David Bastos, Cátia Bacellar, Cristiane Pepe e Luiz Humberto Carvalho”, revela Sílvia Marmund. [B+]
1- A Casa Cor Bahia 2012 terá o tema “Sua casa está na moda” 2 - Silvia Marmund é a nova franqueada baiana da Morar Mais por Menos 3 - Relíquia arquitetônica, o abrigo Dom Pedro II passará por uma grande reestruturação em todos os seus 54 ambientes
SAFE BLINDADOS
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Opções lights e vegetarianas compõem o buffet do restaurante Na Medida, ideal para quem quer perder peso e manter a saúde
COMA BEM EM CASA OU FORA DELA por
CAROL D’ÁVILA
A alimentação saudável conquista o público e ganha espaço em Salvador, onde cooperativas e restaurantes especializados em oferecer refeições ricas em nutrientes se multiplicam a cada bairro
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obremesa sem açúcar, feijoada sem carne, batata sem fritura e recheio sem gordura. Há quem saia correndo quando o assunto é alimentação saudável. Mas a verdade é que a quantidade de pessoas dispostas a ter uma dieta mais nutritiva aumentou nos últimos dez anos. O motivo é simples: a vontade de viver mais e melhor. Em Salvador, restaurantes como A Saúde na Panela, Brisa, Espaço Natural, Grão de Arroz, Manjericão e Ramma foram os pioneiros em oferecer um buffet diferenciado, com opções de pratos naturais e vegetarianos. O sucesso da receita aumentou a demanda e fez com que esses estabelecimentos expandissem seus espaços. Hoje, novos grupos apostam em criatividade para atrair aqueles que ainda não se convenceram dos benefícios de uma alimentação saudável. 78
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Emagreça com saúde Aberto em dezembro de 2011, o restaurante Na Medida, localizado no Itaigara, é um fast-food de comida saudável, especializado em oferecer um buffet por calorias. Logo na entrada, é anunciado o prato do dia: “Peixe a escabeche por apenas 109 calorias”. Além do peixe, outras opções como filet mignon, frango, salmão, camarão ou queijo coalho são oferecidas para compor a proteína grelhada do combo, que acompanha duas guarnições, salada e molho. Enquanto escolhem as combinações, os clientes anotam as calorias de cada pedido na bandeja e fazem a soma total com a ajuda de uma calculadora, disposta nas mesas. Sobremesas sem açúcar, sopas no fim da tarde e comidas congeladas compõem o cardápio do restaurante. A montagem do buffet, preparado por uma nutricionista, segue duas metas: apresentar alimentos menos calóricos e, ao mesmo tempo, ricos em nutrientes.
A vez dos orgânicos Ter uma fazenda para cultivar hortaliças e verduras, montar refeições saborosas com alimentos frescos e oferecê-los aos amigos e clientes fiéis em um restaurante próprio. O sonho de muitos é realidade para Getúlio Santana, 57 anos, dono do restaurante Buena Vida, na Pituba. Há três anos, o proprietário trocou o bar pelo restaurante saudável, apenas fazendo questão de manter o nome. “Com a lei seca, minha clientela reduziu muito, aí mudei, deixei de vender bebida e agora faço parte do mercado de alimentação saudável, o que mais cresce na economia mundial”, relata Santana, que também já foi dono de uma livraria e do antigo bar Ex-Tudo, no Rio Vermelho. Seu restaurante, um buffet por quilo, não oferece nenhum prato com fritura, ovo, leite, gordura, camarão ou carne vermelha. Frango orgânico e peixes ricos em ômega 3, como sardinha, atum e salmão, são algumas das opções de carne do cardápio, minoria se comparadas à variedade de pratos vegetarianos. O estilo de vida de Getúlio, nascido e criado em uma fazenda, levou-o a fazer do alimento o seu remédio: “As pessoas fogem hoje da doença e a saída é a alimentação. A economia está em comer saudável e não gastar dinheiro com remédios”, aconselha. Mesmo com fornecedores fixos no Rio Grande do Sul e em São Paulo, Getúlio fala sobre a dificuldade de ter um restaurante 100% orgânico: “Ainda não há demanda suficiente na Bahia para atrair os fornecedores”. A mesma dificuldade é compartilhada por Saul Mazer, chef e sócio do restaurante Azeite Doce, aberto há pouco mais de um ano no Shopping Barra. Mesmo com um buffet composto por 80% de orgânicos certificados, o Ministério da Agricultura não liberou o selo para o restaurante. Segundo a norma brasileira, o estabelecimento precisa ter 100% dos insumos orgânicos, o que é inviável para o chef, por conta do alto custo dos produtos. Cobrando atualmente R$ 54,90 pelo quilo da refeição, ele admite que o preço pode parecer alto, mas compara ao que outros restaurantes oferecem e cobram, e conclui que não é. “O preço do macarrão orgânico é quatro vezes mais alto que o normal”, diz Saul, que faz questão de manter a linha orgânica inclusive nas carnes, sendo um dos poucos restaurantes que oferecem um filet mignon sustentável. “Alimentação está intimamente ligada ao prazer, tem que se buscar a qualidade no sabor”, afirma Saul, que já tem planos para virar franquia.
Horário de almoço é responsável por 80% do faturamento do restaurante Azeite Doce
Viva a sociedade cooperativa Duas cooperativas defensoras da economia solidária dividem o mesmo espaço em uma casa no Pelourinho e mantêm atividades diferentes, porém têm em vista o mesmo público: os que estão dispostos a praticar o consumo responsável. O primeiro ambiente é ocupado pela RedeMoinho, um grupo de voluntários interessados em reunir produtores e consumidores de orgânicos em uma mesma associação. A cadeia produtiva da rede começa no interior baiano, onde cooperativas com base na agricultura familiar desenvolvem mais de mil produtos que vêm direto para a sede da RedeMoinho. Nas feiras realizadas todas as manhãs de sábado, consumidores têm acesso aos alimentos frescos e orgânicos, que também podem ser pedidos pelo site redemoinho.coop.br e entregues diretamente na sua casa. Apesar das dificuldades para gerir a cooperativa, a associação conta com a ajuda de alguns projetos governamentais que viabilizam fundos para investimentos. Dessa maneira, a cooperativa consegue atender a mais de 50 consumidores que compram, a preços justos, produtos de boa qualidade, oriundos de uma produção solidária.
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FOTOS: Carol D’Ávila
O que mudou no cenário da alimentação saudável para os antigos restaurantes:
O estilo saudável de Getúlio Santana foi o que o levou a abrir o restaurante natural. “O orgânico é a consciência da pessoa”
“Antigamente, para conseguir os alimentos, a gente mantinha pequenas hortas orgânicas, íamos atrás do pessoal da agricultura de subsistência, tínhamos que ficar catando nas feiras. Hoje os fornecedores já trazem aqui, os produtos de qualidade chegam até nós. As pessoas pedem para abrirmos filiais em novos pontos, fazer delivery, mas não queremos correr o risco de perder a qualidade”. Ana Brasileiro e Renilde Barreto, proprietárias do Saúde na Panela, há 15 anos no mercado. “No início era pioneirismo, foi difícil. A gente tinha que buscar as informações, estudar, pesquisar, fazer curso. Hoje a informação começou a chegar, as pessoas podem ter uma consciência plena do que faz bem e do que faz mal. O índice de programas de televisão voltados para alimentação e bem-estar já é muito grande”.
Enquanto escolhem os acompanhamentos, os clientes do Na Medida aproveitam para anotar o total de calorias do prato
Sônia Aquino, dona do restaurante Espaço Natural, há 22 anos no mercado. “Antes o público era de pessoas alternativas e os hippies. Hoje pessoas de todas faixas etárias e classes sociais vêm. É uma tendência que cresce pela necessidade de se mudar a alimentação, seja porque as pessoas estão mais doentes, seja pela consciência de querer ser mais saudável”. Vera Lúcia, dona do Grão de Arroz, há 38 anos no mercado. “A gente começou com uma coisa bem pequena, uma mesa grande com dois bancos e só dez itens no cardápio. Eu não tinha nenhuma experiência com o comércio, era só uma extensão da nossa casa. Começamos a observar que teve uma boa aceitação e, de lá pra cá, houve um crescimento muito grande. Esse tabu de que comida saudável é comida sem gosto praticamente desapareceu”. Zé Almir, dono do restaurante Manjericão, há 22 anos no mercado.
