R$ 10,00 nº 113 ano VI www.revistaideias.com.br
mar 2011
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Política, Economia & Cultura do Paraná
a casa
caiu O novo presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Valdir Rossoni, comanda a maior faxina da história da Casa
REpoRtagEm Curitibanos aderem ao swing EntREViSta gleisi Hoffmann CultuRa o paradoxo do teatro
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Editorial Fábio Campana
V
aldir Rossoni quebrou uma tradição.
Surpreendeu meio mundo com a devassa na Assembleia Legislativa e a mudança nos costumes do parlamento. Rossoni é novidade. Os deputados desta área do planeta jamais se distinguiram pelo arrojo. Entra década, sai década, estavam sempre na crista da onda. Certamente eles atribuem à prudência a sua longa vida política e a do sistema que representam, mesmo quando, aparentemente, não fazem parte dele. Nesta perspectiva vale analisar a resistência da maioria dos políticos às medidas de Rossoni. Em nome do bom senso e cordialidade a maioria pede calma enquanto a sociedade aplaude o fim de privilégios e das falcatruas correspondentes. Pois, pois, há sinais de mudanças. Logo Valdir Rossoni, tido como político conservador, avesso aos espalhafatos, faz as transformações que o PMDB anunciou durante 30
anos, com bumbos e trombones, e jamais cumpriu. E fez sem os alardes típicos dos marqueteiros da paróquia. O que é bom e não deixa de ser outro sinal de mudança. Para melhor. Vivemos um momento de revelação. As instituições políticas são frágeis. Faltam partidos ideologicamente definidos e modernamente concebidos, conforme se demonstra até pelo fato de que os adversários de Beto Richa durante a campanha já aderiram em massa ao Beto Richa governador, pois não conseguem viver de outra maneira que não seja à sombra do Palácio e na expectativa de uma verba pública para alimentar a sua base eleitoral. O importante é que a Assembleia desta vez se submeteu ao clamor das ruas, aos maus bofes da população que deixou de tolerar a política de baixo clero, do cinismo do toma lá, dá cá, e se alegra com a notícia de que pintou no pedaço alguém com ousadia e coragem, coisa rara entre os políticos nativos.
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nesta eDição
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ÍnDice
A casa caiu 18 Fábio Campana Entrevista com Gleisi Hoffmann 28 Marianna Camargo Não agite! 36 Fábio Campana Zombie Walk 38 Karla Gohr Curitibanos fazem swing 40 Karen Fukushima Arte no Itamaraty 51 Marianna Camargo O paradoxo do teatro em Curitiba 56 Thais Kaniak
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Luiz Geraldo Mazza 17 Riscos da conciliação Luiz Fernando Pereira 26 As Assembleias Legislativas Fábio Campana 30 Dor de cotovelo
seção
colunistas
Rogerio Distefano 09 Alfredo na certidão, augusto na vida
Editorial 03 Curtas 06 Frases 08 Gente Fina 12 Câmara dos Vereadores 31 Paraná Pesquisas 37 Ensaio Fotográfico 46
Carlos Alberto Pessôa 33 Obra da nossa boa direita
Prateleira 63
Arlete Bastos Pequeno 39 O riscos das profecias
Cartas/expediente 77
Balacobaco 72
Solda 53 Solda por Jamil Snege Marianna Camargo 54 A escolha dos talheres Izabel Campana 55 Hoje não. Amanhã. Vicente Ferreira 60 Nosso único prato nativo Luiz Carlos Zanoni 62 Uvas maduras Camilla Inojosa 66 Paris me incomoda Isabela França 68 Claudia Wasilewski 76 Como as coisas acontecem
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Pryscila Vieira 78 Humor
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CuRtaS
investimento Violência Uma das piores heranças que o governo passado deixou foi a questão da segurança pública. Os índices de homicídio do Paraná estão três vezes maiores que os de São Paulo.
O presidente da Sanepar, Fernando Ghignone, anunciou no dia 16 de fevereiro, em Maringá, que a empresa tem R$ 75 milhões assegurados no planejamento estratégico para investimentos no município nos próximos três anos. O investimento deve ampliar a rede de atendimento de esgoto para 96,29%.
aposentadoria
Átila Alberti
A Secretaria da Administração e da Previdência do Paraná informou no dia 17 de fevereiro que foi cancelada a aposentadoria especial de ex-governador do senador Alvaro Dias (PSDB). A decisão foi tomada com base no parecer da Procuradoria-Geral do Estado, que recomendou a suspensão do pagamento de R$ 24 mil por mês, feito desde novembro do ano passado, por considerar que a aposentadoria especial foi requerida fora do prazo legal de cinco anos. Alvaro governou o Paraná até 1991, mas só pediu aposentadoria em outubro de 2010.
aposentadoria ii Fabio Pazzebo/ABr
possíveis candidatos
A ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, deu despacho negando pedido feito pela OAB nacional contra as pensões recebidas pelas viúvas de deputados estaduais paranaenses. A OAB pediu que a ação fosse incluída no processo que já move contra as aposentadorias de ex-governadores. Ellen Gracie, no entanto, diz que se trata de leis diferentes e que não poderia aceitar a inclusão das viúvas na Ação Direta de Inconstitucionalidade.
Recordista Caso o cacique do PMDB, Doático Santos, deixe o cargo de presidência do partido, dois nomes já aparecem como possíveis candidatos. Os deputados Alexandre Curi e Reinhold Stephanes Junior.
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O Paraná apresenta um recorde do qual não nos orgulhamos. Com a inclusão de Orlando Pessuti (PMDB), o número de ex-governadores recebendo aposentadorias vitalícias no Paraná passou para dez. Número que transforma o Paraná em recordista em pensões pagas a ex-governadores.
Saúde
Divulgação/AEN
O governador Beto Richa liberou, no dia 18 de fevereiro, R$ 4,2 milhões para pagamento de dívidas com prestadores de serviços, convênios com hospitais filantrópicos e fornecedores da área da saúde. Dos R$ 53 milhões em dívidas herdadas pela nova gestão, o governo já quitou perto de R$ 19 milhões e, na próxima semana, mais R$ 6 milhões devem ser liberados. “Trabalhamos para quitar o restante o mais rápido possível”, afirmou o secretário da Saúde, Michele Caputo Neto.
Irregularidades
Defesa Caso Carli A defesa do ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho apresentou ao Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) dez argumentos de defesa. Entre eles, os advogados alegam que o ex-deputado tinha a preferencial no cruzamento e que sua carteira de habilitação não estava suspensa.
Resposta O advogado de acusação, Elias Mattar Assad, disse que os argumentos apresentados pela defesa são inconsistentes. Ele espera que o TJ-PR mantenha a decisão do juiz e com isso Carli Filho seja julgado por duplo homicídio com dolo eventual, quando o acusado assume os riscos de suas ações. A pena varia entre 12 e 30 anos e o regime inicial fechado.
Devolução A Igreja Assembleia de Deus no Paraná foi condenada, pelo Tribunal de Contas do Estado, a devolver 110 mil reais aos cofres públicos. Segundo a decisão plenária, a entidade não teria aplicado o dinheiro em um convênio para a construção de um centro de psicologia universitário.
Relatório da inspetoria-geral de controle do Tribunal de Contas do Paraná (TC) revela que a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) cometeu 57 irregularidades em 2004. Na época, os dois portos eram comandados por Eduardo Requião – irmão do senador e ex-governador Roberto Requião (PMDB).
Encontro O Palácio do Planalto confirmou no dia 15 de fevereiro que o encontro da presidente Dilma Rousseff com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acontecerá no sábado, 19 de março, em Brasília.
Punição Os dois deputados do PT que votaram a favor do salário mínimo de R$ 560, contra a orientação do governo e do partido, devem sofrer punições dentro da bancada. De acordo com o líder petista na Câmara, Paulo Teixeira (SP), haverá “repercussões” contra Eudes Xavier (PT-CE) e Francisco Praciano (PT-AM). “A situação dos deputados terá repercussão. A bancada vai discutir qual mecanismo será adotado”, disse Teixeira. março de 2011 |
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FRASES
“
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Um governo que assume dando ordens ao Congresso Nacional traz consigo um viés autoritário, não é bom para a democracia
Estamos vivendo para pagar gastos e dívidas. O Paraná é um Estado de médio porte engolido pela própria máquina, com baixíssima capacidade de investimento
”
”
O senador tucano Aécio Neves acusando a presidente Dilma Rousseff de ser autoritária.
O secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, ao analisar os motivos pelos quais a arrecadação do ICMS não acompanha o crescimento do Paraná.
“
Por que não criar o Ministério dos falidos? Das grandes empresas? Dos mercenários? Dos clubes de Futebol? Aonde vamos parar?
”
E continuou:
“
Falar em cortes e criar ministério é o supra sumo da incoerência
“
Aqui no Senado não será 100%. Eu provavelmente vou votar num salário com hipótese um pouco melhor
”
Avisa Roberto Requião sobre o valor de R$ 545,00 defendido pelo governo.
José Dirceu afirmou em seu blog que a imprensa já “condenou” os réus do processo do mensalão (Ação Penal 470) e que “não reconhece e não aceita nem a presunção da inocência nem o direito de defesa”.
“
Pior, faz sofisma: transforma a condenação moral em banimento da , acrescentou vida política e social
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”
O senador Alvaro Dias criticando a criação do Ministério para Pequena e Média Empresa pela presidente Dilma Rousseff.
”
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Presidência do PMDB de Curitiba não é cargo. É encargo. Fazer política na capital como dirigente de um partido popular como o nosso é muito difícil
”
Frase do twitter do presidente do PMDB de Curitiba, Doático Santos, que já admite deixar o cargo.
Rogerio Distefano Advogado
Alfredo
na certidão, augusto na vida
A
lhures escrevi sobre ele e alguém perguntou “não seria César Augusto?” Deu vontade de responder “augusto é a mãe”; daí lembrei que desde o primeiro imperador romano os césares plebeus teimam em ser augustos. Meu personagem tem outro nome — César Alfredo, de sobrenome Pusch Kubiak. Os leitores da Ideias fiquem sabendo que o doutor César Kubiak vem a ser médico de Jaime Lerner, estrela desta Revista, e deste escrevinhador, aqui por mero favor ou extremo descuido do editor. Nosso César é Alfredo na certidão, mas poucos são augustos como ele. César nasceu plebeu em Ponta Grossa, na época Princesa dos Campos. Quem vem de lá sempre traz um leve ranço aristocrático — e o ‘r’que se forma bem atrás do palato, a primeira coisa que os pontagrossenses começam a disfarçar ali na Serra do Purunã. Dizem que esse ‘r’ de dobra dupla vem dos poloneses que colonizaram a região. O doutor César perdeu o ‘r’, porém conservou o brilho que herdou do avô polonês, o professor Zenóbio Kubiak. O velho Kubiak fez fama na música e formou gerações de musicistas em Ponta Grossa. Poucos conheceram dele o poliglota que falava francês, russo e alemão e se correspondia com pensadores europeus da primeira metade do século XX, entre outros Thomas Mann, Max Baer, este o amigo, biógrafo e inventariante literário
de Franz Kafka. Professor Kubiak era o homem da vasta biblioteca e equivalente discoteca. Ouvi isso de meu avô, na juventude carteiro em Ponta Grossa e amigo do professor Zenóbio. Conferi com o neto e este desconversou. Nosso bom doutor Kubiak tem o defeito da modéstia. César Kubiak escolheu a mais difícil prática médica, a clínica geral.
Subarus; o primeiro dos hobbies a pescaria, o terceiro as canetas Parker. Não vou dizer que César Kubiak está isento de defeitos. Conheço-lhe dois, e sérios. Como falar de pescaria para clientes urbanos, que tremem só de pensar no grupo de homens isolados uma semana em rio ermo, bebendo, comendo e conversando fiado, sem fazer barba e com banhos irregulares — e encontram prazer nisso. Outro problema está no consultório, coalhado de revistas femininas — há um padrão de comportamento entre médicos bem-sucedidos, pelo qual as mulheres assinam as revistas chatas e despejam na sala de espera. As mulheres dos clientes têm certas reservas com o doutor Kubiak. Com o tempo ele se torna algo cúmplice dos maridos — conhece bem a circunstância histórico-existencial da condição marital. Isso cria situações curiosas, jamais embaraçosas: a mulher confere a consulta do marido durante sua consulta com o doutor Kubiak — que também se fez fruto bendito entre as mulheres. Não compreendem gentilezas viris, como quando o bom doutor presenteia o cliente com raras aguardentes goianas. Queria um fecho impactante nestas linhas. Não consigo. Se fizer isso nem César vai conseguir me olhar na próxima consulta, nem eu terei coragem de tirar a roupa na frente dele.
César é Alfredo na certidão, mas poucos são augustos como ele Quando chego para a consulta me lembro de A. J. Cronin e de Joseph Bell, dois médicos escoceses, o primeiro que fez romances com dramas médicos e o outro que inspirou outro médico, Arthur Conan Doyle, na montagem de Sherlock Holmes, o gênio da dedução. Uma consulta com César tem dois momentos, o humanista e o dedutivo. Num, César nos examina como seres sagrados, no segundo, didaticamente nos desmonta e mostra como está a máquina que carregamos conosco. Não é gratuita a imagem do organismo-máquina que o doutor Kubiak nos apresenta em consultas que se transformam em palestras ricas e interessantes. Digo isso porque César Kubiak entende de máquinas, de automóvel especificamente, pois pagou seu ginásio e parte do curso científico trabalhando como mecânico da Servopa — seu segundo hobby é apertar, reapertar, montar e desmontar seus
Rogerio Distefano é advogado e colunista da Revista Ideias. Leia mais: www.maxblog.com.br
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gente FINA
Talentosa Flávia Os talentos de Flávia Mormul são diversos. Conheci-a como modelo fotográfico, bela, elegante, fotogênica. Fotografei-a uma vez e depois pedi várias vezes bis. Formada em design, dedicou-se ao design gráfico, web, criação de logomarcas, catálogos e folders. Talentosa e inquieta girou a sua mira para outros alvos: a moda.
Dico Kremer
Lançou a marca Anyl com a criação de biquinis e maiôs com design moderno e arrojado. A empresária Flávia já está no seu terceiro ano de sucesso. Vale a pena conhecer o trabalho que faz no site www.anyl.com.br.
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Dico Kremer
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gente FINA Daniel Sorrentino
O teatro prêt-à-porter de Leandro Knopfholz Leandro Knopfholz nunca fez teatro, nunca teve
contato com o meio, nunca fez nenhum curso ou coisa que o valha. Porém, Leandro assina o maior festival de teatro do país, o Festival de Curitiba, que chega este ano à vigésima edição. Projeto que extrapolou barreiras e inseriu Curitiba no contexto cênico brasileiro, até então restrito às cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Ao longo desses 20 anos, foram mais de 2.800 espetáculos, muitos deles lançados no Festival para depois percorrem as principais cidades do país, e um público que seguramente ultrapassa a 1,6 milhão de pessoas impactadas pelo evento. Aos amigos, até hoje, Leandro confessa que foi uma atitude ousada, sobretudo quando se imagina chegar aos patrocinadores e aos grandes mestres do teatro brasileiro para apresentar o Festival de Curitiba. Tímido, com sorriso leve, Leandro acredita que trilhou o rumo certo e diz que a filosofia é a mesma de 1992. “Reunimos na cidade, por cerca de 10 dias, o que existe de mais criativo, inovador, instigante e polêmico. O Festival de Curitiba lança tendências do que virá no segmento de cultura e entretenimento”, afirma Leandro. Sem qualquer modéstia, ele compara o Festival de Curitiba às disputadas semanas de moda de Paris. “Somos o prêt-à-porter da cultura teatral brasileira”, brinca. março de 2011 |
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gente FINA
a fera é bela
Em pouco tempo, Joice Hasselmann passou a ser uma das vozes mais conhecidas de Curitiba. Seu programa na rádio Band News constrange políticos com perguntas que os deixam de saia justa. A agilidade mental de Joice já levou deputado a ficar mudo diante do microfone.
Joice não é apenas uma voz que consegue ser doce e firme ao mesmo tempo. É também essa beleza toda na foto. A fera é bela, como se vê.
Divulgação
Mas eles não perdem a oportunidade da entrevista. A audiência é grande e o comentário ao vivo sobre a sua ausência ou recusa pode ser pior do que as perguntas que não gostariam de responder.
Simone Stoiani Nercolini é formada em Direito. No mesmo ano
que iniciou o curso, em 1992, nasceu seu filho, Filipe, que está com 18 anos. Assim que se formou, especializou-se em Direito Securitário, Responsabilidade Civil e Direito do Consumidor.
Feliz Simone
Em 2005, foi atrás do sonho de ser atriz e iniciou o curso de interpretação teatral com o ator e diretor Mauro Zanatta, no Clube Curitibano.
Kid Azevedo
Fez a primeira peça: “O Corcunda de Notre Dame”, texto de Enéas Lour, direção do saudoso Mario Schoemberger. No elenco, grandes atores paranaenses, como Gilda Elisa Basso, Enéas Lour, Mauro Zanatta, Ranieri Gonzales, Michelle Pucci, Marino Junior e Mario Schoemberger. Depois fez, com direção de Zanatta, mais uma montagem de esquetes e monólogos, chamada “Contos e Crônicas Curitibanas”. Participou de mais sete peças. Além disso, faz comerciais e fotos publicitárias.
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Entre a profissão de advogada e atriz, ficou com ambas. E exerce as duas com a mesma disposição e bom humor. | março de 2011
gente FINA Multicultural Odilon
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Odilon Merlin é formado em Artes
Cênicas e fez sete anos de teatro. Depois, teve a lendária Temptation Discos por 11 anos, loja que virou um selo e lançou diversas coletâneas de bandas curitibanas e relançou em 95 a discografia completa dos Mutantes. Nesta mesma época, começou a produzir shows de bandas independentes, como as internacionais Fugazi, Man or Astroman, Mudhoney, entre outras. Em 2000, inaugurou o espaço cultural “Era só o que faltava” a primeira casa com conceito multifuncional no Paraná. Bolou o Risorama, maior evento de humor do Brasil. E, mais tarde, a Sandwicheria República, um legítimo boteco curitibano, sem frescuras, sem afetações. Um bar de comida e bebida boa a preço honesto. Foi eleito em outubro do ano passado diretor cultural do Clube Curitibano com a missão de revitalizar o departamento com eventos e produções culturais. Alguém duvida do sucesso?
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luiz geraldo mazza Jornalista
É
praxe nossa, brasileira e paranaense, a busca da conciliação. Raros são os momentos de ruptura em nossa história. O mais contundente deles, o ciclo de Ney Braga, é curiosamente o mais criativo. Beto Richa, pela juventude, tinha tudo para estabelecer uma nova etapa de redescobrir nossas raízes de solidariedade e tocar um projeto transformador. É visível que isso não vai acontecer, dada a preocupação em ‘’varrer para dentro’’ atraindo o PMDB, como já ocorre com o caso paradigmático do Luiz Claudio Romanelli, e na preocupação sanitária de não atingir o ex-governador Requião, apesar dos trambolhos deixados na gestão dos quais alguns calamitosos, como os da Segurança e seus indicadores de violência de Baixada Fluminense, e os estarrecedores dos terminais portuários. Em quase dois meses de governo não temos ainda um diagnóstico superficial que seja da situação financeira, sabidamente caótica, haja vista a dificuldade para levantar dinheiro e pagar em dezembro três folhas do funcionalismo da ativa e inativos de R$ 330 milhões. Com o chapéu correndo as repartições que têm verbas industriais (Detran, Junta Comercial) repetiu-se o velho ritual, identificador dos problemas de sempre.
Riscos da conciliação nas ações contra Lupion e seu procurador no Rio de Janeiro, Libino Pacheco, como as decorrentes de depósitos de dinheiro público, por alguns dias, em conta particular. Um desses recursos era da Campanha contra o Mal de Hansen com a publicação sugerindo que se manipulava dinheiro dos leprosos. Dá para calcular o efeito de uma notícia dessas. Rubens Requião assumiu todos os ônus de uma espécie de promotor duro e que incorporava, isolado, esse papel chegando, por exemplo, a processar a Operação Jagunço em Casca-
tou quando o acirramento de 1964 se tornaria inevitável.
