IDEIAS 117

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r$ 10,00 nº 117 ano Vi www.revistaideias.com.br

julho 2011

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p o l Í t i c a , e c o n o m i a & c u lt u r a d o pa r a n á

Culpadas ou Inocentes? Há quase duas décadas nos tribunais, o caso conhecido como o das “Bruxas de Guaratuba” divide a opinião pública e a Justiça

— entRevistas eXclusivas —

gleisi ministra

paraná sai da lona

gargalos do trÂnsito

misses inFantis




Índic�

colunistas

rubens campana 12 A doutrinação dos semiletrados ciro correia França 26 um lar atleticano luiz Fernando Pereira 27 Strauss-kahn é vítima, dizem os conspiradores rogerio distefano 24 grandes livros, pequenas maldades luiz geraldo mazza 28 A derrota graciosa do império

nesta edição o Paraná sai da lona 14 Fábio campana

rogerio distefano 30 trauma de bode carlos Alberto Pessôa 40 repugnante animalidade Solda 41 Adrenalina

seçÕes

Fábio campana 44 Pequeno canalha

editorial 05

os nós do trânsito 22 Pedro lichtnow

marianna camargo 56 A lista de Alice

Frases 07

esporte como qualidade de vida 29 Aline Presa

marcio renato dos Santos 57 na ponta dos dedos

gente Fina 08

culpadas ou inocentes 32 marianna camargo e Sarah corazza

Jaime lerner 60 A Batalha do Paraguassu

ensaio Fotográfico 46

Pequenas misses 52 karen Fukushima

luiz carlos zanoni 61 o maratonista

isabela França 70

murakami na Ponta dos ganchos 62 Jussara Voss

claudia Wasilewski 68 não pode. não faça. não pense

moda - tess Biscaia 78

o sertanejo da cidade grande 64 Paula Valeska Ferronato

izabel campana 80 não sou da companhia

queria ser freira, foi do PcdoB e agora é ministra de dilma 18 Aroldo murá g. Haygert

18

32

curtas 06

Paraná Pesquisas 21

Prateleira 58

Balacobaco 74

cartas/expediente 81 Pryscila Vieira 82

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117 Editorial Fábio campana

N

unca antes o Paraná esteve representado no centro do poder da República. Agora temos ministra-chefe da Casa Civil. Nada mais, nada menos, que o segundo cargo na hierarquia real. Acima, só a presidência da República. Gleisi Hoffmann, segundo a presidente Dilma Rousseff, estava em sua lista de convocação para o ministério desde o inicio. Só não foi escalada na primeira formação por razões que só os desvãos da política interna do PT e da extensa base de apoio do governo federal podem explicar. A trajetória de Gleisi Hoffmann, que vai da aspiração de se tornar freira, passa pela militância na esquerda, pela eleição ao Senado e agora ascende à ministra da República, é contada por Aroldo Murá, o professor que é craque como biógrafo dos nativos notáveis. A indicação de Gleisi Hoffmann para a chefia da Casa Civil não é a única boa notícia neste vale de lágrimas deixado por Requião. A economia sai da lona e festeja a reabertura dos portos. Em cinco meses o Paraná recebeu mais investimentos privados que em oito anos de governos do PMDB. Há mais. O governo Beto Richa anuncia que as finanças do Estado começam a se equilibrar. E as relações com o governo da República permanecem republicanas, apesar das diferenças políticas entre o poder de lá, petista, e o de cá, tucano. Evoé. Tudo isso significa que o Paraná sai da lona e pode voltar a crescer em índices que não experimentamos desde a década de 60. Boa vontade política, portas abertas para a poupança externa e interna, enfrentamento dos gargalos estruturais é a receita para uma nova fase de prosperidade. Agora, nossos dramas. A criminalidade continua alta e não é problema que se resolva do dia para a noite. Afinal, foram oito anos de desgoverno. Sem contar os quatro do início da década de 90. O Paraná sob a tutela de Requião perdeu as melhores oportunidades de crescimento. Levará algum tempo para recuperar-se dos estragos deixados. Neste número, a Ideias repete a dose dos melhores cronistas nativos. E retoma um assunto tenebroso e polêmico. Entrevistou, com exclusividade, Celina e Beatriz Abagge, acusadas do sacrifício de um menino em ritual satânico. Beatriz foi condenada, mais uma vez, num processo cujas falhas saltam aos olhos de qualquer cristão. E uma extensa matéria de análise mostra os nós de um dos problemas que mais atazanam a paciência do curitibano. Os gargalos do trânsito. Mas não desesperem. Há remédios e eles estão a caminho em obras que modificam o sistema viário da cidade para que tenhamos mais mobilidade e conforto. Oremos.


Curtas O deputado estadual Valdir Rossoni (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, chora após ter sido alvo de um atentado na noite do dia 10 de junho. Segundo ele, o atentado o levou a pensar mais na segurança de sua família. O carro do presidente foi alvejado em uma estrada rural a 20 km de Bituruna, na região Centro-Sul do Estado, onde o deputado tem base eleitoral e empresas.

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Não recebeu

A imagem do “Budalocci” que circula na internet faz sucesso entre ministros do governo dilma. A figura, que tem o corpo de Buda e o rosto do ministro Antonio Palocci promete trazer “sorte nos negócios. em quatro anos, sua riqueza aumentará 20 vezes”.

Marcha das vadias

Danos morais

os oito ministros do Supremo tribunal Federal (StF) que participaram do julgamento do dia 15 de junho foram unânimes em liberar as manifestações pela legalização das drogas, como a marcha da maconha, no Brasil. eles consideraram que as manifestações são um exercício da liberdade de expressão e não apologia ao crime, como argumentavam juízes que já proibiram a marcha anteriormente.

Durante um seminário no Canadá sobre segurança no câmpus, um policial disse às alunas que elas evitariam estupros se não se vestissem como vadias (sluts). Indignadas com o que consideraram uma expressão oficial da responsabilização da vítima, elas pediram uma retratação. Enquanto o episódio era investigado, ativistas organizaram a primeira Slut Walk – em português, Marcha das Vadias. Cerca de mil mulheres, muitas delas vítimas de estupro, abuso e assédio sexual, se vestiram com roupas que desafiam o código do policial canadense e saíram em passeata

O ex-chefe do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) de Cascavel, no oeste do Estado, Valter Pagliosa, pede na Justiça que o governo estadual o indenize por danos morais. O valor solicitado é de R$ 1 milhão. Segundo Pagliosa, ele não teve a oportunidade de se defender antes da exoneração. Pagliosa foi exonerado do cargo em abril, quando veio a público a informação de que ele participou de um filme erótico, há cerca de cinco anos, em Cascavel.

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PAulo toledo PizA

UNANIMIDADE

para dizer que não, as vítimas de estupro nunca “estão pedindo”. Seguindo o modelo, a Marcha das Vadias no Brasil já aconteceu em São Paulo, Recife e Brasília. Em Curitiba está sendo organizado o protesto no dia 16 de julho, às 11 horas, na Praça Santos Andrade.

JornAl imPActo

diVulgAção

A presidente Dilma Rousseff decidiu não se encontrar com a advogada iraniana e Nobel da Paz Shirin Ebadi, que veio ao Brasil no início de junho. Principal voz da oposição a Teerã no exílio, Shirin foi recepcionada no Palácio do Planalto apenas pelo assessor para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. A decisão do Planalto vai na contramão da mudança na diplomacia para os direitos humanos que Dilma vinha conduzindo até agora. Antes de tomar posse, a presidente criticou publicamente a abstenção do Itamaraty em uma resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU condenando o apedrejamento de mulheres no Irã. Dilma chamou de “ato bárbaro” a lapidação, posição reiterada em entrevista ao jornal Washington Post.

SEM SORTE NOS NEGÓCIOS? O BUDALOCCI RESOLVE

diVulgAção

Mais um crime que chocou os curitibanos. A estudante Louise Sayuri Maeda, de 22 anos, trabalhava como supervisora em uma iogurteria, no Shopping Mueller. Ao sair do trabalho, dia 31 de maio, às 22h45, Louise desapareceu. Dia 17 de junho seu corpo foi encontrado em uma cava no rio Iguaçu, em Campo de Santana, em Curitiba. Ela foi morta com tiros na cabeça. A Polícia Civil do Paraná revelou que Louise foi vítima de uma emboscada planejada por duas colegas de trabalho - ambas estão presas. O provável autor dos dois disparos que mataram a jovem continua foragido. O crime, segundo as investigações, foi premeditado e motivado porque a vítima descobriu que as duas estavam furtando o caixa da iogurteria da qual era supervisora.

JornAl indÚStriA&comÉrcio

atentado

diVulgAção

Violência


Frases “a política pode ser um palco. mas o elenco é um horror”

“diferença entre hitler e stalin é que stalin lia os livros”

Frase do microempresário João kapachevicz Filho, ao se inteirar do encontro entre Maurício Requião e Gustavo Fruet.

Ministro da Educação Fernando Haddad em resposta aos que criticaram o livro “Por uma vida melhor” sem ler.

sarney chegou a classificar o impeachment de “acidente”, mas recuou um dia depois diante da repercussão negativa da retirada.

Antonio cruz/ABr

“acabo de determinar à sessão competente do senado, sua administração, que faça constar na referida exposição o impeachment do presidente collor, uma vez que nós não temos nada para esconder nesta casa”, disse o senador.

roBerto Stuckert FilHo/Pr

Do genial millôr Fernandes:

“como dizia minha avó: todo mundo se queixa da falta de memória. ninguém se queixa da falta de caráter”

“ela roubou meu coração” Diz chávez sobre Dilma em visita ao Brasil no dia 6 de junho.

Definição do Congresso Brasileiro, segundo José simão:

eXzArA.BlogSPot.com

“se gradear vira zoológico, se murar vira presídio, se cobrir com lona vira circo, se botar lanterna vermelha vira puteiro e se der a descarga não sobra ninguém” julho de 2011 |

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gente

dico kremer

FINA Não tão estranha no ninho

D

epois de mais de dez anos a trabalhar com publicidade Silvia Bley resolveu encarar os negócios da família. Com seu pai Evelázio Augusto Bley aprendeu que lidar com a natureza e com os animais é extremamente instigante. E foi com ele que adquiriu os rudimentos, as noções básicas de como dirigir e administrar terras. Com fazendas no norte e no nordeste do Paraná Silvia atua num universo quase que exclusivamente masculino. Junto com sua irmã vigia com olhos de lince seus empreendimentos. Soja, milho, café e gado para criação

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não são mais mistérios para a moça que se formou em Comunicacão Social. As cansativas viagens para o interior são recompensadas com o crescimento e desenvolvimento das safras, com a engorda do gado, com tudo aquilo que numa fazenda bem administrada cresce a olhos vistos. E Silvia sabe que com este árduo trabalho ela e sua equipe contribuem para o desenvolvimento do país. Apesar do governo. Dico Kremer


gente

Ave Paloma

FINA

Paloma Amado é dessas pessoas com quem podemos conversar durante horas. Ela tem centenas de histórias para contar, milhares de personagens, reais e da ficção, para apresentar. E sabe fazê-lo. Escritora, ilustradora, cronista, Paloma tem um acervo natural em seu repertório. Nasceu e viveu em uma casa frequentada por escritores, artistas e gente interessante de todo o planeta. É filha de Jorge Amado e de Zélia Gattai e herdou dos dois a capacidade de narrar. A brava Paloma esteve em Curitiba, passou pela Travessa dos Editores há quinze dias, ciceroneada por Claudia Wasilevski, para ver amigos novos e antigos que se emocionaram com a crônica que escreveu sobre a boçalidade de um político nativo que ganhou notoriedade pela truculência acompanhada de dissimulada ignorância. Mas isso é o de menos. Vamos ao melhor da história. Paloma anuncia novos livros, entre eles o de uma entrevista ficcional com outro escritor admirável e com quem conviveu, Raduan Nassar. E já vai pela metade o romance que escreve para contar a experiência de um amor platense. Fábio Campana

Criação e bom humor

dico kremer

L

ogo que cheguei do exterior, depois de quase 8 anos, encontrei o mercado publicitário bastante mudado. A cidade cresceu, o chamado mercado estava maior com mais agências e mais profissionais. Comecei a garimpar colaboradores. E, para a minha profissão, fotografia publicitária, precisava de um elemento chave que é o produtor ou produtora. Daí a entrar em contato com a Malu Meyer foi um pulo. E eu pulei de alegria em constatar a criatividade e profissionalismo da Malu. Juntos fizemos memoráveis trabalhos. De personalidade forte Malu sabe impor as suas ideias e as defende com raro brilhantismo. Algumas vezes não concordamos mas o respeito mútuo e a amizade sempre levam a melhor. E ao lado do

profissionalismo e criatividade no extenuante trabalho que é a produção fotográfica aquilo que a Malu esbanja é charme e, principalmente, bom humor. Tenho a satisfação trabalhar com a Malu, produtora de primeira linha e uma grande patusca. Dico Kremer julho de 2011 |

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gente

dico kremer

FINA Domício, o desbravador

Domício Pedroso, artista plástico, gravador e incentivador cultural, formou-se na primeira turma de alunos da Escola de Belas Artes do Paraná (1948-1952), tendo sido aluno de grandes artistas como Guido Viaro, Oswaldo Lopes, David Carneiro ou Estanislau Traple. No Rio de Janeiro ao pintar junto a outros artistas, descobre sua temática principal, as Favelas, mas não abandona as paisagens urbanas e as marinhas que tanto preza. É um artista preocupado com a forma e a sua relação com o espaço, sempre dando maior atenção para a visualidade do tema. Por isso se empenha em conseguir uma bolsa de estudos para frequentar na França o “Centre d’Audio Visuel de Saint Cloud” (na capital francesa). De retorno ao Brasil em 1962 integrará, com outros artistas paranaenses, o grupo que será responsável pela implantação das tendências vanguardista nas artes plástica. Além do seu trabalho plástico que continua desenvolvendo e sem nunca ter dele se afastado, Domício Pedroso também tentará implantar em Curitiba uma ação cultural e artística que atinja um amplo público, aplica-se didaticamente nesta ação cuja intenção principal era a de criar espectadores preparados para a fruição das obras de arte. Organizou assim, por dez anos, as exposições do BADEP – Banco do 10

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Desenvolvimento do Paraná, e em seguida dirigiu em Curitiba os escritórios da FUNARTE – Fundação Nacional de Arte. Seu trabalho plástico pessoal foi sendo enriquecido com estas experiências em administração artística, mas principalmente nas pesquisas que ele desenvolve quando teve a ideia de elaborar um arquivo sobre a arte paranaense (parte deste arquivo hoje pertence ao Museu de Arte Contemporânea do Paraná e ao Museu da Imagem e do Som do Paraná). Estas pesquisas acompanhavam e eram as bases teóricas e didáticas das exposições que ele promovia. Domício faz parte de uma geração que muito fez pelo desenvolvimento cultural e artístico do Estado, mas que ficou na posição de uma geração intermediária pouco vista, mas não esquecida. Ele foi um desbravador, e naqueles tempos as dificuldades de divulgação da obra de arte eram quase impossíveis. As gerações que se seguiram tiveram melhores oportunidades pelo pioneirismo deste entusiasta. Dia 1º. de junho passado, fazendo justiça a este grande artista, foi lançado o livro DOMÍCIO PEDROSO: variações em torno do tema, contendo texto de Fernando Bini, uma fortuna crítica e imagens das suas principais obras, dos anos 50 aos dias atuais. Fernando Bini


gente

FINA

Descolada sansei Magda Hino é designer. Leve e de

como visual merchandiser da rede de lojas Guess.

sorriso contagiante – é assim que leva a vida. A paixão por moda é visível. Os figurinos descolados chamam a atenção de todos. Não há quem resista. Por onde ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça, no doce balanço da bela sansei.

De volta ao Brasil, começou pósgraduação em Marketing. Lidera projetos de bolsas. Já possui marca própria e faz parcerias com empresas. É responsável pelo desenvolvimento do design e dos processos de fabricação. Está à frente de uma iniciativa com mães das crianças da ONG Arte Geral, que cria bolsas feitas de material reciclável.

O interesse por moda e o bom gosto peculiar abriram portas para Magda. Há cinco anos, a curitibana faz consultoria para o mercado publicitário. Comerciais

sergio buss

de televisão, editoriais, desfiles e produções fotográficas recheiam seu currículo e comprovam seu talento. A busca por novas referências é contínua. Há pouco tempo voltou de uma temporada em Miami, nos Estados Unidos, onde trabalhou

Magda ainda encontra tempo para cozinhar para quem gosta. O hobbie deixa a sala de jantar sempre cheia com os amigos. Momentos de descontração para os sortudos que podem prestigiar de perto os seus talentos. Thais Kaniak

dico kremer

Guta vai além

ão se engane com essa menina. Maria Augusta Ribas é jovem sim. É bonita sim. E talentosa também. Muito? É, mas ela pode.

N

Ano que vem, o plano é fazer a pósgraduação na Bauhaus, no curso de Design Sustentável em Weimar na Alemanha.

Formada em design, Guta é ligada em tudo o que existe de mais moderno no mundo. As últimas novidades em design, objetos, moda, formas e conteúdos Guta sabe.

Guta já sabe o que quer no futuro. Trabalhar como designer de produtos conceituais e sustentáveis, criar seu próprio escritório, “quem sabe no exterior mesmo ou no Brasil”.

E não para. Faz planos e enxerga além.

E tem mais. Quer se formar em jornalismo. Além de gostar muito de “história da arte, fotografia e antropologia”.

Em 2010, fez um curso de História na conceituada escola Bauhaus, Alemanha. Depois, um workshop de Sustentabilidade do Politécnico de Milão. Este ano vai a Firenze para um curso de História da Arte.

E arrebata: “vou ‘dançar conforme a música’. Mas sempre focada no design.” Marianna Camargo

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Rubens Campana

A doutrinação dos semiletrados

I

ncompetência e aparelhamento político caminham juntos, e em poucos casos isso é tão notável quanto no Ministério da Educação, o MEC. Desde a posse de Haddad, a sucessão de trapalhadas não tem fim. Em 2009, as questões da prova do Exame Nacional do Ensino Médio vazaram, o MEC foi obrigado a adiar sua aplicação e o cronograma de muitas instituições universitárias saiu prejudicado. Em 2010 houve problemas com a licitação para a escolha da gráfica, mais de 20 mil cadernos de perguntas e folhas de respostas foram impressos com erros e o sistema de informática do MEC deu pau. Recentemente surgiu a gritaria sobre o livro de português com erro de concordância, “nós pega”, e sua defesa da supremacia da linguagem oral. Não há sentido na discussão acerca da correção gramatical de “nós pega”: homens mais inteligentes já esclareceram que a forma é correta segundo a gramática descritiva, linguística, e incorreta segundo a gramática normativa. A escandalização com o caso pode ser em grande parte atribuída à pressa e entusiasmo com que brasileiros semiletrados sentem a necessidade de mostrarem-se distintos dos iletrados. Ainda assim, o livro, ao propor que o critério linguístico é superior, faz escolha arbitrária. Logo depois, constatou-se que o MEC entregou a 1,3 milhão de alunos livros de matemática com erros primários em contas de subtração — além de frases incompletas ou sem sentido. Pelo menos cinco livros ensinam que 10 menos 7 é igual a 4, que 18 menos 6 é igual a 6 e que 16 menos 7 é igual a 5. Mas estes assuntos, a essa altura, já são velhos. O que diria o leitor se soubesse, no entanto, que a formação de uma geração de brasileiros incapazes de subtrair, ou crentes na superioridade do “nós pega”, seria um resultado otimista? Pois se dependermos dos livros de História distribuídos pelo Governo Federal nos últimos anos, podemos esperar algo pior: uma geração de homicidas. A coleção Nova História Crítica, de Mario

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Schmidt, é um dos maiores sucessos editoriais brasileiros, e o MEC estima que mais de 20 milhões de estudantes usaram esses livros. Só em 2005 o MEC comprou 3,5 milhões de exemplares. Como explica Márcio Leopoldo Maciel, que estudou o caso, “a linguagem é chula, o maniqueísmo é escancarado, há simplificações grosseiras, deturpações e omissões propositais. E, claro, muita doutrinação ideológica”. Os livros continuam entre os mais comprados pelo MEC em 2010. Em determinada página de Nova História Crítica para o Ensino Médio aparece a foto de um homem negro, sem roupas e com o corpo esquálido, deformado pela fome. A foto é sobreposta por um balão de fala, e o autor do livro, certamente crendo que realizava uma brilhante peça de ironia didática, faz com que o homem diga no desenho: “Aí, galera: viva o capitalismo neoliberal”. E assim, um indivíduo na mais terrível condição torna-se parte do proselitismo político mais vulgar. As grandes jogadas irônicas repetem-se em toda a série. Em Nova História Crítica 8ª Série, a foto de uma criança vitimada pela fome é acompanhada do texto “Pô, ainda bem que meu país não é socialista, se fosse eu não seria livre pra comprar automóvel importado”. O autor parece ignorar o fato de que a experiência socialista não privou sociedades inteiras apenas do consumo de carros importados, mas que no caminho reduziu pessoas a condições exatamente iguais às daquela criança. Mas as milhões de vítimas da fome nos países socialistas não são matéria escolar no Brasil. Ao invés disso, a legenda de uma foto no livro Nova História Crítica para o Ensino Médio carrega o seguinte texto: “O socialismo conseguiu vestir e alimentar todo o povo chinês, um quarto da população mundial”. O aluno brasileiro pode esquecer a Grande Fome na China maoísta, que em meros três anos matou entre 20 e 43 milhões de pessoas. Essa matéria não cairá na prova. Em Nova História Crítica da América, lê-se, ao lado de uma foto de Ronald Reagan: “Em visita à Alemanha, Reagan esteve num cemitério

onde jaziam famosos criminosos nazistas. Como se vê, ele se superava nas ações estúpidas e nas simpatias pela extrema-direita”. Perceba tudo o que está contido nessa frase: Reagan é transformado, de repente, em simpatizante do nazismo. E independente de suas opiniões sobre Reagan, não, ele não era nazista. Mas a formação de mais uma geração de latino-americanos não estaria completa sem a obrigatória idolatria ao regime cubano. Como justificar os assassinatos promovidos pela ditadura castrista, que perseguiu e matou não apenas dissidentes políticos, mas até mesmo minorias, como homossexuais? Sobre as mortes em Cuba, Nova História Crítica da América menciona apenas o “inegável apoio popular” ao “fuzilamento de torturadores do exército de Fulgêncio Batista”. No Paraná, o proselitismo político nas escolas não precisou depender do MEC, mostrando que nossa experiência tardia do populismo rendeu resultados também em outras áreas — a educação (sic) gerenciada por Maurício Requião provou que o governo anterior não deixou legado apenas de escalada nos homicídios. Com o que só pode ser descrito como constrangedora cafonice, o então Secretário de Educação escreve na página 4 de todos os livros didáticos preparados por sua gestão: “o conhecimento produzido pela humanidade não pode ser apropriado particularmente, mediante exibição de títulos privados, leis de papel mal-escritas, feitas para proteger os vendilhões de um mercado editorial absurdamente concentrado e elitista”. Pouparei o leitor do resto: as ideias e o linguajar adolescente de Maurício estão, na verdade, abaixo da crítica. E perdoem-me os adolescentes. A opinião expressa nos artigos é exclusi­vamente do autor e não reflete a posição do Ministério das Relações Exteriores.

rubens campana é diplomata.


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Política

O P    O Paraná vive um novo ciclo de atração de investimentos produtivos. Em seis meses do novo governo negociou a instalação ou ampliação de plantas industriais com 70 empresas interessadas em utilizar incentivos do programa Paraná Competitivo. FÁBio CaMPaNa

O

governador Beto Richa tem dito em reuniões de trabalho aos secretários e assessores que o Paraná tem tudo para voltar a ser a terra da promissão, como era chamado nos períodos de grande crescimento econômico do século passado. Ufanismo à parte e apesar das apostas pessimistas, Richa tem razões consistentes para respaldar tamanho entusiasmo. O Paraná emite sinais fortes de que sai das trevas depois de uma década de estagnação econômica, marasmo político e agravamento dos problemas sociais. Segundo um industrial paranaense, estaríamos saindo das trevas de nossa recente Idade Média imposta durante oito anos pelos governos de Roberto Requião, irmãos & PMDB. Hoje, a política paranaense tem novas lideranças referenciais. Os pólos mais importantes, sem dúvida, são o PSDB e seus aliados, de um lado, e o PT, que assumiu a posição de principal partido na outra banda. “Requião é um vulcão extinto, continua a emitir fumaça e a fazer algum ruído, mas já não representa nenhum risco”, diz o líder do PSDB, deputado Ademar Traiano. A decadência de Requião abriu espaço para as lideranças que chegam ao poder com a força da sucessão geracional. O governador Beto Richa, do PSDB, que lidera a maior força política já organizada no Estado para apoiar um governo desde a época do regime fardado, substituiu o septuagenário Requião. Na banda oposta, Gleisi Hoffmann, do PT, elegeu-se senadora com 3,1 milhões de votos e lidera as oposições no Paraná. Sua ascensão foi coroada com a escolha da presidente Dilma Rousseff para a Chefia da Casa Civil, o mais alto posto na República já ocupado por um político paranaense (veja matéria a seguir sobre a nova ministra).

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A ministra Gleisi é candidata natural ao governo em 2014 e, no governo de Dilma Rousseff, paira cima dos outros dois paranaenses integrantes do ministério, Paulo Bernardo, seu marido, no ministério das Comunicações, e Gilberto Carvalho, secretário pessoal da presidente. Essas posições no núcleo do poder devolvem ao Paraná a representatividade que não teve em governos da República durante todo o período em que o estado foi governado por Requião. O Duce, como era conhecido pela semelhança com Mussolini, tinha como hábito de vetar nomes do Estado para cargos federais de peso.

o paraná emite sinais fortes de Que sai das trevas depois de uma dÉcada de estagnação econÔmica, marasmo político e agravamento dos problemas sociais

Era a sua maneira de impedir o surgimento de novas lideranças que pudessem empanar a sua autoridade.