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Perto da RedeMoinho fica o restaurante da cooperativa Rango Vegan, administrado por sete amigos vegetarianos que viram na semelhança da dieta uma oportunidade de negócio. Há três anos, eles alugaram o espaço e começaram a fazer entrega delivery de marmitas vegetarianas na hora do almoço. A refeição custa R$ 10. Juntos, os sete conseguem comprar os produtos, cozinhar, montar as marmitas e fazer as entregas. A cada dois meses, o grupo ainda organiza oficinas de culinária vegetariana, com receitas baianas, árabes, japonesas e natalinas. Rodízio de pizza também é oferecido quinzenalmente, com preços promocionais para quem vai de bicicleta. Luciana Rangel, 42 anos, uma das fundadoras da cooperativa, revela que o ingrediente do sucesso é o sabor: “As pessoas gostam da nossa comida porque usamos bastante tempero, justamente para sair dessa ideia de que comida vegetariana é sem graça”. Desvendado o antigo mito de que comida saudável é comida sem sabor, as novas cozinhas se unem aos mais experientes e conquistam um público cada vez mais envolvido com o bem-estar. Para quem ainda não está convencido, uma dica: experimente. [B+]
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O TERCEIRO ATO DA VIDA O aumento da expectativa de vida traz uma série de desafios para a sociedade, além de variadas oportunidades de negócios por BRISA DULTRA fotos CAROLINA COELHO E YURI ROSAT
Os sonhos não envelhecem. Cada vez que Sônia Erdens sobe no palco, realiza um desejo de uma vida inteira
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essy Neves não para quieta. Frequenta aulas de dança de salão, suingue baiano e teatro; tem um “namorido” de 34 anos e jamais revela a sua idade; cuida da casa, leva e pega os netos na escola, produz alguns eventos para a terceira idade. “O segredo da juventude é não ficar parada. Adoro viajar e dançar. Isso me mantém viva e fortalecida”, dá a dica. A jovialidade de Lessy é uma tendência no quadro populacional brasileiro. Com a crescente qualidade de vida das pessoas, registra-se também um aumento da longevidade da população, que, aos 60 anos, ainda se sente jovem, com tempo, vontade e dinheiro para fazer muitas coisas. “Quando falamos em tendência de envelhecimento e ampliação do número de idosos na sociedade, isso significa uma inabalável alteração no perfil social e 82
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do mercado”, afirma Joilson Rodrigues, coordenador de informação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística na Bahia (IBGE). O aumento da urbanização e a redução da fecundidade, vivenciados no Brasil a partir da década de 1970, inauguraram um rápido processo de transição demográfica, mudando a composição etária do país. No início do século 20, a expectativa de vida girava em torno de 34 anos. No fim da última década, essa idade saltou para 73,1 e as previsões apontam para uma expectativa de vida média de 81,2 anos, em 2050. Neste mesmo ano, os idosos representarão cerca de 30% da população total do Brasil, segundo estudos do IBGE. “Esse grupo já demanda produtos e serviços específicos para atendê-lo”, afirma Suely de Paula, coordenadora da unidade de acesso a mercado e serviços financeiros do
Sebrae Bahia. As oportunidades de negócios são diversas, assim como é o mercado da terceira idade: “Academias, franquias especializadas, serviços de adaptação residencial, agências de viagens para idosos. São muitos os possíveis empreendimentos para este público. Existe uma crescente demanda”, aponta Suely. Antônia Castro saiu na frente quando criou a Faculdade Livre da Terceira Idade, centro de estudos e de lazer para idosos. São diversos cursos voltados para pessoas com mais de 60 anos, que ainda se sentem ativas e com vontade de aprender. “A Faculdade Livre nasceu há dez anos, quando um grupo de senhoras me procurou para ajudá-las a construir um projeto com esse perfil”, conta Antônia, que inaugurou o espaço com aulas de dança de salão, pintura, ioga e tecelagem e, hoje, já oferece 17 cursos, entre eles os de memorização, teatro e línguas. A oportunidade permitiu ao aposentado Ailton Araújo, 66 anos, redescobrir sua paixão pela pintura. “Eu comecei a pintar na Marinha, mas não me dedicava tanto. Trabalhava muito e tinha meus três turnos ocupados. Quando me aposentei, busquei cursos para continuar ativo. Comecei com aulas de informática e depois migrei para a pintura. Hoje, tem pessoas que querem comprar meus quadros, mas não consigo vendê-los. Sou muito apegado a eles”, declara o artista, muito elogiado pelos colegas de curso. A professora de pintura em tela Terezinha Franco é a mais empolgada da turma. “Eles têm muita vontade e, em diversos casos, uma super habilidade. Já houve casos de idosos, com quadros agudos de depressão, que melhoraram sua realidade apenas com essas aulas”, comemora.
“Existem duas formas de se envelhecer: o envelhecimento bem-sucedido, que é o ativo, só com as alterações naturais do envelhecimento; e o envelhecimento usual, onde, se encontram as alterações patológicas. Este é o perfil do idoso brasileiro: ele está vivendo mais, mas sem garantia de qualidade de vida”
Josecy Peixoto, médica geriatra e gerontóloga do Creasi
Longevidade ativa Sem se reduzir ao tempo verbal do pretérito, Sônia Erdens, 74 anos, decidiu que queria ser atriz já idosa. Fez o curso livre de teatro da Ufba e montou, com algumas colegas, o grupo Assim de teatro , hoje formado por cinco integrantes da melhor idade. “Em minha vida inteira, sonhei em ser atriz e nunca pude. Sempre tive vontade de estar no palco
Depois da aposentadoria, Ailton Araújo, 66 anos, reencontrou o caminho da pintura
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Dança pra lá, viagem pra cá. Lessy Neves nem pensa em parar. O negócio é viver a vida com disposição
e, ao me aposentar, decidi que era a hora”, declara. No teatro Gamboa Nova, ela e suas colegas encenaram a peça “Antônio, meu santo ou a fogueira da carne”, que conta a história de cinco senhoras em busca de um marido. Assim como o teatro, são diversos os serviços de lazer e entretenimento possíveis. As empresas de turismo têm manifestado significativo interesse nessa fatia do mercado. Os pacotes variam de acordo com o gosto e o bolso dos longevos viajantes. “Embora nossa agência não seja exclusivamente de pacotes para idosos, essa faixa etária representa pelo menos 40% do nosso movimento anual”, explica Laiz Loureiro, gerente da Alcance Viagens, que diz ser a Europa o destino mais procurado. Já a gerente de vendas da Espaço Turismo, Adriana Cordeiro, conta que esse público é responsável por cerca de 70% dos pacotes comercializados na agência. “Para setembro, existe o pacote Caminhos de São Paulo que foi comprado majoritariamente por idosos religiosos. Oferecemos uma viagem com segurança, com acompanhamento permanente, seguro viagem e uma seleção de hotéis com quartos adaptados para a melhor idade”, descreve Adriana, que também vende o pacote Disney em Família, adaptado para senhores e senhoras com mais de 60 anos. O vigor desse mercado não para aí, sobretudo pela qualidade do envelhecimento e atitude do “novo” idoso, que frequenta academias e se exercita cada vez mais. Segundo Tony Granjo, proprietário da academia homônima em Salvador, a musculação é muito praticada pelos idosos. “Nos últimos cinco anos houve um aumento considerável desse aluno mais velho, que busca um exercício preventivo e profilático. É bom para a osteopenia, osteoporose, sarcopenia, pois recupera o tônus muscular”, explica. Ele frisa que o bemestar é físico, mental e, principalmente, social, ao permitir aos idosos interação com outras pessoas, expandindo suas redes de relacionamentos. 84
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Sônia Erdens (ao centro) com o grupo Assim de teatro na peça “Antônio, meu santo ou a fogueira da carne”
MERCADO DE TRABALHO Muitos idosos ainda estão plenamente ativos e podem exercer atividades laborais, tais como consultoria, gerenciamento, artes plásticas, educação. A sociedade, entretanto, ainda é muito resistente. Clara Bonelli, sócia da Chies Bonelli RH, dá o seu parecer: Há toda uma cultura no sentido de afastar o idoso do mercado de trabalho. E, como algo cultural, é difícil de ser modificado porque está enraizado. Ainda há muita discriminação no mercado de trabalho e ela não se limita somente à idade. Penso que deve ser levado em consideração o perfil de cada profissional. Aqueles que desejam se manter ativos no mercado de trabalho não devem desistir. O importante é ter consciência das suas habilidades, valorizá-las e correr atrás. Para profissionais acima de 60 anos, devem ser valorizadas profissões em que a experiência e o valor intelectual sejam relevantes, como gerenciamento, consultoria, artes plásticas e educação.
Segurança dentro de casa Por conta dos numerosos acidentes domésticos, a instalação de equipamentos voltados à segurança do idoso, em sua residência, é também um nicho interessante. A arquiteta Adriana Perazzo lista algumas intervenções úteis: “A instalação de barras de segurança facilita a locomoção, assim como o uso de portas largas. Além disso, prateleiras mais baixas evitam o uso de bancos e escadas para alcançar objetos. Pisos antiderrapantes nas áreas molhadas evitam quedas. Nos sanitários e box as portas deverão abrir para fora, evitando que, caso a pessoa caia, bloqueie a entrada”, aconselha. Soluções não arquitetônicas, como a escolha do mobiliário adequado, também são eficientes. “É bom evitar tapetes, já que eles facilitam as quedas, e priorizar espaços livres, sem muitos objetos pelo caminho”, ressalta a arquiteta.
