REVISTA ESPÍRITA DE UMBANDA 20

Page 1






Norberto Peixoto é médium, sacerdote e dirigente do Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade Por Norberto Peixoto – Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade

Este é um assunto sobre o qual fui orientado pelo Plano Espiritual para falar e divulgar. Nós praticamos uma Umbanda tradicional em nossos ritos públicos, Umbanda de Preto-Velho, de Caboclo, de aconselhamento espiritual, em que o consulente vem e conversa com as Entidades, traz suas aflições, seus transtornos, pede um caminho, uma orientação. Essa é a Umbanda que praticamos no Grupo Triângulo da Fraternidade.

A

pesar de para uns, hoje, ser uma “Umbanda sem graça”, sem grandes rituais e, ainda, para outros, uma “Umbanda fraca”, que não tem grande apelo de magia. Mas é a Umbanda que eu aprendi na década de 1970, no Rio de Janeiro, onde fui batizado na cachoeira de Itacuruçá e tive contato com a Umbanda popular, depois com a Umbanda Oriental, nos tempos de Mestre Yapacani – W.W. da Matta e Silva. Essa é a Umbanda que praticamos em nossos ritos públicos. Hoje estamos vivenciando uma era na Umbanda que terá profundo impacto nas religiões e, é claro, na própria Umbanda em particular, inexoravelmente. Hoje estou com 54 anos e posso afirmar que sou da segunda geração, digamos assim, a “segunda onda” da Umbanda. A primeira onda foi com Zélio Fernandino de Morais, com aquela mediunidade portentosa e, logo depois

do advento do Caboclo das 7 Encruzilhadas, começou pelo Brasil, ao longo dos próximos 30 anos, a acontecer manifestações espontâneas de Caboclos e Pretos-Velhos em residências e, dali, a semente que foi jogada do alto frutificou em vários pontos do Brasil e começou a nascer a religião de Umbanda. Esses médiuns, que vieram nessa primeira onda, eram médiuns inconscientes, veículos de um momento da Umbanda em que era preciso abrir caminhos, pois deveriam ser inquestionáveis os fenômenos e a força das curas, físicas, inclusive. Depois, tivemos uma segunda onda, por volta do início da década de 1950, em que uma nova leva de médiuns reencarna para dar prosseguimento à expansão da Umbanda, médiuns estes já não completamente inconscientes e que, em um determinado momento, podem até ter sido inconscientes, mas que na sequência se tornaram conscientes como tantos

Por Norberto Peixoto – Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade

A Lei de Umbanda atua do Plano Espiritual para a Humanidade ancorada nas Leis Divinas e Leis Espirituais Universais. O sujeito pode adquirir poder por meio da mediunidade, ter sucesso, contrariar o livre-arbítrio, fazer um monte de coisas, mas chega um momento em que essa Lei Maior irá corrigir e, nenhum Espírito, nenhuma Deidade muito menos ser humano, está livre dessa ação organizadora e corretiva da própria Lei de Umbanda.

Tudo tem um limite, por mais que se ache empoderado por um Exu, uma Deidade que te dê poder a ponto de você atacar, subverter merecimento, distorcer livre-arbítrio. Durante algum tempo você pode até conseguir, mas a própria Lei Divina corrige, senão o Cosmos não seria equilibrado, as estrelas cairiam do Céu, o Sol não nasceria e nós poderíamos fazer o que quiséssemos: levantar Oceanos, fazer a Terra parar e não é assim, é tudo muito organizado, tudo tem um ciclo, um ritmo natural, e nós ainda esquecemos que temos tempo para ficar aqui.

relatos que nós temos dos nossos mais velhos, que nos afirmam isso. Só que essa segunda geração de médiuns, na qual me incluo, ali no finalzinho, está envelhecendo e daqui 30 anos não estará mais aqui, neste veículo físico. E hoje os jovens que reencarnaram da década de 1990 em diante, preponderantemente são médiuns conscientes e já estão batendo às portas dos terreiros, assim como as ondas do mar beijam as areias da praia. Pode ser que haja alguns ainda, com grande compromisso cármico, mas 99,9% são conscientes, e a Umbanda, daqui 30 anos, não terá mais nenhum resíduo de mediunidade inconsciente. Nessa terceira onda da Umbanda, teremos de reavaliar algumas posturas, alguns métodos ultrapassados de educação mediúnica, repensar a forma como estamos dialogando com esses jovens médiuns, de persistir nesse patamar de algumas lideranças que insistem em vender a ideia de que a mediunidade é inconsciente e que esses médiuns terão um “apagão” no transe, que não irão se lembrar de nada, e isso não é verdade. Dessa forma, nós caímos na armadilha de um falso dogma, por vezes mal intencionado, que é a mistificação, algum interesse a mais em mentir e omitir a mediunidade consciente; isso

ESSE É O EXEMPLO QUE A UMBANDA NOS DÁ, ESSE SERVIÇO, A OPORTUNIDADE DE DESPERTARMOS EM NÓS

SAGRADO, AUXILIANDO O PRÓXIMO,

A DEVOÇÃO AO

NOS DOANDO PARA O OUTRO

Certa vez, um Preto-Velho veio se despedir porque ele já não tinha mais o compromisso com a mediunidade na Umbanda, e nos disse que o haviam convidado a ir para o Plano Espiritual Maior e que não precisava mais ficar em Terra.


está chocando muitos jovens médiuns e não estamos conseguindo formá-los. Acredito que um sacerdote de Umbanda tem, entre tantas outras funções, prioritariamente a da formação mediúnica, a formação de médiuns e de cidadãos, e essa terceira onda da Umbanda vem como um tsunami, com uma forma inexorável. Assim como nós não seguramos o vento nem o movimento dos mares, ela vem com a força do Astral Superior, com essa plêiade de Espíritos reencarnados que vêm como médiuns conscientes, para os quais teremos de nos preparar e nos reorganizar para termos formação de médium adequada a esta era do terceiro milênio. Nós não estamos mais em 1908 ou em 1930; daqui 30 anos, meus irmãos, estaremos em 2050, então, a reestruturação que acontecerá na Umbanda e que é inevitável, ninguém vai segurar isso, vai nos levar com força para que retomemos aquela simplicidade, a interioridade, a reforma íntima e a autorrealização espiritual. Não adianta termos médiuns que estão em busca de respostas e os ensinar a fazer magia, oferenda, firmeza, tronqueira, agrado, etc., etc... A magia não pode se sobrepor à Umbanda, embora esteja intrínseca nela, mas a religião de Umbanda é muito mais que isso. Magia nunca deu respostas definitivas às aflições da humanidade, se assim o fosse, as regiões da terra que foram historicamente, tradicionalmente magísticas, hoje seriam as mais desenvolvidas da face planetária, e não o são. Se a magia não for usada com equilíbrio,

humildade e na dosagem certa, servirá somente para a nossa exaltação do ego, da vaidade, do orgulho e nos levará a um exercício externo de, por meio de um ato ofertatório, conseguir aquilo que o ego deseja. Nós teremos de mudar a formação desses novos médiuns pois, embora muitas casas já estejam se voltando para essa interioridade de estudos, com dirigentes que já têm um diálogo honesto e transparente sobre a mediunidade consciente, o movimento umbandista em Terra passará por grandes dificuldades, haverá parcelas desse movimento que acabarão por se diluir

e se fundir com outras religiões, outras doutrinas, perdendo assim sua identidade. E qual é a nossa identidade? Qual é o resgate da identidade da Umbanda nesta era da mediunidade consciente que começou lá com o Caboclo das 7 Encruzilhadas? Eu divido isto que estou vivenciando, que o Plano Espiritual que nos assiste nos orienta, mas ninguém é obrigado a aceitar. Que sirva de reflexão, pois o tempo irá mostrar se o que estou falando é uma besteira, se é improcedente, o tempo dirá o que vai acontecer. Mas acredito que temos de ter um diálogo honesto, transparente, fiel e verdadeiro com os nossos médiuns, esses que estão agora batendo à porta dos terreiros, e um compromisso mais ético, de um caráter mais elevado e mais fiel ao que de fato acontece hoje com a mediunidade, isso é inevitável. Para que cada vez mais a Umbanda persista no tempo e seja a luz do caminho e uma âncora para essa humanidade tão sofrida, tão aflita, tão sem norte que vem diariamente ao encontro de nossos terreiros. Para que possamos praticar aquela Umbanda que orienta, que consola, que faz os filhos refletirem e trabalharem melhor a sua interioridade. A maior magia é a transformação interna e a autorrealização, esta ninguém nos tira, nenhuma obrigação nos leva e é o nosso grande tesouro. Que essa terceira fase da Umbanda nos impulsione e nos leve à autorrealização, e que a Umbanda seja uma âncora para a humanidade, que tanto precisa de misericórdia e de compaixão.

Mas ele disse que não queria, que gostaria de ir para um local que precisasse de ajuda, que tivesse necessidade de acolhimento, de socorro e que, se ele já não pudesse ficar na Terra, que o levassem para um lugar onde pudesse continuar auxiliando. Vejam vocês o nível de consciência desse Espírito, que não anseia poder nenhum, quer simplesmente exercitar o amor e dar a mão para aquele que está caído, aconselhar, orientar, amparar, esclarecer a consciência, educar, libertar das amarras e prisões interiores da alma... Vejam só quanto nos falta ainda! Isso tudo nos leva à reflexão dessa nossa proposta de crescimento, desse

exercício de doação em que a Umbanda sempre nos coloca com o propósito de favorecer o nosso crescimento, o do irmão que está ao nosso lado, o crescimento daquele Espírito que está nos acompanhando, sempre um auxiliando e interagindo com o outro para o crescimento de todos. As Escrituras do Vedanta, ligadas ao Hinduísmo, dizem que o maior serviço devocional a Deus é você amparar aquele que está caído. E então nós percebemos que esses Espíritos iluminados, o Caboclo, o Preto-Velho, têm como ideal de existência estar na senda, ou seja, no serviço, portanto, no caminho do progresso. Essa é a essência deles.

Sinto que existem infinitas dimensões e que esses Espíritos estão sempre ali para nos ajudar, e que se dermos um passo, eles darão dez para nos socorrer, mas se nós não dermos esse passo interior, de dentro para fora, o que iremos atrair para nós? E esse é o exemplo que a Umbanda nos dá, é esse serviço, essa oportunidade de despertarmos Deus em nós, a devoção ao Sagrado auxiliando o próximo, nos doando para o outro, porque tudo no Universo é construído assim, nada se faz sozinho. Basta vermos na Umbanda, como as Entidades trabalham juntas, não vemos um Espírito vir e trabalhar sozinho, se destacando dos demais.

“NESSA TERCEIRA ONDA DA UMBANDA, TEREMOS DE REAVALIAR ALGUMAS POSTURAS, MÉTODOS ULTRAPASSADOS DE EDUCAÇÃO MEDIÚNICA, REPENSAR A FORMA DE DIALOGAR COM OS JOVENS MÉDIUNS, COMO ALGUNS QUE PERSISTEM NO PATAMAR DE VENDER A IDEIA DE QUE A MEDIUNIDADE É INCONSCIENTE E QUE ESSES MÉDIUNS TERÃO UM APAGÃO NO TRANSE”


A Umbanda é uma religião de cunho assistencialista, ou seja, possui uma assistência em seus cultos, as Giras propriamente ditas. Esse fato se fundamenta primeiramente nos ensinamentos cunhados pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas e manifestado em Pai Zélio Fernandino de Morais que, em sua infindável sabedoria nos ensinou que “A Umbanda é a manifestação do Espírito para a prática de caridade”.

