Revista D + edição 23

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SAÚDE

A musicoterapia é importante aliada no tratamento de pessoas com deficiência

TEST DRIVE

NÃO VER PARA CRER

Teatro Cego traz sensações únicas para o espectador e oportunidade de trabalho para o deficiente visual

Jeep Renegade traz potência, conforto e segurança de uma só vez

Vinicius Rodrigues, 23 anos, atleta paralímpico e recordista mundial dos 100 metros rasos

562003 9 772359

Mercado de tecnologia assistiva apresenta opções incríveis e não para de crescer

NÚMERO 23 • PR EÇ O R$ 13,90 ISSN 2359-5620

E FUTURO

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PRESENTE








NA REDE

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INFORMAÇÃO Em nosso portal, você fica sabendo das exposições do mês, apresentações e oficinas culturais em todo o Brasil, assim como campanhas em prol da inclusão e acessibilidade, como, por exemplo, o Dia Mundial da Paralisia Cerebral, 3 de outubro, que gera em várias partes do mundo campanhas de conscientização. O Brasil participou pela primeira vez dessa data, com o movimento coordenado nacionalmente pela ONG Nossa Casa, plataforma inédita destinada a descomplicar o conhecimento científico sobre a Paralisia Cerebral e o AVC Infantil. Confira isso e muito mais em: revistadmais.com.br

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EDITORIAL Referência em Inclusão e Acessibilidade Acesse www.revistadmais.com.br e confira todas as matérias em LIBRAS e ÁUDIO

SAÚDE

A musicoterapia é importante aliada no tratamento de pessoas com deficiência

TEST DRIVE

NÃO VER PARA CRER

Teatro Cego traz sensações únicas para o espectador e oportunidade de trabalho para o deficiente visual

Jeep Renegade traz potência, conforto e segurança de uma só vez

Vinicius Rodrigues, 23 anos, atleta paralímpico e recordista mundial dos 100 metros rasos

Edição 23: Fotografia CPB

562003 9 772359

Mercado de tecnologia assistiva apresenta opções incríveis e não para de crescer

NÚMERO 23 • PR EÇ O R$ 13,90 ISSN 2359-5620

E FUTURO

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PRESENTE

Expansão constante

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Nossa Capa desta edição da D+ traz os avanços que a tecnologia assistiva oferece à pessoa com deficiência. Podemos avaliar a questão sob dois aspectos: abordando a qualidade dos serviços e produtos oferecidos ou, ainda, sob a ótica financeira, de quanto esse mercado movimenta. Não importa qual caminho escolher, os dois apresentam resultados altamente positivos. São tantas opções tecnológicas oferecidas, que a impressão é que esse universo parece estar à prova das dificuldades econômicas que o Brasil atravessa. Seu crescimento constante envolve não apenas gigantes de mercado, como a Google e a Samsung, por exemplo, que buscam ininterruptamente soluções para ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência, como inúmeras startups (empresas fundadas com o propósito de explorar atividades inovadoras, em diversas áreas) nascem voltadas para o segmento. Outro aspecto importante, que merece ser mencionado, é o fato de que não existe uma deficiência priorizada nesse processo, mas atenção a todas, demonstrando que a conscientização da sociedade passa também pelo mercado de produtos e serviços. Empresas não mais enxergam a deficiência isoladamente. Empresários de qualquer setor percebem que não adianta ter um site que atenda à comunidade surda, mas que deixa de lado cegos e deficientes visuais, por exemplo. Essa conscientização traz também o reconhecimento, por parte desses mesmos empresários, do potencial de consumo que as pessoas com deficiência têm. Quem quer ficar de fora de um mercado gigantesco? Levantamento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) aponta que existem aproximadamente sete mil empresas no setor e que o mercado cresce em torno de 20% ao ano, só no Brasil. O mesmo estudo fala que o mercado de tecnologia assistiva movimentou por aqui R$ 5,5 bilhões em 2015. São números impressionantes! Mas a verdade é que o grande benefício disso tudo é expresso no ganho de qualidade de vida do deficiente. E isso vale também para as camadas mais carentes da sociedade, já que muito do que é oferecido pode ser adquirido até de graça. Outras matérias interessantíssimas ocupam as páginas da D+, como a da editoria Comportamento, que traz o projeto Ver com as mãos, estruturado e formalizado em Curitiba (PR) por meio do Criança Esperança, organizado pela Unesco. Desde 2012, ele busca inserir no âmbito cultural do entretenimento, pessoas com deficiência visual. Não só isso, faz com que as pessoas envolvidas no projeto passem a conhecer melhor a si mesmas e ainda tornem-se multiplicadoras de conhecimento, levando informação para a sociedade e, consequentemente, quebrando paradigmas. O tema da deficiência visual também é abordado em Universo Cultural, onde trazemos o Teatro Cego, concebido no Brasil por Paulo Palado, depois de conhecer experiência similar na Argentina. Os objetivos de Palado, e de todos os envolvidos no projeto, são, primeiro, dar oportunidade a pessoas cegas e com deficiência visual de atuarem no meio artístico e viverem personagens que não sejam cegos. E, ao deixar o teatro completamente escuro durante o espetáculo, proporcionar sensações únicas para os espectadores. Merece também ser mencionada a reportagem da editoria de Saúde, que traz a música como elemento decisivo na recuperação de pessoas com deficiência. Além disso, tem o Test Drive com o Jeep Renegade, um esportivo de peso. Enfim, são inúmeras as possibilidades exploradas nesta edição. Ótima leitura! Rúbem Soares Diretor Executivo



DO LADO DE CÁ

Carros, cabelos e muito mais Confira por onde a equipe da D+ andou nos meses de setembro e outubro para trazer novidades e curiosidades a você

Alexandre Finozzi (à esquerda), conhecido por todos como “Tio Alê”, cabeleireiro e dono da rede Corte Kids (voltada a crianças com autismo) com Guilherme Perotti, em mais uma edição do “Domingo Azul”, iniciativa da empresa

Bruna Biasetton (à esquerda), da concessionária Europamotors, com a empresária Tatiana Franzon, nossa convidada para o test drive do Jeep Renegade

Da esquerda para a direita: Jonathan Vinicius, da área de tecnologia da D+, Paulo Kehdi, editor da publicação e Denilson Nalin, diretor de publicidade, durante a Feira Mobility SP, que aconteceu no Campo de Marte, em São Paulo

O editor Paulo Kehdi (à esquerda) entrevista Julcimar Oliveira, o Doya, personagem da editoria Educação, e responsável pela escola Neuroadvanced



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www.revistadmais.com.br

DIRETOR EXECUTIVO Rúbem da S. Soares rsoares@revistadmais.com.br REDAÇÃO Editor-Chefe Paulo Kehdi jornalismo@revistadmais.com.br Reportagem Cintia Alves Brenda Cruz jornalismo@revistadmais.com.br Whatsapp: (11) 94785-2169 Revisão textual Eliza Padilha

NOSSA CAPA 38 O mundo da tecnologia assistiva não para de crescer e inovar. Confira o que de mais moderno temos nesse mercado

Diagramação Estúdio Dupla Ideia Departamento de Arte (site e redes sociais) Samuel Ávila arte@revistadmais.com.br

08 Na Rede

Ilustrador Luis Filipe Rosa

10 Editorial

Colaborou nesta edição Jéssica Aline Carecho (Fotografia Educação e Saúde) Tacila Saldanha (Fotografia Acontece Mobility SP) Cristiane Maluf Martin (Psique) Flaviana Borges da Silveira Saruta, Joice Alves de Sá e Carolina Gomes de Souza Silva (Aprenda Libras) André dos Santos Silva (Espaço da Libras) Geraldo Nogueira (Artigo Tecnologia) DIRETOR DE PUBLICIDADE Denilson G. Nalin denilsonnalin@revistadmais.com.br (11) 5581.1739 e 9-4771.7622 COMUNICAÇÃO E MARKETING Rúbem S. Soares Herick Palazzin mkt@revistadmais.com.br

14 Expediente & Aqui na D+ 16 Psique A importância do apoio psicológico para quem tem deficiência cognitiva 18 Misto Quente As novidades dignas de nota 24 Test Drive Fomos conferir todas as qualidades do último Jeep Renegade

FINANCEIRO Ernandis Pereira dos Santos Contratos e licitações Caroline Palazzin mais@revistadmais.com.br

28 Comportamento Descubra como alunos cegos de Curitiba conquistaram autonomia e protagonismo

TI Herick Palazzin Ivanilson Oliveira de Almeida Jonathan Vinicius

32 Universo Cultural O Teatro Cego inclui o deficiente visual e traz sensações únicas para o espectador

DIRETOR ARTÍSTICO Dílson Nery

36 Tecnologia Novidade à vista! Os emojis inclusivos vêm aí

CONSULTORIA DE LIBRAS Flaviana Saruta Joice Alves de Sá

48 Saúde A musicoterapia pode ser uma grande aliada na recuperação da pessoa com deficiência

INTÉRPRETES DE LIBRAS Carolina Gomes de Souza Silva Marco Antonio Batista Ramos Rafaella Sessenta VIDEOMAKERS Jéssica Aline Carecho Tacila Saldanha ATENDIMENTO AO ASSINANTE E CIRCULAÇÃO Herick Palazzin assinaturas@revistadmais.com.br (11) 5581-3182 RECEPÇÃO Jennyfer Alves

52 Educação A escola Neuroadvanced propõe atividades no contraturno escolar para ajudar no desenvolvimento de todos 56 Acontece Teleton com muitas novidades e o sucesso da Mobility SP 60 Mercado de Trabalho O projeto Beleza em Todas as Suas Formas completa cinco anos

SUCURSAL SUMARÉ Arianna Hermana da Silva (19) 3883-2066 Edição número 23 – Setembro/Outubro de 2018 REVISTA D+, ISSN 2359-5620, é uma publicação bimestral da MAIS Editora CNPJ n° 03.354.003/0001-11 Rua da Contagem, 201 - Saúde São Paulo/SP - CEP 04146-100

62 Espaço da Libras Ter conhecimento dos sinais da Libras é suficiente para uma boa comunicação? Confira a explicação 64 Aprenda Libras Conheça os sinais de palavras e expressões ligadas ao universo da tecnologia assistiva

ASSOCIADA A:

Distribuída em bancas pela DINAP Ltda. Distribuidora Nacional de Publicação. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678 CEP 06045-390 – Osasco – SP PARCERIA: A Revista D+ não se responsabiliza por opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo este de inteira responsabilidade dos anunciantes

12 Do Lado de Cá

Associação para Desenvolvimento Social, Educacional, Cultural e de Apoio à Inclusão, Acessibilidade e Diferença

66 Cereja! Retratamos a quadrinista Ju Loyola e seus incríveis personagens


Setembro/Outubro 2018 – Ano IV – nº 23

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PSIQUE

Apoio psicológico é fundamental para o paciente com Deficiência Intelectual se sentir seguro e independente por *Cristiane M. Maluf Martin

É

considerado deficiência todo e qualquer comprometimento que afeta a integridade física e psicológica de uma pessoa e que traz prejuízos para sua locomoção, coordenação, fala, pensamento e compreensão, afetando o relacionamento com as outras pessoas (dificuldade de formar vínculos) e com o mundo de uma maneira geral, pois causa certa resistência a normas e regras. Na nossa sociedade o “normal e o patológico” são divididos por uma linha muito tênue, porque ser normal significa ser igual a um modelo padrão, em que todos devem se encaixar e seguir. Aquele que não está dentro desse padrão “ideal de pessoa” é excluído da sociedade. Talvez isso justifique tanto preconceito e tantas formas de discriminação que vemos atualmente. A Deficiência Intelectual (DI), refere-se a um funcionamento intelectual abaixo da média, refletindo no comportamento adaptativo do indivíduo e que vai se manifestando durante o período de desenvolvimento. Nesse perfil encaixam-se falhas de raciocínio, problemas na aprendizagem acadêmica e respostas lentas aos estímulos. Pessoas com DI normalmente apresentam o Quociente de Inteligência (QI) abaixo de 100. Para entender a questão do QI, quanto mais abaixo de 100 estiver, maior é o grau da deficiência. Crianças e adolescentes com DI entendem de uma maneira razoável uma mensagem emitida por um indivíduo sem deficiência, porém reagem insatisfatoriamente quando precisam transmitir uma mensagem. Isso se deve à insegurança e ansiedade que eles apresentam, já que são ouvintes passivos e não questionam, o que é uma consequência do próprio déficit cognitivo. O paciente com DI apresenta hiperatividade, impulsividade, inquietação, dificuldade de pensar e compreender. Já na fase adulta, essas pessoas podem apresentar sexualidade exacerbada ou serem assexuados. Na sala de aula é perceptível o desinteresse pelas atividades sugeridas, interagem pouco com os colegas e professores, têm dificuldades para identificar

letras, desenvolver a fala de maneira satisfatória e geralmente esquecem um comportamento já aprendido. Consequentemente, não conseguem realizar atividades comuns e rotineiras para a maioria das pessoas. Normalmente, é nesta fase que os pais percebem que há algo errado. O diagnóstico vem de um profissional da área da saúde, mas o tratamento pode e deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar que contenha: neurologista, psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo, pedagogo, psicopedagogo e terapeuta ocupacional. Em geral, a DI é o resultado de uma alteração no desempenho cerebral provocado por diferentes fatores, como: distúrbios na gestação, problemas no parto, ou na vida após o nascimento. Quanto antes for feito o diagnóstico, maiores as chances de os pacientes terem uma qualidade de vida satisfatória. Um dos estímulos extremamente importantes para a resposta intelectual satisfatória é a motivação para facilitar o processo de inclusão da pessoa. Fazer com que o indivíduo adquira independência em suas relações com o mundo é importante para treinar as funções adaptativas, como habilidade de autoajuda e conhecimento de rotinas sociais. Ressalto que geralmente as pessoas com DI experimentam atitudes negativas dos outros (familiares ou cuidadores). Por serem rejeitados socialmente, sentem-se isolados e menos capazes na escola e no trabalho. Daí a necessidade do processo psicoterapêutico, porque, além de apoio e orientação, proporciona ao indivíduo a oportunidade de se tornar mais independente da família e conduzir a própria vida, bem como superar medos, aprender a evitar relações exploratórias, ter maior controle do impulso e expressar a raiva de outras formas que não seja a destrutiva. Reduz-se, assim, a ansiedade em situações sociais e profissionais. De modo geral o tratamento é eficaz porque permite ao paciente fazer uso de serviços especiais escolares, profissionais, reabilitadores e inclusivos disponíveis para eles. Com o apoio psicológico, o paciente se sentirá mais seguro e independente.

