Revista D+ Edição 27

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Maior feira voltada à pessoa com deficiência traz muitas novidades na sua 16ª edição

NÚMERO 27 • PR EÇ O R$ 13,90 ISSN 2359-5620

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SAÚDE: Entenda a hidrocefalia, distúrbio que pode se manifestar em qualquer fase da vida




NA REDE

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INFORMAÇÃO Em nosso portal, você fica sabendo dos eventos do mês, como, exposições, apresentações e oficinas culturais em todo o Brasil, assim como campanhas em prol da inclusão e acessibilidade. Os meses de maio e junho reservaram uma série de ações no segmento da pessoa com deficiência. No site, são divulgados diariamente cursos e palestras, voltados a diversas deficiências, como o autismo e a deficiência intelectual. Ou ainda congressos, como o organizado pela Rede Lucy Montoro durante a Hospitalar 2019, um dos maiores eventos de saúde do país. Confira isso e muito mais em: revistadmais.com.br

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Carros e eventos

Foto: Kica de Castro

Foto: Kica de Castro

A equipe da Revista D+ não para! Sempre com o objetivo de levar o melhor para o leitor, multiplicamo-nos em espaços diversos. A edição traz um Test Drive feito com dois modelos da Honda disponíveis para a pessoa com deficiência, o Honda City e o Honda Fit. Eventos que contaram com a nossa presença também não faltaram, como o Circuito de Acessibilidade, promovido de forma inédita pela prefeitura de São Bernardo do Campo (SP). Ou, ainda, o Sepad (Simpósio de Estágios, Práticas e Aprendizagem da Docência), que reuniu estudantes de cursos de licenciatura, professores do ensino superior e da educação básica no campus Diadema (SP) da Unifesp.

O gerente de vendas especiais da Honda Dealer, Carlos Sakamoto (esquerda), e o editor Paulo Kehdi ao lado do modelo Fit da montadora

O editor Paulo Kehdi entrevista nossa convidada Flavia Francisco, que testou os dois modelos da Honda

Foto: Miriã Lima

Foto:Jéssica Carecho

A fotógrafa Kica de Castro passeia pela agência da Honda Dealer, onde foi realizado o Test Drive desta edição

O diretor de publicidade da D+, Denilson Nalin, cumprimenta Thiago Cenjor, um dos participantes do Circuito de Acessibilidade, realizado pela prefeitura de São Bernardo

Participantes do Sepad, evento que também trouxe práticas inclusivas na rede pública de ensino, em Diadema Revista D+ número 27




EDITORIAL Referência em Inclusão e Acessibilidade Acesse www.revistadmais.com.br e confira todas as matérias em LIBRAS e ÁUDIO

Maior feira voltada à pessoa com deficiência traz muitas novidades na sua 16ª edição

NÚMERO 27 • PR EÇ O R$ 13,90 ISSN 2359-5620

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SAÚDE: Entenda a hidrocefalia, distúrbio que pode se manifestar em qualquer fase da vida

Edição 27: Fotos Divulgação

Força comprovada em números

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Reatech – Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade chega à sua 16ª edição mais forte do que nunca. Serão mais de 300 expositores mostrando o que de mais moderno existe em termos de produtos voltados à pessoa com deficiência na São Paulo Expo – SP, o mais moderno centro de exposição do Brasil. Não só isso, serviços serão oferecidos, cursos e seminários também estão programados, trazendo assim inúmeras opções para quem vive ou trabalha com o segmento. Aliás, são esperadas mais de 50 mil pessoas durante os quatro dias do evento, que acontecerá entre 13 e 16 de junho. Longeva, perto de completar sua maioridade, a Reatech é reflexo da força econômica do universo da pessoa com deficiência. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias e Revendedores de Produtos e Serviços para Pessoas com Deficiência (Abridef), o setor movimenta um mercado de R$ 5,5 bilhões por ano e só faz crescer. E isso tudo considerando que o segmento, apesar dos nítidos avanços alcançados, especialmente a partir dos anos 1980, não é coeso, mostra-se fragmentado na busca por seus direitos. Imaginem, por exemplo, qual seria a força econômica desse universo se todas as pessoas com deficiência tivessem acesso a uma educação de qualidade e inclusiva? Infinitamente maior, sem sombra de dúvida. A qualificação leva aos melhores postos disponíveis no mercado de trabalho e, consequentemente, a melhores salários, esse é o raciocínio lógico. Convidamos, então, o leitor para um exercício de reflexão a fim de tirar suas conclusões. São mais de 40 milhões de pessoas que, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010 (o próximo censo será feito em 2020), declararam ter ao menos um tipo de deficiência. Se as políticas públicas fossem efetivas, seguissem o que preconiza nossa legislação, o quadro seria muito melhor, teríamos geração maior de receita, criando-se um círculo virtuoso, em que todos ganhariam. Assim, sempre fica aquela esperança que um evento como esse estimule ações nesse sentido. Afinal, é um momento de aglutinação, mesmo que temporária, das pessoas que vivem esse universo, há autoridades inclusas. A feira, vale ressaltar, incentiva, por meio de eventos paralelos, atividades que podem vir a beneficiar o segmento. O Reackathon, uma competição para estimular o desenvolvimento de soluções tecnológicas e iniciativas inovadoras que promovam a autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social de pessoas com deficiência, será realizada pela primeira vez. Aliás, essa é outra característica da Reatech, que se reinventa para melhorar a cada evento. Fica aqui demonstrada, de forma incisiva, a sua importância. E a Revista D+ tem orgulho de ser a mídia oficial da feira pela segunda edição seguida, reflexo da seriedade de sua linha editorial, explícita nesses seus quatro anos de existência. Para manter essa qualidade, trazemos nesta edição reportagens que buscam informar e conscientizar. Como, por exemplo, a matéria da editoria Saúde, que traz um panorama completo sobre a hidrocefalia: o que é, suas causas e consequências, buscando levar ao leitor conhecimento sobre esse distúrbio que pode se manifestar em qualquer fase da vida. Ou, ainda, a trajetória da Cia. Alvo de Teatro, em Universo Cultural. Desde 2016, a Companhia busca fazer apresentações inclusivas, especialmente para surdos. Seu diretor, Fabiano Moreira, tem outros projetos, como a inclusão de crianças autistas por meio de aulas de desenho em Diadema (SP). Suas iniciativas reverberam e contagiam amigos e parentes à sua volta que, assim, passam a conhecer e enxergar todo o potencial da pessoa com deficiência, contribuindo, cada qual à sua maneira, em prol da inclusão. Seja por meio de um grande evento como a Reatech, seja por iniciativas como a de Moreira, o que desejamos é que ações do poder público ou da iniciativa privada possam levar à pessoa com deficiência as mesmas possibilidades de desenvolvimento de quem não tem deficiência alguma. É pedir demais? Boa leitura! Rúbem Soares Diretor Executivo


Ser . inclusivo transforma negócios Nossas diferenças nos tornam mais fortes. Promover um clima respeitoso e livre de discriminação favorece a multiplicidade de opiniões e um ambiente inovador. Faça parte do nosso time. Acesse a área de carreiras do nosso site e cadastre seu currículo: www.kpmg.com.br/carreiras


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www.revistadmais.com.br DIREÇÃO EXECUTIVA Rúbem da S. Soares rsoares@revistadmais.com.br REDAÇÃO Editor-Chefe Paulo Kehdi jornalismo@revistadmais.com.br Revisão textual Eliza Padilha

NOSSA CAPA 32 Especial Reatech. Maior feira do segmento acontece em junho e mostra a força do universo da pessoa com deficiência

Diagramação Estúdio Dupla Ideia Ilustração Luis Filipe Rosa Colaboração nesta edição Kica de Castro (Fotografias Do Lado de Cá e Test Drive) Jéssica Carecho (Fotografias Misto Quente – Circuito Acessibilidade) Miriã Lima (Fotografias Misto Quente – Evento Unifesp) Priscila Boy (Artigo) Sonia Toledo (Artigo) Geraldo Nogueira (Artigo) Ana Sniesko (Cereja, Esporte e Por Dentro das Grandes) Cármen Guaresemin (Mercado de Trabalho, Universo Cultural e Saúde) André dos Santos Silva (Espaço da Libras) DIREÇÃO DE PUBLICIDADE Denilson G. Nalin denilsonnalin@revistadmais.com.br 9-4771.7622 e (11) 9-6924.1463 COMUNICAÇÃO E MARKETING Rúbem S. Soares Miriã Lima Tacila Saldanha mkt@revistadmais.com.br

04 Na Rede 05 Do Lado de Cá 08 Editorial 10 Expediente & Aqui na D+ 12 Artigo Priscila Boy fala dos desafios da escola por uma educação inclusiva 14 Misto Quente As novidades dignas de nota 18 Artigo Sonia Toledo explica o que é e conta a história do emprego apoiado 20 Saúde Conheça a hidrocefalia, distúrbio que pode aparecer em qualquer fase da vida 24 Artigo Geraldo Nogueira comenta a falta de uma política nacional voltada à inclusão social

ADMINISTRAÇÃO Ernandis Pereira dos Santos (11) 5581-1739

26 Mercado de Trabalho Inclui CIEE ajuda empresas e a pessoa com deficiência no reconhecimento das potencialidades de cada um

SUCURSAL SUMARÉ Arianna Hermana da Silva (19) 3883-2066

42 Esporte Lucas Tadeu é o primeiro triatleta com síndrome de Down no mundo

RECEPÇÃO Rafaella Daminelli CONSULTORIA DE LIBRAS Flaviana Saruta Joyce Alves de Sá

46 Universo Cultural A Cia. Alvo de Teatro faz apresentações inclusivas e leva conhecimento à pessoa com deficiência

INTÉRPRETES DE LIBRAS Carolina Gomes Marco Ramos Rafaella Sessenta

50 Test Drive Fique por dentro de toda a tecnologia dos modelos City e Fit Personal da Honda

VIDEOMAKERS Jéssica Carecho Tacila Saldanha

54 Acontece Conheça o projeto Líbricas Paulistanas e toda a beleza do acessível Parque Imigrantes

ATENDIMENTO AO ASSINANTE E CIRCULAÇÃO Herick Palazzin assinaturas@revistadmais.com.br (11) 5581-1739 Edição número 27 – Maio/Junho de 2019 REVISTA D+, ISSN 2359-5620, é uma publicação bimestral da MAIS Editora CNPJ n° 03.354.003/0001-11 - Rua Loefgren, 1358 Vila Clementino - São Paulo/SP - CEP 04040-001 Associada a:

58 Por Dentro das Grandes A CI&T é uma gigante da tecnologia e também da inclusão 62 Espaço da Libras Entenda o “modo” e conheça suas variações na Libras 64 Aprenda Libras Fique por dentro de expressões ligadas à Reatech 66 Cereja! Felipe do Carmo é o primeiro brasileiro amputado a embarcar numa sonda

Distribuída em bancas pela DINAP-DISTRIBUIDORA NACIONAL DE PUBLICAÇÕES LTDA. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678 CEP 06045-390 - Osasco - SP PARCERIA: A Revista D+ não se responsabiliza por opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo este de inteira responsabilidade dos anunciantes

Associação para Desenvolvimento Social, Educacional, Cultural e de Apoio à Inclusão, Acessibilidade e Diferença

ERRATA: Na edição 25 da D+, editoria Viver Bem, foi publicado que o personagem Daniel Chusyd tem síndrome de Down, mas informamos que se trata de uma leve deficiência intelectual. E os contatos com o Morungaba devem ser feitos pelo telefone (11) 98906-5461 ou pelo e-mail renata@morungaba.com.br.


Junho/julho 2019 – Ano IV – n° 27

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ARTIGO

DESAFIOS DA ESCOLA Texto Priscila Pereira Boy*

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endo como principal marca a velocidade das mudanças, o século XXI coloca a escola diante de um grande desafio: repensar a forma de ensinar e de se relacionar com os alunos. Estamos vivendo em um mundo globalizado, de afirmação das diferenças e mudança de paradigma. O avanço da tecnologia impactou totalmente as relações sociais, a forma de convivência, pensamento e comunicação e, por isso, impõe-nos novas formas de agir. Antigamente, a entrada nos espaços acadêmicos era marcada por mérito ou por condição social. Quem frequentava a escola era a elite econômica ou a elite cultural. Muitas das crianças estavam fora da escola, caracterizando um espaço não-democrático. Historicamente, as escolas foram pensadas e desenhadas para um pequeno grupo de privilegiados. Entretanto, para cumprir sua verdadeira vocação, tem que ser um espaço

público e democrático, e precisa acolher as diferenças. É certo que vamos receber, no espaço escolar, uma diversidade enorme de pessoas. Não coloco o foco de minha reflexão apenas no grupo social constituído pelas Pessoas com Deficiência, mas em todos os indivíduos e grupos que – por razões distintas – ocupam uma posição social que os coloca em risco contínuo de vulnerabilidade e redução das chances de desenvolvimento humano ou em posição de preconceito ou discriminação. Aqui podemos citar as mulheres, que ainda sofrem muito com a violência e a exploração; os negros, que são alvo de preconceito e racismo; os homossexuais, que também são alvo de violência constante e empreendem, cotidianamente lutas para aceitação de sua condição; ou, ainda, os diferentes povos, que sofrem com a xenofobia; os grupos religiosos, que sofrem discriminação por causa de suas

crenças, entre outros. Há muitas leis que tratam de direitos específicos e de como devem ser conduzidas as ações em torno da diversidade. As desvantagens vividas por membros dos grupos que se encaixam na esfera do termo “diversidade” são infinitas e impossíveis de serem mapeadas porque elas acontecem no dia a dia, em alguns segundos, e somente são percebidas por aqueles que as vivem. Para ilustrar isso, relato algumas situações inusitadas: Era para ser uma aula de educação física fantástica, afinal o professor havia pensado em uma atividade com bolas coloridas, em que trabalharia com as cores e depois com pequenas somas, atribuindo valor a cada uma. Mas, uma colega nova chegou naquele dia e adivinhem? Ela era cega. Como identificaria as cores e faria as somas a partir delas? O dia da festa das mães chegou e


estava tudo maravilhoso. O Teatro lotado, a decoração impecável, muita emoção e expectativa, até que dois pais chegam de mãos dadas e se assentam na primeira fileira. A aula seria de trigonometria e o professor separou um vídeo muito interessante para os alunos. Mas, na hora da apresentação, não havia como traduzir o vídeo para a Libras e o aluno surdo ficou de fora da atividade. A professora pediu aos alunos que colorissem o personagem com lápis cor da pele. Mas, um aluno negro disse que não estava encontrando a cor da sua pele na caixa de lápis de cor. No dia da consciência negra, a professora confeccionou perucas de palha de aço com as crianças, para fazer uma “homenagem” aos cabelos africanos. Se você está indignado, estarrecido ou achando tudo inacreditável, quero te dizer que TODAS as situações relatadas acima são fatos reais. Acontecem em escolas diariamente. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento normativo, que vai orientar a elaboração dos novos currículos escolares, fez questão de destacar a necessidade de a escola contribuir para aplacar toda discriminação e preconceito, dialogar com a multiculturalidade. A convivência e respeito à diversidade deve ser uma dimensão fundamental de uma escola acolhedora. Nesse sentido, a BNCC não é só o alicerce para os futuros profissionais, como, também, um elemento essencial para os seres humanos e cidadãos que ajudaremos a formar nas escolas. Na hora de construir o currículo, todo o Brasil deverá se adequar às matrizes da BNCC e ao que ela propõe. Esse é um grande momento de mudança. As escolas devem aproveitar a oportunidade de mudanças, uma vez que serão obrigadas a rever seus projetos pedagógicos em função da nova base. A defesa dos direitos humanos transpassa qualquer posicionamento político

ou ideológico. Por isso, são fundamentais o diálogo e o entendimento em torno da nova BNCC, com o resgate de valores essenciais para a educação, como o integral respeito aos direitos humanos no processo de formação de nossas crianças e juventudes. Atentas a isso, as escolas devem desenhar programas de formação continuada para os professores e gestores e dialogar com alunos e pais. Combater o bullying, cyberbulling, aprender a conviver, são premissas essenciais de qualquer convivência humana. Lidar com crianças com deficiência, por exemplo, requer conhecimento sobre práticas diferenciadas. Adaptações curriculares, flexibilização dos tempos e espaços escolares. Trabalhos colaborativos, em grupo, são boas estratégias para garantir a inclusão dos alunos. São muitas as possibilidades, mas temos que superar as barreiras. Os preconceitos emergem, muitas vezes, por causa do medo e da inabilidade de lidar com o diferente. O mais difícil é fazer com que o professor desperte interesse e veja a necessidade de seguir novos rumos, desconstruir práticas e abrir mão de suas convicções. A maior barreira para a mudança na Educação está na mudança de mentalidade. Nos programas de formação é necessário também cuidar do professor. Atuar na dimensão cognitiva, com aportes teóricos, e também na sua dimensão afetiva, emocional, relacional e física. O professor hoje é marcado por muitas pressões. Faz-se necessário criar programas de formação que abarquem as várias dimensões, tendo assim uma visão integral do ser humano. É preciso CUIDAR de quem cuida. Outro fator que tem inquietado muito os professores é a questão da indisciplina escolar. Pais ocupados, famílias com novas estruturas, ausências, tudo isso tem feito com que os alunos manifestem alguns problemas em relação ao cumprimento de regras e normas.