A velhice ainda comum Marina Maciel Sá tinha 74 anos quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Até então, geria sua própria vida, tomava conta do lar e ainda cuidava do marido doente, acometido por uma demência. Após o trauma familiar, veio a crescente e constante adaptação, para se adequar às sequelas do AVC. Segundo estatísticas do IBGE, quase 80% dos idosos sofrem de alguma doença, principalmente hipertensão. Essa triste realidade afeta milhões de pessoas, que geralmente se tornam dependentes dos familiares. Não é à toa que muitos dos serviços oferecidos à terceira idade estão relacionados à saúde. A Saúdecoop, por exemplo, é uma cooperativa de profissionais de saúde – auxiliar de enfermagem, enfermeiro e fisioterapeuta -, com a atenção voltada ao homecare ou internamento domiciliar. “Criamos um curso com especialidade em homecare, para ensinar condutas específicas deste tipo de internamento. Quando somos acionados, montamos uma equipe, de acordo com as necessidades dos pacientes. Cerca de 60% deles são idosos”, declara o fundador e presidente Antonio Carlos Ferreira Santos, que diz internar cerca de 30 pessoas nos meses mais movimentados. Para os não tão enfermos, um profissional de destaque é o cuidador. A ocupação é definida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, na classificação 516210, e ganha relevo já que, na maioria das vezes, o idoso não tem com quem ficar. “Muitos desses cuidadores são empregadas domésticas que migram para esta função, acumulando tarefas, o que não deve acontecer. O ideal é
buscar alguém capacitado, que não divida esses afazeres com os domésticos”, ressalta o fisioterapeuta Fábio Falcão, coordenador do curso de cuidadores da clínica Promovi. Ele alerta alguns cuidados na escolha do profissional: “O que mais vemos são pessoas que exploram o idoso na sua dependência e deficiência. Por isso o cuidado na hora da escolha. As famílias devem atentar para a formação do cuidador, qual a experiência na área, além de buscar referências daquele profissional”, aconselha. Lamentavelmente, nem todos os idosos contam com a ajuda de alguém para assessorá-los em casa. Nesses casos, é necessário ir morar em um abrigo ou casa de repouso. Para quem pode pagar, já existem opções mais sofisticadas, como o Lar-Hotel para a Terceira Idade. Fundado há 17 anos por Ana Maria Moreira Sales, a ideia inicial era que o lar-hotel recebesse idosos ativos, promovendo a integração com serviços de apart-hotel. “Queria que fosse um centro de convivência para idosos
A Bahia é o estado com o maior número de centenários, de acordo com o último censo do IBGE Salvador já é uma cidade de idosos, com 9,25% de pessoas idosas. Para ser considerada uma região envelhecida é preciso apenas 7% saudáveis, mas nossa demanda maior é de idosos portadores de alzheimer e pakinson”, conta Ana. Hoje, dos 28 idosos que vivem na casa, apenas quatro são lúcidos e somente um é independente. A capacidade do local é de 30 pessoas, que também recebe grupos para curtas temporadas, como no São João e nos feriados. “Temos uma equipe completa com nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, geriatra, enfermeira, para atender todas as necessidades dos nossos hóspedes”, relata Ana. A mensalidade varia entre R$ 2.500 e R$ 3.000, de acordo com o quarto escolhido e com as necessidades do idoso. O processo de envelhecimento é inexorável, ele atinge todas as raças, todas as pessoas. Fazer com que esse envelhecimento se torne o melhor possível é o grande desafio da humanidade. A prática de atividades físicas, uma dieta balanceada e o controle das doenças que porventura existam é só o começo. O mais importante, sem dúvida, é construir uma história de vida que permita, na velhice, ser benquisto por filhos, parentes e amigos, afinal, são eles que cuidarão da gente. [B+]
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VIDAFUTURO Perceber, refletir e viver com sabedoria. Três etapas que o economista Jack London relata de uma experiência particular do envelhecimento, ao olhar os anos passarem e encontrar-se presente no que chama de “Nova Idade”
I : Percebendo Eu estava com quase 60 anos quando um sentimento de inutilidade invadiu minha vida e me fez mergulhar em um estado de depressão que nem toda a atividade ou lazer do mundo conseguiam dissipar. Minha vida pública era muito intensa, mas abaixo da superfície, longe do meu trabalho, algo desconhecido agitava-se no fundo do meu coração e me deixava ansioso e inquieto. Aumentar o ritmo de trabalho com empenho ainda maior de nada adiantava. À noite, olhando-me no espelho, percebia que estava lentamente envelhecendo, e me senti sozinho e vulnerável. Logo seguiria o padrão previsível: a aposentadoria, a dolorosa diminuição da capacidade física, a existência passada em uma cadeira de balanço e o consequente fim obscuro e inevitável de minha vida. Com a existência mais longa, garantida pelo progresso da medicina e nossos estilos de vida saudáveis, algo poderia ser diferente? Qual seria a pergunta essencial para a qual procuraríamos resposta nesta etapa da vida? Depois de muita meditação ali estava ela, cintilante: - Se meu tempo terminasse agora, o que mais lamentaria não ter feito? O que está incompleto na minha vida? A maioria de nós cresceu com um medo profundamente enraizado e um horror à terceira idade. Nossa cultura, enquanto promove corpos e estilos de vida perfeitos, concentra-se obsessivamente na juventude - real ou falsamente readquirida enquanto se desespera com a redução do potencial físico associado à terceira idade. Recentemente, “o declínio inevitável da natureza” começou a ser questionado. Hoje, quando visivelmente se forma uma ideia de Nova Idade, estamos à procura de conceitos e modelos que enriqueçam a experiência da vida. Neste novo modelo, o “envelhecente” é um agente do desenvolvimento , embalado pelo novo potencial da evolução do cérebro e da mente humana e pela sabedoria do passado. Neste processo, podemos despertar capacidades intuitivas da mente associadas ao conhecimento já adquirido, à inovação espiritual, à sabedoria e à percepção ampliada. 86
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II: Refletindo Ao contrário do que imagina o senso comum, o envelhecimento não é uma derrota, mas sim uma imensa vitória sobre os desafios intensos da vida. Não significa declínio nem exílio do mundo vivo, é resultado de força e sobrevivência. Como alpinistas que chegam ao cume de uma montanha, observamos o caminho ascendente e julgamos, se possível com isenção, a personalidade que criamos ao longo dos anos. Em nossa sociedade, cujas necessidades de produção e consumo privilegiam a juventude, a idade tem má reputação, como se fosse uma doença, uma praga. Quando entramos, com medo e inquietação, em um país chamado “velhice”, acreditamos que estamos condenados a viver com autoestima e respeito cada vez menores. Passamos a fazer parte de uma nova nação de oprimidos, sem expressão social e sem redes de proteção, como as crianças, as minorias étnicas, os sexos renovados, os desafortunados. Não há nenhuma política pública, nenhuma atenção da sociedade, da cultura e das mídias para este novo grupamento que cresce a cada ano, e que em algumas situações e espaços geográficos já não é mais minoria, mas sim presença humana prevalente. Como exploradores de um país ainda não mapeado pela ciência e pela geografia humana, raramente encontramos referências de comportamento e atuação para esta fase da vida. Quando muito, encontramos conselhos piegas, visões reiteradas de busca de uma “nova juventude”, conselhos de comportamento sexual e humano escritos no mesmo tom em que são escritos manuais para pré-adolescentes. Nossa cultura e nossa sociedade produtiva veneram uma espécie de potencial ilimitado da juventude e desprezam a velhice, como se esta fosse uma doença terminal. Assim era 30 anos atrás, quando a maioria da população morria antes dos 50 anos, portanto antes do envelhecimento. Mas não pode mais ser assim hoje, quando a maturidade física – ou envelhecência se quiserem - já é tão longa quanto a
juventude. Não há nenhuma reflexão de pensamento, com consequente ação prática, sobre este longo período da vida que viveremos quase todos, eu, você, seus amigos e sua geração. Este quadro não é de hoje, ao contrário, se perpetua em séculos e em diferentes autores e textos. Na Bíblia (Eclesiastis) encontramos o seguinte texto: “Então vêm os dias que rangem. Aproximam-se os anos dos quais gostaríamos de dizer: não tenho de vivêlos. Pois a luz do sol escurece nos olhos, tênue é a luz das estrelas e da lua. As mãos e os braços começam a tremer e as pernas vacilam em seus passos, como soldados derrotados”. Shakespeare, em Assim é se lhe Parece, e Simone de Beauvoir, em A Força da Idade, tratam assim este dilema, respectivamente: - Segunda infância e mero esquecimento: sem olhos, sem dentes, sem paladar, sem nada. - A grande maioria da humanidade encara a chegada da idade avançada com mágoa e revolta. Esta condição suscita neles mais aversão do que a própria morte. Não é à toa que muitos perdem o sono (vários desde a adolescência) e atravessam madrugadas se perguntando: o que posso esperar do futuro? Como viver a VidaFuturo sem mágoa, revolta, aversão, com olhos, dentes, paladar, com o brilho do sol e das estrelas atravessando retinas sem restrições? VidaFuturo não começa aos 60, aos 50, começa quando você pensa pela primeira vez na ideia de futuro, na ideia do seu futuro, o que se dá geralmente logo após a adolescência. Pouco antes dos 20 anos, você começa a elaborar o que chamamos de “idoso interno”, uma construção que vai lhe consumir grande parte da vida. Aos 30 anos, via de regra, seu “idoso interno” está pronto. Quem é e como vai ser seu “idoso interno”, você que ainda está na construção desta persona?
