Revista Dasartes 116

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Capa: , Puzzle Bottle, 1995. Foto: © Charles Ray courtesy of the artist. © 2020. Digital image Whitney Museum of American Art / Licensed by Scala.


AD MINOLITI 10

CHARLES RAY 6

Agenda

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De Arte a Z

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Resenhas

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FELIPE DINIZ 42 SANGUIN

XADALU TUPÃ JEKUPÉ

COLEÇÃO SARTORI 68

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Sissyparity

,

AGEnda

O título da exposição faz menção a uma academia feminina de ginástica e dança consolidada e dirigida pela mãe do artista Tales Frey entre o final dos anos de 1980 e começo dos anos de 1990, no interior de São Paulo e, assim, tendo como base a decomposição das imagens que eram diariamente produzidas, assimiladas e confirmadas daquele contexto, Tales Frey cria uma conjuntura de obras apoiadas em variadas expressões artísticas (escultura, desenho, objeto, vídeo, fotografia e performance) para subverter os estereótipos 6

homem/mulher, homo/hétero, natural/artificial e, também, para apresentar as contradições relacionadas às noções contemporâneas de gênero e desejo numa ordenação cisheteronormativa.

TALES FREY: ACADEMIA CORPUS • MUSEU NACIONAL DA REPÚBLICA • RIO DE JANEIRO • 19/3 A 29/5/2022



de arte

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AZ

CURIOSIDADES • O Instituto de Artes Contemporâneas de Londres abriu uma exposição coletiva inovadora inspirada no movimento pelos direitos das trabalhadoras do sexo. inclui trabalhos de 13 artistas internacionais que criam imagens em movimento, bordados, livros, esculturas e obras em outras mídias para abordar a multiplicidade de experiências contemporâneas dos profissionais do sexo.

PELO MUNDO • Hans Holbein, O Jovem, o artista suíço-alemão que levou a pintura renascentista a novos patamares no século 16 ganha retrospectiva em Nova York. Começando na Basileia e depois na Inglaterra, onde serviu como pintor da corte do rei Henrique VIII, Holbein deixou sua marca com retratos esplendorosos de nobres, comerciantes e estudiosos. Muitas dessas pinturas formam uma pesquisa importante atualmente em exibição na Morgan Library and Museum, até 15 de maio.

GIRO NA CENA • Jeff Koons, o famoso artista americano, conhecido por suas esculturas coloridas, brilhantes e de grandes dimensões, juntou-se à montadora alemã de luxo BMW pela segunda vez, para projetar seu “carro dos , uma sonhos”: edição especial do BMW M850i xDrive Gran Coupé. A edição fez sua estreia mundial na Frieze Los Angeles, onde a BMW é parceira de longa data. 8


PELO MUNDO • O Museu Belvedere está transformando obra-prima de Klimt em um NFT. O museu de Viena que possui a maior coleção de pinturas de Gustav Klimt está transformando a pintura mais famosa do artista – – em um NFT. O NFT foi dividido em 10.000 ações individuais que custam 0,65 ETH, ou US$ 2.100, cada. A ideia veio, apropriadamente, no Dia dos Namorados europeu, mas nos primeiros dias, apenas cerca de 1.700 ações encontraram compradores .

VISTO POR AÍ • Uma das obras mais icônicas do Inhotim está de volta! Desvio para o Vermelho I, II e III (1967 - 1984), do artista Cildo Meireles, acaba de reabrir para visitação após um processo de nova pintura do mobiliário e das paredes, higienização de obras e objetos, e substituição de carpete e forro. Para visitação, acesse inhotim.org.br.

• DISSE O PINTOR

Charles Thomson, cofundador do grupo Stuckist. Após protestos de defensores da saúde mental, a Galeria Courtauld retirou borrachas de orelhas cortadas em referência à Van Gogh que vendiam em sua loja online. 9


AD

DESTAQUE


minoliti

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A ARTISTA ARGENTINA AD MINOLITI USA GEOMETRIA E COR COMO FERRAMENTAS PARA CRIAR UNIVERSOS ALTERNATIVOS E ESPECULAR FICÇÕES POR MEIO DE SUA PELO INFLUENCIADA FIGURAÇÃO PENSAMENTO FEMINISTA E QUEER

On Fire at 80. © Judy Chicago

Ad Minoliti se formou como pintora e se baseou no rico legado da abstração geométrica na América Latina, como a Arte Madí da Argentina e a Asociación Arte Concreto-Invención. Ambas fundadas em 1945, abraçaram o lúdico em suas criações e trabalharam com telas de formas irregulares, às vezes experimentando objetos tridimensionais. A artista aborda a pintura como um campo expandido que reúne design e funcionalidade. Por meio dessa abordagem, o espaço da galeria é considerado uma tela tridimensional para explorar um diálogo entre modernismo, ficção científica, animalismo, fetiche, feminismo queer, não capacitação, educação artística, brinquedos, arquitetura e design. Eles assumem a pintura não como uma mera prática material, mas um conjunto visual de ideias para representar e investigar heterotopias não humanas longe do pensamento binário ou categorias heteronormativas de sexualidade. Ao longo de seu trabalho, formas geométricas e criações híbridas servem para imaginar cenários além do humano em que o feminismo queer, a dimensão animal e a infância podem ser aplicadas a uma interpretação aberta da pintura, design e história da arte além das categorizações binárias. 12

Série Fable (Butterflies and Flowers), 2021.

