UM POETA NO SAMBA

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Um Poeta no Samba Sérgio Bretas




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Projeto Gráfico e Capa: Marques Rebelo Editoração e Revisão: Virgínia Rodrigues

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Bretas, Sérgio Um poeta no samba: rainhas, princesas e passistas um tributo à beleza / Sérgio Bretas. – São Paulo: 116 p.: 13,5x21cm 1. Literatura brasileira I. Título

15-0110

2. Poesias

3. Crônicas

CCD B869

4. Samba


Prefácio Um Poeta no Samba O Nome dela é Helô Pinheiro Do Caos à Passarela A Mulata O Sambódromo A Abolição Deus, Salve a Rainha! Do Alto das Sandálias A Corte do Carnaval Aguenta Coração O Trono de Momo As Ancas A Escola de Samba A Fantasia Os Olhos das Negras A Rainha de Bateria É o Samba A Majestade

7 8 10 14 16 20 22 24 28 30 32 34 36 38 40 42 46 48 50


A Embaixada do Samba Feitiço A Bateria

O Biquíni da Bamba Loura e Bela A Imagem de Giz A Mulher que Samba A Porta-Bandeira É Brasil! Convicção A Quadra Valeska Reis Sem Máscara O Bruxo Na Porta do Bar As Deusas do Carnaval Enredo Extravagante A Negra Confete O Pavilhão Sonhei... Sou Rainha

52 54 56 58 60 62 64 66 70 72 74 76 80 82 84 86 88 90 92 94 96

Preto e Branco 100 A Beleza 102 Guardiã da Liberdade 104 Andreza, uma Alteza 106 Certidão 110 Nem Profano, Nem Sagrado 112


Prefácio A chegada ao Samba foi um impacto. A admiração sincera trouxe uma iniciação. A expressão roda de bamba é profunda porque ela realmente é o palco, o cerimonial que inicia. Que concede um atributo. Sim, “já fui batizado na roda de bamba...”. O samba se instala no coração. Amizades, ensaios, desfiles, exibições. A Corte do Carnaval. As celebridades. A Revista Carnaval Brasileiro. Tudo na batida do surdo de marcação. A identidade ao Sambódromo, esse assombro. O fascínio da figura feminina como parte da estupenda constelação, na força do conjunto que dimensiona a importância dessa festa. O livro, circunscrito ao tema estímulo, contem impressões do universo do sambista, oferecidas ao povo que preserva a tradição, às Escolas de Samba, ao brasileiro, ao irmão estrangeiro. Se a palavra é uma arma, se ela elege, se ela mata, seja sempre pura, exata. Uma felicidade estar integrado ao maior espetáculo do mundo. Viva o Carnaval! Obrigado Deus, por esta unção!! Sérgio Bretas

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Ganhei título de poeta. Uma condecoração! Ser poeta é muito sério. Dominar uma arte que vem do etéreo. 8


Um Poeta no Samba

Foi

meramente ocasional.

Saí na Revista do Carnaval. Escrevi sobre a Festa, a Rainha. Ganhei título de poeta. Uma condecoração! Ser poeta é muito sério. Dominar uma arte que vem do etéreo. Ser intérprete do Criador. Transitar no silêncio e na imaginação. Ter a benção da inspiração é coisa de grande, senhor! O samba tem poetas de estirpe. Chico, Ary, Silas, Noel. Eu, vou me tornar real por causa do Carnaval.


Nasceu no Rio a maioral, virou notĂ­cia internacional. Veio da praia para o poema. Sensacional essa Garota de Ipanema. 10


O Nome dela é Helô Pinheiro

Mulher

que vence

chama enredo altaneiro porque é orgulho do povo brasileiro. Vitória é luta, vitória é fama, vitória é glória, mulher que vence põe seu nome na história.

Nasceu no Rio a maioral, virou notícia internacional. Veio da praia para o poema. Sensacional essa Garota de Ipanema.

Ela é a fera que a galera espera para enlouquecer o Carnaval da Era.


Esse é o samba de enredo que eu queria, Brasil ao mundo com a diva da poesia. É ela sim, aqui, de corpo inteiro: O nome dela é Helô Pinheiro. 12


Musa

eterna,

referência nacional, vai incendiar o Sambódromo, triunfal. Beleza pura da terra verde e amarela, ela vem para dominar a passarela.

Carioca dourada, celebridade sim senhor, “por causa do amor, por causa do amor”.

Esse é o samba de enredo que eu queria, Brasil ao mundo com a diva da poesia. É ela sim, aqui, de corpo inteiro: O nome dela é Helô Pinheiro.

OOOÔ OOOA, com ela a Sapucaí vai delirar. OOOÔ OOOA, Helô Pinheiro vamos homenagear!


A apoteose astral repercutiu na avenida. O brilho das estrelas no fulgor das passistas. O fogo do sol nos olhos das mulatas. A danรงa planetรกria magnetizou a pista. 14


Do Caos à Passarela (O Nascimento do Carnaval)

A origem

do planeta, lá nos mistérios da cosmogonia universal, teria cobrado do Criador uma significação tamanha, que de pronto fizesse reconhecer a força da mão divina. Do profundo silêncio cósmico, o artista maior foi compondo um raro cenário, mesclado do azul da estratosfera, das cores das aves e dos fogos de artifício. Inspirou-se na translação dos corpos celestes para cadenciar o ritmo dos corpos terrestres. E ofereceu à realidade o efeito da sua imaginação diferenciada: o Carnaval! Das nebulosas às luzes dos holofotes, do trovão à melodia, da paisagem lunar ao cimento do chão, a alegria explodiu. A alquimia funcionou: como é em cima, é em baixo. A apoteose astral repercutiu na avenida. O brilho das estrelas no fulgor das passistas. O fogo do sol nos olhos das mulatas. A dança planetária magnetizou a pista. Dos céus às passarelas o encantamento venceu, se incorporou à história da nossa paisagem cultural. Criaturas especiais, predestinadas, garantem o espetáculo único que só uma divindade muito poderosa conseguiria criar. Cada componente do Carnaval, ciente desse privilégio, assume sua responsabilidade na representação coletiva da exuberância, cercando a Rainha de batuques e tambores, de tamborins, giros de pavilhões, cantos, enriquecendo o deslumbrante cortejo processional do samba de enredo. Honra ao Carnaval!