A

Umbanda acredita que todos são filhos de Deus e que o Planeta Terra está em contínuo movimento de evolução, pois nada é definitivo enquanto a vida for dinâmica. Assim, como uma forma de depuração de erros passados e de se encontrar o engrandecimento espiritual, deve-se seguir o caminho da humildade, da caridade e do perdão, contribuindo para se amenizar os sofrimentos espirituais, quando possível, de acordo com a lei de causa e efeito e, sobretudo, o merecimento de cada um. Não somente os encarnados, mas também espíritos de desencarnados estão envolvidos nesta responsabilidade de ajudar aos que buscam equilíbrio, no ciclo constante onde os mais evoluídos ajudam os menos evoluídos a galgarem os degraus da evolução. Nesse aspecto, a Umbanda se baseia não apenas nos ensinamentos cristãos, mas também nas premissas do Espiritismo de Allan Kardec. É fato, inclusive, que no Brasil o Espiritismo assumiu, com nomes como Chico Xavier, uma forma mais assistencialista de trabalho do que a primitiva matriz científica oriunda da França, assim como em todas as religiões de matriz africana. A Umbanda crê nos Orixás, cuja divina função é trazer para cada um o

equilíbrio vibracional, moldando vícios em virtudes, anulando más tendências e intensificando as boas qualidades. Ao falarmos de Assistência na Umbanda, considerando que o assistencialismo é uma das faces da religião, chega-se a uma pergunta que, embora pareça, não é de fácil entendimento.

A UMBANDA SE BASEIA NÃO APENAS NOS ENSINAMENTOS CRISTÃOS, MAS TAMBÉM NAS

ESPIRITISMO DE ALLAN KARDEC. NO BRASIL, O ESPIRITISMO ASSUMIU UMA FORMA MAIS ASSISTENCIALISTA,

PREMISSAS DO

VIDE O EXEMPLO DE VIDA DO MÉDIUM

CHICO XAVIER

Como a assistência se inclui no culto umbandista? A caridade em um Centro de Umbanda é realizada de inúmeras formas. Considerando que também há a caridade que se presta aos desencarnados que visitam o local a fim de encontrar conforto, orientação e paz, alguns Centros de Umbanda realizam toda uma preparação especial para receber esses espíritos e prestar a devida caridade a eles. No que tange à

Denisson De Angelis Sacerdote umbandista, dirigente do CEU Estrela Guia

caridade, é também aquela que se presta aos próprios filhos de fé do Centro. Essas pessoas, em geral médiuns das mais variadas aptidões, podem encontrar no Centro, em seus irmãos e nas figuras dos dirigentes, a orientação necessária e a força indispensável para lidar com sua espiritualidade, direcionando-a para o bem. Por fim, os Centros de Umbanda também se destinam a fazer caridade a uma comunidade de pessoas que não pertence ao corpo de trabalho da casa. Nessa categoria de assistencialismo, que é o principal motivo deste artigo, costumam se basear a maioria das sessões de trabalho das casas de Umbanda. Colocando à parte rituais fechados (como rituais de descarrego, Giras fechadas e Batismo), a grande maioria das Giras de Umbanda são abertas à comunidade. Em um lugar característico dos Centros de Umbanda, conhecido como assistência, as pessoas que não pertencem ao corpo mediúnico observam os cultos ritualísticos de uma sessão e se beneficiam dele. Assim, as pessoas da assistência são defumadas e, após as incorporações dos médiuns, são convidadas a adentrar o local para receberem passes e se aconselharem com as entidades. Uma pessoa da assistência pode receber caridade de várias formas: desobsessão, conselhos sobre questões materiais ou espirituais, emanações curativas, descarregos e equilíbrio dos chacras.


Outros tipos de tarefas prestadas à comunidade não relacionadas estritamente com os cultos do Centro, também são realizadas. Alguns locais oferecem, por exemplo, parte ou todo o seu espaço físico para a realização de palestras ou cursos de interesse da comunidade. Também são realizadas campanhas de arrecadação de recursos como alimentos e roupas. A Umbanda, como já descrito, tem como missão difundir o amor e a caridade, e é por isso que essa mensagem tem de ser propagada, não pode ficar limitada apenas aos adeptos do culto, a caridade deve ser oferecida a todos aqueles que precisam dela. Todavia, há algumas questões polêmicas nas quais os Centros de Umbanda estão envolvidos relacionadas à assistência, onde se integra o papel de fato da Umbanda, na vida das pessoas que frequentam seus rituais, como por exemplo, qual deve ser a postura de uma pessoa enquanto participante da assistência em um ritual de Umbanda. Uma das indagações que se faz é sobre como as pessoas que participam de assistências de cultos de Umbanda veem seus rituais e a própria Umbanda. O quê desses cultos e das vivências neles apreendidas elas levam para suas vidas cotidianas? Como essas pessoas se definem em termos de religião? Assim como em qualquer coletividade, também em uma assistência de um Centro de Umbanda estarão presentes pessoas com pensamentos, anseios e posturas diferentes. Mas a questão que se impõe é se é necessário que essas pessoas tenham um mínimo de conhecimento do que é a Umbanda e seus cultos, e se realmente elas precisam enxergar a Umbanda como

uma religião e até mesmo como a sua própria religião. Uma premissa muito importante enunciada pela Umbanda é que não se deve negar ajuda a ninguém.

ASSIM COMO EM QUALQUER COLETIVIDADE, TAMBÉM EM UM CENTRO DE UMBANDA ESTARÃO PRESENTES PESSOAS COM PENSAMENTOS, ANSEIOS E POSTURAS DIFERENTES

Assim, partindo deste princípio, não se pode cobrar de uma pessoa que, se ela frequenta os cultos de uma casa de Umbanda, deva se declarar umbandista. A Umbanda ainda sofre com preconceitos e, decorrente disso, muitas pessoas que frequentam seus cultos têm medo de serem rotuladas pejorativamente. Pela origem multifacetada da Umbanda e também pela premissa de ajudar a todos, não se pode e nem se deve proibir a participação de irmãos oriundos de outras religiões. Por outro lado, pode-se considerar que a falta de identificação pode causar uma falta de compromisso, por isso é tão comum as queixas sobre pessoas da assistência que vão às sessões de Umbanda apenas para “pedir coisas materiais”, mas não honram as sessões com comportamentos condizentes com os de um Solo Sagrado, ou seja, vestem-se de maneira inapropriada, conversam em momentos inoportunos, queixam-se que não conseguem realizar os pedidos, tentam furtivamente fazer escambos com as entidades, entre outras coisas. Algumas pessoas apenas visitam um Centro de Umbanda quando estão com problemas. Isso significa que não fazem da Umbanda uma opção religiosa constante,

utilizam as sessões como “fast-food de consulta”, isto é, quando precisam, vão até lá, pedem o que precisam e depois vão embora, abandonando o local até que a próxima necessidade os faça regressar. Há outras que vão apenas nos dias de festas para comer “a la festa do aniversário de São Paulo” – frase difundida pelo repórter Márcio Canuto – TV Globo. Estas encaram a Umbanda como uma bonita manifestação da “cultura popular brasileira”, atração turística ou, ainda, “coisa para inglês ver”. Visitam, acham bonito, mas não apreendem o real significado da religião praticada ali. Outra questão de extrema importância é o que a participação da assistência contribui para a sessão. Uma assistência participativa tem o mesmo resultado para uma sessão do que uma apática? O que é mais interessante para a Umbanda, uma assistência ignorante sobre os conhecimentos ou uma assistência consciente do que são os rituais e os porquês desses rituais? Acredito que essas duas questões estão interrelacionadas, pois quanto mais as pessoas que compõem uma assistência estão integradas ao culto, tão mais elas respeitarão o ritual, participando ativamente dele e entendendo porque e como devem se comportar a cada momento. Dessa maneira, entenderão melhor que a religião não se pratica somente dentro dos Templos Sagrados, mas em todo lugar. Elas aprenderão que também têm a responsabilidade de fazer a caridade e semear a paz e o amor ao próximo, e que ter esta convicção é maravilhoso. Permita-se ser feliz. Conheça a Umbanda, viva a Umbanda!


AFIRMAR

QUE

“EXU

NÃO É O

DIABO”

É MUITO FÁCIL PARA TODOS QUE

CONHECEM EXU ORIXÁ OU ENTIDADE, TAMBÉM CONSIDERADO GUIA, GUARDIÃO, AMIGO E MESTRE.

EXU,

NO ENTANTO, NESSE CONTEXTO NÃO BASTA DIZER QUEM É

MOSTRÁ-LO, REVELÁ-LO OU DESMISTIFICÁ-LO, É PRECISO QUESTIONAR,

TAMBÉM, QUEM É OU O QUE É

DIABO. DA MESMA FORMA QUE AS PESSOAS EXU, TAMBÉM ACHAM QUE SABEM QUEM É DIABO. NO CAMPO DESSA CIÊNCIA NADA EXATA CHAMADA “ACHOLOGIA”, A BASE FUNDAMENTAL É A IGNORÂNCIA, MÃE DO PRECONCEITO, DE ONDE SURGEM AS DEFINIÇÕES, ASSOCIAÇÕES E LIGAÇÕES MAIS ABSURDAS. ACHAM QUE SABEM QUEM É

N

ós, além de definir Diabo e estudálo, podemos partir para conceitos mais refinados como “Diabo pessoal” e “Diabo coletivo”. Cada pessoa, consciente ou inconscientemente, cria seu “inferno particular”, e um grupo com valores semelhantes cria seu “inferno coletivo”. Esse “inferno”, a sombra particular e coletiva que assombra, assusta e dá medo, pode ser chamado de “Diabo” pessoal ou coletivo, surgindo a possibilidade perversa de separação, dissociação de algo tão seu como o ego ou a vaidade. Considerar que uma parte sua é, na verdade, outro ser que lhe ataca, passa a ser um problemão que vai crescendo ao longo dos anos: o “infeliz” cria uma dissociação do eu demonizando a si mesmo, crendo se tratar de outro ser e, então, passa a mandar embora o que não pode ir embora, pois é uma parte sua. E é assim que todos os dias igrejas e pastores expulsam “demônios”, e estes mesmos demônios voltam todos os dias para de novo serem expulsos. Na verdade, eles nunca foram e nunca irão embora, pois são parte indivisível e inseparável do ser, a que podemos chamar de sombra. Quanto mais mandar sua sombra embora, mais ela cresce e o “cidadão” terá de disputar uma batalha cada vez maior. É por isso que as pessoas mais desequilibradas acreditam estar travando uma batalha mortal na Terra contra as forças do mal que assolam toda a humanidade. Se cada um conseguisse se enxergar muita coisa melhoraria, mas o que esperar, afinal, de quem não consegue nem sentar e meditar, de alguém que não consegue ficar sozinho consigo mesmo nem por 10 minutos? Voltando à questão do Diabo coletivo, muitos não percebem, não se dão conta da construção coletiva de um Diabo que assola, assombra e amedronta, que pune, aponta e castiga ou mesmo que tenta, instiga e aconselha a mesma comunidade que o criou,

que o “inventou” em seus corações e em suas mentes de forma inconsciente e perversa. A construção coletiva e inconsciente de um Diabo na mente e nos corações das pessoas é algo cruel e desumano, por isso “ele” assume formas desumanizadas e animalizadas, e estas passam a ser características de tinhoso, peçonhento, rabudo, chifrudo, coxo, o cão, o renegado, o bode, o “desumano”, etc. Cada um vive com sua sombra, suas inquietações e repressões que surgem do choque de valores internos (estímulos e desejos) e valores externos (família, sociedade e religião, por exemplo). Esse choque de valores internos e externos é natural e faz parte da vida de todos nós. Entender isso, conscientizar-se e superar é um dos processos de autoconhecimento mais importantes e profundos, pois nem todos querem ou estão prontos para olhar para si mesmos “nus”, diante do espelho, por isso buscam subterfúgios como o “Diabo” para encobrir essa nudez com a qual não sabem lidar. A comparação com a nudez pode parecer infantil, mas infantil mesmo é a ideia perversa de pecado ligada ao corpo, ao mito de Adão e Eva, que comeram o fruto de uma árvore chamada conhecimento e se descobriram nus, tentando esconder o sexo um do outro e diante de Deus. Voltando ao choque de valores internos e externos, de onde surge a nossa sombra sob a forma de vontades reprimidas e ocultas? Impossível acertar sempre e, muitas vezes, acertar consigo mesmo significa errar com o outro, implicando numa reflexão muito refinada sobre ética, vontades e intenções. Não há livre-arbítrio sem sombra; não há sombra sem livre-arbítrio. Descobrir como lidar com sombra, livre-arbítrio e apego pode ser o sentido, o norte e a razão de estarmos vivos. Independente do jogo de palavras, só nos libertamos do ego, da sombra e dos conflitos ao alcançarmos a

