Revista Global Expedition #49 "Especial Dakar 2023"

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EDIÇÃO ESPECIAL DAKAR

DAKAR 2023 ESSENCIAL
KEVIN BENAVIDES. UMA VITÓRIA AO SPRINT. E QUE SPRINT! RICARDO PORÉM E JOÃO FERREIRA INSCREVEM OS SEUS NOMES A DOURADO NA HISTÓRIA DA PROVA. O DAKAR NUNCA MAIS SE VAI ESQUECER DELES! A CONSAGRAÇÃO DE NASSER AL ATTIYAH COMO O "SENHOR DO DESERTO"

SÃO OS CONCORRENTES QUE ELEVAM O ESPÍRITO DO DAKAR

Quando Thierry Sabine se perdeu de mota no planalto de Tchigai, no sopé da montanha de Emi Fezzan, durante o rali Abidjã-Nice, resgatado das areias in extremis, não era um profeta, nem um mentor, um visionário ou um organizador, não, não era. Era um simples concorrente com uma pitada de loucura inerente, que se perdeu num lugar inóspito, profundo, aterrador mas ao mesmo tempo belo. Estive, com um grupo de amigos (o saudoso grupo expedicionário Amigos do Camelo), no planalto Tchigai em 1999, levado pela minha paixão por desertos. Um sitio localizado nas linhas divisórias das terras de ninguém, entre a Líbia, o Niger e o Chade.

Tentei interiorizar o que Sabine sentiu naquele ermo, perdido, fragilizado, confuso, sem comer e à mercê de temperaturas altamente elevadas durante o dia e gélidas durante a noite. Impossível. Como se pode falar do que não se conhece, do inominável?

Talvez, tivesse adotado a postura de João Batista, citada na Bíblia, para quem o deserto representava um lugar especial onde teria condições de se afastar das incoerência da vida, a fim de ouvir as ordens do seu Deus. Reza a lenda que não foi assim, consta até que chegou a tentar o ritual de morte imuage: expor a cabeça ao sol no pico do calor para que a língua inchasse e provocasse asfixia. Uma morte lenta e dolorosa que pode levar mais de uma hora. Também não acredito que fizesse isso. A única vez que que troquei algumas palavras com Sabine,

foi no Trocadéro, em Paris, há mais de 40 anos. Eu, era um jovem em inicio de carreira e não tive coragem de lhe perguntar, talvez por cobardia, talvez com medo de uma desilusão. Na época, Sabine, era para mim um deus, um deus humano. Mal sabia que era “apenas” um concorrente.

Na época, Paris vivia um período extraordinário: quem o viveu sabe bem disso. A época de todas as liberdades e de todas as experiências e Paris era o laboratório do mundo. Convivia-se com pessoas conhecidas e desconhecidas: as estrelas e o anónimos; o jet set e os falidos, todos misturados. Tanto se podia viver com pouco dinheiro e ao mesmo tempo com luxo e sofisticação: passávamos de ocupas para recepções em palácios! Acreditávamos que o futuro nos pertencia mesmo que não fosse assim. Não havia lugar para esmiuçar tentativas de suicídio desta ou daquela forma, a ordem era para seguir em frente, viver com uma flute de champagne na mão mesmo que isso nos levasse ao precipício.

Além disso, a minha fé não se revelou mais no deserto do que no meio da confusão citadina. Como escreveu Théodore Monod, o explorador do absoluto, “Os homens não estão de um lado e o deserto do outro”. Portanto, com delírios de quem está às portas da morte quero acreditar que Sabine tentou por todos os meios sobreviver. Era um homem movido pela aventura que se inscreveu num rali e acabou por se perder. Um concorrente perdido que tudo fez para sobreviver. A sua

paixão pelo deserto levou a que todos e muitos mais quisessem experienciar as partes mais brancas dos mapas: Os Empty Quarter deste mundo. Foi elevado à posição de deus, de profeta do deserto mas, como todos sabemos, o dia 14 de janeiro de 1986, veio provar o contrário.

Quando olho para a lista de concorrentes destes 45 anos de “Dakar”, desde os tempos de “la Folie” onde poetas, atores, cantores, empresários, políticos, convidados excêntricos se faziam fotografar ao lado de Porsches e Rolls Royces para a Paris Match, até ao domínio das Marcas Oficiais com investimentos de milhões e pilotos de elite, a maioria dos concorrentes sempre foram os anónimos, simples cidadãos, concorrentes, movidos pela aventura, pela descoberta, onde muitos se perderam e outros perderam a vida. São estes que elevam o espírito do “Dakar”. Em cada uma destas mulheres e em cada um destes homens, no coração destas pessoas existe o espírito de Sabine. Cada um deles, à sua maneira, é um Thierry Sabine,

Independente dos pretodólares, dos interesses financeiros da Amaury Sport Organisation e dos planos de marketing das marcas oficiais, o “Dakar” só perdura enquanto a maioria dos anónimos apaixonados pela aventura, pelos motores e pela beleza inóspita dos desertos, quiser... Enquanto o espírito de Thierry Sabine prevalecer. Afinal de contas, ele era só um concorrente.

3 EDITORIAL
João Ferreira / Filipe Palmeiro / Yamaha YXZ 1000 R Turbo. Os seus objetivos são: "aprender, adquirir experiência e chegar ao final".
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PRICE E EKSTRÖM AO SEGUNDO

Os percursos de curta distância junto à praia são um clássico do Dakar. Desde a passagem pela praia para alcançar o ponto de chegada no mítico Lago Rosa, no Senegal, ainda no século XX, até à partida da Playa Agua Dulce, em Lima, no Peru, já no século XXI, o mar foi muitas vezes o cenário das partidas e chegadas do “Dakar”.

Para a abertura das hostilidades nesta

45ª edição, o relógio começou a contar junto ao mar Vermelho perto de Yanbu que tem um história com mais de 2500 anos. Costumava ser o principal terminal de embarque na histórica rota comercial de incenso que passava do Iêmen e do Egito para os países mediterrâneos.

Na época da Primeira Guerra Mundial, Yanbu era a base operacional das forças britânicas e árabes que lutavam contra

os otomanos. Em 1916, os otomanos entregarem Yanbu. Depois disso, permaneceu uma cidade portuária relativamente pequena até 1975, quando se tornou um importante centro industrial da Arábia Saudita. A cidade assistiu a um rápido desenvolvimento e grandes projetos de infraestrutura depois disso.

Durante os 13 km do percurso, os concorrentes encontraram uma pista sinuosa e arenosa, preparada para a ocasião. Toby Price (KTM) e Mattias Ekström (Audi RS Q E-Tron E2) foram os primeiros vencedores do Dakar, nas motos e automóveis, respetivamente. Um vitória suada ao segundo.

Não é novidade nenhuma para experientes e inexperientes que aqueles 8/9 minutos de emoções fortes - que representam apenas 0,3% da distância total - servem para decidir posições de partida, descomprimir a

tensão dos últimos dias, agarrar o ritmo e, porventura, detetar alguma anomalia. Mas o veredicto não deixa de fazer as delicias de quem se distinguiu pela agilidade e rapidez.

É o caso de Toby Price que nas ultimas duas competições em que participou registou duas desistências: a primeira na Baja 1000 com o carro em chamas e depois devido a uma queda no Rali de Marrocos. O australiano não ficou bem na fotografia e muito menos perante a tribo KTM mas, ainda assim, conseguiu vencer a sua 16ª especial do

Dakar , um ínfimo segundo à frente do compatriota Daniel Sanders (Gasgas 450 Rally Factory). Atrás desta dupla do fim do mundo, é o Botsuano Ross Branch (Hero) quem completa o pódio, mostrando que o construtor Hero está pronto para discutir as posições cimeiras colocando, inclusivamente, o nosso Joaquim Rodrigues na 6ª posição.

Nos automóveis, Mattias Ekström que havia sido o melhor piloto da Audi (9º) na edição de 2022 regressava ao serviço com eficiência máxima. O sueco

PRÓLOGO SEA CAMP > SEA CAMP > ESPECIAL DE 13 KM
O PRÓLOGO

oferece-se novamente a este prazer que é vencer para iniciar a sua terceira participação no Dakar, superando também o vice-campeão em titulo por um ínfimo segundo.

Entre os T3, o clã Red Bull meteu as mãos no prólogo, com Cristina Gutierrez (Can-Am Factory) dois segundos mais rápida que Seth Quintero (Can-Am Factory), enquanto que o seu antigo companheiro de equipa Guillaume De Mevius fechou o pódio.

Ricardo Porém, que está na sua quarta participação nesta prova, alcançou o 6ª melhor tempo aos comandos do Yamaha YXD 1000 R Turbo, acompanhado pelo argentino Augusto Sanz, sendo o melhor português.

O jovem João Ferreira de 23 anos de idade acompanhado pelo experiente Filipe Palmeiro aos comandos do Yamaha YXD 1000 R Turbo, foi o segundo melhor rookie do dia, posicionando-se na 17ª posição da Geral. O Campeão Nacional Absoluto de Todo-o-Terreno optou por uma toada mais defensiva que lhe proporcione nesta sua primeira participação alcançar os seus objetivos: "aprender, adquirir experiência e chegar ao final".

Nos camiões, a ausência dos Kamaz consequência da condenável invasão russa a um país soberano, a Ucrânia, veio dar mais equilíbrio à disciplina. Martin Macik (MM) conquistou a pole position, conquistando a 4ª especial da carreira na frente do jovem Mich Van den Brink (Iveco) com a diferença de 5 segundos, adivinhando-se assim uma luta renhida entre checos e neerlandeses.

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Ricardo Porém/Agusto Sanz/ Yamaha YXZ 1000 R Turbo Carlos Sainz “El Matador”
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SUNDERLAND AO TAPETE E SAINZ VOA PARA A VITÓRIA

A primeira etapa distanciou-se da brisa do Mar Vermelho, o mesmo mar tropical, quente e muito salino que protagonizou um dos episódios míticos mais relevantes da Bíblia, quando Moisés conduziu o povo hebreu até à liberdade, utilizando o poder divino para dividir as águas.

Deixando o Mar Vermelho na sua imortal sumptuosidade, a primeira etapa com 367 Km impõe duas partes distintas. A primeira pontuada por troços rochosos e pedras pontiagudas, colocando todos de sobreaviso, não o suficiente para não evitar a queda do piloto inglês da GasGas, Sam Sunderland, forçado a desistir. E, uma segunda parte, com troços mais ondulados, entre vales e pistas arenosas, onde Carlos Sainz e Daniel Sanders, os vencedores da etapa em Auto e Motos respetivamente, deram aso à sua velocidade de ponta. Como recompensa, os pilotos e as tripulações regressaram ao Sea Camp pela lindíssima estrada costeira ao longo de mais de 200km.

De facto, não basta ser consistente e ter status de piloto prioritário para

dominar o Dakar. Sam Sunderland, o atual campeão do mundo e vencedor da ultima edição pagou caro, mais uma vez, e vão seis, a crueldade da prova da qual saiu com muitas dores após uma queda aparatosa ao 52 Km de corrida.

O deserto é belo, não mente, não se lamenta mas não é complacente: odeia o vácuo e os papéis principais foram rapidamente ocupados, primeiro, pelo jovem norte-americano Mason Klein em KTM (um dos onze pilotos norteamericanos presentes na categoria) que por um triz não venceu a etapa. Uma penalização, por excesso de velocidade adiou este excelso momento na vida de qualquer motard. E, foi outro representante dos States, Rick Brabec (Honda CRF 450 Rally), que adicionou ao seu espólio a 9ª vitória em Especiais, assumindo a liderança do rali.

Entre os mais fortes o destaque vai para os pilotos Kevin Benavides e Toby Price (KTM) que completaram o pódio da geral à frente do experiente Joan Barreda (Honda) que não chegou ao pódio, por uma grande penalidade.

António Maio (Yamaha), Campeão Nacional de Todo-o-Terreno (Motos) cumpriu a primeira etapa na Arábia Saudita completando os 367 km na16ª posição, reservando um lugar no TOP 20 da classificação geral.

ETAPA 1. SEA CAMP> SEA CAMP LIGAÇÃO > 234 KM - ESPECIAL 367 KM

Na disciplina Auto, foi outro espanhol, caçador de pódios, que “voou” para a vitória da sua 42º Especial, e a sexta desde que chegou à Audi. Falamos naturalmente de Carlos Sainz “El Matador” que, inclusive, recebia a visita do seu filho Carlos Sainz Jr. No fundo, “El Matador” como um bom

pai deu um bom exemplo ao filho e domina a hierarquia com 10 segundos de vantagem sobre Sébastien Loeb (Bahrain Xtreme), outro voador.

Nos T3s, o vencedor da edição 2022, o veterano “Chaleco” Lopez (CAM-AM XRS), assumiu o controlo ao vencer

a Especial, o que já não acontecia há dois anos, enquanto o belga Guillaume de Mévius (Grall OT3) atrapalha o desfile vitorioso da Can-Am e mete um pauzinho na engrenagem ao conquistar a segunda posição à frente do norteamericano Seth Quintero.

Nas cores lusas, João Ferreira (Yamaha

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Daniel Sanders (Gasgas)

YXZ 1000 Turbo), o nosso rookie, registou a 6ª posição, sobe onze posições na classificação geral e é o rookie mais bem classificado da categoria.

Na classe T4 assistimos a uma discussão acesa entre superdotados, o vencedor e líder da Geral, Eryk Goczal (BRP) e o

seu perseguidor-mor do dia, o catalão Pau Navarro (BRP).

Nos pesos-pesados, Martin Macik (MM) e a sua tripulação repete a vitória do dia anterior e consolida a sua posição de líder, com mais 5 minutos que Ales Loprais, aos comandos do nosso já conhecido Praga V4S DKR.

Os putos na frente! É uma obra coletiva que foi realizada pela geração ascendente na categoria T4.É simplesmente o piloto mais jovem da história do Dakar, Eryk Goczal, com apenas18 anos, vence a primeira etapa que disputa no Dakar. Inédito! O seu talento já havia sendo anunciado há muito tempo pelo pai e pelo tio, eles

próprios colecionadores de pódios, nos últimos anos. Afinal de contas, não se manifestavam em elogios ao puto só por orgulho familiar...

Outro, piloto que faz brilhar a safra de 2004, é o catalão Pau Navarro. Já tinha dado nas vistas no Rali da Andaluzia, onde venceu a categoria. E, não é preciso descer muitos degraus no ranking para

encontrar o brasileiro Bruno Conti de Oliveira, também de 18 anos de idade - muito bem acompanhado pelo português Pedro Bianchi Prata – que também já encontrou um lugar no TOP 10.

A dupla Hélder Rodrigues / Gonçalo Reis / CAN-AM, ocupa a 7ª posição da geral.

O duro golpe do dia. Com Sam Sunderland ou é tudo ou nada. Ele é mesmo assim. O britânico começou bem este Dakar, partiu na 22ª posição, estabeleceu o tempo mais rápido ao passar pelo primeiro check-in ao km 37. Mas no quilómetro 52, Sam foi ao tapete. Consciente e móvel, queixavase das costas foi levado de helicóptero para o hospital de Yambu, onde foi diagnosticada uma fratura da omoplata. Desde a sua chegada ao Dakar em 2021 “SunderSam” desistiu seis vezes. Nas outras vezes, fez sempre parte do pódio e por duas vezes, no lugar mais desejado do pódio. 20% de vitórias, 20% de pódios e 60% de abandonos, são as novas estatísticas deste excelente piloto que continuam a ser muito lisonjeiras.

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Nesta edição, já não vamos ver mais a "mão de leão" de Sam Sunderland. O Km 52 definiu a sua desistência.
ETAPA 1. SEA CAMP> SEA CAMP LIGAÇÃO > 234 KM - ESPECIAL 367 KM
Sébastien Loeb (Bahrain Xtreme) Eryk Goczal (BRP Can-Am) , categoria SSV T4, vence a primeira etapa que disputa num Dakar, com apenas 18 anos.

X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM

ETAPA 1

MISSÃO CUMPRIDA

João Ferreira (Yamaha YXZ 1000 Turbo) registou o sexto lugar na etapa e subiu onze posições na classificação geral, depois de ter sido 17ª no prólogo disputado no último dia de 2022.

Ricardo Porém (Yamaha YXZ 1000 Turbo) foi 11ª classificado na etapa, descendo algumas posições na geral.

Depois da publicação do horário de partida para a primeira etapa, o habitual reposicionamento de alguns pilotos, fez com que Ricardo Porém caísse trinta e cinco lugares na ordem de partida da primeira etapa (78º) e João Ferreira caísse catorze lugares, partindo na 92ª posição. Estas posições de partida não alteram a classificação mas, o facto de partirem mais atrás, faz com que os pilotos portugueses encontrem mais camiões e pó pela frente, bem como o piso muito mais degradado, que à partida não lhes permite fazer uma etapa “limpa”.

No entanto, Ricardo Porém mostrava-se satisfeito” Terminámos agora a primeira etapa onde conseguimos um bom registo, tendo em conta o ritmo tranquilo que colocamos. Não forçamos, pois, havia muita pedra e eram os primeiros quilómetros cronometrados de corrida com o Augusto Sanz. Encontrámos o nosso ritmo e um furo acabou por nos atrasar ligeiramente, mas nada de preocupante.”

