Revista Dasartes Edição 52

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BIENAL DE SÃO PAULO ARTRIO BENÉ FONTELES ANDRÉ MENDES VIEIRA DA SILVA


52 DIRETORA Liege Gonzalez Jung CONSELHO EDITORIAL Agnaldo Farias Artur Lescher Guilherme Bueno Marcelo Campos Vanda Klabin PRODUÇÃO André Fabro PUBLICIDADE publicidade@dasartes.com

Capas: Ebony G. Patterson, Brella Krew (Fambily Series), 2013. Foto: Cortesia da artista e Monique Meloche Gallery,

SUGESTÕES E CONTATO dasartes@dasartes.com APOIE A DASARTES Seja um amigo Dasartes em recorrente.benfeito ria.com/dasartesdigital Doe ou patrocine pelas leis de incentivo Rouanet, ISS ou ICMS/RJ.

Sumário: Ascânio MMM, Quadrados 15. No estande da Simões de Assis Galeria de Arte para a ArtRio.


ARTRIO

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BIENAL DE SÃO PAULO

06 De arte a z 54 Livros 56 Resenhas

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BENÉ FONTELES

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do 62 Notas mercado do 64 Coluna meio

VIEIRA DA SILVA

ANDRÉ MENDES

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DE ARTE A Z Notas do circuito de arte

INHOTIM 10 ANOS Em 2016 o Inhotim comemora 10 anos de abertura ao público com uma vasta programação para o mês de setembro. Além da nova exposição “Por aqui é tudo novo” nas Galerias Mata e Lago com produções de artistas mais jovens da Coleção Inhotim, como Pablo Accineli, Erika Verzutti, Sara Ramo e Laura Lima (foto), haverá homenagem ao artista Tunga com performances de "Xifópagas Capilares entre Nós", “True Rouge” e Make-up Coincidence, em que um casal nu maquia as esculturas de “A Prole do Bebê”.

CARAVAGGIO NO NATIONAL GALLERY Em Londres “Beyond Caravaggio” apresentará, além dos destaques caravaggianos, “A Captura de Cristo” (1602). Esta tela foi tida como perdida durante dois séculos e apenas foi redescoberta no início de 1990, pendurada no refeitório de uma igreja jesuíta na Irlanda. De 12/12 a Jan/2017. 6

OBRA DE AI WEIWEI É RETIRADA DE BIENAL Artista noticia no twiiter Ai Weiwei foi excluído da Yinchuan Bienal duas semanas antes de sua abertura, devido a seu "status político". A primeira edição da bienal acontece no Yinchuan MoCA, uma instituição privada no oeste da China muçulmana. Sua seleção inclui 73 artistas, entre eles Anish Kapoor, Song Dong e Yoko Ono.

CALDER E A ARTE BRASILEIRA Mostra no Itaú Cultural Além de trabalhos icônicos da trajetória de Calder, a mostra busca evidenciar sua disseminação no imaginário artístico brasileiro, apresentando algumas obras de Abraham Palatnik, Hélio Oiticica, Ligia Clark, Ligia Pape, Waltércio Caldas e Antonio Manuel.

Alexander Calder, Santos, 1956 ®2016 Calder Foundation, New York AUTVIS, Brasil, 2016



NOVO PROCESSO CONTRA RICHARD PRINCE Pela quarta vez em cinco anos, o artista Richard Prince está sendo processado por violação de direitos autorais, desta vez por uma maquiadora e modelo da Califórnia. Ashley Salazar , abriu um processo contra Prince e sua ex-galeria, Gagosian, depois que uma selfie de sua conta no Instagram foi transformada em um dos "New Portraits" do artista. Este caso é mais complicado do que processos anteriores, já que Salazar registrou a imagem em questão com o Escritório de Direitos Autorais dos EUA, de algum modo ciente de que o artista planejava usá-la.

GIRO NA CENA

Art Weekend São Paulo O evento aproveitou a efervescência cultural da cidade, às vésperas da abertura da 32ª Bienal de São Paulo, e reuniu 36 galerias de arte para uma ação com aberturas e eventos gratuitos. Além de conversas com artistas e curadores e mesas-redondas, as novas exposições continuam em cartaz durante o período da Bienal. Na imagem Ernesto Fiori na Galeria Almeida & Dale.

PETER DOIG NEGA AUTORIA DE OBRA E VAI PARA OS TRIBUNAIS Processo milionário em Chicago Peter Doig, conhecido pintor escocês está sendo processado por não reconhecer a autoria de uma pintura. Habitualmente, os artistas reivindicam a autoria das obras. Porém, pela primeira vez, um artista tem que provar que uma obra de arte não é sua. A obra é um quadro de uma paisagem do deserto exposto na Galeria Peter Bartlow, em Chicago. Em seu site, a galeria descreve como: “Objeto do inovador caso perante o tribunal dos EUA em que a galeria se queixa de que o artista injustamente interferiu na tentativa de venda da pintura”. O autor do processo Robert Fletcher e a galeria reivindicam o valor de US$ 5 milhões por danos materiais afirmando que o pintor, deliberadamente, vem interferindo na venda do quadro causandolhes prejuízo. 8

Banksy depredado Uma conhecida obra de Banksy em Cheltenham, Inglaterra, que retrata três espiões fazendo uma escuta em uma cabine telefônica, foi removida. Desde sua primeira aparição em 2014, a obra tem estado no centro de controvérsias, tendo sido várias vezes vandalizada e, recentemente, inspirando um protesto em toda a cidade para protegêla, depois que o edifício em que está pintada foi vendido.



GIRO NA CENA

Carmela Gross 50 anos A Secretaria de Cultura do Município de São Paulo e o Museu da Cidade abrem, na Chácara Lane, a exposição “Arte à Mão Armada” de Carmela Gross. A mostra propõe um panorama de 50 anos de trabalho da artista, exibindo cerca de 15 séries de trabalhos em cerca de 50 obras, entre históricas e inéditas, além de extensa documentação nunca exposta sobre seus trabalhos e processo criativo. De 6/9 a 5/3.

A IMPORTÂNCIA DA ESCULTURA NAS BIENAIS DE ARTE Dez escultores de peso, brasileiros e os que escolheram o Brasil para viver e trabalhar, são recriados em exposição para relembrar o peso que a tridimensionalidade impunha nas Bienais Internacionais de Arte. Serão expostas 40 obras, sendo 5 esculturas de parede, 8 de chão e 27 sobre bases. A peça mais antiga datada em 1930. Entre os nomes da lista estão Amilcar de Castro, Bruno Giorgi, Caciporé Torres, Frans Krajcberg (foto), Gilberto Salvador, Sonia Ebling e Victor Brecheret. Galeria de Arte André. De 13/9 a 1/12.

Ascânio MMM: Retrospectiva Com curadoria de Paulo Miyada, a exposição propõe um mergulho cronológico que discute o sofisticado jogo de escalas na produção do artista luso-brasileiro. A mostra traz uma seleção de obras de diversos períodos e materiais com o objetivo de demonstrar a complexidade da trajetória do artista desde a década de 1960 até a atualidade, explorando o carácter corpóreo de sua produção escultórica. Casa Triângulo em São Paulo. Até 8/12.

