Ano 3 | outubro 2020
01
revistaestimuladamente.com.br
Editorial Estamos chegando! Agradecemos por você abrir a porta para nós e nos convidar à entrar em sua casa de maneira tão despretensiosa e amorosa. Sim, não temos palavras para revelar nosso sentimento com relação a essa reciprocidade. Esse projeto nasceu com essa intenção: fazer chegar em casas, como a sua, um pouco de amor, aconchego, reflexões, além de um olhar cuidadoso para o planeta. Edição 13 saindo do forno quentinha! Confesso para vocês, cada edição mais parece um filho para nós, cuja beleza é intraduzível. “O essencial é invisível aos olhos” seja talvez a mais genuína expressão desse conteúdo que chega até você nesse momento. Por que as vezes dizemos sem dizer. Por aqui, nas imagens, na forma de diagramar, na organização das matérias. Tudo nessa revista comunica e muito! Seguindo a linha dessa compreensão, a nossa matéria de capa dessa edição apresenta um trabalho que tem uma ressonância gigantesca em nossa morada interna. Sim!! Não temos dúvidas de que quando vocês viram a aquarela da capa se reportaram à infância, onde em algum momento, se conectaram com O Pequeno Príncipe. Embora à primeira vista seja isso, quando mergulhamos no essencial, descobrimos outras verdades profundas e inspiradoras no Grande Rei. Uma capa especial, feita com muita entrega e entrelaçamento. Nessa edição, apresentamos o arquiteto e aquarelista Plínio Moura, que com a sua arte profunda e enigmática vem revelando ao mundo dilemas internos de um adulto, cuja essência da criança, ainda é latente. O Grande Rei tem ao mesmo tempo muitas características do Pequeno Príncipe, e também nada. Sim, parece louco, mas se tratam de duas histórias que se entrecruzam em um ponto, mas que a gente só consegue entender olhando para as minúcias da poética do autor. Tem muita coisa que não da para contar, vocês terão que esperar pelo livro para saber. É isso mesmo! Não demora teremos o livro que, embora todos achem que o projeto seja uma junção das muitas aquarelas que o Plínio pinta, vai muito além disso. É cheio de uma história surpreendente que conta muito sobre O Grande Rei e sobre o Plínio também! Não podemos mais contar nadinha, dar spoiler é muito chato! Para além disso, vocês encontrarão um conteúdo de muito valor que segue a nossa linha editorial. Tem muito sobre autoconhecimento, sobre sustentabilidade e espiritualidade. Uma edição para ser lida com muita calma e muita alma também. Obrigada pela confiança! Seguimos firmes em nossa missão de apoiar a humanidade na sua evolução oferecendo leituras que ajudem a provocar inquietudes e, quem sabe, reverbere em mudanças. Lembramos que o espaço é aberto, ele é nosso. Se você tem vontade de publicar com a gente, entra em contato. E se quer nos ajudar, divulga nas suas redes, manda um depoimento, tudo isso nos motiva e dá forças para seguir adiante.
Expediente Ano 03 | nº 13 | Outubro 2020 Bimestral Diretoria: Marcelo Conceição Reis Amanda Reis Argolo de Almeida Jornalismo: Lais do Nascimento Souza MTB 0005347/BA Revisão de Texto: Amanda Reis Argolo de Almeida Diagramação: Marcelo Conceição Reis Rua Professor Sabino Silva, nº 179, Chame-Chame, Salvador - Bahia. CEP 40157-250 revistaestimuladamente.com.br https://issuu.com/revistaestimuladamente Tel.: (71) 99998-2877 Para anunciar: revista@estimuladamente.com.br Para colaborar: jornalismo@estimuladamente.com.br *As opiniões emitidas nas matérias e artigos são de total responsabilidade de seus autores. Imagens: www.istockphoto.com/br
Amanda Reis Diretora
Ano 3 | outubro 2020
03
revistaestimuladamente.com.br
Índice Toda edição Pág. 06 Filosoficamente - Ensaio sobre o desejo Por: Renata Stort
Pág. 52 ICF - Internacional Coach Federation Artigos selecionado - Um pouco de coaching para interessados em coaching (Marta Castro) Por: Meiling Canizares
Pág. 07 Vida no Trabalho - Trabalho líquido Por: Sandra Rêgo
Pág. 54 Um ICF Brasil debate o futuro do trabalho em evento com convidados internacionais Por: ICF - Internacional Coach Federation
Pág. 8 Arquitetura Viva - Ancestralidade tecnológica Por: Luana Lousa
Pág. 56 Contos de Família - Família: Sinônimo de Amor Por: Jamile Monalisa
Pág. 14 Fotos Por: Mariana Falcão
Pág. 58 Minha Estimuladamente - Quem sou antes de 1977? Conheçam a minha busca. Por: Carlos “Mussum”
Pág. 20 Poesia - O tempo e o vento Por: Eduardo Moreira Pág. 21 Expressando - A música sendo Por: Carlos Barros
Nesta edição
Pág. 34 Alimentação - Aprender a comer, aprender comendo Por: Luciana Guidoux
Pág. 24 Capa - O Grande Rei Por: Plínio Moura Apresentação: Amanda Reis
Pág. 37 Organização Vibracional - A área de serviço Por: Tais Reis Pág. 40 Papo de palhaço - Vulnerabilidade é potência Por: João Vítor Rodrigues Faustino Pág. 42 Mecânica Quântica - O subconsciente cocriador Por: Jean Savedra Pág. 44 Desenvolvimento humano - As Escolhas e a Felicidade Por: Renata Castello Branco Pág. 46 De Orelha a Orelha - Descubra a Resiliência Por: Bianca Ramos Pág. 48 Sustentabilidade - O feminismo que precisa ecoar no novo milênio Por: Carla Visi
revistaestimuladamente.com.br
04
Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
05
revistaestimuladamente.com.br
Filosoficamente Por: Renata Stort
Ensaio sobre o desejo Acredito na escrita como marca, como um registro que materializa o tempo. Existe a escrita técnica e a escrita que habita em nós. Hoje, dia em que completou 4 meses em que estou em isolamento físico devido ao Covid-19, debruço-me sobre um pedaço de papel e uma caneta para que minha escrita diminua nossa distância e eu possa expressar meus pensamentos. Todos os dias pela manhã, ao abrir a janela, fico alguns minutos observando a pequena porção de mundo que está a minha frente, mas hoje foi um dia diferente. Eu fui tomada por um intenso desejo de estar lá fora, que a princípio, me pareceu uma carência, mas sempre dei grande atenção aos meus desejos e com esse não seria diferente. Apesar de Platão falar do desejo como uma falta e Sócrates, no mesmo diálogo, que só desejamos o que não temos, Gilles Deleuze mergulha na filosofia para mostrar que o desejo sempre foi mal compreendido e que a falta é uma sensação fabricada socialmente. Ela não surge do desejo! Se antes você acreditava que sentia falta das pessoas, vale você refletir um pouco mais se, de fato é falta, ou desejo de estar com elas novamente.
Assim, podemos ganhar cada vez mais intimidade com nossas descobertas, com pessoas inspiradoras, com as texturas do mundo e com a gente mesmo. Desconhecemos muitas coisas que moldam e regem nossas ações e fazemos escolhas sem nos dar conta se era o que desejamos ou não. É daí que vem a tal “dor do arrependimento”.
Por muito tempo, acreditei que desejo e falta eram sinônimos. Então, busquei compreender a etimologia da palavra desejo, que derivado do latim, DESIDERARE. Traduzindo e se encaixando confortavelmente nos meus sentimentos, significa fixar atentamente as estrelas, estar orientado, saber para onde se vai, conhecer a direção.
O isolamento tem me despertado sentimentos que jamais imaginei sentir e com eles, tenho aprendido que, em vez de desejar o que não é possível, experimento desejar estar aberta para o que pode acontecer agora.
Todos esses significados nos colocam em movimento, em ação, em saber para onde ir. Desejo, então, é uma sensação de impulso, de coragem, de ir e vir.
E ... ao pensar no desejo como movimento, recordo-me da afirmação do antropólogo Tim Ingold “vida é tudo o que se movimenta”.
O desejo nos rearranja porque nos aproxima do presente, do real. Ele nos reestrutura, porque nos permite sonhar, sentir e esperançar.
Por isso, acredito que o desejo de nascer é o primeiro e o mais importante movimento de todo ser humano. É desejar experimentar o mundo.
Somos afetados pelo desejo!
Viver é o mais importante dos desejos. O que percebo é que muitas vezes, somos O isolamento físico continua e todos os dias, daqui influenciados e enfraquecemos nosso desejo de ser da minha janela, desejo dias bons para você, para nós! e estar no mundo. Se nossos desejos direcionam nossos movimentos, por assim dizer, é de muita valia Renata Stort prestarmos mais atenção nas nossas experiências. renatastort@gmail.com revistaestimuladamente.com.br
06
Ano 3 | outubro 2020
Vida no Trabalho Por: Sandra Rêgo
Trabalho Líquido O conceito de modernidade líquida foi desenvolvido pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman e diz respeito a uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são fugazes, voláteis e maleáveis, como os líquidos, que escorrem pelos vãos dos dedos. Essa ideia surgiu em oposição ao que o próprio Bauman chamou de modernidade sólida, caracterizada pela rigidez e durabilidade das relações humanas, de trabalho, da ciência e do pensamento. Mas, apesar dos aspectos negativos reconhecidos por ele mesmo acerca da modernidade sólida, o aspecto positivo era a confiança na concretude das Nessa direção, o propósito e os interesses das instituições e na consistência das relações humanas. empresas e dos indivíduos não ficam claros para O que se pretendia, em outras palavras, naquele contexto, era um cuidado com a tradição. nenhuma das partes e, assim, ambos tendem a desconfiar da importante lealdade em relação Contrapondo à perspectiva da tradição, a ao trabalho. É um processo de derretimento dos preocupação constante no cenário contemporâneo laços... O trabalho está sendo descorporificado, é com a inovação. E esse pensamento fixo tem fazendo com que um dos parceiros dessa relação refletido em diversos comportamentos sociais. De acordo com Bauman, as relações entre os indivíduos saia da gaiola, alçando voos... muitas vezes voos solos... ocasionando uma pulverização de voos de nas sociedades tendem a ser menos frequentes e empreendedorismo. menos duradouras, o que tem provocado reflexos revolucionários nas relações amorosas que deixam de ter aspecto de união e passam a ser um acúmulo de experiências, no adoecimento dos indivíduos oriundo da insegurança e do medo como parte estrutural da constituição do sujeito, ou até mesmo pela via da arrojada flexibilização das relações de trabalho ocasionando a diminuição ou até mesmo a perda do vínculo entre empresa e trabalhador.
Esse distanciamento intensificado pela fluidez e pela mobilidade do mundo digital nos leva a alguns dilemas: na era da instantaneidade, como as empresas vão produzir mais com menos engajamento das pessoas? Com os laços desatados, teremos todos o perfil de empreendedor? Com as pessoas investindo cada vez mais em si mesmas como empresas, fazendo propaganda de si mesmas, será que chegaremos ao estágio do pensamento do economista Giovanni Arrighi, que pode ser mais lucrativo investir capital no sistema econômico em vez de investir na produção?
Diante desses apontamentos da lógica líquida destacados na literatura de Bauman, temos a Emancipação, representada pela busca da liberdade, instigando as pessoas a serem mais ativas e questionadoras da sociedade; a Individualidade, visto que o indivíduo tem feito escolhas e agido por si mesmo, sem considerar aspectos relevantes como cooperação e solidariedade; o Tempo-espaço, já que a tecnologia atua fortemente como o agente de fragmentação desse conceito - cada vez cabem mais coisas no mesmo período de tempo nos espaços virtuais; e o Emprego, na realidade o desemprego estrutural, uma vez que as relações profissionais são mais instáveis e efémeras. Ano 3 | outubro 2020
É com estas indagações, e diante cenário VUCA* que nos encontramos, que encerro esta reflexão. Vamos falar mais sobre isso? Acompanhe a nossa coluna na próxima edição. *vide este tema na coluna Vida no Trabalho na edição 12, 2019.
Sandra Rêgo Psicóloga sandra@sandrarego.com.br 07
revistaestimuladamente.com.br
Arquitetura Viva Por: Luana Lousa
Ancestralidade Tecnológica Partindo de um histórico de 3.8 bilhões de anos, a natureza já lançou milhões de “startups” e validou milhares delas. Uma das inovações que ela trouxe, não faz muito tempo, são as flores! Sim, as flores! A natureza estava um tanto “entediada” com seu “arsenal” e resolveu que deveria fazer um “upgrade” para se tornar mais diversa! Sendo assim, contratou alguns “arquitetos e designers” para melhorar essa performance e criar uma forma inovadora de aumentar a biodiversidade no planeta e revolucionar a quantidade de espécies que tínhamos até então! Dessa forma, há cerca de 100 milhões de anos, apenas, a natureza criou as flores, pense: uma flor tem um cheiro que atrai um tipo especifico de ser vivo, no mesmo local, outra possui coloração que atrai outro tipo. Dessa forma ao atrair uma fauna biodiversa, também atrai sua cadeia alimentar, esse novo ecossistema fará contribuições para formação de solos, mais fértil capaz de gerar e atrair novas formas de vida. Essa estratégia hoje conta com 90% de aprovação nesse método exponencial de aumentar a vida no planeta! Esse é um case de sucesso relatado pelo publicitário Fred Geli ao ministrar aulas de Biomimética que, no mínimo, é apaixonante!!! Inspirada por essa e tantas outras estratégias que a natureza cria, a arquitetura também deve observar e fazer uso de conexões capazes de otimizar a performance da vida no planeta e aumentando suas possibilidades construtivas!
