CARNE Nº208 . EDIÇÃO DEZEMBRO 2024 . OS PROFISSIONAIS NÃO DISPENSAM
DESENHAR FUTURO… MARIANA SANTOS - CEO KILOM
EDITORIAL CARNE & CONVENIÊNCIA
A carne e as barbaridades que se escrevem Por M. Oliveira
Não há muito tempo, uma revista semanal da nossa imprensa genérica apresentou uma peça com direito a manchete, sob o tema “A nova dieta da carne”. Um trabalho desenvolvido com o testemunho de várias pessoas que seguem um regime alimentar restritivo, a chamada dieta carnívora, uma espécie da dieta paleolítica que os nossos ancestrais faziam na “idade da pedra”. Com "base" em estudos científicos recentes que indicam que comer carne de vaca, borrego ou porco não aumenta o risco de doenças cardiovasculares e cancro, antes pelo contrário, ajuda a tratar inflamações, enxaquecas, diabetes, esclerose e diz o artigo que médicos já prescreveram dietas carnívoras Não fiquei surpreendido, até porque, nas ultimas duas décadas a nossa filosofia editorial tem passado por promover a carne como um produto saudável, baseado em estudos independentes e credíveis de universidades de prestigio como Oxford, Harvard ou Stanford e publicados em revistas cientificas, como a “Science” ou a “Nature” que são as duas publicações cientificas de maior prestígio internacional. Também não me surpreendeu as perceções inseridas na peça, nem dúvido dos testemunhos. O que me surpreendeu verdadeiramente foi a euforia com que a peça foi recebida por pessoas com responsabilidades no setor de carnes, alguns até me telefonaram. A carne é um alimento saudável, e como todos os alimentos saudáveis não provoca nem cura
doenças, mas pode contribuir para uma vida saudável. Não é um alimento que faz mal, é a opção de regime alimentar que escolhemos que pode, ou não, prejudicar a nossa saúde! Se incluirmos a carne numa dieta equilibrada e saudável, a carne só nos traz benefícios, sobejamente conhecidos, alguns praticamente exclusivos, como o vitamina B12. Nas dietas vegetarianas ou veganas, em que não há a ingestão de alimentos de origem animal, é necessário recorrer a produtos alimentares fortificados em vitamina B12.
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E é aqui que reside, na minha opinião, a incongruência que me surpreendeu. Se levamos anos a construir uma dieta equilibrada, com carne incluída, de um momento para o outro ficamos eufóricos com um regime alimentar super carnívoro? Parece-me que há aqui alguma insipiência. E se a dita revista daqui a duas ou três semana apresentar - porque o pode fazer, é uma revista genérica de origem sensacionalista, ao melhor estilo dos tabloides uma peça, baseada em “factos” científicos que a ingestão de carne mata?
SUMÁRIO Nº208 . EDIÇÃO DEZEMBRO 2024
FICHA TÉCNICA PROPRIEDADE Azitania Global Expedition S.L. C.I.F. b8662786 Calle Vallehermoso, 32 BJ B 28015 Madrid
02 EDITORIAL
A carne e as barbaridades que se escrevem
Revista Bimestral
ASSINATURA, ARTIGOS E PUBLICIDADE E. revistacarneportugal@gmail.com Versão em português Isenta de registo a ERC ao abrigo do Decreto-Lei 8/99 de 9/06 artº12 nº1 A
52 SEL.40 ANOS
Salsicharia estremocense comemora 40 anos
EDIÇÃO Glória Oliveira REDAÇÃO M. Oliveira CONSULTORIA Aberto Pascual DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO Patrícia Machado VERSÃO IMPRESSA E DIGITAL REVISTA CARNE É ASSOCIADO DE Maitre - Open Plataform for journalists and Researchers e SPJ Society of Professional Journalists
ASSINATURA DA REVISTA CARNE (EDIÇÃO IMPRESSA)
08 KILOM
Desenhar o futuro sem esquecer o passado
34 FUNDÃO - III FEIRA DE INOVAÇÃO AGRÍCOLA
58 CARNE DA TERCEIRA
Núcleo de criadores de bovinos de raças de carne da ilha terceira
72 ÚLTIMA PÁGINA
6 EDIÇÕES (portes de correio incluídos): 80,00 EUROS 12 EDIÇÕES (portes de correio incluídos): 150,00 EUROS Pedidos de subscrição a: revistacarnaportugal@gmail.com
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KILOM CARNE & CONVENIÊNCIA
Mariana Santos. Conselho de Administração da Kilom.
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KILOM CARNE & CONVENIÊNCIA
DESENHAR O FUTURO SEM ESQUECER O PASSADO Mariana Santos, licenciada na área da gestão de empresas pela Universidade Católica Portuguesa, representa a quinta geração desta empresa familiar que é o Grupo Valouro. Começou o seu percurso profissional na área da consultoria e auditoria, passou por uma empresa de indústria de bebidas e iniciou funções no Grupo Valouro em 2016.
Tens uma enorme responsabilidade... Tenho uma enorme responsabilidade em prosseguir todo o trabalho feito pelos meus antepassados, especialmente pelo meu avô e tios-avós e, naturalmente, mais recentemente pelo meu pai, que acompanho diariamente na gestão da empresa. Quem foram os fundadores?
Desde 2018, integrou a administração da Kilom, assim como a administração de outras três empresas do grupo a Solara, a Crizaves e a Savibel. No início, começou no departamento de melhoria contínua, o que lhe permitiu ter um primeiro contacto com a produção e a sua dinâmica industrial. Nesta entrevista, Mariana Santos fala-nos sobretudo do futuro, sem esquecer o passado.
Datamos desde 1875, quase com 150 anos de existência. O negócio começou no Mercado da Praça da Figueira, pelo meu tio-avô de quinta geração, com uma banca nesse mercado onde as aves estavam em gaiolas de madeira e eram abatidas à frente do cliente. As pessoas passavam, escolhiam a ave, sopravam nas penas para ver a cor da pele e a ave era abatida e depenada ali. O cliente levava o animal quente,
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“porque se estivesse frio é porque a carne já não estava boa”. Quem prosseguiu e alavancou o negócio foram os meus tios gémeos, com 14 anos, juntamente com o meu avô Manuel e a minha tia Júlia (quatro irmãos) que começaram ainda em Lisboa a fornecer restaurantes, navios, hotéis, trazendo as aves da zona Oeste e distribuindo-as na capital. Nessa altura, fizeram a abertura do primeiro matadouro também na zona Oeste, que deu origem ao aparecimento do Grupo Valouro, fundado então no dia 25 de abril de 1974. Curiosamente, a escritura estava marcada para esse dia, e tudo aconteceu muito naturalmente, apesar da Lourinhã ser relativamente perto de Lisboa, ninguém sabia o que se estava » a passar na capital nesse dia.
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Sala de Porcionados.
Estavas predestinada a trabalhar no Grupo? O meu pai sempre fez questão que nós, eu e o meu irmão Alexandre, seguíssemos os nossos próprios passos, os nossos percursos profissionais, pelo que nunca senti qualquer tipo de pressão ou obrigação de vir a trabalhar para as empresas da família. No entanto, desde muito pequena sempre me identifiquei com a área da gestão. No 12º ano não me propus a fazer os testes psicotécnicos porque já sabia de antemão que queria estudar Administração e Gestão de Empresas. Quando terminei a licenciatura na Universidade Católica Portuguesa, fiquei com dúvidas sobre a continuidade para Mestrado, pois não sabia em que área de especialidade me queria focar. Eu sabia aquilo que não queria, mas não conseguia eleger no que efetivamente me queria focar no futuro, pois identificava-me
com muitas áreas dentro da gestão: finanças, recursos humanos, gestão de operações, contabilidade financeira, e por isso na altura optei por começar a trabalhar. Iniciei o meu percurso profissional em consultoria na BCG (Boston Consulting Group) onde estagiei, passei por auditoria financeira em Banca e Seguros na KPMG, depois foi quando surgiu a oportunidade de integrar o departamento de auditoria interna de uma empresa familiar na área da indústria de bebidas. Trabalhava em Portugal e Angola, fazia duas semanas em Portugal, duas semanas em Angola. E foi aí que comecei a interiorizar o que é uma indústria e a perceber que o meu “percurso” tinha de passar por algo com uma dinâmica similar. Um dia o meu tio José António, pediu para falar comigo aqui na Kilom e foi quando me
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propôs a dar os primeiros passos dentro do Grupo Valouro. O meu irmão Alexandre é advogado, e também trabalha no Grupo. Iniciámos o nosso percurso na empresa da família mais ou menos na mesma altura, ele na área jurídica eu na área da melhoria contínua. A Kilom é uma das 3 empresas de transformação do Grupo Valouro. A Kilom é a empresa que se encontra na última etapa desta cadeia de valor, sendo por isso responsável por transformar a matéria-prima que recebe dos matadouros em produtos finais. A oferta da Kilom vai desde os tradicionais cortes de frango servidos frescos e embalados, passando pelos preparados e transformados de aves, pré-cozinhados ou pronto-a-comer. »
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A Kilom acaba por ser a imagem de marca dos produtos que são produzidos no Grupo Valouro, assim como as outras duas empresas que falaste, e muito bem, da Avibom e da Solara. Quais são as diferenças entre as três empresas do Grupo? A Solara faz pastelaria salgada e a Avibom faz os mesmos produtos que a Kilom, mas tem também a distribuição direcionada ao porta-a-porta: churrasqueiras, escolas, cantinas, minimercados, segurança social, grossistas, que a Kilom não faz. Aqui na Kilom estamos direcionados fundamentalmente para a moderna distribuição. Esta especialização de mercado é bem visível no layout das fábricas, as nossa linhas são de produção em escala e com o menor número de alterações entre produtos. Com estas novas instalações, qual é o projeto da Kilom? Esta nova fábrica da Kilom foi projetada com a mesma dimensão da anterior, com a mesma área de 10.000 m2 e no mesmo sítio, mas no interior com um layout completamente diferente. A fábrica foi reconstruída a partir de uma folha em branco? Foi reconstruída totalmente do zero. Foi um projeto muito acompanhado por mim e pelo meu pai. Fizemos inúmeras viagens pela Europa para visitar outras fábricas, para entendermos o que se faz de melhor. A fábrica antiga tinha 20 anos, e o setor nas últimas duas décadas evoluiu muito e nós criamos este projeto conjuntamente com alguns parceiros, de forma a conseguirmos ter uma fábrica preparada para dar resposta às necessidades futuras do consumidor, aquilo que nós acreditamos que são as necessidades futuras do consumo em Portugal. Com um projeto de indústria 4.0., com layouts e circuitos que nos permitam, por exemplo, fazer certificações de qualidade “IFS Food” e “BRC”, para mais tarde podermos chegar a mercados internacionais. Portanto, esta fábrica foi pensada do zero, reconstruída do zero e equipada com tecnologia que nos garanta muitas eficiências produtivas futuras. Quando visitaram as fábricas na Europa, houve alguma coisa que vos surpreendeu? Sim. Vou dar um exemplo: nós temos um grande foco da nossa produção nos pro- »
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“TRANSFORMAR INEFICIÊNCIAS EM EFICIÊNCIAS PRODUTIVAS” dutos pronto-a-comer. Foi uma área onde fomos pioneiros e optámos nesta reconstrução por fazer grandes investimentos em equipamentos de produção desse tipo de produtos. A zona “poente” da fábrica é dedicada 100% aos produtos pronto-a-comer. E uma das coisas que vimos lá fora foi que conseguíamos obter um produto mais saudável com uma pequena alteração no processo produtivo. Antigamente fritávamos total e exclusivamente estes produtos atualmente, por uma questão de obtenção de menores teores de gordura e consequentemente para se tornarem mais saudáveis, são fritos em breves segundos e depois são cozinhados num forno com controlo de temperatura e humidade de forma a garantir que o produto mantém a humidade necessária, e ao mesmo tempo, apresenta uma textura crocante, para o consumidor. Assim, quando este chega a casa, coloca o produto numa fritadeira Air fryer ou no forno, regenera o produto e está pronto a comer. Em poucos minutos consegue ter uma refeição apetitosa e crocante. Mas já conheciam o processo? Realmente, já conhecíamos o processo de o ver em feiras e também junto dos nossos parceiros, dos nossos fornecedores, mas vendo em fábrica, produtos que embora não fossem os mesmos produtos que os nossos – a qualidade e o aporte que ofereciam em termos de “mordida”, percebemos que seria uma grande vantagem para os nossos produtos. Ao redesenhar a fábrica, quais foram as prioridades das vossas maiores preocupações? É muito fácil priorizarmos. O que nós queríamos, acima de tudo, tendo em conta que já sabíamos quais eram as nossas dificuldades nas instalações anteriores, era priorizar a automação de processos. Estávamos muito dependentes de mão-de-obra, sabemos que este trabalho exige mão-de-obra, mas havia coisas que era possível automatizar para aumentar a produção e reduzir a dependência da mão-de-obra e porquê? Porque nós servimos a moderna distribuição 7 dias por semana e sabemos que é muito difícil que as pessoas trabalhem 7 dias por semana, e por isso tínha-
mos de ganhar capacidade produtiva e isso só era possível com automação de processos. E a seguir à automação? Depois foi a redução de ineficiências produtivas, coisa que antigamente fazíamos, perdíamos valor, e, portanto, a prioridade era transformar essas ineficiências em eficiências produtivas. Aumentos de produtividade...