Já, João Ferreira estava bastante satisfeito com a sua prestação, apesar das limitações que acabou por encontrar: “Etapa 1, missão cumprida. Concluímos em sexto lugar a subimos na Geral. Uma etapa muito difícil , tendo em conta a ordem de partida com que fomos

brindados mas, esta situação, acaba por nos permitir evoluir e aprender muito para o futuro na competição. Estamos

muito satisfeitos com o

neste que é a minha primeira etapa de sempre num Dakar”.

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resultado Ricardo Porém / Augusto Sanz / Yamaha YXR 1000 R Turbo João Ferreira / Filipe Palmeiro / Yamaha YXR 1000 R Turbo AL Rajhi (Toyota Hilux)
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FUROS E FUROS, LOEB E COMPANHIA

Deixando o Sea Camp, onde o bivouac Dakar esteve montado quase uma semana, a caravana converge para o interior da Arábia Saudita, onde um casaco polar sabe muito bem durante o fresco matinal. A jornada, apresenta

um troço com características de montanha, pistas estreitas a subir até aos 1300 metros acima do nível do mar, à passagem a meio da Especial.

Existem poucos lugares no mundo

onde ainda podemos explorar o desconhecido. Em muitos destinos históricos, a ilusão da descoberta é prontamente destruída por uma “selva” de bastões de selfies. Mas na região de AIUIa que guarda o primeiro

ETAPA 2 > SEA CAMP > AIUIA LIGAÇÃO 158 KM > ESPECIAL 430 KM

Mason Klein (KTM) Do inóspito e belo à vitória da Especial do dia.

Património Mundial da UNESCO da Arábia Saudita, o sitio arqueológico de al-Hijr ou Madaim Salé (Lugar da Rocha) que se situa a 22 quilómetros da cidade de AIUIa, até podemos brincar ao arqueólogos. Tanto que há para descobrir...

Madaim Salé, fica situada no meio do deserto na região noroeste do país e é considerada como o mais significativo e importante, após Petra, dos registos, culturais e arquitectónicos do povo nabateu. Pesquisas revelaram 131 túmulos, esculpidos e talhados nas rochas, que se estendem por uma área de 16 km² com cisternas, muralhas, torres, e inúmeras esculturas e representações artísticas.

AIUIa e a sua região permanecem em grande parte fora do radar do turismo mundial, dando a quem a visita espaço e reflexão com a monumentalidade das belas paisagens desérticas.

Com as condições climáticas a mudarem de tática, alterando o estado do terreno esperado, tornam o solo mais escorregadio e perigoso, Mason Klein (KTM) equilibrou-se bem e impôsse onde muitos pilotos experientes perderam o equilíbrio. Nos carros, Loeb, Chicherit, Peterhansel e Erik Van Loon atacaram forte... mas Al Attiyah “O Senhor do Deserto” foi o vencedor.

No jogo de fugir às pedras, o jovem americano Mason Klein, que na etapa anterior não ganhou a etapa por um

triz, manteve a postura do alto dos seus 21 anos para assinar com muita categoria a sua primeira vitória no Dakar. O novo patrão da prova domina a geral sem complexos frente a duas referencias da disciplina, Toby Price (a 01’ 09’’s) e Joan Barreda (a 1’ 13’’) que, apesar de tudo, conseguiram preservar os seus interesses. Quase cinco horas e meia de corrida e entre o primeiro e o décimo a diferença foi de 4 minutos e seis segundos. Incrível!

Para os automóveis, o desafio foi mais delicado dado que os riscos de furos foi uma constante. A ameaça não foi levada a sério pelos pilotos da Hunter BRX, que até nem tinham estado mal na primeira etapa. De qualquer forma, a começar pelo multifacetado Guerlain Chicherit, um talentoso faz-tudo que entre muitas coisas foi Campeão Mundial de Esqui Extremo (Impressionante), passando pelo não menos impressionante Sébastien Loeb e acabando no temperamental Orlando Terranova, “capaz de roer o volante para ganhar”, ficaram todos sem rodas sobressalentes após três furos cada um, condenados a chegar ao final da etapa em modo câmara lenta. Enquanto

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O sitio arqueológico de al-Hijr ou Madaim Salé (Lugar da Rocha)

isso, Nasser Al Attiyah (Toyota Gazoo), com o experiente navegador Mathieu Baumel adotava um postura tranquila, conquistadora, com olhos de águia na leitura do terreno, avaliando a oportunidade de atacar apenas quando o terreno o permitisse.

À sua frente, Carlos Sainz (Audi) também muito bem acompanhado por Lucas Cruz, passou por entre as pedras mas não impediu que Al Attiyah lhe tirasse mais de cinco minutos, vencendo a sua 45º Especial do Dakar. O duelo começou.

Nos T3s, o americano Mitch Guthrie, não é outro senão o filho do lendário piloto Mitch Guthrie Sénior. Mitch Júnior sucedeu ao pai em 2018 e 2019, depois de vencer o WORCS Unimited Series (2015), o campeonato mundial UTV (2016) e a Baja 1000 em 2017, tudo com menos de 22 anos. Um excelente piloto que nesta etapa levou a melhor sobre o quase lendário “Chaleco” Lopez, com 1m 25s de vantagem. “Chaleco” (CAN-AM) mantém mesmo assim a liderança da geral com 8m e 43 s sobre Seth Quintero. No T4 parece que a família Goczal

instalou-se no topo da classificação. Após a vitória de Eryk na primeira etapa que participou, nesta segunda etapa foi o pai Marek que puxou pelos galões e para impor algum respeito até assumiu o comando da geral.

Nos camiões, Martin Macik teve uma paragem brusca, perdeu horas para chegar a AlUla e cedeu a liderança da categoria para Ales Loprais (Praga), o homem do dia à frente de Janus Van Kasteren aos comandos de um Iveco do team Rooy.

O DESTAQUE DO DIA

Mathieu Serradori, é um dos pilotos com perfil Dakar. Deteta à distancia o perfume do combustível misturado com a essência agridoce da terra, do deserto, da alma. Fez 3 Dakar’s de mota, desistiu na primeira vez que participou em automóvel e no ano seguinte em 2020, ganhou a 8ª Etapa. Na edição de 2022 foi o melhor piloto privado, terminando na sétima posição da Geral. É um piloto privado que atrapalha os pilotos Oficiais sempre a morder-lhes os calcanhares.

Esta temporada, o piloto francês tem sido discreto e a explicação é muito simples, não o vimos no W2RC ao volante do Century que levou para o Dakar em 2019, e, por um bom motivo: o fabricante sul-africano Century Racing “fechou-se na garagem” para substituir o V8 do buggy com tração às duas rodas, por um biturbo de 2.9 litros do Audi RS4.

Graças a uma gestão cuidada da etapa, o primeiro piloto privado do Dakar (já foi convidado por marcas oficiais mas

sempre recusou) terminou na 4º posição a 11 minutos do vencedor, Al-Attiyah e chega ao pódio, para ocupar a terceira posição na geral. Um feito que o francês saboreou (sem flute de champagne): “Tínhamos colocado em prática uma estratégia baixando a pressão dos pneus, porque sabíamos que os pneus iam sofrer muito. Este terceiro lugar tem

sabor a vitória.”. O francês ocupa a 3ª posição na geral a menos de 25 minutos do líder, o espanhol Carlos Sainz. Em 2019, também na Arábia Saudita, destacou-se ao se tornar o primeiro outsider a vencer uma Especial desde Guy Deladrière, em 1988. A promessa foi cumprida e, para nós, foi o homem do dia.

Sébastien Loeb

"...A ILUSÃO DA DESCOBERTA É PRONTAMENTE DESTRUÍDA POR UMA “SELVA” DE BASTÕES DE SELFIES. ..."

A MALAPATA DO DIA

A montanha russa é um pouco a vida de Sébastien Loeb no Dakar, que já venceu 16 etapas e subiu ao pódio 3 vezes nas seis primeiras participações no rali, mas também saboreou o sabor amargo das desistências, dos atascanços monumentais, pelas avarias que arruinaram as suas ambições. Nesta segunda etapa, foram os furos

que o afastaram do seu principal objetivo. Neste momento está a 1h 20 de Sainz na classificação geral. Mas o vírus do pneu furado que atingiu o piloto alsaciano espalhou-se por toda a equipa BRX, com o mesmo cenário. Foi devastador e, decididamente, foi um erro de estratégia.

A situação ainda é mais complicada

para Guerlain Chicherit, que ao anoitecer ainda não se tinha juntado à assistência em AIUIa. Terranova, amortece um pouco os prejuízos desembolsando 1h08.m de atraso à chegada. O argentino é o melhor dos Hunter mas, a partir de agora quais serão as perspectivas?

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Mathieu Serradori, aos comandos do Century com motor biturbo de 2.9 litros do Audi RS4, é o único piloto privado no TOP 10, no terceiro lugar do pódio.

PORTUGUESES

Hélder Rodrigues (CAN-AM): O piloto português iniciou a segunda etapa em bom ritmo. No entanto uma série de infortúnios atrasaram o piloto que ocupa a 21ª posição da classificação geral da categoria T3.

Mário Patrão (KTM 450): que se encontra a disputar a comummente denominada classe malle moto,

(Original by Motul), em que não é possível contar com qualquer tipo de assistência externa. "Esta etapa foi bastante dura, havia muitas trialeiras", referiu.

Terminou a etapa na quarta posição e mantém também a 4ª posição da geral na Original by Motul.

Apesar das dificuldades o piloto da Yamaha com o número 30 conseguiu superar esta jornada mesmo sem a colaboração do travão traseiro que deixou de funcionar logo no início da Especial, permitindo manter-se no Top 20 da classificação geral das motas.

Hélder Rodrigues (CAN-AM)
ETAPA 2 > SEA CAMP > AIUIA LIGAÇÃO 158 KM > ESPECIAL 430 KM

ETAPA 2

JOÃO FERREIRA E RICARDO PORÉM SOFREM MAS TERMINAM A SEGUNDA ETAPA

Os nossos pilotos de Leiria, João Ferreira e Ricardo Porém terminam aquela que, provavelmente, terá sido a etapa mais dura desta edição do Dakar. Problemas diversos atrasaram os pilotos que competem num X-RAID YXZ1000R TURBO PROTOTYPE SXS, que acabaram por terminar juntos a etapa, já durante a noite, e após cerca de 10 horas de condução pelos trilhos de muita pedra na Arábia Saudita. João Ferreira acabaria a etapa da 41.ª posição, seguido de Ricardo Porém. Na Geral, Porém é 30.º e Ferreira é 33.º.

Ricardo Porém não tem grandes explicações para o sucedido mas explica que “esta foi das etapas mais duras que já enfrentei nas quatro edições onde participei. Juntando a isto um total de 6 furos fica impossível esperar um resultado positivo. A meio da etapa, já muito atrasados, encontrámos o João Ferreira que estava também com problemas. Parámos, ajudámos e seguimos juntos até ao final num ritmo muito cauteloso.”

Já João Ferreira, por seu lado, estava desapontado pelo sucedido. “Começámos bem a etapa e conseguimos gerir bem as primeiras dificuldades. Rodámos em quarto lugar nos tempos intermédios, numa luta que, apesar de não ser a nossa, nos motivava. Depois, e quando tudo parecia estar a

correr bem, ficámos sem tração dianteira e ficou impossível de continuar sem ajuda. Felizmente apareceu o Ricardo

que nos ajudou e deu uma motivação extra. “

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X-RAID
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REI POSTO, REI DEPOSTO

Como habitualmente nesta versão do Dakar na Arábia Saudita o percurso da terceira etapa até Ha’il, é obrigatório. Ha’il era uma encruzilhada de um dos centros da civilização dos Nabateus (o antigo povo semítico, ancestrais dos árabe), das rotas comerciais que ligavam a Europa à Asia.

Para os pilotos que enfrentaram condições meteorológicas; chuvas torrenciais e pouca visibilidade em locais de passagem entre majestosos desfiladeiros que escondiam as pistas, umas, mais arenosas, outras, mais rochosas, acrescia, para além da mudança de tática das forças da natureza, o desafio da capacidade de concentração na navegação, quando as muitas pistas se cruzam, confusas.

Neste jogo, Daniel Sanders (GasGas) mostrou uma consistência exemplar, vencendo a sua quarta etapa no Dakar... tal como Guerlain Chicherit, o homem que “desapareceu” na etapa anterior mas, ressurgiu para vencer a etapa e acrescentar ao seu recorde de 2006! As fortes chuvadas que surpreenderam

muitos pilotos mas são frequentes nesta altura do ano encurtaram a etapa para 377 km (menos 110 Km que o previsto) para uma boa parte dos pilotos e equipas. Uma situação que não abona nada a favor da organização. Embora a organização justifique: para preservar as capacidades de intervenção dos serviços de socorro”.

Pode ser óbvio, mas a luta nas posições cimeiras das classificações exige, acima de tudo, alguma temperança. Não é certo que Ricky Brabec tenha esquecido essa regra sagrada mas, o americano cometeu um grande erro e ampliou a lista de grandes favoritos que abandonaram o rali prematuramente. O piloto da Honda caiu ao Km 274. Com dores no pescoço, foi transportado consciente e móvel para o hospital de Ha’il para exames médicos adicionais. Depois de Sunderland, o rali perdeu dois dos seus ex-vencedores em apenas três dias mas, os pretendentes vão-se posicionando.

A começar por Daniel Sanders (GasGas), que estabeleceu todos os

melhores tempos intermédios antes de conquistar, pela quarta vez, na carreira uma vitória de etapa no Dakar e receber como bónus - e que bónus! – a liderança da Geral. De referir que no TOP 10 Motos, estão dois pilotos considerados “Lendas” do Dakar: o espanhol Joan Barreda (Honda CRF 450) na quinta posição e o chileno Pablo Quintanilla (Honda CRF 450), na sétima posição, tirem-se as ilações...

Na disciplina “Auto”, a eterna lição de velocidade e consequente precipitação aplica-se direitinho a Carlos Sainz. De manhã, rei da prova, à tarde rei deposto! Quando chegou caído e molhado ao CP3 (km 377) já sabia que

ETAPA 3 > AIUIA < A HA’IL LIGAÇÃO 221 KM > ESPECIAL 447 KM

Nasser Al Attiyah o tinha substituído no trono da classificação geral, que é como quem diz: rei morto, rei posto. O piloto do Qatar foi extremamente cerebral, escolheu a estratégia correta sem forçar muito, controlou, tirou partido das más decisões dos adversários e o seu 13º lugar na etapa foi o suficiente para assumir o comando da Geral. Que dia para Al Attiyah e para o background dos profissionais da Toyota Gazoo Racing que fizeram um trabalho notável. Que dia fantástico!

O pódio da etapa foi inédito: 1º Guerlain Chicherit (GCK Hunter) com 03h 22’ 57’’, em segundo, o sul-africano Henk Lategan (Toyota) a 3m 26””, e a fechar o pódio Orlando Terranova (Prodrive Hunter),

com 05m 04’’. Stéphane Peterhansel (Audi RS Q E-tron), o mais vitorioso da história do Dakar, finalmente nos lugares cimeiros, em quarto lugar a 07m 47” do seu compatriota.

Nasser Al Attiyah comanda a geral com 13m 20” sobre Yazeed Al Rajhi (a jogar em casa) e 20m 45” sobre Peterhansel que fecha o pódio.

Nos quads, Alexandre Giroud (Yamaha) aproveitou os contratempos do seu principal rival, o argentino Manuel Andujar (Yamaha Raptor 700), para assumir a liderança da classificação geral.

Na corrida de protótipos T3, as coisas estão ao rubro e, não é para menos.

O norte-americano Austin Jones (BRP Maverick) vence a etapa, a sua primeira Especial na categoria e vê desparecer dos lugares cimeiros o sempre favorito “Chaleco” Lopez que chegou na 33º posição, com mais um hora e quarenta minutos que o vencedor caindo para a 6ª posição da Geral a 1h 10’ 47’’ do líder, o norte-americano Seth Quintero (BRP Maverick) que lidera com um minuto à frente do belga Guillaume de Mévius (Grall OT3). Curiosamente, no TOP 10 do protótipos T3 só consta um piloto considerado “Lenda”, a quem eu prefiro chamar de quase Lenda, o incontornável “Chaleco” Lopes.

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Guerlain Chicherit/ Alex Winocq/Prodrive Hunter, os vencedores da etapa.

No T4, parece que estamos num assunto estritamente familiar. Marek Gockal assina a segunda vitória consecutiva e lidera a classificação geral, onde o seu filho Eryk, o concorrente mais novo do Dakar, ocupa a 3ª posição. Quem se meteu nestes assuntos da família

polaca, foi a South Racing, com os brasileiros Rodrigo Luppi de Oliveira/ Maykel Justo (Can-Am), que seguem na segunda posição da Geral.

Nos peso-pesados, Martin Macik vence a sua 3ª Especial nesta 45º Edição do

Dakar, mas o atraso que acumulou na segunda etapa, deixa-o muito atrás do seu compatriota Ales Loprais, que continua na liderança da corrida.

