Revista Dasartes 114

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Ano 13 . Edição 114 . 2021


Júlio Vieira


PRÊMIO DASARTES 2022 PARA NOVOS ARTISTAS

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Capa: Le bœuf écorché, 1925. © Ville de Grenoble /Musée de Grenoble –J.L. Lacroix.


WILLEM DE KOONING 10

CHAÏM SOUTINE

6

Agenda

8

De Arte a Z

72

Resenha

78

Livros

10

RIVANE NEUENSCHWANDER

IONE SALDANHA

ANNA DOROTHEA THERBUSCH

REJANE CANTONI

72

58

28

42


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AGEnda

Mostra celebra a produção artística de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (1952-2016), o Tunga. O artista, dono de um universo imaginativo único e de uma produção refinada, é figura emblemática das artes visuais do país. Formado em arquitetura e urbanismo na década de 1970, Tunga dialogou com grandes nomes das artes contemporâneas. Desenhos, esculturas, objetos, instalações, vídeos e performances. A diversidade de suportes revela os seus múltiplos interesses, que percorriam diferentes 6

áreas do conhecimento, como literatura, matemática, arte e filosofia. A pluralidade também se fez presente no uso de materiais. De maneira notável, Tunga explorou ímãs, vidro, feltro, borracha, dentes e ossos. Sua obra ganhou simbologia e presença, aproximando-o da produção artística em evidência no panorama internacional.

TUNGA: CONJUNÇÕES MAGNÉTICAS • ITAÚ CULTURAL • SÃO PAULO • ATÉ 10/4/2022



de arte

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AZ

PELO MUNDO • Os herdeiros de Mondrian estão processando o Museu de Arte da Filadélfia por uma pintura milionária que eles afirmam ter sido roubada pelos nazistas. A pintura, (1926), vale mais de US$ 100 milhões, segundo documentos judiciais. O museu descreveu o caso como “sem mérito”, observando que tanto o artista quanto seu único herdeiro sabiam do paradeiro da pintura após a guerra e nunca procuraram recuperá-la.

PRÊMIOS • O artista afegão Aziz Hazara, residente em Berlim, recebeu o Future Generation Art Prize de US$ 100 mil por sua instalação de vídeo , uma resposta à resistência da comunidade local de Cabul em meio a conflitos militares frequentes. O júri também concedeu três prêmios adicionais, cada um com uma bolsa de $ 20.000, para Agata Ingarden , Mire Lee e Pedro Neves Marques.

CURIOSIDADES • O governo do Reino Unido impediu temporariamente que um quadro do século 17 retratando uma mulher negra deixasse o país, a fim de ganhar tempo para as instituições arrecadarem fundos para adquirir a rara pintura. A obra, , datada de 1650 e atribuída à Escola inglesa, retrata duas mulheres adornadas com vestidos, cabelos e joias igualmente opulentos. 8


POLÊMICA • Jason Harrington, o homem da Califórnia condenado à prisão por falsificação de arte e que se confessou culpado no início deste ano por vender US$ 1,1 milhão em arte falsificada, foi condenado a 36 meses de prisão. Os trabalhos de 38 anos que ele afirmou serem do falecido artista de Nova York Richard Hambleton passaram por pelo menos 15 galerias de arte entre 2018 e 2020.

FORA DO EIXO • Mostra em Salvador, na Galeria Roberto Alban, reúne um conjunto de 44 obras recentes do artista Raul Mourão, oriundas de diferentes séries e campos de investigação de sua vasta produção. Expoente de uma geração que marcou o cenário carioca na década de 1990, Raul Mourão é notadamente conhecido por uma produção multimídia, que se desdobra em esculturas, pinturas, desenhos, vídeos, fotografias, instalações e performances. Até 5/2/2022

• DISSE BRUNO LEITÃO (CURADOR

DO PAVILHÃO DE PORTUGAL NA BIENAL DE VENEZA) ao afirmar que o pedido da artista Grada Kilomba para representar o país foi feito por um membro do júri que deslegitimou a sua experiência de racismo. 9


CAPA


WILLEM

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de kooning

CHAÏM

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soutine

Chaïm Soutine, Le poulet plumé, 1925. © RMN-Grand Palais (musée de l'Orangerie)


POR ALECSANDRA MATIAS DE OLIVEIRA

Willem de Kooning, 1977. Comumente, escutamos dizer que artistas sofreram influências de movimentos, escolas e até mesmo outras poéticas. Em geral, isso acontece quando iniciam seu percurso estético. A admiração de um artista pelo trabalho de outro é fato. Porém, raras vezes, na história da arte, inspirações são declaradas, em especial quando se trata de artistas icônicos, tal como, Willem de Kooning (1904-1997), um dos pintores de primeira ordem do chamado expressionismo abstrato. Porém, Kooning nunca escondeu seu vivo interesse pelo repertório de Chaïm Soutine (18931943), pintor russo expressionista integrante da Escola de Paris. As aldeias distantes, as carcaças de animais encharcadas de sangue, os retratos de pessoas comuns e a figura de “artista maldito” foram alguns aspectos, entre outros, que o levaram a ser o pintor favorito de Kooning. Os dois nunca se conheceram – o primeiro morreu na Europa, quando o segundo estava prestes a ser reconhecido nos EUA. De modo íntimo, Kooning apreciava o trabalho do pintor russo desde os anos de 1930, quando explorava as galerias novaiorquinas. Mas a retrospectiva de Soutine, no MoMA, em 1950, tornou-se o evento-chave para que ele assumisse de vez seu entusiasmo. 12

Willem de Kooning, Femme dans un paysage III, 1968. ©The Willem de Kooning Foundation / Adagp, Paris 2021.

