ARTRIO ANTONIO DIAS MINERVA CUEVAS PATRICK HERON LORENZO LOTTO SANTÍDIO PEREIRA
DIRETORA Liege Gonzalez Jung CONSELHO EDITORIAL Agnaldo Farias Artur Lescher Guilherme Bueno Marcelo Campos Vanda Klabin REDAÇÃO André Fabro PUBLICIDADE publicidade@dasartes.com DESIGNER Moiré Art
Capa: Arthur Arnold, Massa Humana 12, 2018. (Galeria Movimento - ArtRio 2018)
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Obras de Camille Kachani na Galeria Murilo Castro (ArtRio).
Contracapa: Flavia Junqueira, Theatro Municipal, 1911 #1 (Série Teatros). Zipper Galeria.
ANTONIO DIAS
14 LORENZO LOTTO
72 Resenhas 74 Notas de Mercado 78
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MINERVA CUEVA
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Coluna do meio
PATRICK HERON
ARTRIO
SANTÍDIO PEREIRA
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DE ARTE A Z Notas do circuito de arte
MUSEU NACIONAL TEM 90% DO ACERVO DESTRUÍDO EM INCÊNDIO A destruição pelo fogo do Museu Nacional no Rio de Janeiro se tornou rapidamente um símbolo da cidade e dos problemas do país. Cristiana Serejo, vice-diretora, estima que apenas 10% da coleção tenha sido salva. Até agora, os líderes estão transferindo a culpa pelo incêndio. O diretor da instituição, Alexander Kellner, diz que a equipe tem lutado arduamente desde que o orçamento do museu foi cortado, mas o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, diz que os dirigentes devem assumir alguma responsabilidade.
CRÂNIO DE RICHTER ESTRELA NA CHRISTIE’S
ANTONY GORMLEY VAI INUNDAR A ROYAL ACADEMY
PERFORMANCE DE ARTISTA NUA CAUSA REVOLTA
Em Londres
Em Santuário na França
Depois de 30 anos
A Royal Academy of Arts apresentará uma grande exposição individual do escultor no próximo ano. Para a exposição, o artista recriará um importante trabalho feito em 1991, chamado “HOST”, no qual ele inundou uma sala em uma antiga cadeia da cidade da Carolina do Sul com lama e água do mar do porto da cidade. Os planos são semelhantes para uma galeria no prédio da RA.
A artista performática Deborah de Robertis defendeu sua declaração feminista de pé e nua sob a estátua da Virgem Maria em Lourdes, perturbando os peregrinos e indignando as autoridades católicas do santuário. A artista, que é mais conhecida por suas performances nuas em museus como o Musée d'Orsay e o Louvre , foi acusada de “exibicionismo sexual” e causou alvoroço no local.
A tela assustadora de Gerhard Richter, Schädel (Skull), de 1983, e que não é vista publicamente há três décadas, está sendo exibida na Christie's Hong Kong antes de chegar ao leilão em Londres durante a Frieze Week, em outubro. A estimativa está sob solicitação, mas Marion Maneker, do Art Market Monitor, informa que o valor pode chegar entre £ 12 e £ 18 milhões (US$ 15 milhões e US$ 23 milhões).
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GIRO DAS ARTES PROGRAMA DE SELEÇÃO CASA FIAT Para trabalhos inéditos
A Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, lança a 3ª edição do Programa de Seleção da Piccola Galleria. O espaço foi criado em 2016 e, desde então, se tornou local de permanente incentivo às expressões artísticas. A proposta da Piccola Galleria é dar destaque a exposições inéditas pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, fotografias, instalações, performances e/ou videoarte -, individuais ou coletivas, de artistas locais, brasileiros ou estrangeiros. Os interessados em participar do programa de seleção podem se inscrever de 12/9 a 19/11 em www.casafiatdecultura.com.br.
Rafael e a definição da beleza Reunindo obras do ateliê de Rafael, de seus discípulos e contemporâneos, a exposição destaca o conceito de beleza atrelado ao percurso do artista renascentista, abrangendo desde os conceitos da Divina Proporção à Graça; para isso, conta com livros históricos, pinturas, tapeçarias, gravuras e objetos raros. Centro Cultural FIESP De 19/9 a 16/12/2018.
Para investigar? “Anunciamos o adiamento da exposição de Salvator Mundi de Leonardo da Vinci. Mais detalhes serão anunciados em breve”. Secretaria de Cultura e Turismo de Abu Dhabi ao anunciar a prorrogação da exibição da pintura mais cara do mundo no Louvre Abu Dhabi. Embora haja um debate entre os especialistas de que a pintura misteriosa de Jesus Cristo não tenha sido realmente pintada pelo mestre da Renascença Leonardo Da Vinci, especula-se que o museu está adiando a mostra para suas celebrações de aniversário de um ano em novembro.
Novidades no Inhotim As novas exposições do Inhotim, em Brumadinho-MG, incluem projetos de David Lamelas, Robert Irwin e Yayoi Kusama - agrupados em um único espaço temporário bem como uma grande obra escultural de Paul Pfeiffer em outro espaço. Um terceiro espaço da galeria será palco de um espectáculo intitulado “Para ver o tempo passar”, dedicado à arte audiovisual com obras nunca antes exibidas no Brasil. De 6/9/2018 a 2020.
GIRO NA CENA
Em homenagem à Rainha Terence Kearley, o terceiro visconde de Devonport, contratou um escultor para criar um monumento de 60 metros de altura para celebrar o reinado da rainha Elizabeth II. O patrono proprietário de terras considerou propostas de três artistas e anunciou recentemente que escolheu o escultor britânico Simon Hitchens para criar o monumento de US$ 2,6 milhões, chamado “Elizabeth Landmark”.
COLEÇÃO DE DAVID TIEGER PODE CHEGAR A US$ 100 MILHÕES A coleção de David Tieger, consultor administrativo e ex-curador do Museu de Arte Moderna de Nova York, falecido em 2014, aos 85 anos, será leiloada pela Sotheby's em uma série de vendas que começam em Londres em outubro e continuam nas casas locais em outras partes do mundo nos meses seguintes. Para as centenas de obras em oferta estimase mais de US$ 100 milhões em vendas. Um dos destaques é a tela de John Currin, “Minerva” (foto), de 2000, estimada em até US$ 1,5 milhão.
