R$ 10,00 nº 119 ano Vi www.revistaideias.com.br
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p o l Í t i C a , e C o n o m i a & C u lt u R a D o pa R a n á
RepoRtagem Quanto custa morrer? seguRanÇa a nova lei do flagrante CultuRa a música daqui lá fora
Índic� colunistas
seÇÕes
Fábio campana 12 A idade do Besteirol
Editorial 05
Ernani Buchmann 19 Valberto, o escritor
Frases 07
Rogerio Distefano 22 Legalmente Lula
Ensaio Fotográfico 50
Luiz Fernando Pereira 29 No blood for oil ou a obsessão antiamericana
nesta ediÇÃo Guerra de babuínos 14 Fábio campana Vento de liberdade no islã 20 Demetrio Albuquerque A nova lei aumenta os crimes? 26 Márcio Barros O Paraíso mora ao lado 32 Diocsianne Moura Morri. E agora? 36 Karen Fukushima Horizontes de contreras 44 Raffaela Ortis Samba do ucraniano doido 64 Thais Kaniak A música acontece agora 66 Marianna camargo
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curtas 06
Gente Fina 08
Prateleira 58 Moda - Paola De Orte 71 isabela França 72
Luiz Geraldo Mazza 30 O bullying curitibano
Balacobaco 76
Rubens campana 35 Dignidade burguesa
Pryscila Vieira 82
cartas/Expediente 81
carlos Alberto Pessôa 41 Bate bola sobre a copa Marcio Renato dos Santos 42 tudo pode dar certo izabel campana 43 Holanda e holandeses Solda 47 O sexo na década de 70 camilla inojosa 48 Pequenos prazeres Marianna camargo 56 Sob o sol de copacabana Luiz carlos Zanoni 60 Falsos brilhantes Jussara Voss 62 Desconstruindo o elBulli claudia Wasilewski 70 Salve Jorge! Salve Jorge Amado! Jaime Lerner 80 A Mousse e o Pont-à-Mousson 44
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119 Editorial Fábio campana
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o limiar da era cristã, havia no Império Romano um dublê de político e historiador chamado Salústio, notável por sua capacidade de retratar o caráter dos povos sobre os quais escrevia. Num de seus livros, um grupo de aristocratas romanos resume numa frase para seus ouvintes númidas o alcance da corrupção na metrópole. “Tudo em Roma está à venda”. Salústio sabia das coisas. Graças à sua amizade com Júlio César, ele próprio governara a Numídia, possessão no norte da África, tornando-se conhecedor das entranhas do poder. Apesar do diagnóstico de Salústio, na mesma Roma erguia-se um templo dedicado a Vesta, a deusa da pureza absoluta, em cujo interior a chama sagrada ardia diante dos olhos vigilantes das virgens vestais. Afastado no tempo e no espaço, o Brasil de hoje lembra a Roma de Salústio. De um lado a sucessão de escândalos de corrupção que não deixa dúvida de que nesse quesito os políticos nativos são melhores e mais eficientes que os mais corruptos do Império Romano. E não faltam vestais, tal a legião de poderosos engajados na cruzada pela restauração da moralidade pública. Em Brasília só nos falta um cronista como Salústio, para dar conta de tantos eventos da corrupção que só neste período inicial do governo de Dilma Rousseff já derrubou três ministros, defenestrou uma penca de diretores de alto coturno e levou à prisão outro time de poderosos funcionários da administração pública flagrados com a mão no jarro. Aqui, em nossa província, o ano correu na política sob o signo da devassa na Assembleia Legislativa. O novo presidente Valdir Rossoni e o primeiro secretário Plauto Miró Guimarães comandaram uma assepsia completa que resultou na denúncia e prisão de vários diretores da Casa, na demissão de funcionários fantasmas, na revisão de aposentadorias, na extinção da gráfica e na revisão de todos os contratos entre a Assembleia e prestadoras de serviços de todo tipo. Agora temos novo escândalo que sacode as estruturas da Câmara Municipal de Curitiba. Denúncias e mais denúncias contra o presidente da Casa, o vereador João Cláudio Derosso, que derrubaram de cara as suas pretensões de ser candidato a vice prefeito na chapa liderada por Luciano Ducci, do PSB, o candidato in pectore do governador Beto Richa, que assim retribui a sólida cooperação de Ducci em suas vitórias. Há meses os “luas pretas” de Gustavo Fruet, o tucano que perdeu o pé no PSDB e saiu para empinar sua candidatura em outra freguesia, anunciavam as denúncias contra Derosso que agora são veiculadas com estardalhaço, especialmente na mídia mais identificada com a candidatura de Fruet e com a perspectiva armada pelo PT de lançar a ministra Gleisi Hoffmann a governadora em 2014. Ou seja, a grande preocupação dos denunciantes não é moral ou de extremado cuidado com o erário público. Tanto que aguardaram a oportunidade política que desejavam para detonar o presidente da Câmara. E tudo indica que a temporada de denúncias e factoides só vai amainar depois das eleições do ano que vem. Haja estômago.
Curtas
STRAUSSKAHN SE LIVRA O juiz Michael Obus da Suprema corte de Manhattan, em Nova York, anunciou dia 23 de agosto o fim do processo criminal contra o francês Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-geral do FMi (Fundo Monetário internacional). com isso, as acusações a que respondia foram arquivadas pela Justiça americana. com a decisão, Strauss-Kahn fica livre para voltar à França de forma imediata. Ele havia se declarado inocente em 6 de junho de sete acusações, incluindo tentativa de estupro, relações sexuais ilícitas (sexo oral forçado) e sequestro.
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Nem parece que, depois de oito anos de governo, a segurança pública do Paraná foi entregue em estado catastrófico. Comentando o fi m de semana violento, por conta de dois tiroteios, o ex-governador Roberto Requião resolveu pontificar sobre o assunto. Esqueceu que deixou o Paraná com alguns dos piores indicadores de violência do país e se pôs a ensinar como se deve resolver os problemas da segurança pública. Basta chamar o Delazari, colocar o Eduardo no Porto e está tudo dominado. O fracasso lhe subiu a cabeça.
O SUL É MEU PAÍS? Em colombo, região metropolitana de curitiba, aconteceu um curso de formação política do movimento “O Sul é meu país”. O movimento prega a criação de uma federação independente contanto apenas com os estados sulistas: Paraná, Santa catarina e Rio Grande do Sul. Segundo o presidente da entidade, celso Duecher, o movimento não é apenas separatista. “O que queremos é criar uma federação na qual os estados do Sul sejam independentes, não com o poder centralizado em Brasília”.
“Vírus D4”
Presidente da Câmara Municipal de Curitiba, João Claudio Derosso, investigado por supostas irregularidades, em sabatina na primeira audiência da sessão de Ética, convidou a Professora Josete a fazer um “CâmaraTour” para que ela e os demais vereadores conheçam os trabalhos da casa.
Rafael Greca entrou na onda de Requião e disparou em seu twitter que os deputados peemedebistas que aderiram a Beto Richa foram acometidos pelo “vírus D4”. O saque infame, com variantes equivalentes, vem sendo repetido por Requião há dias.
brasil corrupção
DiVULGAçãO
Câmara Tour
Honestidade agora é notícia DiVULGAçãO
O mês de julho teve 144 pessoas mortas por armas de fogo. Esse número não contabiliza os que chegam feridos ao hospital e morrem depois. Dados assustadores em um mês considerado mais “calmo” pelas autoridades policiais. Agosto, até o dia 21, teve 111 mortes. A pesquisa foi realizada pelo jornalista Marcelo Vellinho, dos jornais Tribuna do Paraná e O Estado do Paraná, e do Programa 190. Os dados são computados no site www.crimescuritiba.com, que registra, por região, os crimes da capital e RMC. As informações obtidas a partir de relatórios do Instituto Médico Legal e levantamento nas delegacias responsáveis pelos inquéritos. Casos de suicídio foram excluídos.
tudo dominado
DENiS FERREiRA NEttO
Assassinos não tiram férias
Nada mais, nada menos que quatro ministros caíram em menos de oito meses. Três sob acusações de corrupção e um, o ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, por divergências políticas com o Palácio do Planalto. O último defenestrado foi Wagner Rossi, da Agricultura, que não resistiu a várias semanas de acusações públicas de corrupção no seu ministério e do seu próprio envolvimento em irregularidades. Antes dele, dançaram Antonio Palocci, do PT, ex-ministro-chefe da Casa Civil; Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes, do PR; e Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa, do PMDB, que abandonou o barco porque foi inteligente o suficiente para perceber os sinais do naufrágio.
O governo da província de Fukushima devolveu o equivalente a R$ 180 milhões enviados pela Cruz Vermelha para atender às vítimas do terremoto, tsunami e crise nuclear. Isso porque o prejuízo na província, segundo levantamento recente do governo, é menor que o estimado no início. Cada iene excedente foi devolvido. Em um cenário onde a corrupção parece integrar o DNA de todos os governos, a honestidade japonesa vira notícia.
Frases O líder do PSDB no Senado, o tucano alvaro Dias, em entrevista a Joice Hasselmann, afirmou que o PSDB errou ao não apoiar Gustavo Fruet como candidato à prefeitura de Curitiba.
“só peguei carona” paulo bernardo, ministro das Comunicações, sobre uso de aviões durante a campanha ao Senado da sua mulher, a atual ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em 2010.
“não prejudicou ninguém” O presidente do Senado, josé sarney (PMDB-AP), negou irregularidades no fato de ter usado um helicóptero da Polícia Militar do Maranhão para atividade particular.
“a câmara é uma fábrica de loucos” O deputado “é uma pessoa que trabalha muito e produz muito pouco” e a Câmara “é uma fábrica de loucos, uma fábrica de loucos”, disse tiririca (PR-SP) que quando candidato prometera contar aos seus eleitores o que faz um deputado. E justifica porque a Câmara é uma fábrica de loucos. No plenário, “ninguém escuta ninguém, um deputado fala e nenhum presta atenção nele”.
A atriz Carolina Dieckmann em entrevista à edição de aniversário da revista Nova de setembro
DiVULGAçãO
“sempre tive celulite e não ligo”
O ilustre governador cearense Cid gomes disse esse despautério ao defender a demissão de servidores públicos descontentes com os salários.
“no jantar servirão o fígado de seus eleitores peemedebistas” O senador Roberto Requião (PMDB) que não gostou nada da notícia de que a bancada do PMDB na Assembleia recebeu em jantar, o governador Beto Richa (PSDB), para oficializar sua adesão à base do governo. Em gravação divulgada na internet, Requião acusa os parlamentares de terem sido contaminados pelo “vírus D4, de bruços”.
“perceberam de uma vez por todas que eu cresci” A cantora sandy, 28, ao portal G1, indignada com a repercussão da frase “É possível ter prazer anal” em entrevista à revista Playboy. DiVULGAçãO
DiVULGAçãO
“quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. se quer ganhar melhor vai para o ensino privado”
DANiEL FERREiRA/cB/D.A PRESS
“o psdb não deveria ter abandonado fruet”
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FÁBiO cAMPANA
FINA
Marianna en
España
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arianna vai à Espanha. Nos deixa para percorrer os caminhos de seus ancestrais bascos. Vai com esse ar de andaluza. Sedutora mesmo que não queira ser. Há riscos de que os espanhóis, ainda que imersos em crise financeira, não resistam à beleza de Marianna, que herdou da Espanha a tez morena, os cabelos de seda e o desenho da boca. Fiquemos por aqui. E aqui ficamos com o coração apertado a orar para que não apareça um toureiro em seu caminho. Ou um bailarino de flamenco da altura de Antonio Gades. Talvez um guitarrista da catadura de um Paco de Lucía. Um poeta feito Antonio Machado. Deus nos guarde. Perderíamos a moça e ficaríamos sem o seu comando na redação. Sem a sua inteligência e o seu texto. Ela que não se encante por lá e ache logo o caminho de volta, diz o coro do secreto clube de admiradores. Fábio Campana
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A boa filha à casa torna
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arcando o seu retorno ao Brasil depois da temporada de seis anos de trabalho em Washington e Los Angeles, a arquiteta e urbanista curitibana Maria do Rocio Rosario liderou a única equipe brasileira a receber reconhecimento no Concurso Internacional do Parque Olímpico Rio 2016. A equipe de Maria ficou entre as seis premiadas dentre 60 concorrentes de 18 países.
AcERVO PESSOAL
A arquiteta e urbanista que deu seus primeiros passos ao lado de Jaime Lerner é formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em paisagismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUCPR) e mestre em desenvolvimento urbano pela University College London. Por estas bandas, ainda passou pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). Mas a consagração de sua carreira se realizou na terra do Tio Sam. Entre Los Angeles e Washington ficou por 16 anos. Finalmente, no ano passado, retorna ao Brasil e se fixa em São Paulo, onde trabalha atualmente como diretora de negócios na área de projetos urbanísticos da Alphaville Urbanismo.
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FINA
Talentosa
Juliana
Juliana Moriya esbanja talento. Não só isso. Charme e estilo também. Dizem que a primeira impressão é a que fica. Então é preciso cuidado para não se enganar com seu rosto bonito e delicado. Por trás dele há uma lista de conquistas. A curitibana Juliana é sucesso em seu métier. É arquiteta por formação. Mas foi na moda que ela encontrou seu mundo e um caminho a brilhar. Só no ano passado foi finalista em três concursos. No Prêmio João Turin de Incentivo aos Novos Designers de Moda, no concurso nacional Lycra Future Designers e no V Desafio Passarela, promovido entre os alunos do Senai. A grande vitória foi o primeiro lugar no reality show IT MTV Elle Fashion Fabric, em 2010. Juliana passou pelo crivo de jurados como a consultora de moda Costanza Pascolato; os estilistas Lino Villaventura e Rita Weiner; a editora da Revista Elle, Susana Barbosa; e André Hidalgo, da Casa dos Criadores. Agora Juliana colhe os louros. Neste ano, assinou um editorial com três looks na edição de janeiro da Revista Elle. Em junho, apresentou seu primeiro desfile como estilista profissional na Casa dos Criadores, em São Paulo. Há pouquíssimo tempo concluiu um curso de estilismo no Instituto Europeu de Design em Milão. Ainda participou de um workshop de beleza e maquiagem para passarela no Instituto L’Óreal, em Paris. Clarice Lispector disse que “vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento”. Juliana mostrou que tem talento e vocação. Pode ser chamada que vai saber como ir. Thais Kaniak
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FINA
O mundo não é
redondo
Antonio cescatto formou-se em Medicina. Preferiu seguir em outra profissão, a de publicitário. Mas o que Cescatto é mesmo é escritor e poeta. Seu primeiro livro editado é o surpreendente romance “O mundo não é redondo”. Um belo texto no qual Cescatto desfia suas lembranças doces e muitas vezes atormentadas. Aquela memória que transcende, eleva e reúne no peito de um homem a humanidade inteira. Cescatto é assim, humaníssimo ao destilar o tempo, da velha Curitiba cartorial que viveu no bairro do Bom Retiro aos dias de hoje, no tumulto das agências publicitárias, patrocinadores de complexas campanhas eleitorais, e o tempo que sorve solitário, para escrever sua literatura que anuncia novo livro que logo estará entre nós. Fábio Campana
HEULER ANDREY/DiAESPORtiVO
Potiguar
quase curitibano Lucas Alves Sotero da cunha. O potiguar deixou o calor e as dunas de Natal aos três anos de idade. Foi na cinza e fria Curitiba que ele se criou. Como a maioria dos garotos, tinha paixão pela bola. O futebol virou profissão. Lucas é meia atacante. Começou no futsal do Paraná Clube. Foi convocado para jogar na seleção do Estado do Paraná no Campeonato Nacional. O resultado foi o terceiro lugar na Categoria Sub 15. Em 2004, iniciou no Clube Atlético Paranaense na categoria Infantil e conquistou o Campeonato Metropolitano. De 2006 a 2008, passou pela categoria Juvenil e levou duas competições. O Campeonato Metropolitano e o Paranaense de Futebol. Na categoria Júnior desde 2009, conquistou a Copa Tribuna, o Campeonato Metropolitano e o Torneio Inter Clubes na Alemanha e na Holanda.
Em 2010, foi emprestado ao time profissional do Dinamo Minsk, da Bielorrúsia, onde jogou até maio. De volta à capital paranaense, voltou a treinar na categoria Júnior do rubro-negro. Oportunidade para os nativos apreciarem o show de bola de Lucas nos gramados. Thais Kaniak
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Fábio Campana
A Idade do Besteirol
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i, outro dia, que Arthur Koestler calculou que no século XVIII a humanidade dispunha de um grande pensador ou um grande escritor para cada 50 mil habitantes. Hoje, ela não terá mais de um para cada 200 milhões de viventes. Contrariando todas as previsões erguidas no século XIX, a velocidade e amplitude da produção e distribuição de riquezas, em vez de nos darem asas, fizeram-nos pedestres morais e intelectuais, soldados de infantaria a rastejar no deserto, envolvidos, quando muito, em pequenas escaramuças de circunstância. Entramos no século XXI angustiados pelo destino sem grandeza que é a marca de nosso tempo. Nem por isso conseguimos escapar facilmente da servidão ideológica que a sociedade industrial nos impôs. Sucumbimos às evidências e às tentações do progresso material e nos recusamos a questionar o empobrecimento da vida intelectual que patina no lamaçal da bricolagem pós-moderna. Ninguém, em sã consciência, põe em dúvida as vantagens que as descobertas científicas proporcionaram. A medicina avançou em algumas áreas e com ela a expectativa de vida da maioria dobrou. Agora o homem vive mais e dispõe de mais tempo para o ócio criativo, mas prefere gastá-lo no consumo conspícuo da cultura de baixa densidade. As comunicações tornaram-se virtualmente instantâneas e compulsórias, além de universais, o que ampliou o mercado de ilusões e expectativas. O mundo contemporâneo, com sua classe média emergente,
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tornou-se ávido pelo besteirol produzido incessantemente pelos meios de comunicação. Besteirol que constitui 99% do acervo da internet, a fonte mais consultada para esclarecer dúvidas da manada. Um operário qualificado de hoje vive com muito mais conforto e higiene que os membros da corte de Luís XIV. Que dizer da vida de um
o homem vive mais e dispõe de mais tempo para o ócio criativo, mas prefere gastá-lo no consumo conspícuo da cultura de baixa densidade
camponês da primeira metade do século passado se comparada com a do homem do campo em nossos dias. Também houve avanços na tolerância. Barreiras milenares de censura, restrições morais e policiais caíram até o limite vizinho da extinção. Preconceitos antigos que regiam o comportamento das pessoas desapareceram em proveito da liberdade. Resultado da farta produção e distribuição de bens materiais, saltamos da pós-barbárie para a vida moderna. Nem tudo, entretanto, são flores. Mas é preciso perceber que há um terreno em que as virtudes da moderna tecnologia mostraram-se pouco eficazes e até contraproducentes. É o da criação intelectual, que perdeu em quantidade e até em qualidade. Atrofiou-se. Ora, pois, a demanda cresceu, a produção encolheu, a solução do século foi mediocrizar para atender às expectativas da maioria. Basta ver as nossas universidades. De centros de produção do saber passaram a produtoras em massa de técnicos de baixa extração. O que faz sucesso é a mediania. O que a massa exige não é a grandeza, o gênio criador ou até a incômoda dimensão heróica de outras épocas. A originalidade não tem valor, o que vale é a moda. As pessoas se identificam pelas grifes e se dão a todo tipo de vulgaridade, inclusive na cama. E chamam isso de felicidade.
Fábio Campana é jornalista e escritor. fabiocampana.com.br
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Política
G BABUÍNOS A política desce às cloacas com a troca de denúncias de corrupção que animam as campanhas eleitorais de 2012 e 2014 que já estão nas ruas F C
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s campanhas eleitorais de 2012 e 2014 já estão nas ruas. Toda essa troca de denúncias, acusações e factoides estampados diariamente na mídia faz parte desse processo que agora desceu às cloacas e ao vale tudo. Não há mais nenhum limite, nenhum constrangimento, contanto que o golpe seja forte o suficiente para derrubar o adversário. É a guerra de babuínos. Em confronto, esse tipo de macaco costuma agredir o inimigo lançando sobre ele as suas fezes. Grotesco. Tanto quanto a
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vida política nacional, que não oferece nada ao distinto público a não ser a troca de insultos e acusações que fazem lembrar a guerra dos babuínos. Imaginem como está a cabeça do cidadão nativo diante da enxurrada de escândalos de corrupção que atinge governo e políticos dos mais variados calibres. Nunca antes, na história deste país, para repetir um bordão do ex-presidente Lula, a credibilidade dos políticos, incluídos os governantes de todos os níveis, foi tão baixa. Na República, o governo da presidente Dilma Rousseff registrou um recorde. Nada mais, nada menos que quatro ministros caíram em menos
de oito meses. Três sob acusações de corrupção e um, o ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, por divergências políticas com o Palácio do Planalto. O último defenestrado foi Wagner Rossi, da Agricultura, que não resistiu a várias semanas de acusações públicas de corrupção no seu ministério e o do seu próprio envolvimento em irregularidades. Antes dele, dançaram Antonio Palocci, do PT, ex-ministro-chefe da Casa Civil; Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes, do PR; e Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa, do PMDB, que abandonou o barco porque foi inteligente o suficiente para perceber os sinais do naufrágio.
