Revista Dasartes 143

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Capa: , Prêt-à-Patria, performance da artista na 60ª Bienal de Veneza. Foto: © Marco Zorzanello. Cortesia: La Biennale di Venezia .

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Coluna do meio

DE
MARY CASSATT 30 BIENAL DE VENEZA 6 8 12
50 ANTONÍ TAPIES MARCELA CANTUÁRIA 68 86
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ARTE A Z
Agenda Livros

Com curadoria de Fábio Magalhães, a mostra de Newton Mesquita, no Museu de Arte Brasileira da FAAP, traz 82 obras que fazem um amplo panorama da trajetória pictórica do artista. No salão de abertura da exposição, haverá um espaço expográfico reproduzindo o atelierdoartista,ondeopúblicopoderá acompanhar a execução de uma obra inédita, em datas a serem definidas. Com mais de 50 anos de carreira, Newton tem uma trajetória singular nas artes plásticas brasileiras. Premiado, já expôs na América Latina, Estados Unidos, Europa e Japão. A atual exposição é a sua 56ª individual, com uma trajetória que começou a ter reconhecimento entre as décadas de

1960-1970. “A sua arte tem um caráter de figuração de matriz fotográfica e incorpora elementos da abstração”, afirma o curador Fábio Magalhães. “É um artista urbano, que retrata cenas banais da cidade, fazendo um realismo do cotidiano”. E afirma: “é um dos poucos artistas que trabalham muito bem a penumbra, o entardecer, a luz que filtra entre as sombras. Ele é um artista da luz”.

MESQUISTA • MUSEU DE ARTE BRASILEIRA DA FAAP • SÃO PAULO • 7/2 A 31/3/2024

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Agenda
NEWTON
,

de arte ,AZ

• Com o intuito de incentivar a produção artística contemporânea, a revista ZUM promove sua bolsa de fomento. O prêmio chega à 12ª edição e as inscrições estão abertas até 21/7. Os selecionados receberão bolsas no valor de R$ 80 mil para o desenvolvimento e a entrega das obras. Os projetos devem ser relacionados à fotografia ou vídeo, em suas mais diversas vertentes, sem restrição de tema, perfil ou suporte. Inscrições em

FEIRAS • Uma interpretação de uma obra icônica da artista Agnes Denes, feita de uma plantação de trigo, crescerá durante todo o verão em Basel. Wheatfield – A Confrontation, uma instalação de arte inovadora de land art e originalmente cultivada em Lower Manhattan, em 1982, está sendo novamente semeada, desta vez na edição 2024 da Art Basel, na Suíça.

PELO MUNDO • Seis anos depois da última exposição individual de um artista brasileiro no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a artista carioca Tadáskía passa a integrar o seleto grupo de artistas composto por Ernesto Neto, Lygia Clark, Roberto Burle Marx e Tarsila do Amaral, que expuseram seus trabalhos em um dos principais museus de arte moderna do mundo. A mostra Projects ficará em cartaz até 14/10/2024.

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GIRO NA CENA • Exposição Calder + Miró trará mais de 150 obras em dois andares do Instituto Tomie Ohtake. A mostra evidencia a ligação entre os trabalhos do escultor norte-americano Alexander Calder (1898-1976) e do espanhol Joan Miró (1893-1983), assim como os desdobramentos dessa amizade na cena artística brasileira. De 20/6 a 15/9/2024.

NOVOS ESPAÇOS • Litoral catarinense ganhará espaço de arte com projeto inaugural de Walmor Corrêa. A partir do dia 21 de junho, o artista abre, na Praia Brava em Itajaí, sua primeira obra que integra "personagens" da fauna e flora brasileiras com a força das palavras e da comunicação. Inédito na região, os corredores do mall vão se transformar em um espaço dedicado à arte, o Espaço Cultural BravaMall, na rua Delfim Mário de Pádua Peixoto, 500, em Itajaí/SC.

• DISSE BONAVENTURE SOH BEJENG NDIKUNG, curador-chefe camaronês à frente da nova equipe curatorial da Bienal de São Paulo, prevista para setembro de 2025.

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O livro traz imagens e comentários de 10 peças africanas que, no século 19, chegaram a ser expostas “como prova do suposto atraso cultural e intelectual dos povos africanos”, numa possível tentativa de justificar o sanguinário uso de força durante as invasões dos territórios daqueles povos pelos europeus.

LEGADOS: A COLEÇÃO DE ARTE AFRICANA

CERQUEIRA LEITE • 392 páginas • Editora Splendet e Editora Unicamp • R$ 280

Idealizado pelo fotógrafo André François, pela jornalista Paula Poleto, e pela curadora Corinne Noordenbos, o projetoteceumanarrativasubsequenteàdolivro , uma das maiores obras do fotógrafo e finalista do 65º Prêmio Jabuti.