Revista Interview de volta? Foi em um dia triste, em maio deste ano, quando a revista Interview – moda, arte e cultura pop, fundada por Andy Warhol, em 1969 – anunciou que cessaria suas operações depois de anos de dificuldades financeiras. Agora, no entanto, o proprietário de longa data da revista, o colecionador de arte Peter Brant, está supostamente prestes a relançar o amado título, livre dos US$ 3,3 milhões em dívidas a ex-funcionários e freelancers ao recomprar os ativos da publicação de si mesmo.
10 DE ARTE A Z
VISTO POR AÍ
Obra do Coletivo FoldHaus, na Renwick Gallery, que participou do Festival Burning Man, no deserto do Texas. “Shumenen Lumen” é um bosque de cogumelos gigantes e multicoloridos que se esticam ou se contraem quando alguém se aproxima de um sensor de pressão na frente deles.
ISABELLE BORGES Uma produção bidimensional que extrapola as telas e invade as paredes. Assim é a obra de Isabelle Borges, artista soteropolitana radicada em Berlim que apresenta sua primeira individual na Emmathomas Galeria com curadoria de Ricardo Resende. O processo da artista é cíclico: tem início no desenho, caminha pela colagem, pintura e mural até retornar à origem. Em sua produção, ela assume uma geometria caótica que 12 AGENDA
mira o infinito por caminhos criados como labirintos. As linhas, planos e cores usadas pela artista se espalham pelo ambiente e confundem o olhar do observador: em um plano único, as pinturas saem dos quadros e seguem pelas paredes.
Isabelle Borges: Campos Sintéticos • Emmathomas Galeria • São Paulo • 4/9 a 27/10
Foto: Romulo Fialdini e Valentino Fialdi.
ANTONIO DIAS
ANTONIO DIAS NOS DEIXOU RECENTEMENTE, VIROU ESTRELA. HÁ EXATOS 5 ANOS, EM 2013, EM PLENA ATIVIDADE E COM TRÊS INDIVIDUAIS EM CARTAZ, O ARTISTA ABRIU AS PORTAS DE SUA CASA PARA ESTA ENTREVISTA À DASARTES, MOSTROU SUAS NOVAS OBRAS E FALOU SOBRE SUA PRODUÇÃO
POR GUILHERME BUENO
Sua geração questionou muito as linguagens tradicionais, a possibilidade de morte da pintura. Havia para você essa questão de repensar a pintura? Na época havia praticamente duas correntes: uma que falava da morte da pintura pela produção de outras coisas, e outra que fazia pinturas com muitas cores, pinceladas largas, abstração. Nunca vi a morte da pintura como algo que eu tivesse que avaliar. Hoje a situação está muito fraca, estou mais habituado a ver uma pintura de conteúdo, mas também de consciência do que se desenvolve. Nos anos 1970, perguntavam-me por que eu pintava telas de dois por três metros à mão quando poderia usar uma máquina. Eu falava: "porque estou querendo falar de pintura". Eu sempre insisti na tela como meu suporte de força. 15
Seria como um limite da pintura dentro da pintura? É que não há mais necessidade de fazer quadro idiota, ou você faz algo que acha que tem força para chegar e comunicar com outra pessoa, ou não faz. Fazer para aumentar produção não fica no meu esquema de trabalho, meu trabalho é demorado, pensado, só sai de casa depois de passar um tempo comigo mesmo. Sempre achei que a arte, de certa maneira, é a construção de uma pessoa. Ela para mim serve nesse sentido, ela me constrói, através dela eu me percebo, 16 ENTREVISTA
comunico-me comigo e com os outros. Quando começo a trabalhar, tenho que encontrar um sentido. E cada vez que você procura sentido, busca um novo rumo, então durante um tempo você faz uma série, depois se interessa por outra coisa. Em alguns períodos trabalhei quase que exclusivamente em preto e branco, mas estou interessado em cores há alguns anos de uma maneira bem forte, procuro contrastes entre diferentes materiais. Deste ponto de vista, rever essas aquarelas de 1987 tão coloridas foi interessante.
Nunca vi a morte da pintura como algo que eu tivesse que avaliar.
Ă€ esquerda: Leda's ApprenticeshipII, 1987. Abaixo: Sem tĂtulo, 1987.
Em seus novos trabalhos, nota-se que a pintura tem pensamento, mas há a sensação de não ser algo previamente projetado. Durante alguns períodos eu fazia trabalhos completamente pensados. Para mim era um interesse mesmo. Hoje o trabalho se desenvolve aos poucos, partindo da situação de ter superfícies diferentes que vão, acopladas, encontrar um sentido. Ele vai se desenvolvendo sem que eu tenha ideia de onde vai parar. Alguns trabalhos na Múl.ti.plo parecem ter relação com outros dos anos 1960. Sim, porque têm essas figuras eróticas que eram comuns. Naquele período, revisitei os anos 1960. Com outro enfoque, mas usando quase as mesmas figuras. Fale um pouco das exposições. Como foi rever trabalhos de 30 anos atrás? Foi muito interessante. Com alegria, soube que a Mul.ti.plo tinha encontrado e comprado estas aquarelas, algo que eu faço pouco, e ia expor. Na Celma Albuquerque também há trabalhos dessa época, foi um período em que eu estava em Milão, trabalhei muito e deixei tudo guardado quando fui viver na Alemanha, em 1988. É um conjunto feito nos anos de chumbo na Itália, usei muito fundo de
18 ANTONIO DIAS
Acima: Sem tĂtulo, 1991. Fotos: Vicente de Mello.
Na escuridão, 1967. Foto: Romulo Fialdini e Valentino Fialdi.
jornal para mostrar um pouco a situação política. A exposição tem pinturas feitas sobre embalagens usadas de papelão e outras com papéis e jornais aplicados sobre tela, com colagens em cartão. Seria possível pensar nos trabalhos da mostra na Mul.ti.plo numa esfera mais pessoal de ateliê, certa vontade de experimentação que já se manifestava em obras anteriores? Sem dúvidas. Eles eram feitos para experimentar situações. Nessas aquarelas, voltei a usar o papel que 20 ENTREVISTA
tinha fabricado no Nepal em 1977. Não tem cola, é um agregado de fibras, não se pode trabalhar muito com água sobre ele, então a aquarela pedia esse imediatismo, essa coisa que não tem retoque, não tem repensamento. Por isso usei essa coisa mais espontânea do pincel e fazia uns recortes bastante formais, experimentando situações novas. Eu não trabalho todo dia, às vezes tem um período que trabalho sem essa tensão, experimentando. Foi o que aconteceu nessa série. Os trabalhos atuais dialogam com questões daqueles dos anos 1970?
