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a nave va. Hannah Arendt, num de seus livros tão brilhantes, insiste na importância da verdade factual, como contraveneno da mentira que alimenta o preconceito. Mas a verdade dos fatos é frequentemente múltipla, instável, escorregadia. Depende dos olhos de quem olha. Quem tem razão? Dilma Rousseff ou José Serra? Beto Richa ou Osmar Dias? A ideia de que a voz do povo é a voz da verdade também não se sustenta diante das escolhas sucessivas de Roberto Requião para governar o Paraná. Diz sabedoria antiga, à qual logo aderiram os nossos populistas nativos, que em política o que importa não é o fato, é a versão. A rigor, aliás, não há fatos, há versões; a versão da testemunha, do promotor público e a dos advogados de defesa. Em política o processo é menos ordenado, livre e primitivo, mas a conclusão é a mesma: o que importa é a versão que consegue impor-se no momento preciso, aos olhos da maioria, e não aquela que poderia ser a mais fiel, a mais exata. Todos sabemos hoje que o pedágio “nem abaixa, nem acaba”, apenas porque um candidato esperto comete a bravata no horário eleitoral gratuito da televisão. Nem deixou de subir nos anos em que ele foi governador. Talvez seja exagerado supor que, de Hannah Arendt a Requião, a teoria política tenha dado um
passo à frente. Não custa admitir que a probidade intelectual não é um ingrediente costumeiro, nem em assuntos conjugais, nem em qualquer dos outros campos da convivência humana. E eis aí o que torna o jogo político tão peri goso e tão pouco razoável. Para começar, os fatos não valem pela sua importância intrínseca, mas pela carga emocional que possam conter ou gerar, pois essa carga é que determina a reação popular. A nossa democracia tão incipiente me faz lembrar de uma frase de Euclides da Cunha: “estamos condenados à civilização”. E de uma frase de Mário Pedrosa: “estamos condenados ao moderno”. O italiano Giulio Carlo Argan estranhou que Pedrosa usasse a expressão “condenado” para exprimir o inevitável destino de todos nós como se isso fosse um mal. Acontece que o nosso caminhar para a civilização se faz independente de nossa vontade. Necessitamos do novo, do moderno, e, no entanto sentimos que ele nos ameaça, nos dissolve. Ele é a libertação e a submissão ao mesmo tempo. Nossa história recente confirma. Saímos de duas décadas de regime fardado, passamos por uma catástrofe chamada Collor, e desaguamos no populismo chamado Lula. De onde devemos admitir que nosso esforço para alcançar a contemporaneidade do mundo se chama desenvolvimento e barbárie. Oremos para que o futuro próximo nos reserve mais desenvolvimento que barbárie.
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Foto: José Kalkbrenner Filho
Foto: Valquir Aureliano
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Curitiba no topo Curitiba é a capital brasileira com os melhores indicadores de desenvolvimento humano, diz o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A capital paranaense alcançou o índice 0,8687, apontado como alto índice de desenvolvimento, em uma escala de zero a 1 (quanto mais próximo de 1, mais alto o indicador).
Foto: Felipe Wiecheteck / Stock.xchng
Pela democracia
Ilustração
Juristas que lutam pela preservação dos direitos fundamentais lançaram, em São Paulo, o Manifesto em Defesa da Democracia. Contém críticas ácidas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O palco foi o mesmo onde, há 33 anos, o jurista Goffredo da Silva Telles leu a Carta aos Brasileiros, contra a tirania do regime fardado. O pensamento jurídico e acadêmico do País que endossou o protesto chamou Lula de fascista, caudilho, autoritário, opressor e violador da Constituição. O presidente foi comparado a Benito Mussolini, ditador italiano nos anos 30.
Dinheiro suado Cerca de 25 mil trabalhadores que usaram o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para comprar ações da Petrobras injetaram R$ 423,7 milhões na petrolífera. O balanço foi divulgado no último dia 27, pela Caixa Econômica Federal.
Na forca Foto: Divulgação
Acusada de adultério e assassinato do marido, a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, de 43 anos e mãe de dois filhos, está condenada ao enforcamento. A sentença anterior era de morte por apedrejamento, suspensa porque cabe apenas nos casos exclusivos de traição. A decisão foi anunciada pelo procurador-geral nacional do Irã, Gholam-Hossein Mohseni-Ejei, em entrevista coletiva.
Nunca antes... Nunca antes na história do Paraná se viu um candidato a governador tão choroso e tão pedinte de carinho e proteção quanto Osmar Dias. A foto diz tudo. Foto: Divulgação
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Google filantrópico Por meio do Google.org, divisão responsável pela filantropia, o Google distribuirá US$ 10 milhões para cinco projetos experimentais que venceram o concurso Project 10^100. As cinco ideias tiveram que competir com outros 150 mil planos propostos por pessoas de 170 países, além dos 16 finalistas selecionados. De todo esse dinheiro, um milhão irá para a Shweeb, uma empresa da Nova Zelândia que trabalha no desenvolvimento de uma bicicleta sobre trilhos, tendo como fonte de energia as pedaladas de seus usuários. Segundo a companhia, essa pode ser uma opção viável para o um transporte urbano e limpo. Será mesmo? Olha a foto do projeto:
Foto: Divulgação
Pior do que está não fica
Foto: Divulgação
O lema “vote no Tiririca, pior do que está não fica” parece ter convencido os eleitores paulistas. Surpreendentemente, o palhaço Tiririca foi eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo com mais de 1 milhão e 300 mil votos. Na realidade, Tiririca foi o candidato a deputado que mais votos teve em todos os estados do Brasil, apesar de na campanha ter chegado a dizer que nem sabia o que teria de fazer enquanto deputado federal. “O que faz um deputado federal? Eu não sei, mas vote em mim que eu te conto”, dizia Tiririca no seu tempo de antena. Tiririca ficou a apenas 200 mil votos de ser o deputado federal mais votado da história, atrás de Enéas Carneiro (já falecido), que em 2002 recebeu 1,5 milhões de votos.
Teleton por Lula Silvio Santos convidou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apresentar a abertura do programa Teleton do SBT, nos dias 5 e 6 de novembro. Santos também pediu ao presidente uma doação de R$ 12 mil para a maratona televisiva que arrecada dinheiro para assistência de crianças enfermas. Foto: Sergio Lima / Folhapress
Observadores internacionais
Foto: Divulgação
As eleições deste ano foram acompanhadas por mais de 150 observadores internacionais, entre representantes governamentais e não governamentais. O número supera em mais de sete vezes a média registrada desde 2002, de 20 observadores por eleição. Neste ano, o número de países representados pelos observadores também é mais expressivo que a soma de todas as nações registradas desde 2002 – 36 em 2010 contra 35 na soma de 2002, 2004, 2006 e 2008. As maiores delegações são da Argentina e do México. outubro de 2010 |
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Em novembro, a Corrente Cultural vai envolver Curitiba com muita arte, espetáculos, exposições, debates, mostras, instalações, shows, entre outras atividades. São mais de 60 espaços culturais participantes e, para completar, entre os dias 6 e 7 grandes atrações na Virada da Corrente, com 24h de intensa programação cultural. Pato Fu, Paulinho da Viola, Arrigo Barnabé, Erasmo Carlos, Mart’nália, Hermeto Pascoal são alguns dos nomes que já confirmaram presença. Este é só o começo. Confira a programação, faça sua escolha e aproveite os espetáculos. Saiba mais em www.correntecultural.com.br
Parceiros:
Incentivo:
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Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba
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frases Hoje você tem um Lula absoluto, um país anestesiado... uma situação psicodélica O candidato do PSOL à Presidência, Plínio de Arruda Sampaio sobre as eleições deste ano.
A mulher mais poderosa do mundo Reportagem do jornal britânico The Independent sobre a candidata à presidente do Brasil Dilma Rousseff.
Lula é burguês, impostor e amigo de banqueiro
Neste domingo mais de 3 milhões de pessoas deixaram suas casas para votar em mim, é muita confiança que pretendo retribuir com meu trabalho. declarou Gleisi Hoffmann, surpresa por ter alcançado o 1º lugar para o senado.
Foi uma disputa muito acirrada porque não é fácil enfrentar o presidente, a candidata do PT, dois senadores, inclusive um do meu partido afirmou Beto Richa, se referindo ao senador Alvaro Dias, que votou no irmão, Osmar Dias.
Brasil tem ‘excesso de liberdade’ de imprensa José Dirceu, articulador oculto da campanha presidencial de Dilma Rousseff
Palavras de Requião
A eleição não está decidida. Acreditem nisso. Não está. Precisamos dar a batalha até o último momento José Serra, com os olhos marejados, após reunião com artistas em São Paulo.
Na certeza da impunidade, (Lula) já não se preocupa mais nem mesmo em valorizar a honestidade. É constrangedor que o presidente não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas 24 horas do dia disse Hélio Bicudo, fundador do PT, do alto do púlpito da praça onde aconteceu o Manifesto pela Democracia.
O candidato cearense Tiririca (PR) recebeu cerca de 1,3 milhão de votos válidos para deputado federal por São Paulo, mantendo a posição de mais votado no Estado para o cargo e o campeão brasileiro de votos. Questionado sobre o que teria de concreto para fazer no Congresso, ele respondeu:
de concreto, só cimento Convite do Alvaro Dias eu não aceito nem para cafezinho A candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, referindo-se ao fato que o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) estava tentando “tumultuar as eleições” com “factoides” ao convidá-la para prestar esclarecimentos à Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ao tentar fazer gracinha com Luiz Felipe, do PSOL, Osmar Dias começou mal o último debate promovido pela RPC. O Urtigão afirmou com todas as letras:
Na região metropolitana só tem playboy outubro de 2010 |
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Gente fina Intensa Ety
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rquiteta e Urbanista formada pela Universidade Federal do Paraná, Ety Cristina Forte Carneiro possui MBA em Marketing pelo ISAE/FGV. Em 2000, começou sua atuação na área da saúde. É diretora executiva do Hospital Pequeno Príncipe, localizado em Curitiba – maior unidade pediátrica de alta complexidade do Brasil. Na função, atua intensamente pela garantia dos direitos da criança e do adolescente. Ocupa também o cargo de vice-presidente da Femipa. Em 2007, conquistou o prêmio “Mulheres mais influentes do Brasil”, na categoria Terceiro Setor. Em 2008, recebeu o título de Cidadã Honorária de Curitiba. 10
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Gente fina Top Marcela
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arcela Vita Santos tem 21 anos e começou a jogar tênis
aos sete no Graciosa Country Club. Aos dez deu início às competições e no mesmo ano chegou ao 1º lugar do ranking paranaense. Aos 16 atingiu a 20º posição do ranking brasileiro. Foi treinar na Patcash International Tennis Academy em Gold Coast na Austrália. Com 17 foi para a Bethel University em McKenzie-Tn que possui um time rankeado nos EUA. Durante os quatro anos que jogou lá, ganhou três vezes o Conference State Tournament. Ficou em 6º lugar no National Doubles Tournament e foi All-Conference First Team em todos os anos da faculdade. Este ano forma-se em Educação Física.
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Holding Ribeiro
oão Guilherme Reichmann Ribeiro formou-se
em Sociologia e Política em São Paulo. Depois mudou para Curitiba e começou a trabalhar com as empresas da família. Está em fase de preparação para assumir a presidência da holding da família: porto, empreendimentos privados, tecnologia da informação e centro de convenções e exposições. É casado e tem dois filhos. Gosta de viajar para lugares diferentes. Foi para Índia, Egito, Patagônia, entre outros.
Sem regras
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hrystyan Kishida é produtor, artista, dj e não
se atém a regras para trabalhar com moda. Inventivo. Visionário. Criativo. Seus cenários de trabalho são Paris, São Paulo, Florianópolis, Salvador, Rio de Janeiro. Morou seis meses na França. Trabalhou no Expo Export Paris que representa artistas multimídias mundiais. Escreve coluna sobre coolthings no Jornal do Estado nas sextas-feiras. Faz couching de estilo para celebridades. É embaixador da Los Dos, marca masculina da grife Bob Store. outubro de 2010 |
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Possibilidades de percepção
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Foto: Gilson Camargo
Gente fina
ashington Silvera divide seu tempo entre a gastronomia e as artes visuais. Tem
como filosofia uma cozinha de bons produtos, sazonais e frescos, aplicados com técnicas orientais e mediterrâneas. Organiza pela Plural Gastronomia jantares em diversos lugares para poucas ou muitas pessoas. Nas artes visuais persegue conceitos e pontos de vista incomuns. Esculturas, vídeos e fotografias são os suportes para promover o inusitado no cotidiano. Em 2011 lança um catálogo com sua produção. O objetivo de Washington é abrir novas possibilidades de percepção. 12
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Homem de opinião
m 1980 Rodrigo era um estudante de cursinho esquisitão de 1,90m vestindo um capote militar verde até a canela, cabelos escorridos pelos ombros e um par de óculos grossos que marcavam o seu nariz. Os óculos ainda marcam, mas os cabelos passaram por inúmeras transformações e hoje não existem mais, o que o deixou um respeitável jovem senhor cantor da banda Maxixe Machine. Considerado um dos melhores cantores da cidade, continua fiel à sua condição de artista criativo, underground por opção, sempre fazendo as coisas do seu jeitão de velho punk anarquista. Prefere o pior do que está nas paradas ao melhor de sua produção local e não cria tendências, não influi no pensamento cultural, não lança e não prestigia. Um cara com opinião e inteligência.
Belas obras
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ônica Maciel de Paula
é uma mulher fora do seu tempo. Nasceu em Curitiba e foi estudar Engenharia Civil em São Paulo. É responsável por grandes obras, como a Orla de Aracaju, considerada uma das mais belas do litoral nordestino. Mora em Vitória há 16 anos. Trabalha na área jurídica e engenharia pericial. Apesar de todos esses anos fora de sua terra, considera-se curitibana.
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capa
fábio campana
Contra tudo e contra todos
Foto: Divulgação
Beto Richa se elegeu governador contra tudo e contra todos. Enfrentou a mais forte frente política de que se tem notícia no Paraná desde a fundação. Derrotou Osmar Dias e, com ele, duas máquinas poderosas dos governos federal e estadual, aí incluídos os grupos econômicos que se articularam para manter privilégios e negócios nas duas instâncias.
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Foto: Divulgação
Não foi fácil. Beto encarou Lula, Dilma, Gleisi Remover o entulho Hoffmann e o PT. Desafiou Pessuti, Requião e o PMDB. As prioridades para o início de governo são as quesA quase totalidade da mídia não escondeu que torcia por Osmar Dias. Na própria trincheira teve a traição de tões que exigem intervenção de emergência, diz Beto Alvaro Dias. E para completar o quadro de adversidades, Richa, preocupado com o que vai receber de herança da todos os institutos de pesquisa erraram do começo ao administração peemedebista. Não é pequeno o desafio. Em oito anos, Requião e sua trupe conseguiram deteriorar fim da campanha eleitoral. Sempre contra ele. Esse quadro abre a possibilidade de mudança de ciclo a máquina do Estado ao ponto de comprometer a qualipolítico no Paraná. Mudança que pode ser tão profunda e dade de serviços públicos essenciais, como a segurança ampla quanto aquela que Ney Braga estabeleceu no início pública, a atenção à saúde e a educação. dos anos 60 e José Richa vinte anos depois, nos anos 80. “Temos a saúde pública preocupante e a segurança Se assim for, significará a adoção de novas políticas, de caótica. Precisamos aumentar o efetivo policial, contratar programas e principalmente de novos métodos. Além da médicos, equipamentos para hospitais regionais”, afirmou necessária substituição de pessoas que vem ocupando Beto Richa, em sua primeira entrevista coletiva. Além disso, terá que pensar nas finanças, que andaram capengando por cargos de direção há décadas. Afinal, Beto Richa representa a substituição de uma força de orientação tributária que reduziu a arrecadação. E geração intermediária que vai saindo de cena até por terá que cortar despesas, a começar pelas supérfluas, que força da idade. Seus principais representantes se agru- são imensas num Estado que mantém milhares de cargos em param na trincheira oposta. Roberto Requião, Alvaro Dias comissão para os quais Requião nomeava cabos eleitorais. e Osmar Dias expressam “Vamos melhorar o essa geração de políticos gasto público, fechar as que surgiu nas entranhas torneiras do desperdício, do PMDB no movimendar um choque de gestão e enxugar a máquina admito pela democratização e nistrativa, para que tenha aí se estabeleceu. O que bastaria para mostrar que o tamanho do Paraná que se trata de uma geração queremos fazer”, disse Beto liliputiana, quando muiRicha. Sabe que vai enfrento de pequenos grandes tar resistências. Governo, entre nós, tornou-se imenhomens que carregaram Funcionárias da campanha de so negócio, que movimenconsigo a horda de paOsmar Dias levantam o colete para ta diariamente milhões de rentes, amigos, colegas mostrar que votam em Beto Richa de turma e assemelhados. reais e que emprega (planEmbora Alvaro seja turosamente) dezenas de tucano, Requião do PMDB e Osmar do PDT, não há gran- milhares de pessoas, apenas em seus escalões superiores. des diferenças entre eles a não ser os estranhamentos Quantos diretores têm as estatais Copel e Sanepar? Quantos pessoais quando disputam o poder. De resto, muito se economistas, técnicos e assessores de alto nível? E as corretagens de seguros, as comissões, os contraparecem. No pouco conteúdo e no estilo autoritário. A superação dessa turma pode significar, entre outras, tos, as encomendas? O negócio estatal é tão grande, tão o início de uma fase na política nativa mais civilizada rendoso, envolve tanta gente, está tão bem enraizado na e livre do raciocínio bipolar desenvolvido nos anos em estrutura política do poder, que só corre um risco, tornarque o mundo se dividia entre os defensores do regime se grande e custoso demais para o Estado que o alimenta. Pois Beto Richa terá que encarar essa estrutura com fardado e o resto que aspirava a volta à democracia. É provável que os cidadãos do futuro, daqui a cem a disposição de mudá-la radicalmente, mesmo que teou duzentos anos, olhando para trás e apreciando essa nha que mexer nos interesses estabelecidos até mesmo turma, se surpreendam com a gritante mediocridade que de políticos que o apoiaram. Ou nada vai mudar e sua a caracterizou no poder e fora dele. Do confronto perma- trajetória política será curta e insossa. nente com o léxico ao infeliz costume de resolver tudo Ele terá pela frente um Paraná gordo, oficial e ofiatravés do nepotismo. Tudo significa a própria aspiração cioso, que explora e oprime o país real, magro e sofrido, de conforto e poder de cada um deles. embora certamente ainda capaz e produtivo. Em outra outubro de 2010 |
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época, Aníbal Curi disse certa vez que nossos grandes fazendeiros são gigolôs de vaca. Pois essa gente, esses beneficiários e mandarins, empreiteiros e banqueiros, são os gigolôs do Paraná.
O sucesso da corrupção
Esse pessoal não brinca em serviço. Requião sempre disse que tinha a solução de todos os nossos problemas no bolso do colete no mesmo momento em que todas as nossas mazelas cresciam e nos levavam ao caos.
