DIVEREMBAL
20 ANOS DE IMPACTO POSITIVO
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Soluções
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Soluções
Por M. Oliveira
Sobretudo, nas duas ultima décadas, os movimentos anti consumo de carne agigantaram-se e em muitos casos radicalizaram-se. Existem muitas opiniões contraditórias sobre o consumo de carne, muitas fake news, muitos estudos que nunca existiram, e até a filosofia - que significa “amor pela sabedoria” – aborda o tema dento da sua infinita “ignorância”. Sim, porque Platão, filósofo de Atenas, dizia: “O filósofo é aquele que acima de tudo deseja saber. Não é quem já se considera sábio, mas antes quem reconhece que não sabe nada”.
Sobre a produção de animais, sobre o consumo de carne, sobre a importância que os animais têm na biodiversidade, no equilibro da natureza, na vida das pessoas, na saúde, na cultura, entre outras muitas coisas, há muita gente que não sabe nada, mas não são filósofos porque não reconhecem a sua ignorância.
A motivação da maioria dos vegetarianos que conheço não é pela nutrição. Embora argumentem arduamente pelos benefícios à saúde de uma dieta vegetariana. Nada contra. Na minha experiência, a motivação muito mais forte entre os vegetarianos - variando entre estudantes universitários idealistas a ativistas sociais e ambientais, a adeptos de tradições espirituais orientais como budismo ou ioga – é a questão moral ou ética para não comer carne.
Sobre o assunto, as melhores coleções de livros de ensaios que li são “The Moral Complexities of Eating Meat” e “ Philosophy Comes to Dinner”, que são muito interessantes mas para falar disto, precisava de pelo menos cem páginas, e só tenho uma.
O mundo segue em passos largos na direção de um totalitarismo impressionante. Em alguns países do centro da Europa furam-se pneus aos SUVs, porque são SUVs, vandaliza-se a fachada de talhos porque vendem carne, nas escolas discriminam-se as crianças porque os pais são produtores de gado ou trabalham numa empresa de carnes. A radicalização, em todas as áreas, é um fenómeno crescente e as
redes sociais oferecem espaços onde as pessoas podem radicalizar-se e quanto mais fechados forem esses espaços, melhor!
A boa noticia, é que em relação ao consumo de carne, com exceção dos animalistas, veganos radicais e lobbys que têm muito poder, a sociedade mais bem informada, começa a entender a importância da produção e consumo de carne. Comecei a notar, sobretudo, depois da pandemia que o debate se alargou e como diz a expressão popular “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”. A produção de animais emite CO2, mas também é das poucas atividades que, naturalmente, sequestra dióxido de carbono, através das pastagens e em muitos casos já a 100%. Também perceberam que comer carne equilibradamente aporta benefícios para a saúde, seguindo a opinião especializa-
da da maioria dos nutricionistas que não são defensores de uma dieta que abdique completamente do consumo de carne. Além disso, resgatou-se o neologismo flexitariano, que não é uma palavra nova, mas estava em desuso. A palavra surge pela primeira vez citada no Atlanta Journal & Constitution, em 1988. A palavra flexitariano tem origem no étimo flexível + vegetariano que é alguém que baseia a sua alimentação, sobretudo, em produtos de origem vegetal mas que inclui o consumo esporadicamente de carne e peixe.
A carne é um bem precioso a todos os níveis e faz parte da dieta saudável e os números mostram que na Europa, a percentagem de vegetarianos que voltam a comer carne é de 84%. Talvez, porque o homem foi flexitariano desde sempre.
Nº206 . EDIÇÃO JUNHO 2024
EDITORIAL
Carne, um bem precioso
GRUPO DIVEREMBAL
20 anos de impacto positivo
A FALAR É QUE A GENTE SE ENTENDE
“Não sei trabalhar mal, não é que eu não queira, não sei.”
FEIRA NACIONAL DE AGRICULTURA
Força da natureza
É tempo de promover a pecuária a pecuária extensiva
FEIRAS, EVENTOS, PRODUTOS E FACTOS
Lisbon food affair. Lisboa 10/12 Fevereiro 2025
Inspeção por raios-x
CONSUMO
Uma dieta sem carne salvará (realmente) o planeta?
Perceção do consumidor sobre a produção pecuária e o consumo de carne
PROPRIEDADE
Azitania Global Expedition S.L. C.I.F. b8662786
Calle Vallehermoso, 32 BJ B 28015 Madrid
Revista Bimestral
ASSINATURA, ARTIGOS E PUBLICIDADE E. revistacarneportugal@gmail.com
Versão em português Isenta de registo a ERC ao abrigo do Decreto-Lei 8/99 de 9/06 artº12 nº1 A
EDIÇÃO
Glória Oliveira
REDAÇÃO
M. Oliveira
CONSULTORIA Aberto Pascual
ESTA EDIÇÃO CONTOU COM A COLABORAÇÃO DE Miguel Vieira Lopes (Agroges), Tiago Ferreira (Grupo Diverembal) e Jean Fançois Hocquete (INREA. França)
DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO Patrícia Machado
VERSÃO IMPRESSA E DIGITAL
REVISTA CARNE É ASSOCIADO DE Maitre - Open Plataform for journalists and Researchers e SPJ Society of Professional Journalists
ASSINATURA DA REVISTA CARNE (EDIÇÃO IMPRESSA)
6 EDIÇÕES (portes de correio incluídos): 80,00 EUROS
12 EDIÇÕES (portes de correio incluídos): 150,00 EUROS
Pedidos de subscrição a: revistacarnaportugal@gmail.com
Depois de uma “vida” a trabalhar em multinacionais, em áreas tão sensíveis como a dos ingredientes para a industria alimentar, surgiu a oportunidade de concretizar um sonho que o acompanhava há muitos anos: criar o seu próprio projeto.
Em 2004, com 36 anos de idade, cria a Diverembal - nome inspirado no étimo "Diversos + Embalagem" – com o objetivo de trabalhar em embalagem, sacos retráteis e tripas fibrosas, na época do fabricante Viskase.
20 Anos depois, Carlos Miguel Ferreira, olha para o passado com orgulho, sobretudo, pelo impacto que a sua empresa tem no setor alimentar e particularmente no setor de carnes. O futuro é imprevisível ou “só a Deus pertence”, mas o Grupo Diverembal, revela-se um parceiro de futuro da industria alimentar com um excelente e um dos mais completos portfólios de oferta, oferecendo soluções à medida
e um serviço de elevada qualidade.
A Diverembal, que hoje em dia é um nome fixado praticamente por todos os decisores do setor alimentar, nasce de um sonho, mas também de uma oportunidade que Carlos Ferreira não quis perder. Na época, exercia funções na Sanofi, multinacional francesa. Assim que criou a Diverembal passou a ser cliente Sanofi na área dos ingredientes e a desenvolver o seu trabalho num mercado exponencialmente prometedor: a embalagem.
Em 2009, em plena crise económica, a Sanofi decide encerrar a sua atividade no nosso país e propõe à Diverembal que ficasse distribuidor dos seus produtos em Portugal. Uma nova oportunidade que Carlos Ferreira não deixou escapar, estreando as atuais instalações no concelho de Alcabideche, com todas as condições para trabalhar os produtos Sanofi e a gama de tripas da Viskase, entre outros itens
que faziam parte do portfólio da Diverembal.
De 2009 a 2016 a Diverembal desenvolveu a sua atividade com 4 profissionais: Carlos Ferreira (Diretor geral), David Ferreira (Responsável de armazém e logística), Rosa Maria Roquete “Zita” (Administrativa) e Paulo Santos (Armazém e Logística). Naturalmente, Carlos Ferreira acumulava as funções de comercial, percorrendo todo o país.
Em 2015, a Divertec é criada como marca da Diverembal, com o objetivo de alargar a oferta de máquinas e equipamentos, na área em que está integrada.
Em 2016, Pedro Sebastião (Engº alimentar), é o quinto elemento a entrar na empresa, como técnico comercial. Atualmente, a Divertec é uma empresa que pertence ao Grupo Diverembal, que neste agrupa 18 colaboradores.
»
“…A FILOSOFIA DE PARCERIAS DA DIVEREMBAL, É TRABALHAR COM OS LIDERES MUNDIAIS DE MERCADO…”
As parcerias internacionais estão consolidadas. Em 2011, surge a oportunidade de representar a Viscofan, líder mundial no fabrico de tripas para a indústria alimentar. Com a Sanofi que atualmente se chama Mane, lider mundial no fabrico de fragâncias, aromas e ingredientes alimentares. Embora a parceria com a Diverembal tenha começado em 2009, a relação pessoal de Carlos Ferreira com a empresa já vinha desde 1993.
A parceria com a Amcor (ex-Bemis), fabricante de embalagens flexíveis, sacos e filmes usados na industria alimentar, já vem desde 2000.
Entretanto, o grupo Diverembal não descarta outras parcerias internacionais em função do aparecimento de novos projetos. A parceria com a Kerry é um exemplo. A empresa irlandesa é fabricante global de aditivos e ingredientes que apresenta soluções especificas para pré-cozinhados e pescado, recobrimento de produtos, pão ralado, etc.
A Diverembal também representa a Algaia, empresa francesa de ingredientes bio marinhos que produz e comercializa extratos de algas marinhas como alginatos para alimentos e agricultura.
Também tem uma parceria com a Loryma, do Grupo alemão Crespel & Deiters, responsáveis pelo desenvolvimento e produção de ingredientes alimentares à base de cereais para a otimização de alimentos produzidos industrialmente.
De facto, é transversal a todas as áreas alimentares, com uma forte incidência no setor de carnes e no setor de alimentos pré-cozinhados. Após a entrada de Fábio Ferrolho (Ex-Mane), em 2022, a Diverembal alargou o seu raio de ação, as outras áreas alimentares, como a panificação, confeitaria e pescado, que vieram juntar-se aos setores de carne, bebidas, congelados, frutas e legumes, lacticínios, molhos, nutrição desportiva, Pet food, pré-cozinhados, sobremesas e veganos/ vegetarianos.
ADITIVOS E TEXTURIZANTES
A assistência remota é uma realidade na BiA Diverembal oferece soluções especificas para múltiplas aplicações em alimentos e bebidas:
PACKAGING FILMES
A oferta da Diverembal de filme para embalagem é abrangente:
PACKAGING SACOS
Aromas e Seasonings; Alginatos; Antioxidantes; Carragenatos; Corantes; Conservantes; Gelatinas; Goma de Alfarroba; Goma de Guar; Goma de Xantana; Leticinas; Pectinas e Emulsionantes
Flexíveis; Rígidos, Flowpack; Retráteis; Lidding; Skin; Termoformagem e termoselagem.
Sacos de cozedura direta; Sacos de vácuo PA/PE; Sacos retráteis
FOLHAS E TRIPAS
Folhas Colagénio; Folhas Interleaver; Folhas “Edileaf”; Folhas “Vispice”; Tripas celulósicas; Tripas de colagénio; Tripas fibrosas; Tripas plásticas; Tripas “Vispice
INGREDIENTES
Amidos; Bases culinárias; Produtos “Clean Label”; Bases de gelado; Corantes naturais; Encolantes; Fibras; Glúten de trigo; Marinadas; Pão ralado; Pão ralado com especiarias; Pão ralado sem glúten; Proteína de soja; Proteína de ervilha; Proteína de trigo; Preparados de carne; Preparados de peixe; Tempuras; Soluções para produtos veganos/vegetarianos
O Grupo Diverembal acompanha a evolução e as tendências de mercado, ao mesmo tempo, que apresenta inovações que são proporcionadas pelos seus parceiros internacionais. Neste sentido, a sua filosofia de parcerias é trabalhar com os lideres de mercado nas diferentes áreas. Além de produtos e equipamentos de qualidade, estes proporcionam formação e tecnologia de nível superior. Uma das caraterísticas mais marcantes de uma empresa com perfil de inovação é a ca-
pacidade de olhar para o mercado de forma ampla e projetar cenários futuros com base em comportamentos do consumidor, clientes e até questões sócio económicas que impactam no mercado de uma maneira geral.
O Grupo Diverembal enquadra-se neste perfil com os riscos que isso comporta. Mas, de facto, está no seu ADN colocar a fasquia mais alta. A representação de empresas líder, conceituadas globalmente, oferecem melhores soluções, mas também exigem mais investimento. Estar no mercado com equipamentos e produtos de topo, é uma forma diferenciadora de oferta.
A nível de ingredientes, a Diverembal, acompanha com especial atenção as tendências de mercado, e a inovação em prol da redução de aditivos, de “Es” nas formulações e na redução de alergénios. Atualmente, através das suas representadas, a Diverembal responde ao mercado com produtos, sabores e soluções da mais alta qualidade, abordando o sabor com uma visão holística, usando a natureza como modelo e vendo-a como uma fonte inesgotável de prazer que contribui ativamente para o desenvolvimento de dietas e estilos de vida saudáveis.
O conceito de segurança alimentar nasceu na década de 70. A sua evolução, até à definição atual, incluiu diferentes variáveis econômicas e socioculturais. Conforme a FAO,
numa definição estabelecida na Conferência Mundial da Alimentação (CMA) de Roma em 1996, a segurança alimentar ocorre quando todas as pessoas têm acesso físico, social e econômico permanente a alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para satisfazer as suas necessidades nutricionais
e preferências alimentares, tendo assim uma vida ativa e saudável.
