r$ 10,00 nº 120 ano Viii outubro 2011 www.revistaideias.com.br
P O L Í T i C a , E C O N O M i a & C u LT u R a D O Pa R a N á
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Em curitiba, o maior centro de umbanda do país
pOlÍcia Eleição na adepol religiãO Diminui rebanho católico drOgas a polêmica da maconha
Índic� colunistas
seÇÕes
rubens campana 12 mentiras piedosas
editorial 05
Luiz Geraldo mazza 19 um raio da morte, o canário da vida
Frases 07
rogerio distefano 26 de criados e ministros
ensaio Fotográfico 50
curtas 06
Gente Fina 08
Prateleira 58
Luiz Fernando Pereira 28 minha audiência com o embaixador da albânia em Paris
moda - Paola de orte 71 isabela França 72
nesta ediÇÃo
ernani Buchmann 30 chatos.com
Balacobaco 76
ducci ou Fruet? 14 Fábio campana
carlos alberto Pessôa 31 carta para izabel
Pryscila Vieira 82
PT não perdoa, corta verbas no Paraná 18 demetrio albuquerque
Fábio campana 42 a mulher nua em seu devido lugar
duelo de Xerifes 20 mara cornelsen
marianna camargo 43 novos mundos ao mundo
decadência do ensino público 22 karen Fukushima
Solda 48 o sexo na década de 70 (2)
Pai maneco, o maior terreiro do país 32 Sarah corazza
marcio renato dos Santos 49 o rock move o mundo
ovelhas fogem do rebanho católico 36 aroldo murá G. haygert
Luiz carlos Zanoni 60 o gênio das garrafas
música fora da lei 44 raffaela ortis
Jussara Voss 61 manu
isaías revivido 56 aroldo murá G. haygert
izabel campana 62 do bonito e do feio
uma erva natural pode te prejudicar? 64 Thais kaniak
camilla inojosa 69 dia a dia
cartas/expediente 81
50
claudia Wasilewski 70 consultoria
mÁrcio Lima
22
WiLLian koVaLiu
STock.XchnG
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120 Editorial Fábio campana
H
á significativas transformações nos corações e mentes dos curitibanos. Prova disso são as mudanças na religiosidade dos nativos. O rebanho católico, hegemônico há duas décadas, perdeu ovelhas para as novas igrejas pentecostais e para outras denominações e crenças, entre elas o espiritismo. Sabia que aqui o kardecismo tem o seu maior índice de adeptos das capitais brasileiras. É o que nos mostra Aroldo Murá, mestre no assunto. O tema se completa com uma reportagem de Sarah Corazza que nos mostra o maior centro de umbanda do país. Surpresa? Ele fica em Curitiba, no bairro de Santa Cândida. É o terreiro do Pai Maneco, que reúne diariamente gente de todas as classes, idades, gêneros e profissões. Não é uma instituição nova. A novidade é o crescimento da legião de seguidores. Ideias abriu páginas para outro tema polêmico. Thais Kaniak entrevistou o pessoal que defende a liberação do uso da maconha. Ouviu também os argumentos de quem entende que a liberação levaria à ampliação do consumo de drogas e a um prejuízo enorme para a sociedade. Está aberta a discussão. Leia. Participe. Envie sua opinião. Karen Fukushima nos apresenta outra realidade que constrange. Os números da decadência do sistema educacional do Paraná, deteriorado durante os anos do governo Requião. Da política, um exame preliminar do inevitável embate entre Luciano Ducci e Gustavo Fruet na disputa da prefeitura de Curitiba. Para o distinto público esse é um assunto distante. Para os políticos a campanha já começou e ganha as ruas. Nos bastidores as sessões de conchavos e traições. Para erguer o astral temos crônicas como essa do lugar da mulher nua, estátua que representa a Justiça, por muito tempo escondida nos fundos do Palácio Iguaçu e agora depositada ao lado do homem nu da Praça 19 de Dezembro. Pois, pois, o verdadeiro leito da mulher nua fica diante do Tribunal do Júri, mas é preciso convencer nossos juízes e desembargadores a aceitar a imagem da Justiça sem vendas e em plena nudez. Há mais. Gente boa, bonita e talentosa apresentada na coluna Gente Fina, para provar que há vida agradável e inteligente nesta área chuvosa do planeta. Os acontecimentos festivos e alegres da farândula curitibana estão no Balacobaco. Pequenos ensaios sobre estilo e moda na página da Paola de Orte. Não faltam os textos do melhor time de cronistas já reunido em uma publicação paranaense: Nêgo Pessoa, Luiz Geraldo Mazza, Izabel Campana, Luiz Fernando Pereira, Rogério Distéfano, Ernâni Buchmann, Jaime Lerner, Claudia Wasilevski, Rubens Campana. Quer mais? Leia a Marianna Camargo que volta à casa com notícias de Espanha. Imperdível. Olé! Você vai ficar com uma vontade imensa de mudar-se para Barcelona. Ou será Madri, a cidade que é uma festa permanente, mesmo na crise. Para melhorar o astral, nada melhor que o humor do Solda e a impagável tirinha da Amely, essa mulher inflável do engenho e arte de Pryscila Vieira. Assim caminha a humanidade.
Curtas Médicos que não trabalharam ou trabalharam menos do que deveriam receberam salários integrais e indevidos em Paranaguá. As investigações são da Corregedoria Geral e do Ministério Público do Paraná. Os principais suspeitos de articular o esquema são o ex-chefe da regional de saúde do município e o ex-chefe de recursos humanos. Eles são cunhados. Em um dos casos identificados como fraude, uma ficha-ponto marcava o cumprimento de 23 plantões para um médico. A regional então liberou pagamento de R$ 9.200 pelo serviço, porém o nome desse médico não aparece em nenhuma guia de atendimento ao paciente. Os desvios chegam a R$ 400 mil. O MP quer a devolução dos valores.
DILMA NA ONU
Primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff disse que é preciso impor limites à guerra cambial e que a crise global é também de governança e de coordenação política. Segundo a presidente do Brasil, a ONU e instituições como o G20, o FMI e o Banco Mundial “precisam emitir com urgência sinais claros de coesão política”. Dilma defendeu ainda o ingresso pleno da Palestina na ONU e repudiou o uso da força em países muçulmanos.
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15 CONDENADOS NO CASO BANESTADO O STJ confirmou condenação criminal, por gestão fraudulenta e evasão de divisas, de 15 envolvidos no caso Banestado. A 5.ª Turma de ministros do STJ manteve penas que vão de cinco anos e dez meses a quatro anos e um mês de reclusão – originalmente mais elevadas, em sentença de 2004 do juiz Sérgio Fernando Moro, da 2.ª Vara Criminal Federal em Curitiba. A Polícia Federal calcula que US$ 24,059 bilhões foram enviados para fora do País por meio de contas de residentes no exterior entre abril de 1996 e janeiro de 2000. US$ 5,68 bilhões teriam sido remetidos através de contas CC5 mantidas no Banestado “por meios fraudulentos”.
Maluf se livra mais uma vez O Inquérito 2471, que investiga o deputado Paulo Maluf (PP-SP), foi retirado da pauta do Supremo Tribunal Federal (STF). Como o caso tramita em segredo de Justiça, o motivo do adiamento não foi informado. O relator do caso é o ministro Ricardo Lewandowski. Caso os integrantes da corte considerem que existem indícios suficientes, Maluf pode virar réu em uma ação penal.
QUEM TREME, DANÇA, DIZ LULA
DIVULGAÇÃO
Roubo na Saúde
O ex-presidente Lula, do PT, disse que político não pode ‘tremer’ quando for acusado de “fazer coisa errada”. Referia-se às demissões dos ex-ministros Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo). No raciocínio deste Lula pós-moderno e pós-passagem pelo poder, os ministros só pediram demissão porque não suportaram a pressão de suspeitas de envolvimento em casos de corrupção. Não interessa a ele o mérito, ou seja, se os ministros foram ou não corruptos. Lula não fez menção ao petista Antonio Palocci, que saiu da Casa Civil em junho.
O tamanho do rombo
Takayama é réu no STF
Pedófilos da alta sociedade
Numa estimativa conservadora, a corrupção rouba dos cofres públicos todos os anos R$ 51 bilhões. Isso mesmo: 51 bilhões de reais. Essa cifra tende a aumentar. Nos últimos três meses a presidente Dilma Rousseff se debate com uma sucessão de escândalos envolvendo membros do governo e de sua base aliada – incluindo os dois principais partidos de sustentação do PT e do PMDB. Queda de ministros, evidências de desvios de recursos, suspeição de maracutaias em outros ministérios, flagrantes de uso indevido da máquina, tudo contribui para que este início de governo pós-Lula caminhe sob o signo da suspeição.
O deputado federal Hidekazu Takayama é réu no Supremo Tribunal Federal. Por unanimidade, os ministros acataram o voto do relator, Dias Toffolli, pela abertura de processo contra o deputado. Takayama responde por crime no chamado caso “Gafanhoto”, esquema de uso de cargos na Assembleia Legislativa do Paraná para benefício próprio dos deputados. Por ser deputado federal, Takayama só pode ser processado no STF. Toffolli diz que há indícios de irregularidades no gabinete de Takayama na época em que ele era deputado estadual. E já autorizou diligências para investigar o caso. Há outras 70 pessoas indiciadas.
Pedofi lia não é perversão dos humildes e oprimidos. Só que quando estes são presos, a polícia vai logo divulgando os seus nomes. Quando são da alta sociedade, o anonimato é preservado. Ninguém explica por que. Dois homens, um de 49 e outro de 56 anos, foram presos em Curitiba, pela Polícia Federal. As prisões fizeram parte da Operação ECO 40 contra pedofilia. Ambos foram flagrados com farto material de pornografia infantil. Segundo informações da PF, os dois têm emprego fi xo.
“Gosto de parecer mulher, mas adoro ser homem” Rogéria, cantora em estreia de monólogo musical no Rio
LARISSA PONCE/AGÊNCIA CÂMARA
Frases “O PMDB tem uma característica: todo mundo manda, ninguém obedece e cada um faz o que quer” Descrição sobre o PMDB do deputado maranhense Gastão Vieira, novo ministro do Turismo, em entrevista ao programa CQC, da Band
“A minha perseguida é, literalmente, perseguida” Claudia Ohana, atriz que surpreendeu muitos homens ao posar para a “Playboy” nos anos 80 sem depilar, durante entrevista à Marília Gabriela
“No Paraná, CPI não acaba em pizza” Deputado Fabio Camargo, do PTB, justificando que a comissão que comandou, das Falências, teve resultados práticos
“Se Jesus estivesse aqui, estaria no Facebook” Padre Marcelo Rossi, em entrevista ao UOL
O líder do DEM, senador Demóstenes Torres, a respeito do comportamento dos ministros durante a votação do registro do PSD, quando foi adiada
ROBERTO STUCKERT FILHO/PR
WALDEMIR BARRETO
“Todo mundo viu o Lewandowski dançando na boquinha da garrafa e o Marco Aurélio se esforçando para segurar o Tchan”
Em entrevista a Patrícia Poeta do Fantástico, a presidente Dilma Rousseff desconcertou a jornalista quando foi questionada sobre como controlava o ‘toma lá dá cá’ dos partidos de apoio. Fechou a cara e respondeu:
“Você me dá um exemplo do ‘dá cá’ que eu te explico o ‘toma lá’” Ao notar que falou em tom exaltado, Dilma ameniza:
“Tô brincando contigo” outubro de 2011 |
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dico kremer
FINA
Madame
Lis
Tudo o que a bela e elegante Karen Fukushima faz, faz bem. Ótima jornalista de texto enxuto. Nem uma palavra a mais, nenhuma informação a menos. Nunca. É dela a série de reportagens sobre o novo comportamento sexual dos nativos publicada nesta Ideias. Belíssima voz. Intérprete de música japonesa e de música popular brasileira. Autêntica sansei que herdou a tradição cultural de dois mundos. Do lado do pai, o artista plástico e diretor de arte Massaharu Fukushima, e o que veio do oriente com o avô Hatiro, que por três vezes foi campeão nacional de sumô. Da mãe, Sonia, o gosto e o estilo refinados que vão da escolha do repertório a uma instigante curiosidade pela culinária de todas as partes do mundo. Karen se prepara para abrir uma casa que levará esse nome, Madame Lis, como é chamada por poucos amigos. Mas não será em breve. Outra característica dessa mulher é boa dose da paciência e de perfeccionismo que não aceita a rapidez e a improvisação como métodos. Aguardem. Enquanto isso leiam os textos de Karen Lisse Fukushima. Fábio Campana
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FINA
adriana
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la é altíssima para os baixos padrões globais, bonita sem esforço, naturalmente elegante, naturalmente simpática, inteligente, engraçada (faz rir&ri contagiosamente).
Fez quantidade incrível de cursos&tentativas&erros até se encontrar com as ondas hertzianas: um dia acordou e bateu na porta da Educativa; foi atendida pelo José de Mello a quem alto e bom som pediu emprego. Está na Educativa até hoje. Ou melhor, nas Educativas. Pois são duas, FM-97.1 AM-630. Que agora dirige com luvas de pelica a esconder mãos de ferro... Antes disso foi programadora, produtora, locutora, redatora. E ouvinte compulsiva, maníaca: adriana Sydor, este o seu nome, assim mesmo, com ipselone, ouve rádio pelo menos 48 horas diárias! Sim, cara pálida! Pois está ligada em pelo menos duas estações simultaneamente. E sem prejuízo da atenção que dedica a todos os mortais que a procuram: trata o distinto público e a rex publica com carinho, desvelo. Como se fossem amigos e reliquias pessoais. É tipo singular. Uma ave rara. Aleluia! P.S.: Nas poucas horas vagas - é supermãe - encontrou espaço para escrever a 1ª série de uma obra que provavelmente se estenderá por comprida fila da estante: MPB PARA CRIANÇAS. Que recebeu a chancela da lei Rouanet. Sem padrinhos! Modestamente. Carlos Alberto Pessôa
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gente
FINA
O doce charme da
Chris
O outro nome da Chris França é talento. Também pode chamá-la de inovação. Melhor, chame-a de criatividade. Esta mulher bonita por natureza detesta o convencional, o que logo se percebe em seu trabalho, em seu estilo de vida e nos textos sobre turismo que escreve para publicações nativas. Chris adora viajar. Morou em San Diego, na Califórnia. Publicitária, está sempre na vanguarda de ideias e projetos. Trabalhou em agências, na Prefeitura de Curitiba e na Editora Positivo. Sempre naquilo que faz como ninguém: organizar eventos. Tanto conhecimento e experiência acumulados, Chris decidiu fazer tudo através de sua própria empresa, a Araçá Eventos, que é um sucesso de charme igual ao da Chris. (F.C.)
A magia gráfica do
Gui Zamoner é hoje uma das
Gui
principais referências do design gráfico deste Brasil brasileiro que esbanja talento na área. Ele assina trabalhos marcantes, como a direção de arte da revista Et Cetera, capas desta Ideias, design de livros e publicações que são disputados, antes de tudo, pela beleza e bom gosto da magia gráfica do Gui. Avesso às pompas deste mundo, Gui exilou-se na casa/ estúdio que projetou e construiu em Quatro Barras para ele e a mulher Maria Angela Biscaia Vianna Baptista, artista plástica que agora experimenta um retorno ao óleo sobre tela. Gui também é arquiteto. Inovador. Surpreendente. Na foto, uma rara exposição de alegria ao lado da filha Julia, quando Julia ainda não era a moça cheia de graça que é hoje. (F.C.) 10
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gente
Condottiere
FINA
Petraglia Todos os dias, milhares de torcedores do Atlético Paranaense se curvam na direção da Arena da Baixada e rezam fervorosamente pela volta de
Mário Celso Petraglia ao comando do clube. O que esperam é o retorno a uma época de vitórias e conquistas de títulos que acabou com a saída de Petraglia, o condottiere que fez do Atlético o campeão nacional de 2001, o vice da Libertadores de 2005 e de outras glórias que elevaram o Atlético a uma posição de destaque no ranking mundial dos clubes de futebol.
Quem viveu a época de ouro da década passada sob o comando de Petraglia, que além de títulos deu ao Atlético o melhor estádio do país, só pode rezar pela sua volta. Antes que seja tarde demais. (F.C.)
Lineu filho
Hoje os atleticanos amargam ver seu clube entre os últimos e em risco de cair para a série B. A mediocridade e outras leviandades tomaram conta do clube. É a decadência depois do apogeu.
Marisa em Viena Marisa Villela entregou a superintendência do Teatro Guaíra. Feliz por ter como sucessora a competente Mônica Rischbieter. Voltou à civilização, encarou um desafio pessoal, venceu a enfermidade e decidiu mudar o rumo da existência. Embarcou para Viena onde revive um amor que se perdera no hemisfério norte no tempo em que ela estudou nos Estados Unidos. Prova de que há sentimentos que resistem ao tempo e à distância. Terá que aprender algumas palavras em servo, a língua e a origem do moço. Mas não há língua que Marisa não domine. Entre uma viagem e outra, relê os livros do escritor que é sua paixão literária. Devora a obra de Faulkner, que recuperou inteira em textos originais. Exercita algumas traduções. E ouve música. Viena, que já albergou Haydn, Mozart e Beethoven, do seu repertório in cuore, lhe fará bem. Em 2012 ela retoma os projetos que ficaram arquivados durante a sua passagem pela direção do Teatro. Entre eles a memória profissional em texto e a direção de documentários. (F.C.) outubro de 2011 |
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Rubens Campana
Mentiras piedosas
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creditamos em muitas coisas porque elas nos fazem sentir bem. Você já ouviu a estória de que Einstein era um péssimo aluno? A tão propagada ideia de que o pequeno jovem alemão tirava notas baixas em matemática — exatamente como você! — e um dia se tornou um dos maiores gênios da história é uma vingança contra todos os professores que um dia odiamos. Vejam! Eles erraram até com Einstein! Os fatos, é claro, são menos reconfortantes. Porque a verdade é que Einstein foi um menino prodígio da matemática e, antes dos doze anos, já era melhor em cálculo do que você é agora. Na verdade, ele era tão bom, mas tão bom, que achava que a escola atrasava seus estudos, e seus pais compraram livros avançados para ele estudar em casa. O que dizer do mito de que Napoleão era baixinho? Quando morreu, em 1821, sua altura foi medida em 1,68 metros de altura. Bem longe do nanico que tantos imaginam. A maioria dos historiadores acredita que o apelido afetuoso de le petit caporal era apenas isso: um apelido afetuoso. Napoleão não era particularmente petit. E a ideia de que Colombo desafiou as superstições de sua época ao embarcar em sua viagem às Índias? Como todos nós aprendemos na escola em algum momento, o homem medieval acreditava que a terra era plana e que havia um abismo com monstros no fim dos mares e do horizonte. Mas o fato é que, no século XV, ninguém levava a sério a teoria da terra plana, e mais: todos os métodos de navegação da época de Colombo se baseavam na constatação de que a terra era redonda. O que Colombo fez foi subestimar, e muito, o tamanho da Terra, acreditando que chegaria às Índias muito antes do que o faria se a América não existisse. Essas pequenas estórias continuam a ser repetidas por uma série de motivos: carregam paradoxos interessantes, parecem ensinar algo profundo ou apenas mexem com nossa curiosidade. A maioria é inofensiva. Mas elas não são tão diferentes de outras crenças muito difundidas, cuja base histórica ou científica é frágil, mas que escolhemos acreditar por um motivo ou outro. Uma das frases favoritas e mais repetidas
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pelo economista Milton Friedman era o aforismo de que “toda pessoa tem direitos às suas próprias opiniões, mas não aos seus próprios fatos”. A ideologia política é, em particular, fonte fascinante de crenças infundadas e soluções fáceis para problemas complexos. Quem nunca ouviu falar que um problema econômico era culpa dos especuladores? O que faz um especulador, afinal? Ele compra barato para vender caro. Ou seja, faz algo perfeitamente humano. Mas o discurso político não seria tão útil à maioria dos políticos se eles não pudessem escolher seus próprios fatos, e é sempre mais fácil culpar essa figura vampírica, o especulador.
na democracia, o que importa é que você engane um número suficiente de pessoas no dia da eleição Durante uma grande fome, por exemplo, o especulador que trabalha no mercado de alimentos é aquela figura que cobra altos preços pela comida. Seus atos seriam responsáveis pelo sofrimento de milhões em nome do lucro, e esse tipo de raciocínio já levou ditadores a condenarem à pena de morte comerciantes de comida em tempos de fome. Motivado pelo lucro, o especulador, longe de trazer a fome, na verdade reduz os efeitos dela. Quando o preço dos alimentos de um lugar é mais alto do que o de outro, ele levará alimentos para vender no lugar onde o produto é relativamente mais escasso, trabalhando no sentido de equilibrar a oferta. Se ele próprio estoca alimentos para vendê-los quando puder cobrar
um preço maior, faz algo ainda melhor: comprando no presente para vender no futuro, a oferta de recursos tende a se equilibrar ao longo do tempo, e não apenas em sua extensão geográfica. Um estudo cuidadoso do caso mostra que, ao invés de elevar preços, o especulador ajuda a estabilizá-los ao longo do tempo. Compare essa atividade privada com seu análogo estatal: agências governamentais em todo o mundo também estocam comida em tempos de fartura para estabilizar o mercado em tempos de privação. Os efeitos são idênticos à ação do especulador, com uma diferença importante: os especuladores privados que fizerem previsões erradas sobre a abundância relativa no presente e no futuro terão prejuízos, e os especuladores que fizerem muitas previsões erradas irão à falência. A agência governamental não enfrenta esse controle inerente ao mercado: sua taxa de acerto pode ser, digamos, qualquer uma. A divulgação de soluções fáceis e irreais para problemas tão complexos como a fome é a ferramenta de trabalho própria dos demagogos, e a política, é claro, está repleta deles. Elimine o especulador, por exemplo, e tudo estará resolvido, dizem eles. Mais uma vez, decidimos acreditar nisso porque é reconfortante pensar que grandes problemas possuem causas muito simples. O mesmo é repetido para outros vilões eleitos pelo discurso público, e é possível escolher à la carte qual é o grupo que deveria ser eliminado em nome do bem comum: publicitários, importadores, machistas, traficantes e usuários, poluidores, intermediários, agiotas e muito mais. Na conhecida explicação de Abraham Lincoln: “É possível enganar algumas pessoas o tempo todo, e é possível enganar todo mundo por algum tempo, mas você jamais consegue enganar todo mundo o tempo todo.” Infelizmente, na democracia, tudo o que importa é que você engane um número suficiente de pessoas no dia da eleição. A opinião expressa nos artigos é exclusivamente do autor e não reflete a posição do Ministério das Relações Exteriores.
rubens campana é diplomata
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Polític�
Ducci ou Fruet? Em Curitiba, a disputa pela prefeitura tende a polarizar entre Ducci e Fruet, que se veem cercados de ansiosos coadjuvantes de todas as extrações FÁBIO CAMPANA
P
ela undécima vez as oposições tentam derrubar uma linha de administração em Curitiba que só foi interrompida em 1983 pela nomeação de Maurício Fruet e continuada em 1985 pela eleição de Roberto Requião. Experiência frustrante jamais repetida pelos curitibanos. Desta vez, o messias improvisado pela banda da oposição é um ex-tucano recente, Gustavo Fruet, que até o início deste ano atirava pedras na vidraça dos seus novos companheiros de aventura. Pois, pois, Fruet vai subir em palanque montado pelo PT dos ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, com o apoio de José Dirceu e as bênçãos de Lula. Somam-se à turma os ressentidos de Osmar Dias e companhia. Assim são os políticos nesta área do planeta. Na ambição do poder e suas benesses, são capazes de tudo, até mesmo elogiar o desafeto
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que ontem desancava. Mas em Curitiba essa maneira de fazer política nem sempre dá certo. O povo, que há muito deixou de ser bobo, tem punido nas urnas os vira-casacas. Maior prova disso é a trajetória de Rafael Greca de Macedo, que chegou ao cume e de lá desceu em queda livre depois que se travestiu de súdito do governador de plantão, Roberto Requião, que era o seu algoz mais ferino. Tudo bem, como costumam repetir as almas parvas. À turma dos desvalidos não resta alternativa que juntar os cacos, pois não há partido forte de oposição em Curitiba. Fruet, que já foi do PMDB e mudou para o PSDB, agora vai de sigla nova para tentar derrubar o prefeito Luciano Ducci, do PSB, aliado de Beto Richa que assumiu o cargo quando este se licenciou para disputar o governo e se eleger em outubro do ano passado. Realmente, Fruet é o candidato com maior densidade eleitoral que as oposições podem
usar para a empreitada. Mas nem tudo é entusiasmo. O PMDB bandeou-se de mala e cuia para as hostes de Beto Richa. No PT há dissensões na ala metaleira representada pelo Doutor Rosinha e Tadeu Veneri. E o deputado Ratinho Junior, do PSC, ficou de mal porque pretendia ser o candidato de todos, especialmente do PDT de Osmar Dias, a quem deu apoio com esperanças de retribuição. O cacife de Ratinho Junior não é de somenos. Em todas as pesquisas de opinião realizadas até agora ele aparece com destaque, condição que o qualifica para a disputa. Preterido por Osmar Dias e pelo PT em favor de Fruet, se sente traído e jura que vai empinar sua candidatura qualquer que seja o quadro de alianças.
as armas de lucianO ducci No outro canto do ringue, o prefeito Luciano Ducci prepara a sua reeleição. Ajusta uma grande frente de partidos e
Fernanda e Beto Richa são os principais eleitores em Curitiba. Segundo as pesquisas influenciam a decisão de voto da absoluta maioria dos curitibanos. Os dois constituem o maior trunfo de Luciano Ducci na disputa da prefeitura no ano que vem.
correntes, o que lhe dará tempo de rádio e televisão muito maior que o dos adversários no primeiro turno. A seu favor conta, desde juá, a exposição natural na mídia como realizador de obras. Não há dia em que não apareça a inaugurar escolas, creches, postos de saúde e ruas asfaltadas. Sua imagem é a do realizador, a do que tem experiência administrativa que contrasta com a carreira parlamentar de Gustavo Fruet, tido como “político de discursos”, no jargão dos cabos eleitorais. Outra vantagem de Ducci é o apoio direto dos maiores eleitores de Curitiba. Em qualquer pesquisa, o governador Beto Richa e sua mulher, a secretária da Família e da Assistência Social, Fernanda, aparecem no topo como as personalidades que mais influem na decisão de voto do eleitorado de Curitiba. Se Gustavo Fruet aparece bem em áreas centrais e nos bairros da população mais abastada, Luciano larga com mais de 20 pontos percentuais na frente no restante da cidade, que inclui os bairros mais populosos da periferia. Fruet pretende dissolver essa vantagem de Ducci com o apoio direto das estrelas do PT e já disse que não terá constrangimento em receber elogios de Lula e, se possível, os
de Dilma Rousseff. Pois, pois, segundo a última pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, a soma de todos esses apoios não se aproxima do prestígio e popularidade de Beto Richa. “Em Curitiba a transferência de voto funciona quando o candidato é identificado com o apoiador. Jaime Lerner transferiu votos para todos os candidatos que tinham identidade com os seus projetos e ideias. No caso de Luciano Ducci, a população identifica Ducci como alguém que pensa e faz igual a Beto Richa, o que facilita a transferência”, diz o cientista político Rafael Schemmeling. Essa máxima não funcionaria para Gustavo Fruet, que até há pouco tempo foi o político antípoda de seus apoiadores atuais. Ou seja, será mais difícil para as estrelas do PT apoiarem um candidato que tinha como modelo o senador Alvaro Dias, do PSDB, a quem ainda é muito ligado e que é o crítico mais ácido de Lula, Dilma e companhia.
