Pratique o bem [Agosto/2013]

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EDIÇÃO 69

ANO 6

AGOSTO 2013

Pratique o bem


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SUMÁRIO

EDIÇÃO 69

ANO 6

AGOSTO 2013

34 | Política / opini�o

08 | total Saúde NÃO IGNORE OS SINTOMAS, PODE SER MENINGITE

A EXPLOSÃO DAS CLASSES MÉDIAS

10 | total Saúde / opini�o

38 | Cultura

A VIGILÂNCIA COMO PARCEIRA DO BEM

SINFONIA PERFEITA

12 | total Saúde

40 | Cultura

TRATAMENTO PSICOLÓGICO PARA AS FAMÍLIAS, É POSSÍVEL?

BOVINOCULTURA: O MOMENTO CERTO DA ARTE BRASILEIRA

13 | total Saúde / nutriç�o

44 | Cultura

ALTERAÇÕES NA PIRÂMIDE ALIMENTAR

08

A ARTE DO MOVIMENTO

48

38

14 | total Saúde HPV: PREVINA-SE

15 | total Saúde

22

FAZER O BEM FAZ BEM

16 | total Saúde DOENÇAS DA ESTAÇÃO

18 | total Saúde / nutriç�o SÓ UM FAZ MAL SIM

20 | total Saúde / odontologia PRIMEIROS SOCORROS PARA TRAUMATISMO DE DENTES DE LEITE

58

46 | Cultura FECHE SEUS OLHOS E ESCUTE UM LIVRO

48 | Viaje bem A BERLIM QUE NÃO ESTÁ NOS LIVROS

52 | aniversário da Cidade CAMPO GRANDE EVOLUÍDA

22 | Pratique o bem

56 | aniversário da Cidade / opini�o

DESIGN SUÍÇO MADE IN BRASIL

A RUA 14

26 | Pratique o bem

58 | aniversário da Cidade

POR UMA INFÂNCIA MELHOR

ELE VIU O CAMPO SE TORNAR GRANDE

28 | Pratique o bem

60 | aniversário da Cidade

AS SEMENTES DO BEM AO PRÓXIMO SÃO AMARELINHAS

AS MEMÓRIAS DO CRM/MS 01 EM CAMPO GRANDE

29 | Pratique o bem

62 | Comportamento

O VOLUNTARIADO GARANTIU-LHE UMA PROFISSÃO DE VIDA

VALOR À VIDA

30 | Pratique o bem

64 | Comportamento

AS LIÇÕES DE QUEM ESCOLHEU FAZER O BEM

E-CULTUR@

32 | Pratique o bem

66 | lifestyle

COM CARINHO

UM SONHO SOBRE QUATRO RODAS

62


CDC NUCLEAR: Inovação para garantir um diagnóstico preciso.

Exames de Cintilografia/Medicina Nuclear: precisão, rapidez e menor exposição à radiação. O CDC inaugura com exclusividade a sua nova ala dedicada ao exame de cintilografia, um método não-invasivo para avaliação de tratamentos cardiológicos, principalmente infarto e angina do peito. Dr. Adalberto Arão Filho Diretor Técnico / Medicina Nuclear CRM/MS 4584

www.clinicacdc.com.br

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editorial

A

s más notícias têm tomado grande parte do tempo das pessoas. Por meio dos jornais e da televisão recebemos, diariamente, uma “overdose” de matérias sobre assaltos, homicídios, acidentes e tragédias. Na primeira reunião para escolha da pauta para a produção da revista de agosto, um comentário chamou minha atenção: “Não consigo assistir ao telejornal porque é tanta notícia ruim que isso acaba me fazendo mal”. Outras pessoas presentes também concordaram e foi daí que surgiu nossa proposta. A edição da revista deste mês vem no caminho contrário e quer destacar o cenário do bem! Isso mesmo, pessoas que fazem o bem! Encontramos muita gente que rema contra a maré negativa e deseja viver em um mundo melhor. Pessoas que têm boas atitudes, valores e que buscam fazer sua parte para que isso aconteça. Tenho certeza que se você parar para observar também vai encontrá-las. Estamos falando de sentimento de solidariedade sim, mas também de amor a quem está bem próximo de você, de convívio salutar em família, no trabalho, no trânsito, na balada, enfim de atitudes positivas. Tudo isso também significa fazer o melhor no dia a dia! A edição de agosto mostra que a energia do bem ainda está por aí, basta querer senti-la! Kátia Kuratone

Diretora de Redação: Kátia Kuratone (DRT/MS 293) - Diretor Comercial: Henrique Attilio - Consultoria de Marketing: Oscar Diego de La Rubia - Direção de Arte, Diagramação e Editoração Eletrônica: Uimer Ronald Freire e TIS Publicidade e Propaganda - Redação: Carol Alencar (DRT/MS593); Marta Ferreira (DRT/MS097); Michella Guijt (MTB/27592) Renato Lima (489 MTB/MS); Luiz Felipe Fernandes (MTB 2013); Marina Nabarrete Bastos (MTB 14966); Fernanda Brigatti (DRT/MS 419); Kátia Kuratone (DRT/MS 293); Camila Cruz (DRT/ MS 736); Aline Queiroz (DRT/MS 163); Naiane Mesquita (DRT/MS 806). Revisão: Maria Stela Lopes Bomfim, Soraya Cunha Couto Vital. Conselho Editorial: Vera de Barros Jafar, Henrique Attilio, Kátia Kuratone, Oscar Diego de La Rubia, Uimer Ronald Freire e Mariana Sena. Gerente de Atendimento ao Cliente: Mariana Sena - Gerente de Atendimento Comercial: Henrique Attilio - Planejamento e Operações: Henrique Attilio - Consultoria de Marketing: Henrique Attilio - Fotografias: Henrique Attilio, Kaká Medeiros, Marcos Wolkph, José Eduardo Barbosa, Ederson Almeida, Eurides Aoki, Roberto Higa e Patrícia Pandin.

www.revistatotalsaude.com.br Participaram nesta edição: Especialista em pneumologia Dra. Eliana Setti A. Aguiar CRM/ MS 420; Cientista político Benedito Tadeu César; Nutricionista Dra. Tatiane Savarese Attilio CRN 3/12175; Ginecologista Dr. Orlando Monteiro Júnior CRM/MS 3256; Especialista em radiologia Dr. Syrzil Wilson Maksoud CRM/MS 001; Advogada e Presidente da Comissão de Direito à Saúde da OAB/MS Flávia Cristina; Pediatra Dr. Henrique Holsbach CRM/MS 1972; Especialista em Infectologia Dr. José Ivan Albuquerque Aguiar CRM/MS 467; Psicólogo Marco Aurélio Portocarrero Naveira; Arquiteto Ângelo Arruda; Especialistas em odontopediatria Dra. Nielen Marinho e Dra. Kelly Castilho; mestre em psicologia Maria Helena do Espírito Santo Coelho.

Tiragem: 10.000 exemplares

Artigos assinados não representam, necessariamente, a opinião da revista. Total Saúde é uma publicação da Editora Total Saúde Ltda, com periodicidade mensal, distribuição dirigida gratuita e mediante assinatura anual.

REVISTA IMPRESSA NA GRÁFICA E EDITORA ALVORADA LTDA. Rua Antônio Maria Coelho, 623 - Centro - Campo Grande/MS contato@graficaalvorada.com.br - telefone: 67 3316 5500

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{ TOTAL SAÚDE }

Não ignore os sintomas,

pode ser

Meningite por LUIZ FELIPE FERNANDES • ilustraç�o SHUTTERSTOCK

Detectar a doença logo no início é fundamental para o sucesso do tratamento.

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R

ápida e devastadora. Assim foi a doença que tirou precocemente a vida do músico campo-grandense Helton Sambrana Maia, de 29 anos, na madrugada do último dia 14 de julho. Em três dias, os sintomas do que parecia ser uma forte gripe evoluíram para um quadro de inconsciência, com seguidas tentativas de reanimação. O diagnóstico – ainda sob análise – pegou família e amigos de surpresa: meningite. A inflamação das meninges – membranas que recobrem o cérebro – é dessas doenças das quais sempre se ouve falar, mas poucos conhecem suas causas, sintomas e formas de tratamento. Desde 2011, foram registrados 138 casos de meningite em Mato Grosso do Sul, com 28 mortes. Só no primeiro semestre desse ano, 18 pessoas contraíram a doença – uma morte foi confirmada e outras duas estão sob investigação. A transmissão da meningite, segundo o médico infectologista, José Ivan Aguiar, é de pessoa a pessoa, através da eliminação do agente causador – vírus ou bactéria – pelas vias respiratórias, quando acontece algum contato íntimo. O médico cita, por exemplo, moradores de uma mesma casa, colegas de dormitório ou alojamento, namorados ou profissionais da saúde, que tenham contato direto com as secreções respiratórias do paciente. Pacientes com infecções cavitárias – sinusite crônica e infecção de ouvido, por exemplo – também têm maior predisposição à meningite, já que a bactéria atinge as meninges por proximidade. Uma orientação importante é não ignorar os primeiros sintomas, que

A transmiss�o da meningite é de pessoa a pessoa, através da eliminaç�o do agente causador – vírus ou bactéria – pelas vias respiratórias, quando acontece algum contato íntimo. JOSÉ IVAN AGUIAR

podem ser comuns aos de outras doenças. Indisposição, dor de cabeça, febre e vômito estão entre os mais frequentes. A meningite também pode provocar sensibilidade à luz e rigidez na nuca. A dificuldade de encostar o queixo no peito pode ser um claro indicativo da doença.

TRATAMENTO O tratamento da meningite é feito a partir do diagnóstico do agente causador. “É feita uma punção que, na grande maioria das vezes, fornece sólidas pistas para um diagnóstico seguro”, esclarece José Ivan. Para se combater a doença de origem bacteriana, são usados antibióticos. Já para a meningite viral, geralmente não há um tratamento específico. A atuação dos antivirais é restrita a poucos vírus. “Por sorte, esse tipo de meningite é considerada, de uma maneira geral, ‘benigna’”. De acordo com o médico, uma conduta adotada pelos profissionais é a de tratar inicialmente toda meningite como sendo de origem bacteriana e aguardar a evolução clínica e os resultados dos exames. Nesse sentido, o diagnóstico precoce é fundamental. Se, por um lado, a meningite viral tem baixa letalidade e poucas sequelas a curto

prazo, a doença de origem bacteriana tem uma letalidade mais expressiva. José Ivan ressalta que o risco de morte por meningite depende de condições associadas à imunidade do paciente. Crianças e idosos também podem estar mais suscetíveis às consequências mais graves da doença. As redes pública e particular de saúde disponibilizam vacinas contra os agentes bacterianos mais comuns e lesivos, mas também podem ser tomadas medidas para prevenir o contágio. Evitar aglomerações, principalmente em ambientes fechados, e higienizar as mãos são atitudes simples que podem contribuir para a não proliferação da meningite.

DR. JOSÉ IVAN ALBUQUERQUE AGUIAR, CRM/MS 467 - Médico Especialista em Infectologia do Hospital do Coração de Mato Grosso do Sul

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{ TOTAL SAÚDE / OPINI�O }

A vigilância como parceira do bem O espírito humanitário que mobiliza muitas instituições de saúde, algumas vezes encobre o mau uso ou até mesmo o desvio de recursos.

N

ão são poucos os escândalos e denúncias que envolvem o setor de saúde. Estes eventos causam prejuízos óbvios para o atendimento e a manutenção dos serviços e a fuga de recursos de doações e de força de trabalho voluntário no setor, devido à desilusão causada por tais desvios. A má gestão e a fraude geram uma instabilidade que torna os esforços confusos. A sociedade se dedica ao voluntariado ou doa recursos para pesquisa, manutenção, reforma ou ampliação de hospitais e outros centros de tratamento e por vezes, é difícil sabermos se o

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trabalho ou a doação serviu para o bem comum. Albert Einstein acreditava que a melhor maneira de servir aos homens seria ocupá-los numa tarefa nobre, mediante a qual eles se enobrecessem indiretamente. Mas o que fazer quando aqueles que se dedicam ao bem apanham-se desiludidos com a descoberta de fraudes? Uma sugestão será envolver-se com as decisões que permeiam a gestão da saúde, o que pode ocorrer, por exemplo, com a participação nos Conselhos de Saúde ou em fóruns públicos de Controle Social.


É importante destacar, ainda, que o Conselho Nacional de Saúde – CNS, atua no controle da execução da política de saúde, estabelecendo estratégias de coordenação e gestão do SUS (Sistema Único de Saúde), uma atividade não remunerada e aberta à participação da sociedade. Com base na Constituição Federal, na Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90) e na Lei nº 8.142/90, o Conselho consolida o controle social por intermédio dos Conselhos Estaduais e Municipais. Na esfera municipal, os Conselhos se organizam de forma a conferir e exigir dos municípios o cumprimento de suas responsabilidades, ou seja, de criar planos de saúde que atendam às necessidades dos indivíduos e de suas famílias. Assim, o controle social, que pode ser exercido, inclusive individualmente, por qualquer cidadão, objetiva estabelecer uma sociedade na qual a cidadania deixe de ser apenas um direito, e passe a ser uma realidade. Outra ferramenta disponível à toda a sociedade é a Lei 12.527, de 18 de Novembro de 2011. Ela regula o acesso à informações, previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal. É conhecida como Lei de Acesso à Informação.

Órgãos Públicos da administração direta dos três Poderes, incluindo Cortes de Contas, Judiciário, Ministério Público, Autarquias, Fundações Públicas, Empresas Públicas, sociedades de economia mista e outras entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, são subordinados a essa regra. E não é só. As disposições da Lei de Acesso à Informação, no que couber, aplicam-se também às entidades privadas sem fins lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse público, recursos públicos diretamente do orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão, termo de parceria, convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres. A Lei de Acesso à Informação viabiliza os portais de transparência nos diversos níveis da gestão pública, facilitando o acesso do cidadão aos dados referentes a gastos de recursos públicos, permitindo controle e fiscalização das ações dos governantes e gestores. Portanto, a opção pelo voluntariado ou pela doação não se esgota com a prestação do serviço ou com o repasse de recurso. O ciclo só se exaure com a fiscalização dos resultados, já que é muito importante que a socie-

dade civil, organizada ou não, tome conhecimento sobre o que está sendo feito ou planejado, garantindo a qualidade no sistema de saúde. Recentemente a imprensa noticiou que o Brasil está entre os 10 países que possuem o maior número de pessoas dedicadas ao voluntariado, fato que demonstra a generosidade do nosso povo. Essa generosidade é uma força que não pode ser desperdiçada, muito menos corrompida pela atuação daqueles que, sob o manto do espírito humanitário, obtêm, para si e para outros, vantagens ilícitas. Cabe, então, ao benfeitor, manter uma postura vigilante para que sua ação seja efetiva e livre de desvios.