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Sim, conseguirmos criar com a mesma área uma unidade industrial que hoje em dia tem capacidade para fazer 3 vezes mais do que a antiga fábrica. Mas ainda não estão a produzir 3 vez mais... Não, ainda não está a fazer... Mas já esta a fazer o dobro? Ainda não, começámos em março de 2024, » mas estamos no bom caminho.
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Câmara de Expedição.
O vosso leque de clientes na moderna distribuição abrange todas as insígnias? Todas. Desde o Pingo Doce, Sonae, Mercadona, Auchan, Aldi, Intermarché... todas as insígnias. Aquelas que nos exigiam uma certificação de qualidade como a IFS é que tínhamos mais dificuldade de corresponder pois na anti-
Expedição.
ga fábrica a sua implementação era difícil. Na altura tínhamos feito um projeto de avaliação das instalações antigas e para conseguir essa certificação GFSI tínhamos de construir uma fábrica nova, porque os circuitos não permitiam, cruzavam-se e, portanto, aproveitámos esta oportunidade que surgiu do que infelizmente aconteceu, mas que se tornou numa
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real oportunidade de chegar a objetivos que antes não conseguíamos alcançar. Se a fábrica anterior não ardesse, teriam partido para uma reconstrução desta grandeza? Se a fábrica não ardesse, provavelmente...
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é uma boa pergunta. Eu acho que pensaríamos, por exemplo, dentro deste terreno que temos, pegar em outras instalações e reconstrui-las para que algumas das nossas produções passassem para lá. Eu digo isto porquê? Temos um princípio que as fábricas têm que ter só um piso térreo, fábricas com dois pisos não são boas para as pessoas. Uma das nossas prioridades foi também dar conforto às pessoas, porque as pessoas, se estiverem a trabalhar numas instalações onde se sintam bem, ao nível do seu posto de trabalho, tornam-se mais produtivas. E nós realmente temos uma grande preocupação com as pessoas. E isso é muito visível na rotatividade do nosso pessoal, deixámos de ter rotatividade de pessoas. As pessoas estão connosco há muito tempo e isso só é possível quando as pessoas se sentem bem. Para obter a certificação IFS teriam que fazer um piso novo... E nós nunca o quisemos fazer. Então esta
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Câmara de Congelados.
fábrica mais uma vez foi projetada com um piso térreo, com circuitos muito lineares, sem grandes reentrâncias, por forma a que o circuito seja o mais linear possível com menos entropias que se possam criar.
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Outras prioridades? Em termos de sustentabilidade e eficiência energética, temos um terreno que está totalmente repleto de painéis fotovoltaicos. »
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Novo Edifício Fábrica Kilom.
Corredor Central.
Produzimos cerca de 60% das nossas necessidades, quando estamos a trabalhar. Vamos buscar cerca de 40% à rede, mas por exemplo, aos sábados à tarde e aos domingos que não laboramos, na verdade, também conseguimos injetar na rede.
E no topo do edifício de 10.000 m2 também criámos uma central fotovoltaica, neste caso, para injetar 100% na rede. De facto, outra das prioridades foi equipar a fábrica com equipamentos que nos permitissem obter maiores ganhos energéticos.
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Atualmente, temos sistemas de gestão de informatização industrial que nos permitem medir a nossa atividade e corrigir situações de uma forma muito rápida e eficaz. Por outro lado, também conseguimos medir e monitorizar ao segundo os nossos consumos de máquinas, paragens, energia, que por sua »
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Ao lado direito do edifício principal nasceu uma nova unidade com 10.000 m2
vez também nos permitem melhores ganhos energéticos. E reduz o impacto ambiental... É um dos grandes objetivos da sociedade e estamos comprometidos com isso. E uma das medições, embora só tenhamos começado em março 2024, que conseguimos analisar, é o sistema de frio, que é um dos grandes consumidores de energia na nossa indústria. Atualmente, comparando com o ano 2019, conseguimos reduzir cerca de 40% o nosso consumo energético. E isto é muito bom, porque o coração desta fábrica é o frio. O vosso objetivo não é só produzir produtos de qualidade com as melhores técnicas produtivas disponíveis. Há muito mais para além da qualidade e rentabilidade dos produtos. Um dos nossos objetivos é produzir produtos de qualidade, sem dúvida, mas a nossa missão vai mais longe. É também garantir que conseguimos enquadrar na nossa atividade aquilo que são as preocupações ambientais,
estatais e as preocupações sociais por forma a que consigamos mitigar e reduzir os impactos da nossa atividade, isto tem que ser feito em comum. Só trabalhando com as melhores técnicas disponíveis é que também podemos ir minimizando aquilo que são os nossos impactos. Podemos afirmar que o setor da produção e industrialização de carnes de aves tem na sua génese a economia circular? Sem dúvida. Aquilo que é subproduto de uma atividade é coproduto da outra. Por exemplo, o estrume é fundamental, como nutriente, para a produção dos cereais e consequentemente de rações. Na Herdade da Daroeira, que pertence ao Grupo Valouro, existe um protótipo do que é a integração vertical da indústria avícola. Tem uma fábrica de rações, tem uma unidade de compostagem, tem um matadouro e a produção avícola propriamente dita. Como é que posiciona a Kilom no mercado nacional?
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O mercado divide-se por dois grandes grupos avícolas que, em termos de mercado, estamos muito equilibrados. Digamos que é um mercado que está muito bem repartido. A nível dos produtos prontos-a-comer, somos líderes no mercado nacional. E isto muito pela capacidade produtiva que temos, pelo know how que temos desenvolvido nos últimos anos e pelas inovações que vamos apresentando ao mercado que leva a que o nosso leque de produtos seja cada vez maior. É nessa área que alimentam grandes expetativas? A nossa expetativa é que seja a área que vá criar maior valor acrescentado, somos detentores da matéria-prima, na zona onde fazemos as cuvetes, por exemplo, os cortes de peito que não podem ser embalados nas cuvettes tornam-se num coproduto para fazer os nuggets, e como controlamos essa matéria-prima, também temos uma maior capacidade de conseguir gerir e flexibilizar a nossa produção, e por isso acreditamos que, mais ou menos em 5 anos, 50% da nossa faturação provenha dos produtos pronto-a-comer »
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da cozinha industrial, que são produtos com muito potencial no mercado. De uma maneira ou de outra, a carne de frango é a carne do futuro? Exatamente. O mercado assim o tem demonstrado e nós assistimos a um crescimento anual sustentado do consumo de carne de aves de cerca de 2% ao ano. Os portugueses consomem 45kg de carne de aves por ano por pessoa. Já supera a carne de porco... A carne de porco e de vaca. Desde 2020 que o consumo de aves ultrapassou todas as outras espécies de carne. Como é explicas esse aumento de consumo? Pelo preço...? Há vários fatores. A carne de frango tem inúmeras vantagens, é a proteína cárnica com menor teor de gordura. Por um lado, o consumo de carne de aves é defendido por desportistas, por médicos, nutricionistas. Por outro lado, não há restrições religiosas ao consumo de carne de aves, todas as culturas e religiões permitem o consumo desta carne e depois, como o meu pai costuma dizer: “Eu não conheço uma única criança que não goste de frango”. E continua a ser a proteína cárnica mais barata. O meu tio António José diz em tom de brincadeira que “Só há uma coisa mais barata que um quilo de carne de frango, que é meio quilo de frango.” E há outro dado curioso, apesar de o consumo de carne de aves já representar 45kg por habitante por ano, em Portugal, os dados do INE do primeiro trimestre de 2024 demonstram que 45% da carne produzida e abatida em Portugal para consumo humano é de aves. Sendo que dentro destes 45%, 90% são frango, os outros 10% são as outras aves: o peru, a galinha, o pato, a codorniz e as aves de caça que já não são tão representativas. São autossuficientes em termos de matéria-prima? Não, sobretudo pela questão do peito de frango, devido ao grande desequilíbrio no consumo, o português consome muito mais a parte do peito do que das outras. E embora os frangos a nível de genética apresentem »
Embalamento e Etiquetagem.
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Formação de Nuggets.
uma maior percentagem de peito face às restantes partes, ainda necessitamos de importar peito para fazer os nossos produtos. Portugal não é autossuficiente em frango... importam de onde? Realmente, em Portugal não somos autossuficientes e importamos essencialmente da Europa, portanto, Países Baixos, Polónia e Espanha. Depois do Brexit, surgiu a polémica que os britânicos poderiam vir a comer frango tratado com cloro, proveniente dos EUA. Qual é a tua opinião? Realmente, isso é uma conversa do Estados Unidos. Isto é um dos desafios futuros que também gostaria de abordar. Estamos num
mercado de uma competitividade completamente desleal. O que nós sentimos é que a Europa está completamente legislada e regulada e todos os anos saem mais restrições à produção. Mas se olharmos para o Brasil e para os EUA, que são os grandes produtores e exportadores mundiais e que competem diretamente com a Europa, beneficiam de uma impunidade porque as normas europeias são muito mais exigentes que nos EUA ou no Brasil. É um desafio para a Europa... A Europa a legislar e a sobre legislar a atividade europeia, vai ficar tão caro produzir que corremos o risco de ter de trocar produção pela importação. O Brasil e os EUA exportam frango para a
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EU. Como é que é possível? Porque não há mecanismos de controlo fronteiriço em relação a estes produtos. A questão que se coloca e que nós temos muito batalhado, em termos de associação com outras associações europeias, desde a Associação Europeia (AVEC), que é a voz dos produtores europeus de carne de aves, é exatamente isso. Se querem implementar legislação europeia, têm de criar mecanismos de controlo à importação por forma a garantir, que no mínimo, cumprem os mesmos requisitos que são impostos na Europa. Porque é que foi criada a legislação? Para garantir a qualidade e a segurança alimentar. Isto é básico. Mas eu vou importar um produto que não sei em que condições é que foi produzido e estou a injetá-lo no nosso mercado, »
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estou a dar aos consumidores europeus um produto que não posso garantir a sua qualidade e a segurança alimentar. É uma realidade transversal a outros produtos... E depois é o preço. Por exemplo, na produção na Europa existe uma limitação na densidade do pavilhão em termos de número de quilos por metro quadrado, que são cerca de 33kg por metro quadrado. No Brasil ou nos EUA, são 60 ou 70, porque não há limitações. Conseguem meter mais aves no mesmo aviário, resultado: a eficiência produtiva é muito maior que na Europa e os custos de produção mais baixos. Já para não falar da pegada carbónica e do bem-estar animal. Temos uma grande preocupação a esse nível. O bem-estar animal é uma nomenclatura que não tinha nome, mas que existia já há muito anos na nossa atividade, mas que nos últimos anos foi um tema relevante na perspetiva de certificação. Ou seja, certificar aquilo que já se faz de bem. Interessante essa frase... E porquê? Porque os primeiros interessados em bem-estar animal são os próprios criadores, porque se as aves estiverem na plenitude das suas condições, as chamadas 5 liberdades: sem fome, sem sede, sem desconforto, sem dor ou doença e ter espaço para expressar os comportamentos naturais da espécie, não conseguem dar bom rendimento aos criadores. Que é um facto que os ativistas anti consumo de carne não entendem – ou não querem.
Fritura e Congelação.