A Diverembal acompanha a evolução e as tendências de mercado e tem apresentado inovações que são proporcionadas pelas suas representadas. Uma da das razões pela qual »
"O SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO E A SEGURANÇA ALIMENTAR
EXISTENTES NÃO SERIAM POSSÍVEIS SE NÃO HOUVESSEM ALGUNS DOS INGREDIENTES POR NÓS FORNECIDOS. A SEGURANÇA ALIMENTAR
CARLOS FERREIRA
a Diverembal decide trabalhar sempre com os lideres de mercado nas diferentes áreas, porque proporcionam a nível de informação e ao nível das tecnologias experiências muito interessantes, embora Carlos Ferreira considere que “O mercado é um pouco conservador. Observa-se algumas tendências, mas ainda existe pouca massa critica para algumas inovações que se pretende implantar. Outra questão não menos importante é a disponibilidade financeira para este tipo de inovações”.
Uma das questões que mais preocupa o consumidor é a segurança alimentar. “Se não é seguro, não é um alimento”: este é um dos slogans que melhor explica a Segurança Alimentar e a sua importância.
Se não há grandes dúvidas que, globalmente, os alimentos nunca foram tão seguros como hoje, também é certo que do “prado ao pra-
to”, são muitos os desafios que se colocam à segurança alimentar. Depois de uma pandemia devastadora, a Europa foi confrontada com uma guerra. A falta de recursos, os desastres ambientais, os colapsos económicos, as migrações e as crises humanitárias geram situações em que a segurança ao longo da cadeia alimentar é comprometida a vários níveis. A população mundial já ultrapassou os 8 mil milhões e, em muitos países, está a envelhecer. Os mais velhos são um grupo de risco para as doenças causadas pelo consumo de alimentos contaminados. Com a globalização dos mercados, muitos alimentos são provenientes de regiões com diferentes práticas de higiene e segurança alimentar. Fatores ambientais como as alterações climáticas, a degradação dos solos, a sobre-exploração dos recursos naturais e a escassez de água aumentam os riscos de contaminação ao longo da cadeia alimentar. E as novas tendências... As expectativas dos consumidores são complexas. Ao mesmo tempo que se exigem alimentos seguros e convenientes com um longo prazo de validade, assistimos a um aumento da procura de produtos "naturais", "sem conservantes" e "menos processados". Para
aumentar a complexidade, os consumidores esperam que todos os tipos de alimentos estejam disponíveis em todos os lugares e a qualquer momento. Estes são, sem dúvida, grandes desafios para a indústria alimentar.
“Quando queremos que um produto shelf life que tenha a possibilidade de ser distribuído a nível nacional, ou mesmo a nível europeu, temos que garantir a sua segurança alimentar, e não o conseguimos só com o produto em si. Temos que incluir ingredientes que tenham essa função”, começa por referir Carlos Ferreira.
“Todos os produtos são regulamentados. As doses de incorporação são baseadas em estudos científicos sob rígidos critérios físico-químicos e microbiológicos. Mas tudo depende da
quantidade que cada um ingere: uma coisa é comer uma salsicha, outra, é comer um quilo de salsichas. Todos os ingredientes estão estudados para uma alimentação equilibrada.
Fala-se muito em conservantes para a carne, mas há produtos que levam bem mais conservantes e corantes, inclusivamente, em mais quantidade e muitos deles até são destinados às crianças e não se ouve dizer nada” argumenta Carlos Ferreira
Há todo um cuidado conjunto do mercado e dos fabricantes de aditivos para encontrar alternativas cada vez mais saudáveis. É um facto! No caso dos corantes e conservantes a evolução tem sido substancial ao encontro de produtos mais naturais.
De acordo com a ONU, haverá cerca de 9.000 milhões de pessoas na Terra em 2050. Para alimentá-las, estima-se que a produção de alimentos deverá aumentar em 70%. A industria alimentar terá um papel decisivo na alimentação da humanidade.
Tudo indica que a alimentação de futuro será mais natural, com soluções mais saudáveis. Verificamos dia-a-dia uma mudança considerável dos hábitos alimentares. Neste sentido a Diverembal e os seus parceiros refletem um acompanhamento dinâmico de todas as tendências alimentares, apresentando novas soluções, com reflexos positivos a nível ambiental e de segurança alimentar. As duas questões que mais preocupam os consumidores.
A Divertec foi criada em 2015 como um departamento/marca da empresa Diverembal, representando esta no setor alimentar como uma gama de máquinas e equipamentos. Consolidando a sua posição no mercado, em
2018, tornou-se numa empresa com o objetivo principal de apresentar as melhores soluções em equipamentos para o setor alimentar.
Representa marcas de referência mundial como a GEA, um dos maiores fornecedores de tecnologia de processo da industrial alimentar. A Loma Systems, especialista em
sistemas de inspeção para deteção de metais. A Pattyn oferece soluções de embalagem personalizadas que atendem às necessidades da industria de carnes, permitindo uma melhoria da eficiência e economia dos custos de produção.
Representa também a centenária Ishida que há mais de 120 anos é um parceiro con-
"EXISTEM MARCAS DE REFERÊNCIA NO NOSSO MERCADO, MAS NÓS TAMBÉM TEMOS EXCELENTES MÁQUINAS"
CARLOS FERREIRA
fiável de empresas em todo o mundo para sistemas de pesagem e raios-X. No fabrico de máquinas para a industria alimentar, desde processos até à automatização de linhas de produção, dispõe da tecnologia da RM Sertec. Em máquinas de vácuo, a Divertec, associa-se à Zermat. Em termos de máquinas de doseamento e embalagem para o setor alimentar, químico, cosmético e farmacêutico, a Divertec trabalha com a empresa catalã Dosimaq. A Blue Print Automation (automação e embalagem de fim de linha) e a GASN2 (pro-
dução de nitrogénio e oxigénio através da tecnologia de cromatografia), fecham o portfólio da Divertec.
Carlos Ferreira argumenta “que quando se consegue mostrar ao cliente que realmente é uma mais valia investir um pouco mais, mas ter um equipamento que lhe garante mais eficácia e mostra-se menos dispendioso, o cliente independentemente do seu volume de produção, acaba por optar por bons equipamentos.
Se o cliente quer comprar máquinas porque tem de comprar máquinas e quer gastar o mínimo de dinheiro, também há maquinas para isso e há que respeitar. Agora, se quer uma máquina com fiabilidade, uma máquina que corresponde aos mais altos requisitos e exigências, embora saiba que vai investir um pouco mais, mas sabe que tem garantia, é esse o nosso mercado”.
No setor de carnes, a Divertec, assume a filosofia da sua irmã mais velha, a Diverembal: apresentar máquinas e soluções de embalagem de primeira linha com o foco na rentabilidade e na sustentabilidade.
As embalagens desempenham um papel crucial na nosso dia-a-dia. Porém, à medida que a consciencialização ambiental cresce, as empresas e os consumidores reavaliam a forma como abordam as embalagens.
Atualmente, na embalagem, a oferta da Divertec, passa pelos monomateriais, um »
tipo especifico de embalagem que é produzida a partir de um único material homogéneo, em oposição às embalagens convencionais que podem ser compostas por várias camadas de materiais diferentes.
Por outras palavras, uma embalagem monomaterial é feita de um único tipo de subs-
tância, como papel, plástico ou metal, tornando-a mais simples e uniforme na sua composição, o que a torna mais acessível economicamente, facilita a sua reciclagem, reduz o desperdicio, e contribui claramente para práticas mais sustentáveis.
O Grupo Diverembal e consequentemente a Divertec, olham para a sustentabilidade com muita responsabilidade, utilizando as melhores técnicas disponíveis embora “existam algumas embalagens que muito dificilmente terão alternativa a curto prazo, que seja viável, mais sustentável, e comportável a nível financeiro”, refere Carlos Ferreira.
“RENOVAÇÃO
DE UM EQUIPAMENTO É SEMPRE UM QUEBRA-CABEÇAS”
Quem o diz é Carlos Ferreira. Neste sentido, a Divertec apresenta a opção de aluguer de equipamento. Uma opção pouco conhecida em Portugal, mas muito propagada no centro e norte da Europa. A Divertec apresenta e trabalha esta solução com muita flexibilidade. O cliente aluga o equipamento por 4 ou 5 anos, tem a opção de ficar com o equipamento, e se
não quiser pode optar pelo aluguer de outro equipamento.
Por outro lado, e seguindo a estratégia da inovação, a Divertec associou-se à GASN2 que propõe um equipamento que a partir do ar faz o sequestro por cromatografia do oxigénio e nitrogénio. Em vez de o utilizador ter que adquirir, usufrui da sua própria produção na sua unidade industrial. A nível de custos, sustentabilidade, é muito interessante, e neste sentido, a Divertec propõe instalar o
equipamento à consignação durante 30 dias.
Carlos Ferreira sublinha “Os clientes estão curiosos, interessados, e estamos muito satisfeitos com o início deste processo. Vai ser, inclusive, um processo de aluguer. O que o cliente vai pagar é o consumo, não há investimentos iniciais, o equipamento vai estar constantemente online, para que qualquer problema possa ser resolvido imediatamente de forma remota.
APOSTA NA FILOSOFIA “CLIENTES SATISFEITOS”
A Divertec assume a posição de representar equipamentos de performance premium.
“Temos a noção que para algumas empresas não faz sentido terem equipamentos nossos, devido sobretudo ao nível de produção dessas empresas e face à capacidade das máquinas. Mas, felizmente, existe mercado para o nosso
tipo de equipamentos e primamos por representar marcas de grande nível.
Existem marcas de referencia no mercado e são excelentes máquinas, mas nós também temos excelentes máquinas! A única coisa que pedimos ao mercado é nos deem oportunidade de o demonstrar e podermos apresentar o que temos para oferecer e, naturalmente, avaliarem as capacidades das nossas máquinas”, sublinhou Carlos Ferreira
Na Divertec a assistência técnica divide-se entre a empresa e as suas representada e beneficia da assistência direta dos técnicos das próprias marcas, como é o caso da GEA que tem assistência própria. As restantes marcas de equipamentos são apoiadas pela assistência Divertec, com uma resposta rápida em todo o território nacional, incluindo Madeira e Açores.
TRANSFORMAR UMA OPORTUNIDADE NUM SUCESSO
Susana Ferreira, gestora de qualidade de todas as dinâmicas do Grupo Diverembal e esposa de Carlos Ferreira, diretor geral e fundador da empresa, revela-nos como o seu marido superou as expectativas.
“A empresa começou pelo Carlos Miguel (Ferreira) por achar que era um projeto aliciante. Desde o início que tinha essa ambição de tra-
balhar por conta própria. Surgiu uma oportunidade a agarrou-a.
Se há 20 anos me perguntasse se acreditava que em 2024 a Diverembal é o que é, naturalmente, responder-lhe-ia que não. Eu estava a fazer a minha carreira, fui sempre acompanhando e de alguma forma ajudando naquilo que era possível, mas sem estar integrada na empresa a 100%, como estou neste momento. O Carlos Miguel (Ferreira) agarrou uma oportunidade e transformou-a num sucesso. Su-
perou todas as expectativas”.
E agora quais são as suas expectativas para os próximos 20 anos?
(Gargalhada) ”Nos próximos 20 anos, o meu desejo é que os nossos filhos sejam os seguidores deste projeto. É um projeto do pai e sei que ele tem essa ambição e eu acompanho-o nessa vontade. Pessoalmente, vejo-me aqui mais uns anitos, mas gostaria que daqui a uns anos poder me afastar”.
"A PERSPETIVA É CONTINUAR A VER ESTA EMPRESA CRESCER EXPONENCIALMENTE COMO TEM SIDO NESTES ÚLTIMOS
David Ferreira, 43 anos, o primeiro funcionário da empresa, é responsável pelo armazém, logística, compras a fornecedores e acompanha todo o processo até ao cliente.
Trabalhava na SP Logística desde 1999, e em 2004 quando a Diverembal foi criada foi o primeiro funcionário a cruzar a porta.
Vinte anos depois qual é a sensação?
É uma sensação de orgulho de ter acompanhado e feito parte do crescimento da empresa. Ver que esta empresa está em crescimento sustentado e, confesso, tenho muito amor a esta camisola.
Esta empresa é feita por pessoas honestas e trabalhadoras e creio que somos reconhecidos no mercado por isso, por trabalhar bem e arranjar sempre uma solução para o cliente.
As perspetivas de futuro são naturalmente positivas...
A perspetiva é continuar a ver esta empresa crescer exponencialmente como tem sido nestes últimos anos e conseguirmos colaboradores que entendam a nossa filosofia de trabalho e a nossa maneira de estar no mercado.
Como responsável em áreas sensíveis da empresa, a sua opinião é importante.
Quando me perguntam sim, quando não per-
guntam por vezes também opino. Quando vejo que há alguma coisa que não se direciona para a melhor opção, intervenho e proponho uma alternativa ao ponto de vista que está sobre a mesa. Durante muitos anos eramos 4 pessoas e há cinco, seis anos para cá, somos muitos mais, quase que quintuplicou. Com as pessoas vêm as opiniões, maneiras de ver e trabalhar diferentes, e dentro do nosso espirito de trabalho temos de encontrar, em conjunto, as melhores soluções, tudo isto numa ótica construtiva.
Fale-nos da vossa relação com os clientes
É uma relação de extrema colaboração. Da
nossa parte uma disponibilidade muito generosa para resolver imediatamente qualquer requisito do cliente. Com as pessoas que estão aqui há mais anos, não é propriamente uma amizade, mas existe uma confiança mútua que defende ambas as partes, quer para o cliente, quer para nós como fornecedores.
Assim como cá dentro. Quanto mais comunicação e simplicidade, melhor. Estamos dependentes de terceiros, sobretudo, de empresas multinacionais, que têm uma maneira muito genérica de olhar para Portugal que não é propriamente o maior mercado que têm, e temos que nos ajustar às regras das multinacionais que não são tão flexíveis.
O cliente apercebe-se dessa inflexibilidade?
Tentamos responder sempre da melhor maneira e de forma rápida, porque entendemos a situação do cliente. Os clientes sabem que podem contar connosco.
ROSA
Zita, que balanço faz destes 14 anos na empresa?
