Revista Dasartes Edição 51

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RENCONTRES D’ARLES OLAFUR ELIASSON VIK MUNIZ ILUMINURAS DALTON PAULA


51 DIRETORA Liege Gonzalez Jung CONSELHO EDITORIAL Agnaldo Farias Artur Lescher Guilherme Bueno Marcelo Campos Vanda Klabin PRODUÇÃO André Fabro PUBLICIDADE publicidade@dasartes.com

Capas: Maurizio Cattelan e Pierpaolo Ferrari, Sem título. Imagem criada para a revista Toiletpaper. Cortesia do artista. Copyright Rencontres Arles.

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Sumário: Cwynar, Garota da folha de contato 2, 2013. Cortesia do artista, Foxy Production e Cooper Cole Gallery.


VIK MUNIZ

14 RENCONTRES D’ARLES

06 De arte a z 46 Livros 48 Resenhas

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OLAFUR ELIASSON

do 56 Notas mercado do 58 Coluna meio

ILUMINURAS

DALTON PAULA

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DE ARTE A Z Notas do circuito de arte

ABAPORU RETORNA AO BRASIL POR TEMPO LIMITADO O Museu de Arte do Rio (MAR) abriu neste mês a exposição coletiva "A Cor do Brasil". O carro-chefe da mostra é a tela de Tarsila do Amaral “Abaporu” (1928) que retorna ao país desde o século XX. A tela fica exposta até o final do mês de agosto enquanto a exposição segue até janeiro de 2017. Outra tela que roubou a atenção é “Samba” (1927) de Di Cavalcanti pertencente ao marchand uruguaio Martin Castillo que virou assunto entre os especialistas depois de levantarem novamente as suspeitas de sua autenticidade. (Veja mais na página 56).

BOLTANSKI FIXO NO REINO UNIDO

PICASSO: HOMENAGEM AO MESTRE

O SONHO DE MARIKO MORI

Na cidade de Edimburgo Para a sua primeira instalação permanente no Reino Unido, o artista francês Christian Boltanski apresenta “Animitas”. O trabalho é composto por centenas de pequenos sinos japoneses ligados ao longo de hastes plantadas no solo. Os sinos tocando ao vento tocam a "música das almas".

Hommage à Picasso Obras gráficas de Pablo Picasso estarão em nova exposição na Künstlerhaus Munique. A mostra apresenta 48 obras originais do próprio Picasso, bem como peças de outros famosos artistas, incluindo Joan Miró (foto), Henry Moore, Niki de Saint Phalle, e Andy Warhol.

Instalação em Cachoeira A artista japonesa radicada em Nova York veio ao Rio de Janeiro para uma nova instalação na cachoeira Veú da Noiva em Mangaratiba. Segundo Mariko, o Anel “One with Nature” tem a missão de reconectar o homem e natureza e faz parte de um sonho que artista teve anos atrás.

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OBRA CINÉTICADE ANTHONY HOWE NA PIRA OLÍMPICA Anthony Howe é conhecido por suas esculturas cinéticas que se movem com o vento. O artista foi convidado para criar uma instalação surpreendente, apresentada na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Uma outra instalação ficará em frente à Candelária, no centro da cidade até o último dia dos Jogos, em 21 de agosto. Em entrevista o artista comentou: "quero transportar as pessoas para um novo lugar. Quero passar um momento de paz, de graça".

GIRO NA CENA

Exposições Olímpicas no Rio de Janeiro Diversas mostras em homenagem ao esporte e a cidade do Rio, inauguraram na cidade em função dos Jogos Olímpicos 2016. Na Galeria H.Rocha acontece a 16ª edição do projeto “A Arte do Rio”. A mostra coletiva, reune 15 obras inéditas dos artistas Benjamin Rothstein, Gilda Goulart, Sergio Ferreira (foto), Solange Palatnik e Yolanda Freire. Até 5/9.

DASARTES NO BNDES EM SETEMBRO A partir do dia 27/9 Com curadoria de Guilherme Bueno e produção de Roberto Padilha, a Dasartes anuncia sua primeira exposição na nova galeria do BNDES no Rio de Janeiro. A mostra reúne uma lista de jovens artistas já conhecidos do público e que já passaram pelas páginas da revista. Ana Holck, Bruno Cançado, Bruno Miguel, Daniel Jablonski, Daniel Murgel, Felipe Barbosa, Gisele Camargo, Gustavo Espiridião, Jimson Vilela, Piti Tomé, Rafael Alonso, Rodrigo Braga, Romy Poctzaruk, Rosana Ricalde e Sofia Borges participam de “Exposição de Arte Visuais em Revista”. A exposição é a terceira a ocupar o novo espaço, uma iniciativa de aproximação entre o BNDES e as artes visuais. Mais informações em nosso site. 8

Portinari no MASP “Portinari Popular,” apresenta cerca de 50 obras de Cândido Portinari (1903-1962) que abordam temas e tipos populares. A exposição apresenta um novo olhar sobre a produção do artista, propondo uma revisão que se opõe a leituras que privilegiam a compreensão de sua obra desde um ponto de vista formal e sempre em comparação com a pintura modernista europeia. Até 15/11.



Novos Espaços A NOVA SEDE DA GALERIA EMMA THOMAS faz parte do L.A.C.A., Lugar de Arte e Cultura Atemporal e apresenta a partir de 4 de setembro individual de Victor Leguy. RUA GUAIANASES, 1149 - CAMPOS ELISEOS, SÃO PAULO

PREPARATIVOS PARA O 20º FESTIVAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA SESC_VIDEOBRASIL A Associação Cultural Videobrasil e o Sesc São Paulo anunciaram os curadores convidados responsáveis pela seleção dos artistas da 20ª edição do festival em 2017. Ao lado de Solange Farkas, curadora geral do festival que se consolidou como principal plataforma de arte contemporânea do Sul Global estão os brasileiros Ana Pato, Beatriz Lemos, Diego Matos e o português João Laia. As inscrições serão abertas em setembro e anunciadas pela Dasartes junto de todas as novidades desta edição.

ESPAÇO DE ARTE Z42 com direção de Eduardo Lopes abrirá novo espaço ao público em setembro dando lugar a ateliês e uma galeria de arte. RUA FILINTO DE ALMEIDA, 42 COSME VELHO, RIO DE JANEIRO. GALERIA JAQUELINE MARTINS muda de casa com objetivo de abrigar exposições mais ambiciosas. O novo prédio é um armazém dos anos 40 com 600m. RUA DR. CESÁRIO MOTA JÚNIOR, 443 VILA BUARQUE, SÃO PAULO.

VISTO POR AÍ

O artista francês JR instalou no bairro do Flamengo no Rio a primeira de várias obras públicas a convite dos Jogos Olímpicos 2016.



Outras NOTAS

Novíssimos 2016 MARIA FERNANDA LUCENA É A VENCEDORA POR REDAÇÃO

A edição 2016 da mais antiga e respeitada mostra de jovens artistas do Rio de Janeiro inaugurou no final de julho. Para os cariocas e amantes da arte de passagem pela cidade, é mais uma chance de conhecer arte nova de qualidade, em uma seleção cuidadosa realizada pelo curador da Galeria IBEU Cesar Kiraly. Nas palavras de Kiraly, "o Novíssimo não é, necessariamente, jovem, mas está se estabelecendo no circuito de arte contemporânea. A preferência é por artistas que ainda não tenham feito a primeira individual e ainda não sejam 12

representados. Além disso, queremos que o trabalho faça parte de um processo em que as ferramentas já são dominadas, que o artista esteja começando a falar com fluência a língua que se propôs. É muito entusiasmante procurar por isso." A primeira edição aconteceu em 1962, fazendo do Novíssimos o salão mais antigo do Brasil e o único do Rio de Janeiro, como lembra a diretora de marketing do IBEU Renata Machado. Desde então, participaram dele nomes como Anna Bella Geiger, Ascanio MMM, Ana Holck, Gisele Camargo e outros hoje reconhecidos.