A mulata transcendeu o show, a passarela da avenida, a foto, a notĂ­cia na revista ou no jornal. A mulata ĂŠ uma entidade nacional. 16


A

Mulata

A imagem da mulata ficou indissociável da dança do samba, da energia do Carnaval. O bumbum perfeito, a graça faceira, a paixão no olhar, a alegria invulgar são características dessa representante do nosso povo.

A mulata transcendeu o show, a passarela da avenida, a foto, a notícia na revista ou no jornal. A mulata é uma entidade nacional.

Quando se lembrar que a trilogia brasileira da beleza insere a Miss, a Garota de Ipanema e a Mulata, restará render-lhe tributo, elogio e admiração. E ao país que a fez: o Brasil grande, poderoso, feliz, a quer como paradigma de mulher.


Ary Barroso foi categórico: “Olha, esta mulata quando dança É luxo só”.

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Ary Barroso foi categórico: “Olha, esta mulata quando dança É luxo só”. É de Noel Rosa a originalíssima visualização da “mulata sapateando no caixão”. Germano Mathias superou-se como sambista quando pinçou, da composição de Túlio Piva “Tem que ter mulata”, esta joia de verso: “E mais ainda o nosso samba desacata quando tem o requebrado dos quadris de uma mulata.”

Não precisa falar mais nada. A mulata é a tal!


Ele, o Sambódromo, exige uma definição vigorosa. No mínimo há que se lhe tributar a expressão monumental. 20


O

Sambódromo

Abre-se

no meio da noite

um fantástico espaço iluminado, uma multidão delira. É o Sambódromo, cativante invenção do homem. Palco de realização artística e pessoal, a glória, ao ar livre.

Ele, o Sambódromo, exige uma definição vigorosa. No mínimo há que se lhe tributar a expressão monumental. Sua estrutura gigantesca impressiona a ponto de fazer pasmar. Sua atividade, encanta.

Majestoso espaço para as defesas das cores das escolas. Casa do samba de enredo. Imponente! Templo vivo que pulsa. E, por abençoar esse cenário sobranceiro, Deus, sim, é brasileiro!


Liberdade ĂŠ a estrela guia. Salve Castro Alves! Viva a Alforria! O Brasil ĂŠ igual. O treze de maio foi triunfal! 22


A

Abolição

O preconceito é tão ruim que deveria viver só, no confim. É de muita aberração pensar ser mais do que o dono da criação. Há que se louvar a data de enterro do ranço, coberto de rosas e cravos.

Chega de escravos, chega de sangue, de algemas, de tortura todo dia. Liberdade é a estrela guia. Salve Castro Alves! Viva a Alforria! O Brasil é igual. O treze de maio foi triunfal!


Quando se cantar a paixão pela negra, pela mulata padrão ou pela “mulher brasileira em primeiro lugar”, caberá homenageá-la, pois é uma mulher fascinante! 24


Deus, Salve a Rainha!

Magali

Cruz dos Santos, 28 anos, sambista.

Rainha do Feitiço. Já venceu o Rainha do Carnaval da Cidade de São Paulo. O concurso fervia, era 2005. No esplendor de seus 21 anos de idade, entrou com tudo e arrebentou. Em grande estilo, inscreveu seu nome no lugar mais alto do Livro do Samba. Amadureceu. Mantem a imponência e a beleza forte continua intacta. Quem foi Rainha, sempre será majestade! Quando se cantar a paixão pela negra, pela mulata padrão ou pela “mulher brasileira em primeiro lugar”, caberá homenageá-la, pois é uma mulher fascinante! Magali não nega a raça nem esconde as origens. Ama a Zona Leste, o conjunto habitacional, os amigos e amigas pobres, a cerveja, o bar. Gosta de acordar tarde. Leonina, aniversaria em 1º de agosto. É fera! É corinthiana, claro. Protegida pela Mãe de Santo Antônia de Xangô, mora com a querida mamãe Dona Eliana. Trabalha, protege o pai, José Maria, ex-mecânico. Formando-se em Educação Física, sua tese de conclusão de curso (TCC) é a História do Carnaval no Brasil.


Fazer parte da histĂłria do Carnaval ĂŠ muito importante para Magali, significante pelo amor e o respeito que devota ao Samba. 26


Tem,

em sua visão profissional, que a festa de Momo fornece elementos para a formação cultural de uma criança, com o enriquecimento do acervo motor e a integração dos ritmos da brasilidade, que predominam nesse fenômeno impar da nossa tradição. Na trajetória das Escolas de Samba, quando concorreu ao título de Rainha o fez pela Rosas de Ouro. Seu coração hoje é Vai-Vai. Nariz altivo, desafiadora, descarta disputar novamente a coroa, ser bicampeã nem precisa. Guarda toda a pompa que identifica quem é de uma Corte. O Anhembi é seu. O Sambódromo a reverencia. Fazer parte da história do Carnaval é muito importante para Magali, significante pelo amor e o respeito que devota ao Samba. Vê nele uma estrutura que vai além do desfile na avenida, pela energia, pelas mensagens e fatores que se incorporam desde a infância. O samba lhe apresentou lugares, pessoas e histórias inesquecíveis. Magali abala qualquer calma, embriaga qualquer alma, como na letra de “Senhora Tentação” (Silas de Oliveira). É o “efeito da sua sedução”. Reine soberana entre as Rainhas, Majestade Magali. Oxalá a ilumine e guie!