O balanço é muito positivo. Eu tenho dado, mas a empresa também tem retribuído. É
uma empresa que se preocupa muito com os funcionários.
Antes de entrar na Diverembal também trabalhava numa multinacional, o que a convenceu a mudar para uma empresa tão diferente?
Vinha da Cargill e entrei para esta empresa com a convicção de dar continuidade a um projeto sério e ambicioso. Conheço o Carlos Ferreira há mais de 35 anos, trabalhamos na mesma multinacional (Cargill), nunca trabalhamos na mesma empresa, mas trabalhamos na mesma multinacional.
Quer nos revelar algum desejo sobre a empresa?
O meu desejo é que a empresa continue a crescer, a progredir, que se mantenha sempre fiel aos seus princípios, que é uma das mais valias desta empresa e tenho muito orgulho em trabalhar aqui, embora não espere cá estar muitos mais anos (gargalhada), porque quero me reformar, para tratar dos meus netos.
Acho muito bem. Falou em princípios, que princípios são esses?
Servir bem o cliente, conseguir corresponder às expectativas com toda a seriedade, resume-se a isto. É esta a maneira de trabalhar desta casa.
Considera-se um gestor dedicado (demasiado) que cria projetos, oportunidades e gere com... uma dose cavalar de auto motivação. Sempre se moveu por projetos complexos e desafiantes, porque nunca gostou que lhe dissessem não ou que não era possível. Prefere ir até onde muitos acham que dá muito trabalho. Com 51 anos de idade já viveu momentos muito bons e alguns menos bons, mas cedo aprendeu que nas derrotas chora sozinho, nas vitórias, “alegremente tenho muitos à minha volta”.
Licenciou-se em Engenharia Alimentar, MBA em Gestão, Nutrição e uma Pós-Graduação em Marketing. Chama-se, Marco Henriques, é um dos mais importantes experts comerciais do mercado global de proteína animal.
Marco, em poucos minutos, queres nos passar o "filme" da tua vida?
Sai da Faculdade, fiz um estágio na Belgados, e ao mesmo tempo havia um investimento da Sonae conjuntamente com um grupo inglês, em Torres Novas, que era a Tonova. Fui à entrevista e fiquei a trabalhar no projeto Tonova. Fiz o meu percurso na Tonova, entrei para o departamento da qualidade e acabei por ficar na área de gestão comercial até ao encerramento da fábrica, que se deveu aquilo que toda a gente viu, a Tonova fechou porque a Sonae fez a sua própria fábrica.
Fiquei com a fábrica fechada durante 4 meses, a gerir o fim e a ver se era vendida ou não, e aparece o empresário agrícola Lionel Pereira que tinha uns não sei quantos novilhos à engorda (300 a 400 novilhos na época) e pediu-me se eu fazia um projeto com ele de carne de bovino em Portugal. Naquela altura, como vivia na zona de Tomar acabei por aceitar e montamos o projeto da Rafael & Filhos até chegar à compra da Ribacarne, em Tomar.
Conseguimos chegar aos 2300 bois por semana, mais os porcos, mais os borregos, mas chegamos a ter 8500 bois à engorda. Na altura tirando a Sapju do Sr. João Urbano, nunca ninguém tinha tido tantos novilhos à engorda.
Foi a primeira vez que se fez um projeto com coprodutores, como se faz com os suínos, criadores a fazer a engorda para nós. Acompanhávamos a produção, tínhamos uma técnica de acompanhamento que também era veterinária e fornecíamos as rações aos criadores. Era a primeira vez que se fazia integração de bovinos de uma forma profissional.
Na compra da Ribacarne, passado algum tempo saio com divergências com o Lionel e aceito ir fazer a recuperação da empresa Pasto Real do Sr. Jardim Gonçalves. Na altura estava lá o Dr. Humberto Rocha e tentamos fazer a recuperação da empresa. Tecnicamente foi-se recuperando.
Saio para Espanha porque não quis continuar neste projecto. Por sua vez, a Vall Company convida-me para ir para a Frimancha, empresa do grupo, para iniciar o primeiro projeto de exportação. A Frimancha estava muito ligada a Portugal, 70% do volume de negócios estava em Portugal, na área do bovino, embora na área do suíno fosse residual e vou para a Frimancha fazer esse trabalho. No fundo fazer o mercado mundial. A meio caminho, surge a Carsiva (Ponte de Lima) que era uma empresa que era cliente da Frimancha, o grupo entendeu que poderia ser uma boa aposta de investimento em Portugal. O norte do país era uma área muito grande de abastecimento de bovino e revelava-se uma boa plataforma de distribuição para a Frimancha que tinha essa
necessidade. Fiquei na Carsiva para gerir e recuperar quer a empresa quer o negócio.
Posteriormente, pedem-me para voltar à Frimancha, que foi sempre uma empresa com muitíssimas dificuldades, muito sui generis, pela posição que tem, no local onde está, e pediram-me para fazer mais ou menos a mesma coisa que fizemos na Carsiva. Começa-se, mas abre-se na altura o mercado da Rússia, curiosamente, a Frimancha era a única empresa espanhola que podia exportar para a Rússia, por um erro de papéis.
Por acaso? Como aconteceu?
Puro acaso. A Frimancha era matadouro de
bovino e suíno, e o site da Rosselkhoznadzor (uma espécie de DGAV russa) aplicava o encerramento de fábricas a suínos e a bovinos, como aquela era mista aparecia liberta. Durante três anos fui o “rei da Rússia”, foi um momento extraordinário e para a Frimancha foi fantástico, porque eu vendia para a Rússia sem qualquer dificuldade, era a única.
Quando o mercado russo fecha, recebo um convite do Terry Johnson, antigo dono da Tonova, para ir para o Uruguai e parto de malas e bagagens para Montevideo.
Tornas a encontrar o Dr. Humberto Rocha?
Não, o Dr. Humberto Rocha esteve na
“Sem conhecimento é impossível trabalhar bem”
abertura da fábrica. Eu fui para lá mais tarde porque o Terry tinha uma situação delicada com a área comercial e na verdade queria colocar a empresa à venda e tínhamos que deixar algumas questões “arrumadas”. Terry Johnson finaliza a venda posteriormente a um grupo japonês.
Gostaste da experiência?
Foi o projeto mais curto que tive, eu entro na fábrica com o Terry Johnson, ao meio-dia vamos almoçar e quando regressamos os empregados estavam todos cá fora, em greve, porque não queriam um estrangeiro a mandar na fábrica. Tivemos que alterar a minha posição, em vez de ser diretor geral da empresa, passei a ser consultor, mas passado uns meses tornou-se incomportável, não havia hipóteses nenhumas, era ingovernável. A gestão comercial ficou no caminho certo, mas estava a ser muito difícil para mim. Saio do Uruguai e a Vall Company (que está no TOP FIVE das empresas mundiais de suíno) volta a chamar-me para o departamento da exportação. Vou para a Vall
Company, onde fico 2 anos e meio, quando saio vou trabalhar para uma empresa argentina de trading. Era uma empresa com muita força, e com muitas delegações a nível mundial. Foi uma experiência muito interessante porque eu toquei em tudo o que era commodities de tudo o que era proteína. E aí tem-se uma visão global do que é alimentação mundial.
Fez de ti um especialista comercial em alimentação mundial, pela experiência...
De proteína, sim. Toquei os cinco continentes, não há sítio nenhum no mundo onde eu não tenha passado com negócio. Austrália, Nova Zelândia à Ásia, América do Sul, América Central até aos EUA, Canadá, Europa, África também, por todo o lado.
Também vai ao encontro do teu espírito de aventura, sempre gostaste de correr mundo...
Desde os 14 anos, sempre de mochila às costas.
Os primeiros contactos na Ásia foram difíceis...
Realmente quando comecei na área da exportação não havia telemóveis, nem mails, nem internet. Ia de mapa na mão. E há 20 anos chegar à Ásia de mapa na mão, não era fácil. Naquela época pouca gente falava inglês, ainda hoje há muitos sítios onde ninguém fala inglês, mas recordo-me que no hotel pegar numa lista telefónica das páginas amarelas e procurar importadores e ia tocar à porta deles. Muitas vezes encontrava importadores que eram de tudo menos de carne. Eram de mármores, ou de máquinas, ou de outra coisa qualquer. Comecei assim.
Depois da empresa de trading, regressas a Portugal...
Surge o Nuno Correia e o Pedro Garcia, na época eram os maiores acionistas da Agrupalto e tinham vindo de um ano, se não estou em erro em 2015 ou 2016, em que a produção nacional tinha tido um ano muito difícil,
quando o porco andou entre os 80 e 90 cêntimos o quilo e queriam montar um negócio para exportação da carne. Não havia matadouro, não havia nada, só havia produção. A minha preocupação era saber se eles estavam organizados e se tinham consciência da aventura onde se iam meter. Confiei e ainda bem que confiei, foi um projeto de raiz, do zero , até chegarmos à compra do matadouro Maporal, em Reguengos, que era do Julian Martinez.
Os espanhóis tinham comprado o matadouro por causa do porco preto
E precisavam de um secadero na região porque tinham adquirido a Casa do Porco Preto. Nós começamos a trabalhar em regime de
prestação de serviços na Montalva e na Raporal/Stec, mas não fomos felizes. Portugal não tem caraterísticas corporativas, nunca tiveram. A entreajuda cá não existe, o trabalhar no mesmo sentido também não.
Acabei por falar com o Julian Martinez para ver se estavam interessados em fazer a prestação de serviços, e surpreendentemente, diz-me: “Fazer a prestação de serviços? O melhor é comprarem isto que nós vendemos , e realmente foi isso que aconteceu, compramos.
Surge na altura estarmos todos envolvidos na questão da abertura do mercado chinês e diga-se que eu e o Nuno Correia corremos a passos largos para a China, não sei quantas ve-
zes, para entrarmos no mercado. Conseguimos abrir o mercado com muito trabalho, conhecimentos e pedidos, ajudas, tudo e mais alguma coisa e tivemos a sorte de encontrar a pessoa certa na China. Por acaso tive há dias na China com a pessoa que nos ajudou a fazer isso.
A tua experiência na Maporal foi muito boa, mas acabaste por sair...
A Maporal tem um percurso extraordinário, que marca um momento-chave no setor do suíno em Portugal. Tenho pena que não seja um projeto que tenha seguido o caminho que estava desenhado desde o início. Certamente o projeto que mais saudades me pode deixar. Mas não posso pedir que sigam a minha »
estratégia e com isso não significa que estejam errados e eu certo. Não sei trabalhar de outra forma. Se entendo que a linha é uma e que o mercado me reconhece pelos resultados que apresento, gosto de seguir o meu caminho.
As empresas portuguesas do setor têm dificuldade em entender o mercado mundial?
As empresas aqui não conseguiram alterar as suas dimensões, os seus formatos, a sua forma organizativa e com isso a imagem que tem no exterior. Uma gestão muito dia a dia.
Foi por causa disso que saíste de Portugal?
Eu saí de Portugal e às vezes fazem-me a mesma pergunta, porque lá fora tenho registos de bons projetos que fiz. Mas na verdade preciso de sentir a organização e ver que todos querem seguir uma estratégia e um rumo.
Vou-lhe dizer a frase que ouvi recentemente em Espanha. Estávamos no restaurante com uns clientes muito importante e a certa altura um proprietário de uma empresa comenta: “Eu já não quero estar aqui, eu quero ser acionista, eu pus cá estas pessoas para tomarem conta disto, eles é que têm de fazer o trabalho, não sou eu. Eu, estou cá atrás, se for preciso alguma coisa apareço, mas estou cá é para ser acionista”. E esta visão é superlativa.
Trabalhas na La Comarca. Aquele "mundo" pertence a uma única pessoas?
Sim, a Alfonso Jimenez, desde as Rações Jimenez à Jisap que é a ganadeira até à La Comarca, que é o terceiro maior produtor de porcos em Espanha, tem mais de 100.000 porcas, mas ele tem muito mais coisas, é realmente um “mundo”.
Também passaste pela AGP Meat...
Estive na criação da AGP Meat. Enquanto não havia Maporal criamos a AGP Meat que era uma empresa de negócios como se fosse uma trading, porque podia comprar os porcos, vender a carne, e como não havia negócio suficiente no início na Agrupalto, eu comprava carne em Portugal e vendia como trading Criamos um projeto de frangos, patos e suínos com outras empresas.
Levei várias empresas portuguesas a trabalhar com a AGP Meat para vendermos Portugal, recorrendo a muitos contactos internacionais e
trazer os clientes a Portugal a visitar as empresas. É importante conhecer os clientes bem como o destino final dos nossos produtos e inclusive o que fazem com eles. A Maioria das empresas não tem esse conhecimento também porque visita pouco os mercados para onde vende.
Isso é importante?
Sem conhecimento é impossível trabalhar bem.
Porquê?
A relação que eu hoje tenho com os clientes é porque vou lá e sei o que lhes faz falta. Como é que eles querem a carne, como não querem. Se eu não sei fazer isso, eu não sou um bom fornecedor, sou apenas mais um fornecedor.
tos produtos inviabiliza exportações.
O caminho é a carne produzida em laboratório?
Vou-lhe dar um dado que tive há dias quando visitei um laboratório numa fábrica na China, em que eles defendem que 47% dos chineses querem comer carne produzida em laboratório.
Querem ou estão resignados?
Provavelmente, ambas as situações. Mas eu vi num laboratório, uma célula estaminal produzir 200 toneladas de carne. Por mais que as pessoas não queiram acreditar esta vai ser a tendência mundial. Basta ver todas as políticas contra a produção animal, têm um intuito. O negócio da proteína quer se controlado e só há uma forma de o controlar: eliminando a produção animal tal como a conhecemos.