ANDRÉ FRANÇOIS: NÓS SOMOS PORQUE EU SOU •

Aut. Paula Poleto • Editora AF imagens • 256 páginas • R$ 99,90

Através de ensaios da pesquisadora Napê Rocha, em diálogo com fotografias, além de uma entrevista com o artista, o livro propõe uma leitura de um conjunto de obras que traz as experiências das corporeidades negras presentes no trabalho de Paulo Nazareth.

CORPOREIDADES ENCRUZILHADAS: PAULO NAZARETH E CADERNOS DE ÁFRICA • Aut. Paulo NazaretheNapêRocha•EditoraCobogó•192páginas • R$ 110,00

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Livros,

Mary Cassatt

Flashback
A Goodnight Hug, 1880. Foto: On loan from a Private Collection, USA.

MEMBRO CÉLEBRE DOS IMPRESSIONISTAS FRANCESES, MARY CASSATT, NASCIDA NA PENSILVÂNIA E RECONHECIDA PELAS SUAS REPRESENTAÇÕES ÍNTIMAS DE MULHERES E CRIANÇAS, DESAFIOU AS EXPECTATIVAS CONVENCIONAIS DA ELITE

POR ALECSANDRA MATIAS DE OLIVEIRA

“Eu sou independente! Eu posso viver sozinha e adoro trabalhar”. (Mary Cassatt)

A história da arte é sempre viva. Ela muda de tempos em tempos. Artistas, temas e técnicas voltam ao debate, particularmente em exposições que se propõem a refletir sobre as pautas que hoje nos preocupam. O olhar para os percursos da história da arte é, invariavelmente,motivadoporquestõesatuais.Sendoassim,essas exposições se tornam eventos de reparação e legitimação de memórias historicamente apagadas ou subestimadas. Sob essa perspectiva, revisões sobre artistas e obras se fazem presentes no circuito de exposições internacionais. Notadamente, as curadorias tratam das manifestações das artes não ocidentais, mas também a arte europeia está em xeque. Nem mesmo movimentos e períodos considerados “resolvidos” ou, ainda, bem “documentados” estão livres do exercício do reexame de suas proposições, constituição e repercussões. O impressionismo é um desses movimentos que parece que tudo já foi abordado e discutido (mas só parece!).

Em uma época marcada por alterações profundas na forma de viver e pensar, os artistas desse grupo provocaram rupturas com a representação clássica, criando uma visão do mundo moderna e inovadora. Eles empregaram pinceladas soltas, em telas geralmente feitas ao ar livre para que o artista pudesse capturar melhor as nuances da luz, da natureza e do tempo. Seus motivos, modos de execução e expor estavam ligados à vida burguesa e a fatores relacionados à Revolução Industrial.

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Woman at her Toilette, c. 1880. Foto: Private collection in memory of Augustine F. Falcione.
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Lent by The Metropolitan Museum of Art, Rogers Fund, 1920.

Porém, o registro histórico do grupo dos impressionistas privilegiou as trajetórias dos renomados pintoreshomens. Quem não conhece Claude Monet, Camille Pissarro ou Edgar Degas? Para a escrita da história mais tradicional, a produção das mulheresartistas que integraram o grupo era de segunda classe. Isso criou um imaginário em torno do grupo. Responda rápido: de quantas pintoras impressionistas você se lembra? Não vale dizer Mary Cassatt (1844-1926), caro leitor esperto! Pois é! Por trás das intensas pinceladas e das cativantes cenas e paisagens, há uma história fascinante de pintoras que desafiaram convenções sociais e, em grande parte, contribuíram para o desenvolvimento e o reconhecimento do impressionismo. Entre essas pintoras que aderiram ao impressionismo estão: Mary Cassatt, Eva Gonzalès, Berthe Morisot, Marie Bracquemond, Lilla Cabot Perry e até mesmonossaartistabrasileiraGeorgina de Albuquerque. Algumas delas estavam ligadas ao círculo mais íntimo do grupo. Nesse ponto, merecem destaque as chamadas “grandes damas do impressionismo”. São elas: Gonzalès, uma das poucas alunas mulheres de Édouard Manet; Morisot, casada com Eugène Manet (irmão do pintor) e, por último, Cassatt, a única americana oficialmente associada ao grupo. Ela expôs pela primeira vez com os impressionistas a convite de Edgar Degas, em 1879, e se tornou membro chave do movimento. The Visitor, c. 1881.

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Foto:
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Foto:
The Visitor, c. 1881.
Lent
by The
Metropolitan Museum of Art, Rogers Fund, 1920.