O DESTAQUE DO DIA

O piloto saudita, Yazeed Al Rajhi, pode estar a lutar contra o tempo no Dakar. No entanto, no Reino de Salman bin Abdulaziz Al Saud (Rei da Arábia Saudita) existe um ditado popular

que reza assim: No ocidente têm o relógio, no oriente temos o tempo”. E, é precisamente o tempo que ilustra a ascensão do piloto saudita desde a sua estreia em 2015.

À sombra das estrelas Al Attiyah e Loeb forjou uma temporada de 2022 que não engana ao que vem. 3º no Dakar, 3º no W2RC e mais recentemente vencedor do Mundial de Bajas. O piloto

Yazeed Al Rajhi, um piloto em ascensão.

da Overdrive Racing, poderoso homem de negócios no seu país, arrancou para esta 45ª Edição na terceira posição da geral, a menos de dois minutos do líder. Na segunda, que desequilibrou muitos pilotos, aguentou-se na 6ª posição da geral, a pouco menos de 28 minutos de Sainz. Nesta terceira etapa, o quinto lugar proporcionou-lhe alcançar com todo o mérito o segundo lugar da geral a 13m 20’’ do primeiro lugar ocupado pelo seu companheiro de equipa e campeão em titulo. O caminho ainda é longo para Damã. Yazeed, filho da terra, sabe disso melhor que ninguém, mas como disse, conta com a fiabilidade do seu Toyota, no qual se inspira ano após ano. Para nós, foi o homem do dia, embora pudesse dividir os pergaminhos com Chicherit...

A MALAPATA DO DIA

Não é segredo nenhum que no Dakar tudo pode descambar de um momento para o outro. Um dia, está-se na frente e acredita-se na vitória final; no dia seguinte, perde-se tudo em muitos poucos segundos, principalmente, quando se é muito ambicioso, para não dizer outra coisa. Carlos Sainz, um dos mais experientes sabe muito bem disso mas, surpreendentemente, vislumbrouse com o sucesso.

Sem ponderação, Sainz entrou na etapa com a estratégia de consolidar a sua liderança. Ao km 213, vitima de um problema num dos braços da suspensão traseira esquerda teve que parar para reparar o estrago. Resultado: mais de 45 minutos perdidos! O Audi RS Q E-tron conseguiu retomar a pista mas

os minutos passaram num ápice. Sainz, vê assim as suas esperanças de terminar no degrau mais alto do pódio por terra mas, o Dakar às vezes pode se mostrar intratável para além da sua faminta

imprevisibilidade e ninguém está seguro, incluindo os seus mais diretos adversários.

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O australiano Daniel Sanders (GasGas) vence a etapa e assume o comando da Geral. Carlos Sainz e Lucas Cruz perderam mais de 45 minutos a reparar uma avaria na suspensão traseira do Audi RS Q E-tron.

UMA

PALAVRA

PARA OS CLÁSSICOS

Com quase 90 equipas em prova, a disciplina dos Clássicos é uma das mais bonitas do Dakar. Relembra-me as grandes edições do Dakar no continente africano.

O estatuto de Clássico não dá beneficies nem privilégios, muito antes pelo contrário. Claro que esta disciplina não escapou à intempérie. Após as duas primeiras provas de regularidade (a

essência desta disciplina), o nível das águas nas várzeas ganhou proporções que levaram a organização a tomar uma decisão de parar a prova no CP1, ao cabo de 318 Km. Mas isso sem contar com alguns participantes, inclusive, os vencedores da edição de 2022 que já haviam partido para fazer o resto da etapa. Todos foram recuperados e tiveram o privilégio de conduzir o

“comboio” até ao acampamento, na grande tradição da prova, habitual para este tipo de retiradas estratégicas que também fazem parte desta aventura que é participar na disciplina de Clássicos. Os espanhóis Joan Morera e Lídia Ruba em Toyota HDJ 80 lideram com 100 pontos, menos 30 que o segundo e menos 57 que o terceiro.

ETAPA 3 > AIUIA < A HA’IL LIGAÇÃO 221 KM > ESPECIAL 447 KM
A formação espanhola Joan Morera / Lídia Ruba / Toyota HDJ 80 lideram a prova de Clássicos
"NÃO É SEGREDO NENHUM QUE NO DAKAR TUDO PODE DESCAMBAR DE UM MOMENTO PARA O OUTRO..."
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O deserto da Arabia Saudita oferece templos naturais, desenhados pelo deuses dos tempos intemporais. Giniel de Villiers / Denis Murphy/ Toyota Gazoo. 23ª na etapa; 7ª na classificação geral.

PORTUGUESES

António Maio (Yamaha): António Maio enfrentou uma quarta etapa do Rali Dakar 2023 que se revelou bastante complexa devido às condições do terreno que ficou bastante empapado devido às chuvas intensas que caíram na região de Ha-Il onde decorreu a jornada de hoje. A acrescer a todas as dificuldades dos 425km que compunham a Especial, a corrida do major da GNR foi seriamente afetada

ao ter ficado sem combustível quando se encontrava a uma curta distância da zona de reabastecimento. No final da etapa, posicionou-se na 27ª posição da classificação geral das motas.

Mário Patrão (KTM 450): Concluiu esta etapa num excelente 2ª lugar da Original by Motul, subindo à terceira posição da geral da classe malle moto.

Hélder Rodrigues (BRP Can-Am): Depois de uma jornada marcada pelo infortúnio, nesta etapa, encetou uma excelente recuperação subindo da 28ª posição de partida até à 10º posição que ocupava ao km 335 quando o setor seletivo foi interrompido devido às condições meteorológicas. Hélder Rodrigues ocupa a 17ª posição da Geral.

A etapa foi encurtada devido ao "dilúvio" que se abateu sobre os concorrentes.

ETAPA 3

RICARDO PORÉM GERIU BEM AS DIFICULDADES DE UMA ETAPA ATÍPICA

Ricardo Porém esteve irrepreensível na terceira etapa do Dakar 2023. A participar pela quarta vez na competição e a partir muito de trás dadas as peripécias da especial anterior, o piloto de Leiria demonstrou muita maturidade e experiência para, em condições que criaram dificuldades à maior parte da caravana, ascender à sexta posição na etapa. Esta etapa acabou por ser encurtada por condições meteorológicas adversas. João Ferreira teve problemas logo no início da especial e está em ligação para o Bivouac.

Ricardo Porém mostrava-se satisfeito com o seu resultado na etapa. “Quando partimos para a terceira especial do Dakar já chovia mas nada que nos fizesse prever o que acabou por acontecer. Foi um verdadeiro dilúvio no deserto. Felizmente para mim adaptei-me bem às condições, senti-me bem desde o início e, partindo bem cá de trás, acabei por fazer mais de 50 ultrapassagens até ao momento em que a especial foi interrompida. Ser sexto nesta etapa é muito positivo e vai permitir-nos uma melhor ordem de partida para a próxima especial”, explicou o agora 25.º classificado, antes de comentar a etapa de João Ferreira: “O João teve um percalço no início da especial e vou agora aguardar a sua chegada ao Bivouac para lhe dar um abraço e muita

força! Tenho a certeza que amanhã a etapa lhe correrá melhor e que vamos juntos até ao final do Dakar.”

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Dorso nº47.O argentino Kevin Benevides (KTM). 7ª na etapa, 4º na geral.
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BARREDA E LOEB, OS FELINOS À CAÇA

Etapa em laço de 425 km entre os 800 e os 1300 metros de altitude. Mais um dia frio para um traçado a oeste de Ha’il. As chuvas torrenciais do dia anterior mudaram sensivelmente a natureza do terreno, mas não a beleza inóspita dos grandes desfiladeiros e planaltos visitados na Especial do dia.

Mais uma vez, a navegação foi crucial, assim como as dunas que apareceram

em grande numero no menu do dia. Obstáculos que foram perfeitamente apreendidos por Joan Barreda, enquanto Sébastien Loeb venceu in extremis à frente de Peterhansel.

Felinos com fome. Joan Barreda e Sébastien Loeb andavam com fome de Especiais. E, a caça às Especiais requer se não sorte, pelo menos oportunismo.

O cenário que se desenrolou ao longo da etapa do dia não deu razão a Mason Klein, impressionante desde do inicio desta edição, cumprindo todas as promessas durante a maior parte do dia. Incumbido de abrir a pista, o jovem desincumbia-se muito bem da tarefa, assinando os melhores tempos intermédios e marcando a pista com autoridade sem dúvidas e

ETAPA 4 > HA’IL > HA’IL LIGAÇÃO 148 KM > ESPECIAL 425 KM

Sébastien Loeb / Fabien Luriquin, os vencedores. No entanto, na geral a equipa da Hunter posiciona-se na 14º posição a 01h 33’ de atraso em relação ao líder da geral, o campeão em titulo, Nasser Al-Attiyah.

sem complexos. Mas, a cerca de 50 km da reta final, o norte-americano foi retardado com um problema de abastecimento de combustível. Um grande revés que impediu o jovemsensação do Dakar 2023 de embolsar a segunda etapa. Contentou-se com o 10º lugar do dia sem condenar a sua vantajosa posição na classificação geral: 6º a 10' 05'' atrás de Daniel Sanders,

ainda (e este ainda não é pejorativo) líder da classificação geral.

A desgraça de Mason foi a felicidade de “Bang Bang Barreda”, que embolsa a 29ª Especial da sua carreira. Com um dedo do pé partido, aproxima-se do pódio da geral e está faminto, não fosse ele uma Lenda do Dakar e um caçador nato de Especiais.

Por seu lado, Sébastien Loeb tem um talento muito especial para caçar qualquer um dos seus rivais quando está faminto. Nesta etapa, o piloto francês precisou de bíceps bem desenvolvidos para obter a sua 17ª Especial, quando a direção hidráulica falhou durante os últimos 20 km.

Devido a esta reviravolta do destino, o piloto francês conseguiu impor-se a Stéphane Peterhansel, o líder isolado da Audi, por escassos 13 segundos. Mas a todo o vapor e num mundo perfeito sem falhas mecânicas e com a fome que tem de vitórias, Loeb, tem os meios e a loucura para compensar um atraso de 93 minutos em 10 etapas nos 3000 km restantes a serem percorridos? Vale a pena aceitar o desafio um tanto ou quanto delirante, enquanto um duelo mais clássico toma forma entre dois titãs, dois campeões em titulo, Al Attiyah em 2022 e “Peter” em 2021.

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Joan Barreda (Honda) CRF450, vence a etapa em motos e conquista a 4ª posição na geral a 04m 30’ do líder, o australiano Daniel Sanders (GasGas).

Se o recital de Alexandre Giroud continua, com a terceira vitória consecutiva na etapa e 47 minutos de vantagem sobre Francisco Moreno na classificação geral, no lado dos T3 as coisas estão bem mais agitadas. Depois do contratempo de “Chaleco” na etapa anterior, foi Seth Quintero quem arrancou uma roda e está prestes a cair na hierarquia enquanto Mich Guthrie e Guillaume de Mévius, os dois

mais rápidos da primeira volta do Ha’il, envolvem-se num duelo pelo topo da geral.

No T4, o jovem Eryk Gockal assina a sua segunda vitória na prova ao bater Gerard Farres e está em segundo da Geral a menos de um quarto de hora do líder, o brasileiro Rodrigo Luppi de Oliveira.

Nos camiões, a saga Martin Macik (MM) continua (a 45m 29’’ do líder). Venceu a sua quarta Especial embora sem ameaçar o compatriota Ales Loprais (Praga), que se mantém no topo da classificação, naturalmente, mais atento à evolução de outro Martin, o neerlandês Martin Vandenbrink que tem o seu Iveco a 15m e 06 segundos de si.

O DESTAQUE DO DIA

Desde a chegada ao Dakar em 2021, Marek e Michal Goczal, respetivamente pai e tio do jovem Eryk, corrobora a expressão “Filho de peixe sabe nadar”, neste caso podemos dizer que” filho e sobrinho de peixe sabe nadar” Esta família polaca não dá tréguas. Marek que estava no topo da classificação

perdeu o lugar mais desejado ao protagonizar uma improvável colisão nas dunas com o argentino da South Racing, David Zille, que o deixa quase a 37 minutos da liderança da corrida. Com meia hora de atraso para Michal, é agora a vez Eryk, o concorrente mais novo do Dakar, assumir a honra da

família que na última edição venceu 8 etapas em 12. Por enquanto e graças ao filho, os Goczals já venceram 3 em 5 etapas, O objetivo meio-maluco de colocar os três no pódio à chegada em Damã permanece realista. O destaque de hoje foi para a família Goczal. Merecido.

Nos pesos-pesados, a equipa neerlandesa capitaneada por Mitchel Van Den Brink,(Iveco) conquistou a segunda posição na etapa, mas está a 02h 35’ do líder da geral, a equipa Chéquia de Ales Loprais, num camião Praga.

Joaquim Rodrigues (Hero) forçado a desistir após queda aparatosa.

"O DESTAQUE DE HOJE FOI PARA A FAMÍLIA GOCZAL. MERECIDO..."

A MALAPATA DO DIA

Infelizmente, uma má noticia para as hostes lusas. Joaquim Rodrigues participava no 7º Dakar consecutivo. Falamos em modo imperfeito porque o piloto da Hero Motorsport saiu do Dakar com uma perna partida ao Km 90 da Especial do dia. A sua terceira desistência desde 2017. Recorde-se que Joaquim Rodrigues, cunhado do saudoso “Speedy”, o nosso Paulo Gonçalves, foi o herói da marca indiana,

ao conquistar a primeira vitória, o ano passado na 3ª etapa. Mas as decepções para a Hero não ficaram por aqui. Sebastian Bühler ficou sem gasolina antes de Ross Branch ser forçado a envolver-se numa sessão de mecânica de longa metragem. Apenas Franco Cami conseguiu terminar em 17º, a pouco menos de vinte minutos de Barreda. O argentino é 13º da geral, a 48 minutos do líder. O argentino

que tem sido flagelado por acidentes e desistências é, agora, a ultima cocacola do deserto para matar a sede da Hero, ou seja, fazer brilhar a marca nos lugares cimeiros.

Para o Joaquim Rodrigues resta-nos agradecer a sua presença neste Dakar e desejar-lhe uma rápida e eficaz recuperação.

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A REAÇÃO DO DIA

“É a primeira Especial onde não tivemos furos e conseguimos entrar no nosso ritmo desde o inicio. Mas para fazermos um bom tempo, o corpo é que paga. É como num combate de boxe, levamos porrada por todos os lados. Mas se não for assim não conseguimos. Temos uma boa suspensão, aguenta muitos impactos mas, não faz milagres. Agora a questão é: tudo o que perdemos nos últimos dias será recuperável?”.

Stéphane Peterhansel: “É como num combate de boxe”
ETAPA 4 > HA’IL > HA’IL LIGAÇÃO 148 KM > ESPECIAL 425 KM
Os norte-americanos Mitchell Guthrie e Kellon Walch (T3M) lideram a classificação geral de T3 protótipos. Stéphane Peterhansel, o "Senhor Dakar".

X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM

ETAPA 4

JOÃO FERREIRA DESTACA-SE E SOBE AO PÓDIO NA 4.º ETAPA

João Ferreira, rubricou hoje um excelente resultado na quarta etapa do Dakar 2023. O piloto de 23 anos, natural de Leiria, demonstrou toda a classe levar o X-RAID YXZ1000R TURBO PROTOTYPE SXS da X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM ao segundo lugar desta difícil Especial onde dunas de grande envergadura criaram dificuldades aos pilotos. Ricardo Porém, que havia sido sexto na etapa 3, também registou uma boa prestação apesar de alguns percalços alcançando o 15.º lugar na etapa, subindo, ao 18.º lugar da Geral.

“Foi uma etapa muito boa e o resultado é muito saboroso. Depois de dois dias muito difíceis e que mexem com o nosso psicológico e físico, acaba por ser uma boa forma de tirar a pressão. Estamos neste Dakar para ganhar mais consistência, aprender e evoluir e tanto os bons como os maus resultados são importantes para o nosso futuro nesta e noutras provas.

Queria agradecer a todos pelas mensagens de apoio ao longo dos últimos dias e deixar um agradecimento especial ao Filipe Palmeiro que continua a trabalhar de uma forma super profissional, mesmo apesar de estarmos muito distantes dos lugares cimeiros na classificação geral. Por fim, uma palavra também para a equipa de assistência da X-Raid Yamaha Supported Team que

passaram toda a noite a reinspecionar o nosso carro para que hoje estivessemos à partida da etapa nas melhores condições", explicou João Ferreira.

“Acima de tudo, temos de festejar o excelente resultado do João nesta sua primeira aventura no Dakar, que assim regista o primeiro pódio da história da equipa. A nossa especial foi algo

caricata, uma vez que na primeira fase, para ultrapassar as grandes dunas, o carro consumiu mais combustível do que o previsto e acabamos por ter de fazer muitos quilómetros sem o modo ‘stage’ ativo para o poupar. Mais tarde a proteção inferior do carro e uma transmissão também nos deram alguns problemas. Mas ainda falta muito Dakar”, comentou Ricardo Porém.

