Revista Ideias 106

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IDEIAS | agosto de 2010


gente de

Vivir en Ciudad... o cuando una ciudad vive en nosostros Estrela Ruiz Leminski

Foto:Louise Bianchi

bandeirantes e jesuítas, tive que viver na cidade em que morreu Colombo, se casaram Isabel de Castilha e Fernando de Aragão e visitar o Museu do Tratado em Tordesilhas para ver o outro lado da moeda. Enfim, conhecer a outra versão da nossa história. Também aproveitei para me aprofundar nas minhas raízes, e averiguar as histórias que a minha vó (que nasceu em um navio) contava dos meus antepassados na Espanha. Em meio a trabalhos sobre a música medieval em Santiago de Compostela, shows nos festivais da Espanha, congressos acadêmicos, concursos de poesia, estava atenta ao sotaque, às comidas, às histórias de El Cid (origem do sobrenome Ruiz).

udei de país, mas não mudei de cidade. Essa foi a primeira frase que falei quando cheguei em Valladolid, cidade espanhola onde vim morar um ano para fazer mestrado em música. Quando ganhei a bolsa da universidade e pesquisei sobre a cidade, vi que estava indo para uma cidade fria, capital da província, pioneira em urbanismo e iniciativas ecológicas.

M

Mas nada comparável a minha ida no Museu do Prado. Um dos retratistas espanhois, Raimundo de Madrazgo, além de pintar (bem pago pra isso) personalidades, pintou uma cigana. Anônima cigana linda, parecidíssima com a minha vó. Isso seria só uma coincidência besta se não contassem, na minha família, que meu bisavô pagou para pintarem a minha bisavó, e que esse quadro estaria em um museu da Espanha. Verdade ou não prefiro ficar com a boa história.

Tive todas as fases, do deslumbramento de viver na Europa à Asterix achando “esses romanos todos uns loucos”. Volto dentro de um mês, e já estou começando a tocar um “batuque na cozinha sinhá não quer” para ver se não esqueço da onde eu vim. Mas o que eu percebo é que temos muito mais de espanhois do que imaginamos. Não adianta ler sobre

Nada familiar para mim é essa primavera em fúria, essas quatro estações que a gente só entende bem quando está por aqui. Já o inverno é como um velho amigo desconhecido. Só nos falta a neve. Mas neve é isso: o que eu imaginava (como o que fica no congelador) e o que eu não imaginava (lindo, silencioso, caótico, feliz e triste). Como Curitiba.


IDEIAS 106 EDITORIAL Nêgo Pessôa, nosso vizinho de páginas aqui na Ideias, tem insistido em chamar a atenção para um fenômeno de nossos dias. A economia cresceu e de repente, não mais que de repente, passamos a ser uma sociedade rica e próspera que permitiu a mobilidade social de milhões de nativos. Nunca tantos tiveram tanto. Nunca nossas classes médias foram tão extensas. Outra conquista de nossa época é a tolerância, não só diante das ideias e opiniões, mas quanto aos costumes e escolhas pessoais, o que ajudou a criar necessária atmosfera de liberdade. São avanços importantes. Só que a estes ganhos materiais e políticos não corresponderam uma sabedoria mais alta ou uma cultura mais profunda. Ora, pois, o panorama espiritual é desolador. Vulgaridade, frivolidade, renascimento das superstições, degradação do erotismo, o prazer a serviço do comércio e a liberdade convertida em alcagueta dos meios de comunicação. São os tempos. Essa degradação produziu outras mazelas, entre elas a gangsterização da política e a elevação constante dos índices de criminalidade que projeta sobre nós todos uma desconfortável e permanente sensação de insegurança. À atividade sonâmbula da sociedade, girando mecanicamente em torno da produção incessante de objetos e coisas, a criminalidade vinculada ao tráfico opõe um frenesi não menos sonâmbulo e mais destrutivo. Ideias entra no debate sobre esta época não só através da opinião de seus colunistas, mas também pela publicação de reportagens, como a deste número, que mostra uma das mais abomináveis facetas desta época, a violência contra a mulher, da jornalista Mara Cornelsen. Boa leitura. Revista Ideias: publicação da Travessa dos Editores

ISSN 1679-3501 Edição 106 – R$10,00

www.travessadoseditores.com.br e-mail: ideias@travessadoseditores.com.br 01 de agosto de 2010 Editor: Fábio Campana Chefe de Redação: Marianna Camargo Colaboradores: Carlos Alberto Pessôa, Claudia Wasilewski, Dico Kremer, Judas Tadeu

Grassi Mendes, Karen Fukushima, Larissa Reichmann Lobo, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Mara Cornelsen, Márcia Toccafondo, Mirian Gasparin, Rogerio Distefano, Roseli Abrão, Pryscila Vieira, Sérgio Sade, Vicente Ferreira. Foto capa: Manoel Guimarães Capa e projeto gráfico: Clarissa M. Menini Diagramação: Katiane Cabral Diagramação coluna Márcia Toccafondo: Espresso Design Diretor de fotografia: Dico Kremer Conselho Editorial: Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana Para anunciar: comercial@travessadoseditores.com.br Para assinar: assinatura@revistaideias.com.br Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570 cep 80520-250 / curitiba pr Tel.: [41] 3079 9997

ÍNDICE Fábio Campana

06

Luiz Geraldo Mazza

10

A chance da modernidade

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Luiz Fernando Pereira

19

Judas Tadeu Grassi Mendes

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O protagonista acidental

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Mirian Gasparin

25

Entrevista Rodrigo Rocha Loures

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Escândalo dos dólares derruba Requião

33

Câmara dos vereadores

35

Reportagem Violência contra a mulher

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Carlos Alberto Pessôa

40

Rogerio Distefano

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O melhor lugar do Paraná é

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lá fora Amoras Silvestres

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Vicente Ferreira

52

Luiz Carlos Zanoni

54

Prateleira

56

Marianna Camargo

59

Gente Fina

60

Ensaio fotográfico

66

Claudia Wasilewski

73

Márcia Toccafondo

74

Pryscila Vieira

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Cartas do Leitor Mulheres ao Poder Penso que seria muito bom os “distintos cavalheiros’’ virem a revista. Li a reportagem Mulheres ao Poder, os depoimentos fortes e ao mesmo tempo alegres. As desigualdades ainda ocorrem; afinal, são séculos de machismo, que, na minha opinião tem prevalecido, tanto tempo, por causa da “força física’’ masculina. Não podemos dizer, com propriedade, que, se tivéssemos tido o ‘’poder’’ desde o início, o mundo, hoje, seria melhor, mas o legado que temos recebido pede socorro, e se não tem dado muito certo com “eles”, chegou nossa vez. Elma Elisa Saraiva Cordeiro

Cuidado, eles estão à solta Muito boa a capa, está com cara de Gui (Guilherme Zamoner). Abraços, Simon O preço da corrupção no Brasil Ótima a matéria sobre a corrupção. O levantamento que a jornalista fez foi excelente e elucidou muitas dúvidas que tinha em relação ao tema. Sempre me intrigou o fato de não terem ainda medido esse prejuízo e onde poderia ser investido esse valor. Poderíamos ter 90% a mais de leitos para internação no SUS que são desviados para o bolso destas pessoas, entre outros absurdos. Fernando Vasconcellos, oncologista. Curitiba Homofóbica Quero agradecer pela matéria, ficou ótima! Obrigado pelo cuidado, respeito e prossionalismo. Um forte abraço a toda equipe da Revista Ideias. Fabio Costa Gente Fina A revista chegou aqui. Super bonita! Adorei. Também adorei a nota. Beijos Giselle Hishida A Arte do Simples Adorei a matéria do Vicente Ferreira sobre o Chef Hermes Custódio. Além de nos deixar com água na boca quando cita o bacalhau, nos comove com a história do menino simples que veio do interior para a capital. Fui conhecer o Vin, curiosa, depois de ler a matéria. Ana Luiza Sousa


FÁBIO CAMPANA  jornalista

POLÍTICA

Pesquisas deixam candidatos à beira de um ataque de nervos ou as estranhas sutilezas das pesquisas eleitorais

A

s primeiras pesquisas realizadas depois do início oficial das campanhas, confirmaram o que a maioria dos analistas políticos bípedes esperava. Beto Richa é o favorito, mesmo nas pesquisas mais suspeitas. Largou na frente de Osmar Dias com boa vantagem para uma eleição polarizada que tem tudo para ser decidida no primeiro turno. No Datafolha, Beto Richa está com 43% das intenções de voto, Osmar Dias tem 38% e Paulo Salamuni, do PV, 1%. Brancos e nulos somam 3% e os que não sabem 15%. O único que cresceu foi Beto Richa. No Datafolha de dezembro de 2009, Richa aparecia com 40%, contra 38% do pedetista e 4% do governador Orlando Pessuti (PMDB), que desistiu da disputa para apoiar Osmar. Agora tem 43%, enquanto Osmar continuou com os mesmos 38%. Vê-se, agora, que os votos de Pessuti se dividiram entre Richa e

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Osmar Dias e a desistência do governador não reforçou nenhum dos candidatos.

No Vox Populi, Beto Richa aparece com nove pontos a frente de Osmar Dias. Tem 44% das intenções de voto, contra 35% de Osmar. O candidato

Paulo Salamuni aparece em terceiro lugar, com 1%. Os demais candidatos, Luiz Felipe Bergmann (Psol), Avanilson Araújo (PSTU), Amadeu Felipe (PCB) e Robinson Luiz Cordeiro de Paula (PRTB) não atingiram 1% em nenhuma das duas pesquisas. A pesquisa Vox Populi também mediu a rejeição dos candidatos. Nesta, a situação se inverte. Osmar Dias passa ao topo do pódio como o mais rejeitado: 27% dos entrevistados não votariam nele de jeito nenhum; 25% recusam Salamuni; 24% não votam em Luiz Felipe Bergmann e 21%, em Beto Richa. A rejeição a Avanilson Araújo, Amadeu Felipe e Robinson de Paula é igual: 22%. O Vox Populi também perguntou: qual candidato o eleitor acredita que tem mais chance de vitória? Pois, pois, 47% por cento dos entrevistados acham que Beto Richa será o próximo governador


do Paraná, enquanto 32% apostam em Osmar Dias.

E

stranho, muito estranho -

Nova pesquisa Vox Populi foi divulgada dias depois da primeira com novos dados, embora o campo das duas fosse muito próximo e nada tenha acontecido em tão curto espaço de tempo que justificasse mudança nos resultados. O estranho é que a segunda pesquisa carrega uma sutileza que é suficiente para produzir alterações no resultado final, mesmo que a comparação seja com outra pesquisa Vox Populi do mesmo período. Para começar, a pesquisa reduziu o peso do eleitorado da Região Metropolitana de Curitiba na amostra do levantamento. Sabidamente, é na RMC que o candidato do PSDB, Beto Richa, tem seu maior potencial eleitoral. De um total de 800 eleitores, a amostra da última pesquisa Vox ouviu somente 236 na RMC, ou seja, 29,5% do total, quando o peso demográfico correto da região é de 33,5%. São 32 entrevistas a menos, que representam 4% dos eleitores pesquisados. Se a amostra foi reduzida, é lícito supor que o resultado foi fraudado. E esse resultado aponta uma redução da vantagem de Beto Richa sobre Osmar Dias, de nove pontos para cinco pontos, na comparação com a Vox Populi da semana passada. Mais estranho ainda. Se o peso dos eleitores da Grande Curitiba foi

reduzido, o dos pequenos municípios foi aumentado. Por exemplo, os municípios com até 25 mil eleitores representam 34% do eleitorado do Paraná, mas na pesquisa Vox o peso é de 36%. São pequenos movimentos que produzem as distorções que servem a uns e prejudicam outros. E nunca é demais lembrar que, embora o contratante da nova pesquisa seja a TV Band, o instituto fechou um contrato para fornecer 10 pesquisas para uso interno da campanha de Osmar Dias. Outro detalhe: o novo levantamento foi feito entre os dias 17 e 20 de julho. O anterior, feito a pedido do jornal O Estado do Paraná, era de 14

para disputar a eleição. Quando os entrevistados são divididos por idade, grau de instrução e renda familiar pode-se ter um perfil dos eleitores de cada candidato. Por idade, Osmar Dias vence (43% a 36%) entre os eleitores que têm mais de 50 anos, enquanto a maior vantagem de Beto está na faixa dos 25 aos 39 anos (50% a 26% para o tucano). No nível de escolaridade, o senador pedetista é o preferido dos eleitores que têm até a 4.ª série do ensino fundamental (41% a 32%), enquanto Beto abre 18 pontos (48% a 30%) entre os que concluíram o ensino médio. Pelas faixas salariais, Osmar Dias não consegue superar Beto Richa em nenhuma faixa, mas a diferença entre os dois é bem mais apertada entre os que recebem menos de cinco salários mínimos, 43% a 39%, que entre os que recebem mais de 10 salários (53% a 32% para Beto. O Vox Populi também simulou um eventual segundo turno entre Beto e Osmar. O tucano venceria por 46% a 38%. Cinco por cento não votariam em nenhum deles e 11% não responderam.

O estranho é que a segunda pesquisa carrega uma sutileza que é suficiente para produzir alterações no resultado final, mesmo que a comparação seja com outra pesquisa Vox Populi do mesmo período a 17 de julho. Portanto, os pesquisadores do Vox nem saíram de campo.

I

mbatível em Curitiba - Ao

dividir o eleitorado por região, o Vox Populi aponta o favoritismo de Beto Richa na capital (onde ele vence por 60% a 22%) e mostra um surpreendente empate no interior (ambos somam 39%), onde a tendência seria de vantagem para o senador pedetista. O empate no interior pode já ser resultado das investidas que o tucano vem fazendo por todo o Estado desde que renunciou à prefeitura de Curitiba

R

equião não ajuda, atrapalha - Outra interessante

revelação das pesquisas. O ex-governador Roberto Requião também não é um bom cabo eleitoral, segundo o Vox Populi. Em Curitiba, só 4% dizem que votariam com agosto de 2010 | IDEIAS

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certeza no candidato a governador indicado por ele. Mas 19% dizem que deixariam de votar por causa de Requião. No Paraná, 9% admitem votar no candidato de Requião, o senador Osmar Dias, e 15% afirmam que deixariam de votar por causa desse apoio. E o presidente Lula, como interfere? Pois, pois, metade dos 143 eleitores de Curitiba entrevistados pelo Vox Populi não vai se deixar influenciar pela opinião do presidente Lula, na hora de escolher o seu candidato a governador. Só 10% responderam que votariam com certeza e 13% disseram que não votariam no candidato do presidente. Alheia à pesquisa, a campanha do senador Osmar Dias aposta na presença de Lula em Curitiba para mudar as posições na corrida eleitoral. Se por um lado há distorções na pesquisa Vox Populi no Paraná (reduziu o peso do eleitorado da Região Metropolitana de Curitiba de 33,5% para 29,5%), por outro desmistifica algumas crenças que estavam embalando os sonhos petistas no Estado. Vejamos:

nuar o Bolsa Família de Lula. Só 27% acham que ela seria a única habilitada para isso. 45% dos entrevistados dizem que “qualquer candidato manteria o programa com a mesma prioridade”.

G

leisi na frente para o Senado - A pesquisa es-

pontânea do Vox Populi/ Band/IG mostrou que a candidata ao Senado pelo PT, Gleisi Hoffmann, tem situação mais favorável que a de Requião entre os paranaenses. Ela cresce, é a primeira na espontânea, enquanto Requião desce. Quando os entrevistados respondem em quem pretende votar sem ver a lista dos candidatos, 13% lembraram o nome de Gleisi. Roberto Requião (PMDB) teve 12% das intenções de voto, seguido por Gustavo Fruet (PSDB) e Ricardo Barros (PP), com 8% e 2%, respectivamente. De acordo com o Vox Populi, se as eleições fossem hoje, os candidatos que compõem a coligação “A união faz um novo amanhã”, ocupariam as duas vagas ao Senado Federal. O resultado é baseado nos 39% obtidos

Resumo da ópera

1

Se a eleição fosse hoje, Beto venceria no primeiro turno, com 55% dos votos válidos, mais de 11 pontos à frente do segundo colocado

2 3

Datafolha e Vox Populi mostram que Beto Richa cresceu em relação às pesquisas anteriores.

Na Capital, Beto Richa vence por 60% a 22%. Na Região Metropolitana e no Litoral, Beto Richa lidera com 54% a 30%. No Interior, Beto Richa tem 39%, mesmo porcentual do segundo colocado.

P

ara o Senado, nada definido - As pesquisas apontam

um cenário de indefinição na disputa para as duas vagas do Senado. No Datafolha, 56 % dos entrevistados afirmaram que ainda não possuem candidatos, isso é mais do que a intenção de votos do primeiro colocado. A pesquisa do instituto Vox Populi, revelou que na sondagem espontânea, aquela onde não são apresentados os nomes dos candidatos, 79 % dos eleitores ainda não sabem em quem votar. Entre os que já decidiram, Requião, do PMDB, aparece na frente com 50% das intenções de voto. Em segundo lugar, Gleisi Hoffmann, do PT, com 31%; em terceiro vem Ricardo Barros, com 22% e em quarto Gustavo Fruet, com 16%.

Ao dividir o eleitorado por região, o Vox Populi aponta o favoritismo de Beto Richa na capital

• Em Curitiba, 15% dizem que votariam num candidato a presidente apoiado por Lula. Mas outros 15% dizem que não votariam de jeito nenhum nesse candidato. Logo, o apoio de Lula não produz nenhum saldo positivo para Dilma. • Só 6% dos entrevistados reconhecem o PAC como o melhor programa do governo Lula. Para 29%, o bom mesmo é o Bolsa Família. • Dilma também terá dificuldades para dizer que só ela pode conti8

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por Requião e nos 33%, de Gleisi. Em terceiro lugar, aparece Barros, com 19% e Fruet, com 16%. Os votos de indecisos somam 50%. A pesquisa foi realizada entre os dias 17 e 20 de julho e protocolada no TSE com o número 19.928/10. O instituto entrevistou 800 eleitores. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.

A

corrida presidencial no Paraná - José Serra (PSDB)

e Dilma Rousseff (PT) seguem empatados na corrida presidencial. O tucano está com 37% contra


36% de Dilma, mostra o Datafolha. Mas a maior vantagem de José Serra é no Paraná, onde o tucano tem 45% das intenções de voto, e a petista Dilma Rousseff, 30%. Isto significa que Beto Richa tem um candidato a presidente da República que o ajuda a remar. Já Osmar Dias terá que arrastar o peso de uma candidata que não consegue sensibilizar o eleitor nativo.

Osmar Dias. As primeiras pesquisas sugerem que essa aliança pode não ter sido um bom negócio nem para Osmar nem para o PT. Pelo lado do PT verificouse que a aquisição de Osmar não somou pontos para Dilma Rousseff que continua estacionada nas pesquisas. O Paraná é o estado onde a presidenciável petista está mais mal colocada. Tem 30% das intenções de voto,

sua candidatura tam­bém não se registrou. Tanto no Datafolha quanto no Vox Populi Osmar continua atrás de Beto Richa, do PSDB. No Datafolha (43% a 38%) e no Vox Populi (44% a 35%) e não se vê sinais de transfusão do prestígio presidencial para Osmar. A situação, aliás, confirma detalhamento da pesquisa Datafolha que revela que o Paraná é o estado onde a

O ex-governador Roberto Requião também não é um bom cabo eleitoral, segundo o Vox Populi. Em Curitiba, só 4% dizem que votariam com certeza no candidato a governador indicado por ele

H

ora da reavaliação - As

pesquisas Datafolha e Vox Populi sobre a disputa presidencial, para o governo do Paraná e Senado provocaram uma reavaliação interna das vantagens e desvantagens da complicada aliança firmada entre o PT e o senador pedetista

contra 45% do tucano José Serra, segundo o Datafolha. Para Osmar a injeção de prestígio que Lula deveria aplicar em

influência de Lula no voto para governador é das menos relevantes. Se um percentual de 23% dos eleitores diz que poderia votar em um candidato indicado por Lula, nada menos 30% dos eleitores se considera predisposto a não votar em um candidato que conte com esse apoio. O senador Osmar Dias que confessa ter trauma com institutos de pesquisas e atribui a eles boa parte da culpa por sua derrota para Requião em 2006, tem novos motivos para alimentar essa aversão. Sua campanha contratou dez pesquisas do instituto Vox Populi. Pois foi justamente o Vox que encontrou a pior situação para a campanha do PDT no Paraná. Enquanto o Datafolha identificou uma vantagem de 5 pontos percentuais para o tuca­no Beto Richa, o Vox am­ pliou essa vantagem para 9 pontos. Foto: Divulgação

Em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul o número dos que não votariam de jeito nenhum num aliado de Lula supera o dos que votariam com certeza. Presidente mais po­ pular desde o retorno do país à democracia com 77% de aprovação, segundo a última pesquisa Datafolha, Luiz Inácio Lula da Silva tem influência limitada na eleição para governador no Paraná, o que frustra uma das grandes esperanças de Osmar Dias.