O blá, blá, blá cansou
Na verdade, o segredo do sucesso dessa gente que cerca o governante para obter benefícios do Estado, é simO interessante dos resultados das urnas, que exples. As estatais, quando mal administradas, gastam mais, pressaram a decadência da popularidade de Requião, pagam mais prêmios, mais comissões e corretagens, fazem é que revelam a decadência também do político típico acertos e negócios mais vantajosos para os que negociam da geração que Beto Richa substituirá agora. O distinto com elas. Administrar mal um desses mastodontes não é público cansou do discurso vazio, do blá, blá, blá, cheio apenas uma tentação e uma tendência: é uma arte. É uma de promessas que não se realizam. Requião, Alvaro Dias e até mesmo Osmar Dias, epígono desta geração, são festa. O Paraná é um estado alegre. Imaginam a ansiedade dos grupos interessados em políticos habituados a convencer a população através abocanhar algumas PCHs – Pequenas Centrais Hidrelé- de discursos que, muitas vezes, se reduzem à profuntricas. Ou em ampliar os empréstimos didade do slogan. consignados em folha de pagamenNa verdade, um político, um É provável que to para os funcionários. Ou, ainda, administrador público, uma alta autoridade militar ou civil, assim como fornecer material para qualquer os cidadãos do os locutores de televisão e de rádio, das secretarias. Esse pessoal geme futuro, daqui a cem são em geral pessoas (perdoem os lode ansiedade e põe a funcionar seus cutores) mais cheias de palavras do neurônios para descobrir por onde ou duzentos anos entrarão no novo governo para tomar que de ideias. se surpreendam o que puderem. Eles já estão por lá Isso, em si mesmo, nada teria de com a gritante há muito tempo e sabem exatamente extraordinário se não fosse a caracterísonde se localizam os caixas, as vertica essencial dos meios de comunicamediocridade que bas, as obras, as maracutaias. Está na ção que obrigam as pessoas a falarem, a caracterizou no praça um cidadão querendo renovar mesmo quando obviamente não têm as televisões alaranjadas compradas nada a dizer. poder e fora dele pela Secretaria de Educação. Oferece Basta ligar um aparelho de TV comissão melhor do que a paga na em Curitiba ou em Nova Iorque, para primeira compra. perceber que um microfone, quando De resto, continuam empanturrando a gente de espetado sob o nariz de uma pessoa, é um maravilhoso mentiras. Os donos do poder no Paraná nestes últimos instrumento capaz de esvaziar até mesmo os cérebros vazios. O importante é produzir palavras e satisfazer o apeoito anos sempre mentiram muito, mas agora atingem o sublime. Talvez se trate do resultado de uma feliz com- tite do pequeno aparelho e encher o tempo e o espaço, binação de cabeças criativas com almas caridosas. Sela antes que algum outro o faça. Políticos, administradores, com o intuito de cobrir os fatos com o manto diáfano generais, médicos, até mesmo simples populares, ou falam da fantasia para nos poupar de sustos exorbitantes. Só ou perdem a voz. que o manto entregue por Requião está esgarçado e roto. O que parece necessário é evitar que o uso exagerado Anote-se que foi incrível o esforço empreendido (e forçado) as degenere e transforme de uma vez nessa pelos publicitários domésticos de Requião para ven- espécie de terrível tóxico que hoje tonteia e desorienta a der um Paraná que não existe para nós mesmos, que grande maioria das pessoas, um pouco por toda a parte. Pois o paranaense urbano, mais informado, que vosofremos diretamente os efeitos do péssimo governo que tivemos. A começar pela insegurança pública, que tou em Beto Richa, cansou da geração que só discursa e atingiu índices nunca dantes experimentados nesta pa- pouco faz. Beto Richa terá que substituir a política do cata província que se tornou paraíso de traficantes por discurso vazio pela eficiência de uma gestão que se avalia conta da falta de polícia. pelas obras. O resto é conversa fiada. 18
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eleições
fábio campana
Requião e Tiririca, pior do que está não fica? para trás falhas, rombos e buracos no edifício da nação moderna que construímos. Ao que interessa. O certo é que o sistema montado garante o sucesso do líder populista. De Lula a Tiririca, de Requião a Ratinho. Qualquer bípede provido de neurônios e alimentado regularmente com proteínas percebe que o nosso sistema político precisa de uma reforma profunda para eliminar as condições que fazem prosperar no país o populismo vulgar que se tornou hegemônico sob a condução de Luis Inácio Lula da Silva, ou apenas Lula, o maior fenômeno de popularidade da história da República. Cada povo tem o governo que merece, mas desde que tenha aprendido a lutar por ele. Não é o nosso caso. Instituições políticas bem equilibradas e firmes são necessárias porque os chefes de governo (qualquer que seja o sistema vigente) não podem ser sempre invariavelmente bons, competentes e justos. Na verdade, a democracia não pretende garantir a escolha invariável de bons governantes; ela apenas torna os maus menos desastrosos e fornece à sociedade os meios para defender-se eficazmente deles. Eis aí, num país como o nosso, o que devia bastar para fazer burgueses, burguesotes, operários, intelectuais, padres e políticos pensarem duas vezes, em vez de não pensarem nenhuma. Foto: Divulgação
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s eleições terminaram e voltamos ao ponto de partida. Mais que nunca, hoje sabemos que a escolha pelo voto não garante o melhor governante e muito menos a qualidade dos nossos representantes nos parlamentos. Isto é visível quando avaliamos os eleitos no dia 3 de outubro com algum rigor. Patético. Os grandes vitoriosos foram os epígonos de Lula, os imitadores de Requião, os fãs de Chávez e Morales, que receberão como prêmio pela sua capacidade de empolgar as massas uma boa fatia de poder. E essa gente ainda tem a coragem de torcer o nariz para o honesto palhaço Tiririca. Ora, pois, Tiririca não representa ameaça para a democracia e para o país. Já os Requiões todos sabem o que querem. Ah, a santa ignorância. Uma das origens dos males deste nosso quadro político é a meia cultura dos demiurgos que o modelaram. Haverá quem observe que a cultura, afinal, nunca é inteira, nunca é completa, e que mesmo um sábio como o Conselheiro Rui Barbosa há de ter cometido as suas tolices. Não há dúvida, entretanto, que a moderação é conveniente também na burrice. Progredimos, pois, e tanto, e tão depressa que deixamos
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Reforma política
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Outra inapreciável vantagem da democracia deve ser a sua capacidade de proteger o governo de si próprio e dos seus amigos mais chegados; maus conselhos, pressões indevidas, nepotismo, impulsos cesaristas e, até, eventuais instabilidades emocionais do chefe, tudo isso deve esbarrar no anteparo das instituições, prender-se nas suas malhas e suscitar forças contrárias que tendem a devolver algum equilíbrio à nau do Estado. Imagine o Requião com poder absoluto, sem freios, o que faria.
Eis umas poucas coisas que não foram feitas e que é preciso fazer depressa, se queremos ter, a partir de 2011, uma democracia estável e uma aproximação da contemporaneidade do mundo.
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Acabar com a atual desconversa e enfrentar logo a necessidade de uma reforma política. E a primeira regra a ser respeitada é a de cada cabeça um voto, princípio corrompido pela desigualdade da representação proporcional dos estados.
O fim do voto obrigatório, equívoco que tem raízes no autoritarismo e na esperteza varguista e que garante a sobrevivência de um fantástico curral eleitoral de milhões de brasileiros que não são capazes de lembrar em quem votaram para deputado dois meses depois das eleições. Acabar com a dispersão proporcional do voto e dar aos partidos e ao Congresso, vale dizer à representação popular, a consistência e a estabilidade que só podem vir do sistema distrital.
Agora, ao principal. O sistema do voto por distrito é adotado na Inglaterra, nos Estados Unidos, na França, na Alemanha e em todas as mais estáveis democracias do mundo. No Brasil há até um projeto que foi imaginado por Milton Campos, destinado a amortecer resistências dos interesses eleitorais estabelecidos. Por que, então, não chegamos lá? A esquerda, sabe-se é contra o sistema porque ele dificulta a eleição de representantes das minorias ideológicas e favorece os grandes partidos, consolidando no seu poder. A objeção da esquerda é discutível e contornável. E é óbvio que o grande peso da oposição ao voto
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distrital não vem da esquerda, mas dos próprios políticos tradicionais. Os nossos deputados elegeram-se pelo voto proporcional; construíram suas respectivas máquinas eleitorais com base nesse sistema. Se o sistema mudar, eles correm o risco de não se reelegerem. Quando menos, serão obrigados a gastar trabalho e dinheiro no esforço de readaptarem as suas maquininhas à nova ordem. A simples ideia do voto distrital desgosta um grande número de políticos. Os nossos todo-poderosos governantes são, afinal, humanos e não conseguiram resistir à pressão dos áulicos à sua volta, tanto mais quanto se trata de questão que interessa à estabilidade e à consistência de instituições como o Congresso, nas quais a maioria da população não acredita muito, e que caberia aos políticos, antes de mais ninguém, defender.
A reforma política é, em última análise, uma questão de convicção democrática Não é muito, mas já seria um bom começo. A re forma política é, em última análise, uma questão de convicção democrática. O que é bom para os deputados nem sempre é bom para o país. O voto distrital estabelece comunidades eleitorais, cria e reforça o vínculo entre cada uma dessas comunidades e seu representante eleito. O voto proporcional, ao contrário, especialmente entre milhões e milhões de eleitores, como temos hoje
em cada estado, dispersa e dissolve responsabilidades e lealdades. Ninguém é de ninguém. A representação perde seu caráter palpável, concreto, para tornar-se uma abstração teórica, coletiva, impessoal.
Bom para quem, cara pálida? Não há dúvida de que o sistema distrital força os deputados a se vincularem mais de perto a uma determinada comunidade, a um universo definido de eleitores. Com isso, a representatividade do Congresso ganha consistência e a instituição torna-se mais sólida e mais estável. Do ponto de vista dos partidos, sem que seja preciso tolher a liberdade de organização desaparecem, enquanto se fortalecem e consolidam as grandes correntes da opinião nacional. Ora, pois, trata-se de criar instituições que garantam a efetividade de princípios tão simples. A democracia resultante não será decerto absoluta, até porque ela não é e nunca será uma coisa pronta, acabada, mas uma estrutura viva, flexível, uma práxis que educa e reeduca os que a praticam. O sistema atual estimula a hipertrofia cada vez mais aberrante da máquina estatal, porque ela passa a ser um instrumento do processo eleitoral. Por mais que se criem leis para restringir o uso direto da máquina, os governos que se instalam tendem a ampliá-la para criar suas estruturas que direta ou indiretamente se põe a serviço dos partidos e de facções. Isso está na origem de todos os grandes escândalos recentes de corrupção na vida brasileira. Do mensalão à Erenice Guerra e seus filhos. Aqui, no Paraná, essa situação chegou ao grotesco. O Estado tem milhares de cargos em comissão para abrigar cabos eleitorais. Tem dezenas de secretarias dispensáveis. Mais de uma centena de departamentos e secções que se extintas não farão falta alguma. Além da erosão e das geadas, já não lembro quais eram os males do Paraná há 40 anos. Mas estou convencido de que esses males hoje são dois ou, se quiserem, um
só. O Paraná sofre hoje dos resultados de sua imensa máquina burocrática e da inevitável corrupção sempre embutida em estruturas públicas hipertrofiada. O atual estado de coisas no Paraná é resultado da sistemática aplicação da maneira burocrática de ver (e resolver) os problemas do Estado. Numa burocracia como é que se acaba com o excesso de burocracia? Cria-se uma comissão para acabar com a burocratização. Ao longo de décadas, a visão burocrática da realidade paranaense, impiedosamente aplicada pelo governo Requião, multiplicou ao infinito órgãos, empresas, repartições, regulamentos, impostos e taxas de toda espécie. Não há nada a admirar nisso, porque a burocracia secreta naturalmente burocracia, assim como uma gata produz gatos e uma elefanta, elefantinhos. Se repartições e departamentos são o corpo do monstro burocrático, sua alma são os regulamentos, e os impostos, o seu meio de vida. Hoje, tudo indica que temos burocracia demais para as nossas posses. Seria preciso enfrentar, com a possível rapidez, o mecanismo burocrático que é a principal origem dos males que afligem o Paraná. Não há outro caminho. Mas se as mudanças não acontecerem por força da pressão da sociedade, talvez se realizem pelas Foto: Divulgação leis da natureza. Groucho Marx afirmou certa vez que não entraria para um clube que o aceitasse como sócio. Dá vontade de dizer coisa parecida, não do meu clube, o Atlético, mas da minha geração. Trata-se da geração que formou políticos à sombra dos governos do PMDB que sucederam o regime fardado e que se prepara para sair de cena. Tão fraca que nela até pessoas néscias e ignorantes de algum modo se destacaram. É uma geração que vai sendo empurrada para fora da vida pública pela simples força da idade, depois de ocupar postos de comando públicos e privados. Na política nativa, é a geração de Roberto Requião, Alvaro e Osmar Dias e seus epígonos. O que bastaria para mostrar que se trata de uma geração lilliputiana, uma geração, quando muito, de pequenos grandes homens. outubro de 2010 |
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luiz geraldo mazza jornalista
POLÍTICA
O futuro já era?
É
preciso uma dose extrema de seria ‘’o futuro já era, curtamos o le personalístico capitaneado pelos boa vontade para descobrir presente’’. A dureza dos números alquimistas do marketing que ao algum vestígio de inteligên- entre um e outro candidato, que fez lado dos advogados são peças bem cia na recente campanha eleitoral: o frisson dos comitês e cabos elei- mais decisivas e relevantes do que ela é chocante em todos os aspectos torais bem como dos financiadores, os próprios candidatos, subversão por haver colocado em conflito duas não oculta a pobreza sáfara desse essencial da democracia. Tivemos figuras que estavam irmanadas nos que foi um dos piores momentos em passado distante, 1950, uma dois pleitos anteriores e, de repen- da história política do Estado. disputa como a de agora entre en te, se viram colocadas genheiros, mas entraem posição adversa e vam em campo Âna despeito de ambos gelo Ferrário Lopes Um “teaser” aplicável aos dois seria se conhecerem tão e Bento Munhoz “o futuro já era, curtamos o presente” bem não tiveram ha da Rocha Neto, tão bilidade para apurar qualificados que o críticas às respectivas cabo eleitoral mádeficiências. Como se já não bastasse Tensões estruturais, conflitos ximo da época, Getúlio Vargas, no o absurdo da interdição das pesqui- esmaecidos, gargalos da economia maior comício da terra, da sacada sas eleitorais, que fez do Paraná, o — tudo foi posto de lado no desfi- do Braz Hotel, não ousou indicar qualquer um deles pelas credenciais que de fato é, uma ilha de obscuridade com os dois maiores institutos que portavam, porém enaltecendo nacionais, Datafolha e Ibope cassasuas aptidões. Não se trata de ‘’idealizar’’ o passado, mas mostrar que dos, enquanto um regional, Radar, teve a sua sondagem aceita pelo TRE, é impossível fazê-lo com o presente. não tivemos no longo tempo de proEstamos condenados à resignação paganda nada que definisse como dos últimos anos, depois do ciclo Beto Richa e Osmar Dias projetam neysta, a um Paraná sempre deso futuro do Paraná. prezado ainda que colocado, em Nem uma ideia-força para conrecente estudo do IBGE, logo após solar como as tivemos com o ‘’PaSão Paulo como o mais desenvolvido do Brasil, o que acentua a assimeraná Maior’’ de Moisés Lupion, o dístico abstrato da ‘’Dignidade da tria entre a realidade produtiva da Função Pública’’ de Munhoz da Rosociedade e o desempenho pífio de cha, ‘’Todos Somos uma Só Força’’ uma classe política, faustosa e aliede Ney Braga, ‘’Paraná, Segundo nada, omissa e auto-suficiente. Foi Estado do Brasil’’ de Paulo Pimendifícil, extremamente difícil, optar tel. Um ‘’teaser’’ aplicável aos dois pelo menos ruim. outubro de 2010 |
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vereadores
Por dentro da Câmara Acompanhe o trabalho dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba LOA 2011 O projeto da Lei Orçamentária
Anual (LOA) para 2011 já foi entregue ao presidente da Câmara Municipal de Curitiba, vereador João Cláudio Derosso (PSDB). A entrega foi realizada pelo secretário municipal de Finanças, Luiz Eduardo da Veiga Sebastiani, logo após a audiência pública de prestação de contas do segundo quadrimestre de 2010. Previsão A previsão de orçamento total para 2011 é de R$ 4,660 bilhões, um crescimento de 14% em relação ao valor previsto para este ano, que foi de R$ 4,056 bilhões. As áreas que receberão o maior número de investimentos são a Saúde, com R$ 932 milhões, e a Educação, R$ 751,8 milhões. Aborto Orientação e prevenção foram
palavras-chave em debate promovido pela Câmara sobre posicionamento contrário à legalização do aborto. A Casa recebeu representantes do Comitê Municipal Brasil Sem Aborto, que congrega várias entidades, e da Frente Parlamentar em Defesa da Vida, cujo presidente municipal é o vereador João do Suco (PSDB). Arena Mensagem do prefeito Luciano
Ducci que autoriza a transferência de potencial construtivo para as obras da Copa do Mundo de futebol no estádio Joaquim Américo será debatida e votada
no plenário da Câmara Municipal nos dias 26 e 27 de outubro, em primeiro e segundo turnos, respectivamente. Restaurantes populares Pro
posta apresentada pelo vereador Odilon Volkmann (PSDB) e aprovada pelo plenário como sugestão ao Executivo fixa critérios de renda máxima para acesso aos restaurantes populares. O parlamentar quer priorizar o direito social da alimentação garantido pela Constituição, da mesma forma como ocorre com os mercados populares. IPTU Concessão de desconto, isenção
ou remissão do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) aos proprietários de imóveis atingidos por enchentes e alagamentos é o que prevê projeto de lei em tramitação no Legislativo curitibano. A ideia é que todos os proprietários de imóveis de alguma forma afetados por alagamentos possam obter isenção ou desconto no valor do IPTU no ano seguinte à ocorrência. Biombos O vereador Paulo Frote
(PSDB) pediu reforço na fiscalização municipal e apoio dos demais vereadores, da sociedade e da imprensa para o cumprimento da Lei dos Biombos, em vigor desde 2008. De acordo com ele, ainda existem agências bancárias que não instalaram as divisórias em frente aos caixas de atendimento.
