Revista Dasartes Edição 43

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COMO LER A Carta do Editor

Reflexo - Alexandre da Cunha 02

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Com exposição em Chicago, a obra do artista em suas próprias palavras

Destaques da Agenda

Livros

Uma seleção de exposições imperdíveis

Uma resenha e vários lançamentos

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Resenhas

Um giro completo no circuito artístico em pequenas notas.

Uma seleção de exposições pelos olhos de nossos colaboradores

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Outras Notas

Garimpo - Tatiana Chalhoub

Marcia Milhazes / Power 100

A jovem e sua obra em mostra na Galeria IBEU

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ÍCONES DE NAVEGAÇÃO

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De Arte A Z 09

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Alto Relevo

Flashback - Musas da Pintura

Virgínia de Medeiros, a vencedora do PIPA assume posições com uma obra contundente

Personagens que moldaram a história da arte do outro lado do cavalete

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Capa - Claudia Jaguaribe

Feiras - Parte, Frieze e ArtBo

Agnaldo Farias desvenda a produção da artista

Fatos e fotos das principais feiras do mundo

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Ateliê do Artista - Júlio Villani

Notas do Mercado

Com ateliês em Paris e São Paulo, o artista falou de seu processo de criação

Acontecimentos que marcaram o mês nas galerias e leilões

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Do Mundo - Bienal de Istambul

Coluna do Meio

Espalhada pela cidade e seus dois continentes, a mostra que encanta e indigna 49

Vernissages e eventos do circuito de arte

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Carta do Editor Edouard Manet, “Dejeuner sur I’herbe”, 1863

A arte é como um jardim

Jeff Koons, “Rabbit”, 1986

por onde perseguimos um coelho

Anish Kappor, “Leviathan”, 2013

bebemos de certas obras e nos sentimos pequenos

Do-ho Sun, “Floor”, 2008

outras nos fazem crescer

Ivan Navarro, “Ocio”, 2005

que nos leva por um túnel mas apenas algumas, diferentes para cada pessoa, nos deixam prontos para abrir a porta e entrar em outro mundo.

Carta inspirada no livro “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carrol.

Bem-vindo à sua nova Revista DASartes. Venha com a gente procurar as suas obras de arte. Equipe Dasartes Na capa: Claudia Jaguaribe, da série Abákatu.


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DESTAQUES DA AGENDA

Destaques da Agenda

Fluidostática Ursula Tautz

Antônio Dias

James Kudo Epítome da Paisagem

Pensada e executada especialmente para o local, a mostra – inspirada no universo do Palácio do Catete, da Galeria do Lago – consiste em uma instalação composta por 16 jarras contendo tinta azul para canetas tinteiros (utilizadas pelos presidentes do palácio na assinatura de documentos) sobre balanços pendurados por cabos de aço no teto da galeria.

Exposição inédita dividida em dois segmentos, o primeiro incluindo um percurso que vai dos anos 1950 a 2000 reunindo 64 obras de várias técnicas e o segundo apresentando 9 pinturas dos anos 1960 e 1970. Complementa a mostra o lançamento do livro “Antônio Dias” que traz uma análise profunda desta coleção por Sérgio Martins.

Dois importantes eventos históricos estão na origem formal desta exposição, que se assume também como uma homenagem pessoal de Kudo ao multifacetado artista uruguaio Joaquim Torres Garcia: o incêndio que devorou o acervo do MAM-RJ em 1978 e a inundação, em 1990, da cidade Novo Oriente, pelas águas da usina hidroelétrica de Três Irmãos.

Uma compilação com 32 obras que sintetizam os 30 anos de trabalho da artista. Com curadoria de Luisa Duarte, a retrospectiva tem caráter introdutório ao trabalho de um dos maiores nomes da arte contemporânea.

GALERIA MULTIARTE FORTALEZA / CE ATÉ 28/11

LUCIANA CARAVELLO ARTE CONTEMPORÂNEA RIO DE JANEIRO / RJ ATÉ 28/11

ESPAÇO CULTURAL AIRTON QUEIROZ FORTALEZA / CE ATÉ 29/11

GALERIA DO LAGO MUSEU DA REPÚBLICA RIO DE JANEIRO / RJ ATÉ 06/12

Adriana Varejão A Pele do Tempo

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DESTAQUES DA AGENDA

19º Festival de Arte Contemporânea SESC Videobrasil Panoramas do Sul

Cícero Alves dos Santos - Véio

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DESTAQUES DA AGENDA

In the Meantime

Blue: A Terra é Azul

Exposições, programas de filmes, performances, programas públicos e publicações com curadoria de Solange Farkas e curadores convidados.

A mostra reúne 28 obras, de grande e pequeno porte do artista, que dá vida a galhos e raízes do sertão sergipano.

A mostra coletiva contempla nomes de 35 artistas visuais e também exemplares de arte tribal brasileira, configurando-se em um amplo panorama de expressões, estilos e vertentes imagéticas.

A última exposição do ano da Matias Brotas Galeria une duas individuais, com curadoria de Marcus Lontra e obras de Suzana Queiroga e Mai-Britt Wolthers tendo o azul como destaque.

SESC POMPÉIRA E GALPÃO VB SÃO PAULO / SP ATÉ 06/12

SESC SANTO AMARO SÃO PAULO / SP ATÉ 13/12

GALERIA TINA ZAPPOLI PORTO ALEGRE / RS ATÉ 18/12

MATIAS BROTAS GALERIA VILA VELHA / ES ATÉ 14/02/16

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DE ARTE A Z

De Arte A Z

Jardim de Esculturas do MAM Foto: Nelson Takeyama

“Bambi” por Nino Cais Foto: Divulgação

O Jardim de Esculturas do MAM SP (projeto de Burle Marx) ganhou o primeiro lugar, na categoria Urbana, no Prêmio Abilux, da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação. De autoria de Marcos Castilha, o projeto de iluminação destaca os detalhes das peças que compõem um dos principais acervos brasileiros expostos a céu aberto, com 30 obras dispostas em seis mil metros quadrados no entorno do museu.

A parceria entre o artista Nino Cais e a editora Cosac Naify continua rendendo frutos. Após ilustrar livros de Valter Hugo Mãe no ano passado, Cais assina as delicadas imagens do livro “Bambi”, que chega às livrarias pela primeira vez em português. Para a obra, o artista trabalhou com colagens de silhuetas de animais sobre recortes de livros de botânica, entre outros.

O projeto Travessias – Arte Contemporânea na Maré chegou ao seu quarto ano de atividades consolidando-se na agenda cultural da cidade como um projeto de reflexão e discussão sobre a arte contemporânea e as transformações do espaço urbano na atualidade. O Galpão Bela Maré recebeu a mostra, que contou com nomes de peso, como Regina Silveira e Eduardo Coimbra, que produziram obras olhando para a Maré.

Regina Silveira e sua obra, “Touch” Foto: Douglas Lopes

E o destino do casarão neoclássico que abriga a Casa Daros foi selado: a construção em Botafogo foi vendida para o grupo Eleva Educação, que pretende transformar o local em uma instituição de ensino.

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DE ARTE A Z

Tché Rugg, “Confinamento Contemporâneo”, 2015 Foto: Divulgação

Leonilson, “Os Pensamentos do Coração”, 1988 Foto: Rômulo Fialdini

A Fundação Ema Klabin, em São Paulo, promove uma nova série de intervenções artísticas no pátio interno da casa denominada Intervalo Contemporâneo. “A ideia é que os trabalhos instalados nesse espaço sejam um contraponto à coleção adquirida por Ema Klabin, inserindo o debate de uma produção contemporânea no percurso da visitação regular”, explica o curador da série, Renê Foch. O primeiro artista convidado é Tché Ruggi, com a obra “Confinamento Contemporâneo” (2015).

O artista Leonilson será tema de encontro no dia 9 dezembro, no auditório do MAM SP, entre especialistas da área e amigos do artista. O evento é parte do trabalho de produção do “catálogo raisonné”, que percorrerá toda a obra de Leonilson, primeiro artista contemporâneo brasileiro a ser contemplado com uma publicação dessa natureza. Um inventário das obras pesquisadas e catalogadas até o momento será disponibilizado ao público no site do Projeto Leonilson.

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DE ARTE A Z

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GIRO DAS ARTES Um dos eventos mais esperados por designers do mundo todo tem sua próxima edição confirmada. A XXI Esposizione Internazionale della Triennale di Milano (XXI Expo Design) foi oficialmente anunciada aos brasileiros durante o seminário XXI Exposição Internacional Triennale di Milano, que aconteceu em São Paulo. A exposição nasceu em 1923. 1947-1951, Oitava Trienalle Foto: Divulgação

Conhecido por suas impressionantes esculturas de animais, o artista chinês Huang Yong Ping ocupará o Grand Palais entre maio e junho de 2016, durante a sétima edição da “Monumenta”. Sua instalação será composta por oito ilhas, com uma estrutura que as sobrepõem lançando sombras sobre o contorno metálico do teto de vidro. “Puerto Rican Ligths (Cuerva Vientos)” é o novo projeto de Allora & Calzadilla, que consiste na instalação da obra de Dan Flavin, “Puerto Rican Light (to Jeanie Blake)”, de 1965, den© Guayanilla–Peñuelas, Puerto Rico. tro de uma caverna em Porto Cortesia Dia Art Foundation. Rico. Para ver a instalação, que © Allora & Calzadilla. Foto: Myritza Castillo estará disponível até 23 de setembro de 2017, os visitantes precisarão fazer uma trilha de cerca de duas horas.


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Outras Notas Márcia Milhazes Cia de Dança Fotos: Ana Clara Miranda

O GESTO ARTÍSTICO A investigação contínua sobre o gesto e sua linguagem, que permeia a trajetória de Marcia Milhazes, agora se amplia para além da dança em um projeto multidisciplinar que a coreógrafa apresenta no Oi Futuro Flamengo a partir de 7 de dezembro: Em “Sempre Seu”, além de criar um espetáculo inédito para o espaço – inspirado em uma série de cartas escritas por figuras célebres e anônimas –, Marcia convidou um grupo de artistas a desenvolver trabalhos “site specific”, que não apenas dialogam entre si mas têm a dança


OUTRAS NOTAS

como ponto de convergência. Beatriz Milhazes, Chico Cunha, Ana Clara Miranda e Gustavo Gelmini aceitaram o desafio e participam da ocupação artística, que começa já na fachada do prédio com um desenho de Cunha. Ainda na área externa, a vitrine externa do Oi Futuro abriga uma sequência de 13 fotografias de Ana Clara, com detalhes do gestual dos bailarinos da companhia. No primeiro nível, monitores exibem imagens do cineasta Gustavo Gelmini sobre as mesmas cenas retratadas na vitrine, agora em movimento.