"A MAPORAL TEM UM PERCURSO EXTRAORDINÁRIO, QUE MARCA UM MOMENTOCHAVE NO SETOR DO SUÍNO EM PORTUGAL..."
MARCO HENRIQUES
Estive há dias com o diretor geral do WH Group que são os donos da Smithfields e ele dizia-me que fica muito satisfeito quando há uma empresa que faz o produto que eles querem. Em Portugal sempre houve aquela ideia “eu vendo aquilo que tenho” ou “o que quero fazer”, ou “dá-me muito trabalho, ou não gosto”. Esta atitude comercial tem os dias contados e o mercado está com muitas alterações e não se compadece com isso. O que a gente hoje conhece como trading internacional, vai sofrer alterações profundas. Esta história de mandar contentores com caixas de 20 kg de carne terá condicionantes.
Teremos polarização económica que em mui-
Mas isso traz danos irreparáveis para o ambiente e para a biodiversidade, para além das convulsões sociais. Nesse sentido, o futuro não augura nada de bom.
Eu não sei se é daqui a 50 ou 100 anos, mas não tenho a menor dúvida que ela tende a ser muito reduzida.
Quando dizes que as empresas têm que trabalhar para o futuro e depois dizes que a produção vai acabar, não estás a ser incongruente?
Nós sabemos que temos um tempo para continuar a produzir a qualidade e vamos
perder produção. Cada vez será mais cara e mais restritiva. Mas posso-lhe dizer que há empresas de produção animal que tem empresas de proteína não animal. Exemplo disso é a Zyrcular foods, fornecedor de e proteína alternativa.
Também já existem algumas em Portugal. Mas a minha questão é: no futuro a carne de origem animal vai ser reduzida ao prato para uma certa elite, e as células estaminais vão produzir carne para a transformação e produtos processados?
Eu vi carne a partir de células estaminais, vi o produto, era carne grelhada e em termos visuais era impossível dizer que aquilo não era
carne convencional com origem animal.
Como é que se prepara o mundo para isso?
Vamos precisar de várias gerações para se achar que aquilo é o normal, vão comer e achar que aquilo é o melhor que há. Outra opção, é alimentação a partir de proteína vegetal e isso já há muita coisa, provei um bacon feito de um composto de ervilhas, não é a mesma coisa para nós que temos uma memória gustativa de carne mas vi muitas pessoas a comer e a gostar imenso.
E a última coisa que vi foi uma impressora 3D a produzir carne, e é totalmente surrealista. Tendo a mesma matéria-prima que são vários
"NÃO
MARCO HENRIQUES
ingredientes ligados à impressora consegue-se remotamente produzir carne.
Não percebo, como um vegano ou um vegan tenha necessidade de comprar um produto a imitar carne. Além disso, parece-me que há um lobby que quer acabar com a produção de carne com o intuito que a carne sintética - porque é de carne sintética que estamos a falar –vir a ser o “El Dourado” para alguns. É muito pouco democrático, parece-me uma inquisição, e não tem nada a ver com a defesa do ambiente.
Realmente, estamos a caminho de um totalitarismo impressionante. Ditadura em todas as áreas. Quando viajamos muito, vemos como é que o povo, o cidadão comum, sem se dar conta faz o que alguns querem que se faça. Desde o supermercado, em todas as áreas as pessoas hoje em dia estão monitorizadas.
Mas voltando à Maporal, sais porque foste forçado a sair?
Forcei-me a sair. Levei oito meses para decidir a saída, porque não queria sair de Portugal, não tinha muito interesse em sair de Portugal, também já tenho 51 anos, mas entendi que o projeto não era o que eu tinha desenhado.
À distância da tua saída foi uma boa decisão?
A decisão foi tomada. Prefiro pensar que foi a correcta e que estou a fazer o que gosto.
Entretanto, apareceu La Comarca...
Entretanto surgiu La Comarca. Vou a uma entrevista sem saber que era La Comarca e, para dizer a verdade, recebo uma chamada de um amigo ligado ao sector em Espanha, que me diz que devo aceitar. Que posso confiar, que terei apoio. Aceitei.
»
MARCO HENRIQUES
A Península Ibérica é exportadora de carne de suínos...
A Espanha ocupa praticamente 100% das exportações da Península Ibérica.
Por isso mesmo, é possível comparar Portugal com a Espanha?
Não é possível comparar. Por mais imaginação que se tenha não é possível. Mas atenção, há que separar a indústria de produção animal. Portugal e, neste caso, a Agrupalto está ao nível de muitas empresas espanholas e diria que até melhor.
A Agrupalto, de onde saí, é um grupo com um potencial fenomenal, resta a outra parte toda que é a organização e o querer estar noutro patamar com profissionais e quadros. Espanha contrata pessoas e know how, em Portugal elimina-se o know how, nós trocamos um empregado de 1100 Euros por um de 900 Euros, de um dia para o outro, só porque é mais barato, é transversal em todas as áreas industriais.
Em Espanha, investe-se imenso nos recursos humanos e não se perde a oportunidade de tentar. É a grande diferença para o nosso lado. Eles dizem sempre: “perder por tentar é melhor do que perder por não tentar”.
A Maporal, tem estrutura para fazer uma coisa espetacular no estrangeiro. E já o fez, isso não se pode ignorar.
Mas tem capacidade para isso.
Tem capacidades para isso. Formaram-se pessoas para estarem à frente da Maporal e
poderem fazer a diferença e espero que isso um dia se reverta num resultado.
Estou na La Comarca como diretor comercial, montei uma equipa, investimos em pessoas, e ninguém quer que se invista numa pessoa sem critérios, só porque se pode pagar menos. O valor de compra da pessoa não é aquilo que os preocupa, eles querem saber se a pessoa daqui um ano ou dois é excecional. Não é hoje. Hoje, sabem que não, por isso têm que ter formação, têm que ser formados.
Não vejo nenhum empresário espanhol a pensar no próximo mês. A La Comarca vai ter um matadouro novo, a empresa tem uma fábrica nova, espetacular, é uma das melhores de Espanha e uma das melhores da Europa. E quando se começou a falar na construção do novo matadouro, pensou-se logo em coisas de futuro a 15/20 anos. Ninguém investe 50 Milhões, a pensar no próximo ano.
Como diretor comercial de uma empresa que abate 25.000 porcos por semana, não sentes uma pressão constante?
Não tenho tempo para ter pressão, os porcos têm que se vender. A carne tem que se vender, a estratégia tem que estar montada. Tenho a carne para vender, e não demonstro pressão no trabalho até por causa das pessoas que trabalham comigo.
Então, tens essa pressão só que não exteriorizas...
Obviamente que sim. Temos 25.000 porcos por semana que têm de sair e queremos fazer o dobro. Mas essa pressão não a demonstro
porque senão teria uma equipa complicadíssima. Decidimos que a empresa teria que ser reconhecida no mercado e começamos por dois pontos principais, qualidade e planificação, não podemos falhar compromissos. Nenhum projeto se tornará sólido sem estes denominadores frente aos preços.
Quantas pessoas são na tua equipa?
Tenho uma pessoa para o mercado nacional e tenho outra pessoa que faz comigo a exportação, e depois temos uma equipa de vendedores para o canal tradicional onde fazemos 200 toneladas por semana. Neste momento, La Comarca já cresceu 9% no mercado interno e quero orientar o projecto numa grande parte para a Europa e, particularmente, para Espanha. Países terceiros apenas mercados de mais valia e projectos bastante estáveis como o Japão e, neste caso, a China por ser o melhor/único mercado para o quinto elemento (ossos e miudezas) em que pretendo alterar formatos destas comodities
Como é que o teu patrão olha para ti?
Vou-lhe dizer aquilo que sinto em Espanha. Não há semana que ele não pergunte se está tudo bem comigo e com a minha família. Não há semana nenhuma que ele não pergunte se estou bem. É uma pessoa que está comigo diariamente, partilha o que pensa, mas deixa-me a gestão comercial e os dois seguimos o plano traçado.
Pessoalmente, como é que vês o horizonte?
Como me dedico a 100% aos projetos, não penso de onde saí ou na eventualidade de um próximo. Estou muito dedicado a este projeto, há alguns objetivos pessoais que quero ver concretizados em termos profissionais, alguns já os conquistei: este ano somos uma empresa bem posicionada e já reconhecida pelos resultados.
Dedicação, mas é uma questão pessoal.
Não tens um objetivo, tens vários objetivos.
Profissionais, pessoais, em termos de equipa, em termos de empresa...
Apesar da imprevisibilidade, podes ficar muito tempo nesta empresa...
Eu quero concretizar mais nesta empresa. Depende dos projetos, mas para já duvido.
Estás numa situação privilegiada?
Estamos, qualquer profissional está, sempre e quando se obtenha resultados.
Mas também há empresários em Portugal que o querem fazer, onde é que está o pauzinho na engrenagem?
Há sempre qualquer coisa que não deixa andar. Existe um sem número de razões e nem todas têm a ver com a empresa ou com os empresários. Cultura, país, o próprio Estado.
Como é que explicas isso?
Também temos dificuldades em confiar e em delegar. Pessoalmente, acho que fui um privilegiado no início da Agrupalto, depositaram uma confiança em mim que nunca tinha visto em Portugal. E com isso só posso estar grato.
É uma questão cultural?
É. Eu entendo e sei porquê, mas eu digo sempre, enquanto as coisas estão bem e se demonstra que está tudo bem deixem as coisas ir, mas parece que há ali sempre um passo que não querem dar. Penso que é por uma questão de conforto, custa sair da zona de conforto. Isto faz-me lembrar há algum tempo um empresário em Portugal que me disse: “não quero desmanchar, vou continuar a vender peças com osso”. E eu tenho uma sala de desmancha, só quero desmanchar. Não quero vender nada com osso. E isto mostra muito como somos, não procuramos a mais-valia.
Ver-te num projeto nacional nos próximos anos, vai ser difícil?
Nunca digo que não. Difícil? Profissionalmente, este projeto preenche-me, mas deixei muitas coisas por fazer em Portugal.
Como é que te defines?
Sou uma pessoa muito dedicada ao trabalho e em Espanha sabem que eu vou pelo desafio a que me proponho.
Nunca aceito nada sem a certeza que me vou dedicar a 100%. Se eu não tiver a certeza que vou estar a 100%, não aceito.
Eu vou para a China duas semanas, isto tem implicações na vida, mas é preciso lá andar, conhecer as coisas, andar a bater sola de sapato. Resumindo, agradeço a todos que me deram trabalho e projetos que sempre foram um desafio. E não esqueço quem no início foi importantíssimo para o que hoje sou, Humberto Rocha, Fernanda Aparício e Vítor Gonçalves, nos tempos da Tonova. E como a entrevista andou à volta da Maporal, jamais podia deixar de agradecer a oportunidade única que o Nuno Correia e o Fernando Vicente me deram, um projeto que definitivamente alterou tudo em Portugal.
Sob o tema “Uma Força da Natureza - Pecuária Extensiva” teve lugar no CNEMA, Centro Nacional de Exposições, Santarém, a 60ª Feira Nacional de Agricultura / 70ª Feira do Ribatejo.
O ano de 2024 marca também o 30º aniversário do CNEMA. Foi em 1994 que o Centro Nacional de Exposições recebeu pela primeira vez a Feira nacional de Agricultura / Feira do Ribatejo.
Um evento que na linha da tradição, convidou os visitantes a contactar o setor agrícola português em todas as suas vertentes: maquinaria, equipamentos, serviços, fatores de produção e também produtos agroalimentares resultantes das boas práticas agrícolas.
Sem esquecer as tradicionais tasquinhas, restaurantes tradicionais, largadas de toiros, provas equestres, música popular, concertos e muita animação. Numa manifestação popular que é essencial conservar e passar às gerações futuras como garante do mundo rural primor-
dial à sociedade. Fazendo jus aos mais antigos eventos do género, cujas origens datam no Oriente médio de 500 anos A.C., mais precisamente na cidade de Fenícia do Tiro (atual Líbano). Existem registos de feiras nas antigas civilizações grega, fenícia, romana e árabe. Na Europa, a origem das feiras está associada a festas religiosas, que influenciadas pela vontade popular se tornaram, ao mesmo tempo, profanas.
Na entrada principal do recinto, a organização montou uma passagem coberta, “O Início”, onde o visitante podia observar todos os cartazes da feira e a sua evolução desde 1954. Uma “exposição” muito interessante que revela de forma muito clara a importância da feira durante o período do Estado Novo e do pós 25 de abril, quer na vertente politica, quer social.
Decorria o ano de 1954 quando, devido à notória falta de interesse pela Feira do Milagre, a Câmara Municipal de Santarém, presidida por
Dr. Jacob Magos Pinto Corrêa, resolveu realizar a primeira Feira do Ribatejo. A feira tinha um caráter marcadamente regional, tendo só estado presente os concelhos do distrito. O campino tornava-se a figura mais acarinhada da Feira tornando-se a figura de destaque e imagem de marca de toda uma região.
Numa edição do jornal “Correio do Ribatejo” de 23/05/1963, lê-se “A mostra de máquinas agrícolas e de gados decorria no campo Chã de S. Lázaro posteriormente chamado de Emílio Infante da Câmara e assentava numa avenida com pavilhões de expositores assentes nas representações da maioria dos concelhos do Ribatejo. A Feira centrava-se na Casa do Campino, numa primeira versão muito básica que, posteriormente, ardeu e numa construção mais robusta, inaugurada em 1965. O campino era a figura mais acarinhada da Feira tendo mesmo um dia de destaque. As corridas de campinos, a mostra de gado, as corridas de cabrestos marcavam a feira e as casas
agrícolas da região. A contrastar com estes homens de trabalho queimados pelo sol da lezíria, as casas agrícolas apresentavam desfiles de cavaleiros ou de charretes protagonizados pelas elites desse mundo agrícola. As picarias permitiam testar a coragem dos mais audazes.” Daí, a figura do campino estar presente numa grande parte dos cartazes da Feira Nacional da Agricultura, até aos dias de hoje.