Câmara Municipal de Curitiba • www.cmc.pr.gov.br R. Barão do Rio Branco, s/nº — cep 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 fax: (41)3350-4737 24
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Transporte Gordon Dixon, diretor
regional de operações da Metrail, empresa responsável pela criação do sistema mundial de transportes públicos economicamente sustentáveis, adotado na Inglaterra, esteve na Câmara de Curitiba para explicar sobre o uso da tecnologia de híbridos e sistemas de tração microeletrônica computadorizada. O convite foi do vereador Francisco Garcez (PSDB). Parquímetros O uso de parquíme-
tro, equipamento usado para controle de estacionamento rotativo em vias públicas, foi defendido pela vereadora Julieta Reis (DEM), na Câmara de Curitiba. “O parquímetro facilita o fracionamento da hora de estacionamento. Ou seja, não é preciso pagar por uma hora se o veículo permaneceu meia hora, por exemplo, estacionado”, disse. Bicicleta Estacionamentos devem oferecer vagas para bicicletas. É o que prevê projeto de lei do presidente da Câmara de Curitiba, vereador João Cláudio Derosso (PSDB). De acordo com a matéria, no estacionamento de veículos também devem ser destinadas vagas exclusivas para bicicletas. Copa 2014 O vereador Valdemir Soares
(PRB) esteve no Rio de Janeiro, representando a Comissão Especial da Copa do Mundo da Câmara, para debater os preparativos para a Copa do Mundo de 2014. O evento reuniu, entre outros, a diretora de marketing e planejamento do comitê organizador da competição, Joana Havelange, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
LUIZ FERNANDO PEREIRA advogado
opinião
E finalmente Deng Xiaoping chegou a Cuba
Q
uem sabe com trinta anos de atraso, mas parece que agora, enfim, Deng chegou a Cuba. Raúl Castro acaba de anunciar a demissão de quinhentos mil funcionários públicos (um em cada oito, para um país quase só de funcionários públicos). Ao mesmo tempo em que estimula as cooperativas e os pequenos negócios privados. Sob Deng, a China fez isso há trinta anos, desde o começo da década de oitenta. Pequenos botequins e lojinhas de roupa abriam; timidamente estimulados por um PC Chinês ainda receoso (o fantasma de Mao Tsé-Tung seguia assombrando...). Mais adiante vieram as Zonas Econômicas Especiais e de lá para cá a China abandonou a economia estatizada e planificada e se tornou a segunda maior economia do mundo. Lá pelas tantas, questionado sobre o caráter capitalista das reformas, Deng saiu-se com essa: “Não sei se Marx aprova tudo o que estamos fazendo aqui. Mas vou encontrar-me com ele no céu e conversaremos a respeito”. Tudo indica que Fidel temia o encontro póstumo com Marx. Não mais... O anúncio da “abertura econômica” cubana coincide com a surpreendente declaração de Fidel ao jornalista Jeffrey Goldberg. Perguntado sobre a “exportação” do modelo cubano, o Comandante (ato falho?) disparou: “o modelo cubano já não funciona sequer para nós”. O
Granma veiculou desmentido oficial. Mas a verdade é que a divulgação da “abertura econômica” desmente o desmentido. Prevaleceu a confissão de Fidel: o modelo não funciona mais. Isso não está a significar que me sinta entusiasmado com a abertura econômica cubana. O fato provocame sentimentos contraditórios. Sei perfeitamente como deve ter sido duro para Fidel admitir a falência do modelo. Trata-se de um caminho sem volta. A revolução cubana triunfou em 1959, mas a adesão ao comunismo se deu um pouco depois. De lá para cá Fidel se notabilizou pela defesa intransigente da economia socialista. Chegou a cogitar banir o dinheiro. O “novo homem revolucionário”, dizia um ingênuo Fidel, trabalharia apenas para ter recompensas morais. O projeto de Fidel (e do socialismo) sempre teve uma premissa falsa: o homem não se movimenta apenas por recompensas morais. Aí a força do capitalismo. Por muito tempo a coisa funcionou por lá bancada pela União Soviética. Com Gorbachev – e o fim da economia internacional solidária – veio a crise. No eufemismo oficial do PC Cubano, surgiu o “período especial”. Em 1997, no V Congresso do PCC (o VI até hoje não aconteceu), pela primeira vez se cogitou de alguma “flexibilidade” no rígido sistema de economia integralmente estatizada. Está tudo na resolucion economica
do Congresso (acreditem, eu li isso). Surgiram os paladares (pequenos restaurantes privados, em residências cubanas). Abriram-se para o turismo privado (espanhol, sobretudo). Estive por lá nestes tempos de “privatização”. Aquela “abertura”, no entanto, era tão só “instrumental” para o regime. Apenas enquanto durasse o “período especial” (cada vez mais especial...). Não havia o reconhecimento da falência do sistema. Seguia a aposta oficial na superioridade da economia estatizada, alheia aos “horrores da busca pelo lucro”, típica do capitalismo bruto. Agora é diferente. Fidel e Raúl deram um passo sem volta. Avançaram na desestatização do campo. Autorizaram táxis particulares (sim, até isso lá ainda estava estatizado). Pequenas lavanderias (as médias e grandes seguem com o Estado!). Ninguém segura mais. Uma “privatização” levará à outra. Como disse antes, a notícia provoca-me sentimentos contraditórios. Acompanho a cena em Cuba desde que me conheço por gente. Ver Fidel, aos oitenta e quatro anos e completamente isolado, reconhecer que fez uma aposta equivocada, me entristece – confesso. A abertura vai ser fundamental para Cuba. Nada disso alivia a minha contraditória tristeza de ver o velho Fidel reconhecendo o equívoco de cinco décadas. outubro de 2010 |
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ROGERIO DISTEFANO advogado
opinião
Da hipocrisia ao cinismo
Q
uando a Ideias estiver circu- a perda de percepção da realidade por uma mudança de comportamento, tudo lando o Brasil terá novo pre- seu mentor, o próprio presidente Lula, a ver com a extração sócio-cultural dos sidente, e, a menos que os intoxicado na megalomania autossu- dois partidos. A mudança que se deu eleitores tenham enganado os insti- ficiente que o sucesso, a incapacida- foi entre a hipocrisia e o cinismo, se me tutos de pesquisa, será Dilma Rousseff de da oposição e o fisiologismo dos permitem a abordagem impressionista. — que será presidenta, porque entre partidos políticos fez grassar em sua No PSDB tivemos o governo da todos os padrões que seu partido vem mente brilhante, mas rigorosamente hipocrisia, atributo social respeitável, quebrando está o do vernáculo ele- destreinada para as sutilezas do com- que nega o pecado para salvaguardar a mentar que impõe o gênero masculino portamento social. Assim, seja o que virtude — um escritor francês definiu nos cargos oficiais. Os anos Lula foram vier no governo Dilma Rousseff, o a hipocrisia como a homenagem que contínua quebra de padrões, o maior certo é que fechamos um ciclo com o o vício presta à virtude. O hipócrita deles a proeza, inédita na história do fim dos dois mandatos de Lula. Mas o nega o erro, esconde o pecado, mente Brasil, de um presidente escolher e que Lula nos deu de diferente dos oito porque reconhece a força social da vireleger seu sucessor, numa estratégia anos do ciclo anterior, dos dois man- tude. Muito se deve à boa educação, igualmente inédita de poupá-lo de datos de Fernando Henrique Cardoso? aos bons princípios, até a sólida forqualquer exposição que revele mação cultural, eventualmente inconsistência e fragilidade. desrespeitadas pelo hipócrita. O PSDB, por exemplo, no auge Não sabemos como será o O governo Dilma vem aí, dos escândalos da privatização, Brasil de Dilma, embora o deo que esperar dele? os negava o tempo todo, dizia senho tenha sido traçado pelo Espero um pouco de hipocrisia que não existiam. presidente Lula: ela será preO PT faz ligação direta com sidente apenas nominalmeno cinismo. Não nega o vício, as fate, cercada por um ministério Do ponto de vista administrativo lhas, as faltas, os erros, os desvios, nada. montado e modelado ad usum Lulensis, o ex-presidente percorrendo o país não vejo grandes mudanças entre os go- O PT admite que eles aconteceram, sem como ombudsman do governo federal, vernos Lula e FHC, afora a esmagadora o menor pudor, acostumado ao tempo no comando de exército de partidos de ocupação da administração pública pe- em que, no ostracismo dos sindicatos, apoio à nova presidente, que ao cabo los filiados ao Partido dos Trabalhado- agia sem controle e sem reservas. O PT é de quatro anos disciplinadamente apeia res. Isso foi novidade, nunca aconteceu moderno, sintonizado com o Brasil dos do cargo para se incorporar à campa- com tamanha extensão e intensidade grotões, que não frequentou escolas, canha que dará o terceiro mandato para em governos anteriores. O PT, partido tecismos, salões de família. O PT esquece Luis Inácio Lula da Silva. De todas as de empregados, fez da administração os valores, são burgueses, os relativiza: metáforas de futebol que impingiu à pública um gigantesco mecanismo de todos fazem, não teve problema, não foi exaustão em oito anos a única que Lula recrutamento, meio de vida e de ascen- bem assim, foram os aloprados. Ou, no não usou — recalcada no inconsciente? são social. No restante, da estabilidade mais emblemático dos comportamentos — está aquela em que Mané Garrincha econômica aos programas sociais o que petistas, a atitude de Lula diante das inocentemente indaga ao técnico Feola se viu foi a intensificação e ampliação evidências de quebra de sigilo da filha se ele tinha combinado com o zagueiro das políticas do PSDB no governo FHC. de José Serra pela Receita Federal: “Cadê Porém houve uma mudança nos esse sigilo, que não aparece?”. da Suécia todas as estratégias para derciclos FHC e Lula. Não chamaria muO governo Dilma vem aí, o que rotar a seleção da Suécia. Portanto, o governo Dilma é uma dança filosófica porque seria sobreva- esperar dele? Espero um pouco de incógnita. A escatologia lulista revela lorizar o PT e subestimar o PSDB. Mas hipocrisia, só isso. 26
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FÁBIO CAMPANA
crônica
Da nobre arte de fazer inimigos e irritar pessoas
M
odéstia à parte, eu tenho muitos inimigos. Tantos que não conseguiria contá-los. A verdade é que não quero saber quantos são. Meu interesse se concentra nos desafetos que detêm alguma forma de poder e o usa como déspota pouco esclarecido, característica muito comum nos políticos nativos. Aprendi que não vale a pena gastar tutano e neurônios com os epígonos. A patuleia miúda é numerosa e de variada catadura. Não pensa. Reage emocionalmente. Segue o líder com a cegueira da paixão e da burrice. Não perco tempo com a malta que se infla de raiva e indignação quando o chefe é atingido. Meu alvo é o suserano de alto coturno. Nunca o torcedor fanático. Meus inimigos de estimação são todos de grosso calibre. A eles dedico o melhor de meus esforços e criatividade. Isso explica porque identifico poucos inimigos, apesar dos áulicos que servem a cada um deles e que me detestam porque coloco em risco a sua segurança representada no mais das vezes por uma sinecura, um salário, um afago, um favor ou simplesmente pela identificação de quem não consegue justificar sua existência de outra forma. São de variada catadura, mas há algo comum entre eles. Percebo em suas reações raivosas um ressaibo de inveja e frustração que se expressa coletivamente pelo primitivo. Há uma categoria especialmente patética, próxima da bufonaria, nesse universo. É a classe dos apedeutas, dos intelectuais
menores ou dos que tentam se fazer passar por intelectuais. Se dão ares de sábios e exercitam a crítica pessoal como forma de sublimar sua evidente limitação de neurônios ativos. Não há aditivo que possa ajudálos. Quase não suportam conviver com a própria mediocridade e isso talvez explique as tentativas de suicídio nesse meio, embora também nisso sejam incompetentes. Não há nada mais ridículo que o suicídio frustrado.
Eu não suporto nada que soe a horda. Prefiro insular-me e só ver os amigos mais chegados. Defendo-me das torcidas organizadas com distância e indiferença. Minha formação em verdadeiros partidos comunistas de antanho provou-me que a máxima dos jesuítas depois adotada pelos leninistas, poucos mas bons, é saudável e eficaz para salvar-nos da patologia social. Os inimigos não me fazem dano.
Mais me divirto com a loucura humana do que me irrito. Os inteligentes percebem. Sou uma pessoa de poucas raivas e rancores. Acredito que o pecado do orgulho me protege desses sentimentos. Em minha soberba sempre enxergo os medíocres como bufões. Há décadas tenho detratores profissionais que ganham a vida nessa faina. Eu acho engraçado. Essa profissão é uma originalidade da província. Compreendo porque deixo de maus bofes os medíocres. Sempre hou ve em mim uma dose robusta de inconformismo. Tenho dificuldades para aceitar o que está posto e estabelecido. Não aceito regras imutáveis, desconfio das leis restritivas da liberdade individual, tenho horror de qualquer manifestação autoritária e um desrespeito intelectual absoluto pelos governantes e pela burocracia entrincheirada atrás dos poderosos. Daí essa minha natural vocação para o questionamento, a transgressão, a rebeldia e o que chamam de espírito anárquico. O inimigo é o sal da terra, dizia meu avô Diego Vera. Eles são a evidência de que temos opinião e sabemos defendê-la. O homem que só tem amigos não tem caráter, dizia ele. O bom mocismo é papel para os néscios e figurantes. Eu, modéstia a parte, tenho muitos inimigos e poucos, mas bons e brilhantes amigos, que são a contraprova de que não vim a este mundo para ser coadjuvante e passá-la em branco. Terrível, desolador, será o dia em que os inimigos desaparecerem. Esse será o verdadeiro sinal do fim. outubro de 2010 |
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cultura
Aroldo Murá G. Haygert
O Paraná em revista Reencontro com páginas que ajudam a entender o Paraná do século XX
A
adolescência dos meninos daqueles anos 40/50 do século passado começava, pelo menos aqui no Paraná civilizado, com algumas inquietações e interesses culturais. Aos 13 anos, minhas atenções, prenúncios de vocação jornalística, voltavam-se para a mídia impressa. O jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, da família Caldas Junior, reinava sem competidores na minha casa, família gaúcha, o pai estatístico, a mãe uma devoradora insaciável de grandes autores editados pela Editora Revista do Globo. Dentre eles, obrigatórios eram livros de Sommerseth Maugham, Gide, Roger Martin du Gard, Petigrilli, Érico Veríssimo, Charles Morgan, Batista Luzardo (num deles, minha mãe encontrava referências a tios seus, revolucionários dos anos 20, como Claro Cáceres). A primeira revista que curti foi a Revista do Globo, de Porto Alegre, que dominava o Sul do país com importante acústica em São Paulo e Rio. Depois, fui introduzido a outra, também de importância regional, abrigo de grandes talentos literários, a Alterosa, de Belo Horizonte. Em Curitiba, lá por 1954, conheci Singra, um suplemento que circulava encartado em jornais de todo o país. Aqui, vinha com O Estado do Paraná aos domingos. Cheio de fotos, cobria fatos da atualidade, nacionais e mundiais, apresentava algumas reportagens de interesse geral e chegou a revelar escritores que ganhariam o país. Mas o que me fascinava eram as fotografias liberadas por agências internacionais, como as UPI e a Ansa, detalhando o mundo e a magia da vida 30
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de notáveis e famosos da Europa e, sobretudo, dos Estados Unidos.
GUAÍRA Ao começar profissionalmente no jornalismo, aos 20 anos, fui introduzido a uma revista que já começava a pertencer à história do Paraná, a Guaíra, da Editora Guaíra, uma casa publicadora importantíssima, abrigo de valores nacionais e internacionais. Editava autores como o Prêmio Nobel de Literatura, John dos Passos, o norte-americano do romance Manhattan Transfer, o qual cheguei a entrevistar ao lado de Norberto Castilho, no Ile de France, lá por 1962. O professor e publisher da Guaíra, era De Plácido e Silva, pai da jornalista Juril Carnascialli; notabilizou-se também pela publicação de obras referenciais de Direito. A ousadia e a visão de De Plácido e Silva não tinham limites, nossos historiadores ainda não lhe fizeram a justiça que merece. Mas é questão de tempo isso acontecer.
DIVULGAÇÃO Socorrendo-me da memória, “releio”a revista Divulgação Paranaense, editada em Curitiba por Arnaud Veloso. Fazia sucesso, no começo dos 60, com ampla cobertura, em preto e branco, dos chamados “grandes acontecimentos sociais” do Paraná. O espaço maior ficava para as festas de quinze anos, os casamentos chiques — quase sempre na Igreja de Santa Teresinha —, as bodas de prata e de ouro. E, naturalmente, as indefectíveis matérias pagas
de governos, prefeituras e empreendimentos comerciais. Eram textos de cunho opinativo, disfarçavam-se em reportagens para aumentar a credibilidade das informações dirigidas. Era pura publicidade, mas sem o aviso, hoje indispensável, de que se tratava de um “informe publicitário”. Esse tipo de matéria paga perdurou até poucos anos atrás em alguns jornais e revistas paranaenses.
REVISTA CLUBE A Revista Clube está muito presente em meu inventário afetivo, nela me iniciei no jornalismo profissional. Era março de 1960, ela começara a ser editada em 1959. Eu, jovem amplamente sonhador, um pouco deslumbrado, confiante no mundo e nas pessoas. Contraditoriamente, tinha algum brilho intelectual à moda mais ou menos clássica, com passagens por bons colégios e por um centro de debates que foi definitivo em minha formação, o Centro Liberal de Cultura, que se reunia na Biblioteca Pública do Paraná, anos 1955/56. O centro agregava gente de minha idade e pouco mais, aos sábados à tarde, para falar de Santo Agostinho, Einstein, Darwin (isso mesmo) e escritores e ensaístas como Gilbert Cesbron (Os Santos vão para o inferno), Josué de Castro (e a Geografia da Fome), Celso Furtado, Plínio Salgado, Balzac, Inquisdição, Vianna Moog. Abordavase também marxismo, pela pregação do mineiro Samir Haikal. Um estimulante intelectual de amplo espectro foi esse Centro Liberal de Cultura, em que pontificavam estudantes secundaristas e universitários, como Luiz Fernando Coelho, Paulo Becker, Marco Aurélio Feijó, Eugênio Szezech, Fernando Frank Bueno... Naqueles tempos, reuniões mistas dessa natureza, nem pensar.
O UNIVERSO DA CLUBE Chegando à Revista Clube, fui conviver com gente que — perto de mim — era muito mais “madura”, pelo menos, assim eu pensava. O dono e diretor geral era o Dino Almeida, essa figura lendária do colunismo social do Paraná; Nelson Faria, que eu conhecera no Centro Liberal, era o editor e alma mater da revista para a qual colaboravam alguns “deuses” da intelligenza curitibana, como René Dotti, Luiz Geraldo Mazza, Aurélio Benitez e o francês Máxime Charles Barrault. Sobre moda masculina escrevia um dândi e cavalheiro, o jovem Roberto Fontan. Ele, como o Ricciardella, o Luizinho Bettega, o Antonio Sergio Luck, o João Elísio Ferraz de Campos — entre outros tantos — eram constantes nas páginas
Vocação, Stencil e Mimeógrafo Sou um privilegiado: aos 14 anos fazia na Biblioteca Pública do Paraná, Seção Infanto-Juvenil sabiamente dirigida pela bibliotecária, mãezona e mestra, Germana Moreira, um jornalzinho. A BPP, nosso centro cultural maior naquele 1954, acolheu-me e a outros piás da época, como o Busnardo, que depois seria doutor do ITA, e ao Marcos Kleiner, hoje médico de ponta, para o projeto que acalentava vocações jornalísticas e inquietações culturais da gurizada. As notícias e opiniões ganhavam alguma aparência de jornal, passadas pelo mimeógrafo. E o “Voz da Biblioteca”, de que fui classificado como ‘diretor de redação’, com suas 50 cópias mensais, ou pouco mais, circulava entre os frequentadores daquele espaço. A minha segunda experiência na área, em 1955, foi criando e dirigindo o jornalzinho “Nova Era”, também utilizando stencil (como matriz) e mimeógrafo. O público consumidor era composto por estudantes secundaristas que se ligavam, como eu, à JEC, Juventude Estudantil Católica da Catedral Metropolitana de Curitiba. Da equipe, faziam parte o Henrique Wolkoff, o Luiz Fernando Peixoto, o Paulo Lisenski, o José Miguel. A orientação era de uma mulher santa, Natália Franco Souza, hoje monja no mosteiro Porta Coelli, de Ponta Grossa. No fundo, havia a direção de um sacerdote com feições morais e éticas irrepetíveis, padre Albano Cavallin, depois bispo auxiliar de Curitiba, bispo diocesano de Guarapuava e, mais tarde, arcebispo de Londrina. Isto sem esquecer a ajuda de monsenhor Bernardo José, que já pertence à história da Igreja em Curitiba. Depois, não mais parei, o cheiro de tinta de impressão impregnou meus dias, assim como as calandras e toda a penosa etapa de feitura de jornais e revistas. A imprensa, até aqueles dias, o começo dos 1960, não tinha dado nenhum salto grande em relação à prensa de Gutemberg. Mas tinha começado a me moldar. Um caminho sem volta (AMGH). outubro de 2010 |
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da publicação, respeitados por ditarem bossas e modas que traziam sobretudo de São Paulo. Por falar em moda, a sensibilidade do Nelson transformou o comerciante de vestuário masculino, Jack Zitronenblatt (depois, securitário) em arauto de tendências na moda. Foi, com Luiz Gil Caldas, dono da Lord Magazin, cujas vitrines indicavam tendências na vestimenta do homem de poder aquisitivo. Nesse ponto, não havia pretensão de vender moda exclusiva. Na verdade, o chique e tradicional, com afetações clássicas e influência inglesa ficavam mesmo com a Coelho, de Carlos Coelho, já funcionando no mesmo endereço de hoje, térreo do Edifício Santa Julia, na Praça Osório. O Lord Magazin, Construtora Paraná, Banco Comercial do Paraná, Madison, Coelho, Construtora Gutierrez, Paula & Munhoz estavam entre os grandes anunciantes, assim como as camisas Morris. Poucas páginas em cores. Na verdade, as policromias ocorriam por obra de João Kóz, o mágico dono da Clichepar, um notável e avançado centro de produção de clichês para o preto e branco e cores que Curitiba exibia por sua alta qualidade técnica. Kóz era um ucraniano de rigorosa formação técnica que por essas mágicas da vida tinha mudado para o Paraná pouco antes da segunda Grande Guerra. Trouxe lastro técnico e criatividade aliados à uma objetividade profissional que, errôneamente, podia levar o interlocutor a classificar Kóz como arrogante.
de Ontem e de Hoje”, cuja redação coube a Nelson, em parceria com Dino, e com a qual também colaborei escrevendo (fui pago para isso) certos verbetes. O Clube Curitibano e o Graciosa Country Club eram espécies de pasárgadas, tal o encanto com que a revista de mundanismo passava para o leitor aqueles endereços e seus eventos. Parecia que o mundo girava em torno dos dois. Algum espaço era destinado ao Clube Thalia, então comandado por José Vieira Sibut, que fez história na administração clubística. A Clube fazia arte: Nelson e seu assistente Adel Amado — que depois se formaria médico — movimentavam, com grande criatividade, pencas de jovens, fazendo fotos de grupos que, olhadas hoje, dão uma ideia de como eram aqueles que se fariam futuros líderes e “locomotivas” de Curitiba. Adel era, com Dino, o repórter número l da chamada jovem guarda. Um certo toque de ingenuidade criativa aparecia num dos números, com Nelson e Adel produzindo a “História do Chapeuzinho Vermelho”. Os protagonistas das cenas fotográficas, que sugeriam repetir a história infantil, eram alguns moços e moças que gravitavam no Curitibano e Graciosa. No “happy end”, moças e rapazes — elas com cestinhas sugerindo conterem presentes — entregavam dádivas a uma freira, longo hábito preto, no Asilo São Vicente, do bairro do Cabral.
NELSON FARIA
“AS DEZ MAIS ELEGANTES”
Nelson Faria se antecipou ao seu tempo e à evolução da cidade: garantia à revista qualidade superior, com padrão gráfico superior para a época. Lembremos que nem se sonhava com o off-set. Havia um quê de cosmopolitismo na revista mensal que sugeria modas para homens e mulheres, ditava estilo para os socialites que então preenchiam os cardápios de acontecimentos mundanos, indicava livros e falava de artes plásticas. A boate Karina’s, onde ocorreu o coquetel de lançamento da Clube, era um dos “points” daqueles dias. Assim como a cidade se mostrava atenta à grande novidade editorial que se anunciava, o livro que prometia ser um “Who’s who” do Paraná, obra de um cognominado barão Heitor de La Torraca (italiano para uns, espanhol para outros), que desfilava estilo e esnobava até personagens do velho Paraná. Chamava-se “Galaria
Dino fazia e apresentava a relação das “Dez Senhoras mais Elegantes do Paraná”, mostradas com fotos de artistas como Utrabo, no capricho, em poses que podiam lembrar “coisa de cinema”. Tempos em que Curitiba com Dino tinha força para criar cognomes que “pegariam”, altamente simbólicos. Assim, a Rua Comendador Araújo, no rastro da Rua Augusta, de São Paulo, transformou-se em “Comendador Chic”. Caiobá virou, anos depois, “a Divina”. E a Rua da Glória, bucólica e pontilhada de moradias bonitas, no Alto da Glória, perto do Colégio Estadual, era a “A Glória Definitiva”. Lá morava Gracinha, uma angelical menina moça que parecia preencher os sonhos do Dino Almeida. Ah, entre os fotógrafos, não posso esquecer o Carlos Motta, que também era repórterfotográfico do Diário do Paraná.