Diagnóstico opaco A afirmação de Luiz Carlos Hauly, secretário da Fazenda, de que a situação financeira é difícil sem detalhá-la quanto aos seus efeitos mais perversos é prova de que há uma orquestração para evitar ruídos estrepitosos. De outro lado o empenho em aprovar os vetos de Roberto Requião, principalmente em projetos que geravam despesas, é revelador da situação crítica. Até agora, à exceção do secretário Reinaldo Almeida César, da Segurança, o que se percebe é evitar referência à herança recebida, com o que, pelo menos no estilo, Beto Richa imita a mesma linha de Lerner. O nosso público padece de amnésia e se as coisas não forem ditas no tempo certo, ocorrerá com ele o mesmo do havido com Lerner. É verdade que isso não significa que os levantamentos e diagnósticos não estejam sendo feitos até para fixar a programação que se fará de 2012 em diante, ano eleitoral, já que neste exercício muito pouco se pode esperar a não ser especulações vagas sobre a ligação ferroviária entre Guarapuava e o Porto de Paranaguá ou alguma enunciação em torno do Terminal do Pontal. Se não há obras, o governo tem que se enunciar por intenções ou atitudes, o estilo Requião, apesar do desperdício dialético em bravatas. O que não dará para aceitar num Beto Richa seria o tom da apatia, contradição em termos com a sua idade e seus enunciados projetos.
Em quase dois meses de governo não temos ainda um diagnóstico superficial que seja da situação financeira
Ponta de lança No governo Ney Braga o ponta de lança das denúncias e ações anticorrupção foi o deputado estadual Rubens Requião na condição de secretário de Justiça. Houve exagero
vel que prendeu vários operadores dos negócios de terras como abertura do processo que se seguiria, com a criação do Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste, Getsop, articulado com o presidente João Goulart, a emissão de mais de 50 mil títulos para os colonos que vivenciaram a saga da revolução camponesa em 1957. Ney, no governo, usou as técnicas de Maquiavel: praticou o mal de uma só pancada ao demitir cerca de dez mil servidores e o bem em doses homeopáticas fazendo ao menos uns três mil retornarem ao serviço público. Mas as coisas aconteciam e com impacto forte ao contrário de hoje em que a expectativa é a de acerto, acomodação, ajuste entre desiguais, assentamento da poeira. Requião acabou magoado com as negociações de Ney e dele se afas-
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Capa pERFil Fábio Campana Fotos Nani Gois
a casa
caiu
A Assembleia Legislativa do Paraná, palco de abusos e ingerências de administrações passadas, passa por uma das maiores faxinas de toda a sua história
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esta terra não falta quem venda ilusões e quem as compre. Ainda assim, os índices de ceticismo expandiram-se em proveito da lucidez diante dos descalabros presenciados nos últimos tempos na vida política paranaense. Os nativos, antes que governados, vítimas do desgoverno, aprenderam a ser céticos graças a formidáveis aulas de cinismo dadas por Requião e seus áulicos amestrados. Essa gente tentou nos empanturrar a todos com mentiras durante os oito 18
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anos de populismo chinfrim que nos obrigava, entre outras ignomínias, a ver a TV Educativa transformada em palco para um governador bufão atuar como âncora de um patético programa oficialmente denominado de escolinha de governo. Mas agora a esperança se reacende. Até os mais céticos se rendem à evidência de que há mudanças nos costumes políticos nativos. Nunca antes jamais na história desta província se viu cataclismo tão forte a abalar as estruturas da velha política para-
naense. Ninguém acreditava que a Assembleia Legislativa, território da politicagem praticada pelos exemplares mais astutos da fauna, seria palco de uma devassa sem precedentes que expôs as entranhas do parlamento e revelou os piores vícios dos nossos deputados. Pois, pois, aconteceu. No dia 1º de fevereiro, os deputados escolheram a nova Mesa Diretora da Assembleia. A eleição do presidente Valdir Rossoni por 47 votos, seis abstenções e uma ausência refletiu o resultado
O Presidente da Assembleia, Valdir Rossoni, pediu a ocupação da PM um dia após assumir o cargo
os nativos, antes que governados, vítimas do desgoverno, aprenderam a ser céticos graças a formidáveis aulas de cinismo dadas por Requião e seus áulicos amestrados
geral das urnas de outubro. Presidente do PSDB estadual, Rossoni foi o principal coordenador político da campanha que levou Beto Richa ao governo e o legitimou como candidato da maioria ao posto de presidente da Assembleia. Seu nome se impôs contra todas as resistências internas e externas. Não foram poucas. E nem só de deputados de diversas cataduras. As corporações instaladas na burocracia espernearam. A mais irritada foi a dos seguranças da Casa que tentou
influir na própria eleição com gestos de truculência inusitada, entre eles ameaças diretas a deputados. A milícia não estava só. Teve apoio e estímulo de grupos econômicos que controlam mandatos para defender seus interesses e que tentaram derrubar a candidatura de Rossoni. Abordaram deputados com o argumento até então infalível do mimo ao bolso e promessas de felicidade iminente. Nada conseguiu deter Rossoni que mostrou habilidades na articumarço de 2011 |
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lação nos bastidores. Depois de três décadas o poder mudou de mãos na Assembleia. Saiu do âmbito dos políticos alinhados ao PMDB e seus assemelhados e passou para o time liderado por tucanos e democratas avessos ao ancién regime da paróquia. O primeiro-secretário agora é um democrata convicto, Plauto Miró Guimarães, e o segundo secretário é Reni Pereira, do PSB que nunca pactuou com a banda antiga. Pelo regimento, os três dirigem a Casa. E mostraram que estão decididos a cumprir seu papel. Assumiram tomando medidas que não são de somenos diante de incrédulos paranaenses acostumados a ver a política paranaense como exercício permanente de conciliação para salvar as fontes de benesses, sinecuras e prebendas, além das manobras que rendem frutos financeiros, que constituem vícios dos políticos nativos desde a fundação do Paraná em 1853.
O 1º Secretário da presidência, Plauto Miró (à esq.), o Coronel Arildo Luis Dias (centro) e Edenilson Ferri, o Tôca, presidente do Sindicato dos Funcionários da Assembleia (à dir.), no momento da abertura do cofre que ficava dentro da sala da Segurança da Casa
hora do esPanto Foi um assombro. No dia seguinte, 2 de fevereiro, por solicitação do novo presidente Valdir Rossoni, o governador Beto Richa autorizou a ocupação da Assembleia por cerca de duzentos PMs em força-tarefa para restabelecer a ordem na Casa ameaçada pela guilda dos seguranças privados. Para legitimar a presença da Polícia Militar na segurança da Assembleia, Rossoni criou o Gabinete Militar do legislativo, sob o comando do tenente-coronel Arildo Luís Dias, chefe do Estado Maior da 1ª Regional da PM. Serão 30 PMs na segurança permanente da Casa. A medida acaba com o poder paralelo dos seguranças da Assem20
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bleia, sob o comando do presidente do Sindicato dos Funcionários da Assembleia Legislativa do Paraná, Edenilson Ferri, conhecido como Tôca. Um pouco antes da eleição, no dia 1º, Rossoni revelou que foi ameaçado por Tôca e um grupo de seguranças, inconformados com a demissão de todos os comissionados, último ato do então presidente Nelson Justus antes de deixar o cargo, no dia 31 de janeiro. Na manhã do dia 2, os policiais sob o comando do 1º Secretário Plauto Miró Guimarães, abriram um cofre localizado na sala da Segurança. Lá foram encontrados um revólver calibre 38 e equipamentos bloqueadores de conversas telefônicas. Terminou assim o poder de uma milícia privada que operou na Assembleia desde sempre e que pres-
tava serviços aos membros da Mesa e a diretores da Casa. Um desvio incompatível com o funcionamento do Legislativo. Outra iniciativa imediata da nova direção foi lacrar a Gráfica da Assembleia, alvo de uma série de denúncias pela imprensa. Uma das irregularidades apontadas eram as publicações fraudulentas de atos do legislativo. A nova direção quis acabar com os atos secretos e as edições avulsas do Diário Oficial. A impressão do Diário Oficial do Legislativo passa a ser feita pela Imprensa Oficial do Estado, além de ficar disponível na Internet. A medida, além de moralizadora, propiciou economia aos cofres do legislativo. Os equipamentos da gráfica serão doados à Secretaria da Justiça, para que os utilize no sistema pe-
A Gráfica da Assembleia, alvo de uma série de denúncias pela imprensa, foi lacrada. A impressão do Diário Oficial do Legislativo passa a ser feita pela Imprensa Oficial do Estado
Alfredo Ibiapina, diretor da Embrasil – empresa responsável pela varredura – mostra grampo na linha telefônica utilizada pelo presidente do Plenário
nitenciário. Terão melhor uso como instrumentos do trabalho de ressocialização. Os presos podem aprender um ofício e ao mesmo tempo confeccionar publicações para o Estado, como livros didáticos.
sai a milícia, entra a Pm Com a criação do Gabinete Militar do Legislativo, o presidente reduzirá custos com folha de pagamento – cerca de 50 seguranças, entre comissionados e efetivos, recebiam altos salários, acima de R$ 10 mil. Havia também familiares de seguranças contratados e que não compareciam para trabalhar. Foi acatada uma emenda ao projeto de Decreto Legislativo que cria o Gabinete Militar. A emenda regulamenta a gratificação que será
paga pela Assembleia aos policiais que comporão a guarda da Casa. A gratificação será paga em razão de benefícios que os policiais deixarão de receber por não estarem no patrulhamento das ruas. Como exemplo, a gratificação por serviços extraordinários, hoje no valor de R$ 100, e também a gratificação por apreensão de armas que varia de R$ 300 a R$ 900. Mas a Assembleia fará economia com o novo sistema. Estima-se que com os seguranças comissionados o gasto era de R$ 350 mil ao mês. Já com a Policia Militar a previsão de gasto mensal é de R$ 60 mil. A Segurança patrimonial passa a ser realizada pela empresa Embrasil, contratada através de uma ata de registro de preços, elaborada pela Secretaria de Administração. Esse
sistema de licitação permite que outras secretarias, órgãos de Estado ou Poderes possam utilizar, em casos emergenciais, os mesmos preços apresentados. São 21 postos de trabalho a serem ocupados em turnos variados. O custo mensal é de R$ 167 mil. A Embrasil foi contratada emergencialmente (sem licitação) para fazer uma varredura nas instalações da Assembleia. O valor do trabalho foi determinado a partir de uma série de critérios, como quantidade de pontos e tipos de equipamento e fiação averiguados. O trabalho rendeu frutos imediatos. Foram encontrados pontos de escuta clandestina em salas da presidência e da Primeira Secretaria da Assembleia. Os equipamentos são de origem israelense, usados para escuta de conversas. O raio de alcance, segundo os técnicos, é de 100 metros. A varredura dos telefones também é feita pela Embrasil. O contrato emergencial tem o valor de R$ 30 mil. A varredura se estendeu para outras salas da Assembleia e foi encontrado um grampo telefônico no quadro da Telefonia. O telefone grampeado é o da sala anexa ao plenário. Essa sala é utilizada pelo presidente para receber autoridades, e por todos os parlamarço de 2011 |
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mentares durante a sessão plenária para conversas reservadas.
o presidente Valdir Rossoni reuniu-se com o presidente do Tribunal de Contas, Fernando Guimarães, e acordou a participação do TC no processo de recadastramento dos funcionários efetivos. E deixou as portas da Assembleia abertas para que o TC fiscalize de forma rigorosa a nova gestão. O recadastramento dos servi-
vocavam desentendimentos pueris entre deputados. As novas regras alcançam também os novos diretores da Casa. Eles O tamanho da encrenca não poderão receber valores supeComo entender uma organizariores a R$ 17 mil e nos gabinetes o ção tão antiga e com tantas funções valor não poderá ultrapassar R$ 15 secretas e outras injustificáveis? Rosmil. Nenhum servidor poderá recesoni deu posse aos novos diretores ber valores superiores aos salários da Casa e decidiu no dos deputados, que é mesmo dia 2 de fevede R$ 20.040,00. reiro contratar a FunPor se tratar de dação Getúlio Vargas, cargos de confiança e instituição acima de para realizar as mudanças pretendidas na qualquer suspeição, Casa, Rossoni alterou o para a reestruturação decreto legislativo 52 de cargos e salários dos de 1984 que restringia funcionários permaa ocupação do cargo de nentes do Legislativo. diretor a funcionários O trabalho comede carreira. A prática çou pelo recadastrafora adotada em gesmento dos servidores tões passadas, mas efetivos da casa, revisem regulamentação. são de aposentadorias e da situação funcional A autorização para A diretoria do Sindilegis pediu uma reunião com o presidente, dos efetivos. Mas isso essa contratação já faz mas não apareceu. Ninguém sabe a razão ainda foi insuficiente. parte da lei 16522 de Restabelecida a ordem maio de 2010 (Lei da e a segurança interna, a nova direção dores efetivos ativos da Assembleia Transparência). passou a tomar as outras medidas ad- foi feito nos dias 9, 10 e 11 de feveministrativas estudadas antes da pos- reiro. São 495 servidores efetivos. Pode render uma CPI se e que modificaram radicalmente a Aproximadamente 250 servidores A situação acabou por produvida interna da Assembleia. A pri- aposentados, entre 1300 a 1400 sermeira iniciativa foi conhecer a estru- vidores comissionados (gabinetes e zir uma reação interna na própria tura burocrática, uma intrincada rede administração). Rossoni determinou Assembleia. Por indignação ou por de departamentos e secções esperteza, surgiram os prique abrigavam centenas de meiros pedidos de CPI que acompanham a onda moralifuncionários em cargos em zadora da Casa que espantou comissão e concursados que a sociedade paranaense. recebiam salários díspares e até agora inexplicáveis. Os líderes partidários Diante de tantas revelações e das que todas as efetivações ocorridas indicaram os integrantes que irão medidas moralizadoras, o sindicato após 1988 sejam revistas. compor a CPI do Grampo, proposdos funcionários da Casa – SindileOs gabinetes parlamentares ta pelo deputado Marcelo Rangel, gis – decidiu se mexer. A diretora do também passarão por mudanças. do PPS. Existe uma segunda CPI já Sindilegis pediu uma reunião com o Será contratado um engenheiro para protocolada, proposta pelo deputado presidente, mas não apareceu. Até elaborar um projeto para padronizar Fábio Camargo, do PTB, para inves(tamanho e mobiliário) dos gabine- tigar e apurar os procedimentos e hoje ninguém sabe a razão. Para dar transparência e evitar tes. Hoje, os privilegiados tem áre- condução das falências e recuperação qualquer arbitrariedade na aplicação as maiores e vantagens que Rossoni judicial do estado do Paraná. das novas medidas de moralização, considera inadmissíveis e que proOs deputados, depois de todas
Depois de três décadas o poder mudou de mãos na Assembleia
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o estranho caso da tv sinal, ou melhor, tv assembleia
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ara que serve uma televisão do Legislativo? Para divulgar os feitos dos deputados e da própria Casa, respondem rápido os criadores da TV Sinal, ou melhor, TV Assembleia, como é conhecida a programação que a Assembleia Legislativa produz e retransmite através de um canal em UHF. A pergunta não quer calar. Para que uma produção tão custosa para divulgar o que é divulgado naturalmente pela mídia? Ora, pois, dizem os hermeneutas que a TV própria divulgaria os fatos com isenção. Isso significa que eles não acreditam na isenção da imprensa nativa. Pois, pois, qualquer colegial com alguma informação sobre o regime democrático sabe que o Legislativo é o espaço do contraditório, onde todas as versões e pontos de vista correntes na sociedade são expressos e assim deve ser para que tenhamos o confronto de opiniões e de projetos. Se isenção significa uma opinião oficial, autorizada, estamos diante de algo que não tem a ver com o espírito democrático e com a própria justificativa da existência da Assembleia. O que interessaria mostrar publicamente por todos os meios seriam as sessões legislativas para que a população interessada acompanhe o trabalho de seus representantes. Tudo bem, repetem as almas parvas, isso pode ser feito através de um canal público sem a estrutura e a parafernália de uma produtora de TV instalada no prédio da Assembleia. A TV Educativa pode cumprir esse papel. De graça. Ou quase. A verdade é que a TV Assembleia custa aos
contribuintes algo em torno de R$ 900 mil por mês. Um assombro. Só a produtora dos programas leva no mínimo R$ 370 mil. É muito dinheiro para pouco resultado. Pesquisa recente demonstrou que a absoluta maioria dos paranaenses nem sabe da existência da TV Sinal, ou melhor, TV Assembleia. Diante do exposto, a nova direção da Casa deve rever o caráter da licitação feita para dar a uma produtora, a GW, o privilégio e o benefício financeiro de um contrato que está sob análise também de membros do Ministério Público. Eles também querem saber para que serve a TV Assembleia e quem aproveita o projeto que já custou uma fortuna ao Legislativo, ou melhor, a todos nós que pagamos a conta.
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Com as novas medidas, a frequência dos parlamentares aumentou significativamente
essas mudanças, devem se dedicar ao trabalho legislativo. Havia 176 vetos para serem votados pelos deputados. O presidente Valdir Rossoni determinou urgência para limpar a pauta de votação. Para isso colocou em votação, a cada sessão, um conjunto de 20 vetos. São vetos de legislaturas passadas. São 78 vetos do ano de 2007, 55 de 2008, 32 de 2009 e 11 de 2010. Pode? E para acabar com o vício dos gazeteiros que retardam os trabalhos, o controle de presença dos deputados passou a ser feito em dois momentos da sessão. Logo no inicio e antes da votação da Ordem do Dia. No primeiro dia, 52 deputados estavam presentes na sessão nos dois momentos da conferência. Se continuar assim, a vida legislativa tende a ser mais produtiva.