EXPOSIÇÃO INÉDITA CONCENTRA-SE EM EXPLORAR O IMPACTO DA PINTURA DO RUSSO CHAÏM SOUTINE NA VISÃO PICTÓRICA DO GRANDE PINTOR AMERICANO WILLEM DE KOONING



Chaïm Soutine, Le groom (Le chasseur) © Centre Pompidou, MNAM-CCI, Dist. RMN-Grand Palais / Philippe Migeat

O impacto da pintura de Soutine na visão pictórica de Kooning pode ser sentido na exposição em exibição no Musée de l’Orangerie até janeiro de 2022. A mostra é uma parceria entre a Fundação Barnes e o museu francês e anteriormente foi exibida na Filadélfia com o título , entre 7 de março a 8 de agosto de 2021. São cerca de 50 pinturas que, expostas em conjunto, mostram paralelos notáveis entre os dois artistas. E isso para os amantes da arte é uma sucessão de descobertas. Prepare-se! Vamos desvendar algumas delas (só algumas). Ah! Entre as afinidades que envolvem o repertório dos artistas, cuidado com as pequenas sutilezas da crítica e da história da arte. Note que a primeira delas já nasce do título da mostra: nos EUA, algo como “conversas na pintura” e, na capital francesa, a “pintura encarnada”. Para a montagem, na Fundação Barnes, a curadoria optou por não fixar as obras lado a lado, mas colocar as telas em paredes opostas, como em diálogo. As telas de Kooning em ordem cronológica, mas as de Soutine na ordem na qual o expressionista abstrato se envolveu com elas, retratos primeiro e paisagens por último. Já no Musée l’Orangerie, o peso da montagem recaiu sobre a pintura da “carne” e o “gesto” dos dois artistas, enfatizando que as superfícies construídas e as pinceladas enérgicas de Soutine moldaram as obras figurativas-abstratas de Kooning. As mesmas obras despertam leituras diferentes – o que por si já é algo fascinante. 14



18


Chaïm Soutine, Le bœuf écorché, 1925. © Ville de Grenoble /Musée de Grenoble –J.L. Lacroix.

Mas vamos nos aprofundar na trajetória de cada artista. Chaïm Soutine nasceu no território que hoje é a Bielorrússia. De ascendência judaica e o número 10 de 11 filhos, iniciou seus estudos na academia de arte em Vilnius. Em 1913, decidiu emigrar para Paris e estudou na École de Beaux-Arts. Depois, de retratos incomuns e paisagens inusitadas, o pintor se aventurou pelas naturezas-mortas exibindo faisões, perus e coelhos mortos – em todas as suas telas as pinceladas expressivas e a ausência dos recursos cubistas já estavam em voga à época. Com atenções voltadas à pintura europeia clássica, em particular às obras de Rembrandt, Chardin e Coubert, Soutine dedicou-se ao estudo da forma, cor e textura em detrimento da representação, sendo esse o atributo que, mais tarde, lhe deu o apelido de “profeta” do expressionismo abstrato. A série com dez obras e explorando o tema das carcaças de animais ensanguentadas, é motivada pelas naturezas-mortas de Rembrandt. É o seu trabalho mais conhecido, sendo que o forte de sua produção se deu entre os anos de 1920 e 1929. Quando a França foi invadida pelas tropas alemães na II Guerra, Soutine teve que fugir, mudando constantemente seu endereço até que, em 1943, abandonou o esconderijo para o tratamento de úlcera no estômago, que o levou à morte. 17



Chaïm Soutine, Femme entrant dans l’eau, 1931. Foto: © Museum of Avant-Garde Mastery of Europe (MAGMA of Europe)