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AGÊNCIA CÂMARA
ROOSEWELT PINHEIRO/ABR
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Recorde do governo Dilma: quatro ministros caíram. Da esq. para a dir., Antonio Palocci, Casa Civil; Alfredo Nascimento, Transportes; Nelson Jobim, Defesa; Wagner Rossi, Agricultura
Os escândalos de corrupção não são monopólio do governo nacional. Aqui na província, depois da série infindável de denúncias cabeludas sobre desvios de dinheiro, falsificação de documentos, uso indevido da máquina em proveito pessoal e outras formas de corrupção, a Assembleia Legislativa assumiu no imaginário popular, segundo pesquisa recentíssima de fonte segura, parecença com “um antro de ladrões”. A novela da Assembleia ainda não chegou ao fim, e todos os dias seu presidente, Valdir Rossoni, promete novas revelações bombásticas, como se as que já foram oferecidas ao distinto público e que puseram na cadeia uma penca de antigos diretores e funcionários não tivessem sido suficientes para chocar a população. Mas o cenário do espetáculo agora é outro. Transferiu-se para a Câmara de Vereadores da capital e tem um alvo principal, o presidente da Casa, vereador João Cláudio Derosso. Ele é acusado de favorecer a empresa de sua mulher, Claudia Queirós, em licitação de agência de propaganda cuja vencedora foi a empresa de Claudia, a Oficina da Notícia. Derosso se defende. Diz que a licitação foi feita muito antes de ele ter se casado com Claudia e que todos os seus atos na presidência são absolutamente legais e legítimos. Qual o que. A oposição não desiste e mantém o esforço denunciatório contra Derosso. E quando os instrumentos internos da Câmara são insuficientes, apela para medidas judiciais. O objetivo é tirar o homem da presidência da Câmara e desarmar uma importante base de apoio dos tucanos que hoje apoiam a reeleição do prefeito Luciano Ducci, que é do PSB, mas alinhado com o principal líder do PSDB, o governador Beto Richa. Há outras figuras na alça de mira dos atiradores. As denúncias prosperam. O Tribunal de Contas da União determinou a suspensão dos pagamentos dos convênios firmados entre a
Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, presidida pelo deputado federal André Zacharow, do PMDB em transição para o PSD, e o
nada mais, nada menOs Que QuatrO ministrOs caíram em menOs de OitO meses Ministério do Turismo por haver indicativos de superfaturamento. A Sociedade Evangélica distribuiu nota afirmando que “desde o início da veiculação de notícias sobre as irregularidades dos convênios, a Sociedade tomou a iniciativa de suspender temporariamente todos os pagamentos... e reiterou que os convênios estão sendo executados dentro do cronograma e metas previstos”. Sustar os recebimentos não exime ninguém de responsabilidade sobre o mau uso do dinheiro recebido anteriormente. André Zacharow, deputado federal (PMDB), que sempre posou como ilustre guardião da moralidade pública, amparado pela condição de líder dos evangélicos, não escapou do fogo concentrado em cima de quem tenha qualquer indício de irregularidade no uso do dinheiro público. A verdade é que a pancadaria não cessa e ali-
menta diariamente a mídia, que adora um escândalo porque isso vende jornais e aumenta a audiência das televisões. Mas o que justifica esse furor moralista neste momento da vida política nestas plagas? Afinal, esses vícios e deformações estão aí escancarados desde há muito e os políticos sempre foram comedidos nos ataques para respeitar o código de convivência que os une e que muito se parece, em alguns tópicos, com os de organizações criminosas como a Máfia. O principal é aquele: ninguém entrega ninguém e todos se locupletam. Uma explicação que corre sobre o fio da lógica é que a política neste Brasil brasileiro deixou de ser uma atividade que respeita os princípios mais primários. A corrupção galopa em todos os níveis e os confrontos, na falta de ideias e projetos, se resumem à troca de acusações sobre a moral do adversário. Todos sabem que esses argumentos são muito eficientes para destruir a imagem do concorrente e é por aí que se decidem eleições nesta pátria, sem ao menos elites preparadas para grandes voos e grandes realizações. As disputas descem ao nível das cloacas e os debates no parlamento costumam lembrar tardias discussões em botecos da periferia mais sórdida.
o escÂndALo e o espetÁcuLo A multidão adora o enredo recheado de denúncias de corrupção. Vibra quando uma figura de alto coturno é levada ao patíbulo ou desmoralizada em praça pública. O discurso moralista estimula mágoas e ressentimentos de burgueses, setembro de 2011 |
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CMC/PR
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Os escÂndalOs de cOrrupÇÃO nÃO sÃO mOnOpóliO dO gOvernO naciOnal
O objetivo das denúncias contra João Cláudio Derosso é tirá-lo da presidência da Câmara e desarmar uma importante base de apoio dos tucanos
burguesotes e, principalmente, da classe média, que não resiste ao apelo de caça aos corruptos. Em nome da moralidade pública, os brasileiros apoiaram ditaduras e elegeram dois insanos para dirigir o país. Mal sabe que a corrupção é tanto maior onde o Estado é grande, tão grande e tão decisivo na vida de todos que toma 39% do PIB para sustentar a máquina, que é constantemente ampliada, multiplicando ao infinito órgãos, empresas, repartições, regulamentos e taxas de toda espécie. E não há nada a admirar nisso, porque a burocracia excreta naturalmente burocracia, assim como uma gata produz gatos e uma elefanta, elefantinhos. Se repartições e departamentos são o corpo do monstro burocrático, sua alma são os regulamentos e os impostos o seu meio de vida. Agora reparem que nenhum governo se dispõe a fazer o óbvio, que é a reforma do Estado, o corte radical na burocracia dispensável. Hoje todos sabem que temos burocracia demais para nossas posses e que seu custo é um fardo pesado que temos de carregar. Mas o mais importante é sublinhar que essa máquina enorme, agora também transformada em ogro filantrópico, se serve para eleger pessoas e reproduzir velhos grupos de interesse nas tetas do poder, é também a fonte principal e inesgotável da grossa corrupção. Para que tantos ministérios, secretarias, as-
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André Zacharow, deputado federal e líder dos evangélicos, não escapou do fogo concentrado sobre qualquer indício de mau uso do dinheiro público
sessores? Nesse território é que prosperam as iniquidades de que falava Rui Barbosa há mais de um século. Mas é bom lembrar que os senhores do poder foram eleitos e por um sistema que privilegia exatamente esse tipo de república. Vejam os últimos acontecimentos no governo federal. O ministro Antonio Palocci saiu no dia 7 de junho, flagrado em tráfico de influência em favor de sua empresa de consultoria, a Projeto. Ou seja, pego com a mão no jarro a providenciar seu enriquecimento ilícito. Em seguida, o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, pressionado pelas denúncias de corrupção e após a queda de altos funcionários, também abandonou o governo. No início de agosto, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na sequência de várias afirmações polêmicas, com críticas a integrantes do Executivo, foi chamado ao Palácio do Planalto e entregou o cargo. O mesmo fez Wagner Rossi, da Agricultura. E chorrilho de denúncias não termina por aí. Além desses ministérios, a crise também está instalada no Ministério do Turismo, depois da prisão do secretário-executivo e de outros dirigentes suspeitos do desvio de dinheiro público.
A eXpAnsÃo dA crise A prisão de 35 pessoas, incluindo a do secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Costa, acirrou a crise que assola os primeiros oito meses de governo de Dilma Rousseff. Ao todo, seis ministérios já foram alvos de denúncias de irregularidades nos últimos dois meses e três ministros já deixaram o cargo – apenas um relacionado às suspeitas nos ministérios. No Turismo, pasta comandada pelo peeme-
debista Pedro Novais, a Polícia Federal investiga desvios relacionados a convênios de capacitação profissional no Amapá. Na ação, com cerca de 200 policiais federais, divididos entre São Paulo, Brasília e Macapá, a PF cumpriu 19 mandados de prisão preventiva e 19 mandados de prisão temporária – também foram expedidos sete mandados de busca e apreensão. A operação investiga o desvio de recursos públicos destinados ao Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares. Além dos presos, estão envolvidos funcionários do Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável), foco da fraude, e empresários, de acordo com a PF. A devassa no Ministério do Turismo aconteceu pouco após Dilma comandar uma espécie de “faxina” no Ministério dos Transportes, alvo de suspeitas de corrupção e de superfaturamento de obras envolvendo também o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e a Valec (estatal de ferrovias). A imprensa revelou esquema de cobrança de propinas em obras federais da pasta e mencionou o envolvimento de assessores diretos do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM), que pediu demissão do cargo no mês passado. Após as denúncias, mais de 20 pessoas deixaram os cargos, entre servidores do ministério, do Dnit e da Valec. O governo também enfrenta as denúncias de irregularidades no Ministério da Agricultura desde que o ex-presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Oscar Jucá Neto, irmão do líder no governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), afirmou que “há bandidos” no órgão e sugeriu que o ministro Wagner Rossi
parágrafo, o agora ex-ministro da Agricultura anotou: “Sei de onde partiu a campanha contra mim…Só um político brasileiro tem capacidade de pautar ‘Veja’ e ‘Folha’ e de acumular tantas maldades…Fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias. Mas minha família é meu limite. Aos amigos tudo, menos a honra”. Em diálogos privados que manteve com assessores e integrantes da cúpula do PMDB, Rossi mencionou o nome que preferiu sonegar na carta. O “político” que o ex-ministro julga estar por trás das denúncias que o levaram a pedir demissão é o ex-presidenciável tucano José Serra. Na teoria conspiratória que construiu como lenitivo para o cipoal de notícias acerbas que o alvejaram, Rossi sustenta que Serra “manda” nas redações de “Veja” e “Folha”. Na cabeça do afilhado político do vice-presidente Michel Temer, a pseudoconspiração teria propósitos políticos.
PAULO H. CARVALHO/CASA CIVIL PR
os novos ALvos de investiGAÇÃo Mal recuperada da crise no ministério da Agricultura, a presidente Dilma Rousseff soube que o Ministério das Cidades libera recursos para obras classificadas como irregulares pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e que age a favor de empresas que, juntas, doaram cerca de R$ 15 milhões em 2010 para campanhas eleitorais do PP, partido que comanda o ministério. O ministro da pasta, Mario Negromonte, é óbvio, negou as irregularidades. Há mais. A imprensa revelou a existência de um esquema de cobrança de propinas dentro da ANP (Agência Nacional do Petróleo), ligada ao Ministério de Minas e Energia. A advogada Vanusa Sampaio, que representa companhias do ramo, foi procurada por dois assessores do órgão em 2008. Os dois, Antonio José Moreira e Daniel Carvalho de Lima, disseram falar em nome do então superintendente Edson Silva, ex-deputado federal pelo PC do B, e explicaram que cobravam propina em troca de facilidades na agência. O encontro foi gravado. Em nota, a ANP rejeitou as acusações, que classificou como “falsidades”, e afirmou que os dois assessores nunca foram do quadro de servidores permanentes da agência. Assim caminha a humanidade. A carta de demissão que Wagner Rossi entregou a Dilma Rousseff contém um trecho enigmático. No último
a verdade é Que a pancadaria nÃO cessa e alimenta diariamente a mídia
Em vez de esclarecer o imbróglio do uso de aviões particulares de uma vez por todas, o PT que apoia os ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo preferiu sair à caça dos informantes da imprensa e da oposição
AG BRASIL
participava de esquemas de corrupção. As denúncias levaram Wagner Rossi e Milton Ortolan, secretário executivo, a pedir demissão do cargo. Rossi transformou a Conab num cabide de empregos para acomodar parentes de líderes políticos de seu partido, o PMDB.
Rossi acredita – ou diz acreditar – que o objetivo de Serra seria enfraquecer o PMDB de São Paulo, presidido pelo filho e deputado estadual Baleia Rossi. Na cabeça de Rossi, Serra será o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo em 2012. E enxergaria no PMDB, que empina a candidatura de Gabriel Chalita, uma ameaça.
A veLHA teoriA dA conspirAÇÃo Não há notícia de que um único político graúdo acusado de corrupção tenha sido condenado à cadeia ou a devolver integralmente o que surrupiou dos cofres públicos. E também não há registro de que qualquer dos acusados, mesmo diante das provas provadas, tenha admitido sua culpa. Todos confiam na proverbial falta de memória dos brasileiros. E são tantos os escândalos que logo eles se misturam e ninguém consegue discernir quem é o acusador e quem é o culpado. A teoria mais usada pelos sicofantas desta República é o da conspiração. Sempre há uma para justificar a origem da denúncia. Foi o expediente usado pelo ex-ministro Wagner Rossi, por exemplo. Mas os fatos conspiram contra a conspiração criada por Rossi. Para tomá-lo a sério seria necessário supor que Serra dispõe de poderes insuspeitados, quase divinos. Antes de “pautar Veja e Folha”, o grão-tucano precisaria lobotomizar dois dos principais acusadores de Rossi: Oscar Jucá Neto e Israel Leonardo Batista. Jucá Neto deixou a Conab atirando para o alto: “Ali só tem bandido”, disse o irmão do líder governista Romero Jucá, num inusitado surto pró-Serra. O lobista Júlio Fróes dispunha de sala no ministério, ajeitava licitações e distribuía dinheiro a servidores, completou o serviço Israel, ex-chefe das licitações da Agricultura. Rossi se absteve de mencionar. Mas os tentáculos de Serra decerto alcançam a redação do “Correio Braziliense”. Dali partiu a notícia de que Rossi voara nas asas do jatinho de uma agro-empresa de sua cidade, Ribeirão Preto. Uma firma com interesses milionários na Agricultura. Levando-se o delírio às últimas consequências, Serra talvez tenha sugerido aos donos da empresa que oferecessem o jatinho a Rossi. Pior: o inimigo tucano pode ter infiltrado um serviçal na casa de R$ 9 milhões sob cujo teto o ministro se abriga em Ribeirão. À sorrelfa, o espião de Serra teria adicionado substância alucinógena na água de Rossi. Fora de si, o pobre embarcou “três ou quatro vesetembro de 2011 |
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zes” no famigerado jatinho. Bem verdade que a candidatura do deputado Chalita, temida pelo hipotético rival tucano, não é um portento municipal. Por ora, está mais para piaba do que para baleia. A despeito das evidências em contrário, convém não descartar a teoria de Rossi. O melhor a fazer é mesmo acreditar na conspiração de Serra. Do contrário, alguém poderia ser induzido a supor que um punhado de notícias “falsas” faz de um político de biografia impecável um ex-ministro indigno. Não, não. O país não suportaria. Conspiração, claro. Só pode ter sido uma conspiração.
A pAncAdAriA que interessA à provínciA Aqui na província cresce o fogo e a repercussão do escândalo que envolve os dois ministros paranaenses: Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Paulo Bernardo, das Comunicações. Os perdigueiros a serviço de seus opositores questionam, entre outras, o uso de aviões privados da empresa Sanches Tripoloni, que muito cresceu nesses anos em que Bernardo foi ministro do Planejamento. Por quatro vezes a revista Época perguntou a Paulo Bernardo se a informação tinha procedência. Por quatro vezes ele silenciou. Agora que o assunto se tornou público, ele negou ter usado o jatinho da empreiteira. Mas cercou sua negativa de tais cuidados que a dúvida ainda permanece. Em vez de esclarecer o imbróglio de uma vez por todas, o PT que apoia Bernardo preferiu sair à caça dos informantes da imprensa e da oposição. Encontraram impressões digitais do exsecretário da Segurança no governo Requião, Luiz Fernando Delazari. Pois bem: não é que agora as digitais do ex-secretário Delazari foram encontradas entre as fontes que distribuem informações sobre uso, supostamente indevi-
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do, de aviões privados por parte do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e de sua mulher, a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann? Esta identificação pode levar à descoberta de outro envolvido: Delazari é hoje funcionário do Senado, lotado no gabinete do senador Roberto
O códigO de cOnvivência dOs pOlíticOs se parece cOm O da máfia. ninguém entrega ninguém e tOdOs se lOcupletam Requião, conhecido desafeto de Paulo Bernardo. Ainda recentemente, foi condenado pela Justiça a pagar indenização de R$ 100 mil ao ministro por ofensas que proferiu contra ele na “escolinha” televisiva que comandava durante seu governo. Seria o mandante?
Mas essa não é a única possibilidade. O PT nacional identificou outra fonte das informações sobre os voos secretos que deixaram os ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann à beira do desemprego. Seria fogo amigo originário das próprias fileiras do PT. Supostamente, teriam partido dos deputados Dr. Rosinha (federal) e Tadeu Veneri (estadual), que querem disputar a prefeitura de Curitiba pelo partido. Essa pretensão foi abortada porque Bernardo, pensando na candidatura de Gleisi ao governo do Paraná, está preferindo apoiar o ex-tucano Gustavo Fruet. Nem bem se sentiu a salvo das denúncias sobre uso de aviões privados, a ministra Gleisi Hoffmann recebeu nova paulada na moleira. Foi acusada de ter recebido R$ 41 mil de indenização da Itaipu Binacional ao deixar a empresa para se candidatar, pela primeira vez, ao Senado pelo PT do Paraná. A indenização, equivalente a multa de 40% do saldo para efeito de rescisão trabalhista, só é paga quando o funcionário é demitido da empresa sem justa causa. Questionada, ela afirmou que “foi exonerada de Itaipu, conforme decreto publicado no Diário Oficial de 29/3/2006” e que o valor recebido “a título de indenização do FGTS foi de R$ 41.829,79”. Ex-diretor da Itaipu, o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PPS-PR), disse à Folha que quando saiu da empresa, em junho de 2004, para disputar a Prefeitura de Curitiba, foi-lhe oferecida a opção da demissão, o que lhe permitiria receber a multa de 40% mais o saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). “Na época fui informado de que receberia cerca de R$ 40 mil da multa, mas não aceitei. Eu pedi para sair e não iria usar o serviço público para ganhar dinheiro. Para mim não é algo moral”, disse.
Ernani Buchmann
Valberto, o escritor
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maginemos a hipótese. Depois de décadas, quando já não se acreditava que nascesse um escritor com talento para tanto, foi enfim publicado o grande romance da cidade. Difícil era aceitar o autor. O Valberto, quem diria. Aquele que durante os últimos 30, 40 anos frequentou o café na Boca Maldita falando baixinho, quase sussurrado, carregando sob o sovaco uns livros e um chumaço de papéis com anotações ilegíveis. Comentavam que era escritor, ainda que ninguém acreditasse: jamais havia publicado uma linha. Depois, tinha péssimos hábitos, incluindo o hálito, ainda pior. E aquele casaco ensebado que vinha sendo usado, diziam, desde a Idade Média. Aturava-se o Valberto porque tinha lido Goethe em alemão. E era dono de um exemplar de Orlando Furioso em português dos Açores, gasto por anos de pressão do braço sobre as costelas, temperado pelo cheiro de
azedo que dali fluía. Então o livro foi publicado, um tijolo de 800 páginas que contava tudo. Desde a pré-história até os dias atuais. Os episódios históricos (“Só um demente poderia afirmar que Gumercindo Saraiva desfilou a cavalo pela Rua Flores”, disse alguém no café) e as histórias sórdidas (“Dalton sem tirar nem pôr”). O protagonista renascia a cada geração, descendente do índio Tindiguera, bisneto não reconhecido de João Gualberto — e todos viam nele o próprio Valberto, denunciado pela proximidade dos nomes. Os leitores não se preocuparam com detalhes assim ínfimos. O livro foi para a lista dos mais vendidos, na segunda semana já estava em primeiro lugar. A tarde de autógrafos em um shopping paulista foi interrompida quando o autor teve câimbras nos dedos. Uma editora francesa comprou os direitos de distribuição na Europa, a edição americana estava sendo negociada. Valberto deu entrevista no programa
do Jô — mas podia ter comprado outro casaco. A crítica foi unânime: o livro significava o renascimento da literatura brasileira. Voltou para casa depois das viagens de lançamento. Na segunda-feira encostou-se no balcão, pediu um café. Foi ignorado pelos presentes, interessados em discutir os resultados do futebol. Valberto não se conteve: pela primeira vez fez uma pergunta em voz alta, como se agora tivesse adquirido liberdade para tanto: — E o meu livro, gostaram? A conversa parou, os habituês se entreolharam e alguém resumiu o pensamento coletivo: — Livro, que livro?
ernani buchmann é escritor, advogado e publicitário setembro de 2011 |
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Mund�
Vento de liberdade no IslÃ
SERGEY PONOMAREV/AP
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Rebeldes destroem estátua de Kadafi
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aiu Kadafi. Depois de 40 anos no poder, o ditador que governou a Líbia dos 29 aos 69 anos, é agora apenas um bufão que se esconde dos opositores e da grande possibilidade de ser submetido a um julgamento em tribunal penal internacional por seus crimes. É o momento mais importante da chamada primavera árabe porque significa a derrocada do ditador que sempre pareceu mais apoiado pelo seu povo. Ora, pois, os líbios estavam cansados de Kadafi e de seu regime. E seu sucesso
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muammar Kadafi já não tem futuro. apenas passado tenebroso
inspira movimentos em todo o norte da África e no Oriente Médio. Crescem os comícios, demonstrações e passeatas, protestos de uma forma geral, a favor — ou pedindo e exigindo — democratizações. Na lista de regimes ameaçados estão os da Tunísia, Egito, Síria, Iêmen, Sudão, Argélia, Bahrein, Irã, Iraque, Jordânia, Omã e Marrocos. Kadafi deixou de impor medo. Já não há risco de que comande atos de terrorismo como a queda de um avião comercial que vitimou centenas de pessoas na Inglaterra. Muammar Kadafi já não tem futuro. Apenas passado tenebroso.
MOHAMED MESSARA_EFE
Muammar Kadafi governou a Líbia durante 40 anos
Para a humanidade representa um alívio se ver livre desse duble de criminoso e personagem de circo, que torturou seu povo desde que se instalou como suserano absoluto da Líbia, sem nem de longe imaginar que poderia, de uma hora para outra, perder melancólica e violentamente o poder discricionário que gostava de exercer. Os déspotas acreditam que o seu poder é eterno. E mais ainda naquela porção do mundo onde exercem seus mandos escorados na religião. Mas há um movimento de mudança radical nesse universo. Um a um, mesmo que com dificuldades, os povos árabes vão derrubando seus algozes. A Tunísia foi o país pioneiro da primavera árabe, que fixou para 23 de outubro as primeiras eleições desde a saída de Zine el Abidin Ben Ali. No Egito, onde muitos temem que os islamitas saiam fortalecidos após a queda de Hosni Mubarak, o Exército no poder está a cargo de fazer a transição. Nestes dois países, as graves dificuldades econômicas que acompanharam as mudanças de regime levaram a comunidade internacional a mobilizar bilhões de dólares em ajuda. O Iêmen, cujo presidente Ali Abdullah Saleh está hospitalizado na Arábia Saudita após ser ferido em um ataque, corre o risco de afundar em uma situação similar a da Somália, onde reina o caos e o Estado se desintegra.
é um alívio se ver livre desse dublê de criminoso e personagem de circo O Bahrein, por sua vez, viveu sua “contra-revolução” após a repressão dos protestos de fevereiro e março. Já na Síria, o regime iniciou uma repressão massiva e agora provoca uma fuga em massa de civis para a vizinha Turquia. Na Jordânia, as dificuldades da monarquia são latentes, além de estar rodeada de vizinhos em crise. Enquanto isso, a Argélia pode acalmar os desejos de sua população recorrendo aos importantes lucros gerados por seus recursos em hidrocarbonetos. O Marrocos aposta em uma política de reformas. Apesar de o fenômeno continuar ativo no
norte de África e Oriente Médio, quem se vê sacudida agora é a China. Há várias semanas, a potência comunista enfrenta violentas manifestações que colocam em evidência a revolta crescente de boa parte da população contra o poder. Os distúrbios foram desencadeados por casos de corrupção, abuso de poder e expropriações ilegais de terras por parte de autoridades locais, o que destoa da imagem de “sociedade harmoniosa” preconizada pelo presidente Hu Jintao, num momento em que o regime tenta evitar ao máximo o contágio das rebeliões populares dos países árabes. Apesar das incertezas, há otimismo sobre as conquistas da Primavera Árabe, que colocou a democratização entre os principais assuntos de uma região que parecia condenada a seguir como um santuário de regimes autocráticos intocáveis. Muammar Kadafi não acreditou que pudesse ser alcançado. Mas estava com os seus dias contados a partir das manifestações populares, que perderam o medo do ditador. Agora, a vez parece ser a do ditador sírio, Bashar al-Assad. Ele prometeu cessar os ataques aos manifestantes sírios pela liberdade, mas como de costume não cumpriu a palavra, o que levou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon à exasperação. setembro de 2011 |
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Rogerio Distefano
Legalmente Lula
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unca antes na história desse país” uma adolescente encenou Shakespeare. Não surpreende, pois nunca antes na história “desse” país um filho de mulher que nasceu analfabeta foi eleito presidente da República (as mães dos presidentes costumavam nascer com o primeiro grau completo). Esqueçamos o Brasil antigo, estamos na era Lula, a do verdadeiro milagre brasileiro. Depois de Lula o Brasil mudou, até roubar no governo é permitido em nome da governabilidade. Se os EUA têm Reese Witherspoon, a estrela do “Legalmente Loira”, o Brasil já tem sua estrela “legalmente Lula”. Por que “legalmente Lula”? Porque neste país o político pode incluir o apelido político a seu nome civil. Daí os filhos podem incluir o apelido político do pai a seus nomes civis e assim até o infinito dos netos, bisnetos, trinetos, etc. Não é uma loucura? O que foi feito para facilitar a eleição do político pela incorporação do apelido estende-se para permitir que o filho use o apelido paterno para todos os fins, principalmente para fazer política com o prestígio do pai. Aconteceu com os filhos de Luiz Inácio da Silva, que fez carreira com o apelido Lula. Depois dele, da mulher ao neto ainda nascituro, na barriga da mãe, todos são Lula. Mas sua descendência não faz política, porque Lula funciona como um buraco negro, devorando todo o espaço político circundante. O único dos filhos de Lula que tentou se deu mal. Os lulas usam a lulice para empregos, cargos, passaportes diplomáticos, associações com empresas que os fazem milionários e agora também na arte. Então chegamos ao último dos legalmente lulas. Trata-se da garota da foto, Bia Lula, loirinha de farmácia, pequitita, baixinha, cheiinha, filha de Lurian Lula, neta de Lula da Silva, enteada-neta de Marisa Letícia Lula. Decidiu fazer teatro, assim como o tio Fábio Lula decidiu ser empresário de jogos eletrônicos e não mais controlador de animais de zoológico. Bia
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Se os EUA têm Reese Witherspoon, a estrela do “Legalmente Loira”, o Brasil já tem a estrela “legalmente Lula”
Lula sonhou alto: nada de novelas ou cinema, ou teatro de Mauro Rasi ou Miguel Falabella. Optou por William Shakespeare. Enquando o Old Vic espera sua chegada aos palcos de Londres, ela estreia no Brasil. Bia Lula começa por cima, irá ao palco na montagem de A Megera Domada, peça celebrizada no cinema por Richard Burton e Elisabeth Taylor. Dei uma olhada no “Reader’s Guide to Shakespeare” (Joseph Rosenblum, Barnes & Nobre, Nova Iorque, 1999) e fiquei impressionado com o povo que trabalhou nessa peça nos palcos ingleses: vem de Peggy Ashcroft até Judy Dench, passando por Vanessa Redgrave. Mas ninguém, ninguém, da estatura artística de um Lula da Silva. Infelizmente o Brasil ainda é atrasado, preconceituoso, ignorante. A peça de Bia Lula ficou um ano e meio à espera de financiamento, talvez impedimentos da legislação eleitoral enquanto Vovô Lula estava na presidência. Ou Marisa Letícia Lula, a “megera indomada”, não permitiu o financiamento da peça da enteada-neta. Nem Fábio Lula, o grande empresário, nosso Jerry Zuckenberg da Gamecorp, pôs dinheiro na peça da sobrinha. Mas sempre tem uma grande empresa para dar um oi para um Lula. Sim, a Oi, exato, a Oi, que despejou os R$ 5 milhões no capital da Gamecorp de Fábio Lula, liberou R$ 350 mil para a peça de Bia Lula. Por que tanto para o filho e tão pouco para a neta? Regras de mercado: filho de Lula dá grande retorno quando Lula está no governo; neta de Lula talvez garanta a presença de Lula dormindo na peça ou no folheto do teatro, com o timbre da Oi. Um único senão assusta Bia Lula: a grande imprensa, sempre tão injusta com Vovô e família.