POR FLÁVIA CRISTINA ROBERT PROENÇA, advogada e presidente da Comiss�o de direito � Saúde da ordem dos advogados do Brasil - Mato Grosso do Sul

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{ TOTAL SAÚDE }

por ALINE QUEIROZ • foto HENRIQUE ATTILIO

A

cada dia corremos mais, assumimos novos compromissos, envolvemo-nos em outros projetos. As novidades nos desafiam, causam euforia e, muitas vezes, geram situações de estresse. O corre-corre diário afasta as pessoas de casa. Mães precisam trabalhar e, assim como os pais, são responsáveis pelo sustento da família. Os filhos devem estudar cada vez mais. Desde pequenos vão para a escola, balé, futebol, curso de inglês e outra infinidade de atividades que não serão elencadas porque cansa só de falar. Ao olharmos para trás, lembramo-nos do tempo de nossos avós, quando a vida parecia ser bem mais simples. As crianças podiam jogar bola na rua e almoçar com os pais. Essas cenas já não fazem parte da rotina de algumas famílias, porque pais e filhos têm tantas responsabilidades que nem sobra tempo para tamanha nostalgia. Quando a correria se torna um problema, uma expressão vem à ponta da língua: desestrutura familiar. Mas será que a queda da estrutura pode ser apontada como a grande vilã contra o bom funcionamento dessa relação? A terapeuta de família e Mestre em Psicologia, Maria Helena do Espírito Santo Coelho, afirma que não. “A família não está desestruturada, tem a estrutura que consegue naquele momento”, reforça. A ideia de que as famílias funcionam, bem ou mal, tem origem positivista, trazida das ciências exatas, como a física. Por essa ótica, a família é vista como uma máquina. Esta é a conhecida Teoria Sistêmica. Segundo Maria Helena, a velocidade com que as mudanças sociais acontecem altera a vida dos seres humanos intensamente e, dessa maneira, as famílias passaram a ser vistas como construtoras de uma forma própria de viver. “Elas são possuidoras de muitas habilidades e recursos que, quando não utilizados, podem apresentar problemas, incluindo os de

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relacionamentos e convivência” esclarece. Homens e mulheres – estas ainda em maior número – procuram o consultório da terapeuta em busca de soluções para conflitos familiares e as reclamações mais frequentes são: depressão, separações e até problemas ligados à alimentação. “A família é a menor porção de um social mutante e complexo, que não retornará ao que já foi um dia. Mas essa família, sem dúvida, é possuidora de alta capacidade para se adaptar”, destaca Maria Helena. Embora o tratamento psicológico possa ser feito com o casal ou em família, geralmente é feito individualmente. A terapia familiar pós-moderna visa enriquecer a história do relacionamento familiar e permite que as pessoas percebam que são capazes de superar problemas, dentre os quais, o principal é o individualismo na convivência diária. “Não é a família que mudou, nossa forma de viver mudou. A família só fez acompanhar as mudanças como foi possível”, conclui.

Maria Helena do Espírito Santo Coelho CRP 14/01994-5 MS


{ TOTAL SAÚDE / NUTRIÇ�O }

Alterações na Pirâmide Alimentar por TATIANE SAVARESE ATTILIO • ilustraç�o THINKSTOCK • foto LUCIANO MUTA

Para que a população consiga ter noção correta de como alimentar-se de forma a nutrir equilibradamente o organismo com vitaminas, minerais, proteínas, carboidratos e gorduras necessários, esquematizou-se um sistema ilustrativo denominado “pirâmide alimentar”. A sua primeira versão foi bastan-

te utilizada em vários estudos e teve grande importância para a vida da população. Contudo, em virtude dos avanços nos estudos sobre os alimentos, fez-se necessária uma mudança nesse sistema ilustrativo, já que existem grandes diferenças entres os grupos de alimentos. Veja:

Alimentos Energéticos

Antes: as gorduras e açúcares formavam a ponte da pirâmide e eram destinados ao menor número de porções ao dia. Hoje: as gorduras foram dividas entre as saturadas, as poli-insaturadas e as monoinsaturadas. Orientase que o consumo seja de gorduras saudáveis, como das oleaginosas: castanhas, nozes, avelãs, pecãs e azeite de oliva extra virgem. Os açúcares ideais são os não refinados e que possuem melhor valor nutricional, como o açúcar mascavo. Construtores / Proteínas

Antes: eram considerados todos os tipos de proteína, principalmente a de origem animal, como ovos, leite e carnes. Hoje: são preconizadas as proteínas de elevado valor biológico (proteína animal), porém valorizam-se as que contêm menor índice possível de gordura saturada. Os grãos, leite de soja e derivados do leite também figuram nesse grupo. Vegetais e Frutas

Antes: todos os vegetais e frutas. Hoje: ênfase nos vegetais e frutas da época e nos orgânicos, que diminuem a quantidade de agrotóxicos e demais substâncias nocivas à saúde. Carboidratos

Antes: pães, massas, arroz, cereais. Hoje: os mesmos alimentos fazem parte desse grupo, porém estão em destaque os alimentos “integrais”, pelo fato de possuírem grande valor nutricional em relação aos refinados. Esse novo modelo de pirâmide alimentar leva em consideração a ingestão de líquidos, preferencialmente a água, e a prática regular de atividade física. A grande vantagem é que a pirâmide está voltada para a realidade da população brasileira, o que possibilita que boa parte a coloque em prática.

DRA. TATIANE SAVARESE ATTILIO, CRN 3/12175 Nutricionista, Especialista em nutriç�o Clínica, obesidade e Emagrecimento. Docente em cursos de extens�o na área da saúde.

Contato: Rua Franklin Roosevelt, 61 Sala 08 - (67) 3306 0608 e 9128 8484 www.atitudesaude.com.br

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{ TOTAL SAÚDE }

por ALINE QUEIROZ • foto HENRIQUE ATTILIO • ilustraç�o SHUTTERSTOCK

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ue a prevenção é o melhor remédio todo mundo sabe. O que muitos não sabem é que para o HPV (Human Papiloma Vírus), o papilomavírus, existe vacina. O HPV é um vírus sexualmente transmissível, altamente contagioso e capaz de infectar a pele ou as mucosas de homens e mulheres. Pessoas infectadas podem apresentar verrugas genitais e vários tipos de câncer, dos quais o principal é o de colo de útero. Dos 100 tipos identificados, pelo menos 13 têm potencial para causar câncer. No Brasil, a cada ano 685.400 pessoas são infectadas por algum tipo do vírus, segundo dados do Ministério da Saúde. Para o Pediatra e responsável técnico pela clínica de vacinação Prophylaxis, Henrique Holsbach, a falta de conhecimento em relação à doença provoca o diagnóstico tardio e, consequentemente, diminui o êxito no tratamento. Entretanto, Henrique acredita na conscientização referente à importância da prevenção. Ele explica que a procura pela vacina tem aumentado e destaca que ela será distribuída pela rede pública. “A vacina foi incorporada ao calendário nacional de vacinação do SUS (Sistema Único de Saúde) e começa a ser distribuída já no ano que vem, para um grupo restrito de usuários”, informa o Pediatra. Meninas de 10 e 11 anos serão protegidas contra quatro variáveis do vírus. Atualmente dispomos de dois tipos de vacina. A quadrivalente é usada na prevenção contra quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18), dos quais dois deles, 16 e 18, respondem por 70% dos casos de câncer. Já a bivalente contempla apenas os vírus chamados oncogênicos, que são o 16 e o 18. As duas vacinas já estão disponíveis na Prophylaxis para as pessoas de todas as faixas etárias, liberadas para a aplicação da vacina.

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“Ideal é aplicar a vacina quando não houve o contato com o vírus. Muitas vezes quem receita a vacina é o Ginecologista. Sou Pediatra e destaco a importância dessa vacina também para crianças, a partir dos 9 anos, idade liberada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para utilização, porque, às vezes, quando a menina chega ao Ginecologista, já teve contato com o vírus. Destaco, ainda, a importância da vacinação dos meninos. Muito embora, para eles, não exista o câncer de colo uterino, podem ser beneficiados em relação a outros tipos de câncer, contra o aparecimento das verrugas genitais. Deixando de ser portadores do vírus, deixarão de ser transmissores dele”, diz o médico. Contudo, Henrique esclarece que, mesmo aquelas pessoas que já têm vida sexual ativa e já possam, eventualmente, ter tido contato com o vírus, deverão receber a vacina. Essa vacina tem alto grau de eficácia”.

DR. Henrique Holsbach


{ TOTAL SAÚDE }

Fazer o bem faz bem Psicólogo se dedica à prevenção e tratamento do uso de drogas. por ALINE QUEIROZ • foto HENRIQUE ATTILIO

sicólogo de profissão e voluntário de coração, Marco Aurélio Portocarrero Naveira se dedica à prevenção e tratamento do uso de drogas. O conhecimento sobre as vulnerabilidades humanas possibilita, que o Psicólogo Clínico e Psicanalista ajude a combater a entrada de substâncias psicoativas na vida de muitos jovens que recebem, nas escolas, informações divulgadas pela ONG Azul. Marco Aurélio fundou-a em 2000 e, desde então, cuida de perto de problemas que atingem o emocional de tantos adolescentes e adultos. As ações da ONG também são desenvolvidas por outros profissionais das áreas de saúde e justiça, porém é como Psicólogo que Marco Aurélio contribui para o enfrentamento do sofrimento mental gerado pela dependência química. Como Psicólogo, profissional que comemora seu dia em 27 de agosto, ele explica que as atividades são voltadas à melhora da qualidade de vida dos menos favorecidos. “Isso me dá a possibilidade de estimular o indivíduo a ampliar suas percepções internas e de mostrar como se relaciona com o ambiente em que está inserido, fortalecendo sua autoimagem, melhorando suas relações sociais e despertando suas potencialidades. Minha profissão me permite perceber, com cuidado maior e diferenciado, as causas e os motivos da dor, insatisfação e neurose. Acho que isso nos dá razões para buscarmos mais qualidade de vida, cidadania e para fazer com que as pessoas percebam que existem caminhos melhores. A ideia é oferecer-lhes maior entendimento de si e da relação com o ambiente em que estão inseridas, fazendo delas protagonistas, no sentido de melhorar a sociedade”, destaca. Com 13 anos de existência, a ONG Azul também desenvolve o Provita-MS (Programa Estadual de Apoio e Proteção a Testemunhas, Vítimas e Familiares das Vítimas no Estado), que está ligado à

Marco Aurélio Portocarrero Naveira CRP 14/00569-3 MS

Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal e à SETAS (Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social). “Esta caminhada junto à ONG nos permitiu observar os novos rumos da Psicologia e os importantes campos a serem desbravados pelos que se iniciam nesta maravilhosa profissão”, diz o Psicólogo. Como voluntário, Marco Aurélio ressalta a satisfação que sente em ajudar a quem precisa. “O melhor produto que alguém pode doar é aquele no qual você realmente acredita e percebe que só irá fazer o bem para quem usufruir. Assim me sinto útil e realizado, oferecendo suporte e saídas para as pessoas serem mais felizes e saudáveis, mental e emocionalmente” finaliza. T OTA L SA Ú D E C I N C O + | A G OS T O 2 0 1 3 | 15


{ TOTAL SAÚDE }

Doenças da estação

DRA. ELIANA SETTI A. AGUIAR, CRM/MS 420 - Especialista em Pneumologia do Hospital do Coraç�o de Mato Grosso do Sul

Resfriado, gripe, rinite, sinusite, asma... elas surgem ou são agravadas com as baixas temperaturas e o tempo seco. por LUIZ FELIPE FERNANDES

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stá aberta a temporada de gripes e resfriados. Acostumados com os termômetros nas alturas praticamente o ano inteiro, a queda brusca na temperatura e na umidade do ar faz com que a população fique bem mais suscetível às doenças que atacam as vias respiratórias, principalmente as vias aéreas superiores – nariz, ouvido e garganta. É também nessa época do ano que portadores de asma, rinite e sinusite alérgica podem sofrer ainda mais com suas doenças. O tempo frio estimula a aglomeração em ambientes fechados, o que facilita a proliferação das doenças de inverno. Gripe e resfriado são causados por vírus. No caso do resfriado, por uma centena deles. A doença geralmente se manifesta com sintomas brandos de mal-estar, espirro, tosse e, em alguns casos, uma leve irritação da garganta. Os sintomas costumam durar menos de uma semana. Se, além desses sintomas, houver febre, a prostração e as dores no corpo forem intensas, é bem provável que seja gripe. A médica pneumologista, Eliana Setti Albuquerque Aguiar, explica que a gripe é provocada pelo vírus influenza, que circula no hemisfério sul no período de inverno ou início da primavera, entre abril e setembro. “Como somos um país tropical, isso às vezes não é respeitado”, ressalta. Mais graves que um simples resfriado, os sintomas da gripe não devem ser ignorados. De acordo com a médica, essa doença pode evoluir para uma sinusite ou, até mesmo, para uma pneumonia.

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CHÁ DA VOVÓ É também com o friozinho do inverno que surgem as mais diversas receitas caseiras para se tratarem as doenças das vias respiratórias. Do chá de gengibre com limão, para curar resfriado, ao gargarejo com semente de romã, para amenizar a dor de garganta, há uma infinidade de cuidados que remetem ao tempo da vovó. Com a eficiência provada pelas gerações tratadas com o que se podia colher no próprio quintal, os métodos caseiros não são contraindicados.