Observando todas essas táticas e buscando, através da arquitetura, melhorar a nossa forma de atuar, ressignificamos as teias de formatação para nossos projetos, transformando-os em um meio de mudar o impacto da construção civil (consumimos 50% de recursos a mais que o planeta é capaz de regenerar) para o nosso planeta e para as pessoas! Sendo assim, fazemos uso de técnicas ancestrais (baseadas na natureza) para edificar com o menor impacto possível. Um dos métodos que vamos falar são as alvenarias em terra crua, esse insumo abundante e generoso, espalhado por todos os cantos! Vamos começar com os tijolos de adobe, que tem em sua composição: terra, água e palha. Depois de feita a mistura desses ingredientes sob pisoteio, pegamos a massa e colocamos em fôrmas, os quais são desenformados logo em seguida, deixando-os secar ao sol. Em 15 dias temos tijolos prontos para se tornarem paredes. Essas paredes, como qualquer alvenaria em terra crua, são vivas, “respiram”! E devem receber rebocos ou qualquer outro tipo de revestimento, que as permitam proceder de tal forma. Sua generosa espessura passa dos 20 centímetros, garantindo um bom resultado termo-acústico. Em termos de emissão de carbono, na fabricação, podemos contar com a expiração das pessoas envolvidas com a produção, ou seja, quase zero. Portanto, para que isso continue assim, buscamos fabricá-los com a terra do lugar onde será edificado o projeto. Caso essa terra não seja adequada por algum motivo, temos que contabilizar a pegada de carbono da logística de entrega da terra ou transporte dos adobes, caso sejam feitos em local distinto da obra onde serão utilizados.
Não apenas como no caso das flores, a natureza sempre trabalha pelo maior desempenho com o custo energético mínimo e projeta seguindo três princípios básicos: 01 - OTIMIZAÇÃO, por ser obcecada por economia, considera a preciosidade de cada recurso;
Para as Taipas de Pilão, a técnica, o traço e a forma de execução, são completamente distintos. Usamos robustas fôrmas, bem estruturadas, para aguentarem a terra ser apiloada e assim que desenformamos as paredes já estão prontas, com altíssimo resultado estético, térmico e acústico. São paredes que tem aproximadamente 40cm de espessura e cujo traço é estabilizado com leve percentual de cimento, de acordo com o tipo de terra a ser utilizado.
02 - CICLOS FECHADOS, ou seja, tudo é regido por um ciclo onde recurso e resíduo tem a mesma importância em momentos diferentes. Na verdade não existe lixo, esse resíduo gerado se torna insumo em um novo processo. 03 - INTERDEPENDÊNCIA, um princípio que rege tudo que é vivo no planeta, ou seja, tudo está conectado e todos os ecossistemas são afetados, com pequenas ou grandes intervenções. revistaestimuladamente.com.br
08
Ano 3 | outubro 2020
Edifício comercial em tijolos de adobe Foto: Luana Lousa
Processo de Fabricação de tijolos de adobe Foto: Luana Lousa
Ano 3 | outubro 2020
Processo de Fabricação de tijolos de adobe Foto: Luana Lousa
09
revistaestimuladamente.com.br
Processo de construção com Hiperadobe Foto: Luana Lousa
Processo de fabricação do COB Foto: Luan Kesley
revistaestimuladamente.com.br
10
Ano 3 | outubro 2020
Arquitetura Viva
Também chamada de ‘’Taipa de sopapo’’ ou ‘’Paua-pique’’, as alvenarias dessa modalidade são feitas com tramas de bambu ou madeira, onde o barro é arremessado dos dois lados e estruturado pela trama. Possui um resultado estético bem diferente do adobe ou da taipa de pilão, mostrando lindas características próprias da terra crua. Além dessas, temos o COB, uma ecotécnica cuja massa se assemelha à massa do adobe, porém, ao invés de ser enformado, é rolado sobre uma lona até que adquira configuração de uma ‘’minhoca’’ com boa consistência, depois se assenta ‘‘minhoca sobre minhoca’’. Tem belíssimo caráter escultórico e também compartilha do bom desempenho termoacústico das alvenarias de terra. Já a estória mais recente e curiosa, é do ‘‘irmão mais novo’’ dessas ecotécnicas, o Superadobe, posteriormente melhorado e adaptado ao Hiperadobe. Ele nasce da ‘‘necessidade” de se construir na lua, pode acreditar! Na década de 80, a NASA lançou um concurso sobre “como construir na lua”, então o arquiteto iraniano, Nader Khalili propôs uma técnica simples, de construir usando materiais locais na qual consiste em ensacá-los e apiloá-los subindo a alvenaria, e acabou ganhando concurso. Esta técnica foi muito disseminada e hoje é bem conhecida em todo o mundo. Ela também conta com alto desempenho termo-acústico e possuí em torno de 40cm de espessura. E agora é chegado o momento de unir ancestralidade à tecnologia! Depois de usarmos todas essas técnicas desenvolvidas por nossos ancestrais e baseadas na natureza, o desafio agora é pela mecanização de processos e otimização da mão de obra. A corrida atual no mundo é pela impressão 3D, que começa a ganhar corpo em vários lugares, fazendo uso de concretos e polímeros. O nosso desafio será imprimir em barro, biopolímeros e tantos outros bio-materiais que a gente ainda desconhece. É nesse lugar que queremos chegar! Luana Lousa Bioarquiteta
arqbiolua@gmail.com
Insta: @arquiteturaviva Fachada Residencial em Taipa de Pilão Foto: Luana Lousa
Ano 3 | outubro 2020
11
revistaestimuladamente.com.br
revistaestimuladamente.com.br
12
Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
13
revistaestimuladamente.com.br
Fotos Por: Mariana FalcĂŁo
Mariana FalcĂŁo Artista Visual Instagram: @mariana.falcao
revistaestimuladamente.com.br
14
Foto: Foto: Arquivo Arquivo Pessoal Pessoal Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
15
Foto: Arquivo Pessoal revistaestimuladamente.com.br
revistaestimuladamente.com.br
16
Foto: Arquivo Pessoal Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
17
Foto: Arquivo Pessoal revistaestimuladamente.com.br
revistaestimuladamente.com.br
18
Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
19
Foto: Arquivo Pessoal revistaestimuladamente.com.br
Poesia - O TEMPO E O VENTO Por: Eduardo Moreira
Depois de criar o homem, Deus pôs-se a pensar O que eles farão da vida, sem o medo dela passar Criou então algo novo que consumisse a vida aos poucos E como moeda de troca fosse gasto a cada evento Usaríamos a todo instante sem ter direito a troco E a ele deu um nome, batizou-o então de TEMPO
Juntos, o tempo e vento, nos passam a grande lição Vivam daqui pra frente Saibam pedir perdão Construam sem ansiedade, não deixem de acreditar Devagar se chega longe, o que nos atrasa é parar Creiam no que não veem, saibam agradecer Busquem menos posses, preocupem-se mais em ser Bailem por onde passam, espalhem a esperança Ajudem o que é mais velho, encantem uma criança Partam sem deixar mágoas, demonstrem o seu apreço Onde veem um fim é sempre um novo começo
Mas logo após criá-lo, notou que não o sabiam usar Viviam de forma tola, como se nunca fosse acabar Mas como exigir que o homem pudesse saber gerir Algo que não podia tocar, nem mesmo ver ou sentir Então o grande Arquiteto criou um irmão pro tempo Possível de ser sentido, lhe deu o nome de VENTO
Meu tempo ainda é mistério, de tudo já ouvi falar Uns dizem que um dia acaba, que tenho de aproveitar Mas de outros ouvi também, com muita convicção Que a vida é só passagem e a morte, conexão Mas Deus me deu o vento, para o tempo melhor entender Lhe deixo a face aberta, e peço pra responder Uivando em meus ouvidos, sussurra então pra mim: “Meu jovem, não se preocupe, seu tempo não terá fim Por mais que seu corpo acabe, e pó você venha a virar Lhe carregarei no colo, e seu pó irei semear Te transformarás em flores e vidas irás enfeitar Ou mesmo talvez em frutos, pra outros alimentar Estarás então em tudo, assim como eu estou Serás como tempo e vento, irás para onde vou Não espere esse dia chegar, já podes compreender Onde avistam seus olhos, em tudo que pode ver Existe a unidade, são todos pedaços seus Por isso és dito homem, mas revelo-te: também és Deus!
Esqueçam portanto o tempo Difícil de compreender Aprendam mirando o vento Que em poesia ensina a viver O vento quando se apressa, e sopra o seu vigor Destrói o que lhe atravessa, causando pânico e dor Já sua brisa leve, constante e cadenciada Transporta pequenos grãos, e parece não dar em nada Mas muitos pequenos grãos, de forma coordenada Constroem dunas enormes, semeiam a terra arada O vento só anda pra frente Não lembra por onde passou Por saber viver o presente É jovem e nunca cansou Às vezes, sopra tão leve a ponto de silenciar Assim como fazemos com o tempo, Passamos a questionar Estaria ele ainda aqui? Difícil imaginar Mas bastam alguns segundos, para termos de respirar Então nos parece claro, que Deus com seu dedo em riste Nos fala de forma firme: “Não é só o que tu vês que existe” revistaestimuladamente.com.br
Eduardo Moreira Livro “O encantador da montanha”
20
Ano 3 | outubro 2020
Expressando Por: Carlos Barros
A música sendo
“cantar é mais do que lembrar / é mais do que ter tido aquilo então / mais do que viver / do que sonhar...”
Trecho de Genipapo absoluto (Caetano Veloso)
A música indo, caminhando. Fazendo ir e ser ao caminhar. A música parada sobre o Dois Irmãos e no âmbar elétrico visualizado por Adriana. A música em cada labirinto auditivo, em cada frequência possível – dos graves que rufam solenemente aos agudos que laminam o ar e nos elevam. A música produzindo, inserindo, vacinando. A música vaticinando – Temos Luz, enfim! A música e eu, a música sem eu, a música existencialmente nos dizendo: que você tá fazendo aí? A música e a dança de notas bailando, sambando, xaxando nos salões “Viva São João!”. A canção sendo música nos versos dos Chicos. O da Ciência, o da Roma Preta e o Brasileiro. A canção da Rainha do Mel, da Dona da Voz, da Pimenta eterna! A canção de Áurea, de Elizeth, de Dalva. A música e o corpo. A música e o copo. A música e o Vazio. Comendo os pães, virando cães, clamando pelas mães. A música de cantar, de assobiar, de gritar. A música de exorcizar. A música de saudar. A música a salvar. A música sendo... Carlos Barros Ano 3 | outubro 2020
21
revistaestimuladamente.com.br
revistaestimuladamente.com.br
22
Ano 3 | outubro 2020
Especial - Registros Akรกshicos
Ano 3 | outubro 2020
23
revistaestimuladamente.com.br
Capa Por: Plínio Moura| Amanda Reis
O Grande Rei
Pessoas queridas, chego cheia de alegria para apresentar essa linda e poética matéria que foi coisa do tipo correio elegante, que existia na escola.
Entendi que O Grande Rei não foi inventado, ele nasceu. Saltou no papel como se tivesse vontade própria. É a tradução mais singela de um coração apaixonado. E depois, ele foi se aprimorando, até se tornar o que hoje vemos, delineando com tanta beleza os sentimentos que saltam das entranhas do Plínio e de todos nós.
Um dia, ouvi alguém falar numa live sobre um perfil na rede social: O Grande Rei. Curiosa, como vocês sabem que eu sou, fui conferir. Fiquei apaixonada pelo trabalho desse grande artista, que merece um lugar de muito destaque por sua sensibilidade e toda a sua qualidade humana.
Entendendo esse encontro como sagrado, fiquei por muito pensando como o abordaria para uma entrevista. Não poderia e nem deveria sair da dimensão das artes. Esse é o espaço que ele se revela de maneira mais esfuziante. Então, escrevi-lhe uma carta. Como todas as minhas ansiedades. E ele... respondeu.
Plínio Moura, geminiano, arquiteto, aquarelista, poeta... tanta coisa numa pessoa só que nos deixa sem fôlego; polilógico, polissêmico e polifônico, um ser humano que reconhece a sua condição e missão de ser e estar no mundo.
Portanto, essa matéria é uma troca de amabilidades entre dois amigos, acho que assim posso considerá-lo, já que trocamos alguns segredos! Leve e singela, como O Grande Rei.