Rogerio Distefano é advogado e colunista da Revista Ideias. Leia mais em: www.maxblog.com.br
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Segurança Pública
A A nova lei de medidas cautelares, aplicada caso o crime seja considerado de menor periculosidade, pode aumentar a impunidade e o número de crimes M B F A M
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o dia 4 de julho começaram a ser aplicadas as novas regras para a adoção de medidas cautelares. Ou seja, os crimes de menor periculosidade com pena máxima inferior a quatro anos podem ser enquadrados em medidas cautelares diversas de prisão. Entre elas, a monitoração eletrônica, a prisão domiciliar, a proibição de frequentar determinados lugares, proibição de falar com determinadas pessoas, proibição de se ausentar da comarca, recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, internação provisória, comparecimento periódico em juízo e suspensão do exercício de função pública ou de atividade econômica.
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Na lista de crimes de menor periculosidade estão: furto simples, dano, apropriação indébita, receptação, violação de direito autoral, ato obsceno em local público e bigamia, entre outros. Trocando isso tudo em miúdos, significa basicamente, entre outras coisas que, quem for preso em flagrante e o crime tiver uma pena inferior a quatro anos tem o direito de pagar fiança, que pode ser estipulada de um a cem salários mínimos, e ser liberado. Em alguns casos, de acordo com o entendimento do juiz, pode ser concedida a liberdade provisória sem fiança, ou enquadrá-la de acordo com a renda do indivíduo detido. Ou seja, por mais que o cliente seja um traficante de drogas e tenha bens em seu nome, ou como é mais comum, em nome de seus familiares, e o advogado informar que ele
é servente de pedreiro e ganha um salário mínimo, o juiz pode enquadrar a fiança de acordo com a suposta situação financeira dele.
NoVa lei, aumeNto de Crimes A lei 12.403/2001 que atualiza o Código de Processo Penal (CPP-1941) tem várias formas de ser analisada. O secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Marivaldo Pereira, disse que assim como todas as leis, ela deve ser interpretada corretamente. “Se o suspeito representa risco para a sociedade, a prisão preventiva continuará a ser decretada. Assim como para os autores de crimes com penas superiores a quatro anos”, explicou. Ele disse também que em alguns casos – como de violência doméstica contra a mulher, criança, adolescente, idoso e
pessoa incapaz ou se houver o descumprimento de outra medida cautelar – a lei determina que se continue adotando a prisão preventiva. Aparentemente, essa mudança alteraria um caso ou outro de prisão em flagrante, no entanto, na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV) de Curitiba, mudou completamente a forma de trabalho. Em apenas um mês, o número de carros furtados aumentou em 26%. O delegado Marco de Goes disse que esse aumento está diretamente relacionado com a mudança na Lei. “Os integrantes de quadrilhas especializadas em roubos e furtos de veículos, e principalmente os seus advogados, já sabem que é melhor um receptador ser preso do que um assaltante. Portanto, a forma de ação está se especializando. Quando um carro é roubado, geralmente à mão armada, em poucos minutos ele é abandonado em uma rua de pouco movimento, e logo em seguida outro integrante da quadrilha vai buscá-lo para levá-lo para um receptador. Isso acontece porque se o assaltante
De acordo com a nova lei, quem for preso em flagrante, e o crime tiver uma pena inferior a quatro anos, tem o direito de pagar fiança e ser liberado Para o delegado Marco de Goes, o aumento de carros furtados e roubados está diretamente relacionado com a mudança na lei setembro de 2011 |
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que realizou o roubo for preso com o carro, provavelmente será reconhecido pela vítima e autuado pelo crime e ficará preso, diferentemente se isso acontecer com outra pessoa”, explicou. Para o delegado, o fato de uma pessoa ser presa em flagrante e liberada mediante fiança é uma falsa sensação de impunidade, pois cada vez que o indivíduo for preso por furto, ou por receptação, será indiciado pelo crime, e cada inquérito segue individualmente, portanto, quando ele for julgado e condenado, a pena de cada processo será somada. “Um jovem que foi preso quatro vezes por furto, pagou fiança e nunca ficou preso pode ser condenado e ter que ficar até 15 anos na cadeia”, explicou.
Números No mês de junho 343 carros foram furtados e 283 foram roubados em Curitiba, revelando a média de 21 boletins registrados por dia. Em julho esse número cresceu cerca de 25% e saltou para 498 carros furtados e 302 roubados na cidade. O número de carros recuperados aumentou de 35% para 50%, um número que coloca a delegacia em destaque. “Temos cerca de 15 investigadores trabalhando dia e noite para tentar diminuir o número de furtos e roubos. Em alguns casos, quando nossos policiais encontram um carro roubado ou furtado, supostamente estacionado e com sinais de que será levado para outro local, passam dias aguardando para prender o autor em flagrante. Quando isso acontece, ele passa por reconhecimento e se for identificado pela vítima, como o mesmo que praticou o roubo, permanece preso, caso contrário, paga a fiança e vai embora”, completou. Carros Furtados Junho Julho
343 498
1.º semestre
2746
Carros roubados Junho 282 Julho
302
1.º semestre
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Carros reCuperados Junho 219 – 35% Julho
399 – 50%
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Cadeias lotadas Quem também será beneficiado pela nova Lei de Medidas Cautelares são os presos que já estão recolhidos provisoriamente. Segundo o presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Paraná, Dálio Zippin Filho, ao todo mais de 16 mil presos estão amontoados nas delegacias do Estado, e pelo menos a metade já pode ganhar a liberdade. “A nova lei é muito boa porque agora o juiz tem que se comprometer na decretação de prisão de alguém. Antes, a pessoa ia presa em flagrante até o julgamento da causa. Agora, o juiz deve examinar as condições das medidas cautelares em primeiro lugar. Se não couber nenhuma medida cautelar, aí sim pode decretar prisão preventiva do cidadão”. Um dos juízes mais atuantes do Brasil é Fábio Uchoa, titular do 1º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Ele foi responsável, entre outras condenações, pela de Elias Pereira da Silva, o “Elias Maluco”, principal acusado da morte do jornalista Tim Lopes, e dos irmãos Natalino e Jerônimo Guimarães, chefes da milícia “Liga da Justiça”. No seu ponto de vista, a nova Lei criou novas medidas para reduzir os casos de prisão preventiva, mas será um estímulo à impunidade, pois vai tirar do juiz o poder de manter na cela aqueles que deveriam ser
apartados do convívio social. Segundo informação postada no blog www.diariodeumjuiz. com, o juiz acredita que ninguém permanecerá preso – só se for reincidente. Se, por um lado, a superlotação nas cadeias está descontrolada, por outro, a solução não é colocar todo mundo na rua. “A crise carcerária é uma questão de política pública. Não é para ser resolvida pelo legislador processual”, lamentou o juiz. Ele disse também que a preocupação não é do jurista, e sim do cidadão, que vê problemas maiores no futuro.
Luiz Fernando Pereira
No blood For oil ou a obsessÃo antiamericana
O
início de agosto dos americanos foi todo dedicado ao pós-quase default da dívida pública. The great american downgrade, como está na capa da revista Times. Confesso logo que sei apenas o básico sobre o descontrole da dívida, iniciada nos anos de Bush filho. Reconhecem os americanos que entre as causas do aumento indiscriminado do déficit está o custo das últimas guerras (Afeganistão e Iraque). O “Globo” divulgou recente pesquisa do Instituto Watson de Estudos Internacionais que estimou entre 3,7 e 4,4 trilhões de dólares o custo total dessas guerras (o governo americano reconhece “apenas” um trilhão e trezentos bilhões). O teto legal da dívida pública, ampliado na data limite pelo Congresso americano, era de 14,3 trilhões de dólares. É claro que a ressaca da crise financeira, inaugurada pela quebra do Lehman Brothers, foi determinante, mas por uma ou por outra fonte é também inegável o peso das duas guerras na composição da dívida. Não é o que pensam os antiamericanos (brasileiros incluídos). Qualquer incursão bélica americana pelo Oriente Médio repercute imediatamente na venda de camisetas com o slogan no blood for oil. Os estudantes da UNE ostentam com orgulho o tal slogan, sugerindo que conhecem muito bem o que está “por trás” dos ataques americanos: o petróleo. Os americanos atacam e matam apenas para aumentar as reservas de petróleo, sustentam tão orgulhosos quanto equivocados nossos repetidores da surrada ladainha antiamericana. Não faz nenhum sentido. “A obtenção do petróleo do Iraque por meio de uma guerra seria a aventura mais antieconômica jamais levada a cabo na história da humanidade”, disse Ali Kamel no seu ótimo “Sobre o Islã”. Kamel mostra que o Iraque respondia apenas por dois por cento do abastecimento mundial, e que os americanos tinham outras tantas opções de quem seguir comprando (Arábia Saudita, sobretudo). “Comprar petróleo sempre foi mais barato do que tomá-lo”, concluiu Kamel.
Os americanos estão questionando o custo da defesa. Obama já tinha planejado poupar 400 bilhões em defesa até 2023 (acordo no Congresso prevê cortes de 350 bilhões em dez anos). Tempos antes, Eisenhower evitou a intervenção militar direta no Vietnã ao lado dos franceses exatamente em função dos custos envolvidos. Era mais importante preservar o vigor da economia americana, dizia o então presidente (li em Joseph Nye Jr., professor de Harvard, em artigo reproduzido no Estadão, sobre os custos de defesa dos EUA). Bush filho apostou em caminho oposto. A economia foi sacrificada em nome do combate à ameaça terrorista. A atual crise da dívida revelou a dimensão desse sacrifício. Imaginar que os americanos foram à guerra para aumentar as reservas (no blood for oil...)) só se justifica a partir de um raciocínio induzido pelo antiamericanismo patológico. A “obsessão antiamericana” (título do clássico de Revel sobre o tema) é orientada por certo sentimento de inveja: “Para os latino-americanos é um escândalo insuportável que um punhado de anglo-saxões, chegados ao hemisfério muito depois dos espanhóis, tenham se tornado a primeira potência do mundo”, nos explica Carlos Rangel (citado por Revel). É esse ingrediente psicológico que alimenta uma avaliação pejorativa de todo e qualquer fato a envolver os americanos. Foram à guerra? Só pode ser por dinheiro. Não adianta apresentar informações consistentes em sentido contrário, como nos apresentou Kamel. O antiamericanismo mecânico não admite sinais dissonantes. Blame America first... Indo ao aeroporto de Miami há poucas semanas, ouvi o taxista reclamando da economia e lamentando os bilhões gastos no Iraque. Fiquei imaginando se o nosso taxista soubesse que por aqui pensam que a guerra foi para lucrar com o petróleo... Confissão de final de artigo: eu era um dos estudantes com a camiseta no blood for oil no Congresso da UNE de Campinas. Também já gritei Ianques, go home. Está confessado.
no for
luiz FeRnanDo peReiRa é advogado.
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Luiz Geraldo Mazza
O bullying curitibano
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flickr / Priscila Poletto
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entre os clichês erigidos sobre o curitibano, o de sua introversão e apatia, parecem os mais falsos, e quem historicamente se ocupa de fazer-lhes a desmistificação tem sido a sua galeria de tipos populares. Da Gilda, o “chapa” Nelson Rink, que se vestia de mulher e beijava os transeuntes só para provocá-los e cuja prisão em véspera de Carnaval, a pretexto de não atrapalhar a passagem da Banda Polaca, provocou mobilização por sua liberdade imediata e que levou o travesti a deitar e rolar na Boca Maldita. Por que Gilda? Era tão nacionalista quanto o Requião e explicava que era não a Rita Hayworth, aquela do cinema, mas a Gilda de Abreu, romancista, cantora e mulher do Vicente Celestino e dava uns trinadinhos para confirmar. Essas pessoas projetavam as intenções dos mais contidos, razão pela qual eram estimuladas para a ruptura com a ordem. Faziam bullying, a sofisticação da moda e que não passa de uma deturpação do ato de “bulir”. Dos mais salientes, a Maria do Cavaquinho, uma baixinha mongoloide, fez a festa da cidade e dos tempos em que Curitiba era efetivamente uma Cidade Universitária, o que se esgotou lá pela década de 70, século passado. Ela vivia na rua e andava ora com um cavaquinho ou uma sombrinha, provocando as pessoas. Milhares de vezes, à maneira dos hindus de Gandhi, em atos de resistência passiva, deitava no meio da rua XV (aquele tempo o tráfego era em duas mãos) e bloqueava tudo como uma antecipação dos tempos atuais em que a mobilidade urbana é zerada. Obviamente, com apoio da juventude universitária que formava a claque para divertir-se. Das irreverências praticadas a mais insólita era a de pegar com a mão direita as partes baixas (a bolsa escrotal) dos homens, como se estivessem no selim de uma bicicleta, obrigando-os a marchar. Fazia isso com gente humilde e com figurões, como o diretor da Faculdade de Direito e presidente do Tribunal de Justiça, com aquele ar de jurista romano — o Ulpiano com as Pandectas entre os braços —
Oil Man não faz bullying, mas é alvo, tanto que lhe roubaram a bicicleta transpondo a Travessa Oliveira Belo aos urros diante do constrangimento público, o horror dos amigos e o deboche dos outros.
Do Esmaga ao Oil Man Provocador era o Esmaga, Alvino Cruz, o mordedor máximo, que olhava a sua clientela como se fosse um “pomar” onde colheria a grana. Certa vez o Cecílio Rego Almeida, que costumava presenteá-lo, deu-lhe duas notas de cem dólares para que falasse mal do Alvaro Dias, com quem o empreiteiro tinha a demanda da Usina de Segredo. O Esmaga fez um ar meio aturdido e perguntou como ficava a ética. Que ética? Aí ele se explicou: afinal o governador também o “armava”, isto é, lhe dava uns trocos, embora não daquela dimen-
são. Uma lição de deontologia no lugar menos apropriado, a Boca. O Esmaga era funcionário do Teatro Guaíra e criou tantas confusões que o mandaram em “exílio” para Morretes. Lá ele ficava no Bar Barril, uma passagem obrigatória entre a Estrada da Graciosa e a BR-277, e era vivamente festejado por autoridades (Italo Conti, Osíris Guimarães, Canet, Saul Raiz, Paulo Pimentel, enfim, o time todo) e isso despertou, por causa das fofocas que aprontava na cidade, a desconfiança de que era um espião do poder e ainda por cima disposto a revelar os podres da comunidade. Só sossegaram quando retornou a Curitiba.
Otelo desvendado Uma noite, no pequeno auditório do Guaíra, fui assistir Otelo pelo trio Paulo Autran-Tonia Carrero-Adolpho Celli, um dos maiores acontecimentos do teatro, até porque tempos depois provocaram um júri sobre o assassinato de Desdêmona com os professores Vieira Neto e Araújo Lima, outro evento excepcional e que vai ter a comemoração dos 40 anos. De repente vem o Esmaga na poltrona de trás e me diz que o personagem intrigante, Iago, interpretado por Felipe Wagner, é mais fofoqueiro que o Anfrísio, presidente da Boca Maldita, e vai esquentar a cabeça do “negro”, que era Otelo, sugerindo que ela o corneia, e ele, afogado em ciúme e paixão, vai matar a loira. Pedi ao Esmaga que se afastasse, mas logo depois da cena de violência ele me aparece, a carantonha entre o veludo da cortina da saída do teatro, com um ar supostamente sábio, avisando “Eu não disse?”. O derradeiro tipo das ruas hoje é o Oil Man, imitador de Elvis Presley, como o demonstrou no Jô Soares, mas silente quando anda na rua, mesmo no frio, de sunga, sempre marcial. Esse não faz bullying, mas é alvo, tanto que lhe roubaram a bicicleta.
luiz geraldo mazza é jornalista.
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Turism�
O paraÍso mora ao lado Estado de Santa Catarina se consolida como bom anfitrião quando o assunto é turismo D M F F M
Vista do mirante 360º das praias de Mariscal e canto Grande em Bombinhas
uem não gosta de um bom lugar para descansar com belas praias e paisagens de encher os olhos? Todo mundo gosta, claro. Mais ainda se ele estiver bem perto e acessível às condições financeiras do visitante. Esse lugar existe e tem atraído muitos turistas: Santa Catarina. Esse fabuloso estado traz uma diversidade imensa de cenários que conquistam quem o visita. No interior, as paisagens rurais, os núcleos urbanos progressistas e uma natureza exuberante com montanhas, cânions,
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vales sinuosos, rios e centenas de cachoeiras escondidas na Mata Atlântica mais preservada do Brasil. Nas regiões serranas, faz frio e neva — incrivelmente, isso acontece todos os anos. Além disso, claro, o estado de Santa Catarina é conhecido por suas mais de 500 belíssimas praias que compõem os 560 km da costa catarinense — que parece ter sido desenhada de modo artístico. E é nesses refúgios que os turistas gostam de ficar, para estar perto do mar. E isso tem ocorrido com maior frequência nos últimos anos, levando a um aumento de visitantes aos balneários catarinenses durante a baixa temporada (março a julho).
Indo na contramão do cenário de evasão de turistas brasileiros ao exterior — motivado pela baixa do dólar, Santa Catarina tem mostrado aos outros estados brasileiros que há como conquistar o turista em todas as estações do ano, basta ser um bom anfitrião. Houve significativos e constantes incentivos e investimentos dos setores público e privado em infraestrutura e divulgação dos destinos, roteiros e produtos turísticos. Municípios e regiões turísticas despertaram para o potencial econômico da atividade e já constituíram 13 Convention and Visitors Bureaux e criaram roteiros regionais integrados e novos produtos. Com essa visão, o turismo no estado mobiliza mais de oito milhões de pessoas anualmente — número que inclui os visitantes estrangeiros, brasileiros de outros estados e catarinenses em viagem dentro do próprio estado. A prestatividade e simpatia do povo catarinense se destacam dentro desse cenário de crescimento do turismo local. População essa que é resultado da colonização efetuada por imigrantes europeus, que influencia até hoje a expressão cultural, a arquitetura e a gastronomia regionais, trazendo referências de portugueses açorianos, alemães, italianos, ucranianos, poloneses, tiroleses, africanos e índios.
No caso dos curitibanos, tudo fica ainda melhor. A distância é companheira e a estrada também. Descansar e aproveitar o paradisíaco litoral catarinense que fica a aproximadamente três horas de distância. De Curitiba são cerca de 250 km, seguindo pela BR 101. Há três pedágios, mas valem a pena. O preço é justo e a estrada apresenta boas condições para uma viagem agradável e segura. Cabe lembrar que, além dos brasileiros, quem também usufruem das delícias do turismo catarinense são os turistas vindos de países da América do Sul. Por isso, não é raro encontrar argentinos e uruguaios, por exemplo, aproveitando tudo o que há de bom em Santa Catarina.
Vizinhos do paraíso Quem tem esse paraíso como vizinho, agradece e aproveita. Paranaenses e gaúchos não perdem tempo, fazem as malas e pegam a estrada (ou correm para o aeroporto) também durante o inverno. Pode não dar praia, mas dá diversão. As opções para aproveitar o lugar e suas belezas são variadas e acompanham muita cultura e boa gastronomia.
Menina dos Olhos A região que mais se destaca na bela Santa Catarina é conhecida como Costa Esmeralda — que compreende os municípios de Porto Belo, Itapema e Bombinhas. A oferta de bons restaurantes e hospedagem de primeira têm direcionado turistas para conhecê-la melhor. Durante o inverno, o visitante que chega à Costa Esmeralda tem a oportunidade de conhecer um dos projetos inovadores que acontecem nessa região de Santa Catarina: os cardápios especiais da rota gastronômica — consolidada dentro da Semana Internacional de Gastronomia da Costa Esmeralda, que acontece há quatro anos. Nessa época é possível desfrutar pratos desenvolvidos por grandes chefs de restaurantes locais ou comer um maravilhoso peixe numa comunidade de pescadores, com um sabor incrível, regado a bom bate-papo.
Pôr do sol na Baía de Porto Belo
Pousada Vila do Farol
Massa Negra do restaurante da Pousada Georges Village
Fim de tarde na praia de Itapema setembro de 2011 |
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Fruto da Costa, da Petiscaria Tatuíra Canto Grande
Corvina à moda da Galícia do Tatuíra Porto Belo
Peixe à moda Nelinho
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Gastronomia Açoriana A base da gastronomia da Costa Esmeralda utiliza frutos do mar como peixes, marisco, camarão, lula, entre outras delícias. Os cardápios são variados e ressaltam as especialidades da cultura local, com diversidade de ingredientes açorianos. Além disso, é possível conferir cozinhas consagradas, como a italiana, francesa e alemã nos restaurantes da região. Alguns estabelecimentos ofertam pratos da rota gastronômica, que são de encher os olhos e agradar qualquer paladar, do simples ao arrojado. Na Petisqueira do Nelinho, localizada no bairro Santa Luzia, por exemplo, é possível conferir o prato da casa “Peixe à moda Nelinho”, que traz temperos açorianos e colocam o turista numa atmosfera agradável de uma vila de pescadores. Já no restaurante da Pousada George’s Village, o cardápio traz a “Massa negra com molho de frutos do mar”, que fica ainda melhor se acompanhada de um bom vinho. E nesse quesito, a casa não deixa a desejar com uma carta especial. Em todos os restaurantes, os pratos do cardápio da rota gastronômica são bem servidos e atendem duas pessoas — além de terem preços acessíveis. Hospedagem de primeira A infraestrutura hoteleira e de eventos acompanhou o desenvolvimento de Santa Catarina — os bons espaços para grandes eventos já superam uma centena e os mais de 2,5 mil meios de hospedagem oferecem cerca de 280 mil leitos. Assim, viajar até as lindas praias catarinenses durante o inverno é tão bom quanto no verão. Se não dá praia, dá para aproveitar as diversas alternativas de diversão que a rede hoteleira oferece aos visitantes. Há diversas opções de hospedagem, que oferecem ao turista a opção de a praia ficar só como cartão postal. Os hotéis e pousadas do litoral catarinense qualificam a prestação de serviço e capricham quando o assunto é a oferta de atividades para movimentar o dia do turista, seja ele adulto ou criança, ou esteja em grupo de amigos ou famílias. A pousada George’s Village é um exemplo disso. Localizada na praia de Bombinhas, apresenta infraestrutura diferenciada em meio a uma mata preservada. Seus chalés confortáveis dão um charme todo especial à estadia. Além de uma ampla sala de estar, o turista tem à sua disposição uma hidromassagem na varanda, da qual ele pode apreciar toda a beleza das praias vizinhas e se embriagar com um pôr do sol inesquecível. Para completar, a pousada oferece um restaurante próprio, com um renomado chef, criando pratos especiais durante o ano todo — estão inclusos no cardápio os pratos da rota gastronômica da Costa Esmeralda. Com a característica marcante de ofertar diversas atividades de recreação que seduzem adultos e crianças, a pousada Vila do Farol — localizada à beira do mar — ganha destaque ao oferecer aos hóspedes momentos de diversão com a família, além de toda a segurança e conforto.