“iluminação” ou a “santidade”. Por isso, enquanto não somos santos nem iluminados, o melhor é aprender a lidar com tudo isso em vez de culpar um bode expiatório como o Diabo. Em longo prazo, esse bode expiatório ganha vida no imaginário coletivo e individual de tal forma, que tortura o ser e a coletividade a partir das mesmas sombras, desejos e estímulos não realizados ou não compreendidos. É assim, instituições, especialmente igrejas e religiões cristãs, criaram problemas como o pecado original para alimentar sentimentos de culpa, arrependimentos e frustrações, construindo trevas, Inferno e diabos. Uma vez instalado o problema, vendem a solução do batismo, da conversão e da indulgência para tantos que buscam perdão, fuga e salvação. O conceito de pecado original não existe no Judaísmo – religião professada por Jesus, o Cristo, tendo sido criado por Santo Agostinho em torno de 500 d.C. Como poderiam as crianças nascer em pecado e ao mesmo tempo serem merecedoras do Reino dos Céus por Jesus? São contradições como estas que alimentam e nutrem teologias manipuladas, distorcidas e focadas em interesses políticos. Quando se declara que Jesus é o último cordeiro e que os cristãos estão livres do pecado, também se cria a ideia de que existe um Diabo tentando-os e, quando erram, é por culpa e responsabilidade dele. Neste Cristianismo de pecado ou nesta teologia diabólica, há uma dissociação do ser, que passa a acreditar que suas vontades “negativas” não são suas, mas de um Diabo. A questão é: a pessoa foi batizada, convertida e exorcizada, mas logo depois, tudo volta, pois faz parte dela, e o que era uma solução – colocar a culpa no Diabo –, agora vira um problema, pois “ele” não foi e nem vai embora, afinal, o único Diabo que existe são suas próprias vontades reprimidas.

Origem de Deus único e Diabo único A ideia de um Deus único cria um problema: afinal, se existe apenas um Deus, o que são os outros deuses? Em resposta surgem algumas hipóteses: esses deuses são falsos, são um engano, são menores ou, então, a clássica resposta: são demônios. Só não se pode negar que os outros deuses existem, caso contrário, o “meu” Deus não seria ciumento, possessivo nem poderoso em comparação aos outros. Os descendentes de Abraão, Isaac e Jacó, não tinham cultos a um único Deus como se tentou crer posteriormente, isso sem falar das deusas-mães cultuadas,


ALEXANDRE CUMINO É CIENTISTA DA RELIGIÃO, BACHARELADO PELA UNICLAR, DIRETOR DA ASSOCIAÇÃO UMBANDISTA E ESPIRITUALISTA DO ESTADO DE SÃO PAULO – AUEESP, MÉDIUM

UMBANDA ATUANTE E SACERDOTE DE UMBANDA SAGRADA RESPONSÁVEL PELO COLÉGIO DE UMBANDA SAGRADA PENA BRANCA. É AUTOR DOS LIVROS HISTÓRIA DA UMBANDA, DEUS, DEUSES, DIVINDADES E ANJOS, UMBANDA NÃO É MACUMBA, A UMBANDA E O UMBANDISTA, FRAGMENTOS DE UMBANDA, O SACERDOTE DE UMBANDA, MÉDIUM – INCORPORAÇÃO NÃO É POSSESSÃO, CARIDADE – AMOR E PERVERSÃO, ORIXÁS NA UMBANDA E UMBANDA E O SENTIDO DA VIDA. DE

inclusive em torno do Templo de Salomão. Além de demonizar seus próprios deuses antigos, judeus, cristãos e muçulmanos também demonizaram outros deuses, de outras culturas – esses outros deuses são o “Shaitan”, “Satã” ou “Satanás”, que significa algo “ruim”, “opositor”, “que separa”, o diabolo (Diabo) e, desta forma, os Baal (deuses estrangeiros) foram perseguidos, exorcizados e considerados demônios.

Diabo no Imaginário Popular Ao atingir o imaginário popular, chegamos ao encontro amplo e irrestrito do sincretismo que vai além daquele original entre as culturas judaica, grega, romana e persa na origem do Cristianismo. No imaginário popular e no inconsciente coletivo, o Diabo ganha vida própria, transita entre culturas e vai ao encontro delas, promovendo um sincretismo diabólico ao qual tudo se junta e se mistura; deuses e diabos trocam seus papeis em altares e encruzilhadas, invertese a ordem de culto e os valores. Ironia, devoção e preconceito ressurgem a cada encontro entre povos, línguas, etnias e deuses diferentes entre si. A conclusão então, a que chegamos, é que nas traduções cristãs da Bíblia, as manipulações já começam nas primeiras, para o grego e o latim (Vulgata). Logo, o que chega em português já é tradução de segunda ou terceira mão, totalmente manipulada por esta ou aquela doutrina. Assim, pode-se constatar que a origem dos

nomes e das histórias de alguns diabos não corresponde ao conceito popular – dedicado ao mal, e mais: em nada o diabo tem a ver com o Orixá Exu ou com a Entidade Exu.

Quem é o Orixá Exu “Eu sou o Orixá Exu! Sou um poder primordial, ancestral e divino. Sou anterior a tudo e a todos. Sou um deus antigo, por isso conheço todos os outros deuses, conheço todas as divindades, conheço todas as suas religiões. Sou anterior à criação deste mundo, assisti aos sete dias da Criação, que na verdade aconteceu em um tempo em que o tempo ainda não era contado. Por isso não sou trevas, pois sou anterior à Luz e às Trevas, que na verdade não passam de um conceito humano para julgar uma dualidade que é apenas humana. Sou anterior ao dia e à noite; Luz e Trevas são conceitos criados para o homem aprender a lidar com seu livre-arbítrio e sua alma, e este os associou ao seu simbolismo metafórico e metafísico de ‘dia’ e ‘noite’”.

“Este é um livro para quem já tem uma ideia da religião e também para quem nunca leu nada sobre Umbanda, pois foi escrito para o leigo também. É dividido em três partes: a primeira explica quem é o Diabo; Lúcifer, por exemplo, é uma invenção cristã especificamente católica, ninguém sabe quem é o Diabo, muito menos quem é Exu. Na segunda parte, Exu fala na primeira pessoa: ‘Sou um deus antigo, sou anterior a tudo, assisti aos 7 dias da Criação e vi quando você foi criado, mas sua razão não dá conta de me explicar’. E a terceira parte é sobre Exu na Umbanda... Exu não é Diabo, é nosso orgulho!”




A

União dos Divulgadores de Umbanda, no dia 10 de novembro de 2018, realizou seu 9º Festival de Corimba e Dança na gestão de Marques Rebelo, com o apoio da Revista Espírita de Umbanda e das lojas: Casa São Jorge Guerreiro, Pilão de Ouro, 4 Estações, Daniel Artigos Religiosos, Luar Artigos Religiosos, Flora Xangô e Casa Zezinho Baiano. Federação de Umbanda e Candomblé Nossa Senhora Aparecida, SOUESP, Federação Umbandista do Grande ABC, Santuário Nacional da Umbanda, FUCABRAD e Templo Guerreiros da Jurema. As camisetas e banners foram confeccionados por Personal Designer e os troféus pela Imagens Bahia. Convidados para os shows: Severino Sena – Tambor de Orixá, Sandro Luiz, Sandro Bernardes, Kadu da Curimba, Pai Élcio de Oxalá, Luz de Odara e Império de Exu. Fechando o festival, show com a cantora Samya Nalany. Curimbas participantes: Curimba Filhos do Ouro, Escola de Curimba Caboclo Gira Mundo, Instituto Cultural Nação Tambor, Templo Luz da Lei – Curimba Toque de Amor, Templo Ogum Megê e

Caboclo Meia Lua, Alê Seixas e Templo Cabocla Jurema. No 9º Festival, a União dos Divulgadores de Umbanda homenageou a deputada estadual Leci Brandão com um diploma de Honra ao Mérito Umbandista, com o apoio da Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros de Diadema – FUCABRAD, na gestão de Pai Cássio Ribeiro. Agradecemos à Escola de Samba X-9 Paulistana, na gestão de Ailton Martinelli – Branco. O apresentador, Fábio Maia, nos brindou com uma belíssima apresentação do festival, incentivando as torcidas, interagindo com o público e fazendo inúmeros sorteios de brindes. O evento contou com a 5ª FestFeira Umbandista, Feira de Artigos Religiosos, sob a responsabilidade e organização de Regina Alvim.



– MELHOR SHOW (SOMA DE TODAS AS NOTAS) 1º CURIMBA FILHOS DO OURO 2º INSTITUTO NAÇÃO TAMBOR 3º TEMPLO CABOCLA JUREMA 4º CABOCLO GIRA MUNDO 5º CURIMBA TOQUE DE AMOR 6º TEMPLO OGUM MEGÊ CABOCLO MEIA LUA – MELHOR CORIMBA 1º TEMPLO CABOCLA JUREMA 2º INSTITUTO NAÇÃO TAMBOR 3º CABOCLO GIRA MUNDO 4º CURIMBA FILHOS DO OURO 5º CURIMBA TOQUE DE AMOR 6º TEMPLO OGUM MEGÊ CABOCLO MEIA LUA – MELHOR LETRA E MELODIA 1º CURIMBA FILHOS DO OURO 2º TEMPLO CABOCLA JUREMA 3º INSTITUTO NAÇÃO TAMBOR 4º TEMPLO OGUM MEGÊ CABOCLO MEIA LUA 5º CABOCLO GIRA MUNDO 6º CURIMBA TOQUE DE AMOR – MELHOR INTÉRPRETE 1º TEMPLO CABOCLA JUREMA 2º INSTITUTO NAÇÃO TAMBOR 3º TEMPLO OGUM MEGÊ CABOCLO MEIA LUA 4º CURIMBA FILHOS DO OURO 5º CURIMBA TOQUE DE AMOR 6º CABOCLO GIRA MUNDO – MELHOR COREOGRAFIA 1º FILHOS DO OURO 2º INSTITUTO NAÇÃO TAMBOR 3º CABOCLO GIRA MUNDO 4º TEMPLO CABOCLA JUREMA 5º CURIMBA TOQUE DE AMOR 6º TEMPLO OGUM MEGÊ CABOCLO MEIA LUA