VISTO POR AÍ

As séries “Polish Village” da década de 1970 e “Bali” dos anos 2000 do artista Frank Stella foram apresentadas na Sprüth Magers em Berlim.



Outras NOTAS

Artes Visuais em Revista DASARTES OCUPA O NOVO ESPAÇO CULTURAL BNDES POR REDAÇÃO

Em 2008, foi lançada a revista Dasartes, na época a primeira revista de artes visuais do Brasil desde os anos 1990. Desde então, a história da arte brasileira vem sendo contada em suas páginas. A exposição Artes Visuais em Revista vai contar esta história através de obras selecionadas de 15 jovens artistas contemporâneos, um percurso pela criação atual de nosso país. Com curadoria de Guilherme Bueno, editor da Dasartes por cinco anos, a mostra une obras em diversos suportes: 12

esculturas, pinturas, objetos, desenhos, fotografia e vídeo. Já na parte externa do prédio, um pequeno parque de esculturas será montado para dar aos passantes uma amostra do que será oferecido. Uma das obras expostas nesta área será “Sinuca de Bico”, de Felipe Barbosa, uma mesa de sinuca com os bolsos tão cheios de bolas que chegam até o chão, narrativa de um jogo que não termina. Na galeria, as obras se espalham pelo espaço formando “ilhas” de cada artista, com obras produzidas na época em que foi tema de matéria da revista e outras


mais recentes. A ideia é mostrar a evolução de sua criação. A seleção é composta por Ana Holck, Bruno Cançado, Bruno Miguel, Daniel Jablonski, Daniel Murgel, Felipe Barbosa, Gisele Camargo, Gustavo Espiridião, Jimson Vilela, Piti Tomé, Rafael Alonso, Rodrigo Braga, Romy Poctzaruk, Rosana Ricalde e Sofia Borges.

A Dasartes é pioneira em um longo caminho de promoção da arte. A exposição é um desenrolar desta missão.

“A Dasartes foi pioneira em um longo caminho de promoção e formação de público para a arte, primeiro como revista impressa, depois como portal e mais à frente como aplicativo e revista digital. A exposição é um desenrolar desta missão. Ficamos contentes com o reconhecimento dado pelo BNDES e por participar do nascimento de um novo espaço dedicado à arte”, comenta Liege Gonzalez Jung, fundadora e diretora da Dasartes. A exposição é a terceira a ocupar a nova galeria, uma iniciativa de aproximação entre o BNDES e as artes visuais.

À esquerda: Sinuca de Bico, de Felipe Barbosa. Acima: Resma, de Bruno Cançado e Estudo para Paisagem #9, de Sofia Borges.

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ARTRIO EM MOMENTO DECISIVO

Em sua sexta edição, a feira de arte ArtRio enfrenta um grande desafio. Reduzida em extensão, tem que garantir suas próximas edições provando que pode dar bom retorno aos expositores, em uma época de incerteza econômica e colecionadores comedidos. Oferecendo a melhor exposição de arte da cidade, a feira já se estabeleceu como um evento imperdível na agenda dos cariocas antenados em cultura, mas ainda precisa se firmar como plataforma de negócios. Infelizmente, ainda que seu papel cultural tenha um impacto positivo e forme público no longo prazo, a finalidade de uma feira - seja de arte ou de legumes - é sempre comercial. Ciente deste compromisso, a direção da ArtRio patrocinou a vinda de 50 colecionadores e curadores. Torcemos para que compradores se apresentem em peso e com talões de cheque em riste, para que o Rio de Janeiro continue presenciando este evento tão rico e que o circuito não perca uma de suas feiras mais charmosas. Para dar uma amostra do que espera os visitantes, reunimos nestas páginas uma seleção aleatória de obras que estarão na ArtRio.

Federico Herrero, Pan de Azucar na Galeria Luisa Strina.


Como nos anos anteriores, a ArtRio divide suas galerias entre os programas Panorama, com estandes livres, e Vista, dedicado a galerias jovens com projetos de curadoria experimental. No Panorama, as galerias de arte moderna e contemporânea são agrupadas em espaços diferentes. Entre os destaques da Arte Contemporânea, Simões de Assis trará obras de Gonçalo Ivo e de Ascânio MMM que recentemente teve uma grande retrospectiva na galeria.

Em sentido anti-horário a partir do topo: Acrílica sobre madeira de Antonio Maluf na Galeria Frente, óleo de Gonçalo Ivo na Galeria Simões de Assis e escultura em ferro do artista Vilar na Matias Brotas Arte Contemporânea. À direita Damien Hirst na Galeria Other Criteria. Cortesia Other Criteria, 2016. © Damien Hirst & Science Ltd.

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Este ano, serão 73 galerias, das quais 19 participam da feira pela primeira vez. Entre elas, algumas jovens, como as cariocas Cavalo e Tal Art e a paulistana Frente, e outras já reconhecidas, como o Escritório de Arte Martha Pagy e as Galerias Movimento e Estação. Esta última, conhecida por obras de arte popular brasileira levará trabalhos de artistas como Véio e José Bernnô. De cima para baixo: obras de Alan Fontes na Celma Albuquerque Galeria de Arte, José Bernnô na Galeria Estação e Bruno Munari na Gustavo Rebello Arte.

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De cima para baixo: Fotografia de Albano Afonso na Casa Triângulo e nÊon de Alfredo Jaar na Carbono Galeria.


Acima em sentido anti-horário: Obra de José Pedro Croft na Mul.ti.plo Espaço Arte + Polígrafa, tela de Janaína Tschape na Galeria Fortes Vilaça, Andy Warhol na Rudolf Budja Gallery e óleos de Wifredo Lam e Fernando Botero na Galeria Gary Nader.


Além dos estandes, a feira volta a oferecer seu tradicional prêmio FOCO Bradesco, que selecionou três jovens artistas para laurear com residências e exposição na feira. Outra novidade desta edição é o estande da editora de arte Taschen.

Topo: Cristina Middel da série Sharkification na Galeria da Gávea. Abaixo: Autorretrato com pelo de Brigida Baltar na Galeria Nara Roesler e Frederico Filippi na Athena Contemporânea.


Atrelada à ArtRio acontece a 3ª edição da mostra de design IDA, com 12 expositores. Entre eles está o Ateliê Hugo França e o estúdio do especialista em iluminação Maneco Quinderé. Faz parte dela a exposição "Joia Brasil", organizada por Ana Clara Hermann, cuja proposta é reunir peças de designers inovadores do Brasil.

Feira de Arte Internacional do Rio de Janeiro • ArtRio 2016 • Píer Mauá • 29/9 a 2/10 Á esquerda, de cima para baixo: Poltrona Esqui de Zanini de Zanine, peças produzidas com Mogno Africano ABPMA, Luminária Fragata de António Roberto Barreto, Beatriz Chimenti e Vinicius Rios e Plano Simbiótico 3 na Bolsa de Arte. Acima: Aparador Puava de Hugo França.

