Patrocinador Oficial do Dakar
Dakar 2022
A LENDA CONTINUA
Nasser AL Attiyah O Príncipe do Deserto
Original by Motul Os heróis por conta própria
Dakar 2022
Portugueses no Dakar O deserto tem memória
Essencial
Sam Sunderland Não há uma sem duas
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EDITORIAL
A LENDA CONTINUA por Manolo
O Dakar nasceu de um acaso com um desfecho quase trágico. Os mais supersticiosos acreditam num mau presságio. Em 1978, Thierry Sabine na sua Yamaha XT 500 perdeu-se em pleno deserto da Líbia, no planalto de Tchigai, perto da montanha de Emi Fezzan, durante o rali Abidjã-Nice. “Salvo do inferno das areias” in extremis, regressou a França inebriado pelas paisagens sublimes de uma natureza simples e inóspita, um lugar capaz de seduzir a alma. Após a inaudita experiência, promete partilhar essa visão com o maior número de pessoas possível levando-as pela imensidão das areias do deserto. O
chamamento. Reza a Bíblia que para João Batista, o deserto, representava um lugar especial onde teria condições de se afastar das incoerências da vida, a fim de ouvir as ordens de Deus. Os mitos confundem-se com a realidade, como o sagrado com o profano. As narrativas passam de boca-em-boca e nada melhor que o misticismo do deserto, um cenário inóspito, para as contar e recontar. Reza a lenda, que desesperado arrancou do pescoço um fio com a medalha da mão de Fátima e atirou-o ao céu, numa súplica de salvação. Onde caísse, ali ficaria, imóvel à espera do seu destino. Consta que chegou a pensar no suicídio,
ensaiando um ritual de morte imuague: expor a cabeça ao sol no pico do calor (50º) para que a língua inche e provoque asfixia. Um suicídio que pode demorar mais de 30 minutos de extremo sofrimento. Em dezembro de 1978, organiza o primeiro Paris-Dakar e dedica-lhe o resto da sua vida. Como organizador e como ser humano sabe o que é sofrer no deserto. Tinha uma atenção extrema por todos os participantes e, o exemplo disso, é a edição de 1983, o Paris-ArgelDakar, quando uma tempestade de areia atinge fortemente a inexplorada região do Ténéré - um dos altares do
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Thierry Sabine, horas antes do trágico acidente.
mundo - e 40 participantes se veem completamente perdidos. Thierry Sabine passou quatro dias a sobrevoar de helicóptero a região e conseguiu direcionar todos os concorrentes para a rota correta. Na época, a jornalista e concorrente, Nicole Maitrot, escreveu: “Fiquei com a impressão que Thierry Sabine foi Deus, a ver as suas ovelhas lá de cima do helicóptero, descendo num remoinho para ajudar todos os que estavam perdidos”. Aos 36 anos, Thierry Sabine, encontra a morte. Quis a ironia do destino que fosse num helicóptero, onde já tinha sido ”Deus". Na terça-feira, 14 de janeiro de 1986, o seu helicóptero Ecureuil, construído pela Airbus, embateu numa duna, durante uma tempestade de areia repentina, eram 19h30m. Também morreram a bordo o cantor Daniel Balavoise (que tinha pavor de andar de avião), o piloto do helicóptero FrançoisXavier Bagnoud, a jornalista Nathalie Odent e Jean- Paul Lefur, engenheiro de som da RTL. As cinzas de Sabine foram espalhadas posteriormente junto à Árvore Perdida do Níger, que ficou conhecida como a árvore de Thierry Sabine. O Dakar perdeu o seu pastor, mas o seu trabalho ficou gravado na pedra e a Lenda perpetuou-se.
O Espírito de Thierry Sabine personificado pela categoria mais dura do rali Num ambiente extremamente exigente que é o Dakar, a categoria “Original by Motul” é a personificação do espírito de Thierry Sabine. Um desafio que vai ao encontro de todos aqueles que participam nesta grande aventura com resiliência e espírito de sacrifício, assegurando eles próprios todas as noites, depois de uma extenuante jornada, a manutenção da sua mota sem qualquer assistência ou companheiro para apoio. Os concorrentes inscritos nesta categoria sentem na pele o que é sofrer no Dakar. Depois de uma etapa duríssima e fazer um troço de ligação, muitas vezes com mais de trezentos quilómetros, quando se chega ao bivouac o que mais se deseja é tomar um banho rápido e cair nos braços de Hipno, ou outra qualquer divindade do sono. Na categoria “Original by Motul” essa merecida mordomia não é possível. Os camiões da Motul transportam as caixas dos concorrentes com os
seus pertences pessoais, peças de reposição, ferramenta e acessórios. É preciso meter mãos à obra e preparar a “montada” para arrancar dali a escassas horas. Imediatamente, nos damos conta da contradição. Estes acampamentos são muito diferentes daqueles quando viajamos sozinhos pelo deserto, silenciosos, afastados de tudo, dandonos a impressão de uma solidão total. Quero acreditar que o punhado de areia que apanho com a minha mão e deixo escorrer, como numa ampulheta, só foi tocada por mim, o que é uma sensação incrível! No bivouac da Motul, o ambiente é intenso: o barulho dos geradores e dos compressores, as aceleradelas, o desabafo dos escapes, a toada metálica das ferramentas, o pó no ar, o cansaço espelhado no rosto dos heróis, a noite, os holofotes, os cheiros, as sandes dentadas e esquecidas, as dores e as feridas, o colorido das embalagens Motul que enchem o acampamento de confiança e as palavras de ânimo entre os concorrentes, criam uma atmosfera imperdível. A Motul apoia os pilotos inscritos nesta categoria disponibilizando uma vasta gama de produtos e equipamentos: 1 farol, 1 jogo de rodas, 1 tenda “abertura em 2 segundos” com espaço para duas pessoas, 1 saco cama para -5º, 1 par de pneus, 1 cobertor de sobrevivência, 1 mochila impermeável de 25L, 1 mala de viagem de 100l, 1 kit de higiene,1 elevador de motos, 1 capa de moto, 1 tapete ambiental e a utilização – graciosa – dos compressores e caixas de ferramenta. Para os concorrentes, jornalistas e todos os envolvidos nesta grande aventura que é o Dakar, a ideia de um calmo e delicioso fim de tarde, junto de um belo cordão de dunas louras, a saborear um bebida enquanto a canção do universo embala o sol, não passa de uma miragem, talvez, só no imaginário das mil e uma noites de Xerazade. Espero que esta edição lhe agrade tanto, como a nós em fazê-la. Inshallah!
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Dakar 2022
O apelo do deserto Ao amanhecer há relativamente pouco vento. Durante a noite choveu bastante e de manhã quando saí da tenda senti frio. O céu parece zangado, e a paisagem desértica está longe da sua habitual calidez. Ontem, poisamos aqui, já de noite. Pelas nossas contas os concorrentes vão passar por aqui, muito perto. Vimos um grande cordão de dunas, à distância difícil de ultrapassar com encostas bastante abruptas. A caneca de esmalte, com uma espécie de café, aquece-me as mãos. Pelo menos está quente. Comecei a caminhar pela areia. Gosto de caminhar. Caminhando, sinto-me livre para me encher de pensamentos. Talvez não tanto de pensamentos; mais de emoções. Não vi nada. Nem pegadas...
Este silêncio do deserto fascina-me. Não que o deserto seja silencioso. Os sons do deserto são uma presença viva, ora pacifica, ora agressiva, profundamente emotiva ao mesmo tempo que nos apazigua. De repente, vindo de lugar nenhum, o roncar de um motor, “é uma KTM!” grita um companheiro. O motard surge da cuvete, entre dunas, como se uma força sobrenatural empurrasse a moto do chão e a arrastasse consigo, fazendo com que atravessasse o tempo. Sinto a força indescritível, o corpo estremece. Num gesto rápido, raro, quase inusitado, saco a Leica (25-400) da mochila e disparo. Quero fotografar os espíritos do vento, porque sei, tenho a certeza, que o que há mais de genuíno pertence ao deserto, que nos proporciona a evasão, porque o peso dos anos e das memórias se esvai e a
calidez de cada momento nos afaga por dentro. Estou feliz, estou no deserto. A 44ª Edição do Dakar apresentou um figurino de quase 8000 km, muito semelhante ao da edição anterior. No entanto, desta vez, a organização orientou o percurso mais para sudeste, para dar um tom mais arenosos à prova. Rub Al-Khâli foi o cenário.
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o “Quem consegue sair dele, nasce de novo...” O deserto Rub Al-Khâli é universalmente conhecido como o maior deserto de areia à face da Terra. Abrange uma terça parte da Península Arábica, cobre cerca de 650.000 km2 e inclui territórios da Arábia Saudita, Omã, Emirados Árabes Unidos e Iêmen. É a maior superfície de areia do mundo e é conhecido como Empty Quarter (Bairro vazio).
A bacia situada principalmente no sudeste da Arábia Saudita é onde o vento desempenha o protagonismo na formação de areia. As suas elevações em areia atingem os 450 metros. Os beduínos chamam-lhe “vazio” referindo-se ao vasto e misterioso deserto, embora habitem o deserto. A minha paixão é o deserto do Sara
que também tem um Empty Quarter de dimensões oceânicas - 1000 por 500 km - totalmente desprovidos de água e arenoso de um ponta à outra. Todavia, muitos fotógrafos consideram fotografar o Bairro Vazio da Arábia Saudita (o deserto do Rub Al-Khâli) como um grande desafio para as suas carreiras, já que fazer fotos das dunas, casando as sombras com os relevos, os contrastes com a luminosidade, é muito perigoso e tem que ser muito bem planeado.
A autêntica natureza do Dakar personificada pelos participantes de Original by Motul Esta categoria considerada a mais difícil, tanto para os pilotos como para as suas motos, já que se enfrentam o rali sem qualquer tipo de assistência, fazendo, eles próprios, a manutenção das suas motos etapa após etapa. A Motul é Patrocinador Oficial do Dakar pela quinta vez consecutiva e, mais um vez, apoiou os pilotos através da sua gama completa de produtos de competição off-road, desenhada e testada para lutar contra as condições mais extremas. Entre os variadíssimos produtos, destacamos o óleo lubrificante 300V
4T Factory Line Off Road 15W60 com uma composição baseada na exclusiva tecnologia ESTER Core, que proporciona um importante incremento de potencia, uma excelente lubrificação e uma ótima proteção. Especialmente criado para oferecer ao piloto uma maior sensibilidade na embraiagem e melhorar substancialmente o acoplamento do motor, oferecendo uma proteção e fiabilidade excecional quer tanto no motor como na caixa de velocidades. O pack que recebe cada "herói por conta própria" da categoria Original by Motul completa-se com outros produtos
da Motul focados no cuidado do que parecem pequenos detalhes, mas são decisivos para melhorar o rendimento e a eficiência do veiculo. Os filtros de ar são elementos indispensáveis para que se consiga tirar o maior rendimento possível do motor em terrenos arenosos. Air Filter Clean da Motul é um produto de espuma para limpeza de filtros de ar que elimina eficazmente corpos de gordura, pó, lama e a areia para uma filtragem bastante eficaz. Face à gasolina Motul Air Filter Clean não deforma, não endurece o filtro e seca rapidamente.
11 Expectativas Antes do pontapé de saída eram muitas as expectativas. Os desenvolvimentos técnicos que mobilizaram fabricantes e preparadores durante o ano criavam expectativas muitos grandes para esta edição. Entre os projetos mais ambiciosos, a Audi recrutava duas lendas do evento, Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz, para batizar o híbrido 4x4 RS Q e-tron, ponta de lança do
programa “Dakar Future”, embora o gigante alemão avançasse com muita cautela sobre o potencial do seu veiculo.
beneficiariam do novo regulamento para almejar lugares de topo, desde que na BRX, os desenvolvimentos realizados no Hunter fossem aprovados.
Nasser Al Attiyah, tricampeão do Dakar e invicto ao longo da temporada, apresentava-se como líder do clã Toyota, que colocou na pista uma Hilux amplamente reformulada também confiada ao sul africano Giniel De Villiers e ao saudita Yazeed Al Rajhi. Assim como Sébastien Loeb e “Nani” Roma
Carros com provas dadas há vários anos podiam tirar vantagem da situação, por exemplo, o mini da X-Raid comandado por Jakub Przygonsky ou embora com menos hipóteses, carros de outras estruturas menos acostumadas a presenças no pódio.
#216 Krotov Denis (Ucrânia), Zhiltsov Konstantin (Ucrânia), MSK Rally Team, John Cooper Works Buggy, Auto FIA T1/T2, W2RC, entre Jeddah e Hail
Dakar, a nova versão O culminar de vários anos de trabalho que acompanha a reestruturação da disciplina empreendida com a FIA e a FIM, o regulamento do Dakar 2022 foi aplicável a todas as restantes provas do Campeonato do Mundo de Rally-
Raid. O duplo desejo de fazer parte de um movimento de transição energética e manter o suspense ao longo da temporada soma-se à busca constante por maior justiça e segurança. Nos carros e camiões, o tablet substituiu
o road-book em papel. Pela primeira vez, os road-book foram distribuídos em versão digital e imediatamente antes do início das especiais.