Permita-me aqui outras sutilezas: a retomada de Soutine pelos expressionistas abstratos é interessante. O “artista maldito”, que viveu com intensidade os exageros da boemia na École de Paris (nome dado ao grupo de artistas franceses e emigrados que viviam de arte na capital francesa no início do século 20), parece servir como “ascendência nobre” para o movimento com origem nos EUA, no pós-II Guerra Mundial (fim dos anos de 1940), que teve como tese a revolta contra a pintura tradicional, a liberdade e a espontaneidade. Convergência instigante é ainda a origem dos membros dos dois grupos: artistas-emigrados, ou seja, deslocados de seus locais de origem e reunidos em dois centros da arte (Paris, anos de 1920) e (Nova York, anos de 1940). Visto pelos expressionistas abstratos como um líder, Willem de Kooning nasceu em Rotterdam e iniciou seus estudos em belas-artes e artes comerciais na Academia de lá. Em 1926, emigrou para os EUA. Nos primeiros tempos, trabalhou como pintor de paredes, mas logo se fixou em Nova York, estabelecendo contatos com Henri Matisse, Fernand Léger e os seus contemporâneos John Graham e Ashile Gorky, com quem desenvolveu amizade próxima. Ele esteve sempre entre o figurativo e o abstrato. De modo oposto a Pollock, interessou-se pela pintura dos “velhos mestres”. Em 1963, Kooning se mudou para Long Island e sua produção passou a ser mais esparsa. Em 1969, ele iniciou suas primeiras figuras em argilas e em bronze. Diagnosticado com Alzheimer, faleceu em 1997, em East Hampton (Nova York). Em sete décadas de trajetória, ele trabalhou com diversos estilos e ficou conhecido por seu trabalho gestual, por ter como tema predileto as mulheres e – o que interessa para nós – ser elo entre a pintura da Escola de Nova York e o modernismo europeu. 19



Chaïm Soutine,Enfant de choeur, 1927-1928. À esquerda: Chaïm Soutine, Le Petit Patissier, 1922-1924. © Musée de l'Orangerie, dist. RMN-Grand Palais.


“ ”

Talvez essa ligação esteja no seu interesse por Soutine. O olhar para a obra do pintor russo se fez intenso durante os anos de 1950. Aqui cabe dizer que o ponto de inflexão na produção de Kooning – a série de pinturas de mulheres – coincidiu com essa atração. De Kooning chocou os críticos, os colegas e o público com o aspecto grotesco das representações femininas. A crítica reprovou a inclusão de elementos figurativos – considerando isso uma traição. Avesso aos comentários, o pintor trabalhou as formas angulosas e bruscas, proporcionando um desconcertante contraste entre a representação sensual e deificada na arte tradicional da figura feminina. Acaso ou não, nesse período, ocorreu a retrospectiva Soutine no MoMA, em 1950 (lembra-se dessa retrospectiva?) e a visita de Kooning ao colecionador Albert Barnes em 1952 – por sinal, esse episódio está documentado na exposição. Pois é, Kooning e a esposa, a pintora Elaine de Kooning, visitaram o colecionador para ver os 16 Soutines em exibição permanente. Trinta anos antes (em 1922), Barnes tinha comprado dezenas de obras do artista. Pode-se dizer que o colecionador foi responsável pela divulgação da obra de Soutine nos EUA (olha, outra sutileza, a Fundação Barnes agora promove o encontro dos dois artistas em terras norteamericanas e europeias). 22




Willem de Kooning, Dont le nom était écrit dans l’eau, 1975. © The Solomon R. Guggenheim Foundation / Art Resource, NY, Dist. RMN-Grand Palais



Willem de Kooning, La visite, 1966-67. © Tate, Londres, Dist. RMN-Grand Palais

Por fim, alguns críticos afirmam que a falta de interesse de Soutine pelo cubismo foi o que atraiu Kooning para seu repertório. Ele o ensinou sobre o trabalho dos pintores clássicos, a abandonar a geometria plana do cubismo, mas também lhe despertou o interesse pelo empastado das tintas e pelos gestos. A exposição nos dá esse emaranhado de sutilezas e ainda proporciona novas descobertas.

Alecsandra Matias de Oliveira é doutora em Artes Visuais pela ECA USP (2008) e pós-doutora pela Unesp (2018). Atualmente, é especialista em cooperação e extensão universitária do MAC USP, membro da ABCA e pesquisadora do Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes. Autora do livro Schenberg: crítica e criação (EDUSP, 2011).

CHAÏM SOUTINE/WILLEM DE KOONING: LA PEINTURE INCARNÉE • LE MUSÉE DE L’ORANGERIE • ATÉ 10/1/2022 22


The Name of Fear/Vaduz (Enge Räume/People in Disguise), 2021. © Rivane Neuenschwander

PELO mundo


RIVANE neuenschwander

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MUSEU DEDICA MOSTRA À INTERNACIONALMENTE RENOMADA ARTISTA BRASILEIRA RIVANE NEUENSCHWANDER, SUA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL NA ALEMANHA

Todo o planejamento desta mostra individual é moldado pela situação da Covid 19, que é particularmente grave e trágica no Brasil. A artista, que valoriza muito a produção presencial em suas exposições, desta vez não viajou de São Paulo, onde mora e trabalha com a família. , desde a préToda a comunicação foi feita visualização das instalações, a primeira recolha de ideias, até ao planejamento concreto e implementação do percurso expositivo. E, no entanto, para nossa grande alegria, foram criadas e continuadas obras realizadas antecipadamente a partir de com crianças no museu Kunstmuseum Liechtenstein, bem como obras que se inscrevem especificamente na situação arquitetônica. apresenta a obra diversa de Rivane com pinturas, objetos, filmes, trabalhos têxteis e outras extensas instalações baseadas em cerca de cinquenta obras e fornecem uma visão abrangente de seu trabalho, com foco nas produções mais recentes. O título da exposição é retirado de um poema do poeta português Herberto Helder (1930–2015) e atesta a confiança de Rivane no poder da poesia. Ao mesmo tempo, essa linha é altamente relevante: nenhuma faca é capaz de abrir corações ou mesmo eliminar pontos problemáticos. Em vez disso, é uma ferramenta que, dirigida contra as pessoas, causa medo. A poética permeia toda a obra de Rivane. 30