Os 12 finalistas são Amanda Copstein (RS), Gilson Rodrigues (MG), Gustavo Torres (RJ), Hermano Luz (DF), João Paulo Racy (RJ), Kammal João (RJ), Manoela Medeiros (RJ), Maria Fernanda Lucena (RJ), Mariana Katona Leal (RJ), Rafael Salim (RJ), Reynaldo Candia (SP) e Vera Bernardes (RJ). A curadoria uniu o percurso por suas obras através da literatura da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen. Maria Fernanda Lucena foi a vencedora, com a obra "Relicário 1", que sobrepõe pintura e objetos acomodados em uma caixa de acrílico. A atração pela obra se deu, em um primeiro momento, pela melancolia doce da memória por ela remetida. "Depois de algum tempo, a composição começou a se mostrar mais incômoda, principalmente pelas paredes transparentes dividindo os espaços da lembrança. Elas funcionam como separações reais para o que, na nossa vida, supomos ser dividido apenas por barreiras imaginárias”, explica o curador.

O Novíssimo não é, necessariamente, jovem, mas está se estabelecendo no circuito de arte contemporânea.

Recentemente, Lucena participou de duas coletivas no Rio de Janeiro, uma com curadoria de Marcelo Campos no Solar Grandjean de Montigny, espaço cultural da PUC, e outra na C. Galeria, com todas as obras vendidas. Nas palavras de Camila Tomé, sócia da C. Galeria, o sucesso se explica pela afinidade: “Através das histórias construídas em suas obras, o público consegue imediatamente se identificar com a poética de Maria Fernanda.”

À esquerda: Relicário 1. Acima: Pinball

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VIK MUNIZ

“NOSSAS MENTES SÃO UM GRANDE DEPÓSITO DE LIXO” Em entrevista a um jornalista francês, Vik Muniz mostra mais uma vez a solidez das ideias e conceitos por trás de uma obra respeitada no mundo todo. 14 ENTREVISTA


POR TADZIO MACGREGOR TRADUÇÃO ANA LUÍSA B. T. DÁU

No Brasil, Vik Muniz há muito deixou de ser apenas um artista plástico e passou a ser também uma celebridade, dividindo capas de revista com modelos e atores famosos. A atitude pop está alinhada ao seu discurso pela democratização da arte, que ele põe em prática de muitas formas - como a produção de uma vinheta de abertura para a novela das oito, em 2010. Se o apelo popular na época gerou certa antipatia no mercado de arte nacional, Vik continua sendo um dos poucos artistas brasileiros contemporâneos com real presença em coleções internacionais, não restrito à categoria de arte latino-americana. Por trás da criação de uma linguagem que impactou o fazer artístico mundo afora estão pragmatismo, senso crítico e respeito ao poder da imagem, como revela esta entrevista. A arte tende a frequentemente alienar seu público, especialmente a arte contemporânea. Por que você acha que isso acontece? Isso acontece porque segregamos a experiência da arte a ambientes específicos que podem ser extremamente hostis para algumas pessoas. Você não deveria ter que saber sobre a arte para ser capaz de senti-la ou

desfrutá-la, pois, na maioria dos casos, a arte contemporânea quer criar uma ruptura na nossa percepção da realidade. Você está lá para ser chocado, ver coisas de um modo diferente, ou repensar suas preconcepções sobre algo. Muitas pessoas não vão a galerias ou museus porque não sabem com o que vão lidar, vão se sentir fora do lugar. Porém, se elas vissem as coisas que estão no museu também fora dele, se lessem sobre elas em livros ou jornais e se familiarizassem com elas, não teriam esse problema. Eu conscientemente crio arte de uma maneira que você não sente que tem que entender. Tento fazer a obra de arte mais ilimitada possível, de uma forma que uma criança e o seu avô verão algo nela, o diretor do museu e o homem que cuida da limpeza dele também. Existe uma impressão de que, se você faz algo que a pessoa que limpa o museu aprecia, você está sendo condescendente e superficial, e, na verdade, é o oposto. Alcançar algo profundo o suficiente para ter impacto no diretor e no faxineiro do museu exige muita reflexão. Minha ambição é muito maior que apenas criar uma obra de arte complexa e em camadas, destinada a um certo tipo de pessoa. À esquerda: Pictures of Paper - Autorretrato, 2003. Todas as imagens: Cortesia Galeria Nara Roesler.


A esfera da arte, um lugar muito exclusivo de se estar…? Sim, o mundo da arte contemporânea parece ser outro universo. Algumas pessoas querem estar além do fluxo natural das coisas, é um modo muito elitista de pensar. Obras de arte atualmente se transformaram em mercadorias. Claro que é importante dar valor a elas, isso encoraja as pessoas a mantê-las, passá-las às gerações futuras. Você não faz o mesmo com pôsteres de 15 dólares. O valor de uma obra é, em grande parte, artificial. Ela se torna valiosa devido ao desejo, à raridade. É importante não deixar que a artificialidade dos instrumentos que fazem o mercado da arte existir seja o princípio pelo qual essas coisas são feitas. Eu me esforço. Sendo parte da primeira geração de artistas que viveram suas vidas sob a influência da televisão, sinto que tenho a responsabilidade de refletir um mundo absorvido tanto pela experiência direta como pela experiência 16 VIK MUNIZ

através da mídia. Não acho que a mente do homem contemporâneo seja capaz de separar as duas coisas. Quando você cria imagens em um mundo cheio delas, o que faz sua imagem ser "arte" e as outras não? Você tem que ser muito claro com o que faz para ser capaz de continuar produzindo seu trabalho por tanto tempo. Você cresceu em um país governado por uma longa ditadura militar. Isso influenciou seu trabalho? Eu sempre digo que sou um produto cultural da ditadura, não uma vítima. Como adolescente, cresci em uma cultura na qual você não podia dizer o que queria. Quando isso acontece, você encontra diferentes formas de dizer o que pensa, torna-se muito consciente da multiplicidade e da elasticidade da linguagem e dos usos de metáforas e retórica. Também criou em mim um interesse especial em arte comercial. Tudo é a forma como você vende algo. Como você cria argumentos convincentes que fazem pessoas pensarem como você? Isso é o que a


maioria dos regimes totalitários faz; eles querem que todos pensem como eles (risos). É ridículo, mas funciona. A outra coisa da qual você se torna consciente é informação. Você aprende a lidar com ela de maneira muito pragmática. Mesmo hoje, por exemplo, eu amo assistir a comerciais de TV. Quando vou a um lugar novo, se eu assisto aos comerciais, entendo melhor a cultura do que se assistisse ao conteúdo. O conteúdo é "embalado" e hoje em dia é pensado para funcionar em outros 20 países. É projetado para ser muito atemporal e fácil de ser consumido. Comerciais não fazem isso. Eles dependem das percepções locais, das tradições locais. Voltando à ditadura, para ser um intelectual naquele momento, precisava ter prérequisitos. Primeiro, você tinha que ser marxista, pois era a alternativa natural. Bem, eu era (risos). Eu lli "O Capital" e pensei sobre Marx da mesma forma que pensei sobre Robert Louis Stevenson e Jules Verne. Era uma utopia bonita, mas sou uma pessoa muito pragmática e sentia que o comunismo era uma ideia absurda. Sempre acreditei que o moveu nossa espécie através do tempo é o desejo. Você não pode criar uma sociedade baseada no controle ou eliminação do desejo. Eu amo o budismo, mas o fato é que não desejar nada é o seu objetivo fundamental e eu discordo completamente disso. O maior dilema da espécie humana é como lidar com o desejo, que está atrás de todas as grandes coisas que criamos. A gestão do desejo é a força por trás de muitas invenções surpreendentes.