A intenção é que cada espaço revele um pouco do espaço seguinte, até chegar à obra coreográfica completa Toda a galeria do quarto nível, onde os bailarinos se apresentam, será envolvida por cenografia criada pela artista plástica Beatriz Milhazes – uma cortina de desenhos e elementos de sua pintura. É dela também o desenho que ocupa o grande vitral, no térreo. O ciclo se fecha na galeria do quinto nível com uma instalação de Chico Cunha, representando ao mesmo tempo o fim e o início da ocupação, ao criar uma ponte com a primeira obra, na fachada do prédio. O artista criou desenhos extremamente realistas e de grandes dimensões, nos quais busca a valorização do bailarino, o intérprete que verdadeiramente revelará a linguagem da dança. Neste espaço, os bailarinos fazem breves performances, sempre às terças e quartas, nos horários de maior movimento. O projeto segue até 21 de fevereiro de 2016.

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Outras Notas Iwan & Manuela Wirth Foto: Reprodução BBC

POWER 100 A revista americana “ArtReview” divulgou sua tradicional e aguardada lista das 100 personalidades mais importantes do mundo da arte em 2015: “The Power 100”. Entre os brasileiros, estão a galerista Luisa Strina, que subiu da 65ª para a 55ª, em comparação com o ano passado; o trio dono da galeria paulistana Mendes Wood DM (Pedro Mendes, Matthew Wood e Felipe Dmab) que subiu da 99ª para a 93ª, e o curador e diretor do MASP Adriano Pedrosa, que caiu da 93º para 96ª. O empresário e colecionador mineiro Bernardo Paz, do Instituto Inhotim, presente na lista nos últimos anos, não consta na listagem de 2015. Nenhum novo nome surgiu entre os brasileiros, e nenhum artista ou diretor de feira do Brasil faz parte da lista. Quem lidera o ranking é o casal de galeristas suíços Iwan e Manuela Wirth. O artista plástico chinês Ai Weiwei, que estava em 15º em 2014, em uma subida vertiginosa, toma o 2º lugar do galerista norte-americano David Zwirner, que agora está em 3º. A queda mais brusca foi a da Sheika Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa Al-Thani, do Qatar, patrocinadora oficial e presidenta do Qatar Museums Authority (QMA), que foi de 13º para 87º lugar. Você pode ver a lista completa nas notícias do site Dasartes.


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Alto Relevo POR LEANDRO FAZOLLA Jéssica, da série “Fábula do Olhar”, 2013

ALTO RELEVO

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Em tempos conflituosos e de acirrados debates políticos, é comum que a arte saia ganhando com produções fortes e questionadoras sobre os caminhos trilhados pela sociedade. Essa afirmação pode ser exemplificada pela produção de Virgínia de Medeiros - vencedora do Prêmio PIPA 2015 pelo júri de premiação e pelo voto popular – e a forma como ela se insere no conturbado quadro político e social do Brasil de hoje. A artista, nascida em Feira de Santana, na Bahia, apresentou na exposição dos finalistas ao prêmio, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, uma mostra concisa e em profundo diálogo com a atualidade. Suas obras abordavam questões tão plurais quanto identidade de gênero, religião, desigualdade social e até mesmo a busca por um lugar no mundo. Enxergando a arte como uma ferramenta política e de autoconhecimento, mas sem abrir mão de uma forte verve poética, Virginia parte, sobretudo, de um profundo diálogo com pessoas, tornadas personagens de narrativas ácido-doces em vídeos, fotografias e outras mídias. “Em torno dos meus marítimos”, 2014 Foto: Everton Ballardin

VIRGÍNIA DE MEDEIROS


ALTO RELEVO

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“Sérgio e Simone”, obra que esteve na Bienal de São Paulo no ano de 2014 e foi premiada no 18º Festival de Arte Contemporânea Videobrasil com o Prêmio de Residência ICCo, contrapõe, em um único vídeo, de forma simultânea, duas filmagens de uma mesma pessoa em momentos distintos: quando usava o nome de Simone e se travestia de mulher e, anos depois, quando, convertido depois de uma overdose, voltou a usar o nome de batismo, Sérgio, e se tornou membro de uma igreja evangélica. “Sérgio Simone”, 2007 - 2014 Fotos: Everton Ballardin

“Em torno dos meus marítimos”, 2014

Tal diálogo surge de forma literal: Virgínia dá voz aos marginalizados a partir de um íntimo processo de envolvimento com cada um e com seus relatos pessoais, normalmente inseridos em um contexto poético-documental que percorre eixos ficcionais e realistas, como acontece em “Em torno dos meus marítimos”. Na obra, a artista nos apresenta Marinalva, mulher que, após se casar e sair do país, retorna fugida do marido, de quem passara a sofrer violência doméstica, e dedica seus dias ao Manilas Bar, espaço que recebe marinheiros de vários países quando aportam na Bahia. No vídeo, o espectador ouve a história narrada por Marinalva ao mesmo tempo em que conhece o espaço, seus visitantes e, de tempos em tempos, contempla a imensidão do mar, que guarda em si tantas histórias e segredos como a própria narradora. Através da visão de um binóculo, aproxima-se ainda mais da intimidade de Marinalva, que, com o objeto em mão, diariamente espera que cheguem, pelo mesmo horizonte por onde um dia partiu, aqueles que hoje dão sentido à sua existência.

Apesar de se pautar na contraposição dos discursos de Sérgio/ Simone, a obra traz implicitamente uma série de debates sobre identidade de gênero, religião e a forma como tais assuntos têm permeado a sociedade brasileira nos últimos anos, ecoando questões polêmicas como a chegada da bancada evangélica ao Congresso. Se, de um lado, vemos Simone, cabelos longos, em uma cachoeira, falando abertamente de sua sexualidade e do candomblé; do outro vemos Sérgio, de terno e gravata, no meio da cidade, afirmando que sua vida e seu corpo tinham sido dominados pelo demônio no passado.


ALTO RELEVO

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Virgínia acredita que seu desafio é contribuir, por meio de seus trabalhos, com os amplos debates em voga atualmente.

Para a artista, “a questão da sexualidade é o pano de fundo de questões religiosas e uma das formas mais eficazes de controlar uma pessoa é controlar sua sexualidade” Esse controle se deixa entrever nas falas de Sérgio, que renega seu passado e enterra sua “personalidade” anterior, ao mesmo tempo em que busca a conversão daqueles que o ouvem. No vídeo, as duas gravações por vezes dividem a tela, sobrepõem-se, juntamse, separam-se, uma delas assume o protagonismo para logo em seguida se tornar coadjuvante da narrativa. A estratégia não faz juízo de valor, não cria discursos binários entre certo e errado (como muitas vezes acontece nos debates sobre o assunto), mas faz com que o espectador confronte polos antagônicos, de contornos borrados, nos quais uma série de “sérgios” e “simones” se encontram diariamente, e dá a ele o direito às próprias conclusões.

Série produzida em colaboração com o Mestre Júlio Santos

A artista mescla realidade e ficção, refazendo a imagem de cada morador de rua segundo seus próprios desejos.

Encerrando a exposição estão as obras mais delicadas dessa seleção. Na série “Fábula do Olhar”, Virgínia fotografou e ouviu os relatos de moradores de rua – que o público também ouve, sobrepostos um ao outro – e pediu que cada um relatasse como desejaria ser representado. Por meio da antiga técnica de fotopintura, que consiste em pintar por cima das fotografias em preto e branco, tornando-as coloridas, a artista mescla realidade e ficção, refazendo a imagem de cada morador de rua segundo seus próprios desejos. Essa imagem é ladeada pelas falas de cada um, fazendo o espectador perceber de forma diferente aqueles que comumente não são enxergados no ir e vir das cidades.


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“Fábulas do Olhar”, série produzida em colaboração com o Mestre Julio Santos

O envolvimento de Virgínia com tais discussões não se resume ao encontro com o outro, mas se adensa no encontro consigo mesma. Para um projeto futuro – que deve dar continuidade na residência em Nova Iorque que ganhará pela vitória no prêmio PIPA –, Virgínia começou a injetar hormônios masculinos no próprio corpo. Ainda que não saiba exatamente os desdobramentos que dará ao processo, a ideia é, segundo ela mesma, “falar sobre autonomia corporal em relação a nossas experiências e desejos – ter autonomia para criar o corpo que se deseja e o direito de escolher seu gênero e de transformar o seu corpo de forma segura”. Cunhando no dia a dia o cerne de sua produção, em um exercício quase antropológico, Virgínia retira do anonimato personagens que muitas vezes não têm voz e trata de suas realidades para além de qualquer maniqueísmo, permitindo que o espectador conheça as dores e os sabores de cada um, identificando e preenchendo com maior gama de cores um país que, a despeito de ser fundado na diferença, parece cada vez mais tentar restringir as infinitas possibilidades do ser em um código binário preto e branco.


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Capa POR AGNALDO FARIAS Série “Bienal”

CLAUDIA JAGUARIBE VISTAS EM PERSPECTIVA

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A visão é uma fonte de apaziguamento; através dela travamos, já à distância, contato com objetos, acontecimentos e pessoas, e vamos estreitando relações com eles na proporção em que os vemos. Nesse sentido, a palavra “familiaridade” ganha amplitude ainda maior. Ver confirma a existência das coisas ao mesmo tempo em que confirma nossa própria existência. Um dentro do outro, coexistência íntima. O olhar mútuo, ainda que fugaz, é uma ação íntima e afirmativa da nossa existência e da existência do outro. E o que dizer então de se rever algo indefinidamente, constantemente, situação proporcionada pela facilidade com que hoje se fotografa e se compartilha? A disseminação universal das câmeras fotográficas e cinematográficas vem gerando a vertiginosa proliferação de imagens, particularmente por parte dos amadores, que parecem obedecer ao impulso de fixação do que veem como estratégia de resistência à aceleração da vida.

Mas o compartilhamento compulsivo de imagens, o fluxo lento e intermitente de imagens por meio das redes sociais, Instagram, Facebook, etc., denota um curioso desejo de se afirmar a existência apenas porque se viu. Filmo, fotografo e compartilho, logo existo.

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CAPA

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Essa é uma das versões contemporâneas do “cogito” cartesiano. E à inesgotabilidade do mundo, à sua miríade de faces e ângulos, reage-se atirando-se voluptuosamente sobre ele, esquadrinhando-o com as lentes. O resultado nada tem a ver com o controle que a posse das imagens pressupõe. As imagens são de todos e de ninguém. Ver, hoje, já não traz mais apaziguamento, mas ansiedade; o que há é um estado de êxtase, uma dispersão vertiginosa que nos distancia do mundo em vez de aproximá-lo. Há, portanto, que se reinventar constantemente o modo de olhar para as coisas, seja o corpo humano, seja o corpo das grandes cidades. E, para melhor cumprir esse objetivo, haverá um recurso mais favorável que outro? Nesse sentido, a melhor solução talvez seja, como pretende Claudia Jaguaribe, fazer uso combinado ou justaposto de várias linguagens e suportes de linguagem, em alguns casos simultaneamente.