POR IRENE ARISTIZÁBAL



Bee, 2009. Foto: Dirk Pauwels.

A exposição Biosphere Peluche / Biosphere Plush foi concebida como uma especulação crítica da Biosphere 2, o maior experimento de ciências naturais do mundo, lançado em 1984 no deserto do Arizona. Financiado pelo magnata do petróleo Ed Bass, o Biosphere 2 foi criado para estudar se os humanos poderiam ou não criar e sustentar a vida em um ambiente artificial, como estações espaciais. A equipe de B2 tentou - consequentemente falhando - isolar oito pessoas (quatro mulheres e quatro homens, todos americanos brancos e um europeu) por dois anos. Esse experimento monumental é um exemplo perfeito de que a corrida espacial é um empreendimento extrativista colonizador, aumentando os interesses dos já poderosos - incluindo grandes instituições econômicas e militares - e exacerbando processos prejudiciais pré-existentes, como guerras, desigualdade econômica e degradação ambiental. A mostra pretende trabalhar na contramão da Biosphere 2. Seu ambiente foi concebido como um centro comunitário aberto a todos, oferecendo um espaço 14


Todas imagens: Série Fable (Butterflies and Flowers), 2021.

para educação e fantasia feminista interseccional. Ainda propõe espaços de encontro e permanência para os visitantes entre as obras do artista. Incluindo 15 novas pinturas, a exposição apresenta uma seleção de 11 obras da série e quatro pinturas da série . Essas obras foram todas pintadas no estilo lúdico e biomórfico habitual da artista. Ela cria uma imagem digital que é impressa em tela, e depois é pintada à mão. Essa camada de aplicativos digitais e humanos aprofunda a cor e desfoca a linha entre humano e máquina. Minoliti concebe essas obras como pinturas ciborgues. A exposição apresenta o projeto em andamento , transformando parte do espaço da galeria em uma sala de aula ativa. Por meio de oficinas de pintura quinzenais, a escola irá desconstruir narrativas históricas e reimaginar o gênero tradicional da pintura de paisagem a partir de uma perspectiva feminista, interseccional e queer. Em parceria com um grupo multidisciplinar de artistas, acadêmicos, escritores e ativistas, as oficinas vão reavaliar a estrutura do 29 15



ensino de arte e promover acessibilidade, criatividade e curiosidade sobre qualquer conhecimento específico da arte. Minoliti considera o tema da paisagem em sua forma expandida, desde recursos naturais ou feitos pelo homem, até o espaço exterior e cenários imaginários. O gênero da paisagem é uma importante ferramenta utilizada na colonização. Minoliti disse que "paisagem como um gênero pictórico foi usado para promover a invasão colonial da América e filmes recentes sobre a exploração de Marte exibem muitas das mesmas estruturas." SÉRIE SPACE PLAYSET Nesta série, cada pintura representa uma fantasia espacial. A série é um , na desenvolvimento da série qual cada pintura representa um quarto de casa de bonecas. Em ambas as séries, a artista considera criticamente a questão dos brinquedos de gênero e a mercantilização de brincadeiras heteronormativas redutivas para crianças. O foi inspirado em brinquedos recentes que tentam promover temas STEM para meninas, como Luciana - uma boneca astronauta com uma nave espacial muito cara. Minoliti aposta na fantasia e no jogo acessível a todos, longe de construções binárias de gênero e um cooptação capitalista do feminismo. A série dá continuidade ao interesse da artista pela relação entre gênero e ciência, e está em diálogo com sua obra (2019), para a qual imaginava a exploração espacial e as colônias espaciais do futuro, livres da dominação patriarcal. 17


Série Space Playset, 2021.



