Revista Ideias 109

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ano VII

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R$ 10,00


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Fábio Campana

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omo dizia Leibnitz, tudo está bem, no melhor dos mundos possíveis. Frase que levou o francês François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltatire, a escrever dois ou três dos seus melhores livros. Prefiro Voltaire. Para onde caminha o Brasil? Que tendências predominarão na segunda década deste século que se abrirá sob o comando de Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente do Brasil? Há grandes preocupações com o futuro do país sob o comando de uma presidente cuja grande trunfo não foi sua qualificação pessoal. Seu currículo, comparado ao do adversário José Serra, é inexpressivo. Elegeu-se graças ao apadrinhamento do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que soube construir uma popularidade que beira a unanimidade e transferi-la na forma de apoio eleitoral para sua candidata. A situação não tão ruim quanto a imaginam os adversários do lulismo. O tucano Beto Richa, recémeleito governador, é um político hábil e seguro. Ele acredita menos na força das ideias do que nas virtudes da boa administração. A situação de Curitiba, que ele governou durante seis anos, e o fortalecimento de seu PSDB nativo parecem dar-lhe razão. Pois, pois, Richa é otimista e não crê que o resultado da eleição presidencial possa indicar uma inclinação generalizada da opinião pública brasi-

leira para seguir o populismo de Lula. Os eleitores estariam apenas julgando, como lhes compete, o desempenho de seus governos. Onde esse desempenho tem-se mostrado insatisfatório ou inepto, o eleitorado vota nos oposicionistas e força a substituição do partido no poder. É o caso claríssimo do Paraná. Aqui, o ciclo de Requião chegou ao fim e o PMDB dá sinais de decadência. Mas onde o desempenho da administração é considerado bom, o povo mantém-se fiel aos seus líderes, conforme aconteceu ainda agora em São Paulo e em Minas Gerais. A lógica de Beto Richa parece de ferro. No entanto, não seria correto considerar apenas os resultados eleitorais, sem procurar ver o que está por detrás deles e da própria sorte dos partidos. Um desses fatores, talvez o mais raso e imediato, é a situação econômica e a já citada farta distribuição de crédito e de benesses pelo fenômeno agora conhecido como lulismo. E isso pode levar a uma crise futura, segundo o diagnóstico de economistas que não comungam as ideias que presidem os formuladores da política lulista. Dilma Rousseff certamente terá de fazer um reajuste, um reacerto destinado a cortar excessos e exageros praticados para garantir a popularidade do presidente Lula e que foi decisiva para a vitória do PT. O povo não costuma tolerar ajustes fiscais ou redução de suas benesses. É o que vamos ver a partir de janeiro.




nesta edição A vitória do Lulismo....................................... 18 Acabou.............................................................. 22 Fábio Campana Por favor, poupem as mães........................... 28 As dores da transição..................................... 32 Vale-tudo – gente que luta............................ 38 Carlos Simon IDEIAS#109 O ciclo marcado pela hegemonia de Roberto Requião de Mello e Silva na política paranaense chegou ao fim.

Um olho que se move..................................... 46 Dico Kremer Um homem incomum.................................... 52 Fábio Campana Tamandaré, cidade pensada......................... 74

colunistas A partilha adequada........................................20 Luiz Geraldo Mazza E foi assim que Osmar perdeu a eleição..... 26 Luiz Fernando Pereira Política e futebol............................................. 30 Rogerio Distefano “Langouste Thermidor”................................. 56 Vicente Ferreira Cozinhando com Babette.............................. 58 Luiz Carlos Zanoni

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Samba de Brasília............................................62 Izabel Campana


índice

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Sejamos práticos, porém brilhantes........... 63 Marianna Camargo

seções

Amílcar, O Grande.......................................... 64 Carlos Alberto Pessôa

Editorial ........................................................... 03

Isabela França..................................................66 Do bolo de chocolate ao petit gâteau.......... 76 Claudia Wasilewski Humor............................................................... 78 Pryscila Vieira

Curtas................................................................ 08 Frases.................................................................10 Gente Fina........................................................ 12 Câmara dos Vereadores..................................36 Prateleira.......................................................... 59 Balacobaco....................................................... 70 Cartas/ expediente..........................................77


cURTAS

Poço de mágoas

Foto: Divulgação

Osmar Dias assume o papel de derrotado ressentido. Submerso em mágoas, torce pelo fracasso imediato do futuro governo de Beto Richa. Vai fazer de tudo para mobilizar oposições a Beto Richa. Aos professores mandou a seguinte mensagem: “Os professores paranaenses devem cobrar a promessa do aumento salarial de 26% no primeiro dia de mandato”. Ou seja, o derrotado quer ver o circo pegar fogo.