Foto: Stefan Altenburger, Zürich. © Kunstmuseum Liechtenstein

POR CHRISTIANE MEYER-STOLL



“ ”

Em sua arte, a artista explora medos e esperanças, demonstrando como eles definem as pessoas e a sociedade. Suas obras testemunham um grande interesse pelas questões culturais, psicológicas e sociológicas, mas também pelos processos da natureza e seus efeitos globais. Há, portanto, uma compreensão profundamente filosófica em suas obras, em que ela coloca a perspectiva humana em perspectiva; por exemplo, a passagem do tempo, a força da natureza ou a atividade dos animais, que a artista encena como protagonistas influentes. Em parte, a artista inicia processos de auto-organização para a gênese da obra: formigas, por exemplo, tornam-se protagonistas formativas. Em seus trabalhos participativos, ela confia no potencial de cada visitante. Movendo-se entre a leveza estética e a profundidade empática, é, antes de tudo, a dedicação ao espectador que norteia o seu trabalho. Para a instalação (2003), há uma referência a uma tradição da igreja Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, no Estado da Bahia, Brasil. Nesse


Uno di voi, un Tedesco en Firenze, 1976. Abaixo: Dear Painter, Paint me, 1981. © Estate of Martin Kippenberger.

Eu desejo o seu desejo, 2003 © Rivane Neuenschwander

local de passagem nas muralhas, os peregrinos amarram fitas coloridas nos pulsos ou nos portões de ferro da igreja. A tradição diz que um desejo secreto se torna realidade quando a fita amarrada cai sozinha. Milhares de fitas semelhantes com desejos de visitantes de exposições anteriores de Rivane foram impressas e podem ser encontradas na parede da exposição em milhares de orifícios preparados para esse fim. Por mais colorida e divertida que a instalação pareça à primeira vista, muitas vezes há preocupações existenciais ou medos por trás dos desejos. (2019) é inspirado no conto homônimo do escritor Machado de Assis (1839-1908) de 1882: um médico formado na Europa inaugura o hospital psiquiátrico Casa Verde em sua cidade natal de Itaguaí. Depois de internar quase todos os residentes da cidade tranquila, ele finalmente decide libertá-los e se comprometer. Nessa prosa, o comportamento humano entre a razão e a loucura é nitidamente iluminado e revertido de forma humorística. 33


O Alienista, 2019. © Rivane Neuenschwander

Rivane ilustrou uma nova edição desse clássico da literatura brasileira em 2020. Ao mesmo tempo, as vinte figuras de contos de fadas foram criadas, feitas de tecido, papel machê, garrafas de vidro e outros materiais. Assim, ela transfere os moradores de Itaguaí para o atual contexto político do Brasil como uma parábola travessa. A artista atribuiu um apelido distinto a cada um desses estranhos personagens com seus traços de animais e plantas, que podem ser encontrados tanto no romance quanto na cultura brasileira contemporânea. Em (2002), a água pinga de baldes suspensos, acumula-se em baldes que estão no chão. Como no ciclo da água, os baldes são recarregados regularmente. O tamanho do orifício varia ligeiramente para que as gotas caiam em velocidades diferentes. Como uma dica para o técnico do museu, Rivane lhe pediu que imaginasse a chuva caindo em um telhado de zinco que vazava. Isso é sublinhado pelo teto aberto do espaço de exposição em um padrão de tabuleiro de xadrez. 34



Chove Chuva, 2002 © Rivane Neuenschwander

O clima do Brasil é predominantemente tropical, com a estação chuvosa pronunciada caindo de outubro a abril. As chuvas criam uma atmosfera sonora, dão origem a associações com proteção e desproteção contra as forças da natureza e atestam a integração do ser humano nos ciclos da natureza. A obra (2008), que a artista produziu originalmente para o Bienal de São Paulo, consiste em relógios dobráveis modificados, cujos dígitos foram totalmente substituídos por zeros. Em 2008, 24 desses relógios estiveram em exibição em todo o pavilhão da Bienal de São Paulo e em locais associados à exposição, como restaurantes e hotéis. Desta vez, 12 relógios são instalados em locais diferentes em Liechtenstein e na fronteira em Zurique e Buchs, na Suíça, e Feldkirch, na Áustria. Em um dia como qualquer outro, a hora dos relógios é sempre 00:00. O evento esperado, a passagem do tempo, nunca ocorre e, apesar do giro dos dígitos, o 36