O tema principal da Feira Nacional Agricultura “A Pecuária Extensiva” destacava a importância de um habitat natural que ocupa cerca de 65% da superfície agrícola do nosso país. Neste sentido, foram realizados algumas palestras e pontos de discussão focados na sustentabilidade, na defesa do ambiente, com a apresentação de inovações nos procedimentos agrícolas mais produtivos e substancial-
mente menos poluentes.
Além disso, a organização promoveu cerca de quatro dezenas de ações, incluindo palestras, demonstrações, encontro de produtores e agricultores, concursos de raças autóctones e outras raças pecuárias.
A sedução de um bom copo de vinho na prova de uma variedade de produtos gastronómicos também fizeram parte desta Festa da »
“EMBORA NUM FIGURINO, NA
NOSSA OPINIÃO, BASTANTE
ROTINEIRO, EXIGIA-SE UM
LAYOUT DIFERENTE E MAIS
APELATIVO, A MAQUINARIA E EQUIPAMENTOS VOLTOU A SER
UM DOS SÍTIOS MAIS VISITADOS
PELOS PROFISSIONAIS QUE
TRABALHAM A TERRA.”
agricultura na cidade de Santarém, um miradouro exclusivo sobre a fértil lezíria ribatejana.
Embora num figurino, na nossa opinião, bastante rotineiro, exigia-se um layout diferente e mais apelativo, a maquinaria e equipamentos voltou a ser um dos sítios mais visitados pelos profissionais que trabalham a terra. Foram também apresentados projetos de sustentabilidade e energias sustentáveis, aproveitamento de resíduos agrícolas, valorizando-os na necessidade de reposição de matéria orgânica no solo com o objetivo de manter e/ou incrementar um nível de fertilidade que permita um razoável rendimento das produções, assim como para a produção de bio metano, e bio soluções.
A utilização de determinados resíduos diretamente ou após tratamento poderão ter um importante efeito positivo na fertilização do solo, atuando não só como corretivo orgânico que contribui tanto para as melhorias das características físicas e químicas do solo, como para o desenvolvimento dos microorganismos existentes no mesmo. Como se sabe, em Portugal, predominam largamente os solos ácidos e pobres em matéria orgânica.
Conforme destacado nas diversas intervenções a área de superfície agrícola útil em território nacional representa inúmeras vantagens como o apoio ao sistema agroflorestal ou o incremento qualitativo dos produtos provenientes e derivados dos animais de pasto. Neste âmbito é inevitável a promoção de todas
as raças criadas em extensivo e a preservação deste enorme património nacional.
Comprovada como uma realidade sustentável e de largo impacto no setor agrícola português, a pecuária extensiva, uma das primeiras
atividades desenvolvidas pelo homem, destaca a sua importância vital na criação de novas soluções de pastoreio e adaptação às alterações climáticas.
»
OS PRINCIPAIS ATRIBUTOS DA ATIVIDADE, OS MOTIVOS E OS MELHORES MÉTODOS PARA A SUA PROMOÇÃO.
Neste sentido, recuperamos o artigo escrito em 2019, e embora tenha havido alguns desenvolvimentos, nomeadamente, iniciativas de certificação de pecuária de baixo carbono e outras, pensamos que continua a ser muito oportuno.
Autor: Miguel Vieira Lopes, Licenciado em Engenharia Agronómica, Ramo de Agropecuária, pelo Instituto Superior de Agronomia, em 2005. Master of Science in Agriculture Food and Resource Economics, Ramo de Agribusiness, pela Michigan State University.
Publicação autorizada com a cortesia da AGROGES.
Os sistemas de produção de pecuária extensiva do sul da Europa têm um importantíssimo valor ambiental, económico e social. No entanto, esta é uma realidade que quem habita o restante território europeu parece desconhecer por completo. Em Portugal, mesmo os portugueses, na sua maioria, os que vivem em meio urbano, parecem desconhecer completamente a extensa área do território de que falamos, apenas guardando dela um conjunto de ideias românticas e estáticas que herdaram de uns antepassados.
Pois bem, é altura de os atores que se movem no meio rural – produtores, prestadores de serviços, caçadores e demais participantes das economias agrícola e não agrícola
em meio rural – se debruçarem sobre este problema e tentarem aproximar os cidadãos urbanos do campo. São demasiado comuns as acusações dos “rurais” de que os “urbanos” não entendem o campo e só sabem repetir chavões desinformados sobre os malefícios da agricultura. Assim como o são as acusações dos “urbanos” de que os “rurais” são uns brutos que maltratam os animais e o ambiente, e que produzem alimentos envenenados em troca de um lucro rápido e fácil. Não são só demasiadas, são, na minha opinião, perigosas sociologicamente, apenas contribuindo para a divisão entre o campo e a cidade, com potenciais consequências graves.
Assim, justifica-se que sejam promovidos »
os sistemas do extensivo junto da população citadina, não só em Portugal como ao nível europeu. Mas esta justificação não se esgota nos motivos sociológicos descritos. Ela é também fortemente ambiental e económica – os custos da não existência da pecuária nos sistemas agroflorestais que existem nas zonas de que falamos são altíssimos, no inevitável aumento de incêndios pelo abandono e eliminação da presença animal, na redução do rendimento disponível das populações e pelo aumento do custo de manutenção dos serviços públicos.
A solução para este grave problema passa
pela promoção dos sistemas de pecuária extensiva que são a base dos modelos de produção agroflorestal que predominam em Portugal. Esta promoção deve-se destinar aos consumidores em países europeus de fora da bacia do Mediterrâneo e às grandes áreas metropolitanas destes últimos. Assim, procurar-se-á mostrar aos grandes centros de consumo que a produção pecuária extensiva não é um fardo para o ambiente e para a saúde, sendo mesmo uma mais-valia. Assim, cumpre-se o objetivo de estreitar o fosso entre os “rurais” e os “urbanos” com claro benefício para todos. Mais, o cidadão urbano passa a estar mais integrado no mundo rural, porque
passa a ser um consumidor consciente.
Mas como se faz essa promoção e quais são os atributos a promover? São de diversa ordem:
Ambiental
Se o consumidor alemão souber que a pecuária extensiva portuguesa sustenta um sistema agroflorestal “desconhecido”, chamado montado, onde a biodiversidade é elevadíssima, onde o sequestro do carbono é superior às emissões e onde tudo isso está em risco se a terra for abandonada a não ser para colher pinha, cortiça e madeira, reduzindo o
controlo de matos e aumentando fortemente o risco de incêndio, será que não preferirá essa carne? Mais, não preferirá comprar essa carne na UE em vez de a comprar na América ou na Oceânia, evitando emitir milhares de toneladas de CO2 anualmente?
Social
Se o consumidor lisboeta souber que comprando desta carne promove o combate ao abandono rural, mantendo vivas as paisagens do Alto Alentejo onde gosta de ir passar fins-de-semana de Outono e preservando a floresta que atravessa para ir até à costa alentejana no Verão, não preferirá esses produtos?
Alimentar
Se o consumidor holandês souber que está a comprar carne realmente alimentada a pastagem e rações de cereais, sem uso de antibióticos como promotores de crescimento e sem quaisquer hormonas a não ser as que o próprio animal se encarrega de produzir naturalmente, não ficará mais imune a documentários e artigos sensacionalistas (que afirmam sem qualquer dúvida que a pecuária é toda um veneno para as pessoas e para o planeta) do que não conhecendo o nosso sistema de produção e o nosso regime climático?
E como se organiza a promoção destes atributos junto do consumidor? O caminho é difícil! É difícil porque passa pela organização da produção para uniformizar o produto e criar estruturas de promoção eficientes (e caras!). É difícil também porque há trabalho a fazer dentro de casa para além da promoção em meio urbano. As explorações têm um longo caminho a percorrer nos ganhos de eficiência, na manutenção de sistemas extensivos ao mesmo tempo que melhoram o seu maneio alimentar, reprodutivo e sanitário. É difícil ainda porque obriga à criação de certificação. Esta certificação será a chave, mas a sua conceção pode ser traiçoeira. A tentação será a de imitar o que se faz noutros lados e criar uma certificação do tipo “grass fed”, cuja nomenclatura não encaixa bem no que se faz na bacia do mediterrâneo. Por motivos climáticos, é impossível ter uma exploração eficiente apenas com base na pastagem, na grande maioria da bacia do Mediterrâneo: apenas fornecer erva seca aos animais durante um período de três ou mais meses por ano é má estratégia alimentar, o que resulta em fraca fertilidade dos efetivos e pior estado sanitário do animal. Assim, o desenvolvimento deste sistema de certificação tem de ser adequado ao que aqui se passa. Tem de
certificar que os animais são produzidos em sistemas extensivos, alimentados maioritariamente na pastagem, mas complementados com alimentos compostos à base de cereais ou com forragens. Tem de conseguir definir bem o que é o sistema extensivo: caracterizado por baixos encabeçamentos (o que permite uma convivência com a componente florestal, mantendo ainda o controlo de matos); que tipicamente utilizam áreas grandes de sequeiro e pequenas ou nenhumas de regadio; em que os dejetos dos animais são depositados nessas grandes áreas, mas que pela sua baixa intensidade e pelos regimes hídricos mais secos que no Norte da Europa, isso não polui aquíferos e solos, pelo contrário entra na dinâmica natural do solo; que não é o que se define como extensificação nos regimes tropicais1.
Mas se é tão difícil, porque é que os produtores pecuários portugueses haveriam de o fazer? Por dois motivos principais:
Porque o mercado o vai exigir no médio prazo; Porque estamos num momento favorável e é nessas alturas que se toma medidas estruturantes para depois não andar a “correr atrás do prejuízo”.
O mercado vai-nos obrigar porque cada vez há mais probabilidades de que haja novos acordos económicos que reduzam barreiras à entrada de carne na EU. Para além disso, as nossas exportações, que têm extravasado o tradicional mercado de Espanha, pelo envio de animais (bovinos e ovinos) de barco para o Magreb e Israel. Mas estes novos mercados encontram-se em zonas do mundo em que o risco de instabilidade pode ser um problema. Finalmente, os hábitos alimentares também são um fator crítico. De acordo com um estudo da NIELSEN, em 2016, 5% da população europeia afirma ser vegetariana e 2% vegan, para além de mais 5% que afirma ser “flexitariano” (i.e., hábitos maioritariamente vegetarianos, mas com consumo esporádico de produtos de origem animal). Neste contexto, a diferenciação e a promoção das qualidades associadas a este tipo específico de carne serão também “obrigatórias”.
Estamos num momento favorável porque as fileiras das principais espécies exploradas em regime extensivo em Portugal se encontram em momentos de boa performance2 – bovinos e ovinos por via da forte procura de animais vivos para exportação e suínos por via dos bons preços a que se valorizam os animais para produção de presunto serrano. Nes-
"... CUMPRIR O OBJETIVO DE ESTREITAR O FOSSO ENTRE
OS “RURAIS” E OS “URBANOS” RESULTA EM BENEFÍCIO
PARA TODOS. O CIDADÃO URBANO PASSA A ESTAR MAIS
INTEGRADO NO MUNDO RURAL, PORQUE PASSA A SER UM CONSUMIDOR CONSCIENTE."
tas condições é muito mais indicado procurar antecipar tendências e criar condições mais favoráveis para o futuro, do que tentar colher resultados de curto prazo e correr o risco de, em alturas piores não ter aberto os canais de escoamento para os maiores centros de consumo dentro do maior mercado agroalimentar do mundo, a Europa.
Parece-me então que o grande problema socioeconómico que assola o nosso interior e que motiva as preocupações descritas, pode ser combatido criando uma estratégia de maior resiliência para os sistemas de pecuária ex-
tensivos, típicos dessas regiões, ao mesmo tempo que se criam novas oportunidades de crescimento (ainda que maioritariamente em valor). Assim, em vez de se tentar resolver a desertificação do interior com medidas mitigadoras, poderíamos estar efetivamente a criar oportunidades de valorização de uma larga extensão do território, da sua economia e das suas gentes.
na ideia de que solos férteis se encontram em áreas florestais antigas e que a queima da floresta promove a rápida nitrificação da muita matéria orgânica que aí se encontra, disponibilizando azoto para culturas agrícolas a instalar. Este sistema, cada vez menos utilizado mundialmente, traz fortes problemas ambientais, pela eliminação de grandes áreas de floresta e libertação de grandes quantidades de dióxido de carbono, sendo o exemplo mais famoso o da desflorestação da Amazónia para instalação de pastagens e campos agrícolas. A ideia de intensificação para combater a esta extensificação, leva a que, em muitos meios não se entenda bem o que queremos dizer com sistema de pecuária extensiva no contexto europeu, que, claro, nada tem a ver com o que se acaba de descrever.
2.
Quando se fala de extensificação nas áreas florestais de regimes tropicais, fala-se um sistema ancestral de produção com base
Segundo o INE, em 2018, as exportações de animais vivos cresceram cerca de 10% em valor em relação a 2017, sendo que as exportações de carnes e miudezas apenas decresceram 3,3% em valor. A soma das duas tipologias de produtos registou um crescimento de 2,8% face ao ano anterior.
1. »
Portugal apesar da sua reduzida dimensão, é emblemática em raças autóctones. Segundo a DGAV são mais de 50 espécies pecuárias.
As raças autóctones distinguem-se pela notável uniformidade e adaptação ao ambiente em que vivem, características que foram adquirindo ao longo de gerações e que representam, por isso, um valioso património genético a que se alia um significativo potencial de valorização gastronómica e económica. Estas raças oferecem um excelente contributo para a produção de alimentos de qualidade superior, muitos dos quais beneficiam das designações de origem protegida pela EU, como as DPO (Designação de Origem Protegida) e IGP (Indicação Geográfica Protegida).