As melhores saídas Essa pequena revolução opera-
da na vida do Legislativo paranaense mostrou que as melhores saídas estão à vista. A sociedade se dirige naturalmente para elas, mas as instituições nem sempre nos permitem tomá-las. Mas desta vez há mudanças. Objetivas. Concretas. Perceptíveis e confirmadas. Nada que fique apenas no discurso e nas boas frases de intenções. Há esperanças de que uma época findou. Aquela em que os legisladores pareciam estar permanentemente em férias, sempre prontos para partir, sôfregos, para os seus feriadões. Talvez a Assembleia Legislativa não faça mais do que refletir o anseio que percebeu na sociedade, de dar fim a uma época marcada pelo populismo chinfrim dos Requião e sua trupe. Reparem a falta de tudo neste início de governo de Beto Richa. Não havia planos, nem programas,
o estado falido, o poder relegado ao exercício de bufonaria de um cidadão não preparado para o cargo. Há um lado francamente bufo nessa história. Sobreleva, contudo, a tragédia. Seus principais responsáveis, os mais evidentes, são políticos vulgares e incautos, prepotentes e ineptos. Neste Paraná sempre à espera de Godot, as elites ineptas e arrogantes – e literalmente laborfóbicas, sempre dispostas a esticar feriados – continuam conspirando contra o povo treinado para ser cordial, quer dizer, manso, paciente, cheio de uma fé inútil. Neste exato momento, há senhores enquistados no poder que hoje se esmeram na tentativa de solapar os esforços de moralização da Assembleia, sem atentar, diga-se, para o fato de que estão, de certa forma, a trabalhar contra si mesmos.
a nova direção da Assembleia Legislativa Presidente – Valdir Rossoni (PSDB) 1º Vice-Presidente – Artagão Júnior (PMDB) 2º Vice-Presidente – Augustinho Zucchi (PDT) 3º Vice-Presidente – Douglas Fabrício (PPS) 1º Secretário – Plauto Miró Guimarães (DEM) 2º Secretário – Reni Pereira (PSB) 3º Secretário – Stephanes Júnior (PMDB) 4º Secretário – Fábio Camargo (PTB) 5º Secretário – Gilson de Souza (DEM) 24
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Fábio Camargo, Stephanes Júnior, Plauto Miró Guimarães, Artagão Júnior, Valdir Rossoni, Gilson de Souza, Augustinho Zucchi, Reni Pereira e Douglas Fabrício
rossoni anuncia novas medidas na assembleia cortes nos gastos Valdir Rossoni anunciou no dia 17 de janeiro cortes nos gastos com a contratação de funcionários que prestam atendimento às 19 comissões permanentes da Casa. Conforme entendimentos entre os líderes e blocos partidários, a redução mensal por comissão passará de R$ 120 mil para R$ 18 mil. Este corte representa uma economia anual de quase R$ 24 milhões. Com isso, as comissões terão os seus cargos comissionados reduzidos de 12 para dois e o complemento da equipe de funcionários, conforme as necessidades, será feito com os servidores efetivos da Casa, que serão reciclados e treinados para o trabalho.
comissionados Rossoni informou que os 400 cargos comissionados que integram o setor administrativo da Casa serão reduzidos para 150. A intenção é aproveitar os efetivos que passarão por capacitação para serem reaproveitados em outros setores. Estas e outras medidas foram anunciadas em conjunto com o primeiro secretário, deputado Plauto Miró (DEM).
informatização Com relação à informatização da Assembleia, Rossoni disse que será assinado um convênio com a Copel para o fornecimento de banda larga, e outro com a Celepar, para informatização das diretorias.
grades e vidros
las gestões anteriores, como aqueles relacionados aos serviços de jardinagem, de telefonia, obras e compras de produtos, que podem ser novamente licitados. Existe uma previsão de que as ações da Mesa Diretiva da Casa possam reduzir os custos em até 50%.
cPi das falências e concordatas Outra medida será a reabertura do Edifício Tancredo Neves — local onde estão os gabinetes dos deputados — que terá uma recepção para acesso da população. As grades serão recuadas até a rampa do prédio do Plenário. Ficou decidido que os vidros que separam o Plenário do Comitê de Imprensa serão retirados e que os cinegrafistas e os fotógrafos poderão voltar a circular pelo Plenário, desde que respeitem os horários das votações.
revisão de contratos Os gabinetes dos deputados serão readequados e padronizados. No dia 21 de fevereiro foi baixada uma resolução que cancela todas as gratificações concedidas a funcionários efetivos e estabelece um limite para as novas concessões, o que “deve impedir o retorno dos supersalários”, comentou. Além disso, o pagamento da URV será suspenso até que o processo seja revisto. O cálculo sobre o valor devido será realizado pelo Tribunal de Contas do Paraná (TCE). A 1ª secretaria também está revendo todos os contratos assinados pe-
A Assembleia Legislativa do Paraná instalou no dia 21 de fevereiro a CPI das Falências e Concordatas, segunda instaurada pela Casa. Com a alegação de que existe uma “máfia das falências” no Estado, o deputado Fábio Camargo (PDT) propôs a comissão da qual será o presidente. O deputado Nelson Luersen (PDT) será o relator da CPI.
fim das gratificaçÕes No dia 21 de fevereiro, Rossoni anunciou a resolução que suspende todas as gratificações pagas a servidores da Casa e anula todas as efetivações feitas a partir de 1992.
escuta clandestina Os peritos da empresa Embrasil encarregados da varredura na Assembleia Legislativa concluíram que parte dos equipamentos localizados nas salas da presidência e 1ª secretaria era destinada à escuta ambiental. Enquanto outros aparelhos poderiam ter dupla finalidade, tanto de bloqueio de grampos como de transmissão de conversas telefônicas. O relatório foi assinado no dia 22 de fevereiro.
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Luiz Fernando Pereira Advogado
As Assembleias
Legislativas O
Brasil gasta quase cinco bilhões de reais por ano com as Assembleias Legislativas dos Estados, nos revela estudo recente da Transparência Brasil. Mas, afinal, para que servem as assembleias? Pouca gente sabe ao certo, mas quase todos estão de acordo que custa muito pelo pouco que oferece. A Assembleia Legislativa do Paraná é um bom exemplo deste sentimento intuitivo de inutilidade. Ninguém duvida que a Assembleia esteja aí para, além de fiscalizar o Executivo, criar, revisar e revogar normas estaduais. É o papel essencial do legislativo, nos ensinaram os ingleses há cinco séculos. O que muitos desconhecem é que a competência para legislar das assembleias estaduais é extremamente limitada. O artigo 22 da Constituição Federal entregou privativamente ao Congresso Nacional a competência para legislar sobre todos os temas nobres e importantes. O que resta – e não resta muito – ficou com os legislativos estaduais e municipais (competências residuais e concorrentes). É a cara do federalismo brasileiro. Também não se pode esquecer que os deputados estaduais não podem apresentar projetos que aumentem despesas ou diminuam receitas. Realmente não sobra quase nada. Quem sabe por isso não seja raro deputados estaduais serem flagrados apresentando projetos inúteis e, muitas vezes, curiosos. Bom exemplo está no Projeto de Lei apresentado ano passado pelo deputado estadual fluminense (Édino Fonseca é o nome dele), tornando Jesus Cristo propriedade imaterial do Rio de Janeiro. Não se sabe bem ao certo se Deus é brasileiro, como querem alguns, mas Jesus Cristo seria carioca por disposição legal. A verdade é que as assembleias têm pouco a fazer; e este pouco é mal feito. É baixa a qualidade de boa parte dos deputados (o que só piora de legislatura em legislatura). Não me refiro aqui, necessariamente, à baixa qualidade
intelectual – o que soaria pretensioso e preconceituoso, embora verdadeiro. Falta mesmo qualidade vocacional para o exercício do mandato. Há deputados que passam o mandato inteiro sem participar de debates, sem discutir projetos e até mesmo sem fazer nenhum pronunciamento importante. Tocam o dia a dia do gabinete como se fosse um escritório de contabilidade ou algo do gênero. Noutra ponta estão os deputados que se interessam pelo exercício do mandato. A estes a Assembleia aqui do Paraná não oferece as condições mínima s de trabalho. O déficit operacional é inegável. O corpo técnico da assembleia é político. Isso mesmo. Há meio século que a Assembleia Legislativa não faz concurso público para preencher cargos de carreira (o último foi em 1962 – quando Kennedy ainda era o presidente americano...). Assim não é possível fiscalizar ou legislar. Os deputados não têm o apoio técnico necessário, por exemplo, para discutir a peça orçamentária – quem sabe a tarefa mais importante que lhes outorga a Constituição. Os técnicos da Comissão de Constituição e Justiça, noutro exemplo revelador, são apadrinhados políticos exercendo o ofício em cargos de comissão. E por que as coisas estão assim há tanto tempo? Porque a maioria dos deputados estava e está enfiada até o pescoço em práticas bizantinas, integrada à perversão comum do patrimonialismo brasileiro. O exercício digno do mandato só interessa à minoria. A Assembleia Legislativa do Paraná, enfim, muito pouco oferecia a quem estivesse disposto a exercer o mandato como deve ser exercido. Não há o mínimo apoio técnico para fiscalizar ou legislar. A atual direção começa muito bem, exorcizando o triste passado e prenunciando novos tempos. Que siga assim para que a Assembleia do Paraná tenha a chance de exercer bem o pouco que lhe cabe.
A verdade é que as assembleias têm pouco a fazer e este pouco é mal feito
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ENTREVISTA Marianna Camargo
Gleisi a toda prova A
senadora petista Gleisi Hoffmann está há menos de 30 dias no Congresso e já apresentou propostas importantes: regulamentação do teto de remuneração dos agentes públicos; fim do 14º e 15º salários dos deputados federais e senadores; o projeto que propõe vedar a realização de posse de senador durante os períodos de recesso no Congresso Nacional, além do projeto de lei que reforça a Lei Maria da Penha, que protege a mulher da violência doméstica. Nesta entrevista à Revista Ideias a senadora fala sobre projeções, posições políticas e desafios, e prova, com competência, que está pronta para assumir essa responsabilidade. Existem especulações de que a senhora pretende disputar a prefeitura de Curitiba e o Governo do Estado nas próximas eleições. Isso é uma possibilidade? Fui eleita para ser senadora, por isso pretendo cumprir meu mandato com muito trabalho e dedicação ao Paraná e ao povo paranaense. Decidi concorrer ao Senado porque acredito que dessa forma poderei dar minha contribuição para ajudar no desenvolvimento de nosso Estado e quero retribuir os mais de 3 milhões de votos ajudando a melhorar a vida cotidiana das pessoas, lutando pelas causas sociais e pela construção de um país cada vez mais democrático e justo. Nos próximos oito anos,
vou me empenhar para que os paranaenses estejam presentes no Senado Federal através de um mandato aberto e participativo, que considere todas as regiões do nosso Estado e todos os setores representativos da sociedade paranaense. Não serei candidata à prefeita. Qualquer cargo que eu venha a disputar deve ser consequência do meu trabalho. Do bom resultado que posso alcançar. Como será sua participação no Governo Dilma? Conheço a presidente Dilma desde quando fui diretora financeira da Itaipu e ela era ministra de Minas e Energia, portanto, minha chefe. Temos um bom relacionamento e eu quero estar ao lado dela para ajudar, a dar continuidade ao projeto do Governo Lula. Uma das questões que ela irá priorizar, e eu quero ajudar é o combate às drogas, uma realidade que afeta e desestrutura muitas famílias. Fui eleita para ajudar a Dilma. Esse foi meu discurso e posição de campanha. Serei uma senadora de situação. Qual será o principal desafio do Governo Dilma na política econômica? O presidente Lula conseguiu aliar inclusão social com crescimento e mostrou que apostando no aumento e distribuição de renda, e impulsionando o consumo, pode-se quebrar o círculo vicioso de juros altos, desemprego, recessão, aperto fiscal, falta de investimentos e escassos recursos para políticas públicas importantes. Ele conseguiu reduzir significativamente os juros, dentro do que a conjuntura permitia, controlando a inflação, eliminando a dependência com o FMI, retomando investimentos na área de infraestrutura e reduzindo a vulnerabilidade externa. Agora, o desafio da presidente Dilma é estruturar
“Como a primeira senadora eleita do Estado minha responsabilidade é muito grande”
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mais fortemente nossas contas públicas, fazendo-as definitivamente sustentáveis. Para isso temos de reduzir o impacto da dívida pública nas contas do governo. Há um compromisso da presidente Dilma de reduzir ao final de 2014 a dívida líquida do setor público dos atuais 40% do PIB para 30%. Isso dará uma condição diferenciada ao país. Ganharemos ainda mais confiança e respeitabilidade. E o que é melhor, teremos mais recursos para investir com infraestrutura, grande necessidade do país.
deiras legislativas para mulheres e limitação de mandato para senador. É injustificável que não tenha limite, até porque é uma eleição majoritária.
Divulgação/Assessoria de Imprensa
As mulheres terão um espaço privilegiado em seu mandato? Como primeira senadora eleita para representar o meu Estado no Congresso, minha responsabilidade é muito grande, assim como a da presidente Dilma frente à Presidência da República. Diria que nossa responsabilidade é dobrada, pois não podemos errar, já que a nossa atua Em quais comissões a senhora irá atuar no Congresso? ção servirá de referência para toda sociedade e outras Pelas características do nosso Estado, fiz questão de integrar mulheres que desejam seguir pelo caminho da política. a Comissão de Agricultura até porque o Paraná vai perder a Terei um olhar especial para as políticas públicas voltadas representatividade que tinha com o senador Osmar Dias, que para as mulheres, criando oportunidade para ampliar cada era um grande defensor dos nossos agricultores. Quero estar vez mais nosso espaço em todos os segmentos da sociedade. lá para ajudar a implantar as mudanças necessárias para esse Para isso, defendo a criação de um programa nacional de setor que é essencial para a economia de nosso Estado. Hoje, formação e capacitação para as mulheres com cursos técnio Paraná tem cerca de 320 cos que dêem condições mil propriedades ligadas para que elas se formem à agricultura familiar, que e disputem o mercado de representam 28% do tertrabalho. Outra proposta ritório paranaense e são que tenho é a criação do responsáveis por 43% do banco para mulheres, com valor bruto da produção. linha de financiamento Precisamos de uma políespecífico para quem já tica agrícola que amplie tem um negócio próprio a produtividade. Vamos ou quer começar um mas implantar as bases para precisa investir dinheiro. Os bancos tradicionais difia indústria nacional de cultam o acesso ao crédito, insumos e fertilizantes. por isso precisamos de uma Também quero integrar liberação sem burocracia. a Comissão de Defesa Gleisi tem um olhar especial para as políticas públicas Também temos que garanNacional e Relações Exvoltadas às mulheres tir proteção às vítimas de teriores. Acredito que é violência e conscientizar a muito importante para o Paraná principalmente por causa do Mercosul e pela se- sociedade no combate à violência contra a mulher. Mas, é claro, que minha atuação não ficará restrita gurança nacional, já que a fronteira mais populosa do país está aqui em Foz do Iguaçu. Também optei pela Comissão às causas de igualdade de gênero. Também pretendo ser de Assuntos Econômicos, onde são discutidos assuntos de uma forte defensora da pauta municipalista, buscando recursos através dos programas federais e ajudando o grande relevância para o desenvolvimento do país. Estado a desenvolver programas que possibilitem o deDurante a campanha, a senhora defendeu a reforma polí- senvolvimento regional. Quero manter um diálogo muito tica. Acredita que isso possa acontecer nessa legislatura? próximo com os prefeitos e estar sempre presente em todas A maioria de quem foi eleito pelo sistema que está em vigor as regiões do Estado para fazer uma grande articulação não quer mudar as regras. Por isso, defendo que o Congresso entre as lideranças políticas, empresariais e sociais para Nacional convoque um plebiscito para que tenhamos uma priorizar o que queremos para o desenvolvimento da Constituinte Revisora Exclusiva e assim possamos fazer as região. O Paraná é um Estado que tem grande imporreformas que o Brasil precisa. Eleitos por um ano, os parla- tância para a economia brasileira e tem uma das maiores mentares, após terminado o trabalho, ficariam de quarente- participações no produto interno bruto da nação, por na, sem participar de eleições pelo menos por um período. isso, precisamos unir esforços para fazer com que ocupe Mesmo sem reformas, vou propor percentual de ca- seu verdadeiro lugar no Plano Federal. março de 2011 |
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Dor de
cotovelo
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ofro de dor de cotovelo. Não a dor de ciúme ou despeito por desastres do amor. Falo da dor insuportável da artrite reumatoide que em meu caso sempre começa pelo cotovelo esquerdo e depois se espalha por todas as articulações. Não desejo artrite nem para os inimigos. Mentira, desejo sim. Não há nada pior. Na crise, fico travado. Qualquer movimento provoca dores insuportáveis. Eu, que em dias normais me declaro agnóstico e livre de superstições, apelo para todos os santos, para os orixás da umbanda, para Maria Bueno e para quem mais puder providenciar intervenção divina. Não acredito que haja outra dor tão terrível. Não me venham com crise renal, dores do parto ou do trigêmeo. Artrite é brutal e se espalha pelo corpo inflamando as articulações. No meu caso, raro, atinge as articulações dos membros inferiores. Fico imobilizado. Ensandecido. Capaz de atribuir o sofrimento a uma praga de inimigo. Ou inimiga. Da outra dor também sofri. Muito. Mas para a dor moral há medicina. Tempo, distância e consciência das ilusões perdidas são remédios infalíveis. Associados a novo amor é cura definitiva que evita o hábito romântico e pouco higiênico do suicídio. Duro é segurar a dor da artrite. Quando vem, inicio a escalada dos medicamentos disponíveis. Começo pelos analgésicos. Em doses mamutianas. Agrego os anti-inflamatórios pesados. Logo imploro morfina e a presença salvadora de meu médico para esses achaques, o sábio Sebastião Radominski. Ele merece um busto em homenagem à sua paciência e à sua medicina. Basta uma injeção e a dor desaparece. Corticoide. Logo aparecerá alguém para relacionar os efeitos colaterais. Retenção de líquidos, inchaços e, em longo prazo, mazelas que é melhor não lembrar. Que fazer? Na hora da dor, prefiro qualquer outra doença que não seja artrite reumatoide. A artrite reumatoide (AR) é enfermidade autoimune sistêmica com predileção pelas articulações periféricas. É a mais comum das doenças reumáticas inflamatórias. 30
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FÁBIO CAMPANA Jornalista
Atinge de 0,5% a 1% da população mundial. Tive a má sorte de entrar nessa estatística muito antes de nascer. Pela frequência da artrite na minha árvore genealógica paterna não tenho dúvida que essa mazela vem de longe. Há quem confunda artrite com artrose. São doenças completamente distintas. A artrite reumatoide compromete o estado geral da pessoa, produz abatimento, cansaço e perda de peso. Há inflamação, tumefação e avermelhamento da articulação. A dor é contínua mesmo em repouso e o artrítico levanta-se com muita dor e rigidez. Quer castigo maior do que esse? A artrose, ao contrário, é dor mecânica que se sente depois de usar a articulação. A cartilagem diminui e deixa de amortecer a pressão e o atrito entre os ossos. Os ossos se tocam e se desgastam. Mas a dor da artrose é dor vespertina e alivia-se com o repouso. A pessoa pode levantar-se dolorida e sentir um pouco de rigidez, o que lhe dificulta o início do movimento. Porém, em alguns minutos a rigidez desaparece e a pessoa pode movimentar-se normalmente. Também não confundam artrite reumatoide com outros tipos de artrite. A artrite reumatoide é diferente da artrite degenerativa, que compromete a cartilagem articular e atinge joelhos, articulações coxofemorais e a coluna espinhal. A artrite gotosa é a gota. O ácido úrico aumenta e se infiltra nas articulações, especialmente dos pés. E há a artrite psoriática que na verdade é a psoríase, a doença que produz uma escamação na pele e pode evoluir para um quadro de dores articulares. Como se vê, tornei-me um especialista em artrite. Se serve de consolo para outros que padecem da doença, há estudo que informa que não há notícia de artríticos que sofram de burrice. Sofrem de maus bofes, que a dor justifica. Mas de burrice, que é grave, incurável e muitas vezes transmissível, disso estamos livres. Fábio Campana é jornalista e escritor. Diretor da Travessa dos Editores e editor da Revista Ideias. Leia mais: www.fabiocampana.com.br
vereadores
Por dentro da Câmara Acompanhe o trabalho dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba FELICITAÇÃO O governador do Para
ná, Beto Richa, reuniu-se com a bancada do PSDB no Palácio das Araucárias. Os vereadores apresentaram demandas da cidade e o parabenizaram pelo sucesso nas eleições. “Desejamos sorte e muito trabalho para o novo governador nesta jornada”, afirmou o presidente da Câmara, vereador João Cláudio Derosso. LIDERANÇAS A bancada do PSDB, que tem maioria na Casa, com 14 vereadores, elegeu Emerson Prado como novo líder. Ele entra no lugar de João do Suco, agora líder do governo. Já a bancada do PT passa a ser liderada por Jonny Stica. Algaci Tulio acumula as lideranças da oposição e do PMDB. BANCADAS Valdemir Soares é o líder do
PRB, Caíque Ferrante lidera o PRP. Julião Sobota, o PSC, e Dirceu Moreira, o PSL. Zé Maria é o líder do PPS, com Renata Bueno na vice-liderança. Juliano Borghetti é líder do Partido Progressista. Dona Lourdes é a líder do PSB. No DEM, Julieta Reis agora é a líder na Casa. Paulo Salamuni retorna como líder do Partido Verde e Tito Zeglin lidera a bancada do PDT. PLENÁRIO A Câmara de Curitiba abriu,
no dia 15 de fevereiro, o período de sessões plenárias do primeiro semestre de 2011 com a presença de Luciano Ducci e secretários
municipais e do estado. O prefeito foi recebido pelo presidente da Casa, João Cláudio Derosso (PSDB), demais integrantes da Mesa Executiva e vereadores. PLENÁRIO II Três vereadores recém-
-empossados participarão das sessões plenárias em 2011. São eles: Nely Almeida (PSDB) e Paulo Salamuni (PV), que retornaram à Casa substituindo Mara Lima (PSDB) e Roberto Aciolli (PV), eleitos para a Assembleia Legislativa, e Zezinho do Sabará (PSB), que assumiu no lugar de Mario Celso Cunha, agora secretário estadual para Assuntos da Copa. CORREGEDORIA Em votação unânime
na primeira sessão ordinária do ano, os vereadores elegeram Roberto Hinça (PDT) como o primeiro corregedor da Casa, para o biênio 2011/2012. Serginho do Posto será o substituto, em caso de necessidade. Em abril, os parlamentares escolherão o novo presidente do Conselho de Ética. SOCIAL Os vereadores Serginho do Posto
(PSDB) e Dirceu Moreira (PSL) foram recebidos pela presidente da Fundação de Ação Social (FAS), Marry Ducci. Serginho recebeu informações sobre projetos da área social nos bairros mais vulneráveis de Curitiba. Dirceu Moreira tratou das enchentes que atingiram a região da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
BOPE O vereador Felipe Braga Côrtes
(PSDB) participou da troca de comando das unidades da Polícia Militar: Batalhão de Operações Especiais (Bope), Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), Batalhão de Polícia Ambiental Força Verde (BPAmb/FV) e Batalhão Metropolitano, responsável pela Região Metropolitana de Curitiba. Criado no ano passado, o Bope será comandado pelo tenente-coronel Nerino Mariano de Brito. UNIVERSIDADES A vereadora Renata Bueno (PPS) participou da oficialização do convênio entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade de Roma Tor Vergata. Estiveram presentes representantes dos cursos de Direito, Medicina e Economia da Universidade de Roma e o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, que fez uma breve apresentação sobre a universidade. SAÚDE Emendas apresentadas pelos
vereadores da Câmara de Curitiba beneficiaram dez instituições de saúde da cidade. Equipamentos que somam mais de R$ 3,4 milhões, sugeridos pelos parlamentares, foram entregues pelo prefeito Luciano Ducci em fevereiro. Entre eles, carro de emergência, mesas cirúrgicas, desfibriladores, berços aquecidos, eletrocardiógrafos e ultrassom.