A Day Like Any Other, 2008 © Rivane Neuenschwander

tempo parece não estar correndo mais. A obra poética de Rivane permite que o tempo onipresente do decorrer de nossa vida diária seja experimentado por meio do ruído suave e, ao mesmo tempo, sobrepõe o valor prático do tempo. Em 2015, a artista começou a desenhar capas protetoras para crianças contra seus medos. Depois de em Londres, outros seguiram no Rio de Janeiro, Aarau, Suíça, e agora em Vaduz. As crianças notaram seus medos – de espaços confinados, escuridão, horror, doença, caracóis ou cobras, etc. –, fizeram desenhos e levaram para casa. Com base nos desenhos e nas fotografias, Rivane desenhou mais uma vez cinco novas capas protetoras em colaboração com o brasileiro Guto Carvalhoneto. A artista criou um vínculo entre diferentes pessoas e culturas, semelhante ao . 37


Foto: Stefan Altenburger, Zürich. © Kunstmuseum Liechtenstein

As roupas, que lembram fantasias de carnaval, animais ou super-heróis, também fazem pensar no poder “mágico” que as vestimentas podem dar às pessoas. (2008). Milhões de Para suas obras em vídeo, destacamos anos da história da Terra em um minuto. Esta obra ilustra a teoria de Alfred Wegener (1880-1930), publicada pela primeira vez em 1912, sobre o deslocamento é continental na forma de uma refeição variável. Um prato de eficientemente transformado por minúsculas formigas; isso é possível por meio da tecnologia de , em que as gravações individuais são agrupadas. O continente primário da Pangeia, que – segundo a teoria – existia na era geológica do Permiano há 298 milhões de anos, está mudando para a situação atual dos continentes até uma possível forma futura. As formigas são as protagonistas desse processo e relativizam o olhar humano. Já em (2006), em parceria com o cineasta Cao Guimarães, segue a azáfama do carnaval pelo qual o Brasil é conhecido. Esse epílogo mostra como as formigas carregam confetes de cores vivas e brilhantes para o seu ninho sobre as folhas secas da floresta. Uma agitação encantadora e ao mesmo tempo melancólica, que é destacada pela trilha sonora tranquila da dupla brasileira . O som mistura tons originais do local da gravação com sons suaves de samba. Os sons rítmico-melódicos são produzidos em parte por fósforos que caem no chão: no Brasil, as caixas de fósforos costumam ser utilizadas como “instrumentos” para improvisar ritmos espontaneamente. , portanto, mescla sons da vida na floresta com os sons da cultura brasileira, assim como o carnaval brasileiro mistura o imaginário cristão com as raízes afro-brasileiras. 38


À esquerda: A jangada de Medusa, 1996. Abaixo: Senhora ovo que não pode ser Pigeonholed, 1996. © Estate of Martin Kippenberger.

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41


A uma certa distância (Ex-Votos), 2010. © Rivane Neuenschwander

Nos últimos anos, Rivane deu início à série de pequenas pinturas em painel sobre madeira . Tomando fotos votivas como sua inspiração, a artista começou a copiar essas imagens, mas omitindo as pessoas ou situações que elas retratam (santos, milagres, figuras ou referências de texto). A única parte copiada foi a representação arquitetônica da ocorrência. Essa redução destaca a perspectiva parcialmente precária e insegura, trazendo à tona espaços vazios, em sua maioria planos e de aparência abstrata. As pinturas votivas são comuns na tradição católica, principalmente desde os tempos barrocos. Eles são pequenos quadros devocionais oferecidos ao Divino – muitas vezes um santo particular – em uma igreja ou capela em agradecimento por uma salvação milagrosa ou para expressar o desejo de misericórdia ou ajuda em situações difíceis.

RIVANE NEUENSCHWANDER: Christiane Meyer-Stoll é curadora do Kunstmuseum Liechtenstein.

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KNIFE DOES NOT CUT FIRE • KUNSTMUSEUM • ALEMANHA • 3/12/2021 A 21/4/2022



DESTAQUE


Sem título, 1966. Foto: Eduardo Ortega.

IONE

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saldanha


MASP ABRE A MAIOR RETROSPECTIVA DA ARTISTA IONE SALDANHA, UMA FIGURA PIONEIRA NA HISTÓRIA DA ARTE BRASILEIRA DO SÉCULO 20, EMBORA AINDA SEM O DEVIDO RECONHECIMENTO

POR ADRIANO PEDROSA

On Fire at 80. © Judy Chicago

Nascida em Alegrete, Rio Grande do Sul, Ione Saldanha (1919-2001) se mudou com a família aos 11 anos para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como artista pelo resto de sua vida. Com mais de 200 obras, é a primeira exposição individual da artista em São Paulo desde 1985. A arquitetura da exposição foi concebida de modo a evocar a ideia de cidade, referenciada no título da mostra ( ), bem como o sutil uso de cores e a maneira singular de explorar a geometria, tão característicos da artista. Há diversos enquadramentos notáveis por meio dos quais se pode olhar para a obra de Saldanha. Pode-se pensar na “pintura no campo ampliado”, ou nos limites entre pintura e escultura: ela pintou sobre tela, papel, longas tiras de madeira, bambus, bobinas e, por fim, sobre objetos empilhados, sempre com um extraordinário empenho pictórico e cromático – em 44


Bambu, sem data.



