REVISTA
FADESP
Publicação da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa
Ano 1 | n° 1 | Fevereiro / Março / Abril 2021
UFPA 2020-2024 Emmanuel Tourinho fala de conquistas e desafios na nova gestão
PONTE DO RIO MOJU
LEI ALDIR BLANC
Tecnologia e expertise revolucionam obra na Alça Viária
Povos tradicionais do Pará têm acesso aos recursos emergenciais
ÔNIBUS ELÉTRICO Energia renovável e locomoção garantida aos alunos da Ufpa
ÍNDICE
EXPEDIENTE
Fadesp Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa
DIRETORIA
Emmanuel Tourinho Foto: Estúdio Tereza & Aryanne
Editorial
PG 03
Tecnologia
PG 04
Cultura
PG 05
Capa
PG 06
Opinião
PG 08
Integração
PG 09
Por dentro da Fadesp PG 10
Foto: Rodolfo Oliveira / AG PARÁ
Roberto Ferraz Barreto Diretor Executivo Alcebíades Negrão Macêdo Diretor Adjunto Marina Matta Fellipe Pereira Assessoria Jurídica Maria do Socorro Souza Executiva de Negócios Raquel Lima Compras e Importação Moisés Martins Concursos e Seleções João Carlos Oliveira Pena Consultoria e Desenvolvimento Institucional Marcelo Moraes Financeiro e Contábil Marlene Perotes Gestão de Projetos Cláudia Coelho Recursos Humanos Davi Frazão Tecnologia da Informação Elilian Carvalho Secretaria Geral Lorena Filgueiras Imprensa e Comunicação
EXPEDIENTE REVISTA Editora-chefe Lorena Filgueiras (Ascom/Fadesp) MTb/DRT-PA 1505 Reportagens Brena Marques - Ascom/Fadesp Lorena Filgueiras - Ascom/fadesp Projeto gráfico e diagramação André de Loreto Melo Revisão Fabrício Ferreira Bolsista TI Raphael Pena Tiragem 1.000 exemplares
A Revista da Fadesp é uma publicação trimestral institucional da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa. Sua distribuição é gratuita. É proibida a reprodução parcial ou total sem prévia acordância da Fadesp e sem citação da fonte. Nossas redes sociais www.portalfadesp.org.br | @fadesp_ufpa fadespufpa | @fadesp Sugestões, elogios, reclamações: revistafadesp@fadesp.org.br Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa Rua Augusto Correa s/n • Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto / UFPA Guamá - Belém/PA| Cep 66075-110 Telefone geral: (91) 4005.7440 / E-mail geral: centraldeatendimento@fadesp.org.br
EDITORAL
Ciência, uma longa estrada A Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa – Fadesp, fundada em 18/11/1977 pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pela Associação Comercial do Pará, ao longo desses 43 anos de existência, impulsiona-se, envolvendo-se diretamente em questões de interesse regional, nacional e internacional, cujos objetos sejam educação, ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento institucional, entre outros. É credenciada como fundação de apoio da UFPA e autorizada como fundação de apoio da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), do Instituto Federal do Pará (IFPA), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Instituto Evandro Chagas (IEC) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Oriental (EMBRAPA), pelos Ministérios de Educação e de Ciência e Tecnologia, com base na lei 8.958/1994, que trata da relação entre as instituições federais de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica com as fundações de apoio. Como entidade que lida diretamente com o desenvolvimento educacional, científico e tecnológico, vemos com perplexidade essa onda de negação da ciência e tecnologia que estamos vivenciando no Brasil – que chega absurdamente ao ponto de negação da eficácia de vacinas –, porque entendemos que não há outra maneira de promover o avanço de uma sociedade, se não pelo incentivo ao desenvolvimento científico e, consequentemente, do conhecimento. O mais preocupante é que esse movimento negacionista se consolida como política que afeta o Brasil através dos cortes de verbas para as instituições educacionais e de pesquisa, públicas. Nesse sentido, nos juntamos a todos que lutam pela derrubada dos vetos à lei 177/2021, que trata do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT, e nessa luta gostaríamos de enaltecer os empenhos da Academia Brasileira de Ciências, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes, Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – Conif, Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica – Confies, Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa – Confap, Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos CT&I – Consecti e Instituto Brasileiro de Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentáveis – IBCIHS. Considerando as dificuldades vivenciadas por aqueles que militam para desenvolver educação, ciência, tecnologia e inovação neste país, em especial na Amazônia, com enorme felicidade, apresentamos a primeira edição da Revista Fadesp, que esperamos se torne um forte instrumento que colabore para a divulgação do que