*Cristiane M. Maluf Martin é especialista em psicanálise, terapia de casais, psicodiagnóstico, ludoterapia e dinâmicas de grupo. Ela faz atendimentos individuais, em grupo e familiares em instituições e consultório. Tem 22 anos de experiência profissional e também é palestrante de temas como o Comportamento Humano, Dependência Química, Alcoolismo e Codependência, em diversas instituições e grupos de apoio. Atua ainda em hospitais públicos na área de Planejamento Familiar.

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MISTO QUENTE texto e fotos: Cintia Alves

colaboração: Beatriz Canuto

“Acima, obra de OdRUS exposta na Bienal Graffiti Fine Art de 2018, que aconteceu em outubro, no centro cultural Memorial da América Latina, em São Paulo”

COLORINDO A CIDADE A representatividade dos brasileiros está presente no grafite internacional desde a sua criação, nos anos 1970. Como uma manifestação artística em espaços públicos, a arte de rua marca a identidade cotidiana de cada grafiteiro, por meio de cores, formas e texturas. Rafael Caldeira dos Santos, 35 anos, nasceu surdo e foi apresentado ao grafite aos 18, por um amigo de São Paulo, e então encontrou um caminho para a inclusão social no bairro de Planaltina, em Brasília. Conhecido como OdRUS, que é Surdo ao contrário, o artista brilha com suas telas urbanas mundo afora, delineando sonhos e diversidade em seus desenhos. “Já fui convidado para participar de exposição no Rio de Janeiro, do festival Meeting of Styles, na Califórnia (EUA),

para realizar oficinas de grafite em São Paulo, e com adultos e crianças surdas no Festival Internacional Clin d’Oeil, de artistas surdos, em Reims, na França”. O personagem principal entre os seus desenhos é um homem negro de periferia, que tem como foco a orelha maior para evidenciar a deficiência auditiva. “É como uma mensagem escondida, em segredo”, conta. Para completar a agenda internacional, Rafael foi convidado para realizar uma oficina de grafite com crianças surdas africanas no Festival Hand Feet, que acontece em dezembro na cidade de Johannesburg, na África do Sul. Conheça mais sobre o trabalho do grafiteiro e saiba onde encontrar suas obras pelo Instagram: @odrusone e Facebook @raphodrusone.


AFETO E CONFIANÇA texto e foto: Brenda Cruz

Gabriel Perotti, o Gabi, tem 12 anos, é morador do bairro da Mooca na capital paulista, gosta de nadar, ama animais e tem um fascínio particular por colecionar objetos. Leitor ávido e com uma memória invejável, consegue narrar detalhes de tudo o que lhe atrai. Ele também é dono de uma cabeleira farta e começou a frequentar salão especializado para o público infantil com apenas oito meses de vida. O lugar escolhido pelos seus pais foi o Corte Kids, salão que chama atenção pelas cores que o compõem e pelas mil possibilidades para entreter a criançada nesse momento, que, para elas, pode não ser muito divertido. Mais que as atrações que instigam a felicidade dos pequenos clientes, o Corte Kids traz em sua conduta o afeto, a paciência e a busca da confiança. Gabi tem autismo e corta seu cabelo com Alexandre Finozzi, conhecido

por todos como “Tio Alê”, cabeleireiro e dono da rede Corte Kids. Ele, bem como as outras crianças, tem atenção especial! É assim o dia a dia do salão. “Para crianças como o Gabi, a questão sensorial pode ser muito complicada, nem sempre elas sabem lidar com o toque, pois se sentem inseguras com todo o combo que um corte traz: barulho da tesoura, da maquininha, e até o contato vira um problema”, conta Ana Cristina Perotti, mãe de Gabriel. “Tio Alê” conta que sempre atenderam crianças com ou sem deficiência, mas que, após participar de um evento para crianças autistas em 2016, percebeu que poderia ajudar outras mães a cortar o cabelo de seus filhos sem traumas e respeitando o tempo de cada um. “Eu decidi criar um dia para dedicar o corte à criança autista, o Domingo Azul, onde o salão fica preparado para

recebê-las. O tempo de dedicação é dobrado, geralmente um corte tem duração de 30 minutos, mas nesse dia estendemos o agendamento para dedicar mais atenção e carinho. Se a criança não cortar no primeiro momento, ela pode ir brincar, um profissional vai lá, interage, senta com ela no parquinho, e vai conquistando a confiança aos poucos”, conta Alexandre. O salão infantil virou franquia e Alexandre transmite aos seus franqueados o padrão de conduta e técnicas de segurança para proteger a criança de qualquer incidente. O Domingo Azul só acontece na sua unidade da Mooca, mas todos os colaboradores da rede recebem o treinamento para realizar um trabalho que dê conforto aos pequenos todos os dias. Para saber mais e conferir os endereços da rede, acesse: http://www. cortekids.com.br/

“Alexandre Finozzi, o “tio Alê” (à esquerda), com Gabriel (ao lado dele) e a família Perotti”

Revista D+ número 23


MISTO QUENTE por por Cintia Alves Cruz fotosfotos Divulgação Brenda Divulgação

VIRADA INCLUSIVA

Em comemoração ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, em 3 de dezembro, teremos a Virada Inclusiva, que chega a sua 9ª edição repleta de atrações gratuitas e acessíveis na cidade e no estado de São Paulo. Este ano, as atividades culturais, esportivas e de lazer acontecem nos dias 1, 2 e no próprio 3 de dezembro, com a participação de pessoas com e sem deficiência. Entre as apresentações principais do evento estão a Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, que fará a abertura no dia 1/12, às 20h, no auditório da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência; e o cantor Zeca Baleiro, no encerramento, dia 3/12, às 20h, no Auditório Simón Bolívar – Memorial da América Latina. Como todos os anos, a Virada Inclusiva receberá uma exposição temática relacionada à pessoa com deficiência. Nesta edição, teremos a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, que trará painéis interativos com base nos conceitos dos artigos (a inauguração será dia 1/12, a partir das 13h, na Praça das Artes). Além das novas atrações dos parceiros, a edição terá apresentações dos artistas contemplados no I Prêmio Arte e Inclusão, realizado pela Virada Inclusiva, com pontos fixos para apresentações de dança, música e teatro.

“Foto da Virada Inclusiva de 2013, durante a bicicletada inclusiva, na avenida Paulista”

“Participantes durante show, na edição de 2015 da Virada Inclusiva”

PARA A CRIANÇADA A 2ª edição da Virada Kids acontecerá no fim de semana, 1 e 2 de dezembro, com atividades inclusivas para crianças com e sem deficiência, no Parque da Água Branca, na capital paulista. O evento contará com estande de jogos da editora Galápagos Jogos, oficina de brinquedos sensoriais e caixa sensorial com desenho tátil do Instituto Brinquedo Vivo, caminho sensorial com produção artística a partir de elementos encontrados no parque, circuito de cadeira de rodas e muito mais. Confira a programação completa a partir de 23 de novembro pelo site: www.memorialdainclusao.org.br/viradainclusiva

“A “Virada Kids” terá a sua segunda edição em 2018”


VALORIZAÇÃO DO ATLETA texto: Brenda Cruz fotos: Divulgação

O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) lançou no dia 16 de outubro o programa Atleta Cidadão. Em evento realizado no CT Paralímpico, em São Paulo, o CPB ainda anunciou que haverá a distribuição de 300 bolsas de estudos integrais para cursos de ensino superior para atletas e ex-atletas, no formato à distância (EAD). O Programa Atleta Cidadão tem como objetivo estimular o desenvolvimento pleno da cidadania dos atletas em todas as fases da carreira (iniciação,

alto rendimento e pós-carreira) por meio da capacitação e orientação profissional. “O processo de formação de uma pessoa é complexo. A transição de uma carreira, na verdade, precisa ter início o mais rapidamente possível. Com este propósito, definimos em 2017 que criaríamos um programa que atendesse ao atleta desde o início até o fim de sua trajetória. Hoje, temos a oportunidade de efetivamente lançarmos o Atleta Cidadão, que é sequência do Transição de Carreiras. Este programa significa um

passo adiante”, disse Mizael Conrado, ex-atleta do futebol de 5 e presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro. A apresentação contou com a presença dos medalhistas paralímpicos Antônio Delfino, ouro nos 200m e 400m T46 (amputados de braço) em Atenas 2004 e prata nos 400m em Sydney 2000, e Adria Jesus, bronze no vôlei sentado feminino no Rio 2016. Os dois são os primeiros atletas a concluírem o ensino superior por meio da iniciativa do CPB. Revista D+ número 23


MISTO QUENTE por Cintia Alves fotos Divulgação

CALENDÁRIO INCLUSIVO 2019 A produção do Calendário 2019 do Instituto Olga Kos (IOK) já está a todo vapor! Este ano, famosos posam ao lado de crianças com deficiência, vestindo a camisa do tema “Igualdade”. Entre os convidados para ilustrar os meses inclusivos, está o lutador de MMA Lucas Mineiro, a cantora Naiara Azevedo, os atores Caio Castro e Tiago Abravanel; e acompanhados de seus filhos estão o atacante do Palmeiras Willian Bigode e Daniel Pires Mutran, o chef de cozinha Henrique Fogaça e Olivia Corvo Fogaça, e a apresentadora Ana Hickmann e Alexandre Hickmann Correa. Para conferir o calendário completo, acompanhe as novidades pelo site IOK: www.institutoolgakos.org.br

MÃOZINHAS QUE FALAM A Min é uma garota surda que vive rodeada de amigos da floresta, e representa a protagonista do primeiro desenho animado em Língua Brasileira de Sinais (Libras), Min e as Mãozinhas. Idealizado pelo designer e animador Paulo Henrique Rodrigues, com a colaboração de pedagogos e intérpretes, o roteiro apresenta curiosidades da cultura surda, com a inclusão por meio do entretenimento para surdos e a aprendizagem de Libras para os ouvintes. O primeiro episódio já pode ser visto no canal no YouTube e a iniciativa de Rodrigues espera financiamento de terceiros para continuar a produção. Ao final, o projeto terá 13 episódios para a primeira temporada, todos sem legendas e janelas de Libras, para enfatizar a importância da comunicação.


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Jeep é marca registrada da FCA US LLC.

No trânsito, a vida vem primeiro.

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Revista D+ número 23


TEST DRIVE

O ESPORTIVO

DO ANO

O Jeep Renegade 2018 vem com todas as qualidades dos modelos anteriores e mais algumas novidades, como o motor mais potente texto Paulo Kehdi fotos Kica de Castro

L

indo, robusto, confortável, seguro, potente. Não importa qual desses adjetivos você escolha, ele se encaixa perfeitamente no Jeep Renegade, modelo 2018. A linha Renegade começou a ser produzida na fábrica da Jeep em Pernambuco, no ano de 2015. Desde então, a montadora vem aperfeiçoando o que já era bom. Um primeiro aspecto a ser mencionado é a força de seu motor 1.8 flex, agora com 139 cavalos de potência. Não só está mais forte, como traz a opção “Sport” no painel, que, quando acionada, resulta em ainda mais velocidade, usada geralmente em ultrapassagens. Se a Jeep pensou em potência, obviamente não podia deixar de levar em conta as questões de segurança. Nesse quesito, destacamos seus sensores de estabilidade e controle de tração, que, automaticamente, corrigem qualquer princípio de derrapagem ou instabilidade que porventura pode acontecer. O carro traz inovações tecnológicas, como o moderno sistema ITPMs, capaz de detectar se há um ou mais pneus com pressão baixa. Já a opção Stop&Start tem a função de economizar combustível, atuando de forma inteligente toda vez que o veículo está parado e na retomada de velocidade. Seu câmbio de seis marchas também traz tecnologia de ponta, e o modelo proporciona regulagem dos faróis. Além disso, apresenta suspensão independente e freio a disco nas quatro rodas, estas de liga leve, direção elétrica, sensor anticapotamento, freio de estacionamento eletrônico e tração dianteira 4x2. Seu interior traz o DNA de um verdadeiro

Jeep, com design inovador que combina espaço interno e refinamento. Além do painel espaçoso, espumado, traz volante multifuncional com controle automático de velocidade de cruzeiro e ar condicionado digital de duas zonas. Sua altura facilita a entrada e saída do veículo com conforto e segurança. Nesse sentido, suas portas também colaboram, já que possuem ótimo grau de abertura. O porta-malas é alto e espaçoso, com 320 litros de capacidade, e existe a possibilidade de rebaixamento dos bancos traseiros, perfeito pra quem possui uma cadeira de rodas, por exemplo. “A versão para a pessoa com deficiência vem preparada para receber toda a tecnologia do sistema de áudio, com seis alto falantes, navegação GPS, bluetooth, comando de voz e entradas USB, ferramentas que podem ser acessadas por meio de uma tela touchscreen de 5 polegadas, basta o cliente pedir, que a gente faz. Aliás, quero mencionar que toda a nossa equipe está preparada para receber a pessoa com deficiência, conhecemos tudo relacionado à burocracia e o que mais de informação o cliente precisar”, explica Luiz Pimentel, supervisor de vendas da Europamotors, uma das principais revendedoras Jeep no país. Se você já estava animado com tudo que esse SUV (Veículo Utilitário Esportivo, em português) oferece, vai ficar ainda mais impressionado com o custo. O preço do Renegade, versão pessoa com deficiência, com as isenções (IPI, ICMS e IPVA), sai por R$ 54 mil, aproximadamente. Já a versão completa, cerca de R$ 102 mil, sem considerar a isenção de IPI, a única permitida para carros com valor superior a R$ 70 mil.