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luiz geraldo mazza  jornalista

OPINIÃO

O Paraná, quem diria, um feudo

N

ão há simetria entre a dinâmica sócio-econômica do Paraná e o que temos como representação política. Numa sociedade que já assinala sinais de pós-industrial, tão marcantes aqui os níveis de urbanização e de economia diversificada, que ganhou alento especial com a chegada das montadoras, não temos na represen-

(Osmar e Alvaro) e Requião. O estranho no ninho foi Lerner com dois mandatos subsequentes, no primeiro suplantando Alvaro Dias e no segundo Requião e tudo no primeiríssimo turno. Assim, pois, o poder girou ou foi disputado por quatro famílias e estivemos agora ao ponto de nem termos eleições, pelo menos no sentido da disputa, porque até à undécima

Em tempo de eleição há muito tenho recorrido à opção pelo menos ruim. Às vezes, como se dá agora, apontá-lo é quase tão complicado quanto uma equação de física quântica tação política sintonia adequada que expresse modernidade. Ao contrário tudo aqui dá a entender que a mesmice nos remete aqueles cenários do nordeste e isso tanto é verdade que nos últimos 28 anos de eleições tivemos em cena membros das famílias Richa, Dias 10 IDEIAS | agosto de 2010

hora havia a perspectiva de Osmar Dias figurar como postulante à reeleição ao Senado na chapa encabeçada por Beto Richa. Claro que fatos precedentes já mostravam esse DNA político: em 1950 um divisor de águas rígido entre Munhoz da Rocha e Ângelo

Ferrário Lopes punha em choque duas figuras da tradição paranaense, ambos engenheiros e diante dos quais Getúlio Vargas hesitou em fazer opção pelas qualidades e virtudes intelectuais e operativas que destacou no maior comício de nossa história da sacada do Braz Hotel na avenida Luis Xavier diante de 50 mil pessoas. Munhoz da Rocha lança Ney Braga, seu cunhado de primeiras núpcias, como Chefe de Polícia, posto equivalente ao de secretário para disputar a prefeitura da Capital e que vence Wallace Thadeo de Mello e Silva, pai de Requião, e que exercera o governo municipal por curto período.

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ciclo neysta - Em 1955 Lupion volta ao governo pela fragmentação das forças situacionistas o que teve nada menos de três dos seus componentes disputando o governo como Mario de Barros Braga, Othon Maeder e Luis Carlos Tourinho. Essa atomização mostra que Bento, ao contrário de Ney Braga, não impunha uma direção. A eleição de 1960 seria facilmente vencida por Abilon de Souza Naves que faleceu


mais tarde, retorno de Ney, originário do mesmo grupo familiar, tivemos Fabiano Braga Cortes no comando legislativo e Marino Bueno Brandão Braga no Judiciário, primos também. Embora os nomes que disputam o poder estejam distanciados da genea­logia, já que surgem do pioneirismo ou de ascendência étnica, o fato é que reproduzem o enlace da

oligarquia, ainda que, convenhamos, com muito menos brilho. Há uma queda no pensamento, na doutrina e na capacidade de fazer, o pragmatismo é a marca, o estilo. Em tempo de eleição há muito tenho recorrido à opção pelo menos ruim. Às vezes, como se dá agora, apontá-lo é quase tão complicado quanto uma equação de física quântica.

Foto: Divulgação

num encontro político no restaurante da Sociedade Morgenau, o que abriu caminho para Ney Braga. Já em 1958, embora num partido fraco, o PDC, Ney se elegera deputado federal com 57.099 votos perdendo apenas de Jânio Quadros que concorreu pelo PTB numa articulação do próprio Naves que contabilizou 78.810 votos numa arrancada que dois anos após o levaria à presidência da República. Nesse pleito dois nomes nacionais na briga regional: Jânio e o chefe integralista Plínio Salgado que lhe facilitaria a vitória presidencial em Curitiba e Ponta Grossa em 1960. O comando de Ney Braga é uma revolução administrativa e política: consolida a infra-instrutora econômica (rodovias, portos, telecomunicações) e lança as bases da diversificação agroindustrial com as ações da Codepar-Badep. Para obtê-lo faz aliança com o PTB e em 1962 vence o Senado com a dobradinha Amauri Silva-Adolpho de Oliveira Franco (esquema com PTB-UDN-PDC). Ney elege em 1965 Paulo Pimentel, que havia disputado com Munhoz da Rocha. A vice de Plínio Costa foi determinante para a vitória. No período militar Ney flutua ao sabor das forças de pombos, aos quais estava ligado, e gaviões, gente mais da linha dura.

P

ique em queda - No ciclo

militar o Paraná dá continuidade aos seus projetos de desenvolvimento e ocupa também ministérios como os de Flavio Lacerda, Ney Braga e Euro Brandão na Educação e mais Ney e o próprio Ivo Arzua na pasta da Agricultura. Há dois momentos entre 1950 e anos setenta em que se percebe o peso da elite regional: Munhoz da Rocha no governo tivemos como presidentes do Legislativo e do Tribunal de Justiça, Laertes de Macedo Munhoz e José Munhoz de Mello, seus primos. Anos agosto de 2010 | IDEIAS 11


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capa

A chance da modernidade FÁBIO CAMPANA

O

Paraná tem chances de sair da experiência de governo populista e autoritário com súbita habilitação à contemporaneidade do mundo. Enfim, na eleição de outubro poderemos abrir, nós todos e cada um, uma porta decisiva. Nunca esteve tão claro o quadro da disputa do poder estadual. Vivemos o fim de um ciclo que insiste em se alongar. Não é sem razão que os conservadores da atual ordem se reuniram no mesmo barco em torno da candidatura do senador Osmar Dias, do PDT. Lá estão Requião e sua família, Orlando Pessuti e seu

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PMDB, o PT e seus congêneres. De outro, forças que almejam a mudança se organizam sob a liderança do ex-prefeito de Curitiba, Beto Richa, do PSDB. Tucanos, liberais, sociais democratas, socialistas antiautoritários se unem para tentar inaugurar nova época sob o signo da liberda de e da promessa de um período de expansão da economia e consequente prosperidade. Trata-se de escolher entre a política herdada do populismo e do estatismo e a modernidade representada pela adoção de práticas que ampliam a participação da sociedade e de respeito às instituições democráticas. Em


jogo, a modernização da própria estrutura do Estado que ainda é submetida a uma burocracia esclerosada e esclerosante. Cada povo tem o governo que merece, mas desde que tenha aprendido a lutar por ele. Não é o nosso caso. Instituições políticas equilibradas e firmes são necessárias porque os chefes de governo não podem ser sempre invariavelmente bons, competentes e justos. Nós sabemos muito bem disso, depois dessa longa experiência sob o governo de um déspota nepotista. Na verdade, a democracia não pretende garantir a escolha invariável de bons governantes; ela apenas torna os maus menos desastrosos e fornece à sociedade os meios para defender-se eficazmente deles. Eis aí, num Paraná atormentado pelo autoritarismo mais chinfrim, o que devia bastar para fazer burgueses, operários, intelectuais, padres e políticos pensarem duas vezes, em vez de não pensarem nenhuma.

O

poder dos bárbaros - Parece simples, mas há obstáculos que não são de somenos para

encerrar este ciclo e iniciar outro que nos garanta a mudança de métodos e nos livre de vez da praga populista. Para ficarem no poder, os políticos que desfrutam dos benefícios concedidos ao pessoal da terceira idade fazem qualquer negócio. O poder, para os que lá estão há anos, é uma maravilha. Propicia emprego e oportunidades para a parentela e os amigos, socorro para outros e enriquecimento rápido para os apaniguados. Isso quando não se envolvem escândalos que revelam fortunas escondidas no guardaroupa e vexames tais que rebaixam o Paraná a uma das províncias mais atrasadas do país no plano político. Curioso Paraná o nosso. Somos tidos como exemplos de eficiência e produtividade em diversas áreas, a começar pelo agronegócio. E, no entanto, temos no poder um sistema centralizador, fechado, estatista, que encontrou meios de inflar desmedidamente um agrupamento político muito parecido com ele próprio, ao menos em termos ideológicos. O núcleo formador do PMDB de Requião que nos governou nos últimos oito anos é de origem populista e nacionalista. Doutrinariamente é estatizante, centralizador, xenófobo e, por tradição, relutante no combate às

mazelas do corporativismo e seus congêneres. Estas são características de um grupo relutante às mudanças. Que se recusa a admitir inovações. Conservador, portanto. Mas há esperanças. As forças modernizadoras, que devem sustentar a perspectiva da modernização, se reúnem desta vez em torno de um político jovem, experiente, claro nas ideias e nos compromissos e que começa seus discursos com a promessa de um novo jeito de governar que é a confrontação com a maneira de governar de Requião, seu PMDB e sua família. Beto Richa não promete mais que o respeito a regras democráticas de convivência, mas sabemos o quanto isso é importante para a vida política nativa depois de anos sob a governança de um anacrônico caudilho autoritário. “Um novo jeito de governar significa, principalmente, estar aberto para o diálogo, para ouvir as pessoas, sem grosserias e truculências. Também vamos valorizar o servidor público, com adoção de gestão pública de resultados, e reorganizar a máquina administrativa do Estado, com maior presença no interior e melhoria na qualidade dos serviços, além de aumentar a transparência e o controle social do Estado, aproximando governo e cidadão.” Só isso justificaria um novo tempo. Beto Richa representa a primeira geração de políticos formada sem as peias do autoritarismo. Seu discurso recuperou palavras e valores que ficaram esquecidos durante todo o tempo marcado pela ditadura e suas consequências. Por isso mesmo sofre restrições da velha guarda, dos políticos que ainda dividem o mundo e as ideias em dois lados apenas e não conseguem funcionar quando há mais de uma ideia na cabeça, condição de inteligência, segundo Scott Fitzgerald.

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quívocos da esquerda - A banda conservadora que prega o estatismo e faz do populismo sua ideologia e sua prática, procura ganhar ares de vanguarda por agregar em sua periferia a esquerda nativa ou parte dela. Acontece que a esquerda nesta área do planeta é capaz de muitos equívocos. Curte, por exemplo, a certeza de que Requião é um timoneiro da revolução socialista, líder inconteste das massas proletárias e coisas tais que só tem sentido quando traduzidas para a linguagem dos movimentos nacionalistas da primeira metade do século passado. Essa gente se enche de brios e palavras de ordem quando o candidato tucano, Beto Richa, diz: “não serei condescendente com a invasão da propriedade”. Ora, pois, o MST com sua política de invasões, desta vez apoia Osmar Dias, que já foi seu algoz, mas que agora se enturmou na mesma banda com a esperança de vencer as eleições com a contribuição de todos aqueles que ele combateu durante décadas. Neste assunto da agricultura e reforma agrária, que Osmar Dias considera sua especialidade, Beto Richa decidiu jogar com a máxima clareza, enquanto seu adversário enfrenta os constrangimentos e pressões da turma que o acompanha. Beto tem declarado: “Incorporamos propostas da FAEP ao nosso Plano de Governo, inclusive a principal delas, a criação de uma Agência de Desenvolvimento do Agronegócio, além da instituição de um organismo de controle sanitário, que fortalecerá a luta pelo Paraná livre da aftosa sem vacinação, luta com a qual nos comprometemos. Vamos investir em projetos agroflorestais e no potencial agroindustrial de cada região a fim de diversificar as atividades do setor e ampliar a renda do agricultor, reforçando a competitividade das cadeias produtivas com inovação tecnológica (especialmente em biotecnologia) e capacitação, alavancando o crédito rural e o seguro-agrícola. Vamos investir forte na melhoria da infraestrutura de transporte e logística, o que inclui a

recuperação e drenagem das estradas rurais, a criação de alternativas ferroviárias, o diálogo com as concessionárias para redução do pedágio – e o cumprimento dos contratos – e a ampliação dos trechos duplicados.” Imaginem a irritação da esquerda que apoia Osmar Dias. Essa turma transforma qualquer debate de ideias em luta de classe e se depender dela tudo vira propriedade estatal. A estultícia vai mais longe. A esquerda acredita que o voto do analfabeto ou aos 16 anos a favorece. Enganase. A esquerda para ser contemporânea do mundo deve brigar por melhores salários, justa distribuição da renda e, como consequência, instrução para todos. Quanto aos púberes, deixemos que amadureçam como propunha Nelson Rodrigues e como se faz onde a civilização pegou e o povo deixou de apanhar há algum tempo. Para perceber, inclusive, que quem pôs fogo em Roma foi a turma do imperador, não foram os cristãos.

Beto não promete mais que o respeito a regras democráticas de convivência, mas sabemos o quanto isso é importante para a vida política nativa depois de anos sob a governança de um anacrônico caudilho autoritário

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A

s obras necessárias -

Há anos o Paraná não realiza obras estruturais. A economia depende da infraestrutura construída há décadas. Nos dois últimos governos do PMDB isso se agravou. Requião recusou recursos federais importantes, como o necessário para a ampliação do porto de Paranaguá, que se tornou um dos grandes gargalos da produção. É urgentíssima a dragagem do canal e a construção do cais oeste, além da adoção de tecnologia portuária mais avançada e uma gestão ambiental que harmonize as novas obras portuárias com a natureza, para evitar que se repita a interdição do porto pelo IBAMA. O governo do PMDB fez discursos de intenções sobre a melhoria das condições da vida rural. Mas de prático, nada aconteceu. Richa acredita que será essencial investir na melhoria da vida rural, com ações integradas de educação, capacitação, moradia, saneamento e segurança, além de políticas específicas de apoio à agricultura nos seus diferentes segmentos, aí incluídos o agricultor de


subsistência e o pequeno empreendedor rural, que está conectado ao agronegócio. Nos planos, a ampliação da rede de estradas estaduais e a manutenção permanente de estradas rurais e rodovias sem pedágio. Mas o Estado precisa de obras estratégicas como aeroportos, novas rodovias de ligação, ampliação da malha ferroviária e outras tantas obras que vão depender também da capacidade do governo estadual fazer projetos e defender recursos para ele no governo da União. O Brasil, diz a lei, é uma República Federativa. Mas o importante não é que isso esteja posto no papel e seja ensinado às crianças nas escolas. O importante é que, entre nós, a Federação é uma consequência e uma condição da liberdade. O Paraná é o estado do sul do país que menos recebe recursos da União. Consequência de governos como o de Requião que jamais conseguiram articular uma frente em defesa dos interesses do Paraná. Nem mesmo para resolver as pendências onerosas da privatização do Banestado. Richa demonstrou em sua carreira capacidade maior para articular forças em favor de projetos que são claramente do interesse do Estado e de todos os cidadãos. Foi assim que conseguiu aprovar projetos e realizar obras com os recursos obtidos através do governo federal que lhe seria hostil do ponto de vista político.

O

programa social - Richa terá que se dedicar a

profundas mudanças em áreas deterioradas e que causam aflição permanente na maioria absoluta da população. A segurança é um exemplo. Requião deixou que o contingente das polícias militar e civil caísse de tal forma que hoje seria necessário realizar concursos imediatos para a contratação de contingentes enormes de policiais militares. O Paraná se transformou em rota do tráfico, a droga (especialmente o crack) corre solta em todas as camadas

sociais e a criminalidade articulada com o tráfico impõe recordes de homicídios por 100 mil habitantes. “É meu compromisso combater o tráfico de um lado, de outro criar centros de atenção para usuários de drogas, especialmente o crack, que se tornou uma praga nacional, destruindo famílias e roubando o destino de jovens e adolescentes. Em nosso governo, a saúde, efetivamente, terá 12% dos recursos do orçamento do Estado”, garante Richa. Outra área que necessitará de atenção imediata é a da saúde. A meta de Richa é levar a saúde para mais perto das pessoas, apoiando os municípios na construção e reforma das unidades básicas. “Vamos criar centros regionais de especialidades nas 22 regiões do Estado, com profissionais capacitados e recursos da telemedicina; centros de atenção à pessoa idosa (hoje não há nenhuma política estadual de saúde para a terceira idade); a criação do programa “Mãe Paranaense”, reproduzindo as boas práticas do “Mãe Curitibana”, que reduziu os índices de mortalidade materno-infantil e foi adotado em Pernambuco e na cidade de São Paulo também com absoluto êxito; a criação da rede de atenção às urgências e emergências, com atendimento integrado. Tudo isso terá que acon­ tecer ao mesmo tempo em que a reforma do estado para modernizá-lo e reduzir custos absolutamente desnecessários em algumas áreas quando faltam em outras. A luta contra a burocracia será um capítulo à parte. “Hoje tudo indica que já temos burocracia demais para as nossas posses. Será preciso desmontar o sistema que amplia constantemente a máquina burocrática”, diz Richa. Como se vê, o Paraná está maduro. O momento é propício. O que falta é a compreensão da maioria de que o ciclo atual se esgotou e com ele a atual forma de governar. A partir daí, o Paraná poderia discutir e fixar livremente o seu destino. E não há razão para crer que o faria com menos tino e responsabilidade que os seus atuais preceptores. agosto de 2010 | IDEIAS 17


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LUIZ FERNANDO PEREIRA  advogado

OPINIÃO

O infiel na política

Foto: Divulgação

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fidelidade devia ser facultativa, dizia Nelson Rodrigues. A verdade é que os políticos levam isso muito a sério aqui no Paraná. É começar o processo eleitoral para que a infidelidade partidária também ganhe bom estaque. Todo dia tem prefeito ou deputado declarando apoio a candidato. Isso é péssimo para a democracia. Quase nenhum sentido se pode atribuir aos partidos sem que haja fidelidade aos princípios e aos programas e – é claro – às decisões construídas a partir de programas e princípios. Mas parece que ninguém leva isso muito em consideração. As decisões dos partidos, nas convenções, são recebidas apenas como “conselhos”. Para serem seguidos; ou não. Aliás, ninguém sequer se preocupa muito com a convenção. Independentemente da decisão coletiva, depois cada um toma a sua, ao sabor da pessoal e circunstancial conveniência política. Muita gente imagina que isso é coisa recente. Não é. Desde muito tempo que a coisa funciona mais ou menos do mesmo jeito. Derrotada por Paulo Pimentel (apoiado à época pelo Governador Ney Braga) na histórica convenção do PDC para a eleição de 1965, a parcela do partido que sustentava Afonso Camargo não aceitou

A promiscuidade partidária torna a disputa eleitoral uma mera corrida pessoal entre candidatos e seus programas de última hora o resultado e passou a apoiar o candidato adversário, Bento Munhoz da Rocha. A UDN deliberou pelo apoio a Pimentel, mas uma boa parte dos udenistas ficou com Bento Munhoz.

A infidelidade era tal que o PSD (esfacelado depois do segundo mandato de Lupion) chegou a indicar candidatos a vice-governador nas duas chapas (Plínio Costa para Pimentel; Rafael Rezende para Munhoz da Rocha). E trato aqui apenas de um A infidelidade é um fator corrosivo da legitimidade política dos partidos (da pouca legitimidade que sobrou, é mais adequado dizer). Apesar disso, é notável a indulgência dos próprios partidos no trato da infidelidade. Desde 2007 há instrumentos legais para punir o político infiel (inclusive com perda de mandato), mas quase ninguém se propõe a cobrar nada de político algum. Há uma tácita renúncia ao direito de exigir fidelidade. Um pacto silencioso de infiéis. E é também por isso – mas não só – que as disputas eleitorais transcorrem com escassa nitidez. Um pouco de cada partido para cada lado de forma que ninguém possa saber ao certo o que está acontecendo. A promiscuidade partidária torna a disputa eleitoral uma mera corrida pessoal entre candidatos e seus programas de última hora. Os partidos são os coadjuvantes do processo. E parece que realmente não pretendem mais do que isso. Por aqui a fidelidade é mesmo facultativa. agosto de 2010 | IDEIAS 19


Judas Tadeu Grassi Mendes  professor e analista

Bc e Juros: a vaca e seus bezerros

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Foto: stock.xchng

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o artigo anterior que escrevi aqui nesta Revista, alguns leitores tiveram a impressão de eu colocar a culpa pelos exageros de pagamentos de juros no Brasil em cima apenas dos bancos. Para evitar este engano, decidi escrever o presente artigo, pois os bancos apenas se aproveitam da política monetária totalmente errada adotada pelos dois últimos governos, com erros maiores para o atual. Nos últimos anos, os jornais brasileiros têm dado destaques para os balanços dos nossos principais bancos, quase todos com recordes históricos de lucros. Considerando os balanços conjuntos de 100 instituições financeiras, o lucro acumulado nos últimos três anos se aproxima de R$ 200 bilhões. Que os bancos devam ter lucros, ninguém é contra, até porque esse é o caminho para que eles reinvistam parte desses lucros em novas agências e em novas tecnologias. A questão que espanta diz respeito às elevadíssimas rentabilidades, não encontradas em nenhum outro país. A rentabilidade média sobre o patrimônio está ao redor de 25%, o que demonstra que a cada quatro anos eles conseguem recuperar tudo.