Semana Internacional de Gastronomia da Costa Esmeralda Santa Catarina é um estado que está um passo à frente na busca por colher e manter turistas visitando suas praias o ano todo. Um exemplo é o investimento na área gastronômica. No mês de julho, o estado recebeu a 4ª Semana Internacional de Gastronomia da Costa Esmeralda, que é realizada pelo Convention & Visitors Bureau da região, com o apoio do Sebrae. Neste ano, alguns dos principais chefs do país mostraram a vanguarda da cozinha nacional e internacional. Alex Atala, Bel Coelho, Claude Troisgros, Helena Rizzo, Roberta Sudbrack, Alessandro Segato foram as estrelas desta edição do evento. A cada ano, a iniciativa se apresenta mais inovadora e ousada quando o assunto é preparação para receber os turistas. Para que tudo corra bem, empresários e poder público se uniram e trabalham para que, a cada ano, os municípios tenham infraestrutura, pessoas capacitadas e possam atender com qualidade às demandas de estadia, alimentação e diversão. De acordo com o presidente do Convention Bureau da Costa Esmeralda, Luiz Otávio Lustosa, o evento tem fortalecido o segmento de gastronomia do lugar. “As outras edições já mostraram que a região tem a qualidade necessária para atrair fluxo de turistas fora da temporada de verão”. SERVIÇO: Hotéis e Pousadas • Pousada Georges Village Av. Vereador Manoel José dos Santos, 195, Centro Bombinhas/SC Fone/Fax: (47) 3369-2177 georgesvillage@uol.com.br www.georgesvillage.com.br • Pousada Vila do Farol Av. Ver. Manoel José dos Santos, 800 - Centro - Bombinhas/SC Fone: (47) 3393-9000 Fax: (47) 3393-9005 Toll Free: 08006439393 reservas@viladofarol.com.br www.viladofarol.com.br Restaurantes • Petisqueira do Nelinho Endereço: Rua João Regis Neto, 513, Santa Luzia - Porto Belo/SC Fone: (48) 3263 - 1927 • Tatuíra Endereço: Av. Governador Celso Ramos, 2460, sala 08 – Centro Fone: (47) 3369-5150
Rubens Campana
Dignidade burguesa
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economista e historiadora Deirdre McCloskey chama a atenção para o gigantesco aumento no padrão de vida dos seres humanos que começou há cerca de 200 anos. É quase impossível superestimar a mudança: uma mudança surpreendente e magnífica, não apenas pelo seu impacto na vida de homens e mulheres comuns, mas também por ser a mudança mais surpreendente que nós seres humanos temos experimentado em nossas vidas nos últimos 70.000 anos neste planeta. Durante 99,7% do tempo em que nossa linhagem de macacos bípedes e de pouco pelo caminhou sobre a Terra, trilhamos nosso caminho sob condições materiais que você e eu, em 2011, consideraríamos intoleráveis. Então, de repente, começando meros 200 anos atrás, no noroeste da Europa, ocorre algo incrível. A riqueza material começa a jorrar para dentro não apenas dos castelos e palácios dos senhores da nobreza, mas para as humildes casas dos camponeses e da plebe — aquelas pessoas que, geração após geração, haviam até então tido vidas pobres, sórdidas, embrutecidas e curtas. A história econômica, se representada em um gráfico, parece-se com uma linha que segue estável pela maior parte do tempo e que de repente inclina-se vertiginosamente para cima. Durante milhares de anos, crianças poderiam esperar viver em um mundo quase igual ao de seus avôs, e a experiência material de um homem comum que viveu na época de Camões era apenas um pouco melhor do que a de um que viveu no tempo de Platão. Desde o início do século 18, o mundo mudou mais rapidamente em cada geração do que havia mudado em milênios. Por todos os critérios, a vida humana tem melhorado de forma impensável há 300 anos: não apenas em prosperidade, mas também em expectativa de vida e saúde. Estudiosos, é claro, oferecem há décadas diferentes respostas para as perguntas que rondam o mistério do desenvolvimento econômico. Sabemos que a explicação não pode estar em qualquer mudança na inteligência nativa ou na natureza humana. Do ponto de vista do poder bruto do cérebro, seus antepassados que viveram 15.000 anos antes de Cristo eram tão po-
tencialmente inteligentes quanto você. E eles eram praticamente idênticos a você em seus medos, preocupações, paixões e desejos por comida, vestuário, abrigo, sexo e conforto. Nem a explicação pode vir dos “recursos naturais”: minério de ferro, carvão e petróleo não surgiram por mágica durante o reinado do rei George III na Inglaterra. Algumas explicações mais conhecidas são favoritas da esquerda: a riqueza teria sido arrancada pelos capitalistas do suor dos colonizados, dos escravos e dos proletários. Outras agradam à direita: os valores judaico-cristãos europeus teriam levado os indivíduos a trabalharem mais e economizarem mais. Seja espremendo a classe trabalhadora ou poupando, o capital produtivo teria sido “acumulado” na Europa ocidental. McCloskey examina estes e outros argumentos em detalhe e acha que todos eles são inadequados ou insuficientes. Existem vários enganos. Analisemos, por exemplo, o argumento de que a chave estaria nas taxas sem precedentes de poupança na Europa. Acontece que, nos séculos 18 e 19, nem os europeus em geral, nem os britânicos em especial, pouparam em média partes maiores de suas rendas do que, por exemplo, romanos no tempo de Cristo. E mesmo se os britânicos pouparam mais em algum momento, os montantes são muito pequenos para produzirem efeito tão gigantesco nos padrões de vida. Outros argumentos são perturbadores, como a insistência marxista de que a riqueza capitalista foi criada pela exploração das classes trabalhadoras. O problema aqui é que nenhuma classe de pessoas ao longo dos últimos dois séculos gozou de melhoria tão grande — tanto absoluta quanto relativa — em seu padrão de vida do que as classes muito trabalhadoras da Europa ocidental, de quem a riqueza capitalista supostamente foi extraída. Se esse é o destino dos explorados, por favor, coloquem mais gente na fila. McCloskey analisa cada uma das hipóteses que têm sido oferecidas ao longo dos anos. Nenhuma funciona. Adam Smith, por exemplo, estava correto em pensar que maior especialização e uma ampliação dos mercados aumentavam a riqueza das nações, mas o fato em questão é grande demais para ter sido resultado apenas disso.
Aconteceu outra coisa. Uma coisa que, até agora, havia sido negligenciada. Essa outra coisa é o que McCloskey chama de “A Reavaliação Burguesa”. Só quando comerciantes e homens de espírito prático em busca de lucro passaram a ser respeitados — e tratados publicamente com respeito, e até admiração — foi que o status social da burguesia aumentou o suficiente para tornar a entrada nesse grupo algo muito desejável. Primeiro na Holanda, e um pouco depois na Inglaterra, algo inédito surgiu: a dignidade burguesa. Como afirma a autora, a explicação para o mundo moderno não se encontra dentro das ciências econômicas. Comerciantes, inovadores e pessoas de negócios pela primeira vez na história humana passaram a ser não apenas tolerados, mas respeitados. A produção voltada inteiramente para o lucro e o comércio, pela primeira vez em 70 mil anos, tornou-se amplamente considerada como válida e benéfica não apenas para os produtores que ganhavam com os lucros, mas para toda a sociedade. E também crucial, muda a retórica sobre empresários, busca de lucro, riscos, arbitragem e aquilo que hoje chamamos de capitalismo e destruição criativa. Carregamos a impressão de que a Revolução Industrial foi inevitável, ou necessária, ou algo que eventualmente ocorreria. Essa impressão é um engano: humanos no noroeste da Europa tiveram alguma sorte em chegar a essa ideia diferente e inédita, até estranha: a de que ser produtivo era uma virtude que, mesmo se usada para fins particulares, trazia bons resultados a todos. Imagine viver com cerca de R$ 5 por dia: com esse valor você precisaria comer, se vestir e ter abrigo. É com esse nível de consumo que grande parte do planeta vive, e, se a ideia da dignidade burguesa não tivesse incendiado ao menos parte do mundo, é seguro dizer que todos nós ainda estaríamos vivendo assim. A opinião expressa nos artigos é exclusivamente do autor e não reflete a posição do Ministério das Relações Exteriores.
rubens campana é diplomata.
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Reportage�
Morri. E agora? Do enterro convencional à transformação de cinzas em esculturas, quadros, joias, diamantes e até envio à lua. Do velório que se transforma em evento social. Descubra tudo o que está disponível no concorrido mercado funerário.
EDUARDO REiNEHR
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ada mais precisa ser simples e trivial. Tudo pode ser reinventado, até mesmo quando o negócio é a morte. O mercado funerário de Curitiba, apesar de seguir lei municipal rígida em relação à concorrência, é muito disputado. São 21 funerárias que oferecem da cerimônia básica à superluxuosa. Reinventam-se a cada dia e abrem mercado para ofícios singulares. O primeiro passo após o óbito é procurar o Serviço Funerário Municipal, que emitirá a ficha de acompanhamento funeral, documento necessário para a liberação do corpo e para fins de sepultamento, explica a diretora do Departamento de Serviços Especiais da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, Adriana Arcenio. O responsável deve estar munido da declaração de óbito fornecida pelo hospital, pelo Instituto
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da cerimÔnia básica À superluxuosa, o mercado funerário abre espaço para ofícios singulares
Médico Legal (IML) ou pelo médico responsável e documento de identidade com foto da pessoa falecida. O responsável também precisa apresentar seu documento de identidade. Um enterro simples, sem contar o valor do túmulo no cemitério, custa R$ 171, que inclui o valor do caixão mais humilde e o transporte. Para aqueles não têm condições de gastar o mínimo ou quando se trata de indigentes, o enterro pode ser gratuito. Há um acordo entre prefeitura e funerárias, que arcam com os custos desses enterros. Por ano, segundo dados do Departamento de Serviços Especiais, são atendidos 1.600 funerais de carentes e indigentes. “É fornecido urna básica com paramentos, capela para velório nos cemitérios municipais do Santa Cândida e Boqueirão, primeira via da certidão de óbito e dispensa de taxas devidas aos cemitérios”, explica Adriana.
Eduardo Reinehr
Eduardo Reinehr
A Prefeitura oferece a essas famílias jazigos nos cemitérios Santa Cândida, Boqueirão ou Parque São Pedro por três anos, prazo em que o familiar deve realizar o translado dos restos mortais. Caso o familiar não procure a administração do cemitério para a regularização, os restos mortais serão depositados em ossuário do cemitério.
Do pó viemos e ao pó voltaremos A princípio a cremação costuma ser rejeitada ou esquecida por parecer um processo oneroso. Mas comparada a todas as taxas de um sepultamento convencional, cremar ainda é mais econômico do que sepultar. A sócia e diretora de marketing do Crematório Vaticano, Mylena Cooper, explica que hoje o preço da cremação em Curitiba custa em média R$ 3 mil. Só a gaveta de um cemitério da Região Metropolitana, por exemplo, não sai por menos de R$ 4 mil. “No Cemitério Iguaçu, um dos mais caros, uma gaveta pode custar até R$ 40 mil. E isso é só a gaveta. Para enterrar tem ainda a taxa de sepultamento, que custa cerca de R$ 270, fora a manutenção. Enquanto o corpo estiver no cemitério é cobrada uma espécie de aluguel. O custo anual em Curitiba varia de R$ 300 a R$ 600. E depois, caso a família queira retirar o corpo do cemitério, deve pagar ainda a taxa de exumação, que não é barata”, detalha.
Mylena atenta também para outro fator no caso dos cemitérios, não monetário. “Hoje em dia as pessoas não vão muito ao cemitério. Meu avô morreu há dois anos e meus tios também há pouco tempo. Eu fui ao cemitério visitar o túmulo do meu avô umas duas vezes. Se você trabalha até seis horas da tarde e quer visitar o túmulo durante a semana, tem cemitério que fecha às cinco horas. E as novas gerações estão mais desapegadas”. Somado a esses fatores a cremação tem a vantagem de ser a alternativa que menos agride o meio ambiente. E se o desejo é dar um destino diferente para o ente querido, o primeiro passo é justamente a cremação. É a partir das cinzas do morto que se pode inventar de tudo, e nem mesmo o céu é o limite. Até para se despedir das cinzas existem alternativas. Se a ideia é jogar ao mar, há uma urna biodegradável especialmente elaborada para a ocasião. Feita de papel machê e colorida com tintas naturais, a urna em formato de concha é das “mais vendidas no litoral”, explica Mylena, que apresenta também as urnas feitas de areia e gel (hidrossolúvel) e uma que acompanha sementes de árvores nativas com instruções de plantio. “Quando uma pessoa é cremada, as cinzas se transformam numa espécie de adubo, rico em cálcio, magnésio e outros
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Urna hidrossolúvel composta de areia e gel (esq.) e ao lado, modelos biodegradáveis com sementes de árvores nativas
O artista plástico Tony Reis retoca escultura feita com cinzas setembro de 2011 |
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Quando a equipe da Ideias chegou até a casa de Leroy Gaspar da Silva, de 75 anos, foi para entrevistá-la sobre seu falecido marido, Jorge Gaspar da Silva, e a opção inusitada de transformar em diamante as cinzas do companheiro. Mas a boa surpresa não se restringiu à beleza da pedra preciosa emoldurada em joia. Ao som animado do rádio que tocava na cozinha, Leroy nos seduziu com sua vivacidade. Leroy gastou R$ 13 mil para transformar as cinzas em diamante e foi a primeira no país a contratar o serviço. “Não imaginava tanta repercussão. Quando resolvi cremar os restos mortais do meu marido, me informaram sobre essa novidade e achei muito legal”. Isso foi em 2009. Mas a história começa antes. Foi nos idos de 1994 que Jorge, com problemas cardíacos e operado do coração, não resistiu a uma recaí da e faleceu. Foi enterrado à maneira antiga e
O diamante de 0,25 quilates foi feito com 500 gramas das cinzas do marido 38
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ficou sepultado até 2009 no Cemitério do Barigui. Leroy conta que enquanto seu marido esteve no cemitério, pagava mensalmente um coveiro para cuidar do túmulo. “Está cuidando dele direitinho?”, perguntava pro rapaz e ele dizia “Estou, mas ele tem reclamado que a velha dele quase não aparece”. Então eu devolvia “diga pra ele que a velha dele está indo para o baile!”, relembra dando risadas. Apesar da brincadeira, Leroy se sentia mal por não visitá-lo com mais frequência. Foi quando começou a pensar no seu próprio destino e como era difícil a rotina do cemité-
Eduardo Reinehr
Eduardo Reinehr
Meu marido é joia
rio. Resolveu que queria ser cremada quando morresse. Foi se informar sobre planos funerários e sobre cremação. E por curiosidade, perguntou se era possível cremar alguém falecido há mais tempo e soube que era possível. Não teve dúvidas. Exumou o corpo do marido, cremou e só depois optou pelo diamante. Quando foi buscar as cinzas no Crematório Vaticano recebeu a proposta e topou. A produção da pedra é feita por uma empresa suíça chamada Algordanza. O diamante de 0,25 quilates que Leroy encomendou foi feito com 500 gramas das cinzas do marido. “Então ele foi para a Suíça e depois de seis meses voltou. Veja só, eu não fui para a Suíça e vai ele passear. Eu pagando para ele se divertir (risos)”. Para Leroy o que importa mesmo é aproveitar a vida e deixar o mínimo de trabalho para seus familiares. Por isso, paga um plano funerário e já pagou sua cremação. A rotina dessa viúva cheia de vida é agitada. Vai à academia todos os dias de manhã, faz musculação e natação. Algumas tardes ela aproveita na sauna. Nos fins de semana bate carteirinha no Círculo Militar, onde participa ativamente da diretoria e perde tardes inteiras tomando uma cervejinha com amigos. E não dispensa um bom carteado. Vira a noite com familiares em sua casa jogando e bebendo. “Me perguntam ‘você não tem juízo?’ E eu digo que nem um pouco. Depois que meu marido faleceu, caíram todos os parafusos. Eu pinto e bordo.”
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Momento final do velório quando cai chuva de pétalas sobre o caixão. Este é o grand finale de algumas cerimônias funerárias.
minérios. A urna biodegradável com sementes pode ser enterrada com as cinzas, e teremos uma árvore em homenagem à vida da pessoa”. Parceiro do Crematório Vaticano, o artista plástico Tony Reis utilizou cinzas para fazer arte. A pedido de familiares, fez até hoje três trabalhos. O que ganhou maior repercussão foi uma escultura com as formas de uma mulher grávida. O rapaz que contribuiu para a composição da arte tinha como passatempo desenhar belas mulheres e um desejo grande de ser pai. A escultura, segundo a família, é uma homenagem ao rapaz. A diretora de marketing do Vaticano conta ainda sobre um quadro pintado com a imagem de uma santa, em que foi misturado cinzas à tinta. E também retratos feitos com cinzas e grafite. A escultora Graciela Scandurra, que fez uma escultura intitulada “Flor para um diamante” diz que sempre teve vontade de realizar trabalhos com cinzas. “Acho que a arte é uma forma de revitalizar o espírito por meio da matéria”. Essa nova proposta da arte como forma de homenagear os que se foram cria um nicho de mercado totalmente diferenciado. O artista Tony
Reis acredita que há muito ainda a investir e inventar. Atualmente ele trabalha em urnas para cinzas, mas de bichos de estimação. “As pessoas têm seus animaizinhos como filhos e também querem dar um destino digno a eles”, defende.
ao infinito Não há mesmo limite para as cinzas, nem mesmo o céu. É possível enviá-las ao espaço e ter suas cinzas espargidas na superfície lunar. Outros níveis são o da órbita terrestre, o suborbitário e o espaço profundo. O serviço é realizado pela Celestis, empresa dos Estados Unidos especializadas em voos espaciais memoriais e que tem parceria com a agência espacial Nasa. A diretora do Vaticano conta que até o ano passado o serviço era muito caro. “Conseguíamos oferecer esse serviço aqui no Brasil por aproximadamente R$ 13 mil. Hoje é possível enviar as cinzas ao espaço por menos de R$ 4 mil. E já temos uma pessoa interessada, uma viúva cujo marido era um apaixonado por astronomia”. Para o “funeral espacial”, parte das cinzas é colocada em uma pequena cápsula e enviada à sede da Celestis nos Estados Unidos. A cápsula
permanece lá até o lançamento do foguete que vai levá-la ao seu destino final. Os parentes recebem um convite para o evento, caso desejem participar, porém as despesas de viagem não estão incluídas no pacote. Todo o lançamento é gravado em vídeo, que pode ser assistido depois.
Velório evento Um anfiteatro à meia luz, com poltronas largas e aconchegantes. No telão suspenso, a projeção de imagens de uma vida que chegou ao fim. Acompanhada da narração marcante do mestre de cerimônias, a falar sobre as características do falecido e tudo que fez em vida. À frente o palco vira altar, com o esquife posto ao centro. A comoção é geral. Ao fim do vídeo, uma chuva de pétalas cai sobre o morto e a cortina do palco se fecha. Este é o grand finale. É a releitura do ritual fúnebre. O funeral passa a ser um verdadeiro evento social de despedida. Essa é só a conclusão do velório. Antes disso, nas 24 horas que antecedem o adeus final, há toda uma estrutura oferecida a família e amigos. Na sala ampla onde fica o velado, poltronas confortáveis para os visitantes. Anexo, um quarto com espaço setembro de 2011 |
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Sala de Memórias do Crematório Vaticano que fica aberta 24 horas para visitação
para repouso e banheiro com chuveiro, para os que ficam o tempo todo ao lado do falecido. E uma antessala onde é servido café, chá e lanchinhos. Nos dias mais frios, até sopa. E se a família desejar, bebidas alcoólicas como cerveja e uísque. E engana-se quem pensa que os velórios são cerimônias tranquilas e silenciosas. Regado a muito whisky e rock’n’roll, um grupo de motociclistas transformou em festa o velório do amigo. “Passaram a noite toda bebendo muito e ouvindo o som altíssimo!”, conta Mylena que relembra ainda outro episódio: “Certa vez um grupo bebeu tanto que chegou a encher dois sacos enormes de lixo com latinhas de cerveja. A animação foi de tal maneira que finalizaram o velório dentro da fonte de água que fica em frente à capela”.
Próximo! Em Curitiba, para cada pessoa que falece há uma funerária que será designada para realizar o serviço funerário. Em primeiro momento, não é a família que escolhe qual empresa que atenderá o falecido. É uma espécie de rodízio entre as 21 permissionárias do Serviço Funerário Municipal, elegidas através do Decreto 737/91. A Prefeitura defende que “para uma divisão equitativa, as permissionárias atenderão aos usuários de forma escalonada, mediante escolha aleatória, através de sistema eletrônico de processamento de dados”. A escolha é feita na presença do usuário. Não foi sempre assim. O sistema opera há dois anos e foi criado para evitar as funerárias do tipo “papa defunto” que ficavam de plantão nos hospitais, no IML, e até em estradas, só esperando pelo próximo. Mal os familiares perdiam um ente querido e as “papa defuntos” estavam em cima. A falta de ética e profissionalismo levou a Prefeitura a implantar o rodízio, com a publicação do Decreto 1597/2005. Apesar de ter sido criado para evitar o agenciamento, que é a abordagem por essas empre40
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sas “papa defuntos”, algumas funerárias alegam que o sistema fere a lei do consumidor, uma vez que a pessoa não escolhe espontaneamente. Para Mylena o rodízio funcionou no combate ao agenciamento, mas ao mesmo tempo prejudicou a concorrência entre as empresas do setor. “Nós construímos uma capela confortável, temos ISO 9001, vamos ao exterior trazer novidades, oferecemos várias condições de pagamento. Todo esse investimento é para atender bem o cliente no lado humano, mas também comercial. Caso ele precise novamente dos serviços no futuro, tem confiança na gente. Só que com o rodízio me diga, por que uma funerária vai atender bem o cliente? Se ela sabe que daqui a pouco vai bater alguém na porta dela indicada pelo sistema?”, questiona. A situação fica ainda mais complicada quando envolve Planos Funerários. “Quando uma pessoa paga um plano funerário com nossa empresa, mas o sistema indica uma terceira, nós não atendemos o cliente diretamente. Temos que pagar para a escolhida atender nosso cliente. E se essa empresa não o atender bem, somos nós os responsabilizados perante o cliente”, alega Mylena que conclui “ficou mais burocrático para a família”. Em contrapartida, a Prefeitura alega que o sistema não fere o Código de Defesa do Consumidor, pois caso o familiar não concorde com a escolha da funerária, mediante justificativa, poderá retornar ao Serviço Funerário para nova escolha aleatória. De acordo com o Departamento de Serviços Especiais, o sistema está atendendo a contento e, portanto, não há qualquer previsão de mudança do atual Decreto 699/09.
Tabelado Outros serviços que são regimentados pela Prefeitura, herdados da administração anterior, são os preços tabelados e a padronização de urnas mortuárias. Os valores variam de acordo com o padrão escolhido pelo familiar, de
Já imaginou chegar a um velório e encontrar o defunto em pé? No mínimo o susto do desavisado seria grande. Parece brincadeira, mas em 2008, uma funerária local de Porto Rico embalsamou Ángel Luis Pantojas Medina, um jovem de 24 anos que manifestou o desejo de ser velado em pé e sorrindo seis anos antes de morrer. E a moda pegou. Dois anos depois, em 2010, disposto em sua moto, o também porto-riquenho David Morales Colón foi velado. O cadáver embalsamado de Colón, de 22 anos, foi colocado em cima da sua Honda CBR600 F4 como se estivesse andando nela. A motocicleta, que ganhou de um tio pouco tempo antes, estava avaliada em US$ 14 mil e não foi enterrada junto ao corpo.
divulgação
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FUNERAIS NADA ORTODOXOS
VELÓRIO.COM Alternativa para quem está distante e não pode acompanhar a cerimônia presencialmente, o Velório Virtual é transmitido por câmeras instaladas na capela e ligadas a um computador. Para acompanhar o velório, os familiares recebem um endereço exclusivo de acesso. A tecnologia ainda é falha por conta da diferença de velocidade da rede de acordo com a localidade de acesso à internet. Mas promete ser aprimorada.