Conheci e conversei com ele. Um papo tão longo, de muitas horas e cheios de informações que não caberiam numa vida inteira se fosse para transcrever. E eu, nadei no mar da quietude de seus olhos castanhos e pude descobrir mais sobre sua alma e naturalmente, sobre O Grande Rei. revistaestimuladamente.com.br
Gratidão ao querido Plínio pela abertura, pelo diálogo e pela entrega profunda e genuína. Para vocês, desejo uma leitura deliciosa, cheia de amor. 24
Ano 3 | outubro 2020
Plínio, Não sei muito bem como me reportar a você. Ao passo que me sinto tão íntima, tenho clareza de que não nos conhecemos. Acredito que é porque sua arte é tão inspiradora que deixa a gente assim, leve! Me deixa pronta para sorrir para o mundo. Fiquei pensando se lhe mandava um montão de perguntas diretivas, que encaminhariam à respostas objetivas... Daí pensei que não, não tem condições de ser assim, não com você. Você transpira sensibilidade, inteireza. Digo isso baseada nas observações que tenho feito faz um tempo das suas redes sociais e pelas nossas três horas de conversa. Você é de verdade! As pessoas de verdade são raridade hoje em dia. São como as bailarinas, das caixinhas de música de antigamente. Aquelas que a gente dava corda... São preciosas, sensíveis e nos levam a reações polilógicas, polifônicas e polissêmicas. Por isso, essa entrevista é tão especial. Bonito esse momento, que me tira o ar. Preciso pensar sobre como começar a perguntar aquilo que quero saber... acho que naturalmente é o que todos que te acompanham querem também... eu vejo O Grande Rei dentro de você. E ele é tão grandão, grandão mesmo, que pulou para o papel numa linda aquarela. Me conta mais... O que existe do Plínio no Grande Rei... tenho muitas suposições! Isso explica muita coisa. Acredito que deva explicar inclusive a evolução do seu traço. Notei que o Grande Rei mudou ao longo do tempo. Faz sentido? O Plínio também mudou o curso da caminhada ao longo desses anos? Ah! Plinio! me conta também sobre suas inspirações... como surgem as ideias, como traceja o desenho, como escolhe as cores da pintura. Fico fascinada com processos de criação, dizem tanto de como o artista se desnuda. É fantástico. Sabe que também acho incrível o fato de todas os desenhos estarem acompanhados de textos? E são textos tão profundos, tão impactantes. O que nasce primeiro, o texto ou o desenho? E me conta, prometo guardar segredo... esses textos revelam coisas que você está vivenciando naquele momento, ou nem sempre? Eu piro no #pracegover Rs. Você tem umas tiradas diferenciadas... sério mesmo. De onde veio isso, pracegover? Ano 3 | outubro 2020
25
revistaestimuladamente.com.br Aquarela: Plínio Moura
O Pequeno Príncipe, acho que foi inspiração para nossas infâncias... Sei que você tem 31, eu não tenho problema em te contar a minha idade, tenho 37. Eu sei, você pensou aí que nem parece! ( isso é para quebrar o gelo) rs. Mas, vivi esse livro na pele, reli adolescente e revisito sempre enquanto adulta. Marcou a minha geração. E fico cá com meus botões pensando: ele poderia ter escolhido qualquer outra referência. Por que essa? Por que esse livro? E por que o pequeno príncipe teve que crescer? Será que o Grande Rei é o Pequeno Príncipe crescido? São tantas questões que surgem a partir da leitura daquelas aquarelas...
Um grande coração Que no peito não cabe Tamanha emoção Transborda sensibilidade
São muitas aquarelas que você pinta, não é? imagino que sejam. O que você faz com as aquarelas que não publica? Diz que você vende... Minha expectativa de comprar uma aquarela sua é imensa.
O menino espelhado no príncipe O homem dentro do Grande Rei Muitas histórias, miudezas e sonhos Assim a história se fez!
Na casa de gêmeos ele nasceu Com seus olhos castanhos tímidos com uma mira além do alcance que demarca o infinito Arquiteto de sonhos tradutor de emoções Aquarelista intuitivo São muitas definições!
Você me disse que o livro já está encaminhado. O que podemos e devemos falar sobre o livro do Grande Rei? Juro que sou a mais ansiosa para ler... nossa, o pouco que você me contou, já estou apaixonada.
Um presente para todos nós Que se revela com tanta beleza Amor transbordando à pele Vida pulsante, delicadeza...
Plínio... Escreve uma mensagem que traduza a sua arte e que possa inspirar pessoas. Só tenho a agradecer... Receba meu presente. revistaestimuladamente.com.br
Vamos Ad-mirar a vida. Mirar a consciência de ser e estar no mundo no com toda sua eclosão e recolhimento. Paz e Bem para você. 26
Ano 3 | outubro 2020
Capa - O Grande Rei
Querida alma que habita a mulher chamada Amanda, Se reporte a mim como bem entender. Essa carta é primeiro minha, sou eu que primeiro a leio, é comigo que ela primeiro fala... Como bem escolher se reportar, “ouvirei” com olhos atentos à sua carta-entrevista, que se dirige ao meu profundo eu − este que fala por dois. Agradeço o carinho em suas palavras! Bem sei que sou de verdade porque me belisco e sinto... Mesmo quando o beliscado não é de carne, tem tinta nas veias, é o nosso grande reizinho - aí é que mais sinto! Sinto por dois, pois é qualidade do geminiano se dividir para melhor se entender. Como as bailarinas das caixinhas de música, te escrevo porque você me deu corda. Agora ouça com olhos também atentos, alma que habita a mulher chamada Amanda, e ouça você também, caro leitor, cara leitora, que segue conosco aqui. No Grande Rei existe tudo de uma parte de mim. A parte mais vermelha de uma maçã machucada. Uma parte de mim é o Grande Rei, e ele por completo é uma parte minha. O planeta pequeno é a minha falta de espaço. Não quero explicar o que isto quer dizer, mas na minha cabeça eu já disse explicado. É nesse universo longínquo que aprendi a me encontrar. E se mais alguém se encontra, fico feliz. Pois é apavorante estar perdido sozinho.
Ano 3 | outubro 2020
27
revistaestimuladamente.com.br
revistaestimuladamente.com.br
28
Ano 3 | outubro 2020
Capa - O Grande Rei
O traço com que desenho o reizinho não só mudou ao longo destes 5 anos, mas amadureceu. Antes era verde e duro, como uma fruta verde ainda longe do “ponto”, mas que já carrega a promessa da carne macia, e de se adoçar. Quando mudamos, podemos mudar para melhor ou pior. Já quando amadurecemos, só podemos doce ser. Atento ao “ponto”, para não amadurecer sem medida, seguro firme na mão da minha criança interior e com isto me mantenho aqui. “Não vá longe demais, que lá é fundo!” Diz a minha alma-mãe para o meu eumenino, que teimoso vai (logo, vou). E quando me falta o chão nos pés, quando a onda me cobre a cabeça tendo o peito já coberto faz tempo, volto aos pulos contra a maré contando sobre como é lá no profundo. É isto de que existe de mim, Plínio, no Grande Rei, que também sou eu.
palavras antes dos desenhos, tudo flui melhor. Mas o contrário também acontece: as vezes os desenhos nascem sem que eu saiba o que quero dizer. Estes são desenhos-mudos aos olhos-de-ler, traçados com sentimentos que não consegui traduzir. A maioria destes eu não publico. O que talvez seja um equívoco meu. Mas penso assim “se nesta aquarela eu não entendo o que quis dizer, quero entender antes de expor.” Porque desenhar demais é como falar demais – há sempre uma exposição. O #PraCegoVer é um compromisso com a acessibilidade alinhado com a máxima “O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração.”. Na adolescência visitei o Instituto de Cegos da Bahia em um passeio do colégio. Joguei futebol vendado com deficientes visuais. Eu, que já sou perna de pau enxergando, vendado sou de todo perdido. A visita me marcou para além de uma boa canelada que levei... Mais tarde a graduação em arquitetura reforçou o compromisso com à acessibilidade. Ler “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago, idem. Então um dia comecei a usar essa hashtag descrevendo a parte visual das minhas publicações e buscando aprofundar em detalhes invisíveis aos olhos que enxergam sem ver, revelando a minha intenção em pintar/desenhar isto ou aquilo. Eu não imaginava que o meu #PraCegoVer se tornaria tão querido, assim como não imaginamos tantas coisas que nos acontece.
A inspiração artística é uma relação de troca da arte com a vida. A arte “deslimita” a vida! O que me inspira é o cotidiano e a oportunidade de viver. É como vivo e como as vidas se tocam, é como elas se esbarram, se relacionam, se ignoram, se abraçam... O não-viver também me inspira, mas aí já é um mistério que ainda não arrisco explicar. As ideias surgem quando querem surgir. Sou um refém das suas vontades. Logo que chegam, eu as anoto em um pedaço de papel qualquer, que deixa de ser “um pedaço de papel qualquer” na medida em que registra uma ideia. Se esboço algumas
Ano 3 | outubro 2020
29
revistaestimuladamente.com.br
revistaestimuladamente.com.br
30
Ano 3 | outubro 2020
Não sei se escolhi me expressar através de um personagem inspirado n’O Pequeno Príncipe. Foi algo que aconteceu, foi acontecendo, o tempo pegou pela mão e, enquanto me distraia, passou meia década... Porque quando o tempo pega pela mão é assim: você revê uma criança e diz “Como cresceu!”. E é assim que temos O Grande Rei, ou ao menos é assim que eu o tenho: Uma criança crescida, mas relutante por não crescer demais. O livro escrevi. Mora em uma gaveta. Escrito aos poucos e aos muitos. Costura quase todas as aquarelas que as pessoas veem na minha página, sem imaginar que a página é um livro, costurado com uma linha do tempo... Gostaria de já tê-lo publicado, especialmente porque o dedico ao meu avô que já passou dos 90 e não sei quanto tempo ainda terá. Quero muito que ele o leia, daí a minha única pressa! Mas sou paciente. O escrevi para o sempre, que vai muito além de mim neste agora. O original está hoje com uma editora com a qual eu gostaria de publicar, e aguardo. “Plínio... Escreva uma mensagem que traduza a sua arte e que possa inspirar as pessoas.” Pessoas, “enquanto há vida, há esperança!”. Se tratem com o carinho que gostariam de ter. Pois se vocês o tiverem por si, já o terão. Busquem redenção consigo mesmas! As coisas levam um tempo para acontecer, então paciência. Não rodem o mundo tentando acompanhar a primavera. Assim como não é possível viver acompanhando o sol, aceitem as noites, os outonos e os invernos. Em tudo temos algo para viver, e, se atentos, alguma lição vai nos convidar a crescer. Quero agradecer a todas as pessoas que leram até aqui. Desejar que um dia possamos nos encontrar e conversar sobre a vida. Nos dividir juntos, beber um café. Agradeço à Amanda, pelo convite, carinho e espaço nesta revista. Ao Marcelo, que não conheci durante este processo, mas que apoiou a ideia. E agradeço ao Grande Rei, por me fazer sentir grande também. Carinho,
Plínio. Camaçari, 29 de agosto de 2020
Foto: Arquivo Pessoal Ano 3 | outubro 2020
31
revistaestimuladamente.com.br
Capa - O Grande Rei
E é nesse movimento de vida que esses textos se entrelaçam. Pois é assim a tessitura do tempo, que faz dos encontros uma trama. Cheguei no Plínio, homem - menino que se distrai com facilidade e gosta de se aprofundar na simplicidade cotidiana. Como um sonho, onde as borboletas bailam lindamente quase que exigindo a nossa atenção. É isso que ele diz sobre felicidade, seja nas palavras, seja nas cores de sua aquarela. “Felicidade é quando você sente que está vivendo a vida alinhado com seu propósito”, foi quase um sussurro. E é assim que ele segue a vida, com uma ideia de felicidade episódica, que sempre leva a reflexões na busca de equilíbrio. Da sua maior inspiração, só beleza e referência. Símbolo de alegria, como numa cena de sorrisos e abraços dentro do mato, o avô, “seu Carlos”, gente simples e sabida, é personagem marcante de sua vida. Aquele cujo elogio genuíno toca profundamente seu coração : “Todas as virtudes que um homem pode ter, na idade dele, o meu neto tem”. Para quem o livro é dedicado e a sua vida também. É desse lugar de ancestralidade que o Plínio leva uma vida sem vaidades e confessa que os elogios ainda representam desafios. Um autor, tradutor de singelezas, arquiteto de sonhos. Ser humano, emotivo, passeia fluido pelos jardins de girassóis de Dona Edna* e se revela nas bem traçadas linhas da história de Daniel Vieira* que afirma: “Você é meu amigo!”. Fruto do ventre de Dona Maria Julia, sua maior e primeira fã. Aquela que tudo lê e tudo vê. É o Plinio o Grande Rei, mas não só isso. A cada camada desnudada saltam coisas que extrapolam o reizinho, e ele segue sendo humano, encantando o mundo com seus desenhos acompanhados de músicas nunca são cantadas, mas que viram textos, desejando saúde, equilíbrio e clareza espiritual. Um mar de amor que transbordando em toda humanidade. * Dona Edna e Daniel Vieira são pessoas que marcaram a vida do Plínio na sua trajetória como Líder nas construções da TETO.
revistaestimuladamente.com.br
32
Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
33
revistaestimuladamente.com.br
Alimentação Por: Luciana Guidoux Kalil
Aprender a comer, aprender comendo
Como fazer com que as crianças tenham hábitos de alimentação saudável? Dar o exemplo costuma ser a forma mais eficaz. Somos responsáveis pelos hábitos alimentares das crianças, que elas provavelmente levarão para a vida toda, e poderão refletir em sua saúde física, mental e emocional. O que comemos e o que disponibilizamos às crianças pode fazer diferença.
Nesta fase, é um grande esforço para as crianças tomar decisões. Por isto, comem o que veem. Deixar alimentos saudáveis à vista e à mão, pode ser uma estratégia. Quando estiverem buscando comida, vão querer aquilo que está acessível, seja fruta ou biscoito. Vão querer o que aprenderam que é comida. Aprender a comer e a confiar no que os pais oferecem, estimula a humildade, o respeito e a sensação de estar sendo cuidado, o que traz segurança. Claro que é bom dar opções, dentro do que é saudável. Às vezes é melhor ficar sem comer, do que comer qualquer coisa. E quando realmente surgir a fome, a criança vai aceitar o que há disponível.
Antes dos 6 anos, somos um reflexo de nosso entorno. Estamos o tempo todo observando e absorvendo. É a fase da vida onde mais nos desenvolvemos, e estamos voltados para brincar, criar, imitar. Ainda não sabemos o que é bom ou prejudicial. Quer melhor oportunidade para revermos nossos hábitos alimentares para inspirar os pequenos? revistaestimuladamente.com.br
34
Ano 3 | outubro 2020
Alimentação
Fiquei emocionada em ver, no lugar de uma mesa de doces e salgadinhos, caixas de feira cheias de frutas de todas as cores, e as crianças se deliciando com melancia, uvas, bananas, manga, e outras frutas à vontade.