Os coadjuvantes se agitam Além de Ducci, Fruet e Ratinho Junior há uma penca graúda de possíveis candidatos que se apresentam com possibilidades e que são chamados às me-
sas de negociação. Sem contar a legião de pretendentes ao posto de vice, especialmente de Ducci, que será reeleito e não disputará a eleição posterior, o que abre oportunidade para o seu vice se lançar a prefeito, exatamente como Ducci faz agora. O PMDB de Requião, recém entronizado no diretório municipal do PMDB em Curitiba, jura que vai apresentar Rafael Waldomiro Greca de Macedo como candidato. O ex-prefeito tem apenas 7% das intenções de voto nos cenários mais favoráveis das pesquisas. Mas ele acredita em suas chances e na possibilidade de recuperar a popularidade que um dia lhe deu a vitória contra os aliados de hoje. Requião tem Fruet como inimigo político de seu clã e não lhe dará tréguas, embora nunca se saiba o que esperar dessa figura que tornou-se periférica na política curitibana e apareceu desta vez com apenas 1% nas intenções espontâneas de voto, quando em outras épocas tinha, no mínimo, 20%. Difícil prever o futuro de seu candidato Rafael Greca, pois na pesquisa recente do Instituto Paraná Pesquisas ele é o campeão absoluto de re-
O casal de ministros do PT, Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo sonham com uma derrota dos tucanos e de Beto Richa para preparar a disputa do governo em 2014. outubro de 2011 |
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nani Gois
Os coadjuvantes da disputa da prefeitura de Curitiba, polarizada entre Ducci e Fruet, são muitos. Entre eles (esq/dir) Rati jeição do eleitorado. Pasmem, 43% declararam que não votariam em Greca de jeito nenhum Rejeição desse tipo nunca antes foi anotada em Curitiba. Supera os índices históricos de um político nacional, Paulo Maluf. Outro que não arreda pé da pretensão é o deputado federal Dr. Rosinha, do PT, que ostenta 6%. Trágico para ele é observar que na mesma pesquisa 36% dos eleitores consultados disseram que nele não votam nem com reza braba. O novo PSD tem Ney Leprevost, o deputado eleito com maior número de votos em Curitiba. Hoje ele apóia Luciano Ducci, com seus 9% de intenções de voto, mas não descarta a candidatura em outra situação na qual Ducci não seja candidato. Ney também é uma das apostas altas para a vice de Ducci. Novidade seria a candidatura de uma mulher
como Cida Borghetti, que é eleitora em Maringá, mas tem prestígio, popularidade e votos em Curitiba, sua cidade natal. Ela é a aposta do PP, que tem tempo de televisão suficiente para encarar os adversários em uma campanha acirrada. Se não for candidata Cida Borghetti vai apoiar Luciano Ducci. Gustavo Fruet foi o candidato ao senado na chapa em dupla com seu marido, Ricardo Barros, que se sentiu, com muita razão, traído pelo então tucano Fruet, o que levou os dois à derrota.
Muita água sob a ponte O tempo dos políticos é diferente do tempo do eleitor. Este não está muito interessado ainda na eleição do ano que vem. Na pesquisa espontânea, quando se pede apenas que diga sua preferência ou indique um nome para prefeito, 73% não souberam in-
dicar um candidato, segundo o Instituto Paraná Pesquisas. Outros 6% declararam que pretendem votar nulo ou em branco. Enquanto isso, na caverna de Fruet há quem alimente esperanças de uma cisão no PSDB que dividira o partido em seu favor. Ele sonha com um movimento nesse sentido de tucanos tradicionais que não gostam de ver a prefeitura de Curitiba entregue a um candidato de outro partido, o PSB de Luciano Ducci. “Se o Gustavo Fruet tem o anseio de se candidatar, os números, no estágio atual, alimentam esse anseio de cisão”, diz Luciana Veiga, secretária-adjunta da Associação Brasileira de Ciência Política. O problema é que o governador Beto Richa tem forte ascendência sobre o partido e dificilmente terá que enfrentar um motim. Ducci é o seu candidato “in pectore” e quem es-
Fruet pretende compensar o apoio de Beto e Fernanda Richa a Luciano Ducci com as bençãos de Dilma Rolsseff, Lula e Osmar Dias
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/dir) Ratinho Junior, Doutor Rosinha, Tadeu Veneri, Ney Leprevost, Rafael Greca de Macedo e Cida Borghetti tiver contra essa decisão pode se considerar fora dos planos políticos desenhados por Richa. Não há no PSDB ninguém com vontade de abandonar o barco principal que é o do governo do Estado. “O desafio de Ducci é vincular o bom desempenho da prefeitura à sua imagem e à condição de continuador da obra de Beto Richa”, avalia Luciana Veiga. O prefeito tem feito um esforço muito grande nesse sentido. Segundo dizem as pesquisas tem obtido o resultado desejado. Resta ver como Gustavo Fruet vai enfrentar essa linha de campanha de Ducci. Até agora, o enfrentamento entre Fruet e a rapaziada de seu ex-partido, o PSDB, se deu por linhas transversas. Ninguém duvida de que a iniciativa para apodrecer a imagem de João Claudio Derosso, presidente da Câmara Mu-
nicipal de Curitiba, que se lançara candidato a vice de Ducci como representante do PSDB, é da turma de sua trincheira. Se a linha for essa, teremos a reedição de campanhas com muitos golpes abaixo da linha da cintura e é bom que a população prepare o estômago. Vem aí uma temporada de denúncias de corrupção alimentadas pela tropa de choque do PDT, PT & Cia. Ducci parece preparado para o confronto. Até agora, não conseguiram vincular sua imagem a nenhuma das denúncias promovidas pela oposição. Mas é bom manter a guarda alta. Os luas pretas de Fruet informam à praça que vem chumbo grosso por aí. Ao que um conselheiro da campanha de Ducci responde com ditado antigo da sabedoria política: “Chumbo trocado não dói”.
Ricardo Barros quer o seu partido, PP, no cenário principal da disputa eleitoral.
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Política
PT , P D A
O
Paraná tem três ministros em postos chave no governo federal. Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência), Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Apesar disso, ou justamente por isso, o Estado é violentamente discriminado na distribuição de recursos federais. Entre 26 Estados e o Distrito Federal, o Paraná só receberá mais recursos per capita que São Paulo, o Estado mais rico da Federação, de acordo com a Lei Orçamentária Anual da União para 2012. Pois, pois, o Paraná é o 5º Estado que mais gera recursos para a União, mas é o 26º na hora de receber investimentos federais. O caráter discriminatório dessa situação fica evidente quando se considera a situação do Rio Grande do Sul, Estado que tem um perfil econômico e demográfico semelhante ao do Paraná, mas que é governado pelo PT. Os gaúchos estão em 10º entre os Estados que recebem mais recursos. Cada cidadão do Rio Grande do Sul receberá R$ 172,55 em verbas federais, enquanto cada paranaense vai ter de se contentar com R$ 68,55 dessas verbas. O fato de dois dos ministros paranaenses, Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, estarem diretamente engajados num projeto político visando à tomada do poder no Paraná (Gleisi é candidata ao governo em 2014 e Paulo Bernardo é seu marido) pode explicar parte dessa situação. Um eventual malogro da administração atual seria importante combustível para o projeto político do PT no Estado. É aguardada com curiosidade a provável manifestação do deputado petista Enio Verri sobre a questão dos repasses federais ao Paraná. Ex-chefe de Gabinete de Paulo Bernardo (quando este era ministro do Planejamento), Verri é autor de uma tese que o Paraná só sobrevive e realiza obras graças à generosidade do governo federal.
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Os números são referentes aos investimentos que o governo federal planeja fazer em obras por conta própria. No jargão orçamentário conhecida como despesa “discricionária”. A União escolhe quanto e onde aplicar. Não entram na conta as despesas obrigatórias, como as transferências constitucionais a Estados e municípios, o pagamento de aposentadorias de ex-servidores federais no Estado e as despesas com o funcionalismo da União no Paraná. Somados os gastos com custeio (manutenção da máquina administrativa), de R$ 3,4 bilhões, o total das despesas discricionárias previstas para o Estado chega a R$ 4,2 bilhões, de acordo com levantamento do Ministério do Planejamento. Ainda assim, os valores agregados de investimento e custeio per capita deixam os paranaenses na 24ª colocação entre as 27 unidades da federação. “Tradicionalmente éramos o patinho feio do Sul. Agora estamos cada vez pior nas comparações com o restante do país”, reclama o secretário estadual da Fazenda, Luiz Carlos Hauly. Segundo ele, a restrição imposta ao Paraná é “severa” e tem raízes históricas. “Passamos longos anos isolados politicamente, sem uma ação organizada por mais espaço no orçamento federal.” Ou seja, a década infame em que Requião isolou o Paraná e desmontou todas as articulações políticas em favor do Estado, ainda se refletem no descalabro atual que é acentuado pela discriminação que pode ter fonte no apetite político de petistas para abocanhar o poder no Estado. O diretor-geral da Secretaria da Fazenda, Amauri Escudero, diz que há mais evidências de discriminação. Entre elas a situação do Porto de Paranaguá, que foi o terceiro do país em volume de movimentação de carga entre janeiro e julho de 2011, mas tem bem menos recursos previstos no projeto da Lei Orçamentária Anual para 2012 que portos menos movimentados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. De acordo com a proposta da União, o porto paranaense receberá R$ 9,35 milhões em
investimentos no próximo ano mais R$ 2,65 milhões em custeio. Os recursos serão destinados a obras de dragagem e adequação da navegabilidade. Nos sete primeiros meses de 2011, Paranaguá recebeu e enviou 11,116 milhões de toneladas de carga, atrás no ranking nacional apenas de Santos (SP) e Itaguaí (RJ). Os números são da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Já os portos catarinenses de Imbituba, Itajaí e São Francisco do Sul movimentaram juntos 7,899 milhões de toneladas de cargas e devem receber R$ 42 milhões da União (R$ 2,75 milhões em custeio e R$ 39,25 milhões em investimentos). Previsão dos investimentos por estado da Lei Orçamentária da União para 2012 Unidade da Federação
Investimento (milhões R$)
Investimento por habitante (R$)
Roraima
214,36
465,85
Rondônia
596,87
378,62
Alagoas Goiás
765,11
243,41
1.474,93
242,56
Mato Grosso
728,70
236,91
Tocantins
324,85
231,90
Amapá
151,06
220,75
Distrito Federal
516,47
197,88
Mato Grosso do Sul
470,12
189,75
Rio Grande do Sul Sergipe Bahia Rio Grande do Norte Piauí Minas Gerais Santa Catarina
1.851,95
172,55
341,42
163,38
2.189,29
155,30
447,88
140,03
428,05
136,31
2.629,68
133,30
835,83
132,32
1.001,54
130,26
Paraíba
465,51
122,79
Amazonas
413,51
116,86
Pará
Acre
85,15
114,09
Ceará
903,70
105,94
Maranhão
634,68
95,50
Pernambuco
655,74
73,97
Rio de Janeiro
1.159,17
71,94
Espírito Santo
245,97
69,35
720,62
68,55
1.111,07
26,71
Paraná São Paulo
Luiz Geraldo Mazza
Um raio da morte, o canário da vida
M
ais ou menos onde está localizada a prefeitura de Curitiba havia o campo do Paraná, clube da várzea, num tempo em que nem se pensava em Centro Cívico, pelo menos naquela localização: era o nosso espaço de correr atrás da bola, de traquinagens e de brigas. Como, por exemplo, em junho, além de soltarmos balões, buscávamos capturá-los focando-os num espelho, como se isso os atraísse. E eram tantos nos céus da cidade que havia uma seleção de modelo para apanhá-los. Finda a pelada, mesmo com tempo frio, subíamos um morro (toda a geografia foi abruptamente modificada com a terraplenagem das obras do centenário de 1953) rumo à chácara do Querino, invadíamos-lhe a propriedade, comíamos frutos de clima temperado no pé e íamos às abluções numa piscina natural de água mineral, alcalinoterrosa, abundante na área. Anos, muitos anos depois do Centro Cívico, o deputado Aníbal Curi foi testar um poço artesiano e acabou acertando o veio da-
quele manancial lírico que até hoje serve ao Legislativo. No entorno do campo do Paraná havia um depósito ao ar livre de sucatas da Fundição Mueller, e nos divertíamos brincando com esse material, arremessando-o ao espaço. Num dia de atmosfera magnetizada, carregadíssima, lancei um desses discos metálicos. E o objeto, fulminado por um minirrelâmpago, a poucos
o objeto, fulminado por um minirrelâmpago, impactado foi ao solo diante do meu espanto
metros do chão, impactado foi ao solo diante do meu espanto com aquela resposta cósmica. De cômica é que nada tinha. Devo ter algo com o mito de Prometeu, aquele que roubou o fogo dos deuses, porque, além dessa experiência juvenil dos anos quarenta, mais recentemente num programa da rádio CBN, pela manhã, fui surpreendido com a penetração pela janela de um minirraio que driblou o espaço de José Wille, ausente da sala, deu a volta na cadeira em que me encontrava, contornou a mesa do operador e saiu por uma janela lateral. Alguns dias depois – e isso parece poesia pronta – um canarinho reproduziu o itinerário magnético, menos espanto, mais alegria no estúdio.
luiz geraldo mazza é jornalista
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Eleiçã�
Duelo de Xerifes Em um tiroteio de palavras e de metas eles disputam a presidência da Adepol, entidade forte que representa os delegados de polícia do Paraná MARA CORNELSEN
O
combate vai ser acirrado. No próximo dia 8 de outubro a sede da Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (Adepol) deverá tremer em seus pilares com a mais concorrida eleição para a presidência da entidade desde a sua criação, em 1958. São três candidatos que disputarão pouco mais de 800 votos para comandar uma associação que arrecada R$ 135 mil por mês, possui um fundo social de R$ 1 milhão em caixa e um grande patrimônio que vai da luxuosa sede social, situada em bairro nobre de Curitiba, sede de praia, hotel de passagem para associados do interior, um terreno em Foz do Iguaçu de seis mil metros quadrados, veículos, até outras pequenas regalias. O atual presidente e também diretor da Academia Superior de Polícia Civil, Luiz Alberto Cartaxo Moura, tentará reeleição pela quinta vez. Desde 2005 ele está à frente da entidade. Recebeu a Adepol das mãos de outro experiente candidato, o delegado (hoje aposentado) João Ricardo Képes Noronha, que por oito anos foi presidente (entre 1995 a 2001 e de 2003 a 2005). O terceiro postulante ao cargo é Kiyoshi Hattanda, atualmente lotado no Grupo Auxiliar de Planejamento da Polícia Civil, que nunca foi presidente, mas já trabalhou como diretor nas gestões anteriores, inclusive com seus dois rivais, e é membro da Adepol Brasil, além de participar ativamente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Paraná (Sidepol) exercendo diferentes cargos desde sua criação, em fevereiro de 1993. O sindicato fará eleições na mesma data e hora que a Adepol. E também tem três chapas inscritas: a encabeçada pelo atual presidente, Vinicius Augusto de Carvalho, e as dos delegados Antônio Zavataro e Jairo Storilio. O sindicato nasceu como apêndice da associação e até hoje recebe 7% da arrecadação de sua coirmã para se manter. Mas a tendência é que nos próximos anos passe a andar com as
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trÊs candIdatos dIsputarão maIs de 800 votos para comandar uma assocIação que arrecada r$ 135 mIl por mÊs e um fundo socIal de r$ 1 mI próprias pernas e abrace as questões atinentes ao sindicalismo. Por enquanto, a Adepol é o foco das atenções. Prova disso é a mobilização das três candidaturas. Partidários de cada uma das chapas não medem esforços para cantar em verso e prosa as qualidades de seus escolhidos e, ao mesmo tempo, alfinetar seus adversários, exaltando erros do passado ou recordando episódios desagradáveis envolvendo um ou outro. Como em toda eleição, cada um tem seu motivo para justificar a candidatura. Noronha, que atualmente atua como advogado, diz não ter ficado satisfeito com o desempenho de Cartaxo, que foi seu sucessor. E por isso quer retornar à entidade, para suprir deficiências dos últimos seis anos. Cartaxo conta que pretendia “passar a bola” para outra pessoa, mas diante do retorno de Noronha, achou por bem ficar, e diz: “Noronha
já fez o que tinha de fazer. Seu tempo passou. Ele tem que entender isso”. Hattanda seria uma válvula de escape para os indecisos, porém é apontado como “candidato chapa branca”, apoiado pelo delegado geral Marcus Vinicius Michelotto e pelo secretário da Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César. Ambos, segundo comentários, teriam interesse em manter a Adepol em mãos de uma pessoa menos combativa, para poder desenrolar os planos de Segurança Pública sem ingerência da classe. Sem polemizar, Hattanda revela que não foi escolhido por alguém e que sua candidatura foi uma iniciativa própria, ao vislumbrar que o novo governo joga limpo, escancarando as feridas da Segurança Pública para poder curá-las. Então sentiu que era o momento de contribuir com a força da Adepol.
lÍnguas afiadas Ternos de bons cortes, gravatas de bom gosto, cabelos grisalhos e línguas afiadas. A breve descrição cabe aos três candidatos que tecem críticas e apresentam planos sem perder a elegância, como se espera de um delegado de polícia. As campanhas vão do corpo a corpo às longas cartas enviadas pela internet. Cada um puxa a brasa para sua sardinha de sucesso e empurra para baixo do tapete a sujeira do infortúnio, buscando culpar, mesmo que com palavras simpáticas, o adversário. Cartaxo fala que seus opositores têm características completamente diferentes. Da candidatura de Noronha, diz que ele tem reconhecida legitimidade, dado ao seu passado classista. Porém, o acusa de ser rejeitado pelos poderes constituídos (leia-se Governo do Estado) por entreveros políticos de anos atrás, o que fecha portas às pretensões futuras da classe (principalmente no que diz respeito a aumento de salário). Argumenta ainda que o colega aposentado tem um projeto político pessoal e quer fazer da Adepol um trampolim. Quanto a Hattanda, comenta que lhe falta legitimidade, uma vez que sua candidatura foi imposta e abençoada pelo Departamento
Mara Cornelsen
Mara Cornelsen
O atual presidente e também diretor da Academia Superior de Polícia Civil, Luiz Alberto Cartaxo Moura, tentará reeleição pela quinta vez
João Ricardo Képes Noronha, por oito anos presidente, diz não ter ficado satisfeito com o desempenho de Cartaxo, seu sucessor, e tentará a reeleição
Mara Cornelsen
da Polícia Civil,o que lhe impediria de bater de já ocorre com membros do Ministério Público Polícia Civil e da segurança pública em busca de frente com os mesmos poderes constituídos, ou e com juízes, com um pouco mais de dinamissoluções. Fiquei tocado com isso e me apresenseja, estaria de mãos atadas para fazer qualquer mo do que nestas carreiras, é objetivo comum. tei como candidato. Ocorre que o Secretário (da reivindicação que contrariasse os interesses do Isso acabaria com a interferência de políticos na Segurança), que também é presidente da AssoGoverno. “A Adepol é dos delegados e não pode remoção de delegados. ciação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, admitir interferência política”, sentencia. Entre as propostas apresentadas por Noronha e o delegado geral gostaram da minha atitude e Noronha é mais direto. “Cartaxo ficou seis estão um atendimento especial aos colegas do resolveram me apoiar. Minha meta na Adepol é o anos, tem a máquina da Adepol e a escola de Interior e aos aposentados; propor uma nova diálogo”. Quanto aos adversários, diz que são expolícia em suas mãos para utilizar na camparegulamentação para as promoções da Polícia celentes opções, mas cada um já teve o seu temnha. Não registra realizações. Aproximou-se do Civil; criar uma comissão permanente de depo e com suas habilidades políticas conseguiram Dellazari (ex-secretário de Segurança Pública) e fesa dos direitos humanos na sede da Adepol, benefícios para a classe em um ou outro governo. do Requião (ex-governador) e negociou a inérdentre outras. Para Cartaxo é importante lutar E brinca: “Eles já tiveram a chance deles, agora cia da associação pelo cargo de chefe da Divisão pelo projeto do Estatuto da Polícia Civil, que quem está na moda é o Kiyoshi”. Policial do Interior (DPI) onde ficou por cinco está em andamento; interferir na composição As metas Ferpas à parte, o que interessa mes- do Conselho da Polícia Civil, que prevê três anos. Diz que não sou simpático ao Governo mo é o futuro. O que fazer na presidência da por ter sido envolvido na CPI do Narcotráfico, policiais das carreiras de base, uma vez que Adepol? Nisso os três candidatos têm o mesmo uma injustiça que sofri e que nunca provou nada isso, em seu entender quebraria a hierarquia discurso. Lutar pela implantação do subsídio, já contra mim. Ele não pode esquecer que também e a disciplina, além de ser inconstitucional, previsto na Constituição Federal e que até agora responde a uma acusação por sequestro e cárcee ainda propor uma forma de aposentadoria não vingou. Ele representa um incremento sare privado, na 1ª Vara Criminal, que ainda vai a “mais justa” para as delegadas, após 15 anos larial de mais de 50%. O salário de um delegado julgamento”, argumenta. No que diz respeito a no exercício da função e mais 10 anos em outro em início de carreira, que hoje é de R$ 11.378,88, Hattanda, o discurso é igual ao de Cartaxo: “ele trabalho. Para Hattanda, o importante é manter salta para R$ 18.997,68. Também lutar pela inanão tem personalidade própria e foi escolhido diálogo permanente com o governo para suprir movibilidade dos delegados, a exemplo do que pela administração para manter a Adepol sem as necessidades não só dos delegados, mas da voz. Usa a máquina da polícia Polícia Civil como um todo, no âmpara a campanha e anda a tibito estadual e no federal; contribuir racolo com o delegado geral para a regulamentação do Estatuto da e o secretário, distribuindo Polícia Civil e com o Programa Paramedalhas e pagando jantares ná Seguro, e dedicar-se integralmente caríssimos”. aos interesses da Adepol sem exercer Hattanda, com sua caractenenhuma outra função na polícia durística tranquilidade (provavel rante sua gestão. mente herdada dos ascendentes Com a dupla eleição (Adepol e japoneses) assegura: “Minha Sidepol) no próximo dia 8, as camcandidatura não é chapa branpanhas prometem esquentar. Para ca. Achei que era o momento de quem imagina que isso só interessa à deixar de ser o eterno diretor da classe, é bom prestar atenção e torcer Adepol do Paraná e também da para que vença quem possa propiciar Adepol do Brasil. Percebi que o melhor a estes policiais que, como este governo está jogando limmaestros, orquestram o destino de po, fazendo o jogo da verdade, toda uma população ao combater a Kiyoshi Hattanda é apontado como candidato “chapa branca”, apoiado pelo delegado geral Marcus Vinicius Michelotto e pelo secretário Reinaldo de Almeida César mostrando as deficiências da criminalidade. outubro de 2011 |
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Educaçã�
Decadência do ensino PÚBlico O resultado do Enem de 2010 divulgado pelo MEC apresentou uma educação pública em frangalhos, com raras exceções. Os números que separam excelentes e péssimos ensinos estão além do mero ranking. É retrato do descaso e falta de assistência de governos que prometeram muito e fizeram quase nada KAREN FUKUSHIMA
piOr No fim da lista do Grupo 1 (escolas com mínimo de 75% de participação), com a pior colocação do ranking está o Colégio Estadual 22
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a verdade é que centenas de mIlhares de estudantes, mal assIstIdos e mal amparados, saem das escolas com um ensIno superfIcIal
Educação Física Anacleto Ianoski, acredita que o maior problema é a falta de motivação dos alunos, seja por falta de incentivo dos pais ou porque a maioria dos estudantes trabalha em companhias de fumo da região e vão às aulas apenas para obter a frequência exigida pelos seus empregadores. A escola não oferece nenhum tipo de preparação para o Enem. Outro índice lamentável da escola é o de alunos que ingressam no ensino superior. De acordo com o ex-diretor apenas 1% dos alunos entram na faculdade.
Nossa Senhora Aparecida, em Rio Azul, no Sudeste do Paraná. Os estudantes da escola tiveram o pior desempenho do Estado e atingiram a média geral de 483,65 pontos. O diretor da escola, Gervásio Surmacz preferiu se posicionar contrário ao Enem. Disse que desconsidera os resultados do Exame e que os números considerados pela instituição são os do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Já o ex-diretor do colégio, o professor de STock.XchnG
D
ados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) no último mês apresentam o triste quadro da educação pública brasileira. No Paraná, apenas três escolas estaduais figuram entre as 20 que fizerem melhor pontuação no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem de 2010. As 20 piores escolas do Estado são da rede pública. Os dados do Enem foram divulgados respeitando quatro categorias, divididas de acordo com a porcentagem de participação dos alunos no Exame (veja quadro). Como a realização das provas não é obrigatória há escolas que não são contabilizadas. É o caso das instituições com menos de 2% de participação. De acordo com o MEC, a média de participação dos estudantes no Enem 2010 foi de 56,4%. Das 175 escolas paranaenses que foram classificadas no Grupo 1, apenas 37 são da rede pública. Neste mesmo grupo, 8.431 alunos das escolas classificadas participaram do exame e a média total variou entre 691,99 e 483,65 pontos, entre o primeiro e último lugar. O pior é que este ranking que escancara o baixo rendimento dos alunos do ensino público não espanta. Com exceção de três instituições, o Colégio Militar de Curitiba e outras duas escolas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus de Pato Branco e Cornélio Procópio (ambas do Grupo 2), a realidade apresentada é de uma educação pública em frangalhos.
melhOr Já o Colégio Militar de Curitiba alcançou o primeiro lugar entre as escolas públicas paranaenses, com média de 667,36 pontos. Mas o que distingue o Colégio Militar de Curitiba da Escola Nossa Senhora Aparecida, em Rio Azul? Não são os 183,71 pontos no ranking, mas toda uma cultura do aprendizado. O colégio militar impõe sim diretrizes rígidas de disciplina aos alunos, mas em contrapartida os estudantes aceitam e acreditam nos padrões impostos pela instituição. A maior diferença entre os alunos da pior e da melhor escola pública do Paraná está na perspectiva de futuro destes grupos. Lá, faltam incentivos para a continuidade dos estudos, para o ingresso no ensino superior.
Aqui, os alunos são preparados. Há seleção até para ingressar no colégio. São inúmeros contrastes por se tratar de instituições completamente diferentes. Qualquer análise comparativa será superficial. A verdade é que centenas de milhares de estudantes, principalmente àqueles do interior do Estado, mal assistidos e mal amparados, saem das escolas com um ensino superficial. Educação média. Herança de governos que prometeram a melhor educação pública do Brasil, com o melhor secretário de Educação que o Estado poderia ter. Mas se considerados o ranking do Enem, vê-se que a educação pública no período dos irmãos
10 Melhores Escolas do Grupo 1
Requião foi um desastre. Nem as tevês laranja e muito menos o currículo bolivariano ajudaram o Paraná a alçar números satisfatórios na educação.
Grupo 1: de 75% a 100% (17,8% das escolas) Grupo 2: de 50% a 74,9% (20,9% das escolas) Grupo 3: de 25% a 49,9% (33% das escolas) Grupo 4: de 2% a 24,9% (27,4% das escolas)
10 Melhores Escolas do Grupo 2
rede
média total
Taxa de participação
rede
média total
Taxa de participação
colégio marista Santa maria
Privada
691,99
98,5
universidade Tecnológica Federal do Paraná - campus Pato Branco
colégio Bom Jesus
Privada
672,97
80,2
Pública
677,41
62,2
colégio diocesano João Paulo i
Privada
670,77
84,6
colégio dom Bosco - Subsede iV
Privada
670,39
55
colégio nossa Senhora medianeira
Privada
670,02
96,9
colégio universitário
Privada
669,78
67,2
colégio militar de curitiba
Pública
667,36
88,1
universidade Tecnológica Federal do Paraná - campus cornélio Procópio
Privada
667,32
50
colégio Bom Jesus São José
Privada
667,32
82
maxi colégio
Privada
662,78
63,7
colégio Positivo
Privada
665,81
100
colégio alfa e Ômega
Privada
660,22
60,5
colégio marista Paranaense
Privada
662,2
84,7
marista de Londrina
Privada
658,81
56,4
colégio Bom Jesus nossa Senhora de Lourdes
Privada
661,36
89,7
Sapiens colégio
Privada
653,81
68,8
colégio integrado Sonia marcondes
Privada
651,48
70
São Tomaz de aquino
Privada
658,76
100
dynamis
Privada
650,35
50
nome da escola
nome da escola
10 Piores Escolas do Grupo 1
10 Piores Escolas do Grupo 2
rede
média total
Taxa de participação
nossa Senhora aparecida
Pública
483,65
100
Perdro V Parigot de Souza
Pública
484,01
castelo Branco
Pública
Santos dumont
rede
média total
Taxa de participação
núcleo Santa Lúcia
Pública
462,42
56,5
100
rio Branco c e Barão
Pública
467,45
58,8
487,57
83,3
anita a Pacheco
Pública
467,78
52,8
Pública
496,09
90
naira Fellini
Pública
473,82
59,3
castelo Branco
Pública
497,24
83,3
napoleão da Silva reis
Pública
477,39
52
cachoeira
Pública
499,17
77,8
marcílio dias
Pública
478,83
52,8
Sagrado coração de maria
Pública
503,29
81,8
eugênio malanski
Pública
481,35
59,3
centro estadual ed. Prof. agr. mohamad ali hamze
Pública
505,98
87,5
José de anchieta
Pública
483,85
52,4
michel G P a reydams
Pública
507,64
100
ildo José Fritzen
Pública
483,89
67,4
rui Barbosa
Público
508,64
100
miguel nassif maluf
Pública
486,17
52,2
nome da escola
nome da escola
STock.XchnG
FonTe: enem
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| outubro de 2011
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Rogerio Distefano
De criados e ministros Vamos e venhamos : o Brasil vive sob a ética e a estética elaboradas em complexa sofisticação no Maranhão. Não o Maranhão de Gonçalves Dias e Aluízio de Azevedo, menos ainda o de Ferreira Gullar, para situar o estado no momento inicial e final de sua grandeza artística. O Maranhão de um outro artista, que insiste em ser literato, mas na verdade insuperável na arte da política: José Sarney dita a ética e a estética do Maranhão. Sarney, no entanto, não é o tema desta coluna, senão indiretamente, como corifeu da ética/estética maranhense. O tema é aquele monótono diapasão da política brasileira, especialmente a federal, onde os escândalos pululam, o cinismo cresce estimulando a ousadia dos políticos e agrava a analgesia moral dos brasileiros. No momento — 14 de setembro — é o ministro Pedro Novais, do Turismo. Quando esta revista circular o escândalo seguramente será outro e este artigo estará vencido. Porém vale a pena trazer Pedro Novais, porque é político, maranhense, da escola e do credo de José Sarney, sob cujo patrocínio conseguiu mandatos de deputado estadual e federal e chegou ao ministério de Dilma Rousseff — onde pagou despesas de motel, empregada e motorista particular com dinheiro público. Novais deixará o ministério. Continua na política e a política brasileira continua com políticos como Pedro Novais. Como resolver isso? Não tem solução. Existem sugestões, como a de um conterrâneo de Sarney e Novais, Estevão Rafael de Carvalho (1800/1846), professor, deputado e jornalista. Rafael de Carvalho tem lugar na história do Brasil como criador do jornal Bem-te-vi, que circulou no Maranhão entre junho e outubro de 1838 — o jornal deu suporte ideológico à Balaiada, uma de tantas revoltas do segundo império. Carvalho foi o precursor da contabilidade comercial no Brasil ao lançar em 1837 A metafísica da contabilidade comercial. 26
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Isto de ministros são todos a mesma coisa Na assembleia do Império o deputado Rafael de Carvalho adquiriu fama pelo humor, puxado no absurdo, como neste discurso em que revelava sua descrença na mudança dos políticos. E apresentava o que lhe parecia a única solução.