“A amputada Tatiana Franzon foi a nossa convidada para testar o Jeep Renegade, e adorou a oportunidade”

Revista D+ número 23


TEST DRIVE

“O porta-malas é alto e espaçoso, com capacidade para até 320 litros, ideal para quem tem uma cadeira de rodas”

PRAIA E ROUPAS

“Mais acima, a tecnologia Start&Stop, uma das muitas que o Renegade possui. E Tatiana durante o test drive”

Para testar o Renegade, convidamos Tatiana Franzon, 42 anos, que já possui um, modelo 2016. Tatiana, que adora o seu carro, é uma mulher empreendedora, que em nenhum momento se abateu com o acidente que sofreu quando tinha 19 anos. “Estava numa mobilete, velocidade razoável, o freio falhou, tive que brecar com as pernas. A artéria da perna esquerda se rompeu e a amputação, acima do joelho, teve que ser realizada”. Nessa época ela estudava e já estava envolvida com moda, fazia camisetas com estampas artesanais, que vendia na feira de artesanatos no Guarujá (litoral sul de São Paulo). Mesmo com o acidente, só fez crescer. Formou-se em design de moda pela Unimonte e hoje é proprietária da marca de roupas Bio Bao (https://biobao.com.br/). “Nada mudou drasticamente, tive um período de adaptação, claro, como qualquer amputado. Depois de um ano de muletas, comecei a usar prótese e me adaptei rapidamente a ela. E minha rotina pessoal e profissional continuou em ritmo intenso”, fala Tatiana. Na empresa, mostra toda a sua vitalidade. “Faço de tudo, mas conto com a ajuda do meu marido Alexandre e do meu filho Gabriel. Tomo conta da parte administrativa/ financeira, crio os modelos, supervisiono a produção, que é terceirizada. Ou seja, não paro um minuto e o Jeep Renegade é meu companheiro para as idas e vindas diárias. Como moro no Guarujá, venho muito à capital paulista visitar clientes, pego estrada constantemente e posso dizer que ele é seguro, confortável e responde bem a qualquer comando, como frenagens e acelerações, por exemplo”, diz.


“O carro é confortável, gostoso de dirigir, tem uma altura favorável para subir e descer, um ótimo painel de controle, visão ampla, seus comandos de ajuste tanto do banco, quanto da direção, são fáceis e precisos. Sem dizer que é lindo, claro!” Tatiana Franzon ONDE COMPRAR - Europamotors Moema: Endereço: Avenida Hélio Pellegrino, 15 Telefone: (11) 3018-8888 - Europamotors Jardins: Endereço: Avenida Europa, 725 Telefone: (11) 3933-4200 - Site: http://europamotors.com.br Mesmo sendo apaixonada pelo seu Renegade, já sentiu diferença com relação ao modelo 2018 logo de cara. “Sem dúvida o motor responde mais rápido, de forma suave. O carro é confortável, gostoso de dirigir, tem uma altura favorável para subir e descer, um ótimo painel de controle, visão ampla, seus comandos de ajuste tanto do banco, quanto da direção, são fáceis e precisos. Sem dizer que é lindo, claro!”. A MARCA JEEP A Jeep completa 77 anos em 2018, uma história que começou ao lado do exército aliado contra os alemães, na Segunda Guerra Mundial. O Estado Maior do Exército dos Estados Unidos lançou, em 1941, um apelo aos fabricantes de automóveis em seu país para a construção de automóveis com fins militares. Eles queriam um veículo ligeiro, que pudesse transportar carga, que encarasse qualquer terreno e tivesse tração integral. Pronto, nascia o Jeep! Já no Brasil, o primeiro modelo construído foi o CJ-5, em 1957. Em 1966, foi inaugurada a linha de montagem de Jaboatão dos Guararapes (PE), chamada de Willys Nordeste, já que nessa época era a Willys-Overland seu fabricante. O ano de 1982 foi o último da produção brasileira de um modelo Jeep (o mesmo CJ-5), até o retorno da marca nos anos 1990 ao país, mas apenas com importados. Em 2015 era inaugurada a fábrica da marca Jeep em Goiana, na Zona da Mata de Pernambuco, justamente onde o Renegade é produzido. Foi a primeira unidade fabril inaugurada depois da fusão global entre a italiana Fiat e a americana Chrysler, concluída em 2014 e que deu origem à Fiat Chrysler Automobiles (FCA Group), que detém os direitos sobre a marca Jeep no mundo. D+ Revista D+ número 23


COMPORTAMENTO

“Diversas formas de arte são exploradas no Projeto Ver Com as Mãos”


A arte do empoderamento Alunos cegos e com deficiência visual conquistaram autonomia e protagonismo por meio de atividades artístico-culturais texto Cintia Alves fotos Divulgação

A

representatividade de jovens militantes com deficiência visual na cidade de Curitiba (PR) começou há 12 anos no Instituto Paranaense de Cegos (IPC), com as primeiras aulas de Arte lecionadas pela estudante universitária Diele Pedrozo Santo, vidente e que desde 2012 é coordenadora e professora no projeto Ver com as mãos, estruturado e formalizado por meio do Criança Esperança, organizado pela Unesco. O projeto, que nasceu com o objetivo de inserir a Arte na vida de crianças, adolescentes e adultos cegos e com baixa visão, trouxe a oportunidade de inclusão social e contato com diferentes linguagens artísticas, além de incentivá-los a frequentar locais culturais na cidade. “Apesar dos espaços não estarem adequados na época, um processo nesse sentido foi iniciado, pela clara necessidade de atendimento adequado. Nós mostrávamos que pessoas com deficiência visual também são ávidas por lazer e conhecimento, apenas precisavam de condições para tanto, e que, com coisas simples, seria possível adaptar essas visitas”, conta Diele. UM NOVO MUNDO Luiz Gustavo Moreira de Andrade, 25 anos, com deficiência visual, estudante universitário de Letras, entrou no projeto no início, em 2012, e diz que na época não entendia direito o objetivo, até começar a relacionar as aulas de expressões artísticas com o seu cotidiano.

“Foi por meio desse envolvimento que comecei a entender que o mundo se compõe de diferentes maneiras de se pensar, de se moldar, de sentimentos, não era só uma bolha em que eu estava, mas sim algo amplo e diverso, com muitas ideias em exposição. São como metáforas de obras de arte em museus, nem sempre o artista deixa claro o que ele quer dizer”, afirma Luiz. O mesmo aconteceu com Laura Kaiser, 17 anos, estudante do Ensino Médio, com baixa visão (glaucoma congênito) que, após passar por diversos colégios e instituições, chegou ao projeto em 2012, descobrindo novas oportunidades. “Quando entrei, tive muito mais contato com pessoas com deficiência visual. Tínhamos aulas diferentes, como de desenho, que gostava muito de fazer. Lembro que achava muito legal o fato de as pessoas que não enxergavam nada conseguirem desenhar também, pois até então achava aquilo impossível”, revela Laura. Ao longo dos anos, os alunos aproveitavam cada vez mais as aulas e ocupavam espaços culturais na cidade. Porém, também aprendiam a relacionar suas vidas fora e dentro do projeto. Luiz lembra que começou a entender a importância da imersão nas artes ao fazer conexões do que vivia no Ver com as mãos com as letras das músicas do grupo “O Teatro Mágico”, por exemplo. Para Laura, a autonomia conquistada, começando a sair sozinha e frequentando novos locais com amigos, era um passo importante no processo. “Foi um ano de Revista D+ número 23


COMPORTAMENTO

“Os toques, a música e as visitas a locais públicos, são elementos que ajudam os cegos e deficientes visuais a conhecerem melhor a si mesmos”

PARTICIPE VOCÊ TAMBÉM! Após seis anos de projeto, as atividades são oferecidas conforme as demandas dos alunos e dos profissionais que se disponibilizam a trabalhar nele. Confira algumas ações: • Oficinas de Arte (a partir dos cinco anos, com diferentes linguagens artísticas) • Música no IPC (concertos didáticos com músicos profissionais, aberto à comunidade) • Respeitável Público (acompanhamento de grupos em espetáculos culturais com audiodescrição) “Na interação humana com a arte, mensagens positivas surgem naturalmente”

• Nós também vamos ao Museu! (visitações guiadas mensais aos museus da cidade) Acesse www.vercomasmaos.com.br e confira as novidades.


“Foi por meio desse envolvimento que comecei a entender que o mundo se compoe˜ de diferentes maneiras de se ˜ pensar, de se moldar, de sentimentos, nao era so´ uma bolha em que eu estava”. Luiz Gustavo Moreira de Andrade, 25 anos, com baixa-visao ˜

“Cada sentido é explorado nas visitas, colaborando na socialização dos participantes do projeto”

mudanças. Além da liberdade de ir e vir, era bem legal estar em um espaço aberto (do projeto) para a gente se expressar e falar o que pensava”, relata. O envolvimento dos jovens alunos só fez aumentar! Segundo Diele, nos últimos dois anos, eles próprios passaram a não depender unicamente do agendamento do projeto para ir a um museu, um teatro ou um cinema. A visita a esses lugares começou também por iniciativa deles. “Isso é uma grande conquista, porque é algo que nós nem almejávamos antes, mas que acabou acontecendo naturalmente”. INVERTENDO PAPÉIS Acompanhada da evolução e determinação dos alunos capacitados pelo projeto, nasce a mais recente ação, o Bate-papo Inclusivo, com a proposta de rodas de conversa sobre inclusão e deficiência, em instituições, escolas, empresas e faculdades, conduzidas pelos jovens com deficiência visual. “Eles vêm de gerações de pessoas com deficiência que talvez não tinham esse protagonismo. Agora, assumiram o papel e tomaram a frente para ir em diversos

lugares e também para receber pessoas no próprio instituto”, conta Diele. Sendo preparados há um ano pela coordenadora, a ação tem como principal objetivo mostrar, de maneira descontraída, o fato de existirem pessoas antes da deficiência. Para isso, foi preciso trabalhar o empoderamento e a segurança dos jovens a fim de dialogar com a sociedade abordando temas como: o preconceito, o olhar do outro e do quanto esse olhar pode pesar na construção deles como seres humanos. “Hoje em dia a gente visita escolas para falar sobre a pessoa com deficiência, para quem não conhece o segmento entender como funciona. É bem legal, porque não só transmito informação, como aprendi a falar e escrever melhor. O projeto me ajudou demais no sentido da comunicação”, revela Laura. Muito além de ter a oportunidade de contar sobre si, é entender a si mesmo. Luiz lembra que começou a perceber a diferença de não ser visto como cego e sim como uma pessoa cega, levando para a sociedade a quebra de paradigmas sobre os estereótipos, como, por exemplo, o uso de óculos escuros ou do cego permanecer somente em casa. “Palestrar sobre a deficiência é uma maneira de incluir a nós, cegos, como cidadãos nos meios comuns. Fazer parte do processo é muito bom, pois me vejo como alguém que tem algo para oferecer às pessoas. E, antes de ser cego, sou uma pessoa... com as minhas ideias, qualidades e defeitos. Além de ter minhas opiniões sobre o que acredito ou não”, diz Luiz. Para Diele, desde o início o principal objetivo do projeto, de dar voz aos alunos e incluí-los como protagonistas na sociedade, tem se mostrado eficiente ao gerar novos jovens líderes com deficiência visual. “Uma das maiores conquistadas do Ver com as Mãos é ver esses jovens independentes, seguros e sabendo a importância do seu papel nesse processo de mudança. Ela só vai acontecer pelo crescimento e envolvimento deles”, finaliza. D+ Revista D+ número 23


UNIVERSO CULTURAL


permita-se

NÃO VER

O Teatro Cego aguça os sentidos em uma experiência única, viva, marcante e cheia de sensações texto: Brenda Cruz

fotos: divulgação

Revista D+ número 23


UNIVERSO CULTURAL

Ao entrar na sala escura o espectador pode se sentir um tanto incomodado, certa angústia momentânea se instala no ar, a expectativa cresce, antecedendo o que está por vir. De olhos abertos não há esforço o bastante que consiga driblar o poder da escuridão. Em profundo breu, não se sabe exatamente nem mesmo sua localização na sala. Os atores, dispostos ao redor ou entre os espectadores, começam a peça. E é no escuro que tudo acontece. Será possível a compreensão de uma peça teatral nesse formato? Não só possível, como o escuro é elemento cênico, parte do todo. A audiodescrição, ferramenta tão importante para a pessoa cega, também não é necessária. A peça pode e é compreendida por todos, sem qualquer intervenção visual ou descritiva. Nessa jornada tão singular, o principal é permitir-se um envolvimento com tudo que o cerca e deixar os incômodos momentâneos de lado. Sente-se, mantendo olhos abertos ou fechados, isso não faz a menor diferença. Esse é o Teatro Cego! Um formato inovador, que tem como princípio básico dar a possibilidade de total liberdade aos seus outros sentidos, que serão responsáveis por decifrar cada cena. O INÍCIO Em 2010, Paulo Palado, criador e diretor do Teatro Cego no Brasil, soube que na Argentina existia um espetáculo chamado Teatro Ciego, formato teatral em que a peça se passa completamente no escuro. Voltando ao Brasil, Palado, apaixonado pelas possibilidades que o teatro possibilitaria, começou estudos para criar um método e peças que poderiam ser feitas totalmente no escuro. A primeira apresentação saiu em 2012, com a adaptação realizada por Palado, do conto O Grande Viúvo, da obra A vida como ela é, de Nelson Rodrigues. A estreia foi em São Paulo, no teatro Tucarena. Palado chama atenção para algo importante: pontua que o formato do teatro não é uma franquia da companhia argentina que o inspirou, mas sim uma nova linguagem. Paulo conta que parte dos atores e da produção é de pessoas cegas. Segundo o diretor, a mescla de pessoas com e sem deficiência é importante “para não virar um teatro de cegos e colocar essas pessoas como uma atração”.