Pé, sandália e samba para o mundo aplaudir A expressão samba no pé é tudo que no samba é! 28


Do Alto das Sandálias

O fetiche

pelos pés

encontra seu apanágio no fetiche das sandálias. É a base da sedução. Se é provocante o pé no chão, que não se dirá do alto das sandálias. É a mulher em movimento, causando admiração. Pé andando, pé parado, pé sambando... Pé nu, pé na sandália... Tentação. Pé, sandália e samba para o mundo aplaudir. A expressão samba no pé é tudo que no samba é!


A monarquia acabou, os palácios não servem mais, mas ficou intacta a lição de glamour e da imponência de uma Corte. 30


A Corte do Carnaval

A gigantesca

concentração de gente

compromissada com a maior comemoração do mundo, contém um componente da realeza: uma Corte. A Corte do Carnaval. Jamelão, a voz do samba, canta em Rio Antigo que “numa apoteose de fascinação, as cortes deram ao Rio requintada sedução”. A monarquia acabou, os palácios não servem mais, mas ficou intacta a lição de glamour e da imponência de uma Corte. A linhagem da Corte chama o porte incomum, o brilho divinal, o “feitiço inteligente”, bela definição do compositor Aurinho da Ilha. O concurso é eletrizante. A escolha de quem vai representar o Carnaval seleciona o que há de melhor no mundo do samba. Mesmo que as candidatas perfaçam um figurino de pessoa alegre, de elegante beleza, que dança gostoso, a pretendente à Corte deve ser alguém ainda mais especial, com uma graça diferente, com o requisito de uma personalidade cativante. Como a daquela mulher cuja figura sai do retrato. Há que se cultivar essa delegação o ano todo, nas mais expressivas atividades culturais da vida do sambista. A Corte detém, inclusive, uma autoridade, pois não é em vão que o Poder Municipal lhe entrega a chave da cidade. Vamos a esse foco de glória! Consagração do povo que samba!


“o samba arregaça. Não sobra opção: palmas à sambista, dona da comemoração. Aguenta coração! 32


Aguenta Coração

Surdo de marcação, nádegas de mulatas, apito e pandeiro: o samba por inteiro. Aguenta coração! Arte do requebrado, o samba dá seu recado.

Lantejoula no biquíni, bracelete nos braços, vermelho nas unhas dos pés. Aguenta coração!

As majestades da raça, seminuas, nos palcos ou nas ruas dão shows de malícia e graça: o samba arregaça.

Não sobra opção: palmas à sambista, dona da comemoração. Aguenta coração!


A aparĂŞncia de Momo ĂŠ sugestiva tanto quanto a de Chefe de Estado. O poder que emana desse trono, permite ser e dizer: eu sou mais eu. 34


O Trono de Momo

A política do Rei Momo supera teorias de governo. A soberania do riso é o tema do exercício do mandato. Um mundo sem culpas.

A aparência de Momo é sugestiva tanto quanto a de Chefe de Estado. O poder que emana desse trono, permite ser e dizer: eu sou mais eu.

O manto vermelho protege. Momo é o pai ideal. E que maravilha a vida, vivida ao alento do Carnaval!


Esse Ê um assunto brasileiro, de muita especialidade. A exibição do lugar do corpo que concentra o atrevimento. 36


As Ancas

Nádegas,

quadris,

traseiro, bunda... Haja vocabulário! Esse é um assunto brasileiro, de muita especialidade. A exibição do lugar do corpo que concentra o atrevimento. O emblema do Carnaval!

Beleza não lhes basta. Há que se dizer da importância como visão e do poder de excitação. Não se olvide, o traço que as divide.

Morenas ou brancas, são livres, francas. As ancas hipnotizam, superam o proibido, não podem ficar no escondido. Fazem parte do reinado da libido.


... a Escola de Samba é gigante... Passa com seu volume imposicional. É incontível, deslumbra. É uma avalanche de felicidade. É a cara da festa! 38


A Escola de Samba

A Escola

de Samba é a realidade mais original que o mundo já produziu em nível de criação de arte coletiva. E que, adquirindo uma solenidade litúrgica, afunilou para o grupo pessoas afins, irmanadas, unindo na mesma cadência, modelos de existência. É de Joãosinho Trinta que: “...cada ser humano é um universo completamente diferente um do outro. É lindíssimo quando você consegue juntar todos esses universos e fazer um universo maior”.

Eis porque a Escola de Samba é gigante. Da quadra à avenida, impressiona. Passa, com seu volume imposicional.

É incontivel, deslumbra. É uma avalanche de felicidade. É a cara da festa!


Ela ocupa espaço com autoridade decisiva, impondo que se a admire na sua figuração. Ela arrebata, é dual! Nasce de um conceito para atingir seu efeito. 40


A

Fantasia

A fantasia

denuncia,

no impacto que extasia, a arte do seu criador. A enorme inspiração para o tema, o detalhe, a cor, depurando o disfarce, a verdade, no salão, na avenida, seja luxo ou originalidade.

Ela ocupa espaço com autoridade decisiva, impondo que se a admire na sua figuração. Ela arrebata, é dual! Nasce de um conceito, para atingir seu efeito.

Majestosa, monumental, é o destaque. É o ápice do artista, do figurinista. Da genialidade individual que faz grandiosa a data eletiva dos festejos de Carnaval.


Os olhos das negras têm cargas, agitações, espectros de reencarnações. Nesses olhos não cabe fingimento. 42


Os Olhos das Negras

um mistério permanente

atrás dos olhos dessa bela gente.

As negras, as mulatas, suportaram o peso da colonização, fatos duros da história brasileira.

