A ano VII
nยบ 107
R$ 10,00
www.revistaideias.com.br
es
tre
ia
de
Is
ab
el
a
Fr
an
รงa
2
| setembro de 2010
Milton e Vera, medida do amor vivido
Foto: Roberto Custódio
gente de
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto... Vinicius de Moraes - fragmento do Soneto da Fidelidade
M
ilton e Vera Vianna Baptista são pioneiros. Em 1949 chegaram a Primeiro de Maio, norte do Paraná, vila de uma rua só, aberta no poeirão vermelho que virava lamaçal quando chovia. Ali passava a procissão de caixõezinhos dos bebês que morriam — de fome, desnutrição, ignorância. Milton, médico por formação, humanista nas ações — fincou o pé na terra roxa e arregaçou as mangas. Atendia aos chamados nos sítios, à luz de lamparinas. Ia a pé, a cavalo, de carrinho, charrete. Caso de parto, quando chamavam, já se sabia complicação. As “comadres” que atendiam as mulheres só mandavam buscar o médico quando não podiam resolver. Eram 56 parteiras curiosas registradas no Posto de Saúde, que Milton instalou em 1952. Em seguida veio o Posto de Puericultura, e em 1960 a inauguração do seu hospital. Vera, atenta a tudo e sempre a seu lado, uniu esforços planejando ações integradas comunitárias, com os recursos existentes na área médico-sociopsicopedagógica. Fundou a APMI (Associação de Proteção à Maternidade e à Infância) que supervisionava o Posto de Puericultura, o Clube de Mães, o Centro de Recreação Tia Isaura e o CEMIC (Centro de Estudos do menor e sua integração à comunidade). Em 1967, criou a APAE (Associação de pais e amigos dos excepcionais) e construiu a escola para crianças com necessidades especiais. Convenceu os grupos escolares estaduais e municipais a participarem do projeto que tinha como meta — a detecção de distúrbios no desenvolvimento da criança, a melhoria da saúde infanto-juvenil e a integração do menor, prevenindo a marginalidade. Anos depois, no dia 18 de outubro de 1997 — Dia do Médico — a Associação Médica do Paraná fez uma homenagem a Milton em Curitiba, ocasião em que ele recebeu do Conselho Regional de Medicina, o diploma de Mérito Ético-profissional por ter completado cin-
quenta anos ininterruptos no exercício da profissão. Missão cumprida e plenamente reconhecida também pela população de Primeiro de Maio, Milton recebeu, no dia 13 de outubro de 2006, o Título de Cidadão Honorário de Primeiro de Maio pela Câmara Municipal. O antigo prédio onde funcionava seu hospital, hoje, para sua alegria, é sede da Escola Construindo o Saber, e ali outra homenagem lhe foi prestada, no dia 8 de março de 2010. Quando o casal encerrou suas atividades profissionais, diversificou as ações — ele na fotografia, ela na literatura. A história dos antepassados de Milton, nascido em Castro, Paraná, começou a ser escrita por Vera. Resultou em uma pesquisa sobre a família Dias Baptista, tropeiros e fazendeiros, e o livro — Curitibanos dos Campos Gerais — lançado na Casa da Praça de Castro em 2002. Em 2004, o Museu do Tropeiro daquela cidade, homenageou personalidades ligadas ao Tropeirismo, como reconhecimento à contribuição prestada à história de Castro e do Paraná. Milton foi escolhido para receber a Comenda concedida a seu tio-bisavô Bonifácio Dias Baptista, Barão de Monte Carmelo, tropeiro e homem público. No segundo livro — A longa viagem perto de casa — Vera retrata sua origem, Biscaia, com seus parentescos e compadrios. Segue uma trilha que passa pelas origens espanholas e retorna à infância feliz numa Curitiba provinciana. O terceiro está a caminho — O Sangrim e o Sanhaço — a história dos dois. Hoje, Vera e Milton moram em uma chácara, às margens da Represa do Capivara. Vivem de amores com a natureza. Têm a consciência serena de que os anos passaram e trouxeram de inhapa a tranquilidade e a paz deste amor infinito.
IDEIAS 107 EDITORIAL
REVISTA Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 107 – R$10,00 www.revistaideias.com.br e-mail: ideias@revistaideias.com.br 01 de setembro de 2010 EDITOR Fábio Campana CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo
Mais um pouco e estaremos escolhendo o presidente da República, governador, dois senadores, deputados federais e estaduais. A conversa inevitável é sobre política. Todos aguardam o debate entre candidatos para consolidar sua escolha. Aqui, na província, Beto Richa e Osmar Dias ensaiaram uma discussão sobre ideias e projetos. Sobraram desafios na imprensa. Bravatas. Boutades. A situação lembrou Alexandre Dumas, aquele dos mosqueteiros e dos duelos com os guardas do rei, nos fundos do convento das Carmelitas Descalças. Gorou. Até aqui não houve debate verdadeiro, aprofundado, pois as regras dos debates públicos engessam a discussão. Uma lástima. Não só porque os dois já estiveram no mesmo barco, mas também porque deveriam acreditar no que pregam. Tem projetos de governo de longa data e teriam de estar preparados para defender suas ideias em qualquer circunstância. Nesse impasse quem ganha é o favorito Beto Richa. Quanto ao distinto público, deve reduzir suas esperanças e examinar suas expectativas. Os velhos dicionários, Moraes como exemplo, distinguem entre a expectativa e a esperança. Na esperança, o evento futuro é desejado, com a confiança de que se realize. Na expectativa, o fato pode acontecer, para o bem e para o mal. O quadro que se vê a olho desarmado confirma as significações. Há pouca ou nenhuma esperança num mar de expectativas. O certo, se as pesquisas de opinião estiverem corretas, é que os paranaenses desejam mudanças no poder e na maneira de governar. Talvez isso explique a dianteira de Richa e sua juventude diante de um político que representa uma geração e uma época que se preparam para sair de cena. Nesta edição, Ideias procurou apresentar um quadro da disputa eleitoral acompanhado dos resultados das pesquisas de opinião dos institutos mais respeitados, além da opinião de seus colunistas. É a contribuição para informar e estimular a reflexão sobre a escolha de nossos governantes e representantes para os próximos quatro anos.
COLABORADORES Carlos Alberto Pessôa, Carlos Simon, Claudia Wasilewski, Dico Kremer, Flávio Damm, Isabela França, Izabel Campana, Karen Fukushima, Larissa Reichmann Lobo, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Paloma Barbieri, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Vicente Ferreira. FOTO CAPA Daniel Katz CAPA Clarissa M. Menini PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Clarissa M. Menini Katiane Cabral DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570 80520-250 / CURITIBA PR Tel.: [41] 3079 9997 www.travessadoseditores.com.br CEP
Índice 06 Fábio Campana
50 Prateleira
A mais monótona das eleições
13 Luiz Geraldo Mazza Temor da devassa
16 Entre Gatos e Cachorros 18 Quem tem medo de Jaime Lerner?
53 Marianna Camargo Amigas de infância
54 Gente Fina
24 Luiz Fernando Pereira Nostalgia do presente
25 Câmara dos vereadores 27 Rogerio Distefano
60 Ensaio fotográfico Flávio Damm
O pós-doutor e o pré-Brasil
28 Titãs da periferia Reportagem especial de Carlos Simon
66 A Arte do sapateiro – Série Ofícios 68 Shaka & The Chilli Beans Como cantar o sonho de um guerreiro
36 Izabel Campana As lições de Savarin
71 Isabela França Estreia da nova colunista
38 Carlos Alberto Pessôa Exercício de Esnobismo
40 A infidelidade ao alcance de todos
77 Cartas do leitor 45 Luiz Carlos Zanoni A glória de Setúbal
46 Vicente Ferreira A festa de Babette
49 Claudia Wasilewski Mundo Pink
78 Pryscila Vieira
FÁBio CamPaNa jornalista
PolÍtIca
a mais monótona das eleições
dAtAfolhA
ibope
Beto 47% Beto 50% osmar 34% osmar 34% 6
| setembro de 2010
Pintou, com muita antecedência, o favorito na disputa do governo do Paraná. Desde o início da campanha eleitoral Beto Richa está na frente em todas as pesquisas de opinião. Por margem tão dilatada que a absoluta maioria dos paranaenses,
Enredado em seus aliados, Osmar não sai do lugar. Agora todas as suas esperenças estão no apoio de Lula
inclusive os que votam em Osmar Dias, acredita na vitória do tucano. Nas últimas pesquisas, 83% fizeram esse prognóstico. Osmar Dias pretendia reverter o quadro na campanha pelo rádio e pela TV. Mas isso não aconteceu. A sensação é a de que o programa só acentuou os defeitos e as mazelas do candidato e seus aliados. Agora, resta a Osmar tentar um golpe que produza o nocaute no adversário, porque por pontos dificilmente conseguirá superá-lo. E isso lembra o risco de voltarmos aos velhos métodos eleitorais no Paraná, tão usados pelo hoje maior aliado de Osmar, seu ex-algoz Requião. Santo remédio, as eleições. Delas
renascem esperanças que os donos do poder cuidaram sistematicamente de esmagar em interpretação muito própria do mito de Sísifo, no qual assumiram o papel da pedra. Requião e seu PMDB foram um fracasso tão grande no governo que acabaram fortalecendo a ideia de renovação. O apoio de Requião a Osmar Dias
Santo remédio, as eleições. Delas renascem esperanças que os donos do poder cuidaram sistematicamente de esmagar provavelmente decretou a derrota antecipada do senador, que foi bem melhor nas eleições de 2006, quando estava com a outra banda.
Beto Richa é a promessa de uma administração álacre e correta, como se deu na prefeitura de Curitiba nos últimos seis anos ou em governos sob a guarda dos tucanos em outros estados, entre eles o de São Paulo, com Geraldo Alckmin e José Serra. O PSDB é ótimo exemplo de um grande partido social-democrata, que com sua força e inteligência, contribuiu notavelmente para o progresso político, econômico e social. O tempo transformou o PSDB de partido restrito a segmentos da classe média e forte em áreas acadêmicas em partido de todas as classes, e esta é uma lição que qualquer agremiação de esquerda, com pretensões à contemporaneidade do mundo, pode aprender com proveito. As ideologias não existem para o prazer de alguns intelectuais ou encantamento místico dos fanáticos do Apocalipse. Elas informam a linha partidária, até o momento setembro de 2010 |
7
em que convém renová-las. A consciência proletária não é o destino do trabalhador, a miséria e opressão não são a condição definitiva da maioria. Há mais de dez anos, desde o aparecimento de Beto Richa no cenário político nativo, e de jovens lideranças não comprometidas com o populismo, capaz de cumprir aqui o mesmo papel que fortes e inteligentes partidos de renovação cumpriram em outras paragens.
palanque adversários renhidos de ontem, quando trocavam insultos e acusações que não são de somenos. Requião dizia de Osmar Dias barbaridades que colocavam em dúvida a honestidade do Senador. Osmar devolvia com diagnósticos sobre a sanidade mental de Requião. Esse bate-boca não foi esquecido. Ninguém esqueceu também as antigas posições de Osmar Dias, o
A aliança dos trapalhões Nada ocorre por acaso, inclusive partidos de renovação, e resta checar o rumo que vai tomar o PSDB. O Paraná está dando início a um teste decisivo e os próprios tucanos estão testando a si próprios. Ninguém se assuste com eventuais recaídas no clientelismo de alguns setores do tucanato nativo. Fazem parte das circunstâncias e deixarão espaço para outro tipo de prática, se o núcleo mais preparado do PSDB estiver à altura da tarefa, e, especialmente, de uma nova prática de administração do poder. Eminentes personalidades do PDT paranaense entendem que a sua desgraça eleitoral se deve à aliança com Roberto Requião de Mello e Silva. Em compensação, o próprio Requião acusa o PDT de Osmar Dias e sua original aliança com o PT por todos os males do mundo. Tem-se a impressão de que uns e outros se sentem vítimas da fatalidade, vítimas inelutáveis, escolhidas a dedo pelos deuses, como personagens de tragédia grega. Vale, porém, aventar outra hipótese. Hoje todos entendem o significado das eleições de outubro. O povo paranaense está repudiando o arreglo de cúpula que traiu sua vontade e os acordos que juntam no mesmo 8
| setembro de 2010
Osmar Dias tem tentado várias fórmulas para conquistar o eleitor, o que cria problemas em sua identidade
fazendeiro que jamais engoliu o PT, o MST e suas teses de reforma agrária e combate ao agronegócio. As pesquisas qualitativas mostraram que o povo já não aceita demonstrações de incoerência feitas com tamanha desfaçatez. O espetáculo de tapas e beijos desmoraliza qualquer pretensão e acentua a rejeição aos políticos tradicionais que ainda pretendem enganar a maioria confiando na falta de memória do distinto público. A decadência de figuras da extração de Requião é visível a olho nu. Requião confunde nacionalismo com patriotismo. Quanto a este, sabemos
que se trata do último refúgio dos canalhas. Quanto ao primeiro, sabemos que se trata do último recurso dos populistas. Mussolini partiu para a guerra da Etiópia para excitar os rancores e os recalques da Itália pequeno-burguesa e adiar o fim do fascismo. O bufão general argentino Galtieri inventou a guerra das Malvinas. Essa gente é capaz de tudo para permanecer no poder. As sociedades, em compensação, às vezes se prestam ao papel de coro de pantomimas trágicas; mas no carrossel do tempo, mais cedo ou mais tarde, acabam recobrando a razão. Requião e seu time, que nos arrastaram até a desgraça, ainda enxergam no nacionalismo o recurso habilitado a inflamar os paranaenses e a manter no poder aqueles que não os merecem. Estão aí os patriotas e os nacionalistas da hora do salve-se quem puder. Eles, na verdade, procuram a maneira de salvar a si próprios. Confiam na tradicional apatia do povo, mesmo porque não é a seleção canarinho que está entrando em campo. Mas devemos confiar no repentino lampejo da razão nos paranaenses, em meio à vergonha que deveríamos ter de nós mesmos, antes resignados diante da tragédia, convencidos da nossa impotência enquanto se discute se o futuro ainda se chama Requião e seus irmãos, esses impecáveis representantes de uma súcia, que a considerar os últimos acontecimentos que incluem dólares escondidos em guarda-roupas e coisas tais, deveria ser deportada para Chicago dos anos 20.
O povo já não é bobo Mas Requião não é o único problema de Osmar Dias nesta eleição. Os militantes do PT e do MST às vezes conseguem ser tão incômodos para ele quanto podem ser inconvenientes para Beto Richa alguns aliados
O quixotesco candidato do PV, Paulo Salamuni, não conseguiu ao menos levar a disputa para o segundo turno
e mesmo alguns dirigentes de seu partido, o PSDB, que não entenderam a amplitude da aliança e a extensão de seu projeto. Osmar faz um esforço para caminhar para o centro, mas há fanáticos do Apocalipse sempre dispostos a jogar lenha na fogueira. Se depender destas tigradas, tudo vira luta de classes. As certezas definitivas e o ideário anacrônico de muitos militantes da frente que apoia Osmar são tão daninhos à sua campanha quanto a companhia de Requião, que lhe transferiu toda a sua rejeição e não agregou quase nada em votos. A esquerda, na repetição esfalfante de gastas palavras de ordem, acaba sendo mais antiga e conservadora que o próprio Osmar Dias, com seu buquê de murchos sonhos mais ou menos revolucionários. Neste Paraná, em que boa parte da população ainda vive abaixo da linha de pobreza e 70% dos empregados ganham de dois salários mínimos para baixo, a realidade é a do desalento e miséria. Agora a maioria percebe que durante os últimos oito anos o governo a empanturrou de mentiras. Requião e
os seus sempre mentiram muito, mas nos últimos anos atingiram o sublime. Talvez se trate do resultado de combinação de cabeças criativas com almas caridosas, selada com o intuito de cobrir os fatos com o manto diáfano da fantasia para nos poupar de sustos exorbitantes. Só que o manto está cada vez mais esgarçado e roto.
O Paraná obedece a uma rigorosa dieta de mentiras Dieta de mentiras O sucesso de Beto Richa talvez se deva, em grande parte, à descoberta de que o Paraná obedece, há bastante tempo, a uma rigorosa dieta de mentiras, ministrada pelos detentores do poder e por aqueles que no poder os sustentam. A mentira emblemática é aquela que elegeu Requião mais de uma vez: “comigo, o pedágio ou baixa ou acaba”. Nem uma nem outra. Sob os governos de Requião, o pedágio aumentou. Nos últimos anos, as mentiras cresceram em volume e passaram a
ser pronunciadas com especial arrogância, para engordar uma retórica ufanista que deslumbrava o nosso provincianismo pequeno-burguês e encobria os desmandos de que está por cima. Requião estabeleceu as coordenadas de seu programa e inúmeros privilegiados cuidaram de fortalecerse no privilégio ao propagarem o misticismo do Paraná exemplo para a Nação. O Paraná ilha de prosperidade em meio ao mar revolto da economia mundial, o Paraná que dá exemplos nas áreas de segurança, educação e administração portuária, o Paraná dos irmãos Requião premiados pela sua eficiência, inclusive quando compram tevês laranja para equipar a rede escolar. Agora, diz um importante em presário nativo que manteve a cabeça fria mesmo quando muitos entre seus pares aplaudiam o déspota, “agora a ilha de prosperidade e a administração exemplar estão indo a pique”. E nesse naufrágio embarcou Osmar Dias, do PDT, que trocou uma eleição segura para o Senado por uma aventura ao lado de todos os seus desafetos, inimigos e afins. Algozes e vítimas, às vezes, têm certos pontos de identidade. Mas voltemos às inquietações do Paraná real. O resultado desse processo é previsível. O diagnóstico não requer a sapiência de nenhum esculápio da sociologia. É simples: abalado por denúncias de corrupção que deságuam no vazio, Requião encontra-se sob suspeição pública e contamina a imagem de Osmar Dias. Assim, a soma de equívocos e má-fé, inclusive na composição de alianças, derrotaram antecipadamente o candidato que tem duas máquinas, as dos governos federal e estadual, a seu favor, o que só consegue provar a força do apelo de renovação no Paraná. setembro de 2010 |
9
Para o Senado, a indefinição
10
| setembro de 2010
Foto: Divulgação
A
Com Beto Richa disparado na frente, Ricardo Barros e Gustavo Fruet têm grandes chances de subir nas pesquisas
Foto: Divulgação
disputa do governo do Paraná tornou-se monótona. Beto Richa começou a campanha na frente. Desde então só cresceu. Não houve uma única pesquisa de opinião que não tenha registrado seu avanço que agora o coloca a distância confortável de seu adversário, Osmar Dias, do PDT. Essa modorra na disputa governamental deslocou um tanto da atenção do distinto público para outra corrida eleitoral, a das duas vagas para o Senado da República, disputadas por quatro candidatos em condições de chegar lá. Roberto Requião, do PMDB, e Gleisi Hoffmann, do PT, formam a dupla na chapa de Osmar Dias, do PDT. Gustavo Fruet, do PSDB, e Ricardo Barros, do PP, da chapa do tucano Beto Richa. Mas ainda há cerca de 50% de indecisos. Se as eleições fossem hoje, a dupla Requião e Gleisi venceria o pleito, dizem todas as pesquisas de opinião. Mas eles não estão tranquilos. A subida rápida do candidato Beto Richa tende a fazer subir a outra dupla, Gustavo e Ricardo. É claro que o eleitor pode formar outras duplas, da maneira que bem entender, ou ainda votar num dos candidatos de partidos nanicos que buscam um lugar ao sol. Mas todos sabem que as duas cadeiras hoje ocupadas por Osmar Dias e Flávio Arns dificilmente escaparão dos quatro candidatos principais. Outra dificuldade encontrada por todos na disputa do Senado é explicar ao eleitor que ele pode votar em dois candidatos, um para cada uma das va-
gas. Há resistência. É o único caso em que se pode votar em dois candidatos para o mesmo cargo. Essa ignorância ajuda quem está na frente. Requião e Gleisi fazem
de tudo para que o eleitor vá até a urna com apenas um nome para o Senado. O segundo voto pode ajudar um dos adversários e complicar sua situação.