Sim, mas nos anos 1970 havia quase um plano que antecipava o trabalho, não havia interesse pela pintura além do fato de ser pintado sobre tela. Agora a procura é outra, começo a trabalhar com superfícies separadas e vou encontrando um modo de articulá-las. O espaço dessa pintura talvez fale não de um ilusionismo, mas de um ilusionista? Acho que é o contrario, essa situação é mais realista com relação ao trabalho de pintura em si. Não tem aquele distanciamento. Esses trabalhos novos têm sua identidade muito exposta.
Um pouco de prata para você, 1965. Foto: Sérgio Guerini.
À esquerda: How to make a flying coffin e Speaking of Guns, 1987. Acima: Sem título, 2012.
As questões exploradas em seu texto "não existe arte brasileira", de 1981, foram resolvidas ou se mantêm atuais? Na época havia uma procura de arte brasileira com a ideia de um sujeito dormindo ao lado de um cacto, com um papagaio no ombro e bananeiras ao lado. Era uma situação ridícula que, de certa maneira, ainda existe. Talvez nos últimos anos isso esteja mudando, mas ainda hoje se surpreendem com os rumos do concretismo e neo concretismo brasileiros. Hoje a gente pode olhar para a produção dos últimos sessenta anos e ver que existe uma marca nossa, que nos diferencia em vários setores. Acho que hoje 22 ANTONIO DIAS
ninguém faria uma pergunta boba como a que me faziam: "você acha que é um artista brasileiro?". Acho inclusive que o modo como me relacionei no exterior foi sempre por meio da minha identidade cultural brasileira.
Antonio Dias: O Ilusionista • MAM • Rio de Janeiro • 22/9 a 11/11/2018.
Guilherme Bueno é curador e critico de arte e doutor em artes visuais pela Escola de Belas Artes - UFRJ.
Retrato de mulher inspirada em Lucrecia, 1530-1533.
LORENZO
LOTTO
LORENZO LOTTO FOI UM DOS ARTISTAS MAIS FASCINANTES E ÚNICOS DO CINQUECENTO ITALIANO. EM MADRI, O MUSEU DO PRADO APRESENTA A PRIMEIRA GRANDE EXPOSIÇÃO MONOGRÁFICA DEDICADA AOS SEUS RETRATOS
POR ENRICO M. DAL POZZOLO Lorenzo Lotto (Veneza, 1480 - Loreto, 1556/57) foi um dos grandes pintores retratistas da Renascença devido à variedade de tipologias que usou; pela profundidade psicológica que ele imprimiu nos modelos, e por seu uso inteligente dos objetos para definir os "status", "hobbies" e aspirações dos efigiados. 26 FLASHBACK
Lotto, que conheceu tanto sucesso como fracasso, caiu no esquecimento após a morte dele e foi no final do século 19 que Bernard Berenson (18651959) o resgatou como o primeiro pintor italiano preocupado em representar os estados de encorajamento e, consequentemente, como o primeiro retratista moderno.
Lotto reformulou essas contribuições para se prover com uma linguagem própria na qual aparências, gestos e objetos se juntam para transcender a descrição física e o "status" dos retratados e revelar seus sentimentos mais profundos. São retratos com um formidável potencial narrativo, que nos convidam a imaginar a vida das efígies e atestar uma profunda transformação da Itália do século 16. A primeira atividade de Lotto foi em Treviso, norte de Veneza, em 1495. Lotto era então um pintor subjugado pelo "mito" de Antonello da Messina, ativo em Veneza e 1475-76; efeito influenciado pela mediação de outros pintores.
São retratos com um formidável potencial narrativo, que nos convidam a imaginar e atestar uma profunda transformação da Itália do século 16.
À esquerda: Retrato de jovem com lâmpada. Acima: Retrato de jovem, 1498-1500 e Retrato do bispo Bernardo de’ Rossi, 1505.
Casamento místico de Santa Catarina de Alexandria na presença de Nicolò Bonghi, 1523.
A técnica de seus primeiros retratos remete a Alvise Vivarini, provavelmente seu mestre, mas com inspiração dos modelos de Giovanni Bellini, um grande especialista em pintura veneziana. A fase trevisana foi feliz para Lotto. Lá ele estabeleceu um relacionamento com importantes intelectuais, como o bispo Bernardo de Rossi, e seu prestígio se estendeu a cidades como Asolo, onde pintou para Caterina Cornaro, última rainha do Chipre. Uma situação semelhante ocorreu em Recanati, em Las Marcas, e seu trabalho até então servia de trampolim para seu grande desafio: Roma, aonde ele chegou provavelmente através de Bramante, arquiteto de são Pedro. Lá, em 1509, ele estava empregado trabalhando nas salas da Signatura e Heliodoro. Porém, nada sobreviveu desse trabalho pois foram cobertos pelos afrescos de Rafael. Após o fracasso romano, Lotto retornou em 1511-12 às Las Marcas (Recanati e Jesi), onde ele pintou alguns retratos antes de se estabelecer em Bérgamo, em 1513. Foi lá, especialmente depois de 1521, onde ele deu à luz alguns de seus melhores retratos, encomendado por uma nobreza rica e ambiciosa disposta a aceitar soluções inovadoras. Por insistência deles, Lotto experimentou todas as formas de representação, em resultados tão originais que não tinha igual na arte italiana do período. Introduziu inovações relevantes tanto em retratos solos como duplos, mas também no 29
Andrea Odoni, 1527.
criptorretrato e no retrato incluído em contextos devocionais. São retratos vivos, que refletem ao mesmo tempo tanto o elevado "status" social dos efigiados e sua sofisticação intelectual, com abundantes referências à mitologia, à arte clássica e da cultura icônica e cujo denominador comum é a sua capacidade de diálogo com o espectador. Fornecido com os recursos expressivos e formais desenvolvidos em Bérgamo, Lotto reapareceu em 30 LORENZO LOTTO
O denominador comum é a sua capacidade de diálogo com o espectador.
Abaixo: Sr. Marcilio Cassoti e sua esposa Faustina, 1523 e Retrato de um matrimônio, 1523-1524.