“Nos supermercados estão prateleiras e prateleiras do que pode ser considerado ‘lixo nutricional’ e que as pessoas consomem como alimento.” - Sônia Hirsch É nossa responsabilidade saber diferenciar e mostrar às crianças o que é alimento e o que é meramente diversão. Oferecer produtos que não vêm embalados em plástico, também ajuda na percepção do que alimenta. Comida adquirida pronta pode ficar para ocasiões especiais, finais de semana e passeios. Assim, esta responsabilidade se estende para o planeta inteiro, garantindo um futuro com menos lixo para as novas gerações. Alimento saudável é saudável para quem come, para quem produz e para o ambiente.
É aconselhável manter as crianças longe de açúcar e produtos processados ou refinados, pelo menos até os 3 anos. Se aguentar até esta idade, será menos provável que se torne uma pessoa amante de doces ou comidas industrializadas. Será mais fácil que ela compreenda o que é comida de verdade, que nutre corpo e alma. Alimentos naturais, como frutas e castanhas, podem ser consumidos a qualquer hora, em qualquer quantidade. Fazem bem e equilibram. Se um alimento é bom, isento de venenos, ingredientes refinados ou processados, é desnecessário colocar limites, tipo: “só mais um!!”. Se o sorvete for de pura fruta, podemos comer 1 quilo no café da manhã sem peso na consciência.
Já vi criança pequena que tem uma alimentação natural, que quando alguém oferece uma bala, fica brincando. Nem desconfia que seria para comer. Ou que é atraída por um pacote barulhento e colorido, mas quando abre, se decepciona com o que está dentro. Caso o paladar da criança já tenha sido pervertido por sabores artificiais, fique tranquilo: o paladar infantil pode mudar numa velocidade muito rápida, com substituições ou retiradas graduais de alimentos super processados ou concentrados. Para tudo há uma solução.
Convidar as crianças a entrar na cozinha e se envolver no preparo dos alimentos, é outra forma de unir educação e diversão. Todas as ciências podem ser ensinadas através de um prato de comida. Quando as crianças cultivam ou preparam seu alimento, se sentem mais estimuladas a comer. Além disto, cozinhar traz confiança, independência, criatividade, cooperativismo, criticidade e reaproximação com a natureza.
Alguns pais iniciam uma horta em casa quando seus filhos nascem, preocupados com a quantidade de veneno em verduras e legumes convencionais. Este simples ato de amor vai além da qualidade alimentar. Desperta nas crianças o encantamento de observar as sementes, plantar, acompanhar o desenvolvimento da planta, o florescimento, formação e amadurecimento dos frutos, até chegar a colheita, e voltar à semente.O encantamento pela ciclicidade da vida. Sem contar a energia de cuidado que foi transmitida àquele alimento.
Lanchinhos saudáveis para ter sempre à mão • Pipoca • Barrinha de cereais e sementes* • Frutas • Frutas secas, castanhas • Coco seco em pedaços, cru ou assado • Docinhos de frutas secas • Sorvetes e picolés de frutas congeladas • Biscoitos* • Pãezinhos tipo de queijo* • Vitaminas de frutas • Granola com frutas • Amendoim torrado em casa • Craquers* integrais • Biscoitos de polvilho*
Diversas vezes recordamos com meu primo o sabor inigualável dos tomatinhos que meu avô cultivava e comíamos no jardim. Também lembro dos sucos de frutas deliciosos que minha mãe fazia em nossos aniversários para evitar refrigerantes. Durante a quarentena, começamos a cultivar tomates e morangos. Nosso sobrinho de 4 anos, que antes acordava pedindo o celular, agora acorda querendo ver se tem fruta madura para colher.
*caseiros
Outro dia passei por uma casa, onde estava havendo uma festa de aniversário de crianças. Ano 3 | outubro 2020
35
revistaestimuladamente.com.br
Picolé de banana com granola Ingredientes: bananas bem maduras, frutas secas, granola, sementes, amendoim moído, coco ralado, etc. Palitos de picolé. Corte as bananas ao meio no sentido horizontal. Enfie no palito cuidadosamente. Enfeite com as sementes, cereais, frutas secas. Uma atividade divertida para fazer com as crianças é fazer caretas nas bananas, usando as frutas secas e sementes. Coloque os picolés em um recipiente, um ao lado do outro, sem encostar, e leve ao congelador.
Foto: Chocolate Covered Katie
Barrinhas de sementes É possível preparar com diferentes tipos de sementes, puras ou misturadas, na proporção de 4 medidas de sementes para 1 medida de melado.. Uma das minhas preferidas: 1 e ½ xícara de pepitas de girassol ½ xícara de gergelim ½ xícara de melado de cana Óleo de coco para untar Unte com óleo de coco um prato ou forma de vidro, cerâmica ou metal. Coloque o girassol em uma panela, para torrar levemente, mexendo de vez em quando. Quando estiverem começando a dourar, acrescente o gergelim. Quando começarem a estalar, adicione o melado, mexendo lentamente. Quando começar a descolar do fundo da panela, vire na fôrma e abra com um rolo. Corte antes de esfriar. Luciana Guidoux Kalil lunaca@mailoo.org Foto: Luciana Guidoux
revistaestimuladamente.com.br
36
Ano 3 | outubro 2020
Organização Vibracional Por: Tais Reis
A área de serviço. O elemento é água, a missão é limpar, renovar, higienizar. Mas por vezes esse espaço é utilizado para ocultar o que não encontrou o seu lugar no restante da casa, ou mesmo o que não serve mais, porém fica à espera de um conserto. É também utilizado para armazenar objetos de uso sazonal (aspirador de pó, tábua de passar, enfeite de Natal, São João, ornamentação dos aniversários das crianças), além da roupa suja, é claro. Vamos incluir nessa lista os sapatos, compras, caixas e tudo que vem do mundo externo. Especialmente em tempos de pandemia, a área de serviço está sendo muito demandada. Avaliaremos as duas situações. A primeira é quando utilizamos esse espaço como ponto de acúmulo. Essa ação faz com que a energia fique estagnada neste cômodo, comprometendo o fluxo saudável do lar. O que sugerimos, é incluir na rotina da casa um momento para fazer uma avaliação periódica dos objetos que foram acomodados na sua área de serviço. Deixe as roupas, itens eletrônicos e tudo mais o que necessita de conserto próximo à porta de saída, assim poderá levar para a assistência, oficina ou ateliê na próxima vez que sair de casa.
• Reserve um espaço para guardar os sapatos que utilizamos na rua. • Os produtos de limpeza devem ser armazenados fora do alcance das crianças, cuidados com possíveis interações químicas devem ser avaliadas.
Já para os casos em que este é o único lugar disponível para armazenamento dos itens que não se adequam em outros ambientes, indicamos que acondicione os objetos por similaridade, buscando utilizar sacos e caixas plásticas transparentes, para que possam ser identificados com facilidade.
Lembrando que a solução precisa ser compatível com seu espaço, seus recursos e suas necessidades. Mas o que em todo o caso necessitamos é de harmonia. Quando sabemos que existe um lugar na nossa casa que funciona como “Elo perdido” a tendência é que esse fato passe a nos incomodar, mesmo que esteja longe da visão na maior parte do tempo. A presença de um lugar com energia estagnada gera uma sensação de que existe algo a fazer, que pode derivar para ansiedade de não dar conta ou para o desânimo da procrastinação.
Porém se o que foi tratado anteriormente não reverberou para você, e o interesse é buscar harmonizar a área de serviço, as dicas a seguir possivelmente vai te atender: • Tenha um cesto para a roupa suja e outro para a roupa limpa para que ela seja armazenada até o momento de passar o ferro. Em ambos os casos os cestos devem ser do modelo que permita que as roupas permaneçam arejadas. • No cesto de roupas sujas, mantenha os panos de copa e os de prato separado das demais roupas, pode-se utilizar uma ecobag para essa finalidade. • Ainda tratando do cesto de roupas sujas, separe as roupas brancas das coloridas, pois isso evita manchas acidentais. Ano 3 | outubro 2020
A questão que podemos mudar esse cenário. Um passo de cada vez. Um pouco a cada dia e em breve tudo estará no fluxo perfeito Tais Reis Terapeuta taisreis.tr@gmail.com
37
revistaestimuladamente.com.br
revistaestimuladamente.com.br
38
Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
39
revistaestimuladamente.com.br
Papo de palhaço Por: João Vítor Rodrigues Faustino
Vulnerabilidade é Potência.
A figura de um palhaço, em um olhar menos atento, pode parecer a grande figura de um derrotado, ledo engano. O palhaço usa roupas desajustadas com seu tamanho, para demonstrar que foram doadas por outra pessoa. Assim como o sapato, muito maior que seu pé, não é dele, são restos. O nariz é vermelho já que ele dorme ao relento. Ele tem sempre aquele jeito de quem apanhou, até perder o rumo de casa. Isto é a figura externa do palhaço. Esta é a maior força que ele tem. Ele se admite perdedor, e assim, descobre que precisa levantar. revistaestimuladamente.com.br
40
Ano 3 | outubro 2020
Papo de palhaço
Quantas vezes admitimos, de fato, uma derrota? Muito tempo da nossa vida foram gastos mastigando uma derrota e, pior, quase nunca a admitimos. É sempre culpa de outrem, de uma circunstância, dos Ets que nunca chegam, de Jesus que não volta, nunca nossa. Se admitir derrotado, talvez, é uma das maiores dores que um ser humano pode enfrentar. Nascemos para ser vitoriosos, de maneira torta ou reta, somos educados pra isso. A ideia de que a felicidade é a vitória já nos acorda nas notícias de jornal ou na time-line das redes sociais.
Todos nós, quando nos tornamos pais, ou responsáveis por outrem, colocamos um conjunto de expectativas naquele ser. Acontece que, invariavelmente, estes seres irão nos decepcionar. A decepção, aqui, é uma derrota muito dolorida. Mas, neste caso, negar essa derrota/decepção não é possível, ou se for, poderá render a imposição de nosso ego em troca da destruição humana de alguém que nos vê como algo perto da verdade absoluta. Isso aconteceu comigo ou, melhor, acontece cotidianamente. Qual minha atitude? Amar!
Mas é justamente a derrota que nos faz andar, ela cospe em nossa cara que aquilo já não nos serve, é como a roupa de debutante linda, porém datada. Logo o corpo muda, o olhar sobre estética muda e aquilo que, em outrora, foi a realização de um sonho, se perde todo o sentido para o presente, o sentido agora se resume a lembranças de que podemos viver momentos especiais, únicos, mas eles precisam se renovar.
Se eles não gostam de fígado de boi, coisa que eu adoro, busco preparar o melhor estrogonofe do mundo. Sempre fui um “homem de estádio de futebol”, ir ao estádio é, por certo, uma das maiores delícias que conheço na vida. Meus filhos acham um tédio. Sendo, assim, me divirto com eles andando de bicicleta, ou fazendo arte.
No amor romântico a derrota pode gerar as piores reações do mundo. As cadeias estão lotadas de pessoas que não aceitaram a derrota de um amor romântico. Existem sete bilhões e oitocentos milhões de pessoas no mundo. Perder uma delas, é perder a vida? O quanto perder aquela pessoa dói em nós e o quanto dói já que destrói nossa persona (máscara que usamos para ser aceito pelo mundo)? Perder um amor pode doer mais pela perca do “status”, do que pela carência.
O velho líder Xamã nos diria: Viver é saber morrer. Márcio Libar, o Palhaço Cuti Cuti, diria: Se para aprender tem que cair, pra levantar tem que admitir que caiu. Jung nos diria: Onde mora sua dor, está sua maior tarefa. Enfim, resiliência é a já propagada chave para uma nova vida, mas a resiliência só pode existir após a derrota ser admitida. Eu sei que o papo já é batido. Mas o que quero demonstrar são as soluções que os palhaços usam após a derrota. Uma pessoa comum, quando cai, se levanta com muita vergonha. A vergonha vem do ego, da falsa ideia de que somos invencíveis, de que o mundo gira ao nosso redor, ao nosso bel prazer. Mas o palhaço não tem algo, ele não é um personagem, ele é! E, como analogia do humano, o palhaço sabe perder.
Seja o amor! Busque em outras pessoas a possibilidade de expressar esse amor com outras pessoas. Se torne autor da própria história. Afinal, como diz Marcio Libar:
Por técnica de palhaçaria, o palhaço provoca a derrota, não sabe direito o que quer, corre atrás do chapéu, mas lembra da blusa, e muda a busca. Mas, no fim, vai colocar o chapéu com os pés. A derrota é mero plano de fundo da demonstração de sua genialidade.
“Um palhaço quando cai, se levanta com a elegância de um Mestre Sala” João Vítor Rodrigues Faustino Terapeuta e Palhaço joaovitorfaustino1@gmail.com
A lição do palhaço, ao humano, mais do que a derrota, é se levantar com galhardia e elegância. Vamos para a prática? Ano 3 | outubro 2020
41
revistaestimuladamente.com.br
Mecânica Quântica Por: Jean Savedra
O subconsciente cocriador
Houve um momento em que precisei zerar minha vida e recomeçar. Foi como recorrer ao passado para desligar uma chave de força de um espírito de morte que estava me matando aos poucos, sem que eu percebesse. Quando caí em si, eu decidi viajar ao meu passado para identificar essas raízes amargas. O nosso grande desafio na vida, é fazer com que a cruz pesada que carregamos se torne leve e prazerosa. E, hoje, após uma busca desenfreada, pude chegar a uma compreensão reveladora de liberdade e permitir que esse processo libertador ainda vigore até meu ultimo suspiro aqui na terra.