É preciso envolver a família como parceira no processo educacional, pois a escola sozinha não dá conta de todas as demandas do ser humano. A socialização primária vem da família. As instituições sociais, como igreja, escola, vizinhança, dentre outras, promovem a socialização secundária. Quando essas relações familiares não estão bem estabelecidas, a repercussão disso se manifesta nos meios sociais. Uma criança que não respeita os pais ou as regras da casa, dificilmente vai respeitar as regras da escola. Acreditamos que a maioria de nós, independentemente de gênero, etnia, grau de instrução, religião, região, entre outras diferenças, é a favor do respeito às diferenças e contra todas as formas de preconceito e discriminação. O caminho para se construir o respeito e atacar o preconceito não consiste em desconstruir identidades e anular os indivíduos em sua natureza e sim aceitá-las e aprender a conviver com elas. Respeitar as diferenças, sejam elas quais forem, é papel de todos nós! D+

*Priscila Pereira Boy é Pedagoga e Mestra em Ciência da Educação. Autora do livro “Inquietações e desafios da escola” (WAK Editora) Revista D+ número 27


MISTO QUENTE

TROCA DE EXPERIÊNCIAS

Evento na Unifesp é voltado a ajudar profissionais da área educacional “Estudantes de licenciatura participaram do evento, que contou com 45 trabalhos apresentados, muitos deles voltados à educação inclusiva”

O Sepad (Simpósio de Estágios, Práticas e Aprendizagem da Docência) reúne estudantes de cursos de licenciatura, professores do ensino superior e da educação básica. Seu objetivo é promover encontros para a troca de experiências e discussões sobre estágios supervisionados, práticas de ensino e formação de professores, a partir de estudos e pesquisas. Sua terceira edição foi realizada no dia 4 de maio, na sede da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Diadema (SP), e teve a presença de mais de 120 participantes. O evento foi organizado em duas etapas: a primeira, com uma roda de conversa, que contou com a presença de Menga Ludke, professora titular

e pesquisadora da PUC-RJ. Já a segunda etapa consistiu na apresentação de 45 trabalhos, muitos deles voltados à educação inclusiva. E mostram que, na prática, o desafio de incluir é enorme, e envolve conhecimento e condições de acessibilidade para tanto, entre outras variáveis. Os estudantes de licenciatura Stella Luz e Henrique de Melo são estagiários e acompanharam duas estudantes com síndrome de Down matriculadas em uma escola pública de Diadema, a Padre Anchieta. “Pudemos ver na prática o quão difícil é a inclusão em determinados casos. Apesar de estarem na 8ª série do Ensino Fundamental, não sabiam nem ler, nem escrever. Elas não só ficavam alheias


ao conteúdo passado pelos professores, como não havia socialização alguma com os demais alunos”, explica Luz. “Ficamos nos perguntando se o que observávamos era inclusão ou exclusão. A verdade é que nos cursos de licenciatura não existem disciplinas voltadas à educação inclusiva, precisamos ir atrás do conhecimento. É por isso que eventos como esse se tornam tão importantes, pois trazem a realidade da sala de aula”, completa Luz. Em contrapartida, Miriam Neves, professora de educação física que trabalha em uma escola da rede pública de São Caetano do Sul (SP), apresentou trabalho bem-sucedido de inclusão com um rapaz que tem paralisia cerebral. “Quando ele apareceu para as aulas, fiquei assustada, muito pela falta de conhecimento que eu mesma tinha. Mas aceitei o desafio, fui atrás de informações, pesquisei muito. Elaborei materiais alternativos, como um jogo de tabuleiros e a confecção de uma bola mais leve para a atividade da queimada. Ele está totalmente inserido no ambiente escolar e posso dizer que é uma experiência riquíssima, um processo de conhecimento mútuo e construção de uma afinidade. Posso dizer que mudei minha maneira de ver aspectos do cotidiano por conta do trabalho com esse aluno”, diz Neves.

“Professores da educação básica e do ensino superior também estiveram presentes na Unifesp, em Diadema (SP). Evento cresceu tanto que já se pensa em dois dias de atividades para a próxima edição”

DURAÇÃO MAIOR “Eventos como esse são de suma importância para quem trabalha na área educacional. Tivemos participação de profissionais de todo o Brasil querendo se aperfeiçoar no campo da licenciatura em diversas disciplinas. Todos os trabalhos apresentados serão publicados, disseminando assim conhecimento para outros profissionais interessados. A necessidade de realização de um evento como esse fica dimensionada pelo seu crescimento. Na próxima edição teremos dois dias de duração e não apenas um, como aconteceu nas três edições anteriores. O Simpósio é cada vez mais procurado por profissionais querendo se aperfeiçoar na sua profissão”, fala Maria Nizete de Azevedo, professora adjunta da Unifesp e coordenadora do evento. “O Sepad proporcionou que vários trabalhos na área da educação para as pessoas com deficiência fossem compartilhados. Isso possibilita que professores tenham a oportunidade de expor suas ideias e se apropriem de conhecimentos trazidos pelos seus colegas. Infelizmente, não tivemos pessoas com deficiência participando diretamente, no dia do evento, mas tivemos a participação de alunos e professores com deficiência em trabalhos que foram expostos. Isso, sem dúvida, torna o Simpósio interessante para a disseminação de conhecimento na área da educação inclusiva e especial”, finaliza Silvana Zajac, docente que trabalha com as disciplinas de “Introdução à Libras”, “Libras e Educação de Surdos” e “Estágio Supervisionado”, na Unifesp. Revista D+ número 27


MISTO QUENTE

PRIMEIRA EDIÇÃO São Bernardo do Campo realizou Circuito de Acessibilidade em abril “Na foto ao lado, da esquerda para a direita: Carolina Ignarra, da Talento Incluir, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, e Mariane Sant’Ana, diretora do Departamento de Cidadania da Pessoa com Deficiência no município”

Com o objetivo maior de melhorar as ações públicas e os serviços voltados à pessoa com deficiência no município, a prefeitura de São Bernardo do Campo (SP) organizou, entre os dias 26 e 28 de abril, o primeiro Circuito de Acessibilidade da cidade, no Shopping Golden Square. “Em junho de 2018, o prefeito Orlando Morando (PSDB), criou o Departamento de Cidadania da Pessoa com Deficiência, que está atrelado à secretaria de Cidadania, Assuntos Jurídicos e Pessoa com Deficiência. A intenção era melhorar sensivelmente as políticas públicas voltadas ao universo da pessoa com deficiência. O evento é uma das ações que estamos realizando e tem a premissa de divulgar informação e conhecimento para esse público”, diz Mariane Sant’Ana, diretora do Departamento. A Revista D+ participou do evento, distribuindo exemplares da publicação entre os participantes. “Pudemos perceber a boa aceitação do público

com relação à linha editorial da revista, muito elogiada!”, diz Denilson Nalin, diretor comercial da D+. Nesse sentido, foram convidados para o evento profissionais que trabalham no segmento, como despachantes e distribuidores de cadeiras de rodas e empresas sediadas na cidade. Sete das principais marcas automotivas do Brasil também estiveram presentes, representadas por concessionárias que atuam em São Bernardo. “O que pudemos perceber nesse período à frente do Departamento, é que nossa cidade nunca foi protagonista no que se relaciona à pessoa com deficiência. Os munícipes sempre se deslocavam para a capital paulista ou para a vizinha Santo André em busca de informações ou serviços. Queremos mudar esse cenário radicalmente, fazer com que a pessoa com deficiência encontre em São Bernardo tudo o que ela precisa”, afirma Sant’Ana.


PALESTRA O Circuito foi aberto com uma palestra proferida por Carolina Ignarra, diretora da Talento Incluir, consultoria especializada em Mercado de Trabalho para a pessoa com deficiência. “Minha intenção maior foi a de compartilhar experiências, incutir nos profissionais de Recursos Humanos que estavam presentes que a contratação de pessoas com deficiência por essas empresas não se limita à Lei de Cotas. Se a mentalidade do empregador se restringir ao cumprimento da cota prevista na Lei, o trabalho está sendo muito mal feito. É preciso um conhecimento maior do candidato, entender suas virtudes, potencialidades, para que haja uma contratação correta. Estudos mostram que empresas abertas à diversidade são mais produtivas”, diz Ignarra. Mas ela adverte: “A pessoa com deficiência também deve procurar agregar conhecimento ao seu currículo, não ficar se escondendo atrás de sua condição. Toda a contratação envolve uma via de mão dupla, onde direitos e deveres estão contemplados dos dois lados”. Um dos participantes foi o Núcleo de Arquitetura e Acessibilidade (Nucca), escritório de arquitetura focado em acessibilidade. “Sou cadeirante, empresto minha vivência como deficiente físico aos projetos que

desenvolvemos. Estou sempre em busca de mais informação, novos conhecimentos e o Circuito de Acessibilidade vem ao encontro do que procuro. Estou aqui também como morador de São Bernardo do Campo, quero conhecer melhor as iniciativas da prefeitura. A cidade está se transformando, assim como outras. Acredito que muito do que vem sendo melhorado é um reflexo da atitude diferente da pessoa com deficiência, que está, cada vez mais, buscando seu espaço. Mas ainda temos que evoluir muito em diversos aspectos”, fala Thiago Cenjor, sócio da Nucca.

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Grande parte da população possui algum tipo de deficiência, seja ela física, visual, auditiva, ou até mesmo mobilidade reduzida, incluindo idosos e gestantes.

OUTRAS AÇÕES Dentro desse cenário, Mariane destaca algumas ações que são realizadas pela atual gestão, como a lei do taxi acessível, da obrigatoriedade de locadoras do município oferecerem carros adaptados e ainda de verba auxílio para mães de pessoas com deficiência. “Procuramos melhorar aos poucos. Outro fator importante que o Circuito trouxe foi a percepção, sentida pela manifestação de profissionais e munícipes presentes, de que existe muita burocracia em certos aspectos. Até mesmo a requisição de um laudo médico é demorada”, finaliza Mariane.

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ARTIGO

ENTENDA O QUE É EMPREGO APOIADO Texto Sonia de F. Toledo Rodrigues*

P

ara melhor adaptação a postos de trabalho e realização de tarefas, pessoas com deficiência, geralmente intelectual ou físicas severas, requerem acompanhamento de profissionais especializados em contribuir com a sua inclusão nas empresas que as contratam. Esse acompanhamento especial é denominado Emprego Apoiado (EA). A prática começou nos EUA no final dos anos 1980, por meio de projetos-pilotos de universidades que buscavam alternativas para a inclusão de pessoas com deficiência intelectual severa no mercado de trabalho – e que nunca eram consideradas aptas a sair das oficinas de preparação. Para mudar essa situação, os programas de EA propuseram o treinamento no local de trabalho com a disponibilização de apoios de técnicos ou consultores (preparadores laborais). A partir de 1988, começaram a ser divulgadas no Brasil informações sobre a prática do EA. Em 1993, dez profissionais de reabilitação fundaram o Grupo de Emprego Apoiado (GEA), que então organizou diversos cursos de EA, em 1994. Nesse mesmo ano, foi registrada pela mídia a contratação de Marco Antonio Ferreira Pellegrini, o primeiro usuário de emprego apoiado no Brasil. A Associação Carpe Diem implantou o seu Programa de Emprego Apoiado em 1997, o primeiro do gênero no Brasil. Seguiram-se outros na sequência, além do trabalho desenvolvido por consultores autônomos na cidade de São Paulo. Em 2000 e 2001 foram realizados cursos de EA pela Pro-Rede

(Profissionais em Rede) que, em 2008, foi transformada na Rede de Emprego Apoiado (REA), composta por: Associação Pepa, Apabex, Apae de São Paulo, Carpe Diem, Abads, familiares de usuários e vários consultores autônomos de EA. A REA, em sua assembleia geral em maio de 2014, foi transformada na Associação Nacional do Emprego Apoiado (Anea). O método de Emprego Apoiado é composto por três fases: Perfil Vocacional: descoberta dos pontos fortes, interesses e necessidades de apoio da pessoa; Desenvolvimento de Emprego: pesquisa com empresas para descobrir um emprego que combine com o perfil vocacional; Acompanhamento pós-colocação: acompanha-se o treinamento e a inclusão social do usuário do EA na empresa para verificar se as estratégias e os apoios naturais estão funcionando. O profissional responsável por acompanhar o usuário nessas três fases é o consultor em EA. Ser um bom mediador, ter experiência com a comunidade, dominar técnicas de treinamento para pessoas em situação de incapacidade intelectual mais significativa, além de ter conhecimentos sobre o mercado de trabalho e o funcionamento das empresas, são os atributos desse profissional. As principais etapas do programa EA na empresa são: Desenvolver trabalho de sensibilização nas empresas; Identificar o perfil vocacional do candidato; Fazer o levantamento do perfil da vaga e suas atribuições; Oferecer treinamento à pessoa com deficiência em seu local de trabalho; Dar embasamento aos

funcionários da empresa para facilitar o trabalho em equipe; Posicionar a família, orientando para que ela contribua no processo de inclusão. Assim, o EA torna-se um antídoto contra a exclusão dos profissionais com deficiências intelectuais e deficiências mais significativas. Segundo os dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5% da população mundial tem alguma deficiência intelectual. Em 2017, a Apae SP conseguiu incluir aproximadamente 500 pessoas com deficiência em empresas como a WEG, Banco Itaú, HRM Impressões e Sese-Logistica do Brasil, mostrando que a prática não é só necessária, como possível.