“Entre Vistas”, 2014, exposição no Itaú Cultural

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Com uma sólida formação em fotografia, Claudia Jaguaribe está entre os mais sofisticados pensadores e produtores de imagem, estática ou em movimento, pesquisando incansavelmente a plasticidade de sua linguagem e seus suportes. Ao longo das últimas duas décadas, ela vem fazendo uso fotos, filmes e vídeos. Imagens que podem vir impressas e suspensas em paredes, estampadas em páginas de livros, livros projetados para serem folheados, como é comum, ou abertos em narrativas sanfonadas, retráteis, cuja fruição nada tem a ver com o ritmo compassado dos primeiros. Quanto às imagens em movimento, imagens filmadas, são apresentadas em monitores de tela plana, projetadas nas paredes, por meio da retícula caleidoscópica de um “video wall” ou por meio de “tablets”, até aqui entre os suportes mais manuseáveis. Por fim, talvez o ponto alto de uma trajetória pontuada por pontos altos, chega-nos às surpreendentes séries de esculturas, cada uma delas em si uma colagem imagética/construtiva, própria ao “skyline” entrecortado e confuso da metrópole, com seus volumes recebendo imagens coladas e projetadas.

Também o modo de expor as obras, o desenho expográfico de suas mostras, vem merecendo uma atenção toda especial, mais um tópico de sua poética.

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Série “Rio - Entre Morros”

Como aconteceu na “Entre Vistas”, na passagem de 2014 para 2015, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, onde, além do uso de todos os suportes mencionados, as imagens de formato horizontal do livro sanfonado que acompanhava a mostra foram distribuídas pelas duas paredes laterais, como se estivesse abraçando o espaço da exposição. Desde que passou a enfrentar mais incisivamente as metrópoles, com destaque a São Paulo e Rio de Janeiro, Claudia Jaguaribe, por um esforço de compatibilização com um objeto excessivo e pletórico, viu-se obrigada a repensar o universo de fotografia, o repertório de suportes, assumindo os princípios técnicos do mosaico e da colagem como a essência de sua poética. Mas rigor o desconforto

com as formas habituais de apresentação da imagem fotográfica e a consequente chegada aos procedimentos característicos do mosaico e colagem, remontam às primeiras séries fotográficas da artista, como “Retratos anônimos”, de 1996, e “O corpo da cidade”, de 2000. Nesta, cada imagem, em formatos que variavam de dimensões medias, caseiras, a “outdoors”, resultava de um lento trabalho de edição, corte e colagem, para a montagem de unidades obtidas por meio de fragmentos, em todos eles explorando a sensualidade das cores, a discrepância entre formas orgânicas e as linhas retilíneas produzidas pela lâmina de facas e estiletes. Esse processo se mantém até hoje, embora muito mais complexo e adensado, do que é prova a mostra recente, “Topografias” (2012), composta por


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painéis cheios de movimento, vistas impossíveis, distorcidas e retorcidas da celebrada paisagem carioca, Cristo Redentor, baía da praia de Botafogo, entre tantos ícones. Cada peça é um “puzzle” de fragmentos, sobreposições refrações feitas à base de colagem, separados um dos outros como pedaços de vitrais.

As vistas das cidades produzidas por Claudia Jaguaribe, em São Paulo e no Rio de Janeiro, escapam das construções monolíticas, compreensivas, mentirosas do que são cidades dessa magnitude. Série “Rio - Entre Morros”


Série “Topografias”


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A artista nos dá perspectivas múltiplas, mais aproximadas das relações entre a extensa e ostensiva massa edificada e as pessoas que, à maneira das formigas, que durante o dia vão roçando as antenas ao passar, à noite se recolhem em seus aconchegantes casulos. No Rio de Janeiro, os aglomerados urbanos vão-se escorrendo pelos vales íngremes, em contraste com as porções de verde, o mar e as águas sempre presentes, como o céu e as nuvens. O mosaico carioca é diferente da massa compacta das edificações de São

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ferença dos prédios altos, sensíveis apenas às luzes e reflexos dos outros prédios, dos pedaços do céu que os recorta. Mas enquanto o clima e a natureza do Rio de Janeiro expulsam as cidades para fora, a muralha de prédios e casas paulistanas indica que a vida é entrincheirada. Paulo, igualmente inabarcável e veloz. Em ambas as metrópoles, o tumulto no rés do chão, as cadências assincrônicas de pessoas, automóveis, ônibus, motos, bicicletas esbarrando-se, abalroando-se; as vagas complexas de ruídos e cheiros contrastando com a indiferença

“Entre Vistas”

Paulo, igualmente inabarcável e veloz. Em ambas as metrópoles, o tumulto no rés do chão, as cadências assincrônicas de pessoas, automóveis, ônibus, motos, bicicletas esbarrando-se, abalroando-se; as vagas complexas de ruídos e cheiros contrastando com a indi

dos prédios altos, sensíveis apenas às luzes e reflexos dos outros prédios, dos pedaços do céu que os recorta. Mas enquanto o clima e a natureza do Rio de Janeiro expulsam as cidades para fora, a muralha de prédios e casas paulistanas indica que a vida é entrincheirada.

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Em sua “Entre Vista”, com suas fotografias, livro, filme e escultura integralmente dedicados a São Paulo, a artista percorreu as edificações comerciais e residenciais, ciente de que sua opacidade não bloqueia de todo os sinais vagos do que lhes vão por dentro. Infiltrou-se para dentro desses ambientes desvendando os excertos das decorações disciplinadas dos escritórios, os cenários domésticos onde se confirmam a existência dos mesmos velhos ritos, a liturgia caseira, gestos e ações comezinhas, até o fecho do dia quando os moradores, fartos da jornada diária, postam-se impassíveis sentados em sofás e poltronas, estátuas banhadas pelas luzes cambiantes das telas das tevês.

Do público ao íntimo, a artista ultrapassou as cercas vivas, espessas e imponentes das mansões, seus muros obturando todas as frestas que dão acesso à vida secreta. E na sequência dos casarões, cada vez mais escassos na metrópole, seguiram-se as casas típicas de classe média alta e classe média, os sobrados, as moradias geminadas, até as habitações precárias, como os cortiços e barracos. Uma trama irregular, mais amarrada e harmônica nos bairros que bordejam o centro, vai se espalhando, avançando em blocos irregulares, emaranhados uns, outros esgarçados, pelos confins dilatados do município, emendando-se

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Série “Abá-katu”

nas cidades vizinhas. Em todas essas expressões do morar, essas compreensões do que seja uma moradia, todas elas derivadas de um mesmo padrão devidamente articulado ao lugar socioeconômico de seus habitantes, oferecem, em maior ou menor grau, aspectos essenciais de suas vidas. Consciente de que na prática ver significa entrever, ver mal, imprecisamente, a artista enveredou pela vida embutida das casas paulistanas, interessada, sobretudo, nas pessoas que as habitam, nas famílias completas, avós, pais e filhos, nos casais, nos solteiros, naqueles que, por preferência ou premidos pelo custo de vida em uma cidade especialmente cara, dividem a moradia. A artista abordou o mundo que cada família constrói para si, produzindo visões sobre o que veem seus habitantes. Registrou, editou, reorganizou, reconstruiu os ambientes onde vivem, as luzes e sombras coloridas produzidas pelo concerto de lâmpadas e paredes, a solidariedade dos objetos com quem coabitam, a convivência desencontrada de signos da alegria, solidão, timidez, ostentação, tristeza, refinamento,


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pobreza, extroversão, silêncio, tudo invariavelmente pontuado pelas vistas da cidade emolduradas por janelas e varandas. Também emulada pela observação das metrópoles, Claudia Jaguaribe, depois de fotos, filmes e livros, realizou alguma coisa única, ainda a espera de ser devidamente estudada, algo entre escultura, maquete, fotografia e cinema. Construções constituídas por volumes irregulares empilhados, em parte compactos, em parte vazados, com setores opacos e reflexivos, todos recobertos por imagens, algumas delas em movimento: sequências fílmicas semelhantes às que se desenrolam pela nossa cidade. Cada escultura um microcosmo, um fragmento das entranhas dessas grandes cidades.

Série “Sobre São Paulo”

CINCO PERGUNTAS PARA CLAUDIA JAGUARIBE Por Adriano Casanova

Qual foi sua primeira experiência como artista com o mercado da arte e como isso transformou sua maneira de atuar? Quando comecei a expor em galerias, o mercado de arte para fotografia era bem pequeno. A relação entre artista e galeria era algo eventual, que só acontecia de fato durante a exposição. Quando fui para a galeria do Marcantonio Vilaça, nos anos 1990, começava uma grande mudança: passara a existir um mercado de arte com formadores de público e colecionadores. O galerista já pensava a relação com o artista e com a obra em suas muitas etapas, desde entender a produção, como fixar preços, uma estratégia de divulgação do nome do artista e, principalmente, a criação de uma relação de confiança, sem a qual nada funciona. Além de expor suas obras nacional e internacionalmente, você possui uma editora de livros de fotografia. Como você une essas duas funções? Sempre vi o meu trabalho de fotografia ligado à produção de livros. O livro para mim é como uma exposição portátil e vi a editora como uma forma de aprofundar esta questão. Pude desenvolver a minha pesquisa ligada a um grupo de pessoas que discute, inova e produz trabalhos de muita qualidade. O fotolivro tornou-se um dos mais requisitados formatos de apresentação para a fotografia em feiras e exposições, gera um enorme debate e interesse do público. Já tive meus livros expostos no Victoria Albert Museum de Londres e no Festival de Lienzhou na China, lado a lado com fotografias em exposições, o que não aconteceria em outras épocas.


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Qual seria uma situação ideal para o artista que entra ou quer entrar para o mercado hoje? Continuo achando que é fundamental uma formação ampla para que o artista saiba se diferenciar. É importante ter referências de outras áreas e contato com uma produção intelectual crítica. Por isso, as boas escolas são lugares importantes para a discussão e formação. É evidente que, se forem escolas de arte, podem dar uma dimensão técnica ainda melhor, mas conheço excelentes artistas que vieram das ciências, da filosofia e das letras e resolveram na prática a questão técnica. Fora a formação, é importante o artista entender que ele tem que ser também um empreendedor de si mesmo: saber escrever sobre o seu próprio trabalho, saber se inserir em editais e procurar uma boa galeria. Há excesso de pessoas, lugares e eventos. Não adianta estar em todos, somente nos certos. Foto: Mauro Almeida

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Em um circuito cultural instável e em constante movimento, como se manter tanto tempo sendo uma artista com uma produção sólida, referência para jovens talentos? A arte contemporânea passa por muitas variáveis tecnológicas que acarretam novas discussões conceituais. Sempre tive muito interesse em pesquisa de linguagem e inovação de processos. A fotografia foi uma das primeiras formas desta discussão e continua presente em tudo.