A primeira constatação básica é saber que nosso subconsciente dá ordens ao nosso consciente. Seu subconsciente responde por 90% de suas ações e estímulos. O restante, 10%, é parte do consciente. Este é o princípio para entender um pouco sobre nosso histórico de fracassos ou de conquistas. Nós temos duas gavetas no cérebro: 1ª gaveta é a gaveta do consciente, onde armazenam nossas opiniões, conceitos e valores. A 2ª gaveta é a do subconsciente que é a nossa essência onde estão armazenadas informações, mentiras, verdades, grau de autoestima e sentimentos que foram acatados durante a infância e se firmaram como base de comportamento. O subconsciente é a causa e o consciente, efeito. Um subconsciente armazenado de dados nocivos irão fornecer a consciência concepções e conceitos não saudáveis. É necessário uma renovação e uma mudança profunda para que arquivos da mente sejam revistados e limpos.
“Como imagina em sua alma, assim ele será” (Provérbios de Salomão) Desmentir decretos falsos e rótulos equivocados a seu respeito para se reprogramar em uma nova história, e adentrar por portais novos que levam a uma dimensão de valores reais. revistaestimuladamente.com.br
42
Ano 3 | outubro 2020
Mecânica Quântica
Acessar a 2ª gaveta da mente e varrer a memória e definitivamente bem suceder na vida.
visão micro, são filamentos de cordas vibracionais emissores de frequência. A mecânica quântica se alia a essa teoria instaurando um processo de descobrimento altamente revelador e consolidando a tese de que o nosso cérebro e corpo emitem ondas carregadas de informação que criam circunstâncias e existência material com base empírica no experimento da dupla fenda.
“Para mudar os frutos, é preciso mudar as raízes” (T. Harv. Eker) Nosso subconsciente é uma fabrica de pensamentos. O fluxo de pensamentos ruins nos lançam em rotas vulneráveis causadas pela negatividade. Pensamentos excessivos em doenças, crises, tragédias, desastres e morte criam um refluxo de sensações de medo. Atraímos algozes impiedosos e nos transportam à condições emocionais calamitosas. Manter o pensamento em nível alto de positividade, tomando o controle da própria imaginação. Concentrando-a em coisas boas que te fazem sorrir. O combustível de fé para transformar toda e qualquer realidade oposta é a psicologia positiva..
“Direis (imaginareis, pensareis) sobre este monte: passa daqui para acolá, e há de passar. Nada vos será impossível.” (Jesus, o Cristo)
Um exemplo prático: se uma mulher crê e pensa, no seu subconsciente, que todo homem é mentiroso. Bem provável que todos os seus futuros parceiros “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo irão mentir. Este é o tipo de homem que está sendo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável se criado para cruzar o caminho dela. Olhe para sua e se há virtude, nisso pensai.” (Apostolo Paulo) história e tente perceber a repetição dos fatos de Abrir o baú da alma e trocar as peças. Nossos pais, forma consecutiva. Seja de sucesso ou de fracasso, irmãos mais velhos, parentes, professores e contextos elas têm se repetido? Observe o contexto hereditário e considere se você está vivendo o mesmo modelo da infância foram nossos formadores. A origem da vida, desde a sua concepção no útero da mãe, até os dos pais e avós. sete anos é um papel em branco a ser preenchido “Há muita ciência boa e legitima; e que apenas por qualquer pessoa. Portanto, você se torna fruto amplia os horizontes do conhecimento que remetem do meio em que viveu. À medida que a criança está o homem de fé a uma adoração mais profunda” (Rev. crescendo vai adquirindo consciência e poder de Caio Fabio) decisão baseada nas suas verdades. É tempo de voltarmos a olhar para dentro de nós Para avançar e atingir um estado de satisfação e e buscar uma aproximação do nosso EU interior. O felicidade é necessário essa compreensão. Aquilo que autoconhecimento nos recoloca em um universo se pensa é o que se cria e eles te farão percorrer todo de valores bons, justos e honestos, que você, talvez, o curso da sua vida. não vê na realidade aparente. Muitas pessoas estão Temos um grande parceiro para essa tese. A própria desfrutando de um estilo de vida em paz excedente, simplesmente, por crer em um amor infinito ciência já confirma a influencia que a negatividade derramado sobre elas. Elas cancelaram declarações ou a positividade opera em nossa realidade. Fala mentirosas instaladas no seu “HD” interior. Dessa na emissão de ondas vibracionais que viajam pelo forma, é que aprendemos a sermos gestores das espaço se emaranhando em energias alheias que nossas emoções e a retomarmos o controle desse atraem as circunstâncias realísticas. navio chamado: mente. Seja o verdadeiro capitão “O coração do sábio adquire o conhecimento, e o dessa embarcação. Viver com objetivos claros e ouvido dos sábios busca a ciência.” (Provérbios de afastando o risco do acaso. Tempo de substituir a Salomão) mentira por novidades boas e definitivamente crer, que milagres estão acontecendo em nosso favor. Estudos científicos comprovam que tudo que se imagina se co-cria. O gênio físico Albert Einstein foi um homem inspirador. Sedento pela verdade. Um Jean Savedra garimpeiro do mundo intrapsiquico. Ele encontrou contato@jeanricardosavedra.com na famosa teoria das cordas que tudo que existe, na Ano 3 | outubro 2020
43
revistaestimuladamente.com.br
Desenvolvimento humano Por: Renata Castello Branco
As Escolhas e a Felicidade
Com alegria e honra comunico a você, leitor, que a partir desta edição, passo a ser uma colaboradora fixa dessa linda e inspiradora revista, compartilhando sobre temas voltados para desenvolvimento humano.
Em pouco tempo, descobri em meu processo terapeutico, que boa parte da minha dor, tinha a ver com apego e com minha resistência em passar para a fase adulta. A vida não espera, ela se impõe. E aos 22 anos colei grau em prantos de tristeza, orgulho e alegria. Logo em seguida, esqueci o que tinha perdido com a formatura, e comecei a experimentar os frutos da autonomia de fazer o que mais me realizava, atendimento psicológico de pessoas que estavam em busca de autoconhecimento, cura, maior satisfação consigo próprio, realização e outras tantas e grandiosas demandas, que no final das contas, culminam na busca pela felicidade.
Acredito que não por acaso, mas por sincronicidade isso está acontecendo no mês da psicologia, ciência da alma, a qual escolhi me dedicar. Fiz minha escolha profissional aos 16 anos, movida pelo desejo de ajudar os outros a descobrirem as amarras que as impediam de ser felizes. Naquela época, já me intrigava o quanto era da nossa responsabilidade, essa tal felicidade.
Enquanto realizava meu sonho, a realidade nua e crua bateu em minha porta e me fez ver que se quisesse conquistar logo minha independência financeira, precisaria fazer algo mais do que esperar o consultório encher de cliente. Afinal, isso requer tempo e cara de maturidade, o que ainda não era o caso.
A cada semestre da faculdade meus olhos brilhavam mais e minha escolha se confirmava. Sofri um bocado quando a graduação estava chegando ao fim, sentia como se fosse ser expulsa do paraíso. Não queria perder aquelas aulas maravilhosas, o contato com os professores e a vida de estudante. revistaestimuladamente.com.br
44
Ano 3 | outubro 2020
Desenvolvimento humano
Minha insatisfação começou a se manifestar e uma amiga muito perspicaz me convidou para trabalhar na consultoria de recursos humanos que ela gerenciava. Foi bastante conflitante para mim, que tinha como ideal atuar somente na área clínica e “jamais” na área empresarial. Felizmente, eu superei esse paradigma repleto de preconceitos, me abri para essa possibilidade e disse sim ao desafio, que me transformou e mudou completamente a minha vida. Passei a viajar constantemente de norte a sul do país para atender grandes empresas e realizar trabalhos com desenvolvimento de equipes, que passaram a ser uma das minhas grandes paixões. Amei conhecer lugares, culturas, organizações e pessoas diferentes. Achava o máximo cada dia estar em uma empresa, em uma cidade, em um hotel. Até que os contras começaram a pesar, e a falta de permanência, presença, lar... começaram a fazer muita falta. Os sintomas de estresse começaram a aparecer, o corpo começou a pedir arrego: insônia, rouquidão, gastrite...
Positiva, a ciência do bem estar e da felicidade. Foi amor à primeira vista, identificação total com os fundamentos e práticas desse movimento. Desse dia em diante, a perspectiva positiva passou a fazer parte do meu olhar e das minhas práticas. Percebi e venho aprendendo cada vez mais, como podemos apoiar o florescimento do outro pelo desabrochar e fortalecimento das suas virtudes. Encontrei na Psicologia Positiva as respostas ao que me intrigava quando escolhi fazer vestibular para psicologia. Descobri que o que eu enxergava embaçadamente e suspeitava no passado, tem nome - sentido da vida, propósito, autorresponsabilidade, florescimento, plenitude – e também método de desenvolvimento. O encontro com esse universo tão novo e ao mesmo tempo tão familiar, me levou as minhas mais recentes conquistas: a Certificação em Felicidade Interna Bruta (FIB) e a pós graduação em Psicologia Positiva, que estou cursando apaixonadamente. E aqui estou eu, reafirmando o que a ciência já comprovou, a importância do autoconhecimento e das escolhas para o bem estar e contentamento. Os elementos que compõem a almejada fórmula da felicidade, estão sendo revisados, mas sobre um dos componentes não pairam mais dúvidas – as ações voluntárias ou escolhas deliberadas. Os sim´s e não´s que damos ao longo da vida, aquelas portas as quais decidimos fechar ou abrir em nossa jornada.
O pisca alerta acendeu e o alarme tocou que já tinha passado da hora de mudar a rota ou o jeito de caminhar. Após cinco anos nessa vida meio nômade, de quem não parava em casa, em Belo Horizonte/ MG, veio um novo convite: assumir a Gestão de RH da unidade de uma multinacional francesa, no polo petroquímico em Camaçari/BA. Foi quando uma mudança ainda mais significativa se deu, e vim morar na capital baiana, onde meu coração vibra e escolheu permanecer. Experiência incrível, que me ensinou muitíssimo e me tornou mais forte e resiliente, ao lidar com desafios bem complexos, típicos de uma grande empresa que vivenciava uma transição de gestão, choque cultural, conflitos sindicais e ampla diversidade. Além disso, tive a oportunidade de conhecer na íntegra o que se passa dentro das organizações, de viver na pele, os desafios e conflitos experimentados por líderes e liderados. Amadureci muito e pude constatar que minha praia era atuar como consultora externa. Escolhi sair da empresa e fundar minha própria consultoria, dando continuidade ao desenvolvimento humano e empresarial, por meio de treinamentos, educação corporativa e assessoria na área de RH. Em 2016, sem que eu planejasse, algo decisivo aconteceu. Fui escolhida pelo sonho de ser uma missionária da felicidade. Uma empresa cliente demandou uma palestra sobre Felicidade e Produtividade. Foi aí que iniciei meus estudos sobre Psicologia Ano 3 | outubro 2020
A felicidade é um estado que será tão mais duradouro quanto maior for a nossa capacidade de nos apropriarmos da responsabilidade e autenticidade nas escolhas que fazemos. Como afirmou Ralph Marston, a qualidade da sua vida é um resultado direto das escolhas que você faz. E cada momento na sua vida é uma escolha. Então preste a atenção nas suas atitudes, pois são elas que moldarão, ativamente, o resto da sua vida. Renata Castello Branco Psicóloga Clínica, Fundadora da Excelência Consultoria RH e Facilitadora da Felicidade. renatacastellob@excelenciaconsultoriarh.com
45
revistaestimuladamente.com.br
De orelha a orelha Por: Bianca Ramos
Descubra o que é Resiliência
Antes de falarmos propriamente sobre a Resiliência, é importante trazermos aqui alguns pontos sobre o que são as Happiness Skills.
acordo com a Dra. Lara Boyd, neurocientista que estuda a recuperação neurológica pós derrame cerebral, a ciência acreditava que, depois da puberdade, as únicas mudanças que aconteciam no cérebro eram em relação a perdas. Contudo, recentemente, a ciência descobriu que, todas as vezes que você aprende um novo fato ou competência, você muda seu cérebro. Em verdade, todos os nossos comportamentos alteram o nosso cérebro a todo momento, e essas alterações não são limitadas pela idade. Ou seja, nossos cérebros mudam intencionalmente e/ou de forma involuntária em respostas a treinamentos e experiências. E a grande chave para todas essas mudanças é a neuroplasticidade.
As habilidades para felicidade, também chamadas de Happiness Skills, são habilidades Soft Skills, ou seja, estão contidas nas Habilidades Socioemocionais e, com isso, elevam a percepção de bem-estar subjetivo. Contudo, as Happiness Skills trazem um impacto direto na nossa felicidade, por isso faz-se necessária a delimitação de um grupo específico para estudo. Vale ressaltar que, por serem “habilidades”, as Happiness Skills podem ser adquiridas e, com isso, são aprendíveis.
Devido a neuroplasticidade, o cérebro com o qual nascemos pode ser mudado, através de novos padrões de pensamentos que também são originados de treinamentos mentais. A ideia é realmente treinar nosso cérebro como se fosse um músculo, aprendendo novas maneiras de reagir e lidar com as adversidades do dia a dia.
Nesse momento, imagino que pode estar pensando se nosso cérebro realmente tem a capacidade de aprender, independentemente da nossa idade. Bom, no caminho dessa reflexão, uma das grandes descobertas da neurociência moderna que clareia essa possível dúvida é a neuroplasticidade. De revistaestimuladamente.com.br
46
Ano 3 | outubro 2020
De orelha a orelha
Assim, com a concretização da ideia de que cérebro se desenvolve até o fim da vida , todos nós podemos assumir mais responsabilidade sobre por nossos cérebros. Ao cultivar hábitos mentais saudáveis, a neurociência tem entendido que nós podemos alterar os circuitos cerebrais para que tenhamos um maior nível de bem-estar.
positiva e a capacidade de superação de condições adversas, diante de um contexto desfavorável.
