comer i de i a s pa r a
Uma seleção dos melhores chefs da cidade por Jussara Voss
Gastronomia
Coma, beba, atreva-se, arrisque, experimente novos e velhos sabores, desfrute o prazer que uma boa refeição pode oferecer.
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ada vez mais vejo restaurantes cheios, e olha que não está barato comer fora. Mas onde vale a pena comer? Quando saio, sempre vou em busca de sabores especiais e desde criança escutava a cantilena “em qual restaurante vou comer assim?”. Sabemos como é difícil competir com a referência caseira de qualidade. Pessoalmente, acho que se for para sair de casa, tem de valer a pena. O povo curitibano, da capital exigente, cas-
tiga a maioria dos seus cozinheiros, não gosta muito de novidades, quer comida barata, dizem, mas tem eleito alguns favoritos que conseguem reinar por anos. Alguns grupos de restaurateurs e donos de restaurantes mais modestos suam para se manter vivos,
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não são só eles, a carga é dividida com os cozinheiros também. A receita de sucesso parece uma equação mais complicada que atingir o ponto de um delicado suflê e inclui comida boa, é claro, atendimento adequado, ambiente bonito, frequência, ninguém gosta de lugar vazio, e preço justo. E alguém do ramo, empresário bem sucedido, quem me soprou isso, ainda profetizou: “além disso, muito marketing”. Esse ramo não perdoa amadores.
Alberto e Noemi Tamura 03 Makoto e Nobume Nakaba Nakaba Eva dos Santos 04
Longe de ser um guia completo, o leitor encontrará aqui uma lista de locais que valem
Bar do Victor e Bistrô do Victor
a visita. Começamos com uma pequena seleção dos melhores restaurantes e chefs e
Gabriela Carvalho 05
imaginamos com a escolha, contemplar o viajante de passagem e o morador da cidade.
Quintana
Escolher é uma tarefa difícil, indicar é mais ainda, porque “o gosto é pessoal”, sempre. Escutei essa frase de um proprietário de restaurante e ela veio parar aqui, talvez porque quisesse me desculpar antecipadamente prevendo eventuais decepções. Regularidade é um problema que enfrentamos nos estabelecimentos da cidade. Você poderá estranhar que Celso Freire, por exemplo, não está na lista, seu restaurante foi durante muitos anos a única escola de gastronomia que a cidade tinha. Pelo seu consagrado Boulevard pas-
Geraldine Miraglia 06 Oli Gastronomia Ivan Lopes 07 Terra Madre Ristorante
saram muitos dos chefs que aparecem nas páginas seguintes. Ou ainda Flávio Frenkel,
Junior Durski 10
um dos mais talentosos chefs curitibanos. É que os dois não estão, atualmente, à frente
Durski e Madero
de um restaurante. Também faço uma deferência ao carioca Tarciso Lopes, que já passou pelo restaurante Casablanca e pelo Cais da Ribeira, do Hotel Pestana, foi embora e está voltando agora à cidade. Pretendemos outras edições sobre o assunto, por isso, contribuições são bem-vindas. E não pude evitar o fácil trocadilho, passar bem é a Ideia. Momentos de prazer para todos é o que desejamos.
Kika Marder 11 Sel et Sucre Leila Mansur 12 Baalbek Manu Buffara 13 Manu Marco Antônio Araújo 14
JUSSARA VOSS é jornalista que viaja para descobrir outros sabores, que às vezes estão na sua cozinha.