*Sonia de F. Toledo Rodrigues é Coach-PNL e Consultora em Emprego Apoiado. E-mail: soniatoledorodrig@yahoo.com.br



SAÚDE

A QUALQUER MOMENTO

Hidrocefalia tem várias causas e pode surgir em qualquer fase da vida Texto Cármen Guaresemin Fotos Divulgação “Tomografia computadorizada mostra cérebro de tamanho maior que o padrão, característica da pessoa com hidrocefalia”

A

Hidrocefalia é um distúrbio que se caracteriza pelo aumento na quantidade de liquor – ou líquido cefalorraquidiano – no cérebro. Esse acúmulo leva a um aumento do sistema ventricular, um conjunto de cavidades na região do encéfalo, contínuo com o canal central da medula espinhal. O problema tem várias causas e surge, geralmente, em decorrência do bloqueio na circulação do líquido, o que gera um aumento de pressão na medula e no encéfalo. Muitos casos ocorrem antes do nascimento, mas também pode surgir na infância, na idade adulta ou em idosos. Há quatro tipos de hidrocefalia: Congênita, que surge antes do nascimento; Obstrutiva, que ocorre quando o liquor se acumula no cérebro em decorrência de uma obstrução que impede o fluxo; Comunicante, cuja ocorrência

aparece quando há um desequilíbrio entre a velocidade de produção e a capacidade de absorção do liquor; e de pressão normal, comum em idosos, considerada um tipo de demência. Na hidrocefalia comunicante, as principais causas são hemorragia intracraniana, traumatismo craniano, meningite ou pode até mesmo ser idiopática (sem causa aparente). Já na hidrocefalia obstrutiva, as causas podem ser más-formações cerebrais, tumores e cistos. “Na fase intrauterina, podemos ver pelo ultrassom que há um aumento no cérebro do bebê. E isso ocorre por uma má-formação do feto. Já em um caso pós-meningite, a hidrocefalia provoca dificuldade na circulação do liquor, que começa a acumular. Há também casos de tumores que bloqueiam o líquido”, conta o médico Paulo Sanematsu Junior, Diretor do


Departamento de Neurocirurgia do Hospital A.C. Camargo. Ele explica que em bebês com hidrocefalia há um aumento no perímetro da cabeça e a moleira (abóboda do crânio) não fecha, fica abaulada. Já crianças com dois anos, por exemplo, começam a ter dor de cabeça, a vomitarem pela manhã, após levantarem, pois o fato de ficarem em pé causa pressão no crânio. Em adultos, os sinais da doença são apatia, distúrbio de marcha e apraxia, quando a pessoa é incapaz de realizar, voluntariamente, movimentos motores, mesmo que seus músculos estejam normais e ela saiba como movimentá-los. “Pode-se comprometer diferentes funções, como memória e atenção. A pessoa fica mais sonolenta, e pode também perder o controle inibitório e passar a ter incontinência urinária”, afirma Bernardo de Monaco, neurocirurgião funcional na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente). Sanematsu completa: “Algumas dessas características aparecem mais em idosos, o que, muitas vezes, pode causar confusão entre hidrocefalia e a doença de Alzheimer”. O diagnóstico da hidrocefalia de pressão normal, a mais comum em idosos, é feito com base nos sintomas apresentados pelo paciente e nos resultados dos exames de ressonância magnética. Outro exame importante é o tap test, feito em ambiente ambulatorial, com anestesia local e sem a necessidade de internação. Nesse procedimento, retira-se de 30 ml a 40 ml de liquor da região lombar (há uma comunicação ampla de todo o sistema liquórico com o sistema nervoso central). Em seguida, observa-se o paciente. Havendo melhora dos sintomas em um período superior a 24 horas, pode ser confirmada a hidrocefalia de pressão normal. TRATAMENTO Uma vez identificada a hidrocefalia, o tratamento deve ser iniciado o quanto antes, já que o aumento da pressão intracraniana pode levar a lesões graves no tecido cerebral e deixar sequelas irreversíveis. “Na maioria das vezes, o tratamento indicado é a cirurgia de derivação ventriculoperitoneal (DVP). Esse procedimento consiste na introdução, sob a pele, de um cateter que controlará a pressão no interior do ventrículo por meio da drenagem e envio do liquor do cérebro para outra parte do corpo, como a cavidade abdominal”, diz Sanematsu. Monaco afirma que, na maioria das vezes, se a pessoa não comentar o procedimento, ninguém notará. Porém, pode surgir a necessidade da troca do cateter: “Em casos congênitos, quando a criança cresce e entra na adolescência, o cateter pode ficar curto, daí surge a necessidade de troca. É como aparecer um entupimento. Não é a regra, mas pode ocorrer”.

HÁ COMO EVITAR? Infelizmente, a hidrocefalia não tem cura e é mais comum de ocorrer nas regiões mais pobres do planeta. “Ela tem, sim, uma relação socioeconômica, é mais comum nas classes sociais mais baixas. Um país que apresenta muitos casos, por exemplo, é a Índia”, explica Monaco. O médico cita estudos que mostram que a ingestão de ácido fólico nas primeiras semanas de gravidez pode ajudar. Mas, na maioria das vezes, as mulheres demoram um pouco mais para descobrir que estão grávidas. “Quando descobrem, já se passaram semanas. Seria bom a gestante ter uma profilaxia para não apresentar um déficit de vitaminas, por exemplo. Mas muitas sequer conseguem fazer o pré-natal”, admite. A boa notícia é que o ácido fólico pode ser encontrado em vários alimentos e, se necessário, em suplementos. Alguns itens que contêm a vitamina: espinafre, brócolis, aspargo, feijão, ervilha, lentilha, quiabo, beterraba, abacate, sementes e nozes. Como se trata de uma doença perigosa, os pacientes precisam ser atendidos com urgência. “Todos os serviços neurológicos do SUS têm profissionais capacitados para atender a esses casos”, finaliza o médico da AACD. O CASO ROBERTA Quando Roberta Pontes nasceu, há 34 anos, em São Paulo, a oferta de exames não era tão sofisticada como hoje, que temos ressonância magnética e tomografia com contraste. Isso explica por que os médicos que a assistiram acharam que ela simplesmente havia nascido sem cérebro quando, na verdade, a menina tinha hidrocefalia. Os pais, no entanto, foram otimistas e insistiram em mais exames e tratamentos. “Com apenas dez dias, eu já tinha uma válvula. Depois de passar por testes neurológicos, ao chegar aos 11 meses, foi colocado um segundo cateter”, diz ela. O corpo da menina se desenvolveu rapidamente e, aos 12 anos, colocou um cateter para adulto no lado direito do corpo. “Hoje, tenho um desativado e faço acompanhamento médico de seis em seis meses com o Dr. Sanematsu, que me trata desde bebê”. Quando foi para o berçário e maternal, indicado por um amigo da família, tudo foi tranquilo, apesar de ela só começar a andar aos quatro anos. Funcionárias do lugar a incentivavam e até negociavam com ela para que conseguisse dar os primeiros passos. Aliás, Roberta frisa a importância da realização de fisioterapia e terapia ocupacional, que ela começou a fazer por volta dos três anos, para o desenvolvimento da coordenação motora e do equilíbrio. E o comprometimento da família com o processo é crucial: “Tenho uma irmã mais nova, 28 anos, que sempre me incentivou a não depender de outras pessoas”. Revista D+ número 27


SAÚDE

“O doutor Paulo Sanematsu Junior, Diretor do Departamento de Neurocirurgia do Hospital A.C. Camargo.

“Roberta Pontes, que tem hidrocefalia, em três momentos diferentes. Vida plena, muito por conta do diagnóstico precoce”

Porém, quando chegou à idade escolar, as coisas se complicaram. “Foi complicado encontrar um lugar em que os profissionais pudessem me acompanhar. Eu tinha dificuldade motora e os professores tinham receio que eu participasse das aulas. Até que meus pais encontraram uma escola que ofereceu o suporte que eu precisava, o Colégio Veruska”. Isso não significou a ausência de bullying: “Sofria porque minha caixa craniana era um pouco maior e porque tinha dificuldade em me locomover. Em uma fase, tive incontinência urinária. Não entendia porque riam e por que eu não conseguia fazer as coisas como os outros. Foi um longo processo de aceitação, com trabalho psicológico, pedagógico e dos professores”, admite. Ao chegar no Ensino Médio, sentia-se mais confiante, graças à terapia com psicólogos que fazia há um tempo. Na hora de optar pela faculdade, escolheu fisioterapia, por entender a importância dessa especialidade médica na vida das pessoas. No entanto, quando começaram as aulas nas quais precisava aplicar massagens em pacientes, percebeu que não daria conta e acabou desistindo do no quarto semestre. Roberta mudou, então, para o curso de Psicologia, no

qual conheceu um grupo de alunos e a Dança Circular: “O grupo me convidou para um retiro espiritual. E lá, percebi que as pessoas não ligavam para o fato de eu ser diferente. Fiquei muito mexida, voltei chorando a viagem toda”. Foi quando o professor de Dança Circular Bruno Perel a convidou para conhecer um grupo com pessoas com diferentes níveis intelectuais, a Associação Conviver: “Diferentes, mas não desiguais”, frisa Roberta. “Entrei em 2004 e fui tão bem acolhida que não me senti com alguma deficiência, e nem via isso nas outras pessoas. A presidente da associação, Silvana Gramignoli, conversou comigo e me disse algo que guardo até hoje: ‘você tem de entender que tem limitações, mas isso só te atrapalhará se você permitir’”. Frequentar a associação permitiu que Roberta tivesse mais liberdade. Ela, agora, utiliza o transporte público sozinha, pois antes, os pais, por recearem que algo acontecesse, estavam sempre com ela. Hoje, é analista de atendimento no Sebrae, psicóloga voluntária na Conviver e também apresenta a palestra “Inclusão, não somos diferentes, fazemos a diferença” em cidades pelo país. “Minha atuação e o convívio com os amigos só me fizeram acreditar que a diferença é um detalhe”, finaliza.


“Da esquerda para a direita: doutor Bernardo de Monaco, neurocirurgião da AACD, e Roberta, quando criança, já com o diagnóstico correto”

“Deise Fernandes, que destaca a importância da AACD no seu caso; à esquerda, Roberta, em foto recente”

DEISE FERNANDES E A IMPORTÂNCIA DA AACD A paulistana Deise Fernandes, hoje com 19 anos, nasceu com mielomeningocele, uma forma mais comum de espinha bífida cística e também a mais grave. Trata-se de uma anormalidade congênita da coluna vertebral que apresenta as meninges, a medula e as raízes nervosas expostas. Cerca de 80% das pessoas que vivem com mielomeningocele têm hidrocefalia associada. Isso ocorre por causa do acúmulo de liquor em partes do sistema nervoso. A obstrução é provocada, geralmente, por outro problema associado, a malformação de Arnold-Chiari ou malformação de Chiari do Tipo II. Deise conta que com dois dias de vida já recebeu a válvula para fazer a drenagem do liquor e está com ela até hoje, sem necessitar de troca. Ela chegou à AACD há 13 anos e desde então tem feito tratamentos, conseguiu uma cadeira de rodas e até fez cursos profissionalizantes para ajudá-la a entrar no primeiro emprego. “Nos primeiros anos de estudo, minha mãe me levava a uma escola que não tinha estrutura alguma. Ela me carregava pelas escadas até a sala de aula. Depois, na quarta série, mudei de escola e na nova consegui uma cuidadora”,

conta ela. Deise terminou o colegial e chegou a entrar na faculdade de Administração de Empresas, mas precisou trancar, pois o valor estava muito alto. Porém, pretende voltar assim que puder. O que mudou mesmo sua vida foi começar a frequentar a AACD: “Melhorou muito mesmo. Lá comecei a me locomover melhor, a fazer exercícios e fisioterapia, consegui uma cadeira de rodas e, recentemente, fiz um curso profissionalizante”, conta ela, animada. O curso a que ela se refere é realizado pelo setor de Psicologia da AACD, com o objetivo de incentivar pacientes a entrar no mercado de trabalho. Eles ensinam como se portar numa entrevista de emprego, ajudam a fazer o currículo, divulgam vagas pra pessoas com deficiência e temas afins. D+

SERVIÇO AACD – www.aacd.org.br Associação Conviver - www.conviversp.com.br/ Hospital A.C. Camargo - accamargo.org.br

Revista D+ número 27


ARTIGO

FALTA POLITIZAÇÃO DA DEFICIÊNCIA NO BRASIL Texto Geraldo Nogueira*

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Brasil carece de uma política nacional que contemple o tema da inclusão social para a pessoa com deficiência. É fato que os governos anteriores não conseguiram implantar uma política que se ocupasse em estabelecer um plano nacional, envolvendo estados e municípios, com objetivo de harmonizar e perpetuar ações que atualmente ocorrem de forma pontual em algumas cidades do território brasileiro. A falta de um de um plano nacional que imponha um sistema de ações conjuntas e harmônicas em favor da inclusão fragiliza o progresso das cidades num modelo acessível para todos, dificultando o fenômeno natural da trilogia “conhecimento”, “conscientização” e “implementação”. Consequentemente, aumentando o custo das ações locais que nascem, florescem e, na maioria das vezes, morrem sem dar frutos. As ações nascidas de políticas públicas pontuais tendem a desparecer com a transição dos governos locais,

pois, por melhor que seja essa ação, bastará uma mudança de governo para que deixe de existir. É notório que os governos que assumem uma nova gestão tendem a interromper ou mesmo a exterminar as ações do governo ao qual substituem, em flagrante desrespeito à sociedade e consequente oneração para os cofres públicos. Uma boa ação de inclusão social interrompida, simplesmente porque foi implementada pela gestão passada, traz prejuízos não só para o erário, como também para os segmentos sociais fragilizados. Enquanto os movimentos sociais de pessoa com deficiência avançaram rapidamente, as ações governamentais se mantiveram locais e desajustadas, num frenético desejo de responder à imposição das demandas sociais. Uma corrida desenfreada por visibilidade política que quase sempre deságua no vazio de ações que não alcançam seu propósito, causando frustação e desesperança. Uma realidade que gera o fenômeno social do

descumprimento das leis, num pensar equivocado: “estou consciente para as necessidades de inclusão e acessibilidade, mas isso é dever do outro, não meu”. A fraca politização da questão da deficiência no Brasil, pela não apresentação de um plano nacional de inclusão social para o segmento, tem constituído em importante condicionante no atraso do processo de conscientização da sociedade sobre a necessidade de tornar as cidades mais acessíveis e inclusivas para todos.

*Subsecretário da Pessoa com Deficiência no Município do Rio de Janeiro.


NOSSO TIME PRECISA DA

SUA FORÇA A G4S valoriza e apoia as pessoas com deficiência, e por isso está sempre em busca de novos profissionais para sua equipe, oferecendo um ótimo ambiente de trabalho. Presente em mais de 90 países, a G4S é uma das líderes mundiais em Segurança e Facilities. No Brasil, contamos com mais de 18 mil colaboradores. Todas as vagas oferecidas pela G4S estão disponíveis para pessoas com deficiência. As inscrições devem ser realizadas na página www.vagas.com.br/g4s A G4S acredita na sua capacidade.

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MERCADO DE TRABALHO

No caminho certo Inclui CIEE quer que empresas enxerguem pessoas com deficiência pelo potencial e não pelas limitações texto: Cármen Guaresemin fotos: Divulgação

“Espaço exclusivo do CIEE para atendimento da pessoa com deficiência, inaugurado em março de 2018”

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Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) nasceu em 1964 e, desde 1999, faz a conexão de jovens deficientes com programas de estágio e aprendizagem. Em março de 2018, foi inaugurado o Inclui CIEE, um espaço exclusivo, destinado ao atendimento de pessoas com deficiência física e intelectual que buscam uma oportunidade profissional. O Inclui CIEE proporciona atendimento adaptado e acessível, totalmente dedicado às necessidades desse público. Atuando como uma consultoria, uma de suas missões é a de sensibilizar empresas e órgãos parceiros a enxergarem o jovem com deficiência pelo seu potencial de desenvolvimento e não pelas limitações. Desse modo, um dos papeis do programa é fazer uma análise completa para entender

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se a empresa possui estrutura para receber uma pessoa com deficiência, qual o perfil da vaga e as características necessárias para preenchê-la, além do acompanhamento do processo seletivo pré e pós-contratação. De 1999 até hoje, o CIEE já beneficiou mais de 40 mil jovens em vagas de estágio e aprendizagem. Um dos objetivos da entidade é ampliar o espaço Inclui CIEE para todas as unidades do Brasil. A ideia é ir a regiões mais distantes e levar acessibilidade e cadastros para que esses jovens possam ter conhecimento das vagas disponíveis. “O Inclui CIEE é um marco na história do CIEE, trata-se de uma prioridade estratégica de nossa entidade. Isso porque a inclusão faz parte do nosso DNA”, afirma Lilene Cristiane Ruy, supervisora de Inclusão Social do CIEE.