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A Revista não se circunscrevia à órbita do fútil. Havia espaço para criadores e a expressão artística, com os contistas e cronistas Mazza, Benitez, Dotti, Gilberto Ricardo dos Santos... e nas artes plásticas, o faro de Nelson Faria (de Barros, que ele não usava) gerava colaborações importantes, mostrados com suas gravuras, como Alcy Xavier e Helena Wong. Dos fotógrafos que deambulavam pelo endereço da Clube havia o impressionante Salomão Scliar, um intelectual, primo do Moacyr Scliar, que clicava paisagens e sentimentos humanos... As “debs” do DA eram simplesmente as debutantes, moças que eram apresentadas “à sociedade”, numa cidade ainda provinciana e que, até por isso mesmo, tinha seus nomes mágicos. Numa das edições de 1959, lá estão Maria Elisa Ferraz de Carvalho e Vânia Schusssel (hoje senhora Constantino Viaro). Os dois conjuntos de escritório em que a revista se localizava, no Edifício Tijucas, testemunhavam um trânsito diário de gente de teatro, como Lala Schneider, Rogério Dellê, Ary Fontoura, Araken Távora, Cícero Camargo de Oliveira, Odelair Rodrigues. Eram os astros da terra, altamente valorizados naqueles dias em que a televisão começava a se esboçar e que o Teatro de Bolso reinava na Praça Rui Barbosa. Dino e Nelson os acolhiam para entrevistas que, um dia, pretendiam usar, garantindo a diversidade de assuntos da revista, que assim não se ocuparia apenas do café society. Mas que nunca deixaria de enaltecer o primeiro panteão de referências de Dino, representado por Ibrahim Sued e Maneco Muller, os grandes colunistas do society carioca. Aliás, naqueles dias de Clube, o mundo girava em torno do Rio de Janeiro, não havia preocupação em escrutinar outras metrópoles, exceção vaga era São Paulo. Ainda em 1960, a Revista Clube e em seguida a coluna do Dino, no Diário do Paraná (mais tarde ele se transferiria para a Gazeta do Povo), entraram de cabeça no clima de Brasília. A nova Capital mesmerizava as gentes, estabelecia modas (a colunas do Palácio Alvorada estavam em tudo), Juscelino, o JK, era um íntimo da nação, a Novacap era o que importava, assim como seus arquitetos-ícones, Niemeyer e Lúcio Costa. Afinal, como
não se encantar com a cidade de linhas futuristas, sem esquinas e com espaço para atividades do dia a dia bem definidos no Plano Piloto (setores bancário, industrial, comercial, ministérios...)? Os chamados cardápios sociais, mostras de eventos importantes da cidade, relidos em edições de Clube daqueles dias dão ideia de alguns dos nomes que formavam o patriciado local, como os empresários João Ferraz de Campos, Roberto Décio Pereira de Leão, Lydio Slaviero, Agilio Leão de Macedo, Lydio Paulo Bettega, Adolfo de Oliveira Franco, Adherbal G.Stresser, Adolfo Machado (presidente da Associação Comercial do Paraná), Ivo Leão, Pedro Stier... Na edição em que a Revista Clube saudava a chegada de 1961, uma concessão ao autoelogio, com a matéria de abertura intitulada “Nós Somos a Notícia”. Nela aparecíamos, em primorosas fotos, os quatro que tocávamos a revista: Dino, Nelson Faria, eu e Adel Amado. Para mim, foi o máximo, tinha virado notícia, cheguei a imaginar. Ledo engano, apenas engatava as primeiras marchas para fazer o que estou fazendo até agora, setembro de 2010: escrever sobre os outros e opinar sobre o mundo e as pessoas que nos cercam. Por questão de justiça, quero dizer que a revista — leia-se Nelson e Dino — propiciou-me conhecer e conviver com gente sem paralelo na vida paranaense, como Marcel Leite, um intelectual de tempo integral, criativo como só ele, dimensão internacional. Reinava, com seu tamanho GG, e tinha seu guruato (era um guru) na então sede do jornal O Dia, na Avenida Batel. Artista gráfico, contista, analista do cotidiano, era um ser humano despido de preconceitos e de papas na língua. Assim, cada encontro com ele era momento de abertura de cabeças para realidades que estavam ao nosso lado, mas que não percebíamos ou não queríamos ver. Iconoclasta, Marcel dissecava a sociedade paranaense com descrições às vezes ferinas. Mas quase sempre cheirando à verdade, especialmente aquelas que passavam pela vida sexual do próximo, gafes imperdoáveis de nomes nobiliárquicos, e os avanços aos cofres públicos. Escrevia raramente, mas suas narrações registraram história do cotidiano paranaense, o cômico e o sério escondidos pelos registradores da História. Imbatível na transmissão oral de um Paraná que poucos conheceram, e não passado ainda para o papel. Quando o será? outubro de 2010 |
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PANORAMA Não pretendo esgotar o assunto, até porque estou escrevendo de pura memória, sem consultar edições e histórias das publicações. Por isso, eventuais falhas na enumeração de revistas que marcaram o século passado podem ser debitadas (o que não me desculpa) a lapsos compreensíveis. Mas não posso omitir a revista Panorama, que conheci em fortes embates jornalísticos contra o final do Governo Lupion, em apoio à nova ordem que se avizinhava, representada por Ney Aminthas de Barros Braga. Clamava contra o que apontava como escândalos da administração Lupion, particularmente quanto à demarcação de terras. Ivar Feijó, gaúcho tornado paranaense, era seu principal articulista. A revista, cuidadosas edições, impressa na Impressora Paranaense, tinha o Hermes Soethe e o professor Adolfo Soethe como diretores. Foi a primeira a modernizar-se, com uma redação profissional e a linguagem jornalística já aceitando as mudanças sugeridas pela mídia impressa americana.
Também foi a revista que primeiro viu o Paraná com olhos da terra, os jornalistas indo à raiz de problemas que não mais poderiam ser escondidos como a questão fundiária, os posseiros e as lutas pela posse da terra no Sudoeste, dentre outros temas. Panorama tornou-se essencial, indispensável leitura de uma burguesia que se consolidava em Curitiba e uma juventude universitária que começaria, sob a influência de levas de estudantes que aqui chegavam de outros Estados, a partir dos anos 1950, a mudar a face do Estado. Pela Panorama, ao longo dos anos 60 e 70 passariam nomes que desbravariam a busca da identidade paranaense, como Luiz Carlos Cunha Zanoni e Aramis Millarch, ganhadores de um Prêmio Esso de Reportagem; assim como Luiz Geraldo Mazza, Samuel Guimarães da Costa, com seu apurado faro para o histórico e o econômico do Estado, estavam entre os colaboradores. Acho que também o Percival Charquetti, dublê de cirurgião geral e jornalista de muitos talentos, igualmente vencedor de Prêmio Esso.
Vida, paixão e morte da revista Atenção Euzébio Vieira Em 1978 surgiu em Curitiba a revista Atenção. Iniciativa do empresário Faruk El Khatib, da Grafipar, que se notabilizou por estabelecer um centro editorial viável economicamente fora do eixo Rio-São Paulo, que ainda hoje domina o setor. Atenção durou apenas dez números. Em 1979 deixou de circular. Sofreu com a concorrência das gigantes nacionais, mas principalmente com os maus bofes dos governantes nativos da época. Uma matéria de primeira página, “Do neysmo ao braguismo” decretou o cerco e aniquilação econômica do projeto. Lástima. Foi o primeiro e único projeto de revista de circulação nacional com sede em Curitiba. Faruk El Khatib desenhou-a como projeto nacional baseado em pesquisas de mercado. Havia uma fatia cada vez maior de leitores que pediam uma publicação independente, com linha editorial diferente das tradicionais revistas de informação brasileiras. Uma ousadia para os estreitos horizontes de Curitiba. Ele tinha esperanças de repetir o sucesso de revistas eróticas que ganharam mercado imenso no país. Era o erotismo oferecido para quem não tinha condições de comprar a Playboy. O interessante é que dessa safra saíram publicações extremamente criativas sob a direção gráfica de um mestre dos quadrinhos, Cláudio Seto, e da direção editorial de Nelson Faria. 34
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A vida curta de Atenção foi suficiente para mostrar a possibilidade de se fazer outro tipo de jornalismo em Curitiba. O projeto gráfico foi de Reinaldo Jardim. Seu editor, Fábio Campana, hoje editor de Ideias. Atenção reuniu o melhor time de jornalistas e produtores gráficos da época. Por ela passaram Roberto Gomes, Paulo Leminski, Retamozzo, Solda, Rogério Dias, Carlos Alberto Pessôa, Marcelo Borba, entre outros. Era o fim do regime fardado e a revista causou sensação pela liberdade de expressão e por tocar em temas que nos vinte anos anteriores foram proibidos. Quando fechou, a maior parte dos que escreviam na revista Atenção passou a fazer parte do jornal Correio de Notícias, também da Grafipar, em seu melhor momento. O jornal foi citado, entre outros, pelo Le Monde, Le Figaro, além de ser referência constante para publicações nacionais. Morreu dos mesmos males que condenaram a revista Atenção. Ressurgiu anos depois como jornal de sustentação de governos até encarar sua terceira e definitiva morte. Atenção é uma raridade. Há poucas coleções da revista em acervos particulares. Mas o que restou ainda é procurado pelos estudantes de jornalismo que tentam compreender o projeto e sua ousadia no final dos duros anos 70.
QUEM Impossível falar de revistas paranaenses que deram grande contribuição à nossa realidade e esquecer a Quem, criada e dirigida por Carlos Jung, hoje empresário, dono da Diretriz Empreendimentos, especializada em feira e eventos nacionais. Carlos Jung mudou-se de Mafra, Santa Catarina, para Curitiba, início dos 1960. Começou a estudar Direito na UFPR, depois foi para o jornalismo. Passou pela Tribuna do Paraná, pelo Estado do Paraná, ajudou a cobrir o Concurso Miss Paraná, no Diário do Paraná. Ele e Aramis Millarch, com Mussa José Assis, formavam um triunvirato de profissionais que se consolidaria, com grande inserção na sociedade abrangente naqueles dias em que o jornal de Paulo Pimentel tinha liderança no Paraná. Cedo, Carlos Jung foi cultivando fontes preciosas na chamada sociedade abrangente, conhecia e era conhecido da Curitiba que movimentava as realidades sociais, políticas, econômicas e esportivas. Não demorou para João Feder, então diretor de O Estado do Paraná, entregar-lhe o espaço nobre, uma coluna com seu nome. Carlos apanhou com as duas mãos e muito espírito jornalístico a oportunidade preciosa. Resultado: em poucos meses, passou a dividir com Dino Almeida a leitura e a atenção dos paranaenses, num tempo em que a mídia impressa era o que importava entre os chamados multiplicadores de opinião. Depois, no decorrer dos 1970, Jung criou a Quem, bem impressa, moderna apresentação gráfica. Era um misto de revista que valorizava a chamada “agenda social” e temas abrangentes que, com o tempo, iriam caracterizá-la como publicação de interesse geral. O traço mais identificador de Quem, acredito, foi a agilidade com que transitava na descoberta de temas e personagens paranaenses dentro de uma concepção jornalística de vanguarda. Os textos e as reportagens fotográficas refletiam o espírito de Carlos Jung e a forma/conteúdo com os quais se expressava em sua coluna diária no jornal. Não exagero ao atribuir a Jung a sensibilidade na absorção de um moderno jornalismo/colunismo gerado por Zózimo Barroso do Amaral, com sua coluna no Jornal do Brasil, então um jornal paradigmático da imprensa nacional. Carlos Jung não apenas absorveu o novo trazido por Zózimo, dando à coluna social e às notícias e “gossips” a face jornalística; aquele texto leve, valorizando o dia a dia dos seus personagens, fez de Carlos um eleito do público de jornal. A mesma linha seria cultivada, com iguais bons resultados na Quem, uma fórmula de fazer revista para a qual contribuíram jornalistas como Rosirene
Gemael, Ana Luzia Palka, Marceline Ashcar, Almir Feijó, dentre outros. O colunista Wilson de Araújo Bueno foi outra das tantas revelações profissionais de Jung e Quem. A revista paranaense desapareceu nos anos 80, seu exemplo e seu projeto deram frutos. O nome foi depois assumido por uma editora paulista que edita revista de âmbito nacional.
OUTRAS Como contribuição a uma futura história da imprensa paranaense no século XX (quem se habilita a pesquisá-la e escrever sobre ela?), lembro que outras publicações foram importantes. Uma pioneira foi a TV Programas, de Luiz Renato Ribas. Criada no final dos 1960, não só garantia a resenha da programação local de televisão como a ampla abordagem dos homens e mulheres que trabalhavam nas emissoras de TV locais. Eram tempos de muita programação paranaense e amplas limitações técnicas para a formação de redes nacionais. Pode-se dizer que a TV Programas é a grande fonte de pesquisa sobre os primeiros dias da televisão paranaense. Há outros títulos de registro obrigatório, como a Referência em Planejamento, criada por Belmiro Valverde Jobim Castor, secretário de Planejamento no Governo Canet. A revista (fui diretor de Redação) tinha gente de primeiríssimo time contribuindo na análise de nossa economia local, numa ampla imersão na história do Estado para rememorar os caminhos de nosso desenvolvimento. Dentre outros, Reinaldo Jardim (o renovador do Jornal do Brasil), Adalice Araújo, Almir Feijó, Celso Ferreira do Nascimento, Maí Nascimento Mendonça. Nos anos 1980, Dino Almeida e Nelson Faria voltam a publicar uma revista de temas de sociedade, a Quatro Estações, que durou não mais que três anos, muito distante do brilho e importância da Revista Clube. A cartada jornalística dos últimos anos, já no século XXI, pertence à Travessa dos Editores, com a Revista ETC, cujo cuidado em design e edição fez dela publicação sem rival, na área cultural, em todo o Brasil. Mas ela corresponde à nova realidade no fazer revistas, acolitada por todos os avanços da modernidade tecnológica e, sobretudo, na abordagem e análise do mundo produtor de cultura no país. Esta visita a alguns dos lances da imprensa paranaense tem um mérito: chama a atenção para parte de nosso cotidiano registrado por um segmento da mídia impressa. Importante e pouco valorizado. outubro de 2010 |
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Izabel Campana
Cuando yo te vuelva a ver
B
uenos Aires. Cafés, alfajores e Borges por todos os lados. Aquele friozinho civilizado e muita chuva. “Buenos Aires é uma cidade muito melancólica, a chuva lhe cai bem”. É a versão dos nativos. Foi essa Buenos Aires que decidi conhecer. Não vi a cidade dos shows de tango e dos turistas. Quis ver a Buenos Aires dos argentinos. Foi fácil. Em pouco tempo, me senti em casa. Talvez seja o frio, o tempo cinza, a chuva. Me lembram a minha Curitiba. Mas mesmo o que tem ali que a minha Curitiba não tem me lembra a casa. Em todos os cafés, em todas as livrarias e nas salas de tango, um aviso. Borges esteve aqui. E Borges me lembra a casa. Por uma paixão do pai, estantes cheias de Borges são tão argentinas quanto curitibanas para mim. Podia viver em Buenos Aires. O que me incomodou na cidade foram os conterrâneos, os brasileiros. Aos milhares chegavam falando alto a língua pátria e arruinando minha tentativa de viver a experiência argentina. Gritando no Cementerio de la Recoleta em busca do túmulo de Evita. Ou de Madonna, não sabem bem a diferença. Imagino Bioy Casares a se revirar na tumba ao som da horda que perturba um velório. Quis ser argentina. Apesar da crise, apesar de Cristina Fernández de Kirchner. Apesar de tudo. E, princi36
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Tigre - Argentina
Recoleta Cementerio de la
palmente, com uma livraria em cada esquina. Livrarias por todo lado com cafés onde se pode sentar. E ficar. Eu nem tomo café. Mas um mate cocido e uma medialuna me caem muito bem, obrigada. E os livros. Sebos repletos de obras do século XV. Lojas lindas, amplas, limpas. Vitrines bem cuidadas. Há gente nos sebos. E nada de leitura obrigatória. Livros técnicos, didáticos, paradidáticos e pseudo científicos devem ter um lugar próprio de venda. Nas livrarias não. Fui muito bem atendida. Aliás, muito simpáticos os argentinos todos. Grande bobagem que são arrogantes. Sim, tem lá sua autoestima elevada. Ótimo. Nada mais demodê que a autopiedade. Além da palavra demodê, é claro. Essa mistura de simpatia com confiança é muito acolhedora. Não é à toa que nós, brasileiros, invadimos o país vizinho nas férias e feriados. Vamos comer um bom bife de chorizo em Puerto Madero, um belo doce de leite, aproveitar o free shopping. Tudo bem. Mas vamos também porque o povo argentino é uma atração à parte. A verdade é que nos recebem de braços abertos. Há quatorze anos conheci Lorena na Inglaterra. Desde então, trocamos cartas, telefonemas, depois e-mails. Mas não nos vimos mais. Em Buenos Aires, minha amiga argentina viajou duas horas en el colectivo para me ver. Me levou a Tigre, cidadezinha de veraneio dos casais argentinos. Não poderia imaginar acolhida mais calorosa. O que dizer então do senhor Wilfred? Essa figura nos encontrou com guias e mapas abertos em plena rua buscando um restaurante. Ofereceu ajuda. Wilfred mora em San Telmo há 30 anos. Conhece tudo, mas esquece um pouco. O senhor Wilfred nos leva andar em círculos até que encontramos o
Alberto Casares libros antiguos y modernos
restaurante em questão. Um lugar que serve os trabalhadores locais. Nosso guia entra conosco e senta. Carne, vinho e postres. Ao fim do almoço, já nos contou mais sobre o Brasil do que nós mesmos conhecemos. Viaja a passeio ou para reuniões de carpintaria. Além de carpinteiro, ele também escreve. Ficção. Todos os argentinos também são escritores ou psicanalistas.
São cinco da tarde e o senhor Wilfred ainda não parou de falar. Pronto. Perdi todo o passeio. Não fui à Boca. Não conheci o Caminito. Uma sensação de ter sido raptada por esse senhor argentino toma conta de mim. Fico chateada com o adiantado da hora. Quero ir embora. Corto o coração de Wilfred e me despeço. Ele se propõe a nos acompanhar ao hotel, mas é longe e não há necessidade. Andando de volta, penso no passeio perdido e no encontro espontâneo com meu novo amigo portenho. Não estou mais chateada. Sempre se pode ir ao Caminito. Uma razão mais para voltar a Buenos Aires. outubro de 2010 |
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ofício
Karen fukushima fotos
rômulo Zanini
Diante da morte O que se faz diante da morte? Para os profissionais da tanatopraxia a resposta se traduz em ação. Um conjunto de técnicas modernas de conservação e restauração do corpo pós-vida. De origem grega: tanato exprime a ideia de morte e praxia a noção de ação particular. O que se faz diante da morte é a tanatopraxia. A matéria deste mês da série Ofícios retrata a profissão dos tanatólogos e o que eles fazem diante da morte. A técnica A tanatopraxia se baseia principalmente no sistema circulatório do corpo. Uma máquina injetora, semelhante à utilizada na hemodiálise, simula novamente a circulação. Para a injeção é utilizado um líquido Jorge Ribeiro composto por químiTrabalhava como cos que retardam o assistente social processo natural de voluntário e pelo decomposição e coperfil altruísta, um rantes, responsáveis amigo o indicou para fazer o curso por restaurar a cor. em 97. Desde então “A pessoa que pastrabalha com a sa pela tanato perde tanatopraxia. aquela expressão ca38
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davérica. A tanato resgata a dignidade do corpo”, explica Jorge Ribeiro, 35, tanatólogo há 13 anos. Leandro Pontes, 27, é tanatólogo e gosta de estudar a área. Segundo Leandro, a tanato Leandro Pontes “é totalmente difeHerdou do avô o rente da técnica dos gosto pelo trabalho. egípcios, onde eles Para ele foi sempre retiravam todos os muito natural, pois cresceu dentro da órgãos. Nessa técnifunerária da família ca não retiramos nee admirava nhum órgão. O proo trabalho. cedimento é pouco invasivo”, explica. Mas não é só a técnica da circulação que compõe a preparação do corpo pelos tanatólogos. Carlos Maia, 45, um dos primeiros a aprender a técnica em Curitiba e a repassá-la para os demais profissionais, conta que faz maquiagem, escova no cabelo e até mesmo manicure. A ideia é deixar a aparência da pessoa o mais próximo possível do que era em vida. Para se tornar um tanatólogo é preciso passar por cursos específicos, como o de tanatopraxia e restauração, que duram em média 50 horas. Mas os mais experientes afirmam que o curso é apenas uma base. A profissão, como qualquer outra, se constrói no dia a dia. Hoje, eles trabalham em plantões de 12 horas e folgam 36 horas. No caso dos tanatólogos da Capela do Vaticano, são quatro profissionais que se revezam nos plantões. Neste caso, trabalham sozinhos porque todos são experientes e são homens fortes. Eles explicam que existem mulheres na profissão, mas por uma questão física, há mais homens. Quando há mulheres, normalmente trabalham em duplas. Em relação ao tempo despendido em cada corpo é muito relativo. A média é de uma hora e quinze minutos para pesos normais e duas horas para os mais obesos. O tempo de preparação também varia dependendo de como a
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Carlos Maia
pessoa morreu. Os corpos acidentados, que exigem reconstrução facial, por exemplo, podem exigir até três horas de trabalho. “Quando o plan tão era de 24 horas eu cheguei a preparar 29 corpos”, conta Jorge. Hoje, o número maior chega a um por hora. Em seu último plantão antes desta reportagem, Leandro teve um plantão agitado, com 12 corpos preparados. Entrou na profissão porque ninguém queria exercê-la. Foi um dos primeiros a aprender a técnica com Edson Cooper, o pioneiro no Paraná e um dos primeiros do Brasil.