Fotos: Marques Rebelo


Fotos e Entrevista: Marques Rebelo

Mãe Alzira, quando foi o seu primeiro contato com a Umbanda? Mãe Alzira Saraceni: A maioria das pessoas que me conhece sabe que meu filho mais velho é autista, e eu era muito ansiosa, muito angustiada porque queria que logo o amanhã chegasse para saber o que de diferente iria acontecer na minha vida, devido a esse problema com o meu filho. O Maurício nasceu em 1975, mas eu entrei para a Umbanda em 1981. A senhora vinha de família umbandista? Mãe Alzira: Não. A minha avó era espírita e eu sempre a acompanhava ao Centro. Mas nessa época eu não conhecia a Umbanda, o Rubens conhecia, porque ao lado da casa dele tinha um terreiro de Umbanda. Embora

ele não frequentasse, já conhecia a religião. Então, em 1981, uma das irmãs da minha mãe começou a se desenvolver na Casa de Ogum Megê 7 Espadas, que ficava na zona leste de São Paulo, próximo ao bairro de Vila Marieta. Um dia fui acompanhar a minha tia e assisti aos trabalhos, era dia de desenvolvimento mediúnico, segunda-feira. Enquanto estava sentada na assistência, tinha alguma coisa que me dizia: “o seu lugar não é aqui fora, seu lugar é lá dentro...”. E aquela intuição ficava na minha cabeça, insistindo, e eu sentindo aquela energia que parecia não ter explicação. Depois, conversando com a minha tia, ela sugeriu que eu levasse o Maurício a uma sessão de quarta-feira, quando a Madrinha trabalhava sozinha e ele poderia tomar um passe. “E você aproveita e pergunta para o Pai Ogum 7 Espadas se você tem mediunidade...”. E foi o que fiz, levei meu filho para tomar um

passe e, conversando com a Entidade, perguntei e ela me respondeu que sim, eu tinha mediunidade. Perguntei se me aceitaria em sua casa e me respondeu que as portas estariam sempre abertas e que eu poderia ir a hora em que eu quisesse. Como a senhora conheceu Pai Rubens? Mãe Alzira: A minha tia, irmã da minha mãe, Neide Aparecida Saraceni, era casada com o tio do Rubens, Pedro Saraceni. Nessa época eu morava no interior, na cidade de São Pedro, onde nasci. Eu estava com 12 anos e logo depois fui morar em São Paulo com as minhas tias. Mas antes já tinha vindo visitar a casa daquele que viria a ser o meu sogro. E foi quando conheci o Rubens, ele tinha de 13 para 14 anos... Lembro-me como se fosse hoje ele lá, sentado, assistindo televisão num cantinho do sofá. Quando eu

realmente me mudei para São Paulo, essa minha tia, Maria Emília falou para o marido: “Já pensou Nino, quando a Alzira conhecer o Rubens...?” E eu ficava curiosa, pensando: “Mas quem é esse Rubens?”. Eu digo sempre que comecei a gostar do Rubens antes mesmo de conhecê-lo, de tanto que falavam nele, sempre elogiando. Era um menino educado, bom... Até que chegou o dia em que finalmente nós fomos apresentados, ele chegou à casa da minha tia perguntando pelos meus tios e ali nasceu um grande amor. Mas não foi assim um grande namoro até nos casarmos, porque na época ainda éramos duas crianças, mas o amor era verdadeiro. Quando eu já estava com 18 anos é que começamos mesmo o namoro firme e, em 1974, eu com 20 anos e

ele com 21, nos casamos. Depois de algum tempo veio esse período de conhecer a Umbanda. Um conhecido nosso, amigo do Rubens, disse que gostaria de levar o Maurício em um Centro Espírita para tomar passe. E esse nosso amigo, o Cláudio, foi quem o levou, porque nessa época eu morava em São Paulo, mas o Rubens trabalhava em São Caetano do Sul. Essa senhora recomendou que o Maurício deveria tomar 24 passes em um centro kardecista. Comecei a levá-lo para tomar os passes no Centro Espírita do Senhor Francisco, presidente do Café Seleto, que era primo do pai da minha cunhada. Nessa época eu já tinha a também a Graziela, e era difícil levar duas crianças, porque eu não dirijo, tinha de tomar ônibus, taxi e começou a ficar muito difícil. Falei para o Rubens que não dava para ir sozinha com os dois e pedi


para que ele fosse nos buscar, porque quando a sessão começava, as portas se fechavam. Ele chegava e ficava no carro nos esperando. Algum tempo depois começou a chegar mais cedo e a entrar, queria sentarse à mesa, participar dos trabalhos, mas as Entidades de Esquerda tomavam a frente e ele acabava sendo levado para a outra parte do Centro, onde se tocava a Umbanda às sextas-feiras. E nessa parte da Umbanda tinha sempre Preto-Velho trabalhando, e foi quando Vovó Anastácia falou que o zumbido que ele tinha no ouvido era porque ele precisava se desenvolver na Umbanda... “Isso que você escuta no ouvido são os seus Guias lhe soprando”. E então ele entrou para a Umbanda. Nesse meio tempo, queria voltar para o centro que eu frequentava e que eu gostava muito, da Madrinha Olga de Barros. E ficou assim: Eu ia na segunda, e ele na sexta, e acontecia esse desencontro... Ainda mais com duas crianças pequenas. Foi quando ele pediu afastamento para podermos ir juntos à casa que eu frequentava, onde ficamos por cerca de dois anos. Após esse período, passamos a frequentar o Centro do Senhor José, Caboclo Pena Branca, que ficava na Cidade Patriarca. Mas a Entidade nos disse que a nossa trajetória ali seria muito curta, porque os Guias do Rubens eram de comando, precisavam comandar, e que nós abriríamos nossa casa. Eu estava grávida da minha caçula, a Estela, e frequentamos durante os nove meses. Quando ela já tinha três meses, abrimos o porão da nossa casa e começamos a trabalhar. A princípio éramos eu, o Rubens e a minha tia Neusa. Quais Entidades a senhora recebeu e recebe hoje? Mãe Alzira: Eu sou filha de Oxum e a Cabocla que recebi quando comecei a me desenvolver é a Cabocla Guaracy de Mamãe Oxum, na irradiação de Nanã Buruquê, foi a

meu pai desde 1997, quando “eleAcompanhei começou a ministrar os cursos de

minha primeira Entidade; ela se elevou, mas eu ainda incorporo Oxum. Hoje também recebo os Caboclos Pena Verde e Mata Virgem, na Linha de Oxossi. Na verdade eu tenho três Oxuns que me acompanham: Oxum do Ouro, Oxum Menina e Oxum das Cachoeiras. Minha Preta-Velha é Vovó Joaquina da Guiné, Baiana Maria Cecília e aí tem as outras Linhas de Marinheiro, Boiadeiro, recebo em todas as Linhas, menos Exu Mirim. Gostaríamos, se possível, que a senhora deixasse uma mensagem para o Pai Rubens...

“A mensagem maior que posso deixar aqui é que ele sempre esteve e sempre estará em meu coração, vivo. Para mim é como se ele tivesse feito uma viagem e a qualquer instante estará de volta”.

Magia. Durante todos os graus dos cursos de Magia que ele ministrou sempre estive por perto, mesmo em casa, onde ele sempre praticava e pedia a minha ajuda em relação à vidência. Em 1999 comecei o meu desenvolvimento mediúnico e fiz o curso de sacerdócio, no qual eu tinha as incorporações, e isso fez com que eu me desenvolvesse mais rápido. Muitos anos antes do seu desencarne, eu o acompanhei aqui no Colégio, sempre observando como ele ensinava e a seriedade com que ele comandava tudo aqui, pois sempre levou tudo muito a sério, sempre respeitou muito este chão, que era tudo para ele. Na época, ele me perguntou se eu gostaria de dar algum curso, mas ainda não me sentia madura o suficiente. Depois de algum tempo, despertou em mim esse interesse e, então, consultei a Espiritualidade, os Mentores e os Mestres de Magia. Em 2016 comecei a ministrar os cursos de magia aqui no colégio e vou continuar esse legado que ele nos deixou, pois me passou muitos ensinamentos e eu absorvi tudo, sempre com o intuito de continuar ensinando aos nossos irmãos e fazer com que a Egrégora continue evoluindo e crescendo, para podermos amparar nossos irmãos e fazer o bem ao próximo. Tenho continuado a ministrar alguns cursos de Pai Rubens Saraceni e introduzi alguns novos, que estou recebendo. O que estou ministrando agora e que vou encerrar e formar uma turma em dezembro é a ‘Magia das 7 Visões’. que já era uma ideia do meu pai, ele já estava treinando e ativando essa magia em casa. Pedi, então, licença e amparo aos Mestres de Magia para trabalhar com esse novo mistério”.

Uma mensagem de amor a Pai Rubens Saraceni: “Só tenho a agradecer pelos ensinamentos, pois ele recebeu essa missão de ajudar ao próximo com os cursos que ministrou. Claro que nunca serei o Rubens, sou a filha dele e, onde ele estiver, sabe o quanto que eu o amo. A saudade é imensa, mas ele cumpriu sua missão aqui na Terra e voltou para sua morada”.






Fotos: Marques Rebelo

O

C.E.U. Estrela Guia estruturou toda sua liturgia com base nos fundamentos da Umbanda. Para efeito de estudos, define a Umbanda como Religião, Ciência, Filosofia e Física Quantica, com a finalidade de coordenar o fenômeno da comunicação entre os planos material, espiritual e imaterial da existência, por meio do desenvolvimento da percepção mediúnica ativa ou latente em todos os seres vivos. Na Umbanda, apesar das bases filosóficas serem as mesmas, os fundamentos ritualísticos sofrem variações de uma Casa para outra. Com isso não pretendemos alterar ou desclassificar qualquer tradição ou linha filosófica. O conceito de individualização – processo pelo qual uma pessoa torna-se a si mesma inteira, indivisível e distinta de outras da psicologia coletiva – é uma das tônicas dos estudos e pesquisas desenvolvidas nos últimos 13 anos pelos fundadores.

O OBJETIVO E COMPROMISSO DO C.E.U. ESTRELA GUIA É A PRESERVAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO PLENO DA VIDA, NA BUSCA INCESSANTE DA PAZ, DA FRATERNIDADE, DA CARIDADE E DO AMOR AO PRÓXIMO. EM UMA DIMENSÃO FILOSÓFICA MAIS PROFUNDA, RECONHECEMOS A VIDA COMO SENDO A EXPRESSÃO MAIS ESSENCIAL DA LUZ DIVINA QUE, EM ALGUM MOMENTO DA ETERNIDADE SE FRAGMENTOU, DANDO ORIGEM AO MUNDO EM DIFERENTES FORMAS DE REALIDADE”


Os primeiros resultados obtidos indicam que as bases do desenvolvimento espiritual estão fixadas na interação do indivíduo com a Totalidade, e o objetivo desse desenvolvimento é a difusão da Luz. Partindo deste “princípio”, deduz-se que a Fraternidade seria facilmente alcançada, não fosse a complexidade implícita no processo pessoal de reorganização interior. Esse processo é indispensável para estabelecer com o mundo exterior uma relação de harmonia e, não como acontece com frequência, na forma de uma busca fantástica de Deus – Olorum, para que conceitos desta natureza sejam pautas de estudos relacionados como Reencarnação, Orixás, Guias Espirituais, Mediunidade, Fenômenos Mediúnicos, Energias, Forças, Metafísica, Física Quântica, Estelares, Ética Religiosa, Fundamentos, Reforma Íntima, Magia do Fogo, Magia das Ervas, Magia dos Cristais e Apometria.


Fotos: Marques Rebelo

O

Terreiro de Umbanda Senhor. Ogum, Mamãe Oxum e Caboclo Gira Mundo, tem como fundamento o auxílio espiritual e emocional ao próximo, com amor, respeito e união.