OUTRAS PRODUÇÕES DO TEATRO CEGO: CLAREAR – SOMOS TODOS DIFERENTES - Um espetáculo leve e bem-humorado, que foi feito para apresentações institucionais. Vem ao encontro do anseio de unir as diferenças e valorizar a individualidade, para criar integração de colaboradores dentro de empresas, escolas e outras instituições que já tenham dado o primeiro passo em direção à inclusão. Além das experiências sensoriais, o tema também é totalmente voltado para a questão da integração. Cinco jovens dividem a mesma república. Uma deficiente visual, um deficiente auditivo, uma cadeirante, um argentino e uma torcedora fanática do Juventus da Mooca. Com muito bom humor, a trama mostra a superação de dificuldades de comunicação e convivência, por meio da sinergia da amizade, em um espetáculo de 40 minutos que conquistam a plateia com um paradoxo entre a complexidade e a simplicidade do tema. ACORDA, AMOR! – Une a música de Chico Buarque ao Teatro Cego para mais uma vez inovar como forma de expressão teatral. Com texto e direção de Paulo Palado, a peça tem como trilha sonora, executada ao vivo pela banda Social Samba Fino, uma seleção de músicas deste, que é um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. As músicas interpretadas durante o espetáculo vão costurando a trama, que se passa completamente no escuro. Vozes, sons, cheiros e sensações táteis voltam a figurar como elementos imprescindíveis para a compreensão da trama, fazendo o espectador mergulhar no mundo das pessoas cegas, com a percepção de que a compreensão do mundo que nos cerca vai muito além daquilo que os olhos podem ver. A peça traz a história de quatro jovens na luta contra a ditadura militar nos anos 1970. Três rapazes e uma garota envolvidos com a guerrilha lutam, na verdade, por muito mais que o fim da ditadura. Enquanto tentam driblar os militares, Paulo, Lucas e Cesar tentam conquistar o amor de Natasha. O amadurecimento das relações entre esses quatro jovens, ao mesmo tempo em que aprendem a lidar com a situação do seu país, é que move toda a trama. Siga o Teatro Cego no Facebook: Facebook/teatrocego


“Atores cegos, deficientes visuais e videntes misturam-se no palco e assumem papeis diversos”

OPORTUNIDADE E EXPERIÊNCIA “O Teatro Cego tem dois objetivos principais: o primeiro é abrir um campo de trabalho para pessoas com deficiência visual. Um ator cego dificilmente faz uma peça em quem não é cego. Na companhia, todos os personagens são pessoas sem deficiência, todos os atores podem realmente exercer o papel deles, assumindo qualquer personagem”, explica Palado. O segundo é proporcionar ao público, durante uma hora, a experiência da sensação de não enxergar. “A visão é muito sedutora, mas, ao mesmo tempo em que ela te seduz, engana, pois vende um valor, uma mensagem muito completa. Não no sentido bom, pois você abre mão de usar os outros sentidos para entender uma situação.” “Nós proporcionamos a vasão dos outros sentidos e, por meio deles, a percepção do mundo. O tato vai ficar mais apurado, sua audição também. Os códigos que o seu tato, audição e olfato vão produzir, irão alimentar seu cérebro para que ele complete as coisas que estão ao seu redor”, afirma. Palado pontua que a intenção não é ter uma experiência de “ser cego” ou realizar um laboratório. “O que a gente quer é usar o meio teatral para passar uma experiência e vivência. Se você esperar um laboratório, talvez não aproveite ao máximo o que o teatro pode te oferecer.” Sara Bentes é cantora, compositora, escritora e atriz, e é uma das responsáveis por dar vida às personagens no Teatro Cego desde a estreia, em 2012. Ela nasceu com uma deficiência visual congênita e foi perdendo a visão ao longo do tempo. Sara conta que desde o início ficou feliz com o formato inovador, por aproximar as pessoas que enxergam a realidade da pessoa cega. “É muito gostoso, muito confortável para mim, pois é meu mundo. Diferentemente de um teatro convencional, onde eu tenho que atender às exigências de um público que enxerga, aqui estou muito confortável”. Ou seja, o espetáculo pode não ser confortável, momentaneamente, para pessoas que não tenham uma deficiência visual. Mas a trama, as sensações que são construídas e sentidas na pele, pelo olfato e os sons que nos envolvem e nos atingem, ora com o sofrimento, ora com a alegria, permite-nos ver além dos cinco sentidos, e nos abre novas possibilidades de nos conectarmos com outros, às vezes camuflados por nós mesmos. Quais são eles? Uma questão puramente particular. Permita-se não ver e permita-se sentir mais para encontrar essa resposta. Bom espetáculo! D+ Revista D+ número 23


ARTIGO

Emojis inclusivos por *Geraldo Nogueira

O

s smartphones estão cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas. Pesquisa do IBGE revela que 138 milhões de brasileiros possuem um, sendo que 77,1% da população, com 10 anos ou mais de idade, tem um aparelho celular. Quando esses dados foram cruzados com os da Anatel, chegou-se à média de 1,7 aparelho/linha ativa por usuário. A faixa de pessoas entre 25 e 34 anos é a que mais concentra usuários de aparelhos de telefonia, sendo que o percentual chega a 88,6%. O IBGE também constatou que, quanto maior o grau de escolaridade, maior o uso de smartphones. Entre as pessoas sem escolaridade, 43,6%; com ensino fundamental incompleto, 62%; e com ensino superior completo, 97,5%. Os smartphones superam vários outros equipamentos de comunicação, como o computador. A comunicação avançou para formatos surpreendentes, chegando a voltar à era dos símbolos. No entanto, os símbolos se modernizaram. Hoje conhecidos como emojis, são uma forma de abreviar a conversa ou até mesmo deixá-la mais leve, colorida e viva. Emoji é uma invenção japonesa que se popularizou no uso dos smartphones, sendo a junção dos termos “e” imagem e “moji” letra. São ideogramas usados em mensagens eletrônicas e páginas da Web. Sua função é substituir uma palavra ou até mesmo uma frase completa. Mas o mundo virtual também precisa

incluir e, pensando nisso, a Apple propôs a criação de 13 novos emojis inclusivos. A proposta foi enviada à Unicode Consortium, organização responsável por analisar os pedidos de novos emojis. Caso sejam aprovados, em 2019 já poderemos tê-los nos aparelhos eletrônicos (iOS e Android). Segundo o blog Emojipedia, a Apple desenvolveu a proposta em parceria com as seguintes organizações: Conselho Americano de Cegos, Fundação de Paralisia Cerebral e Associação Nacional de Surdos. Entre os símbolos criados, existem pessoas em cadeiras de rodas, bengalas de orientação para cegos, cães-guia, orelhas com aparelho auditivo e próteses. Esta primeira lista não contempla todas as deficiências, mas é um ponto de partida que tenta diversificar as opções disponíveis e proporciona maior representação da diversidade dentro do universo dos emojis. O uso diário dos emojis inclusivos, principalmente pelos jovens, vai harmonizar o conhecimento com as áreas das deficiências, facilitando maior interação entre pessoas com e sem deficiência. Outra contribuição que o uso desses pictogramas poderá proporcionar é a correta adequação das terminologias, que, muitas vezes, por desconhecimento, não é feita.

* Geraldo Nogueira é formado em Direito pela Faculdade Brasileira de Ciências Políticas, com pós-graduação em Magistério Superior em Direito, pela Universidade Estácio de Sá e Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Universidad del Museo Social Argentino. É o atual subsecretário da Pessoa com Deficiência no Município do Rio de Janeiro.

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OTTOBOCK


NOSSA CAPA

Vinicius Rodrigues, 23 anos, atleta paralĂ­mpico e recordista mundial dos 100 metros rasos, com a prĂłtese 1E91 Runner e o joelho esportivo 3S80, da Ottobock


INOVANDO E CRESCENDO O mercado de tecnologia assistiva mostra uma série de avanços e um número cada vez maior de usuários no mundo texto Paulo Kehdi fotos Divulgação e CPB

B

asta uma rápida pesquisa na Internet para que se conheça a definição de tecnologia assistiva: “área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que dão mais autonomia, independência e qualidade de vida a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida”. Para uma pessoa sem deficiência, uma pesquisa é realizada de maneira rápida, tranquila. É necessário apenas digitar um ou dois nomes e pronto! Um mundo de definições e links aparece na sua frente, seja por computador, tablet ou celular. O que a tecnologia assistiva busca, como enfatiza a sua definição, é trazer essa facilidade para as pessoas com deficiência, sendo esta auditiva, visual ou física, em diversos campos. Não apenas a acessibilidade digital, mas também em forma de serviços e produtos, como cadeiras motorizadas, órteses e próteses, por exemplo. Isso implica um mundo gigantesco, de potencial fantástico, que vem sendo explorado de forma constante e crescente, seja por empresas líderes de mercado seja por instituições de médio e pequeno porte, possibilitando à pessoa com deficiência o acesso a um leque de informações, lazer e consumo. “O que verificamos é uma consciência cada vez maior de instituições que não só procuram tornar-se mais acessíveis, como passaram a enxergar o universo da pessoa com deficiência como ele deve ser visto: um nicho com grande potencial para adquirir bens ou serviços. Na verdade, a empresa que busca se aperfeiçoar, tanto por meios próprios, quanto adquirindo tecnologia de terceiros, caminha em uma direção irreversível, procurando se aproximar de um mercado em crescimento”, diz Solange Almeida, CEO da Ktalise, empresa que nasceu em 2014, especializada em tecnologia para acessibilidade em cinema, teatro, empresas e websites.

Números atestam a afirmação. Levantamento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) aponta que existem aproximadamente sete mil empresas no setor e que o mercado cresce em torno de 20% ao ano no Brasil. O mesmo estudo conclui que o mercado de tecnologia assistiva movimentou R$ 5,5 bilhões em 2015. MUNDO VIRTUAL É fato que cada vez mais as pessoas se valem do mundo virtual, principalmente da Internet, para suas atividades diárias. E não seria diferente com a pessoa com deficiência, que também anseia por esse universo ilimitado. Partindo desse princípio básico uma série de startups, empresas que iniciam suas atividades na busca de soluções inovadoras, apareceu nos últimos anos para suprir o segmento. Uma delas é a Hand Talk, criada em 2012, trazendo um aplicativo que funciona como um tradutor de bolso, para traduzir texto e voz automaticamente para Libras. Seu representante virtual, o Hugo, personagem de animação que faz a tradução, já teve mais de dois milhões de downloads! E a ferramenta conta ainda com a seção educativa Hugo Ensina - uma série de vídeos em que o personagem explica sinais e expressões em Libras para os interessados na língua. O app é gratuito e está disponível para tablets e smartphones, nos sistemas Android (na Play Store) e iOS (na App Store). “Além do Hugo, temos também o Tradutor de Sites, que funciona através da contratação feita pelas empresas e uso gratuito dos usuários. Ou seja, quem nos contrata deixa o site totalmente acessível para surdos ou deficientes auditivos, um universo de dez milhões de pessoas, só no Brasil. Hoje temos na carteira grandes empresas, como, Samsung, Azul Linhas Aéreas, Avon, Unimed, Magazine Luiza e Revista D+ número 23


NOSSA CAPA

“O Hugo, personagem de animação da Hand Talk que já teve mais de dois milhões de downloads. Abaixo, à esquerda, os fundadores da empresa; à direita, a versão para notebooks”

MRV. O setor de educação também tem dado uma atenção grande para a acessibilidade em Libras, principalmente as universidades, como ESPM, Insper e Grupo Bom Jesus, por exemplo”, conta João Vitor Bogas, gerente de marketing da Hand Talk. Para que se tenha uma ideia da dinâmica do mercado, a empresa anunciou a compra da ProDef, que era a principal concorrente. E a Hand Talk, premiada pela ONU como melhor aplicativo social do mundo, anunciou a captação de um investimento no valor de R$ 2,5 milhões. A rodada foi conduzida pela Kviv Ventures, fundo de investimento que vislumbrou grande potencial no segmento. Mas do que adianta proporcionar acessibilidade à pessoa com deficiência auditiva e deixar as pessoas com outras deficiências de fora no website? Preocupadas com essa questão, as empresas do segmento conversam entre si, apesar de independentes. A Hand Talk tem parcerias informais com a Ktalise e a Essential Accessibility, esta, fundada no Canadá em 2009 e trazida para o Brasil em 2013, contando com mais de 200 clientes pelo mundo.

“ALÉM DO HUGO, TEMOS TAMBÉM O TRADUTOR DE SITES, QUE FUNCIONA ATRAVÉS DA CONTRATAÇÃO FEITA PELAS EMPRESAS E USO GRATUITO DOS USUÁRIOS. OU SEJA, QUEM NOS CONTRATA DEIXA O SITE TOTALMENTE ACESSÍVEL PARA SURDOS E DEFICIENTES AUDITIVOS”. JOÃO VITOR BOGAS, GERENTE DE MARKETING DA HAND TALK

“Nossa tecnologia atende pessoas com mobilidade reduzida e com baixa visão. O software que desenvolvemos tem várias ferramentas. Uma delas permite, por meio de uma câmara acoplada no computador, controlar o cursor com movimentos do rosto. Não só isso, mas também disponibilizamos teclado virtual, comandos de voz e leitores de tela. Nosso modelo de negócio é parecido com o da Hand Talk, ou seja, disponibilizamos a ferramenta em sites de empresas que nos pagam por isso. O consumidor final acessa esse site e faz o download gratuitamente”, explica Aurélio Pimenta, CEO da Essential Accessibility. Pimenta chama atenção para outro aspecto importantíssimo. “Existe uma norma internacional, a WCAG 2.0 (Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web, em português), com 38 regras. Nós buscamos atender a todas elas, ou seja, deixar o site completamente acessível, seja qual for a deficiência do usuário. Existe uma normativa nacional baseada na WCAG 2.0, mas ela é desatualizada. Outra curiosidade: nós já tivemos mais de 25 mil downloads de


“Douglas Reis, 36 anos, tetraplégico, é usuário do aplicativo da Essential Accessibility”

“Software da Ktalise, que torna acessíveis espetáculos artísticos, posto em prática durante sessão de teatro”

CADEIRA DE RODAS O mercado de cadeira de rodas não fica de fora dos avanços tecnológicos que surgem diariamente. No Brasil, existem várias marcas voltadas ao produto. Destacamos aqui a Freedom (http://www.freedom.ind.br/), fundada em 1986, que desenvolve tecnologia própria; e a Ortobrás (https://ortobras.com.br/), com 35 anos de existência. Ambas apresentam produtos financeiramente acessíveis, com tecnologia de ponta, incluindo cadeiras motorizadas. nossa ferramenta pelo país, mas especialmente em São Paulo, outras regiões do Brasil ainda engatinham no quesito da acessibilidade digital”. Um dos usuários do aplicativo da Essential é Douglas Reis, 36 anos, que ficou tetraplégico em 2009, após contato com uma cerca elétrica no condomínio onde morava. Com formação em sistema de dados, sistema da informação e especialização em análise e desenvolvimento de softwares, Reis trabalha desde 2005 na IBM e é apaixonado pela área. “O aplicativo é fantástico! Tem múltiplas funcionalidades. A webcam reconhece os movimentos de seu rosto e, de forma precisa, posiciona o cursor do mouse de acordo com eles. Existem inúmeras possibilidades de configuração, cada qual apropriada a um tipo de limitação. Com o hábito, você consegue fazer quase tudo que uma pessoa sem deficiência faz. Eu edito vídeos, faço desenhos, utilizo o teclado virtual, são muitas as opções”.