A fotografia é interdisciplinar e esta característica abre muitas possibilidades do fazer e conceituar. É uma linguagem que permite constante inovação e invenção, o que me coloca perto de futuros talentos. A fotografia já ocupa um espaço importante dentro do circuito das artes visuais e é uma das poucas mídias que tem uma vida paralela. Com esse panorama, como vê seu futuro? O futuro da fotografia para mim é impossível de se prever. O que sei é que se antes aprendíamos a ler agora as crianças aprendem a ver e fotografar. Com certeza essa é a base do futuro!

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Ateliê do Artista POR SYLVIA CAROLINNE

Como iniciou sua trajetória saindo de Marília para Paris? Fale um pouco sobre o seu processo de maturação/criação.

Fotos: Bz

JULIO VILLANI

Os pincéis fazem parte da minha vida desde a infância em Marília: tive a sorte de ter uma vizinha que restaurava painéis e pinturas de igrejas da região, e dava aulas de pintura; eu vivia enfurnado no seu ateliê. Adolescente, montei um ateliê na fazenda dos meus pais. De Marília, fui para São Paulo estudar na FAAP, de lá para a Amazônia. Não que houvessem por aquelas terras escolas de Belas Artes, mas eu queria ver na fonte a geometria indígena. Pela mesma razão, vim parar na Europa: ver de perto as obras do Louvre, da National Gallery de Londres, que devorara, criança, em livros e revistas – sem mencionar as que vira minha professora reproduzir: você não imagina a emoção de reconhecer no Prado um Velázquez visto no fundo de um quintal em Marília!

ATELIÊ DO ARTISTA

Estudei na Watford School of Arts, em Londres. Saí de lá pensando em ir para Berlim, mas passei por Paris e nunca mais fui embora. Cursei dois anos a École des Beaux Arts e, a partir daí, comecei realmente a ter “meu ateliê” aqui. Existe uma disciplina no seu dia a dia?

Não penso no meu dia a dia em termos de “disciplina”, mas acredito que tenha uma: começo e termino sistematicamente meus dias no ateliê; mesmo quando volto tarde, não deixo de passar um bom momento por lá. E, apesar de ter prazer em ver amigos, exposições, filmes, dia bom mesmo é dia em que não preciso sair do ateliê! Como você administra ateliê, exposições e viagens? Existe uma equipe?

Administrar um ateliê é uma noção que só surgiu nos últimos anos – quando passei a ter não um, mas dois ateliês –, mesmo se navegar entre Paris e São Paulo, para mim, represente ir para casa e voltar para ela. Trabalho com galerias nas quais existem equipes queridas e supereficientes. Mas minha assistente mesmo – a que reconhece minhas obras pelo título,

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ATELIÊ DO ARTISTA

acha os objetos que me interessam e resolve mil problemas técnicos –, é minha mulher. Acho que ela é o pedaço de mim atento aos detalhes, a minha metade capaz de lidar com a logística das emoções. Que referências você usa em seu trabalho?

Às vezes me pergunto quais são as que não uso. Devo muito à linhagem dos artistas que professam que é importante “se divertir seriamente”, como Picabia; à dos neoconcretos, que introduziram o sensível na geometria; e à dos que incorporaram o real em suas obras, instituindo que na arte não há “impureza”: Schwitters, Cornell, Picasso. Desde então, das montagens do Farnese às justaposições fotográficas de Baldessari, foram muitas as maneiras de achar arte nos objetos achados. Não só me identifico com estes, como ainda carrego no coração a geometria indígena, a poesia do Calder e do Volpi, a inventividade da arte popular, o humor mordaz do grupo OuLiPo. Sem esquecer as letras do Caetano, a liberdade dos “ready-mades” do vovô Duchamp, a capacidade do Drummond a preservar sua infância.

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ATELIÊ DO ARTISTA

O que você acredita uniformizar a linguagem de suas obras?

O uso de uma geometria sensível, a investigação do caráter lúdico das línguas e seus deslizes de sentidos, a abertura ao real por meio dos materiais incorporados. Quando entra o título no processo?

De uma maneira geral, no fim, com a peça pronta. Mas, de vez em quando, gosto de me impor o exercício de partir de um título – como quem parte de um objeto achado: está aqui tal coisa, tal palavra. O que você consegue fazer a partir dela? Como você lida com a deterioração de suas obras?

Presto uma atenção danada nos materiais que uso, nas combinações de matérias que faço. Produzindo uma peça em um material com o qual não tenho experiência, avanço supercautelosamente, para ter certeza de que não vou fazer uma obra efêmera. Mas, mesmo tomando cuidado, sei que os materiais são vivos e reagem ao tempo e às condições ambientais. É sempre com interesse que revejo trabalhos antigos, e como evoluíram. Isso dito, certas montagens são feitas para não du

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ATELIÊ DO ARTISTA

rar mesmo, servem só para me levar de um ponto A a um ponto B no trabalho. Podem desaparecer, mas a ideia persiste e pode ressurgir um dia, às vezes anos depois. Quais as últimas obras?

Tem sempre mil coisas acontecendo ao mesmo tempo no ateliê: pinturas, maquetes de joias, colagens, projetos de tapetes, assemblages. Preciso ter pelo menos três mesas com projetos em andamento!

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Do Mundo POR THAIS GOUVEIA Adrian Villar Rojas

DO MUNDO

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É nessa antiga geografia, preenchida de histórias e tensões que, pela 14ª vez, se desenrola mais uma Bienal de Istambul. A presente edição cumpre com a tradição desta Bienal que, desde 1987, vem apresentando curadorias relacionadas à cidade. “SALTWATER: A Theory of Thought Forms” (Água Salgada: uma teoria sobre formas pensadas, em tradução livre) faz da água salgada e do sal, elemento fundamental para a manutenção da vida e responsável pelas sinapses cerebrais, fios condutores dessa narrativa que se desdobra, desliza, atravessa e mergulha por entre formas, nós e ondas do Bósforo.

Michelangelo Pistoletto

BIENAL DE ISTAMBUL

NAVEGANDO PELOS NÓS DA HISTÓRIA “Esta Bienal de Istambul será a mais dispersa da história. Vai lhe fazer conhecer o Bósforo muito bem”, afirmou a curadora Carolyn Christov-Bakargiev em entrevista sobre a mostra, que encerrou em 11 de novembro. O Bósforo é o canal de 30 km de extensão que conecta o mar Negro ao mar de Mármara, dividindo Istambul, a maior cidade da Turquia, em dois continentes: de um lado a Europa e do outro a Ásia. Essa localização estratégica fez do Bósforo palco de conflitos econômicos, políticos e religiosos protagonizados por grandes impérios ao longo da história.


BIENAL DE ISTAMBUL

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O fato de boa parte dos trabalhos estarem bem dispersos e instalados em locações privadas, além das galerias e dos museus, como casas abandonadas, barcos, garagens, hammams; torna a experiência dessa bienal mais direta e íntima. Cada local foi escolhido devido à sua importância histórica, política e cultural. O pequeno espaço privado é defendido pelo celebrado escritor turco Orhan Pamuk, em seu manifesto A Modest Manifesto for Museums como zona de acontecimento da arte. Para ele, estar em um lugar menor e intimista torna nossa experiência com a arte mais profunda e reservada, sem a frieza de museus. “O futuro do museu está em nossas casas”, ele afirma no manifesto, impresso na entrada do Museu da Inocência. A bienal faz abrir as casas de Istambul e, por apenas um breve período, revela suas histórias veladas, particulares e extraordinárias para o mundo. Pinar Yoldas (instalação em ônibus aquático)

DO MUNDO

O Museu da Inocência – que acolhe pinturas do artista Arshile Gorky – foi criado a partir da obra homônima de Orhan Pamuk. Cada andar do discreto edifício apresenta uma série de gabinetes com cenários correspondentes a cada capítulo do livro, sugerindo imagens e objetos acerca da história de amor entre Füsun e Kemal, protagonistas do romance. A obra de Gorky, situada no último andar, complementa o imaginário em torno do universo dos personagens. O museu incorpora e cumpre com as premissas defendidas no manifesto do escritor, proporcionando ao visitante uma experiência mais acessível, individual e emocional.

Imigração, deslocamentos e conflitos entre os muitos povos que habitam ou habitaram a região surgem como referência em vários pontos da Bienal

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Deniz Gul

O genocídio armênio, um dos temas centrais da mostra, foi abordado por diversos artistas, tornando visíveis as camadas mais profundas dessa ferida encoberta. Mas ainda muito presente. Destaca-se a instalação The flesh is yours, the bones are ours, de Michael Rakowitz, composta por ossos, gesso e desenhos. Os ossos foram escavados na ilha de Sivriada e pertencem a alguns dos mais de 80 mil cachorros que foram abandonados na ilha à sua própria sorte, como parte do projeto de “limpeza” de Istambul no mesmo período que ocorria o massacre armênio. Já o gesso alude ao artesão armênio Gabaret Cezayirliyan que, contratado pelo império Otomano para reconstruir a cidade atingida por diversos incêndios nos anos 1870, criou boa parte dos ornamentos Art Nouveau, embora essa informação seja omitida pelos turcos, que cobrem as fachadas dos edifícios desse estilo na cidade. Wael Shawky (projeção de vídeo em um hamman)


BIENAL DE ISTAMBUL

DO MUNDO

Localizada na fronteira entre Turquia e Armênia, Ani foi um dia uma importante cidade fundada 1.600 anos atrás e, após centenas de invasões por diversos imperadores e povos, foi totalmente abandonada em 1700. Sua história é o tema do filme e instalação criada pelo belga Francis Alys para o espaço DEPO, no bairro de Karakoy. O filme se passa nas ruínas de Ani. Ou o que restou dessas depois de passarem diversas vezes pelas mãos de saqueadores turcos em suas tentativas de eliminar o passado armênio da cidade. Exibe crianças da região entoando sons, com pequenos instrumentos similares a uma flauta, que mimetizam os cantos de diversas espécies de pássaros, evocando o retorno da vida ao lugar.

As diversas obras que aludem a esses traumas da região são, algumas vezes, intercaladas por viagens marítimas, em deslocamentos lentos e silenciosos. Entre um baque e outro, o balanço das ondas atua como espécie de bálsamo e vai, pouco a pouco, desmantelando convicções acerca da complexidade cultural da região, do lugar da arte, da veracidade da História.

Francis Alys (still de vídeo 3)

Cildo Meireles

Quase duas horas era o tempo que se levava para chegar à ilha de Buyukada, ao sul do mar de Mármara, onde estavam localizadas as obras de oito artistas. Para chegar até a obra do argentino Adrián Villar Rojas, instalada na ilha, era necessário cruzar a casa em ruínas que serviu de exílio para o intelectual marxista Leon Trotsky, entre 1929 a 1933. A obra The Most Beautiful of All Mothers, uma imponente série de 17 esculturas de animais compostas de fibra de vidro e dejetos, alude às atuais migrações desesperadas e trágicas de refugiados que precisam passar pela Turquia para chegar à Europa Ocidental.