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Carolina Caycedo, Atarraya [Rede / Net], 2015. Foto: Gabriela Lara.

A BIENAL DA


A INCERTEZA


POR REDAÇÃO Selecionado com certa antecedência, o tema da 32ª Bienal de São Paulo não poderia ser mais atual. Entre guinadas políticas, sinais de dissolução do projeto europeu, crise da imigração e terríveis atos de terrorismo, os pilares do Brasil e do mundo como conhecemos estremecem sob o peso da incerteza. Neste cenário, a Bienal 26 CAPA

buscou selecionar artistas e obras que sejam relevantes a um contexto movediço. Uma busca ampla, que empreendeu encontros em várias partes do país e do mundo e promoveu residências e pesquisas. O resultado é uma seleção que cobre um largo espectro da produção atual, ainda que restrita geograficamente, e prioriza o


Bené Fontele e sua instalação OcaTaperaTerreiro. Foto: Pedro Ivo Trasferetti.

inédito em detrimento de nomes estrelados. Se a expectativa pela Bienal foi empurrada ao segundo plano pelos acontecimentos recentes, o fator surpresa aumenta o impacto de seus acertos. Repetindo um formato que já virou tradição, a Dasartes convidou vários

profissionais da arte a selecionar e comentar um artista da maior mostra de arte do Brasil. E viva a Bienal! Veja a lista completa de artistas e muitas imagens buscando por "Bienal" em dasartes.com.br ou nos seguindo no Instagram @revistadasartes e no Facebook Dasartes Brasil.


LOURDES CASTRO POR JOCHEN VOLZ Lourdes Castro nasceu em 1930, na ilha da Madeira, em Portugal. A artista pode ser considerada um ícone da história da arte. Durante a década de 1960, Lourdes Castro viveu na França com o parceiro Manuel Zimbro. Nesse período, Castro editava a revista "KWY" (1958-1964), que completou 12 edições e ocupou um lugar central na cena artística jovem de Paris. Nesse contexto, iniciou seu interesse por publicações. Uma das obras apresentadas na 32ª Bienal de São Paulo é "Un Autre Livre Rouge", um trabalho iniciado em 1973, inspirado no "Livro Vermelho", de Mao Tsé-Tung, no qual Lourdes Castro e Manuel Zimbro apresentam uma coleção de recortes de imagens e outros materiais gráficos que contêm a cor vermelha. Sua dedicação ao arquivo e a processos 28 BIENAL DE SÃO PAULO

contínuos de investigação são dados na convivência com elementos de seu cotidiano. Na série "Sombras à volta de um centro" (1980-1987), também exibida na 32ª Bienal, a artista pousa uma jarra com flores sobre o papel, debaixo de um foco de luz; a base da jarra é o centro das sombras que Castro contorna minuciosamente com lápis de cera, de cor ou nanquim. Grande parte de sua obra é baseada no estudo de sombras, como descrito pela artista: "A surpresa do desenho, a simplicidade da forma, do contorno de uma sombra, da sua invisível presença me fascinou tanto que ainda hoje para mim é nova". As investigações acerca da imaterialidade e da constituição de um imaginário coletivo, presentes nas obras de Lourdes Castro, são contribuições fundamentais para as questões levantadas pela 32ª Bienal “Incerteza Viva”.


Un Autre Livre Rouge. Foto: Carlos Azevedo.


Couldn't Believe What She Heard [Não conseguiu acreditar no que ouviu], 2015. Foto: Günes Terkol

GÜNES TERKOL POR JÚLIA REBOUÇAS A obra de Günes Terkol associa experiências de ordem individual e subjetiva a contextos compartilhados por grupos de mulheres, em distintas condições sociais e políticas. Suas séries de pinturas e bordados são, dessa forma, oriundas de uma dedicada prática de ateliê e também de encontros e oficinas com coletivos de mulheres. Terkol trabalha com materiais do cotidiano, de natureza precária, sem, no entanto, apelar à 30

fragilidade para tratar de corpos, objetos e sentimentos associados ao universo feminino, ou para se remeter à natureza. As obras trazem, a um só tempo, transparência e leveza, quando se superpõem em camadas, mas também contundência, tratando de incômodos e condições de violência compartilhadas por um sem número de mulheres. Nascida em Ankara, mas baseada em Istambul, a artista combina à prática da pintura, desenho e instalações a atuação em coletivos sonoros.


HENRIK OLESEN POR LARS BANG LARSEN Lacônicas e pobres, as obras de Henrik Olesen estão em um limbo visual- mas vão alémdo visual. São superfícies duras que prendem meu olhar, descubro posso ficar olhando-as e descobrir novas diferenças que fazem ver. É como se elas tivessem acesso a um lugar em nossa cabeça por trás de nossos olhos, onde o hábito e a norma interferem com a forma como vemos o mundo, e onde suas obras podem interferir de volta nestas préconcepções, apagando e modificandoas. O ato de ver é um prazer enganoso no encontro com o real: aqui o mundo como ele é é remontado e nossos corpos são produzidos de novo. A arte de Olesen é desencantada, com certeza, mas também faz balões de chumbo voarem. Acima: Detalhe de Some Illustrations to the Life of Alan Turing [Algumas ilustrações para a vida de Alan Turing], 2009. Abaixo: 2, 2016. Cortesia: do artista e Galerie Buchholz.


Dalton Paula, Rota do Tabaco, 2016. Foto: Paulo Rezende.

DALTON PAULA POR MARCELO CAMPOS O artista residente em Goiânia vem trabalhando com afinco em questões relacionadas à performance e à construção de imagens pictóricas e audiovisuais sobre a presença do corpo negro em diálogo com elementos da tradição afro-brasileira. Atento a folguedos e danças tradicionais, como a Folia de Reis, Dalton performatiza condições variadas tangenciando personagens que se tornaram referências para a arte e a cultura brasileiras. Desde generais e políticos, 32

passando a escravos e, até mesmo, Bispo do Rosário, o artista encena a dança e a labuta, a dor do corpo em exaustão pelo tempo estendido, ao relento, ou por tarefas repetitivas. Assim, a autoperformance, as fotoações, as pinturas se tornam meios e mensagens para que Dalton Paula exteriorize trabalhos que, muitas vezes, advêm de pesquisas iconográficas e de vivências em imersões no campo da pesquisa. Dalton Paula atualiza questões históricas e políticas que marcaram os modos de tratar o corpo negro diante da arte e da história social.


BÁRBARA WAGNER POR ALINE LEAL Bárbara Wagner nasceu em Brasília, em 1980. Trabalha com fotografia registrando grupos sociais específicos, personagens anônimos, seus costumes, suas estratégias de adaptação ao ambiente e idiossincrasias, no que chama de representação do "corpo popular". Em suas abordagens, o flash geralmente é usado - mesmo quando não seria necessário - como paródia da artificialidade das imagens da sociedade do espetáculo. Com uma pegada documental, reforça o que nesse gesto há de encenação. Um olhar ao mesmo tempo familiar e distante, sutil e escancarado dá o tom das imagens, apontando para a ambivalência daquele - indivíduo ou grupo - que posa para a foto.