Estas raças desempenham, hoje em dia, um papel crucial ao abrangerem diversas áreas e atividades, contribuindo para a natureza multifuncional da agricultura, promovendo a sustentabilidade e fortalecendo a neutralida-
de carbónica. Além disso, desempenham um papel bastante importante na criação de produtos distintos e diferenciadores e no combate do despovoamento do interior do país. Nos "Claustros", um dos espaços mais nobres do CNEMA, estiveram representadas as associações das raças autóctones e algumas empresas ligadas à pecuária.
Paralelamente, esteve patente uma exposição relativa ao concurso fotográfico “Raças Animais Autóctones de Portugal – Conservar a Biodiversidade”, organizado pelo Polo de Inovação da Fonte Boa de Santarém do INIAV e que contou com uma adesão em peso de 208 participantes e cerca de 600 fotografias.
Como não podia deixar de ser, a 60ª Edição da Feira Nacional de Agricultura abordou o tema, com a organização da primeira edição do “Fórum Agricultura Sustentável”. Um evento que reuniu especialistas que debateram e apresentaram o que de melhor se está a fazer
em Portugal no campo da agricultura sustentável. De facto, o Fórum mostrou a evolução do setor, as mudanças reais para as boas práticas em matéria de sustentabilidade. No entanto, revelou-se um fórum “mais do mesmo”, com dissertações académicas, uma vertente comercial explicita de alguns intervenientes e politica de outros. Parece que em temos de fóruns ainda temos muito aprender com os nossos parceiros do norte da Europa. Um mês antes tínhamos assistido, em Helsínquia, a um fórum sobre sustentabilidade que não teve um programa tão “vasto”, mas foi muito mais esclarecedor, emotivo e objetivo, com apresentações efeito e consequência. Em Portugal, os fóruns continuam a ser avaliados pelo numero de intervenientes e individualidades presentes.
No cômputo final, a 60ª Feira Nacional de Agricultura encerrou as suas portas com o dever cumprido. Recebeu milhares de visitantes, refletiu sobre a agricultura em Portugal e demonstrou ser indispensável para o desenvolvimento da mesma. Sem agricultura, não existe vida.
LISBON FOOD AFFAIR.
LISBOA 10/12 FEVEREIRO 2025
A Fundação AIP anunciou as datas da próxima edição do Lisbon Food Affair. O “Hub do sector alimentar em Portugal”, defende a organização. Marketplace para os grandes negócios do setor alimentar e bebidas, canal Horeca, e tecnologias para a industria alimentar, onde a inovação, internacionalização, sustentabi-
lidade e a excelência do produto nacional se encontram.
Segundo a organização, a ultima edição correspondeu às expectativas de 94% dos visitantes profissionais e 92% tenciona visitar a próxima edição em 2025.
Em 2024, realizaram-se mais de 500 reuniões B2B com mais de 25 milhões de euros em oportunidades de negócios.
MEAT ATTRACTION. MADRID 25/27 FEVEREIRO 2025
Meat Attraction, uma das feiras mais interessantes para o setor de carnes, levou a efeito no ultimo dia do “XII Congresso Mundial do Jamón”, que se realizou de 5 a 7 de junho, a apresentação da nova edição da feira de Madrid sob o tema “Qualidade, Variedade, Inovação e Saúde” e que se realizará de 25 a 27 de fevereiro de 2025.
Com estas premissas, o pavilhão 4 da IFEMA de Madrid, reunirá milhares de visitantes, compradores, profissionais e empresas oriundas de mais de 30 países, onde encontrarão a possibilidade de realizar negócios e encontros de uma forma descontraída e eficaz, oportunidade de visibilidade e internacionalização, e conhecimento, formação e interação entre todos os profissionais de indústria e comércio de carnes.
De facto, é nesta interação e nas atividades paralelas que esta feira é imperdível. Maria Jose Sanchez, diretora da Meat Attraction, apresentou as novidades da nova edição, destacando “que se trata de uma dinâmica única para que todas as empresas de carne formem um fórum de união, para defender perante o consumidor as premissas: qualidade, variedade, inovação e saúde e para encontrar clientes com os quais desenvolvam novas oportunidades comerciais”.
A feira, em termos de espaço não é muito grande, mas apresenta uma dinâmica incomum, onde o visitante preenche o seu dia de visita com bastantes atividades, palestras, demonstrações (de desmancha, corte e preparação de carnes, por exemplo), num clima muito agradável, ativo e inovador.
Na passada edição de 2023 (a periodicidade da feira é bienal) os participantes que assistiram ao B2Meat, reuniram cerca de 50 exportadores e mais de 200 importadores ativos, vindos de várias partes do mundo, com presença especial da Ásia, Europa, seguido do Médio Oriente, África e América.
Além disso, nesta edição serão apresentadas soluções e novidades no que diz respeito à especialização de talhantes e salsicheiros, além de um amplo programa de jornadas técnicas e encontros na área do B2Meat, onde participarão compradores internacionais.
IFFA. FRANKFURT 3/8 MAIO DE 2025
A IFFA é a principal feira comercial do mundo de tecnologia, inovações e procedimentos para o setor de carnes e também proteína alternativa.
Oferecendo à industria e ao comércio global
uma plataforma para inovação e networking. No cerne da questão está a nutrição sustentável de uma população mundial crescente. Novos produtos vegetais e híbridos, processos inovadores de fermentação e o futuro tópico da carne cultivada podem mudar os hábitos alimentares radicalmente. A IFFA quer mostrar as tendências e as soluções possíveis,
assim como todas as etapas do processo: produção, processamento, embalagem, ingredientes inovadores e tendências nutricionais nos pontos de venda.
Será seguramente uma edição que levantará muita polémica.
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A INOVAÇÃO NA INSPEÇÃO VERTICAL: UMA ANÁLISE DO XSPECTRA
Na procura pela excelência na inspeção industrial, as empresas procuram constantemente soluções inovadoras que correspondam às suas exigências e que possam garantir a qualidade e a precisão de processos. Vamos falar do Xspectra, um sistema de inspeção vertical de última geração desenvolvido pela X-Next e representado em Portugal pela Albipack. Neste artigo, exploraremos em detalhes a tecno-
logia por trás do Xspectra e o seu potencial impacto nos processos de inspeção.
O que é o Xspectra?
É um sistema avançado de inspeção vertical que utiliza tecnologia de ponta para examinar produtos durante a trajetória vertical. Projetado para uma ampla gama de aplicações industriais, desde alimentos e bebidas até produtos farmacêuticos e eletrónicos, proporcionando uma abordagem inovadora para a deteção de organismos estranhos.
Como funciona o Xspectra?
Realiza uma análise espectral comparando até 1024 níveis de energia das diferentes absorções do produto em relação ao contaminante. Em milissegundos, realiza uma análise multiespectral de cada produto na linha de processamento, para identificar contaminantes indetetáveis.
Funcionalidades e tecnologia-chave
Inspeção de alta velocidade. Equipado
com sensores de alta resolução e algoritmos de processamento de imagem de imagem sofisticados, o Xspectra é capaz de realizar inspeções em alta velocidade, garantindo a eficiência dos processos de produção sem comprometer a precisão.
Deteção de defeitos multidimensionais. Uma das características distintivas do Xspectra é a sua capacidade de detetar uma ampla variedade de defeitos, incluindo falhas de superfície (fissuras), contaminação, variações de cor e tamanho, entre outros. Essa capacidade multidimensional de deteção é essencial para garantir a conformidade com os padrões de qualidade mais rigorosos e certificações alimentares como a IFS Food ou a ISSO 22000.
Análise espectral avançada. O Xspectra utiliza análise espectral para identificar características específicas dos produtos, permitindo uma inspeção mais precisa e detalhada. Essa abordagem avançada de análise de espectro é especialmente útil em setores onde a composição química ou a integridade estrutural dos produtos são críticas.
Integração flexível. Com uma arquitetura modular e interfaces de comunicação versáteis, o Xspectra pode ser integrado em linhas de produção existentes, oferecendo uma solução flexível e adaptável às necessidades especificas de cada cliente.
Alimentos e bebidas: inspeção de frutas, legumes, produtos enlatados, bebidas embaladas, e muito mais, garantindo a segurança alimentar e a conformidade com os padrões regulatórios.
Farmacêuticos: na inspeção de comprimidos, frascos e embalagens, assegurando a integridade do produto e a conformidade com os requisitos exigidos.
Eletrónicos: para a inspeção de placas de circuito, chips, semicondutores, displays e componentes eletrónicos, garantindo a qualidade e a confiabilidade dos produtos.
Segurança alimentar em foco
A segurança alimentar é uma preocupação
crítica em todos os estágios da cadeia de produção e distribuição. Recentemente, uma multinacional de gelados emitiu um alerta de segurança e recolheu alguns lotes de um dos seus gelados clássicos de amêndoa do mercado do Reino Unido e Irlanda, devido à possível presença de plástico e metal. Este incidente destaca a importância de sistemas de inspeção eficazes, como o Xspectra, na identificação precoce de contaminantes e na garantia da segurança alimentar.
Benefícios concretos
Melhoria da qualidade do produto. Ao detetar e eliminar defeitos de forma eficiente, o XSpectra, ajuda a melhorar a qualidade e a consistência dos produtos, reduzindo o risco de recalls e devoluções.
Aumento da eficiência Operacional. Com inspeções rápidas e precisas, o Xspectra ajuda a otimizar os processos de produção, reduzindo o tempo de inatividade e aumentando a produtividade geral.
Conformidade Regulatória. Ao garantir a conformidade com os mais exigentes padrões de qualidade e segurança, o Xspectra, ajuda as empresas a cumprir os requisitos regulatórios e a evitar penalidades e sanções.
Num cenário industrial cada vez mais competitivo e regulamentado, a tecnologia de inspeção desempenha um papel crucial na garantia da qualidade e na conformidade dos produtos. Com a sua abordagem inovadora de tecnologia avançada, o Xspectra, propõe uma solução eficaz para as empresas que procuram aprimorar os seus processos de inspeção e manter a excelência dos seus produtos. Com funcionalidades avançadas, ampla flexibilidade e uma ampla gama de aplicações, o Xspectra, está na vanguarda dos sistemas de inspeção vertical.
Mais informações em www.albipack.com
TRÊS ESTUDOS MOSTRAM BENEFÍCIOS DA CARNE BOVINA
MAGRA
Três estudos, com revisão por pares*, recentemente publicados no conceituado American Journal of Clinical Nutrition, revelam que a carne bovina magra é benéfica para a saúde.
O primeiro descobriu que a carne de bovino magra pode ser adicionada à dieta DASH. Adicionar uma porção diária até 150 gramas à dieta DASH reduziu o colesterol total e LDL eficazmente. A gordura saturada foi limitada a 6% das calorias diárias para cada grupo de teste.
O que é a dieta DASH?
É um plano alimentar que tem como objetivo principal ajudar a controlar a pressão alta, priorizando o consumo de vegetais, frutas, cereais integrais, leguminosas, oleaginosas, além de proteínas e laticínios com pouca gordura.
Os benefícios da dieta DASH são possíveis, porque os nutrientes presentes nestes alimentos, como potássio, magnésio, cálcio e fibras, promovem a diminuição da pressão arterial.
A sigla DASH vem do inglês Dietary Approaches to Stop Hypertension, que significa Abordagens Dietéticas para Combater a Hipertensão. No entanto, esse tipo de dieta ajuda a controlar os níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos no sangue.
Para que serve? Ajudar a tratar a pressão alta; prevenir e tratar doenças cardiovasculares; ajudar a controlar a glicose no sangue e diminuir o risco de câncer colorretal.
Por priorizar o aumento do consumo de frutas, vegetais e leite e derivados, e a diminuição de gordura saturada, a dieta DASH também melhora os níveis de insulina, colesterol "ruim", LDL, e triglicerídeos no sangue.
Por isso, a dieta DASH também pode ser recomendada para ajudar no tratamento da dislipidemia, uma condição caracterizada por alteração nos níveis de colesterol e tri-
glicerídeos, devido à genética ou alimentação rica em gordura, sedentarismo e diabetes do tipo 2, por exemplo.
Os estudos consequentes, em 2019 e 2022 descobriram que a carne bovina magra pode ser adicionada a um padrão alimentar saudável do estilo mediterrânico, que normalmente é considerado baixo em carne vermelha, bem como em açúcar e sódio e rico em frutas, vegetais, grãos integrais, nozes, semente e azeite. O estudo de 2019 descobriu que adultos com sobrepeso ou moderadamente obesos foram capazes de melhorar a saúde cardíaca adotando este padrão alimentar, com ou sem ingestão de carne vermelha. O estudo comparou a alimentação mediterrânica com 100 gramas de carne (carne fresca de bovino e suíno) por dia versus
“Em geral, os indicadores da saúde cardíaca melhoraram visivelmente”, refere Lauren E. O’ Connor, autora do principal estudo em 2019. “Curiosamente, porém, o colesterol LDL “ruim” dos participantes, que é um dos preditores mais fortes que temos para indicar »
o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, melhorou com a ingestão típica (dieta sem carne) igual ao grupo de participantes que ingeriu carne de bovino magra. A diferença não foi nenhuma.”
Benefícios nutricionais da carne de bovino
The National Academy of Medicine (Academia Nacional de Medicina dos EUA) recomenda o consumo médio de 25 gramas diários de carne, que se traduz em apenas 175 calorias (as quantidades exatas variam de acordo com o corte). A carne também fornece todos os aminoácidos essenciais para o corpo.
Em Portugal o consumo médio diário de carnes vermelhas incluindo charcutaria e outras carnes processadas é de 88, 2 gramas diários: crianças (dos 3 meses aos 10 anos), 54,6 gr.; adolescentes (dos 10 aos 18), 95,2 gr.; adultos (18 aos 65) 97,3 gr.; e idosos 64,4 gramas.
