IDEIAS 121

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R$ 10,00 nº 121 ano VIII

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www.revistaideias.com.br

novembro 2011

P O L Í T I C A , E C O N O M I A & C U LT U R A D O PA R A N Á

ECONOMIA O peso dos impostos

ENTREVISTA Mário Celso Petraglia

ESPECIAL Dalton Trevisan




Índic� colunistas

seÇÕes

Rubens Campana 12 steve Jobs e o culto da carga

editorial 05

luiz Geraldo mazza 24 agitos de rua izabel Campana 26 não é jabuticaba

Gente Fina 08

luiz Fernando pereira 27 não culpem Friedman pelos protestos estudantis no chile

prateleira 64

Fábio Campana 43 as feias e a burca

isabela França 72

marcio Renato dos santos 46 Grelina

R$ 51 bi anuais o preço pago à corrupção no Brasil 14 Fábio Campana

marianna Camargo 47 território habitável

ney leprevost a cara boa da política 18 Beatriz loyola

Frases 07

ensaio Fotográfico 50

moda - paola de orte 71

Balacobaco 76 Cartas/expediente 81 pryscila vieira 82 aRquivo pessoal

nesta ediÇão

Curtas 06

Carlos alberto pessôa 48 sou um produto do rádio ernani Buchmann 55 imponências e patetices

entrevista mário Celso petraglia 22 Fábio Campana

Rogerio distefano 60 a palavra mal escrita de Wilson martins

abib miguel um incidente de insanidade 28 marianna Camargo

luiz Carlos Zanoni 66 Capetas e querubins

kiyoshi hattanda presidente da adepol 32 mara Cornelsen

Jussara voss 68 Clos de tapas solda 70 Cartas na mesa

o peso dos impostos no Brasil 34 marianna Camargo

Jaime lerner 80 o prato do dia

o metrô em Curitiba 38 pedro lichtnow

76

perfil vânia mercer 44 karen Fukushima

38

especial dalton trevisan 56 ensaio Roça barroca 62 luis dolhnikoff

smCs

nani Gois

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Editorial Fábio Campana

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Dico Kremer, que se tornou lusitano por afeto e experiência, conta a história de um célebre mestre-de-obras português dos tempos da batalha de Aljubarrota. Incumbido de reconstruir uma imensa cúpula de mosteiro, que acabara de ruir e que ninguém mais acreditava que pudesse ficar de pé, resolveu reerguê-la sobre sua própria cabeça. Sentou-se debaixo dela, enquanto os operários trabalhavam, e só saiu dali depois de completada a obra e comprovada sua admirável e lusitana solidez. A maior diferença entre as construções da arquitetura religiosa e as criações da engenharia política brasileira está aí. Na política, não só o eventual mestre-de-obras, mas nós todos, vassalos e suseranos do sistema, somos de algum modo obrigados a carregá-lo nos ombros até que ele desabe, o que algumas vezes acontece. Quando pensamos na carga tributária de 40% do PIB, na corrupção que nos rouba R$ 51 bilhões por ano e na máquina burocrática mamutiana que engole o resultado de quatro meses do esforço nacional para produzir, percebemos que sustentamos sobre a cabeça algo mais pesado e incômodo que a cúpula do mosteiro português. Pois, pois, Ideias deste mês de novembro, em que se comemora a proclamação da República, apresenta o retrato do governo Dilma Rousseff emoldurado pelos escândalos de corrupção. Tantos e tão recheados de incidentes vexatórios que há quem diga que só é possível avaliar a administração pública na esfera do Código Penal. A verdade, mesmo que doa aos fanáticos da esquerda funcionária, é que a corrupção se tornou a marca principal do governo em nove meses de Dilma Rousseff na presidência. A gangsterização da política foi escancarada aos olhos da população. E fica evidente que ela tem impedido Dilma de alcançar índices mínimos de competência em todas as suas iniciativas. Dedicada a apagar incêndios, sufocar escândalos, manobrar para afastar os denunciados antes que eles contaminem definitivamente a imagem do governo, Dilma Rousseff não consegue operar com um mínimo de racionalidade com tanta gente ocupada em roubar e outro tanto a se esconder da Polícia Federal. Os adeptos desse governo do PT consorciado com o PMDB se apressam a dizer que as coisas não andaram assim tão más. Eis aí um critério de apreciação, quando menos, um tanto primitivo. Um dos talentos de Lula e por extensão da banda petista é o de tratar coisas complicadas em termos populares, ou popularescos, simplistas. As origens desse modo de ver palaciano são simples, claras e limpas como um salão de forró. Para a turma no poder, ela chegou onde está para proteger os interesses do povo e da pátria, portanto é a única que tem a verdade e o direito de fazer o que bem entender. A única coisa que incomoda essa tigrada é a imprensa que insiste em mostrar as entranhas e as mazelas do governo. Quando isso acontece, a primeira resposta é sempre aquela. Quem critica é da oposição e, sendo da oposição não tem a verdade, logo deve ser contestado e injuriado. São os tempos. Nem o mestre-de-obras lusitano do Dico Kremer conseguiria reformar esta nossa arquitetura político-institucional.


Curtas Entidades, governos estaduais e prefeituras que fi rmaram convênio com o Ministério do Esporte, de 2006 até o primeiro semestre deste ano, terão que devolver ao governo federal R$ 49,19 milhões. Esse dinheiro corresponde ao total de 67 convênios do ministério com essas entidades. Segundo a Controladoria Geral da União (CGU), os recursos foram mal gastos e não houve comprovação dos investimentos. As organizações não governamentais respondem pela maior parte do débito: R$ 41,62 milhões (85%). A dívida das prefeituras e estados soma R$ 7,57 milhões (15%). O maior pedido de ressarcimento é contra a Universidade do Professor, do Paraná, no valor de R$ 7,5 milhões. Na época, o secretário estadual de Educação era Mauricio Requião.

Super luxo Equipados com rádio compatível com iPod e iPhone e película antivandalismo nos vidros laterais e traseiros, os novos carros dos senadores já podem ser vistos na Chapelaria, entrada do Congresso. Os sedãs de modelo Renault Fluence são alugados pelo valor mensal de R$ 1.990 da empresa a LM Transportes, Serviços e Comércio Ltda, que ganhou a licitação em agosto deste ano. O Senado decidiu alugar, em vez de adquirir os novos carros, sob a justificativa de que é uma alternativa mais barata, já que caberá à empresa a manutenção dos veículos.

FIM DO EMBARGO

KADAFI MORTO

DIVULGAÇÃO

O Coronel Muammar Kadafi foi morto no dia 20 de outubro durante a ocupação de Sirta, importante centro das forças de resistência. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, defendeu que a ONU estabeleça um cronograma de democratização da Líbia.

A Assembleia Geral da ONU exigiu dia 25 de outubro o fim do embargo comercial, econômico e financeiro imposto pelos Estados Unidos a Cuba desde 1962. Em meio a fortes críticas dos Estados Unidos, a resolução anual foi aprovada por 186 votos contra dois – dos EUA e de seu aliado Israel – com três abstenções. No ano passado, foram 187 votos a favor. Esta foi a 20ª vez que o governo cubano apresentou um projeto de resolução no organismo internacional para pedir o fi m das sanções americanas contra a ilha.

Retirada das tropas O governo dos Estados Unidos anunciou oficialmente a decisão de retirar todas as tropas americanas que ainda estão no Iraque até o fi m deste ano, afi rmou o presidente Barack Obama dia 21 de outubro.

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ÁTILA ALBERTI

Pesquisa divulgada dia 18 de outubro pelo IBGE mostra que quase metade (44,8%) dos municípios brasileiros não tinha rede coletora de esgoto em 2008. As diferenças regionais, porém, são grandes: enquanto no Estado de São Paulo apenas Itapura estava nessa situação, na região Norte as cidades sem o serviço chegavam a 96,5% do total.

VIOLÊNCIA

Mais da metade dos brasileiros (51%) reprova as condições de segurança no país e pelo menos 80% da população já mudou de hábitos diante da escalada da violência. Divulgada dia 18 de outubro pela Confederação Nacional da Indústria e pelo Ibope, a pesquisa “Retrato da Sociedade Brasileira: Segurança Pública” revela ainda que 79% presenciaram algum tipo de crime ou situação de violência nos últimos 12 meses.

Cristina eleita

PRESIDENCIA DE LA N. ARGENTINA

ONG PARANAENSE NO IMBRÓGLIO

Saneamento básico

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi reeleita com mais de 50% dos votos. Desta forma, Cristina, candidata da Frente pela Vitória, uma sublegenda do Partido Justicialista (Peronista), obteve um novo mandato presidencial que concluirá em 2015.


Frases ROOSEWELT PINHEIRO ABR

“Voto Ninja: Não existe, não está ali e de repente aparece” Vereador e pastor Valdemir Soares (PRB) no meio da troca de ofensas que ocorreu no fim da sessão do Conselho de Ética que discutia o caso “Derosso” na Câmara Municipal de Curitiba

“Pastor do Diabo” Do presidente da Femotiba, Edson Feltrin, para o vereador Valdemir Soares, do PRB, após ser provocado pelo vereador, que o acusou de promover protestos na Câmara à base de distribuição de lanches e de ser “vendido”

“Nós esclarecemos todos os fatos. Trata-se de uma mentira, de uma farsa. Vamos trazer a verdade à tona.” Orlando Silva, Ministro do Esporte, rebate as denúncias contra a pasta

“Capitalismo precisa acabar” O cineasta americano Michael Moore acredita que o capitalismo praticado no século 21 é um sistema “maligno”, um modelo econômico que precisa acabar

“Ser o homem mais rico do cemitério não me interessa. Ir para a cama à noite dizendo que fizemos algo maravilhoso, isso importa para mim”

Deputado Douglas Fabrício (PPS), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades nos portos do estado. As dívidas trabalhistas somam mais de R$ 700 milhões de reais

Steve Jobs The Wall Street Journal, 1993

“É a vitória da democracia, da lei e da razão”

FREDERIC J. BROWNAFP

O presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, assim que a organização terrorista ETA anunciou dia 19 de outubro o fim definitivo de suas atividades armadas

“Há várias décadas Sarney escreve todos os dias. Incrível – ainda não conseguiu preencher o espaço que há entre ele e a literatura” Millôr Fernandes no twitter

“Metaleiros são maconhados” Deputado estadual Magno Bacelar (PV-MA), vice-líder do governo da Roseana Sarney (PMDB) na Assembleia Legislativa do Maranhão, afirmou que “muitos dos metaleiros” que foram ao Rock in Rio e xingaram o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), durante o show da banda Capital Inicial são “drogados e maconhados (sic)”

Calor Ghosn, presidente mundial da Renault:

O ex-governador Roberto Requião rebateu:

“Não fomos bem tratados nos últimos oito anos. Nesse período, visitei a fábrica todos os anos e nunca encontrei o governador”

“Veja só, ele queria que o governador do estado estivesse lá, na porta da fábrica, todo pressuroso, genuflexo, de mãos postas, dizendo bwana, bwana”

J. FREITAS

“Ou acabamos com as ações trabalhistas ou as ações trabalhistas acabam com os portos paranaenses”

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gente

FINA

Zen

A ioguine Cláudia Rocha é a mais preparada das mestras da ioga em Curitiba. Sua formação é em letras. Mas desde a universidade se interessou pela cultura da Índia e especialmente pelas tradicionais disciplinas físicas e mentais da filosofia hindu.

dico kremer

Cláudia não limita seus conhecimentos à técnica e a alguns princípios religiosos do budismo e do hinduísmo. Ela vai fundo em seus estudos. Não sei de outra pessoa que esteja a estudar sânscrito para ler alguns dos textos da tradição que originou a ioga. Dos Vedas aos Tantras. Não é por acaso que ela é a ioguine dos intelectuais nativos. Ela não promete levitação. Mas depois de uma sessão de ioga com Cláudia Rocha, ou de uma longa conversa com a mestra, a sensação é a de estar pairando no ar. Sem dizer que ela é, além de inteligentíssima, a mais bela ioguine desta área do planeta. Fábio Campana

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Eduardo Reinehr

FINA

O outro Figueiredo Basto Figueiredo Basto. Melhor, Antonio Augusto Figueiredo Basto, o grande criminalista, não se dedica apenas ao Direito. Sua biblioteca doméstica é impressionante. Leitor voraz, Figueiredo tem paixão pela literatura. O outro interesse é pelo cinema, mas ele dispensaria qualquer filme, mesmo o 8 ½ de Fellini que é o seu preferido, por um bom livro. Agora saibam todos. Além de ler, Figueiredo escreve e não só inteligentes defesas. Ele escreve ficção. Especialmente contos. E logo teremos a sua obra nas livrarias. Hoje, adormece na gaveta do modesto Figueiredo, que relutou muito antes de ceder aos apelos para publicação. Quem viu, gostou. Eu vi. Aguardo a edição. Fábio Campana

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gente

claudia serathiuk

FINA

A criativa

Luciana O

Estúdio Duas Formigas é o laboratório de criação da designer Luciana Muniz. Lá ela encontra soluções de design gráfico e produto para clientes ligados à moda, gastronomia, educação, cultura, design e arte. Criação de marcas, projetos de identidade visual, impressos, criação e desenvolvimento de sites e projetos de produtos, como atualmente o desenvolvimento de produtos pet são o forte do estúdio. Luciana apoia o grupo de proteção animal Tomba Latas. Fez a marca e todo o material de divulgação do primeiro ano. O sucesso foi tão grande que hoje o grupo tem vários designers e artistas apoiadores. Por este motivo, abriu outro mercado: o Design Pet. Logo estreia na web A Dama e o Cachorrinho, título de um conto de Tchekov, inspiração para a loja de produtos de design com o tema cão, ou seja, produtos para humanos inspirados no cão, camisetas, livros, literatura, luminárias, buttons, etc, e também produtos para o cão. O slogan é “design de estimação e um dono babão”. Tudo para o cão e o dono. Muitos dos produtos foram desenvolvidos pelo Duas Formigas e levam a marca da A Dama e o Cachorrinho, produto novo no mercado pet no Brasil. Luciana cria tudo com uma pitada de infância e humor. Para conhecer mais: www.duasformigas.blogspot.com Marianna Camargo

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gente

FINA

Professor

Aroldo

Aroldo Murá prepara novo livro de perfis de paranaenses ilustres. Um trabalho que ficará para sempre na ordem de livros de referência. Livros de consulta obrigatória. Sua paciência para investigar, colher dados e traduzi-los em perfeito retrato é raro. Mais raro ainda encontrar quem o faça com a qualidade do texto que é marca dos trabalhos de Murá. Modesto, avesso às pompas e circunstâncias, o bom professor Aroldo fez pela obra biográfica paranaense mais do que décadas de estudos históricos universitários. Só isso justificaria uma existência. Mas Aroldo Murá deixará em sua própria biografia a marca do estudioso das religiões, do excelente editor e crítico de arte e literatura. Fábio Campana

Julia

Mãos de Tesoura Julia Lima é daquelas cabeleireiras que dá para confiar de olhos fechados. Não é para menos. Gosta de novidades e está sempre antenada para novos desafios. Acaba de voltar de Paris. Viagem de férias? Não. Trabalho mesmo. Julia foi ampliar seus conhecimentos. Fez curso em duas academias: Jean Marc Jouber e Jaques Dessanges. O sonho de menina virou realidade. Julia começou a praticar suas habilidades na infância. Cortava o cabelo dos irmãos, que na época serviam de cobaia dos seus dotes. Hoje faz a cabeça dos clientes – literalmente.

arquivo pessoal

Por trás da Julia mãos de tesoura, tem a Julia que pratica dança do ventre. Se quiser agradá-la, aposte em um livro da Zíbia Gasparetto. Ou então em love songs. Ainda mais depois de voltar da romântica Paris. Thais Kaniak

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Rubens Campana

Steve Jobs e o culto da carga

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os anos que se seguiram imediatamente à Segunda Guerra Mundial, uma série de movimentos milenaristas varreu a Melanésia: eram os chamados “cultos da carga”. Na Oceania, a extremo oeste do Oceano Pacífico e a nordeste da Austrália, nas várias ilhas próximas a lugares como as Molucas, Nova Guiné, Vanuatu e Fiji, surgia um novo tipo de religião, que aparecia na esteira do contato intenso entre os nativos e os soldados dos exércitos japonês e norte-americano que por ali passaram durante o curso da Guerra. Esses contatos levaram a um aumento substancial dos bens materiais disponíveis aos ilhéus da Melanésia, o que teve fim com a retirada militar. Vestuário, remédios, alimentos enlatados, barracas, armas e outros bens chegavam em grandes quantidades para os soldados, que muitas vezes compartilhavam algo com os nativos que eram seus guias ou anfitriões. Os nativos das sociedades pré-industriais tribais observavam os combatentes japoneses e norte-americanos trazendo grandes quantidades de produtos — a carga dos aviões — e passaram a desejar algo similar. Com a fim da Guerra, profetas locais passaram a prometer o recebimento das cargas enviadas por ancestrais que, segundo alguns cultos, assumiriam forma física similar à de norte-americanos. O foco dos cultos da carga é na obtenção da riqueza material — a carga — da cultura avançada, através de rituais mágicos e práticas religiosas. Os membros das seitas acreditam que a riqueza que chegava às ilhas era destinada a eles por suas divindades e por seus antepassados, e que os novos inquilinos se apoderavam dessas cargas. Quando a guerra terminou, as bases militares foram fechadas e o fluxo de produtos cessou. Em uma tentativa de atrair novamente a entrega dos bens, os seguidores dos cultos construíram arremedos de pistas de pouso, copiaram o formato das aeronaves e montaram similares feitos de madeira e palha, criando até mesmo cópias artesanais de equipamentos de rádio, imitando o comportamento que haviam observado nos militares. Há indícios de que os primeiros cultos da carga

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apareceram já no século XIX, com a primeira chegada de quantidades significativas de ocidentais àqueles lugares. Comportamentos semelhantes foram observados em outras partes do mundo. Estudos recentes sobre a Grande Fome na China de Mao apóiam uma teoria simples e chocante do comunismo: a de que ele foi o maior culto da carga que o mundo já viu. Revolucionários comunistas sempre foram ótimos em tomar o poder, mas o horror nunca terminou por aí. O poder absoluto nas várias experiências comunistas foi usado como trampolim para outro objetivo: imitar características aleatórias das economias avançadas, não importa quantas vidas isso custasse. Vejamos o caso do aço. Dado que os países avançados produzem grandes quantidades de aço, e que países atrasados não produzem nenhum, os comunistas se esforçaram para acumular grandes pilhas de aço — ou ao menos algo que vagamente se parecesse com aço. Como explica o economista Bryan Caplan, citando o historiador Frank Dikötter: “Aço foi o ingrediente sagrado na alquimia do socialismo. A produção de aço magicamente destilava todas as complexas dimensões da atividade humana em um único e preciso número, que indicava onde estava um país na escala da evolução”. Durante o “Grande Salto para Frente”, centenas de milhões de camponeses foram obrigados a jogar seus utensílios e ferramentas de ferro perfeitamente utilizáveis dentro de fornos de quintal para fundir todo o pseudo-aço inútil que fosse possível. Quem precisa de facas e enxadas? Países modernos produzem aço. A produção de tecido foi outro fetiche do regime maoísta: a indústria de roupas era um campo de batalha onde a supremacia comunista precisava ser afirmada. Lençóis chineses inundaram o mercado internacional, enquanto agricultores enfrentavam o inverno sem roupas forradas de algodão. Tudo para que a China pudesse reivindicar o título de terceiro maior exportador de panos do mundo — ao invés de ser o quinto. O Brasil arrisca viver agora sua própria versão de culto da carga. Países avançados produzem aparelhos reluzentes e complicados. O Brasil

precisa ser um país avançado, logo deverá produzir iPads, tudo sob a supervisão de Aloízio Mercadante, grande timoneiro à frente do nosso Ministério da Ciência e Tecnologia. Mas assim como derreter utensílios de ferro não faz um país ser industrializado, e assim como falsas pistas de pouso e aparelhos de rádio feitos de palha não trazem aviões cheios de carga, generosa ajuda do BNDES para que empresas estrangeiras produzam aparelhos complicados e reluzentes não fazem um país estar na fronteira da tecnologia. A morte de Steve Jobs colocou em debate o papel do inventor. E independentemente das suas opiniões pessoais sobre Steve Jobs — se ele era um gênio, inovador, visionário, ídolo grotesco do consumismo ou mero criador de bugigangas — o fato é que, de acordo com uma matéria recente da revista Portfolio, Steve Jobs produzia mais de US$ 30 bilhões por ano em riqueza. E é difícil argumentar que há algo de errado em transformar uma empresa que valia US$ 2 bilhões em uma empresa que vale 350 bilhões, gerando no caminho empregos, bem-estar e muita tecnologia. A maior lição que se pode tirar da história de vida de Steve Jobs é a de que não é uma fábrica de iPads que torna um país a maior potência científica do mundo, como é o caso de um Estados Unidos em declínio relativo, mas onde ainda mais se inova e se registram patentes. O que faz um país estar na fronteira da tecnologia é possuir homens como Steve Jobs. E incentivos do BNDES não produzem homens como ele — isso apenas é possível em uma cultura saudável de empreendedorismo e criatividade industrial, onde ideias melhores possam vencer ideias piores, e criadores de riqueza possam reter os ganhos monetários de suas invenções. A opinião expressa nos artigos é exclusi­vamente do autor e não reflete a posição do Ministério das Relações Exteriores.

rubens campana é diplomata


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Reportage�

R$

51BI

ANUAIS,

O PREÇO PAGO À CORRUPÇÃO NO BRASIL Fábio Campana

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governo Dilma Rousseff começou sob o signo da corrupção. Não há nada mais forte na memória dos brasileiros sobre os primeiros nove meses de sua administração que os escândalos de corrupção. Pode-se dizer que no prazo de uma gestação o governo Rousseff pariu um monstro que eleva a indignação da população às alturas. E produz um crescente movimento de moralização da administração pública brasileira que ganha as ruas com o ruído de protestos que irrita governantes. A imagem da presidente Dilma, dizem as pesquisas, ainda não sofreu arranhões. Ela aparece nesse enredo no papel de Joana D’Arc contra os demônios que não resistem à tentação de misturar o dinheiro público com o privado. Até quando resistirá, nem os mais ousados profetas da vida política brasileira sabem dizer. Mas é óbvio que a marca dos escândalos não será removida nem com o mais poderoso detergente do moralismo que restou de antigo discurso petista. Foi demais para o coração e mente dos brasileiros. A sucessão de escândalos envolvendo membros do governo e de sua base aliada, especialmente os principais partidos de sustentação, o PT e o PMDB, alastrou-se pelos menores, como o PC do B, que gozava da imagem de resistente aos estragos da desonestidade geral que desgraça a Nação. Os muito ingênuos e os muito cínicos costumam dizer que a corrupção não representa grande coisa no montante do PIB e da arrecadação. Pois, pois, não só não é pouco como não pode ser admitida como mal menor, tipo sarampo e outras mazelas infantis facilmente curáveis. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, FIESP, fez estudo que calcula os custos econômicos da corrupção. — Numa estimativa conservadora, as perdas representam cerca de 1,4% do PIB a cada ano”, diz Renato Corona Fernandes, coordenador do estudo. Na hipótese mais extrema, o prejuízo chega a 2,3% do PIB. Em relação ao produto interno bruto de 2010, isso significa que, no mínimo, 51 bilhões de reais foram engolidos pela banda-

lheira. Como se vê, não é de somenos. A quantia é superior à que o governo investe anualmente em infraestrutura. Pasmem, senhores. Se essa quantia de R$ 51 bilhões fosse inteiramente aplicada em habitação popular, a população de baixa renda teria 918 000 casas construídas pelo programa Minha Casa, Minha Vida 2. Seria o suficiente para cumprir quase metade da meta da fase atual do programa, que prevê a entrega de 2 milhões de moradias. Se o investimento fosse em saneamento, permitiria ligar à rede de esgoto 16 milhões de

há dois brasis: um gordo e opuLento que Leva 40% do pib e outro magro e trabaLhador residências, reduzindo 60% do déficit no setor. Daria para construir 78 aeroportos com capacidade para 5 milhões passageiros por ano. Ou 40 mil quilômetros de rodovias. Ou 21 quilômetros de ferrovias. Ou 58 mil escolas. Quer mais? Com esse dinheiro que vai pelo ralo da corrupção o governo poderia matricular 25 milhões de crianças e mantê-las na escola da creche ao 5º ano do curso fundamental. O equivalente ao total de alunos dessas séries no país. O dramático é que a corrupção não se limita a ceifar recursos. “Ela também encarece as obras que saem do papel”, diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da FIESP. Uma das modalidades da corrupção é criar dificuldades

que atrasam o andamento dos projetos, impondo custos extras, e ainda cobrar por fora para retirar os entraves.