for desenvolvido por aqueles que promovem inovação e o tripé ensino, pesquisa e extensão nas instituições apoiadas por nós. Oportunamente, gostaria de agradecer aos colaboradores da Fadesp e a todos os parceiros que acreditaram na concretização deste projeto. Nesta edição trazemos, emblematicamente, em sua capa o reitor da maior universidade pública de ensino superior do Norte do país, professor Emmanuel Tourinho, reconduzido ao cargo por mais 4 anos. Em uma consulta acadêmica marcada por quase 93% dos votos favoráveis à sua reeleição, o caminho de volta à Reitoria foi dificultado – fato que torna ainda mais memorável sua nova gestão, que estender-se-á até 2024. Em entrevista concedida a nós, ele rememora tais fatos, as conquistas até o momento, bem como olha para o futuro, com metas e planos ousados. Ainda nas páginas a seguir, mostramos a versatilidade de nossa Fundação, com projetos das mais variadas naturezas, por meio dos quais, contribuímos para uma Amazônia mais plural, desenvolvida, responsável e, sobretudo, orgulhosa de ser um celeiro de cientistas e pesquisadores comprometidos com as transformações do mundo para o mundo. Desejo a todos uma excelente leitura. Roberto Ferraz Barreto Diretor Executivo/Fadesp
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TECNOLOGIA
O futuro é movido à bioenergia Foto: disponibilizada pela equipe do projeto
Desenvolvido pela UFPA, o Sistema Inteligente Multimodal da Amazônia (SIMA) visa promover melhor eficiência energética no Campus Belém, por meio do uso de barcos e ônibus elétricos. A Fadesp atua como responsável pela gestão e administração de todo o recurso do projeto.
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irculando no campus Belém da Universidade Federal do Pará, um ônibus chama atenção: trata-se do veículo elétrico, resultado de um programa de pesquisa e desenvolvimento entre UFPA (por meio do CEAMAZON) e a Norte Energia. Os ônibus, aliás, são os primeiros resultados, mas há ainda há um barco elétrico em desenvolvimento. “Este projeto surgiu de uma chamada estratégica da ANEEL para mobilidade elétrica, a chamada 22/2018. Através desse projeto, surgiu uma rede de Inovação (RISE), que é composta por parceiros que envolvem uma geradora de energia e principal financiadora do projeto, a Norte Energia, diversos laboratórios da Universidade Federal do Pará, liderados pelo CEAMAZON, a FADESP, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Campinas, além de empresas desenvolvedoras de
tecnologia: a BYD e a ABB”, detalha Maria Emília Tostes, pesquisadora, professora e coordenadora do programa. Os dois ônibus elétricos de 324kWh já estão em Belém. Um deles, atenderá a Cidade Universitária José da Silveira Netto, em um trajeto interno. Já o segundo, com capacidade para 44 pessoas sentadas, fará uma rota externa, proposta pelo projeto, entre Belém e Castanhal, no Nordeste paraense. Os postos de recarga do ônibus são 5 (chamados de eletropostos), sendo 4 dentro do Campus Belém e um eletroposto de carga rápida no Campus da UFPA em Castanhal. “São veículos com o novo conceito de sustentabilidade e da eficiência energética relacionada à mobilidade de baixa emissão. A infraestrutura que está sendo adquirida por esse projeto permitirá a criação de um laboratório vivo, em termos
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de novas tecnologias de transporte com o conceito de mobilidade elétrica, geração de energia fotovoltaica integrada com sistema de armazenamento, possibilidade de balanceamento de energia no atendimento de cargas, sistema de comunicação wireless em ambiente de florestas e armazenamento de dados distribuído em nuvem. Além de disponibilizar um ambiente sustentável aos usuários do campus, essa infraestrutura viabilizará o desenvolvimento de novas pesquisas, que permitirão o aumento da produção científica na área, com a produção de dissertações, teses e patentes”, finaliza Maria Emília. A oportunidade de desenvolvimento do projeto na UFPA foi celebrada pelo reitor da Instituição, Emmanuel Tourinho. “Quando soubemos do edital da ANEEL, mobilizamos imediatamente o grupo do CEAMAZON/UFPA, que tem grande competência na área de energias renováveis e eficiência energética, e dialogamos com a Norte Energia, a fim de obter o seu apoio para a proposta que seria elaborada pela UFPA. Felizmente, a iniciativa deu certo e o projeto foi aprovado em primeiro lugar dentre todas as propostas submetidas no país. O projeto colocará a UFPA em um novo patamar de pesquisa e desenvolvimento em uma área que é estratégica para o nosso futuro. Ter a FADESP como parceira na sua execução será importante para garantir o seu sucesso”. A FADESP é a responsável pelo gerenciamento e administração de todo o recurso envolvido no projeto, compra e aquisição da infraestrutura.