Veneza, no inverno de 1525. A perspectiva pictórica foi mais dinâmica do que nunca, em linha com a "renovatio urbis" (renovação da cidade) defendidas pelo governo do doge Andrea Gritti (1523-1538). Lotto obteve sucesso com suas inovadoras propostas, que adaptou o formato de paisagem do indivíduo e duplos retratos, incorporando no campo visual um espaço que "falava", seja por gestos de efigiados ou objetos que os acompanhava. A partir desses anos datam algumas de suas criações mais memoráveis, com figuras deliberadamente enigmáticas em composições dinâmicas e de tamanhos consideráveis. Apesar do sucesso parcial, Lotto não obteve o triunfo desejado em Veneza. A competitividade gerou inimizades e elas levaram a algum fracasso. Algo se rompeu dentro dele e, em uma carta daquela época, ele confessou ter "uma mente muito perturbada por vários e estranhos distúrbios". Durante a estada dele em Veneza, não negligenciou seu relacionamento com Las Marcas, onde enviava obras regularmente e para onde finalmente se mudou, provavelmente a busca de
um ambiente artístico menos estressante. De 1534 a 1539, viveu em diversas comunas de Las Marcas, onde trabalhou para a clientela local menos sofisticada. Ele se entregou nesses retratos que experimentou em Bérgamo e Veneza, mas começaram a surgir personagens singulares e tristes como o cavaleiro Borghese, em sintonia com o próprio humor de Lotto. Em janeiro de 1540, já com 60 anos, Lotto voltou a Veneza, para sair dois anos depois para Treviso. Ali, entre 1542 e 1545, pintou alguns de seus retratos mais intensos, nos quais incorporou, sem idealização, o efeito irreversível e devastador da dor e da velhice. A maioria deles é coberta com a própria melancolia do pintor. Um véu de tristeza, quase uma sombra de morte, estende-se sobre aqueles que posam à frente de seu cavalete e, paradoxalmente, seus trajes luxuosos assumem quase o valor de uma "vanitas". São retratos cuja sobriedade cromática e composicional reflete o impacto de Ticiano, mais no campo formal do que no conceitual, pois Lotto evitou a idealização de seus modelos. Em 1545, Lotto retornou a Veneza pela última vez e, em 25 de março de 1546, escreveu um segundo testamento, que inclui a confissão "Sozinho, sem governo leal e mente muito agitada". 32 FLASHBACK
A maioria dos retratos sĂŁo cobertos com a prĂłpria melancolia do pintor.
Ă€ esquerda: Retrato de homem com luvas (Liberale da Pinedel). Abaixo: Triplo retrato de prateiro (Bartolomeo Carpan), 1530.
Giovanni dalla Volta com sua esposa e filhos, 1547.
Em 1549, Lotto partiu definitivamente de sua Veneza natal e retornou novamente a Las Marcas. Ele era um homem fraco, cansado e desiludido, então, precisando de dinheiro em Ancona, ele organizou uma loteria para vender seus trabalhos com resultados decepcionantes. Lá ele pintou seus últimos retratos, que ainda mostram uma intensidade e inventividade que estavam faltando nas grandes composições religiosas contemporâneas. A última estação vital de Lotto foi o santuário de Loreto, onde entrou no verão de 1552, converteu-se em um oblato em 1554 e finalmente foi enterrado no final de 1556. Lotto pintou naqueles anos várias obras para o santuário, mas nenhuma, significativamente, foi um retrato. Em Loreto, ele deixou seus poucos 34 LORENZO LOTTO
pertences, entre eles, seu livro intitulado "Libro di spese diverse" (O livro de diferentes despesas), um registro excepcional que permite reconstruir com meticulosidade suas últimas duas décadas de vida e conhecer a identidade das pessoas que ele retratou.
Enrico Maria dal Pozzolo é professor de História da Arte Moderna na Universidade de Verona e especialista em pintura veneziana.
Lorenzo Lotto: Retratos • Museo Nacional del Prado • Madrid • 19/6 a 30/9/2018
COM SUA PRIMEIRA INDIVIDUAL NO BRASIL, NO GALPÃO VIDEOBRASIL, QUE INCLUI UM RECORTE DE SUA CONTUNDENTE PRODUÇÃO POLÍTICA, A ARTISTA MEXICANA MIVERVA CUEVAS FALA À DASARTES SOBRE O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE SUAS OBRAS
36 REFLEXO
MINERVA CUEVAS POR ELA MESMA
SILENT SPRING (PRIMAVERA SILENCIOSA), 2007
“Este trabalho leva o título da minha leitura do livro de Rachel Carson publicado em 1962. O livro influenciou a proibição do uso do DDT nos Estados Unidos em 1972, o principal pesticida usado após a Segunda Guerra Mundial. Nessa peça, usei um anúncio comercial em formato de vídeo feito nos anos 1960; as imagens sobre o uso de pesticidas são condensadas em três diferentes abordagens e temporalidades.”
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HIDROCARBUROS (HIDROCARBONETOS), 2007
“A instalação de hidrocarbonetos é o resultado de uma investigação sobre a extração comercial de petróleo. Eu comecei a pesquisa na área de Campeche, no México, em busca de morangos naturais. Os objetos se referem à exploração marinha, ecologia clássica e, com os derrames de petróleo, essa instalação gera um julgamento visual. Cobrir com chapopote foi uma prática da cultura maia; essa civilização usava o óleo como revestimento para esculturas e objetos. As fotografias que usei foram encontradas em um mercado que as vendia como cartão postal e foram originalmente tiradas por trabalhadores da plataforma de petróleo em Campeche.”
MINERVA CUEVAS 39
RIO BRAVO CROSSING (CRUZAMENTO RIO BRAVO), 2010
“Eu realizei este trabalho na área da fronteira entre o México e os EUA, na fronteira do deserto de Chihuahuan e Texas. Eu explorei as possibilidades de construir uma ponte para conectar as duas margens do rio Bravo (rio Grande). As ideias iniciais incluíam pontes tecnológicas como redes de telefonia celular e estruturas naturais (troncos, árvores caídas, pedras). Enquanto explorava o rio, encontrei um local com arranjos naturais de rochas; em uma visita posterior, marquei com tinta lavável branca (calcária) todas as rochas que usei para pisar no rio, enquanto fazia essa ação, acabei fazendo a travessia dos EUA para o México e voltei. Parti de uma declaração considerando o ato de caminhar como uma ação política geralmente ligada a situações urbanas como marchas, demonstrações ou caravanas. Nessa área, o simples ato de caminhar do sul para o norte nessa localização geográfica é o ato mais político que qualquer um poderia fazer. Após a ação, criei uma instalação usando fotografias, relíquias do deserto e os objetos usados para a ação.” 40 REFLEXO
O simples ato de caminhar do sul para o norte nessa localização geográfica é o ato mais político que qualquer um poderia fazer.