LAZER E EDUCAÇÃO Ao falarmos sobre um universo completo, obviamente que lazer e educação também precisam ser contemplados no leque de soluções tecnológicas que vêm sendo apresentadas no Brasil e no mundo, num processo dinâmico e intermitente. A Ktalise tem exatamente essa preocupação com as três ferramentas que disponibiliza: a audiodescrição, as legendas descritivas e a tradução para a Libras. “Nossos clientes são distribuidores de filmes, salas de cinemas, teatros, canais de TV abertos e pagos, além de oferecermos suporte a eventos corporativos e de fazermos a acessibilidade de websites”, explica Solange, que veio de uma empresa distribuidora de filmes e acabou se juntando a outros três sócios, um deles com profundo conhecimento do segmento da pessoa com deficiência, por ter trabalhado por anos em uma ONG da área. “O que aconteceu foi que percebemos que ambos, tanto o mercado de lazer e entretenimento, como o da pessoa com deficiência, tinham potenciais fantásticos e um não poderia viver sem o outro. Então começamos duas frentes de ações: uma responsável por olhar para o mundo ao redor e observar o que havia sido implantado de mais moderno em termos de tecnologia nessa fatia de mercado; a outra consistia em nós mesmos, por meio de pesquisas e desenvolvimento de projetos, incrementarmos essa tecnologia”, explica. Dessa forma, a empresa cresce, com aumento de 30% no faturamento, se comparado o de 2017 com o de 2014, ano da fundação. “É importante ressaltar que precisamos da colaboração dos produtores de filmes, por exemplo. A própria peça cinematográfica já tem que estar pronta Revista D+ número 23


NOSSA CAPA

“A PlayTable ensina e inclui ao mesmo tempo, ao permitir que crianças com e sem deficiência possam interagir durante os jogos”

“Funcionário da Adstream trabalhando na acessibilidade de peça publicitária”

“A PLAYTABLE FUNCIONA PELO TOQUE, MAS SUA TELA É SENSÍVEL A QUALQUER OBJETO, NÃO NECESSARIAMENTE À MÃO HUMANA. DESSA FORMA, CRIANÇAS AMPUTADAS, COM MOBILIDADE REDUZIDA, PODEM USAR ADAPTADORES PARA BRINCAR”. CRISTIANO SIEVES, GERENTE DE MARKETING E PRODUTOS DA PLAYMOVE

para receber as ferramentas que dispomos. Sendo assim, quando uma pessoa com deficiência vai a uma sessão inclusiva, receberá um tablet, que lhe permitirá acompanhar o filme com muito mais detalhes. O deficiente visual terá acesso à audiodescrição, o deficiente auditivo às legendas descritivas ou à tradução em Libras. Isso vale para o teatro, ou ainda, para um evento corporativo. Acabamos de finalizar o processo de acessibilidade total para a peça O Fantasma da Ópera, em cartaz no teatro Renault, em que pessoas com deficiência auditiva e visual terão total condição de usar as ferramentas disponíveis. E nos sites que trabalhamos e que tornamos acessíveis por meio de plug-ins, oferecemos treinamento a todos os

funcionários da empresa, a fim de que conheçam o que disponibilizamos”, diz Solange. A Ktalise ainda fornece laudos de acessibilidade para edificações. Baseados em minuciosos estudos, identificam o quanto da construção e seu entorno são realmente acessíveis e o que falta para que sejam, orientando o cliente em todos os sentidos, incluindo sinalizações. A Adstream, empresa australiana fundada em 2001, tem como uma de suas possibilidades tornar peças publicitárias acessíveis. No Brasil, desde 2012, tem clientes de porte, como, Procter&Gamble, Warner Bros, Natura, Bradesco, Itaú e Ambev. Celso Vergeiro, seu CEO, explica as ferramentas disponíveis e fala da expansão do mercado


como um todo. “Nós temos a tecnologia para inserir closed caption, audiodescrição e janela para Libras, em qualquer peça publicitária, desde que ela esteja pronta para isso. Dessa forma, não só interagimos com os clientes, como também com as agências de publicidade e produtoras. Já existe uma consciência de algumas empresas nesse sentido, mostrando grande senso de responsabilidade social, além da percepção de se estar falando com milhões de consumidores com deficiência, uma fatia de mercado expressiva. Para se ter uma ideia do crescimento de peças publicitárias adaptadas por mês, em 2015, quando o closed caption não era obrigatório (passou a ser em 2016), fizemos 72 peças acessíveis no ano todo. Somente em janeiro de 2016 foram 117 peças publicitárias adaptadas. Em 2018, a média é de 300 peças/mês, com concentração maior no closed caption, por ser obrigatório. Isso representa um faturamento de aproximadamente R$ 300 mil mensais, só nessa fatia de mercado”, explica Vergeiro. Ele chama, ainda, atenção para outro aspecto, o da fiscalização da legislação. “Tirando São Paulo, onde 90% das peças têm closed caption, o número de publicidade acessível cai drasticamente no resto do país. Não há fiscalização nesse sentido, uma falha do governo. Então contamos mesmo com a consciência do empresário para perceber o quão importante é usar nossos recursos”, diz. No ramo da educação, podemos destacar a Playmove, empresa que surgiu em 2014, curiosamente depois do lançamento de seu principal produto, a mesa de jogos educacionais e interativos, chamada PlayTable, cujo desenvolvimento ocorreu dois anos antes. “A PlayTable foi concebida em 2012 pelo nosso diretor executivo, Marlon Souza. A ideia inicial era que o produto fosse ligado ao

entretenimento infantil, mas já tendo um viés educativo. O que aconteceu depois de 2014, com a criação da empresa, é que passamos a produzir a mesa em larga escala, e com particularidades, dependendo da necessidade de nossos clientes”, explica Cristiano Sieves, gerente de marketing e produtos da Playmove. Sieves explica que a mesa foi pensada também levando em consideração a criança com deficiência. “Ela funciona pelo toque, mas sua tela é sensível a qualquer objeto, não necessariamente à mão humana. Dessa forma, crianças amputadas, com mobilidade reduzida, podem usar adaptadores para brincar. Todos os nossos aplicativos de jogos – são mais de 70 produzidos até hoje – são pensados para que o áudio não seja elemento essencial para desenvolvimento das atividades. Sendo assim, a criança com deficiência auditiva ou surda, pode jogar com crianças ouvintes, sem problema algum. Temos também aplicativo de contação de história, que pode ser utilizado pela criança com deficiência visual e vem com janela de tradução em Libras, para a criança surda que conheça a língua. Não só isso, desenvolvemos jogos interativos, que ajudam na socialização, alguns específicos para autistas. E a mesa segue todos os padrões de segurança que a legislação determina”. A Playmove tem entre seus clientes mais de mil escolas, mais da metade pertencentes à rede pública. A mesa é usada tanto no ensino regular, já que contém aplicativos que auxiliam no aprendizado das disciplinas tradicionais, como na sala de recursos multifuncionais, geralmente frequentada por crianças com deficiência. “A empresa produz a própria tecnologia e conta com uma rede de colaboradores para desenvolvimento dos softwares educativos. Temos mais de 70 produtos e até o fim deste ano pretendemos chegar a 100, sempre pensando na acessibilidade dos jogos. Ano passado faturamos R$ 8 milhões com o nosso produto e em 2018 pretendemos dobrar nosso faturamento”, finaliza Sieves. POTÊNCIAS MUNDIAIS O mundo da tecnologia assistiva traz empresas gigantes, como a Google, que, considerada a terceira mundial em valor de mercado, atrás apenas da Walmart e da ExxonMobil, busca constantemente soluções para a pessoa com deficiência. Sua preocupação com o segmento pode ser medida pelas iniciativas que toma: criou uma equipe de engenharia dedicada a impulsionar a acessibilidade na empresa, chamada Central Accessibility Team; lançou uma dezena de cursos internos, cobrindo acessibilidade na Web, do Android e do iOS, tecnologia assistiva, técnicas de teste e design de experiência do usuário; desenvolveu e divulgou um curso gratuito online chamado Revista D+ número 23


NOSSA CAPA

“O software de Essential Accessibility tem versão para desktop e mobile (abaixo)”

“Introduction to Web Accessibility”, com dicas importantíssimas na área; regularmente realiza estudos de experiência do usuário com membros da comunidade com deficiências, a fim de melhorar a acessibilidade de seus produtos. Entre suas ferramentas, podemos destacar: o “Voice Note”, que transforma arquivo de voz em texto; o “Lookout”, um aplicativo criado para ajudar pessoas cegas ou deficientes visuais a conhecerem o mundo ao seu redor, não importa onde estejam; e, em colaboração com Tania Finlayson, especialista em tecnologia assistiva em código Morse, que nasceu com paralisia cerebral, usaram o código Morse e machine learning juntos para adicionar uma maneira nova e acessível de inserir comunicação no smartphone com Android, instalando um teclado de código Morse. Para conhecer melhor esses produtos, a matéria traz uma série de links (ver box) que permitem sua visualização e funcionamento por meio do YouTube. Aliás, falando nele, a Google anunciou em fevereiro que o YouTube

“NOSSA TECNOLOGIA ATENDE PESSOAS COM MOBILIDADE REDUZIDA E COM BAIXA VISÃO. O SOFTWARE QUE DESENVOLVEMOS TEM VÁRIAS FERRAMENTAS” AURÉLIO PIMENTA, CEO DA ESSENTIAL ACCESSIBILITY já traz legendas automáticas em inglês para transmissões ao vivo. E ainda, na linha das novidades, elaboraram um novo app chamado “Voice Access”, recém-lançado, por enquanto apenas nos EUA, que permite ao usuário navegar em seu celular apenas com comandos de voz. Quer saber de outra curiosidade que só o universo da tecnologia proporciona? Microsoft e Apple juntas! A primeira produziu o software “Seeing AI”, voltado à pessoa com deficiência visual, com câmara e oito canais de funcionalidades diferentes, a saber: faz a locução de texto lido por meio da câmara; é capaz de ler códigos de barras de qualquer produto; reconhece pessoas e amigos em volta do usuário, incluindo suas emoções; proporciona descrição do ambiente onde o usuário se encontra; identifica notas e moedas (o Real, infelizmente, ainda não está disponível, mas estará em breve); lê e transmite por meio de voz o grau da luminosidade do ambiente; descreve cores; além de ler e transmitir por meio de voz textos escritos a mão. E onde esse maravilhoso software pode ser utilizado? Nos iPhones produzidos pela Apple! Ou seja, a quarta (Microsoft) e a oitava (Apple) maiores empresas em termos de valores, no mundo, juntas para proporcionar qualidade de vida à pessoa com defciência. Fundada em 1969 na Coreia do Sul, a Samsung está no Brasil desde 1987 e só cresceu desde então, possuindo no país duas fábricas e três centros de desenvolvimento e pesquisa. Preocupados com a questão da acessibilidade já há anos, adota como posicionamento e principal objetivo o “Do What You Can’t” (“Faça o Que Não Pode”, em tradução livre para o português), para estimular as pessoas a irem além com o apoio da tecnologia. Andréa Mello, Diretora de Marketing Corporativo e Consumer Electronics da Samsung Brasil, fala sobre esse desafio e os produtos que a empresa produziu, pensando no segmento


“Os produtos da Samsung contam com tecnologia assistiva de ponta”

da pessoa com deficiência. “Recentemente, lançamos o projeto “Samsung Áudio Acordes”, um app gratuito, desenvolvido para ensinar pessoas cegas ou com deficiência visual a tocarem violão de forma prática e intuitiva, sem a necessidade da leitura em braile. O aplicativo funciona por meio de um sistema de voz, o primeiro desse tipo no mundo, que facilita o processo de aprendizado dos cegos porque dita os acordes das músicas no momento preciso em que eles devem ser tocados. O app é gratuito e pode ser baixado na Play Store para smartphones e tablets da Samsung a partir do sistema operacional Android 4.4, além de poder ser acessado também pelo site por meio de notebooks, computadores, tablets e smartphones”, diz Andréa. A maioria dos smartphones, televisores e notebooks da empresa tem funções de acessibilidade para pessoas cegas e surdas – os modelos vão desde os mais simples até os completos – de diferentes categorias e faixas de preços para oferecer opções a todos os consumidores. Os smartphones contam com opções de fontes maiores que as tradicionais e as pessoas podem escolher o tamanho e o estilo, tornando possível ler o conteúdo com mais facilidade. Os aparelhos também têm a funcionalidade de cores negativas, em que é possível inverter as cores da tela para melhor visibilidade. Alguns produtos da linha S e Note têm ainda uma função para ativar os detectores de som, que identificam o tipo de áudio que é reproduzido, como uma criança chorando ou uma campainha tocando, e exibem notificações por meio de vibração ou recursos visuais. Existe também o aviso em flash, que acende a luz da câmera ou da tela sempre que o aparelho recebe uma notificação ou quando soam alarmes de som. É possível realizar ajustes de cores e ativar assistente de voz e leitor de tela, entre outros recursos.