CULTURA
Auxílio para culturas tradicionais gem, vulneráveis, sem acesso às condições de saúde, sem poder escoar suas produções, sem poder acessar outras formas de renda que provêm das atividades de pesca, roça, extrativismo da floresta. Foi uma amenidade. A gente sabe que não é o ideal, mas foi uma maneira de amenizar o sofrimento e o agravamento das condições de vida dessas populações”. Segundo Barros, a política é resultado da luta e das articulações dos movimentos sociais que representam esses coletivos. “Na verdade, são essas comunidades que elevam a riqueza cultural da Amazônia, do nosso estado do Pará – que tem proporções continentais, sendo o segundo maior, em extensão territorial em nosso país”, finaliza. Para Úrsula Vidal, titular da Secult, a execução da Lei Aldir Blanc exigiu uma quebra de paradigmas. “Experimentamos novas parcerias, novas normativas jurídicas adaptadas à calamidade, além de abrirmos janelas para modelos inovadores de escuta e construção coletiva. E a Fadesp teve um papel importantíssimo na garantia da democratização dos recursos da Lei Aldir Blanc, com a execução da ‘Busca Ativa’, que cadastrou mais de 4.200 fazedores de cultura em cerca de 700 comunidades ribeiriFoto: Rodolfo Oliveira / AG PARÁ
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ento e cinquenta e quatro prêmios. Esse é o quantitativo total de projetos culturais indígenas e afro-brasileiros a serem contemplados pela Lei Aldir Blanc no Pará. Com execução da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura do Pará, dois editais foram lançados: às culturas indígenas e afro-brasileiras. As inscrições homologadas foram divulgadas no portal e redes sociais da Fadesp, no último dia 1 de fevereiro – espera-se que, em mais alguns dias, o resultado final das premiações seja divulgado. Flávio Barros, professor associado da UFPA e coordenador técnico dos dois editais pela Fadesp, explica que a maneira com que a Lei Aldir Blanc foi aplicada nos dois editais é de suma importância, “primeiro, porque valoriza a diversidade, o patrimônio cultural, a produção cultural feita em nosso estado do Pará. Essa iniciativa reconhece e dá visibilidade à produção cultural que é feita nas aldeias, nos territórios quilombolas, nos terreiros de Umbanda e Candomblé. Valoriza a produção cultural que é feita na floresta, na beira do rio, nos diversos territórios do interior do estado. Diferentemente de outras unidades da federação, que tiveram um entendimento de Arte e Cultura muito focado no contexto da cidade, urbano, a Secult trouxe a perspectiva de ampliar essa noção de cultura”. O Pará valorizou, ao contrário de outros estados, povos tradicionais e suas produções culturais – sejam elas na produção de farinha, passando pelo extrativismo de frutas, até artesanato elaborado por todo um núcleo familiar. “Esses grupos sociais ficaram ainda mais à mar-
Foto: Thiago Gomes / AG. PARÁ
Em iniciativa ímpar, premiações valorizam a produção cultural paraense, com editais voltados à valorização de saberes ancestrais.