“E
m 1834 ainda eu era de opinião que as coisas melhorassem com a mudança de pessoas, porque tais eras as ideias que eu tinha recebido nestes barulhos. Em 1834 tinha eu os pés na Terra e a cabeça na Lua, assim como muita gente; mas a indagação que fiz fez encurtar o corpo, fez-me vir à Terra; e hoje não quero nada de teorias. Eu era desse sistema que deitando abaixo o governo, tudo melhorava. Comecei porém a fazer a análise do que via. Vi uns subirem e outros descerem, e a marcha era sempre a mesma. Vi que aqueles que gritavam mais contra a administração era elevados a ela e seguiam a mesma marcha; fiquei pensativo com isto; julguei que havia ou muita maldade nesses homens, ou muita ignorância, ou o que quer que seja, e concluí de minhas indagações que o defeito está na coisa e não nas pessoas, porque era impossível que fossem tão ignorantes e tão malvados, que deixassem as coisas a andar no mesmo estado. São
ministros? Deixá-los governar: eles vão obedecendo à natureza das coisas, o defeito está nelas, e não neles; deixá-los ir por diante. Eu a respeito de governo, sigo o sistema daquele indivíduo a respeito de criados: tinha um de quem não gostava, despedia-o, e quando o criado ia saindo de casa, chamava-o e perguntava-lhe: — “Quer você me servir? Como se chama?” — Antônio (era o mesmo indivíduo). — “Pois bem”, respondia-lhe “você há de chamar-se Francisco, com essa condição pode servir-me”. Um amigo estranhou esta esquisitice, mas teve em resposta: — Meu amigo, isto de criados são todas a mesma coisa, não há mais que mudar-lhes o nome. Um senhor deputado (à parte) — Então pretende fazer o mesmo com os ministros? O senhor Rafael de Carvalho — Justamente; eis aqui o que pretendo fazer. O ano passado chamava-se ao senhor ministro dos Negócios Estrangeiros, o senhor Limpo de Abreu; mas este ano, tenha paciência, chamo-o o senhor Antônio Paulino. Ao senhor ministro da Fazenda, a quem chamava o ano passado, o senhor Castro e Silva, chamo hoje o senhor Manuel do Nascimento (muitas risadas); eis aqui o meu sistema; já mudei de nome aos senhores ministros, já mudei o ministério.”
Se a História é a mestra da vida, estou em paz. O ministro hoje é Pedro Novais. Amanhã terá outro nome e estará tudo bem, “isto de ministros são todos a mesma coisa, não há mais que mudar-lhes o nome”. O ministro do Turismo agora se chama Gastão Vieira, também do Maranhão, também deputado, também de José Sarney.
Rogerio Distefano é advogado e colunista da Revista Ideias. maxblog.com.br
Cidades
P Almirante Tamandaré terá escola para atender 1500 alunos A P
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ensino médio técnico público do Paraná ganhou um reforço com a destinação de R$ 126,2 milhões para o Estado por meio do projeto Brasil Profissionalizado, do Ministério da Educação. Na região metropolitana de Curitiba, Almirante Tamandaré é um dos municípios contemplados para receber uma destas unidades no valor de aproximadamente R$ 7,5 milhões, com um investimento de mais de R$ 700 mil da Prefeitura Municipal. O projeto das instituições prevê biblioteca informatizada, sala para videoconferências e educação à distância, laboratórios para ensino de ciências e aplicações práticas de educação tecnológica, auditório, parque esportivo, entre outros; para atender cerca de 1.500 alunos. Para o prefeito Vilson Goinski, a obra é uma grande conquista para a população tamandareense. “O investimento do município foi muito importante para atrair um empreendimento educacional com investimentos do governo federal, sendo administrada pelo governo estadual”. Além desta escola, Tamandaré recebeu ainda autorização para obras de reformas nos colégios Edimar Wright e Tancredo Neves, ambos no valor de R$ 150 mil, com a assinatura do termo de compromisso do projeto Brasil Profissionalizado pelo governador em exercício, Flavio Arns, no dia 31 de agosto, no Palácio das Araucárias. Romildo de Brito, Secretário de Educação e Cultura, afirma que o governo investe no município porque reconhece os avanços da educação em Almirante Tamandaré. “Ficamos satisfeitos ao escutar do governador Flavio Arns a intenção de que as escolas estaduais sejam tão bonitas quanto às municipais”, afirma Brito, comentando os esforços da atual administração em melhorar a qualidade da educação no município. Além da desapropriação de um terreno no valor de R$ 295 mil, a Prefeitura também irá realizar os serviços de infraestrutura tais como drenagem e
Planta da escola profissionalizante que será construída no bairro Humaitá, próxima ao Jd. Vila Grécia
ALMIRANTE TAMANDARÉ RECEBERÁ UNIDADE NO VALOR DE R$ 7,5 MILHÕES terraplanagem, além da abertura de ruas na região. De acordo com o Secretário de Obras, Dilaor Machado, a Prefeitura aguardava a formalização dos investimentos no município para dar continuidade aos serviços de terraplanagem, mas agora as obras terão início imediato.
Prefeito Goinski destaca a importância de uma escola profissionalizante em Tamandaré para qualificar a população do município outubro de 2011 |
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Luiz Fernando Pereira
Minha audiência com o embaixador da Albânia em Paris
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omo muitos na mesma idade, aos 18 anos coloquei uma mochila nas costas, comprei um passe de trem e um guia de albergues da juventude para viajar pela Europa. Com poucos dólares e alguns travellers cheques, em três meses fui de Lisboa a Budapeste; de Roma a Estocolmo. Entre os destinos cogitados, um deles não integrava o script oficial dos mochileiros: Tirana, na Albânia. O que eu iria fazer na Albânia, pequeno e pobre país da península balcânica? Sabe Deus o quê. Hoje a ideia soa muito esquisita, mas à época, para mim, fazia todo o sentido. Pouco tempo antes da viagem eu tinha lido os livros de Luiz Manfredini, o Horizonte Vermelho nos Bálcãs, e de Bernardo Joffly, Bastião Albanês. Os dois livros teciam loas ao regime stalinista albanês, então comandado por Ramiz Alia, sucessor do mítico Enver Hoxha (morto em 1985). Com as devidas ressalvas (e não são poucas), os dois repetiram a fórmula do livro de Graciliano Ramos, A Viagem, escrito depois do périplo do escritor comunista pela União Soviética e Tchecoslováquia na década de cinquenta. Os comunistas albaneses (do Partido do Trabalho da Albânia) declaravam-se os únicos marxistas-leninistas do mundo. Todos os demais países socialistas eram revisionistas (uma espécie de grave xingamento ideológico). A Albânia e o resto, sustentavam os legítimos marxistas-leninistas. Hoje isso me faz lembrar Asterix e a única aldeia da Gália não ocupada pelos Romanos, mas naquele tempo o país era levado a sério por legiões de comunistas espalhados pelo mundo todo. Aqui no Brasil, João Amazonas, do PC do B, comandava o fã clube da Albânia. Enver Hoxha comandou a resistência à ocupação italiana e depois mandou no país quatro décadas, até a morte. De largada rompeu com a Iugoslávia de Tito. Depois cortou relações com a União Soviética, em tempos de Nikita Kruschev.
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“o que você quer fazer sozinho na albânia?” Hoxha tachou de revisionista a posição dos soviéticos depois do famoso Vigésimo Congresso do Partido Comunista da União Soviética (o congresso de rompimento com o stalinismo). A Albânia ficava ligada apenas aos chineses. Não durou muito. Mais tarde Hoxha também passou a identificar revisionismo na China, sobretudo depois da famosa visita de Richard Nixon (inaceitável, bradava o albanês). Alguns anos depois a China também entrava na lista negra dos revisionistas. Tal qual Asterix isolado na Gália, Hoxha comandava um país ilhado pelos revisionistas e capitalistas. E era para lá que eu queria ir. A todo custo. Era necessário um visto. E não havia representação diplomática da Albânia no Brasil. O caminho era tentar o visto na representação albanesa em Paris, disseram-me. Como ser recebido? O mesmo Manfredini (do Horizonte Vermelho nos Bálcãs) me deu uma carta de apresentação da AAB-A, Associação de Amizade Brasil-Albânia, dirigida à congênere francesa. Chegando a Paris, lá fui eu até a sede da tal Associação de Amizade França-Albânia. Fui recebido pelos marxistas-leninistas franceses,
em pequeno escritório repleto de cartazes de Marx, Lênin e, é claro, Enver Hoxha. De lá os comunistas franceses dispararam um telefonema para a embaixada da Albânia. Recomendado, no dia seguinte estava agendada minha audiência para discutir a emissão do visto. Cheguei ao albergue da juventude e contei aos brasileiros. Onde fica a Albânia, perguntaram. Não havia interessados. No dia seguinte, apresentei-me na Embaixada. Salvo engano, a representação diplomática albanesa ficava em modesto edifício na rue Vitruve. Para minha surpresa, fui recebido pelo próprio embaixador da Albânia em Paris. Do nome do embaixador não me recordo, mas era um sujeito atarracado, com um inglês precário. Recebeu-me muito bem, mandou algumas perguntas triviais e lá pelas tantas lançou: o que você quer fazer sozinho na Albânia? Lembro-me até hoje do impacto da pergunta. De fato, o que mesmo eu queria fazer sozinho na Albânia, perguntei-me. Os vistos só eram concedidos para viagens em grupos, explicou-me o embaixador. E não havia nenhuma programada para as próximas semanas. Enfim, meu visto para ir sozinho para a Albânia foi negado. Despedi-me e segui minha viagem pelo resto da Europa. Assim terminava minha experiência albanesa. Não demorou muito para que caísse o regime stalinista. Totalitário como todo regime comunista (bem retratado pelo escritor albanês Ismail Kadaré, em A Pirâmide), a Albânia resistiu pouco depois do início da onda que varreu os regimes do leste europeu na pós-queda do muro de Berlin. Não sobrou nada. Da Albânia guardo na memória a inteligente pergunta do atarracado embaixador: o que você quer fazer sozinho na Albânia?
luiz Fernando Pereira é advogado
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Ernani Buchmann
Chatos.com
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ei, não preciso que me chamem a atenção: o primeiro chato nasceu com a humanidade. Ou não era um chato o sujeito que teimava em andar sobre duas pernas quando todo mundo andava em quatro? Fato é que eles se reproduzem desde então, chatos-pais e chatas-mães: ora pro nobis, elas também existem, procriam e seguem a atazanar. Ingênuo, imaginei a agenda geral da chatologia, ciência destinada a entender as nefandas figuras. Um átimo depois, dei-me conta de que nada seria mais insuportável: uma reunião para discutir os chatos. Alguém faria uma colocação, de prompto (chato não fala, faz colocação. O prompto vai por conta da erudição. Todo chato é erudito aos mais elevados níveis da ignorância). As referências literárias à chatice remontam aos primórdios da literatura, até porque sabemos ser a totalidade dos personagens consagrados à pentelhagem alheia baseada em conhecidos dos autores. Resumo da ópera, gênero nem sempre, mas beirando: obra infindável. Como intróito, jamais olvidemos dos chatos literários. Dos substanciosos, versículo primeiro. São os que se dão mais importância do que sua reles participação no universo supõe. Falam de si mesmo na terceira pessoa: ai que tédio (em matéria de pessoa, só Fernando, se me faço entender. Carlos Alberto, vulgo Nêgo, também aceito). Aos adjetivosos, versículo segundo, e aí se inclui toda a poesia do século 19 que aqui ainda se pratica. Então, estava eu às voltas com a pesquisa para
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a vida tecnológica nos oferece chatos à exaustão, chatos a galvão, chatos ponto com a enciclopédia temática aventada, sentindo-me um Houaiss, posto que chama (verbo chamar, referência à participação dos maçantes protagonistas), quando me dei conta: mais fácil captar o que está na rede. Bingo! (coisa chata em cartelas: dois patinhos na lagoa, minha senhora). Temos chatos envolvidos em causes, chatos torcedores, chatos que jogam on-line, chatos que conversam (deve ser a razão pela qual a conversa entre eles se chama chat. Os gatos franceses nada têm a ver com isso). De repente, surge o Maradona. Aqui entre nós, agora que a Amy Winehouse, aquele gênio da voz se foi: existe alguém mais chato do que o
Maradona, com ou sem barba? Escapa-me (chatos tem a pretensão de começar frases com “escapa-me”. Freud, se não explicasse, concordaria, desculpem o ato falho), escapa-me a razão pela qual a televisão aberta concentra tantos chatos. Um Faustão já seria o máximo, mas agora temos outro, mais magro, olhos estanhados. Pior: este segundo não sai dos intervalos comerciais. Vá entender. E a escola que forma os, chamemos assim, garotos-propaganda? Todo dia surge idiota novo, sempre a berrar, a gravata limitando a expansão das veias do pescoço (melhor se não conseguissem). Já pensou se passarem a oferecer pós-graduação? Vamos desistir: em outros tempos, chato na tela era personagem de filme. Agora eles estão em todas: televisão, computador, telefone. Minutinho, meu celular tocou. Uma operadora oferece a possibilidade de comprar uma viagem, até dormindo. Basta digitar dois números, três letras, ligar para o 0800, dar nome da mãe, número do rg, cpf, da porra do cacete a quatro, epa: isso é uma crônica, não um desabafo. Mas a ele não resisto, considerando que os chatos não morrem jamais. É que a vida tecnológica nos oferece chatos à exaustão, chatos a Galvão, chatos ponto com.
ernani buchmann é escritor, advogado e publicitário
Carlos Alberto Pessôa
Carta para Izabel
(Este texto foi escrito no final de junho. Motivado por vídeo enviado pela Izabel com entrevista do Woody Allen ao Jean Luc Godard. Izabel não é outra senão a Izabel Campana)
Izabel, Não espalhe; fui godardiano na remota juventude; via seus filmes a babar, a rir, a gargalhar dos indistintos públicos que iam ao cinema à espera de action ou sexo ou drama e viam blá blá blá; coisas assim: Marina Vladi – lindíssima – em plano americano, cortada acima da cintura, e a voz do Godard, em off, a se perguntar por que tinha posto a câmera naquela posição? Enfim, metacinema, mais que cinema; nós, cinéfilos que queríamos fazer cinema, como seu pai e eu, urrávamos! Porque a plebe ficava irritada. Dane-se a plebe! Ou os que iam ao cinema pra se divertir: bando de hijos de uma gran puta! Que era como a gente os definia! Salauds! Pra usar o palavrão francês par excellence. Éramos jovens. Bonitos. Cabelões a cair pelos ombros. Meio sujos – era moda um pouco de sujeira, de falta de banhos diários, coisa de bonecas, perda de tempo. Ora pro nobis... Éramos caretas totais! Nada de drogas! Exceto a pior de todas, cigarro comum, desses que só dão câncer... E café. Toneladas de café. Normalmente cafés odiosos, não potáveis, asquerosos!
A beber café, a beber café, a fumar, a fumar, a fumar, a falar, a falar, a andar por aí, a falar de tudo, a falar de tudo, dos livros, dos filmes, das minas (mujeres), a rir, a gargalhar, a dizer poesia em voz alta na madrugada gelada desta bosta de cidade, Fernando Pessoa aos berros, aos urros: Não sou nada. Não quero ser nada. etc., à parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo. Come chocolate, menina suja, e por aí íamos. Eu, existencialista, preocupado com a vida e a morte, a decadência, a doença, a finitude – a desdenhar aquela bosta marxista – queria que o proletariado fosse pro inferno; não sou proleta, acho os proletas abomináveis: como os espelhos e a cópula, eles se reproduzem... Como naquela frase do Borges que soa melhor em inglês porque amo a palavra mirror. Mas a palavra que mais amo, a palavra mais bonita para mim é anglaise, francesa! Palavra pregada na Agatha Christie(?!): jeune fille anglaise. Desculpe os palavrões; afinal escrevo para uma menina, jeune fille, que deve cultivar pudores, pois foi bem educada e não está acostumada com este léxico de convés de navio pirata (frase do Bernard Shaw). Izabel, perdi a... Perdi todas as mulheres de uma vez só! Fiz strike! Sou um gênio pelo avesso. E agora? Encho o saco do seu pai, encho o saco da analista, tomo remédios, sobrevivo ape-
sar de ter perdido peso - a melhor dieta é uma desilusão amorosa! Ou uma decepção amorosa daquelas! De fazer o cara uivar! De ficar com ódio de ter nascido, com vontade de atear fogo às vestes, de tomar formicida com guaraná Caçula da Antartica – O SUICÍDIO NACIONAL POR EXCELÊNCIA! (QUE BOSTA DE SUICÍDIO, HEIN? QUE BOSTA DE PAÍS, HEIN?) AH! MAS VOU SOBREVIVER. Para contar! Teu pai quer que eu escreva memórias – eu que não vivi... Vou fazer memórias como Fernando Pessoa escreveu: do que poderia ter sido... Tenho o começo (já é alguma coisa...): Plantei uma árvore na infância, tive um filho na meia idade, escrevi um livro na maturidade. E talvez não haja no mundo ser menos completo do que eu. E é esta incompletude que contarei. Relaxe. Será indolor. Espero que seja engraçada. Abraço no Lucas, embaixador e evangelizador – espero que leve paciência e humor àqueles povos tão sem graça.
Carlos alberto Pessôa é jornalista e escritor. Escreve diariamente para o site da Revista Ideias. negopessoa.com outubro de 2011 |
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Reportage�
Pai Maneco, o maior terreiro do PaÍs Terreiro de Umbanda Pai Maneco, localizado na Capital, é o maior do país. Religião de brancos comandada por espíritos de negros
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SARAH CORAZZA
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Henrique Karan
História Zélio Fernandino de Moraes significa para os umbandistas o que Allan Kardec é para os espíritas. Quando tinha 17 anos e estava pronto para se alistar nas Forças Armadas, começou a falar manso, com um sotaque diferente, parecendo um senhor de bastante idade. Na época a família chegou a interná-lo em um hospital psiquiátrico e depois de nada de errado ser encontrado, chegaram a fazer um exorcismo, que também não surtiu efeitos.
Como se não bastasse, dias depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia. Um dia disse “amanhã estarei curado”. No dia seguinte andou como se nada tivesse acontecido. Sua mãe, depois disso, chamou uma curandeira, que incorporava um preto velho. Na hora, a curandeira afirmou que Zélio era médium. Ele foi levado à Fundação Espírita de Niterói. Lá notou que os espíritas, de certa forma, repeliam os espíritos dos pretos velhos, índios e caboclos, por serem de origem humilde. E disse: “Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo
Henrique Karan
P
ensar coisas boas para atrair coisas boas”. Assim Lucília Guimarães, mãe de santo do terreiro do Pai Maneco resumiu a filosofia da Umbanda. Religião que surgiu há 103 anos no Brasil e que ganha cada vez mais espaço e adeptos. Alguns estudiosos afirmam que ouve uma fusão entre a macumba e o espiritismo de Allan Kardec e com isso alguns grupos ligados ao espiritismo, cansados de seu intelectualismo, migrou para as cores e ritmos vibrantes da Umbanda. “Feitiçaria, práticas mágicas, e claro, o catolicismo se uniram para formar a Umbanda”, diz Diana Brown. “A Umbanda é a religião brasileira e, ao contrário do que muitos imaginam, foi criada por brancos e não trazida pelos escravos, embora a ligação com os africanos seja muito intensa, já que incorporamos “pretos velhos”, que na sua maioria eram escravos. Ela é livre de dogmas, está se desenvolvendo e a cada dia é mais procurada pela sua simplicidade e eficácia”, garante o jornalista Rodrigo Fornos, que participa há sete anos das celebrações do terreiro do Pai Maneco.
dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim”. Neste momento surgia a Umbanda, que até hoje é muito confundida com o Candomblé, que tem origem negra e realiza trabalhos e rituais de sacrifício, combatidos pela Umbanda. “Aqui não sacrificamos animais e nem realizamos os chamados ‘trabalhos’ que são feitos no Candomblé. E também não cobramos nada de quem participa”, conta Lucília. “Na Umbanda aprendemos a maior das leis e que deveria reger o caminho de qualquer ser humano, em qualquer religião: a prática do amor”, complementa Fornos.
Ritos Outra referência bastante clara na Umbanda, além do espiritismo, é o catolicismo. Uma das mais fortes dela é o culto a imagens. Os umbandistas também acreditam em santos e em anjos da guarda. Embora os nomes sejam diferentes, os santos são os mesmos, populares entre os católicos brasileiros. A Virgem Maria é conhecida por Iemanjá. Jesus Cristo atende pelo nome de Oxalá. Nossa Senhora da Conceição é Oxum. Sant’ Ana é Nana Buruquê. São Lázaro, Omulu. São Jorge, Ogum. E assim segue a extensa lista de santos, que também mudam os nomes de acordo com os estados brasileiros. As imagens também são diferentes. Todas são negras. outubro de 2011 |
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Henrique Karan
Outro ponto facilmente perceptível é a oração. Logo no início, enquanto o pai de santo está solicitando a permissão e a proteção dos seus orixás para iniciar o rito, entre outras orações reza um pai nosso. Mas isso não é regra, já que cada terreiro desenvolve seu próprio ritual. Todos cheios de muita música. “Eu era católico apostólico romano, frequentava a igreja desde muito pequeno por influência dos meus pais. Quando fiz 15 anos, os questionamentos começaram a surgir. Principalmente em relação a céu, inferno e pecados. Como resultado me desliguei da igreja”, relembra o jornalista. “Foi quando o meu pai teve um problema de saúde e uma senhora vestida de branco, cheia de colares e falando como um índio o curou que eu fui tocado pela Umbanda” ressalta. E branca é a roupa tradicional dos umbandistas. Vestidos de branco, com colares e cintos coloridos e de preferência descalços (ou com sapatos sem solas de borracha para não cortar a energia), os médiuns entram e se posicionam em um círculo, no centro do terreiro. Neste momento inicia o barulho dos atabaques. A
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música lembra muito um samba de raiz. O som é alegre. Todos se movimentam e cantam para criar a energia necessária para a incorporação. As músicas para os orixás pedem a proteção dos presentes e do terreiro, além disso, devem ser cantadas com vigor, caso contrário ele reclama e não vem. Alguns médiuns rodam sem parar. Por mais de 10 minutos. Quando param a expressão é outra. Geralmente mais carrancuda. Sisuda. Não de brava, mas da idade. O ritual se divide em duas partes. “Sempre que se trabalha com a direita temos que trabalhar com a esquerda”, explica Lucília. A segunda parte é conhecida como quimbanda. Nela os médiuns mudam de vestimentas. Ao invés do branco, o terreiro é invadido pelo preto e vermelho. “Não é porque é conhecido como o lado esquerdo que ele represente o mal. Não existe o mal na umbanda. Muito menos espíritos ruins. O problema é o ser humano. Ele é que conduz o espírito”, ressalta a mãe de santo. E é exatamente neste livre arbítrio, do ser humano ser responsável por seus atos e consequências que os umbandistas acreditam. “Na umbanda não existe pecado. Acreditamos que para toda ação existe uma reação. Somos todos falíveis e só depende de nós mesmos o caminho para a luz”, defende o médium Fornos.
Giras No terreiro do Pai Maneco cada dia da semana é regido por uma gira. Nas segundas é a gira matriz, dirigidos por Pai Fernando e mãe Lucília. Já nas terças, pai Jussaro comanda no terreiro grande e no terreirinho a mãe Eli, que é parapsicóloga, ministra aulas na Faculdade Espírita e desenvolve um trabalho que pretende unir a ciência com o espiritismo. Quarta funcionam mais duas giras paralelas, da mãe Jo e do pai Leo e ainda na quarta, de tarde, uma gira que começou a pouco com o pai Beco, para aquelas pessoas que não podem ir à noite. Quinta, mais uma vez o pai Beco dirige o terreiro. Sexta é a vez da mãe Rita e sábado pai Bitty. Nos sábados acontece também a gira de animais.
Oficinas O terreiro do Pai Maneco também realiza algumas oficinas de música, atabaque, bonecos gigantes, mosaico, e promove algumas ações sociais. Em agosto, o terreiro promoveu um ciclo de palestras sobre drogas, sexo, depressão e câncer. Profissionais de cada área foram chamados para desenvolver a conversa com os médiuns para que cada um, quando incorporado, soubesse a melhor maneira de lidar com cada tema. “O médium informado trabalha melhor”, afirma Lucília. Bênçãos e Previsões Na primeira parte do ritual, as pessoas que estão assistindo recebem bênçãos dos médiuns e pais de santo. Após a entoa-
Casamento
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ritual do casamento umbandista lembra muito o ritual realizado pela igreja católica. A diferença é que, às vezes, ao invés das tradicionais alianças são trocadas guias pelos noivos e além dos padrinhos que conhecemos nos casamentos convencionais, no casamento umbandista também existem os padrinhos espirituais. Os padrinhos incorporam nos médiuns e também participam da celebração, que como todos os rituais da umbanda, são extremamente alegres. Normalmente os padrinhos e madrinhas incorporam entidades da linha dos Pretos Velhos, que, aliás, são os que mandam em toda a Umbanda, já que todas as outras entidades seguem os seus comandos.
Rogério Sheibe Filho
lho
Henrique Karan
Henrique Karan
ção de vários cânticos as pessoas são convidadas a participarem das bênçãos. Descalças entram no centro do terreiro, são orientadas a fecharem os
olhos e ficar com as mãos estendidas. Neste momento os médiuns vão caminhando entre os presentes e ‘escolhem’ em quem vão dar a benção. Neste momento muitos se emocionam. Já na segunda parte, a quimbanda, as consultas são individuais. Os médiuns sentam ao redor do terreiro, sempre acompanhados por um ajudante com um caderninho para anotar as recomendações que os médiuns dão às pessoas que estão recebendo a consulta. “Qualquer um pode fazer a consulta, perguntar qualquer coisa que receberá sua resposta. Muitas vezes os pais e mães de santo ainda recomendam banhos e chás e a função dos ajudantes é essa: anotar as
O que vi
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ou católica, mas já frequentei outras igrejas. Algumas por curiosidade, outras para fazer uma pesquisa de campo. Presbiteriana Renovada, Espírita, Universal, Internacional da Graça de Deus e agora a Umbanda.
dia, circulavam entre a cantina e o local onde é realizado o culto. A música é algo extremamente envolvente. Os sons dos atabaques lembram muito o samba de raiz. É animado. Não tem como não se impressionar com o som e o cheiro do local.
De longe é a mais animada. Com a música que lembra um samba, batuques, cheiros, cores, ela mistura inúmeras sensações que muitas vezes se traduzem pelos famosos arrepios. Fiquei constantemente arrepiada durante o ritual.
Em determinado momento todas as pessoas que assistem o ritual são chamadas para o centro. Algumas são chamadas para sentar em um banco enquanto recebem as bênçãos. Não sei ao certo qual o critério para isso, mas eu fui chamada.