Assim, o Dr. Richard Davidson e toda sua equipe de neurocientistas trazem a comprovação de quatro Happiness Skills fundamentais: Resiliência, Atenção Plena, Savoring e Generosidade. Praticar essas quatro habilidades pode fornecer o substrato para mudanças duradouras e, com isso, ajudar a promover níveis mais elevados de bem-estar subjetivo. Falaremos nas linhas abaixo sobre uma delas: Resiliência.
Destaco aqui que desenvolver seu cérebro para aprender a Resiliência pode ter um efeito circular. Esse círculo positivo funciona mais ou menos assim: a positividade, mesmo diante de adversidades, ajuda a promover a felicidade, que aumenta a Resiliência, que impulsiona ainda mais o estado de felicidade e assim por diante.
Assim, a Resiliência traz mais a ideia de que “sou feliz apesar de”, do que “sou feliz porque minha vida não tem problemas”. Com isso, aceitar a existência de desafios e que os mesmos fazem parte da vida é saudável e materializa a felicidade como tal.
Imagino que, nesse momento, pode estar se perguntando como desenvolver a Resiliência.
Para falar sobre Resiliência, trago uma frase de Elizabeth Kubler-Ross, psiquiatra suíça, que diz: “as pessoas mais belas que conheci foram aquelas que conheceram o sofrimento e encontraram seu próprio caminho para fora dele. Essas pessoas têm uma apreciação e uma compreensão da vida que as preenche de compaixão, gentileza e uma profunda inquietude amorosa”.
Nesse sentido, Rick Hanson, Ph.d e membro do Greater Good Science Center, da Universidade da Califórnia, traz, no seu livro “O Poder da Resiliência” que determinação, amor próprio e bondade são alguns dos recursos mentais que nos trazem maior Resiliência, abrindo caminhos e superando desafios, promovendo bem-estar e uma sensação intrínseca de amor e paz.
De acordo com Michael Ungar, terapeuta e pesquisador principal do Centro de Pesquisa em Resiliência da Dalhousie University, a “resiliência é a capacidade de um sistema biopsiquicossocial (pessoa, família ou comunidade), de navegar em direção aos recursos necessários para sustentar o funcionamento positivo sob estresse”.
Como sugestão, deixo aqui uma intervenção comprovada cientificamente para você colocar em prática nos próximos dias: todos os dias a noite, escreva uma lista de 3 coisas que aconteceram especificamente nesse dia e que você se sentiu grata(o). Ao fazer isso, você está treinando sua mentalidade para começar a perceber os aspectos positivos do seu dia a dia, ao invés de seguir a tendência comum do nosso cérebro de focar no negativo.
Resiliência normalmente está ligada à passagem de um indivíduo por eventos desafiadores. Interessante dizer que, quando falamos sobre Resiliência, temos 3 possíveis desfechos. Ou seja, quando alguém estiver passando por um estresse, é provável que ocorra: recuperação, adaptação e/ou transformação. Quando falamos de recuperação, o indivíduo, ao passar pelo desafio, volta para o ponto aonde estava inicialmente, ou seja, se recupera após o contexto desfavorável. Já na adaptação, ao invés de voltar ao ponto aonde se encontrava antes do estresse, o indivíduo cria novas formas para adaptar-se às novas condições. E, por fim, na transformação, uma vez transcorrido o percurso desafiador, a pessoa não volta ao que era antes, pois já não sente que é a mesma pessoa e, com isso, constrói uma nova realidade. Importante ressaltar que, independentemente do desfecho da situação, quando falamos em Resiliência, o grande ponto é a adaptação Ano 3 | outubro 2020
Para finalizar, quero trazer uma frase da Sheryl Swoopes, ex-jogadora profissional de basquete, que diz:
“não importa o quanto a vida empurra você para baixo ou o quanto você se machuca, você sempre será capaz de se recuperar”. Bom, chegamos ao fim do texto de hoje. E, como sempre digo: se essas linhas te trouxeram alguma reflexão, minha missão foi cumprida. Com carinho,
47
Bianca Ramos bianca@nossocazulo.com.br revistaestimuladamente.com.br
Sustentabilidade Por: Carla Visi
Ecofeminismo: O feminino que precisa ecoar no novo milênio
Foto: https://www.iquilibrio.com/
O que determinou o ser mulher na história da humanidade foi o olhar masculino. Afinal eles eram os filósofos, os representantes religiosos, os legisladores, os líderes das grandes civilizações, os cientistas, os poetas e escritores, os pintores e chefes da família que sempre colocavam esse ser de características físicas diferentes em papel secundário. Mesmo sendo a responsável por gerar a vida de todos eles, a mulher era quase uma mobília da casa. Por isso não podemos esquecer Simone de Beauvoir, “Não se nasce mulher: chega-se a sê-lo”. Em tempos de crise de gênero, fica cada vez mais evidente que ser mulher é antes de tudo, uma construção social. E por que nesse momento de pandemia parece oportuno falar de Ecofeminismo? Porque um estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial, entre 194 países, os liderados por mulheres tiveram melhor desempenho diante do coronavírus.
política. Apesar da presença de Olímpia e de outras mulheres na Convenção, esse grupo continuou sem representatividade. Muitos pensadores e intelectuais homens do século XIX e início do século XX defenderam os pressupostos doutrinários do inglês Stuart Mill sobre abolição das desigualdades e acesso à educação e aos postos de trabalho para mulheres. O feminismo emancipacionista ganha novos contornos no feminismo contemporâneo com feministas como Simone de Beauvoir, Betty Friedan e Kate Millet. O fato é que apesar das conquistas dos direitos jurídicos, políticos e econômicos, ainda existe o estigma de “inferioridade” ou desigualdade natural. A mulher se realiza no mundo como um corpo submetido a tabus e estereótipos usados como justificativas das mais abusivas discriminações sociais. Enquanto o Homem designa a humanidade inteira, a mulher representa a mulher ou as mulheres. A masculinidade é um sujeito livre que se move pelo mundo, e o universo feminino se limita ao privado, a cuidar da casa e dos outros, servir, agradar e seduzir. Assim, mais que igualdade, o feminismo contemporâneo luta pela libertação desses valores patriarcais, machistas, dominadores.
Os historiadores identificam os primeiros sinais em prol da igualdade entre homens e mulheres ainda na Revolução Francesa, onde destacamos a declaração da revolucionária Olímpia de Gouges proclamando que ambos possuíam direitos naturais idênticos de participar da formulação das leis e da revistaestimuladamente.com.br
48
Ano 3 | outubro 2020
Sustentabilidade
Esses valores predominantes na história da humanidade são os princípios que determinaram e ainda pressionam as relações entre o homem e a natureza. O ecofeminismo aparece pela primeira vez no livro “Le feminisme ou la mort” da autora francesa Françoise d’Eaubonne onde ela associa o comportamento de dominação ambiental com o comportamento dos homens que se impõem às mulheres. Contra o sistema até então predominante de hierarquias: masculina, socioeconômica, étnica, biológica, geográfica ... o ecofeminismo luta por um novo mundo onde homens e mulheres se respeitem e se vejam como iguais, contribuindo um com o outro para uma vida mais plena em harmonia com o planeta, a nossa casa comum.
liderança feminina demonstrou mais empatia, comunicação clara e participativa com respostas proativas e coordenadas diante da crise do Covid-19. Qual a conclusão que podemos chegar com essa pesquisa? Que os homens estão despreparados para momentos de crise? Que as lideranças masculinas ainda não possuem capacidade para uma gestão sustentável? Que falta empatia entre a gestão pública e as pessoas? Há relatos históricos que tribos no passado liderados por mulheres eram mais pacíficos e inclusivos. As mulheres, além de liderança, detinham conhecimento das ervas para cura e dos rituais para proteger a comunidade. E figuras femininas eram adoradas pois representavam a fertilidade e a vida. Assim temos às referências e reverências à Pachamama, mãe Terra, mãe Natureza, Gaia e o Sagrado Feminino.
Quando Fritjof Capra fala de um novo paradigma ecológico, ele afirma que valores auto-afirmativos associados ao pensamento masculino, nos levaram à crise ambiental do planeta e sugere que valores integrativos, ditos femininos, são fundamentais para um projeto de sustentabilidade. Veja os valores no quadro:
Auto-afirmativo
Integrativo
Expansão
Conservação
Competição
Cooperação
Quantidade
Qualidade
Dominação
Parceria
Dois nomes importantes do ecofeminismo são Wangari Maathai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2004 através do Movimento Cinturão Verde que plantou árvores para frear a desertificação no Quênia e Vandana Shiva, Phd em Física, ambientalista engajada na defesa dos pequenos agricultores contra o controle das sementes por multinacionais. Não se trata de um movimento de mulheres contra os homens, mas um movimento de tod@s em prol da vida. Palavras de Wangari e Vandana para nossa reflexão:
Quando se começa a trabalhar seriamente em temas ambientais, a arena passa a ser os direitos humanos, os direitos das mulheres, os direitos ambientalistas, os direitos das crianças, isto é, os direitos de todo o mundo. Uma vez que se começa a realizar essas associações, já não se pode continuar simplesmente plantando árvores. (Wangari Maathai)
(CAPRA, 1996 p.27)
Por isso em diversos veículos há matérias que mostram um consenso de que as lideranças femininas tiveram resultados melhores na resposta à pandemia. Chefes de estado como Angela Merkel (Alemanha), Jacinda Ardern (Nova Zelândia), Mette Frederiksen (Dinamarca), Tsai Ing-wen (Taiwan), Sanna Marin (Finlândia) e Erna Solberg (Noruega) foram destaque de uma pesquisa realizada pelo Center for Economic Policy Research / Fórum Econômico Mundial. Vários fatores afetaram nos resultados da pandemia nos diferentes países do globo, por isso o estudo levou em consideração no processo de análise países próximos com características similares (PIB, densidade populacional, gastos com saúde, etc). Assim a Ano 3 | outubro 2020
Nós não podemos permitir que as empresas transnacionais transformem nossas sementes em meras mercadorias. As sementes são um patrimônio da humanidade. (Vandana Shiva) Carla Visi carlavisi@uol.com.br 49
revistaestimuladamente.com.br
revistaestimuladamente.com.br
50
Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
51
revistaestimuladamente.com.br
ICF - Internacional Coach Federation Por: Marta Castro
Um pouco de coaching para interessados em coaching
Volta e meia alguém do meu ciclo pessoal ou profissional solicita uma indicação de curso de coaching. Venho observando que, quando isso acontece, eu e meus colegas coaches tendemos a responder indicando os cursos que fizemos ou que conhecemos. Natural. Mas recentemente me ocorreu que nosso “natural” está mais para uma postura de consultor do que de coach.
A primeira e mais essencial das perguntas: qual o seu objetivo com o curso? Por que é importante? Como vai saber que atingiu seu objetivo após o curso? O objetivo vai apontar para o interessado alguns aspectos importantes da decisão: se quiser atender, certamente a pessoa vai precisar de um curso com carga horária extensa, que teoricamente assegura uma formação mais aprofundada. Neste caso, deve buscar uma escola acreditada pela International Coach Federation (ICF). Caso não seja seu objetivo atender, mas apenas conhecer o coaching ou algumas das suas ferramentas para melhorar sua atividade como líder, professor, consultor ou outra profissão, a carga horária e a acreditação podem ter um peso menor na decisão.
Comecei a me policiar e fui chegando à conclusão de que a melhor forma de ajudar o interessado é, antes de tudo, fazendo o que o coaching nos ensina tão bem: perguntando. Porque só as perguntas certas levarão a melhor resposta, ou seja, à escolha do melhor curso pelo próprio interessado. revistaestimuladamente.com.br
52
Ano 3 | outubro 2020
ICF - Internacional Coach Federation
Aspectos práticos como valor, período e local de formação geralmente são considerados, mas não podemos deixar de olhar também para outros aspectos essenciais. Por isso, é interessante estimular o interessado a conhecer as linhas de coaching e ver a que mais se adequa ao seu perfil e objetivo. Trata-se de uma tarefa de pesquisa previa sobre os conteúdos e metodologias de cada escola.
da Bahia, precisava de uma escola que me desse um certificado de reconhecimento internacional e ferramentas de coaching executivo. Busquei a SLAC, que na época só oferecia cursos em São Paulo e tinha Arline Davis (EUA), uma coach reconhecida internacionalmente, como professora. Foi excelente. Mais adiante, 2013, queria me aprofundar. Já estava atendendo, estava mais madura e pude fazer uma opção por identificação: o Coaching Sistêmico. Por indicação de Arline, fiz um curso com Bernt Isert e Sabine Klenk (Alemanha), na Universidade de Verão Brasil da Metafum Empresarial. E, em 2016, movida pela curiosidade de conhecer Tim Gallwey, a quem se atribui a criação do processo de coaching, fiz o The Inner Game, com o próprio Tim (EUA) e seu parceiro no Brasil, Renato Ricci. Foram duas experiências muito ricas também.
Quando o curso é pago pela empresa onde o interessado atua, é interessante saber: de quem foi a iniciativa do curso? Qual a percepção sobre esta decisão? Qual o objetivo e a expectativa sua e do financiador? Temos nesta situação uma forte tendência a escolha de uma linha de coaching executivo ou líder coach. Se o curso for bancado pelo próprio participante, o universo de possibilidades tende a se ampliar, e aí cabem algumas perguntas complementares: o que te atrairia em um curso de coaching? Como percebe cada linha pesquisada? O que é mais importante para você nesta escolha? Por que?