Na minha opinião, e já com alguns dados estatísticos, as ONG vieram trazer aquela imagem de que os criadores de animais são uns malfeitores que só promovem o mal-estar animal, e levaram as pessoas a tratar as aves como animais de companhia, o que só não altera hábitos de consumo que impõem o veganismo, que é esse o seu objetivo mas, por outro lado, querem dar um imagem negativa a um setor que está extremamente bem organizado, é um dos setores que mais monitoriza a sua atividade, agregou-se, integrou-se, e isto só vem provar que estamos a produzir cada vez melhor e com menos recursos. Atualmente, utilizamos menos ração animal, para obter a mesma »
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quantidade de carne final. Necessitamos de menos recursos hídricos, menos recursos de terra para obter o mesmo produto final, isto com dados concretos. Por outro lado, a questão das ONGs, por quem são alimentadas? São alimentadas essencialmente por fundos americanos, que é o que está por detrás destas ONG. Se olharmos para os últimos cinco anos, os investimentos em milhões de dólares que foi feito em ONGs é gritante, porque quanto mais peso as ONG ganham na Europa, mais a Europa tem de importar dos Estados Unidos. Isto é tudo um lobby. Por isso, as nossas preocupações de bem-estar animal, não temos qualquer problema de certificação, neste sentido até tenho muito orgulho, porque quando foi proposta a certificação de bem-estar animal fomos logo o primeiro grupo a fazê-lo. Não tivemos qualquer dificuldade em certificar. Claro que as cerificações têm por base a melhoria contínua, ajuda-nos também a olhar com outros olhos para a atividade e, naturalmente, querer melhorá-la. Desde os enriquecimentos ambientais, por exemplo, colocar dentro dos aviários mecanismos que permitam às aves desenvolver os seus hábitos naturais de bicar, mas, por exemplo, introduzir poleiros dentro de um aviário está completamente fora de questão. As aves não estão preparadas para tal, criando hematomas no peito e problemas de formação, que não é isso que se procura. Mas já existe uma enorme quantidade de enriquecimentos ambientais que provam que é possível criar esse ambiente dentro de um aviário sem comprometer a boa criação e o bom alojamento das aves. Mas, realmente, hoje em dia, temos um controlo total das temperaturas ambiente/ térmica, temos chão aquecido para as aves, cumprimos o limite de aves por metro quadrado... O bem-estar animal é uma falsa questão? Na minha opinião, é uma falsa questão. É como eu disse, certificar aquilo que se faz bem. Mas considero que seja fundamental para reconhecimento público, quer em Portugal, quer no estrangeiro. À parte disso, qual é o vosso maior desafio? O nosso maior desafio não está relacionado com a produção. A produção das aves é a que tem menos carga carbónica comparada com outras produções pecuárias, e quando comparadas com a produção vegetal, está »
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prepará-lo há muito tempo. A minha mais valia na empresa? Sem falsas modéstias, diria, que a mais valia é brutal! A Kilom é uma referência em termos de qualidade de produto, mas também de profissionalismo, postura e atitude. Quem visita a Kilom não fica indiferente e tu, que conheces muita coisa, não és o primeiro nem serás o último a exclamar UAU! E tudo isso também passa pela mais valia que entrego à empresa. Em termos evolução, fomos sempre uma empresa que nunca parou, mas, agora, demos um passo gigante! Dentro dessa evolução constante, alimentávamos um sonho e agora concretizámos esse sonho. Houve processos produtivos que mudaram radicalmente, há custa da elevada tecnologia de equipamentos, embalagem. Há muitos anos começámos por embalar os produtos em cuvetes de esferovite e vitafilm, para depois passar para as atmosferas modificadas. Fomos pioneiros a trabalhar com a “Ar líquido” em embalamento de atmosfera modificada (MAP), numas máquinas Korvac, que produziam bolsas enormes.
Paulo Mariano, 52 anos, Diretor de Produção.
A KILOM TAMBÉM É MINHA DE FORMA EMOCIONAL Entrei na empresa em outubro de 1995 para cumprir um estágio profissional, e em abril de 1996 fui convidado para entrar nos quadros da empresa para formar o departamento de Qualidade. Vim estagiar na área do HACPP quando praticamente ainda não se falava em HACPP em Portugal. Apesar de me licenciar em engenharia agrícola, tive um professor de controlo de qualidade, na Universidade de Évora, que era o Paulo Laureano (um dos enólogos consultores mais produtivos do Alentejo) e tive excelentes notas nessa disciplina. Estive mais de 15 anos no departamento de Qualidade da Kilom. Contudo, sempre gostei da produção e desenvolvimento de produtos. A Kilom? A Kilom é a minha vida!
Para mim, vir à Kilom ao sábado, quando é preciso, é um dia como outro qualquer. Se me ligarem por qualquer motivo, a minha família já sabe que eu fico mais tranquilo, satisfeito e feliz se vier à empresa para tentar resolver. Porque se estiver em casa a tentar resolver fico stressado, a pensar se resolvo, se não resolvo, a acabo por ter que vir à empresa. Atualmente, a minha função é de Direção de Produção. Tenho a equipa dividida da seguinte forma: tenho uma equipa de supervisores (promovo sempre pessoas da casa), esses supervisores têm à sua responsabilidade uma parte da fábrica, têm chefias e subchefias nas equipas. Portanto, quando tenho de passar uma mensagem, reúno com os supervisores e com as chefias e elas encargar-se-ão de fazer passar a informação aos restantes membros das equipas. Neste momento, já sei que vamos precisar de mais um supervisor. Já escolhi e já ando a
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Neste momento, já estamos ao melhor nível europeu, sem dúvida. Aliás, já começamos isso há alguns anos e agora demos o passo que nos faltava. Aqui, não é só frango, fazemos outros produtos: pronto-a-comer, preparados de carne, desde os hambúrgueres (frango e peru), passando pelo nuggets até aos pré-cozinhados que praticamente são pronto-a-comer ´porque é só meter no micro-ondas, no forno ou na airfryer e regenerar, para comer os nossos Cordon Blue, panados de frango, de peru, deliciosos e crocantes O consumidor recebe muito bem os nossos produtos e cada vez mais. Fomos pioneiros, somos inovadores e eu participei em algumas dessas inovações que oferecemos ao consumidor português, o que me enche de orgulho. Inovámos nos pré-fritos, mas, mais importante, inovámos numa nova forma de fritura, mais saudável. O futuro é promissor e, como disseste durante a visita, está tudo nas nossas mãos. Temos uma brutal capacidade de produção e nem sequer chegamos aos 30% da nossa capacidade. Estamos a fazer o caminho e estamos no bom caminho.
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“OS PRIMEIROS INTERESSADOS EM BEM-ESTAR ANIMAL SÃO OS PRÓPRIOS CRIADORES..."
a automação de processos para não estarmos tão dependentes de mão-de-obra, mas neste momento temos dificuldades em encontrar mão-de-obra. Quantas pessoas trabalham na Kilom?
muito equilibrada. O nosso maior desafio é na questão do packaging, da parte dos produtos chegarem ao consumidor, ou seja, devido à segurança alimentar, não temos embalagens reutilizáveis. Os grandes desafios têm sido, junto com os nossos parceiros e fornecedores, procurar desenvolver embalagens que sejam o mais eficiente do ponto vista de gestão de melhores recursos a serem produzidas e que sejam 100% recicláveis. Não diabolizam o plástico. Não diabolizamos o plástico, preferimos altamente o plástico em relação ao papel, porque garante a qualidade do produto e a segurança alimentar, mas vamos optar por um plástico
que seja 100% reciclável.
Podemos passar à mão-de-obra, que é sempre um tema muito sensível. É insuficiente, felizmente temos a imigração...
Neste momento, somos 160, entre eles alguns imigrantes. São pessoas que vêm para cá para trabalhar, trabalham fins de semana ou feriados, trabalham quando é preciso. São extremamente comprometidos com o trabalho, mas há uma grande dificuldade, que é a linguagem. Porque percebem mal inglês, são operadores que, se dissermos o que é para fazer, eles fazem, mas não são pessoas para coordenar. O nosso desafio neste momento é encontrar chefias portuguesas com conhecimento na área para poder coordenar estas equipas.
Se não fosse a imigração, neste momento não tínhamos mão-de-obra. Como disse anteriormente, uma das nossas prioridades era
Como disse, temos 160 trabalhadores, trabalhamos com um turno laboral e um de higienização, antigamente, tínhamos três turnos: »
Produtos monomateriais... Por exemplo, monomaterial que hoje em dia ainda não existe oferta possível no mercado que consiga dar resposta às necessidades, mas que estamos a fazer um caminho nesse sentido.
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empresas nacionais como multinacionais que vêm para Portugal. O nosso país é atrativo e as pessoas estão a ser necessárias e cada vez mais necessárias, porque os grandes investimentos e estes grandes fundos que vêm da EU são para incrementar a produção, não só para sermos autossuficientes, mas também para podermos exportar, e tudo isto obriga a ter pessoas para trabalhar. E nós sabemos que a nível de natalidade continuamos a inverter a pirâmide. Estamos a falar de uma situação que são trabalhos físicos, em pessoas que trabalham até chegarem à idade da reforma, o que é doloroso e contraproducente. Inevitavelmente começam a aparecer as “mazelas” do trabalho, e por isso torna-se difícil as pessoas ficarem aqui até à idade da reforma, embora tenhamos muitas que fica por amor à camisola e porque se sentem bem, mas isto é duro. É preciso gente jovem e gente jovem não existe em Portugal. Sílvia Lemos, Supervisora de Produção (Cozinha industrial e preparados)
SINTO A RESPONSABILIDADE COM MUITO ORGULHO Estou na empresa há quase 20 anos e sou supervisora de Produção, na área dos pré-cozinhados, preparados e congelados e coordeno as equipas, num total de 70 pessoas. Como me sinto com esta responsabilidade? Como a responsabilidade é, sobretudo, a capacidade de saber avaliar as próprias capacidades e as capacidades das minhas equipas e as possíveis consequências das de-
Os imigrantes que trabalham na Kilom são jovens...
cisões, sinto a responsabilidade com muito orgulho. Tenho muito orgulho nas minhas equipas, gosto muito da minha profissão, e tenho muito prazer naquilo que faço. Sim, sou licenciada em direito. Quando me licenciei já trabalhava na Kilom, e como o Engº Paulo Mariano me convidou para supervisora de produção, aceitei o desafio. Não me arrependi, gosto muito do que faço, gosto das minhas chefias, das minhas equipas e gosto muito de trabalhar na Kilom.
dois de trabalho e um de higienização e temos capacidade produtiva para fazermos três vezes daquilo que fazíamos, agora para crescermos vamos ter que criar mais turnos, e as pessoas?
cionais, para conseguirem contratar pessoas. Porque não vêm se não tiverem esse visto. E se esses vistos tiverem um processo muito moroso, como estão a ser as manifestações de interesse, vai ser complicado.
A automação não resolve tudo... Há automação de processos, mas as máquinas não trabalham sozinhas. Continua a haver muitas coisas que exigem operadores, e eu tenho muito receio desta alteração da lei que surgiu sobre o fim da manifestação de interesse e da obrigatoriedade de um visto de trabalho no país de origem. Se esses vistos forem morosos, vai criar um problema para as empresas na-
A falta de mão-de-obra portuguesa também se deve aos aumentos do tecido empresarial... O tecido empresarial em Portugal cresceu e cresceu muito. As pessoas já eram necessárias noutras unidades, mas efetivamente temos um grande investimento a nível nacional e nós temos visto isto, não só com
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São pessoas, em média, com cerca de 30 anos. São pessoas que vêm para cá trabalhar para enviar dinheiro para as famílias. Vêm para cá para poder dar melhores condições de vida às famílias que estão no seu país de origem. A maioria, assim que atinge os seus objetivos, regressa ao seu país. Quais são as vossas perspetivas a curto e médio prazo? O consumidor está a alterar os seus padrões de consumo. As novas gerações valorizam muito a conveniência, não dispõe de tempo para cozinhar. A cozinha não é uma prioridade e a verdade é que nós acreditamos que estes produtos, que têm de ser saudáveis, mas que são de rápida confeção, são o futuro a nível dos derivados do frango. O consumo de frango vai sempre ter o seu lugar. O consumidor compra um peito, ou um bife, ou no churrasco, que é uma forma de consumir frango pronto-a-comer que já existe há muito tempo, que está muito enraizado na sociedade portuguesa, e continua a ser uma imagem de marca. Na área dos frescos não vai haver grande variação. Por exemplo, nós não temos a tradição do frango marinado e porquê? O frango tem o IVA a 6%, se levar pimenta passa para 23%. Em Espanha, não. É tudo a 10% e, por isso, o marinado implantou-se na cultura gastronómica deles. Em Portugal, por razões fiscais, nunca houve muita abertura a este tipo de pro- »
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dustrial tem essa preocupação de ter Chefs a trabalhar gastronomicamente o produto, a apurar o sabor. É uma preocupação conjunta. Apesar de ser um processo industrial, a qualidade, a segurança alimentar e o sabor são “ingredientes” que fazem parte de todos os nossos produtos. Por exemplo, um cliente da Moderna Distribuição, tem Chefs a dirigir as equipas e a desenvolver os produtos. E, por isso, acabam de trazer de lá exatamente aquilo que querem. Para terminar, atualmente está em fase de debate as propostas da chamada EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar). Qual é a vossa opinião sobre as propostas?