Os olhos das negras têm cargas, agitações, espectros de reencarnações. Nesses olhos não cabe fingimento.

Quando uma negra fita adivinha-se o espírito que a habita. Quem as quis inferiores, errou: a negra superou.


Poderosos, sensuais, sĂŁo energias, magias. SĂŁo luzes dos mais lindos Carnavais. 44


Os olhos das negras e das mulatas revelam vidas e tempos sem idade.

Olhos grandes, profundos, contem dores sem ressentimentos, refletem vitĂłria do amor sobre o mal.

Poderosos, sensuais, sĂŁo energias, magias. SĂŁo luzes dos mais lindos Carnavais.


Um mulherão! Vai Rainha, arrebenta! Receba o aplauso geral, abençoada. Sambista especial, segura nosso Carnaval! 46


A Rainha de Bateria

A Rainha

de Bateria é um delírio.

Alguém já disse, pertencendo a frase ao domínio popular, que sua Majestade, a Rainha, tem “alma de percussionista em corpo de violão”. Beleza, carisma, sensualidade, desempenho, são componentes da exibição dessa primeira dama do Carnaval. Apogeu do Sambódromo, fêmea em mais alta configuração, a Rainha é a pérola escolhida para, ao som inexprimível da bateria, falar nas cadeiras, esbanjar o sorriso faceiro e ser a senhora da dança, lá de cima dos seus saltos cor de prata. Criatura em plenitude tal, desprendida de si para viver esse papel, seu rosto, seus movimentos, têm toda a expressão do que a bateria da Escola está executando. Como se diz: “Rainha da cabeça aos pés, morena eu te dou grau dez” (Ary Barroso-Lamartine Babo). A Rainha de Bateria é um estrondo. Um mulherão! Vai Rainha, arrebenta! Receba o aplauso geral, abençoada. Sambista especial, segura nosso Carnaval!


Era a voz do morro, virou hino nacional. Não há barracão que o comporte, nem favela que o limite. 48


Éo Samba

Era

a voz do morro, virou hino nacional.

Não cabe mais no seu reduto natural. Não há barracão que o comporte, nem favela que o limite.

Carmen Miranda abriu fronteiras, Oswaldo Sargentelli projetou mulatas. O Carnaval de avenida se supera O mundo rende tributo às maneiras brasileiras. O samba ficou muito forte, virou uma cultura. Um distintivo da nossa nação.

Tem proteção no eixo campeão: em Sampa, de São Paulo, no Rio de Janeiro, de São Sebastião. O samba é magistral. Era a voz do morro, virou hino nacional.


Ela é objetiva, é aquela que abala. Quanta qualidade! É que ela é de verdade. 50


A

Majestade

Do Rainha

do Carnaval

ao Miss Universo, ela não precisa de eleição. Ela sobressai, cada curva é perfeita. Ela vem pronta, feita, a silhueta a identifica.

O porte é arrasador. Teorias não se lhe aplicam. Ela é objetiva, é aquela que abala. Quanta qualidade! É que ela é de verdade.

Traz na sua espontaneidade os atributos da feminilidade. Ela é a Majestade!


A Embaixada do Samba encarna a cidadania da massa. A soberania dos simples. É a convergência dos praticantes do ritmo maior da påtria. 52


A Embaixada do Samba

O povo

, a razão de tudo, nas origens da

sua arte (o samba) precisa de uma representatividade. A Embaixada do Samba encarna a cidadania da massa. A soberania dos simples. É a convergência dos praticantes do ritmo maior da pátria. A Embaixada guarda a história, a tradição. A Embaixada se impõe com sua brancura, enaltecendo a trajetória do negro, chave ao exercício do samba e do Carnaval. A Embaixada é o apanágio dos humildes, essa gente indestrutível que mantem intactos os valores indisponíveis que projetam nossa nação. São precisos mais de 25 anos de legado para Embaixadores e Embaixadoras merecerem o título e a majestosa faixa. Cidadão Samba e Cidadã Samba, mandatários dessa diplomacia, detêm as investiduras, preservando à nome de nossa cultura popular a experiência que vem da alma das ruas. Puros, têm no magnetismo visual a ostentação da honra, da dignidade, do feitio de bamba. Bençãos à Embaixada do Samba Paulistano! Grande baluarte de uma das essências mais puras do Brasil.


Pode ser a boca, a pouca roupa, o rebolado o corpo pelado... Feitiço não se explica. Feitiço é! 54


Feitiço

O feitiço

é inerência da mulata.

Coisa de privilegiada encarnação. É o oculto repercutindo na realidade em deslumbrada contemplação.

É arrebatante! Pode ser o traseiro perfeito, pode ser a mulata inteira. Pode ser a boca, a pouca roupa, o rebolado, o corpo pelado, a coxa, o pé.

É o pecado encomendado. Feitiço não se explica. Feitiço é!


A bateria atravessou o espaço com a imponência de uma condição. E achou seu lugar na Terra, sem medo ou hesitação. 56


A

Bateria

A bateria

é filha do trovão,

nasceu do raio que rachou o chão. Traz na potência do batuque o som na maior amplidão. É a explosão.

É o instinto em cada compasso. A bateria atravessou o espaço com a imponência de uma condição. E achou seu lugar na Terra, sem medo ou hesitação.

Rompeu todos os preconceitos, se impôs acima dos acordes perfeitos com sua impulsão rara. É a força, está na cara! Veio do sobrenatural para ser o suporte do Carnaval!


O biquíni da Bamba é a roupa da deusa negra, que de tão bonito e pequeno, tem feitio de veneno. 58


O Biquini da Bamba

Ele

guarda a flor da Bamba.

A Bamba é a dona do samba, da passarela e do biquíni que a revela. O biquíni da Bamba é a roupa da deusa negra, que de tão bonito e pequeno, tem feitio de veneno.