Minha ambição é muito maior que apenas criar uma obra de arte complexa e em camadas, destinada a um certo tipo de pessoa. .

Você falou a pouco sobre budismo e comunismo, como ambos buscam, de maneiras diferentes, o controle ou a eliminação do desejo. O que acontece com o desejo quando ele cresce em um ambiente capitalista? À esquerda: LAMPEDUSA e acima Pictures of Garbage 'The beares' .


Minha ambição é muito maior que apenas criar uma obra de arte complexa e em camadas, destinada a um certo tipo de pessoa.

Capitalismo é a produção sem sentido do desejo. Ele produz desejo como um diretor. Você precisa de certo desejo para viver, mas se é produzido para necessidades específicas, significa que você não precisa dele (risos). Achamos que podemos suprimir desejo adquirindo Para "Lixo Extraordinário", seu documentário candidato ao Oscar, o que o atraiu para trabalhar com lixo no maior aterro sanitário do mundo? Há tempos queria trabalhar com lixo, ele é muito paradigmático. Queria obter algo 18

de um material que é social e psicologicamente aversivo, que sempre tentamos esconder. Lixo tem a ver com os traços inorgânicos da nossa existência, algo que teve utilidade e agora está voltando para o mundo da matéria, na direção oposta da qual que achamos que estamos indo. Se conseguimos fazer coisas bonitas a partir de algo problemático, isso faz você querer enxergar as duas situações simultaneamente. No começo, eu estava pensando apenas no material, porém minha ideia foi além do que eu esperava.


Em "Lixo Extraordinário", a novidade para mim foi que eu sempre tentei ser inclusivo em meu trabalho, mas nunca havia estendido essa inclusão para o meu estúdio. Trazendo pessoas para trabalhar comigo, acabei com algo muito maior e mais interessante. O resultado não refletiu apenas o que eu queria, mas o que todas as pessoas envolvidas queriam. Depois de "Lixo Extraordinário", o que mudou? Em termos subjetivos, nunca vou lidar com lixo da mesma maneira e, profissionalmente, isso me inspirou. Estamos sempre fazendo a interface entre o mundo das coisas e a mente. Como podemos produzir e diferenciar conceitos que verdadeiramente têm valor? Isso reflete em como tentamos construir esquemas visuais através de telas de computadores e jornais. É tudo como gostaríamos que fosse, mas somos muito mais orgânicos, não temos o aparato organizacional para processar tanta informação. A educação também não está fazendo isso por nós. Percebi que minha mente e a mente da maioria das pessoas do nosso tempo são como um grande depósito de lixo. Não organizamos as informações que recebemos todos os dias, nós apenas as despejamos. O nosso cérebro consegue absorver uma quantidade de informação limitada antes de esquecer a maior parte dela. É um espaço muito aglomerado, muito cheio de dobras para ter alguma mobilidade. Talvez hoje em dia isso afete a nossa liberdade de pensar. Tadzio Mac Gregor é colaborador do Huffington Post e outras mídias sobre meio-ambiente, desenvolvimento humano e relações internacionais. Atualmente está produzindo sua série de videos 'Global Shakers'. À esquerda: Pictures of Magazine 2, Summer in the City, after Edward Hopper e acima Two Nails 1987/2016.


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RENCONTRES


Dominic Nahr, Pays Brisé, 2015. Foto: Cortesia da artista. Copyright Rencontres Arles

D’ARLES UM RELATO SOBRE A SEMANA DE ABERTURA DO PRESTIGIADO FESTIVAL DEDICADO À FOTOGRAFIA E SEUS CRUZAMENTOS COM OUTRAS LINGUAGENS


22 CAPA

Kent Rogowski, Love = Love.. Foto: Cortesia do artista. Copyright Rencontres Arles


POR THAIS GOUVEIA Como contar uma boa história? Será que importa se ela é ficcional ou verídica? Quais elementos e argumentos a tornam tão interessante? Com o tema "Storytellers" (Contadores de histórias), o festival Rencontres D'Arles chega à sua 47ª edição examinando questões em torno da busca investigativa da fotografia por documentar fatos, ficções e emoções. "Fotógrafos não são nem historiadores ou sociólogos, mas artistas que constroem cosmologias visuais a partir de imagens estáticas ou em movimento, textos e sons. Eles nos carregam em suas histórias", declara o curador dessa edição Sam Stourdzé.

De 4 de julho a 25 de setembro, quarenta exposições e 115 eventos públicos - incluindo palestras, prêmios, visitas a coleções, feiras de livros, leituras de portfolios, workshops e projeções noturnas - se desenrolam na cidade de Arles, localizada na região da Provence, no Sul da França. A presente edição também é dedicada ao recémfalecido escritor Michel Tournier, cofundador do festival ao lado do fotógrafo Lucien Clergue e do curador Jean-Maurice Rouquette. A charmosa cidade de construções em tons ocres situada às margens do rio Rhône imprime um brilho a mais na experiência do festival. Uma vez dominada pelo Império Romano, ainda


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e inspiradora para os amantes das imagens. Nesta edição, um conjunto de 137 artistas - incluindo fotógrafos, músicos e escritores - foram organizados de maneira a compor capítulos de uma grande história que atravessa a fotografia documental, explorando suas possibilidades poéticas, formais e expográficas. Ainda que curatorialmente apresente altos e baixos, a edição levantou importantes reflexões acerca do presente momento, marcado por sérios conflitos mundiais, por meio do resgate de

Sarah Waiswa, Seeking to Belong (Kibera, 2016) from the series Stranger in Familiar Land Foto: Cortesia da artista. Copyright Rencontres Arle

carrega as ruínas de seus antigos monumentos como as arenas, o anfiteatro e as casas de banho, locais revisitados todos os anos pelo evento. É também a cidade onde Van Gogh viveu de 1888 a 1889, um de seus períodos mais produtivos e também mais conturbados: foi em Arles que ele cortou sua orelha. Esse cenário arqueológico, idílico, quente (as temperaturas no verão chegam aos 36 graus) e dionisíaco (a região é cheia de prestigiadas vinícolas oferecendo o melhor rosé pelo menor preço) faz do Rencontres D'Arles uma vivência única


nomes consagrados do fotojornalismo e também da nova geração. Entres os grandes mestres, incluíam-se as exposições de Sid Grossman (Nova York, 1913 - Provincetown, 1955), Christian Marclay (California, 1955) e Don McCullin (Londres, 1935). A exposição "Looking Beyond the Edge", deste último, revelava um aspecto interessante sobre sua prática, como a foto de paisagem, para além das cenas famosas de conflito. Mas as grandes surpresas dessas vertentes foram "End", exposição de Eamonn Doyle (Dublin, 1969), que reunia retratos incomuns dos habitantes de Dublin aliados a uma instalação cenográfica imersiva impecável; e o curta-metragem "9 Days - From my Window in Aleppo", do sírio Issa Touma (Tartus, 1962). O filme, exibido na última noite de projeções do festival, revelava o aspecto banal da guerra, longe das imagens espetaculosas e trazia Touma filmando de seu apartamento, em 2012, uma rotina de homens armados realizando diversas ações em sua rua. Cenas que ficariam conhecidas como o início da guerra síria que ainda dura até hoje.