“Criança com aleitamento materno ou uma pessoa suficientemente nutrida, hidratada, que n�o fuma e sem doença crônica associada, podem suportar melhor os sinais e sintomas dessas patologias”. O alerta, mais uma vez, vai para o que a médica considera como “sinais de perigo”: prostração, febre alta e prolongada, falta de ar, sinais de desidratação e anorexia. Crianças menores de cinco anos devem receber atenção especial, por não apresentarem suas defesas plenamente disponíveis. Os idosos acima de 65 anos, também podem estar com o sistema imunológico comprometido ou serem portadores de doenças crônico-degenerativas: doença pulmonar obstrutiva crônica (tabagismo), doenças do coração ou dos rins, asma, diabetes e imunodeprimidos em uso de quimio ou radioterápicos. A melhor forma de prevenção é, segundo a médica, a vacinação anual para a gripe. No caso das outras doenças de transmissão por vírus, evitar lugares fechados e com muita gente, não tossir e espirrar nas mãos, mantê-las sempre limpas e usar lenços descartáveis.


Exame de sangue poderá detectar fibromialgia de maneira mais rápida Um novo teste que detecta a fibromialgia de maneira mais rápida, por meio de exame de sangue, foi desenvolvido por pesquisadores de Ohio, nos Estados Unidos. A nova técnica ainda está em fase de testes e utilizou amostras de sangue seco do dedo dos pacientes, a fim de identificar a presença da doença. Com eficiência comprovada, o novo exame poderá reduzir em até cinco anos o tempo de espera por um diagnóstico. De acordo com o Instituto Nacional de Artrites e Doenças Musculoesqueléticas e de Pele, cerca de cinco milhões de americanos são acometidos pela fibromialgia, cujos principais sintomas são a fadiga (falta de ânimo) e as dores em todo o corpo. Por eles serem semelhantes aos de outras doenças, como a artrite reumatoide, por exemplo, os médicos costumam descartar essas doenças antes de identificar a fibromialgia, tornando o processo de diagnóstico lento e cansativo.

Quatro a cada cinco pessoas com câncer de pele melanoma são curadas Um relatório britânico publicou boa notícia da área médica no mês passado. O Instituto Paterson para Pesquisa em Câncer, da Universidade de Manchester, divulgou o resultado de uma pesquisa, o qual aponta que, atualmente, 80% das pessoas que sofrem de melanoma — o tipo menos comum, porém mais agressivo de câncer de pele — sobrevivem à doença. Esse foi um avanço em relação ao tratamento deste câncer, considerando-se que a taxa de cura era de apenas metade das pessoas, nos anos de 1970. O melanoma tem origem nas células produtoras de melanina (substância que dá cor à nossa pele). Esse tipo de câncer de pele é menos frequente, sendo responsável por apenas 4% de todos os tumores malignos no Brasil. Porém, estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) sugerem que em 2012 foram registrados mais de seis mil novos casos da doença no país.

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{ NUTRIÇ�O / TOTAL SAÚDE }

Só um faz mal sim Imagine a vida de uma pessoa sem pão, bolo, doces, pizza, brigadeiro. Parece triste, né? Elda Regina é nutricionista e conta o outro lado da vida sem glúten. por ALINE QUEIROZ

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oi na luta diária pela qualidade de vida das filhas que Elda Regina Leite Galvão de Ávila conheceu o verbo ajudar. As meninas são celíacas, têm intolerância a alimentos com glúten e com o diagnóstico vieram as restrições. O glúten é uma proteína que está presente em muitos cereais usados no nosso dia a dia, como trigo, cevada, aveia e centeio. Imagine a vida de uma criança sem pão, biscoito, bolo e pizza, por exemplo. Pense em levá-la a uma festa e ela não poder comer sequer um brigadeiro. Nutricionista por formação, Elda comemora não só o Dia do Nutricionista, 31 de agosto, como as conquistas dos 13 anos dedicados aos trabalhos voluntários. Atualmente, as receitas desenvolvidas por ela permitem que os celíacos tenham uma vida mais saudável. Elda começou a criar produtos que atendessem às necessidades da primeira filha, de 14 anos, quando tinha apenas um ano. A batalha ficou ainda mais acirrada quando a caçula, de 9 anos, também foi diagnosticada com a doença.

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elda Ávila e suas filhas

Elda fundou a ACELBRA/MS (Associação dos Celíacos do Brasil/Secção Mato Grosso do Sul) cuja sede está em sua casa. A entidade, além de esclarecer dúvidas referentes à patologia, também promove ações, oficinas de receitas e doa kits com farinhas específicas para os celíacos. “Dedico praticamente 24 horas do meu dia à causa”, conta. A nutricionista explica que uma das frentes de atuação da ACELBRA/ MS visa à garantia da inclusão social dos celíacos. A próxima grande atividade já tem data marcada: será no Dia da Criança, 12 de outubro. A ideia é fazer um piquenique com alimentos sem glúten no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. Entretanto, conquistar o espaço desejado na sociedade ainda leva tempo porque nem o Ministério da Saúde implantou o protocolo criado para atender aos celíacos. Dessa maneira, não é possível saber quantas

“Tem por aí diagnóstico errado. Gente que recebe tratamento para síndrome do intestino irritado ou gastrite e a única coisa que o celíaco precisa é retirar o glúten de sua vida para sempre”. ELDA REGINA LEITE GALV�O DE ÁVILA

PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO ACESSE

WWW.ACELBRAMS.ORG.BR

pessoas têm intolerância ao glúten. A estimativa é de que 2% da população mundial sejam portadores da doença e, sem orientação para o tratamento, esses pacientes podem ter proble-

mas. “Tem por aí diagnóstico errado. Gente que recebe tratamento para síndrome do intestino irritado ou gastrite e a única coisa que o celíaco precisa é retirar o glúten de sua vida para sempre”, explica. A nutricionista conhece a importância das ações que desempenha e, como a maioria das pessoas que faz trabalho voluntário, fala do prazer de ajudar. “É muito bom doar um pouco do nosso tempo. Já que dedicamos tanto tempo ao nada, por que não dedicar a alguém ou a uma causa? Temos a obrigação porque somos instruídos e temos condição financeira para isso. A vida perde um pouco do sentido se não for assim. Se você doar um pouquinho de você, o que recebe não tem preço. O voluntariado é, acima de tudo, um ato de doação e cada um doa o que tem: dinheiro, conhecimento, carinho, tempo. Independente do que é doado, o importante é a intenção”, conclui.

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{ ODONTOLOGIA / TOTAL SAÚDE }

Primeiros socorros para traumatismo de dentes de leite por DRA. NIELEN MARINHO - CRO/MS 4818 e DRA. KELLY CASTILHO - CRO/MS 4584 • foto SHUTTERSTOCK

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raumatismo em dentes decíduos é algo bastante preocupante para pais, cuidadores de crianças e dentistas, pois as consequências desse tipo de traumatismo pode gerar abalo emocional, tanto na criança quanto nos responsáveis. As quedas e choques dos dentes contra objetos são considerados as causas mais comuns do traumatismo dentário, lesionando a dentição decídua (de leite). A faixa etária de 1 a 3 anos é a mais atingida por traumatismos, pois nessa fase a criança inicia sua independência motora, tenta levantar-se sozinha, andar e correr, mas ainda não possui amadurecimento de coordenação suficiente para garantir movimentos seguros e precisos. Quando ocorre um acidente que traumatiza os dentes decíduos o ODONTOPEDIATRA é o profissional mais capacitado para prestar esclarecimento e intervir nos problemas causados por lesões na cavidade bucal. Ele pode informar sobre as providências a serem tomadas, de acordo com os diferentes tipos de lesões dentárias traumáticas existentes, indicando o melhor tratamento à criança. Nos casos de acidentes graves, que vão além de um traumatismo dentário, a criança deve ser encaminhada a um pronto-socorro, visando uma abordagem multiprofissional. Os casos de traumatismos em que, apesar de não ter havido fratura ou perda dental, foram causados por cho-

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que, quedas ou tenham provocado a entrada (intrusão) do dente, podem ser tão graves quanto a fratura ou perda dental, por isso o Odontopediatra deve ser procurado. Existem casos em que, ocorrido um acidente, os pais/ responsáveis não procuraram o profissional. É comum, então, que, após algum tempo, a cor do dente traumatizado se mostre alterada ou que apareça uma bolinha na gengiva (fístula). Trata-se de um quadro clínico que aponta algo fora do normal. Nesses casos, pode ter ocorrido fratura na raiz, necrose ou uma infecção no dente traumatizado. Novamente, a procura do Odontopediatra se faz necessária. As lesões traumáticas, pelo que foi exposto, representam um desafio crescente para pais, cuidadores e profissionais da área, pelo fato de haver pouca divulgação e informação sobre o assunto. Além disso, muitas vezes a primeira consulta da criança ao dentista acaba ocorrendo nessas situações de dor e emergência. Isso faz com que haja uma impressão negativa do consultório odontológico. Chama-se a atenção, portanto, para que a visita ao Odontopediatra seja realizada logo nos primeiros meses de vida, a fim de que haja um correto acompanhamento do desenvolvimento infantil, referente a essa área. Mais informações acesse: www.studiooral.com.br


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Parceiro Amigo Irmão

Rua das Garças, 943 - (67) 3382-7373 T OTA T OTA L SA L SA Ú DÚEDCEI N CC I NOC + O +| A| GJU OSLTHO O 22001133 | | 21 21


{ PRATIQUE O BEM }

por LUIZ FELIPE FERNANDES

Saiba como um projeto social tem contribuído para que jovens carentes de Campo Grande se tornem marceneiros de alto nível.

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a varanda da pousada onde estava hospedado, em Salvador, o publicitário suíço Stephan Hofmann presenciou a cena que mudaria sua vida para sempre. Um adolescente, de no máximo 14 anos, assassinou a tiros um taxista para roubar seu relógio. Era 1999. Bem mais que as lembranças de uma viagem de férias ao Brasil, a volta para casa foi marcada por uma profunda reflexão sobre a pobreza e a desigualdade social. Stephan voltou a Salvador. Participou de um projeto social com crianças de famílias carentes. Conheceu a fundo as mazelas de uma estrutura social opressora, que priva os mais pobres do acesso à educação e à cultura. Um ano depois de testemunhar a violência urbana no Brasil, Stephan decidiu interromper 20 anos de trabalho como publicitário na Suíça para montar uma agência de comunicação especializada em direitos da criança e do adolescente. Junto com a jornalista Patrícia Nascimento, surgia a GIRA Solidário. Com os colegas publicitários brasileiros, Stephan tinha o desafio de investir parte dos lucros em projetos sociais. A lógica é simples: “Se você contribui para que três, quatro mil jovens saiam da pobreza e da letargia, você tem a chance de ter a mesma quantidade de clientes no futuro. Daqui cinco anos, eles vão lembrar que sua marca esteve presente nos projetos que os ajudaram a sair daquela situação”, explica o presidente da ONG.

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL Com o passar do tempo, a GIRA Solidário expandiu sua frente de trabalho e deu início a projetos sociais de atendimento direto e ações de mobilização da sociedade. A ONG passou a oferecer formação complementar e profissional. Um dos destaques é a Escola Pau Brasil, que desde 2007 forma marceneiros de alto nível, provenientes de bairros carentes de Campo Grande. O projeto já recebeu investimentos na ordem de R$ 1,2 milhão, captado essencialmente entre empresários suíços. Stephan conta que o projeto técnico do curso foi idealizado pelo amigo arquiteto Fred Lei, também suíço, depois de uma visita à GIRA Solidário, em 2006. Todo ano, o mestre marceneiro passa seis meses no Brasil para ensinar as mais avançadas técnicas do design de móveis aos alunos do projeto. O curso dura três anos, com novas turmas a cada semestre, sempre com seis aprendizes. Esse número limitado, de acordo com Stephan, tem a ver com a qualidade da formação e com a capacidade de absorção do mercado. Além de aulas teóricas e práticas, o curso oferece ensino complementar de cidadania, Português, Matemática, estímulos lúdicos e atividades de lazer. “Pessoas equilibradas e com melhores condições de vida são mais saudáveis e correm menos risco de se tornarem usuários 2 4 | TOTAL SAÚDE CINCO + | AGOSTO 2013

“Pessoas equilibradas e com melhores condiç�es de vida s�o mais saudáveis e correm menos risco de se tornarem usuários de drogas, por exemplo. N�o se trata apenas de saúde física, mas também de saúde mental”. STEPHAN HOFMANN

de drogas, por exemplo. Não se trata apenas de saúde física, mas também de saúde mental”, ressalta Stephan. Quando atinge bons resultados, o aluno recebe ferramentas pessoais para que possa se preparar para seu próprio empreendimento. O presidente da ONG se orgulha ao dizer que sete alunos da Escola Pau Brasil foram absorvidos pelo mercado de trabalho em posições de destaque e outros três foram contratados pela própria escola para atuarem como monitores. Avesso às práticas assistencialistas, Stephan Hofmann amplia a máxima do educador brasileiro Paulo Freire, ao dizer que de nada adianta dar o peixe, tampouco apenas ensinar a pescar. “Ensine a fazer a própria vara”.


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{ PRATIQUE O BEM }

Por uma infância melhor As experiências que fizeram de Ariadne Cantú uma defensora dos direitos da criança e do adolescente. por LUIZ FELIPE FERNANDES • foto MARCOS WOLKOPH

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que uma adolescente poderia fazer escondida dos pais? O desejo de independência e o ímpeto de rebeldia que pairam sobre essa fase da vida podem indicar uma resposta óbvia. Surpreendente seria dizer que, para certa adolescente, no interior do Rio Grande do Sul, os breves momentos de ausência dos pais eram a oportunidade ideal para recolher as roupas que não se usava mais e doá-las a crianças pobres que vinham pedir ajuda na porta de casa. A vocação que se manifestou tão cedo e que sempre falou alto na vida de Ariadne de Fátima Cantú da Silva não poderia desenhar uma carreira diferente. Tanto que, ao ingressar no Ministério Público de Mato Grosso do Sul, em meados da década de 90, o simples desejo não faria com que Ariadne ocupasse automaticamente a promotoria da Infância e da Juventude. Contudo, a necessidade de substituir um colega a conduziu ao posto no qual viveria os anos mais transformadores de sua vida.

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Uma importante contribuição para o ordenamento jurídico brasileiro viria com o Estatuto da Criança e do Adolescente, que Ariadne ajudou a elaborar. Mas ela sempre extrapolou, de uma forma positiva, as funções de um agente público. “Se você fizer só o seu papel, só a sua função, você vai bater a porta na cara de muita gente. Quando faltava lei, quando faltava estrutura, eu sempre me colocava no lugar da criança”.