radioGrafia da corruPção O estudo da FIESP tomou como base a pesquisa da Transparência Internacional, entidade que mede a percepção da corrupção em 178 países. O levantamento atribui notas numa escala de 1 a 10 — quanto maior é a percepção de corrupção, mais baixa a nota. O Brasil figura no 69º lugar no ranking. Está atrás de países como os africanos Namíbia (56º) e Ruanda (66º). A nota brasileira permanece igual à de Cuba: 3,7. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a nota caiu de 4 para os atuais 3,7. “Todos os diagnósticos indicam que a corrupção se tornou crônica no Brasil”, diz o economista Gil Castello Branco, fundador da ONG Contas Abertas. “Apenas um esforço nacional, que persista ao longo de anos, poderá combatê-la de fato.” A corrupção tornou-se o principal instrumento de ação política nesta área do planeta em que o ogro filantrópico do patrimonialismo agigantou-se de tal forma que passou a contaminar todos os aspectos da vida nacional. Há dois brasis. O gordo e opulento que se farta com a enorme tributação em festins ibéricos de corrupção. Este impõe ao outro, o país magro e trabalhador. O monstro que leva cerca de 40% do PIB. É claro que o Brasil que trabalha e paga impostos fica indignado, mas não sabe bem o que fazer diante das imagens de maços de dinheiro público em caixas de papelão, meias e cuecas, os flagrantes de lobistas nos ministérios, as falcatruas de ONGs que não são que dizem ser, e as conversas telefônicas que explicitam maracutaias. Este é o espetáculo visível proporcionado pela epidemia da corrupção. Num país com enormes carências — que vão do saneamento básico ao transporte coletivo, das escolas e hospitais aos aeroportos, portos e estradas —, o desvio de dinheiro público para a corrupção é a mais deplorável e abjeta praga que enfrentamos. É bom lembrar: o dinheiro da corrupção é fruto de uma das mais vorazes cargas tributánovembro de 2011 |

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valteR Campanato/aGÊnCia senado

divulGação

ae divulGação

a presidente dilma Rousseff enfrenta agora novo escândalo e sabe que há outros em gestação. o ministro do esporte, orlando silva, foi denunciado e caiu. outro ministro na corda bamba é o do trabalho, cacique do pdt, Carlos lupi, que batalha para não ter o mesmo destino dos demais

rias do mundo, capaz de engolir cerca de 40% de tudo o que é produzido. Cada centavo de imposto desviado é prejuízo para o contribuinte tanto pelo que ele deixa de receber em forma de serviços quanto pelo impacto que tem sobre o crescimento da economia. “A corrupção está na raiz do atraso brasileiro”, diz Marcos Fernandes da Silva, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.

os ÚltiMos escÂndalos Depois da queda de cinco ministros, Dilma Rousseff enfrenta agora novo escândalo e sabe que há outros em gestação. O ministro do Esporte, Orlando Silva, foi denunciado por dirigentes de ONGs que juram que houve pedido de propinas em troca de liberações de dinheiro do programa Segundo Tempo. Outro ministro na corda bamba é o do Trabalho, cacique do PDT, Carlos Lupi, que batalha para não ter o mesmo destino dos demais. É uma das heranças que Dilma recebeu de Lula. No pacote, uma penca de irregularidade que o Ministério Público, a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União procura investigar. Voltemos ao escândalo mais fresco na memória popular, se é que já não estourou outro nestes dias. A anunciada manutenção do ministro do Esporte, Orlando Silva, não é garantia de sua permanência na pasta. Sua continuidade no governo vai depender da capacidade de Orlando estancar as denúncias e de enfrentar o bombardeio de depoimentos dos seus acusadores na Polícia Federal e na Câmara dos Deputados esta semana. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse 16

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a corrupção está na raiz do atraso brasiLeiro que a presidente Dilma Rousseff não cedeu ao “clima de histeria” instalado na mídia, mas frisou que ela aguardará os próximos dias para ver o rumo dos acontecimentos: — A presidente vai avaliar, aguardar os próximos dias. Ela tomou uma decisão, mas não dá para dizer que temos uma posição definitiva. Ela se recusa a entrar na onda sem fim. A presidente quer ter o direito de fazer a avaliação com calma, atendendo aos princípios da defesa. O governo não quis entrar no clima de histeria. A presidente teve uma atitude de cuidado, de não se prejulgarem os fatos. Transformar a acusação em confirmação não dá. A presidente já disse: “Assim não dá, não vou embarcar” — disse Carvalho. Dilma deve conversar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a situação de Orlando, ainda na berlinda. A oposição, por sua vez, quer a saída imediata do ministro e acusa Dilma de estar sendo leniente e comprometendo sua imagem positiva de quem quer fazer “faxina” contra a corrupção. Lula articulou nos bastidores a campanha pela permanência de Orlando. A assessoria de Lula confirmou que ele irá ao evento.

Segundo Carvalho, o governo adotou uma postura de serenidade. Ele negou que haja receio diante de uma reação do PC doB, em caso de demissão de Orlando. Para o ministro, o partido apenas agiu de forma firme na defesa do companheiro. Ele também rebateu argumentos de que a presidente estaria agindo de forma diferente desta vez, se comparado aos episódios de demissões de ministros do PMDB, do PT e do PR: — Das outras vezes, ela também agiu com calma. É que as pessoas (os ministros) resistiram menos — disse Carvalho, lembrando que ministros como Wagner Rossi (Agricultura), por exemplo, tomaram a iniciativa de sair para interromper a crise e as denúncias. No entendimento de Carvalho, o policial militar João Dias Ferreira — delator do suposto esquema de desvios no programa Segundo Tempo — vem perdendo a credibilidade. O PC doB, partido de Orlando, também adotou postura de cautela sobre a capacidade de resistência do ministro. O presidente da legenda, Renato Rabelo, disse que a “campanha” contra Orlando continuará nesta semana, “apesar de o ministro ser inocente”. Perguntado se a crise já acabou, respondeu: — Não temos essa ilusão. Há toda uma campanha que persiste em atingir o ministro, para que seja deslocado do governo. É para atingir o ministro e o partido. Não acreditamos que vá arrefecer assim, mas onde estão as provas?! É muita injustiça — disse Rabelo. Injustiça? O certo é que R$ 51 bilhões vão pelo ralo todos os anos por conta da corrupção em todas as áreas dos governos de todas as instâncias. O país e seu povo não toleram mais a situação. O que fazer?



Polític�

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nani Gois

A cara boa da polÍtica Ney Leprevost quer fazer do PSD um partido que seja referência de modernidade BEATRIZ LOYOLA

P

esquisa recente e de boa fonte mostra que a população tem péssima imagem da política, dos políticos e das instituições políticas. Para a maioria, a política é um fosso onde se agitam pessoas que, no mais das vezes, cuidam dos seus próprios interesses enquanto discursam sobre a felicidade geral da Nação. O povo tem razões suficientes diante dos escândalos para pensar que muitas vezes os políticos confundem o público e o privado e abrem

ralos de corrupção por onde escoa boa parte do dinheiro público. Mas nem tudo se resume a corruptos e suas artes neste vale de lágrimas. Há exceções honrosas e iniciativas novas que podem mudar o quadro e ajudar a aperfeiçoar nossa pobre democracia. Ney Leprevost é um desses homens públicos que se distinguem dos demais pela retidão de caráter e pelo estilo. No Brasil é difícil encontrar um espécime da fauna política que tenha currículo e que não tenha folha corrida. Também é muito difícil ver

quem se dedique ao trabalho sem apelar para o populismo chinfrim e estatólatra. Ney é uma dessas raras figuras da política com quem se pode falar sobre projetos, programas e planos que tenham relação direta com as necessidades sociais mais prementes. Pois não há político nesta área do planeta que tenha mais projetos e obras realizadas na área da saúde do que o Leprevost. Há anos ele se dedica a todos os tipos de campanhas para manter o Hospital do Câncer em funcionamento. Foi também presidente da Associação dos Amigos novembro de 2011 |

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Nani Gois

do Hospital de Clínicas da UFPR. Travou duras batalhas pela expansão de serviços públicos de saúde. Tem contribuições significativas na área do esporte porque acredita que a atividade contribui para a saúde geral e afasta os jovens das drogas e de outros vícios. Quem fala com Ney Leprevost não se perde no varejo das intrigas. Ele saca logo um projeto em andamento. Preocupa-se com o crescimento da criminalidade que atingiu índices nunca dantes experimentados no Paraná. Vai à luta. Convoca os policiais, identifica os pontos críticos, analisa o problema por dentro e com os especialistas para formular soluções práticas, emergenciais e viáveis. Outro exemplo que dá bem a dimensão do trabalho de Leprevost. Em projeto de lei ele propõe a realização de teste de compatibilidade (tipagem HLA – Human Leukocyte Antigen) no sangue coletado nos hemocentros paranaenses e o envio dos dados ao Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME). A dificuldade de compatibilidade genética para encontrar doadores para o transplante de medula óssea – uma vez que a compatibilidade é estatisticamente rara e demanda um banco de doadores muito grande – o REDOME foi criado e é administrado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA). Diariamente a Hemorrede do Estado do Paraná recebe milhares de doadores de sangue, aos quais é oferecida uma bateria de exames gratuitos. A inclusão da tipagem HLA – sob o consentimento do doador em termo assinado para fins de cadastro – aumentaria sobremaneira o banco de doadores do REDOME. É óbvio que a tipagem HLA e o termo de consentimento assinado pelo doador não implicam em obrigatoriedade de doação de medula óssea no caso de encontrarem um paciente compatível. Outro exemplo de conquista do deputado Ney Leprevost, que é presidente da Frente Estadual da Saúde e Cidadania, foi assegurar por lei o direito ao exame mamográfico radiológico gratuito para as mulheres no Paraná. Todas as mulheres do Paraná com mais de 35 anos de idade, mediante recomendação médica, poderão requerer na rede pública de saúde o exame mamográfico gratuito para prevenção do câncer. A lei de Leprevost também garante o mesmo direito aos homens que, por incrível que pareça, também podem ter casos raros de câncer de mama, independente de orientação sexual. Outra luta permanente de Ney Leprevost é pela liberação rápida das emendas aditivas à proposta orçamentária estadual – as chamadas emendas coletivas – que foram apresentadas em novembro do ano passado para serem aplicadas no exercício de 2011 e que ainda não foram liberadas. As 34 emendas aditivas ao orçamento do Estado

uma das conquistas do deputado Leprevost foi assegurar por lei o direito ao exame mamográfico radiológico gratuito para as mulheres no Paraná

para o ano de 2011, encabeçadas por Leprevost e conjuntamente assinadas por vários deputados estaduais, somam R$ 17.780.000,00 e destinam-se exclusivamente a hospitais, maternidades e Santas Casas do Paraná que atendem pelo SUS. “O atual governo do Estado herdou hospitais financeiramente doentes que precisam com urgência deste paliativo para adquirirem equipamentos essenciais e manterem-se ativos para que a população possa ser atendida com a eficiência e dignidade necessárias”, comenta Ney. Esse é o estilo que faz o homem parecer um estranho nesse ninho de mafagafes. Não é fácil. O político que se diferencia dessa forma costuma experimentar freqüente solidão entre seus pares. Muitas vezes a hostilidade de interesses contrariados. E o jogo nos bastidores não é para amadores. Exige uma percepção contínua dos movimentos e das cascas de bananas que aparecem pela frente. Nesse jogo bruto só sobrevivem os mais fortes e mais preparados. Para o bem ou para o mal. Nesse emaranhado os políticos como Ney Leprevost se sentiam mal vestidos em qualquer dos partidos em funcionamento no Brasil. Todos, qualquer que seja a extração ideológica, da extrema esquerda ao máximo da direita, estão contaminados pela ideologia do patrimonialismo


PSD não será refúgio para qualquer um. Há exigências rigorosas para quem pretende entrar no PSD

divulgação/AI Nani Gois

que constitui maiorias de apoio aos governos e se serve deles para os seus objetivos particulares. O surgimento do PSD foi uma saída para quem não conseguia conviver em suas agremiações. O novo partido escapa dos rótulos tradicionais ao se propor a uma prática democrática e pragmática em favor de projetos do interesse social mais amplo. E a um duro e constante combate à corrupção. Ney é o presidente do PSD em Curitiba, que logo passou a receber a adesão dos políticos de outros partidos que se sentiam desconfortáveis em seus partidos. Isso deu musculatura suficiente ao PSD para pensar nas eleições municipais do ano que vem com a chance de empinar candidatura própria a prefeito na capital. O candidato seria Leprevost. Mas é bom observar que o PSD não será refúgio para qualquer um, o que repetiria a tradição e os vícios que pretende evitar. Há exigências rigoro-

sas para quem pretende entrar no PSD. Uma das primeiras medidas adotadas por Ney Leprevost foi a de que a chapa de vereadores de Curitiba só aceite candidatos que se enquadrem na Lei da Ficha Limpa. Ou seja, que não tenham condenação criminal por órgão colegiado de juízes. — Se nós queremos ser um partido que apresenta postura diferenciada para a sociedade curitibana, temos que começar dando o exemplo dentro da nossa própria chapa, afirmou Ney. Houve quem acreditasse que ele teria dificuldades para montar a chapa completa. Enganou-se. O PSD logo recebeu vereadores que pretendem renovar o mandato e mais uma penca graúda de candidatos, 136, que não estavam na política porque não confiavam nos partidos em funcionamento. Resultado: o PSD

terá uma das chapas mais fortes para disputar as eleições para a Câmara de Vereadores de Curitiba no ano que vem. Ney é um dos deputados mais jovens do Paraná. Talvez isso ajude a explicar o seu estilo. Ele pertence a uma geração que optou pela vida pública com o desejo de mudar o caráter da política. E seu sonho maior, ele confessa, é ainda ver uma pesquisa que mostre o contrário do que pensam hoje os cidadãos, para provar que há maneiras de limpar a área e, independente da filiação e das convicções, o jogo bruto da política seja respeitável pela honestidade e princípios de seus atores. Como se vê, Ney Leprevost é um homem otimista. Pois ele justifica sua tese com o argumento de que cada vez mais a população demonstra que quer eleger novos representantes que não tenham os vícios abomináveis da maioria de hoje. Ele próprio é um exemplo. Ainda raro, mas é um começo.

o novo partido escapa dos rótulos ao se propor a uma prática democrática e pragmática

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Entrevist�

O campeão voltou FÁBIO CAMPANA

O

Atlético está em crise. Dentro e fora de campo. Desce pelas tabelas. Nunca antes na história desta Nação rubro-negra tivemos um futebol tão vexaminoso, diria Lula. Mas isso não é novidade. Novidade boa é a volta de Mário Celso Petraglia, atleticano de boa cepa, responsável pelo período mais glorioso do clube. Desde que ele confirmou sua candidatura à presidência do Atlético, os torcedores que dispõe de neurônios saudáveis trocam sorrisos e se cumprimentam com a frase que expressa a esperança de renascimento.

o caMPeão Voltou Campeão, no caso, não é o time, é o Petraglia. A via crucis atleticana dura mais de ano e tudo leva a crer que no ano que vem o Atlético vai disputar a série B. Voltar aos bons tempos. O sonho é o que une hoje a torcida. Apenas uma penca miúda de cartolas torce contra a volta do campeão. Mas aí não se trata de futebol ou de paixão. São negócios. Melhor deixar pra lá. Petraglia é reverenciado porque conseguiu ao mesmo tempo elevar o time à condição de campeão nacional e construir o melhor estádio do país. Fez mais. Construiu o melhor centro de treinamento desta área do planeta. E pôs o Atlético entre os grandes clubes à mesa das negociações com a Globo. Em 2001 o Atlético Paranaense superou seu complexo de vira-lata. Foi campeão brasileiro. 22

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o início da decadência do atLético coincide com o fim da gestão de mário ceLso petragLia Deixou de ser um time da periferia do futebol. Passou ao rol dos grandes clubes do mundo. Seu adversário de estimação deixou de ser o Coritiba, o outro time da cidade, desafiante natural nos tempos em que os campeonatos de futebol eram competições provincianas. Bons tempos. Os clássicos do Atlético passaram a ter adversários graúdos da tradição nacional do esporte. Era respeitado ao entrar em campo em qualquer estádio do país. Agora, a pergunta que não quer calar: o que derrubou o Atlético nos últimos anos? De grande clube voltou a estar entre os últimos em um campeonato de nível técnico medíocre. Consegue ter a pior defesa e o pior

ataque. Muda constantemente de técnico, única providência visível para tentar explicar a longa temporada de desastres. Ao mesmo tempo infla o seu plantel de nulidades e paga caro aos intermediários. Nenhum cidadão, atleticano ou não, que tenha ao menos dois neurônios frontais em bom estado, duvida de que a responsabilidade pelo caos é da direção atual do clube. Só os muito cínicos e os muito ingênuos são capazes de dizer o contrário. O início da decadência do Atlético coincide com o fim da gestão de Mário Celso Petraglia. Desde então o clube está nas mãos de um grupo dirigido por Marcos Malucelli. Impossível não associar os dois períodos e seus dirigentes, embora a caterva que hoje dirige o Atlético insista em encenar a sua ópera bufa na qual o vilão de fancaria é sempre o técnico. Durante o período de Petraglia o Atlético foi campeão nacional, vice-campeão das Américas (Libertadores), galgou posições no ranking mundial, superou grandes clubes como o Manchester City, da Inglaterra, e o Sampdoria, da Itália. Entre os brasileiros ficou à frente de clubes como o Vasco, o Botafogo e o Atlético Mineiro. Do Flamengo e do Coritiba. Ao mesmo tempo, Petraglia construiu o estádio. Foi a maior adição de patrimônio do Atlético desde a sua fundação, quando Joaquim Américo doou a área. Pois, pois, tudo deteriorou. Até o gramado virou potreiro.


A esperança, agora, é que em dezembro Mário Celso Petraglia, o grande condottiere, volte ao comando. Até lá, tristeza, frustração e outros sentimentos que é melhor não falar porque só fazem mal ao nosso fígado. Mas enquanto não volta, o Atlético desce pelas tabelas. Literalmente. Não há dúvida que a moderação é conveniente também na burrice. No nosso Atlético, porém, hoje não há moderação em nada. A burrice, então, é tão grande quanto o insucesso no campeonato. Há mais de uma dezena de explicações correntes para a derrocada do Atlético. Mas a verdade é que além da incompetência, dos desvarios do comandante, da mediocridade do time, deve-se acrescentar, sem medo de errar, que a burrice é um dos males que afligem o clube e se reflete no péssimo desempenho do time. Vamos aos fatos. Hoje o Atlético tem um plantel de mais de uma centena de jogadores. Pois bem, a realidade aqui desmente uma das leis da dialética. A quantidade nem sempre se transforma em qualidade. Ao contrário, quanto maior a concentração de medíocres pior é o desempenho do conjunto. Perder para o Avaí de goleada é prova provada de que a burrice não tem fim. Culpa de quem? Não custa repetir o óbvio, pois a burrice tem dificuldade para compreender até mesmo a obviedade. Culpada é a direção do clube, que contratou mal, pagou mais do que devia, montou um time ridículo que, sinceramente, envergonha qualquer atleticano que tenha brios.

Graças ao projeto de Petraglia o Atlético terá as vantagens de uma Copa do Mundo em seu estádio modernizado Não falemos no caso Morro Garcia porque ele guarda segredos que só serão revelados, talvez, quando a direção mudar e outro comando do Atlético passar a limpo as transações. Ninguém com saúde mental acredita que o uruguaio Morro Garcia custava 7 milhões no mercado. E se alguém comprou por esse preço foi por burrice ou má fé. Vamos insistir na tese da burrice. O bom é que agora não há como justificar a atual diretoria que se vai em dezembro para deixar o clube em mãos competentes. Então veremos o

CAPGIGANTE em ação e poderemos gritar, a plenos pulmões, a burrice se foi, o campeão voltou. Graças ao projeto de Petraglia o Atlético Paranaense terá as vantagens de uma Copa do Mundo em seu estádio modernizado para ser o melhor do país. Em 2014, a ARENACOPA será uma das sedes do maior evento do mundo, com mais de 3 bilhões de espectadores. É a chance histórica de valorizar a marca do Furacão em todo planeta e construir um estádio ultramoderno. O que mais repugna na atual direção do Atlético é que ela roubou-me a graça de torcer por um time vencedor e me impôs a amargura e o vexame de um futebol tão chinfrim quanto a cabeça da caterva que empalmou o poder no clube. Não gosto de perder. Ninguém que tenha saúde mental gosta de ver o seu time perder. Ainda mais depois de experimentar o doce sabor da vitória. Não gosto de disputar espaço entre os medianos. Ninguém que tenha vindo a este mundo com um mínimo de garra e ousadia se contenta em ficar entre os intermediários. O que anima os homens de coragem são os sonhos de grandeza. O resto é mediocridade, e a mediocridade é o mal que flagela o nosso Atlético nesta quadra marcada pela incompetência. Mas há luz no fim do túnel. Não há mal que sempre dure e a esperança é comemorar em dezembro a volta de Petraglia. Para poder cantar o refrão que mais gostamos: O campeão voltou. novembro de 2011 |

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Luiz Geraldo Mazza

Agitos de rua uando das manifestações contra a corrupção nas maiores cidades do país, a de Curitiba reuniu menos de 500 pessoas. Há uma espécie de bloqueio que limita esse tipo de expansão: nos tempos do “Movimento dos Partidários da Paz”, uma das múltiplas celebrações de esquerda dos anos 40 a 60, eram muito comuns comícios com um máximo de vinte participantes e com cerca de ao menos cem policiais da Dops no entorno. Falávamos, porém, como se estivéssemos como o Papa, “urbi et orbe”, sendo ouvidos pelo Universo. Se fôssemos bons de proselitismo talvez tivéssemos alguns seguidores entre tiras e delegados. Dizem que havia. Outra atuação, essa no campo da carestia, era enquadrada em movimentos como o da “Panela Vazia” que ganhava um aspecto mais belicoso com a estiagem que secava os campos e interferia, na entressafra, no preço da carne. Lembro de algumas cenas selvagens de invasão do maior açougue de Curitiba e saque de peças enormes de gado e que eram queimadas em praça pública. Inevitável a repressão e que cabia à Polícia Militar. Claro que até hoje nada excedeu em matéria de tumulto a “guerra do pente” e que sitiou Curitiba por três dias com a PM sendo obrigada a tirar o time de campo e ser substituída pelo Exército com os carros blindados do Quartel do Boqueirão. O vandalismo da multidão excitada voltou-se contra as lojinhas de árabes. Não adiantava

tentar convencer a massa a dirigir-se contra o Inter Americano, tido como símbolo do imperialismo, ou as instalações da Companhia Força e Luz porque a bronca se voltara, etnicamente, contra os árabes. Curiosamente a causa da briga era a promoção “O seu Talão vale um Milhão”, feita para aumentar a arrecadação estadual, era do “brimo” e deputado estadual Anibal Curi.