Nosso objetivo é desenvolver e praticar a religião umbandista de forma séria, com ética, conhecimento, respeito, verdade e simplicidade, sem distinção de raça, cor ou nível social, caritativa e visando sempre auxiliar o próximo a curar-se emocional, mental e fisicamente. Buscamos promover o bem-estar, a fé e, acima de tudo, o conhecimento sobre nossa religião, levando à frente os ensinamentos deixados por Nosso Senhor Jesus Cristo de amor ao próximo. Nossa Mãe de Santo, Madrinha Senira de Ogum, nasceu no interior de São Paulo em uma família católica. Na idade adulta, devido a problemas de saúde buscou o Terreiro de Umbanda Caboclo de Ronda da Beira-Mar localizado na zona leste de São Paulo, onde acabou se descobrindo médium de Umbanda e decidindo desenvolver e aceitar sua missão dentro da religião. Hoje procura seguir os preceitos passados a ela pelos nossos antepassados: nosso saudoso Pai Jaú, Caboclo de Ronda da Beira-Mar, Senhor Caboclo Pena Branca e Caboclo Assobiador. Ela acredita que a única maneira de se praticar a Umbanda é de maneira simples, com muita fé, dedicação e responsabilidade. Ao lado de seu marido, Pai Celso de Oxossi, de seus filhos carnais Pai Hugo de Ogum, Mãe Caroline de Oxum e, junto aos seus filhos de santo, vem desde 2007, ano em que nossa

Os gêmeos nasceram em Egeia (agora Ayas, no Golfo do Iskenderun, Cilícia, Ásia Menor), e tinham outros três irmãos. O pai foi mártir durante a perseguição dos cristãos na era de Diocleciano. Cosme e Damião eram médicos que curavam os enfermos não só com seu saber mas através de milagres propiciados por suas orações. Seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio. Os Santos morreram por volta de

NO ÚLTIMO DIA 29 DE SETEMBRO REALIZOU-SE A NOSSA LOUVAÇÃO A SÃO COSME E SÃO DAMIÃO, COM A PRESENÇA DE AMIGOS, DA CRIANÇADA E DOS FILHOS DO

TEMPLO. FOI UM MOMENTO

DE

GRANDE ALEGRIA E BÊNÇÃOS.

sede própria foi inaugurada, construindo dia após dia uma Umbanda de Raiz e de muita fé e seriedade, com atendimento ao público às sextas-feiras a partir das 19h30. Quinzenalmente, às segundas-feiras às 19h30, realizamos sessões de cura utilizando técnicas do Reiki. A Casa do Caboclo Gira Mundo ministra cursos de formação de médiuns e possui a Escola de Curimba e Arte Umbandista Caboclo Gira Mundo, com aulas aos domingos a partir das 9h e cujo objetivo é a formação de curimbeiros em todos os toques que regem a liturgia umbandista: Marcação, Ijexá, Congo de Ouro, Samba Caboclo, Barravento, variações e dobras. A Casa do Caboclo Gira Mundo está localizada na Rua Geremias Joaquim Pereira, 69, bairro de Cocaia, em Guarulhos/SP – Inf.: 11 97196-3686.

300 d.C. Crê-se que foram médicos, e sua santidade é atribuída pelo motivo de terem exercido a medicina sem cobrar por isso, devotados à fé. Mais tarde, surgiu uma série de relatos fabulosos sobre os gêmeos ligadas em parte às suas relíquias. O imperador Justiniano I (527-565) suntuosamente restaurou a cidade de Ciro, na Síria, em sua honra, depois de ter sido curado de uma doença perigosa e reconstruiu a igreja dos mártires em Constantinopla, que veio a se tornar lugar famoso de peregrinação. Na Igreja Católica e nas religiões afro-brasileiras, onde são sincretizados como entidades infantis, suas festas são celebradas no dia 27 de setembro.


Posso afirmar a todos sobre a existência de Exu em “minha vida, pois o que o Senhor Capa Preta fala, já está determinado no Livro da Sabedoria”

F

oi mais uma festa cheia de vida e prosperidade; apesar da preocupação com o término da reforma do nosso Templo, Senhor Capa Preta cumpriu com sua palavra dita dias antes de realizar a festa, deixando claro que tudo daria certo: “Podem chamar meus Compadres e Comadres, pois estarei lá. Laroyê! Exu é Mojubá!”

E assim aconteceu. Pai Fernando, junto à sua equipe de filhos e amigos, realizou uma festa que marcou mais uma vez a todos que passaram por lá. E o Senhor Capa Preta chegou em sua festa acompanhado por sua companheira de trabalho, a Rainha das Sete Encruzilhadas, recebida por Vadira, Mãe Pequena da casa. Ao chegar, recebeu o carinho de inúmeros amigos e visitantes, tendo privilégio de contar com a presença da maior autoridade de Umbanda do Estado de São Paulo, Sacerdote Juberli Varela, presidente do SOUESP. A Festa teve como Mestre de Cerimônia nosso ilustre e amado Pai Élcio de Oxalá e a presença de autoridades religiosas como Mãe Guiomar de Iansã, Mãe Daniela de Iansã, Mãe Dany de Iemanjá, Mãe Silvana de Iansã, Mãe Marlene de Oxossi, Pai Fabinho de Oxum, Pai Junior e Pai Wellington, ambos de Oxossi, Pai Danilo de Oxumarê, Roberto Zangrande FOUCESP, Ogans Adriano, Fernando,

Anderson Ubutu e Joelington, do Ilê Obá Ketu Axé Omi Nlá, Babalorixá Ifálolu e a querida Mãe Débora, representando nosso Pai e amigo do axé, Rodney de Oxossi, entre tantos outros presentes. Agradecimentos a todos que fizeram a festa acontecer com um brilho mágico e encantador. Mais um ano com a sensação de missão cumprida, feliz, agradecido e maravilhado com tudo. Facebook: Fernando Montteiro




Entrevista com Carlos Alves, proprietário da Personal Desginer

Como surgiu a necessidade do lançamento da nova marca Personal Designer, “Grife da Fé”? Carlos Alves: Essa mudança e o trabalho com a nova marca surgiram com o próprio mercado, pois percebemos que já tínhamos trabalhado bastante as nossas imagens, apesar de muita gente ainda não conhecê-las, mas o próprio mercado pedia isso, uma inovação. Foi então que decidimos ir em busca de novos artistas e encontramos Ubi Maya, que é de Salvador, Bahia, que é muito interessante. A partir daí começamos a fazer um trabalho em cima da marca Grife da Fé, com várias imagens voltadas para os Orixás, na linha de ferramentas. Além das camisetas, o que mais a Personal Designer oferece hoje ao mercado? Carlos Alves: Hoje nossa linha de produtos é bem extensa; temos Camisetas, Abadás, Batas, Alakás, Baby looks, Camisetas Polo, Regatas e agora também os vestidos com estampas dos Orixás. Também trabalhamos com camisetas personalizadas para terreiros, Escolas de Curimba e os mais diversos eventos. Há quantos anos você iniciou esse trabalho com as camisetas? Carlos Alves: Olha, já se vão dez anos! Hoje, com a mudança de comportamento após esses anos, percebemos que o pessoal começou a buscar algo diferente, mais “clean”, por isso a ideia de lançar essa nova marca com as ilustrações de ferramentas dos Orixás. Com relação à nova marca, Grife da Fé, você pretende atuar em outros mercados religiosos? Carlos Alves: Estamos estudando sim. A linha de Umbanda e Candomblé é muito vasta, mas estamos buscando novos mercados, como o católico, o evangélico, qualquer outra religião que queira trabalhar com as nossas marcas.

Percebemos que você tem uma sensibilidade para o desenho... Carlos Alves: Sempre gostei de trabalhar nessa área e fui me aperfeiçoando com o tempo, trabalhando com novas ferramentas e fazendo novos cursos. Costumo pegar a ideia do desenhista e melhorar de acordo com o que estou buscando, criando e transformando-a de acordo com aquilo que quero.

Gostaríamos de saber da Ana Paula, responsável pela produção, quantas peças estão sendo produzidas por mês e se a entrega é no prazo... Ana Paula: Hoje nós estamos trabalhando com uma boa produção e procuramos entregar sempre no prazo. Atualmente estamos produzindo entre 1.000 e 1.500 peças por mês. Carlos, o que você para o futuro desse mercado? Carlos Aves: Eu espero uma melhora para os próximos meses, pois começamos a entrar em um período em que acontecem várias festas e eventos e também o pessoal já começa a se preparar para o final do ano. Carlos, deixe agora a sua mensagem final aos nossos leitores...

“A única certeza que temos na vida é que nascemos para morrer... Então, façamos desta passagem o melhor que pudermos, pois estamos em uma escola e o que importa realmente é o nosso aprendizado”.

Embora seja saudada como a deusa do rio Níger, é relacionada com o elemento fogo. É guerreira por vocação, vai à luta e defende o que é seu; a batalha do dia a dia é a sua felicidade. Mostra amor e alegria contagiantes na mesma proporção em que exterioriza raiva. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com atividades masculinas e não aprecia os afazeres domésticos. Representa a mulher que acorda cedo, beija os filhos e sai em busca do sustento. Seus símbolos são a Espada e o Eruexin – chicote feito de pelos de rabo de touro.

Orixá da riqueza e da fartura, filho de Oxum e Oxossi. Rei de Ilexá, é caçador habilidoso e príncipe soberbo, reunindo os domínios de Oxossi e de Oxum. Logun-Edé não muda de sexo a cada seis meses, é um Orixá masculino. Sua dualidade é comportamental; pode ser doce como Oxum e sério e solitário como Oxossi. Seus símbolos são a Balança, o Ofá e o Abebê.

Orixá que desempenha papel fundamental no Candomblé, visto que, sem folhas, sem a sua presença, nenhuma cerimônia pode realizar-se, pois é o detentor do axé que desperta o poder do ‘sangue’ verde. É o sacerdote das folhas e, por meio delas, pode realizar curas e milagres, trazer progresso e riqueza. A floresta é a casa de Ossain, que divide com outros Orixás das matas o seu território, onde as folhas crescem sem a interferência do homem. Seu símbolo é a haste de sete lanças, com um pássaro no topo.


Orixá guerreiro e implacável, divindade do ferro,da metalurgia e da tecnologia. É protetor dos ferreiros, agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos e de todos os profissionais que, de alguma forma, lidam com o ferro ou metais afins. Conquistador, Ogum fez-se respeitar em toda a África negra; muitos reinos se curvaram diante de seu poder militar. Seus símbolos são o Facão e o Ofá.

Orixá da Justiça, dos raios e do fogo, rei absoluto, forte e imbatível. Apesar de não existir uma hierarquia entre os Orixás – nenhum possui mais axé que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da religião. Mas, se preciso fosse escolher um Orixá todo-poderoso, quem, senão Xangô, para assumir esse papel? Como personagem histórico, Xangô teria sido o quarto rei de Oyó; é cultuado no Brasil sob 12 qualidades. Seu símbolo é o Oxé – Machado de dois gumes.

Orixá da caça, da fartura e da riqueza, senhor da floresta e de todos os seres que nela habitam. O culto a Oxossi está praticamente esquecido na África, mas é difundido no Brasil e em Cuba. A coleta e a caça são os domínios de Oxossi, Orixá que representa aquilo que há de mais antigo na existência humana: a luta pela sobrevivência. Seus símbolos são o Ofá – o arco de uma flecha só e o Irukerê – feito de cauda de boi, búfalo ou cavalo.