MÃE E ESCRITORA Hoje, procuradora de Justiça, Ariadne Cantú diz sentir-se privilegiada pelas experiências que viveu, por mais duras que algumas delas tenham sido. “Nos sentimos muito mais felizes, muito mais vivos e mais gratos pela vida que temos”, ressalta. Ariadne reconhece que fazer o bem a outras pessoas faz com que seus próprios problemas pareçam menores, e conclui: “isso é bem-estar que gera saúde!”. Ariadne tem uma filha de 17 anos e dois filhos, um de 14 e um de 3 anos. Em sua função de mãe, a defesa dos diretos da criança contribuiu para a construção de valores dentro de casa. “Sempre falo para os meus filhos que não adianta ter dinheiro, uma casa boa, uma posição, se sua cabeça não estiver bem”. O desejo de ajudar outras pessoas também foi para o papel. As experiências traduzidas em prosa e poesia ampliaram o poder de transformação que Ariadne tão bem desempenhou durante toda a sua carreira. Já são 20 os livros da autora, publicados pela Editora Alvorada. Com uma Didática precisa, a autora trabalha com os mais diversos temas, como adoção, violência no trânsito e preconceito. Quando o assunto é saúde, o livro Planeta dos Carecas dá uma importante contribuição para a compreensão do câncer infantil e uma de suas consequências, praticamente inevitável com o início do tratamento quimioterápico – a queda dos cabelos. No livro, Ariadne conta a história de um garoto que se sentia rejeitado por estar doente e se sentir diferente dos outros. “A partir de uma brincadeira, as crianças tentam fazer o doente se sentir melhor”, explica. Os direitos autorais do livro foram doados para a Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC). Com seus livros, a menina do interior que ajudava crianças pobres dá mais uma contribuição para tornar o mundo melhor.

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{ PRATIQUE O BEM }

As sementes do bem ao próximo são amarelinhas por MICHELLA GUIJT • foto JOSÉ EDUARDO BARBOSA

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á 55 anos, os membros da Associação dos Voluntários da Santa Casa da Misericórdia de Santos exercem trabalho voluntário dentro do hospital. O grupo é considerado pioneiro do gênero no Brasil e é formado, atualmente, por aproximadamente 130 integrantes cuja maioria é de senhoras. As amarelinhas – como são carinhosamente chamadas por causa da cor do uniforme que usam – são um exemplo de benemerência e amor ao próximo em toda a Baixada Santista, região do litoral de São Paulo. Gilda Chudin Mele, de 79 anos, vice-presidente do grupo, explica que para ser uma amarelinha basta querer, além de poder doar um pouquinho de seu tempo para se dedicar ao bem-estar dos doentes. “Essa vontade de fazer bem ao outro vem de dentro do peito. E quando a gente bota esse amor pra fora, não para mais”. O ingresso de dona Gilda na a Associação exemplifica isso. Conheceu as amarelinhas quando sua filha estava internada na Santa Casa de Santos, durante um Natal. “Quando elas passaram na ala entoando canções natalinas, pensei: que missão linda é ajudar quem precisa, um dia serei voluntária” – contou com entusiasmo. Já faz 22 anos que dona Gilda

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percorre os corredores de um dos maiores hospitais paulistas. “Cuidei da minha filha, do meu marido. Daí, finalmente, pude exercer o voluntariado. As pessoas pensam que o maior bem fica com o outro, mas é a gente quem fica com a maior recompensa. Todos os dias, quando deixo o hospital, saio com a alma lavada”.

TAREFAS Os voluntários realizam tarefas aparentemente simples, mas fundamentais dentro da rotina de um hospital, como servir refeições aos internados, conduzir os pacientes para os exames e o principal: distribuir atenção e carinho a todos. “A gente serve um chazinho que aquece o coração de quem espera um ente querido sair do centro cirúrgico”, conta dona Gilda. Também confeccionam peças de rou-

pas para enxovais que são doados às gestantes carentes. Outra função é realizada no laboratório, onde fazem o serviço de catalogação e entrega de resultados de exames aos postos de enfermagem, nas respectivas alas. Além disso, as amarelinhas realizam eventos beneficentes, como bazares e rifas. O objetivo? Arrecadar fundos para comprar alimentos, artigos de higiene pessoal, colchões casca de ovo, muletas e medicamentos. Tudo é revertido aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Além das amarelinhas, a Santa Casa de Santos conta com outros dois exércitos do bem: as rosinhas, formadas pelas voluntárias da Associação Santa Isabel de Combate ao Câncer, e as verdinhas, voluntárias da Comissão de Controle da Qualidade do hospital.


{ PRATIQUE O BEM }

O voluntariado garantiu-lhe uma profissão de vida por MARTA FERREIRA • foto HENRIQUE ATTILIO

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ntrar para o voluntariado foi uma escolha que transformou a vida de Cristina Carvalho que, desde a juventude, participa de projetos que contribuem para melhorar a vida de outros. Proprietária de um salão de beleza, Cristina afirma: “Entrei na profissão por causa do voluntariado”. Depois de cortar e arrumar centenas e centenas de cabelos, em comunidades de baixa renda, ela decidiu dar um novo passo na iniciativa voluntária: ensinar o ofício gratuitamente para que mais pessoas possam ser atendidas e, também, para que os jovens dos locais atendidos recebam esse tipo de formação profissional. Há 20 anos, Cristina também precisou aprender para ajudar da forma como pretendia. Ela conta que, aos 22 anos, trabalhava como secretária executiva e foi convidada por amigos de um grupo religioso a participar de uma ação social. “Sugeri que fossem feitos os cortes de cabelo e me disseram que era desnecessário. Fiquei revoltada e decidi eu mesma fazer. Na época tinha tempo para fazer cursos e procurei o Senac para aprender”, conta. De lá para cá, nunca mais parou. “Para as crianças, o corte de cabelo é saúde, para as senhoras é autoestima, para os homens, muitas vezes é a possibilidade de conseguir um emprego, de ser bem atendido e, a partir daí, ter condições dignas e até pagar por um corte de cabelo”. Nos últimos anos, Cristina passou a ter a vontade de ensinar o ofício, que lhe garantiu um salão de beleza em uma região valorizada da cidade, onde o trabalho com as noivas é bastante reconhecido. “Eu mudei meu foco porque acredito que é possível acrescentar mais à vida das pessoas. E eu sei que uma pessoa com um pente

e uma tesoura na mão, em qualquer lugar do mundo, pode trabalhar. E não vai passar fome”. Hoje, Cristina exerce ação voluntária juntamente com a Associação São Vicente de Paula, que preparou um galpão no bairro Nova Lima para o atendimento à população daquela região, incluindo o corte de cabelo e outros serviços executados pelos novos alunos de Cristina. “É uma sensação de doação, de carinho, de preocupação em fazer com que a pessoa realmente se sinta bem”, opina a profissional sobre o sentimento que o trabalho voluntário traz.

Proprietária de um salão de beleza, Cristina Carvalho participa de projetos que contribuam para melhorar a vida de outros.

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{ PRATIQUE O BEM }

As lições de quem escolheu fazer o bem O aprendizado de quem consegue, no voluntariado, a alegria de viver. por MARTA FERREIRA • ilustraç�o THINKSTOCK

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economista Lucia Cruz, 55 anos, e o aposentado Osvaldo Sozza Matiias, 66 anos, não se conhecem, moram em lados opostos de Campo Grande e têm vidas bem diferentes. Mas há um aspecto da personalidade deles que os aproxima, ainda que fisicamente tão distantes: ambos destinam, há vários anos, uma parte valiosa de seu tempo para fazer o bem às pessoas. Há algo mais que compartilham, quando indagados sobre o conselho que dão aos novatos e aos que pensam em praticar o voluntariado, mas não sabem como começar ou o que é preciso. Para Lucia e Osvaldo, é

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preciso apenas vontade de estar perto de quem precisa mais. O que menos se precisa – disseram os dois – é dinheiro. A leitura que fazem é que, motivado, o voluntário em potencial consegue o que precisa. Lúcia, por exemplo, pratica a solidariedade desde menina, em visitas periódicas ao asilo de idosos. No ano passado, acrescentou mais uma iniciativa à sua rotina: o reaproveitamento das flores de decoração de casamentos e festas, que ela arranja e distribui em terminais de ônibus, no próprio asilo e até em supermercados. “As pessoas são surpreendidas com a beleza dos buquês. Muitas nunca haviam ganhado algum na vida”.


Para o senhor Osvaldo, o voluntariado se configura, há quatro anos, na distribuição semanal de sopa e lanche para aproximadamente 80 famílias do bairro Dom Antônio Barbosa, uma das regiões mais pobres de Campo Grande, vizinha ao lixão. Para dar conta dessa prática, ele vai, toda sexta-feira de madrugada, ao CEASA comprar os produtos necessários. Transformou o próprio carro em viatura da Casa da Sopa Vovó Carolina. As contribuições para os 120 litros de alimento distribuídos a cada semana, ele consegue com amigos colaboradores. Crianças do bairro dom antônio Barbosa recebem lanche na Casa da Sopa Vovó Carolina

“A felicidade que a gente sente passa para os outros”.

VEJA AS DICAS DOS ORGANISMOS QUE REÚNEM VOLUNTÁRIOS EM TODO O PAÍS

OSVALDO SOZZA

Tanto a economista quanto o aposentado fazem questão de ser gratos aos parceiros, com os quais compartilham o bem que fazem. A semelhança entre os dois, contudo, não para por aí. Ao responderem a pergunta sobre o que o voluntariado oferece de positivo, são sucintos e diretos: dizem que não há, no mundo, emoção maior do que a de proporcionar tanta coisa boa, ajudando a quem precisa.

Lucia Cruz e as amigas que ajudam na distribuição de flores reaproveitadas de festas

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Todos podem ser voluntários. Voluntariado é uma relação humana, rica e solidária. Voluntariado é ação. Trabalho voluntário é uma via de mão dupla. Voluntariado é escolha. Voluntariado é uma ação duradoura e com qualidade. Cada um é voluntário a seu modo. Voluntariado é uma ferramenta de inclusão social. Voluntariado é compromisso. Voluntariado é um hábito do coração e uma virtude cívica. T OTA L SA Ú D E C I N C O + | A G OSTO 2 0 1 3 | 31


{ PRATIQUE O BEM }

por FERNANDA BRIGATTI

Aconchego, cuidado e zelo transmitidos pelo abraço de crochê/tricô da artista Leti para o mundo urbano.

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um lugar conhecido pela predominância do cinza, em uma esquina qualquer, salta aos olhos de quem passa um poste “abraçado” por uma roupa de lã e enfeitado por pompons coloridos. Entre o concreto, o gosto duvidoso da arquitetura contemporânea e a vida ruidosa paulistana, a tricoteira, crocheteira e professora particular de Yoga, Letícia Matos, distribui seus pequenos gestos de carinho organizados no Projeto 13 Pompons. De um hobby, uma brincadeira a um projeto de provocação, demonstração de afeto e convite à reflexão. Letícia conta que os primeiros pompons foram colocados em uma árvore depois de um dia que passara ensinando as amigas a tricotar. “Lembrei que tinha uns moldes de pompom e fizemos alguns. Sugeri que colocássemos numa árvore e, quando contamos, tinham 13”, diz eufórica. Desde então, Santo André (SP), Porto Alegre (RS), Goiânia (GO), Paraty (RJ), Belo Horizonte (MG), Brumadinho (MG) –

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no INHOTIM (Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico) – e Aiuroca (MG), no Brasil, Buenos Aires, Mendonza e Uspallata, na Agentina, já tiveram seus postes e árvores abraçados pelos pontos, laços, nós e amarradinhos de Leti. Neste ano, os pompons irão à cidade do Rio de Janeiro e à Bahia. Em breve, ela pensa em levar também a Curitiba (PR) e Florianópolis (SC) e sonha em chegar com eles a Nova York. Quando Leti viaja, o projeto vai na mala. Para a crocheteira, o trabalho busca despertar a atenção de quem passa pelo espaço público e transmitir a sensação de carinho, zelo, acon-

chego, cuidado. “Ocupo as ruas com um trabalho (tricô, crochê e pompons) que, originalmente, é transmitido de mãe para filha ou de vó para neta, que normalmente vemos dentro de casa”, conta. E na maior cidade do Brasil, esse tipo de trabalho propicia às pessoas, a que se olhem para dentro de si mesmas". Se inicialmente o efeito é estético, em segundo plano está o emocional. “Várias pessoas me falam que o dia muda, que ficam mais felizes quando se deparam com os pompons na rua”, diz Leti. O trabalho manual é lento, demanda tempo, dedicação, paciência e disponibilidade emocional. Para

“Lembrei que tinha uns moldes de pompom e fizemos alguns. Sugeri que colocássemos numa árvore e, quando contamos, tinham 13”. LETÍCIA MATOS


LETÍCIA MATOS ENFEITA COM POMPONS COLORIDOS O CONCRETO DA CIDADE

a artista, esse processo remete as pessoas à possibilidade de parar para cuidar um pouco dos lugares por onde passam todos os dias, olhar um pouco mais para os outros. Um processo de doação e interação num mundo cada vez mais frenético e virtual.

Foi também a disponibilidade para tricotar e crochetar que resultou, no início de julho, em uma inusitada campanha do agasalho. A “Nós – Unidos contra o frio” uniu tricoteiras no Parque Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo, para costurar mantas e ca-

checóis. A ideia do “happening” foi “agasalhar” estátuas com cachecóis gigantes que serviram de cobertores aos moradores de rua. Na divulgação da campanha, um chamado: “pessoas não são estátuas, então não fique aí parado”.

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{ POLÍTICA / OPINI�O }

A explosão das classes médias por BENEDITO TADEU CÉSAR • ilustraç�es THINKSTOCK • infográfico: JULIANO T.