Nelson Lemos, supervisor de Produção (frescos, “covetizados”, sacos e vácuos)
TRABALHAR NA KILOM SIGNIFICA MUITO PARA MIM Trabalho na Kilom há cerca de 24 anos, sou supervisor de produção de frescos e a minha função é acompanhar, orientar e apoiar as equipas, num total de 74 pessoas. Distribuir pessoas onde são necessárias, fazer a gestão de encomendas, das matérias-primas, por forma a que tudo corra bem e os objetivos sejam alcançados.
Trabalhar na Kilom significa muito para mim. Quando acabei o 12º ano, vim para aqui trabalhar, foi o meu primeiro e único trabalho. Foi um investimento pessoal, que me trouxe crescimento pessoal, liderança, satisfação e bem-estar. A minha mãe trabalhou cá durante 38 anos, e foi ela que nos trouxe para a Kilom, a mim e às minhas duas irmãs. É uma grande família.
dutos, porque deixam de ser competitivos. Se as pessoas estão habituadas a que o frango custe, por exemplo, 2,49 euros o quilo, e de repente, só porque os peitos estão temperados, já custam 6 ou 7 euros, as pessoas não compram.
parte, a geração Z e as que se seguem estão a caminhar a passos largos para aquilo que é a mentalidade do norte da Europa. É a sandes ao computador, o almoço deixa de ser uma refeição ritualizada e, sim, o jantar mais por uma questão de convívio em família.
Acreditamos que estes produtos que são fáceis de cozinhar, pronto-a-comer, são saudáveis, e depois vê-se pelas Air fryer, que ofereceram uma nova forma de cozinhar. As Air fryer regeneram produtos, também fazem outras coisas, é verdade, mas a sua génese é pôr lá para dentro e retirar o mais depressa possível para comer. Esta tendência de consumo vai ser o caminho que vamos seguir.
A vossa cozinha é chefiada por um Chef? Trabalhamos em parcerias com alguns Chefs, que desenvolvem as nossas receitas sempre com o objetivo de melhorar. E também desenvolvemos produtos com os nossos clientes. Muito dos produtos que desenvolvemos é para as marcas dos clientes, que também têm os seus Chefs e intervêm no processo.
Acho que a geração Millennials, da qual faço
É importante perceber que um processo in-
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Penso que algumas propostas podem pôr em causa a produção nacional, porque, uma vez que procuram reduzir a quantidade de quilos que cada ave pode alcançar por dia, assim como reduzir para três vezes menos a quantidade de quilos de carne por metro quadrado, vai afetar em muito a produção nacional. Primeiro, vai acarretar enormes custos, o que compromete completamente a produção. Segundo, vamos ter que recorrer a muitos mais recursos naturais, mais terrenos para criar o mesmo número de aves, mais terrenos para cultivar, mais recursos hídricos, o frango vai estar bem mais caro e o consumidor não está disposto a pagar, para além de ser um erro crasso em termos de sustentabilidade. O lema tem que ser sempre produzir produtos de acordo com aquilo que são os padrões de consumo do consumidor, ao preço que ele pode e está disposto a pagar. O problema destas propostas é que incrementam substancialmente o custo do produto final e não vão ser as cadeias de distribuição a suportar esse custo. A questão está a ser muito debatida e a ser bastante pressionada, porque vai comprometer a produção europeia e vamos ter que importar carne de frango, por exemplo, que não sabemos em que condições é que foi produzida. O que não deixa de ser um contrassenso.
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FUNDÃO - III FEIRA DE INOVAÇÃO AGRÍCOLA CARNE & CONVENIÊNCIA
A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA PASSA POR AQUI Durante quatro dias, a cidade do Fundão foi um centro vivo de modernização com a realização da III Edição da Feira de Inovação Agrícola. Um evento que, cada vez mais, se afirma como um gerador de ideias e inovação para a agricultura e para o setor agroalimentar. Organizado pela Câmara Municipal do Fundão, o objetivo deste evento é impulsionar o desenvolvimento do setor com novos conceitos e procedimentos que possam contribuir para o aumento da eficiência dos processos de produção das diferentes fileiras do setor, com natural destaque para as novas tecnologias.
COMO ESTÁ A DIGITALIZAÇÃO A TRANSFORMAR O SETOR AGRÍCOLA? Atualmente, já não se fala em agricultura sem falar das novas tecnologias, apesar de a média de idade dos nossos agricultores ser de 64
anos, uma das mais altas da Europa. Mas, ao mesmo tempo, também se fala da renovação geracional, ou melhor, da esperança de uma renovação geracional na agricultura portuguesa. As tecnologias digitais na agricultura podem aumentar o desempenho das explorações agrícolas, reforçando a sustentabilidade, a produtividade e a resiliência, especialmente através das tecnologias da Internet das Coisas (IdC), dos sensores, da análise de dados (por exemplo, com base na Inteligência Artificial) e dos sistemas de apoio à decisão, conduzindo as operações agrícolas mais adaptadas e precisas. A digitalização da agricultura da Europa tem um potencial significativo para aumentar a eficiência, a eficácia, a sustentabilidade e a competitividade em todo o setor. As orientações politicas da Comissão Europeia para 2024/2029 salientam este potencial, dando
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prioridade ao apoio a toda a cadeia de valor alimentar através do investimento e da inovação nas explorações agrícolas, nas cooperativas, nas empresas agroalimentares e nas PME. Existe um historial de esforços europeus no sentido de fazer avançar a integração das tecnologias digitais no setor agrícola europeu. Como é do conhecimento geral, a Comissão Europeia apoiou vários projetos de investigação e inovação (como por exemplo, ATLAS e DEMETER) bem como ações de implantação, como o Espaço Europeu Comum de Dados Agrícolas, que moldam a digitalização na agricultura da EU. Neste sentido, e no âmbito da III Feira de Inovação Agrícola, o Centro de Negócios e Serviços do Fundão fomentou um programa de palestras e mesas redondas, proporcionou a apresentação de vários projetos e reuniu um conjunto de empresas tecnológicas muito »
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interessantes para os profissionais que aderiram em grande número, apesar do mau tempo que se fez sentir. “A Rastreabilidade e valorização da cadeia alimentar”, “Pacto bio económico azul”, “Eco sistemas empreendedores”, “Agricultura e tecnologia: a combinação perfeita?”, “Valorização da carne através do ensino do corte”, “Maturação da carne”, foram alguns temas em debate, com a particularidade de se referirem a necessidades atuais. Mais de 100 temas apresentados, com a participação de mais de duas centenas de intervenientes das diversas áreas profissionais, técnicas e científicas, numa demonstração de inovação, conhecimento, tecnologia, interatividade, e demonstrações em contexto real da mais avançada tecnologia ao serviço dos setores agrícolas, pecuários, e ingredientes essenciais, para dar a conhecer o que de mais moderno se pratica no setor em Portugal.
POR QUE OS DADOS NA AGRICULTURA SÃO IMPORTANTES? O aumento da utilização de aplicações digitais na agricultura conduz a uma maior quantidade de dados, que são altamente específicos e diversificados. A recolha de dados agrícolas inclui terras, culturas, gado, dados agronómicos, dados climáticos, dados de máquinas, dados financeiros e dados de conformidade. Alguns dados podem ser considerados pessoais ou sensíveis pelos agricultores, como os relativos aàs rotas dos tratores ou os fatores que conduzem a uma produção bem-sucedida. Outros dados podem ser considerados confidenciais pelas empresas agrícolas. Os dados agrícolas, especialmente se disponíveis para muitas explorações agrícolas, são economicamente importantes não só para os agricultores, mas também para toda a cadeia de valor, por exemplo, para a previsão do mercado, o desenvolvimento de produtos e
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seguros. Os agricultores receiam que os seus dados possam ser utilizados por terceiros sem o seu consentimento ou conhecimento. Proteger os segredos comerciais é essencial. Por conseguinte, é fundamental assegurar salvaguardas para a partilha de dados, a soberania e a segurança dos dados, a fim de reforçar a confiança e não comprometer o desenvolvimento e a aceitação da agricultura inteligente. A fim de facilitar a partilha equitativa de dados entre setores, a UE adotou o Regulamento Dados, que entrará em vigor em 2025. O Código de Conduta da UE sobre a partilha de dados agrícolas, criado por um grupo de associações da cadeia agroalimentar da UE, fornece orientações sobre a utilização de dados agrícolas, em especial os direitos de acesso e utilização dos mesmos.
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FUNDÃO - III FEIRA DE INOVAÇÃO AGRÍCOLA CARNE & CONVENIÊNCIA
“O PRODUTOR É COMO OUTRA EMPRESA QUALQUER, TRABALHA PARA TER O SEU LUCRO, PARA GOVERNAR A SUA VIDA.“ JOAQUIM CARVALHO
BENEFÍCIOS E DESAFIOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS E DE DADOS DA AGRICULTURA A utilização de tecnologias digitais na agricultura pode trazer vários benefícios: ∙
Otimização da produção: A digitalização pode ajudar os agricultores a tomar melhores decisões, otimizar as operações e aumentar a produtividade, conduzindo a lucros mais elevados e a um setor agrícola mais sustentável. As tecnologias agrícolas de precisão reduzem os fatores e os custos de produção, bem como a pegada ambiental das atividades agrícolas, otimizando a utilização dos recursos e reduzindo os resíduos.
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Melhoria do bem-estar dos animais: As aplicações digitais podem aumentar o bem-estar dos animais, por exemplo, acompanhando as condições sanitárias.
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Melhoria das condições de trabalho: A automatização e a otimização através de tecnologias digitais, incluindo a robótica, reduzem a carga de trabalho física e mental dos agricultores, conduzindo a melhores condições de trabalho.
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Maior transparência: Tecnologias digitais específicas, como a cadeia de blocos, melhoram a rastreabilidade e a transparência dos produtos agrícolas na cadeia de valor, permitindo que os consumidores façam escolhas mais informadas.
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Aumento da competitividade: A digitalização ajuda o setor agrícola europeu a manter-se competitivo a nível mundial, proporcionando soluções inovadoras e criando novas oportunidades de negócio para todos os intervenientes ao longo da cadeia de valor.
Apesar dos benefícios, subsistem desafios: ∙ Falta
de sensibilização e de competências: Muitos agricultores podem não estar cientes dos potenciais benefícios da digitalização e podem não dispor das competências e dos recursos necessários para utilizar as novas tecnologias.
digitais» entre os agricultores. ∙ Falta de relação custo-eficácia: O custo da
aplicação de determinadas tecnologias digitais pode ser superior aos potenciais benefícios, especialmente para os pequenos agricultores. ∙ Necessidade de confiança na partilha de
∙ Divisórias
digitais: Muitas zonas rurais ainda carecem de acesso fiável e a preços acessíveis à Internet, o que dificulta a adoção de tecnologias digitais, que é um fator fundamental para induzir «clivagens
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dados: As preocupações com a privacidade e a propriedade dos dados entre os agricultores podem dificultar a partilha de dados entre os diferentes intervenientes no setor » agrícola.
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Deficiências na interoperabilidade: Falta de interoperabilidade entre diferentes sistemas, uma vez que muitas aplicações digitais ou máquinas de diferentes marcas podem não ser compatíveis, o que dificulta a partilha de dados e a integração de dados.
tores e produtores europeus que cumpram as exigentes leis e diretivas da União Europeia, e depois importar produtos que não obedecem às mesmas exigências.
O FUTURO DA AGRICULTURA PASSA POR AQUI
Para garantir que a digitalização seja inclusiva e acessível a todos, os decisores políticos, os líderes da indústria e os fornecedores de tecnologia devem trabalhar em conjunto para promover os benefícios da mesma de forma transparente e apoiar os agricultores com formação, recursos e incentivos para adotar novas tecnologias. Ao fazê-lo, o setor agrícola europeu pode maximizar os benefícios da era digital, melhorando a sustentabilidade e a rentabilidade e abordando simultaneamente questões prementes, como a segurança alimentar e as alterações climáticas.
Quer nas palavras de Paulo Alexandre Bernardo Fernandes, Presidente da Câmara Municipal do Fundão, quer nas palavras do Vereador Pedro Manuel Figueiredo Neto, que entre outros Pelouros acumula os do desenvolvimento Rural, Agricultura e Florestas, que “O futuro da agricultura passa por aqui”, ou seja, pela Feira de Inovação Agrícola do Fundão, que se afirma cada vez mais como ponto de encontro de novas ideias para a produção agropecuária.