III: Alternativa: a sabedoria Cada um de nós carrega, desde cedo, uma imagem interna de um “idoso”. Se essa imagem for positiva, se nosso “idoso interno” for saudável, ativo, carregado de vida e capaz de aprender e inovar sempre, a vida longa pode ser sinônimo de expansão sem precedentes do ser e de nossas oportunidades de crescimento, ousadia, sabedoria, experiência e paixão. Inevitável voltar à pergunta que fizemos acima: o que lamento ainda não ter feito, o que está incompleto na minha vida? A sabedoria não está diretamente ligada a uma vida longa. Muitos fazem dos anos maduros o tempo de reafirmar conceitos empedernidos, velhos preconceitos e manchas emocionais que o tempo não apaga. Viver um estado de consciência plena implica em primeiro lugar em livrar-se das mágoas, dos projetos perdidos, da viuvez dos sonhos desfeitos. Trata-se de trabalharmos para viver uma vida plena, de conviver em paz com nossa mortalidade, fortalecer nossos relacionamentos com ideias e pessoas, e se possível, deixar um legado para o futuro. Quando falamos de um legado, não nos referimos a biografias públicas ou estátuas de bronze, estamos nos referindo a exemplos de vida para os mais próximos, legado de gestos, afetos, pequenos saberes e harmonia. Os anos da Nova Idade podem nos levar a atingir valores que não éramos capazes de perceber na vida adulta profissional. São anos de formação, ricos em desaprender as tolices da vida, perceber nossas próprias ilusões, aprofundar a compreensão e a compaixão, ampliar os horizontes da franqueza, refinar o sentido de justiça. Uma longevidade ampliada exige uma consciência e uma prática ampliadas. Neste momento crucial da vida de nosso planeta, a contribuição de um envelhecimento crítico, ativo e sereno é fundamental para o fortalecimento do indivíduo, para a renovação da vida social e para a recuperação da saúde emocional e ecológica da Terra. VidaFuturo é isso: viver com plenitude e sabedoria, alimentando o corpo, a alma e o espírito, nos tempos de semeadura e nos tempos de colheita. [B+] FOTO: Rômulo Portela
JACK LONDON
Economista, empresário e escritor. Primeiro a entrar no e-commerce no Brasil ao criar o site Booknet
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L I F E STYLE | vi a g e m FOTO: Acervo Pessoal
DESTINO: CALIFÓRNIA Durante o verão norte-americano, o empresário baiano Davidson Botelho reuniu a família e passou 14 dias a viajar, fazendo uma parada para conhecer algumas das mais estilosas cidades californianas por DAVIDSON BOTELHO
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izem que se a Califórnia fosse um país, seria a quinta economia do mundo. Esse estado também reúne praias, montanhas, florestas e locais áridos, um conjunto de elementos naturais que um grande território pode concentrar. Comecei minha viagem por São Francisco, cidade que eu considero uma das mais bonitas e alegres do mundo. Com uma cultura fantástica, excelentes restaurantes, hotelaria e diversão de primeira, São Francisco é recomendada para todos os gostos, preços e idade. Lógico que uma cidade litorânea como essa explora bastante a sua costa, e isso São Francisco faz muito bem. Ali estão bons hotéis, excelentes restaurantes, centros comerciais e a vida noturna. Os passeios de barco são indispensáveis para se ter uma visão da magnitude da Golden Gate, considerada uma obra de arte da engenharia norteamericana. Também não pudemos deixar de conhecer a desativada penitenciária Alcatraz, cenário de inúmeros filmes de Hollywood, sendo o mais famoso deles, Fuga de Alcatraz. Depois de curtir bastante com minha família, peguei o carro e adentramos 88
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“A CA-1, que costeia toda California, foi a estrada mais bonita que tive oportunidade de dirigir” naquela que eu considero a estrada mais bonita que já tive oportunidade de dirigir, a CA-1, que costeia toda a Califórnia, mostrando o imponente oceano Pacífico e suas belezas raras. Nesta viagem, com cerca de 850 km de São Francisco até Los Angeles, passei por pequenas e encantadoras cidades como Monterey, Carmel e San Louis Obispo. Monterey, com suas fantásticas marinas, é literalmente um oceano de barcos de todas as espécies. Povo alegre, festeiro e bem a cara do que encontramos no Rio de Janeiro e Bahia. Carmel é um principado, local ideal para casais apaixonados e em lua de mel. Com uma arquitetura européia charmosa e muito florida, é destino de veraneio de milionários, fazendo do lugar um desfile de grifes e carros luxuosos que eu comparei a Campos de Jordão à beira mar. Esta pequena cidade já teve como prefeito ninguém menos do que o consagrado ator de Hollywood, Clint Eastwood.
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Dormimos em San Louis Obispo, cidade que transpira música. Engraçado que, em apenas dois dias nesta cidade, o que mais vimos foram casamentos. Até pensamos que era algo do período, mas nos disseram que a cidade tinha a tradição de realizar casamentos por causa do fantástico cenário. Antes de chegar a Los Angeles, passamos por Malibu e Santa Mônica com suas vidas praianas exatamente como os filmes retratam: muito surf e calçadas cheias de gente bonita. Nos hospedamos fora do centro da cidade, pois esta grande metrópole abriga a maior frota de veículos do mundo, tendo a incrível marca de três carros por habitante. O resultado são enormes engarrafamentos, apesar de toda infraestrutura. Los Angeles e sua grande economia do cinema, automóveis, show business, vinhos, indústria petroquímica, tecnologia e eletrônicos, também é a cidade do lazer. Tudo ali cheira riqueza e glamour, não é à toa que ‘’Hollywood é ali’’. Passeio garantido para conhecer locais onde foram e são casas de grandes estrelas, como Elvis Presley, Michael Jackson e alguns dos astros do esporte. Tudo nos remete ao mundo da TV e entretenimento. Uma volta na Rodeo Drive, uma das avenidas mais chiques, nos faz pensar em um mundo que nem sempre nos é verdadeiro. Parada obrigatória na Calçada da Fama, Teatro Kodak, onde acontece o Oscar, Estúdios Hollywood, Estúdios Universal e tantos outros mais. A única coisa que eu lamento na Califórnia é por ser muito longe. Poderia tranquilamente trocar de lugar para se aproximar mais de nós e frequentarmos com mais assiduidade. [B+]
FOTO: Bernard Gagnon
+ Alcatraz:
Durante 29 anos, a ilha de Alcatraz foi considerada a penitenciária mais segura do mundo, até que o ladrão de bancos Frank Morris e dois companheiros de cela conseguiram fugir sem serem vistos. Outros dois dos maiores criminosos norte-americanos, Al Capone e Alvin Karpis, também passaram alguns anos de suas vidas por lá.
FOTO: Caccamo
+ Rodeo Drive:
O famoso quarteirão em Beverlly Hills é considerado um dos mais caros do mundo. Grandes lojas de grife e finos restaurantes fazem parte da avenida, que já virou ponto turístico por atrair pessoas ricas e estrelas do cinema de Hollywood.
FOTO: Craig Lovell
+ Monterey:
Há 44 anos, a cidade promove o Festival de Jazz de Monterey, que reúne mais de 500 artistas espalhados em nove palcos dentro dos 20 acres campestres. As exibições musicais, os debates sobre jazz e workshops fazem deste o maior festival de jazz em execução no mundo.
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DEZ ANOS DA CONFRARIA PRESTIGE Um ambiente apenas com homens, empresários e profissionais liberais. Pode nem parecer, mas estamos falando mesmo de uma cozinha. Há dez anos, os integrantes da Confraria Gastronômica Prestige se reúnem para encontrar os amigos e preparar um bom prato
FOTO: Divulgação
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undada em 10 de junho de 2002, a iniciativa surgiu a partir da ideia de Fernando Martos e Isaac Edington, que convidaram Rubem Passos para presidir a Confraria Prestige. Guy Ferreira foi logo um dos primeiros convidados do novo projeto juntamente com Paulo Guaranys, proprietário do antigo restaurante Bernard Prestige, primeiro reduto desses “homens de negócios”. Em 2008, o restaurante Prestige foi vendido e a confraria se transferiu para o restaurante OUI, na Bahia Marina, local onde se mantém até hoje. Os encontros são realizados duas vezes por mês, sempre às segundasfeiras, com três confrades responsáveis por preparar o jantar, composto de varanda, entrada, prato principal e sobremesa. Duas vezes por ano, são eleitos os melhores pratos e servidos às confreiras, como comemoração ao Dia dos Namorados e Natal. Ao longo dos dez anos, muitos confrades fizeram parte do grupo. Entre eles estão J.J. Garcia, Antônio Torres, 90
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Rodolfo Tourinho, Lula Chamadoiro, Eduardo Santos, Hélio Tourinho, Gustavo Queiroz, Hideo Hama, Candido Gonçalves, Antonio Garcia, Alex Amaral, Renato Tourinho, Denis Guimarães, Antônio Galvão, Jorge Seixas, Antônio Martins, Fernando Freitas, Ricardo Ferreira, José Paulo, Amador Jr., Luiz Talis, Paulo Soares, Manoel Heleno, Duda Lebram, Edinho Engel, Laurent Rezette, Hugo Ribeiro, Giácomo Mancini, Gustavo Basto, Ricardo C. Lima, Dudú Santana, Danilo Solarino, Bernardo Rezende e Gustavo C. Lima, Fred Barreto. “Esses foram alguns dos amigos que ajudaram a escrever a história da nossa confraria. Hoje temos cerca de 20 confrades atuantes, e outros tantos espalhados pelo Brasil e exterior”, declara Passos. Para celebrar o aniversário da confraria, Luiz Talis, confrade há nove anos, nos envia uma receita de pierogi ao molho de linguiça Blumenau, um prato típico no Paraná.