R$ 171,10 a R$ 3.840,60. São 13 modelos aceitos. Na parte dos serviços facultativos, a tabela é a seguinte: Ornamentação da urna Véu em tule
R$ 72,00 (meio corpo) R$ 144,00 (corpo inteiro) R$ 15,00
Maquiagem necrófila
R$ 120,00
Toilett
R$ 100,00
Serviço: O Serviço Funerário Municipal está localizado na Praça Padre João Sotto Maior - anexo ao Cemitério Municipal São Francisco de Paula. O atendimento é 24 horas.
Carlos Alberto Pessôa
Bate bola sobre a copa
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ia desses recebi por e-mail o que segue: “Olá, meu nome é Gustavo e sou estudante de jornalismo da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Fui designado para fazer uma entrevista com alguém sobre o impacto socioeconômico que a Copa do Mundo de 2014 terá sobre o Brasil. Não sei se esta é exatamente a sua área, mas gostaria de pedir para responder algumas perguntas relativas a este assunto. E, se possível, responda até esta segunda-feira (27/07). Se não for possível, agradeceria se respondesse da mesma maneira, pois posso usar a entrevista no futuro.”
renda por cabeça acima de 12 mil dólares. 3 – As previsões de investimento na infraestrutura e nos estádios para a Copa tendem a suprir as necessidades desse megaevento? Por quê? R.: Suspeito que sim, os investimentos ultrapassarão a Copa! Ficarão. E como percentual do PIB é desprezível. 4 – Quais as áreas que necessitam de um investimento mais imediato para, em 2014, os resultados serem satisfatórios? R.: A infraestrutura em torno dos estádios, a que leva aos estádios, os estádios!
1 – Quais os principais impactos que um megaevento como a Copa do Mundo tem sobre a economia nacional? R.: Óbvio, ululante: antes, durante e depois da Copa os efeitos serão visíveis: obras, muitas obras, especialmente as de infraestrutura; turismo; divulgação do País no mundo, mundo, vasto mundo.
5 – A Copa do Mundo dará um retorno mais econômico ou mais social ao Brasil? De que forma isso ocorrerá? R.: Certamente perderemos dinheiro se compararmos o que faturaremos com o que gastaremos, socialmente haverá lucro, isto é, as obras melhorarão a vida das pessoas, mas o maior ganho será a exposição do País ao mundo. Que nos desconhece, ignora. Será boa ocasião para dar uma melhorada na nossa imagem.
2 – Atualmente, o Brasil tem capacidade de suportar um megaevento esportivo? R.: Claro que tem! Somos apenas a 6ª economia do mundo, com PIB de pouco menos de três trilhões de dólares, população de 200 milhões,
6 – A manutenção dos estádios tem sido um problema em outros países que foram sedes de copas do mundo. Como o Brasil pode evitar que os estádios fiquem ociosos e gerem gastos desnecessários?
R.: Estádios são maus negócios em todo o mundo, não teremos problemas de capacidade ociosa: eles serão bastante usados pós-Copa. 7 – A iniciativa privada é uma forma de “fugir” dos gastos públicos exagerados? R.: Governo não cria riqueza, toda a riqueza do mundo é criação privada, de empresas e indivíduos. É claro que tudo o que é feito pelo lado privado é melhor e mais barato do que é feito pelo público; no Brasil, então, nem se fala. Infelizmente, temos a cultura de socializar prejuízos. E de bancar paternalmente a iniciativa privada. 8 – Qual o impacto que a Copa do Mundo terá no bolso dos brasileiros? R.: Some o total de gastos e divida por 200 milhões! Será imperceptível. 9 – Em que exemplos o Brasil deve se basear para tirar melhor proveito dos megaeventos esportivos? R.: EUA e Alemanha.
Carlos alberto Pessôa é jornalista e escritor. Escreve diariamente para o site da Revista Ideias. negopessoa.com setembro de 2011 |
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Marcio Renato dos Santos
Marciel Conrado
Tudo pode dar certo
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urante anos nenhum avião decolou daquela cidade. Cacique, vocalista de banda indie, DJ, inventor de dificuldade que vende facilidade, pajé e poeta, muitos tentaram, mas ninguém encontrou explicação. Naquele ciclo inicial, de mais de cem anos, acreditava-se que havia redoma, campo magnético ou maldição que impedia voos para fora dos limites do povoado a mil metros acima do nível do mar. Na pequena vila só havia espaço para um cacique, um vocalista de banda indie, um DJ, um inventor de dificuldade que vende facilidade, um pajé e um poeta. O direito de exercer cada atividade era hereditário e o reconhecimento dos personagens não ultrapassava os limites do vilarejo, onde a vida vingou, apesar das chuvas, da eventual neve e das baixas temperaturas. Os acessos à vila que se tornou cidade estavam – em tese – fechados, e os forasteiros não eram recebidos com espumante, canapés nem sorriso no rosto. Ao contrário, dentes cerrados, cenhos franzidos e outras manifestações que poderiam ser lidas como gestos hostis, sistematicamente exibidas aos novos estrangeiros que ousassem tentar viver naquele planalto, garantiram àquele povoado o título de gente que não sorri. Se inicialmente ninguém decifrou o mistério de ser e estar naquela aldeia, ninguém conseguiu negar, esconder ou abafar que aquele agrupamento humano tinha uma atração irresistível que, sabe-se lá como, se espalhou do leste ao norte.
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Durante os nevoeiros, dezenas de migrantes pulavam os muros e outras centenas seguiam por túneis subterrâneos que eram abertos nas imediações do povoado e davam acesso a porões no setor histórico, especificamente, dentro da catedral. Após breve período na clandestinidade, os novos habitantes começavam a circular à luz do dia e, mesmo diante da resistência inicial, conseguiam se inserir na roda do cotidiano. A presença de elementos estranhos foi o que deu início ao fim daquele ciclo inicial da cidade. E, futucando bem, nem poderia ser diferente. Os diferentes não são tão diferentes assim e, uma troca de olhares aqui, outra vontade de provar o gosto da maçã ali e plunct, plact, zum: o blues gerou o rock; o samba, a bossa nova, e novos filhos e frutos iriam surgir do contato entre os de lá e as de cá, e vice-versa, vire o disco, óquei óquei. Mas a grande modificação naquele povoado seria provocada, ora direis, ouvir estrelas, por causa do aeroporto. Voos não decolavam e também não desciam. O filósofo do povoado disseminou uma tese segundo a qual o nevoeiro das manhãs era fabricado artificialmente por uma máquina, construída pelo instituto de inteligência local, com a finalidade de impedir que os nativos saíssem rumo a outros pontos. Outra voz se levantou para dizer que o nevoeiro tinha como objetivo atrapalhar a descida de voos, o que não deixaria que forasteiros conhecessem as nativas, consideradas as mais belas, formosas e interessantes do planeta. Pesquisadores, que trabalhavam no subsolo secreto, elaboraram uma engenhoca, o equipa-
mento AGÁHÉLES, tecnologia de ponta, e o nó foi desatado. Alguns aviões caíram, houve perdas, cancelamentos, chamaram aquele período de caos aéreo, mas um dia, então, voos decolaram e aterrissaram sistematicamente naquela cidade. Quando viajar de avião se tornou algo tão corriqueiro como dizer bom dia, aquela aldeia, finalmente, se integrou ao resto do mundo. Começou haver vaga para mais de uma pessoa exercer uma mesma profissão, e assim surgiram vários caciques, vocalistas de banda indie, DJs, inventores de dificuldade que vendem facilidade, pajés e poetas. O que era peculiar na região acabou por se extinguir, mas a cara amarrada de muitos do passado se transformou em sorriso permanente no rosto daqueles que se tornaram o povo do tempo presente. Se isso aconteceu ou não, não sei; sei que recebi esse texto com um pedido, que transcrevo a seguir: “Caro Marcio, favor tentar publicar na revista Ideias, pode assinar, a autoria de um texto, todos sabem, é relativa – inclusive, se alguém te acusar ou reclamar de algo, conte logo, o texto não é seu, mas não deixe de tentar publicar, afinal, tudo isso, esse passado, não pode simplesmente sumir sem ao menos um registro.”
Marcio Renato dos Santos é escritor minda-au.blogspot.com
Izabel Campana
Holanda e holandeses ue país e que povo! Os holandeses são mesmo uma gente à parte. Na década de 1970, um português ali radicado tratou de publicar suas impressões negativas sobre os holandeses em livro. Rentes de Carvalho disse que eram brutos, obedientes e desapaixonados. Qual não foi sua surpresa com a recepção pelos flamengos. Hoje na 13ª edição, a obra é um best-seller na Holanda. É que os holandeses têm uma relação com a crítica muito diferente. Aceitam, consideram sua pertinência e fazem graça de si mesmos. Têm mesmo um humor ótimo! Apesar do clima, que eu definiria como um tanto curitibano. Por outro lado, o sucesso do livro também se deve ao fato de as críticas do português não serem sem fundamento. Ao chegar ao país, a
primeira marca é mesmo a organização e a limpeza. A mim, particularmente, não desagradou. Após boas horas de viagem, saindo da bagunçada Brasília e passando pela confusa Lisboa, chego à Amsterdã. O aeroporto de Schiphol é enorme e abriga também uma estação de trem internacional e um shopping center. Ainda assim, não me perdi em momento algum. Há placas de sinalização e quiosques de informações por todo o lado. Eu não entendia uma palavra em holandês — agora sei uma muito útil por lá: kaas, que é queijo —, mas não tive qualquer problema de comunicação. Os holandeses falam inglês perfeitamente. E francês, e alemão. Mas se irritam quando os alemães tentam impor a língua. Resquícios da II Guerra. Por falar em alemães, enquanto estava na Holanda me apontaram uma interessante diferença entre eles e os vizinhos germânicos. Apesar
de serem detentores de boa parte das maiores empresas do mundo, as companhias holandesas não são conhecidas por sua origem. Seja a Unilever ou a C&A, para citar apenas dois exemplos. Os alemães, por outro lado, fazem questão de reafirmar seu Volkswagen. Os holandeses não se levam tão a sério. Além das maiores empresas, os flamengos foram capazes de produzir alguns dos melhores pintores da história, fato que contradiz a tese de serem desapaixonados. De Hyeronimus Bosch a Van Gogh, há um bocado de paixão e muito talento. Vermeer, Mondrian, Rembrandt e Frans Post, que fez a primeira paisagem do Brasil vista no mundo civilizado, para usar expressão da época, também são prova disso. Agora, talvez eu mesma me irritasse com tanta organização após um tempo. O divertido português diz que um dos problemas na Holanda era que, diferente do que se dá em seu país de origem, nunca tem desculpa para a preguiça. É verdade. Tudo na Holanda começa no horário. Trens, ônibus e bondes têm hora e minutos certos. Trânsito e clima não são escusas aceitáveis. Pois é. A Holanda tem isso. Tudo claro e ordenado. E, ao mesmo tempo, é o país da liberdade. Prova de que ordem nada tem a ver com repressão. Ao contrário! Não preciso dizer que a Holanda é conhecida pela aceitação. Não é apenas a liberação das drogas ou a legalização da prostituição. Há todo um senso de que cada um faça o que lhe aprouver e seja feliz. Durante minha estada, conheci uma senhora holandesa. Em determinado momento da conversa, fez um comentário: “A parada gay será neste sábado. Não me interesso pelas mesmas coisas que eles, mas espero que faça sol. Não é bom ter uma parada com chuva!” Resume o espírito de todo um povo. À Holanda e aos holandeses: que faça sol!
izabel Campana é advogada
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Perfil Pablo Contreras
HORIZONTES DE CONTRERAS Engenheiro por formação, Pablo Dario Contreras trabalhou em grandes empresas, concluiu um mestrado, construiu um nome consolidado na área, apesar da pouca idade. Mas escolheu a fotografia. E a fotografia, idem. Aos 32 anos, o argentino natural da cidade de Buenos Aires, encontrou sua voz na arte R O
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s 24 horas do dia parecem não ser suficientes para Pablo Dar io Cont r er as. Amante da fotografia documental, o argentino radicado no Brasil divide seu tempo entre trabalhos publicitários, projetos de moda, cursos e viagens Brasil afora. Fã declarado de Leonardo da Vinci e Pablo Picasso, Contreras é incisivo, e, como poucos, equilibra leveza, informação e ousadia em seu trabalho. Aos cinco anos teve a primeira experiência com a fotografia: ao lado do pai, revelou seu primeiro filme. Naquele dia soube que a arte faria parte da sua vida. A primeira câmera que comprou foi de filme - e fez questão de trabalhar com p&b. “É como desenhar. Grafite e papel. Depois vem a cor”. Trabalhar com filme o ensinou a pensar antes de clicar. Para ele, os quesitos mais subjetivos é que fazem a diferença na fotografia. “Picasso
dizia que a qualidade do pintor não tem nada a ver com a qualidade do pincel e sim com a quantidade de conhecimento que ele levava consigo”, frisa Contreras. Versado em Letras, Pablo Contreras é uma pessoa agradável de conversar. Questionado sobre o significado do olhar fotográfico, ele cita Henri Cartier-Bresson. “É o momento decisivo, a direção certa, quesitos que representam 1% da foto, mas são os mais difíceis. Sem luz não existe fotografia, sem composição não existe foto. A fotografia é bidimensional, mas tem o fator primordial: o tempo”. Engenheiro por formação, Contreras tinha um futuro promissor na área. Ele trabalhou em grandes corporações, concluiu um mestrado, tem um nome consolidado na área, apesar da pouca idade. Aos 26 anos, em uma viagem à Chapada Diamantina, o fotógrafo compreendeu que não fazia parte do meio empresarial. Sentia-
-se “um peixe fora d’água”, como ele define. A paixão por artes visuais, herança do pai, pintor, falou mais alto. O marco foi um dos momentos mais difíceis de sua vida: abandonou o que parecia certo, abraçou o dom e decidiu dedicar-se à arte. De lá pra cá, os trabalhos não pararam. Hoje ele dirige sua própria empresa de fotografia. Quando faz trabalhos comerciais, opta por opções em que possa aliar a publicidade ao documental. Por trás do sorriso um pouco tímido e jeito introspectivo, há um aventureiro. Seu gosto por trilhas e mountain bike inspirou a sua próxima viagem: o Monte Aconcágua, situado na Argentina. “A ideia é treinar para chegar ao primeiro abrigo da montanha mais alta do planeta depois do Himalaia”, diz. A sede do artista pelo novo já o levou a lugares inusitados. Em 2009 desenvolveu um trabalho documental sobre as comunidades do Sertão Mineiro. Naquela vastidão de mundo, conheceu
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de perto o dia a dia dos poucos moradores do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. “A experiência foi marcante não apenas pela estética do local, mas pela experiência humana”, conta. Algumas semanas vivendo na beleza agreste do local trouxeram não apenas alegrias ao fotógrafo, mas também uma preocupação: ele contraiu leishmaniose. Quando perguntei se ele faria novamente a viagem, Pablo respondeu sem hesitar: “Certamente, mesmo sabendo o que passaria depois”. No mesmo ano, foi à Amazônia. O menino que crescera assistindo aos programas da National Geographic conheceu de perto a floresta, os rios e aldeias. Lá o foco do artista foi outro: a natureza. Na ocasião Contreras deparou-se com quilômetros de mata devastada. A situação ainda choca o fotógrafo. “Não é possível que isso ainda aconteça. É ofensivo”. Meio ambiente é assunto recorrente em uma conversa com Contreras. Há um quê de engajamento quando fala no assunto – sempre preocupado com a conservação dos recursos naturais. Tantas viagens inspiraram o artista a criar um blog com dicas para viajantes e discussões sobre fotografia. Em seu novo projeto, o artista pretende lembrar que o mais importante não é a câmera, nem tampouco a lente ou a técnica. “O fundamental é estar lá. É ter a ideia e buscar o que você procura”, afirma. Pablo Contreras, fã de Picasso, fotógrafo, engenheiro e observador, também é apaixonado por tango. A mistura de ritmos provenientes dos subúrbios de Buenos Aires é tema de estudo do artista. No momento, ele inicia os preparativos para um documentário sobre o tema. A ideia, conta o engenheiro, é mostrar a história real do tango, que caminha de mãos dadas com a de sua cidade natal. O trabalho de Roberto Canelo, um dos principais dançarinos do ritmo na atualidade, o inspirou – “porque além de dançar, ele compõe”, faz questão de enfatizar Pablo. Dono de um estilo único, o fotógrafo não se apaga na multidão. Sentado em uma mesa no Mon Café, do Museu Oscar Niemeyer, Contreras chamava a atenção dos transeuntes enquanto concedia a entrevista à Revista Ideias. O registro da ocasião ficou a cargo do fotojornalista Jonathan Campos – o motivo da escolha do fotógrafo, Contreras fez questão de dizer: além de amigo, trata-se de um dos melhores profissionais do mercado. Entre uma foto e outra, Contreras arrumava seu chapéu Panamá a fim de facilitar o ângulo para o colega de profissão. Definir Contreras como fotógrafo não o traduz completamente. Trata-se de um desses espécimes raros que vivem em sintonia com suas paixões. Os seus horizontes são amplos, e parecem, em alguma medida, não ter fim.
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Página anterior: “O Rio de Ferrez”, Pão de Açúcar e Baía de Guanabara. Nesta página, de cima para baixo: “Pretos”, personagens de Carnaval, Candelária, Rio de Janeiro; “Diva”, Michele Pickler em editorial de moda na Ilha do Mel; “Phoenix”, nuvens nos céus de Manaus; “Alternativas”, usina eólica de Pedra do Sal na Parnaíba, Piauí; “Stairway to Heaven”, reflexo nas águas de Guaraqueçaba, PR. Ao lado: Pablo Contreras em foto de Jonathan Campos. d@ilexphoto.net / www.ilexphoto.net
Solda
O seXo na dÉcada de 70 JanEiro/1970 Na Itália, uma prostituta explode após comer 163 pizzas. Três pessoas morrem e diversas ficam feridas. Nenhuma organização se responsabiliza pelo atentado.
JUlho/1974 Proibido no Brasil o filme “Cadela Sangrenta”, por mostrar cachorradas imorais. Os cães ladram, mas o filme não passa. oUtUbro/1974 A Grã-Bretanha entra no Mercado Comum Europeu de calcinha e sutiã. Tumulto entre os presentes. A Liga das Senhoras Católicas protesta veementemente.
oUtUbro/1970 Turibius Hortência, de Córdoba, proprietário de uma modesta fábrica de cadarços para chuteiras, revoluciona o mercado de preservativos ao lançar a moda da camisa de vênus de crochê numa bacanal promovida pela Sociedade Protetora do Esperma Argentino. Aumenta no mundo a mania da preservativoteca.
DEzEmbro/1974 As prostitutas de Paris entram em greve. Os homens de Paris são vistos se esfregando freneticamente nos postes e abordando velhinhas nas esquinas com propostas obscenas. Paris é uma festa.
DEzEmbro/1970 Mirtes Radiculis, 32 anos, se torna famosa em todo o mundo ao revelar aos jornais ingleses que só consegue obter orgasmo com as meias sujas da sogra e com muita mostarda pelo corpo inteiro. O Parlamento permanece em silêncio.
fEvErEiro/1975 Paris continua uma festa. março/1975 Chegam aos supermercados brasileiros os primeiros estoques de malícia em pó. A polícia é obrigada a intervir para evitar tumulto em calda
JanEiro/1971 Lady Richmouth, ao surpreender o marido se masturbando com uma travessa de polenta, ingere cinco litros de uma potente loção de barba.
abril/1975 Alguém, em algum lugar do planeta, ejacula precocemente.
março/1971 Termina o Terceiro Congresso Mundial de Sexo Oral. Cem prisões e quase 300 desmaios. O Presidente do Congresso denuncia a intervenção da CIA e a informação corre à boca pequena.
JUnho/1975 A polícia apreende o livro-caixa da mercearia “Vulva Encantadora”, em Copacabana, por atentar contra a moral e os bons costumes da esposa do proprietário do estabelecimento, que se recusa a sair do balcão frigorífico enquanto não forem arrancadas as páginas indecorosas.
agosto/1971 A Organização dos Países Exportadores de Orgasmo anuncia o boicote à Grécia e ao Chipre, caso os grecocipriotas continuem a importar espirros suecos a preços fora da tabela. A Inglaterra relaxa e goza.
chaleira no Paquistão. O terror se espalha pelas cozinhas do mundo.
novEmbro/1971 Morre Lolita Cricket, dei-
JanEiro/1974 Interrompida no México a dis-
xando seus 50 maridos inconsoláveis. Crescem pelos nas mãos de todos eles, à exceção do maneta do grupo.
cussão sobre o Sexo dos Anjos. A polícia cerca o local e obriga os participantes do encontro a se vestirem imediatamente.
fEvErEiro/1972 Um joalheiro holandês casa-se
março/1974 Começa no Chile o Movimento
com uma vaca e os dois partem em lua-de-mel para a Índia. À festa de despedida do casal, num conhecido curral de Amsterdã, comparece todo o jet-set internacional. A vaca é moda na Europa.
Nacionalista Pró-Clitóris. A direita entende o movimento como provocação e divulga um manifesto a favor do Baixo-Ventre. Os pelos pubianos continuam proibidos.
agosto/1973 Inventado o supositório de hortelã por um farmacêutico americano. A produção do supositório é suspensa em virtude da
maio/1974 James Ho! Ho! Fucking, comandante da nave americana ASS II, é o primeiro homem a ejacular na Lua.
ausência de candidatos a provadores.