Mais do que nunca, a Europa está a consciencializar-se da importância da sua independência e soberania em produtos alimentares, não se pode continuar a exigir aos agricul-
Paulo Alexandre Bernardes Fernandes, que acumula os Pelouros do Investimento e Inovação, Desenvolvimento Local e Regional, Ordenamento do Território, Cultura e Pa-
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trimónio e Migrações e Multiculturalidade, fez um balanço extremamente positivo do evento, com benefícios não só para a sua região, como para todo o país. O futuro da agricultura assenta na investigação, na inovação e no reforço das capacidades no setor agroalimentar. A Feira de Inovação Agrícola do Fundão vai ao encontro da estratégia do “prado ao prato”, que é um pilar do Pacto Ecológico da UE, com metas ambiciosas para 2030 em matéria de produção alimentar, sustentabilidade, ambiente, mas também com rendimentos justos para agricultores e produtores.
PAVILHÃO DA PECUÁRIA A III Feira de Inovação Agrícola ofereceu aos visitantes profissionais e público em geral uma oferta de atividades dinâmicas. Para além do programa de palestras e mesas-redondas, que, na nossa opinião, é o Ex-Libris do evento, os visitantes puderam contactar empresas »
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Ovinos da Raça Merino da Beira Baixa e Caprino da raça Charnequeira, que inclui na sua dinâmica a palestra “Análise ao Sequestro e Fixação de Carbono no Solo”, através de práticas de pastoreio extensivo e de georreferência de animais. Naturalmente, o ponto alto concentrou-se no III Concurso Limousine do Fundão, com a presença de um Júri internacional.
A RAÇA LIMOUSINE A raça Limousine caracteriza-se por um conjunto de qualidades fundamentais, como o maneio, rapidez de crescimento, rusticidade, docilidade, rentabilidade para criador e talhante e, sobretudo, pela excelente carne de qualidade. A raça Limousine ocupa uma posição cimeira, adaptando-se facilmente a todas as regiões de Portugal, de norte a sul e do litoral ao interior. É atualmente a raça pura com maior número de touros puros em produção no panorama nacional. Na raça Limousine, os experts dizem-nos que existem 3 tipos configuração física distintos: ∙
Tipo “Elevage” (Esquelético): Animais que apresentam um desenvolvimento esquelético superior ao desenvolvimento muscular, sendo no geral de crescimento mais tardio, e resultando em animais genericamente mais altos; ∙
Régis Geraud foi o Júri do III Concurso Limousine do Fundão. O credenciado criador francês está pela quarta vez em Portugal e referiu que “A raça Limousine em Portugal evoluiu bastante e está ao nível de França”. Credenciado para arbitrar concursos Limousine em todo o mundo, na finalíssima entre os touros “Sudão” (nascido a 19/09/2021) e o “Ulysses” (nascido a 12/04/2023), o Júri não teve dúvidas em galardoar o “Sudão”. “O Sudão é um touro com muita massa muscular, bastante equilibrado do quarto dianteiro para o traseiro muito largo, muita carne e muito harmoniosos. Parabéns ao Sudão! Ulysses é jovem, mas apresenta um grande potencial, daqui a 2 ou 3 anos, é um animal muito completo, bastante fino de osso, bem equilibrado, boas qualidades e, portanto, merecedor de ser o vice-campeão”.
de equipamentos na exposição estática ao ar-livre e apreciar a mostra de animais, desde ovinos, caprinos e aves até aos incontornáveis bovinos.
Foi o caso do Pavilhão da Pecuária que chamou a atenção, sobretudo de criadores e curiosos atraídos pelos concursos das diversas raças, como o X Concurso Nacional de
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Tipo “Boucherie” (Carne): Animais que apresentam um desenvolvimento muscular superior ao desenvolvimento esquelético, sendo no geral de crescimento mais precoce, resultando em animais genericamente mais baixos, mas mais largos e cárnicos; ∙
Tipo “Mixte” (Misto): Animais que apresentam um desenvolvimento esquelético semelhante ao de desenvolvimento muscular, onde se identificam a maioria dos animais da raça, conjugando as características dos Elevage e dos Boucherie. No III Concurso Limousine do Fundão, o credenciado Júri francês Régis Geraud optou por classificar os animais pelas características “Boucherie”, uma tendência que temos observado nos últimos tempos em concursos da raça Limousine.
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O III CONCURSO LIMOUSINE TEVE A REPRESENTAÇÃO DOS SEGUINTES CRIADORES: Manuel Pacheco Martinho (Odemira) Joaquim José dos Santos Prates (Évora) ∙ Aletta Elisabeth de Beaufort (Arronches) ∙ Cristina Ribeiro Faria da Silva (Arraiolos) ∙ Daniel José do Carmo Pacheco (Odemira) ∙ Emilia Monteiro Gonçalves Moura (Guarda) ∙ Cheiro Monte Lda. (Almodôvar) ∙ António Lobo S Souto Patrícia (Arraiolos) ∙ Fernando Luís Ornelas Vasconcelos (Évora) ∙ Carlos Miguel Lopes Correia (Alcanena) ∙ Quinta Velha Limousines (Évora) ∙ Pedro de Castro e Almeida Pereira de Figueiredo (Évora) ∙ Instituto Politécnico de Castelo branco – ESA (Castelo branco) ∙ Prapa – Sociedade Agro-pecuária Lda. (Évora). ∙ ∙
Criador (Cheiro do Monte, Lda.) e o Sudão, o touro vencedor do III Concurso Limousine do Fundão.
Estes criadores enriqueceram a III Feira de Inovação Agrícola com os seus animais e deram mais um sinal de vitalidade de uma raça que é uma das mais apreciadas pelos profissionais de carne. O III Concurso Limousine, no âmbito do evento agrícola do Fundão, contemplou a avaliação de Machos, desde os 8 meses até animais com mais de 4 anos, apresentados e divididos por 9 secções. Da mesma forma, as Fêmeas são avaliadas desde os 8 meses até aos 4 anos com cria, divididos por 11 secções. ∙
Campeão Sudão - PT624517586 Criador e Proprietário: Cheiro do Monte Unipessoal, Lda.
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Vice-campeão Ulysses - PT924530388 Criador e Proprietário: Cheiro do Monte Unipessoal, Lda.
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Campeã Teia - PT724525717 Criadora e Proprietária: Aletta Elisabeth de Beaufort
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Vice-campeã Rebelde - PT024515566 Criador e Proprietário: Manuel Pacheco Martinho
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Pódio de Melhores Criadores 1ª Aletta Elisabeth de Beaufort 2º Cheiro do Monte Unipessoal, Lda. 3º Instituto Politécnico de Castelo Branco – ESA
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Júri francês com o criador e o filho, que ostenta o troféu de 2º classificado
O Júri avalia os animais segundo critérios internacionalmente estabelecidos para 3 configurações: “Elevage”, “Boucherie” e “Mixte”. O júri francês, Régis Geraud - que também é criador - baseou a sua avaliação na configuração “Boucherie”, classificando os animais com mais conformação de carne.
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“O CONSUMIDOR TEM QUE TER A PERCEÇÃO INEQUÍVOCA QUE O PRODUTO QUE ADQUIRIU É TOTALMENTE SEGURO.“ VITOR GONÇALVES
sejam vizinhos, mas quando temos um Centro e conseguimos dar as mesmas condições aos animais: temperatura, saúde, bem-estar, alimento, maneio, os animais ficam todos o mesmo sistema de produção e de trabalho, de engorda e aí podem exprimir o seu potencial.
Joaquim Carvalho
JOAQUIM CARVALHO
“Saber o que é qualidade para o cliente é essencial, é isso que temos de nos preocupar em termos de produção e, obviamente, ser eficiente”. Na mesa redonda sobre o futuro da carne e a sua valorização, através da arte do corte, Joaquim carvalho (Eng) Técnico Superior no Instituto Politécnico de Castelo Branco, criador e Presidente da Associação da Raça Limousine, sublinhou: “Animais e carcaças com homogeneidade e com as características que a indústria pretende. Se o meu cliente quer homogeneidade, é isso que devo fazer. Saber o que é qualidade para o cliente é essencial, é isso que temos
de nos preocupar em termos de produção e, obviamente, ser eficiente”. Numa alusão à importância de a produção estar em sintonia com a indústria e vice-versa. À pergunta do Dr. Pedro Neto, Vereador da CM do Fundão e moderador do debate, que se um eventual Centro de Melhoramento e Testagem no concelho do Fundão seria benéfico para a produção animal da região, Joaquim Carvalho respondeu: “Um Centro de Melhoramento e Testagem no Fundão é fundamental. Fará um trabalho com animais provenientes de diversas explorações, de diferentes contextos do país, o nosso país é muito heterogéneo, de norte para sul, os sistemas de produção variam muito de exploração para exploração, mesmo que
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Com as mesmas condições, com a mesma idade, mesmo sexo e fazendo parques para testar os animais, e aí diferenciá-los, qual será o mais eficiente? Neste caso, em termos alimentares, por exemplo, o que consome menos, para produzir o mesmo que os outros. Aí é onde eu quero chegar em termos de eficiência. O metano é produzido de uma forma muito simplista através de experimentações da digestão dos ruminantes. Portanto, se o animal consumir menos, para produzir o mesmo, ele vai emitir menos metano. A preocupação está na emissão de metano, se consome menos, em termos ambientais o problema está justificado. Por outro lado, em termos económicos, um animal que faça um índice de conversão de 6 quilos de alimento para um quilo de peso vivo comparativamente a outro grupo que faça, por exemplo, 8 quilos de alimento para 1 quilo de peso vivo, estou a falar em dois quilos de diferença de alimento por dia e às vezes até mais. Isto, em termos económicos, é uma potencialidade de melhoramento enorme”.
SUSTENTABILIDADE ECONÓMICA, ECONÓMICA DA PRODUÇÃO Outro tema abordado nesta mesa redonda foi a sustentabilidade económica do produtor. Joaquim Carvalho foi pragmático: “A produção, se não tiver sustentabilidade económica, para. O produtor é como outra empresa qualquer, trabalha para ter o seu lucro, para governar a sua vida. A ideia de um Centro de Melhoramento no »
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a cadeia de valor integrada, desde a criação de animais ao abate, à transformação e à comercialização com base numa área de trabalho muito bem organizado. O desafio da sustentabilidade obriga a que nos adaptemos a esta realidade e encaremos esta área como uma área de trabalho, com a área da sustentabilidade e ambiental com um enfoque muito grande, mas sem esquecer a área social e a área sem ética de cooperação governativa. Estamos em fase de constituição deste grupo de trabalho de sustentabilidade ESG (indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa) para fazermos este trabalho de análise, agregação de dados e comunicação de dados. E acreditamos que este investimento em recursos tecnológicos e humanos vai promover mais eficiência, e a eficiência será também em termos financeiros. Porque a partir do momento em que conhecemos o que trabalhamos, como trabalhamos, como produzimos, como transformamos, os desperdícios que causamos, em cuvetes, película, em transporte, na produção, na criação animal, no destino que damos aos nossos afluentes, uso do nosso estrume que vai para transformação em biofertilizantes, se vai para a transformação desse estrume em bio energia através da transformação em bio gás, tudo isto é um esforço que estamos a ter agora, que é um investimento que acreditamos que vai ter retorno muito positivo, em todas as vertentes, incluindo a vertente económica.
Dora Gaspar
Fundão é essencial para desenvolver um trabalho sério e sustentável com benefícios para o ambiente, para o produtor e para o consumidor. É essencial!”, concluiu o Professor do Politécnico de Castelo Branco.