Dakar 2022
Mattias Ekstrom / Emil Bergkvist, a dupla sueca, aos comandos do estreante RS Q e-tron, foram os melhores da armada Audi.
13 Categorias uma grelha única para todo o ano T1-Ultimate
O caminho do futuro. A perspectiva de um cenário composto por veículos com motorizações alternativas para a elite em 2026 foi confirmada com a criação da categoria T1-U. Com um numero limitado de veículos no Ano 1, tudo aponta para uma evolução muito rápida graças ao empenho de muitos fabricantes e preparadores desejosos de se envolverem no desafio do “Dakar Future”.
T1+
Uma partida em igualdade de circunstâncias. A vontade de promover um equilíbrio entre os vários veículos mais desenvolvidos levou as equipas do Dakar, em colaboração com as autoridades da FIA, a modificar os regulamentos técnicos da categoria T1. Para atingir o nível de desempenho dos buggies, em particular, os protótipos 4x4 podem ser equipados com rodas mais largas e altas e trabalhar outros aspectos técnicos já definidos.
Rally GP
Para motos de elite. Uma lista de pilotos de topo, muitos dos quais evoluem dentro da estruturas oficiais, constituem a elite da disciplina, à semelhança do Moto GP, a categoria principal dos circuitos. Os demais pilotos incluemse na categoria Rally 2, com as suas diferenças de classes. As medidas adotadas em 2021 para reduzir a velocidade e reduzir o risco de acidentes graves foram renovadas. Por exemplo, “zonas lentas” em certas secções que apresentem perigo serão novamente sinalizadas e quaisquer
infrações de velocidade serão punidas. A obrigatoriedade do colete airbag para motos e quadriciclos também se baseia no progresso técnico dos fabricantes de equipamentos. As equipas do Dakar iniciaram, em colaboração com a FIM, uma reflexão sobre o desenho de capacetes e a elaboração de novas normas técnicas. Uma medida temporária impõe um peso mínimo de 1,1 kg, excluindo assim certos capacetes ultraleves cujo nível de proteção foi considerado insuficiente.
T3/T4
Os veículos ligeiros em dois campos. Os buggies ligeiros são o formato que está em alta no rally-raid, dando acesso a corridas de prestígio com orçamento controlado e incentivando a transição de motociclistas para carros. Para esclarecer a situação entre veículos com níveis de desempenho muito variados, foram separados em duas categorias. Os T4 que mantém o nome de série SSV, são buggies muito próximos do modelo de produção comercializado pelo fabricante. Na categoria T3, o Proto-ligeiro, o desempenho pode ser aumentado com alterações mais significativas (falange da entrada do ar,chassi, etc).
"Pela primeira vez, os road-book foram distribuídos em versão digital e imediatamente antes do início das especiais."
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O chileno Enrico Giovanni e a sua Yamaha Raptor 700, em apuros.
Haíl – Haíl 514km / 333km Especial
Nasser Al Attiyah (Toyota Hilux)
17 Al Attiyah e Sanders
a arte de ultrapassar Depois das fortes chuvadas em Haíl, no norte da Arábia Saudita, o primeiro concorrente a sair de madrugado deixava o bivouac sob forte neblina. Com as mãos frias, quase inox, aconchegava-se o polar junto ao pescoço e o café do patrão Rui, ativava a memória gustativa. No programa do dia, uma jornada com vários ingredientes pelo meio, trilhos de areia a serpentear as montanhas que culminam nos 1500 metros acima do nível do mar e famosas, em todo o mundo, pelas suas gravuras rupestres. Mais de 80% de pista de areia e, como cereja no topo do bolo, uma pequena percentagem de dunas. Mas vamos começar pelo prólogo. Numa prova como o Dakar, as consequências cronométricas do prólogo servem, sobretudo, para definir a ordem de partida da etapa seguinte, embora os pilotos prioritários tenham o privilégio de escolher a posição em que saem – nunca percebi porquê. Nas motos, o australiano Daniel Sanders (KTM), impôs-se mas optou por sair na 15ª posição, conforme autorizado pelo regulamento sem precedentes no Dakar. Foi tudo muito simples. Ultrapassou os 14 antecessores para chegar na frente à linha de chegada.
Nos automóveis, Nasser Al Attiyah (Toyota Hilux) colocou-se em modo conquistador ao largar na 10ª posição. Experiente piloto em areia, não teve grande dificuldades em ultrapassar tudo e todos, para vencer a etapa. Sébastien Loeb (Hunter) optou sabiamente por perseguir a dupla Al Attiyah/ Baumel, que não cometeu erros de navegação e cortou a linha de chegada em 2º lugar a 12 minutos do vencedor. Nos Proto-ligeiros as hostilidades começam com um duelo de titãs, entre o americano Seth Quintero (OT3) e uma das Lendas do Dakar, o chileno “Chaleco” Lopez. A distância que os separa é de 1’ 58’’ na Geral. Nos SSV, a liderança é polaca mas é Aron Domzala (CAN.AM Maverick XRS) que sucede a Marek Gockal, também em CAN-AM Maverick XRS. Nos camiões, palavras para quê? O azul da Kamaz domina com 4 equipas a transbordar o pódio e DImitri Stonikov, um puro produto da Casa Kamaz, nascido e criado em Naberezhnye Chelny, a força da industria da russa, assumir a liderança da geral.
Dimitri Sotnikov (Kamaz Master)
Golpe Duro Classificado em 14º no final da classificação do prólogo, Stéphane Peterhansel conseguiu aproveitar as pegadas dos seus adversários para subir rapidamente na hierarquia desde o inicio da etapa, chegando ao primeiro posto de controlo, numa posição a que está bastante habituado: entre os melhores. Infelizmente, ao km 153, o “Sr Dakar” traçou o seu destino, nesta edição. Arrancou o eixo traseiro do RS Q e-tron e com a perca de tempo e a penalização de 16 horas, ficou a 23 horas de distância do líder. Se não é motivo para deitar a toalha ao chão, é óbvio que a 15ª vitória não é para este ano. Além disso, para o resto do clã Audi as coisas também não corriam de feição. Carlos Sainz perdia mais de duas horas, no Km 250, a “jardinar” (atascado).. O madrileno, viu-se relegado para a
Sam Sanders (KTM)
32ª na classificação da Geral e uma eventual vitória de “El Matador” no Dakar transforma-se numa miragem. O mesmo aconteceu com a única dupla portuguesa na categoria auto. Miguel
Barbosa e Pedro Velosa aos comandos de uma Toyota Hilux T1, entraram com o pé esquerdo. Problemas de transmissão, diferencial, furos e atascanços comprometeram decididamente uma boa prestação neste Dakar.
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“Escalar o Everest...” Arunas Gelazninkas (Husqvarna), é o líder do Original by Motul. Este lituano que é completamente doido pelo Dakar é super conhecido no seu país e é o motard de maior sucesso. Sobre a Original by Motul, não podia ser mais claro: “Esta categoria é fascinante. Todas as noites quando
chegas ao acampamento, em vez de comeres alguma coisa e talvez receber uma massagem do fisioterapeuta, enquanto a assistência te conserta a moto, tens que ser tu a fazer a manutenção da mota, arrumar as ferramentas e as caixas, montar a tenda, ir buscar o jantar, entendes? As pessoas costumam comparar isto
a escalar o Everest sem oxigénio ou velejar ao redor do mundo sozinho. És da mesma terra que o Mário Patrão, não és? Mário Patrão (KTM) conquista a sexta posição na etapa e sobe à 6ª posição da Geral.
Os eternos Clássicos A prova de clássicos (regularidade) é um da provas mais mimadas do Dakar. Trazer à pista os bons-velhos-tempos do 4x4, a nostalgia do todo-o-terreno como hobby social e cultural, dando primazia à regularidade em detrimento da velocidade, com a componente da navegação bem à vista.
Nesta edição, pode-se dizer que o “duelo” é entre Espanha e França. As duas nações mais representadas no Dakar Classic, com 44 veículos franceses contra 37 do país vizinho. Xavier Pina Garntcha (um apaixonado dos clássicos) e Sergi Giralt Valero em Toyota Land Cruiser HD J80 (1986/96)
e o casal francês Panagiotis em Protruck (1997/98) lideram a classificação Geral com 19 pontos. A única dupla portuguesa na categoria, João Antonio de Almeida Sousa e Luís Manuel da Costa Santos, num “velho” Ssangyong (1986/96), penalizaram mais 3738 pontos que o vencedor.
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Foi uma jornada em cheio para a box da BRX-Hunter.
Etapa 2. Haíl > Al Qaisumah Ligação 453Km, Especial 338km
A equipa checa liderada por Ales Loprais, aos comandos do Praga V45 DKR mantém-se perto do quarteto da frente mas os Kamaz não o deixam passar do 5ª lugar.
23 A essência do Dakar: curvar-se à natureza A imagem de um deserto seco e escaldante caía por terra. Muitos dos nossos novos camaradas de reportagem não acreditavam no que estavam a ver e a viver. Verdadeiramente submerso pela água o acampamento de Al Artawiyah parecia que tinha saido de uma floresta equatorial. Sacos encharcados, roupa molhada, empapados até ao tutano, a nossa preocupação é proteger os equipamentos e protegermo-nos da prepotência alheia ao rali. O bivouac de Al Artawiyah foi privado da noite sempre muito especial da etapa maratona. Mas é a própria essência do rali: curvar-se à natureza. Toda a caravana foi obrigada avançar, sem pestanejar, para o acampamento da etapa 3. O programa da segunda etapa, não foi perturbado, pois no final da especial de 338 km em direção à província de Riade, uma nova ligação de 270 Km permitiam chegar a AL Qaisumah, onde a caravana pernoitou por duas noites. A categoria Dakar Classic que que devia seguir um
percurso pararelo, não o fez. Devido às fortes chuvadas, alguns troços ficaram intransponíveis e os clássicos seguiram em convoy para o acampamento. A etapa foi ajustada e encurtada, pelos menos, em 15%. As motos deixaram a sua marca no terreno um pouco antes do mano-a-mano entre Al Attiyah e Loeb. Joan Barreda, o mítico motard da Honda foi o grande vencedor da etapa. O piloto de Torreblanca, Valencia, onde nasceu há 38 anos, somou assim a sua 28ª vitória em etapas no Dakar. Um belo feito. Contudo, nunca ganhou um Dakar, titulo que não desiste de perseguir. Considerado um dos mais rápidos do grupo de elite, a sua melhor classificação foi um 5º lugar, em 2017. O espanhol cortou a meta com menos 5m 33s que Sam Sunderland (KTM) atual líder da geral e curiosamente, o primeiro britânico a ganhar o Dakar, também em 2017.
Sebastien Loeb, o nove vezes campeão do WRC, ofereceu de bandeja o primeiro sucesso à estrutura Prodrive.
Loeb
fantástico Sébastien Loeb não precisa de apresentações. O piloto francês acompanhado pelo belga Fabian Lurquin, aos comandos do BRX-Hunter, com o motor 3.5 litros Twin-turbo V6 da Ford, alcançou a sua 15ª vitória ao vencer a etapa de hoje, com 03m 28s de vantagem e diminuindo a distância entre si e Nasser Al Attiyah, o líder da geral, para 09m 16’’. No entanto, pareceme que Nasser Al Attiyah teve sempre o francês debaixo de olho e também me parece óbvio que o duelo entre os dois é muito claro e nem sequer possa ser questionado pelos Audi, embora Carlos Sainz e Stéphane Peterhansel estejam decididos a não passar ao lado do rali . Depois do contratempo da etapa
"A paciência e o altruísmo de Sebastien Loeb foram finalmente recompensados entre Haíl e Al Qaisumah..."
anterior, ocuparam a 3ª e 4ª posição na etapa, respetivamente. Sébastian Loeb foi fantástico. A paciência e o altruísmo de Sebastien Loeb foram finalmente recompensados entre Haíl e Al Qaisumah. O nove vezes
campeão do WRC conseguiu manter a distância da Hilux de Nasser Al Attiyah. Ao aumentar para 15 o numero de sucessos na prova, subiu para o patamar dos compatriotas Jean-Louis Schlesser e Bruno Saby no ranking dos pilotos. Loeb também ofereceu à estrutura
25 Prodrive, que “descobriu” o Dakar o ano passado - depois de ter montado a equipa BRX - o seu primeiro sucesso. Torna-se assim o 27º Preparador/ Fabricante diferente a triunfar. A cereja no topo do bolo: “Nani” Roma terminou em 5º, oito minutos atrás do seu companheiro de equipa. Um grande dia para a casa BRX. Nos quads, o argentino Manuel Andujar (Yamaha 700 R), que na etapa anterior teve problemas com os injetores entretanto resolvidos e venceu a etapa inspirando-se, talvez, no método Barrera. Embora esteja a mais de 30 minutos do líder da geral, o lituano Laisvydas Kancius (Yamaha 700 R). Nos Proto-ligeiros, a vitória foi de um estreante (rookie). O belga Guillaume De Mevius (OT3) conseguiu um feito ao vencer no T3 ganhando mais de 4 minutos a "Chaleco" Lopez. Entretanto, o chileno herdou a poltrona de líder, após a ruptura do diferencial do OT3 de Seth Quintero a 30 km da chegada - até então líder da geral.