Violência “hibernada” Quando do cerco pela Polícia Militar do Centro Politécnico uma foto de Edson Jansen, muito rica, mostrando o estudante Zequinha, até hoje do PCdoB, de estilingue à mão, tentando alvejar um cavalariano que se deslocava para atingi-lo, ganhou o Prêmio Esso. O desdobramento cênico era um poema visual. Conflito parecido com a PM armadíssima para conter a multidão se deu nos anos quarenta no “Belfort Duarte” depois do jogo entre as seleções do Paraná e a do Rio Grande do Sul por ter o juiz Pereira Peixoto anulado um gol do ponta direita Batista. Nas glosas musicais do Zé Pequeno, comuns nos comentários depois do jogo, o registro da cena em rima caipira “Altevir chutou a bola// com um bom golpe de vista// Neno fez que chutou// mas quem chutou foi o Batista”.// O zero a zero terminaria em grossa pancadaria. Não havia alambrado, a sede do Coxa estava em construção e o delegado que entrou em campo com o carro forte para proteger o juiz foi o Guilherme Albuquerque Maranhão. Irrompeu o conflito e o povão pegava pedras soltas para atingir os cavalarianos. Lembro que

General Patton vistoria as tropas na Rua Riachuelo antes de visitar o Passeio Público

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o Higino, goleiro do Palestra Itália, de cima da sede do Coritiba, que estava em construção, dando uma de Sísifo, lançou uma pedra enorme em cima do carro forte. Nesses momentos de frisson a ilusão de que a revolução estava próxima, mas jamais percebemos que a perderíamos em 1964 quando também não perdíamos os agitos de rua. Desfiles de beatas com água benta nos derrotaram.

até hoje nada excedeu em matéria de tumulto a “guerra do pente” que sitiou Curitiba por três dias e a PM sendo substituída pelo Exército

luiz geraldo mazza é jornalista.


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Izabel Campana

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iz-se que a origem da palavra burocracia pode ser atribuída a Jean-Claude Marie Vincent, ministro do governo francês do século XVIII. O termo, que significa o exercício do poder por funcionários de escritórios, foi cunhado pelo francês em tom de deboche. Vejam só: a burocracia já nasceu criticada, mas continua a crescer, a crescer... No Brasil, somos especialistas. Estudo recente revelou que a pessoa jurídica brasileira gasta em média 2.600 horas por ano e usa dois funcionários para cumprir com suas obrigações tributárias. São mais de 108 dias pagando impostos. E nem estão aí contabilizados os minutos que passam sonegando. E sonega-se mesmo. Eugene McCarthy disse uma vez que “a única coisa que nos salva da burocracia é sua ineficiência”. Coisa em que, infelizmente, também estamos craques. Pois é daí que surge o famoso jeitinho. A burocracia torna o possível impossível e o jeitinho torna o impossível possível. E bem pago. Ainda na década de 1960, Peter Kellemen, húngaro naturalizado brasileiro, publicou “O Brasil para principiantes”, em que narrava suas

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primeiras incursões no País do jeitinho. A narrativa é hilária, para não dizer triste. Desde o pedido de visto para vir ao Brasil, Kellemen se depara com atalhos e contornos que visam driblar nossa histórica burocracia. Os funcionários do governo oferecem a ele facilidades, deixando o húngaro confuso até que este mesmo cede e se adapta à cultura local. Ao saber do título do livro de Kellemen, Tom Jobim, grande conhecedor da cultura brasileira, rapidamente disparou: “O Brasil não é para principiantes”. Pois é daí que surge o despachante. Porque principiante algum se vira com tanta burocracia. Essa figura exclusivamente brasileira, e que, frise-se, não é mesmo jabuticaba, é em geral um sujeito de pouca escolaridade e muito tempo disponível. Uma das primeiras ações portuguesas nesta terra de palmeiras foi a instalação da administração cartorial típica da burocracia lusitana. Dia desses precisei resolver umas questões na administração pública. Saí do escritório armada com a papelada e dirigi-me ao cartório. Senha, fila, espera. Outra repartição: cadastro, fila, espera. Mais uma: senha, fila, espera. Pois é assim que o tempo passa a ser uma moeda muito forte

no reino dos burocratas e o despachante mantém o seu espaço. “O Brasil não é para amadores” foi também a conclusão de Belmiro Valverde, que bem escreveu sobre a força da tecnoburocracia na democracia brasileira. Belmiro narra o poder que têm esses funcionários nesta parte do planeta. Pois é daí que surge o fetiche pelo pequeno poder. Balzac já dizia que a “burocracia é um mecanismo gigante operado por pigmeus”. É uma espécie de fábrica do Papai Noel onde quem decide entre os bons e maus meninos é um funcionário encastelado. E para ter chance de ver sua lista de desejos recebida pelo bom velhinho, empresários organizam o que chamam de “vem cá meu bem”. Nada mais é do que uma ação coletiva de convencimento que aplica a máxima franciscana: “é dando que se recebe”. Pois isso é o Brasil. Desde 1500, criando dificuldades para vender facilidades.

IZABEL CAMPANA é advogada


Luiz Fernando Pereira

Não culpem Friedman pelos protestos estudantis no Chile

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educação no Chile foi elogiada durante muito tempo aqui no Brasil e no mundo todo. A primeira edição de maio deste ano da Revista Veja apresentou um cenário altamente positivo do sistema educacional chileno. Os protestos estudantis inverteram as análises. A educação por lá virou maldita e já há quem tenha o diagnóstico completo: a culpa é de Milton Friedman (Demétrio Magnoli, n’O Globo, por exemplo). O raciocínio tem uma esquálida coerência. Na metade da década de setenta, no início dos tempos de Pinochet, Milton Friedman visitou o Chile e ajudou na construção do modelo econômico, como todos sabem. O sistema de educação é parte deste modelo, não há dúvida. Em linhas gerais, um bom modelo. A ideia central é distribuir educação de qualidade ao fomentar a concorrência entre as escolas privadas. Foi a partir desta premissa que os chilenos montaram um sistema híbrido, com escolas públicas (todas municipalizadas) e privadas. Entre as privadas, a participação do estado se dá com a entrega de vouchers aos alunos. Com esta espécie de vale-educação na mão, os alunos escolhem no mercado a melhor escola. Isso fomenta a competição. Já no ensino superior se cobra mensalidade mesmo nas universidades públicas, mas o Estado garante um sistema de bolsas e financiamentos para os alunos carentes. O sistema dos vouchers foi mesmo criado por Friedman na

metade da década de cinquenta e faz sucesso em países como Canadá, Suécia e, para citar outro país da América Latina, Colômbia. No ensino médio o Brasil não tem experiência concreta com o sistema liberal para a educação. Achei, no entanto, interessante estudo de Rina Nogueira da Cunha, para o mestrado da FGV, mostrando a viabilidade do sistema de Friedman especificamente no Rio de Janeiro. A comparação por aluno das escolas públicas mostra que escolas privadas que cobram mensalidades equivalentes a estes custos individuais das públicas têm desempenho bem superior. Poucos notaram, mas em relação ao ensino superior o Brasil já adota o sistema de Friedman, como já mostrei noutro artigo publicado aqui na Revista Ideias. O percentual de matriculados em ensino superior no Brasil é quase três vezes inferior ao percentual chileno. Era ainda pior no início do Governo Lula. Para melhorar o quadro o PT não apostou nas universidades públicas, mas exatamente nos vouchers de Friedman. Foi bem o PT: no ensino superior os alunos da rede pública custam seis vezes mais do que custam os alunos da rede privada. Esta é a lógica do PROUNI; a distribuição de vouchers. Inconfessadamente apoiados em Friedman, o Brasil aumentou o número de matriculados a um custo razoável. Os atuais protestos não podem nublar o ótimo desempenho da educação chilena - a melhor da América Latina, segundo o PISA da OCDE. Além de um melhor nível dos alunos,

o Chile tem 71% dos jovens no ensino médio; o Brasil 51%. O Chile tem 10,4 anos de média de anos de estudo por aluno; o Brasil 7,2%. O Chile registra patentes na proporção de 1,2 por milhão de habitantes; o Brasil apenas 0,5. E os índices só melhoram. Certo, mas então quais são as razões dos protestos dos estudantes chilenos? Juros excessivos para o financiamento estudantil. Nenhuma relação com Friedman, é óbvio. O Governo anunciou a disposição de reduzir os juros de seis para dois por cento ao ano (aqui no Brasil cobramos 3,2% ao ano no FIES, antigo crédito educativo). Uma medida que acata a principal reivindicação que estava na origem dos protestos. Os estudantes refutaram a proposta do governo. Disseram que era superficial. Agora querem mais: a estatização completa do sistema de ensino. Os protestos foram dominados pelos grupos estudantis ligados aos movimentos radicais de esquerda que aproveitam o protesto originalmente espontâneo e ligado a reivindicações pragmáticas. Estive em Santiago há poucas semanas e, curioso,

visitei a Universidade em greve e ocupada. Os cartazes revelam que agora a questão não é mais apenas a alta taxa de juros, mas (desvirtuando a proposta original) derrotar Friedman e construir o socialismo. Construir o socialismo em 2011! Ministro da Educação do regime militar, disse uma vez nosso Ney Braga ao se dirigir aos estudantes que protestavam: “os estudantes devem estar atentos para evitar que legítimas aspirações sejam desvirtuadas” (Veja, 11 de maio de 1977). É o alerta que merecem ouvir os estudantes chilenos. Menos juros; mais Friedman; nenhum socialismo.

luiz Fernando Pereira é advogado.

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Políci�

Um incidente de insanidade O ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa do Paraná, Abib Miguel, acusado de envolvimento com esquema de desvio de recursos públicos, alegou por meio de sua defesa distúrbios mentais e suspendeu os processos. Saiba quais são as definições médicas e como a Lei sustenta essas teses MARIANNA CAMARGO

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Justiça Estadual do Paraná suspendeu os dois processos criminais contra o ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa do Paraná Abib Miguel, o Bibinho. Ele deixou o cargo no dia 18 de março de 2010, depois de 20 anos no comando da Casa, suspeito de liderar um esquema de desvio de recursos públicos, contratação de funcionários fantasmas, pagamento de supersalários e problemas com aposentadorias. Segundo o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), nos dois processos criminais os desvios somam R$ 26, 5 milhões de reais. A juíza Ângela Regina Ramina de Lucca, da 9.ª Vara Criminal de Curitiba, acatou o pedido da defesa de Abib Miguel, que apresentou um laudo pericial no qual o ex-diretor da Assembleia é diagnosticado com “distúrbios psicopatológicos dentro das funções mentais” e que, portanto, estaria sem capacidade para responder aos processos. A resolução foi baseada no artigo 149 do Código de Penal. O laudo foi fundamentado por uma médica psiquiatra. Diante do laudo, a juíza instaurou o que tecnicamente se chama “incidente de insanidade mental” — termo que indica que Bibinho não está com saúde para responder aos processos. A magistrada estipulou prazo de 45 dias para que seja feito um exame ou perícia médica legal para confirmar o quadro psiquiátrico de Bibinho. Dia 19 de outubro, Abib Miguel passou pelo segundo dos três exames para avaliar se ele realmente tem algum distúrbio mental. Todos os

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exames serão realizados no setor de psiquiatria do Instituto Médico legal (IML). A reportagem da Revista Ideias entrou em contato com o setor responsável do IML para saber sobre os procedimentos técnicos usados, mas foi informada que eles não podem dar nenhuma informação sobre esse assunto. O Ministério Público e os advogados de defesa de Abib Miguel indicaram os médicos psiquiatras para acompanhar os exames.

PsiQuiatria Segundo a psiquiatra Isabela Mendonça, nem no Manual de Diagnóstico de Transtornos Psiquiátricos da Associação de Psiquiatria Americana — usado universalmente como referência diagnóstica — e nem o da Organização Mundial da Saúde existe um quadro,

apesar de existir a possibiLidade LegaL, não é habituaL sustentar insanidade neste caso

doença ou síndrome com este nome/terminologia: “distúrbios psicopatológicos dentro das funções mentais”. “Esta seria a primeira fraqueza do laudo. Portanto, sem saber do que se trata exatamente, impossível determinar causa e consequência, sintomas”, afirma a psiquiatra. Isabela explica que tudo que é psicopatológico altera as ditas “funções mentais” — desde uma depressão, até uma psicose ou uma esquizofrenia. De acordo com a psiquiatra, o procedimento utilizado para obter um diagnóstico de insanidade mental é o exame clínico psiquiátrico e psicológico, que pode ser feito por meio de entrevistas clínicas, observações e aplicação de alguns “testes”. “Um laudo sério deve descrever os procedimentos e justificá-los, contudo afirmo, com esse “diagnóstico” que não chega a ser um diagnóstico, pode ser qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa”, ressalta. Os quadros clínicos predominantes na medicina legal seriam os transtornos deficitários, que podem ser congênitos, levando à imbecilidade, debilidade mental, caso da oligofrenia ou adquiridos como as demências, por razões vasculares, infecciosas, degenerativas, etc., e transtornos de integração pessoal como esquizofrenia e psicoses. Se o acusado tiver perturbação mental, mas não seja inteiramente incapaz, a pena pode ser diminuída de um a dois terços, de acordo com o artigo 26 do Código Penal. Nesse caso ele será considerado relativamente incapaz, mas se condenado tem que cumprir pena em estabelecimento prisional, conforme a pena de reclusão aplicada.


divulgação divulgação

Abib Miguel, o Bibinho, comandou por 20 anos a Assembleia Legislativa do Paraná. Foi afastado em março de 2010 envolvido em um esquema de desvio de recursos públicos.

LEi Imputabilidade é, segundo o Código de Processo Penal, a capacidade de entender que o fato praticado é ilícito e suas consequências. Portanto, inimputável penalmente é aquela pessoa que não tem idade legal, menor de dezoito anos, ou aqueles que são portadores de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato. Uma vez provada a existência de doença mental o processo será primeiramente suspenso por tempo determinado pelo juiz, até que o acusado se recupere, podendo o juiz determinar a internação do acusado em manicômio judiciário. Se o acusado não se recuperar, deve ser absolvido, isto é, fica isento de pena, pois não tem condições mentais de entender os atos que praticou. Nessa hipótese o juiz poderá aplicar medida de segurança, que tem caráter de pena. Uma vez aferida sua periculosidade, determinará o tempo mínimo de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou em estabelecimento adequado.

O prazo para o exame é de 45 dias, podendo ser prorrogado conforme a necessidade dos peritos. Se ele não for considerado inimputável, o pro-

provada a existência de doença mental o processo será suspenso podendo ser internado em manicômio judiciário

cesso continuará normalmente, com a sentença de mérito, pode ser absolvido ou condenado. O diagnóstico de incapacidade somente pode ser dado pela perícia médica psiquiátrica e deve ficar provado que o acusado é portador de doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado.

Outro lado Em entrevista ao site G1, o advogado de defesa de Abib Miguel, Eurolino Reis, disse que a causa dos problemas psiquiá­ tricos do cliente, de 73 anos, foram os traumas sofridos nos últimos tempos. O advogado alega que Bibinho está fazendo tratamento psiquiátrico há cinco meses devido a mudanças de comportamento. O procurador de Justiça Leonir Battisti, coordenador do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), um braço do Ministério Público Estadual, disse que apesar de existir a possibilidade legal para a suspensão do julgamento por meio deste tipo de alegação, não é habitual sustentar insanidade neste caso. Battisti disse que, evidentemente, a defesa usou o recurso para atrasar o processo. novembro de 2011 |

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Políci�

Rápido no gatilho TEXTO E FOTOS MARA CORNELSEN

Kiyoshi hattanda, novo de presidente da adepol – pr

A

eleição na Adepol mobilizou os delegados de Polícia Civil de todo o Paraná. Três chapas disputaram o pleito no dia 8 de outubro, e no duelo de “xerifes” a melhor pontaria foi de Kiyoshi Hattanda. Ele impressionou o

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eleitorado do Interior e principalmente os policiais mais jovens. Não é à toa que a milenar paciência oriental é reconhecida no mundo inteiro. E provavelmente exercendo esta paciência é que o delegado Kiyoshi Hattanda chegou ao cargo de presidente da Associação dos Delegados de

Polícia do Paraná (Adepol – PR), disputado com outros dois nomes de peso (João Ricardo Keppes Noronha e Luiz Alberto Cartaxo Moura) em concorrida eleição. A Adepol é a entidade que melhor representa a categoria e que tem força política para fazer reivindicações, além de contar com um privilegiado orça-


mento mensal de R$ 135 mil e de um fundo social de R$ 1 milhão. Apontado como o candidato “chapa branca” pelos seus dois adversários, por contar com a simpatia do delegado geral Marcus Vinicius Michelotto e do secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César (delegado da Polícia Federal e presidente da associação desta categoria), em nenhum momento Kiyoshi escondeu a satisfação de ter o apoio das “chefias”, por considerar que o bom relacionamento da entidade com o Governo do Estado é fundamental para que os almejos dos policiais sejam pelo menos ouvidos. “Minha meta é manter o diálogo, franco e aberto”, afirmou o novo presidente da Adepol, em entrevista exclusiva para Ideias, ressaltando que não foi “indicado” por alguém para se candidatar e que ele mesmo tomou a iniciativa de se apresentar como candidato. Depois de ser diretor da Adepol durante anos, inclusive nas gestões de seus dois adversários, e de também ser diretor da Adepol Brasil, onde representa o Paraná, Hiyoshi achou que seria o momento adequado de disputar a presidência. Seu principal argumento é que estando a iniciar um novo governo, as chances de emplacar melhorias na área de segurança são muitas. “Hoje temos um Secretário de Segurança que conhece os problemas da polícia, que é sensível aos apelos da população e também da categoria. Portando nada mais justo que somemos esforços para que aconteça realmente uma mudança, na qual todos saiam ganhando”, comentou.

A força do Interior Para justificar sua vitória diante de duas “velhas raposas”, como Cartaxo e Noronha, Kiyoshi acredita que o período de trabalho no Grupo Auxiliar de Planejamento (GAP) da Polícia Civil foi de grande valia (ele está se desligando do cargo para assumir a Adepol em tempo integral). “Planejar não é uma tarefa fácil e exige uma grande dedicação”, assegura, lembrando que esta atividade também fez com que se aproximasse mais da cúpula da própria Polícia Civil e também da Segurança Pública, uma vez que somente com a anuência dos chefes é que qualquer planejamento seria aprovado. Mas sua principal arma foi os mais de dez anos que atuou como diretor da Adepol estadual e da brasileira. “Tive a oportunidade, ao longo dos anos, de atender pessoalmente os colegas, especialmente em situações de angústia ou de necessidade. Portanto, eles sabem que conheço profundamente os anseios da categoria”, esclarece. A vitória veio das urnas de Cascavel, onde fez 60 votos, e de Londrina, 55. Na Capital ele recebeu outros 106, totalizando 221

ao longo dos anos, atendi pessoalmente os colegas, em situações de angústia ou de necessidade. eles sabem que conheço os anseios da categoria votos, dos 499 depositados nas três urnas. O novo presidente acredita que poderia ter uma votação maior, caso existissem mais urnas espalhadas em outros municípios. “Tem delegado aposentado que não tem condições de viajar para outra cidade só para votar. É preciso ampliar o número de urnas”, diz ele, já fazendo uma promessa para o futuro: “Na próxima eleição, daqui há dois anos, existirão urnas em mais municípios. E saliento que não quero ser candidato à reeleição”.

Mobilização nacional O primeiro compromisso oficial do novo presidente da Adepol paranaense foi participar o 26.º Congresso Nacional de Delegados de Polícia do Brasil, acontecido em Florianópolis (SC), de 12 a 15 de outubro passado. Os temas mais importantes debatidos foram a padronização das polícias, respeitando as diferenças regionais; a necessidade de regulamentar a lei geral das polícias civis do Brasil e o acompanhamento rigoroso da exposição dos projetos de interesse dos delegados no Congresso Nacional, bem como defender a atuação do delegado de polícia como garantidor do direito do cidadão. “Já fui dezenas de vezes a Brasília para defender a categoria e agora, mais do que nunca estarei sempre que necessário da Capital Federal, para que tenhamos uma voz ativa”, garante, empolgado. No que diz respeito às coisas locais, quer “brigar” por uma Corregedoria forte, para defender os bons policiais, e não tem dúvidas de que, por ser o Secretário de Segurança um policial com visão classista, os assuntos levados à Assembleia Legislativa tramitarão com mais tranquilidade. Aprovar o estatuto da Polícia Civil e fazer um acompanhamento, de perto, do Programa Paraná Seguro também estão dentro de seus planos. Quem é Filho de imigrantes japoneses, Kiyoshi Hattanda, 59 anos, casado, duas filhas, é delegado de polícia há 26. Nasceu em Ibaiti, sendo o quarto membro de uma família de cinco irmãos. Seu pai praticamente fundou o município, colocando o marco inicial, abrindo a primeira estrada, criando a Associação Nipônica local (da qual foi o “eterno” presidente, nas palavras do filho) e abrindo o primeiro comércio que vendia de tudo um pouco. “Meu pai tinha um grande senso de civismo e passou isso para os filhos. Na frente do comércio, em todas as datas cívicas, ele hasteava a bandeira do Brasil e cantava o Hino Nacional. E em todo o dia primeiro de ano, de terno e gravata, ele reunia a família às 8 horas, impreterivelmente, para cantar o Hino Nacional e fazer uma comemoração cívica”, recorda Kiyoshi. De formação budista, o presidente da Adepol queria, quando jovem, ser médico. Chegou a cursar um ano de medicina em universidade do Rio Grande do Sul, mas abandonou o curso para voltar a Ibaiti e auxiliar o pai, que estava em dificuldades com o seu comércio. Mais tarde foi para São Paulo, onde então cursou Direito e de lá veio para Curitiba, sendo aprovado no concurso para delegado de polícia. novembro outubro de 2011 |

33


Economi�

Quanto vale seu dinheiro? O Brasil tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo. O sistema de imposto não declaratório, a incidência elevada sobre a menor renda e a aplicação correta desses recursos entram em discussão depois de estudos divulgados sobre o tema MARIANNA CAMARGO

V

ocê sabe quanto paga de imposto quando compra água? E um apontador? Ou o arroz? E quanto do seu salário é tirado para impostos? O Brasil tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo. Além disso, a incidência de impostos está embutida no valor final. Ou seja, não temos ideia de quanto pagamos por algo. A situação piora pelo fato de os pobres pagarem ainda mais impostos que os ricos, o que agrava o quadro de desigualdade social. Segundo levantamento feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), apresentado em maio deste ano ao CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e

enquanto os ricos desemboLsam em média 5,7% em icms, os pobres pagam 16% no mesmo imposto 34

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Social) os 10% mais pobres do país comprometem 33% de seus rendimentos em impostos, enquanto que os 10% mais ricos pagam 23% em impostos. “O país precisa de um sistema tributário mais justo que seja progressivo e não regressivo como é hoje. Ou seja, quem ganha mais deve pagar mais; quem ganha menos, pagar menos”, disse o presidente do Ipea, Marcio Pochmann. Os números do Ipea mostram que os impostos indiretos (aqueles embutidos nos preços de produtos e serviços) são os principais indutores dessa desigualdade. Os pobres pagam, proporcionalmente, três vezes mais ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que os ricos. Enquanto os ricos desembolsam em média 5,7% em ICMS, os pobres pagam 16% no mesmo imposto. “Quando se compra um quilo de feijão, o rico e o pobre pagam o mesmo imposto embutido no preço final. Mas isso é absolutamente injusto, porque o esforço que o pobre faz para pagá-lo é infinitamente superior ao do rico”, afirma o advogado tributarista Sérgio Rodrigues. Nos impostos diretos (sobre renda e propriedade) a situação é menos grave, mas também desfavorável aos mais pobres. O IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores) tem praticamente a mesma incidência para todos, com alíquotas variando de 0,5% para os mais pobres a 0,6% e 0,7% para os mais ricos. Já o IPTU (Imposto sobre Propriedade Territorial e Urbana) privilegia os ricos. Entre os 10% mais pobres, a alíquota média é de 1,8%; já para os 10% mais ricos, a alíquota é de 1,4%.

“O sistema tributário brasileiro tem uma preferência. Fez a opção pelos ricos e proprietários”, afirma o presidente do Ipea, Márcio Pochmann. Ele conta que a tributação no país está focada sobre o consumo, principalmente, dos produtos destinados à população de baixa renda. “As mansões pagam menos imposto que as favelas, e estas ainda não têm serviços públicos como água, esgoto e coleta de lixo”, alertou o presidente do Ipea. “Mas geralmente quem reclama da carga tributária são os ricos. Rico não querer pagar imposto, não é um fenômeno novo, é secular.

renda menor, imposTo maior 32% da renda dos mais pobres é convertida em pagamento de tributos as famílias mais pobres são as que pagam mais impostos, segundo estudo divulgado pelo ipea (instituto de pesquisa econômica aplicada). de acordo com a pesquisa, 32% da renda dos mais pobres é convertida em pagamento de tributos. desses, 28% são em impostos indiretos, como iCms, ipi e pis/CoFins e 4% diretos, como imposto de Renda, iptu e ipva. Já os que ganham mais, pagam 21% de impostos do total de sua renda. desse total, 10% são em tributos indiretos e 11% em tributos diretos. o técnico do instituto disse que para que o problema seja solucionado, é preciso ter uma redução nos impostos indiretos e um aumento na carga tributaria direta. para ele, impostos como o iptu e ipva devem ser ampliados, pois são as pessoas que tem a maior renda que pagam.