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BIENAL DE ISTAMBUL

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A tentativa humana de negociar com o passado traumático se faz visível na obra do vietnamita Nguyen Huy An, apresentada no Hrank Dink Foundation, no bairro de Sisli. Guaches e aquarelas sombrias sobre papel e seda e tecidos pretos recortados na forma de sombras de objetos revelam o mal-estar do Vietnã pós-guerra. Como um resíduo da massa sombria e disforme da memória que nunca desaparece. A escolha do artista e das obras para a fundação se faz coerente. Criada em 2007, em memória ao editor do jornal Agos, assassinado em frente à sede do jornal no mesmo ano, surgiu com intuito de desenvolver atividades que possam estreitar relações e resgatar a herança cultural de gregos, armênios, judeus, assírios e outros povos da Antiga Anatólia.

Nguyen Huy An (vista da sala)

Anna Boghiguian


DO MUNDO

tória. Essa última, reconhecidamente parcial e hierárquica, acaba por definir o que deve chegar a nós (à superfície), e o que deve ser apagado ou permanecer invisível (submerso). Essas forças invisíveis foram chamadas pela socialista, teosofista e feminista Annie Besant (1847-1933) de “formas pensadas”, em seu livro publicado em 1905. Essas formas seriam como forças vibráteis da esfera imaginária corporificadas graças ao desejo e ao pensamento. Para Christov-Bakargiev, que escolheu as imagens dessas formas para ilustrar o material gráfico da bienal e seu conceito como um dos eixos curatoriais, defende o livro como referência para as primeiras teorias estéticas sobre a arte abstrata moderna. Se toda arte é uma forma criada a partir do desejo, seria ela então dotada, segundo Heidegger, de poder transformador e curativo, até mesmo para as feridas mais profundas, abertas há dezenas, centenas, milhares de anos atrás. Trata-se de, em meio às muitas ondas e nós que nos atravessam, se colocar à escuta e com auxílio da arte abrir o campo da ação para a criação de novas formas que atuem no fluxo da História. E, quem sabe, alterar o curso de seus acontecimentos.

Nikita Kadan

A presença desses povos na região e o desaparecimento de seu legado também são focos dessa Bienal. A metáfora da água salgada e sua relação entre o visível (o que está acima da superfície) e as forças invisíveis (submersas) aludem aos registros da própria His

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Reflexo Obra em exposição na Bienal de São Paulo Foto: Edouard Fraipoint

ALEXANDRE DA CUNHA por ele mesmo

“Utilizo processos muito simples em termos de técnicas. Vejo minha prática como anotações de coisas existentes no mundo, que são combinadas; ‘re-arranjadas’, criando uma ilusão de um novo objeto que pode ser contemplado.

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Esses objetos são quase os mesmos que encontro em estado bruto, mas eles sofrem um pequeno deslocamento ou interferência que os torna relevantes em outro contexto. Não são exatamente ‘ready-mades’, mas têm a vocação de serem esculturas e, ao mesmo tempo, propor uma reflexão sobre o uso dessas estruturas em nosso cotidiano. Meu interesse por esse material está no aspecto formal (formas, cores, superfícies), mas também no uso cultural e social desses elementos.”

Às vezes, é só uma questão de virar um objeto muito familiar ao contrário e poder descobrir certa elegância nele.


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“Os projetos de esculturas ao ar livre trazem um elemento novo que se relaciona com arquitetura e espaços sociais. Existe um processo demorado e delicado quando se instala algo em um espaço público. A relação da obra com a paisagem e toda a negociação com o público se dá de uma forma totalmente diferente de uma escultura mostrada no espaço protegido da galeria. O processo de produção também acontece em outro ritmo, são etapas e mais etapas de planejamento, de conversa com outros profissionais, etc. Tenho aprendido muito nesse processo e acho que essa experiência me faz voltar aos trabalhos mais intimistas com uma energia diferente. Na minha prática, preciso desses desafios, tenho que conviver frequentemente com alguns riscos no processo.

A dúvida funciona como combustível para o próprio processo e isso é muito estimulante. Acho que, se não fosse isso, talvez já tivesse parado de fazer o que eu faço. Escultura criada para o MCA Chicago Plaza Project, 2015


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“Uma mudança importante tem sido a forma como a pintura está mais presente na minha prática. Considero os trabalhos de parede relevos, ou esculturas de parede, mas eles se referem à pintura como linguagem. O uso da cor, da tela e dos materiais que são do universo pictórico estão cada vez mais presentes. Vou fazer pela primeira vez uma exposição em que tudo estará exposto na parede, sem qualquer escultura ocupando o espaço e isso é uma novidade. Sinto que os trabalhos de parede ganharam autonomia e não precisam mais do diálogo com a escultura.”

O que mais me estimula não é criar novas formas, mas fazer um exercício de olhar as que estão lá ao redor.

Mandala II Foto: Edouard Fraipoint


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Livros POR MARIA BEATRIZ MUSSNICH

Minha Primeira Coleção Organização: Camilla Bloisa Nankin Edições e Arte – R$75,00

“Liberdade para criar sem rigor, extrapolar convenções para poder ver o mundo, literalmente, de cabeça para baixo”. Essa é uma das propostas do livro “Minha Primeira Coleção”, que acaba de ser lançado no mercado editorial infantil. O livro – de atividades lúdicas e criativas – faz parte de um box também composto por cinco obras encartadas (pôsteres) dos artistas brasileiros contemporâneos Carolina Martinez, Danielle Carcav, Fabrício Lopez, Tatiana Blass e Pedro Varela. Uma ideia inovadora, que pretende despertar o olhar e o gosto das crianças pelas artes visuais. As atividades desafiam os pequenos a se aventurarem em experiências diferentes, como “desenvolver um olho sensível para observar arte”, “brincar com alto relevo”, “usar o corpo como tela”, “testar novos suportes”, “experimentar um videoarte”, “fazer uma performance” e, por que, não “criar o próprio ateliê de arte em casa”? A organizadora do projeto, a arquiteta Camilla Bloisa, conta que a ideia surgiu a partir de um artigo que leu em uma revista. “Dizia que se os pais comprarem um vinho por ano para o filho, quando ele completasse 18 anos, ele teria uma enorme coleção. Então, por que não começar a criar uma pequena coleção de arte para o filho e dividir momentos afetivos de criação com ele?”, explica. Apaixonada por arte e educação, Camilla trabalhou na Fundação Roberto Mari


LIVROS

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Lançamentos

nho e fez um mestrado em gestão de museus na Boston University. Para ela, o grande diferencial do “Minha Primeira Coleção” é criar um vínculo interativo entre os pais e os filhos, por meio da arte. Incentivar pais e adultos responsáveis para que sejam mentores nas atividades criativas das crianças. Uma das inspirações de Camilla foi observar o hábito dos pais europeus, que levam os filhos com frequência a museus e têm uma vivência gostosa de aprendizado.

A ideia é que a criança também goste de arte porque tem uma ligação afetiva com aquilo, porque criou uma pintura ou teve uma experiência divertida com os pais. O lançamento do box “Minha Primeira Coleção” foi acompanhado de uma pequena exposição de obras dos artistas do projeto e também de um miniateliê para as crianças pintarem, na Livraria Cultura do Fashion Mall, zona sul do Rio. No site do “Minha Primeira Coleção”, as crianças podem encontrar mais atividades de criação. O livro também ganhará uma versão eletrônica em breve. E fica a dica: “Um lembrete para os pais: O processo de criação deve ser livre, principalmente das expectativas em relação ao resultado final (a obra) produzido pelas crianças. #papo em casa”.

Yolanda Mohalyi – A grande viagem Maria Alice Milliet Dan Galeria – 256 p. - Doação para museus e instituições

A publicação do livro definitivo sobre a vida e a obra Yolanda Mohalyi, 36 anos depois de sua morte, representa a conclusão de um compromisso assumido pelo casal de amigos Jurgen e Bárbara Bartzsch de zelar pela obra da artista e divulgar o seu legado. Escrito pela historiadora Maria Alice Milliet, o livro contextualiza de forma concludente a obra de Yolanda e sua importância no cenário da arte contemporânea brasileira.

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Uma vez de olhos abertos, abra-os novamente Nazareno 232 p. – R$ 100,00

A edição compreende a documentação das obras realizadas pelo artista durante os anos de 1998 até 2015. Conhecido por obras em diversos formatos, como desenhos, esculturas, instalações entre outras mídias, na publicação, Nazareno traz uma coletânea com diversos textos autorais e materiais de acervo pessoal, possibilitando ao leitor uma interação com seu universo. O livro foi editado pelo próprio artista e contém mil exemplares disponíveis em inglês e português.

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Mauro Piva Marcos Moraes Cobogó – 224 p. – R$ 115,00

Primeiro livro monográfico de Mauro Piva, com mais de 120 obras em aquarela, guache, óleo, grafite e tinta acrílica, produzidas com imensa delicadeza e realismo. O livro percorre quase uma década da trajetória do artista, compondo um amplo recorte de seu meticuloso trabalho e ressaltando o virtuosismo na realização de cada uma de suas imagens. O livro conta com um texto bilíngue do professor de História da Arte e curador independente Marcos Moraes, para o qual o artista “pertencente a essa linhagem contemporânea que desenvolve suas propostas enfrentando seus dragões ou moinhos de vento, sem arrefecer, sem se deixar encantar pelo cântico das sereias ou se embevecer com as promessas de uma Vênus, mas ironicamente atuando na esteira de uma ausência de compromisso com a tradição ou com os modismos”.

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Subterrânea Notas Entrópicas

Transição e queda

Atelier Subterrânea Distribuição Gratuita

Eduardo Montelli, Jonas Arrabal e Mayra Martins Redin

O Atelier Subterrânea realizou e recebeu, durante nove anos, em Porto Alegre, exposições, palestras, exibições de vídeo, performances e diversos outros formatos de projetos artísticos. Para marcar o encerramento das atividades do local, foi lançado este livro, que apresenta entrevistas com os cinco artistas que mantiveram o espaço – Gabriel Netto, Guilherme Dable, James Zortéa, Lilian Maus e Túlio Pinto. Assuntos como o começo da Subterrânea, as dinâmicas de ateliê, as exposições marcantes, os conflitos, a gestão e o final dessa trajetória são alguns dos pontos que marcaram as conversas conduzidas por Isabel Waquil. A publicação também conta com um ensaio visual, com imagens selecionadas separadamente pelos cinco artistas e organizadas em uma única narrativa.

Pensada como um livro-catálogo experimental, a obra apresenta registros fotográficos de trabalhos presentes na exposição do projeto de intercâmbio artístico “Transição e queda: proposições para construção de meios”, textos das curadoras Daniela Mattos e Gabriela Motta sobre suas visões acerca do projeto e uma série de outras proposições artísticas selecionadas por Eduardo, Jonas e Mayra a partir do que desenvolveram em diálogo durante o projeto. A maneira como as imagens e os textos surgem ao longo das páginas sugere relações imprecisas, diálogos incompletos, pontos de identificação e diferença entre seus pensamentos e suas práticas.