O ambiente A preparação do tanatólogo para o trabalho é semelhante a de um profissional da saúde. Usam roupas brancas e extremamente limpas. As luvas, toucas e máscaras são descartáveis. Todos os instrumentos cirúrgicos são higienizados, esterilizados e embalados separadamente. Além disso, avental e óculos protetor são utilizados. Assim como os profissionais, o ambiente de trabalho também se assemelha muito ao hospitalar. A sala é revestida inteiramente por azulejos brancos, de forma a facilitar a limpeza, e o restante do material composto por aço inoxidável.
Os pilares Respeito, discrição e responsabilidade. Esses são os pilares descritos pelos tanatólogos como primordiais para ser
um profissional da área. “Trabalhando com isso eu aprendi a valorizar mais a vida. Eu durmo bem e se sonho com isso são coisas boas. É gratificante poder ajudar as pessoas a terem um pouco de conforto diante de uma situação tão difícil. Eu faço minhas orações antes e trabalho com muito respeito. Peço licença para mexer no corpo”, conta Jorge. Leandro concorda e diz “o que prezo muito é o respeito. A pessoa estava viva e tem pessoas que gostam dela. Faço minhas orações também. A gente fica meio desapegado, mas eu acredito que existe alguma força, alguma energia e peço para aquela pessoa, para que o espírito descanse. Me sinto feliz de ajudar, de diminuir aquela expressão negativa de sofrimento. É muito gratificante quando alguém reconhece nosso trabalho e agradece”. Carlos confessa que sempre foi do tipo curioso, que parava no trânsito quando tinha acidente. Depois que começou a trabalhar com a tanato algumas coisas mudaram. Hoje, costuma se colocar no lugar da pessoa que perde o ente querido. “Tem casos que comovem a gente, quando são crianças, bebês. Eu me coloco no lugar da pessoa, porque sou pai”, conta e completa que também faz suas orações. Para manter o ambiente com o respeito, discrição Pedro Bonfim e responsabilidade necesCompletando sários, Jorge defende que a equipe e as é imprescindível uma boa faixas etárias, avaliação psicológica antes Pedro, de 50 da admissão, porque não é anos. uma profissão fácil.
A oração Pai, Neste momento, rogo mais uma vez a vossa proteção. Encontro-me diante deste corpo humano inerte, destituído de vida, cuja caminhada terrena acaba de findar. No exercício de minha atividade como tanatólogo, peço a vossa permissão para adentrar o íntimo deste sacrário físico, pois pretendo fazê-lo com o mais profundo e sincero respeito, tendo sempre presente em minha consciência que este ser amou e foi amado, respeitou e foi respeitado, lutou para viver, semeou, colheu, vivenciou vitórias e derrotas, edificou esperanças, cumprindo os desígnios que lhe foram determinados. Elevo neste instante o recôndito de minha fé, tributando a esta criatura vibrações de paz e harmonia, rogando aos socorristas do mundo invisível para que retirem, caso ainda não tenha retirado, a chama divina que habitou esta matéria, guindando-a às hostes dos seus merecimentos, desligando os liames físicos, para que nesta mesa permaneça única e tão somente a composição orgânica na qual praticarei o meu desiderato. Obrigado por tudo quanto tenho recebido, pois sei e sinto que ao iniciar o meu trabalho, mais uma vez as minhas mãos estarão seguras e guiadas por vosso infinito amor, que sempre protegeu e protegerá a minha saúde e minha integridade física. Assim seja. 40
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CARLOS ALBERTO PESSÔA jornalista
livre pensar
O triste fim de Silva Jardim
S
Ah! A nossa república militar. Que continua a sê-lo. Pois se os militares tiraram o time, se estão numa posição discreta, de praticamente ne nhuma exposição, também é verdade que a Constituição-88, bebê de Rosemary, reserva a eles o papel de guardiões da mesma! Na república o Exército — que se firmou na guerra com o Paraguai (1865-1870) — ascendeu à cena política. Positivista no pior sentido da palavra e do movimento, no sentido de igreja, autoritário por formação, “nacionalista” por profissão, com pretensões patrióticas e salvacionistas, suas intervenções foram sucessivas, crescentes. Até desembocar no AI-5, de 13 de dezembro de 1968. Um grande golpe dentro do preventivo golpe de 1964. Voltemos ao triste fim do Silva Jardim. Um dos grandes injustiçados pela República que ajudou a vir à luz, amarguradíssimo viajou para Europa. Silva Jardim foi à Itália e
Foto: divulgação
ou cavalheiro rodeado de sobrinhas e sobrinhos por todos os lados. Sobrinhas e sobrinhos de verdade, filhos de irmãos — cinco irmãos — e de irmãs — quatro irmãs. Sobrinhas e sobrinhos de verdade, não de adoção. Ou de afinidades eletivas, para usar expressão eufemística: IDEIAS é família. De um deles, Gustavo, volta e meia recebo transados e-mails. E nem poderia ser diferente — Gus é publicitário de carteirinha. Dia desses abro o mic®o, dou de cara com mensagem do Gustavo. A perguntar se conhecia o fim do Silva Jardim, nome de avenida, republicano. De brincadeira me autointitulo monarquista. Monarquista constitucional, à inglesa, não à Luiz XIV. A nossa monarquia era constitucional: sob a carta outorgada por D.Pedro I em 1823 — até aqui a mais duradoura das inúmeras Constituições brasileiras, inúmeras que são o melhor e mais sucinto comentário sobre o Brasil político. E republicano.
decidiu dar olhada no Vesúvio, o vulcão, curiosidade geológica ine xistente nos tristes trópicos. O bode que deu! Pobre Silva. Ao invés de seguir o guia e suas instruções, lá pelas tantas se desgarrou do grupo pra encarar o Vesúvio cara a cara. E foi por ele tragado. Morte que estimulou José do Patrocínio a fazer a frase: “Até para morrer converteu-se em lava” — numa óbvia referência aos incandescentes discursos que o celebrizaram. Nessa altura talvez convenha dar mero palpite, mas não vou resistir. Apoiado em tão frágeis fatos, em tão ralos dados, levianamente tenho forte suspeita que Silva Jardim suicidou-se. Num momento de aguda depressão, estimulada pela amargura potencializada pela solidão e voluntário exílio, é possível que tenha se jogado no Vesúvio, se sui cidado. A vida de Silva Jardim foi brevíssima. Nasceu em 1860, morreu em 1891 — dois anos após proclamada a República. Que de sereníssima nada teve: foi uma sucessão de estados de sítio, crises graves, golpes e tentativas de golpes, rebeliões, intervenções militares, largos períodos ditatoriais. Silva Jardim poderia repetir o que se transformou num bordão: “essa não é a república dos meus sonhos”.
Andy Warhol, Vesuvius, 1985 outubro de 2010 |
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Fotos José Kalkbrenner Filho
Um Pioneiro
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uando alguém for escrever a história da moderna fotografia em Curitiba certamente o primeiro nome a ser lembrado é o de José Kalkbrenner Filho. O Kalk, hoje aposentado, passou por várias atividades dentro dessa profissão da qual é um pioneiro. Entre 1945 e 1952 começou com o Carlos Boutin num aprendizado em laboratório: revelação de negativos, provas contato, cópias, ampliações. Em 1952 fez fotografia jornalística para os jornais “Paraná Esportivo” e “Gazeta do Povo”. No Instituto Brasileiro do Café em 1954 dedicou-se à fotografia documentária. Com o novo jornal “Diário do Paraná” na praça foi convidado pelo jornalista Adherbal Stresser para a editoria de fotografia. Na época jantava sempre no restaurante Zacarias, na praça do mesmo nome e que ficava logo acima das lojas Pernambucanas. De sua mesa, enquanto deliciava-se com um belo fricassé de frango e vinho tinto, fotografou de instantes a instantes o incêndio que devorou o Cine Luz, do outro lado da praça. Depois do jantar revelou o filme, fez as cópias e entregou-as para redação. Cobriu concursos de misses (Paraná e Brasil), fotografou futebol e até mortos na morgue para a página policial. Em 1957 no Foto Paris foi contratado para fotografias sociais: festas, casamentos, debutantes, eventos. Teve o seu primeiro furo de reportagem fotográfica em 1958 quando da conquista pela seleção brasileira de futebol da Copa do Mundo na Suécia: estava com o jornalista esportivo Vinícius Coelho no aeroporto do Galeão, à noite, quando chegaram os jogadores. Um mar de gente, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, cartolas, políticos, fãs, uma aglomeração infernal e nenhuma condução que os levasse até o palácio do Catete onde o presidente Juscelino Kubitschek aguardava. Foi quando viram um ônibus com as esposas, noivas, namoradas, mães dos jogadores e gentilmente foram convidados a integrar a caravana feminina. Encaminhados pelo cerimonial para entrar no Palácio pela cozinha deram de cara com ela. Ela, a taça Jules Rimet, só, esperando para ser levada ao Presidente e demais autoridades. E foi ali, na cozinha, que o Kalk fez as primeiras fotos da taça, como num estúdio, sem ninguém para perturbar. E em 1962 funda a Fototécnica primeiro estúdio para atender a incipiente publicidade da província. Por lá passaram grandes nomes da fotografia paranaense notadamente Helmuth Wagner e João Urban. Além da ascendência alemã Kalk e eu temos algo em comum: a dedicação extrema ao trabalho comercial. Enfim, é de lá que tiramos o nosso sustento. Como diz o Kalk: minha família prefere comer biscoitos a medalhas. Nessas páginas algumas fotos que do profissional cujo briefing é o seu talento.
Dico Kremer
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ISABELA FRANÇA
DNA Com apenas 15 anos, a bela Carolina Franco de Souza mostra que traz no sangue a he rança genética da mãe, a barista Georgia Franco de Souza. Campeã brasileira de Cup Tasters (avaliação sensorial do café) e décima primeira do mundo, no Campeonato Mundial de 2011, realizado em Londres, Carolina, teve uma agenda cheia em setembro, no dia 18 desfilou na passarela do Baile de Debutantes do Graciosa Country Club. Uma semana depois comandou um workshop de Cup Tasters, na etapa paranaense do Campeonato Brasileiro de Baristas, no Mercado Municipal. No mesmo dia, ela competiu na categoria e, mais uma vez, consagrou-se campeã.
de mala e cuia A família Galvão Simão acaba de se mudar para a Suíça, acompanhando a matricarca, a médica curitibana Mariângela Batista Galvão Simão, um dos mais importantes nomes da política pública em infectologia. Ela foi convidada a assumir a direção do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Aids - Unaids, entidade com sede em Genebra, na Suíça. O marido Antonio Simão Neto e os filhos Felipe e Luciano a acompanham, na mais nova empreitada. Mariângela estudou em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, formou-se em Medicina pela UFPR e é mestre em Saúde Pública pela University of London. Nunca atuou em consultório. Antes do convite estava dirigindo o departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
descortesia Existe algo mais descortês do que deixar com que a porta do elevador feche na cara de alguém? Pois esta cena deixou três senhoras carregadas de sacolas boquiabertas no quinto andar do edifício garagem de um dos mais tradicionais clubes da cidade. Duas moçoilas que entraram antes, simplesmente ignoraram quem vinha em seguida, carregando sacolas, filhos, etc. Lastimável. 48
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T U D O
D E
B O M
Nos moldes dos tíquetes de desconto de alto padrão, comuns na Europa e nos Estados Unidos, Curitiba será laboratório do primeiro projeto do gênero, no Brasil. O AllesGut – que será lançado em novembro – nasceu numa cobertura, nos Jardins, em São Paulo, graças à paixão comum a dois casais vizinhos por gastronomia. Na busca de boas experiências, descobriam cardápios muitas vezes reproduzidos em jantares nos terraços de seus apartamentos. O quarteto achou que valia a pena procurar lugares que tivessem a cara deles. A amizade ganhou contorno de negócio e a advogada Dora Ostronoff e a jornalista Mariela Castro decidiram criar uma editora para lançar, em várias cidades brasileiras, guias de lugares bacanas. Locais onde gostariam de ir, onde houvesse qualidade de serviços, produtos e ambiente. Lugares para voltar muitas vezes. Lugares que sejam “tudo de bom”, tradução para o português do nome AllesGut. Cerca de uma centena de endereços curitibanos fazem parte da primeira edição.
90%
P.h.D. em Medicina pela University of London e pós-doutora em genética e câncer de mama pala Vanderbild University nos Estados Unidos, a mastologista gaúcha Maira Caleffi veio a Curitiba, no mês passado, para lançar o projeto Outubro Rosa. Entre outros alertas, a médica que já falou sobre o tema na Casa Branca, em Washington, ressaltou o custo financeiro do câncer de mama ao País – cerca de R$ 220 milhões ao ano para o Sistema Único de Saúde. Mas, na avaliação dela, mais alto ainda é o custo social da doença, que gera incontáveis órfãos e tira do mercado de trabalho quase 50 mil brasileiras por ano. Para Maira, com investimentos mais consistentes para diminuir o lapso de tempo entre a detecção da doença e o tratamento, as chances de cura poderiam subir para mais de 90%. outubro de 2010 |
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Veuve Cliquot A Igreja Santa Teresinha e o Castelo do Batel serão palco de um dos grandes e noticiados casamentos de 2011. O jogador da seleção brasileira Michel Bastos, atualmente, no Lyon, na França, oficializa sua união com a curitibana Letícia, no dia 11 de junho, numa celebração luxuosa assinada pela organizadora de eventos Rossana Lazzarotto. Os noivos estão exclusivamente por conta da escolha do figurino. Ele já se decidiu por um terno Dolce & Gabbana e a noiva ainda está em dúvida entre um vestido Dior, um Chanel e outro Armani. Rossana idealizou uma festa em tons de cinza e bois de rose, que servirá 400 pessoas à inglesa. Ao todo, 40 lustres de cristal irão iluminar os salões do Castelo, mas será nos jardins o grande espetáculo. Os noivos chegarão num Rolls Royce e estarão sendo esperados pelos convidados na varanda do Castelo. À medida que atravessa os jardins, o carro será anunciado por uma trilha musical e fogos de artifício espocarão dos canteiros por onde passar o casal. 50
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Delícia A publicitária Márcia Oliveira deixou um cargo confortável no marketing da Universidade Positivo para se dedicar a uma nova e deliciosa empreitada. Em sociedade com Teresa Cristina Chaves Schiel , trouxe da Nova Zelândia a receita do Satis Fudge. Um maravilhoso mix de chocolate e frutas secas que já conquistou uma clientela grande e cativa. O produto é comercializado em caixas pequenas, médias e grandes e entregue em domicílio.
3x Como todos os avós de primeira
Voz Neste 14 de outubro, a cantora Sandra Ávila volta aos palcos curitibanos, bem acompanhada pela nata do jazz local. Será sua segunda apresentação no Massuda Jazz Festival. Sandra, respeitada médica oftalmologista, é dona de uma bela voz. Roberto Menescal, Nelson Wellington, Ivan Lins e outros grandes nomes da música brasileira concordam. A moça estudou piano clássico e canto lírico, foi aluna de Celina Ferreira da Costa, Vânia Pimentel e Olga Kium. Integrou o Coral Madrigal PróArte e o Coral Sinfônico do Teatro Guaíra. Tem dois CDs gravados, Veludo e Bridges, este último vencedor do melhor arranjo em CD, no Prêmio Saul do Trumpet. Além de conhecer muito da música brasileira, tem presença de palco e extremo bom gosto na escolha de repertório. Seu show Midnight Time, no Guaíra, lhe rendeu os títulos de melhor cantora e melhor show do ano, em 2002. O público curitibano agradece o retorno.
viagem, a decoradora Yara Mendes e o empresário Américo Mendes comemoram a chegada de Celeste, filha do artista plástico André Mendes e sua musa Priscila. O curioso é que a pequena chegou para puxar a fila. Os outros dois filhos do casal, Guilherme e Carolina também aguardam a visita da cegonha. Executivo da Phillip Morris, o engenheiro Guilherme, e a advogada Carol terão seu primogênito em fevereiro do ano que vem, em Kuala Lumpur, na Malásia, para onde devem se mudar nos próximos meses. Hoje, o casal vive em Lausanne, na Suíça. E a promotora de eventos Carolina e o publicitário Dado Borell trocam alianças na mão esquerda mês que vem, em Mariscal, e animados esperam um menino para março de 2011.
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VICENTE FERREIRA professor e gastrólogo
Vênus à mesa
Desenho original de D. H. Lawrence
creveu “South Wind” e que passou a maior parte de sua vida em Capri. Morreu aos 85 anos, depois de uma vida livre, tolerante e sem preconceitos. “Mal vivida” diriam juízes cuja condenação é a mais alta Norman Douglas forma de louvor. É ilustrado por um desenho original de D. H. Lawrence, o autor de “O amante de Lady Chatterley”. “Vênus na cozinha” combina com o tipo de vida que Norman Douglas viveu e com o personagem que criou. Foi um dos homens mais amados em Capri. Experimentou todos os tipos de amor, o que o torna uma autoridade no assunto e valoriza as suas receitas, algumas complicadas, outras ingênuas como velhos doces caseiros. Aliás, ele não acreditava muito em doces como estimulantes. O autor de “Old Calabria”, “Fountain in the Sand”, “They Want Looking Back”, “London Street Games”, antologia proibida de limericks, não desdenhou de juntar à sua obra, sob o pseudônimo de Pilaff Bey, a coletânea de receitas afrodisíacas. Graham Greene conta do meticuloso cuidado com que Douglas se entregou à tarefa. “O Douglas amou a vida demais para ter paciência com puritanos ou fanáticos”. Os bárbaros dirão que o viagra e Percorri as receitas. Saborosas algumas só de serem lidas. Certos nomes de pratos soam à memória como a catuaba tornaram as receitas vagas reminiscências literárias: “Hidromel”, “Taça dos afrodisíacas desnecessárias. Amorosos”, “Bebida para depois do Amor”, “Geleia de Enganam-se. As receitas Cravos Vermelhos”. As anotações à margem são pitorescas. A de chouriço à afrodisíacas fazem parte do prazer calabresa, de por água na boca, traz esta anotação: “comigo que vai da mesa à cama e passa deu o resultado inverso”. Noutras apenas um “altamente recomendápor todos os sentidos. vel” ou “realmente estimulante”. Viagra é para operários do sexo, diria Nelson RoSeus ingredientes prediledrigues. Comida afrodisíaca é para espíritos refinados e tos são aipos, lagostas, camarões, devemos lembrar que ela não impede o uso do viagra caviar, aves, caças e alcachofras. Seguem algumas receitas. Bom para quem mais o necessita. O livro “Venus in the kitchen” tem 50 receitas co- apetite. Boa imaginação. Façam ligidas por Norman Douglas, o escritor inglês que es- bom e pleno proveito. 52
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Hidromel
Lagosta à americana
Quando os “dog days” chegarem (em Curitiba aqueles dias de calor e umidade de janeiro e fevereiro) ponha água de fonte em uma vasilha. A três partes de água acrescente uma de mel clarificado. Despeje essa mistura em vasilhas de barro e faça com que seja mexida por quatro horas, sem parar, por suas fâmulas. Deixe-a descoberta, protegida apenas por um prato fino durante quarenta dias e quarenta noites. Então, é beber e brincar.