O paranÁ vOlta a crescer Ainda que as mudanças políticas sejam fundamentais para encerrar o pior período da vida paranaense desde a sua fundação, as melhores notícias sobre esta nova época vêm da economia. A mudança de estilo e de práticas no poder se refletiu rapidamente e de forma positiva no desempenho da economia do Paraná. Os indicadores permitem imaginar um novo ciclo de crescimento. Há previsão de boa safra no campo e os preços de nossos produtos agropecuários de exportação estão altos no mercado externo. Acabaram as restrições impostas pelo governo anterior e a produtividade deverá aumentar, asseguram os técnicos. A produção da indústria do Paraná cresceu 3,8 % nos quatro primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2010. Foi o melhor resultado da região Sul. No mesmo período, o Rio Grande do Sul registrou crescimento de 1,4 % e Santa Catarina, taxa de -1,7 %. O resultado paranaense foi superior à média brasileira: 1,6 %. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os segmentos que mais contribuíram para a performance da indústria paranaense no quadrimestre, destacam-se os de veículos automotores (alta de 22,9%), material elétrico (20,6%) e produtos de metal (11,9%). Considerado apenas o mês de abril, houve aumento de 1,4% da produção industrial paranaense quando comparada ao resultado do mesmo período do ano passado. No confronto com o mês de março de 2011, houve queda de 1,9%. Nesse comparativo, a média nacional ficou em –2,1%. Para o secretário da Indústria e do Comércio, Ricardo Barros, o setor industrial paranaense


O fim da nOssa recente idade média Liberto da administração tacanha que recusou grandes investimentos privados na indústria e bloqueou a modernização da agroindústria, o Paraná volta a ser excelente alternativa para os negócios. Ficaram os escombros da administração anterior que ainda precisam ser removidos. Da Idade Média de Requião, restaram problemas que vão dos gargalos estruturais à alta taxa de criminalidade estimulada pela deterioração da segurança pública. Não são desafios para o curto prazo. Exigem obras e investimentos que as finanças deterioradas do Estado e a poupança nativa não conseguem suportar. Durante anos, a soma dos equívocos e da má-fé dos governantes anulou os esforços de modernização. Requião e seu bando não admitiam o óbvio. Não há poupança – ou qualquer outra espécie de recursos internos – que pudesse evitar o sucateamento das bases da infraestrutura do Paraná e muito menos para alavancar um

programa de desenvolvimento. O nacionalismo equivocado que ainda supõe ser a agricultura de subsistência um setor estratégico e não a tecnologia; os interesses do empresariado que reverencia o Estado em busca de favores fiscais e outras benesses; e o corporativismo da burocracia comprometido com o interesse fisiológico de uns tantos políticos da província formaram os elos da corrente contrária à modernização. Em menos de seis meses de criação, o programa Paraná Competitivo já atraiu investimentos de R$ 1,3 bilhão ao Estado. “Temos uma política fiscal moderna, segurança jurídica e estamos abertos ao diálogo com todos aqueles que quiserem investir no nosso Estado”, disse Beto Richa. De acordo com o governador, os valores anunciados fazem parte de negociações que estão sendo realizadas com diversas empresas para a implantação de novos empreendimentos ou ampliação de plantas industriais.

Entre os empreendimentos, está a construção de uma usina de biodiesel na Lapa, região metropolitana de Curitiba. O investimento da Potencial Petróleo na planta paranaense será de R$ 88,5 milhões. Outro exemplo de investimento apoiado pelo programa Paraná Competitivo é o da Sumitomo, indústria japonesa de pneus que confirmou a instalação de uma unidade no município de Fazenda Rio Grande. O projeto prevê a aplicação de R$ 560 milhões. Além destes, também se destaca a ampliação da planta da Arauco, em Jaguariaíva, que receberá um aporte financeiro de R$ 272 milhões. Já a chilena BO Packaging, anunciou a fabricação de embalagens recicláveis em Ponta Grossa. Para isso, vai investir R$ 112 milhões no município.

SXC/Christian Ferrari

ganhará mais segurança para se desenvolver com a nova política fiscal do Estado, estabelecida pelo programa Paraná Competitivo. “Criamos um bom ambiente de negócios para quem se interessa em se instalar aqui ou para os empresários que já estão no Paraná e planejam ampliar seus empreendimentos”, disse.

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ABr/Rodrigues Pozzebom

Denis Ferreira Netto

Requião condenou o Paraná ao atraso. Richa promete a retomada do crescimento econômico. Gleisi pode ajudar o Estado com novos investimentos federais.

O secretário Ricardo Barros lembra que a Potencial foi o primeiro negócio formalmente enquadrado no programa Paraná Competitivo. O protocolo de intenções entre o Governo e a empresa foi assinado em fevereiro deste ano. “Hoje temos cerca de 65 grupos empresariais em negociação e estamos disputando empreendimentos em todos os setores”, afirma. Barros informa que entre os empreendimentos em negociação pelo Governo do Paraná estão empresas dos setores de bebidas, construção civil, eletrônicos, automotivo e autopeças, máquinas pesadas, alimentação, agroindústria, metal-mecânica, papel, madeira entre outros. “O Paraná possui hoje o melhor ambiente de negócios no país”, acrescenta Ricardo Barros.

nOva pOlítica fiscal O Paraná Competitivo modernizou a política de incentivos fiscais do Paraná. A principal ação é o diferimento do ICMS incremental, que varia entre 10% e 90 %. Antes, esse valor era fixo e estabelecido por região. O índice a ser aplicado é definido nos comitês formados por técnicos e secretários de Estado. Também há um conselho consultivo formado por entidades representativas da indústria, comércio, agricultura, transporte e das cooperativas. Outra modificação foi em relação ao prazo de dilação do ICMS. Antes fixado por decreto, o tempo de dilação era de quatro anos, mais quatro para o pagamento. Com a nova política, esse período foi flexibilizado e agora varia de dois a oito anos, com até oito anos para recolhimento. “Não há renúncia fiscal por parte do Estado. As alterações possibilitam às empresas formar capital de giro que pode ser decisivo para o sucesso do negócio”, explica Ricardo Barros. O ICMS que incide sobre energia elétrica e gás natural também acompanha a mesma lógica. O Paraná prepara documento para se creden16

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ciar ao investimento da Foxconn. Há cerca de 15 dias, Maringá e Londrina decidiram se unir para atrair o investimento de US$ 12 bilhões (R$ 19 bilhões) anunciado pela Foxconn para o Brasil. A multinacional planeja construir uma unidade de componentes eletrônicos com a expectativa de gerar 100 mil empregos.

“Hoje existe diálogo, investimento em estrutura e segurança jurídica”, afirmou ricHa, convidando os industriais paranaenses a acessar os benefícios do programa para ampliar a produção

O governador Beto Richa afirmou que o Paraná vive um novo momento de investimentos produtivos, que voltam a acontecer porque existe segurança jurídica. “Isto ajuda a atração de empresas, que querem investir no Paraná justamente porque temos hoje um ambiente favorável aos negócios”, afirmou ele. Richa ressaltou que grandes investimentos estão acontecendo em todo o Estado e que está pessoalmente envolvido nas negociações para atração de novas empresas. “Temos hoje negociação com 65 grandes indústrias interessadas nos incentivos fiscais do Programa Paraná Competitivo”, informou ele. “Além de atrair empresas, estamos dando suporte para que as companhias que já estão no Estado possam ampliar a produção.”

apagãO de mãO de Obra Para atender as necessidades do setor produtivo e aumentar a competitividade do Paraná na atração de novos investimentos, o governo do Estado iniciou um amplo debate sobre qualificação profissional. A ação faz parte do programa Paraná Competitivo e reuniu sindicatos, associações, federações, universidades, entidades do Sistema S, lideranças políticas, representantes patronais e dos empregados para debater os problemas e as demandas referentes ao tema. O governador Beto Richa disse que o Paraná conta hoje com um grande programa de desenvolvimento econômico e social que está atraindo empresas e incentivando outras a ampliar suas produções. Isso, no entanto, gera outras necessidades, como a qualificação de mão de obra e capacitação profissional. “Estamos na iminência de um apagão de mão de obra no Brasil. É necessário preparar o Estado para esse novo momento de desenvolvimento”, ressaltou. Para vencer esse desafio, disse Richa, o governo conta com a participação do setor produti-


AEN/Antonio Soares

vo e com entidades ligadas à área. “A palavra é cooperação. Todos defendem os interesses do Paraná. O governo quer parcerias com as entidades, sistema S, com instituições, universidades. Estamos de braços dados com o setor produtivo”, afirmou. O secretário do Trabalho, Luiz Claudio Romanelli, disse que o governo trabalha na formatação de um Sistema Estadual de Qualificação Profissional, a ser criado por meio de lei. Segundo ele, o sistema contaria inclusive com a criação de um Fundo de Apoio ao Trabalho para captar recursos para serem aplicados na capacitação. “Hoje os recursos não são suficientes. O mercado está aquecidíssimo e há muita demanda”, disse Romanelli. O vice-governador e secretário da Educação, Flávio Arns, lembrou que a criação dos cursos deve servir às demandas regionais. Arns afirmou que essa relação ajuda a reversão da preocupante estatística segundo a qual somente 15 % dos jovens buscam as universidades.

Ricardo Barros,Secretário de Estado da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, durante reunião com a diretoria da ACP - Associação Comercial do Paraná

Os gargalos estruturais Na edição de dezembro, Ideias publicou matéria de Rafael de Lala que aponta as dez grandes carências de infraestrutura. São os que seguem:

2 Corredor Ferroviário do Oeste – Para eliminar o gargalo existente entre Guarapuava e a região Centro-Sul, a ser conduzido pela iniciativa privada sob o regime de PPP; sendo melhor alternativa o traçado Guarapuava-Ipiranga. 3 Ligação BR-376 / BR-277 – A implantação no Paraná da BR101 – rodovia litorânea que em outros estados já está sendo duplicada –, reduzirá o percurso para os Portos do Paraná, evitando o trajeto de serras. Sua primeira fase, a “Alça de Guaratuba” entre Garuva e Matinhos, se divide em dois trechos: Garuva/Cubatão, contornando a Baía de Guaratuba, com melhoria de estrada já existente, e Cubatão/ Rodovia Alexandra – Matinhos. Outros estudos incluem o segmento Alexandra/Ponta do Poço, viabilizando o acesso ao Porto de Pontal do Sul; e o trecho Entroncamento da BR-277/Antonina, já com anteprojeto.

da Estrada Boiadeira (BR-487), entre Cruzeiro do Oeste e a divisa Paraná/Mato Grosso do Sul, em Porto Camargo; com a correção de aspectos impugnados pelo Tribunal de Contas da União, de modo a garantir a efetivação do projeto, de origem também secular.

SXC/Bert van ‘t Hul

1 Transbrasiliana (BR-153) – Construção do trecho Alto do Amparo (Rodovia do Café)/Imbituva, em integração com o lote em obras Ventania/Alto do Amparo, completando o traçado dessa importante via no Paraná.

4 Anel Rodoviário de Curitiba – Prioritária a restauração do Contorno Sul (BR-376) na área da Cidade Industrial de Curitiba e conclusão do Contorno Norte (entre a Rodovia da Uva/Estrada da Ribeira (BR-476)/ BR-116, completando o Anel Viário de Curitiba. 5 Contorno Ferroviário de Curitiba – Construção de novo contorno ferroviário de Curitiba, desviando das áreas de proteção ambiental existentes no trajeto. O novo traçado vai liberar a capital paranaense de um gargalo representado por 82 passagens de nível e elevado risco urbano; além de ampliar a capacidade operacional da linha a ser implantada. 6 Extensão da Ferroeste para Foz e Guairá – A nova linha para Foz do Iguaçu compõe a projetada

Ferrovia do Mercosul, cortando o continente sul-americano entre o Brasil (Paranaguá) e Chile, viabilizando a futura integração bioceânica na América do Sul. A implantação do trecho para Guaira facilitará o escoamento da produção agroindustrial do Extremo Oeste paranaense, Mato Grosso do Sul e Leste do Paraguai. 7 Nova ferrovia Curitiba-Paranaguá – O trecho ferroviário atual, em operação desde o Império, tem destacadas características de engenharia e serve como atrativo turístico, mas não suporta o tráfego entre o hinterland e a região portuária. A segunda Ferrovia Curitiba-Litoral deve aproveitar as obras já realizadas. 8 Retomada da Estrada Boiadeira (BR-487) – Retomada das obras

9 Ampliação do aeroporto de Curitiba – A ampliação do Aeroporto Afonso Pena enseja projetos alternativos: extensão da pista atual para assegurar a operação de aviões de porte, ou construção de nova pista, de 3.400 metros. O fundamental é superar as atuais limitações do aeroporto metropolitano da capital paranaense – incluindo obras complementares: pátio de aeronaves e novo estacionamento de veículos. 10 Novo porto em Pontal do Sul – O Paraná não pode prescindir de um porto de águas profundas em Pontal do Sul (Porto do Mercosul), para operação competitiva com navios transoceânicos. Em paralelo, é necessária a modernização do Porto de Paranaguá com a construção do Cais Oeste; dragagem de seu canal de acesso; e berços de operação. No Porto de Antonina, obras para operação especializada.

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ABr/Rodrigues Pozzebom

Política

Queria ser freira, foi do PCdoB e agora é ministra de Dilma Aroldo Murá G. Haygert

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ns a chamam de “alemãzinha”, uma maneira carinhosa, sem preconceitos, de identificar a loura “mignon”, pequena, neta de Bertoldo – este, sim, um autêntico germânico. É integralmente curitibana. Filha de uma família de classe média “mais para baixa”, como ela se reporta às suas origens, Gleisi Hoffmann deveria chamar-se Grace, em homenagem à princesa Grace Kelly,

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de Mônaco. O cartorário, com “criatividade”( ou relaxo, muito comum entre registradores civis), transformou-a em Gleisi. E assim ficou. Aos 14 anos queria ser freira. Era aluna do Colégio Nossa Senhora da Esperança, das irmãs Bernardinas, que fica ao lado do Colégio Medianeira, dos jesuítas, em Curitiba. Os pais disseram um “não” solene, e como a vocação carecia de solidez, a menina partiu para o ensino médio do Medianeira ampliando o que já vinha fazendo: militância social.

Gleisi foi boa aluna, mas tinha os olhos fincados em realidades sociais, como a favela que ela e sua turma atendiam com ajuda material e orientações diversas para o dia-a-dia das famílias.

GLEISI – LIDERANÇA PRECOCE No meu livro “Vozes do Paraná”, volume 2 editado em 2009, faço uma ampla abordagem de Gleisi, nascida em Curitiba, em 1965. Mas o essencial é lembrar que a liderança


GLEISI - TRANSIÇÃO Não sei se há premonição guiando políticos com “estrela”. O certo é que Gleisi, abandonadas as “doenças infantis do esquerdismo estudantil”, como observa um antigo quadro petista, foi sendo chamada para posições vitais. Uma delas, a que acabaria consolidando sua posição num quadro técnico muito especial, foi quando passou a fazer parte do grupo de transição de 2002 em Brasília. Ao grupo, coube preparar sugestões e avaliações técnicas para Lula assumir o Planalto.

política e o perfil de militante partidária nela nasceram cedo. No Medianeira, ajudou a reestruturar o grêmio estudantil, ao mesmo tempo em que se inseria no movimento secundarista, atuando na União Metropolitana de Secundaristas de Curitiba, na UPES, dos secundaristas do estado, na UBES, a entidade brasileira.

GLEISI – ELETROTÉCNICA Terminados os estudos no Medianeira, e já engajada no PCdoB, foi levada pelo partido a matricular-se no Cefet, para fazer Eletrotécnica. Não tinha a menor vocação para a área, mas obedeceu às ordens do partido e por lá ficou por dois anos. Oficialmente, estava filiada ao MDB. Nas reuniões de formação, recebia orientação de alguns ícones de seu meio esquerdista de então, como os jornalistas Luiz Manfredini e Fábio Campana. E entre suas leituras prediletas, estava “Veias Abertas da América Latina”, livro que a levou a muitas discussões e dissertações.

GLESI – SOBRE DILMA Daqueles dias, atuando no Grupo de Orçamento, ela registrou muitas boas lembranças. São dela algumas expressões que, oportunas, lembro agora, estão em “Vozes do Paraná”: “A ministra Dilma é absolutamente prática, e dona de um manejo intelectual diferenciado, sua palavra é toda de autoridade” (em 2009). Curiosamente, ao lado Dilma, o ex-ministro Antonio Palocci, a quem Gleisi agora substitui, foi um de seus interlocutores e referências mais próximas naqueles dias de preparo do novo Governo.

GLEISI – GREVE DO JALECO A prova de fogo da liderança da menina-moça deu-se lá pelos 17 anos, quando ela liderou a greve no hoje Cefet “contra o jaleco azul”. A palavra de Gleisi era, na verdade, contra qualquer tipo de uniforme, especialmente o jaleco azul. A greve deu certo, Gleisi acabou suspensa. Mas tinha que continuar “agitando” – e continuou por um tempo mais. Depois, sob pressão da mãe, fez vestibular na Faculdade de Direito de Curitiba, formou-se e começou uma carreira profissional em que se notabilizou –longe de radicalismos e de doenças infantis do esquerdismo, como ela mesmo diz – ao se tornar especialista em orçamento público. GLEISI - A CARREIRA Em 1988, começou a assessorar Jorge Samek, na Câmara Municipal de Curitiba; em seguida, aliar-se-ia a lideranças do PT que começavam a ganhar expressão no Paraná, fazendo parte de grupos de militantes, dentre eles, Gilberto Carvalho (secretário da Presidência), Edésio e Zélia Passos, Pedro Tonelli, Jaime Graminha, Claus Germer, Lafaete Neves Em 1989, acompanhou Same e o grupo de históricos petistas na campanha de Lula à Presidência. A biografia de Gleisi está à disposição do país, mostrando uma ascensão previsível, em que o domínio de conhecimentos muito específicos, como orçamento público e finanças, levou-a a ser secretária de Estado em Mato Grosso do Sul, secretária Municipal em Londrina, com Edson Michelletti, e depois diretora Financeira da Binacional Itaipu, no primeiro governo de Lula.

GLEISI – ROMPENDO BARREIRAS O PT só teve uma vitória expressiva no Paraná, em âmbito estadual: foi a eleição de Gleisi ao Senado, ano passado. A tradição conservadora do eleitorado paranaense parecia rejeitar in limine qualquer candidatura em eleição majoritária de grande expressão se carimbada pela estrela vermelha do partido. O Partido dos Trabalhadores gozou sempre de inseparável identificação com radicalismos esquerdistas, na visão do eleitorado paranaense. Gleisi, ao se eleger senadora – com mais votos do que os dados a políticos tradicionais, como Requião, Fruet e Ricardo Barros – derrubou esse muro. Antes, já havia provado o seu carisma e o quanto é boa de voto, concorrendo a prefeito de Curitiba, contra Beto Richa, e ao Senado, derrotada por Álvaro Dias, mas com votação que se aproximou da do tucano. A que escola política pertence essa mulher que agora passa a compor com Gilberto Carvalho e Paulo Bernardo o trio de paranaenses ao lado de Dilma? Com certeza, Gleisi é dona de uma personalidade focada em alvos, caracterizada por opções políticas que hoje andam muito próximas das sociais-democratas. Nada mais a ver com as da menina-moça que quase colocou o futuro a perder “em obediência às determinações do PCdoB”, como observa um jornalista que esteve ao lado de Gleisi nos anos 1980. De baixo para cima Com a mãe, no quadro tradicional, com os pais e na primeira pose para o fotógrafo

GLEISI – INFLUÊNCIAS Mãe de um menino, de 9, e de uma menina, de 5, casada com Paulo julho de 2011 |

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Não escoNde que quer goverNar o ParaNá. Poderá caNdidatar-se já Nas Próximas eleições Bernardo, ministro das Comunicações, Gleisi é a imagem da mulher moderna. Elegante, anda na moda, mas não é escrava dela. Considera-se “escrava”, como me disse certo dia, de suas duas crianças, com quem era vista com frequência em sessões de cinema infantis, em Curitiba. Sensível às realidades sociais, foi das vozes que dialogaram, durante a campanha de Dilma, com lideranças católicas e evangélicas que marcaram rejeição à candidata do PT no Brasil (e em particular no Paraná), em função de temas como o aborto. Foi uma constante interlocutora do pastor Piragine, campeão na campanha anti-PT em 2010. Ela mesma alertou o pessoal da campanha de Dilma – contrariando até mesmo pesquisas – que temas como o aborto afastavam os eleitores evangélicos e católicos da candidata Dilma. Às vezes, seus alertas foram solitários. Não esconde que quer governar o Paraná. Poderá candidatar-se já nas próximas eleições. Mas não tem nada certo – ou se tem, não conta. Até porque agora sua visão terá de ser nacional, como a “gerente” do Governo. Nos próximos dias, vamos sentir a sinergia que o trio paranaense ao lado de Dilma poderá gerar em benefício do Paraná. O que nos perguntamos é se essa mulher obstinada, afável, organizada, ainda terá tempo para um de seus deleites – a leitura de certos livros-cabeça, como “Deus e a Ciência”, do acadêmico francês Jean Guitton e dois astrofísicos russos. Ou se pelo menos poderá atender aos filhos com a leitura de livros infantis, como as histórias infantis começadas, anos atrás, com “Os Três Porquinhos”. O que os amigos de Gleisi têm certeza é de que a jovem que se iniciou no mundo das causas comunitárias – e sob codinomes, para fugir da repressão – está apenas começando uma nova caminhada. Apenas.

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Gleisi com Ângelo Vanhoni, Tadeu Veneri, Doutor Rosinha e Jorge Samek em reunião no início da formação do PT no Paraná

Lula sempre apoiou Gleisi em suas candidaturas

Com Paulo Bernardo, ministro, e seus dois filhos


Pesquisa

Agência Senado/Waldemir Barreto

QueM Perde, QueM gaNHa

Sarney cumprimenta o agora senador, Sérgio Souza, na cerimônia de posse do cargo Além da própria Gleisi Hoffmann, o maior ganhador nessa loteria política que a nomeou ministra chefe da Casa Civil foi o seu primeiro-suplente, Sérgio Souza, nunca antes candidato a nada e tornado suplente pela relação pessoal com o filho do ex-governador Orlando Pessuti. Ganhou Orlando Pessuti. De político isolado, passou a ter um senador no jogo. O que não é de somenos. Sérgio Souza desequilibrou a disputa interna no PMDB nativo e passou a ser alvo de intensa pancadaria de Requião, que insiste em acusá-lo de participar de desvio de dinheiro público na Assembleia. Sergio Souza sobreviveu e Orlando Pessuti, enfim, conseguiu um posto no governo federal. Outro ganhador foi Paulo Bernardo, ministro das Comunicações que passa a fazer dobrada com a mulher na Casa Civil. É a primeira vez que marido e mulher são ministros do mesmo governo. Ganham também todos os políticos do PT nativo e adjacências, que recuperaram o ânimo e se assanham para as eleições municipais do ano que vem. E agora têm candidata viável ao governo em 2014. Por enquanto Gleisi é a única candidata em condições de enfrentar Beto Richa, que certamente tentará a reeleição. A ameaça de candidatura de Requião soa como blague. O maior perdedor é Requião, seu clã e sua claque. Deixa de ser, definitivamente, figura referencial das esquerdas no Paraná. Vai uivar sozinho na escuridão. E perdem os candidatos tucanos e assemelhados que disputam eleições no ano que vem e em 2014. Fábio Campana

Gleisi na Casa CiVil e a aCeitaÇÃo do PoVo Paranaense A nomeação de Gleisi Hoffmann como ministra-chefe da Casa Civil foi uma boa escolha?

Sim 74,75% Não 16,25% Não sabe 9,00%

Pelo fato de Gleisi Hoffmann ser paranaense, o Paraná ganha com a nomeação dela como ministra?

Sim 78,25% Não 15,25% Não sabe 6,50%

Esta pesquisa foi realizada com os habitantes do município de Curitiba maiores de 16 anos. Para a realização desta pesquisa foram entrevistados 400 habitantes. O trabalho de levantamento dos dados foi feito através de entrevistas pessoais em Curitiba durante os dias 13 e 15 de junho de 2011, sendo acompanhadas 19,75% das entrevistas. Tal amostra representativa do município de Curitiba atinge um grau de confiança de 95,0% para uma margem estimada de erro de 5,0%.

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Cidades

Os nÓs do trÂnsito Como melhorar o fluxo das vias, avenidas e ciclovias em uma cidade que tem uma das maiores frotas automobilísticas do país P L

U

Pedro riBAS

m dos principais desafios das grandes cidades é melhorar a mobilidade urbana, o que significa, principalmente, dar boas condições de transporte para milhares de pessoas que se deslocam todos os dias da casa ao trabalho e na sua inversão. Aos deslocamentos, soma-se a grande concentração de serviços em áreas centrais e comerciais, o que aumenta mais ainda o fluxo de gente e veículos e estrangula o trânsito na maioria das ruas e avenidas, além dos horários de pico. Curitiba, mesmo com sua expertise em soluções no transporte, enfrenta o desafio com um agravante. A capital do Paraná recebe, em média, 900 novos veículos por semana, quatro mil por mês e 48 mil novos veículos por ano — números que dão a marca de 1,1 veículos por habitante. Isso sem contar o grande fluxo de veículos das cidades da região metropolitana que se deslocam, nas idas e vindas, a Curitiba. Para a implementação do ligeirão Azul, o sistema de canaletas, que tem quase 40 anos, será remodelado

Novo sIsteMa Mesmo com esses problemas, o prefeito Luciano Ducci aponta avanços e evolução, e considera que Curitiba projeta um novo sistema de transporte - o que inclui novos ônibus, novos modais, mais corredores exclusivos, ciclovias, novas obras, novos binários, entre outras ações que melhoram a mobilidade urbana da cidade. “Curitiba vem investindo rapidamente para que o cidadão tenha mais mobilidade. Para quem vai de ônibus, o nosso sistema continua evoluindo. Já está em operação o novo Ligeirão, que é o maior ônibus do mundo, e que atende em duas linhas atualmente, fazendo que as pessoas se desloquem mais rápido do que de carro”, diz Ducci. “Curitiba ganhou mais 544 ônibus novos e, somente neste ano, serão 180 quilômetros de ruas pavimentadas nos bairros. E temos grandes obras como o Anel Viário Central, melhorias em 25 quilômetros de ruas ao redor do centro e a revitalização da Avenida Marechal Floriano. E tudo isso está sendo feito para melhorar o trânsito e a mobilidade das pessoas na nossa cidade”, completa.

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ModaIs Em setembro, os corredores de ônibus de Curitiba, conhecidos como canaletas, completarão 37 anos de funcionamento. Em pleno aniversário, o sistema será remodelado, com o desalinhamento das estações tubos, para a implantação do Ligeirão Azul — o maior ônibus do mundo. Ducci considera as canaletas como mais um modal do sistema que vai incluir o metrô, considerado a próxima evolução do transporte público de Curitiba. Enquanto as verbas federais estão sendo negociadas, a prefeitura está fazendo uma série de melhorias para trazer mais conforto às 2,5 milhões de pessoas da capital e de 13 municípios da Região Metropolitana transportadas diariamente por esse sistema. São novos ônibus e abertura de ruas, que vão ajudar a Rede Integrada de Transportes da URBS, que opera 2 mil ônibus, em 355 linhas, além de 364 estações-tubo e 30 terminais. Com as melhorias

previstas, a Rede Integrada de Transportes, criada em 1980, ganhará mais agilidade na cidade, em especial no trajeto do Santa Cândida à praça do Japão, onde entrará o novo Ligeirão.

esPecIalIstas Mesmo com estes avanços, o sistema curitibano, copiado em todo o mundo, é colocado em xeque. Na ponta da língua de especialistas está um arsenal de críticas que vai da superlotação ao ônibus sucateado. Para eles, o modelo curitibano precisa ser reformulado e recriado, ainda que não se apresente uma nova fórmula. A proposta mais em voga aponta para a modernização do sistema de transporte, por entender que o que está aí não funciona. A base desse argumento é o levantamento da Paraná Pesquisa que aponta o sistema como ruim para 20% dos curitibanos, mesmo com mais de 57% dos curitibanos aprovando o sistema com as médias “bom” e “regular”.