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rescendo de modo acelerado nos últimos 10 anos, as classes médias brasileiras explodiram no mês de junho de 2013. Na última década, cerca de 40 milhões de pessoas, contingente populacional equivalente à população da França, ingressaram nos patamares mais baixos das classes médias e adentraram no mercado consumidor brasileiro. Passaram a consumir eletrodomésticos da “linha branca”, carros populares, telefones celulares, viagens de avião, casa própria, planos privados de saúde. De acordo com estudo realizado, em 2010, por uma Comissão para Definição da Classe Média no Brasil, constituída pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, “Em 2003, 37% da população brasileira pertenciam à classe média, já em 2009 este número subiu para 48%. Sendo assim, ao longo deste período de 6 anos o tamanho relativo da classe média cresceu 11 pontos percentuais, equivalente a 1,83 pontos percentuais por ano.

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Como o tamanho da classe média era de 48% em 2009, segue que, mantida a taxa de crescimento ao ano, a classe média em 2012 abarcou 54% da população brasileira”. Considerando-se que a população brasileira saltou de 182.032.604 pessoas em 2003, para 193.946.886 pessoas em 2012, conclui-se que, segundo a estimativa da Comissão referida anteriormente, a classe média brasileira tenha saltado de 58.250.433 pessoas em 2003 para mais de 104.000.000 de habitantes em 2012. Um aumento de mais de 46.000.000 de pessoas em apenas nove anos, fazendo com que, em termos reais, o número absoluto de pessoas que integram as classes médias brasileiras tenha praticamente duplicado ao longo desse período. Ainda que o intervalo monetário utilizado para a definição de classe média pelo estudo acima referido seja muito baixo, bastando que a renda individual se situasse entre R$ 291,00 e R$ 1.091,00 em 2012, pode-se perceber, facilmente, a presença desse novo segmento social no mercado

de consumo, apenas olhando para os lados. Há filas nos restaurantes, o trânsito e as estradas estão congestionados, os aeroportos estão lotados, os celulares não funcionam, as emergências dos hospitais e os consultórios médicos conveniados com os planos de saúde privados estão sobrecarregados. Depois de 40 anos sem investimentos significativos em infraestrutura, o aumento vertiginoso das classes médias brasileiras fez o país explodir. Estagnado desde os anos 80 do século XX, o Brasil voltou a crescer no exato momento em que o mundo ocidental submergia em uma violenta crise financeira provocada pela desregulação da economia e pela retração do Estado de Bem Estar Social. Políticas anticíclicas adotadas no Brasil, com a expansão do crédito ao consumidor e a regulação dos juros bancários, paralelamente à adoção de políticas sociais inclusivas e do aumento real do salário mínimo, provocaram o crescimento do mercado interno no país e o acesso de amplas massas popula-


cionais às benesses da vida moderna. Sem a infraestrutura correspondente, gerou-se o que se pode denominar de uma “inflação de demanda de bens e serviços públicos e privados”. Os novos milhões de consumidores passaram a demandar produtos e serviços que não cresceram com a rapidez e na medida necessária para acompanhar o aumento da procura. As novas classes médias passaram a entulhar os cinemas, os restaurantes, o trânsito, as universidades, os hospitais e consultórios médicos. Na sequência da “inflação de demanda de bens e serviços públicos e privados”, seguiu-se a explosão da insatisfação: de todas as insatisfações. As classes médias, as novas e as tradicionais, foram às ruas por-

tando milhares de reivindicações. As demandas pela redução das tarifas de ônibus urbanos e por outra política de mobilidade urbana, defendidas pelos jovens que iniciaram as mobilizações em julho de 2013, foram rapidamente soterradas por uma miríade de novas reivindicações que expressa(vam) as angústias de cada manifestante, naquilo que se pode denominar de um “ativismo individual”, sem foco e sem objetivo definido. Sem lideranças “horizontais”, como as redes sociais por meio das quais as mobiliza-

ções foram inicialmente convocadas, as manifestações expressaram, também, a falência das instituições tradicionais de representação popular. Não se reconhecendo nos partidos políticos e em seus líderes, transfor-

Fonte: peSQuiSa “VoZeS da CLaSSe Média”, da SeCretaria de aSSuntoS eStratéGiCoS CoM o inStituto data popuLar.

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mados todos em partidos e em políticos da ordem (sejam eles de situação ou de oposição), que utilizam as mesmas velhas fórmulas de controle do Estado, os manifestantes posicionaram-se “contra tudo o que está por aí”. Sem foco e sem representação, elegeram a moralidade pública como sua bandeira maior. Propuseram-se a fazer democracia direta, sem líderes e sem intermediários, identificando-se ao mesmo tempo, no entanto, com figuras públicas consideradas impolutas e acima de todos os males. Entreabriram-se, assim, as portas para o surgimento dos salvadores da Pátria: os que se apresentam e são apresentados pelas grandes mídias como capazes de restabelecer a ordem e reinstalar a confiança abalada. A crise que se expressou nas ruas, entretanto, é muito maior do que parece perceber a maioria dos analistas. Pegos de surpresa pela irrupção abrupta dos protestos, os analistas traçaram paralelos com acontecimentos recentes na Europa, nos EUA e nos países árabes ou ainda retomaram a história, buscando referência na revolta jovem eclodida em maio de 1968, na França, e disseminada dali por todo o mundo. Não perceberam o ineditismo da situação brasileira. Expressando-se segundo a lógica das sociedades em rede e por meio da internet, ponto de contato maior com a sociedade contemporânea mundial, os manifestantes brasileiros expuseram o processo muito mais profundo vivido hoje pela sociedade brasileira: o esgotamento das formas de organização econômica e política existentes no País. Nem a forma de representação política, nem a forma do Estado, nem a forma de promoção do desenvolvimento econômico até aqui adotadas são capazes de satisfazer as necessidades da população brasileira, notadamente de suas classes médias, novas ou tradicionais. A eclosão da revolta nas ruas do País revelou a urgência: 1) de se construírem novas formas de participação e novas instituições políticas, livres do controle patrimonialista que as elites brasileiras, secularmente, e ainda hoje, exercem sobre o Estado, subme-

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tendo-o a seus interesses particulares, em vez de voltar a máquina pública para o atendimento das necessidades da população e 2) de se adotarem novas fórmulas de promoção do desenvolvimento econômico e de geração do bem-estar social, calcadas na ampliação do mercado interno, mas, ao mesmo tempo, no necessário investimento em infraestrutura e em sintonia com os padrões econômicos e tecnológicos do mundo contemporâneo, sem o que, não há possibilidade de sustentar o processo de ampliação do mercado de consumo brasileiro. As “vozes da rua” reatualizaram uma agenda historicamente tão central quanto difícil para o país: levar à frente, de forma articulada, crescimento econômico, equidade social e democracia política.

BENEDITO TADEU CÉSAR, Cientista Político, Professor Universitário, Ex-Coordenador do Programa de pós-Graduação em Ci�ncia política da uFrGS (2009/2010), Coordenador do InPrO – Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais.



{ CULTURA }

Sinfonia perfeita Orquestra Viver Bem é formada por jovens instrumentistas de projeto cultural da Capital. por NAIANE MESQUITA • fotos KAKÁ MEDEIROS

música me traz paz, tranquilidade”. A definição simples, porém marcante do jovem instrumentista Lucas Diêgo Pereira dos Santos, 16 anos, reflete o poder de transformação das melodias. Integrante da Orquestra Viver Bem, Lucas atua ao lado de cerca de 20 adolescentes e não pensa duas vezes para responder que a música é a sua grande paixão: “Sempre gostei de música. Comecei a estudar violão em outro curso e soube por uma indicação do projeto”, explica. Criadas há quatro anos, as aulas de instrumentos musicais, que deram origem à orquestra, inte-

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gram o Ponto de Cultura Grupo de Incentivo à Cidadania e Qualidade de Vida – Viver Bem, localizado no bairro Nova Lima, em Campo Grande. “O Ponto de Cultura existe há mais de dez anos, sendo que eles começaram os trabalhos com aulas de dança e depois surgiu a de música. A ideia é oportunizar aulas a novos talentos artísticos que teriam dificuldade de acesso às atividades”, afirma o professor e maestro da orquestra, Jardel Vinícius Tartari. Entre os instrumentos que são ensinados no local, estão violino, viola sinfônica, violoncelo, contrabaixo sinfônico, violão, viola caipira, além de instrumentos


de percussão. Atualmente, aproximadamente 35 alunos, com idade a partir de 8 anos, têm aulas gratuitas de instrumentos musicais clássicos, no projeto sociocultural. A maioria deles integra a orquestra. Um dos alunos mais antigos do projeto, Jorge Priésley Caceres da Cunha, de 18 anos, tornou-se, recentemente, monitor e acompanha Tartari com o violão durante as apresentações. “Faz quatro anos que eu frequento as aulas do projeto, me tornei monitor e pretendo seguir a carreira de músico. Esse ano não deu para fazer a faculdade, mas não desisti”, afirma. Confiante, o instrumentista já ministra aulas. “Eu sonhava em seguir outras profissões, antes de conhecer a música. Pensei em ser arquiteto, qualquer coisa. Meus pais, no início, não apoiaram muito essa decisão de ter um futuro na música, mas agora eles já estão aceitando melhor”, acredita Jorge. Tartari frisa que a música é capaz de oportunizar uma nova perspectiva de vida.

“Eles se sentem importantes, t�m novos objetivos, é uma atividade que foge do que eles t�m na escola, mas que n�o deixa de ser uma divers�o”.

Como qualquer sinfonia que eles mesmos executam, cada integrante desempenha um papel fundamental no grupo. “Eu gosto mais do violão popular, mas atualmente eu toco contrabaixo, por um pedido do professor”, brinca Lucas. O instrumento, quase maior que o jovem, é responsável pela sonoridade mais grave das canções interpretadas pelo grupo. O repertório é variado, todavia Lucas tem suas preferências: o compositor brasileiro Villa-Lobos e um dos maiores mestres da música erudita, Bach. Em apresentações, a orquestra costuma entoar clássicos regionais como as canções “Chalana” e “Mercedita”. Mas, para Lucas, nada se compara ao erudito. Informações sobre as aulas do Ponto de Cultura Viver Bem e da orquestra pelo telefone 3354-4656.


{ CULTURA }

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Bovinocultura por MARTA FERREIRA

o momento certo da arte brasileira Humberto Espíndola recorda o recorte histórico de 1967, pop art, bois e uma quase espadada.

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ra 1967 e o mundo estava grávido das agitações que eternizaram o ano seguinte, 1968, como o que nunca terminou. Longe da movimentação das ruas da França ou da polêmica da guerra do Vietnã com os Estados Unidos, em uma cidade do interior de Mato Grosso, de onde a força da “grana” vinha do gado no pasto, um jovem de 24 anos manifestou na pintura a inquietude típica da época. Naquele ano, em uma exposição na capital federal, recém-transferida para o centro do País, surgia, para o cenário das artes plásticas brasileiras, Humberto Espíndola, o “pintor dos bois”. Nascia, então, a “Bovinocultura”, termo técnico da economia rural transportado

para a arte, hoje uma marca cultural que já tem 45 anos. Humberto Espíndola, agora um senhor de 70 anos, relembra, neste ano de 2013 que, naqueles tempos, a economia do Mato Grosso, uno, tinha uma fonte apenas. “Era só o boi”, resume. Fincado no Centro de Campo Grande, o prédio fechado do Hotel Campo Grande comprova o que Humberto diz: "contam os mais antigos que foi construído, por um escritório de arquitetura de São Paulo, a preço de vinte mil cabeças de bois, pela família Coelho, então representante máxima dos pecuaristas endinheirados, dona de fazendas, de um rebanho gigante e de um banco com agência no hotel".

1 “Boi-bandeira" 1968 2 “Da série Cupins” 2001 3 “Da série Abstrações Rurais” 2013 (díptico)

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Recém-formado em Jornalismo, Humberto já estava encantado pela pintura, graças às aulas de História da Arte na Universidade do Paraná. Mas ainda não havia encontrado seu lugar nas Artes Plásticas. “Pintei um pouco de tudo, procurando um caminho”, conta. O estalo veio quando conheceu a pop art estadunidense e sua representação do “american way of life”. O estilo de vida por aqui era, por assim dizer, determinado pelo dinheiro vindo da boiada. E foi isso que Humberto decidiu levar para suas telas. Os primeiros quadros foram carregados de elementos políticos. Afinal, era o período mais crítico da Ditadura. Os bois na tela tinham poder, mandavam mesmo, sobrepujavam, até assustavam. “Fui censurado, tive quadros enviados para o porão de uma

“ (...) Estou com 70 anos, todos os políticos s�o mais jovens que eu. Ent�o, imagina, quanta gente eu n�o influenciei?” Humberto Espíndola

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exposição, teve general que tirou espada para rasgar meus quadros, fui impedido de expor em Paris”, relembra. Foi incompreendido, também. “Achavam o boi feio e me pediam para pintar cavalos”, cita. Mas não tinha jeito. Já havia acontecido o “estouro da boiada” de Humberto, estimada em quatro mil quadros espalhados por aí. O artista plástico do Brasil Central ganhou os prêmios nacionais possíveis na época, expôs na significativa bienal de Veneza, na Itália, na Colômbia e em Cuba. Tinha tudo para fazer uma escolha muito comum: ir embora, ganhar os grandes centros do País e do Mundo. Não quis. Junto com a crítica de arte Aline Figueiredo, com quem se casou à época, fez um pacto para tirar sua terra local da “periferia” da cultura nacional.


“da Série roSa-Boi” 2013

Para além do valor de sua arte, Humberto Espíndola consolidou uma carreira de apoiador e agitador da cultura no Mato Grosso, de lá e de cá, seja aglutinando artistas em uma associação, seja ajudando a fundar espaços para a arte ou, ainda, fomentando e cobrando políticas para o setor. Sempre exercitando a veia criativa. No Mato Grosso, um painel de sua autoria estampa o Palácio de Governo com expressivos bois. No Mato Grosso do Sul, foi o primeiro secretário de Cultura, e é inegável a influência para os irmãos que seguiram a carreira artística, formando uma família com arte no DNA. Em Campo Grande, não há um aniversário, como neste de 114 anos, em que um dos símbolos da cidade, a estrutura de metal de 8 metros da Cabeça de Boi, não esteja em evidência. Ela é

mais uma contribuição de Humberto Espíndola, reveladora do perfil eclético do artista, que perpassa instalações, gravuras digitais e composição de canções. “A nossa bandeira era criar coisas, mostrar o que havia, levar para fora. Nós tivemos um movimento de imprensa nacional de fora para dentro, que pressionou Mato Grosso a criar museus, a criar espaços. Estou com 70 anos, todos os políticos são mais jovens que eu. Então, imagina, quanta gente eu não influenciei?”, indaga com evidente retórica. Influenciou tanto, a ponto de ser impossível falar da cultura produzida por essas terras sem citá-lo. Se a escolha de ficar foi recompensada? O “pintor dos bois” é categórico: “Eu sou feliz de ter escolhido o tema certo, no lugar certo, no momento certo da arte brasileira”.