DEzEmbro/1973 Oito terroristas curram uma
JUlho/1975 Um português é encontrado morto dentro de um balcão frigorífico de uma mercearia em Copacabana. abril/1976 A música “Virgem Ranhenta”, defendida pelo DuoDenal, vence o Festival Macrobiótico da Canção Erótica, realizado em Cuernavaca se fué a lo brejo. sEtEmbro/1976 Na Dinamarca, cerca de 20 mil pessoas confessam praticar sexo da maneira convencional, ou seja, um por baixo e o resto por cima. (continua na próxima edição)
solDa é escritor, humorista e cartunista. cartunistasolda.com.br setembro de 2011 |
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Camilla Inojosa
PeQuenos praZeres
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ra uma criança normal, nos limites em que a palavra impõe. Tinha saúde, sentidos e fazia molecagens, era criança séria ou brincalhona, a depender da brincadeira. Gostava de se sentar no jardim para observar as formiguinhas. Adorava vê-las enfileiradas. Com um pedacinho de folha, cortava-as, uma a uma. Desfazendo a fila, via-as morrer, partidas, e sorria. A mãe adorava vê-lo brincar. Ao longe ouvia as gargalhadas do filho, quietinho, a brincar no jardim. Criança linda, risada gostosa. Ah, o orgulho da mãe. Cada passo uma descoberta, menino curioso, questionador. Os anos passavam, e ele sempre a brincar. Com 12 anos, as formigas já não mais lhe agradavam, as mortes de bichinhos minúsculos partidos não tinham mais graça. Admirava agora os cães e, por vezes, os gatos. Arrumou amigos, e juntos trancafiavam os filhotes, na maioria de gatinhos, em latas de leite e os atiravam longe. O gato miava, algumas crianças choravam arrependidas, e ele deleitava-se e gargalhava. A mãe da janela dizia Menino, deixe o bichinho em paz, e ria das molecadas do seu filho que
voltava com suas indagações. Mãe, é normal se arrepender de brincadeiras? É sim filho, é normal, deixe os bichinhos em paz. Mas ele não deixava, gostava de ver o gato assustado, ouvir seus gritinhos na hora da quase morte. Uma vez fez uma bombinha caseira, e botou na ração do cachorro. BUM, explodiu mas não morreu. Bombinha caseira, besteira. Deu tanta risada que não conseguiu socorrer o bichinho. A mãe espantou-se e dessa vez não riu Menino, o cachorro! Ele fez que ligou, deu de ombros, estava inebriado pelo prazer da sua conduta. Sentia-se feliz e era o que importava. Mãe quer ver o filho feliz, isso é normal. A raiva da mãe passaria. O tempo foi-se, as brincadeiras perderam a graça, e ele, também. Tornou-se assim, um homem, grande, sem graça, e, por vezes, ainda indagador. Fazia perguntas, as respostas não importavam. Não sentia prazer. Só via sentido nas lembranças da infância. Pensava na mãe, nas formigas, nos miados do gato, no latido do cachorro. E sorria. O conforto estava na infância e só. Trabalhava, era um homem trabalhador. Mas queria mais, queria ser feliz. Inventava coisas, arrumava amigos, fazia perguntas, porém, nada que lhe fizesse sor-
rir. Psicólogos, amigos, colegas, cervejas, trabalho, análises, estudos, livros, cinemas, teatros não eram formigas, latidos e miados apavorados. Saindo de casa, a pé, numa madrugada qualquer, queria andar e fumar, porém, avistou uma moça. Senhora, já é tarde, é normal a senhora ficar até tarde fora de casa? Precisava espairecer, a noite está bonita, não acha? Ele concordou com a cabeça. Olhou-a nos olhos. Lindíssima, pensou. O olhar devolvido lhe dizia o mesmo. A moça insinuava frio, ele queria lhe aquecer. Os olhares se cruzaram, sentaram-se no banco. Uma loucura, madrugada fria, um ar de perigo. Perigo leve que não assusta, só excita. Proteger-se-iam se preciso. É perfeita, pensava. Passaram-se as horas, quase não sentidas. Hora de ir. Antes da partida, talvez um beijo. Envolve-a em seus braços, saiu de si, um fogo, um desejo, uma ardência. Apertou-a, cada vez mais. Ela esboçou um gemido, depois uma tentativa de grito, que ele abafou. Sentiu-se viril, enlaçou-lhe o pescoço, num gesto hábil. Parecia nascido para aquilo. Num último aperto, sentiu-lhe ceder. Estava morta. Morta em seus braços. Pedro deleitou-se. Gargalhou como nunca.
Camilla inojosa é colunista.
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Ensai� Fotográfic�
GiFted amateur D K
O
que é que diferencia um profissional de um amador? Aqui focamos um trabalho que chamamos artístico: a poesia, a literatura de ficção, a crítica literária, a pintura, a escultura, a música, o cinema, a fotografia. Será que é porque o criador não ganha a sua vida com o trabalho artístico que o tipifica amador? E o profissional seria o artista pago para realizar o trabalho? E o simples enquadramento do “profissional” versus o “amador” qualificaria como melhor o trabalho do primeiro? Esta exposição pode parecer bizantina mas não é o que escuto há mais de 45 anos. A frase é típica: “Isto é coisa de amador!” Com a exclamação muitas vezes indignada por parte dos “profissionais”. Bem, Harvey Frederico Schlenker é um amador. É o chamado “gifted amateur”. Neto de alemão e filho de holandês, traz no sangue o grande amor que os europeus têm pela natureza. A Serra do Mar, o Marumby, Guaraqueçaba e o litoral marcaram definitivamente a sua percepção. E quando descobriu que as fotografias “falavam”, decidiu registrá-las, e daí, compartilhá-las. Começou com uma câmera Instamatic 11, passou por uma Revueflex com a ambicionada teleobjetiva e chegou — ça va sans dire — ao digital. De seu primeiro mestre, o grande documentarista Helmuth Wagner, a outros fotógrafos —
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Francisco Kava Sobrinho, João Urban, Márcio Santos, Zig Koch e o escriba destas linhas — Harvey diz ter aprendido muito: a precisão do enquadramento, a composição, a fotografia externa e o desafio da luz que lá está, a fotografia de estúdio com a sua luz manipulável, o still. Nunca precisou fazer os longos, pedantes e tediosos cursos de fotografia. E aliou a sua vontade de registrar as imagens da natureza com a profissão que escolheu para ficar perto dela: na floresta, no campo, no mato, no litoral, no alto das montanhas e no fundo dos vales. Trabalhou no ITC, depois ITCF, hoje IAPE — Instituto Ambiental do Paraná. O hobby junto da profissão. Com olhos de lince e garras de tamanduá, fiscaliza a conservação ambiental. Programas de implantação de atividades educativas e recrativas, projetos de educação ambiental são de sua responsabilidade. Planeja eventos na esfera ambiental: feiras, congressos e simpósios nas áreas regional e nacional. E colabora com as suas fotografias para qualquer projeto educativo e cultural. E isso sem qualquer custo. Harvey pensa que o mais justo é ceder as fotografias que tira enquanto trabalha para esse órgão do governo que lhe possibilitou estar onde mais se sente à vontade e fazer aquilo de que mais gosta: fotografar. Só para lembrar: dentro da palavra amador encontra-se a palavra amor.
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Marianna Camargo
Sob o sol de Copacabana
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último filme de Woody Allen, “Meia-noite em Paris”, conta a história de um escritor que está em Paris para conhecer lugares onde estiveram os artistas e autores de que gostava. Ao inverso da história de Cinderela, que na badalada da meia-noite perde o status de princesa e a carruagem vira abóbora, o personagem do filme de Allen entra em um Peugeot antigo quando bate a meia-noite e cai na década de 1920, a “Era de Ouro”. Quando vê, está numa festa para o cineasta francês Jean Cocteau, ouvindo Cole Porter tocar piano e numa roda de conversa com Scott e Zelda Fitzgerald, Ernest Hemingway, T.S. Eliot e outros. Gosto do meu tempo, apesar de todos os pesares. Porém, seria divertido abrir uma fresta e dar uma passeada por aí. Queria cair ali no Rio de Janeiro na década de 1960. Imagina, Rio de Janeiro, a capital do Brasil. Aquela beleza selvagem, sofisticada, feroz, deslumbrante. Assistir ao sol nascer, conhecer os mestres Tom Jobim e Vinicius de Moraes, tomar um uísque na beira do mar, no pôr do sol em Copacabana. E ter uma febre cáustica de causar
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onde existia espaço para a música, para a poesia, para a tristeza vertigens. Pra que tanto céu, pra que tanto mar? Inútil paisagem. Podia pular alguns anos antes e subir o morro para conhecer Cartola. Alvorada, lá no morro, que beleza. Ninguém chora, não há tristeza. Ouvir Mário Lago e Ataulfo Alves comporem, tantos outros. Cruzar com Nelson Rodrigues nos bares de então. Descobrir os primeiros acordes de Villa-Lobos. Meu avô paterno conviveu com Noel Rosa no Rio e o viu compor o samba “O orvalho vem caindo”. A música diz “A minha cama é uma folha de jornal” inspirada nas folhas de jor-
nal que eles usavam para esquentar a cama quando mudavam as estações. E a cama não era necessariamente a tradicional, poderia ser também as mesas de sinuca, quando varavam as madrugadas na boemia e precisavam de um lugar para dormir, segundo os relatos do meu avô. Ele estava ali, ao seu lado, quando viu Noel rabiscar à caneta a letra num guardanapo. Chega de saudade. Voltar com a memória tingida de sol, onde existia espaço para a música, para o samba, para a tristeza. Para a letra escrita no guardanapo. Para a poesia que inundava os varais, os céus e o mar. O tempo de hoje anestesiou tudo. Nada mais é preciso, nada mais é mais inútil, não existe mais tempo. A obrigação de estar alegre em tempo integral tirou a alegria de viver. E é preciso um bocado de tristeza, senão, não se faz um samba não.
Marianna Camargo é jornalista. mariannacamargo.blogspot.com
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Prateleir�
nova história da música Por Fábio campana
sobre anatol Kraft
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stou a reler “Uma nova história da música” de Otto Maria Carpeaux. Deliciosa volta ao passado e providencial visitação aos textos desse ensaio magistral. Aliás, a obra de Carpeaux merece integralmente uma releitura. Da História da Literatura Ocidental aos textos de crítica literária e de política internacional que publicava em jornais do Rio. Na época em que tínhamos jornais. Penso na importância que alguns estrangeiros tiveram para nos dar uma visão universal à cultura. Carpeaux é um deles. Outro é Paulo Rónai. Os dois constituem rara unanimidade nacional. Não há brasileiro culto que duvide da contribuição que deram para o alargamento de nossos horizontes. Nascido em Viena (1900), Carpeaux veio ao Brasil pela sua obstinada vocação de liberdade. Não perdoou a anexação em 1938, o vergonhoso Anschluss, quando as elites políticas e militares, com um simples decreto, acabaram com o país e se incorporaram ao Reich de Hitler. Carpeaux estudou Física e Matemática, abandonou as ciências exatas para se dedicar à Estética. Foi aluno de Benedetto Croce na Itália. Com o pai aprendeu música. Preferia ler as partituras que ouvir discos. Dedicou-se à história do pensamento e por aí chegou à Literatura e à Filosofia. Nunca deixou de ser um autodidata. Enciclopédico, embora detestasse essa expressão. Escrevia ensaios como alguns autores de gênio fazem romances ou poemas. Palavra remete a outra e esta a uma nova ideia. A guerra, em 1939, dividiu a sua vida em duas épocas. A primeira na Viena barroca, onde se formava um grupo ilustre. A Viena de Freud e Hahn, de Schönberg e Webern, de Rilke e Kafka. Do encontro com Kafka ficou uma bela crônica que integra sua autobiografia. Quando soube que vinha para o Brasil, Carpeaux procurou saber tudo sobre o país. Imaginou que teríamos músicos como Carlos Gomes e Villa Lobos, livros como Os Sertões e Por que me ufano do meu País, políticos como Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. A única, agradável, grande surpresa foi descobrir a existência de Machado de Assis. Carpeaux gostava de citar a frase que revelou para ele a infinidade do universo machadiano: “No meu tempo já existiam velhos, mas poucos”. UMA NOVA HiStÓRiA DA MÚSicA Otto Maria carpeaux Edição original da Zahar Editores 449 páginas
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a árvore de isaías Por Marianna camargo
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ÁRVORE DE ISAÍAS FÁBIO CAMPANA 1
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sétimo romance de Roberto Gomes “O Conhecimento de Anatol Kraft” já pode ser encontrado nas melhores bancas da capital. O livro tem como personagem central a figura de um imigrante alemão, que chegou ao Brasil na primeira metade do século XX, depois de circular por vários países da Europa. Criatura dotada de um senso de humor peculiar, capaz de paradoxos a cada frase, Anatol, na sua busca de compreender a experiência humana, se encontra perdido entre o gozo estético, a militância política, a polêmica cultural mais ou menos inútil e a busca do prazer puro e simples. Nas palavras do crítico literário André Seffrin, que escreve o texto de apresentação do livro, “Anatol Kraft chegou ao delírio de imaginar que a vida fosse dividida em parágrafos, palavras, letras. O mundo não passaria enfim de um trepidante romance: quanto mais delirante, mais verdadeiro mundo, com personagens reais porque absurdos, exagerados, impossíveis”. O cONHEciMENtO DE ANAtOL KRAFt Roberto Gomes Editora: insight
“A Árvore de Isaías”, novo livro de Fábio Campana, acaba de chegar à Travessa dos Editores. Neste livro o autor mostra o seu mundo. Com bom humor e inteligência, Campana traz um universo possível num mundo cada vez mais inóspito. Salve Campana, suas palavras e suas lentes aguçadas. O projeto gráfico, de tirar o chapéu, é do talentoso Guilherme Zamoner. “A Árvore de Isaías” é o desassossego que falta, a pausa antes da palavra, o vento que sopra, sempre. cLAUDiO cAMBE
livros
A ÁRVORE DE iSAÍAS Fábio campana Editora: travessa dos Editores Ano: 2011 160 páginas
exposição
A invenção da Cultura
Outono da Idade Média
Por Marianna Camargo
Por Fábio Campana
Por Fábio Campana
Erbo Stenzel no MON AI/MON
Os bascos no Paraná
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om uma edição esmerada e uma iconografia digna de nota, “A longa viagem perto de casa”, da autora Vera Maria Biscaia Vianna Baptista, conta a traje tória da família Biscaia, já entrelaçada com outras linhagens e retalhos do passado da gente espanhola que viveu há tempo no Paraná. Transitando entre o individual e o coletivo, aborda a história de Curitiba e do Paraná e se amplia na exposição da influência castelhana no Brasil meridional e nos demais países da América do Sul. É traçado o percurso dos espanhóis rumo à América, como vagas oceânicas, ondas sucessivas que antecederam a chegada do primeiro representante da família, e a autora recorda momentos como ao tentar segurar nas mãos reflexos do sol na superfície da água.
Momentos da vida cotidiana, únicos em cada existência. Aqueles que permanecem na memória porque fazem sentido e que são repassados como inestimáveis presentes às novas gerações. A Longa Viagem Perto de Casa Vera Maria Biscaia Vianna Baptista Edições Mirabilia – 2011
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ublicado pela primeira vez em português, 35 anos depois de sua edição original, A invenção da cultura, de Roy Wagner, é provavelmente o livro mais esperado pelo meio antropológico brasileiro nos últimos anos. Um divisor de águas, radicaliza uma reflexão sobre o polêmico conceito de cultura em antropologia — a partir da consideração dos modos de conceitualização nativos, ela reformula a própria disciplina antropológica, fazendo-a pensar sobre si mesma. Para Wagner, não se trata de entender o que outros povos produzem como “cultura” a partir de um dado universal (a “natureza”), mas antes, o que é concebido como dado, e portanto como cultura, por outras populações. Após um meticuloso trabalho de tradução, a publicação finalmente é lançada, incluindo um post scriptum do autor escrito em 2010, especialmente para a edição brasileira, que contém ainda bibliografia completa e um índice remissivo de nomes e ideias. A invenção da cultura Roy Wagner Editora: Cosac Naify Ano: 2010 256 páginas
ublicado em 1919, “O outono da Idade Média” (Herfsttij der Middeleeuwen) derrubou as fronteiras que outros pesquisadores haviam construído entre a Idade Média tardia e o Renascimento. Para o holandês, a transição vivida no século 15, um ponto de virada da civilização ocidental, foi muito mais fluida do que supúnhamos. A Idade Média era, sim, um período de fome, doenças, miséria, ódio, mas não apenas isso. Era também tempo de prazeres, de ideais, de arte e de amor. Especialista em história medieval, o holandês Johan Huizinga (1872-1945), traçou em cores a vida, os valores, os hábitos e as emoções naquele período em seu clássico “O outono da Idade Média”, que chega na íntegra às livrarias brasileiras, traduzido diretamente de seu idioma original. Uma das virtudes tácitas de Huizinga em sua obra-prima é sua habilidade de relativizar as “certezas”. Virtuoso de sua disciplina, o autor reconhecia as contradições da História, que ajudam, por exemplo, a entender o dualismo medieval-moderno. A edição brasileira é primorosa. O Outono da Idade Média Johan Huizinga Editora: Cosac Naify Ano: 2010 656 páginas
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useu Oscar Niemeyer inaugura novo espaço para valorizar artistas paranaenses O Museu Oscar Niemeyer (MON) inaugurou a Sala Referência do Acervo e Ação Educativa. O espaço vai homenagear, a cada seis meses, um artista local que possua obras no acervo do museu. O primeiro homenageado é o escultor Erbo Stenzel. Esculturas, gravuras e desenhos dele estão em exposição até janeiro de 2012. O mais conhecido projeto de Stenzel é a estátua do Homem Nu, realizada com a parceria do escultor paulistano Humberto Cozzo, situada na Praça Dezenove de Dezembro. Primeiro homenageado – Erbo Stenzel Obras do artista curitibano em exposição na sala até janeiro de 2012 Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (meia). Entrada gratuita no 1º domingo de cada mês Museu Oscar Niemeyer Rua Mar. Hermes, 999, Centro Cívico Informações: (41) 3350-4400
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Luiz Carlos Zanoni
Falsos brilhantes
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julgar pelo que diz o chef Ricardo Freire, os produtoresfranceses de champagne complicam demais as coisas. É muito simples o modo como ele faz a bebida que Napoleão elegia como fundamental nas vitórias e indispensável nas derrotas. Mistura, meio a meio, guaraná com vinho tinto, não importa qual, deixa gelar um pouco e serve então na clássica taça flûte. De longe é igual a champagne rosé. Ricardo Freire trocou, nos anos 80, a carreira de engenheiro químico pela de cozinheiro. Foi trabalhar em restaurantes e escreveu livros. Neste último, A mágica na cozinha (Editora Senac), ele fala de um tema que estudou bastante, a chamada culinária do fingimento, a substituição, nas receitas, de ingredientes caros e raros por outros, mais acessíveis, com resultados que se assemelham. Não é novidade. Na Roma a.C. frangos travestidos com penas de faisões já iludiam os comensais nos banquetes, segundo relatos no Satyricon. Hoje tem muito caviar feito de quinoa e foie gras de fígado de porco, simulações que se justificam quando às claras, motivadas muitas vezes por situações de escassez em tempos de guerra, pelas quebras de safras ou por restrições dietéticas, ecológicas ou religiosas.
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O problema são as adulterações com o fim de lesar o consumidor, prática que vem se tornando frequente no universo do vinho. Um dos casos mais espetaculares ocorreu há poucos anos, quando a Christie’s leiloou uma garrafa de Château Lafite 1787, que teria pertencido a Thomas Jefferson. O milionário norte-americano Bill Koch arrematou-a por U$ 156 mil, descobrindo, mais tarde, que tudo ali, garrafa, rótulo e vinho, era falso. Esse golpe inspirou um filme que chega às telas no próximo ano. Fraudar rótulos não é tão difícil. Notas de dólar ou euro são bem mais, e há quem o faça. O negócio tornou-se bastante lucrativo, considerando-se os preços alcançados pelos grandes vinhos, em safras especiais. Uma pesquisa feita pelo site wineauthentication.com listou os mais falsificados do mundo (todos franceses): Cheval Blanc 1921 e 1947, Lafite 1787 e 1870, Lafleur 1947 e 1950, e Petrus 1921 e 1947, além do Margaux 1900. E não acontece mais só com a nobreza dos tintos e brancos. Vinhos sem tanto pedigree entraram na roda. Há pouco, 340 garrafas do branco australiano Jacob’s Creek foram apreendidas em Londres. Em Toronto, o mesmo se deu com algumas centenas de caixas do Negar Amarone Clássico 2006. E ficou famoso o caso dos vinhos argentinos
feitos com a uva Bonarda e vendidos no Brasil como se fossem Malbec, variedade com maior prestígio no mercado. As contrafações são também cometidas por empresas. Em 2006, uma cooperativa francesa vendeu milhões de garrafas de falsos Pinot Noir a importadores americanos. A melhor defesa contra fraudes é escolher fornecedores sérios e confiáveis. As fronteiras com Argentina e Paraguai facilitam a entrada no Paraná de garrafas contrabandeadas, oferecidas a preços atrativos. O perigo, fique certo, mora aí. Tem uma loja em Puerto Iguazú que, como alerta ao consumidor, exibe uma coleção de vinhos especiais da Catena, todos fraudados. Outro cuidado é examinar o rótulo, a correção da ortografia, se a cápsula está bem ajustada, em ordem. É bom fazer isso, olhar de perto. De longe, até a bizarra mistura do Ricardo Freire passa por champagne rosé.
LUIZ CARLOS ZANONI é jornalista e apreciador de vinhos
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Jussara Voss
Desconstruindo o elBulli O fim do melhor restaurante do planeta
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arême, Escoffier, Adrià. Pode parecer presunção, me desculpem, mas só pode falar mal de Ferran Adrià quem comeu no elBulli. E a última chance foi no dia 30 de julho. O restaurante fechou, como prometido. Agora é aguardar a ElBulli Fundación, que deverá aparecer em 2013, ou antes, quem sabe. A fundação será criada em parceria com Juli Soler – sócio no restaurante. Também pode-se ter uma vaga ideia do que é capaz esse gênio catalão visitando os dois bares de tapas, ele faz parte da sociedade, juntamente com seu irmão, inaugurados este ano em Barcelona, o Tickets e o 41º. O resto é firula. Não conheço ninguém que tenha provado do banquete que o cozinheiro preparava, com um cardápio de mais de 40 porções, renovado anualmente, que não tenha virado um admirador ferrenho. Eu entrei curiosa e desconfiada, saí apaixonada e feliz. Não fui a única. Em algumas horas, com tudo cronometrado e sincronizado, provando sabores maravilhosos e inesperados, até estranhos, tudo ali foi inesquecível. Dizer que ele é um gênio é pouco. Por isso, coloquei seu nome ao lado dos reconhecidos mestres no início deste texto. A experiência na enseada de Montjoi deixa saudades. Começava quando o carro entrava na serra íngreme e tortuosa que passa ao lado do parque nacional Cap Creus – uma reserva natural lindíssima. Literalmente uma viagem. Outro mundo. Chegando à residência litorânea transformada em restaurante, podia-se notar o capricho até no chão de areia desenhado diariamente com um ancinho. Ali os detalhes faziam a diferença. A escola de Adrià lapidou uma legião de grandes cozinheiros: Luis Andoni Aduriz, Joan Roca, Massimo Bottura, René Redzepi, apenas citando os mais conceituados e conhecidos chefs contemporâneos. Outra legião copiou e ainda copia, dentre esses inúmeros sem talento, o que fez denegrir um pouco a sua imagem e alimentar opositores. Espuma sem sabor é perda de tempo, azeitona,
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ou qualquer outro ingrediente, transformada em bolha líquida, idem. Aliás, com comida, sabor, aparência e textura, por favor, são fundamentais. Esferificar e desconstruir exige mais do que técnica. Cozinhar é muito mais do que usar equipamentos modernos, como thermomix. A técnica do sous-vide surgiu em 1970, na França, mas é preciso saber usá-la e ter bons ingredientes. Um dia, segui a minha intuição e ganhei um convite para jantar no elBulli e, de quebra, dois amigos. A partir daí, meu padrão gastronômico enveredou por outras terras e o
Entrei curiosa e desconfiada, saí apaixonada e feliz. Não fui a única meu grau de exigência triplicou. Saí perturbada, pensando em tudo o que tinha experimentado, absurdamente diferente e espetacular. Li que a origem desse espetáculo estaria em 1987 quando Adrià escutou do chef francês Jacques Maximin, durante uma palestra, que “criatividade na cozinha não é copiar, é realizar um prato que ninguém fez”. Outra versão diz que foi durante uma conferência de Hervé This sobre física e química na gastronomia que o chef teve a grande sacada de que sua trajetória poderia tomar um rumo que deixaria marcas. Não sei. Sei que Adrià manteve um laboratório em Barcelona, com um pesado investimento, para testar novas receitas e parece que a ideia agora é conseguir mais apoiadores para bancar as pesquisas que serão divulgadas por
meio da internet aos interessados. É o que ele tem afirmado nas entrevistas. Chega de pressões, afinal, não é fácil ser criativo em tempo integral, como os jornais do mundo inteiro anunciaram. Parece que Adrià, nos seus 49 anos, quer mais liberdade para criar e menos pressão com as reservas e rotina. Tem todo o direito. Afinal, eram mais de dois milhões de pedidos ao ano, para oito mil lugares apenas, pessoas interessadas em degustar o menu-degustação de 250 euros, sem bebida, servido apenas durante seis meses. O gourmet e profundo conhecedor de gastronomia Jacques Trefois esteve lá desde que descobriu o restaurante na Costa Brava espanhola, por quase 40 anos, antes de o jovem Adrià chegar, como estagiário, inclusive, e elegeu-o como o melhor. Todo mundo que teve a oportunidade de jantar lá se curvou ao talento do chef. Ferran Adrià, o melhor do planeta, sempre fez questão de compartilhar todo o seu conhecimento. O cozinheiro, que ensinava como ser livre, dominava todas as técnicas, era capaz de apresentar um ingrediente com vários cozimentos e também interferir minimamente agora quer catalogar o acervo do restaurante, formar equipes criativas e compartilhar a experiência pela internet com um laboratório em tempo real. O que mais virá? Muita gente deve estar fazendo essa pergunta. “Exploração das próprias origens, a criação de uma identidade culinária”, diz René Redzepi, o atual número um. A nova onda pode vir da América do Sul, Brasil, ou Peru. Amazônia ou Dinamarca, quem sabe? Como o nosso craque Pelé, Adrià sai de cena com a taça de campeão, mas, não se engane, as invenções e novidades vão continuar, ele só está tomando um fôlego.