Barbara Wagner, Estás vendo coisas [You Are Seeing Things], 2016. Foto: Barbara Wagner e Benjamin de Burca.


JORGE MENNA BARRETO POR ANANDA CARVALHO Jorge Menna Barreto trabalha há 20 anos refletindo sobre questões relacionadas ao "site-specific". Restauro, proposta do artista para a 32a Bienal, consiste na apropriação do restaurante da instituição, priorizando o reino vegetal e produtos agroflorestais. Entretanto, não se trata apenas de mudar o cardápio. A ativação do espaço (organizada em parceria com colaboradores como Neka Menna Barreto, Escola Como Como de Ecogastronomia e O grupo

inteiro, entre outros) procura estabelecer uma série de relações que provocam o ato de comer, o de estar nesse local e o de constituir outras paisagens. Deixa de lado o formato da obra de arte como objeto palpável, à espera da mera contemplação. O trabalho é elaborado por meio da ideia de "escultura ambiental", como um sistema. Nessas articulações, o alimento e o seu modo de cultivo emergem como "mediação entre indivíduo e lugar", constituindo-se como experiência artística e ativismo político.

Jorge Menna Barreto, Pesquisa para Restauro: Maracujá cultivado em sistema agroflorestal por Agnaldo Vicente de Lima. Foto: Joélson Bugila.

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LAYS MYRRHA POR VANDA KLABIN Questiona a interseção entre a representação visual e os espaços arquitetônicos, como vetores de suas experimentações. Trabalhos que, pela sua natureza, são efêmeros e transitórios, mas têm sua localização singular na cena contemporânea, imprimem sua poética no conturbado território da memória urbana e encontram ressonâncias na esfera sócio-política. Propõe um formato de montagem que problematiza a arquitetura do espaço expositivo que abriga seu trabalho, cria complexas

Lais Mirrha, Dois pesos, duas medidas, 2016. Foto: Pedro Ivo Trasferetti / Fundação Bienal de São Paulo.

obstruções ao tecer novos territórios, outros desafios. Suas obras sinalizam o mundo real com suas fissuras, tensões e enigmas a serem decifrados. 35


Jonathas de Andrade, O peixe [The Fish], 2014-2015. Foto: Jonathas de Andrade.

JONATHAS DE ANDRADE POR ALECSANDRA MATIAS Visto pela crítica de arte nacional e internacional como dono de uma das produções artísticas mais instigantes de sua geração, Jonathas de Andrade opera no limite entre o documento e a ficção. Seus vídeos, instalações e fotografias envolvem a pesquisa, a coleta de informações e materiais, somando-se ainda à ideia de arquivo e crônica sobre o universo do trabalho e do trabalhador. Curioso pelas pessoas, por suas histórias, seus afetos e suas motivações, o artista nutre interesse pelas possibilidades narrativas abertas pela Antropologia e pela crítica histórica. Na 29ª edição da Bienal de São Paulo, em 2010, o artista 36

apresentou "Educação para Adultos", um painel com 60 cartazes, que resgatava o método de alfabetização de Paulo Freire. Na sua dimensão política e estética, a instalação era uma profunda reflexão sobre o acesso da população brasileira à leitura e à escrita e, sobretudo, à consciência política. Nesta 32ª edição do evento, o artista apresenta o vídeo "Peixe", um filme ficcional que trata sobre uma vila de pescadores que têm como ritual "abraçar" os peixes na hora da pesca uma história que diz sobre o respeito, a passagem entre vida e morte e, na adjacência, o vale do rio São Francisco.


HELEN SEBIDI POR CHANDA SANTOS A obra "Guardei lágrimas da África" (década de 1980) representa uma síntese do sofrimento ocasionado pelo "apartheid" na África do Sul. Criada com fortes traços a carvão, pastel e tinta sobre papel, a obra estará em uma sala especial dedicada à Helen Sebidi na 32ª Bienal de São Paulo. A artista que nasceu em Marapyane, e

atualmente vive e trabalha em Joanesburgo - está no Brasil, em residência artística no Goethe Institut Salvador, trabalhando em nova pintura que também será apresentada na exposição. Suas obras refletem suas próprias experiências e têm inspiração na África pré-colonial. Pela primeira vez no País, a sul-africana já afirmou em entrevista que criar suas obras, geralmente, figurativas, era uma espécie de "cura".

Helen Sebidi, Tears of Africa, 1987-1988. Foto: Mmakgabo Helen Sebidi.


CRISTIANO LENHARDT POR ANDRÉ FABRO Para a ação performática "Uma coluna", Cristiano Lenhardt cobrirá uma coluna do pavilhão da Bienal com o trançado de tecidos, trazido da tradição dos "Paus de fita". Uma trama será desenhada junto de uma coreografia de 60 bailarinos e distribuída em uma só coluna, que atravessa os três pisos do prédio. Ainda por todos os andares do pavilhão está espalhada uma manada de seres inumanos. São figuras criadas pelo artista na série "Trair a espécie" (20142016). A hortaliça cará deixa de ser alimento e ganha forma física, deixando no ar a dúvida sobre seu estado de resistência e durabilidade, já que, ao mesmo tempo em que é vida em decomposição, também é raiz que sedimenta e se desenvolve. 38 BIENAL DE SÃO PAULO

32ª Bienal de São Paulo • Parque do Ibirapuera • Pavilhão da Bienal • 7/9 a 11/12/2016

Acima: Cristiano Lenhardt, Trair a espécie, 2014-2016 e abaixo equipe curatorial: Sofía Olascoaga, Lars Bang Larsen, Gabi Ngcobo, Jochen Volz e Júlia Rebouças.


Trair a espécie (2014-2016). Foto: Pedro Ivo Trasferetti / Fundação Bienal de São Paulo.


BENÉ FONTELES POR ELE MESMO

“Esse trabalho foi feito com um grande couro de boi pregueado por tachinhas de sapateiro onde placas de madeira sustentam os próprios recortes do couro deslocados e sobre elas os chocalhos colocados em bois, bodes e cabras no Nordeste. Cada chocalho tem um som diferente, o que faz com que o dono saiba que animal se aproxima ou se afasta e o nome dele, se for de estimação. O dono sabe pelo tipo de som até se ele atravessa um riacho, corre na caatinga, está sobre o lajedo e outras situações. Isso me encanta muito. Esse trabalho fiz para os cegos, para que eles tocassem os chocalhos e, na mostra da Estação Pinacoteca, estiveram presentes os cegos nordestinos migrantes que ficaram emocionados com os sons de sua terra. A trilha sonora dessa obra é um aboio que Luiz Gonzaga gravou para meu disco "Benditos", de 1983. Uma bênção do Luiz Lua!”

Esse trabalho fiz para os cegos, para que eles tocassem os chocalhos. Ficaram emocionados com os sons de sua terra.

As obras “Sem Fronteiras” e “Sem Título, 2004” estão em exposição na Instalação “Ágora: OcaTemperaTerreiro”, 2016 concebida pelo artista para a Bienal de São Paulo.