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LA VENGANZA DEL ELEFANTE (A VINGANÇA DO ELEFANTE), 2007 42 MINERVA CUEVAS
Curso de uma história que está se dirigindo para seus fins morais sendo deslocada ao referir a relação entre homem e animal.
“A peça foi gerada como um comentário sobre as relações da esfera social em relação ao mundo natural. E como historicamente o racismo usou a comparação entre homem e animal. O trabalho é uma fábula narrada através de ilustrações que foram originalmente mostradas com "slides" de vidro projetados com uma lanterna mágica antiga. As imagens foram usadas para fins educacionais no século 19. Mudei a ordem das imagens para tornar a fábula mais complexa, o curso de uma história que está se dirigindo para seus fins morais sendo deslocada ao referir a relação entre homem e animal.”
Minerva Cuevas: Dissidência Galpão VB - Videobrasil São Paulo • 30/8 a 15/12/2018 43
HERON
PATRICK
Quadrado Verde com Laranja, Violeta e LimĂŁo: 1969.
GRANDE RETROSPECTIVA NO TATE ST. IVES CELEBRA A OBRA DO ARTISTA BRITÂNICO PATRICK HERON, UM DOS PINTORES ABSTRATOS MAIS ACLAMADOS DA GRÃ-BRETANHA
POR ANDREW WILSON "O verdadeiro pintor vive em suas superfícies pintadas... A glória da arte pictórica não está em nenhuma poesia que possa ou não transmitir: mas, sim, na experiência final ou absoluta da grandeza formal, daquela peça contrapontística da forma em cima da forma, cor sobre cor, plano sobre plano, profundidade do espaço sobre profundidade do espaço. Essas são as realidades físicas da pintura". Patrick Heron
Quando Heron escreveu essas palavras, em 1953, sobre o trabalho de Graham Sutherland, estava há três anos de se tornar um pintor abstrato. Em um aspecto crucial, no entanto, ele vinha tendo uma abordagem abstrata desde a década de 1940. Seu ponto de vista como artista foi construído sobre o formalismo, em que o aspecto mais importante de uma obra de arte é a sua forma - a forma como é feita e seus aspectos puramente visuais - em vez de seu conteúdo narrativo ou do que é a relação direta com o mundo visível. De fato, nesse momento crucial de mudança em seu próprio trabalho entre 1955 e 1956, Heron acreditava que sua nova pintura abstrata prometia um tipo de fiabilidade. Em um texto de 1955, "Art is Autonomous", ele delineou a essência de suas crenças como artista. Ele explicou que "a arte é, e sempre foi, uma invenção formal" e delineou as duas tendências atuais da arte, o "abstratofigurativo" e o "não figurativo". Ele se aliou com o primeiro, admitindo "um desejo irreprimível de se comunicar sobre essa realidade visual que meus olhos realmente encontram todos os dias... Embora esteja convencido de que é a abstração subjacente em uma pintura que dá a essa pintura a sua qualidade, a sua vida e a sua verdade... eu acredito na figuração abstrata". 46 DO MUNDO
Horizontais verdes e malva, 1958. Todas as fotos: Mark Trompeteler. Š Estate of Patrick Heron. All Rights Reserved, DACS 2018.
Acima: O Piano, 1943. À direita: Pintura Vermelha e Jardim Camellia, 1956.
Em uma declaração, em sua própria pintura de janeiro de 1957, Heron diz de suas pinturas abstratas - como "Jardim Camellia" ou "Pintura Vermelha", ambas de 1956 - que elas são muito próximas de suas pinturas figurativas, mas lhes faltam a grade linear do desenho figurativo. "Isso me libertou a lidar mais direta e inventivamente... com todos os aspectos da pintura que são puramente pictóricos". Nascido em 1920, Heron cresceu em um ambiente onde a estética do formalismo de Bloomsbury - da noção de Clive Bell de "forma significativa" à "cor plástica" de Fry e à "imaginação desinteressada e contemplativa" dominava. 48 PATRICK HERON
A cor descreve a forma (uma "forma de cor") e assim induz uma identificação de espaço.
No entanto, para Heron, questões de formalismo e abstração foram inicialmente intercambiáveis, e isso subscreve as mudanças pelas quais sua própria pintura passou em meados da década de 1950. Na pintura de Heron, a cor raramente marca algo ou delineia um objeto ou um espaço; em vez disso, a cor descreve a forma (uma "forma de cor") e assim induz uma identificação de espaço. Assim, até mesmo uma linha se torna uma forma. Entre 1940 e 1950, ele não costumava desenhar ou pintar na frente do motivo, mas da memória - uma estratégia que enfatiza sua absorção absoluta em um mundo visual, mas também o desapego que lhe permitiu cristalizar a essência formal e pictórica do que ele tinha visto.
Em 1953, Heron declarou que "a imagem não é o veículo do significado: a imagem é o significado". Para Heron, o verdadeiro tema de uma pintura é a pintura - tanto o ato de pintar (ele faz uma ênfase consistente no manuseio variado de tinta, qualidades de tinta e intensidades cromáticas) e a pintura como imagem pictórica. O significado aqui para Heron é alcançado por sua concentração na superfície pintada como um todo. A cor é o coração da pintura de Heron, como ele deixou claro em um texto que escreveu para acompanhar uma exposição individual de 1963: "Percebi que meu interesse maior é a cor. A cor é tanto o sujeito como os meios; a forma e o conteúdo; a imagem e o significado em minhas pinturas hoje". Essa atitude fornece um exemplo da
significância de que a escrita de Fry tinha para o desenvolvimento da perspectiva de Heron como pintor. A abordagem formalista de Fry foi fundada em um ideal de não separação de sujeito e conteúdo - a transmissão entre realidade visual e realidade pictórica. Para Heron, a realidade pictórica de uma pintura abstrata como "Lux Eterna", de 1958, foi extraída da vida não apenas porque a ilusão espacial sugerida pelas cores criou uma forma de representação, mas, mais significantemente, porque a pintura ainda era o resultado de um casamento com uma realidade visual que agora estava apenas mais submersa ou escondida. As primeiras pinturas abstratas de Heron - suas "Pinturas de jardim", de 1956 e suas "Pinturas de riscas" de 1957 e 1958 - foram pintadas em sua nova casa em Eagles Nest, na península de West Penwith, onde ele morou por mais de quarenta anos. Ambos os grupos de pinturas têm uma forte conexão com a paisagem. As "Pinturas de jardim" foram derivadas da "sensação" de olhar para o espaço da profundidade de um bosque, mas foram executadas formalmente a partir dessa ideia de remover um sujeito diretamente representativo, libertando Heron para lidar diretamente com essa sensação da realidade pictórica da pintura. Suas "Pinturas de listra" pretendiam ser especificamente não figurativas mas, como disse ele, "percebi depois que o que eu estava pintando na verdade era o horizonte, e os estratos da atmosfera do céu sobre o horizonte do mar". Da mesma forma, sua série "Pinturas de jardim de Sydney", de 1989 e 1990, testemunham sua estreita experiência de paisagem em grande parte pela sua construção espacial. No entanto,
50 DO MUNDO
Pintura do Jardim de Sydney, 1989.