É o traje da mulata. É lindo o da cor de prata. O corpo que ele veste arde, fascina.

Essa peça, já se disse, faz parte de um fetiche. Troféu tê-lo na mão. Quem tirar esse biquíni, pode se dizer Rei.


Quando sua Escola passou e a mostrou como destaque de chĂŁo, a pista ainda mais se iluminou. 60


Loura e Bela

À Cláudia Lívia “Cacau” Colucci

A avenida

do samba foi dela.

Uma beleza olímpica na passarela! Quando sua Escola passou e a mostrou como destaque de chão, a pista ainda mais se iluminou.

O Sambódromo extasiou. Naquela noite ela era um sol na escuridão. Corpão, rostinho, sensação. Dona de um sambão. Que paixão!

Luz de ouro no Anhembi. Diga a ela, poema, que foi um diferencial. Loura e bela! A visão mais linda daquele Carnaval.


O samba é poderoso, é muito inteligente. É coisa de um povo generoso, digno, forte. Ser do samba é uma sorte! 62


A Imagem de Giz

A percussão, no samba, sacode os esconderijos da mente. Se a personalidade tem compartimentos distintos, aparências vão ceder aos instintos.

Há que se curar o subjetivo seja qual for o tamanho da dor. Quem não foi o que quis vai apagar a frágil imagem de giz. E ser feliz.

O samba, quem diria, é uma terapia. Da simplicidade, do encontro consigo mesmo, da famosa “volta por cima”. O samba é poderoso, é muito inteligente. É coisa de um povo generoso, digno, forte. Ser do samba é uma sorte!


Direta, sem meandro, domina seu cenรกrio. Nรฃo serve para o malandro, muito menos para o otรกrio. 64


A Mulher que samba

A mulher

que samba

é mais do que o bamba, intimida. Direta, sem meandro, domina seu cenário. Não serve para o malandro, muito menos para o otário.

O ritmo do samba a consagra e expande. Nela não há quem mande. A mulher que samba é um desafio. É nobre mesmo a que vem de berço pobre.

A mulher que samba parece ser fatal mas é toda a fulguração do Carnaval. É mulher que perturba e até extrapola porque é a mais bonita, a mais sensual, expressão de uma diva carnal.


Rainha das cores, dos giros, a Porta-Bandeira seduz, empolga a multidão. Tem o sorriso da realização, o domínio absoluto do chão. 66


A Porta-Bandeira

A Porta

-Bandeira contagia,

é a embaixadora da alegria. Empunha o símbolo máximo da Escola, o pavilhão que representa a casa, a pátria do sambista.

Rainha das cores, dos giros. A Porta-Bandeira seduz, empolga a multidão. Tem o sorriso da realização, o domínio absoluto do chão.

Uma, no desfile, me reconheceu no meio do povo, mandou-me um beijo. Tremi de emoção!


Vai, divina! Gira, empunha esse estandarte! Mostra Ă humanidade o valor da sua personagem 68


Esse

momento ficou eterno,

até hoje acaricia meu coração.

Ela me tornou importante através dessa distinção. Marcou aquele meu Carnaval.

Vai, divina! Gira, empunha esse estandarte! Mostra à humanidade o valor da sua personagem, o significado da sua evolução.

Beija! Beija Porta-Bandeira!


Grande Ary, cheio de inspiração. É o dono da obra, é o Ary, o Ary imortal. É o nosso compositor popular. 70


É

Brasil!

Brasil! Não falta quem cante esse fenômeno. Sobressai, dentre tantos autores, um compositor, um radialista, um gênio da música: Ary Barroso. Ele captou o samba e a intérprete que mais lhe dá significado de empolgação: a mulata. São seus os versos: “olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar, olha o jogo dos quadris que ela sabe dar, olha o passo de batuque que ela sabe dar, olha só o remelexo que ela sabe dar.” (Isto aqui o que é ). E que delícia de chamada: “Morena boa que me faz penar, põe a sandália de prata e vem pro samba, sambar!”. É, é o “meu Brasil brasileiro”, “Terra de samba e pandeiro,” “Terra de Nosso Senhor” (Aquarela do Brasil). Grande Ary, cheio de inspiração. Como suas letras tem pulsação, como exprimem a faceirice da mulher de cor. São fotografias únicas da sambista, a nossa artista natural, a força do nosso Carnaval. É o dono da obra, é o Ary, o Ary imortal. É o nosso compositor popular, o Ary Barroso. Simples, poderoso. O Ary genial!


A intimidade é algo que se basta por sua carga própria de verdade. O corpo só se dá, quando ele quer. 72


Convicção

Não

haveria que se falar

do particular dela. Ainda mais no samba, onde só tem gente grande, resolvida e bacana.

A intimidade é algo que se basta por sua carga própria de verdade. O corpo só se dá, quando ele quer.

Ninguém, ninguém engana o instinto de uma mulher.


A quadra é uma paixão. É um lugar inteiro, parceiro. É o chão brasileiro. Eis porque vale o ditado: Ser do samba, é ser considerado. 74


A

Quadra

Ela é

o espaço, é onde tudo acontece.

Desde a chegada, com as belas baianas em fileiras na franca recepção. A roda de samba, a cerveja, a amizade, tudo com qualidade.

A etnia do presente, mantendo permanente a estrutura do passado. Mulher bonita, malandro, doutor, ambiente preservado.

Bateria eficiente, o respeito ao pavilhão. A quadra é uma paixão. E um lugar inteiro, parceiro. É o chão brasileiro. Eis porque vale o ditado: Ser do samba, é ser considerado.


E quando uma alteza se destaca pelo atributo de força da personalidade, há que se respeitar a indelével identificação dessa evidência. 76


Valeska Reis

O título

de Rainha do Carnaval é um fato de

constatação objetiva.