Percentual de Tributos sobre o preço final

Infelizmente somos um país que não tem cultura democrática. O sistema político expressa os interesses daqueles que têm propriedade e têm mais recursos para fazer valer os seus direitos”, argumenta. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), João Eloi Olenike, os dados sobre a arrecadação de impostos “mostram a opção equivocada do governo brasileiro de tributar a renda em vez da riqueza e do patrimônio”. A Constituição Brasileira de 1988 prevê a criação de um imposto sobre grandes fortunas, mas o Congresso jamais votou sua regulamentação.

Para onde vai? De acordo com a Receita Federal, o pagamento de impostos é um dever do cidadão, mas também um dever do Estado informar para onde vão os recursos recolhidos. O dinheiro pago em impostos é utilizado diretamente pelo Governo Federal, parte considerável retorna aos estados e municípios para ser aplicada nas suas administrações. Recursos importantes são destinados à saúde, à educação e a programas de transferência de renda. O que acontece no Brasil é o desvio e a utilização dos impostos para fins não prioritários, obrigando os cidadãos que têm condições a pagar por serviços que deveriam ser oferecidos pelo governo, como educação, saúde e segurança”, afirma Rodrigues.

% Tributos 36% 29,83% 45,81% 47,87% 30,57% 30,57% 34,50% 30,57% 30,57% 44,40% 49,78% 34,50% 26,25% 34,50% 8,65% 16,65% 21,65% 8,65% 22,98% 81,68% 57,03%

Produtos alimentícios básicos Carne bovina Frango Peixe Sal Trigo Arroz Óleo de soja Farinha Feijão Açúcar Leite Café Macarrão Manteiga Margarina Molho de tomate Ervilha

18,63% 17,91% 18,02% 29,48% 34,47% 18% 37,18% 34,47% 18% 40,4% 33,63% 36,52% 35,20% 36,01% 37,18% 36,66% 35,86%

Milho Verde

37,37%

Biscoito Chocolate Achocolatado Ovos Frutas

38,5% 32% 37,84% 21,79% 22,98%

Produtos básicos de limpeza Álcool Detergente

43,28% 40,50%

Saponáceo

40,50%

Sabão em barra Sabão em pó Desinfetante Água sanitária Esponja de aço

40,50% 42,27% 37,84% 37,84% 44,35%

Material Escolar Caneta Lápis Borracha Estojo Pastas plásticas Agenda Papel sulfite Livros Papel

48,69% 36,19% 44,39% 41,53% 41,17% 44,39% 38,97% 13,18% 38,97%

Apontador

43,19%

Mochilas Régua Pincel Tinta plástica

40,82% 45,85% 36,90% 37,42%

Bebidas Refresco em pó Suco Água Cerveja Cachaça Refrigerante CD DVD Brinquedos

38,32% 37,84% 45,11% 56% 83,07% 47% 47,25% 51,59% 41,98%

Louças Pratos Copos Garrafa térmica Talheres Panelas

44,76% 45,60% 43,16% 42,70% 44,47%

Produtos de cama, mesa e banho Toalhas (mesa e banho) Lençol Travesseiro Cobertor Automóvel

36,33% 37,51% 36% 37,42% 43,63%

Eletrodomésticos Fogão Microondas Ferro de Passar Telefone Celular Liquidificador Ventilador Refrigerador Vídeo-cassete Aparelho de som Computador Batedeira Roupas Sapatos

39,50% 56,99% 44,35% 41,00% 43,64% 43,16% 47,06% 52,06% 38,00% 38,00% 43,64% 37,84% 37,37%

Material de Construção Casa popular

Produtos básicos de higiene Sabonete

42%

49,02%

Telha

34,47%

Tijolo

34,23%

Xampu

52,35%

Vaso sanitário

44,11%

Condicionador

47,01%

Tinta

45,77%

Desodorante

47,25%

Recorde De 1º de janeiro até setembro deste

Fertilizantes

27,07%

Aparelho de barbear

41,98%

Móveis (estantes, cama, armários)

37,56%

ano os brasileiros já desembolsaram mais de R$ 1 trilhão em impostos. Em 2008, o Brasil

Papel Higiênico

40,50%

Pasta de Dente

42,00%

Mensalidade Escolar

37,68% (ISS de 5%)

novembro de 2011 |

Fonte: IBPT - INSTITUTO BRASILEIRO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

É dever do Estado informar para onde vão os recursos recolhidos

Produto Medicamentos Conta de água Conta de luz Conta de telefone Mesa de Madeira Cadeira de Madeira Sofá de Madeira/plástico Armário de Madeira Cama de Madeira Motocicleta de até 125 cc Motocicleta acima de 125 cc Bicicleta Vassoura Tapete Passagens aéreas Transporte Rod. Interest. Passageiros Transporte Rod. Interest. Cargas Transporte Aéreo de Cargas Transp. Urbano Passag. - Metropolitano Cigarro Gasolina

35


chegou à cifra de R$ 1 trilhão apenas em dezembro, em 2009 veio em novembro e, em 2010, foi atingida em outubro. O valor arrecadado até hoje equivale a cerca de 1,8 bilhão de salários mínimos. Rodrigues explica ainda que a arrecadação tributária tem batido recorde em cima de recorde nos últimos meses. “Não houve aumento na quantidade de tributos nem nas alíquotas, mas a arrecadação vem batendo recorde. Vivemos um momento de aceleração da economia, geração de emprego e maior consumo, por isso, arrecada-se mais, ou seja, poderia haver mais benefícios aos cidadãos. Para se ter uma ideia, em um levantamento sobre países que investem em educação, entre os 58 analisados, o Brasil ficou na posição 53”. “O Brasil é o país com a carga tributária mais elevada entre os países em desenvolvimento da América do Sul e dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). Se a gestão de recursos públicos fosse mais eficiente, não precisaríamos de uma carga tão grande. Fato é que o Brasil arrecada como um país de primeiro mundo, mas retorna para a população como um país de terceiro mundo”, afirma. A arrecadação de tributos federais cresceu 7,5% em setembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado e somou R$ 75,1 bilhão de acordo com a Receita Federal. Em relação a agosto, ficou praticamente estável, subindo 0,1%, já descontada a inflação do período.

O salário Segundo a UHY, uma rede britânica de empresas independentes de contabilidade e consultoria, um profissional no Brasil que recebe até US$ 25 mil por ano – cerca de R$ 3.300 por mês – leva, após o pagamento de

Comunicado do Ipea propõe debate sobre a eficiên­cia e eficácia das desonerações tributárias Estimativas da Receita Federal do Brasil compiladas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que, em 2011, o gasto tributário federal deve atingir 3,53% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 137 bilhões. Deste total, R$ 43,5 bilhões são considerados “sociais” por beneficiarem áreas como Educação, Cultura e Saúde. As informações sobre o gasto tributário foram apresentados no Comunicado nº 117 – Gastos Tributários do governo federal: um debate necessário, apresentado dia 18 de outubro. A proposta do documento é divulgar os dados disponibilizados pela Receita Federal e estimular o debate sobre as desonerações. Gastos tributários são formas indiretas de gasto público, pois o governo desonera determinado contribuinte ou setor produtivo para que sejam atingidos alguns objetivos da política social ou econômica. Podem ser citadas como exemplos as desonerações, no Imposto de Renda, das despesas com plano de saúde ou educação privada. “Não é dinheiro que o Estado coloca no bolso do contribuinte, mas deixa de tirar. Esse recurso vai financiar parcialmente um serviço privado em substituição ao serviço público”, explicou José Aparecido Ribeiro, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea. “As desonerações equivalem a 10% da carga tributária, que hoje no país gira em torno de 35% do PIB. É um valor muito representativo e não é claro até que ponto a sociedade tem consciência desse gasto. Será que ele está calibrado com as políticas públicas? Quem está sendo beneficiado?”, questionou.

imposto de renda e previdência, 84% do seu salário para casa. Já os profissionais que recebem US$ 200 mil por ano – cerca de R$ 26.600 por mês – recebem no final cerca de 70% de seu pagamento. Entre 20 países pesquisados pela UHY, essa diferença de cerca de 10 pontos percentuais é uma das menores. Na Holanda, onde um profissional na faixa mais baixa recebe um valor líquido semelhante ao do Brasil após os impostos e encargos (84,3%), os mais ricos levam para casa menos de 55% do salário. A lógica também se aplica a todos os países do G7, o grupo de países mais industrializados do mundo (EUA, Canadá, Japão, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Itália). Nos EUA, enquanto os mais ricos levam para casa 70% do salário, os profissionais na faixa dos US$ 25 mil anuais deixam apenas um décimo da renda para o governo e a previdência.

Quanto custa? No movimento “Quanto Custa o Brasil pra você”, há uma enquete com seis perguntas sobre a questão tributária e a justiça fiscal. De acordo com a pesquisa, 82% dos entrevistados não faziam ideia de quanto pagam de tributo no momento em que consomem um simples cafezinho ou compram o combustível do carro, por exemplo. Ainda segundo o levantamento, 97% das pessoas avaliadas achavam que, na nota fiscal, deveria estar explicitado claramente o valor do produto e o do imposto, como já é feito em outros países desenvolvidos e em desenvolvimento como o Brasil. Lupa Por meio do site Lupa no Imposto (www. lupanoimposto.com.br) lançado no dia 21 de outubro pelo IBPT, o consumidor poderá conferir o preço real de produtos e serviços, descontado os valores dos tributos incidentes. A ferra-

Impostos sobre a renda

Impóstos sobre os lucros de sociedades

Seguridade Social

Impostos sobre a folha (empregadores)

Impostos sobre o patrimônio

Impostos sobre bens e serviços

Outros

França

14,4

3,8

42,9

2,4

5,0

27,3

4,2

Alemanha

24,6

3,8

40,9

-

2,9

27,8

-

Espanha

23,3

5,9

35,9

-

5,4

29,4

-

Portugal

19,2

8,8

25,9

-

2,5

42,9

0,6

Itália

35,0

5,5

34,0

0,2

5,1

25,7

-

Dinamarca

59,9

4,9

3,1

0,4

3,4

33,0

0,2

Reino Unido

27,5

9,3

17,7

-

10,5

34,7

0,3

EUA

36,4

9,5

25,1

-

11,1

17,9

-

Japão

21,4

15,1

36,3

-

11,6

15,0

0,7

Brasil

7,1

10,7

10,9

15,7

3,0

47,9

4,7

Países

Fonte: OCDE (Internacional) e ibge (Brasil)

36

Gastos tributários devem somar 3,5% do PIB em 2011

| novembro de 2011


Diferença de imposto pago entre rendas média e alta

Fonte: UHY / China Bai Yanfeng Univ. Central de Finanças e Economia da China

45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10%

menta eletrônica possibilita a pesquisa de cerca de 500 itens, gera listas de produtos e imprime etiquetas do valor total com e sem impostos. Para fazer a consulta, basta incluir o nome do produto e o preço pago para que o sistema faça o cálculo dos valores e impostos.

Feirão do imposto Pensando em uma maneira transparente de informar a população sobre a alta carga de impostos pagos sobre todos os serviços e bens de consumo, jovens empreendedores de Santa Catarina, do Núcleo de Jovens Empresários da Associação

os 10% mais pobres do país comprometem 33% de seus rendimentos em impostos, enquanto que os 10% mais ricos pagam 23% em impostos

Empresarial de Joinville (ACIJ), criaram em 2003 o Feirão do Imposto. A proposta, além da informação, tem como objetivo ressaltar o que se recebe em troca nos serviços públicos como contrapartida do pagamento de tantos impostos. O grupo realiza ações explicativas em várias cidades do Brasil e tem uma sede em Curitiba. De acordo com o coordenador nacional do projeto, Tiago Coelho, o objetivo do movimento é fazer com que todos os brasileiros tenham consciência do tamanho do problema, que inibe o crescimento e desenvolvimento e consome a renda do brasileiro, e dessa maneira reivindicar a aprovação da Reforma Tributária. Este ano o Feirão do Imposto fechou a parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Ele desenvolve, de forma independente, ferramentas que levam

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5%

a uma gestão tributária eficaz, sejam elas estudos técnicos, pareceres, cursos ou palestras. Originam dele os estudos das cargas tributárias dos produtos que estão contemplados neste projeto. Sendo assim, o Feirão do Imposto trabalha com aqueles bens e mercadorias que são do dia a dia da sociedade, necessidades básicas, buscando expor aos consumidores o quanto representam os tributos no preço final pago por tais itens. Ao gerar enorme repercussão social, tendo em vista a revolta imediata das pessoas ao se depararem com tal fato absurdo, o projeto atinge seu objetivo principal. Mais informações: www.impostometro.com.br www.feiraodoimposto.com.br www.quantocustaobrasil.com.br www.ibpt.com.br

Parte dos recursos obtidos com impostos vai para programas de geração de empregos e inclusão social, tais como: • • • • •

plano de reforma agrária; crédito rural para a expansão da agricultura familiar; plano de construção de habitação popular; saneamento e reurbanização de áreas degradadas nas cidades.

Outra parte dos impostos arrecadados é destinada a: • • • • • • •

construção e recuperação de estradas; investimentos em infraestrutura; construção de portos, aeroportos; incentivos para a produção agrícola e industrial; segurança pública; estímulo à pesquisa científica, ao desenvolvimento de ciência e tecnologia; cultura, esporte e defesa do meio ambiente.

Fonte: Receita Federal

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Cidad�

Vamos de MetrÔ Fotos - smCs

PEDRO LICHTNOW

portão

O

prefeito Luciano Ducci chegou lá. E não é para menos. Nesses 18 meses no comando da quarta maior capital do país, Ducci soma conquistas e um plano de obras sem precedente. E o melhor: trabalha em sintonia fina com o governador Beto Richa e classifica como “mais do que excelente” a relação com o governo da presidente Dilma Rousseff. O que faz Ducci receber tanta atenção de Beto e Dilma tem várias explicações. O prefeito de Curitiba é considerado um realizador, criador de programas de excelência, tocador de obras e

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gestor de qualidade. A boa fama se construiu ao longo dos anos e se consolidou ao lado de Beto como o “cara que tocava a máquina”. De um bom coadjuvante ao primeiro plano de ação, viu-se um Ducci mais ousado e ciente da dinheirama contida nos PAC’s e programas federais, além dos recursos estaduais e de outros investimentos. Conhecedor das máquinas e seus meandros e com relações que inspiram confiança, Ducci conquistou agora em outubro a cereja que faltava no seu bolo de realizações.

surPresa E bota cereja nisso. O metrô vai colocar Luciano Ducci na galeria dos prefei-

tos que deixaram a sua marca em Curitiba. Na capital, à despeito da ciumeira petista, a presidente Dilma o confidenciou “surpresa e alegria” e não poupou elogios ao anunciar o esperado R$ 1 bilhão ao metrô. Dilma chamou Ducci de “parceiro importante” no desafio da implantação dos metrôs no Brasil e tascou: “o projeto do prefeito Luciano Ducci é um dos melhores do Brasil”. Foi ainda além: “Ao transportar 400 mil passageiros por dia, o metrô vai permitir a redução da emissão de gases poluentes, o que contribui muito para a qualidade de vida da população. É destaque também a tarifa única em toda a


rede de transporte, que dá uma condição mais acessível aos cidadãos”. Outro ponto citado por Dilma, o que torna o metrô um projeto original, é o da implantação dos boulevares para a integração de pedestres e ciclistas nas canaletas dos ônibus expressos. “Uma parte extremamente relevante do projeto de Curitiba é a utilização do espaço das canaletas para uma área de integração de lazer e cultura. É destaque que mostra o caráter muito adequado deste projeto, dentro da visão que precisamos investir na mobilidade urbana”, completou.

Arquitetura Para conseguir o R$ 1 bilhão, a fundo perdido do governo federal, Luciano Ducci teve que suar a camisa, várias reuniões, audiências em Brasília, buscar apoio de ministros, deputados federais e senadores, além de montar uma arquitetura financeira para viabilizar os R$ 2,25 bilhões previstos para os 14,2 quilômetros da primeira etapa da Linha Azul,

R$ 2,25 bilhões, o governo federal vai entrar com R$ 1 bilhão e financiará R$ 750 milhões o Metrô Curitibano. Não foi fácil. Dos R$ 2,25 bilhões, o governo federal vai entrar com R$ 1 bilhão e financiará R$ 750 milhões, que serão assumidos

pelo governo estadual (R$ 300 milhões) e pelo município (R$ 450 milhões). Uma parceria público-privada vai completar os R$ 500 milhões restantes.

História Na cerimônia do anúncio de R$ 1 bilhão, Dilma viu um Luciano Ducci emocionado — ele esqueceu até os óculos de leitura. “Hoje, 13 de outubro de 2011, é um dia que entra para a história da cidade de Curitiba. É o dia em que nós, curitibanos, conquistamos o nosso metrô”, disse aos presentes. “Vamos iniciar as obras em 2012”, garantiu o prefeito à Dilma. “Este dia é histórico, também, porque o metrô representa o maior investimento já feito num único projeto nesses 318 anos de fundação da nossa cidade”, destacou. “São 2 bilhões e 250 milhões de reais. Um investimento bilionário, conquistado com uma grande parceria entre a Prefeitura de Curitiba, o Governo do Paraná e o Governo Federal”, completou Ducci.

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Água Verde - Angeloni

Ciclovia - Angeloni - República Argentina

Capão Raso

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linha azul Em painéis dispostos no Salão de Atos do Parque Barigui, o prefeito mostrou a Dilma detalhes da primeira linha do Metrô Curitibano. A Linha Azul vai ligar o extremo sul da cidade (CIC), ao norte (Santa Cândida). O trecho inicial terá 14,2 quilômetros de extensão e terá 13 estações desde a CIC-Sul, próximo à Rua Nicola Pelanda, até a Rua das Flores, no Centro. A obra vai gerar cerca de dois mil empregos. A primeira etapa do metrô vai atender 400 mil usuários e substituirá 110 ônibus que rodam 20 quilômetros por dia. Calcula-se a redução da emissão de 8,5 mil toneladas de CO2 por ano na atmosfera e também a redução de três decibéis de ruído. A frota terá 18 trens, compostos por cinco carros cada, com capacidade para transportar 1.450 passageiros por viagem. Nas atuais canaletas dos biarticulados será construído um parque linear — o que impressionou Dilma — com ciclovias e áreas verdes para a prática de esporte. aMiGo do beto Ainda na cerimônia do Barigui, Luciano Ducci fez questão de destacar a participação do governador Beto Richa na empreitada e até na confecção original do projeto. “O Metrô começou ainda na gestão de Beto Richa, parceiro de tantos anos. O Beto mantém o mesmo carinho e atenção para com Curitiba”. E Beto não só garantiu os R$ 300 milhões para as obras da primeira fase como também lembrou a boa fase na parceria com o governo Dilma. “Muitas coisas ainda serão anunciadas como resultado desta parceria que temos feito com o governo federal em várias áreas e que repetimos no relacionamento com os 399 municípios, sem discriminação ou picuinhas”, disse Richa.

meTrô: Conquista dos CuRitiBanos luciano ducci

o

metrô é uma conquista de todos os curitibanos, que sempre se orgulharam de sua cidade e de seu sistema de transporte. ao longo de quase 40 anos, Curitiba consolidou uma posição de referência nacional e internacional em transporte coletivo. nesse período, Curitiba cresceu muito, em todos os sentidos. Já somos 1,7 milhão de moradores, numa cidade que, a cada semana, recebe 1.140 novos automóveis. vale destacar que a possibilidade de hoje mais curitibanos terem acesso ao carro próprio é também uma conquista e um direito de todos, ao mesmo tempo em que aumenta o desafio do poder público de atrair as pessoas para o transporte coletivo. o sistema de transporte em superfície, tão eficiente por tanto tempo, começou a apresentar sinais de sobrecarga em algumas regiões da cidade, que tiveram crescimento populacional acelerado. medidas importantes vêm sendo tomadas para acompanhar com qualidade essa demanda. o metrô Curitibano é parte importante de uma estratégia de modernização e renovação completa do sistema de transporte público da cidade. nesse sistema, estamos implantando mais e melhores ônibus, revitalizando trajetos, exigindo das empresas mais qualidade e respeito para com os curitibanos. vamos revitalizar todos os terminais, levar o ligeirão a novos

eixos, trazer a modernidade da tecnologia ao alcance dos usuários. na outra ponta dessa equação, estamos investindo como não se via há décadas em uma completa renovação do sistema viário. são novas vias revitalizadas, novos eixos, novos binários, trincheiras, viadutos, o anel viário central, enfim, um conjunto de soluções para aumentar a fluidez e a segurança de quem se move pela cidade. o metrô Curitibano vem se somar a esse enorme conjunto de inovações. e vem para se transformar, desde já, em um marco de planejamento e evolução urbana. o transporte por baixo da terra é seguro, rápido, confortável e não-poluente. o metrô vai atender, inicialmente, 400 mil curitibanos que vivem e trabalham ao longo do eixo que mais cresceu no sistema de transporte, entre a CiC-sul e a região central da cidade. o curitibano que embarcar no pinheirinho descerá na Rua das Flores em menos de 25 minutos. sem a preocupação de dirigir, sem que o seu carro emita um só grama de carbono. e, ao final do dia, voltará mais cedo para a sua família. na superfície, onde hoje trafegam os ônibus na canaleta, os curitibanos verão nascer um parque linear com 13,4 quilômetros de ciclovias, áreas de lazer, de esporte, de convivência. o concreto da pista que hoje suporta os ônibus vai passar a ser cenário de crianças em suas brincadeiras, das bicicletas em espaço nobre, cenário de natureza em que devolveremos aos curitibanos o melhor da sua cidade. Com o metrô, os 110 ônibus que circulam hoje no trajeto deixarão de rodar 19,4 mil quilômetros por dia. isso significa a redução da emissão de 8,5 mil toneladas de Co2 por ano na atmosfera e também a redução de três decibéis de ruído. o metrô é, há muito tempo, um modal de transporte eficaz ao redor do mundo. É essa realidade, neste tempo de desenvolvimento do Brasil, para o qual trabalham diariamente os curitibanos, que agora conquistam o seu metrô. É, também, uma conquista que mostra o poder de articulação dos curitibanos em todos os níveis, prefeitura, Governo do estado, Governo Federal e sociedade civil, todos juntos, trabalhando neste importante projeto para a cidade.

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Parceria No seu discurso, o prefeito destacou os diversos projetos que recebem recursos federais. Os recursos chegam graças ao “planejamento, determinação, e da boa receita da competência curitibana, com a qual conquistamos o respeito técnico e político do governo da presidenta Dilma Rousseff”. “Acredito ser justamente este respeito que tem possibilitado o repasse de recursos por parte do Governo Federal para importantes realizações em nossa cidade, em todas as áreas”, disse. A maior parte dos recursos foi aplicada na área de habitação. Entre 2010 e agosto deste ano, foram R$ 37 milhões. Ainda estão em negociação mais R$ 52 milhões, para retirar famílias de áreas de risco e oferecer moradia de qualidade. A segunda área a receber mais recursos é a de infraestrutura urbanística — são mais R$ 11 milhões. A prefeitura apresentou ainda projetos para mais R$ 172 milhões, em especial no setor de drenagem. Há outro montante de projetos para captar recursos federais, na ordem de R$ 347,9 milhões. Do PAC das Cidades Históricas, espera-se mais R$ 57 milhões. Referência Como se vê, não é por somenos, que Dilma considera Curitiba e o Paraná referências para investimentos federais. “É uma satisfação trazer o metrô como eixo de articulação a uma cidade que cada vez mais é centro de atração de uma das regiões mais fortes do País.” Outra referência de Curitiba, segundo Dilma, ganhou o mundo. “Discutir e planejar o transporte coletivo em áreas de grande concentração 42

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SMCS

Para reduzir o custo do empreendimento, o governo estadual estuda ainda a isenção do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para as obras. “Estamos estudando o assunto, mas é possível que o governo realize algum incentivo nesse sentido, que poderá desonerar os gastos nas obras e as passagens”. Das parcerias de Curitiba com o governo federal, a própria Dilma fez questão de destacar, além do Metrô, o conjunto de obras previstas no PAC da Copa. De Ducci, ouviu que as todas as obras do pacote, que alcança R$ 222,2 milhões, serão licitadas até o final do ano. No pacote: o corredor Aeroporto/Rodoferroviária, a Estação Rodoferroviária e acessos, o corredor da Avenida Cândido de Abreu, o corredor da Avenida Marechal Floriano Peixoto, o Sistema Integrado de Mobilidade e a reforma e ampliação do terminal de ônibus Santa Cândida.