Foto: Divulgação
Outro dilema dos marqueteiros de candidatos ao Senado é o desinteresse crônico dos eleitores pelas elei ções legislativas, especialmente pelas eleições de senadores. Os candidatos a deputado estadual ou federal ainda estão mais próximos do cidadão. E o candidato ao Senado, cuja função exata a absoluta maioria ignora? Este voto, dizem os especialistas, é o último a ser decidido. Por isso mesmo, as eleições para o Senado têm sido decididas nos últimos quinze dias de campanha no Paraná. Foi assim com Flávio Arns, que surpreendeu a todos ao vencer pesos pesados da política e dos negócios. Tony Garcia quase venceu o banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira no último round. Gleisi Hoffmann pregou um susto memorável em Alvaro Dias em 2006.
Gleisi Hoffmann e Roberto Requião venceriam no primeiro turno se as eleições fossem hoje
Ora, pois, por enquanto os que estão na frente vão desfrutando do alto índice de conhecimento, mas na medida em que o eleitor define melhor o seu voto há grande chance de mudanças. É isso que apavora até mesmo Requião, um político experimentado em eleições majoritárias que não esquece do susto que passou na última, quando quase perdeu para Osmar Dias. Os candidatos examinam o quadro e cada qual escolhe como explorar seus aliados para subir. Aqui, o tucano Beto Richa está na frente disparado e Gustavo Fruet e Ricardo Barros se agarram nele para subirem juntos. Enquanto isso, Osmar Dias, do PDT, PT e PMDB, vai ladeira abaixo
Foto: Divulgação
Requião e Gleisi fazem de tudo para que o eleitor vá até a urna com apenas um nome para o Senado
e seus candidatos ao Senado, Gleisi Hoffmann e Requião, começam a livrar-se do incômodo. É cada vez mais abundante a propaganda onde Osmar Dias desaparece. Na República a situação se inverte. A candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, foi a 49% das inten-
ções de voto. Abriu 20 pontos de vantagem sobre seu principal adversário, José Serra, do PSDB, que está com 29%, segundo pesquisa Datafolha. Se a eleição fosse hoje, Dilma teria 55% dos votos válidos e venceria no primeiro turno. Dilma lidera agora em segmentos antes redutos de Serra. Passou o tucano em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no Paraná e entre os eleitores com maior faixa de renda. Serra se mantém ainda à frente em alguns poucos extratos do eleitorado. Por exemplo, entre os eleitores de Curitiba, capital do Paraná, onde registra 40% contra 31% de sua adversária direta. Resumo da ópera: ninguém mais quer andar com José Serra de braço dado para pedir voto. Já a turma da outra banda fica cada vez mais colada em Dilma e Lula. setembro de 2010 |
11
12
| setembro de 2010
luiz geraldo mazza jornalista
POLÍTICA
Temor da devassa
B
asta alguém no legislativo estadual do Paraná dizer que a Casa precisa de uma devassa e pode aparecer um assessor disposto a sugerir uma mulher de programa para o posto. É que ninguém jamais acreditou em outro tipo de devassa possível na instituição. Quando houve, recentemente, um início de devassa com uma série de denúncias, acolhidas pelo Ministério Público, a maioria dos quadros parlamentares e funcionais não acreditava no que estava acontecendo. Em primeiro lugar porque achava aquilo que lá ocorria, permitindo desvios de recursos públicos manipulando indicadores fiscais de gente humilde, normal, normalíssimo como costumeira e praxística a rotatividade de servidores tidos e havidos como ‘’fantasmas’’. A praxe não dá direito adquirido, mas todos se achavam nessa condição até porque os demais poderes e muito menos a sociedade ignoravam o que lá ocorria. Antes, pelo contrário, aquilo que há de mais representativo na comunidade se mostrava comprometida por ação ou omissão. Um candidato alternativo do PV, e isso porque a agremiação junto com o PPS e PCdoB, pediu o afastamento da Comissão Executiva, seu presidente Nelson Justus e o primeiro secretário Alexandre Curi, tentou enfocar o tema. Paulo Salamuni buscou fazê-lo ainda que timidamente na campanha eleitoral no primeiro debate entre postulantes ao governo e todos se fizeram de ‘’desligados’’.
Poeira assenta Com a decisão monocrática do STF
que suspendeu as investigações há a crença de como se dá em tudo na tradição paranaense que haja assentamento da poeira e em seguida o esquecimento para tranquilidade geral. Como é tese de minoria, já que a maioria (ou o que ela expressa) é silente ou interessada, apenas Osmar Dias como postulante ao governo e mais os candidatos ao Senado, Gustavo Fruet, e Gleisi Hoffmann se mostraram abertamente favoráveis ao afastamento dos membros da Mesa. Os demais por variadas razões entenderam que à justiça — e esse foi o ponto de vista claríssimo de Beto Richa — cabe a decisão. Apenas seis parlamentares — Douglas Fabrício, Eduardo Cheida, Marcelo Rangel, Neivo Beraldin, Ney Leprevost e Tadeu Veneri — assinaram manifesto a favor da medida radical. Há seis contrários, nada menos de 35 que não responderam o questionário da Rede Paranaense de Comunicação e cinco que deixaram de fazê-lo porque são membros da Comissão de Ética e lá na frente encarregados do julgamento, o que os alcançaria por suspeição. Esses números são suficientes para mostrar o quanto o conjunto da sociedade é co-responsável e que nada disso soa como novidade. O compadrio, que é parte do nosso modo de ser, e a acomodação de todo e qualquer conflito que mexa com os sedimentos de fundo da lagoa e torne toda a água turva configuram o jeitão de quem age como o gatinho da pensão burguesa de Manuel Bandeira a esconder as suas sujidades no jardim e com uma destreza principesca.
Reeleição como resposta Tanto os que foram nominalmente citados como os que negaram o afastamento e os que se recusaram a opinar olham o pleito como uma ablução cívica que os limpará de sinais de escárnio e têm todas as condições para se darem bem ante a despolitização do eleitor. Farão desse tipo de julgamento, ainda que não estejam livres do outro, cujo mérito há de ser apreciado, o que importa e certamente posarão de ‘’mártires’’ da causa democrática e da resistência à hipocrisia e ao falso moralismo, como se refere Nelson Justus na sua proclamação nos programas eleitorais. Se um tema de tal envergadura não entra no debate eleitoral como seria de surpreender que surgissem análises sobre o fato de o Paraná ter sofrido no ano passado a maior queda histórica do PIB em 0,5% enquanto a da média nacional ficou em 0,2%. O filtro marqueteiro, além de desinformar e dificultar juízo de valores ao eleitor, transforma a campanha em infantilismos como esse pré-getuliano de Lula ao se colocar como pai e a Dilma como mãe do brasileiro. Ou ainda a provocação de Osmar Dias a Beto Richa para que mostre sua carteira de trabalho, pergunta que não fez na eleição anterior ao seu hoje aliado, Roberto Requião. Na verdade o que precisamos é de que eles provem que sua carteira de identidade é verdadeira. Que não são outra pessoa, ainda mais esses dois até outro dia tão ligados nas mesmas causas. setembro de 2010 |
13
14
| setembro de 2010
setembro de 2010 |
15
política
fábio campana
entre gatos e Cachorros (ou o gato é um cachorro relativo) A disputa eleitoral ganhou as ruas. Os candidatos correm o trecho pedindo votos, enquanto a campanha ganha corpo nos horários gratuitos no rádio e na televisão. São campanhas muito parecidas. Na verdade, os políticos têm ideias e programas quase idênticos e, no geral, são plenos de lugares comuns. Nada mais. Não há debate. Projetos, nem pensar. Esta campanha eleitoral é um deserto de ideias, clama o Luiz Geraldo Mazza. Ora, pois, a política, nesta área chuvosa do planeta, tem se resumido aos acertos, ao varejo dos cabos eleitorais, à busca despudorada de apoios circunstanciais. Não há grandes diferenças de estilo, se pode ver. Por conta disso, nos últimos dias, voltou a circular nos meios políticos nativos o exercício comparativo entre gato e cachorro. Diz ele: o gato é peludo e o cachorro também; o gato tem quatro patas e um rabo, o cachorro também tem; o 16
| setembro de 2010
gato e o cachorro têm uma cabeça com dentes e orelhas, mas o gato mia e o cachorro late. Conclusão: o gato é um cachorro relativo. A distância entre a zoologia e a política é às vezes bem pequena, embora os animais propriamente ditos não politiquem mais, desde os tempos de Esopo e La Fontaine. Perdão, desde os tempos de George Orwell e do Wilson Bueno, tão próximos, e que tanta parecença têm com os nossos. A julgar pelo que se pôde ouvir nos últimos dias, muitos dos desencontros atuais entre os políticos e entre eles e a população têm como base aquilo que os norte-americanos chamam de wishful thinking, isto é, o vício do raciocínio que leva as pessoas a tomarem as suas próprias fantasias pela realidade, frequentemente com as melhores intenções do mundo.
mAtériA-primA dA polÍticA Em debate tão pobre de ideias, qual será a matéria-prima da política? Hanna Arendt insiste na importância da verdade dos fatos, a verdade factual, como contrave-
neno da mentira que alimenta o preconceito. Mas a verdade factual é frequentemente múltipla, instável e escorregadia. Quem tem razão, Orlando Pessuti ou Roberto Requião? Diz sabedoria antiga, a qual logo aderiram os nossos sábios pedessistas, que
Foto: flickr/Roll Weiland
em política o que importa não é o fato, é a versão. A rigor, aliás, não há fatos, há versões: a versão da testemunha, a do promotor público e a dos advogados de defesa. Dentre elas decide o júri. Em política o processo é menos ordenado, mais livre e primitivo, mas a conclusão é a mesma: o que importa é a versão que consegue se impor, no momento preciso, aos olhos da maioria, e não aquela que poderia ser a mais fiel ou mais exata. Bem feitas as contas, a matériaprima da política não são nem os fatos, nem sequer suas várias versões possíveis, mas a reação de setores interessados e da opinião pública em geral diante deles. Requião passou a ter um adversário de peso. O seu sucessor e ex-amigo e aliado Orlando Pessuti resolveu dar o troco aos insultos e ofensas com que Requião o tratou desde que assumiu o governo. Demitiu toda a caterva de Requião e
faz campanha contra ele quando pode. Em público e nos atos da frente integrada pelo PMDB ele apenas sonega o nome do desafeto. Para Pessuti, Requião se tornou um nome tão impronunciável quanto palavrões que devem ser evitados em situações solenes. Na reunião da chapa de Osmar Dias e seus apoiadores com a presidenciável Dilma Rousseff, Orlando Pessuti e Requião não se cumprimentaram. O governador só pediu voto para a Gleisi Hoffmann ao Senado. O gesto de Pessuti foi muito aplaudido.
A distância entre a zoologia e a política é às vezes bem pequena Gleisi e Temer foram pródigos em elogios ao Pessuti, que, com a desistência, teria permitido a união dos partidos em torno de Dilma e Osmar. Se pudesse, Orlando Pessuti demitiria do governo a mulher de Requião, Maristela, que preside o Museu Oscar Niemeyer, e a irmã Lúcia Requião, que preside o Provopar. Como não pode, porque as duas têm mandato legal, mandou cortar os recursos para as duas entidades e pediu o retorno dos funcionários da administração direta que estavam à disposição das duas. O twitter auxiliar de Requião, Cria Cuervo, informou mais um capítulo da pendenga entre o Duce do Canguiri e seu sucessor, Orlando Pessuti. Diz lá: “Para se vingar da Lucia Requião o Pansuti cancelou o convênio do Detran com o Provopar. Agora quando você paga para escolher a placa o $$$ some”. Pessuti ainda pretende cortar transferências de dinheiro público para o Provopar do Porto de Paranaguá e da Secretaria da Fazenda. O confronto pode descer aos esgotos da administração. A nova diretoria da Ferroeste se diz estarrecida com
a dívida da instituição em mais de R$ 5,7 milhões. Os gastos que chamam atenção são os de diárias, passagens e restaurantes, mas especialmente o dos salários dos ex-dirigentes que ganhavam salários médios de 17 mil reais por mês. A Ferroeste como uma S.A., a exemplo da Cohapar, sofre do mesmo problema apontado pelo Ministério Público? Outra provocação palaciana foi a filtragem da informação que dá conta que Roberto Requião declarou que guarda em casa a quantia de R$ 400 mil reais. Considerando que o mesmo não tem atividades privadas e possui renda de servidor público nas últimas três décadas e, por esta razão recebia seus proventos através ou do Banestado ou do Banco do Brasil, fica a pergunta: por que guardar tanto dinheiro em casa? Por qual motivo?
A guerrA está nAs ruAs e nA tv Neste momento, todos os políticos que disputam cargos eletivos neste ano estão de olho no rádio e na televisão, mas não deixam de fazer a campanha no chão, nas ruas, a pedir votos para quem passar pela frente. E todos de olho também no adversário, que a qualquer momento pode lançar um petardo destruidor contra qualquer um deles. Novamente Requião é destaque. Ele usa a internet, mais especificamente o twitter, para desancar os seus desafetos o tempo todo. Mas não está sozinho. Pouco a pouco a campanha vai adotando aquele clima terrível em que todos deploram o “baixo nível” ao mesmo tempo em que o praticam. A vítima desse processo é o eleitor, que se obriga a observar os embates verbais que ficariam melhor em horas tardias de bares da periferia. setembro de 2010 |
17
capa
fábio campana Fotos daniel katz
Quem tem medo de
Jaime Lerner? Dizia Alexis de Tocqueville que o futuro é um juiz esclarecido e isento, mas que infelizmente chega sempre tarde demais
S
empre que penso em Jaime Lerner, esta frase me vem à cabeça. Apesar de sua obra transformadora como prefeito de Curitiba ou governador do Paraná, Lerner é excluído do debate político. No mínimo, os atores atuais da vida paranaense fazem de conta que ele não existe. E quando seu nome é citado se apressam a informar que nada têm a ver com ele. Os principais candidatos ao governo, Beto Richa e Osmar Dias, estão na lista dos que perderam a memória.
18
| setembro de 2010
setembro de 2010 |
19
Ilustração: Joe Ciardiello da TIME
Ora, pois, Lerner vive uma estranha situação. Além das fronteiras da província é reconhecido como planejador urbano e formulador de ideias e projetos que podem ajudar a humanidade a viver melhor em futuro
para a moral e os bons costumes praticados da alcova ao tesouro municipal. Não que Lerner não tenha cometido equívocos como governante. Ele mesmo os aponta. E mostra como foi necessária e inteligente a privatização do Banestado, banco estatal que estava à beira da falência de tanto emprestar para políticos e seus apaniguados em troca de favores. Esta prática Lerner enterrou e todos podem imaginar o quanto desagradou a esses políticos e seus empresários apaniguados. Foram eles que promoveram o rombo no banco estatal que ainda hoje custa muito aos cofres do Paraná. No entanto, os antigos beneficiários dos privilégios oferecidos pelo Banestado uivam suas teses contra a privatização. Em causa própria. E o pior é que o discurso do gênero, temperado com todo tipo de aleivosia, faz sucesso nas camadas mais ingênuas da população.
o AlgoZ de jAime lerner
Mas o que explica essa reação contra Jaime Lerner em certos espaços da vida pública paranaense é uma campanha persistente para destruir a sua imagem e a de seus governos. É essa campanha e seus efeitos que próximo. Dá aulas em universidades ranqueadas entre fazem os políticos das duas bandas que se enfrentam as dez mais importantes dos Estados Unidos, recebe na disputa do governo fazer esforços para dissociar prêmios pela obra em todos os continentes, tem projetos suas imagens de Jaime Lerner, preocupados com a em desenvolvimento em várias áreas do planeta, foi possibilidade de que uma associação desse tipo possa listado entre os dez pensadores mais importantes do tirar-lhe votos. Em gesto de inteligência, Jaime Lerner soltou uma mundo. No entanto, os políticos nativos fogem dele nota avisando aos navegantes que oferece atestados como o diabo da cruz. O curioso é que a ma ioria desses políticos cres- de não lernistas para quem quiser. Especialmente ceu à sombra de seu prestígio, mas hoje acredita para os candidatos que temem defender ideias próque pode perder votos se tiver a imagem associada a prias ou que não querem se engalfinhar em debates Lerner. Para que se tenha com Roberto Requião, o uma ideia desse fenômeinimigo mais agressivo no que põe em dúvida o de Lerner. O principal algoz de Jaime Lerner caráter dos protagonisNão apareceu niné o ex-governador Roberto Requião, tas, um dos principais guém para buscar seu atestado, embora saiba-se beneficiários do apoio do PMDB. Fez de Lerner o seu que os egrégios represende Lerner, Rafael Greca dragão da maldade para apresentarde Macedo, afirmou que tantes das elites políticas se como santo guerreiro e vingador trocou de líder por ranativas, acostumadas a zões de consciência. ter pleno êxito no jogo da falsa mudança, aquele Greca foi vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal e minis- de que falava o príncipe de Salina, “muda alguma coitro graças a Jaime Lerner. Hoje, rende vassalagem ao sa para não mudar coisa alguma”, quando se trata de principal algoz de Lerner, Roberto Requião, que tem- Jaime Lerner pretendem ser guiados pela prudência, pos atrás acusava o mesmo Greca de vícios devastadores conselheira bela e sábia, e em nome dela só conseguem 20
| setembro de 2010
setembro de 2010 |
21
Lerner concede atestado de não lernista Jaime Lerner decidiu acabar com a pendenga dos candidatos que se esforçam para dizer que não possuem vínculos com ele. Decidiu passar atestados de não lernista. O texto, de sua autoria, foi publicado em primeira mão no blog de Fábio Campana (www.fabiocampana.com.br).
conceber a dissimulação, como o Leão da Montanha, inolvidável herói das histórias em quadrinhos. O principal algoz de Jaime Lerner, todos sabem, é o ex-governador Roberto Requião, do PMDB. Ele fez de Lerner o seu dragão da maldade para apresentarse como santo guerreiro e vingador. Tratou de demonizar Lerner perante o olhar da população com acusações muitas vezes inconsistentes, mas que, bem manipuladas e reduzidas a um discurso simplório e emotivo, conseguem sensibilizar as camadas mais carentes da população. A fórmula ajuda Requião a se livrar do adversário
Em gesto de inteligência, Jaime Lerner soltou uma nota avisando aos navegantes que oferece atestados de não lernistas para quem quiser
At e s ta d o Jaime Lerner Sempre que chega o período eleitoral, a ordem entre os candidatos é de se descolar de qualquer político ou coisa que seja polêmica ou que tenha reações contrárias sem levar em conta todas as coisas positivas as quais esses políticos também se associaram. Beto Richa, não precisa jurar que não é lernista; Osmar Dias, também não. Vou facilitar a vida de vocês e de seus marqueteiros. Estou emitindo atestados de “não lernistas”. Podem apanhá-los na chapelaria. Digo chapelaria porque certamente o chapéu de Curitiba fornecerá muitos votos. Herdou-se uma cidade que é referência no mundo todo, apesar de todas as suas carências e mazelas. E ao Estado que se candidatam também creio ter dado alguma contribuição, como a onda de industrialização que multiplicou empregos e arrecadação. Espero que o atestado de “não lernista” possa contribuir para que os ilustres candidatos aproveitem melhor a campanha, com mais propostas e menos sofismas. E que tenham a coerência de pedir aos lernistas que não votem neles. 22
| setembro de 2010
e do exame de seu próprio governo. Nos últimos vinte anos o Paraná só teve dois governadores. Jaime Lerner e o próprio Requião. Se comparados os feitos dos dois e mesmo desconsiderando que Requião teve três mandatos contra apenas dois de Lerner, fica evidente que Lerner foi um administrador muito superior em tudo. E que Requião faz por merecer o conceito de homem de muitas bravatas, muitas irresponsabilidades e nenhuma obra que possa justificar seus doze anos de nepotismo. Além do que, essa hostilidade teria outro vezo. Requião, inepto, se comporta diante de Lerner como Salieri, obscuro compositor, se comportava diante de Mozart. A inveja o consome. Isso fica evidente todas as vezes que Lerner é citado no plano internacional. Requião reage com maus bofes, mal dissimulando o rancor.