CARTÃO IDENTIDADE O mercado de tecnologia assistiva também vive de iniciativas de pequenas empresas, com o objetivo de tornar melhor a vida da pessoa com deficiência. Nesse sentido, Stepan Mekbekian e Fabio Noguti desenvolveram um cartão identidade, chamado de “Identidade Digital da Pessoa com Deficiência” que serve, entre outras coisas, para evitar discriminação, já que muitas vezes a deficiência não é visível, podendo trazer constrangimentos no dia a dia. “A identidade tem um chip que carrega uma série de informações pessoais. Nossa ideia é desburocratizar a vida das pessoas com deficiência, além de trazer uma série de benefícios para elas, por meio de programas de fidelidade com empresas. Porém, estamos ainda na busca de recursos para viabilizar nossa iniciativa”, afirma Mekbekian. Para quem quiser conhecer mais do projeto, ou mesmo ajudar seus desenvolvedores a viabilizá-lo, é só entrar em contato pelo e-mail social@ipcdf.org, ou pelos telefones (11) 3090-8555, (11) 94846-2090, ou ainda visitando o site www.ipcdef.org.

Já alguns modelos de TVs da marca contam com um guia de voz, possibilitando que o texto na tela seja lido e forneça retorno verbal sobre o volume selecionado, canal atual e informações da programação. Os aparelhos também têm as funções de audiodescrição e alto contraste destinadas para pessoas com deficiência visual – e legendas – para pessoas com deficiência auditiva. Os notebooks da Samsung também contam com funcionalidades que permitem maior acessibilidade para os usuários. Entre essas funções, estão: sistema de reconhecimento de fala, assistente de voz, inversão de cores e alto contraste, lupa e central de facilidade de acesso. Andrea ainda menciona outras preocupações da empresa com o segmento. “Nosso site é 100% acessível e recebeu o selo de acessibilidade digital emitido pela Secretaria da Pessoa com Deficiência da cidade de São Paulo. Além disso, utilizamos a hashtag #pracegover em todas as nossas campanhas nas mídias sociais e também nos vídeos, descrevendo as imagens que estão nos posts e banners para pessoas cegas ou com deficiência visual”. SINTETIZADORES DE VOZ A Laramara foi fundada em 1991 com a intenção de se tornar um centro de excelência e referência para pessoas com deficiência visual. Em seu modelo de negócios, constituiu a Revista D+ número 23


NOSSA CAPA

“Leonardo Gleison, 31 anos, deficiente visual, usando o leitor de livros eletrônicos Victor Reader Stratus”

PARA CONHECER MAIS Para conhecer melhor as empresas e seus produtos, consulte os links relacionados: - Adstream: https://www.adstream.com/pt-br/ - Essential Accessibility: https://www. essentialaccessibility.com/pt-br/ - Hand Talk: https://www.handtalk.me/ - Ktalise: http://ktalise.com.br/ - Laramara: http://laramara.org.br/ - Laratec: http://loja.laratec.org.br/ - Ottobock: https://www.ottobock.com.br/ - Playmove: http://www.playmove.com.br/ - Samsung: https://www.samsung.com/br/

Laratec, loja virtual com produtos diversos, incluindo, claro, tecnologia de ponta. Leonardo Gleison, 31 anos, frequenta a instituição desde os quatro e passou a trabalhar nela em 2008. Nascido cego no sertão de Pernambuco, foi trazido a São Paulo com dois anos de idade, para tentar corrigir a falta de visão. Passou por cirurgia de transplante de córnea, o que recuperou parte dela, mas, aos 15 anos, teve nova intervenção cirúrgica, que acabou malsucedida, acarretando na perda definitiva da visão. Mesmo assim, Gleison construiu uma carreira acadêmica brilhante, formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Universidade Brás Cubas, além de ter feito MBA na mesma instituição e atualmente fazer o curso de engenharia da computação pela Univesp, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Ele destaca alguns produtos disponíveis, que podem ajudar, e muito, pessoas cegas ou com baixa visão. “Existem dois leitores de livros eletrônicos, o Victor Reader Stratus e o Victor Reader Stream, que transformam textos por meio de um sintetizador de voz de alta qualidade. A diferença entre os modelos é que um é portátil (Stream) e o outro (Stratus), de mesa. Também acho importante destacar os ampliadores de tela Uemax, que as deixam até vinte e oito vezes maiores!”, diz Gleison. Outros produtos de destaque são o ReadyEasy Move, um leitor de textos autônomo que lê em voz alta praticamente qualquer tipo de texto tipografado impresso em questão de segundos, com uma qualidade de voz quase humana. E o Readit, software para pessoas com cegueira ou baixa visão, que permite digitalizar documentos impressos ou importar arquivos eletrônicos e convertê-los para um formato de visualização aprimorado e/ou para leitura com voz sintetizada. DEFICIÊNCIA FÍSICA A Ottobock é a líder mundial em próteses e órteses. Sua fundação data de 1919, na Alemanha. Ou seja, ano que vem completa um século de existência. No Brasil, estabeleceu-se em 1975, no Rio de Janeiro, para depois abrir filiais pelo país. Além de importar tecnologia produzida pela matriz e por outras filiais do mundo, possui um centro de pesquisa e desenvolvimento, localizado em Valinhos (interior de São Paulo). A empresa é capaz de produzir maravilhas, como os produtos Bebionic e Michelangelo, mãos biônicas que reproduzem movimentos da mão humana. A Bebionic apresenta 14 tipos de apreensões (dos movimentos dos dedos) diferentes. Já a Michelangelo apresenta sete possibilidades. Não só isso, podem ser complementadas com várias opções de punhos e cotovelos. Sérgio Romaniuc, 56 anos, biólogo, professor e pesquisador que trabalha no Instituto de Botânica de São Paulo, sofreu acidente de trabalho. “Em 1989, quando tinha 27 anos e já era taxonomista [profissional que classifica os


“Vinicius Rodrigues em momento de descanso durante seus treinamentos. Prótese e “piloto” de qualidade!”

PARA CONHECER OS PRODUTOS: - Áudio Acordes (Samsung) https://www.samsung.com.br/audioacordes/ - Lookout (Google): https://www.youtube.com/ watch?time_continue=1&v=k1mz7b-A22c (em inglês) - Seeing AI (Microsoft): https://www.microsoft.com/ en-us/seeing-ai (em inglês) - Teclado de Código Morse (Google): https://www.youtube.com/watch?v=Oc_ QMQ4QHcw (em inglês) - Voice Access (Google): https://www.blog.google/ outreach-initiatives/accessibility/use-your-voiceaccess-world-new-android-app/ (em inglês) - Voice Note (Google): https://www.youtube.com/ watch?v=RKURBmizNsQ

grupos de organismos biológicos], fui colher uma espécie de planta, mas havia um fio elétrico irregular emaranhando-se com ela. Quando encostei no fio, sofri uma descarga de 13 mil volts, que queimou meus dois braços. Tive que amputá-los e já no ano seguinte comecei a usar próteses da Ottobock. Minha adaptação foi muito rápida e o mais importante de tudo é que retomei minha rotina, tanto pessoal, como profissional”, diz Romaniuc. “Passei a trocar de próteses de acordo com a evolução tecnológica delas. Hoje eu utilizo a Michelangelo, que me proporciona uma série de movimentos, conforto e autonomia quase que total. Os eletrodos nela inseridos funcionam perfeitamente bem, auxiliando no desempenho das minhas tarefas”, conclui Sérgio.

“Sérgio Romaniuc, 56 anos, biólogo, professor e pesquisador, com sua prótese Michelangelo: sete possibilidades diferentes de apreensões, que lhe permitem exercer plenamente sua profissão”

E se a Ottobock faz próteses e órteses fantásticas para os membros superiores, não seria diferente para os membros inferiores. Vinicius Rodrigues, 23 anos, é atleta paralímpico desde 2015 e o atual recordista mundial dos 100 metros rasos na classe T63, destinada a amputados de membro inferior. Com a marca de 11’99”, tornou-se o primeiro homem da categoria a concluir em menos de 12 segundos. “Sofri um acidente de moto em 2015, na minha cidade natal, Maringá (PR) e tive amputação em cima do joelho, na perna esquerda. Depois do pré-operatório, já comecei a usar próteses. Minha ida para o esporte foi natural, eu já corria e jogava bola, estava me preparando para prestar concurso na Polícia Militar. Em 2015 já me destaquei e em 2016 fui convocado para a seleção brasileira paralímpica de atletismo. O recorde mundial veio no início deste ano, uma emoção indescritível!”. Rodrigues usa dois tipos de prótese, uma para o dia a dia e outra para as corridas. Para estas, ele usa o modelo 1E91 Runner, caracterizado por uma lâmina de corrida em carbono leve e durável, proporcionando ao atleta não só uma poderosa tração, mas também estabilidade. A lâmina é complementada pelo joelho esportivo 3S80, compacto, robusto e recomendado para todos os tipos de esportes que envolvam corrida. Tem poderoso controle hidráulico e trava manual. Já para o dia a dia ele usa o joelho hidráulico 3R80 e mais um pé em carbono 1C60 – Triton. “A prótese que uso no dia a dia é diferente da esportiva, também por possuir um sistema de freio, estimulado com a pisada do calcanhar, que tem movimentos dinâmicos. Todas são à prova d´água. A alta tecnologia da Ottobock me auxilia nas competições. Mas é que nem na Fórmula 1, não adianta ter um bom carro se o piloto é fraco. Graças a Deus sou um bom piloto (risos)”, diz nosso recordista mundial. D+ Revista D+ número 23


SAÚDE

“Rebecca, 9 anos, com síndrome de Down. Ela adora as sessões de musicoterapia, que faz há um ano”


Música que transforma Em forma de terapia, a música proporciona diversos pontos positivos no desenvolvimento do paciente texto Brenda Cruz fotos Jéssica Carecho e Arquivo Pessoal

D

ona de muitas facetas, a música desperta no ouvinte uma avalanche de sensações, que podem variar conforme a disposição e humor. Paixão mundial, reflete em suas variantes cultura, política, formas de viver e pensar. Agora, você já imaginou que ela pode ser usada para tratar, recuperar, reabilitar ou manter a saúde mental e física? Pois essa é a função da musicoterapia, que auxilia a quem recorrer às suas benesses. Mas, afinal, como essa terapia funciona? A musicoterapia é o estudo da relação entre música, cérebro e comportamento humano. A sua capacidade de utilização é tanto na área profilática, prevenindo o surgimento de doenças, quanto amenizando ou curando-as, dependendo do objetivo do tratamento. E, sob o ponto de vista terapêutico, buscando o desenvolvimento individual do paciente. Maristela Pires da Cruz Smith, 66 anos, é musicoterapeuta desde 1975. Dedicou-se à área, especializou-se em psicomotricidade e é também doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Ela conta quais são os benefícios da musicoterapia. “De forma geral, inicia-se com abertura dos canais de comunicação, ampliando percepção e desenvolvendo, integralmente, e os aspectos da conduta do paciente: social, emocional, mental, cognitivo, espiritual e o musical, propriamente dito”. Fato bastante importante ressaltado pela musicoterapeuta é que a terapia trabalha com a meta de desenvolver os potenciais existentes e resgatar funções perdidas pela doença sofrida. “Valoriza-se a plasticidade cerebral, lembrando que a música é a única arte capaz de processar o cérebro por inteiro”, aponta. NA PRÁTICA Violão, tambores, piano, teclado e assim por diante. Todos os instrumentos são bem vindos, escolhidos conforme a necessidade terapêutica de cada paciente. Além deles, a voz também é protagonista. O cantar agrega valor e auxilia

no desenvolvimento de fala, como no caso da Rebecca Silva Figueiredo, de 9 anos, com síndrome de Down. Sua mãe, Lúcia Franco Figueiredo, 53 anos, é professora de inglês e sempre acreditou que a música ajuda muito os alunos. Por isso, resolveu colocar sua filha na musicoterapia. Lúcia conta que a musicoterapia auxiliou Rebecca no desenvolvimento de fala e na comunicação. “Ela se comunica muito mais agora, tem mais atenção e concentração, a coordenação motora melhorou, as noções de espaço e lateralidade também aumentaram, bem como a tolerância a alguns tipos de sons”, conta. Rebecca gosta muito das sessões de musicoterapia e faz regularmente, há cerca de um ano. Ela, que mostra espontaneidade, alegria e uma familiaridade invejável com a câmera, participa de campanhas publicitárias e se desenvolve para ser o que ela quiser quando crescer. Guilherme Tomé Ledres, de 3 anos, também tem síndrome de Down que, assim como no caso de Rebecca, só foi descoberta após o nascimento. Sua mãe, Priscila Tomé Ledres, 39 anos, conta que o processo de descoberta não

“Ela se comunica muito mais agora, tem mais atenção e concentração, a coordenação motora melhorou, as noções de espaço e lateralidade também melhoraram, incluindo a tolerância a alguns tipos de sons”. Lúcia Franco Figueiredo, mãe da Rebecca Revista D+ número 23


SAÚDE

“Guilherme tem apenas 3 anos, mas já adora instrumentos musicais. Abaixo, Lucia e Rebecca”

PASSO A PASSO Para pessoas que apresentam dificuldades nas áreas comunicativa, motora, emocional e mental, ou na relação social, dependendo do diagnóstico, ou ainda da queixa, direciona-se uma metodologia específica:

1 2

Entrevista inicial para montagem do histórico sonoro-musical (identidade ou perfil musical);

Avaliação inicial, com testes que visam a detectar o grau de memória operacional para ritmo, melodia e outros da área específica musical;

3

Sessões propriamente ditas, com objetivos terapêuticos claros (geral e específicos), montadas em três etapas: preparação, desenvolvimento e fechamento;

4 5

Avaliação final (para comparação da evolução do tratamento); “Alta musicoterapêutica”, quando já foram alcançados os objetivos prescritos no início.