Duarte Torres, investigador da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, defende “in Jornal Publico” que “cada pessoa deveria comer um máximo de 28 gramas por dia. Idealmente, média seria de 14 gramas diários.
De qualquer forma, uma coisa parece clara para o investigador: “Necessariamente, por várias razões - de saúde de sustentabilidade – devemos caminhar para uma redução gradual do consumo de carne”. E em Portugal, “ainda não existe uma estratégia definida para isso”. O que existe, para já, é, nos cenários para o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, um plano para uma redução de 20 a 30% do atual efetivo bovino do país, que é de cerca de 1,3 milhões de vacas.
Duarte Torres considera que, a partir dos estudos que fez, já é possível iniciar um debate sobre o que fazer ao nível do consumo. “Os agentes políticos devem começar a pensar nisto. Os 28 gramas diários como limite máximo parecem-me um bom objetivo a médio/ longo prazo, mas implicam uma alteração mais profunda nos hábitos e não se consegue isso de um momento para o outro”.
Por outro lado, não é defensor de uma dieta que abdique completamente da carne. “Nos regimes mais restritivos, há um momento do risco de algumas carências”, avisa.
“Isto pode não parecer um individuo adulto bem informado, mas em crianças, nas quais a taxa de renovação e crescimento está muito activa, as carências podem ter consequências severas”. Daí que, na sua opinião, “os benefícios de uma redução significativa do consumo de carne não aumentam num cenário de corte total” com este alimento.
* A revisão por pares é uma parte integrante da publicação científica, a qual confirma a validade da ciência relatada
Fontes:
American journal of Clinical Nutrition
The National Academy of Medicine (EUA
CUF Hospitais e Clinicas
Euronews
Jornal Publico
A resposta a esta questão merece um olhar mais atento às suas origens. A carne deve fazer parte dos debates sobre os quais todos os portugueses devem opinar. Como o novo aeroporto de Lisboa, a necessidade do TGV, as escolhas do treinador da seleção nacional, ou o famigerado palco das Jornadas Mundiais da Juventude que virou casas de banho – supostamente de luxo - no Rock in Rio. Itens indispensáveis na comédia humana, que nos permite fingir e transmite a sensação que sabemos discutir.
A carne, tal como outros assuntos que causam divisão, tem a imensa vantagem de dividir a humanidade entre os bons e os maus. Em Portugal, nunca debatemos, preferimos separar-nos em campos opostos, em visões certas e definitivas do mundo. Impostas por uma
certa burguesia intelectual, estas discussões, que não o são, têm a vantagem de lhes permitir separar o trigo do joio, ou seja, demarcarem-se do povo e consolidarem a sua superioridade. É sempre de cima para baixo que se diz às pessoas como devem viver. Quando se trata de comida, é nos frigoríficos dos pobres que os mentores metem o nariz. Nunca é ao contrário. Mesmo quando não havia frigoríficos: as imposições alimentares sempre foram uma das formas de exercício do poder.
Especialmente com a carne, desde que o Homem começou a criar animais, questiona-se se teria razão de os matar. Durante dois mil anos, as religiões monoteístas fizeram-nos viver com a culpabilidade de matar animais, supervisionando o nosso carnivorismo através de práticas e proibições.
Passaram apenas dois séculos desde que o protestantismo anglo-americano associou a carne à cobiça da carne. O duplo pecado, que cria prazer e derrama líquidos. Incorporar um animal morto era uma forma de canibalismo porque o animal é uma criatura de Deus, tão próxima de nós. Er também um pecado muito sujo porque trazia uma felicidade simples, como fazer amor.
No final do século XIX, as mulheres exemplares da alta burguesia inglesa proibiram o consumo de carne ao subproletariado, sob o pretexto, precisamente, que já estavam suficientemente expostos a pecados sórdidos inerentes à sua classe operária urbana. Em vez de melhorarem a sua situação, sugeriam que comessem sopa de legumes. O comunismo emergente, curiosamente, não dizia o contrário: comer carne era encorajar a opressão capitalista que utilizava as mesmas armas para subjugar o animal e o proletário, que, através do consumo de gulosos churrascos, estavam condenados ao empobrecimento. Na década de 1970, o movimento punk renovou este veganismo histórico ao reeditar a teoria comunista numa visão política bem estruturada: a coerência da luta contra a sociedade de consumo exigia comer menos, biológico, e sem muita porcaria.
Para renovar esta ideia tão antiga como o Antigo Testamento, dando a entender que era uma teoria inovadora, uma parte dos ecologistas desnudou recentemente o vegetarianismo e o veganismo de qualquer objetivo político para o transformar num padrão para salvar o planeta.
“OS VEGANOS COMPRAM BIFES SUBSTITUTOS, QUE SÃO APENAS PRODUTOS SUPER-ULTRAPROCESSADOS, APENAS ENRIQUECENDO O MESMO TIPO DE INDÚSTRIAS QUE ESTÃO NA ORIGEM
DIZEM, EM QUE SE TORNOU A PECUÁRIA”
E chegamos a este ponto. Comer carne é hoje um crime climático e ao mesmo tempo um ecocídio, é pior do que a energia nuclear. Porque uma vaca arrota metano, liberta dióxido de carbono e consome ração estruturada com soja transgénica que é cultivada no lugar da floresta tropical com fortes pulverizações de fertilizantes.
A pecuária é responsável por quase um quinto das emissões de gases efeito estufa. Na Europa, a agropecuária é responsável por 9% das emissões (dados da União Europeia). Na verdade, quer onde estejamos, a vaca e o porco, são bem piores que as sete pragas do Egipto.
Por isso, vamos parar de comer carne e o planeta ficará melhor. O resto é simples, é só diminuir as emissões de gases com efeito estufa dos outros quatro quintos, as dos nossos carros, da industria de vestuário, por exemplo, ou da nossa vida digital, sem a qual nenhum vegano poderia fazer uma petição, e que já é responsável por mais emissões do que os transportes aéreos em termos de carbono.
É muito fácil abanar com o pedaço de carne. Agitamos o nosso inconsciente coletivo estruturado pela nossa boa e velha moral judaico-cristã. Se já era difícil lidar com o tema, agora, é muito pior.
A solução é óbvia, simplista como um sermão. Voltar ao “original”, a tudo o que é de origem vegetal. Não é comer o corpo de Cristo, mas a ideia está aí. Sem carne, não precisamos de criar animais que consumiriam três quartos das terras agrícolas do planeta. Assim libertados, os campos, ficariam cobertos de plantas
muito nutritivas para alimentar toda a humanidade.
Com esta diferença que as curvas mostram abaixo de 12 a 20% de carne na nossa alimentação (os paleoantropólogos estimam que o Cro-Magnon tinha 15%), o consumo de terra, depois de ter caído, voltaria a subir, seria necessário mais espaço, porque a ingestão calórica seria mais pequena e havia necessidade de comer mais.
Numa maior superfície, sobretudo, com a hipotética ideia que íamos cultivar muito e, consequentemente, trabalhar o solo para preservar o seu funcionamento natural, sem pulverizar, o rendimento seria substancialmente mais baixo, pelo que seriamos obrigados a expandir ainda mais.
O extensivo ocupa espaço, mas oferece muito serviços. Sem pecuária não há prados, charnecas, zonas húmidas, soutos, todos estes ambientes abertos a uma biodiversidade próspera.
Apesar de um pequeno país, Portugal goza de uma extraordinária variedade de paisagens que provém do casamento feliz entre a cultura e a pecuária. Sem isso, teríamos floresta por todo o lado ou, pelo contrário, campos de mato sem fim. Alguns afirmam ser capazes de substituir as vacas e as ovelhas por trituradores rotativos ou, mais consistente, por trabalhadores. Mas seriam preciso muitos para cortar à moda antiga, para que os campos não ficassem coberta de mato. E quem é que os pagava?
A média mundial de campos aráveis (com base em 192 países) é de 14,3, em Portugal é 10,5 devido às suas caraterísticas montanhosas. Alguns afirmam que podemos deixar os animais pastar, desde que não os matemos. Porque não. Mas não foram feitos para envelhecer, passado algum tempo sofrem de doenças articulares, infeções, parasitas. Uma vaca velha é um sofrimento que só os cuidados veterinários podem conter, a muito custo, e na maioria das vezes sem sucesso.
É difícil imaginar ambientes abertos sem criação, embora reconheçamos todos os seus méritos. O solo de uma pastagem é um reservatório de água e carbono. O estrume da vaca é um fertilizante fantástico, cuja aplicação nas culturas é um dos pilares da agricultura biológica. Dispensar isso é confiar a fertilidade dos nossos solos a fertilizantes químicos, ou a lamas ou lodos de digestores de metano, que não incentivam as plantas a remexer o solo à
procura dos seus nutrientes, com a ajuda de fungos.
Pouco importa a realidade, o importante é abolir a pecuária. Os apóstolos do veganismo elevam o respeito pela vida como padrão com a ajuda do reducionismo científico que resume o funcionamento dos ecossistemas com algumas médias mundiais sem nuances erguidas por fetiche.
Viva a criação? Não, porque é a própria ideia de criação que faz mal, seja ela qual for, e tudo serve para convencer. Amazónia, Califórnia, Mudanjiang City, ou Alentejo, é tudo a mesma coisa. A solução é abolir e substituir. Os veganos compram bifes substitutos, que não são mais do que produtos super-ultra-processados banais, desastres nutricionais, que apenas enriquecem o mesmo tipo de indústrias que estão na origem daquilo, dizem, em que se tornou a pecuária.
Investem em carne falsa e em carne sintética para criar mais valor acrescentado, com a garantia moral de não matar nenhum animal, emitir pouco carbono, e utilizar pouca água porque o sistema industrial é eficiente até á molécula. Mas, afinal de contas, não é bem assim e, além disso, as pessoas continuam a comer os minerais da carne nos ingredientes dos pratos preparados.
Quer fazer alguma coisa pelo ambiente?
De vez em quando, coma uma costeleta de novilho, criado em extensivo por um criador de verdade, que é um pedaço deste ecossistema que tantos serviços nos presta, a pastagem! Esqueça o “bife” de lentilhas prensadas e sufocadas por aditivos, proposto por falsos novos agricultores. Coma legumes verdadeiros! Opte por uma dieta equilibrada e seja saudável.
UMA VISÃO GERAL DA EDIÇÃO ESPECIAL “PERSPETIVAS SOBRE AS ATITUDES DOS CONSUMIDORES EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE CARNE”
Por Jean-François Hocquette Diretor de investigação INRAE (Instituto Nacional de Investigação de Agronomia. França)
de classe excecional
A produção e o consumo de carne são regularmente discutidos na esfera pública. Além disso, cada vez mais estudos destacam as preocupações dos consumidores relativamente aos valores sociais, tais como o impacto do consumo de carne no ambiente e na saúde humana, além das preocupações com o bem-estar animal, e a ideia de que a produção de carne pode ser uma fonte de doenças humanas (zoonóticas). Do ponto de vista moral, argumenta-se também que a contradição entre o amor aos animais e o respeito pelas suas vidas, por um lado, e o prazer de comer carne é um paradoxo (conhecido como o “paradoxo da carne”) (Biscarra -Bellio et al., 2023). Todos estes argumentos são utilizados por alguns novos intervenientes para promover análogos de carne ou alternativas de carne provenientes de diferentes fontes de proteína. Não comer carne, pelo menos ocasionalmente (Davegos e Verbeke, 2022), deixa de
ser um tabu, passando a ser um marcador de diferenciação social.
1. Atitudes dos consumidores nos diferentes países
Embora os debates em torno de questões de saúde, ambiente e bem-estar sejam bastante fortes nos EUA, existe uma procura sustentada de carne neste país, apesar de alguma substituição de carne (ou seja, um declínio no consumo de carne de bovino em detrimento do frango, agora a primeira carne consumida) e apesar de alguns consumidores evitarem a carne ou optarem por alternativas à carne (principalmente consumidores jovens, com elevado nível de escolaridade e ricos). Este quadro complexo é provavelmente explicado por um grande »
No entanto, estas observações podem dizer respeito principalmente aos países ocidentais, enquanto outras partes do mundo (como África, Ásia, América Latina) podem estar mais preocupadas com questões relacionadas com a fome, a autossuficiência alimentar, a segurança alimentar ou fatores culturais. Por exemplo, no Gana, a aparência corporal, o prazer de comer carne, a carne como identidade ou como parte da socialização são impulsionadores mais importantes do consumo de carne do que as preocupações com a saúde, o ambiente e o bem-estar animal (Opuku Mensah et al., 2022). De um modo mais geral, o país de origem, mas também diferentes fatores sociodemográficos (género, nível de escolaridade, nível de consumo de carne, ocupação relacionada ou não com a produção de carne, etc.) são os principais fatores que interagem para determinar as perceções sobre a produção e consumo de carne (Liu et. al., 2023).
número de fatores determinantes do consumo de carne, sendo o sabor, a frescura, a segurança e o preço os principais (Tonsor e Lusk e 2022). Apesar de um consumo de carne per capita metade do dos EUA, a China é o maior consumidor de carne do mundo, sendo a carne de porco a principal carne consumida (Wang, 2022). O aumento do rendimento é o principal fator que explica este elevado consumo de carne, mas o consumo de carne chinês é quase insensível aos preços de mercado. As questões de saúde, ambiente e bem-estar são também reconhecidas pelos consumidores chineses, mas a maior preocupação pública na China é a segurança (Mao et al., 2016). Existe também uma enorme disparidade entre os consumidores chineses urbanos e rurais, sendo que estes últimos têm falta de carne em comparação com os consumidores chineses, este último carece de carne em comparação com o primeiro. Além disso, os chineses mais ricos estão mais dispostos a reduzir o seu consumo de carne do que outros, enquanto o oposto foi observado no Brasil, França e África do Sul (Liu et al., 2023).