A presidente Dilma Rousseff e o prefeito Luciano Ducci na cerimônia de lançamento do metrô: o trecho inicial terá 14,2 quilômetros de extensão e terá 13 estações desde a CIC-Sul

A primeira etapa do metrô vai atender 400 mil usuários e substituirá 110 ônibus que rodam 20 quilômetros por dia urbana tem como referência a cidade de Curitiba e o que aqui foi realizado”. “Não podemos ter um país com o transporte público segregado a classes. No mundo inteiro o metrô é um instrumento de democratização do

espaço urbano. Por isso, é um momento muito importante poder anunciar este investimento em Curitiba — que deu a sua contribuição no conceito de transporte urbano copiado no mundo”, completou. A presidente contou que esteve em Istambul, na Turquia, e constatou “as canaletas e estações como as que foram feitas” em Curitiba. Dilma disse que é fundamental que se reconheça a Rede Integrada de Transporte de Curitiba como modelo na modernização e reestruturação de sistemas transportes. “É modelo que correu o mundo”. “Foi de países em desenvolvimento a países desenvolvidos. Foi para a ponta da Ásia com a Europa, para a América Latina e para os EUA”, afirmou a presidente que considera o investimento no transporte de massa como elemento chave para o desenvolvimento das cidades. Luciano Ducci não esconde a alegria e o entusiasmo em viver este momento. Acorda cedo, dorme tarde, e tem um catatau de obras para entregar até o final de 2012. Seu ritmo é forte que nem mesmo uma forte gripe o deixou quieto. Mantém sua agenda de trabalho, inclusive aos finais de semanas e feriados, e para os mais próximos vaticinou. “Quero inaugurar o Metrô em 2016 e realizar mais um sonho de todos os curitibanos”.


Fábio Campana

As feias e a burca

O

movimento feminista foi um dos impulsos libertários dos maravilhosos anos 60 do século passado, quando queríamos por abaixo todas as mazelas herdadas do crônico conservadorismo da sociedade patriarcal e estatólatra que colocara a espécie à beira do precipício com suas guerras e a ameaça da hecatombe nuclear. O feminismo era a afirmação do direito da mulher de decidir sobre o seu corpo e sobre a sua existência. Pregava o fim do preconceito e das leis que inspirou, entre elas as que hoje nos parecem inacreditáveis de tão esdrúxulas na imposição de obediência da mulher ao macho. As campanhas corajosas iam às ruas para queimar sutiãs, saudar a invenção da pílula, defender o aborto ou exigir igualdade na remuneração pelo mesmo trabalho. Bons tempos aqueles em que tínhamos a sensação de grande avanço na conquista de liberdades. Hoje, esse anseio, como tudo o que veio depois, foi se ajustando aos tempos e submergiu na onda de mediocridade que se expressa no politicamente correto. Tornou-se moralista, mas de um moralismo chinfrim que se apóia em filosofia de baixos teores extraída do senso comum. É apavorante perceber o recuo sobre nossos próprios passos. Por dever de ofício obriguei-me a ouvir uma antiga amiga que se converteu a esta

nova característica do feminismo. Só de lembrar me arrepio de medo ao pensar que gente com as mesmas idéias está no poder. A nova pregação é pela restauração de regras morais coercitivas. Incrível, exige censura. A ministra Iriny Lopes, aquela que pretendeu censurar a sensualidade de Gisele Bündchen em comerciais de lingerie é uma líder emblemática desta nova religião que inclui adeptos masculinos de gênero incerto e não sabido, e que pelas suas ideias e convicções seriam chamados de machistas na época do grande movimento pela libertação da mulher. Além de imprecar contra a Bündchen, a senhora Lopes investiu contra personagens de novela. Não satisfeita, dirigiu sua fúria contra um quadro de programa humorístico de grande audiência. Tudo por conta de presumida ofensa contra a dignidade das mulheres. A minha amiga só não perdeu a agressividade na defesa de suas teses. Prega o novo feminismo com unhas e dentes. Não aceita ponderações. Qualquer afirmação de beleza em sua cabeça carregada de fanatismo se transforma em vulgaridade. Ela não admite a exposição de dotes físicos elogiáveis nas mulheres que os têm para mostrar. Não gostaria de dizer isso, mas ela se transformou numa chata insuportável. É óbvio que detestamos a vulgaridade, especialmente a que advém da ignorância e da

cultura periférica. Mas nem as mulheres de vocação suburbana devem ser admoestadas ou proibidas de ser como são. A democracia oferece liberdade para que todas as culturas se expressem. Cada qual escolhe o seu nicho e os seus valores. Livrai-nos da sociedade unívoca, com regras únicas de comportamento para todos. Vivemos essa experiência o suficiente e deu no que deu. Eu, por exemplo, tenho muito medo de mulher feia. Penso que costumam ser ressentidas, rancorosas, de maus bofes contra o mundo, sempre de mal consigo mesmas. Mas longe de eu imaginar que todas devem ser bonitas e que as feias deveriam andar de burca para não estragar a paisagem. A burca, que no mundo islâmico deve esconder a possível beleza para que não seja desejada, aqui esconderia mulheres desprovidas de sorte, como a nossa ministra, para nos proteger do mal-estar que a feiura provoca. Seria injusto. Mas também seria injusto com todos nós ver Gisele Bündchen de burca só para deixar as feias felizes.

Fábio Campana é jornalista e escritor fabiocampana.com.br

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Perfil

A V    K F

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ensar e agir de forma antecipada e responsável frente a ações impostas pelo meio. Esta é uma definição simples de proatividade, comportamento identificado e teorizado na década de 1930 no campo da psicologia experimental. Grande parte da teoria foi concebida nos campos de concentração nazistas onde sob as piores circunstâncias, as pessoas eram capazes de criar e encontrar um significado para a existência. Ao absorver todo este conceito do ser proativo, fica fácil perceber que esta é uma qualidade e uma das características mais marcantes da psicanalista Vânia Regina Mercer. Outro aspecto que define muito Vânia como ela é são os livros. Mais precisamente sua relação umbilical com eles. Com os livros cresceu e neles se debruçou. Primeiro para viver cada obra e delas extrair conhecimento e teoria. Depois para elaborar suas próprias. Vânia encontrou nas palavras uma forma de exercer toda a proatividade que corre por suas veias. Com o pensamento sempre no próximo. Em ajudar os seus e fazer diferença. Em achar seu próprio significado para a existência.

A LeitorA “Eu não sou uma leitora intelectual. Eu sou apaixonada”. Assim a psicóloga define sua relação com os livros que lê. “Eu não estudo os livros, mesmo quando tenho que estudar. Eu quero que minha imaginação viaje. Eu não gosto de saber, eu gosto de sentir”. Os livros cercam Vânia desde sua infância. Dos cinco aos sete anos, seu pai e um de seus tios eram donos de uma livraria. Vânia acredita que por ser a filha mais velha, era levada pelo pai, que ficava de olho na pequena enquanto a mãe cuidava de outras duas irmãs menores. Foi neste ambiente da Casa Juca que Vânia passou dois anos convivendo com o universo literário. Da mãe, formada em Filosofia, herdou a coleção de livros do Freud e a obrigação de aprender o idioma Francês. Ainda pequena, foi matriculada na tradicional Aliança-Francesa com a obrigação de dominar o idioma. E muito nova, 44

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antes dos 15 anos, leu os clássicos, sem maturidade para abstrair o que lia. Talvez por isso opte mais por sentir, do que saber. Aos 12 anos, conta Vânia, a família obteve estabilidade financeira. A casa, maior, tinha um porão onde ficava a biblioteca. “Eu me apossei do porão. Morava lá junto com os livros. E lá também eram as festas com os amigos”. Vânia tinha sua biblioteca particular e coabitava com os livros. Mas isso não fez dela uma egoísta, ao contrário. Quando lê, vive cada palavra, e faz relações. Se a leitura traz lembranças de alguma pessoa ou a recorda de um amigo que pesquisa sobre o assunto que está em suas mãos, não pensa duas vezes. Faz cópias e distribui. Dá sempre um jeitinho de compartilhar o que aprendeu. “Passo no trabalho ou na casa da pessoa e deixo na portaria. Meu filho mais novo, quando adolescente, dizia que eu era uma chata por fazer isso, que obrigava as pessoas a lerem. Mas prefiro pensar que ajudo as pessoas de alguma forma”.

A estUDANte Graças a essa proatividade, Vânia criou e cria suas próprias oportunidades. De tempos em tempos está pelo mundo. Mas não se trata de viagens a passeio e sim para estudar. A psicóloga insiste em dizer que não é intelectual. Vânia vivencia. Experimenta. Transcende em suas expedições mundo afora. Quando morou na pequena cidade de Toulouse, no Sul da França, nos anos 1970, racionamento era a palavra-chave. Assim que casou, Vânia e o marido moraram por um ano na cidade francesa. Neste período, ambos trabalharam em teses de

mestrado. “A gente era muito pobre em Toulouse. Podíamos comprar 300g de carne por semana. Se eu comprasse três pães franceses eu já tinha cometido uma heresia”, conta. Com pouco dinheiro, o entretenimento ficava de lado. E Toulouse, apesar de pequena, relembra Vânia, tinha 40 salas de cinema. “Se por um lado eu não podia ir ao cinema, porque era muito caro, as livrarias eram maravilhosas. Uma ou duas vezes por semana, tinham discussões sobre um tema do momento, com ou sem lançamento de livros. Toda livraria tinha conferências com os autores. Toda semana eu estava em uma livraria. Eu não tinha dinheiro para fazer outros programas. A universidade estava em greve e eu estava sem aulas. Mas tinha as livrarias”. O tema do mestrado que começou, mas não chegou a concluir na França era baseado em livros. Nas obras do controverso Antonin Artaud e de Sigmund Freud. “Poderia dizer que sou uma falsa ou uma farsa porque eu conheço tudo, fui banhada nisso, mas nunca quis me especializar em nada. Não quero que me cobrem a interpretação de um livro, eu quero vivê-lo”.

A PsicÓLoGA E os livros continuam na vida de Vânia, como auxílio e como escape. Entre seus atendimentos, por exemplo, Vânia lê po-


A escritorA A partir do encontro com o drama da AIDS, Vânia passa a ter uma outra relação com os livros. “Desde que me envolvi com isso, comecei a escrever para o mundo pedindo informações, porque não tinha o certo a fazer. Era uma doença desconhecida. Foi uma oportunidade de me recriar profissionalmente e ter o meu estilo de atender. Era certo que as pessoas iam morrer. Eu não ficaria com elas 10 anos em análise. Então usei meu olhar psicanalítico para acompanhá-los. Acompanhei muitos casos e marcou a minha vida. Perturbou minha vida familiar. Então saí da clínica e fui para as ONGs”. A nova relação de Vânia com os livros a colocou do outro lado. Revelou a escritora. E não uma autora cujo objetivo era emplacar Best Sellers. Mas a comunicadora. A motivação maior que levou Vânia às palavras era a de divulgar aquilo que havia descoberto. Tudo que observou

Dico Kremer

esias. Uma forma de se desligar. De separar um paciente do outro. E para seus pacientes, também indica e empresta livros. “Se as pessoas têm dinheiro, eu recomendo. Se não, eu empresto. Se vejo que é possível, digo que pode copiar. Os poucos que se perdem pelo caminho pagam o preço do que é lido e absorvido”. A escolha de Vânia pela psicologia também passa por sua infância. Tinha uma tia esquizofrênica e quando era pequena acompanhou vários internamentos com direito a injeções e camisa de força. “Me impressionava muito por que precisava ser desse jeito. São marcar antigas que posteriormente contribuíram para a escolha da psicologia”, conta. E a marca da psicologia aplicada e vivida por Vânia é a social. “De 1979 até o fim dos anos 1980 eu trabalhei no Hospital Nossa Senhora da Luz como psicóloga nas creches. Lá eu tive convivência com a miséria humana, com a tragédia humana, com a psicopatia. Meu olhar psicanalítico me permitiu fazer coisas interessantes. As mães não podiam ir às consultas por causa do horário de trabalho então eu trabalhava nos fins de semana. Percebia que aquelas mulheres precisavam de um outro argumento para tocar a vida porque elas viviam uma vida muito miserável”. Nos anos 1990, Vânia se encontrou com o drama da AIDS e a morte dos jovens contaminados antes da chegada do coquetel. Foi chocante lidar com pessoas jovens e doentes, sem muitas perspectivas e acompanhou muitos casos com final triste. Então resolveu fazer um mestrado para discutir a formação médica nas situações limites. Segundo Vânia havia uma crise na comunidade médica, uma vez que ele havia se formado para curar. “Os pacientes de AIDS revelaram a impotência do sistema médico. E isso deu uma perturbada na atuação da categoria. Era a onipotência médica na relação com o paciente”.

das vivências que teve. “Cada vez que eu acabo escrevendo alguma coisa é porque vivi uma situação e escrevo sobre o que eu vi. Em 2000 eu me envolvi com estudos das mães e dos bebês. Eu assisti um dia e meio a uma mãe que ia dar a luz a um bebê sabendo que ele estava morto. Ela não podia fazer a cesárea por riscos de infecção. Teve todas as dores do parto para dar a luz a um bebê morto. Então escrevi o artigo ‘Volte para casa e desmanche o quartinho - o luto perinatal’. Em 1992 trabalhei no HC como voluntária e em 1996 chegou o coquetel da AIDS e voltei para acompanhar como seria. No começo os pacien-

tes rejeitaram o coquetel. Eles preferiam tomar o que já tomavam. A adesão ao tratamento era muito difícil. Então escrevi sobre como era a demanda de cura, um olhar psicanalítico sobre a chegada do coquetel”. A psicóloga também uniu forças com grandes especialistas. Publicou livros a várias mãos. Coletâneas de artigos. Com dose maciça de boa vontade, trouxe muita gente para esta parte chuvosa do planeta. Assim é Vânia, uma empreendedora do conhecimento. Incansável na busca e na propagação da informação. Apaixonada pelos livros e pela vida. novembro de 2011 |

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Marcio Renato dos Santos

Grelina

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rimeiro foi um botão, da minha calça, que pulou. Depois, as camisas do guarda-roupa se revelaram insuficientes para cobrir o meu tórax. Em seguida, nem mesmo as meias entravam nos meus pés. Essas novidades começaram a se materializar em um mês de novembro na metade da primeira década do século 21. Ou faz mais tempo? Não lembro. Recordo que após uma madrugada de sonhos intranquilos, acordei transformado em algo que não encontro definição, mas que algumas vozes dizem que sou eu. – Que corpo é aquele que vejo no espelho? Não sabia e ainda não sei responder à pergunta, mas aquele corpo que passei a enxergar no espelho, o mesmo que vizinhos, colegas e parentes diziam que era meu já ocupou menos espaço no mundo. Há trinta ou vinte quilos menor, eu ainda trabalhava em um escritório na região central e almoçava trezentas e poucas gramas em um Quilo. Num dia de pagamento decidi mudar o cardápio e fui até um shopping. Enquanto mordia, mastigava e engolia uma massa fresca comecei a sentir que, mais que os horizontes, o meu abdômen parecia se alargar. Essa conquista de território, de mais espaço no mundo, coincidiu, exatamente, com o momento em que iniciei e experimentei uma temporada de malhação. Me dei conta de que meu braço era fino e resolvi agir. Fiz matrícula na academia do bairro. E foram meses, pouco mais de um ano, de atividades. Do supino para o pulley. Da remada curvada para o leg press. Do adutor na máquina para a mesa extensora. Da rosca direta para o tríceps. Uma, duas, três semanas, incluindo trinta minutos diários na esteira, e ao encarar o espelho

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eu passei a encontrar um modelo do pintor colombiano Fernando Botero. Tornei-me, então, um ébrio? Não. A insônia é que se fez realidade para mim. E numa dessas aventuras pela madrugada, em um site ou blog, encontrei um texto perturbador. Pesquisa realizada na Universidade Livre de Berlim prova que treino em academia engorda. Dei um google. Outro. E outra investigação, da Universidade da Califórnia, a comprovar a tese dos alemães.

Durante aquela fase de levantamento, e descida, de pesos, um outro fato me fazia franzir o cenho. Às sete horas eu abria a geladeira e o queijo meia cura estava pela metade, meio quilo de presunto de parma e um pernil comprados na noite anterior haviam desaparecido. Armários, despensas e esconderijos de alimentos também registravam baixas nas madrugadas. Curioso. Eu seguia insone, observava o ir-e-vir no apartamento e tinha quase certeza de que ninguém saqueava a geladeira

e os outros estoques de embutidos e enlatados. Mas, lembro, eu cochilava por pelo menos trinta minutos. – Sonâmbulo, tive surtos de glutonia pantagruélica? Li, então, estudo da Universidade de Tóquio, e o nó foi desatado: a malhação pode ser engordativa porque deixa a pessoa com fome quando o treino termina. Resultado: o sujeito que malha, e eu era um exemplo vivo, exagera na comida sem perceber. Ao tomar conhecimento da conclusão do estudo japonês eu já havia abandonado a academia, mas segui, persistente e determinado, com os mesmos hábitos. Continuei a almoçar, sempre que possível, em um costelão, café da tarde na Familiar, happy hour com direito a quatro ou cinco bolinhos de carne no Torto e, para manter a tradição, jantar em Santa Felicidade. Assim sigo, ou até mesmo, rolo por aí. Fazer o quê? Entre outros fatores, o que me transformou no que tornei tem nome: grelina. Cientistas da Universidade de Viena descobriram que é um hormônio chamado grelina que desperta no cérebro a sensação de fome. Li sobre o assunto em uma revista semanal na fila do supermercado, após caminhar quinhentos metros e, antes de pagar a compra, peguei um pacote de Ruffles, quatrocentas gramas, está servido?

Marcio Renato dos Santos é escritor minda-au.blogspot.com


Marianna Camargo

Sara Facio e Alicia DÁmico

Território habitável

Retrato feito em um manicômio de Buenos Aires por Sara Facio e Alicia D`Amico. A série é chamada Humanario. As artistas estão no livro Territorios, de Julio Cortázar

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o livro Territórios, de Julio Cortázar, série de textos sobre artistas que admirava e o influenciaram, ele escreve: “Cada uma destas páginas é um ato de gratidão e um novo impulso para não esquecermos que temos que fazer. Eles me obrigaram a aceitar a liberdade como único território habitável.” Vem à tona um pensamento intrínseco e indissociado de qualquer linearidade palpável. Como uma busca, uma bússola, sigo esse território habitável que Cortázar cita.

Caminho árido e solitário, todavia define um sentido. Por sobrevivência, por intuição ou por presságio. Só acontece, essencialmente, quando há liberdade. No território do não, da aridez absoluta das ideias, da inutilidade de qualquer palavra não pensada, a transposição só é possível porque é preciso continuar. Talvez um ato de rebeldia, de não aceitação, de subverter o que é imposto. Nessa fresta acontece a fluidez, o faro, a seta. Nesse jogo, ou acaso, destino, espaço entre silêncios, quebra-cabeças, se instala o poder da palavra. Que nada tem de casual ou aleatório.

É essencial, permanente, é o que realmente importa. Causa e efeito, matemática do azar, lance de dados. Simetria composta de contraponto, mistério e antagonismos sutis. Perceber, mais, reconhecer, faz parte desse mundo atemporal. Nessa cartografia dos sentidos, dos mapas rabiscados na pele, do que permanece como sonho quando é preciso acordar, a escrita se torna a saída, a salvação ou a loucura em estado bruto. Por isso, seguir, continuar, fazer. Aceitar, sobretudo, a liberdade como único território habitável.

Marianna Camargo é jornalista. mariannacamargo.blogspot.com novembro de 2011 |

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Carlos Alberto Pessôa

Sou um produto do rádio

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meio dia para frente. Todos os dias! ou um produto do rá“Incrível, fantástico, extraordinádio, das famosas onrio”, “Honra ao mérito”, “Gente das hertzianas em 49, Que Brilha”, “E eis a última nacio31, 25 e não sei quannal” – Repórter Esso, testemunha tas dezenas e metros ocular da história”. “No Mundo da mais. Até nas fugidias Bola” com o speeker cronista Antônio ondas tropicais tentei viajar, naveCordeiro! “A Hora do Pato”, “Balança gar; em vão, caros ouvintes, em vão Mas Não Cai”, os programas de auditório, do César de ouvintes de casa&auditório. Alencar e Manoel Barcelos, etc. Sou um produto do rádio. Que ainda agora estou a ouvir: Sou um produto do rádio. Nascido e criado em Irati na 97.1, FM-Estéreo, Educativa na cabeça e o concerto do meio primeira metade da baixa Idade Média nos ligávamos ao dia nos meus trinados ouvidos, deseducados ouvidos, não mundo, mundo, vasto mundo via rádio. Um barato. Aqueamestrados ouvidos – tchan-tchan-tchan-tchan (assim la coisa feia, grandona, desgraciosa, cheia de fios e válcomeça a 5ª de Beethoven). vulas a produzir sinfonias de ruídos, Sou um produto do rádio. Que a emitir irritantes cacofonias, já ouvi mais do que ouço hoje. com incompreensíveis desOuvia rádio à tarde, à noite e, falecimentos, nos entreticlaro, ave noturna como a nha, informava, divertia, coruja ouvia rádio madruemocionava, encantava, gada adentro – a noite era educava. Uma beleza. criança encantada. Por que escrevo essas — E pela manhã, Carcoisas? Porque virei ralos Alberto? (Me chamo dialista, porque estou a Carlos Alberto; gosto trabalhar no rádio! Não é que me chamem de Carlos um bom motivo? Alberto, adoro ouvir a muRapaz, ô rapaz, rádio é um lher amada emitir docemente barato. Cheguei ao maravilhoso Carlos Alberto...) veículo pouco tarde, reconheço, mas — Pela manhã não ouvia rádio porque nunca é tarde demais. E como dizia a maestava na escola, a aprender Português dre superiora, antes tarde do que nunca. com os olhos a visar você, leitor, a pensar É verdade. em você, futura vítima, cúmplice. Estou encantado com o rádio e com a Sou um produto do rádio. Mais esperádio que me contratou*, a Educativa, FMcificamente da rádio Nacional, PRE-8, orpelo início da revolução industrial, século XVIII. 97.1 e AM-630. ganizações Víctor Costa. Por que Víctor Costa? O pai da criança um francês, empresário do *Meus salários e luvas são ligeiramente meIgnoro. A rádio Nacional era de longe a melhor ramo editorial. Que começou a pedir aos cranores que os do Ronaldinho carioca, o fenôrádio, com o melhor e mais rico elenco, com o ques da época que escrevessem histórias em cameno. E também pouco inferiores aos salários mais diversificado conteúdo. Em todas as áreas: pítulos pra serem publicadas periodicamente. e luvas do Lulu, o nosso querido Luiz Geraldo do jornalismo ao humor e ao esporte. Isso pra Pronto! O leitor estava amarrado! O que aconMazza, como dois zês. Outro fenômeno. não mencionar as novelas – um achado. Tempo. tecerá no próximo capítulo? Compre o jornal e As novelas são adaptações do nosso velho de leia o relato. Essa a origem das novelas no rádio guerra e mui conhecido folhetim. Sendo o foe na tevê. Voltemos à vaca fria. À rádio Nacional, lhetim publicação em série de textos de ficção, PRE-8, Globo hertziana até os anos 50. Carlos Alberto Pessôa é jornalista em geral romanescos, saque de gênio pra seSou um produto da rádio Nacional. Ou sou víe escritor. Escreve diariamente para o site da Revista Ideias. gurar, amarrar as audiências dos periódicos de tima da rádio Nacional. Se você me provocar sou negopessoa.com antanho. Isto é, dos jornais de antigamente, lá capaz de lembrar a programação da dita cuja do

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Ensai� Fotográfic�

DICO KREMER

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inha primeira lembrança de um vago e incerto oriente foi quando cursava o primário no Colégio Santa Maria. Um rosto e um nome: Paulo Maeda. A acompanhar minha mãe a feira perto do antigo CPOR vi meu colega numa barraca de legumes: ajudava a família no trabalho. Não acredito que outros colegas ajudassem seus pais como o Maeda. Enfim, o colégio era considerado “de elite” na cidade. E não me lembro, até o final do curso, de ter visto outro descendente de japonês a estudar lá. Um pouco mais tarde vi na National Geographic Magazine, que meu pai assinava, umas fotografias sobre o Japão e belíssimas gravuras japonesas. Depois vieram os filmes japoneses no Cine Clube Pró Arte do Colégio Santa Maria e no seu sucessor, o Cine de Arte Riviera, comandado pelo José Augusto Iwersen. Para mim começava a ser aberto um novo mundo, diferente em tudo da cultura ocidental. Minha amizade com o Paulo Leminski possibilitou-me o contato com a poesia japonesa, em espe-

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cial o haiku. Com a leitura de Ezra Pound tive o conhecimento de peças do teatro Nô. No caso da fotografia vi um trabalho muito criativo de Bishin Jumonji na revista francesa ZOOM. Publiquei algumas reproduções de suas fotos no Polo Cultural, em 1978, editado pelo Reynaldo Jardim, com um pequeno texto de minha autoria. Sempre interessado nessa cultura distinta, imaginativa, onde o espaço e o tempo são vistos de maneira diversa, dediquei-me a ficção dos romancistas nipônicos. E em Portugal, onde morei e trabalhei por quase oito anos matriculei-me num curso de língua japonesa. As fotografias deste Ensaio Fotográfico foram feitas para a divulgação das atividades da sociedade Nikkei de Curitiba. Estão impressas nesta Ideias como minha homenagem e respeito a este povo milenar, criativo, sensível, cuja cultura e cuja técnica se não existissem tornariam sensivelmente mais pobre a nossa civilização. O significado do título é Leste ou o Oriente. São dois os ideogramas (kanjis); o primeiro quer dizer leste e o segundo direção. A pronúncia é Tôhô.