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A desilusão do dia. Uma vez mais protagonizada por Sébastien Loeb. O piloto francês lutava, pelo menos, por um lugar no pódio mas, capotou o Hunter a pouco quilómetros da chegada e perdeu mais de 20 minutos a endireitar o carro e a substituir uma roda.

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VAN BEVEREN ENTRA EM CENA E AL ATTIYAH AUMENTA A COLEÇÃO

A segunda etapa na região de Ha’il decorreu a sul da cidade. Esta região é detentora de uma história que remonta aos tempos pré-históricos. Detém dois importantes lugares "imortalizados" pela sigla Património mundial da UNESCO: Jubba e Shuwaymis.

Embora desta vez fosse a sul, uma segunda ronda nas redondezas de Ha'il faz todo o sentido. Esta região, tem algumas das melhores paisagens que a natureza tem para oferecer. As magníficas montanhas de arenito moldadas por séculos de

erosão aparecem em formas naturais e notáveis. Os vulcões brancos de Harrat Bani Rashid são uma obraprima incomparável da região. As montanhas Aja e as montanhas Salma são subcordilheiras do Shammar.

ETAPA 5 > HA’IL > HA’IL (SEGUNDA PARTE) LIGAÇÃO 270 KM > ESPECIAL 373 KM

VESTIU-SE

Os concorrentes admiram estas obras divinas de relance. O piloto concentrado e o navegador mergulhado no roadbook não os deixa admirar esta paisagem convenientemente, que nos obriga a refletir. Como jornalista

e fotógrafo, já passei por aqui noutras edições do Dakar e dei comigo a refletir. A reflexão sobre a paisagem, na variedade dos seus matizes e perspetivas... tradicionalmente provas especulativas da existência de Deus, talvez. Fico na dúvida. Sou apenas humano, crédulo ou incrédulo, e a paisagem enquanto objeto da reflexão filosófica pode ser considerada como um dos modos mais recentes da filosofia da natureza. De uma maneira ou de outra, esta paisagem esmaga-nos com a sua beleza.

A quinta etapa vestiu-se com o seu

melhor manto de deserto, tricotado 100% em areia imaculada, alinhavado com longos troços que obrigaram os navegadores a puxarem pelos galões. A delicadeza da leitura do road-book é tida em conta na escolha do rumo dificultado pela rega recente do terreno. A vitória nas Motos de Adrien Van Beveren (Honda) foi construída precisamente sobre essas qualidades, enquanto Nasser Al Attiyah (sempre ele) contou principalmente com a sua habilidade de condução em areia para vencer. Talvez, as duas chaves de ouro para o sucesso do Dakar!

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"A QUINTA ETAPA
COM O SEU MELHOR MANTO DE DESERTO..."
Adrien Van Beveren (Honda) vencedor da etapa Nasser Al Attiyah (Toyota Hilux Gazoo)

NAS MOTOS, A TRIAGEM MAL COMEÇOU...

...a não ser pelas noticias que nos vão chegando da enfermaria de favoritos e - não favoritos - para quem o Dakar chegou ao fim. Na segunda volta por Ha’il, a navegação imposta aos motociclistas mexeu com os sentidos. Neste desafio, o francês Adrien Van Beveren rapidamente assumiu a vantagem faltando instinto aos seus antecessores em pista, a começar por Joan Barreda que foi o primeiro

a encontrar dificuldades. Seja como for, enquanto os amigos andavam às volta para encontrar o rumo, o piloto nascido no norte de França em Le Touquet, corria sozinho rumo a uma vitória na Especial que o relançou na busca pelo titulo. Com esta primeira vitória no Dakar aos comandos de uma Honda, curiosamente, a 100ª vitória em Especiais do Dakar da marca japonesa, Van Beveren ganha três lugares na

geral reposiciona-se, sobretudo, a 2’22’’ atrás do norte-americano Skyler Howes, o novo líder da geral, aos comandos da mítica Husqvarna.

Naturalmente, a “coisa” está longe de estar resolvida. Os primeiros sete pilotos estão encaixados numa diferença de apenas 10 minutos quando já se percorreram quase 2000 quilómetros de Especial.

Stéphane Peterhansel queixouse da dureza desta 5ª Etapa. “Fizemos quase 400 pontos de passagem sózinhos sem ver nenhuma carro, exceto o “Séb” Loeb que estava virado. Fomos sacrificados no carro. Foi muito duro ultrapassar a dunas chameau. Foi talvez a etapa mais exigente fisicamente que já fiz. E depois tivemos outro problema: Ontem à noite trocamos os amortecedores e, hoje, desde o inicio que achei que o carro estava muito difícil e de repente tornou-se um pesadelo. Havia qualquer coisa de errado que tornava os ângulos das dunas muito difíceis”.

Stéphane Peterhansel / Edouard Boulanger, aos comandos do Audi RS Q E-tron ocupam a 2ª posição da geral a 22m 36'' do líder, Nasser Al Attiyah.

AL ATTIYAH, O GAME MASTER

Nos Auto, o Game Master da categoria sente-se mais seguro no final da estadia em Ha’il. Partindo na quarta posição, Nasser Al Attiyah (Toyota Hilux) acelerou sem forçar o ritmo, deixando

o trabalho duro de limpar as pequenas dunas-chameau e assumirem a tarefa de navegar para Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz.

Na linha de chegada, estabeleceu o

melhor tempo do dia pela 46ª vez na carreira e consolidou a sua posição de líder.

Nos T3, Seth Quintero (BRP Maverick)

pode fantasiar sobre as suas probabilidades com base em vitórias como esta. O norte-americano venceu a sua primeira etapa este ano na classe T3 (Proto ligeiro) totalizando 19 Especiais no Dakar, mas foi o belga Guillaume de Mévius (Grall OT3) quem assumiu a liderança da classificação geral, 7m 20’’ à frente de Austin Jones, enquanto Mitch Guthrie caía com estrondo.

Nos T4, o lituano Rokas Baciuska (Can-Am) venceu a etapa do dia e aproximou-se do segundo lugar. A Geral continua liderada pelo brasileiro Rodrigo Luppi de Oliveira à frente de Eryk Gockal.

No topo dos Quad, Alexandre Giroud (Yamaha) não se intimidou com a vitória do argentino Francisco Moreno (Yamaha), que está agora em segundo a 39 minutos do líder.

Nos camiões, Ales Loprais vai gerindo os 15 minutos que tem de vantagem sobre Martin van den Brink, a quem ganhou mais 16 segundos com a vitória na etapa.

A MALAPATA DO DIA

Dias antes do arranque do Dakar, declarou à imprensa que ia entrar nesta edição com 50% das suas capacidades físicas, após um ano de 2022 marcado por seis operações para recuperar o cotovelo. Daniel Sanders, o australiano da Gasgas, apesar de tudo, mostravase preparado para a corrida mais difícil da sua vida. 5º da Geral nas etapas 1 e 2, voltava a assustar os adversários ao assumir o comando do Dakar, nas duas etapas seguintes. Estava a desenhar uma performance fabulosa. Mas na manhã desta jornada, o piloto acordou em má forma, com dores em todo o corpo, mesmo assim, apresentou-se à partida. Sofreu e sofreu durante o dia e terminou 27 minutos atrás do vencedor. Na hora do balanço, cai de 1º para 8ª. Virose, resfriado, Covid? Daniel teve que fazer exames na chegada ao acampamento.

norte-americano

líder da geral, com 02m

o pódio.

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Alexandre Giroud (Yamaha). Relativamente confortável na liderança da geral. O Skyler Howes (Husqvarna), dorsal nº 10, é o 07” de vantagem sobre o australiano Toby Price (KTM) e 05m 16” sobre Kevin Benavides (KTM) que fecha

ETAPA

RICARDO PORÉM E JOÃO FERREIRA ENFRENTAM ADVERSIDADES

Altos e baixos. Tem sido esta a toada da dupla de pilotos portugueses da X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM que, depois de um sexto lugar na 3.ª etapa (Ricardo Porém) e do 2.º lugar na etapa 4 (João Ferreira), voltaram hoje a sofrer para terminar a quinta etapa do Dakar. Ao volante de um o X-RAID YXZ1000R

TURBO PROTOTYPE SXS, Ricardo Porém e João Ferreira acabaram a etapa na 29.ª e 31.ª posição, respetivamente.

“Decididamente este parece que não é meu Dakar. Desde o primeiro km que me senti confiante e o Augusto Sanz a fazer

um trabalho de navegação fantástico, como tem sido hábito em todas as etapas, até que a cerca do km168 dei um toque numa duna herbe chameau (erva-camelo: dunas pequenas com vegetação seca mas raízes muito duras) e parti o braço de suspensão inferior. Tive que esperar pelo camião de assistência rápida e substituir a peça. Perdi mais de 2h30 e tive que fazer os 100km de dunas já de noite. Confesso que estou decepcionado com toda esta “mala suerte” que nos tem acompanhado nesta corrida … mas não vamos baixar os braços, e até ao

dia 15 de Janeiro tudo farei para vos orgulhar de bons resultados em etapas de forma a agradecer todo o apoio que tem dado”, confidenciou Ricardo Porém no final da etapa.

Menos detalhado, mas no mesmo registo, João Ferreira mostrava-se “infeliz com o decorrer da etapa que até começou muito bem. Saímos de uma boa posição, mas acabamos por ter alguns problemas que nos limitaram o andamento. Amanhã há mais Dakar e estamos no registo etapa a etapa.”

X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM
5
ETAPA 5 > HA’IL > HA’IL (SEGUNDA PARTE) LIGAÇÃO 270 KM > ESPECIAL 373 KM

PORTUGUESES

António Maio

A quinta etapa foi madrasta para Antonio Maio. Foi forçado abandonar o rali quando iniciou o percurso devido a dificuldades técnicas na sua mota. O piloto arrancou para a Especial, mas viu-se obrigado a parar quando tinha feito apenas 50 metros da corrida. A corrente da mota partiu, bateu no carter e com a força do embate acabou por o partir. “As corridas são assim. Agradeço a todos os patrocinadores que me acompanharam nesta aventura e à minha família e amigos por todo o apoio que me deram”, relatou António Maio.

Mário Patrão

Esta segunda volta pela região de Ha’il revelou-se particularmente complicada para Mário Patrão que se viu a braços com problemas técnicos na sua mota. Apesar disso, conseguiu concluir a etapa e segurar a terceira posição da classificação geral entre os pilotos que disputam a muito exigente classe Original By Motul.

Mário Patrão, O “Super Mário” como é conhecido pelos seus companheiros de bivouac, começou por sentir alguns problemas relacionados com a presença de água na gasolina fornecida pela organização. “A mota já ontem dava sinais de falhar com problemas de gasolina. Troquei o filtro, fiz a manutenção devida e pensei que o assunto estava resolvido mas, hoje, depois de arrancar a mota começou a falhar e o meu objetivo no dia, tendo em conta as circunstâncias, passou a ser tentar levar a mota até ao final. Tenho três depósitos: dois à frente e um atrás. Fui obrigado a parar por duas vezes para passar gasolina do depósito traseiro para o da frente. Hoje o trabalho de assistência vai ser bastante maior. Tenho o amortecedor de trás rebentado, tenho de mudar a bomba

de gasolina, tenho imenso trabalho para fazer de modo a ter a moto em condições para o dia de amanhã “, referiu no final da etapa o Campeão do Mundo Cross Country Rallies entre

os Veteranos. Apesar de tudo registou o sexto melhor tempo entre os pilotos que disputam o Original by Motul, a disciplina sem qualquer assistência externa.

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António Maio Mário Patrão O sueco Mattias Ekström, o único sobrevivente da Audi no T0P 10, em 5º na Geral, a 46m 55'' do líder.
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NASSER AL ATTIYAH NA AVENIDA DAS DUNAS

Uma especial de 358 km que os pilotos enfrentaram a sudeste de Ha’il. O menu ultra-arenoso, ligeiramente facilitado pelas chuvas que modificaram a capacidade de carga do solo permitiu que pilotos e tripulações progredissem sem problemas de maior mas, as dunas por vezes reservam surpresas desagradáveis quando abordadas sem respeito pelos elementos, características e formas. Mesmo com a experiência de Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz acontece o imprevisto! Um foi parar à enfermaria, o outro, à oficina, e a hipótese de ganhar este Dakar esvaziou-se por completo. Por outro lado, o estado do terreno foi muito bem explorado nas motos por Luciano Benevides, o argentino da Husqvarna e, nos Auto, Nasser Al Attiyah e Mathieu Baumel deram um passeio de Toyota Hilux pela Avenida das Dunas, até Riade.

Apesar das nuvens que pairam sobre o perímetro do Dakar, podemos ver com alguma clareza quem manda nesta edição do Dakar. A observação é válida para a categoria Moto, embora a disputa ainda esteja aberta a um punhado de candidatos, pelos menos, entre os sete primeiros que encaixam numa box-time

de 13 minutos. Luciano Benevides não é um deles, mas aproveitou bem esta jornada para vencer pela primeira vez na sua carreira uma Especial do Dakar, enquanto o seu colega de equipa Skyler

Howes fez o segundo melhor tempo e consolidou a sua posição de líder.

No entanto, tudo pode mudar de um dia para o outro, já que os dois ex-

ETAPA 6 > HA’IL > RIYADE LIGAÇÃO 560 KM > ESPECIAL > 358 KM
Skyler Howes (Husqvarna) fez o segundo melhor tempo e consolidou a sua posição de líder.

vencedores da prova, Toby Price e Kevin Benevides são pilotos muito fortes, persistentes e, em qualquer momento podem conquistar a liderança. Howes não pode descansar.

Nos Auto, Al Attiyah passeia-se pelo deserto. Para já, é um facto. Tudo indica que o piloto do Qatar fica sem adversários à altura para lhe dar luta nos próximos dias, senão vejamos: Stéphane Peterhansel, “O Monsieur Dakar”, ao Km 212, passou-se e deu um salto que acabou com o navegador Edouard Boulanger na enfermaria com muitas dores nas costas, felizmente, sem gravidade a não ser frustração e a

decepção do abandono. Curiosamente, a mesma duna rendeu uma cambalhota para Carlos Sainz que passou o resto do dia à espera da sua assistência rápida. Na mesma zona, Yazeed Al Rajhi, outro especialista em areia, esteve parado várias horas por uma acrobacia do mesmo género. O tombo do saudita não foi o suficiente para quebrar os ânimos do clã Toyota, até porque o “maestro” Nasser Al Attiyah dirigiu a sinfonia da condução em areia a seu bel-prazer para vencer a sua 47ª Especial, chegando a Riade com mais de uma hora de vantagem sobre o seu companheiro de equipa, Henk Lategan, na classificação geral.

Logo atrás, outras duas Hilux pilotadas pelo rookie brasileiro Lucas Moraes e o mega experiente Giniel de Villiers que completaram o desfile!

Nasser Al Attiyah domina a Geral, com 01h 06m 50” de vantagem sobre o seu colega de equipa, o sul-africano Henk Lategan. Tudo corre bem para a Toyota até porque, permita-me o leitor, o “pódio de 4 lugares” só dá Toyota. O sueco Mattias Ekstrom, o sobrevivente da Audi, fecha o TOP 5 a 01h 46m 55” do líder. Futuramente, se o Team Audi Sport quiser ganhar alguma coisa vai ter que mexer... e muito.

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Nasser Al Attiyah em velocidade cruzeiro até à vitória final?

Nos Quad, a situação é semelhante. Alexandre Giroud (Yamaha) passeia-se na avenida entrando na capital saudita com 43 minutos – na geral - à frente de Francisco Moreno (Yamaha), sem se preocupar muito com a vitória na Manuel Andujar (Yamaha), na etapa.

Embora não desfrute da mesma tranquilidade, Guillaume De Mévius (Grall OT3), que na etapa anterior assumia o comando da categoria T3, nesta etapa consolidava o domínio sobre o 2ª classificado, o norteamericano Austin Jones (Can-Am Maverick).

No T4, Rodrigo Luppi de Oliveira (CanAm) mantém-se no topo mas tem razões para ficar preocupado com o regresso às atividades da família Goczal: o irmão mais velho Marek (pai de Eryk) regista o melhor tempo do dia à frente de Michal.

Nos camiões, assistimos ao despontar de uma nova geração no clã neerlandês, com a primeira vitória de Mitch Van den Brink (Iveco), aos 20 anos, que assume o comando da geral com escassos 37” de vantagem sobre Ales Loprais (marca: Praga). O duelo ainda agora começou na disciplina comboios do deserto.

Umas linhas merecidas para o carro nº213, um Hunter, pilotado pelo lituano Vaidotas Zala que nesta etapa conseguiu um excelente 5º lugar. Numa etapa em que o espírito de equipa fez a diferença e este outsider teve a ousadia de se intrometer no TOP 5, não podemos deixar de destacar o papel preponderante de Paulo Fiúza, o excelente navegador, português de Mafra.

"...O DESERTO PURO-E-DURO É SEMPRE UM BOM SITIO PARA REFLETIR SOBRE DERROTAS."