“De cima para baixo: Lilene Ruy, supervisora de Inclusão Social do CIEE; Gian Luca, que tem paralisia cerebral e trabalha no Hospital São Paulo; e o carro adaptado do CIEE, que participa da Caravana de Serviços, promovida pela prefeitura de São Paulo”

Ela explica que as pessoas com deficiência têm duas opções para ingressar no CIEE: a primeira, como jovem aprendiz, a partir dos 14 anos. Para tanto, é necessário estar regularmente matriculado e frequentando as aulas nos anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio (EM) regular ou técnico, ou formado no EM. A segunda é por estágio. Para tanto, a lei determina que a pessoa, a partir de 16 anos, esteja estudando e matriculada no EM, técnico ou superior. “Nossa parte é fazer a ponte para que a empresa encontre o estudante certo”, explica Lilene. A supervisora conta que, quando a Lei de Cotas não é cumprida por uma empresa, ela pode ser notificada e obrigada a ajustar-se. “Já no estágio, não existe isso, pois não há cota. A empresa deseja ou não contratar. É algo controverso”. Porém, ela lembra que, ao contratar pessoas com deficiência, a empresa está agindo com uma política afirmativa: “Acredito ser um grande negócio, uma forma de mudar o mundo. E vamos lembrar que, pelo menos aqui no Brasil, o desemprego é maior entre os jovens”. CURSO UNIVERSITÁRIO Algo perceptível, em contrapartida, é o nível educacional precário dos estudantes que chegam. Porém, independentemente disso, Lilene entende que uma pessoa com deficiência conseguir chegar à faculdade é uma vitória e tanto. “É um passo muito grande, um recorte à parte. Muitas vezes, aquele é o primeiro da família a conseguir isso. Algo notável”. Para ajudar a reverter o quadro do baixo nível educacional, ela cita o exemplo de um projeto pioneiro que promete dar muito certo. Uma promotora do Ministério Público do Trabalho reverteu uma multa dada a uma empresa, fazendo com que o valor fosse utilizado na capacitação de 32 pessoas. “De março a junho, elas se prepararam no CIEE. E a intenção é que prestem vestibular no meio do ano. As que conseguirem entrar na faculdade terão uma mensalidade mais acessível. A intenção é a de que, a partir do segundo ano do curso, já empregadas, elas mesmas custeiem os estudos”. No caso dos aprendizes, há também o caminho inverso: as empresas contratam pessoas com deficiência e as encaminham ao CIEE para que recebam capacitação teórica: “O jovem vem ao centro uma vez por semana e, nos demais dias, faz a parte prática na empresa. Eles recebem capacitação na área de informática, por exemplo. Alguns só têm celulares, chegam aqui sem saber sequer ligar o computador”, conta Lilane. No programa Aprendizagem Teórica Básica, por exemplo, os participantes têm capacitação em comunicação oral e escrita, leitura e compreensão de textos, inclusão digital, Revista D+ número 27


MERCADO DE TRABALHO

raciocínio lógico-matemático, noções de interpretação e análise de dados estatísticos. “Na parte comportamental, damos dicas, orientações, fazemos rodas de conversas e expomos como é o ambiente em uma empresa. Falamos sobre ética, cidadania, regras de convivência e horários a cumprir. A maioria desconhece tudo isso”, admite a supervisora. Apesar de milhares de pessoas já terem passado por lá, Lilane consegue ter retorno de algumas delas: “Ouvimos muitas coisas boas. Gente que mudou de vida por causa do CIEE. Muitas são as únicas da casa que têm um salário fixo, e isso faz diferença em uma família. Ou ficamos sabendo que, como já falei, um ex-aluno foi o primeiro da família a chegar à universidade. Muitos não sabem que podem fazer isso. Aqui, nós mostramos que eles podem ser os protagonistas de suas vidas”, fala Lilane. Vale lembrar que o Inclui CIEE possui um carro adaptado que não só dá suporte em eventos, como participa da Caravana de Serviços da Prefeitura de São Paulo, na capital e região metropolitana. Pessoas com deficiência podem aproveitar a oportunidade para se cadastrar no banco de dados da entidade. Além disso, o automóvel está disponível para trazer interessados que queiram conhecer o espaço. Para uso desse serviço, é necessário fazer o agendamento pelo portal do CIEE. READAPTAÇÃO Caroline Mota Lanio teve um problema de saúde há dois anos e, depois de fazer tratamentos, ficou com sequelas. A jovem, hoje com 24 anos, diz que os médicos não chegaram a uma conclusão sobre o diagnóstico: “Eu tive hemiplegia (paralisia de metade do corpo) e perdi os movimentos do braço e da perna do lado esquerdo. Fiquei dois anos sem trabalhar. Os médicos acham que tive um Acidente Vascular Cerebral (AVC), mas não é um diagnóstico fechado. Porém, melhorei bastante”. Hoje, ela é jovem aprendiz na área administrativa do Esporte Clube Pinheiros. “Eu me inscrevi em um site de empregos e o clube me chamou. Não fui de imediato, porque estava buscando meus benefícios, mas eles foram insistentes e, ainda bem, acabei aceitando”. Quando Caroline começou a trabalhar, o clube a encaminhou para que ela se capacitasse no CIEE: “Isso me ajudou bastante, pois, durante o processo, por exemplo, havia várias atividades em grupo. E essa convivência foi boa para minha readaptação ao ambiente de trabalho. Agora, tenho outras aulas. Minha intenção é cursar uma faculdade futuramente”. RELACIONAMENTO INTERPESSOAL “Estava à procura de trabalho havia um ano e meio quando vi em um jornal um anúncio de emprego no Hospital São Paulo”, conta Gian Luca Pereira, de 20 anos. O rapaz, que tem paralisia cerebral, se candidatou e conseguiu

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“Acima, Caroline Lanio, que trabalha como jovem aprendiz no Esporte Clube Pinheiros; e Marcos Rafael, que exerce a função de auxiliar administrativo no Hospital São Paulo”


“Os funcionários do CIEE são capacitados para atender da melhor forma a pessoa com deficiência. Abaixo, o carro adaptado em mais uma jornada pela cidade de São Paulo”

a vaga. Antes de começar, já foi direcionado para o CIEE. “Fiz a capacitação digital, que durou uma semana. Algumas coisas eu já sabia, mas aprendi a fazer planilhas, a usar atalhos e programas como PowerPoint, Word etc.”, conta. Todavia, o que ele destaca é mesmo a parte comportamental. “Está me ajudando muito porque sou tímido. Aprendo a lidar melhor com as pessoas. Como passamos por muito estresse no dia a dia, as atividades dinâmicas têm me deixado mais leve. Também gosto da parte de interpretação de textos. Se eu gostaria de fazer faculdade? Sim, pretendo cursar Radiologia”. DESCONTRAÍDO E FELIZ Aos 18 anos, Marcos Rafael Felício de Araújo está trabalhando como auxiliar administrativo, também no Hospital São Paulo, graças ao programa Jovem Aprendiz. Como já conhecia o CIEE – familiares já haviam conseguido emprego por meio da entidade –, foi pessoalmente ao centro para se cadastrar. “O primeiro semestre é de preparação: aprendi a mexer em computador e isso foi muito bom para mim”, conta. Ele também confessa que o que o ajudou bastante foram os grupos de discussões. “Sou meio envergonhado, tanto por telefone quanto pessoalmente. Sempre foi uma luta, para mim, conseguir conversar. Melhorei muito, hoje me sinto mais descontraído, mais feliz. Consigo me expressar melhor”. Marcos tem uma doença hereditária rara, a anemia falciforme. Os glóbulos vermelhos do sangue de quem tem essa doença assumem o formato de uma foice. Isso faz com que as células morram de forma prematura, o que causa escassez de glóbulos vermelhos saudáveis, daí a anemia. Por obstruir o fluxo sanguíneo, ela causa muita dor. Mas isso não impede que ele sonhe em ser efetivado e, assim, possa cursar a faculdade de Psicologia: “Mesmo tímido, sou um bom observador e gosto de me expressar. Para ajudar, faço um curso preparatório para o Enem”, finaliza. D+

SERVIÇO CIEE Rua Tabapuã, 469 – Térreo – Itaim Bibi – São Paulo (SP) Site: portal.ciee.org.br/institucional/inclui-ciee Contato para candidatos: vagas.inclui@ciee.org.br Contato para empresa: empresa.inclui@ciee.org.br

Revista D+ número 27




NOSSA CAPA

A feira Reatech chega à 16ª edição, levando cada vez mais serviços, produtos e informações para a pessoa com deficiência texto Paulo Kehdi fotos Divulgação

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rganizada e promovida pela Cipa Fiera Milano, a Reatech – Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade é considerada a principal feira do setor na América Latina. E não é para menos. Nesta edição, por exemplo, teremos mais de 300 marcas expondo em um espaço de 35 mil metros quadrados localizado na São Paulo Expo – SP, o mais moderno centro de exposição do Brasil. E a Revista D+, com apenas quatro anos de existência, será, pelo segundo ano consecutivo, a mídia oficial do evento, fruto da credibilidade que conquistou, com uma linha editorial afinada com o segmento da pessoa com deficiência. “Não teremos apenas expositores, mas uma série de atividades, incluindo seminários, palestras, cursos e lazer. O objetivo principal da Reatech é apresentar ao visitante uma gama de produtos e serviços que irão melhorar sensivelmente sua qualidade de vida. Queremos também disseminar de forma ampla informações valiosas, nas mais diversas áreas: médica, tecnológica, automotiva, entre outras. Pode imaginar o que for, você vai encontrar na feira”, diz Rimantas Sipas, diretor comercial da Cipa Fiera Milano, envolvido com feiras desde 1994, quando a Cipa era ainda uma empresa brasileira (ver box da matéria). Os diferenciais não param por aí. Pensada para a pessoa com deficiência, possui uma infraestrutura completamente diferenciada de outros eventos do gênero. Toda a feira terá piso tátil para orientação da pessoa com deficiência visual, área exclusiva com inúmeros banheiros e bebedouros adaptados, enfermaria, ambulatório e pessoal capacitado para atender às necessidades dos visitantes. Aliás, são esperadas mais de 50

mil pessoas para os quatro dias do evento, que acontecerá entre 13 e 16 de junho. “Houve um crescimento de 47% no número de pessoas que requisitaram um pré-cadastramento em relação a 2017, o que nos leva a crer que teremos um volume significativo de visitantes”, fala Sipas. Todos esses números e informações da feira são fruto de uma longa caminhada de conhecimento. Desde o ano da primeira edição, 2002, quando foi feito um trabalho de aproximação com as principais entidades voltadas ao segmento, como a Fundação Selma, a Associação Desportiva para Deficientes (ADD), o Instituto Laramara e a Fundação Dorina Nowill, apenas citando algumas. “Quando idealizamos a Reatech, imaginamos um lugar onde a pessoa com deficiência pudesse encontrar soluções e informações que melhorassem sua qualidade de vida e, consequentemente, ajudassem na sua inclusão. A procura por instituições ligadas ao universo da pessoa com deficiência tornava-se essencial, não só para entendermos melhor o segmento, mas também para a divulgação dos eventos”, explica Rimantas. “Dezessete anos depois, a Reatech tornou-se um universo magnífico de negócios. Não existe assistencialismo barato, caridade. Quem vai hoje na feira sabe o que quer. A grande maioria do público é composta por consumidores com alto poder aquisitivo, ansiosos por novos produtos e muita informação”, complementa. Para atestar essas características, vale ressaltar que, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias e Revendedores de Produtos e Serviços para Pessoas com Deficiência (Abridef), esse setor movimenta um mercado de R$ 5,5 bilhões por ano!


“No alto, a abertura oficial da última Reatech, em 2017. Evento traz série de atrações que agradam em cheio quem a visita. Como, por exemplo, apresentação do canal Porta dos Surdos no Reashow, espaço para seminários”

Revista D+ número 27


NOSSA CAPA

ATRAÇÕES Na edição de 2017, foram realizados ciclos de palestras e debates em diversos eventos paralelos e que terão destaque também em 2019. Nesse cenário, podemos citar o Reasem, Seminário de Tecnologia de Reabilitação e Inclusão, com eventos nos dias 13 e 14 de junho, o Reamed, Congresso de Medicina Física e Reabilitação, que acontecerá nos dias 15 e 16, o Tecfisio, Seminário de Tecnologias Avançadas em Fisioterapia, com atividades programadas para o dia 14, o Reashow (Seminário dos Expositores), o Curso Pet – Terapia Assistida por Animais, com sessões que se estendem pelo dia 16, e o Workshop Equoterapia, que acontecerá dia 15. Toda a programação pode ser verificada com detalhes no site da Reatech (ver box de serviço). “São eventos que levam muita informação ao visitante. O Reashow, por exemplo, é um espaço diferenciado do expositor. Imagine que você queira mostrar seu produto para duzentas pessoas, permitirem a elas que o testem. Isso fica inviável no estande. Então, disponibilizamos esse espaço para que o expositor possa mostrar seus produtos nos mínimos detalhes”, diz Rimantas. Neste ano, além das atividades paralelas já consolidadas, acontece, pela primeira vez, o Reackathon, uma competição para estimular o desenvolvimento de soluções tecnológicas e iniciativas inovadoras que promovam a autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social de pessoas com deficiência. A iniciativa fez tanto sucesso que as inscrições foram completamente preenchidas. O evento consiste na apresentação de soluções práticas das equipes inscritas para o mercado de acessibilidade. Elas deverão apresentar projetos que se enquadrem nas áreas de interesse da saúde, envolvendo prevenção de doenças, cuidados básicos, diagnóstico, acompanhamento e monitoramento individualizado, mapeamento de enfermidades, gestão de jornadas e alocação de profissionais, entre outros. Vale ainda ressaltar que a Reatech pode ser uma excelente oportunidade para a colocação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Muitos expositores captam, durante o evento, currículos para posterior seleção. “Gigantes, como o McDonalds, por exemplo, têm espaços reservados exclusivamente para essa tarefa em seus estandes”, explica Rimantas. EXPOSITORES Alguns expositores vão participar da feira pela primeira vez, outros já participaram em várias edições. Esse é o caso da Geraes Tecnologia Assistiva, empresa com mais de 10 anos de atuação na área de tecnologia voltada à pessoa com deficiência e que esteve presente nas últimas quatro. “Nosso principal produto é o teclado inteligente “TiX”, que permite a pessoas com deficiência motora usar

“A senadora Mara Gabrilli discursa durante a abertura da Reatech 2017”

CIPA FIERA MILANO A Cipa Fiera Milano, filial brasileira da Fiera Milano, é um dos maiores players de feiras e congressos do mundo. A cada ano seus eventos atraem aproximadamente 30 mil expositores e mais de cinco milhões de visitantes. Ela tornou-se sócia majoritária da Cipa do Brasil em 2011, que era a organizadora da Reatech desde 2002, dando origem à Cipa Fiera Milano. No Brasil, são realizadas nove feiras que representam os mais diversos segmentos da economia, como segurança, energias limpas e sustentáveis, tubos e conexões, cabos e fios, saúde no trabalho, tratamento de superfícies, esquadrias, tecnologias em reabilitação, inclusão e acessibilidade. Entre as principais marcas do portfólio estão Exposec, Fisp, Fesqua, Ebrats, Ecoenergy e Reatech.


CURIOSIDADES E ATRAÇÕES DA REATECH EM EDIÇÕES ANTERIORES • Em 2003, a Reatech reafirmou sua posição de destaque no cenário mundial, tornando-se a maior feira voltada a pessoas com deficiência na América Latina e colocou o Brasil em pé de igualdade de importância no cenário mundial de eventos e feiras voltados a pessoas com deficiência e home care, ocupando o posto de terceiro maior evento do mundo no segmento.

uma vez foi marcada por eixos temáticos envolvendo mercado, trabalho, lazer e cultura, esportes, reabilitação e saúde, cidadania e políticas públicas. Nesse ano, o evento apresentou uma grande novidade: pela primeira vez no mundo uma feira foi sinalizada com piso tátil direcional (para indicar direções e localizações) e alerta (para indicar obstáculos) a pessoas com deficiência visual.

• Em 2011, a Reatech completou uma década de

• A Reatech 2004 recebeu 20 mil visitantes.

sucesso. A feira contou com a maior área expositiva já ocupada desde a sua primeira edição e o número de visitantes bateu seu recorde.

• A Reatech 2007 teve recorde de público, com

• Em 2014, o evento confirmou o seu reconhecimento

mais de 33 mil visitantes, vindos de todas as partes do Brasil e países da América Latina, Europa e dos Estados Unidos.

• A sétima edição da Reatech, em 2008, foi realizada em uma área com cerca de 30 mil metros quadrados e recebeu 38 mil visitantes. O evento ganhou um novo desenho, com uma praça central, área de alimentação com o dobro do tamanho e um novo posicionamento para as atrações, como a quadra de esportes, a equoterapia, o palco de atrações, a fazendinha, entre outras atividades.

• A oitava edição da feira, em 2009, teve como símbolo de sua campanha uma árvore cheia de frutos. Como a campanha mostrou, a Reatech cresceu, criou raízes e os frutos puderam ser colhidos por todos aqueles que acreditaram mais uma vez no trabalho sério e comprometido dos organizadores. Foram 41 mil visitantes.