Antes de prosseguir, uma necessária observação: os bancos brasileiros funcionam muito bem, tecnológica e operacionalmente. Esta não é a questão. Fazendo uma analogia entre a vaca e seus bezerros, pode-se dizer que os bezerros (no caso os bancos) não têm culpa se a vaquinha (no caso o governo) dá leite. Eles vão lá e mamam, mesmo. Em outras palavras, os

bancos não são culpados pela dependência do governo do setor financeiro. É o governo que tem de mudar a maneira da gestão pública e não ficar dependente do sistema financeiro como tem sido. O descontrole do setor do governo federal brasileiro é algo indiscutível. Basta dizer que em 2009 ele torrou R$ 511 bilhões em apenas quatro itens que pouco contribuem para o país: juros, pessoal,


que não. É uma insensatez e inaceitável manter a Selic tão alta, a ponto de, nos oito anos do governo Lula, chegaremos a inimaginável quantia de aproximadamente R$ 1,3 trilhão somente em juros. É claro que os bancos agradecem penhoradamente e estão cantando a musiquinha: “ah! Isso aqui tá muito bom, isso aqui tá bom demais”.

Fazendo uma analogia entre a vaca e seus bezerros, pode-se dizer que os bezerros (no caso os bancos) não têm culpa se a vaquinha (no caso o governo) dá leite valores são vergonhosos, se comparados com os da gastança. Como o governo torra demais, isto é, gasta mais do que arrecada (apesar de ficar com 36,5% do PIB, quando a média mundial está ao redor de 24%), ele se força a vender títulos públicos com o intuito de buscar dinheiro no mercado para financiar o seu descontrole das contas públicas. Ele faz essa venda de títulos via os bancos, que ficam, naturalmente, com uma parte da operação. E ai vem a pergunta: são os bancos os únicos culpados? Não são, respondo com toda a certeza. Eles apenas têm uma parte desta “culpa”. O principal culpado é o próprio Banco Central por duas razões. Primeiro, porque mantém uma política monetária totalmente errada ao manter a Selic tão alta (próxima a 11%), como pretexto para combater a inflação controlada. Ora, o que eu sempre questiono é seguinte: como explicar, então, que o mundo inteiro tem juros baixos e não tem inflação?. É o mundo que está errado e o Brasil certo? Naturalmente

A

h! O famoso spread - Um

aspecto importante sobre a taxa de juros, no Brasil, diz respeito à disparidade, ou seja, à grande discrepância que existe no spread bancário, que é a diferença entre a taxa de captação (taxa de juro recebida pelo aplicador) e a taxa de aplicação das instituições financeiras (taxa de juro cobrada pelos bancos para financiar o tomador, que pode ser uma empresa ou um consumidor). Um aplicador em fundos de renda fixa recebe em torno de 0,9% ao mês, as empresas pagam ao redor de 2,1% ao mês e o consumidor tem de pagar até acima de 6% ao mês. Em outras palavras, eles captam pagando taxas em torno de 10,5% ao ano, mas emprestam por taxas acima de 30%, podendo chegar a mais de 200%, como nos casos de cartões de crédito. Daí, o lucro fácil. Essa enorme diferença é explicada, em grande

parte, por seis fatores, mas nos três primeiros os bancos colocam culpa ou no governo ou no tomador. Estes fatores são: a. a chamada cunha fiscal, que são vários impostos e contribuições sobre as operações e instituições financeiras, tais como: Finsocial, PIS, Contribuição Social, Imposto de Renda, IOF, Imposto sobre o Lucro Líquido e CPMF; b. o recolhimento compulsório, que força os bancos a recolher no Banco Central mais de 40% do dinheiro que recebem dos correntistas, sem nenhuma remuneração. Nestes dois primeiros fatores, a culpa é do governo; c. a inadimplência de boa parte dos tomadores de crédito, que faz com que haja repasse para as taxas de juros, pois o risco é maior. Neste caso, os bancos culpam os tomadores. O que os banqueiros não dizem, vem agora: d. o elevado custo operacional dos bancos no Brasil, que é muito maior do que nos países desenvolvidos; e. a situação de oligopólio do

Foto: stock.xchng

máquina administrativa e déficit da Previdência. Isto corresponde a R$ 1,4 bilhão por dia. Em 2010 será ainda pior, pois todos os quatro itens vão ser maiores, principalmente, os juros que devem chegar ao recorde da história do Brasil (próximo a R$ 200 bilhões). Do lado ruim é gastança mesmo, mas do lado bom, o dos investimentos em infraestrutura os

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R$ 4 bilhões por dia. Considerando-se que: a. o governo, população e empresas pagam em torno de R$ 1 bilhão por dia em juros; b. a população e as empresas vão pagar em 2010 R$ 1,2 trilhão em impostos, o que corresponde a mais de R$ 3 bilhões por dia. Podemos, então, afirmar que estamos condenados a pagar entre juros e impostos mais de R$ 4 bilhões por dia. Ora, o PIB brasileiro está ao redor de R$ 9 bilhões por dia. Até cego vê que as coisas estão totalmente erradas. Assim, enquanto o governo brasileiro mantiver essa política de juros altos e continuar com a sua avidez em tributar demasiadamente o crédito, os bancos vão continuar tendo lucros absurdamente elevados. O único culpado é o governo. Voltando à comparação entre a vaquinha e seus bezerros, pode-se dizer que se a vaquinha tem leite abundante, os bezerros não têm culpa: vão lá “bebem o leitinho”. Culpada é a vaquinha que tem muito leite. Aos bezerros só cabem “mamar”. Como o país só trabalha para pagar juros e impostos, cresce muito pouco. Nos sete primeiros anos do atual governo ficou na “rabeira” da América Latina. Ainda bem que o Haiti cresceu menos que o Brasil. Só o governo Lula consegue ver o contrário. Enquanto isso, o senhor Meirelles, consegue manter a Selic 22 IDEIAS | agosto de 2010

nas alturas. Está na hora de mudar, a pretexto de controlar a inflação, a qual está “domada”.

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Legado do governo Lula -

Tendo em vista que recorrentemente o presidente Lula nos desafia a fazer comparações entre seu governo e o anterior, decidi calcular nos oito anos de ambos os governos, para ver o valor total da soma dos juros que os dois governos pagaram e o aumento da dívida interna bruta. Gostaria de afirmar que na questão dos juros até subestimei o valor, pois nos primeiros sete anos já foram pagos R$ 1,1 trilhão e neste ano vai se aproximar de R$ 200 bilhões, mas mesmo assim, calculei apenas R$ 1,228 trilhão nos oito anos. E a conclusão é estarrecedora. Somente de juros, o governo Lula irá para a história por ter torrado mais de R$ 1,2 trilhão em oito anos, contra o valor de R$ 721 bilhões do governo FHC. Em outras palavras, o atual governo torrou 70% a mais.

No tocante ao aumento da dívida, considerando apenas a dívida líquida, o governo Lula fez aumentá-la em R$ 975 bilhões, enquanto no governo FHC a elevação foi de R$ 550 bilhões. Novamente, Lula ganhou de goleada: com ele a dívida aumentou 77% mais do que no governo anterior. Em suma, na soma dos dois itens (aumento da dívida com pagamento de juros), o governo FHC perdeu feio. Lula simplesmente chegou a algo inimaginável (R$ 2,203 trilhões) contra R$ 1,271 trilhão do governo FHC, ou seja, 73% mais. Realmente, a famosa frase do nosso atual presidente é muito adequada: “nunca antes na história deste país”. A seguir, os dados do gráfico ajudam a evidenciar melhor o que acima escrevemos. É por isso que estimulo que comecemos a fazer comparações entre os dois governos. Ficaremos estarrecidos com as comparações. Há uma cegueira neste país incrível. Aí vale a frase: “o pior cego é aquele que não quer ver”.

Pagamento de Juros e Aumento da Dívida do Setor Público Brasileiro nos governos FHC e Lula 1400 1.228 1200 975

1000

R$ Bilhões

crédito do Brasil, em que mais de dois terços do dinheiro emprestado se concentra nas mãos de menos de dez grandes bancos privados; f. a elevada rentabilidade dos bancos, em grande parte por causa da situação de oligopólio, que facilita aumentar os spreads.

800

721

600

550

400 200 0

Juros

Dívida FHC

Infográfico elaborado por Judas Tadeu G. Mendes

Lula


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Política

O protagonista acidental Roseli Abrão

N

em Beto Richa nem Osmar Dias. O maior protagonista do início desta campanha eleitoral no Paraná foi o senador Alvaro Dias, que por duas vezes viu seu projeto de ser candidato — primeiro ao governo do Estado, depois como vice-presidente na chapa de José Serra — se evaporar. Em muitas entrevistas que concedeu a jornais e emissoras de rádio, o senador Alvaro Dias não escondeu a mágoa de ter que atuar nos bastidores como um “multiplicador” na campanha de José Serra. O Paraná ele mesmo excluiu. Sob alegação de questões éticas e partidárias, não vai apoiar nem o candidato de seu partido, Beto Richa, nem seu irmão, Osmar Dias. Apesar de sempre destacar os laços fraternos que o ligam a Osmar, Alvaro Dias não perdoou o irmão que, acusou, impediu sua candidatura como vice de Serra. Sustentou que foi a decisão de Osmar de ser candidato ao governo, cedendo às pressões do governo Lula, que impediu o Paraná de ter um candidato a vice-presidente. Houve, segundo ele, um “esforço nacional” para impedir sua candidatura, que se traduziu numa pressão tão forte que Osmar teve que ceder.

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Alvaro, vice de Serra, seria o Paraná unido em torno da chapa tucana, sustentou. Poderia fazer a diferença na disputa pelo Palácio do Planalto.

Ibope e Datafolha — que mostraram um crescimento de Serra de 38% para 50% no Sul e um crescimento expressivo no Centro Oeste, o que levou Serra a superar Dilma depois de estar cinco pontos atrás, citou.

Osmar apoia um modelo de governo corrupto” - Mas

Alvaro diz que houve “esforço nacional” para impedir sua candidatura.

— Afinal, com 7,6 milhões de eleitores, o Paraná seria decisivo na eleição presidencial. Poderia decidir a eleição porque, como nunca teve esta oportunidade, poderia se unir em torno desse projeto. Isso ficou claro nas primeiras pesquisas eleitorais —

ao manter distância da eleição no Paraná e da candidatura de seu irmão ao governo do Estado, não o faz apenas por questões partidárias. Não poderia apoiar Osmar por ele sustentar num palanque presidencial — da petista Dilma Roussef — que representa “um modelo de governo corrupto”. Um modelo de governo que, afirmou, combate há quase oito anos. — Seria uma incoerência política porque condeno, combato esse governo que é um modelo de governo perdulário, gastador, irresponsável do ponto de vista ético, que fecha os olhos para a corrupção. Alvaro chegou a usar palavras que disse serem do procurador geral da República, Roberto Gurgel, para acusar o governo Lula como “uma organização criminosa que se apossou do poder, assaltou os cofres públicos do País”.


MIRIAN GASPARIN  jornalista

NEGÓCIOS

Natura investe no Paraná Comunidade de Turvo foi escolhida para fornecer matéria-prima

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Natura, que é a maior fabricante brasileira de cosméticos e produtos de higiene e beleza, sendo líder no segmento de venda direta, ingressou este ano no mercado de chás orgânicos. A comunidade de Turvo, que fica 295 quilômetros de Curitiba, na região Central do Paraná, foi escolhida para fornecer a matéria-prima composta de capim-limão, melissa, camomila e carqueja, para o novo produto. A parceria (Natura-Turvo) foi iniciada em 2004, primeiramente com a compra de pitanga, planta nativa da região, para a Linha Ekos. Hoje, cerca de 40 famílias estão envolvidas com o fornecimento para a Natura. Segundo o porta-voz da Natura, Sérgio Talocchi, a comunidade de Turvo foi escolhida pela empresa porque parte da área do município é coberta por remanescentes da Floresta de Araucária, formação do domínio da Mata Atlântica, compreendendo uma das últimas reservas significativas de Araucaria angustifolia do mundo. Trata-se, assim, de uma região prioritária para a conservação ambiental, que é um dos valores que mais são prezados na Natura. Por isso, a empresa se tornou parceira do Instituto Agroflorestal Bernardo

Hakvoort (IAF) e da Cooperativa de Produtos Agroecológicos Florestais e Artesanais do Turvo (Coopaflora), formada por 85 sócios. “Nós nos identificamos com a missão do IAF, que é promover a conservação e o enriquecimento dos remanescentes da floresta com Araucária, e com o trabalho que é desenvolvido junto aos agricultores”, salienta. O Instituto também atua na recuperação dos ambientes florestais degradados e na melhoria das condições de vida dos agricultores familiares que residem no município, produzem e vivem, através do desenvolvimento sustentável baseado na agroecologia. De acordo com Talocchi, Turvo é uma das 26 comunidades brasileiras com as quais a Natura se relaciona, beneficiando mais de duas mil famílias nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil e no Equador. Com todas estas comunidades, a empresa reparte benefícios tanto pelo uso do patrimônio genético de espécies nativas dos biomas brasileiros quanto pela utilização do conhecimento tradicional a ele associado, conforme a legislação brasileira. Entre outras formas, financia projetos e iniciativas que contribuam para o desenvolvimento local, a conser-

vação ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais, a valorização cultural, o fortalecimento da cadeia produtiva e a mobilização social, além do fortalecimento institucional. Em 2009, a Natura destinou R$ 5,5 milhões às comunidades fornecedoras de insumos da biodiversidade brasileira. Neste valor, estão incluídos fornecimento; reparti­ção de benefícios por acesso ao patrimônio genético ou conhecimento tradicional associado; fundos e apoios; uso de imagem; capacitação; cer­tificação e manejo; e estudos e assessorias. No caso específico de Turvo, a parceria que a Natura estabeleceu com o IAF e a Coopaflora vai muito além de uma relação comercial. “Investimos em um projeto de desenvolvimento local no Turvo. Nosso objetivo, com isso, é apoiar a conservação ambiental e o fortalecimento da agricultura familiar. Investimos, por exemplo, na realização de atividades de lazer na zona rural, como a projeção de filmes e organização de cursos de danças de salão. Esse tipo de atividade também incentiva a permanência dos jovens no campo e ajuda a diminuir o êxodo rural”, justifica Talocchi. agosto de 2010 | IDEIAS 25


entrevista

“O Paraná não tem projetos”

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Paraná teve sistema de planejamento exemplar. Isto no século passado, quando Bento Munhoz da Rocha Neto decidiu organizar o primeiro escritório moderno para elaboração de planos mes­ tres e de projetos para aproximar o Paraná da conte­m­poranei­dade do mundo. Regredimos. Nos últimos anos desapareceram os organismos de excelência, a pesquisa em todas as áreas, não há mais projetos para que o Paraná possa ao menos brigar por recursos na União. Esta é mais uma das heranças deixadas pelos desatinos dos governantes, especialmente os do ex- governador Roberto Requião. E por não termos planos ou projetos é que a FIEP e outras entidades representativas de empreendedores passaram a elaborá-los. Ideias, representada por Fábio Campana e Nêgo Pessôa, foram ouvir Rodrigo Rocha Loures, o presidente da FIEP, que falou de nossas mazelas, dos problemas estruturais e do trabalho que vem fazendo para dotar o Estado daquilo que não tem, o resultado de neurônios a pensar o futuro e a elaborar projetos estratégicos. IDEIAS – As últimas infor­mações são de que nós tivemos um período baixo de investimentos em que o nosso PIB também, de uma maneira geral, teve uma queda. Isso é verdadeiro? Qual é a análise que a Fe­deração tem disso?

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Fotos: Lina Faria

A frase é do presidente da Fiep, Rodrigo Rocha Loures, que organiza as entidades empresariais na produção de planos e projetos estruturais para o estado Rodrigo – O PIB do Paraná, a

exemplo do PIB dos outros dois estados do Sul, cresceu menos nos últimos dez anos do que o PIB do Brasil. É que o Nordeste cresceu mais do que a média brasileira. Mas a região aqui cresceu aproximadamente no nível de São Paulo, um pouquinho menos do que São Paulo. A razão principal para isso é que a nossa região é a mais voltada para a exportação. Essas regiões estão perdendo competitividade por conta do câmbio muito valorizado. Poderia ter crescido mais do que cresceu não fosse o câmbio valorizado, que tem sido um instrumento de política econômica para favorecer o aumento do consumo no país. Na medida em que se tem o câmbio valorizado isso barateia os custos para o consumidor. Nossa economia tem crescido nos últimos anos, especialmente em decorrência do aumento do consumo, do aumento do crédito. Agora, esse aumento de consumo na nossa economia está favorecendo o consumo de produtos importados. IDEIAS – Você não acha que o Paraná ficou para trás por preconceito ideológico do ex-governador, por exemplo, contra a pri­vatização? Rodrigo – É evidente que o Paraná não se articulou bem

com o governo federal e nós poderíamos ter tido mais acesso a investimentos caso tivéssemos tido projetos, assim como também houvesse um cuidado de rever alguns pressupostos, algumas premissas na área de ferrovias.


Esse trecho de Guarapuava para o litoral. A solução pra isso poderia ser outra. Então isso de certa forma pesou. Mas a razão principal é a macroeconomia. A macroeconomia não favorece os investimentos na região Sul, tanto é que não é só o Paraná, Santa Catarina também. Agora se nós, se esses estados e o próprio Paraná, tivessem uma estratégia política mais consistente, com toda certeza nós poderíamos ter compensado essa desvantagem por conta da macroeconomia com vantagens obtidas através de ações políticas na esfera federal. IDEIAS – O Paraná perdeu um investimento sig­ni­ficativo que era a ampliação do porto de Paranaguá por uma decisão política, não é ver­ dade? Aquela licitação que o governo estadual rejeitou, recusou. Rodrigo – Eu não conheço quais foram as razões para

na ocasião não ter sido aproveitada aquela licitação. Mas certamente se aqueles investimentos tivessem sido feitos, poderia ter prevenido estrangulamentos que depois significaram a continuidade. IDEIAS – Imagine uma situação hipo­tética: nestas eleições, que vença Dilma lá em cima e o Beto aqui. A posição do futuro governador em

relação ao poder federal fica mais complicada, eu acho, que a do Roberto Requião com o Lula. O que fazer dentro desse quadro político, admitindo que os canais de financiamento federais estejam fechados para o Paraná? O que caberia ao estado, ao futuro governante fazer? Rodrigo – Não dá pra dissociar o Paraná do resto do Brasil.

Esses investimentos de infraestrutura eles só se realizam à medida que houver articulação entre a esfera estadual e a federal. Um pressuposto para isso funcionar é que haja um plano diretor para a área de infraestrutura. Nós não temos isso. Agora nós vamos passar a ter porque nós empresários estamos cuidando de desenhar quais são as necessidades, um plano diretor de longo prazo. Mas não é suficiente ter o plano, é preciso também ter uma governança e uma gestão da implementação desse plano. E isso passa necessariamente por uma articulação entre o governo federal, o governo estadual e a iniciativa privada e marcos regulatórios. Até porque boa parte dos investimentos podem ser feitos e devem ser feitos por empresas privadas. Mas precisa de marcos regulatórios apropriados para viabilizar isso. O sistema de concessão, e neste caso é muito importante uma outra ótica, mais do que se os eleitos serem da mesma corrente política. Podem ser de correntes políticas distintas, mas estar de acordo quanto ao modus operan-

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di e sem sombra de dúvida não dá para imaginar que a infraestrutura necessária possa ser feita só com recursos públicos ou sem o concurso de recursos privados. Eu não conheço a posição ainda dos candidatos, mas pelo que conheço pessoalmente os candidatos, tanto o Osmar quanto o Beto Richa, compreendem essa matéria. Aí a diferença fica mais na competência política para implementar um plano diretor ou adotar um plano diretor, em implantar um sistema de governança e um sistema de gestão capaz de agilizar os investimentos em infraestrutura.