E, agora, talvez porque chegou a hora de rever a trajetória e o repertório das mulheres-artistas ou, ainda, talvez porque amamos efemérides, Mary Cassatt foi a artista selecionada para uma grande exposição no Museu de Arte da Filadélfia (de 18 de maio a 8 de setembro),comitinerânciaprevistapara o Museu de Belas-Artes de São Francisco (de 5 de outubro a 26 de janeiro de 2025) – são 180 anos de seu nascimento e, em 2026, serão 100 anos de sua morte. Então, novas exposições e livros prometem lançar luzes sobre sua vida-obra.

A exposição traz a intenção curatorial de Jennifer A. Tompson e Laurel Garber no título: ver as cerca de 130 obras da artista como resultado do seu ofício; perceber ela própria como artista profissional e compreender suas cenas registradas para além da questão do lazer e do ócio. Suas pinturas mostram as mulheres em óperas, tomando chá ou visitando amigos, mas também no ambiente doméstico.Suas personagens leem, costuram, fazem tricô e bordado, amamentam e cuidam dos filhos, ou seja, estão em pleno exercício do “trabalho feminino” naquele momento – de modo algum, suas pinturas podem serreduzidasacenasde“mãesefilhos”. A mostra assinala ainda os processos de criação da artista, indicando o uso do caderno de anotações, dos modelos, do pincel, da agulha de gravura, do bastãode pastele até mesmoaspontas dos dedos – tudo a confirmar o tema e o modo feminino na pintura moderna. Dessa forma, esse “trabalho” do título da mostra também se refere à inovação do “fazer arte”.

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Little Girl in a Blue Armchair, 1877-78. Foto: National Gallery of Art,
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Lydia Seated in the Garden with a Dog on Her Lap, 1878-79. Foto: Cathy Lasry, New York.

O reexame sobre o trabalho de Mary Cassatt não é algo novo. Em 1998, a feminista britânica Griselda Pollock publicou o livro

Nesse livro, a pintora foi colocada como uma protofeminista, mulher solteira, sem filhos, que apoiou o sufrágio universal e experimentou ousadias no seu ofício. Sua biografia nos conta sobre a sua rejeição aos costumes das mulheres de sua classe social (sua família era muito influente, seu irmão Alexander se tornou presidente da Ferrovia da Pensilvânia). Ela abdicou de constituir família e optou por fazer da pintura seu trabalho, chegando ao centro da vanguarda francesa.

Nesse sentido, Pollock descreveu o percurso de Cassatt a partir de sua formação artística europeia, o estudo dos antigos mestres e seu entendimento dos repertórios de Manet e Courbet. A autora fez uma leitura atenta das obras de Cassatt e revelou sua visão do papel da mulher na modernidade. Acima de tudo, a pintora nos deu acesso à vida abafada da alta burguesia no século 19. Ela pintou a mulher moderna. Há uma literatura sobre Mary Cassatt que se ressente de suas limitações como mulher naquela Paris, ou seja, são pesquisasqueenfatizamsuasrestrições, especialmente com relação ao estudo da pintura (às mulheres era proibida a matrícula nas academias de arte) e, ainda, o impedimento de frequentar bares, cafés e cabarés – locais emblemáticos para o debate moderno. Cafés, bares e bordéis não eram considerados lugares “adequados” para as mulheres como Cassatt.

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Porém, novas abordagens percebem que ela tinha outros espaços da vida moderna, tais como as exposições, os camarins, os salões de costuras e, por fim, todos os lugares por onde a vida privada burguesa se desenvolvesse. Nesses lugares, o olhar da artista criou ficções de domesticidade. Diferente de seus companheiros, Cassatt não se deteve na representação que evidencia pessoas elegantes segurando guarda-sóis e passeando entre belas paisagens. Ela preferia os , a luminosidade da carne, a textura da pele. Suas mulheres estão em cena por si só ou, ainda, uma pelas outras. Elas estão sem a intervenção ou aprovação da figura masculina.

A artista não teve qualquer receio em pintar uma mulher comum amamentando, com o seio desnudo. A liberdade em amamentar sem tabu foi, certamente, um passo relevante à história da arte – antes disso, somente as madonas apareciam nessa condição. Algumas de suas obras retratam seus próprios parentes, amigos e clientes. Nos últimos anos de sua vida, ela geralmente usava modelos profissionais em composições inspiradas na renascença italiana. Depois de 1900, ela se concentrou quase exclusivamente ao tema “mãe e filho”.