Vindouro Paulino da Costa 15 D.O.P. Expand
Retratos dos chefs e foto central: Dico Kremer
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Alberto e Noemi Tamura Makoto e Nobume Nakaba
Topo: Masaaki Komori Meio: Kirti Poddar Base: SXC
Nakaba O restaurante japonês mais tradicional de Curitiba, o Nakaba, aberto em 1981, foi escola para muita gente em Curitiba. Foi também para a filha, Noemi, e para Alberto Tamura, genro do proprietário Makoto Nakaba, que até pouco tempo comandava o balcão de sushi e sashimi, hoje apenas na administração. Na cozinha, a mãe e mestre Nobume Nakaba. Quem é mais velho deve lembrar do restaurante no centro da cidade, o Tempô, precursor da atual casa da família, esta sim, merece uma matéria à parte. Alberto e Noemi não ficaram apenas com os ensinamentos familiares, foram buscar formação acadêmica específica. Noemi também passou pelo festejado restaurante do chef Celso Freire. Por isso, começam a assumir a casa com propriedade. O Nakaba é especializado em rodízio, mas para mim, é no sistema à la carte que o local destaca-se, e vai se modernizando lentamente, mantendo a tradição de um povo que sabe trabalhar e esperar pelos resultados. O restaurante é muito simples, mas quem liga para a decoração quando é a comida que deixa lembranças? Eu não. O sushiman Alberto Tamura prepara com maestria um menu-degustação servido no pequeno balcão. É preciso reservar e é para quem gosta de sushi e sashimi. Alberto apresenta alguns pratos quentes, mas a atenção é toda para os peixes crus. Se é o seu caso, como o meu, não deixe de conhecer as iguarias da culinária japonesa, os frutos do mar fresquíssimos e os importados japoneses. Coma devagar, são raridades por aqui. O menu não é repetido porque depende do que tem na cozinha, o produto tem que ser o melhor. Ingredientes mais incomuns podem aparecer ao lado de um peixe exótico, sempre revelado com harmonia, beleza e sabor incomparável. Aqui também come-se com os olhos. Confie no chef e permita-se. O tempurá do Nakaba é outro campeão. Já disse e repito: a comida lá é de fazer até agnóstico e ateu agradecer a Deus pelo prazer de comer. Telefone antes.
SERVIÇO Nakaba Avenida Vicente Machado, 2121. Telefone: (41) 3013 3344. www.nakaba.com.br
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Eva dos Santos
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Bar do Victor e Bistrô do Victor Ela cozinha com a mesma facilidade com que faz amizades. A chef Eva dos Santos, que guarda na memória a lembrança da mãe, já falecida, sempre cozinhando, adora a profissão que escolheu. Hoje, está no Bistrô do Victor, mas também passou pelo Bar do Victor, ambos do dinâmico empresário Francisco Urban, e ficou fazendo parte da família. Cursou a escola do Senac, mas aprendeu quase tudo o que sabe com Celso Freire – foi a primeira mulher a assumir os fogões na cozinha do restaurante Boulevard. Desde que aqui chegou, vinda do interior do Estado, com 15 anos de idade, foi fazendo um pouco de tudo e conquistando amigos e fãs com a sua alegria peculiar, entusiasmo e o dom de transformar os alimentos. Para comer frutos do mar na capital paranaense, o Bar e o Bistrô do Victor são endereços lembrados pelos curitibanos. O Bar – o robalão de lá é imperdível – oferece o que há de melhor, desde 1969. O Bistrô é o novo empreendimento do grupo, que tem também a Petiscaria do Victor. No Bistrô são os frutos do mar na brasa os meus preferidos. Para abrir o Bistrô, Francisco Urban queria inovar e seguiu o conselho do especialista Jacques Trefois: “Se querem trabalhar com grelhados é preciso conhecer o Asador Etxebarri, do chef Victor Arguinzoniz”. O lugar – um restaurante no norte da Espanha – é apontado como um dos melhores do mundo por chefs famosos. Não precisou dizer mais nada. Em pouco tempo Eva dos Santos estava do outro lado do Atlântico desembarcando em Axpe, o pequeno vilarejo escondido nas montanhas do País Basco. Ali ficou por
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quase dois meses, “os melhores da sua vida”, e aprendeu tudo o que podia. Encantou-se. Deu certo. Depois disso, ficou difícil desbancar a chef na especialidade: grelhados na brasa. Peça o peixe fresco do dia, com legumes, e não vai se arrepender, é um sabor diferente, resultado de uma técnica especial. Pergunte sobre a sugestão do dia e confira também o que não está no cardápio, torça para ter lagosta fresca, ou moules frites, peça um bom vinho e sinta-se na França. Para a chef, simplicidade não é sinônimo de facilidade porque a brasa realça o sabor da comida e se o ingrediente não for bom, isso vai aparecer. Irrequieta, sonha em conhecer Paul Bocuse e ainda estudar na Le Cordon Bleu e, apesar de todo o stress de uma cozinha, é feliz com a vida que tem. Os clientes e fãs da casa também, eu entre eles.