• A Reatech 2010 recebeu 45 mil visitantes e mais

nas Américas e recebeu o público de 52 mil pessoas, entre visitantes e profissionais de saúde e educação, sendo verificado um crescimento de 20% com relação ao ano anterior.

• Em 2015, o evento sediou a primeira Mostra Reatech de Design Universal, que trouxe diversos produtos, entre eles o jogo dos sinais (Libras), a mesa universal de trabalho, o protótipo de bebedouro para pessoa com deficiência física e o projeto Colméia para uso sociopedagógico. Destaque para a cozinha compacta universal, desenvolvida pela designer Érica Campanha.

• Em 2017, a Reatech deixou de ser anual para ser bienal, mantendo sua realização no São Paulo Expo. Nesse ano, o evento celebrou 15 anos e trouxe com exclusividade o projeto cão-guia-robô Lysa. Destaque também para a participação de formadores de opinião, entre eles Mara Gabrilli, Selma Rodeguero, Mara Siaulys e Regina Veloso.

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o computador e explorar suas ferramentas por meio de um teclado sensível ao toque. O que possibilita, por exemplo, um controle completo do mouse e uma navegação tranquila pela internet”, explica Adriano Assis, diretor executivo da Geraes. Não só isso, mas a empresa também vai trazer produtos periféricos que, acoplados ao “TiX”, aumentam as possibilidades de uso. Existem itens direcionados a quem tem uma deficiência mais severa, que obedecem ao piscar dos

HISTÓRICO DAS MONTADORAS Conheça aqui algumas curiosidades referentes ao setor automotivo, em algumas edições passadas:

• Na Reatech 2003, a Honda lançou oficialmente o novo modelo fabricado pela marca no Brasil, o Honda Fit. As vendas iniciais do veículo foram para as pessoas com deficiência, antes mesmo de chegar aos demais compradores.

• Em 2004, na terceira Reatech, foram apresentadas adaptações de veículos para pessoas com deficiência, condutores ou passageiros, mas um dos grandes destaques daquele ano foram os elevadores e as plataformas de transferência. Quanto às tecnologias apresentadas, além das tradicionais embreagens semiautomáticas, acelerador e freio manual, foram mostradas novidades, como, o acelerador eletrônico e a cadeira especial para transportados. Foram sete montadoras e três adaptadoras de veículos naquele ano, em que foram realizados mais de quatro mil testes.

• Na Reatech 2007, na categoria de adaptações de veículos para pessoas com deficiência que precisam ser transportadas, foram apresentados modelos com assoalho regulado para que o cadeirante fique na mesma altura dos outros passageiros. Nesse caso, o acesso ao interior do carro é feito por uma rampa vertical e paralelamente à porta traseira. Outra empresa trouxe um sistema de embreagem eletrônica para instalação em carros com câmbio manual, que é acionada por meio de um botão discretamente instalado no próprio câmbio.

• Em 2015, o evento novamente atraiu o interesse de importantes montadoras, entre elas Citroën, Chevrolet, Fiat, Ford, Honda, Renault e Toyota. Inovações tecnológicas foram apresentadas, com destaque para o lançamento da primeira SUV do Brasil com piso rebaixado.

olhos, opção para quem não consegue tocar o teclado. Sobre as participações em edições antigas da Reatech, Assis é enfático. “Desde 2014, quando participamos pela primeira vez, descobrimos a importância do evento. O desenvolvimento dos produtos passou pela experiência adquirida na feira, onde pudemos entender os anseios do público presente. Sem falar no volume de negócios que a Reatech proporciona”. A Mais Autonomia, por sua vez, irá participar pela primeira vez. Desde outubro de 2017 a empresa representa com exclusividade no Brasil a startup israelense OrCam, responsável pelo desenvolvimento do dispositivo de inteligência e visão artificial, o OrCam MyEye. “Ele é nosso principal produto, destinado a pessoas com deficiência visual, déficit de leitura ou dislexia. É capaz de transformar, instantaneamente e offline, textos impressos ou digitais em áudio, além de outras funções, como o reconhecimento de faces, cores, produtos e cédulas de dinheiro. O OrCam MyEye proporciona uma vida com mais independência e autonomia”, diz Doron Sadka, diretor da empresa.


“As montadoras estão sempre presentes na Reatech, aproveitando o evento para apresentar suas novidades”

Sobre a expectativa de participação na Reatech, Sadka se mostra bem otimista. “Ficamos sabendo do evento pela mídia, pois se trata de uma das maiores feiras do segmento no país. Não poderíamos deixar de participar e levar um produto que pode auxiliar milhares de pessoas a terem melhor qualidade de vida. Nossa expectativa é que um grande número de pessoas possa conhecer e experimentar essa tecnologia tão revolucionária”, complementa. A Mais Autonomia tem parceria com a prefeitura de São Paulo e com bibliotecas de algumas cidades. A prefeitura paulistana adquiriu, entre 2018 e 2019, o dispositivo para todas as 55 bibliotecas do município, que contam com acervo de cinco milhões de títulos. Dois CEU’s (Centros Educacionais Unificados) da prefeitura de SP já possuem o aparelho para facilitar a inclusão de crianças com cegas ou com baixa visão. Outras bibliotecas públicas no Brasil também utilizam o dispositivo OrCam MyEye para aumentar a inclusão e acesso ao material disponível. É o caso de bibliotecas em Salvador (BA), Uberlândia (MG) e Teresina (PI). A Livre Soluções em Mobilidade, fundada em 2014, participa da Reatech desde 2015. Seu diretor de comunicação, Cassius Oliveira, entusiasma-se ao falar da importância do evento para a empresa. “A Reatech foi um divisor de águas para nós. Foi a partir da primeira participação que nossos produtos passaram a ser mais conhecidos. Nossa expansão em termos de volume de negócios cresceu significativamente a partir de então, com o público conhecendo melhor nossos produtos”. A gama deles é bem vasta. O principal item é o chamado “Kit Livre”, uma unidade motorizada que pode ser acoplada a qualquer cadeira de rodas convencional. “O diferencial aqui é o custo. Uma cadeira motorizada custa em média R$ 8 mil. Com nosso kit é possível transformar sua cadeira por um preço bem menor, algo em torno de R$ 5 mil, já contando o custo da cadeira”, explica Oliveira. Nesta edição, eles mostrarão produtos que já são comercializados, como Revista D+ número 27


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“A ADD, na área esportiva, e a AACD, trazendo inovações no campo da tecnologia assistiva, são expositores tradicionais da Reatech, assim como o Bradesco (abaixo)”

o triciclo “Trilivre”, que se apresenta como uma excelente opção não só para pessoas com deficiência física, como também idosos e gestantes, por exemplo. A Radical Hand, produto que permite transformar a cadeira de rodas numa handbike, também estará presente. Assim como quatro modelos de bicicletas elétricas, direcionadas a pessoas sem deficiência. Mas Oliveira chama atenção para as novidades. “Um produto antigo nosso, a cadeira Juliette, apropriada para o cadeirante que quer fazer trilhas, montanhismo, ganhará uma versão motorizada. Lançaremos também outro modelo de triciclo, mais potente, com tração nas três rodas, e não somente na dianteira, como a maioria dos triciclos são fabricados”. E a Livre ainda preparou uma pista com 800 m², que será destinada a uma corrida em cadeira de rodas com obstáculos, essa que promete ser uma das grandes atrações da Reatech 2019!

Já a Direct Borrachas, empresa fundada em 2009, trará seu projeto de “Casa Conceito”, uma residência totalmente acessível, seja para pessoas com deficiência física ou visual. “O projeto é todo pensado na acessibilidade: incorporamos pisos táteis, portas mais largas e etiquetas em braile, que permitirão à pessoa com deficiência visual escolher a própria vestimenta sem depender de ninguém, já que as informações sobre a roupa estarão todas na etiqueta. Não só isso, mas também tecnologia de ponta, com possibilidades de se abrir uma janela ou ligar um som apenas por comando de voz”, diz Jessica Vieira, diretora da empresa. Mas não é apenas a questão de mostrar o projeto que move a empresa. A conscientização da sociedade é uma prioridade também. “A arquitetura deve atender a todos os tipos de pessoas, respeitando suas diferenças. Uma casa acessível não é exclusiva para pessoas com deficiência,


GERANDO NEGÓCIOS • No terceiro ano da Reatech, a geração de negócios chegou à casa dos R$ 500 milhões durante o evento e no pós-feira.

• A quarta edição movimentou aproximadamente R$ 550 milhões em negócios, que refletiram no segmento durante o ano todo. Nessa edição, estiveram presentes expositores da Europa e dos Estados Unidos. Foi a prova da consolidação e do crescimento da feira.

• Na Reatech 2007, foram cerca de R$ 1,5 bilhão em negócios, sendo que destes R$ 450 milhões vieram da venda de carros zero quilômetro e adaptações de veículos e R$ 150 milhões da venda de cadeiras de rodas. Nessa edição, a Reatech contou com a presença de sete grandes montadoras que atuam no segmento de pessoas com deficiência: Honda, Fiat, GM, Peugeot, Renault, Toyota e Volkswagen.

• A Reatech 2010 reuniu 230 expositores e gerou R$ 590 milhões em negócios.

• Em 2011, a feira consolidou-se mais uma vez como geradora de negócios, movimentando milhões de reais. Foram 250 expositores, das grandes empresas automobilísticas a fabricantes de médio porte, entre outros. Novamente, ao longo do ano, a feira aqueceu o mercado dirigido a pessoas com deficiência.

• Em 2014, o setor de empregabilidade da feira disponibilizou mais de sete mil vagas a pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. mas sim um espaço que acolhe a todos, e a todas as idades.” diz Gabriella Zubelli, arquiteta especialista em acessibilidade e idealizadora do projeto. Essa será a quinta vez que a Direct Borrachas participa da Reatech (a primeira foi em 2012). “É sempre uma grande emoção participar da feira, uma realização pessoal e profissional! Ajudar por meio de inovações tecnológicas e conscientizar a todos são fatores que me motivam cada vez mais a participar do evento”, conta Vieira. A Metalúrgica Buzin, por sua vez, levará a cadeira higiênica desmontável. “Essa cadeira foi feita com o intuito de agregar facilidade para a vida da pessoa com deficiência em casos simples, como tomar banho ou apenas ir ao banheiro. Pensando em dar mais autonomia, a cadeira é totalmente desmontável, para facilitar em casos de viagens e mudanças de ambientes”, diz Danilo Souza Ribeiro, Revista D+ número 27


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“A Livre Soluções em Mobilidade vai apresentar o triciclo Trilivre, indicado não só para pessoas com deficiência, como também para idosos e gestantes”

supervisor de Pesquisa e Desenvolvimento da Buzin. Recentemente, o Hospital Santa Casa de Porto Alegre tornou-se o primeiro da América Latina a oferecer aos seus pacientes a ajuda de um aparelho de reabilitação robótica para voltar a caminhar. Disponível para atendimentos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), o equipamento “Erigo” ajuda pessoas quem têm problemas neurológicos ou que sofreram acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo, a se recuperar de forma mais rápida. MONTADORAS De extrema importância na Reatech, o setor automotivo participa da feira há 16 anos. Para 2019 já confirmaram participação as fabricantes Toyota, Honda, Volkswagen, Jeep, Fiat, GM, Nissan e Renault, além das empresas que fazem adaptações dos carros para a pessoa com deficiência. A feira sempre atraiu a presença de montadoras de automóveis, que investem pesado nos estandes, em equipes de vendas especiais e no atendimento na área externa, com carros disponíveis para test drive. Aliás, esse será outro diferencial da Reatech 2019, a pista de test drive simplesmente dobrou de tamanho, possibilitando mais testes para os visitantes e um conhecimento maior das inovações apresentadas. Isso vem afirmar o interesse

do setor automobilístico na pessoa com deficiência, que compra mais de sete mil carros por ano. A Honda, marca que começou a comercializar motocicletas no Brasil em 1971, para depois, em 1992, começar a comercializar carros, participou de todas as edições da Reatech. “Estar nessa feira, além de demonstrar nosso compromisso em proporcionar alegria e melhorar a vida das pessoas por meio da mobilidade, possibilita apresentar ao público a qualidade e inovação dos automóveis Honda. É nesse ambiente que também podemos nos aproximar dos clientes e compreender as tendências de consumo para, cada vez mais, alinhar o desenvolvimento de nossos produtos às expectativas do consumidor brasileiro”, diz Marcos Martins, Gerente Geral de Vendas da Honda Automóveis do Brasil. Para essa edição, a montadora traz sua linha de automóveis, composta pelos modelos Fit, City, Civic, HR-V e WR-V, de produção local, além dos importados Accord e CR-V. “A participação na Reatech é importante, pois oferece a oportunidade de nos aproximarmos de atuais e potenciais consumidores, demonstrando os diferenciais dos nossos produtos e coletando as expectativas e necessidades da pessoa com deficiência. Durante o evento, também podemos apresentar os benefícios do programa Honda Conduz, que já beneficiou mais de 130 mil consumidores, ampliando suas possibilidades de mobilidade por meio de um automóvel da marca”, complementa. A Honda possui 217 concessionárias no Brasil. Já a Mercedes-Benz, que teve a primeira fábrica no Brasil instalada em 1956, em São Bernardo do Campo (SP), vai expor os principais produtos da linha Sprinter, voltados para o transporte de pessoas com deficiência e dificuldades de locomoção. São vans para transporte de passageiros. Em parcerias com implementadores, esses veículos podem ser equipados com dispositivos que facilitam o acesso ao seu interior, como, por exemplo, o dispositivo de poltrona móvel, que será apresentando na Reatech deste ano.


“À esquerda, o teclado inteligente “TiX”, da Geraes Tecnologia Assistiva. A Reatech traz eventos paralelos interessantes, como cursos e seminários”

“A expectativa com relação à participação na Reatech 2019 é poder mostrar as soluções que a linha Sprinter oferece às empresas de transporte do segmento e também aos visitantes da feira, que podem contar com o espaço adequado e também com o elevado padrão de conforto e segurança de nossos produtos. Na linha Sprinter, nosso cliente pode contar com itens exclusivos, como: controle de estabilidade (ESP); freio a disco nas quatro rodas; airbag para o motorista de série; ar-condicionado; volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade; sistema de som com Bluetooth; trio elétrico; assistente de vento lateral; faróis de neblina com assistente direcional integrado; luzes diurnas; bancos reclináveis, entre outros. Nossa expectativa é gerar um grande número de contatos para eventuais vendas futuras, uma vez que o processo de compra de um veículo implementado exige um projeto adequado e realizado conforme a necessidade específica do cliente” explica Jefferson Ferrarez, diretor de Vendas e Marketing de Vans da Mercedes-Benz do Brasil. D+

SERVIÇOS 16ª Reatech Data: de 13 a 16 de junho Horário: dias 13 e 14, das 13h às 20h; dias 15 e 16, das 10h às 19h Local: São Paulo Expo Exhibition & Convention Center www.http://reatechbrasil.com.br/16/ Obs.: Para quem não tem ou não quer ir de carro, basta pegar o metrô, linha 1 – azul e descer na estação Jabaquara. Lá, 15 vans adaptadas levarão os visitantes para a feira, de forma ininterrupta. Tanto o serviço das vans, quanto a entrada para a Reatech são gratuitos.

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ESPORTE

“Lucas nadando e pedalando no Centro Paralímpico, em São Paulo. O objetivo é participar de competições oficiais de triatlo neste ano. Abaixo, à esquerda, com a namorada.”