FABLE (BUTTERFLIES AND FLOWERS) Nesta série, Minoliti desenvolveu uma linguagem em torno da natureza, utilizando motivos como flores e borboletas. A artista se inspirou na introdução de Sarah Kay - personagem fictícia criada pela artista australiana Vivien Kubbos, que representava as simples alegrias da infância, amizade, amor e bondade - ao contexto argentino na década de 1970, como forma de valores domésticos para as mulheres argentinas. Na época, a Argentina vivia sob um regime violento e repressivo que fazia desaparecer mães jovens e raptava seus filhos para entregá-los a famílias pró-regime. Na série, Minoliti utiliza as formas geométricas como forma de se reapropriar dos valores ternos promovidos por Sarah Kay, associandoos a um contexto não binário que despoja quaisquer referências humanas.

Irene Aristizábal é chefe de curadoria e prática pública do BALTIC Centre for Contemporary Art.

AD MINOLITI: BIOSPHERE PELUCHE/BIOSPHERE PLUSH • BALTIC • REINO UNIDO • 24/7/2021 A 8/5/2022 20



CAPA Aluminum girl


CHARLES

ray

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DESDE A DÉCADA DE 1970, E AO LONGO DE QUASE 50 ANOS DE CRIAÇÃO, CHARLES RAY SE TORNOU UMA DAS FIGURAS MAIS MARCANTES DO CENÁRIO ARTÍSTICO INTERNACIONAL. SUA OBRA ESCULPIDA, MARCANTE, SINGULAR, IMPRESSIONA COM SUA FORÇA DE INVENÇÃO E QUESTIONAMENTO

Nascido em 1953, em Chicago, e agora morando em Los Angeles, Charles Ray é um dos poucos artistas de sua geração que tiveram um impacto duradouro na história da arte recente. Muito diversificada, embora limitada em quantidade, a sua obra parte de uma pergunta constantemente repetida e modulada: “O que é a escultura?” Informado por um profundo conhecimento de sua arte, Charles Ray desenvolve uma ampla gama de respostas que vão contra qualquer significado inequívoco e qualquer interpretação imposta. Combinando, às vezes com certo humor, modelos históricos (Grécia antiga, Renascimento italiano) e cenas ou objetos da vida cotidiana, suas esculturas, pelo espaçamento sutilmente combinado, pela sintaxe, criam o espaço que ocupam. Pela dimensão temporal de sua apreensão, que pressupõe espectadores em movimento compartilhando esse espaço, eles também fazem parte de uma dupla duração: a de sua experiência, sempre em processo de devir, e aquela, livre e ilimitada, das ressonâncias que surgem em cada um. 24

Clock man, 1995.

POR PHILIPPE SÉNÉCHAL




Chelf. Todas imagens: © Charles Ray courtesy of the artist.

A precisão e complexidade que acompanham a criação de suas obras testemunham sua força de invenção e renovação. Ao colocar a questão do espaço no centro de sua obra, Charles Ray oferece aos visitantes uma experiência intensa e misteriosa, extremamente íntima. “Uma escultura se encaixa no espaço-tempo de sua localização. Está integrada não só no complexo cultural que lhe é contemporâneo, mas também no do passado e do futuro. O estar ali, dentro da cultura, induz a um aqui e agora. A escultura integrada persiste não apenas materialmente, mas também culturalmente como geradora de sentido, em relação às preocupações do presente.” (Charles Ray). IMITAÇÃO E FICÇÃO Entre formalismo e reflexão sobre a representação e sobre o indivíduo, Charles Ray joga com a noção de escala e os efeitos de distorção da realidade, por vezes o mais ínfimo: uma veia que se desvanece, um olhar ausente, uma expressão suspensa... Esculturas feitas, os seres cotidianos e os objetos tomados como modelos frustram nossos rumos, por deslocamentos e transposições imperceptíveis, por um recurso ao que o olho pode, em um primeiro olhar, conservar como uma obsessão hiper-realista, quase virtuosa, mas cujos detalhes, particularismos, ao contrário, ocultam-se para dar à figura representada um caráter universal, até a abstração. O artista se diverte nos fazendo olhar duas vezes. Ainda mais: tanto por sua “estranha familiaridade", sua ambiguidade, quanto por sua indizível precisão que parece destreza, as obras de Charles Ray desestabilizam, como sob o efeito de uma alucinação, quase conseguindo abalar a própria verdade, tornando e introduzindo silenciosamente o espectador em uma forma de ficção, uma realidade fingida. Quer trabalhe em pedra, prata ou aço, Charles Ray cria fantasmas sólidos que vêm assombrar nosso espaço. 27


Charles Ray explica como, por meio de sua leitura da obra de Alberto Giacometti e suas figuras esbeltas no espaço, passou a não mais “pensar escultura”, mas a “pensar esculturalmente”. Sua prática artística coloca a questão do espaço no centro de sua pesquisa e oferece ao espectador uma experiência mais complexa, mais misteriosa da relação com a realidade. Para Charles Ray, a escultura é o meio que estabelece a relação mais privilegiada com o espaço, explora mais eficazmente esse tensionamento, físico e psíquico. Além disso, o artista concebe esculturas capazes de atuar sobre o espectador, em particular pela extensão do espaço vazio que exigem ao seu redor, sem distanciamento, na maioria das vezes em um nível, sem dispositivo de pedestal aparente. “Sobre os temas das minhas obras, quando eu era um jovem escultor, muitas vezes observava a escultura modernista, mas nunca entendi o assunto; mais recentemente, comecei a perceber que, para muitos escultores desta geração, o verdadeiro significado do seu trabalho não estava nos materiais que utilizavam (como vigas ou pregos) mas na relação que estabeleciam com estes materiais.” (Charles Ray)

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Fall ‘91, 1992.