A melhor receita para este prato foi dada por Charles Monselet. Tome a lagosta mais soberba e cheia de vitalidade que encontrar, corte em pedaços e jogue, ainda respirando (como?) em azeite do melhor, numa caçarola que já esteja sobre fogo forte. Acrescente sal, pimenta, alho picado, bom vinho branco, massa de tomates frescos, muito tempero. Cozinhe mais ou menos meia hora. Antes de servir ponha um pouco de consomé meio gelado e polvilhe ligeiramente com pimenta-caiena. Monselet declara que se a mulher de Pulifar tivesse dado ao casto José esta iguaria não teria o desprazer de ter sido esnobada na histórica e memorável ocasião. Realmente estimulante, acrescenta.
Miolos de Pardais Os pardais sempre foram considerados estimulantes. Aristóteles, aqui traduzido para o latim, escrevia: “Propter nimium coito, vix tertium annum elabuntur”. Também recomendados pela escola de Salerno. Tome alguns miolos de pardais machos e metade desse número em miolos de pombos que ainda não voaram. Pegue um nabo, uma cebola e cozinhe-os em caldo de ervilhas. Corte em fatias o nabo e a cebola, ponha-os numa caçarola funda com meio copo de leite de cabra e ferva o leite até que seja quase completamente absorvido pelos legumes. Depois, ponha nesse caldo os miolos e polvilhe-os com cravo moído. Tire do fogo assim que começar a ferver e sirva quente.
Torta de testículos de boi (Do livro de Bartolomeu Scappi, cozinheiro particular de Sua Santíssima Majestade, o Papa Pio V). Para fazer esta torta de testículo de boi, tome quatro deles e ferva em água e sal. Desembaraceos da membrana que os cobre. Corte em fatias, polvilhe com pimenta branca, sal, canela e nozmoscada. Prepare à parte um picadinho de rim de cordeiro, com bastante molho, três fatias de presunto magro, uma boa pitada de manjerona, timo e três cravos. Prepare a massa para a torta. Depois, arrume em camadas no prato de torta. Primeiro uma de presunto, outra com fatias dos testículos e assim por diante. Antes de cobrir a torta, regue com um copo de vinho. Ponha no forno e sirva quente.
“Vulva steriles” Aspicius dá cinco ou seis receitas desse prato no Sétimo Livro, chamado Polyteles. Os romanos eram grandes apreciadores dessa iguaria. Horácio faz-lhe o elogio na Décima-Quinta Epístola e também Plinio em sua História Natural. Tome dessa parte da anatomia de uma leitoa, deite em molho de escabeche de vinho branco no qual foi antes cozida uma cebola picada, um ramo de aipo, uma pitada de erva-doce, pimenta em grão, um pouco de gengibre, uma pitada de açafrão e sal. Depois de ter deixado a carne assada nessa infusão por algumas horas, retire-a e cubra-a com farinha de trigo. Ponha no fogo, numa caçarola com uma colher mal cheia de azeite e deixe dourar de ambos os lados. Filtre o molho e de quando em quando umedeça com ele a carne. Quando estiver quase cozida acrescente o sumo de um limão ou laranja e sirva quente.
Bebida para depois do amor Um quarto de copo de vinho madeira, um quarto de copo de Maraschino, a gema de um ovo, um quarto de copo de creme de leite e outro tanto de velho conhaque. Sirva sem misturar. Tenha o cuidado de não deixar quebrar a gema do ovo. Deve ser tomado de um só gole. outubro de 2010 |
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MARIANNA CAMARGO jornalista
Crônica
Na margem oposta (ou quando a palavra escuta o som de Cortázar)
O último round, quando ainda não havia tradução para o português, arrisquei-me a traduzir alguns textos. Papéis inesperados, publicado depois da sua morte, tem textos fundamentais. O escrever a palavra sentida, a vontade de expressão à própria expressão, a polarização que separa o escritor do conto, onde a última palavra, por estar escrita, está na margem oposta. À certa altura, acontece o estalo, a percepção de que existe algo antes de tudo, e a força disso culmina na necessidade, no desespero absoluto da escrita, e a partir daí não há nada que nos detenha. Nesse plano, acontece o que Rimbaud previu visceralmente — como há de ser — “a sinfonia se agita na profundeza”, e estamos salvos. Entre o planejamento e o acaso, vivemos. Entre o saber e o sentido, Cortázar. O acaso vira sina, ponte, necessidade. A importância dos sonhos, da obsessão, dessa insensatez que caracteriza o momento da transposição do sentimento para a escrita. O poema tem o mesmo caráter do jazz com sua imprevisibilidade, a pulsação interna, a tensão, o ritmo. Os encontros inesperados, os cigarros tragados com fúria. Intensidade e delicadeza são flores de jasmim, talvez Cortázar sentisse assim. Foto: Henri_Cartier_Bresson.Ille_de_la_Cite_Paris.1952
J
ulio Cortázar em “Do conto breve e seus arredores”, do livro O último round, escreve sobre o que permeia o conto, sua atmosfera e a tentativa de livrar-se das obsessões. Cortázar, com sua habilidade espetacular para narrar o impossível, traduz com destreza e precisão detalhes de gênero tão particular. Porém, o que me chama a atenção neste texto são alguns detalhes abissais que fazem me aproximar de meu escritor preferido. Tem certas coisas que não sabemos por que acontecem, e elas são exatamente as melhores, Cortázar foi uma delas. Primeiro com O Jogo da Amarelinha (Rayuela) onde houve claramente uma mu dança de olhar, ou melhor, uma identificação de pensamento, de narrativa, de cumplicidade. Acreditava, até então, que certas coisas faziam sentido apenas para mim, e assim encontrei-me neste círculo não linear, na alteração que ocorre na pausa entre as palavras, no silêncio avassalador, no respiro. Depois, tive a sorte de revisar Os autonautas da cosmopista, com tradução de Josely Vianna Batista, e me deparei com o outro lado, que era um misto de amor sem fim, de uma longa viagem em um tempo que não existe, ou que demora em acabar. E aí vieram todos os outros.
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comportamento
Ramon vera
Foto: divulgação
Declaração de princípios do homem bem vestido
A
ntigo texto de Aloysio de Mello permanece atual e necessário nestes tempos de segunda ordem em que a barbárie também afetou a maneira de vestir. Mello abandona o transitório (tendências, novos padrões, novos tecidos) e dedica-se a investigar o que a Moda tem de permanente. Consultou figurinistas, donos de casas de moda, cronistas sociais, um ou outro sociólogo, dois ou três homens bem vestidos. O resultado aí está: seis princípios gerais e perenes num terreno tão transitório como a Moda. 56
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Roupa não foi feita para chamar atenção. O homem bem vestido jamais se vale da roupa para exibir-se. O exibicionismo é um dos crimes capitais cometidos contra o bom gosto.
A roupa certa para a hora certa. A roupa esporte, a roupa de trabalho, a roupa do coquetel ou do jantar têm, por definição, os seus momentos de serem usadas. Excessiva elegância numa assembleia de acionistas ou paletó tweed numa reunião de cerimônia constituem uma forma sutil (e às vezes não tão sutil assim) de exibicionismo.
O traje implica numa aceitação da vida social e de suas convenções básicas. O toque pessoal, que transforma uma roupa num meio (sóbrio) de expressão da personalidade, não deve exceder limites a partir dos quais se torna um desafio ou um ato agressivo de afirmação. (A não ser que haja nisto um propósito deliberado e uma decisão firme de arcar com as consequências.)
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Corolários do princípio anterior: a) A roupa que se veste não deve parecer nem muito velha nem muito nova. O desejável é uma integração harmoniosa entre a boa aparência da roupa bem cuidada e o conforto do traje que já se ajustou ao corpo. b) Os acessórios devem corresponder à roupa assim como esta corresponde ao momento certo de ser usado. Exemplos: para a noite os sapatos devem ser escuros. A camisa branca não deve ser usada antes das seis horas da tarde. A camisa listrada elimina a gravata com listras. Ambas devem harmonizar-se com o terno, as meias com o sapato, todos os acessórios com o principal, que é a calça e o paletó.
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O homem bem vestido conhece as novas tendências, mas não adere ao avant-garde da moda. Não será nunca o primeiro a esposar uma invenção nem o último a se converter a ela. Está sempre em dia, mas nunca adiantado. Assim como não se preocupa em mostrar-se “progressista”, também não se atormenta por mostrar-se bem vestido. Mostra-se bem – e a roupa é apenas um dos muitos fatores que contribuem para a impressão agradável que desperta. O seu físico e o seu estado de espírito contribuirão tanto ou mais que a roupa.
e os psicanalistas, uma forma infantil de agressão. Ainda para a boa apresentação das roupas: deve haver um rodízio dos ternos e dos sapatos, na medida do possível. Passar uma roupa com muita frequência faz mal ao tecido; o uso constante do mesmo par de calçados tende a deformá-los mais depressa.
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Acima de tudo, não considerar o trajar-se uma forma de competição. Há pessoas em quem a roupa terá sempre um caimento melhor, seja por causa da constituição física, seja por causa da postura, seja pelo fato de dedicarem a isto um cuidado excepcional. A finalidade do vestir-se bem é a boa apresentação, é a presença agradável. Nos homens bem vestidos a roupa é um meio e não um fim, Portanto, a partir de um certo ponto, os limites de cada um devem ser julgados pelas suas possibilidades reais e não pelas do vizinho. Conhecer os próprios recursos e saber aceitar as próprias limitações é boa filosofia de vida e boa filosofia de moda. Pois à tranquilidade interior corresponde uma aparência harmoniosa, discreta, elegante (na melhor acepção da palavra), a aparência, em suma, a que aspira todo homem que se veste bem.
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O homem que se apresenta bem tem a roupa cuidada. Isto significa um traje sem rugas, mas não obsessivamente bem passado. Seus sapatos serão limpos – contudo o seu lustro não terá concorrência ao sol e a sola e salto estarão em forma. Camisa bem cortada, limpa, passada; gravata nem desbotada, nem enrugada; meias a uma altura justa, não revelando parte desnuda da perna, mesmo quando seu portador sentar-se de pernas cruzadas. A roupa cuidada deve corresponder um cavalheiro limpo, barbeado, de presença agradável. A sujeira e a aparência desmazelada são, como o sabem as babás
Foto: divulgação
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prateleira
Livros
Diários Dico Kremer Da estirpe dos médicosescritores como Céline, Anton Tchekhov, Pedro Nava e António Lobo Antunes, seu conterrâneo, Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha) é figura emblemática na literatura e no modernismo português. Trasmontano de São Martinho de Anta nasceu com o começo do século passado e acompanhou-o até quase o final. Trás-os-Montes é uma região alta, fronteiriça, entremeada de montes, fragas, rochas, pastagens, charnecas e lameiros, pontilhada de uma vegetação rica de urzes, azinheiras, carrascais, giestas, tojos, com rios a correrem-lhe em direção ao oceano. De clima duro é habitada por gente que trabalha na terra ou na pecuária. É dessa terra agreste e pura que Miguel Torga toma a inspiração para a sua literatura. Que é portuguesa, ibérica, atlântica e universal. De sua participação na revista Presença em Coimbra até a última entrada em seu Diário foi artista independente e humanista sem medo de expressar seus pontos de vista. Buscou durante toda a sua vida o autoconhecimento e uma análise profunda de seu país e do mundo. Escritor não conformista nunca transigiu com sua visão e interpretação sobre a vida e a sua mais alta manifestação que é a Arte. Transitou em vários gêneros literários: o conto, o romance, a noveDiários de Miguel Torga la, o ensaio, o teatro, a poesia, o diário. Grande poeta, é no Diário, cuja Publicações Dom Quixote primeira entrada é de 3 de janeiro de 1932 e a última de 10 de dezembro Lisboa 1999 de 1993, que a meu ver, se encontra o sumo de sua obra. O título é só 2 Volumes - 1786 páginas um pretexto para, numa seqüência de dias, Torga pensar o homem, os lugares, a literatura, a poesia, a poAgenda lítica, a filosofia, a ética, a religião, a estética, a arte, o mundo, enfim a vida em sua totalidade. Ganhar terra nos sentidos, É um escritor com estilo límpido, cortante, conciso, lírico e ao mesmo Perder terra na memória... tempo com um viés épico: é descendente de Sá de Miranda e Camões. Que história Talvez o leitor se pergunte: porque ler Miguel Torga? Penso que Triste e mesquinha nos tempos sombrios que hoje nos assombram, onde a profunda huA do homem que caminha! manidade (diferente do humanismo) e o ser humano estão cada vez Um palmo de descoberta, mais ausentes das preocupações de cada um, quando o ter é a medida Um metro de esquecimento... de todas as coisas e quando o ser é o nada, é possível que Torga deixe Só na retina deserta uma semente e que esta um dia, por ventura, frutifique. Ou aconteça Cabe a luz do firmamento... um “estalo” tal como, dizem, aconteceu com o Padre Vieira.
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Livros
Ensaio sobre a Cegueira
Ensaio sobre a Cegueira é sufocante, claustrofóbico e de uma lucidez avassaladora. Revela em metáforas nossa cegueira constante, conformista, brutal. Se livrar da angústia que traz a leitura é difícil, pois o universo cego onde se vive é bastante concreto. Traz à tona os medos, a escuridão, as feridas, o mundo que finge-se não existir, e tudo que mexe tão visceralmente é posto dentro de uma gaveta, num fundo de armário. A invisibilidade está principalmente no que nos habita. O livro do grande autor português é uma experiência vertiginosa, é soco no estômago, e por isso difícil passar das primeiras páginas. Por ser assim, é absolutamente necessário. Sair ileso é praticamente impossível. Marianna Camargo
Prefácio de Glauco Mattoso Sei que um poeta nunca se completa, mas Ademir Assunção caracteriza o poeta que poderia ser chamado de completo, no sentido dos sentidos: tem olhar oswaldiano, ouvido de músico, tato psicossocial, faro jornalístico e paladar tipicamente brasileiro, embora globalmente antropofágico. Nesta sua nova fornada de poemas temos bom sortimento dessa polivalência: diálogos oníricos e fragmentários entre ancestralidades e modernidades, entre urbanidades e mundanidades, entre formalismos e inconformismos, entre clarividências e alucinações. Como todo poeta, Ademir tem seus fetiches, entre eles os animais, escravos e deuses da raça humana, signos de nossas emoções mais abjetas e sublimes. O poeta os alimenta em seu zoológico e se amamenta neles em seu zodíaco, numa cumplicidade primata, inata e abstrata. Ademir Assunção é um canibal mamífero e onívoro. Poeta pleno, portanto. Zona Branca, Ademir Assunção, 2006. Travessa dos Editores.
Capa: Elisa v. Randow
Zona Branca
Muchacha - Laerte Série publicada originalmente na Folha de S.Paulo, Muchacha é, nas palavras do autor, o primeiro “graphic-folhetim” de sua carreira. Tendo como mote os bastidores de um programa de TV, Laerte, ao mesmo tempo que cria uma elaborada — e divertida — revisão dos seriados de aventura da década de 1950, também faz uma espécie de resgate afetivo de suas memórias de infância. Assim como o trabalho que apre senta em sua tira diária no jornal, Muchacha tem inúmeras chaves de leitura. Laerte transita entre ficção e realidade, entre drama e humor. Mas faz isso não para postular sobre os limites da narrativa ou alguma teoria do tipo, mas para abrir novas trilhas e percorrer novos caminhos na linguagem das HQs. Muchacha combina suspense, romance, memória e política e confirma o papel de Laerte como um dos grandes artistas brasileiros em atividade. O lançamento em Curitiba, com ilustre presença de Laerte, foi na Itiban Comic Shop. Muchacha, Laerte, 2010. Companhia das Letras.
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Filmes
O futuro não está escrito
Laranja Mecânica
Stanley Kubrick choca a todos que assistem esse filme desde que foi lançado em 1971. Com planos sequenciais rápidos, ousados e o travelling horizontal e vertical, ele prende a atenção de quem assiste até o final. Violento. Brigas, estupros e assassinatos fazem parte do roteiro. Assustador. Imaginar um futuro como Kubrick desenvolveu assusta até o mais conservador de todos. Baseado no livro de Anthony Burgess, Laranja Mecânica conta a história de um jovem chamado Alex (Malcolm Mcdowell), um punk sem moral que é líder de uma gangue de baderneiros que assaltam e matam apenas por diversão. Em uma dessas farras ele é pego pela polícia e tratado com uma certa lavagem a se tornar um cidadão exemplar doutrinado por um estado rebelde. Larissa Reichmann 60
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The Future is Unwritten — título perfeito para o documentário sobre Joe Strummer (1952-2002), fundador, guitarrista e vocalista de uma das maiores bandas de rock do planeta — The Clash, fundada no ano de 1976, em Londres. O diretor, Julien Temple, um dos pioneiros nesse tipo de documentário, conviveu e registrou também os primeiros shows dos Sex Pistols e Clash, além de ter filmado várias outras bandas: Rolling Stones, David Bowie, The Kinks, Neil Young, etc. O segundo documentário de Temple sobre os Sex Pistols, The Filth and the Fury (2000), passou em Curitiba faz uns três anos, num ato de descuido ou de insanidade de quem trouxe. Sessão única, no Unibanco Arteplex, lotado e com muita gente choramingando por não ter conseguido lugar. Realmente uma pena, sensacional. O primeiro que ele fez dos Pistols foi em 79, The Great Rock and Roll Swindle, além de ter registrado imagens dos primeiros shows da banda em 76, 77, uma compilação com o nome de “Number One”. Assim como o futuro não está escrito, insanidade pouca é bobagem. Marianna Camargo
Pomplamoose Pomplamoose é um desses fenômenos do You Tube. A banda tem apenas dois integrantes. Nataly Dawn e Jack Conte fazem música com edição de vídeo, as VideoSongs. Cantam múltiplas vozes e tocam diversos instrumentos, tudo separado. Só na edição é que esses sons independentes viram música. Os vídeos são muito bem edi tados. As regras definidas por Jack para as VideoSongs são apenas duas. O que você vê é o que você ouve. Não há dublagem. E o que você ouve aparece em forma de imagem em algum momento. Há VideoSongs de canções originais mas também muitas versões, em estilo indie, de músicas pop. Telephone, Beat It e La Vie en Rose já fizeram parte de seus covers. A voz doce de Nataly Dawn e o talento e a personalidade de Jack Conte são o tempero dessa banda diferente. Você pode conferir Pomplamoose no You Tube ou ir direito ao site da banda. E pasmem, eles também se apresentam ao vivo. Izabel Campana
LUIZ CARLOS ZANONI jornalista apreciador de vinhos
O feitiço de 2009
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mágica voltou a acontecer? Uns sustentam ser como ganhar no jackpot, a máquina caça-níquel da qual jorram fortunas quando o apostador logra a exata combinação numérica, uma chance entre milhares. Certamente há exagero na comparação, mas a verdade é que, nas regiões vinícolas que se submetem sem artifícios aos caprichos do clima, são raras as safras excepcionais, essas que viram lenda. Como no jackpot, dependem da combinação de fatores fora de controle. A vinha requer, em seu ciclo anual, frio, calor, chuva, seca, ventilação, sol e luminosidade nas doses e momentos certos. O difícil ajuste das condições climáticas calibra o padrão da safra, e, por tabela, a qualidade do vinho. Não há enólogo capaz de extrair um néctar de uvas ordinárias. Por isso, haja festa quando os deuses do tempo cooperam. E festa é o que mais faz Bordeaux desde que se iniciaram as provas, ainda em barrica, dos vinhos da colheita de 2009. Tudo deu certo. O clima ensolarado, com poucas mas bem distribuídas chuvas ao longo de junho, julho e agosto, permitiu a floração precoce da vinha, a boa definição dos cachos, o lento e equilibrado amadurecimento das frutas. Para completar, em setembro e outubro veio a chamada vindima dos sonhos, com tempo rigorosamente seco, o que não é comum por lá. Nos últimos
trinta anos, Bordeaux teve colheitas memoráveis, como as de 1986, 1990, 1996, 2000 e 2005. Nenhuma delas, porém, ao nível de 1982. Os grandes vinhos deste ano histórico continuam na ponta dos cascos, melhores do que nunca, disputados a peso de ouro. O que faz da colheita de 2009 um caso especial é a maioria dos especialistas considerá-la superior a de 1982. Nas duas o clima beirou à perfeição, mas a diferença está na evolução técnica. Há três décadas, a própria vinificação a frio era pouco difundida. Hoje, o cultivo da uva e sua transformação em vinho não guardam mistérios. É um processo conhecido, sob controle, o que permi-
te ao vinhateiro potencializar resultados. O Bordeaux 2009 se distingue pela estrutura firme e a alta concentração, sem abdicar da elegância e fineza. A fruta é generosa, o frescor dado pela acidez natural equilibra o nível alcoólico, os sólidos taninos indicam se tratarem de tintos de longa guarda – quarenta anos ou mais no caso dos que ocupam o topo das classificações. Safras como essa geram uma onda especulativa que revira o mercado. Em 2005 foi assim. Num primeiro momento os preços subiram muito, retraindo-se depois em razão da crise financeira e do afrouxamento da demanda. Há quem diga que agora será diferente. Os vinhos se mostram muito consistentes, as finanças européias tendem a se regularizar e China e Índia estão indo com sede às compras. Nessa situação, os grand cru de 2009 já ficaram inacessíveis. Rótulos como Lafite, Margaux, Latour ou Haut Brion cruzaram a barreira de U$ 2.000 a garrafa. Acontece que Bordeaux é muito maior. Dos seus 120.000 hectares de parreirais saem, a cada colheita, 650 milhões de garrafas, o dobro do que o Brasil inteiro produz. Há uma imensa quantidade de pequenos produtores com tintos estupendos, que nos chegam a preços mais camaradas. Está aí um excelente campo para o apreciador de vinhos exercitar seu faro. outubro de 2010 |
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reportagem
Texto carlos Simon Fotos Valquir Aureliano
A agonia do Turfe Queda de popularidade ameaรงa futuro das corridas de cavalos
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Fotos: Andrew Watkins/Dubai Racing Club
melhor cavalo de corridas do mundo nasceu em São José dos Pinhais. “Glória de Campeão”, um puro-sangue inglês de sete anos, já acumulou mais de US$ 10 milhões em prêmios. Em março deste ano, ganhou de ponta a ponta a Copa do Mundo de Dubai, nos Emirados Árabes, prova com a maior premiação individual da história do turfe (US$ 6 milhões). Corre o planeta faturando bolsas e tem valor comercial inestimável. Conclusão aparentemente óbvia: seu criador e ainda proprietário dos pais e irmãos do supercavalo recuperou tudo o que investiu, lucrou em cima do feito histórico e prepara novos voos, certo? Errado. “As receitas não chegam à metade dos gastos para manutenção dos animais. É preciso muita paixão para seguir nesse ramo”, lamenta Sylvio Bertoli, dono do Haras Santarém, responsável por formar Glória de Campeão. O desânimo de um criador de sucesso nas pistas retrata fielmente a decadência do turfe no Paraná e no Brasil. O Jockey Club Brasileiro, com sede no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, maior centro do esporte no país, estima que entre 2002 e 2009 o volume de apostas caiu 30%. É o auge de um esvaziamento contínuo, que leva nossos craques turfísticos — humanos ou equinos — a só enxergarem saída aventurando-se no exterior. Quanto menos apostas, menores os prêmios e também o estímulo a criadores, proprietários, jóqueis e treinadores. O que acarreta em queda na qualidade do espetáculo e número ainda inferior de apostadores, num círculo vicioso ameaçador para uma atividade que envolve 13 mil profissionais no País, conforme estudo da Fundação Getúlio Vargas.