Mas o divisor de águas na minha carreira como coach profissional foi a associação ao recém criado Capítulo Regional Bahia da ICF, do qual passei a fazer parte também da diretoria. Meu primeiro curso, o Coaching Sistêmico com Leda Regis, minha coach e supervisora, foi acreditado pela ICF em 2017 e eu repeti o curso com a mentoria para me preparar para o meu credenciamento no primeiro nível (ACC) da ICF. Agora estudo e trabalho para avançar para o segundo nível (PCC).
Se o perfil da pessoa tiver um perfil mais ligado à razão e as sensações, certamente vai se sentir atraída por cursos de ferramentas mais racionais, cheios de apostilas para preenchimento. Agora, se o perfil da pessoa é mais ligado ao sentimento ou à intuição, é capaz de se sentir atraída por programas que forneçam ferramentas mais lúdicas e menos pragmáticas. Ou até que não usem ferramenta alguma, só a observação do corpo e perguntas. Meia dúzia de post its para anotar e organizar alguns tópicos, ou imagens coloridas são ferramentas simples e muito eficazes para estes perfis.
Vejam que eu fui escolhendo minhas formações e tomando minhas decisões de forma consciente e estratégica para o atendimento do meu objetivo de ser uma coach profissional. Entendo que lidar com pessoas, mesmo no ambiente executivo e profissional, que é onde atuo, é muita responsabilidade. E só os cursos não bastam. Em paralelo, é preciso estrada, horas de prática, supervisão e mentoria, onde o aprendizado se consolida.
Intuitivamente fiz estas perguntas a mim mesma ao longo da minha trajetória. Fiz um processo de coaching para me apoiar numa transição de carreira de executiva para consultora em planejamento e desenvolvimento humano e como eu adorava o processo e minha coach, acabei fazendo um curso com ela, em 2009: o Coaching Sistêmico da LM Desenvolvimento. Fiz apenas porque queria me capacitar melhor para melhor trabalhar com consultoria e apoiar pessoas. O curso foi excelente, me apaixonei e eu resolvi que também iria atuar como coach.
Se ao responder às reflexões que eu trouxe, você optar por fazer uma formação para atuar como coach profissional, saiba que esta escolha vai requer estudo e atualizações constantes. E então? Como você escuta tudo isso? Marta Castro Coach ICF.
Logo na sequência, em 2010, decidi fazer uma segunda formação e desta vez já sabia o que queria. Por conta dos meus clientes de consultoria fora Ano 3 | outubro 2020
53
revistaestimuladamente.com.br
ICF - Internacional Coach Federation Por: ICF
Um ICF Brasil debate o futuro do trabalho em evento com convidados internacionais Série de encontros online ocorrerá nos dias 26 e 27 de novembro e terá discussões sobre o fator humano em cenários complexos, como o trazido pela pandemia
em especial das novas gerações, e a construção de resultados sustentáveis para pessoas e organizações, entre outros pontos relevantes.
A International Coaching Federation (ICF), capítulo Brasil, fará uma série de encontros virtuais para debater o futuro do trabalho. Intitulado “O fator humano em cenários complexos -Conversas imperdíveis & futuros possíveis”, o evento inclui palestrantes internacionais e promoverá o debate a partir da troca de experiências e dos dados da recente pesquisa global da entidade, acerca da indústria do coaching e os impactos da Covid-19. A expectativa é reunir cerca de 500 profissionais de Recursos Humanos, executivos e coaches, nos dias 26 e 27 de novembro, com tradução simultânea do inglês e do espanhol para o português e em plataforma online restrita aos inscritos.
1 - Mercado e Tendências: O que sabemos sobre o futuro das competências e demandas por talentos?
O evento terá os seguintes blocos temáticos:
2 - Gestão de talentos: Qual o olhar das empresas referência em gestão de pessoas no mercado e o que estão fazendo para atrair, desenvolver e reter talentos? 3 - Diversidade: Um desafio, uma necessidade ou uma nova realidade? Como praticar nas organizações? 4 - Empresas inovadoras: O que podemos aprender com a maneira como as empresas inovadoras e ágeis lidam com seus recursos humanos?
“A próxima década apresentará desafios importantes para o ser humano e para as empresas, que terão de se adaptar às mudanças exponenciais decorrentes da transformação digital, que vem ganhando ritmo acelerado. É preciso um olhar atento às mudanças acerca do futuro do trabalho, da sobrevivência em um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo, na sigla em inglês) e quanto aos impactos do novo coronavírus. Isso sob o prisma do desenvolvimento pessoal e profissional”, afirma o presidente da ICF Brasil, Marcus Baptista.
SERVIÇO: Evento: ICF Brasil debates online Tema: “O fator humano em cenários complexos Conversas imperdíveis & futuros possíveis” Quando: 26 e 27 de novembroData e Horário: Dia 26/11 das9h às18h-Dia 27/11 das 9h às 16h Onde: Plataforma de streaming (restrita aos inscritos) Inscrições: via apoio.gestao@icfbrasil.org
A programação terá início nos dois dias às 9 horas e conta com especialistas como Ann Clancy, Ph.D. em Sistemas de Organizações Humana pela Fielding Graduate University, presidente da Clancy Consultants nos EUA e autora de livros acerca do universo do Coaching, Rikard Larsson, Ph.D. pela Lund University e co-fundador da Decision Dynamics gestão de talentos na Suécia, Ana Claudia Plihal, head de Soluções e Talentos do Linkedin no Brasil, além de Marly Vidal, diretora administrativa de Pessoas do Laboratório Sabin Análises Clínicas S.A.
Visite: https://www.icfbrasil.org/Para outras informações, procure a CDI Comunicação: Alessandro da Mata (11) 3817-7924 alessandro.damata@cdicom.com.br William Maia (11) 3817-7968 william.maia@cdicom.com.br Everton Vasconcelos (11) 3817-7947 everton@cdicom.com.br
Os palestrantes vão abordar as novas competências para o futuro, o anseio por senso de realização, revistaestimuladamente.com.br
54
Ano 3 | outubro 2020
Ano 3 | outubro 2020
55
revistaestimuladamente.com.br
Contos de Família Por: Jamile Monalisa
Família: Sinônimo de Amor
Nesse ponto de partida, me vi em um dilema: como iniciar a minha escrita. Falar de mim, da minha família, de como se constituiu, os desdobramentos dessa formação e todo o processo... Mas porque toda essa dúvida de como abordar? Seria tão fácil assim falar sobre? Hoje talvez sim, para a mulher que me tornei no auge dos meus bem vividos 34 anos... Mas e se fosse há tempos atrás? Não! Não seria tão fácil assim, por que afinal a minha família não seguiu os padrões legitimados pela sociedade tradicionalista. A forma como a adoção é vista e vivida tanto por alguns daqueles que estão inseridos no processo quanto aos espectadores, nem sempre tem a beleza que o ato sugere. Adotar, em seu conceito consiste em: “optar por; revistaestimuladamente.com.br
56
Ano 3 | outubro 2020
Contos de Família
assumir, seguir; e trazendo para o significado jurídico: aceitar legalmente (alguém) [como filho], concedendolhe direitos; perfilhar; ainda assim há um preconceito enraizado por pobres de espírito que preferem olhar para o negativo (o abandonado com desmerecedor) do que ver o ato pelo lado generoso, altruísta.
Mas meu processo de maturação ainda não tinha atingido estágio de equilíbrio... Eu precisava passar por uma descoberta de mim. Não sei dizer ao certo nem quando, nem como... Mas eu me recordo de ver a minha “mainha” envelhecendo, mas cuidando de todos nós, sozinha como há tempos fazia e algo em mim dizia: “- Você precisa retribuir, porque ela fez muito por ti...” Ahhh! Se fez! Minha mainha, professora, espírita, passou a maior parte de seus dias se dedicando aos outros, através da educação, da doação, da caridade e desta forma ela ia cumprindo sua missão e fazendo muito por si. Aí toda a negatividade tinha aberto espaço para o sentimento de gratidão, de cuidado, de empatia, de admiração, de AMOR. Todos esses sentimentos eram existentes, mas isolados. Surgiam em situações específicas... Mas quando eles se juntaram me transformaram.
Mas para mim, sintetizo o significado de forma diretiva e singela: dar uma oportunidade de saber o que é AMAR àquele que teve tal direito negado! Então, reparto com vocês uma parte de minha história e de como aprendi o que é amar. Ao que me contam, minha mãe (do coração) não podia conceber uma criança, mas antes de mim já havia oportunizado outros dois seres: minha irmã mais velha que havia sido “dada” por sua mãe – essa era uma prática normalizada entre mulheres que moravam no interior, que por vezes pariam de maneira indiscriminada e entregavam seus filhos por não poderem criá-los, alguns para adoção, outros para fins trabalhistas – e meu irmão (do meio, rs) que era filho biológico do meu pai (de coração). Eis que cheguei! Aliás, fui trazida para a cidade onde resido. Nascida em Alagoinhas, abandonada no hospital, recebi de presente dos céus um lar e mais que isso, uma família.
Ali estava eu com a minha FAMÍLIA! Os amando e valorizando independente das discordâncias, das caras por vezes emburradas. Isso tudo faz parte das relações. Mas o que você aprende através desses momentos é o que faz toda a diferença. Eu pegava cada rusga e cara torta como aprendizagem. Aprendi a silenciar, a olhar para o outro, a relevar. Sim, eu estava amando! Falo do amor genuíno, que não quer nada em troca, que quer dar mais do que receber porque assim já se faz contente. Por vezes pensei que talvez eu tenha demorado muito para entender todo esse processo. Passei um tempo a me culpar porque queria ter feito mais, queria ter amado mais, retribuído mais... Mas hoje busco conforto em saber que cada um de nós, em nossa missão de vida individual, vivemos o que temos de viver, da forma como foi/é. Que bom que deu tempo!
Cresci e em minha primeira infância, num mesmo período que ocorrera um trauma físico/psicológico, fui chamada por uma tia para um diálogo que consistia em abrir para mim a minha história... Foi muito para mim... Não sei ao certo explicar o que me fez sentir tanta raiva, mas era como se eu não pertencesse aquele lugar (em minha trajetória profissional inclusive, me deparei com casos similares de crianças e adolescentes que sentiram o mesmo que eu havia sentido ao saber da adoção) e essa sensação de não pertencimento, de raiva e até mesmo de não merecimento me acompanhou por muito, muito tempo, aliado também a todo o “boom” que uma adolescente passa.
Hoje sou grata! Percebo a importância dos vínculos que independem do sangue, da carga genética... Histórias que se cruzaram, que seguem firmes, ligadas através da fraternidade. Sim! Tenho a melhor família, os melhores laços onde buscamos perpetuar todo amor que a nós foi dedicado e o principal, o seu legado de caridade e amor ao próximo! Em homenagem à mulher que me inspirou em vida a ser a cada dia melhor através da solidariedade e doação de amor: Luiza Mascarenhas Lopes Amor.
Eu ainda estava “cega”... A rebeldia, as frustrações, a separação de meus pais, os traumas... Esse misto de ocorridos que geraram sentimentos negativos, ainda não me permitiam ver a beleza da oportunidade que era ter uma família. Precisei atingir a vida adulta... Alias, não! Eu tinha apenas 19 anos... Eu precisei ter me tornado mãe para saber que eu tinha garantido a grande chance quando minha “mainha” me adotou e me fez filha. Ano 3 | outubro 2020
Jamile Monalisa Jamille.m.amor@hotmail.com Insta: @profa.milleamor 57
revistaestimuladamente.com.br
Minha Estimuladamente Por: Carlos Mussum
Quem sou antes de 1977? Conheçam minha busca.
mas tinha um formato bem parecido com um e estava vinculada à Fundação Nacional do Bem Estar do Menor. Nessa última me formei em Técnico em Uma autobiografia que ainda segue um norte. Agropecuário, no final de 1995. Hoje, com mais de Missão possível: encontrar meu pais. 40 anos, ainda sem pai, mãe, irmãos, tios, avós, sem Há mais de 40 anos, querendo sentir vossos abraços saber a data do meu nascimento, nem mesmo meu sobre meu corpo. nome e sobrenome; sem informações por quem eu “fui encontrado” e como fui parar nesses orfanatos. Você me conhece de verdade? Sabe alguma coisa Em 1977, a equipe da instituição deduziu que eu de mim? tinha uns 3 anos idade, portanto no meu RG tem a data de nascimento 17/12/74. QUAL A É A MINHA FUI ABANDONADO PELOS MEUS PAIS? VERDADEIRA DATA DE NASCIMENTO? QUAL TAMBÉM NÃO SEI! É MEU SIGNO, VERDADEIRO NOME? ENFIM, Até a data de hoje, continuo ainda sem informações Para completar, na minha certidão de nascimento fidedignas sobre meus pais biológicos e demais que ganhei na década de 80 e na minha carteira parentes consanguíneos, sem saber meu nome de identidade carrego o nome de uma mãe que e sobrenome, sem informações sobre como fui também é fictício, Marlene Moreira, igual ao meu encontrado. E a pergunta que fica é: QUEM próprio, Carlos Moreira. Mussum é um apelido que ME LEVOU PARA O ORFANATO? Criado em herdei desses orfanatos. Muitos tem um conceito orfanatos, dos meus 3 aos 21 anos de idade, no errôneo de internato, e acham que na FUNABEM período de 1977 a 1995, onde de acordo com que viviam somente “marginaizinhos” com suas eu ia crescendo, fui transferido para três orfanatos. periculosidades. Sabemos que existem instituições O primeiro que cheguei foi na cidade do Rio de assim, espalhados nas grandes capitais e grandes Janeiro-RJ, depois para Caxambu-MG, em seguida cidades do BRASIL. Essas onde passei, internavam fui transferido para Viçosa-MG e minha última crianças e adolescentes sem seus pais como eu, tidos como abandonadas. E havia os semi-internatos, para estadia foi na Escola Agrotécnica em Rio Pombaaqueles que moravam na cidade, porém tinha suas MG, a qual não era um orfanato propriamente dito, Quem sou antes de 1977? O que vem antes de 1977?
revistaestimuladamente.com.br
58
Ano 3 | outubro 2020
Minha Estimuladamente
vidas dentro na escola até o fim da tarde e depois iam embora para suas casas. Não me envergonho de falar que morei em vários desses orfanatos por muito tempo, apesar de muitos criarem um estereótipo para quem viveu nesses lugares. Foi uma disciplina diferente do que você conhece e possa imaginar, onde tudo era coletivo e sistematizado na forma de se educar centenas de crianças e jovens, muitos iguais a mim, sem ter para onde ir. Não tínhamos uma vida ociosa, era trabalho para cá e para lá. Tínhamos que obedecer a todos tipos de ordens! Lazer? Futebol, televisão, algumas atrações para nos animar e nos confortar. Refeição? Não podia reclamar, pois eles faziam o seu melhor. De 1 a 10, nota 6. Ainda assim, a minha gratidão pelo pão de cada dia na mesa.