SERVIÇO Bar do Victor Rua Lívio Moreira, 284, São Lourenço, telefone (41) 3353-1920. Capacidade: 240 lugares. Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 11h45 às 14h15 e das 18h30 às 23h30. Sábado, das 12h às 15h30 e das 19h a 0h. Domingo, das 12h às 15h30. Ar condicionado. Cartões de crédito: American Express; Diners; MasterCard; Visa; Hipercard. Débito: Redeshop; Maestro; Mastercard Maestro; Visa Electron. Bistrô do Victor – Frutos do Mar e Pescados Park Shopping Barigui. Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 600 - Campina do Siqueira. Telefone: (41) 3317 6920. www.bardovictor.com.br
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Gabriela Carvalho
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Quintana De braços dados com a literatura, o Quintana é um restaurante no qual o cliente se sente à vontade, a atmosfera é convidativa. Talvez seja o poeta, que empresta o nome à casa, com seus dizeres espalhados pelas paredes, o autor da façanha, ou os livros do acervo, mas pode apostar que é quem está na cozinha que responde pelo sucesso do lugar. Gabriela Carvalho brilha com seus temperos vindo do outro lado do mundo. Viajada, a bela trouxe na bagagem da temporada no Oriente a principal fonte para tantos sabores. A destreza veio dos tempos difíceis comandando grandes hotéis mundo afora e da formação em hotelaria. Cursou a faculdade suíça Les Roches e lecionou nos Estados Unidos. Referências das diversas passagens pela Itália, Tailândia, Vietnã e Austrália, além da estadia de oito meses numa província no Sul da China, inspiram a cozinheira. De volta ao Brasil, para a nossa sorte, Gabriela parou em Curitiba, mas antes viveu na Bahia, Ceará e São Paulo. Seu sorriso francamente doce faz páreo com a complexa mesa posta diariamente nos almoços, que nos convida ao prazer do desfrute da comida de raiz. Buffet? Não! Mesa gastronômica, por favor. A cozinha contemporânea do Quintana traz uma referência para cada dia da semana. A cozinha com influência mediterrânea da Grécia, Turquia e sul da Espanha abre a semana. Na terça-feira é o norte da Europa com pratos tradicionais, ou não, que vão para a grande mesa posta na entrada do restaurante. Quarta-feira é o dia das Américas e você pode encontrar desde ceviche até hambúrguer. Na quinta-feira, a influência é oriental e na sexta-feira é do norte da África. Nos fins de semana é um brunch adaptado, onde pode-se encontrar de feijoada, ou vatapá até costela bovina assada lentamente. Visite o site para saber mais detalhes, mas, se não conhece o lugar, não desperdice essa chance de encontrar sabores inesquecíveis. Sempre é muito bom, mas já aconteceu de me sentir a pessoa mais privilegiada do mundo por comer a sua comida, como se existisse alimento para a alma.
SERVIÇO Quintana Café & Restaurante Avenida Batel, 1440, Batel, telefones: 3078 6044 e 3078 8944. Capacidade: 70 lugares. Horário de funcionamento: de 2ª a sábado das 11h30 às 18h00. Domingo das 12h às 15h30. Cartões de crédito: Visa, mastercard e Dinners. Cartões de débito: Visa electron, Maestro. Refeição: Ticket Restaurante, Visa Vale, Sodhexo, VR. Manobrista, Deck e Jardim. www.quintanacafe.com.br
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Dico Kremer
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Geraldine Miraglia Oli Gastronomia Dá para começar o dia a qualquer hora, com comidinhas e com pães caseiros, estão no cardápio da casa, que inclui sanduiches clássicos franceses, paninis, quiches, bruschettas e saladas. Mais sorte do que provar os pães maravilhosos da Geraldine Miraglia é que o restaurante Oli Gastronomia fica aberto o dia todo e se o cliente não quiser tomar café, pode almoçar e tem ainda a opção de fazer um lanche. A casa tem freguesia certa que gosta dos pratos tradicionais, ali o cliente manda, pode até ser atendido em um pedido de dieta especial, por exemplo, mas a chef, que reduziu o ritmo de trabalho e, temporariamente, não abre para o jantar, promete voltar com um cardápio inédito a cada semana nas sextas e aos sábados, à noite. Ainda bem, os fãs não a querem muito longe dos fogões. Da bala de limão puxa-puxa que fazia quando criança e atraía as atenções caseiras até assumir que eram as panelas que dariam prazer ao invés da fonoaudiologia, passou um tempo. Decidida, Geraldine cursou o Centro Europeu e estagiou com o pâtissier francês Laurent Grolleau, da L’Opera, quando o reconhecido francês tinha uma confeitaria em Curitiba. Revistas especializadas também foram, e continuam sendo, outra fonte de aprendizado para essa chef discreta, mas é a curiosidade e o senso gustativo apurado que ajudaram a aprimorar seus dotes, experimentando várias maneiras de fazer o mesmo prato. Com seu jeito
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próprio, Geraldine conduz sua cozinha, entre clássicos franceses e italianos. Procura usar produtos orgânicos e cuida para que tenham pouca intervenção e não esquece os movimentos da cozinha moderna, regando tudo com temperos marcantes. Da sua cozinha, simples e saborosa, lembro do cordeiro marinado com anchovas e perfume de louro, servido com cogumelos; do forte e saboroso ravióli recheado com creme de parmesão, com tomates cerejas, ervas e amêndoas; do delicado atum em temperos marroquinos com legumes e azeite de menta; das esfihas crocantes – pacotinhos de massa folhada finíssima recheados com chocolate e banana; do rolinho de camarão e gengibre; e do nhoque de batata em azeite de agrião e presunto Parma. Não posso esquecer também do tagliatelli de cacau frito, à venda na loja. A massa é companhia perfeita para um confit de pato e vale cada caloria. Percebeu como esta casa é cheia de surpresas e sabores?