Nova York  A dúvida que fica é se o transporte da cidade está mesmo sucateado. A prefeitura diz que não e mostra os elogios de consultores mundiais em transporte público que apontam Curitiba como exemplo para outros países. O apoio mais recente veio do consultor americano do governo Barack Obama, Parag Khanna. Convidado para passear pela cidade no Ligeirão, Khana elogiou o sistema. Khanna já tinha escrito um artigo na revista Time mostrando a qualidade do sistema de transporte de Curitiba. Após percorrer o trecho entre o Centro e o Boqueirão a bordo do novo Ligeirão, disse que o sistema de ônibus funciona melhor do que o de Nova York. “Em Nova York se leva 90 minutos para fazer de ônibus um trajeto como esse, de 20 quilômetros. Em Curitiba, demorou um pouco mais de 20 minutos”, disse.

Indutor  O modelo de ônibus da cidade foi criado pensando na ocupação de solo, na demanda populacional da cidade e sendo indutor do crescimento. Por isto, a implantação de ônibus é feita ao mesmo tempo que se amplia a malha viária. Este conceito vem sendo aplicado desde o governo Jaime Lerner, passando por Roberto Requião, Rafael Greca, Maurício Fruet, Cassio Taniguchi e Beto Richa. Isto explica por que o governo Luciano Ducci tem recuperado e ampliado as ruas e investido pesadamente na compra de equipamentos de revitalização de asfalto. Um exemplo é a revitalização da Avenida Anita Garibaldi, cujas linhas de ônibus, como a do Interbairros, passaram a andar 20% mais rápido após a reforma. Binários  Mesma situação aconteceu com outras

obras viárias como a Linha Verde Sul, as ligações viárias do Capão da Imbuia/Hauer, Santa Bernardethe, entre outras. Em todas elas, o tempo de viagem reduziu em 15% por causa das intervenções viárias. Com mais ruas e binários abertos, ficou mais fluido o trânsito curitibano, com mais de 1 milhão de veículos na cidade — uma das maiores frotas do Brasil. Considerando a proporcionalidade com o número de habitantes, Curitiba tem 1,1 carro para cada habitante. Estas melhorias estão acontecendo onde a prefeitura está fazendo novas obras viárias. Casado a este processo de modernização da malha viária, o novo conceito de mobilidade urbana leva em conta a implantação de calçadas compartilhadas ou ciclovias, para ampliar a rede de ciclovias — uma das maiores do Brasil, segundo o Ministério

O Anel Viário vai melhorar o fluxo do transporte público e do trânsito da cidade

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do Transportes. São 100 quilômetros de pistas para ciclistas.

Anel Viário  Uma das obras que exemplifica a melhoria do deslocamento na cidade é o Anel Viário, que vai melhorar o fluxo do transporte público e do trânsito da cidade. A obra prevê a revitalização do pavimento, das calçadas e a adequação da sinalização semafórica em 25 quilômetros de um conjunto de ruas que formam um anel ao redor do centro de Curitiba. O objetivo é melhorar a mobilidade e a acessibilidade em toda a região central. E também melhorar o tempo de deslocamento de ônibus, como Inter 2, a linha de ônibus mais movimentada da cidade, com 40 mil passageiros por dia.

Desafogo  Passando por oito bairros – Rebouças, Alto da XV, Alto da Glória, Centro Cívico, Bom Retiro, Mercês, Batel e Água Verde – o Anel Viário vai ajudar a desafogar o trânsito na área central com deslocamentos mais seguros e contínuos. Os motoristas poderão até percorrer distâncias maiores, mas os tempos de deslocamento serão menores e eles encontrarão mais fluidez. No sentido horário, o Anel Viário terá 11,6 quilômetros de ruas e no sentido anti-horário, outros 13 quilômetros.

Dois sentidos  O Anel Viário é composto por 23 ruas. No sentido horário, são beneficiadas as ruas Roberto Barrozo, Aristides Teixeira, Comendador Fontana, Nicolau Maeder, Mauá (opção: 21 de abril e 7 de abril até a Ubaldino do Amaral), Amâncio Moro, Ubaldino do Amaral, Omar Sabbag, Engenheiros Rebouças, Brigadeiro Franco, e Tenente João Gomes da Silva. No sentido anti-horário, as equipes vão trabalhar nas seguintes ruas: Júlio Perneta, De24

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Fabiano Borba e Reginaldo Reinert/ Ippuc

Mobilidade  Todo o planejamento da cidade leva em conta a integração com os municípios vizinhos e o plano de mobilidade urbana integra o Plano Diretor da cidade. No final de 2007, Curitiba fez seu Plano Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte Integrado que indica as ações a serem adotadas para os próximos 20 anos. A política municipal de mobilidade tem o compromisso de facilitar os deslocamentos e a circulação de pessoas e bens na cidade. A meta é priorizar o transporte coletivo em relação ao transporte individual, melhorando a integração com a região metropolitana. Também pretende-se reduzir o tempo de translado das pessoas, com maior interação entre os bairros. Dentre as diretrizes também está o estímulo à adoção de novas tecnologias que visem a redução de poluentes, residuais ou em suspensão, priorizando a adoção de combustíveis renováveis, e da poluição sonora. sembargador Motta, Iguaçu (opcional), Buenos Aires, Brasílio Itiberê, Omar Sabbag, Ubaldino do Amaral, 7 de abril, Alberto Bolinger, Augusto Severo, Campos Sales, Lysimaco Ferreira da Costa, Domingos Nascimento, Teffé e João Antoniassi.

Sincronizados  Um dos grandes projetos a favor da mobilidade será o SIM (Sistema Integrado de Mobilidade). Ele é composto por um circuito fechado de televisão, sistemas de operação de emergências, controle do estacionamento regulamentado, fiscalização eletrônica, controle de infrações e de informações ao usuário, além do uso de painéis de mensagens variáveis. Softwares avançados e modernos equipamentos trarão melhorias ao trânsito e ao transporte coletivo, aprimorando a mobilidade em toda a cidade e também nas vias de ligação com a Região Metropolitana. Cândido de Abreu  Curitiba também foi uma das primeiras cidades do país a implantar os chamados calçadões — o da Rua XV tem mais de 30 anos — e vai ampliá-los com o Calçadão da Avenida Cândido de Abreu. O projeto reforça a prioridade que a cidade dá ao transporte coletivo e ao deslocamento dos pedestres. Os recursos para o projeto, R$ 4,9 milhões, estão no PAC da Copa. O custo total da obra será de R$ 18 milhões. Será a primeira via pública de Curitiba com acesso livre à internet. Haverá pontos de encontro para os pedestres. Ligeirinhos  O transporte coletivo também será contemplado com pistas exclusivas, paralelas ao calçadão, para os ônibus ligeirinhos das linhas que atendem a região. As demais linhas convencionais

Estudo do novo projeto na Av. Cândido de Abreu com custo previsto de R$ 18 milhões

serão mantidas e a avenida terá quatro estações-tubo. O canteiro central terá cerca de um quilômetro, que equivale ao calçadão da Rua XV de Novembro. Será bem amplo, com largura de 18 metros, incluindo pista tátil para facilitar a acessibilidade de pessoas com deficiência visual.

Ciclovias  Curitiba tem cerca de 100 quilômetros de ciclovias. É uma das maiores redes do Brasil. A primeira está no Rio de Janeiro, com 160 quilômetros. A rede curitibana começou a ser implantada em 1977, na Avenida Victor Ferreira do Amaral. Em 1980, foram construídos mais 35 km, do Parque da Barreirinha à Cidade Industrial. A partir daí foram implantadas ciclovias nos parques da cidade, ao longo de fundos de vale e também ao longo da linha férrea. A cidade tem seu plano cicloviário e trabalha na sua ampliação. A revitalizada Rua Toaldo Túlio, importante via de ligação do bairro de Santa Felicidade, com 5,5 km de extensão, conta com faixa para circulação de bicicletas compartilhada com pedestres e também com paraciclos. A urbanização da Rua Eduardo Pinto da Rocha, com obras iniciadas em março e previsão de término em 10 meses também prevê a implantação de ciclovia e de circulação compartilhada com 5 km de extensão. Neste mês também foram iniciadas as obras de revitalização da Avenida Marechal Floriano Peixoto (entre a Linha Verde e o terminal


do Carmo) da qual faz parte a implantação da 1ª ciclofaixa da cidade com 4 km de extensão.

Novas ciclovias  Além destas obras, a revitalização da Avenida Comendador Franco e da Avenida Marechal Floriano (entre o terminal do Carmo e a divisa com o Município de São José dos Pinhais), totalizando 13,7 km de extensão, inclui ciclovias. O projeto da Linha Verde Norte prevê a implantação de circulação compartilhada em seus 8 km de extensão, dando continuidade aos 10 km já implantados na Linha Verde Sul. O primeiro trecho de obras da Linha Verde Norte, com extensão de 2,3 quilômetros, ligando o Jardim Botânico ao Tarumã, já está licitado e as obras serão iniciadas ainda neste primeiro semestre.

Linha exclusiva  As obras de extensão da Linha Verde Sul, entre Curitiba e Fazenda Rio Grande, na região metropolitana, devem começar no segundo semestre deste ano. A aprovação do projeto executivo e o início das obras dependem do licenciamento ambiental por parte do Ibama, processo que se encontra em andamento. A intervenção no trecho da BR-116 para além dos limites de Curitiba, sob concessão da OHL, prevê a reserva de área para a linha exclusiva de transporte num trecho de 11,8 quilômetros até Fazenda Rio Grande e a duplicação da rodovia prosseguindo até o município de Mandirituba. Trincheira  A duplicação da BR e da extensão da Linha Verde para a RMC faz parte das negociações da prefeitura com a ANTT e a OHL. A proposta avança e já resultou no convênio para a constru-

Quatro trechos  Os trabalhos serão executados ao longo do trecho de aproximadamente 8km, desde o bairro Jardim Botânico, sob a passarela do Centro Politécnico, até o extremo norte de Curitiba, no Atuba, passando por 11 bairros que hoje são separados pela antiga rodovia. Os custos previstos por etapas de obras estão assim definidos: Primeiro trecho: R$ 51,9 milhões, liga o Centro Politécnico, no Jardim Botânico, na Linha Verde Sul, até a altura da trincheira da Victor Ferreira do Amaral, no Tarumã, numa extensão de 2,3 km. Segundo trecho: Viaduto da Victor Ferreira do Amaral: R$ 36,7 milhões; Terceiro trecho: Victor Ferreira do Amaral - Solar: R$ 37,1 milhões; Quarto trecho: Solar - Atuba: R$ 66,5 milhões. Ao sul, a Linha Verde já uniu dez bairros ao longo de um trecho de 9,4 km de extensão. O trecho norte será semelhante - com canaletas exclusivas para os ônibus e, paralelas a ela, pistas marginais de passagem e vias locais (em frente ao comércio), iluminação renovada, ciclovia, calçadas, e oito estações de embarque/desembarque. A Linha Verde Norte terá como diferencial a construção de sete trincheiras e a ampliação de dois viadutos.

Joel Rocha/SMCS

Linha Verde Norte  Em outra ponta, Curitiba deve iniciar ainda em julho as obras da Linha Verde Norte, no trecho de 2,3 quilômetros que vai do Jardim Botânico à Avenida Victor Ferreira do Amaral. Esta etapa atende os moradores do Jardim Botânico, Jardim das Américas, Cajuru, Cristo Rei, Capão da Imbuia e Tarumã. O prazo de conclusão previsto no contrato é de 18 meses. Para esta etapa, com financiamento de R$ 52 milhões da Agência Francesa de Desenvolvimento, estão programadas as obras de drenagem, canaletas para os ônibus, pistas marginais e locais (paralelas à canaleta), sinalização, iluminação, ciclovia e calçada, as trincheiras das ruas Roberto Cichon e Agamenon Magalhães e a Estação Jardim Botânico.

O novo conceito de mobilidade urbana leva em conta a ampliação da rede de ciclovias

ção da trincheira em frente ao Ceasa, orçada em R$ 29,5 milhões. A prefeitura será a responsável pela construção das alças de acesso à rodovia e a OHL pela execução da trincheira. No próximo mês, a OHL deverá iniciar as obras para melhorar o fluxo de veículos no trecho em que a BR encontra o acesso à Vila Pompéia, área considerada crítica. Para melhorar o trânsito na região, hoje sinalizada por semáforos, a concessionária irá fazer a adequação viária no local de forma que os veículos que venham do interior não precisem parar nos semáforos.

Metrô  Um dos projetos mais esperados no novo sistema de transporte é a Linha Azul. O projeto já foi inscrito no PAC da Mobilidade das Grandes Cidades. Os recursos, na ordem de R$ 2,2 bilhões, prevêm a execução da primeira fase da

Linha Azul, com 14,2 quilômetros entre a estação CIC-Sul, próximo à Ceasa, e a Rua das Flores, no centro da cidade (percorrendo 13 estações). O custo total do metrô de Curitiba é estimado em R$ 3,25 bilhões. A Linha Azul terá 22,4 quilômetros em toda a sua extensão, desde o Terminal CIC Sul (no cruzamento do Contorno Sul com a BR 116) até o Terminal Santa Cândida, no Norte da cidade. Serão 21 estações para veículos compostos por cinco carros e capacidade para 1.450 passageiros.

Prioritárias  A prefeitura executa ainda outras cinco obras prioritárias para melhorar a mobilidade urbana. Uma delas é a construção da trincheira da Gustavo Rattman — investimento de R$ 9,5 milhões. A trincheira terá 127 metros e altura de 4,80 metros. A obra inclui a pavimentação das ruas José Zgoda, Gustavo Rattman e dos Xaverianos, além das alças de acesso e das vias marginais e locais nos dois sentidos da futura Linha Verde Norte, num total de 2,3 quilômetros. Também estão previstos a sinalização horizontal e vertical, paisagismo e a construção de calçadas. No binário Chile-Guabirotuba, a prefeitura está investindo R$ 9,1 milhões. A nova ligação vai atender moradores de cinco bairros: Água Verde, Jardim Botânico, Prado Velho e Rebouças. Na revitalização da Fredolin Wolf, o investimento é de R$ 17,9 milhões na obra que vai atender 80 mil pessoas, renovando uma região importante, com nova pavimentação, calçadas, ciclovia e paisagismo. Em obras, a revitalização da Rua Eduardo Pinto da Rocha vai atender 137 mil pessoas que vivem na área de influência dos bairros do Umbará, Sítio Cercado, Ganchinho e Alto Boqueirão. O investimento é de R$ 13,3 milhões. A rua será asfaltada em toda a sua extensão (5,5 quilômetros) e ganhará obras de drenagem, calçadas, ciclovia, paisagismo, iluminação e uma rede subterrânea de transmissão de dados (infovia). Bairros  Outra via em obras é a Rua Desembargador Antônio de Paula. A prefeitura está investindo R$ 6,1 milhões. Ao longo de 2,2 quilômetros (desde o cruzamento com a rua Francisco Derosso, na divisa entre os bairros Xaxim e Alto Boqueirão até a avenida Marechal Floriano Peixoto), a rua receberá asfalto, sistema de drenagem, calçadas com acessibilidade, paisagismo, iluminação e uma rede de dados subterrânea (infovia). A obra vai oferecer mais qualidade de vida e segurança no trânsito e transporte na área que integra os bairros Alto Boqueirão, Boqueirão e Xaxim, onde vivem 193 mil pessoas. Futuramente, a prefeitura deverá estender os trabalhos para além dos limites da Marechal Floriano, criando uma nova ligação viária até a avenida Senador Salgado Filho. julho de 2011 |

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Ciro Correia França

Um lar atleticano

N

oticia um jornal paulista que em Jaú – SP, o pedreiro e armador de ferragens Nelson Alves, 58 anos, mudou-se em vida para uma das gavetas do túmulo de família, no cemitério Ana Rosa de Paula, onde fixou domicílio ao lado do pai, da mãe e de uma irmã, já falecidos. Passou a ocupar a cobertura da edificação, ou seja, a gaveta superior do lado direito de quem entra. Além das razões de ordem sentimental, outras levaram Nelson Alves a optar pelo novo endereço. A determinante, no entanto, foi o fato de que ele residia no banco de uma praça que foi tomada por viciados em drogas, o que tornou o recinto inabitável,explicou. Tentaram desalojá-lo da nova vivenda, mas Nelson soterrou a pretensão ao desfiar cabal argumentação que concluiu de forma irrefutável ao invocar o direito de propriedade: “É meu o imóvel!” - E, sendo assim, Res ubicumque sit, pro domino suo clamat (Onde quer que se encontre a coisa, ela clama pelo dono), sentenciaria qualquer magistrado. A notícia remeteu-me a um passado de 40 anos, quando um amigo solteiro, cujo nome omitirei por discrição, tomou decisão semelhante e passou a residir no mausoléu da sua ilustríssima família, no Cemitério São Francisco de Paula, no centro de Curitiba. Na época, o fato levou o Dino Almeida a comentar na sua coluna social da Gazeta do Povo, com sutil ironia e fino humor - mas sem citar o proprietário - que “chique mesmo era possuir capela de família no Cemitério Municipal”. Com a frase, Dino quis demonstrar que os herdeiros daqueles sepulcros suntuosos são gente de tradição, curitibanos de quatro costados, personalidades colunáveis, com profundas raizes cravadas na terra. Poucas pessoas sabiam do novo point do meu amigo, e o Dino sabia. Mas não nos percamos em divagações sociais e voltemos à saga de F.L.F. dos G. de A. (são as iniciais dele), que era rico e ficou pobre, jogando. Começou a ficar pobre nas roletas de Las Vegas, e envergava Dinner Jacquet, ou summer. Depois, continuou empobrecendo no Cassino de Carrasco, no Uruguai, e trajava smoking. Em seguida, perdeu uma boa soma em lentas patas equinas, na Gávea e no Hipódromo do Tarumã, e vestia um terno de linho 120. Mais à frente, em Ciudad del Este, já em declínio acentuado, perdeu os tubos no bacará, e trajava calça jeans e camisa polo. Por fim, em vergonhosa decadên-

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cia, dissipou as raspas da fortuna em rodadas de pôquer na Vila Parolin, vestindo bermudão e camiseta sem mangas e sandálias havaianas. A kitinete na qual morava, perdeu-a na sua última aposta: pôs fé no glorioso Atlético (0) contra o Ferroviário (2) - peleja que aconteceu no dia 15 de abril de 1970 - e ficou na rua da amargura. Sem teto, passou a dormir aqui e ali, de favor. O Atlético, porém, seria sagrado campeão, não obstante essa derrota. No dia de finados daquele fatídico ano de 1970, abatido, dirigiu-se ao único imóvel que lhe restou (por inegociável), o mausoléu da família, situado no campo santo municipal. Queria haurir na memória da mãe morta, em contrito recolhimento, o conforto espiritual de que tanto necessitava. A narrativa a seguir é dele e foi extraída dos originais de uma biografia que nunca publicou. “Ao depositar numa das floreiras externas do nosso mausoléu uma singela sempre-viva, fez-se a luz! Veio-me à mente a idéia de que eu poderia fixar residência ali, ao lado da mamãe, dos avós e dos bisavós queridos. Há muitos anos ninguém mais fora sepultado no local. Mamãe, a última a entrar em decesso, já descansava há décadas na tumba, e papai fora enterrado no túmulo dos pais dele, perto das Cruz das almas.” Aqui retomo a palavra para fazer uma breve descrição do suntuoso palacete mortuário, caro leitor. A construção é circundada por um jardinzinho e ocupa uma área de mais ou menos doze metros de testada por uns doze de fundos. É uma das maiores do condomínio, com cerca de 120 metros quadrados construídos em mármore travertino da melhor qualidade. Quase três vezes o tamanho da kitinete que ele perdeu no jogo do Atlético, e ainda está lá para quem quiser ver. Tem ares de templo grego e foi encomendada pelo seu tataravô materno, que era neopitagórico. Apresenta colunas dóricas com fustes e capitéis, frontão triangular e, embaixo, encaixada numa bela cercadura que lhe serve de caixilho, uma suntuosa porta de bronze mostra um baixo-relevo do Oráculo de Delfos. Uma cabeça do Cristo, protegida num nicho lateral, dá o toque ecumênico à decoração. Com letras de bronze, o consolador dístico latino abaixo do Cristo : Resquiescat in pace, parecia ter sido escrito para F.L.F. Devolvo ao meu amigo a narrativa: “Entrei para ficar!” – escreveu ele. E, de fato, ficou. Fez algumas arrumações… No seu interior, numa grande sala de entrada onde havia quatro fileiras de bancos de oração de cada lado, com genuflexório almofadado, F.L.F

colocou um sofazinho, duas poltronas e um tapete persa puído, que tinha na kitinete. Uma espécie de altar que servia para o discurso de encomenda dos mortos foi adaptado e transformado em mesa para as refeições. Nela jogávamos general. F.L.F. Aproveitou as molduras dos retratos da sua ancestralidade, que pendiam solenes nas paredes laterais, e nelas colocou fotografias recortadas dos grandes astros do seu time do coração, o Atlético Paranaense. Entre outras, a do meio-campo Barcímio Sicupira Júnior (artilheiro do campeonato, com 20 gols!) ao lado de Zé Roberto abraçado ao Jofre Cabral, vendo-se ao fundo o torcedor José Américo Guimarães, o saudoso Zé-Américo. Numa grande moldura dourada destacava-se Djalma Santos em tamanho natural, segurando o diploma de Cidadão Honorário de Curitiba. Dessa forma, o ambiente que fora lúgubre mostrava-se esportivo, sobretudo pela grande bandeira do Atlético colocada na parede do fundo, como um paneaux. No outro cômodo – em cujas paredes jaziam os seus mortos em grossas prateleiras de granito negro – fez o seu dormitório. Cooptou o zelador do cemitério e esse ajudou-o a faxinar o local e a dar sumiço na tralha fúnebre. Com devoção filial, colocou no ossário os restos mortais dos extintos e, sabe-se lá como, conseguiu uma grande cama de casal, na qual, às sextas-feiras, confortava-o uma dama da alta sociedade, de hábitos bizarros. Dois grandes candelabros de prata lavrada responsabilizavam-se pela iluminação da alcova. Velas nunca foram um problema, pois fartavam na Cruz das Almas. Nas prateleiras, colocou sua coleção do Pato Donald, uns poucos livros de inspiração anticlerical, as suas roupas e o seu estojo inglês de tacos de golfe. F.L.F. fazia suas refeições no restaurante do Country Clube, do qual era sócio remido. Seu pai, prevendo problemas, pagou antecipadamente 15 anos de mensalidades para livrá-lo do ônus, em caso de necessidade. Essa atitude paterna mostrou-se providencial. Quanto às refeições, nunca pagou por elas! Por sete anos morou lá. Ainda mora, já desencarnado. Aqui encerro o presente relato, do qual dou fé e assino. E mais não digo.

Ciro Correia França colunista da Revista Ideias.


Luiz Fernando Pereira

Strauss-Kahn é vítima, dizem os conspiradores

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illes Lapouge, o excelente correspondente internacional do Estadão, revelou resultado de curiosa pesquisa. Para quase sessenta por cento dos franceses, o taradão do FMI, Strauss-Kahn, é vítima de uma armação. Alguns franceses apontam que Sarkozy estaria por trás da “farsa”, interessado em desqualificar o então forte adversário na corrida presidencial de abril do próximo ano. Outros supõem que a CIA esteja envolvida (a CIA, aliás, é uma “Geni” internacional dos conspiradores). Em minoria estão os franceses que acreditam que os russos tenham envolvimento no episódio, interessados em “desmoralizar o ocidente”. Neste último caso, temos uma espécie de conspirador saudosista da guerra fria. O conspirador, em geral, é um tipo humano esquisito. Ao contrário de São Tomé, não acredita em nada do que vê. Para o conspirador, sempre há algum interesse “por trás” das coisas aparentes. Interesses de poderosos que dissimulam seus verdadeiros propósitos. Os fatos nunca são como a imprensa os apresenta e nós – os ingênuos, como nos classificam os conspiradores – acabamos acreditando. Strauss-Kahn é a mais nova matéria-prima dos conspiradores. Não faltam teorias conspiratórias. Algumas clássicas, como a responsável por negar que

o homem tenha ido à Lua. Ou o envolvimento da KGB no assassinato do Kennedy. E por aí raciocinam os conspiradores, articulados em torno de um mantra: “desconfie; nada é como aparenta ser”. Um dos episódios recentes que mais provocou teses conspiratórias foi o ataque às torres gêmeas. Livros e documentários tentam demonstrar que tudo não passou de auto-atentado do Governo de George W. Bush, apenas para poder justificar uma guerra contra o terrorismo. Só um ingênuo, insistem, pode acreditar que a Al-Qaeda seja a responsável pelo ataque! E não faltam evidências aos conspiradores, todas mirabolantes. Aliás, é claro que Bin Laden não morreu para os nossos conspiradores. Para o conspirador é muito difícil reconhecer um acidente ou uma singela morte natural de uma pessoa pública. Há sempre um poderoso assassino oculto. Carlos Lacerda, João Goulart e Juscelino Kubitschek foram todos secretamente mortos pelo regime militar. A proximidade das datas das mortes reforça a tese conspiratória em torno do “assassinato” dos líderes da frente ampla. Cony tratou do tema em “O Beijo da Morte”, um misto de romance com ficção. O conspirador também não admite a explicação do simples acidente aéreo para a morte do nosso ex-presidente Castelo Branco. Quem eram os interessados na morte do Marechal, ques-

tiona o conspirador. Sempre com um olhar de superioridade dirigido aos pobres ingênuos que acreditam nas versões oficiais. Há muitos anos, ainda no começo do segundo grau, um quase amigo me entregou uma versão do Protocolo dos Sábios de Sião com a seguinte advertência: está tudo aí. Eles controlam tudo, insistia – aos sussurros – o primeiro conspirador com quem tive contato. Confesso que fiquei um pouco assustado. Depois ouvi conversa parecida em torno dos Illuminati, uma espécie de governo secreto do mundo. Neste caso eu já tinha idade para apenas achar engraçado. O conspirador é quase sempre um paranóico crônico. Como todo paranóico, pauta-se por uma lógica própria, descolada da realidade. É incurável. Nem pense em tentar convencê-lo. Trata-se de tarefa impossível. Se lá na frente Strauss-Kahn for condenado, provando-se que a libido foi a única responsável pelo ataque para cima da camareira, o conspirador apenas reformulará a tese conspiratória. Dirá que o Tribunal foi corrompido para esconder a armação. Corrompido pelos russos, quem sabe.

luiz Fernando Pereira é advogado.