MUSICOTERAPIA X MUSICALIZAÇÃO Musicoterapia é a utilização dos parâmetros musicais com fins terapêuticos e objetivos claros de tratamento. Na musicalização, o objetivo é educar a pessoa com finalidade de aprendizado. A formação é diferente. Por exemplo, um musicoterapeuta não tem compromisso de ensinar alguém a tocar um instrumento (com exigências, ou rigor estético que uma escola de música objetiva); se acontecer de um paciente, em Musicoterapia, querer aprender a tocar um instrumento musical específico, ele é encaminhado para esse fim, a um conservatório musical. Na Musicoterapia há montagem de um setting terapêutico especial para cada caso ou grupo, pois há todo um estudo e investigação da relação que o sujeito estabelece com a música. O objetivo da Musicoterapia, portanto, é clínico e o da musicalização, o aprendizado.

foi fácil, sentiu como se o mundo desabasse em suas costas. Depois do choque inicial, ela procurou saber como poderia estimular ao máximo seu caçula. “Li muito sobre tudo o que poderia estimular o Gui e, para minha surpresa, na turma do meu filho mais velho, o Pedro, tinha uma mãe proprietária de uma clínica que trabalhava com a musicoterapia. Ela nos perguntou se queríamos fazer um teste para ver se ele se adaptava”, relembra. O pequeno gostou e a família se dedicou a inserir a terapia como uma das opções para estimular o seu desenvolvimento. “Começamos a perceber mais sensibilidade, que ele ia atrás dos sons e que ficava extremamente calmo com música”, afirma Priscila. REGULARIZAÇÃO A doutora Maristela explica que os cursos de formação para musicoterapeutas, no Brasil, são reconhecidos pelo MEC, mas, a regulamentação em nível nacional ainda não foi conquistada. Porém, isso não impede que os profissionais da área sejam registrados dentro da função, em diversas instituições. Ela ainda pontua que, havendo essa conquista, o papel do musicoterapeuta ficará mais claro para a sociedade, dificultando e impedindo que, legalmente, outros profissionais que utilizam a música em seus trabalhos, se intitulem musicoterapeutas. D+ Revista D+ número 23


NOSSA CAPA EDUCAÇÃO

Reconhecendo

HABILIDADES Método similar ao usado nos contraturnos de diversas escolas é direcionado a pessoas, especialmente crianças e adolescentes, com e sem deficiência cognitiva texto Paulo Kehdi fotos Jéssica Carecho e Gotas de Suspiro

J

ulcimar Oliveira, 53 anos, tinha formação em marketing e trabalhava em uma empresa em 2003, quando nasceu seu filho Alexandre, com síndrome de Down. O fato iria desencadear uma série de acontecimentos e decisões que mudariam completamente o rumo de sua vida e da esposa, Arminda Barros de Sá, pedagoga. “Quando Alexandre nasceu, comecei a enxergar o que me cercava de forma diferente. Passei a priorizar qualidade de vida e queria ter um relacionamento completo, intenso, com meu filho. Nesse sentido, em um primeiro momento, resolvemos romper com o que fazíamos até então. Saímos de São Paulo e voltamos a minha cidade natal, Taquara (interior do RS), abandonei minha antiga profissão e comecei a ensinar desenho, uma paixão que tenho, para crianças da cidade. A Arminda continuou lecionando, mas nossa rotina era completamente diferente de quando morávamos na capital paulista”, fala Oliveira, conhecido como Doya. No decorrer dos anos, Doya foi incorporando novas formações acadêmicas e experiências profissionais. Em 2008, mudou-se para Porto Alegre (RS), para trabalhar no departamento de tecnologia de uma escola, para depois, no ano seguinte, tornar-se vice-diretor de outra instituição educacional. Paralelamente, passou a fazer mestrado em semiótica e pós-graduação em psicopedagogia. “Comecei a ter contato com outras áreas do conhecimento que sempre me atraíram: a tecnologia, a psicologia e a educação. Não só aprendia no curso, como pesquisava muito. Algo que sempre me fascinou são os estudos relacionados ao cérebro, enfim, procurei me aprofundar em várias frentes de conhecimento”. Alexandre, sempre contando com total atenção dos pais, também frequentava ambiente escolar inclusivo. “Em

paralelo, como reforço, em 2012, iniciei um programa simples com meu filho, em casa, envolvendo materiais cinestésicos (que ajudam no aprendizado, envolvendo corpo e mente) e técnicas da neuróbica (conhecida como ginástica para o cérebro), e os resultados logo surgiram. Apesar de suas dificuldades, tanto na escola quanto em família, houve uma melhora significativa no aguçamento de suas percepções e maior desenvoltura na comunicação”, afirma Doya. Em 2016, voltaram todos para São Paulo, ele e Arminda começaram a trabalhar em escola privada, ela como professora da instituição e ele como coordenador. Lá, Doya passou a ter experiências educacionais complementares, dadas no contraturno do horário de ensino. “Recebia muitos alunos para momentos de reforço escolar, mas as atividades que ministrávamos eram diferentes de uma aula tradicional. Incorporávamos brincadeiras e exercícios físicos, algo parecido com o que eu fazia com o Alexandre. Pudemos observar que havia efetivamente um ganho de desempenho pelos alunos. Foi quando pensei: ‘se funciona com crianças sem deficiência e com o Alexandre, porque não expandir a área de atuação e passarmos a atender pessoas com e sem deficiência cognitiva num mesmo espaço?’. TRÊS PILARES Do questionamento surgiu a ideia de implantar a escola Neuroadvanced, em 2017, quando profissionais da área da educação, psicologia e saúde se reuniram com os mesmos propósitos e objetivos. A escola tem uma abordagem própria, que prima pelo atendimento personalizado do aluno, focado nas questões pedagógicas e de dificuldades de aprendizagem. A sua metodologia está


Doya, com Daniel (esquerda) e Alexandre. Ao lado, em sentido horário: Kauan em atividade lúdica; Doya e Alexandre; o “mindwave”, aparelho que lê as ondas cerebrais; Doya com Alexandre e Kauan; atividades com xadrez; e Alexandre com a mãe, Arminda”

Revista D+ número 23


EDUCAÇÃO Irene com Daniel. Ao lado, em sentido horário: Alexandre e Arminda, e Kauan com Vera Lucia. Mães dando apoio aos filhos. Abaixo, Alexandre, Doya e Vera Lucia durante as atividades na Neuroadvanced


Se faço uma criança escovar os dentes com a mão esquerda, sendo ela destra, ou ainda, fazer desenhos tendo em frente um espelho, que seja referência para a composição dos traços, isso tudo tira o cérebro de uma zona de conforto. São atividades importantes para estimular as lateralidades cerebrais”. Julcimar Oliveira, o Doya, mentor da Neuroadvanced em total sintonia com a neurociência e sua fundamentação apoia-se em três vertentes distintas, que se completam: a psicopedagogia, a neuróbica e o neurofeedback, técnica avançada usada pelo computador, que, por meio de software específico, lê as ondas do cérebro, colhendo informações que serão de extrema valia na definição das ações educacionais de cada aluno. “O neurofeedback traz elementos importantes na busca por uma melhora de determinados problemas psicológicos, como a ansiedade, o estresse e a insônia. Além de potencializar o rendimento dos processos cognitivos, melhorando a atenção, memória e aprendizado”, diz Doya. As atividades lúdicas e educacionais trazem um componente interessante ligado à neuróbica: a quebra de rotinas. “Se faço uma criança escovar os dentes com a mão esquerda, sendo ela destra, ou ainda, fazer desenhos tendo em frente um espelho, que seja referência para a composição dos traços, isso tudo tira o cérebro de uma zona de conforto. São atividades importantes para estimular as lateralidades cerebrais, que ativam funções neuropsicomotoras, favorecendo a conectividade entre os neurônios. Com a técnica, vários fatores são desenvolvidos, entre eles a concentração”. Mariana Angélica, 44 anos, pedagoga com pós-graduação em didática do Ensino Superior e que cursa

psicopedagogia, é a responsável pelo “mapeamento das inteligências” na Neuroadvanced. “Cada indivíduo tem suas particularidades. O que fazemos para cada pessoa ou família que nos procura é entender, por meio de um minucioso questionário, a trajetória de vida daquele individuo, sua relação com a família e o ambiente que o cerca. Baseado nesses elementos, traçamos um plano educacional específico para cada um. Dois pontos são importantíssimos e necessitam estar claros: as aulas estão abertas para qualquer um a partir de cinco anos. Apesar do foco nas crianças com deficiência cognitiva, o espaço está aberto para todos. E, pelo menos no início, não teremos mais de vinte alunos”, explica Angélica. ALFABETIZAÇÃO E EMPREGO Irene Samora, 53 anos, é mãe de Daniel, hoje com 15 anos, nascido com síndrome de Down. “Recebi a notícia durante a gravidez, para mim foi um choque, não há como negar. Mas depois, com a ajuda da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), fui adquirindo consciência de tudo o que cercava a síndrome e posso dizer que não é nenhum bicho de sete cabeças!”, fala Irene. Daniel foi estimulado desde cedo, frequenta escola regular e faz esportes. Mas a mãe quer mais e acredita nos métodos da Neuroadvanced. “Quero que meu filho saia daqui alfabetizado, ele tem potencial para isso. A alfabetização não só trará mais autonomia, como pode abrir portas do mercado de trabalho para o Daniel. Quero muito que ele trabalhe, já fez estágio em restaurante, auxiliando em diversas tarefas”, afirma Irene. Vera Lucia Alves, 59 anos, mãe de Kauan, com 13, que também tem síndrome de Down, compartilha dos mesmos anseios. “Desde que o Kauan nasceu, tenho procurado estimulá-lo de várias formas, seja frequentando escolas regulares, seja praticando esportes. Sei que ele tem muito potencial, o pessoal da Apae me disse que ele teria condições de ser alfabetizado e acredito que esse reforço na Neuroadvanced será essencial na busca desse e de outros objetivos. Kauan gosta demais de natação, participa de eventos do Comitê Paralímpico Brasileiro e competiu no último campeonato brasileiro. Ele também gosta de ginástica olímpica e futebol. Além da prática esportiva ajudar no seu desenvolvimento, tenho fé que ele possa se tornar atleta profissional. E os ganhos educacionais que ele conquistar só o ajudarão”, finaliza Vera. D+

PARA SABER MAIS - Site – www.neuroadvanced.com.br - Contato – contato@neuroadvanced.com.br

Revista D+ número 23


ACONTECE

“Luara Crystal, 11 anos, tem osteogênese imperfeita, e é a criança símbolo do Teleton 2018. Abaixo, ela com dirigentes da AACD e do SBT”


AÇÃO DO BEM Vamos juntos fazer um Teleton extraordinário é o tema de 2018 Texto Brenda Cruz Fotos FERImage/A ACD

N

fo dia 9 de outubro, a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) promoveu um encontro para jornalistas convidados e diretores das áreas estratégicas da Associação e do Teleton. A iniciativa teve como objetivo apresentar a nova campanha do Teleton 2018 e realizar um tour pelo setor de reabilitação da instituição. No ar há 21 anos, o Teleton, que acontece nos dias 9 e 10 de novembro, não para de inovar. Desta vez, a ação vai além da maratona solidária, que dura mais de 24 horas de transmissão pelo SBT. O Teleton agora é uma Campanha, cujo tema é Vamos juntos fazer um Teleton extraordinário, e acontecerá de 14 de outubro a 12 de novembro. A meta para a 21ª edição do evento é arrecadar R$ 30 milhões, pouco acima do que foi a arrecadação da última edição, R$ 29,6 milhões. As doações ajudam na manutenção das nove unidades com Centros de Reabilitação, além das Oficinas Ortopédicas e do Hospital Ortopédico AACD. “O Teleton é responsável por 50% da captação de recursos que ajuda a manter os atendimentos da nossa Instituição. Por essa razão, todas as novidades criadas com os nossos parceiros são de grande importância e fazem toda a diferença no resultado final”, diz Marcelo Felipe Kheirallah, presidente voluntário do Conselho de Administração da AACD.

UMA SUPER NOVIDADE O cantor Roberto Carlos forneceu uma autorização especial para a AACD e será a voz do 21º Teleton. A canção Eu Quero Apenas, uma composição de Roberto e Erasmo Carlos, lançada em 1974 e gentilmente autorizada pela EMI Songs do Brasil, é a música-tema da edição deste ano. O conhecido verso “Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar” ganhará também interpretações de outros artistas, como da cantora Ivete Sangalo, que abrirá a programação do Teleton na sexta-feira, 9 de novembro, a partir das 22h. SÍMBOLO DE ALEGRIA Luara Crystal tem 11 anos e é dona de um sorriso contagiante. Ela tem osteogênese imperfeita, a doença dos ossos de vidro. Ao nascer, tinha 30 fraturas e precisou passar seus três primeiros meses na UTI. Com oito meses iniciou

os tratamentos na AACD com a equipe multidisciplinar e pôde se beneficiar dos resultados da reabilitação. Em pouco tempo, Luara já sentava sozinha e começava a se mover. Mesmo com os cuidados, a doce garota já soma 115 fraturas e 17 cirurgias em seus 11 anos de vida, mas continua com uma positividade contagiante. “A transformação que vemos na história de Luara simboliza o trabalho dedicado e de excelência realizado pelo nosso corpo clínico”, fala Kheirallah. Sua trajetória se transformou em desenho animado, veiculado no SBT e nas redes sociais do Teleton. Criada pela equipe do Teleton, a história ganhou vida pela equipe do CAV (Centro Audiovisual de São Bernardo do Campo), centro de formação audiovisual da Secretaria de Cultura e Juventude da cidade. “A Luara é uma criança feliz, tem uma alegria que nos contagia! Ela é, ao mesmo tempo, exemplo grandioso de superação e retrato do trabalho extraordinário da AACD, que cuida e se preocupa com os tratamentos necessários, enquanto ela pode simplesmente ser criança”, afirma Michael Ukstin, diretor do Teleton.