A MALAPATA DO DIA A DUNA FATAL

Foi um daqueles dias para esquecer, mas que ficará gravado na memória do clã Audi. Até agora, e apesar de alguns pequenos contratempos ao longo do caminho, o fabricante alemão manteve as chances de uma primeira vitória de um “veículo elétrico” à chegada a Damã. Mas, no coração do cordão das dunas, o cenário de sonho tornou-se num pesadelo. Quer Stéphane Peterhansel quer Carlos Sainz pagaram da pior maneira as acrobacias descontroladas e fatais para os seus objetivos. Neste duplo acidente, na mesma duna, Edouard Boulanger, o único navegador que contribuiu para a única vitória de “Peter” na Arábia Saudita, foi atingido

nas costas, enquanto que o virtuoso do volante, atordoado, também foi assistido no local. Carlos Sainz e Lucas Cruz, diante do espatifado Audi RS Q E-tron, tiveram o dia inteiro para meditar no meio das dunas enquanto aguardavam

a intervenção do camião de apoio. Não sei o que ia nas cabeças dos pilotos espanhóis, mas imagino. De uma maneira ou de outra, o deserto puro-eduro é sempre um bom sitio para refletir sobre derrotas.

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Mário Patrão: Resolvidos os problemas relacionados com a presença de água no combustível da moto da etapa anterior que implicou uma noite com

pouco descanso, voltou a estar em excelente plano naquela que foi a sexta etapa do Rally Dakar. Repetiu o terceiro melhor tempo entre os pilotos que têm

a árdua tarefa de fazer a sua própria assistência e consolida idêntica posição na classificação geral da Classe.

O desalento de Peterhansel. Mário Patrão. Henk Lategan e Brett Cummings, aos comandos da Toyota Hilux Gazoo, na segunda posição da Geral.
ETAPA 6 > HA’IL > RIYADE LIGAÇÃO 560 KM > ESPECIAL > 358 KM

ETAPA 6

ETAPA TRANQUILA PARA RICARDO PORÉM E

JOÃO

FERREIRA

Finalmente um dia tranquilo. Ricardo Porém e o João Ferreira iniciaram hoje a etapa com objetivos bem claros de ter um dia tranquilo ao volante dos X-RAID YXZ1000R TURBO PROTOTYPE SXS e o objetivo acabou por ser concretizado. O atual Campeão Nacional de Todoo-Terreno levou a viatura da X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM ao 14.º lugar da classe, enquanto que Ricardo Porém foi 16.º lugar.

“Depois de um dia menos positivo, a estratégia para hoje era não ter problemas e ganhar confiança. A tarefa não era fácil uma vez que enfrentávamos a etapa mais longa (Ligação + Especial) deste Dakar 2023! A verdade é que conseguimos cumprir o grande objetivo e o resultado acabou por ser positivo e em linha com a estratégia delineada!” explicou Ricardo Porém que não esqueceu todas as mensagens recebidas depois da mensagem de ontem nas suas redes sociais: “Queria agradecer publicamente por todas as mensagens de ontem, foram sem dúvida o combustível principal que usámos na etapa de hoje!”

João Ferreira, por seu lado, manifestou a satisfação por ter uma etapa limpa e livre de problemas: “Esta sexta etapa do Dakar Rally foi muito tranquila e livre de problemas! Diversão e comprometimento com a estratégia da equipa foram as palavras de ordem!

Acima de tudo desfrutamos muito da experiência e, na verdade, é para isso que aqui estamos!”, concluiu.

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João Ferreira Ricardo Porém X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM Nasser Al Attiyah / Mathieu Baumel / Toyota Hilux Gazoo Racing.

PELA HONRA!

As motos e os quadriciclos fizeram o caminho mais curto para ligar Riade a Al Duwadimi, numa estrada de quase 500 km que percorreram desta vez sem chuva. Para os carros e camiões, foi um pouco mais a sul que se disputou uma Especial onde a palavra foi dada aos craques da trajetória e das mudanças de ritmo. Ora, em pistas arenosas ou pedregosas, entre desfiladeiros e vales onde os mais arrojados souberam aproveitar a situação.

Os navegadores tiveram que assumir, mais uma vez, a responsabilidade de uma navegação eximia, sem

erros, para alcançar os objetivos. O contexto, beneficiou particularmente o supersónico Yazeed Al Rajhi que largou muito atrás mas chegou com o melhor tempo do dia. Uma vitória pela honra!

O patrão da corrida, Nasser Al Attiyah, deixou o bivouac de cabeça limpa e muito tranquilo com é seu apanágio, apesar do despertador ter tocado às quatro da manhã. Preocupado principalmente com a escolha da música que ilustraria a sua história do dia no Instagram. Al Attiyah, partiu para o arranque da Especial consciente que

a sua vantagem de mais de uma hora na classificação geral sobre Henk Lategan lhe oferecia um escudo de proteção tão eficaz como o do Harry Potter. No entanto, para este Sheik do Qatar, passear em competição não é bem a sua praia. Aproveitou a sua posição de abrir a pista, sem qualquer vestígio de motos, para rever o trabalho de casa com o seu navegador Mathieu Baumel. Cautela acima de tudo. Nasser deixou escapar regiamente vinte minutos para o seu companheiro de equipa Yazeed Al Rajhi, que domina um trio de notáveis pilotos que já perdeu todas as esperanças de

ETAPA 7 > AL DUWADIMI > AL DUWADIMI LIGAÇÃO 528 KM > ESPECIAL 333 KM

aparecer bem na classificação geral. O saudita conquistou a quarta Especial da carreira, a terceira a “jogar” em casa, graças a uma condução que se expressou muito bem apesar de partir na 39ª posição.

Os seu mais diretos perseguidores na classificação do dia, Vaidotas Zala e Guerlain Chicherit não beneficiaram dessa vantagem, no entanto, exploraram ao máximo para devolver um pouco de bálsamo ao coração da equipa BRX que bem estava a precisar. São imediatamente seguidos

por um trio de pilotos sul-africanos que confirmam a clara tendência na evolução do equilíbrio de forças na disciplina, sabendo que os Audi perderam com os contratempos de Mattias Ekström a ultima oportunidade de chegar aos lugares de honra. Para a Audi este Dakar foi um autentico fracasso que vai dar muito que pensar nas hostes da marca alemã.

A luta é bem mais acérrima no T3s. Os dois líderes da categoria estavam bem cientes da necessidade de preservar os seus interesses num percurso complicado. A parti daí, Guillaume de Mévius e Austin Jones não tiraram os “olhos” um do outro, neutralizaram-se, atrás do vencedor da etapa, o norteamericano Mitchell Guthrie. De Mévius

(Grall) continua a liderar com 8m 29s de vantagem sobre Austin Jones.

A categoria SSV T4 assistiu à mudança de líder. Rodrigo Luppi de Oliveira cedeu com muita relutância o lugar à equipa Red Bull Can-Am Factory Team com o piloto lituano Rokas Baciuska e o navegador espanhol Oriol Vidal Montijano, signatários de uma terceira Especial este ano. O campeão mundial é ameaçado pela família Goczal, que ocupa 3 lugares do TOP5.

Por fim, Janus Van Kasteren (Team de Rooy Iveco) destaca-se ao vencer a etapa sem fazer tremer Ales Loprais (Praga) que é de novo o líder dos pesos-pesados.

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Guillaume de Mévius / François Cazalet / Grall, lideram a categoria de Protótipo T3 Yazeed Al Rajhi vence etapa pela honra. Nasser Al Attiyah, está confortável na liderança da Geral, com mais de uma hora de vantagem sobre o segundo classificado.

As chuvas torrenciais alteraram a paisagem.

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O DESTAQUE DO DIA

A África do Sul tem um historial muito especial com o Dakar. Em 1992, a Cidade do Cabo deu as boas-vindas à chegada de um extraordinário percurso transafricano, aquele que Thierry Sabine havia originalmente imaginado antes de terminar em Dakar. Em 1999, um certo Alfie Cox participou de moto, chegou assinar 3 pódios, incluindo, em um 2º lugar em 2002. No ano seguinte,

foi Giniel de Villiers quem participou de automóvel. Nesta edição, o vencedor do Dakar 2009 participa no seu 20º Dakar. Terminou sempre no TOP 10, excepto um. Um modelo para as novas gerações de pilotos e construtores.

O Toyota Gazoo Racing de Giniel de Villiers e de Henk Lategan, bem como o Century de Brian Baragwanath são

“feitos em África”. E, hoje, esses três pilotos assinaram ataque de grupo do 4º ao 6º lugar. Já levam 4 dias no TOP 6 e Henk Lategan também é o perseguidor mais direto de Nasser Al Attiyah, na Geral. África do Sul é a nação que domina esta fase do Dakar com 3 equipas no TOP 10 e 3 carros 100% do país de Mandela.

Nasser Al Attiyah no rasto de Sébastien Loeb, num imponente maciço de dunas.

CAMIÕES

A categoria de camiões está passar um período de frescura que contrasta com o domínio dos veículos russos dos últimos anos. Inevitavelmente, são muitos os candidatos a reivindicar a sua sucessão, a começar pelo vencedor do

dia , Janus Van Kasteren (Iveco), que foi 5ª na edição Dakar 2022. O neerlandês arrebatou o seu primeiro scratch e faz parte das estatísticas. Melhor ainda, a categoria recebeu três neo-vencedores que representam o futuro. Além de Van

Kasteren, estrela em ascensão da casa de De Rooy, estão Mitchel Van Den Brink, que acaba de se coroar com o recorde do mais jovem vencedor em camiões aos 20 anos, e Gert Huzink, ao volante de um camião híbrido Renault.

ETAPA 7 > AL DUWADIMI > AL DUWADIMI LIGAÇÃO 528 KM > ESPECIAL 333 KM

ETAPA 7

JOÃO FERREIRA

VOLTA

A

BRILHAR E SOBE AO PÓDIO NA SÉTIMA ETAPA.

Depois de um segundo lugar na quarta etapa, o Campeão Nacional Absoluto de Todo-o-Terreno, Campeão da Europa de TT e vencedor da Taça Ibérica, João Ferreira, voltou a subir ao pódio numa especial do Dakar Rally 2023. Na sétima etapa da prova organizada pela ASO, o jovem piloto leiriense rodou grande parte da tirada na liderança virtual da especial, acabando, já perto do final por cair para o terceiro lugar, a menos de dois minutos do vencedor e a escassos 15 segundos do segundo lugar. Ricardo Porém, partiu um amortecedor e acabou na 36.ª posição.

“Mais um pódio neste Dakar! É incrível. Estou mesmo feliz por ter conseguido uma etapa bem conseguida, sem problemas e com um ritmo que me deixa satisfeito. O Filipe Palmeiro, tal como nas restantes etapas, fez um trabalho incrível e isso deixa-me muito mais tranquilo na hora de encarar cada duna. Durante a etapa não temos a noção do ritmo dos nossos adversários e fiquei surpreendido pelo facto de ter rodado bastante tempo na liderança da especial. Prova máxima da qualidade deste X-RAID YXZ1000R TURBO PROTOTYPE SXS.”

Já Ricardo Porém, que ficou muito satisfeito com o resultado do companheiro de equipa, explicou o sucedido durante a etapa: “Uma pequena duna, uma espécie de lomba de areia, acabou por nos surpreender e caímos com mais força,

partindo um amortecedor e um braço de suspensão. Tivemos de parar e reparar para prosseguir. Felizmente, e porque nesta etapa só vamos ter duas horas de assistência rápida, numa espécie de etapa maratona improvisada

devido ao mau tempo que se fez sentir, o carro está em excelente condições e estamos prontos para amanhã. Queria dar, uma vez mais, os parabéns ao João pelo resultado obtido. Estou mesmo contente por ele!”

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Ricardo Porém teve que parar para reparar um amortecedor e o braço da suspensão. João Ferreira, o jovem piloto leiriense rodou grande parte da tirada na liderança virtual da especial, acabando, já perto do final por cair para o terceiro lugar, a menos de dois minutos do vencedor e a escassos 15 segundos do segundo lugar. X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM João Ferreira e Filipe Palmeiro / X-Raid YXZ 1000 R Turbo, vencem 8ª Etapa e inscrevem, os seus nomes, irreversivelmente, na história do Dakar.
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Filipe Palmeiro

Navegador de elite

O Portalegrense de 45 anos, é um navegador de elite sobejamente conhecido no mundo do todo-oterreno de alta competição. Casado, empresário, apaixonado por automóveis de competição “ Aos 3 anos de idade já conduzia ao colo do pai”. Com uma palmarés invejável, navegou pilotos como Elizabete Jacinto, Hélder de Oliveira, Annett Fischer, Stephan Schott, Martin Kaczmarski, Krzysztof Holowczyc, Guilherme Spinelli, Orlando Terranova, Boris Garafulic, com quem conquistou o 8º lugar da Geral no Dakar em 2019, e o 3ª lugar da Geral na Baja de Portalegre em 2017, entre outros. Tranquilo e cerebral é conhecido pelo seu autodomínio e grande profissionalismo. Inscreve, mais uma vez, o seu nome na história do Dakar, desta vez, com a vitória da etapa, na baquet ao lado de João Ferreira.

O Piloto

Em 2022, foi Campeão Nacional Absoluto de Todo-o-Terreno, conquistou a carismática Baja 500 de Portalegre e o Europeu de Bajas TT...uma época de sonho para o jovem piloto de 23 anos, natural de Leiria.

Tranquilo, persistente, não deixa que as emoções afetem o seu espírito competitivo e revela uma personalidade forte mas afável. Chegou ao Dakar “para aprender, ganhar experiência e desfrutar”. Rapidamente, interiorizou que o Dakar num dia é brando, no outro, é implacável. No meio das adversidades, teve a proeza de subir duas vezes ao pódio; segundo lugar na quarta Especial e um terceiro lugar na sétima Especial. Mas, o melhor estava para chegar: numa Especial extremamente difícil ,João Ferreira, sem limitações impôsse e foi o mais rápido do dia, conquistando a 8ª Etapa. Um feito incrível que qualquer piloto gostaria de ter no seu palmarés. Para gaudio do todo-o-terreno nacional, João Ferreira, inscreve com letras douradas o seu nome, inequivocamente, na história da Prova. O Dakar já não esquece dele! João, muito obrigado.

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João Ferreira
ETAPA 8 > AL DUWADIMI > AL DUWADIMI 822,94 KM > ENCURTADA EM 345 KM 3. 2.

NASSER E SKYLER NO DESCANSO COMO LÍDERES. JOÃO FERREIRA COMO VENCEDOR

1.

2.

1.

3.

Sébastien Loeb vence a etapa e sobe ao 4ª lugar da Geral

Skyler Howes vai gozar o dia de descanso como líder da classificação geral.

João Ferreira, vence categoricamente a sua primeira etapa no primeiro Dakar em que participa. O Dakar nunca mais se esquece dele!

A ultima etapa antes do dia de descanso exigia aplicação máxima. A etapa em laço traçada ao sul de Al Duwadimi estipulada para o dia anterior no programa inicial, é encurtada para 345 km para permitir que todos os pilotos enfrentem uma longa ligação que os leve até ao bivouac de Riade. Anteriormente, pilotos e equipas tiveram que lutar com uma navegação complexa e exaustiva, quer nas pistas de pedra no inicio da Especial, quer na sequencia de vales e maciços de dunas no final da mesma. Os motards que abriram a pista pagaram caro por esta dificuldade mas, Ross Branch aproveitou para vencer, tal como Sébastien Loeb. A liderança mantém-se nas mãos de Skyler Howes e de Nasser Al Attiyah.

Não é para todos poder usar a hierarquia a seu favor. Muitos tentam mas poucos conseguem. Nesta oitava etapa, Mason Klein, o virtuoso norteamericano impôs um andamento muito rápido que assustou os rivais. O

“miúdo” pensou que tinha a raspadinha da vitória, que ia ganhar a etapa mas, foi batido pelo botsuano Ross Branch que ofereceu a segunda vitória ao fabricante indiano da Hero. Da mesma maneira e, segundo, as informações que tinha (aliás, chegou aparecer na classificação provisória como tal) seria o vencedor da etapa e assumiria o comando da Geral. Mas, uma penalização de 4 minutos por excesso de velocidade privou-o de tal honra. O seu compatriota e mentor Skyler Howes foi gozar o dia de descanso como líder da classificação.

Nasser Al Attiyah, não sentia necessidade de experimentar qualquer elevação emocional, sobretudo, quando se tem um colchão cronométrico tão confortável. O líder não arriscou mas também não tentou jogar pelo seguro e, acabou por estabelecer o segundo melhor tempo do dia, o que lhe permitiu adicionar dois suaves minutos à vantagem sobre o companheiro de equipa, o sul africano Henk Lategan, na classificação geral.

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1. 1.

2. 2.

O piloto botsuano Ross Branch festeja a segunda vitória na etapa que ofereceu ao fabricante indiano Hero. A primeira foi vitória da Hero no Dakar foi, no ano passado, pelas mãos de Joaquim Rodrigues.

O “miúdo” Mason Klein (KTM) surgiu na classificação provisória como vencedor da etapa e como novo líder da Geral, mas uma penalização de 4 minutos, estragou-lhe os planos.