Câmara Municipal de Curitiba • www.cmc.pr.gov.br R. Barão do Rio Branco, s/nº — cep 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 fax: (41)3350-4737 março de 2011 |
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cidade da redação
Educação é prioridade em Tamandaré O Programa Criança na Escola oferece oportunidades de ensino em Almirante Tamandaré
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Divulgação/Assessoria de Imprensa
O
s alunos da rede municipal de ensino de Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, recebem há sete anos um kit escolar, que incluiu material escolar, uniformes completos (uma calça, uma jaqueta, duas camisetas e uma mochila) e dois pares de tênis. O investimento nesta ação é de cerca de um milhão de reais. O Programa Criança na Escola beneficia crianças desde 2005, quando o prefeito Goinski instituiu a medida como forma de incentivar os alunos. Goinski afirma que a ação oferece igualdade de oportunidades de ensino às crianças do município e eleva a autoestima delas. “Estamos proporcionando uma condição de igualdade e incentivo para que nossos alunos frequentem os bancos escolares. O resultado tem sido positivo. Temos observado um grande avanço na área de educação de nossa cidade”, garante o prefeito. O último evento de solenidade de entrega foi realizado no mês de fevereiro no Centro Administrativo, na Cachoeira. A educação é a prioridade na administração de Almirante Tamandaré e esta medida refletiu em um impacto direto na rotina escolar dos alunos. Crianças da cidade que, mui-
Há sete anos alunos de Almirante Tamandaré recebem um kit escolar
tas vezes, não tinham condições de ir à escola, por falta de material ou uniforme, não enfrentam mais esta dificuldade. A atual administração também já concretizou outras ações importantes da política educacional de Almirante Tamandaré com iniciativas e investimentos que transformaram de maneira positiva a educação no município. Entre estes investimentos estão: a elaboração do Plano Municipal de Educação, com a consultoria da Fundação Getúlio Vargas; a criação do Estatuto
e Plano de Cargos e Salários dos Professores; cursos de capacitação para os professores; eleições para a escolha dos diretores de escolas e coordenadores dos CMEIs; reformas e construções de escolas e creches; criação do Fundo Rotativo, que repassa recursos para as escolas e creches; curso de pós-graduação gratuito; regulamentação dos padrões dos professores e educadores nos estabelecimentos da rede municipal de ensino; e a melhoria nos ônibus do transporte escolar.
CARLOS ALBERTO PESSÔA Jornalista
Obra da nossa boa
A
ntes e depois da aprovação do “Estatuto da Terra”, em 1967, a melhor crítica às proposições reformistas vieram do lado direito do espectro político. Na sua tese sobre o café, o jovem economista e professor Delfim Neto demoliu os preconceitos contra a agricultura. Sempre capaz de responder prontamente ao menor estímulo oficial ou do mercado. Outra ideia atrás da industrialização e contra a agricultura era do argentino Prebisch — pai das ideias cepalianas que foram ao ar depois de 1946 — copiadas aqui pelo Celso Furtado. Para Prebish, os produtores agrícolas estavam condenados pela inelasticidade da demanda. E pela queda dos preços vis a vis aos industriais — a famosa deterioração dos termos de troca, cavalo de batalha do populismo do Brizola. Depois de 1967, financiado pelo “burguês progressista” Severo Gomes, Delfim voltou à arena. Agora para atacar o “Estatuto”. Outro crítico do “Estatuto”, que tomava emprestado as ideias do Delfim, era o Carlos Lacerda. Total? Com a assunção do Costa e Silva — e do Delfim — o “Estatuto” foi pra gaveta. E nunca o aplicaram. Enquanto isso, a terra se movia. Antes de morrer — e durante muito tempo — um verdadeiro homem de esquerda, marxista, grande brasileiro, escreveu: a reforma agrária que nós revolucionários pregávamos nos anos 30, a nossa boa direita (sic) já a fez! O nome desse bravo é Ignácio Rangel, economista heterodoxo, de ideias heterodoxas. Como as expostas no célebre “A inflação brasileira”, onde puxa as orelhas monetaristas&estruturalistas. E no qual faz observação banal, infelizmente esquecida pelos asnáticos “progressistas”: política monetária não é de esquerda ou direita; é científica. Por isso tudo falar de reforma agrária no Brasil é grotesco anacronismo. O MST não tem nada a ver com reforma agrária. Pois ela foi feita há anos. Como prova a nossa espetacular liderança mundial em múltiplos produtos. O nosso campo virou campo empresarial. Não tem nada a ver com o Jeca Tatu ou com a imagem do polaco isolado com a sua enxada a carpir o chão... E a enrolar
direita fumo e a cuspir sentado sobre os calcanhares descalços! Isso nem folclore é mais. O MST está atrás de um distributivismo também sem sentido econômico, mas de alcance social, pois alivia a pressão sobre os centros urbanos. Mas não se iluda: o que estamos a fazer com o MST tem nome — é o velho paternalismo. Para encerrar. Repito: o setor mais moderno do Brasil, o que enfrenta qualquer concorrência em qualquer lugar, é o agronegócio! Nem a agricultura americana dá pra saída em soja, açúcar, cítricos, carne, frango, frutas! Produzimos pacas e bem. Com níveis inigualáveis de produção e produtividade! É a vingança do campo! Aleluia!
P.S. Final do governo Figueiredo, 79-84, a propaganda alardeava: mais de um milhão de títulos de propriedade agrária distribuídos! Veio a democratização, Sarney assumiu. E o processo de distribuição de títulos de propriedade não parou. Pouco adiante pintou o MST, movimento dos sem terra. Que o Fernando Henrique Cardoso definiu como utopia regressiva: volta à terra, ao que Marx chamou de “idiotia da vida rural”. Hoje o número de com terra é bem maior que o número de sem terra. A quantidade de terra distribuída pelo governo FHC foi outro recorde. A tal ponto que não há mais terra para distribuir. É, isso mesmo! Quem afirma é o Xico Graziano. Ex-presidente do Incra, ex-secretário do Mário Covas, grande estudioso do tema. Que tal mudar de assunto? Que tal o PT parar de falar de reforma agrária como se fosse algo urgente? A não ser que o PT queira estatizar a terra, a maneira mais fácil de torná-la improdutiva, estéril. Carlos Alberto Pessôa é jornalista e escritor. Escreve diariamente para o site da Revista Ideias. Leia mais: www.negopessoa.com
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carnaval FÁBIO CAMPANA
Não
agite! Adolfo Wendpap
V
ou repetir o que já disse em cultura da maioria absoluta. Mais grave. nina e masculina — e um fenômeno outros carnavais, a começar Pede subsídios públicos para tanto. Mais assombroso da preguiça coletiva que por uma observação muito barato seria a prefeitura despachar essa toma conta de uma nação em peso, didática. Não agite é o nome da prin- gente para esbaldar-se em Antonina, pronta para achar pretextos para deicipal escola de samba de Curitiba. onde, dizem, o carnaval existe. xar de trabalhar três dias redondos. Resgatar? Difícil está sendo até Não poderia ser mais apropriado. Aqui, a palavra de ordem deve Tratando-se de carnaval desta área ser a da escola de samba. Não Agite! mesmo resgatar — e aí sim, valeria a chuvosa do planeta e do samba feito Há quem diga que estamos resgatan- pena — os ritmos negros que fazem por aqui, tem tudo a ver. do a alegria da grande festa brasileira, notável toda uma música aparentaCuritiba nunca foi dessas alegrias, enquanto o espetáculo vai enrique- da com a África. A música nascinem sequer foi da alegria. Traz consigo cendo-se em mesmice e vulgaridade. da da desgraça de um transplante a rígida moral dos imigranforçado como a flor rara Mais barato seria a prefeitura despachar de um espinheiro. Não se tes, baseada no princípio do desempenho. É sisuda essa gente para esbaldar-se em Antonina, resgata coisa alguma, a e gosta de ser sisuda. Connão ser por meio de um onde, dizem, o carnaval existe sidera boçal essa alacridamovimento espontâneo de com hora marcada para gerado por emoções veracontecer e hora marcada para acabar. Resgatar? Voltar a uma noite dos dadeiras. O carnaval foi a expressão Eu prefiro a quaresma. Não que tempos em que os curitibanos saíam de algo que subia das entranhas de pretenda submeter-me ao sacrifício para as ruas metidos em fantasias para um povo. Mas o que hoje se exibe e aos açoites dos anacoretas, nem viver três dias de deslumbrada folia em exaustivamente no vídeo já não tem sequer fazer o jejum e a abstinência bailes e corsos é impossível. Havia em nada a ver com coisa alguma. Vou tentar encontrar um canto que a Santa Madre Igreja prescreve. tudo uma alegria ingênua, uma comMas gosto do silêncio, da placidez e postura e uma coerência inatingíveis. mais sossegado de praia para pôr em Sobraram os desfiles oficiais da dia leituras adiadas. Nada desse pedo roxo das quaresmas. O nome da escola de samba deve ser inspiração província e os do carnaval carioca cado coletivo e chato. Prefiro pecar transmitidos pela tevê. O curitibano sozinho. Ou melhor, em boa compado gosto pela calmaria. É obvio que há uma minoria dis- triste se vê diante da repetição pauli- nhia. De resto é esperar que passe posta a samba, suor e cerveja. Sempre ficante e embrutecedora do espetácu- mais este carnaval para que o país há. O pior é que insiste em fazer o seu lo, a escalada da grosseria, um debate volte à faina, depois das cinzas ou dos carnaval por aqui, contra a vocação e a aviltante em torno da nudez — femi- antibióticos, conforme a precisão.
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PESQUISA
O curitibano e o
carnaval
Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, feito com exclusividade para a Revista Ideias, mostra que a maioria dos curitibanos acredita que a cidade não tem vocação para a folia Normalmente, durante o período do feriado de carnaval, o Sr(a) prefere: RM / ESTIMULADA
O Sr(a) saberia dizer qual escola de samba venceu o último Carnaval de Rua de Curitiba? ESPONTÂNEA
14,15% Ir dançar/ assistir bailes ou desfiles de carnaval 34,15% Observar pela televisão os bailes/ desfiles de carnaval 53,41% Não dançar/ assistir nem observar pela televisão os bailes/ desfiles de carnaval 0,24% Não sabe
O Carnaval de Rua de Curitiba tem potencial para ser uma grande atração na cidade ou a cidade não tem vocação para o carnaval?
30,73% O carnaval de rua de Curitiba tem potencial para ser uma grande atração 62,44% A cidade não tem vocação para o carnaval 6,83% Não sabe
93,41% 2,44% 1,71% 0,98% 0,24% 0,24% 0,98%
Não sabe Mocidade Azul Acadêmicos da Realeza Embaixadores da Alegria Escola de Samba Bairro Alto Leões da Mocidade Outras citações
Nos dois últimos anos, o Sr(a) viu ou participou pelo menos uma vez do desfile das escolas de samba do município de Curitiba?
9,02% Sim 90,98% Não
O Sr(a) sabe em qual rua é apresentado o Carnaval de Rua de Curitiba, Av. Mal. Deodoro, Av. Cândido de Abreu ou Rua João Negrão?
27,56% 44,63% 23,66% 2,20% 1,94%
Não sabe Av. Cândido de Abreu Av. Marechal Deodoro Rua João Negrão Outras ruas citadas
O Carnaval de Rua de Curitiba deve continuar e ser incentivado ou deve ser extinto?
60,24% Deve continuar e ser incentivado 33,17% Deve ser extinto 6,59% Não sabe
Esta pesquisa foi realizada com os habitantes do município de Curitiba maiores de 16 anos. Para a realização desta pesquisa foram entrevistados 410 habitantes. O trabalho de levantamento dos dados foi feito através de entrevistas pessoais em Curitiba durante os dias 16 a 18 de fevereiro de 2011, sendo acompanhadas 19,51% das entrevistas. Tal amostra representativa do município de Curitiba atinge um grau de confiança de 95,0% para uma margem estimada de erro de 5,0%.
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CultuRa
Preparem-se: os zumbis estão em Curitiba
KaRla goHR
Zombie Walk curitibano chega à 4ª edição Rodrigo Juste Duarte
U
zumbis no mundo Uma das primeiras Zombie Walks aconteceu em outubro de 2003 em Toronto no Canadá, com apenas seis pessoas caracterizadas. Dois anos depois, a primeira caminhada em grande escala ocorreu também na cidade canadense de Vancouver e contou com a participação de 400 “mortosvivos”. No Brasil, a primeira Zombie Walk foi realizada em Belém (PA), no dia 29 de outubro de 2006. Cidades como São Paulo, São Francisco, Montreal, Nova York, Sydney, Baltimore e Seattle também organizam a caminhada.
Rodrigo Juste Duarte
Os criadores da ideia são fãs de filmes de terror com zumbis, especialmente os do diretor George Romero, responsável pela trilogia composta por “Noite dos Mortos-Vivos” (1968), “Madrugada dos Mortos” (1978) e “Dia dos Mortos” (1985). No entanto, a Zombie Walk também acabou ganhando a adesão de fãs dos zumbis da cultura nerd atual, como os vistos na série de games e filmes “Resident Evil”.
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m evento que já se tornou tradicional do Carnaval de Curitiba é a caminhada Zombie Walk, que desde 2007 reúne pessoas fantasiadas de zumbis pelas principais ruas do centro da cidade para assombrar os desavisados. O evento já foi comparado a um desfile pelo fato de ser realizado nos dias de feriado carnavalesco. Neste ano, os zumbis voltam com seus trajes criativos e maquiagens pretas encharcados com sangue à base de groselha e catchup. Com participação livre e gratuita, cerca de mil pessoas, entre “mortos-vivos” e curiosos, são esperadas no domingo de Carnaval, 6 de março, segundo levantamento nas redes sociais. A concentração será na Boca Maldita, a partir das 14 horas, iniciando a caminhada às 15 horas, em direção às Ruínas de São Francisco, no Largo da Ordem. Os participantes são aguardados para apresentações de três bandas: Bad Motors (de Sorocaba), 3 Bop Pills e Radio Cadáver (ambas de Curitiba). Além dos shows, haverá prêmios para os melhores zumbis e sorteio de brindes. Durante o evento, que já entrou definitivamente para as atrações do Psycho Carnival (festival realizado durante o Carnaval de Curitiba há onze anos), os participantes imitam personagens de filmes de terror grunhindo e gemendo por onde passam. A ideia começou de maneira informal, quando os amigos Bruno Hoffmann e Tiago Rubini deram uma entrevista para um jornal local sobre filmes de terror B. Na conversa, surgiu o assunto sobre a Zombie Walk em São Paulo e, pronto. Foi um passo para que a dupla fizesse a primeira caminhada de mortos-vivos curitibana. “A ideia inicial era fazer diretamente vinculado com o Psycho Carnival, como é hoje. Mas na época houve uma certa resistência. Tanto é que o trajeto da primeira Zombie Walk era para terminar na frente do Jokers, quando o bar abrisse. O que de certa forma aconteceu, mas os participantes ficaram para fora na chuva até o bar abrir”, explica Hoffmann. O evento conta hoje com uma equipe de peso: Wallace Che Fontes Barreto, Welington Soares, Flavia Luiza Nogueira, Patricia Pastura Fang, Estela Zardo, Graziela Madella Kranz e Kitia Silva Sales e tornou-se uma das programações mais divertidas e por que não dizer, com a cara do carnaval curitibano. Veja como preparar sangue artificial para complementar o visual zumbi no site: revistaideias.com.br
aRlEtE baStoS pEQuEno
o risco das
profecias
N
ão há nada mais divertido e pedagógico que rever previsões que não se cumpriram e avaliações que o tempo mostrou que eram estultices. Divertido porque desmistifica os falsos profetas. Pedagógico porque ensina a não termos certezas definitivas. Entre essas avaliações há a do marechal Hindenburg, presidente da Alemanha em 1931. Ele afirmou o que segue: “Hitler é um sujeito esquisito que nunca chegará a chanceler. O máximo que ele pode aspirar é a chefia do departamento de Correios e Telégrafos”. Deu no que deu. Luís XVI foi deposto, julgado e guilhotinado em 1793. Ele disse a seguinte frase dias antes de sua execução: “O povo francês não é regicida”. Era. Os executivos do show business também erram e quando erram perdem uma montanha de dinheiro. Foi o que aconteceu com o dirigente da Metro a respeito de Fred Astaire em 1928. Seu relatório dizia “Não sabe representar nem cantar e é careca. Dança um pouco”. Ora, pois, Fred Astaire foi ser feliz e milionário em outra companhia que apostou em seu talento. Emmeline Snively, diretora de uma agência de modelos, cruzou com Norma Jean Baker em 1944. Recusou-lhe um emprego e ainda fez a seguinte recomendação: “Sugiro que você faça um curso de secretária ou se case”. Norma Jean Baker tornou-se atriz com o nome de Marilyn Monroe e até hoje leva milhões de pessoas aos cinemas. Com a sua grife estão à venda centenas de produtos no mundo todo. Da senhora Emmeline Snively ninguém conhece a história, a não ser por esse episódio. Mas Emmeline não está só nessa comédia de equívocos. Um executivo da gravadora Decca descartou os Beatles em 1962 com a seguinte observação: “Não gostamos do som de vocês. Além disso, conjuntos de guitarristas não têm futuro.” Pois, pois, os Beatles mesmo depois da dissolução do conjunto e da morte de dois de seus integrantes, con-
tinua a fazer sucesso em todo o planeta. Em favor desses desastrados há um consolo. Gente inteligente já escorregou em previsões desmentidas pelo tempo. Auguste Lumière, por exemplo,
“Sugiro que você faça um curso de secretária ou se case” afirmou em 1895 sobre o cinema: “Meu invento pode ser explorado como uma curiosidade científica por algum tempo, mas não tem futuro comercial.” Erasmus Wilson, eminente professor da Universidade de Oxford, tinha lá suas dissensões com os inventores. Mas não precisava cometer a frase que o consagrou como um profeta idiota: “Quando a exposição de Paris fechar, ninguém mais vai ouvir falar em luz elétrica”. Pobre Wilson, depois dessa foi condenado às sombras. E o pintor Edouard Manet que disse a Claude Monet em 1894: “Esse rapaz não tem o menor talento. Diga a ele para desistir de pintar”. Referia-se a Auguste Renoir, que graças aos céus não ouviu a recomendação e construiu sua obra maravilhosa. Como se vê, fazer previsões é sempre um risco de ridicularia que qualquer pessoa com alma de profeta corre. Melhor é não arriscar. Principalmente quando se percebe que a previsão é informada por um sentimento muito pequeno, mas que é capaz de submeter a cabeça mais inteligente ao opróbrio: a inveja. março de 2011 |
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REpoRtagEm KaREn FuKuSHima Fotos Eduardo Reinehr
acredite, curitibanos fazem
swing Toda semana, centenas de casais reĂşnem-se em clubes de Swing, libertam-se de preconceitos e tabus e trocam de parceiros
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A
curiosidade somada às fantasias sexuais é a mistura mais comum que leva dezenas de casais a pisarem pela primeira vez em uma casa de Swing. Pois bem, se um dia resolver conhecer um dos vários estabelecimentos do tipo na capital paranaense, prepare-se. Você pode encontrar, já na entrada, seu médico de anos, ou tomar um drink no bar com uma empresária bem-sucedida. E até esbarrar no seu sócio, que jurava fidelidade eterna à esposa, mas estava ali ao lado de uma acompanhante bem mais jovem.