PENSANDO ESCULTURALMENTE



Self-portrait, 1990.



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Doubting Thomas, 2021.

“ ”

PROCESSO CRIATIVO Seja o trabalho produzido em aço, fibra de vidro, alumínio, cimento, papel, aço polido, a prática de Charles Ray recorre a vários processos, entre o trabalho artesanal e a tecnologia industrial de ponta. “Um artista trabalha com as mãos”, afirma antes de especificar que “hoje os tempos mudaram, e na realidade trabalho com as mãos de vinte pessoas”. Charles Ray trabalha lentamente, com um prazer de experimentação, uma atenção meticulosa aos detalhes cujos arrependimentos, hesitações, esforços ele esconde. A busca pelo seu tema, o teste de técnicas, materiais e escalas, a produção de diferentes versões, a meticulosa pós-produção… muitas vezes exigem anos de trabalho. Cada etapa é metodicamente pensada, cuidadosamente calibrada e executada em um processo imutável: primeiro em argila, depois em papel machê, em fibra de vidro e, finalmente, no material escolhido. 33


Em sua criação, Ray mantém pouquíssimas técnicas de execução tradicionais, como modelagem em argila para os contornos ou a escultura direta para madeira. Os de fotografias outros processos são radicalmente novos. Eles incluem resultando em modelos 3D, fundições em Forton MG, uma mistura de gesso reforçado com fibra de vidro e disponível desde 1990, e, para as estátuas finalizadas, uma moldura de aço inox definindo todo o volume, depois revestida

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com fibra de vidro e tinta branca. O mais incrível é a produção das esculturas apenas em aço: uma vez concluída a digitalização, um bloco de metal é atacado por uma usinagem extremamente lenta, controlada por computador, na oficina de seu amigo . Ao contrário de Mark Rossi, um lugar paradoxalmente chamado de tudo o que sabemos sobre escultura em metal, as peças não são, portanto, fundidas, mas cortadas; portanto, elas têm um peso considerável.

Baled truck, 2021.

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Sleeping Woman, 2012.

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Charles Ray ainda afirma esculpir ao longo do tempo. Convencido de que o tempo age sobre a escultura tanto quanto o artista, ele às vezes toma emprestado da filosofia alemã o termo Zeitgeist, que significa literalmente “espírito dos tempos”, ou seja, o que faz a escultura feita tanto pelo artista quanto pela época e certo determinismo que impõe. Encontramos essa questão da temporalidade com (2012), que representa uma mulher afro-americana adormecida em um banco, onde o tempo biológico do sono é suspenso pela eternidade em um tempo que se torna geológico.

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Plank I, 1973. À direita: No, 1992.

O CORPO DO ARTISTA: FANTASIA/SEXUALIDADE Charles Ray faz de seu corpo um material essencial em seu trabalho, colocando-o em ação ou utilizando manequins à sua imagem. Este é o primeiro material disponível para o próprio artista. Este uso é alimentado pelos seus primórdios performativos e pelas esculturas que cria recorrendo ao seu empenho físico, à escala do seu próprio corpo, como a peça , 1973, uma obra composta por duas fotografias em preto e branco que documentam a sua ação deitado sobre a parede. Famoso por suas esculturas, o artista americano também faz uso da fotografia, como (1992). Este autorretrato é uma fotografia de uma estátua de cera hiper-realista modelada na imagem do artista: olhando para o espaço, braços cruzados, enquanto espera para ser fotografada. É uma imagem de uma imagem. A simplicidade do resultado final – um instantâneo que parece banal – dissolve o esforço, o virtuosismo, o tempo, da realização da obra. Encontramos aí o gosto de Charles Ray pelo questionamento da representação, da encarnação, da dissimulação e do gesto artístico. 38



Oh Charley, Charley, Charley, 1992.