SERVIÇO Oli Gastronomia Rua Senador Saraiva, 209, São Francisco. Telefone (41) 3016 8696. Horário de funcionamento: segunda, das 9h às 19h. Terça a sábado, das 9h às 23h. www.oligastronomia.com.br
Naideron Jr.
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Ivan Lopes Terra Madre Ristorante A comida clássica italiana, com influências francesas e brasileiras, do Terra Madre Ristorante, faz sucesso desde a abertura da casa há quase seis anos – já foi eleito quatro vezes, pela Veja Comer e Beber, o melhor restaurante contemporâneo de Curitiba. Centenas de opções de vinho, da loja Vino, anexa, sem custo adicional para quem está na casa, um bar e um local para fumar charutos, combinação que ganha adeptos a cada dia, são outros atrativos do local. O restaurante já teve consultoria de outros chefes, mas agora é Ivan Lopes que mostra seu talento na pequena cozinha aberta para o salão, na companhia do subchefe Lênin Palhano, que levou o prêmio promovido pela Gazeta do Povo de “chef revelação” em 2010. Com liberdade para criar, Ivan troca figurinhas com outros chefs e traz receitas de locais por onde passa em busca de aperfeiçoamento. De segunda a quinta-feira tem menu-degustação e de segunda a sábado uma sugestão diferente do cardápio. Numa seleção especial destaco: o tortellone de pato ao molho de maçã com shimeji, o robalo com mix de grãos ao molho asiático e a caçarola de frutos do mar, “xodó do restaurante”, declara ele. O chef paraense chegou aqui na inauguração da casa em 2005, trazido pelo irmão – o reconhecido e competente Ivo Lopes, chef do Due Cuochi, em São Paulo – e há dois anos foi promovido ao cargo de chef do restaurante, mas gosta de lembrar que antes de tudo é cozinheiro. Escolher a profissão foi uma opção que surgiu naturalmente para esse pernambucano criado no Rio de Janeiro e que começou a cozinhar em São Paulo, na época, com apenas 17 anos. Sem passar por nenhuma escola, Ivan, que procura na
leitura informação para a carreira, seguiu os passos de quem já fazia sucesso na família e não precisa dizer mais nada. Abraçou a oportunidade, sorte nossa. Com muita prática no currículo, tem a experiência necessária para conquistar público. O restaurante está sempre cheio. Com Ivan no comando, que sonha passar uma temporada no exterior para aprender mais, o Terra Madre ganhou uma sala exclusiva para a elaboração das pastas: são 10 tipos de massas frescas, que desbancaram os risotos, agora em desvantagem no menu. A casa tem um couvert caprichado, um dos que eu mais gosto na cidade: “pães artesanais, focaccia caseira, tartar du boeuf, legumes grelhados, manteiga fresca com azeite de manjericão e caldinho do chef”.