Sem título, sem data. Foto: Eduardo Ortega.

termos de pincelada, cor, materialidade e espessura da tinta. Também se pode pensar sobre cor e abstração geométrica: por um lado, as muitas e variadas paletas de cores usadas por Saldanha ao longo dos anos são arrebatadoras; por outro, geometria e verticalidade são preocupações constantes de seu trabalho. No entanto, há também seu interesse por certa representação da cidade, real ou imaginada, que é percebido ao longo dos anos: de suas primeiras paisagens urbanas figurativas, passando pelas construções arquitetônicas progressivamente abstratas, representadas de maneira fluida, sutil e orgânica, e culminando nas obras mais radicais da artista, as e os , que se desdobram nas e, por fim, nos . 47 29


32


Aparelhos, 1956. Foto: Jaime Acioly. À esquerda: Ripa [Slat], 1986. Foto: Edaurdo Ortega.

DAS TELAS ÀS RIPAS Ione Saldanha fez seus primeiros estudos no Rio de Janeiro, em 1948, no ateliê do pintor Pedro Luiz Correia Araújo. Em 1951, foi para a Europa, onde estudou a técnica de afresco na Académie Julian, em Paris, e em Florença, na Itália. Inicialmente, produziu telas com cenas do cotidiano e casarios. Posteriormente, a produção dela passou a ter um caráter abstrato até que, no fim da década de 1960, abandonou as telas e adotou superfícies tridimensionais que se tornaram sua marca registrada: ripas, bambus e bobinas de madeira para cabos elétricos. Ao sair das molduras e passar a utilizar a superfície desses objetos, ela firmou o pioneirismo de sua maneira muito particular de pensar a pintura. O reconhecimento por seu trabalho lhe rendeu como prêmio, em 1969, uma viagem ao exterior no 7º Resumo de Arte do Jornal do Brasil, e a indicação para a Bienal de São Paulo desse mesmo ano, na qual também foi premiada. 49


Ripas e Bambus na 2ª Bienal de Arte Coltejer, Medellín, 1970.



Casario, década de 1950.

Embora reconhecidamente trabalhando de forma intuitiva, o desenvolvimento da obra rigorosa e poética de Saldanha ao longo de quase seis décadas pode ser visto, com o benefício da retrospectiva, como notavelmente coerente, até mesmo programático. Uma série ou grupo de obras se desdobra e progride para a próxima – desde as primeiras pinturas figurativas até as abstratas tridimensionais. Pode-se pensar na pintura no campo expandido como um para a obra de Saldanha: ela pintou sobre tela, papel, em ripas de madeira, em bambu, em bobinas, e finalmente em objetos empilhados. No entanto, cor e construtivismo também faziam parte de seu idioma – por um lado, suas muitas paletas diferentes ao longo dos anos são tão únicas quanto impressionantes; por outro, geometria e verticalidade sempre foram referências subjacentes na construção de suas obras. 52


Sem título, sem data. Foto: Sergio Guerini.

No centro da obra de Ione Saldanha estava uma preocupação com uma representação da cidade e da arquitetura, real ou imaginária. Ela passou de suas primeiras paisagens urbanas para construções arquitetônicas progressivamente abstratas representadas de forma fluida e orgânica, sempre carregando a marca da mão e gesto do artista tornado visível no campo pictórico. Suas obras mais icônicas, complexas, em camadas e inovadoras, os — apropriação do material natural vividamente pintado que evocam o popular brasileiro e cultura vernáculo — são antropomórficos mesmo quando fazem referência à cidade e à floresta, particularmente quando instaladas em grupos, criando uma qualidade imersiva.

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Sem título, 1968. Foto: Rômulo Fialdini.



Sem título, 1965. Foto: Sergio Guerini.

UMA RELAÇÃO INTENSA COM A COR O uso das cores também foi uma das características recorrentes nas obras da artista. Ela deixa claro essa predileção em diversos comentários. “A cor é o que me faz pintar”, resumiu Ione Saldanha em uma de suas anotações. Sua atração pelas cores é confirmada em entrevista , em que concedeu a Fuad Atala para o jornal 1977. “Tenho paixão pela cor. Eu vibro vendo uma cor. A cor para mim tem uma vibração muito maior que o som, muito maior que a palavra. A cor para mim tem uma força total. Um vermelho para mim é sangue. Um amarelo é luz, é sol. Mas não apenas na figuração, no pensamento”, afirmou a artista.

Adriano Pedrosa é curador da mostra e diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

IONE SALDANHA: A CIDADE INVENTADA • MASP • SÃO PAULO • 10/12/2021 A 6/3/2022



FLASHBACK

Porträt der Henriette Herz, 1778. © Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie / Andres Kilger


ANNA ,

DOROTHEA therbush


ARTISTA BERLINENSE ANNA DOROTHEA THERBUSCH DO PERÍODO ILUMINISTA É HOMENAGEADA PELO 300ª ANIVERSÁRIO DE SEU NASCIMENTO EM MOSTRA ESPECIAL