Fotógrafos são artistas que constroem cosmologias visuais a partir de imagens estáticas ou em movimento, textos e sons. Eles nos carregam em suas histórias,

Mesmo concorrendo com os holofotes de excelentes mostras como o esperado ensaio místico e documental "Yokainoshima", último projeto do francês Charles Fréger, sobre as tradições culturais do interior do Japão a partir das máscaras e adereços usados em diversos rituais locais, o grande destaque do festival foi a jovem fotógrafa Laia Abril (Barcelona, 1986). Vencedora do primeiro prêmio Madame Figaro-Arles 2016, a catalã apresentou a inédita, perturbadora e visceral exposição "A history of misogyny, chapter one: on abortion". Esta traçava um recorte cronológico, do século 19 aos dias Acima: PJ Harvey and Seamus Murphy - The hollow of the hand, 1999 e Malick Sidibé, Regardez-moi!, 1962. Cortesia dos artistas. Copyright Rencontres Arles.




Ashizawa Namahage, Oga, Akita prefecture, Japan. Cortesia do artista. Nas pĂĄginas anteriores, pĂ´steres do festival. Copyright Rencontres Arles.


A edição levantou importantes reflexões acerca do presente momento, marcado por sérios conflitos mundiais, por meio do resgate de nomes consagrados do fotojornalismo. de hoje, sobre os horrores do aborto clandestino nos muitos países, incluindo o Brasil, onde este ainda é considerado ilegal. Multimídia, didática e conceitual, a mostra reunia retratos acompanhados de relatos pessoais, objetos, imagens de ferramentas e substâncias usadas no procedimento (como tesouras, utensílios pontiagudos, cabides, ervas venenosas, algemas entre outros), métodos contraceptivos (incluindo as primeiras camisinhas) e outros documentos provenientes do Museum of Contraception and Abortion, de Viena. O grande acerto de Abril foi apresentar uma mostra com forte peso documental e social sem perder sua potência estética. Seguindo a tradição do festival de cruzar a fotografia com outras

Laia Abril - Historie de la Misogynie. Copyright Rencontres Arles.

linguagens, o curador Sam Stourdzé (que assume a curadoria pelo segundo ano consecutivo), trouxe também um pouco do universo da música, da literatura e da poesia como eixo curatorial. Durante a semana de abertura - período de maior concentração de visitantes (15.200 pessoas passaram por lá este ano, incluindo o presidente François Hollande) - houve uma noite totalmente dedicada ao tema, onde sete escritores escolheram exposições que ecoavam algo de seu trabalho. Em um deles, os músicos do Super Mama Djombo - banda formada nos anos 1960 durante a guerra da Guiné-Bissau sonorizaram a leitura do escritor francês Sylvain Prudhomme sobre a ótima exposição Swinging Bamako, dedicada aos registros de uma viagem


a Cuba por um grupo musical formado durante o período socialista do Mali.

Eamonn Doyle, Sans titre, série End, 2015. Courtesy Michael Hoppen Gallery.

Ainda nesse cruzamento, a videoinstalação "The Hollow of the Hand" trazia poemas autorais oralizados pela cantora e compositora inglesa PJ Harvey e imagens do fotojornalista Seamus Murphy, coletados durante uma série de viagens que a dupla realizou, entre 2011 e 2014 por Kosovo, Afeganistão e Washington. A cantora recitou os poemas ao vivo acompanhada das projeções de Murphy na emblemática noite de encerramento do festival, realizada dentro das ruínas romanas. Sob um céu estrelado, a audiência fitava silenciosa as imagens documentais de lugares conflitantes enquanto aquela voz aveludada e delicada invadia a atmosfera pontuando sensações e emoções. Dessa maneira, o festival encerrou a semana deixando claro que, por mais que se tente narrar um fato de maneira imparcial, algo de caráter pessoal e sentimental sempre transbordará do observador. E talvez seja esse lirismo o fundamento chave de uma boa história.

Arles 2016 • Les Rencontres de la Photographie • França • 4/7 a 25/9 Thais Gouveia é formada em Arte e Tecnologia pela PUC-SP e estudou Crítica de Arte na Central St Martins, UAL em Londres. Acima: Centro Histórico de Arles. À direita acima Cwynar, Garota da folha de contato 2, 2013. Cortesia do artista


ENQUANTO ISSO NO BRASIL...

SP-FOTO MOBILIZA OS AMANTES DA FOTOGRAFIA No final de agosto, acontece em São Paulo a 10ª edição da feira SPArte/Foto, ou SP-Foto para os íntimos. Como a única feira do gênero no Brasil e com uma programação cultural dedicada, a SP-Foto assumiu o papel de principal evento de fotografia de arte do país e ponto de convergência de amantes e colecionadores. Este ano, serão 31 galerias de arte trazendo o melhor de seus acervos em fotografia, como a Zipper, que terá em seu estande obras de João Castilho (foto acima), artista vencedor do prêmio ZUM de fotografia em 2014. Algumas delas, como Lume, Fass e Fotospot, são especializadas em foto. A programação dos “Talks” tem quatro palestras, uma delas com o curador de fotografia do museu Metropolitan de Nova York, Jeff Rosenheim, autor de mais de 20 livros sobre fotógrafos como Diane Arbus e Stephen Shore.

No topo: João Castilho, Bicho Pardo, da série Nova Era, 2016 na Galeria Zipper. Acima a esquerda: Edu Simões, Av. Samba, 2014 na Galeria Marcelo Guarnieri. Acima à direita: Fabiano Rodrigues, Ratsrapus, 2016 na Andrea Rehder Arte Contemporânea.


OLAFUR

ELIASSON POR ELE MESMO

“Para esta exposição, criei uma série de sutis intervenções espaciais no interior do palácio usando espelhos e luz e, nos jardins, uso neblina e água para amplificar os sentimentos de impermanência e transformação. As obras liquefazem o desenho formal dos jardins enquanto revivem uma das visões originais não realizadas do paisagista André Le Nôtre: a colocação de uma cachoeira ao longo do eixo do Grande Canal. Essa cachoeira revigora a ingenuidade da engenharia do passado. É construída como foi a corte e deixei sua construção visível para todos - um elemento aparentemente estranho que expande o escopo da imaginação humana”.

…nos jardins, uso neblina e água para amplificar os sentimentos de impermanência e transformação.

32 REFLEXO

Waterfall, 2016


Fotos: Anders Sune Berg. Cortesia do artista e das galerias Neugerriemschneider e Tanya Bonakdar Š Olafur Eliasson



"O Versalhes com o qual tenho sonhado é um lugar que empodera todos. Ele convida os visitantes a tomar o controle da autoria de sua experiência em vez de simplesmente consumir e ser ofuscado por sua grandeza. Pede-lhes que exerçam seus sentidos, abracem o inesperado, passeiem por seus jardins e sintam a paisagem tomar forma através de seus movimentos."

Passeiem por seus jardins e sintam a paisagem tomar forma através de seus movimentos.