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{ CULTURA }

por FERNANDA BRIGATTI

“(...) A dança acompanha o tempo, a evolução através dele, e as pessoas precisam ter esse mesmo pensamento” CHICO NELLER

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por MARTA FERREIRA fotos EDERSON ALMEIDA

A arte Juntos, Ginga e Dançurbana usam estrutura de projeto que durou 15 anos para formar bailarinos.

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que era para ser um fim triste, desanimador, transformou-se em recomeço, encorajador, desafiador. Essa afirmação pode resumir a etapa pela qual passa a Ginga Cia de Dança, grupo criado há 27 anos, em Campo Grande, cujo histórico registra a formação de bailarinos premiados e reconhecidos, local e nacionalmente, e a colaboração ímpar de colocar a arte do movimento em evidência, com os espetáculos apresentados por aqui e fora do Estado. O fim se refere ao projeto Dançar, mantido durante 15 anos com aulas gratuitas a adolescentes e crianças. A iniciativa, depois de atender, em média, 400 crianças por ano, acabou em 2013. Em vez de lamentar, o Ginga partiu para o recomeço de um jeito diferente. Em parceria com outro grupo, o Dançurbana, transformou a sede do projeto no Movimente Espaço de Danças, no bairro Taquarussu, em uma espécie de escola. “É um lugar destinado à formação, capacitação, aperfeiçoamento, encontros, estudos e cursos, ligados à área da dança”, explica o bailarino e coreógrafo Chico Neller, fundador e diretor do grupo Ginga. Neller afirma que o Movimente surgiu da necessidade de dar continuidade aos trabalhos realizados com o Projeto Dançar e foi criado, também, para manter grupos locais. “Era um espaço que já estava pronto e que oferecia todas as

condições necessárias”, complementa. Os grupos Ginga e Dançurbana se uniram e, juntos, vão gerir o espaço que, como explica Neller, é aberto a outros grupos, como forma de manter atuantes os que se dedicam à dança em Campo Grande Desbravador da arte na cidade, Chico Neller tem mais de 30 anos dedicados à dança, com resultados que incluem premiação de melhor coreógrafo do festival de dança de Joinville, o mais respeitado do País. A Ginga Cia de Dança, à qual ajudou a dar vida, em 1986, junto com mais sete bailarinos, também tem sua marca “tatuada” na memória cultural local, ajudando, ainda, a difundir as marcas regionais. “Sobre o Solo” foi escolhida a Melhor Coreografia do festival de Joinville, por exemplo. Cultura Bovina, inspirada na obra de Humberto Espíndola, foi selecionado para participar do Palco Giratório do Sesc. “Dançamos pelos quatro cantos do país, foram mais de 30 cidades”, conta Chico Neller. E o Ginga segue em movimento. A vontade é de fazer muito mais, para atrair mais público para a dança. “Temos nossa parcela de contribuição, sim. Mas ainda falta muito para que tenhamos realmente um público específico para dança. A dança acompanha o tempo, a evolução através dele, e as pessoas precisam ter esse mesmo pensamento”. TTOTA G OSTO 45 OTALLSA SAÚÚDDEECCI N I NCCOO++ | | AJU LH O 2 20 01 13 3 | | 45


{ CULTURA }

Feche seus olhos e escute um livro Projetos que transformam livros em áudio levam o prazer das histórias para deficientes visuais. por MARINA BASTOS

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scutar um livro pode soar estranho para você que está lendo essa matéria e tem, portanto, a visão saudável. Mas a chance de aventurar-se por meio da leitura e conhecer outras culturas, lugares e personagens é quase nula para quem é deficiente visual. Pensando nessa realidade, algumas iniciativas têm-se voltado para a gravação de livros.

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O audiolivro é uma maneira de democratizar a literatura para deficientes visuais, mais prática e econômica do que o Braille. Mil CDs de “livros falados” têm muito mais alcance do que mil livros em Braille. Quando se fala em mil cópias pode parecer pouco, mas quando pensamos em uma sala de aula com 30 alunos, em uma família escutando o CD de um livro durante uma viagem ou em um grupo de deficientes visuais reunido em uma biblioteca, então mil cópias tornam-se significativas. O Ismac (Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas), que presta atendimento gratuito ao deficiente visual ou com baixa visão, criou, em 2006, o projeto Livros que falam. Elaborado por Telma Nantes de Matos e Iara Vieira, o projeto foi selecionado, entre milhares, para receber patrocínio da Petrobrás.

Desde então, o Instituto possibilita o acesso à leitura e à cultura Sul-Mato-Grossense. “Quando foi criado, o projeto visava a implantação de um estúdio para gravação dos livros, um curso de formação para editores de áudio e a gravação de uma coletânea de livros de autores da região”, informou Telma Nantes. Atualmente, além do estúdio, o Ismac possui sala de produção, audioteca e equipe de editores de áudio que foram formados nos cursos realizados. O projeto transformou vidas. Hoje, as pessoas com deficiência visual são editores dos livros que são gravados com a voz de voluntários. “Os livros falados, ou audiobooks, são distribuídos às pessoas com esse tipo de deficiência e para bibliotecas e entidades. O Ismac possui estrutura e condição para a realização desse trabalho graças à parceria com a Petrobrás”, afirmou a idealizadora do projeto. Em São Paulo, o escritor Gustavo Rosseb resolveu transformar sua obra "A Odisseia de Tibor Lobato - O Oitavo Vilarejo", uma aventura infantojuvenil, em audiolivro. Para isso, inscreveu o projeto Escute um Livro


Tibor Lobato é uma espécie de Harry Potter tupiniquim, mas, diferentemente do clássico infantojuvenil, que se baseia em mitos e culturas estrangeiras, o herói Tibor traz as lendas e personagens do folclore brasileiro, adaptando-os � linguagem do infantojuvenil moderno.

O escritor Gustavo Rosseb, de S�o Paulo, criou o projeto Escute um Livro para transformar seu livro em áudio. A aventura infantojuvenil Tibor Lobato será narrada para deficientes visuais

num site de financiamento coletivo e conseguiu acumular 15 mil reais, que serão usados em gravação, mixagem, masterização, arte e distribuição de mil CDs. Tibor Lobato é uma espécie de Harry Potter tupiniquim, mas, diferentemente do clássico, que se baseia em

mitos e culturas estrangeiras, o herói Tibor traz as lendas e personagens do folclore brasileiro, adaptando-os à linguagem do infantojuvenil moderno. “Bibliotecas, escolas que lidam com deficientes visuais e ONGs do País inteiro serão beneficiadas gratuitamente. Basta que enviem um e-mail pedin-

do uma cópia para tiborlobato@gmail. com”, explicou Gustavo, que afirmou estar entusiasmado com a ideia de enviar sua obra para Campo Grande. O CD está em fase de gravação e quem narra a aventura é Hélio Vaccari, o dublador do Gandalf, dos filmes da trilogia "O Senhor dos Anéis".

No ISMAC a narração de livros faz parte da inclusão. deficientes visuais participam de todo o processo para a gravação dos CDs

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{ VIAJE BEM }

A Berlim que não está nos livros Uma das cidades mais modernas e movimentadas da Europa reserva uma história ainda não contada. por RENATO LIMA • fotos RENATO LIMA

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Berlim que a gente aprende na escola, meio assombrada pelo nazismo, carregada de sofrimento e símbolo de divisão não é a mesma cidade que se vê quando se passeia por ela. De fato, Berlim foi um acidente no meu roteiro. Brasileiro quer mesmo é ir para Paris! Depois estica para a Espanha, Itália, se der tempo, para Portugal e, se tiver dinheiro, para a Inglaterra. Mas ter a Alemanha como ponto no roteiro de uma viagem, só para quem pesquisou muito antes ou para quem "cai de paraquedas", como foi no meu caso. Eu cheguei ao País por Frankfurt e, já que estava perto, fui conhecer a capital alemã. O resultado foi surpreendente. O Muro de Berlim continua lá, em parte preservado. A parte demolida marca no chão o tracejado que uma vez dividia uma cidade em dois mundos inimigos. Isso faz com que você, literalmente, ande sobre a história da geopolítica mundial. No meu caso, até colei um chiclete mastigado em uma parte do muro sem medo de ser preso por vandalismo. É que há um espaço onde essa prática transformou o muro em um grande painel de manifesto.

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Aliás, chegando a Berlim procure a East Side Gallery, o trecho mais bem preservado do Muro, que foi transformado em uma gigantesca galeria de arte a céu aberto, com direito a arte brasileira, inclusive. São quilômetros de manifestações políticas, sociais e até religiosas. Nesse trecho, nada de chicletes. A cidade é caracterizada por um contraste entre edifícios históricos e arquitetura contemporânea, entre tradição e modernidade às margens do Rio Spree. As atrações turísticas de Berlim contam a história de uma nação inteira, do Portão de Brandemburgo até os grandes edifícios do governo, entre eles o histórico Reichstag, a sede do parlamento alemão. Para o período da manhã, a dica é explorar o turismo histórico da cidade, como o Check Point Charlie. Ali há uma réplica da estação que, na Guerra Fria, permitia mobilidade de pessoas entre a República Democrática Alemã (RDA) e a República Federativa da Alemanha (RFA), com direito a “soldados” americanos e russos para tirar foto. Se tiver estômago e curiosidade, vá ao museu Topografia do Terror

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– por falar em museu, Berlim tem 175 opções, mais museu que dias de chuva. Mas o Topografia é diferente de tudo o que você já viu. A começar pelo lugar. O edifício está localizado exatamente onde era o centro subterrâneo da Gestapo, a polícia secreta do Estado, administrada pela SS. Mas a proposta aqui é falar dessa Berlim pós-moderna, a começar pela quantidade de jovens que se veem nas ruas. Eles movimentam as baladas mais agitadas da Europa e isso atrai milhares de outros jovens de várias partes do mundo. Em números, são cerca de 900 bares e 190 clubes e discotecas.

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Incontáveis opções de compras oferecem a conhecida Kurfürstendamm, a elegante Friedrichstrasse e as butiques originais nos Hackesche Hofe. Não se assuste com o desfile de carros e roupas importadas, os berlinenses têm muito bom gosto por sinal, até por isso não espere um custo de vida barato! Você vai se deparar com uma cidade extremamente limpa, organizada, na qual o transporte público funciona e não há preocupação em andar a pé e sozinho. Seja para um mochilão ou para férias com a família, Berlim tem o poder de seduzir e agradar qualquer turista, e até surpreender, como foi no meu caso. Então, berline-se!

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{ ANIVERSÁRIO DA CIDADE }

evoluída Campo Grande

Cidade Morena completa 114 anos de histórias e memórias. por CAROL ALENCAR • foto HENRIQUE ATTILIO

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ntes, um povoado; depois, um distrito; hoje, um desenvolvido município. Campo Grande, também conhecida como Cidade Morena, foi fundada em 1889, dez anos depois de ser elevada a distrito. No começo, a cidade passou por uma acentuada turbulência política, o que dificultou sua organização administrativa. Somente após o ano de 1919 alcançou relativa tranquilidade. Japoneses, libaneses, árabes, paraguaios e italianos fazem parte da criação e da construção da cidade, que manteve sua identidade marcada por essas etnias, mas hoje, cresce consolidada em sua própria identidade.

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Dentre as histórias selecionadas para compor esta matéria, algumas foram destacadas pelo presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campo Grande (IHGS/MS), Hildebrando Campestrini, pelo fato de terem sido relevantes para o desenvolvimento econômico da cidade e, sem dúvida, terem contribuído para que chegasse a ser o que é hoje. “No começo tínhamos a pecuária, que transformou a incipiente cidade em centro de negócios de gado, onde os senhores do gado se reuniam na Pensão Bentinho. Logo depois vieram os trilhos da Noroeste, que deu um grande desenvolvimento para a cidade e, por último, a che-


gada dos militares, que colaboraram para que, de fato, Campo Grande se tornasse uma cidade de comércio e de serviços sob proteção”, relata Hildebrando. Destrinchando a era da formação da cidade, podemos acompanhar a acomodação dos costumes, das vivências e do jeitinho campo-grandense de ser. Da iguaria okinawa, o sobá encontrado nas feiras livres noturnas – sim, isso mesmo, Campo

Grande é uma das únicas capitais a manter viva a tradição de feiras noturnas – até os rituais vindos da fronteira, com o Paraguai como o tereré, que não pode faltar de jeito algum. Atualmente, a Cidade Morena vive uma de suas melhores fases. Quem passa por aqui sente o calor humano, aprecia dar uma volta no Parque das Nações Indígenas ou a dar uma “espiada” na cidade pela Orla Morena.

MORENA ROSA E VERDE Uma curiosidade pouco conhecida é que o Mestre de Samba, Cartola, esteve na capital em 25 de agosto de 1962 para participar dos festejos do 63° aniversário de Campo Grande. O convite, feito pessoalmente pelo Secretário da Fazenda, Arthur Martins de Barros, incumbido pelo prefeito da época, Wilson Martins, tinha o objetivo de trazer do Rio de Janeiro, onde estivera, algo da cultura popular. A comemoração do aniversário da cidade culminou com a inauguração da Praça do Rádio (Praça da República) e teve a presença de Cartola e sua turma. Segundo a informação do pesquisador histórico, Celso Higa, o sambista da primeira escola de samba carioca ficou tão lisonjeado com o convite, que sequer cobrou cachê pela sua vinda até a Cidade Morena e ainda rendeu uma grande surpresa: “A praça era um terreno de terra batida e a solenidade de inauguração ocorreu após a missa celebrada por Dom Antonio Barbosa. Logo depois, o samba correu solto até o nascer do sol, já que seria feriado municipal no outro dia e, literalmente, levantou poeira”, brinca o nosso colaborador. Cartola compôs uma música em homenagem à “Cidade Morena”, como a intitulou. Contudo, não foi divulgada por causa do constrangimento causado pela renúncia de Jânio Quadros – campo-grandense que chegou à presidência da República. “Ainda assim, vale o resgate da música à comunidade pela grandeza que representa Cartola no cenário da Música Popular Brasileira”, comenta Higa.