Entre estes dois países extremos em termos
de cultura, outros países também expressam especificidades próprias. No entanto, como discutido acima, embora um preço acessível seja o principal impulsionador do consumo de carne, como demonstrado na Noruega (Ueland et al., 2022), a saúde, o bem-estar animal e as questões ambientais são os principais fatores que explicam a diminuição do consumo de carne, embora estes fatores não desempenhem um papel importante quando predominam animais de vida livre e auto-alimentadores, como na Noruega (Ueland et al., 2022). Mesmo no Japão, onde a história do consumo de carne é curta, os fatores económicos são factores importantes para explicar as alterações no consumo de carne, para além das questões de segurança relacionadas com o bem-estar animal e a proteção do ambiente (Sasaki et al., 2022). Por outro lado, o prazer de comer carne (o fator hedónico), e a sua salubridade e segurança são os principais motivos para comer carne, tal como demonstrado em Espanha (Font-i-Furnols e Guerrero, 2022) e no Japão (Sasaki et al., 2022) respetivamente. A cultura culinária, os aspetos culturais e as tradições são também motivos importantes, como se mostra
no Uruguai (Realini et al., 2022) e no México (Estevez-Moreno e Miranda-de la Lama, 2022) em interação com a variedade de produtos e/ ou preferências regionais (Estevez - Moreno e Miranda - de la Lama, 2022; Fatores sociais como a carne como marcador de identidade social e parte da socialização podem ser fatores importantes, como no Gana (Opoku Mensah et al., 2022).
A nível internacional, o consumo e a perceção da carne são, assim, impulsionados por alguns fatores comuns (preço, segurança e qualidade sensorial, por exemplo) e outros que evoluem regularmente. Na verdade, todos os estudos confirmam a importância crescente de alguns fatores relacionados com questões de saúde, ambiente e bem-estar animal, embora as metodologias de investigação, as composições das amostras, as técnicas analíticas e as análises estatísticas entre os estudos não sejam suficientemente comparáveis para se chegar a conclusões sólidas. No entanto, apesar de algumas mudanças lentas, pelo menos para alguns segmentos específicos de consumidores, em termos de perceções, atitudes e intenções dos consumidores, é provável que estas »
mudanças não conduzam a grandes mudanças comportamentais alimentares, pelo menos a curto prazo (Biscarra- Bellio et. al., 2023), ou nos países Baixos (Davegos e Verbeke, 2022). Pelo contrário, outros autores preveem mudanças muito mais rápidas, com alterações profundas na posição ocupada pela carne na sociedade (Henchion et al., 2022) ou grandes mudanças quando os potenciais benefícios das alternativas à carne se tornarem mais aceites (Biscarra-Bellio et al. ., 2022). al., 2023).
2. Impulsionadores da aceitação da carne
Um preço acessível e uma elevada qualidade sensorial continuam a ser os principais fatores de compra de alimentos (e especialmente de carne) em comum entre diferentes países (Liu et al., 2023). No entanto, as decisões de consumo de carne por parte dos consumidores estão a tornar-se cada vez mais complexas. Em primeiro lugar, os impulsionadores do consu-
mo de carne estão relacionados com fatores psicológicos em relação com a personalidade e atitudes dos indivíduos. Os amantes de carne são frequentemente pessoas com um grande interesse pela comida e pela experiência alimentar, com baixa neofobia alimentar e grande familiaridade com produtos cárneos. Alternativamente, os consumidores de pouca carne estão mais interessados na naturalidade e na redução da alimentação, mas também na frescura para as mulheres, e na importância dada à informação do produto durante as compras para os homens (Dinnella et al., 2022) . Neste contexto, é evidente que o debate sobre a sustentabilidade da produção e consumo de carne pode ter um impacto significativo no consumo de carne, pelo menos no futuro a longo prazo, mesmo que as mudanças significativas não sejam tão importantes atualmente (Henchion et al., 2022). Na verdade, os consumidores têm-se tornado cada vez mais exigentes e desejam produtos cárneos acessíveis (i.e.,
a um bom preço), com elevadas qualidades organolépticas, sanitárias e nutricionais, bem como produzidos sob elevados padrões éticos, como se mostra no Brasil (Hötzel e Vandresen, 2022). Os consumidores chineses, tal como muitos dos seus congéneres noutros países, preferem carne local (Wang et al., 2022).
Estudos mais precisos realçam ainda que a disponibilidade para comprar carne depende ligeiramente do tipo de carne, sendo que, na China, a carne de o consumo é afetado pela experiência, sazonalidade, local de compra, hábitos alimentares e assim por diante, enquanto a carne de porco é afetada principalmente pelos hábitos alimentares e motivadores de compra (preço, atributos sensoriais, etc.) (Wang et al., 2022). Este é mais ou menos o mesmo padrão em todos os países, com pesos potencialmente ligeiramente diferentes para cada fator de acordo com o tipo de carne, o país, mas também os segmentos de consumo (Duong et al., 2022). De facto, a demografia do consumidor, como o género, a idade, os hábitos alimentares e outros parâmetros sociais, também afeta o consumo de carne (Liu et al., 2023). Para além dos fatores anteriormente mencionados, os critérios relacionados com a religião (como o abate ritual) podem ser tão importantes como a qualidade sensorial, a segurança e os traços éticos como demonstrado na Índia (Moha, et al., 2022).
Com base nesta complexidade, muitos cientistas fizeram uma diferença entre qualidades intrínsecas da carne (ou seja, as características do próprio produto que incluem características sensoriais, salubridade, segurança e assim por diante) e qualidades extrínsecas (que estão relacionadas com os sistemas de criação de gado, por exemplo, , saúde e bem-estar animal, impactos ambientais, preço, etc.). Muitas pesquisas estão a ser conduzidas para prever cada característica de qualidade utilizando métodos simples, mas também para combinar todas elas num ou em vários índices de qualidade sintéticos, como descrito há muitos anos (Hocquette et al., 2014) ou para destacar os mais importantes. uns. Tem sido sugerido que o sabor está entre os sinais intrínsecos mais importantes, enquanto o bem-estar animal e a naturalidade estão entre os extrínsecos mais importantes, pelo menos para a qualidade da carne de porco na Austrália (Duong et al., 2022).
Esta complexidade implica também que podem surgir algumas contradições nas expectativas dos consumidores. Por exemplo, a castração de porcos é aplicada há muito tempo para »
reduzir o odor desagradável, um odor desagradável característico dos machos inteiros que contribui para a rejeição da carne de porco por parte de alguns consumidores. No entanto, a castração de suínos é predominantemente realizada sem anestesia e/ou analgesia causando dor aos leitões, sendo estas práticas rejeitadas pelos consumidores em muitos países. É necessário encontrar um compromisso entre as características sensoriais e as questões éticas para uma boa aceitação da carne de porco por parte do consumidor (Lin-Shilstra e Fischer, 2022). Mas outros estudos encontraram diferenças nacionais/regionais na aceitação da carne de porco pelos consumidores. Vários fatores contribuem para estas diferenças. Entre eles está a medida em que as questões de bem-estar animal são prioritárias para o público. Os países com uma grande indústria de produção de suínos orientada para a exportação têm menos preocupações com o bem-estar animal em comparação com os países com uma menor produção de suínos, principalmente para o mercado interno (Sandøe et al., 2020).
Para além destas abordagens técnicas, muitos estudos baseados em abordagens sociais realçaram que a confiança no sistema de produção e consumo de carne (como o tratamento dos animais e os benefícios percebidos do consumo de carne) é um dos principais impulsionadores da aceitação pública de animais de criação para engorda para comerem a sua carne, como mostrado na Alemanha (Birkle et al., 2022). Isto sublinha a necessidade de fornecer aos consumidores informações fiáveis e credíveis sobre a produção e consumo de carne (Font-i-Furnols e Guerrero, 2022) e de desenvolver transparência ao longo de toda a cadeia de valor (Birkle et al., 2022). É necessário desenvolver diálogos construtivos entre os profissionais da carne, as partes interessadas, os consumidores e os cidadãos para restaurar a confiança ao longo da cadeia de abastecimento. Infelizmente, muitos cientistas especialistas em ciência animal queixaram-se de que muitas notícias falsas relacionadas com a pecuária estão a circular nas redes sociais. Estes académicos querem “dar voz aos muitos cientistas de todo o mundo que
investigam diligentemente, honestamente e com sucesso nas diversas disciplinas, a fim de alcançar uma visão equilibrada do futuro da pecuária”, pedindo aos cientistas que assinem a “Declaração de Dublin”.://www.dublin-declaration.org/. Este tipo de ação pode ser justificado pelo facto de a procura de carne derivar tanto do seu papel tradicional nas práticas culturais como da satisfação de necessidades individuais. Consequentemente, a medida em que as necessidades dos consumidores são satisfeitas pelas ofertas atuais de produtos à base de carne irá evoluir à medida que a posição da carne na sociedade se altera (Henchion et al., 2022).
3. Potencial aceitação de substitutos ou análogos da carne
Com base numa comunicação poderosa (e nem sempre equilibrada), novos intervenientes entraram no mercado da carne, oferecendo uma grande variedade de alternativas e análogos à carne. Incluem, por exemplo, proteínas vegetais, proteínas de insetos e proteínas »
derivadas do que se designa por “agricultura celular” (que inclui fermentação de precisão e “carne cultivada”). Embora os produtos à base de plantas já sejam comercializados, apesar dos enormes investimentos na “agricultura celular”, existem questões técnicas, éticas, regulamentares e comerciais significativas a resolver antes de obter alternativas à carne ou análogos da “agricultura celular” amplamente disponíveis no mercado. Por exemplo, muitos destes produtos não são idênticos aos produtos que pretendem substituir e até o seu nome (“carne cultivada”, por exemplo) é uma questão controversa, como descrito num artigo de revisão anterior (Chriki et al., 2022). Além disso, o processo de produção e a composição do produto não estão disponíveis de forma transparente, não sendo possível verificar as muitas alegações relacionadas com as características do produto e a sustentabilidade por parte dos defensores destes novos produtos. Finalmente, muitos papéis sociais da produção de carne, para além da nutrição humana, não são considerados pela “agricultura celular”, incluindo os serviços dos ecossistemas da pecuária, os benefícios dos coprodutos e as contribuições para os meios de subsistência e a cultura
gastronómica, como descrito noutro artigo de revisão (Wood et al., 2023). Por outro lado, os defensores da “carne cultivada” pretendem perturbar o mercado da carne, argumentando que a “agricultura celular” é uma revolução tão poderosa como a domesticação animal no início da história da humanidade. Segundo eles, caminhamos para a segunda domesticação (i.e., a domesticação de microrganismos e células em vez de animais) para a produção de alimentos humanos, com um potencial muito maior em termos de eficiência produtiva (Biscarra-Bellio et al., 2023). Considerando todos estes argumentos, muitas pesquisas estão a ser realizadas nas ciências sociais para compreender a potencial aceitação destes novos produtos por parte dos consumidores.
Geralmente, pensa-se que a carne é avaliada de forma mais favorável pelos carnívoros, enquanto os veganos/vegetarianos avaliam os substitutos da carne de forma mais favorável do que os carnívoros (Krings, Dhont, & Hodson, 2022). No entanto, os limites entre estes dois grupos de consumidores não são suficientemente claros e a maioria dos consumidores interessados em alternativas à carne é composta
principalmente por consumidores de carne porque os veganos/vegetarianos estão em minoria (Biscarra-Bellio et al., 2023). Embora os consumidores chineses estejam abertos aos substitutos da carne, especialmente às proteínas vegetais, porque estão familiarizados com elas graças a uma longa tradição, a potencial aceitação dos substitutos modernos da carne não é muito elevada (Wang et al., 2022).
De facto, ao contrário dos consumidores dos países ocidentais, os consumidores chineses parecem ser bastante conservadores e não sabem realmente o que é “carne cultivada” (Li et al., 2023). Na China (Wang, 2022), tal como no Canadá (Ngapo, 2022), e noutros países (Wood et al., 2023), o potencial para “carne cultivada” é ainda altamente incerto devido a muitas questões de segurança, técnicas até agora não resolvidas. Da mesma forma, as proteínas vegetais e os insetos são alternativas mais aceitáveis em comparação com a “carne cultivada”, mas ainda indesejáveis para alguns segmentos de consumidores, como mostrado em Itália (Mancini et Antonioli, 2022). Um estudo nesta edição especial demonstrou que a potencial reação dos consumidores em relação à “carne cultivada” é dominada por fatores afetivos, e não cognitivos (Hamin et al., 2022), uma vez que o produto não é bem conhecido devido à falta de transparência e à falta de disponibilidade. Os fatores afetivos incluem riscos relacionados com a não naturalidade, a neofobia (medo de tecnologias novas e desconhecidas) e a perceção de violação de normas (Biscarra-Bellio et al., 2023).
Concluindo, embora o preço acessível e a boa qualidade alimentar continuem a ser os principais factores determinantes do consumo de carne, sendo a segurança um pré-requisito, muitos outros factores relacionados com as questões sociais ganham importância. Por exemplo, a protecção do ambiente e dos animais, bem como a saúde dos consumidores são preocupações cada vez mais importantes. Novos intervenientes no sector agroalimentar estão a aproveitar esta tendência geral, desestabilizando assim o mercado da carne. No entanto, as diferenças culturais entre países e as especificidades regionais contemporizam estas observações gerais. Resumindo, os principais produtores de carne actuais e também os promotores de substitutos da carne devem adaptar as suas estratégias comerciais de acordo com esta tendência geral, matizada pelas especificidades locais, sendo ao mesmo tempo mais transparentes.