PRATO DO DIA:
MODO DE PREPARO
MASSA
PIEROGI AO MOLHO DE LINGUIÇA BLUMENAU
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uiz Talis Speggiorin é natural do Paraná, mas prova do tempero nordestino desde 1973, quando se mudou para Salvador. Engenheiro químico de formação, trabalha na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), mas tem a culinária como uma paixão tão forte que contagia até o neto Felipe, de oito anos, que o acompanha nas aventuras na cozinha. “Tenho tentado ensinar a ele algumas coisas da minha terra. Talvez um dia sirvam pelo menos como lembrança do avô”, diz Talis. O prato da vez é típico de Curitiba, oriundo da imigração eslava, que junto com o pinhão, o barreado e a “carne de onça” é dos mais representativos do Paraná.
- 01 kg de farinha de trigo - 01 xícara de nata (creme de leite fresco) - 01 ovo grande - 01 colher (sopa) de manteiga - 01 colher (sopa) de óleo - 01 polvo pré-cozido e cortado em lâminas Misture a farinha de trigo, óleo, manteiga, o ovo e acrescente o creme de leite. Sovar a massa até que fique homogênea e desgrude da mão. Se necessário ajude com um pouco de leite. Deixar descansar por meia hora. Abra a massa até uma espessura fina, e depois corte em discos de cerca de 10 cm com um cortador ou a boca de um copo. Acomode o recheio no centro do disco e dobre a massa formando uma meia lua. Com as mãos ou com um garfo (como pastel) feche bem a extremidade. Guarde em geladeira. Para o cozimento, ferva em bastante água com um fio de azeite. Cozinhar os pierogi até que flutuem – de 3 a 5 min. Retire com uma espumadeira e reserve.
RECHEIO - 05 batatas - 500g de ricota - 01 ovo - Sal, pimenta do reino, cebola, alho e salsa Cozinhe as batatas grandes em água e sal até ponto de purê. Escorrer, amassar e deixar esfriar. Amasse a ricota com um garfo e misture, ajustando sal e pimenta do reino à gosto. Doure uma cebola e alho picados e acrescente. Acrescente o ovo para dar liga e um pouco de salsa picada. Misture bem. Guarde em geladeira.
MOLHO DE LINGUIÇA BLUMENAU - 200g de carne moída bovina - 200g de linguiça Blumenau ou linguiça calabresa defumada - 01 lata de tomate pelado - 01 cebola grande picada - Alho picado, sal e pimenta do reino a gosto Frite a cebola e o alho picado mexendo até dourar. Refogue a carne. Desmanche a linguiça em pedaços (moer se necessário). Acrescente ao refogado. Tempere com sal e pimenta do reino a gosto. Acrescente o tomate pelado (cortado em pedaços médios), salsa e cebolinha picadas, e deixe cozinhando até encorpar. Se necessário corrija a acidez com uma pitada de açúcar
FOTOS: Rômulo Portela
[+] Pierogi são tortas de massa primeiro cozidas e então assadas ou fritas normalmente na manteiga com cebolas. São tradicionalmente recheadas com batata, chucrute, carne moída, queijo ou frutas. Provenientes do centro e do leste europeu, têm formato normalmente semicircular, mas em algumas culturas podem ser retangulares ou triangulares.
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OBJETOS IRRESISTÍVEIS Passeamos por três lojas em Salvador e selecionamos os objetos que mais nos chamaram a atenção pela sua beleza e originalidade
1. The Indie Rock Poster Book R$ 129,00 Uma publicação massa, com desenhos de 30 famosos designers, inspirados em músicas do Indie Rock, para você enfeitar sua parede de casa ou do trabalho.
2. Caderno Pantone Chips R$ 44,00 Pantone é um sistema de cor largamente utilizado na indústria gráfica e, como a capa de caderno, pode ser útil para publicitários e divertido para crianças.
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3. Sabonete Liquido Coruja - kit com 2 R$ 43,00 Não tem como não se apaixonar por essas corujinhas lindas que olham pra você pedindo um banho delicioso. Além de belas, o gel de banho e sabonete líquido são super cheirosos.
4. Curativos Ouch! Caveiras e Ossos R$ 37,00 Você pode até estar machucado, mas com certeza vai se divertir ao olhar para o curativo fashion, cheio de caveirinhas da moda.
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5. Velas de Aniversário R$ 35,00 Don´t ask, 29 again, Lost Count são algumas das frases engraçadinhas para aqueles que não querem revelar a idade no bolo de aniversário.
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6. Marmiteira térmica R$ 80,00 Uma marmiteira bonita que ajuda a manter seus alimentos bem quentinhos. Assim dá até vontade de se alimentar bem.
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7. Toyart Squarehead FatGirl - artista Márcio Leitão (22cm, resina) R$ 150,00 Para decorar a casa de uma forma bem moderna, o toyart da gordinha pode ser uma ótima solução.
8. Buttons 55 mm - artista Igor Souza R$ 15,00 cada Esses broches foram desenhados pelo artista baiano Igor Souza, da sua exposição Vira-Lata, e deixam qualquer look básico bem cool.
9. Caneca - artista Davi Caramelo R$ 35,00 Pro café, pro chá ou só pra decorar.
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ONDE ENCONTRAR: Loja Jezebel - Rua Barro Vermelho, 32: objetos 1, 2, 3 e 4 Loja RV Cultura e Arte - Rua Barro Vermelho, 32: objetos 7, 8 e 9 Loja Izabela Nossa - Shopping Paseo Itaigara: objetos 6 e 10 Caso veja algo irresistível pela cidade, envie uma foto para redação@revistabmais.com
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10. Nécessaire divertida R$ 76,00 Você pode criar a sua própria frase, engraçada ou não, e customizar essa nécessaire gigante e resistente.
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Google Nexus 7 chega com preço competitivo para concorrentes Após três dias do lançamento, em julho, o Google Nexus 7 esgotou na versão 16GB. A loja virtual Google Play cancelou o envio de pedidos do tablet por ainda não ter previsão de quando o estoque será reposto. O novo aparelho, vendido por US$ 250, é metade do preço do líder do mercado, o iPad, e se iguala ao preço do Kindle Fire, da Amazon. Com tela de 7 polegadas e 340 g, o Nexus 7 executa na mais nova plataforma do Android, o Jelly Bean 4.1, e conta com Wi-Fi, Bluetooth e NFC, além de vir equipado com processador Tegra 3 e ter 1GB de memória RAM. FOTO: Divulgação
Nova versão do pacote Microsoft Office 2013 Desenvolvido para trabalhar com Windows 8, o Office 2013 prioriza o controle por toque em telas sensíveis e tem integração com o SkyDrive, serviço de armazenamento on-line que permite acessar documentos através de diferentes dispositivos. A grande novidade é o Office on Demand, que permite aos usuários usar os programas do pacote em outro computador com as configurações pessoais intactas. Todos os programas possuem novos recursos, mas o destaque vai para o Word, que agora possibilita importar, editar e salvar documentos em PDF.
5 aplicativos que não podem faltam no seu aparelho Infraero Voos On-line: Consulte horários de partidas e chegadas de voos, a previsão do tempo e informações gerais de 50 aeroportos brasileiros.
Twitter com ferramenta para download de tuítes antigos Em entrevista ao jornal The New York Times, Dick Costolo, CEO da companhia, anunciou um novo serviço que permite aos usuários acessarem e fazer download dos post antigos do Twitter. Ainda sem data de lançamento, a nova ferramenta vai exigir dedicação extra da área de desenvolvimento da empresa.
UOL Cotações: Traz a variação do dólar, os principais índices econômicos, o movimento das Bolsas de Valores e também faz busca de ações.
IM+: Permite acessar os principais instant messengers da atualidade: Facebook, Google Talk, WLM, AIM e ICQ.
BoaLista: Assistente de compras colaborativo que cadastra produtos e preços para consulta, permitindo montar e gerenciar uma lista de compras mais econômica.
Cut The Rope: Use o raciocínio para ultrapassar barreiras e obstáculos e ajudar o monstro Om Nom a comer seu doce e ficar feliz. São 250 níveis em dez categorias diferentes.
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Facebook App Center passa a funcionar no Brasil
Celulares Tank e Jenny chegam ao Brasil em Agosto
A loja de aplicativos on-line da rede social já está disponível para os usuários brasileiros, com opções disponíveis para computadores e dispositivos iOS e Android. O Facebook, que já tinha integração com sete dos dez aplicativos mais vendidos na Google Play e App Store, agora conta com uma central própria com mais de 600 ferramentas. Na App Center, cada pessoa tem uma experiência personalizada, com recomendações baseadas nos aplicativos que ela e seus amigos usam.
Custando menos de R$ 130, os novos celulares da parceria da empresa brasileira Allied e a americana BLU Products, vão começar a ser comercializados na segunda quinzena de agosto. Os aparelhos apresentam recursos como dual chip, câmera VGA que também filma, Bluetooth, antena FM, MP3/MP4, entrada para cartão micro SD de até 8 GB e tela de 1,8 polegada. O modelo Tank dispõe de uma bateria de longa duração, capaz de durar até 30 dias sem recarga.