SERVIÇO Terra Madre Ristorante Rua Desembargador Otávio do Amaral, 515. Telefone (41) 3335 6070. Horário de funcionamento: segunda a quinta, 1º Horário até as 20h30. Tolerância máxima de 15min. 2º Horário a partir das 23h. De acordo com a liberação das mesas. Sexta a sábado, 1º Horário até as 21h. Tolerância máxima de 15min. 2º Horário a partir das 23h. De acordo com a liberação das mesas. www.terramadreristorante.com.br
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Junior Durski
A intenção era apenas promover a gastronomia polonesa e ucraniana e ter um local para receber os amigos, mas acabou tornando-se a atividade principal do chef Junior Durski, que, depois de um tempo, transformou-se em um dinâmico e bem sucedido empresário do ramo, além de um cozinheiro de primeira. Bem, isso ele já era, mas isso é outra história. O menu da gastronomia eslava do início, que oferece, entre outros pratos, o caviar fresco ossetra malossol de esturjão branco, foi mantido, mas a casa foi alçada à cozinha internacional. Outros pratos foram acrescentados e os prêmios não pararam de chegar. Paralelamente ao refinado restaurante Durski – sem dúvida, o melhor, na categoria, da cidade –, cinco anos depois, Junior abriu outro restaurante, ao lado, para dar espaço à paixão do chef pelas carnes, ou melhor, pelos sanduíches. Em pouco tempo, o Madero Prime Steak House também virou referência. É bom reservar, porque está sempre lotado. O pão fabricado no local, as carnes selecionadas da Argentina e do Uruguai, grelhadas no fogo a lenha, as saladas cultivadas em horta própria e um ambiente acolhedor com grandes mesas de madeira, além dos funcionários – jovens que vêm do interior do Estado, principalmente de Prudentópolis, sua cidade natal, e da região próxima, e que ganham uma oportunidade de trabalho – levaram a casa ao estrelato. Sei de gente que reclama do som alto, um telão desafia ouvidos sensíveis com rock pesado. Mas nem isso, nem o preço, um pouco acima da média, atrapalham o sucesso do Madero. Aliás, para resolver esse problema, Durski criou, em esquema de franquia, o Madero Grill & Burger, com valores mais modestos e uma roupagem mais simples para as casas e comidas servidas ali. Descobriu uma fórmula certeira e conseguiu ampliar o atendimento: as novas casas abertas estão sempre cheias. O campeão dos pedidos no Madero Prime Steak House é o hambúrguer gourmet servido
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com foie-gras e trufas brancas, na temporada delas, mas também está na lista as costeletas de cordeiro e o bife de chorizo, além da releitura da moqueca de camarão, perfeita. A premiada adega climatizada, com mais de 1.900 rótulos de vinhos, é outro atrativo para clientes até de outros Estados. Autodidata, Durski é daqueles caras simples que te deixam à vontade e com quem se quer começar uma amizade. Aprendeu a cozinhar com a mãe, uma elegante senhora, e a admirar a boa mesa com o pai. O tempo que passou em Rondônia, quando era madeireiro, ajudou a moldar um jeitão meio caipira, como ele mesmo diz, brincando, e reforçou a aptidão comercial, além dos dotes culinários. Foi lá que, para comer bem, foi forçado a cozinhar. Obstinado, aprendeu na prática e foi conhecer os melhores restaurantes em viagens internacionais para aplacar a visão do perfeccionista e assim deu-se o fenômeno. A receita? Fazer o que se propõe bem feito, sempre. Muito trabalho e dedicação, haja fôlego.
SERVIÇO Durski Rua Jaime Reis, 254, São Francisco. Telefone: (41) 3225 7893. Capacidade: 40 lugares. Manobrista. Ar. Calefação. Horário de funcionamento: segunda à quinta: das 19h45 às 23h. Sexta e sábado: das 19h45 à meia-noite.Domingo: fechado Cartões de crédito: American Express; MasterCard;Visa. Débito: Visa Electron; Mastercard Maestro. www.durski.com.br Madero Prime Steakhouse Rua Jaime Reis, 262, São Francisco. Telefone: (41) 3013 2300. Capacidade: 70 lugares. Horário de funcionamento: segunda à quinta: das 12h às 14h30 e das 19h45 às 23h. Sexta: das 12h às 14h30 e das 19h45 à meia-noite. Sábado: das 12h às 15h30 e das 19h45 à meia-noite. Domingo: das 12h às 22h. Cartões de crédito: American Express; MasterCard;Visa. Débito: Visa Electron; Mastercard Maestro. www.restaurantemadero.com.br
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Durski e Madero
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Kika Marder