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Em um exercício clássico de escultura – a representação de figuras em grupo – e na forma de personagens engajados no que parece ser um encontro sexual, o artista se encena novamente: seu próprio corpo nu, oito vezes “clonado” em várias poses, explícito, cria uma ilusão pornográfica. Este é o famoso trabalho intitulado … criado em 1992. Esses “manequins” de si mesmo participam de uma “ginástica” de gestos fixos e figuras desarticuladas. Para além do seu carácter muito provocador, envolvendo fantasia de autossexualidade e espírito de escárnio, a obra mobiliza um conjunto de referências à história da escultura e em particular à questão da figuração e da inscrição do grupo no espaço: várias personagens empenhadas em uma ação comum sem diferenciação espacial – ou o mínimo possível – entre seu ambiente e o espectador. “Talvez os moldes do meu corpo e a crueza da figuração tragam a quantidade certa de artesanato para contribuir com a intencionalidade da escultura. Mas nada de mim é revelado. Masturbo minha identidade e meus desejos permanecem , a soberba escultura em pedra hermeticamente protegidos dos outros. de Brancusi, une dois amantes. Minha escultura é o reverso dessa moeda de amor e afirma sem rodeios que não há outra.” (Charles Ray).

CHARLES RAY • CENTRE POMPIDOU • PARIS • 16/2 A 20/6/2022 Philippe Sénéchal é curador e professor de história da arte moderna na Universidade de Picardie Jules Verne.

CHARLES RAY: FIGURE ROUND • MET MUSEUM • NOVA YORK • 31/1 A 5/6/2022


GARIMPO

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FELIPE diniz sanguin

Made in heaven I, 2014.



VENCEDOR DO PRÊMIO DASARTES 2022 PELO VOTO POPULAR, O ARTISTA PAULISTA FELIPE DINIZ SANGUIN DISCUTE COM SUA OBRA QUESTÕES PERTINENTES À MINORIAS POLÍTICAS E TAMBÉM FORMALIDADES NO MUNDO DA ARTE

Dentro de um museu, um homem para e contempla uma obra de arte. Uma cena corriqueira em qualquer museu pelo mundo, a não ser por um detalhe: esta ação se estende por um longo período de tempo, causando curiosidade e perplexidade por parte daqueles que reparam que há algo inusitado acontecendo ali. A performance “Legitimação por apropriação de espaço”, realizada por Felipe Diniz, é sutil, faz o artista se inserir com seu trabalho dentro de grandes instituições, ainda que não esteja necessariamente na programação delas ou até mesmo autorizado para isso. Nessa proposta aparentemente simples, o artista já lança duas das principais características de seu trabalho e de sua persona artística: um olhar atento ao mundo que o cerca e o interesse em esgarçar as fronteiras entre público e privado. Quando analisamos a trajetória artística de cerca de dez anos de Diniz, percebemos a forma como sua arte surge de uma relação íntima com o mundo à sua volta e, também, de uma percepção de si mesmo enquanto figura ativa deste e neste mundo. O próprio Felipe revela ter demorado a se entender como artista. Tendo iniciado seu contato com o universo artístico a partir da produção musical e audiovisual, só começou a se enxergar como fazedor de arte ao se matricular no curso de Artes Visuais. 44

Teto Preto, 2021.

POR LEANDRO FAZOLLA




Chega mais, 2022. Todas imagens: cortesia do artista.

A relação com as artes das ruas e o confronto com a produção de Keith Haring foram cruciais em sua trajetória, que começou exatamente observando seu entorno e reverberando questões da malha urbana. Aliando seus interesses artísticos a suas preocupações como cidadão, sua obra , ao mesmo tempo em que reverencia Hélio Oiticica, também denuncia a cegueira do Estado em relação às pessoas em situação de rua. No vídeo criado por Diniz, pessoas sem moradia que habitam as ruas de São Paulo dançam vestindo seus próprios cobertores enquanto Adoniran Barbosa entoa versos como “quero ficar ausente, o que os olhos não veem o coração não sente”. O trabalho coloca como protagonistas aqueles que tantas vezes são invisibilizados no cotidiano, tanto pelos transeuntes quanto pelas autoridades públicas. Enquanto participava de ações junto à Craco Resiste, organização que atua na redução de danos do uso crônico de drogas, o artista viu sua pesquisa junto a pessoas em situação de rua ganhar ainda mais densidade e relevância quando o prefeito de São Paulo, João Doria, empreendeu ações truculentas contra essa camada da população, retirando de 57


Parangolé, 2015.