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ARTE & ENTRETENIMENTO
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Grupos e atores investem no profissionalismo e diversificação para manter o lucro
Alaor Macedo quer resgatar o samba de outrora e conquista os amantes da boa música
CINEMA 104 | APLAUSOS 105 | [C] CRIS OLIVIERI 106
ART E & ENTR ETEN IM ENTO | t ea t ro
TEATRO
NA BAHIA É UM BOM NEGÓCIO? FOTO: João Caldas
Como alguns grupos e atores conseguem se manter em cena sem precisar fazer as malas e partir para o eixo Rio-São Paulo? por LILIAN MOTA
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a novela Gabriela, ele é Clóvis, um jornalista de esquerda, mas este é apenas um dos múltiplos papéis que o ator Jackson Costa desempenha na vida. Ao mesmo tempo em que grava na TV Globo, no Rio, Jackson está em cartaz em Salvador com a peça Nova Mente, a mais nova vertente do bemsucedido projeto Los Catedrásticos. O ator é também o apresentador do programa semanal Aprovado, da Rede Bahia. Pensa que parou aí? Está enganado, Jackson também ataca de professor de teatro, em uma oficina de 96
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atores, em Salvador. Nas horas vagas, recita poemas e faz performances em eventos dos mais variados estilos. Ainda participa de comerciais, sem problemas, basta ser convidado. Tudo isso para sobreviver com a arte e continuar morando em Salvador. “Há anos venho tentando fazer do teatro uma atividade sustentável. Não é fácil, mas eu consigo”, diz ele. Tudo começou em 1989, quando Jackson deixou Itabuna, no sul da Bahia, para cursar a Escola de Teatro da Ufba na capital. Logo começaram os convites de trabalho e ele não terminou a faculdade. Era o auge da axé music, e Jackson, junto com um grupo de colegas, criou um espetáculo de humor baseado nas letras das canções do axé. O sucesso foi imediato e o grupo Los Catedrásticos despontou no cenário teatral baiano. O projeto, sempre com o mesmo tema, mas com variações no elenco, completa 23 anos e já rendeu quatro espetáculos. O mesmo grupo também encenou duas
FOTOS: Divulgação
peças com temáticas diferentes, Brother (teatro infantil) e Suburra (erótico). “É tudo criado pelo grupo e baseado no improviso e na criatividade, mas ao longo do tempo ficamos mais atentos às formas de gestão do projeto, à necessidade de tornar o teatro mais profissional, sem perder a qualidade artística”, diz Jackson. Depois de alguns anos de batalha em Salvador, o brilho da estrela chegou à Vênus Platinada. Jackson participou de novelas como Renascer (interpretando Padre Lívio, personagem de grande sucesso), Pedra sobre Pedra, Tocaia Grande, Duas Caras e Paraíso, além das séries A Pedra do Reino e Dalva e Herivelto. No cinema, atuou em O Dono do Mar e Estranhos, filme em que interpreta um poeta popular. Tudo a ver com o gosto do ator pela poesia, outra vertente de seu trabalho artístico que rende convites para apresentações nos mais diversos locais, com cachês variados, que contribuem para manter o caixa sempre ativo. “A poesia é algo que me agrada tanto que me apresento até de graça, em escolas públicas, quando o tempo permite”, diz Jackson. Depois de consagrado na TV e com o sucesso do grupo Los Catedrásticos, Jackson Costa partiu para mais um desafio no teatro baiano: fazer o papel de Deus na comédia Vixe Maria, Deus e o Diabo na Bahia, um trabalho premiado, que teve grande repercussão. O ator, que encara bem tanto o drama quanto a comédia, também já fez teatro fora da Bahia, como a peça A Hora e a Vez de Augusto Matraga, no Rio. “O que acho bom eu faço, e assim me sustento como artista e como pessoa”, diz Jackson. Que tal apresentador de TV? Foi a proposta que a equipe do programa Aprovado, da Rede Bahia, fez ao ator, e ele aceitou. Em janeiro de 2010, passou a apresentar o programa, sobre educação e cultura. “É o único salário fixo e garantido que eu tenho”, diz Jackson, que gosta do trabalho, mas admite que cada gravação é um desafio: “É difícil
“Para ser alternativo e independente, sonho de todo ator, também é preciso ser profissional e saber investir” Jackson Costa
Apresentar o programa Aprovado foi um novo desafio na carreira de Jackson, que diz ser difícil se expor sem estar protegido por um personagem. “Olha... eu nem assisto depois de pronto pra não sofrer”, revela.
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me expor sem estar protegido por um personagem. Ali, sou eu mesmo, com erros e acertos, e olha... eu nem vejo depois de pronto pra não sofrer. Mas acho que as pessoas gostam do resultado, recebo muitos elogios pelo programa. O importante é que abri mais uma frente de trabalho em um mercado restrito como é o de Salvador, sou um ator baiano apresentando um programa que é da Bahia”. Para dar conta de tantas atividades, Jackson conta com o apoio da mulher, Iolanda, que mantém as coisas funcionando em casa, cuida dos três filhos do casal, de 21, 18 e 14 anos, e ainda organiza os compromissos profissionais do marido. “São muitas coisas paralelas, mas eu consigo fazer tudo sem me estressar”, diz o artista. Quer saber o segredo? “Sou meio Dorival Caymmi, tenho minha hora de parar com tudo e me dedicar ao ócio criativo, preciso muito disso pra zerar as energias e ficar inteiro no que faço. E aí volto com mais garra ainda”. Jackson Costa acha que ser multimídia e saber gerenciar a própria carreira, sem depender dos “atravessadores”, é uma tendência contemporânea: “Para ser alternativo e independente, sonho de todo ator, hoje em dia também é preciso ser profissional e saber investir”. Um exemplo de investimento: inspirado no filho que estuda cinema, Jackson decidiu que vai começar a dirigir documentários. Já comprou uma câmera e só está esperando as lentes chegarem dos Estados Unidos para começar a filmar. “Tem muita coisa que quero mostrar. Por incrível que pareça, mesmo com tudo que faço e já fiz, ainda sinto uma angústia, tem espaços vazios dentro de mim que não preenchi, quero pegar essa câmera e registrar as coisas com um olhar diferente, o meu olhar”.
“Agente de atores é coisa de filme” Lelo Filho, diretor de A Bofetada FOTO: Marcos Motta
Profissionalizar a gestão do teatro Assim como Jackson Costa, os atores da Companhia Baiana de Patifaria conseguiram espaço permanente no teatro baiano na base da inventividade aliada a uma gestão profissional e constante. O grupo foi criado por Lelo Filho e Moacir Moreno em 1987, com a comédia Abafabanca. Um ano depois, veio A Bofetada, sucesso estrondoso, que já teve diversas temporadas, atingindo mais de 500 mil espectadores em 50 cidades do país. Nem é necessário descrever o espetáculo, porque pouca gente não viu as aventuras de Fanta Maria, Pandora e outras personagens que compõem os três esquetes da peça dirigida por Fernando Guerreiro. “A gente quis inovar no 98
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“Viver de arte é um sonho que poucos conseguem realizar sem sair daqui” Vinnicius Morais, coautor de Siricotico
processo de criação e produção, dividindo com a figura do diretor a concepção do espetáculo, começando pela escolha do texto”, explica Lelo Filho, que hoje assina a direção. Mais do que um bom espetáculo, A Bofetada é considerada um marco. Pela primeira vez, o grande público baiano lotava as salas para assistir a uma peça criada e encenada por artistas locais. A Cia Baiana de Patifaria popularizou o teatro, trazendo novos elementos à cena e abrindo caminhos para outros artistas. Na época, o gênero “besteirol” tomava conta dos palcos de todo o país, mas A Bofetada tinha identidade própria, um tempero baiano que fez e ainda faz toda a diferença. Este ano, depois de mais uma montagem em Salvador, o grupo percorre cidades do interior baiano. Mas como um espetáculo que já tem 24 anos consegue se manter em cartaz, com boa bilheteria, e ainda por cima na Bahia? A fórmula é simples: o texto permite uma constante atualização, sem prejudicar a estrutura básica. É sempre o mesmo, mas sempre diferente, uma peça “renovável”, como define Lelo Filho. A Bofetada tem uma espécie de comunidade de fãs que extrapola fronteiras. “Ao longo do tempo, criamos um público fiel na Bahia e no eixo RioSão Paulo, então não fomos obrigados a deixar Salvador como fizeram muitos artistas”, explica o diretor, ator e empresário. Lelo é o único nome da formação original da Bofetada – 14 atores já passaram pela peça. O núcleo atual tem ainda Alexandre Moreira, Jarbas Olivier e Nilson Rocha. É curioso que um grupo 100% irreverente, dedicado à “patifaria”, tenha sido um dos maiores responsáveis pela profissionalização do teatro baiano. Por trás das cortinas, tinha gente trabalhando sério para manter a companhia e tornar A Bofetada um “produto” sustentável, sem depender inteiramente dos patrocínios governamentais. Para Lelo Filho, o ator precisa saber gerenciar a própria carreira, caso contrário, não se mantém no mercado teatral. “Agente de atores é coisa de filme”, brinca. Em 1995, a Cia Baiana de Patifaria estreava uma nova peça, Noviças Rebeldes, sob a direção de Wolf Maia. Foi um grande desafio para o grupo por se tratar de um musical, mas as freirinhas hilárias fizeram sucesso em todo o país e até em Nova York, onde a peça ficou em cartaz por duas semanas. As noviças também renderam bons comerciais na TV. Nos anos seguintes, o grupo montou A Vaca Lelé, Capitães de Areia e Siricotico, Uma Comédia do Balacobaco, lançada em 2010, que atualmente está em turnê, junto com a mais recente versão da Bofetada. Lelo Filho acha que a popularização da internet e da TV fechada é responsável pela diminuição do público
de teatro em todo o Brasil e, no caso da Bahia, as empresas têm reduzido o apoio. “Longas temporadas já não funcionam”, explica. E para quem acha que teatro é um bom negócio, Lelo diz que não é bem assim: “É uma atividade muito difícil, que exige paixão”. Quem está chegando agora já sabe disso, mas, como todo apaixonado, não desanima. É o caso de Vinnicius Morais, coautor de Siricotico. O trabalho da Companhia Baiana de Patifaria sempre foi uma referência para ele, e entrar na companhia foi a realização de um sonho. Mas ele também quer criar a própria marca, e já montou outros espetáculos que fazem parte da nova geração do teatro baiano. O último, SMS - Saga da Memória Soteropolitana, é considerado por ele mais que uma peça, um “empreendimento teatral”. O projeto, em parceria com Alan Miranda e Ricardo Carvalho, foi criado há três anos. O grupo queria fazer algo voltado para o público jovem, misturando aventura, drama, comédia, conteúdo pedagógico e interatividade. No ano passado, veio o patrocínio de uma grande empresa de telefonia, através da Lei de Fomento à Cultura, o Fazcultura, e de uma rede de lojas. Depois da boa notícia, o grupo partiu para a escolha do elenco de uma forma diferente. Em vez das “panelinhas”, por que não abrir uma seleção pública para dar oportunidade a atores novos? O resultado foi imediato, 160 candidatos se inscreveram pela internet e, depois de várias audições, sete atores e atrizes foram escolhidos para a empreitada. Enquanto o elenco ensaiava, os criadores do projeto faziam o roteiro, inspirados nos exercícios de improvisação do elenco. Até que a saga da realização chegou ao fim e começou a saga propriamente dita no palco. A peça conta a história de seis jovens que são sequestrados para o passado, na pele das principais figuras da história da Bahia. Os personagens participam de um jogo onde precisam tomar decisões corretas do ponto de vista histórico para alcançar a liberdade. O publico participa respondendo perguntas através de SMS.