nhas, quilombolas, extrativistas e indígenas em todo o Pará. Foi uma ação complexa, realizada em tempo recorde, que envolveu diversas instituições de pesquisa e associações de comunidades tradicionais numa articulação pioneira no país, que ainda está mergulhado nas limitações impostas pela pandemia”, detalha. A parceria deu tão certo, que se estendeu à execução dos editais de Cultura Afro-brasileira e Cultura Indígena. “A expertise adquirida na ‘Busca Ativa’ e o profissionalismo da equipe da Fadesp nos deram a segurança necessária para ‘parceirizar’ a operação destes dois editais, que têm muitas peculiaridades, em função das características do público-alvo. Aprendemos muito com a Fadesp e queremos que cheguem logo outros desafios, para mantermos abertas e ativas as pontes entre nós”, enfatiza Úrsula Vidal. Para acompanhar o andamento da seleção, acesse portalfadesp.org.br
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CAPA
Confiança no futuro Por Lorena Filgueiras Fotos: Estúdio Tereza & Aryanne*
Reeleito com quase 93% dos votos válidos, Emmanuel Tourinho, Reitor da maior instituição superior de ensino de toda a Pan Amazônia, estampa a capa desta edição de estreia. Em entrevista, ele fala das significativas conquistas da Universidade Federal do Pará, sobre os desafios que já se apresentam, em função do cenário atípico e dramático que a sociedade toda vive, além de refletir sobre o papel fundamental das fundações de amparo ao desenvolvimento e à pesquisa, em especial, da Fadesp. Revista Fadesp: Quais as principais conquistas, dos últimos 4 anos, os desafios deste novo período? Emmanuel Tourinho: Uma universidade precisa ser um centro de excelência acadêmica e científica e uma Universidade no Brasil e na Amazônia precisa ser também um grande agente de transformação da realidade social, em favor da inclusão e da cidadania. Trabalhamos sempre nas duas direções e temos colecionado avanços muito significativos. Para citar apenas alguns [avanços], criamos, em 4 anos, 35 novos cursos, sendo 6 de graduação e 29 de mestrado e doutorado. Elevamos nossa produção científica internacional em 40% e o impacto dessa produção, em número de citações internacionais, cresceu 60%. Figuramos como uma das melhores universidades do mundo no ranking do Times Higher Education. Aprovamos a flexibilização curricular dos cursos de graduação para estimular a formação multidisciplinar e criamos o polo UFPA|Mercedários, conferindo uma nova dimensão à nossa atuação nas áreas de cultura e conservação do patrimônio histórico e arquitetônico da Amazônia. Além disso, aumentamos o investimento em assistência estudantil, para garantir a permanência de discentes em vulnerabilidade, criamos novos programas voltados à inclusão de indígenas e quilombolas, além de
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A iniciativa inédita da FADESP reforça o seu compromisso com a UFPA e a projeta como modelo a ser seguido por outras fundações”
fortalecer os programas já existentes, passamos a dar uma atenção inédita aos discentes com deficiência e criamos Processo Seletivo Especial (PSE) para estrangeiros em vulnerabilidade socioeconômica. Estabelecemos colaborações importantes com organizações que atuam na defesa de direitos e promoção da cidadania, tornando a UFPA uma instituição mais presente e parceira na luta contra a desigualdade e a exclusão. Revista Fadesp: E sonhos do reitor da maior universidade pública da Pan Amazônia? Emmanuel Tourinho: Nossa expectativa é de que a UFPA siga se fortalecendo como Universidade Pública, produtora da ciência necessária ao desenvolvimento social e econômico da Amazônia, transformadora da realidade social da região, um grande polo irradiador de ciência, arte e cultura, com respeito à diversidade e à pluralidade de ideias. Revista Fadesp: Vivemos um ano muito atípico, que foi 2020, e com perspectivas de um 2021 ainda desafiador. Como a UFPA avalia o ano acadêmico que passou e como será este ano? Emmanuel Tourinho: A pandemia mudou a vida de toda a sociedade, incluindo as universidades, que tiveram que buscar soluções originais para manter os discentes em atividades de formação. Na UFPA, frente à impossibilidade de retomada das aulas presenciais, adotamos o ensino remoto emergencial. Para 2021, programamos três períodos letivos, em que as atividades poderão ocorrer no formato remoto, híbrido, ou presencial, a depender da “bandeira” epidemiológica vigente em cada campus. A definição das bandeiras para a UFPA, com o detalhamento do que pode ou deve ser feito em cada uma delas, em cada situação usual do nosso trabalho [au-