IDEIAS – Então, o que faltam aos projetos? Rodrigo – Temos que dispor de um banco de proje-

tos de tal sorte que havendo recursos ou interessados, haja facilidade para implementar um projeto. Uma das deficiên­cias é que não temos projetos de engenharia naqueles detalhes necessários para colocar em licitação. Isto é um investimento que deve ser feito com recursos públicos, que é um interesse público. Então o estado, a área pública, federal, estadual, municipal deve ter uma identificação de que projetos são necessários, licitar e ter um banco de projetos prontos. 28 IDEIAS | agosto de 2010

IDEIAS – É inacreditável que um estado como o Paraná, que tem uma tradição de planejamento pú­blico, não tenha projetos que são essenciais, prontos para puxar da gaveta. O projeto já deveria estar pronto, esses grandes projetos, de grandes obras de infraestrutura. Quando isso parou, preci­samente? Rodrigo – Isso foi desmontado há uns 25 anos. Porque

antes havia esse cuidado e depois foi desmontado. Isso foi um fenômeno nacional. Antes havia aqui a UDR, por

exemplo, ou área de energia, tinha os departamentos que cuidavam dos projetos e tinha um banco de projetos. Já há 15 anos, 20 anos, se deixou, foi se desmantelando para fazer um enxugamento da máquina pública. Ideias – Isso ficou mais evidente a partir da década de 90. Fim da década de 80 e início da década de 90. Você tem um período que é de 83 até 88, em que há um processo de alinhar a situação do país. A dificuldade de investimentos públicos. Mas quando há uma retomada, nós levamos um


azar, exatamente de ter naquele momento o início de um ciclo que começa com Requião em 90, que era frontalmente contrário a qualquer obra. Depois vem o Jaime Lerner, que tem um outro projeto para o estado, que está calcado fun­damentalmente na atração de investimentos privados, instala a indústria automobilística e tenta, isso no primeiro governo, resolver os problemas viários no Paraná, com a iniciativa privada entram os pedágios. Rodrigo – As tuas considerações foram interessantes

para refrescar a memória. Porque até a crise de 82, o Brasil supunha que era possível ter um projeto dissociado da economia mundial e de uma forma autárquica. Aí vem a crise da balança de pagamentos que culminou no governo do Sarney com a moratória e nós ficamos até 90, com a primeira eleição presidencial, a primeira eleição direta, em 88 com a constituinte. De 83 a 88 o Brasil ficou pro-

investir. Depois houve aquela grande campanha que eram tudo obras faraônicas, e a própria população compenetrou em usar essa expressão, obras faraônicas. Então deixou de haver importância em fazer obras estruturais. Muito bem, até recentemente nós vivemos da infraestrutura, feita naquele período mal e mal conservadas. No entretempo, aquelas equipes, aquelas estruturas públicas voltadas à parte de engenharia foram se dissolvendo até desaparecer. De outra parte também, além de haver essa perda de capacidade técnica embarcada na máquina pública, além disso, também não tem dinheiro para investir. Ideias – O poder de bancar essas obras o poder público perdeu. Rodrigo – Aí veio a tese da privatização, das parcerias

público-privadas, novos institutos, novas formas, que está tendo difícil implementação.

Para fazer a reforma do estado, a reforma da governança, da gestão, então a reforma política é essencial. Os partidos políticos no Brasil, em toda a parte, funcionam como oligarquias curando um outro modelo que substituísse o anterior. Durante os governos militares, até por conta da formação militar, os critérios técnicos tinham um peso grande e também se imaginava que tudo era possível. Com a redemocratização houve uma perda de eficiência até porque aquelas formas de operar não tinham mais condição de operação porque os pressupostos já não estavam mais presentes. Além disso, nós tivemos que nos ajustar às disfunções do período anterior. A partir daí nós ingressamos num período inflacionário crescente que foi até 93. E aquele período, essas preocupações, capacidades de pensar a longo prazo praticamente dissolveram. Sem poupança. Ideias – Sem nenhuma capacidade de inves­ timentos. Rodrigo – Então quando se iniciou o plano real a meta

principal era o ajuste fiscal, a estabilidade da moeda e não sobraram recursos para se investir, até porque não se sabia no que investir, também tem esse detalhe. Durante o período militar havia uma definição de onde se queria investir, havia crenças, a estrada do aço, as usinas nucleares, país grande, transamazônica, tinha a definição no que se

Ideias – Temos um preconceito contra o capital externo no investimento na infraestrutura. É isso? Rodrigo – Não acho que seja preconceito, é mais uma

questão realmente de ter um sistema jurídico para isso. É que se tratam de recursos públicos ou são concessões públicas e aí nossa legislação, a maneira com que o Brasil funciona é uma das mais complicadas do mundo. Não existe segurança jurídica nos investimentos. Mais do que questões ideológicas, é essa questão da falta de segurança jurídica. Então você toma um dinheiro emprestado para fazer uma obra, mas que segurança você tem que os compromissos vão ser respeitados? Ideias – É preciso, portanto, uma reforma política? Rodrigo – Com toda a certeza. Para nós acelerarmos a

velocidade do aperfeiçoamento político brasileiro, no seu todo, a atuação dos cidadãos, a atuação da imprensa, a atuação dos empresários, do executivo, enfim de todos os atores, porque no fundo todos somos atores políticos. Seria desejável que houvesse uma melhoria significativa na reforma política. Para acelerar isso, a reforma política é o imperativo, a mais importante. agosto de 2010 | IDEIAS 29


O Brasil precisa sem nenhuma sombra de dúvidas, de um estado brasileiro modernizado. O estado brasileiro é muito mais que os governos. Quando se fala em estado brasileiro a gente deve pensar em pacto federativo, como é que são as esferas, as atribuições, as competências precisam ser revisitadas, reconfiguradas, o papel da união, dos estados, dos municípios. A questão da distribuição da carga tributária, a configuração da carga tributária que ela é alta e é ruim, na sua configuração porque ela inibe o investimento, ela tira a competitividade. Não é um sistema tributário que tem compatibilidade com um modelo que favoreça o crescimento da economia, favoreça os investimentos, que em última análise é o que interessa a todo mundo. Que a economia do Brasil tenha vitalidade, tendo vitalidade tem emprego, tem venda, tem consumo, tem imposto. Então tem que ser redesenhada, mas para redesenhar o sistema tributário tem que também rever o sistema fiscal, a forma como são gastos os recursos públicos e isso depende de decisões do congresso. IDEIAS – E a reforma do estado? Rodrigo – Para fazer a refor-

ma do estado, a reforma da governança, da gestão, então a reforma política é essencial. Os partidos políticos no Brasil, em toda a parte, funcionam como oligarquias, atuam de uma forma oligárquica, ou seja, são poucos que atuam e geralmente estão voltados para um interesse próprio, uma agenda própria, e frequentemente até uma agenda desonesta. IDEIAS – A rigor não temos partidos. Rodrigo – Para mim a questão central é que um dos

princípios da representação deve ser a proporcionalidade. A maneira como as cadeiras são distribuídas hoje não respeita esse princípio da proporcionalidade então não traduz com fidelidade a opinião pública do Brasil, uma vez que o eleitor do Acre pesa 30 vezes mais que o eleitor de São Paulo. Isso não é bom para a democracia. IDEIAS – E a defi­c iência de nossos políticos? Rodrigo – Temos uma classe de políticos profissio30 IDEIAS | agosto de 2010

nais, isso especialmente na área parlamentar. Até no executivo pode acontecer de ter figuras que episodicamente ganham uma eleição, mas geralmente não tem vida política muito longa porque a política é toda uma lógica, tem toda uma dinâmica que requer pessoas que sejam capazes de interagir naquela lógica da política que é da negociação, da conciliação, etc. O político dificilmente prospera se ele for radical na sua ideologia, porque se ele for radical, se ele for secretário, não consegue interagir com os outros, não participa do exercício do poder. Então ele pode ter uma origem radical, mas quando entra na política propriamente dita, para sobreviver, para poder corresponder às expectativas do seu eleitorado, ele tem que desenvolver essa habilidade de ouvir a todos, de interagir com todos. Pode ter um discurso num sentido para ganhar votos, mas tem uma prática efetivamente de poder fazer a interface com o executivo. Nessa interface com o executivo é que reside o perigo porque o executivo não gosta de oposição, ninguém gosta de oposição. IDEIAS – Vamos mudar um pouco o rumo dessa conversa que está só sobre política. O es­ tado do Paraná tem futuro? Rodrigo – Tem muito futuro. O Paraná em que pese,

por exemplo, essa questão do PIB, da evolução do PIB, e o PIB é uma medição exclusivamente financeira. Se formos olhar outros fatores, o estado evoluiu, até do que o Brasil. Vou te dar um exemplo, eu sou o Secretário Executivo do Movimento Nacional de Cidadania e Solidariedade, isso por conta dos objetivos do milênio. E nos indicadores sociais, redução da pobreza, redução da mortalidade infantil, analfabetismo, redução da mortalidade materna, doenças, questão ambiental, diversos indicadores, o Paraná está em primeiro lugar no Brasil, no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Então tem coisas que estão acontecendo que não estão sendo medidas financeiramente. Nós temos um cooperativismo num estágio de organização que é notável no Brasil, temos os arranjos produtivos locais que evidenciam uma capacidade que as


empresas têm em se organizar em conglomerados onde está presente de uma forma articulada e intensa uma cooperação, para ter presença no mercado. Isso é um fenômeno cultural do estado. IDEIAS – O que é necessário para que o cres­ cimento aconteça de fato? Rodrigo – Existem coisas que não são passíveis de

crescimento, de medição financeira, e nem por isso deixam de ser relevantes. Se você tem um sistema hospitalar, um sistema educacional que funciona com mais qualidade, e que as pessoas que estão no hospital e na escola, estão mais qualificadas, estão mais bem administradas, então você tem um resultado em qualidade melhor do que no caso em que isso não acontece em qualidade. Então do ponto de vista de mensuração de PIB, uma escola do Paraná, um hospital, os salários sendo equivalentes aos de outros estados brasileiros, como o nordestino, a folha de pagamento é a mesma, mas os nossos têm mais produtividade. O serviço de saúde é melhor, o serviço de educação é melhor, e isso faz uma enorme diferença. Por isto até, por ter estas características, é que apesar de um ambiente hostil aos investimentos, um ambiente adverso à produção, ainda assim a economia paranaense continua vibrante, por conta da qualidade de emprego. É um dos estados com o maior empreendedorismo. IDEIAS – Nós não temos uma eco­no­mia cada vez mais dependente das in­ter­venções do esta­do? De 20 anos para hoje isso mudou bas­tante, não é? Rodrigo – Acho que o estado tem mais peso do que a

união. Por quê? Pelo seguinte, o estado pode ser um ator relevante para resolver a questão da infraestrutura, sem sombra de dúvidas. Ele pode atuar politicamente junto à união para obter recursos, licenças, etc. E ele é que conhece como está a situação do porto, das rodovias, da ferrovia, do aeroporto, das hidrovias e etc. IDEIAS – Quais as outras áreas em que o governo do estado pode cumprir um papel relevante? Rodrigo – A área da educação, especialmente a educação

superior e a educação média. Nós estamos muito atrasados, mas muito atrasados em matéria de educação. Não precisamos ir longe. É só nós compararmos o desempenho do nosso sistema com o do Chile. O Paraná não é tão ruim quanto o resto do Brasil. Nós continuamos tendo uma universidade cujos profissionais têm qualidade, mas o sistema é um obstáculo. Os procedimentos, a burocracia, a governança, as políticas que regem o sistema universitário, elas impedem o bom aproveitamento dos profissionais que estão presentes nas universidades. De outra parte as universidades também estão muito presas a modelos, a currículos tradicionais, precisavam ser reinventadas, redirecionadas, de maneira a entender quais são as necessidades de produção de conhecimento, que são peculiares a nossa região aqui, e não ficar pesquisando sexo dos anjos, coisas assim que estão dissociadas das necessidades de formação. IDEIAS – Em que área o Paraná se destaca? Rodrigo – Vou dar um exemplo concreto: existe uma ótima

oportunidade de nós nos destacarmos na área da indústria automotiva. Em que pese se questionar o fato da emissão de gases e etc, o automóvel não vai desaparecer dos costumes humanos, ele vai se transformar. E para ele se transformar não vai haver demanda para carro. Isso quer dizer que nós precisamos dar prioridade à necessidade de engenheiros, de técnicos, tudo para a indústria automotiva. Não temos isso no nosso estado. Nossas escolas de engenharia podem se ocupar dessa temática, como pode se ocupar, por exemplo, da questão florestal. Podemos ser o centro de excelência na indústria de base florestal no mundo. Toda a área de biotecnologia. O Paraná tem cerca de 20 microclimas distintos e tem uma variedade enorme, tem um potencial enorme. Isso está na esfera do estado. agosto de 2010 | IDEIAS 31


De outra parte para nós termos um bom aproveitamento dos alunos nos cursos superiores é fundamental que o ensino médio seja de altíssima qualidade. Eu entendo que existem duas grandes prioridades na área de educação. Uma é a pré-escola e os primeiros dois anos do ensino fundamental, onde tem que haver uma concentração de investimentos e cuidados, para que as crianças possam ser auxiliadas no seu processo de alfabetização. Nós temos uma meta de que aos oito anos de idade, todas as crianças sejam capazes de ler, escrever e acessar o computador. Aí ela vai andar sozinha até a nona série. O ensino médio, o segundo grau, é um segundo momento crucial porque é a adolescência. O jovem, que já não é mais uma criança, o jovem adolescente precisa ter um ambiente, um sistema de educação que seja atraente, que ele possa descobrir as suas forças, possa desenvolver a sua autoestima, a sua autoconfiança, sua sociabilização. Que ele possa, enfim, ter a oportunidade de se experimentar, na sua interação com o mundo, e chegar então à idade adulta, aos 18, 19

uma complexidade. É uma região metropolitana de importância mundial. E o estado tem que estar presente. IDEIAS – A Fiep tem tabelinha, por exemplo, com o pessoal da agricultura? Rodrigo – Sim. Nós temos o que nós chamamos G8, são

oito entidades, onde trabalhamos sistemas que são de interesse comum, que é a questão da infraestrutura, da educação, de uma agenda legislativa, da macroeconomia. E também fazemos juntos as defesas, por exemplo, a agricultura defende a agenda da indústria, do comércio, e assim sucessivamente, nós trabalhamos unidos. O que está havendo é uma mudança, a sociedade civil está sendo um ator relevante no planejamento, na formação de políticas públicas. A sociedade civil está cada vez mais ela, não está só fazendo a encomenda do que quer, mas também de como. E está tomando iniciativas que anteriormente eram próprias de governo. Então há uma mudança para um modelo em que a sociedade participa da governança.

O Brasil precisa sem nenhuma sombra de dúvidas, de um estado brasileiro modernizado. O estado brasileiro é muito mais que os governos anos, que é quando ele vai ingressar na universidade, com uma maturidade emocional, com uma autoconfiança que lhe permite gostar da educação, gostar da aprendizagem. Ter o exercício de cidadania, a oportunidade de exercitar sua cidadania, seu empreendedorismo. IDEIAS – A Fiep desen­volve programas vol­tados ao em­preen­dedo­rismo para jovens? Rodrigo – Temos programas como o Junior Achievement

por meio do colégio Sesi, onde proporcionamos aos jovens a oportunidade de eles aprenderem o empreendedorismo pelos jogos e exercícios, onde eles descobrem a sua criatividade, a sua inventividade, começam a entender o mundo adulto. Isso é o estado que pode prover. Aí questões relacionadas ao saneamento, segurança pública. IDEIAS – Qual a questão crucial que precisa ser resolvida no estado? Rodrigo – A integração das regiões metropolitanas.

Nós temos três regiões metropolitanas bastante claras. A região de Curitiba, Londrina e Maringá e vão surgir outras. Mas isso só existe formalmente, na prática não existe qualquer cuidado nisso e a região de Curitiba é 32 IDEIAS | agosto de 2010

IDEIAS – É mais democrático. Rodrigo – Por conta disso, nós estamos aprimorando nossos

instrumentos de trabalho para poder oferecer aos governantes ou para poder até interagir com o governo na linguagem própria de governo. Estamos trabalhando um Plano de Desenvolvimento produtivo do Paraná junto com o governo do estado. É a nossa equipe com a equipe do Ipardes, a equipe do BRDE, com a equipe da Agência do Fomento, técnicos do governo reunidos com os nossos técnicos pra chegar a um entendimento a respeito de agendas. A questão da política das prioridades é um jogo de pressão nossa junto a eles, e é natural que seja assim, porque o governo é uma instituição que reage a pressões da opinião pública, da sociedade. IDEIAS – O processo da Ficha Limpa decorre da sociedade. Rodrigo – É um exemplo de democracia direta, mas no

caso da iniciativa da lei popular, é o político, o congresso que sente que se não atender a isso pode perder voto.

IDEIAS – Tem uma outra instância delicada que é a reforma do judiciário. Rodrigo – Esse é o mais conservador dos poderes.


escândalo

Escândalo dos dólares derruba Requião Da Redação

R

Foto: divulgação

equião caiu 12 pontos nas últimas pesquisas, EQJ e, na festa, onde os parentes estavam reunidos, toinforma o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo mou conhecimento das compras de casas, apartamentos, Hidalgo. Queda que tirou o sono de Requião e carros e caminhões, feitas pela doméstica. Cristiane levou estas informações para Eduardo sua caterva. Não é para menos. Se a tendência permanecer, ele Requião. O investigador da Polícia Civil José César Bite a parentalha ficarão sem arrimo. A curva descendente tencourt passou a apurar o caso. No dia 25 de junho do deve condená-lo à planície e aos processos como cidadão ano passado, Cristiane trabalhava no escritório da patroa, quando a EQJ, o marido dela e um comum perante a lei. funcionário do Porto de Paranaguá Os analistas garantem que essa queda resultou do escândalo provoapareceram repentinamente. cado pela mala de dólares de Eduardo Revoltados, queriam tirar satisfaRequião furtada por uma empregações com a jovem, acusando-a de fazer “fofocas”, envolvendo o nome do funda doméstica que só foi percebida quando passou a dar demonstrações cionário do porto que a ameaçou, afirpúblicas de rápido enriquecimento. mando que iria procurar uma delegacia A história é cabeluda e consagra e registrar queixa contra ela, pois nada tinha a ver com enriquecimento ilícito. a estultícia dos personagens. Foram Assustada, Cristiane revelou ao fofocas de vizinhos e de parentes da trio que tinha sido questionada por ex-empregada doméstica de Eduardo Eduardo Requião se sabia de alguma Requião de Mello e Silva que levaram coisa “estranha” sobre a vida pessoal o ex-superintendente do Porto de Parada doméstica. Ela lhe contou o que naguá a descobrir que ela havia furtado 180 mil dólares de seu apartamento, tinha ouvido na festa de casamento no primeiro semestre do ano passado. e isso desencadeou a investigação. O dinheiro, guardado em comFoi só depois deste “barraco” A queda de Requião nas pesquisas foi que “caiu a ficha” da mulher de Edupartimento secreto, no guarda-roupa resultado do escândalo protagonizado ardo e ela resolveu contar os dólares do quarto do casal Requião, foi en- pelo irmão Eduardo (foto). que tinha escondido no guarda-roupa. contrado por EQJ, 45 anos, que pasDescobriu o furto dos dólares e a insou a subtrair as notas, trocá-las por real e adquirir bens móveis e imóveis, além de comprar formação chegou à polícia e aos poucos espalhou-se. O assunto pegou em todas as rodas políticas do Paraná presentes para toda a família. Os vizinhos comentavam que EQJ tinha enriqueci- e passou a ser de grande interesse popular. Ao mesmo do da noite para o dia, e ela justificava o dinheiro extra tempo, começou a cair a mascará de Requião, grande como “gratificação” dada pelos patrões. Em uma festa protetor da família, especialmente dos irmãos Eduardo de casamento, em Colombo, os comentários chegaram e Maurício. O efeito imediato foi a queda nas pesquisas aos ouvidos da zeladora Cristiane Bialli Kaminski, 27, de opinião. E ninguém sabe como virão as próximas. funcionária da produtora de vídeo pertencente à mulher Mas uma coisa é certa, Requião já não dorme tranquilo de Eduardo Requião, Ana Helena Mothé da Silva Duarte. e Eduardo deixou de ser convidado para as reuniões Cristiane é casada com um sobrinho do marido de festivas da família. agosto de 2010 | IDEIAS 33


Foto: Lory Mehl

Parabéns, Tamandaré!

A Prefeitura está entregando em agosto mais um par de tênis para todos os alunos da Rede Municipal de Ensino.