Interior com janela de jardim, 1955.
Patrick Heron não pintou a paisagem de seu jardim ou do horizonte do mar; ele pintou forma, cor e espaço.
À esquerda: Grande complexo diagonal com esmeralda e vermelhos, 1972-1974. Pintura do Jardim Vermelho, 1985.
nenhuma dessas pinturas são pinturas de paisagens: elas não representam paisagem e elas não nos apresentam um equivalente para essa paisagem. Ele não pintou a paisagem de seu jardim ou do horizonte do mar; ele pintou forma, cor e espaço. Durante os dez anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial, os quadros de Heron se autosustentaram mutuamente, tanto quanto se apresentam como prova de seu envolvimento com a pintura dos mestres modernos franceses especialmente Cézanne, Matisse, Picasso, Braque, Bonnard, Vlaminck e Derain. O principal deles, para sugerir um conjunto válido de possibilidades pictóricas para Heron, foi Matisse. Heron afirmou que "O estúdio vermelho" (1911), de Matisse, foi "a pintura mais influente em toda a minha carreira"; ele visitou repetidamente a Galeria Redfern, em Londres, onde permaneceu, em 1943 e 1944,
"simplesmente para absorver, em cada detalhe, as revelações desta grande obra prima". O que ele carregou, provavelmente mais do que qualquer coisa dessa pintura na época, era como grandes áreas de cores lisas poderiam sugerir uma construção de espaço pictórico ilusionisticamente. O que Heron descobriu em Matisse, como ele tinha igualmente encontrado em Braque e Bonnard, foi essa visualidade pictórica formada através do diálogo de profundidade percebida e da superfície real. A cor é o principal meio de criar forma - não apenas em termos da superfície plana da tela, mas também criando tensão entre essa superfície e a comunicação por meio da relação de cores de um deslocamento da ilusão do espaço tridimensional. No entanto, as imagens são encontradas não pela transcrição de qualquer tipo, mas do conhecimento subconsciente, sentimento e cumulativa experiência em que olhos, PATRICK HERON 55
Patrick Heron em seu estúdio no Eagles Nest, 1969. Foto: Mark Trompeteler.
mente, braços e mãos são unidos juntos para entregar traços impulsivos e deliberados. O aproveitamento da espontaneidade e da intuição de Heron, seu toque rabiscado, sua ênfase no formato composicional assimétrico, sua ligação à recomplicação em seu trabalho, todos apontam para um processo de desenvolvimento da pintura e da percepção. O resultado em cada pintura é um equilíbrio obtido de cada elemento reagindo contra os outros; uma unidade composta de uma infinidade pictórica de material e realidades visuais. Patrick Heron viveu até 1999, em Eagles Nest, um ano depois de sua última grande retrospectiva na Tate Gallery.
Andrew Wilson é curador sênior de Arte Britânica Moderna e Contemporânea e de arquivos no Tate Britain.
Patrick Heron • Tate St. Ives • Saint Ives • Reino Unido • 19/5 a 30/9/2018
ARTRIO
Breuer, 2018. Instalação de Isidro Blasco na SIM Galeria.
MENOR EM TAMANHO, MAIOR EM AMBIÇÕES
A 8ª EDIÇÃO DA ARTRIO DIMINUI O NÚMERO DE EXPOSITORES E FOCA NAS GALERIAS E ARTISTAS BRASILEIROS DEVIDO A CRISE AEROPORTUÁRIA
POR REDAÇÃO
Nas palavras da diretora Brenda Valansi, para se adaptar às novas regras tarifárias na armazenagem de bens nos aeroportos, a ArtRio - Feira de Arte do Rio de Janeiro - foi obrigada a produzir uma edição mais 60 CAPA
enxuta da feira, com cerca de 70 expositores e foco na valorização da arte brasileira. Como a Dasartes divulgou anteriormente, a concessionária que administra os principais aeroportos do país
aumentou os valores cobrados pela armazenagem de obras de arte destinadas a exposições. A armazenagem desses bens, antes cobrada de acordo com o peso, passou a ser cobrada pelo seu valor, uma vez que as concessionárias, em uma decisão aleatória autorizada pela Anac, definiram que exposições culturais não fazem parte do circo cultural. Assim, muitas das maiores exposições já vistas por aqui, e a vinda de galerias e expositores em feiras e ações, tornaram-se inviabilizadas. Ainda sobre o volume de expositores, Brenda comenta que há dois anos vem percebendo a dificuldade das galerias internacionais participarem da feira por toda a burocracia existente e as altas taxações que envolvem suas vindas e, por isso, decidiram mirar e priorizar a arte brasileira. A feira acontece pelo segundo ano na Marina da Glória e contará com dois setores gerais, Panorama e Vista, além dos programas curados Solo, Mira e Brasil Contemporâneo.
À esquerda: Tarde Rosa e Branca, 2018 (Óleo de Sandra Mazzini na Janaina Torres Galeria). Abaixo: Objetos flutuantes, 2017 de Maria-Carmen Perlingeiro na Carbono Galeria.