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Ernani Buchmann

Imponências e patetices

E

xigência profissional obriga-me a ligar para uma dessas autoridades curitibanas, pessoa que já ultrapassou os estágios do aprendizado, nos quais ainda se têm dúvidas, para chegar ao patamar em que é possível viver apenas com as certezas. Sua Sabedoria pode ser reconhecida por outra característica: atingiu o cume da onisciência, de tal forma que não lhe restam surpresas. Tudo o que precisava ser criado já está aí. Há muitos anos. Isso me ocorreu ao cabo de uns minutos de conversa, quando tive a petulância de pedir seu e-mail, para enviar as perguntas da entrevista que imaginei para umas das publicações em que trabalho. “Meu filho”, clamou a imponente voz. “Recebo telefonemas e correspondências.” Fui tomado de profunda admiração. O homem habitava os píncaros, já havia deixado para trás os graus mais elementares da erudição. Sem pudor, dizia que as últimas invenções a merecer sua consideração tinham sido o telefone e os correios. Trocando em miúdos – embora ele desdenhe da palavra, sujeito graúdo que é – nada no que foi inventado no século XX merece sua consideração. Talvez o automóvel, mas não tive a ousadia de fazer a pergunta. Ele poderia me tomar por cínico, teria ímpetos de me assustar

aparecendo na janela aqui de casa, algo sempre temerário quando tratamos com quem possui o dom da ubiquidade. Fato é que o cidadão me obrigou a mudar a pauta. Com o fim da longa greve dos correios, ele ainda agora deve estar abrindo suas correspondências. Suspeito que não lê o que recebe através do envelope fechado, como imaginei ser possível, posto que as respostas não chegaram à redação. Aí me ocorreu que o sujeito poderia ter mesmo sua dose de saber. Na semana da criança, alguém politicamente correto fez desandar a maionese com que se fizeram meus neurônios. O pacóvio ser propôs no Facebook uma campanha a favor das crianças e contra o assédio sexual, concretizada pelo uso de desenhos animados no lugar do próprio rosto. Coisa mais fofa, dirão os cínicos (aos quais não me associo, por receio do personagem acima me impor castigos divinos, ele que parece possuidor de tais poderes). Passam os feicebuqueiros, então, a receber pedidos de amizade da Pantera Cor de Rosa, da Minnie, da Fada Sininho, do Ferdinando. Passei a ignorá-los. Pior: postei um comentário dizendo que os estava mandando à lata do lixo virtual. Se alguém quer se apresentar a mim, que tenha o cuidado de declinar o nome, sem esquecer de mostrar as feições (quase escrevi fuças, mas me pareceu excessivo).

Não tenho o hábito de cumprimentar alguém portando a máscara do Pateta. Por que faria isso no mundo cibernético? Foi o suficiente para a politicagem correta tratar minha ascendência com os rigores do inferno, incluindo prego embaixo da unha. Por isso tudo, talvez o imponente personagem da entrevista não esteja tão errado como me pareceu. Ainda que jamais tenha ouvido falar de Bill Gates, John Lennon ou Jackson do Pandeiro, também está a salvo dos modismos que assolam a vida contemporânea. Antes de desligar aquele telefonema que abriu esta crônica, tive vontade de apresentar Sua Magnificiência a um reallity show. Big Brother Brasil, A Fazenda, um desses. Explicar a mecânica, o preparo intelectual dos componentes, a assepsia dos ambientes, as provas de caráter instrutivo. Foi um impulso sádico, reconheço. Recuei no último momento. Sadismo é mais grave que cinismo. Ele me condenaria a doses diárias de chá verde engarrafado, sem gelo. Até aquele prego na unha seria melhor.

ernani buchmann é escritor, advogado e publicitário novembro de 2011 |

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Especial

Dalton Trevisan Dalton Trevisan ganhou em outubro deste ano o 53º Jabuti, o mais antigo prêmio literário do país, concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) desde o ano de 1959. Trevisan foi premiado na categoria Contos e Crônicas, com “Desgracida”. Este é o quarto Prêmio Jabuti da carreira de Trevisan. Desde 1959, quando fez sua estreia literária com “Novelas nada exemplares”. Entre suas obras mais notáveis estão “Cemitério de elefantes”, “O vampiro de Curitiba” e “Guerra conjugal”. Toda sua obra é permeada pela presença marcante de Curitiba, seja como pano de fundo para as tramas ou mesmo como personagem de contos antológicos, como “Cemitério de elefantes”. “Desgracida”, lançado em 2010, é dividido em duas partes: “Ministórias”, com textos inéditos do escritor curitibano, e “Mal Traçadas Linhas”, com cartas enviadas a amigos. Dalton colaborou com a revista ETC de Literatura e Arte, editado pela Travessa dos Editores. O conto inédito “Duas Normalistas” foi publicado na edição número 7 da ETC, com ilustrações belíssimas de Maria Angela Biscaia. Leia uma mostra do talento de Dalton Trevisan.

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ilustração Maria Angela Biscaia


Duas Normalistas

À

s três da tarde, aperto a campainha do teu apê. Trago uma colega. Tem 17 aninhos. Uniforme de normalista, como você pediu. Mais: corpinho de curvas, seio de maçã, bundinha arrebitada. Está noiva. É a sua despedida de solteira. O meu presente para você. Que nos abraça e beija. Logo se instala no trono do teu quarto. Todo-poderoso. Da tua poltrona governas o mundo. Duas bandidas. Armadas para matar: boca pintada, blusa branca de botão, gravatinha, sutiã de taça, sainha azul plissada. Você liga o som frenético do coração de um drogado. E dançamos devagarinho uma com a outra, ondulando os braços, a cintura, os quadris. Trocamos beijinhos e carícias. Sem pressa. Ela apalpa e belisca de leve a minha bundinha. Deslizo a mão sob a sainha dela e recolho presto senão queima: uma brasa viva. Ao teu comando, uma vai tirando a roupa da outra. Abrindo, um por um, os botões da blusa apertada. Tímidas, a cabeleira cobrindo o rosto em fogo. Brancuras e delícias só para você: uma nesga de ombro, o bico tremido de um seio, a volta fosforescente de uma coxa... Você ordena, duro, que baixemos a calcinha. Quer ver as duas bundinhas — e já. Morrendo de vergonha, ai não, obedecemos. Aos poucos, relutantes, vamos descendo as calcinhas, uma rosa-choque, outra vermelha. De costas, subimos um tico de saia — e um nadinha mais... Aprumadas no saltinho alto. São dois rabinhos à tua disposição. São faces ocultas de duas luas rechonchudas. Sob a anágua da normalista se espreguiça a Grande Prostituta da Babilônia. Ficamos de joelhos, o sutiã preto com rendinha de taça transparente. Uma diante da outra, as pernas afastadas. Buscando e roçando a penugem do ninho de colibri. Uma com o dedinho médio na xota da outra. Ela está molhadinha e eu toda inchada. Daí rastejamos até você, sentadão ali de perna aberta. Nosso Grão-Paxá. Nosso Dom Pedro I de Sodoma. O fabuloso Ali Babá, mercador de nossos quarenta tesouros escondidos. As duas nuinhas. Só com as longas meias pretas e ligas roxas. Tão dóceis, excitadas e amorosas. Você pode fazer com a gente o que quiser. Duas escravas para te servir. Duas cadelas no calor de serem cobertas. Engatadas no mesmo macho. Aos gritos apedrejados pelos meninos da rua. Te beijamos da cabeça aos pés. Me demoro na tua boca, esses longos beijos de língua que a gente gosta de dar. A noivinha lambe o teu pau colosso. Viaja por ele com toda a língua. Também me ajoelho em adoração desse Pai dos Pais. Ai, Senhor, como é bom. Você descansa a pica na boca de uma, depois da outra. Canarinho rosado que numa só revoada colhe cento e uma formiguinhas de asas. As duas lambemos ele todinho e trocamos beijinhos na boca. Eu te chupo, bichana gulosa. Ela titila as tuas bolas com a língua. E o meu clitóris com o terceiro quirodáctilo. Você agradece com dois bofetões estalados e ardidos em cada uma. Nas bochechas de baixo e de cima. Ai, bem, doeu. Assim com força, dói. Quer mais, putinha, quer? Ai, gostosão, por favor me coma. Eu já não aguento. Me foda todinha. Venha, sua cadela. Venha dar gostoso pro teu macho. Eu me sento no teu caralho. As pernas abertas sobre a poltrona.

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E sinto o teu punhal de fogo e mel trabalhando a minha xota. Galopo nas nuvens e deliro de olho fechado. A pomba branca do amor em pleno voo alcançada currada estripada pelo ávido gavião. A menina agarra com força os meus peitinhos, morde o meu pescoço. Os seus pentelhinhos crespos me arrepiam docemente a bunda. Gozo no corpo inteiro. Tenho orgasmos do calcanhar até a nuca. Me desmancho de puro prazer. Fico ali gemendinha. A guria se instala ao nosso lado. Me beija furiosa a boca. E descansa a tua mão na bucetinha dela. Eu também quero, ela pede. Então fique de quatro. Ela — o grande olho verde arregalado de susto, desejo e medo — se põe de quatro na tua cama. Ai, que linda nalguinha empinada. Os seios pendurados assim cachos maduros de uva rósea. A xotinha aberta prontinha para ser fodida. Separo os grandes lábios e acerto o teu bruto pau na pequena fenda úmida. Quero ver você comendo a noiva. Quero ver o teu pau entrando com tudo. Quero te beijar todinho enquanto você trepa fogoso a tua cabritinha. A menina geme enlevada e quero deixá-la mais feliz. Você enfiando com decisão o caralho, eu lhe acaricio o clitóris. Pedindo para morrer, ela gora lágrimas gordas de prazer. Qual cuzinho você quer comer? Os dois, você diz. Estou louca para te dar o rabinho. Ó minha gruta secreta entre dunas movediças. Fico tão cadelinha, piranha, rampeira. Ai, é bom demais. Ó meu mimoso cravo violeta. O Rei dos Hunos ronda, acha, pede passagem. Violento e gentil. Ai, dor. Oh, delícia. O alfanje é recebido na bainha sob medida. Que se escancarem os portais do templo das musas calipígias. Quando sinto a cabecinha entrando quero uivar. Sim bem putinha puta putona. Eu sou. Sim. Cuidado, amor. Que dói. Devagarinho. Ah, é? Pronto, lá vem você com toda a força. Sem piedade. O aríete impávido colosso arremete rompe marra tudo pela frente. Que vagarinho. Sua viada. Pô, é pra doer. Geme. Assim. Chora. Mais. Já tiro sangue, orra. Minha alma dá gritos de alegria. Você me racha pelo meio. Eu me abro em duas metades perfeitas. Agora é a vez da noivinha. Com o teu cedro do Líbano bem dentro do meu pobre cuzinho, ela dedilha o meu botãozinho em chamas. De tanto gosto, os grandes lábios batem palmas. Frenéticos, piscam os pequenos e me mordem. O cuzinho lambe os beiços e delira de boquinha aberta. Ai, o coração latindo no peito e ganindo no meio das coxas. Você não espera mais e explode o meu rabinho. Já não tenho cabeça mão perna. Sem consciência. Sou puro gozo. Só gemido êxtase epifania levitação. Duas asas tatalantes da borboleta trespassada na múltipla agonia. A minha alma aos uivos subindo num rojão fervente de porra. E o teu Exército com Bandeiras ocupa toda a cidadela arrombada. E eu? Chorominga a noiva esquecida. E eu? O outro cuzinho fica para outro dia, você diz.


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ilustração Maria Angela Biscaia


Rogerio Distefano

A palavra mal escrita de Wilson Martins

T

enho uma confissão a fazer: sou editor frustrado. Não desses tipo Luiz Schwarz, da Companhia das Letras, ou Fábio Campana, da Travessa dos Editores, empresários da literatura. Queria ser editor como os dos EUA, que acompanham o autor na redação, dão palpites sobre o tema e sua abordagem e ao final fazem a revisão do livro. A melhor caracterização da profissão para mim está no filme Lobo, de 1994, em que Jack Nicholson, editor decadente, transforma-se em lobisomem e seduz a filha do patrão. Vale a pena rever o filme. Como editor frustrado contento-me em ser leitor atento, aquele tipo que tem cadeira adequada, situada em diagonal de janela com luz natural profusa, luminária para a leitura noturna, bom estoque de marcadores e o requinte de prendedores de página para facilitar o manuseio do livro. Sem esquecer a inseparável lapiseira para as anotações e rabiscos nas páginas dos livros – as primeiras, com grandes espaços livres, com xingamentos à editora, ao revisor e ao tradutor, as últimas, completamente brancas, para indicações de pesquisas inspiradas pelo texto. De 10 de outubro de 2010 a 26 de setembro de 2011 fui leitor atento e contínuo da História da Inteligência Brasileira, 7 volumes, de Wilson Martins, 3ª. edição, Universidade Estadual de Ponta Grossa, coordenação editoral da pró-reitora Beatriz Gomes Nadal e revisão de língua de Renato Bittencourt. São aproximadamente 4.200 páginas, incluídas 261 de bibliografia. No meu círculo de correligionários de leitura não conheço quem tenha lido os sete volumes sem interromper. A maioria a utiliza como obra de referência para examinar tópicos de interesse. Fui do começo ao fim, pois se não gostava das resenhas literárias de Wilson, continuava fascinado por ele desde os 17 anos, quando encontrei seu A Palavra Escrita (a história do livro), de 1957, numa velha prateleira do Colégio Estadual Munhoz da Rocha, em Rio Negro. Ler Wilson Martins não é tarefa fácil, mesmo a profissionais da leitura. Ele não tem grande consideração com o leitor, é aquilo de “ame ou deixe”: seus parágrafos são imensos, muitas ve-

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zes precisamos de GPS para orientar o sujeito na localização do predicado; a História não chega a ser uma obra sistemática, como um tratado, pois o autor foi recolhendo textos de toda a vida e os agrupou em unidade algo arbitrária, inclusive alguns que escreveu antes dos 30 anos, que Wilson, em admirável coerência, considerou atuais e válidos. Wilson adotou critérios estranhos, como situar o início da inteligência brasileira no período colonial e incluir na inteligência (para ele a intelectualidade) os introdutores do espiritismo e da homeopatia no Brasil. Ainda que discutíveis, as opções de Wilson absolutamente desmerecem a obra. Ao contrário e exatamente por causa das opções, a obra, lida sem interrupção, revela-se uma abordagem original e fascinante da história do Brasil. Wilson faz revisões críticas que resgatam autores que merecem até hoje certo menosprezo na literatura, como José de Alencar; e a análise impiedosa do indigenismo, a exaltação do índio no romance e na poesia por ele apontado como biombo para esconder o opróbrio da escravidão. Há pontos memoráveis, em que descontroi, ainda que enaltecendo as virtudes, bestas sagradas da crítica, como Sílvio Romero. Mas Wilson merecia mais cuidado por parte da Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa, cuja 3ª. edição traz seriíssimos erros de impressão. O que vou apontar aqui já o fiz em troca de e-mails com a consultora editorial da edição, a pró-reitora Beatriz Gomes Nadal, que sentiu-se ofendida, achando que eu imputava “leviandade” quando disse de minha impressão que seis dos sete volumes passaram por simples correção ortográfica de acentuação pelo novo acordo ortográfico; revisão, de revisor manual e humano, minha impressão continua sendo de que isso só se fez no volume I. Faço a demonstração, não por birra, mas por amor à clareza e ao texto compreensível. Não bastasse, Wilson Martins merece a consideração. Ofereci meus volumes, com as anotações que fiz, para que a EUEPG utilizasse como guia em futura edição – se houvesse outra, já limpa, poderiam ser substituídos. Absolutamente não culpo o revisor incluído nos créditos, pois é tarefa excessiva impor a uma só pessoa a revisão de 4.200 páginas

– seja qual tenha sido o prazo estabelecido, que a julgar pela ausência de erros em um só volume, há de ter sido exíguo. Colhi alguns erros, não todos. A maioria são erros de impressão bobos, como espaços entre palavras, vírgula na linha seguinte, ou a redação de locuções com uma palavra em inicial minúscula e a outra em maiúscula. Então vamos lá: volume I – sem erros; volume II – faltam as páginas 33 a 48; Rio, são Paulo e Minas (121); esteios da, sociedade (174); ofoito (201); rregentes (225); suas majestades o imperador; volume III – bBarão de Macaúbas (42); escritores brasileiro (55); tradução e Virgílio (55); volume IV – citação sem aspas (412); resureição (417); os profissionais mais retribuídos e pouco considerados (432); volume V – discordasse essa visão da obra (86); orovíncia de Santa Cruz (130; olusão do Terceiro Reinado ( 219); (254 (início da frase em minúscula); volume VI – Paul Port, Paul port (249); peem umbrismo (251); moem umentos (215; o mesmo nas 195, 180, 160, 151); moem umental (286); em umeráveis (287 e 282); preconi-zando (307); em umerosos (308, 314, 339, 317, 342, 343, 340); Bastas Tigre ( 341); dAnça (363); dO folclore (356); estados Unidos, primeira República (379); Machado Peem umbra. Sei que ninguém liga para erros de impressão. Importante, dirão os editores de Ponta Grossa, importante é editar, fazer o livro disponível neste país de poucos leitores. Pode ser, mas enquanto o brasileiro não for exigente ao extremo na qualidade de seu produto continuaremos na rabeira das histórias da inteligência e da eficiência. Se isso não bastar, se estas linhas forem vistas como coisa de chato, entendam que, em primeiro lugar o chato é pontagrossense, em segundo lugar o chato é consumidor, em terceiro lugar o chato é contribuinte e ajudou a pagar a edição da UEPG.

Rogerio Distefano é advogado e colunista da Revista Ideias. maxblog.com.br


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aRte: Gui ZamoneR

Ensai�

Floresta, 2005. ao fundo, foto de Guillermo sequera

A densa floresta dos mitos e a trilha estreita da poesia LUIS DOLHNIKOFF

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equeno volume de rara beleza poética, para não falar da ainda mais rara oportunidade de entrar em contato direto com textos originais da imemorial tradição oral ameríndia, Roça barroca, da consagrada poeta e tradutora Josely Vianna Baptista (a sair pela Cosac Naify),

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reúne o mito poético da criação do mundo dos Mbyá-guarani, integrantes do grupo Tupi (“3 cantos sagrados dos Mbyá-Guarani do Guairá”, em apresentação bilíngue guarani-português) e poemas originais da autora, frutos de seu contato com a cultura ameríndia (“Moradas nômades”), além de prefácio de Augusto Roa Bastos.

Os “3 cantos sagrados dos Mbyá-Guarani do Guairá” (“Os primitivos ritos do Colibri”, “A fonte da fala” e “A primeira terra”), ao narrar a criação do mundo, dos homens e dos animais pela palavra vivificadora dos deuses, compõem uma estranha e estranhamente bela narrativa poética sintética sobre personagens de sabor arquetípico, que evocam tanto o tempo pro-


reúne poemas que fundem, integram e confundem o mais arcaico e o mais contemporâneo. A densa e densamente bela linguagem poética de Josely V. Baptista se volta para cenas e cenários do Brasil colônia, da mata brasileira, da vida na mata, de histórias antigas e de memórias profundas, tensionando e tocando a corda sutil das relações entre a língua portuguesa e a cultura ameríndia, o moderno e o atemporal, o ocidental e o “outro”. “Carunchos e cupins roem, / vorazes, a choupana de ripas // pendem do esteio ramos de trigo, / feito amuleto para celeiros cheios; / tachos esfarelam crostas de grãos moídos / e redes balançam seus esgarços, / perto do chão onde uma nódoa preta / mostra o antigo fogo // tudo abandono, e, no entanto, / lá fora o pomar semeado / para os que agora cruzam / (trouxas vazias), um / por um, os onze mil // guapuruvus”: o poema (“Roça barroca”) dialoga diretamente com um dos mitos fundamentais (em mais de um sentido) dos Guarani, o da “Terra sem mal”, misto de território mítico-paradisíaco e conceito pragmático de um povo seminômade. Em suas migrações pela mata, as tribos contavam, para sobreviver, com a solidariedade genérica e apriorística entre os vários grupos, que num contexto cultural no qual inexistiam as comunicações à distância, bem como o planejamento sistemático das mudanças tribais, mantinham o costume de semear parte do terreiro ao deixar para trás algum local de ocupação temporária. Paradoxalmente, a “Terra sem mal” é um lugar intacto, e portanto, jamais semeado, mesmo porque não precisa sê-lo, pois lá não há fome. A discussão histórico-antropológica sobre a “Terra sem mal” (que Josely Vianna Baptista sintetiza em um dos textos do volume, “Em busca do tempo

dos longos sóis eternos”), aponta possíveis ou prováveis influências do mito paradisíaco judaico-cristão senão na origem do mito guarani, em sua evolução a partir do século XVI. Seja como for, sua ideia, seu conceito e sua mística se integram às demandas pragmáticas de uma vida seminômade como força impulsionadora de migrações tão necessárias quanto trabalhosas e arriscadas, pois tudo ou quase tudo tinha de ser provido e providenciado on the road. Daí a cena do poema, que antepõe com sintética beleza o contraste entre o abandono realizado e a vitalidade em potência. Roça barroca representa ou possibilita uma síntese afortunada do trabalho poético-literário de Josely Vianna Baptista. Pois reúne a poeta e a tradutora em um mesmo volume, um mesmo corpus, em que o domínio da linguagem poética é posto a serviço da tradução, enquanto o trabalho tradutório e a convivência com a cultura ameríndia (incluindo as visitas a aldeias e as gravações de versões orais diretas dos mitos) alimentam e informam seus novos poemas, num diálogo mitopoético de ressonâncias realmente raras (principalmente em meio a tão comuns reivindicações de “multiculturalismo” — ou coisa semelhante).