O panorama não é diferente nos outros hipódromos importantes do Brasil: Cidade Jardim, em São Paulo, Cristal, em Porto Alegre, e Tarumã, em Curitiba. O Jockey Club do Paraná atravessa uma das maiores crises de seus 136 anos de história. A prestação de contas da diretoria mostra que entre outubro de 2007 e março de 2010, a entidade teve R$ 26 milhões em despesas (R$ 10,2 milhões somente na quitação do IPTU atrasado) e arrecadou R$ 2,5 milhões. O rombo gigantesco tem sido coberto pelas prestações da venda de uma área de 130 mil metros quadrados nos fundos do clube, efetuada em 2007, no valor total de R$ 18 milhões. A dilapidação do patrimônio para pagar contas amedronta quem vive no mundo do turfe. “Tivemos que cortar um pedaço da carne para o corpo sobreviver”, explica o advogado Roberto Hasemann, que há três anos preside o Jockey Club do Paraná. Com o dinheiro da negociação, a diretoria efetuou melhorias, como a reforma de salões internos, da pista e o aumento de 130% na premiação aos vencedores. Segundo o diretor de marketing do Jockey, Guilherme Ronconi, nos últimos dois anos até houve discreta melhora no volume de apostas. Muito pouco, porém, para suportar um déficit aproximado de R$ 50 mil por dia de corrida (chamado de reunião). A salvação da lavoura é a cessão de mais uma área, desta vez para construção de um shopping center que terá entrada pela Rua Konrad Adenauer. O contrato já foi assinado e as obras devem começar no ano que vem. Por mais esta “navalhada na carne”, o Jockey receberá R$ 160 mil mensais e espera ganhar sobrevida. “Glória de Campeão”, o supercavalo paranaense, na premiação e na chegada emocionante em Dubai: contraste com a penúria do nosso turfe
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Velha guarda A verdade é que a crise se instalou porque o esporte não soube renovar seu público. Hoje os salões de apostas do Tarumã, raramente cheios, são frequentados basicamente por aposentados. “Antigamente enchia de famílias aqui. Hoje é raro ver uma criança. Nunca esteve tão ruim”, atesta dona Genoveva Correia dos Santos, que desde 1972 vende pipoca nas reuniões do Jockey Club. A sensação unânime é que o turfe parou no tempo e perdeu a competição com novas opções de lazer. “O esporte caiu muito nos anos 80 e não conseguiu se reerguer, foi atropelado pelo progresso”, diz o presidente Hasemann. Sintomaticamente, uma das duas arquibancadas do hipódromo foi desativada há alguns anos e transformada em boate. Nem sempre foi assim. Inaugurado em 1955, o hipódromo, que por 56 anos funcionou no terreno hoje da Pontifícia Universidade Católica, no bairro mais tarde denominado Prado Velho, experimentou o apogeu do turfe brasileiro, entre as décadas de 50 e 70. Nas tardes de domingo, a alta sociedade curitibana e personalidades locais batiam ponto nas suntuosas instalações do Tarumã. Governadores como o interventor Manoel Ribas e Bento Munhoz da Rocha não só compareciam aos páreos
Zonarde Piovesan: época de ouro ficou na lembrança
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como fomentavam a atividade. “Era uma época espetacular. Chegou a um ponto de você não encontrar lugar nas arquibancadas”, recorda Zonarde Piovesan, 80 anos, ex-jóquei e ainda um assíduo espectador das corridas. “Agora está pior que no tempo do antigo prado. Houve muitas administrações ruins no Jockey Club”, emenda. Para não ver a decadência se acentuar, o Tarumã associou-se ao hipódromo da Gávea no sistema de simulcasting, que permite ao jogador apostar em páreos em horários alternados, aqui e no Rio de Janeiro. O preço disso foi perder o domingo, dia tradicional do turfe, hoje restrito ao Rio e São Paulo. Agora as reuniões de Curitiba ocorrem duas vezes por mês, sempre às sextas-feiras — situação ainda menos drástica que a do hipódromo de Porto Alegre, que precisou contentar-se com as quintas.
Turfe paranaense segue a lógica do futebol — revelamos muito e lucramos pouco A escassez do combustível da engrenagem desestabilizou a outra ponta da cadeia produtiva. Criadores experientes calculam que o número de produtos (animais para corrida) caiu pela metade no país nos últimos 20 anos, e é cada vez mais comum os haras liquidarem seus plantéis e encerrarem as atividades. E quem segue no ramo está disposto a mudar de ares em busca de melhores oportunidades. “Muitos animais de Curitiba estão indo para o Rio de Janeiro. Lá o movimento de apostas e a premiação são maiores”, diz o treinador de cavalos Antenor Menegolo Neto, filho e sobrinho de treinadores e veterinários. Assim, o turfe paranaense segue lógica semelhante à do futebol: é conhecido por revelar boa matéria-prima (no caso da criação, o clima mais frio ajuda no treinamento
Pequenos gigantes
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al os primeiros raios de sol despontam e o “mestre” Emerson Gonçalves da Cruz já reuniu sua trupe de sete alunos, todos meninos, de 14 a 19 anos. A sala de aula é a raia do hipódromo do Tarumã, e o diploma para estes aprendizes, a chance de ganhar a vida sobre o lombo dos cavalos. Ninguém paga para se inscrever na escola de turfe do Jockey Club do Paraná — é uma atividade social e ao mesmo tempo essencial para manter o mecanismo do esporte. Mas não basta querer. Domínio do animal e coragem para galopar e encarar eventuais tombos são menos relevantes que o biotipo. Jóqueis tornam-se descartáveis à medida que ultrapassam os 50 quilos. “Pelo olho dá pra saber. Se o garoto tem esse peso com 14 anos, está fora. Ou mesmo sendo pequeno, mas o pai tem 2 metros de altura, a mesma coisa”, diz o professor. Para Emerson, ou E.G.Cruz, conforme notação típica do turfe, orientar os garotos é como olhar a si próprio no retrovisor. Em 1993, aos 19 anos, ele deixou a família e as montarias amadoras em Campo Grande (MS) para aventurar-se no prado curitibano, “sem uma mala sequer”. Passou pela mesma escolinha do Tarumã e subiu à categoria de jóquei profissional ao obter o pré-requisito de 70 vitórias. Correu em São Paulo e até em Dubai, a meca do turfe na atualidade, e segue nas pistas ao mesmo tempo em que forma novos talentos. “Na Inglaterra, na Argentina, em todo canto tem sementes plantadas aqui”, orgulha-se. Os pequenos aprendizes dormem em alojamento e se alimentam dentro do clube. As aulas na pista vão das 6h às 10h da manhã — horário de sol inofensivo aos delicados
O professor E.G.Cruz: rigidez na escolinha do Jockey
equinos. O fim de tarde é hora de um passeio solto para desestressar os animais presos nas cocheiras. Depois, jantar, TV e cama, antes das 22h, quando fecham os portões do clube e ninguém mais entra. Rotina militaresca, que peca por não condicionar a inscrição à matrícula em escola regular. Mas que dá alento a jovens como David Santana de Souza, 19 anos. Em julho, logo na primeira semana em Curitiba, ele ganhou quatro provas e uma injeção de ânimo. Disse que planejava largar tudo e voltar à terra natal, Alagoinhas (BA), onde começou a montar aos 8 anos e participava de corridas amadoras em retas com cavalos quarto-de-milha. Não havia se adaptado aos centros de aprendizes de Rio de Janeiro e São Paulo. “Aqui o pessoal é gente fina e dá montaria boa. E o nível é mais fraco”, admite, interessado em atingir as 70 vitórias o mais rápido possível. “Ele é um dos mais maduros, tem tudo pra se dar bem”, atesta E.G.Cruz, que deixa clara a função de disciplinador ortodoxo. “Chegam aqui muitos projetos de marginal. Alguns se perdem e mando embora mesmo. Mas a todos damos condições de ter uma O aprendiz baiano D.Santana: vida digna”. menos de 1,50m e muita perseverança
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dos cavalos), que é repassada a mercados de maior potencial. Há jóqueis daqui espalhados em vários cantos do mundo, como João Moreira, atualmente o melhor de Cingapura, forte centro do esporte. O próprio Antenor Neto revela planos se seguir o itinerário do tio Adélcio, há nove anos treinador de um grande haras da região serrana do Rio, e deixar Curitiba. E quando um cavalo local aparece para o mundo, como Glória de Campeão, ele já está nas mãos de investidor estrangeiro. O animal criado na Região Metropolitana de Curitiba foi vendido aos dois anos de idade, por US$ 32 mil, ao sueco Stefan Friborg, um milionário do ramo petrolífero radicado no Brasil, criador de cavalos por hobby. Bem treinado no Stud Estrela Energia, em Teresópolis (RJ), Glória de Campeão começou a se destacar na Gávea e logo virou estrela em outras paradas. Antes da vitória
Menegolo Neto: planos de deixar Curitiba
consagradora de março, sob o comando do jóquei gaúcho Tiago Josué Pereira, já havia conquistado o GP de Cingapura (prêmio de US$ 2 milhões) em 2009 e obtido o segundo lugar na Copa do Mundo de Dubai, do mesmo ano. Embora chateado por não ter recebido sequer um telefonema de agradecimento do sueco, o criador Sylvio Bertoli não se arrepende do negócio (“não tenho bola
O Jockey Club do Paraná, 136 anos: shopping pode ser a solução para amenizar a crise
Linha do tempo do turfe paranaense
Por iniciativa do hipólogo gaúcho Luiz Jácome de Abreu e Souza, é fundado o Jockey Club do Paraná.
Inauguração do Prado Jácome, no local onde hoje fica o Asilo Nossa Senhora da Luz, na Rua Marechal Floriano Peixoto.
É disputado o “19 de Dezembro”, primeiro Grande Prêmio da história do turfe do Paraná.
O governador Santos Andrade participa da inauguração do Hipódromo do Guabirotuba, onde hoje fica a sede da PUC-PR.
Dez. 1873
Jan. 1874
Jan. 1887
Jun. 1899
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O primeiro jogo de futebol da história da cidade, entre o Coritibano (atual Coritiba) e o Ponta Grossa F.C., é disputado num campo preparado no centro do prado do Guabirotuba.
Ochos, cavalo do ex-interventor Manoel Ribas, vence a 1ª edi ção do Grande Prêmio Paraná.
O governador Moyses Lupion autoriza a permuta do terreno do Guabirotuba por uma área do Estado no bairro do Tarumã, para construção de um novo hipódromo.
Jun. 1910
Dez. 1942
Ago. 1950
GP Paraná: o dia de ouro
Largada do páreo principal: arquibancadas cheias e glamour na prova mais badalada do ano
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ma vez a cada ano, o turfe paranaense experimenta um déjà-vu da época dourada. No Grande Prêmio Paraná, as arquibancadas estão cheias, mídia e políticos se fazem presentes, mulheres exibem seus chapéus na área VIP e os melhores cavalos do País disparam pela raia do hipódromo do Tarumã numa tarde de domingo. Em 2010, o GP Paraná trocou pela primeira vez a distância habitual de 2.400 metros pela de 2.000 m, padrão do circuito internacional. Também abandonou o primeiro domingo de dezembro e foi disputado em 26 de setembro, data exclusiva no calendário nacional – ou seja, nenhum dos outros hipódromos brasileiros importantes abriu os portões nesse dia. Cerca de 6 mil pessoas assistiram ao programa, composto por 12 páreos. A estratégia para ampliar a visibilidade e trazer novos adeptos ao maior evento turfístico paranaense também inclui open bar nas áreas nobres, parquinho infantil, con-
O governador Bento Munhoz da Rocha Netto e o prefeito Ney Braga prestigiam a solenidade de inauguração do hipódromo do Tarumã, cujo projeto arquitetônico, em estilo modernista, foi desenvolvido por Edmir Silveira D’Avia. Dez. 1955
Pela primeira e até hoje única vez o GP Paraná não é realizado, devido a um forte surto de gripe equina. Dez. 1963
É inaugurado o sistema de iluminação da pista do Jockey Club. 1973
curso de moda e a disputa de um páreo na madrugada anterior ao Grande Prêmio, exclusivo para frequentadores da casa noturna anexa ao Jockey Club. “É a única prova do ano em que temos lucro.Temos de valorizá-la”, diz o presidente do Jockey, Roberto Hasemann. Este ano o cavalo local Jaburu Vip, conduzido por L.Chimenes, atropelou na reta final e faturou o prêmio de R$ 35 mil da prova principal. Como o alazão de três anos de idade não estava entre os favoritos dos especialistas, rendeu bom volume a quem cravou a vitória – cerca de 15 vezes o valor apostado. Alegria para o veterano criador Jael Bergamaschi Barros, que pela quinta vez viu um animal nascido em seu Haras J.B. Barros levantar o troféu máximo do GP Paraná. “Momentos como esses compensam as dificuldades da criação. Só por dinheiro, não seria bom negócio”, festejou Barros, minutos depois da prova.
O conjunto do Jockey Club do Paraná tornase patrimônio tombado pela Prefeitura de Curitiba. Mar. 2005
O hipódromo do Tarumã passa por uma reforma completa. 2008
Glória de Campeão, cavalo nascido e criado no Haras Santarém, em São José dos Pinhais, vence a Copa do Mundo de Dubai, prova com maior premiação da história do turfe. Mar. 2010 outubro de 2010 |
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Excluído da mídia
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ntes de ser causa, o desaparecimento do turfe da grande mídia é sintoma do enfraquecimento do esporte. Não há mais programa local sobre corrida de cavalos em TV aberta ou em rádio, nem noticiário em jornais diários de Curitiba. O último a fechar as portas aos prados foi a Tribuna do Paraná, que até 2008 manteve espaço fixo escrito durante mais de 40 anos por Raphael Munhoz da Rocha — o mais importante jornalista da história do turfe paranaense, que morreu no último mês de junho, aos 83 anos. Para acompanhar o turfe há a internet ou a TV fechada. As corridas são transmitidas ao vivo por um canal especializado, custeado pelos próprios jóqueis clubes. É neste circuito, e também nos alto-falantes internos do hipódromo do Tarumã que ecoa a voz possante e o emaranhado silábico de Edson Ruck, narrador oficial das corridas de cavalos no Jockey Club do Paraná desde 1970. Aos 66 anos, ele garante ainda dispor da tríade que considera indispensável para a profissão. “Memória para guardar o nome dos cavalos, voz e boa visão. Se uma delas falhar, é melhor pedir aposentadoria”, sorri. Além de narrar, Ruck já apresentou programas sobre o turfe local nas extintas rádios Curitibana, Cruzeiro do Sul e Guairacá, e também na TV Bandeirantes, onde comentava as famosas “barbadinhas”. Hoje, é mais um que lamenta a queda livre do esporte. “Falta maior divulgação. Muita gente ainda pensa que é coisa de milionário, ou enxerga só como jogo, em que o cara perde até a mulher e os filhos”, diz, lembrando ainda os argumentos repetidos à exaustão no mundo do turfe para cativar novos adeptos: a entrada é gratuita e ninguém é obrigado a apostar.
O veterano Edson Ruck: transmissões restritas à tevê fechada
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de cristal”) e reconhece que Glória de Campeão só desenvolveu plenamente sua capacidade pelas condições oferecidas pelo novo proprietário. O que ele lamenta é a penúria das corridas equestres no país, que o obriga a fechar as contas anualmente no vermelho. “Quem convive no turfe há 40 ou 50 anos sabe que o prêmio de uma vitória antes sustentava um cavalo por uns oito meses. Hoje, uma vitória no Paraná não paga metade da pensão do animal. Isso afastou também o pequeno proprietário”, diz este advogado aposentado de 82 anos, que começou a montar aos 5 na fazenda em que nasceu, na cidade de Rio do Oeste (SC), e manteve o gosto pelos bichos represado até 1966. Foi quando recebeu como pagamento de honorários numa causa jurídica 4 e ½ alqueires de terra, no então distante bairro do Campo Comprido, e fundou um haras. O terreno foi mais tarde vendido ao grupo Positivo, que ergueria ali sua universidade, e o Haras Santarém, com mais espaço na Estrada da Cotia, em São José dos Pinhais, virou referência na criação de cavalos.