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O programa Panorama vai reunir as galerias com atuação estabelecida no mercado de arte moderna e contemporânea como a Galeria Celma Albuquerque, com obras de Claudia Jaguaribe, Nazareno e Gabriela Machado; Galeria Murilo Castro, com obras de Sérvulo Esmeraldo, Arthur Luiz Piza e Camille Kachani; Galeria Simões de Assis, com obras de Antônio Dias, Carmelo Arden Quin e Cícero Dias e Pinakotheke Cultural, com obras de Helio Oiticica, Iberê Camargo e Lygia Clark. Além de trabalhos de jovens artistas como Felipe Góes, Lara Viana e Thalita Hamaoi apresentados pela Galeria Roberto Alban; Óleos de Sani Guerra, Isabelle Borges e Paula Klien apresentados pela Emmathomas Galeria e as gravuras de Santídio Pereira e fotografias de Dani Tranchesi, apresentados pela Galeria Estação. O programa Vista apresentará galerias jovens, com até dez anos de existência, contando com projetos expositivos desenvolvidos exclusivamente para a feira. Dentre os destaques estão Martha Pagy Escritório de Arte, que selecionou entre seus artistas, Franklin Cassaro, Lucio Salvatore e Laura Erber; Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea, com Ricardo Becker, Bel Barcellos e Rosângela Dorazio, e Janaina Torres Galeria, com Kitty Paranaguá, Sandra Mazzini e Andrey Em sentido horário: Acrílica de Luiz Zerbini na Galeria Bergamin & Gomide; Cadernolivro de Artur Barrio na Galeria Millan e Fotografia de Rosângela Rennó na Galeria Vermelho.
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Acima: Obra de Jaildo Marinho na Pinakotheke Cultural. Ă€ esquerda acrĂlica sobre madeira de Gilberto Salvador na Emmathomas. 64 CAPA
O setor Brasil Contemporâneo reforça a temática em arte e artistas brasileiros e dá chance à participação de dez galerias fora do eixo Rio-São Paulo que expõem, na feira, uma individual de um de seus artistas selecionados. Entre elas, a Amparo 60 Galeria de Arte, de Recife, com a artista Bárbara Wagner; a Galeria de Arte Mamute, de Porto Alegre, com duo de artistas Ío, e OÁ Galeria, de Vitória, com Rafael Pagatini; além de outras galerias da região Nordeste como a Sem Título Arte, de Fortaleza, a RV Cultura e Arte e a Galeria Luiz Fernando Landeiro Arte Contemporânea, de Salvador.
À direita: Acrílica de Pedro Mariguella na RV Cultura e Arte e instalação em bronze de Shirley Paes Leme na Carbono Galeria. Acima: Escultura de Gustavo Prado na Galeria Lurixs. Abaixo: Laminado de Paulo Paes na A Gentil Carioca.
Abaixo: Pinturas de Lilian Maus na Aura Arte Contemporânea e Maya Weishof na Boiler Galeria.
O prêmio FOCO Bradesco/Artrio repete o sucesso, em sua sexta edição, com a seleção de três jovens artistas com até 15 anos de carreira que recebem bolsas para se dedicarem exclusivamente às suas pesquisas durante os períodos de residência artística. A programação ainda se estende pela cidade com o CIGA (Circuito Integrado de Galerias de Arte), além do Artrio Social, Circuito de Ateliers e o programa Intervenções Bradesco ArtRio, que em 2018 acontece no morro da Urca e tem curadoria de Ulisses Carrilho. A mostra reunirá esculturas, instalações e performances de artistas brasileiros contemporâneos intervindo e propondo uma nova experiência e interpretação do espaço.
ArtRio 2018 • Marina da Glória • Rio de Janeiro • 27/9 a 30/9/2018
SANTIDIO PEREIRA POR ELISA MAIA "O olhar da memória", em cartaz na Galeria Estação, em São Paulo, é a segunda individual do artista visual piauiense Santidio Pereira e tem curadoria de Luiza Duarte. A mostra 68 GARIMPO
reúne xilogravuras impressas em grande escala que o artista cria a partir das memórias de sua infância no sertão do Piauí. A sobreposição de camadas, formas e cores que compõe
cada uma das impressões aos poucos revela imagens de pássaros e plantas características da paisagem que Santidio habitou até os oito anos. Hoje, aos 21 anos e morando em São Paulo, o artista utiliza a memória como ferramenta para alcançar esse tempo distante. Mas se a memória não pode ser compreendida como um vidro transparente através do qual podemos ver um determinado referente, mas antes como um fator de opacidade que expande, suprime,
O artista utiliza a memória como ferramenta para alcançar um tempo distante.
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Todas as imagens: Sem título, 2017/20218. Fotos: João Liberato.
transforma, deforma e edita a experiência vivida, é preciso dizer que a imaginação é também crucial ao seu trabalho. Santidio conta que, quando deixou o sertão do Piauí para morar com a mãe e os três irmãos em São Paulo, trazia na bagagem um repertório visual muito diferente do que viria a encontrar na metrópole. Morando na roça, sem água e sem luz, Santidio nunca tinha visto carro, escada rolante, privada. "No ônibus de vinda para São Paulo, lembro-me de um menino falando para a gente contar os
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fuscas que passavam, mas eu nem sabia o que eram fuscas". Talvez justamente por isso Santidio tenha desenvolvido um olhar tão sensível para o mundo, um olhar de quem vê pela primeira vez, um olhar mais lento e criativo, na contramão da visão urbana, anestesiada pela carga visual excessiva e pelo ritmo acelerado da cidade. É com esse olhar que Santidio (re)cria elementos do universo que deixou para trás, traduzindo de forma poética suas memórias de infância em belas imagens.
Santidio Pereira: Um olhar da memória • Galeria Estação • São Paulo • 23/8 a 22/9/2018
Elisa Maia é doutorando do programa de Comunicação e Cultura da ECO-UFRJ.
Acima: Piscina e Claptomaniaco, 2017.
RESENHAS exposições
Abaixo: Xifópagas Capilares, 1984. À direita: Palíndromo Incesto, 1990.