A trajetória de Lerner Lerner assumiu a prefeitura de Curitiba por três vezes. Foi eleito governador do Paraná para dois mandatos sucessivos. Poucos tiveram carreira tão longa e bem sucedida na política paranaense. Sem contar que elegeu dois outros prefeitos da capital com a promessa de que eles continuariam a sua obra. As transformações ousadas que promoveu em Curitiba mudaram a face da cidade e a autoestima da população. De aldeia recatada e tímida a cidade passou
a modelo de planejamento urbano e de qualidade de manho da máquina. vida no país. No governo do Paraná, Lerner agiu com a mesma O reino da indiferença coragem ao operar mudanças profundas na economia. Ao atrair as montadoras de automóveis inaugurou Mas tudo bem, como se diz, talvez com frequência novo ciclo. Encerrou a hegemonia agro-exportadora adequada a almas parvas. O que mais impressiona para ingressar o Paraná, tardiamente, na produção é a indiferença de setores que teriam de expressar suas opiniões de maneira clara diante dessa dispoindustrial de ponta. Governou em período de crise. Recebeu o Paraná sição explícita de Requião et caterva de produzir o sem recursos para aplicar em obras quando o estado linchamento moral de Jaime Lerner. precisava ao menos renovar a infraestrutura. As estraQual o que. Esta é uma Província de Proprietários das estavam deterioradas. Os corredores de exporta- e Prebendários. Perceba o leitor: estes senhores exibem ção até o porto de Paranaguá eram ares de quem anda de braços com intransitáveis. Lerner planejou o a modernidade, mas seu comporanel viário de integração e licitou tamento faz suspeitar de que a hisAs transformações concessões de pedágio para recutória ainda não passou por aqui. perar a malha rodoviária essencial. A maioria dos empresários nativos ousadas que promoveu A solução, inteligente e inedepende de favores. Quem banca em Curitiba mudaram vitável, não era popular. Ninguém este jogo, para perder sempre, é o a face da cidade gosta de pagar uma nova taxa. Mas Estado, à custa da desorganização Lerner teve a coragem de adotar a de suas finanças. Esta gente berra e a autoestima da fórmula. Requião imediatamente de irritação quando lembra que o população passou a criticá-la e a prometer que Banestado foi privatizado. E não se voltasse ao governo o pedágio há quem os conteste, porque a chamada intelligentza nativa, se existe, seria eliminado. “O pedágio ou baixa ou acaba”, bradava. Em oito anos de governo, é pobre e pouco corajosa quando se trata de colocar não baixou nem acabou com o pedágio. Ao contrário, em risco alguns de seus privilégios, mesmo que seja o o pedágio subiu e o sistema foi ampliado com novas privilégio de um curto salário mensal. praças. Diga-se que nesta terra ignara, os que se acreditam Essa história tem a sua moral. Carecemos de heróis, intelectuais ou críticos desse processo não entram em há muitos vilões à solta, erramos o alvo dos problemas bola dividida. São raras as exceções. Alguns, que exermais sérios. A discussão ainda está aberta em torno ceram funções no governo de Jaime Lerner, hoje tecem da eficácia técnica e da correção loas a Requião e fazem o possível para que esqueçam o seu passado. A das medidas adotadas por Jaime verdade é que esses intelectuais esLerner em seu governo. Mas os No governo do Paraná, tão desesperados na perspectiva de nossos atores preferem debater Lerner agiu com a perderem benesses concedidas pelo outros temas, em vez de enfrenmesma coragem ao governo e outras fórmulas criadas tar os mais ásperos e polêmicos, em proveito de uma sociedade não pelo poder para manter em sossego operar mudanças somente mais justa, mas também cabeças pretensamente pensantes, profundas na economia mais inteligente. Mesmo que a adem troca de prebendas, isenções e ministração de Lerner exija ainda incentivos. correções de rota, a situação proOs intelectuais nativos gostam põe questões que o Paraná terá de enfrentar e resolver. do Estado Mecenas nem mais nem menos que os empreÉ possível admitir que a máquina burocrática do sários gostam do Estado Pronto-Socorro. Todos querem governo, um trambolho gigantesco, sempre foi preser- amparo rápido, abrupto, porém seguro, do Príncipe, vada a bem dos votos que seguram nas suas cadeiras do Senhor, do Pai. E Jaime Lerner já não é promessa um gordo contingente de deputados e senadores? Não de nada disso. Quem prefere ficar de cabeça acesa, de deveria ser, mas é, na prática. E Lerner não atacou esta certo já vive uma grande depressão. frente. Não fez a reforma do Estado, não reduziu o tasetembro de 2010 |
23
LUIZ FERNANDO PEREIRA advogado
opinião
Nostalgia do presente
E
m bom conceito, nostalgia é um desejo de voltar ao passado, das coisas do passado. No ritmo alucinado em que tudo está acontecendo, obrigo-me a reconhecer que sou uma espécie de nostálgico do presente. Explico. Final de semana no Rio de Janeiro. No avião, no excelente e novo caderno “Sabático” do Estadão, li a entrevista de Robert Darnton, diretor da biblioteca de Harvard (publicou A questão dos livros pela Companhia das Letras). Prenunciava (algo contrariado) o fim da palavra impressa ou, dito de outra forma, Gutemberg sai de cena. Como muitos têm dito, a escrita digital é o futuro. Leitores de livro serão vistos como colecionadores de LP’s (antecessores dos CD’s – obrigo-me a esclarecer aos de pouca idade). Ou usuários de radioamador (nunca entendi essa gente). Em poucas e tristes palavras: os livros estão com os dias contados. Não me digam que tudo segue em “mídia digital” (cruzes!). Sou dos antigos, do contato físico com o livro. Gosto de sublinhar, dobrar, virar a página. Kindle? e-book? Não é a mesma coisa. É, mas parece mesmo que o livro vai acabar. Chegando, fui à banca de revista (não duvidem: também podem estar com os dias contados) e, como sempre ao visitar o Rio, pedi logo “O Globo” e o “Jornal do Brasil”. Foi aí que eu ouvi do cara da banca: “aproveite, 24
| setembro de 2010
é a última edição. Acabou o JB”. Já tinha lido, mas custava a acreditar. Acabaram com o nosso, com o meu JB, publicado desde 1891 (começo do governo Floriano Peixoto...). Há muito tempo nem mandavam mais a Curitiba. Indo ao Rio não abria mão de comprar o jornal que permitia a todos, por muitos anos, acompanhar o que tinha para dizer gente como Elio Gaspari, João Saldanha, João Máximo, Ferreira Gullar. Foi onde morreu escrevendo Fausto Wolf. Vai continuar na Internet, consolou-me o mesmo cara da banca. Recuso-me. Jornal que se preze deve sujar a mão do leitor. Para guardar até amarelar. No tablet? Nem pensar. Mas a verdade é que o jornal também está com os dias contados. Estando por lá aos domingos, em período eleitoral, sempre acompanhei a animada movimentação de candidatos e militantes (ainda existem?) na Vieira Souto-Delfim Moreira (fechada aos carros aos domingos). Contrariado-resignado com o fim do livro e do jornal fui à procura da movimentação política. Nada. Quase nada. Ipanema e Leblon arquivaram a campanha eleitoral. Nenhum candidato; quase nenhum militante. Isolado e já perto do arpoador, vi alguém com propaganda política. Animei-me, mas cheguei perto e vi apenas um desanimado cabo eleitoral pago (com cara de cabo eleitoral pago).
Segurava uma pequena placa com os dizeres em cores já desbotadas: “Nélio (ex-meia do flamengo): DEPUTADO ESTADUAL PELA NAÇÃO RUBRONEGRA. Para quem já produziu Carlos Lacerda, Amaral Peixoto, Chagas Freitas ou, mais do meu tempo, Roberto Campos e Darcy Ribeiro, “Nélio, pela nação rubronegra” é pra matar! A política também acabou, pelo menos da forma como sempre a concebi. Desde que me conheço por gente (e já vai aí um bom tempo...) que gosto de livros, jornais e política. Um final de semana no Rio de Janeiro e vejo que está tudo acabando! O presente já é passado. É deste presente, que acaba de uma vez só, sem aviso prévio, que já sinto falta. Nostalgia do presente.
VEREADORES
Por dentro da Câmara Acompanhe o trabalho dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba ISO 9001 O presidente da Câmara Municipal, vereador João Cláudio Derosso (PSDB), assina em agosto o pedido de instalação de processo licitatório que definirá uma equipe para conduzir a padronização dos processos e procedimentos do Poder Legislativo da capital. É mais um passo para a obtenção da certificação ISO 9001, garantia internacional de qualidade. Antifumo Há um ano, a Lei Antifumo
municipal foi sancionada pelo prefeito. Entrou em vigor três meses depois, em novembro de 2009. Desde então, apenas 0,046% dos estabelecimentos vistoriados não estavam cumprindo a legislação. Sessenta e nove foram autuados e 42 deles já foram multados. Outros 27 estabelecimentos estão ainda na fase de recurso administrativo. Copa de 2014 Câmara aprova a ins-
talação de cronômetros digitais com contagem regressiva para a Copa do Mundo de 2014. A autoria é dos vereadores Francisco Garcez (PSDB), João Cláudio Derosso (PSDB), e Mario Celso Cunha (PSB). Os relógios estarão acoplados a telões, em pontos estratégicos da cidade, como incentivo ao Mundial, que terá Curitiba como uma das 12 subsedes. Meio ambiente Para evitar o des-
carte inadequado, a contaminação da natureza e o prejuízo ao consumidor
final e vendedores, o vereador João do Suco (PSDB) propõe o recolhimento dos garrafões de 10 e 20 litros retornáveis de água mineral após o vencimento do seu prazo de vida útil. Vigilância O líder do prefeito na
Câmara, vereador Mario Celso Cunha (PSB), destacou que novas 77 câmeras de vigilância devem entrar em funcionamento em Curitiba até o final do ano, garantindo mais segurança à população da cidade. Acessibilidade Portadores de defi
ciência visual poderão contar com painéis informativos em braile nos pontos de ônibus e estações-tubo de Curitiba. A medida está prevista em projeto de lei em tramitação na Câmara Municipal. Alzheimer Projeto de lei da vereadora
Professora Josete (PT) autoriza a prefeitura a implantar serviços de atendimento e suporte familiar para portadores de Alzheimer e outras demências, com atendimento à saúde e promoção do convívio social durante o dia. Doação Projeto de lei que prevê convênio entre o município e a Copel, visando arrecadação de contribuições e doações destinadas ao Fundo Munici pal de Prevenção às Drogas (Funpred), foi aprovado na Câmara Municipal de Curitiba.
Câmara Municipal de Curitiba • www.cmc.pr.gov.br R. Barão do Rio Branco, s/nº — cep 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 fax: (41)3350-4737
Saúde Foi aprovada na Câmara de Curitiba sugestão ao Executivo para que sejam desenvolvidos estudos de viabilidade para a criação de um banco público de sangue de cordão umbilical na cidade, para tratamento futuro de doenças hoje tidas como incuráveis. Som alto Proibir o uso de aparelhos
de som no transporte coletivo. É o que propõe o vereador Odilon Volkmann (PSDB), que vê na reprodução de música em volume alto por parte de alguns passageiros um incômodo aos demais usuários do transporte coletivo. Amianto A proibição do amianto, que
causa câncer de pulmão, laringe, ovário e abdome, foi defendido mais uma vez na Câmara de Curitiba, pela engenheira civil e especialista em segurança do trabalho, Fernanda Giannasi. O Legislativo debate a proibição do produto. Infláveis Já estão valendo as novas
normas de segurança de brinquedos infláveis de grande porte. Criado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o documento, publicado em agosto, vai entrar em vigor no prazo de um ano em todo o País. Infláveis II A Comissão da ABNT foi instalada há dois anos, por sugestão dos integrantes da Comissão Especial da Câmara de Curitiba, criada para analisar a adoção de normas técnicas sobre os brinquedos infláveis de grande porte, após acidente que causou a morte de duas crianças numa festa de confraternização em empresa da cidade. setembro de 2010 |
25
26
| setembro de 2010
ROGERIO DISTEFANO advogado
opinião
O pós-doutor e o pré-Brasil
T
em duas graduações de cursos superiores, mas insiste em fazer cursos de extensão, as chamadas especializações oferecidas pelas universidades públicas. É estudante profissional, daqueles com diletantismo agravado pela sanha do diploma e do certificado: formou-se em física e direito, conclui graduação em matemática e envereda pelas especializações em ciências sociais. Porém não é propriamente o obeso mórbido dos currículos extensos, já que consegue cruzar categorias e metodologias de suas formações no resolver os problemas da atual profissão, de advogado. Quando estudante era o terror dos professores, o aluno que ao fim da aula, caderno em punho, vem tomar esclarecimentos ou cobrar inconsistências. Só os professores de vocação apreciam o tipo; no geral os mestres terminam a aula pensando longe – ou perto, geralmente no banheiro ou no cafezinho. Sua personalidade não o faz popular nos ambientes acadêmicos, os professores o temem nas interrupções durante as aulas, os colegas o detestam porque pode induzir o mestre a retaliar nas provas. A quem acompanha de fora ele proporciona divertimento e exaltação intelectuais. Como a desta semana, em que voltou indignado com o pósdoutor na especialização em história
das ideias. O credenciadíssimo especialista cometeu a infelicidade de situar o início dos problemas sociais do Brasil exato em 1930, com a emergência de Getúlio Vargas na liderança da Revolução de Trinta: “Começaram quando o governo Vargas decidiu criar os institutos de aposentadoria e previdência de industriários, comerciários e funcionários públicos”, ele reproduziu no caderno. Desta vez se conteve, não interpelou o mestre nem durante nem depois da aula. Acumula munição para o combate e estende suas conclusões para o perfil do magistério superior no Brasil. “Que tem aposentadoria e pensões com problemas sociais?”, ele se pergunta, “isso é problema funcional, de estabilidade no trabalho, de qualificação profissional”. Até aí tudo bem, é problema comum de quem parte de premissa errada, de quem olha o queijo suíço e só enxerga os buracos, que confunde as árvores com a floresta. “Não admito sequer sonhar que o Brasil começou com Getúlio Vargas, os problemas sociais vêm de muito antes, existiam até no regime das capitanias”. Não tolera que o professor continue praticando o que ele odeia nos mestres com quem conviveu na universidade: a ligeireza e superficialidade de situar o Brasil como fato recente, neonato da História. “Aceito que se ignore o perío
do colonial, aceito que se ignore o império, mas começar a história republicana e os problemas sociais em 1930 é absurdo”. Não chega a ser um militante afro-brasileiro, embora como todos nós insista no confortável e remoto parentesco com a tataravó negra. “O grande problema social brasileiro não foi a falta de aposentadoria para trabalhadores urbanos, foi a longa noite da escravidão e seus arremedos de solução, como a lei do sexagenário e a lei do ventre livre, que deixavam seres velhos e doentes ao abandono e separavam famílias”.
Não admito sequer sonhar que o Brasil começou com Getúlio Vargas Eu me refestelava no embalo daquela indignação, tão objetiva quanto rara, as duas virtudes que faltam ao estudante – e agora, ele demonstrava, nos professores da universidade. O melhor ele guardou para o final, a apoteose crítica: “Prevejo que daqui a trinta anos as universidades terão doutores que nasceram em 2010 dizendo que a solução de todos os problemas brasileiros aconteceu em 2002, quando subiu ao poder o presidente Luis Inácio Lula da Silva”. setembro de 2010 |
27
reportagem
Texto carlos Simon Fotos Valquir Aureliano
Titãs da periferia Sangue, paixão e lágrimas nos bairros de Curitba
28
| setembro de 2010
s
“S
eu” Joaquim, porteiro aposentado, 65 anos, precisou de 30 gotas de anti-inflamatório para derrubar a gripe e sair da cama. Porque era sábado, senão as cobertas seriam mais convidativas num dia frio de agosto. Mas hábito de mais de 30 anos não se abandona tão fácil, e lá foi ele caminhar 500 metros de casa ao estádio para ver o time do coração. Nascido em Minas, ele torce pelo Santos, mas não é a arte dos badalados Neymar e Ganso que lhe dá prazer de assistir. “Conheço um por um. Diga se tem coisa melhor”, exclama com um júbilo autêntico junto ao alambrado, enquanto o time do União Capão Raso saúda a torcida ao entrar em campo.
Do outro lado, no vestiário minúsculo do campo do Capão Raso, Gilmar, 28 anos, se acotovela com os companheiros para ajeitar a vistosa camisa 2 do Iguaçu de Santa Felicidade. É o auge de uma semana corrida. E o preparo físico para o jogo não foi adquirido em modernos centros de treinamento. Foi acordando todo dia às 5h30 da manhã, em Itaperuçu, e suando para ganhar a vida dirigindo caminhão e descarregando madeira em toda a região de Curitiba até o fim da tarde. “Chega quinta e sexta, já vai batendo o sono. Mas tem que dar o sangue”, diz o pai de três filhos. Ele já se aventurou como jogador profissional em Rondônia, mas na ponta do lápis o salário da distribuidora de madeira, mais a ajuda de custo do Iguaçu, pesaram mais. “Hoje só largo a Suburbana se a proposta for muito boa”. De histórias assim, singelas, mas recheadas de sentimento, apego à tradição e força de vontade, se construiu o mais forte campeonato de futebol amador do Brasil. De julho a dezembro, há mais de 60 anos, a Suburbana une comunidades de diferentes bairros de Curitiba em torno de campinhos esburacados. E tanto não há paralelo no País que a Copa Kaiser Brasil, torneio entre os melhores times não profissionais de vários Estados, endureceu as regras para inscrição de clubes no ano passado, depois que o Urano, o campeão daqui, enfiou 4 O lateral Gilmar (acima) e o fanático a 0 no representante pauJoaquim (abaixo): eles são a cara lista na final de 2008. Era da Suburbana muita diferença técnica. Talvez os organizadores tivessem razão. A Suburbana, disputada oficialmente desde 1947, cresceu até virar uma competição semiprofissional. Na divisão principal, composta por 12 equipes, todos recebem para jogar. Não há salário, mas ajuda setembro de 2010 |
29
o restante do orçamento, de R$ 10 mil a R$ 15 mil mensais no caso dos principais clubes. “No ano passado cortamos os gastos para R$ 2,5 mil por mês e quase caímos para a 2ª Divisão. Voltamos a investir, senão ficamos para trás”, conta Flávio Renato Borges, tesoureiro e, nos dias de jogo, atendente do bar do campo do Capão Raso.