Bom, não vou falar muito, vá no meu instagram, lá terá mais informações e fotos. Lembrando que isto aqui não é uma denúncia contra o passado. Sabendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente nascera um pouco tarde (em 1990) com direitos adquirido ao nascer. Uma época em que as coisas eram bem diferentes para nós que éramos tutelados pelo governo federal. Também é compreensível, considerando o contexto da década de 70. Mas ao contrário de alguns inspetores, tinham os que eram ‘gente boa’, mais empáticos, brincavam, contavam piadas, liberando para um momento de lazer do qual o inspetor do plantão anterior nos havia negado e compreensivos quando vacilávamos “sem querer” nos dando mais uma chance. Isso é a escola da vida, não é verdade? Aprendi muito nesses lugares tão diferente que muitos não conseguem nem imaginar o que é passar anos e mais anos sem saber do que seria de você quando saísse, apesar de almejarmos essa saída naquele instante.
Se passei por algumas hostilidades por parte dos que tomavam conta de nós? Não vou mentir, a reposta é sim. Na época, via os orfanatos como um lugar complexo e duro, pois alguns inspetores, como eram chamados aqueles que tinham a incumbência de tomar conta de nós, nos direcionavam para dezenas de atividades que continham nessas escolas. Não eram todos, claro, mas havia aqueles que descontavam na gente suas frustrações, nos castigando do nada, nos impedindo de fazer atividades prazerosas como assistir TV, jogar bola, soltar pipa, brincar de piques... Ficávamos em pé em filas indianas com a distância de braço por horas e quem se mexesse, o de trás podia dar um tapa na orelha, com o consentimento do inspetor. Alguns “SEUS” nos humilhavam verbalmente e até fisicamente ao nos bater. Quero dizer também que muitos eram castigos por algo que eles consideravam errado. As agressões eram muito comuns nesses locais. Como qualquer lugar que tem muitas crianças e adolescentes, víamos muito bullying, que dependendo repercuti para o resto da vida. Brigas e covardias quando os inspetores não estavam por perto ou até com o consentimento deles que algumas vezes deixavam os brigões se pegarem por um tempinho. Na época, algumas eram até engraçadas, mas ficam cravadas na gente, com certos rompantes de raiva interna. Na minha imagem mental, recordo cada momento que não desejo a ninguém, principalmente quando você não tem seus pais e via os pais de alguns internos (que moravam longe) ou do semi-internato fazendo uma visita na escola, onde ficava a pergunta na minha cabeça: e os meus? Ano 3 | outubro 2020
A SAÍDA PARA LIBERDADE: DE QUÊ E DE QUEM? E como parei na cidade de São João Del Rei? No final de 95 em Rio Pomba, ao término das solenidades de nossa formatura, um grande amigo que conhecera dentro desses orfanatos através da arte da dança, me fizera um convite para morar com ele e sua tia Catarina em um bairro simples (Rua do Ouro), numa pequena e acolhedora casa. Na época, eu não fui de imediato, pois passei aproximadamente um mês na casa de outro amigo, na cidade de Ubá-MG, aguardando um documento que estava pendente na Escola Agrotécnica de Rio Pomba. Estava digerindo o que viria depois. Cabeça voada, sem trabalho, sem perspectivas para o que ia acontecer, ou fazer a partir dali, já que agora livre. De quê? Os questionamentos eram tantos que eu ficava parado, sem a iniciativa de um jovem da minha idade. Só me perguntando, e agora? Hoje, sou grato pelos irmãos Josimar, Luciano e sua mãe Delza, Dona Rita, seu filho Robert e seus irmãos em que eu me dividia, passando tempo e dormindo nessas casas e que me ajudaram até então. Estava reconhecendo o que é ser “livre” nessa cidade. Porém, tinha algo a fazer em São João Del Rei-MG, pois já visitara alguns anos antes e estava enamorando alguma coisa aqui. Anderson, conhecido como “Negão Del Rei”, o qual considero até hoje como grande irmão, que foi um dos meus parceiros de dança no internato de 59
revistaestimuladamente.com.br
Minha Estimuladamente
Viçosa-MG, onde fizemos uma bela dupla pela arte da dança e montamos algumas coreografias bem bacanas que deram alguns títulos para a FUNABEM em concursos de danças, em bailes da cidade e apresentações dentro da escolas. Ele e sua tia Catarina – minha também - me receberam de braços abertos nessa linda cidade, no início de 1996, depois de uma afetuosa troca de cartas. Gratidão é a palavra que tenho por essa família.
que “finalmente te encontrei meu filho”. Ao me entregar o dossiê, depois de mais um dia de trabalho árduo, ele perguntara se queria abrir ali, ou quando chegasse na minha casa. Depois de um banho, sentei-me no meu aconchegante e minúsculo quarto, onde meu irmão Anderson não se encontrava e a tia se preparava para fazer a janta. Rasguei o envelope, e corri os olhos nos documentos, foi quando descobri que o meu nome era fictício, também da minha mãe e que minha data de aniversário fora dada por um juiz, nem mesmo um nome de um hospital de nascimento. Quando li, fiquei paralisado por um tempo considerável, depois senti o sal em minha boca das lágrimas que descera sem eu perceber. Essas informações me impactaram, e ainda mexem comigo, pois não contavam como foi que parei nesse meu 1° orfanato. Com uma respiração profunda lembro-me como se fosse hoje, dizendo para mim mesmo, que a partir daquele momento, nada iria me derrubar. Então, aqui estou de pé como um bambuzal, me inclino baixando a cabeça às vezes por reconhecer o quanto sou vulnerável como qualquer ser humano, porém forte e flexível o suficiente durante as tempestades da vida, que ao passar, volto ao meu estado natural, depois que elas se vão.
O DOSSIÊ QUE SALVOU MINHA VIDA. Apesar de ter conhecimento na área de técnico agropecuário, antes de vir para SJDR-MG, acreditava que não era isso que iria seguir, portanto fui me arranjando com trabalhos formais e informais que surgiram, como lavar garrafa para artesanato, roçar e capinar terrenos/hortas, fui ajudante de padeiro e entregador de pães, estoquista de fábrica de quadros, servente de pedreiro, metalúrgico e vendedor de calçados. Mas foi no período de 1999 a 2000 que descobri quem eu realmente sou até o momento. Eu trabalhava em uma obra como servente de pedreiro, fui ficando mais próximo do proprietário da obra, que também era um carioca. Em mais um dia de trabalho, conversa fluindo enquanto fazíamos o intervalo do café, contei a ele a minha condição de abandono e como fui parar em São João del Rei. Ele me ouvira atentamente, pensativo com seu jeito bem filósofo... De repente, ele me fez uma pergunta enquanto peneirava areia para mais uma masseira: “posso tentar encontrar seus pais? Eu tenho um amigo conhecido, um advogado do Rio que pode olhar isso para mim. Só me passa o que tem de informação guardado contigo, tipo nomes, telefones, documentos, enfim, coisas para que ele possa começar a busca”. Passei alguns telefones e pouquíssimas informações, até porque eu mesmo não sabia de nada sobre essa questão. Ele enviou isso para essa pessoa e aguardamos por um mais ou menos um mês. Fiquei na expectativa do que viria de lá. Será que chegara a hora de conhecer ‘os meus de sangue’? Foram dias de espera, bem pensativos. Como seria? A expectativa. Quando chegara algo, foi somente um dossiê dentro de um envelope pardo com remetente Biblioteca Nacional localizada na cidade do Rio de Janeiro. Documento que até então eu não tinha conhecimento. Dentro de um envelope pardo continha alguma coisa e que me matara a curiosidade, já que não chegara ninguém dizendo revistaestimuladamente.com.br
FASE DE EXPANSÃO DE CONSCIÊNCIA. Em 2000, já havia saído de minha antiga religião (Católica), passei a conhecer algumas questões mais espiritualistas, sem dogmas e rituais, mas a massoterapia me ajudou muito, pois tive que ser autodidata nos quesitos massagens e afins, nisso me surgiram várias leituras na linha da auto ajuda, audiolivros, palestras presenciais e virtuais, meditações, relaxamentos, conhecimentos nas técnicas de PNL, constelações familiares, do poder da mente, do subconsciente, técnicas de vibrações positivas e atitudes e afirmações fortalecedoras, Física Quântica, boas amizades e claro, algumas terapias psicológicas, entre outras coisas que o universo oferece. Recorro a esses conhecimentos para superar alguns resquícios de uma infância complexa que volta e meia me chegam numa “crise existencial e de identidade”, com perguntas sem repostas. Reconheço que tenho muitos traumas a ser retirados e retificados para uma cura completa, mas tudo bem! Estou muito satisfeito, pois esses materiais me dão repostas suficientes para quebrar alguns paradigmas e crenças negativos. Me aceitar, me amar e fazer tudo com muita paixão. E por isso, tenho eterna gratidão por 60
Ano 3 | outubro 2020
meus pais biológicos, mesmo sem conhecê-los, por terem me dado a dádiva chamada VIDA. Aqui estou fazendo o meu melhor, trabalhando minha saúde mental, física, emocional e espiritual, com uma voz interna que me parece ser de minha mãe (com papai ao lado) que diz:
VÁ MEU FILHO, VOCÊ PODE NÃO SER “O MELHOR” SER HUMANO DO MUNDO, MAS CONTINUE FAZENDO TUDO COM DEDICAÇÃO E RESPEITO, QUE SEMPRE ESTAREI POR PERTO. Conto essa história, não para que tenham dó ou pena de mim, até porque, sei que esse é o pior sentimento que podemos ter por alguém, ou por nós mesmos. Além de não ajudar, afunda ainda mais o “tal coitadinho”. Acredito que ninguém é culpado por isso. Hoje acolho essa história com esse olhar diferente, pois no fundo, por tudo que passei, não tão foi ruim assim. Um pano de fundo não foi muito bonito, é isso que tive que passar, e com orgulho irei honrar alguns aprendizados que obtive dentro das escolas da vida onde passei. E saber disso, me fortalece!
alegrias como companheiras e harmonia nas atitudes, riqueza na serenidade, dedicação na profissão. Para buscar o norte de tudo que nos faz por merecer o que é bom, tudo que representa a prosperidade. E tem dado certo! E foi para isso que viemos parar aqui, não é mesmo? Parazer, meu nome é Carlos “Mussum” Moreira. O RESILENTE (A busca 2020) TENHO PARATICADO CONTAR minha história nas redes sociais com intuito de o universo me aproximar dos meus de sangue.
Quando percebi com a consciência real, me fortaleci, sem “mimimi”, onde me surgiram muitas coisas boas, e uma delas é minha família de coração e alma - ANDERSON e sua tia CATARINA, que me receberam de braços abertos aqui em São João Del Rei no ano de 1996 e claro, outras famílias DESSAS CIDADES MARAVILHOSAS. As famílias que eu encontrei pelo caminho, em Viçosa-MG, Rio Pomba-MG, Ubá- MG, Belo Horizonte e muitos que passaram por mim e se prontificaram em dizer que eu tinha mais um próximo (denominavam irmão, mãe, pai, amigos/as) ao ouvir minha história. Posso sentir a cada dia!
2020, está sendo um ano de mudanças para todos nós, apesar de muitas notícias ruins. Um ano reflexivo para todos nós, passarmos a valorizar todos os tipos de saúde. Vi em 2020, que seria o momento de postar e falar um pouco de mim sem medo, coisa que havia procrastinado, independente do que vou encontrar no resultado final dessa busca, mas vai valer pena e me proporcionará muito aprendizado. Valerá o esforço para saber de onde eu vim. SERÁ UMA BUSCA FANTÁSTICA! ACREDITO QUE ME DARÁ mais um despertar para a vida. Você que leu isto até aqui, peço que mesmo que não compartilhe as histórias que lerá/ouvirá/fotos vídeos no meu instagram, peço que suas vibrações possam ser direcionadas por um segundo para que possamos obter êxito nessa busca, mesmo que eu não consiga sentir o abraço dos meus sobre meu corpo. Mas, é muito importante para mim.
Ganhei também Sabrina, minha esposa, companheira há mais de 10 anos, guerreira, mestre na sua profissão de psicóloga e nosso filho Rhuan Eshe, que são um achado e tanto. Para meu filho, farei de tudo para lhe apresentar muitas coisas que aprendi e, provar que viver pode ser simples e fácil, mesmo com falhas e contornos difíceis que a vida nos apresenta.
Carlos “Mussum” Moreira moreiracarlos7@gmail.com Insta: @cmm7_motivacao
Com a força interna, a calma na mente, a coragem no coração, o respeito por todos e de todos, as Ano 3 | outubro 2020
61
revistaestimuladamente.com.br