34 IDEIAS | agosto de 2010 EDUCANDO PARA CRESCER


VEREADORES

Por dentro da Câmara Acompanhe o trabalho dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba História Durante o período em que assu-

miu interinamente a prefeitura, o vereador João Cláudio Derosso (PSDB), presidente da Câmara Municipal de Curitiba, assinou a homologação do resultado do edital de licitação para restauro do Palácio Rio Branco, sede do Legislativo. Construído há 115 anos, o prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico e será revitalizado com recursos economizados pela própria Câmara. Copa 2014 Ao retornar da viagem

oficial à África do Sul, o vereador Mario Celso Cunha, líder do prefeito na Câmara Municipal, relatou o resultado das conversas de Curitiba com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. “Após este encontro com a CBF e a Fifa ficou a certeza de que Curitiba será sede da Copa. Poderá ser na Arena ou um plano B”, garantiu o vereador. Cidade-irmã O município de Durban,

que sediou sete jogos da Copa do Mundo da África do Sul, é a nova cidade-irmã de Curitiba. O tratado foi assinado pelos prefeitos Obed Mlaba e Luciano Ducci, em cerimônia presidida pelo vereador Mario Celso Cunha (PSB). Organizadas Violência em estádio

deve ser punida com prisão e xingamentos também podem ser proibidos, conforme projeto de lei aprovado no Senado que altera o Estatuto do Torcedor. O vereador Julião Sobota (PSC) declarou que

concorda com penas mais rígidas ao mau torcedor. Ele afirma que toda lei, ação ou trabalho que beneficie pessoas de bem terá seu total apoio. Direitos Humanos A partir de

agosto, vereadores da Comissão Especial de Direitos Humanos para Estudo e Aplicação dos 8 Objetivos do Milênio em Curitiba, da Câmara Municipal, representantes da Secretaria de Governo, Procuradoria da prefeitura e do Ministério Público, trabalharão para regulamentar a Comissão Municipal de Direitos Humanos. Saúde Emendas dos vereadores de

Curitiba garantiram R$ 3,7 milhões adicionais aos hospitais de Clínicas, Cajuru, Evangélico e Erasto Gaertner, para a incorporação de novos equipamentos. A parceria entre o Legislativo e a prefeitura também beneficiará outras instituições, como a Santa Casa de Misericórdia, Pequeno Príncipe, Fundação Pró-Hansen, Pequeno Cotolengo, Mater Dei e Instituto Madalena Sofia. Farroupilha O vereador Tito Zeglin

(PDT) pede urgência na conclusão das reformas que a prefeitura de Curitiba está fazendo no Parque dos Tropeiros. O objetivo é ter as obras concluídas para o mês de setembro, quando acontece a Segunda Semana Farroupilha de Curitiba. Participação A vereadora Renata

Bueno (PPS) considera preocupante a

Câmara Municipal de Curitiba • www.cmc.pr.gov.br R. Barão do Rio Branco, s/nº — cep 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 fax: (41)3350-4737

situação da participação de mulheres no cenário político nacional. Segundo levantamento da Cepal (Comissão Econô­mica para a América Latina e Caribe), o Brasil está na lista de países com menor representação feminina no Congresso Nacional – apenas 9%. Resíduos Lei curitibana que dispõe so-

bre o tratamento e destinação final de resíduos especiais pode ser adotada em Minas Gerais, afirma o vereador João do Suco (PSDB), um dos autores da matéria, junto com o presidente da Câmara, João Cláudio Derosso (PSDB) e Julieta Reis (DEM). O parlamentar participou do 3º Seminário de Produção e Consumo Sustentável, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Meio ambiente Projeto do verea-

dor Francisco Garcez (PSDB), obriga as em­presas potencialmente poluidoras a contratar responsável técnico em meio ambiente. “Queremos a responsabilidade das empresas que poluem o meio ambiente colocada em prática, o que vai acontecer quando contratarem técnicos especializados fazendo gestão de segurança ambiental”, afirma o parlamentar. Herói Os 120 anos da Associação Co­

mercial do Paraná foram comemorados na Câmara Municipal com a entrega da Comenda Barão do Serro Azul ao ator Herson Capri, que interpretou o empresário Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, no filme “O preço da paz”. Segundo a presidente da ACP, Avani Slomp Rodrigues, o ator foi escolhido “por difundir a imagem do único herói nacional paranaense reconhecido por lei”. agosto de 2010 | IDEIAS 35


reportagem

Uma realidade que bate em nossa cara Mara Cornelsen

36 IDEIAS | agosto de 2010

Foto: Gazeta do Povo/arquivo

D

iariamente dez mulheres são assassinadas no Brasil. Os números mostram que as taxas de assassinatos femininos no País ficam muito acima do padrão internacional. Maria Islaine, Elis, Ananda, Rejane, Mércia, Eliza e Telma. Sete mulheres que não se conheceram, mas que tiveram o mesmo destino: a morte violenta. Elas foram assassinadas com requintes de crueldade nos primeiros sete meses deste ano, em diferentes cidades do País, passando a fazer parte de uma cruel e vergonhosa estatística que revela que dez mulheres são mortas por dia no Brasil. E, a cada sete segundos, uma mulher é agredida em algum ponto do País. Esta realidade, apesar de esfregada na cara da família brasileira, parece não mais comover nem mobilizar os organismos de segurança pública para que tentem colocar um freio na escalada da violência contra a mulher. A Lei Maria da Penha, em vigor há quatro anos, e que surgiu como a “salvadora da pátria” para os casos de violência contra a mulher, parece que já não assusta tanto os agressores e depende das formas de interpretação de quem a aplica para que tenha eficiência. Mas, pelo menos ela tem encorajado as denúncias de agressão e violência. Dados divulgados no Mapa da Violência no Brasil 2010, realizado pelo Instituto Sangari, com base no banco de dados do Sistema Único de Saúde, revela uma média nacional de 4,2 homicídios em cada grupo de 100 mil mulheres. No período compreendido entre 1997 e 2007, foram assassinadas 41.532. O motivo, na grande maioria, é fútil e o responsável normalmente é um ex ou atual companheiro, namorado ou marido, que age motivado pelo ciú­me e pelo sentimento de posse que nutre pela vítima, mesmo depois do término do relacionamento. Desde o começo do ano, casos de assassinatos de mulheres estão sendo exaustivamente noticiados pelos

Telma Fontoura foi morta em Shangri-lá onde passou sua infância

meios de comunicação, especialmente as televisões, que chegam a espetacularizar os fatos. Quanto mais famosos os envolvidos nas tragédias, mais suas histórias são esmiuçadas e reveladas ao público, ocupando generosos espaços nos telejornais da manhã até a noite. A tragédia vira história e a história vira novela, a ponto de criar uma insensibilidade coletiva, como se aquela sórdida realidade se transformasse em um filme, acompanhado capítulo a capítulo, com direito a opiniões, discussões e palpites para o seu final.


B

om no futebol, mau no jogo da vida - Muito

importuná-la ou de se aproximar dela. Contrário do que provavelmente sejam poucos os brasileiros que aconteceu com a atriz Luana Piovani, que agredida pelo não conheçam, hoje, a história de Eliza Samúdio ex-namorado Dado Dolabella, levou-o à prisão por não e do ex-goleiro do Flamengo, Bruno Souza, iniciada no respeitar a distância determinada pela Justiça para que Rio de Janeiro em meio a festas e orgias, e terminada em se mantivesse afastado dela. Minas Gerais, onde a jovem supostamente foi assassinada. O corpo inimigo ao alcance da mão - O assassinanão foi encontrado até agora e, ao to da advogada Mércia que parece, nem será. O goleiro Nakashima, em São Paulo, ocore seus amigos, além da esposa e rido em 23 de maio (o corpo foi de outra amante, estão presos e encontrado 17 dias depois em à mercê da Justiça. A polícia miuma represa de Nazaré Paulista) neira deu o caso por encerrado e encaminhou todo o inquérito para também chocou pela crueldade o Ministério Público, que deverá e a partir do momento em que o denunciar o grupo por sequestro, ex-namorado dela passou a figucárcere privado e homicídio. Tudo rar como principal suspeito. Não o que Eliza queria era que Bruno bastasse ser colega de profissão da vítima, ele também tinha sido poreconhecesse a paternidade do filho que ela jurava ser dele, nascido licial militar. Envergou a farda com quatro meses antes de seu sumiço a obrigação de proteger as pessoas. em 4 de junho último. Mizael Bispo de Souza, 40 anos, Junto com o reconhecimento, nega qualquer envolvimento no ela levaria também uma pensão alicrime, mas parece não convencer. mentícia, o que poderia garantir A polícia dispõe de meios tecnosua sobrevivência e a do bebê, sem O caso de Rejane Neppel Godoy lógicos e científicos que indicam que precisasse trabalhar. Bruno, ao que ele esteve com Mércia quando ainda não foi solucionado que parece, não gostou da situação de seu desaparecimento. e com a ajuda dos amigos, deu fim Bem que o assassino de Mérao “problema” que lhe incomocia tentou fazer sumir o corpo dava. Só não esperava que o caso mobilizasse a polícia dela, talvez se baseando na antiga premissa de que “se e a opinião pública. Eliza provavelmente está morta e não há corpo, não há crime”. Só que até isso já mudou enterrada em local desconhecido (pelo menos o que não no conceito policial e mesmo que o corpo não seja enfoi devorado pelos cães do executor do assassinato). Mas contrado, como no caso de Eliza Samúdio, os indícios do Bruno sepultou a própria vida sem morrer, ao receber a crime podem nortear o processo e apontar os criminosos. Foto: Gazeta do Povo/arquivo

O

Três psicólogas curitibanas foram executadas e somente um dos casos foi totalmente solucionado pela polícia acusação de ser o mandante do crime. Isso lhe roubou a fama, o luxo, o emprego e o dinheiro. Eliza procurou a polícia e registrou queixa contra Bruno ainda antes do bebê nascer, afirmando ter sido agredida e forçada a tomar um abortivo. Para ela a Lei Maria da Penha não serviu. Bruno não foi proibido de

M

ais dois - Outros dois casos de repercussão na-

cional aconteceram em janeiro e março deste ano. Diante de uma câmera de segurança, o borracheiro Fábio Willian atirou sete vezes contra a ex-mulher, a cabeleireira Maria Islaine de Morais, 31 anos, em Belo Horizonte (MG). Foi uma morte anunciada. Ele já tinha feito dezenas agosto de 2010 | IDEIAS 37


de ameaças e ela havia registrado oito queixas na delegacia local. Isso não bastou para garantir a vida dela. Em março a economista Ananda Lima Barreto, 30, tesoureira da Caixa Econômica Federal de Lauro Freitas, município baiano, descobriu um desvio de R$ 40 mil e o denunciou. Quatro dias depois apareceu morta por asfixia, em uma área de preservação permanente na Praia de Ipitanga. O corpo estava do lado do carro dela e nada foi roubado. Até agora o crime está sem solução.

M

orte chegando de surpresa - Fechando o

calendário de tragédias, em fevereiro, abril e julho, a violência contra a mulher bateu na porta de nossas casas. Três psicólogas curitibanas foram executadas e somente um dos casos foi totalmente solucionado pela polícia. Em 2 de fevereiro Elis Regina Sbrissia, 42 anos, chegava em casa, em seu carro e na companhia da filha, no Atuba, quando surgiram dois bandidos e exigiram o automóvel, um Fiesta. Elis entregou o veículo e atreveu-se a pedir que não levassem seus documentos que estavam dentro da bolsa. Foi baleada ali mesmo, sem compaixão. O carro roubado foi abandonado logo mais adiante. De valor, os criminosos só levaram a vida dela. O assaltante Edson Andrade Borges, 26, é apontado como autor do tiro. Ele tem uma longa lista de roubos em sua ficha criminal. Também foram ceifadas de forma inexplicável e sem motivos as vidas de Rejane Neppel Godoy, 44, em 5 de abril, e de Telma Fontoura, 53, em 11 de julho. Rejane era funcionária da Prefeitura de Curitiba.

Naquele dia, saiu do trabalho para almoçar, deixando o computador ligado e as gavetas da escrivaninha destrancadas. Logo iria voltar. No entanto, teve seus passos acompanhados até a rua, por uma câmera de segurança, e depois sumiu. Passados 44 dias, seu corpo foi encontrado embaixo do viaduto dos Padres, na BR-277, que dá acesso ao litoral paranaense. Em decomposição, o cadáver apresentava grave fratura no rosto, provocada por forte pancada, que ocasionou a morte. Até agora é tudo o que se sabe sobre o caso. A polícia diz ter alguma pista do autor do crime, mas ainda não desvendou o mistério. Telma foi morta no Litoral, em Shangri-lá, balneário em que passou a infância e juventude, onde era conhecida e bem quista e também onde seu pai, um conceituado médico pediatra atendia crianças carentes sem cobrar nada. Ela não gostava de futebol e em um domingo, em plena disputa dos jogos pela Copa do Mundo 2010, deixou a filha e os amigos em casa e saiu para fazer sua costumeira caminhada pela beira-mar. Não andou mais do que três quilômetros e foi dominada pelo assassino que a estrangulou com o cadarço que ela levava no pescoço, prendendo a chave de sua casa. O matador tentou esconder o corpo em uma cova rasa, cavada às pressas na beira da praia. Ela foi encontrada na manhã seguinte e um suspeito preso à tarde. O sujeito, usuário de drogas e morador em uma pensão próxima do local do assassinato, nega o crime. Mas há indícios que o acusam. A polícia aguarda resultados de exames que poderão confirmar a autoria. Enquanto isso, ele segue preso.

Foto: Anderson Tozato

A cada sete segundos, uma mulher é agredida em algum ponto do País

Moradores do Atuba pedem segurança depois do assassinato de Elis Regina Sbrissia 38 IDEIAS | agosto de 2010


Mulheres assassinadas em Curitiba e Região Metropolitana no primeiro semestre de 2010 Vítimas: 105 Média de idade: 30 anos

2 10

17

Causa da morte Tiros: 76

76

Agressão Física: 17 Arma branca: 10 Carbonizado: 2

1 2

Cidades 4 6 50 9

10

Curitiba: 50

Balsa Nova: 1

Piraquara: 12

Campina Grande do Sul: 1

Colombo: 10

Campo Largo: 1

São José dos Pinhais: 9

Campo Magro: 1

Araucária: 6

Cerro Azul: 1

Pinhais: 4

Itaperuçu: 1

Alm. Tamandaré: 2

Mandirituba: 1

Fazenda Rio Grande: 2

Rio Branco do Sul: 1

Lapa: 2

12

1

Bairros de Curitiba em que foram registrados os crimes 6

6

4 2 4 3

3

3

Cidade Industrial: 6

Santa Cândida: 2

Sítio Cercado: 6

Xaxim: 2

Cajuru: 4

Abranches: 1

Tatuquara: 4

Boa Vista: 1

Atuba: 3

Boqueirão: 1

Barreirinha: 3

Fazendinha: 1

Pilarzinho: 3

Novo Mundo: 1

Alto Boqueirão: 2

Parolin: 1

Cachoeira: 2

Santa Quitéria: 1

Ganchinho: 2

São Francisco: 1

Campina do Siqueira: 2

Uberaba: 1

Fonte: Tribuna do Paraná/Marcelo Vellinho

agosto de 2010 | IDEIAS 39


CARLOS ALBERTO PESSÔA  jornalista

LIVRE PENSAR

Globalizou! Homogeneizou! Aburguesou! Não resta a menor dúvida; é visível a olho nu 24 vezes por segundo: todo o mundo, urbi et orbe, está a jogar futebol da mesma maneira. Na hora de defender, oito homens atrás da “linha” da bola, sem contar o keeper; na hora de atacar pelo menos sete homens além da intermediária inimiga. Claro, todos preferem contra-atacar velozmente, chegar à zona de tiro com poucos&bons. Mas como fazê-lo diante de outro sestro agora universalizado? Me refiro ao tocar a bola, tocar e tocar a bola para trás ou para os lados, lentamente, seguramente, avançar devagar, com completo equilíbrio defensivo, à brasileira, à Palmeiras da gloriosa época Dudu-Ademirável da Guia, nossa marca registrada, copiada copiosamente, hoje estilo geral na OROPA, NA FRANÇA, E NA BAHIA, ora, pois. Até mais ou menos a Copa dos EUA (94) ainda víamos seleções marcar individualmente e com um homem na sobra. Como a Itália. Ou marcar por zona e com um homem na sobra. Como o Brasil. Ou marcar por zona sem um homem na sobra. Como os anglosaxões. Por esta época víamos também seleções a pressionar o adversário na saída da bola, como a Holanda. Ou a partir do meio campo. Ou a partir da linha intermediária. E assim por diante. Ofensivamente, o mundo se divida em duas partes; seleções que valorizavam a posse da bola e seleções que não valorizavam a posse da bola. No primeiro grupo, os latinos, menos os italianos; no segundo, os outros, maioria. 40 IDEIAS | agosto de 2010

Estas diferenças acabaram. Não há mais estilos nacionais! Japoneses, africanos, americanos do norte, europeus, sulamericanos, australianos e neozelandeses, todos tocam a bola para os lados e para trás, a espera da justamente célebre besteira dos beques ou do igualmente celebérrimo estalo do padre Vieira de um avante para fazer golozinho. E segurar a peteca até que sua senhoria se digne trilar e dar por findo a porfia. UFA! ORRA!

N

inguém mais corre riscos! Exceto no deses-

pero. Onde o risco ganha outro nome. Agora, hoje, em todo o mundo, literalmente em todo o mundo, o joguinho é cópia, é um eco do poema do Mário de Andrade ODE AO BURGUÊS. Que transcrevo partes para seu deleite. E meditação. “Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! O homem que se ndo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Ódio aos temperamentos regulares! Ódio aos relógios musculares! Ódio aos sempiternamente, as mesmices concencionais! Fora! Fú! F’roa o bom burguês!”.


Se você acha que a nossa revista é para pessoas exigentes, sofisticadas e às vezes um pouco arrogantes, você tem razão.