É ver para crer, ninguém vence por acaso. Rainha é Rainha. E quando uma alteza se destaca pelo atributo de força da personalidade, há que se respeitar a indelével identificação dessa evidência. Reflexo da compostura do universo interior, cujo magnetismo faz parceria com a invejável beleza corpórea e a sensualidade dos meneios que o samba faz executar. Imperioso, então, saber como a sambista se chama, o que ela faz, o que ela pensa. Valeska Reis é uma deusa de cabelos encaracolados. Impressiona pela maneira quieta e soberana de ser ela mesma, de viver entre as mais belas como se nem bonita fosse. Tem a compenetração de uma dona do pedaço, protegida por cintilante estrela do céu.


Belíssima, doce, de envolvente rebolado, deu seu recado, fez o serviço, ensinou a lição, levou para casa o Troféu Nota 10. 78


Sua Majestade,

a Rainha do Carnaval Paulistano de 2008, dominou o inesquecível Carnaval de 2014, tendo sido eleita a Rainha das Rainhas dentre inacreditáveis 14 rainhas de bateria que despejaram seus encantos na passarela do Anhembi. Sua frase ainda ecoa: “...eu não sou uma pessoa que está no samba. Eu sou do samba, ele faz parte da minha vida”. (Diário de São Paulo, 4.3.2014). Belíssima, doce, de envolvente rebolado, deu seu recado, fez o serviço, ensinou a lição, levou para casa o Troféu Nota 10. Mereceu. Sobressaiu dentre gente de primeira. É um orgulho da raça negra brasileira. Colocou, conscientemente, a mulher do Carnaval em apogeu. Valeska Reis, o Samba é seu!


por mais que pareça um Pierrô, por mais que tenha perdido ou se desiludido, chega, sem máscara, só com sua verdade, a uma vitória. 80


Sem Máscara

Por mais

que o poeta sonhe,

por mais que pareça um Pierrô, por mais que tenha perdido ou se desiludido, chega, sem máscara, só com sua verdade, a uma vitória.

Aprende que, por mais que a paixão seja envolvente, a circunstância, esse acaso surpreendente, é contundente.

Na cama, onde a carne do ser lamba, deitou com a mulher bela e malandra que ensina o homem a viver além do ciúme e se tornar, de fato, um bamba.


Salve esse mago, regente singular que, ano a ano, aperfeiçoa com maestria a festa extraordinária que altera a rotina do país. 82


O

Bruxo

A irresistível comoção dos desfiles de Carnaval pressupõe um caldeirão mexido com mãos especiais, por um bruxo dos bons, hipnotizando a multidão.

Salve esse mago, regente singular que, ano a ano, aperfeiçoa com maestria a festa extraordinária que altera a rotina do país.

Devoto da beleza, entidade superior sem identificação. É o coreógrafo furtivo do nu e do luxo.

Salve o bruxo!


Tirando som na caixa de fósforos, comecei a batucar, louvando com rima a beleza peculiar da moça que se pôs a sambar. 84


Na Porta do Bar O samba, no bar, está em seu lugar. Da porta avistei na sandália em desalinho, uma curva de pé do dedo maior ao calcanhar capaz de excitar.

Tirando som na caixa de fósforos, comecei a batucar louvando com rima a beleza peculiar da moça que se pôs a sambar. É assim que um samba nasce, quando há o que o inspire.

É especial o bar. Na porta, balcão ou mesa é bom de frequentar. Tem até cara de lar.


O cenário é delas e as deusas do Carnaval atingem na pista o auge da explosão da beleza. São Divas, dominam a representação rítmica. 86


As Deusas do Carnaval Simone Sampaio e Camila Silva, as Rainhas de Bateria da Dragões da Real e Vai-Vai, levantaram o público ao som retumbante da percussão, marcando, com graça e padrão de qualidade, o esplendor da maior festa do mundo. O cenário é delas e as deusas do Carnaval atingem na pista o auge da explosão da beleza. São Divas, dominam a representação rítmica. Essa realidade física de estética deslumbrante faz delas, com mérito, atrações e destaques das Escolas de Samba, e nascem, simplesmente, da maravilha que já existe em cada ser maravilhoso. Elas são assim: divinas. Nascidas para sambar, predestinadas a magnetizar. Não é exagero chamá-las de deusas. Exercitam o poder do encanto no palco colorido que a vida lhes reservou, enobrecendo o chão que pisam com pés ágeis e elegantes, ou no pedestal da glória que se reserva àquelas que têm o porte e a investidura de Rainha. O Sambódromo está para elas como o estádio de futebol está para O Rei Pelé. Rainha não se faz, Rainha nasce feita. O Carnaval é tão grande, envolve tantos encaixes e detalhes, que seu funcionamento no desfile de avenida corresponde a uma mágica. E elas são adoráveis e cobiçadas feiticeiras. Reverenciemos nossas majestades com a consciência de que são as expressões máximas de nossa raça, os cartões de visita mais lindos que retratam o fascínio da mulher do Brasil. Viva o Carnaval Brasileiro!


É que um desígnio do destino com seu conteúdo graúdo, impõe viver essa agonia ou sabedoria, de não se conhecer o transcendental. 88


Enredo Extravagante

Quando

um samba extravagante

descer a avenida cantando forte o significado da vida e da morte, entoando em rompante o contraste entre pessoas boas e aquelas muito más, não será um desatino.

É que um desígnio do destino com seu conteúdo graúdo, impõe viver essa agonia ou sabedoria, de não se conhecer o transcendental.

Se diluída a complexidade do assunto, com o povo identificado na demonstração desse teorema, não será surpresa alguma ver o dilema espiritual superar seu próprio estupor e ser consagrado o enredo vencedor.