Anna Dorothea Therbusch ousou fazer da arte sua profissão no século 18. Durante esse tempo, as mulheres artistas eram raras, mas cada vez mais lutavam contra os obstáculos. Em 1767, ela foi aceita na academia de arte mais importante da época, a Académie Royale de Peinture et de Sculpture, em Paris. Como mãe de cinco filhos e esposa de um estalajadeiro, ela teve que se esforçar para pintar até os 40 anos com outras obrigações. Então, entretanto, ela começou a carreira viajando por vários anos para as cortes reais no sul da Alemanha e para Paris. Após retornar, trabalhou como pintora de retratos e foi muito procurada. Anna Dorothea recebeu treinamento do pai, Georg Lisiewsky, e imitando o pintor da corte prussiano Antoine Pesne. Como este, orientou-se – de acordo com o Rococó Fredericiano – para a pintura francesa, mas também para a holandesa. Com representações históricas mitológicas, ela finalmente encontrou a aprovação do rei prussiano Friedrich II, enquanto outros valorizaram mais seus retratos. Seus contemporâneos elogiavam o estilo descontraído de pintura e a forma como usava as cores e admiravam sua coragem e energia. 60

Portrait of Anna Friederike von Wartensleben. 1760.

POR REDAÇÃO



Self-portrait as Flora, 1765.

AUTORRETRATOS Os autorretratos faziam parte das estratégias de carreira artística e podiam servir para apresentar você e suas próprias habilidades a clientes em potencial. Therbusch enviou seu primeiro autorretrato em 1762, como uma foto para a Academia de Arte de Stuttgart. 62


Autorretrato,1782, © Staatliche Museen zu Berlin.

Doze autorretratos feitos por Therbusch foram preservados, os quais podem ser atribuídos a diferentes momentos ao longo de vinte anos de carreira. Dois deles foram publicamente admirados como obras-primas após a morte dela em Berlim, incluindo o autorretrato da velhice com óculos e vestido branco. Estava em posse de seu pupilo e genro Johann Christian Samuel Gohl, e posteriormente ficou em exibição no palácio do duque Friedrich von Braunschweig, na Wilhelmstrasse 63



Christian Andreas Cothenius, 1777. © Staatliche Museen zu Berlin. À esquerda: Wilhelmine Encke, 1776, mistress of Frederick William II. of Prussia


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Johann Julius von Vieth und Golßenau, 1771, © Staatliche Museen zu Berlin

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ANNA DOROTHEA E OS FRANCESES Arte e artistas de Paris eram muito procurados pelo rei prussiano, e talvez este tenha sido um dos motivos que levou Therbusch a partir para Paris em 1765. Um sucesso nesta metrópole, onde viajantes culturais e embaixadores da corte de toda a Europa se reuniram, também causava impressão em outros lugares. O objetivo de Therbusch era sua admissão na academia de arte mais famosa da época, a Académie Royale de Peinture et de Sculpture. Este não era apenas um centro de treinamento para alunos avançados, mas também uma faculdade de arte. A adesão proporcionou elevado prestígio e a vantagem de poder participar nas exposições do salão. No entanto, as mulheres eram excluídas das competições e aulas de nudez. 67


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Portrait of a Princely family (family of Frederick William, Crown Prince of Prussia (1744–1797)).

Therbusch foi uma das poucas artistas mulheres a ganharem uma comissão da realeza. No entanto, a pintura inicialmente apresentada por ela foi rejeitada, na suposição de que ela, como mulher, não poderia tê-la pintado sozinha. Ela pintou uma nova obra e assinou-a orgulhosamente como "pintora do rei francês": A fonte de registros mais importante sobre a aparição de Therbusch em Paris foi o enciclopedista e crítico de arte Denis Diderot, com quem ela mantinha uma intensa troca e que defendia sua produção. Em 1767, ela foi representada com várias obras no Salão de Paris. No entanto, devido à falta de comissões, ela enfrentou dificuldades financeiras e começou sua jornada de volta para casa em novembro de 1768.


Queen Friederike Luise of Prussia with Crown Prince Friedrich Wilhelm (III), 1775

De novembro de 1768 até o início de 1769, a pintora altamente endividada voltou a Berlim, via Bruxelas e os Países Baixos, e se tornou a principal pintora na Prússia, onde era tida em alta estima. Ela foi a pintora de retratos de Frederico II da Prússia (Frederico, o Grande), cujo recém-construído palácio de Sanssouci ela decorou com cenas mitológicas. Também pintou retratos de oito membros da realeza prussiana para Catarina II da Rússia (Catarina, a Grande). A artista continuou a pintar até o fim de sua vida. Ela frequentemente pintava autorretratos, 12 no total. Quando sua visão começou a falhar, ela costumeiramente adicionava monóculos em seus autorretratos. Suas últimas pinturas eram vagamente clássicas, com trajes e sugestões de deusas romanas. Anna Dorothea Therbusch morreu em Berlim, em 9 de novembro de 1782, aos 61 anos de idade.