40 REFLEXO

S/Título, 2004


Fotos: Anders Sune Berg. Cortesia do artista e das galerias Neugerriemschneider e Tanya Bonakdar Š Olafur Eliasson


“Um trabalho para se expor com meu afetivo poético, em que estão objetos adquiridos e ganhos em mais de três décadas em viagens pelo país e nos quais me reconheço ou me identifico com o que Lina Bo chamaria pela feitura criativa e generosa da "Mão do povo brasileiro". O pensamento e sentimento sobre tudo isso, deixei claro no livro "Nem é erudito Nem é popular: arte e diversidade cultural no Brasil", resultado de duas mostras que fiz curadoria e expografia no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e Museu Nacional, em Brasília. Entre as prateleiras onde esses objetos pousam, há livros e fotografias de artistas, poetas, cientistas, pensadores que muito admiro entre os séculos 19 e 20. Portanto, não há divisão e conflito entre a tênue fronteira do que se diz erudito e do que se faz popular.”


Portanto, não há divisão e conflito entre a tênue fronteira do que se diz erudito e do que se faz popular... Sem Fronteiras, 2016

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Este é meu autorretrato e ele tem uma legenda de Miguel Ruiz, o grande xamã Tolteca contemporâneo: "Você é o sonho e o sonhador".

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“O Poeta Xamã foi construído entre os anos de 2001 e 2004. O suporte é uma velha lona de caminhão muito viajada e agraciada pelo tempo. O poeta/xamã veste uma roupa e uma bota com cactos - utensílios que usei por muito tempo - pintados com terra de Brasília, onde vivo há 25 anos, e diz do meu amor pelo Cerrado. Sua - minha - cabeça é um Buda de madeira da Indonésia. São vários os objetos que a ele tem pertencimento: uma velha enxada remendada (meu pai foi lavrador no Ceará); o coração de ferro iluminado foi concebido pelo meu amigo Zuarte/BA e a pá também pertenceu a ele; o X de bronze é uma moeda do antigo Congo Belga que dava pra comprar uma boiada para o dignitário de uma tribo que não recordo o nome. Também é para mim o "X" que Lúcio Costa riscou para fundar Brasília no Cerrado do Planalto Central que ele sinalizava como uma cruz. Este é meu autorretrato e ele tem uma legenda de Miguel Ruiz, o grande xamã Tolteca contemporâneo: "Você é o sonho e o sonhador".” O Poeta Xamã


“Quando criança, tive alumbramentos na praia do Mucuripe, em Fortaleza, na colônia de pesca dos jangadeiros e o encantamento permanece até hoje. Durante os últimos vinte anos, recolhi, pela beira mar das praias do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Paraíba, restos da pesca em jangadas, como boias, fragmentos de redes de pesca, ou leme, remo, âncoras de pedra e cimento e outros fragmentos. Eles são pendurados em armadores de rede de madeira feitos pelo Seu Diniz, comerciante da praia de Uruaú, no Ceará. Os armadores de ferro enferrujam e, por isso, a planta mufumbo, de matéria forte, é propícia a galho para gancho e perfeita para aceitar o punho da rede. Escrevi um ensaio para complementar esta obra "Memórias de jangadas e 46


Quando criança, tive alumbramentos na praia do Mucuripe, em Fortaleza, na colônia de pesca dos jangadeiros e o encantamento permanece até hoje.

jangadeiros", em que conto a história da jangada desde a origem indígena, que se chamava piroga, passando pela jangada de sete paus de timbaúba, planta que quase se extinguiu, e isso deu na nova versão ainda admirada pela leveza, segurança e maleabilidade no trato do navegador e também o ensaio focaliza uma vida heroica e arriscada do pescador em alto-mar e do que esta vida inspirou a cultura do país.” Sem título, 2004


Liberdade, cartaz de 1984.


VIEIRA DA SILVA SZENES E VIEIRA DA SILVA: PARCERIA PARA A POSTERIDADE


POR SYLVIA CAROLINNE A relação de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) com o Brasil é embrulhada em sensações diversas e nem sempre muito saudosas. Nascida em Lisboa, em 1908, desde cedo demonstrou interesse pelas artes. Iniciou sua educação artística pela música e, aos 11 anos de idade, entrou para a Academia de Belas Artes, em Lisboa. A artista nunca sentiu necessidade de ser feminista ou de se pensar feminista, uma vez que viveu uma realidade muito distinta das demais mulheres de sua época. Sua avó, divorciada, viajava sozinha com frequência e sua mãe, após a morte do pai de Maria Helena, não voltou a se casar. Mais tarde, aos 18 anos, continuou sua educação em Paris, onde viveu sozinha, frequentando a comunidade artística com desenvoltura e liberdade. Por lá, estudou com mestres como Fernand

Léger e conheceu seu futuro marido, Árpád Szenes, pintor húngaro, com quem se casou em 1930. Com a chegada da 2ª Guerra Mundial, o casal foi obrigado a se exilar e fugiu para o Brasil, deixando para trás sua residência em Paris. Apesar do contato com importantes artistas brasileiros, diferente de Szenes, Viera da Silva nunca gostou de viver em terras brasileiras e, assim que surgiu a oportunidade, se retirou do país, voltando a viver em Paris até o final de sua vida. O período brasileiro do casal SzenesVieira da Silva foi curto - 1940 a 1947 - mas extremamente enriquecedor, principalmente para o marido. Como professor, ministrou cursos de arte bastante concorridos, chegando a ter Lygia Clark como uma de suas alunas. Ao se mudar para Paris, Szenes tentou reproduzir seus cursos sem muito

Acima: La rue le soir, 1936. À direita: Festa, 2016. (Cartaz O Homem do saco). Todas as imagens: © Fundação Aspad Szenes e Vieira da Silva e Sylvia Carolinne.


sucesso, uma vez que o perfil dos alunos que chegavam a ele não eram de fato conectados com o mundo da arte, participando apenas como passatempo. Já para Vieira da Silva, o Brasil foi muito mais um local de imersão e retorno ao figurativo do que um período propriamente produtivo. Nessa fase, a artista trabalhou paisagens de Lisboa e cenas de alusão à guerra, deixando de lado a pesquisa do abstrato. Chegando a Paris, o figurativo foi rapidamente esquecido e Vieira da Silva entrou no abstracionismo, do qual não mais regressou. Na única ocasião em que o casal se separou por um breve período, enquanto Vieira da Silva seguiu para Paris e Szenes permaneceu no Brasil por mais algum tempo, foi gerada uma intensa troca de correspondências, que se tornou o principal material para a reconstrução da estadia do casal em solo brasileiro. As cartas enriquecem o conhecimento sobre como se passou essa fase e apresentam os nomes dos vários artistas com os quais o casal conviveu ao longo do tempo que morou em Santa Tereza. Os estudos desse período, desenvolvidos por Nelson Aguilar, Frederico Morais e Valéria Lamego, são uma importante fonte de informação da comunidade artística brasileira que com eles teve contato. Um ótimo exemplo é o ensaio de Valéria Lamego, "Dois mil dias no deserto: Maria Helena Vieira da Silva no Rio de Janeiro (1940-1947)", publicado no catálogo "Vieira da Silva no Brasil" da Fundação que leva o nome do casal e descreve com primor os dias passados em território brasileiro.