Kelly Knevels
Sel et Sucre
O charmoso restaurante de Kika Marder é uma aposta certa na cidade. O bistrô Sel et Sucre é lugar de boas surpresas e capaz de provocar lembranças. Depois da reforma que o deixou com cara de gente grande, livrando-se da pecha de ser muito feminino e pequeno, caiu também no gosto dos homens. De rosa para azul, sem a ilha no centro, na qual os doces franceses e massas da boutique gourmet ficavam expostos, o restaurante ganhou espaço e maturidade alcançada pela experiência da chef e proprietária. Kika Marder bem que tentou ser publicitária, mas gostava mesmo de cozinhar e percebeu que era isso o que lhe dava prazer. O primeiro emprego também ajudou, ela foi parar numa fábrica de chocolates, porque, dali, caiu nas graças do chef mais conceituado de Curitiba na época, Celso Freire, e em pouco tempo passou de estagiária à funcionária, permanecendo por dois anos no duro batente da cozinha. As escolas tradicionais francesas – Instituto Paul Bocuse, em Lyon, Le Cordon Bleu e Lenôtre, em Paris – a esperavam, assim foi buscar o aperfeiçoamento e voltou ao Boulevard, com mais ex-
periência para assumir o fogão. O caminho para abrir o seu próprio restaurante foi natural. Com filho pequeno, a opção foi de só servir almoços e organizar eventos. Tem gente que ainda reclama que é muito caro, eu acho que pelo o que é servido lá não é. Entrada, prato principal e sobremesa por R$ 39,60. Uma marinada de legumes, que são grelhados antes de serem banhados em azeite de oliva e manjericão, e acompanham o peixe fresco do dia, além de outros pratos, dão o toque mediterrâneo ao bistrô. Não saio do local sem antes comer um macaron, ou comprar o bolinho com mel e lavanda, ou o pão-de-ló de limão siciliano, ou ainda a tartelette de chocolate, isso sem falar na tarte de morango, que, na primeira colherada, vitória da memória, da qual sempre reclamo, me fez entender o efeito da madeleine. Os pequenos bolinhos doces em formato de concha, com nervuras e açúcar por cima e tornados famosos pelo escritor francês Marcel Proust, estão lá. Também sou fã dos blinis, que sempre que posso levo para casa, e da trouxinha de alho-poró, que agora, só pode ser encomendada. Ainda não experimentei as novidades: tartelete folhada de cebola caramelada, queijo gruyère e tomates assados e o involtini de confit de pato, lentilhas puy com crispy de bacon e concassè de tomates. Kika soube ocupar o seu espaço e formar uma equipe competente. Impossível ficar longe. Sou cliente fiel.
SERVIÇO Sel et Sucre Alameda Presidente Taunay, 396. Telefone: (41) 3077 6647. Capacidade: 30 lugares (parte interna), 12 lugares (externa). Não tem estacionamento. Ambiente climatizado. Horário de funcionamento: de segunda a sábado das 11h30 às 18h. Cartões de crédito: master e visa. Débito: maestro e visa eletron. www.seletsucre.com.br
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Leila Mansur Baalbek
O gosto pela cozinha está no sangue. É mais do que a soma de talento, habilidade, dom e determinação em saciar desejos e alimentar, seja qual definição quiserem dar para a alquimia de transformar ingredientes. Quem explica a importância da comida numa família síriolibanesa, ou italiana, ou portuguesa? O que falar sobre a fartura à mesa, a obsessão pela qualidade e a união em torno de um prato? A conversa com Leila me levou para bem longe. Fui parar na grande cozinha lá de casa quando o que importava realmente era apenas comer bem. São as tais memórias gastronômicas das quais não nos livramos. Ainda bem. Era comida em abundância todos os dias, mas nos almoços de domingo arriscávamos imitar os grandes banquetes servidos aos imperadores e reis. Foi assim que Leila Mansur, estreante como dona de restaurante, mas exímia cozinheira, revelou sua história. Ela até tentou fazer outra coisa, depois de os quatro filhos estarem criados, dois a acompanham na cozinha do Baalbek, cursou a faculdade de direito para abandoná-la
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SERVIÇO Baalbek Rua Bispo Dom José, 2655. Telefone: (41) 3243 2222. Capacidade: 28 lugares. Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 11h30 às 22h30. Sábado, das 11h30 às 15h30. Domingo, das 11h30 às 15h30. Cartões de crédito: American Express; MasterCard; Visa. Débito: Redeshop; Visa Electron; Maestro; Mastercard Maestro. Tíquetes alimentação.