A Polónia manteve a liderança na tabela da SSV, desta vez com o melhor tempo de Michal Goczal (CAN-AM, Maverick XRS) mas foi o americano Austin Jones (CAN-AM, Maverick XRS) quem assumiu a classificação geral com uma vantagem estreita de 1'52''. Nos pesos-pesados, um terceiro Kamaz diferente vence a etapa, com Andrei Karginov assumir a vitória, à frente dos seus 3 companheiros de equipa. Na geral, o pódio transborda de azul, 4 Kamaz nos primeiros 4 lugares da geral e Stonikov na liderança!
Etapa 2. Haíl > Al Qaisumah Ligação 453Km, Especial 338km
27 O Duro golpe do dia Se a Lei de Murphy puder falhar, falhará. Extensão da Lei de Murphy. Se uma série de acontecimentos corre mal, fá-lo-á na pior sequência possível...e hoje Danilo Petrucci é a ilustração perfeita disso. Tudo começou em 6 de dezembro, quando o piloto de Terni (Itália) fraturou o tornozelo e o calcanhar direito. Mesmo assim, foi para a Arábia Saudita para ver o que é que dava, mesmo que isso significasse ranger os dentes com muita força.
Depois houve um primeiro teste à Covid positivo (Antigénio), dois dias depois fez novo teste (PCR) e deu negativo. O antigo vencedor do MotoGP finalmente conseguiu luz verde para realizar o seu sonho de correr no Dakar. Classificado em segundo lugar na categoria de Rally 2 na noite da etapa 1b, Petrucci estava a ser muito rápido, mesmo muito rápido. Mas depois de lidar com as lesões e ameaças de Covid-19, foi um problema mecânico que levou a melhor sobre o
“Passar pelo rali mais difícil do mundo, sem qualquer assistência” O lituano Arunas Gelazninkas venceu a etapa e mantém a liderança na geral. Na segunda posição, quer na etapa quer na geral, o checo Milan Engel (KTM) enfrenta, desta vez, o maior desafio da sua impressionante carreira no Dakar. Na sua oitava participação, o talentoso piloto decidiu entrar na extenuante classe Original by Motul, o que significa passar pelo rali mais difícil do mundo sem qualquer assistência. Além disso, o piloto de 30 anos ainda recupera de um acidente desagradável no recente Rali de Marrocos, que resultou numa clavícula fraturada, uma pélvis rachada e três costelas partidas. Tem feito a sua recuperação em Praga e está confiante que pode fazer um bom trabalho na categoria mais difícil de todas. Milan tem fama de ser um extraordinário mecânico: “ Vou para o meu oitavo Dakar. Sempre quis experimentar o “Original by Motul”. Acho que estou preparado. Já perdi a conta ao número de vezes que tive que reparar a moto no Dakar. Estou pronto!”.
piloto da Tech3. A sua KTM “calou-se” ao Km115 da especial do dia. Ainda tentou consertá-la sem sucesso. Acabou por ser evacuado. Petrucci não deitou a toalha ao chão, jogou o Joker (o rali dá essa hipótese) o que lhe permitiu continuar a aventura e aproveitar para aprimorar as suas habilidades, em rallyraid. O Joker, penitencia o piloto com uma penalização de 16 horas, como aconteceu Peterhansel.
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Sebastien Loeb perdeu a tração traseira a aos 10 km da corrida e entrou em modo “Condutor de domingo”.
Etapa 3. Al Qaisumah > Al Qaisumah Ligação: 381 Km Especial: 255 Km
Um diamante chamado Joaquim Rodrigues
Joaquim Rodrigues (Hero), vencedor da etapa.
31 Se olharmos ao longo do horizonte do deserto saudita, especialmente, ao amanhecer ou ao anoitecer não é difícil observar um brilho cintilante na superfície das dunas. À primeira vista, pode parecer objetos ou jóias perdidas por caminhantes do deserto. Com efeito, estamos numa região de beduínos. Mas de facto, o que vemos são diamantes do deserto – pedras semipreciosas naturais que se encontram quase, exclusivamente, na península árabe. As pedras pertencem à família do quartzo e provêm do mesmo mineral microcristalino do topázio e da ametista. Quando cortados e polidos adequadamente, têm um brilho idêntico ao dos diamantes de carbono, muito mais caros. Estas pedras são conhecidas por diamantes Qaisumah. Foi neste ambiente de brilho que o motard português, Joaquim Rodrigues (Hero 450), venceu e brilhou numa etapa em laço (partida e chegada no mesmo ponto) Al Qaisumah – Al Qaissumah, numa especial muito rápida e dificil de 225 Km. Os concorrentes partiram para este dia para enfrentar uma etapa encurtada, em cima da hora, devido ao mau tempo. A etapa teve início onde supostamente estaria instalado o CP1, reduzindo o cronometro nuns bons 100 km.
Por vezes, o Dakar relembra-nos a história de David e Golias ou a história dos pequenos que dão o exemplo aos grandes. Joaquim Rodrigues teve que lidar com muita coisa nos últimos dois anos. No Dakar 2020, o piloto português perdeu o cunhado Paulo “Speedy” Gonçalves, que morreu tragicamente, na sétima etapa. O terrível acontecimento mergulhou a família num profundo estado de choque e deixou a “família” do Dakar de luto. Joaquim Rodrigues lutou contra uma depressão e em 2021 teve a coragem de regressar ao Dakar. Um dos momentos mais emocionantes do Dakar 2021 foi ver Joaquim Rodrigues, visivelmente emocionado, cruzar a linha de chegada no ultimo dia e apontar para o céu. Desta vez, numas das etapas mais rápidas e mais difíceis, Joaquim Rodrigues impôs-se categoricamente ao australiano Toby Price (KTM) por 1m 03s e dedicou a vitória ao cunhado, Paulo Gonçalves, o nosso grande “Speedy”, que esteja onde estiver, está muito feliz com esta vitória do irmão da Sofia. Além disso, o motard português oferecia a primeira vitória à Hero.
O americano Austin Jones (CAM-AM) lidera a classificação de ProtoLigeiros (SSV T3)
“O Paulo vai comigo para todo o lado. São tempos muito difíceis para toda a família. Mas, levando-o comigo dá-me motivação para continuar, para não desistir. Esta vitória é do Paulo” referiu, com as lágrimas nos olhos. Sam Sunderland (KTM) assegurava a liderança da geral, com apenas 4 segundos de vantagem sobre o francês Adrien Van Beveren (Yamaha) e 1m 30s sobre o austríaco Matthias Walkner (KTM), que fechou o pódio. Curiosamente, no TOP 10 estavam seis marcas diferentes: KTM, Yamaha, Honda, Husqvarna, Sherco e Hero. Nos automóveis, era o dia dos Audi. No entanto, o sul africano Henk Lategan (Toyota Hilux) meteu-se pelo meio, aproveitou bem as potencialidades do seu novo Toyota Hilux GR DKR T1+
que lhe confere mais potência e, acima de tudo, rodas e suspensões maiores. Stéphane Peterhansel, completou o pódio a 1m 41s do vencedor. O piloto de 27 anos não roubou a vitória a Carlos Sainz por escassos 39s. O espanhol venceu a sua 40ª etapa no Dakar mas, mesmo assim, não disfarçava o seu mau humor, frustrado por estar arredado da luta final, assunto que diz, cada vez mais, respeito a
Nasser Al Attiyah... e cada vez menos a Sebastien Loeb. O francês continua com o seu Hunter BRX na 2ª posição, mas a quebra do eixo traseiro após 10 km de corrida obrigou-o a andar em modo “condutor de domingo”, encontrando-se no final com um atraso de mais de 37 minutos em relação ao Sheikh do Qatar.
"Desta vez, numas das etapas mais rápidas e mais difíceis, Joaquim Rodrigues impôs-se categoricamente ao australiano Toby Price..."
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Joaquim Rodrigues, o piloto de Barcelos, dá a primeira vitória à Hero.
O IVECO de Janus Van Kasteren, atreveu-se a rasgar a cortina-de-ferro dos Kamaz e alcançou o 3ª lugar na etapa.
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Os portugueses Mário e Rui Franco (Yamaha).
A vitória de Carlos Sainz permitiu que o Audi RS Q e-tron aparecesse, pela primeira, vez no degrau mais alto do pódio.
37 Com os olhos no futuro! A vitória de Carlos Sainz levou-nos numa viagem no tempo e nos anais do Dakar. De facto, tivemos de voltar a 1985 ( Paris-Argel-Dakar) para encontrar a última vitória de um Audi, no Dakar. Na época era um Audi Quattro de uma equipa francesa, pilotado por Bernard Darniche que chegou a ser campeão europeu de ralis ao comandos de um Lancia Stratos. Ao embolsar o seu 40º sucesso no Dakar, “El Matador” permitiu
que o Audi RS Q e-tron aparecesse pela primeira vez no degrau mais alto do pódio. A cereja no topo do bolo foi também a primeira vitória de um carro da T1-Ultimate, uma categoria introduzida este ano e reservada para máquinas com motores alternativos. Nos Proto-ligeiros, Seth Quintero (OT3) que na etapa anterior perdeu muito tempo com avarias, venceu a etapa. Mas é “Chaleco” Lopes Contardo (CANAM) que lidera a geral com 9m e 9s de vantagem sobre o sueco Sebastian Eriksson (CAN-AM).
Nos SSV T3, o americano Austin Jones (BRP) vai na frente a 5m 23s da equipa brasileira de Rodrigo Luppi de Oliveira. A fechar o pódio a equipa espanhola de Gerard Farres Guell. Os portugueses Luís Portela Morais e David Megre, aos comando de um BRP, mantém a 14ª posição. Nos camiões, o habitual e já enervante domínio dos Kamaz. Dmitry Sotnikov vence a etapa e consolida a liderança da geral. A boa noticia é que o IVECO do holandês Janus Van Kasteren, conseguiu rasgar a cortina-de-ferro e ocupar o terceiro lugar no pódio.
“Espírito de lenda” O italiano Cesare Zacchetti (KTM), dorsal nº55, já não é um menino. Com 52 anos, ainda mostra o mesmo entusiasmo pelo Dakar, quando aos 15 anos “sonhava, sonhava e sonhava”, vir a participar na grande prova. E é esse mesmo espírito - “Espírito de Lenda” diz a sorrir - que o trouxe até à Arábia Saudita, para participar no seu 4ª Dakar. No seu diaa-dia, Cesare é feirante, como costuma dizer: “Dirijo uma boutique ao ar livre,
porque a vida e os desportos ao ar livre são a minha verdadeira paixão”. “Tento limitar ao máximo os pequenos inconvenientes, para na medida do possível, alcançar o meu objetivo que é chegar ao fim e viver da melhor maneira esta grande aventura”. Uma abordagem que valeu a pena. Em 2021, quando terminou em 38º no ranking geral, melhorou a sua participação de 2020 em 35 posições.
O lituano Arunas Gelazninkas (Husqvarna) continua imparável, ganha a etapa e consolida a liderança da geral, com 10m 47s sobre o Checo Milan Engel e 43’ 03s sobre o terceiro motard do pódio, o sul africano Charan Moore (KTM). O português Mário Patrão (KTM), depois de um inicio conturbado, tem vindo a subir, ocupa, agora, a 17ª posição.
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Etapa 4. Al Qaisumah > Riade Ligação: 242 Km. Especial: 465 km
O dia mais longo A quarta etapa foi simplesmente a mais longa desta edição. No briefing da noite anterior, David Castera (diretor da corrida) tinha avisado que era uma “valsa em três tempos”. Um primeiro troço de 40 km com muitos cruzamentos e muita navegação em forma de Y que podia ser um quebra-cabeças, antes de passar para a zona de dunas, o prato forte do dia, para terminar numa zona “mais técnica”: muita terra, copiosamente molhada, uma papa muito desagradável, espessa, tipo barro, graças à subida do rio Wadi, na parte final de uma especial, entre Al
Qaisumah e Riade, onde havia mais a perder do que a ganhar. Peterhansel, Roma, Chicherit, Domzala, que o digam só para citar alguns. A infelicidade de uns faz a felicidade de outros, alguns, até aproveitaram para enriquecer a sua coleção de vitórias. Foi o Caso de Al Attiyah e Barreda.
Nasser Al Attiyah, o colecionador de vitórias. 44 vitórias em etapas, tantas quantas as edições do Dakar.
"A infelicidade de uns faz a felicidade de outros, alguns, até aproveitaram para enriquecer a sua coleção de vitórias..."