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las teóricas, práticas, de laboratório, de campo etc.] serve de referência para o planejamento das unidades acadêmicas, mas continuamos sem poder prever quando as mudanças de bandeira acontecerão. Os muitos atropelos que temos enfrentado são inevitáveis nesse cenário e comuns às universidades do mundo todo. Por outro lado, temos estado ativos ao longo de toda a pandemia, servindo à sociedade não apenas com o ensino, mas, também, com pesquisa de problemas relacionados à pandemia, extensão, assistência à saúde, como no atendimento a pacientes da COVID-19 no Hospital Universitário João de Barros Barreto, produção de insumos para a proteção da população, realização de exames diagnósticos e treinamento de equipes de saúde. As Universidades Públicas, assim como o Sistema Único de Saúde – SUS, têm demonstrado ainda mais intensamente a sua importância para a sociedade nesta conjuntura de crise sanitária e humanitária. Revista Fadesp: Como driblar a diminuição do orçamento das universidades públicas?
Emmanuel Tourinho: Temos que lutar permanentemente para recuperar um padrão adequado de financiamento público para as Universidades Federais. Precisamos também dialogar com potenciais parceiros, buscar emendas ao orçamento junto à Bancada Parlamentar do Pará e mapear oportunidades de captação de recursos adicionais. A UFPA precisa não apenas manter as atividades que já realiza, mas continuar se desenvolvendo, concebendo e executando novos projetos que representem maior impacto na região. Isso requer investimento e parcerias com vários atores na sociedade.
nhecimentos, mas para interrogar os discursos que circulam em todos os espaços e para solucionar problemas complexos. O processo formativo deve priorizar a interação com situações concretas que permitam desenvolver as capacidades de análise e de elaboração de respostas, assim como a atuação em ambiente multidisciplinar. Colocar os alunos por mais tempo em laboratórios é parte desse esforço, desde que tenhamos bons laboratórios, com boas propostas pedagógicas, o que requer investimentos consideráveis. O LabInfra atende essa necessidade.
Revista Fadesp: Qual o papel da Fadesp e sua importância para as Instituições que ela apoia – em especial à UFPA? Emmanuel Tourinho: A Fadesp cumpre um papel fundamental no desenvolvimento da UFPA, sendo parceira na execução de projetos acadêmicos, na interação com entes financiadores da pesquisa e no suporte a ações institucionais. Sem essa parceria, muitos projetos ficariam inviabilizados e limitariam o impacto da UFPA no estado. Com o sucesso na sua organização interna, a FADESP também teve condições de apoiar a UFPA, em 2020, em um dos principais programas para o avanço do ensino de graduação, o LabInfra, Programa de Apoio à Infraestrutura de Laboratórios de Ensino. Essa iniciativa inédita da FADESP reforça o seu compromisso com a UFPA e a projeta como modelo a ser seguido por outras fundações.
Revista Fadesp: É inevitável lhe perguntar sobre todo o momento que culminou com sua nomeação, no dia 14 de outubro de 2020, após um período de muitas incertezas... Emmanuel Tourinho: Daqui a um tempo, talvez tenhamos uma medida mais exata do que representou todo o processo que culminou com a nomeação para o novo mandato. Pessoalmente, vivi esse período com o entendimento de que era parte de um tensionamento político que transcendia a própria UFPA, tendo o dever e a alegria de liderar uma grande resistência em defesa da Universidade Pública. Quando soube da nomeação, no dia 14 de outubro passado, fiquei muito feliz e emocionado – pela vitória de toda uma comunidade que lutou por democracia e por autonomia das Universidades Públicas e pela possibilidade de dar continuidade a um projeto a meu ver importante para todo o estado do Pará.