Nessa fase, a artista trabalhou paisagens de Lisboa e cenas de alusão à guerra, deixando de lado a pesquisa do abstrato.


As principais obras de Vieira da Silva envolvem uma visão bem moderna de perspectiva para a época em que vivia. O espaço, como era trabalhado, vinha de referências reais misturadas com memórias afetivas e trazia muito da estrutura e ritmo sedimentados pela sua educação musical. Intuitivamente, ela pintava e repintava a mesma tela sem cessar, com muita emoção e como se estivesse em um estado de transe, obtendo resultados oníricos. Nunca dava uma obra por acabada e tinham que lhe tirar a tela da frente para que iniciasse uma nova obra. A cor foi o último elemento a aparecer em seus trabalhos, passando a ser usada para limitar os espaços. Sobre o trabalho de Szenes e Vieira da Silva, vale ressaltar que ambos mantiveram sua linguagem individual mesmo convivendo a vida inteira juntos. "Maria Helena e Árpád inventam o amor na história da arte. Nem um nem outro perdem a singularidade, não ocorre a submissão da jovem pintora pelo estilo do mais experiente", diz o curador Nelson Aguilar. Mantendo a parceria de vida mesmo após a morte de ambos, a residência do casal se transformou em uma fundação /casaateliê que leva o nome dos dois artistas. Com exposições, atividades culturais, residências para artistas e investigadores, a Fundação e Casa-Ateliê foi desenvolvida segundo um desejo da própria artista, que queria manter sua residência associada à produção artística e ao estudo da arte contemporânea. Atualmente, o espaço se dirige ao público em geral com atividades para todas as idades e também programas que


promovem o aperfeiçoamento da arte contemporânea e o desenvolvimento da cultura e da educação artística. A visita ao local é um ponto de partida imperdível para conhecer e se aprofundar na história e obra desse grande casal. Após a morte de Szenes, em 1985, Vieira da Silva quis criar o Centro de Estudos e Investigação dedicado à obra de ambos. Com o apoio de várias instituições e a doação de obras e documentos, em 1988, o projeto segue adiante. Assim, em 1990, com a inauguração do museu na antiga Fábrica de Tecidos de Seda - espaço escolhido pela artista -, confirma-se o reconhecimento nacional da importância do casal Szenes-Vieira da Silva.

"Maria Helena e Árpád inventam o amor na história da arte. Sylvia Carolinne é artista visual, graduada em engenharia civil e moda. Gerente de projetos da Simon Arts e correspondente internacional da Dasartes.

À esquerda: Janelas Verdes I, 1989 e New_Amsterdam. Acima: Detalhe de fotografia do casal Szenes-Vieira da Silva.


LIVROS lançamentos Serenidade, presença e poesia Hans Ulrich Gumbretch Relicário Edições • 108 p. • R$ 40,00 Tradução de escritos inéditos no Brasil do alemão Hans Ulrich Gumbrecht, um dos principais teóricos da literatura em atividade. Com seleção e tradução de Mariana Lage, "Serenidade, presença e poesia" reúne ensaios publicados entre 1998 e 2015, contemplando parte importante da produção acadêmica de Gumbrecht influenciada pelo conceito de serenidade (Gelassenheit) de Martin Heidegger. São textos que expõem a emergência e a ampliação do tema da "produção de presença" em seu pensamento e escrita. Além de Heidegger, estão presentes a influência de Paul Zumthor e a relação de Gumbrecht com a Estética da Recepção, de Hans Robert Jauss, além dos temas da poesia, da atenção e da experiência estética.

Jornada do Alumbramento de Apollo Fotolivro de Penna Prearo Editora Madalena • 160 p. • R$ 200,00 Com edição de Claudia Jaguaribe, retrospectiva marca estilo performático, minimalista e pop do fotógrafo, que assina também os poemas que costuram toda a obra. Ao todo 19 séries fotográficas foram reunidas a partir da idealização de Agnaldo Farias, que assina o texto de apresentação do livro, com o objetivo de resgatar o trabalho feito nos últimos dez anos pelo artista. O título, extraído do ensaio Jornada do Alumbramento de Apollo, diz respeito à capacidade que o artista tem de trabalhar imagens, expandi-las, processá-las, a partir de suas peregrinações que acabam combinando a imagem de um pato ao lado de um busto greco-romano. 54


Diários Umberto Boccioni Tradução: Vanessa Beatriz Bortulucce e Rafael Zamperetti Copetti • Editora Unicamp • 272 p. • R$ 50,00 Pela primeira vez em língua portuguesa, os diários escritos pelo pintor, desenhista, escultor e teórico Umberto Boccioni (1882-1916). Considerado um dos maiores expoentes do Futurismo italiano, Boccioni deixou diversos escritos, dentre eles, seu diário, escrito entre os anos de 1907 e 1915. Geralmente lembrado como um artista futurista, seus escritos pessoais permitem que o leitor brasileiro conheça aspectos ainda pouco estudados e divulgados: sua vivência artística pré-futurista, assolada por dúvidas e incertezas quanto ao ofício de pintor e ilustrador, assim como seus anos de experiência no front da Primeira Guerra Mundial, como soldado voluntário. O diário de guerra, escrito em 1915, seria um de seus últimos textos: o artista faleceu um ano depois.

Coletânea Lina Bo Bardi Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) 100 p. • R$ 60,00 Responsável por inovações estéticas na arquitetura nacional, a obra intelectual e profissional de Lina Bo Bardi estava em consonância com a herança libertária dos movimentos de vanguarda do início do século XX. Ela participou ativamente da produção cultural do país, ao lado de nomes como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Athos Bulcão, Burle Marx, Portinari, o escultor Landucci e outros. A coletânea sobre o trabalho da arquiteta ítalo-brasileira aborda seus principais projetos, a exemplo dos paulistanos: Museu de Arte de São Paulo (MASP); Teatro Oficina e Sesc Pompeia, além de própria residência, conhecida como Casa de Vidro, tombada pelo Iphan em 2007. O Museu de Arte Moderna da Bahia e a Casa de Cultura, em Recife são outras obras que revelam os traços de Bo Bardi. 55