Como é normal em toda a matéria, li sobre o assunto antes de ir ao terreiro. Chamei meu amigo Francisco Valente, que trabalha com energia e já frequentou a Umbanda por mais de 20 anos e parti ansiosa em busca desta nova experiência. Lá fui recebida pela mãe Lucília. Uma das minhas perguntas para ela foi a respeito dos espíritos que nos acompanham. Li que os médiuns conseguem ver os espíritos que estão com as pessoas. “Tem algum espírito negativo que me acompanha?”, perguntei temerosa. “Com esse sorriso aberto e esse coração bom, você não tem nada ruim perto de você”, ela respondeu. Confesso que gostei de ouvir, embora essas palavras fossem as mesmas constantemente repetidas pelo meu amigo, quando escuta as minhas lamúrias.
Enquanto estava com os olhos fechados e as mãos estendidas, os médiuns passavam por mim. Alguns paravam outros não. Um deles parou, me olhou fixamente e perguntou o que me afligia. Comecei a chorar. Outros me benziam com ramos de ervas, entre elas a hortelã, que me lembra muito a minha infância.
Como boa virginiana prestei atenção a tudo o que acontecia. O lugar era diferente da imagem que já havia pré-concebido. O chão não é de terra batida e os cultos acontecem em uma espécie de “galpão” com toda infraestrutura. Várias pessoas vestidas de branco, outras com roupas normais do dia a
O que aconteceu ao certo não sei, porém fiquei impressionada. Senti muitas sensações diferentes e saí leve de lá. Levei alguns dias para processar o que aconteceu antes de começar a colocar minhas ideias no papel. Depois daquelas bênçãos tive uma semana muito boa. Alegre. Alguns amigos me falaram que senti isso porque me impressiono muito com as coisas. Isso é verdade. Sempre disse que sou uma pessoa muito crente. Acredito nas coisas e tenho muita fé. Ao mesmo tempo sempre acreditei que qualquer oração vale a pena, se não estamos prejudicando ninguém não há mal algum. Minha intenção é voltar. Quero fazer a consulta com os médiuns. Mas ainda não sei ao certo quando, só que me fez bem. E que não mudaram as minhas crenças.
recomendações para passar às pessoas que estão sendo atendidas”, conta Lucília. “Essas consultas são gratuitas, nada é cobrado aqui na Umbanda. Sentou no toco obtém sua resposta”, afirma.
Finanças Segundo Lucília, nada é cobrado das pessoas que participam dos rituais no terreiro do Pai Maneco. Alguns médiuns que participam pagam uma quantia simbólica de R$ 15,00 por mês, que ajuda a manter o terreiro. “Esse valor é pago de maneira espontânea pelos médiuns. Nem todos podem contribuir e não fazemos nenhuma distinção dos que pagam ou não”, afirma Lucília. O terreiro do Pai Maneco também aumenta sua renda com os lanches que vende no local e com o dinheiro que arrecada com o amplo estacionamento. Diferente das outras religiões, os umbandistas não pedem contribuições durante seus ritos. Mas alguns médiuns aproveitam seu dom para trabalhar com eles, vendo a sorte das pessoas e cobrando por isso. “Não achamos o ideal cobrar por este dom, mas entendemos que os nossos médiuns precisam ganhar a vida, embora a maioria exerçam outras profissões”, conta Lucília.
Terreiro de Umbanda do Pai Maneco - Sociedade Espiri tualista Edmundo Rodrigues Ferro. Estrada Nova de Colombo, 5487, Santa Cândida - Fone: (41) 3356-7660 Área física do Terreiro Pai Maneco: 800m² Número de médiuns ativos (sócios do Terreiro) 1.152 Número total de pessoas que passam pelo Terreiro semanalmente: em torno de 3 mil. A Federação Umbandista do Estado do Paraná tem 15 associados. No Paraná existem 27 terreiros que não são ligados a nenhuma confederação (umbandabrasil.com.br)
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Religiã�
OVelHas fogem do reBanHo catÓlico STock.XchnG
AROLDO MURÁ G. HAYGERT
A
Igreja Católica voltou a perder adeptos no Brasil. Cresceu o rebanho de evangélicos e de pessoas que se declaram sem religião. É o que diz o estudo publicado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Segundo o Novo Mapa das Religiões, coordenado pelo pesquisador Marcelo Neri, os católicos passaram de 73,8% da população em 2003 para 68,4% em 2009 — queda de 5,4 pontos percentuais. Nesse período, os evangélicos passaram a representar 20,2% da população, contra 17,9% em 2003. O grupo dos “sem religião” (ateus e agnósticos), que era de 5,1% em 2003, subiu para 6,7% em 2009. O levantamento foi feito a partir de dados de mais de 200 mil entrevistas da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), do IBGE. A diminuição dos católicos na população vem sendo lenta, porém constante, desde o início do século passado, mas se mantivera estável na medição anterior da FGV, entre 2000 e 2003. “Chegamos em 2009 ao menor nível de adeptos ao catolicismo
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na nossa história estatisticamente documentada”, diz o estudo. “Observamos a queda na proporção de católicos em todas as faixas etárias. Essa mudança foi menor para os grupos com idade mais avançada e maior entre os jovens.” Essa redução abriu espaço tanto para ateus e agnósticos como para outras crenças. “A [igreja evangélica Assembleia de Deus] já é a segunda maior igreja do Brasil (em número de adeptos), com grande importância nas classes D e E”, explicou Marcelo Neri. “E a crença espírita já é a segunda maior na classe AB.” No caso dos evangélicos, o crescimento relativo de adeptos se dá em todas as faixas etárias, embora de maneira mais pronunciada entre os jovens. Na emergente classe C, os evangélicos representam 21,5% da população, mais do que a média nacional (20,2%). O catolicismo é a religião mais presente nos níveis extremos do espectro de renda (72,7% na classe E e 69% na AB), enquanto as crenças evangélicas pentecostais se popularizam nos níveis intermediários inferiores da distribuição de renda (representa 15,3% na classe D).
PaRTiCiPaÇÃO DE CaTÓLiCOs NO BRasiL - 1872 a 2009 99.72
68.43
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Fonte: cPS/FGV a partir do processamento de dados publicados e microdados do iBGe.
Os evangélicos tradicionais estão concentrados na faixa AB (8,35%) e C (8,7%). No que diz respeito à divisão geográfica, a maior concentração de católicos é nos Estados do Nordeste brasileiro — no Piauí, 87,9% da população é católica, contra 68,4% da média nacional. “Os dados demonstram claramente que a velha pobreza brasileira, áreas rurais do Nordeste, mais assistidas por programas sociais, continua católica, enquanto a nova pobreza, da periferia desassistida das grandes cidades, estaria migrando para as novas igrejas pentecostais e para os segmentos sem religião”, diz o estudo da FGV. Ao mesmo tempo, porém, a renda familiar per capita dos evangélicos é 6,9% inferior à dos católicos — justamente pelo fato de o catolicismo ainda ter presença relevante na elite econômica brasileira. Com relação aos gêneros, as mulheres brasileiras, ao mesmo tempo em que são mais religiosas do que os homens, hoje são menos católicas: entre os que possuem religião, 75,3% dos homens são católicos; entre as mulheres, esse índice cai para 71,3%. “Enquanto os homens abandonaram as crenças, as mulheres trocaram de crença, preservando mais do que eles a religiosidade”, diz a pesquisa.
curitiba é mais evangélica Um caso bem significativo é o da Região Metropolitana de Curitiba, que aparece, agora, como a segunda região metropolitana com maior número de evangélicos do país, com 34,7% da população, entre evangélicos pentecostais e históricos. Na mesma RMC os chamados espiritualistas
entre os que possuem relIgIão, 75,3% dos homens são católIcos; entre as mulheres, esse índIce caI para 71,3% — na maioria das vezes, assim nominados os vinculados ao kardecismo ou cultos próximos a ele — aparecem com zero de presença. Já na cidade de Curitiba, os estudos indicam uma presença altamente significativa dos mesmos espiritualistas, 2,3% da população da Capital, enquanto esses espiritualistas são 1,7% da população brasileira, mesmo percentual com que aparecem no Estado do Paraná. A Região Metropolitana do Rio de Janeiro é a que encerra o maior número de evangélicos (a maioria sendo pentecostal). No Rio, o percentual de católicos já é de somente 49,8% da população. Os números do Rio e sua região
metropolitana até podem ser entendidos como decorrência desse trânsito religioso, marcado pela necessidade de novas identidades de massa humana que procuram associar-se a partir de uma igreja. É, no geral, uma população que foi perdendo, há anos, suas marcas católicas, antes identificadas mais por romarias e fixações em devoções populares como ao padre Cícero (os que compõem o Rio e sua periferia são oriundos, na maior parte, do Nordeste do país). Mas na Região Metropolitana de Curitiba, em grande parte tida como composta de populações de origem polonesa, italiana, ucraniana, alemã, como explicar tão súbita adesão aos cultos evangélicos? Primeiro de tudo há que se considerar que já não se pode mais falar numa Região Metropolitana de Curitiba “de raízes europeias”, como até 30 anos passados, por exemplo. Nem é mais uma RMC de população predominantemente branca. Hoje está fortemente miscigenada. O inchaço da RMC é um fato, assim como sua cidades-dormitório (Piraquara, Pinhais, Araucária, Tamandaré, parte de São José dos Pinhais, Colombo, Campina Grande do Sul, Rio Branco do Sul) que abrigam multidões de oriundos do Norte do Paraná, em primeiro lugar, e populações de diversos Estados. Esse pessoal veio em busca de vida nova na RMC e de empregos, que acaba encontrado com certa fartura. Procuram também assistência médica, é certo. Dos que chegam do Norte do Paraná, muitos são evangélicos, boa parte deles ligados à Congregação Cristã e Assembleia de Deus. Mas a RMC não foge do quadro: as pessoas tornam-se anônimas nos grandes aglomerados, outubro de 2011 |
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perdem fontes de referência, como vizinhanças (como aqueles dos pequenos núcleos rurais ou urbanos) e tratam de “abrigar-se” em novos apriscos. As igrejas – sobretudo as microigrejas, são a porta mais convidativa para essa clientela que a Igreja Católica não consegue atender. Ou para a qual o modelo católico de paróquia tradicional não mais responde. O certo é que na própria RMC são bem nítidos os núcleos fiéis ao catolicismo, como na Colombo tradicional (ao contrário da nova Colombo), em Campo Largo, nas áreas rurais de São José dos Pinhais, ou nas colônias de Araucária. Mandirituba e Piên são exemplos de forte presença católica. Mas esses núcleos “resistentes” já não pesam muito nas estatísticas do sagrado.
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com justiça, entre os tradicionais. Mas os braços ditos “renovados” dos batistas e presbiterianos, de cunho pentecostal, como enquadrá-los?
Kardecistas ficam no topo da renda Os kardecistas, doutrina dos que professam o reencarnacionismo (segundo Alan Kardec), caiu no gosto dos mais abastados brasileiros. O 1,7% dos brasileiros chamados de kardecistas estão no topo da renda, são maioria. Alguém arrisca palpite? Possivelmente, diz um analista amigo, deve-se “à exposição de uma camada mais privilegiada da população a uma farta literatura kardecista”. Não sei, porque se aceito esse raciocínio, como ficariam, então, as posições dos adventistas do sétimo dia, das testemunhas de Jeovah e das próprias igrejas evangélicas tradicionais, donos de grandes editoras e conhecidos pelos amplos investimentos em mídia? Prefiro admitir que consolos e respostas sobre o pós-morte e as fatalidades da vida — segundo a ótica kardecista — servem bem aos anseios dos mais abonados. Ainda, outro dado curioso: enquanto no Brasil os seguidores de “outras religiões” são 2,2% da população, em Curitiba eles são 3,8% e na RM de Curitiba, 3,2. Possivelmente a explicação esteja na grande presença de membros de igrejas ortodoxas, testemunhas de Jeovah, mórmons, muçulmanos, budistas, judeus. Às vezes, até os seguidores da Rosa Cruz acabam sendo classificados como seguidores de “outras religiões”, impropriamente. Os estudos da Fundação Getúlio Vagas, liderados por Marcelo Neri, revelam outras rea lidades curiosas, como a do crescimento das igrejas evangélicas chamadas tradicionais. Elas estão presentes no Brasil todo, especialmente em igrejas como as batistas (basicamente urbanas, e que não se consideram protestantes, mas são evangélicos), metodistas, presbiterianos de diversas ramificações, episcopais-anglicanos, luteranos sinodais e luteranos do Brasil, reformados de origem holandesa, dentre outros. Pois esses evangélicos históricos, que até anos recentes eram considerados como “sem expressão no seu crescimento”, por muitos
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O trânsito religioso lançou genêros como o “evangélico freelancer”
a região metropolitana de Curitiba é a segunda com maior número de evangélicos do país: 34,7% da população estudiosos, apareceram nos estudos da FGV com impressionante crescimento: aumentaram 38,5% no período analisado, passando de 5,39% para 7,47%. De novo, Neri atribui ao crescimento da renda da população a ampliação do mundo evangélico tradicional, porque essa nova classe média — opina — seria marcada pelo espírito conservador e capitalista. Alguma coisa, então, como a busca de um protestantismo como o retratado por Max Weber, despido da Teologia da Prosperidade. Pode ser. O problema hoje é distinguir que igrejas podem, com precisão, serem qualificadas como evangélicas históricas e tradicionais. A do Evangelho Quadrangular é mais pentecostal ou mais histórica? Os batistas — que não se consideram frutos da reforma — estão contemplados,
Respostas da Igreja Romana Claro que o tempo da Igreja Católica é bem diverso dos das outras igrejas. Seus hierarcas têm consciência das perdas, há documentos da CNBB atestando essas preocupações. Há estudiosos e teólogos católicos discutindo — a maioria das vezes, intramuros — e examinando aquela definição que tanto incomoda aos católicos: “A Igreja optou pelo pobres, mas eles aderem mesmo é ao pentecostalismo”. Trata-se de um cutucão na Teologia da Libertação e seus arautos. Existem respostas da Igreja no Brasil, a momento tão crucial para ela. Um está no incentivo das chamadas ‘novas comunidades’, instituições que abrigam leigos celibatários e casados vivendo propostas missionárias. O mapa revela mutantes caminhos da fé religiosa no país, com destaque para a diminuição percentual de católicos, no período abrangido pela pesquisa — de 2003 a 2009. No período, os que se confessavam católicos caíram de 74% para 68,43%. Mesmo assim, cresceram numericamente, é certo, sendo hoje 130 milhões, num crescimento vegetativo tão somente. O que dizem certos sacerdotes, quando questionados pela imensa perda de fiéis (e poder), é que a Igreja Católica hoje prefere “ser o pequeno rebanho. Mas rebanho fiel”. Uma resposta inspirada em definição do papa Bento XVI. Conhecendo, como conheço a Igreja Católica — caracterizada, entre outras peculiaridades, por seu tempo próprio para quase tudo —, é simplista dizer que “a Igreja engendrou respostas, no Brasil”, ao crescimento dos evangélicos. Até porque a Igreja, inclusiva como é em quase todos os campos, aceitando os mais variados braços de atuação dentro de suas hostes (direita, esquerda, renovadores em teologia, conservadores e tridentinos de outro lado) não age monoliticamente em matérias que não sejam as de fé e ordem, as dogmáticas (uma delas, a oposição ao aborto, por exemplo). Esse inclusivismo — arrisco dizer — é o que mais ajuda a explicar esse mundo de um bilhão e tantos católicos pelo mundo. Os ganhos e perdas de membros talvez não assustem tanto à instituição que nos seus primórdios perdeu o seu próprio berço, o Oriente Médio, com destaque para a Judéia/Palestina, a Síria e o Egito dos eremitas dos primeiros dias. E que, com a Reforma de Lutero, perdeu parte da Cristandade, seguida pela perda da Inglaterra de Henrique VIII. “Mas nem por isso deixou de evangelizar e conquistar novos povos”, como lembra o médico e professor de Medicina Cícero Urban, vice-presidente do Instituto Ciência e Fé.
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As aberturas do catolicismo O que ocorreu é que o episcopado brasileiro, diante da evasão “assustadora” de seus fiéis, foi abrindo-se (muitas vezes sob protestos conservadores) a movimentos como a Renovação Carismática Católica (RCC), nascida nos anos 1960, na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos. Pois, afinal, aceitar o pentecostalismo entrando no altar era uma realidade de toda improvável até então. Embora experiências pentecostais tenham se registrado no catolicismo medieval (com Fiori), sem contar aquelas registradas, por exemplo, no Concílio de Jerusalém. Mas só a aceitação dos carismáticos não resolveria, se a questão fosse conseguir um forte dique para fuga registrada na grei católica. No mesmo tempo, anos 1970, a Teologia da Libertação chegou ao auge, com sobrevida nos e 90, e ainda presente hoje nas chamadas CEBs, as comunidades de base, e em ampla literatura, além de cátedras de seminários maiores. A TL pregou — o que é cristão — a opção preferencial pelos pobres (neste caso, não se deixe de incluir os abandonados espirituais dentre os pobres). Mas o conjunto de opções da Teologia da Libertação não conteve a evasão de fiéis, até pelo contrário. Nesse período — anos 1970 — e diante dessas realidades, o que se viu foi uma mistura fantástica, um cardápio variado, bem dentro do espírito inclusivo da igreja no Brasil. De um lado, os católicos começavam a experimentar o chamado Batismo no Espírito Santo, e a ler avidamente o livro evangélico/pentecostal “Foge, Nick, Foge” (a experiência de um jovem fugindo das drogas e adotando o pentecostalismo nos EUA); de outro, Leonardo Boff e um grande número de lideranças católicas (bispos, como respeitável Dom Paulo Arns) assestavam armas com a TL. E com um olhar voltado em apoio às contestações de Hans Kung, de tantas influências em parte do clero brasileiro. Nem a Renovação Carismática nem a TL (depois fortemente anatematizada pelo hoje beato João Paulo II) conseguiram, pois, deter a evasão, ou ‘apostasia’, como a fuga seria chamada em tempos pré-Concílio Vaticano II. O trânsito religioso de muitas faces é uma clara manifestação do brasileiro do final do século 20 e começo deste. Trânsito que já mostra certa exaustão até nos quadros das igrejas evangélicas, segundo a pesquisa da FGV, que indicou também crescimento dos evangélicos que não querem se filiar a nenhuma denominação. São os “evangélicos freelancer”, alguma coisa como o “católico não praticante”. Eu enxergo esse desapego denominacional ligado a também outros fatores. Um deles seria uma forma de os “crentes” pentecostais, até agora identificados como pertencentes a ‘grupos exóticos’, em seus usos e costume, e
A Igreja Católica diz que prefere ser o pequeno rebanho, mas o rebanho fiel
a renda familiar per capita dos evangélicos é 6,9% inferior à dos católicos vivendo nos estratos mais baixos da população brasileira (pobres e com baixa formação escolar) adotarem uma nova identidade (não há como fugir à expressão). Seria essa mesma fuga a responsável por um grande número de evangélicos pentecostais estar aderindo às igrejas evangélicas tradicionais, conforme indica o estudo da FGV? É possível. Há grupos neopentecostais que têm características muito próprias, como a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, hoje dona de um amplo império de negócios paralelos, como emissoras de rádio, Rede Record de Televisão, construtoras, ramos financeiros e de táxis aéreo, etc. A Universal teve o mérito de universalizar (perdão à rima) a chamada Teologia da Prosperidade, que os americanos codificaram nas primeiras décadas do século 20. Por ela, conclui-se que Deus “é obrigado” a promover felicidade e prosperidade dos seus fiéis. E, em consequência, conclui-se ainda, a riqueza, ao contrário do espírito calvinista, não vai decorrer do trabalho
árduo. Mas, sim, de quem se mostra fiel a Deus, pagando seus dízimos e ganhando, em contrapartida, as benesses divinas. Um dos braços mais expressivos da Teologia da Prosperidade é a Igreja Renascer em Cristo, do chamado apóstolo Hernandez e da bispa Sônia Hernandes. A igreja é apresentada em ampla reportagem da revista Isto É, segunda semana de setembro, como vivendo momentos de queda: dos milhares de templos de até recentemente, hoje são apenas 300 e muitos deles sob ameaça de despejo por falta de pagamento. A saída do jogador Kaká da Renascer, os escândalos ligados à prisão do casal nos Estados Unidos, e má gestão dos dízimos, além de defecções importantes de líderes de seus quadros, estariam no fim da prosperidade da denominação. Mas voltando à Universal: seria alongar demais mostrar o quanto essa igreja apropria-se de símbolos católicos, para desenvolver suas pregações. O sal como elemento de benção, assim como a água, as chamadas correntes de oração, as fogueiras santas, os exorcismos sistemáticos em busca de expulsar demônios contêm receituário que manteve multidões presas à Igreja Católica. Na linha das igrejas neopentecostais, a Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada por Waldomiro Santiago, egresso da Universal, é, na minha opinião, a grande novidade no mapa das religiões. Cresce de forma impressionante, sob a promessa de chuvas de milagres. E à custa, segundo noticiou a revista Veja neste setembro, de investimento anual de cerca de R$ 1 bilhão em televisão (a conferir onde?) para pregar suas promessas de cura divina. O número é impressionante, mas não impossível. Afinal o ex-pastor da Universal, Waldomiro Santiago, comprou horário em quase todas as madrugadas das emissoras de televisão do país. Não conseguiu espaço na SBT e Globo.
Os católicos reagem É certo que a Igreja Católica não cruzou os braços. Seus bispos, na maioria, aceitam as mais variadas experiências, aquelas de massa e também outras novas e as mais discretas. As de massa são tipo Canção Nova, com emissoras de rádio no Brasil todo, sem propaganda, inteiramente subsidiadas pelos chamados sócios-colaboradores. Além de uma ativa emissora de TV, 24 horas no ar, com alcance nacional via satélite e cabo, muita ação na web e casas de missão espalhadas pelo país, com ramificações no exterior desenvolvido, como França e EUA. Em Cachoeira Paulista, sua sede mundial, a Canção Nova abriga milhares de pessoas diariamente, para imensos encontros e retiros espirituais massificados. É um moderno centro de peregrinação, ao contrário de Aparecida outubro de 2011 |
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— vizinha de Cachoeira — que continua com um culto extremado à virgem na invocação de Aparecida, mas sendo, sobretudo aglutinadora dos estratos fundamentalmente populares do Brasil católico. Associada à Canção Nova, há a também nova comunidade denominada Obra de Maria, cujo apostolado é promover viagens de peregrinação a santuários internacionais, especialmente à Terra Santa. Há ainda outras ‘novas comunidades’, a exemplo da Canção Nova. Prosperam no Brasil, com a aprovação do Vaticano (aquelas de Direito Pontifício) ou das dioceses, bem mais do que nos outros países. Uma delas é a ultraconservadora Arautos do Evangelho, de São Paulo, fundada por João Clá (hoje padre), depois de sua ruptura com a TFP, associação de inspiração leiga católica, tridentina, que sempre marchou à margem da hierarquia católica e ao lado de forças conhecidas por seu conservadorismo, sobretudo nos domínios integristas. Clá conseguiu um feito notável: sua comunidade foi a primeira a ser reconhecida como de Direi-
a Igreja Universal do Reino de Deus é dona de um império de negócios como emissoras de rádio, Rede Record de Televisão, construtoras, ramos financeiros e de tÁxis aéreo 40
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COM AS MESMAS ARMAS DA CONCORRÊNCIA A geração “paz e amor”, dos anos 60/70 do século passado, ficou na lembrança. Não se cumpriram as previsões de que estariam partindo para a dependência espiritual dos gurus indianos ou o modelo de budismo tibetano e afins, no Brasil. Nada mudou muito no Atlas Religioso brasileiro em direção – ao contrário do que se esperava –a práticas religiosas induistas ou budistas. A “guerra” ficou, aqui, entre católicos e evangélicos, com folgadas batalhas vencidas por esses, até agora. Mas não se confunda: nem tudo que se diz evangélico é refratário à Igreja Católica, ou “à Besta do Apocalipse”, como a chamam muitas igrejas pentecostais e neopentecostais. Os evangélicos da Confissão Luterana (Sinodal), por exemplo, têm amplos programas de cooperação com a Igreja Católica, assim como a maioria das igrejas Episcopais-Anglicanas. Boa parte das históricas não disputa espaço e crentes com a Igreja Católica. Mas às vezes, a cooperação entre as denominações históricas e a Romana não dá certo. A Igreja Metodista do Brasil, é bom lembrar, desligou-se do movimento ecumênico patrocinado pela CNBB, a Campanha da Fraternidade, poucos anos atrás. De concreto, sem firulas teológicas, apenas acompanhando as curvas estatísticas e o calendário, o que houve mesmo, a partir do final dos 1960 foi a aceitação — nem sempre indolor — de instrumentos evangélico-pen-
to Pontifício no ano 2000. “Mas os Arautos não são enquadrados na categoria de novas comunidades, mas, sim, uma associação de leigos consagrados”, objeta um padre a quem ouço sobre o assunto. Fica o registro da opinião discordante da minha. A verdade é que as chamadas novas comunidades são vigorosas, como a Shallom, nascida no Ceará, cujo líder e fundador, Moyses Nogueira, faz parte de um dos secretariados do Vaticano para a vida consagrada. Emmir, foi cofundadora da altamente emblemática nova comunidade Shallom, hoje conhecida em todo mundo. O que caracteriza essas comunidades? Não são congregações religiosas como conhecemos, por exemplo, as ordens e congregações, como jesuitas, franciscanos, redentoristas ou vicentinos. Atuam em dois braços, sempre de leigos: um, pertence às chamadas ‘comunidades de aliança’, os que ajudam, como casados ou não, a obra em suas vidas seculares; já os membros pertencentes às comunidades “de vida” vivem os votos
tecostais no dia a dia católico. Além dos que já abordamos, registre-se a impressionante ascensão dos padres-cantores. Começou com o mais talentoso deles (e menos simpático, autoritário mesmo, testemunham os que o conhecem bem), padre Zezinho, dos Sagrados Corações. Bom cantor, é reconhecido como um compositor de mão cheia, com canções que marcaram história, especialmente as que falam de Jesus e as em defesa da família. “Quando a Igreja Católica se move numa direção é impressionante sua capilaridade”, diz um pastor evangélico presbiteriano a quem ouvi. Zezinho, com seus 70 anos de idade, é visceralmente contra os padres-cantores que se colocam como centro da pregação musical. Ele tem regras, como a de jamais cantar enquanto se celebra a missa. De qualquer forma, a força dos padres-cantores hoje é impressionante. Dois deles, Marcelo Rossi e Fábio Mello, estão no topo dos maiores vendedores de livros religiosos e de autoajuda, na classificação da revista “Veja”. E Rossi ganha de todo mundo, na venda de CDs, milhões e milhões de livros e CDs. Neste setembro, Rossi marcava o primeiro lugar, no país, durante 56 semanas ininterruptas, com o seu livro “Ágape”, turbinado e mantido na posição a partir de seu prestígio de religioso nacionalmente conhecido através das suas canções. Padre Marcelo está construindo um imenso santuário em São Paulo, coisa para 100 mil fiéis, parte com R$ 25 milhões seus, pessoais.
evangélicos de pobreza, obediência, castidade e dedicação integral à obras. E moram em comunidades, masculinas, femininas e mistas. Ainda é cedo para dizer se essa nova armada terá força capaz de conter a evasão do rebanho. Para aprofundar mais, seria importante lembrar que no arsenal moderno (e, nesses casos, internacionais) da Igreja há comunidades de amplo espectro, de atuação mundial, como o Movimento Focolarino, talvez a mais antiga das chamadas novas comunidades; ou o segmento altamente politizado e intelectualmente bem preparado que é a Comunhão e Libertação (fundado por padre Giussani), com atuação, no Brasil, em universidades paulistas (é oriundo da Itália) e iniciando presença e ação entre comunidades carentes, como aquelas de pessoas que buscam terras legalizadas para trabalhar.