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em seguida e assumir definitivamente o que sabe e gosta de fazer: cozinhar. Aprendeu com a mãe, que aprendeu com a avó. É simples assim, o fazer culinário vai passando de uma geração para outra. Leila e os filhos valorizam a comida e brincam de disputar quem faz o melhor prato. Comem no almoço pensando o que vão preparar para o jantar. Fazem compras diárias, pois só cozinham com ingredientes frescos. Começaram por insistência dos amigos e só com entregas, aos poucos as mesas foram entrando no pequeno espaço e os clientes para jantar chegando. No Baalbek peça o mezze, com 13 pratos, é a melhor maneira de conhecer o talento da família, mas também é possível pedir as pequenas porções, ou encomende a costela de carneiro recheada, um dos pratos que podem ser degustados no restaurante ou levados para casa. Desfrute da generosidade presente na cultura árabe. Farte-se, por favor, é o que eles esperam. O nome do local é uma homenagem a cidade dos avós que nasceram em Baalbek, ou Balbek, as duas grafias estão certas para a cidade histórica que fica a 80 km do Líbano. Não por acaso, está lá o Templo de Baco. Você acredita em coincidências? Eles só pensam em comida, como eu e você que está lendo, suponho.
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Manu Buffara
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Manu A cozinha aconteceu meio por acaso, um desvio de rota inesperado despertou o talento. Quando descobriu que esse seria o caminho a seguir, não teve mais dúvidas, terminou a faculdade de comunicação que cursava e foi cozinhar. A referência da avó – excelente cozinheira – ajudou. Antes formou-se em Gastronomia no Centro Europeu, depois seguiu viagem atrás de experiências gastronômicas. Estagiou nos melhores restaurantes, incluindo o Noma, o número 1 entre os 50 melhores do mundo. Parece que tudo isso foi muito rápido, mas foi tempo suficiente para a chef traçar o seu rumo e deixar rastro. Passou uma temporada no restaurante do Hotel Rayon e abriu o Manu. Estou falando da jovem Manoella Buffara, a Manu, como é conhecida a nossa representante da gastronomia moderna, que tem coragem e bagagem, apesar da pouca idade, para tanta ousadia. Quer surpresas, ou provocação, corra para o Manu. Come-se primeiro com os olhos, depois o aroma e a apresentação surpreendem, finalmente os sabores conquistam, ou até pode acontecer que um prato não seja bem aceito. Não se deixe assustar pela cozinha inquieta e irreverente da Manu. Vá de coração aberto, não restrinja nada, apenas se entregue. Espere o próximo prato e se você ainda não provou nada igual saiba que os melhores chefs do mundo cozinham assim e se você morar em Curitiba, aproveite, você está na sua cidade. A intenção é surpreender e emocionar. Tudo foi planejado e pensado, desde a concepção do espaço até a escolha das louças, para marcar a experiência de quem estiver disposto a se aventurar por outros sabores. Mesmo com termocirculador e nitrogênio líquido, a cozinha transpira sofisticação e simplicidade ao mesmo tempo, talvez seja a combinação de tecnologia com ingredientes frescos e sazonais e dedicação, não sei. Não me pergunte como ela faz isso, mas é a mais pura verdade. O talento da cozinheira chega até assustar. Dá gosto de ver, o futuro a aguarda. O menu muda a cada três semanas e a última dela agora é extrair o máximo de sabor de um ingrediente
nas pequenas entradas, os chamados snacks “amor”, quando pode entrar o chuchu ou os vários tipos de abóbora, que aparecem em farofa, ou em ceviche, por exemplo. Amor pelo ingrediente. Mais um desafio para a chef e sua equipe. Em maio entram as cervejas e até julho o menu à la carte deve cair. Festejei, acho que não expressa a filosofia da casa. Nas terças e quartas, os cozinheiros poderão ser vistos no salão explicando os pratos. Ela não para de inovar. Sucesso além do esperado, para a nossa sorte. Reserve, a casa tem lotado.