Para fazer parte deste grupo, assine Ideias: assinatura@revistaideias.com.br ligue: 41 3079 9997 agosto de 2010 | IDEIAS 41


ROGERIO DISTEFANO  advogado

OPINIÃO

Os dentes da Aeronáutica

“M

inha filha deve os dentes à Aeronáutica”. Era a mulher do sargento, no elevador, fornecendo informação não solicitada. A informação teve utilidade, pois me perguntei o que devia aos Correios, onde, filho de telegrafista, nasci e vivi até os 22 anos. Não foram os dentes, com certeza, porque os Correios não ofereciam assistência médica e dentária. Penso que recebi mais que os dentes saudáveis da filha da aeronáutica. O pai começou nos Correios aos 13 anos, na época era possível. Fez-se telegrafista no trabalho e evoluiu com os aparelhos que os Correios vieram a adotar, como o boudot e o teletipo. Pesquisei sobre o boudot e nada encontrei, nem a grafia correta, mas lembro o aparelho, fascinante: parecia um micropiano, cinco teclas nas quais o operador compunha o código de transmissão. Os colegas diziam que o pai era o melhor do Brasil, tanto no telégrafo quanto no boudot. Depois veio o teletipo, já nos anos 1960, última palavra em comunicação, operada em vernáculo e recebida em fitinhas impressas, recortadas e coladas no formulário de telegrama. Eu queria aprender tudo aquilo, filhos de funcionários

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treinavam morse e boudot, mas o pai não permitia, não queria que eu tivesse seu destino. Quando lembrei que Juscelino Kubitschek começou como telegrafista e chegara a presidente da República ele encerrou o assunto: “Os outros juscelinos continuam nos telégrafos”. O pai vivia os Correios, desde cedo foi chefe de alguma coisa, chegou a diretor adjunto e quando

podia dirigir os Correios do estado pediu aposentadoria – por desgosto; mas essa é outra história. Chefe demais, caxias demais, exagerado nas normas, como quando puniu o cunhado que acendera as luzes da repartição em dia claro, desobedecendo a ordem de ligar depois das seis da tarde. Provocou a ruptura com a família da mulher por toda a vida. Mas manteve a razão. Muito cedo, aos 25, o pai foi gerente de agência no interior. No

Brasil dos anos 1950/60 isso fazia dele um notável local – de wistyp grau, é bem verdade, pois acima estavam as autoridades, os ricos e os gerentes de banco. Minha emulação era com os filhos dos gerentes de banco, a partir do título da função: a do pai era “agente”, não “gerente” dos Correios, mas isso ninguém percebia. Aquilo me irritava, pois os bancos também eram agências, como os Correios, então os chefesdo correio tinham que ser gerentes. Ali comecei a aprender sobre os ornamentos e a iconografia da ascensão social. Também ali mesmo, nos Correios, me livrei deles. Sim, os gerentes dos bancos podiam comprar carros, nós não; recebiam cestas de Natal todo ano, nós nunca. Mas o agente dos Correios recebia assinatura da Seleções do Reader’s Digest, inclusive dos livros condensados. Não era grande coisa, mas eu me sentia maior que osfilhos dos bancários. As tricas burocráticas, com sua mazelas humanas, os Correios me mostraram desde cedo, tanto dos funcionários que inventavam desculpasquanto dos usuários que jogavam a culpa nos Correios – desde sempre o falso culpado dos compromissos não cumpridos. Nunca esqueço o


magnífico inquérito administrativo que o pai instalou para derrubar a acusação de um falastrão do comércio, que enfrentou o agente dos Correios com gravador portátil e clandestino, coisa que só mais tarde vi acontecer no cinema. O pai desmoralizou o adversário, é claro. A família morava no apartamento do agente, em cima da agência dos Correios. Eu desfrutava sua magia tanto de dia quanto de noite. De dia na agitação da atividade, a chegada da mala postal, sua abertura, a distribuição das cartas nas caixas postais individuais e na democrática e coletiva postarestante – até hoje a expressão me deslumbra, ‘posta-restante’. À noite

na idade adulta, não na de formação. Debaixo da janela de meu quarto ficava o mastro da bandeira nacional. Era minha incumbência de filho, fora do estatuto dos funcionários, hastear a bandeira do Brasil nos feriados nacionais. O pai me poupava da bandeira a meio pau, achava a expressão ridícula. Porém era rigoroso nos horários: eu devia instalar a bandeira às seis da manhã e recolhê-la às seis da tarde, nem um minuto antes ou depois. Nesses dias, em nome da bandeira, me deixava em cárcere privado, privado de sono e de rua. A bandeira não podia varar a noite, dormir no sereno, dizia o pai que era contra a lei – jamais conferi a informação

ções, nunca produziu um magistrado. O pai me introduziu em manhas burocráticas, na sua agência rigorosamente anódinas, veniais, toleradas e recomendadas pelo sistema – e que o tempo transformou em matrizes dos hoje chamados funcionários fantasmas. Durante algum tempo, dos treze aos dezesseis anos, fui funcionário fantasma dos Correios. Não atendia pelo nome, mas assinava o nome “Maria da Silva”. Quem era Maria da Silva? Não sei, ela nunca existiu. Ou melhor, existiu sob diversos nomes reais, que variavam tanto que o melhor era mantê-las sob o mesmo codinome Maria da Silva. A repartição não tinha servente de limpeza, mas

Quando lembrei que Juscelino Kubitschek começou como telegrafista e chegara a presidente da República ele encerrou o assunto: “Os outros juscelinos continuam nos telégrafos” o pai verificava portas, fechaduras, aparelhos, uma última conferência na distribuição da correspondência e eu, junto, sentia como que uma vida extranormal, um colóquio ou baile das cartas, era interrompida pela nossa chegada. O pai era um mestre do convívio, se sentia bem entre as pessoas e elas gostavam dele. Não tinha ilusões sobre o ser humano, mas guardava para si suas impressões. Infelizmente só legou essas qualidades a um de meus irmãos. Mas a mim contava tudo, conseguia ser amigo e disciplinador rigoroso, dois papéis cuja combinação nunca achei adequada. Penso que na função de educar os pais devem representar muito. Cumplicidade entre pais e filhos funciona

de meu mentor de civismo. Ai de mim se dobrasse errado ou deixasse amassar a bandeira depois de retirála do mastro. Quando entrei no curso de Direito aprendi no código civil que os pais não podem explorar os filhos, mas podem exigir deles “pequenos trabalhos compatíveis com sua idade e condição” – Clóvis Beviláqua, o autor, sempre considerei um melhores estilistas de nossa literatura. O pai aplicava a regra sem saber. Ele percebeu que desde cedo o filho revelava pendores de escriba e me impunha o doloroso dever de redigir seus ofícios, que ele adorava. Não dizia, mas desconfiava que ali estava um futuro juiz, a profissão mais nobre para ele. Morreu querendo; toda a família, cinco gera-

o pai recebia pequena verba para serviços extras. Podia pagar uma empregada para a família com a verba e usar a moça para limpar a agência, dizia-se que assim faziam outros agentes. Jamais, isso era contra seu código. Preferia trazer gente de fora, diaristas e senhoras sem emprego para o trabalho. E eu era o testa de ferro, o fantasma que assinava e pagava Maria da Silva (o dinheiro em sua mão era o mesmo do recibo). Aprendi mais tarde, já advogado do estado, que esse era o recurso dos extranumerários, dos que trabalhavam no governo sem serem funcionários oficiais. O que devo aos Correios? Acho que não preciso dizer, como a senhora da Aeronáutica. agosto de 2010 | IDEIAS 43


O melhor lugar do Paraná é lá fora Paranaenses contam suas experiências bem-sucedidas fora do Brasil MARIANNA CAMARGO

R

ealização profissional é tarefa árdua. As possibilidades de trabalho,dependendo da profissão escolhida, são limitadas, além disso, a competitividade aumentou, e assim ficou mais difícil atuar em sua área. Estas dificuldades amplificam-se fora do seu país. Outro idioma, outra cultura, outro modo de

viver. As fronteiras diminuem quando o assunto é talento, persistência, oportunidade e inteligência, moeda comum entre pessoas, que independe de lugar, língua ou origem. Cinco paranaenses contam essa história sob este ângulo, driblando questões migratórias, geográficas e socioculturais.

C

var recisa pro , Sônia p a n a c ri e idade ha am sua habil da marin Cientista constantemente a

44 IDEIAS | agosto de 2010

ientista da NASA Quem imaginaria

uma paranaense cientista convidada da NASA? Pois a curitibana Sônia Maria Fidelis Garcia, PhD em matemática, é cientista da marinha americana e professora da Academia Naval dos Estados Unidos. Foi cientista convidada da NASA (National Aeronautics and Space Administration) entre os anos de 2001 e 2005. Mora há 32 anos nos Estados Unidos, em Severna Park, Maryland, e trabalha em Annapolis. Sônia tem um vasto currículo e uma consagração profissional em uma área dificílima. Entre 99 e 2000 trabalhou como cientista convidada para ONR – principal escritório de pesquisa para a Marinha Americana em Washington, DC. Em 2006 recebeu um prêmio da Marinha Americana “Meritorious Civilian Service Award”. Em 2008, recebeu uma bolsa de pesquisa como “Fulbright Scholar” para trabalhar na Irlanda. No ano passado foi convidada pela Universidade de Reading, departamento de meteorologia, na Inglaterra, e viajou por 20 países da Europa e Ásia para dar conferências e palestras. Apesar do espaço que alcançou, Sônia diz que as dificuldades são imensas. “Neste nível


você tem que competir com os cientistas daqui e tem que provar constantemente a sua habilidade na matéria que você trabalha. Mas eu acredito que nós, brasileiros, somos muito persistentes e isto ajudou muito”. Sônia teve a oportunidade também de sempre atuar na sua área. Afirma que tentou trabalhar no Brasil, mas encontrou muita resistência e por isso voltou aos Estados Unidos para desenvolver sua profissão, onde conseguiu obter reconhecido mérito profissional.

A

rte no Oriente Médio A história de Luciana

Ceccatto Farah é diferente, porém não menos instigante. Há seis anos fora do Brasil, Luciana morou no Kuwait, Bahrain e desde 2007 está no Qatar. O motivo de sua mudança para a península arábica foi o casamento com um líbio que morava no Kuwait. Hoje, ela é curadora do Arts & Culture Specialist na campanha para a Copa de 2022 no Qatar. Começou a trabalhar com isso por acaso, quando buscava um atelier para continuar seus estudos e aprender mais sobre a cena local. Aconteceu de nessa busca ela conhecer uma socialite que havia herdado

uma galeria, mas não sabia o que fazer com ela. Começou catalogando o acervo, realizou a curadoria de uma série de exposições com artistas locais no início de 2005, e de repente estava representando a galeria em simpósios e feiras na região. “A região” são todos os países que falam árabe, do Marrocos ao Líbano. Nessas viagens, fez muitas visitas a ateliers em vários países e agendou mais um ano de exposições, criou um programa de residência na galeria, cursos de história da arte e workshops. Em 2007, quando mudou para o Qatar, começou a trabalhar para uma família de colecionadores, clientes da galeria. “Este trabalho me proporcionou oportunidades incríveis: eu representei a coleção em leilões, feiras, aprendi muito sobre aquisições e todos os trâmites legais de ceder obras para museus. Isso resultou numa proposta de criar o conceito e projeto de implementação de um centro cultural no Souq Waqif ”, conta Luciana. No ano passado, depois de uma visita ao Brasil, recebeu uma proposta para trabalhar como Consultora de Arte e Cultura da campanha para a Copa 2022. “Estou criando uma série de exposições e eventos culturais durante a campanha, aqui no Qatar, na Europa e até no Brasil”. Especialista em arte moderna e contemporânea do Oriente Médio e Norte da África, Luciana acredita que seria difícil desenvolver o mesmo trabalho na cidade onde nasceu. “Curitiba tem outras prioridades. Onde moro sobra dinheiro para projetos culturais, mas falta mão de obra especializada. No Brasil sobra mão de obra especializada, mas falta dinheiro. Porém, adoraria mediar um diálogo entre artistas brasileiros e árabes”, afirma.

M

arketing em Manhattan

Luciana, c onsultora d e art entre artista e, gostaria de media s brasileiro r s e árabes um diálogo

André Bodowski é diretor de Marketing em Nova York, onde mora há dez anos. André demorou apenas 40 dias para trabalhar na sua área, “tive sorte e estava no lugar certo na hora certa. Logo consegui ser contratado por uma agência de publicidade em Manhattan. Meu primeiro cliente foi um laboratório farmacêutico (Bristol-Myers Squibb). Foi difícil no começo. Eu falava inglês fluentemente, mas mesmo assim houve um período agosto de 2010 | IDEIAS 45


ele é otimista. “Fico sempre impressionado (e um pouco assustado) com as mudanças em Curitiba. Sei que grandes empresas estão estabelecidas na cidade e que elas impõem uma profissionalização grande, o que é muito importante. Cada vez mais acredito que Curitiba pode ser uma alternativa para quem não quer viver em São Paulo”, define.

T

endências de todos os tempos

O publicitário André no ritmo intenso de Nov a York

de um ou dois anos de choque, de um processo de adaptação difícil e de muito trabalho. O ritmo em Nova York é intenso, o ambiente muito competitivo. O mercado publicitário e de marketing ainda mais”. Adaptado ao ritmo intenso planejou e executou campanhas de marketing para redes sociais, campanhas de palavras-chave através de AdWords e Google Analytics. Trabalhou em uma das divisões da EURO/RSCG, onde atuava como Campaign Specialist, atendendo contas de peso como AOL, Bank of America, Bose, Chase, Citibank, DIRECTV, Earthlink, Martha Stewart Living, Netflix, Omaha Steaks, The Sharper Image, QVC, entre outros. Executou, com sua equipe, uma campanha que gerou mais de 12 milhões de dólares em comissão de mídia por ano. André diz que as dificuldades de trabalhar nos Estados Unidos são normalmente relacionadas com as questões migratórias. Observa que quando chegou não havia muitas vantagens específicas relacionadas ao fato de ser brasileiro. Mas que hoje o Brasil é uma “marca” muito mais reconhecida e valorizada. Sobre o fato de realizar o mesmo trabalho no Brasil, 46 IDEIAS | agosto de 2010

Diretora de cinema, redatora, publicitária e fotógrafa, Gláucia Nogueira mora em Paris desde 2008. Cursa História da Arte na Ecole du Louvre e participará do Paris Photo 2010. Foi a Paris na década de 90, quando recebeu um prêmio como redatora para um comercial de TV, e retornou há dois anos. “Além de ser um cenário perfeito, Paris mistura tendências de todos os tempos. E isso inspira. Não é preciso sair dos limites urbanos para se sentir viajando por esse mundo afora de todas as épocas”, afirma. Atualmente tem dois programas para TV em andamento e um projetopiloto aprovado. Está fazendo um livro fotográfico chamado “Movimento”, escrevendo dois roteiros para cinema, que espera dirigir em 2011, além de publicar uma foto por dia no Face. Gláucia diz que não poderia existir um momento melhor para ser brasileiro no exterior. “Quando o país da gente vira capa do Le Point, a vida fica mais fácil”, pontua com humor. Mas afirma que as diferenças culturais existem. “Por exemplo, nosso relógio à Dali, maleável, não agrada em nada a cultura do país do rendez-vous”. Ela diz que os franceses ficam impressionados pela criatividade e leveza na maneira “brasileira” de trabalhar. “Temos agilidade e solução, não problema. Na minha área, as portas estão se abrindo”. E completa: “os diretores de criação gostam do trabalho, mas acham nossa fotografia quente, um olhar muito tropical, alegre, para cima, até mesmo quando falamos da pior realidade brasileira. Isso encanta, mas ao mesmo tempo atrapalha”. Apesar de não gostar muito da publicidade francesa, “muito barroca e pouco divertida”, aprecia a qualidade das produções culturais e acredita que em Paris tem oportunidade de conviver com um mercado cultural e artístico que não tem em Curitiba.


rio perfeito Paris um cená em vê ia uc Glá A fotógrafa

A

rquitetura sonora Carlos Daniel de Arru-

da Camargo mora em San Francisco, na Califórnia, há seis anos. Baterista e artista plástico por opção, desenhista industrial por formação, sua criatividade abrange estas diversas áreas: música, artes plásticas, moda e arquitetura. Foi à Califórnia conhecer outra cultura e aprender mais sobre suas atividades. Desde que chegou trabalha com arquitetos e executa projetos importantes. Paralelamente, entrou em contato com a cena musical de San Francisco e tocou com pesos pesados como Barry Finerty, guitarrista do Miles Davis e Crusaders; Jarrod Kaplan, percussionista e sonoplasta do Cirque du Soleil, Marcos Silva, pianista de Airto Moreira e Flora Purim e dividiu gravação com o baterista Celso Alberti, da dupla Moreira e Flora. Além disso, tem uma banda, Macabea, onde toca música brasileira. Como artista plástico fez exposições em San Francisco, Berkeley e San Diego. Recentemente teve dois trabalhos aceitos em uma das maiores feiras de Marin County, “The Marin County Fair”, evento muito concorrido, que expõe obras de grandes artistas da Bay Area de San Francisco.

Com sua linha de roupas Cdaniac Artways, participou dos mais populares eventos de Moda e Design como Chillin’ Productions, Mission Bazaar, How Weird Street Festival. Trabalhou com artistas como Rafael Moreira (Christina Aguilera, Pink e Paul Stanley), Ivan Lins, Rob Trujillo (Metallica), Angeline Saris e Uriah Duffy (White Snake). Daniel diz que apesar de trabalhar em todas as áreas, as dificuldades de viver lá são gritantes. “As vias de aceitação ao imigrante legal no país com questão a trabalho são bem limitadas e burocráticas. O número de brasileiros ilegais e exercendo o subemprego são enormes. As dificuldades de adaptação variam muito. Grande parte da população brasileira vive e se relaciona em comunidades. Vivem de certa forma a cultura brasileira aqui. No meu caso sempre procurei expandir, conhecer pessoas e culturas novas, compartilhar nossas diferenças e afinidades independentemente da nacionalidade”. Ele conta que em San Francisco, além do incentivo e acesso à arte, música e cultura em geral, o senso de organização, civilidade e respeito onde vive são o que fazem a diferença.

Entre proje tos, moda e música, em todas as possiblid Daniel investe ades

agosto de 2010 | IDEIAS 47


CULTURA

Amoras Silvestres Texto e fotos Dico Kremer

W

aregem é uma pequena cidade da Flandres Ocidental, Bélgica, entre Gent e Kortrijk. Foi de lá que o Sr. Geert Dewulf e família trouxeram toda uma vivência e experiência da velha lavoura europeia para a fazenda Ponteio situada numa localidade chamada Buraco do Padre, vizinha do Capão da Onça, município de Ponta Grossa, Paraná.

Em uma propriedade de 600 hectares, junto com a criação de gado, plantam soja, milho, feijão e, há algum tempo atrás, foi tentado o cultivo da batata. 50 hectares são reservados para uma plantação de amoras silvestres abrigada por um eucaliptal que faz parte do projeto de reflorestamento. Com o cultivo da fruta o Sr. Geert resgata a memória de sua infância na sua vila natal. Lembra-se, com saudades, aos 7 anos de idade, na companhia dos pais e dos irmãos, de passeios dominicais quando embrenhavam-se nas florestas vizinhas para catar amoras silvestres. Estas eram consumidas pela família in natura e preparadas em forma de doces, geleia e licor. Para este seu pai havia inventado uma fórmula especial. A família Dewulf tem suas raízes

Com o cultivo da fruta o Sr. Geert resgata a memória de sua infância na sua vila natal na terra, na lavoura. Morando em país pequeno e com dificuldade de possuir terras, alguns irmãos resolveram emigrar: Rússia, Holanda, Alemanha. O Sr. Geert foi para Portugal com sua família. Escolheu, em 1985, a cidade de Beja, no Alentejo para se estabelecer. Aprendeu o português e deu duro na terra até 1999 quando achou que a política de subsídios do governo não era a que ele achava ideal. Agrônomo experiente enxergou no Brasil o mesmo que Stefan Sweig: um 48 IDEIAS | agosto de 2010


O pé de amora é arbusto rústico e caprichoso. A maturação de suas frutas dá-se durante quatro meses, de outubro a janeiro agosto de 2010 | IDEIAS 49


A técnica para fazer o fermentado licoroso é semelhante àquela do vinho do Porto país do futuro, profecia esta um bocado demorada em se concretizar. Há 6 anos, com a ajuda de sua filha mais velha Anne Leem e de seu filho Chris (hoje a trabalhar em outra empresa), ambos agrônomos, criou a Adega Porto Brazos. Começou com a pesquisa de qual variedade de amora silvestre era a melhor para o empreendimento. De inúmeras, há pelo menos 50 no Brasil, conseguiu duas que mais se adaptavam ao que era pretendido: a fabricação de destilados (brandy), de uma bebida fermentada licorosa que chama de “wine” e de outro fermentado licoroso, fortificado com adição de destilado, ao qual dá o nome de “port wine”. As variedades de amora que mais lhe agradaram foram uma com mais açúcar e outra mais ácida, própria para os destilados. À sombra, abrigado pelos eucaliptos, este 50 IDEIAS | agosto de 2010

arbusto rústico não necessita de agrotóxicos e nem os pássaros lhe bicam os frutos, são muitos os espinhos. A técnica para fazer o fermentado licoroso é semelhante àquela do vinho do Porto. Para o desenvolvimento dos outros produtos teve o apoio de um professor da Universidade de Pelotas no Rio Grande do Sul. Pelotas, famosa pelo seu cultivo e preparo de doces de pêssegos e figos, também é centro conhecido pela pesquisa com amoras. É de lá que vem também os tanques e os outros equipamentos industriais. Todos os produtos da empresa são livres de quaisquer produtos químicos tais como conservantes, incluindo a sua famosa geleia de amora sem sementes. A Sra. Katty mulher do Sr. Geert é, entre outros trabalhos, responsável pela decoração da loja para a qual sempre sai à procura de elementos naturais como galhos, folhas, pinhas, sementes e flores. Ajuda ainda os consumidores a harmonizar as bebidas com as comidas. Sugere o fermentado licoroso cuja garrafa foi desenhada pelo seu marido, para acompanhamento de queijos nobres (brie, camembert), frutas secas (nozes, avelãs), panetones e bolos finos. Na culinária sugere o uso em sorvetes, doces e bolos. Quanto às bebidas destiladas


Todos os produtos da empresa são livres de quaisquer produtos químicos tais como conservantes, incluindo a sua famosa geleia de amora sem sementes aconselha para tempero de carnes de caça e mesmo as carnes de porco e de aves domésticas. A Universidade Estadual de Ponta Grossa faz as análises dos produtos e emite o certificado de qualidade. Porém, antes do envio do material para UEPG o Sr. Geert já tem as suas análises feitas em laboratório próprio que sempre são confirmadas pelo laboratório oficial. O pé de amora é arbusto rústico e caprichoso. A maturação de suas frutas dá-se durante quatro meses, de outubro a janeiro. Para a colheita, que naturalmen-

te é manual, além da família Dewulf é contratado um grupo de senhoras de uma vila vizinha chamada Passo do Pupo. Para este ano esta criativa família vai abrir na propriedade um café, o Brazoscaffe, para receber e iniciar os clientes na generosa e cativante arte da hospitalidade e dos comes e bebes da Adega. E por que Porto Brazos? O Sr. Geert sorri e explica: Porto em homenagem ao vinho do Porto, o das margens do Rio Douro, do saudoso Portugal. E brazos é uma variedade de amora silvestre. agosto de 2010 | IDEIAS 51