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Barreda igual a Barreda Não é por acaso que Joan Barreda é uma Lenda do Dakar. O espanhol da Honda largou da 24ª posição, aproveitou a especial mais longa do rali para encetar uma espectacular cavalgada e ainda recuperar pelo o caminho o seu colega de equipa, o chileno Pablo Quintanilla que andava às avessas. Joan Barreda navegou, venceu a etapa com 04h 10m
e o Pablo Quintanilla cortou a linha de chegada, em segundo lugar, 3m 37s depois. O piloto valenciano que conta já com 29 vitórias em etapas, só, subiu para a 7ª posição, e está quase a bater à porta do TOP 5. Uma prova de esforço notável. Confesso, que me impressiona bastante
o esforço e a resistência para aguentar 4 horas em cima de uma moto, num piso extremamente difícil, em ritmo louco de competição com a agravante do esforço psicológico devido à navegação. Para mim, são uma espécie de super-homens do deserto.
Rui Gonçalves materializa o seu sonho de um lugar no pódio, o primeiro da sua carreira no Dakar, na sua segunda participação.
O outro herói do dia chama-se Rio Gonçalves O outro herói do dia chama-se Rui Gonçalves (Sherco 450 SEF Rally), é português, transmontano, nasceu em Vidago, é conhecido como Wilde Kid e transporta às costas um longo percurso no motocross. Estreou-se no Dakar em 2021, com objetivo de aprender e chegar ao fim. Objetivo cumprido. O seu objetivo para 2022 é semelhante: aprender e melhorar o resultado do ano passado. Mas quis a crença
e a experiência acumulada que o transmontano de 37 anos cortasse a linha de chegada, dentro da posição que só os melhores alcançam: no pódio. Recorde-se que na sua estreia no Dakar 2021, o Rui partiu o cotovelo na preparação e, mesmo assim, saiuse muito. Terminou na 19ª posição, foi o terceiro melhor Rookie da prova atrás de Daniel Sanders (4º) e Tosha Schareina (13º).
Ao cabo da quarta etapa, a classificação geral estava em brasa. Sam Sunderland (KTM) está na frente, mas não está confortável. Tem à sua perna cavaleiros do deserto como Matthias Walkner (KTM) a 3m, Adrien Van Beveren (Yamaha) a 04’ 54’’, Daniel Sanders (KTM) a 07’ 07’’....
43 Sherco A Sherco foi criada por Marc Teissier em 1988. O construtor francês chegou ao nome depois de algumas tentativas frustradas. A primeira escolha foi Sherpa mas não foi autorizada, depois equacionou-se Bultaco mas Teissier não gostou. Para resolver a questão juntou o Sher de Sherpa, com o Co de Bultaco e assim nasceu a Sherco. A marca teve uma ascensão brutal e inspirou dois dos seus 3 pilotos oficiais. O nosso compatriota Rui Gonçalves e o espanhol Lorenzo Santolino, que nesta etapa tiveram honras de 3º e 4º lugar, respetivamente, atrás das duas Honda oficias de Barreda e Quintanilla. No dia anterior o Rui criou expectativas, hoje, materializava o seu sonho com um pódio, o primeiro da sua carreira no Dakar, na sua segunda participação.
Por sua vez, Lorenzo Santolino “O Santo” revela alguma regularidade com o 6º, 15º e 4º lugares desde a largada em Jeddah, ocupando a 6ª posição da geral a 15m do líder. Não deixa de ser uma grande vitória para a casa Sherco, dado que em meados de setembro o departamento
de Motorsport da fábrica de Nimes foi vitima de um incêndio acidental, que só deu tempo para os mecânicos salvarem as motos da corrida. Complicou a preparação mas não foi o suficiente para minar a motivação da equipa técnica que assim recebeu um prémio pelo esforço feito para colocar em campo, em tempo recorde, as três 450 Sef Rallys.
"Mas quis a crença e a experiência acumulada que o transmontano de 37 anos cortasse a linha de chegada, dentro da posição que só os melhores alcançam: no pódio."
Etapa 4. Al Qaisumah > Riade Ligação: 242 Km. Especial: 465 km
Nasser Al-Attiyah, o colecionador Tudo indicava que fosse Yazeed Al-Rajhi (Toyota Hilux Overdrive) a vencer a etapa de hoje, mas uma penalização averbada ao saudita, por excesso de velocidade numa zona limitada, leva a que Nasser Al-Attiyah assegure a sua segunda vitória em etapas, nesta edição. Yazeed Al-Rajhi, virtuoso em condução de areia, ganhava mais de um minuto sobre os seus mais diretos adversários mas, a penalização de 2 minutos retirou-lhe a vitória. O Saudita não se conformava com a desatenção do seu navegador, o britânico Michael Orr. Passado minutos, abraçaram-se e o Sheikh saudita meteu uma mão em cada lado da face de Michael e pediu-lhe desculpa. O piloto da casa é na minha opinião, um dos melhores a conduzir em areia. Muito ímpeto, muitas mãos mas
falta-lhe um pouco de controlo ao gerir o seu temperamento.
entre os donos do pódio foram apenas de alguns segundos.
Desde 2017, que Al Attiyah, o Sheikh do Qatar, não conhece um Dakar sem uma vitória de etapa mas, naturalmente, ficou feliz com a sua 44ª vitória que conquistou na difícil pista a caminho de Riade e até brincou com as estatísticas “Tenho tantas vitórias de etapas, como o Dakar tem de edições, Inshalah!”
Na geral, Attiyah, o colecionador de vitórias, reforça a liderança. Sebastien Loeb segue em segundo a 38’ 05’’ do líder e Yazeed Al Rajhi, terceiro, a 49’ 17’’, destronando do pódio o argentino Lúcio Alvarez , também em Toyota, o que é caso para dizer que para as hostes da Toyota a “coisa” não podia correr melhor.
A etapa mais longa desta edição ficou com a chancela de “renhida”. Sebastien Loeb, cada vez mais adaptado ao todoo-terreno levou o seu Hunter ao segundo lugar com apenas mais 25 segundos que o vencedor, e Carlos Sainz gastou mais 52 segundos. Numa etapa de 465 km, com tantas dificuldades não deixa de ser curioso que a diferença de tempos
Na classe Original by Motul, ARUNAS GELAZNINKAS (Husqvarna), somee-segue vence a etapa e consolida a liderança. Quem é que é capaz de “parar” este lituano? Mário Patrão (KTM), chegou no TOP 5 e sobe algumas posições, para 11º.
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O fenómeno Henk Lategan (Toyota) vencedor da etapa.
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Etapa 5. Riade > Riade Ligação: 214 km. Especial 346 km
Danilo Petrucci, rookie e ex-motard do MotoGP, o vencedor do dia.
49 Danilo Petrucci e Henk Lategan nas bocas do mundo Foi um dia sem precedentes no Dakar. Motos e automóveis com percursos diferentes. Desta vez, não foram só o motards que saíram de madrugada, como é costume. Os concorrentes das 4 rodas também tiveram que se levantar bem cedinho, a meio da noite. A recompensa foi assistir ao nascer-dosol, antes do minarete chamar os crentes para a primeira oração. Além disso, ainda houve muitos concorrentes que chegaram ao bivouac a tempo de assistir ao pôr-do-sol, que não foi o nosso caso. A especial de 421 Km para Auto, decorreu a nordeste de Riade, levando a caravana até à província de AchCharquiya, limitada pela costa do Golfo Pérsico, a encruzilhada das grandes civilizações do Levante, Mesopotâmia e India. A especial das motos, mais curta, com 346 km, convergiu para leste.
A reputação do seu talento já era reconhecida. Mas ao vencer a sua primeira especial no Dakar, Danilo Petrucci de moto (KTM) e Henk Lategan de carro ganharam um estatuto diferente. Estrela dos circuitos de MotoGP, o piloto italiano estava logicamente inscrito na categoria Rally 2, na sua primeira participação num rali-raid. Vindo para aprender, o Rookie levou a melhor sobre os mais experientes, com todos os factores conjugados a seu favor. Não precisou de se enervar com a navegação e beneficiou de uma penalidade de 6 minutos imposta ao australiano Toby Price (KTM), o mais rápido do dia.
51 ESQUERDA EM CIMA o voo de Sebastien Loeb (2ª da geral na 5ªetapa)
ESQUERDA EM BAIXO O argentino Orlando Terranova e o espanhol Daniel Carreras aos comandos do Hunter Prodrive (9º da geral à 5ª etapa)
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Direita O nascer do sol em Riade.
Aos 31 anos, Danilo Petrucci “Petrux” é um piloto extremamente rápido. Não admira para um piloto que passou dez anos da sua vida no MotoGP, assinando 10 pódios e duas vitórias na categoria rainha das duas rodas. No Dakar já foi penalizado em 10 minutos por excesso de velocidade no bivouac e nesta etapa provou a areia saudita, ao protagonizar uma queda quando tentou se desviar de um dromedário, que lhe surgiu na frente. Foi o argentino Kevin Benavides (KTM) que encontrou e acalmou o piloto da TECK 3 KTM e que o navegou até ao final. Nunca vimos um piloto de MotoGP passar a piloto oficial do Dakar da noite para o dia. Mas “Petrux” parece apostado em quebrar todos os códigos de rookie até Jeddah. Para já, na próxima temporada do campeonato do mundo já está inscrito pela fábrica de Mattighofen (KTM).
O terreno não colocou dificuldades ao trio que preenche o pódio da geral, Sunderland/Walkner/Van Beveren, no entanto, mostrou cartão amarelo para outros, como Joan Barreda que está incerto para a etapa seguinte, enquanto a Husqvarna mencionou claramente a hipóteses do abandono de Skiler Howes. A etapa encurtada para os Quad beneficiou o argentino Manuel Andujar (Yamaha), vencedor pela 4ª vez este ano sem contudo preocupar, Pablo Copetti (Yamaha) que tem 13 minutos de vantagem. O francês, Alexandre Giroux (Yamaha) continua na liderança da geral com mais de 3 minutos de vantagem sobre o norte-americano Pablo Copetti. Nos automóveis, o fenómeno Henk Lategan já havia brilhado no ano passado antes de abandonar a prova, na 5ª etapa. Desta vez, o jovem virtuoso deixou peças do Toyota pelo caminho, é certo, mas fez uma grande demonstração das suas potencialidade: 01m 58s melhor que
Loeb, 02m 10s que o argentino Lucio Alvarez (Toyota) e 02m 24s do francês Matthieu Serradori (Buggy 4x2 Century CR6). Nasser Al Attiyah monitoriza Loeb mas também tem que ficar de olho nos três Toyota que se seguem na classificação, em 3º,4º e 5º, respetivamente, Giniel De Villiers, Lucio Alvarez e Yazeed Al Rajhi. A categoria de Proto-Ligeiros é dominada pela dupla da South Racing “Chaleco “ Lopez e Sebastien Eriksson, separados por 22 minutos. Em SSV Austin Jones, foi desalojado pelo brasileiro Rodrigo Luppi de Oliveira, ambos em CAN-AM, separados por 4 minutos. Finalmente, nos camiões, Karginov (Kamaz) venceu a etapa e Stonikov mantém a liderança na geral. Janus Van Kasteren (Iveco) e Ales Loprais (Praga), mantém-se no Top 5 à frente de Karginov, o vencedor da etapa.
Original by Motul
Mário Patrão,
"Superou todas as minhas expectativas" Natural de Paranhos da Beira, Seia, Mário Patrão, 45 anos, atual Campeão Nacional de Rally Raid e Europeu de Bajas concluiu o Dakar 2022, com a vitória entre os pilotos veteranos (a partir de 45 anos), e finalmente cumprindo o sonho há muito planeado, na classe que representa o lado mais puro e extremo da prova rainha do TT mundial, a Classe Original by Motul na qual averbou o 6º lugar.
Que balanço fazes da tua participação no Dakar? Além de ter sido a concretização de um sonho, foi um enorme desafio. O balanço é absolutamente positivo. Gostaria de repetir.
logística, toda aquela família Motul está de parabéns. Superou todas as minhas expectativas, é mais difícil e dura do que se imagina. Para mim é a essência do Dakar, no que toca a dureza, independência e persistência.
Qual é a tua opinião sobre a categoria Original by Motul? Superou as minhas expectativas, quer em termos de organização, quer de
Quantos Dakar já fizeste e quantos na Original by Motul? Participei 8 vezes no Dakar. Na categoria Original by Motul foi a minha estreia.
53 Como era teu dia-a-dia? O meu dia-a-dia foi muito duro. Muito metódico. Tive que fazer um equilíbrio diário, entre o desgaste do material e a manutenção da minha condição física. Mas, sem dúvida nenhuma, adorei a experiência. A que horas acordavas e te deitavas? Ui. Variava, mas nunca acordava depois das 4 horas da manhã e nunca me deitava antes das 22 horas. Sem dúvida a parte mais difícil neste Dakar é conseguir dormir e descansar. Qual foi o momento mais difícil que tiveste? Foi logo no primeiro dia de prova, quando uma falha da organização me levou a falhar um waypoint que condicionou a prestação no resto da etapa.