Tunga: O rigor da distração Museu de Arte do Rio - MAR • Rio de Janeiro • 30/6 a 4/11/2018 POR CHANDRA SANTOS
O pavilhão de exposições do 2º andar do Museu de Arte do Rio (MAR) recebe, até novembro, a exposição "Tunga - o rigor da distração". A individual é a primeira após a morte do artista. Composta principalmente por desenhos é apresentada de forma cronológica, de 1975 a 2015. Os curadores Luisa Duarte e Evandro Salles estudaram a coleção particular do artista para compor a exposição que conta com cerca de 200 obras, incluindo inéditas. A série de esboços da instalação "True Rouge", em Inhotim (MG), está entre os destaques. Esculturas, filmes, fotografias e textos completam a mostra. A exposição inicia com os trabalhos dos anos 1970 e se estende por pequenos núcleos com obras marcantes, como as séries "Xifópagas Capilares" (1984), "Semeando Sereias" (1987), "Palíndromo Incesto" (1990) e "Quase Auroras" (2009). As parcerias realizadas ao longo da carreira são 72
apresentadas em alguns vídeos. "Nervo de Prata" (1986) conta com parceria de Arthur Omar. Em "Heaven Hell's/Hell's Heaven" (1999) há a respiração de Marisa Monte e Arnaldo Antunes como trilha sonora. Já em "Resgate" (2001) ele aparece com o compositor e poeta Arnaldo Antunes e com a coreógrafa Lia Rodrigues. De acordo com depoimento de Antonio Mourão, filho de Tunga, em entrevista à revista VEJA Rio, "Tunga -
o rigor da distração" visa chamar atenção para o Instituto Tunga criado com o objetivo de preservar e difundir o trabalho do artista visual brasileiro. "Eu tinha noção de sua importância, mas só agora, estudando o que ele deixou, compreendo a amplitude de seu trabalho", revelou. De acordo com Antônio é impossível, por enquanto, precisar a quantidade de obras que compõem o acervo do instituto, pois a todo momento são descobertas novas. "Cada vez que abro uma cômoda, encontro uma gaveta com mil desenhos", exemplificou. Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, conhecido como Tunga (1952-2016), nasceu em Pernambuco e viveu no Rio de Janeiro desde a juventude. Formado em arquitetura e urbanismo, o artista visual brasileiro foi um dos nomes mais importantes de sua geração - que
inclui Cildo Meireles e Waltercio Caldas. Tunga foi o primeiro artista contemporâneo a expor no maior museu de arte do planeta - o Museu do Louvre, na França. Inclusive, sete estudos realizados pelo artista para a concepção da instalação estão expostos em "Tunga - o rigor da distração". Suas obras estão em coleções relevantes como o Instituto Inhotim, o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, o Museum of Modern Arts (MoMA), o The Museum of Contemporary Art (MoCA) e as galerias Luhring Augustine, Galeria Franco Noero e Gary Tatintsian Gallery.
Chandra Santos é bacharel em Comunicação Social e especialista em Marketing e Design Digital. Escreve para Dasartes e faz assessoria de imprensa para artistas e instituições culturais.
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NOTAS DO MERCADO Fatos, valores, curiosidades e tendências POR LIEGE GONZALEZ JUNG
A SEMANA DE ARTE, feira e programação cultural ligadas a Luisa Strina e Thiago Gomide, aconteceu no final de agosto, desta vez em novo local - Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera, com montagem impecável e uma bela seleção de obras. Buscando aproveitar o movimento gerado pelo jantar de inauguração oferecido pela Bienal, a feira se estendeu até 2ª feira, mas a prorrogação não gerou o público esperado. A pouca visitação, aliás, foi a principal queixa dos expositores. Alguns culpam o local de difícil acesso, outros, a falta de divulgação, mas há de se considerar que talvez seja excessivo o volume de feiras e eventos que buscam o limitado público comprador de arte do Brasil. Mesmo com poucos visitantes, a maioria das galerias concluiu que vale a participação, já que o valor subsidiado dos estandes é baixo e requer poucas vendas para fechar as contas.
CASA TRIÂNGULO comemora 30 anos, um jubileu digno de felicitações. Fundada por Ricardo Trevisan, a galeria percorreu um longo percurso de sucesso, descobrindo e representando alguns dos artistas que marcaram a produção de arte nas últimas décadas. Vida longa à Triângulo!
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NOTAS DO MERCADO Fatos, valores, curiosidades e tendências
BONHAM’S uma das grandes casas de leilão europeias, foi comprada por uma firma de private equity após anos sendo oferecida no mercado. O novo time de diretores anunciou planos para competir com as três grandes - Phillips, Sotheby's e Christie's - no mercado internacional.
URS FISCHER e seus enganosos silkscreens são destaque do próximo leilão de arte contemporânea da Phillips em 26 de setembro. Em uma brincadeira que questiona o conceito tridimensional da escultura, Fischer imprime imagens de uma cadeira e uma máscara em cubos de inox, confundindo a percepção do observador. Estimativa entre US$ 300.000 e 500.000 cada. O leilão também traz lotes de Yayoi Kusama, Geroge Condo, Cindy Sherman e outros.
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COLUNA DO MEIO Fotos: Paulo Jabur
Quem e onde no meio da arte
Chicô Gouvêa, Mary e Zuenir Ventura e Paulo Reis
Artur Fidalgo e Bruno Big
Thereza Miranda e Bruno Big Artur Fidalgo Galeria Rio de Janeiro Artur Fidalgo e Fábio Szwarcwald
Vandinha Klabin e Emílio Kalil
Miguel Paiva, Thereza Miranda e Flávio Marinho
Fotos: Paulo Jabur
Carlos Zílio e Thereza Miranda
Ivani Pedrosa, Myriam Glatt, Bel Barcellos e Josias Benedito
Elisa Marcolini, Luiz Eduardo e Ana Maria Indio da Costa
Bel Barcellos Gaby Indio da Costa Rio de Janeiro Sônia Salcedo e Bel Barcellos
Ricardo Becker e Valéria Costa Pinto
Isabella Drummond e Manoel Novello
Josias Benedito e Gaby Indio
Fotos: Paulo Jabur
Paulo Magalhães, Ricardo Kimaid e Guilherme Schiller
Arthur Arnold e Ângela Od
Paulo Vieira Galeria Movimento Rio de Janeiro Eriberto Leão e Paulo Vieira
Xico Chaves e Laís Santana
Ricardo Kimaid, Toz Viana, Ângela Od, Viviane Teixeira, Paulo Vieira, Maria Mattos e Xico Chaves
Patrizia D'Angello, Mauro Trindade e Andy Zapata Fotos: Briefcom
Daniel Lannes, Simone Cadinelli e Claudio Tobinaga
Simone Cadinelli, Claudio Tobinaga e Sylvia Martins
Claudio Tobinaga Simone Cadinelli Arte Rio de Janeiro Eduardo Wanderley e Simone Cadinelli
Wilton Montenegro e Marcelo Campos
Ronaldo do Rego Macedo, Elisa Magalhães, David Cury e Ana Luiza Rego
Carla Gonçalves, Eduardo Wanderley e Simone Cadinelli
Lançada em 2008, a Dasartes é a primeira revista de artes visuais do Brasil desde os anos 1990. Em 2015, passou a ser digital, disponível mensalmente em seu aplicativo para tablets e celulares e no site dasartes.com.br, o portal de artes visuais mais visitado do Brasil. Para ficar por dentro do mundo da arte, siga a Dasartes.
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