Longe de serem pessoas promíscuas ou configurarem casos patológicos de perversão sexual, são pessoas que fazem parte de um grupo, uma tribo, cujo hobby dos fins de semana é entregar-se completamente ao prazer físico, ao sexo sem muitos limites. Agora, convido o leitor a deixar o preconceito de lado. Esta matéria está longe de ser doutrinária. Tentarei, de forma clara, apresentar esta comunidade que cresce a cada dia em Curitiba. Vamos, portanto, conhecer o universo dessa tribo.
arroz doce Conheci A.M. (para preservar a identidade usaremos apenas iniciais e codinomes dos nossos entrevistados) em uma típica tarde de verão. Era sábado e marcamos de nos encontrar em sua casa após o almoço. Eram quatro horas da tarde. A.M. veio me receber no portão, de shorts e regata, disse estar fazendo faxina. De fato, quando entrei na sala as coisas pareciam meio fora do lugar, casa simples, com cheiro de arroz doce. Me ofereceu. Havia acabado de preparar uma panela inteira com uma receita que viu na tevê. Ia leite de coco, explicou. A simpatia que sentia dela ao telefone, se confirmou de imediato. Na sala, a tevê ligada passava algum filme destes antigos reprisados incansavelmente. Sua irmã, igualmente simpática, estava sentada à mesa, mexendo no laptop. Sentamos no sofá, que segundo A.M. estava com os dias contados, e começamos nossa conversa. A.M. tem 27 anos e trabalha em uma clínica médica, onde é secretária e assistente. Conheceu seu namorado com 17 anos e entre idas e vindas, está com ele até hoje. T.I. tem 49 anos e é médico. O começo do relacionamento foi tumultuado porque T.I. era casado. Depois de três anos veio
Cabine fechada para casal
o divórcio. A partir daí, o namoro foi assumido. A secretária mora com a irmã mais nova. Trabalha de segunda a sexta e está redecorando a casa. As duas pintaram sozinhas as paredes da sala. Não pensa em morar com o namorado porque gosta de ter seu espaço, sua privacidade, e também não gostaria de dividir o mesmo teto com a sogra, que segundo ela, não é fácil. O sonho de A.M. é ser mãe e quer concretizá-lo antes dos 30. Bem, até aqui A.M. poderia ser muitas pessoas que conhecemos. Simples assim, gente como a gente. Uma simpática jovem com sonhos e desejos. O que pode diferenciar nossa protagonista é a forma como mantém, há quase cinco anos, suas relações sexuais. Com o seu namorado e com outras pessoas. Não foi de uma hora para outra. Não foi de primeira. Mas A.M. se rendeu à curiosidade e às tentações.
a terceira Pessoa A.M. conta que a primeira vez que o namorado sugeriu incluir uma terceira pessoa na relação sexual foi de maneira sutil. “Tem uma amiga minha na cidade, seria março de 2011 |
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legal sairmos juntos e quem sabe...”, mas a sutileza não deu certo. A.M. conta que ficou indignada e achou a proposta absurda. Sabia das fantasias do namorado, mas não aceitou o convite. “Nossa, eu fechei a cara e não falei com ele por um mês. Ele insinuou que queria, mas eu não aceitei. Eu abominava isso, tinha 19 anos”. Mas os dois se acertaram novamente. E quando a relação, segundo ela, estava bem estável, A.M. resolveu ceder às investidas do namorado. E pela primeira vez foram a um clube de Swing. “Ah, ele sempre falava que queria ir, queria conhecer, e eu sempre falava que não, que não, que não. Aí um dia ele me convidou pra ir nesta casa — Desiree — a gente já namorava mais sério. E foi bem legal, porque é como uma balada convencional. Hoje em dia o Swing não é mais só Swing, é uma balada. Vai muito universitário lá. Por exemplo, na sexta-feira vai solteiro, vai casado, vai quem quiser. No sábado só pode casal”. Então começamos a nos aprofundar no assunto. E A.M. contou tudo, sem censura. Há, no Swing, que originalmente seria a troca de casais, um conjunto de regras (ver Box). Não são explícitas e muito menos estão coladas na parede, como mandamentos. Mas quem frequenta, conhece e respeita. Quem desrespeita é convidado a se retirar. Se você pensava que no Swing valia de tudo, enganou-se. Não é uma terra onde ninguém é de ninguém. Há limites. Para explicar todo este universo e nos aprofundar no funcionamento destes templos do prazer, convido-os a conhecer o Casal Vênus (nome fictício), que também nos concedeu uma entrevista sem pudores ou meias palavras. E mais. Abriram as portas da casa que administram aqui em Curitiba, a Venus Swing Club, e nos mostraram cômodo por cômodo, timtim por timtim.
UNIVERSO PARALELO Começamos nosso tour pela recepção. Normal como em qualquer outra casa noturna, exceto pela grande placa proibindo o uso de máquinas fotográficas, aparelhos celulares e qualquer outro eletrônico que possa expor os frequentadores. O Casal Venus me explica que quase não se vê essas placas em outras casas de Swing pelo Brasil, 42
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Cama coletiva
mas em Curitiba é extremamente importante para tranquilizar os clientes. “Essa é uma regra básica, não teria a necessidade de uma placa. Mas aqui em Curitiba é importante deixar bem claro para que todos entrem sem medo, fiquem à vontade”. Logo caímos em um corredor, que mais parecia um labirinto. As paredes almofadadas eram revestidas de couro vermelho. A luz escassa. Depois de duas ou três curvas, chegamos ao salão principal. Posso dizer, sem erro, que era uma balada. O som alto, as luzes coloridas e lasers coloridos dançando geométricos pelo ar. Atrás da pista de dança, uma piscina-aquário onde as mulheres, e estritamente as mulheres, podem exibir suas formas. Ao redor da pista de dança, pequenos palcos com
mastros de pole dance e mesinhas com cadeiras. Encontramos ainda, neste ambiente, pequenos camarotes com sofás. Olhando para cima, um mezanino com mais camarotes. Segui com nosso casal guia. Passamos pelo bar americano, cercado por banquetas. E me chamou a atenção o grande guarda-volumes, com várias portinhas. Perguntei se ali ficavam as roupas. Mas explicaram que o guarda-volumes é usado para carteiras, chaves, celulares. As roupas, cada um fica com a sua e as retira quando quiser. Para não perder a calcinha, por exemplo, as mulheres costumam enrolá-las no pulso. Dica de quem já perdeu muitas, explica o Casal. Fomos então para as suítes que se assemelham muito a quartos de motel, exceto pela privacidade. Espelhos nas
REGRAS DO JOGO • A mulher é quem toma a iniciativa quando o casal se interessa por outro casal ou por outra pessoa; • Os homens não devem chegar diretamente nas mulheres. Atitude considerada extremamente indelicada; • Homens não devem se relacionar sexualmente com outros homens. A relação homossexual não é oficialmente aceita. Exceto no Dark Room; • Bissexualismo feminino é incentivado; • Proibido qualquer tipo de aparelho eletrônico que possa registrar alguma cena dentro da casa (câmeras, celulares); • Uso obrigatório de camisinha. Pessoas que demonstram desinteresse na proteção são marginalizadas; • Proibido fumar. Exceto no espaço para fumantes a céu aberto que fica nos fundos da casa; • Casais que brigam por ciúme são convidados a se retirar e, dependendo da situação, ficam impedidos de voltar a frequentar a casa.
paredes e no teto, camas circulares, banheiros completos. E então uma bela e grande janela de vidro, para que o público dos corredores possa observar cada detalhe. As portas dos quartos não podem ser trancadas e muitas vezes ficam abertas também. Ao todo são 16 quartos, fora os outros ambientes. O tamanho da casa impressiona, principalmente porque foi um espaço idealizado e construído exclusivamente para a prática do Swing. A Venus é a maior casa de Swing do Sul do Brasil e uma das três maiores do país. Além de ser considerada a mais luxuosa. E como manter esses ambientes higienizados? O Casal Venus explica. Cada vez que um quarto ou cabine são usados, as mulheres da limpeza dão uma geral no lugar. Para facilitar a limpeza, as camas, travesseiros, até algumas paredes são revestidas de couro. Assim que um grupo sai, o local é limpo, inclusive o banheiro. Existe uma equipe de limpeza preparada. Enquanto limpa a porta fica fechada e assim que termina, deixa a porta aberta. “Mas não é comum que todos os quartos fiquem ocupados ao mesmo tempo. Quando um casal ou grupo entra em um quarto, costuma haver uma aglomeração em torno daquele espaço”. Há uma parte da casa que são várias cabines, uma do lado da outra. Uma espécie de tapume separa-as lateralmente. Mas não são totalmente fechadas. Há frestas circulares onde é possível “comunicar-se” com a cabine ao lado. Cada uma é fechada por uma porta de madeira com treliças que lembra muito, me perdoe os católicos, um confessionário. O Casal explica que tem casais que querem ser observados, mas não querem ser tocados e por isso escolhem estes espaços. Além dos camarotes da pista, como foi citado anteriormente, existem os camarotes do mezanino. Eles têm uma grande parede de vidro com janela voltada para a pista. Neste espaço a única restrição é que é preciso fechar grupos de, no mínimo, cinco casais. É como um camarote fechado de qualquer outra balada na cidade. Você paga por um pouco mais de privacidade. Embora, como explica o casal, “quem vem aqui não é pra ficar reservado é pra se expor, você vira cinema para os outros, ele (o camarote) finge uma discrição, mas na verdade expõe”.
Cama coletiva Mas a grande coqueluche de uma casa de Swing é a cama coletiva. Não pode faltar. Na Venus, é um quarto grande com uma cama que equivale a aproximadamente quatro camas juntas. Do lado oposto da cama, a parede. Onde, segundo o casal Venus, muitos casais começam observando. O voyeurismo é prática constante em uma casa de Swing. Em todos os ambientes, a qualquer momento, alguém está sendo observado por alguém. O único local da casa onde não impera o sentido da visão é o famoso Dark Room. Este é também o único local da março de 2011 |
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a ser a sua comunidade social. É tão interessante, tão diferente, tão forte, que você acaba não tendo vida social fora daqui, ela é muito restrita. Ir a uma pizzaria não tem mais muita graça. No final você não vai poder terminar sem roupa. Acaba você fazendo suas festas”.
Swing por Caixa Postal O Casal Venus é casado há 17 anos, faz parte do universo do Swing há 12 e pode afirmar que no começo era bem diferente. Era o chamado Swing de Revista, em que as pessoas se correspondiam por caixa postal. O casal se anunciava na revista, como em um classificado de casais. Era bem escondido. “Pegamos o finalzinho deste Swing de Revista e o começo Pista de dança e piscina aquário ao fundo dos clubes. Então nossas primeiras festas eram de cinco, seis casais, e já era o máximo. Quando casa onde algumas regras podem ser quebradas. O sigilo é tinha dez casais, uau. Lembramos que a primeira festa absoluto e para auxiliar, ausência total de luz. Não é possível que reuniu 100 casais foi um acontecimento. E hoje já é enxergar um palmo a frente do nariz. Nesta sala, de pequenas padrão a casa começar com 100 reservas”. proporções, o tato é o sentido mais aguçado. É escolhida por Como participam faz algum tempo, conseguem dar homens que gostam de se relacionar com outros homens, mas estatísticas do crescimento do público. “Há cada dez caque nos outros ambientes da casa são reprimidos. Por casais sais que vêm, seis ficam. Quatro vão voltar pra casa pra novos, que ainda tem vergonha de se expor na frente de to- talvez voltar algum dia. Mas que não venham nunca mais, dos. Por casais que querem ficar com outras pessoas, mas não dois”. E a casa ainda é recente. Foi inaugurada na metade querem saber quem é esta pessoa. “Tem muita gente que não do ano de 2010. O crescimento, acredita o casal, baseia-se quer saber com quem fez para não gerar ciúmes, então aqui na própria liberação sexual dos últimos anos. Há dias reservados na semana em que o Swing é aberto é o lugar ideal”, explica Venus. Fui advertida, inclusive, que cometi infração grave no quarto. Porque acendi as luzes do para solteiros. Neste dia chegam a 250 pessoas. Podem entrar meu aparelho celular. Explicitamente proibido quando a casa homens sozinhos ou em grupos. É mais difícil encontrar uma está em funcionamento. Claro que de forma bem humorada. mulher que vá sozinha, quando vão mulheres normalmente estão em grupos. É possível também encontrar casais de amigos. O alerta, nestes dias, é para os homens. Quando o Melhor que pizza homem está sozinho, a abordagem deve ser muito delicada. A casa dispõe de vários seguranças nos dois andares. Isso porque é sempre a mulher que chega em outro casal ou Nos quartos, por exemplo, é proibido entrar com copos em alguém sozinho. A mulher é quem dá os sinais. Uma das ou garrafas de vidro. Para consumir bebidas alcoólicas regras fundamentais do Swing. O homem solteiro quando nestes espaços, os seguranças oferecem copos de plástico. quer outra mulher deve fazer nada mais, nada menos, do A lei antifumo chegou também às casas de Swing. que se deixar ver. Sorrir, piscar, insinuar. “Mas é a mulher Existe, portanto, uma área de fumantes a céu aberto que quem vai olhar e vai dizer venha ou não venha”. fica a certa distância do espaço interno. Ainda hoje existem pessoas que praticam o Swing sem Ao lado desta área de fumantes, existe um espaço grande nunca terem pisado em uma casa de Swing. Estas pessoas com várias mesas e cadeiras e uma churrasqueira. Grupos têm medo de encontrar alguém conhecido. Praticam em de casais pedem para usar o espaço para se reunir entre os motéis, nas próprias casas. Ainda mantém-se o clubinho amigos, comemorar aniversários, preparar um churrasqui- restrito. É o medo do julgamento alheio. nho. Não necessariamente as pessoas vão fazer algo mais. Mas o Casal Venus explica que o mundo do Swing, es- COMBINAÇÕES MATEMÁTICAS pecialmente em Curitiba, é pequeno. Funciona como uma cidadezinha pequena. “Todos de alguma forma se conhecem, No Swing não é necessário que você troque com outros todos de alguma forma sabem o que está acontecendo. Passa casais. Pode ser uma soma. Uma mulher ou um homem une-se 44
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CURIOSIDADES • Na maioria dos casos é o homem quem convida a mulher para ir ao Swing. Mas, invariavelmente, é a mulher quem se solta primeiro. • Em Curitiba, a presença de Gogo Boys e Gogo Girls é crucial para o sucesso da noite. Mesmo frequentadores veteranos sentem-se tímidos no início da noite. É quando os dançarinos entram em cena e incentivam a aproximação. • Há casais que frequentam clubes de Swing há dez anos e nunca realizaram nenhuma troca. Gostam apenas de se relacionar em público. • Para não perder calcinhas, as mulheres costumam enrolálas no pulso. • Alguns homens e mulheres gostam apenas de olhar seus parceiros com outras pessoas e não fazem absolutamente nada durante a noite. Apenas observam. • É possível identificar as pessoas que vão pela primeira vez. Geralmente a mulher está de calça jeans e o homem fica sempre “protegendo-a” com os braços. • Na primeira vez, a curiosidade sobrepõe-se ao prazer. As pessoas ficam com receio, com medo de serem atacadas e não relaxam. • Em Curitiba, há cinco casas principais de swing. A Desiree, mais conhecida. A Liberty House, mais antiga. A Venus, considerada a maior e mais luxuosa do Sul do Brasil. A Pepper Club, uma espécie de bar para casais, mais intimista. E o Fantasias, um dos clubes mais novos de Swing da capital. • O valor da entrada para o casal varia muito entre as casas de Swing e também varia o valor para os solteiros. Em média, o casal gasta R$ 90. Os solteiros R$ 110. E as mulheres, quando a noite é de solteiros, têm entrada livre. • Em geral, as festas são temáticas. • Algumas casas de Swing possuem bate-papos exclusivos para casais Swing. Os casais se cadastram e pagam uma taxa de manutenção mensal para manter o perfil.
a um casal. O Casal Venus explica que as combinações são inúmeras, matemáticas mesmo. Alguns gostam apenas de ver sua mulher com outros homens, ou outras mulheres, a mulher também gosta apenas de ver entre outras opções. Em relação ao número de parceiros, não há limite estipulado para uma noite. “Existem os atletas, é bonito de ver (risos), mas não é o comum. O normal é que em uma noite você tenha uma experiência, seja com a troca de casais ou com mais um homem, mais uma mulher. Veja, o relacionamento de dois já é complicado, você unir-se a mais dois e fazer dar certo em uma noite, tem um certo nível de dificuldade”, explica o Casal Venus. Outro dado comum, de acordo com o Casal, é você sair em uma noite e não conseguir realizar nenhuma troca ou soma. A A.M., nossa primeira entrevistada, conta que o casal precisa
gostar do outro casal para fazer a troca. Ela precisa gostar do outro homem e ele da outra mulher. “Não faço caridade”, diz A.M. E por este motivo, não é tão fácil encontrar vários casais em uma noite com quem se tem mais interesses. “A questão mesmo é tentar uma coisa nova. Mas você pode pegar uma carta marcada, que é um casal que você já conhece, ou ficar apenas com o seu parceiro. Tem ainda a possibilidade de você investir e não dar certo, ou ainda estar todos na cama nus, mas alguma coisa não funciona. É comum”, explica o Casal Venus. Nas casas de Swing, as relações costumam ser mais rápidas. Depois que os casais terminam eles podem continuar a interação no bar e trocar contatos, caso tenham gostado do outro casal, ou não. Todos se vestem e vai cada um para o seu lado.