Revista Fadesp: O senhor mencionou o LabInfra – qual o impacto dele na formação acadêmica? Emmanuel Tourinho: Precisamos atualizar o nosso modelo de formação na graduação. A sala de aula tradicional não tem mais o mesmo papel de décadas atrás. Hoje, há informação abundante (e desinformação) facilmente disponível para qualquer aluno que tenha um aparelho ligado à internet. As universidades precisam formar pessoas não apenas para acessar co-
Revista Fadesp: Por fim, Reitor, gostaria de falar da importância da Ciência, especialmente neste momento em que esperamos ansiosamente pela vacina. O senhor, em um artigo emocionante publicado em uma revista de circulação nacional, falava sobre como somente a Ciência e Solidariedade nos salvariam. Nesse sentido, como maior celeiro de cientistas de toda a Amazônia, como contribuir e valorizar para/a produção desse conhecimento?
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Emmanuel Tourinho: A pandemia tem trazido muitas lições para quem consegue vê-las. Aprendemos com ela, mais do que já sabíamos, por exemplo, sobre o enorme valor do Sistema Único de Saúde – SUS e das Universidades Públicas, onde se produz a ciência que está salvando vidas. Precisamos, ainda, que fique mais evidente que essa pandemia não é um problema fortuito ou episódico. Ele resulta, em grande medida, do modo como organizamos a nossa vida em sociedade e como alteramos os nossos ambientes naturais. Organismos que não circulavam em ambientes urbanos agora estão entre nós e são vetores de doenças que não conhecemos e com as quais não sabemos lidar. A ciência será cada vez mais indispensável para enfrentarmos essas ameaças à saúde pública. E não haverá saída só para alguns. Ou cuidamos de todos, ou ninguém estará protegido. Temos motivos adicionais para lutar por uma sociedade que valorize a ciência e que promova a cidadania plena para todas as pessoas, com saúde, educação, moradia e segurança. O que me entusiasma na Universidade é que nela lutamos por isso todos os dias.
(*) As fotos foram feitas respeitando todos os protocolos de segurança, com distância de mais de 3 metros entre o reitor e as fotógrafas. A entrevista foi concedida presencialmente, com uso de máscaras e distanciamento de mais de 3 metros.
OPINIÃO
A saga das fundações de apoio contra a burocracia Por Fernando Peregrino*
Talvez ninguém imaginasse que ao ser criada a Lei 8958 em 1994, portanto há 27 anos, fôssemos passar por tanta burocracia ainda no país, sobretudo quando se trata de pesquisa. A lei respondia a uma demanda da comunidade acadêmica para simplificar o processo de importação de um insumo para pesquisa, por exemplo. Reconhecidamente, lidar com a papelada e as proibições para realizar um projeto de pesquisa e inovação era como enfrentar um mar revolto com um pequeno barco sem remo. As fundações de apoio nasceram para dar conta desse problema. Vieram para realizar compras rápidas, importar de forma simplificada e sem imposto, contratar força de trabalho auxiliar, construir laboratórios etc. Tudo que a burocracia pública não conseguia fazer com eficiência. A presença de uma fundação de apoio para gerir o que uma autarquia não consegue fazer, com a flexibilidade que se exige de projetos de ciência e tecnologia, é, sem duvida, uma jabuticaba. Não há precedente na administração pública, ter uma entidade privada, independente, para administrar os meios da pesquisa. A rigor bastaria a burocracia pública entender o fim a que se destina e criar normas coerentes e flexíveis com esse objetivo. Mas quem pensa assim não conhece como uma burocracia nasce e se mantém. Como imaginou Max Weber (séc. XX), a burocracia é uma organização formada por um grupo de funcionários bem pagos, com estrutura hierárquica definida, previsibilidade no fazer e um conjunto de leis e normas que devem ser obedecidas –quase tudo o que um projeto