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forma arbitrária seus poucos pertences. Felipe retomou alguns dos cobertores tomados pelo governo e, após lavá-los, os expôs como peça de museu, com forte cheiro de sabão em pó, ao lado de um grande aquário de vidro com a água suja , era o mesmo do projeto resultante do processo. O título da obra, do governo que pretendia “higienizar” a cidade – e deixá-la mais cinza, diga-se de passagem –, varrendo para debaixo do tapete não só suas mazelas sociais como a produção dos artistas de rua em uma vã tentativa de emoldurar, com toda a pompa, a imagem de uma metrópole “limpa”. Limpa de que(m) e para que(m)? Afetado por uma sensação de impotência diante de questão de tal gravidade e ao mesmo tempo repensando seu verdadeiro lugar de fala diante de tema tão delicado, as pesquisas do artista seguiram para outros universos e plataformas. Com olhar sempre atento para o que o circunda e sem perder seu viés crítico, Diniz têm criado colagens e pinturas nas quais insere uma gama de referências ao seu próprio estar no mundo. Com uma estética que ainda se relaciona com a arte urbana em algum grau, seu consumo, seus privilégios, seus paradoxos, suas referências, tudo é material para uma produção pictórica e de colagens que ironizam o mundo capitalista, as redes sociais e o próprio sistema de arte.

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Sobre a dependência tecnológica, 2014.



My milkshake brings all the boys to my yard, 2015.

Made in heaven III e IV, 2014.

Vencedor do Prêmio Dasartes 2022 pelo voto popular, o trabalho de Felipe é daqueles que insere muitas camadas de percepção, desde o nosso mundo cotidiano aos conflitos de uma sociedade dividida por classes cada vez mais antagônicas, passando por nossas formas de consumo, tanto material quanto intelectual. Assim como ele próprio fazia em sua performance de 2016, quanto mais tempo nos detemos diante de suas obras, mais elas se revelam para nós, permitindo ampliar sensações e percepções sobre um jovem artista em um circuito cheio de complexidades e espaços que certamente serão cada vez mais ocupados pela potência de seu trabalho.

Leandro Fazolla é ator, historiador e crítico de arte. Doutorando em Artes Cênicas. Mestre em Arte e Cultura Contemporânea, na linha de pesquisa de História, Teoria e Crítica de Arte. Diretor Geral do Instituto Cultural Cerne. 53


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REFLEXO


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XADALU tupã jekupé


COM MOSTRA INDIVIDUAL NO INSTITUTO INCLUSARTIZ (RJ) E PARTICIPANDO DE COLETIVA NO MARGS (RS), O ARTISTA INDIGENA XADALU TUPÃ JEKUPÉ ELABORA PONTES COMUNICACIONAIS ENTRE A HISTÓRIA DA SUA COMUNIDADE GUARANI MBYÁ E OS JURUÁ (NÃO-INDÍGENAS), TRANSMITINDO SEUS CONHECIMENTOS E MEMÓRIAS



LIMPEZA ESPIRITUAL COLONIAL

“’Subir para a morada celestial rasgando a alma sem nenhuma gota de sangue’. São roupas recolhidas de crianças indígenas junto a seus nomes espirituais de crianças, pois são a fonte da felicidade. É sobre essa relação, essas fronteiras que o homem branco tenta criar. Essa cerca tenta separar classes, o lado étnico, a verdade. Essa cerca tenta contar outra história, pois existem diversas histórias, mas o homem branco sempre escolheu a história que queria contar. Hoje as comunidades estão reduzidas, perto de lavouras do agronegócio, respirando veneno e lutando e resistindo contra a entrada feroz dos costumes ocidentais dentro da comunidade. A cerca que rodeia as aldeias ameaça, assusta, amedronta. Essa cerca serve para impedir que a comunidade acesse uma terra que foi dela. Esse tipo de separação tenta fazer essa limpeza que o homem ocidental acredita, é sua maneira de apagar a história, reduzir, humilhar até fazer desaparecer. Então essa provocação das camisetas de crianças nas cercas com seus nomes celestiais confronta essa limpeza colonial com o lado espiritual.” 58



ÁREA INDÍGENA

“Esta obra fala muito dessa pendulação que acontece aqui em Porto Alegre, sobre as aldeias que se encontram nas periferias da cidade e precisam viajar até o centro para vender seu artesanato, sua única forma de sustento. Nesse contexto de idas e vindas, a comunidade começou a ser atacada e tentaram retirá-la das calçadas. Começou a ficar tão forte essa coisa das expulsões que a comunidade estava com muito medo desse enfrentamento. Apesar de o centro de Porto Alegre ser uma antiga aldeia indígena, seria um pouco utópico falar que Porto Alegre é terra indígena. Na criação da obra, até cogitei essa coisa da terra, mas o que mais se relacionava com os fatos era a palavra "área". Então


eu demarquei o centro colando esses cartazes. Saiu nos jornais e na televisão o questionamento do que queria dizer aqueles cartazes. Alguns lojistas pensaram que era uma lei municipal, outros acreditaram que haveria uma invasão indígena. O mais importante é que, em suas idas ao centro, a comunidade se colocava embaixo dos cartazes, ocupava o espaço demarcado e a obra ficava completa. Eu fui investigado pela Polícia Federal e detido. O que estava em questão no julgamento não era colar os cartazes, mas o modo de pensar, proclamar a área indígena. Depois o caso foi arquivado.”