Salvação do casamento O esclarecimento é peça chave do Swing. Os casais que se predispõe a praticá-lo devem estar muito bem afinados. Se não, a briga é inevitável. O ciúme toma conta e o controle acaba. A.M. conta que com ela e o namorado, T.I., isso aconteceu apenas uma vez. “Conhecemos um casal, eles eram super ricos. E a guria era linda, tinha uns 19 anos, tinha um filho já, mas era linda, tipo modelo. O marido era bem mais velho que ela. Daí rolou um clima entre nós quatro. Ele foi bem rápido comigo, acho que queria se livrar logo pra ver o que ela tava fazendo. E ela continuou lá com o meu namorado, mas eu tava tranquila. Daí ela começou a gemer e o cara fechou o tempo lá com a guria. Nossa, acho que foi a única vez que vimos eles e nunca mais”, conta. O Casal Venus dá uma estatística interessante. “A regra geral, por incrível que pareça, é que o marido traga, mas é a mulher que se solta primeiro. É mais uma fantasia masculina, a mulher demora mais para chegar. Mas quando ela vem, se descobre e se solta muito antes do homem. Isso aconteceu com a gente. Enquanto ela estava toda, toda, eu estava acanhado, com certo medo de me soltar”. O Casal confessa que por este motivo houve um pouco de ciúme no começo, uma certa insegurança. Mas hoje, muito bem resolvidos nesta questão, separam muito bem o sexo do amor. “Fazer sexo não implica doar uma parte da sua vida conjugal. Nossa vida conjugal continua. O amor nós fazemos em casa, com a convivência. Se ele vai pegar uma mulher linda significa que ele vai ter um orgasmo maravilhoso, simplesmente isso. Vai se levantar e vamos para casa, pagar as contas (risos)”. Para o Casal Venus, o Swing salvou o casamento. “A gente descobriu essa vida e acredita realmente que sexo é muito importante, que é muito bom. Nossa vida só melhorou depois do Swing, como casal mesmo”. março de 2011 |
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FOTOGRAFIA Dico Kremer
Nu negro
Elegância
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ão foi pelo seu nascimento, em 1922, quase coincidir com a abertura da Semana da Arte Moderna em São Paulo que German Lorca traz o modernismo em sua arte. E, curiosamente, nesse evento tão importante no panorama da cultura no Brasil não participaram fotógrafos. Só escritores, arquitetos, artistas plásticos e músicos. No país onde a cultura e a informação vindas de fora sempre chegavam com atraso a fotografia ainda era considerada uma curiosidade, um passatempo de desocupados. Pouco importava – e poucos sabiam e sabem – que um francês radicado no Brasil, em Campinas, descobrira o processo fotográ-
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fico ao mesmo tempo que Nièpce e Daguerre: Hercule Florence. De igual forma o valor de um Valério Vieira, principalmente com a sua fantástica e criativa fotografia “Os 30 Valérios”, era olimpicamente ignorado. Mas German Lorca além de moderno, sem que ainda soubesse, veio com uma câmera fotográfica interna, embutida. Contabilista com escritório próprio dedicava-se nas horas vagas à sua paixão pelas imagens. Foi quando o escritor, engenheiro e sertanista Manoel Rodrigues Ferreira percebendo a sensibilidade e a criatividade de suas fotos incentivou-o a aprimorar-se na arte e na técnica fotográficas. Autodidata, a ler e a estudar os livros
e revistas que lhe caiam nas mãos frequentou o Foto Clube Bandeirantes, onde, a trocar idéias com outros fotógrafos profissionais e amadores definiu sua carreira profissional. Fez fotos sociais e de casamentos partindo logo depois para a fotografia publicitária. Porém não descuidou de seu trabalho pessoal. Participou e participa de várias exposições tanto no Brasil como no exterior tendo sido premiado em muitas ocasiões. Criatividade e, principalmente, elegância são a marca pessoal desse fotógrafo paulistano que, do alto de seus 88 anos, vem deslumbrando há tanto tempo a todos aqueles que têm o privilégio de ver a sua grande arte.
Mondrian
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Sรฃo Paulo crescendo
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Pernas
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Fumante
Catedral Nossa Senhora Aparecida
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cultura Marianna Camargo
Arte no Itamaraty
Itamaraty promove concurso de Arte Contemporânea para renovação do acervo
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Paola De Orte
diplomata Lucas NarDiretora do Museu de Arte dy Vasconcellos LeiModerna Aluisio Magalhães tão, representante do (MAMAM). Ministério de Relações ExteNa Comissão Julgadora, riores, apresentou em Curitique escolherá os vencedores, ba o “I Concurso Itamaraty estão confirmados Rodrigo de Arte Contemporânea”. Moura, curador do Inhotim, Guilherme Bueno, Diretor GeO diplomata se enconral do MAC de Niterói, Tanya trou com o Secretário de Barson, curadora de arte inCultura, Paulino Viapiana, ternacional da Tate Modern, conheceu a produção local em Londres, Robert Kudielka, e fez contatos com a classe professor da Universität der artística paranaense. O acervo do Itamaraty é Künste e Martin Roth, direrico em obras brasileiras protor das coleções de arte de duzidas até as décadas de 50 Dresden. e 60. A intenção do concurso O concurso, que deve ser é aumentar o conjunto de perealizado a cada dois anos, ças atuais, premiando os privisa incentivar a produção meiros lugares em quatro cabrasileira de arte contempotegorias: pintura e escultura; rânea e ampliar sua divulfotografia e obras em papel. gação no exterior. As obras escolhidas irão, ainda, encorAo todo, serão distribuídos O diplomata Lucas Nardy Vasconcellos Leitão par o acervo permanente do R$ 150 mil em prêmios. As conheceu a produção artística local e ficou obras selecionadas irão comItamaraty com a fase contemadmirado com os trabalhos que viu por o acervo do Itamaraty, porânea da arte nacional. De podendo ficar expostas no acordo com Leitão, “a ideia que deve ser brasileiro. Palácio, embaixadas e connão é consagrar o consagraGrandes nomes do cenário das do, mas promover artistas ainda não sulados do Brasil. Leitão disse que ficou admira- artes visuais serão responsáveis reconhecidos”. do com a qualidade dos trabalhos pela escolha das obras vencedoexpostos em Curitiba e deixou a ras. Na Comissão de Seleção, que Serviço: “I Concurso Itamaraty de Arte capital paranaense com uma boa fará a análise prévia das obras, esContemporânea” - Inscrições até expectativa em relação ao número tão confirmados Marcelo Araújo, 25 de março. Mais informações no de inscritos no Estado. Só é permi- Diretor da Pinacoteca do Estado http://migre.me/3U84K tido inscrever uma obra por artista, de São Paulo, e Beth da Matta, março de 2011 |
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SolDa Humorista
C
onheci Solda em 1622,
numa pequena aldeia da Normandia. Ele se chamava então Geneviève e era uma encantadora moçoila de seus dezoito anos, rosto afogueado, cujo caso com um oficial inimigo provocara um escândalo sem precedentes na história da província. Aos 24 anos, acusada de bruxaria, Solda (aliás Geneviève), foi condenada à fogueira, ao lado da abadia de Cerisy-La-Forêt, consumindo, além de um vestido novo que custara vinte francos, uma vida toda dedicada a minar a resistência dos exércitos invasores. Depois de ser índio sioux e vampiro na Transilvânia, volto a encontrá-lo, já no século XIX, como aventureiro no Mississipi. Lembro-me ainda hoje da maneira como seu corpo foi atirado no rio e engolido pelas rodas do vapor ao roubar descaradamente no pôquer. Novo desaparecimento e eis que, em 1936, Solda marcha ao meu lado na campanha da Abissínia. Era um italiano da Sardenha, chamado Bertollucio, cuja maledicência não poupava nem o próprio Mussolini. Morreu no campo de batalha, praguejando, com uma flecha espetada no sub-solo. Reencontro-o, muito tempo depois, com uma certa surpresa, na Sala de Imprensa da Prefeitura. Finjo que não o conheco (ele me deve uma ficha de pôquer há mais de cem anos). E ele, aliviado, retribui com igual e fingida indiferença. Para quem não acredita em reencarnação, informo o seguinte: este último Solda nasceu em Itararé, São Paulo, em 1952, e igual aos seus avatares anteriores, é um sujeito que muito promete. Isto se não encontrar uma fogueira, o General Custer, uma estaca de madeira, um parceiro de pôquer violento ou uma flecha etíope pela frente. O que eu, particularmente, acho pouco provável. Jamil Snege (1973)
Solda é escritor, humorista e cartunista. Colunista da Revista Ideias. Veja mais: www.cartunistasolda.blogspot.com
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Marianna Camargo Jornalista
A escolha dos
talheres L
ina Bo Bardi, a italiana que escolheu o Brasil para viver, ousou nas formas da arquitetura do país, e fez o que foi considerado na época, em 1947, como “o maior vão livre do mundo”, o MASP — Museu de Arte de São Paulo — disse que o estilo não é medido apenas pela escolha da roupa, mas pelo que você escolhe para ler, para comer, pelos móveis e pela escolha dos talheres. Nada mais correto. Lina Bo tinha um olhar visionário e preciso, apenas ela poderia ter projetado a espetacular Casa de Vidro no bairro Morumbi, em São Paulo. O estilista mineiro Ronaldo Fraga, conhecido por suas consistentes coleções inspiradas em Nara Leão, Pina Bausch, Athos Bulcão, As Viagens de Gulliver, China, Rute Salomão, etc., fez no início da sua carreira uma divertida coleção chamada “Eu amo coração de galinha”. Perguntado por que a fez, respondeu: “quem mora na roça sabe que se você desenha um círculo em volta da galinha ela não o ultrapassa”, explicou o estilista. A metáfora cai como uma luva e esclarece profundamente algumas pessoas e escolhas. Carlos Drummond de Andrade escreveu textos ótimos sobre moda. Cito o trecho de Eu, Etiqueta: “Meu lenço, meu lençol, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça
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ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidências, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda!!!.” E Clarice Lispector, que além de escrever de maneira sublime, tinha uma elegância avassaladora, com seu penteado, o olhar marcante e os vestidos impecáveis. Como não lembrar de Tom Jobim e seu chapéu panamá, charutos e uísque, dos óculos redondos de Mário de Andrade, das saias até o tornozelo e blusas brancas de Lina Bo, as estampas de Zuzu Angel, os edifícios-sonho de Artacho Jurado, o terno branco de Cartola, a sobrancelha e a Emília de Monteiro Lobato, a máquina de escrever e os cigarros amassados de Nelson Rodrigues. Os olhos azuis em transe de Jardel Filho. Tantos outros que seria impossível enumerá-los. Lembrá-los nos remete ao estilo, mais, explica sua essência. Mas como disse Clarice Lispector, “que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho”. Portanto, vamos à escolha dos talheres. Marianna Camargo é jornalista e cronista. Chefe de Redação da Revista Ideias. Leia mais: www.mariannacamargo.blogspot.com
izabEl Campana Advogada e Cronista
Hoje não.
Amanhã. mais rápido quando estamos procrastinando. E isso nem sempre significa diversão ao invés de obrigação. Boa parte de adiar uma tarefa é envolver-se em outra tão enfadonha quanto a primeira. Exceto pelo fato de não ser a primeira. Outras vezes, culpar-nos por não dar cabo de um compromisso é a principal coisa que fazemos enquanto adiamos o dito cujo. Talvez tenha sido em momento assim que Fernando Pessoa escreveu “Adiamento“. Uma ode ao depois de amanhã que congrega todos os sentimentos de deixar o dever de lado. Mas Pessoa não foi o único procrastinador famoso. Mark Twain proclamou a célebre frase: “Não deixe para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã”. Lord Byron, por sua vez, conclamou todos à procrastinação. “Vamos ao vinho, às mulheres, à mirta e aos risos; sermões e soda, deixemos para amanhã”. Adiar parece mesmo ser universal. Procrastinar é palavra de origem latina. Mas os gregos também adiavam e chamavam isso de akrasia, que significa fazer algo mesmo sabendo de sua contra-indicação. Sócrates acreditava que a ignorância tinha de estar por trás do comportamento de ir contra seus próprios interesses. O exemplo de Guimarães Rosa, porém, desmente o filósofo. Rosa adiava sua posse na ABL por achar que quando isso acontecesse, o ciclo de sua vida estaria completo e ele então morreria. Pressionado para tomar posse, assumiu o posto de imortal. Morreu uma semana depois. O conselho do Jamil em prol do adiamento parece carregar muita sabedoria, afinal. Divulgação
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á quem diga que Dom João VI foi um grande procrastinador. Deixava tudo para depois. Inclusive a decisão de sair de Portugal em direção ao Brasil. Em nosso favor, anos mais tarde também adiou o quanto pôde o retorno à pátria lusa. Dizem ainda que foi essa característica que acabou por fazer dele o único monarca europeu a enganar Napoleão. Não decidir se aderia ao bloqueio continental contra a Inglaterra o salvou de ter Portugal invadido e seu trono tomado antes que pudesse escapar em direção aos trópicos. Conselho semelhante recebi um dia, ainda pequena, de Jamil Snege. O turco defendia que, diante de um problema, o melhor a fazer era esperar que ele se resolvesse por si só. Nada de angústia. Apenas aguardar até que a solução desse o ar de sua graça. Não se tratava da ideia presente no velho ditado: “O que não tem remédio, remediado está“. Não. O conselho consistia em aguardar o remédio, que viria naturalmente, ou pelas mãos de outrem, sem necessidade de esforço e sem o risco de agravar ainda mais uma situação fora do controle. Não sei sobre a validade do conselho. Mas penso que procrastinar é umas daquelas coisas inerentes ao ser humano. Não há quem não deixe para depois um trabalho, ou invente outras tantas urgências para não dar conta de uma simples tarefa. Há sentimentos que parecem fazer do homem, homem. Amor, ódio, inveja, solidão. Experiências que fazem parte da grande experiência de ser gente. E essa relação complicada com o tempo parece ser uma delas. Outro ditado famoso diz que o tempo passa quando estamos nos divertindo. Mas ele passa ainda
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CULTURA THAIS kaniak
O paradoxo do
teatro em Curitiba
Curitiba sedia o maior festival de teatro do país, mas a realidade do teatro local não reflete o que acontece durante o evento
O
mês de março é tradicionalmente um período de intenso movimento no cenário cultural da capital paranaense devido à realização do Festival de Curitiba, que neste ano chega à vigésima edição. Mais de 400 peças podem ser assistidas durante os 13 dias do evento, que neste ano começa no dia 29 de março e se estende até 11 de abril. Serão 31 espetáculos, com oito estreias, mais um espetáculo internacional na Mostra Principal. Na mostra paralela, o Fringe, companhias de 19 estados brasileiros e Distrito Federal apresentarão 373 espetáculos — além de dois espetáculos internacionais. O evento estabeleceu a cidade como referência no cenário teatral brasileiro e reservou seu espaço na agenda cultural do país. Porém, a realidade da cena teatral no Estado é outra. Depois que este furacão passa pela cidade, as
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companhias de teatro locais voltam à realidade do que é o teatro em Curitiba e dos profissionais do meio. “É apavorante. Termina-se um trabalho e não se tem a certeza de quando irá conseguir um novo, a não ser que você faça parte de uma companhia estável com produções constantes”. É assim que o ator, diretor e sonoplasta Jader Alves define a vida teatral na capital do Estado. Ele conta que o curitibano apenas lembra que existe teatro na cidade na época do Festival: “Os espaços ficam praticamente às moscas no restante do ano. Infelizmente, é um panorama assustador”.
Sobrevivência Alves explica que é preciso assumir várias facetas para sobreviver. Ele mesmo se encaixa neste perfil: “Hoje
um profissional precisa desenvolver, no mínimo, duas atividades. Ser ator e também diretor ou produtor e atuar nas áreas técnicas como som, luz, cenografia”. Em sua concepção, é quase impossível sobreviver de teatro — não só em Curitiba, mas em todo o Brasil.
dade é a falta de apoio em todos os sentidos, do governo, da iniciativa privada e da falta de divulgação. “Alguns órgãos da imprensa tratam o teatro, especialmente o local, com total indiferença. Alguns veículos parecem publicar roteiros culturais por mera obrigação, sem o mínimo discernimento entre o que é bom e o que não é, o que merece destaque e o que não merece crédito”, avalia.
Canibalismo E a crítica de Alves não para por aí. Ele também coloca que o Festival de Curitiba perdeu o foco cultural e se tornou um evento comercial. “tem pouco ou nenhum critério de seleção por parte da curadoria do evento. Produções de grande montagem disputam espaço com produções semiamadoras”, afirma. Muito trabalho e pouco retorno. “É uma época de total ‘canibalismo’: mais de trezentos espetáculos disputando um público parco que fica perdido em meio à verdadeira feira livre que o Festival proporciona. É impossível separar o joio do trigo”, argumenta o ator, diretor e sonoplasta. Mas, paradoxalmente, ele conta que não há como ficar de fora do evento, que funciona como uma tábua de salvação para as companhias lançarem trabalhos e arriscarem conseguir destaque para suas obras.
Marco Novack
Mito
“Uma tarefa realmente árdua”, pontua. Ele atribui esta dificuldade à falta de tradição cultural. “A arte é subjugada e tida como item supérfluo, contando com um mínimo de apoio privado ou subsídios oficiais”, lamenta. Para Alves, a principal dificul-
Ainda existe a questão de o teatro ser tido como caro. Segundo Alves, este é um falso pensamento que foi construído por uma visão errada. “O curitibano costuma assistir às peças vindas de fora com atores consagrados pela televisão e que, realmente, têm ingressos a preços pouco acessíveis. O curitibano prefere ir a um destes espetáculos ‘globais’ ao invés de ir a cinco ou seis peças locais”, ressalta. A diretora artística da Companhia
do Abração, Letícia Guimarães, endossa que a ideia de teatro ser caro é um mito. Ela afirma que peças locais podem ter o preço do ingresso mais barato do que o ticket do cinema. “Os espetáculos com atores globais são caros e mesmo assim têm público”, relata.
Difusão A Cia. do Abração, conhecida por produzir teatro para crianças de todas as idades, tem um espaço cultural onde oferece oficinas de teatro para crianças, adolescentes e adultos. Para Letícia, a principal dificuldade no meio é a difusão dos espetáculos na cidade. Ela conta que a companhia é mais conhecida fora de Curitiba por participar de festivais nacionais e internacionais específicos para crianças. Em média, a companhia produz um espetáculo anual. E cerca de quatro peças são apresentadas pelos alunos das oficinas da companhia durante o ano. Letícia explica que os orçamentos dos auxílios recebidos, como da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e dos editais de fomento do governo municipal, são pequenos. “O recurso serve para três meses de trabalho, sendo apenas um de temporada. Depois, o espetáculo sucumbe”, relata. Letícia, assim como Alves, também sente falta de um apoio maior da imprensa para divulgação da produção local. Além da falta de verba e propaganda, Letícia faz uma análise da falta de interesse das pessoas em ver teatro. “O teatro perdeu seu caráter ritual de ir a uma celebração, onde artista e público compartilham de um momento único. O mundo contemporâneo não permite mais tanto envolvimento, é uma tendência. As pessoas não querem se envolver, as relações são efêmeras”, afirma. Em contrapartida, Letícia comenta sobre a cooperação existente — fundamental no desenvolvimento do teatro local. “Muito do que se faz março de 2011 |
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aqui se deve a pessoas que se doam e se unem por uma causa. É uma troca de ensinar e aprender juntos”, revela. A diretora relata que em Curitiba está surgindo um movimento de teatro de grupo. A Cia. do Abração e outras companhias estão formando a “Renatin Paraná”, que é uma extensão de um movimento nacional, a Rede Nacional de Teatro Infantil. Em abril deste ano, será realizado o 2º Encontro Nacional da Renatin em Curitiba — organizado pela associação do Paraná.
Independente O diretor curitibano Paulo Biscaia está à frente da companhia – também curitibana – Vigor Mortis que já se
“O Festival é um mercado descartável. É uma lógica de quantidade, não de qualidade”, Paulo Biscaia apresentou em São Francisco, nos Estados Unidos, e no eixo Rio – São Paulo. Ele conta que a Vigor Mortis é mais conhecida em Curitiba do que em outros locais e que não pode reclamar da falta de público. A companhia já chegou a fazer mais apresentações de um espetáculo em São Paulo e no Rio de Janeiro do que em Curitiba, mas ele acredita que isso se deve ao fato de a demanda ser maior nestas duas cidades. Biscaia afirma que a experiência internacional da companhia foi maravilhosa. “Público e crítica foram calorosos conosco”, orgulha-se. Em outubro do ano passado, a Vigor Mor58
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Festival passa uma noção equivocada do teatro em Curitiba”, finaliza. A companhia estreia neste mês de março o espetáculo “Os Catecismos Segundo Carlos Zéfiro”, no Rio de Janeiro. Com direção e roteiro de Biscaia, a peça conta a vida do pai da pornografia dos anos 60 e 70. Já em abril, a Vigor Mortis volta aos palcos curitibanos com a peça “Avenida Independência 161”.