Na exposição , a relação com Degas é explorada. Eles tinham muito em comum: eram de famílias abastadas e ávidos pelas descobertas de um novo tipo de pintura. Amigos, eles trocaram influências. Seus estúdios eram próximos. Ele a estimulou a lidar com a técnica da gravura e, de modo mais amplo, a abandonar a pintura acadêmica. Por sua vez, Degas era um grande colecionador do trabalho da pintora, chegando a ter mais de 100 obras. Ele também gostava de usar Cassatt como modelo. Na última década do século 19, essa parceria teve fim: ele se dedicou às paisagens e ela passou a ter interesse por explorar a gravura a partir da técnica japonesa.

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Mary Stevenson Cassatt Primary Title: At the Theater, c. 1879. Foto: Philadelphia Museum of Art: Gift of Mrs. Sargent McKean, 1950.

Driving, 1881. Foto: Philadelphia Museum of Art, 1950.

Alecsandra Matias de Oliveira é doutora em Artes Visuais (ECA USP). Pós-doutorado em Artes Visuais (Unesp). Curadora independente. Professora do CELACC (ECA USP). Pesquisadora do Centro Mario Schenberg de Documentação e Pesquisa em Artes (ECA USP). Especialista em Cooperação e Extensão Universitária no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP). Membro da Associação Internacional de Crítica de Arte (AICA). Articulista do Jornal da USP, editora da Revista Arte & Crítica e colaboradora da Dasartes. Autora dos livros Schenberg: crítica e criação (Edusp, 2011) e Memória da resistência (MCSP, 2022).

MARY CASSATT AT WORK • PHILADELPHIA MUSEUM OF ART • EUA • 18/5/2023 A 8/9/2024

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Maternal Caress, 1896. Foto: Philadelphia Museum of Art, 1970.

Poralgumtempo,historiadoressugeriram um possível romance entre Cassatt e Degas, porém, hoje, investigações se concentram nas relações da pintora com mulheres, incluindo a colecionadora americana Louise Havemeyer e sua empregada Mathilde Valet. No seu testamento, ela firmou o desejo de deixar cerca de 300 obras para Valet, sua companheira por longos anos. Cassatt sempre foi de natureza discreta. Cartas, diários, livros e outros documentos foram destruídos antes ou após sua morte. Durante décadas, ela viveu e trabalhou em Beaufresne, zona rural francesa, em um castelo de pedra e janelas fechadas.

A exposição recupera essa com a frase da pintora: “O que gostaríamos de deixar para trás é uma arte superior e uma personalidade oculta”.

Além de resgatar o trabalho de Cassatt (incluindo suas obras e seu desejo de ser uma pintora profissional), a exposição ainda nos faz lembrar que ela trabalhou intensamente para a divulgação do impressionismo nos EUA. Em estreita colaboração com Havemeyer, a pintora mediou a compra de obras-primas –algumas delas integram o acervo do Metropolitan, em Nova York. E isso deve ser levado em conta, quando se pensa na organização de uma exposição como essa, que trata sobre o legado da artista em itinerância nos principais museus norte-americanos.

No mais, rever a trajetória e o repertório de Mary Cassatt é perceber que a história muda ou, ainda, melhor: entendemos que há sempre um detalhe negligenciado e esse nos traz novos “achados” e nos faz refletir sobre nossos dias.

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BIENAL DE

Capa

Thresholds. Pavilhão da Alemanha. Foto: © Matteo de Mayda. Cortesia: La Biennale di Venezia.

VENEZA, DE

DIRETORA DA DASARTES COMPARTILHA SUAS CONSIDERAÇÕES PESSOAIS E DESANIMADAS

SOBRE UMA BIENAL CARREGADA DE CLICHÊS

Quando o tema da Bienal de Veneza foi anunciado, confesso que fiquei desanimada: . Nestes mais de 15 anos à frente da Dasartes, percebi um padrão: a arte, com frequência, antecipa tendências do pensamento coletivo. Respeito , reconhecimento das mulheres, valorização da cultura negra, anticolonialismo e tantos outros fluxos da nossa atitude apareceram antes na produção da arte. Nos últimos anos, ela focou em destacar e valorizar a produção desses grupos fora do padrão. Sempre me pareceu um movimento necessário, o local onde o pêndulo deveria estar, depois de tantos anos apontando para a heteronormatividade branca, para chegarmos mais tarde a um equilíbrio social saudável.

Mas agora, sob a possibilidade de uma terceira guerra mundial, com tantas vozes pedindo paz, tendo separado, rotulado e olhado individualmente para cada um desses grupos,não seria a hora da arte trabalhar para unir? O tema me pareceu datado e gasto, impressão reforçada pelo discurso que acompanhou sua divulgação, no qual a arte perde destaque para sexualidade do curador. Talvez por isso eu tenha entrado na Biennale de má-vontade, mas comecei pelos pavilhões nacionais e percebi que ainda é possível tirar suco dessa fruta.