Dinâmica Gráfica e Editora Pingado-Prés – Distribuição gratuita

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Resenhas Variações de Formas Lunares,1954 Foto: Divulgação

Coleção Lina Bo Bardi Organização: Marcelo Ferraz Edições Sesc São Paulo e o IPHAN

Coleção de seis livros sobre a obra da arquiteta de origem italiana Lina Bo Bardi, sendo um inédito (sobre o Solar do Unhão) e cinco revistos e ampliados. Com textos da própria Lina, de André Vainer, Cecília Rodrigues dos Santos, dentre outros, os livros trazem croquis, aquarelas, desenhos simples feitos à mão, maquetes, imagens da época das construções e fotos atuais. Cada publicação é inteiramente dedicada a uma obra da arquiteta. A edição bilíngue (português e inglês) traz depoimentos de Lina Bo Bardi a respeito de seus projetos, somados a análises contemporâneas dessas obras e farta ilustração.

MILTON DACOSTA 1915-2015

por Raphael Couto

Têm se tornado frequente nos centenários de artistas, escritores, músicos para que se formem mostras retrospectivas e lançamentos de livros, compilações, catálogos raisonés, reforçando a importância de um artista dentro do complexo panorama nacional. Mola mestra da exposição de Milton Dacosta no Centro Cultural Correios de Niterói, cidade natal do pintor modernista, a exposição reúne trabalhos de diversas coleções públicas e privadas, além do acervo da própria família do artista.


MILTON DA COSTA 1915-2015

Entre suas diversas fases, a mostra não deve ser olhada como uma retrospectiva, mas um panorama do artista-indivíduo, que dialoga com seus contemporâneos, que sofre influências de seu tempo e espaço e que investiga múltiplas linguagens da arte. Dos grupos que funcionavam nos porões da então Escola Nacional de Belas Artes (onde hoje funciona o museu homônimo) à influência da Escola de Paris, a partir do prêmio de viagem conquistado em um salão de alunos da ENBA , Milton Dacosta transitou entre a pintura acadêmica e o concretismo, entre o desenho, a pintura e a gravura. Das vênus às figuras geometrizadas, as temáticas retratadas por Dacosta não são em nada inovadoras, motivo pelo qual seu fazer ganha importância: a estrutura dos retratos geometrizados, com foco em uma linha divisória e equilíbrio de cores gráficas, dialoga fortemente com a gravura e suas vênus, de traço mais livre e orgânico, mas ainda focado na linha e no equilíbrio de espaços. Junto a uma centena de trabalhos de Dacosta, a mostra também exibe seu lado colecionador, com obras de diversos artistas que conviveram com o pintor niteroiense, em trocas e aquisições, constituindo o acervo da família. Uma exposição que enfim nos mostra o lado mais humano do artista, longe do mito, destacando o papel que Dacosta tem na formação de uma inegável importância da geometria na arte brasileira.

PALÁCIO DOS CORREIOS NITERÓI/RJ DE 19/10 ATÉ 19/12

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O Tema da Festa, 2015 Foto: Romulo Fialdini

PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA por Alecsandra Matias de Oliveira

A atual edição do Panorama da Arte Brasileira, com curadoria de Aracy Amaral e Paulo Miyada, no MAM SP, traz um questionamento daqueles que todos têm, mas poucos são os corajosos a fazê-lo: afinal, o que é arte brasileira? E, pior: o que é arte brasileira contemporânea? Esstas não são perguntas novas: elas rondam artistas, curadores, críticos, pesquisadores e o público, desde, pelo menos, os anos 1920 – mais marcadamente, quando emerge o sentimento de “brasilidade” nos modernistas, esforçados pela valorização das raízes e tipos humanos e pelo registro das paisagens urbanas e rurais. Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret buscam, por exemplo, a figura e os mitos indígenas; Tarsila cobiça as cores caipiras; Di Cavalcanti, Portinari e Segall colocam em primeiro plano negros, mestiços e imigrantes.


PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA

Todos eles perseguem “o moderno” por intermédio das vanguardas europeias. Hoje, a produção contemporânea, em grande parte, revive e se refere-se a esse passado modernista. Contudo, a 34ª. edição do Panorama, com o título Da Pedra Da Terra Daqui, envereda por uma ideia ousada: reviver o “antes da invenção do Brasil”. A atual edição do Panorama da Arte Brasileira, com curadoria de Aracy Amaral e Paulo Miyada, no MAM SP, traz um questionamento daqueles que todos têm, mas poucos são os corajosos a fazê-lo: afinal, o que é arte brasileira? E, pior: o que é arte brasileira contemporânea? Esstas não são perguntas novas: elas rondam artistas, curadores, críticos, pesquisadores e o público, desde, pelo menos, os anos 1920 – mais marcadamente, quando emerge o sentimento de “brasilidade” nos modernistas, esforçados pela valorização das raízes e tipos humanos e pelo registro das paisagens urbanas e rurais. Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret buscam, por exemplo, a figura e os mitos indígenas; Tarsila cobiça as cores caipiras; Di Cavalcanti, Portinari e Segall colocam em primeiro plano negros, mestiços e imigrantes. Todos eles perseguem “o moderno” por intermédio das vanguardas europeias. Hoje, a produção contemporânea, em grande parte, revive e se refere-se a esse passado modernista. Contudo, a 34ª. edição do Panorama, com o título “Da Pedra Da Terra Daqui”, envereda por uma ideia ousada: reviver o “antes da invenção do Brasil”.

MAM-SP SÃO PAULO/SP DE 03/10 ATÉ 13/12

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Carlos Zerpa, Anaconda. Foto: Tárlis Schneider

10ª BIENAL DO MERCOSUL por Francisco Dalcol

A 10ª Bienal do Mercosul foi anunciada como um retorno às origens, uma retomada da primeira edição, de 1997, e de seu foco na arte latino-americana. Interrompe-se, assim, o movimento de internacionalização das últimas edições. Desde que afirmou que partiria “de obras e não de artistas”, o curador-chefe, Gaudêncio Fidelis, sinalizou uma bienal museológica. E, de fato, é uma grande mostra histórica e de viés contemplativo o que se vê em Porto Alegre, até 6 de dezembro, nas exposições que ocupam espaços como a Usina do Gasômetro, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), o Memorial do Rio Grande do Sul e o Santander Cultural. Seguindo o estilo de curadoria que realizou no Margs quando foi diretor, de 2011 a 2014, Fidelis toma um extenso conjunto de obras do século 18 à atualidade (mais de 600), buscando conexões sem se guiar por cronologias, gêneros ou linguagens.


10ª BIENAL DO MERCOSUL

São 20 países representados, mas há uma grande quantidade de arte brasileira frente ao reduzido número de artistas estrangeiros. Não por acaso, o destaque é a remontagem de “Tropicália” (1967), de Hélio Oiticica. Daí essa Bienal do Mercosul ser mais de arte brasileira do que de arte latino-americana. Algumas exposições têm propostas interessantes, como a que destaca trabalhos olfativos para discutir a visão como sentido privilegiado (“Olfatória: o cheiro na arte”); a que reúne obras com materiais precários para enfatizar o caráter efêmero da arte (“A poeira e o mundo dos objetos”); a que problematiza os processos de urbanização nos países latinos (“Biografia da vida urbana”); e as que confrontam os diferentes modernismos nas Américas (“Modernismo em paralaxe e Antropofagia neobarroca”). Contudo, são todas mostras com títulos mais instigantes do que o que de fato entregam. Entre o discurso e a prática, há distâncias e lacunas – obras que parecem “fora de lugar”, aproximações que ilustram teorias e trabalhos que preenchem espaços para sustentar teses. Por outro lado, há atravessamentos que geram renovadores diálogos, como a reunião das vertentes construtivistas nos diferentes países das Américas. Ao privilegiar obras históricas, a 10ª Bienal do Mercosul contribui para a formação de público. Entretanto, com tamanha ênfase revisionista, essa edição fica a dever a margem de descoberta que poderia oferecer.

10ª BIENAL DO MERCOSUL PORTO ALEGRE/RS DE 23/10 ATÉ 06/12

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Footsteps 300

VIK MUNIZ

por Flavia Dalla Bernardina

Em sua estreia no Museu Vale, Vik Muniz apresenta uma retrospectiva dae sua produção artística, com mais de 100 obras expostas. Como um empresário de sua própria arte, ele faz a curadoria e a montagem da exposição, com obras que revelam sua trajetória na apropriação de objetos de uso comum e alguns trabalhos recentes. É evidente que se apropriar de elementos do cotidiano e transformá-los em obras de valor artístico, de fato, não é uma novidade. Seja por meio de geleias, de um prato de macarrão que chega ao fim, de grãos de diamante, areia ou meninos de açúcar – o artista tem sempre uma história que ele (não) conta. Entretanto, há que se reconhecer que a obra, e o próprio Vik Muniz – ao circular acessivelmente na vernissagem , como também na visita guiada que antecedeu à abertura –, aproxima mais quando se apropria. Isso nos lembra da dicotomia aura x vestígio, apontada por Walter Benjamin no início do século passado e que não poderia estar mais atual: a aura é o aparecimento de uma distância, por mais próxima que esteja, enquanto o vestígio é o aparecimento de uma proximi-


VIK MUNIZ

dade, por mais distante que esteja. É como se o artista colocasse à nossa porta uma campainha que nos alertasse acerca da presença de algo – seja ele um distanciamento ou uma aproximação. A busca pela correspondência perfeita entre o campo das ideias e sua materialização, a imagem mental como fio condutor à concretização da obra, que nos conecta com algo que encontramos e a conexão como função da arte, são palavras de ordem para o artista. A questão da memória coletiva é latente e constantemente ativada, como nas obras da série “The Best of Life” (O melhor da revista Life), em que fotos emblemáticas que marcaram a história são redesenhadas pela memória fotográfica do artista (segundo ele, o livro que possuía contendo tais imagens havia desaparecido). Na sequência, os desenhos foram fotografados e expostos de maneira desfocada. O homem pisou na Lua com o pé direito ou o esquerdo? O casaco do John John tinha quantos botões no enterro do pai? Quem se importa, se todos já vimos essas imagens ainda que não as tenhamos presenciado. As memórias inventadas – todas são – reinauguram as sinapses entre artistas, obra e público. Por outro lado, embora a utilização de materiais de uso comum aproxime o público das obras, talvez ela diminua os buracos existentes entre o que o artista pretende e o que concretiza, a ponto de não se saber se estamos nos aproximando ou nos afastando. No apagar das luzes, quem se importa com a verdade? Que seja o que eu digo sobre a obra, e não de fato o que a obra seja. Que seja o que eu sinto da obra, e não o que dizem sobre ela.