“Cidade Morena”

(nuno Veloso e Cartola)

És Cidade morena, muito embora pequena, de valor tradicional. do Oeste és a fronteira, modesta e bem brasileira, Graciosa e sem rival. berço nobre de um presidente A quem felizmente, dá-se o seu valor. Campo Grande és o progresso Pra quem de coraç�o peço um futuro promissor. Letra da Música que Cartola fez para Campo Grande


Saúde, conforto e bem-estar. A gente só pensa em você.

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Com novas instalações, salas maiores e um amplo estacionamento próprio, a Angiocentro muda de endereço e reforça a preocupação que tem com o seu conforto e saúde. São mais de sete anos no mercado campo-grandense, trabalhando com equipamentos modernos e profissionais qualificados, tudo para o seu bem-estar. » Ecografia Vascular com Doppler » Angiorradiologia » Cirurgia Endovascular » Cardiologia Intervencionista » Neurorradiologia Intervencionista Fábio Moron | CRM-MS 3309 Giuliano Paiva | CRM-MS 3533 Guilherme Maldonado | CRM-MS 1969 Marcos Rogério Covre | CRM-MS 3206 Mauri Comparin | CRM-MS 1975 Maurício Jafar | CRM-MS 2073 José Fábio Almiro | CRM-MS 6302 Marcos Franchetti | CRM-MS 6057 Julio de Paiva Maia | CRM-MS 6281 Aliomar Coelho Pereira CRM-MS 3793 Edgard Nasser | CRM-MS 4806 Flávio Senefonte | CRM-MS 4918

Dr. Maurício de Barros Jafar Responsável Técnico CRM-MS 2073

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Rua Antonio Maria Coelho, 2.728 - Jd. dos Estados - Campo Grande-MS - Fone: 67 3027.1900


{ ANIVERSÁRIO DA CIDADE / OPINI�O }

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A Rua 14

por ÂNGELO ARRUDA • foto EURIDES AOKI

Toda cidade tem sua rua principal, aquela que é a mais conhecida por todos os moradores. É a rua que faz parte da cultura, da memória e da tradição.

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ssa rua é, geralmente, muito tradicional por concentrar atividades comerciais que se instalaram no início da colonização da cidade ou porque sofreram intervenções urbanas que qualificaram seus espaços e, dessa forma, áreas antigas se transformaram em novas áreas ativas, pulsantes e vivas. Os visitantes sempre são levados a conhecer essa rua, já que ela marca a identidade da cidade visitada. Andando pelo Brasil e pelo mundo ficamos conhecendo algumas ruas principais e até famosas. Em Cuiabá, a Rua Joaquim Murtinho; em São Paulo, a Av. Paulista; no Rio de Janeiro, a Presidente Vargas; em Curitiba, a Rua das Flores; em Barcelona, a Rambla; em Paris, a Champs Elysées e tantas outras já conhecidas, ainda que apenas pelo nome. Outra característica que elas têm é a centralidade que se desenvolveu ao longo dos anos. Podem até não ser as mais antigas da cidade, mas carregam em sua trajetória urbanística um conjunto de fatores que as transporta para uma situação excepcional em termos de memória urbana. Nelas existem cinemas, teatros, museus, galerias e uma intensa atividade comercial. As casas comerciais mais antigas das cidades costumam se localizar nessas ruas, por coincidência. Em Campo Grande existe uma rua principal, a 14 de Julho. Lugar de intensa atividade comercial e de um movimentado e intenso fluxo de pessoas. Surgiu com o traçado urbanístico de 1909 e logo após a chegada do trem da Noroeste, em 1914, consolidou-se. Paulo Coelho Machado, ao escrever sobre essa rua, chamou-a de RUA PRINCIPAL e relembrou a importância dela para a cidade e para as tradições, como os carnavais, as comemorações cívicas e militares, os comícios, as passeatas e tantos outros atributos culturais. Não há um candidato a Prefeito, em campanha eleitoral, que não faça carreatas, comícios e outros na Rua 14. Não foi à toa que ela foi escolhida, em 1933, para abrigar o mais famoso monumento da cidade, o Relógio, que registrava as horas, os encontros e as distâncias.

Em 1970, esse monumento foi demolido porque a Prefeitura precisava ordenar o trânsito. O Relógio, onde estava, atrapalharia os planos da engenharia de tráfego. Pois bem, caro leitor, acredite: essa foi a última vez que a Rua Principal recebeu investimentos públicos, demolindo o seu principal monumento. De lá para cá, pinta-se a rua e faz-se recapeamento asfáltico. Mais de 40 anos depois, com a retirada das placas das lojas e uma saída para modernizar as suas fachadas - a nova marca das lojas - todos se esquecem, e talvez nem saibam, do valor cultural da Rua 14 de Julho. Se a arquitetura do passado, escondida por trás dos letreiros, é feia ou antiquada, quero lembrar aos leitores que a nossa cidade, e tantas outras cidades brasileiras, foi, durante muitos anos, colonizada por imigrantes italianos, espanhóis e portugueses que, no ofício da construção, edificaram o que havia de melhor para a época. Cuiabá, nossa vizinha Capital, Corumbá, Aquidauana e Miranda também têm bons exemplos. Hoje esses construtores não existem mais e foram substituídos por profissionais que ainda não trabalham com a conservação dos valores culturais, da tradição e da renovação sem perdas. Mas os problemas da Rua 14 de Julho não vão ser resolvidos com novos letreiros, layouts e outras intervenções nas lojas. Não haverá mais pessoas, tampouco haverá mais lucro no comércio apenas com essas mudanças. A grande “cirurgia” que precisa ser feita é na própria rua, como um todo, em vários dos seus aspectos; não apenas na 14, mas em todo o centro histórico. E essa poderia ser a tônica dos comerciantes e de suas entidades maiores, lutando unidos por uma proposta de revitalização integrada, que ficasse bem para todos: lojistas, moradores, usuários e para a cidade. Agindo assim, acredito que a Rua 14 de Julho possa ser, mesmo, a nossa Rua Principal. Modernizar apenas as lojas, sem nenhuma outra intervenção, será como pintar uma casa muito velha: pode até ficar bonita, mas continuará precisando de reparos. T OTA L SA Ú D E C I N C O + | A G OS T O 2 0 1 3 | 57


{ ANIVERSÁRIO DA CIDADE }

Ele viu o Campo se tornar Grande As imagens de Roberto Higa contam quatro décadas de história desta jovem morena de 114 anos. por RENATO LIMA • foto ROBERTO HIGA

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le é de uma época em que a cidade mais desenvolvida do sul de Mato Grosso carregava um adjetivo profético. “Aqui só tinha o Campo mesmo. As pessoas jogavam bola no canteiro central da Avenida Afonso Pena”, aponta o fotógrafo Roberto Higa, para uma, entre as milhares de fotos em preto e branco guardadas cuidadosamente em seu escritório, que reserva mais de 600 equipamentos entre câmeras e lentes. Aos 62 anos de idade, esse campo-grandense apaixonado pela terra natal é o personagem dessa viagem que vamos fazer por 40 anos de histórias registradas em fotografia. Ao longo da entrevista especial para o aniversário de 114 anos de Campo Grande, foi muito difícil definir quem protagonizaria a reportagem. Se não há como falar de Campo Grande sem as imagens de Higa, certamente, também não se pode contar a histó-

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ria desse descendente japonês sem falar da capital de Mato Grosso do Sul. Assim, nossa história ganha duas personagens emocionantes. Nascido em 1951, Higa começou a fotografar aos 17 anos. Trocou o aprendizado da profissão por serviços de babá. “Eu era boy no jornal Diário da Serra cujo fotógrafo era o carioca Danton Garro. Como ele tinha muitos filhos, pedia pra eu ficar com eles meio período e, depois, ele me ensinava a fotografar. Em um ano eu já estava na equipe de reportagem do Diário, como fotógrafo”, relembra como tudo começou. De lá para cá, passaram-se quatro décadas e incontáveis histórias e registros de quem viu o Campo se tornar Grande. “Eu conto algumas histórias do passado e, às vezes, as pessoas não acreditam, então eu mostro a foto porque a imagem fala por si”, argumenta.


O RELÓGIO DA 14 Entre essas histórias, Higa relembra a destruição do monumento do relógio construído, inicialmente, no meio da rua, no cruzamento entre a Avenida Afonso Pena e a Rua 14 de Julho, no Centro de Campo Grande, na década de 1970. “As pessoas não queriam que tirassem o relógio de lá, então o prefeito da época mandou que demolissem em um domingo, quando tinha menos movimento. Eu fiquei de plantão o dia inteiro registrando a derrubada que começou às seis da manhã e quando eram sete da noite já não havia mais nada”, relembra com ar de revolta. “Sou contra essas mudanças. Não acredito que é em nome do progresso. Por que ninguém, em Paris, tirou a torre Eiffel do lugar, ou mudou o Arco do Triunfo? O progresso é natural e tem que se adaptar à história da cidade. Não se tratava apenas de um relógio de concreto, mas representava toda uma história e

nenhuma réplica vai substituir essa história”, desabafa com a autoridade de poucos. A “bronca” é em nome do amor que esse oriental tem pela cidade. Sentimento que o leva a fotografar todos os dias. Nos fins de semana, quando não está trabalhando, ele fotografa pelo simples prazer de manter o olhar sempre apurado. “Eu quero morrer fotografando. O que eu faço é uma prestação de serviço para a história de Campo Grande. Cada pessoa, cada prédio, paisagem formam essa cidade”, comenta. As coincidências entre essas duas personagens – Campo Grande e Roberto Higa – culminam na resistência, na alegria e na teimosia de não se deixar abater. Roberto enfrentou uma pancreatite, diverticulite, aneurisma cerebral, um AVC e agora luta contra o Alzheimer, diagnóstico ofuscado pelo sorriso, pela alegria e pelo amor à profissão e à cidade.

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{ ANIVERSÁRIO DA CIDADE }

As memórias do CRM/MS 01 em Campo Grande Dr. Syrzil Wilson Maksoud fala sobre uma cidade atual bem antes dos 114 anos. por RENATO LIMA • foto HENRIQUE ATTILIO

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ontar a história de 114 anos de Campo Grande a partir das memórias do Dr. Syrzil Wilson Maksoud é como viajar no tempo. Na verdade, uma volta ao futuro, algo que só é possível para aqueles que possuem visão e sabedoria. Era janeiro de 1953 quando o recém-formado em medicina chegou à pacata Campo Grande, na época ainda estado de Mato Grosso, especialista em Radiologia. De lá pra cá, passaram-se 60 anos: mais da metade da história de Campo Grande vivida por esse pioneiro. “Desde que cheguei aqui, senti o desenvolvimento e o progresso da cidade”, relembra o visionário. Esse sentimento era tão profundo que levou o jovem médico a ter o primeiro registro no Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul, o CRM/MS 01. Hoje, aos 89 anos, Dr. Syrzil Wilson Maksoud faz parte da história viva de Campo Grande. Casado, pai de cinco filhos e avô

dr. Syrzil Wilson Maksoud e o filho dr. Wilson Luiz Maksoud

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de nove netos, já preparou sua descendência para a cidade que havia vislumbrado quando chegou. “Cursei Medicina na mais conceituada Faculdade de Medicina do País, na época - a da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Propus-me a trabalhar em Campo Grande, meu segundo berço, depois de Aquidauana, porque sempre acreditei no seu formidável potencial de desenvolvimento”, relata parte de sua jornada. Nessa nova cidade, Syrzil viu potencial, viu vocação e isso fez sentir-se esperançoso mesmo quando a classe médica ainda não estava estruturada. Com dedicação, o radiologista protagonizou a organização da saúde de Campo Grande, sendo cofundador da Associação Médica de Mato Grosso (do Sul), da Associação dos Médicos Radiologistas, do Conselho Regional de Medicina (MS) e da Unimed, atuação que o faz honrado como profissional e como cidadão. “Vejo com indizível satisfação o quanto estas entidades fizeram para elevar o conceito da Medicina e a posição invejável que alcançou no Oeste do Brasil”. O legado na saúde foi consolidado com a fundação da Di Imagem, referência em ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, culminando com o revolucionário PET-CT, que atende milhares de pessoas de várias cidades de Mato Grosso do Sul. Nas lembranças dessa caminhada, Dr. Syrzil, carregado de modéstia, não hesita em reconhecer e reverenciar outros baluartes: “Dentre altivos e notáveis colegas da medicina que nos marcaram sobremaneira nesses sessenta anos de atividades profissionais, destaco as figuras, quase legendárias, dos consagrados e carismáticos Dr. William Maksoud e Dr. Koei Yamaki. Neles, o juramento de Hipócrates obteve inigualável representação”, atesta.


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{ COMPORTAMENTO }

Jovem com perna amputada em acidente de moto usa a internet para animar outras pessoas em condições iguais a sua. por CAROL ALENCAR

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os 20 anos, Angel Campos Magalhães aprendeu a ver a vida sob outro olhar. Se foi na marra, ela não sabe, mas que foi através de amor verdadeiro de amigos e familiares, nisso sim, ela acredita. Depois de sofrer um acidente de moto, injustamente, pois estava na faixa certa, ela teve de amputar, no mesmo dia, a perna esquerda. Se não o fizesse, perderia a vida. “Não consegui pensar em nada, sentia muita dor e até pensei que era melhor morrer, mas algo muito forte estava comigo, para superar a situação”, argumenta. A fortaleza que Angel sentiu vem de uma força misturada de saudade pela perda do pai, quase um ano antes do acidente. “Eu não acreditei que estaria ali, impossibilitada de prestar uma homenagem justa pra ele, mas eu tenho muita certeza de que ele estava cuidando de mim”, diz. Hoje, quase três meses depois do acidente, Angel aprendeu a dar mais valor ao tempo, já que a rotina mudou. “Quando você passa por uma experiência de quase morte, você acorda diferente e começa a da valor a tudo, inclusive ao tempo”, conta Angel, que ainda carrega uns pinos na bacia. Piadista e sempre de bom humor, ela preferiu abraçar a situação de maneira positiva, começando com um apelido carinhoso para a perna. “Todo mundo chama a perna amputada de cotó, achei tão agressivo e feio, que a resolvi chamar de mini”, explica. O que Angel mal esperava é que a brincadeira viraria realidade e ela, semanas depois, lançaria um Vlog (Vídeo Blog) sobre toda esta situação. “Depois de pesquisar a fundo, na internet, sobre vlogs do assunto, só me deparei com cenas tristes, pessoas se fazendo de vítimas e com músicas tristes na edição, resolvi fazer uma coisa mais pra cima”, brinca a dona do Vlog da Mini.