É a tua opinião... A minha opinião e a de mais de 40% dos pilotos. A Organização tem outra opinião. Depois de uma extenuante etapa, não tinhas vontade de chegar ao bivouac e dormir? Sem dúvida, apesar de não dormir num ambiente sossegado. O Dakar implica barulho 24/24 horas, como sabes. Quanto tempo demoravas a fazer a manutenção da tua moto? Uns dias, era mais rápido, e conseguia fazer a vistoria em 2 horas. Mas, outros, nomeadamente, quando o solo me destruiu as rodas, demorei quase 5 horas. Em algum momento pensaste que tinhas possibilidades de vencer a categoria?
O primeiro objetivo é sempre terminar, o segundo, alcançar a melhor posição possível, step-by-step. O meu objetivo era o Top 5 e fiquei triste por não o conseguir, espero ter oportunidade de voltar. E o que é que te impediu? A falha do waypoint. Perdi mais de 2 horas no primeiro dia. Qual é a tua a opinião sobre os produtos Motul? São estupendos. São os melhores aliados do Dakar e no dia-a-dia da minha loja (RRMotos Tourais-Seia). Trabalho com produtos Motul há mais de 12 anos. Podemos contar com o Mário Patrão, no próximo Dakar? Talvez! Poderei contar com o apoio Motul? Estou sempre dependente dos meus patrocinadores.
Nasser Al-Attiyah / Matthieu Baumel / Toyota GR DKR Hilux + Giniel De Villiers / Dennis Murphy / Toyota GR DKR Hilux + Yazeed Al Rajhi / Michael Orr / Toyota Hilux Overdrive + Jakub Przygonsky / Timo Gottschalj / Mini John Cooper + Matthieu Serradori / Lios Minaudier / STR Century CR6.
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Etapa 6. Riade > Riade Ligação: 216 km . Especial: 404 km
Apesar de tudo Sanders e Terranova ficam bem na fotografia Foi um dia atípico para muitos dos jornalistas que estão a cobrir com todo o entusiasmo a 44ª edição do Dakar. O ultimo dia de corrida antes do dia de descanso, deu origem a um jogo de cadeiras entre os loops da FIA e da FIM. Os carros e as motos partiram à mesma hora, 07h 45m, nas suas respetivas pistas. Ou seja, os carros fizeram a pista das motos do dia anterior e vice-versa. Confesso, que achei pouco imaginativo e até pouco interessante do ponto de vista técnico. Ambas as categorias partiram à mesma hora. E, se os carros estão habituados ao tatoo das duas rodas na pista, já os motards enfrentaram uma pista excessivamente bem marcada mas completamente escavacada pela passagem agressiva do dia anterior de, pelo menos, 81 automóveis e 56 camiões. Para ajudar à festa, o mau tempo inviabilizou a passagem por alguns troços que fez com que a organização parasse a corrida das motos, logo na primeira neutralização, ao km 101.
Se os carros encontravam no chão os rastos das duas rodas que lhes são familiares, para os motard acostumados a enfrentar a pista limpa ou apenas marcada pelos seus congéneres, tiveram que enfrentar um desafio inusitado. Não se justificava. Os traços acentuados dos automóveis do dia anterior e o mau tempo tornaram o percurso intransitável, obrigando a direção da corrida a parar os motociclistas. Esta ideia “brilhante” da organização, que optou nitidamente pelo facilitismo, fez com que os motards tivessem direito apenas a um quarto do programa. Para muitos foi uma desilusão que queriam uma etapa mais longa para recuperar posições, para outros, foi uma dádiva de Deus, é o caso de Joan Barreda que saiu esta manhã amassado
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A 6ª etapa foi ganha, em ritmo de tango pelo argentino, pelo argentino Orlando Terranova (Hunter Prodrive)
com dores, após a queda do dia anterior. Nos carros, a especial de 348 km a leste da capital saudita correu normalmente ao ritmo do tango argentino. Apesar de tudo, Daniel Sanders, o jovem
australiano da KTM, e a conhecida dupla argentina Orlando Terranova / Daniel Oliveiras Carreras aos comandos do progressivo Hunter, ficaram bem na fotografia, como vencedores do dia. Na geral, Nasser Al Attiyah (Toyota) ainda
foi a tempo de aumentar a vantagem, tem agora 48’ 54’’ sobre Yazeed Al Rajhi (Toyota), está muito confortável e gere bem a sua vantagem. Sebastien Loeb (Hunter) cai para 3ª da geral.
O sueco Matthias Ekstrom (Audi SR Q e-tron) que está a dar nas vistas, com excelentes prestações, a ultrapassar a Ford Raptor RS Cross Country do checo Martin Prokop
Nasser Al Attiyah cumpre os serviços mínimos Al Attiyah cumpriu a etapa em modo de serviços mínimos e cortou a linha de chegada em 10º, para completar a primeira semana de rali, com uma vantagem confortável. Além disso, foi informado que Sebastien Loeb tinha caído para 3º por um erro de navegação com graves consequências para o piloto francês o que beneficiou Yazeed Al Rajhi, agora, o seu perseguidor mais direto, mas a 50 minutos de distância. O dia foi assinalado pela vitória de orlando Terranova, cujo BRX Hunter todo vermelhinho refletiu as consequências
positivas dos novos regulamentos. Orlando, redescobre assim, o sabor da vitória que já não sentia desde o Dakar 2015, na Argentina. Recorde-se que os novos carros T1+ funcionam com pneus maiores, com maior curso de suspensão e uma banda mais larga. Pneus de 37" em jantes de 17", substituem os atuais pneus de 32" em jantes de 16", com o curso da suspensão aumentado de 280mm para 350mm, e a largura da carroçaria
aumentada de 2m para 2,3m, de modo a acomodar as rodas maiores. Estas alterações implicaram uma reformulação radical do Hunter e a Prodrive utilizou-o como uma oportunidade para fazer mais melhorias, incluindo um para-brisas maior para uma melhor visibilidade e um refinamento de vários sistemas em todo o carro.
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Este não é o Dakar de Peterhansel Stéphane Peterhansel, o francês de ascendência polaca, o “Monsieur Dakar”, ex-campeão do mundo de skate, aquele que é o piloto mais vitorioso da história do rally-raid Dakar com 14 vitórias (6 de moto), o melhor piloto de todo-o-terreno do mundo. (O leitor que me perdoe a afirmação, mas sou fã do “Peter”, conheço-o há muitos anos, já tive o privilégio de andar algumas vezes ao seu lado e, para mim, o “Peter” é o maior) Infelizmente, está completamente arredado do seu lugar habitual: a luta pela vitória. O AUDI RS Q e-tron tem apresentado problemas, praticamente, em todas as etapas. Na 4ª etapa, perdeu 7 horas
com problemas no eixo traseiro e ficou fora da corrida, o que levou o Team Audi Sport acionar o Joker (16 horas de penalização) para o piloto continuar em prova. Na 5ª Etapa, perdeu 3 horas com problemas semelhantes. O mesmo acontecendo ao seu colega de equipa Carlos Sainz. É a primeira vez que o Audi RS e-tron pisa terrenos do “Dakar” e ainda há
muito a fazer, para resolver as dores de crescimento. Neste, momento, Stéphane Peterhansel e o seu companheiro Edouard Boulanger ocupam a 61ª, a 67 horas ( 46 horas de penalização) do líder Nasser Al-Attiyah, quem diria... Acredito que na próxima edição os Audi estarão bem mais fiáveis e competitivos.
Etapa 6. Riade > Riade Ligação: 216 km . Especial: 404 km
Luís Portela Morais / David Megre (CAN-AM)
61 Classificação dos pilotos portugueses após a primeira semana de corrida AUTOS 79 carros em prova 11º 37º
Paulo Fiúza navegador de Vaidolas Zala em Mini John Cooper Miguel Barbosa / Pedro Velosa / Toyota Overdrive
MOTOS 137 pilotos em prova 18º 25º 32º 54º 72º 81º 102º 105º
Joaquim Rodrigues (Hero) António Faro (Yamaha) Rui Gonçalves (Sherco) Mário Patrão (KTM) Alexandre Azinhais (KTM) Arcélio Couto (Honda) Pedro Bianchi Prata Paulo Oliveira (KTM). Piloto moçambicano.
Original by Motul 31 pilotos em prova 6º
Mário Patrão (KTM)
Proto-Ligeiro 43 veículos em prova 11º
Mário Franco / Rui Franco / Yamaha
SSV 47 veículos em prova 9º 21º
Luís Portela Morais / David Megre (CAN-AM) Rui Oliveira / Fausto Mota / CAN-AM)
Camiões 56 veículos em prova 32º
JOSÉ MARTINS / Didier Belivier /Jeremie Gimbre / Iveco
Clássicos 138 veículos em prova 111º
João Antonio de Almeida e Sousa / Luis Manuel Costa Santos / Ssangyong Musso
Atmosfera do dia de descanso
O deserto tem memória
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Etapa 7. Riade > Al Dawadimi Ligação: 299 km. Especial: 402 Km
A memória do deserto A aparência congelada, por vezes fantasmagórica e aparentemente sem vida do deserto pode evocar paisagens imutáveis, sem história, cristalizadas no tempo. Um profundo e inóspito vazio. Mas, não é assim. As inúmeras gravuras rupestres estilizadas representando animais na savana, os milhares de utensílios pré-históricos encontrados em múltiplos lugares desérticos atestam irrevogavelmente a existência, não há muitos anos atrás, de ambientes verdes, ricos em vida e regiões geográficas com climas muito diferentes dos de hoje. As regiões áridas de hoje têm sido palco de intensas convulsões ambientais que ocorreram e ocorrem na Terra ao longo das última dezenas de milhares de anos. Os desertos que de facto desapareceram há alguns milhares de anos, recuperam imensos espaços em muito pouco tempo, às vezes em algumas centenas de anos. A dimensão deste fenómeno só pode ser comparado com o que
aconteceu no final do último período glacial em regiões situadas nas latitudes médias, quando os grandes maciços gelados desapareceram. Ao contrário das regiões afetadas pelo período da glaciação, as regiões desérticas eram muito povoadas e, portanto, foi nessa época que surgiu o estilo de vida pastoral e a agricultura. Depois de um dia de descanso seguiram-se, na minha opinião, as duas etapas mais duras do rali. Primeiro, porque somavam cerca de 800 km de especial, segundo, porque acumulavam 743 km de ligações longas que retiram a concentração aos pilotos e aumentam o stress.
EM CIMA Lucio Alvarez (Arg), Armand Monleon (Esp), Toyota Hilux Overdrive, 4º da Geral >
EM BAIXO DIREITA Cristina Gutierrez Herrero /François Cazalet/ OT3, 2º Lugar na etapa.
>
EM BAIXO ESQUERDA Van Der Valk/Branco de Lange (BRP).
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Nos camiões, nada de novo, nada de ciúmes, a equipa Kamaz está coesa, e ganha as etapas à vez. Imagino, nas noites frias do deserto, os pilotos russos à volta da fogueira entre dois shots de vodka a combinar quem é que
ganha a etapa do dia seguinte. Anton Shibalov ainda não havia vencido uma etapa este ano, está feito. Dmitry Sotnikov lidera a procissão.
Uma jornada começa quando se acorda e acaba quando se adormece. É uma máxima frequentemente repetida pelo concorrentes e não só. O australiano Daniel Sanders (KTM), vencedor da especial da 6ª Etapa, caiu ao km 7, ainda no troço de ligação e já não seguiu para a linha de partida onde devia iniciar a especial cronometrada de 402 km. A especial convergiu na direção de Al Dawadimi, o centro geográfico do reino, localizado a 300 km do acampamento do dia de descanso, onde se encontra um dos palácios mais antigos do país. Um área inédita da província de Riade que acolheu as hostilidades do dia, primeiro, em areia que compunha um bom terço da especial enquanto contornava num efeito laço a província
de Al-Qassim, antes de seguir para sul, na direção do acampamento. Foi uma etapa com mais de 700 km que marcou o inicio da segunda parte da 44ª Edição do Dakar. O descanso fez bem ao chileno Ignacio Cornejo (Honda) que voltou à tona graças ao seu talento como navegador para assinar a 3ª vitória Honda deste Dakar e a 4ª vitória pessoal no evento. No entanto, os poucos minutos ganhos não permitem que volte aos trilhos de uma eventual vitória que vislumbrou o ano passado, especialmente, porque as hostilidades estão de longe de acabar entre os protagonistas que o procedem. Foi o caso do francês Adrien Van Beveren (Yamaha) que recuperou a liderança
71 da geral, quatro anos depois de uma permanência no topo que terminou com uma queda na 10ª Etapa. Desde então, não vê outra coisa senão ganhar o Dakar. É uma obsessão confessa e vai ter que enfrentar as cinco etapas que o separam de uma eventual vitória com uma vantagem de 5m 12s sobre o discreto mas, a todos níveis, formidável Matthias Walkner (KTM), enquanto os sete motards seguintes na classificação estão a menos de 10m. Entre eles, Kevin Benavides (KTM) que regressa ao pódio (3º) graças ao segundo melhor tempo do dia, enquanto Lorenzo Santolino resiste na sua Sherco no meio dos grandes favoritos, com grande personalidade a fechar o TOP 5.