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Super Superior Civilizations, Pavilhão da Suiça. Foto: Matteo de Mayda. Cortesia: La Biennale di Venezia.

Due Qui/To Hear, Pavilhão da Itália.

Foto: Andrea Avezzù. Cortesia: La Biennale di Venezia.

As instalações monumentais de Massimo Bartolini, no Pavilhão da Itália foram um choque de contemplação em meio ao furor do evento. O título é , traduzido como ( ), que temo mesmo som de “ ”, escutar: aqui não se falou de estar sozinho, de ser estrangeiro, mas de colaborar, de olhar para o outro, de ouvi-lo. No da Alemanha, o mais comentado, a mistura de experiências aborda, sem muita esperança, nosso futuro incerto. O dos Estados Unidos foi muito criticado, mas eu achei que assumiram ali aquilo que muitos já fazem: exageraram os clichês da cultura nativa e da estética queer e transformaram em alegoria suas demandas. Não é inesquecível, mas é atual, é bonito e bem acabado, tem impacto. Parafraseando a artista Rosana Paulino, resolve-se no campo da arte, ao contrário de outras obras que, ao buscarem um discurso, se mostram pobres artisticamente. Funciona bem como ato desesperado para relembrar um tema que, de tão repetido, já perdeu a importância que merece. Não percebi qualquer uma dessas qualidades no Pavilhão do Brasil. Não é à toa que tenha sido ignorado pela mídia.

Jeffrey Gibson: the space in which to place me. Pavilhão EUA. Foto: Liege Gonzalez Jung.

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seu espírito do tempo. Na Biennale 2024, abundam obras de média qualidade e algumas até ruins. A presença brasileira é forte, com muitos nomes cujo vínculo com o tema não consigo reconhecer – Alfredo Volpi, Judith Lauand, Anita Malfatti, etc. A maioria com obras medianas, que não representam todo o esplendor de suas produções.

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Em uma das salas, os brasileiros logo reconhecem os cavaletes de cristal do Masp, primor do design de Lina Bo Bardi. Empolguei-me vendo-os pelo verso, mas desanimei com as obras expostas, bem como descrito anteriormente. Fiquei até encucada com algumas, cuja qualidade me lembrou as pinturas da vizinha da minha vó que fazia curso de artes no interior do Rio Grande do Sul e, sabendo que eu tinha uma revista de arte, sempre fazia questão de me mostrar. Eram pinturas com boa técnica, mas, como esperado, desprovidas de inovação e daquele "que" a mais, tão difícil de descrever, que distingue as obras de arte excepcionais. Lá em Santa Rosa, na sala da vizinha, elas faziam sentido. Na Biennale, a sensação era de estar vendo uma exposição de leilão em São Paulo.

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Dizem nos bastidores que a Biennale não tem orçamento e os custos de transporte e comissionamento tiveram que ser bancados pelos colecionadores e galerias. Será que isso explica tudo? Nãosei,porqueésabidoqueAdrianoPedrosaassumiu a curadoria do Masp junto com a posse de Heitor Feitosa como presidente, e esse time tirou o museu de uma profunda crise financeira e organizacional enquanto fez excelentes exposições. Ou seja, estamos falando de alguém com comprovada experiência e talento para brilhar em condições desfavoráveis. O aspecto comercial da exposição, no entanto, é indiscutível e tem sido assunto em conversas com muitos amigos do circuito de arte internacional. Pelo que entendo, a Biennale passada, aquela com Leonora Carrington e outras mulheres surrealistas, já trazia essa sensação de ter sido pensada para acomodar aquelas galerias de Nova York, então talvez a culpa seja do modelo e tenhamos que retomar a discussão. Para mim, volta a sensação que tive ao visitar uma exposição de arte indígena no período da Bienal de São Paulo de 2021, a Bienal dos Indígenas. Para mim, o ato de dar tela e tintas fabricadas na Europa para os indígenasretrataremaquilovaificarbememummuseu me pareceu triste, de forma alguma um ato de valorização.Sentifaltadeveraliobrasqueremetessem aos maravilhosos e singulares adornos e artefatos que conhecemos de algumas comunidades indígenas, talvez a incorporação de temas contemporâneos em seus métodos tradicionais de representação, como a arte popular brasileira faz tão bem e como já vi em muitos museus de arte nativa na América do Norte. No entanto, no final, o resultado de todo o alvoroço foi positivo: de fato, um movimento de valorização cultural de nossas etnias nativas. Nesse contexto, guardei minha opinião na gaveta de baixo e fiz força pra não abri-la nas muitas exposições de arte indígena que vi nos últimos anos. Mas, na minha visita à Biennale, não consegui.