INVASÃO COLONIAL MEU CORPO NOSSO TERRITÓRIO

“A obra foi produzida por meio de diversas imersões em uma aldeia da etnia Guarani Mbya, que sofre constantemente ataques de homens armados. Foram fotografados indígenas da aldeia e colocados digitalmente coletes à prova de balas com o nome de sua etnia. A aldeia resiste há dois anos sem água e luz à beira do rio Guaíba, isolada por uma cerca e seguranças fortemente armados. São ameaçados e intimidados diariamente com tiros, gritos e deboches. Divido aqui o relato do Cacique Karai Mirim: "por volta 62


das 20 h, escutamos um forte barulho na mata. Ouvimos gritos em volta das barracas e saímos em grupos. De frente para nós, cinco homens empunhavam armas de fogo. Nos mandavam sair ou morreríamos. Então Timóteo falou: 'Apontar a arma para mim é fácil, qualquer um pode fazer isso. Mas você não pode apontar sua arma para aquilo que acredito. Nem você nem ninguém. Queria ver você apontar uma arma para o vento, o sol, a chuva, as estrelas. Isso você nunca vai conseguir'.“ 63


CASA DE REZA OPY “São pinturas e costura sobre lonas usadas em barracas de acampamentos indígenas de beira de estrada. A importância dessas lonas é explicitada em um relato do cacique: “A vida aqui é muito difícil. Estamos à margem e encurralados entre a cerca e a estrada. Eu sou cacique aqui, meu nome é Karai Mirim. Sou cacique de uma aldeia que ainda não tem nome. A primeira coisa quando chegamos aqui e quando se chega a um acampamento é a construção de casas. A matéria-prima é a lona. A lona preta. A lona dos acampamentos à beira de estrada. É ela que abriga nossos sonhos e sustenta nossa lealdade. E mostra a nossa resistência e nossa esperança de que há de haver um bom lugar para morar.” 64



NHERU NHE'RY: EXISTE UMA CIDADE SOBRE NÓS

“As cidades são cemitérios indígenas. Foram locais de grande alegria para o povo indígena no passado, mas hoje são reflexos de tristeza e agonia, de invisibilidade e marginalidade. Por mais que se construam cidades em cima de aldeias, o verdadeiro espírito do espaço estará sempre lá, mas em contato com outra dimensão. Esta obra é o espírito absoluto do espaço. É a releitura das cabeças que sustentam a principal catedral de Porto Alegre. Essas cabeças foram símbolos usados pela Igreja para mostrar seu triunfo sobre a cultura indígena. Hoje, nas cidades, podemos dizer que pisamos sobre cabeças, presos ao passado com sentimentos melancólicos. A obra desenterra essas cabeças e invoca esses espíritos para que se tornem presentes e ressignifiquem os espaços. A cabeça dourada é um tesouro perdido ou esquecido que foi encontrado. Os olhos amarelos mostram que o espírito permanece vivo. O pedaço de concreto está grafado com a frase “existe uma cidade sobre nós”, e o vermelho mostra que o sangue circula dentro de cada um de nós até hoje.”

XADALU TUPà JEKUPÉ: TEKOA XY “A TERRA DE TUPÔ • INSTITUTO INCLUSARTIZ • RIO DE JANEIRO • 9/12/2021 A 27/2/2022

COLEÇÃO SARTORI: A ARTE CONTEMPORÂNEA HABITA ANTÔNIO PRADO • MARGS - MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL • PORTO ALEGRE • 22/1 A 1/5/2022 66


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Resenhas

COLEÇÃO SARTORI: A ARTE CONTEMPORÂNEA HABITA ANTÔNIO PRADO

POR LEANDRO FAZOLLA Antônio Prado é uma cidade do Rio Grande do Sul, com cerca de 350 quilômetros quadrados e quase 13 mil habitantes. Localizada na região da serra gaúcha e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o município acaba de ganhar ainda mais notoriedade no mundo artístico devido à grande exposição que tem lugar no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, o MARGS, até o início do mês de maio. Com curadoria de Paulo Herkenhoff, “A Arte Contemporânea Habita Antônio Prado” traz o impactante número de mais de cem artistas presentes na coleção particular de Nadia e Paulo Sartori, iniciada há cerca de uma década. Com quase 250 obras produzidas entre 1903 e 2021 distribuídas por várias salas do museu, a mostra traz um recorte significativo da coleção e é a realização do desejo dos Sartori de dividirem seu conjunto (que totaliza quase quatrocentas peças) com o público, algo que o casal considerava anteriormente um sonho utópico e agora se materializa de forma contundente, não apenas por acontecer em um importante museu público do Estado como, ainda, pela minuciosa 68


Jaime Lauriano, Brinquedo de furar moletom (policia militar 1), 2018.