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Luiz Geraldo Mazza

A derrota graciosa do Império

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cordou, sobressaltado, ao ver o inimaginável para seus impulsos patrióticos e nacionalistas: flutuava, no meio da Avenida Luis Xavier, um gigantesco balão da Coca-Cola — e isso, ainda por cima, como decoração festiva da Semana da Pátria de 1960, ano de eleição nacional, de um lado Jânio Quadros e de outro o generalíssimo Henrique Duffles Teixeira Lott. “Povo de sangue de barata!” praguejou diante da insólita expressão, a mais visível delas, do imperialismo. Do terceiro andar do Edifício Avenida (naquele tempo ainda não restaurado e com todo jeito de pardieiro) o cartorário José Eduardo Nociti não se conformava e saiu à procura de uma arma para afastar de vez a presença incômoda. Estávamos num pleito radical, um divisor de águas ideológico, de um lado o liberal-cosmopolitismo, que deflagrara a campanha da free enterprise com apoio de todos os jornalões e em aberta oposição à autonomia do Brasil, como a concebera Getúlio Vargas e em parte prejudicada por Juscelino Kubitschek, e de outro o nacionalismo tido à esquerda, dentre os seus

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integrantes José Sarney, que era da bancada “bossa nova” da UDN. Nociti tinha servido o Exército e era um extremista do nacionalismo e, espingarda em punho, deu vários tiros no balão. Este, para irritá-lo ainda mais, tinha um dispositivo que o enchia automaticamente. O comitê do Lott ficava do outro lado da rua e foi até lá fazer comício contra o artefato da multinacional. Como o brasileiro que não desiste nunca, o Zé desce as escadas do prédio à noite com dois arcos e duas flechas, nada mais autenticamente nacional, e procura um voluntário que se dispusesse a alvejar o balão. Encontrou na frente do Café Alvorada o escultor Nelson Matulevicius, o Cabeleira, e convenceu-o a dar uma de Robin Hood. A onda foi tanta que a avenida ficou repleta de gente e com alguns se manifestando ruidosamente. Nociti parou um ônibus na esquina da XV com a Travessa Oliveira Bello e o Cabeleira, de cima do veículo, começou a disparar flechas, algumas incendiárias. Quando as coisas ganhavam tensão com a invencibilidade do balão, chegou na Avenida o carro dos bombeiros que passou a dissipar a multidão com jatos de água. E aí ergueram a escada magirus e retiraram o balão de propaganda. Dizem muitos frequentadores da arruaça na

Boca Maldita que alguns cantaram até o hino nacional. E foi decretada a derrota carnavalesca do imperialismo, para alegria do José Nociti e do Matulevicius, os guerrilheiros eufóricos. O gerente da Coca-Cola em Curitiba era mister George Kern, que realizara na prática uma das pretensões da parte mais radical da esquerda: aquela de encher de formiga a boca da nossa burguesia. É que ele lançou para a nossa elite o hábito de comer formiga, daquelas bundudas, como canapé. Os jornais que deram todos os lances do incidente receberam da Coca-Cola engradados intermináveis da pausa que refresca, mesmo quando submetida a um ataque a tiros e flechadas. Jornalistas nunca arrotaram tanto. E Curitiba mostrou que o treinamento, de anos antes, com a Guerra do Pente, tinha abolido a calma provinciana e se tornava revolucionária, fazendo aquilo de festivo que não consegue com o Carnaval.

luiz geraldo mazza é jornalista.


Educaçã�

Esporte como qualidade de vida

diVulgAção Ai/Alm. tAmAndArÉ

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oficinas esportivas previnem problemas de saúde e de segurança pública, segundo o Secretário de esporte e lazer, Antenor Santos Aguiar

P

edro Celeste* é um menino de 13 anos, que como muitos da sua idade, gosta de jogar bola e um dia quer ser jogador de futebol. O que diferencia Pedro das outras crianças é que há cinco anos, quando ele ainda não participava das escolinhas de futsal da Prefeitura de Almirante Tamandaré, passava o dia na rua, fora da escola, fumando e “aprontando”, segundo o supervisor do Ginásio de Esportes do Tranqueira, Roberto Carlos dos Santos, e seus técnicos. Santos trabalha no ginásio e acompanha as crianças que frequentam a escolinha e moram nas proximidades do local. Ele conta que Pedro tem muitos problemas familiares: mãe ausente, pai alcoólatra, e por aí vai. Pedro hoje passa a maior parte do tempo no estádio, correndo atrás da bola ou convivendo com outros colegas e instrutores. “Eu mudei bastante depois que comecei a aprender a jogar bola”, afirma Pedro revelando ainda que teve vontade de participar dos treinos porque via as outras crianças brincando e tam-

bém queria estar ali. Mudança esta que Roberto confirma e seus instrutores também.

oPortuNIdade Da mesma forma que Pedro, outras crianças, adolescentes, jovens e adultos, tem a oportunidade de praticar esportes e melhorar a qualidade de vida em Almirante Tamandaré. Segundo o Secretário de Esporte e Lazer, Antenor Santos Aguiar, investir em oficinas esportivas é uma forma de prevenir problemas de saúde e de segurança pública. Além da técnica, explica o Diretor da Secretaria Cícero Oliveira, os instrutores acompanham o progresso escolar de cada aluno, passam valores e orientações durantes as práticas. São diversos os casos de alunos mais carentes que receberam chuteiras para não deixar de praticar futebol, como o pequeno Wellington de Oliveira Mendes, de 11 anos, ou que não tinham opções de atividades durante o dia e passaram a se dedicar ao esporte, como o jovem Fábio Souza Honório, de 17 anos. No total, apenas nas oficinas de futebol e futsal da Prefeitura de Al-

mirante Tamandaré, espalhadas em 12 polos do município, são quase mil alunos. Além dessas, são oferecidas à população do município aulas de ginástica, vôlei, basquete e outras modalidades esportivas.

esPaÇos Para garantir a qualidade das práticas, a Prefeitura investe ainda em espaços de esporte e lazer na cidade. Na gestão do Prefeito Vilson Goinski foram feitas diversas obras de construção, reforma ou ampliação de ginásios e quadras poliesportivas. “Priorizamos a qualidade de vida da nossa população e o esporte é fundamental nesse aspecto” afirma o Prefeito, alegando ainda que, apesar de todas as dificuldades orçamentárias do município, as equipes têm trabalhado bastante, se dedicando para oferecer melhorias que beneficiam crianças como o Pedro e outros moradores de diferentes idades e condições sociais. *Pedro celeste é um nome fictício utilizado para preservar a identidade do menino de 13 anos. julho de 2011 |

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Rogerio Distefano

Trauma de bode

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té hoje não entendi como o bode entrou no prédio. Nem tentei, considerando quem trouxe o bode e para que fim trouxe o bode. Vocês também vão entender. Tinha que ter arte ou magia em fazer subir um bode pelo elevador até o nono andar. Mais ainda driblar a atenção dos moradores, nesse entra-e-sai do prédio de quarenta apartamentos. A menos que os porteiros, sempre coniventes e cúmplices, tenham facilitado. Embora ache que com eles também aconteceu magia, sempre tive um pé atrás com os porteiros, desde aquele que roubou a gasolina e encheu de água o tanque de meu carro. Quem trouxe o bode foi o pai, homem forte, alto, vozeirão, emissor de estranho magnetismo. A família era estranha, o pai não falava com a mãe e vice-versa, e a filha só falava com a mãe. Isso, digamos, ordinariamente, porque às vezes uma estranha algaravia vinha de dentro do apartamento. Pai, mãe e filha apresentavam expressões algo místicas, sem variação, os olhares mortiços e fixos num ponto qualquer do horizonte. Cruzava com mãe e filha na rua de vez em quando. Melhor, não cruzava, atravessava onde estivesse, assustado com as duas, braços dados, falando entre dentes – podia ter sortilégio contra mim. Nessa época já sabia do bode; daí meus receios aumentarem, pois sei das associações com a imagem do bode, e não falo da Maço-

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a filha me olhou e disse que a Rainha Elisabeth da Inglaterra havia usurpado seu lugar naria, que dizem mantém um bode nas suas sedes. O bode, desde a Idade Média, é uma das encarnações do diabo – maldade da Igreja contra os maçons. Sempre dava um jeito de não tomar o elevador com qualquer um da família, e, quando inevitável, era um sofrimento. Teve aquele dia em que a filha me olhou e disse que a Rainha Elisabeth da Inglaterra havia usurpado seu lugar. Desde então passei a trazer na carteira a medalhinha do Menino Jesus de Praga. Nunca se sabe, eles podem aparecer numa esquina qualquer do bairro. Nesta altura vocês devem querer saber o que foi feito do bode, ou dos bodes – vim a descobrir que havia luas e datas certas em que bodes,

muitos bodes, individualmente, entravam no prédio. Simples, e digo isso agora, longos anos transcorridos depois dos fatos: eram sacrificados. Sim, sacrificados, em rituais não sei de que liturgia, crença ou adoração de qual entidade (ia escrevendo ‘divindade’). Sacrificados, decapitados, as cabeças jogadas ao lixo sem a menor cerimônia no dia seguinte. Os vizinhos calavam ou não ouviam os berros do bode, nem a celebração do sacrifício. Sei de uma vizinha, encalhadíssima, que arranjou parceiro dias depois da chegada de um bode. Ela me passou relato vago e superficial, exigiu segredo, que o tempo e o imperativo desta coluna dispensam de respeitar. Não guardo preconceito contra a família, suas crenças e rituais. Vivemos num país em que tantas coisas piores que a morte de um bode são toleradas e restam impunes. O sacrifício dos bodes teve utilidade social: a vizinha casou e os porteiros refestelavam-se com a carne de bode que recebiam da família, cozinhada pela receita de um deles, nativo do Ceará. Quanto a mim, na dúvida, recusei o tentador convite do amável vizinho que queria me levar para a Maçonaria. Trauma de bode.

Rogerio Distefano é advogado e colunista da Revista Ideias. Leia mais em: www.maxblog.com.br


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eduArdo reineHr

Reportage�

Culpadas ou Inocentes? O caso do menino Evandro Ramos Caetano, supostamente assassinado em um ritual de magia negra em Guaratuba, completa quase 20 anos e ainda levanta dúvidas M C S C

M

anhã do dia 11 de abril de 1992. O corpo de um menino de seis anos, completamente desfigurado, é encontrado num matagal em Guaratuba,

litoral do Paraná. Identificado como Evandro Ramos Caetano, ele teria sido vítima de um ritual satânico de magia negra. Foram retirados os órgãos, a criança estava escalpelada, sem olhos, orelhas, mãos, dedos dos pés e com um corte profundo no peito.

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A crueldade, inimaginável, é proporcional às contradições que rondam o caso. Os acusados foram sete. Celina e Beatriz Abagge, esposa e filha do ex-prefeito de Guaratuba, Aldo Abagge, acusadas de serem as mandantes do crime, Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira, Davi dos Santos Soares, Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli. O primeiro julgamento ocorreu em 1998 e foi considerado o mais longo da história do Brasil, com duração de 34 dias. Celina e Beatriz foram absolvidas, sob a argumentação da defesa de que

elas não poderiam ser julgadas enquanto havia dúvidas sobre a identidade do corpo encontrado ser realmente o de Evandro. O Ministério Público do Paraná recorreu da sentença e conseguiu marcar o segundo julgamento, depois de sucessivos adiamentos, que ocorreu no ano de 2004. Neste, os outros envolvidos foram julgados. Osvaldo Marcineiro, o pintor Vicente de Paula Ferreira e o artesão Davi dos Santos Soares foram condenados a penas superiores a 18 anos de prisão. Já Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos foram absolvidos em 2005.


diVulgAção

evandro desapareceu em guaratuba dia 6 de abril de 1992

O terceiro julgamento aconteceu nos dias 27 e 28 de maio de 2011. Celina fica isenta por ter mais de 70 anos de idade. Beatriz Cordeiro Abagge foi condenada a 21 anos e quatro meses de prisão. A votação foi apertada: 4 x 3. A sentença foi lida pelo juiz Daniel Surdi Avelar, que presidiu a sessão.

dúvIdas Mesmo depois de três julgamentos, as dúvidas permanecem. Qualquer uma das versões que são apresentadas, respectivamente, pela acusação e pela defesa, é brutal. A verdade pende entre um ritual satânico que sacrificou uma criança e um caso que envolve ódio, rivalidade política e práticas de tortura cometidas pela Polícia Militar do Paraná para obter as confissões. Mais de 70 mil páginas de processo, o envolvimento das principais autoridades policiais e judiciais do Paraná e uma investigação que já chega a 19 anos ainda não esclareceram o que aconteceu com o menino Evandro Ramos Caetano.

De acordo com a acusação, Celina e Beatriz Abagge teriam pedido um ritual de magia negra a Osvaldo Marcineiro, pai-de-santo que tinha uma tenda de búzios em Guaratuba, para trazer dinheiro e prosperidade para a família, porque a serraria dos Abagge passava por dificuldades e também para abrir os caminhos políticos. Eles teriam sequestrado o garoto, que foi mantido durante 24 horas amordaçado, tendo sido morto depois, dentro da serraria da família Abagge. Evandro teve as mãos, os dedos dos pés e as orelhas cortados, sendo encontrado sem as vísceras, olhos e couro cabeludo, em avançado estado de putrefação, em um matagal perto da casa dos Abagge. Objetos de barro que teriam sido utilizados no ritual foram encontrados na serraria. Elas confessam o crime, mas depois voltam atrás. Mas, pela versão da defesa, Diógenes Caetano, tio do menino Evandro, era inimigo político de Aldo Abagge. Diógenes vai a Curitiba e faz acusações contra Celina e Beatriz Abagge ao

Ministério Público do Paraná, e diz ter certeza que elas estavam envolvidas no assassinato do menino, sem apresentar provas. Enquanto isso, não havia certeza de que o corpo encontrado era mesmo o de Evandro. Policiais que trabalharam na época, como o delegado Luiz Carlos Oliveira, garante que o corpo não é do menino. Peritos que analisaram o cadáver na época chegaram a afirmar que o corpo seria muito grande para uma criança de seis anos de idade.

o dIa da PrIsão Três meses depois do início das investigações, 2 de julho de 1992, policiais militares, sem um mandado de prisão, invadem a casa da família Abagge em busca das acusadas. As duas são colocadas em carros à paisana da Polícia Militar e vendadas. Depois, são levadas a um local desconhecido onde sofrem torturas, sob ordens do coronel Valdir Copetti Neves, posteriormente condenado por formação de quadrilha e perseguição de trabalhadores sem-terra no interior do Paraná. julho de 2011 |

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Na casa, Celina e Beatriz escutam outros acusados sendo espancados. Beatriz diz ter sofrido choques elétricos e afirma ter sido vítima de abuso sexual por parte dos policiais. A tortura faz com que elas confessem o crime. A fita com a suposta confissão tem diversos cortes, que seriam os momentos em que elas não diziam o que era esperado. Leila Bertolini e Adauto Abreu de Oliveira, delegados do Grupo Tigre, que inicialmente estava encarregado das investigações do caso, questionam a culpa atribuída às Abagge. O único ponto em que há concordância no caso é o próprio desaparecimento do menino Evandro, na manhã do dia 6 de abril de 1992.

Primeiro júri Para o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto, que defendeu Ce-

foi a troca de uma testemunha de acusação (Edésio da Silva, que inicialmente afirmava ter visto Celina sequestrando Evandro e no tribunal se desmentiu) por outra (Diógenes Caetano, parente de Evandro e adversário dos Abagge). “Nunca vi a justiça dispensar uma testemunha visual. Quando Edésio confessa que não viu nada, eles simplesmente trocam de testemunha”. Figueiredo aponta ainda irregularidades na fita onde Beatriz e Celina confessam o crime. Além de cortes, aparecem vozes masculinas ameaçando as duas. E o designado para investigar a tortura foi o mesmo promotor que denunciou as rés no caso. “São inúmeros erros, irregularidades, neste processo. Não tem como afirmar que o crime ocorreu na serraria e muito menos envolvê-las com o fato. Também é mui-

o exame de luminol, que detecta vestígios de sangue mesmo após os objetos serem limpos e antigos. Queremos que esses exames sejam realizados em todos os objetos supostamente utilizados no crime e que foram encontrados na serraria”, explica o advogado. Até o fechamento desta edição, o pedido ainda não havia sido julgado. A sentença determinou que a pena seria cumprida em regime semiaberto, já que Beatriz havia cumprido três anos e meio de pena no presídio de Piraquara e mais três anos em prisão domiciliar ao longo do processo. Ainda de acordo com a sentença, Beatriz terá o direito de aguardar o recurso, contra a decisão do júri, em liberdade.

Ministério Público  Em contrapartida, o Mi-

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“Não tem como afirmar que o crime ocorreu na serraria e muito menos envolvê-las com o fato”

O advogado Figueiredo Basto conseguiu a absolvição das Abagge no primeiro julgamento que durou 34 dias

lina e Beatriz no primeiro julgamento, desde o início o processo tem muitas discrepâncias. A primeira foi a prisão das rés sem mandado, já que na manhã do dia da detenção o processo ainda estava na comarca de Paranaguá e só chegou em Guaratuba após o meio-dia (a juíza precisaria do processo para expedir o pedido de prisão). Além disso, a Polícia Militar pegou o laudo do IML e, dias depois, anexou ao processo, coisa que também não ocorre – já que o instituto tem por determinação enviar os laudos para os delegados titulares do caso. “Como pode haver prisão sem o inquérito estar na vara? Além disso, nele consta a assinatura falsa de um promotor”. Outra questão

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to estranho dois serem absolvidos, enquanto os outros são condenados. A teoria de que os sete mataram a criança já se derruba nisso. Não se reúnem sete pessoas do nada e decidem matar uma pessoa. A teoria inventada sobre esse crime não se sustenta”, ressalta.

Último júri  Adel El Tasse, advogado de defesa do julgamento em que Beatriz Abagge foi condenada, protocolou um pedido de protesto por um novo júri no Tribunal de Justiça do Paraná, para anular o julgamento do dia 28 de maio. “Nossa principal alegação para o recurso é o cerceamento de informações que a defesa sofreu. Entre os nossos pedidos está

nistério Público do Paraná (MP-PR) apresentou, no dia 3 de junho, recurso para aumentar a pena de 21 anos e quatro meses de reclusão imposta em julgamento contra Beatriz Abagge e alterar o regime de semiaberto para fechado. De acordo com a apelação da promotoria de Justiça, a pena cumprida por Beatriz antes do júri, em prisão provisória, não poderia ter sido considerada pelo juiz. Essa decisão possibilitou que a ré tivesse fixado como regime semiaberto o cumprimento da pena. Para a promotoria, só o juízo de execução da pena pode determinar esse regime. O MP-PR ainda defende que o juiz não poderia diminuir a pena em virtude de confissão


da ré. Isso porque Beatriz teria negado o crime ao ser ouvida no inquérito em 1992. “Nós não consideramos esta confissão que elas afirmam categoricamente que fizeram mediante tortura para pedirmos a condenação de Beatriz. Temos imagens delas chegando ao Instituto Médico Legal e estão ilesas”, afirma o promotor Paulo Sérgio Markowicz Lima, responsável pela acusação e que assumiu o caso em fevereiro de 1999. Outro fato contestado é o aumento de “um ano para cada circunstância qualificadora do crime reconhecida pelos jurados, no caso o uso de meio cruel e recurso que dificultou a defesa do menino Evandro”, de acordo com nota divulgada pelo MP-PR. No julgamento, os jurados rejeitaram a tese da defesa de que o corpo encontrado não era de Evandro. “Temos provas científi-

vazias’. Ele conta que existem provas que comprovam o envolvimento de Beatriz com Osvaldo Marcineiro. “Os relatórios do Grupo Tigre mostram que os dois eram amantes. Beatriz se apresentou como tesoureira de Osvaldo em uma ocasião e presenciou o sacrifício de um frango”, conta. Outro fato levantado pela acusação, que indicaria a participação do pai-de-santo no crime, é que no dia do desaparecimento de Evandro, Osvaldo foi até a casa dos pais do garoto e levou os tios do menino até a frente do matagal onde o corpo foi encontrado. O promotor conta ainda que foram encontrados na casa das Abagge rádios comunicadores da Polícia Federal. “O grupo Tigre e a Polícia Federal estavam investigando o caso. Tanto Celina quanto Beatriz conheciam todos os passos

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“Temos provas científicas que comprovam que o corpo é realmente do garoto”

O promotor do MP-PR, Markowicz, assumiu o caso em 1999 e nunca teve dúvidas quanto à autoria dos 7 acusados

cas que comprovam que o corpo é realmente do garoto. O pai reconheceu; além disso, foi enviado dois dentes do menino para o DNA. A negativa do corpo não passa de mais uma estratégia da defesa”, ressalta o representante do Ministério Público. Outra tese rejeitada foi a alegação da defesa de que a acusada não participou do crime. Segundo o MP-PR, os jurados ainda reconheceram o homicídio triplamente qualificado por motivação torpe (promessa de recompensa a terceiro), meio cruel e porque a vítima foi morta quando se encontrava indefesa. Nas palavras de Markowicz, a defesa de Beatriz Abagge utiliza ‘muita falácia e palavras

que os policiais davam, tanto pela proximidade com o Tigre quanto pelos aparelhos de escutas”. Diógenes Caetano apenas comunicou o MP que as investigações não estavam andando, não denunciou ninguém. Daí a Polícia Militar entra no caso. Passa uns 15 dias investigando e, depois, com mandado de prisão, efetua a prisão das duas. A PM neste caso foi o elemento surpresa, elas nunca imaginaram que seriam presas”, garante. O promotor também é categórico ao afirmar que a demora no processo se deve à Justiça como um todo. “Defesa, Ministério Público e Judiciário contribuíram para a demora nesse processo. Todos cometeram erros e falhas”.

Cronologia •  6 de abril de 1992: Evandro Ramos Caetano, de seis anos, desaparece no trajeto de cem metros que separava sua casa da escola na qual estudava. O Grupo Tigre, especializado em casos de sequestro, começa as investigações. •  11 de abril de 1992: Um corpo com as roupas de Evandro, irreconhecível, é encontrado em um matagal, perto da casa da família Abagge. As chaves da casa dele estão próximas do local. A Polícia Civil começa a investigar o caso. •  2 de julho de 1992: O Grupo Águia, de elite da Polícia Militar do Paraná, e a Polícia Federal, entram na casa do então prefeito de Guaratuba, Aldo Abagge, e dão voz de prisão a Celina e a Beatriz. O caso ganha repercussão nacional e internacional e fica conhecido como o caso das “Bruxas de Guaratuba”. Elas passam três anos e nove meses presas, além de outros três anos em prisão domiciliar, até o primeiro julgamento. •  Abril de 1998: Um dia antes do início do julgamento das Abagge, o perito Rui Rezende – que fez o laudo atestando que as duas não tinham sofrido tortura – se mata sob o túmulo do pai. •  Abril de 1998: Começa o julgamento das Abagge, que durou 34 dias. Ao final, elas são absolvidas, pela dúvida sobre se o corpo era realmente o de Evandro. A fita que continha a suposta confissão das Abagge some dos autos e reaparece durante o julgamento. Nessa fita, pode-se ouvir a voz dos policiais mandando-as repetir o que pediam. •  Abril de 2004: Depois de um julgamento de seis dias, Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula Ferreira são condenados a 20 anos e dois meses de prisão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado. David dos Santos Soares é condenado a 18 anos pelo homicídio, sendo absolvido de participação no sequestro. É o único que ainda cumpre pena na Colônia Penal Agrícola. •  Abril de 2005: Airton Bardelli dos Santos e Francisco Sérgio Cristofolini são absolvidos em julgamento, depois de passarem sete anos presos. •  Maio de 2011: Beatriz Cordeiro Abagge, 47 anos, foi condenada a 21 anos e quatro meses de prisão pelo assassinato do menino Evandro Ramos Caetano. Por 4 votos a 3, os jurados consideraram Beatriz culpada pela participação de um ritual de magia negra feito com partes do corpo do garoto.

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“Fomos torturadas, violentadas e condenadas”

O que aconteceu no dia que Evandro desapareceu, dia 6 de abril de 1992? Celina: Eu não estava lá (Guaratuba). Tinha vindo para Curitiba, pois era aniversário de morte do meu sogro. Havia marcado dentista no mesmo dia em Curitiba, mas acabei perdendo o horário e não fui. Fui na casa do ex-marido da Beatriz, na época eram noivos, mas tinham brigado e eu fui devolver a aliança, pois Beatriz havia me pedido, mesmo contra minha vontade. Ele também é minha testemunha. Inclusive, quando estava lá, a mãe dele chegou e me perguntou: “é verdade que ela (Beatriz) está envolvida em um centro espírita?”. Eu respondi que sim, mas que não gostava, porque sou católica e não gostava dessas coisas “místicas”. Na verdade, havia uma barraquinha de búzios na praça em Guaratuba, e a

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Beatriz frequentava e se envolveu com o centro. Beatriz: Na época, todo mundo frequentava o centro espírita, não era só eu. Era uma festa de “cigano”. Lá, as pessoas dançavam, levavam frutas, música, faziam oferendas. Era uma celebração. Celina: Eu nunca me envolvi com isso e nunca gostei. No dia fatídico do desaparecimento de Evandro, tinha várias testemunhas que estavam comigo e estavam com a Beatriz. essas testemunhas foram ouvidas no tribunal? Celina: Sim. No primeiro, neste não. No primeiro, teve testemunhas minha e dela (Beatriz). Inclusive, teve testemunhas que morreram e não foram substituídas. Por que não foram substituídas? Celina: Porque não deixaram. O

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F

oi no dia 31 de maio, uma terça-feira, três dias após Beatriz Abagge ter sido condenada a 21 anos e 4 meses de prisão, que ela e a sua mãe, Celina, concederam esta entrevista exclusiva para a Revista Ideias. Dona Celina, como prefere ser chamada, falou mais, embora estivesse muito nervosa. Beatriz se conteve, tensa e muito abatida. Em vários momentos da entrevista, dona Celina chorou. Beatriz saiu da sala, pois não aguentava ouvir “tantos detalhes” descritos pela mãe. Quando chegamos no relato sobre a tortura, dona Celina chorou muito. Dissemos a ela que podia parar, se quisesse. Ela respondeu: “eu preciso falar, falar tudo”. Na entrevista de quase três horas, reveladora, mãe e filha contaram os horrores do que aconteceu com elas. Desde a chegada da polícia na sua casa em 2 de julho de 1992 até hoje. Descreveram as torturas a que foram submetidas, a violência sexual, as marcas, tanto físicas quanto psicológicas. “Nunca mais teremos uma vida normal. Fomos torturadas, violentadas e condenadas”, diz Celina. “É o primeiro caso que vejo que temos que provar nossa inocência, pois fomos consideradas culpadas desde o início”, diz Beatriz. No dia da prisão, 2 de julho de 1992, das 9 às 16 horas, Celina e Beatriz contam que foram levadas a uma casa, torturadas e violentadas. “Quero ver quem diz onde estávamos àquela hora”, desafia Celina. Celina falou antes de começar: “estou falando a verdade, pode escrever que eu assino”. Separamos alguns momentos mais marcantes da entrevista. Confira.