Jussara voss é jornalista
Jussara Voss
Alguns dos 1800 pratos criados e servidos em ritmo perfeito pelo genial Ferran Adrià durante a sua trajetória no elBulli: impossível descrever tantos sabores
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Cultur�
O SaMBa do ucraNIaNo doIdo T K E R
os donos do bar, Igor e denise Baran
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ociedade secreta. Você só entra com um convite. Informal, claro. Não que seja uma regra. Mas é assim que funciona no BarBaran. Um bar aonde um amigo te leva. Você leva outro amigo. Assim vai. A falta de sinalização contribui -para o sucesso do sistema. Não é impedimento para os curiosos que passam pela rua e se deparam com uma fila. O destino é um
corredor ao ar livre que conduz ao bar da Sociedade Ucraniana. Fui iniciada em uma quinta-feira. Há um ano. Nunca mais parei. O lugar é peculiar. Simples. Os traços não deixam dúvida de que se trata de um espaço ucraniano. Desde a decoração até as comidas típicas. A singularidade do espaço se mistura com a pluralidade dos frequentadores. É exatamente isso que me faz voltar quase toda semana. A experiência antropológica. Pessoas de todas as classes, idades, raças e credos. Unidas por um gosto em comum: o samba. Sim. Quinta-feira é dia de samba na Sociedade Ucraniana. Em Curitiba. Sensacional. Uma fórmula inusitada que deu certo. Faça frio ou calor, a fila para entrar no bar já faz quase parte do ritual. A não ser que chegue cedo. Aproveita-se e faz uma boquinha. O cardápio agrada a todos. Ucranianos e não ucranianos. Mas na hora de fazer o pedido, cuidado para não pronunciar errado. Nem confundir varenik com pirogue. Engano que já cometi. Igor e Denise Baran são os proprietários do bar que leva o sobrenome do casal. Significa carneiro em ucraniano. O trocadilho com o
Quinta-feira é dia de samba na Sociedade Ucraniana. Uma fórmula inusitada que deu certo nome deu certo. Não só isso. Todo o conjunto. “Ambiente, astral, bons preços e o repertório do Trio Lamara com sambas que todo mundo sabe cantar”, como define Igor. Difícil não associar as noites de quinta no BarBaran sem a graça do trio. Noel Rosa. Vinícius.
Adoniran Barbosa. Chico. Não faltam clássicos. Nem momentos piegas com o melhor das rádios trashs. E que todos têm na ponta da língua. O BarBaran é o BarBaran desde março de 2008. O local é arrendado à Sociedade Ucraniana do Brasil (SUBRAS) e começou junto com o clube com outros nomes. Até meados da década de 1970, era utilizado apenas por sócios. “Creio que se fizesse algo assim há 30 anos, teria sido expulso”, conta Igor. Segundo Igor, as redes sociais são as responsáveis em divulgar o bar. Facebook e twitter. Não tem site. Eu arrisco em dizer que o que funciona mesmo é o boca a boca. Privilégio para poucos, esse tipo de propaganda. Agora chega. Sem mais. Convido você também a fazer parte desta sociedade secreta, agora nem tão secreta assim. Serviço: BarBaran - Al. Augusto Stellfeld, 799, Centro. Terças, quintas e sextas das 16h30 até 1h. Quartas até 24h. Sábados das 11h até 24h. Domingos das 16h às 20h. Nas terças, jazz, chorinho e bossa nova com Matozo, Vinicíus e convidados especiais. Couvert: R$ 7. Nas quintas, samba com Trio Lamara. Couvert: R$ 6.
Pêssanka reforça a imagem de um ambiente tipicamente ucraniano. O Trio Lamara agita as noites de quinta-feira com sambas que todos sabem cantar e dançar.
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Cultura
A Músicos paranaenses usam a internet como meio de divulgação e viajam pelo mundo a trabalho M C
trio diabÓLiCo Claudia Smith, baixo acústico, Clau Sweet Zombie, bateria e backing vocal, e Baby Rebbel, guitarra e vocal, têm uma banda chamada Diabatz há cinco anos. Quem as vê no palco não prevê a força da música que essas meninas fazem. Com profundo conhecimento musical, elas optaram por um gênero pouquíssimo conhecido no Brasil, que tem raízes no rockabilly, passa pelo heavy metal e o punk rock, o psychobilly. Tocaram, por meio da internet, em quase toda a Europa: Espanha, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Itália, Dinamarca, Suíça e República Tcheca. Segundo elas, o meio musical fora do 66
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Gabe riOT
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cena musical curitibana sempre foi controversa. Apesar da qualidade dos músicos e da efervescência de shows, produções e afins, a música feita aqui é sempre reconhecida quando alguém daqui faz sucesso lá. Ou acolá. É a tal da síndrome do vira-lata que Nelson Rodrigues falava ou a autofagia que Leminski questionou e Oswald de Andrade antecipou na polêmica Semana de Arte Moderna de 1922 que revolucionou os conceitos da arte no Brasil. Ou seja, o não reconhecimento do que é produzido no Estado é assunto debatido e reconhecido pelos paranaenses, que fazem esforço descomunal para que exista uma veia cultural mais sólida e estável na capital. Talvez por existir esse tipo de comportamento os músicos paranaenses resolveram apostar em outras paragens. Uma das táticas é a divulgação da música, shows e clipes por meio da internet. Sites como o Myspace, Facebook, e outros do gênero amplificaram e aproximaram sons de todos os lugares do mundo. Deu certo. Músicos daqui aproveitam a ferramenta para divulgar seus trabalhos e dessa maneira conseguem tocar no exterior com reconhecimento e louros. Conheça algumas histórias de músicos que driblaram essas dificuldades e ainda por cima aproveitam para conhecer outros países, idiomas e culturas com sua música.
Da esquerda para a direita: claudia Smith, baby rebbel e clau Sweet zombie, do trio psychobilly Diabatz
fora do país eXistem vÁrias gravadoras Que além de vender o material ajudam a promover a banda
Brasil é outra história. “Tudo lá fora é bem mais organizado e estruturado. No Brasil, quase não temos gravadoras ou selos importantes na cena psychobilly. Lá fora existem várias, que além de vender o material ajudam a promover a banda”. Segundo Clau Sweet Zombie, o mercado musical está mais interessado em artistas que fazem música comercial do que música de verdade. “É claro que existem muitos músicos ótimos na indústria musical, mas há pouquíssima valorização dos artistas independentes e do underground, com certeza”, afirma. “No Paraná ainda existe algum mercado para a música underground, mas também existe o fato de que as principais mídias de massa não estão aqui. Então, mesmo quem faz música mais popular acaba não tendo tanto destaque como teria em São Paulo ou no Rio”, diz Baby Rebbel.
enquanto isso, em Curitiba Baby Rebbel diz que agora em Curitiba acontecem muitos shows, eventos, bares para tocar e principalmente público para quem tocar. “Apesar de não ser a minha única profissão, ser musicista aqui é uma prioridade para mim, e graças a tantos músicos que sempre se dedicaram a esse lugar, a cena underground daqui finalmente conquistou seu espaço”, conclui. “Existem vários lugares para tocar e o público é muito bacana, a única desvantagem é que nem sempre as pessoas valorizam seu trabalho”, diz Claudia Smith. Clau Sweet Zombie afirma que Curitiba tem uma variedade de músicos muito grande, sempre tem algum som em algum bar durante toda a semana. “Ser músico aqui é muito legal por isso, sempre tem onde tocar, sempre tem um público mais fiel que vai sempre nos shows, que acabam se tornando nossos amigos. Mas como a Claudia falou, a desvantagem mesmo é a respeito da valorização, que nem sempre a gente consegue”, finaliza. erudito O curitibano Fabricio Mattos, 27, é músico instrumental erudito há 20 anos. Mora fora do Brasil já há alguns anos. Estudou na Royal Academy of Music em Londres, e atualmente mora em Turim, na Itália. No início não teve nenhum convite para tocar fora do Brasil. Participou de alguns festivais e concursos internacionais, até que começaram a surgir oportunidades de tocar e até mesmo morar na Europa. Tocou em diversos países da Europa e acaba de realizar uma turnê pelos quatro cantos do mundo: Argentina, EUA, Nova Zelândia, Islândia, China, Tailândia e Inglaterra. Lei de inCentivo Sobre o meio musical em Curitiba, Mattos acredita que a Lei de Incentivo Municipal à Cultura funciona muito bem, apesar de projetos com qualidade duvidosa mui-
tas vezes serem aprovados. “Na minha área, música instrumental erudita, ainda não temos a estrutura necessária para desenvolver um trabalho mais sólido, mas está aos poucos melhorando. A internet trouxe alternativas para o público, que, além dos artistas considerados ‘rentáveis’ para as gravadoras, passou a ter contato com um pessoal mais alternativo e com outras ideias, muitas vezes bem mais interessantes artisticamente do que aquelas veiculadas quase que com exclusividade até alguns anos atrás”, explica o músico. Mattos diz que há alguns anos, a imensa maioria dos artistas falava que o CD havia afastado o público das salas de concerto, mas hoje pode-se achar na rede vídeos gratuitos de registro de um momento ao vivo. “A tecnologia, no caso a internet, reumanizou a arte da performance, e está trazendo de volta nosso público às salas de concerto, shows, etc. O WGC – Worldwide Guitar Connections, projeto que está acabando de sair do forno, está aí para provar isso. Temos uma estrutura fantástica, e no primeiro concerto da turnê mundial tivemos um público de aproximadamente 300 pessoas, algo ainda raro para concertos de violão. A divulgação foi feita basicamente através de redes sociais, pois tivemos somente três dias de divulgação impressa. E os outros concertos do WGC prometem ser assim também, inclusive alguns concertos da turnê mundial já estão com os ingressos esgotados. Luciana aMaraL
Web Claudia Smith afirma que a facilidade de conhecer uma banda nova hoje em dia é enorme, o acesso rápido às informações permitido pela internet é ótimo, além de colocar o artista muito mais próximo de seu público. Já Clau Sweet Zombie vê que, apesar da facilidade do acesso, isso acaba fazendo as pessoas se acomodarem bastante. “É ruim para os músicos que querem vender seu material, por exemplo”. Já Baby Rebbel acredita que apesar da divulgação ser muito mais eficiente e abrangente, a questão das vendas é algo de que músicos não podem mais depender. “Ainda assim, acredito que a internet nos proporcionou muitos feitos que antes seriam praticamente impossíveis, então acho que vale a pena perder um pouco em vendas para ser mais reconhecida e ter fãs em lugares cada vez mais distantes”.
O músico instrumental erudito Fabricio Mattos
é inadmissível um artista criticar a falta de suporte do governo para a cultura e não saber escrever um projeto simples de lei de incentivo
reaLidade O músico diz que fora do país a realidade é difícil. Ele conta que existem lugares, inclusive na Europa, que estão bem piores que o Brasil em relação ao mercado da música. Mattos diz que quando retorna a Curitiba vê coisas boas acontecendo e conta como exemplo os concertos do museu Guido Viaro. Porém, critica a postura dos músicos e a falta de conservação dos locais para concertos. “Me dá pena ver um teatro como o Guairinha na situação de degradação como o que estava até ano passado, quando vim para o Brasil pela última vez. Acho inadmissível também um músico criticar a falta de suporte do governo para a cultura e não saber escrever um projeto simples de Lei de Incentivo, ou um artista plástico ter um trabalho duvidoso e querer ser exposto no MON. E isso acontece com mais frequência do que se setembro de 2011 |
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Max Leean
Da esquerda para a direita: ribas, castor e rod, da banda ribas on the rocks, na califórnia (eua)
roCk Ribas, voz e guitarra, Castor, baixo e Rod, bateria, compõem o Ribas on the Rocks, banda de som pesado, rápido e certeiro. Em maio deste ano realizaram uma turnê pela Califórnia, tocaram em várias cidades nessa parte ensolarada da América do Norte e dizem que a experiência foi sensacional. “Fechamos primeiro com o mundialmente famoso Whisky a Go Go, em Los Angeles. O resto foi como um efeito dominó, até tivemos que recusar alguns shows por causa da nossa agenda”, exclamam os músicos. Acreditam que o mercado de música mudou muito com a internet e hoje esse mercado só existe virtualmente. “Na vida real, mercado mesmo só funciona para ritmos regionais, o resto fica na marginalidade”. Lançaram o primeiro CD — Ratcliff — nos Estados Unidos por causa da visibilidade. Os próximos países serão Uruguai, Argentina, Rússia, Finlândia e Holanda. São categóricos em afirmar que o mercado musical no Brasil não existe. “Aqui não existe. Se for para trabalhar sua música nacionalmente, esbarra em tantos obstáculos que acaba desistindo. Lá fora, a música é encarada como trabalho e não como coisa de vagabundo, como no Brasil. O artista, mesmo no início de carreira, consegue retorno e visibilidade, o que alavanca sua carreira e dá início a um trabalho artístico sério”. 68
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GabrieL SchwarTz
imagina. Por outro lado, acho também inadmissível que o público não se interesse em ver o que os artistas daqui estão produzindo, tanto na música quanto nas artes plásticas, em museus como o MON e MAC, por exemplo”, desabafa.
O clarinetista Sérgio albach forma o Mano a Mano Trio, com Glauco Solter e Vina Lacerda
aos poucos estamos melhorando a imagem de músicos amadores
CLarinetista Sérgio Albach é clarinetista. Dos melhores. Embora tenha trabalhado na Orquestra Sinfônica como clarinetista de música erudita entre 1988 a 1991 e desde 1990 se dedicado ao choro brasileiro, ou seja, 20 anos de choro, diz que “ainda não aprendeu”. Forma, junto com o baixista Glauco Solter e o percussionista Vina Lacerda, o Mano a Mano Trio. Tocaram no Peru, Uruguai, Paraguai, Itália e Suíça. “Solter é um músico que faz o circuito internacional faz muito tempo e o Vina está investindo nisto, já lançou seu método de pandeiro (que é muito bom) na Itália, Suíça, Inglaterra, Peru e EUA. Temos conhecidos que moram na Europa e quando fechamos um concerto num festival de percussão na Itália, acionamos os contatos por lá e agendamos outros concertos em bares, restaurantes e casas noturnas. O mais difícil é a passagem. Mas quando o grupo está fora, as oportunidades aparecem. Também tivemos um ótimo contato com a Embaixada no Peru e fomos em julho para lá tocar no centenário do Parque do Machu Picchu em Cusco”. Fases Albach diz que toca em Curitiba há 30 anos e nesse tempo viu a cidade passar por várias fases. Diz que as Leis Municipais de Incentivo à Cultura deram oportunidade a muita gente mostrar seu trabalho, porém quanto às federais, diz que a captação é mais difícil. “Cada vez mais os recursos estão sendo destinados aos grandes nomes, que estão no eixo Rio-São Paulo. Curitiba ainda é vista como uma cidade provinciana de músicos amadores, mas aos poucos estamos conseguindo melhorar esta imagem”, afirma. O músico acredita que a internet facilitou muito a comunicação com o público, tanto para divulgação de eventos como a venda de CDs e DVDs e até das partituras das músicas, fotos, vídeos, etc. Ele conta uma história que exemplifica bem o poder da internet como alavanca para promoção de shows e eventos. “No lançamento do meu CD em agosto do ano passado, escolhi fazer o concerto no Memorial Bach no Bosque Alemão, que muita gente não conhece. Fiz alguns cartazes e filipetas, mas a maior divulgação foi pela internet. Fiz o concerto num domingo de manhã num local que o público não está acostumado a frequentar e mais de 150 pessoas apareceram”. Dessa maneira, a música transpõe fronteiras, configura uma nova forma de distribuição, e o melhor: facilita o acesso, aproxima o artista do público e faz o intercâmbio cultural essencial para a sobrevivência e a oxigenação da cultura no Paraná.
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Claudia Wasilewski
AcERVO PESSOAL PALOMA AMADO
SalVe Jorge! SalVe Jorge Amado!
D
Jorge e Paloma Amado
ia 06 de agosto completou dez anos da morte de Jorge Amado, mas como ele nasceu dia 10, o foco foi mudado de imediato. A comemoração dos seus 99 anos dá início aos festejos do seu centenário. Não estou aqui para escrever sua biografia, nem teria capacidade e conteúdo para isso. Somente das sensações e do aprendizado que tive livro após livro. Principalmente depois da minha aproximação com Paloma, sua filha, uma avalanche de emoções me pegou de jeito. Passei a pensar o quanto influenciou a vida de gerações pelo mundo. E para quem não leu, com certeza já cantarolou. Isso mesmo, o escritor e compositor. A famosa música Retirantes, tema da abertura da novela Escrava Isaura. Tem na voz de Dorival Caymmi um belo poema de Jorge Amado. Aí vai um trecho. Vida de nego é difícil É difícil como quê Eu quero morrer de noite Na tocaia me matar Eu quero morrer de açoite Se tu nega me deixar Quem não lançou um ♪♫ LÊ LÊ LÊ LÊ ♪♫ quando se sentiu explorado? A humanidade e a proximidade dos personagens são para se deixar levar. Coronéis péssimos, com seus jagunços fiéis. Que ao mesmo tempo sofrem por amores e desejos. Matam e
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choram a traição de suas amadas. Muito humano quando se trata do limite do bem e do mal. Abre as portas para a sensualidade das mulheres comuns. Raras são as brancas. As negras e mestiças se mostram sem os apelos da sociedade preconceituosa e punitiva. Mulheres que se entregam ao prazer. Elas suam e não são idealizadas. Estão por aí. São de muita carne e pouco osso. Os personagens chacoalham o racismo. Não são brancos bons e negros ruins. São pessoas com caráter ou sem nenhum. Independente da cor da pele, dos olhos ou do cabelo liso ou crespo. São nossos heróis. E esse heroísmo se estende a bêbados, vagabundos e crianças de rua. Por que não? Jorge Amado esclarece que pessoas 100% boas são lenda. Aí está o fascínio que me acometeu. Desde cedo reconheci que anjos e demônios se confrontam dentro de mim. Minha tia Helena W. Dybowicz, irmã de meu pai e leitora compulsiva, teorizava sobre a obra de Jorge Amado. Ela vibrava quando ele mostrava as “carolas” ruins. E dizia: “Gente boa não precisa ficar se confessando e pagando penitência.” Jorge Amado entende disso. Eu morria de rir porque aquilo saía da sua boca como uma espécie de vingança. No documentário de João Moreira Salles, que ganhei da Paloma (morram de inveja), em um dos depoimentos, Jorge Amado dispara: “Uma vez, um crítico, querendo diminuir minha li-
teratura, disse que sou um romancista de putas e vagabundos. Sou um romancista de putas e vagabundos. Nunca ninguém me fez um elogio maior.” Concordo plenamente. Não existe nada melhor que conseguir falar a linguagem do povo. Tornar o imaginário absolutamente real. Um homem de informação e formação de esquerda que lutou pela igualdade, pela justiça e contra o preconceito. Que se afastou da militância partidária quando viu o quanto o poder mesmo de esquerda pode produzir vítimas. Estas são algumas sensações tão e somente minhas. Senti lendo e relendo a sua obra. A brisa quente, o cheiro dos bares. O mar. Os batuques dos terreiros. A tensão da traição prestes a ser descoberta. Mulheres de vestidos coloridos. Homens cafajestes e de cantada barata. Crianças sujas vivendo... Em 2012 tem Jorge Amado na Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense. E eu vou para o sambódromo! Quero render homenagens ao homem, escritor, ídolo. No país do carnaval. OBÁ DE XANGÔ. SALVE SÃO JORGE! SALVE OXÓSSI! SALVE JORGE AMADO!
ClauDia WasileWsKi é empresária e cronista da Revista Ideias. claudiawas.blogspot.com
ÚLTIMAS DA MODA
por Paola De Orte
Moda: solução para os nostálgicos
P
ou Debbie Harry, para os frequentadores da Trajano Reis), mas também sei que por vezes se pegam pensando: por que não posso usar chapéu? Por que não me compro um par de suspensórios?
Ninguém quer viver sozinho no século XXI. Qualquer um que esteja minimamente interessado pela produção cultural humana já se pegou lamentando a vida em meio a esses prédios revestidos de pastilhas e a essas pessoas cobertas por calças jeans e tênis. “Por que não nasci antes? Por que não sou eu a usar os vestidos de Grace Kelly em ‘Janela Indiscreta’?” (este é o sonho desta que vos escreve).
Sobre a vontade de viver em outro tempo, Woody Allen elaborou seu último filme: Meia-noite em Paris. Aos nostálgicos de tempos nunca vividos, meus companheiros, recomendo. Agora, ao que nos interessa: sobre a experiência estética de viver em meio a uma paisagem visual que já se foi, a solução está na moda. Só ela pode trazer de volta o design dos bons tempos para um futuro muito real, para nossos dias muito cinzas, sem nos deixar esquecer, com suas atualizações, novos materiais, novos cortes, que ainda nos encontramos em 2011.
Entre os homens, posso citar a vontade de namorar moças que se vestissem como Grace Kelly (ou Anouk Aimée,
Por falar em 2011, ora, não deixemos de comentar as últimas criações do mundo fashion
or que, sempre que assistimos a um desfile, gostamos daquilo que nos remete a décadas passadas? Anos 20, 50 e 80 foram revividos em coleções recentes, e até mesmo o floral dos recentíssimos vestidos dos anos 90 foi redescoberto em blogs de estilo gringos (ver Liebemarlene Vintage no Google) e devem em breve (digamos, um ano ou dois) chegar ao Brasil.
Nostalgia 70´s
Vintage romântico
Enquanto Marc Jacobs fez para a Louis Vuitton um inverno super 1950’s em 2010, 2011 foi o ano de o designer embarcar em uma onda anos 70. A marca Marc by Marc Jacobs lançou uma linha de bolsas inspirada na onda seventies, cujo revival não é de agora. Há algum tempo as calças flare (a antiga boca de sino) vêm fazendo sucesso; e houve aquela época do ano passado em que clogs (termo fashionista para o velho tamanco) viraram febre.
Agora, se o seu estilo vintage prefere os anos 60, nós sempre teremos a Moschino para não nos decepcionar. A coleção Resort 2012 da marca traz vários looks sessentinhas para as moças românticas que não abrem mão de uma saia, bem rodada e marcada na cintura, ou estilo Mary Quant.
Looks para se inspirar
Para se inspirar e montar um look 70’s, há referências na coleção de Inverno 2011 da própria Marc by Marc Jacobs, ou então em blogs como The Sartorialist ou sites como Lookbook.nu, onde chovem inspirações. Outro blog que vale a visita porque usa, com frequência, referências a itens vintage de todas as épocas é o The Cherry Blossom Girl. Alix, a dona do blog, e as amigas, levaram a sério o feeling vintage e participaram, recentemente, de uma festa no Palácio de Versailles (!), com direito a dress code à Louis XIV. Um delírio para os amantes dos tempos passados. setembro de 2011 |
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ISABELA FRANÇA
CARA NOVA O Centro Cívico não será mais o mesmo até 2014. Dois projetos estão no colo do governador Beto Richa e ambos prometem dar cara nova ao Centro Cívico. O primeiro resgata o projeto original do arquiteto Luiz Forte Neto que previa a construção de mais dois blocos de edifícios na Rua Mário de Barros, nos fundos do Palácio Iguaçu e do Tribunal de Contas, numa área que hoje abriga garagens e barracões do Executivo e do Legislativo. O segundo, mais charmoso e interessante, transformaria a área toda, incluindo esse espaço atualmente esquecido e mais a Praça Nossa Senhora da Salete numa grande praça para pedestres com passeios e jardins, nos moldes das capitais estrangeiras.