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Yinka Shonibare, Refugee Astronaut VIII, 2024. Foto: Marco Zorzanello. Cortesia: La Biennale di Venezia

Ione Saldanha, Untitled, Bamboo, 1960. Thresholds. Foto: Matteo de Mayda.

Pela minha experiência, tendo a acreditar que a curadoria foi influenciada por interesses de terceiros. Qualaminhaexperiência?Possocontaruma:háalguns anos apresentei um projeto de divulgação digital a um Instituto Cultural ligado a um banco. O projeto, depois de recusado, teve sua adaptação analógica veiculada nas páginas impressas de outra revista. Quando perguntei a uma amiga que trabalha na comunicação do Instituto, a resposta foi: " Não sei, é algo entre eles." Eles, no caso, o presidente do Instituto e a diretora da publicação, que compartilham amizade e afinidade política. Muitas das decisões que norteiam o que consumimos em arte são tomadas assim, com base em preferências pessoais e filosóficas de alguns indivíduos ou grupos, às vezes com prejuízo à qualidade. Que pena! Lamento profundamente com uma pontada no meu coração repleto de afetos por nossa arte. A curadoria perdeu a oportunidade de elevar o status internacional da arte brasileira.

À direita: Mataaho Collective, Takapau, 2022. Foto: Marco Zorzanello. Cortesia: La Biennale di Venezia.

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” “

Claire Fontaine, Foreigners Everywhere /Stranieri Ovunque, 2004/2024.

Foto: Marco Zorzanello. Cortesia: La Biennale di Venezia.

Daniel Otero Torres, Aguacero, 2024. Foto: Marco Zorzanello. Cortesia: La Biennale di Venezia.

Não vamos deixar de laurear os pontos acertados. Os neons de Claire Fontaine, que fazem o tema da Biennale refletir nas águas de Veneza, são unanimidade. A instalação do coletivo nativo neozelandês Mataaho é um nocaute, um ambiente coberto de tramas, luzes e sombras que lembram que há formas muito bem sucedidas de traduzir tradição étnica para arte contemporânea. Yinka Shonibare, que não podia faltar em uma exposição desse tema, está lá, ainda que com uma única escultura em local de passagem. Aqui e ali, artistas que eu não conhecia com obras que capturam e provocam. Uma que ficou comigo dias depois da visita foi a espalhafatosa e favelística instalação de goteiras de Daniel Otero Torres, ao lado das pinturas de Dalton Paula. O som das goteiras reverbera, uma trilha sonora perfeita para aquele ambiente e uma ode à maravilhosa capacidade humana de adaptar e sobreviver. O visual da geringonça me trouxe à mente a estética do puxadinho, tema da tese de doutorado da querida curadora Fabiana Lopes. Caberiam ali ao lado algumas pinturas de Lucia Laguna, aquelas com imagens fragmentadas e cheias de cor que inferem comunidades dos subúrbios. Decerto, a galeria Fortes D’Aloia não quis incluir.

Liege Gonzalez Jung é diretora e editorachefe da Revista Dasartes desde 2008.

49 FOREIGNERS EVERYWHERE • 60TH INTERNATIONAL ART EXHIBITION • LA BIENNALE • VENEZA • 20/4 A 24/11/2024

Antoni Tàpies,

Do Mundo
Creu i R, 1975. Foto: Cortesia de Fundación Telefónica.

O MUSEU MADRILENHO REINA SOFIA

HOMENAGEIA A FIGURA DO GRANDE

ARTISTA CATALÃO ANTONI TÀPIES COM

UMA INESQUECÍVEL EXPOSIÇÃO QUE

ENCERRARÁ EM 2025, EM BARCELONA

POR MATTEO BERGAMINI

Há 100 anos nascia Antoni Tàpies, lendário artista catalão que impulsionou a vanguarda europeia do século 20 graças à sua surpreendente habilidade pictórica, cuja poética sempre foi propiciada pelos acontecimentos da história e também pela sua própria vida, interrogando-se profundamente a respeito do sentido da existência durante os últimos anos da sua carreira. Tàpies, hoje, está glorificado tanto na sua Espanha quanto na Bélgica: no BOZAR - Palais des Beaux-Arts de Bruxelas, onde se iniciou a itinerância da retrospectiva , a mais completa exposição dedicada a ele até esse momento, recém-chegada em março em Madri – no Centro de Arte Reina Sofia – e seguindo e fechando o ciclo na sede da Fundação dele em Barcelona, no próximo mês de janeiro.