A negra é figura brasileira exponencial. Que moral! Teve a bênção da função. Escultura do mais inspirado cinzel, a negra é uma excelência 90


A Negra

Ela veio

das entranhas da terra

arremetida por uma força descomunal trazendo seus lindos contornos para dar contorno ao Carnaval. Vestida da sua própria natureza veio praticar o domínio da beleza, com a volúpia que o corpo, essa obra de magia, anuncia. A negra é figura brasileira exponencial. Que moral! Teve a benção da função. Escultura do mais inspirado cinzel, a negra é uma excelência, talhando o valor da sua essência na arte do samba a que é fiel. Merece o aplauso do Brasil de hoje, do Brasil revolucionário de Maria Quitéria, do Brasil libertário da Princesa Isabel.


Qualquer a cor que o alumia se incorpora Ă fantasia, ao corpo exposto, ao rosto suado, ao caminho no chĂŁo. 92


Confete

É o parceiro da serpentina. Marca permanente da folia que emociona toda gente.

Qualquer a cor que o alumia se incorpora à fantasia, ao corpo exposto, ao rosto suado, ao caminho no chão.

Minúsculo, poderoso. É um resumo, uma representação essencial do vigor do Carnaval.


Ele é a referência da Escola de Samba, seu orgulho, sua glória. Na sua imponência, demarca um espaço. 94


O

Pavilhão

O samba,

tribuna do pobre,

traz, intrínseca, a luta pela dignidade da pessoa. Púlpito de onde se fala, canta ou grita, é penhor da liberdade.

A comunidade, inspirando-se no simbolismo da bandeira nacional, presta reverência ao seu pavilhão pela voz, pelo enredo, pela evolução.

Ele é a referência da Escola de Samba, seu orgulho, sua glória. Na sua imponência, demarca um espaço. Pulsa, lateja, desfralda amor, história, toca a emoção. O pavilhão é soberano, é majestoso. Comovente, emblemático, campeão!


A Rainha, aparentemente, vence pelo corpo, pelas cores, pela comunicação, pelo samba no pé, pela explosão com a bateria. 96


Sonhei... Sou Rainha

O sonho

que alenta o concurso mais lindo que a criatura humana já concebeu, o Rainha do Carnaval, é feito de múltiplos componentes materiais e expressivos conteúdos espirituais, que se mesclam para o ápice da sua transformação em realidade. A Rainha, aparentemente, vence pelo corpo, pelas cores, pela comunicação, pelo samba no pé, pela explosão com a bateria. Mas há que se lembrar que, por dentro dela, há um espírito que impulsiona cada movimento, que faz exteriorizar o fascínio, a investidura, o esplendor. É o sonho. Se todas são belas por fora, se a competição das beldades é algo que magnetiza, se é o auge, se é um estupor, há que se reconhecer que existe uma determinante interior que faz de certa candidata a campeã latente. É justamente a intensidade do sonho, uma ideia blindada que resiste à inveja e ao tiro de canhão e faz a fantasia se incorporar à vida real.


Majestade ClĂĄudia estendeu seu cetro para seus sĂşditos e desejou a eles o melhor Carnaval dos Ăşltimos tempos 98


O sonho

vem dos cantos mais ocultos da alma, sobe como a chama de uma vela bendita e queima pelo caminho as objeções que interfeririam no alcance da vitória. Cláudia Higino, a Rainha, encanta por sua exuberância física, pela perfeição das formas, pelos 18 anos de idade, pela fagulha de pensamento que iluminou seu costeiro e a conduziu ao trono. Cláudia carrega a magia dos contos de fadas, a doçura da moça de trança e o carisma da mulher que enfeitiça. Que fera! Venceu na primeira disputa. A Corte do Carnaval Paulistano 2014 está vivendo um momento de rara beleza, elegância, mercê da sua poderosa Rainha, que sonhou, perseguiu e materializou o ideal de ser a número um. Majestade Cláudia estendeu seu cetro para seus súditos e desejou a eles o melhor Carnaval dos últimos tempos, consagrou seu reinado pelo glamour de pessoa linda, incomum, carinhosa, agora com faixa e coroa. Você sonhou forte Cláudia. Você é a Rainha!


A mulata elevou-se a atração. O mundo deu suas voltas e aí aconteceu a inversão: O samba tornou o branco “um escravo do ritual do negro”. 100


Preto e Branco

Desde

que apareceu o samba,

independentemente de malandragem, a pobreza virou um destaque.

A mulata elevou-se a atração. O mundo deu suas voltas e aí aconteceu a inversão:

O samba tornou o branco “um escravo do ritual do negro”. (da letra de Didi e Aurinho)


O Olimpo para a deusa loira. Os Sambรณdromos do Brasil para a mulher negra, estrela de maior grandeza que assombra o Carnaval. 102


A

Beleza

Ela fala

a linguagem do silêncio.

É solene. As formas a informam. A história lhe reservou estruturas monumentais na Grécia antiga, terra da estética divinal.

O Olimpo para a deusa loira. Os Sambódromos do Brasil para a mulher negra, estrela de maior grandeza que assombra o Carnaval. Bilac a lembrou como argumento de defesa no julgamento de Phrynéa que em gesto de pura surpresa, arrancou o véu que a encobria. “No triumpho immortal da Carne e da Belleza”. (Sarças de Fogo)


Épico, romântico, exaltou para o Brasil a irmandade guardiã da liberdade. Silas poeta, Silas liberal, você é um imortal! 104


Guardiã da Liberdade

Primor

de compositor,

Silas de Oliveira, militar, patriota, viveu o samba de enredo com amor. Foi rei, foi bamba, foi sumidade.

Épico, romântico, exaltou para o Brasil a irmandade guardiã da liberdade: “Lá em Vila Rica Junto ao largo da Bica Local da opressão A fiel maçonaria, com sabedoria Deu sua decisão...” (Heróis da Liberdade, com Mano Décio e Manoel Ferreira).