GASTROLOGIA

Bacalhau à moda do Eça “—Dis-moi ce que tu manges, je te dirai ce que tu est” Brillat-Savarin Vicente Ferreira

“O

s meus romances, no fundo, são franceses, como eu sou, em quase tudo, um francês — exceto num certo fundo sincero de tristeza lírica que é uma característica portuguesa, num gosto depravado pelo fadinho, e no justo amor pelo bacalhau de cebolada!”, disse Eça de Queiroz em carta a Oliveira Martins. Quanto ao fado, perdoe o Eça, não me faz o gosto. Pelo bacalhau sim, ou capaz de empenhar a fama de bom gastrólogo e de gourmet requintado e mesmo não sendo português, depois de boa posta de gadus morhua, único e verdadeiro bacalhau, acompanhado de bom vinho, muitas vezes me ponho também em tristeza lírica. Eça de Queiroz, narram os estudiosos de sua vida, também gostava do bacalhau com batatas a murro. Bacalhau bem alto que depois de dessalgado deve ser enxugado e logo assado nas brasas. Ao lume, em tacho com muito azeite, dentes de alho e pimenta. Deixa-se levantar a fervura. À medida que o bacalhau assa, faz-se em lascas e é mergulhado no azeite. Serve-se de imediato com batatas assadas com a pele, partidas a murro. As batatas a murro são passadas por sal grosso e levadas a brasa para assar. A meia assadura dá-se-lhes um murro para esborrachá-las um pouco. Salpicadas com mais sal grosso deixa-se que acabem de assar. Então, é saboreá-las com o bacalhau e para fazer o gosto do escritor, abrir um Pera Manca, vinho português da melhor catadura que, segundo consta em

52 IDEIAS | agosto de 2010

alguns alfarrábios, já era produzido à época de Pedro Álvares Cabral e o acompanhou em sua viagem ao Brasil. Se é verdade, foi o vinho da primeira missa e da primeira bebedeira civilizada dos nativos, observa o Dico Kremer. Bravo Eça. Mas o bacalhau que mais aprecio é outro, com bastante azeite, batatas e cebolas pequenas. Receita simples. De fácil preparo. É forrar uma panela pesada com batatas pequenas descascadas. Dispor as postas de bacalhau dessalgado. Entre as postas, cabeças inteiras de alho com as cascas. Por cima, cebolas pequenas. Finalmente azeite até quase cobrir as cebolas. Leve a fogo brandíssimo e cozinhe até amolecer as cebolas. Então, é preparar-se para comer. Saboreá-lo com os olhos ligeiramente cerrados e as pupilas dilatadas, atentas, apaixonadas. Nada que desvie a atenção ou prejudique o humor. Sigamos a recomendação de Fradique Mendes, o sofisticado personagem de Eça de Queiroz, que numa taverna da Mouraria, diante de um prato de bacalhau com pimentos e grão-de-bico, ao ouvir o nome de Renan, que alguém lançara, protestou com paixão: — Nada de ideias! Deixem-me saborear esta bacalhoada em perfeita inocência de espírito, como no tempo do senhor Dom João V. Eliminados os debates e os arroubos, escolha o vinho. O bacalhau é exigente, controverso, mas aceita a companhia de muitos vinhos brancos, tintos e rosados


bem escolhidos, nos diz o Luiz Carlos Zanoni, com elegância para não ferir velhos hábitos lusitanos, e ensina a apreciar um bom branco encorpado, de preferência com passagem pela madeira, para acompanhar o bacalhau. Mas essa é uma escolha pessoal. Admitem-se entre cavalheiros de bom gosto os tintos frutados, sem taninos, que escoltam corretamente várias receitas com esse peixe, diz o mestre. No entanto, perdoem se insisto. Para uma boa posta de bacalhau, preparada com simplicidade para ressaltar o seu sabor, não há dúvidas de que um branco encorpado é ótima opção. Há alternativas para a fruição de bacalhau honesto e muito bem preparado em restaurantes de Curitiba. O do restaurante Durski é belo exemplo de posta generosa, da cocção em tempo exato e a vantagem de ali nos depararmos com a mais extensa e sofisticada carta de vinhos que esta cidade pode oferecer. Outro bacalhau digno de visita é o do Hermes Custódio, no Vin Bistrô. Posta firme que nos é servida coberta com uma crosta de alho, montada sobre batatas de fundo. É soberbo. Este é outro lugar onde os vinhos de boa safra não faltam.

Depois do bacalhau e do bom vinho, que sendo branco pode ser um Chardonay, os vinhos de sobremesa. Um porto antigo, um Marsala, e charutos de boa espécie. Recomendo um belo cubano Hoyo de Monterrey, gran corona. Se houver disposição, então sim se pode abrir uma contenda de ideias e seguir no vinho pela vida afora. No mais, conter o entusiasmo, para não fazer como Noé, depois do dilúvio, que plantou uma vinha, embebedou-se e ficou nu, para vergonha de seus filhos. E lembrar das filhas de Ló, que deram de beber vinho ao pai para deitar com ele, garantindo a perpetuação da espécie — pelo que somos gratos ao vinho. Vicente Ferreira, professor e gastrólogo vicenteferreira38@gmail.com

Para uma boa posta de bacalhau, preparada com simplicidade para ressaltar o seu sabor, não há dúvidas de que um branco encorpado é ótima opção Assim também o bacalhau preparado pela Eva no Victor do Park Shopping Barigui, onde se pode chegar sem passar pelo gazeio detestável da humanidade que visita shoppings. Bom vinho nos oferece o Chico Urban, mas essa é uma especialidade na qual não devemos avançar quando o mestre Zanoni está aqui por perto. E há o bacalhau, talvez o mais antigo de Curitiba, servido no tradicional Camponesa do Minho, especializado em culinária portuguesa. Ali, prove antes o bolinho de bacalhau. Melhor não há nesta área do planeta. agosto de 2010 | IDEIAS 53


LUIZ CARLOS ZANONI

jornalista apreciador de vinhos

É da sua conta

A

Internet trouxe saudável transparência ao comércio do vinho. Alguns minutos de navegação dão ciência dos preços nos quatro cantos do mundo, permitindo comparações com os da loja mais próxima. Quase sempre é de chorar. Em se tratando de importados, hoje os mais consumidos, o custo se multiplica por três, quatro, até mais vezes. E justificativas não faltam – dos impostos aos fretes, dos custos burocráticos aos intermediários, tem-se uma longa corrente, cada elo defendendo o seu e transferindo ao próximo as responsabilidades. Sobra, então, para as duas pontas dessa cadeia, o produtor e o consumidor, um o que menos ganha, o outro o que tudo paga. Tanta coisa pesa sobre o valor de uma simples garrafa que, para compreender a soma final, é preciso detalhar o passo a passo da conta. Começa pelo custo do produto

O rochedo no meio do caminho se chama aduana. Lentas e burocráticas, tornam a liberação um sofrido calvário na origem, a vinícola. A maioria delas, principalmente as europeias, são empresas familiares, pouco capitalizadas. Precisam receber logo. Assim, se já têm uma relação sólida com o importador, concedem-lhe prazo de um a dois meses; em caso contrário, exigem pagamento antecipado, ou só embarcam com a apresentação de carta de crédito fornecida por uma instituição financeira confiável. O transporte rodoviário é o mais utilizado nas importações de países vizinhos como Argentina, Chile ou Uruguai. Mas quando a origem é outro continente, prevalece a via marítima, e aí os fretes ficam bem salgados. A opção por containers refrigerados, que conservam melhor o produto, sai hoje em torno de R$ 0,90 por garrafa. E há o seguro, que varia conforme a distância, o meio de transporte e o valor da remessa, mas que sempre repre54 IDEIAS | agosto de 2010

senta uma conta a mais no rosário dos custos. O rochedo no meio do caminho se chama aduana. Lentas e burocráticas, tornam a liberação um sofrido calvário. Além disso, os locais de armazenagem não oferecem condições. Preciosos vinhos já avinagraram por meses de retenção nos tórridos depósitos portuários. Outro detalhe é a exigência da entrega de duas garrafas para análise pelo laboratório do Ministério da Agricultura, sem cujo laudo neres de liberação. No caso dos grandes vinhos, tal quota vira um ônus pesadíssimo. Capítulo à parte, os copiosos impostos jorram em cascata. O primeiro deles é o Imposto de Importação – 27% sobre o valor da compra. Em seguida, o PIS (1,65%), o Confins (7,60%) e o IPI (1,08%). O ICMS, punhalada final, muda de Estado para Estado. No Paraná, um dos mais caros, estava em 27% até abril, mas agora subiu para 29%. A taxação mais baixa é no Rio Grande do Sul (17%), porque a lei gaúcha enquadra o vinho como alimento, seguindo o exemplo de países como Itália, Portugal e Espanha, onde a tributação acompanha o grau alcoólico da bebida. E finalmente chega o momento do importador definir seu lucro. Aí cada empresa uma sentença. Os percentuais variam entre 20 e 50%. O mesmo acontece nos elos seguintes da corrente, os distribuidores e lojistas, que costumam, em cima da soma de tudo o que se viu, acrescer em média 40%. Conta fechada? Negativo. Se o vinho for consumido num restaurante ou bar, os novos acréscimos podem chegar a 50%, embora, Deus nos acuda, haja casos extremos onde o sobrepreço se eleva a 100%. Deu para entender porque um champanhe como o Veuve Clicquot, a R$ 43 nas lojas da França, chega a custar nas daqui R$ 185? Sites como o winesearcher, o vinfolio ou o vinesquare são boas ferramentas para comparar preços pelo mundo afora.


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PRATELEIRA Livros

Os dicionários de meu pai

Prefácio de Francisco Buarque de Hollanda Surpreendido pela nova edição do dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, sinto como se revirassem meus baús e espalhassem aos ventos meu tesouro. Trata-se de uma terrível (funesta, nefasta, macabra, atroz, abominável, dilacerante, miseranda) notícia. Pouco antes de morrer, meu pai me chamou ao escritório e me entregou um livro de capa preta que eu nunca havia visto. Era o dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Ficava quase escondido, perto dos cinco grandes volumes do dicionário Caldas Aulete, entre outros livros de consulta que papai mantinha ao alcance da mão numa estante giratória. Isso pode te servir, foi mais ou menos o que ele então me disse, no seu falar meio grunhido. Era como se ele, cansado, me passasse um bastão que de alguma forma eu deveria levar adiante. E por um bom tempo aquele livro me ajudou no acabamento de romances e 56 IDEIAS | agosto de 2010

letras de canções, sem falar das horas em que eu o folheava à toa; o amor aos dicionários, para o sérvio Milorad Pavic, autor de romances-enciclopédias, é um traço infantil no caráter de um homem adulto. Palavra puxa palavra, e escarafunchar o dicionário analógico foi virando para mim um passatempo (desenfado, espairecimento, entretém, solaz, recreio, filistria). O resultado é que o livro, herdado já em estado precário, começou a se esfarelar nos meus dedos. Encostei-o na estante das relíquias ao descobrir, num sebo atrás da Sala Cecília Meireles, o mesmo dicionário em encadernação de percalina. Por dentro estava em boas condições, apesar de algumas manchas amareladas, e de trazer na folha de rosto a palavra anauê, escrita a caneta-tinteiro. Com esse livro escrevi novas canções e romances, decifrei enigmas, fechei muitas palavras cruzadas. E ao vê-lo dar sinais de fadiga, saí de sebo em sebo pelo Rio de Janeiro para me garantir um dicionário analógico de reserva. Encontrei dois, mas não me dei por satisfeito, fiquei viciado no negócio. Dei de vasculhar livrarias país afora, só em São Paulo adquiri meia dúzia de exemplares, e ainda arrematei o último à venda na Amazon. com antes que algum aventureiro o fizesse. Eu já imaginava deter o monopólio (açambarcamento, exclusividade, hegemonia, senhorio, império) de dicionários analógicos da língua

portuguesa, não fosse pelo senhor João Ubaldo Ribeiro, que ao que me consta também tem um, quiçá carcomido pelas traças (brocas, carunchos, gusanos, cupins, térmitas, cáries, lagartas-rosadas, gafanhotos, bichos-carpinteiros). A horas mortas, eu corria os olhos pela minha prateleira repleta de livros gêmeos, escolhia um a esmo e o abria a bel-prazer. Então anotava num Moleskine as palavras mais preciosas, a fim de esmerar o vocabulário com que eu embasbacaria as moças e esmagaria meus rivais. Hoje sou surpreendido pelo anúncio desta nova edição do dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Sinto como se invadissem minha propriedade, revirassem meus baús, espalhassem aos ventos meu tesouro. Trata-se para mim de uma terrível (funesta, nefasta, macabra, atroz, abominável, dilacerante, miseranda) notícia.


UM AMOR TRANSATLÂNTICO O PeRSONAGeM IMITA FONSeCA O SeR e AS NádeGAS

Simone de Beauvoir e Nelson Algren no lago de Machigan, 1950

Nas “Cartas a Nelson Algren”, editada pelo Editorial de Barcelona, Simone de Beauvoir registra as etapas da intensa relação com o escritor americano Nelson Algren, autor de “O homem do braço de ouro”. Nestas mensagens enviadas além do oceano, a severa ensaísta de “O segundo sexo”, a temível polemista dos debates intelectuais, descobre a paixão, a ternura e a melancolia que a habitavam muito além de seu relacionamento por uma vida inteira com Jean-Paul Sartre.

O “Improviso dos filósofos” é uma comédia ou “divertimento” à maneira de Moliére – a começar pelo título, calcado em “O Improviso de Versalhes”, de 1663, primeira peça representada pelo dramaturgo diante de Luís 14. O tema de Albert Camus (19131960) é outro tipo de realeza: a república dos intelectuais e, em especial, a corte existencialista reunida nos cafés do Rive-Gauche em torno de Jean-Paul Sartre (1905-1980). Camus satiriza o “Ser e o nada” e a leviandade dos intelectuais. A data provável do “Improviso dos Filósofos” é 1947. Um manuscrito com 40 páginas. A informação é importante por ser esse o ano em que Camus publicou “A peste” e começou a esboçar “O homem revoltado”, livro de 1951 que provocaria sua ruidosa ruptura com Sartre. Ou seja, “O Improviso dos filósofos antecipa em anos a animosidade e diferenças entre ambos.

O livro “O Seminarista” tem a marca de Rubem Fonseca. A violência contamina todas as relações de seu personagem, um matador profissional, que exerce seu ofício por dinheiro, com humor e por prazer. Fonseca adora atribuir aos seus personagens características suas. Pois há no José do livro traços coincidentes com o autor. O personagem se chama José, gosta de árvores, torce pelo Vasco da Gama, considera o vinho a única bebida digna de acompanhar uma refeição, ouve rock, é apaixonado por poesia e tem um amigo tira de sobrenome Vásquez. O autor de “O Seminarista”, Rubem Fonseca, também se chama José - José Rubem, ou Zé Rubem. Em crônica publicada na coletânea “O Romance Morreu”, o escritor se assume como “dendrólatra”, nome que se dá a alguém que gosta de árvores. Rubem também torce pelo Vasco da Gama, é um bom bebedor de vinho, tornouse fã de rock e é amigo do delegado Ivan Vasquez, que inspirou alguns dos tiras de seus livros. Agora, compre “O Seminarista” e leia. Vale. agosto de 2010 | IDEIAS 57


O POeTA Se ReINVeNTA e RI A MAÇÃ NO eSCURO

Manoel de Barros se diz fazendeiro por necessidade e poeta por ócio. Mergulhado na arte de “não fazer nada”, como chama o ato de escrever, criou a série de livros “Memórias Inventadas - A Infância, A Segunda Infância e A Terceira Infância”. São seus “O fazedor de amanhecer”, o “tratado geral das grandezas do ínfimo”, “Águas”, “para encontrar o azul eu uso pássaros”, “Cantigas para um passarinho à toa”. Em 2010, saiu o “Poesias Completas”, com toda a obra de Manoel de Barros, poeta que Carlos Drummond de Andrade, quando ainda escrevia, considerava o melhor de sua geração. Manoel marcou sua última entrevista com uma revelação interessante. Contou que gosta de mentir para entrevistadores que o levam a sério. Assim reconstrói constantemente a sua biografia. Cria personagens, lhes atribui importância fundamental em sua vida ou cita autores e artistas que simplesmente não existem, para vê-los publicados como se fossem verdadeiros por entrevistadores pouco preparados. 58 IDEIAS | agosto de 2010

Fauzi Arap gostaria de ter feito um filme ou uma peça de teatro a partir do livro “A maçã no escuro” de Clarice Lispector. Há uma trama de certa forma policial nesse romance, diz Fauzi – nunca explícita, mas que deixa sempre uma ameaça no ar. Há um crime, o personagem central, Martim, foge e se embrenha no mato. Ele passa a se descobrir, vai se reconstruindo aos poucos. Essa situação remete ao trabalho do ator. Como no teatro, trata-se da questão da identidade: o personagem Martim rompe com sua identidade social para reconstruir-se a partir de suas raízes.

PAPÉIS INeSPeRAdOS de CORTáZAR

O escritor argentino Julio Cortázar, morto em 1984, deixou folhas de tamanhos e cores diferentes guardados por sua viúva, Aurora Bernárdez, dentro de uma gaveta “barriguda”, em sua residência em Paris. Mostrados, em 2006, por ela a um editor espanhol aficionado pelo autor, Carles Alvarez Garriga, se transformaram em livro no ano passado e chegam neste mês às livrarias brasileiras sob o título de “Papéis Inesperados”. Logo que soube da novidade, o Nêgo Pessôa fez a pergunta necessária: se não publicou em vida, o autor gostaria que fossem publicados post-mortem? Seus inéditos pouco acrescentaram ao que já foi publicado, segundo o crítico David Arrigucci Jr, que os leu.


MARIANNA CAMARGO  jornalista

CRÔNICA

A lei da felicidade e a ciência do amor “El deseo es más vasto que el amor pero el deseo de amor es el más poderoso de los deseos”. Octavio Paz

F

Foto: divulgação

oi protocolada no dia 7 de julho no Congresso a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Felicidade de autoria do senador Cristovam Buar­que, que prevê a inclusão do direito à busca da felicidade. A PEC da Felicidade propõe alterar o artigo 6º do conjunto de normas do País, que determina — “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. — É preciso, por exemplo, criar o sentimento de que, ao não ter educação, a criança terá mais dificuldade para buscar sua felicidade — afirmou Buarque, acrescentando que, “ao humanizar o direito, humaniza-se também a política”. O senador ressaltou que essa proposta não pretende “garantir a felicidade, mas estabelecer que os direitos sociais são essenciais à sua busca, apesar de não serem suficientes”, e questionou como se pode buscá-la “sem ter onde morar, sem atendimento médico ou sem emprego”. — [Sem os direitos sociais] não é possível — frisou. A proposta, polêmica, provocou reações contrárias de profissionais de diversas áreas, de economistas a filósofos, de sociólogos a psicólogos, que acham que a felicidade

não é algo que o Estado deva garantir, e está num plano muito mais subjetivo do que prático. De qualquer modo, a proposta traz à tona o debate sobre direitos fundamentais, porém não há como garantir que por meio deles se atinja algo tão efêmero e mais: questiona a própria ideia de felicidade. O filósofo grego Aristóteles afirmava, há mais de 2 mil anos, que a felicidade se atinge pelo exercício da virtude e não da posse. Outro sentimento, desta vez alvo de estudos científicos, é o amor. Cientistas e neurologistas estão mapeando o cérebro para explicar o amor, a fim de tratá-lo como algo que é um encontro de sinapses e reações cerebrais, não quando a luz dos olhos teus encontram os olhos meus. O documentário “A Odisseia do Amor” mostra reações do corpo humano perante uma paixão e analisa os mecanismos do cérebro. Pesquisadores de diferentes disciplinas provam cientificamente que existe uma similaridade cerebral nos indivíduos que amam e se apaixonam. Teorias à parte, se concretizados os direitos à busca pela felicidade, lá vem outro Buarque, o Chico, e questiona — diz se é perigoso a gente ser feliz — sábios em vão tentarão decifrar. E quanto ao amor, ah, o amor, essa palavra. agosto de 2010 | IDEIAS 59


Foto: Ivana Podolan

Gente FINA

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O

lhe esse rosto, essa boca, esses olhos. Thaís Gulin, curitibana que mora no

Rio, é uma graça. É tão bonita que qualquer brasileiro ao vê-la sente vontade imediata de sair cantarolando o Carinhoso sem saber por que. Mas fique claro

que Thaís não virou cantora revelação do Prêmio Rival Petrobras da Música Brasileira de 2008 por seus lindos olhos. Nem foi apontada entre as melhores cantoras da safra pela revista Rolling Stones e pelos críticos da Folha de São Paulo e do Jornal do Brasil porque é bela. Thaís é cantora de voz privilegiada. Se você perdeu a oportunidade de vê-la em programa da Globo, o Som Brasil, como convidada especial para homenagear Edu Lobo, ou no programa da TV Cultura para Cássia Eller, ouça o seu disco de estreia e reserve o seu segundo CD. Neste, Thaís canta inéditas de Adriana Calcanhoto, Arnaldo Antunes e Tom Zé, que participa do disco.