MUSEU VALE VITÓRIA/ES DE 15/10/15 ATÉ 14/02/16

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Garimpo POR CHANDRA SANTOS

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TATIANA CHALHOUB A carioca Tatiana Chalhoub teve duas obras premiadas, no ano passado, durante a coletiva “Novíssimos”, na Galeria Ibeu: “Último suspiro” e “Sem título/Desenho sobre o sublime”. A coletiva anual – que, aos moldes dos salões de artes plásticas, tem como objetivo divulgar a produção de arte nacional – rendeu como prêmio para Tatiana uma individual na tradicional galeria, que fica localizada em Copacabana. Com curadoria de Cesar Kiraly, a primeira individual da artista, intitulada “O Brilho do Bronze”, apresenta objetos de vidro em formato irregular, uma escultura de bronze, que brilha no título, uma

GARIMPO

escada, uma piscina de plástico, um tríptico de pintura e um vídeo. Em todos os trabalhos há respiração hesitante, ritmo em mudança. Na série “trabalhos específicos do ateliê”, ela impôs como limite seu espaço de trabalho diário para executar as peças. O teto de concreto, o chão modular, as paredes de alvenaria, os pilares que sustentam o pé direito vertiginoso formavam um conjunto atraente de possibilidades a serem exploradas. A brutalidade dos materiais e a escala se tornaram um assunto presente em cada tentativa de reinterpretação desse espaço.

Por vezes abstratos, ora geométricos e modulares, cada trabalho embarca sua lógica própria de acontecimentos e resultados. Para Cesar Kiraly, curador da exposição, “esta primeira individual concerne a operação de passagem da sensibilidade móvel à inerte, um tanto também ao retorno, mas em bases próprias, de delicadeza. Tatiana a promove enfatizando como o fôlego o permite. A hesitação se expande para a respiração difícil, asmática, em alguns momentos, intransigente quase, de modo a permitir o estado contemplativo associado a tal aparente quebra na vitalidade”.

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FLASHBACK

Flashback POR CANDIDA SODRÉ

Amedeo Modigliani ‘Nu couché (Reclining Nude)’

MUSAS DA PINTURA O artista e sua Musa – “The Artist’s Muse” – exposição seguida de leilão com curadoria na Christie’s, mostrou de perto as modelos que inspiraram grandes artistas a produzir algumas de suas obras mais importantes. Essas fontes inspiradoras, que podiam ser as amantes, ou desconhecidas, ou mesmo o próprio irmão, contribuíram para a produção de obras que mudariam a forma e a direção da arte moderna do século 20. De muitas maneiras, e muitas vezes sem saber ou sem querer, essas musas ajudaram a criar um culto aos grandes artistas e viraram personagens centrais da história do modernismo. É nessa relação pintor-modelo, onde ele, inspirado pelo que vê ou atormentado pelo que sente, tenta captar o retrato psicológico do objeto retratado; nessas harmonias e tensões está a ideia central da curadoria.

“Estas são obras que inspiram e respiram vida e sem a ideia de ‘Musa’ elas seriam apenas retratos”, reforça Jussi Pylkkanen, presidente da Christie’s e leiloeiro. Durante duas semanas, musas e musos tomaram conta das galerias do Rockefeller Center, atraindo centenas de colecionadores e curiosos. Gente de todo tipo e idade, disposta a descobrir novos entendimentos e sentidos para aquelas pinturas e esculturas cheias de intimidade, paixão, luz e cor. – Não há dúvida, este é “O” nu de Modigliani, aquele com que eu sempre sonhei – comentou um colecionador embevecido, diante do mais erótico e belo nu da série que “Modi”, como chamavam os amigos, pintou em 1917. Voltando no Tempo No século 19, o pintor de retratos era rei e suas pinturas descreviam com bastante fidelidade a realidade. Mas, com o fim do século se aproximando, as novas gerações quiseram registrar a alma de seus modelos. Pretendiam definir, na pintura, a relação entre o que eles pintavam e a verdadeira essência espiritual de suas musas. Courbet e Manet pintaram suas Olímpias radicais, Tolouse-Lautrec, prostitutas e atrizes decadentes de Montmartre; Van Gogh retratou

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MUSAS DA PINTURA

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FLASHBACK

humildes camponeses, e Cezanne, os jogadores e as banhistas da Provence. Muitas das musas, tantas sem nome, marcaram uma direção nova na pintura moderna. Picasso descreveria o momento: “Devemos pintar o que está na face, no seu interior, ou por trás dela?” O século 20 viu a chegada de supermusas, personificadas por Jeanne Hebuterne, Henriette Darricarrere, Dora Maar, Marie Therese Walter, Diego Giacometti.

Em “Femme nue couchee”, Courbet fez uma interpretação de um tema clássico do Renascimento. Nessa tela, ele se relacionou com a tradição, em um equilíbrio perfeito com a modernidade; homenageou os mestres do passado, abrindo caminho para as inovações temáticas e visuais de uma nova geração de pintores. Assim como Modigliani, Courbet chocou e a ele foi negado um lugar no salão de exposições tradicional.

Courbet “Femme nue couchee” (1862) foi arrematado por USD 15,2 milhões, um recorde para Gustave Courbet. Realista, Courbet não se limitava a pintar o objeto ou a musa que estava diante de si: ele a redescobria e, através da perfeição de cor e textura, conseguia com que a diva estivesse quase em pessoa diante do espectador.

Lichtenstein Segundo maior preço do leilão, “Nurse” vendeu por US$ 95,3 milhões, preço recorde para o artista. A enfermeira de Lichtenstein está ao lado das Marylin, Liz Taylor e Jackie Kennedy de Andy Warhol, figuras ícones que definiram o movimento Pop Art e entraram para a história da pintura figurativa. Criada no auge da carreira de Roy Lichtenstein, em 1964, “Nurse” é talvez sua heroína mais importante.

Courbet femme nu couchee

Produto da década de 1950, saída de uma história em quadrinho, a enfermeira “platinum blonde” com olhos azuis que faíscam, “sexy femme fatale”, faz parte de um drama que envolve e seduz. Parece que muitos querem levá-la pra casa.

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FLASHBACK

Modigliani “Nu couche” é a fusão do idealismo clássico com realismo sensual e invenção modernista, diz Pylkkanen. Há quem diga que Modigliani só não foi cubista porque eram fortes nele as raízes italianas: era um apaixonado pelo Renascimento. Assim como o próprio Modigliani, sua musa é a italiana, judia, de cabelos e olhos negros. Voluptuosa, saudável, colorida pelo sol do Mediterrâneo. Do ângulo em que a retrata, o artista está tão próximo dela que parece pronto a mergulhar. Esse foi um dos nus de uma série criada em 1917, estimulada pelo amigo e marchand Leopold Zborowski. No final desse ano, aconteceu a única exposição individual da curta vida de Modigliani e foi um escândalo. Organizada por Zborowski, ela apresentaria ao público alguns dos nus mais sensuais. Um deles foi parar na vitrine da galeria, como um chamariz para a exposição. Não tardou e parisienses se aglomeraram na frente da pequena galeria, nariz literalmente encostado no vidro. A polícia não gostou e, alegando algum “atentado ao pudor e aos bons costumes”, fechou a exposição que, nesse momento, entrou para a história da arte.

No final desse ano, aconteceu a única exposição individual da curta vida de Modigliani e foi um escândalo.

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Lichtenstein Nurse

E no leilão... Diante de uma sala lotada, uma sofisticada plateia, Jussi Pilkkanen comanda o leilão. A musa mais atraente, a mais disputada da noite, é a de Modigliani. A postos nos telefones que ladeiam a sala de leilões, especialistas aguardam que os colecionadores confirmem seus lances a distância, mãos levantadas, competindo com a sala e com outros telefones. A corrida leva uns 10 minutos – são quatro ou cinco candidatos e depois dois, que disputam, até o final, a tela de 1917. Vem de bem longe o lance vencedor, o martelo bate “sold!” (vendido!) avisa o leiloeiro. Um bilionário colecionador chinês arrematou por US$ 170 milhões o “Nu deitado”, de Modigliani, a segunda obra mais cara da história dos leilões. E, pelo que tudo indica, a tela deve ser levada para um museu na China. Posto merecido para uma musa de nossa história.


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Feiras

ARTBO

por Leandro Fazolla

Entre 1 e 4 de outubro, aconteceu a 10ª edição da ArtBO, feira de arte de Bogotá, na Colômbia. A feira, que atraiu cerca de 35 mil visitantes, reuniu 84 galerias de vários países. Do Brasil, estiveram presentes as galerias Eduardo Fernandes, Sé, Nara Roesler, Luiza Strina, Luciana Brito, Jaqueline Martins e Vermelho. Administrada pela Câmara de Comércio de Bogotá, e contando com um formato mais aberto, a feira incluía um grande número de projetos paralelos e estandes de órgãos do Estado, museus e similares, sendo um espaço de propaganda não apenas para a arte local, mas também para a própria cidade de Bogotá em seus diferentes aspectos culturais. Tendo baixo número de galerias e artistas europeus, a feira se diferencia das outras do circuito internacional e aposta em artistas latino-americanos, com preponderância de obras de contextos


FEIRAS

locais. Chamavam atenção pela feira a grande quantidade de obras com referências políticas, geográficas e sociais, enquanto obras de caráter mais formalista surgiam em parcelas menores. As galerias brasileiras investiram nesse aspecto e levaram um bom número de obras com carga conceitual e, por vezes, traçando relações com a própria Colômbia, como foi o caso da obra de Lydia Okumura na Galeria Jaqueline Martins, originalmente concebida para a participação da artista na Bienal de Medellín, em 1981. Em um estande próprio, Maurício Ianês dava expediente conversando com os visitantes e fazendo um mapeamento do que lhes vinha à cabeça quando perguntados sobre as ideias de arte, cultura, sociedade e política, para, depois, criar ligações e constituir uma teia afetiva de imagens. Para além da ArtBO, o circuito alternativo de arte de Bogotá também se torna um espetáculo à parte durante a feira. Aproveitando o fluxo, a cidade fervilha com visitas a coleções particulares, galerias, projetos artísticos e feiras menores. É o caso da Odeón Feira de Arte Contemporânea, que este ano

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FEIRAS

tinha como convidado o Brasil e contava com a presença das brasileiras Blau Projects, Central Galeria de Arte, Lume, Casa Nova Arte, Athena Contemporânea e Portas Vilaseca. Localizada em espaço menor, a feira gerava maior intimidade dos visitantes com os galeristas e artistas, facilitando conversas e contatos. Chamavam atenção a individual com grandes obras de Andrey Zignatto na Blau Projects, que já recebia o espectador no primeiro piso, e os trabalhos com grades de Daniel Murgel que, concluídos em Bogotá, geravam estreita relação com o espectador. Perto dali, a feira Barcú transformou diversas casas em espaços culturais, permitindo aos visitantes – sobretudo os turistas – um agradável passeio pelas ruelas de Bogotá. Ainda que marcada por obras de qualidade mais baixa, resultado de um formato sem curadoria, a feira valia a visita exatamente por seu viés alternativo e contra “o sistema” e por exibir um pouco de tudo da arte contemporânea colombiana.