de pesquisa não precisa. Afinal, como disse o famoso filósofo italiano, Umberto Eco, um projeto de pesquisa é como um plano de uma viagem: você sabe onde quer chegar, mas não sabe se pode mudar seus planos durante o percurso. Ora, a burocracia e suas leis não permitem que você mude seu projeto sem refazer orçamento e cronograma, além de o próprio contrato. Para o pesquisador, essa mudança deve ser feita sem formalidades, do contrário, ele pode perder a oportunidade de testar sua hipótese. Imagine, um pesquisador querendo medir a força de choque de uma onda no oceano sobre uma plataforma de petróleo. Se essa onda ocorre de 100 em 100 anos, um atraso poderá lhe custar o cronograma e a viabilidade. Imagine o teste de uma vacina no verão: se o material não for comprado a tempo, pode-se atrasar um cronograma e inviabilizar o projeto a tempo de implantar a vacina. Mas Weber não imaginou que a burocracia era tão resiliente, como um ser vivo que ressurge com mais força a cada golpe contra ela. Vejam o caso do Marco Legal, um conjunto de leis voltadas para flexibilizar a gestão da pesquisa: em 2015, uma emenda à Constituição autorizava que um plano de ciência e tecnologia pudesse mudar suas rubricas sem anuência prévia do Congresso Nacional. Nenhum setor da Administração Pública tem esse privilégio, apenas o nosso. Em 2016, a Lei 13.243 do Marco Legal definia que as compras seriam flexíveis, e o decreto 9.283, em 2018, estabelecia que as prestações de contas seriam presididas pelo relatório técnico do projeto – e menos pelas forma-
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lidades. Tudo ao contrário do que se adota hoje, 5 anos depois. Segundo levantamento do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica - CONFIES, pesquisadores de várias universidades, em 2020, disseram que a burocracia aumentou, e muitos acusam a burocracia da própria universidade de ter ampliado seus cordéis e fortalecido uma política do controle pouco inteligente. Tomemos o exemplo de o pesquisador ter de contratar um fiscal para um projeto de serviços para uma empresa. Quer coisa mais absurda? Não deveria a empresa ter um fiscal para verificar o cumprimento do projeto contratado? O Brasil amarga a 62ª posição no índice global de inovação, perdendo para Argentina, Chile, México e Costa Rica. As Universidades, entre elas a UFPA, produzem 95% da ciência brasileira. Mas, em compensação, não conseguem transferir esse conhecimento para a sociedade, em grande parte por conta da burocracia. Essa é a luta principal das fundações de apoio e do CONFIES. Persistentemente estamos em guerra contra esse mal que assola o país. (*) Fernando Peregrino é diretor da Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos COPPETEC e presidente do CONFIES.
INTEGRAÇÃO
Ponte para o progresso
Após um acidente, que culminou na destruição do vão central da antiga ponte sobre o Rio Moju, o governo do Estado viabilizou, por meio de contrato com a Fadesp, o projeto de reconstrução de uma das principais vias da Alça Viária.
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uando a ponte sobre o Rio Moju teve seu vão central demolido, após um choque de uma embarcação clandestina, que navegava pelo local, na madrugada do dia 6 de abril de 2019, o impacto físico também se fez imediatamente presente na integração de Belém com o restante do Pará – por tratar-se de uma importantíssima e estratégica parte da Alça Viária. Na ocasião, por meio de uma solicitação da Secretaria de Estado de Transporte - SETRAN, a Fadesp apresentou um projeto de estudo técnico de reconstrução da ponte, assinado pelo professor da UFPA e Engenheiro Civil Remo Souza. Com vasta experiência em projeto, avaliação e recuperação de pontes, Souza assumiu a coordenação geral do contrato, além de ser coordenador responsável e técnico pela elaboração dos projetos da ponte. Remo Souza reuniu os melhores nomes em todas as áreas relacionadas para conduzir a elaboração dos projetos básico e executivo de uma ponte estaiada, sobre o vão central do rio Moju, visando reestabelecer a trafegabilidade de parte da Alça Viária que foi afetado pelo desabamento da então ponte existente nesse rio, bem como a elaboração de um outro projeto de navegabilidade e sinalização da travessia provisória de veículos no rio Moju, por meio de balsas e empurradores, como alternativa temporária para reestabelecer o tráfego de veículos no trecho sinistrado. Ao projeto, juntou-se ainda o professor Hito Braga de Moraes, docente e diretor adjunto do Instituto de Tecnologia/UFPA, para fazer o projeto da travessia e defensas da ponte. A solução de construir uma ponte estaiada foi pensada para reduzir os riscos de novos impactos. Dotada de vãos maiores, o objetivo seria permitir a passagem das embarcações com maior espaço e segurança. Assim foi desenvolvido o projeto, concomitantemente com a retirada dos escombros e da parte danificada da funda-