70%
Mais de 70% dos compradores de unidades no hotel W – o playground do Jet Set do momento em South Beach, Miami – são brasileiros. O preço dos estúdios parte de U$ 700 mil, cerca de R$ 1,2 milhão. Mas, o que está atraindo nossos conterrâneos é a facilidade de aquisição de imóveis nos Estados Unidos, a desvalorização do dólar em relação o real e as baixas taxas de juros nos financiamentos. A gerente de vendas do hotel Liza Lamar, veio a São Paulo em meados de agosto para uma semana de contatos com corretores e potenciais compradores. É o mercado imobiliário mais aquecido do momento e nunca esteve tão bom para os brasileiros. Quem conta é a corretora curitibana Denise Gomm Santos, que atua em Miami, associada à Elite International. Denise tem recebido cerca de cinco consultas semanais de curitibanos interessados em comprar imóveis por lá.
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Rêve A estilista curitibana Evelise Trombini está cuidando dos últimos preparativos para lançar, em setembro, a primeira coleção de sua marca de roupas e acessórios femininos Rêve. O conceito Rêve acredita que a moda de hoje não tem idade. Com a grife, Evelise inaugura oficialmente o espaço curitibano do Instituto Rio Moda. O lançamento do instituto em Curitiba foi em agosto com um talk show com Roberto Jatahy, CEO do grupo Animale/Farm; Marcelo Bastos, sócio-diretor da Farm, e Roger Sabbag, diretor-geral da Via Mia, e mediação da colunista da Vogue Alexandra Farah. Formada em moda há mais de 10 anos Estados Unidos, Evelise resolveu fazer cursos de atualização no Instituto Rio Moda, no Rio de Janeiro, e encantou-se com o formato da instituição. Fundado há apenas dois anos, o instituto faz workshops curtos com grandes nomes da moda, resultado da interação de seus sócios fundadores com um conselho curador renomado: Alexandre Aquino, Carol Garcia, Erika Palomino, Guto Índio da Costa, Lenny Niemeyer, Regina Martelli e Oskar Metsavaht. Gente que sabe o que faz. A loja e o ateliê da grife ocuparão uma casa no bairro Mercês, onde também funcionará o espaço de workshops do Instituto Rio Moda.
FLASH DANCE Creazione Não é só a ex-ministra Marina Silva que deixou funções de destaque para dedicar-se à criação de bijoux. A arquiteta curitibana Ana Carolina Baduy - após oito anos em Roma, na Itália, onde assinou, entre outras obras, a atualização da Villa San Marino, palco das comentadas festas nababescas do magnata e premiê italiano Silvio Berlusconi – está de volta ao Brasil e dedica-se à criação de acessórios. Com criatividade ímpar, Aninha cria cintos, colares e pulseiras sob encomenda para grifes como Maria Bonita, Richards e Oh Boy!. O colorido de fios de lã, seda e sutaches, misturado a metais de construção civil e conexões hidráulicas faz das peças objeto do desejo de modernas e descoladas.
A bailarina curitibana Mariana Feitosa, diretora da Jazz Central, pretende repetir a dose de sucesso e trazer mais uma vez a Curitiba, em abril do ano que vem, o bailarino, coreógrafo e diretor Brian Thomas. Thomas, que já dirigiu Michael Jackson, Liz Minelli, Cher e outros grandes nomes da cena pop mundial, fará um workshop coreográfico para bailarinos e coreógrafos. No pacote, deverá coreografar um grupo de dançarinos infantis carentes ligados a alguma instituição. Foi a BT Experience, de Brian Thomas, que assinou o famoso viral que circulou nos Estados Unidos durante a campanha presidencial de Barack Obama em que o democrata fazia um desafio de dança ao adversário republicano e arrasava numa coreografia de jazz.
ALTO NÍVEL De 28 de setembro a 2 de outubro, Curitiba será palco da terceira edição do Jazz Meeting. O evento produzido por Mirna Dequech e Daniel Liviski e dirigido por André Gereissati trará grandes nomes da Europa e Estados Unidos. Estão programadas duas apresentações no Teatro Positivo, nos dias 28 e 29 de setembro, e duas no Guairão, nos dias 1º e 2 de outubro. O alemão Ulli Lenz e o francês François Jennau apresentam-se na abertura com o Mano a Mano Trio, dos curitibanos Glauco Solter, Sérgio Albach e Vina Lacerda. No dia seguinte, sob direção de André Dequech, o Jazz Meeting Ensemble apresenta-se com 15 músicos de Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. No Guairão, o pianista Cesar Camargo Mariano faz uma apresentação solo e, para encerrar, a big band alemã Landes Jugend Jazz Orchester, com 22 músicos, apresenta-se com o violonista Nelson Farias. setembro de 2011 |
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ISABELA FRANÇA
HYPE
De olho Empresários da região do Batel vão se cotizar e implantar na região, ainda este ano, um sistema ultramoderno de monitoramento por câmeras de segurança nos moldes do implantado no Rio de Janeiro e que garantiu tranquilidade aos turistas do calçadão de Copacabana e da Lagoa Rodrigo de Freitas. O projeto é do Conselho de Segurança do Batel – Conseg Batel. Ao todo serão 20 câmeras instaladas em pontos estratégicos do bairro. Cada uma delas permite definição perfeita de imagem num perímetro de três quilômetros quadrados. O lançamento do projeto será no dia 27 de setembro e a ideia dos conselheiros do Conseg é que até dezembro o sistema esteja em completa operação.
Valterci Santos
A iniciativa é vista com bons olhos pelos moradores e comerciantes da região e coincide com o anúncio do prefeito do início das obras do Boulevard Batel que vai transformar a Avenida Batel num grande passeio, entre o Scavollo e a Pracinha do Batel.
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divulgação
É super atual a ideia do publicitário Luis Fellipe Justy, do IdealGroup, que terceirizou as salas de reunião das três empresas do grupo, criando uma quarta: o Espaço Business. Anexo ao Restaurante Território Gourmet, no Jardim Social, Justy criou uma sala de reuniões com algumas das palavras mais usadas do momento: acessibilidade, conectividade, café e alta gastronomia. Usa para as suas empresas e abre para quem procura espaços para uso executivo. Além disso, cede gratuitamente a seus clientes.
casa nova O casal Brenda e Carlos André Schwabe está inaugurando novo endereço comercial. A médica e o dentista acabaram de reformar a casa do tenista Ivo Ribeiro, na Rua Clóvis Bevilácqua, junto ao Graciosa Country Club, para instalar a Clínica Schwabe. Ambos tenistas e habitués das quadras vizinhas, têm em sua clientela boa parte dos frequentadores do clube. Unem o útil ao agradável e, nas horas vagas, podem dedicar-se a seus hobbies.
Uma visita de pêsames, entre as muitas recebidas por meus familiares, pela morte de meu pai, em julho, merece destaque. (Nota: a cortesia está justamente na não obrigação de fazer algo. Cá entre nós, não há de existir alguém que goste de fazer visita de pêsames. A gente faz, quando tem que fazer.) Pois o entregador de gás, há anos o mesmo, notou que algo estava diferente no número 135 da Rua Romualdo Baraúna, no Seminário. Perguntou ao vizinho. Com a resposta, pediu que o colega desligasse o motor do caminhão e desceram os dois para uma visita pra lá de cortês para minha mãe. Por alguns minutos, lembraram as manias do dono da casa de acompanhar o percurso do carrinho para garantir nenhum esbarrão nas paredes cuidadas, verificar se o cilindro trocado era mesmo o que estava vazio e garantir que todos os procedimentos de segurança haviam sido cumpridos. Aceitaram o cafezinho e despediram-se com um singelo “Se precisar de alguma coisa, é só chamar...”.
pelo paraná O empresário e presidente do Movimento Pró-Paraná, Jonel Chede, ficou pra lá de satisfeito com a deferência do ex-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Lincoln Cunha Pereira, que veio a Curitiba, no dia 16 de agosto, especialmente para a comemoração dos 10 anos da entidade. Na ocasião, Chede inaugurou as novas salas do Pró-Paraná, no sexto andar da sede da Associação Comercial do Paraná, no Centro de Curitiba, e um retrato do fundador da entidade, jornalista Francisco Cunha Pereira Filho, irmão de Lincoln. Da família do homenageado ainda estiveram presentes o irmão João Cândido Cunha Pereira, os filhos Ana Amélia Doring Cunha Pereira Filizolla e Guilherme Doring Cunha Pereira e a sobrinha Berenice Pessoa. Inúmeras autoridades, empresários e representantes da sociedade civil organizada fizeram lembrar o antigo beija-mão que Cunha Pereira Filho promoveu durante toda sua vida profissional à frente de seu grupo de comunicação.
Felipe Rosa
Cortesia
Dos deuses
Pas de deux Depois de bailar divinamente com o pai na pista do Castelo do Batel em sua festa de 15 anos, no primeiro semestre deste ano, a bela Yasmin Hamdar brilhou no palco do Teatro Positivo, nos dias 26 e 27 de agosto, na apresentação do ballet Don Quixote, com o American Ballet Theatre e a academia curitibana Petit Ballet. A jovem solista do Petit Ballet não fez feio diante de Cory Stearns e Paloma Herrera, ambos da ABT, estrelas do espetáculo. Ao contrário, recebeu elogios da dupla de bailarinos novaiorquinos.
A novidade do momento quando o assunto é beleza e nutrição é a soja negra. Junto com a linhaça dourada e a quinoa, o grão-irmão do mais clarinho e conhecido por combater o câncer de mama e a osteoporose, tem 10% mais proteína e doses extras de minerais e vitaminas. O grande diferencial seria a casca escura com altos índices de antioxidantes em seu pigmento. Só dizer isso já basta para aquelas versadas em beauté. Mas, vamos lá: o pigmento da casca da soja negra chama-se antocianina e além dos benefícios estéticos, previne o câncer de mama, reduz os níveis de colesterol ruim e diminui os riscos de infarto, trombose e doenças cardíacas. Para fazer tudo isso, o alimento precisa estar na dieta diária. Pode ser cozida para salada ou triturada como farinha para misturar ao iogurte, massa de pão ou de bolo. Silvia Bretz, endocrinologista de muitas das globais, completa com a melhor parte, a soja negra ainda acelera o metabolismo e diminui a TPM e os efeitos do climatério. Corra para o Mercado Municipal, o produto está nas prateleiras do Mercado de Orgânicos de Curitiba. setembro de 2011 |
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BALACOBACO
por Thais Kaniak
Cores, caras e bocas Maquiagem é um atrativo para as mulheres. Para a maioria, acredito. Claro que andar com a cara lavada e deixar os poros livres também faz parte do universo feminino. Do meu sim. Tem dia que tudo que eu quero é andar assim: acabei de acordar. Mas, confesso que sou apaixonada por rímel, blush e agora estou na fase do batom colorido. Bem cheio de cor. Só no bocão. Para atrair consumidoras, a Contém 1g inaugurou sua primeira loja com um novo formato em Curitiba. Os mais de 500 itens expostos enlouquecem qualquer uma. É até difícil saber para onde olhar...
Eu já escuto teus sinais
Mônica Correa prestigia o coquetel de inauguração da Contém 1g, ao lado da franqueada Marianne Antunes Blando
Os casacos pesados e cachecóis não combinavam com as roupas leves da nova coleção. O início da temporada de lançamentos das novas coleções primavera-verão me anima. É sinal de primavera a caminho. Com suas cores, flores e dias menos frios. Como diz a letra: “Tu vens, Tu vens... Eu já escuto os teus sinais”. O balanço da canção e o prenúncio de um novo clima me encantam. Clientes e convidados foram conferir o tema “Desconectar para conectar-se” da coleção primavera-verão 2012 da Flor. A ideia é voltar às origens com conforto para os dias atuais. “Lembranças de quem somos e de onde viemos”, definiu a estilista da marca Juliana Fregonesi. Eu que sou fã de carteirinha das referências retrôs, adorei! Se não fosse o frio, sairia com uma minissaia azul que vi na arara. Que venha logo o verão!
A bela designer Magda Hino
AD con foi pel op eG
A convidada Tânia Kalinowski durante a inauguração da loja conceito Djane Salomão, Ellen Araújo e a gerente comercial do Shopping Mueller, Leila Martins com o casal de franqueados Marianne Antunes Blando e Piercarlo Blando durante o evento de inauguração da loja em Curitiba
Paola Demeterco, a anfitriã Camila Oliveira Dias e Gisah Pacheco Pinheiro
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Fernanda Oliveira, Camila Oliveira Dias e Renata Salles
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Diego Pisante
Kelly Knevels
A produtora de moda Patrícia Sabatowitch
O casal Marianne Antunes Blando e Piercarlo Blando conferem os lançamentos disponibilizados para experimentação na sua nova loja Contém 1g
A advogada Virginia Fernandes foi conferir as novidades da nova loja da Contém 1g
thais@revistaideias.com.br
Nicole Fuk e Giorgine Biff
Menos é mais Acho divertido como as pessoas gostam de uma produção. Mesmo em eventos no meio da semana. Naquele horário em que, geralmente, as pessoas saem correndo do trabalho para chegarem a tempo. Pelo menos comigo é assim. Carrego blush e batom na bolsa e pronto. Retoque feito. Mas, ao chegar nesses locais, sempre me deparo com maquiagens e penteados preparados no salão. Sem contar os figurinos. O pecado pelo excesso é quase unanimidade. Quando a festa conta com a presença de galã. Global. Português. Os exageros femininos ficam ainda mais em evidência. Todas querem ficar bonitas na foto. Graças à tecnologia, hoje em dia podemos contar com os milagres do Photoshop.
Viviane e Felipe Schultz
O coquetel de inauguração da loja conceito da Dell Anno foi animado. Convidados à vontade no show room. Apreciadores dos móveis. Gente interessada em planejar seus ambientes. Admiradores do ator Ricardo Pereira. Todos estavam lá prontos para um click. Inclusive eu. Silvan e Vivola Dal Bello João Freitas, Jorge Biff Netto e Ricardo Toledo
Ines Biff, Sergio Hitzmann e Ana Padilha Cristina Schultz e Isabele Biff
A Dell Anno inaugurou loja conceito com concorrido coquetel. O ator Ricardo Pereira foi o convidado especial da noite. Foi recebido pela arquiteta Bárbara Sganzerla, que assinou o projeto do show room, e por Emanuelle Biff e Giorgine Biff
Thais Kaniak, Ricardo Pereira e Letícia Berneira
Gerson Lima
ir a
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por Thais Kaniak
Daniel Florêncio
BALACOBACO
Daniel Florêncio
A produtora do evento Ilse Lambach com César Franco
Penetra bom de bico Eventos sempre são um atrativo para os “perus” de festa. Se tiver coquetel, melhor ainda. Em tempo de perus, o que não faltam são peruas. Colam no convidado e aparecem. Bizarras. Escandalosas. Eu, nessa situação, faria de tudo para passar despercebida. Coisa que minha altura não permitiria. Aluísio Machado em “Minha Filosofia” já advertia: “Tudo que é muito, é demais. Peço: me perdoe a redundância.”
A coordenadora de eventos especiais do Palladium Shopping Center Lylian Vargas com a relações públicas Norma Camargo
Enfim. Vergüenza ajena. A Wingard abriu as portas da sua primeira unidade em Curitiba. Em região nobre. As rosas vermelhas da decoração encheram os olhos. Sorrisos, flashes, câmera e ação dinamizaram a festa.
“A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre.”
Ja Ga Pim Im Sc da inc Cu eR
O artista plástico Celso Coppio
Oscar Wilde
Cida Colombo
Diego Pisante
A arquiteta da loja, Silvia Ferreira com o proprietário da Wingard, Anderson Rodrigues
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Os paisagistas Nádia Bentz e Vanderlan Farias
Domingos Salerno Daniel Florêncio Daniel Florêncio
Verde no cinza
Feijoada da Berna
A palavra da vez é sustentabilidade. Foi por este motivo que convidados e autoridades se encontraram em uma tarde chuvosa. Evento verde em um dia cinza. Acasos da vida.
Frio. Muito frio e chuva no sábado de feijoada. Mas o calor humano de Maria Bernadete Adami Menuci e do marido Luis Fernando Menuci esquentaram o almoço no Happy Burguer.
O Curitiba Office Park conquistou a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Um selo verde que comprova que o empreendimento foi construído e funciona de forma sustentável. Título inédito no sul do Brasil.
O prato é típico desta região dos trópicos. Pura expressão da brasilidade. Admito que não sou uma apreciadora nata. Mesmo assim, gostei. O atendimento de primeira e o gostinho de comida caseira temperaram a satisfação dos habitués e a impressão dos novatos.
É o início da era dos green buildings.
Jaime Emilio Galperin, Roberto Pimenta da Top Imóveis, Eduardo Schulman, diretor da Top Imóveis, incorporador do Curitiba Office Park e Ral Pacionik
O chef Carlos Lemes no buffet
Os parceiros do Curitiba Office Park, Gustavo Michelena da Michelena Climatização, Aires Craveiro da Bettoni, e Marcos Vargas da Térmica Brasil divulgação
ais n ma
Arthur Polis, da BP Empreendimentos, o prefeito Luciano Ducci, e Eduardo Schulman, diretor da Top Imóveis
Lucélia Monteiro, gerente de operações da BP Empreendimentos e a arquiteta Sandra Pinho Pinheiro
O casal Maria Bernadete Adami Menuci e Luis Fernando Menuci
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Jaime Lerner
jaime lerner
A Mousse e o Pont-à-Mousson
A
mesa na calçada de um pequeno restaurante em Paris me faz viajar... Lá estava eu, terminando um almoço frugal, para dar espaço a mousse imperdível e observar melhor aquelas peças metálicas colocadas no piso das calçadas para proteger as árvores, e não deixar que as mesmas levantem o piso de pavimento. Essa grades, chamadas Pont-à-Mousson devido ao lugar de sua origem, são simples e eficazes. As lousas a anunciar os pratos, a mousse repousada num dos pratos na mesa da calçada e o metal do Pont-à-Mousson a proteger a árvore. O que a imaginação pode fazer: viajar de uma calçada em Paris a análise dos problemas
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mundiais. Que tal se a lousa pudesse anunciar cenários, planos ou projetos para que as pessoas pudessem escolher os mais desejáveis. E a mousse com sua textura suave fosse a mistura palatável que tornasse possível ser melhor absorvida pelas mentes mais resistentes. O Pont-à-Mousson a proteger as árvores, ou seja, o meio ambiente e a sustentabilidade. Talvez essa fosse uma interpretação otimista. Mas também, a lousa poderia anunciar as muitas receitas impostas pelo radicalismo. E que a mousse ali estivesse apenas para que o povo pudesse engolir mais facilmente as armadilhas do arbítrio. A trama metálica de Pont-à-Mousson a prender a árvore e fazê-la crescer domada na sua liberdade. A lousa talvez a expor problemas pessoais
para análise de conduta. A mousse a camuflar o raciocínio e a trama metálica a prender a intuição de cada um. Afinal, chego à conclusão de que não posso tudo resolver. O sol começa a esquentar e a iluminar a lousa; as árvores a refletir suas nuances magníficas, o Pont-à-Mousson como gravura na calçada. Deixo a mousse, divina, a escorrer pela garganta e peço a conta.
Jaime lerner é arquiteto
Cartas
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pRYsCila, a mulHeR De VeRDaDe Me é motivo de orgulho ser curitibano, pois talentos não faltam na nossa amada cidade. Parabéns pelo seu talentoso trabalho! Muito sucesso, pra você poder dormir, beber muito vinho e ... já falei dormir, né?! Marcelo Poeta
Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 119 – R$ 10,00 ideias@revistaideias.com.br revistaideias.com.br facebook.com/revistaideias twitter@revistaideias
EDITOR-CHEFE Fábio Campana CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo
gente Fina (SARAH CORAGEM) Os textos de Sarah Corazza nos inebriam a inteligência, tanto quanto sua beleza nos extasia a alma. Ler suas matérias, que mesclam a delicadeza da crença no ser humano e a brutalidade da realidade que é o convívio comum, com suas agruras e esperanças, nos brinda com nuances encantadoras dos entrevistados e seus enredos, das histórias e seus personagens. Angel Plácido
REDAÇÃO Demétrio Albuquerque, Diocsianne Moura, Karen Fukushima, Márcio Barros, Marisol Vieira, Raffaela Ortis, Sarah Corazza, Thais Kaniak
LEONiD StRELiAEV
COLUNISTAS Carlos Alberto Pessôa, Camilla Inojosa, Claudia Wasilewski, Ernani Buchmann, Izabel Campana, Jaime Lerner, Jussara Voss, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Marcio Renato dos Santos, Paola de Orte, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Rubens Campana
um ViCe tRanQuilo Grande Flávio Arns. O Governo Beto Richa tem grandes figuras públicas. Além do Flávio Arns, tem a Maria Teresa Uille Gomes (Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos), o Luiz Eduardo Sebastiani (Secretaria da Administração e Previdência), o Norberto Ortigara (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento), o Reinaldo de Almeida César (Secretário da Segurança Pública). Renato Valduga
Com aÇÚCaR, Com aFeto Lindo! Quem conheceu D. Lourdes sabe o quanto você foi fiel. Fantástico, você me fez chorar, e olhe que D. Lourdes não é minha avó! Gosto do seu lado escritora! Mara Annumnciato
mÊs De CaCHoRRo louCo Parabéns pela crônica! Meu marido Alberto nasceu em agosto e é tudo de bom! Tenho amigos nota 10 que nasceram em Agosto: você e os atores Carlos Augusto Strazzer, Silvia Lisboa e Renato Modesto. E também o meu amado irmão Beco. Não! Agosto não é desgosto. Pelo menos para mim (risos). Ione Prado
ensaio FotogRáFiCo
VoCÊ já leVou o seu FilHo ao psiQuiatRa?
EQUILÍBRIO-COMPOSIÇÃO – 117 Está uma beleza matéria! Fiquei muito feliz de contribuir. Um grande abraço Tuca Vieira O SUL-REALISTA - 118 Gostei muito da matéria e, principalmente, o teu texto. Agradeço de todo o coração por teres te lembrado de mim e do meu trabalho. Leonid Streliaev
Conversinha fiada! No meu tempo, uma boa cintada resolvia a ansiedade… Hoje o que falta é pulso familiar, aliás, o que tem mais são famílias desestruturadas e pais ausentes. Professor Dimas
Essas imagens são exemplos do nosso belíssimo e grande país, grande pela sua extensão e maior ainda pela diversidade humana que existe, é muito triste a existência dessa ideia de ultradireita de que separando é melhor, é uma violência contra a consciência humana alguém se achar melhor por sua cor, classe social ou casta genética. O sul é meu país sim, assim como todas as terras do norte, sudeste, centro-oeste e nordeste!!! Abaixo todos os pseudofacistas de ultradireita!!! Gilberto
gleisi e beRnaRDo na miRa Parabéns à Revista Ideias que tem publicado essas bombásticas notícias. JC Pitanga Agradecemos a oposição e a mídia por estar de olhos abertos e investigando tudo. A faxina feita pela mídia é importante para a manutenção da democracia. Esta é a herança maldita deixada por Lula e Dilma aos brasileiros. Silvio
eRRata Na edição 118 faltou o crédito da ilustração utilizada na coluna de Jaime Lerner. O autor é o próprio Jaime Lerner.
COLABORADORES Aliocha Mauricio, Eduardo Reinehr, Flávio Machado, Jonathan Campos DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer TRATAMENTO DE IMAGEM Beatriz Bini Carmen Lucia Solheid Kremer REVISÃO João Aroldo CAPA Guilherme Zamoner PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Clarissa M. Menini, Katiane Cabral e Luigi Camargo DIRETORA FINANCEIRA Clarissa M. Menini DEPARTAMENTO COMERCIAL Marcelo Espírito Santo Rocha CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Marianna Camargo, Paola De Orte, Rubens Campana PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br ONDE ENCONTRAR Banca do Batel • Banca Boca Maldita • Banca da Praça Espanha • Fnac — Shopping Barigui • Revistaria do Maninho • Revistaria Quiosque do Saber — Angeloni • Banca Presentes Cotegipe — Mercado Municipal • Livrarias Ghignone • Banca Bom Jesus • Revistaria Itália
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