Glacial Rock

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A arquitetura barroca do palรกcio serviu para aumentar a visibilidade, tornandose um instrumento impressionante de poder detido exclusivamente pelo rei.

36 OLAFUR ELIASSON


"Historicamente, a corte real em Versalhes era um lugar de constante observação - de si mesmo e dos outros; as estritas normas sociais da época eram aplicadas através de uma teia de olhares. A arquitetura barroca do palácio serviu para aumentar a visibilidade, tornando-se um instrumento impressionante de poder detido exclusivamente pelo rei. Hoje, no entanto, olhamos para Versalhes de forma diferente e, quando eu visito o lugar, me pergunto: como é que você, visitante, vê este local icônico? Que efeito tem sobre você? Tornamo-nos todos reis?"

The Gaze of Versailles


“Tudo deve ser amplificado, por que Versalhes é tão grande! Foi a oportunidade perfeita para trabalhar o barroco e o conceito que ele cobre. Naturalmente, era uma questão de impressionar as pessoas, mas também de criar uma ilusão. Os afrescos não são apenas um trompe l'oeil, estavam lá também para abrir o campo para os sonhos.

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Trecho de entrevista ao jornal francês Le Figaro

Os afrescos não são apenas um trompe l'oeil, estavam lá também para abrir o campo para os sonhos.

Gosto da ideia do sol e que o rei da França o reivindicou como seu título. Também gosto da ideia da Renascença, que deixa a ciência fazer parte do processo criativo." Your sense of unity


Alfredo Volpi, sem titulo Fotos: SĂŠrgio Guerini


A COR NAS ILUMINURAS EXPOSIÇÃO NA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE REVELA A EVOLUÇÃO DO USO DA COR EM MANUSCRITOS MEDIEVAIS


POR STELLA PANAYOTOVA Na Idade Média, dois grupos de profissionais tentaram dominar e transformar as propriedades dos materiais coloridos: artistas e alquimistas. Infelizmente, suas oficinas e ferramentas desapareceram, mas seus pergaminhos e tratados permitem compreender melhor os conceitos e as práticas da época. As iluminuras preservaram o dourado e as cores em abundância, muitas vezes tão frescos e vibrantes como eram quando aplicados pela primeira vez. Guerras, ganância, zelo puritano, o tempo e os elementos desgastaram o ouro e os pigmentos de esculturas e marfins, deixando apenas leves traços de sua policromia original. Afrescos foram lavados, mosaicos foram escondidos sob gesso, vitrais foram estilhaçados e artefatos em metais preciosos foram derretidos. Iluminuras - os repositórios

mais bem preservados da pintura medieval e renascentista - oferecem o maior recurso para o estudo da cor na Europa entre os séculos 6 e 16. Os mitos mais difundidos são de que iluminadores de manuscritos empregavam poucos pigmentos em seu estado puro. A exposição de Cambridge traça notáveis desenvolvimentos na iluminação europeia ao longo de dez séculos, mostrando como a paleta se expandiu a partir do início da Idade Média até o período moderno. No século 6, o esquema de cores do Evangelho da Northumbria é limitado a vermelho, verde, amarelo e roxo, sobre o pergaminho de cor creme e nanquim preto. Seis séculos mais tarde, o Evangelho de Colônia adiciona a estas cores o azul, rosa, branco-chumbo e ouro, com alguns tons alcançados com

Página anterior: Dormição da Virgem, Mestre de Murano Gradual, 1490-1510. Acima: Livro de horas, Uso de Roma, 1490-1510. À direita, Salmo de Macclesfield (Unção de Davi), Inglaterra, 1330-1340. Todas as imagens: © The Fitzwilliam Museum, Cambridge.


misturas. Já no século 16, a "Adoração dos Magos" veneziana possui dois tipos de ouro e um arco-íris de cores, incluindo misturas complexas e novos materiais emprestados das indústrias têxtil, cerâmica e do vidro. Não é de surpreender que a mais antiga representação conhecida de uma paleta - a principal ferramenta para a mistura de cores - ocorre em um manuscrito. Uma paleta aparece sendo usada por artistas mulheres em uma cópia de Boccaccio feita em Paris, em 1402. Outro aspecto da cor na história dos manuscritos é que algumas combinações e tons permaneceram em toda a Europa ao longo dos séculos, enquanto outros saíram e entraram de moda ou ficaram limitados a regiões específicas. Entre os inúmeros fatores a serem considerados estão os eventos históricos, especialmente as Cruzadas, e a expansão do Império Mongol, que facilitou o comércio da Ásia central para a Europa, bem como os avanços tecnológicos. Roxo e vermelho, por exemplo, foram amplamente utilizados desde o final da Antiguidade até o século 12, em seguida ficando relegado a acentos cromáticos ou detalhes iconográficos, e recuperaram sua popularidade na Renascença. Seu status elevado se dava à raridade e ao alto custo de suas fontes, ao seu uso pelas autoridades antigas - como Platão e Aristóteles -, a sua ressonância com a glória imperial da Roma antiga e início de Bizâncio medieval, e sua autoridade bíblica, como as cores preferidas por Salomão em seu templo e usadas por Cristo durante a Paixão. Enquanto o roxo recuava a áreas menores, o azul, que esteve presente em manuscritos iluminados a partir do século 8, tomou o centro do palco e, no início do século 13, já dominava o esquema de cores. A partir do século 12, vermelho, verde e azul - os tons medianos da escala de cores aristoteliana -

Outro aspecto da cor é que algumas combinações e tons permaneceram ao longo dos séculos, enquanto outros saíram e entraram de moda .


Para atender a um mercado de arte competitivo, os artistas tinham que ser múltiplos, capazes de pintar retratos, iluminar manuscritos, criar e fazer joias, vitrais, …

eram considerados mais agradáveis que os extremos do preto e branco. Isso garantiu seu lugar central entre as combinações cromáticas para além do século 17. Por outro lado, o gosto pelo amarelo flutuou consideravelmente ao longo dos séculos, de forma errática. Embora as definições modernas de cor sejam dominadas pelo tom, artistas e espectadores medievais e renascentistas eram igualmente sensíveis a outras propriedades dela, em especial sua luminosidade (claro ou escuro) e intensidade (opaca ou transparente). Isso não é surpreendente, uma vez que a luz era uma metáfora dominante para Deus. Iluminadores muitas vezes justapunham tons opacos, saturados, com camadas finas e translúcidas. No início dos anos 1300, o Mestre da Pontifícia de Metz e o de Macclesfield reforçavam a luminosidade de seus pigmentos aplicando-os sobre um fundo branco - uma técnica que J.M.W. Turner mais tarde desenvolveria em seu esforço para pintar a luz com cor. Outras técnicas comuns entre iluminadores foram a modelagem tridimensional e o ponteado, com as quais alcançavam uma fusão óptica de cores e simulação de movimento comparável aos efeitos buscados pelos impressionistas com o pontilhismo. Esmaltes (camadas transparentes e escuras aplicadas sobre pigmentos claros) e velamento (branco transparente aplicado sobre as áreas escuras) foram usados para sombreamento e destaque, mas também para tornar os tons mais quentes ou frios, revelando a consciência de mais uma propriedade da cor: sua temperatura. O anonimato dos artistas medievais às vezes é explicado pela noção de que eram todos monges, servos de Deus sem individualidade. Ainda que isso fosse verdade no início da idade média, no século 12 muitos iluminadores eram profissionais itinerantes,


viajando em busca de comissões tanto de patronos leigos como de comunidades religiosas. No século 13, a maior parte deles já havia se estabelecido em cidades universitárias ou centros econômicos e administrativos, estabelecendo redes comerciais prósperas que lançaram as bases para o comércio de livros. Para atender aos requisitos dos clientes mais exigentes e de um mercado de arte competitivo, os artistas tinham que ser múltiplos, capazes de pintar retratos, iluminar manuscritos, criar e fazer joias, vitrais, xilogravuras, altares, além de figurinos e adereços para festas e teatro. Enquanto poucos desses materiais sobreviveram até nós, as iluminuras permanecem testemunhas da diversidade de materiais, habilidades, criatividade e sofisticação dos artistas medievais e renascentistas. Mais informações sobre a exposição e a recuperação de manuscritos podem ser encontradas em http://www.fitzmuseum. cam.ac.uk/research/cambridgeilluminations e http://www.miniare.org/.