Ilustrações: Ubi Maya|Série: “As Armas dos Orixás”|Técnica: bico de pena www.facebook.com/notovitch | www.pinterest.com/notovitch

Obaluaiyê é a Terra! É o Orixá das doenças contagiosas, poderoso “Rei, Dono da Terra”. Cercado de mistérios, sua origem é incerta; também muitos são os seus nomes: Entre os Tapas, era conhecido como “Xapanã”, entre os Fon, como “Sapatá-Ainon” – dono da Terra. Para os Yorubá, Obaluaiyê e Omolú. Seu principal símbolo é o “Xaxará”, confeccionado com nervuras de folhas de dendezeiro e enfeitado com búzios, palha da costa, fios-de-contas e cabaças. Tem por finalidade afastar os Egúns.

É o detentor do poder da criação, o Orixá do branco. Elemento fundamental dos primórdios, plataforma para a formação de todo tipo de criatura, no Aiyé e no Orún. É responsável por criar o mundo e todos os seres. Seu símbolo é o Opaxorô, cajado feito do cipó de uma planta africana – glyphaea lateriflora-Atorí ou de metal branco, simbolizando a criação do mundo. Divindades gêmeas infantis, ligadas a todos os Orixás e presente em todos os rituais do Candomblé. Orixá que rege a alegria, a inocência e a ingenuidade Sua determinação é tomar conta do bebê até a adolescência, independente do Orixá que a criança carrega. Seu símbolo são duas cabacinhas. É a rainha de todos os rios e cachoeiras. Dona da fecundidade das mulheres, do poder feminino. É dengosa, formosa, paciente e bondosa. É a rainha de todas as riquezas, mãe da doçura e da benevolência. Ela é a protetora das crianças, zelando por elas até que adquiram sua independência. Seu símbolo é o Abebé – leque com espelho.

Um dos muitos Orixás Fun Fun – Orixás do branco, Oxaguian é o comedor de inhame, rei de Egigbó e uma das qualidades de Oxalá, jovem e guerreiro. É filho de Oxalufan – o mais velho Orixá do branco. Dizem as lendas, que inventou o pilão para preparar seu alimento preferido – o inhame pilado. Seus elementos são a espada, o escudo e a “mão de pilão” – seu maior símbolo.

Senhora de muitos búzios, sintetiza em si a fecundidade e a riqueza. Seu nome designa pessoas idosas e respeitáveis; para os Jeje, significa “mãe”. No antigo Daomé, era considerada a Divindade Suprema. Representa a memória ancestral e é a mãe antiga – Iyá Agbà. Por ser a divindade mais velha do Candomblé, é respeitada como mãe por todos os outros Orixás. Seu símbolo é o Ibiri – bastão de hastes de palmeira. Orixá ligado à água, guerreira e pouco feminina. Raramente se manifesta; representa a mulher consciente do poder, que luta e reivindica seus direitos. Abraça qualquer causa, mas rende-se à paixão. Seus símbolos são espada e escudo de cobre.

Orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos; se um dia perder suas forças, o mundo acabará, pois o Universo é dinâmico e a Terra se encontra em constante movimento. Filho de Nanã Buruku, é originário de Mahi, no antigo Daomé, onde é conhecido como Dan. Dizem que Oxumaré seria homem e mulher; na verdade, este é mais um ciclo que ele representa: o ciclo da vida por meio da união entre masculino e feminino. Oxumaré é um Orixá masculino e seus símbolos são as duas serpentes.





“Quando pensamos em escrever este livro, foi para atender a um pedido da Vó Benedita do Rosário, Preta-Velha da Luciana. Nessa época estávamos envolvidos com o projeto do CD e lançamento do ‘Umbanda in Concert’, realizado na ocasião pela Casa Paulo de Tarso, do qual tive a honra de participar.

D

epois, eu, a maestrina Luciana Barletta e a cantora lírica Mônica Marangon ficamos de fazer algo juntos a pedido da Vó, mas não deu certo. A Mônica viajou para a Alemanha, trilhou novos rumos na carreira e o projeto não seguiu adiante. Mas a cobrança sobre a Luciana por parte da Vó continuava e a realização do trabalho não poderia ser esquecida. Resolvemos então iniciar um livro com músicas umbandistas que atendesse aos praticantes e aos músicos em geral, pois a união e a sintonia das pessoas envolvidas raramente aconteciam em nossa religião. Enfim, ocorreu a fusão de um Ogan e de uma Maestrina umbandistas com as condições de sintetizar em um livro as cifras, as partituras e as notas que os músicos precisam junto às energias que nossos terreiros também esperam. Durante dois anos, toda segunda-feira por volta das 19 horas, eu ia ao Prana Espaço Holístico, destinado a cursos e dirigido pela Luciana e pelo Walter, seu esposo e meu amigo também. Enquanto o Walter ministrava os cursos de magia na parte superior do estabelecimento, eu e a Luciana ficávamos no térreo; eu cantando e tocando atabaque e ela ao piano fazendo os arranjos. Começamos a cantar para Oxossi, Caboclos e Caboclas, nada intencional, e fomos mais específicos ainda, colocamos pontos de abertura de trabalho para auxiliar nossos irmãos de terreiro Durante nossos encontros, muito batepapo, brincadeiras, cafezinho e barras de cereais... Mas não chegávamos a uma conclusão sobre o formato do livro. Luciana possuía diversos livros no formato Songbook, e ela queria que o nosso fosse feito assim, pois para o músico é importante. Eu aceitei e fui pedir informações com o pessoal da área técnica da Madras Editora, já que eu estava com um livro para lançamento. Mas a princípio o pessoal da editoração achou que não era viável, pois os livros da editora eram em outro estilo e eles não entendiam nada sobre isso. Mas a Luciana insistiu no formato, pois a Vó havia lhe dito que devíamos acreditar, pois o livro seria editado assim. E fomos cantando e colocando arranjos em cada música definida como interessante para o nosso projeto. Mas a vida vai nos direcionando por caminhos que não esperamos e, após 68 músicas já prontinhas, não consegui mais ir ao Prana às segundas-feiras e nosso projeto ficou parado por muitos anos.

Fotos e Entrevista: Virgínia Rodrigues

Nesse período, lancei pela Madras os livros “ABC do Ogã”, um sucesso com várias reedições, “Cantando e Tocando Ijexá e Barravento” e “Na Gira de Umbanda, nos Toques de Angola e Congo”, ambos estouro de vendas. Mas eu sempre comentava que já possuía um livro pronto em parceria com a Luciana para o público umbandista e músicos em geral que estava em stand by, mas nós não iríamos decepcionar a Vó Benedita do Rosário. Foi quando no final de 2015 fui procurado por um aluno que fazia parte de uma ONG que trabalhava com a captação de recursos para lançamentos de obras de cunho artístico

afro-descendente e que gostaria de começar um projeto com o nosso grupo sem venda, pois seria bancado pela Lei Rouanet, do governo federal. Mais uma vez veio à tona o Songbook e falei que já possuía o trabalho pronto e, para nós, não teria problema, pois nosso objetivo era distribuir gratuitamente nosso livro a todas as bibliotecas, associações e federações. Mais uma vez falei com a Luciana e ela ficou superanimada, a Vó também. Sentamos, mostramos nosso projeto, mas as conversas ficaram no vazio e não prosperou. Voltei na Madras Editora, levei o projeto inicial, mostrei modelos de outros livros e logo nosso projeto foi aceito, pois agora já conheciam nosso trabalho, já éramos parceiros. Com isso, criou-se um novo segmento dentro da Madras, que hoje trabalha com livros biográficos de músicos e bandas internacionais renomados E assim chegamos a este livro, o primeiro Songbook da Umbanda, mais um passo inédito, pioneirismo da Madras Editora na pessoa de seu presidente, Wagner Veneziani Costa e de toda a equipe, que também gostou do estilo do livro, e que esperamos ser mais um sucesso”.

A Umbanda pode ser considerada uma manifestação religiosa totalmente brasileira que agrega influências dos cultos africanos mas também de outras crenças, evocando o aspecto da miscigenação do país. Assume o sincretismo religioso com a Pajelança do índio, o Culto aos Orixás, a vertente Católica dos europeus e também o Espiritismo, pois os médiuns incorporam espíritos durante os trabalhos. Apesar de no passado alguns terreiros trabalharem apenas os cânticos com vozes, hoje o uso de instrumentos de percussão é praticamente geral e existem toques precisos para cada objetivo. O trabalho apresentado neste Songbook coleta e fixa cânticos praticados pelos umbandistas, bem como toques específicos que devem ser executados em cada caso. Pela primeira vez se dá forma musical a canções que, ao longo das décadas vêm sendo transmitidas por tradição oral, estando assim sujeitas a variações e modificações. É um trabalho de grande envergadura, dezenas de cânticos transcritos em notação musical e também a parte harmônica, que auxilia quem está tendo contato com as obras a entender melhor as escalas utilizadas. E é com grande orgulho que apresento este Songbook da Umbanda, obra de enorme relevância para a religião e seus praticantes e também para músicos e estudiosos das mais diversas manifestações da música brasileira.

Mestre Severino Sena e Maestrina Luciana Barletta em tarde de autógrafos na Bienal do Livro de São Paulo


O Espírito que conhecemos pelo nome João Cobú – Pai João de Aruanda – foi escravo em solo brasileiro por escolha própria, em duas encarnações consecutivas. Primeiramente africano trazido para a Terra de Santa Cruz a bordo dos navios negreiros, morre em canaviais pernambucanos para, em seguida, reencarnar na Bahia de todos os Santos. Ele, o mesmo Espírito que décadas antes desencarnara branco, médico escravocrata das colônias do sul da Nova Inglaterra, do que viria a ser os Estados Unidos da América. Negro por sua própria vontade, “negro como a noite sem estrelas”, como às vezes diz.

H

á quem diga ser desnecessário o Espírito se apresentar como negro ou até mesmo como indígena. “Sinal de inferioridade e apego à matéria”, afirmam. Como se houvesse um estabelecimento prévio de que a cor natural do corpo espiritual é branca e, todas as demais, tintas com que se pintam – escurecem? – essa brancura. É curioso que traços culturais, no que tange à diversidade de aparências e tons de pele próprias da humanidade, sejam vistos dessa maneira, enquanto indumentárias que revelam vivências sacerdotais ou clericais, por exemplo, não sejam objeto de questionamento. Ainda não ouvi: “Batina e estola também atestam inferioridade e apego à matéria”... De certo modo, ainda bem que não, pois qualquer generalização assim parece muito superficial. Ora, quer dizer que apresentarse às faculdades mediúnicas assim ou assado denota elevação espiritual? Manifestar-se como caucasiano também é uma escolha, e só não se dá conta disso quem ainda não se apercebeu dos próprios preconceitos no âmbito racial. Para muitos, porém, a simples menção ao passado de um espírito como padre, madre, freira ou frade já abre as portas da devoção mística alimentada por séculos de culto religioso, ao passo que o mais leve gaguejar, qualquer traço de linguagem popular que revele o vocabulário do negro ancião dos tempos da escravatura já é o suficiente para fechar as portas à mensagem da simplicidade. É claro que existem clérigos elevados, embora os absurdos que inúmeros membros da Igreja tenham perpetrado em nome de Deus ao longo dos séculos, assim como há Pretos-Velhos que não merecem confiança. Essa certeza apenas reitera o engano clássico que consiste em prejulgar um espírito por sua

aparência, assim como pelo nome que assina. Para Pai João de Aruanda, viver como negro significou nada mais, nada menos que superar os pontos de vista mais acanhados sobre a vida e ressurgir como Espírito multicolorido, uma alma simples com a qual convivemos e aprendemos a amar. João Cobú acompanha Robson Pinheiro desde sua infância, quando aparecia nos momentos graves através da mediunidade de sua mãe, Everilda Batista. Quando esta se junta a ele na Eternidade, o Espírito assume a conformação de PaiVelho e começa a atuar por intermédio de Robson, que a essa altura já exercia a mediunidade nos círculos espíritas. Durante mais de 40 anos essa convivência se transforma em laços tenazes, que permitem ao Espírito trazer sua palavra simples e amiga, seu cuidado atento e protetor além de mostrar outras facetas como personagem dos romances do Espírito Ângelo Inácio: Aruanda, Legião, Senhores da Escuridão e A marca da besta. Das obras de Robson em que João Cobú é o Espírito orientador, foram extraídas as máximas contidas no livro Negro, das quais algumas colocamos aqui, nesta pequena degustação literária.