DOAÇÕES Por telefone: • 0500 12345 05 para doar R$ 5 • 0500 12345 20 para doar R$ 20 • 0500 12345 40 para doar R$ 40 • 0800 770 1231 para doar qualquer valor Por SMS: Envie uma mensagem de texto para 28127 com a letra T (qualquer valor) Por Whatsapp: Envie uma mensagem para o número 11 99539 8118 Pelo site e Mobile www.teleton.org.br Para obter os mascotes do Teleton: Tonzinho ou Nina – R$100,00 Tonzinho + Nina – R$170,00

Revista D+ número 23


ACONTECE

SUCESSO DE PÚBLICO Texto Paulo Kehdi Fotos Tacila Saldanha

“A Mobility SP 2018 aconteceu no Campo de Marte em setembro, agradando em cheio o público”

“Serviços formais também foram oferecidos, como orientações quanto às isenções”

“Nosso campeão Clodoaldo Silva (centro), esteve no stand da Nissan, sua parceira”


“A feira trouxe opções de carros para todos os tipos de necessidade”

“A Chevrolet marcou presença mais uma vez, trazendo muitas novidades”

“A Toyota aproveitou para apresentar seu maior lançamento de 2018, o Yaris”

A

feira Mobility SP recebeu mais de sete mil visitantes durante os três dias de evento. Mais uma prova de que o segmento da pessoa com deficiência está a todo vapor! Entre os dias 21 e 23 de setembro, no Campo de Marte, aconteceu a Mobility & Show São Paulo, que recebeu mais de sete mil visitantes, com a realização de cerca de 2.600 test-drives em veículos adaptados. O evento também trouxe várias atrações extras, como, simulador 5D, óculos que leem textos para pessoas com baixa visão, palestras, esportes, shows e muita informação. A Revista D+ participou com um estande, como parceira do evento. “Uma oportunidade para todos: empresas, pessoas com e sem deficiência, de se encontrarem, conhecerem as novidades do setor, criarem novas frentes e possibilidades de negócio. Para nós, a feira foi muito positiva, pudemos mostrar a publicação e estreitar relações com diversas empresas e o público em geral”, diz Denilson Nalin, nosso diretor de publicidade. Outra novidade dessa edição foi a oferta de um cadastro de

empregos. Empresas de diferentes segmentos de atuação ofereceram mais de mil vagas para as pessoas com deficiência, uma chance real para a colocação no mercado de trabalho. Um momento especial foi a partida de Futebol Down entre Corinthians e Santos, que acabou vencida pelo Corinthians, por 7 a 4. Os times são formados por pessoas com síndrome de Down e com deficiência intelectual, e contam com apoio oficial dos clubes e de associações assistenciais. “Nossa proposta foi promover um evento completo, com atrações, serviços, oportunidades e tecnologias para oferecer melhor qualidade de vida para as pessoas com deficiência. A mobilidade, por exemplo, é um grande desafio em qualquer cidade, especialmente num grande centro como São Paulo. Os objetivos foram plenamente alcançados. A feira foi planejada para atender às demandas dessa importante parcela da população”, explica Rodrigo Rosso, organizador do evento. Mais informações: www.mobilityshow.com.br Revista D+ número 23


MERCADO DE TRABALHO

Sobre beleza e independência Projeto Beleza em Todas as Suas Formas completa cinco anos e já formou mais de 170 profissionais no mundo texto: Brenda Cruz fotos: Divulgação

E

m 2013, comprometido em desenvolver o mercado da beleza com seus clientes e também desenvolver projetos que tragam verdadeiras mudanças e melhorias nos países em que está instalado, o Grupo Alfaparf lançou o projeto Beleza em Todas as Suas Formas, que utiliza a beleza, especificamente os salões, como agentes de integração e interação de jovens com deficiência intelectual. Criado a partir da percepção da dificuldade de inserção profissional dessas pessoas e, também, pela falta de programas de formação técnica desenhados especificamente para esse público, o projeto visa a formar pessoas com deficiência intelectual como auxiliares de cabeleireiros. “Nós acreditamos que os profissionais com deficiência são capazes de produzir e agregar valor às empresas. O que falta, muitas vezes, é treinamento adequado e oportunidade para mostrar suas habilidades”, diz Julia Alves, diretora de marketing do Grupo Alfaparf. O projeto, além do trabalho de formação realizado com os alunos, também oferece preparação para os salões de beleza que se interessam em recebê-los, como auxiliares. São realizadas capacitações com todos os funcionários, treinamento com o chefe imediato e auxílio na organização das atividades cotidianas dos ex-alunos. Todos os profissionais são acompanhados e monitorados pela marca por meio de visitas e entrevistas. O Beleza em Todas as Suas Formas já formou mais de 170 pessoas com deficiência intelectual em países como o Brasil, Itália, Guatemala e Irlanda. Três novas turmas estão em formação, nesse momento, nas cidades de Porto Alegre, Maceió e São Paulo. A Alfaparf é responsável pela

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remuneração de todos os jovens formados e contratados pelo projeto, e pela criação de parcerias com salões de beleza para sua empregabilidade. OPORTUNIDADE E INDEPENDÊNCIA Para Flávia Cortinovis, coordenadora geral do projeto, “o Beleza em Todas as Suas Formas traz às pessoas com deficiência intelectual oportunidade de empoderamento, proporcionando uma vida com mais autonomia e possibilidade de exercer seus direitos e deveres de cidadão. A Alfaparf acredita no potencial de todas as pessoas e por esse motivo o tema capacitação é um dos pilares de seu sucesso e não poderia ser diferente na capacitação

ESTRUTURA DO PROJETO • Público: Pessoas com deficiência intelectual a partir de 18 anos •Formato: Grupo de no máximo 10 alunos •Duração: Quatro meses, divididos em dois módulos: Aprendizado Teórico e Prático e Vivências Práticas em Salão de Beleza • Aulas: Uma vez por semana e um programa de autodesenvolvimento seis vezes por semana em casa Para saber mais, acesse http://www.alfaparfmilano. com/pt-BR/apm-world/news/beleza-em-todas-assuas-formas


“Jovens com deficiência vivenciam e aprendem o trabalho realizado em Salões de Beleza”

das pessoas com deficiência intelectual”. Para os alunos, o curso traz algo em comum a todos: o ganho de profissionalismo e, o mais importante, a independência. A qualificação representa a possibilidade de uma colocação no mercado de trabalho e a liberdade de fazer o que gosta, respeitando as habilidades de cada um. Para Vinicius Medeiros, aluno no Rio de Janeiro, a maior importância que o projeto teve em sua vida foi lhe ensinar a ser independente. “Vou e volto do trabalho sozinho e isso é muito bom. Lá, todo mundo gosta de mim, ajudo todo mundo e lavo os cabelos. Amo essa empresa que me ajudou tanto. Quero ser livre e morar sozinho. Esse é meu sonho”, conta. Já Rachel Canella, também do Rio de Janeiro, aponta o que aprendeu no curso e como aplica isso no seu trabalho. “Eu aprendi a secar, lavar, atender os clientes, sou uma profissional. Nós temos capacidade, responsabilidades e objetivos. Sabemos que temos que tratar todos com respeito e que somos iguais. Meu objetivo é crescer. Com o meu trabalho, consigo ter dinheiro para pagar as minhas coisas, até minha aula de dança”, revela. D+


ESPAÇO DA LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Aprender os sinais da Libras já é suficiente para a comunicação?

André dos Santos Silva

Especialista em Dialética da Língua Portuguesa (UnG), Bacharel em Letras/Libras (UFSC/Unicamp), Graduado em Letras-Português/Inglês (UnG), Professor e Orientador de cursos (IST) e Intérprete de Libras (FIRB)

* Para participar com perguntas e sugestões, escreva para contato@revistadmais.com.br

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Ilustrações Luis Filipe Rosa

Uma ordem diferente

o aprendizado de uma nova língua, é natural que as novas palavras sejam os primeiros desafios dos aprendizes. Aprender aquilo que elas significam por meio da tradução para uma ou mais palavras da sua própria língua os auxilia a caminhar por um novo sistema que reflete um mundo semântico em recortes. Mas, muito além de aprender os significados presentes nessas unidades linguísticas, aprender a produzir significações por meio de estruturas compostas por palavras parece ser um desafio ainda maior. Saber qual é o significado de uma Preposição em uma língua estrangeira pode não ser tão difícil com um dicionário, mas, utilizá-la bem, parece requerer muito estudo de um aluno que propõe-se a produzir Orações em sua segunda língua. A Libras, assim como qualquer outra língua, apresenta diferentes níveis de estudo. Seguindo, por analogia, a sistematização feita por Fernandes Jr. (2010) em seu livro Dialética da Língua Portuguesa, a Libras apresenta uma lógica interessante na estruturação de um nível de estudo chamado Nível Sintagmático, onde são estudados o Verbo (o comportamento), o Sujeito (aquele que “tem” o comportamento), o Objeto (aquele que “recebe” o comportamento) etc. Em Língua Portuguesa, assume-se que a ordem corrente da estrutura básica da Oração é Sujeito-Verbo-Objeto (SVO) como em “Eu comprei uma maçã”. Em línguas como o Japonês ou o Coreano, por exemplo, a ordem se apresenta como Sujeito-Objeto-Verbo (SOV). Já na Libras, ainda existe a discussão sobre uma ordem básica que de fato seja a corrente na estrutura da Oração. Uma ordem bastante utilizada na Libras é a Objeto-Sujeito-Verbo. Conhecida também como “topicalização”, essa ordem parece favorecer a construção do espaço, onde as unidades linguísticas dispostas antes do Verbo (com concordância, por exemplo) parecem propiciar melhor lógica na construção espacial. Em outras palavras, dispor, no espaço, os Sintagmas que terão ou receberão o comportamento antes da sinalização do Verbo acaba por resolver possíveis ambiguidades como em “O diretor avisa o professor” (figura 1 – PROFESSORa DIRETORb bAVISARa). Observa-se, na sinalização, uma ordem possível em que PROFESSOR e DIRETOR são sinalizados antes do sinal AVISAR. O que define PROFESSOR e DIRETOR como Objeto ou Sujeito, neste caso, não é a ordem em que aparecem sinalizados, mas o espaço em que se apresentam em relação ao início e o fim do Movimento observado no Verbo AVISAR. Para o caso do Verbo AVISAR, o início do Movimento pode se dar no espaço em que se encontra o conceito daquele que “tem” o comportamento, identificando-o como Sujeito; e o final do Movimento, no espaço em que se encontra o conceito daquele que “recebe” o comportamento - Objeto. Se


DIRETOR fosse sinalizado antes de PROFESSOR, porém ambos nos mesmos espaços da figura 1, tendo o sinal AVISAR ainda saindo do espaço de DIRETOR em direção ao espaço de PROFESSOR, embora com diferença de ordem na sinalização, o Movimento e o Espaço resolveriam a Oração: o diretor avisa o professor. Deve-se levar em conta, contudo, que, quando Verbos simples aparecem (Verbos em que não há concordância espacial), a ordem da sinalização pode não resolver a questão da ambiguidade como em “DAVI DANY CONHECER” (figura 2). Imaginando que outros recursos da língua não estivessem presentes para deixar claro em quem está o comportamento de “conhecer”, seriam possíveis as interpretações:

1) Davi conhece Dany, 2) Dani conhece Davi e 3) Dani e Davi se conhecem. Para esse caso, o Movimento e o Espaço poderiam desfazer a ambiguidade com um sinal auxiliar (figura 3 – DAVIa DANYb bCONHECERa): Dany conhece Davi. Muito além do Sujeito, do Verbo ou do Objeto, ainda se faz necessário um estudo mais aprofundado, lógico e sistemático de todos os Sintagmas da Libras na Oração. É preciso ter em mente que se pode notar diferença de ordenação dos Sintagmas entre surdos com maior e menor conhecimento da Língua Portuguesa, surdos idosos e surdos mais jovens, surdos que oralizam além de sinalizar e surdos que não oralizam etc., de modo que haverá construções privilegiadas por grupos distintos na sinalização. D+

Figura 1

Figura 2

Figura 3 Revista D+ número 23


APRENDA LIBRAS por Flaviana Borges da Silveira Saruta e Joice Alves de Sá ilustrações Luis Filipe Rosa Colaboração Carolina Gomes de Souza Silva

PLANETA ACESSÍVEL O universo da tecnologia assistiva traz inúmeras opções para a pessoa com deficiência. Mais importante ainda, possibilita sua real inserção nesse mundo ilimitado, sempre em expansão! A editoria Aprenda Libras mostra uma série de palavras e expressões relacionadas ao tema

Legendas descritivas

Tradutor de Libras

Prótese

Órtese


Ampliador de telas

Cadeiras motorizadas

Comando de voz

Tecnologia assistiva

Tecnologia de ponta

Ă udio disponĂ­vel Revista D+ nĂşmero 23


CEREJA!

Narrativa silenciosa texto Cintia Alves

I

ilustrações Divulgação

nspirada em histórias em quadrinhos (HQs) clássicas nacionais, como a Turma da Mônica, e internacionais, como o Fantasma, O Cavaleiro do Zodíaco e Sailor Moon, Juliana Loyola (conhecida como Ju Loyola), 39 anos, com surdez profunda bilateral, traz em seus traços uma prestigiosa carreira como quadrinista de narrativa silenciosa – histórias representadas sem balões de fala. Mesmo com dificuldades para elaborar roteiros em português, a artista não desistiu de desenhar e criar personagens para as suas histórias. “Quadrinhos, para mim, são diversão e imaginação”, revela Ju, que já lançou livros impressos de HQs, como: The Imagionation, The Witch Who Loved, Maria Lua & Cia – Aventuras de Estrelas; entre outras histórias digitais. Para fechar o ano com chave de ouro, Loyola participará em dezembro do Comic Con Experience São Paulo (CCXP),

maior festival de cultura pop, com o lançamento da versão impressa da HQ Heart of the True Friend, criada para o concurso japonês Silent Manga Audition (SMA) – em tradução livre, “Mangá Silencioso” –, que tem como tema Justiça, Respeito e Trabalho em Equipe, e explora a questão das barreiras da comunicação em Libras de ouvintes e surdos. “O CCXP é super esperado por mim. Estou bem ansiosa! Afinal, esse evento consegue atingir todos os públicos. Levarei muitas novidades! Como uma das mais pedidas pelo público, a edição do The Witch Who Loved 2 – The origens... Mas, não posso contar todas as novidades, para não estragar as demais surpresas (risos)”, conta Ju. Acompanhe no Facebook @worksandsketchs, Twitter e Instagram @loyola_ju



honda.com.br/hondahrv

A re v olu ç ã o le v a v oc ê .

Trânsito seguro: eu faço a diferença.

Conjunto ótico em LED: 6 airbags: frontais, faróis, luzes diurnas (DRL) laterais e de cortina e lanternas traseiras

Sensor de chuva

Magic Seat Honda: exclusivo sistema de configuração de bancos

Freio de Estacionamento Eletrônico (EPB), com função Brake Hold

Multimídia de 7” multi-touchscreen


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