CORAÇÃO DE FERRO

Seja nadando, correndo ou pedalando, Lucas quer se superar. O atleta com síndrome de Down se prepara para participar da sua primeira competição oficial de triatlo texto Ana Sniesko

N

ão existe desafio impossível para Lucas Tadeu Hernandes de Vasconcelos. Aos 19 anos, ele treina todos os dias para fazer jus ao título de primeiro triatleta com síndrome de Down do mundo. O triatlo é uma modalidade olímpica desafiadora, composta de natação, ciclismo e corrida. “Aos seis meses de idade ele passou 27 dias internado com uma pneumonia. Já foi uma barra! Aos nove meses, ele encarou uma cirurgia de coração que durou mais de oito horas”, conta o pai, Leandro de Vasconcelos. Por conta desses problemas, sua história dentro das piscinas começou cedo. Aos três anos, Lucas entrou no colégio e começou a dar as primeiras braçadas. A princípio, a prática era apenas para colocar o garoto em movimento. Mas, sem imaginar, a família já plantava uma semente de amor ao esporte. Lucas, que até o 7º ano estudou em uma escola regular, preferiu ir para uma escola especial para desenvolver toda a sua potencialidade. GANA DIFERENTE Aos 17 anos, pegou firme nos treinos na água e passou a frequentar o Centro Paralímpico de São Paulo. “Mais uma vez, era apenas para ele se manter ativo, já que precisava perder peso. Não demorou para que logo pedisse também para treinar atletismo e ciclismo”, conta o pai, orgulhoso. E os professores rapidamente notaram uma gana diferente no menino e passaram a motivá-lo. “Um dia, um dos professores comentou que nunca tinha visto uma pessoa com

Down participar de uma competição como triatleta. Pesquisei e realmente não havia”, relembra Leandro. Um cuidado especial, todavia, precisava ser tomado. Como a cardiopatia é uma condição comum em crianças que têm a síndrome, o desafio físico da modalidade esportiva para pessoas na condição de Lucas exige atenção redobrada e supervisão médica. “Quando contamos ao médico sobre o projeto, ele achou que era apenas uma brincadeira, mas em momento algum proibiu os treinos. Aumentamos a frequência das consultas, fazemos todos os monitoramentos necessários e encaramos com seriedade”, afirma o pai, que também é treinador do garoto. O esporte se tornou o maior motivador da vida de Lucas. Ele passou a ter uma rotina de treinos pesada. “Meus treinos são divididos. Segundas e terças eu nado e corro. Nas quintas, faço as três modalidades: corro, nado e pedalo. Na sexta, nado e pedalo. Mas eu nunca participei da seleção brasileira porque ainda não existe triatlo para a minha categoria. Porém, eu já ganhei medalha pelo atletismo”, conta Lucas. A expectativa é que a sua estreia nas competições oficiais de triatlo aconteça em meados de 2019. Ainda não existe na modalidade uma subdivisão específica para pessoas com deficiência intelectual, então, tudo indica que ele deverá cumprir as distâncias estabelecidas para pessoas com deficiência física que praticam a modalidade, as mesmas do chamado triatlo olímpico: 750 metros de natação, 20 quilômetros de bicicleta e cinco quilômetros de corrida. “Ele já participou de uma competição de triathlon indoor na Revista D+ número 27


ESPORTE

“Ao lado, acima, com o pai e com a mãe; embaixo, treinando na esteira, observado pelo pai; e dando suas braçadas na piscina do Centro Paralímpico”

academia Ultra, em São Paulo. A prova é feita em ambiente interno e é realizada por tempo. São cinco minutos nadando em uma piscina com correnteza, 15 minutos pedalando no rolo e mais dez correndo na esteira”, explica Leandro. Embora sofra um pouco com o equilíbrio durante os treinos com a bicicleta, Lucas espera que a rotina o deixe mais confiante e pronto para superar as suas limitações físicas. Ainda com um pouco de receio, o pai espera que o jovem possa contar com um atleta-guia durante as provas, por questões de segurança. “A ideia é que ele seja acompanhado para que esse guia possa agir em caso de emergência”, explica. Lucas lutou bastante para ter patrocinadores e os convenceu de que merecia uma bicicleta para os treinos. Recentemente, realizou esse sonho com apoio da Sense Bikes, que o incentivou com um modelo próprio para a prática. “Pessoas com síndrome de Down podem fazer tudo o que quiserem. Quero mostrar que posso ser um triatleta”, diz Lucas, que é fã do nadador Cesar Cielo, medalhista olímpico.

“Pessoas com síndrome de Down podem fazer tudo o que quiserem. Quero mostrar que posso ser um triatleta”. Lucas Tadeu Hernandes de Vasconcelos UMA VIDA PLENA Fora dos treinos, Lucas é um jovem que adora aproveitar a vida. Ele conheceu a namorada Julia, 16 anos, na escola Adid (Associação para o Desenvolvimento Integral do Down), onde estuda atualmente. Os dois curtem ir para as baladas organizadas pela própria escola, que visa a integrar os alunos fora do horário de aula. “Eu o levo às 18h e vou buscar às 22h. É uma balada à noite mesmo, como os jovens gostam”, conta o pai.


Outro apoiador do jovem é o Sacolão da Santa, supermercado localizado na Vila Mariana, bairro da zona sul de São Paulo. “O Lucas sempre participa de eventos levando o nome do Sacolão, além de projetos motivacionais para os funcionários. É muito bacana porque eles são quase uma torcida organizada do Luquinha!”, diverte-se Leandro. Para seu desenvolvimento intelectual, o jovem se esforça para ler e escrever. Ele encontrou uma maneira de treinar fora dos horários de aula. “Ele ganhou um livro e me falou: ‘pai, vou copiar o livro para treinar a escrita’. Quando vi, ele tinha copiado até o índice... cada letra estava nas folhas de sulfite”, conta. Além do esporte, outra paixão de Lucas são os livros de colorir. Segundo Leandro, ele tem verdadeira fissura por lápis de cor e tem uma coleção com mais de 50 peças. “Cada vez que saímos, ele me pede para comprar uma caixa de lápis de cor. Eu pergunto: ‘Lucas, para que outra?’ Ele responde: ‘eu adoro e quero sempre mais! (risos)”.

SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR Além do treinamento diário, Lucas conta com uma equipe que faz o seu acompanhamento nutricional e visita regularmente o cardiologista. “Ele já perdeu 22 kg com a prática das modalidades do triatlo”, alegra-se o pai. Em breve, ele passará pela consulta de rotina e provavelmente o médico repetirá a máxima que acompanha esse atleta: “ele tem um coração de ferro!” Questionado sobre qual seria sua modalidade predileta, Lucas não consegue escolher uma. Recentemente, perguntou ao pai o que é Ironman. Leandro contou que se trata de uma competição de alta duração, em que atletas fazem 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e 42,195 quilômetros de corrida. Ousado, Lucas espera um dia alcançar esse feito e, quem sabe, entrar no hall dos “homens de ferro”. “Quando eu contei, os olhos dele brilharam. Ele disse: ‘pai, você me ajuda?’ E eu disse: ‘claro, meu filho”, conta o pai, emocionado. E completa: “Esse menino me enche de orgulho!” D+ Revista D+ número 27


UNIVERSO CULTURAL

VIA DE MÃO DUPLA!

“Desenvolver trabalhos para pessoas com deficiência aperfeiçoou nossa qualidade técnica”, afirma diretor da Cia. Alvo de Teatro texto: Cármen Guaresemin

F

undada em 2012, a Cia. Alvo de Teatro sempre primou em apresentar trabalhos que unissem cultura, educação e viés social. Seguindo seu compromisso, em 2016 passou a fazer também apresentações para pessoas com deficiência, no caso, surdos. Tudo começou quando a companhia participou de um editorial da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo para desenvolver uma oficina de teatro para surdos, em parceria com a Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Hellen Keller, em São Paulo. “Para nós, da companhia, o projeto trouxe um aperfeiçoamento artístico, pois desenvolvendo o trabalho para pessoas com deficiência auditiva, nossa qualidade técnica melhorou”, afirma o pesquisador teatral e diretor da Cia. Alvo, Fabiano Moreira. Ele conta que notou uma alegria muito grande dos alunos em poder participar da montagem. E dos artistas da companhia, a vontade de aprender e se aperfeiçoar artisticamente na área de inclusão. “Trabalhando com aqueles jovens, percebi que poderíamos ir além, melhorando a qualidade de nossa expressão física e facial. Não era só usar a Libras (Língua Brasileira de Sinais), mas as mãos, a articulação, o modo de se comunicar sem falar”, afirma Moreira. Durante as aulas, ele admite que não havia alguém para traduzir os sinais, porém, tudo deu muito certo: “Como diretor, foi mais fácil trabalhar com eles do que com atores que ouvem”, fala alegre. “Eu demonstrava o que queria e não precisava repetir. Creio que ouvir demais tira a concentração. Eles entendem o espaço, a dinâmica. E sempre chegavam cedo com aquele olhar de contentamento”, completa. As professoras da Hellen Keller comentavam que os alunos não viam o dia das aulas de teatro chegar. “Foi uma

troca prazerosa. O processo levou três meses e, no final, apresentamos uma cena da montagem ‘Gálatas’, unindo atores e alunos, durante um fórum na própria escola. Havia professores, agentes culturais e ONGs presentes, que também se interessavam em projetos de inclusão”, diz o diretor. FALTA DE HÁBITO A intenção da companhia era dar continuidade ao processo, mas um novo projeto não foi aprovado, e, sem recursos, tiveram de parar. Porém, Moreira conta que mesmo assim começaram a inserir algumas apresentações inclusivas na programação da companhia, caso do espetáculo Éfeso – O Regresso do Primeiro Amor. Infelizmente, porém, nem sempre o público-alvo chega a apreciar o espetáculo feito para ele. Moreira conta que muitas vezes a plateia fica vazia: “A pessoa surda não tem o costume de ir ao teatro, principalmente sozinha. Já vi casos de alguém deixar a pessoa e, depois, ir buscar, no fim da apresentação. E, para montarmos tudo, com equipamentos e tal, temos bastante trabalho. São duas, três pessoas só para isso. Pena ainda não haver essa cultura entre os surdos”. Segundo o diretor, feedbacks sobre as montagens são feitos apenas em redes sociais. É muito raro uma pessoa surda ir ao camarim cumprimentar, comentar ou criticar. Para Moreira, talvez seja timidez deles ou mesmo dos artistas. “Precisamos romper essa barreira. Eles ficam quietos, no universo deles, mas precisamos provocar reações”, reconhece. PROJETOS INDIVIDUAIS Moreira começou, individualmente, a fazer projetos voltados à inclusão, especialmente elaborados com leis de incentivo. E não só para a Cia. Alvo, mas para outras


“ A Cia. Alvo em ação na Virada Inclusiva de 2016, com a peça infantil Feijão e Maria”

“O projeto Aprender, com crianças autistas, em Diadema (SP)”

“Espetáculo Guardado em Silêncio, realizado na plenária da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, em São Paulo, com intérprete de Libras”

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UNIVERSO CULTURAL

“Sequência de imagens de uma das apresentações do Teatro para Surdos, realizado pela Cia. Alvo”

iniciativas, uma delas é do Centro de Atendimento Especializado (Caesp), de Diadema, com aulas de desenho voltadas a crianças com autismo. Já em 2018, o grupo teatral apresentou o espetáculo Guardado em Silêncio, em Libras, no CEU da Cidade Ademar, durante a plenária anual para pessoas com deficiência. Além disso, a companhia já participou de duas edições da Virada Inclusiva. Atualmente, Moreira coordena o projeto “Jogadas da Vida”, de um pianista surdo. Trata-se do concerto de um ex-jogador de futebol, Julio Cesar de Sousa, que perdeu a audição aos 30 anos. Acompanhado por uma orquestra, Sousa conta parte de sua trajetória, explicando como conseguiu aprender a tocar piano e a compor, mesmo já estando surdo. Moreira afirma que esse projeto tem como objetivo específico promover a democratização cultural,

educação musical, inclusão cultural e social direcionados a todos os segmentos da sociedade. “Julio Cesar foi jogador de futebol do Corinthians, da seleção brasileira e de clubes da Europa. Ele criou uma metodologia para educar surdos por meio do esporte, que hoje beneficia mais de 200 mil crianças e adolescentes com deficiência em todo o Brasil” (conheça mais lendo a entrevista desta edição, com o próprio Julio Cesar). Para participar desses projetos, Moreira está sempre fazendo treinamento nos ministérios e secretarias de cultura. Ele frisa a importância da Lei de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet). “Dependemos da articulação das empresas. Estamos em um período difícil, e sem sacrifícios não conseguiremos alcançar nada. Agora, com a mudança da lei Rouanet, que era antiga e estava engessada, vejo uma oportunidade de um caminho melhor”, afirma.


Ele reforça que o objetivo da Cia. Alvo é dar acesso à cultura para todos, inclusive pessoas com deficiência, e que, para isso, o grupo busca sempre inovar: “Todavia, as empresas têm de embarcar nesse rio e buscar se diferenciar também. Precisamos que colaborem conosco, e quanto mais empresas, mais projetos inovadores surgirão. Fora o retorno de fortalecimento dessas marcas. O ideal é que elas viessem até nós e pedissem algo específico para desenvolvermos em parceria”.

“Aulas sendo ministradas por membros da Cia. Alvo, para crianças surdas. Preocupação com a arte inclusiva”

“Fabiano Moreira, diretor da Cia. Alvo. Idealizando projetos culturais inclusivos”

VEM AÍ Entre seus projetos futuros, destacamos o infantil Meu Pequeno Universo, que misturará ciência e fé, e é inspirado em um livro do físico Stephen Hawking (1942-2018). “Ainda está tudo muito embrionário. Mas, para esse trabalho, gostaria de contar com um ator cadeirante”, diz o diretor. Outro desejo é trabalhar com autistas. Como são introspectivos, Moreira acredita que as artes plásticas, por exemplo, podem ajudar crianças com esse espectro a se desenvolverem. Ele confessa que pensa mais na técnica e estrutura dos projetos, mas admite que será preciso uma imersão em processos de pesquisa para encontrar o caminho ideal para trabalhar com esse público. Uma pergunta que surge quando se conversa com ele é o que o motiva, se há alguma história por trás de seu envolvimento: “Não há uma motivação pessoal. Isso é uma questão, primeiro, de olhar para o novo. Durante toda minha formação artística, ouvi falar sobre a necessidade de projetos de inclusão. Comecei a atuar mais fortemente na área teatral em 2004, trabalhando no Teatro Fábrica São Paulo. Lá vi a dificuldade e a necessidade de os espaços se adaptarem para dar conforto a pessoas com deficiência”. E a hora de parar de observar e de começar a colocar a mão na massa veio quando conheceu a história de Sousa: a surdez, o trabalho que desempenha, ensinando esportes para crianças, e como isso influenciava, inclusive, na melhora da educação. “Foi nessa hora que percebi que precisava fazer algo mais concreto e daí iniciamos o projeto Teatro para Surdos. O que me alegra é que percebo uma vontade grande também dos amigos que trabalham na área. Estamos sempre conversando, para não deixar essa vontade esfriar nunca”, finaliza. D+

SERVIÇO Cia. Alvo Site: www.ciaalvo.com.br Contato: contato@ciaalvo.com.br

Revista D+ número 27


TEST DRIVE

QUALIDADE EM

DOSE DUPLA

Modelos Honda Fit Personal e City Personal trazem toda a tecnologia da montadora para a pessoa com deficiência Texto Paulo Kehdi fotos Kica de Castro

“Flavia Francisco entre os dois modelos da Honda. Elogios à performance, espaço, tecnologia e segurança do City e do Fit”