Lógica de mercado
de custo por partida: de R$ 50 a R$ 200 reais. Os melhores ganham as chamadas “luvas”, bônus para firmar compromisso pela temporada inteira que chegam a R$ 3 mil. Nada de registro, tudo em dinheiro vivo. Disputar a Suburbana exige sacrifício. Além das despesas com jogadores, gasta-se com transporte, taxas na Federação Paranaense de Futebol, um ou outro funcionário e alimentação — os treinos (quase sempre nas noites de terça e quinta) e os jogos são tradicionalmente sucedidos de lanche ou churrasco para os boleiros, regado a cerveja. Só a arbitragem é custeada por um patrocinador. Já o dinheiro que entra é pouco. Uns trocados pelo aluguel do campo a peladeiros, outros pela publicidade no uniforme e nos muros do estádio. Cobrar ingresso para os jogos é proibido, mas alguns pedem “colaboração” na faixa de R$ 5 na entrada, ou lucram tostões no estacionamento. Rifas, pequenos eventos e o movimento dos bares também ajudam. Do bolso dos diretores e simpatizantes sai 30
| setembro de 2010
A remuneração aos jogadores é quase tão antiga quanto a própria Suburbana. Já em 1955 o antigo Poty, conhecido como “Milionários da Galícia” - referência à localidade no atual bairro do Bigorrilho - , foi acusado de montar poderosos esquadrões em troca de cobres. Ainda na década de 50, a prática levou à falência a empresa de Olavo Barvick, então presidente do União Ahú. E o rival Operário do Ahú, outrora uma potência do amadorismo, licenciou-se em 1970 alegando não aceitar competir com profissionais. Nos últimos 10 a 15 anos, porém, a “profissionalização” da Suburbana chegou ao ponto de criar figuras como Ivo Petry. Misto de técnico e empresário, à moda de Vanderlei Luxemburgo, ele tem patrocínio pessoal e trabalha com seus próprios jogadores. Um presidente de clube revelou que o afastamento momentâneo de Petry, agora comentarista de rádio, desinflacionou o mercado e aliviou o caixa dos clubes. Outro bom exemplo é o Trieste, dono do maior número de troféus da Suburbana, que graças ao investimento pesado da Stival Alimentos construiu um moderno complexo esportivo no estádio Francisco Muraro, em Santa Felicidade, ostenta a maior “folha de pagamento” da competição e cogitou virar clube profissional.
De histórias recheadas de sentimento, apego à tradição e força de vontade, se construiu o mais forte campeonato de futebol amador do Brasil Para os mais puristas, o dinheiro tirou parte da essência da Suburbana. Os boleiros hoje rodam pelos clubes numa constância semelhante à do mundo profissional, tentados pelas melhores ofertas. “Antes os jogadores eram do próprio bairro e ficavam anos no mesmo clube. Agora não há mais identidade e isso afastou aquela velha guarda de torcedores”, protesta Edson de Oliveira, vice-presidente do Operário Pilarzinho. É nada mais que a lógica natural do mercado incidindo sobre um evento popular. Não há estatística confiável, mas o
público médio da Suburbana gira em torno de 300 pessoas por jogo. Parece pouco, mas corresponde a 10% da média de pagantes do último Campeonato Paranaense de Futebol. Se existe torcida, surgem os voluntários e o interesse do pequeno comerciante local em se fazer notar, além da cobrança por bons resultados. “Os clubes profissionais de Curitiba têm ligação histórica com bairros elitizados. Não há uma equipe local com forte apelo entre o povão, como Corinthians em São Paulo ou Flamengo no Rio. Então as regiões periféricas daqui se apoiam no time do bairro com mais força que nos grandes centros”, diagnostica Oliver Seitz, doutorando do Grupo de Indústria de Futebol da Universidade de Liverpool, e estrategista de marketing do Coritiba até o começo de 2009. “E são regiões residenciais, com poucos prédios e menos opções de entretenimento. Há envolvimento maior com a vizinhança, o que favorece a criação de um time, de uma torcida”, continua.
Há mais de 60 anos, a Suburbana une comunidades de diferentes bairros de Curitiba em torno de campinhos esburacados Na Vila São Pedro, Xaxim, o Urano, atual bicampeão da Suburbana, conquistou popularidade não só vencendo títulos. O clube promove jogos beneficentes e o presidente Elias Martins, funcionário do Ministério do Trabalho, garante estar prestes a tirar do papel um projeto para construção de salas de aula dentro do estádio, e ali oferecer cursos a jovens da região. “Meu tesão é ser útil para a comunidade. Os governantes ainda não tomaram consciência de que lazer é segurança pública”, defende Elias, minutos antes de discutir asperamente e ser impedido de partir para os socos com um jogador do visitante Vila Hauer.
Vida que poderia ter sido e não foi Esta revigorada Suburbana atrai três tipos básicos de jogadores. Assim como Gilmar, o carregador de madeira do Iguaçu, quase a totalidade exerce outra atividade. A maioria joga na Suburbana desde jovem e vê no futebol amador um prazer, aliado a um complemento na renda — ou em alguns raros casos, a maior fonte dela. Outra fatia importante, de 30% a 40%, no cálculo dos dirigentes, teve experiência no mundo do profissionalismo.
Amador até a alma
A
ditadura monetária da Suburbana transformou a 2ª Divisão em refúgio do futebol amador na acepção mais inocente da palavra. Ainda há resquícios de remuneração, mas a imensa maioria entra em campo sem levar nada em troca. “Não pagamos jogador. Somos estritamente amadores e lutaremos até o fim para manter essa filosofia”, bate no peito o presidente do Barigui/Seminário, Gerson Cirino dos Santos, primo do presidente do Coritiba, Jair Cirino dos Santos. É comum um time ter direito de subir à 1ª Divisão e continuar na disputa entre “iguais”. Caso do Imperial, do bairro Mossunguê, que abdicou do acesso em 97 e 2000 e seguiu na Segundona. “Você pode até fazer um time barato na 1ª Divisão só para participar, mas não chega a lugar nenhum. Aí perde a graça”, reclama Douglas Campa, diretor de futebol do clube que, ironicamente, tem um dos maiores patrimônios da Suburbana graças à localização do estádio Otávio Nicco, junto ao valorizado empreendimento imobiliário Ecoville. O Imperial, que por enquanto resiste à cobiça dos investidores, licenciou-se em 2010 para se reestruturar, mas promete voltar no ano que vem. A dificuldade do Osternack Esporte Clube simboliza a distinção entre os dois estágios. Vice-campeão da 2ª Divisão em 2009, o time, sem sede nem estádio próprios, se vira como pode entre os “grandes”. É numa das mesas de plástico da Lanchonete do Morais, dentro da Vila Osternack — localidade do Alto Boqueirão que luta para reduzir os índices de criminalidade — que a diretoria discute a cada sexta-feira, entre outros temas, como repartir o orçamento de R$ 1.000 mensais. Metade disso, aliás, consumida em carne e cerveja para os jogadores depois das partidas. “Cada um ajuda do jeito que pode. Mas jogador não temos como pagar. O pessoal vem mais por amizade e porque gosta de jogar futebol”, diz José Aparecido de Souza, presidente do clube e motorista de ônibus em Curitiba. De um modo ou outro, há um preço a ser pago. O artilheiro e o melhor zagueiro do time que subiu para a elite não resistiram à oferta de R$ 150 por partida e agora estão no Urano. Enfraquecido, o Osternack amargava a lanterna da 1ª Divisão até O motorista José Aparecido a 7ª rodada. comanda no boteco as reuniões de diretoria do Osternack 31 setembro de 2010 |
Isso é Suburbana Estádios – Clubes só podem disputar a 1ª Destes, alguns são ex-atletas divisão se o campo for totalmente murado. A de relativo sucesso, que desmaioria tem pequenas arquibancadas. A maior é cobrem uma transição branda a do “primo rico” Trieste, com 3 mil lugares. para o fim da carreira. “Depois Quitutes – Esqueça a praça de alimentação da aposentadoria o atleta sente do estádio do seu time. A lanchonete, no melhor falta de bater sua bola. Jogar estilo boteco de bairro, oferece o tradicional pão num campeonato oficial, com com bife, além de bolinho de carne, pastel ou árbitro, competitividade e cooutras frituras. bertura da imprensa é imporBebida – Ao contrário do futebol profissional, tante pra quem sempre viveu na Suburbana a venda de bebida alcoólica é no futebol”, diz Altevir Salles, permitida. O hit é a cerveja em garrafa de 600ml, ex-goleiro do Atlético-PR e do servida em copo plástico. Coritiba nos anos 70, que tamIngressos – A maioria não cobra entrada. bém jogou na Suburbana e hoje Mídia – Os dois principais jornais de Curitiba é técnico do Iguaçu. dedicam páginas à Suburbana, um deles É o sentimento que move diariamente. A equipe Rolando a Bola há 20 anos Leomar, 39 anos, criado no transmite os jogos aos sábados e mantém um Atlético-PR e com uma curta programa diário na Rádio Mais, além de um site com notícias atualizadas (www.futebolamadorpr. passagem pela Seleção Brasicom.br). Em 2008, o cineasta curitibano Eduardo leira, a botar a caneleira e se Baggio dirigiu o documentário Amadores do aventurar no futebol brigado Futebol, com o mundo da Suburbana como eixo da Suburbana. “Aqui mantecentral. A TV Paraná Educativa já transmitiu a nho minha forma e crio novas competição, mas ultimamente tem exibido apenas amizades, com gente que trabaas partidas finais. lha o dia todo e vem jogar com Celeiro – A Suburbana já foi conhecida alegria. É um divertimento”, por revelar bons jogadores para os times conta o volante, hoje coordeprofissionais. Hoje, clubes montados por nador de escolinhas de futeempresários para lucrar com a venda de jovens bol e, aos sábados, camisa 5 talentos tiraram o espaço dos amadores. do Iguaçu. Marlon (Santa QuiRevelações – Alguns jogadores que téria), ex-atacante do Paraná despontaram na Suburbana: Clube, e Rogério Prateat (Capão •• Dirceu Kruger – Ex-ponta do Coritiba nos Raso), ex-zagueiro do Coritiba, anos 70, começou no União Ahú. se enquadram nesta categoria. •• Joel Mendes – Ex-goleiro do Coritiba e do Mas a Suburbana tamSantos, é cria do Trieste bém é um terreno fértil para •• Cuca – Meia que defendeu o Grêmio (RS), os decepcionados da bola. São hoje técnico de futebol, foi revelado pelo Iguaçu. os que frequentaram catego•• Neguinho – Surgiu no Vila Fanny e teve bom rias de base de grandes clubes, desempenho no Paraná Clube. flertaram com o profissionalis• • Juninho – Zagueiro que passou pelo Coritiba, mo e alimentaram o sonho da Botafogo e hoje joga na Coreia do Sul, fama, mas não vingaram no começou no Combate Barreirinha. ultraconcorrido mercado do futebol. Parece trocadilho: Salário, do Urano, é um dos jogadores mais bem pagos da competição — o apelido mainstream da bola, e eles logo retomaram a origem. na verdade vem do tamanho diminuto. Em 2002, ele e “Eu já tinha 26 anos, não consegui acompanhar o ritmo Hideo, atualmente no Trieste e outro cobra da Suburbana, de quem cresceu no meio profissional”, explica Salário, assinaram contrato com o Paraná Clube. Mas o talento auxiliar administrativo de profissão. “Não reclamo do que sobrava nos campinhos da periferia oprimiu-se no que tenho, mas dói ver o nível de alguns profissionais e 32
| setembro de 2010
saber que você tinha condições de estar lá”. A sorte também bateu na trave para Peterson, 33 anos, meia do Operário Pilarzinho. Descoberto no Combate Barreirinha, ele profissionalizou-se muito jovem pelo Andradina (SP) e logo migrou para o Rentistas, do Uruguai, time de Juan Figer, um dos maiores empresários de futebol do continente. “Joguei com o Recoba”, orgulha-se. Se o ex-colega brilhou na Internazionale de Milão e na seleção uruguaia, Peterson seguiu trilha diferente. Segundo ele,
a morte do pai “tirou-lhe o centro” aos 20 anos de idade. Não achou mais espaço no profissionalismo e desde então dedica o suor à Suburbana. “Tem muito frustrado no amador, que vê o sonho desmoronar e se perde por aí. Só não virei um deles porque me realizei como treinador”. E ele não só é técnico como preparador físico, nutricionista, orientador espiritual e psicólogo dos juvenis do Pilarzinho — a reportagem o abordou enquanto exibia ao time um filme em DVD com mensagem edificante
Duro recomeço
O
talento de Reginaldo Vital com a bola sobra na Suburbana. Sobrava também no profissional. Muitos percalços são necessários para levar um craque desse quilate a jogar no amadorismo desde os 31 anos para sobreviver. Quem viu Vital surgir no Paraná Clube, em 1997, sabia estar diante de uma pérola. Cabeça erguida, visão de jogo, improviso e chute preciso rapidamente o transformaram em titular e ídolo da torcida. Cobiçado por vários clubes, foi vendido por boa soma e com ótimo contrato ao futebol japonês dois anos depois. A esta altura, o sucesso em campo já se misturava com problemas fora dele. O roteiro do menino pobre, que na adolescência ajudava o pai como servente de pedreiro em Jacarezinho (Norte Pioneiro do Paraná), é recorrente no mundo da bola. Meteu-se em noitadas, exagerou na bebida, cercou-se de falsos amigos e mulheres aproveitadoras da fama momentânea. Voltou do Japão para o Atlético em 2002, mas já não era o mesmo jogador – tinha frequentes lesões e dificuldade em manter o peso. Pouco depois tentou a sorte no Coritiba, teve lampejos da velha categoria, mas a inconstância tirou-lhe espaço. Em 2006 foi parar no Joinville (SC), seu último time profissional. Quando se viu parado, aceitou convite pra jogar no Sesp, da liga amadora de São José dos Pinhais, e há dois anos está no Urano, pelo qual foi campeão da Taça Paraná (principal competição amadora do Estado) e bicampeão da Suburbana. Ganha R$ 200 por jogo e não tem outra atividade. A renda é completada pelo aluguel do apartamento de três quartos no bairro Bigorrilho, o único que sobrou do patrimônio. Prefere morar numa casa mais simples, alugada, na Vila Lindoia, com a atual esposa e um filho. Aos 34 anos, o meio-campista reconhece ter cometido deslizes. “Não nego. Hoje estou mais maduro e vejo que
Reginaldo Vital: da fama à aspereza do futebol amador
errei muito, mas foi na empolgação de momento, de virar de repente jogador de time grande. Coisa de menino”, falou, de cima da marquise que serve como arquibancada no campo do Urano. Ele atribui a espiral descendente na carreira a uma lesão na canela sofrida ainda no Japão, da qual diz nunca ter se curado totalmente. O principal tutor considera a contusão o menor dos problemas. “O Vital tinha bola pra jogar na Seleção, mas não foi atleta. Poderia ser profissional até hoje. Apesar de ter um enorme coração, ele foi ruim para ele mesmo”, resume o comentarista Dionísio Filho, técnico do jogador nos juniores do Paraná e desde então uma espécie de segundo pai para Vital. “O futuro dele me preocupa”, diz, sério. Vital ainda não sabe que rumo tomar quando pendurar de vez as chuteiras. Como de hábito, prefere curtir o presente. “Às vezes vejo antigos amigos ainda jogando e tenho vontade de voltar, dá saudade da concentração. Infelizmente não tem mais como. Mas ainda jogo com prazer, estou feliz aqui”, diz, mesmo sem muita convicção. Se a bola pune, como diz o técnico Muricy Ramalho, Reginaldo Vital já pagou por seus pecados e espera pela redenção. setembro de 2010 |
33
sobre fé e superação, na véspera de um jogo decisivo. O conhecimento bastante empírico e nada acadêmico de Peterson talvez seja mais relevante para um bando de garotos de 15 e 16 anos, cujo futuro, salvo uma ou outra exceção, será longe dos holofotes esportivos. “Dou um foco no moleque pra que trabalhe com seriedade: se não virar profissional, pelo menos ele fez seu máximo”, diz o “professor”. Dali podem não surgir craques, mas, ao que tudo indica, sairão homens prontos para renovar a legião de guerreiros que tanto agradam “seu” Joaquim e os demais fãs da Suburbana. “Técnica no amador quase não existe. A gente gosta de ver raça e afinco”, explica o torcedor número 1 do Capão Raso.
Raio-X da Suburbana HISTÓRIA Embora já houvesse torneios exclusivos para times varzeanos em Curitiba desde 1917, a Suburbana começa oficialmente em 1947, quando a Federação Paranaense de Futebol passa a organizar a competição.
1ª DIVISÃO - 2010 Clube, bairro e ano de fundação • Capão Raso (Capão Raso) - 1952 • Combate (Barreirinha) - 1945 • Iguaçu (Santa Felicidade) - 1919 • Nova Orleans (Orleans) - 1973 • Operário (Pilarzinho) - 1951 • Osternack (Alto Boqueirão) - 2000 • Santa Quitéria (Santa Quitéria) -1974 • Trieste (Santa Felicidade) - 1937 • Uberlândia (Novo Mundo) - 1959 • Urano (Xaxim) - 1968 • Vila Fanny (Vila Fanny) - 1952 • Vila Hauer (Hauer) - 1950
Maiores campeões Trieste (11 títulos), Iguaçu (7), Combate Barreirinha, Ypiranga, Operário do Ahú e Vila Fanny (6), Capão Raso, Santa Quitéria e Urano (3), Bloco Morgenau e Vila Hauer (2), 5 de Maio, Botafogo, Nova Orleans, Poti, Primavera, Real, União Ahú e Vasco da Gama (1)
2ª DIVISÃO Participantes:
A briga é árdua no Xaxim e no Capão Raso; abaixo, o presidente “social” Elias e Leomar, ex-astro da Seleção
34
| setembro de 2010
Arbesc, Bairro Alto, Bangu, Barigui/Seminário, Calisto, Caxias, Grêmio Ipiranga, Novo Mundo, Rio Negro, Santíssima Trindade, São Carlos, União Ahú, Vasco da Gama, Ypiranga.
Memória viva
A
meticulosidade de Levi Mulford Chrestenzen surpreende até quem tem mania de organização. O maior exemplo é um caderno amarelado pelo tempo, mas bem guardado, onde o jornalista catalogou todos os 590 jogos de que participou como futebolista amador, cada um com escalações, autores dos gols e uma foto ou ilustração desenhada por ele próprio. Foi assim, anotando e juntando dados e informações, que este afável senhor de 81 anos transformou um porão de 10 metros quadrados na casa em que vive, no bairro Vista Alegre, em Curitiba, numa espécie de casa da memória da Suburbana. Estão lá uma infinidade de revistas, recortes de jornais, documentos e manuscritos, dispostos em pastas e seções ordenadas, que descrevem a trajetória da competição mais provinciana da cidade desde seu nascedouro. Parte relevante do acervo foi escrita pelo próprio Levi, que cobre a Suburbana profissionalmente há 52 anos — os últimos 51 para a Tribuna do Paraná. Desde o tempo em que, munido de caderno, caneta e câmera fotográfica, percorria três ou quatro campos todos os sábados sobre uma bicicleta, numa Curitiba mais compacta e de trânsito interiorano. A hemeroteca inclui material do esporte profissional, que fomentou a obra “Futebol do Paraná — 100 anos de História”, escrita em conjunto com Heriberto Machado — o principal documento da bola em gramados paranaenses. Mas o objetivo do minucioso trabalho nunca foi a pretensão de ser publicado, tanto que isso só ocorreu com quatro décadas de profissão. Era a paixão pura pela Suburbana, adicionada a um tempero de timidez. Em 1959, o então iniciante Levi teve a chance de migrar para a cobertura de futebol profissional. O rito de passagem seria expressivo: Coritiba x Santos, no velho Belfort Duarte, hoje Couto Pereira. No gramado, depois do jogo, o chefe dele na Tribuna do Paraná, Albenir Amatuzzi, surpreendeu: “vai lá entrevistar o negrão e estrear no profissional”. “Respondi que não, que meu lugar era no amador”, conta Levi, expressando-se como quem parece assustado com tamanha responsabilidade. E Pelé, de qualquer forma, não precisaria de mais um historiador. A Suburbana, definitivamente, sim.