ANNA DOROTHEA THERBUSCH • STAATLICHE MUSEEN • BERLIN • 3/12/2021 A 10/4/2022 70



GARlimpo

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Resenhas

POR MARIA TERESA SANTORO DÖRRENBERG

REJANE CANTONI: FLORAS CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL RIO DE JANEIRO

Em um imponente prédio da época imperial, símbolo do mundo financeiro por décadas, o atual Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ) acolhe, de 1º de dezembro 2021 até 24 de janeiro de 2022, a , da artista instalação de arte digital novas-tecnologias Rejane Cantoni. Sob a curadoria de Byron Mendes (@metaverse.agency), a obra foi desenhada especialmente para dialogar com o visitante do espaço CCBB RJ. do Três grandes painéis instalados no prédio acomodam inúmeros vídeos de fractais que são processados por meio de de luz, ou seja, são animações geradas por processos algorítmicos analógicos e digitais. Esses jardins virtuais espelham a vegetação e a flora brasileira. Formas fractais existem já na natureza, como na geometria de uma couve-flor, nas filigranas da folha da samambaia, nas costas de uma vitória-régia, etc. é então uma instalação visual e sonora, elaborada a partir de animações de vídeos e fragmentos de sons captados nos jardins, florestas e campos do mundo que o computador recombina aleatoriamente. Em longa trajetória, a artista investiga a capacidade artística como possibilidade de expansão da percepção e interação com o ser humano. Rejane Cantoni explica seu processo: “Desenhar e instalar uma obra não é tarefa simples. Você tem que estudar, pesquisar as particularidades da instituição 72


Todas as fotos: © Renato Mangolin.

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que o convida; fazer perguntas e responder algumas delas: Onde? Como é a arquitetura local? Quanto tempo a obra permanece instalada? Qual a relevância social da proposta?, etc. Em , a curadoria propôs convidar o público do CCBB RJ a experimentar e refletir sobre a natureza, a tecnologia , a criptoarte”. A novidade dessa instalação é que os vídeos são únicos e exclusivos, todos não fungíveis são NFTs. Esses

códigos registrados em uma , um banco de dados de indexação de transações mundial. Dessa forma, o visitante é estimulado a refletir e experimentar essa nova tecnologia, explorada na criptoarte. Ele também é convidado a participar da obra, por meio que ele pode fazer do vídeo de preferido no perfil do projeto @nft_floras, no Instagram. O que ele não sabe é que esse trabalho tem uma tecnologia que se atualiza e está sempre em evolução. funciona como um jogo que Então, tem regras combinatórias, em constante transformação. Ao observar a instalação, o visitante nunca vê a mesma flora, ou o mesmo vídeo. São flores e folhas digitais coloridas balançando e se transformando ao sabor do programa. Reverberações fractais de surpreendentes visualidades. Assim, ao visitar a obra, o espectador imerge em uma flora possível, ou digital, porque esse jardim sensorial, feito de luz, é criado pela máquina. Imergir no trabalho tecnológico da criptoarte, em um simulacro da natureza, é estimular a imaginação do espectador, envolvendo-o e instigando-o a participar dessa nova natureza pictórica. Natureza, flora, fauna, clima estão na pauta das discussões sociais, culturais e políticas atuais. O jardim cromático , criado por Rejane Cantoni, remete-nos às atuais mutações na natureza e no mundo e nos faz refletir não só sobre como entendemos e participamos do mundo, mas também como podemos aprender sobre a relação Natureza-Tecnologia.

Maria Teresa Santoro Dörrenberg vive em Berlim, Alemanha, é escritora, curadora e pesquisa a relação do corpo com a arte, as mídias e as tecnologias contemporâneas.


GARlimpo

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Livros

O Itaú Cultural lança , do sociólogo e professor alemão Georg Simmel (1858-1918), o mais . novo volume da coleção Em uma realização do Itaú Cultural e a Iluminuras, ela é composta por edições voltadas a reflexões sobre gestão, economia, políticas culturais e aos impactos da tecnologia na sociedade. GEORG SIMMEL: A TRAGÉDIA DA CULTURA • Editora Iluminuras • Gratuito nas livrarias digitais.

A publicação parte de obras emblemáticas da artista gravurista Maria Bonomi para discutir a gravura de forma expandida, mostrando o pioneirismo de Bonomi em diversos aspectos. A artista nascida na Itália e radicada no Brasil desde criança transgrediu diversas tradições estabelecidas nas artes, como o aumento das dimensões da gravura, criando obras em tamanhos monumentais. MARIA BONOMI COM A GRAVURA • Texto: Patricia Pedrosa • Editora Rio Books • 140 pg • R$ 75

O novo livro de Hal Foster traz uma análise ácida e urgente do contexto social, político e cultural desta segunda década do século 21, implicando toda a rede de atores do mundo da arte: artistas, curadores, museus e instituições e críticos. Os ensaios reunidos no livro discorrem sobre mudanças na arte e na crítica diante do atual regime de terror e vigilância, desigualdade extrema, desastre climático e disrupção midiática. HAL FOSTER: O QUE VEM DEPOIS DA FARSA? • Ubu Editora • 224 pg. • R$ 59,90 78



Lançada em 2008, a Dasartes é a primeira revista de artes visuais do Brasil desde os anos 1990. Em 2015, passou a ser digital, disponível mensalmente para tablets e celulares no site dasartes.com.br, o portal de artes visuais mais visitado do Brasil. Para ficar por dentro do mundo da arte, siga a Dasartes.

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