Nos automóveis a história parece já contada. O desfecho adivinha-se. Nasser Al-Attiyah está a jogar pelo seguro, controla a corrida, controla os mais diretos adversários, aproveita para usufruir da paisagem, não se espera nenhum erro de navegação de Baumel, o carro está fiável e no bivouac já poucos acreditam num volte-face. Sébastien Loeb, talvez acredite mas, parece estar destinado ao jogo do rato e do gato com Yazeed Al Rajhi. Com efeito, o francês venceu a etapa, ultrapassou o saudita na geral, mas a distância de 44m 59s que o separa de AL Attiyah, numa prova como o Dakar, pode não ser significativa mas não deixa de ser considerável.
Nos quads, o novo líder é Alexandre Giroud (Yamaha) que não se preocupou nada com a vitória do brasileiro Marcelo Medeiros (Yamaha) vencedor da etapa de hoje, na geral, em 11º lugar as muitas horas do líder.
Nos Proto-ligeiros (T3) Seth Quintero tremeu após alguns erros de navegação que quase caiam como uma dádiva para a sua companheira de equipa, Cristina Gutierrez, a espanhola que em 2021 foi a única mulher a vencer uma etapa do rali Dakar depois de Jutta Kleinschmidt, em
Bernhard Ten Brink/ Sébastien Delaunay / Toyota 25º na geral na 7ª Etapa.
Greg Stuart (KTM) Original by Motul.
2005. O americano acabou por vencer a etapa ( 7ª da sua senda do Dakar) com 2m de vantagem sobre a ortodontista de Burgos. “Chaleco” Lopez (CAN-AM) continua a sua marcha na liderança com um certo à vontade, 1h 20m de vantagem sobre o seu colega da South Racing, o sueco Sebastian Eriksson. Por outro lado, a classificação dos SSV assistiu a uma reviravolta no topo. Rodrigo Luppi de Oliveira cai na classificação após um problema mecânico. O brasileiro obstinado teve que ceder o cadeirão da liderança a Austin Jones,
O polaco Jakub Przygonsky e o alemão Timo Gottschalk aos comandos do Mini John Cooper Buggy, 6º da geral.
Etapa 8. Al Dawadimi > Wadi Ad Dawasir Ligação: 435km. Especial: 395 km
Os elementos simbólicos do Dakar:
distância, dunas e navegação A etapa de hoje é, sem dúvida nenhuma, uma das mais bonitas do Dakar da Arábia Saudita. Os 830 Km que constam do cardápio “empurram” a caravana para sul. Estamos no coração do reino, em plena província de Riade, onde a especial de 395 Km foi um quebracabeças em forma de dunas. Um cenário de dunas fantástico, aliás, a maior proporção desde o inicio do rali, fazendo lembrar com natural nostalgia os bons tempos que passei nas grande dunas da Mauritânia, Líbia e Ténéré. Todos os elementos simbólicos do Dakar estão presentes: distância, dunas e navegação. A especial, começou pelas areias do deserto do Nafud e pelas copiosas dunas do Surrah, um quebra-cabeças
arenoso que complicou a vida de muito boa gente que passou horas a “jardinar” (leia-se: desatascar). Matthias Ekström, o piloto sueco de 42 anos que fez toda a sua carreira ligada à Audi, participa pela segunda vez no Dakar, o ano passado tinha sido como motard (Yamaha) e, nesta edição, tem dado muito bem conta de si. Entrou cauteloso mas com firmeza neste emaranhado de dunas. Peterhansel, navegava nas suas águas preferidas, com a destreza que lhe é conhecida. À medida que se alcançavam os pontos de controlo a supremacia do piloto francês era evidente. O carro estava bem e quando isso acontece
Peterhansel faz o resto. Da mesma maneira, Carlos Sainz, sem nunca se chegar à frente, “mordia” os calcanhares dos colegas de equipa. A Audi estava em alta e os astros pareciam estar alinhados para uma grande vitória do construtor alemão. Além disso, ao líder da geral, Nasser Al Attiyah não interessava nada entrar nesta “guerra” e assistia, confortavelmente de cadeirão do habitáculo do seu Toyota. Entretanto, Peterhansel sofria um percalço ao colidir com uma duna arrancando o capô do seu RS Q e-tron, obrigando a uma paragem de pouco minutos para avaliar os estragos, acabando por perder a liderança da etapa. Foi a oportunidade de Matthias
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Matthias Ekstrom / Emil Bergkvist, Audi RS Q e-tron, vencedores da etapa e 9º da geral.
Ekström agarrar a liderança da mesma que coincidiu com a mudança radical de cenário: rochas e desfiladeiros, monumentais erguidos naturalmente pela mãe-natureza. Uma vez em terrenos duros o piloto sueco sentiu-se à vontade no labirinto mineral, resistindo por 49 segundos ao ataque de Peterhansel que acabou por fazer uma recuperação excecional. Carlos Sainz, distraiu-se e deixou-se ultrapassar por dois segundos, por Sebastien Loeb, caindo para 4ª lugar. Loeb é sem dúvida o piloto mais inconformado deste rali. Em 2ª da geral a 32 m do líder, não é dos que desiste e ainda acredita. E tem razões para isso! Nasser Al Attiyah sofreu um grande susto ao
partir a transmissão traseira, nos últimos quilómetros do percurso e cumprir o resto da etapa só com a tração dianteira. O Sheikh do Qatar recebeu o aviso e deve ter pensado que, na próxima edição, os Audi prometem complicarlhe a vida. O mesmo tipo de medo pode assustar “Chaleco” Lopez (Proto-ligeiros) que tem 1h 20 de vantagem à frente de Sebastien Eriksson mas assiste às investidas sem vacilar de Seth Quintero, nas especiais. Por outro lado, nada está resolvido na categoria SSV, onde Austin Jones domina mas está apenas a 6m 38s à frente dos seu companheiro de equipa Gerard Farres.
Al Attiyah, tranquilamente, a caminho da vitória final.
Cyril Despres, vencedor do Dakar, em duas rodas, por cinco vezes, acompanhado pela navegadora germânica, Tarry Perry, aos comandos do Peugeot 3008, em 19º da geral.
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Sam Sunderland (KTM). O vencedor do Dakar 2017 entrou em modo reconquista, fez o melhor tempo do dia e está de volta ao topo da hierarquia.
Alta tensão Se nos automóveis a vitória de Nasser Al Attiyah é previsível, nas motos “a casa está arder”. O francês Adrien Van Beveren só passou uma noite com a liderança da geral na almofada. A culpa foi do cunhado, o britanico Sam Sunderland (KTM). O vencedor do Dakar 2017 entrou em modo reconquista, fez o
melhor tempo do dia e está de volta ao topo da hierarquia, enquanto o francês da Yamaha era penalizado pela avaria do seu dispensador automático de roadbook. Adrien Van Beveren também viu o austríaco Matthias Walkner passar-lhe à frente. Na terceira posição a 4m 43s de Sunderland, Adrien Van Beveren,
ainda pode sonhar alto, mas não se pode distrair em relação ao grupo de perseguidores, onde os pilotos da Honda são os mais ameaçadores, em particular, Pablo Quintanilla que está apenas a 47s, atrás dele.
“Estou muito orgulhoso da nossa parceria” A história de Matthieu Serradori no Dakar, é uma história de paixão. O piloto francês apoiado pela MOTUL, cumpriu o seu primeiro Dakar, na América Latina, em 2009. Uma conquista com sabor muito especial, habituado assistir às transmissões televisivas do Dakar, ao lado do avô. Muito mais tarde, já na pista, aprendeu o que é o auto sacrifício e a coragem necessários para aguentar, como quando teve que rolar uma semana com uma lesão no ombro, durante a sua estreia, nas duas rodas. Matthieu ganhou então acesso a outra dimensão ao mudar para as quatro rodas, com o buggy CR6 da Century Racing da África do Sul. Na 8ª etapa da sua segunda participação conseguiu dominar Sainz, Peterhansel e Al Attiyah vencendo a especial onde a sua finesse de navegação abriu caminho
para o sucesso. O empresário do setor elétrico tornou-se, então, no primeiro piloto amador – à séria - a vencer uma etapa do Dakar, desde Guy Deladrière, em 1988. Após a contratação do seu habitual copiloto Fabian Lurquin por Sebastien Loeb, Serradori conta à sua direita com o ex-motard Loïc Minadeur, com quem já tinha estabelecido uma cumplicidade no rali do Cazaquistão, de onde a dupla francesa saiu vitoriosa. Em 2021, a sua prestação foi frustrada por aventuras típicas do Dakar, apesar de uma saída ao ataque e muito animadora, a passagem de uma noite inteira nas dunas comprometeu todas as aspirações.
“Talvez não estivéssemos prontos, tão cedo, para discutir os lugares do cimo da tabela. Colocamos muita pressão em nós mesmos, mas foi recompensador. O nosso objetivo continua a ser o TOP 5, mas a mentalidade é diferente. A nossa estratégia é diferente, temos sido menos agressivos nas primeiras etapas. É um longo trabalho para uma equipa privada, mas fazemos as coisas com seriedade e isso dá-nos muita confiança. Tenho dois braços, duas pernas, uma grande equipa e um grande carro, podemos lutar na frente”. Como é que surgiu a parceria com a Motul? A Motul é uma marca com pessoas apaixonadas pelo Dakar. Na classe ORIGINAL BY MOTUL, conheci a marca e o apoio de uma equipa de pessoas
apaixonadas pelo que fazem e ajudam os pilotos particulares, como nós, de todas as maneiras possíveis. Estou muito orgulhoso com a nossa parceria. A Motul é patrocinadora oficial do Dakar mas não patrocinou nenhuma equipa de fabrica. Antes de fechamos esta parceria, já adorava a sua assistência técnica e conhecimento aprofundado. Tem sido fabuloso. A Motul está ligada às melhores corridas e marcas mundiais e temos muito, mas mesmo muito orgulho ser uma dessas equipas. Quais são os benefícios técnicos fruto da parceria com a Motul? Os produtos da Motul são 200% adequados para uso extremo num rali. O facto de os produtos estarem a ser usados pelos melhores pilotos
e equipas do mundo é muito reconfortante. O Dakar é a prova mais dura do planeta, não só para os pilotos física e psicologicamente, mas também técnica e mecanicamente. A caixa de velocidades, o motor, os circuitos de refrigeração, os amortecedores e outros elementos sofrem muito com os saltos, buracos, areia, poeira e temperaturas extremamente altas do deserto. Usufruímos da constante análise técnica do Motul Racing Lab e dos engenheiros da Motul para evitar possíveis falhas e detetar qualquer problema. É muito útil em temos de desempenho e fiabilidade. O que é que esconde este buggy por debaixo do capô? O nosso buggy STR é construído na África do Sul pela Century Racing. Trata-se de um buggy com tração às duas rodas com um potente motor Chevrolet V8 LS, caixa e transmissão SADEV e uma Centralina by Motec - a referencia no mundo do ralis. Também temos um sistema de pressão de pneus, especialmente desenvolvido para o nosso carro, onde a partir do painel podemos controlar a pressão de cada pneu, individualmente. Em geral, o nosso buggy é muito confiável e poderoso. Em que consistiu a tua preparação? Boa pergunta. A maioria das pessoas
pensa imediatamente na preparação física, o que é extremamente importante, mas o lado mental não pode ser esquecido se estás com expectativas numa boa classificação. No que diz respeito ao físico, treino todo o ano. Faço triatlo, corro, nado, ando de bicicleta todo o ano e tenho um fisioterapeuta que me ajuda com programas de treino específicos para as minhas costas absorverem os choques. Para além disso, participo muito em corridas de Enduro. Mas, também treino a parte mental: reflexos e treino cerebral...navegação e estratégia. Se queres superar os melhores pilotos numa corrida tão longa e física, nunca estás suficientemente preparado (Sorriso). A tua prestação está a ir ao encontro das tuas expectativas? Queremos que as cores da Motul brilhem neste Dakar. Não somos uma equipa oficial de marca, mas mesmo assim temos ambições e podemos dizer que estamos a corresponder às nossas expectativas. Podíamos estar melhores? Podíamos, mas também estamos muito melhores que certos pilotos de marcas oficias. O Dakar é mesmo assim e estamos confiantes e muito agradecidos a toda a equipa que nos rodeia e aos nossos parceiros da Motul.
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Etapa 9. Wadi Ad Dawasir > Wadi Ad Dawasir Ligação:204 km . Especial: 287 km
Toyota inv o pódio "A magnificência dos desfiladeiros de Wajid foram o cenário desta etapa em laço."
A magnificência dos desfiladeiros de Wajid foram o cenário desta etapa em laço. Até parece que foi idealizada para desanuviar a pressão dos últimos dois dias. Com menos de 300km levou a caravana às voltas pela província de Aseer ao longo dos trilhos que atravessam os misteriosos desfiladeiros do Wajid, de quem todos falam como muito respeito como se tratasse de um lugar divino, materializado na Terra.
Via nos camaradas sauditas que nos acompanhavam um olhar vigilante, como se esperassem por alguma coisa que não sabiam o que era, mas que podia aparecer.
encerra em si uma áurea misteriosa e intimidadora. O deserto tem memória. Será essas memórias que preocupam ou intimidam os nossos camaradas de Jeddah?