O negócio deu tão certo, que em menos de 24 horas, o Vlog da Mini já tinha mais de dois mil acessos e Angel já é até reconhecida na rua. “Não esperava tamanha repercussão, mas já que tivemos, vamos lançar, toda semana, vídeos de maneira animada sobre a vida de quem perde uma perna, desde dificuldades, facilidades, dicas e até entrevistas”, conta. Sobre o futuro, a vlogueira – que é budista – sonha em ser consultora de moda, diz que a vida continua. “Ano que vem começo faculdade de moda e quero continuar com o vlog, levantando a bandeira de que é possível, sim, ser feliz mesmo sem uma perna e tentar transmitir só mensagens positivas”. Sobre a moto, ela é bastante incisiva: “Me arrependo de ter comprado, mesmo ela dando uma mudança radical na minha vida, não quero mais saber de moto e nem deixarei meus filhos terem”.

ConHeça o VLoG da Mini WWW.YOUTUBE.COM/VLOGDAMINI

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{ COMPORTAMENTO }

Donwloads gratuitos se opõem à pirataria na internet e satisfazem consumidores de música e livro. por RENATO LIMA

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relação da internet com a cultura sempre foi muito controversa. Por um lado, o número de downloads ilegais coloca o Brasil na quinta posição do ranking mundial, de acordo com a Musicmetric. Nos seis primeiros meses de 2012, foram mais de 19 milhões de músicas baixadas de forma pirata. Por outro lado, o lucro com a venda legal de arquivos digitais, pelas gravadoras, cresceu 8% no Brasil, cerca de 15 bilhões de reais. A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) aponta que o brasileiro – de uma forma ou de outra – gosta e procura arquivos online para download. Resultado: downloads mais baratos e mais opções gratuitas. A analista de sistema, Vanessa Campos, é uma dessas aficionadas por aplicativos e leitura. Nem se lembra de quando foi o último livro de papel que leu. “Tenho Ipad e agora uso o Ibooks, além do Kindle para Ipad. Comecei a ler aos seis anos e não parei mais. Com esses dispositivos eu posso andar com mais de 100 livros no bolso”, explica. Grande parte dessa centena de livros da Vanessa foi baixada gratuitamente. Hoje em dia, muitos sites disponibilizam obras para download sem custo. O Project Gutemberg é um dos maiores em toda a rede. São mais de 38 mil títulos em vários idiomas, totalmente de graça. Isso porque o site só disponibiliza livros que já tiveram a

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Vanessa Campos baixa e-book de graça


“Faz assim, cola em mim. Vem me beijar. Faz assim, gruda em mim, n�o vou te largar” trecho da música agarradinho, da Cantora Maria izabel, com download gratuito.

licença expirada. Em português, o site disponibiliza 523 e-books (neste momento em que escrevo esta matéria, já que o acervo está sempre em atualização). Lá o leitor encontra clássicos de Machado de Assis, Luís de Camões, Fernando Pessoa, entre outros, totalmente digitalizados. A facilidade de baixar livros de graça intensificou a prática da leitura, para Vanessa. “Ao longo do ano passado eu li 45 livros, sendo que, antes, eu lia, em média, 25 obras por ano”, comemora. O problema é que para download de Best Seller, só pagando, e isso abre caminho para os piratas da internet. Se existe público para consumir a e-cultura com responsabilidade é porque existe artista criando essa oportunidade. A cantora Maria Izabel, por exemplo, soube aproveitar bem esse marketing virtual. Lançando o primeiro CD este ano, e com propósito de arrebanhar fãs e aumentar a fama, a cantora disponibiliza, em seu site (www.mariaizabel.net), download gratuito das 14 faixas do CD. Se, por um lado, ela deixa de ganhar com a venda do álbum, por outro, aumenta a possibilidade de sucesso e atrai mais shows. “A internet, sem dúvida, democratizou o acesso à cultura e informação, aumentando a produção cultural, criando, inclusive, novas formas de arte. Acredito se tratar de uma ferramenta a qual a maioria tem acesso, o custo é reduzido e atinge todo tipo de público, sem distinção. No meu trabalho, a internet reduz distâncias entre mim e meu público, sou acessível a milhares de pessoas. O “boom” da disseminação de música na Internet inclui, também, a transmissão nas rádios on-line, que hoje são peçaschave para o trabalho ser reconhecido”, afirma Maria Izabel.

MÚSICA NOVA E DE GRAÇA A proposta do site Música de Graça é apresentar cantores e bandas com letras inéditas em gravações exclusivas, tudo para download gratuito. Cada episódio traz uma música interpretada por artistas que nunca fizeram gravações juntos. Lançado em 2011, o site já mantém a média superior a 50 mil acessos mensais e mais que o dobro de visualização no Youtube. Entre os artistas, muita gente boa e não conhecida no mercado compartilham o mesmo espaço com grandes nomes da música popular brasileira. No site, é possível, também, encontrar Guilherme Rondon, direto do Pantanal sulmato-grossense para a plataforma virtual, e baixar “Descendo a Estrada”, música autoral em uma proposta inovadora na carreira do músico. Os áudios de Música de Graça são liberados para que o ouvinte baixe, distribua para os amigos e até poste em seu site ou blog. Todavia, existem regras: é preciso incluir o crédito da autoria e jamais usar as músicas para fins comerciais. Afinal, tudo pela cultura! www.musicadegraca.com.br T OTA L SA Ú D E C I N C O + | A G OST O 2 0 1 3 | 65


{ LIFESTYLE }

Um sonho sobre quatro rodas

por LUIZ FELIPE FERNANDES foto PATRÍCIA PANDIN

A coleção de carrinhos de brinquedo ficou no passado. Há um ano, o médico ginecologista, Orlando Monteiro Júnior, dirige um Camaro e desfruta da performance de um ícone da indústria automobilística norte-americana.

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a mesa do seu consultório, entre um atendimento e outro, o médico Orlando Monteiro Júnior contempla a concretização de um sonho. Motor V8, design esportivo inconfundível e um reluzente “vermelho-ferrari”: a máquina que se destaca no estacionamento – um imponente Chevrolet Camaro, ano 2012. O médico, que é referência em Ginecologia e Obstetrícia em Mato Grosso do Sul, transfere para o carro um olhar de satisfação e nostalgia. O pensamento viaja para a capital paulista, onde, ainda criança, colecionava carri-

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nhos de ferro. O desejo, já tão pronunciado na infância, ocuparia um lugar secundário em relação às obrigações que surgem naturalmente com o passar dos anos – escola, faculdade e mercado de trabalho. A carreira, consolidada ao longo de 17 anos dedicados ao exercício da Medicina, permitiu a aquisição, no ano passado, do tão sonhado “muscle car” – veículo de alta potência e performance. Hoje, aos 45 anos, Orlando pode se dar ao luxo de estar ao volante de um ícone da indústria automobilística norte-americana, tão cobiçado e admirado por gente do mundo inteiro.


“Eu uso muito a palavra meritocracia. É a gente fazer por onde. Nós trabalhamos para ter bem-estar, para conseguir aquilo que achamos interessante”, justifica o médico, que encara o sonho de consumo como algo que move e motiva as pessoas. “Tive que sair cedo de casa, estudei fora, morei em pensionato, república e o dinheiro era sempre muito curto. Hoje eu posso desfrutar de um sonho realizado com muito esforço”. E não pense que o Camaro é só para aquele passeio de fim de semana. É na direção do possante que Orlando vai todos os dias à Clínica Gazineu, em Campo Grande, da qual é proprietário. A volta para casa, no fim do dia, chega a ser terapêutica, uma válvula de escape. “Você rejuvenesce!”, garante. Orlando também considera que o carro pode dizer muito sobre uma pessoa e, no caso dele, reflete a personalidade empreendedora que sempre teve. TURBINADO A dedicação ao carro dos sonhos não tem limite. Os apaixonados pelas quatro rodas que o digam. Não há dúvidas, portanto, que o Camaro em questão já recebeu alguns mimos de seu dono. Em um ano, já foram investidos cerca de R$ 20 mil em acessórios, incluindo som e equipamentos para aumentar a potência do motor. A última grande viagem feita a bordo do Camaro – mil quilômetros até São Paulo, no mês passado – serviu para turbinar o “carango”. O médico explica que a intenção é

DENIROFOTO / SHUTTERSTOCK.COM

CHEVROLET CAMARO Em sua quinta geração, lançada em 2009. Anteriormente, foi produzido desde 1966 – ano de seu lançamento – até 2002, quando houve uma breve interrupção.

aumentar o desempenho do carro dos atuais 406 cavalos para 700 cavalos, o que pode ser obtido com a instalação de um compressor “supercharger”. “O interessante é desfrutar cada modificação, passo a passo”, pondera. BELO BRINQUEDO, HEIN DOUTOR! Pode nem ser a intenção, mas quem tem um Camaro deve se acostumar com o fato de que sempre vai chamar a atenção por onde passa. E assim tem sido com Orlando. “No começo ficava incomodado, mas hoje encaro com naturalidade, principalmente quando é criança”. Nos postos de combustíveis, frentistas sempre perguntam sobre o desempenho, o consumo e a dirigibilidade do carro. “Belo brinquedo, hein doutor!”, ouviu certa vez Dr. Orlando conta que, durante uma viagem, foi abordado por um caminhoneiro com o filho de nove anos. A criança pediu para que o pai parasse, só para poder tirar foto junto ao veículo. “Foi até comovente. É um sonho infantil e isso é muito positivo, nós temos que estimular”, considera. CIÚME? Se nas ruas a atração é quase automática, em casa a história foi um pouco diferente. O médico conta que, no começo, sua mulher, Patrícia, tinha certa restrição com relação ao carro. Mas a “bronca” inicial diluiu-se com as primeiras voltas no Camaro. Já a filha Clara, de dois anos, não se faz de rogada: “papai, vamos dar uma volta de Camaro?”

• Seu design é esportivo, tem alto desempenho, mas de preço considerado acessível, comparado a outros carros de categorias semelhantes. • A versão 2013 do Chevrolet Camaro tem preço sugerido pela fabricante de R$ 203 mil. • Em 2007, o Camaro ficou mundialmente famoso por ser usado no filme “Transformers”, em que o carro se transforma no carismático robô Bumblebee. • Mais recentemente o carro também se popularizou entre os brasileiros, graças à música Camaro Amarelo, da dupla campo-grandense Munhoz e Mariano.

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por KÁTIA KURATONE

O LADO BOM DA VIDA do escritor

INfANTOJUVENIL

AS CORES ESQUECIDAS E OUTROS CONTOS ILUSTRADOS “As Cores Esquecidas e Outros Contos Ilustrados” é excelente dica para um presente. Considerado um best-seller na Europa, a obra da autora espanhola Silvia G. Guirrado foi lançada pela Editora Alvorada, de Campo Grande. De forma lúdica, o livro proporciona uma viagem ao mundo da fantasia, contudo reveste-se de ensinamentos sobre como é possível superar as adiversidades e sobre o respeito às diferenças. O primeiro conto do livro retrata a história da pequena Carmesina, uma menina que nasce com os olhos azuis, após um longo período de um mundo sem cores. A criança mantinha um olhar brilhante e, por isso, chega como uma esperança para seus pais. Uma leitura agradável, com ilustrações de qualidade, que levará os jovens ao maravilhoso mundo da imaginação. Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre “As Cores Esquecidas e Outros Contos Ilustrados” basta acessar www.facebook.com/ascoresesquecidas.

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Matthew Quick, é mais uma dica de leitura da edição de agosto. Divertido, o livro trata, sob uma visão otimista, esperançosa e às vezes até ingênua, de temas pesados como traição, depressão, surto e recuperação psicológica. A história começa com o personagem Pat Peoples, um ex-professor na casa dos 30 anos de idade, que acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Ele não se lembra do que o fez ir para lá, mas está convencido de que passou apenas alguns meses naquele “lugar ruim”. Pat se lembra de que Nikki, sua esposa, quis que ficassem um “tempo separados”. Tentando recompor o quebra-cabeça de sua memória, agora repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece muito promissora. Com o pai se recusando a falar com ele, a esposa negando-se a aceitar revê-lo e os amigos evitando comentar sobre o que aconteceu antes de sua internação, Pat, agora viciado em exercícios físicos, está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita em finais felizes. Essa história, marcada pela simplicidade, quem sabe irá abrir os seus olhos para o lado bom da vida?!


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Dr. Eduardo Wagner Arantangy CRM/SP 116020 Supervisor do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.121 CJ 72 São Paulo/SP - (11) 3812 3711 Dr. Sandro Startari CRM/MS 4313 - CRM/SP 106149 Membro Especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Rua Euclides da Cunha, 1.912 Campo Grande/MS (67) 4141 0707 / 8154 7788 www.drsandrostartari.com.br

Aparelhos Auditivos

Ginecologia

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Dr. Orlando Monteiro Júnior CRM/MS 3256 / CRM/SP 73.806 Ginecologista Clínica Gazineu Rua São Paulo, 907 - C. Grande/MS (67) 3382 5484 www.projetoalfa.com.br

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Dr. José Neder Junior CRM/MS 738 Pediatra e Hebiatra Rua Euclides da Cunha, 58 Campo Grande/MS (67) 3321 1626 Dra. Eliana Setti A. Albuquerque CRM/MS 420 Especialista em pneumologia Hospital do Coração de MS Rua Marechal Rondon, 1703 Centro - Campo Grande/MS (67) 3323-9000

Dr. Orlando Monteiro Júnior CRM/MS 3256/CRM/SP 73.806 / TEGO 568/95

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Dr. José Ivan Albuquerque Aguiar CRM/MS 467 Especialista em infectologia Hospital do Coração de MS Rua Marechal Rondon, 1703 Centro - Campo Grande/MS (67) 3323-9000

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