DORA GASPAR
“Queremos comprar nacional e temos parcerias estratégicas com produtores nacionais” Dora Gaspar, Assessora de Administração do Grupo Campicarn, licenciada em Relações Internacionais, com pós-graduação em Gestão, Políticas Pblicas e Gestão de Projetos, respondeu à pergunta feita pelo moderador, “Quais
são os principais desafios para a indústria olhando para o setor agropecuário?”, começando por realçar a importância da “Cadeia de Valor com um todo. Não se sente um decréscimo do consumo de carne vermelha, pelo contrário, sente-se uma necessidade maior de ter carne para satisfazer os clientes. Os desafios da sustentabilidade estão associados ao senso comum, que é dado por grupos altamente organizados ao nível de comunicação e do marketing, sobre a pegada carbónica e o que a produção de carne vermelha representa. Temos obrigação de contrariar esta tendência, demonstrando que a pegada carbónica é emitida, no nosso caso, na indústria de transformação da carne de bovino, com
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Pretendemos manter essa sustentabilidade económica, e sendo uma empresa, naturalmente, visa o lucro, trabalha num setor muito particular, que é o setor alimentar. O setor alimentar não é fazer parafusos, não é fazer roupa, é prover alimentação à população e tem este cariz social, no meu entendimento, que é prover alimentação à sociedade. Estes desafios são encarados, no meu ponto de vista, que sigo o ponto de vista da Administração com muita naturalidade. Claro que há um processo de adaptação que assusta um pouco com as diretivas europeias que são impostas e que a nossa empresa, pela sua dimensão, está obrigada a reportar, por exemplo, dentro de dois anos teremos de publicar o relatório de sustentabilidade corporativa com indicadores não apenas ambientais, sociais ou de governação, mas com o seu paralelo dos custos financeiros que isso representa”, sublinhou.
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O moderador adicionava mais uma pergunta ao debate: “A exportação de bovinos e ovinos é sustentável para a produção nacional?” A Assessora de Administração do Grupo Campicarn respondia assim: “O nosso core business é o bovino. 95% da nossa atividade é transformação da carne de bovino, e no mercado nacional conseguimos prover cerca de 45% das nossas necessidades. O enfoque na produção própria visa suprir esta necessidade. Com o objetivo também de reduzir a pegada carbónica e de conseguirmos a homogeneidade de produto. Produzir local, abater local, transformar local e consumir local. O mercado nacional, em termos de vendas, representa para nós 86% da nossa atividade, quer em termos de matéria-prima, ou seja, de animais bovinos, a nossa carência é de cerca de 65%. Sobre a pergunta que me fez, pensamos que
a matéria-prima nacional que está a sair para a exportação é um problema para a indústria transformadora e para a sustentabilidade. Estamos a perder matéria-prima nacional e somos obrigados a ir a outras geografias abastecer, aumentar a nossa pegada carbónica e a entregar a mais-valia a terceiros. Queremos comprar nacional e temos parcerias estratégicas com produtores nacionais. Acabar com o transporte de animais vivos para o médio oriente e para Israel, para nós indústria transformadora, era sem sombra de dúvida uma mais valia. Acho que os aumentos da matéria-prima dos últimos anos, provavelmente, estarão no preço justo, mas é um preço inflacionado pela exportação de animais vivos. Não queremos políticas públicas nacionais, maior parte delas impostas pela União Europeia, que tenham em linha de conta o
bem-estar animal e a pegada carbónica e a sustentabilidade ambiental e que não case a cadeia de valor no seu todo. O produtor precisa de ser valorizado, nós precisamos da matéria-prima, no fim de contas, o país, para além de querer alimentar a população, vai querer fomentar emprego, aumentar salários, potenciar o consumo, e, portanto, as políticas públicas aqui têm um grande peso. A DGAV não estar aqui presente faz-nos pensar, e não só ao nível da governação, da economia, das finanças, do Ministério da Agricultura. Porque, do nosso ponto de vista, a agricultura, tem que ser vista como preservação do nosso património, da nossa história, identidade, promoção da soberania alimentar, mais valor acrescentado para o país e tem, sobretudo, de ser encarada como uma atividade económica”, concluiu.
VÍTOR GONÇALVES
“A carne é um dos alimentos mais seguros e mais controlados que existe” Vítor Gonçalves, formado em Engenharia Zootécnica, é Diretor Geral da PEC Nordeste, uma unidade industrial do Grupo AGROS que opera na produção nacional. Face à pergunta sobre o controlo de qualidade e utilização de antibióticos, Vito Gonçalves é peremptório: “A sociedade não tem noção do que é a produção nacional e quais os requisitos impostos para a produção animal. O controlo de qualidade da carne de bovino – e de outras espécies alimentares – antes de ir para o consumo humano, está muito restrito a tudo o que seja antibiótico. Não há nenhum animal que seja abatido que não seja rigorosamente vistoriado por um veterinário estatal. Todos os produtos que vão para o mercado são produtos seguros. Mas é bom que se transmita que os antibióticos existem porque são necessários, porque senão os animais ficam doentes e é bom que os consumidores saibam disso. É como os humanos, quando ficam doentes, por vezes é necessário o uso de antibióticos. Pessoalmente, não sei até que ponto a sociedade aceita melhor, quando uma exploração diz que nunca usa antibióticos ou aquela que diz que usa antibióticos estritamente quando for necessário para curar o animal e garantir o bem-estar animal. Além disso, são feitas várias análises e exames periódicos, mas também sobre a »
Vítor Gonçalves
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radioatividade, que é um procedimento que pouca gente conhece. É preciso comunicar ao consumidor este tipo de coisas. Transmitir a segurança alimentar aos consumidores. O consumidor tem que ter a perceção inequívoca que o produto que adquiriu é totalmente seguro. A carne é um dos alimentos mais seguros e mais controlados que existe”, sublinhou. Pedro Neto alvitrou a questão dos leilões e das salas de desmancha de proximidade. Vítor Gonçalves respondeu: “Se associarmos a pegada ambiental aos transportes, acho que a rede de leilões e salas de desmancha até está bem distribuída a nível nacional, se falarmos ao nível de matadouros, no caso dos bovinos há uma dispersão muito grande daquilo que são as unidades de abate, nós temos um território como o Alentejo, que atualmente tem dois matadouros de bovinos, e temos o Norte do país que tem 30 e alguns em construção. A região Centro também tem menos oferta de abate. Neste caso, pode haver uma melhor rede de distribuição, partindo sempre do princípio que são unidades que precisam sempre de volumes para serem rentáveis, e temos que assentar a sustentabilidade em 3 pilares: ambiental, social e económico. Não há sustentabilidade se não houver sustentabilidade ambiental, económica e social. E, especialmente, nesta área dos matadouros, temos realidades distintas, temos matadouros privados, e nem sempre a forma de trabalhar é igual. Não sei se criar mais capacidade de abate é o melhor caminho. Portugal tem uma capacidade de abate superior ao número de animais que tem. Não se passa o mesmo com as salas de desmancha e se calhar aí a dificuldade é maior. Por isso é que quase todas as empresas apostam na desmancha. O que tem de haver é uma organização completa da fileira. Desde a produção na lógica de parcerias, entre a produção e as indústrias que estão no terreno, para que haja um regular do mercado que lhe proporcione da oferta e da procura a estabilidade necessária. Ou seja, o produtor tem que produzir com a garantia que aqueles 10 a 12 meses em que esteve a engordar um novilho tenha um parceiro que recolha esse animal e faça a transformação do mesmo. E que não seja o fator preço, acho que os preços da produção agrícola têm que deixar de ser o preço semanal e passem a ser um negócio de parceria e de longo prazo. Na PEC Nordeste, temos desenvolvido este
Luc Deliere
trabalho nos últimos anos, e gostava de salientar uma questão que para nós é sine qua non: trabalhamos produto 100% nacional. Só compramos animais em Portugal, só transformamos carne nacional, com o intuito de promover a produção nacional, com todas as dificuldades que isto apresenta, porque o mercado nacional não tem animais suficientes. Não podemos ser contra a carne importada. Porque se não houvesse carne importada, em Portugal, havia muita gente que não comia carne”, concluiu o Diretor-Geral da PEC Nordeste.
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LUC DELIERE
“A transparência é o nosso melhor argumento” Enquanto decorria o debate, Luc Deliere, especialista francês em cortes de carnes, desmanchava um quarto dianteiro com o intuito de demonstrar que é possível retirar maior rendimento e valorizar as suas peças. Diplomado pela École Supérieur D’arts et Métier de Paris, foi responsável por algumas das mais importantes cadeias de talhos da capital francesa. Foi responsável técnico de um »
FUNDÃO - III FEIRA DE INOVAÇÃO AGRÍCOLA CARNE & CONVENIÊNCIA
curtos: carne de proximidade, criadores de proximidade, com preocupações ambientais e bem-estar animal. O ativismo anti-carne não reflete a opinião da maioria... Não creio. As manifestações contra a carne, por vezes violentas, são feitas por pequenos grupos, por pouca gente que pretende que se fale mais deles do que da carne. Em França, o consumidor em geral já percebeu qual é a intenção. Os ativistas andam de barriga cheia a importar produtos vegan de origens longínquas com uma pegada ambiental enorme. A sociedade chegou a este ponto, mas temos que viver com isso, embora pense que por vezes é exagerado e até violento. Penso que o importante é, juntamente com os agricultores, criadores, profissionais de carne, cortadores, comerciantes e industriais, conseguirmos mostrar que o nosso setor é sério e trabalha com todas as preocupações. A transparência é o nosso melhor argumento. E sobre o produto a que chamam “carne” cultivada, qual é a sua opinião? Podia dizer muita coisa e podia dizer muito pouco. É um fenómeno de sociedade, é uma oportunidade de negócio, na área de tudo o que é vegan e vegetal. Essas pessoas defendem que comer carne, um produto natural, é mau para a saúde, mas, ao mesmo tempo, assumem vir a comer “carne” cultivada, uma massa que nem sabem do que é feita. É estranho. O ser humano precisa de um mínimo de proteína e quando vemos os produtos que são um produto que inclui diferentes produtos, verificamos que obrigatoriamente existe um desequilíbrio para o ser humano, que poderá fazer muito mais mal que a carne que é um produto natural e de qualidade. grande grupo europeu de carnes, a Societé Bigard, e foi consultor-formador na École de Boucherie de Bordeaux. Atualmente, com 62 anos, é embaixador da carne Limousine. Quais são as suas expectativas para o setor de carnes, na Europa? É verdade que, cada vez mais, o setor de carnes passa por dificuldades, não vale a pena escondê-lo. Mas, ao mesmo tempo, vai no caminho da qualidade absoluta. As pessoas, hoje
em dia, comem menos carne em casa, mas consomem mais carne no exterior, no restaurante comem carne e bastantes produtos derivados da carne. Mesmo que o consuma diminua, equilibra-se um pouco. A qualidade da carne é uma premissa essencial? Cada vez mais. As pessoas procuram a qualidade. Preferem comer menos carne, mas com mais qualidade, sem esquecer os circuitos
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A carne portuguesa de Limousine surpreendeu-o? Fiquei agradavelmente surpreendido porque os criadores portugueses de Limousine são avidamente profissionais, estão a fazer um trabalho fantástico, ao melhor nível europeu. E a maneira de grelharem a carne é espantosa. Não imaginava... São pessoas apaixonadas pelo seu trabalho e pela raça.
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A CIÊNCIA E O MISTÉRIO DO METANO Mais de 100 países comprometeram-se a reduzir as suas emissões de metano em 30% até 2030, mas esse compromisso deve muito ao objetivo. Os bovinos foram domesticados há cerca de 10.500 anos, mas os registos genéticos e históricos mostram que os bovinos são uma espécie ancestral do continente africano e do sul da Europa. No entanto, só há duas décadas é que os níveis de metano da atmosfera começaram a subir. As concentrações de metano, que se mantiveram estáveis durante séculos, a partir de 2007, aumentaram exponencialmente. Os cientistas ficaram perplexos e o mundo defensor do ambiente, preocupado. O metano é um grande ponto de interrogação que paira sobre as estimativas climáticas mundiais, embora desapareça na atmosfera muito mais rapidamente do que os gases emitidos pelos combustíveis fósseis, é tão poderoso que os níveis de metano mais elevados do que o previsto poderiam fazer com que a temperatura do planeta fosse muito mais elevada. Recentemente, um estudo no Proceedings of the National Academy of Science revela que os cientistas estão a caminho de resolver o problema deste gás que tanta controvérsia tem criado. O estudo trouxe uma luz sobre o que está a provocar as emissões recordes de metano.