Algumas preocupações tomadas por Al Attiyah devem-se sobretudo à capacidade de reação que percebe que existe em Sébastien Loeb, que não representa um perigo real mas cuja evolução e natureza do piloto francês, o desafia etapa-após-etapa. Com esta vitória, Loeb está encaixado no TOP 5, atrás dos três Toyota que iluminam o caminho e à frente do Toyota de Giniel

De Villiers. Desta forma, os pilotos privados vão enchendo paulatinamente o TOP 10: em 6º Romain Dumas, em Toyota Hilux; 7º Martin Prokop em Ford Raptor; 8º Brian Baragwanath em Century CR6-T; 9º Wie Han, em SMG HW2021 e a fechar o TOP 10, o argentino Juan Yacopini aos comandos do Toyota Hilux. Ou seja, seis carros do TOP 10, são Toyota.

Enquanto isso, Carlos Sainz tentou fazer o seu RS Q E-Tron brilhar ao acelerar para ganhar a etapa mas, uma penalidade de 5 minutos por excesso de velocidade frustrou o plano que poderia ter desenhado um belo sorriso no rosto da equipa Audi, que não tem tido grandes oportunidades para sorrir.

Nos Quad, as vitórias em etapas são também o que resta de satisfação de Manuel Andujar: o argentino vence a sua terceira especial do ano e recupera dois minutos de atraso sobre Alexandre Giroud, na nossa opinião, o mais tranquilo dos líderes do Dakar.

Com os nervos à flor da pele, Guillaume de Mévius ainda luta com Austin Jones e não tem o mesmo conforto no topo da classificação T3, visto que estão separados por apenas 3m 19’’ à entrada para Riade.

O nosso João Ferreira alheio a esta luta do gato e do rato, apanhou a pista limpa, sem pó e impôs um ritmo vitoriosa, batendo ao “sprint” Francisco “Chaleco” Lopez por 17 segundos e Mitchell Guthrie a 02m 02”. O piloto de Leiria não podia estar mais contente: “Esta etapa correu-nos bem desde o início, uma vez que depois do resultado obtido ontem acabámos por conseguir partir um bocadinho mais à frente, não

apanhámos pó e foi uma etapa 100% limpa, onde impusemos um ritmo forte. Esta foi uma etapa dura, com muita pedra e areia no final, dunas muito grandes. Ultrapassamos todos os desafios e conseguimos a nossa primeira vitória no Dakar. É um orgulho enorme levar mais longe o nome de Portugal com

esta vitória e agora vamos aproveitar bem o dia de descanso para preparar da melhor forma a segunda semana de corrida. O objetivo não se alterar apesar destes bons resultados. Queremos estar no final da prova e continuar a evoluir diariamente!”, concluiu, o vencedor da etapa naturalmente feliz.

Nos camiões, Martin Macik continua em ascensão na classificação geral, com esta quarta Especial arrecadada sobe ao à 4ª posição da geral a 38 minutos atrás de Ales Loprais.

O DESTAQUE DO DIA

O nosso destaque vai direitinho para a dupla João Ferreira/ Filipe Palmeiro que teve uma prestação irrepreensível, exímios na navegação, muito fortes no ritmo. João Ferreira, vence categoricamente a sua primeira etapa no

primeiro Dakar em que participa, à frente de pilotos considerados lendas do Dakar, como o chileno Francisco “Chaleco” Lopez, Ignacio Casale, outro chileno, entre outros. O Dakar nunca mais se esquece dele!

A MALAPATA DO DIA

Sob pressão qualquer um pode tropeçar. Esta é talvez a aventura vivida por Janus Van Kasteren (Rooy Iveco), que esteve parado durante meia hora, ainda na primeira parte da etapa. O gasto cronométrico não é proibitivo, já que equivale mais ou menos a um furo mas, as consequências são pesadas para quem luta pela vitória final. Na etapa anterior o jovem piloto neerlandês estava apenas a 15 minutos do líder, Ales Loprais (Praga), com as cores da Chéquia, mas depois do dia de descanso vai entrar na etapa com 38 minutos de atraso, embora mantendo a 3ª posição da geral. Entre os dois, Martin Van Den Brink, outro neerlandês e também da casa Rooy/Iveco.

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UMA HISTÓRIA DE AMOR, ONDE JOÃO FERREIRA É O CUPIDO

Entre a Yamaha e o Dakar, existe um longa história de amor. A fábrica de Iwata desenhou modelos emblemáticos do Dakar e também deu fama a muito protagonistas do maior rali de todo-o-terreno do mundo. Stéphane Peterhansel, Cyril Neveu e Edi Orioli estão entre eles, mas no ano passado a Yamaha decidiu parar de participar em ralis com motos...para entrar no T3. Em colaboração com a X-Raid, a Yamaha lançou um novo protótipo, o YZX 1000 R Turbo, que a empresa nipónica confiou à X-Raid Yamaha Supported

Team para competir na 45ª edição do Dakar. O estreante João Ferreira, que já se aproximou da vitória por diversas vezes, conseguiu finalmente a consagração e permite ao fabricante entrar nos anais ao lado da Can-Am ou mesmo do Polaris e OT3.

Melhor ainda, a Yamaha torna-se a primeira marca a vencer uma etapa tanto em moto como em auto, depois de ter reinado quase sem constatação na categoria de Quads.

ETAPA 8 > AL DUWADIMI > AL DUWADIMI 822,94 KM > ENCURTADA EM 345 KM
Sébastien Loeb e Rudi Garcia, Manager do clube Al Nassr da liga Profissional de futebol da Arábia Saudita, com a camisola mais famosa do país.

O COMENTÁRIO

Nasser Al Attiyah: “Na próxima semana estou em casa”

Hoje, não tivemos furos, tivemos muito cuidado para os evitar. Terminar me 2º é bom e estou muito feliz. Trabalhamos muito no inicio da corrida e ,agora,

DO DIA

Ricardo Porém reage à vitória de João Ferreira: “Só quem não o conhece é que fica surpreendido...”

Ricardo Porém fez uma etapa em recuperação, depois de ter partido relativamente atrasado para a etapa de hoje. “Foi um dia de muitas ultrapassagens e onde conseguimos impor o nosso ritmo. Terminámos a especial na 17.ª posição, o que nos permite subir ao 17.º lugar da Geral, na

estamos a colher os benefícios. Agora, só temos que tentar estar no TOP 3 todos os dias, é o nosso objetivo. Para a semana que vem nas dunas, estou am casa. Vai haver muitas dunas e isso é muito bom.” qual somos os melhores portugueses”, explicou o piloto da X-RAID Yamaha Supported Team, antes de elogiar o companheiro de equipa e amigo: “Acompanhei a temporada 2022 completa do João e sabia que o dia dele neste Dakar ia chegar. Preparámos esta prova juntos e só fica surpreendido com este resultado quem não conhece o João, o seu empenho e qualidade. Acredito que será a primeira de muitas.”

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Carlos Sainz tentou salvar a honra do convento – da Audi – com a vitória na etapa mas, uma penalização de 5 minutos por excesso de velocidade frustrou o plano.

O piloto chinês, Gouyo Zhang, com o experiente navegador do Dakar, Jean-Pierre Garcin, em apuros, presos pelo ventre do Baic Oru Modelo BJ40, na crista da duna (21º da Geral)

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OS TRÊS MOSQUETEIROS DA HUNTER

A 9ª Etapa, após o merecido descanso (para alguns) também coincide com uma nova orientação geográfica. O Dakar defronta-se no sudeste da Arábia Saudita e aproxima-se das tradicionais dunas do Empty Quarter. Deixou a zona mais regada e fixou-se em zonas de dunas mais acessíveis... Desde que se respeite as regras das dunas. É verdade, a abordagem de uma duna não tem a ver com a habilidade do piloto, tem a ver com o respeito com que o mesmo aborda a duna. É a essência de conduzir em areia. Temos que respeitar os elementos e as suas regras. O desrespeito pelas regras foi o pecado cometido por Joan Barreda e Carlos Sainz, ambos lesionados, sem gravidade logo no inicio da etapa.

Para os mais corajosos, foi necessário escolher opções complexas de navegação e pilotagem entre oueds ou wadis (Rios), alguns bem cheios. Terrenos aos quais se adaptaram perfeitamente Luciano Benavides, de moto, e Sébastien Loeb, os dois mais rápidos nos 358 Km da Especial do dia.

É caso para dizer que os motards da prova estão a brincar com os nervos dos adeptos e apaixonados da modalidade, que assistem impotentes mas entusiasmados às voltas e reviravoltas no topo da classificação geral, que deixa o mundo em suspense até ao ultimo segundo.

Claro que foi com relutância que Joan Barreda desceu ao “inferno” dos

ETAPA 9 > RIYADH > HARADH LIGAÇÃO 328 KM > ESPECIAL > 358 KM

abandonos. Outro, que não passou longe da mesma sensação, com duas quedas e a perda do road-book, foi Mason Klein. O atraso não o exclui da prova mas deixa-o completamente a leste do paraíso.

Do lado dos felizardos do dia, Luciano Benavides (Husqvarna) registou o melhor desempenho e é o primeiro duplo vencedor da categoria este ano,

enquanto o companheiro de equipa da Husqvarna, Skyler Howes, se mantém na liderança da Geral. O norte-americano resiste mas começa a sentir a respiração de Toby Price nas costas.

Para Nasser Al Attiyah, cada dia que passa fica cada vez mais próximo da sua quinta vitória, embora refute, e com razão, que ainda não está nada

ganho. O velho sábio do deserto nunca se alegra com o infortúnio dos amigos mas, viu recuar a ameaça Henk Lategan, o azarado do dia na lotaria das avarias mecânicas. Já Carlos Sainz, se já não era uma ameaça, agora muito menos, depois de ter cravado violentamente o focinho do seu RS Q E-tron entre duas dunas após 6 quilómetros de corrida. Este acidente deixou a imprensa

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Sebastien Loeb / Fabien Lurquin / Hunter

1.

espanhola em suspense, hesitando entre as noticias do hospital de Riade e as do local do acidente.

Em suma, Nasser Al Attiyah lidera com 1h21m de vantagem sobre Lucas Moraes, o rookie brasileiro e, como quem não quer a coisa, está com um olho no Sébastien Loeb de volta ao pódio, depois de registar o melhor scratch pela terceira vez este ano.

No T3. Foi o argentino David Zille (Can-Am) teve o prazer de uma vitória, com apenas 2 segundos de vantagem sobre Guillaume de Mévius. O líder da classificação geral teria aceitado com prazer mais uma vitória na Especial mas,

está mais interessado no seu duelo com Austin Jones, que está em segundo a 12m 43s de si.

No T4, o duelo entre o lituano Rokas Baciuska (Can-Am) e o “miúdo” polaco, Eryk Goczal (Can-Am) que assinou a sua terceira vitória da Especial está ao rubro. Os 46 segundos de vantagem podem ser crucias, ou não.

Nos camiões, os contratempos de Martin van Den Brink e de Martin Macik, parados cerca de 40 minutos, favorecem Ales Loprais no top da classificação geral. Claro, que também favorece Janus Van Kasteren na segunda posição, a 26m 54s do líder.

1. 2.

Vaidotas

Skyler Howes (Husqvarna) na liderança da Geral. Mas, o norte-americano, já sente o respirar de Toby Price (KTM) nas suas costa. A diferença é de 1 minuto.

O DESTAQUE DO DIA

Realmente, as boas noticias não são frequentes para os lados da Prodrive que acabou a etapa muito forte e em grande! Meteu três Hunter no pódio do dia. O primeiro pleno na história da jovem equipa.

A prestação dos Hunter até começou com um pequeno susto para Sébastien Loeb, que não conseguia ligar o carro antes da partida. O atraso da ignição valeu-lhe uma penalização de 2m 10’’ (aplicada apenas à classificação geral) que se calhar até serviu de estimulo para ganhar a etapa do dia. Neste momento, Sébastien é o perseguidor que está a dar mais luta ao Toyota do Nasser, ganhando-lhe 11 minutos e subindo à

terceira posição da Geral: o seu 3º lugar fica a 1h 43m do favorito à vitória. Logo abaixo dele no raking, o lituano Vaidotas Zala, navegado pelo português Luís Fiúza, falha pela segunda vez, este ano, a vitória da Especial, por escassos 58s.

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Zala / Luís Fiúza / Hunter
O trio dos Hunter ficou completo por Guerlain Chicherit que se pode lamentar pelo erro de ter seguido o traçado de Mathieu Baumel, o navegador da sua estreia, e depois de ter tido um furo. Claro, que o seu navegador, o francês Alex Winocq, também facilitou. O vencedor do Rali de Marrocos, termina pela 6ª vez no Top5 de uma etapa este ano. 2.

A MALAPATA DO DIA

Joan Barreda exibiu a parte de trás do seu capacete ao entrar no seu 13ª Dakar, ano em que completou 40 anos. “Last Shot”, lia-se no seu capacete, numa mistura de “última dança” com a sua reputação de serial killer com 29 scratchs no currículo. Por alguma coisa é considerado Lenda do Dakar. A última recompensa deste caçador de Especiais ainda estava fresca, conquistada no loop da quarta etapa, em Ha’il. O espanhol ficou a quatro vitórias dos recordes de Peterhansel e Despres. No dia seguinte,

“Bang Bang” mordeu a poeira no final da Especial, numa falha do piloto da Honda. Aquele que evoluiu na sua estrutura privada, apoiado pela Monster Energy, aos comando de uma máquina HRC, tinha até então uma corrida comedida entre o 4º e o 8º lugar da Geral, desde 1 de janeiro.

Ao cair novamente, no inicio da 9ª Especial, Barreda baixou as armas e rendeu-se. Esta é a sexta vez que Barreda “Bang Bang” desiste. O seu melhor

resultado continua a ser um 5º lugar, obtido em 2017 e depois em 2022. Em 1966, a sempre “jovem” Cher assinou o seu segundo single “Bang Bang” nos tops dos charts norte-americanos, que ficou famoso pela capa de Nancy Sinatra, cujo refrão assenta que nem uma luva na carreira de Barreda “Bang Bang”: “Bang bang, I hit the ground, Bang bang, that awful sound, Bang bang, my baby shot me Down

ETAPA 9 > RIYADH > HARADH LIGAÇÃO 328 KM > ESPECIAL > 358 KM
Água, muita água, a adversidade que a maioria não esperava.

A REAÇÃO DO DIA

Sébastien Loeb: “Vamos levar alguns meses para alcançar Al Attiyah”

“Sem pressão de combustível o carro não ligava. Verificamos todas as conexões e o nosso engenheiro reparou que um conector não estava bem conectado atrás da bomba de gasolina e talvez ficasse assim, não tenho a certeza, quando a FIA recolheu as amostras. Fizemos reset e finalmente o carro pegou.

Chegamos 10 minutos atrasados à partida que estava num sitio complicado de chegar, pois havia dois ou três locais onde os percursos traçado pelas motos para obter passagem não eram muito bons. Devemos ter filmado sete ou oito minutos a encontrar o caminho para a Especial. Neste ritmo, vamos precisar de 6 meses para alcançar o Al Attiyah”.

".ESTA É A SEXTA VEZ QUE BARREDA “BANG BANG” DESISTE."

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Luciano Benavides (Husqvarna) registou o melhor desempenho e é o primeiro duplo vencedor da categoria este ano. Lucas Moraes / Timo Gottschalk / Toyota Hilux Overdrive. O rookie, em segundo lugar da Geral. Calos Sainz na hora do abandono

ETAPA 9

RICARDO PORÉM E JOÃO FERREIRA EM BOM NÍVEL

Ricardo Porém e João Ferreira, acompanhados por Filipe Palmeiro e Augusto Sanz, respetivamente, conseguiram hoje resultados dignos de destaque na nona etapa do Dakar Rally. João Ferreira, que nesta edição da prova já venceu uma etapa e alcançou mais dois pódios foi sexto na especial que ligou a capital Riad a Haradh, enquanto que o seu companheiro de equipa na X-RAID Yamaha Supported Team, Ricardo Porém, registou o seu melhor desempenho na edição 2023 alcançando um excelente quarto lugar entre os Protótipos Ligeiros.

“Apesar de termos conseguido o nosso melhor resultado nesta edição do Dakar, acreditamos que, em condições normais, podíamos ter conseguido fazer melhor. Numa etapa que consideramos tranquila, ficámos sem travões ao quilómetro 170. Daí em diante tivemos que gerir para garantir que chegávamos ao fim. Felizmente, a ordem de partida para amanhã será boa, numa etapa que se prevê muito difícil, com a entrada no Empty Quarter”, explicou Ricardo Porém. Por seu lado, João Ferreira, que nesta etapa foi sexto explicou que “saímos na frente, bem no meio dos Autos. Foi uma etapa diferente, num gigantesco mar de dunas que nos criou algumas dificuldades, mas nada que não tenhamos conseguido gerir. Estamos muito curiosos pelas dificuldades que vamos enfrentar na etapa de amanhã e por isso vamos preparar-nos mentalmente e fisicamente para a mais

curta, mas eventualmente mais dura, etapa deste Dakar.”