Silas poeta, Silas liberal, você é um imortal!


Andreza impacta pela rara formosura. Tem um sorriso devastador, o nariz atrevido, bumbum estonteante... 106


Andreza, uma Alteza

O mundo

, quando se curvou à arte de Carmen Miranda, pouco se importou com sua altura. A primeira Embaixadora do Samba foi gigante como intérprete das coisas da sua pátria, vencendo fora do país. E merecendo o título de “A Pequena Notável”. Hoje, o mesmo Brasil e o mesmo samba apresentam à galeria do sucesso outra artista “mignon” capaz de abrilhantar a melhor casa de espetáculos, de arrebentar qualquer roda de bamba, de fazer tremer qualquer Sambódromo: Andreza Sobrinho! Andreza impacta pela rara formosura. Tem um sorriso devastador, o nariz atrevido, bumbum estonteante, muito brilho no olhar, lindos cabelos negros caídos por um dos ombros. Faceira, é expressão pura do mistério da mulher mestiça.


Não só por toda sua beleza e seu carisma de Rainha, mas, sobretudo, por aquilo que mais emana do seu íntimo: sua grandeza. Ave, Alteza! 108


Tem enorme

capacidade de se impor em cena, sobressaindo naturalmente dentre as pérolas negras que adornam os palcos do ritmo mais fascinante da brasilidade. Detentora de um campo magnético deslumbrante, encanta. Rainha da Corte do Carnaval da cidade de São Paulo, Musa do caldeirão da rede Globo de televisão, honra a defesa do pavilhão da vitoriosa Escola de Samba Rosas de Ouro. Brilhe muito, Andreza! Esbanje sua majestade! Não só por toda sua beleza e seu carisma de Rainha, mas, sobretudo, por aquilo que mais emana do seu íntimo: sua grandeza. Ave, Alteza!


Registre-se então, na certidão, esse bem que se acrescenta. Minha vida, essa nova, começa agora aos setenta. 110


Certidão

Certidão

é documento.

Nasci, é claro, em algum lugar, mas nunca sentia um chão. Aquele gosto de uma terra natal. Uma casa com a preta-velha que servisse com carinho.

Vaguei, errei, sofri (afora família que constituí). E de repente, me encontrei bem aqui no Sambódromo do Anhembi, morada opcional, meu mundo de Carnaval.

Registre-se então, na certidão, esse bem que se acrescenta. Minha vida, essa nova, começa agora aos setenta.


O samba desceu o morro e veio Ă avenida. A camisa listrada preta e branca do malandro virou uma profusĂŁo de cores na pista... 112


Nem Profano Nem Sagrado O Carnaval Brasileiro é o maior espetáculo do planeta. Profano e sagrado constituem uma antinomia desafiadora, que cede ao elo daquela realidade singela que em todos os períodos da humanidade aproximou a criatura do criador: a oferenda. Quis a vida (não há como explicar), que o Carnaval Brasileiro fosse uma encantadora e contagiante oferta de um país abençoado a todo o resto do mundo. O samba desceu o morro e veio à avenida. A camisa listrada preta e branca do malandro virou uma profusão de cores na pista e, nesse fantástico eixo de bambas Rio-São Paulo, o Sambódromo, esse gigante ensandecido, passou a ser a expressão máxima de templo para a celebração da alegria. O Brasil excepcionou. Nosso Carnaval impressiona por seu natural poderio, pela concentração de identidade ao culto do samba, irmanando celebridades e anônimos, quer vindos de berço nobre, das esquinas, das favelas ou dos bares, praticando o cerimonial regido pelo cetro de Momo: uma dádiva aos senhores do Universo.


O Carnaval seria profano pela nudez, pelo êxtase, pelas paixões. Seria Sagrado pela energização, pela Egrégora que toca o sublime. 114


Esse fenômeno

dos simples, dos muitos que pouco têm, dos pequenos que fazem o grande e que tornam rica a festa da raça, comove. A figura de sambista brilha, reluz, incorporando-se na escultural investidura da beleza. É exaltação “ao povo que vibra na força do som brasileiro”. (Pandeiro é meu nome – Chico da Silva/Venâncio). Reverenciemos o Carnaval Brasileiro, nosso mais autêntico produto. Viva o samba de enredo! O Carnaval seria profano pela nudez, pelo êxtase, pelas paixões. Seria Sagrado pela energização, pela Egrégora que toca o sublime. Fato é que conseguiu com sua magia insondável o mais difícil: sobressair na média dos opostos, substituindo por si mesmo em plano de magnitude que só os deuses ousariam profetizar: É o maior espetáculo do planeta! Evoé! Viva o Carnaval Brasileiro!


Referências: DEUS, SALVE A RAINHA! (matéria publicada na Revista Carnaval Brasileiro, ano 2012) AS DEUSAS DO CARNAVAL (matéria publicada na Revista Carnaval Brasileiro, ano 2013) SONHEI... SOU RAINHA! (matéria com correções publicada na Revista Carnaval Brasileiro, ano 2014) NEM PROFANO, NEM SAGRADO (matéria publicada na Revista Carnaval Brasileiro, ano 2012) ANDREZA, UMA ALTEZA (matéria publicada na Revista Carnaval Brasileiro, ano 2015) VALESKA REIS (matéria publicada na Revista Carnaval Brasileiro, ano 2016) LOURA E BELA (matéria publicada na Revista Carnaval Brasileiro, ano 2016)

Nota Biográfica: Sérgio Bretas, nascido Sérgio Guilherme Bretas Berbare, é advogado. Pertenceu à Assessoria da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de São Paulo. Foi membro da Grande Procuradoria do Grande Oriente de São Paulo – Grande Oriente do Brasil.

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