A

história da montadora japonesa com o Brasil é antiga. Em 1971, a empresa iniciava no país as vendas de suas primeiras motocicletas importadas. Cinco anos depois, era inaugurada a fábrica da Moto Honda da Amazônia, em Manaus. Entrou no competitivo segmento de automóveis no Brasil em 1992, na condição de importadora. A mudança de status para fabricante local ocorreu cinco anos depois, em 1997, com 20 unidades do Honda Civic, então em sua sexta geração, saindo diretamente da linha de montagem. Desde

então, grande parte da linha da montadora vem sendo fabricada no Brasil e uma verdadeira relação de amor surgiu entre a Honda e os brasileiros! A segunda planta de automóveis da marca, construída na cidade de Itirapina (SP), concentrará, a partir de 2021, toda a produção dos modelos locais, enquanto a unidade de Sumaré (SP) se consolidará como centro de produção de motores e componentes, desenvolvimento de automóveis, estratégia e gestão dos negócios do grupo Honda. Em 2014, em uma


iniciativa inédita no segmento, a Honda inaugurou seu primeiro parque eólico do mundo, na cidade de Xangri-Lá (RS). O empreendimento supre toda a demanda de energia elétrica da fábrica de Sumaré, reduzindo os impactos ambientais das operações da empresa. A Honda Automóveis conta, atualmente, com 217 concessionárias no país. Entre essas, destaque para a Honda Dealer, concessionária com duas unidades (ver box da matéria), uma das líderes de venda no mercado. Em janeiro, foi contratado Carlos Sakamoto, 53 anos, para comandar o departamento de vendas especiais da Honda Dealer, voltado exclusivamente à pessoa com deficiência. Além de ter mais de 20 anos de experiência no mercado, o próprio Sakamoto tem uma deficiência – monoparesia dos membros inferiores – causada por um tumor benigno em sua coluna, descoberto quando tinha 25 anos. “Enfrentei as dificuldades, me especializei no mercado de carros voltado à pessoa com deficiência e fui contratado para dar toda a assistência para quem me procurar. Vou dar apoio durante todo o processo de aquisição dos veículos. Oferecemos carros por preços bem abaixo do teto de R$ 70 mil. Nesse caso, a compra estará isenta de ICMS, IPI, IPVA e do rodízio de placas, tornando-se atrativa, financeiramente falando, a aquisição de carros de primeiríssima qualidade. Os consumidores terão acesso a produtos que alcançaram sucesso absoluto, refletido na fidelidade dos clientes. Quem compra um Honda não troca de marca nunca mais”, fala Carlos. Dentre os inúmeros modelos da montadora, foram disponibilizados para esse test drive, o Honda Fit Personal e o City Personal. “O Fit é mais compacto, o City um sedan ágil e espaçoso, entre outras qualidades que apresentam. Nesse sentido, destaco a potência do motor 1.5, com 116 cavalos, o câmbio automático CVT de sete marchas, que proporciona conforto e economia de combustível, pelo sistema inteligente que apresenta. Chamo atenção para a versatilidade dos carros. No Fit, por exemplo, é possível a regulagem dos bancos traseiros, tanto o encosto como o assento podem ficar na posição horizontal, tornando o espaço interno ainda maior. Além do amplo porta-malas, temos 1,10 metro do piso ao teto, possibilitando ao usuário levar grandes objetos”, diz Sakamoto. Ele ainda chama atenção para os comandos de áudio no volante, perfeitos para quem tem uma deficiência mais severa nos membros superiores. “Você atende o telefone, muda de estação e aumenta o volume do som de forma tranquila. E como todos os bancos dos dois modelos são reguláveis, assim como a direção, fica mais fácil para um cadeirante fazer a transição da cadeira para o carro. Ele pode ajustar tudo para que essa tarefa torne-se extremamente fácil. Existem também itens de segurança no Fit, como o controle de tração e estabilidade. Além deles, o Fit possui assistente de rampa, que permite ao motorista permanecer por três segundos parado, mesmo em uma subida bem íngreme. Para quem tem problema de força, essa variável evita o uso do freio de mão na subida. Outro destaque é a luz diurna, disponível em ambos os modelos por meio do dispositivo DRL (Datetime Running Light,

em inglês), que substitui o farol baixo nas rodovias. O dispositivo é acionado automaticamente assim que se dá a partida no carro”, explica Sakamoto. Como esses modelos são produzidos no Brasil, seu baixo custo de manutenção é mais um diferencial. A Honda Dealer conta com uma equipe de profissionais gabaritada para fazer as revisões necessárias. E a mecânica da marca é elogiada por todos, usuários e os próprios profissionais da área. Basta você perguntar para seu mecânico de confiança qual a marca que menos apresenta problemas. A resposta será Honda! Para atestarmos tudo isso, convidamos Flavia Renata Martins Francisco, 42 anos, para dirigir os dois modelos. Ela tem a chamada Distrofia Simpática Reflexa, doença que atrofia nervos e a musculatura, progressivamente. “Levei um choque elétrico quando tinha 23 anos, no hospital que trabalhava. Além de pedagoga, sou perfusionista, manuseio a máquina que permite o bombeamento artificial do coração. Havia uma extensão com problemas no local, fiquei grudada na extensão por quase um minuto. Após isso, passei a conviver com dores e inchaços frequentes no lado direito de meu corpo. Perdi força nesse lado também”, explica. Apesar de ter enfrentado situações dramáticas, ela deu a volta por cima. Tem uma linda família, o marido Marcos, supercompanheiro que ajudou Flavia a enfrentar as dificuldades, está com ela desde antes do acidente. Juntos têm uma filha, Sophia Katrina, 12 anos. Profissionalmente, tornou-se sócia de uma floricultura, a Tele Art Flores, localizada na avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 3154 (Whatsapp 95420-0568), especializada em buquês de noivas, arranjos e decorações. “O trabalho e a família exigem deslocamentos constantes, então ter um carro confortável e seguro torna-se essencial para mim”, comenta Flavia. “Senti os dois modelos muito rápidos na reposta, tanto do acelerador, como do freio. O câmbio é fantástico, nem se percebe a troca de marchas. Tanto Fit como o City são leves para dirigir, condição essencial para quem perdeu a força de um dos lados do corpo, como eu. Senti uma estabilidade absurda nas curvas e o painel é completo e de fácil visualização. Mas o que gostei, mais de tudo, é o controle automático de velocidade que os dois modelos possuem. Ele pode ser usado principalmente em viagens longas e você não precisa ficar acelerando, o carro fica programado para andar quase que sozinho. A preocupação passa a ser apenas em dirigir e, eventualmente, frear. É muito conforto, por preço para lá de acessível” diz nossa convidada.

HONDA DEALER (www.dealerhonda.com.br) Unidade 1 – Avenida das Nações Unidas, 21621 Pabx: (11) 3585-9393 ou (11) 99208-3651 (Whatsapp) Unidade 2 – Avenida Luis Carlos Berrini, 1919 Pabx: (11) 2112-5325 ou (11) 99217-5325 (Whatsapp) Carlos Sakamoto - Cel. – (11) 99969-3666 (Whatsapp) E-mail: carlos.sakamoto@dealerhonda.com.br Revista D+ número 27


TEST DRIVE

“Entre as diversas qualidades do Fit, destaque para o assistente de rampa, que auxilia o motorista em subidas íngremes”

HONDA FIT PERSONAL 2019/2019 • Motor: 1.5 16V SOHC i-VTEC FlexOne • Potência: 115 cv (gas) / 116 cv (etanol) • Torque: 15.2kgf.m (gas) / 15.3kgf.m (et) • Comprimento: 4.096 mm • Altura: 1.536 mm • Largura: 1.694 mm • Tanque de combustível: 45,7 L • Volume do Porta malas: 363 L / 1.045 L ITENS DE SÉRIE • Transmissão automática CVT • Retrovisor elétrico na cor do veículo com luz indicadora • Ajuste de profundidade e altura do volante • Chave Canivete • Airbag frontal para motorista e passageiro dianteiro • Antena na parte traseira do teto • Ar-condicionado • DRL (Daytime Running Lights) / Brake light • Barras de proteção lateral • Cintos de segurança de 3 pontos para todos os ocupantes • Comando de áudio no volante e Cruise Control

• Console central com porta-copos • Desembaçador do vidro traseiro • Direção com assistência elétrica progressiva (EPS) • Encosto de cabeça para todos os ocupantes • Estepe temporário em aço • Freios dianteiros a disco e traseiros a tambor com ABS e EBD • Iluminação interna dianteira individual • Limpador do vidro traseiro • Rodas de aço aro 15 • VSA (Assistente de tração e estabilidade) • ESS (Sistema de alerta de frenagem emergencial) • HSA (Assistente de partidas em aclive) • Sistema Immobilizer • Sistema ISOFIX de cadeirinhas infantis • Tomada 12 Volts • Travas elétricas com travamento automático acima de 15 KM/h • Vidros elétricos • Lanternas Traseiras em Led • Banco do motorista com regulagem de altura • Bancos traseiros reclináveis, bipartidos (60/40) – com sistema Ultra Seat • Iluminação interna do porta-malas


HONDA CITY PERSONAL – 2019/2019 • Motor: 1.5 16V SOHC i-VTEC FlexOne • Potência: 115 cv (gas) / 116 cv (etanol) • Torque: 15.3 kgf.m • Comprimento: 4.455 mm • Altura: 1.485 mm • Largura: 1.695 mm • Tanque de combustível: 46 L • Porta malas: 485 L ITENS DE SÉRIE • Abertura do bocal de abastecimento com alavanca interna • Air-bag frontal para motorista e passageiro • Antena no teto • Ar-condicionado • Banco do motorista com regulagem de altura • Barras de proteção lateral • Brake light • Chave tipo canivete • Cintos de segurança de 3 pontos para todos os ocupantes

• Coluna de direção ajustável em altura • Computador de bordo multifunções • Console central com porta-copos • Cruise Control • Desembaçador do vidro traseiro • DRL (Daytime Running Lights) integrados ao farol • Direção com assistência elétrica progressiva (EPS) • Encosto de cabeça para todos os ocupantes • Estepe temporário em aço • Freios com Sistema ABS e EBD • Iluminação interna dianteira individual • Maçanetas externas na cor do veículo • Painel com computador de bordo multifunções • Retrovisores elétricos com indicadores de direção • Rodas de aço aro 15 • Sistema ISOFIX de cadeirinhas infantis • Suspensão dianteira MacPherson • Trava de segurança central dos vidros dos passageiros • Tomada 12Volts • Travamento elétrico do bocal de abastecimento • Travas elétricas com travamento automático acima de 15km/h • Vidros elétricos

“O City é um sedan ágil e espaçoso, que conta com um dos motores mais potentes da categoria, com 116 cavalos”

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ACONTECE

ARTE INCLUSIVA

Líbricas Paulistanas promove série de encontros artísticos entre Língua Portuguesa e a Libras “Daniel Minchoni, ao fundo, durante ensaio da Líbricas. Vanguarda Paulista para surdos também”

E

ntre os dias 22 e 26 de maio aconteceu a segunda edição do Festival Líricas Paulistanas, que reavivou a memória da Vanguarda Paulista com filmes, bate-papos, performances poéticas e apresentações musicais. Porém, antes disso, São Paulo recebeu o evento Líbricas Paulistanas, voltado à comunidade surda da capital e região. A proposta, uma série de quatro encontros que instaurou um grupo de estudos sobre os processos de tradução, interpretação e transcriação da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para o Português e vice-versa, a partir de elementos constitutivos das duas línguas, aconteceu nos dias 7, 9, 14, 16 e 17 de maio, no Sesc Pinheiros. Líbricas Paulistanas partiu do desejo de apresentar ao público surdo um pouco desse importante movimento cultural, que entre as décadas de 70 e 80 colocou em evidência nomes como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Ná Ozzetti e Tetê Espíndola, suas produções e reverberações nos dias de hoje, a partir do contato com artistas, textos e

letras de música, com enfoque no estudo e nas possibilidades de tradução e transcriação para a Libras. EXPERIÊNCIA ÚNICA O público-alvo foi constituído por ouvintes, surdos e intérpretes interessados nesse processo rico e complexo. O ponto de partida das práticas foram os textos e letras de músicas do universo da Vanguarda Paulista. O projeto culminou num show de Mauricio Pereira, que apresentou seu mais recente disco, o elogiado Outono no Sudeste, permeado por intervenções poéticas bilíngues e interpretado por profissionais que passaram pelo grupo de estudos. “Debater acessibilidade em geral é uma urgência, e há muito tempo. A contemporaneidade sublinha a urgência da pauta porque escancara os anos em que milhões de brasileiros com deficiência ficaram excluídos dos seus direitos básicos. O que acontece quando um corpo sai da ‘norma’ é um processo de segregação e de privação dos direitos:


“Grupos de estudos, com ouvintes e surdos. Tradução e transcrição de todo o conteúdo para a Libras”

“À esquerda, Maria Fernanda. Buscando acabar com as barreiras culturais. E o artista Mauricio Pereira. Intervenções poéticas bilingues”

à saúde, à educação e à cidade. Além das barreiras urbanísticas e arquitetônicas que esse público precisa enfrentar para ir até um espaço cultural, por exemplo, existem ainda outras barreiras, como as atitudinais e as comunicacionais. E é esse compromisso que assumimos ao pensar a acessibilidade no Festival e no projeto Líbricas Paulistanas”, diz Maria Fernanda Carmo, organizadora do evento. “É um trânsito entre as duas culturas: a do ouvinte e a do surdo. Novas formas de invenção e de manifestação se formam. A concepção do Líbricas surgiu da vontade e da pesquisa, que culminou na vontade de termos eventos mais inclusivos e multidisciplinares. Para isso, pensamos em uma atividade formativa que mostrasse para a comunidade surda o Líricas Paulistana e introduzisse a Vanguarda Paulista. Então, criamos encontros que se dividiram em conversas com importantes nomes do movimento, com representantes e pesquisadores da comunidade surda, principalmente da poesia”, fala Daniel Minchoni, também organizador do Líricas Paulistana.

Wally Araújo, artista multilíngue e comunicador social, assistiu a um dos dias de Líbricas e deu seu depoimento. “Achei muito legal ver a poesia em outra língua e ainda fazendo um link com outro contexto histórico. Quando penso em poesia, penso em palavra, em observar como ela pode ser trabalhada com o corpo. Foi bem impactante perceber que o surdo, ao se expressar, trabalha o corpo e a imagem. Escutar passa a ser um ato que vem com o enxergar. Durante a última hora, na parte criativa, poder ver a poesia, sentir a mensagem, para depois tê-la traduzida em português, tornou-se uma experiência única. Foi fantástico poder ouvir a poesia pelo sentimento que a imagem me provocava”.

CONHEÇA MAIS: https://liricaspaulistanas.wixsite.com/2festival https://www.facebook.com/liricaspaulistanas/

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ACONTECE

PARQUE ECOLÓGICO ACESSÍVEL

Localizado em São Bernardo do Campo, Parque Imigrantes torna-se opção de lazer para a pessoa com deficiência “A plataforma e o bondinho em plano inclinado são alguns dos equipamentos acessíveis do Parque Imigrantes”

O Parque Ecológico Imigrantes (PEI) − uma realização da Fundação Kunito Miyasaka, foi inaugurado em novembro de 2018 e conta com um projeto totalmente acessível. Os recursos disponibilizados promovem uma nova forma de relacionamento com a natureza e o meio ambiente. Plataformas, rampas de acesso, bondinho em plano inclinado, corrimãos e recursos eletrônicos de áudio, assim como a Trilha Sensorial, permitem que cadeirantes, pessoas cegas ou com mobilidade reduzida possam desfrutar do convívio com a natureza. Trajetos facilitam a inclusão em atividades de ecoturismo, esportes e aventura. O acesso ao parque atende à norma brasileira ABNT NBR 9050 de acessibilidade em edificações, mobiliário,

espaços e equipamentos urbanos. Não só isso, o espaço traz soluções de sustentabilidade, que serviram como ponto de partida para a criação de formas, volumes e estruturas que valorizassem e permitissem o menor impacto possível ao meio ambiente. Próximo à cidade de São Paulo, será um espaço de contemplação da Mata Atlântica, que reúne em si a filosofia japonesa do Mottainai, termo que transmite a sensação de pesar em relação ao desperdício. O projeto ainda traz premissas de ecoturismo, construção sustentável, pesquisa, bioconstrução, educação ambiental, preservação das fontes de água e controle dos efluentes, o uso de energia limpa e a inclusão da comunidade local.


“Rampas de acesso estão por todo o parque, possibilitando à pessoa com deficiência física movimentar-se por grande parte de sua área”

TRILHAS São seis trilhas traçadas para a visitação. Nelas, foram priorizados aspectos como pontos de beleza cênica, curiosidades da flora ou da história de interferência antrópica (ações do homem) na região, além de caminhos de acesso às estruturas físicas da unidade. Para atender à diversidade de interesse e públicos diversos, o projeto previu trilhas curtas, com poucos obstáculos, quase nenhum desnível e trilhas longas, em meio ao relevo acentuado e comum à região das cabeceiras da Serra do Mar. MATA ATLÂNTICA A Mata Atlântica é uma das áreas mais ricas em biodiversidade e das mais ameaçadas do planeta. A floresta representa 0,8% da superfície terrestre do mundo, onde estão presentes mais de 5% das espécies de vertebrados. Uma região decretada reserva da Biosfera pela Unesco e Patrimônio Nacional do Brasil, na Constituição Federal de 1988.