Rodrigo Braga, Ponto- Zero, 2019.

curadoria de Herkenhoff, que acentua contrastes e similaridades – estéticas, temáticas, políticas – entre as obras e dá uma generosa contribuição ao conjunto ao distribuir pelas salas diversos textos críticos que contextualizam as obras e seus artistas, ampliando os horizontes possíveis de interpretação por parte do público. Conduzidos pelo olhar crítico e atento do curador, o público vai ao encontro de artistas de diversas localidades do Brasil, do calibre de Anna Bella Geoger, Arjan Martins, Cildo Meireles, José Resende, Lenora de Barros, Lia Menna Barreto, Nelson Leirner, Regina Silveira, Rodrigo Braga, Tunga e Vera Chaves Barcellos, entre muitos outros. Apesar de toda a pluralidade de Estados brasileiros representados, chama atenção o grande número de artistas do Rio Grande do Sul, ressaltando não apenas o desejo pelo colecionismo mas também o compromisso dos Sartori com o fomento ao mercado e ao circuito artístico local, que ainda carece de atenção no sistema artístico nacional, que muitas vezes volta seus olhos para a produção da região Sudeste e relega a segundo plano toda a pluralidade e potência artística das outras regiões de um país de tamanhos continentais como o Brasil. Um dos pontos fulcrais da mostra são as questões pulsantes atualmente no país. Principalmente em ano de eleições, em que a escolha nas urnas pode selar o destino de importantes pautas no território brasileiro, inclusive relacionadas à arte e à cultura, é extremamente relevante que a questão indígena receba tamanha atenção por parte da curadoria, inclusive se relacionando intimamente – e novamente – com a ideia de localidade.


Ao entrar no do museu, já nos deparamos com a contundente obra , de Xadalu Tupã Jekupé, que chama atenção para a situação de aniquilação indígena há mais de quinhentos anos e ainda em curso. Na sala central, outra obra do artista ganha destaque: um grande letreiro lembra a todo momento que o MARGS, o Rio Grande do Sul, o Brasil todo é área indígena (leia mais sobre a obra do artista na seção Reflexo desta edição). Articulando diferentes gerações artísticas, Herkenhoff coloca obras de Xadalu lado a lado com as de Claudia Andujar, uma de nossas maiores referências na temática, relacionandoas, sobretudo, pela preocupação genuína com a questão indígena, algo que (tardiamente!) vemos cada vez mais crescer no cenário artístico nos últimos anos. Outra obra de impacto é , de Leandro Machado, que recria a logomarca das Lojas Americanas sob a perspectiva da africanidade. Novamente, o tom de denúncia se sobrepõe e chama atenção para o genocídio, desta vez, negro, no país. A presença dessas obras e de outras como , de Adriana Varejão, e , de Berna Reale, mostram a preocupação dos Sartori não apenas com a arte contemporânea, mas com essa produção que reivindica temas da ordem do dia e colocam a arte no local político e de protagonismo social que sempre ocupa, mas principalmente em momentos turbulentos como o atual, em que grupos extremistas se levantam e precisamos a cada dia mais defender o óbvio. É bastante simbólico que o nome da cidade de Antonio Prado esteja no 72

Cildo Meireles, Zero Real, 2014,


Luciana Magno e Lourival Cuquinha, Recibo, 2021.

73


Vera Chaves Barcellos, Série One Ice, 1978.


título da mostra, e ela aconteça exatamente no período em que Porto Alegre se prepara para as comemorações de 250 anos da cidade, celebrados em março deste ano. Ao incluir uma exposição de tamanho porte em sua programação, o MARGS se reafirma definitivamente como um dos principais pontos de cultura e arte do Estado, fruto do trabalho incessante da atual gestão, capitaneada pelo diretor-curador Francisco Dalcol. Atento e valorizando os artistas e as questões locais, sem se fechar para a arte brasileira e internacional, o museu cumpre seu compromisso enquanto órgão público de se aliar a grandes fomentadores de cultura para oferecer gratuitamente arte de qualidade para a população e de reafirmar a máxima de Tolstói: “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.

Leandro Fazolla é ator, historiador e crítico de arte. Doutorando em Artes Cênicas. Mestre em Arte e Cultura Contemporânea, na linha de pesquisa de História, Teoria e Crítica de Arte. Diretor Geral do Instituto Cultural Cerne.

COLEÇÃO SARTORI: A ARTE CONTEMPORÂNEA HABITA ANTÔNIO PRADO • MARGS - MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL • PORTO ALEGRE • 22/1 A 1/5/2022 75


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