A variedade do arsenal espiritual Registrar, pelo menos, a presença no Brasil de
Vida melhora, pentecostais crescem menos Os que olham o fenômeno religioso por uma suposta “balança de interesses” terão explicações para o ínfimo crescimento das igrejas
MARCOS HERMES
uma comunidade marcada por uma ação integrista — Neocatecumenal, fundado por Kiko Arguelo e Carmen —, é essencial para que se entenda a variedade desse arsenal espiritual. Os Neocatecomunais formam seus próprios sacerdotes, num seminário internacional, no Brasil. Na essência, os neocatecumenais são considerados “fechadíssimos”, mesmo nas dioceses em que se abrigam. Seus opositores dizem que eles “tomam conta das paróquias em que atuam”. Literalmente. Paralelamente às chamadas novas comunidades, há os segmentos leigos de apoio a congregações religiosas, envolvendo homens e mulheres que atuam na sociedade segundo os princípios dessas instituições. Um deles é o Regnum Christi, dos Legionários, basicamente de classes médias e alta, ainda não restabelecido das penalidades que a Legião de Cristo sofreu do Vaticano (encontra-se debaixo de intervenção de emissário papal). O centro das revelações do Mapa das Religiões no Brasil é mesmo o gradiente Pentecostais versus Católicos. Por isso, enumero algumas características de igrejas pentecostais e neopentecostais no país: a) mobilidade para desdobramentos, a partir de cisões, com a fundação, simplesmente, de novas igrejas: b) formação precária, mas rápida, de quadros de pregadores e ministros de todo o tipo (pastores, anciãos, evangelistas, diáconos); c) doutrinas pouco elaboradas, centradas sobretudo em pilares que envolvem curas, exorcismos e prosperidade. E mensagens quase sempre repetidas, curtas, com boa capacidade de aceitação pela média da população, de baixa escolaridade; d) facilidade de conseguir adesões de fiéis ao pagamento de dízimos e ofertas expressivas. Quase sempre essas doações vão sugerindo uma troca com a divindade; e) igrejas exercem especial papel de controle social, com influência direta na vida do crente; f) as revelações das verdades bíblicas, que caracterizaram o protestantismo histórico, foram substituídas por palavras-chave, em pregações fortemente emocionais, com raros momentos de reflexão em torno da essência do Evangelho; g) a quase inexistência de centros de educação e escolas patrocinados pelas igrejas, que, no entanto, mantêm-se fiéis a normas fundamentalistas, como a exclusão dos conhecimentos da Evolução; h) a leitura das Escrituras de forma literal, elimina, na maioria das igrejas do pentecostalismo, a possibilidade de exegese por parte dos pastores e fiéis (exceções há, como no caso da Assembleia de Deus).
REGINALDO MANZOTTI Na relação de sacerdotes que arrebatam multidões, muitos deles intérpretes medíocres, há o padre Juarez, de São Paulo, padre André Luna, e — disputando a primazia com Marcelo Rossi — o paranaense Reginaldo Manzotti. Manzotti é empreendedor: originário dos padres carmelitas descalços, do Norte do Paraná, tornou-se padre da Arquidiocese de Curitiba, o que lhe deu liberdade para mexer com dinheiro e fazer dele o que quiser. Começou comprando uma emissora de rádio, a antiga Rádio Paraná, então propriedade da PUCPR. Com a rádio, e acompanhando sua evolução como “showman do Altíssimo”, Manzotti consegue atrair um milhão de pessoas num espetáculo apenas, como ocorreu recentemente em Fortaleza. Vende CDs à vontade, está presente em programa de televisão em cadeia (TV Educativa) e cumpre agenda de viagens com agenda tomada. Isto sem falar em sua Rádio Evangelizar, propriedade da entidade que criou e preside a Fundação Evangelizar é Preciso. Quem conhece as sendas da música religiosa do Brasil sabe que, no fundo, todos eles beberam da mesma fonte, o cantor, hoje octogenário, Luiz de Carvalho, membro de uma das igrejas batistas de São Paulo, pioneiro do ramo. Carvalho deu o pontapé inicial nos anos 1950 (final), com um disco histórico — “Quão Grande és Tu”, o nome da canção tantas vezes repetidas nos cultos católicos e nos shows dos padres-cantores. Isto sem falar na alegada — e comprovada — apropriação por padres-cantores e em celebrações católicas, de ‘corinhos’ evangélicos. O que, de resto, não é nenhum crime, pois eles não têm direitos reservados. E ademais, como falar em direitos autorais quando o fim é pregar o mesmo Reino? Até porque, se existissem direitos, a Igreja Católica teria que começar cobrando pelos clássicos que nasceram sob sua chancela ao longo da história do Ocidente.
pentecostais e neopentecostais no período de 2003 a 2009, quando o universo delas oscilou apenas de 12,5% para 12,8% da população brasileira. O próprio autor dos estudos, Marcelo Neri, acredita que uma possível explicação para esse tímido crescimento pentecostal se deve a que o período foi marcado por forte crescimento da renda do brasileiro. E renda mais alta corresponderia a menos procura pelas soluções pentecostais. Pode ser essa a causa, é verdade. Mas pode ser também que, nessa ânsia de trânsito religioso — uma característica que agora marca a população brasileira, como diz a professora Silvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do RJ — o modelo pentecostal esteja dando mostra de um certo esgotamento, em algumas esferas. De qualquer forma, os números do pequeno crescimento pentecostal foram uma grande surpresa. Na verdade, os resultados do período pesquisado em nada lembraram a década de 1990, quando as igrejas pentecostais (Assembleia, Congregação Cristã do Brasil, Brasil para Cristo, Universal do Reino de Deus e um sem número de microigrejas) simplesmente dobraram o número de membros.
Manzotti é originário dos carmelitas descalços, tornou-se padre, o que lhe deu liberdade para mexer com dinheiro e fazer o que quiser
Aroldo Murá é jornalista e professor especialista em religiões outubro de 2011 |
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Fábio Campana
O leito da mulHer nua
E
m 1585, o Papa Sixto V mandou cobrir o farto e bem modelado busto da estátua da Justiça com um corpete de bronze. Ideia do Cardeal Farnese, que via no monumento feito por Guglielmo Della Porta, em São Pedro, um estimulador do baixo ventre. Com algumas peculiaridades, alguns séculos depois a história se repetiu em Curitiba. Em 1955, a escultura da mulher nua que representa a Justiça e projetada para ficar na frente do Tribunal do Júri, no Centro Cívico, foi expulsa dali pelos desembargadores e juízes da época que a consideraram um atentado ao pudor. A mulher nua de Erbo Stenzel e Humberto Cozzo foi recolhida a um local ermo, atrás do Palácio Iguaçu, onde escondeu suas vergonhas por 19 anos. Só voltou aos olhos do distinto público em 1972. Novamente recusada pelos juízes, foi depositada sob a guarda do homem nu na Praça 19 de Dezembro.
Pobre Stenzel. Protestou o quanto pode, pois ao lado do homem nu a mulher nua se torna grotesca pela simples razão de que o homem tem oito metros e a mulher apenas três. A mulher nua virou uma anã, dizia o autor, que preferia ver sua obra escondida que exposta dessa forma. Não foi ouvido. Só uma voz forte se levantou em seu favor, a de Bento Munhoz da Rocha, que considerou o gesto de uma burrice enciclopédica e de vesgo provincianismo. De resto, a censura à estátua da mulher nua virou motivo de chacota para o humor de Ari Fontoura, que na época debochava do moralismo de nossos juízes ao interpretar um personagem que fez grande sucesso. Pomposo, candidato ao governo do Paraná, populista que procurava surfar na onda moralista. Propunha a retirada da estátua do homem nu. Seu slogan era “Abaixo o homem nu, Pomposo no Iguaçu”. Nada, nem o humor genial de Fontoura, demoveu a gente do Judiciário. O argumento de que a mulher nua diminuída na comparação com o homem nu dava à Justiça uma representação insignificante não colou. Prevaleceu o moralismo, digamos, curto, dos homens do Judiciário. Moralismo que à época se estendeu a outras áreas. Sumiu das paredes do Palácio Iguaçu obra de Schifelbein que mostrava figura de mulher nua. Foram excluídas de todas as publicações e livros didáticos as reproduções de obras clássicas como “Leda e o Cisne” de Corregio, para que não desviasse a atenção da juventude para a luxúria.
Assim caminha a humanidade. Essa imposição de esconder as vergonhas de figuras menos recatadas de obras de arte tem precedentes ilustres. O mais famoso é o de alguns personagens masculinos apresentados em pêlo em “O Juízo Final” por Miguel Ângelo, que pintou o mural na parede de fundo da Capela Sistina. As proporções miguelanjolescas da anatomia chocaram o Papa Pio V que convocou o pintor Daniele Ricciarelli, conhecido como o Volterrano, para que tapasse com verecundos calções a espantosa mostra de virilidade que espantou o Sumo Pontífice. Mais tarde o papa Clemente XII decidiu que havia outras figuras no mural que a pudicícia pedia cobertura. Contratou o troca-tintas Stefano Pozzi para cobrir a nudez dos incréus com pintura suplementar que simulasse panos. A história é longa. Em 1959 Sua Santidade o Papa João XXIII, gordote simpático preferido das esquerdas, mandou velar a nudez dos anjos de mármore da Basílica São Pedro. Hoje, com doses mamutianas de pornografia na internet ninguém se socorre nas obras de arte para enxergar uma forma feminina ou masculina que possa excitar os instintos. O terrível é perceber que o vesgo provincianismo que confunde uma obra de arte com pornografia e vulgaridade sobrevive e ainda impede que a mulher nua de Stenzel descanse em paz no leito da pedra que lhe foi preparado para representar uma Justiça sem vendas e sem vestes. Se possível, uma Justiça despida de preconceitos.
FáBiO CaMPaNa é jornalista e escritor fabiocampana.com.br
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Marianna Camargo
Novos mundos ao mundo
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Veridiana Bassetti
m 1499, Vasco da Gama, em glória, voltava a Lisboa de sua aventura indiana que os despertou para o Outro e deu “novos mundos ao mundo”. Mas foi em setembro de 1822 que Pedro de Alcântara, príncipe regente do Brasil, disse às margens do Ipiranga: “Brasileiros, de hoje em diante nosso lema será: Independência ou morte”. E assim foi batizada a amálgama entre os dois países. Assim chego, assim o recebo, porém, ao inverso. Quem chega ao novo mundo sou eu. O novo velho mundo.
O cOraçãO, se pudesse pensar, pararia Passo pela poesia escrita nas ruas, no concreto, nas calçadas. Impressa para a passagem, para a pausa, para a vida quando precisa ser parada e pensada na correria dos dias. A música ecoa nas praças, na cadência que une a palavra com o ritmo, e de novo vira poesia. Bela Lisboa, com sua brisa leve, seu paladar aguçado, sua elegância. Parto para a Espanha. Muda tudo. A efervescência das ruas, das pessoas, do acento enfático pronunciado nas palavras. Letra por letra. Intenso, bravo, altivo. O que impera é o ritmo das castanholas na postura soberba das pessoas. Entro em uma livraria e encontro Cortázar, de cara. Saio com dois exemplares raros: Territórios, (1979), textos sobre artistas que ele admirava e o influenciaram e Fantomas contra los vampiros multinacionales, (1975), uma história em quadrinhos. O dono da livraria, um senhor madrileno, muito atento
ao meu interesse pelo autor, me dá um marca livros com um palíndromo intraduzível e uma foto de Cortázar que diz: Amigo no gima Adán y raza, azar y nada Salta, Lenin el Atlas Átale, demoníaco Caín, o me delata. Sincronicidades, acaso, destino. Todos os fogos o fogo. O nome de tudo que faz sentido. O sentido do que não se explica, do que não é palpável, do que é apenas sonho. Lume brando. A embriaguez do clima traz à tona todos os pensamentos. Vira de cabeça pra baixo as linearidades, as certezas. E a vida muda. Entorpecida pela arquitetura, pelas ruas, pela língua e pelo ritmo invado um outro mundo. A memória tingida de rubro segue os setembros. Violentamente doce.
Sigo viagem. Dessa vez, para outro lado do mundo. Chego à Grécia. As cores acontecem como se nunca as tivesse visto. O azul, o branco, o vermelho e o negro. A aridez da paisagem mesclada com os sinos dos animais transforma tudo em algo surreal. A transparência do mar lembra o título da obra de José Saramago para crianças: “O silêncio da água”. Volto imersa na poesia, nos sons, nos sentidos. Nada traduz melhor o que me despertou ao novo mundo do que a frase de Fernando Pessoa, do Livro do Desassossego: “O coração, se pudesse pensar, pararia”.
Marianna CaMargo é jornalista. mariannacamargo.blogspot.com outubro de 2011 |
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Cultura
“A Casinha” durante apresentação de Felixbravo e Serenô
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creditem. Há um mundo em Curitiba que produz cultura à margem do Estado. A cena musical ferve. Neste cenário estão instrumentistas, cantores e compositores que lutam por seu espaço de forma independente. Iniciativa privada, autóctone, mantida pelos próprios entusiastas da música, o Levante de Música Curitibana provou que é possível fazer acontecer. A postura pró-ativa de um grupo de artistas cansados de depender de incentivos culturais estaduais e da estrutura de divulgação restrita a bares trouxe, de junho a setembro, o
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melhor da produção local. E o melhor: o festival foi realizado no quintal de uma simpática casa de madeira próxima ao centro da capital, onde moram os idealizadores do movimento. O espaço inusitado e intimista foi batizado de “A Casinha”. Por lá passaram músicos que nasceram, foram criados ou apenas moram em Curitiba. Bandas como Real Coletivo Dub, Molungo, Janaína Fellini, Música de Ruiz, Banda Gentileza, Universo em Verso Livre, Lívia Lakomy, Luiz Felipe Leprevost, Thiago Chaves, Felixbravo, Locomotiva Duben, MUV, Confraria da Costa e Serenô mostraram o melhor da produção cul-
tural independente da capital. Nas palavras de Estrela Leminksi, a iniciativa reuniu músicos que sustentam a mudança, que querem “uma cidade mais bonita para a minha banda”. Uma das experiências mais instigantes dos últimos tempos, sucesso de público, o projeto parece ter desarmado a postura curitibana de não apreciar trabalhos autorais locais. Será? Opiniões divergem. De fato, a capital passou um longo período sem valorizar a produção local. Mas, ao mesmo tempo, muita gente lutou para mudar este cenário na última década. Se prestarmos atenção, algo está mudando. “Hoje Garibaldis e Sacis levam às ruas 10 mil
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Há 25 anos na área musical e líder do Kervan Saray Trio, Angelo Esmanhotto é um desses raros espécimes de artistas que parecem fazer arte pela arte
pessoas em um carnaval fora de época, por exemplo. Mas isso após muitos anos de luta”, sustenta o músico Bernardo Bravo, um dos organizadores do Levante de Música Curitibana. O entusiasmo de Bravo é contagiante. Ele está entre muitos músicos que defendem a postura do artista de se assumir enquanto produtor. A postura de fazer, de não depender de incentivos do governo. “A ideia é produzir o nosso espaço. A Casinha, por exemplo, não tem alvará para acontecer. E quando o Estado terminar de mapear o que está acontecendo, com a sua lentidão, o movimento acabou. E surgirão outros”, disse. Para Bernardo Bravo a união da classe é ponto fundamental para a valorização da música paranaense autoral, opinião compartilhada pelo músico Angelo Esmanhotto. Para eles, a falta de posicionamento da classe contribui para o anonimato de grandes artistas. “É raro vermos músicos na plateia, prestigiando shows de bandas e compositores locais. Não há apoio. A música autoral acaba relegada a um segundo plano”, lamenta Esmanhotto. A resistência em experimentar o novo ainda é uma característica da capital. Angelo Esmanhotto que o diga. Há 25 anos na área musical, o artista é um desses raros espécimes que parecem fazer arte pela arte. E quantos de nós o conhecemos? Em seu trabalho autoral a proposta é fazer o público parar, ouvir e sentir a música. “Como é a forma da música? Quais os arranjos? E a harmonia? Música é muito mais que um produto comercial. Ela leva à reflexão”,
argumenta o compositor. O escritor irlandês Oscar Wilde costumava dizer que “no momento em que um artista descobre o que as pessoas querem e procura atender a demanda, ele deixa de ser um artista e torna-se um artesão maçante ou divertido, um negociante honesto ou desonesto”. Sábias palavras, não? Esmanhotto lidera o Kervan Saray Trio, que tem como influências a música barroca e renascentista. “A música esbarra com as tribos sonoras da cidade. Quantas pessoas escutamos dizer que gostam de música, ‘mas não de música clássica’. Mas, não é música? Será que elas já pararam para ouvir o novo? Aí sim, julgar?”, questiona. Reflexo da sociedade imagética, grande parte da música produzida hoje traz consigo características fundamentalmente mercantis. Alguém consegue imaginar Lady Gaga fazendo voz e violão? A imagem ocupa lugar privilegiado no campo das representações, é certo. Esta poderia ser uma das explicações para tantas bandas medianas estarem no topo. Rostos bonitos e bem assessorados vendem. Fato. Carisma e conteúdo nestes casos ficam para depois. Para quem faz arte pela arte, o processo é mais complicado. É necessário ter em mente as dificuldades e se dispor a passar por inúmeras adversidades antes de poder realizar o que chamamos de obra artística musical. Embora a internet tenha se tornado uma aliada na divulgação da música local, os espa-
É raro vermos músicos na plateia, prestigiando shows de bandas e compositores locais
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grupos como blindagem e relespública trabalharam muito para a mais bonita da cidade aparecer 20 anos depois
Para o músico e compositor Marcelo Brum-lemos o tratamento dado aos artistas pelo Estado ainda tem muito a melhorar
ços físicos para shows, restritos a bares, ainda prejudicam grande parte dos profissionais da área musical. “Estes locais restringem nosso repertório. Em bares a linguagem musical tende ao comercial, não há espaço para outras formas musicais. A música pasteurizada sempre vendeu mais e nestes ambientes o lucro é o interesse”, defende Angelo Esmanhotto. Província autofágica? - O músico e compositor Marcelo Brum-Lemos brinca que “a melhor expressão curitibana é aquela que sabe brincar
com esse nosso provincianismo – é a lição que tomamos do Paulo Leminski”. De acordo com o artista, Curitiba tem algo de introspectivo e reflexivo em identidade cultural. Daí os nossos poetas simbolistas, Emiliano Perneta, Silveira Neto. “Na música, não tem muito daquele som percussivo que marca o que chamamos de “eixo do calor” (Rio-Nordeste). Hoje há mais misturas com essa estética, mas ainda fugimos muito do estereótipo de ‘som brasileiro’”, avalia Brum-Lemos. “Houve uma época em que só existia espaço
VENTOFRIOCHUVA Marcelo Brum-lemos é um dos entusiastas do Festival VentoFrioChuva. Em sua 3ª edição, a iniciativa trouxe, de setembro a outubro, 25 atrações poético musicais curitibanas, distribuídas em nove eventos num circuito local. o movimento se firma como mais um coletivo que preza pelo autoral curitibano. “Queremos apenas assumir nossa música/poesia para nós mesmos. nossa cidade tem a mania do ‘santo de casa não faz milagre’ quando se fala em música popular”, explica Brum-lemos. “Queremos a nossa própria subsistência. E total independência. Mais ou menos como acontece no rio Grande do Sul. Música/poesia curitibana para Curitiba. Chovamos nós, Curitiba!”.
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para bandas cover em Curitiba. Grupos como Blindagem e Relespública trabalharam muito para que A Mais Bonita da Cidade pudesse aparecer 20 anos depois”, lembra Brum-Lemos. Na história recente da música, bandas e compositores criam seus caminhos para divulgar seus trabalhos. Hoje descobrimos trabalhos de qualidade sendo feitos em todo o Brasil. É um sinal de que a internet funciona. A internet une e fortalece novos diálogos entre artistas e público. É possível assistir shows, eventos, participar de gravações, projetos e bate
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o espaço virtual facilitou tudo, podemos estar em contato com redes de pessoas e veículos culturais
A pianista Marília Giller está em contato direto com músicos e grupos de pessoas que ouvem sua música e outras produções locais
papos sobre o tema do sofá de sua sala. “O espaço virtual facilitou tudo, podemos estar em contato com redes de pessoas e veículos culturais”, acredita Marília Giller. A pianista participa de fóruns, blogs e espaços onde está em contato direto com músicos e grupos de pessoas que ouvem sua música e outras produções locais. “Num espaço não virtual, o caso é diferente, está relacionado a bares e projetos de festivais que estão sob o julgo de editais da Cultura, e que podem ser questionáveis”, frisa.
Cultura é uma questão de interesse público, certo? Portanto, precisa de recursos estaduais. As leis de incentivo são instrumentos que se pretendem democráticos. Mas podem melhorar. “A aprovação em Lei de Incentivo exige um ânimo inacreditável para o trabalho burocrático. O músico continua sendo tratado como um pedinte”, critica Marcelo Brum-Lemos. “Você faz um Projeto de Lei, aprova, corre atrás do incentivo, faz o CD, sempre juntando notas fiscais. No final recebe uma carta dizendo que “se não prestar contas em um mês, esta-
rá sujeito a ação judicial”. É estranho, porque quando você faz um contrato de prestação de serviços ninguém vem te ameaçar. Só o Estado nos trata assim”, relata Brum-Lemos. É difícil pensar no que vem pela frente. Apesar das adversidades, os artistas locais continuam fazendo o que sabem de melhor: criar. E, vontade para mudar não falta. Como afirma o poeta e dramaturgo Luiz Felipe Leprevost, “Curitiba tem singularidade cultural, o que não deixa de ser um festejo da diversidade. Com acolhimento se avança dignamente”.
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Banda MUV com a cantora nyara Costa
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Solda
O seXo na dÉcada de 70 (2) abril/1978 Estreia em São Paulo o filme “A Fimose do Meu Primo”, da cineasta Burda Corcovado. A crítica aplaude e define a obra como “socialismo de cabresto curto”. maiO/1978 Um conhecido crítico literário descobre que é estéril. Toma duas caixas de Melhoral Infantil para acabar com a vida. A namorada do crítico dá a ele um livro de Rimbaud e, desiludida, escreve livros de autoajuda para críticos literários estéreis. Enquanto isso, coleta esperma de homens saudáveis, arianos, onanistas, ambidestros e que sempre viveram às custas dos pais, pobres contadores. OutubrO/1978 Expectativas quanto ao mês seguinte. Uns afirmam ser novembro, outros garantem tratar-se de dezembro, já que o ano não se mostrou pródigo em novembros. A dúvida persiste, casais se acariciam. deZembrO/1976 Alejandro Paloseco é aclamado o novo atleta sexual da Venezuela ao dar, numa só noite, 32 fungadas no cangote da cabra do vizinho.
janeirO/1977 Wladimir Suitarowskaya, travesti russo, é eleito Miss Universo 1977. As concorrentes requerem a anulação do concurso, alegando que Wladimir usara duas jacas para dar maior volume aos seios. agOstO/1977 Incêndio num grande bordel de Roma. 40 pessoas saem sem pagar a conta e mais de 100 atingem o orgasmo sob temperatura altíssima.
maiO/1979 As multinacionais do país lançam as bases do acordo de não proliferação de doenças venéreas. Milhares de estreptococos são detidos para averiguação.
Istambul para o lançamento do livro “Sodoma & Gomorra, Empada de Camarão e Pílula Anticoncepcional”.
agOstO/1979 O jornal “A Voz Orgástica” divulga um extenso relatório denunciando a infiltração de lésbicas nos times de futebol brasileiros. Três goleiros se suicidam. As torcidas se trucidam.
fevereirO/1978 Termina a cópula entre Jandrina Nikita e Botellho Atta, iniciada em 1976, sob forte temporal, numa casa de tolerância de Curitiba.
setembrO/1979 Neste mês, você esteve mais motivado a buscar novos rumos para sua vida afetiva de modo a transformá-la em uma relação
setembrO/1977 Demóstenes Hélius volta de
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janeirO/1979 Um dissidente russo é apanhado em flagrante ao tentar molhar o biscoito na volumosa xícara de chá de uma húngara. Confusão na Casa Branca. Dois espiões da KGB são vistos trocando olhares furtivos numa plantação de amendoim. A Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento dos Grandes Lábios inicia a escalada do Monte de Vênus. Prepúcios são fuzilados após rápido julgamento.
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mais saudável, contou com o apoio dos familiares nessa trajetória, inclusive de todos os membros (epa!) da Academia Paranaense de Letraset, que também fazem parte da Confraria do Rollmops. Na hora do sexo, é bom colocar a fardinha. Esqueça o fraldão. Lembre-se: a Academia Brasileira de Letras compõe-se de 39 membros e um morto rotativo. (Millôr Fernandes)
OutubrO/1979 Carol Trintina declara num programa de televisão em Los Angeles que seu hímen é complacente e que não tem nada a ver com a crise do petróleo. O apresentador do programa, muito bem dotado, violenta a entrevistada e o coito é visto de costa a costa, sob o patrocínio da Missão Onanista Americana. nOvembrO/1979 Eu topo o que vocês toparem. Não estarei na cidade amanhã. Só no domingo. Saudades de todos! Kisses! Linda Lovelace (aviso aos fregueses: estou com herpes, mas não é nada grave). deZembrO/1979 Os irmãos Karamázov ameaçam Fiódor Mikháilovich Dostoiévski, caso o russo não esclareça a falta de semelhança física entre eles, inclusive a de caráter. Akáki Akakiévtchi é visto rondando a casa dos irmãos, que chamam a terrível KGB, uma polícia secreta e política que não tinha equivalente no mundo, porque se situava em um nível completamente diferente dos outros serviços especiais, constituía igualmente um ministério. Dispunha de trezentos mil associados, a maioria homossexuais que portavam picaretas, blindados, caças, barcos, estilingues e espingardas de chumbinho, sendo uma organização militar totalmente independente das Forças Desarmadas. Um horror! Então Freud escreveu “Dostoiévski e o Parricídio”.
sOLDa é escritor, humorista e cartunista. cartunistasolda.com.br
Marcio Renato dos Santos
O rock move o mundo
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ocê já desejou voar. Eu também. É sonho antigo reviver o feito de Ícaro, “vontade ser baitaca”, como escreveu Newton Sampaio. Asa delta. Paraquedas. Paraglaider. Parasail. Há trampolins que simulam a nossa falta de asas. O voo comercial, no entanto, já não satisfaz o sonho, o desejo, a ambição humana de desafiar a lei da gravidade. Essas decolagens e aterrissagens quase não provocam taquicardia, a não ser em exceções e emergências. É relativamente fácil e, em alguma medida, barato estar hoje em Curitiba, amanhã em Lisboa e depois em Tóquio, apesar das filas de espera em aeroportos, da barra de cereal e do suco de manga no copo de plástico durante os percursos. Mas em São Leopoldo, Colombo ou Patos de Minas, por mais confortável que se encontre em terra firme, asfalto ou cobertura, o homem tende a lembrar que poderia ter asas e, rosebud, vai procurar ponte ou túnel de acesso para viajar pelo céu. Não sei se você já experimentou, mas uma das mais interessantes possibilidades para levitar e seguir por aí é tocar em uma banda de rock. Quem conhece, e sorveu o sabor, sabe que a aventura é intensa, inesquecível, incomparável. E para esse voo acontecer não é necessário muito. Basta uma garagem com uma, duas, três tomadas, uma bateria, um contrabaixo, uma guitarra, microfones, um, dois, três amplificadores. Pronto. Mas o fundamental, e isso sim é fundamental: o sangue precisa ser novo. O rock acontece com e por meio de jovens. A
inexperiência, a irresponsabilidade e a fúria juvenil são os motores do rock. — E o rock é o que move as cidades. Quem disso isso foi o Gadu, conhece? Ele é o namorado da Pulga. A Pulga é uma ex-groupie. Antes de conhecer o Gadu ela só namorava guitarristas, baixistas, bateristas e vocalistas de bandas de rock. Pulga ficou com todos os roqueiros do circuito de bares, palcos e porões da cidade. “Daí, cansei”, costuma repetir. Uma noite, na verdade já era madrugada, e a Pulga, sozinha, estava à beira de um siricutico. Pensou em se jogar no lago do parque, mas olhou para o lado e alguém sorria. O homem, vinte anos mais experiente do que ela, se apresentou como Gadu e, desde então, eles estão juntos. — Os roqueiros não sabem nada e não são de nada, sabia? Quem falou isso foi a Pulga, e olhe que a moça deve saber o que diz por ter convivido, de perto, e por anos, com roqueiros. Fui, acho que sou e sempre serei roqueiro, e até que concordo com a Pulga. Sei quase nada. Mas independentemente disso, é inegável que o rock proporciona voos. — No entanto, atingir, fazer sucesso pode ser prejudicial. No rock, para voar, é importante estar com amigos tocando em garagens, quartos ou porões. Quem elaborou o argumento do parágrafo anterior foi o Gadu. Ele trabalha em um serviço reservado, dizem que é contracomunicação e, quando tem certeza de que não há gravador ligado, repete que é o rock que move o mundo. — Mas e a energia elétrica, os alimentos, os raios de sol, o luar e o efeito Malbec?, pergunto. — Nada disso, Marcio, responde o Gadu. São
os roqueiros, com overdrives, acordes dissonantes em mil alto-falantes que movem as cidades. Tanto que muitos acabam perdendo o chão, experimentam o vazio agudo e flertam com o suicídio. *** Abandonei a guitarra, e o rock, aos 27 anos, idade na qual muitos, Hendrix, Janis e Morrison, tiveram a trajetória interrompida. Curioso. Mesmo no meu caso, mero roqueiro sem reverberação além da garagem, algo ruiu. Perdi energia, a madrugada apagou. — É a maldição do rock. Uma vez roqueiro, você está perdido. Pra sempre. Foi o Gadu quem me explicou, e ele ainda disse o seguinte: Voou, Marcio, é como o Ícaro; vai querer voar pra sempre. Se alguém abandona as decolagens, como você fez, vai passar o resto da vida em busca das asas abandonadas em alguma garagem. Ora direis, ouvir estrelas; cansei. Os voos me entendiaram. Agora quero mesmo é caminhar, apenas isso: flanar por ruas, esquinas e becos. Mas tenho um filho, o Vitor, que completa três anos neste outubro e, sabe, o presente foi um par de asas, ou melhor, uma guitarra, que ele pega todo dia e, pelo sorriso no rosto, já ensaia sobrevoar oceanos, vales e estrelas.