Levi Mulford transformou o porão de casa numa espécie de casa da memória da Suburbana
setembro de 2010 |
35
izaBel CamPaNa
As lições de Savarin
L
er o clássico culinário de Brillat-Savarin, advogado e comilão, foi para mim uma espécie de revelação. Formada em direito e, mais ainda, em comilança, me identifiquei imediatamente. Savarin, o glutão corpulento, na descrição de Alexandre Dumas – o pai, não o filho –, defendeu gulosamente a natureza divina do paladar humano. Com a capacidade de convencimento do bom advogado que era, alegou que uma faculdade tão perfeita tinha mais é que ser satisfeita. O gosto foi seu interesse maior. Brillat-Savarin acreditava no aperfeiçoamento do homem como resultado de esforços contínuos em gratificar nossos sentidos, que a toda hora e sempre desejam estar agradavelmente ocupados. Convencida disso há muito tempo, adotei convenientemente as palavras do francês como filosofia de vida. Foi só aí que percebi como eu buscava permanentemente essa satisfação dos sentidos. Todos, não só o gosto, apesar de a minha forma física denunciar ser esse também o meu favorito. Tudo o que é bonito me chama a atenção. Tudo bem, chama a atenção de todo mundo. Mas comigo isso acontece de forma até idiótica. Papelarias, por exemplo, são uma obsessão para mim desde criança. Por conta disso, venho comprando caderninhos,
36
| setembro de 2010
cadernetas, agendas e bloquinhos há anos. Mais até do que consigo usar. Imagine então quando em Roma entrei no paraíso desses bloquinhos e cadernetas. Encontrei a loja por acaso. A papelaria Fabriano fica na pequena Via del Babuino, que corta a famosa Condotti. É pouco mais que uma portinha e um corredor. A gente sente o cheiro de papel desde a entrada. Talvez pelo tamanho. Lá dentro, uma decoração modernosa e minimalista. Nada que indique que vendem o que vem sendo um dos melhores papéis do mundo desde o século XIII. Mas o branco brilhante das prateleiras está coberto de papéis amarelinhos perfumados à celulose. Bloquinhos de páginas ásperas com capas de tecido colorido são uma festa para os sentidos. Aos menos controlados, como eu, recomendo a entrada com o dinheiro contado, a fim de evitar excessos. Como disse, encontrei a loja por acaso, e em porte de um cartão de crédito. Resultado: quase não houve espaço na mala para os caderninhos. Me apaixonei de cara por um Taccuino Musicale. É uma espécie de diário em que se anotam memórias de óperas e concertos. No dia anterior, tinha assistido Madame Butterfly no Teatro dell’Opera di Roma e ainda estava sob efeito do espetáculo. Agarrada
no diário, fui entrando na lojinha. Daí pra frente, a coisa só piorou. Peguei uns dois bloquinhos pequenos de anotação, nunca se sabe quando se vai precisar anotar alguma coisa. E eram tão baratinhos. Mais para frente, uma coleção de coloridos cadernos fininhos que se encaixam para formar um maior. Vou levar para o meu irmão. Com ajuda do meu marido, avistei o Fabriano Classic Artist’s Journal. Esse eu não poderia deixar para trás. Mas o caderno do artista não merece um lápis qualquer. Uma lapiseira de madeira alimentada por minas largas, de mais ou menos meio centímetro de espessura é tudo o que eu precisava. Mas ela deve ser acompanhada do apontador próprio. “O instrumento certo para cada atividade”. Era um dos lemas do meu bisavô Diego e deve ser lembrado sempre. Uma espécie de ovo de madeira é o indicado, me mostra a vendedora. Pronto, agora chega. Decidi deixando um exemplar de caneta Lammy vermelha na prateleira. Paguei contente por meus objetos de desejo e saí. Para completar esse dia tão estimulante para a visão, o olfato e o tato, só faltava um belo jantar. Acho que Savarin aprovaria.
Se você acha que a nossa revista é para pessoas exigentes, sofisticadas e às vezes um pouco arrogantes, você tem razão.
Para fazer parte deste grupo, assine Ideias: assinatura@revistaideias.com.br ligue: 41 3079 9997 setembro de 2010 |
37
CARLOS ALBERTO PESSÔA jornalista
livre pensar
Exercício de Esnobismo
S
ou naturalmente curioso. E naturalmente enxerido. Feliz mente, fui educado: levei muito soco, pontapé, puxão de orelha, incontáveis espinafrações. Graças a esse eficaz tratamento soterrei os maus impulsos natos. O que para mim é a glória — desmente a bobagem do bobalhão Rousseau: o homem nasce bom, a sociedade etc. Ao contrário! O homem nasce mau e a sociedade transforma-o em gente. A causa da minha perigosa característica é o ouvido: ouço longe. Ao ouvir quase tudo tenho vontade de participar dos papos que rolam nas ruas, avenidas, quebradas, becos, bares, botecos. E agora? Agora não arriscarei a pele em indébitas intervenções nas conversas alheias. Mas posso imaginá-las. Comecemos pelo que ouvi dia desses. Na minha frente iam e vinham duas senhoras a falar de Miguelangelo... e de roupas, compras; na esquina da Batel com Costa Cavalcanti paramos para deixar passar os animais motorizados. Foi quando ouvi elogiosa refe38
| setembro de 2010
rência a Miami. Só não entrei de sola porque sou cavalheiro de fino trato, mas tive vontade de dizer: — Como tem a coragem de eleger esse podre balneário, flórido balneário como ponto de referência de compras, elegância?! Mi-a-mi é o horror. Síntese do que há de pior nos EUA. É ponto de encontro das máfias cubana, chinesa, judia e da propriamente dita, al primo canto. É elogiável, numa viagem, a compra de roupas, joias, curiosidades, lembranças pros amigos, parentes. Agora, viajar pra fazer compras é bem gentalha. Ou você é comerciante ou gentalha, abominável afluente, feio tipo que transforma Paris numa 29 de março. Repito. Só comerciantes viajam para comprar. Comuns mortais não devem viajar para comprar. Muito menos pra Miami, sórdido balneário da sórdida Flórida. Fazer compras é sempre qualquer coisa, em Miami é o inominável. Compras a gente faz em qualquer lugar. Ou melhor, compras a gente manda a criadagem fazer; não há necessidade de cortar verticalmente o Atlântico pra trazer algo que se adquire via contrabando, frete incluído, na Ciudad de Leste. Permite breve referência pessoal? Meus ternos, camisas, gravatas, meias, sapatos, calcinhas (me recuso a falar cueca, talvez o mais pornográfico som da inculta e bela) — tudo vem de Londres sob medida, milimétrica
medida de sir Pool, súdito de Sua Majestade. A quem fui apresentado pelo Fradique, inexcedível fidalgo luso. — Quando foi? Oh! Receio que o memorável encontro tenha sido contemporâneo da carga da brigada ligeira, dos mais crassos equívocos militares da história. Mas, suplico, não nos desviemos do tópico mundano. E se não for excessivo gostaria de encerrá-lo com — suspeito — pertinente adendo. Renovo o seleto guarda-roupa a cada quatriênio, nos anos bissextos. E sem sair do Brasil, sem perturbar as águas do Atlântico. Pela mala diplomática renovo a estima e a consideração por sir Pool, que em Londres vela pelos meus panos, couros, sedas. Medidas à mão, tece magistralmente as minhas necessidades de conforto, decoro. — Miami, my dear… Shopping, my dear… Disgusting, disgusting. Oh! James, meus sais. Quer ver algo realmente soberbo na crescente área frívola-mundana, algo digno de inveja, ciúme, despeito? O amigo Carlos Násser, que ama Florença (onde os esgotos são mais civilizados que todas as américas), não deixa por menos: mensalmente, religiosamente, junta suas formidáveis camisas. E as despacha, via aérea, frete pago, pro Ritz, em Paris, na praça Vêndome. Único serviço de lavanderia que resiste às suas insubornáveis exigências. Isso é chique. Miami é chic-chic.
setembro de 2010 |
39
COMPORTAMENTO
paloma barbieri Ilustrações Clarissa Menini
A infidelidade ao alcance de todos
Nos horários de jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo os motéis de Curitiba estiveram com lotação completa. Dificilmente alguém conseguia uma vaga. Todos tomados pelo pessoal do adultério, explicou um assessor de marketing de um dos mais luxuosos da cidade, que logo esclareceu que esse não era um privilégio dos mais caros. Até mesmo o mais sórdido dos motéis teve ocupação plena.
40
| setembro de 2010
Acontece que durante jogos da seleção os maridos davam folga às mulheres, que aproveitaram a oportunidade para exercitar-se num jogo mais excitante e que está na moda entre as casadas nativas. O da infidelidade, cometido, é claro, com a participação de marmanjos que preferem os prazeres da cama às emoções proporcionadas pelo escrete do Dunga. Aliás, os donos de motéis estavam entre os mais irritados com o desempenho da seleção que levou à desclassificação e ao fim do bom mercado durante a distração dos maridos.
liberação dos costumes, de outro esse fenômeno foi acompanhado de detestável vulgarização do sexo nestes tempos de segunda ordem em que tudo se vulgariza. Prova disso está na televisão e na internet que oferecem toneladas de pornografia para estimular a erotização mais primária”, diz ela. Entre os homens a infidelidade sempre foi um comportamento comum. E continua a ser. A maioria absoluta tem a necessidade de ser infiel. O motivo mais apresentado pelos infiéis, 82%, é a insatisfação sexual. E, ao que parece, os homens têm mais razão nesse campo que as mulheres infiéis (que alegam o mesmo). A grande maioria dos homens considera que a média de relações sexuais durante um mês deve ser de nove, enquanto a maioria das mulheres, pasmem, opina pela média de três.
"a primeira traição acontece sem grandes arroubos de paixão, para experimentar, da mesma maneira que fazem os homens" Infidelidade conjugal existe desde tempos imemoriais, ou desde que o homem é homem e a mulher, mulher, asseguram os estudiosos do tema, entre eles a sexóloga Adriane Barbará, que se dispôs a falar sobre o tema para Ideias. A novidade, segundo ela, é que a taxa de infidelidade conjugal cresceu muito nos últimos vinte anos. Hoje, segundos os seus levantamentos, só 25% das mulheres podem ser consideradas absolutamente fiéis. Isso, que pode parecer exagero, explica-se: num grupo de quatro mulheres, além de duas serem infiéis, a outra deseja uma experiência fora do casamento e – na falta dela – contentam-se em sonhar que são infiéis ou imaginam que estão com outro homem quando estão com o marido. Adriane Barbará tem uma observação sobre essa disposição nova de chegar à infidelidade que acompanha as mulheres: “Se de um lado houve um avanço positivo na
A adesão das mulheres
Por isso mesmo, o surpreendente, segundo a sexóloga, é a adesão em massa das mulheres. Segundo estudos recentes, cerca de 40% das mulheres traem. Outros afirmam que o índice se igualou ao dos homens: 50%, pela média mundial. Índice modesto nestas áreas do hemisfério sul. O que mudou? As oportunidades para a infidelidade feminina cresceram com as mudanças radicais na vida da mulher. Ter relacionamentos extraconjugais ficou mais fácil em razão das mudanças na rotina das mulheres libertadas das amarras do lar. Há outros fatores que não são de somenos, como a convivência com mais homens no ambiente de trabalho, o anonimato dos namoros na internet ou a rotina da vida profissional, com ausências que não despertam desconfianças. Exemplo: as viagens de trabalho ou as longas reuniões que não admitem interrupções para resolver problemas cruciais da empresa. Além das oportunidades, mudou a cabeça das mulheres. A traição, que era confessada por mulheres aos prantos, arrasadas pelo remorso, hoje é um tema tratado pela maioria de forma absolutamente normal. Em geral, a maioria até prevê a infidelidade antes que ela efetivamente se realize. setembro de 2010 |
41
As reclamações de que o casamento está tedioso e o marido indiferente precedem a maioria dos casos de infidelidade. Reduz a má consciência, explicam os terapeutas. Tendo um motivo elas se sentem justificadas e se eximem da culpa que ainda pesa em nossa civilização ocidental, cristã e moralista. Há mulheres que consideram que trair é a consequên cia óbvia da chatice da vida a dois, algo impensável alguns anos atrás, diz Adriane Barbará. O fato de que o casamento também perdeu o peso de instituição mandatória, abrindo espaço para a livre escolha, é outro elemento que influencia as experimentações femininas, segundo as constatações da sexóloga. “Mesmo depois do casamento, elas alimentam a dúvida de saber se fizeram a coisa certa ou não”, relata ela. “Às vezes, a traição ocorre para corroborar a escolha do marido. Do tipo: ‘Vou experimentar outro homem para ver se o meu marido é realmente o que eu quero na cama’. É sem dúvida um tipo de comportamento novo.” Antes de avançar na análise dos dados disponíveis, Barbará alerta para o óbvio muitas vezes esquecido. É baixa a confiabilidade das respostas em pesquisas sobre a infidelidade. Mensurar o comportamento sexual é um dos terrenos mais escorregadios das ciências estatísticas. Em pesquisas sobre sexo em geral e infidelidade em particular, homens tendem a exagerar suas performances
e mulheres, a diminuí-las. Eles, para contar vantagem. Elas, por pudor em abrir a intimidade. Mesmo assim, há dados que os sexólogos e todos os que estudam essa área do comportamento humano consideram relevantes: entre as mulheres que admitem ter traído, 57% dizem que o fizeram por serem desprezadas ou mal amadas pelo marido ou companheiro. Agora, pasmem: 90% dizem que ficaram arrependidas. Segundo os terapeutas, entre as mulheres que suspeitam que o marido tem um caso, 90% têm razão. Já os homens, em geral, nem desconfiam. Quando desconfiam, 15% acertam. Entre as brasileiras de 18 a 20 anos, 59% dizem acreditar que a traição é justificável. Entre as infiéis, 36% dizem ter tido um caso com um colega de trabalho; 52% com um amigo. Das pessoas ouvidas, 98% dos homens e 80% das mulheres admitem ter fantasias sexuais com outra pessoa que não o marido ou a esposa.
Por que as mulheres traem? De sua experiência em consultório e dos dados colhidos em congressos, Barbará diz que a primeira traição acontece sem grandes arroubos de paixão, para experimentar, da mesma maneira que fazem os homens. Isso acontece geralmente com amigos, ex-namorados, personal trainers e até
Há mulheres que consideram que trair é a consequência óbvia da chatice da vida a dois, algo impensável alguns anos atrás, diz Adriane Barbará
42
| setembro de 2010
Entre as mulheres que admitem ter traído, 57% dizem que o fizeram por serem desprezadas ou mal amadas pelo marido ou companheiro. 90% dizem que ficaram arrependidas com médicos das quais são pacientes. Dentista e pediatra do filho também fazem parte do rol de parceiros. Escoradas por justificativas que viraram lugar comum, como a indiferença, incompatibilidade de gênios, fim do romance doméstico, mau desempenho do marido e coisas tais elas não sentem remorsos. Em 70% dos casos em que a mulher foi infiel, havia uma queixa sobre a vida sexual com o marido. Felicidade no casamento diminui a taxa de infidelidade feminina? Os filhos freiam os impulsos? Nem tanto, diz Barbará. A oportunidade, uma carência momentânea, uma atração sexual forte bastam. Se o casal está numa fase morna ou é mais centrado nos filhos, também fica mais vulnerável. Todo mundo, homens e mulheres, está sujeito o tempo todo a conhecer alguém interessante — uma realidade que tanto pode ser fonte de sofrimento quanto de maravilhas. Mas é fato que a mesma mornidão conjugal que leva os maridos a buscar a variedade corrói nas mulheres um dos mais poderosos motores da sexualidade feminina (e, por consequência, da autoestima): o sentir-se intensamente desejada. A ressaca moral é recorrente. A maioria das pessoas afirma que preferia que a infidelidade não ocorresse. Se há filhos, o remorso pesa mais ainda. “Elas se sentem transgredindo, errando, trapaceando o padrão social que lhes foi imposto. Mas isso só costuma acontecer quando se está longe do amante. Na cama, ninguém fica se mordendo de culpa”, diz Barbará. A distância entre a culpa e a vertigem é muito pe-
quena. Principalmente entre as mulheres que se habituam aos casos extraconjugais. Depois do primeiro, há um tipo de mulher que busca o tempo todo a sensação que os primeiros momentos de uma paixão oferece. Mas a maioria evita o sexo casual. As mulheres tendem a ser mais fiéis aos amantes do que aos maridos. “Mulher se expõe menos. Não vai arriscar seu casamento por uma noite de sexo com um estranho. O que ela busca no outro é o que ela não acha mais no marido. É quase sempre carinho, atenção, elogios. Sexo é um detalhe”, diz Barbará. As mulheres que traem quase sempre o fazem com pessoas conhecidas. Uma pesquisa americana aponta que em 60% dos casos a traição ocorre no ambiente de trabalho. É aquele colega com quem ela vai almoçar todos os dias e com quem troca pequenas confidências por e-mail. Mais uma vez: gente com quem ela já tenha certa intimidade.
A cegueira dos homens De acordo com Barbará, os homens geralmente não têm a mínima ideia de quando a mulher está vivendo um romance fora do casamento, ao contrário das mulheres, que, segundo constatou, estão certas em 90% das vezes em que desconfiam. É um erro, porque, na verdade, os indícios são quase sempre o contrário. Por exemplo: não passa pela cabeça de grande parte deles que a mulher possa se interessar por um tipo mais velho, careca e com uma barriguinha saliente. O marido, em geral, desconfia do bonito, jovem e sarado. No entansetembro de 2010 |
43
to, se o sujeito da barriguinha apresentar bom desempenho (emocional, ressalte-se, traduzindose em paparicações e demonstrações de afeto), terá boas chances. Em alguns casos, a perfídia feminina não é apenas paranoia dos machões. Depois de começar a trair o marido, muitas mulheres passam a tratálo melhor. Mas o fato de a infidelidade feminina parecer estar mais presente no mundo da realidade começa a despertar entre os homens, em alguns casos, o mesmo tipo de reação com que tantas mulheres já se debateram: o que fazer quando o cônjuge vive uma aventura, mas nem pensa em desmanchar o casamento por causa disso — e o casamento vale, sim, ser salvo. Se o escândalo e a baixaria, seguidos da consequente expulsão da adúltera, soam antiquados, o sofrimento não tem nada de superado. “Descobrir que foi traído desestabiliza o homem em sua característica mais íntima, a virilidade. Sua identidade masculina é ferida. Isso é algo muito profundo. Já as mulheres se sentem atingidas em seu papel social, em como vão ter de lidar com aquilo socialmente, o que também é um pesadelo”, afirma Barbará. Ela sugere três atitudes do traído que não quer romper. O primeiro: a traição foi algo que aconteceu “com ela”; em nada diz respeito ao traído e não deve atingir a sua imagem. Segundo: nada de pedir detalhes sobre o caso. Isso só traz mais angústia. E terceiro: proteja-se das atitudes autodestrutivas — beber demais, ceder aos impulsos violentos, detonar o casamento. O impacto do fim de um casamento sólido devido a uma traição corriqueira tem um poder destrutivo dez vezes pior do que a traição em si, ensina Barbará. A preocupação com a fidelidade feminina foi consolidada ao longo de milênios por motivos culturais, antropológicos e biológicos que são quase autoexplicativos. Nas sociedades patriarcais, esmagadoramente majoritárias, a perpetuação da tribo se dá através da linhagem masculina. Admitir a diversidade sexual da 44
| setembro de 2010
mulher ameaçaria os fundamentos do tecido social — e, principalmente, traria dúvida sobre a transmissão do patrimônio genético do macho. Em razão desse imperativo supremo, existe um ramo da ciência que procura analisar o comportamento humano à luz das características adquiridas para a preservação da espécie. Segundo essa teoria, o macho humano, como a maioria de seus equivalentes animais, é intrinsecamente promíscuo, pois vive premido pela necessidade de disseminar seus espermatozoides; enquanto a fêmea, que sempre terá a certeza absoluta sobre a transmissão de seus genes, tem como prioridade criar a prole em condições máximas de segurança, o que exige pelo menos alguma estabilidade conjugal. Especula-se até que o único animal monogâmico da natureza, segundo a teoria, é o cisne. Ou seja: se quiser fidelidade, case-se com um.