Título: Roça barroca Autor: Josely Vianna Baptista Editora: Cosac Naify Ano de publicação: 2011 Gênero: Tradição oral mbyá-guarani e poesia contemporânea Apresentação: Augusto Roa Bastos Foto da capa: Miguel Rio Branco Apoio: Petrobras Cultural arte: Gui Zamoner

arte: Gui Zamoner

fundo do mito quanto a profundidade sensível da floresta brasileira. Seu texto é apresentado ao leitor duplamente: em transliteração do guarani para o português e em tradução direta. A arte é, no limite, certa autonomização da estética inexistente em outras culturas que não a ocidental moderna. “Etnopoesia”, por sua vez, é na verdade mito em linguagem poética: portanto, mito antes de poesia. A dimensão estética e a linguagem poética estão a serviço de outra coisa, são um meio, não um objeto em si. A ironia é que, do mesmo modo e pelo mesmo motivo que a “etnopoesia” não é de fato poesia, um ocidental moderno não pode ler nela senão poesia. Perde-se o mito, ganha-se a arte. Mas apenas se a arte, ou seja, a linguagem poética, não for também perdida. A tradução fielmente semântica de um mito oral pouco tem, nesse sentido, de fiel, não apenas porque sua natureza oral explica e determina o uso da linguagem poética, que em suas recorrências morfossemânticas é mnemônica, além de encantatória, como tais recorrências acabam por codeterminar, dialogicamente, o próprio campo semântico original, feito de evocações e repetições, além de eventuais incoerências narrativas (encontráveis tanto nos textos homéricos — os conhecidos “cochilos de Homero” — quanto na Bíblia). Isso para não falar do mecanismo das “simpatias”, característico do “pensamento mágico”, que não é movido ou estruturado pelas relações de causa e efeito do pensamento lógico-racional, mas por relações de semelhança. Neste caso, não existe separação entre semântico e formal, ou entre forma e sentido, ou melhor, entre forma e substância, ou forma e “essência”, mas ao contrário: as formas são manifestações sensíveis necessárias das substâncias, que portanto dão a conhecer. Na verdade, existem para dá-las a conhecer. Isso se aplica aos bonecos do vodu e à “medicina” tradicional chinesa (em que o pó de chifres de rinoceronte, por exemplo, é usado contra a impotência), mas também à onomástica tupi-guarani. No caso particular dos mitos cosmogônicos mbyá-guarani traduzidos por Josely V. Baptista, há mesmo uma clara dimensão metalinguística, explicitada, por exemplo, no segundo mito, Ayvu rapyta, “A fonte da fala”. A tradução fielmente semântica e apenas fielmente semântica de tais mitos, afinal, pouco tem de fiel ao “espírito” (e aos espíritos...) de seu texto (que são, na verdade, nomes). Daí o trabalho de reconstrução morfossemântica de Josely V. Baptista, que incluiu a regravação in loco dos mitopoemas a partir de declamações de integrantes dos Mbyá-guarani, para auscultar a tessitura sonora, os ritmos e os timbres originais. Do mito e da tradução poéticos para a poesia que traduz, senão os mitos, a sua ambiência: a segunda parte do livro, “Moradas nômades”,

Rugendas, Desmatamento, 1835. Ao fundo, foto de Guillermo Sequera novembro de 2011 |

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liVros

Prateleir� nova história

nas ruas de curitiba por Thais kaniak

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ós passaremos em branco. Luís Henrique Pellanda traz, em seu livro de crônicas, detalhes que escapam da percepção da maioria. A prostituta que joga pétalas de rosas sobre a menina que dorme na praça. A alucinada estreia do filme The Doors no antigo Cine Plaza. Tudo em Curitiba. A capital paranaense é o cenário das histórias quase invisíveis de Pellanda. Flagrantes do cotidiano que revelam perversidade e encanto nas ruas da cidade. Junto com o autor, o leitor sobe a Ébano Pereira, atravessa a Pracinha do Amor e pega a Saldanha Marinho. Desce a Ermelino até a Boca Maldita e percorre o calçadão rumo à Praça Osório. Nada melhor do que um curitibano para desbravar a cidade e extrair lirismo das ruas. As crônicas se concentram na província, mas o lançamento da obra não. Foi além. Pellanda lançou seu livro em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. As 37 crônicas do volume são o resultado da publicação semanal em quase dois anos do escritor, jornalista e músico no site Vida Breve.

por Fábio Campana

nÓs passaRemos em BRanCo Coleção arte da Crônica da arquipélago editorial 2011 - 192 páginas

o intocável por dico kremer

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ohn Banville é irlandês, escritor e colabora com o prestigioso The New York Review of Books. Publicou, desde 1976, mais de uma dúzia de livros. Em 1997 lançou “The Untouchable” – “O Intocável” – Ed. Record 1999. Não me lembro como cheguei a esse escritor magistral, com domínio perfeito da construção e da narração. É da estirpe dos grandes irlandeses com o humor lembrando os de Bernard Shaw, Oscar Wilde e, naturalmente, James Joyce. “O Intocável” conta a história da vida, romanceada, de Anthony Blunt um dos chamados quatro espiões de Cambridge a serviço da União Soviética. É um roman à clef. Os outros eram Guy Burgess, Donald Maclean e o famoso Kim Philby. Dos personagens citados não reconheci nenhum pois não tenho intimidade com espiões e suas vidas. Mas um deles (que não fez parte do grupo e nem foi agente duplo) é fácil reconhecer para quem conhece um pouco de literatura: é o escritor Graham Greene, Querell no livro. A narrativa é muito bem construida, flui, e a tradução de Marcos Santarrita contribui para se perceber o estilo criativo do escritor. O humor lembra o de Gore Vidal: um humor negro, crítico, sutil, com uma aguda visão sobre as relações humanas num universo onde alguns personagens se dedicam ao vice anglais, como dizem os franceses. Nessa época sombria onde o politicamente correto e o misticismo malsão é o que se edita, John Banville escreve uma excelente prosa cheia de verve, humor, ironia, engenho, erudição e estilo.

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o intoCÁvel John Banville editora Record, 1999 412 página

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ova história em perspectiva reúne em dois volumes 41 textos — a maior parte inédita em português — em que se delineia a revolução que a historiografia viveu a partir do surgimento da Escola dos Annales em 1929. Além dos primeiros manifestos de combate, passando por ensaios clássicos, desdobramentos, até interpretações mais recentes — assinados por figuras centrais como Lucien Febvre, Fernand Braudel, Jacques Le Goff, Carlo Ginzburg e Hayden White — você encontrará nessa edição da Cosac Naify um balanço crítico e uma tomada de posição dos organizadores, contribuição brasileira substantiva para a bibliografia internacional. A organização da edição nativa é de Fernando A. Novais, Rogerio Forastieri da Silva. A tradução é de um time competente: Bruno Gambarotto, Denise Bottmann, Eugênio Vinci de Moraes, Flávia Nascimento, Joaquim Toledo Jr., Maria Elena Ortiz. nova histÓRia em peRspeCtiva editora CosaC & naiFY ano: 2011 560 páginas


Livros

Exposição

Fausto moderno

Previna-se e reflita

Por Fábio Campana

Por Thais Kaniak

A outra face de Marilyn

Anita Malfatti no MON

Por Marianna Camargo

A última encarnação de Fausto Autor: Renato Vianna Editora Martins Fontes

ACervo Mon

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ela coleção Dramaturgos do Brasil, a WMF Martins Fontes publica texto inédito de Renato Vianna “A última encarnação de Fausto”. A peça foi escrita, dirigida e interpretada em 1922. Na época causou escândalo. Tudo era inovador. Texto, luz, som e cenário. Renato Vianna nasceu no Rio de Janeiro, a 31 de março de 1894. Aos nove anos de idade passou a viver em São Luis do Maranhão, para onde a família mudara. Em 1908, seu pai suicidou-se. Essa tragédia marcou profundamente Renato Vianna e, de certo modo, filtra por ela o seu pessimismo melodramático. Passam por essa experiência amarga, também, as posturas críticas contra a oligarquia no poder.

A C

omo evitar os perigos do dia a dia e não se tornar uma vítima de criminosos. O livro “Diálogos sobre Segurança Pública” traz ao leitor várias dicas de segurança para não se tornar uma vítima da criminalidade. Conselhos que ajudam a modificar comportamentos e, assim, prevenir situações de risco. Como tornar sua rua, casa e família mais seguras. Como não cair em golpes. Como evitar que seus filhos se envolvam com drogas ou sejam vítimas de homicídios. Como se comportar caso seja vítima de roubo ou sequestro. O livro também traz reflexões sobre por que crimes ocorrem e possíveis soluções para a segurança pública no país. O autor Rafael Ferreira Vianna além de ensinar o leitor a se proteger, o incentiva a pensar sobre o mundo. Diálogos sobre Segurança Pública Autor: Rafael Ferreira Vianna Editora Íthala 134 páginas

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ragmentos — Poemas, Anotações Íntimas, Cartas reú­ ne escritos da diva Marilyn Monroe. A maioria cobre toda a década de 50, período em que sua vida pessoal foi marcada por casamentos malsucedidos, insegurança, melancolia e barbitúricos. A obra causou estardalhaço nos Estados Unidos e na Europa, mas não traz nada polêmico sobre a atriz, porém revela um lado mais íntimo de Monroe. “Este livro é a outra face da Lua.” A definição certeira está no prefácio do escritor italiano Antonio Tabucchi.

Marilyn Monroe em sessão de fotos para a revista Vogue em 1962 Fragmentos - Poemas, Anotações Íntimas, Cartas Autora: Marilyn Monroe Organização: Stanley Buchtal e Bernard Comment Editora Tordesilhas

exposição de “Anita Malfatti” está no Museu Oscar Niemeyer (MON). A mostra é a primeira atividade da Virada Cultural 2011 em Curitiba. São cerca de 100 obras da artista que revolucionou a estética e a arte no Brasil no início do século 20. As pinturas expostas nos 500 metros quadrados da sala Miguel Bakun fazem parte de coleções particulares e de instituições públicas e privadas. A arte de Anita Malfatti (18991964) deflagrou o que viria ser chamado de modernismo brasileiro. Em 1917 ela provocou escândalo em São Paulo ao exibir 53 trabalhos ousados. Monteiro Lobato reagiu ao experimentalismo da artista com um artigo, hoje célebre, chamado “Paranoia ou mistificação?”, no qual compara o trabalho de Anita “aos desenhos dos internos dos manicômios”. Mas o ataque do renomado escritor, que não foi o único a protestar contra a artista, promoveu e consagrou Anita. Em 1922, ela e outros poetas, escritores e intelectuais promoviam a Semana de Arte Moderna. Desde então, a arte no Brasil nunca mais foi a mesma. Anita Malfatti De 5/11/2011 a 29/12/2012 Mon - Museu Oscar Niemeyer R. Mal. Hermes, 999 - Centro Cívico

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Luiz Carlos Zanoni

Capetas e querubins

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céu e o inferno partilharam a Borgonha em boa paz, e com tamanha dissimulação que um cristão precisa usar de muita perspicácia para saber onde pisa. Quem já esteve lá, ou aprecia os vinhos feitos na região, sabe do que se está falando. A famosa província francesa é um intrincado mosaico de pequenos produtores, denominações de origem e classificações. Sem alguma intimidade, fica difícil se orientar nesse território onde anjos e capetas se confundem, alegremente devotados ao mesmo ofício. Veja o caso do Clos Vougeot. Napoleão arrebatou da Igreja esse vinhedo e o dividiu entre os agricultores, cerca de 80, que trabalhavam na propriedade. Hoje, os

Philippe Pacalet

Pacalet, para quem não o conhece, é nome em alta na nova geração de produtores da Borgonha 66

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descendentes continuam na ativa, todos com o direito de usar no rótulo a prestigiosa denominação Clos Vougeot. Os vinhos se igualam no nome e no preço, este sempre caro, mas nunca na qualidade, pois o grau de capricho e dedicação varia entre seus autores.E aí, como fazer na hora de comprar? Na Borgonha, mais do que em qualquer outro lugar, é essencial prestar atenção em quem produz, lembrou Philippe Pacalet nesta sua última passagem por Curitiba. Pacalet, para quem não o conhece, é nome em alta na nova geração de produtores da Borgonha. Cabelos encaracolados e ar travesso de querubim, logo se vê que sua brigada é a do bem. Em poucos lugares o conceito do terroir – a busca do ajuste entre solo, microclima, cepa vinífera e técnicas de elaboração – é tão cultuado como na Borgonha. Só duas uvas são ali permitidas, a Pinot Noir, para os tintos, e a Chardonnay, para os brancos. A província se divide em numerosas pequenas comunas, destacando-se as que ocupam as colinas ao norte e sul da cidade de Beaune, numa extensão de 100 quilômetros. Os bons tintos e brancos da Borgonha são únicos, inimitáveis, exemplo de harmonia e elegância num mundo cada vez mais povoado por vinhos bombados, excessivos na graduação alcoólica e nos aromas. Pontuados por uma nota de acidez em escala sempre acima, mostram-se sutis, sedosos, fluidos, mas, ao mesmo tempo, elétricos e intensos, um punho de aço em luva de veludo segundo a clássica definição. Este é o território de Pacalet, que opera com vinhas em Meursault, Puligny-Montrachet, Corton-Charlemagne, Pommard, Chambole-Musigny, Nuits-Saint-Georges, Gevrey-Chambertin e, mais ao norte, Chablis. Philippe Pacalet é adepto de uma cartilha em voga entre muitos produtores da Borgonha: o emprego de métodos naturais que exorcizam produtos químicos nos vinhedos e cantinas, a fermentação apenas com as leveduras naturais e, na fase de maturação, mão leve no uso de barricas novas de carvalho. A idéia é permitir que a interação dos elementos naturais formadores da fruta se expresse livremente no vinho, dando-lhe caráter e identidade. Pureza, mineralidade, frescor e vivacidade são alguns dos adjetivos que me-

Os bons tintos e brancos da Borgonha são únicos, exemplo de harmonia e elegância lhor definem esses caldos. Pacalet abriu no restaurante C La Vie alguns rótulos trazidos na bagagem, todos de 2006, ano já pronto para a taça. Uma delícia seu Pommard 1er Cru, assim como o Lavaux St. Jacques, o Ruchottes-Chambertin e o Charmes-Chambertin, estes dois últimos provenientes de vinhedos grand cru. Pacalet tem vindo com freqüência ao Brasil. Promover seus rótulos é uma razão, mas não a principal. Sua mulher, Mônica, é brasileira de Piraçununga. O eta trem bão que o francês mandou, com sotaque do interior paulista, ao provar uma taça, veio das aulas de português que Monica está lhe dando. Outros produtores igualmente confiáveis da Borgonha: Dugat-Py, Armand Rousseau, Clarice Tremblay, Denis Mortet, Prieurè Roch, Giantet Pansiot, Domaine Faiveley, Dujac, Ligier-Belair e François Mugnier. Como hors concours, Comte Vogüé e o Domaine de Romanée-Conti.

LUIZ CARLOS ZANONI  é jornalista e apreciador de vinhos


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Jussara Voss

Clos de Tapas

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beleza está na mesa, tem gosto e te leva a passear numa viagem de prazeres. Em tempo de busca por experiências gastronômicas inesquecíveis, o esforço para surpreen­ der é grande. “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, já profetizavam os Titãs. Também é difícil o trabalho

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do escrevinhador, como traduzir o que deveria ser sentido. Falo do Clos de Tapas, um dos restaurantes comandados por Marcelo Fernandes, “o cara”. Começou com ninguém menos do que Alex Atala no D.O.M. Desfeita a sociedade, apostou no tradicional Kinoshita da Liberdade, levando o restaurante, em 2008, para a Vila Nova Conceição, e abrindo as portas para Tsuyoshi Murakami chegar aonde chegou, um


respeitado e aclamado chef. Seguiu com a bem sucedida Mercearia do Francês, sem alardes, e explodiu a cena em janeiro deste ano, era a vez do Clos de Tapas, comandado pelo casal ibero-brasileiro, a paulistana Lígia Karazawa

e o madrileno Raúl Jimenez, uma dobradinha que parece ter sido desenhada pelos deuses e tem dado o que falar, vide a gaúcha Helena Rizzo e o catalão Daniel Redondo que conquistam fãs no Maní, outro lugar imperdível

em São Paulo. E Fernandes ainda não se contenta, traça planos para dar forma a um restaurante italiano, com ninguém menos do que Jefferson Rueda. É só aguardar. Enquanto isso, aposta no Clos, pedaço de terra que costuma dar bons frutos e que, neste caso, não é um bar de tapas. Longe disso. Aliás, ali nada é o que parece ser. A arquitetura é de Naokii Otaki e o paisagismo de Gilberto Elkis, impecáveis, a louça é de Hideko Honma e a arte é de Enrique Rodriguez, surpreendentes, as técnicas são de vanguarda, a tecnologia, diferentemente do que podem pensar, não espanta os sabores. A cenoura é uma terrine de foie gras, a terra é de gergelim negro e cogumelos, o caldo de manjericão e repolho roxo do ceviche muda de cor enquanto se está comendo, o PF, arroz crocante, caldo de feijão e farofa de couve, nem lembra o tradicional prato, e carvão é um bacalhau desafiador. E teve mais. O menu pode ser espanhol, mas os ingredientes são brasileiros, e no desfile de surpresas diferentes formas de apresentar beterraba, mandioca, caqui, que vem com cachaça, neve, que é de castanha do Pará, açaí com amendoim servido na tigela, é claro, manteiga com amburana, a semente do Amazonas, que abre o couvert, e o leitão de leite com pele crocante, que deixa saudades. Ninguém está ali para brincadeira. Nem os clientes. Entrando pela grande porta, a primeira pergunta feita indagava como estava o meu apetite, a segunda se eu tinha alguma restrição alimentar. Adivinhe. Pronta para o banquete, todos os sentidos aguçados, deixei que eles mostrassem o talento lapidado mundo afora. Com temporadas no elBulli, El Celler de Can Roca e no Mugaritz, que frequentam as primeiras posições na mais famosa lista dos melhores restaurantes do mundo, o casal deu um show naquela noite. Começo, meio e fim. Acabamos degustando a cópia da imponente escada do salão que encerrou a escalada de sabores, e também quero louvar a harmonização de vinhos, impecável, e o arremate final com mignardises. Preocupada em anotar os detalhes dos pratos provados que pipocavam à minha frente, esqueci-me de relacionar as bebidas servidas. Muito bem-vindo Clos de Tapas.

Jussara voss é jornalista

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Solda

Cartas na mesa (Horoscópula do Prof. Thimpor)

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ou, sem dúvida alguma, o horoscopista que mais recebe cartas neste país. Até hoje ninguém teve coragem de mandar um baralho inteiro, mas isso não vem ao caso. O prestígio de um astrólogo se mede pela correspondência que o carteiro lhe deposita à porta. Nisso, tenham certeza, sou campeão e deixo os embusteiros com as calças na mão. É uma rima e agrada ao patrão. Não tendo mais o que fazer com tanta missiva (elas se amontoam de maneira cruel em meu escritório), resolvi simplesmente publicá-las, o único jeito que encontrei para me livrar delas e sair mais cedo para encher a cara. Está inaugurada, portanto e finalmente, a minha seção “Cartas”, onde vocês poderão fazer confissões, ameaças e, até quem sabe, fazer com que eu perca o emprego brutalmente. “Há uma semana descobri que meu órgão é pequeno demais! Não sei mais o que fazer! Meus colegas vivem zombando de mim. Que atitude devo tomar?” Mineiro Sustenido – Alfenas/MG Ora, isso é típico de músico precoce, ambicioso e desorientado, que não consegue se entrosar com o conjunto, achando que um órgão maior vai resolver o problema! Por que você não experimenta tocar piano, sintetizador, talvez? Troque de instrumento, compre piano em calda ou procure a Desordem dos Músicos imediatamente. Não tome atitude alguma e atenha-se à partitura. Bach também tinha órgão pequeno e nunca reclamou. Edu da Gaita tocava o seu instrumento de ouvido. “Perdi a virgindade no táxi, junto com todos os meus documentos. A incerteza me desespera, estou sendo vítima de calúnias terríveis. Penso até em suicídio. Por favor, me ajude!” Desgostosa Em Prantos – Buxixo/MA

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Minha cara desgostosa: você não é a primeira pessoa que perde a virgindade num táxi, portanto, não inovou em nada. O motorista de táxi certamente perdeu a calma e desquitou a bandeirada em você, recolhendo o teu hímem para a coleção de troféus. Contudo, isso não é motivo para suicídio. Perder a perna esquerda no palito, por exemplo, seria uma situação muito mais embaraçosa e constrangedora, quem sabe até motivo para o tresloucado gesto. Mas se atirar debaixo da primeira bicicleta que aparecer, como você mencionou na carta, é de uma infantilidade impressionante! Existem maneiras muito mais eficientes pra acabar com a vida. A originalidade, nesses casos, ajuda bastante. Coma feijoada enlatada, vá morar no Afeganistão, Líbia ou entre na jaula do leão. Quanto às calúnias, enquanto não xingarem a mãe do juiz, mantenha a calma e não ultrapasse em faixa contínua. Sob neblina use luz baixa. Quem obedece a sinalização, evita perón. “Casei com meu irmão, mas ele confessou amar nossa mãe. Meu pai fugiu com meu pri-

mo, enquanto a empregada seduzia a vovó. O pequinês aqui da casa está apaixonado pela frigideira; ninguém quer pagar a conta da luz. Quais são as perspectivas para reorganizar a família?” Jocasta Modesta – Roxodó/PE Nenhuma. Fique quieta e não faça movimento algum, “Estou namorando um alemão de bigodinho, meio idoso. Ele é muito estranho, vive levantando o braço direito para o céu e murmurando umas palavras que eu não consigo entender, parece latido de vira-lata com úlcera. Tenho medo dele, apesar de amá-lo intensamente. Quando namoramos, ele fica o tempo todo com o isqueiro aberto encostado no meu nariz. Já marcamos casamento, mas ele tem medo de ser reconhecido na igreja e insiste em ir à cerimônia de uniforme, com aquela faixa estranha com uma suástica no braço. Tenho quase certeza que ele é anormal. Ou será que é somente louco?” Izildinha Sete Léguas – Itanajé/SC Tenho impressão que você errou de ano, Izildinha. Isso foi em 1942, por aí. Em todo caso desista desse falso ariano e se apaixone pelo grego da alfaiataria. Não é tão rude e dói menos. E grego, dizem, não brinca com gás. E ainda costura pra fora. Solda 1978 (to be continued)

solda é escritor, humorista e cartunista. cartunistasolda.com.br


ÚLTIMAS DA MODA

por paola de orte

Questão de bom senso Q

uem nunca encontrou uma foto antiga e pensou “por que (no mundo!) achei que era razoável usar esse vestido?”. Algumas peças entram na moda, mas são tão cafonas que percebemos, desde a primeira vez que as vemos, que daqui a meses estarão empilhadas naquele cesto a que chamamos carinhosamente de “lixo”. Instintivamente, sabemos o que é ridículo. Não acredito que alguém tenha olhado, pela primeira vez, para a calça saruel, e pensado que seu desenho era razoável e de linhas harmônicas. No entanto, a vimos tantas vezes em editoriais e lookbooks, que nos acostumamos e boom (!), a catástrofe foi feita! Mais uma desgraça foi lançada e será usada até a exaustão, até o dia em que alguém acorde e se pergunte onde estava com a cabeça. Digo isso porque, nas últimas semanas, em Nova Iorque, Milão, Londres e Paris, designers apresentaram suas coleções para a Primavera de 2012. Como em todas as temporadas, algumas trends se repetem em diversas marcas, e já sabemos que, em poucas semanas, estarão soltas pelas ruas, pelo bem ou pelo mal. Pelo bem, quando são bonitas, lindas de morrer, arrebatadoras de corações. Pelo mal, quando nasceram da falta de criatividade de um estilista que, desesperado, no afã de terminar uma coleção, abriu um lookbook de 1992, copiou qualquer coisa que parecesse diferente e chamou de tendência. Disposta a desmascarar as trends do mal, estou aqui a apresentar-vos aquilo que de melhor e de pior foi chamado de tendência nas últimas semanas.