Talvez uma forma de introspeção pessoal ou uma convicção de pretensa fé por um local gigante, vazio, aparentemente desprovido de vida, silencioso, inóspito mas que
Fernando Pessoa escreveu no Livro do Desassossego “São horas talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. Vejo-me no meio de um deserto imenso...”
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vade O sul-africano Giniel De Villiers (Toyota) é um daqueles pilotos capaz do melhor e do pior. Nesta etapa foi o melhor.
Pessoalmente, nunca olhei para o deserto como um sitio de introspeção, mítico ou divino. A mim é o espaço em si que me seduz. É o silêncio que se ouve, é o carácter do terreno, é observar uma espécie de cartacho do deserto que procura não sei o quê, é um feneco curioso, os reflexos irisados e cambiantes das grandes dunas, são as pedras morenas da calidez, é o deserto com corpo físico, existente e
não complacente, dos quais distingo no meu altar de adoração suprema, a trindade: o Chinguetti na Mauritânia, o Ténéré algures entre o Niger e o Chade e o Akakus na Líbia. Os desertos da minha vida. Depois desta livre consideração sobre uma das crostas do planeta que mais me seduzem: o deserto, hostil, absolutamente seco, exposto a ventos
violentos e que é a representação máxima da resiliência da vida diante de condições extremas e onde, cada vez mais, a raça humana, a fauna e a flora destes extraordinários ambientes desérticos demonstram uma excecional capacidade de adaptação, no fundo, a essência do Dakar.
Sebastien Souday regista o regaste do seu quad Yamaha Raptor e o fim da sua participação no Dakar
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Equipa dos países baixos capitaneada por Mitchel Van Den Brink (Iveco), 13º da geral.
Este Dakar não havia visto um pódio monocromático (com exceção da hegemonia enervante dos Kamaz). A Audi esteve quase a consegui-lo na etapa anterior. Por dois segundos se perde, por dois segundos se ganha. Sebastien Loeb foi cruel e “roubou“ essa possibilidade, que era ouro sobre azul para a Audi e para a estreia do seu SR Q e-tron. Mas quis o destino, ou melhor, quis Sebastien Loeb que isso não acontecesse. O francês limpou 2 segundos a Carlos Sainz e relegou o madrileno para quarto lugar. Não foi ontem, seria hoje. O feito seria alcançado pela Toyota exibindo a concentração de vencedores e a diversidade de talentos em prol da equipa, como um todo. Nasser Al Attiyah, tricampeão do Dakar com 44 vitória em etapas, dispensa
"Por dois segundos se perde, por dois segundos se ganha."
apresentações. O Boss do Qatar fez a corrida sem qualquer amargura por ver o sul-africano à sua frente e muito menos Giniel De Villiers, seu antigo comparsa nos primórdios, quando os dois pilotos começaram no Dakar, entre 2002 e 2003. Desde então, Giniel venceu a primeira edição sul-americana em 2009, mas acima de tudo, tem uma presença em 18 edições sem qualquer abandono. No entanto, tudo começou mal para De Villiers, primeiro, porque se viu à beira de ficar em casa por causa do Covid 19, depois, ficou dois dias sob
influência de uma penalidade de 5 horas por atropelamento a um motard logo na primeira etapa... que mais tarde lhe foi retirada, após uma investigação completa. Mas o “metrónomo” nunca perde a calma, conseguiu manter o foco e vencer hoje a sua 18ª especial da sua carreira no Dakar. Subiu para 5º da geral e até pode estar de olho no 4º ocupado por Orlando Terranova. De Villiers está prestes a conseguir um feito inédito: está quase a completar pela 18ª vez, um lugar no TOP 10. Quem é que se pode gabar disso? Ninguém!
Etapa 9. Wadi Ad Dawasir > Wadi Ad Dawasir Ligação:204 km . Especial: 287 km
Matthias Walkner (KTM) o novo líder da geral à 9ª Etapa.
87 Classificação da etapa AUTO 1º 2º 3º
Giniel De Villiers/ Dennis Murphy/Toyota 02h 23’ 08’’ Henk Lategan/Brett Cummings/Toyota a 09s Nasser Al-Attiyah/Matthieu Al-Attiyah/Toyota a 01m 04s Na geral, Nasser Al-Attiyah ganhou tempo sobre os seus mais diretos adversários. Está agora a 39’ 05 de Sebastien Loeb (Hunter) que é segundo e a 58’ 44’’ de Yazeed Al Rajhi (Toyota) que fecha o pódio.
Classificação da etapa MOTOS 1º 2º 3º
1º José Ignacio Cornejo (Honda) 02h 29m 30s 2º Kevin Benavides (KTM) a 01m 26’s 3º Ricky Brabec (Honda) a 01m 47s Na geral, o austríaco Matthias Walkner (KTM) destronou Sam Sunderland (KTM) da liderança que agora está a 02’ 12’’ do líder. Entre o primeiro classificado e o que fecha o TOP 10, há uma diferença de 35’ 54”. Joan Barreda que encetou uma recuperação a todos os níveis categórica está, agora, na 6ª posição a 10’ 57’’ do líder. Quererá dizer alguma coisa?
Henk Lategan/ Brett Cummings / Toyota, 2º classificado a 9 s do vencedor.
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Etapa 10. Wadi Ad Dawasir > Bisha Ligação: 384 Km. Especial 375km
Stéphane Peterhansel (Audi) deixou a sua marca.
91 Atmosfera elétrica nas duas rodas A caravana deixou Wadi Ad Dawasir, rumo ao sul, atravessando a província de Najran para chegar ao início da especial com 375km que serpenteia entre os planaltos de Wajid e Hijaz, onde se encontram os exemplos mais antigos de arte rupestre, datados do Período Neolítico, na Arábia Saudita. Um terreno muito rápido composto de quase 70% de areia, com muito fesh-fesh (bolsas de areia muito fina que provocam efeito movediço). Ao mesmo tempo, com zonas de muita pedra e pouca visibilidade devido ao pó suspenso no ar. Permitamme fazer um aparte. Esta etapa, é daquelas que de um momento para o outro, podem mudar muita coisa. Em termos de navegação não apresenta grande dificuldade mas em termos de desgaste de material electrónico e mecânico pode ser muito duro (Ver o que aconteceu a Kevin Benavides). A experiencia diz-me que a passagem por fesh-fesh pode criar muitos
problemas às mecânicas e sobretudos às electrónicas. É sabido que as electrónicas estão bem blindadas e já não são como há uma década, mas também é sabido que o pó do fesh-fesh tem a capacidade de se infiltrar nos sítios mais improváveis. Além disso, está muito calor o que exige mais dos órgãos dos veículos, sobretudo, porque em pisos rápidos a tendência é puxar mais pela máquina, sem esquecer, claro, que já levam mais de 6500 km de prova. A atmosfera elétrica não é só no Audi de Peterhansel. O TOP10 da categoria da motos está eletrizante, à beira de um ataque de nervos e a vitória final está longe de ser resolvida. Os melhores motards de todo-o-terreno do mundo estão a proporcionar um grande espetáculo!
A vitória de Toby Price (KTM) redistribuiu copiosamente as cartas, que é como quem diz: pôs mais uma acha na fogueira. Adrien Van Beveren (Yamaha) teve o mérito de reconquistar o primeiro lugar da classificação geral, mas essa honra pode ser um presente envenenado. Porque os seus rivais diretos Pablo Quintanilla e Sam Sunderland estão, respetivamente, a 5m15s e 5m 59s dele e terão o beneficio de uma posição inicial de perseguidores. Neste momento há muita estratégia. Nesta etapa bastante arenosa, a posição de olheiro que o piloto da Yamaha podia ter, não existe e a sua saída na 3ª posição, é um handicap que o francês terá que enfrentar de uma única maneira: obrigado a atacar para resistir aos seus perseguidores, cujos interesses são mais comuns para os pilotos da Honda, KTM e Husqvarna que correm todos sob a direção desportiva de Jordi Viladoms. No Paddock da Toyota e BRX que guardam os carros de Nasser Al Attiyah e Sebastien Loeb, não levantamos muitas questões, por razões óbvias. Reina a tranquilidade e já se começa a habituar ao sabor da vitória e à resignação da segunda posição, que não deixa de ser uma vitória para a BRX Hunter. Os primeiros da geral estão separados por quase 33 minutos e o francês só conseguiu recuperar 1m 25s, nesta etapa. A este ritmo o Dakar teria que ser estendido até fevereiro para que Loeb pudesse desalojar Al Attiyah. À parte do duelo da frente, os Audi RS Q e-tron dão o ar da sua graça, mas estão fora de qualquer decisão. Depois do “sucesso” (leia-se: conquista de uma etapa) de Carlos Sainz e Matthias Ekstrom, agora foi a vez de Peterhansel vencer a sua 82ª da sua carreia no Dakar, mas a 1ª com um 4x4 de motor híbrido. Nos quads, depois do contratempos de Pablo Copetti que partiu o motor do seu quadriciclo assim como Kevin
93
Benevides o da sua KTM, Alexandre Giroud, tem um folga de 2h36m para levantar o titulo. O contexto, nos Proto-ligeiros T3 é semelhante. “Chaleco” Lopez (CAN-AM) continua a fazer a sua vidinha, sem forçar,
EM CIMA DIREITA Mário Patrão "afina" o road-book.
EM CIMA ESQUERDA O impulsivo mas já lendário do Dakar, o argentino Orlando Terranova está a fazer um belíssima prova e mantém 4º da geral
EM BAIXO ESQUERDA Nas motos, a luta está ao rubro. O francês Adrien Van Beveren (Yamaha), regressa ao topo da classificação geral.
com uma hora de vantagem sobre o seu colega Sebastian Eriksson e pouco se importa de ver o jovem americano Seth Quintero a assinar a sua 10ª vitória da categoria. Um pouco mais velho, com 22 anos, o rookie lituano Rokas Baciuska (CANAM) venceu a sua primeira especial SSV. Austin Jones (CAN-AM) que ainda não venceu nenhuma etapa, lidera a geral com 11m 54s sobre o espanhol Gerard Farres Guell. Nos camiões, o azul da Kamaz é a cor oficial do pódio. O líder Dmitry Sotnikov não dá hipótese e rubrica a sua 4ª vitória da edição, consolidando a vantagem na classificação geral com 10m 18s sobre o camarada Eduard Nikolaev.
O golpe duro do dia O azar persegue Kevin Benavides. O fadário já começou há muito tempo, pois após a sua revelação em 2016 (4º) seguiu-se uma série de frustrações de ver a vitória escapar nos últimos dias do rali, até finalmente alcançar a merecida consagração no Dakar de 2021.Este ano, a defesa do titulo começou mal com a perda de 36 minutos no final da primeira etapa, mas o argentino “raçudo” mostrou determinação e talento para empreender a recuperação. No início da especial de hoje, chegou a ocupar
o 5º da geral e os 10 minutos que o separavam de Matthias Walkner, então líder da classificação geral, deram-lhe todas a esperanças. Mas no Km 133, o azar bateu-lhe à porta: o motor da sua KTM tinha definitivamente desistido de lutar. Completamente desiludido, com as lágrimas nos olhos, o argentino de Salta, comunicou nas redes sociais o acontecido. O veredicto final, não deixa duvidas: O motor e a moral do piloto têm que ser refeitos.
95 Flirtar com o limite Sebastien Loeb assumiu a largada da especial, fazendo 6 passagens de velocidade no seu BRX Hunter antes de ir a fundo durante 35 km. Uma distância que a dupla francesa percorreu em 13’43’’, a uma velocidade média de 158 km/h, em jeito de aquecimento matinal. O registo de dados fornecidos pela equipa técnica da Prodrive indica que o piloto francês levantou o pé, apenas em 4 micro-ocasiões durante esse período. “O Hunter está em muito boas mãos”, referiu David Richards, Diretor da Equipa
BRX, com sorriso de orelha-a-orelha. Recorde-se que o Hunter está limitado eletronicamente a 168 km /h para não correr o risco de ultrapassar o limite regulamentar de 170 km/h. Por exemplo, numa inclinação descendente poderia “empurrar” o Hunter para lá do limite. Caso isso acontecesse, o piloto é penalizado em 10m por cada vez que transgride. Isto é o que se chama flirtar com o limite.