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Ni portes ni finestres, 1993 ©

Levando o nome do livro homônimo do artista, publicado pela editora Ariel, em 1973, nas salas do Reina Sofia condensam-se mais de 220 trabalhos, cuja poética encara a luta pela liberdade contra as armadilhas das políticas totalitárias: antifranquista, fervente promulgador da independência da Catalunha, participante dos movimentos estudantis principiados em toda a Europa após o “Maio Francês” de 1968, Tàpies denuncia os crimes da Segunda Guerra Mundial e também, quase 50 anos depois, a limpeza étnica e o genocídio que houve nos Bálcãs, a partir de 1991. Como em uma partitura musical, é um crescente de obras de tirar o fôlego, rigorosamente dispostas: curada pelo ex-diretor do Reina Sofia, Manuel Borja-Villel – antes diretor da Fundação Tàpies desde a sua abertura, de 1990 a 1998, e, também, cocurador da última Bienal de São Paulo, a exposição não conta com um desacerto.

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” “
Antoni Tàpies.
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Ulleres, 1984. © Antoni Tàpies.

Solene, como os temas alcançados pelo artista em seu percurso geral, a mostra mexe com nossa percepção, onde esbarramos diante das formas de telas que se transformam em esculturas, visões de inúmeros abismos pertencentes à condição humana.

Aproximando-se à arte devido a uma doença pulmonar que o obrigou a ficar em um sanatório, onde passou o tempo copiando obras de artistas tais como Pablo Picasso ou Vincent Van Gogh, Tàpies se formou em Direito; mal exercitou a profissão de advogado, criando, em 1948, em Barcelona, o grupo artístico . Em seu nome, cujo significado é “A sétima face do

Triptico, 1948. © Antoni Tàpies.

dado”, já se escancarava a aura enigmática de uma criação ansiosa que queria ir além do sensível. Aproximando-se ao Dadaísmo e logo ao hiper-realismo e ao existencialismo, sempre teve nele o maior rigor político em recusar a ditadura, pretendendo agitar a sociedade intelectual catalã.

Nos primeiros anos da década de 1950, a pintura de Tàpies seguiu, exatamente, os padrões do Surrealismo – o movimento criado em 1924 por André Breton – quer na dimensão onírica dos sujeitos representados, quer no estilo: vê-se claramente na homenagem feita ao poeta espanhol Frederico GarcíaLorca(1951),figuraqueacompanhariaoartistaemtodaasuatrajetória.

Gran relleu negre, 1973.

Foto:

Influenciado pela filosofia de Nietzsche, pelas visões de Jean-Paul Sartre, pela literatura de Dostoiévski, pela música do Romantismo e Richard Wagner, pelas teorias sobre a arte de Martin Heidegger, Antoni Tàpies deixaria em breve a figuração para transformar sua pintura em corpos abstratos. Acercou-se rapidamente das formas do pintor italiano Alberto Burri, mestre do Movimento Informal, com o qual compartilhava as ideias antifascistas e a vivência da Segunda Guerra Mundial em primeira pessoa, mesmo a Espanha tendo uma política neutra. Como as obras de Burri iam se compondo por feridas, costuras, queimaduras, rachaduras, espaços da cor de sangue, eis que as de Tàpies se tornavam “pinturas

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Meadows Museum. © Antoni Tàpies.

Tela ventruda, 1964. Foto: FotoGasull. © Antoni Tàpies.

gravidade com o peso da consciência que o artista jogava à parede, sem medo das reações, tanto do público quanto das forças opressoras do país, outrora sob a ditadura de Francisco Franco.

Já internacionalmente reconhecido no começo da década de 1960, Tàpies participou da terceira Documenta, em Kassel, em 1964; hoje, no Reina Sofia, podemos admirar algumas das grandes telas pintadas sob “encomenda” do professor Arnold Bode, cujo intuito deu à luz a manifestação alemã, em 1955.

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Destaca-se, entre as outras, , uma grande pintura criada misturando areia e cimento, hoje pertencente à coleção permanente do Museu Luisiana em Copenhagen, na Dinamarca. Na mesma sala também está a misteriosa (1959): noturna, o azul brilhante relembrando o tom criado pelo artista francês Yves Klein, essa pintura nos permite alçar a magia e toda a empatia que, de vez em quando, as grandes obras abstratas trazem consigo. (1956) é exatamente o que representa: alguém poderia rever nela mais uma semelhança com outro artista italiano da vanguarda

Abaixo: Ocre per a Documenta, 1963. Foto: Louisiana Museum.

À direita: Porta metà-lica i violí, 1956. Fundació Antoni Tàpies. Fotos: © Antoni Tàpies.

de 1960, Jannis Kounellis, mas, como sabido, o Manifesto da Arte Povera veio só em 1967 e os violinos do artista grego, que escolheu Roma como sua casa, apareceram na sua produção somente na década seguinte.