A flora é exuberante, com estimativa de mais de 15.700 espécies presentes no bioma, cerca de 5% da flora mundial. Ao todo, são mais de 15 mil espécies de plantas e mais de duas mil espécies de animais vertebrados, sem contar os insetos e outros animais invertebrados. Das 633 espécies de animais ameaçadas de extinção no Brasil, 383 vêm da Mata Atlântica. As visitas são gratuitas e monitoradas para o público, com agendamento prévio pelo site www.parqueecologicoimigrantes.org.br.

SERVIÇO Agendamento pelo site. Calendário aberto às terças, quartas e quintas-feiras Endereço: Km 34,5 da Rodovia dos Imigrantes São Bernardo do Campo – São Paulo

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POR DENTRO DAS GRANDES “Funcionários da CI&T durante aulas de Libras. Abaixo, o refeitório da empresa”


Inclusão é tema central para a Ci&T Por suas boas práticas de empregabilidade para pessoas com deficiência, a Ci&T é inspiração para empresas que querem atrair talentos

C

texto Ana Sniesko

onhecida por transformar digitalmente grandes empresas, a Ci&T (https://br.ciandt.com/) também é responsável pela transformação do mercado de trabalho para pessoas com deficiência. A política de inclusão da multinacional brasileira rendeu o prêmio de Reconhecimento Global na ONU por “Boas Práticas de Empregabilidade para Trabalhadores com Deficiência”. Desde 2010, a CI&T conta com um programa voltado para a inclusão desse público. “Para garantir que o programa funcione adequadamente, temos um time de diversidade, responsável por sua gestão, pelo acompanhamento de todos os processos e, também, pela jornada do colaborador com deficiência dentro da empresa”, explica Ana Paula Fraga, que comanda a área de Diversidade e Transformação Social da empresa desde 2012. Para assegurar que a inclusão aconteça de fato, as práticas vão muito além do departamento de Recursos Humanos e contemplam todas as áreas da empresa. “Nossa cultura é permeada pelo respeito às pessoas e acreditamos fortemente que a diversidade só traz benefícios às companhias, pois estimulam novos olhares, percepções e ideias que impactam positivamente o negócio”, comenta Fraga. SOMOS TODOS IGUAIS Prova de que a empresa não faz distinção, Paola Santos, 35 anos, que tem nanismo, foi contratada em uma seleção aberta a todos os tipos de candidatos. Formada em Análise de Sistemas, ela está na empresa há dois anos e meio e exerce a função de Scrum Master. “Não foi um processo exclusivo para pessoas com deficiência. Só depois de ser aprovada, perguntaram-me se gostaria ou não de fazer parte do Programa de Inclusão da CI&T. Então, aceitei”, relembra. O time de Diversidade acompanha o processo seletivo e a contratação, além de promover acessibilidade e

sensibilização com as equipes envolvidas. “Acompanhamos todo o processo de contratação de pessoas com deficiência para garantir que estamos olhando para a acessibilidade e eventuais adaptações que podem ser necessárias. Durante esse período inicial, também realizamos sensibilizações com o departamento que está recebendo o profissional, com o objetivo de informá-los e desmistificar eventuais questões sobre a deficiência – assim a área estará mais preparada para apoiar e receber adequadamente o novo colega de trabalho”, destaca Ana Paula. Para o engenheiro de software Josué Luccas Moraes, 38 anos, cego, a oportunidade chegou por meio de um evento especialmente pensado para a contratação de pessoas com deficiência, o Programa Include Day. “O Include é uma maratona com desafios na área de tecnologia (hackathon) para pessoas com deficiência. Durante o evento, desenvolvemos um desafio ou um projeto, colocamos colaboradores como senseis (professores), para ajudar os participantes no desenvolvimento. Os inscritos que se destacam e têm bom desempenho são selecionados”, explica Moraes, que está na empresa há quatro anos. INTEGRAÇÃO É PRIORIDADE Hoje, a Ci&T conta com 101 colaboradores com deficiência, distribuídos proporcionalmente entre as áreas de negócio e administrativas. Além da integração dos colaboradores, a empresa se preocupa com a conscientização de todo o quadro. “Temos um calendário de comunicações internas para abordar a inclusão dentro da CI&T. Falamos abertamente sobre o tema, sobretudo em datas importantes, como o Dia Nacional da Libras, o Dia da Conscientização sobre Autismo, Setembro Azul, entre outras. Também fazemos divulgações em nossa intranet, além de promover palestras, talks e ações internas para aumentar a conscientização e o Revista D+ número 27


POR DENTRO DAS GRANDES

engajamento”, diz Fraga. Para que as peças de comunicação sejam acessíveis, eles se preocupam em descrever as imagens e as legendas, para que todos tenham acesso e compreendam a informação da melhor forma. A acessibilidade é tratada como prioridade e é aprovada por quem mais precisa. “A nossa política de inclusão é excelente. Temos piso tátil nos prédios, etiquetas em braile nas máquinas de café e nas lixeiras. Temos também dojos (práticas) de Libras para os colaboradores aprenderem a Língua Brasileira de Sinais”, exemplifica Josué. Paola destaca o respeito como ponto alto da cultura corporativa da empresa. “Tenho certeza que as pessoas com deficiência que começam a trabalhar na CI&T não se sentem excluídas. Pelo contrário, de acordo com a cultura da empresa, todos são tratados com igualdade e muito respeito. Não há diferenciação”, diz. Assim, o plano de carreira é premissa básica para todos os funcionários e não existe distinção entre os profissionais. As oportunidades são as mesmas e a busca é sempre pela competência. “Em 2018, a CI&T foi eleita pelo Governo do Estado de São Paulo como uma das 15 melhores empresas para Pessoas com Deficiência”, destaca Ana Paula. TECNOLOGIA SEMPRE ACESSÍVEL Para ampliar a sua voz e tornar a tecnologia mais acessível, a empresa criou, em 2017, o Instituto CI&T. A iniciativa nasceu com o propósito de levar o mundo da tecnologia para pessoas que ainda não têm familiaridade com o tema. “Até o momento, já realizamos cursos de lógica, design thinking, entre outros, para mais de seis turmas, que contavam com pessoas com deficiências diversas. O resultado foi tão positivo que algumas foram contratadas e integram nosso quadro de colaboradores”, comenta a especialista. Em geral, as empresas se queixam quando confrontadas com dificuldades e desafios para promover a inclusão internamente. “Aqui na CI&T, trabalhamos diariamente para aperfeiçoar nossos processos e práticas a fim de que a empresa seja cada vez mais inclusiva, acessível e plural para todos os profissionais”, diz Ana Paula. Já Paola conta que o esforço é continuar se aperfeiçoando

“À esquerda, Josué Moraes; funcionário usando a máquina de café adaptada; e Paola Santos, que tem nanismo. Todos usufruindo da política inclusiva da CI&T”

na sua área, para seguir evoluindo na carreira. “Meu desafio na empresa é sempre estudar, absorver conhecimento e mostrar que a minha capacidade é intelectual, voltada à tecnologia, e não física. Espero continuar crescendo, como tem acontecido nos últimos anos”, diz. Ela acredita que as empresas que querem tratar a pessoa com deficiência com seriedade não devem segregar, mas gerar oportunidade para todos. “É preciso estar preparado para receber esse público, por meio de acessibilidade”, complementa. Josué acredita que a responsabilidade sobre a inclusão não está apenas nas mãos das empresas, mas também dos profissionais, que devem capacitar-se e estar preparados para desenvolver uma carreira como qualquer pessoa. “Penso que a pessoa com deficiência tem que quebrar o paradigma de ser vítima, a imagem de incapaz que geralmente a sociedade assume. O caminho é o oposto, mostrar que geramos valor. Infelizmente, ainda temos poucos deficientes visuais no mercado de trabalho. Muitos preferem o Benefício da Prestação Continuada (BPC) do governo, porque para eles é seguro. Temos muitos profissionais excelentes no underground”, aponta. O profissional acredita que a transformação começa dentro de casa, pela família. “Geralmente os familiares preferem deixar a pessoa com deficiência dentro de casa, para eles é mais seguro. Meu pai pensa assim, até hoje”, comenta. Em contrapartida, os bons exemplos seguem como norteadores para empresas que querem dar espaço para esses talentos. “Do lado das empresas, creio que é preciso abrir a mente. No ano passado, fomos convidados para ministrar uma palestra para convencer um diretor de uma empresa que achava complicado contratar deficientes visuais. É preciso quebrar tabus”, finaliza Josué. D+

NO SITE A CI&T possui uma área exclusiva dentro de seu site para quem procura oportunidade de trabalho. Basta acessar a área de carreiras (https://carreiras.ciandt. com/?language=pt). Existe, inclusive, campo específico para que a pessoa informe qual é a sua deficiência.



ESPAÇO DA LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

André dos Santos Silva

Especialista em Dialética da Língua Portuguesa (UnG), Bacharel em Letras/Libras (UFSC/Unicamp), Graduado em Letras-Português/Inglês (UnG), Professor e Orientador de cursos (IST) e Intérprete de Libras (FIRB)

* Para participar com perguntas e sugestões, escreva para contato@revistadmais.com.br

A

Ilustrações Luis Filipe Rosa

Modo: a possibilidade de significá-lo na Libras pode variar.

peculiaridade do sistema linguístico da Libras chama atenção e a muitos encanta principalmente pela maneira como apresenta e trabalha com o conceito dos “seres” na Língua. As representações desses conceitos são ainda mais instigantes, uma vez que se indaga nelas o limite entre a mímica pura e as unidades do sistema linguístico da Libras, já que ambas podem ocorrer no discurso coordenada ou simultaneamente. É curioso, por exemplo, como o Modo aparece na Libras, tanto pela representação, quanto pela sinalização convencionada. Nem sempre o sinal convencionado é necessário para que a maneira como o comportamento se deu seja expressa. Vejamos como essa possibilidade enriquece a Língua e como o Modo pode ser indicado nela. O Modo, em Língua Portuguesa, pode ser expresso em uma unidade linguística denominada Adjunto Adverbial de Modo (AAModo) que, para Fernandes Jr. (2010, p.584), significa um “ser” – que é o Modo – implícito em outro “ser” – o comportamento. O autor explica que o AAModo existe enquanto dura o comportamento, assim, o tempo de existência do AAModo é equivalente ao tempo de existência do comportamento significado pelo Verbo. Na Oração: (1) Ele limpa rapidamente. Há a palavra limpa com função de Verbo e a palavra rapidamente com função de AAModo. Entende-se, aqui, que o “ser” significado por rapidamente está implícito no “ser” significado por limpa. A Oração (1) pode ser sinalizada em Libras como: (2) EL@ LIMPAR RÁPIDO. (figura 1) Em que sinais convencionados são feitos para cada “ser” e, nesse caso, para cada palavra. Contudo, é também possível que não se escolha a expressão desse fato por meio da sinalização convencionada, mas pela representação, dando lugar aos Classificadores para significar o “limpar rapidamente”, o que poderia resultar em uma sinalização como: (3) EL@ LIMPAR-RÁPIDO. (figura 2) No caso da Oração (3), o sinal LIMPAR e o sinal RÁPIDO não são feitos. A maneira como se limpa é o que acaba por ser representada. Tem-se, assim, o comportamento de “limpar”, que apresenta em si o Modo como se limpa. Essas representações são bastante frequentes na Libras e o uso delas parece, inclusive, ser bem-visto para os surdos que, não raro, chamam atenção à necessidade do uso dos Classificadores. Como se pôde notar, tanto os sinais convencionados quanto a representação podem expressar, na Libras, o Modo como um comportamento acontece, mas a possibilidade de se trabalhar com o Modo na Libras não para por aí. Pode-se, ainda, combinar esses “subsistemas” no momento da sinalização de várias maneiras: sinalizar LIMPAR e, no ato do sinal, fazê-lo rapidamente; fazer a representação de alguém limpando rapidamente e inserir o sinal LIMPAR na representação como se


alguém estivesse limpando com o próprio sinal LIMPAR (figura 3); fazer a representação de alguém limpando rapidamente e inserir o sinal RÁPIDO no final da sinalização etc. É comum também que apareçam tanto a sinalização quanto a representação seguidas uma da outra, como: (4) El@ LIMPAR RÁPIDO, LIMPAR-RÁPIDO. Ou seja, a representação aparecendo para exemplificar a sinalização. Essa rica possibilidade pode ser encontrada em outras línguas de sinais, mostrando que essa propriedade é

um recurso recorrente em línguas de modalidade visual. Em maior ou em menor escala, dependendo do gênero em que é utilizado, há, ainda, preferência no emprego do Modo na sinalização. Ainda existe a necessidade de muito estudo para que se compreenda bem o papel e a ocorrência do modo na língua de sinais, mas é certo que aquilo que já se sabe até o presente momento inspira ainda mais as investigações sobre a composição do sistema linguístico da Libras como um todo.

Figura 1

Figura 2

Figura 3 Revista D+ número 27


APRENDA LIBRAS por Flaviana Borges da Silveira Saruta e Joice Alves de Sá ilustrações Luis Filipe Rosa

UM GRANDE EVENTO!

A Reatech – Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade, chega na sua 16ª edição mais forte do que nunca. Teremos mais de trezentos expositores e uma infinidade de serviços que serão oferecidos aos visitantes. E isso deve ser comemorado por todas as pessoas com deficiência, ou por quem de alguma forma está envolvido com o segmento. Mostra a força de um movimento que só faz crescer: o da inclusão dessas pessoas e da conscientização da sociedade sobre o tema. Força traduzida em números, seja de visitantes, seja de volume de negócios. Destacamos, nesta edição da D+, palavras relacionadas ao evento, para que você, nosso leitor, possa conhecer mais um pouco da Libras.

Animais treinados

Cadeira de rodas

Aparelho auditivo

Carros adaptados


Feira

Visitantes

Terapias alternativas

Fabricantes

Materiais hospitalares

Turismo Revista D+ nĂşmero 27


CEREJA!

ESPÍRITO VENCEDOR Conheça a história de Felipe de Andrade do Carmo, o primeiro brasileiro amputado a embarcar em uma sonda Texto Ana Sniesko fotos divulgação

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m acidente colocou em risco o sonho de Felipe de Andrade do Carmo, 31 anos, que pretendia seguir os passos do pai e fazer carreira em uma plataforma de petróleo. Aos 22 anos, em sua primeira experiência offshore, o carioca teve uma das pernas amputada. “Diante da minha condição física eu sabia que era improvável voltar às atividades que desempenhava. Sobretudo porque o ambiente offshore não conta com qualquer tipo de adaptação ou acessibilidade para um deficiente físico”, comenta. Após alguns anos de tratamento com uma equipe especializada em reabilitação, Felipe viu uma nova chance de retomar a carreira. “O retorno ao ambiente offshore aconteceu em 2015, quando um joelho (prótese) que usava apresentou um defeito. Nessa ocasião, a clínica me apresentou um novo joelho com uma tecnologia desenvolvida para os soldados americanos retomarem sua atividade laboral”, conta. Como o material permitia contato com a água do mar, além de alto desempenho e resistência, não demorou para que ele se tornasse o primeiro deficiente físico a embarcar em uma sonda.

Hoje, Felipe trabalha em uma empresa norueguesa e se especializou na área de Segurança, Meio Ambiente e Saúde. Embora os embarques sejam esporádicos, ele se sente realizado. “Eu tinha duas escolhas após esse acidente: assumir o papel de vítima ou encarar o acidente como uma oportunidade para vencer. Escolhi seguir o espírito vencedor”, diz. Segundo Fernanda Simões, ortoprotesista e responsável técnica na Ottobock Clinical Services (RJ), muitos clientes chegam com a expectativa de colocar a prótese e, em poucos dias, atingir esse nível. “Contudo, diversos fatores influenciarão no resultado. O Felipe é um ótimo exemplo para todos. Durante o tratamento, o paciente precisa ser ouvido de forma ativa e humanizada, com compreensão pela perda ocorrida, mas sendo apresentado à possibilidade de levar uma vida normal e com baixíssimas limitações”, explica. Felipe espera que a sua experiência sirva de inspiração para outras pessoas com deficiência. “O recado que eu deixo: apegue-se às pessoas que te amam e não tenha medo de encarar a sua dificuldade. Ser persistente e resiliente vai te fazer chegar a lugares improváveis”, finaliza.




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