Ministério Público foi contra. O QUE ACONTECEU ANTES DA PRISÃO ? Beatriz: o corpo desapareceu dia 6 de abril (1992), foi encontrado dia 11 de abril e nós fomos presas dia 2 de julho. Celina: No dia anterior à prisão fui a Piçarras à noite, pois estávamos em campanha para fundar um novo partido. Quando cheguei em casa, meu marido estava assustado e me contou que haviam prendido o pessoal do búzios porque eles mataram uma criança. E o dia da prisão? Celina: A polícia chegou em nossa casa quase três meses depois. Era cedo. Estavam sem uniforme e sem mandado de prisão. Invadiram nossa casa, não sabíamos do que se tratava. Perguntei, mas eles não responderam. As crianças (dois gêmeos de dois anos e um de quatro meses, filhos de Beatriz) não tinham acordado. Derrubaram meu marido no chão (o ex-prefeito de Guaratuba, Aldo Abagge), perguntaram quem era a psicóloga (Scheila, a filha mais nova de Celina) e falaram que eu estava presa. Perguntaram quem era amante do Osvaldo. A Beatriz disse que o conhecia, mas não era sua amante. E nos levaram. A Scheila entrou no banheiro para lavar-se, pois tinha acabado de acordar. E levaram eu, a Scheila e a Beatriz. Levaram para onde? Celina: Fomos ao fórum. Naquela hora, tinham poucas pessoas, era muito cedo. Todo mundo estava

assustado. Entramos na sala de audiência da Dra. Anésia Kowalski. Fiquei em uma sala com a Beatriz, que vivia grudada comigo, e a Scheila ficou do outro lado da mesa. Lá, haviam vários policiais na porta da nossa sala. Inclusive o chefe deles, que é o torturador, Valdir Copetti Neves. (Nessa hora Celina para e começa a chorar. Respira um pouco e continua.) Nos jogaram (ela e Beatriz) em um carro com dois policiais na frente e outro atrás. Puseram uma blusa no meu rosto e me jogaram no carro. Eram seis homens e um deles falou “entra aí sua vagabunda”. Quando deitei no banco de trás, senti que havia uma arma no banco e rezei para que não disparasse. Pedi a eles que tirassem a arma. os policiais tiraram a arma? Celina: Não. Eu implorei para que eles tirassem e eles falaram: “se disparar, falamos que a senhora tentou nos matar e a gente te metralha aqui e alega legítima defesa”. para onde vocês foram? Celina: Era uma casa, e como estava com a blusa no rosto, não consegui ver nada. Gravava tudo mentalmente, as curvas, se virava à direita ou à esquerda, para saber onde estavam nos levando. Depois de um tempo, um policial falou para eu descer do carro e sem querer a blusa que estava no meu rosto caiu. Nesta hora eu fotografei mentalmente a casa. Inclusive, quando estava na penitenciária,


falei o caminho para um jornalista e um radialista. Eles descobriram que a casa era do pai do Diógenes Caetano dos Santos Filho. Beatriz: Eles (os jornalistas) foram até lá e depois conferiram no registro de imóveis. o que aconteceu nesta casa? Celina: Eles nos separaram. A Beatriz ficou em um quarto e eu em outro. Enrolaram um cobertor no meu corpo e uns policiais começaram a me bater. Soco no estômago, nas costas, no rim, no ouvido. Desmaiei, nunca havia apanhado como neste dia e nunca tomei tanto cacete na minha vida. Quando recuperei a consciência, ouvi a minha filha no quarto ao lado chorando e não sabia o que estavam fazendo com ela (Celina chora e Beatriz sai da sala). Escutei Beatriz aos prantos: “fale tudo o que eles quiserem. Eles estão me batendo, eles estão me matando, eles vão me matar”. Eu não entendia o que estava acontecendo, pois não sabia por que estava lá. Levei mais porrada, desta vez foi na cabeça e senti um gosto de sangue na boca. Ouvi outra voz, era um homem gritando para que eu falasse tudo o que eles quisessem. Eu perguntei quem era e ouvi: sou o Osvaldo do búzios. E continuei a ouvir urros, pareciam urros de animal, provavelmente das torturas que estavam fazendo com ele. Daí eu sentei na cama (chora) e começaram a introduzir os objetos, não sei o que era, se era ferro, em todos os buracos do meu organismo. Não aguentava mais apanhar. Estava nua, urinada e evacuada. Mandaram eu ajoelhar no chão e confessar em um gravador que havia mandado matar o Evandro. a senhora confessou? Celina: Do jeito que estava, confessava até que tinha matado minha mãe, que estava viva. o que fizeram depois disso? Celina: Depois nos empurraram para o carro de novo e fomos até o fórum de Matinhos. Imagina nosso estado como estava. Estávamos com cara de loucas. Lá no fórum, entramos por uma porta dos

fundos, então ninguém nos viu. Na frente, o circo estava armado: jornalistas, policiais, fotógrafos, multidão. Daí um policial falou para nós; “assine aqui”. E a Beatriz dizia: “assina, mãe”. A Beatriz também estava urinada e evacuada, como eu. Estávamos acabadas, destruídas, drogadas. os policiais falaram o quê? Celina: Os policiais disseram para nós falarmos tudo o que tínhamos sido obrigadas a falar na casa. Quando entramos no ferry-boat (depois que saíram do fórum) eles não deixaram nenhum carro entrar. Nisso, veio um médico que me conhecia e disse: o que é isso, dona Celina, que barbaridade, o que fizeram com a senhora? Deixe medir sua pressão. Ele não mediu nada, pediu para tomar um comprimido, pôr debaixo da língua. Na hora, senti um gosto horrível, amargo, quase vomitei. Senti um enjoo e me senti mal, como se tivesse sido anestesiada. o que aconteceu depois? Celina: Eles mandaram a gente tomar banho. Estava gelado, a água fria e tive que ficar pelada perante os policiais (choro). Depois puseram a gente numa cama e a Beatriz grudou em mim e ficou agarrada que nem um feto, encolhidinha. Quando estava sozinha ali, apareceu o Neves. o que o Neves falou? Celina: Ele me disse, torcendo minha mão: “vocês vão falar tudo que nós combinamos naquela casa. Se você não falar, estamos com sua família de refém. Sua família é minha, eles são meus prisioneiros. Se você não falar, sua família vai sofrer pior do que você sofreu. Seus netos estão comigo”. Nisso, não sei como, entrou meu sobrinho e meu irmão. Meu irmão já entrou dando cacete no Neves. Quando vi, me agarrei no meu irmão e pedi que ele parasse, pois não queria que ele matasse o homem ali na minha frente. Comecei a chorar e ele o soltou, e o “vagabundo” (Neves) saiu correndo.

seu irmão e seu sobrinho fizeram o quê? Celina: Eu disse a eles que haviam batido muito na gente. Inclusive que a Beatriz estava muito machucada e no pouco tempo que ficou ali comigo não conseguiu falar nada. Disse que os policiais haviam me obrigado a confessar que matei o menino (Evandro), senão matavam minha família. Eles falaram para eu falar a verdade, que meu marido estava lá e para eu não mentir. a senhora decidiu o quê? Celina: eu estava dopada depois daquele remédio que o médico me deu. Minha vontade era dormir. Eu falei tudo o que tinha acontecido, como estou falando aqui. Não sei se a Beatriz havia falado ou não. Mas eles não escreviam tudo. Os advogados assinaram sob protesto, pois não escreveram tudo o que falamos lá no depoimento. Esse foi meu primeiro depoimento em Matinhos. Beatriz: Eu estava drogada, mas falei tudo o que tinha acontecido. Celina: Nisso chegou o Capriotti (comandante geral da PM, coronel Miguel Arcanjo Capriotti) na sala dos policiais e eu estava abaixada, chorando. Ele pegou na minha mão e disse: “Celina, Celina”. Ninguém me chamava de Celina, só de dona Celina. Até meu marido quando ficava brabo me chamava de dona Celina. Ele era da mesma idade que eu e falou : Olhe para mim”. Eu olhei para ele e ele falou: “Eu sou o Capriotti”. quem ele era? Celina: Ele era militar e já me conhecia desde a adolescência, convivemos a vida inteira. Ele disse que tinha sido um engano e que nós íamos para Curitiba e lá tudo se resolveria. vocês foram? Celina: Entramos no carro onde estavam os torturadores. Puxei bem a Beatriz perto de mim. No carro da frente estava meu sobrinho. Os policiais perguntaram quem era. Eu caí na ingenuidade de falar que era meu sobrinho e que era advogado. Daí eles começaram a correr na estrada feito loucos e a frear em

cima do carro do meu sobrinho. E ameaçavam: “vamos jogar o carro no precipício”. Foi um terror. Quando chegaram em Curitiba o que aconteceu? Celina: Levaram a gente para o quartel na Marechal Floriano e deixaram a gente dentro de um depósito com sacos de soja, feijão, arroz. O cheiro era horrível. A Beatriz deitou em um saco e eu sentei. Até que nos chamaram de novo e nos encaminharam depois para o IML. Tudo acompanhado pelos torturadores. como foi o exame no IML? Beatriz: Estavam ali um policial e um advogado. Celina: Devia ser o advogado do Requião (na época, Roberto Requião era governador do Paraná). Deixaram a gente sentadas em uma mesa com uma escrivaninha e mandaram não olhar. Passou muito tempo. Então fico pensando: a gente estava arrebentada, destroçada, como alguém pode ver isso e não fazer nada? Daí ouvi o policial falando para a outra policial feminina. “Agora vou aparecer na televisão, que caso fabuloso”. E depois os ouvi tendo relações sexuais ali, quase na nossa frente. Fecharam a porta, mas deu para ouvir. depois vocês foram para a penitenciária do Ahú? Celina: Antes, passamos pela Secretária de Segurança Pública. No Ahú fomos torturadas psicologicamente, com humilhações. Tiraram meus óculos e moeram, mandaram eu tirar a meia, o cadarço do tênis. Tudo que tinha, pediram para tirar. Beatriz: Eles fizeram o “pega louco”. Pediam para a gente tomar banho e punham um saco de estopa na nossa cabeça e tiravam fotos. Depois mandavam falar com a psicóloga, que só dava risada da gente. Celina: é uma coisa tão violenta, tão desumana, tão inexplicável que você não acredita que passou por aquilo. Até quando falo é difícil acreditar em tanta maldade, tanta crueldade. julho de 2011 |

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prefeito – Aldo Abagge – de proibir qualquer declaração à imprensa. No segundo dia, Celina teria ido à casa de Evandro e criticado a mãe do garoto de ter deixado o caso chegar à imprensa. Horas depois, espontaneamente, a população se reuniu na frente da escola onde Evandro estudava e iniciou um protesto que percorreu as principais ruas da cidade. Quando chegaram em frente da prefeitura, foram recebidos pela Polícia Militar que, a mando de Celina, reprimia a manifestação. Em outra ocasião, uma semana após o corpo ter sido encontrado, a primeira-dama foi flagrada arrancando cartazes e faixas que pediam por justiça e que estavam expostos no portão do colégio. “Havia uma pressão muito grande em abafar o caso do Evandro. Elas chegaram a acusar um

as vezes era a pedido da primeira-dama e que suas contas de hospedagem e alimentação eram pagas pela prefeitura. Além disso, Celina teria pago 2 milhões de cruzeiros para Osvaldo para que o corpo de Leandro Bossi fosse entregue a Valentina.

Valdir Copetti Neves  “Sou uma figura de tortura criada pela defesa”, afirma o tenente-coronel Valdir Copetti Neves. Neves ainda era capitão e comandava o Grupo Águia, da Polícia Militar, quando foi solicitado pelo Ministério Público que auxiliasse nas investigações do desaparecimento de Evandro Caetano em Guaratuba. “Eu e mais cinco policiais passamos pouco mais de três semanas cuidando do caso, localizando testemunhas e

“sou uma figura de tortura criada pela defesa”

rômulo zanini

Diógenes Caetano - O outro lado  Diógenes Caetano Santos Filho, parente de Evandro, não tem dúvidas quanto à identificação do corpo encontrado assim como da culpa dos sete indiciados pelo crime, entre eles, Celina e Beatriz Abagge. Ele conta que o relacionamento dele com a família das acusadas era próximo e que Celina frequentou várias vezes a casa de sua mãe. Ele chegou a trabalhar a convite do então prefeito Aldo Abagge, na prefeitura de Guaratuba, no Conselho Municipal de Urbanismo. Meses depois, pediu sua saída, por não concordar com algumas medidas tomadas. Nesta época, as divergências começaram, já que Diógenes começou a distribuir alguns panfletos na cidade sobre possíveis irregularidades na prefeitura. Esses panfletos, mais tarde, segundo Diógenes, serviram para que a defesa das rés inventasse uma história para dar mais veracidade ao caso. “Nós sempre fomos amigos. Quando eu tinha 16 anos, meu pai era prefeito de Guaratuba e como Celina sempre gostou do poder, eles tiveram um envolvimento amoroso. Meu pai chegou a se separar para ficar com ela. O caso deles durou uns 16 anos e terminou uns oito anos antes do Evandro desaparecer. Mas mesmo assim ela sempre manteve contato com a nossa família. Ia ao meu escritório e me abraçava”, conta Diógenes. Ele também afirma que Celina sempre foi uma mulher autoritária e frequentou seitas e terreiros de umbanda. Inclusive, ela teria sido a responsável por trazer Osvaldo Marcineiro a Guaratuba, no intuito de unificar todos os centros de saravá do município e torná-lo um pólo. “Ela nunca escondeu de ninguém que ia aos terreiros”, ressalta. Diógenes decidiu, na época, fazer uma investigação à parte do desaparecimento de Evandro. Como era da família e já havia feito diversas investigações nos 10 anos que fez parte da Polícia Civil, se sentiu na obrigação de ajudar. No início, ele não tinha nenhuma suspeita que recaísse sobre as Abagge e muito menos que o menino havia sido morto para ser usado em um ritual de magia negra. “Isso nunca nos passou pela cabeça. Só comecei a considerar a hipótese depois que o corpo foi encontrado, da mesma maneira como frequentemente nos deparávamos com bodes nas encruzilhadas. Na verdade, um dos delegados que viram o corpo é quem levantou essa suspeita. Após isso, as atitudes de Celina levaram à autoria”. Diógenes conta que dias antes ao desaparecimento de Evandro, Osvaldo teria espalhado por toda cidade que uma tragédia iria acontecer e mudar o rumo das coisas. Logo após o sumiço do menino, triplicou o preço de suas consultas. Já um dia após o desaparecimento, a família começou a estranhar a ordem do

Valdir Copetti Neves deu voz de prisão às Abagge

capitão (Neves) de tortura, mesmo depois que este mesmo capitão salvou a vida de Celina, que quase foi esfaqueada por um pai descontrolado na saída do fórum”, conta. Diógenes afirma ainda que, no dia da prisão de Osvaldo, ele estava na sua festa de despedida. Iria para o Paraguai no dia seguinte e tentou subornar os policiais quando foi preso. Já Vicente de Paula estava em Curitiba, embarcando para Goiás, e Davi dos Santos Soares viajaria para São Paulo. Airton Bardelli dos Santos e Francisco Sérgio Cristofolini teriam sido denunciados por Beatriz e Celina. Quanto às visitas constantes de Valentina Andrade, líder de uma seita, a Guaratuba, Diógenes é categórico em afirmar que todas

investigando várias pessoas antes de chegarmos aos sete acusados. Confio no trabalho que fiz e não tenho dúvidas da participação de cada um deles na morte de Evandro. Só não deixa marcas no caminho quem nunca passou por ele”. De acordo com o tenente-coronel, no dia da prisão de Celina e Beatriz Abagge, além da sua equipe, estavam presentes dois policiais federais. Após terem dado a voz de prisão, as rés foram encaminhadas até o Fórum, para prestarem seus depoimentos. “A cidade toda era um verdadeiro tumulto. A população ameaçava incendiar o local para resgatar as presas e fazer justiça com as próprias mãos. Como estavam sob nossa custódia, tínhamos que zelar pela integridade física das rés, por isso as tiramos do fórum. Um dos meus homens acabou levando uma facada


no braço, tamanha revolta do povo”, relembra. Neves conta que os federais acompanharam todo o trajeto, desde a voz de prisão, o fórum e o tempo que ficaram parados no Posto da Polícia Rodoviária Estadual até que o comando decidisse para onde elas deveriam ser conduzidas. “Saímos de lá e fomos para Matinhos, onde foram ouvidas, e depois viemos a Curitiba e as conduzimos para o IML. Ali terminou a minha participação no caso. É loucura imaginar que houve tortura. Eu estava coordenando a ação, mas a Federal estava presente em tudo”. Após quase 20 anos de silêncio sobre esse caso, Neves garante que agora que tudo acabou entrará com um processo contra todos os que o acusaram de tortura. “O laudo é claro quanto ao fato de não ter ocorrido tortura. Elas chegaram ilesas no IML. A Polícia Militar abriu um Processo Administrativo para apurar essas denúncias e não encontrou nada. Porque nunca houve nada. E isto tudo me custou muito caro; por isso vou entrar com este processo”. Para Neves, o grande problema de casos que demoram para ser julgados como este é que a vítima acaba sendo esquecida. “Alguns meses após a resolução deste caso, a mãe de Evandro me ligou e pediu para que eu fosse até a casa deles. Achei que fosse mais alguma coisa sobre o crime, mas ela me chamou para agradecer o trabalho da minha equipe. A cama do Evandro ainda estava desfeita e ela me disse que sempre que a saudade ficava insuportável deitava ali para sentir o cheiro do filho. Nessas horas, te-

mos a certeza que a vítima é o mais importante nisso tudo”, relembra. “Quando esquecemos da vítima, esquecemos a lei e liquidamos a segurança. Por isso fiz questão de ir no julgamento dar o meu apoio aos pais de Evandro”, finaliza.

fraNcIsco Moraes sIlva – MédIco legIsta, Na éPoca dIretor do IMl Francisco Moraes Silva depôs por 54 horas no primeiro julgamento de Beatriz e Celina, realizado em 1998. Como diretor do Instituto Médico Legal, havia sido designado para acompanhar a autópsia feita pelo perito Carlos Roberto Balin no corpo encontrado em Guaratuba. Ele é categórico até hoje em afirmar que o corpo em avançado estágio de composição era de Evandro Caetano Ramos. “Não tenho dúvidas de que aquele corpo era do Evandro. Esse caso tem muitas interrogações, tanto na materialidade quanto na autoria. Mas o corpo encontrado é do Evandro”, ressalta. No seu depoimento, o legista disse que a causa provável da morte foi asfixia mecânica, pelos sinais mais avançados de putrefação encontrados na nuca, mas que é impossível dizer se foi sufocamento, estrangulamento ou esganadura. Outros dados revelados é que a morte tinha ocorrido havia mais de três dias, que as mãos, pés e outras partes do corpo foram decepados após a morte e que ele não sofreu violência sexual. “O primeiro relatório do IML foi enviado com algumas falhas, não apontavam alguns ferimentos, como um corte profundo que o menino tinha na perna. Isso não é tão incomum de ocorrer”.

laudo da necropsia feito pelo legista Francisco moraes Silva, na época diretor do iml

Dr. Francisco também acompanhou o exame que a odontologista Beatriz Sottile França fez na arcada dentária do cadáver. Segundo ele, a dentista Adaíra Kessin Elias, que havia atendido o garoto diversas vezes e que o conhecia por ser amigo dos seus filhos, foi chamada ao IML para descrever a arcada dentária de Evandro. O legista afirma que várias características batiam. As fichas dos atendimentos do menino só apareceram dias depois e uma delas estava adulterada. Mesmo assim, Dr. Francisco já tinha convicção que o corpo era de Evandro, mesmo sem o resultado do DNA que havia sido feito em Belo Horizonte. Para o exame, foi enviado algumas amostras do fêmur do corpo, ossos que quando voltaram foram armazenados no cofre do IML. “Não sei qual foi o fim desses ossos, mas quando voltaram fiz questão de guardar no cofre. Caso a justiça tivesse autorizado mais um teste de DNA, nem seria preciso exumar o corpo, porque tinha esses ossos guardados. Se ninguém tirou, continuam no cofre do IML”, conta. No primeiro julgamento, Francisco, que havia sido arrolado pelo Ministério Público como testemunha de acusação, contou que uma das filhas de Celina o havia procurado e pedido para que ele acompanhasse o exame de corpo de delito da mãe e da irmã (Beatriz). O médico legista falou que não participou por ter auxiliado o exame de necropsia mas fez questão de ver as imagens que foram feitas das rés no IML. Na ocasião, disse que observou um abatimento normal mas que era muito difícil estabelecer uma tortura. “Acredito que tenha ocorrido uma forte tortura psicológica com as duas, mas não física”, ressalta. “De qualquer maneira, os depoimentos não batem com o estado que o corpo foi encontrado. Eles falaram que tiraram o pênis mas ele estava lá. Vários pontos são discutíveis, como a causa da morte, tempo que o corpo permaneceu no local, lesões encontradas” destaca. “É impossível o crime ter sido praticado na serraria. O alguidar não tinha sangue. As lesões mais protuberantes eram de animais. O corpo foi atirado naquele mato”, garante. Em seu depoimento, Francisco chegou a dizer que “acredita que o limite do perito foi extrapolado na medida que as circunstâncias do delito como ‘num ritual’ são mencionadas erroneamente e que esses dados não foram retirados do laudo”, e complementou “parece que o oficio foi fabricado por alguém e dado para o subscritor assinar. Todas as menções de conteúdo não foram retiradas do laudo”. julho de 2011 |

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Carlos Alberto Pessôa

Repugnante Animalidade

É

repugnante ser animal. É duplamente repugnante ser humano. Às repugnâncias naturais soma-se a consciência delas, das sujeiras, odores, feiúras.

PÉRIPLO  Saí do apê sábado à tarde e fui a pé até o início da BR que vai à Paranaguá. Dali desloquei pra esquerda e desabei no Cajuru, numa área cheia de ruelas com nomes de santos. No meio dessa santa ceia metropolitana, entre perplexo e deprimido, descobri a rua D. João VI. INJUSTIÇA  Isso mesmo, quem diria? O querido

D. João VI acabou numa quebrada do Cajuru. De nada valeu fugir de Lisboa* e vir pra choldra tropical. E aqui civilizar a macacada tupiniquim entre os gloriosos anos de 1808-1821. Como diria o Dalton, melhor não ter nascido. (D. João é mais importante pra história do Brasil que os 15 anos de ditadura do anão-bandido Vargas. E de pelo menos 9/10 de todos os republicanos.)

QUE CENA!  Na lamentável D. João VI, a andar 40

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distraído, testemunhei uma cena que me lançou às cordas, quase ao nocaute; rotineira na sua naturalidade a cena detonou reações há muito tempo soterradas pela vigilante censura interna. Ai de mim. O que vi? Repulsivo cachorrinho preto a tentar teimosamente escalar velha, complacente cadela protegida por providencial portão. Muito mais alta, a diferença de altura anulava o incansável, o patético esforço daquela merda de macho no cio. - E a indiferença da fêmea ao patético esforço daquele macho de merda? Eloquente aviso a nós, machos humanos, demasiado humanos, que não pensamos em outra coisa apesar da crônica lassidão feminina, do tédio feminino, do não te ligo feminino.

MISÉRIA HUMANA  Caí em mim, na miséria humana. E com crescente repugnância por ela escorreguei pela miserabilíssima e humana animalidade. Até ao fundo poço. A volta para casa foi luta contra o nojo, a náusea, o vômito. O nojo, a náusea de mim, da minha animalidade, da minha miserável huma-

nidade. Serva de cotidianos constrangimentos do corpo, escrava de insubornáveis deveres naturais, pregada à deprimente cruz fisiológica. E à infame natureza.

ME DEMITO  Peço demissão. Demito-me do repugnante reino animal, abdico da repugnante condição de bicho, deserdo da repugnante humanidade, renuncio a condição de bicho e de homem. Vou me transferir pro reino vegetal. Virar flor. Qualquer flor. Ou capim. Qualquer capim. Ou qualquer coisa. Fui. * Viva Napoleão! Ao menos isso! O Corso sanguinário, responsável por milhões de mortos, forçou a Corte Lusa vir pro Brasil. Imaginou se ela não viesse? Estaríamos de quatro, não?

Carlos Alberto Pessôa é jornalista e escritor. Escreve diariamente para o site da Revista Ideias. negopessoa.com


Solda

Adrenalina quando chegas silenciosa ouço tua pele produzindo queratina teu pâncreas exalando insulina teus glóbulos vermelhos cheios de hemoglobina teus músculos cansados de tanta proteína quando chegas com tuas células de messalina escrava dos genes da disciplina abominável albumina Vera Prado, na peça Bolas de Papel, teatro margem, de manoel carlos karam, década de 70. Foto de nélida kurtz, a gorda.

dos deuses da adrenalina tua carne transforma minha alma em carnificina

solda é escritor, humorista e cartunista. cartunistasolda.com.br

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EU EVITO SACOLAS PLASTICAS 42

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As sacolas plásticas podem levar séculos para se degradar no meio ambiente. Além disso, sua produção consome muita água e energia. O plástico é uma das principais causas de acúmulo de lixo e, quando incinerado, libera toxinas perigosas para a saúde. Sabendo disso, a escolha é sua.

Recicle suas atitudes. julho de 2011 |

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Fábio Campana

Pequeno canalha

O

pior canalha é o pequeno canalha. O anão moral. Medíocre, dissimulado, frustrado, morre de inveja dos que têm atributos que lhe faltam, o que é muito comum. Perdedor em tudo e inconformado com a sua sina de perdedor faz-se canalha para purgar os pequenos demônios da inveja que corroem suas entranhas. É capaz de cometer todas as pequenas perversidades que conhece para sublimar o sofrimento que o destino biológico lhe impõe. A falta de neurônios acompanhada da indigência cultural do meio são condições ideais para o surgimento do pequeno canalha. Um homem sem atributos, fisicamente mal dotado, de inteligência mediana, desagradável no aspecto e na voz metálica, compreende a sua limitação e se rebela contra todos que lhe pareçam mais aquinhoados pela sorte. Imaginem um professor de literatura que almeja a glória do grande escritor. Ele tenta realizar seu sonho, escreve contos e os trans-

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forma em livro. Espera aplausos e o máximo que colhe é a indiferença. Agastado com as críticas que lhe revelam a absoluta falta de talento, devolve na mesma moeda. Transforma-se em crítico e produz laxativas apreciações sobre a literatura alheia. Tenta mais uma vez. Produz um romance. Vira motivo de chacota. Seus personagens são pífios, tão vazios e desinteressantes quanto ele. Vai à loucura e chega a pensar no suicídio. Mas o pequeno canalha não tem coragem nem dignidade para tanto. Logo atribui ao mundo as suas mazelas. Ou seria a síndrome de Adison a responsável pela sua falta de inspiração? Não. A síndrome de Adison só explica a impotência sexual e manchas na pele que parecem vitiligo. Fracassado, aposta tudo em relatos sobre a vida doméstica e as agruras de sua mãe no segundo casamento. Quer provocar lágrimas, só consegue o riso dos poucos leitores que imaginam a pobre senhora em esforços para cumprir os deveres sexuais exigidos por um marido de hábitos toscos da vida rural. Há nobreza no

sofrimento dessa mulher que se submete de todas as formas para garantir proteção ao filho. À noite, insone, atormentado, pergunta-se porque é assim piegas e medíocre. Põe em dúvida sua convicção religiosa. Deus não pode ter sido tão cruel ao lhe dar menos em tudo, do tamanho do pênis aos neurônios da região frontal. O pequeno canalha sofre. Gostaria de se diferenciar na multidão. Ser reconhecido por algo que só ele tenha produzido. Nada. Aos poucos só é notado pelas pequenas canalhices que cometeu. Resta-lhe a fuga. Covarde para encerrar sua grotesca participação de forma definitiva, procura um lugar onde possa parecer mais culto para satisfazer o pequeno ego com as glórias da província. E se distrai em exercícios para conceber um epitáfio que lhe louve na morte o que gostaria de ter realizado em vida.