RESENHAS exposições

SP-Arte/Foto Shopping JK Iguatemi São Paulo • 25.8 a 28.8 POR ANDRÉ FABRO Em sua 5ª edição, a principal feira de fotografia do Brasil uniu 36 galerias de arte de várias partes do país e, mais uma vez, ofereceu um ótimo panorama da fotografia contemporânea. A Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) mostrou ao público sua 1ª coleção de fotografia. Com uma lista de 22 obras em edições, incluiu nomes como Rodrigo Braga, Letícia Ramos e Iris Helena. Com coordenação artística e seleção de obras de Felipe Hegg (Galeria Lume) e Isabel Amado (Galeria da Gávea), o objetivo desse projeto é incentivar o colecionismo. "O melhor da feira", comenta a seguidora do Instagram da Dasartes (@revistadasartes), referindo-se à fotografia de Carlos Vergara, da série "Carnavais" (1972-1976), nunca antes impressa. Nela, três homens negros estampam no peito a palavra "poder". Essa e outras fotografias inéditas do artista foram levadas em tiragem de seis pela Galeria Pinakotheke, que participou pela primeira vez da SP-Foto. Assim como a Pinakotheke, outras galerias estrearam seus estandes nesta 10ª edição da feira: Luciana Caravello, Biographica, Andrea Rehder Arte Contemporânea, Raquel Arnaud e Blau Projects, entre outras. Esta última 52

chamou a atenção com fotografias de Renata Cruz e Laura Gorski, expostas em uma quina revestida com papel de parede feito pelas próprias artistas. Nino Cais também foi muito comentado, com suas novas fotografias na Casa Triângulo. Para a série "Pelos", imagens de homens e mulheres nus recebem a intervenção de uma pelugem, mesclando erotismo e humor. Em outra série de imagens antigas em preto e branco, o rosto dos personagens é rasgado até a extremidade da foto e amassado, formando uma bolinha de papel colada posteriormente sobre o espaço em branco entre a imagem e a moldura. Com muitas possibilidades de gênero fotográfico e teor estético, a feira foi marcada também por aquisições de obras de grandes nomes como Luiz Braga, Martin Parr, José Manuel Ballester, José Spaniol, Claudio Edinger, Héctor Zamora, Ivan Grilo, Man Ray, Marcelo Moscheta, Pedro David, Christian Cravo, Marcel Gautherot, Carla Chaim, Ding Musa e Pierre Verger. André Fabro é administrador, mídias sociais e correspondente da Revista Dasartes desde 2011.



O Estado da Arte + Edgar de Souza Instituto Figueiredo Ferraz 19.03 a 17.12 / 27.8 a 22.10 POR LIEGE G. JUNG Tendo crescido na cidade, penso no Instituto Figueiredo Ferraz como o Museu de Arte Contemporânea de Ribeirão Preto, já que é a única instituição dessa região dedicada à arte atual. A exposição "O Estado da Arte" firma essa posição, oferecendo um recorte amplo da coleção do patrono João Ferraz. A curadoria de Maria Alice Milliet priorizou aquisições recentes, mostrando que o fôlego da coleção permanece inabalado por crises e incertezas, outra raridade entre instituições brasileiras. Apesar do hall de recepção ter sido dedicado a obras de artistas do calibre de Adriana Varejão e Benjamin Coelho, a que capta a atenção de quem entra é uma grande instalação da dupla Gisele Motta e Leandro Lima, que ocupa o vão central. É uma montagem algo precária, frágil, de lâmpadas florescentes em tubo que se estende do chão ao teto, formando um "Impactante Relâmpago", seu título. O uso do material cotidiano une essa peça a algumas do entorno: uma instalação com porta de correr em metal de Artur Lescher e um vídeo de Lia Chaia, no qual uma montagem simples com canudos de beber é manuseada para ir criando formas geométricas que dão a sensação de tridimensionalidade, uma dança hipnótica e cativante. A amplitude da mostra está também nos suportes: a pintura é representada por artistas de paletas tão distintas, como Paulo Pasta e Thiago Homem de Melo; na fotografia, temos os opostos da poesia de Mario Cravo Neto e da realidade de Miguel Rio Branco. Uma obra mista dos anos 1960 de Luiz Paulo Bavarelli dialoga com outra atual de Marcius Galan, uma ilusão de ótica que cria placas de vidro imaginárias usando

apenas tinta e perspectiva, mais um primor criativo desse artista-arquiteto. Em todo seu percurso, a exposição cumpre com louvor seu objetivo de dar um panorama do estado atual da arte, com uma seleção de impacto e ampla o suficiente para agradar a um largo espectro de gostos. Algo que, infelizmente, poucas instituições brasileiras estão aptas a alcançar. A individual de Edgar de Souza, que ocupa o segundo andar do novo anexo do Instituto, é, de certa forma, um choque. Passamos de um ambiente múltiplo para outro onde, logo de cara, predomina a madeira dos móveis domésticos e suas formas já habituais: mesas, cadeiras, banquetas. Mas são mesas que sobem a parede e parecem latir, banqueta que cheira a cadeira, que se escondem estre as pernas da mesa. A otoman é um chifre e os vasos são cobertos de pêlo. Passea-se entre esses objetos ora com fascinação e ora com medo de ser atacado. Nas palavras do curador Paulo Myiada, "A poética de Edgar de Souza persegue a possibilidade de que a matéria transpire as pulsões involuntárias dos corpos". Bingo! Aqui, a madeira e os tapetes demonstram a má-educação, a preguiça, o medo e o tesão. O couro das vacas em retângulos nas paredes às vezes querem se disfarçar, outras, aparecer. Em muitas obras, há ambiguidade na medida certa, que apenas sugere para que o observador possa optar por ver aquilo que seu momento pede para projetar. A matéria aqui vira bicho e gente e, como os bichos e a gente, requer interpretação para a boa lida. Liege G.onzalez Jung é fundadora e diretora da Revista Dasartes desde 2008.



ANDRÉ MENDES POR JOÃO RICARDO C. ALMEIDA Sua relação com as cores e as formas que elas podem gerar é bem íntima e não apresenta sinais de rompimento brusco. Para deixar sua marca na tela ou em qualquer superfície que esteja trabalhando, o artista usa as cores com muita fluidez e ao mesmo tempo se compraz de um controle intenso sobre as formas que deseja criar. Em alguns trabalhos, o canvas não é mais necessário e sua arte transcende o plano do quadro em si e busca novos horizontes para se expressar de maneira subjetiva com impacto profundo. Nascido em Curitiba, 1979, formou-se em Design Gráfico pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e se tornou especialista em desenho artístico pelo Instituto Superior de Disseny y Escola de la Imatge IDEP, Barcelona. 60 GARIMPO

André participará da exposição "M3ND3S" que acontecerá no Memorial da Cidade de Curitiba, com abertura no dia 27 de agosto de 2016, às 11 h, permanecendo aberta ao público até 25 de setembro. Alguns de seus trabalhos até se esforçam para representar uma figura ou transpor uma ideia, mas acaba na abstração que leva em conta todos os elementos da obra e não só aquilo que ela deseja representar. Na abstração, o que importa é seu estilo, delator do modo pelo qual a obra "quer ser lida". Chegar à abstração pura e inerente ao próprio conceito de "abstrato" significa simplesmente que o valor da obra está no seu "estilo", no seu significado amplo e não na sua representação em si. O estilo, neste caso, e na maioria da arte classificada Fotos: André Mendes


"abstrata", é o recipiente do verdadeiro conteúdo e tem o papel de ecoar a atitude do artista perante um dado momento, tema ou assunto. As abstrações de André Mendes refletem esse conceito do puro abstracionismo escorando-se no seu estilo de tratar as cores, na construção de formas líquidas para gritar o que as peças representam. Sua relação com o ambiente no projeto "Natureza" representa, a meu ver, a descentralização do ser para um lugar inóspito, o que pode não ser a escolha de alguns é o habitat de outros ou é simplesmente a necessidade de uma relação mais humana entre homem e natureza que está em falta na sociedade atual, muitas vezes puramente tecnológica onde o ser humano se esqueceu de sua raça humana, transverteu totalmente sua natureza de animal, vivendo rodeado da natureza, bela, respeitosa e imponente. Esse projeto me ajuda a lembrar que somos parte da natureza e não o contrário.