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Gente FINA A ���� ����� � �����

I

vy Lipsky nasceu no meio da moda. Sua avó tinha atelier de costura e uma loja de roupas. Seu avô era alfaiate. Cresceu assim, a inventar roupas, a produzir-se e

criar modelos extravagantes. Formou-se em informática. Na Faculdade, passou a criar bijoux para seu uso e não pode evitar as encomendas. Os pedidos cresceram e ela decidiu Foto: David Peixoto

abrir seu atelier. Fez editoriais de moda, produção de acessórios para apresentadoras da TVA no Crystal Fashion e o sucesso maior foi a coleção para a marca francesa Manoush. As peças ficaram em exposição na feira de moda de Paris. Hoje, Ivy exporta para a Austrália, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha. É consultora de moda e blogueira.

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paranaense Athos Schwantes, 25 anos, é um dos melhores esgrimistas brasileiros.

Acumula importantes medalhas e participa de grandes campeonatos nacionais e internacionais. Representa o Círculo Militar do Paraná. O talento é de família, o avô Walter Schwantes ensinou o esporte ao pai Ronaldo Schwantes, último medalhista da esgrima brasileira, bronze em 1975. O próprio nome do atleta já dá dicas da habilidade.

Athos era um dos Três Mosqueteiros no romance de Alexandre Dumas. Em junho conquistou o primeiro lugar na Segunda Etapa do Circuito Brasileiro de Esgrima 2010 e garantiu sua vaga no Pan-Americano de Esgrima, a ser realizado em agosto na Costa Rica. agosto de 2010 | IDEIAS 61


Gente FINA

Foto: Jorge Galvão

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uando entramos na Itiban Comic Shop, não imaginamos que além de conhecer uma vasta publicação de HQs, livros de arte, moleskines, mangás e tudo mais

que consta neste universo, entramos para uma família. Assim é como Xico e Mitie recebem seus clientes e futuros amigos. A Itiban nasceu há 21 anos, consequência de paixões mútuas: quadrinhos e rock`n`roll. Referência nacional e local, abre espaço para autores, novidades, ideias. Em julho, recebeu Lourenço Mutarelli, Daniel Galera, Rafael Coutinho, Rafael Grampá e Daniel Pellizzari. A delicadeza de Mitie e a generosidade de Xico amalgamam-se no amor que está ali, percebido em cada palavra, em cada estante e a cada instante. Esse amor já vale uma história.

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Gente FINA I�������� C������

M

aria Cecília Leão já gostava de trabalho voluntário quando era menina. Casou, adicionou Rosemann ao seu nome e

teve dois filhos. Foi empresária na centenária Matte Leão e na lúdica Maria Chica. Como agropecuarista renova-se no contato com a terra. Antevê possibilidades concretas de ajuda. Empreendedora, trabalha para realizar milagres de multiplicação de obras sociais. Na Associação Alírio Pfiffer atua há quase 17 anos. Presidiu três gestões. Adequou a entidade a um Terceiro Setor moderno que exige capacitação e comprometimento maior de todos. No atendimento das inúmeras solicitações de apoio do Serviço de Trans-

plante de Medula Óssea (STMO/HC), trabalho que em alguns anos ultrapassou um milhão de reais em investimento. Sempre voltada ao novo. Conseguiu resultados que contribuem para que o Paraná e o STMO/HC de Curitiba continuem como Centro de Excelência na América Latina.

E

Foto: Rafaela Tarle

A ��������� ������� �� D������ ssa chef não parece ter dez anos de experiência. Daniela Prosdócimo Caldeira tem uma das mais criativas cozinhas da cidade. Sua inventividade é famo-

sa na criação de novos pratos e ao associar ingredientes com a sabedoria de quem passou por boa escola na Europa. Em 2008, Daniela inaugurou um Espaço de Eventos, La Table Gastronomie, anexo ao seu atelier de criação. Espaço para até 300 pessoas onde ela atende desde festas de casamento e formaturas até eventos empresariais. A última invenção de Daniela é um serviço de Delivery Gourmet, o La Table Express. A chef prepara os pratos e os entrega prontos para servir. agosto de 2010 | IDEIAS 63


Gente FINA P������� V���� M�����

M

orgue Story é o primeiro filme curitibano distribuído por uma distribuidora curitibana em um circuito curitibano. O filme foi feito com apenas 126 mil reais, que não foi impedimento para que ele partici-

passe de mais de 30 festivais internacionais e ganhasse oito prêmios, entre eles: Escolha do Público — Melhor Longa — Zompire: Undead Film Festival; Melhor Filme de Horror — pelo Swansea Bay Film Festival (Swansea, UK) e Heart of England Film Festival (Tamworth, UK) e ainda Melhor Atriz para Buenos Aires Rojo Sangre

Foto: Marco Novack

(Argentina). E olhe que a companhia de

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Paulo Biscaia — Vigor Mortis — é mais conhecida pelos espetáculos de teatro.

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uga Riesemberg trabalhou em agências de propaganda e se apaixonou pelo trabalho de produção. Durante dez anos

fez produção executiva para publicidade e moda em Belo Horizonte. Bateu saudade. Voltou a Curitiba para a produção do longa “400 x 1”, que será lançado este mês. Gostou tanto da experiência que decidiu parar de fazer figurinos para se dedicar à produção de eventos. O trabalho aumentou e ficou mais exigente. Muga produziu para a Oficina de Música e para o Risorama, parte do Festival de Teatro de Curitiba.

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Gente FINA A ���� ���� ����

Z

ilda Maria Beltrão Fraletti é psicóloga. Foi professora de inglês. Na verdade já não é nada disso. Hoje figura no restrito rol de privilegia-

dos que fazem o que gostam. Zilda gosta de arte e isso a fez marchand. Morou em Londres para aperfeiçoar o inglês. Aproveitou a oportunidade e matriculou-se em um curso de artes plásticas. Voltou com ideias e conceitos novos. Há 25 anos organizou os primeiros consórcios de arte em Curitiba. E fundou a primeira galeria de arte contemporânea, que tem o seu nome. Zilda Fraletti organiza exposições em lugares que muitas vezes parecem insólitos. Detesta a ideia da arte enclausurada. Quer ver a arte que expõe a provocar novas maneiras de olhar e sentir.

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G

lauco Sölter iniciou como contrabaixista autodidata e estudou na conhecida Berkeley College of Music.

Acompanhou artistas de estilos variados como Badi Assad, Nelson Ayres, Zeca Baleiro e Mart’nália. Em 25 anos de carreira construiu um nome como instrumentista e compositor dentro e fora do Brasil. Neste momento está em turnê europeia com seu grupo Mano a Mano Trio (Vina Lacerda e Sergio Albach) e depois divide o palco com o lendário trombonista Raul de Souza. Tem quatro Cds de trabalhos próprios em fase de

Foto: Silvio Aurichio

produção que devem ser lançados ainda este ano e prepara a Oficina de Música de Curitiba de 2011 da qual é um dos diretores.

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FOTOGRAFIA

Fora da Pauta Fotos Sérgio Sade

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ara quem acompanha o trabalho do fotojornalismo o nome de Sérgio Sade dispensa apresentação. Mas não é só na fotografia para a imprensa que ele se destaca. Transita facilmente por outras atividades fotográficas sempre com brilho. Criança, fazia de sua Kapsa um visor para melhor enquadrar o mundo. Do jornal do centro acadêmico do curso de Jornalismo da UFP — com o curioso nome de Suindara (coruja de igreja ou coruja das torres) — para o qual colaborava, Sérgio alçou voo mais alto e escreveu seu nome com luz na fotografia contemporânea brasileira: Exclam Comunicação, A Tribuna do Paraná, O Estado do Paraná,Veja, Campeonato Brasileiro de Futebol, Estúdio O&S com o fotógrafo Flávio Ogasawara, Placar, Estadão, O Globo, Manchete, Jornal do Brasil. Copas do mundo, corridas de Fórmula 1, política, presidentes da república. Das inúmeras imagens enquadradas pela sensibilidade de Sérgio, as que se conhece são as que estavam no briefing, no layout ou na pauta. As fotos aqui impressas são aquelas da criação exclusiva e sensível do Sérgio. Aquelas que não estavam na pauta. Dico Kremer

Favela

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Torcida

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Elis Regina

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Carnaval curitibano

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Estrada em Goiรกs

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Pipa

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ClAudIA WAsIlEWsKI

cronista

CRÔNICA

surto no twitter

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pio do pássaro. Esta é a definição do Twitter. Funciona como um micro blog. O recado ou a opinião devem ser mandados com apenas 140 caracteres. Adoro esse meio e defendo. Me sinto adolescente dentro da piscina. Falo um pouco com cada um. Conversas com ou sem conteúdo, apenas conversas. Falo com o DEM e com o PCdoB ao mesmo tempo. Não tenho preconceitos. Mas sou cobrada pela patrulha ideológica. Troco o “a pelo s”. Um erro constante de digitação e aí instala-se a patrulha ortográfica. E assim vai. O que está me deixando extremamente incomodada é o surto constante que arrebatou o twitter. Prato cheio para estudiosos. Agressões e xingamentos que até eu fico com vergonha. Na grande maioria são fakes, perfis usados na internet para ocultar a identidade real. Desconfio que alguns são alter egos, um outro eu inconsciente. E estes se liberam, soltam a franga, se envaidecem, se elogiam. Escrevem coisas que provavelmente teriam vergonha de confessar a si mesmos sozinhos no chuveiro. Fico os imaginando babando e tremendo do outro lado. Veneno pingando, corroendo o teclado. Os

nomes usados são de criatividade a toda prova, pássaros e peixes se misturam com personagens históricos e de filmes. Algumas postagens parecem psicografias. Com a indefinição eleitoral, quem seriam os candidatos ao governo do estado e quais as alianças seriam formadas, o surto atingiu o auge. Juro que nunca vi tantas especulações e delírios em um lugar só. E ai de quem se atrevesse a dar opinião. Rapidamente vinha um batalhão questionador. Só faltou puxão de cabelo, pisão no pé e mordida. Horror! Qualquer frase postada era analisada e pronto, já tinha duplo sentido. Tudo definido, alianças feitas. Melhorou? Não, chegou finalmente a campanha. São exigidas declarações de votos, apoios. É isto, campanha 24 horas por dia pela internet. Deve existir uma tabela com horários definidos para haver o revezamento. Sai o maluco, entra o doido, depois vem o chato, e assim por diante. Quando o babado é forte são chamados plantonistas para aumentar o suporte. Penso assim, porque qualquer opinião minha que desagrade qualquer dos lados, preciso me defender de no mínimo quatro acusações. Muitas vezes ignoro, outras mergulho fundo no surto, modéstia à parte sou boa

nisto. Fazer um bom desaforo é comigo. Mas tenho limite, meus outros seguidores não têm nada a ver com o meu gênio ruim. Os perfis oficiais dos candidatos sempre que questionados, dão respostas coerentes e de bom nível. Não precisam se desgastar. Para que? Afinal existe o exército de fakes a postos para contra-atacar. Todos são especializados em todos os assuntos. Em hipótese alguma ficará com a última palavra quem não seja aliado. Está no programa e pronto. Nem que seja preciso desqualificar. Muito cansativo e desanimador tudo isto. Que saudade do debate ideológico e bem educado. Coisas bacanas ainda acontecem, conheci pessoas maravilhosas em menos de um ano. E confesso que aprendi muito. O que gosto mesmo são das pessoas que existem, com nome, sobrenome, família. Que tem posições claras e assumem suas preferências. E por mais que me critiquem vou ligar o computador, acessar o twitter e dar o meu tradicional: Bom dia!... agosto de 2010 | IDEIAS 73


foto Gerson Lima

marcia@travessadoseditores.com.br

A Mantuanni Casa recebeu um seleto grupo de convidados para apresentar a coleção de tecidos da marca italiana Rubelli, que acaba de chegar à loja. A marca é considerada a joia dos tecidos e está presente em endereços exclusivos como o Vaticano, os teatros La Fenice (Veneza), La Scala (Milão) e Bolshoi (Moscou) e diversos palácios reais. Yvone Miyamura e a anfitriã da noite, a empresária Eliana Veiga, durante o coquetel.

Márcia Toccafondo

foto Rafael Danielewicz

A banda Titãs foi a atração do 2º Circuito Musical Nissei, que aconteceu em julho, no Teatro Positivo. Médicos e personalidades da área da saúde lotaram o grande auditório para curtir os maiores sucessos do grupo. Nos bastidores, Branco Mello, Paulo Miklos, Tony Bellotto e Sérgio Maeoka, presidente das Drogarias Nissei.

Maria do Carmo Bado e o chef de cuisine Gilberto “Giba” Prado, durante a harmonização dos vinhos da África do Sul, no Porcini Trattoria, em julho, no encontro mensal da Confraria Feminina de Vinhos de Curitiba.

O Vin Bistrô reuniu a imprensa para degustação do novo e suculento cardápio de inverno da casa, pilotado pelo chef Hermes Custódio. Na ocosião, o sócio da casa, Ronaldo Bohnenstengel recebeu a visita do chef francês Laurent Grolleau.

foto WBC Comunicação

Na comemoração dos 120 anos da Associação Comercial do Paraná, o ator paranaense Herson Capri foi homenageado e recebeu da presidente da ACP, Avani Slomp Rodrigues, a comenda Barão do Serro Azul, onde o ator interpreta a história do Fundador da ACP, o empresário Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Cerro Azul, no fifilme lme “O Preço da Paz”.

foto Márcia Toccafondo

foto Márcia Toccafondo

foto Márcia Toccafondo

O presidente do Condor Super Center, Pedro Joanir Zonta recebeu o título de “Personalidade AECIC 2010”, em julho, durante jantar no Graciosa Country Club. Posando para a foto: o presidente do Condor e homenageado, Joanir Zonta, o Governador do Paraná Orlando Pessuti, o presidente da AECIC-Associação das Empresas da Cidade Industrial de Curitiba, Marino Garofani e o vice-presidente da AECIC Celso Gusso.


www.MarciaToccafondo.blogspoT.coM

Márcia Toccafondo

foto Emerson Touché

foto Jorge Rosemberg

A importadora Decanter recebeu em Curitiba, em julho, o enólogo chef da Caliterra, Sérgio Cuadra (à esq.), para uma degustação vertical do vinho Cenit, safras 2005, 2006, 2007 e 2008, um dos rótulos premiuns da vinícola. Na foto ao lado de Adolar Hermann, proprietário da Decanter.

A superintendente do Parkshopping Barigüi Jaqueline Vieira de Lemos, Juliana Vosnika, presidente do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba e a gerente de marketing do ParkShopping Barigüi, Silvia Pires Omairy, durante o prestigiado brunch que marcou a expansão do ParkShopping Barigüi. Em outubro, serão mais 88 novas lojas, 20 delas são inéditas em Curitiba.

O Balneário Camboriú acaba de ganhar a primeira filial do badalado TAJ, eleito quatro vezes consecutivas pela Revista Veja, como o melhor lugar para paquerar em Curitiba. Na foto, o empresário Giocondo Villanova Artigas Neto, um dos sócios do TAJ em Balneário Camboriú, entre a noiva Rafaella Rocha e a mãe, Maria Inês Artigas.

A modelo e musa da foto Kraw Penas

copa Larissa Riquelme é a garota-propaganda da nova campanha da linha Footbal Culture, da LOS DOS. O proprietário da marca Tico Sahyoun Filho convocou a modelo paraguaia para um ensaio fotográfico exclusivo

foto Gilson Abreu

para o editorial de verão, todo voltado ao tema, que é paixão mundial. A nova coleção homenageia a trajetória do esporte, tendo como mote A história de todas as Copas.

agosto de 2010 | IDEIAS 75

foto Tiago Archanjo

Fabiana Marques, Simone Hillani, Larissa Macedo e Ana Claudia Conti durante o coquetel comemorativo no último dia 15 de julho, dos 83 anos do Graciosa Country Club. A festa contou com 450 elegantes convidados.


Márcia foto Naideron JR

Toccafondo

No Aniversário de 67 anos do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Paraná (Setcepar), comemorado em junho no Castelo do Batel: o Presidente do Setcepar, Fernando Klein Nunes e a mulher Sandra, com o ator e vocalista da Banda Blitz, Evandro Mesquita. foto divulgação

O chef Luciano Guimarães e o sommelier André Porto pilotam o saboroso wine-dinner do Restaurante Le Bourbon, no Bourbon Curitiba Convention Hotel, que acontece na última quinta-feira de cada mês e que leva os amantes da boa gastronomia bem harmonizada, a disputar as mesas do charmoso restaurante.

foto Márcia Toccafondo

Os sócios Jihad, Jihanne e Akram Kansou no Aurora Bar & Piadineria, inaugurado no final do mês de julho, no Batel. Com uma proposta de gastronomia diferenciada, o menu leva a assinatura do chef Alexandre Bressanelli e tem a Piadina, sanduíche típico da Itália, como carro chefe.

foto Moisés Moraes e Arnaldo Bento/BSG

foto Marlon Garcez

A designer Alessandra Moreira entre as modelos Desiree Caetano e Bianca Spack durante a sexta edição do Centro Europeu Fashion Design, desfile que aconteceu na noite em julho e marcou a formatura de mais uma turma de designers de moda do Centro Europeu.

O Passarela BSG World – Profissionais Profissionais da Beleza Unidos por um Ideal, contou com a presença dos 15 maiores hairstylists de todo o mundo. O show teve o desfile desfile e a performance de cerca de 75 modelos produzidas pelas equipes de hairstylists. O evento, que praticamente lotou o Teatro Positivo - Grande Auditório aconteceu no final final de junho. Na foto a modelo preparada pela equipe de Rocco Donna, de Miami.


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Márcia Toccafondo

Rodrigo Proença, do Departamento de Marketing da Construtora Baggio, Marcus Vinicius Paiva, gerente comercial da empresa, José Luiz Campanholo, diretor da construtora e Alceu Bueno Jr., gerente de Marketing da Baggio, no coquetel de lançamento da 11ª edição da revista institucional da construtora que traz dicas e informações para quem planeja construir, além de assuntos voltados para as áreas de cultura e gastronomia.

foto Kraw Penas

foto Divulgação

foto Gerson Lima

O Hospital Erasto Gaertner marcou presença no BSG World Festival, que aconteceu no final de junho e reuniu os melhores profissionais e marcas do mundo de moda, estética e cabelos. A renda arrecadada com os ingressos foi revertida em benefício do hospital. Na foto, a gerente de marketing Raquel Monego com o superintendente do Hospital Erasto Gaertner Flavio Tomasich no estande da instituição no BSG World Festival.

foto Gerson Lima

Renato Ramalho (financeiro), Gustavo Abagge (2º vice), Joaquim Miró (presidente), José Baggio (1º vice) e Rodrigo Ferreira (administrativo), que não está na foto, estão se candidatando à presidência do Clube Curitibano, pela chapa “Sou Curitibano”. As eleições no Clube Curitibano acontecem em 17 de outubro.

foto Gerson Lima

As arquitetas Doriane Wagner, Claudia Pereira e Beth Choueri, no coquetel oferecido pela Ideally Iluminação, para arquitetos e designers de interiores. O evento que celebrou as atividades promocionais do primeiro semestre deste ano, além de premiar os profissionais parceiros, agregou informação com a palestra do professor Dante Quadros.

Durante a inauguração do Black Bull Club, Bar e casa noturna, focado em música Sertaneja em Curitiba, a sócia do novo point, Magda Jaqueline Silva e Gustavo, promoter da casa.

foto Divulgação

foto Ligia Lagos

Os arquitetos Francisca Cury e Léo Pletz, licenciados do Morar Mais por Menos, receberam parceiros, fornecedores e profissionais da arquitetura e interiores para lançar oficialmente a quarta edição mostra em Curitiba, que será aberta ao público de 27 de outubro até 28 de novembro.

Com essa roupa colorida e divertida, os 11 besteirologistas da Trupe da Saúde ajudam na recuperação dos pacientes de cinco hospitais de Curitiba, levando alegria e bom humor desde a hora em que entram no Gargalhamóvel, o carro oficial do grupo. Cerca de 100 mil pessoas já foram atendidas pelos doutores. O trabalho só é possível graças ao patrocínio da Petrofisa, Valmet – Komatsu Forest, Yokohama, Brose, Berneck, Becton Dickinson, Metalesp e Denso.


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