Fábio Campana é jornalista e escritor. fabiocampana.com.br


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Ensai� Fotográfic�

Equilíbrio — Composição D K

C

om o advento da fotografia digital, das câmeras fotográficas ultraportáteis, das embutidas em celulares, isqueiros, liquidificadores e mais o que deve vir pela frente, do barateamento de custos, o caminho para a civilização do espetáculo – no dizer de Mario Vargas Llosa – não tem mais volta. Flickr, facebook, blogs, sites, tumblr, behance, twitpic, fazem a festa de quem quer mostrar alguma imagem e mostrar-se. Esta exposição de imagens, como agora a maioria se refere à fotografia, torna-se banal, cansativa. Irrelevante, redundante. Por isso quando vemos o trabalho de tuca vieira temos a certeza de estar em presença de um diferencial, um profissional no mais amplo sentido da palavra. Melhor que profissional, um artista. Dos seus 16 anos de idade com sua Yashica meio

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quadro à escola de fotografia Imagem-Ação de Cláudio Feijó até a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Tuca Vieira percorreu um caminho que possibilitou a ele tornar-se o artista que é. Formado em Letras, é fotógrafo profissional desde 1991. Trabalhou no MIS de S.Paulo, SESC-SP, agência N-Imagens e formou o quadro de profissionais da Folha de S. Paulo entre 2002 e 2009. Atualmente é fotógrafo independente. Dedica-se a projetos pessoais e a atender a clientes na medida em que estes o possibilitem fazer um trabalho para o qual possa contribuir com a sua criatividade. Para os projetos pessoais tem como foco a cidade, paisagem urbana, arquitetura e urbanismo. Nas palavra do artista: “Linguagem e literatura tornaram-me um fotógrafo melhor.” “Um bom poema é cheio de belas imagens.” “Há sempre um momento no qual os elementos encontram o seu

próprio lugar no enquadramento da imagem.” “Nunca entendi por que as pessoas estudam fotografia. A câmera é somente um instrumento e não é difícil de manipulá-la. Penso que se alguém quer ser um bom fotógrafo, que leia livros.” Nada mais inteligente e apropriado que estas observações. Com trabalhos no Brasil e no exterior, as suas fotografias retratam o trabalho do homem enquanto construção e convivência, deixando a figura humana em outro plano. É o entorno do homem nas cidades que captura a sua visão criativa. Incansável, palmilha os locais que seu privilegiado olhar escolhe. E é da solidão das aglomerações urbanas e das formas das coisas que o fotógrafo nos encanta com a sua visão do mundo. Artista premiado tem livros publicados, expôs no Brasil e no exterior individual e coletivamente. Recomendo uma peregrinação às páginas de seu site: www.tucavieira.com.br.


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Comportamento

P  O universo das crianças que sonham em ser miss K F F E R

A

o olhar para a pequena Anna Lúcia Carstens, de cinco anos, cheia de personalidade, espontaneidade e doses maciças de uma meiguice contagiante, dá para acreditar que é possível ser miss e ser feliz. Os desafios da beleza e a luta pela perfeição passam longe dos pensamentos da Mini Miss, que adora sorvete e quer ser estilista quando crescer. Não há restrições alimentares ou mesmo sacrifícios físicos para a manutenção da beleza natural, infantil, cultivada pela mãe com muito zelo. Ao chegar à casa de Anna, às 10h da manhã e na típica manhã gelada de Curitiba, encontramos a pequena tomando café da manhã. Comia pão com requeijão e chá frente à TV. Estava com um vestidinho lindo e reforçado, muito bem aquecida. A mãe, Luciana, explicou que Anna sempre gostou de desfilar, de cantar e de palco. “Percebi o gosto dela nas apresentações do balé da escola. Ela ficava lá na frente fazendo tudo, enquanto algumas crianças estavam chorando”. Outra situação em que notou o talento natural da filha foi em uma viagem. A família fez um cruzeiro e a sensação da viagem foi a pequena Anna. “Ela fez sucesso porque subia no palco e ficava dançando. Todos sabiam quem era ela, o pessoal da recreação adorou ela”. Ao notar a espontaneidade da filha para se expressar, Luciana procurou atividades que permitissem a Anna Lúcia aflorar o seu talento.

iNteliGÊNcia corPoral A psicanalista Clara Rossana explica este comportamento espontâneo e naturalmente carismático de algumas pessoas como uma inteligência corporal. “Existe um dom estético. Aquelas que nasceram com uma inteligência estética, um corpo expressivo e que naturalmente ele é dessa forma”, mas alerta “Quantas destas tem um dom mesmo e o quanto disso é forçado, geralmente por um desejo da mãe?”. É neste campo, levantado pela psicanalista, que crescem os problemas psicológicos e pato52

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lógicos. “No intuito de ser a mais bela, e nesse padrão atual, que é de uma magreza mesmo, é osso, é agudo, é cortante. Não tem as formas femininas redondas, fluidas. Não. É agressiva. A gente vê a patologia de uma agressividade contra o corpo”, analisa Clara. Este culto à magreza, segundo a psicanalista, leva meninas muito jovens a desenvolver a anorexia e a bulimia. Para Clara, este estereótipo tão marcante nas passarelas é extremamente danoso para aquelas pessoas que têm dificuldade de se manterem magérrimas. Por esse motivo, alerta Clara, é fundamental o acompanhamento e orientação dos pais. São eles os responsáveis por inscrever os filhos nestes concursos. E são eles que devem avaliar se os filhos estão gostando de participar, se estão se divertindo e se está sendo uma atividade saudável. Caso contrário, devem saber a hora de parar. O desfile na passarela deve proporcionar alegria para a criança e não deve ser a concretização de um desejo dos pais.

O DESFILE NA PASSARELA DEVE PROPORCIONAR ALEGRIA PARA A CRIANÇA E NÃO DEVE SER A CONCRETIZAÇÃO DE UM DESEJO DOS PAIS

Luciana incentiva a filha a participar somente se ela quiser muito. Conta até que, no ano passado, em 2010, levou a filha para participar do Miss Curitiba. Ela não tinha idade, estava com apenas quatro anos, mas os organizadores deixaram que participasse. Anna ficou em 4º lugar. E depois de um extenso dia a pequena não quis mais. “É o dia inteiro, de manhã ensaia e à tarde é o concurso, no final ela estava bem cansada. Então convidaram para o Miss Paraná, mas ela não quis. Eu sempre pergunto se ela quer, porque se ela não quiser a gente não vai”.

QuaNdo a BeleZa é um ProBlema Acredite! A beleza pode ser um problema. Somos inclinados a acreditar que crianças e adolescentes belos tendem a ser mais populares na escola, por exemplo. Certo? Não é bem assim. O chamado bullying, agressão psicológica e física entre colegas, atinge também os bonitões. Caso da estudante Jhenifer de Oliveira, de 15 anos, consagrada no Brasil e no mundo por sua beleza, com mais de 15 títulos e premiações. A bela coleciona um histórico de transferências escolares. A adolescente já mudou de escola três vezes e por duas sua mãe, Adriana, teve que recorrer à delegacia para proteger a filha de difamações e ameaças. “No ano passado eu saí do terceiro colégio, uma semana antes de ir para a Bulgária. Uma menina quase bateu na minha mãe”, conta Jhenifer. Jhenifer sempre enfrentou a hostilização nas escolas por conta de seu hobby. Para a adolescente, que desde os quatro anos desfila e é fotografada como modelo, vale a pena. No ano passado, participou e ganhou o Little Miss Planet, na Bulgária. A viagem custou aos pais, autônomos que trabalham com serviços de segurança, cerca de R$ 16 mil. Jhenifer realizou o sonho de conquistar um título mundial e de quebra comemorou seus 15 anos com um tour pela Europa, conheceu Paris, Amsterdã, Budapeste. “Eu amei. Um dia se tornou 15 dias na Europa. Foi muito legal, bem melhor que uma


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2560 Cada roupa a seu tempo

Jhenifer mostra sua coleção de books fotográficos e veste a manta, a faixa e a coroa do Miss Teen Planet e a pequena Anna Lúcia em seu quarto com decoração de princesas, rodeada de brinquedos.

festa”, relembra, animada. Mas quando questionada sobre as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia, Jhenifer entristece. O sorriso meio nervoso denuncia uma menina linda que já sofreu desilusões adultas. Em um episódio, quando tinha 13 anos, Jhenifer perdeu uma de suas melhores amigas por causa de uma disputa. Ficou magoada e adoeceu. Depois, teve que lidar com difamações na internet publicadas pela família da menina. Hoje, Jhenifer estuda no Sesi. Ganhou bolsa após realizar uma prova. É, segundo sua mãe, viciada em computadores, e quer ser webdesigner ou fotógrafa. Com 15 anos e pouco mais de um metro e meio, Jhenifer está afastada dos concursos de Miss. Não tem mais idade para participar das disputas infantis e pré-adolescentes e nem altura e curvas para concorrer na categoria adulta. E, apesar de colecionar saltos vertiginosos, a adolescente menina ainda sonha com uma coleção de bonecas Barbie. Talvez o mundo dos flashes e o investimento maciço para transformá-la na própria princesa a tenha privado dos caprichos das meninas de sua idade. Ao invés de Barbies, Jhenifer possui books fotográficos de todas as fases da sua vida. Questionada se o título de Miss causou problemas para ela, Jhenifer retruca “problemas para os invejosos, mas para mim não. Vale muito a pena porque é um momento seu, é uma recordação sua, ninguém vai roubar de você. A via-

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gem que fiz para a Bulgária foi como um sonho mesmo, foi tudo maravilhoso e quando acordei, estava aqui”.

Na medida certa Os concursos de beleza infantis podem ser muito saudáveis, explica a psicanalista Clara. Um ambiente em que a criança faz amizades e aprende a lidar com o sucesso ou a falta dele mas, acima de tudo, deve ser um ambiente divertido para as crianças. E os pais devem saber a hora de parar ou de seguir em frente. A idade para começar a participar destes concursos é a partir dos cinco anos. Mas a idade que uma criança deve ter para discernir, ainda superficialmente, sobre o que é bom ou não para si, começa aos 12. “Mesmo assim, ainda é apenas uma adolescente. Só aos 24 ou 25 anos a pessoa está fisiologicamente pronta para decidir”. Os pais precisam saber respeitar, portanto, a vontade dos filhos. Luciana, mãe da pequena miss Anna Lúcia, desistiu de participar de concursos em 2010 porque a filha não quis mais. Este ano, recebeu um e-mail sobre um concurso em Balneário Camboriú, chamado Princesinha do Mar do Brasil. “Eu perguntei se ela queria participar e ela disse que sim. Então fomos e ela ganhou o primeiro lugar. Em seguida veio o Miss Curitiba. Eu perguntei se ela queria participar e lembrei que era o mesmo que ela tinha participado no ano anterior, que era o dia inteiro e cansativo. Ela disse que queria e então a levei. Ganhou

Roupas de adulto em versão mini. A princípio pode parecer bonitinho uma criança vestida igual a um adulto. Mas o modismo suscita outras preocupações, como a erotização infantil. O vestuário sob medida para seduzir consumidores acaba tornando as crianças sedutoras antes do tempo. Preocupados com as consequências, pais da Grã-Bretanha, organizados em associações, decidiram agir e pediram o fim da “sexualização” infantil no comércio. Os principais varejistas britânicos se comprometeram a retirar imediatamente as roupas sexualmente apelativas das vitrines. Dentro de seis meses, eles têm que parar de vender esse tipo de produto para crianças.

novamente o primeiro lugar”. Neste momento, com o assunto voltado aos desfiles, ouve-se uma vozinha doce: – Mãe, quantos dias falta para eu desfilar? – Calma Filha. – Ah, fala mãe. – 16 dias. – Eeeeeeee, comemora Anna que logo em seguida volta a indagar a mãe: – Mãe, posso passar (batom)? Você prometeu! – Agora não, depois. Na hora das fotos. – Tá, diz a pequena, que obedece e logo volta, para mostrar os bichinhos de pelúcia que ganhou nos concursos de que participou. Anna participa neste mês de julho da etapa paranaense.

QuaNdo o excesso é a falta No começo deste ano, uma notícia polêmica ganhou espa-


Sem esforço, Anna Lúcia se diverte na sessão fotográfica para a matéria. Caras, bocas e poses são sugeridas pela própria modelinha, que quer ser estilista quando crescer.

ço nos noticiários. Na cidade de São Francisco, no Estado americano da Califórnia, a esteticista Kerry aplicava injeções de botox na própria filha, Britney, na época com sete anos. As justificativas da mãe, que meses depois perdeu a guarda da criança, são difíceis de acreditar. Disse que fez as aplicações porque a filha reclamou do aparecimento de rugas. E para completar o excesso, confessa que adoraria que sua mãe tivesse feito isso por ela, quando criança. Além do botox, Kerry submetia Britney à depilação. Esses sacrifícios eram feitos para participação em concursos de talentos infantis, de misses infantis. Conhecido também como toxina botulínica, o botox é usado para suavizar as expressões na região onde é aplicado. A médica Bettina Sanson, que possui uma clínica de dermatologia, alerta para os perigos da aplicação da toxina em crianças. “A aplicação da toxina botulínica para uso estético é abominável na infância, por tratar-se de uma toxina e poder agir como uma vacina na criança, quando exposta com recorrência. O seu uso na infância é restrito para neurologistas e ortopedistas, em grandes músculos e espasmos. O encaminhamento para um psiquiatra ou psicólogo nestes casos é uma boa indicação. Danos irreparáveis tais como alteração da autoimagem, complexos, pânico e isolamento social podem ocorrer”, alerta. O caso de Kerry e Britney não é fato isolado. E como tantos outros, expressa o típico desejo dos pais projetado na vida dos filhos. A doutora Bettina conta que já recebeu em sua clínica diversas propostas de pais para intervenções cirúrgicas desnecessárias em seus filhos. Caso da mãe que queria colocar próteses de silicone em sua filha de apenas 12 anos. E nesta ocasião, a pré-adolescente sequer demonstrava interesse na cirurgia para aumentar os seios. A mãe alegava que os seios da filha estavam demorando muito a desenvolver e que, do jeito que estava,

era horrível. “Observei a postura da menina, ela andava encolhida e a cada comentário da mãe parecia se encolher mais. Não pude acreditar que uma mãe pudesse fazer isso com a filha de apenas 12 anos. A mãe insistia no assunto. Pedi que a menina saísse da sala e expliquei para a mãe o impacto dos comentários dela sobre a filha, geração de complexos, etc, e que a menina não tinha idade para a tal cirurgia, pois ainda havia muito tempo para o desenvolvimento completo dela. A mãe voltou em consulta durante uns dois anos. Consegui a muito custo segurar essa atitude dela”. Mas há clínicas que realizam esse tipo de cirurgia em adolescentes em fase de desenvolvimento. O resultado pode ser desastroso. “A filha de um político muito famoso aqui no Paraná me procurou, acompanhada da mãe, porque havia colocado prótese de silicone nos seios e apareceram estrias em forma de raios de sol nos dois seios, porque continuaram a crescer e somaram seu volume às próteses. A menina tinha 14 anos. Não se deve autorizar a colocação de próteses de silicones em adolescentes em fase de crescimento. Os pais devem ser incisivos e, principalmente, usar o poder aquisitivo como fator de bloqueio”, defende Bettina. São casos como estes que suscitam perguntas como as feitas pela psicanalista Clara: “Até que ponto a decisão é dela (criança)? Dos pais, da sociedade, do meio? Até que ponto é um dom da criança ou é uma exigência extrema de que ela precisa entrar neste padrão? Até que ponto ela vai poder ser criança com a idade dela ou ela estará sempre lá no futuro tentando realizar um sonho da mãe?”. E volta a responsabilidade para aqueles que deveriam primar pela saúde dos filhos. “Os pais devem ser educadores, entender que a criança é mais do que só essa questão estética externa. A criança pode necessitar de recolhimento ao invés de tanta exposição”, alerta Clara.

8 Quanto custa ser miss Inscrição, locação de vestidos, convites. É tudo bancado pelos pais. Os convites para assistir às apresentações são vendidos e os pais também pagam. No Miss Curitiba, o convite custou R$ 15 mais um quilo de alimento por pessoa. A inscrição das crianças e pré-adolescentes varia de R$ 100 a R$ 150. Antecipado é mais barato e quanto mais perto do evento, mais caro fica. Os aluguéis de vestidos infantis custam, em média, R$ 150. Conforme as pequenas crescem, crescem também os valores de aluguel. Há pais que chegam a gastar, apenas no aluguel do vestido, cerca de mil reais. Viagens para outros estados e países também são pagos pelos responsáveis. Quando Jhenifer foi à Bulgária disputar o Little Miss Planet, gastou cerca de R$ 16 mil. Os pais fizeram rifas e trabalharam dobrado para realizar o sonho da filha.

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Marianna Camargo

A lista de Alice

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lice Pyne é uma adolescente britânica de 15 anos em estado terminal de câncer. Após seus médicos terem considerado que não há mais tratamentos possíveis para o linfoma descoberto há quatro anos, ela publicou em seu blog uma lista de 17 coisas que pretende fazer antes de morrer. Cerca de 250 mil pessoas já acessaram o blog. “Eu sei que o câncer está me vencendo e não parece que eu vou vencer esta”, diz ela em sua apresentação no blog. “É uma pena, porque há tanta coisa que eu ainda queria fazer”, escreveu Alice. Pensei na minha lista. Pensei na vida. Pensei na morte. Pensei no efêmero de tudo. Pensei na vida que nos engasga, que nos revela. Que nos mata, que nos atropela. Tanta coisa para fazer. Tanta coisa que não vamos fazer. Tanta coisa que já fizemos. E se vive assim, aos tropeços, sem fôlego, sem pensar, a não ser quando a vida se apresenta com todo o seu esplendor e intensidade. Todo o drama e plenitude. Mas não se consegue viver de sobressaltos e tempestades. É preciso a calmaria, o torpor suave, a brisa leve.

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Perdi há cinco anos uma grande amiga, aquela siamesa, de alma e coração, aquela que te sabe muito mais que você mesma. Que vive seu instante como se fosse o dela. Não dá para viver como antes. Falta um pedaço. Como disse Vinicius de Moraes: quando você perde um amigo fica manco, como se tivesse perdido uma parte do corpo. Assim me sinto, como se tivesse perdido uma parte de mim. Com a tristeza colada na retina. A paisagem mudou, o sorriso. Se vive, mas diferente. Daí logo penso nas conversas, no choro que vinha depois das gargalhadas, nas longas caminhadas que transformavam as paisagens. E isso não perdi. Está comigo. Em cada palavra que escrevo, quando entro no mar, quando escuto o vento. Penso nela e percebo que na minha lista não pode faltar: um mergulho no mar, deitar na grama e olhar para o céu, chorar de rir, passear de balão na Turquia, viajar com amigas, ouvir Chet Baker, Cartola e Marvin Gaye, ver um céu vermelho de outono, escolher aquela roupa para aquela festa, dançar a noite toda, escrever até não poder mais, correr na chuva. Fechar os olhos depois e ver o mundo girar. Na lista de Alice tem uma coisa que gostaria muito de fazer: ver baleias.

A lista de Alice • Nadar com tubarões • Fazer todos assinarem lista de doadores de medula óssea • Viajar ao Quênia (não posso viajar para lá agora, mas gostaria) • Inscrever a cachorra Mabel em um concurso • Fazer uma sessão de fotos com 4 amigas • Ter uma sessão privada de cinema com as melhores amigas • Desenhar uma caneca para vender para caridade • Passar uma noite em um trailer • Ter um iPad roxo • Ser uma treinadora de golfinhos (também não posso mais fazer esta) • Encontrar a banda Take That • Ir ao Cadbury World (parque temático da fábrica) e comer um monte de chocolate • Tirar uma boa foto com a Mabel • Ficar em um quarto de chocolate no (parque de diversões) Alton Towers • Fazer meu cabelo, se alguém puder fazer algo com ele • Fazer uma massagem nas costas • Ver baleias

Marianna Camargo é jornalista. mariannacamargo.blogspot.com


Marcio Renato dos Santos

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Na ponta dos dedos

E

stamos no consultório médico, ou em uma poltrona de avião. Ainda há tempo. O médico se atrasou, o voo decolará em breve, e temos um jornal ou uma revista nas mãos. Já lemos outros jornais e outras revistas, mas seguimos com esses papéis diante de nossos olhos. O time mais cotado da cidade perdeu o jogo. O bairro mais glamouroso do balneário alagou com as chuvas. Lemos as notícias, nem todas até o fim, e nos perdemos, entre as linhas, nas fotos, nossos olhares são seduzidos pelos anúncios e, principalmente, pelas nossas unhas. Sim. Eu, tu, ela, nós, vós, eles, todos passamos a maior parte do tempo olhando, não para estrelas, mas para as nossas unhas. Ao caminhar, na esteira da academia, ao redor do lago do parque, da cama até a cozinha, quantas vezes uma pessoa olha para as mãos, para as unhas? Pesquisa recente, realizada por um instituto de reputação inquestionável, garante que, em um minuto, ou seja, durante 60 segundos, uma pessoa pode olhar pelo menos seis vezes para as unhas. Seja homem ou mulher, jovem ou não, principalmente se a pessoa estiver calma. Durante uma crise ou diante de um problema que exige solução rápida, o sujei-

to é capaz de passar os 60 segundos olhando e, dependendo do caso, roendo as unhas. Por que eu, tu, ele, nós, vós, elas olhamos tanto para as unhas? Para analisar se já cresceram? Estão limpas? É necessário ir à manicure? Semana passada começou a ser exibido um documentário, de 120 minutos, a respeito da importância das unhas para a vida em sociedade. A voz do narrador afirmava que a atração entre as pessoas, da amizade ao amor, depende, mais do que qualquer outro detalhe, das unhas. “Não há lógica, há sim atração, como se fosse um aroma, e tem muito a ver com a percepção visual. Pessoas se atraem, e se afastam, por causa das unhas”, dizia o narrador. Em uma obra de antropologia, cujo título não cito porque a capa e a folha de rosto foram rasgadas – e perdidas – está escrito, no segundo parágrafo da página 17, o seguinte: “No passado, durante a evolução do homem, as unhas eram fundamentais, inclusive, usadas como armas em confrontos tête-à-tête”. Já no início da página 256, o texto, que analisa a realidade brasileira, faz saber que “durante o século 20, homens, sobretudo os que nasciam em áreas rurais, quando deixavam o campo e se fixavam em regiões urbanas, passavam a cultivar unhas, de

até dez centímetros, com a finalidade, simbólica, de mostrar que não usavam mais a enxada.” Um professor aposentado caminha todas as tardes no Parque Barigüi e, durante o exercício a céu aberto, o acadêmico costuma dizer, em voz alta, que as unhas não têm nenhuma importância. “Olhamos tanto para as unhas porque, na verdade, prestamos atenção em coisas irrelevantes. Eis uma prova de como perdemos tempo na vida”, repete, diariamente, o paulistano de 69 anos radicado em Curitiba. Eu, de minha parte, não tenho opinião a respeito do assunto; apenas registro o que vi, li e escutei. Mas a missão exigiu muitas horas. Esta crônica, confesso, foi escrita durante 21 dias. Não necessariamente porque eu tivesse problemas para juntar as palavras (só um pouquinho), mas, como o leitor e a leitora já deduziram, pelo fato de que, nas últimas três semanas, estive hipnotizado por aquilo que está na ponta de meus dedos.

marcio renato dos santos é escritor. minda-au.blogspot.com

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lIvros

Prateleir�

nove anos da coyote

The fran lebowitz Reader

Por Fábio campana

Por izabel campana

Há mais. Peça teatral de Verônica Stigger, contos de Sandro Saraiva, inéditos de Paulo Moreira e poemas de Sollivan Brugara. E um ensaio fotográfico do amazonense Rodrigo Braga, “Desejo Eremita”. Prova de resistência, Coyote certamente terá longa vida, apesar dos nós burocráticos e da política oficial de cultura.

os olhos de bergman Por izabel campana

S

urpresa boa ao receber o livro de Tânia Buchmann. De cara me agradou a elegância do objeto. O branco, o preto e os olhos de Bergman. Mas não se deve julgar um livro pela capa. E o livro de Tânia tem muito conteúdo. O ensaio de Tânia traz visão ao mesmo tempo sociológica e fotográfica da obra do cineasta. A autora resgata a história de Bergman e intercala suas vivências com sua produção cinematográfica. Mostra a dimensão pessoal da arte de um diretor que nunca abriu mão de seu ponto de

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vista original e transgressor. Quem quiser entender Bergman pela fotografia de seus filmes e captar a importância dos rostos e olhares em sua obra não deve deixar de ler o ensaio de Tânia Buchmann. Publicado pela Imprensa Oficial.

dAVid SHAnkBone

E

m seu nono ano de existência, a londrinense Coyote é a revista de literatura e arte de vida mais longa nesta área do planeta. Editada pelos poetas Rodrigo Garcia Lopes, Marcos Losnak e Ademir Assunção, cumpre papel importante ao apresentar novos autores de todos os lugares do país e textos essenciais ao debate que normalmente nos chegam com enorme atraso. No número 22 há dois textos de Ítalo Calvino inéditos no Brasil. E um dossiê sobre Geraldo Carneiro, poeta e letrista empenhado em ampliar o debate sobre a poesia brasileira. “Sinto falta da radicalidade. É preciso encarar a prática poética com mais seriedade, violência e humor”, propõe Carneiro que lamenta a ausência de figuras como Mário Faustino.