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João Ferreira / Filipe Palmeiro Ricardo Porém / Augusto Sanz X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM Nasser Al Attiyah / Mathieu Baumel / Toyota Hilux Gazoo. A cada dia que passa, cada vez mais perto da vitória final.
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OS ENCANTADORES DE DUNAS

Aqui estamos, no reino das dunas. Em edições anteriores fomos brindados com as dunas do Empty Quarter, uma região de difícil acesso por decisão das autoridades sauditas com algumas exceções. Este ano está previsto uma verdadeira estadia nesta imensidão de areia ao longo de quatro dias, começando por um aperitivo: uma travessia de 114 km quase exclusivamente dedicados a tobogãs em série. Depois de uma longa ligação que os levou às regiões mais remotas, perto da fronteira junto da fronteira dos Emirados Árabes Unidos, um especialista em terrenos ondulados aproveitou bem o dia de moto: Ross

Branch (Hero), também conhecido como o “Ferrari do Kalahari”, estabeleceu o melhor tempo nas duas rodas, enquanto Sébastien Loeb venceu nos carros, como sempre faz quando não tem problemas.

Dominar as dunas é um ato de equilíbrio e respeito pelos elementos naturais. A transposição de dunas exige um agilidade extraordinária, técnica que se afina ao longo dos anos. Transpor uma duna de crista, por exemplo, é um momento sublime em que a contenção e a aceleração está num segundo. Nada substitui a experiência para brilhar na progressão eficaz num maciço de dunas

e foi isso que permitiu ao botsuano Ross Branch vencer a etapa em Shaybah. O piloto botsuano treina todo o ano no deserto do Kalahari, que ele também costuma sobrevoar como piloto de um transportadora aérea. É caso para dizer que o piloto da Hero esteve à altura.

Adrien Van Veberen (Honda), outro encantador de dunas, registou o segundo tempo com mais 21 segundo e mantém-se na 4ª posição da geral, enquanto Michael Docherty (Husqvarna), uma das sensações deste Dakar fechou o pódio do dia.

O dia também foi proveitoso para os

ETAPA 10 > HARADH > SHAYBAH LIGAÇÃO 510 KM > ESPECIAL 114 KM

dois ex-vencedores do Dakar, Kevin Benavides e Toby Price que agora cercam Skyler Howes (2º da classificação) no pódio da geral. Entre os três pilotos há uma diferença de 2m 10s.

Noutra ciência de condução, Sébastien Loeb venceu a etapa e conseguiu recuperar quase mais 6 minutos ao líder. No entanto, Nasser Al Attiyah ainda não começou a tremer, sendo que as únicas gotas de suor que lhe escorrem pela cara ao sair da Hilux estão unicamente ligadas ao tão esperado aumento da temperatura.

O quarto melhor tempo conquistado

à entrada do Empty Quarter é bem do agrado do catariano que beneficiará de uma posição de partida favorável para a etapa maratona.

No T3, Guillaume de Mévius lidera à frente de Austin Jones, mas a 10ª Etapa permitiu a Seth Quintero (Can-Am Maverick) melhorar as suas estatísticas adicionando, tal como Loeb, a sua 20ª vitória de Especiais no Dakar à sua carreira. Atrás dele, Ignacio Casale/ Yamaha (2º) e Hélder Rodrigues / CanAm(3º).

No T4 Gerard Farres Guell (Can-Am) está acostumado a honras na categoria SSV

mas, ainda não havia vencido este ano. Está feito, para o catalão que se inscreve no pódio e atrapalhou a luta entre Rokas Baciuska e Eryk Goczal. Foi Rokas que reconquistou a liderança na Geral.

Nos camiões, a configuração mudou, tendo o líder incontestável Ales Loprais ter desistido após se envolverno dia anterior numa acidente fatal com um espectador italiano. E, assim, Janus Van Kasteren (Iveco) herda a liderança, enquanto o antigo motard Pascal de Baar coloca, pela primeira vez, um camião Renault no topo da classificação da Especial do dia.

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Ross Branch (Hero), o “ Ferrari do Kalahari” estabeleceu o melhor tempo dia, nas duas rodas.

A MALAPATA DO DIA

Como piloto experiente, Vaidotas Zala sabe que o Dakar pode ser brando num dia e implacável no outro. Depois de uma entrada atribulada, o ex-representante da Mini conseguiu finalmente encontrar a chave para se distinguir ao volante do seu Hunter. Entre a quinta e a nona

etapa, navegado por Luís Fiúza, esteve sempre entre os 10 primeiros. Melhor, am duas ocasiões esteve muito perto (por escassos segundos) de vencer a etapa. O lituano ainda ajudou a Prodrive a conquistar o primeiro pleno de pódio da sua história naquele dia. Tudo parecia

correr bem para aquela associação lusolituana, mas tudo isso sem contar com um problema mecânico, hoje, ao Km 44 que os fez perder mais de 4 horas antes de poderem arrancar de novo. O Dakar pode minar rapidamente uma máquina bem oleada...

PORTUGUESES

Hélder Rodrigues foi o 3º mais rápido entre os T3 nesta décima etapa do  Rali Dakar 2023. Este é por agora o melhor resultado do piloto português nesta sua estreia na competição auto do Dakar.

Com apenas 114 km cronometrados, num exigente percurso realizado maioritariamente em dunas de areia fina do deserto da Arábia Saudita, Hélder Rodrigues, muito bem navegado

por Gonçalo Reis, teve finalmente a possibilidade de exprimir o seu andamento num dia em que não vieram ao de cima as limitações a que tem estado sujeito.

Sale Alsaif (Can-Am). O piloto saudita teve um percalço e é ajudado para se recompor.

ETAPA 10

RICARDO PORÉM FICA, MAIS UMA VEZ, À PORTA DO PÓDIO

Ricardo Porém voltou a mostrar-se confiante nesta segunda semana de Dakar. O piloto de Leiria entrou com o pé direito nesta segunda metade da prova organizada pela ASO e registou o seu quarto lugar consecutivo em etapas. João Ferreira, por seu lado, foi 11.º e continua a sua aprendizagem, sempre com a ambição de fazer mais e melhor.

Foi uma etapa tranquila, onde conseguimos impor um ritmo positivo Repetimos o quarto lugar da etapa de ontem e estamos mais confortáveis com o carro e a forma de tirar melhor partido do mesmo. Avizinham-se dias duros em que todo o cuidado é pouco! Vamos tentar fazer mais e melhor até domingo”, explicou Ricardo Porém, que está na sua quarta participação no Dakar, a segunda aos comandos de um SSV.

João Ferreira, campeão nacional de todo-o-terreno, depois de três pódios na primeira semana, começou a segunda semana com objetivos bem delineados. “Nesta segunda semana queremos mesmo aprender e garantir a chegada ao final da prova. Só vamos impor um ritmo mais forte se virmos que há forte possibilidade de chegar a lugares de destaque. Hoje fomos 11.º na etapa mais curta do Dakar, mas que nos deu algum trabalho! A aprendizagem continua e amanhã damos início à Etapa Maratona”, explicou.

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João Ferreira / Filipe Palmeiro Ricardo Porém / Augusto Sanz X-RAID YAMAHA SUPPORTED TEAM Ricardo Porém / Augusto Sanz / X-Raid Yamaha no dominio das areias do deserto do Empty Quarter, para fazer o melhor tempo da Especial.
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Navegador

Durante a década em que o Dakar se realizou na América do Sul, o jovem argentino Augusto Sanz, acompanhava o pai, entusiasta e praticante fervoroso das duas rodas, à passagem da “La Odisea” como é conhecido o “Dakar” na Argentina, e ficou viciado.

Depois de competir a nível nacional no Campeonato Argentino de Rali Cross-Country e no Campeonato Argentino de navegação, no qual conquistou o titulo este ano, não imaginava vir a participar no rali mais duro no mundo, o seu maior sonho.

Aos 26 anos, este empresário na área da energia solar e Bombeiro Voluntário em Exaltación de La Cruz, concretiza o seu sonho: recebe o convite para participar no Dakar como navegador do português Ricardo Porém. “Nem queria acreditar”. No primeiro Dakar em que participa, consegue o seu primeiro triunfo em Especiais, ao lado de Ricardo Porém. Augusto, muchas gracias.

Augusto Sanz

Longe vão os tempos em que desmanchou um UMM peça-por-peça para ficar a conhecer bem o carro em que competia ao lado do mano Manuel Porém. Hoje, é o piloto da sua geração mais bem posicionado a nível de resultados, com um palmarés invejável.

Campeão Nacional Absoluto de Todo-o-Terreno duas vezes, ganhou quatro vezes a Baja de Portalegre e enquadra-se no pódio dos pilotos com mais vitórias na mítica prova internacional. Cumpre a sua quarta presença no Dakar e, nesta edição, já registou dois 4º lugares consecutivos em Especiais e, agora, a vitória na Especial numa etapa Maratona. Um feito que qualquer piloto gostaria de ter no seu palmarés, fruto da sua atitude, exigência consigo próprio, autodeterminação e sede de vencer. Ricardo, muito obrigado.

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Ricardo Porém Piloto

PORÉM, FERREIRA E CASALE FAZEM O PLENO DO PÓDIO PARA A YAMAHA

Chegou a temida primeira parte da etapa Maratona, onde os pilotos ao fim da jornada encontram um bivouac, um tanto ou quanto fantasmagórico, sem os camiões de assistência, sem as equipas de mecânicos, sem as luzes e sem o ruído metálico do trabalho; onde os

pilotos ficam entregues à sua sorte, ou aos seus conhecimentos.

Depois de terem contornado na ultima etapa a fronteira dos Emirados árabes Unidos, convergiram para o Sultanato de Omã, onde, no ano de 1659 o povo

omanita expulsou os portugueses. Neste vasto deserto, foi possível oferecer uma variedade paisagística e de terrenos ao longo do 274 km de Especial. Dunas em abundância, claro, mas também chotts (planaltos de sal gigantescos) que permitiram atingir as velocidades

ETAPA 11 > SHAYBAH > EMPTY QUARTER MARATHON LIGAÇÃO > 153 KM > ESPECIAL > 274 KM

máximas autorizadas: 160 km/h para as motos, 170 Km/h para os carros. E, foi neste cenário gigantesco, de andamento rápido e perigoso que os portugueses Ricardo Porém e João Ferreira brilharam ao mais alto nível, com a vitória e um segundo lugar, respetivamente..

Foi um dia muito feliz para Ricardo Porém e para João Ferreira que com a prestação do colega de equipa, o chileno Ignacio Casale fizeram o pleno do pódio. Uma jornada em cheio para os pilotos portugueses e para as hostes da X-Raid e para a marca criada pelo senhor Torakusu Yamaha.

Um truelo - permita-me o leitor utilizar a adaptação do neologismo inglês truel – porque na verdade tratou-se de um “duelo” a três disputado ao segundo. Tudo se resolveu numa box-time de 44 s. Ricardo Porém, que teve uma prestação eximia e uma navegação sem falhas, foi o mais rápido. Em segundo, a escassos 20 segundos, ficou o seu companheiro e amigo João Ferreira e a 22 segundos deste, o chileno Ignacio Casale. Foi uma etapa muito rápida e decidida ao sprint Foi realmente uma corrida diabólica para este 3 colegas de equipa já que o 4ª classificado (Seth Quintero) só passaria

a linha de chegada mais de 6 minutos depois. Impressionante.

“Que felicidade! Vencer uma etapa do Dakar é um objetivo cumprido para o qual trabalhei imenso desde o início da minha carreira. Estou verdadeiramente contente com o resultado obtido e também pelo resultado conseguido pela equipa, uma vez que colocámos três carros nas três primeiras posições, com o João a ser segundo. Foi uma luta bonita e a melhor forma de levar mais longe a bandeira de Portugal, num dia marcado pelas lembranças que tivemos do falecimento do Paulo Gonçalves, que nos deixou neste dia, em 2020”, disse Ricardo Porém no final da tirada.

João Ferreira, por seu lado, mostrou-se muito satisfeito pelo seu quarto pódio em onze etapas, apesar de ter perdido a Especial de hoje apenas por 20 segundos. “Hoje, ficar em segundo teve

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João Ferreira, em segundo, a 20 segundos do vencedor da Especial. Ricardo Porém, o mais rápido, entre os mais rápidos

sabor a vitória! Este quarto pódio no Dakar teve a curiosidade de perdermos por 20 segundos para o Ricardo Porém, uma das pessoas que me apoiou em toda a carreira e um grande exemplo para mim. Uma dobradinha portuguesa, num dia em que a X-Raid garantiu um triplete com o terceiro lugar entregue ao nosso colega de equipa Ignacio

Casale. Felizmente acabamos o dia sem problemas e estamos prontos para a segunda parte da etapa maratona”, explicou o Campeão Nacional.

Na Geral do T3, Austin Jones passou para o comando da Geral, com 55m 54’’ de vantagem sobre Seth Quintero. Ricardo Porém é o português mais bem

posicionado em 14º, Hélder Rodrigues cai para a 29ª posição e João Ferreira, sobe para 35º, da Geral.

O azar e a sorte, as lágrimas de alegria e de tristeza são frequentes no Rali “Dakar” que tornam todas as previsões arriscadas. É um facto. A regra é válida no inicio do rali, a meio, como no dia anterior e nos últimos dias de corrida este fenómeno encapsula no pensamento dos pilotos de forma mais forte. É um cocktail de ansiedade, risco, defesa, medo, coragem que funciona bem para uns, mal para outros. A constatação fica evidente ao analisarmos o raking da classe Moto, cujo líder voltou a mudar, tendo Kevin Benavides (KTM) ocupado o topo da classificação apenas por um dia. O vencedor de 2021 foi ultrapassado por Skyler Howes (Husqvarna) que assim reconquistou a Geral. Toby Price (KTM) está ainda mais bem classificado, a 28 segundos do líder. O contexto de proximidade cronométrica na elite abre especialmente o apetite a Luciano Benavides (Husqvarna) que na primeira semana de corrida ficou para trás dos rivais mas, afirma-se como um homem em boa forma. Prova disso, é a sua prestação no temível Empty Quarter, o piloto da Husqvarna sagra-se primeiro tri-vencedor de Especiais e começa aproximar-se seriamente da elite, apenas a 18 minutos e 06 segundos do seu colega do topo. Tudo pode acontecer. A imprevisibilidade é o perfume do Dakar.

2.

1.

1. 2.

Vamos lá vazar os pneus, recuar, definir a direção, fazer uma cama de lançamento, num vai-e-vem, e sair da cuvete o mais depressa possível.

O acampamento da etapa Maratona sem as equipas de assistência, sem as luzes e os ruído metálicos das reparações torna-se, um tanto ou quanto, fantasmagórico.

SÉBASTIEN LOEB É TEIMOSO

O piloto francês derrete suavemente o segundo lugar de Lucas Moraes, no entanto, o brasileiro que vê pelo retrovisor o Hunter vermelho aproximarse perigosamente, vende cara a sua pele, face à teimosia do francês e mantém nove preciosos minutos de vantagem.

Ao vencer a primeira parte da Maratona, Sébastien Loeb assina a quarta vitória consecutiva em Especiais. É teimoso. Recorde-se que tal série só foi alcançada nos carros por Carlos Sainz (2009), Ari Vatanen, com 5 vitórias consecutivas em 1989, depois 4 em 1990, e Jacky Ickx em 1982-83-84. É certo que o recordista de vitórias em ralis do WRC finge que não se interessa por recordes (Tal como o CR7), mas ai vem mais una dentadinha nas estatísticas. Além disso, alguma coisa me diz, que Loeb ainda pensa na vitória final. É por esta e por outras que é um grande piloto!

Mas de boas intenções está o mundo cheio, e pense o que pense Loeb, ainda

não é suficiente para desestabilizar Nasser Al Attiyah, sentado numa vantagem de hora e meia, nos terrenos que tão bem conhece e gosta, com um carro que lhe oferece fiabilidade

máxima, todos ingredientes, para o catariano, primo do presidente do PSG, dormir tranquilamente sob as estrelas no acampamento da Maratona.

O DESTAQUE DO DIA

(Sabe tão bem fazer estes destaques...)

Há pouco dias, João Ferreira ofereceu à Yamaha a sua primeira vitória na Especial do Dakar. Uma grande performance para o novíssimo protótipo da fábrica de Iwata que faz a sua estreia na categoria T3. Por trás deste cognome um tanto misterioso, o YXZ 1000 R Turbo, está equipado com um motor derivado de um dos snowmobiles da marca. E,

no Empty Quarter e nas suas dunas a perder de vista, nada melhor que uma “motosand” para as ultrapassar? Neste etapa, três representantes do clã Yamaha deram show e meteram todos a bordo do pódio. Os números não mentem e estão aí.

Ricardo Porém embolsou o seu primeiro scratch no Dakar á de João Ferreira e Ignacio Casale, os três homens ficaram separado por 20 segundos, entre si.

Mais de 6 minutos atrás deles está um certo Seth Quintero que no ano passado levou quase tudo à frente. Pode não ser muito significativo mas diz muito sobre as intenções da Yamaha no “Dakar”. A fábrica japonesa pode acabar com as motos mas, sobre os T3 ainda está tudo para ser escrito.