Os culpados, segundo os cientistas, são os micróbios, ínfimos organismos que vivem nas zonas de maior humidade, e atacam o sistema digestivo dos ruminantes. “As alterações a que assistimos nos últimos anos – e mesmo desde 2007 - são microbianas”, esclarece Sylvia Michel, principal autora do estudo. “As zonas húmidas, estão a ficar mais quentes e húmidas, e estão a produzir mais metano do que antes”, acrescenta a investigadora. É difícil para os cientistas identificar todas as fontes de metano do planeta. Provêm de fugas de petróleo e gás, dos aterros sanitários e pântanos, do degelo permanente da Antártida, entre outros, o que vem contrariar a teoria da conspiração dos movimentos radicais anti-carne que a maior fonte de emissão de metano era devida, e só, aos arrotos dos bovinos. “Quando as emissões de metano aumentam, encontrar a causa é como resolver um problema de álgebra complicado com demasiadas incógnitas”, sublinha a investigadora. Durante algum tempo, os cientistas pensavam que o aumento das emissões de metano resultava da utilização de gás natural, que é maioritariamente metano. A ciência pode ter resolvido o mistério do metano, uma das maiores ameaças climáticas. As fugas de gás, provenientes de perfurações ou de condutas, podem libertar este gás com
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efeito de estufa para a atmosfera. Mas o novo estudo aponta para os micróbios como o maior pico de metano. Michel e outros investigadores analisaram amostras de metano (CH4) de 22 locais de todo o mundo num laboratório no Estado de Colorado. Em seguida, mediram o "peso" desse metano, mais especificamente, quantas moléculas continham um isótopo de carbono mais pesado, conhecido como C13. O estudo ainda concluiu que as diferentes fontes de metano emitem diferentes assinaturas de carbono. O metano produzido por micróbios, na sua maioria minúsculos organismos unicelulares conhecidos por archaea, que vivem nos estômagos dos bovinos, nas zonas húmidas, tende a ser “mais leve”, isto é, tem menos átomos C13. O metano dos combustíveis fósseis, por outro lado, é mais pesado porque contem mais átomos C13. À medida que a quantidade de metano aumentou nas duas últimas décadas, também se tornou mais leve. Os cientistas utilizaram um modelo para analisar as alterações e descobriram que só um grande aumento das emissões microbianas poderia explicar tanto a quantidade de metano como a alteração do » seu peso.
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ORIGEM MICROBIANA A investigação, no entanto, não mostra a quantidade dessas emissões que são naturais ou causadas pela ação humana. Embora os micróbios das zonas húmidas sejam, em grande parte, naturais, estas pequenas criaturas também podem bombear metano de reservatórios, terrenos agrícolas, aterros sanitários e lixeiras. Outro estudo recente concluiu que dois terços das atuais emissões de metano são causadas pela ação humana, a partir das queimas de combustíveis fósseis, do cultivo de arroz em águas estagnadas nos países asiáticos, de reservatórios e de outras fontes. “O metano forma-se biologicamente em ambientes quentes, húmidos e com pouco oxigénio”, afirmou Rob Jackson, professor da Universidade de Stanford, especialista que está envolvido na Global Methane Budget, um projeto que rastreia as fontes e as emissões
de metano em todo o mundo. Mas também estão a surgir provas de que as zonas húmidas naturais podem estar a responder ao aquecimento das temperaturas bombeando mais metano. Dados de satélite dos últimos anos revelaram pontos quentes de metano a nível mundial nas zonas húmidas tropicais da Amazónia e do Congo. “As zonas húmidas emitem mais metano à medida que as temperaturas aquecem”, explica Jackson. “Isto pode ser o início de uma tendência, que que as temperaturas mais elevadas libertam mais metano dos ecossistemas naturais”.
CONCLUSÃO Os cientistas afirmam que isto não significa que o mundo possa continuar a queimar gás natural. Se as zonas húmidas estão a libertar metano mais depressa do que nunca, tem de haver um esforço maior para reduzir o meta-
no das fontes que os humanos podem controlar. Mais de 100 países comprometeram-se a reduzir as suas emissões de metano em 30% até 2030, em comparação com os níveis de 2020, mas até agora esse compromisso ainda não teve resultados. Em vez disso, as medições por satélite mostram que as concentrações estão a aumentar a um ritmo que vai de encontro com os piores cenários climáticos. “É possível rodar uma chave inglesa num campo de petróleo e gás para reduzir as emissões de metano”, comenta Jackson. “Não há nenhuma chave inglesa para o Congo ou para a Amazónia”, conclui o professor.
Fontes: Proceedings of the National Academy of Science / The Washingon Post / Global Methane Budget / Universidade de Standfort
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SEL.40 ANOS CARNE & CONVENIÊNCIA
Francisco Arvana.
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SEL.40 ANOS CARNE & CONVENIÊNCIA
SALSICHARIA ESTREMOCENSE COMEMORA 40 ANOS A empresa alentejana, sediada em Estremoz, comemorou o seu quadragésimo aniversário. O momento mais aguardado foi o lançamento do livro “SEL 40 Anos - A vida e a obra de Francisco Arvana”. A história de vida de um Homem que se confunde com a história da empresa que fundou, em 4 de novembro de 1984. A cerimónia teve lugar na SELRest e contou com a presença de familiares, fornecedores, amigos e clientes, nacionais e estrangeiros, autoridades locais e ex-funcionários da empresa que foram homenageados, num momento de grande comoção. O livro tão aguardado chegou na comemoração dos 40 anos de uma empresa, que levou o sabor alentejano a todos os continentes do planeta. É realmente um privilégio para Portugal usufruir do único Alentejo do mundo. “SEL
40 Anos - A vida e obra de Francisco Arvana” reflete a história de um homem cujo nome se tornou sinónimo de Salsicharia Estremocense. Escrito por Gonçalo Cardoso, fruto da amizade mútua e das conversas que tiveram ao longo dos anos, o livro percorre uma biografia que se iniciou em 1958, e espera-se que se prolongue por muitos anos. Mas é também uma homenagem em vida (como todas deveriam ser) a um homem que moldou e promoveu, nas últimas décadas, a melhor salsicharia tradicional alentejana. Páginas que relatam o esforço, o espírito de sacrifício e a vontade de vencer na vida, mas como o próprio diz, “nenhum homem é uma ilha”. Francisco Arvana proferiu algumas palavras, realçando, com natural emoção, a importância da sua família e dos seus colaboradores: “Sem a minha família e os nossos colaboradores, não
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conseguíamos chegar onde chegamos. Muito obrigado a todos”. Neste contexto, ex-funcionários da empresa, já aposentados, tiveram na cerimónia para homenagear Francisco Arvana, mas também para receber o reconhecimento público do seu trabalho e dedicação durante anos e anos, na empresa. Um gesto simples mas com muito significado. Foi um momento de grande emoção, que contagiou toda a sala. Cada ex-colaborador recebeu com lágrimas nos olhos os agradecimentos da Família Arvana, que retribuiu da mesma forma. Os ex-funcionários (aposentados) galardoados foram: Elisabete Guerra (36 anos de casa), Florina Figueira (18 anos de casa), Maria José Coelho (10 anos de casa), Américo Cochicho (35 anos de casa), Ilídio Saramago (25 anos de casa), Marcelino Arvana (32 anos de »
SEL.40 ANOS CARNE & CONVENIÊNCIA
A família Arvana.
“SEL 40 Anos” uma biografia que reflete a história do seu fundador.
casa), Joaquim Festas (23 anos de casa), Rosalina Angelino (19 anos de casa) e Jerónimo Pereira (17 anos de casa). Receberam uma peça da Produção do Figurado em barro, vulgarmente conhecida como “Bonecos de Estremoz”, uma arte com mais de três séculos e que faz parte da identidade cultural do concelho de Estremoz.
“Bonecos de Estremoz”, Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.
As figuras modeladas da arte das mãos das irmãs Flores, e que desde 2017 fazem parte do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, representam mulheres e homens salsicheiros, com o fato branco de trabalho, com o logotipo da SEL ao peito, pegando em produtos do melhor que se faz no alentejano. José Daniel Sadio, presidente da C.M. de Es-
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tremoz, salientou a importância da empresa para o concelho: “é sem dúvida nenhuma uma referência do nosso concelho. Começou com 4 trabalhadores e agora tem mais de 130! Exporta para todo o mundo, com respeito pelas origens, pelo território, pelos trabalhadores e pela qualidade de produto”.
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SEL.40 ANOS CARNE & CONVENIÊNCIA
Ex-funcionários (aposentados) estiveram presentes na cerimónia de aniversário da SEL.
Rosa e Francisco Arvana.
A FAMÍLIA Rosa Arvana, a mulher no papel principal na vida de Francisco, altruísta, sensível, apaixonada e lutadora, não só aceitou os reptos do marido, como os incentivou e, lado-a-lado, contribuiu igualmente para a realização dos sonhos do casal. Rosa e Francisco Arvana sempre deram liberdade aos filhos para decidirem o seu futuro profissional. Quis o destino, ou a racionalidade do tempo, que os filhos, Sofia e Mário Arvana,
Mário e Sofia, o futuro da SEL pertence-lhes.
Rosa e Francisco Arvana não só brindam ao sucesso da SEL, como brindam ao futuro da empresa que fundaram.
se entregassem à empresa de alma e coração. Sofia Arvana, formada em Engenharia Alimentar, como diretora de produção, e Mário Arvana, licenciado em Marketing, na gestão.
é uma das melhores experts nacionais em salsicharia tradicional e não só. Mário Arvana chegou mais tarde à empresa, mas durante 10 anos viveu cada minuto e cada segundo da empresa ao lado do pai. Foi humilde, foi bom ouvinte, aprendeu, meteu as mãos na massa, inovou e foi reconhecido. Alguns dos projetos mais emergentes da empresa são fruto da sua ambição e resiliência, como o Presunto Vara Negra DOP Alentejo, que é um êxito e inclusivamente já ganhou variadíssimos prémios a nível nacional e in» ternacional.
A cerimónia dos 40 Anos da SEL serviu também para simbolizar a passagem de testemunho da primeira para a segunda geração da família Arvana, à frente dos desígnios da empresa. A passagem de testemunho foi naturalmente tranquila, até porque a Sofia Arvana já exerce funções há duas décadas e, na nossa opinião,
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SEL.40 ANOS CARNE & CONVENIÊNCIA
José Daniel Sadio, presidente da C.M. de Estremoz.
NOTA DO EDITOR:
Conheci Francisco Arvana, em 1986, na IFFA, em Frankfurt, a maior feira europeia de equipamentos para o setor de carnes. Tanto a SEL com a revista Carne estavam a dar os primeiros passos e era a primeira vez que tanto eu como o Francisco Arvana marcávamos presença naquele “mundo” de tecnologia.
O quadragésimo aniversário da SEL foi celebrado, como não podia deixar de ser, com os magníficos produtos da Salsicharia Estremocense, entre os quais, o incontornável presunto Vara Negra, que realmente é uma coisa de deuses, acompanhado pelo genuíno pão alentejano e pelos bons tintos da casa Tiago Cabaço. Os “anjos” rejubilaram no céu da boca!
Mário Arvana reconhece que, apesar da experiência adquirida, “é uma grande responsabilidade continuar o trabalhar o trabalho dos meus pais. É um legado pesado que exige muita responsabilidade, mas acredito que com
esforço e dedicação vamos conseguir alcançar os nossos objetivos. Trabalhamos diariamente para que a SEL seja embaixadora do Alentejo e de Estremoz”.
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Conversámos e, desde logo, me apercebi que estava perante alguém com uma vontade inabalável de fazer coisas, ávido de conhecimento, com objetivos bem definidos, com uma força de vontade e uma paixão irrefutável pela salsicharia alentejana. Desde então mantivemos uma relação de cordialidade, trabalhámos juntos, fizemos amizade. Nem tudo foi fácil para Francisco Arvana, nunca é para ninguém, conheci-lhe alguns momentos em que teve de lidar com as adversidades da vida, mas este homem com olhar de menino, de fala pausada, personalidade reflexiva, que pensa antes de responder, ultrapassou todos os obstáculos graças à sua resiliência e, sobretudo, à sua perseverança. E, neste sentido, as melhores características do ser humano foram sempre generosas no caráter de Francisco Arvana.
CARNE DA TERCEIRA CARNE & CONVENIÊNCIA
Paulo Rico, Presidente do Núcleo de Criadores de Bovinos de Raças de Carne da Ilha Terceira
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CARNE DA TERCEIRA CARNE & CONVENIÊNCIA
NÚCLEO DE CRIADORES DE BOVINOS DE RAÇAS DE CARNE DA ILHA TERCEIRA
Chama-se Terceira porque foi a terceira a ser descoberta. Com cerca de 30 km de de leste a oeste e 17,5 km de largura ne norte a sul, faz parte do chamado grupo central conjuntamente com as ilhas Graciosa, São Jorge, Pico e Faial. A vegetação autóctone com outros tipos de vegetação introduzida, contribui para a rica diversificação paisagística da Ilha Terceira. Um retrato de natureza no seu estado puro. O Algar do Carvão, formado por várias grutas, a Caldeira de Guilherme Moniz, a maior do arquipélago, São Mateus e os Biscoitos, zona de vinhos e piscinas naturais são apenas algumas das atrações peculiares desta ilha. Mas, a Ilha Terceira, originalmente designada de ilha de Jesus Cristo, não é só paisagem, não é só turismo. As principais atividades económicas são as do setor terciário, com-
Pastagem de bovinos da raça “Ramo Grande”, de João Eduardo Castro. Canada do Mato. Angra do Heroísmo.
plementar ao setor primário, onde se inclui naturalmente, a atividade agrícola e pecuária. Nesta área, existem várias associações agricultores e produtores de animais que visam uma melhor regulamentação da produção e comércio, com o objetivo de estabilizar
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os mercados, assegurar um nível equitativo ao produtores e agricultores e aumentar a produção. É o caso do Núcleo de Criadores de Bovinos de Raças de Carne da Ilha Terceira, fundado em 29 de maio de 2005.