“O artista precisa estar cada vez mais atento às formas de se sustentar, porque viver de bilheteria hoje é inviável” Luiz Marfuz, diretor e professor de teatro w w w. r e v i s t a b m a i s . c o m
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SMS - Saga da Memória Soteropolitana ficou em cartaz dois meses em Salvador, de abril a junho, mas agora o grupo precisa de novos patrocínios para voltar aos palcos. “É aí que entra a dificuldade dos artistas baianos”, diz Vinnicius. “Viver de arte é um sonho que poucos conseguem realizar sem sair daqui. Quando uma peça está em cartaz, todos os envolvidos dependem da bilheteria, que mal dá para pagar os custos fixos. Sem apoio estatal, através de editais e leis de incentivo, é quase impossível fazer teatro, porque a maioria dos editais de cultura das empresas privadas exige aprovação em alguma lei. Com tanto potencial, a televisão local deveria se abrir mais para o investimento em dramaturgia, mas não há interesse. A produção cinematográfica possibilita mais que artistas realizem curtas-metragens trabalhando de graça para tentar participar de festivais. Se não for professor de teatro ou não tiver outro emprego paralelo, o artista não sobrevive”.
Ator no papel de empreendedor
As dificuldades existem, mas a produção teatral não para. Em meio a audições, produções e novas peças, atores e diretores vivem dias de risos e outros de drama.
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A Escola de Teatro da Ufba tenta correr atrás dos novos tempos. Desde 2004, o currículo passou a incluir disciplinas voltadas para a inserção do artista no mercado cultural. São temas como produção teatral, elaboração de projetos e ética e organização social do trabalho em teatro. Para o diretor e professor de teatro Luiz Marfuz, a saída é essa: “O artista precisa estar cada vez mais atento às formas de se sustentar, porque viver de bilheteria hoje é inviável. O teatro é uma atividade artesanal com custo alto, e compete com linguagens muito fortes da indústria cultural, como o cinema, a TV e a internet. O artista precisa aprender a captar recursos e saber escolher as fontes. Não queremos ser tratados como meros produtos, mas não podemos ficar à margem. O ideal seria que no Brasil o apoio à nossa atividade fosse uma política de Estado permanente, independente dos grupos políticos que entram e saem, como é na França, por exemplo”. Mesmo com as dificuldades, não param de surgir novos grupos em Salvador. Marfuz destaca o Toca de Teatro, que fez sucesso com a peça Atire a Primeira Pedra; Panacéia Delirante, formado por seis mulheres, que este ano receberam o Prêmio Funarte pela peça Dorotéia; Teatro Base, que pratica a autogestão e foi revelação no Prêmio Braskem com a peça Arbítrio; e Alvenaria de Teatro, que, mesmo sendo experimental, consegue se manter fazendo intervenções urbanas. Todos formados na Escola de Teatro da Ufba. Uma prova, segundo ele, de que o teatro na Bahia está vivo, mas, como o próprio símbolo desta arte, tem seus dias de risos e gargalhadas e os dias não tão felizes assim. Como tudo no mundo. [B+]
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ART E & ENTR ETEN IM ENTO | m úsica
O músico baiano Alaor Macedo conta a sua história, marcada pelo ritmo que veio da África por BRISA DULTRA
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Alaor Macedo começou, como muitos, cantando no chuveiro. A acústica perfeita do espaço permitiu o primeiro contato com a força e malemolência da sua voz, tão cara aos sambistas. Era década de 60, quando o jovem aprendiz de marceneiro se envolveu com a Diplomatas de Amaralina, escola de samba de Salvador. “Nessa época eram várias as escolas na capital. Tinham os Ritmistas do Samba, Bafo da Onça, Juventude do Garcia...”, conta o músico. As escolas de samba, até o final da década de 70, mobilizavam comunidades inteiras e eram também responsáveis pelo frenesi carnavalesco de Salvador, quando 14 agremiações brilhavam do Campo Grande à Praça da Sé. “Não há registros desses tempos, além da nossa memória”, revelou Alaor, que presenciou o início da industrialização do carnaval baiano com a chegada do axé music. As escolas de samba, gradativamente, foram perdendo a sua importância, até sumirem de vez. Apoiado por amigos e parentes, Alaor decidiu tentar a vida no Rio de Janeiro, em 1979. O incentivo talvez tenha dado sorte: assim que chegou na cidade, a dona da pousada onde se hospedou o convidou para ir na roda de samba do tradicional Helênico Clube. Alaor acabou indo sozinho: “Cheguei e estava lotado, uma fila enorme. Eu não sabia o que fazer, até que um homem me chamou e liberou minha entrada. Do nada”. Era o Rio abrindo as portas para Alaor. Nesse mesmo dia, foi convidado para ser músico do clube, onde cantou com grandes nomes do samba, como Beth Carvalho, Alcione, Neguinho da Beija Flor. “Eu tocava aos sábados, no almoço, com a banda do maestro Cipó, e depois enveredava a noite com o grupo Os Canarinhos. Esses dois cachês foram a minha renda por muito tempo”, conta o sambista, que foi estreitando cada vez mais os laços com o samba, até entrar de vez para a Acadêmicos do Salgueiro, escola que entoou, por três anos, os sambas-enredo criados por Alaor. A letra de um desses sambas-enredo foi a grande ponte para uma viagem aos Estados Unidos. “Uma jornalista
O SAMBA DE ALAOR
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FOTO: Carolina Coelho
“O samba é que me mantém procurando os melhores caminhos para deixar uma mensagem positiva para as novas gerações”
Álbum: Hoje Eu Escolho a Felicidade Artista: Alaor Macedo Produção: Alaor Macedo Gravadora: Bossa Samba Choro Preço: R$ 25,00
americana pesquisava sobre marcas da herança africana na música brasileira, quando descobriu o samba de minha autoria, Templo Negro em Tempo de Consciência Negra. E aí eu fui convidado a participar do Black History, um evento que discute e celebra a cultura afrodescendente, anualmente, nos EUA. Alaor se apaixonou, casou com uma nativa e acabou morando 18 anos lá. Logo no primeiro, quando visitou o Café Lautrec, escutou uma versão instrumental de “Pra machucar seu coração”, executado por um trio de músicos americanos. Se ofereceu para fazer parte do grupo, com seu tamborim e voz, foi aceito e rodou o país em suas turnês musicais, tornando-se um respeitado embaixador da cultura brasileira. A história do grupo é interrompida por um trágico acontecimento. Alaor sofreu um acidente de carro que lhe roubou a visão do olho direito. Foi apoiado pelo Estado americano, que custeou o tratamento completo. “Eles foram muito corretos comigo”, disse, demonstrando gratidão. O músico diz que aquele foi um sinal para que ele voltasse ao Brasil: “Eu não queria ficar lá pra sempre, o acidente adiantou as coisas. Fora que fazer o tratamento aqui é melhor, com cuidados de minha mãe e uso de plantas medicinais”. Desde 2006, Alaor continua a sua história artística em Salvador, através de projetos musicais, como o Grêmio Recreativo Escola de Samba Lira Imperial do Samba, sob sua liderança, uma proto-escola de samba. Em 2010, ele gravou um álbum de sambas-enredo da cidade, com músicos de diversas comunidades que, outrora, tinham suas escolas de samba. “Fizemos alguns shows para a Petrobras, participamos do Percpan e gravamos um CD em 2010. O axé é um gênero consolidado, que começou com a vontade de um grupo de fortalecê-lo. Podemos fazer o mesmo com o samba, basta vontade e organização”, afirmou. Seu mais novo projeto é o Movimento Cultural Bossa Samba Choro Social Club. A ideia é possibilitar a formação de um grupo de músicos que toque MPB, culminando em apresentações com ícones do samba, da bossa e do choro. O projeto vem acontecendo no bar Aconchego da Zuzu, no Garcia. “Quem sabe esse grupo não cresce e vira a bateria de uma escola de samba baiana”, sonha Alaor, que tem como meta resgatar a tradição das escolas de samba na Bahia. Hoje, aos 63 anos (e com 46 de carreira), o artista concentra a energia para divulgar seu primeiro álbum autoral, Hoje Eu Escolho a Felicidade. Recém-lançado, o trabalho traz muita bossa, choro e samba, e faz uma homenagem a Ederaldo Gentil, falecido este ano. [B+]
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ART E & ENTR ETEN IM ENTO | cinem a FOTO: Agnes Cajaíba
Marília e Claudio analisam o resultado de cenas recém-gravadas
a Nova República virou um emaranhado de legendas e políticos, Tancredo Neves morreu e Sarney, antigo presidente da Arena, tornou-se presidente. Toda essa convulsão será mostrada como pano de fundo, pois o que nos interessa no filme são os personagens, acima de tudo. Como foi o processo de captação de recursos para a produção? O filme foi selecionado pelo Edital de Longa Metragem de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura, em 2010, com o valor de R$ 1,2 milhão. Também fomos selecionados pelo Fundo de Cultura do Estado da Bahia, no ano passado, com R$ 200 mil.