Marcio renato dos santos é escritor minda-au.blogspot.com outubro de 2011 |
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Ensai� Fotográfic�
Retratos de um PoVo EsQuecido DICO KREMER
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árcio lima dá um excelente exemplo de como se desconstrói – palavra muito usada nesses tempos sombrios – um preconceito, filho dileto da ignorância. Com a ajuda de um patrocínio da Funarte passou um ano a fotografar um povo esquecido e espezinhado: os ciganos. Nômades, suas origens não são muito claras. São chamados por diferentes nomes: para os de língua inglesa gypsies (de egyptian), boêmios para os franceses, flamengos ou gitanos para os espanhóis, tatars para os suecos. A si próprios denominam-se pelo nome Rom (Romani) que quer dizer homem. Aos não ciganos chamam gadje, daí o gajo da lingua portuguesa. Estima-se que saíram do nordeste da Índia por volta do primeiro milênio da nossa era. Seriam da casta mais baixa – segundo a primitiva divisão indiana de castas – e foram em direção à Pérsia, à Arménia, à Siria, ao Egito, à Palestina. Daí à Grécia, à Creta, aos Bálcans.
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Em 1417 chegaram à Alemanha depois de ter passado pela Hungria, Áustria e Boêmia. Por volta de 1415 já estavam na Península Ibérica e em 1500 já teriam alcançado a Inglaterra. Espalharam-se pelo velho e pelo novo mundo: ao Brasil teriam chegado no final do século XVI. Conta-se com cerca de um milhão de ciganos no país. Para chegar até algumas comunidades baianas, Márcio teve que percorrer tortuoso caminho. Com o preconceito que existe para com o seu povo, há já muito tempo, o cigano é desconfiado, arredio. Depois de muitos contatos e conversas intermediadas foi-lhe permitido fotografar. O começo foi difícil, principalmente com as mulheres. Um instantâneo era praticamente impossível. Não queriam ser pegas desprevinidas, sem a roupa adequada, a maquiagem feita, a escolha do cenário a frente do qual iriam posar. Qualquer tentativa de fotografá-las sem a devida preparação gerava corre-corre, gritos, ameaças e pragas. O respeito aos costumes, as conversas de começo de
noite, o interesse efetivo para com as pessoas, as horas passadas em convivência, o tempo, tudo isso convergiu para a abertura, para o entendimento, para a amizade. Márcio foi então convidado para fotografar uma das cerimônias mais importantes dos ciganos: o casamento. As fotos que esta Ideias publica são uma pequena mostra do grande, belíssimo e inventivo trabalho que Márcio Lima realizou. Aqueles a quem a fotografia representa mais que um simples registro, mas um documento humano e uma visão do mundo de um artista, recomendo o acesso a www. arcapress.org/marciolima/. Neste site poderão ver muito mais do sensível trabalho fotográfico que Márcio Lima realizou. A convivência que teve com a comunidade cigana em Utinga, Muritiba e na Ilha de Itaparica mostrou-lhe um povo digno que apesar de todo o preconceito que sofre, luta e conserva os seus costumes e tradições seculares. O trabalho fotográfico recebeu o Prêmio Funarte/Marc Ferrez de fotografia.
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Livr�
IsaÍas reViVido Fábio Campana: o das imprecações “proféticas”
dico kremer
AROLDO MURÁ G. HAYGERT
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valiei bem, não exagero, ao garantir que estão ecoando bem aqui, neste Terceiro Planalto, novos sons e premonições semelhantes àqueles que justificaram a entrada de Isaías e sua obra no rol dos livros canônicos formadores da Bíblia. Para essa avaliação, vou às fontes: divido-me entre as traduções de Jerônimo, que se embrenhou na Terra Santa para catar palavra por palavra a obra que depois seria conhecida como a Vulgata, e a do Rei James. Acho a Vulgata, que consigo mesmo ler em certos trechos no original, acaba sendo-me mais familiar, até por herança cultural. Alguém, afinal, me apresentou a ela, nos anos 1950, quando criança; daí então me “viciei” em cantar certos salmos naquela versão. Um deles, o mais conhecido: “Dominus regit me, e nihil mihi deerit. In locu pascuae ibi me colocavit…” É o 23 ou 22 ou 24, dependendo da edição. “O Senhor é meu pastor…” A tradução de James tem as britânicas sole-
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nidades esperáveis, mas dela desisti desde que tentei entender as beligerâncias de grupos protestantes ultraconservadores em torno do significado de meia duzia de versículos da tradução. Direta mesmo é a tradução de João Ferreira de Almeida, que foi padre, a preferida dos evangélicos brasileiros. Hoje, munido de certa paciência, o que não é exatamente a minha característica, releio versículos do profeta Isaías nessas traduções. Afinal, era preciso metabolizar, da forma mais produtiva possível, as admoestações preciosas de “A Árvore de Isaías”, o fértil e impressionante documento, em forma de livro, recém lançado por (Luiz) Fábio Campana, jornalista e escritor curitibano. Mentiria se me dissesse surpreso com a forma e conteúdo. Afinal, sou membro de um restrito círculo de amigos que o autor cultiva (ou preserva?) há anos. Já tive até livro dele com dedicatória a mim endereçada. Conheço-o bem e a sua obra. O que não quer dizer que tenha passado exatamente ileso aos dies irae de Campana. Ou, muito menos, que esteja salvaguardado por ‘habeas corpus’
preventivo de suas eventuais futuras crises de artrite, que repercutem, é natural, no humor criativo/destrutivo desse escritor que, parafraseando o grande Rabi, Jesus (para mim, o Filho de Deus) é profeta que não é bem aceito em sua terra. “Nenhum profeta é bem aceito em sua terra.” Não estou surpreso com “A Árvore de Isaías”, em que esse profeta (não no sentido de quem só vê e antecipa catástrofes) faz advertências/ condenações acompanhadas de látegos virtuais. E aponta, até, vias de salvação, estreitas, pequenas, dolorosas, muitas vezes. Leio e releio trechos. Vou encontrando paisagens curitibanas que foram de gerações como a minha, sete anos mais velha do que a de Campana. A Boate Marrocos, a boate Star Dust, as divas da noite chegadas da Argentina… O que me causa salutar inveja é a síntese que ele faz de tipos psicológicos que permearam e ainda vivem na cidade. E, com absoluta frieza, com precisão cirúrgica, chega às chagas e contradições de outros que transitam com desenvoltura pelo universo paranaense. Nisso mostra-se um doutor em almas humanas. Ou um cirurgião de espíritos. O autor de “A Árvore de Isaías”, ao distribuir anátemas aos velhos e novos infiéis, tal como Isaías fizera com os do seu tempo, dá espaço para sua generosidade nem sempre evidente. E aí fala com uma certa doçura — sutilmente colocada, é verdade — para um pequeno rebanho de resistentes, em que vai surgindo e dizendo presente gente finíssima, como Denise de Camargo, Jaime Lerner, Jamil Snege, Carlos Alberto (Nêgo) Pessoa, Luiz Geraldo Mazza, Marianna Camargo, Dico Kremer… Não há políticos nessa moderna arca de Noé, o que é sintomático, pois o escritor faz das estripulias dos senhores da política sua arena diária de trabalho. Não haveria salvação para eles?
denise Onipresente Em almoço na casa de Fábio, aparecem: Norton Macedo, Wilson Martins, Nireu Teixeira, Campana, Tato Taborda e Jamil Snege. Eu, que conheço bem o casal, sinto sua companheira Denise onipresente nas deambulações
intelectuais de Campana. Em certos momentos, o tipo humano raríssimo que habita a psicóloga de alto quilate parece-me habilitar-se à onisciência. Sabe tudo desse universo que o marido vai expondo à libertação. Essa libertação, como a pregada por Isaías, deve contemplar, primeiro, o “pequeno rebanho dos eleitos”. Que eles se apressem e fujam dos faraós e dos Egitos, o quanto antes, a sugestão está em cada parágrafo. Quem souber ler, que leia. Quem tiver olhos para ver, que veja. De minha parte, confesso meu pecado: acabo deleitando-me com certas estocadas certeiras com que Campana, o cirurgião de almas, lanceta seres humanos aos quais um dia estendeu as mãos, abrigou em casa, cortou a fome e garantiu cobertores e médicos, além de ter-lhes aberto portas. Deu-lhes sobrevida, enfim. E dos quais teve, em contrapartida, a infidelidade. Nenhuma grande surpresa: assim costumam comportar-se certos beneficiários de graças especiais. Não cita nomes dos “ingratos”. Como os chineses, apenas pergunta-se — “Afinal, que bem eu te fiz?” Identificar esses “ingratos” não é difícil. Eles são de uma tribo especial, cérebros que podem até ser reluzentes; com almas parvas, eles estão por aí, na universidade, nas tribunas, nos palácios, nas grandes corporações empresariais, em hospitais, nas redações.
crÍtica certeira Fábio Campana não procura esconder seu niilismo. Mas é verdade que esse pessimismo nele não explode via doses maciças de café, à Balzac. Não fuma, não bebe. Apenas deglute a realidade. Pode haver mais eficiente alavanca? Deglute seus pares “em carne viva”. Dispensa eufemismos, usa os disfemismos essenciais para frisar o que tem que ser frisado. Afinal, quem tem como amostra grátis esse “sheol”* curitibano, precisaria ir além? Resguarda-se, de alguma forma, de críticos fortuitos: a linguagem é elegante, jamais rococó. Ou é apenas naturalmente ele, até para cumprir a sempre repetida definição de que “o estilo é o homem”, de Buffon. Não está, todos sabem, preocupado com o meio (que não é a “massage”, na incorreta tradução de McLuhan). É o escritor que incorporou o profetismo bíblico numa linguagem da qual se pode discordar, menos de que não seja um primor do bom português e de lógica a serviço de um ideário iconoclástico, vergastando contra um universo mais ou menos em putrefação. Desnuda véus e castiga costumes com irônico sorriso. Com isso se esconde, ou deixa de mostrar-se por inteiro? Você decide, pois
eu o conheço bem e ele, com todas as virtudes e falhas humanas, faz parte de meu panteão de admirações. Não sou cego, é claro, na avaliação de tipos psicológicos. Sou condescendente com os outros, espero que seja comigo. Acho que até vai longe demais esse Isaías, quando expõe-se com antigas feridas, como as das torturas e prisões sofridas por causa de suas ideias libertárias. Ele é assim mesmo, convive bem com seus fantasmas. Da mesma forma como quase sempre se mostra impermeável, é verdade, a argumentos, especialmente quando se lhe apontam falhas suas, coisas banais até.
salvaçãO, Onde? Esse Isaías do livro passou pela Nínive, a de Jonas, pois em certo trecho, reclama misericórdia à cidade e ao povo que vive nos pecados da soberba e da estultice. Não grita pela piedade divina, em que Fábio Campa-
Fábio com sua filha izabel
denise de camargo, companheira onipresente, fotografada por campana
Fábio em almoço com os amigos norton macedo, Wilson martins, nireu Teixeira, campana, Tato Taborda e Jamil Snege
na não dá sinais de acreditar. Mas, tenuemente, admite enxergar — e é preciso lê-lo com muita acuidade — algumas luzes bem humanas no fim do túnel. Talvez sejam faróis portados pelo pequeno rebanho de seus “eleitos” já citados, ou dos filhos Rubens e Izabel, garantidores de que a ânsia intelectual, do cogito (logo, existo) do pai e da mãe, já está continuando. O homem da escrita, do jornalismo político e do marketing que foi vital para muitos desafetos de hoje, como Roberto Requião (uma inimizade “dedicada”, cultivada com atenções especiais) é impiedoso também para com todos aqueles que ocupam o tempo com o mero falar. Até por isso, naturalmente, os políticos de profissão são aquinhoados com a nula referência/ atenção de Campana. O que não significa, em absoluto, que coloque a todos na mesma vala comum. Mas que os acha muito próximos, uns dos outros, isso acha. E muitos deles, sei, desdobram-se em atenções, curvam o cerviz, para não abespinhar esse Isaías de quem, como o do Antigo Testamento, esperam palavras de esperança e salvação. Para esses senhores da política, pelo menos em “A Árvore de Isaías”, Campana parece apenas garantir um julgamento final. Isenção deve estar incluída no pacote profético. E o salvador, onde está? Nunca aceitou teorias soterológicas, a de salvações para o homem. No fundo, parece reeditar os velhos senhores que compuseram o seu universo familiar, em que aparecem argentinos, portugueses e os italianíssimos Campana. Nesse inventário familiar, nos momentos mais fascinantes da obra, há os mulherengos inveterados, como o tio-avô que desvendava para o garoto Fábio o universo das promessas sensuais portadas por mulheres ligeiras. Há o ceticismo e anticlericalismo do pai, a retidão em pessoa, um espírito calvinista que ajudou Foz do Iguaçu chegar ao que chegou. E sem falar no panteão de mãe, tias, tias-avós, avós e parentas, habitado por mulheres de fibra e praticidade a serviço de um conservadorismo de que nem mais ouvimos falar. Esse panteão é onde se escondem os santos da devoção de Fábio. Eles são a oposição mais visceral aos anões morais, acanhadíssimas criaturas de dimensões humanas pequeninas, que habitam a política, os gabinetes de governantes, a imprensa, a universidade… Enfim, todo esse mundo de personagens, às vezes um pouco comedia dell’arte, às claras ou ocultos, fazem essencial esse livro que nos ajuda em catarses individuais. * “sheol”: abismo, sepultura, inferno. Hades, em grego.
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livrOs
Prateleir�
o melhor de Whitman Por Fábio campana
territórios Por marianna camargo
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olhas de Relva” reúne a poesia de Walt Whitman. Em tradução de Bruno Gambarotto, que levou 10 anos nesse trabalho, direto da edição de 1892, a única autorizada pelo autor. São 400 páginas com introdução, fotos, notas e anexos. Editado pela Hedra. Antes, tínhamos duas traduções da obra. A primeira, uma seleção traduzida por Geir Campos, publicada pela Civilização Brasileira nos anos 60 e reeditada pela Brasiliense duas décadas depois. Mais recente a do paranaense Rodrigo Garcia Lopes, baseada na primeira edição.
FoLhaS de reLVa Walt Whitman, 2005 - editora: iluminuras - 319 páginas
novela de tchecov Por Fábio campana
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estre do conto, Tchecov publicou “Minha Vida”, narrativa mais longa do que costumava fazer. É de 1986. Sai pela Coleção Costa Leste, da editora 34. Tradução do original russo, posfácio e notas de Denise Salles. Anton Pavlovich Tchekhov (em russo: Антон Павлович Чехов) (Taganrog, 29 de Janeiro de 1860 — Badenweiler, 14 de Julho ou 15 de Julho de 1904) é considerado mestre do conto moderno. Era também médico, exercendo a profissão de 1884 a 1897. Com pouco mais de 20 anos já era considerado um escritor conhecido no meio literário da Rússia, recebendo em 1888 o Prêmio Puchkin. Dentre suas obras mais famosas, A Dama do Cachorrinho, A Gaivota, As Três Irmãs, O Jardim das Cerejeiras, entre outras.
minha Vida anton Pavlovitch Tchekhov, 2004 - editora: nova alexandria - 149 páginas
orquídeas brasileiras
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m Curitiba, o Centro de Ilustração Botânica do Paraná (CIBP), vem ha anos produzindo um calendário com imagens de plantas em aquarela. Se trata de um trabalho rico em detalhes que vem cativando cada vez mais as pessoas. No mês de outubro será lançada a edição 2012 onde foi ilustrado o tema Orquídeas brasileiras com textos em português e inglês. Também haverá uma exposição com a mostra dos trabalhos e oficinas ministradas pelos artistas nas dependências do Museu Botânico Municipal do dia 11 de novembro até 12 de dezembro 2011. mais informações: (41) 92445275 (Simone ribeiro); (41) 32429437 (cristina Bico); (41) 32747693 (mceline Bini) ou pelo www.cibp.com.br
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erritórios, Julio Cortázar (1978), ainda sem tradução para o português, é uma homenagem do autor a todos os artistas que admirava. Cortázar escreve ensaios poéticos, críticos e literários, construindo uma ponte dificílima entre o pensamento crítico e a imaginação poética. Lá estão o pintor belga Alchinsky, o argentino Leo Torres Agüero e o mexicano Leonardo Nierman. A dançarina dramática Rita Renoir. O desenhista austríaco Aloys Zötl. O uruguaio Leopoldo Novoa. Guido Llinás, cubano que faz gravações em madeira. O escultor Julio Silva o belga Reinhoud. Litografias de Antonio Saura. Jean Thiercelin, poeta e pintor, as fotógrafas Sara Facio e Alicia D´Amico, o artista plástico Luis Tomasello, o belga Adolfo Wölfli e o poeta argentino Hugo Demarco. Cortázar escreve com gratidão a esses artistas que o fizeram aceitar a liberdade como único território habitável. TerriTÓrioS Julio cortázar editora: Siglo méxico (1978) espanha (2009) 165 páginas
livrOs
filmes
futuro do presente
expoarte
Por dico kremer
A
Por marianna camargo
A
onda verde o presidente negro”, de Monteiro Lobato, foi escrito em 1926, e trata sobre a disputa presidencial dos EUA entre um negro, uma mulher e um branco conservador. Lobato descreve Jim Roy, o candidato negro, com todas as características físicas e da personalidade de Obama. “Jim Roy valia pelo símbolo da força… Não era um indivíduo, Jim. Era a própria raça negra por um milagre de compreensão posta inteira dentro de um homem”. No livro, a eleição acontece no ano de 2.228, e ele é o 88º presidente eleito com 54 milhões de votos, numa disputa histórica. Obama foi o 44º presidente eleito, com 60% dos votos da população americana. O cenário dos EUA no livro também não era dos melhores, eles viviam uma crise da mesma proporção que acontece hoje. O capítulo “A Onda Verde” é uma série de artigos onde Lobato discorre sobre vários assuntos como o meio ambiente, os latifundiários, autoridades, guerras, os livros fundamentais, a arte americana, a língua brasileira e as mudanças na ortografia, mais atual impossível. Os textos foram publicados no jornal Folha da Manhã em 1921. Livro visionário de Lobato, aposta no futuro quando escreve sobre as novas formas de comunicação, similares às atuais. a onda Verde o PreSidenTe neGro monteiro Lobato editora: Brasiliense 330 Páginas
asas do desejo
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livro “A arte no Sindafep — Expoarte: Memórias — Volume 1” reúne pinturas que fizeram parte da Expoarte, mostra de expressões artísticas de seus filiados e familiares, por iniciativa do Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado do Paraná (SINDAFEP). O sindicato promove concurso de contos, fotos e arte. Com edição elaborada, o livro traz um pouco da história da Expoarte e, principalmente, valoriza a obra de artistas ligados à instituição.
a arTe no SindaFeP Sindicato dos auditores Fiscais do estado do Paraná (SindaFeP), 2011 115 páginas
sas do Desejo” (Der Himmel über Berlin – O céu sobre Berlim) de Wim Wenders é o filme que se pode chamar de completo, de cinema em sua mais alta manifestação. Filmado em 1987, longe de seu começo como diretor, é uma aula sobre a visão do cinema como arte e com uma narrativa em que todos os elementos que a compõe se completam e se harmonizam magistralmente. Os diálogos, a direção dos atores, a interpretação, a fotografia, os movimentos de câmera, a música, a construção, enfim, mostram a mão de um mestre do que se chamou o novo cinema alemão. O enredo é aparentemente simples. Mas só aparentemente: são duas as tonalidades p&b e cor; duas as cidades, a ocidental e a oriental, dois os anjos que perscrutam os seres humanos em suas ações e em seus pensamentos. Duas as situações, ambíguas, onde os adultos nunca os veem e as crianças os suspeitam, ou os creem ver. Ou veem. O p&b seria a parte dos anjos e a colorida a dos seres humanos e suas ações. Porém, com o estilo de fotografia em p&b com o cinza a predominar e o colorido bastante contrastado pode-se pensar numa inversão. Enfim, filme arte, filme desafio, filme inteligente, elegante, instigante, total.
trilogia das cores Por dico kremer
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a década de 60 do século passado os poloneses fizeram furor com seu novo cinema e com o grafismo dos cartazes de divulgação. Andrzej Wajda, Jerzy Kawalerowicz, Aleksander Ford, Wanda Jakubowska, Andrzej Munk, Wojciech Has realizaram filmes memoráveis com o financiamento do cinema, na época, estatal. Nos anos 90 Kieslowski, já cineasta bilingue, com produção franco-polonesa escreveu — com seu parceiro Krzysztof Piesiewicz — e dirigiu três filmes que chamou Trilogia das Cores. O mote seria as cores da bandeira da França: bleu, blanc e rouge e o que elas representariam junto com o lema da revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Bem, penso ser desnecessário, restritivo e irrelevante o acréscimo do lema. Bastam as cores. É aconselhável ver os filmes pela ordem. O primeiro, azul, é sobre perda, desespero, fuga, criação, compreensão, redenção e lágrimas. O segundo, branco, é uma comédia sinistra com uma vingança terrível e lágrimas. O terceiro, vermelho, é pautado pela dicotomia juventude x meia idade, afeto x repulsa, coincidências e paralelismos, aproximação que lembra o Ulysses de Joyce (Dedalus/Bloom), amizade, aceitação, novamente redenção e lágrimas. E uma surpresa final que une os três filmes. Fotografia primorosa com acento cromático específico para cada filme e a cor que o representa. Atores franceses e poloneses em ótimo desempenho com a brilhante direção de Kieslowski. Um aparte especial é a trilha sonora de Zbigniew Preisner que pontua criativamente os três filmes. Pena é não podermos mais ver filmes desse realizador que morreu em 1996 aos 54 anos.
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Luiz Carlos Zanoni
O gênio das garrafas
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s produtores de vinho foram os primeiros a descobrir que a fantasia melhora a realidade. Gabriel Garcia Marques e outros cultores do realismo fantástico apenas vieram depois. Uma boa história dá mais encanto ao vinho, e disso sabia Marcelo Victoria, diretor da Finca Achaval Ferrer, que veio a Curitiba apresentar alguns produtos da vinícola. Era uma vez, ele contou, um grupo de amigos que sonhavam abraçar um ofício em que não precisassem usar gravatas. Certo dia, surge-lhes um gênio que se prontifica a guiá-los à terra prometida dos vinhateiros, para que lá afrouxassem os nós e fundassem uma bodega. Eles topam, mas ao chegar ao lugar, um pequeno vinhedo em Mendoza, recuam horrorizados. O imaginado paraíso se resumia a velhas e retorcidas parreiras sobre um solo desértico e empobrecido. Ali jamais chovia. De tão seca a terra, as plantas não tinham raízes, morriam de dia e renasciam à noite, quando, com suas folhas esturricadas, sorviam a rala umidade que as brisas traziam de um rio próximo, alimentado pelas águas da cordilheira. Mas o gênio os tranquiliza. “Videiras assim são as que dão as melhores frutas”, disse-lhes. O final dessa história estava no vinho que Marcelo Victoria serviu em meio aos aplausos gerais.
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Roberto Cipresso não mora numa garrafa, nem tem poderes sobrenaturais, mas gênio não lhe falta. Era antigo o fascínio desse fazedor de vinhos da Toscana por Mendoza, província argentina que foi um dos polos das imigrações italianas do início do século passado. Ele percorreu por várias vezes a região, garimpando as boas localizações, e acabou por se associar a um grupo local, interessado em se dedicar à vinicultura. Para iniciar, escolheu um pequeno vinhedo, o Bella Vista, na localidade de Perdriel, com parreiras muito antigas. Surgia aí, em 1998, a Finca Achaval Ferrer, nome que homenageia dois dos sócios, Santiago Achaval e Manuel Ferrer. A região é, de fato, muito seca, nada porém que não resolva com irrigação não se resolva. Sua intensa luminosidade, com a alternância de temperaturas (dias quentes, noites frias), assegura a sanidade e o bom amadurecimento das uvas, razão, aliás, de a Malbec se dar tão bem por lá. A Achaval Ferrer soma, hoje, cerca de 60 hectares de vinhas em diferentes terroirs de Mendoza. Cipresso segue a cartilha europeia. No vinhedo, métodos naturais de cultivo, baixos rendimentos, colheita manual; na cantina, a produção de vinhos com identidade, fiéis ao caráter do solo e do clima. A vinicultura argentina tem oferecido vinhos a preço acessível no preço, mas monótonos, padronizados. Nadar contra essa corrente projetou rapidamente a Achaval
Ferrer. O Quimera, um dos rótulos principais, mescla Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Merlot. Cipresso adota aí um critério singular. O usual é fermentar as variedades em separado e só depois fazer a mistura. No Quimera, o enólogo decide o corte antes e promove uma fermentação conjunta, obtendo assim a integração maior da mescla. Marcelo Victoria abriu o da colheita 2007 na Adega Brasil. Tinto de aromas marcantes, mas sem excessos, e denso e robusto sem abdicar da elegância. O preço, de R$ 123, entusiasma, por se tratar de um dos grandes da Argentina. E a bodega mostra virtudes também na linha de entrada. Sobra tipicidade no Malbec básico. Álcool e acidez em equilíbrio, aroma limpo, combinando frutas do bosque, violetas, azeitonas, suculento na boca, taninos finos, macios, boa persistência. O leve amarguinho ao fundo não chega a incomodar. Algo que realmente se destaca neste oceano de Malbecs. Custa R$ 63, preço que a vinícola julga barato. Não é. Mas o mercado brasileiro de vinhos anda tão distorcido que, considerando o benefício, esse custo até fica justo.
LUIZ CARLOS ZANONI é jornalista e apreciador de vinhos
Jussara Voss
Manu
Fran Hunter
Fran Hunter
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m suspiro atrás do outro e a sensação de estar num dos melhores restaurantes do mundo. Não é exagero. A noite no Restaurante Manu, da jovem Manoella Buffara, com amigos especiais, foi assim, cheia de surpresas. Ótimos momentos. Fiquei uns 40 dias sem aparecer por lá, estive no restaurante muitas vezes desde a sua inauguração, em fevereiro deste ano e posso dizer que aquela noite foi inesquecível. Não é um restaurante para se ir com frequência, porque é especial e também porque se a escolha for o menu de oito pratos, mais os snacks, Kobe beef, a carne especial entremeada de gordura, e harmonização, com uma taça de vinho para cada prato, como é o indicado, o valor da refeição passará dos duzentos reais por pessoa. Na Europa, tirando os bistrôs, a conta ficaria em torno de 250 euros. Aqui, em reais e sem gastar com passagem, merece a visita. Se eu pudesse, iria toda a semana. Sou fã de carteirinha e indico para quem, como eu, valoriza o visual, primeiro come com os olhos
e adora sabores inusitados e delicadezas. Mas o que eu digo, depois de rasgar elogios à moça, quando escuto falarem que foram lá e se decepcionaram, que quase nada correspondeu às expectativas? Veja, ela é ousada, o restaurante tem apenas poucos meses, em algumas ocasiões também encontrei alguns deslizes mas, quer saber, tudo dentro do aceitável. Manu corre riscos e sabe disso, não tem medo da exposição, imagino. Tenho certeza de que se optasse por apenas um menu por noite, a exemplo do festejado restaurante Le Chateaubriand, em Paris, que em pouco tempo ficou entre os melhores do mundo, no ranking da revista inglesa Restaurant, ela acertaria sempre. Que fazer se ela não se contenta com pouco. Manu quer mudar tudo a cada duas semanas e apresenta três menus, além dos pratos à la carte. Vai em busca de fundamentos para difundir um novo estilo de cozinhar e de comer. Mas é preciso cautela: não se pode ter uma nova arquitetura a cada segunda-feira. O aforismo de Mies van der Rohe foi bem lembrado por um amigo. O estado de espírito do cliente pode interferir? Sei lá, às vezes, não estar em um bom momento ajuda a entornar o caldo. Desconfiar da gastronomia contemporânea, preferir os clássicos, também conta. E é preciso ter fome. Manu Buffara é a chef revelação de 2011 em Curitiba, não restam dúvidas. Encerro aqui a polêmica, confessando algumas coisas que me incomodam no Manu: sentar longe do balcão da cozinha e ficar sem ver as mãos ágeis da chef trabalhando; não conversar com ela sobre as suas criações; e não poder ir mais vezes.