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FEIRAS

FRIEZE

por Sylvia Carolinne Londres, 14 a 17/11

Inciou mais uma edição da Frieze London e Frieze Masters, junto com as feiras também o Sculpture Park e as habituais aberturas de múltiplas exposições e eventos, que terão lugar por toda Londres ao longo desta semana. Logo na entrada, a Gagosian Gallery inicia o trajeto na Frieze London com uma individual de Glenn Brown de desenhos e esculturas que mais nos remete a uma exposição de qualidade ímpar e nos faz esquecer por alguns minutos que estamos em uma feira comercial. A multiplicidade de galerias internacionais é maravilhosa e consegue nos trazer um painel global dos caminhos da arte, com boas surpresas, mas também muita repetição. Dentre as surpresas, uma volta ao humor e à leveza nas obras que, mesmo quando utilizam elementos mais fortes, o fazem com sutileza e nos instigam a pensar na busca do artista e em sua trajetória para chegar à obra em questão. Passando para a Frieze Masters, é um prazer imenso podermos ter contato com peças que habitualmente ficam separadas de nós por barreiras amare-

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FEIRAS

las ao chão ou aos olhos atentos dos fiéis escudeiros protetores dos museus. A expografia dos estandes, misturando peças do renascentismo italiano Moretti com móbiles de Alexander Calder ou Richard Serra com Soulages, faz do caminho dos largos corredores um passeio cultural por toda a história da arte e o melhor de tudo a se brindar das feiras comerciais. Sorte de quem pode comprar, mas mais sorte ainda de quem pode admirar, mesmo que por tão curto espaço de tempo, tais peças a uma distância íntima, que faz esquecer a multidão que se encontra logo ao lado. Dentre as galerias brasileiras, há quatro representantes na Frieze Masters. Nara Roesler nos brinda com uma individual de Tomie Ohtake, prestigiada por seu filho Ricardo, digna da grande artista. Wanda Pimentel veio com a galeria Anita Schwartz, completando a apresentação de seus trabalhos expostos na Tate Modern, dando um painel bem interessante de sua trajetória artística. A Baró traz David Medalla com peças sagazes e que definitivamente combinam com o espírito renovador do artista e, concluindo o time, a Dan Galeria, em sua posição de destaque, vem com artistas brasileiros e internacionais mostrando seu poder de fogo.

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FEIRAS

PARTE

por André Fabro São Paulo – SP, Paço das Artes, de 4 a 8/11

Apesar da chuva, mais de 2.700 convidados lotaram a abertura da feira Parte e prestigiaram suas 40 galerias. O grupo Aluga-se foi novamente o destaque da feira, oferecendo mais uma gincana: o comprador escolhia um valor no cardápio e rodava a “roda da fortuna”, deixando a mão da sorte definir a obra que levaria pra casa. Uma fila enorme se formou para rodar e ganhar. O Clube do Colecionador do MAM SP chamou atenção com as obras para este ano, incluindo “Prateadas”, de Nazareth Pacheco, uma fotografia com efeito tridimensional que fazia todos se aproximarem para conferir. Thiago Toes foi outro destaque da galeria OMA, com uma obra que preencheu a parede com máscaras de bandido nas cores da moda, bem alinhada às manchetes do dia. O projeto solo da dupla e casal Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti foi

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FEIRAS

um grande sucesso. A plataforma metálica interagia com o público por meio de luzes e espelhos e virou brinquedo de muita gente. Mais uma vez, a Parte atraiu seu público cativo e mostrou que veio pra ficar. Leia mais sobre a feira buscando por ela no site dasartes.com.br.

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Notas do Mercado

Escultura de Louise Bourgeois

Obra de Lucio Fontana Foto: Christie’s Images Ltd.

1. TEMPORADA DE LEILÕES de novembro em Nova York mostrou que, fora daqui, não há crise. Vários artistas tiveram recordes de preços para suas obras, incluindo Cy Twombly, Roy Lichtenstein, Lucio Fontana, Louise Bourgeois e Felix Gonzalez-Torres. Ainda assim, o clima na sala de vendas e os resultados ficaram aquém dos do ano passado: Christie’s vendeu o total de US$ 1 bilhão, contra US$ 1,4 bilhão em 2014. De acordo com Brett Gorvvy, diretor de arte contemporânea da casa, a culpa está na escassez de lotes na faixa dos US$ 40 milhões, que representam uma fatia importante nesse mercado. Outros comentários culparam preços exagerados para trabalhos de menor qualidade na faixa de US$ 10 milhões.

2. EX-TAXISTA MILIONÁRIO foi o comprador da obra mais cara da temporada. “Nu Reclinado”, de Amadeo Modigliani, foi arrematada por surpreendentes US$ 170 milhões, mais que o dobro do recorde Foto: Christie’s Images Ltd.

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de preço anterior para obras do artista, que era de US$ 71 milhões, tornando-se a segunda obra de arte mais cara a ser vendida em leilão. A notícia ganhou ainda mais fôlego quando se descobriu que o comprador é Liu Yiqian, bilionário chinês que começou a vida como camelô e taxista e fez fortuna no mercado financeiro nos anos 1980 e 1990. Yiqian é conhecido por sua extravagância e pela amplitude de sua coleção de mais de 2.300 peças, que vão desde antiguidades asiáticas a esculturas de Jeff Koons. No ano passado, um vídeo do colecionador bebendo chá em uma vasilha antiga, adquirida por US$ 36 milhões, tornou-se viral e solidificou ainda mais a fama do chinês.

Foto: Cortesia Sotheby’s

3. WARHOL EM BAIXA foi a surpresa da temporada e o comentário entre os habitués do circuito nova-iorquino. Sete telas do artista não encontraram compradores e o conjunto “Four Marilyns” foi vendido por US$ 36 milhões, abaixo da garantia dada pela Christie’s, de US$ 44 milhões. Mas nem tudo é cinza no mundo de Andy Warhol: a tela “Mao” foi vendida por US$ 47 milhões e “Electric Chair”, estimada em US$ 6 a 9 milhões, alcançou US$ 11 milhões.


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4. ARTPRICE analisou os resultados dos principais leilões e vendas privadas de arte contemporânea entre julho de 2014 e julho de 2015 e concluiu que houve queda nos índices gerais de valores e nos volumes totais de vendas em leilões de arte contemporânea. O estudo aponta que o mercado segue concentrado: dez artistas foram responsáveis por 35% das receitas de vendas em leilões de arte contemporânea e 68% deste volume é resultado das vendas The Contemporary Art Market Report, 2015 de obras de 100 artistas. Obras de artistas brasileiros representaram 0,8% da receita desse mercado no período. Os Estados Unidos voltam a ocupar do topo do ranking de maior mercado de arte contemporânea, que havia perdido para a China nos últimos anos. Saiba mais baixando o estudo completo em www.artprice.com

5. LATINO-AMERICANOS ainda não tiveram seus leilões de novembro, mas uma das maravilhas da nossa nova revista digital é que esta nota será atualizada. Volte a esta página depois do dia 25 de novembro para ver os destaques entre os resultados. Cildo Meireles, “Resposta Não está aqui o que você procura”, 1970 - 1996. Oferecido pela Phillips


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Coluna do Meio

COLUNA DO MEIO

Galeria Nicoli

Galeria Espaço Arte M. Mizrahi

Fotos: Divulgação

Fotos: Divulgação

Abertura da Exposição de Cristina Sá

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Abertura da exposição Wakabayashi

Ana Luiza Rossi, Cristina Sá e Renata Junqueira

Cicila Street

Cristina Sá

Equipe Espaço Arte M. Mizrahi

Hikari Wakabayashi, Patricia Paganin, Kazuo Wakabayashi e Luiz Antônio Carvalho Franco

Cristina Sá e Carla Pilão

Cristina Sá, Mario Nicoli Filho e Carla Pilão

Cynthia Caiaffa, Beto Pandiani e Cristina Sá

Família Wakabayashi

Julio Soares, Kazuo Wakabayashi e Eva Cristina Marra

Denise Mattar, Carla Pilão e Cecilia Neves

Fabia Marques e Pedro Paulo de Sena Madureira

Mario Nicoli Filho e Erica Nicoli

Kazuo Wakabayashi com a equipe do Espaço Arte M. Mizrahi

Kazuo Wakabayashi, Mayer Mizrahi e Denise Mizrahi


COLUNA DO MEIO

Kazuo Wakabayashi e Yutaka Toyota

Mayer Mizrahi e Denise Mizrahi

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Olívio Tavares e Hikari Wakabayashi

COLUNA DO MEIO

Marisa Lima, Ana Luiza Violland e Angélica Accioly

Atelier Fernando Jaeger

Oi Futuro Flamengo

Fotos: Paulo Jabur

Fotos: Marco Rodrigues

Abertura de exposição e lançamento de livro

Marisa Lima, Fernando Jaeger e Regina Kato

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Regina Kato e Marcos Cardoso

Abertura do Projeto ARTE Pública de Ni da Costa e Leo Aversa

Alessandra Monteiro e Ana Cartaxo

Analu Prestes

Antonio Cláudio Leite e Regina Kato

Ado Azevedo e Liliana Magalhães

Alberto Saraiva e Leo Aversa

Bel Augusta e Antonio Cláudio Leite

Elisa von Randow e Paula Juchem

Fernando Jaeger, Regina Kato e Ruy Teixeira

Ana Fay e Gisele Camargo

Arlete Gonçalves, Alberto Saraiva e Shirley Fioretti

Alice e Loic Gosslin


COLUNA DO MEIO

Cora Ronai e Sergio Augusto

Madalena Mendes de Almeida e Ni da Costa

Ricardo Barreto, Juliana Caloi e Raquel Fukuda

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COLUNA DO MEIO

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Marcela e Leo Aversa com seu filho Martin

Eurípedes Junior, Christina Penna e Clara Gerchman

Franklin Pedroso, Maria Carmen Perlingeiro e Antonio Dias

Rodrigo Andrade, Leo Aversa e Lucas Lins

Frederico Morais, Carlos Vergara e Max Perlingeiro

Lauro Cavalcanti e Max Perlingeiro

Frederico Morais e Bebeto Gouvêa Chateaubriand

Roberto Magalhães, Frederico Morais e Carlos Vergara

Wal Weissmann e Fernando Ortega

Carlos Vergara e Ângelo Venosa

Pinakotheke Cultural

Lançamento do catálogo da exposição Opinião 65 – 50 Anos Depois Fotos: Paulo Jabur

Antonio Dias e Vandinha Klabin

Antonio Dias, Paola Chieregato e Clara Gerchman


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