A Fé mais trabalhada... “ALIADA À INTELIGÊNCIA OU À RAZÃO, a fé é atributo daqueles que questionam, pesquisam e deduzem suas observações da realidade que experimentam. (…). Com a fé, acreditando, podese utilizar dos elementos da natureza para restaurar a saúde. Por meio da fé, associada ou a partir de certos conhecimentos, é possível recuperar a autoestima das

pessoas, insuflar maior qualidade de vida em sua caminhada espiritual. (…) Pessoalmente, nego-velho acredita que a fé é o grande elixir que faz com que os métodos terapêuticos alcancem o efeito desejado. E, quando nego-velho fala de fé, não se trata de simples crença induzida por mentes alheias ou vivenciada apenas na esfera social e cultural. Nego se refere a uma fé que é operosa, que investiga e que se amplia na medida exata em que as investigações se convertem em convicções pessoais, em ciência da alma”.

Que é isso, meu irmão?

“POR QUE FALAR DA CASA DO OUTRO QUANDO A NOSSA ESTÁ CHEIA DE MOTIVOS PARA TRANSFORMAÇÃO?

Por que citar os insucessos espirituais alheios, quando nos falta muito para aprender, caminhar e acertar? Não perca tempo relatando ocorrências infelizes dos outros. Eles também, tanto quanto nós, se esforçam como podem para abolir a miséria de muita gente e resgatar sua dignidade perdida. São despenseiros do bem, trabalhando em nome do Nosso Senhor, em outra seara, com outros instrumentos. Se estivéssemos no lugar deles, talvez não agíssemos de forma diferente”.

O Corpo que você possui...

“ESSE CORPO, QUE GANHOU AO REENCARNAR, é o mais apropriado para seu crescimento pessoal. Embeleze-o,faça dele uma habitação agradável para si, mas tenha em mente uma coisa: ele traz a mensagem exata que você precisa aprender a ler. Tente entender o que seu corpo quer lhe ensinar sendo do jeito que ele é. Antes mesmo de efetuar nele uma modificação, perceba a mensagem inarticulada contida em suas células e órgãos. Caso não seja possível alterá-lo, meu filho, procure amar seu corpo e fazer dele o ambiente mais agradável para a vivência de seu espírito”.


A vida parece muitas vezes difícil

“EU SEI! E VOCÊ AINDA DIZ, MEU FILHO, QUE A VIDA É DURA... Pai-

velho lhe fala com todo o carinho que essa dureza da vida é só aparência, pois, se a vida lhe parece dura, é porque você é mole. (…) Sem espinhos, pedras, desafios ou as sinuosidades do caminho, não aprenderíamos o valor das experiências, nem teríamos noção da grandeza da vitória. Sem os obstáculos, meu filho, ninguém conseguiria saborear a vida e o viver. Aprenda a viver o caminhar, a sentir o sabor do percurso e, quem sabe, você não perceberá a beleza da paisagem? Não espere a vitória plena a fim de se alegrar, de se descontrair ou usufruir as coisas boas. Aproveite a caminhada e aprecie a beleza ao seu redor durante a jornada. A viagem rumo à vitória é mais saborosa em seu percurso que na linha de chegada”.

Que é isso, meu filho? “V OCÊ FOI FEITO PARA BRI LHAR... Por que, então, tanta vergonha

de se expor? Acorde para a vida e se entregue às correntezas do amor. Foi Jesus quem disse que somos deuses, somos luzes. Mas a luz deve ser colocada bem alto, a fim de iluminar toda a casa. Portanto, brilhe, ilumine, apareça. Se você pretende passar-se por humilde, e desse modo deseja ficar escondido, os outros ainda assim falarão de você: dirão que é covarde. Levante a cabeça, cresça, apareça e sorria para a vida. Você é um representante de Jesus, e não há como segui-lo e permanecer escondido em conceitos falsos de humildade. Seguir o bem significa expor-se, aparecer ou apresentar um diferencial, que se chama qualidade.

Precisamos de Espiritualidade

“O MUNDO PRECISA DE ESPIRITUALIDADE muito mais do que de

religiosidade, precisa libertar-se de expressões mais materiais, libertar sua fé da necessidade de elementos mais grosseiros e lidar com questões de ordem metafísica destituído de crendices, da maneira mais simples possível”.

O que resolve é o Evangelho...

“... ENTENDIDO, ESTUDADO MAS, SOBRETUDO, VIVIDO. E, quando falo

da vivência do Evangelho, não me refiro a uma reforma íntima incompreensível, muito menos a algo pouco possível de ser alcançado, segundo determinados indivíduos propõem. Refiro-me a uma mudança de rota do comportamento humano; a uma redecisão que sucede à análise e à revisão de valores. Faço menção ao Evangelho em sua expressão mais simples, que produz no ser humano a modificação de sua frequência vibratória por meio da mudança real, que se traduz em novos comportamentos, atitudes, ideias e ações. Isso, sim, elevará a pessoa a um estado vibracional muito mais refinado do que aquele desencadeado por feitiçaria ou magia negra”.

Não perca tempo... “... COM COMPORTAMENTOS MÍSTICOS E DISFARCES, já que você tem tanta bagagem em seu interior que merece reciclagem. Existe muito lixo mental que deve ser banido de sua intimidade, meu filho, cedendo lugar a ideias organizadas e melhores. A reciclagem dos pensamentos urge para aquele que reconhece a necessidade de semear colheitas promissoras. E, quando nego-velho fala em reciclagem do conteúdo mental, é porque deseja enfatizar que muita coisa precisa mesmo é ser reorganizada, revista e restaurada. Nem tudo deve ser descartado, mas apenas algumas ideias, por serem ultrapassadas e daninhas à sua realização pessoal”.

NEGRO

Poucos têm um mandato do Alto

“SÃO POUCOS OS QUE POSSUEM DETERMINADA INCUMBÊNCIA MAIS ESPECÍFICA. Não tem cabimento ficar imaginando que você é um eleito ou que tem missões a desempenhar. Se assim fosse, a esta altura, já teria empreendido algum feito vultoso. Deus, no entanto, conta conosco para realizações bem mais simples que nossas pretensões, meu filho… De toda forma, se permanecer à espreita do momento certo, a oportunidade de hoje passa, a vida se esvai, e, de repente, é hora de recomeçar em outro plano”.

Você sabia que é permitido errar? “POIS É, VOCÊ PODE PERDER O CONTROLE DA SITUAÇÃO DE VEZ EM QUANDO, como também é natural que você não cumpra todos os prazos estabelecidos ou os compromissos assumidos. Por definição, isso é ser humano. Errar a direção, brigar vez por outra ou simplesmente não ser certinho o tempo todo, pretendendo agradar a todos, são características que reforçam sua humanidade, meu filho. De ninguém se exige sucesso durante a vida inteira, pois, mesmo que você queira acertar sempre, ainda continuará sendo gente, mortal. O sinal de que algo não vai bem é quando os erros e desacertos do cotidiano se transformam em marca registrada do comportamento de alguém”.

Robson Pinheiro Pelo espírito Pai João de Aruanda Casa dos Espíritos A mesma palavra para duas realidades diferentes: Negro. De um lado, a escuridão, a negação da luz e até o estigma racial. De outro, o gingado, o saber de um povo, a riqueza de uma cultura e a história de uma gente. Em Pai João, a sabedoria é negra, porque nascida do cativeiro. As palavras e as lições de um negro-velho, em branco e preto.






Fotos e Entrevista: Marques Rebelo

M

ãe Isabel, dirigente do Templo de Umbanda Guerreiros da Jurema, apresenta sua trajetória.

“ Venho de família umbandista, minha avó, dona Maria Borges, filha de Oxum, era sacerdotisa de Umbanda; minha mãe, Edna Morais, filha de Iansã, é médium. Cresci dentro de um templo de Umbanda, admirando as Entidades da minha avó, principalmente a Cabocla Jurema. Não sei dizer onde começa a Isabel médium e a Isabel dirigente espiritual, acredito que tenho um compromisso com a Umbanda, e isso sempre foi muito mais forte do que qualquer tipo de Carma. Sempre fui apaixonada pela religião, mas houve um cuidado muito grande por parte da família para que eu não incorporasse muito cedo, mas não teve como, aos 13 anos recebi o Senhor Boiadeiro Sete Laços, minha primeira passagem de Guia em Terra; desde então, iniciei meu desenvolvimento. Hoje trabalho com a Cabocla Jurema, chefe da

minha coroa, Boiadeiro Sete Lços, Baiana Sete Saias, Erê Aninha,Preta-Velha Maria Conga... Tive um grande aprenizado com Pai Rubens Saraceni, uma pessoa que aprendi a admirar principalmente como ser humano. Nunca tive nenhuma idolatria com ele, aprendi a respeitar seu trabalho na Umbanda, a história e todo o legado que ele construiu. Foi uma das minhas fontes de inspiração e é uma pessoa que carrego no coração com muito respeito e carinho.


“OXALÁ É O GRANDE MESTRE DA NOSSA FÉ, A GRANDE FORÇA DA UMBANDA, UMA LINHA DE EQUILÍBRIO MENTAL MUITO FORTE PARA TODOS” Em meados de 2011, os Guias Espirituais começaram a sinalizar que minha missão era maior do que aquela que eu vinha cumprindo, que eu deveria atingir um maior número de pessoas, expandir meu trabalho, e era importante estar preparada, principalmente no meu mental. Em determinado momento, tive uma conversa muito importante com Pai Rubens e foi ali que tomei a decisão de abrir o templo, foi diante das palavras de incentivo e do apoio que ele ofereceu que decidi abrir o Guerreiros da Jurema, e já completamos seis anos.

Sempre tive essa questão da caridade muito forte em mim por vir de berço umbandista, então, sempre procurei praticá-la mesmo fora do templo. Hoje, com seis anos de trabalho consolidado, percebo que cada vez que penso saber das coisas, surge algo que me mostra que eu preciso fazer mais, aprender mais. Sempre acreditei que não somos melhores do que ninguém e não chegamos a lugar nenhum sozinhos. A visão que tenho dos atendimentos, que é a visão que passo sempre para os meus filhos, é a de que não fazemos a caridade só para a assistência, nós recebemos a oportunidade de aprender e trocar energia com as pessoas e, acima disso, nossos Guias têm a oportunidade de evoluir por meio do trabalho que realizamos. Por meio da Umbanda, podemos atingir corações que estão frios e desesperançosos, pois a religião tem um poder muito grande na vida das pessoas, não necessariamente de fazer com que mudem seu caminho, mas fazer com que tenham entendimento desse caminho, aceitando tudo com mais candura, com mais leveza e mais amor. Acredito que todos os médiuns, todos que se dizem umbandistas, devem carregar essa bandeira da paz, vestir o branco não só nas roupas, mas na alma. Independente daquilo que nos cerca, a Umbanda é mais do que uma religião, e precisamos carregar isso como a nossa verdade absoluta, não só nas palavras, mas principalmente em nossas ações”.