P

ara muitos americanos, Fran Lebowitz é old news. Judia, nascida e criada em Nova Jersey e nova-iorquina por escolha e vocação, fez sucesso nos anos 80. Desde então produziu quase nada e caiu no esquecimento da maioria. Foi lembrada por Martin Scorsese que em 2010 lançou o documentário Public Speaking, com entrevistas e outras aparições da escritora. Lebowitz é tão engraçada em vídeo quanto o é por escrito. De humor sagaz e ácido, não poupa pensamentos polêmicos em ocasião alguma. Um de seus textos leva o título: “Crianças: pró ou contra?”. Agora o que a diferencia de um Diogo Mainardi qualquer é sua capacidade de escrever. De escrever bem. Mais do que uma polemista, Lebowitz produz narrativas cativantes recheadas de grandes frases. Abaixo algumas de minhas favoritas: “Sleep is death without the responsibility.” (Sono é morte sem a responsabilidade). “The opposite of talking isn’t listening. The opposite of talking is waiting.” (O oposto de falar não é ouvir. O oposto de falar é esperar). Deste lado do equador temos a satisfação de ler Lebowitz como novidade, já que sua obra é completamente desconhecida e sequer pode ser comprada sem a ajuda de um internauta experimentado. The Fran Lebowitz Reader reúne os textos de seus dois primeiros livros e está disponível, em preço bastante acessível, nas principais livrarias virtuais.


filmes Marco Novack

Nevermore Por Marianna Camargo

N

Marco Novack

evermore – Três Pesadelos e um Delírio de Edgar Allan Poe acaba de estrear no circuito paranaense. É constituído por uma série de quatro curtas-metragens inspirados em obras do esMorella critor norte-americano Edgar Allan Poe: “Berenice”, “Ligeia”, “Morella” e “O Corvo”. Em “Berenice”, um homem fica obcecado pelos dentes de sua prima cataléptica. “Ligeia” mostra um sujeito atormentado que não consegue se afastar das lembranças da falecida personagem que dá nome ao curta. “Morella” mostra a morte, renascimento e degeneração da personagem-título e de sua filha sem nome. Por fim, “O Corvo” tem seu foco no pássaro que entra na casa de um homem apenas para Berenice servir de instrumento para sua mágoa e culpa. O projeto é viabilizado por meio do edital da Lei Municipal de Incentivo a Cultura da Fundação Cultural de Curitiba. “Nevermore – três pesadelos e um delírio de Edgar Allan Poe” 52 minutos, Brasil Direção: Paulo Biscaia Filho Produção: Cia. Vigor Mortis Distribuição: Moro Filmes

Zequinha Grande Gala Por Marianna Camargo

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urante muitos anos, as figurinhas das balas Zequinha, surgidas em 1929, no Paraná, proporcionaram divertimento para a garotada paranaense. Além disso, se constituíram num importante meio de comunicação. O documentário Zequinha Grande Gala (2005) dirigido por Carlos Henrique Túlio com roteiro de Regina Walger propõe uma visão sobre esse inusitado e revelador fenômeno que, ao atravessar décadas, se tornou uma espécie de registro da memória coletiva do estado. As alterações dos temas e as varia­ções no estilo das ilustrações e do personagem central dão pistas sobre as modulações do imaginário para­naen­se ao longo do século passado.

Zequinha Grande Gala 55 min, 2005, Brasil. Direção: Carlos Henrique Túlio Roteiro: Regina Walger Distribuição: Log On Editora Multimídia

exposição As primeiras obras do MON Stenzel, Fernando Velloso, João Osório Brzezinski, Eugênio Sigaud e Helena Wong são alguns dentre os muitos que estarão expostos na sala Pancetti. O curador da exposição, Ennio Marques Ferreira, explica que o MAP foi criado no dia 18 de março de 1987 e instalado num casarão de três andares na Praça Professor João Cândido, no Alto São Francisco, onde atualmente funciona o Museu Paranaense. “O MAP surgiu para reunir obras que pertenciam ao patrimônio do

governo e estavam espalhadas em gabinetes e outros espaços administrativos. Esse acervo, desde o início, aglutinou obras expressivas, tanto de estrangeiros que aqui fixaram residência, como dos nascidos no Paraná e que aqui realizaram as suas manifestações”, afirma. Serviço Exposição “MAP: o início do acervo MON”. Em cartaz até 07 de agosto. Local: Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999) Mais informações: (41) 3350 4400

Divulgação MON

O Museu Oscar Niemeyer (MON) inaugurou dia 18 de junho a exposição “MAP: o início do acervo MON”, com 120 obras selecionadas da coleção do antigo Museu de Arte do Paraná (MAP) – conteúdo que deu origem ao primeiro acervo do MON. De tridimensionais a pinturas, de gravuras a desenhos, o público vai ter acesso a um recorte do que há de mais expressivo na produção de artistas visuais que viveram no Paraná. Michaud, João Turin, Hermann Schiefelbein, Theodoro De Bona, Freyesleben, Erbo

João Osório Brzezinski

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Jaime Lerner

A Batalha do Paraguassu

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epois de excomungar o petit pavé em Curitiba, começaram a atacar os bares com mesas na calçada, características do encontro e da camaradagem do povo brasileiro. Ainda mais nos curitibanos, com tantas consoantes nos sobrenomes, que precisam de mais diálogos, mais conversa para melhor se entenderem. Já não vejo mais as calçadas com os desenhos de Poty, nem as nossas árvores protegidas pelas grades dos “Pont à Mousson”. Daqui a pouco só vão permitir restaurantes e cinemas

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em shopping centers; talvez até entendam que passarinho é economicamente inviável. Quem será o assessor de sacanagem que assopra à burocracia afoita essa ação belicosa? Talvez o mesmo que ajudou a fechar a Pedreira Paulo Leminski e o Beto Batata. Conheço o Prefeito e sei que não é coisa dele. É homem sensível. A única explicação é algum representante de uma minoria ressentida e mal-humorada. Tem homenzinho solene no pedaço querendo exercer autoridade, para acabar com a alegria, a convivência e a tolerância. Nessa hora é que

afloram as legislações absurdas, ou a má-interpretação dos bem-intencionados. Foi-se o tempo em que a Prefeitura é que colocava as mesas na calçada para estimular os bares e restaurantes a promoverem o encontro. Em nome do curitibano cordial, deixem o bar Paraguassu em paz.

Jaime lerner é arquiteto


Luiz Carlos Zanoni

O maratonista

V

inhos do Porto são maratonistas cujo fôlego se mede pela sua capacidade de vencer as marcas do tempo. Podem durar muito, ninguém duvida. Quanto? A resposta talvez estivesse naquela preciosa garrafa que um devoto radical desses vinhos garimpou e trouxe a Curitiba. O conteúdo datava do longínquo ano de 1855 e tinha sua legitimidade avalizada pelo conceito da casa produtora, a Taylor’s, nome acima de qualquer suspeita no Douro. Era um Tawny, categoria dos Portos que associam vinhos oriundos de diferentes colheitas, determinando-se a data pela idade média dos caldos que compõem a mescla. Ao contrário do Vintage, feito de uvas de uma única safra, apenas em anos excepcionais, e engarrafado aos dois anos de idade, o Porto Tawny passa por longo envelhecimento em pipas de madeira de 550 litros. Ganha, aí, a cor aloirada, que os ingleses chamam de Tawny, palavra que acabou batizando o produto. Maior o tempo de guarda, maior a reputação. Atualmente, nas linhas normais, a indicação de 40 anos de estágio em madeira costuma ser o topo da pirâmide. O que dizer, pois, desse exemplar de 1855? Nele, além da idade, havia o bônus adicional de ter sido produzido com

uvas anteriores à filoxera, o inseto que destruiu os vinhedos do Douro (assim como os de toda a Europa) em meados do século XIX, e que foi combatido com a enxertia das variedades locais em raízes de parreiras norte-americanas, mais duras e, por isso, resistentes à devastadora praga. É coisa raríssima, nos dias de hoje, provar um vinho feito de uvas nutridas pelas raízes originais da planta. O histórico Tawny pertencia a uma tradicional família do Douro, que o manteve por gerações em sua adega privada. Originalmente, eram três barricas, mas uma delas, contam os descendentes, foi adquirida por Winston Churchill. Em 2008, decididos a vender os dois cascos remanescentes, os herdeiros requisitaram a análise do vinho. David Guimarães, enólogo da Taylor`s, constatou a autenticidade desse Porto, impressionando-se com a concentração e complexidade. A casa tinha a opção de utilizá-lo no enriquecimento das mesclas de seus Tawnies especiais, mas, considerando o valor histórico, decidiu lançá-lo como vinho de coleção. Os cascos renderam mil garrafas, rotuladas como Scion 1855, palavra com duplo significado – o de “descendente de família nobre” e o de “raiz usada no enxerto de uma planta”. O Porto Scion foi aberto com as honras de praxe. Vinhos assim trazem à vida um momento

do passado, e essa é uma das grandes emoções que se tem ao prová-los. Com o Scion não foi diferente. Bastou um pouco de imaginação para perceber que o sol, as brisas e as chuvas de passadas estações reviviam em seus perfumes e paladares. Melhor não poderia estar. Exibia na cor uma brilhante tonalidade âmbar, mais escura no centro da taça. Em vinhos antigos – e ponha antiguidade no caso – os cheiros originais se entrelaçam para formar o chamado buquê, a complicada alquimia resultante dessa lenta fusão. O Scion não lembrava, como os Tawnies mais jovens costumam fazer, frutas secas, caixa de charutos, cedro ou café. Seu aroma mereceu nome próprio, simplesmente o de Porto Scion. E na boca veio o prêmio maior. A intensa acidez mantinha em equilíbrio o corpo denso, licoroso, de tamanha opulência e concentração que ficou por horas no paladar e para sempre na memória. O maratonista chegou inteiro ao fim da prova – e certamente com forças para prosseguir por muitas décadas além.

LUIZ CARLOS ZANONI  é jornalista e apreciador de vinhos julho de 2011 |

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Gastronomia

M  P  G O chefe do Kinoshita ensinou os princípios da culinária zen para um seleto grupo. Eu estava lá. J V

N

aquele momento, parece que eu só escutava a semente de gergelim explodir delicadamente pelo toque da haste entre as ranhuras do suribachi, o pilão japonês. O som produzido era capaz de provocar, mesmo que por um estalo de segundo, a sensação de estar viva. Acho que é isso que todos queremos. Deixei-me envolver. O vento na manhã daquele dia de outono era gelado, mas para a sorte de quem participava da oficina com Tsuyoshi Murakami, o sol brilhava com intensidade na Ponta dos Ganchos, no litoral de Santa Catarina, e amenizava o frio. Vou tentar descrever. Suribachi também é o nome do vulcão da ilha de Iwo Jima famosa pela fotografia com a bandeira dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e o nome do instrumento fundamental para Toshio Tanahashi, mestre da culinária zen conhecida como Shôjin Ryori, originada no budismo. Devo confessar que, mesmo admirando o chef do restaurante Kinoshita, em São Paulo, foi isso que me atraiu para aquele local. A possibilidade de estar próxima da cozinha meditativa foi irresistível para mim, uma vez que não tive a oportunidade de participar dos dois jantares realizados no Brasil pelo chef japonês quando esteve aqui para divulgar a culinária de devoção, que não utiliza produtos de origem animal, ou plantadas com agrotóxicos ou fertilizantes e não usa nenhum equipamento na cozinha. Para tirar o melhor sabor dos alimentos, o chef, que fechou seu restaurante em Tóquio e viaja pelo mundo divulgando seu trabalho, além de dar aulas numa universidade, medita quando cozinha. Mesmo não sendo vegetariana, confesso que já fui, antes de virar maníaca-gourmet; continuo buscando o sabor mais puro e a harmonia nas refeições – na vida também, naturalmente. Paz interior e mente sincera. Acho que nasci budista sem saber. Ioga

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SÓ CONHECENDO MURAKAMI PARA ENTENDER. ELE É ESPECIAL E UM COZINHEIRO COMO POUCOS.

na juventude, por muitos anos, ou a leitura de Sidarta, de Hermann Hesse, ou as aulas de tai chi, já adulta, talvez tenham contribuído, mas, na verdade, não sei o que me fez seguir assim. Intuição. Não é nada demais, apenas tentando traduzir em ações aquilo em que acredito. Talvez, como o vulcão adormecido, eu também esteja querendo acordar. Mas isso é outra história. Aqui, quero dizer que se você não conhece Murakami, na próxima viagem a São Paulo trate de agendar um jantar no Kinoshita. Além da comida maravilhosa, com sorte, pode ser brindado com um show musical. Murakami canta e bem, na Ponta dos Ganchos engrossei o coro e concluí que preciso voltar a cantar. Outra coisa que me deixa viva. Só conhecendo Murakami para entender. Ele é especial e um cozinheiro como poucos – assunto para outra crônica, é claro. E se nunca colocou os pés na ponta de terra que beija mansinho o mar claro de Governador Celso Ramos, está na hora de programar um fim de semana lá. É o paraíso aqui perto, juro. Não é barato, mas para os gourmets dispostos a qualquer coisa por uma boa comida e emoção a sacada é participar do Ciclo dos Chefs; já tinha tido a oportunidade de conhecer mas, desta vez, o nirvana estava ao lado. Resumo: passar três dias num lugar paradisíaco, aprendendo a cozinhar, afiar facas, cortar legumes, fazer molhos e provar comidas simples e saborosas, com pessoas especiais. É um pouco de um sonho que teimo em querer realizar. Finquei minha bandeira na ilha catarinense. Não por acaso. Confira as atrações de julho da Ponta dos Ganchos http://www.ciclodechefs.com.br/

JUSSARA VOSS é jornalista


divulgação

1 1 O corte preciso e a atenção com o preparo da comida: para ressaltar os sabores 2 O resort: um lugar especial 3 e 4 No Kinoshita, Murakami apresenta um pouco da kappo cuisine: alta gastronomia tradicional japonesa, ingredientes frescos, sequência harmoniosa e apresentação delicada

Tuca Reinés

5 Suribachi, a ferramenta indispensável na cozinha japonesa, pode ser um instrumento para meditar

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divulgação

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Cultur�

O sertaneJo da cidade grande RAFAEL MIASHIRO

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Jota Junior e rodrigo

C

om melodia simples e melancólica, a música sertaneja antigamente era prestigiada mais pelas pessoas do interior. Porém, com o surgimento de novas duplas e a modificação do sertanejo para sertanejo universitário, a conquista por admiradores vem crescendo cada vez mais. Atualmente, as músicas tratam de temas que se aproximam da realidade dos jovens das grandes cidades, como festas, estudantes, mulheres e outros. As novas duplas também costumam gravar sucessos do passado, mas com novas características e adaptações para agradar o público atual. Conhecido como música caipira, o sertanejo surgiu em 1910, quando Cornélio Pires resolveu trazer as músicas do interior para a cidade gran-

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de. Cornélio Pires era escritor e jornalista e, em 1912, lançou o livro “Musa Caipira”, com versos da época. O primeiro arquivo registrado de um conjunto que cantava música sertaneja também tem início com Cornélio; o grupo se chamava “A Turma Caipira de Cornélio Pires”, formada por violeiros muito conhecidos naquele tempo. Cornélio gravou seu primeiro álbum em 1929, sendo este o primeiro material fonográfico no estilo. Na década de 1930 surge a dupla Alvarenga e Ranchinho, uma das mais importantes de todos os tempos. Muitas foram surgindo depois, cantando temas como a tristeza da vida no sertão do Brasil e outros similares. Em 1939, a dupla Raul Torres e Serrinha introduziu o violão na música sertaneja e criou o primeiro programa de rádio dedicado a esse estilo, transmitido pela Record, que se chamava “Três Batutas do Sertão”. Com

isso, o movimento que se estabelecia apenas no eixo São Paulo-Minas Gerais se expandiu para outras regiões, como Rio Grande do Sul, Goiás, Pernambuco e outros. A explosão da música sertaneja no país se deu na década de 1980, quando começou a comercialização em larga escala. Os novos artistas traziam uma releitura de sucessos internacionais e mesmo da Jovem Guarda. Surgem nessa época Chitãozinho e Xororó (paranaenses radicados em São Paulo), Leandro e Leonardo (de Goiás) e Zezé di Camargo e Luciano (de Goiás).

as duPlas ParaNaeNses No Paraná, não podemos deixar de falar de Nhô Belarmino (Salvador Graciano) e Nhá Gabriela (Júlia Alves Graciano). Com 15 anos de idade, em 1935, Nhô Belarmino se apresentava junto com a irmã, Nhá


FERNANDO ANDRADE

ASSESSORIA DE

IMPRENSA

HIRO RAFAEL MIAS

Jota Junior e

rodrigo

leonel rocha e

campos

Huesley e André

Quitéria (Pascoalina) em festividades da região de Rio Branco do Sul, sua cidade natal. A dupla se apresentou durante quatro anos. Com o casamento, Nhá Quitéria parou de fazer shows. Depois ele começou a se apresentar com sua esposa, a Nhá Gabriela. Uma das canções mais famosas que fizeram história por aqui é “As mocinhas da cidade”. Outra dupla conhecida pelo Paraná é Leonel Rocha e Campos, que estão no cenário musical desde 1975. Leonel Rocha, além de cantor, também é apresentador de rádio e televisão. Criou e apresentou o programa Nossa Terra, Nossa Gente, apresentado durante 10 anos e exibido pelo SBT no Paraná. Leonel Rocha explica o rumo que o sertanejo vem tomando e o por quê desta evolução que agrada tanto os jovens. Segundo ele, a música sempre muda conforme as gerações. Porém, Leonel percebe algum tipo de preconceito. “Até pouco tempo atrás, os jovens não queriam admitir que gostavam de música sertaneja e caipira. Como não houve jeito de esconder, eles rotularam o sertanejo como ‘universitário’. As novas duplas usam um linguajar mais jovem, com refrãozinho mais agitado. Mas já está passando essa moda de sertanejo universitário e está voltando para o nosso sertanejo raiz, onde tudo se originou”, comenta. Ele também destaca o retorno da viola nas canções mais atuais, instrumento usado na música raiz. Leonel começou a tocar aos nove anos e sempre gostou de música caipira. Ele conta um pouco sobre o nascimento da paixão pela

é o gêneRo mais estÁvel no meio musical bRasileiRo e domina o meRcado hÁ décadas música: “Ficava na frente do espelho cantando, querendo ser como os cantores famosos. Na época, existiam livrinhos de moda de viola, com cantores como Tonico e Tinoco e Cascatinha e Inhana. Eu adquiria esses livrinhos e ficava encantado. Eu era muito fã de Tonico e Tinoco”, revela. Leonel tinha o sonho de cantar junto com os ídolos e acabou fazendo shows ao lado da dupla. Sobre as mudanças na música sertaneja, ele acredita que o estilo “universitário”, que está em voga hoje, não faria sucesso quando ele começou a tocar. “Tudo vem mudando e evoluindo. Essa modernização que virou consumo chegou agora. A música veio mais apelativa, para a juventude brincar e dançar”, finaliza.

Novo estIlo Com sua nova roupagem, novo estilo, novas letras, novas caras e novas vozes, a música sertaneja vem quebrando todos os conceitos. Com isso, os novos talentos conquistam mais espaço no mercado musical. É o caso dos irmãos e companheiros de dupla, Jota Junior e Rodrigo, conhecidos em todo o Brasil pelo seu trabalho desenvolvido há mais de 25 anos. Nascidos em Curitiba, quando crianças se mudaram para a cidade de Guamirim, interior do Paraná. Foi na cidadezinha que eles tomaram paixão pelo sertanejo. Ainda bem jovens, Jota Junior com seis anos e Rodrigo com sete, eles começaram a cantar por influência do pai, que também era músico. No entanto, como a cidade era pequena e o trabalho para a jovem dupla se tornava limitado, resolveram voltar para Curitiba, para tentar aperfeiçoamento musical. Passados alguns anos, a dupla desviou o foco do sertanejo e começou a trabalhar com outros gêneros musicais. Porém, como o estilo estava no sangue, a mudança não durou muito tempo. Jota Junior e Rodrigo estudaram no Conservatório de Música do Paraná e começaram a carreira profissional aos 15 e 16 anos, vivendo a partir desse momento exclusivamente da música. De lá para cá, participaram de vários festivais, viajaram o Brasil fazendo shows e gravaram cinco álbuns, sendo o quinto nesse último ano. Quase todos os projetos são autorais, sendo a maioria das letras do Jota Junior e a produção musical do Rodrigo. julho de 2011 |

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É possível ouvir por aí algumas pessoas que definem essa nova onda de sertanejo como “universitário”. Ao ser perguntado sobre isso, Rodrigo não diferencia o sertanejo universitário do sertanejo romântico. “Nunca gostei de analisar gêneros musicais nesse ponto de vista. Acho um erro rotular o sertanejo desse jeito. São ramificações de estilos e ritmos dentro de um mesmo gênero, e essa variedade é o que enriquece e fortalece o sertanejo dentro do cenário musical nacional”, comenta o músico. Analisando a forma como o sertanejo toma conta do cenário musical há anos, Jota Junior enfatiza o motivo e características pelos quais as pessoas não se cansam do estilo: “O sertanejo toma conta do meio musical há vários anos. É o gênero mais estável no meio musical brasileiro e domina o mercado há décadas. Seus arranjos e melodias são marcantes, possui uma variedade imensa de ritmos, e o principal: conta a história das pessoas com uma linguagem fácil. Quem nunca se identificou com alguma canção? Quem nunca escutou alguma música sertaneja e pensou: fizeram essa música pra mim?”, explica. E quem acha que o trabalho em dupla é fácil se engana. Há conflitos de opinião e divergências entre os músicos, que precisam saber lidar com isso para que as atividades tenham sequência. Para a dupla, isso soma conhecimento. “Muitas vezes discutimos por divergência de opiniões, mas de certa forma aprendemos a lidar com essas diferenças. Hoje, usamos isso a nosso favor, como algo que vem pra somar no trabalho. O amadurecimento e as experiências das quais a gente se submeteu ao longo da carreira mostraram os atalhos para o consenso e nos prepararam para o futuro”, contou Rodrigo.

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as casas sertaNejas música sertaneja para todos os lados. o surgimento de novas casas sertanejas em curitiba é fato. Até mesmo locais que não tocavam sertanejo, hoje mudaram totalmente seu estilo ou incluíram o gênero em algum dia da sua programação. es Vedrà, Wood’s Bar, Wood’s Pub, Yankee Bar, Victoria Villa, Santa marta, rodeo country Bar, rancho Brasil, Hold’em country, Seis e meia, Alice Bar, Barn country music, Black Bull, território Sertanejo, espaço Sertanejo Batel, Akustiko Bar, ustin Bar, Santa causa lounge, momentai music & Fun, dixies Bar, o Boteco da Bola, Ahbarzen, Papo Furado – são algumas casas do gênero. também há algumas na região metropolitana, como o recanto Sertanejo e o Armazém universitário em São José dos Pinhais e o Wensky Beer Pub em Araucária. Segundo o gerente do es Vedrà, marcio Antunes rodrigues, quando a casa foi implantada, ela não tinha na sua programação o sertanejo. “quando a casa foi inaugurada, não tocava sertanejo. o estilo foi incluso como atração há mais ou menos um ano, por estar em alta no mercado da música”, afirmou. marcio disse também que, depois que a casa notou o quanto a música atraia público, o gênero prevalece no lugar. Agora, o es Vedrà abre quatro dias na semana, sendo que três deles têm o sertanejo na programação.

MudaNÇa de vIda Mas é fácil assim se tornar uma dupla sertaneja de sucesso? Engana-se quem enxerga dessa forma esses jovens que sobem ao palco e agitam o público a noite inteira. Quem olha para a dupla Huesley e André não imagina o que os dois já fizeram antes de começar a trabalhar profissionalmente com mú-

sica. Huesley já foi lavador de carros e também designer gráfico pois, na época, o que ganhava cantando não era o bastante. Com André foi a mesma coisa – antigamente o cantor era sapateiro. Atualmente, Huesley vive apenas da música e André, além da profissão de cantor, é também administrador de empresas. Nascido na cidade de Araucária, Weslen Bachega (Huesley) tem 21 anos e atualmente reside na cidade de Rio do Sul. Weslen começou a cantar com 11 anos, sempre com o incentivo de seus pais. Na época, participava do coral de uma Igreja em Araucária tocando atabaque, depois passou a cantar e tocar violão. O jovem cantou sozinho até os 14 anos, participando e ganhando importantes festivais. Após essa experiência, tentou iniciar uma dupla, que não deu certo. Em 2007, Weslen conheceu André; foi então que formaram a dupla Huesley e André, que vem fazendo sucesso. Já André tem 26 anos e começou sua carreira um pouco mais tarde, aos 18 anos. Cantou em festivais, concursos de televisão (Pop Stars, Fama e Ídolos), bares e feiras. De acordo com Huesley, ser cantor de música sertaneja é muito satisfatório, pois ele consegue ver seu trabalho realizado no público. “Não tem preço que pague quando escutamos as pessoas cantando a nossa música”, declarou Huesley. Segundo André, seu maior sonho é poder ajudar a família com seu trabalho musical: “Meu maior sonho é poder ajudar as pessoas que amo e que precisam, através da minha música”, conta. É assim a vida desses músicos, que tem como objetivo conquistar as pessoas por meio de suas canções e um dia poder ter seu trabalho reconhecido em todo o Brasil.


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Claudia Wasilewski

Não pode. Não faça. Não pense.

S

e a felicidade fosse lei, hoje estaria revogada por decreto. Ou talvez existisse um movimento pregando que felicidade incomoda, contagia e entorpece. Quem sabe uma religião nova, cobrando dízimos punitivos aos sorrisos. Sofri ataque de uma só vez de um integralista, um fascista e um rapaz com discurso apocalíptico e raivoso. Plínio Salgado, Mussolini, o Duce, e o Cavaleiro do Apocalipse se perfilaram. Até parece que foi combinado. E eu pensava que já eram lendas, como o Saci Pererê, o Curupira e o Lubiski (que é o Lobisomem de Irati). Recebia mensagens. O Integralista – Se irritou com um texto da jornalista Théa Tavares que eu havia publicado no meu blog. Disse que é de “péssimo caráter”, o que para mim é um megaelogio. Ficaria desesperada e me trancaria em um quarto escuro se a crítica viesse de uma pessoa bacana. Mas quando vem com um ANAUÊ junto, é claro que é risível. O Fascista – Passou horas exigindo que voltasse atrás no meu comentário de que a polícia paulista garantiu uma manifestação neonazista no MASP e desceu o cassetete na Marcha da Liberdade. Era a da maconha, que trocou de nome depois de decisão judicial. Pois bem, não entendo mesmo como podem autorizar e garantir a manifestação de pessoas que pregam a perseguição de negros,

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gays, nordestinos, judeus e tudo o mais que não os agrade. O Cavaleiro do Apocalipse – Não vou reproduzir aqui nem uma palavra dele. Inclusive, acho que sofre de esquizofrenia. Não está sozinho nunca. Depois de passada a minha brabeza, me deu até pena. Como pode uma pessoa ter um texto tão raivoso. Apocalíptico mesmo. Podem vir em fila. Sou a clássica baixinha e encrenqueira. Esse tsunami moralista não me dá caldo. Desancar o Sarkozy e a Carla Bruni, o Michel e a Marcela Temer, só pode ser inveja de homens e mulheres. Homens gostariam de tê-las e as mulheres provavelmente nasceriam de novo para ter aqueles rostos e corpos. Diferença de idade? Golpismo? Afinal, de quem? Engraçado que o meu olhar tão crítico, de que tantos reclamam, não enxerga nada disso. Não me incomoda. Poucas coisas me tiram do sério. Não sofro mais dos arroubos da paixão ideológica. Confesso que me diverti muito com o galinha verde, o camisa preta e com o maluco. O ideal é o equilíbrio ente tradição, família e propriedade, e sexo, drogas e rock n’roll. O que tem me descompensado são as suásticas nos muros de Curitiba. Prestem atenção em como estão ocupando espaço. Isto sim é sinal do fim dos tempos. Tenho vontade de pegar uma lata de tinta branca e sair por aí apagando e pagando de doida. Não é possível achar normal o crescimento nazista.