Salvação Sylvio Bertoli, assim como Hasemann, apoia a cruzada liderada pelo presidente do Jockey Club Brasileiro, Luis Eduardo da Costa Carvalho, para resgatar o turfe nacional. O objetivo é fazer valer a Lei Federal 7.291, de 1984, que permite às entidades promotoras de corridas de cavalos explorar novas modalidades de loteria, como máquinas caça-níqueis, desde que autorizadas pelo Ministério da Fazenda. No começo do ano, representantes turfísticos levaram membros de Secretaria de Acompanhamento Econômico do MF à Cidade do México para conhecer o sistema de loterias do hipódromo Las Américas. A liberação, porém, ainda é uma incógnita. Mas há outras soluções que não passam necessariamente por nova tentativa de legalização da jogatina. O maior exemplo vem dos vizinhos Argentina e Uruguai. Os prados de San Isidro e Palermo, em Buenos Aires, La Plata, em La Plata, e Maroñas, em Montevidéu, reverteram a curva declinante e hoje sediam páreos concorridíssimos — Palermo oferece prêmios duas vezes maiores que a Gávea. A fórmula foi modernizar os hipódromos e transformá-los em grandes centros de entretenimento, com restaurantes, bares, lojas e outros atrativos que tornam as corridas de cavalo apenas a cereja do bolo. O turfe, afinal, não é a única atividade a perder espaço com o advento de novas tecnologias e opções de lazer. Outras, como o teatro, o futebol e o circo, se reinventaram e seguem com público cativo e numeroso — lições a serem aprendidas pelos adeptos das corridas de cavalo.
cRÔNICA
Rotina
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ecidiu não morrer, ainda. Ao invés, levantou-se para trabalhar. O trabalho de todos os dias. Pensou em que momento da vida perdera a vontade, o deFoto: stock.xchng sejo e os sonhos. Não se lembrou. Ligou o chuveiro, despiu-se e iniciou os preparativos para o início de mais um longo dia, como todos os outros. Após banhar-se, entrou nas vestes ordinárias de sempre, maquiou-se levemente, como todos os dias, olhou-se no espelho e viu-se pronta, não estava linda, tampouco horrorosa. Desceu as escadas, vagarosamente. Passou pela cozinha, apanhou uma maçã, e saiu. A caminho do trabalho pensou, pela segunda vez em uma hora, em que momento perdera a vontade, o desejo e os sonhos, pensou também se em algum momento da vida teve vontade, desejos e sonhos. Lembrou da adolescência, da conclusão bem sucedida dos estudos, e não conseguiu qualquer resposta para os seus devaneios. Ao contrário, viu que na vida não teve qualquer desilusão amorosa, não morreu de amor, não teve grandes dificuldades financeiras, não criou inimizades, não fez qualquer loucura, não agiu impetuosamente, simplesmente viveu como planejado, sem qualquer conduta que a houvesse impedido de completar os estudos da forma planejada, sem distrações traiçoeiras que trouxessem surpresas à sua vida programada. Tudo seguiu da forma como delimitado quando teve idade para planos. O sinal parou, alarmou-se para rapidamente indicar que não necessitava que limpassem os vidros do carro, discutiu por trinta segundos com o flanelinha, o sinal abriu e deu continuidade aos seus pensamentos. Refletiu sobre o emprego, recordou-se da felicidade momentânea ao conseguir o cargo almejado. O salário causaria inveja a alguns, mas para ela ainda não era suficiente. Passou a se dedicar mais. Não conseguiu se lembrar em que momento o trabalho tornou-se sua vida. Nem quando foi a última vez que falou com algum de seus amigos. Nem se ainda tinha amigos – à exceção dos subordinados do trabalho, que almejavam a sua companhia, “desinteressados”. Decidiu que hoje iria ligar para alguns deles, e também para a sua sobrinha, que não via há alguns muitos meses, sem saber estimar com precisão. Outro sinal fechado, alarmou-se, mas não encontrou
Camilla Inojosa flanelinhas, estranhou e mordeu a maçã esquecida em meio a tantos pensamentos. Sinal aberto, reta final para a chegada ao trabalho. Seguiu sem pensamentos, guiada pelo inconsciente diário. Estacionou, respirou fundo e adentrou no ambiente de trabalho. Disparou várias saudações matinais, sem qualquer empolgação ou riso forçado, apenas cumpriu os protocolos e convenções aprendidos desde a infância. Após cento e sessenta e dois passos, contados há alguns anos, repetidamente, abriu a porta da sala, dirigiu-se a sua mesa, e deu o sinal para a secretária providenciar o café. Iniciaram-se os telefonemas, as incursões inesperadas de pessoas um tanto quanto insignificantes, as reuniões marcadas, as assinaturas aguardadas, os planejamentos diários. Enfim, transcorreu-se o dia, sem tempo para questionamentos inexplicáveis, ou outros atos que lhe demandariam qualquer momento. Esqueceu-se de almoçar, como todos os dias, simplesmente porque o trabalho lhe tomava tempo, apesar de há muito lhe negar qualquer satisfação. Anoiteceu, e foram lhe avisar que estava na hora de fechar o prédio, lembrou-se de ir para casa, lembrou-se que ninguém lhe esperava. Em certa ocasião decidiu evitar relacionamentos, as angústias de uma paixão lhe afligiam, optou por se afastar desse desesperado sentimento denominado amor, ou qualquer coisa parecida – uma vez que conveniência sem amor também lhe assustava. À época lhe pareceu uma boa escolha, hoje, não saberia dizer. Caminhou para o carro, dirigiu com tranquilidade, exceto por alguns conflitos em razão de divergências sobre a limpeza externa do carro, não sentia necessidade de lavá-lo a toda parada, ao contrário do que julgavam os moradores dos sinais. Os pensamentos nostálgicos surgiram, lembrou que esqueceu de fazer as ligações prometidas, conformou-se, pois não saberia mesmo que dizer. Não tinha qualquer novidade para compartilhar, tampouco angústias, medos, alegrias, felicidades ou sofrimentos. Não tinha nada para contar, a quem quer que fosse. Apenas a estabilidade adquirida há anos, e tão somente. Desejou, por poucos segundos, ter morrido alguma vez de amor. Esqueceu dos pensamentos no primeiro sinal. Chegou em casa, e iniciou os preparativos para o sono aguardado. Jantou, nada que lhe desse prazer, folheou um livro, de algum autor sem graça que lhe dava sono e dormiu. Ao tocar do despertador, abriu os olhos, pensou na vida, sem graça e sem nada e lembrou-se de morrer. Decidiu que ainda não era hora, pensou nos combates que travaria com os flanelinhas, nas pessoas desagradáveis que enfrentaria, na roupa medíocre que vestiria, e levantouse para trabalhar. Antes de sair, apanhou uma maçã. outubro de 2010 |
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cidade
Nova era em Almirante Tamandaré
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choeira, na confluência das Avenidas Francisco Krüger, Antonio Johnson e Domingos Scucato, e a Rodovia Admar Bertolli, eixo do Contorno Norte. De acordo com a Administração do Prefeito Vilson Goinski, o investimento para construção do prédio foi de R$ 2.100.000,00 além dos
Fotos: Assessoria de Imprensa de Almirante Tamandaré
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mês de setembro de 2010 mar cou o início de uma nova era na história do progresso e desenvolvimento do Município de Almirante Tamandaré. O marco dessa transformação é o novo centro administrativo da cidade, batizado com o nome do ex-Vereador Dirceu Pavoni. O crescimento acelerado e a demanda crescente de serviços, obras e infraestrutura gerou a necessidade de construção e ampliação deste novo espaço. Até 2005 os órgãos e secretarias municipais ocupavam espaços alugados ou emprestados em localizações diversas. A centralização da administração tornou possível um atendimento de qualidade e efetivo aos milhares de contribuintes e usuários dos serviços públicos do Município. O Centro Administrativo Dirceu Pavoni tem área construída de 1.650 metros quadrados e está localizado no coração do bairro da Grande Ca-
R$ 500.000,00 em equipamentos para equipar a nova sede, como mobiliários e eletrônicos. No mesmo terreno, que tem área total de 20 mil metros quadrados está sendo construído também um Centro para a Juventude, parceria do Município com o Governo do Estado. O prédio central da Avenida Emílio Johnson agora é sede do Poder Executivo Municipal, que não se transfere para o novo centro, mas divide com ele a administração e a gerência das políticas públicas de responsabilidade do Município. O novo Centro Administrativo é uma extensão da estrutura administrativa municipal, com todos os recursos inerentes e necessários para um funcionamento harmonioso e interligado. E, antes de tudo, é uma obra voltada para a população que precisa de serviços de excelência. Almirante Tamandaré caminha rumo ao futuro. Aos seus herdeiros, um mundo melhor.
CLAUDIA WASILEWSKI cronista
Crônica
Para quem Deus não deu filhos, o Diabo deu sobrinhos - I
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eus sobrinhos começaram a nascer quando eu tinha apenas 11 anos e com 16 já era tia de cinco. O que me parece muito estranho, é que minha mãe, irmãos e cunhadas, permitissem que eu saísse com todos juntos. Eu também era uma menina. Passei por coisas inacreditáveis com eles. Vou escrever uma série de crônicas contando tudo, mas podem ficar calmos que farei com um longo espaçamento de tempo para publicação. Já namorava meu marido Gê, há mais ou menos um ano. Achei um filme preto e branco, esquecido na gaveta. Não fazia ideia do que tinha ali. Como sou extremamente curiosa, já estava indo revelar. O Gê disse que tinha um amigo fotógrafo que faria um copião, para eu escolher. E assim foi feito. Dias depois o tal amigo joga os negativos na mesa dele e diz com cara de ódio: — Não mexo com isto! Vira as costas e vai embora. O Gê não entendeu nada e começou a olhar contra a luz. Em segundos entendeu tudo e partilhou do ódio do fotógrafo. Chegou à minha casa arrasado e quando eu vi do que se tratava, queria acabar com os meus cinco sobrinhos. Então vamos aos fatos e as fotos. Em um aniversário meu, eles desapareceram do salão de festas e subiram para o apartamento. Quan-
do voltaram perguntei onde estavam e o Zé o mais velho (16 anos) me contou que foram tomar um golinho de Whisky escondidos. Não achei ruim porque estavam na idade dos experimentos e nem de longe me pareceram alterados. Só que a ida ao terceiro andar era para uma sessão de fotos. Ninguém pode imaginar o que aconteceu ali. A foto mais bonita é do Daniel em cima de um balcão de cueca, fazendo pose de atleta. Do Zé e do João um verdadeiro horror. Calças abaixadas mostrando, como direi, o verso e o reverso. De frente e de costas. Credo! Mas não me contive e fui para a revelação nestas máquinas. Fiquei parada na frente, fazendo um paredão para ninguém ver o que estava saindo. Acho que fiquei hipertensa naquela hora. Eles esqueceram que os vidros eram espelhados, e aí surgem Heloiza e Lelé. Fotógrafa e assistente. Que desespero! Comecei a ligar. Um por um e todos sofreram de amné sia coletiva. E ainda acharam que estava inventando. Queriam me fazer de louca. No primeiro almoço de família, servi de sobremesa o álbum. E daí sim criei uma congestão familiar. E eles? Claro que com caras de paisagem, segurando uma leve risadinha, enquanto levavam um megababada. Resultado. Por inúmeras vezes o Gê tentou se explicar com o amigo
fotógrafo, que não acreditava que era uma sacanagem de adolescentes e sim um caso de pedofilia. Até que liguei para ele e contei tudo, do meu jeito. Sem escolher palavras como estou fazendo agora. Como diz minha mãe, nem no porto do Rio, na Praça Mauá ouviu tanto palavrão. Xinguei, desabafei e acho que ele acreditou. Se existisse o DISQUE 100 o Gê sairia preso do trabalho. E esta eu não perdoo mesmo depois de 17 anos. Não fiquem com pena deles. A pedido dos próprios que estou escrevendo este absurdo. Em todo caso, pedofilia é crime, é nojenta e deve ser denunciada. outubro de 2010 |
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Márcia
A empresária e escritora Teresa Perez, uma das mais importantes consultoras de turismo de luxo do Brasil, lançou em setembro, em Curitiba, o seu primeiro Traveller Book - uma seleção dos melhores destinos por Teresa Perez. Na foto, Tereza ao lado de Vanessa Taques, anfitriã da Vanessa Taques Home, local do evento.
foto Daniel Sorrentino
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Maria Inês Borges da Silveira, presidente da BPW Curitiba, foi antitriã na 22ª Convenção da Federação das Associações de Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil (Confam 2010), que reuniu de 3 a 7 de setembro, em Curitiba, cerca de 300 representantes de 9 estados. Na foto, Yasmin Darwich, Maria Inês Borges da Silveira e Liz Benham, durante recepção no Palácio das Araucárias.
A apresentadora de TV Thaís Pacholek, que comanda as atrações do SBT e no canal MGM, esteve no PinUp! Hair+Style para realizar a produção fotos para uma revisa local. Na foto, Thais posa ao lado de Bruce Bomfim e Rodolfo Di Avansi, responsáveis pela produção da apresentadora. foto Mary Derosso
foto ElisGlaser
O chef Fernando Patano, do histórico restaurante Europa 92, da família do tenor Pavarotti, esteve pilotando jantar no Restaurante Durski, para pouquíssimos convidados. A iniciativa da Importadora Porto a Porto, Casa Flora e Paganini, levarão o evento gastronômico “Italian Showcooking in Brasil” para mais três capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Posando para a minha foto: o chef Fernando Patano, o presidente da Porto a Porto, Pedro de Oliveira e Gianluca Cló, sócio da família Pavarotti.
Luisa Padilha Ritzmann, ao lado dos pais Sérgio Ritzmann e Ana Padilha, comemorou seus 15 anos, morena e linda, reunindo no salão azul do Clube Curitibano mais de 400 convidados, entre familiares e amigos.
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Nos dias 24, 25 e 26 de setembro, Curitiba recebeu um presente legal: o Nu Jazz Festival’10. Foram 9 espetáculos em locais públicos e gratuitos que misturaram jazz, blues, música popular brasileira e a tendência eletrônica. Durante o coquetel de lançamento do evento, o proprietário do Full Jazz Bar e Restaurante, Fernando Macedo, Nenni Bazani, Danielle Babinski Faé, gerente de marketing do Full Jazz, Meri Ribeiro e Colmar Filho, diretor técnico do Instituto Municipal de Turismo.
foto Márcia Toccafondo foto Naideron Jr.
Márcia
A atriz paranaense Adriana Biroli sempre que vem para eventos em Curitiba entrega suas madeixas e make-up aos cuidados de Júllyan Souza (Júnior) do Jacques Janine.
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A maquiadora Vanessa Rozan, apresentadora do quadro de maquiagem do programa Esquadrão da Moda, do SBT e colunista do site RG Vogue, aceitou o convite da SAAD e veio a Curitiba especialmente para ministrar uma aula de automaquiagem com técnicas específicas para as jovens debutantes do Graciosa Country Club.
foto Márcia Toccafondo
foto Márcia Toccafondo
A apresentadora Flávia Quaresma, que comanda o programa “Mesa para Dois” do GNT, foi a mestre de cerimônias para a entrega do Prêmio Bom Gourmet – Melhores Sabores de Curitiba 2010, que aconteceu no Buffet Nuvem de Coco, no dia 15 de setembro e premiou os melhores da gastronomia curitibana. Na foto, Flávia ao lado do premiado chef Celso Freire.
Um jantar delicioso no Buffet du Batel, marcou as comemorações de 10 anos da SNR Rolamentos do Brasil. Pretigiando o evento: o Diretor de Relações Institucionais da Renault Nissan e Vice-Presidente da ANFAVEA/SINFAVEA, Antonio Candido P. Calcagnotto, o diretor da SNR-Brasil, Stephane Grande e Alain Tissier, vice-presidente da Renault do Brasil.
A Vinícola Miolo emprestou sua expertise ao Grupo Pestana e criou com exclusividade para a rede, um vinho potente, saboroso e muito gastronômico: o “Reserva Especial Pestana”. Presentes ao evento para apresentação do vinho: Hérnan Saucedo, Gerente Geral do Pestana Curitiba, Roberto Rotter, Diretor de Operações da rede Pestana Hotels & Resorts e Paulo Gustavo, Gerente de Marketing do Pestana Curitiba.
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O deputado estadual Ney Leprevost e a esposa Karina Zaniero estão que é só sorrisos com a chegada em setembro, do primeiro filho do casal, Pedro Leprevost. Parabéns!
foto Márcia Toccafondo
foto Márcia Toccafondo
foto Márcia Toccafondo
Os empresários Gian Zambon e Marcello Lorenzetti inauguraram a primeira franquia do Babilônia, no piso dos cinemas, no Shopping Mueller.
A chef Manu Buffara (esq.) está a mil por hora com os preparativos de abertura do seu restaurante, o Manu, previsto para abrir as postas no início de 2011. Alta gastronomia com a assinatura de quem entende. Na foto com a amiga Elisa Lobo.
foto Fábio Riesemberg
O Castelo do Batel foi o local escolhido para a comemoração dos 15 anos da Keune no Brasil. O presidente da Keune internacional, George Keune, e a distribuidora da Keune em Curitiba, Claudete Matte, que também comemora seus 15 anos de Keune com muita competência, anfitrionaram os convidados.
foto Márcia Toccafondo
Os jurados do prêmio Veja Curitiba Comer e Beber 2010 concederam o prêmio de Chef do Ano foi para Paulinho da Costa, (primeiro à esq.), da DOP Cucina, que recebeu o prêmio em lágrimas pela emoção.
O jornalista e professor Aroldo Murá G. Haygert, lançou no Shopping Crystal Plaza, Vozes do Paraná 3 reunindo muitas autoridades e amigos. O prefeito Luciano Ducci garantiu o autógrafo.
foto Divulgação
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Márcia Toccafondo
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A designer de joias Maria Dolores avisa que está com peças belíssimas ma sua loja, no Shopping Crystal Plaza.
foto Márcia Toccafondo
foto Márcia Toccafondo
Um animado coquetel marcou o lançamento das ações comemorativas aos 115 anos do Grupo Thá. no Taboo e contou com a presença da imprensa e de parceiros. No clique, a gerente de marketing Cristiane Kilter brindou ao sucesso da noite acompanhada por Nilton Neilor Antonieto, diretor de incorporação; Arsenio de Almeida Neto, superintendente; André Ruediger.
foto Verônica Pacheco
O premiado e supersolicitado maquiador Riccardo Guerra por onde passa chama atenção pelo estilo arrojado e diferenciado. Com seus longos cabelos loiros muito bem tratados faz inveja a qualquer mulher, e o pretinho básico sempre vem acompanhados de casaquetos pra lá de estilosos.
O 15º encontro do Círculo de História Atleticana aconteceu exatamente no dia em que há dois anos tudo começou: dia 16 de setembro. O tema foi “Os 40 anos do título de 1970 e a história de Alfredo Gottardi no Atlético”. E para comemorar fazendo jus ao propósito dos encontros – que é contar a história do clube através de quem já fez parte dele – o convidado da noite foi Alfredo Gottardi, representante de duas famílias que marcaram o Atlético, na foto, com Milene Szaikowski, organizadora do evento.
A
São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio, dois eventos badaladíssimos, dão a largada para as principais tendências do universo brasileiro da moda. A moda flúor e cítrica, que fez sucesso na primavera/ verão/2010, continuam com mais força no verão 2011, colorindo as unhas, acessórios, sapatos, bolsas e camisetas que dão um look hipermoderno. Os chics turquesa e o coral também dão o tom da estação nos sapatos, bolsas, cintos e colares. As sobreposições vieram pra ficar. Muita renda misturada com tecidos finos deixa o visual alegre e elegante. O blaser preto, um coringa do nosso guardaroupa, fica lindo quando usado com blusas
de renda aparecendo logo abaixo dos quadris. Os atemporais vestidos estão com tudo para este verão e são inspirados na década de 60, mais curtos, mais marcados na cintura evasê ou no melhor estilo tulipa para as saias. Os longos também são hit para a estação do calor, soltos, despojados e com um arco-íris de cores como opção para as estampas. O tomara-que-caia está com tudo e como não poderia deixar de ser, os shorts curtíssimos, no estilo pin-up deixam o visual da galerinha cool e descolado. As taxas, no melhor estilo rocker também são tendências. Os open boots , summer boots e as confortáveis sandálias meias-patas continuam ditando estilos.
foto Márcia Toccafondo
O chef Bressanelli foi um dos convidados a ministrar aula de culinária na 2a. Curitiba Expovinhos 2010, no Mercado Municipal de Curitiba. Entre as alunas aplicadas estava a empresária Beatriz Séra, como sempre, esbanjando simpatia.
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Revista
Cartas do Leitor Escreva para cartas@revistaideias.com.br
Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 108 – R$10,00 www.revistaideias.com.br e-mail: ideias@revistaideias.com.br
Agradeço o envio da Revista Ideias sempre atuante e inteligente com matérias que valorizam os reais valores do Estado e do País. Além do projeto gráfico, que é excelente. Parabéns! Julieta Reis, vereadora de Curitiba/PR
Gente de Ideias Um lado bacana entre os muitos dessa incrível história de Milton e Vera é que mostra como o pessoal do Sul, do velho Paraná, também participou da saga do Nortão. Nos tempos do jornal Nicolau, criado aliás por uma pequena e brava equipe e não apenas por uma só pessoa, dona Vera escreveu por minha instigação o texto inaugural de toda uma secção dedicada à experiência paranaense, “Nós à beira do Paranapanema”, uma delícia de texto de reminiscências. Ela lembrava ali como chegou de hidroavião para fazer toda uma nova vida nas terras de Primeiro de Maio. Essa imagem da moça curitibana, acostumada às graças da cidade, a desembarcar no sertão, vale por dez longas-metragens. Vamos ver se dona Vera se anima e cumpre uma antiga promessa, a de escrever tim-tim por tim-tim a saga inteira do doutor e da sua mulher nos matos e na beira do rio. Um grande abraço nos dois, deste seu fã incondicional. Jaques Brand
Infidelidade ao alcance de todos Realidade triste essa da infidelidade feminina. A matéria está muito boa e as ilustrações são ótimas. Não posso negar que me assustei com o conteúdo. Marco Mello, empresário
01 de outubro de 2010 Editor Fábio Campana Diretora De Redação Marianna Camargo Colaboradores Aroldo Murá G. Haygert, Camilla Inojosa, Carlos Alberto Pessôa, Carlos Simon, Claudia Wasilewski, Dico Kremer, Isabela França, Izabel Campana, José Kalkbrenner Filho, Karen Fukushima, Larissa Reichmann Lobo, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Márcia Toccafondo, Pryscila Vieira, Ramon Vera, Rogerio Distefano, Vicente Ferreira. capa Luigi Camargo Projeto gráfico e diagramação Clarissa M. Menini Katiane Cabral Luigi Camargo Diretor de fotografia Dico Kremer DiretorA FINANCEIRA Clarissa M. Menini Conselho editorial Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana Para anunciar comercial@revistaideias.com.br Para assinar assinatura@revistaideias.com.br Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570 80520-250 / curitiba pr Tel.: [41] 3079 9997 www.travessadoseditores.com.br cep
Gente fina Adorei a revista e a coluna. Obrigada pelo convite e parabéns. Manu Buffara, chef
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