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Sébastien Loeb não desiste e vai na 4ª vitória consecutiva de Especiais. Team Boucou (Iveco), com o português José Martins ao volante. A assistência rápida do Team Audi Sport
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QUANDO TUDO ESTÁ BEM, O HUNTER É INEXPUGNÁVEL

O Empty Quarter continua a mostrar a personalidade. O deserto tem memória é como os elefantes, não se esquece. O imenso deserto que representa o grosso dos campos petrolíferos da Arábia Saudita também se afirma como um campo de expressão particular para os pilotos do ‘’Dakar’’. Primeiro, porque não é permitido ao

comum dos mortais chegar até aqui, segundo, porque a extensão de dunas tem poucos equivalentes no planeta. É um lugar privilegiado para quem gosta desta beleza inóspita que só o deserto pode oferecer. Mas, o programa de 185 km de Especial não se limita à simples transposição de dunas que por si só é uma dinâmica que roça o impossível.

Permite também as travessias de chotts , explorar os picos de velocidade dos veículos e sentir aquele frio gelado na barriga das grandes sensações.

Certamente, é através da técnica adquirida nas dunas do deserto do Atacama no Chile, que “Nacho” Cornejo (Honda) arranjou argumentos

ETAPA 12 > EMPTY QUARTER MARATHON > SHAYBAH LIGAÇÃO 191 KM > ESPECIAL > 185 KM

Loeb ganha a sua 5ª Especial consecutiva e fez a diferença pela sua grande força: vai como ninguém.

e experiência para vencer a segunda Especial no Empty Quarter.

Sébastien Loeb, autor de uma corrida impecável, encantou as dunas, ganhou a sua 5ª Especial consecutiva e fez a diferença pela sua grande força: vai como ninguém.

A pressão aumenta. Depois de uma longa permanência de Skyler Howes (Husqvarna) no topo da classificação geral, diga-se de passagem sempre muito apertado e num cenário que viu o efémero Mason Klein também dominar a categoria, agora é um “velho” conhecido que assume o comando do Dakar. Toby Price (KTM) não tem tido uma performance tão discreta quanto parece desde o inicio, já que se impôs desde logo no prólogo em Sea Camp. No entanto, o australiano tem se mantido estrategicamente “escondido” até à conquista do dia: o topo da Geral, conseguido sem grande alarde, com o terceiro melhor tempo da Especial, o que não o deve perturbar muito já que se afirma como um favorito mega-credível a três

jornada do fim. Price vai precisar de toda a sua experiência e determinação para completar o percurso até Damã à frente da corrida. Está apenas 28 segundos à frente de Skyler Howes e a 2m40’’ do companheiro de equipa Kevin Benavides. O sabor da vitória parece estar perto da KTM, que não mete um moto laranja no topo desde... a vitória de Price em 2019.

Não contamos os segundos, mas as dezenas de minutos nos carros, especialmente no Toyota de Nasser Al Attiyah e Mathieu Baumel, cuja acuidade visual é irrepreensível, e nem conseguem distinguir a silhueta de um Hunter no espelho retrovisor: teriam que parar 1h 27m para o ver. Talvez menos uns segundos.

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Nasser Al Attiyah e Mathieu Baumel, a sua acuidade visual é irrepreensível.

Mesmo assim, Sébastien Loeb não desiste. Nesta etapa ultrapassou o Toyota de Lucas Moraes e acredito, religiosamente, que lhe esteja a dar muito gozo conduzir assim, sem problemas, neste oceano de dunas. Para já, é, na minha opinião, a grande figura deste Dakar.

No T3, Austin Jones ruma para Damã com a mesma serenidade que Al Attiyah, já que também está mais de uma hora à frente do seu companheiro de equipa, o norte-americano Seth Quintero.

Nos Quads, Alexandre Giroud (Yamaha) está focado na defesa do titulo com quase 45 minutos de vantagem sobre o argentino Moreno Flores (Yamaha). Por outro lado, ainda há um duelo que não acabou no T4 entre Eryk Goczal e Rokas Baciuska. O lituano, Nº1 do mundo, aumentou a sua vantagem na geral para 8 minutos, mas a mais recente adição à família polaca ainda pode seguir o exemplo do tio (Michal que venceu a Especial do dia, e forçar um volte-face na classificação. Tudo em aberto, portanto.

Nos pesos-pesados, o líder da classificação geral Janus Van Kasteren (Rooy Iveco) venceu a Especial do dia e aumentou, naturalmente, a vantagem que tem sobre o seu colega de equipa, Martin van den Brink. Neste duelo neerlandês, Janus pode ter somado pontos decisivos e olha para o horizonte do Golfo Pérsico com 33 minutos de vantagem.

Toby Price (KTM) favorito mega-credível a três jornada do final.
"...SÉBASTIEN LOEB NÃO DESISTE."

A MALAPATA DO DIA

Mason Klein foi o melhor rookie em 2022 com um surpreendente 9ª lugar da Geral, com apenas 20 anos. Na sua estreia no RallyGP deste ano, o piloto privado da equipa BAS World KTM Racing incubada pelos austríacos tinha arrebatado os ânimos ao assumir o comando da classificação geral na 1ª Etapa. Alguns já tinham detetado nos seus radares um OVNI que ia desafiar todas as estatísticas de precocidade da corrida. Chegou ao dia de descanso na 3ª da Geral. Aqueles que tinham visto apenas um cometa no fenómeno começaram a ajustar os seus telescópios. Mas quando entrou na segunda parte da corrida, o “prodígio” voltou à terra. Literalmente. Mason caiu duas vezes na etapa 9 e perdeu o road-book. A entrada no Empty Quarter até correu bem mas, há dois dias Mason vive altos e baixos de acordo com a topologia das dunas que lhe atormentam o pescoço. Um Checkup feito no final da etapa Maratona não revelou nada de anormal sobre o miúdo. Mas o oceano de areia fez com que o

Em Janeiro de 2021,Cristina Gutiérraz, a simpática dentista de Burgos foi a primeira mulher a vencer uma Especial do Dakar desde Jutta Kleinschmidt, em 2005. Com 31 anos, é hoje uma referência feminina da modalidade ao tornar-se a primeira mulher a vencer o Mundial de Cross-Country FIA. Está no TOP 5 da Geral (T3).

E VÃO CINCO!

A força de ataque de Sébastien Loeb não é novidade nenhuma. É muito difícil competir com o nove vezes campeão do mundo de ralis em termos de velocidade. Quando tudo está bem, o Hunter é inexpugnável. Por outro lado, o francês também é conhecido pelo pecado de gula que o levam a cometer erros com frequência. Algo mudou este

nº9 mergulhasse para 42º na Especial do dia. Agora, está na 10ª posição da Geral. O norte-americano decidiu zarpar na

etapa seguinte, apesar da tempestade, para chegar ao Golfo Pérsico. O primeiro travão na sua ascensão meteórica.

ano. O desempenho notável da dupla Loeb-Lurquin estendeu-se por cinco vitórias consecutivas: uma série que apenas Ari Vatanen tinha conseguido entre carros oficiais, em 1989. É também o sexto sucesso em 2023, 22 vitórias no total, uma coleção iniciada em 2016 que já o coloca acima do conhecido Pierre Lartigue. Na etapa de

hoje, para atravessar a linha de chegada o Hunter #201 levou pouco mais de 1 hora e 56 minutos com velocidade média em torno dos 95 Km/H, quase 9 km /h a mais que a sua “presa” do dia, o brasileiro Lucas Moraes, a quem roubou o segundo lugar.

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Mário Patrão, mantém-se no pódio da classificação geral entre os pilotos que têm a árdua tarefa de efetuar a mecânica aos seus próprios veículos (Original by Motul), mas com os olhos postos na possibilidade ascender na classificação.

Janus van Kasteren e sua tripulação (De Rooy Iveco) olha para o horizonte do Golfo Pérsico, com 33 minutos de vantagem.

ETAPA 12
EMPTY QUARTER
>
MARATHON > SHAYBAH LIGAÇÃO 191 KM > ESPECIAL > 185 KM

RICARDO PORÉM FICA, MAIS UMA VEZ, À PORTA DO PÓDIO

Ricardo Porém voltou a mostrar-se confiante nesta segunda semana de Dakar. O piloto de Leiria entrou com o pé direito nesta segunda metade da prova organizada pela ASO e registou o seu quarto lugar consecutivo em etapas. João Ferreira, por seu lado, foi 11.º e continua a sua aprendizagem, sempre com a ambição de fazer mais e melhor.

Foi uma etapa tranquila, onde conseguimos impor um ritmo positivo Repetimos o quarto lugar da etapa de ontem e estamos mais confortáveis com o carro e a forma de tirar melhor partido do mesmo. Avizinham-se dias duros em que todo o cuidado é pouco! Vamos tentar fazer mais e melhor até domingo”, explicou Ricardo Porém, que está na sua quarta participação no Dakar, a segunda aos comandos de um SSV.

João Ferreira, campeão nacional de todo-o-terreno, depois de três pódios na primeira semana, começou a segunda semana com objetivos bem delineados. “Nesta segunda semana queremos mesmo aprender e garantir a chegada ao final da prova. Só vamos impor um ritmo mais forte se virmos que há forte possibilidade de chegar a lugares de destaque. Hoje fomos 11.º na etapa mais curta do Dakar, mas que nos deu algum trabalho! A aprendizagem continua e amanhã damos início à Etapa Maratona”, explicou.

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João Ferreira Ricardo Porém X-RAID
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ETAPA

A CONSAGRAÇÃO ATTIYAH

Para homenagear o Empty Quarter e deixá-lo com dignidade, a Especial do penúltimo dia foi disputada a sul de Shaybah, para ir ao encontro de um belo maciço de areia, onde as dunas se sucedem a perder de vista.

Nas motos, Kevin Benavides mostra a sua natural aptidão para as dunas e timing para regressar no sprint final mais apertado da história do Dakar. Apenas 12 segundos separam Kevin de Toby Price que segura a liderança com tudo o que pode.

Como já o escrevemos a figura deste Dakar em automóveis é sem dúvida nenhuma de Sébastien Loeb que demonstrou um talento enorme para conduzir em areia e, em especial, no imenso Empty Quarter, ganhando a 6ª Especial consecutiva, batendo todos os recordes, inclusive o de Vatanen em 1989.

Alfred Hitchcock, Martin Scorcese, Agatha Christie e Tarantino teriam

que se unir para dar à luz um roteiro de suspense assim, como foi escrito no palco de Shaybah na véspera da finalização do Dakar. Kevin Benavides (KTM) e Toby Price (KTM) foram os autores do enredo, sem cálculos nem estratégias, apenas com a força de braços e o bambolear das ancas essenciais para surfar nas dunas.

A caminho da 7ª vitória da carreira, o piloto de Salta, na Argentina, interrompeu o esforço ao chegar ao acidente do companheiro de equipa Matthias Walkner mas, mesmo assim, retomou a investida sobre o colega da KTM, Toby Price, a quem ele coloca numa situação altamente desconfortável, a 136 km da linha de chegada. O australiano, lidera a Geral com 12s de vantagem sobre Kevin Benavides, algo inédito nesta fase do rali. Depois de 3900 km percorridos, a diferença entre os dois é de apenas 300 metros.

ETAPA 13 > SHAYBAH > AL HOFUF LIGAÇÃO 521 KM > ESPECIAL > 154 KM (RESULTADOS FINAIS)

DERRADEIROS 136KM

Pressão, tensão e nervos é o que o Nasser Al Attiyah não tem. Os derradeiros 136 km foram feitos em modo de Grande Turismo. Chicherit venceu a etapa e Nasser Al Attiyah foi o grande vencedor desta 45ª Edição do rali mais duro do mundo.

Nas motos, Kevin Benavides (KMT) fez

os 300 metros mais rápidos da sua vida e venceu a classe Motos no sprint final. Espectacular!

No T3, Austin Jones (Can-Am), sem surpresas, foi o melhor. No T4, o mais novo da família Goczal, Eryk, consagrou-se vencedor do Dakar. Em Quad, Alexandre Giroud (Yamaha) é,

naturalmente, o vencedor. Nos pesos pesados adivinhava-se a vitória de Janus Van Kasteren (Iveco) e foi o que aconteceu. No “Original by Motul”, Charan Moore (Husqvarna) foi o vencedor e Mário Patrão garantiu um lugar no pódio.

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Nasser Al Attiyah / Mathieu Baumel / Toyota Hilux Gazoo, os vencedores! João Ferreira e Filipe Palmeiro. Excelente prestação das equipas lusas na categoria: vários lugares no pódio e arrecadaram duas excelentes vitórias em Especiais. Grande Dakar para estas duas grandes equipas! Ricardo Porém e Augusto Sanz Kevin Benavides (KTM) vence a 45ª Edição do Dakar ao apronte.Espectacular!

CLASSIFICAÇÕES

TOP 5

AUTOS

1º Nasser Al Attiyah / Mathieu Baumel / Toyota Hilux Gazoo 45h 03’ 15’’

2º Sebastien Loeb / Fabian Lurquin / Hunter + 01h 20’ 49’’

3º Lucas Moraes / Timo Gottschalk / Toyota Hilux + 01h 38’ 31’’

4º Giniel De Villiers / Dennis Murphy / Toyota Hilux Gazoo + 02h 31’ 12´’

5º Henk Lategan / Brett Cummings / Toyota Hilux Gazoo + 02h 36’ 23’’

(4 Toyota no TOP 5)

MOTOS

1º Kevin Benavides (KTM) 44h 27’ 20’’

2º Toby Price (KTM) + 00h 00’ 43’’

3º Skyler Howes (Husqvarna) + 00h 05’ 04’’

4º Pablo Quintanilla (Honda) + 0h 19’ 02’’

5º Adrien Van Beveren (Honda) + 00h 20’30’’

T3 (PROTÓTIPOS LIGEIROS)

1º Austin Jones / Gustavo Gugelmin / Can-Am) 44h 27’ 20’’

2º Seth Quintero / Dennis Zenz / Can-Am + 00h 51’ 05’’

3º Guillaume De Mevius / François Cazalet / Grall + 01h 35’ 42’’

4º Cristina Herrero / Pablo Moreno / Can-Am + 02h 56’ 20’’

5º Lopez Contardo / Juan Pablo Latrach / Can-Am +02h 59’48’’

... 12º Ricardo Porém /Augusto Sanz / Yamaha

27º Hélder Rodrigues / Gonçalo Reis / Can-Am)

36º João Ferreira / Filipe Palmeiro / Yamaha...

QUAD

1º Alexandre Giroud / Yamaha 56h 44’ 30’’

2º Francisco Moreno Flores / Yamaha + 00h 43’ 11’’

3º Pablo Copetti / Yamaha + 01h 52’ 55’’

4º Juraj Varga / Yamaha + 02h 51’ 22’’

5º Giovanni Enrico / Yamaha + 04h 57’ 11’’

1º Eryk Goczal / Oriol Mena / Can-Am 53h 10’ 14’’

2º Rokas Baciuska /Oriol Montijano /Can-Am + 00h 16’ 44’’

3º Marek Goczal / Maciej Marton/ Can-Am + 00h 18’ 15’’

4º Jeremias Ferioli / Pedro Rinaldi / Can-Am + 01h 07’ 00’’

5º Gerard Guell / Diego Ortega Gil/ Can-Am + 01h 49’18’’

T4 (SSV DE SÉRIE MODIFICADO) CAMIÕES

1º Kasteren / Rodewald / Sinjders / Iveco 54h 03’ 33’’ 2º Macik / Tomasek / Svanda / MM + 01h 14’ 34’’ 3º Den Brink / kofman / Mouw / Iveco + 02h 40’ 22’’

4º Mitchel Den Brink / Van de Pol / Torrallardona / Iveco + 04h 02’ 29’’ 5º Valtr/ Killian/Sikola/ Tatra + 05h 06’ 09’’

ORIGINAL BY MOTUL

1º Charan Moore / Husqvarna 52h 24’ 42’’ 2º Javi Vega / Yamaha + 00h 21’ 01’’ 3º Mário Patrão / KTM + 01h 30’ 42’’ 4º David Pabiska / KTM + 03h 20’ 14’’ 5º David Gaits / KTM + 04h 53’ 47’’

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Edição e coordenação com A.S.O e DPPI Gloria Oliveira Textos Manolo Comunicados dos pilotos Ricardo Porém e João Ferreira BigPress

Fotos de Ricardo Porém e João Ferreira MCH Photography

Fotos da edição Julien Delfoss / DPPI C.Lopez / A.S.O. Eric Vargiolu / DPPI Fréderic Le Floc’h / DPPI Horacio Cabilla / A.S.O. Aurélien Vialatte / A.S.O.

Agradecemos a indispensável colaboração de: Nous remercions pour l'indispensable collaboration de: Laure Boutiot e Marion Pantel. Merci beaucoup

Consultor de edição Alberto Pascual Designer e paginação Patrícia Machado

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#49
Edição
AUTOMÓVEIS . TURISMO . AVENTURA . AMBIENTE GlobalExpedition S.L.U Calle Vallehermoso 32 BJ B 28015 Madrid +34 628 208 944 manoloexpedition@icloud.com

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