As imagens parecem querer materializar o que esteve invisível, jogar luz no que se manteve à sombra e provocar ruído onde sempre houve o silêncio.

Trabalhando em diversas mídias, André Mendes conseguiu construir um repertório individual de signos. Seja qual for a mídia em que esteja trabalhando, sua marca pode ser vista e sentida pelo espectador, o que é muito importante. Assim, em vez de olharmos relativamente para a mesma obra de artistas diferentes, olhamos para artistas diferentes com obras únicas e individualmente singulares. André Mendes consegue transcrever sua singularidade por meio do estilo implantado em suas obras.

João Ricardo C. Almeida é criador criativo de criações aleatórias.

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NOTAS DO MERCADO Valores, curiosidades e tendências por Liege G. Jung

Para inaugurar a , a ArteHall convidou as artistas Leda Catunda, Mônica Nador e Laura Vinci a criar uma obra exclusiva em tiragem de 25 exemplares. Os sócios do clube aderem com uma mensalidade acessível e recebem uma de cada. Para se associar, envie um e-mail para contato@artehall.com.br.

SP-ARTE/FOTO firmou a impressão de que o mercado de arte brasileiro já está em retomada. A grande maioria dos expositores se mostrou satisfeita com os resultados e comentou sobre uma maior presença de público com real intenção de compra e melhores vendas em relação a 2015. Claudia Jaguaribe, que tinha individual no estande da CasaNova, teve boas vendas em edições com tema chinês impressas sobre papel de arroz, com valores entre R$ 8mil e R$ 20 mil. Pinakotheke dedicou seu estande às fotografais de carnaval dos anos 1970, de Carlos Vergara, tendo realizado as primeiras impressões de negativos já conhecidos em um livro do artista. O preço médio de R$ 30 mil e a bela montagem em metacrilato atraiu compradores e, a cada dia, novas obras apareciam nas paredes para substituir as vendidas. No estande de Andrea Rehder, montagens únicas de Jaqueline Rehder, filha da galerista, davam efeito tridimensional à folhagem de uma árvore e uma delas foi vendida nas primeiras horas por R$ 15 mil.

1ª FEIRA BRASÍLIA DE ARTE CONTEMPORÂNEA acontece de 15 a 18 de setembro no Shopping CasaPark, reunindo dez galerias de arte e design da cidade: A Casa da Luz Vermelha, Alfinete, Celso Albano, Expoarte, Gabinete de Arte K2O, Clima, Ponto, Pé Palito, Referência e Ultravioleta. O mercado de arte de Brasília vem mostrando certa expansão nos últimos anos, ainda tímida em relação ao potencial financeiro e cultural da cidade, mas bem-vinda de qualquer forma. Uma feira pode ser mais uma ferramenta para turbinar esse crescimento. 62



COLUNA DO MEIO

Luisa Benazzi, Kira Shewfelt, Jennifer Taylor

Anton Steenbock, Clarice Correa, Miguel Sayad, João Marcos Mancha, Frederico Pellachin, Pedro Urano, Milton Machado, Marcos Chaves, Pedro Varela e filha, Pablo Ferretti E na frente Consuelo Bassanesi e Felippe Moraes

Fotos Rafael Roesler Millon

Quem e onde no meio da arte

Exposição “Cidades Invisíveis” DESPINA Rio de Janeiro Deborah Colker, Consuelo Bassanesi e Felippe Moraes

Miguel Sayad, Bernardo de Souza e Bernardita Bertelsen

Miguel Sayad, Milton Machado e Patricia Francisco

Beth Loureiro, Nilce Castro e Adriano Mangiavacchi

John Nicholson, Fátima Alegria e Leo Lodi

Exposição Adriano Mangiavacchi Galeria Patricia Costa Rio de Janeiro Patricia Costa e Geraldo Lamego

George Iso, Jefferson Svoboda e Araken Hipólito da Costa

Ricardo Pinheiro, Lucia Palazzo e Adriano Mangiavacchi

Ronie Mesquita com Adriana e Araken Hipólito da Costa

Fotos Marcos Rodrigues

Felipe Varella e Igor Merath



Fotos Paulo Jabur

Rodrigo Andrade, Alberto Saraiva e Ângelo Venosa

Rodrigo Andrade, Aline Carrer e Lucas Lins

Ângelo Venosa e Maurício Ruiz Oi Futuro Flamengo Rio de Janeiro Junior Perim, Arlete Gonçalves Eduardo Oliveira, Cesar Fraga e Roberto Guimarães e Gina Elimelek

Raul Mourão e Vanda Klabin

Rodrigo Andrade, Vanda Klabin, Paulo Bertazzi e Lucas Lins

Fotos Elizabeth Camarão

Maurício Ruiz, Domi Valansi e Daniela Name

Embaixador Fernando Fontoura, Isabel Fontoura, Fernanda Cruzik e Ricardo C Guerra

Fernanda Cruzick

Fernanda Cruzick Galeria CorMovimento Rio de Janeiro Fernanda Cruzick e sua obra

Monica Werneck, Lucia Flecha de Lima Fernanda Cruzick e Beth Camarão

Vista da exposição na galeria

Marcos Caruso e Fernanda Cruzick


Fotos Paulo Jabur

Gabriela Machado, Marisa Abate, Antonio Manuel e Cláudia Noronha

Carlos Vergara, Sílvia e Bebeto Gouvêa Chateaubriand

“Em Polvorosa” MAM Rio de Janeiro Eduardo Oliveira, Cesar Fraga Waltercio e Patrícia Caldasl e Gina Elimelek

Anna Bella Geiger e Cristina Burlamaqui

Antonio Dias e Fernanda Gomes

Fotos Paulo Jabur

Ângelo Venosa e Daniela Name

Guillaume Pierre, Alain Bourdon e Laurent Bili

Virgínia Fienga e Alain Bourdon

“O triunfo da Cor” CCBB Rio de Janeiro Cristina Magalhães Pinto e Marcos Campos

Sueli Voltarelli, Fábio Cunha, Guy Cogeval e Isabelle Cahn

Laurent Bili e Rogério Idino

Pablo Jimenez Burillo, Maria Ignez Mantovani e Guy Cogevalr


Lançada em 2008, a Dasartes é a primeira revista de artes visuais do Brasil desde os anos 1990. Em 2015, passou a ser digital, disponível mensalmente em seu aplicativo para tablets e celulares e no site dasartes.com.br, o portal de artes visuais mais visitado do Brasil. Para ficar por dentro do mundo da arte, siga a Dasartes.

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