A infidelidade na literatura Infidelidade é coisa antiga na espécie e um dos temas de maior interesse das pessoas de todas as culturas e etnias. Por isso mesmo, é também um tema constante na literatura de todos os tempos. De Shakespeare a Philip Roth, de Xerazade a Dalton Trevisan, a vida é marcada pelo adultério. Imagine a paciência de Xerazade, esposa do rei Xariar, que pirou ao ser traído pela primeira mulher. Depois de percorrer seu mundo em busca de mulher confiável, desistiu. Achou melhor desposar uma noiva diferente todas as noites, mandando-as matar na manhã seguinte para escapar do opróbrio da traição. Xerazade driblou o destino contando histórias maravilhosas que despertavam a curiosidade do rei. Ao amanhecer, Xerazade interrompia o conto para continuá-lo na noite seguinte, o que a manteve viva por mil e uma noites até que Xariar desistisse de executá-la. Anna se jogou debaixo de um trem, Emma tomou veneno, Luísa se consumiu. A arte imitava a vida e envolvia as adúlteras, como se dizia, em desonra, tragédia e morte. Anna é a Karenina de Tolstoi, Emma a Madame Bovary de Flaubert, Luísa a que se enrabichou pelo Primo Basílio, de Eça de Queiroz. E Capitu, traiu ou não traiu Bentinho? Se não traiu, Machado de Assis se chama José de Alencar, diz Dalton Trevisan, ele mesmo autor de centenas de contos sobre os desastres do amor cujo centro é a infidelidade conjugal. De seus personagens mais pungentes, o traído que mudava de bairro para não se submeter ao olhar dos vizinhos, sempre uma cueca do amante da mulher estendida no varal como prova do adultério.
LUIZ CARLOS ZANONI jornalista apreciador de vinhos
A glória de Setúbal plantada, com produção quase que inteiramente consumida em Portugal e pelas exportações para Inglaterra, Estados Unidos, Noruega e Brasil. Por aqui, um dos mais acessíveis, é o da vinícola Bacalhôa, disponível nas lojas de bebidas. A Bacalhôa produz uma outra variedade desse néctar, o Moscatel Roxo, vinho poderoso, de imensa complexidade, mas bastante raro. Existem só sete hectares de plantas em toda a região. E há também os da casa José Maria da Fonseca, com larga tradição, produtora do vinho de mesa português mais vendido no Brasil, o Periquita. Seus moscatéis passam por longa guarda em barricas de carvalho, alguns de até 40 anos, justificando preços que oscilam entre os R$ 240 do Alambre, no pé da pirâmide, aos R$ 800 do Trilogia, no topo. São vinhos exclusivos da uva Moscatel de Alexandria. Colhem parte dela ainda não completamente madura, obtendo assim a taxa de acidez importante para o equilíbrio do caldo. Há poucas semanas, o Moscatel 1947 dessa vinícola recebeu a nota máxima, 100 pontos, do crítico Robert Parker. Na escala de Parker, 100 é simplesmente a perfeição. O Moscatel de Setúbal apresenta, como traço comum, uma sedutora cor variando do âmbar ao topázio, aromas a frutas cristalizadas, mel, geleia de laranja, notas florais. No paladar é opulento, porém com acidez suficiente para garantir o frescor e o equilíbrio do conjunto. A sugestão é servi-lo em taças menores, aquelas do vinho do Porto, a uma temperatura em torno dos 15 graus. Foto: Dico Kremer
O
Moscatel de Setúbal, esse exuberante vinho licoroso que cintila feito topázio líquido na taça, já foi muito consumido no Brasil. Veio na bagagem da corte portuguesa e logo conquistou os paladares. No Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX, a colônia lusitana não deixava que faltasse. O fornecimento acabou se complicando a partir dos anos 30, em razão das dificuldades criadas aos produtores, em Portugal, pelo regime salazarista, e também às barreiras alfandegárias erguidas pelo Brasil. Aí começou um ostracismo que, agora, parece estar no fim. Uma joia como essa não merece o esquecimento. Produzido às portas de Lisboa, na Península de Setúbal, região bastante influenciada pelo clima marítimo e a proximidade dos rios Tejo e Sado, ele pertence à linhagem dos vinhos generosos, feitos com a adição de aguardente vínica, processo que interrompe a fermentação e preserva no mosto o residual de açúcar responsável pelo adocicado da bebida. Muito aromático, chega a 18 graus de álcool, passando pelo envelhecimento em barris de carvalho antes de ser engarrafado. É excelente com sobremesas, sobretudo as que pedem a companhia de um vinho com doçura em igual ou superior medida. O enlace clássico se dá com os quitutes conventuais, abusados no açúcar e nas elaborações à base de gemas de ovos. Também os doces da cozinha árabe, ricos em ingredientes como mel, nozes e amêndoas, e os feitos à base de chocolate, geralmente difíceis de harmonizar com vinhos. Mas não é só a sobremesa. O Moscatel de Setúbal surpreende nas exibições solo, seja animando uma reunião de fim de tarde, seja como vinho de meditação, parceiro dos momentos solitários. A oferta é pouca. As vinhas de Setúbal que dão origem à bebida não excedem os 330 hectares de área
setembro de 2010 |
45
VICENTE FERREIRA professor e gastrólogo
A festa de Babette “Não há pecado afora a estupidez”. (Oscar Wilde)
46
| setembro de 2010
percebe a sofisticação do cardápio e o esmero de Babette. O cardápio começa com a sopa de tartaruga com quenelles de vitela, acompanhada do vinho Clos de Vougeot de 1845 e continua com a deliciosa codorniz en sarcophage. A festa gastronômica de Babette tem o blinis demidof, servido com o champagne Veuve Clicquot de 1860 e vinho amontilado. À medida que as pessoas experimentam as delícias que Babette preparou não só o paladar se modifica, mas, aos poucos, a sisudez permanente dos comensais vai se tornando, através da degustação, num prazer imenso pela vida. Desabrocha em todos uma alegria jamais vista naquele cantinho gelado do planeta. A sobremesa baba ao rhum faz com que antigos rivais confraternizem e a sensualidade rola solta por toda a inesquecível noite
Foto: divulgação
U
m pequeno grupo decidiu reproduzir, em Curitiba e na medida do possível, a festa de Babette e eu fui incluído entre os poucos convidados. Entre outros, Jaime Lerner, Beth Hey, Fábio Campana, Marianna Camargo, Larissa Reichmann, Nêgo Pessôa. O autor é o chef Hermes Custódio, do Vin Bistrô. Quem viu o filme conhece a história. Numa sombria cidadezinha da Jutland, nos confins da Dinamarca, onde todos vivem em torno da religião, a vida parece andar lentamente. Babette (Stéphane Audran), que perdeu filho e marido na Comuna de Paris, se refugia ali, na casa de duas recatadas solteironas, filhas do falecido pastor do vilarejo. Chef de um famoso restaurante parisiense, o Café Anglais, Babette vi ve ali por quatorze anos, até que um dia fica sabendo que ganhara na loteria a pequena fortuna de 10 mil francos. Ela pede permissão para preparar um jantar para doze pessoas em comemoração ao centésimo aniversário do pastor. O auge da história é o espetacular banquete oferecido a um grupo de moradores e a um general, que representa a vida em Paris. A princípio, os convidados ficam assustados, temendo ferir alguma lei divina ao aceitar um requintado jantar francês, idêntico ao que Babette preparava no Café Anglais. Só o general
da “Festa de Babette”. A maestria com que é preparado o jantar e o requinte com que é servido compõem um ritual de descoberta do prazer que desinibe o espírito. O vinho não só é degustado, identificado pelo general Lorenzo, que no filme funciona como ponte entre as duas culturas. A Festa de Babette é o desabrochar da alma, na descoberta do prazer sem culpa. www.espiritodebabette.blogspot.com
O Menu e Receitas O menu preparado por Babette que criou tamanha mudança no comportamento dos que comeram. O custo do banquete foi de 10.000 francos franceses em sua época. O MENU •• Potage a’la Tortue •• Blinis Demidoff au Caviar •• Caille en Sarcophage avec Sauce Perigourdine •• La Salade •• Les Fromages •• Baba au Rhum avec les Figues
de ovos em neve, 1 colher de sopa de manteiga sem
Aqueça o forno por aproximadamente 20 min. a 180ºC.
sal, 1 xíc. de creme azedo, 125 gr de caviar de Esturjão.
Em uma frigideira doure todos os lados das codornizes
Em uma bacia dissolver a levedura no leite morno e
depois coloque-as no forno pré-aquecido por 10 min.
depois adicionar metade da farinha e bata até que a
Deglaceie a panela que doura as codornizes com Cognac
mistura fique lisa.
e acrescente ao caldo feito anteriormente.
Cubra com um pano e deixe por 2 h em temperatura
Retire os barbantes das codornizes e mantenha-as aquecidas.
ambiente para fermentar a massa.
Coloque os sarcófagos em uma assadeira e em cada um
Adicione a massa, as gemas de ovos, o ¼ de creme de
coloque uma codorniz. Aqueça no forno por 5 min. Retire do
leite batido, o restante da farinha, o sal e as claras em
forno e em cada sarcófago,adicione um pouco da redução
neve. Misture sem que as claras percam o ponto e deixe
de cordorniz e cubra com um chapéu de champignon e sirva.
repousar por mais 40 min. Esquente a frigideira em fogo médio com manteiga e
AS BEBIDAS
todos os lados e reserve-os em um local aquecido. Sirva
•• Amontillado
de 3 a 4 blinis por pessoa com o creme azedo e o caviar.
•• Veuve Cliquot 1860 •• Raras garrafas de “Clos de Vougeot”
Le Salade
comece a fazer os blinis de aproximadamente 7cm. Doure
Caille au Sarcophage
4 endívias, 100g de nozes picadas, azeite, mel, aceto balsâmico, sal, pimenta do reino.
As receitas:
Cortar as endívias em sentido longitudinal em faitas de aproximadamente 30mm.
Potage à la Tortue
Picar as nozes. Em uma tigela misturar com um fouet azeite, aceto e mel até obter uma mistura homogênea e brilhante. 500g de massa folhada, 1 gema de ovo batida com 2 colheres de sopa de água, 8 codornizes desossadas com exceção das coxas e asas. Reservar os ossos. 6 colheres de sopa de Cognac, 75g de trufas negras,
Montar um punhado de endívias com nozes e em seguida regar com um pouco do molho. Baba au Rhum
A carne de tartaruga hoje em dia na França é normalmente
250g de foi gras fresco, 5 colheres de sopa de manteiga
substituída por moleja e miolos de vitela
sem sal, 3 enchalotas, 1 xíc. de vinho branco seco, 1l
Caldo de legumes
de caldo de frango, 8 cogumelos com chapéu grande e
Miolo de vitela, moleja de vitela, almôndegas de vitela,
perfeito, 1 colher de chá de óleo de amendoim.
300 ml de vinho madeira, 1 gema de ovo por prato, suco
Pré aquecer o forno a 200ºC.
de 1 limão siciliano.
Em uma folha de papel manteiga abrir a massa folhada
Receita elaborada por Erika Okazaki do Pan et Chocolat,
Ferva por 15 minutos o miolo de vitela no caldo de
com até 6mm de espessura e recortar 8 fôrmas ovais de
para o livro de Rubens Ewald Filho “O Cinema vai à mesa”i
legumes com limão e sal. Retire do caldo e corte em
10cm de largura e 12cm de comprimento. Amassar com
Doce
pequenos pedaços.
os dentes de um garfo e pincelar com a gema de ovo.
100g de farinha, 115ml de leite, 15g de fermento bio-
Ferva por 15 minutos a moleja de vitela no mesmo caldo
Assar por 12 a 15 min. para dourar ligeiramente. Retirar
lógico, 130g de manteiga, 30g de açúcar, 1 col. de chá
de legumes. Retire do caldo e corte em pedaços pequenos.
do forno para resfriar. Com uma faca afiada recortar uma
de sal, 4 ovos.
Adicione todas as carnes ao caldo e 200 ml de vinho madeira
tampa,sem furar o fundo, e retirar as camadas de massa
Calda
e pimenta do reino generosamente. Leve a ferver e escume o
até formar uma cama.
2 xíc. de água, 1 e ½ xíc. de açúcar, casca ralada de
caldo. Adiciona mais o caldo de meio limão e volte a escumar.
Salpicar as codornizes com sal, pimenta e Cognac, dividir
1 laranja, casca ralada de 1 limão, 1 pau de canela, 3
Depois de aproximandamente 30 minutos a sopa estará
o foi gras em 8 partes e rechear. Feche as codornizes pela
colheres de sopa de rum, 2 col. (sopa) de licor de laranja
pronta.Adicione uma gema de ovo por prato e mais 100
parte superior com um barbante de cozinhar e guarde-as
Misture a farinha com leite morno e o fermento.
ml de vinho madeira e sirva bem quente.
no refrigerador até o momento de prepará-las.
Deixe descansar até dobrar de volume.
Em uma panela funda, dourar em manteiga os ossos das co
Bata a mistura na batedeira com o restante dos ingredientes
dornas, depois acrescente um mirepoix de enchalotas, cenoura
até obter uma massa homogênea (mais ou menos 15m.)
e salsão. Deglacie a panela com Cognac e depois adicione 1
Coloque em fôrma untada e deixe crescer novamente
garrafa de vinho branco e deixe reduzir até ficar bem espesso.
Leve para assar a 180ºC até dourar.
Um pouco antes de estar um caldo bastante reduzido
Preparo da calda
menos de ¼ do volume original, acrescente as trufas e
Leve ao fogo a água com o açúcar, as cascas de laranja
½ pacote de fermento seco, 1 xíc. de leite morno, ½ xíc.
pimenta do reino.
e limão e a canela. Adicione o rum e o licor de laranja e
de farinha, 2 gemas de ovos batidas levemente, ¼ de
Em uma frigideira salteie os chapéus dos cogumelos em
deixe atingir o ponto de fio.
xíc. de creme de leite batido, 1 pitada de sal, 2 claras
manteiga e um fio de azeite e reserve.
Derrame a calda morna sobre o Savarin e sirva em seguida.
Blinis Demidoff au Caviar
setembro de 2010 |
47
48
| setembro de 2010
Claudia WaSileWSKi cronista
crÔnica
Mundo Pink
N
ão é novidade que fui uma criança “esquisitinha”. Não me lembro de viver na infância um mundo pink. Ou estou muito enganada ou o universo feminino não era somente rosa e lilás. Minha primeira bicicleta foi marrom, fora do padrão da época. Elas eram verdes, vermelhas ou azuis. Agora que sou tia-avó, de duas meninas, sofro para encontrar roupas coloridas para elas. Nada de laranja, vermelho, somente variações sobre o mesmo tema. Mas em todo caso, ainda são crianças e lindas. Então me conformo e compro. Conversando com a jornalista Miriam Karam, descobri que tenho uma aliada. Ela também não entende o que aconteceu com as mulheres da minha idade. Fiquei aliviada em saber que não sou tão implicante como penso. Nada contra, tenho minhas bonecas de palha, matrioskas e até uma ovelha. O que leva uma mulher de 40 e muitos anos, ter uma carteira de dinheiro da Hello Kitty? Concordo que a gatinha é muito fofa. Se fosse comerciante, desconfiaria do cartão dela.
Mas daí a sair com uma capinha de celular da Barbie é preocupante. Por falar em celulares, para que servem aqueles penduricalhos? Enfeitar celular é muito boa vontade. Cada coisa! E as tatuagens? A criatividade é enorme. Bichinhos, personagens, tudo muito cuti cuti, fofinho. Não estou falando de adolescentes, e sim de mulheres com formiguinhas subindo pela perna. E dá-lhe laser para depois retirar. Por favor, tatuem algo bacana, bonito. Eu adoro tattoos. Na academia uma senhora de seus 70 anos só malhava inteira vestida em tons de rosa. Do tênis ao lacinho no cabelo. Eu não conseguia tirar os olhos dela. E a cada
dia um traje diferente. Será que ela não tinha saído da infância ou queria voltar para ela? O que foi um susto há tempos atrás, agora é normal. No dia a dia, me deparo com as Barbies de terceira idade e nem ligo. Morro de medo de ficar assim no climatério e pior encarar uma menopausa pink. É só o que me falta ter que pagar a língua. Me imagino normal, sem adquirir a síndrome de centopeia, com trocentos pares de sapatos. Sem cabelos feitos em moldes e muito menos com sobrancelha azul, em um risco só. A terceira idade não me assusta. Pretendo não esquecer de uma aula que recebi, sobre elegância, que vem de eleger. Simples, eleger o que fica melhor, e combina. O meu pai teve uma parada cardíaca em uma cirurgia, e contava que foi para um jardim cor de rosa. Já pensaram se é verdade? Passarei a eternidade lutando para mudar a cor do outro mundo. Organizando passeatas, protestos e panfletando. Espero que Seu Henrique tenha tido uma crise de daltonismo. Se não vou continuar com uma vida super cansativa... setembro de 2010 |
49
prateleira
A longa busca de um dicionário Dico Kremer
A
compra do livro cujo frontispício está estampado tem longa e tortuosa história. É um dicionário biográfico de todos os personagens fictícios que aparecem nos noventa e um romances, novelas e contos que fazem parte da “Comédia Humana” de Honoré de Balzac. Tomei conhecimento da obra de Balzac na biblioteca de meu pai. De lá tirei para ler “A Mulher de 30 Anos”, “O Coronel Chabert”, “Eugénie Grandet”. Depois vieram “Ilusões Pedidas”, “Esplendores e Misérias das Cortesãs”, “O Pai Goriot” e, enfim, todos os livros que compõe a “Comédia Humana” que, na verdade, é um só livro. Dois mil quatrocentos e setenta e dois personagens vivem nessa criação do gênio de Balzac. Lucien de Rubempré, David Séchard, Jacques Collin (Vautrin, o Trompe-la-Mort), Esther Gobseck, o Pai Goriot, Eugène de Rastignac, Horace Bianchon, Coralie são personagens que vão e vêm através da gigantesca e maravilhosa obra. Dos incontáveis livros escritos sobre Balzac e a “Comédia Humana” um em especial me atraiu: “Dictionnaire Biographique des Personnages Fictifs de la Comédie Humaine”, de Fernand Lotte - Editor José Corti – Paris – 1952. Começou, então, há uns 30 anos, minha perseguição tenaz a este livro. Das vezes que estive em Paris incomodei um sem número de livreiros e alfarrabistas. Às margens do Sena fatiguei os buquinistas com as minhas inquirições sem fim. Nada: livro raro, esgotado, só uma edição em 1952 etc, etc. Em 1997 em pequena peregrinação no interior da França, no Val D’Oise, em L’Isle Adam e cercanias também nada. Aborreci amigos: Magno Dias em Paris não teve mais sorte que eu. Seu irmão Luciano em Zurique indicou um livreiro em Bruxelas. Já havia a internet e consultei o belga: só despachava para a adiantada Europa. Malu Meyer e Paulo José Valente gastaram voz e solas de sapatos atrás de minhas indicações em New York City. E eu a farejar qual um perdigueiro na internet sem sucesso. Até que neste ano da graça de 2010 encontro na Amazon Books o tão almejado livro, usado, used, very good, segundo o livreiro. Encomendei, chegou, encadernado, precioso, com todos os personagens e respectivas biografias e dados saídos da poderosa imaginação de Balzac, de A a Z. A primeira entrada é de ABD-EL-KADER, belo cavalo de puro sangue inglês. A última ZIZINE apelido de Madame Zéphirine de Senonches. As mais extensas: a de Rastignac (digna de uma entrada sobre Bismark na Britânica) e a do Doutor Horace Bianchon o médico par excelence da Comédia Humana. Foi o nome deste médico fictício que Balzac chamou em seu momento final. Em carta à estrangeira, a Condessa Hanska, sua futura mulher, escreveu: “Moi, j’aurai porté une societé tout entière dans ma tête.” Alguns dias depois de receber o tão querido livro descubro outro em boas condições no site da Estante Virtual. Comprei-o e presenteei um dileto amigo.