Stella Panayotova é curadora da exposição e diretora do projeto de pesquisa em manuscritos MINIARE, do Museu Fitzwilliam de Cambridge,

À esquerda: Missal do Cardeal Angelo Accialiuoli, Florença, Itália, c. 1404. Livro das propriedades das coisas, (jardim de Adão e Eva), Mestre das horas mazarinas, França, 1414. Acima: Livro de horas, iluminado por Vante di Gabriello di Vante Attavantei, Florença, Itália, c.1480.


LIVROS lançamentos Habitar o limite Adriana Rocha Martins Fontes • 208 p. • R$ 50,00 Em 2012, Adriana Rocha apresentou na Referência Galeria de Arte a mostra Habitar o limite, uma série de telas à óleo e desenhos que tratavam dos espaços vazios, das impossibilidades e de tudo aquilo que não é certeza nas relações humanas. A série emprestou o nome ao livro que foi lançado na galeria. Com textos críticos de Regina Johas, Agnaldo Farias, Maria Alice Milliet e Kátia Canton e cerca de 150 imagens de obras e projetos, a publicação registra os 30 anos de caminho, de pensamento, de experiências da artista. "Os trabalhos já foram, ganharam o mundo. Esse livro, de alguma forma, resgata essa trajetória", diz Adriana.

O Trágico, o Sublime e a Melancolia" - Volumes 1 e 2 Verlaine Freitas, Rachel Costa e Debora Pazetto (org.) Relicário Edições • 300 p. • 288 p. • R$ 40,00 cada Os dois volumes de "O Trágico, o Sublime e a Melancolia", mostram como esses três conceitos-chave da Estética desde seu surgimento como disciplina filosófica, no século XVIII, são ainda férteis e capazes de nos dar muito a pensar. As edições reúnem artigos dos pesquisadores Jeanne Marie Gagnebin, Pedro Süssekind, Rodrigo Duarte, Christian Bauer, Virginia Figueiredo, Taisa Palhares, Susanne Kogler, Luciano Gatti e Martha D'Angello, entre outros. A obra é um desdobramento do 12º Congresso Internacional de Estética, realizado em Belo Horizonte, em 2015, e dedicado aos três conceitos. 46


Sobre a areia Regina de Paula Azougue Editorial • 240 p. • R$ 60,00 A publicação é dedicada à fotoperformances com ações que buscaram uma interação entre a religiosidade e as paisagens do Rio de Janeiro. Os trabalhos também dialogam com a exposição “Diante dos olhos, os gestos“ de Regina de Paula, realizada em maio de 2016 no Paço Imperial. O livro conta com fotografias de Wilton Montenegro e textos (fortuna crítica) dos historiadores da arte Camila Maroja e Adam Jasper, Frederico Morais, Ivair Reinaldim, Luiz Guilherme Vergara, Marcelo Campos e da psicanalista Tania Rivera.

Livro de colorir: Retrospectiva 2015 Marilá Dardot Ikrek Edições • 100 p. • R$ 30,00 O momento de crise política, ideológica, ética, econômica e ambiental em que vivemos pede um enfrentamento crítico da realidade, não uma fuga para um mundo ideal. O livro de colorir, apropria-se desse fenômeno editorial e comportamental para questioná-lo. As imagens para colorir são desenhos baseados em fotos impactantes de fatos do ano de 2015, publicadas em jornais brasileiros. Como em muitas outras obras de Marilá Dardot, este projeto requer a participação do outro para se completar. Mas aqui o ato de colorir, ao contrário de uma "terapia antiestresse", provoca o confronto com uma realidade dura, muitas vezes trágica, que tentamos esquecer.

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RESENHAS exposições

Floriano Romano: Errância Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Rio de Janeiro • 29/6 a 1/8 POR ALINE LEAL "Errância", título da exposição do artista Floriano Romano, contém em si a dupla acepção do verbo errar: aquele que erra pelas ruas e vielas cariocas tem nesse movimento o potencial do equívoco e da desorientação. O labirinto proposto por quadrados abertos dispostos aos nossos pés indica que não há um só caminho certo, e que se perder é parte constitutiva dessa travessia. Se nossa orientação nesse mapa urbano é geralmente liderada pela visão, aqui os sons da cidade fazem a mediação sensorial desses encontros cruzados. Ao adentrar na exposição, somos envolvidos por uma nuvem de vozes e ruídos, fruto da combinação do som das seis caixas dispostas na sala, referências a partir das quais o público realiza a experiência. Nelas, a documentação sonora das deambulações noturnas por bares da Lapa, Praça Tiradentes, Rocinha, Gávea e Leblon, a partir de pessoas e de uma bicicleta microfonadas. Camadas de vozes sobrepostas, burburinho, cacofonia, carros, buzinas constituem uma textura sonora particularmente urbana, ambientação das conversas trocadas - estimuladas pelo artista e seus pares -, apontando ao mesmo tempo para a dissolução e a afirmação das subjetividades em coletivo, para a fronteira entre a ficção e a realidade, em uma espécie de narrativa pós-moderna do fragmento. 52

No potencial simbólico da exposição parece haver uma afirmação política: se a sociedade capitalista faz da produtividade sua única virtude e limita o trajeto ao ir e vir do trabalho, a cultura das ruas, a boemia, o encontro dos corpos são por si só um ato subversivo. Aposta-se em um coletivo - polifônico, desordenado, errático, bruto, assimétrico -, ainda assim, uma vivência construída e compartilhada, composta de histórias e encontros, ideia atualmente sacrificada no embate das contradições da cidade grande. Romano é a antena afetiva dessas vivências fugazes e permanentes, e "Errância" resulta então no baú dessas pequenas transgressões. O resto é silêncio. Floriano Romano é um precursor de obras que combinam instalação, performance e som, e tem uma pesquisa fortemente relacionada às questões urbanas. "Errância", é a última individual do Prêmio CCBB Contemporâneo. Aline Leal é jornalista e editora de livros. Interessada em todas as formas de expressão do homem, principalmente naquelas que “dão em arte”.