Jussara voss é jornalista outubro de 2011 |
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Izabel Campana
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oisa engraçada votos falsos e piegas. é a língua. Pode Muito feia quando gerúndia! ter tantas caras, Recebe ódio mortal do Carlos Alser tão linda e tão berto Pessôa, com quem aprendi medonha, agradesde pequenina a evitar andos, dável ou deploendos e indos. Também me enrável. E isso quase nada tem a sinou a conter as vírgulas, outro ver com a norma culta. Já dizia o vício de bacharel capaz de estrapoeta, inculta e bela a derradeigar um texto. ra flor do Lácio. Mas como pode A fealdade está no uso da línser feia, se me dizes e te ouço gua, mas também nas palavras. com ares de Bacharel! É famoso o episódio em que Pode sim ser feia, áspera e peGraciliano Ramos repreendeu dante, a língua de Camões. Pode o uso por um repórter da palaestar repleta de arcaísmos, ser vra outrossim. Realmente, essa língua barroca sem a graça de é feia e presunçosa. Mas há ouum Aleijadinho. Ter adjetivos tras. Algumas apenas soam mal, sobre adjetivos que nada dizem como boleto, sovaco, fronha. sobre o adjetivado, mas tudo Outras são feias em som e sendizem sobre a ideia de decoro tido. Gonorréia, lambisgóia e invocada no parlatório. vereador, por exemplo. AlguPor outras vezes, a feiúra vem mas ainda são odientas porque cheia de títulos, Digníssimo Sevazias, semelhante ao que aconhor leitor. E por conta da lonmete certas pessoas. jura, o título é logo abreviado e E mais feia ainda é no erro, passas a Dig.mo Sr. em uma tacaprincipalmente quando é resulda só. Abreviações, abreviaturas tado de uma certa afetação. No e siglas que sequer as compreenverbo defectivo conjugado em de o corretor ortográfico do meu primeira pessoa. No incomodar computador. que escrevem encomodar e no A língua também é feia quanintuito que vira entuito. Nos “de do é insegura. A língua bela não quês” que tomam conta dos rediz mais que o necessário. Já a Trecho de “Regimento para o marcar da agulha”, de João Baptista Lavanha, 1598 latórios policiais. linguagem oficial faz referências E por mais que possa ser linda, intermináveis. E proliferam-se os mesmos, os na mais bela literatura ou no nome do namoracitados, os referidos e os supramencionados do, a língua tem esses momentos de uma feiúra que tanto temos o desprazer de encontrar em assim tão feia em que chego a pedir: documentos, contratos e afins. — Silêncio, por favor. Ah, sim, és feia! És feia quando te usam com vulgaridade. Não falo dos palavrões, que são palavras muito úteis e expressivas. O vulgar é o senso-comum, o lugar-comum, a frase-feita. Por isso a língua é tão feia mesmo quando fala de amor. Nos cartões de casamento, nas mensagens de dia das mães e em decalques IZABEL CAMPANA é advogada religiosos de toda sorte e viés. Feia, sim, em
VULGAR É O SENSO-COMUM, O LUGARCOMUM, A FRASE-FEITA
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Drogas
O debate sobre a legalização e descriminalização é intenso e divide opiniões. Reportagem da Revista Ideias investigou o assunto e ouviu especialistas e ativistas sobre o tema
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tema é polêmico. O debate quanto à legalização e a descriminalização da maconha é quente. Defensores e contrários têm suas opiniões bastante sedimentadas. Pessoas que levantam a bandeira da sua causa. Seja a favor ou contra. Legalização e descriminalização são dois diferentes conceitos. Se algo é criminalizado é porque é tipificado como crime. Ser descriminalizado significa tirar da lei e, assim, deixar de ser crime. Sedução e adultério são dois exemplos. Eram consideramos crimes e hoje em dia não são mais. Já a legalização é a regulamentação. O advogado Figueiredo Basto explica que se houvesse a legalização da maconha, seria necessária a regulamentação do uso, do comércio e do plantio da erva. Com a legalização, outras questões seriam levantadas. Quem irá fazer a distribuição? Como será o plantio: quem vai plantar, como será a venda da semente, como será a fiscalização do plantio? O mercado do preço da maconha. Quem poderá comprar? Terá um registro dos compradores como acontece com certos medicamentos?
COLETIVO SEMEIA Pedro Portugal é estudante de Direito e é defensor da legalização e descriminalização da maconha. Ele faz parte do Coletivo Semeia (C6) que tem como objetivo difundir a 64
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cultura e o cultivo de drogas. O principal foco é a maconha por ser a mais consumida. Aborda-se a política de enfrentamento das drogas. O Coletivo é de Curitiba e tem parceiros espalhados por todo o Brasil. A ideia é se firmar como o principal coletivo organizado no Paraná e uma referência nacional. Portugal conta que é difícil encontrar gente séria nesta causa e que queira se expor. Shardie Casagrande também é membro do C6. Ele explica que é um grupo de pessoas com intuito de lutar pela informação a respeito da cannabis (a planta da maconha), lutar contra o preconceito e regulamentar a maconha no Brasil. “Procuramos estar sempre antenados com as mudanças que ocorrem no mundo, pesquisas realizadas sobre o tema e redução de danos para os consumidores de cannabis”, conta. Hoje, Portugal e Casagrande são os únicos colaboradores pontuais. Mas Casagrande garante que o C6 é a “nova pedra no sapato” dos proibicionistas do país.
ERRO HISTÓRICO Para Portugal, a proibição da maconha é um erro histórico. “A proibição impede estudos científicos. Proibicionistas têm medo das descobertas científicas. Cientistas são atacados, instituições ficam receosas, profissionais são desacreditados. Fernando Henrique Cardoso passou a ser taxado como uma pessoa não séria após se posicionar a favor da libera-
ARQUIVO PESSOAL
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GROWROOM.NET
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Pedro Portugal é acadêmico de Direito e ativista
O QUE FOMENTA O TRÁFICO É A LEI QUE PROÍBE. A DROGA SEMPRE EXISTIU E SEMPRE FOI CONSUMIDA
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LEI DE DROGAS Portugal acredita que responder a um processo já é um desagravo ao cidadão. Segundo ele, a lei penal é dirigida às camadas mais pobres. “Se uma pessoa bem vestida for apreendida com uma certa quantidade de droga em uma região nobre da cidade, vai cumprir sanções. Mas se alguém com outro estereótipo, de origem mais humilde e em um bairro mais pobre, for apreendido com a mesma quantidade da droga, vai responder processo”, analisa. O estudante ainda coloca que o tratamento para quem cultiva maconha é diferenciado, apesar de a lei prever a mesma punição para o consumo e o cultivo. “A maioria que pratica o autocultivo responde por tráfico”, expõe. Portugal também aponta a maneira como a mídia trata o assunto. Segundo ele, é de forma negativa e não esclarecedora da lei. AUTOCULTIVO “Quem quer alforria do traficante, acaba sendo taxado como traficante”, pondera. Portugal acredita que a falta de controle do Estado gera uma substância mais prejudicial ao usuário. Ele defende que o autocultivo proporciona uma substância mais limpa. “O usuário tem acesso a uma droga com maior pureza. Não se consome porcaria”, afirma. Além da maior qualidade da substância e do controle do que é consumido, Portugal alega que o autocultivo rompe o elo com a criminalidade. “O que fomenta o tráfico é a lei que proíbe. A droga sempre existiu e foi consumida. É inerente ao ser humano a busca por modificação do seu estado natural, por isso as pessoas bebem. A cannabis serve para relaxar”, exemplifica. O estudante defende o cultivo em escala individual ou em coorporativas. Ele afirma que hoje o grande inimigo do cultivador é a denúncia anônima. “O segredo do sucesso é o segredo”, considera. MERCADO REGULADO Com a legalização, Portugal acredita que haveria um desinchaço do sistema penitenciário. “O policial iria perseguir pessoas violentas e não os usuários de droga. O aparato policial deixaria de ser focado nas camadas mais pobres”, afirma. Ele ainda defende o uso industrial da maconha. Portugal explica que a maconha exige poucos cuidados e tem o crescimento rápido. “A celulose poderia ser utilizada na fabricação de papel. Tecidos poderiam ser feitos à base da maconha. A semente
dela é rica em ômega 3”, conta. Ele acredita que muitos ramos poderiam ser beneficiados com a liberação, não só o usuário. Construção civil e indústria alimentícia são exemplos, segundo Portugal. O acadêmico de Direito coloca que o Brasil é um país muito eficiente em produzir leis. Por esta razão, um modelo de legislação poderia ser muito bem pensado para legalizar e descriminalizar a maconha. Ele ainda pontua que um comprometimento das instituições e dos comerciantes seria essencial para que a liberação funcionasse. Ele aponta que o mercado regulamentado geraria impostos que poderiam ser destinados ao tratamento de dependentes químicos. “É custoso para o estado a guerra contra as drogas”, afirma.
DESINFORMAÇÃO Portugal defende a realização de um estudo sério para saber o malefício das substâncias. O estudante é a favor de uma informação educativa sobre a substância e não contra a droga. “Como ativista, acredito que quanto mais educação e informação, mais se desestimula o uso. Por isso defendo um mercado controlado pelo Estado. Não é disseminar o uso, mas combater o uso de droga com informação. Hoje se propaga a desinformação”, opina. Ele afirma que o usuário de maconha deve ser tirado da marginalização e reforça que a campanha contra a droga que existe hoje não desestimula. “Para o adolescente ser rebelde é usar droga. Se fosse legalizado, não seria uma forma de contestação”, pondera. LEGALIZAÇÃO O publicitário e empresário Shardie Casagrande afirma ser a favor da legalização da cannabis porque interromperia o ciclo de violência que a proibição gera. “Além de assegurar a todos a liberdade individual de fazer o que bem entender da própria vida”, alega. Ele conta que a
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ção”, afirma. Ele também aponta que a proibição faz com que o acesso à droga seja indiscriminado. Como ativista, o acadêmico alega ser interessante um consumo restrito. “A proibição foi maléfica, não erradicou as drogas”, aponta. Portugal alega que depois do início da guerra às drogas no começo dos anos 80, aumentou o número de consumidores, enquanto o preço e a qualidade das drogas caíram.
Para Shardie Casagrande, não há nenhum ponto contra a liberação
A LEGALIZAÇÃO ASSEGURA A LIBERDADE INDIVIDUAL DE FAZER O QUE BEM ENTENDER DA PRÓPRIA VIDA maconha é a droga mais consumida no mundo e que, só no Brasil, são mais de sete milhões de usuários – número que cresce a cada ano. “A proibição gera tráfico e violência, faz com que sete milhões de pessoas atuem ilegalmente. O dinheiro do consumo deste produto acaba na mão de traficantes e na munição da arma que eles empunham. Toda substância entorpecente deve estar sob o controle do governo e não nas mãos de irresponsáveis”,
PRÓS E CONTRAS PRÓS: • A proibição é a maior causa do crime. Em todo o mundo, criminosos ganham bilhões de dólares por ano. 80% desta receita resultam do tráfico de droga. Também 80% dos crimes têm hoje ligação direta ou indireta com as drogas. • O consumo e a posse de drogas colocam os cidadãos em posição criminosa. • Legalizar significa que leis serão feitas para regulamentar o uso e o comércio da maconha, como já acontece com o álcool e o tabaco. • Os bilhões de reais gastos pelo governo no combate às drogas poderiam ser direcionados a outras áreas. • Diminuiria o número de detentos, já que muitos são presos pelo tráfico de drogas.
CONTRAS: • Os sistemas públicos de saúde gastariam mais com o tratamento de dependentes porque as drogas seriam mais baratas e acessíveis. • Esforço e dinheiro gastos no combate e repressão ao tráfico seriam em vão. • O crescente sucesso na reabilitação de toxicodependentes. • Drogas estão sempre ligadas a crimes e atos violentos. • As drogas legais são as mais consumidas. Segundo o raciocínio lógico, se as drogas leves forem legalizadas, as taxas de consumo subiriam. A consequência será o agravamento dos problemas sociais, jurídicos, familiares, de saúde e de segurança pública.
Fonte: Jorge Pilotto – advogado, coordenador estadual antidrogas e representante da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos no Conselho Estadual Antidrogas. Ele destaca que em sua opinião não existem prós na legalização da maconha. Os argumentos utilizados são de defensores da liberação da droga.
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ARQUIVO CLÍNICA NOVA ESPERANÇA
O
médico psiquiatra José Leão de Carvalho Júnior respondeu algumas questões para a Revista Ideias sobre a maconha e os danos à saúde. Carvalho Júnior é médico psiquiatra e responsável técnico da Clínica Nova Esperança. É formado pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Psiquiatria Geral e em Psiquiatria de Crianças e Adolescentes pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Ministrou aulas para técnicos em dependência química. Atende dependentes químicos há 28 anos em clínica e consultório. Confira as respostas do médico psiquiatra: Qual é a taxa de usuários que podem se tornar dependentes ao experimentar maconha? Em torno de 10% dos usuários de maconha se tornam dependentes químicos. A maconha e o álcool têm porcentagem semelhante. O tabaco (cigarro) é quase como a heroína e o crack. Cerca de 90% das pessoas que experimentam se tornam dependentes. Dependentes de maconha procuram ajuda? De modo geral, o dependente de maconha pede ajuda quando passa a sentir os prejuízos provocados pela droga. Pode ser no âmbito escolar (dificuldades na aprendizagem), profissional (queda no rendimento, prejuízos financeiros), familiar (rompimentos, brigas) ou pessoal (graves alterações no pensamento - delírios - ou na percepção - alucinações -, alterações de humor - depressão, principalmente). O mais comum é que familiares do dependente percebam os pre-
juízos e o levem para atendimento especializado. No início, há muita resistência deste dependente em receber a ajuda, pois ainda não se dá conta de sua doença e suas consequências. Como se caracteriza a dependência química da maconha? As diretrizes diagnósticas (na CID-10) são: • Forte e crescente desejo ou compulsão para consumir a maconha. • Dificuldades em controlar o consumo. Frequência e quantidade vão progressivamente aumentando. • Presença de Síndrome de Abstinência (alterações fisiológicas que surgem quando o uso é interrompido ou reduzido). No caso da maconha, mais frequentemente a Síndrome se apresenta com irritabilidade, agressividade, aumento da ansiedade, sintomas depressivos e insônia. Os sintomas que surgem desaparecem com o uso – por isso muitos dependentes acreditam que a maconha os fazem dormir ou os acalmam ou ainda os “deixam de melhor astral” (na verdade, estão saciando sua síndrome de abstinência). • Tolerância (doses crescentes da droga são necessárias para alcançar os efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas). • Abandono progressivo de prazeres ou interesses em favor do uso da maconha. Aumento da quantidade de tempo para obter ou usar a droga. Redução progressiva do repertório pessoal. Tudo vai se tornando menos importante que o uso da maconha. • Persistência no uso, a despeito de evidência clara de consequências nocivas. (Pela CID-10, se houver pelo menos três das características citadas acima em algum momento durante o ano anterior, pode-se fazer o diagnóstico definitivo de dependência química). Pode-se incluir uma sétima característica: Havendo um período de abstinência, ao recair no uso, o padrão de consumo sobe rapidamente aos níveis anteriores. Não há a possibilidade de um “uso social” da droga. Como é o tratamento do dependente de maconha? Depende do estado que se encontra o dependente. Se ele pede ajuda, quer parar de usar e não conse-
gue, podemos utilizar medicamentos para reduzir a Síndrome de Abstinência e iniciar (ou incrementar) psicoterapia. Em casos mais graves, com compulsão mais intensa ou com comorbidades psiquiátricas (quadros depressivos mais graves ou quadros psicóticos) está indicado internação integral (no mínimo por 30 dias, na média 45 dias) para iniciar o tratamento. A continuidade do tratamento pode-se dar em clínica-dia ou ambulatorialmente de acordo com a gravidade e evolução do quadro. Quais são os danos de saúde provocados pela maconha? Inúmeros. De modo geral, todos os males provocados pelo cigarro de tabaco podem ser provocados pela maconha (cânceres, enfisema pulmonar, doenças cardíacas, doenças vasculares, impotência sexual, etc.). Além destes, somam-se as comorbidades psiquiátricas que são diversas. As mais frequentes são depressão, transtornos de ansiedade, psicoses (a mais comum com características semelhantes à esquizofrenia), demências (perda de capacidade cognitiva, com prejuízos de memória e raciocínio), alterações da personalidade e Síndrome Amotivacional. Muitas pessoas afirmam que a maconha é porta de entrada para outras drogas. Isso é verdade? Como o álcool, pode ser. Pelo desenvolvimento da tolerância, o dependente pode precisar de outras drogas para saciar seus desejos. E pelo convívio. Geralmente, quem faz o comércio de maconha (tráfico) faz de outras drogas também. Dificilmente um indivíduo inicia sua dependência de crack diretamente pelo crack. Quase todos iniciaram com álcool ou maconha. Quais seriam as propriedades terapêuticas da maconha? Há alguns estudos que indicam a maconha como benéfica no tratamento de glaucoma, mas existem medicamentos específicos muito mais eficazes. Há outros estudos sugerindo o uso da maconha para pacientes terminais (portadores de cânceres ou AIDS) com o intuito de aumentar o apetite e minimizar a caquexia. Desconheço qualquer outra propriedade terapêutica atribuída à maconha.
DEPOIMENTOS DE DEPENDENTES QUÍMICOS A reportagem da Ideias relata aqui depoimentos de dependentes químicos da maconha. Veja a seguir:
RELATO 1 B. tem 15 anos. Conheceu a maconha e o álcool aos 14 anos. Ela afirma que a partir do momento que se tornou dependente, seu relacionamento com a família e os amigos ficou horrível. “Com minha mãe era briga todos os dias. Meus amigos não chegavam perto de mim, ninguém queria falar comigo”, desabafa. Com o tratamento, B. está descobrindo o que é uma vida sem drogas: “Estou sendo uma nova pessoa”. 66
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RELATO 2 C. tem 20 anos e já se internou duas vezes pela dependência de maconha e ecstasy. Começou a usar as substâncias com 19 anos e conta que seu relacionamento com as pessoas ficou muito afetado. “Perdi todos meus amigos e minha namorada. Briguei muito com meus pais e cheguei a fugir de casa algumas vezes”, relata. Ele conta que o tratamento tem sido muito bom e que está se dedicando para ficar em abstinência. “Para um dependente químico não é fácil, cada dia temos que matar um leão interno dentro do nosso corpo”, finaliza.
EDUARDO REINEHR
vedação expressa na legislação penal.
A MACONHA SE TORNOU BANAL PERTO DE OUTRAS DROGAS, MAS NÃO É BANAL. DROGA É DROGA
O advogado Figueiredo Basto acredita que a tutela do Estado está acima do direito do uso da droga
CONSEQUÊNCIAS POSITIVAS Casagrande defende que os maiores beneficiados com a regulamentação seriam os não usuários. Ele pontua itens que, em sua opinião, mostram as consequências positivas da liberação. A proteção maior aos adolescentes que não poderão ter acesso à droga. Redução da violência ao tirar uma das principais fontes de renda do tráfico. Criação de sociedades de cultivo e controle de qualidade. O uso dos impostos da comercialização da maconha na saúde e educação: no combate de dependentes químicos e na prevenção ao abuso de drogas. O publicitário afirma que apesar do preconceito que a maconha carrega, ela é um produto seguro. Mais que o álcool, tabaco, aspirina e cafeína. Ele cita cientistas como Dr. Eliseu Carlini e Dr. Sidarta Ribeiro que já provaram a benignidade da cannabis. Para Casagrande, não existe nenhum ponto contra a legalização da maconha. “Como prós posso citar a utilização medicinal imediata para pacientes de quimioterapia, AIDS, esclerose múltipla; a redução do aquecimento global com a utilização responsável das fontes naturais; substituição dos biocombustíveis atuais por biocannabis; substituição do cimento comum pelo concreto celular feito de cannabis; redução dos danos causados pela produção irresponsável de papel não ecológico; melhoramento da alimentação das pessoas com sementes ricas em proteínas e ácidos graxos; criação de tecidos mais responsáveis socialmente e mais duráveis”, enumera.
MARCHA DA MACONHA Casagrande ajudou neste ano na formatação, divulgação e realização da Marcha da Maconha, realizada em maio. Ele acredita que o evento foi positivo em todo o Brasil. “Em Curitiba, a cultura da Marcha da Maconha ainda não havia sido instalada. Tentativas
frustradas nos anos anteriores nos deixaram receosos de que não teríamos nenhum quorum. No entanto, tivemos a adesão de cerca de 500 pessoas, mesmo com a liminar cassando nosso direito de nos expressar. Acredito que a Marcha seja um evento necessário para reacender as discussões sobre a legalização. Não é o evento mais importante do ativismo, mas é quando conseguimos mostrar para a sociedade o número de pessoas que se importam com a causa”, reflete.
APOLOGIA E LIVRE EXPRESSÃO O advogado Figueiredo Basto defende que o debate é válido para a sociedade. Apologia ao crime é quando se incentiva o consumo e a venda da droga. “Dizer para liberar a maconha é direito livre de expressão”, conclui. Jorge Pilotto, Coordenador Estadual Antidrogas e representante da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos no Conselho Estadual Antidrogas certifica que a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de permitir a livre expressão do pensamento não significa endosso à apologia das drogas, que tem
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afirma. Ele acredita que a legalização irá acontecer e que depende da sociedade escolher quando interromper este ciclo de mortes e corrupção.
Jorge Pilotto, Coordenador Estadual Antidrogas, afirma que a legalização não reduziria a criminalidade
NOVA LEI DE DROGAS De acordo com Basto, a Nova Lei de Drogas, de 2006, é branda em relação ao usuário, pois não tem pena privativa de liberdade. O usuário recebe uma advertência sobre o efeito da droga e presta serviço à comunidade. São medidas socioeducativas. Como a lei não define a quantidade de droga que diferencia usuário e traficante, acaba gerando problemas, como a corrupção. Já que cabe ao policial ou ao juiz a tipificação. Basto relata que o tráfico não se caracteriza pela quantidade da droga, mas sim pelo modo de vida. “O modo de vida do acusado irá mostrar sua personalidade, se tem um trabalho honesto, se tem antecedentes criminais e se comercializa a droga”, afirma. O Direito não pune a autolesão. O consumo de droga pode ser taxado como tal. Mas, para Basto, o direito do uso da droga está abaixo do direito do Estado tutelar. COLAPSO SOCIAL O advogado vê o álcool, o cigarro e a maconha como substâncias que causam dependência física e psíquica. “O álcool e o cigarro tiveram uma alta aceitação social durante um período, foram glamourizados. Hoje a maconha tem um juízo de desvalor maior do que o cigarro e o álcool”, conta. Em sua opinião, a maconha é mais nociva do que as outras duas substâncias. Basto acredita que prevenção e educação são as maiores armas ao combate às drogas. “Droga é questão sanitária, de saúde e segurança públicas, trata-se com prevenção”, afirma. Ele ainda defende que a legalização da maconha não traria a redução da criminalidade. “É um fenômeno muito mais complexo. Droga é um fator importante na criminalidade, mas não é o único”, garante. Para ele, repressão e educação são as maneiras de controlar a criminalidade. “A maconha se tornou banal perto de outras drogas, mas não é banal. Droga é droga. Não tem
A LIVRE EXPRESSÃO DO PENSAMENTO NÃO SIGNIFICA ENDOSSO À APOLOGIA DAS DROGAS outubro de 2011 |
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hierarquia. Relativizar os valores traz os problemas que temos com os jovens na atualidade. Droga é uma tragédia, um colapso social”, enfatiza. Basto analisa que o Brasil é um país de contrastes e que não tem educação para a legalização da maconha. “É uma utopia. A legislação já é suficiente para tratar a questão de maneira razoável. Droga é um conceito negativo absoluto. Há um discurso esquizofrênico entre teoria e prática”, finaliza.
PROBLEMA SOCIAL Pilotto assume o seu posicionamento contra a liberação da maconha. Ele usa uma declaração do psiquiatra americano Ken Winters, professor da Universidade de Minnesota e autoridade mundial no combate ao consumo de entorpecentes, que alerta: “legalizar tóxicos apenas aumenta um problema social”. Pilotto acrescenta que a legalização não implicaria em redução da criminalidade. “Ao contrário, ampliaria o consumo e o número de viciados. Além de favorecer a expansão das redes subterrâneas do tráfico e, assim, aumentar os problemas sociais, jurídicos, familiares, de saúde e de segurança pública”, afirma. Para ele, a Nova Lei de Drogas de 2006 foi um retrocesso para o apenamento do usuário. “Estimula o uso”, acredita.
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USUÁRIO OU TRAFICANTE O Coordenador Estadual Antidrogas explica que como a legislação não define a quantidade de droga que tipifica o traficante, a situação gera um conflito entre as autoridades ao enquadrar uma pessoa. “O usuário pode ser considerado traficante dependendo da quantidade apreendida, como também traficantes podem usufruir os benefícios penais voltados ao crime de uso. É necessário avaliar o contexto da apreensão: local, quantidade, tipo de droga, condições subjetivas do indivíduo e montante pecuniário portado pelo acusado”, considera. Ele conta que levantamentos revelam que ser preso portando grande quantidade de dinheiro em notas pequenas pode revelar crime de tráfico. MACONHA NO PARANÁ Pilotto relata que a maconha é a droga mais popular e mais consumida no mundo, inclusive no Paraná. “Como nosso Estado faz fronteira com países produtores de maconha, seu comércio e consumo se tornam ainda mais fáceis e acessíveis”, afirma. Ele analisa que por ser taxada como uma droga menos nociva e por existirem movimentos voltados à sua legalização, o consumo da maconha é muito grande e, por isso, ela é denominada como porta de entrada para outras drogas mais agressivas e devastadoras.
“As estatísticas existentes das polícias federal, militar e civil informam dados de apreensão da maconha, mas o consumo é bem maior do que o volume apreendido”, relata. Segundo o site www.181.pr.gov.br - Narcodenúncia do Governo do Paraná, a apreensão de maconha no Estado até o dia 19 de setembro foi de mais de 20 mil quilos. Em 2009, foram cerca de 45 mil quilos. Já no ano passado, mais de 65 mil quilos da droga foram apreendidos.
APREENSÃO DE MACONHA
De 2009 a setembro de 2011 (em quilos) Fonte: www.181.pr.gov.br
80.000
65.885
60.000 40.000
44.283 20.010
20.000 0
2009
2010
2011
PREVENÇÃO Pilotto ressalta a importância de tratar o assunto como educação e conscientização para que as ações de prevenção ao uso e tráfico de drogas se multipliquem de forma coordenada. “Assim vamos conseguir um recuo nos índices de consumo e, consequentemente, reduzir a criminalidade e a violência”, finaliza.