50
| setembro de 2010
Li���s
o oiTAVo diA dA semAnA “Tudo o que pode haver de ruim acontece justamente nesse dia, pois o oitavo dia da semana é pior que sexta-feira 13. Por isso, quieto! Se eu não parar de falar nele e não continuar fingindo que não existe, não sei o que pode acontecer.” Este é um trecho do conto infantil que dá início ao livro de Nelson de Oliveira. Na caótica São Paulo vive a família Levi cheia de intrigas e conflitos que intercalam-se e beiram a tragédia. Uma narrativa que conta o estupro de Marília e o incesto entre os irmãos André e Vera, que vivem com Rodolfo no Edifício Antares, de forma que o leitor não se espante tanto, pois o autor prepara o terreno muito bem antes de tais acontecimentos. O Oitavo dia da Semana, Nelson de Oliveira. Travessa dos Editores, 2005. (LL)
As oBRAs do AmoR Para quem estuda o amor em profundidade, como o faz Marianna Camargo, este texto é essencial. Difícil, complexo, mas inevitável. Em grosso volume de 432 páginas, a obra foi publicada no Brasil pela Editora Vozes de Petrópolis. É o livro “As obras do amor”, do teólogo e filósofo dinamarquês Soren A. Kierkegaard (1813-1855). Ele analisa, nestas considerações datadas de 1847, o mandamento do amor cristão comparado ao amor platônico e à amizade aristotélica. (FC)
A VidA como elA É A vida como ela é, de Nelson Rodrigues, é arrebatador. Com sua escrita aniquiladora, é difícil ficar imune à ferocidade quase cruel de desancar o que é considerado “correto” dentro dos padrões estabelecidos por uma sociedade que finge ser higiênica. Nelson escrevia ainda numa época em que “a moral e os bons costumes” eram levados ao pé da letra, pelo menos aparentemente. Drama, traição, paixão, obscuridade, solidão, angústia, todos os medos, fantasmas, vergonhas são descritos e levantados, e nos revelam. No conto “A dama do lotação” tem um trecho que diz — Como é possível que certos sentimentos e atos não exalem mau cheiro? — Nocaute certeiro. (MC)
VoZes do pARAná O livro Vozes do Paraná 3 foi lançado dia 17 de agosto pelo escritor e jornalista Aroldo Murá G.Haygert, no salão de eventos do Shopping Crystal Plaza. O livro, pela Editora Esplendor, dá sequência a série que o autor faz de perfis de personalidades da vida paranaense contemporânea. O lançamento teve parte da renda destinada ao Centro de Educação João Paulo II, de Laranjeiras, Piraquara, obra educacional referencial, totalmente gratuita, criada por Belmiro e Elizabeth Castor e voltada para população periférica. O Vozes do Paraná 3, em 250 páginas, apresenta perfis biográficos de paranaenses de grande contribuição na vida do Paraná de hoje. “O livro tem um amplo material biográfico da história de vida de cada enfocado”, disse Aroldo Murá. Alguns dos personagens são: Luciano Ducci, Lylian e Tulio Vargas, Orlando Pessuti, João Elísio Ferraz de Campos, Wilson Martins, Dario Bortolini, padre Patrick McGillicudy, reverendo presbiteriano Jean Carlos Selletti, Cícero Urban, Edmilson Fabbri, Oksana Boruszenko, Antonio Carlos da Costa Coelho, Luiz Geraldo Mazza, Hélio de Freitas Puglieli, Moema Viezzer, Ibrahim Faiad. setembro de 2010 |
51
Filmes
Foto: Divulgação
Jean Luc Godard e François Truffaut eram amigos e colaboradores. Brigaram. Nunca mais se falaram. Agora, o diretor francês Emmanuel Laurent escolheu justamente a amizade e ruptura dos dois grandes nomes do movimento para restaurar a história de um dos momentos mais importantes do cinema francês. Mais de cinquenta anos se passaram desde que o filme “Os Incompreendidos” deu a François Truffaut o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes. Godard ainda está aí, filmando. Para destrinchar essa história da Nouvelle Vague, o documentário de Laurent, “Godard Truffaut e a Nouvelle “Vague”, retrata a relação entre os dois e o movimento do ci nema francês. (FC)
52
| setembro de 2010
Considerado o melhor filme de Alfred Hitchcock, Psicose completa 50 anos. Responsável por uma das mais famosas e conhecidas cenas de assassinato do cinema quando a personagem Marion Crane é surpreendida pelo psicopata Norman Bates enquanto tomava banho. A trilha sonora, de Bernard Herrmann, ficou consagrada pela famosa cena do “assassinato no chuveiro”, com uma sequência de acordes agudos e estridentes de violinos que intensificaram o clima de tensão já existente entre o assassino e sua vítima. Psicose é uma obra magnífica de suspense, com personagens maravilhosos imortalizados por Janet Leigh (Marion Crane) e Anthony Perkins (Norman Bates). (LL)
Haruo Ohara, premiado curta Haruo Ohara foi o curta-metragem mais premiado no 38º Festival de Cinema de Gramado, realizado de 6 a 14 de agosto. Produzido em Londrina, recebeu cinco prêmios na Competitiva de Curtas Nacionais: melhor filme segundo o júri oficial — prêmio dividido com o curta “Carreto” — melhor direção para Rodrigo Grota; melhor fotografia para Carlos Ebert; melhor filme segundo o júri paralelo formado por estudantes de cinema e, pela terceira vez consecutiva, o Prêmio de Aquisição do Canal Brasil. O curta-metragem mostra a vida e a obra do imigrante, agricultor e fotógrafo japonês Haruo Ohara (1909-1999). Nascido na província japonesa de Kochi, ilha de Shikoku, no Japão, Haruo se mudou para a região de Londrina em 1933. Entre 1934 e 1999, paralelamente à sua vida de agricultor, produziu quase 20 mil fotos da cidade, tornando-se uma referência estética e histórica para a memória visual de Londrina. Foto: Haruo Ohara
50 ANOS DE Psicose
Godard e Truffaut, incompreendidos?
mariaNNa Camargo jornalista
crÔnica
Amigas de infância
S
empre gostei de moda. Quando criança inventava meu visual: cabelos curtos, cortados por mim mesma, grampos grandes, daqueles de salão, avental xadrez laranja e vestidos vermelhos, longos, até o pé. A camiseta Hering branca também. E o azul-marinho. Digamos que não me vestia como uma “menina” convencional, com laços e fitas cor de rosa. Gostava de ir a Pernambucanas comprar tecidos para fazer roupas, escolher as cores, assistir os filmes para imitar algo que me inspirava, era um hábito que cultivava junto com as avós, mães e tias. O cuidado de pensar em que usar, como queria. Podia inventar a roupa que quisesse. Era uma liberdade sem fim. E as costureiras tinham mão cheia, costurando cada detalhe do jeito que você pedia e imaginava, era uma festa.
Daí a moda cresceu, e eu também. Crescemos juntas, como amigas de infância, cerzindo segredos, compartilhando texturas, percebendo cada contorno, cada friso, nas linhas tortuosas dos vestidos plissados. Nos separamos quando optamos por caminhos diferentes. Continuei me vestindo com a mesma forma de pensar e ela entrou para o mundo dos negócios. Burocratizou, tornou-se convencional, séria, bem mais sem graça e, além disso, pretensiosa. Não tem mais encanto, nem poesia, nem desejo, nem liberdade. Perdeu-se dos seus sonhos. Porém, eu continuo vestindo minhas pequenas memórias; no viés dos vestidos, na delicadeza do veludo e na obsessão das cores.
setembro de 2010 |
53
Gente fina Foto: Fábrica de Fotos
Caminhos possíveis
M
irella Prosdócimo ficou tetraplégica aos 17 anos em um
acidente de carro. Durante um intercâmbio universitário em 2004 nos Estados Unidos observou o tratamento dado às pessoas com deficiência, as oportunidades que lhes são oferecidas e a infraestrutura acessível e disponível. Comparou ao Brasil. Teve uma ideia. Com Tatiana Moura, pesquisadora, percebeu a necessidade de informação e orientação em projetos de acessibilidade. Inauguraram em Curitiba a Adaptare, consultoria especializada. Hoje, Mirella e Tatiana oferecem diagnóstico dos ambientes, obras, execução e treinamentos, além de palestras na área de inclusão de pessoas com algum tipo de deficiência.
54
| setembro de 2010
Gente fina Cuisine Terroir
M
anu Buffara tem 27 anos e é formada em
Foto: Fran Hunter
jornalismo. Decidiu estudar gastronomia após uma temporada de trabalho nos EUA. Era garçonete e um dia faltou uma garota da cozinha e a colocaram para substitui-la. Foi paixão à primeira vista. A partir daí começou sua caminhada na profissão. De volta a Curitiba fez curso de Hotelaria e Chef no Centro Europeu. Logo depois foi para a Itália e cursou o Italian Culinary Institute for Foreign. Trabalhou em diversos restaurantes de renome internacional como: Guido, Gualtiero Marchesi, Alinea, Noma. Sua cozinha é terroir: gastronomia conhecida como tecnoemocional — movimento culinário mundial do início do século XXI.
Marinhas de Orlando
H
Foto: Gonçalves
á mais de duas décadas Orlando Azevedo recolhe objetos, emoções e revelações que o mar devolve à terra em uma peregrinação e mergulho às profundezas dos oceanos. O fotógrafo transporta verdadeiros achados e fósseis em transformação para seu atelier, onde os fotografa em câmeras de grande formato e com chapas de filme rígido para um resultado técnico e estético de excelência. Orlando apresenta o resultado desta pesquisa — Marinhas - Arqueologia da Morte — em mostra inédita no MON - Museu Oscar Niemeyer. Depois segue para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Portugal. setembro de 2010 |
55
Gente fina Poesia de Wandula
C
om 11 anos de carreira, três CD’s gravados e diferentes formações durante este período, Marcelo Torrone (piano e escaleta), Edith de Camargo (acordeom e voz), Ana Paula Cervellini (viola) e Caio Marques (violão) são o Wandula. Mais conhecidos pelas canções francesas, em agosto estrearam novo repertório em show realizado no Mini-Guaíra. As composições são inéditas com letras em português influenciadas por grandes nomes da poesia brasileira: Cecília Meireles, Hilda Hilst, João Cabral de Melo Neto e Manoel de Barros.
Foto: Marcos Beccari
Cupcake Boutique
A Foto: Daniel Sorrentino
Rosa Cravo Cupcake Boutique apresenta um novo conceito de café e loja. Primeira a trazer os charmosos cupcakes novaiorquinos a Curitiba. Mescla cupcakes, geleias de rosa, licor de cravo e espumantes com objetos de decoração e presentes. Ambiente com inspiração provençal. Este gosto pelas artes decorativas e gastronômicas é trabalhado e compartilhado na Rosa Cravo por duas gerações de mulheres, mãe e filhas, Ana Paula
56
Peters, Ana Karina Peters Rocha, Anelise Peters Borges da Silveira e Regina Maria Peters.
| setembro de 2010
Gente fina No ranking dos melhores
M
arcos Bertoldi decidiu que seria arquiteto quando criança. Viu o pai à janela desenhar uma casa distante e ficou fascinado. Graduou-se em 1982 em Arquitetura e Urbanismo. Fez curso de Especialização em Paisagismo no mesmo ano e passou alguns meses em New York e Europa. Na volta abriu escritório em Curitiba. Desde então, realiza trabalhos que transmitem conceitos e operam mudanças desenvolvendo o campo da arquitetura e influenciando a cultura. Marcos faz parte de um grupo muito restrito de arquitetos do planeta. É o único brasileiro citado no invejável ranking da Architectural Digest.
setembro de 2010 |
57
Gente fina Foto: Moderchay Schaya
O Fazedor de Sonhos
O
artista paranaense Marcelo Paciornik mora em São Paulo há bom tempo. Foi visto de saiote masculino, mãos e unhas sujas de tinta debruçado num espaço underground. Entoa uma orquestra no CD Prankish – O Mago de Prata. Três livros escritos. Sua exposição “O fazedor de sonhos” de pinturas gigantes de janelas góticas, pinceladas românticas e tridimensionalidade contemporâneas. Os meninos e meninas vistos nas pinturas declaram-se ao público por seus olhares, corporeidades e posturas ficcionais. Criam um dos elos com o caldeirão fervilhante do artista. São produtos e senhores de histórias. Transitam dentro de um universo arquitetado, sem freios e balanceados por questões éticas.
Especialista em neurônios
E
is um currículo construído em pouquíssimo tempo. Francisco Manoel Branco Germiniani tem 36 anos. É formado há doze anos pela UFPR. Fez Residência Médica no Hospital de Clínicas em Neurologia, Epilepsia e Eletroencefalografia. Obteve o título de Intensivista em 2008. Desde 2002 é médico dos Serviços de Neurologia, Terapia Intensiva e do Programa de Cirurgia de Epilepsia do HC, onde supervisiona o atendimento e ensino dos residentes. Atua nos hospitais Vita Curitiba e Santa Cruz com pacientes neurológicos críticos. Participa dos congressos mais importantes da especialidade. Artigos publicados nas mais respeitadas revistas médicas.
58
| setembro de 2010
Gente fina As pioneiras do Beach Tennis
A
s professoras de tênis do Graciosa Country Club, Marilena Sobocinski e Claudinha Surugi, são as pioneiras da mais nova modalidade esportiva do país: Beach Tennis. O esporte surgiu há sete anos na Itália. Chegou ao Brasil há dois anos. Lembra jogo de frescobol, com rede a 1m e 70cm de altura, praticado em uma quadra de vôlei de praia. Utiliza bola de tênis mais leve e segue as regras. Esta dupla paranaense conseguiu um resultado expressivo durante as disputas do campeonato brasileiro no Rio de Janeiro.
Arad, estilista de vanguarda
E
m 1990, o estilista Roberto Arad, após ter aprimorado o seu corte no Rio de Janeiro, começou a fabricar em Curitiba as suas já famosas t-shirts. Desde então participou de importantes mostras com grandes nomes da moda brasileira. Seu design autoral é referência nos grandes centros do país. Criou para as empresas Zea Mais, Volkswagen e Colégio Dom Bosco. Hoje, o pioneiro estilista comemora os dez anos de sua loja na Vicente Machado e se prepara para iniciar as vendas de sua marca ARAD Tailored Jeans pela internet. setembro de 2010 |
59
fotografia Fotos flรกvio damm
60
| setembro de 2010
Aula sobre o olhar
F
lávio Damm, 82 anos de idade e 65 de fotografia é um dos mais importantes e criativos fotógrafos brasileiros. Gaúcho de nascimento e carioca de coração, jornalista, documentarista, autor de 19 livros, colunista da revista Photo Magazine, verbete do Dicionário Nungesser de Fotografia (Berlim, Alemanha), editor de livros, autor de vários projetos culturais, com um sem número de exposições no Brasil e no exterior, sempre olhou o mundo com olhos de ver, como bem dizem os portugueses. Segundo suas próprias palavras registra “cenas de pessoas em suas atitudes singelas vendo-as de forma respeitosa, bem-humorada e absolutamente impessoal, tendo a preocupação de gravar o momento decisivo, sem manter qualquer tipo de contato – antes, durante ou depois – com seus personagens. Uma aproximação que demanda uma perfeita coordenação do olhar, do corpo e do espírito, permite captar o momento que reúne os componentes plásticos e psicológicos para que a imagem final, sempre em preto e branco, tenha o melhor significado humano possível”. Flávio usa somente câmeras analógicas, iluminação natural e, naturalmente, filme P&B. De equipamentos digitais diz ter visto, uma vez, numa vitrine, algo a respeito disto. Mas complementa que não tem certeza se é realidade ou se foi um sonho. Desde que o conheci e ao seu trabalho posso afirmar que o Flávio fotografa com talento, ousadia, paciência, precisão e ética que a sua aguçada sensibilidade o conduz. Dico Kremer
setembro de 2010 |
61
62
| setembro de 2010
setembro de 2010 |
63
64
| setembro de 2010
setembro de 2010 |
65
ofício
Larissa Reichmann Lobo
A Arte do sapateiro
E
m Curitiba, uma sapataria que começou suas atividades em 1970 ainda fabrica sapatos de maneira artesanal. A Masiero Calçados fundada por Aquelino Masiero. A história começou assim: na época ele mudou-se do Rio Grande do Sul para Curitiba para reabrir sua sapataria que havia incendiado na cidade de Novo Hamburgo. A Nina Sapataria instalou-se ao lado da Santa Casa de Misericórdia e teve os funcionários do hospital como sua grande carteira de clientes. Em 72 apareceu uma oportunidade de compra de um ponto e ele mudou-se para a Rua Trajano Reis. Neste endereço ele deu novo nome para seu negócio: Sapataria Rosário. Continuou a fazer artesanalmente calçados especiais e ortopédicos sob medida, além de consertos em geral. A partir daí começou também a fazer sapatos para sapateado, dança flamenca, botas para tiro ao alvo, calçados para desfiles de carnaval e outros tipos diversos como sapatos para artistas. Em julho de 1980, adquiriu ao lado um espaço pouco maior de 30m² e abriu uma pequena loja. Além de todos os serviços que já fazia começou também a fabricar calçados com tamanhos especiais. Algum tempo depois comprou um antigo prédio nesta mesma rua esquina com a Treze de Maio. Após uma reforma instalou uma nova loja, bem maior, com 300m², que passou a chamar-se Masiero Sapataria Rosário. Além do que já fazia especia-
66
| setembro de 2010
lizou-se em numerações grandes para homens e para mulheres. Mais tarde abriu uma filial na Rua João Negrão onde manteve a mesma tradição da matriz e incluiu ali a linha infantil. Em 2005 a matriz foi ampliada e reformada para melhor atendimento aos clientes, momento em que a logomarca foi redesenhada: Masiero Calçados. Aquelino Masiero é mais que um sapateiro, é um artista. Apaixonado pelo que faz, considera-se um artesão do calçado. Quando jovem fez o curso de modelagem enquanto aprendia o ofício. No dia do seu noivado presenteou sua noiva com um par de sapatos preto, feminino, uma miniatura. Obra que foi admirada por sua perfeição, uma verdadeira história de Cinderela e seu sapatinho de cristal. Quando a primeira filha nasceu foi presenteada por um par de botas cor-de-rosa confeccionado por ele. Hoje, com mais de 70 anos de idade, Aquelino está aposentado e quem dirige suas lojas são seus filhos. Mas nem por isso ele perdeu a paixão pela profissão e continua ativo. Fez uma fôrma fora do padrão, fabricou um par de sapatos nº 67, inspirado no maior homem do mundo que é um chinês e gostaria de um dia poder calçá-lo. Foi além, fez outra fôrma ainda maior que o ocupou três meses de trabalho. E sua habilidade e criatividade não param por aí. Com sua esposa e um antigo funcionário confeccionou um par de sapatos nº 183, digno de Sasquatch. Trabalho que lhe custou
Arte Rara
três couros de boi entre o corte e o forro, solado e salto. Estas excêntricas criações servem como decoração da loja e são muito admiradas. Agora também desenvolvem uma nova linha de tamanhos especiais para pés femininos pequenos. Admirado pelos seus oito filhos, 16 netos e 12 bisnetos por sua dedi cação e perseverança, Aquelino deixa uma lição: para ter sucesso é importante a honestidade, o conhecimento, a cordialidade com os clientes e respeito aos funcionários. Não há como negar que o manufaturado e o industrializado não concorrem entre si. Cada um à sua maneira torna-se indispensável. O industrializado possui toda a tecnologia e funcionalidade. Já o artesanato confunde-se com a história da humanidade, pois a necessidade dos bens de utilidade para o dia a dia fez a criatividade surgir como forma de trabalho. Por isso, a arte de Aquelino é singular e individual. O artesão dedica-se exclusivamente a uma peça de cada vez, sem pressa, com poesia.