“ Conheci a Umbanda ainda criança,

ouvindo os atabaques, era vizinho de um terreiro, mas não levei adiante, só muito depois. Mas aquilo ficou no meu subconsciente, é uma coisa incrível. Lembro-me, ainda criança, das festas de Cosme e Damião, o cheiro da defumação, isso marca muito. Até que tive a oportunidade de ir a um terreiro, já adulto, e foi arrebatador ouvir o som dos atabaques. Quando entrei na corrente, aí foi paixão, não dá para explicar. Era o terreiro da dona Maria José, na época com mais de 90 anos e que ainda levava a palavra do amor e da fé para todos. Foi com ela que eu pude sentir todo esse amor da Umbanda, pois ela falava dos Orixás e dos Guias de uma maneira linda, era impossível não se apaixonar. Os primeiros sete anos de terreiro foram um encantamento: as cores, os cheiros, é o melhor lugar do mundo, você não quer estar em nenhum outro lugar. Quando se canta para os Orixás, para os Guias, é uma coisa impressionante. Quem me conhece sabe que eu canto totalmente na vibração, e é maravilhoso, é uma força que toma o meu corpo”.

Rua Araçoiaba da Serra, 35 Tucuruvi – São Paulo/SP


Fotos: Marques Rebelo

“M

inha origem é católica e minha mediunidade surgiu ainda no Seminário onde estudei, da Ordem da Congregação dos Padres Seculares; lá se manifestou essa influência espiritual. A partir do momento que a mediunidade se manifestou eu tive de tomar algumas decisões: ou me tornava sacerdote secular, ou assumia minha mediunidade. As primeiras manifestações mediúnicas que tive foram de um Preto-Velho chamado Morucurubagelê, que já tinha como auxiliar o Senhor Tata Caveira, que interage nos problemas mais objetivos. Depois desse início de desenvolvimento, optei definitivamente pela Espiritualidade e estou aí, há mais de 50 anos”. O senhor costuma abrir seus trabalhos sempre com uma corrente positiva... Fale-nos sobre essa palavra inicial de autoestima. Pai Varela: A formação da Umbanda é uma miscigenação de religiões e o principal, na minha missão como umbandista é levar o nome de Deus, falar em nome da paz, em nome do Criador Maior. Todos os Espíritos que nos auxiliam nesse trabalho nos orientam que é bom falar de evangelização e minha intenção é sempre levar uma palavra de amor, de conscientização e de alerta, para que todos en-

tendam que se não forem bons e honestos, consigo mesmo e com o próximo, não estarão fazendo nada. Todos que vêm aqui tem uma finalidade e eu procuro, com o meu trabalho, mostrar que no terreiro não tem varinha de condão nem milagreiro. É a fé que traz o princípio do merecimento de cada um e a razão das realizações. Gostaria que o senhor nos falasse sobre o Senhor Exu Tatá Caveira... Como se iniciou a manifestação da Linha de Exus? Pai Varela: A Linha dos Guardiões é geralmente a primeira que se manifesta no médium, porque a gente não sabe o que está acontecendo, se é um animismo, se é uma doença... Diante desse comportamento, muitas vezes não conseguimos identificar a influência da Entidade. A manifestação da esquerda comigo veio justamente por causa das perturbações em pessoas que recorriam às nossas Entidades com problemas seríssimos, de saúde, de alcoolismo, de discórdia. Quem primeiro se manifestou comigo não foi o Senhor Tata nem o Senhor Tiriri, foi o Senhor PingaFogo, uma Entidade que vinha com o Mestre Tupinambá que, quando se manifestou, já determinou o seu tempo de trabalho: quando eu completasse 33 anos,

ele deixaria de trabalhar comigo. As Entidades de Esquerda que trabalham na casa vêm sempre com o objetivo de auxiliar na cura de alguma forma, e o Senhor Pinga-Fogo ajudou a muitos. Quando deixou de trabalhar conosco, deu lugar ao Senhor Tata Caveira nessa missão, e já estamos trabalhando juntos há mais de 40 anos, ajudando ao próximo no que nos é possível, sempre auxiliando na cura de alguma maneira.

“EU ESTAVA NA ENCRUZILHADA QUANDO A BANDA ME CHAMOU

EXU NO TERREIRO É REI NA ENCRUZA ELE É DOUTOR EXU QUEBRA DEMANDA EXU QUEBRA DEMANDA EXU QUEBRA DEMANDA EXU É CURADOR EXU NO TERREIRO É REI NA ENCRUZA ELE É DOUTOR”


Senhor Tata Caveira é um Exu, uma Entidade que trabalha na Umbanda por meio da incorporação de médiuns. Antes de ser uma Entidade, Exu Tata Caveira viveu na terra física, assim como todos nós. Acreditamos que nasceu em 670 d.C e viveu até dezembro de 698 d.C no Egito, ou de acordo com o próprio Exu Tata Caveira, “Na minha terra sagrada, na beira do Grande Rio”. O nome do Exu Tata Caveira era Próculo, de origem romana, dado em homenagem ao chefe da Guarda Romana naquela época. Ele viveu em uma aldeia e fazia parte de uma família bastante humilde. Durante toda sua vida, batalhou para crescer e acumular riquezas, principalmente na forma de cabras, camelos e terras. Naquela época, para se ter uma mulher era necessário comprá-la do pai ou responsável, motivação que levou Próculo a batalhar tanto pelo crescimento financeiro. Próculo viveu de fato uma grande paixão por uma moça que fora criada junto a ele desde pequeno, como uma amiga. Porém, ele teve cautela ao acumular muita riqueza, pois não queria correr o risco de ver seu desejo de união recusado pelo pai da moça. O destino pregou uma peça amarga em Próculo, pois seu irmão de sangue, sabendo da intenção que Próculo tinha com relação à moça, foi peça chave de uma traição muito grave. Justamente quando Próculo conseguiu adquirir mais da metade da aldeia onde viviam, estando assim seguro que ninguém poderia oferecer maior quantia pela moça, foi apunhalado pelas costas pelo seu próprio irmão, que comprou-a horas antes. Anos mais tarde, a aldeia de Próculo foi invadida e muitas pessoas inocentes foram mortas, sobreviveram apenas 49, entre estes, Próculo, e juntos tentaram uma investida contra os inimigos sem sucesso. Todos acabaram queimados, mas a dor maior que Próculo sentiu foi a da traição de seu irmão, que queimava ao seu lado. Esta foi a origem dos 49 Exus da Linha de Caveira, constituída de todos os homens e mullheres que naquele dia desencarnaram.


Fotos: Marques Rebelo

“N

osso muito obrigado à tão querida Nação Umbandista e aos que vivem, impulsionam, colaboram e simpatizam com esta nobre causa e com esta iluminada religião. Prestamos os nossos profundos agradecimentos por vocês terem, de forma magnífica, tornado realidade a realização de mais esta edição do Festival. Obrigado por vocês terem feito parte desse momento memorável, tanto para a arte umbandista, quanto para Umbanda em sua essência. Agradecemos a todas as animadíssimas e participativas caravanas, aos curimbeiros, intérpretes, coreógrafos, figurinistas, auxiliares, patrocinadores, apoiadores, familiares, amigos, torcidas e a todos que colaboraram de alguma maneira para abrilhantar o nosso Festival. A harmonia entre todos os participantes reinou na integralidade de mais um grande evento, motivo de extrema alegria e satisfação! Ao final do festival, o público presente foi brindado em grande estilo, igualmente, com mais um momento de enorme descontração e empolgação com o Show “Tecnomacumba” da estimada cantora Rita Benneditto. Desejamos Força e Expansão aos festivais, alegria e cada vez mais beleza aos nossos toques e cantos, cada vez mais união e harmonia entre os umbandistas e as religiões como um todo. Será um imenso prazer revê-los na 10ª Edição em 2019. Muito Axé, muita saúde e prosperidade máxima a todos. Parabéns a Associação Espírita Alfa e Ômega, que foi a grande campeã do 9º Festival de Curimba da Aldeia de Caboclos – “Um Grito de Liberdade”.


Fotos: Marques Rebelo

“Q

uero aqui colocar a grande importância de nossos Ogans, Curimbeiros e Alabês, pois é impossível alguém imaginar um ritual de Umbanda e dos Cultos de Nação sem o som dos atabaques, sem as cantigas, sem os pontos... São eles os grandes responsáveis por trazer o mundo espiritual até nós, fazendo a ponte, construindo toda a energia maravilhosa que possibilita a chegada de nossos Orixás, Voduns e Entidades. No dia a dia de nossas casas nós sabemos e reconhecemos sua importância, pois eles vibram com amor, energia, se dedicando a algo ímpar que é a responsabilidade de invocar a presença espiritual nos terreiros. Quando nosso irmão, vereador Josa, veio falar comigo sobre essa ideia eu achei fantástica porque, se fizermos uma análise, em nenhum momento a FUCABRAD, até hoje, prestou essa homenagem tão justa e tão oportuna. A prova disso é que hoje as casas estão aqui, na Câmara Municipal de Diadema com esse pensamento, vibrando por seus Ogans, Curimbeiros e Alabês”. Cássio Ribeiro presidente da FUCABRAD

“H

á algum tempo que a Federação tem essa prática de fazer homenagens, dentro da estrutura de um terreiro, a diferentes atores que têm sua importância fora do Plano Espiritual. já fizemos várias homenagens aos Pais e Mães de Santo, Babalorixás e Iyalorixás e vamos continuar fazendo; também já fizemos às Mães e Pais Pequenos, às Ekedis, aos Zeladores de Santo, aos Cambones e, agora, nada mais justo que fazer uma homenagem a esses importantes trabalhadores da Umbanda e do Candomblé que são os Ogans, Curimbeiros e Alabês, essa é a ideia. Foi uma noite festiva e de confraternização. Josa Queiroz Vereador pela cidade de Diadema


PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Marques Rebelo JORNALISMO E REDAÇÃO: Virgínia Rodrigues FOTO DE CAPA: Marques Rebelo

VENDA DE ANÚNCIOS: (11) 98485-5461 Projeto e Produção

Editor Responsável: Marques Rebelo

REDAÇÃO: Rua Luis Flaquer, 51 - Vila Guilherme CEP: 02069-010 - São Paulo - SP Fone: (11) 98485-5461 E-MAIL: revistaumbanda@hotmail.com editorial.geral@hotmail.com

IMPRESSÃO: REFERÊNCIA GRÁFICA Observação importante: Gallery Editores Associados que criou, produziu e realizou este projeto, tem inteira responsabilidade sobre a originalidade e autenticidade de seu conteúdo. RESPEITE O DIREITO AUTORAL Reproduzir o conteúdo total ou parcial da revista em qualquer plataforma (digital ou física) é proibido por lei. O direito autoral é protegido por lei específica (lei nº 9610/98) e sua violação constitui crime, respondendo judicialmente o violador.


Fotos: Marques Rebelo

O

2° Festival de Curimba Raiz do Meu Axé discorreu em um clima de amizade; a união, o companheirismo e a alegria se fizeram presentes do início ao fim. A cada apresentação, a cada toque, a cada entonação, sentíamos a vibração contagiante das torcidas, unidas em um só propósito: exaltar nossa ancestralidade. Para um evento acontecer precisamos que haja a colaboração de muitas pessoas, fica aqui nossa Gratidão a todos os envolvidos. Parabéns Curimba Filhos de Jurema pelo primeiro lugar na Classificação Geral. Deixamos aqui também nosso carinho a todas as curimbas participantes: Raízes de Iansã, Grupo Cultural Filhos do Ouro, Umbanda Jovem, Curimba Toque do Cika e Templo de Umbanda Iansã Guerreira.

Que todos continuem mantendo sempre a humildade e o amor à nossa Religião!





Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.