Trends do bem

Trends do mal sapatos transparentes: em tempos alternados, essa moda ressurge das trevas. A transparência, seja no salto ou nas tiras, não fica bem em ninguém, porque já nasceu feia, e, ainda por cima, destaca joanetes, calos e outros pormenores que ninguém deveria ser obrigado a ver em pés alheios. track trousers: amaldiçoado o dia em que se acreditou que seria coerente utilizar roupas destinadas ao desporto físico nas ruas. Para parecerem moderninhos, designers internacionais apresentaram a “track trouser”, uma calça formal inspirada nas de ginástica. Péssimo. um ombro só: o “ombro só” não é de todo mal, mas já houve tantas tentativas de fazer a moda “pegar” que nunca deram certo, que talvez seja melhor esquecê-lo de uma vez por todas. vinil transparente: não bastam os sapatos, temos que lidar também com as roupas semi-transparentes produzidas em materiais de qualidade duvidosa, que seriam melhor empregados se utilizados como cortinas de banheiro. tecidos high-tech: assim como as roupas feitas em vinil transparente, deveriam continuar restritos às áreas a que foram destinados (roupas de ginástica e paninhos de enxugar a pia). hot pants: para quem não sabe, a hot pant nada mais é do que uma calcinha bem grande para ser usada nas ruas. Exemplo de mau gosto e vulgaridade. sapatos brancos: todo mundo sabe que isso é só para médicos.

Tons pastéis e hot pants por Jill Stuart

Trends a usar com cuidado tops “sutiã”: a princípio, parece coisa de biscate. Mas quando usado com bom senso, sem mostrar o umbigo (regra que vale também para as mini blusas, presentes em muitas coleções) e por meninas muito (muito!) sequinhas, o resultado pode ser bonito. peplums: só vendo a foto para entender o que são, recomendo o google para compreendê-los; assim como recomendo que não sejam utilizados Bra tops no desfile por meninas com da Miu Miu quadril largo.

Peplum por Jason Wu

Tangerina, peplum e azul por Marc by Marc Jacobs

plissados: saias plissadas desfilam nas ruas nova-iorquinas há algum tempo, mas foram oficializadas como tendência recentemente. Românticas, podem ser usadas curtas, longas e na altura um pouco acima do tornozelo. Todas lindas. ombros: cortes redondos marcam os ombros desta estação, em um estilo que lembra as coleções das décadas de 1950 e de 1960 da Dior e da Balenciaga. Zigzag: a Missoni relançou a mania por zigzags, e a tendência apareceu nas passarelas. Cores: as cores que mais apareceram foram azul, tangerina, tons pastéis e branco. Para as estampas, os florais continuam em alta, desta vez mais vibrantes. Renda: tanto em vestidos, quanto em saias, blazers e camisas, ela apareceu em diversos desfiles. Romântica e bem trabalhada, dá ares de realeza romântica, de Maria Antonieta no Petit Trianon, a qualquer peça mais basiquinha. Brilho: Elie Saab apresentou coleção cheia de brilhos, fendas e cores certas. A haute couture do estilista libanês valoriza a silhueta e prima pela beleza. miu miu: Miuccia Prada juntou imagens de contos de fadas, como Chapéuzinho Vermelho, com cortes criativos para fazer uma das coleções mais inspiradoras da temporada.

Brilhos e cores marcantes de Elie Saab

A Chapéuzinho Vermelho da Miu Miu

Vinil transparente por Jason Wu

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Melhor, impossível

Divulgação

ISABELA FRANÇA

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designer de moda Patrícia Backes abriu as portas de um espaço pra lá de inteligente. A Outfit4you atua nas duas pontas do mercado de moda. De um lado, desenvolve

comercialmente marcas novas e aquelas já existentes que precisam ser alavancadas e, de outro, auxilia quem gosta de comprar roupas descoladas e não tem tempo de bater perna nos shoppings atrás de novidades e não quer pagar mais caro por um personal shopper. Patrícia direciona os produtos para clientes que têm o perfil consumidor das marcas. Instalada num anexo da Villa Mariantonio, no Batel, a Outfit4you é o closet dos sonhos de qualquer mulher. Tudo é lindo e está arrumadíssimo nas charmosas araras e prateleiras. Super espelhos fazem as clientes se sentirem princesas. E, os olhos atentos da designer dizem o que combina com cada estilo. O melhor de tudo: cabe no bolso!

Elvira e Edson Ramon estão comemorando o novo endereço, recém inaugurado para curtir férias, amigos e dolce far niente. Para poder fugir da agitada agenda de presidente da Associação Comercial do Paraná, Ramon encontrou um refúgio em Miami Beach.

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Prata da casa O professor titular de Direito Processual Civil da UFPR, jurista e advogado em Curitiba e Brasília, Luiz Guilherme Marinoni, foi o único paranaense escolhido pela Câmara dos Deputados para palpitar no novo Código de Processo Civil, que ganhará um novo projeto este ano. Marinoni esteve em Brasília, em meados de outubro e apresentou suas considerações. O ponto mais nevrálgico na opinião dele é a questão jurisprudencial. Para Marinoni a melhor forma de se evitar que recursos protelem a realização do direito é tornar as decisões mais uniformes. Como está, a atual legislação permite que decisões já consagradas em tribunais superiores sejam completamente ignoradas o que gera inúmeros recursos em busca de novos julgados.

Divulgação

Casa nova


divulGação

Vitrine

A

designer de flores Manu Daher – que assina os arranjos exclusivos da Artefacto, do Fasano, e de outros modernos, além de decorações descoladas para festas ainda mais – abrirá as portas da sua Engenho para o público, numa loja no Batel. O endereço é a cara da dona: Alameda Presidente Taunay, entre a Saldanha Marinho e a Carlos de Carvalho, onde já estão Ed Vino, Viviane Malucelli, Porto Frio e outras grifes locais. A inauguração será na primeira metade de novembro e o projeto da loja leva a assinatura do arquiteto Maurício Pinheiro Lima. De novo e muito diferente do que já se encontra no segmento, a loja terá coleções que seguirão tendências de design e cores de flores e plantas da estação. Manu manterá seu ateliê, nas Mercês e terá, além de arranjos prontos para presente, os serviços de manutenção para residências e empresas.

Quem fez foi o funcionário Júnior, do Banco do Brasil do Uberaba, em Curitiba. Ele encontrou uma pequena nécessaire com uma máquina fotográfica das boas e alguns pen drives esquecida no detector de metais da roleta da agência. Teve a paciência de abrir os arquivos, localizar algo em comum que pudessem levar ao dono, e, numa busca pela internet chegar à proprietária que tinha alguns orçamentos gravados num dos pen drives. A moça ficou pra lá de agradecida e o rapaz mostrou-se um lorde.

sian seme

Cortesia

Palco O compositor e pianista César Camargo Mariano prometeu voltar a Curitiba ainda este ano. Ele esteve na cidade participando de um show de jazz e mostrou-se tão empolgado com o lançamento de seu primeiro livro “Solo – Memórias”, prefaciado por Ignácio de Loyola Brandão e editado pela Leya, que

mais contou as histórias do livro do que tocou. Ao fim do espetáculo, o público do Guairão queria saber onde ele estaria autografando. Como só tinha um exemplar do livro no camarim, garantiu que retorna com um show das músicas que constam na obra e uma noite de autógrafos. novembro de 2011 |

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ISABELA FRANÇA

60%

Entre 24 e 29 de outubro, o Graciosa Country Club realizou mais uma vez a Semana da Solidariedade. Durante todos os dias da semana, várias atividades foram realizadas com o objetivo de arrecadar fundos para o Lar Hermínia Scheleder e Fundação Iniciativa, que

Bella nonna D

A ação culminou com o Dia da Solidariedade, quando as inscrições de diversos campeonatos esportivos e 60% de toda a venda do sanduíche de maior saída nos balcões do clube – o ambulante – são revertidos às instituições.

Divulgação

Patrícia Klemtz

atendem adolescentes e crianças em situação de risco.

entre todos os nomes de destaque da sociedade

curitibana, sem dúvida, Neuza Madalosso dispara nos quesitos simpatia e elegância. Não há quem diga que esta bela senhora despojada e sorridente está prestes a se tornar avó. A alegria da gravidez da filha publicitária Giovana deixou a bela ainda mais radiante com a chegada de sua primeira neta. Depois de conferir o lançamento da Urbana, em Curitiba, embarcou com a filha para os Estados Unidos para comprar o enxoval da pequena.

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Tiro certeiro executiva do ParkShoppingBarigüi, Jacqueline Vieira de Lemos, está comemorando o Top of Mind Universitário 2011. O shopping foi o mais lembrado do segmento em pesquisa realizada com 900

universitários de Curitiba entregue na última semana de outubro, numa festa no Woods. Não poderia ser diferente. Só no segundo semestre deste ano, o shopping inaugurou filiais das lojas Armani, Juicy Couture, Eudora, a2You – revendedora de produtos Apple – e um quiosque da Disney Store. Todos ícones dos jovens.


Entre amigos

Coolritiba

Muita gente daria a vida para trocar de mãos com o massoterapeuta Michel Smeja. O moço tem a melhor pegada da cidade, quiçá uma das melhores do Brasil. Não é à toa que a bela Grazi Massafera quando passou por Curitiba encantou-se com as massagens de Michel,

Dia 22 de outubro, as obras do shopping Patio

no badalado salão de beleza Vimax e incluiu seus

Batel foram cenário para a realização da

tratamentos no seu rol de cuidados com a beleza e bem

primeira Pecha Kucha Night. O evento, que

estar. No mês passado, Michel esteve no Rio de Janeiro

começou em Tóquio e já rodou as maiores

três ou quatro vezes e a Massafera fez questão de

cidades do mundo, é uma marca que tem regras

encontrar o amigo e dispor de seus serviços.

a serem seguidas e só pode ser usada mediante aprovação de um comitê no Japão. A idéia é que

Arquivo Pessoal

onde quer que aconteça, seja sempre criativo, underground e inusitado. No espaço, os 200 convidados usando capacetes de obra assistiram a vinte palestras ministradas sobre pallets. Seguindo as regras japonesas, cada palestrante deveria apresentar um tema criativo em 20 slides de 20 segundos. Entre uma apresentação e outra, um pocket show de três minutos, de uma banda. No intervalo, motoqueiros do Pizza Hut invadiram o espaço com roncos de motores e distribuiram pizzas para os convidados enquanto a Red Bull distribuia as bebidas. Tudo muito ágil, simples e surpreendente. O evento veio para Curitiba pelas mãos da Ixda, a Aldeia Coworking abraçou a ideia e a Araçá Eventos fez a produção. A licença para a realização do Pecha Kucha, estabelece que a cidade deve ter quatro eventos dentro do período de um ano.

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BALACOBACO

por Thais kaniak

Pão com feijoada Pedacinho da Espanha

pierre Graziontin é francês. Nasceu na capital dos Alpes Franceses, Grenoble. Conheceu o Brasil ao cursar parte da sua pós-graduação em Comércio Internacional em Salvador. Não foi só o país que ele conheceu na capital baiana. Também conheceu o amor, que atende pela graça de Mari. Agora o francês mora com a esposa e a filha Margaux em Curitiba. Junto com a família, trouxe piscinas francesas para a cidade. É a primeira loja da marca Desjoyaux no país. O Batel foi o endereço escolhido. Graziontin conta que deixou de tomar conta de 25 países para focar no Brasil. Orgulho pessoal do francês. O intercâmbio cultural em casa não dificulta a convivência. “Evito comer pão com feijoada e aí não brigamos!”, brinca.

Marielle Vasconcellos gerente de marketing da marca e Juliana Leone, gerente da loja de Curitiba

Não é difícil se apaixonar pela Espanha. As obras de Gaudí, as praias do Mediterrâneo, os tapas, a sangria, a vida cultural borbulhante. Traços e características ímpares que inspiraram até Woody Allen. O calor latino que no verão nos faz sentir quase em casa. Agora a moda de lá dá o ar da sua graça nos lados de cá. Desde março, os curitibanos podem se deliciar com marca adolfo dominguez. Peças femininas e masculinas que caminham entre as linhas clássica e atemporal. Conservadora e o trendy. O conforto e a valorização da silhueta fazem a cabeças de famosas, como a princesa da Espanha Letizia Ortiz e a atriz hollywoodiana Gwynet Paltrow. LOUISE ZENI

Pierre Graziontin e a esposa Mari com a filha Margaux Pierre Graziotin, diretor da Desjoyaux Piscinas no Brasil, com Nicolas Desjoyaux, neto do fundador e diretor mundial de vendas, que veio diretamente da França para a abertura, e Rodrigo Gabardo

Jornalistas de moda no almoço promovido pela marca

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RAFAEL DANIELEWICZ

Leo Tramontin, Marielle Vasconcellos, Emelin Leszczynski e Juliana Leone


thais@revistaideias.com.br

Doce Nani e

liane oliveira é uma empresária de sucesso. Mulher de garra. Corajosa. É diretora da Deliart Móveis e Metais

Especiais. Uma pequena marcenaria familiar que cresceu e hoje é destaque no segmento. Orgulho em ser um negócio familiar. Acaba de fechar parceria com uma empresa alemã – uma das mais bem vistas no mercado europeu. Essa é a Eliane empreendedora. Privilegiados têm o prazer em conhecer outra faceta. Chama-se Nani. Linda. Doce. Mãe e amiga. Companheira de samba, vinho, sabores, cheiros e cores. Sem contar os segredos de liquidificador. Uma camaleoa. O que não falta é gente suspirando: rapte-me camaleoa. Melhor ainda

ARQUIVO PESSOAL

se for ao som de Maria Gadu, que ela adora.

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BALACOBACO

por Thais kaniak

Cultura da Paz A segunda edição da Virada Cultural de Curitiba será nos dias 5 e 6 de novembro. A cultura da paz invade a cidade toda – a programação dos eventos acontecerá em 84 pontos da capital. Os palcos principais serão na Praça da Espanha, Ruínas de São Francisco e Paço da Liberdade. Ultraje a Rigor, A Banda mais Bonita da Cidade, O Teatro Mágico e a Orquestra Sinfônica do Paraná serão algumas das atrações. Assim como Michele Mara, Copacabana Club, Banda Nuvens, Maxixe Machine, Almir Sater, Marcelo Jeneci e Jair Rodrigues.

A volta da Rua

24 Horas

Ano passado a Virada deu certo. Conferi alguns shows e gostei do que vi. Tanto musicalmente quanto em estrutura e organização. Não só são os shows vão encher a cidade. Sessões de cinema, performances teatrais, exposições, intervenções artísticas e eventos literários também estão na programação, que é gratuita. A Virada Cultural faz parte da Corrente Cultural, que tem início no dia 5 de novembro – Dia Nacional da Cultura – e se estende até o dia 12 do mesmo mês. A ideia é comemorar o dia da cultura e celebrar a cultura da paz. Que assim seja! A programação completa está disponível no site: http://correntecultural.com.br/

Jair Rodrigues

A nova Rua 24 horas abrirá as portas no próximo mês. Com seu antigo charme, mas também com modernos conceitos de atendimento, conforto e segurança. A reforma manterá as características arquitetônicas, os arcos e o relógio. Praça de alimentação e uma série de comércio e serviços disponíveis para quem por ali passar.

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

Os nativos terão de volta um dos ícones da cidade. Já os turistas, agora terão uma atração a mais na rota pela capital paranaense.

O Teatro Mágico

Almir Sater Ultraje a Rigor

DIVULGAÇÃO

Maxixe Machine

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A Banda mais Bonita da Cidade

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Paranaenses no Jabuti

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Vocês não sabem como é divertido o absoluto ceticismo. Pode-se brincar com a hipocrisia alheia como quem brinca com a roleta russa com a certeza de que a arma está descarregada.

alton Trevisan, Laurentino Gomes e José Castello foram premiados no 53° Jabuti. É o prêmio literário mais antigo e prestigioso do país.

Trevisan venceu a categoria Contos e Crônicas, com “Desgracida”. Gomes levou o melhor livro-reportagem do ano com “1822”. Outra conquista importante para a literatura paranaense foi a de José Castello, carioca que há 17 anos vive em Curitiba, e venceu a categoria Romance, com o livro “Ribamar”. A edição de 2011 do Jabuti teve duas mudanças no regulamento. Uma foi a ampliação do número de categorias, de 21 para 29. Cada categoria teve apenas um vencedor. Antes, as três publicações mais bem votadas eram premiadas. A última etapa do prêmio será no dia 30 deste mês na cerimônia de premiação dos vencedores. Na ocasião, serão conhecidos o Livro do Ano Ficção e Livro do Ano Não Ficção, prêmio máximo do Jabuti. Dalton Trevisan, Laurentino Gomes e José Castello também concorrem nesta categoria.

Millôr Fernandes

Vale ouro

Livro de Dalton Trevisan

O

uro para trio paranaense no pan de Guadalajara. Dayane Amaral (Curitiba), Débora Falda (Cambé) e a técnica Camilia Ferenzi (Londrina) levaram o ouro do conjunto de ginástica rítmica. Chegaram ao campeonato desacreditas por causa de disputas anteriores. Mas a garra das meninas prevaleceu. Ouro também para o curitibano Henrique Rodrigues, da natação. Exemplo de superação é a paranaense de Toledo, Angélica Kvieczynski. Ela entrou para a história por ser a primeira mulher a conseguir quatro medalhas individuais. Conquistou prata no aparelho maças, bronze no arco, na bola e no individual geral. A atleta de Toledo veio de uma difícil recuperação. Operou o menisco, seguido de trombose com risco de morte.

divulGação

Laurentino Gomes

Angélica Kvieczynski

José Castello

(Esq/dir) Débora Falda, Dayane Amaral e a técnica Camilia Ferenzi

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Jaime Lerner

O prato do dia

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restaurante era um bandejão. Na fila imensa desses ágapes populares; cada um empunha sua bandeja como escudo da batalha diária pela comida barata. E os espaços já preparados para as porções em baixo relevo que identificam a armada desses guerreiros sem uniforme. O cantinho do arroz, a piscininha para o feijão, o paisagismo da salada, o espaço para o pão, a banana. De repente, o cozinheiro no dia especial resolve fazer ovos nevados, que não cabem na bandeja. Dá para imaginar o desespero dos que veem a sobremesa tão apetitosa, e não conseguem lugar na bandeja. A fila pressiona, e os comensais resolvem sacrificar algum prato para locar a sobremesa. Começa a confusão no refeitório. O lixo das saladas, feijões, bananas começam a se espalhar. Alguns escorregam no piso já imundo. Mas, a conquista dos ovos nevados é prêmio comum a todos. Ovos Nevados, pisos molhados e o cozinheiro feliz pela confusão. Num gabinete de presidente, os assessores preparam o bandejão.das medidas econômicas. Tem a forminha da redução de juros, o baixo-relevo para o ajuste fiscal e o reservado para o déficit primário. Mas, um dos cozinheiros resolve preparar um projeto para a felicidade geral da nação: um souflé enorme que agradará ao paladar dos que provocam a iguaria. Porém, não há lugar para ele; é necessário sacrificar um dos pratos. Mas, o souflé desanda a cada alteração no bandejão e o cozinheiro afirma que o souflé só ficará pronto para a Copa do Mundo.

Jaime lerner é arquiteto

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Cartas

Escreva para cartas@revistaideias.com.br REVISTA

PAI MANECO, O MAIOR TERREIRO DO PAÍS Saravá Sarah! Gostei muito da matéria e fiquei emocionada com seu depoimento pessoal. Você entendeu a Umbanda. No Facebook a revista está bombando e saindo em muitos blogs da turma da “macumba”. O Fábio escolheu muito bem a sua repórter. O terreiro todo agradece. Lucilia Guimarães Estavamos ansiosos para a chegada da revista nas bancas. Muito orgulho de ver o nosso Terreiro estampado na capa de uma revista com o conteúdo que a Ideias tem. Camila Guimarães Parabéns à Revista Ideias, mais uma vez mostra sua personalidade. E o Terreiro do Pai Maneco mais uma vez mostra sua corrente, que é de ferro e é de aço. Saravá. Marcelo Ivolela

DUCCI OU FRUET? Pela coerência, caráter, firmeza, postura ética, administração, seriedade, honestidade, companheirismo e como ser humano sensível aos anseios da população, principalmente a carente, meu voto e minha luta, será para reeleger o Prefeito Luciano Ducci. Gustavo Augusto Lins

DECADÊNCIA DO ENSINO PÚBLICO Amigos, aí estão os resultados deste pessoal que adentrou neste barco de falácias queriam mudar tudo, conseguiram até mudar o espírito dos alunos, “estudar para quê?”, tem tudo, de grátis, continuem assim e o final está proximo. Em tempo, que tal rever o por quê disto? Prof. Nelson Schavalla

lista em dependências químicas, que foi internado há 12 anos em razão de dependência química e atua em consultório, diretamente com doentes e familiares. A maconha, no meu ponto de vista, além dos inúmeros danos clínicos e mentais é uma droga-meio, ou seja, não tem o início como o álcool, tampouco o fim como o crack e a cocaína, mas pode ser (e é) muito utilizada na associação com estas últimas, havendo uma migração de seu uso para a dependência do crack e cocaína em razão do usuário SEMPRE buscar uma droga potencialmente mais forte. Nasser Salmen

UM RAIO DA MORTE, O CANÁRIO DA VIDA

PT NÃO PERDOA, CORTA AS VERBAS DO PARANÁ Está explicado o por quê do Paraná estar no fim da lista dos estados que recebem recursos. Tem a Assembleia Legislativa mais corrupta do país, os piores políticos e a violência mais grave que a de São Paulo. Roberto Campos

UMA ERVA NATURAL PODE TE PREJUDICAR? Interessante o artigo. Gostaria muito que a Revista buscasse opiniões diversas, como meu caso, ex-delegado de polícia, especia-

ISAÍAS REVIVIDO Comecei a ler A Árvore de Isaías. Confesso-te que me filiei pela primeira vez na vida a um partido político - o PSD - com o exato espírito descrito por você: sentindo-me parte de um movimento grandioso que pode mudar o mundo. E, também, com uma ponta (bem grande, igualmente confesso) de anarquismo. Vamos ver no que isso vai dar... Tisa Kastrup

MINHA AUDIÊNCIA COM O EMBAIXADOR DA ALBÂNIA EM PARIS Excelente esse artigo! Como conheço o Luiz Fernando (Pereira) desde esses idos tempos, quando valente líder juvenil, ao ler o texto na revista Ideias vi o filme passar… Valéria Prochmann Fiquei frustrado com a notícia que você foi barrado, rsrs... Eu li com entusiasmo achando que iria encontrar um relato do teu encontro com o Hoxha! Nello

Eu tive a satisfação de conhecer e conviver com essa figura extraordinária que é o Luiz Geraldo Mazza, que sempre tinha um tempo para um bom bate papo informal. A gente mais ouvia do que falava, pois dava gosto escutá-lo. Pedro Girardi

DO BONITO E DO FEIO O português nos propicia os dois extremos, o belo e o feio na mesma frase. Temos a sorte de ter uma língua tão linda e tão ampla, pena que muita gente não saiba disto. A. Carlos (Tony)

Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 121 – R$ 10,00 ideias@revistaideias.com.br revistaideias.com.br facebook.com/revistaideias twitter@revistaideias EDITOR-CHEFE Fábio Campana CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo REDAÇÃO Beatriz Loyola, Karen Fukushima, Luis Dolhnikoff, Mara Cornelsen, Marisol Vieira, Pedro Lichtnow, Thais Kaniak COLUNISTAS Carlos Alberto Pessôa, Ernani Buchmann, Isabela França, Izabel Campana, Jaime Lerner, Jussara Voss, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Marcio Renato dos Santos, Paola de Orte, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Rubens Campana DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer TRATAMENTO DE IMAGEM Beatriz Bini Carmen Lucia Solheid Kremer CAPA E EDITORIA ESPECIAL Guilherme Zamoner PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Katiane Cabral e Luigi Camargo CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Marianna Camargo, Paola De Orte, Rubens Campana PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br ONDE ENCONTRAR Banca do Batel • Banca Boca Maldita • Banca da Praça Espanha • Fnac — Shopping Barigui • Revistaria do Maninho • Revistaria Quiosque do Saber — Angeloni • Banca Presentes Cotegipe — Mercado Municipal • Livrarias Ghignone • Banca Bom Jesus • Revistaria Itália

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