ção. “A Fadesp foi muito parceira do Governo do Estado do Pará, com uma atuação primorosa no cumprimento de prazos e criando um ambiente propício e favorável ao desenvolvimento das atividades na qual ela foi contratada, não deixando faltar nada aos seus colaboradores, que fizeram um trabalho exemplar, mostrando que existe uma grande competência instalada na Fadesp/UFPA para resolver os desafios que se apresentam no Estado”, declara Hito Moraes. Mais que demonstrar a vocação natural de uma região em que as águas atravessam caminhos, o projeto inédito de construção de uma ponte estaiada sobre o rio Moju, evidencia o protagonismo local de professores da UFPA, que elevaram todo o processo com conhecimento, ciência e tecnologia. Coube à Fadesp também um ineditismo, que explicita todo seu dinamismo e versatilidade: ser a primeira fundação de apoio, no Norte do país, a assumir e conduzir um projeto de ponte estaiada nova, bem como suas defensas flutuantes – um caminho pavimentado para o futuro.
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Profissionais envolvidos no projeto estrutural da Ponte foram: • Prof. Dr. Hito Braga de Moraes • Prof. Dr. Remo Magalhães de Souza Profissionais envolvidos no projeto da travessia e defensas foram: • Prof. Dr. Hito Braga de Moraes • Prof. Dr. Nélio Moura de Figueiredo • Prof. Dr. Pedro Igor Dias Lameira • Prof. Msc Emannuel Sant´thiago Pereira Loureiro
POR DENTRO DA FADESP
Covid-19
Museu Goeldi
foto: JLPizzol - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https:// commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=43826102
Ainda em dezembro de 2020, em reunião virtual, realizada pelo Ministério da Educação/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, foi renovada a autorização para que a Fadesp continue a atuar como fundação de apoio do Museu Paraense Emílio Goeldi.
“O bem estar de todos depende de cada um” Desenvolvida internamente para conscientizar e orientar os colaboradores da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, a campanha envolveu todos os setores. Além de um manual de cuidados no ambiente profissional, papeis de pares, cards e reforço de sinalização visual foram algumas das peças adotadas.
Testagem Dando continuidade à segunda fase da campanha de conscientização e prevenção à Covid-19, no dia 11 de janeiro, todos os colaboradores lotados no prédio-sede da Fadesp passaram pela coleta de sangue para exame sorológico. Inúmeros protocolos de segurança foram reforçados para que a coleta fosse feita: além do número restrito de pessoas na sala, todos receberam fichas (com objetivo de obter mais detalhes sobre o estado de saúde, bem como eventuais sintomas de cada um) e canetas individuais. Os resultados já estavam disponíveis 48 horas depois. Vale ressaltar que a Fundação restringiu o atendimento presencial ao público externo, estimulando as consultas e reuniões por meios digitais (e-mail, telefone e videoconferências).
Belém 405 anos Para celebrar o aniversário da capital paraense, a Fadesp colocou no ar, em seu portal, uma playlist só de músicas paraenses. Para ouvi-la você pode acessar pelo QR code.
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Conhecimento constrói o futuro Sustentabilidade e inovação são partes fundamentais do nosso DNA. Com o objetivo de desenvolver soluções tecnológicas sustentáveis, a Hydro Alunorte e a Universidade Federal do Pará (UFPA) firmaram parceria para a realização de pesquisa sobre a produção de cimento de baixo carbono a partir do resíduo de bauxita.
hydro.com/brasil
A pesquisa visa a produção sustentável de cimento com baixo carbono, e está diretamente associada à meta de sustentabilidade estabelecida pela Hydro para mitigar seu impacto ambiental, apoiando a criação de um futuro mais viável para todos.
@hydronobrasil
Saiba mais sobre esse e outros projetos de pesquisa e desenvolvimento:
@hydronobrasil
Norsk Hydro