Qualidade O ator curitibano Luís Melo é consagrado, nacionalmente, por sua atuação no teatro e na televisão. Melo
Divulgação
Arquivo pessoal
Jader Alves assume multifacetas para sobreviver do teatro
tis apresentou o espetáculo “O Laboratório Maldito” em São Francisco, Califórnia, no teatro de uma companhia americana que tem uma pesquisa semelhante a da Vigor Mortis. Para Biscaia, na capital paranaense são feitos os melhores teatros do país. “É um teatro amadurecido, que quer falar com o público. Apesar de ser tímido, está crescendo”, analisa. Ele acredita que Curitiba tem espaço para aumentar o mercado teatral da cidade que, segundo Biscaia, é emergente, com qualidade e inteligência. O diretor relata ser possível fazer humor de primeira; inclusive cita o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht para elucidar a afirmação: “A arte, quando é boa, é sempre entretenimento”. Até 2010, a Vigor Mortis participou do Festival de Curitiba. No ano passado, apresentou duas peças. Mas Biscaia garante que não tem mais intenção em fazer parte do evento neste ano nem nos próximos. “O Festival é um mercado descartável. É uma lógica de quantidade, não de qualidade”, critica. Ele ainda fala que não vale a pena investir no Fringe, a mostra paralela, que considera como um caça níquel de ocasião. “É um desfavor ao teatro. O
Letícia Guimarães é diretora artística da Cia. do Abração, que produz teatro para crianças de todas as idades
conta que o teatro paranaense é reconhecido no eixo Rio – São Paulo e que sente orgulho em acompanhar as companhias paranaenses no circuito nacional. “O Paraná está com qualidade artística e de pesquisa invejáveis. Está em um lugar de muita respeitabilidade, tanto em qualidade de atores e diretores como em propostas e trabalho continuado”, garante. O ator lamenta o fato de o público local não ter conhecimento do teatro feito no Estado. “Curitiba deve se orgulhar pela representividade e qualidade das companhias paranaenses: é o que tem de melhor e de mais novo no teatro. Diretores daqui são requisitados por companhias de fora e os atores são disputados a tapa para teatro e televisão”, ressalta. Para reforçar esta realidade, Melo cita a Companhia Brasileira de Teatro, que ganhou no ano passado o prêmio de melhor espetáculo na sexta edição do Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura com a peça “Vida”. Melo ainda lista a Sutil Companhia de Teatro e o Armazém Companhia de Teatro como companhias paranaenses de destaque e reconhecimento no país. Melo afirma que Curitiba tem um potencial de consumo muito alto, mas consome apenas o que é de fora e tem preconceito com a produção local. “Prefere consumir o que vem de fora. E se sente na obrigação de consumir o que é local somente depois do sucesso lá fora”, destaca.
Condições O artista relata a falta de condições para as companhias trabalharem com tranquilidade no Estado. Para ele, o Paraná não percebe que precisa de investimento em espaço físico para as companhias manterem um trabalho continuado e sobreviverem a um tempo maior de pesquisa com mais dedicação. “Precisa-se sair da escravidão dos grandes teatros. Estreitar a distância com o público. Os espaços culturais próprios aumentam a visibilidade das companhias dentro da sua própria cidade”, complementa. Ele ainda afirma que Curitiba não apoia a produção cultural, que é necessário buscar recursos fora, onde as companhias paranaenses têm conseguido patrocínios. E também falta divulgação. “Por que não incentivar? O Paraná é um grande celeiro do teatro contemporâneo. Já li páginas inteiras em jornais de outros estados com matérias sobre peças paranaenses e que apenas semanas depois saíram em um jornal local. É preciso dar destaque para que o público fique sabendo e se orgulhe”, pondera. Na visão de Melo, festivais são criados para trazer novas referências, mostrar o que é produzido de novo e de interessante no Brasil. E ele acredita que esta era a base inicial do Festival de Curitiba: trazer as novas produções de grandes diretores. “Hoje o Festival se tornou um grande evento, que investe muito em publicidade. Mas, na realidade, este crescimento diminuiu
Campo das Artes Melo está conduzindo a construção do Campo das Artes, um espaço cultural de 164 mil metros quadrados em São Luiz do Purunã, distrito de Balsa Nova, município da região metropolitana de Curitiba. Ele define o local como um espaço de intercâmbio para que companhias façam um trabalho continuado de pesquisa, criação, residência artística, desenvolvimento de projetos e estreia de espetáculos. O Campo das Artes começou a ser construído em 2008, mas ainda não está funcionando. No próximo ano, dois barracões centrais devem ser inaugurados: um lounge com café e uma área multiuso, que será aberta para a comunidade. “É um espaço público”, garante. O espaço também terá biblioteca, videoteca e sala de projeção. A ideia é de que o projeto seja adotado pela comunidade. “O Campo das Artes precisa se tornar necessário para as comunidades artística e local. Quero desenvolver um trabalho integrado com a sociedade”, declara. Melo planeja integrar as artes: juntar teatro, arquitetura, paisagismo e, assim, atrair estudantes universitários. Também está em seus planos valorizar o material humano, oferecer oficinas para costureiras, bordadeiras, marceneiros, eletricistas, iluminadores. A intenção é formar, orientar e dar oportunidade para a comunidade. “Existe uma carência de mão de obra especializada. Quero formar esta mão de obra, afinal todo mundo precisa. E a convivência com as artes é muito saudável”, afirma. Melo deseja que o Campo das Artes seja uma referência como espaço de pes-
Rodrigo Lopes
Arquivo pessoal
A Vigor Mortis, do diretor curitibano Paulo Biscaia, teve crítica e público calorosos em São Francisco, Califórnia
a qualidade”, considera. Melo avalia que se perdeu a essência do festival, “ganhou grandiosidade e perdeu em qualidade. O evento não reflete a realidade do teatro paranaense. O público fica perdido”, observa.
O ator Luís Melo acredita que o Paraná deveria investir mais em cultura
quisa, mas acredita que pode ser muito mais do que isso dependendo das parcerias que surjam no caminho: “vai ter um tamanho de acordo com o número de pessoas que abracem a causa”.
Outro lado O diretor geral do Festival de Curitiba, Leandro Knopfholz, rebateu as críticas ao evento. Knopfholz explica que as 31 peças da Mostra Principal são selecionadas por uma curadoria formada por três pessoas, uma do Rio de Janeiro, uma de São Paulo e outra de Belo Horizonte. “Eles se reúnem entre os meses de julho e dezembro para definir uma linha de curadoria que retrate o teatro brasileiro naquele momento. Após este diagnóstico, es-
“O Paraná está com qualidade artística e de pesquisa invejáveis”, Luís Melo petáculos são levantados, assistidos e convidados”, conta. Já a mostra paralela busca, sim, a quantidade, mas desde que os espetáculos sejam profissionais. “Não existe um critério de seleção para as peças do Fringe. As companhias profissionais fazem suas inscrições e participam”, relata. Para o público resta escolher quais espetáculos assistir na imensa quantidade de opções. De acordo com o diretor geral, a melhor maneira é buscar informações no material de divulgação do Festival e no site, que também traz as sinopses dos espetáculos, finaliza. março de 2011 |
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VICENTE FERREIRA Professor e Gastrólogo
Nosso único prato
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á 500 anos o principal prato nesta área chuvosa do planeta era o próprio homem. A gente da terra tinha especial predileção pela carne humana. Com justa razão, considerando-se o grande prato de carne.
Os documentos não são coincidentes a respeito do pedaço mais disputado. Há autores que garantem que o coração do adversário tinha lugar especial à mesa. Mas o mais provável é que isso tivesse a ver com razões políticas. Há quem diga que os miolos eram colocados em primeiro lugar na gastronomia da época. Diz um estudioso que os nativos procuravam preservar a cabeça das pancadas de tacape para não estragar a iguaria. Muita gente dirá que o tutano do osso da canela, a parte gorda do dedo polegar e o lombo figuravam sempre entre as grandes atrações de um festim canibal. De qualquer forma, a afirmativa inicial é inegável. No princípio era o homem. É de 1500 a influência portuguesa na comida brasileira. Nessa época aparecem senhores lusitanos à mesa dos nativos, com bastante sucesso, graças à pele branca até então desconhecida. Muito tempo depois, o viajante Hans Staden, viajante alemão, escapou da panela porque tinha sardas com cor de ferrugem que pareceram sinal de doença para os índios. Hoje, a nossa gastronomia resulta em grande parte do cruzamento da cozinha portuguesa com a africana e um tanto dos indígenas. Dessa cozinha nativa restou pouco no Paraná. Muito pouco. Para se ter uma ideia, a obra inteira do Dalton Trevisan não tem uma recei60
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nativo Hans Staden de barba, ao fundo, assiste a um "churrasco" ritual.
ta sequer, em contraste com a volumosa gastronomia de outros autores, como Pedro Nava, Eça de Queirós, Proust & Cia. A única invenção paranaense para levar à mesa é o barreado e, assim mesmo, há quem jure que sua origem remonta à culinária de além mar. Pois, pois, fiquemos com o barreado. Bom prato, forte, reinventado por Guilhobel de Camargo, que já não está entre nós para contar como fez para reintroduzir o barreado no cardápio nativo e transformá-lo em tradição associada ao carnaval. Aí vai a receita do barreado antoninense. Em Paranaguá ele adquire ingredientes pouco prováveis na fórmula originária. Tomates, por exemplo, significam heresia para um antoninense da gema. Massa de tomates, então, soa a blasfêmia. Há, também, o barreado de Morretes, mas os estudiosos desaconselham essa fórmula por louvor ao paladar, à saúde e à tradição. Vamos, pois, ao barreado de Antonina registrado nos alfarrábios do Guilhobel, que abria a panela ao som de foguetório e do hino de Antonina.
• 4 kg de carne (peito, coxão mole, patinho); • 100 g de toucinho fresco; • 3 cabeças de cebola; • 10 dentes médios de alho; • Folhas de louro; Guilhobel de Camargo • Cominho; • Sal; • Pimenta-do-reino; • 1 maço grande de cebola verde; Preparo
Inicie o corte e a limpeza das carnes na véspera. As carnes e o toucinho devem ser cortados em pequenos pedaços, adicionando-se todos os temperos cortados. Leve tudo a uma vasilha que não seja de alumínio. Deixe repousar até o dia do preparo. Forre uma panela de barro (fundamental) com o toucinho e leve ao fogo para derreter. Depois, coloque as carnes temperadas, tampe a panela com uma folha de bananeira, previamente sapecada na chapa para amolecer. Coloque a tampa e barreie, ou seja, sele a tampa com uma mistura de cinza de fogão, farinha de mandioca e água fervente, para dar a liga. Depois de bem vedada, leve ao fogo forte nas primeiras horas, passando para um fogo mais brando depois. O fogão deve ser a lenha. O tempo de cozimento é de 15 horas. Quando a folha da bananeira estiver bem escura, o barreado estará pronto. em boa companhia
O barreado é servido com arroz, farinha de mandioca, banana-caturra e pimenta malagueta. Acrescente o pirão feito com o próprio caldo, farofa e laranja-pêra. Requente o barreado quantas vezes forem necessárias, sem necessidade de "barrear". Uma cachaça fina feita de banana para aperitivo. Ou da boa, que sai da cana. Na falta, caipirinha para abrir o apetite e cerveja ou vinho para acompanhamento.
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Uma revista de ideias.
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Leia para entender.
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barreado do guilhobel
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LUIZ CARLOS ZANONI Jornalista apreciador de vinhos
Uvas maduras
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Grande do Sul vive uma seca histórica. Péssimo para culturas como milho e soja, mas perfeito para a vinha. Chuvas em excesso neste período atrapalham a maturação dos cachos e diluem a sua qualidade, o que resulta em vinhos ralos, sem expressão. O problema afeta mais os tintos, que dependem do amadurecimento equilibrado e da boa concentração das uvas. No caso dos brancos é diferente, os produtores chegam até a antecipar a colheita, optando por frutas ainda não plenamente maduras e, por isso, generosas em acidez, o elemento responsável pelo frescor e a vivacidade que sempre se espera desses caldos. Anos como o atual são pouco frequentes na Serra Gaúcha. Acontecem, em média, duas vezes em cada década. O último foi o de 2005, igualmente marcado por uma estiagem arrasadora. É pouco, principalmente porque o consumidor tem, hoje, a opção dos bons e acessíveis rótulos chilenos e argentinos, produzidos em condições mais amigáveis de clima e localização. Fica fácil de entender, assim, a razão pela qual os grandes produtores estão adquirindo terras e investindo em plantações no extremo sul do estado, a área da campanha, quase na fronteira com o Uruguai. Situada na latitude 31° sul, a mesma das zonas vitivinícolas de Mendoza, Cape Town e Nova Zelândia, a região tem clima temperado, verões secos e uma diferença de temperatura entre o dia e a noite de 13°C, o que é ótimo para a parreira. Salton, Miolo e Aurora já estão lá. A Miolo anunciou a decisão de concentrar nessa nova fronteira seus vinhos tintos de maior apelo comercial, dedicando-se, na área serrana, ao produto que sempre foi a grande vocação local, os espumantes. Divulgação
A
Serra Gaúcha, fornecedora de 90% dos vinhos finos nacionais, está em plena ebulição. É sempre assim nesta época. A vindima vai de fevereiro até abril, um tempo de trabalho árduo e de muita festa. Nas cantinas, os mostos das uvas recém-colhidas borbulham, exigindo vigilante acompanhamento. E fervem os campos com a chegada de milhares de trabalhadores sazonais. Os terrenos acidentados da região inviabilizam a colheita mecânica. Ela tem de ser feita cacho por cacho, manualmente, à velha e boa moda antiga. A vindima marca o fim de um ciclo, recompensa a dedicação do produtor. Todas as regiões produtoras a comemoram. A Serra Gaúcha não fica atrás. As festas da uva e do vinho promovidas pelos municípios atraem visitantes de toda parte. São famosas as realizadas em Bento Gonçalves, Garibaldi, Farroupilha e Caxias do Sul, algumas com até um mês de duração. Diversas vinícolas abrem suas portas ao turista, permitindo que acompanhe as atividades nos parreirais e adegas. A região é, hoje, uma das mais bem aparelhadas do país em termos de hotelaria, sem falar nos muitos restaurantes, a maioria especializada nas receitas típicas do norte da Itália trazidas pelos primeiros imigrantes. Já se disse que enólogo nenhum faz um grande vinho a partir de uvas ordinárias, mas que, por incompetência, é possível transformar excelentes uvas numa péssima bebida. Pois não haverá desculpa. Matéria-prima de primeiríssima é o que o ano está rendendo. As costumeiras chuvas que encharcam a região nos meses de verão ausentaram-se desta vez. Enquanto no restante do país temporais castigam campos e cidades, o Rio
pRatElEiRa
caRa e coRoa caRinHo e caRÃo
os escRaVos de tiRadentes Li��os
a copista de KaFKa
A Copista de Kafka de Wilson Bueno é um mergulho nos fantasmas do século XX e nos proporciona um texto envolvente, cuja leitura se tem pena de interromper. Saudêmo-lo como verdadeira criação de nosso século. Boris Schnaiderman A Copista de Kafka. Wilson Bueno. Editora Planeta do Brasil, 2007.
Os brasileiros acreditam que seu maior herói, Tiradentes, era apenas um humilde alferes (cabo, na atual hierarquia militar) que suplementava seu parco salário arrancando os dentes dos outros. Pois, pois, o historiador André Figueiredo Rodrigues, no livro A Formação dos Inconfidentes – Caminhos e descaminhos dos bens de conjurados mineiros, demonstra com documentos que Tiradentes era proprietário de terras agrícolas e de mineração. Tinha pelo menos cinco escravos. Nas livrarias, lançado pela Editora Globo.
Este volume dá continuidade à intensa produção poética que Glauco Mattoso vem publicando desde 1999, após ter perdido completamente uma visão já deficiente (razão de pseudônimo) e ter permanecido quase uma década afastado da vida literária. O autor compôs mais de mil sonetos, metade dos quais reunidos em livros de pequena tiragem. A partir desta edição, que engloba os títulos CARA E COROA e CARINHO E CARÃO, nova parcela dessa safra sai do ineditismo virtual para o universo impresso. CARA E COROA retrata figuras verídicas ou verossímeis, sendo que a “coroa” refere-se ao ciclo intitulado do CATORZE QUEIJOS, de cunho simultaneamente culinário e autobiográfico. CARINHO E CARÃO, que também inclui passagens confessionais, divide-se entre a amenidade e a atrocidade, casando as facetas doméstica e selvagem do animal humano. Nestes cento e tantos sonetos o leitor tem a oportunidade de conferir por que Glauco Mattoso carrega a fama, se não de poeta maior, de maior poeta maldito entre os brasileiros vivos.
Cara e Coroa – Carinho e Carão. Glauco Mattoso. Travessa dos Editores, 2004.
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Fi��e
Rashomon. Interior do Japão. Século XII. Num bosque, o bandido Tajomaru, interpretado por Toshiro Mifune, mata um samurai e estupra sua mulher. No julgamento, versões contraditórias do crime são narradas, inclusive pelo morto, que fala pela boca de um médium. Clássico do cinema, filmado em 1950, tornou o diretor Akira Kurosawa e o ótimo ator Toshiro Mifune conhecidos internacionalmente. Agora em DVD.
Diretor Akira Kurosawa
Cena do filme Rashomon com Toshiro Mifune
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coRpos celestes
o anJo eMBRiagado
Outro filme de Akira Kurosawa com Toshiro Mifune no papel principal. No Japão do pós-guerra, o jovem gângster Matsunaga toma um tiro na mão e é atendido por um médico alcoólatra, que o diagnostica como tuberculoso. Os dois desenvolvem uma amizade que é ameaçada quando o antigo chefão de Matsunaga sai da prisão e quer retomar seus poderes na marra. Este filme foi a primeira parceria de Kurosawa e Mifune. Em DVD.
O longa-metragem “Corpos Celestes”, dos diretores paranaenses Marcos Jorge e Fernando Severo, estreia dia 11 deste mês nos cinemas. O filme conta a história do astrônomo Francisco (interpretado por Dalton Vigh) que vive entre a insignificância do homem e a imensidão do Cosmos. O astrônomo, marcado por um fato de seu passado, o qual deu origem à sua prolífica carreira, precisa lidar com um surpreendente mistério: os sentimentos que tem por Diana (Carolina Holanda), uma moça bem à vontade com seu lugar no Universo. “Corpos Celestes” é a atualização poética e lírica do antigo embate entre duas visões opostas do mundo: a filosófica e a pragmática. No elenco, Dalton Vigh, Carolina Holanda, Anthar Rohit, Alexandre Nero, o menino Rodrigo Cornelsen e mais 18 atores.
www.corposcelestes.com.brgação
o MelHoR de KuRosaWa
Exposições
Fotos de Haruo Ohara Haruo Ohara (1909-1999) cultivou o campo e com sensibilidade utilizou a fotografia para registrar a luz e construir formas abstratas a partir de volumes e texturas de objetos e da natureza presentes em seu dia a dia. Produziu também marcantes imagens documentais e humanistas da família, da região e de seu trabalho associado à abertura da nova fronteira agrícola no Norte do Paraná. Com o apoio do Governo do Paraná e da CAIXA, a mostra reúne 150 fotografias em preto e branco produzidas por Haruo Ohara entre os anos de 1940 e 1970. O fotógrafo agricultor é apontado como um dos mais importantes nomes da fotografia brasileira da segunda metade do século 20. Esta seleção integra o acervo do Instituto Moreira Salles, com mais de 18 mil negativos. A emoção do fotógrafo em ver sua intuição de uma determinada cena lentamente materializando-se no papel fotográfico certamente foi semelhante à emoção do lavrador Haruo, que, na luz atenuada do amanhecer ou do entardecer, contemplava o esforço de seu trabalho desabrochando em flor e fruto em seus campos cultivados. No Museu Oscar Niemeyer (MON) Marechal Hermes, 999. Até dia 27 de março de 2011.
Tecnologia e poesia
Música
Mestre Solomon
Os artistas multimídia Fábio Alves e Tiê Passos respondem pelo projeto “In.flexão”, que conta com uma exposição em cartaz no Centro de Criatividade de Curitiba. A mostra, sob a curadoria de Jonas Prates, faz a confluência poética entre informação, mídia e estética, propondo uma discussão sobre os mais recentes meios de expressão e comunicação e suas influências nas relações humanas. “In.flexão” levanta situações sobre a relação entre homem e máquina, questionando a construção de mensagens e do próprio sentido frente aos inovadores meios de comunicação. Os artistas instigam o observador a pensar como a computação interfere na construção de sensações físicas e de como acontecem as relações humanas no ciberespaço.