Camilla Inojosa
D
T
enho tanta coisa para contar que não sei o que escrever. Sim, é estranho. Mas você pode me dizer que isso nunca lhe aconteceu? Então, não me aborreça. Preciso começar, tenho prazo. Prazo! Sim, para entregar o artigo. Está rindo do que? É a vida. Você trabalha o mesmo que eu. E tem o que no final do dia? Por que o silêncio? Eu respondo por você: Você não tem NADA. Você não tem o sorriso dos seus filhos, pois eles estão dormindo quando você chega. Não tem o carinho da sua mulher, pois os dois estão cansados demais para fazer biquinho e dar um simples beijinho. Não tem a disposição para ler aquele livro que comprou há dias. Sim, o que lhe sobra é um monte de frustrações. Tudo aquilo que esse nada lhe proporciona. Você queria ter feito a lição com os meninos, queria saber se a reunião da sua mulher deu certo. Queria ter tido disposição para estudar. Queria. Mas não teve tempo. Sim, eu compreendo. Calma. Não precisa se exaltar. Eu sei que você paga a escola dos meninos, o inglês e a natação. Que você lhes proporciona tudo que desejou quando criança. Mas, desculpa, você já os viu nadando? Já acompanhou alguma aula de natação? Sentou para fazer os deveres do inglês? E a cabaninha da sala? Montou? Viu os filmes da Disney? Deixa de conversa, tolo. Tenho prazo. Ah, quer continuar. Vá em frente, continue bradando aos quatro ventos o quanto você é maravilhoso. Quer ouvir mais verdades? Vai con-
O QUE LHE SOBRA É UM MONTE DE FRUSTRAÇÕES. TUDO AQUILO QUE ESSE NADA LHE PROPORCIONA tinuar se enfurecendo? Concordo. Você é um provedor. Você é o papai que está sempre trabalhando. Sim, lógico que eles sorriem quando você chega. Isso quando você consegue vê-los acordados. Eles sorriem porque te amam. Você é o pai deles. Sem dúvidas eles irão sorrir para sempre. Mas não irão chorar com você. Você não sabe os problemas deles, não os conhece. O quê? Deixa de ser hipócrita, querido. Não adianta ficar nervoso. Só porque estou te falando a verdade? Achei que você fosse mais inteligente do que isso. Eu sei que seu amor de pai é incondicional, e sei o que tudo isso é
para eles. Mas isso basta para você? Desculpa tocar nesse assunto. Mas, você se lembra de como ficou quando o seu pai morreu? As lágrimas eram abundantes, mas não suficientes para expressar o seu abalo. Quantos jantares desmarcados. Quantas conversas adiadas. Ele era seu pai. Você o amava. Ele sabia disso, tenho certeza. Mas você não tem a certeza que eu tenho. Você queria ter feito mais. Rido com ele. Jogado conversa fora. Porém, o tempo lhe privou. O tempo te tirou momentos preciosos com o seu próprio pai. E você o deixa que o faça com os seus filhos, com os seus amigos e com você mesmo. Qual foi a última vez que foi à academia? Desfrutou de um almoço sem pressa? Presta atenção: O tempo que lhe priva é também o que te oferta. É artigo de luxo, não vou negar. Mas depende de você. Faça algo. Saia com os seus amigos. Vá jogar conversa fora. Não, não chore. Por favor. Não queria te magoar. Se eu quero sair para conversar hoje? Você está precisando de mim? Ow. Como eu gostaria. Mas eu tenho prazos. Vou sair tarde... sabe como é, preciso ganhar dinheiro. Fica para a próxima.
CAMILLA INOJOSA é colunista outubro de 2011 |
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Claudia Wasilewski
Consultoria
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ubliquei no meu blog alguns esclarecimentos para os homens sobre trabalhos da casa, associados à higiene. Infelizmente, destruí algumas fantasias. Vejam só: • O gelo não se faz por geração espontânea. • O papel higiênico quando acaba não se suicida para dentro do lixo e muito menos outro rolo vem saltitante substituí-lo. • O pano de pia e o de chão NÃO são a mesma coisa. Tipo, da mesma família. Muitos homens agradeceram, outros se mostraram surpresos com tais revelações e até me pediram a árvore genealógica dos paninhos. Somente um achou ruim. Se sentiu discriminado por mim. Tadinho! Depois de quase desenhar para explicar tudo isso, virei uma espécie de consultora. Desenvolvi a “Terapia do Tanque”. É excelente. Tira tensões e firma o músculo do tchau. É muito simples. Encha o tanque já com um pouco de sabão em pó para espumar bem. Se você não tem uma tábua de madeira, compre. O barulho de croc-croc é fundamental. Pense no seu, problema ou desafeto e mãos à obra. As duas mãos devem que segurar bem firme a roupa, porque caso escapem, a batida na madeira é tão violenta que pode ocasionar até desmaio. Eu já quebrei duas tábuas. Terapia de inúmeras vantagens, ainda mais para as mulheres que, na TPM, terão o mais branco puro nas roupas. Expliquei a terapia para meu criativo ami-
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go e cartunista Noviski, e ele, se vendo sem diarista e em véspera de viagem, recorreu a mim. Via Facebook. O que rendeu a bagatela de 85 comentários. Uma mobilização virtual para ajudá-lo. Algumas questões eram fundamentais. Noviski pergunta: — A roupa cinza, por exemplo: lavo com a preta ou com a branca? SOCORRO! ME AJUDEM! Respondi que era simples, dependia do tom. Esqueci que o cara é criativo e cartunista, então sabe tudo da escala de cores. Só não pensei que a criatividade fosse tão longe. — Clau, não me confunda! Consigo criar logomarcas, campanhas publicitárias, animações (2D e 3D), desenho de tudo um pouco, falo três idiomas... Não demorou muito, voltou com a solução. — Eu
Depois de tudo isso, fico com uma saudade imensa da professora de Educação para o Lar
passei minhas roupas cinzas no scanner, e abri no Photoshop. Medi a escala de cinza de cada uma delas. As com menos de 50% de tom de cinza eu lavei com as claras. As com 50% e acima com as escuras. Pronto! Mas nem tudo são bolhas de sabão e apareceram os problemas técnicos. — Agora a máquina está pulando feito uma cabrita! Acho que é a centrifugação! Aí entrei em pânico. Já imaginaram se pega fogo? Disparei: — Ficou com muita roupa de um lado só. Corra lá que quebra o eixo. Tempos depois voltou feliz contando que a máquina parecia um cadillac. Os outros amigos não o deixaram sozinho um minuto. Foi literalmente uma lavação de roupa. Solidariedade total à sua aventura. Só desisti mesmo de ajudar e comentar quando ele começou a grampear as roupas no varal. Essa é a pena de teorizar com alguém mais criativo que eu. Depois de tudo isso fico com uma saudade imensa da minha professora de Educação para o Lar do Divina Providência. Sim, tive essa matéria por lá. O que pensaria a Pro fessora Estael?
Claudia Wasilewski é empresária e cronista da Revista Ideias. claudiawas.blogspot.com
ÚLTIMAS DA MODA
por Paola De Orte
A Semana de Moda de Nova Iorque A
ntes, um desabafo. A moda não é para fúteis. Ao contrário do que pensam pseudo intelectuais, cujo passatempo preferido é vangloriar-se do fato de que não possuem televisão, a moda não é para idiotas, pessoas rasas, sem ideias. Rasos são os que não se importam, os que preferem a vida em um mundo feio, sem cores, em um mundo em que as mulheres vestem calças e sacos de batata. Se não se diz que as artes plásticas são para fúteis, por que acusam a moda? Insensíveis, nunca andaram em uma rua onde as mulheres se vestem bem, onde os tênis para corrida ficam restritos à academia, onde os homens usam camisas que vão além do azul e do branco. Eles querem viver em um mundo feio, mas eu não quero! Fica aqui meu manifesto.
I <3 Rodarte
Vena Cava Da mesma geração da
Alicia + Olivia
Jenny Packham Entre as bridal collections, destaque para a britânica Jenny Packham, que também estreou sua coleção por volta dos anos 2000 e, em Nova Iorque, apresentou coleção cheia de romantismo e delicadeza, sem esquecer a inovação.
E o charminho sixties da Alice+Olivia? Que loucura. Mais uma dupla newcomer que traz ao mundo da moda mais daquilo que todas as mulheres deveriam usar: saias e cintura marcada. Para as fãs de calça (suspiro!), um dos looks apresentados é um conjunto de cardigã e calça de alfaiataria bem comportadinho, mas cujas cores estilo color block são de emocionar e fazer palpitar os corações mais vintage.
dupla da Rodarte, as designers Sophie Buhai e Lisa Mayock, da Vena Cava, apresentaram uma coleção de cortes e cores impecáveis. Por mais que a inspiração seja os anos 1990, os traços superam de tal maneira os das saias compridas, vestidos coladinhos, calças “Saint Tropez” (ops! Agora se chamam calças flare) e bolsas comportadinhas daquela década (que por sinal, nunca esteve entre minhas referências preferidas) que a impressão que se tem é de que tudo é novo e nunca dantes visto. Ah! Vena Cava vende no site da Saks Fifth Avenue, que entrega no Brasil.
Meu e de Kate e Laura Mulleavy, da Rodarte. Parcialmente responsáveis pelo elogiadíssimo figurino de Cisne Negro, as irmãs fizeram sua estréia com a marca em 2005. Na apresentação da coleção Primavera 2012, na New York Fashion Week, arrasaram com uma série de vestidos inspirados nas telas de Van Gogh. Não fossem as estampas espetaculares, as peças já seriam dos mais belos desenhos deste ano. Acompanhando a silhueta feminina, os tecidos combinam com a atmosfera de delírio dos quadros do pintor. Até mesmo as pinceladas convolutas do holandês foram representadas nos plissados de saias cujas cores são facilmente reconhecíveis aos admiradores de Van Gogh. O resultado poderia ter sido apenas pedante, mas não é. A homenagem prestada faz jus ao artista.
Oscar de La Renta Para finalizar esses highlights da Semana de Moda de Nova Iorque e para não dizerem que eu só me importo com os novos estilistas, o que não seria verdade de maneira alguma, vale mencionar que a coleção Primavera 2012 de Oscar de la Renta tocou a fundo os meus sentimentos mais dezenovescos e burgueses. As peças apresentam tudo o que se espera do designer: valorização das formas, saias longas, rendas, cores e suntuosidade. Como sempre, fazem-me sonhar com castelos e uma nobreza dos tempos modernos. outubro de 2011 |
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ISABELA FRANÇA
É mais que elegante a Botica Granado – a primeira loja própria da centenária marca – inaugurada oficialmente no Shopping Crystal, em setembro. O ambiente retrô remete às velhas farmácias e o redesenho da marca e embalagens respeitou as características de seu produto mais famoso, o original polvilho antisséptico, hoje encontrado em embalagens coloridas e vibrantes. Balanças, almofarizes, armários e vitrines antigas levam o cliente a um passeio pelo século 19, quando a botica foi criada no centro do Rio de Janeiro pelo português José Antonio Coxito, que importava produtos da Europa e os manipulava com extratos vegetais da flora brasileira. A Granado de hoje, sob o comando de Christopher Freeman, incorporou a Phebo, outro ícone da perfumaria brasileira, e desenvolve linhas para modernos como Isabela Capeto, que tem uma linha própria, hotéis bacanas tais o Marina, do Rio de Janeiro, que oferece os produtos entre suas amenities. Em Curitiba, antes da loja, os produtos especiais da Granado já estavam nas vitrines do Vimax, o salão das curitibanas bem nascidas.
Kraw Penas
R$ 5 milhões
Junior Durski recebe pelo segundo ano consecutivo o título de Melhor Carta de Vinhos do Brasil pelo Guia Brasil 4 Rodas. Prêmio merecido. A adega blindada do Restaurante Durski tem três andares e mais de cinco milhões de reais em rótulos. 72
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Divulgação
Botica Chic
Brasileiro é tão legal Em meio aos escândalos envolvendo verbas públicas do Turismo, que culminou com a queda do ministro, os novos ocupantes da pasta tiveram que se virar atrás de boas notícias para a ressaca do período. Saíram-se com a seguinte: nós, brasileiros, fomos eleitos o segundo povo “mais legal” do mundo de acordo com recente pesquisa realizada pela rede social Badoo.com. O levantamento foi feito em 15 países e teve a participação de 30 mil pessoas. Perdemos para os norte-americanos. Já entre os “menos legais”, segundo a mesma notícia, ficaram os belgas e poloneses. E daí?
Patrícia Klemtz divulgação
(des) Cortesia Nada pode ser mais grosseiro do que um homem que não ajuda uma mulher. É cada vez mais comum ver homens engravatados, parecendo elegantes, prostrados nas esteiras de bagagem dos aeroportos permanecerem feito estátuas ao lado de senhoras fazendo uma força hercúlea para tirar suas malas do carrossel. Se soubessem o quanto ficariam bem na foto se colaborassem com a retirada, ou pelo menos, fizessem menção a, mudariam de comportamento rapidinho.
Sangue Novo A jovem tributarista curitibana Letícia Mary Fernandes do Amaral, de volta a Curitiba após longa temporada em São Paulo, está pilotando um interessante processo de posicionamento do escritório Amaral Advogados Associados, comandado por seu pai, o advogado tributarista Gilberto Amaral. Com larga experiência na área de governança empresarial, a banca transforma-se numa das principais do Sul do País em consultoria jurídica e tributária para alianças estratégicas. Por sua iniciativa, em setembro, um grupo de cerca de 20 advogados do escritório e parceiros lançaram em São Paulo, pela Lex Magister, o “Guia Prático Alianças Estratégicas com Empresas Brasileiras: uma visão legal”, coordenado por Gilberto, Letícia e Milene Regina Amoriello. Em breve, a obra terá noite de autógrafos em Curitiba.
Radical Conta Rafael Giublin que o novo hype da neve é o golfe. Desde 1997 anualmente acontece o Campeonato Mundial de Golfe no Gelo e, em 2007, aconteceu o Campeonato Mundial de Golfe na Neve. O mais curioso, porém, é que o esporte, assim como o esqui e o snowboard, é considerado um esporte radical. Há quatro campos famosos no planeta: Uummannaq, na Groenlândia; St. Mortiz, na Suíça; Obertauern, nos Alpes; e, St.-Catherine-de-la-Jacques-Cartier, em Québec, no Canadá. As mudanças, em relação ao golfe convencional não seriam muitas. Joga-se apenas 9 buracos, em vez dos tradicionais 18, não há carrinhos, por questões de segurança, os jogadores levam menos tacos na sacola e usam roupas apropriadas, obviamente. Ah! É claro: as bolinhas são vermelhas ou alaranjadas. outubro de 2011 |
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ISABELA FRANÇA
Jazz D
e 28 de setembro a 2 de outubro, músicos de diversas origens e tendências combinaram seus talentos e encantaram plateias formadas por apreciadores de jazz. A programação foi aberta no Teatro Positivo pelo duo do pianista Uli Lenz (Alemanha) e do saxofonista François Jeanneau (França), com a participação do Mano a Mano Trio, tendo Glauco Solter no contrabaixo, Sérgio Albach ao clarinete e Vina Lacerda na percussão. O Jazz Meeting Ensemble, por sua vez, reuniu Jean Pierre Zanella ao saxofone com 15 músicos, sob a direção do pianista André Dequech. no Guairão. No Guairão, César Camargo Mariano apresentou um concerto de piano. Sob a regência de Wolfgang Diefenbach, a Hessen Youth Jazz Orchestra (Alemanha) encerrou o evento em alto estilo, com a participação do guitarrista brasileiro Nelson Faria.
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Jazz 2 A espontaneidade e a inovação experimental características do gênero se fizeram sentir no workshop de jazz para estudantes e profissionais de música realizado no auditório da Secretaria de Estado da Cultura, quando saxofone, piano e violão mostraram sua vitalidade e capacidade para subverter toda e qualquer situação estabelecida. Esta foi a quarta edição do Curitiba Jazz Meeting, que já entrou para o calendário cultural da cidade, sob a direção de André Geraissati e produção de Mirna Dequech.
Gilson Camargo
DNA
Ana de Hollanda, Ministra da Cultura, esteve em Curitiba no mês passado e embora tenha sido breve a sua passagem pela cidade mostrou que está na função certa. Entende e gosta do que faz. Veio para a abertura da 6ª VentoSul - Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba, um dos maiores eventos de arte contemporânea da América Latina, que acontece no Museu Oscar Niemeyer até 20 de novembro, promovido pela marchand Luciana Pereira. Entre a abertura do evento e um jantar com autoridades e personalidades do meio artistico e cultura, Ana pediu para conhecer o Solar do Barão. Como a visita não estava no cronograma, os funcionários da Fundação Cultural de Curitiba, responsável pelo espaço, tiveram que rebolar para garantir a devida formalidade que situação exigia. Extremamente delicada e discreta, percorreu as salas do casarão, fez perguntas pertinentes mostrando-se interessada pela cultura local e saiu satisfeita.
Filho de peixe
A
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designer de joias Nádia Geara - filha de Celine Geara desde os 15 anos cria peças numa linha mais pop e acabou sendo a dona da linha de prata da joalheria. Depois de lançar com muito sucesso a coleção “Live and Love”, com peças que encantaram as clientes adolescentes e outras não tão jovens, mês passado apresentou a linha “Fly”. São peças com movimento, pequenas asas, corujas e caveiras. Estas, grande sucesso da coleção anterior e que nesta vêm ainda mais elaboradas. Pedras coloridas, leveza e ousadia são a marca registrada da artista. Formada em Administração de Empresas, além de assinar as peças de prata, Nádia é a responsável pela pesquisa de tendências, acompanha Celine às feiras internacionais e cuida da imagem do elegante endereço do Shopping Crystal. outubro de 2011 |
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BALACOBACO
por Thais kaniak
Belga tupiniquim Conheci a Stella em Londres. A belga. Era uma das preferidas para mim e minhas inseparáveis amigas da vida londrina. De uns anos para cá, a stella artois começou a ser produzida em território tupiniquim. Agora tem até bar. A cerveja que teve sua origem no ano de 1366 em Leuven, na Bélgica, passa a ter endereço em Curitiba. Cervejeiros e adeptos do happy hour têm uma nova opção de lugar para degustar a cobiçada bebida.
João Mauricio de Miranda com a namorada, a gerente de Marketing Corporativo da Rede slaviero Hotéis, Danielle Babinski Faé, e o proprietário da Trattoria Boulevard andersen Prado
Melhor italiano
João Cunha da Renault, ao lado de Mariana Mendonça (esq.), do Pestana Rio de Janeiro, e Mariana Gualberto, do Pestana Curitiba Hotel
Um jantar de confraternização comemorou a conquista do Prêmio Veja Curitiba 2011. A Trattoria Boulevard levou o título de melhor restaurante italiano da cidade. Atendimento de primeira. Aperitivos, entrada, prato principal e sobremesa foram degustados pelos convidados. Os não simpatizantes de carne de cordeiro pularam o prato principal: ravioli recheado. Meu caso. Felizmente não faltou espumante. Espanhol. Ótima pedida. A estudante de Gastronomia Veridiane Sirota com Leandro de Lima, representante comercial da Vins de France, e o auxiliar administrativo do restaurante, Lucas Catafesta Citon
Humberto Fernandes, do HSBC, Alexandre Marques e Joaquim Gomes, da Exxon Mobil
Amarildo Henning
O presidente da Link Monitoramento Silvio Torres com a esposa Val Ruon Torres
Geison Oliveira, do Pestana Curitiba Hotel, com os executivos do Bradesco Igor Gomes, Volnei Wulff, Cesar Wulff e Edinei Oliveira
Diego Pisante
Roberto Rotter, diretor-presidente do Comitê Executivo de Gestão, o administrador Pedro Reimão e Paulo Dias, diretor comercial do Grupo Pestana Brasil
O coordenador de marketing da loja Procorrer andré Camlot e a namorada Diana axelrud
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O casal Andersen Prado e Selma Tonatto do Prado
A equipe do Pestana Curitiba Hotel: Mariana Albuquerque, Hernán Saucedo, Chef Marcelo Nogueira e Vivian Zimovski, gerente regional de vendas
Os executivos da Ambev, Marcos Ávila, Flavianna Rocha de Araujo e Renato Lassmann El Kobbi. Raquel Gregório com Hernán Saucedo, gerente geral do Pestana Curitiba Hotel
thais@revistaideias.com.br
Verônica em Curitiba
As deliciosas sobremesas
Verônica Blume é essa loira de 1,75 m de altura e uma incomum sensualidade que fez dela modelo e atriz. Filha de pai alemão e mãe do Uruguai, foi a vencedora da edição de 1993 do Ford Supermodel Of The World Award. Como atriz, trabalhou na série da TV americana Out of the Blue. Nasceu na Alemanha mas se considera espanhola. Latina. Verônica passou por aqui no inicio de setembro. Visitou amigos que fez na Espanha antes de ir ao Uruguai ver os parentes do lado materno. Não quis divulgação. Veio para descansar, curtir os amigos, especialmente um, que também pede para não ser revelado.
Diversão com leveza Motos Harley-Davidson customizadas. Country music e rock primitivo da banda nativa Hillbilly Rawhide. Noite divertida. A segunda edição da Confraria Nextel foi animada. O Café Dobrucki recebeu os convidados. Quase todos a caráter. Eu que de harleyra não tenho nada, tentei me camuflar numa jaqueta de couro preta. Mas meus acessórios coloridos me entregaram.
Livia de Olanda com o pai Renato Cavalher, diretor geral de criação do Grupo OM
Diretor da Nextel José Carlos, Célio Dobrucki e Maria Dobrucki (mãe do Célio)
Um painel foi montado para os presentes serem fotografados como se estivessem em um deserto. E sem essa de foto digital. Cada um saiu com a sua impressa. A minha está no porta-retrato na sala de casa. Pedindo carona. Evento agradável. Em que as pessoas são o que são. Sem pose. Gente solta. Leve. Adorei.
Marçal e Camila Mainetti, dona da Cabral Motor
Fabiano Guma / BelPress
Divulgação
Sergio Goloubeff, Cristina Voswinckel, Fátima Serezi, Célio Dobrucki e Roger Pedroso
Fátima Serezi, dona de revenda Harley-Davidson, a fotógrafa Angelita Muxfeldt e Paulo Lobo, da Nextel
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BALACOBACO
por Thais kaniak
Willian Kovaliu
Mulheres contemporâneas
Show de lançamento do primeiro disco de Jô Nunes
Antonio More
as irmãs e sócias da Farofa Chic, Evelin (esq.) e Fabíola de Queiroz e Camila de Queiroz Massa (em pé) O frio não era esperado. Mas se tratando de Curitiba ele é bem provável. Quase sempre. Na região taxada como a mais charmosa da cidade, a Farofa Chic abriu as portas. A ideia é vestir mulheres contemporâneas e independentes. Eu que adoro camisetas, simpatizei com várias. Gosto do colorido, transparência, renda e couro. Já os paetês e bordados, pulo. Não faltam opções – para todos os gostos.
Roberta Lemos, Mariana May e Juliana Marcheoro
Alessandra Burbello e a modelo Luiza Chiminacio
Alessandra Back e Ana Paula Pellegrinello
“Às vezes me dá enjoo de gente. Depois passa e fico de novo toda curiosa e atenta. E é só.” Clarice Lispector 78
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Eles passarão, eu passarinho Em uma das minhas idas à Sociedade 13 de Maio em busca de um bom samba, tive uma surpresa. Jô Nunes. Paranaense. Cantora e compositora. Seu primeiro disco leva o nome de Passarinha. São 13 canções em que ela se descobriu como compositora. Eu descobri a versão compositora no YouTube. Vídeos gravados na Praça da Espanha. Logo depois, deparei-me com um enorme cartaz que anunciava o show de lançamento do CD, no Sesc da Esquina. Esse perdi. Mas acredito que não irão faltar oportunidades de sambar com Jô Nunes.
Arte no terminal
Só se vê bem com o coração Em “O Pequeno Príncipe”, Antoine de Saint-Exupéry já considerava que o essencial é invisível aos olhos. Mas uma série de coisas não é invisível aos nossos olhos. Talvez por ser supérfluo. Banal. O fato é que tem coisa que é impossível não enxergar. Não passa batido. Exagero. Mau gosto. Cafonice. Vi algumas amostras no coquetel de lançamento do City Centro Cívico. Claro que não só isso. Também vi exemplos que agradariam Costanza Pascolato.
A atriz Maria Fernanda Cândido
O empreendimento é interessante. Quatro modelos decorados ilustram o que está por vir. Tanto para quem quer morar como para quem pretende trabalhar. As unidades disponíveis serão residenciais, corporativas e multimodulares.
Seme Raad Filho, diretor da Incorporadora Monarca
Karina Lago Raad; o produtor de eventos Marcos Soares; e as irmãs Adriana e Analia Raad, sócias da Incorporadora Monarca
Gosto do conceito de intervenção urbana. É a arte para o povo. Sem segmentação. Sem elitização. Manifestação artística de maneira interativa com a sociedade. Fora das paredes dos museus, galerias e afins.
Vitor Wjuniski, sócio-diretor da Construtora Stuhlberger; Seme Raad Filho, diretor da Incorporadora Monarca; e o empresário Sidney Axelrud
Amarildo Henning
Deividi R.
Esta é a proposta de Marciel Conrado na 6ª Ventosul Bienal de Curitiba. O artista gráfico em parceria com o músico e artista plástico Jonas Lopes irá pintar toda a extensão da travessia subterrânea do terminal do Hauer. O projeto toma forma neste mês de outubro. Para a inauguração, ainda sem data marcada, coquetel às 7 horas da manhã. Nada de espumante. Café fumegante, pão com mortadela e arte para a população que usa o transporte coletivo.
A arquiteta Lúcia Wjuniski, responsável pelos decorados do City Centro cívico, entre Eduarda Soldera, gerente de produtos da Construtora Stuhlberger, e Ana Paula Lozano, assistente de marketing da Construtora Stuhlberger outubro de 2011 |
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Cartas
Escreva para cartas@revistaideias.com.br REVISTA
REVISTA IDEIAS
MOHAMED MESSARA/EFE
Prezado Fábio, Tenho, em mãos, a última versão de Ideias e percebi, na primeira leitura, como a revista está, progressivamente, mantendo não só a regularidade de publicação mas, também – o que é muito importante, - a qualidade de seu conteúdo. Variado, dinâmico, atual, crítico, erudito, informativo e identificado com a gente e as coisas paranaenses. A grande diversidade de assuntos e a excelente qualidade dos artigos, reportagens e outras matérias não permite que se faça a separação entre o que se está lendo, o que se vai ler e o que não interessa ler, assim como ocorre com os jornais. Principalmente quando o vezo de repassar o que já se disse em outros impressos, no rádio e na televisão procura nos impor uma espécie de redução da alta estima porque não somos capazes de devorar a menor parte da carga oceânica que seus alentados cadernos produzem. Ideias é a síntese inteligente e bem humorada do que está acontecendo na cidade, no Estado, no Brasil, no mundo. Meus parabéns a você e a toda a equipe de produção a aos diversos colaboradores. René Ariel Dotti Professor e advogado
JAIME LERNER Querido Jaime, Você sempre foi meu particular “ídolo” de inteligência, sutileza, sabedoria e “savoir faire”. O planeta ficou pobre e é uma alegria confortante ler suas considerações. Que delícia, minha mente e alma agradecem. Malala
A MÚSICA ACONTECE AGORA Ficou bem legal a matéria. Achei bacana envolver as Diabatz, ajudando a reforçar a opinião sobre a cena musical local, e elas também expondo um pouco sobre a cena musical no exterior. Muito obrigado pelo espaço. Raphael Janzen (Castor) Ribas on the Rocks
Valeu pela matéria e obrigado pela lembrança! Aliás, a revista está muito boa, parabéns para a equipe! Sérgio Albach
EDITOR-CHEFE Fábio Campana CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo REDAÇÃO Aline Presa, Aroldo Murá G. Haygert, Demetrio Albuquerque, Karen Fukushima, Mara Cornelsen, Marisol Vieira, Raffaela Ortis, Sarah Corazza, Thais Kaniak COLUNISTAS Carlos Alberto Pessôa, Camilla Inojosa, Claudia Wasilewski, Ernani Buchmann, Isabela França, Izabel Campana, Jaime Lerner, Jussara Voss, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Marcio Renato dos Santos, Paola de Orte, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Rubens Campana DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer TRATAMENTO DE IMAGEM Beatriz Bini Carmen Lucia Solheid Kremer FOTO DA CAPA Henrique Karan PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Clarissa M. Menini, Katiane Cabral e Luigi Camargo
O SAMBA DO UCRANIANO DOIDO Parabéns pela matéria! Muito legal mesmo. Bem completa, inteligente e exprime a realidade. Igor e Denise Donos do Barbaran
Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 120 – R$ 10,00 ideias@revistaideias.com.br revistaideias.com.br facebook.com/revistaideias twitter@revistaideias
DIRETORA FINANCEIRA Clarissa M. Menini
VENTO DE LIBERDADE NO ISLÃ Perdoe-me por contrariá-lo, mas sou de origem árabe e sei que os meus patrícios querem tudo, só não querem democracia. Nós ocidentais não entendemos a mentalidade dos orientais, eles põe a religião sempre em primeiro lugar, bem do jeitão iraniano, o que conta é a sharia, a democracia vem depois, depois e conforme a sharia. Então não se engane. Os orientais têm um modo totalmente diferente do nosso, eles já eram civilizados quando a Europa era habitada por tribos nômades. Este é o nosso problema. Nos achamos no direito de dizer às antigas civilizações “façam como nós”, só porque queremos que eles nos imitem. Tony
A IDADE DO BESTEIROL Concordo plenamente e assino em baixo. Pensava nisso sem conseguir verbalizar. Parabéns pelo texto. Lontrax Adorei a crônica! O conteúdo é tudo
que penso. Obrigada por colocar na mídia seu inteligente texto, pois só através de pessoas como você que fazemos reproduzir o pensamento de pobres mortais que somos. A minoria nessa sociedade consumista e pobre intelectualmente. Inês Pompeu
CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Marianna Camargo, Paola De Orte, Rubens Campana PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br ONDE ENCONTRAR Banca do Batel • Banca Boca Maldita • Banca da Praça Espanha • Fnac — Shopping Barigui • Revistaria do Maninho • Revistaria Quiosque do Saber — Angeloni • Banca Presentes Cotegipe — Mercado Municipal • Livrarias Ghignone • Banca Bom Jesus • Revistaria Itália
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