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A concorrência no Original by Motul está cada vez mais forte” Ao longo dos anos, Emanuel Gyenes tornou-se um dos melhores pilotos privados da categoria motos, ao ponto de receber o titulo de “Lenda” do Dakar. O especialista romeno de Enduro, que surgiu no Dakar pela primeira vez em 2007, no continente africano, teve sortes muito diferentes. De um 46º lugar na sua estreia, conquistou a 14ª posição em 2016 e conquistou a classe Maratona por duas vezes. Foi obrigado a desistir duas vezes, a ultima em solo sul-americano que marcava um ponto de viragem na sua carreira quando o romeno de Satu Maru se inscreveu
pela primeira vez na classe Original by Motul, para pilotos sem assistência. Um revés do qual recuperou em 2020 ao vencer a categoria, na primeira edição do Dakar da Arábia Saudita. Apesar de um lesão prolongada, regressou em 2021, na qual discutiu a vitória até ao fim, terminando em segundo lugar atrás do estreante Arunas Gelazninkas. “Em 2021 não ganhei a categoria Original by Motul, mas estive perto e conseguir a 23ª na geral, sem assistência foi muito recompensador. Este ano estive livre de lesões,
completei o 18º Red Bull Romaniacs, no qual sou o único piloto a participar em todas as edições, e também ganhei o campeonato húngaro de enduro. Acho que estou em forma (sorriso). Mas a concorrência no Original by Motul está cada vez mais forte. Temos o Arunas, o Milan Engel da República checa, o Mário Patrão de Portugal, o Charan Moore e outros. Um excelente lote de pilotos muito competitivos. Esta categoria atrai os pilotos que querem experimentar a verdadeira essência do Dakar. E este espírito seduz-me".
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Etapa 11. Bisha > Bisha Ligação 155 km . Especial 346 km
O DIA DE TODAS AS DECISÕES A penúltima especial do Dakar recebeu elogios de Carlos Sainz que ali plantou a sua segunda vitória, numa etapa com muita erva-camelo, dunas e mais dunas, pedra e mais pedra, e um leito de rio seco desde os tempos bíblicos.
Um loop Bisha-Bisha que fazia um laço completo pelo norte para entrar na província de Meca antes de regressar a Asir, no extremo sudoeste do reino. Adrien Van Beveren (Yamaha) pressentiu a armadilha. Na etapa anterior, tinha sido condenado a ser uma cria cercada por
uma alcateia de hienas. E talvez por isso, saiu para a etapa decisiva com défice psicológico. Perdeu uma mão cheia de minutos de hesitação num waypoint, depois de mais de alguns quilómetros percorridos fora da direção certa, o que o pôs numa situação fora de controlo.
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TODAS Os estrategas tiveram o cuidado de calcular uma posição de partida favorável e,, por outro lado, conseguiram acelerar ao máximo, sem erros de navegação. O mais consistente foi o britânico Sam Sunderland que colheu os melhores frutos do pomar: conseguiu recuperar o seu lugar no topo da geral a 164 km do
final (tradicionalmente, um passeio para desfrutar), enquanto Pablo Quintanilla conquistava o 2º lugar a 6m 52s do líder, que agora pode avançar mais serenamente para a vitória final. Matthias Walkner também ultrapassou Adrien Van Beveren que terá muitas dificuldades em se consolar com a 4ª posição que o
espera na ultima etapa. Juan Barreda, fecha o TOP 5 desta edição do Dakar. Nos automóveis, Carlos Sainz vence a sua 41ª etapa no Dakar e Nasser Al Attiyah será consagrado, como grande vencedor da 44º Edição do Dakar, no palco que espera por ele em Jeddah.
E vão 4… Dakar’s para Nasser Al Attiyah
Nasser, o Príncipe do deserto A posição de grande favorito é invejável, mas não necessariamente confortável. Nasser Al Attiyah pagou caro o preço várias vezes mas este ano desdobrou a ciência do domínio do assunto de que é capaz a dupla que forma com Matthieu Baumel. A estratégia de Al Attiyah foi posicionar-se na frente desde início, vencendo as duas jornadas, 1A e 1B, que formavam a primeira etapa, enquanto os Audi já estavam com problemas. Primeiro, um erro fatal de navegação de Sainz, no dia seguinte, o arranque de uma roda traseira no carro de Peterhansel, forçado a uma penalidade muito pesada para continuar no Dakar.
Foram-se as apirações. O duelo estava praticamente reduzido a Sebastien Loeb e Nasser Al Attiyah, mas o francês viu-se ficar para trás quando quebrou o eixo da transmissão traseira e chegou ao dia de descanso, com mais de 50 minutos de atraso.
ficou na posição que não gosta nada: no segundo lugar. Yazeed Al Rajhi, que se interpôs intermitentemente no duelo pela vitória, não teve andamento para se intrometer na luta pela vitória mas revelou que merece ser reconhecido ao conquistar o 3º lugar do pódio.
Com tudo sob controlo o “Príncipe do Deserto” como ficou conhecido na América do Sul, venceu o seu 4º Dakar à porta de casa (Qatar), depois das conquistas em 2011, 2015 e 2019. O consolo de Loeb é saber que o BRX Hunter está no bom caminho mas, perde mais uma vez um duelo. Em 2017, o duelo foi com Peterhansel mas
Logo a seguir aos três lugares mais cobiçados, a Prodrive teve o prazer de colocar na 4º posição o Hunter de Orlando Terranova, ou melhor, foi Orlando Terranova que colocou o Hunter da Prodrive no 4º lugar. A fechar o pódio, o sul africano Giniel De Villiers, em Toyota.
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Não há duas sem uma. Sam Sunderland já havia ganho em 2017.
Sam Sunderland
Nasser Al Attiyah e Matthieu Baumel, o abraço entre a melhor condução e a melhor navegação.
Dizer que a categoria motos foi a mais disputada desta edição do Dakar é um eufemismo. Temos que regressar a 1994 (Paris-Dakar-Paris) e ao 1m 13s entre o italiano Edi Orioli (Cagiva) e o espanhol Jordi Arcarons (Cagiva) para encontrar um traço mais fino dos que os 3m 27s que separaram Sam Sunderland (KTM) e Pablo Quintanilla (HONDA na chegada a Jeddah. Esta categoria esteve ao rubro, com mudanças diárias no topo da classificação geral e os melhores motards todo-o-terreno do mundo, proporcionaram um grande espetáculo de competição. O britânico voltou à vitória que lhe escapava desde 2017.
Matthieu Serradori, apoiado pela Motul, o único piloto privado no TOP 10.
Miguel Barbosa / Pedro Velosa / Toyota
António Maio (Yamaha)
Arcélio Couto (Honda)
107 Classificações Finais AUTOS
TOP 10
1º
Nasser Al-Attiyah / Matthieu Baumel / Toyota
38H 33m 03s
2º 3º
Sebastien Loeb / Fabian Lurquin / BRX Hunter Yazeed Al Rajhi / Michael Orr / Toyota
+ 27m 46s + 01h 01m 13s
4º 5º 6º
Orlando Terranova / Daniel O Carreras / Hunter Giniel De Villiers / Dennis Murphy / Toyota Jakub Przygonsky / Timo Gottschalk / Mini JCW
+ 01h 27m 23s + 01h 41m 48s + 01h 53m 06s
7º 8º 9º
Mathieu Serradori / Loïc Minadeur / CR6 Century Sebastien Halpern / Bernardo Graue / Mini JCW Matthias Ekstrom / Emil Bergkvist / Audi RS Q e-tron
+ 02h 32m 05s + 02h 38m 26s + 02h 42m 11s
10º
Vladimir Vasilyev / Oleg Uperenko / BMW X5
+ 03h 02m 21s
11º
Vaidolas Zala / Paulo Fiúza / Mini JCW ... ... 35º Miguel Barbosa / Pedro Velosa / Toyota ...
MOTOS TOP 10 1º
Sam Sunderland (KTM)
38h 47m 30s
2º 3º
Pablo Quintanilla (HONDA) Matthias Walkner (KTM)
+ 03m 27s + 06m 47s
4º 5º 6º
Adrien Van Beveren (YAMAHA) Joan Barreda (HONDA) Jose Ignacio Cornejo (HONDA)
+18m 41s + 25m 42s + 38m 06s
Rick Brabec (HONDA) Andrew Short (YAMAHA) Mason Klein (KTM) Toby Price (KTM)
+ 46m 04s + 46m 08s + 49m 07s + 49m 20s
7º 8º 9º 10º 14º 21º 24º 42º 69º 80º 105º
Joaquim Rodrigues (HERO) António Maio (YAMAHA) Rui Gonçalves (SHERCO) Mário Patrão (KTM) Alexandre Azinhais (KTM) Arcélio Couto (HONDA) Bianchi Prata (HONDA)
Etapa 11. Bisha > Bisha Ligação 155 km . Especial 346 km QUADS TOP 3 1º
Alexandre Giroud (YAMAHA)
50 h 00m 51s
2º 3º
Francisco Moreno (YAMAHA) Kamil Wisnierwski (YAMAHA)
+ 02h 21m 11s + 02h 27m 25s
Proto-ligeiros T3
TOP3
1º
“Chaleco” Lopez / Juan Pablo Vinagre / CAN-AM
45h 50m 01s
2º 3º
Sebastien Eriksson / Wouter Rosegaar / CAN-AM Cristina Herrero / François Cazalet / OT3
+ 51m 28s + 04h 34m 43s
SSV TOP 3 1º
Austin Jones / Gustavo Gugelmin / CAN-AM
47h 22m 50s
2º 3º
Gerard F Guell / Diego O Gil / CAN-AM Rokas Baciuska / Mena Oriol (CAN-AM
+ 2m 37s + 15m 18s
7º
... 7º Luís Portela morais / David Megre (CAN-AM)
Camiões TOP 5 Hegemonia russa. Os 4 primeiros lugares foram preenchidos com 4 camiões Kamaz, capitaneados pelos pilotos Dmitry Stonikov, Eduard Nikolaev, Anton Shibalov e Andrey Karginov, respetivamente. A equipa do holandês Janus Van Kasteren (Iveco) fechou o TOP 5. A diferença entre o primeiro classificado e o 4º (todos Kamaz) foi de 1h 49s. A formação holandesa tem 03h 08m 30s de diferença do vencedor. A equipa do português José Martins (Iveco) registou a 28º na geral.
109 ORIGINAL BY MOTUL
TOP 10
1º
Arunas Gelazninkas (HUSQVARNA)
43h 11m 06s
2º 3º
Milan Engel (KTM) Benjamim Melot (KTM)
+ 33m 05s + 01h 09m 57s
4º 5º 6º
Charan Moore (KTM) Emanuel Gyenes (KTM) Mário Patrão (KTM)
+ 01h 28m 56s + 03h 56m 05s 04h 37m 27s
John Kelly (KTM) Simon Marcic (HUSQVARNA) Romain Leloup (KTM) David Gaits (KTM)
+05h 19m 15s + 07h 56m 25s + 08h 01m40s + 08h 37m 36s
7º 8º 9º 10º
Terminaram 28 dos 33 inscritos. Na categoria CLASSIC, a equipa vencedora foi o Team FSO com Serge Mogno/ Florent Drulhon, aos comandos de um Land Cruiser HDJ80.
A formação portuguesa TH-Trucks constituída por Jose António de Almeida e Sousa/ Luís Manuel da Costa Santos, ao comandos de um resistente Ssangyong Musso, obtiveram a 80º posição, entre 129 concorrentes.
O lituano Arunas Gelazninkas vence pela segunda vez consecutiva a categoria Original by Motul.
o final não podia ser mais feliz Sara Garcia, a engenheira mecânica de Zamora, foi surpreendida pela o seu companheiro de equipa (Yamaha), o madrileno Javi Vega Puerta com um pedido de casamento. Sara, não conseguiu evitar as lágrimas enquanto dizia o SIM ,alto e bom som para toda a gente ouvir, em pleno pódio, em Jeddah. O Dakar começou mal para a espanhola que apanhou Covid-19 quando chegou à Arábia Saudita, mas não poderia ter acabado melhor. Sara Garcia é uma guerreira. Disputou
3 edições do Dakar na categoria Original by Motul. Conhece bem o que é participar na categoria mais dura do Dakar. Este ano foi-lhe dada
a oportunidade de ir ao Dakar com o apoio oficial da Yamaha. “A minha vida está definitivamente ligada ao Dakar, mas esta edição é inesquecível”!
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EM CIMA Joaquim Rodrigues (Hero) EM BAIXO Alexandre Giroud (Yamaha)
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Até para o ano!
Um quase poema do deserto Sofá de areia, anfiteatro de dunas, tenda celestial. Na suavidade do luar, Mozart encanta-se, Brel caminha nas dunas Vivaldi e Stravinsky disputam a primavera. Miles Davis tem o blues, John Coltrane, o blue train Tom Waits, o apocalíptico. No deserto, as extremidades do tempo, o Alfa e o Omega, são perceptíveis. Moldou-me a existência, é belo, não mente, nem se lamenta, não é complacente. -Manolo
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PATROCINADOR OFICIAL DO DAKAR
Edição #45 Edição Especial Dakar “ORIGINAL BY MOTUL" A revista global Expedition no Dakar 2022 com o patrocínio da Motul
Edição e coordenação do projeto Glória Oliveira Textos Manolo Fotos ASO/DPPI Equipa Eric Vargiolou Floren Gooden Manolo Oliveira Horácio Cabilla Fréderic le Floch Gigi Soldano JulienDeifosse Charly Lopez Designer Patricia Machado
AUTOMÓVEIS . TURISMO . AVENTURA . AMBIENTE GlobalExpedition S.L.U - Madrid +34 628 208 944 manoloexpedition@icloud.com