PROFISSIONALISMO BAIANO NO LONGA “DEPOIS DA CHUVA” Em uma Salvador de 1984, o jovem Caio, de 16 anos, experimenta as inquietações da idade em um momento pós Diretas Já, quando o país passava pelas mudanças políticas que iriam restabelecer a democracia. É nesse cenário de transformação e resistência que o longa Depois da Chuva acontece, com a missão de resgatar uma cosmovisão soteropolitana vivida pelos jovens estudantes da época. Produzido pelos diretores Marília Hughes e Cláudio Marques e com elenco composto por caras novas, o filme baiano tem estreia prevista para 2013. Enquanto não sai, fique com a entrevista com o casal de diretores. Qual a importância de retornar a 1984 e mostrar para o público atual o sentimento vivido pelos jovens no período pós-ditadura? O ano 1984 foi turbulento. Os sentimentos estavam à flor da pele, havia uma sensação forte de que tudo era possível ser feito. Mas, aos poucos, os fatos foram nos esmagando. Não houve eleição direta para presidente, 104
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Por que Salvador? Moramos em Salvador durante quase toda a nossa vida. A cidade, com suas belezas e mazelas, nos inspira. Trata-se de um filme de inspiração autobiográfica, assim sendo, não poderíamos filmar em outra cidade. Os atores são jovens iniciantes, o que vocês buscaram para formar o elenco desse filme? Trata-se de um filme jovem, com uma vibração jovem. Muito difícil encontrar atores com essa idade e já com experiência. Fizemos testes com quase mil adolescentes e não apenas em Salvador, mas também em São Paulo e Recife. Pedro Maia foi o nosso escolhido e estamos muito contentes por tê-lo encontrado. Por outro lado, trabalhamos também com atores experientes do teatro baiano, já com muitas passagens pela TV e pelo cinema. [B+]
[+] NO SITE : Confira a entrevista completa com os atores Pedro Maia e Sophia Corral e fotos da gravação
ARTE & ENTR ETEN IM ENTO | a pl a uso s Novo álbum da Radiola já está disponível para download
FOTO: Caroline Bittencourt
Ao unir digital e analógico, a banda baiana Radiola lança seu terceiro álbum, ArRede – Tempo Sem Nome, que está disponível em CD, vinil e para download gratuito na internet. Com composições inéditas, a produção foi contemplada pelo Edital Apoio à Produção de Conteúdo em Música na Bahia 2009, Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), durando cerca de dois anos. A obra conta com a participação de nomes como Letieres Leite (Orkestra Rumpilezz) e Chocolate da Bahia utilizando velhas e novas tecnologias, com elementos de samba de roda, samba reggae, soul music, rock, ska e música brasileira. Para quem é do interior, fique ligado, o vocalista Fabinho Radiola diz que um dos planos é fazer uma turnê por cidades baianas.
Jovem Maestro da Neojibá conquista prêmio no festival de música clássica No 43º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, o prêmio Eleazar de Carvalho foi dado, por unanimidade do júri, ao jovem maestro e percussionista Yuri Azevedo, integrante da orquestra Neojibá. Aos 20 anos de idade e apenas cinco de formação, o jovem, o jovem foi o primeiro regente a ser agraciado com o prêmio, que oferece uma bolsa de estudos e uma vaga no conservatório Peabody Institute of Music, nos Estados Unidos. FOTO: Tatiana Golsman
Ipac cria Centro de Documentação e Memória Até o final deste ano, milhares de fotografias – digitais e analógicas –, mapas, plantas de imóveis, projetos de restauração, dossiês de pesquisas, estudos, livros e documentos técnicos, produzidos ao longo de quatro décadas sobre os patrimônios culturais da Bahia, estarão disponíveis para acesso gratuito ao público no novo Centro de Documentação e Memória do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac). A Praça das Artes ganhará serviços de impermeabilização e paisagismo e, junto com o estacionamento, terá ainda revisão das instalações elétricas. Em convênio com o Centro de Referência Integral de Adolescentes (Cria), o Ipac desenvolverá ações de dinamização da praça. FOTO: Divulgação
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ART E & ENTR ETEN IM ENTO | o ff bro a d w a y
PUBLICIDADE QUE INSPIRA
CRISTIANE GARCIA OLIVIERI
Advogada, master em administração das artes e mestre em política cultural (USP- ECA)
Fui ao Festival Internacional de Criatividade de Cannes, no final de junho, por puro acidente. Afinal, embora conviva com a turma da comunicação desde sempre, já que também passei por esses bancos escolares, no dia a dia sou advogada. Portanto, minhas impressões são selecionadas por interesses pessoais - às vezes, bastante diferentes dos profissionais da área. De fato, é uma semana cheia de campanhas criativas, palestras, marcas mundiais, reconhecimento da publicidade brasileira, festas, prêmios (os tais disputados leões) e relacionamento. Mas, algo muito além disso, chamou minha atenção e fez a minha semana melhor. É que em meio a tanta criatividade para vender produtos, vi como a comunicação e suas campanhas podem também mudar o comportamento social para melhor. Não defendo que esse princípio está na essência de cada anúncio de margarina. Mas que existe a possibilidade de campanhas assumirem esse papel. Em palestra por lá, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, entre outros assuntos, apontou o papel dos profissionais de comunicação em colocar seu talento e criatividade a serviço de sensibilizar cada cidadão sobre as questões de sustentabilidade enfrentadas globalmente. E, também através de campanhas, apresentar
“Em meio a tanta criatividade para vender produtos, vi que é possível usar a comunicação e campanhas para mudar o comportamento social para melhor”
[+] NO SITE : Assista ao vídeo da campanha: www.lowe-ssp3.com
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ações que cada cidadão poderá implementar no seu cotidiano para contribuir com o todo. Só “publicidade + criatividade” poderiam falar com cada indivíduo de forma coletiva, no atacado. E ainda usando humor na mensagem. Adorei a proposta do ex-presidente, mas deixei o auditório pensando: será? A maratona de apresentações continuava. No dia seguinte, aí estava a apresentação de José Miguel Sokoloff, da Lowe, sobre a campanha de desmobilização das Farc na Colômbia. Em síntese, o governo colombiano, por meio do Ministério de Defesa, percebeu que o caminho não era perseguir e criminalizar os guerrilheiros, mas convidar “os prisioneiros das Farc” a se desmobilizar e voltar para a sociedade civil. Afinal, uma vez que o indivíduo decide pela luta armada, não há caminho de volta, nem liberdade de pensamento em relação à liderança. Mas, como sensibilizar alguém que está à margem da sociedade e no meio da floresta? A campanha explorou a emoção com criatividade. Foram usadas luzes de Natal nas árvores da floresta, lançaram bolas de futebol assinadas por craques, depoimentos dos já desmobilizados, e, na segunda fase, fizeram campanhas de convencimento da população de que os desmobilizados mereciam uma segunda chance para se integrar à sociedade civil. A campanha é incrível e merece ser vista. Conseguiu centenas de desmobilizações e provocou uma visão diferente sobre o assunto. Uma prova de que é possível uma campanha publicitária para uma sociedade melhor. Valeu a viagem. O que mais falar de Cannes? Que é uma cidade que soube se inventar. Atraiu festivais e eventos de toda natureza, garantindo, assim, um fluxo qualificado e constante de turistas. E, atrás deste público, vem todo o resto: grifes, restaurantes, serviços, glamour, e recall no mundo inteiro. Salvador tem tudo para ser a Cannes brasileira.
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