A intolerância religiosa batendo na porta. Mais uma pergunta: alguém já recebeu a visita de um ateu tentando fazer negar a existência de Deus? Eu nunca. Mas em cada esquina e em cada ponto de ônibus tem alguém querendo me converter. E eu nem sei ao certo a que. Já me sinto torrando em uma fogueira da inquisição. Claudia à pururuca. Credo! Quanto retrocesso. O que eu quero é pensar livre/mente. A única vez que lembro ter sofrido censura foi em 1981, por conta de uma redação. Um rolo tão grande que acabei suspensa. O tema era A IMPORTÂNCIA DO JOVEM NA SOCIEDADE. Resumo da ópera. Disse que enquanto não existisse o voto aos 16 anos e eleição direta para presidente, não tínhamos importância alguma. Se em 1981 me contassem que, em 2011, o que existe de mais preconceituoso e reacionário estaria com toda esta força, perguntaria se era maluco ou se estava em uma viagem de LSD. Ops, falei em LSD.

Claudia Wasilewski é empresária e cronista da Revista Ideias. claudiawas.blogspot.com


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ISABELA FRANÇA

Saiu daqui

ETERNOS Um restrito grupo com não mais de 20 mulheres passou a tarde do dia 8 de junho com a joalheira Rita Cooper apreciando jóias de tirar o fôlego. Os diamantes, é claro, foram as estrelas do evento. As peças apresentadas na R. Cooper’s confirmam a crença dos antigos gregos que pensavam ser os diamantes estilhaços de estrelas caídos do céu. A coleção de rivieras, algumas com até 80 centímetros longos, mostra os superpoderes e a beleza eterna destas pedras. As novidades em diamantes negros foram o destaque da feira de Basel, na Suiça, considerada a maior feira do setor do planeta, onde Rita marca presença todos os anos. Esther Casagrande, Zélia Tacla, Monica Gulin, Mirna Lopes, Florlinda Andraus Graziela Fuzzo, entre outras amigas e clientes estiveram no elegante endereço, no Bom Retiro, para conhecer os pequenos tesouros ainda mais belos quando exibidos pela modelo Cris Brambilla Krause. 70

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Um curitibano no mínimo sui generis está entre os primeiros escritores brasileiros com lançamentos comparados a Harry Potter e O Senhor dos Anéis. Talal Husseini, autor de Paz Guerreira, está comemorando o sucesso de vendas de sua primeira obra que está prestes a se transformar em animação e longa-metragem. Com personagens guerreiros, mestres e discípulos, além de cavaleiros que se confrontam com vilões, magos e criaturas terríveis, as batalhas são travadas dentro do coração dos homens deixando claro que cada um de nós constrói seu próprio destino a cada instante, em cada escolha. O enredo envolve o encontro de dois mundos num cruzamento de histórias e personagens de diferentes épocas. “As vidas destes personagens se entrelaçam de maneira profunda dando vida a uma nova civilização estruturada em eixos formados por virtudes: é a flor de 16 pétalas”, explica o autor.


LAURENT GROLLEAU Sua pas-

Christine Bley A arquiteta curitibana Christine Bley faz sucesso em solo portenho. Numa parceria com a também curitibana Daniela Saad e com a argentina Leilane Buschmann de la Rua, criou a Maria Antonieta Dulces, confeitaria especializada em brigadeiros gourmet. O empreendimento fica em Buenos Aires e fez do doce brasileiro item obrigatório em festas e comemorações da embaixada brasileira. O famoso mix de chocolate e leite condensado com assinatura da Maria Antonieta está no menu do Alvear, ícone da hotelaria argentina, sinônimo de luxo e elegância. Christine conta que quando morou na Argentina notou que muitos brasileiros reclamavam de não encontrar brigadeiro por lá. Daí surgiu a idéia. A receita foi adaptada ao paladar argentino e incluiu o chocolate belga em vez do chocolate ao leite usado no Brasil. Com extremo bom gosto, a arquiteta aproveita seu conhecimento para elaborar as embalagens especiais em diversos tamanhos para os 18 sabores. O toque brasileiro está em tudo, inclusive no tradicional brigadeiro de colher, servido num potinho pronto para ser degustado às colheradas. Com sucesso dos doces nas festas, a Maria Antonieta lançou outra novidade: as mesas de chás. Aliás, muitos mais adequado para fechar as noites, o chá tem inúmeras opções de sabores e sofisticados serviços.

sagem por Curitiba marcou para alguns poucos que conheceram o talento de Laurent Grolleau. O chef patissier francês comandou, entre 2003 e 2005, a L’Opera confeitaria de luxo e seu primeiro empreendimento no Brasil. Formado pela Escola do Chocolate de Cacao Barry Callebaut e pelo Curso Superior de Confeiteiro, Chocolateiro, Sorveteiro e Confiseur da Ecole Hôtelèire de Paris, só depois de mudar-se para São Paulo, Laurent tornou-se um dos ícones da pâtisserie brasileira. Sua paixão é inventar sabores, mesclando ingredientes tropicais e nacionais, sempre com matéria prima selecionada. Laurent prefere dizer que o desconhecimento do público curitibano em confeitaria abriu a brecha para que a rede de hotéis Hyatt o levasse. Hoje, Laurent comanda toda a área de pâtisserie da rede na América do Sul. Laurent Grolleau foi professor da Le Cordon Bleu e publicou o livro “Sobremesas e suas técnicas”, o único no mundo que relata as técnicas da pâtisserie, tidas como grandes segredos.

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ISABELA FRANÇA

A PAIXÃO DE JCR O empresário João Carlos Ribeiro sucumbe mais uma vez a sua eterna paixão. Foi eleito no dia 20 de junho, em chapa única, para presidir o Graciosa Country Club em seu quarto mandato, no biênio 2011- 2013. Sempre arrojado, João Carlos Ribeiro realizou as grandes obras como o estacionamento subterrâneo, o Centro Poliesportivo e o SPA Graciosa. Em valores atualizados, as obras realizadas por sua gestão exigiram investimentos de R$ 8,35 milhões. O presidente possui o título de sócio benemérito e é aclamado pelos sócios. O jantar do 84º Aniversário do GCC e posse da nova diretoria está marcado para o dia 14 de julho. A expectativa do quadro social é grande, pois além das benfeitorias, JCR é conhecido pelas sofisticadas festas e movimentados eventos sociais e de integração.

Namastê O Studio Yoga, criado pelo professor Francisco Kaiut e sua discípula e companheira Luciana Kaiut vai ganhar um segundo endereço. Mais do que estabelecido na Praça Espanha, no Batel, onde começou em, 2000, o estúdio tem entre seus alunos, boa parte dos curitibanos ligados em saúde e bem estar. As aulas que acontecem de hora em hora são lotadas de gente bacana de todas as idades - a maioria é composta por moradores daquele lado da cidade. O novo passo da dupla é atender a região do Cabral e arredores. Para isso devem instalar-se numa casa na região levando a mesma proposta da Praça Espanha. É sucesso na certa. 72

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São Marcelino Champagnat

TOUR GUIDE O ex-ministro Karlos Rischbieter lançou seu segundo livro, Outonal – Um amor de viagem pela Europa. Editado pela editora Kafka, Outonal passeia por mais de 30 cidades européias da França, Suíça e Itália ao contar historias de viagens de Rischbieter à Europa. Na noite de autógrafos, recebeu amigos e convidados em sua casa no São Lourenço, ao lado da mulher, Rosita, a quem dedicou a obra com 217 páginas e 33 aquarelas de sua autoria que retratam paisagens da narrativa. Com dicas de restaurantes, castelos para de se hospedar e vinhos que não podem ficar de fora, o livro é um guia de viagem.

Finalmente Foi preciso que o Supremo Tribunal Federal reconhecesse a união homoafetiva para que o Clube Curitibano, um dos mais tradicionais de Curitiba, aceitasse o pedido para incluir como seu dependente o companheiro de um sócio. Após quase quatro anos de discussões no Conselho Deliberativo do clube, o pedido foi acolhido em junho deste ano. Precisou passar pela análise de três conselhos em três gestões distintas.

O superintendente da Associação Paranaense de Cultura (APC), Marco Antônio Barbosa Cândido, a diretora de marketing da APC, Maysa Simões, o superintendente da ABEC, Paulo Serino e o diretor de marketing da ABEC, William Strauss Fleming, acompanharam o grupo de mais de 50 integrantes da Província Marista Centro Sul que viajou à França, em junho, visitar a região onde viveu o fundador do Instituto Marista, São Marcelino Champagnat. A viagem faz parte de um curso de capacitação de gestores que pretende resgatar valores da instituição. Eles também estiveram na Itália, onde foram recebidos pelos líderes da Congregação Marista Mundial. No Paraná, a Associação Paranaense de Cultura administra a PUC-PR, o Hospital Cajuru e o Grupo Lúmen de Comunicação. julho de 2011 |

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BALACOBACO

por Thais Kaniak Dennis Dubourdieu, um dos maiores especialistas em vinhos do mundo, que ministrou palestra durante o evento

vinho & gastronomia Portugal, espanha, França, itália, estados unidos, África do Sul, chile, Argentina e uruguai. quem esteve no “I Wine Gourmet Show” se deliciou com vinhos destes lugares do mundo. comecei na itália, com um Camigliano. indicação de quem já provou os melhores vinhos produzidos no planeta. Brunello di Montalcino, que durante décadas foi o ícone dos grandes vinhos italianos, foi o primeiro. Depois passei por outros europeus até alcançar os latino-americanos. no final, a África do Sul com sua uva Pinotage: cruzamento entre a Pinot Noir e a francesa Cinsault. cerca de 500 pessoas degustaram mais de 200 rótulos. no meio de tanta gente, os verdadeiros apreciadores e amantes do bom vinho tiveram dificuldade em conseguir espaço entre neófitos e curiosos. Apesar de o evento ser apenas para convidados, a ala gastronômica passou por apuro. quando tinha prato, não tinha comida. Se você queria uma pasta, tinha que contar com a sorte para ter a massa, o molho e a louça ao mesmo tempo.

nêgo entre os irmãos, teresa e miguel

Pedro corrêa de oliveira, diretor da Porto a Porto (à direita), e sua família, o filho joão Pedro (à esquerda) e sua esposa, joseane corrêa de oliveira.

camila Podolak da Porto a Porto, Adilson carvalhal e Thais carvalhal da casa Flora, ambas empresas realizadoras do Wine gourmet Show. o enólogo Wim trurter e a gerente da América latina, maíra Silva, da Fleur Du cap, nederburg e Plaisir de merle.

os verdadeiros apreciadores do bom vinho tiveram dificuldade em conseguir espaço 74

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robson chaves

É o fenômeno da proliferação da moçada do picadinho relations.


thais@revistaideias.com.br A chef leila mansur no comando da cozinha

As deliciosas sobremesas o mezzè: o menu degustação com treze porções

Simplesmente árabe Aconchegante e familiar. É neste clima que a chef leila mansur recebe os admiradores de comida árabe em seu Baalbek. não só eles, mas também os já habitués dos eventos gastronômicos. Para a ocasião, o mezzè. o menu degustação significa fartura na mesa. As 13 porções servidas não deixam dúvida. kibe cru, labne (coalhada seca), homus (pasta de grão de bico), pasta de berinjela, tabule, berinjela árabe, sfiha de carne, kibe frito, kafta, abobrinha recheada, charuto de folha de parreira, charutos de repolho, arroz com lentilhas e pão sírio. não teve como não sair satisfeita, assim como encantada pela doçura de leila, que comanda com maestria a cozinha e o restaurante – amparada por dois dos quatro filhos. guilherme ajuda a mãe com as panelas, enquanto leonardo faz as honras da casa no salão.

leila e os filhos: guilherme, que ajuda na cozinha e leonardo que gerencia o salão

Arroz com lentilhas

A família comprova o que já dizia clarice lispector: “que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho”.

“tenho o mais simples dos gostos. Só me contento com o melhor.” oscar Wilde

A labne, o tabule, o homus e a pasta de berinjela

o kibe cru

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por Thais Kaniak

juliana Sanson, diretora de tecnologia da Ahom e Fernanda monteiro, do rh da empresa Áureo monteiro jr. durante a apresentação da Ahom e os conceitos da educação orgânica

kelly knevels

naideron jr

BALACOBACO

noite orgânica kelly knevels

glamour. Foi assim a noite de lançamento do livro Educação Orgânica, do autor Áureo gomes monteiro júnior e da empresa Ahom educação. o evento aconteceu no graciosa country club com pompa e circunstância. canapés, taças de vinho, espumante e bebidas destiladas não faltaram.

o Dj Peçanha comandou as pick ups da festa

naideron jr

Áureo monteiro junior, Ana julia kloeppel e Doarcy Borghi jr.

A banda nativa Soulution Orchestra animou os convidados com Rock’n’roll, Soul Music e Swing. Twist and Shout, um clássico dos Beatles, esquentou os mais e os menos vestidos na pista de dança. o som do Dj Fabrício Peçanha foi a opção para quem quis estender a noite.

kelly knevels

os trajes de inverno renderam ainda mais elegância à noite. mas as baixas temperaturas não impediram a presença de microvestidos típicos do verão tropical. tenho amigas que dizem que mulher bonita não sente frio. eu sinto. muito.

Zé rodrigo e a banda Soulution

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A cantora lírica Diana Daniel veio de nova York especialmente para se apresentar no lançamento da Ahom.

kelly knevels

kelly knevels

convidados da Ahom no salão do graciosa country club


Amarildo henning

o coordenador do Paraná Business collection, Paulo martins, a diretora da casa cor Pr, marina nessi, o arquiteto André largura e a designer giovana kimak, que assinam a Sala vip.

Amarildo henning

A diretora nacional de franquias da casa cor, Silvana lorenzi, com a presidente do instituto municipal de turismo, juliana vosnika. o arquiteto Wilson Pinto com a diretora da casa cor Pr, marina nessi. Wilson assina o “lounge de entrada e Bilheteria” e conquistou o Prêmio casa cor Pr 2011, na categoria Projeto mais criativo.

casa cor Paraná Daniel Sorrentino

cerca de duas mil pessoas passearam pelos 50 ambientes da casa. A aglomeração foi maior nos ambientes de gastronomia e Festas, onde foi servido o coquetel. o “esbarra aqui, encosta ali” foi grande. gente demais atrás da boca livre ou fugindo da temperatura quase que polar fora da casa.

Amarildo henning

o frio do outono curitibano marcou a noite de abertura da 18ª Edição da Casa Cor Paraná. inevitável o desfile de casacos, peles, plumas e paetês.

André Bertoluci e Flávia caldeira, responsáveis pela cervejaria Stella Artois, com a presidente do núcleo Paranaense de Decoração, Zilda Fraletti.

o elevado número de convidados provocou também inconveniente logo na chegada. estacionamentos lotados. Agentes do Diretran a multar aqueles que insistiram em parar em local proibido. A saída para os não tão pontuais foi deixar os carros em terrenos cheios de lama que foram transformados em estacionamentos. os penteados e produções contracenaram com sapatos, botas e saltos encharcados de barro. É, “pé na lama” no sentido literal.

A arquiteta Francielle lucena, que assina o Deck lars grael, ao lado do famoso velejador que esteve em curitiba especialmente para a abertura da casa cor Pr 2011

os espaços da casa trouxeram propostas inovadoras. vi desde a beleza do simples a releituras de clássicos até exageros duvidosos. Para todos os gostos. uma das preocupações foi a sustentabilidade. Alguns arquitetos optaram pelo uso de madeira de demolição. Além de equipamentos e produtos ecologicamente corretos. A acessibilidade também não foi esquecida. A casa foi planejada para receber deficientes. o velejador lars grael foi homenageado com um Deck náutico que levou seu nome.

madeplast

rosangela Pauli, guilherme Bampi e liliane Paneirosi

Depois do ápice da abertura, voltei à casa cor em uma noite mais serena e menos gelada. confesso que prefiro. menos gente. menos burburinho. mais espaço. mais ar. em um coquetel para poucos, a madeplast reuniu arquitetos, designers e jornalistas. A madeira ecológica da marca foi aplicada em três ambientes e reforça a ideia de sustentabilidade da casa cor Paraná.

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Amarildo henning

Acredito que vale uma visita de dia e outra à noite. cada momento com seu charme. interessante ainda ressaltar que mais de mil pessoas participaram da produção da casa cor. “espetáculo feito pelos valores locais”, como definiu marina nessi, franqueada e diretora executiva do evento no Paraná.

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ÚLTIMAS DA MODA

por Tess Biscaia

SPFW, verão 2012 A São PAulo FAShion Week comPletou 15 AnoS. De 13 A 18 De junho Foi APreSentADo no PAvilhão DA BienAl, no PArque Do iBirAPuerA, 35 mArcAS, com toDAS AS tenDênciAS e conceitoS PenSADoS PArA o verão 2012. Selecionei AlgunS DeSFileS mAiS mArcAnteS DeStA temPorADA.

CENA DE KIKA, DE PEDRO ALMODÓVAR

REINALDO LOURENÇO ALEXANDRE HERCHCOVITCH

TUFI DUEK A coleção traz referências nacionais da tribo do Xingu para uma moda muito contemporânea e sofisticada. não cai na caracterização indígena, é sexy. o estilista eduardo Pombal acerta nas referências, a styling Flávia lafer acerta no look, e a marca ganha peso.

Hits do verão

REINALDO LOURENÇO um das coleções mais deslumbrantes de reinaldo. Sempre perfeccionista nas formas e proporção, o estilista se inspirou em elizabeth taylor e chamou a coleção de “Diamonds and Dogs”. Fez jus à diva. As peças são etéreas, sensuais. transparência, seda, cores bem claras, como o rosa bebê, e o preto, para contrastar.

Laranja nove entre dez marcas europeias como Prada, Blumarine, céline, Burberry e YSl apostaram no laranja como “a” cor do verão que agora acontece por lá.

ALEXANDRE HERCHCOVITCH herchcovitch fez uma coleção bem feminina com toques dos anos 50, 60. tem humor e sensualidade. usou cetim, xantung em dourado, rosa, amarelo, vermelho, preto. As peças têm ironia, elegância e sofisticação. CAVALERA o verão da cavalera é um arraso. o tema foi “Frida kahlo durante uma procissão do Dia dos mortos, ao som de janis joplin”. conseguiram fazer mix divertido e colorido. Atenção para as tranças, maquiagem e uso das estampas com tachas pretas, rock’n’roll com chili. RONALDO FRAGA inspirado em noel rosa, Fraga fez mais uma vez, uma coleção com raízes bem fundamentadas. o estilista traduziu nas suas peças todo o clima e poesia das músicas de noel rosa e nas marchinhas de carnaval dos anos 30. nas estampas: copo americano prateado, confetes em forma de maxipaetês, pierrôs a la noel rosa (em jacquard), bordados e listras sob transparências.

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ALINE WEBER

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Antitécnológico em vários desfiles, a preferência foi pelos tecidos orgânicos, naturais, artesanais. linho, algodão, guipir de renda.

Grafismos os grafismos geométricos estão com tudo Aparecem em muitas estampas e dão um ar “futurista” às coleções. Transparências outra tendência forte para o verão. A transparência prevaleceu em blusas, calças, casacos, tops. Maquiagem chamado de efeito “nada”, o truque é se maquiar parecendo que não está com nada. Saias longas outro hit forte. As tops todas estavam usando. Franjas As franjas são outra tendência. não nos cabelos, mas nas roupas e acessórios. Botas, bolsas, calças, blusas, brincos. tudo com ‘franjão’.

Deu o que falar Jolie

A atriz Angelina jolie posou para a fotógrafa Annie leibovitz para a campanha Core Values da grife louis vuitton. A estrela foi clicada no camboja em maio por um cachê de 7 milhões de euros, que foi doado para caridade.

A top

A top model catarinense Aline Weber apareceu em quase todos os desfiles das semanas de moda do rio de janeiro e São Paulo. A modelo platinada é musa da marca francesa Balenciaga.

A vanguarda estética de Almodóvar

A estética dos filmes do espanhol Pedro Almodóvar é tão incrível quanto os seus roteiros. quem assina maior parte dos figurinos dos seus filmes é josé maría de cossío. mas Almodóvar contou com os grandes nomes da moda em suas películas. em “kika” e “má educação” teve a colaboração de jean Paul gaultier, “carne trêmula”, karl lagerfeld, “mulheres à beira de um Ataque de nervos” foi Sonia rykiel, “volver” com Angela missoni, “Abraços Partidos” por chanel. Seu mais novo filme, estrelado por Antonio Banderas, que esteve mês passado no Brasil, chama-se “la Piel que habito” e gaultier novamente será o responsável pelas roupas.

Musa Deneuve

A linda atriz catherine Deuneve esteve no Brasil para prestigiar o Festival varilux de cinema Francês que aconteceu simultaneamente em 22 cidades brasileiras no mês de junho. Deuneve divulgou o filme “Potiche: esposa troféu” (Potiche), de François ozon, que tem também gérard Depardieu e Fabrice luchini no elenco.


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Izabel Campana

Não sou da companhia

E

ventualmente, acordo de mau humor. Não, não é raiva, mágoa ou irritação. É mau humor mesmo. O mau humor é um estado de espírito. É sensação, não sentimento. O mau humor não é direcionado como a raiva, choroso como a mágoa, reativo como a irritação. O mau humor é. Simplesmente. Em geral, ataca ao abrir dos olhos. “Por quê?”, é o pensamento que me vem à mente. Por que já é dia? Por que agora? Por que sempre comigo? Por que eu? Desse momento em diante, toda uma forma de pensar distorcida se instala e não há mais volta. Meu mau humor tem humor, não se enganem. Os mais próximos dizem que nesses dias fico até engraçada. Faço piadas de mau gosto com o mundo, sou politicamente incorreta. Mas nem tudo são flores. A interação é o mais difícil. Os chatos se proliferam. Tomam corpo e alma dos entes queridos. Todos no mais irritante bom-humor matinal. Sorrisos de propaganda de Corn Flakes. Não

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leva muito tempo para perceberem que não faço parte da companhia. Logo têm início o interrogatório e as acusações. − Tudo bem? Algum problema? (com voz doce) − Problema nenhum. Tudo bem. Tudo ótimo. Por quê? Parece que tenho algum problema? Te fiz alguma coisa? Estou aqui quieta, só. Não posso? Não consigo evitar ser abominável. Quando o mau humor se instala, vem um gosto de fel das entranhas. Um nó na garganta. Um nó na cabeça. A vontade de estar só. Por que querem que eu participe? Que eu esteja de bom humor? Não, não posso. Não consigo. Também não quero. Ouviram? Nem quero. Quero curtir meu mau humor ácido e corrosivo. O bom humor adora companhia e não se vê satisfeito até que todos participem. Finalmente, após alguma insistência e uma série de indelicadezas, meu mau humor acaba por afastar qualquer sinal de vida. Finalmente estou só. Mas não basta. O mau-humor é a vontade de nem ser. Ao menos por um minuto. A companhia de si mesmo é suficientemente irritante. E os prog-

nósticos são terríveis. Não há como se libertar dessa última e insistente chata. E que chata. Para quem nada está bom. Que aporrinha os outros, é paranóica, petulante, desagradável. Como sou desagradável! Decido que os outros pensam o mesmo. Vou conferir. − Sou uma chata, não sou? Estou te chateando com meu mau humor, não estou? Ah, a negativa irritante. Mentirosos, todos. Acham que sou idiota? Que não sei que sou uma chata? Pior! Como não se irritam? Sou tão insignificante que tamanho mau humor e irritação não causam qualquer incômodo? Determinada a provar que sou a chata mais chata do mau-humor mais mau-humorado, busco uma vítima. Não só o bom humor gosta de companhia. Como dizem os ingleses, “misery loves company”.

izabel campana é advogada


Cartas

Escreva para cartas@revistaideias.com.br REVISTA

CROSSDRESSERS

Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 117 – R$ 10,00 revistaideias.com.br ideias@revistaideias.com.br EDITOR-CHEFE Fábio Campana CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo REDAÇÃO Aline Presa, Aroldo Murá G. Haygert, Karen Fukushima, Marisol Vieira, Paula Valeska Ferronato, Pedro Lichtnow, Sarah Corazza, Thais Kaniak

Parabéns pela revista. Esta edição tem novo layout. Gostei!

Vi a reportagem. Ficou muito boa.

Vanessa Bordin

Juliana Pinque

Parabéns a toda equipe - adorei saber que Curitiba tem uma “Boa Ideia” circulando!

Linda matéria, parabéns!!! Adorei

Foi Jussara Voss quem me apresentou a revista e aproveito para parabenizá-la pelo excelente guia gastronômico apresentado na Revista de Maio 2011. Desejo muita força a todos vocês e... continuem animados com esta “Ideia” genial!!!

Beijos, tudo de bom pra ti!!! Quanto às fotos minhas que você postou adorei, obrigada! Suzana Rodrigues ENSAIO FOTOGRÁFICO

Abraço

COLUNISTAS Carlos Alberto Pessôa, Ciro Correia França, Claudia Wasilewski, Izabel Campana, Jaime Lerner, Jussara Voss, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Marcio Renato dos Santos, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Rubens Campana, Tess Biscaia COLABORADORES Eduardo Reinehr, Isabela França, Rômulo Zanini DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer TRATAMENTO DE IMAGEM Carmen Lucia Solheid Kremer

Barbara Mathieu

FOTO CAPA Eduardo Reinehr

ENTREVISTA COM LUPION

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Clarissa M. Menini, Katiane Cabral e Luigi Camargo DIRETORA FINANCEIRA Clarissa M. Menini

“Sentir como quem olha, pensar como quem anda”, versos de Fernando Pessoa, parecem revelar o olhar em movimento e o foco em equilíbrio poético e político na fotografi a de Julio Covello. Anna Maria Klüppel

Parabéns ao deputado Lupion. Umas das entrevistas mais lúcidas e inteligentes que já li sobre a política brasileira. Merece ser lida e relida.

VIRGÍNIA LEITE

Não conheço o sr. Lupion o suficiente, mas esta carta é um ato ousado e lúcido nesses tempos de governismo. Ganhou minha simpatia por ter uma ideologia clara, diferente da maioria que existe por aí. Diego

Antonio Carlos

CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Marianna Camargo, Paola De Orte, Rubens Campana PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br ONDE ENCONTRAR Banca do Batel • Banca Boca Maldita • Banca da Praça Espanha • Revistaria do Maninho • Revistaria Quiosque do Saber — Angeloni • Banca Presentes Cotegipe — Mercado Municipal • Livrarias Ghignone • Banca Bom Jesus • Revistaria Itália

Flavio Frota

Parabéns deputado, pelo menos tem coragem de dizer o que é e o que pensa, e não é mais um hipócrita, que só pensa nos próprios interesses e os dos que representa. Na próxima eleição vou pensar no seu nome.

DEPARTAMENTO COMERCIAL Marcelo Espírito Santo Rocha

Interessante se a Secretaria de Cultura do Estado do Paraná reeditasse o livreto “uma história, uma vida” com as devidas atualizações, como também, alguém que se propusesse a contar TODA a história dessa valorosa mulher. Fernando Leite

Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570 CEP 80520-250 / CURITIBA PR Tel.: [41] 3079 9997 travessadoseditores.com.br revistaideias.com.br facebook.com/revistaideias twitter@revistaideias

. Leia para saber.

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