Cadeh Juaçaba: Plácido Povo Galeria Contemporarte • Fortaleza • 16/6 a 8/7 POR LUCIANA ELOY MIRANDA Olhar o mundo pela janela é um ato da tradição da arte. A pintura em uma tela rodeada pela moldura sugere um espaço recortado, sendo ela mesma metáfora do mundo na parede, comunicando espaço virtual e real. Um meio que ganhou novo significado na arte contemporânea, afastando a necessidade de levar tinta com pincel à tela. No trabalho de Cadeh Juaçaba, a pintura se materializa de maneira singular, não mais utilizada como meio puro, mas um pensamento de pintura em uma intrínseca relação com a imagem. A janela para Cadeh ainda é recurso limitador de captura, mas ganha outra dimensão - a poética, quando integra sua experiência de olhar o mundo. É através da janela do carro em passeio pelo centro da cidade que fotografa, atualizando um gesto de infância quando percorria a cidade com o pai em um carro antigo de colecionador. Um percurso de afetos onde construiu sua própria coleção de memórias vista em 14 obras na exposição "Plácido Povo", na Galeria Contemporarte, em Fortaleza. Nesses novos trajetos, a cidade é confrontada com suas transformações. Antes paisagem da memória, o centro antigo é percebido por camadas de materiais e textos: lambes, pichações, letreiros e pinturas murais lhes dão novo ordenamento. A partir desse olhar, Cadeh oferece uma nova leitura; limpando o excesso, deixa o essencial para a percepção do espaço: as fachadas e os ruídos. Essências dessa arqueologia da memória e das novas marcas da

cidade que para ele são "processos de leitura e classificação de um diálogo entre ausentes do passado e utentes do presente", marcas de seus habitantes esse plácido povo. A construção visual passa por diversos espaços, meios e materiais. Vai do estúdio ao ateliê de pintura, do processo digital com pósfotografia, ao gesto do pintor quando interfere com tinta. Seja na impressão em papel ou nos trabalhos em tela, Cadeh apresenta uma espécie de assepsia suja nas fachadas brancas marmorizadas pelo tempo e arranhadas pelos ruídos dos novos fluxos do centro da cidade. Poética e processo dialogam por camadas de meios, materiais, tempos e espaços em uma visualidade híbrida entre presente e passado. Ambos habitam a memória do artista, mas também de um povo e sua cidade. Um processo poético que encontra Ecléa Bosi em "O tempo vivo da memória" (2003): "a cidade, como história de vida, é sempre possibilidade desses trajetos que são nossos percursos, destinos trajetórias da alma". Nessas peregrinações, Cadeh reencontra seu caminho familiar nos oferecendo novos olhares para a cidade.

Luciana Eloy é professora de História da arte e pesquisadora em artes pelo ICA-UFC.



Afluências - Ana Dantas e Jaqueline Vojta Martha Pagy Escritório de arte 20/6 a 9/9 POR LIEGE G. JUNG "Afluências" une duas exposições distintas, mas harmônicas, a de Jaqueline Vojta e a de Ana Dantas. Duas artistas mulheres, diferentes em seus suportes e temas, mas atuando paralelamente de forma muito feminina e delicada. O percurso começa com pinturas com tecido de Jaqueline. Digo "com" tecido e não "em" tecido porque ela usa o tecido como mídia para aplicar a cor à tela, um recurso que pode passar desapercebido ao primeiro olhar, mas que dá volume e intensidade à combinação. A cor é o tema central do trabalho, à moda de artistas como Gonçalo Ivo e Alfredo Volpi, e é manipulada com maestria pela pintora, que por ela consegue se comunicar, na passagem do vermelho intenso da primeira tela aos tons negros de uma segunda pintura noturna e soturna. As seguintes são delicadas, bucólicas, em tons de verde e remetem aos campos e seus rios, em mais um paralelo com Gonçalo Ivo, a quem o tema dos rios é tão caro. O texto de José Eduardo Agualusa sobre a obra de Vojta explica sua familiaridade com esses materiais: seu pai teve uma tecelagem e os retalhos foram os primeiros suportes de seus despertar artístico. Chama atenção para as costuras, que às vezes são feitas em arame exposto aos elementos para que a oxidação adicione uma cor mais à pintura.

Se a cor é o tema de Vojta, o de Ana Dantas é o corpo. Sua obra aplica fios de linha sobre fotografias de uma mulher em diversas posições, uma coreografia, na qual as linhas dão continuidade a uma história contada pelos movimentos e formam uma geometria hipnótica e marcante. Criam cenários, que posicionam a dançarina entre mares e dunas e solidificam suas emoções em tetraedros, raios que partem dos dedos. As fotos desses trabalhos não fazem jus ao seu impacto: é no tridimensional que essas linhas ganham vida e dão vida à dançarina. A exposição inclui ainda uma obra de outra série anterior, que usa o mesmo recurso das linhas sobre fotografia, mas nestas as linhas cor-derosa bagunçam um ambiente algo árido e trazem confusão a uma ordem asséptica, onde a figura feminina, em roupas escuras, é um enigma. As visitas devem ser agendadas pelo email marthapagy.escritoriodearte@gmail.com.

Liege G.onzalez Jung é fundadora e diretora da Revista Dasartes desde 2008.



DALTON PAULA POR ELISA MAIA Em "Retrata Maria" e "Retrata Rosana", ambas de 2015, o artista goiano Dalton Paula transforma dezenas de exemplares das antigas enciclopédias "Barsa" e "Ciência e Futuro" em suporte para suas pinturas. Os objetos são então expostos lado a lado, em prateleiras de madeira, formando longas sequências horizontais. Para substituir as antigas capas, Dalton pinta retratos a óleo, sempre em um fundo de tonalidades azuladas, inspirando-se em fotografias de mulheres, algumas de cenas cotidianas e domésticas, outras de performances artísticas. Uma peculiaridade: nas capas pintadas pelo artista, todas as mulheres retratadas, independentemente da cor de sua pele nas fotografias que serviram de inspiração, são negras. 54 GARIMPO

Transitando livremente entre os terrenos da pintura, instalação, performance, fotografia e do vídeo, Dalton Paula vem construindo uma obra que investiga relações de exploração e questões de identidade, protagonismo e representação. Suas intervenções se impõem de forma potente e poética como uma revisão crítica dos complexos aspectos culturais, sociais e políticos que permeiam a formação histórica do Brasil, em especial a escravidão. "Retratas" utiliza a forte carga histórica trazida pela noção de enciclopédia, um dos símbolos do conhecimento iluminista, para propor narrativas alternativas que contemplem corpos que historicamente foram silenciados, oprimidos e excluídos da nossa História. Nesse sentido, pode-se pensar que as pinturas de Dalton são Acima: Retrata Rosana, 2015. À direita A Promessa P e B, 2012.


também reescrituras nas quais as personagens retratadas, mulheres negras, deixariam uma posição marginal para encenar um papel de protagonismo, desmontando simbolicamente o tripé falocêntrico, eurocêntrico e logocêntrico que serviu e, de muitas formas ainda, serve de sustentáculo da cultura ocidental. Pelo uso frequente de seu próprio corpo e de imagens de corpos alheios, afirma o corpo também como lugar de potência na produção de discursos e sentidos. As imagens de Dalton Paula parecem querer materializar o que esteve invisível, jogar luz no que se manteve à sombra e provocar ruído onde sempre houve o silêncio. Dessa forma, contribuem para elaborar no presente os traumas históricos do passado, questionando seus efeitos que, de formas mais veladas ou mais explícitas, perduram até hoje. Elisa Maia é formada em direito e letras e mestre em literatura, cultura e contemporaneidade. Interessa-se especialmente pelas relações entre literatura e artes visuais.