Solomon Burke é um dos maiores cantores e compositores de música soul, gospel e rock americano, responsável pela introdução de ritmo gospel nas músicas de soul e rock & roll. Foi considerado o Bispo da Soul ou o Rei do Soul Rock. Nascido em Filadélfia, Estados Unidos, em 1940, Burke foi pregador e o mestre de cerimônias de um programa de rádio gospel. Autor de canções como Down In The Valle – cuja versão mais conhecida se encontra na voz de Otis Redding – Cry To Me, e Everybody Needs Somebody To Love gravada por Rolling Stones, que a tornou mundialmente famosa. Em 2001, Burke selou a trajetória de sucesso quando seu nome foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame. O álbum Don’t Give Up On Me (2002) inclui canções compostas para ele por gente como Tom Waits. O Bispo do Soul morreu em 10 de outubro de 2010, em Amsterdam.
Projeto “In.flexão” com mostra dos artistas Fábio Alves e Tiê Passos. Local: Centro de Criatividade de Curitiba (Rua Mateus Leme, 4.700 - Parque São Lourenço) Data: até o dia 13 de março de 2011 Entrada franca. Mais informações acesse: http://www.inflexao.com.br
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Camilla inoJoSa Cronista
Paris me incomoda
Camilla Inojosa
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alvez você tenha emitido um pequeno som, agudo, ao ler essa frase. Mas é verdade, vou repetir: Paris me incomoda. Paris me deprime. Sempre sonhei em conhecer a cidade. A cidade da Liberté, Egalité, Fraternité. Passear pela história, bebericar um café na cidade que inspirou Hemingway, sentir o cheiro do Louvre, admirar a Monalisa, conhecer a casa de Victor Hugo, dentre tantos outros sonhos. E conheci. Senti o cheiro do Louvre, tomei o café na cadeira de Hemingway, visitei a casa do escritor. E o sonho não se desfez. Aumentou. Paris é isso. Paris é mais. Paris são os franceses arrogantes na medida certa. Paris são os inúmeros cafés, que além de inspirarem os mais notórios dos literatos são capazes de nos inspirarem. Paris é o cenário que ilumina os pintores de Montmatre. Ah, a bela Montmatre. Quantos contrastes. Quanta beleza. Caso fosse escrita por um brasileiro, seria uma grande obra de Jorge Amado. As prostitutas, os turistas, os artistas. O cheiro de Paris. Paris, todas as frases para descrevê-la se transformarão em clichês. Desculpem-me os leitores se não trago nada de novo. Tentava escrever o meu texto, mas minha mente estava lá, pensando na Revolução, no D´Orsay, nas grandes obras e livrarias. E minha mente não fluía. Nada. Bloqueio. E, no fim de tudo, concluí que Paris me chateia. Paris me azucrina. Paris me importuna. Confunde. Distrai. Atormenta. Causa calafrios, palpitações, me enrubesce. Estou simplesmente apaixonada por Paris.
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ISABELA FRANÇA
ROJO Curry
verde
O jovem chef de cuisine curitibano Gabriel Costamilan, 25 anos, está cuidando dos últimos detalhes para inaugurar até o próximo mês o Sohothai, restaurante tailandês, na Rua Prudente de Moraes, em Curitiba. Apaixonado pela gastronomia oriental, frequentou as cozinhas do Oriental Hotel e do Blue Elephant. Gabriel passou quatro meses na Tailândia aprendendo os segredos da culinária clássica tailandesa, técnicas da alta gastronomia e cozinha molecular. Preocupado com a apresentação dos pratos e ligado na tendência forte dos menus desgutação contemporâneos, vai servir pratos individuais que, possam, todavia, ser compartilhados entre os comensais da mesa. O cardápio ainda terá drinks tradicionais tailandeses, e receitas próprias, usando técnicas e mixologia molecular. Boa parte do enxoval e dos objetos de decoração foi importada da Tailândia. O projeto de arquitetura leva a assinatura de Jorge Elmor e uma escultura do artista plástico André Mendes fará parte do ambiente. 68
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Assim como os 8 mil metros quadrados de mármore Branco Paraná do Palácio Iguaçu, reinaugurado em dezembro, também provém de jazida paranaense o mármore vermelho que reveste o imenso monumento construído para a comemoração do bicentenário da Academia Militar da Venezuela, onde culmina o Paseo de los Próceres, na capital Caracas. A mais antiga escola de formação de militares da América do Sul, onde Hugo Chavez estudou, nos anos 70, agregou matéria-prima curitibana para embelezar um de seus mais imponentes complexos arquitetônicos. A pedra brasileira divide o espaço com monolitos, esculturas de deuses helênicos e bustos dos principais militares bolivarianos.
Jazz
Pedro Guimarães
borracha Uma quarta
QUEM coNTa É... PEDro GUIMarÃES O empresário Pedro Guimarães já rodou o mundo de motocicleta e conta que a aurora boreal é a coisa mais linda que ele já viu na vida. “É diferente de tudo, só existe nos polos, no inverno, e não é fácil de ver. A temperatura chega a menos 50, 60 graus. Acontece entre 9h30 e 12h30 da noite. As cores são incríveis, azul, verde e vermelho. O céu tem que estar limpo”, diz. O proprietário do bar Pravd esteve recentemente na Escandinávia e presenciou a aurora boreal em Inari e Kemi, na Finlândia, e, em Nordkapp, na Noruega, onde fez o registro fotográfico.
edição limitada das sandálias Havaianas da série Grafitti – que foi sucesso absoluto de vendas na temporada de verão – acaba de sair do forno. Mais uma vez, os artistas paulistanos Finók, Chivitz e Minhau criaram uma quarta estampa com os característicos elementos de seus grafites, o cartun cítrico com rostos geométricos, a cena underground, e o caricato colorido da grafiteira apaixonada por gatos. A edição chega é exclusiva para exportação, lojas franqueadas, Espaço Havaianas e só será vendida até maio. Em Curitiba, como sempre, o colunista Ruy Barroso irá distribuir algumas para seus clientes e formadores de opinião, além de presentear donos de pés difíceis, já que a gracinha começa na numeração 33 e vai até o 46.
(des)cortesia As redes sociais têm sido um ótimo instrumento para divulgar descortesias. Uma amiga postou, há alguns dias, que um recém-inaugurado restaurante da cidade - com menu tido como moderno - proíbe os clientes de fotografarem ou filmarem seus pratos. Isso é mais do que descortês. Afinal, é muito mais provável que o impulso de registrar num celular ou numa câmera caseira a arquitetura efêmera da montagem da comida pretenda enaltecer o trabalho do chef, a copiá-lo mais tarde.
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Corrida SP-Rio , O Desafio dos 600K
ISABELA FRANÇA
ARTE CONTEMPORÂNEA I
SEM ÓCULOS Uma das maiores autoridades em Oftalmologia do mundo, o médico norte-americano Don Nicholson, do Bascom Palmer Eye Institute de Miami, esteve em Curitiba, no início de fevereiro. Veio especialmente acompanhar a cirurgia a laser de sua mulher, Magda, realizada no Instituto de Oftalmologia de Curitiba, pelo cirurgião curitibano Luiz Geraldo Simões de Assis. Luiz Geraldo foi residente do Bascom Palmer, nos Estados Unidos, e compõe um comitê mundial que discute as principais e mais modernas tecnologias de cirurgia a laser do planeta. Magda corrigiu um problema de presbiopia – popularmente conhecido como vista cansada – para livrar-se dos óculos.
O diplomata Lucas Nardy Vasconcellos Leitão esteve em Curitiba, no mês passado, para divulgar o concurso de arte contemporânea que o Itamaraty fará este ano com o objetivo de renovar seu acervo de artes visuais. Levou ao Ministério das Relações Exteriores,boa impressão do cenário artístico do Paraná, após visitar as principais instituições de cultura, algumas galerias de arte e conversar com professores e conhecedores do meio. Ficou surpreso ao conhecer os certames de arte contemporânea do Graciosa Country Club e de fotografia da seccional paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil. O patrimônio artístico do Itamaraty, dividido entre as sedes do Rio de Janeiro e Brasília, além das sedes de embaixadas e consulados, não tem adquirido novas obras desde os anos 60. A possibilidade de ingressar para o acervo e compor mostras internacionais animou os artistas e marchands locais. As inscrições podem ser feitas até o dia 25 de março.
ARTE CONTEMPORÂNEA II Abrem em março as inscrições para o 13º. Salão de Artes Plásticas do Graciosa Country Club. Mais uma vez, artistas sócios ou não poderão submeter seus trabalhos à rigorosa comissão julgadora que tem encontrado e premiado promissores artistas paranaenses.
ARTE CONTEMPORÂNEA III Após cursar gestão de galeria de arte na renomada Sotheby’s, a jovem Laura Simões de Assis, filha dos marchands Waldir e Flávia Simões de Assis, deverá inaugurar ainda este ano sua própria galeria. O código genético colabora e a simpatia da moça também. O espaço, que vai funcionar junto à tradicional Casa de Pedra, sede da Galeria Simões de Assis, deverá abrir espaço a jovens artistas e também a jovens investidores deste mercado. Na foto, Waldir e Flávia Simões de Assis, Juarez Machado, Laura e Guilherme Simões de Assis. 70
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BALA DE BANANA O curitibano Rodrigo Ricardo, badalado produtor e diretor de cinema, há mais de 20 anos vivendo em Los Angeles, está de volta à terrinha por alguns meses. Veio, é lógico, com a câmera na mão. Sua ideia inicial era fazer um registro da charmosa pousada Ilha do Rio, em Porto de Cima, Morretes, para oferecê-la à venda a investidores estrangeiros. Ficou tão encantado com o que encontrou na Mata Atlântica e com o resultado das imagens obtidas que o material deverá se transformar num documentário.
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No dia 7 de abril, Dia Mundial da Saúde – também Dia do Jornalismo e do Corretor – os cerca de 350 mil médicos do Brasil pretendem fazer um protesto e ficar um dia sem atender pacientes por planos de saúde. Será uma forma de mostrar à população que há mais de dez anos os profissionais da saúde não recebem atualização de seus honorários, chegando a receber até R$ 13,00 por uma consulta, valor sobre o qual ainda incide imposto de renda e de prestação de serviços. O Paraná saiu na frente e anunciou, em fevereiro o descredenciamento de todos os 40 médicos da cidade de Ivaiporã, no Centro do Estado, dos mais de 20 planos de saúde do município. No Paraná, existem cerca de 18 mil médicos ativos. março de 2011 |
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BALACOBACO
Rodrigo Werneck e Marcia Ghisi Sylvio Sebastiani, Leo de Almeida Neves, Luiz Alberto Dalcanale e Felix Bordin
Mazza 80 anos
Mazza e Isabela França
João Carlos Martins e Adriana Cardoso
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Leila Pugnaloni Marcelo Cattani
Conceição ConceiçãoCipolatti Cipolattiee João JoãoCarlos CarlosMartins Martins Ivan IvanBueno Bueno
Fotos: Fotos: Kraw Kraw Penas Penas
No dia 10 de fevereiro, Mazza completou 80 anos de idade e ganhou uma festa na Sociedade Garibaldi. Família, amigos, autoridades e colegas compareceram para prestigiar o jornalista ícone do Paraná. A música de Laís Mann e Saul Trumpet fez os convidados dançarem. Mazza recebeu dos amigos um jornal em sua homenagem com textos e depoimentos sobre sua trajetória e contribuição para o jornalismo paranaense.
Mazza Mazzaeesua sua esposa, esposa,Lucy Lucy
João Carlos Martins e Sabrina Peretti Gurtensten
Sonia e Ciro Camargo
Alegria em Caiobá A chuva não atrapalhou a festa de aniversário de 50 anos do Iate Clube de Caiobá, no sábado, 29 de janeiro, na Sede da Praia Mansa. O show de Rita Lee, a rainha do rock brasileiro, animou todo mundo. O buffet foi assinado por Marzia Lorenzetti.
Betty e Mauro Martinelli
Elvira Ramon e Simone Yared
Rita Lee
Fotos: Kraw Penas
Fotos: Fotos: Kraw Kraw Penas Penas
tiee ins ns
Cristiane e Celso Freire
Fernanda Richa
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BALACOBACO Vanessa Malucelli e Lylian Vargas
De 14 a 19 de fevereiro aconteceu em Curitiba o Paraná Business Collection. A coleção de inverno 2011 mostrou 40 marcas importantes de nosso Estado. Foram seis dias de desfile e oportunidade de bons negócios.
Suliane Vieira, Bruna Garcia e Renata Bianco
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Maria Inês Borges da Silveira, Liliana Vargas e Lylian Vargas
Claudio Albuquerque
Francielle Lucena e Marina Nessi
Carla Mocellin, Nereide Michel e Conceição Barindelli
Antonio Franceschini e o estilista Luigi Rossi
Fotos: James Marçal
Curitiba na moda
M An
Paulo Martins, Juliana Vosnika e Nereide Michel
Marcelo Neri e Aymará
Marcelo Neri e André Caldeira
No dia 18 de fevereiro a Aymará Edições e Tecnologia trouxe a Curitiba o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Neri fez a palestra inaugural do Sinapse Aymará, programa de formação continuada criado pela empresa para atualização de seus gestores em assuntos relacionados à educação, tecnologia, análises setoriais e políticas públicas.
A Associação Paranaense de Cultura (APC) e as 17 maiores empresas do Paraná reuniram-se no dia 15 de fevereiro com o governo estadual. Na pauta, reivindicações de investimento para resolver os problemas de mão de obra especializada no Paraná. No estudo apresentado, até 2015 as empresas paranaenses precisarão de 18,3 mil novos funcionários.
Henrique Rubem Adamczyk, Flávio Arns, e Carlos Echeverria
Luiz Cláudio Romanellil, Cassio Taniguchi, Marco Candido e Flávio Arns
Fotos: João Borges
Fotos: James Marçal
Mais funcionários
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Como as coisas
CLAUDIA WASILEWSKI Cronista
acontecem M inha amiga de décadas, Sílvia Macedo, me convidou para uma saída do tipo década de oitenta. Se tratava de ir a um bar que resiste até hoje, ouvir uma dupla, pelo que percebo, está voltando com muito gás. Não vacilei e fui. Já na chegada ao bar, fomos informadas que não haveria nada para comer. A cozinheira estava internada. Tudo bem, a intenção era só bater um papo, sem comes e bebes. Eis que entra um rapaz, que acho que esteve ali desde os anos oitenta. A visão do inferno. Cabelo cacheado até o ombro, cavanhaque, óculos/tiara e pochete. Para o apocalipse só faltou a regata. O curioso era a moça linda que estava com ele. Muito gentil, pediu a bebida, abriu a pochete e tirou uma toalha de mesa. Juro que vi esta cena. Obviamente depois do espanto veio o incontrolável ataque de riso. E como já era de se esperar, começou a chegar a intelectualidade com grau etílico elevado. Poetas, jornalistas, cineastas, blogueiros. Alguns loucos para a bebedeira ter início, outros se gabando que não bebem mais. Só por hoje. Eu e a Sílvia só observando quanto o tempo foi cruel com alguns. Nem vou entrar em detalhes porque gosto de muitos deles. A felicidade era tão grande do reencontro que alguns até grunhiam como dinossauros. Lembram que a cozinha estava fechada? Pois é, rolou disque pizza. O motoqueiro parava na porta e gritava: – FULANO DE TAL! Aí aparecia o freguês e pagava a encomenda ali mesmo. O garçom prontamente distribuía pratos e talheres. Diante de tantos reaparecidos, começamos aqueles papos de volta ao passado. Onde andará o dono do bar X? E ele apareceu. E aquele poeta galanteador? Pronto, a porta abriu e o próprio entrou. Até parecia magia. Então pensei com todas as minhas forças, que cheguem o Cardoso, o Leminski e o Ivo da Banda Blindagem. De imediato fui advertida para não brincar com os mortos. Jamais iria desrespeitá-los, mas estavam realmente faltando ali. Dei de ofendida e saí fumar. 76
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Surpresa! O primeiro que chegou foi o Cardoso. De chapéu, colete e feliz. Causou alvoroço. Falamos rapidamente sobre os tempos do bar da Sede da UPE porque o Ivo vinha caminhando lentamente. Este sim, me conhecia. Estudou com o meu irmão mais velho. E como sempre falando de como fui uma criança de encrencas e de como gostava de ir à minha casa. Abracei-o e pedi que mandasse muitos beijos para o meu irmão. E por fim só me restou fazer reverência ao Polaco, ao Leminski. Todos tinham um compromisso de ir embora antes da meia-noite. E assim foi feito. Riram, conversaram e começaram a se despedir. Ofereci carona. A Sílvia ficou. O Ivo preferiu ir com o José Fernando Nandé. O Cardoso pediu para deixá-lo na Praça Osório. Queria pensar melhor na Semana de Arte Modesta e assim fiz. Quanto ao Leminski? Faltavam 40 minutos ainda. Cochichei que tinha na minha casa Kasza Gryczana com frango caipira e vodka na crosta de gelo com zubrowka. Traduzindo, mingau de trigo sarraceno com frango e vodka com uma planta polonesa. Claro que a resposta foi positiva à polaquice. Servi-o e corri acordar meu marido contando sobre a visita ilustre. Ele disse: “Chega por hoje, durma.” Não dei bola. Voltei para a sala. O prato estava vazio e a vodka mais baixa. No dia seguinte abro o facebook e lá está o comentário do Zé Fernando. “Tive que dar carona para o Ivo que está morando perto de casa, nas proximidades da Praça do Gaúcho. Estranhei o tamanho do portão da casa nova dele!” Quem quiser que conte outra!
Claudia Wasilewski é empresária e cronista da Revista Ideias. Leia mais: www.claudiawas.blogspot.com
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Crack ao alcance de todos
Fruet larga na frente
EDITOR-CHEFE Fábio Campana
Assumi em 1º de fevereiro a Coordenadoria Estadual Antidrogas, da Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania. O Governador Beto Richa, preocupado com a questão da violência e prevenção às drogas, assim como fez a frente da Prefeitura de Curitiba, quando criou a Secretaria Antidrogas Municipal, também pretende implantar nos municípios do Estado do Paraná, programas que deram certo e Curitiba. Estamos nos estruturando, para muito em breve atendermos todo o Paraná, enfrentando com mãos firmes este assunto que assombra a todos nós.
Dirigentes partidários e velhas raposas da política têm medo de Fruet, pois ele não faz conchavos e falcatruas.
CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo
Jorge Pilotto, Chefe de Gabinete da Secretaria Antidrogas de Curitiba Parabéns à revista e ao profissional Márcio Barros pela riqueza do trabalho, somente quem convive dia a dia com esta triste realidade poderia tratar com tanta propriedade um dos maiores problemas enfrentados pela nossa sociedade. Zayra Navarro Bela reportagem. Mas é estranho que o crack tenha surgido no Brasil e somente hoje, duas décadas depois, a sociedade abra os olhos para ele. Aqui em Curitiba, há pelo menos uns 15 anos, o crack já é uma realidade. Apenas agora quando atinge castas superiores que a sociedade de uma forma geral abre os olhos para esta situação. Fernando Cesar
Carlos
Revista Ideias Parabéns! Cada número que sai é melhor que o anterior.Vocês estão fazendo um ótimo trabalho! Vera Maria Biscaia Vianna Baptista
REDAÇÃO Karen Fukushima, Larissa Reichmann Lobo, Marisol Vieira, Sarah Corazza, Thais Kaniak. COLUNISTAS Arlete Bastos Pequeno, Camilla Inojosa, Carlos Alberto Pessôa, Claudia Wasilewski, Izabel Campana, Jaime Lerner, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Vicente Ferreira. COLABORADORES Eduardo Reinehr, Isabela França, Kraw Penas. DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer
Desaforo
TRATAMENTO DE IMAGEM Carmen Lucia Solheid Kremer
Valeu as dicas.
FOTO CAPA Nani Gois
Alexandre
CAPA Luigi Camargo
Bela crônica, Claudia! Elias Glauci Escândalo no Porto “Pode ter sido um erro”. É assim que Requião define a entrada de Daniel Lúcio no Porto. É assim que tenta mascarar o envolvimento do irmão Eduardo neste vergonhoso escândalo. Definiria que “pode ter sido um erro” a eleição deste déspota como governador e agora como senador. Uma lástima para a política paranaense.
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Clarissa M. Menini, Katiane Cabral e Luigi Camargo DIRETORA FINANCEIRA Clarissa M. Menini CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana. PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br
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Pryscila Vieira é cartunista. Veja mais: www.pryscila-freeakomics.blogspot.com
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