A necessária arte de fazer sapatos manufaturados está cada vez mais rara em consequência da franca industrialização. A questão é: os sapatos produzidos em série têm a mesma qualidade que os feitos à mão? Pergunta difícil de responder uma vez que o artesanato tem o capricho e a particularidade do pé de cada um e a industrialização tem uma tecnologia que está sempre em avanço. Quem sabe Aquiles com uma bota do século 21 perdesse sua vulnerabilidade. O primeiro calçado foi registrado na história do Egito, por volta de 2000 a 3000 a.C. Era uma sandália composta por duas partes, uma base de tranças de cordas de raízes e uma alça presa aos lados que passava sobre o peito do pé. Porém, muitos afirmam que o homem da pré-história já usava uma espécie de proteção nos pés, pois entre os utensílios de pedra da época existem muitos que serviam para raspar a pele, o que mostra que a arte de curtir é muito antiga. Feidípides, o famoso ateniense que fez o percurso entre Atenas e Esparta por motivo da invasão pelos persas à Maratona, além de força e resistência, com certeza precisou de um bom calçado. Há registros de que no ano 6 mil a.C. os primeiros artesãos surgiram no momento em que transformaram elementos da natureza em objetos de uso.
setembro de 2010 |
67
comportamento
Karen fukushima
Shaka & The Chilli Beans Como cantar o sonho de um guerreiro Levante bem alto no céu A centelha de vida que ilumina o seu caminho Iluminado pelo destino Essa é a lenda das constelações, o Sonho do Guerreiro
Foto: Dai Pro-Eventos
Sora takaku kakageyou Michi o terasu inochi no kirameki Unmei ni hikareru Sore wa seiza no shinwa sa Soldier Dream
O
s versos acima são da canção intitulada Soldier Dream – Sonho de Guerreiro – do famoso anime japonês Cavaleiros do Zodíaco. Entre ser a “criança escolhida” e possuir “olhos puros que perfuram a escuridão como meteoros”, ouvir a melodia que carrega toda essa história nos remete a uma infância nostálgica frente à TV. Os super-heróis japoneses, em collants apertados ou traços de anime, fizeram história aqui no Brasil. Quem nos levou ao passado não muito distante foi o charmoso trio Shaka & The Chilli Beans durante o 25° Concurso Brasileiro da Canção Japonesa, conhecido como Brasileirão, realizado no final de julho, em Curitiba. O evento, que reuniu 719 cantores de todas as idades e diferentes regiões do Brasil, celebra a cultura dos ancestrais japoneses que há mais de 100 anos desembarcaram em solos brasileiros.
O Japão agora é aqui Um universo único que mantém e reforça a cada ano a cultura dos ancestrais japoneses aqui no Brasil. São anos aperfeiçoando uma única canção. Meses intensivos de treinamento diário. Cuidados incansáveis com as cordas vocais. Investimento alto em figurino, transporte, hospedagem, alimentação. Tudo por sagrados minutos em cima de um palco. Não há restrição de idade, cor ou religião. Os pequenos começam a cantar japonês sem ao menos enten68
| setembro de 2010
Shaka & The Chilli Beans, nome artístico do trio formado pelo pai Yoshiaki e as crianças Eduardo (5) e Isabel (3), que encantou a plateia.
der direito o português. Iniciam com dois, três anos. Há também aqueles que começam depois de aposentados. O participante mais veterano do Brasileirão deste ano nasceu nos idos de 1922. Há quem não possua olhos puxados e nem mesmo parentesco distante com japoneses, mas pela beleza da poesia e melodia entra neste universo e não o deixa mais. O curioso é que do outro lado do mundo muitas canções já caíram no esquecimento. A ocidentalização em massa na terra do sol nascente está extinguindo a música de raiz japonesa, conhecida como Min’yō. No Brasil, distantes de sua terra natal, os imigrantes sentiam necessidade de manter a cultura de seus ancestrais. E como a missão de um samurai (soldado japonês), precisavam passá-la às futuras gerações. Dessa forma, hoje, os
Foto: Dai Pro-Eventos
brasileiros de olhos puxados mantêm muito mais a cultura japonesa que os próprios japoneses.
A batalha
brincando Yoshiaki que leva os dois filhos junto com ele aos palcos. “A minha esposa é a empresária do grupo, escolhe o figurino e cuida da turma”, completa.
Armadura: R$ 1.200,00
A interpretação calorosa da canção Jyoketsu Para a manutenção do hobby, Nobuhiro em sua (em tradução literal, muo investimento não é baixo. Ninperformance vitoriosa guém quer subir aos palcos de cara lher-macho) rendeu ao com o traje de R$ 1200 cantor Nobuhiro Hirata, 32 anos, de São Paulo, limpa. Todos procuram vestir um o prêmio de melhor intérprete do Brasileirão. personagem. Protagonizar a música A música conta a história difícil de uma mulher exige um figurino adequado. sem escolhas, que precisa esconder toda sua plenitude “Eu não repito minhas roupas em nenhum brasileiro”, feminina coberta por camadas de tecidos de um quimono confessa Nobuhiro, que já tem um patrimônio em trajes (vestimenta japonesa) e atravessar a vida mostrando sua japoneses estimado em 15 mil reais. Na sua apresentação força, como uma guerreira. Nobuhiro enfrentou os pal- no Brasileirão, vestiu um Hakamá – roupa masculina cos com a mesma garra que a personagem de sua música japonesa – novo, trazido especialmente do Japão para enfrentava a vida, e conquistou o seu sonho. a apresentação. O valor gasto no traje completo foi de Mas tornar-se campeão brasileiro da canção japo- R$ 1.200 reais. “Se o público gostar, para mim valeu nesa não é fácil. Nobuhiro começou a cantar com ape- todo o investimento”. nas cinco anos de idade, incentivado pelo pai. Com 10 Este ano, o campeão levava para casa, além de um anos participou do seu primeiro Brasileirão, em 1988, na troféu suntuoso, a quantia de R$ 2 mil reais. Se somados época a quarta edição do concurso. Disputou oito vezes o investimento em roupa, transporte, hospedagem e alio Gran Prix — grande final realizada com os melhores mentação, o valor do investimento ultrapassa o prêmio cantores de cada categoria — conquistando seu primeiro em dinheiro. E mais uma vez o prazer sobrepõe a lógica. campeonato em 2007, 19 anos depois da sua primeira “A maioria está aqui porque gosta e porque no fundo participação em uma etapa nacional. todo mundo tem aquela esperança de se classificar”, Nobuhiro conta que o sonho de seu pai era vê-lo conta Nobuhiro. campeão no Brasil e no Japão. O desejo de seu pai, que também cantava e dançava músicas japonesas, tornouAnime | | – Desenho animado japonês. se um objetivo para o filho. Nobuhiro acreditou e hoje carrega vários títulos, dentre eles de campeão Paulista, | – Música que mistura sons tradicionais Enka | bi-campeão brasileiro e dois campeonatos no Japão. Além japoneses com melodias ocidentais. de três CDs gravados. Hakamá |
O prêmio = doces Cantando em troca de doces. Assim começou muito pequeno Yoshiaki Shinde, 34, de Sorocaba, São Paulo. Sua avó o estimulava a cantar prometendo um doce a cada apresentação. Yoshiaki é o Shaka, do trio citado no início dessa matéria. E os The Chilli Beans? Seus filhos, Eduardo (5 anos) e Isabel (3 anos). Yoshiaki começou cantando por recompensas saborosas. Hoje o prazer é a diversão de seus filhos. A escolha por cantar trilhas de desenhos foi justamente para diverti-los. “Meu prazer é cantar com eles. Se eles não subirem comigo no palco eu não canto mais”, diz
| – Vestimenta tradicional japonesa que
cobre a parte inferior do corpo e se assemelha a uma saia larga. Jyōketsu | Karaokê |
| – Mulher masculinizada. | – Hobby de origem japonesa
no qual as pessoas cantam versões instrumentais de músicas. Min’yō | Quimono |
| – Músicas folclóricas japonesas. | – Vestimenta tradicional japonesa
utilizada por mulheres, homens e crianças. Samurai |
| – Soldados da aristocracia do
Japão entre 1100 e 1867.
setembro de 2010 |
69
70
| setembro de 2010
Isabela na Ideias
fábio campana
E
m dia de bem-aventurança, Isabela concedeu-nos a graça de assinar coluna na Ideias. A galera que aqui trabalha abriu largo sorriso e agradeceu tão ilustre companhia que qualifica a revista. Isabela França é unanimidade entre os bípedes dotados de neurônios nesta área do planeta. Inteligência aliada à beleza não é comum neste vale de lágrimas e vulgaridades. Pois beleza e inteligência sobram em Isabela. Há muito Ideias carecia de colunista com a informação e o charme de Isabela. Quem mais poderia? Como Isabela não há. Nessa linha de colunismo social, ninguém. Há outras experiências elogiáveis, meritórias, mas são de outra catadura. Isabela restabelece a dignidade do colunismo social em alto estilo, avesso ao trivial promocional. Modesta, ela se apresenta: jornalista, bem casada, mãe e feliz. Pois saibam todos que Isabela é também bacharel em Direito e mais, muito mais. Empresária, comanda a Primeira Linha Comunicação, bemsucedida assessoria que diferencia seu trabalho pela qualidade e pelos resultados. Pois, pois, Isabela ainda consegue tempo para o social e a filantropia. É Diretora Social do Graciosa Country Club. Preside a Comissão de Cirurgia Cardíaca Pediátrica da Associação dos Amigos do HC. Assessora projetos especiais da área de Cardiopediatria da Fundação Francisco Costantini. Texto invejável, leve, gracioso, ela comunica-se com o mundo através de seu blog, ilha de sofisticação na internet. E agora nos traz o que sabe em sua coluna na Ideias. Um prêmio para nossos leitores nas próximas páginas. Experimente. Deguste. Frua o texto. Informe-se. Isabela, enfim, está entre nós.
setembro de 2010 |
71
ISABELA FRANÇA Gatorade
Dedo na ferida
ação Foto: Div ulg
José Fernando Macedo
O cirurgião vascular José Fernando Macedo, presidente da Associação Médica do Paraná, puxou para si uma bronca que não é nova na área médica, mas que pouquíssimos representantes do setor se arriscaram a encarar. Chamou para sentar em torno da mesa da AMP todos os representantes de planos de saúde, entidades médicas, Ministério Público e governos para expor o aviltamento dos valores pagos aos médicos pelos planos - em alguns casos, sem reajuste há 18 anos - e propor que os médicos se descredenciem em massa. A justificativa é simples e fácil de entender: enquanto o valor pago pelo plano para uma consulta varia há quase duas décadas entre R$ 15 e R$ 42, o custo mensal dos planos de saúde pago pelo consumidor aumentou, em média, 118% nos últimos dez anos. Por outro lado, a maioria das operadoras faz de tudo para que seus clientes não saibam que mesmo fazendo uma consulta particular, pode, sim, realizar exames, procedimentos e obter internamento hospitalar utilizando o plano.
cortesia Existe coisa mais agradável do que uma cortesia? Pena é que pouca gente se lembra disso... A sorte, por outro lado, é daqueles que lembram e fazem. Nota 10 para o taxista que, além de descer do carro para abrir a porta, estendeu a mão para ajudar uma senhora a descer do banco de trás de seu carro, em pleno alvoroço da Avenida Batel.
72
| setembro de 2010
Um grupo de corredores curitibanos estará engrossando a trupe do Brazilian Team que participa no dia 5 de setembro da corrida World Trade Center Run to Remember, que acontece em Nova York, em memória das vítimas do atentado de 11 de setembro, contra as torres gêmeas. Os advogados Tobias e Larissa Macedo e os empresários José e Simone Hillani e Nelson e Andréa Velloso vão correr os cinco quilômetros pelas ruas de Manhattan, cada um vestindo uma camiseta com o nome de uma das vítimas. Os curitibanos vão no time de corredores brasileiros, mas participam pessoas de todo o mundo, em diversas categorias, inclusive caminhada e equipes infantis ou familiares. Esta é a segunda edição do evento, que no ano passado reuniu cerca de 1 mil participantes e arrecadou U$ 21 mil para instituições que atendem parentes das vítimas e trabalham na construção do Memorial 11 de Setembro.
MALAGueTA Leva a assinatura do jovem advogado paranaense Fernando Borges Mânica, toda a concepção e estrutura jurídica do Instituto Antonio Carlos Magalhães de Ação, Cidadania e Memória, que será inaugurado dia 3 de setembro, em Salvador. Pós-graduado em Direito do Terceiro Setor pela Fundação Getúlio Vargas (FVG-SP), mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP), professor universitário e procurador do Estado do Paraná, Mânica teve habilidade para lidar com os diversos segmentos familiares e viabilizar o plano dos Magalhães de preservar acervo pessoal, arquivos e a memória do polêmico político baiano.
Jazz
e
Juliana Almeida Vosnika está comemorando a realização de uma proposta antiga, que já a atraía antes mesmo de assumir a presidência do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba . Nos dias 24, 25 e 26 de setembro, Curitiba sedia o NuJazz Festival 2010. Nomes consagrados como J.J. Jackson, Robertinho Silva, o trio carioca Azymuth e Hermeto Paschoal, Mario Conde, Endrigo Bettega, Glauco Sölter, Kátia Drumond, Helinho Brandão, Paulinho Sabbag e a Big Time Orchestra, tocarão nas ruas. A Rua Silveira Peixoto será o local de estreia, defronte ao Slaviero Full Jazz Hotel, que tem sido o endereço jazzístico da cidade, nos últimos anos. Além da simpática travessa do Batel, a Boca Maldita e o Jardim Botânico também sediarão as apresentações abertas ao público, sempre em dois horários, um à tarde e outro à noite. O evento, é claro, conta com o apoio do Instituto Municipal de Turismo.
o
e
Foto: Daniel Katz
s. Juliana Vellozo Almeida Vosnika, presidente do Instituto Municipal de Turismo
Sérgio Maeoka
Pink Panther A promoter Alice Carta vem a Curitiba, no próximo dia 14 de setembro, para mais uma ação de divulgação da importância da prevenção ao câncer de mama. Alice é madrinha do evento Outubro Rosa, lançado em diversas capitais, no ano passado, e que passou timidamente por Curitiba. No Rio de Janeiro e São Paulo teve a participação de atrizes de renome nacional como Taís Araújo, Maitê Proença, Claudia Abreu. Este ano, a expectativa é que mais curitibanas sejam sensibilizadas pelo tema – pra lá de importante.
650
O empresário Sérgio Maeoka, proprietário e presidente da rede de farmárcias Nissei, anda rindo à toa. No final de agosto a rede contava com 145 lojas e um faturamento anual de R$ 650 milhões. No mês que vem a rede inicia a operação em Santa Catarina, com a abertura de duas lojas em Joinville e uma em Itajaí. Em seguida, dois endereços serão inaugurados em Blumenau e um em Balneário Camboriú. A ideia é que até o final do ano sejam 15 lojas catarinenses, mais oito no interior do Paraná e aconteça o start up do projeto de expansão em São Paulo. A primeira loja Nissei, no bairro das Mercês, em Curitiba, abriu as portas em 1986. setembro de 2010 |
73
ISABELA FRANÇA
Feito aqui Conta com o bom gosto e esmero da designer gráfica Manoela Leão, pernambucana radicada em Curitiba, o livro No Planalto com a Imprensa, organizado por André Singer, Mário Hélio Gomes, Carlos Villanova e Jorge Duarte. A obra, que sai do forno em meados de setembro, reúne 24 depoimentos inéditos em forma de perguntas e respostas de ex-secretários de imprensa e porta-vozes da Presidência da República que contam mais de meio século de convivência dos meios de comunicação com o governo federal. De Autran Dourado (assessor de imprensa de Juscelino Kubitscheck) a André Singer (porta-voz e secretário de imprensa de Lula) traz curiosidades e fatos interessantes dos bastidores da imprensa e dos diversos governos. A obra é enriquecida com uma pesquisa iconográfica do fotógrafo Orlando Brito. O livro foi feito pela Editora Massangana e pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República. Com mais de mil páginas, em dois volumes, vem numa edição caprichada, com uma bela caixa criada por Manoela, que em Curitiba comanda a Gusto Editorial e Design. 74
| setembro de 2010
Villa Curitibana A estilista Andréa Tosatto vem mantendo um espaço que a cada dia ganha mais frequentadores entre aqueles que sabem de tudo e gostam do que é cool. A Villa Mariantonio, no final da Rua Guttemberg, abriga a loja principal com a produção da estilista e diversos corners instalados em seus muitos cômodos com os mais interessantes produtos: de móveis tailandeses e sedas chinesas a um ateliê de cartões personalizados. No fundo, o bistrô Bon Marché serve pratos pra lá de honestos, num ambiente delicioso. O jardim da frente pode ser ocupado nos dias quentes por mesas para quem aprecia um bom vinho ao ar livre. Tudo isso num casarão sui generis que tem na fachada uma partitura musical em ferro e na porta de entrada um painel em bronze do escultor João Turin. O melhor do endereço: a villa é vizinha do endereço residencial do comando militar local, portanto tem policiamento dia e noite, o que garante o ar de tranquilidade da região.
Tradição e marketing
setembro de 2010 |
75
Foto: Gilson Abreu
No Graciosa Country Club, a grife Saad, apostou alto. Presenteou as 31 meninas com valesSanta Cardoso, da Bergerson, Márcia Cardoso de Almeida, proprietáriada Bazaar, Ninon Dantas, primeira-dama do Clube Curitibano e Irene Bizinelli, da compra no valor de R$ 450. É claro, não apeBergerson, no coquetel oferecido às debutantes do Clube Curitibano nas de olho nas debutantes, que deverão ser futuras compradoras. O alvo da marca é as mamães, já que as peças disponíveis nas prateleiras da loja, no Shopping Crystal, raramente custam menos de R$ 500. As mais de 50 debutantes do Clube Curitibano foram recebidas na elegante multimarcas Bazaar com um coquetel e vários mimos. Para muitas esta foi a única oportunidade de pisar no casarão que abriga as mais Cristiane Ribeiro, Luciana Saad, proprietária da grife Saad, Rafaela Pilagallo e Daniella elegantes marcas nacionais e importadas de vestidos de festa, Ambrogi, em evento no Graciosa Country Club roupas e acessórios.
Foto: Erika Sato
Curitiba, ao lado de algumas poucas cidades do Sul do Brasil, ainda resiste a tradição do Baile de Debutante. Os principais clubes da cidade, Clube Curitibano e Graciosa Country Club continuam a realizar a festa, sempre na entrada da primavera, há mais de meio século. O convencional evento que parecia estar perdendo espaço, ganhou fôlego nos últimos anos impulsionado pelo marketing. Diversas marcas ligadas ao público jovem feminino estão investindo em ações que garantem aos clubes um bom caixa para pagar a conta de ensaios, aulas de etiqueta, decoração e o festerê propriamente dito.
Cartas do Leitor Escreva para cartas@revistaideias.com.br
AMELY, A MULHER DE VERDADE Não há nada melhor do que ler uma revista com assuntos ótimos e ter a Amely para dar umas risadas no final. Essa boneca é o máximo. Gabriela Faria GENTE FINA Recebi a revista Ideias, ficou muito bacana o perfil. E me senti muito bem acompanhada, junto a minhas queridas Maria Cecilia e Daniela! Obrigada! Zilda Maria Beltrão Fraletti O MELHOR LUGAR DO PARANÁ É LÁ FORA Muito obrigada pela matéria. Ficou muito bonita com todos os artigos juntos. Muito obrigada mesmo.Um abraço, Sônia Maria Fidelis Garcia CAPA Não gostei da capa com o Beto Richa. Essa fotografia é um exagero, pode revelar uma parcialidade reprovável. Alexandre Estevez NÊGO PESSÔA A coluna imprescindível desta revista é do ínclito iratiense Carlos Alberto Pessôa. Aliás, Irati está muito bem representada com ele e Claudia Wasilewski, duas inteligências iratienses. Ayrton Shuchene
setembro de 2010 |
77
78
| setembro de 2010
setembro de 2010 |
79
80
| setembro de 2010