As imagens parecem querer materializar o que esteve invisível, jogar luz no que se manteve à sombra e provocar ruído onde sempre houve o silêncio. 55


NOTAS DO MERCADO Valores, curiosidades e tendências por Liege G. Jung NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO O mercado de arte foi tomado por sussurros no mês de julho, em torno da legitimidade de uma obra de Di Cavalcanti que participou de uma exposição no MAR - Museu de Arte do Rio. A tela, que originalmente pertencia a um diplomata mexicano, já tivera sua autoria questionada nos anos 1980, quando a casa de leilão Christie's desistiu de intermediar sua venda após não conseguir que um especialista a autenticasse. Passou às mãos do "marchand" uruguaio Martin Castillo, que apenas décadas mais tarde obteve da filha do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti, o selo de garantia que devolveria a ela seu valor comercial. Elizabeth se baseou em uma fotografia da pintura reproduzida em preto e branco em uma edição de 1928 da revista "Todo Fato". Boatos levantaram características que destoam do estilo conhecido do pintor brasileiro, a começar pelos seios cônicos da figura central, linhas que remetem a um modernismo mais europeu e rostos femininos sem os traços felinos típicos do pintor. No entanto, é opinião de alguns que isso poderia ser resultado de um restauro malsucedido, feito por um pintor mexicano, o que explicaria a paleta e a aparência geral que remete aos muralistas daquele país. Afinal, é ou não é? Provavelmente, este será mais um dos mistérios sem resposta do mundo da arte.

FEIRAS DE ARTE E A CRISE No Brasil, os efeitos da crise sobre as feiras de arte é sabido. A SP-Arte conseguiu manter seu glamour e vendas dentro do esperado este ano, mas a ArtRio já enfrenta cortes na equipe e no número de expositores, criando expectativas nebulosas. Os sinais vêm aparecendo também lá fora: Frieze NY anunciou em julho que reduzirá a duração da feira de cinco para quatro dias, com diminuição compatível de preços dos estandes; a Fiac cancelou sua filial em Los Angeles e desapareceram feiras como as de Melbourne (foto) e Singapura. Por outro lado, o grupo MCH, dono da franquia ArtBasel, anunciou que passará a investir em feiras regionais. No mundo todo, o mercado de arte enfrenta mudanças sem uma tendência clara.

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VOLTA DA CHINA? O mercado de arte chinês teve alta de 18% nas vendas em leilões no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2015, de acordo com Artprice. É o primeiro sinal de reversão da queda constante experimentada nos últimos anos e uma esperança para o mercado mundial, do qual compradores chineses representam uma boa fatia. A recente compra de 13,5% da Sotheby's por uma companhia chinesa é outra indicativa da retomada.

DAVID BOWIE terá sua coleção de arte leiloada pela Sotheby's em novembro. Ela inclui peças de nomes estrelados, como Henry Moore, Basquiat e Damien Hirst, mas também artistas pouco conhecidos da África e outras partes, mostrando o ecletismo autêntico e alheio a tendências que os fãs esperariam de Bowie. Uma seleção de 30 dessas obras será exposta em Hong Kong, Nova Iorque e Los Angeles nos próximos meses. O envolvimento de Bowie com a arte foi tema da mídia por ocasião de sua participação no filme "Basquiat" (1996), de Julian Schnabel, no qual Bowie interpreta Andy Warhol.

REGULAMENTAÇÃO DA VIDEOARTE Um grupo ligado à feira LOOP de Barcelona (foto), especializada em videoarte, está propondo um protocolo que regulamenta a venda de obras de arte nesse formato. Afinal, o que está se comprando? Hoje, a resposta a essa pergunta não é nada simples, já que é direito do artista não permitir que o vídeo seja emprestado a exposições ou transferido para outra mídia - por exemplo, de CD para arquivo na nuvem, algo comum à medida que as mídias se tornam obsoletas. Se tais situações são claras quando se trata de uma escultura ou pintura, na videoarte ainda não há um consenso e um padrão é necessário ao desenvolvimento desse mercado.

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COLUNA DO MEIO

Luisa Benazzi, Kira Shewfelt, Jennifer Taylor

Anton Steenbock, Clarice Correa, Miguel Sayad, João Marcos Mancha, Frederico Pellachin, Pedro Urano, Milton Machado, Marcos Chaves, Pedro Varela e filha, Pablo Ferretti E na frente Consuelo Bassanesi e Felippe Moraes

Fotos Rafael Roesler Millon

Quem e onde no meio da arte

Exposição “Cidades Invisíveis” DESPINA Rio de Janeiro Deborah Colker, Consuelo Bassanesi e Felippe Moraes

Miguel Sayad, Bernardo de Souza e Bernardita Bertelsen

Miguel Sayad, Milton Machado e Patricia Francisco

Beth Loureiro, Nilce Castro e Adriano Mangiavacchi

John Nicholson, Fátima Alegria e Leo Lodi

Exposição Adriano Mangiavacchi Galeria Patricia Costa Rio de Janeiro Patricia Costa e Geraldo Lamego

George Iso, Jefferson Svoboda e Araken Hipólito da Costa

Ricardo Pinheiro, Lucia Palazzo e Adriano Mangiavacchi

Ronie Mesquita com Adriana e Araken Hipólito da Costa

Fotos Marcos Rodrigues

Felipe Varella e Igor Merath



Fotos Paulo Jabur

Rodrigo Andrade, Alberto Saraiva e Ângelo Venosa

Rodrigo Andrade, Aline Carrer e Lucas Lins

Ângelo Venosa e Maurício Ruiz Oi Futuro Flamengo Rio de Janeiro Junior Perim, Arlete Gonçalves Eduardo Oliveira, Cesar Fraga e Roberto Guimarães e Gina Elimelek

Raul Mourão e Vanda Klabin

Rodrigo Andrade, Vanda Klabin, Paulo Bertazzi e Lucas Lins

Fotos Elizabeth Camarão

Maurício Ruiz, Domi Valansi e Daniela Name

Embaixador Fernando Fontoura, Isabel Fontoura, Fernanda Cruzik e Ricardo C Guerra

Fernanda Cruzick

Fernanda Cruzick Galeria CorMovimento Rio de Janeiro Fernanda Cruzick e sua obra

Monica Werneck, Lucia Flecha de Lima Fernanda Cruzick e Beth Camarão

Vista da exposição na galeria

Marcos Caruso e Fernanda Cruzick


Fotos Paulo Jabur

Gabriela Machado, Marisa Abate, Antonio Manuel e Cláudia Noronha

Carlos Vergara, Sílvia e Bebeto Gouvêa Chateaubriand

“Em Polvorosa” MAM Rio de Janeiro Eduardo Oliveira, Cesar Fraga Waltercio e Patrícia Caldasl e Gina Elimelek

Anna Bella Geiger e Cristina Burlamaqui

Antonio Dias e Fernanda Gomes

Fotos Paulo Jabur

Ângelo Venosa e Daniela Name

Guillaume Pierre, Alain Bourdon e Laurent Bili

Virgínia Fienga e Alain Bourdon

“O triunfo da Cor” CCBB Rio de Janeiro Cristina Magalhães Pinto e Marcos Campos

Sueli Voltarelli, Fábio Cunha, Guy Cogeval e Isabelle Cahn

Laurent Bili e Rogério Idino

Pablo Jimenez Burillo, Maria Ignez Mantovani e Guy Cogevalr


Lançada em 2008, a Dasartes é a primeira revista de artes visuais do Brasil desde os anos 1990. Em 2015, passou a ser digital, disponível mensalmente em seu aplicativo para tablets e celulares e no site dasartes.com.br, o portal de artes visuais mais visitado do Brasil. Para ficar por dentro do mundo da arte, siga a Dasartes.

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