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CARNE DA TERCEIRA CARNE & CONVENIÊNCIA
Alexandra Ramos, Técnica Superior, Paulo Rico, criador e Presidente do Núcleo e Hilderta Gonçalves, Administrativa.
PAULO RICO Paulo Rico, criador de bovinos da raça Limousine é o atual Presidente da Direção. Assume que é criador de Limousine por paixão. Funcionário publico, desenvolve a sua atividade profissional num serviço de desenvolvimento agrário, curiosamente, no apoio à apicultura. “Sempre fui um homem do campo. O meu pai criava gado, o meu irmão tinha colmeias e eu interiorizei, desde muito novo, esta cultura do campo. Tenho um efetivo de animais da raça Limousine, a maioria de linha pura que nos últimos anos tenho desenvolvido geneticamente, para vender alguns reprodutores”. Qual é o objetivo do núcleo? “Não é do meu tempo, mas o núcleo surgiu numa altura em que os criadores de vacas aleitantes não tinham onde se apoiar. Na época, foi muito difícil porque foi muito complicado arranjar doze criadores para preencher os órgãos sociais, mas com o apoio do Governo Regional
conseguiu-se organizar um Núcleo de apoio. Hoje, o Núcleo tem mais de 160 associados, representa cerca de dois mil animais e dispõe de uma equipa técnica eficiente e dinâmica que apoia os associados”.
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As dificuldades continuam? Na nossa área, de uma maneira ou de outra, as dificuldades permanecem. A ideia é sempre melhorar as condições dos criadores. Ainda » há muito a fazer.
CARNE DA TERCEIRA CARNE & CONVENIÊNCIA
Como por exemplo? Melhores preços para a carne, mais incentivos, agilização de processos e maior reconhecimento dos criadores de animais que exercem com muito sacrifico uma atividade que é essencial para o país. A carne bovino da Ilha Terceira pode chegar ao continente, através do vosso núcleo? Não, são os empresários que fazem esse trabalho. Não temos associado nenhum que, individualmente, possa fazer um contentor e enviar carne para “fora” (Continente). Aqui na ilha temos empresários que reúnem a carne de todos e enviam contentores para “fora”. Só temos 2 ou 3 empresários que fazem isso: o Francisco Helvídio (“Quintal do Açores”), “Resulbrave” e a Unicol.
CARNE DOS AÇORES - IGP (INDICAÇÃO GEOGRÁFICA PROTEGIDA) A carne dos Açores IGP apresentam características, intimamente ligadas, por um lado, às condições edafoclimáticas dos Açores, propicias à criação de animais bovinos em pastagens naturais e, por outro, aos métodos ancestrais de alimentação e maneio de gado. As principais características das carcaças de bovinos, nascidos e criados, nos Açores: carne tenra de cor rosada, com ligeira infiltração de gordura (marmoreio) a nível intramuscular, grande suculência, textura macia, detentora de um aroma e sabor característicos, próprios e inerentes ao modo de produção tradicional, nomeadamente à forma de pastoreio e ao tipo de alimentação. A alimentação das crias é efetuada de modo tradicional, com leite materno, pelo menos até aos 3 meses. A partir desta idade é, os animais alimentam-se, naturalmente, das pastagens. Até à idade do abate a sua alimentação pode ser complementada com silagens e fenos obtidos das próprias pastagens. A carne dos Açores IGP distingue-se em três ofertas: vitela, no» vilho e novilha.
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CARNE DA TERCEIRA CARNE & CONVENIÊNCIA
Pastagem de bovinos da raça “Aberdeen Angus”, de Raul Melo. Raul Melo. Caminho do Mato. Angra do Heroísmo.
Pastagem de bovinos da Raça “Charolês”, de Denise Coelho. Pico da Joana. Angra do Heroísmo.
RAMO GRANDE. A RAÇA AUTÓCTONE DA ILHA TERCEIRA O solar originário da raça bovina Ramo Grande, coincide com a zona geográfica da Ilha Terceira com a mesma designação que corresponde à cidade da Praia da Vitória e fregue-
sias vizinhas. Com o decorrer do tempo estes bovinos foram-se estendendo a outras regiões da ilha bem como a outras ilhas. Atualmente, a área de dispersão da raça passa por seis ilhas do arquipélago dos Açores: Terceira, São Jorge, Faial, Pico, São Miguel e Graciosa.
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HISTÓRIA E EVOLUÇÃO Com o povoamento do arquipélago dos Açores no século XV chegaram bovinos de diversas regiões de Portugal Continental, que devido às características insulares e ao isolamento geográfico, adquiriram especificidades »
CARNE DA TERCEIRA CARNE & CONVENIÊNCIA
Pastagem de bovinos da raça “Simmental Fleckvieh”, de Francisco Costa. Santa Luzia. Praia da Vitória.
próprias e deram mais tarde origem à Raça Ramo Grande. Os primeiros povoadores da Ilha Terceira eram de origem minhota e algarvia e fizeram-se acompanhar de várias espécies pecuárias. Portanto seria natural que os animais daí levados fossem os que existiam nessas regiões (Leitão et al. 1943). Quando os navegadores saíram de Sagres e conduziram esses animais e, mais tarde, quando levaram os primeiros povoadores, o Algarve, era o centro de dispersão da então variedade algarvia da raça alentejana, enquanto a região do Minho era um dos principais centros de expansão dos bovinos de raça Galega ou Minhota. Segundo Medeiros (1978) as raças introduzidas nos Açores foram as nacionais, tais como a Alentejana, a Mirandesa, a Minhota e a Algarvia que sujeitas á insularidade deram um tipo de bovino de pelagem avermelhada, que era designado pela “raça da terra” e que contribuiu para originar um núcleo de animais designado por “Ramo Grande”. Em 1996 é instituído o Registro Zootécnico / Livro Genealógico da raça Ramo Grande, com vista a preservar o reduzido censo existente.
CARACTERÍSTICAS E APTIDÕES
Pastagem de bovinos da raça “Limousine”, de Flávio Rico. Canada do Mato. Angra do Heroísmo.
Atendendo às condições naturais da Ilha Terceira, o sistema de exploração do bovino Ramo Grande, caracteriza-se por um regime de pastoreio ao longo de todo o ano. O criador tem a preocupação de tentar fazer coincidir com os picos de erva na primavera, as necessidades dos animais, nomeadamente na fase da lactação. Assim, a época de parição das fêmeas
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está mais concentrada nos meses de fevereiro a maio. Os bovinos Ramo Grande caracterizam-se pela sua corpulência e ótimas qualidade de trabalho, tendo sido tradicionalmente explorados como produtores de carne, leite e trabalho. Isto » é, com tripla aptidão.
CARNE DA TERCEIRA CARNE & CONVENIÊNCIA
A “mesa de Titãs”, que decorreu no âmbito da Expocarne, teve como objetivo falar da carne da Ilha Terceira. Reuniu intervenientes dos vários patamares da cadeia, desde o prado ao prato, que expressaram a sua opinião, testemunharam as suas experiências e relatos, num painel muito interessante que prendeu atenção do auditório.
A “mesa de Titãs”, que decorreu no âmbito da Expocarne, teve como objetivo falar da carne da Ilha Terceira. Reuniu intervenientes dos vários patamares da cadeia, desde o prado ao prato, que expressaram a sua opinião, testemunharam as suas experiências e relatos, num painel muito interessante que prendeu atenção do auditório.
SER ASSOCIADO DO NÚCLEO O evento encerrou com chave-de-ouro, com um agradável momento de partilha e degustação de carnes selecionadas IGP. O evento contou com o imprescindível apoio do CERCACentro Estratégico para a Carne dos Açores, que foi fundamental para a realização desta mostra de qualidade, e do excecional festim de carne grelhada, de alta qualidade. Ser associado do Núcleo de Criadores de Bovinos de Raças de Carne da Ilha Terceira permite aos associados a obtenção de informação e apoio especializado, bem como o acesso a soluções empresariais que fortalecem o desenvolvimento da sua atividade. Tendo em vista a prossecução dos interesses gerais e coletivos das atividades económicas do setor agropecuário, o Núcleo Núcleo de Criadores de Bovinos de Raças de Carne da Ilha Terceira,
dispões das seguintes valias para os criadores associados: ∙ Operacionalização do SNIRA – Registos, guias de movimentação, consulta, comunicações e extratos; ∙ Disponibilização de Balança Móvel para pesagem de bovinos (duas balanças, de acordo com a necessidade do criador: balança tradicional/balança digital); ∙ Disponibilização de Tronco Veterinário Móvel com manga de contenção; ∙ Formações certificadas no âmbito da atividade pecuária, cursos certificados e ações formativas; ∙ Palestras e workshops; ∙ Organização de deslocações de produtores em visitas profissionais de curta duração no âmbito da troca de experiências profissionais e aquisição de novos conhecimentos; ∙ Alertas de prazos de candidaturas e outros assuntos de interesse;
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∙ Rede informativa de assuntos de interesse
no sector; ∙ Organização de ajuntamentos de criadores;
Rede de divulgação de anúncios de animais e outros itens para a venda/procura e compra; ∙ Interpretação e redação de ofícios; ∙ Organização anual da feira Expocarne - a maior mostra de raças de carne dos Açores; ∙ Colaboração anual do “Dia do Campo” do sócio do Núcleo; Organização anual do convívio de Natal dos associados do Núcleo e famílias.
CONTACTOS DO NÚCLEO 964 239 250 | 295 628 178 nucleo.racas.carne.terceira@gmail.com
A NÃO PERDER NA
ÚLTIMA PÁGINA CARNE & CONVENIÊNCIA
DAVIDE VICENTE, É O NOSSO ENTREVISTADO DA PRÓXIMA EDIÇÃO Formado em gestão, Davide Vicente é o CEO do Grupo Valsabor S.A., uma herança familiar com todos os riscos e desafios que isso comporta. Papel assumido, naturalmente, sem qualquer resignação para dirigir “o mundo empresarial” fundado pelo pai, em 1989. O seu dinamismo, frontalidade, maneira de estar com as pessoas, senso comercial, empatia e exigência, são atributos que o favorecem como CEO de um dos maiores grupos agroalimentares da Península Ibérica, com mais de 1000 milhões de euros de faturação e mais de 2500 colaboradores. Nesta entrevista, fala naturalmente da família,
Davide Vicente, CEO do Grupo Valsabor. Sobre a mesa, a edição da revista Carne em que Fernando Vicente, pai e fundador do Grupo, concedeu uma entrevista, no inicio do milénio, sob o titulo: “Fernando Vicente, o Sr. Volt-face da Valinho”. O titulo que escolhemos e que na época até levantou polémica, já anunciava que alguma coisa ia mudar para os lados de Alcanede, e não só.
do sucesso do Grupo através da verticalização, do controlo de qualidade e rastreabilidade dos produtos, da evolução do Grupo e das últimas
ultimas aquisições - como a conhecida industria de carnes Isidoro - mas também das futuras.
CONTINUIDADE GARANTIDA Garantida a continuidade, em 2025, da parceria revista Carne com duas das mais importantes feiras europeias para o setor de carnes: A “Meat Attraction” em Madrid, e a “IFFA”, em Frankfurt. A revista Carne, esteve presente em Múrcia, na apresentação da 6ª Edição da “ Meat Attraction” que decorrerá de 25 a 27 de fevereiro de 2025, no recinto Ferial Ifema em Madrid. Maria José Sanchez, diretora da “Meat Attraction” salientou a importância da impren-
sa internacional especializada presente no certame. No caso da revista Carne, o idioma português representa mais de 260 milhões de pessoas, (3,7% da população mundial), sendo a língua materna mais falada do mundo depois do mandarim, inglês e espanhol. No que diz respeito à IFFA que terá lugar de 3 a 8 de maio de 2025, no Centro de Exposições de Frankfurt am Main, foi a constatação de uma parceria que já existe desde os anos “90” do século passado.
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