Tàpies foi precursor, e atrevido também, continuamente desafiando – do princípio da sua carreira até o fim – o abismo que divide a realidade e a abstração, quase como se suas formas viessem criadas por devaneios, adivinhando as possibilidades, soprando na poeira do mundo para lhe oferecer uma fisionomia alheia: moderno demiurgo.

© Parlament de Catalunya.

© Fondation Gandur. À direita: 7 de novembre, 1971. Foto:

Porta vermelha, N. LXXV, 1958. Foto:

Antoni Tàpies.

Enfim, não é somente um título, mas o começo para uma aventura: é um ato corajoso, ainda mais precioso nesses anos de conflitos sacudindo a área europeia e a do Oriente Médio; é um hino para resgatar a dignidade da palavra “política” associada à criação; é o despertar da importância de não nos calarmos para interagir com energia contra os abusos e a falta de liberdade utilizando as nossas peculiaridades, a nossa identidade. Ilumina-se na nossa mente a figura do jornalista Pereira, diretor da página cultural de um jornal português na época de Salazar, protagonista do romance , do escritor italiano Antonio Tabucchi: uma nova consciência vinda graças aos encontros com dois jovens “revolucionários” durante uma breve temporada, em 1936, levaria o covarde Sr. Pereira a sair do pavor e da indiferença à ditadura, vingando de vez todas as vítimas do regime por meio de... um obtuário. Isto é, golpeando no silêncio das mansas regras caladas do alto. É o que a arte faz, por vezes.

Matteo Bergamini é jornalista, crítico e escritor especializado em Arte Contemporânea. Colabora com a revista italiana ArtsLife e com a portuguesa Umbigo Magazine.

ANTONI TÀPIES: THE PRACTICE OF ARTE • MUSEO REINA SOFÍA • VENEZA • 21/2 A 24/6/2024

FUNDACIÓ ANTONI TÀPIES • BARCELONA • 17/7/2024 A 13/1/2025 Gran llençol, 1968.:

67
©

Marcela

Reflexo

Cantuária

Jinwar ou Terra de mulheres. Foto: © Marcela Cantuária.

AS PINTURAS DE MARCELA CANTUÁRIA TRAZEM QUESTÕES COMO O PROTAGONISMO POLÍTICO FEMININO, A LUTA DE CLASSES E A DIVISÃO DE PODERES. A ARTISTA NOS REVELA A INSPIRAÇÃO PARA SUAS OBRAS MAIS RECENTES E INÉDITAS EM EXPOSIÇÃO NO PAÇO IMPERIAL, NO RIO DE JANEIRO

POR MARCELA CANTUÁRIA

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Sem título, 2023. Foto: Filipe
87
B. © José Bechara.

A grande benéfica, 2021. Foto: © Marcela Cantuária.

“ A grande benéfica
” 72
74

“ ” 75
Salão Latino-americano y Caribeño de Artes/ Salão de Mulheres (depois de Willem van Haetch), 2022 Foto: © Marcela Cantuária. Jovita Feitosa (Detalhe). Foto: Vicente de Mello. Cortesia © Marcela Cantuária e Galeria A Gentil Carioca.

As amantes

Carta dos Enamorados

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As amantes, 2023. ©

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Marcela Cantuária.

Ângela Gomes, a rainha do Rosário, 2023. Foto: © Marcela Cantuária.

“ Ângela

Gomes, a rainha doRosário

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Leia matéria com a artista em nossa edição nº 100, .

MARCELA CANTUÁRIA - TRANSMUTAÇÃO: ALQUIMIA E RESISTÊNCIA • PAÇO IMPERIAL • RIO DE JANEIRO • 17/4/2024 A 7/7/2024

84

Asarpay, a última sacerdotisa inca, 2023. Foto: © Marcela Cantuária.

Pág. Anteriores: Leila Khaled e Maria Bonita. Fotos: Vicente de Mello. Cortesia artista e galeria A Gentil Carioca. © Marcela Cantuária.

85
“ Asarpay última sacerdotisa inca

, Coluna do meio

Pietrina Checcacci

Galatea

São Paulo

Brasília, a arte da Democracia

FGV Arte

Rio de Janeiro

Ricardo Camargo

Galeria

São Paulo

Bruno Novelli e Luiza Santana Antonio Almeida e Ricardo Camargo Claudio Tozzi Berenice Arvani e Carlos Eduardo Eduardo Coimbra, Amalia Giacomini e Franklin Pedroso Antonio Bokel e Dominique Valansi Fernando Rabelo, Ernesto Neto, Bel Pedrosa e Juvenau Pereira Fernando Rabelo e Regina Pessoa Pietrina Checcacci e Fernanda Feitosa Francisco Ferrão e Juliana Camargo Wesley Duke Lee
86
Leda Abuhab
Fotos:

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