SERVIÇO Manu Al. Dom Pedro II, 317 Batel - Curitiba/PR. Tel.: (41) 3044-4395. Horário de funcionamento: terça a sábado, das 20 às 23h30. Reservas: todas as reservas devem ser feitas com pelo menos 1 hora de antecedência e serão confirmadas por telefone ou e-mail pelo restaurante. Horário limite para reservas: 21h. www.restaurantemanu.com.br
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Marco Antônio Araújo Vindouro
A equação vindo + ouro, que significa também posteridade, resultou em Vindouro, o restaurante. O projeto dos empresários Silvana Fetter e Eliseu Fernandes foi abrigado na divisa dos bairros Cabral e Juvevê, sob as bençãos prósperas de Guarda-Mor Lustosa, nome do descobridor de riquezas que empresta seu nome à rua, e tem dado o que falar. Volto ao Vindouro sempre que posso para sentir novamente o sabor do foie gras com figo, o recheio perfumado do mezzaluna, ou acatar outra sugestão do chef Marco Antônio Araújo para jantar. A cozinha da casa, que começou com a consultoria do chef francês Alain Uzan, ganhou alma e expressão com Araújo no comando. Formado pela prática na cozinha e estágios em casas tradicionais de Curitiba e com chefs de peso, como Tarciso Lopes e Celso Freire, ou franceses, como Claude Troisgros e Eric Jacquin, Baiano, como Araújo é chamado,
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SERVIÇO Vindouro Vinhos e Bistrô Rua Guarda-Mor Lustosa, 129. Telefone: (41) 3027 0700 Horário de funcionamento: segunda a sábado, das 12h às 15h e das 19h às 24h. www.vindouro.com.br
Michel Willian e Marlise Sapiencinski
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desembarcou aqui por acaso e por amor, que resultou em casamento, acabou adotando a cidade. Entrando na cozinha pela primeira vez, como ajudante, encantou-se. Pegou gosto e revelou-se. E jura que a mãe cozinheira não tem nada com isso. Pratos clássicos franceses, com toque contemporâneo, que podem vir em pequenas entradas e vinho em taça servidos no novo bar da casa, ou em menus-degustação, aos poucos conquistaram clientes. No inverno, experimente a terrine de foie gras, ou a sopa de cebola, servida com uma crosta de massa folhada para preservar o calor, igual à criada em 1975 pelo chef francês Paul Bocuse, para esquecer a chuva fria e constante da cidade em meses de baixa temperatura. Não se esqueça de perguntar pelas sugestões diferentes ofertadas todos os dias, seu jantar pode ser definido na hora do pedido, de acordo com as suas preferências e os produtos disponíveis na cozinha. E peça ajuda ao Eliseu Fernandes na hora de escolher um vinho, ele entende do assunto. Baiano, que valoriza a liberdade que tem para criar, agora sonha, no segundo ano de vida do Vindouro, conseguir mais uma estrela do Guia 4 Rodas Brasil para a casa, que já tem uma. Já seus clientes sonham apenas em continuar comendo e bebendo bem. Claro que a estrela é bem-vinda.
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Paulino da Costa
Divulgação
D.O.P. Expand
O estilo do discreto Paulino da Costa, o chef do D.O.P. Cucina, restaurante curitibano da importadora de bebidas Expand, um dos principais grupos de distribuição de vinhos do país, já encontrou público cativo. Paulino não era muito conhecido, apesar de já ter muitos fãs, até ser eleito pela revista Veja – Comer e Beber o melhor chef do ano. Emocionou-se até as lágrimas escorrerem e entregou o prêmio à brigada, a equipe da cozinha. Ele é assim. Uma pessoa simples, talentosa e dedicada. Do departamento de compras e licitações na Marinha escolheu a cozinha, naturalmente. Fez o curso do Senac, que lhe ensinou o básico, o resto veio com a prática. Aprendeu rápido. Conheceu Ivo Lopes, Paulo Barros e Rodrigo Martins e acabou em Curitiba. Razão do sucesso? Escutar o coração. “Não adianta só gostar, tem que ter dom”. E paciência, “degrau por degrau, sem parar”, aconselha. O restaurante que dirige – 400 m² divididos com o espaço gourmet, a charutaria e o wine-bar – tem pouco tempo, mas já é conhecido como um local de boa comida e bebida. A casa lotada é um dos sinais. Reforçou a equipe trazendo o irmão para ajudar, que ficou responsável pelas massas. “É meu braço-direito”, confessa. No D.O.P. Cucina peça o “menu confiance”, servido às segundas, terças e quartas-feiras, e espere pelo melhor. Prove o risoto com lâminas de amêndoas e trufas com costeleta de cordeiro, robalo com purê de tomate fresco e aspargos grelhados e o camarão com molho de ostra para entender do que estou falando. Ali, comida e vinho formam uma dupla perfeita. Entre as novidades estão o ravioli de galinha d’Angola e polenta, metade de cada um, lombo de cordeiro e o atum fresco grelhado com molho oriental e o cassoulet de rã com curry e uma das sobremesas famosas da casa –blini de tapioca com sorbet de morango – um presente para a cidade vindo do Pará, terra do Paulino.
SERVIÇO DOP Cucina Rua Benjamim Lins, 559. Telefone: (41) 3022 1221. Horário de funcionamento: segunda à sexta: das 12h às 15h e das 19h30 às 24h. Sábado: das 19h30 às 24h. www.dopcucina.com.br
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