Cofre arrombado

BOPE do Pessuti

Foto: Divulgação

Orlando Pessuti faz de tudo para deixar a sua marca no governo do Paraná. No mais das vezes a maquiagem sai cara e onera ainda mais o minguado caixa que vai entregar a Beto Richa no dia 1º de janeiro. Entre outras, transformou a Companhia de Polícia de Choque da PM em Batalhão de Operações Especiais, o BOPE, inspirado no filme; Criou também o Grupamento de Resgate Aéreo (GRAER).

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Foto: Divulgação

Pois, pois, o Relatório da 1ª Inspetoria de Controle Externo do Tribunal de Contas desmentiu aqueles diagnósticos fantasiosos de Requião, Irmãos & Cia sobre a saúde das contas da Paranaprevidência, o fundo previdenciário dos servidores estaduais. O déficit até 30 de junho é de R$ 3,204 bilhões. Hoje, segundo os técnicos deve estar por volta de R$ 5 bilhões. O governo, como sempre, não fez os repasses de sua responsabilidade. Vai ser mais um abacaxi para Beto Richa descascar logo que assuma.


Fim da sujeira A Justiça Federal do Paraná determinou que a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) resolva o problema da limpeza e conservação do Porto de Paranaguá. Em caso de descumprimento de qualquer das determinações será cobrada multa diária no valor de R$ 50 mil.

Abstenção Quase 30 milhões de pessoas não votaram no segundo turno para presidente da República. Isso representa uma parcela de 21, 50% do eleitorado.

Silêncio dos culpados A Celepar decidiu comprar um computador por R$ 2,8 milhões e investir em outros equipamentos. Gasto total de R$ 40 milhões. Sem licitação. Diante da denúncia e dos protestos a direção da empresa tirou o bode da sala. Apagou da internet qualquer informação sobre o assunto. Nos corredores, o silêncio é ensurdecedor…

Líder escalado O deputado tucano Ademar Traiano será o líder do governo Beto Richa na Assembleia Legislativa. Traiano, líder do PSDB, foi convidado logo depois do resultado da eleição.

Acabou a moleza A Lei da Transparência foi sancionada. Ela obriga os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, mais o Ministério Público e o Tribunal de Contas a divulgarem as prestações de contas, contratos e atos administrativos na internet e em Diário Oficial.

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“Lula comprou os pobres do Brasil”

fRASeS

O poeta FERREIRA GULLAR vê Dilma como “uma marionete” e Lula como um “ignorante”, “mentiroso”, com “fome de poder”, que é “a vergonha do Brasil”. Disse tudo isso em entrevista para jornal de Portugal. Ferreira ganhou o prêmio Camões 2010.

Companheiro é companheiro, FDP é FDP Requião e Pessuti já não companheiros, logo. A frase é de REQUIÃO, em entrevista na CBN de Foz do Iguaçu.

“Vou voltar para a vida rural, vou ser agricultor” OSMAR DIAS, depois da segunda derrota como candidato a governador do Paraná.

Requião precisa tomar seus remédios para esquizofrenia Resposta de ORLANDO PESSUTI aos ataques de Requião. Quem fala o que não deve, ouve o que não quer. Depois de dizer que o país

Foto: Denis Ferreira Netto

não pode descer serra abaixo

O PT faz ligação direta com o cinismo

num infame trocadilho para criticar Serra, LULA ouviu de um tucano mais sóbrio que com ele, Lula, o Brasil

ROGERIO DISTEFANO, advogado e colunista de Ideias.

VALDIR ROSSONI, irritado com a solicitação de reuniões para discutir a sucessão na Assembleia

desceu muitas vezes goela abaixo Todas as coisas já foram ditas, mas como ninguém escuta é preciso sempre recomeçar NÊGO PESSÔA, sobre a sua pregação contra os técnicos de futebol

Foto: Denis Ferreira Netto

Se voz forte servisse para alguma coisa o asno possuiria palácios

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Citação de provérbio libanês pelo delegado FERNANDO FRANCISCHINI acerca de alguns políticos nativos que tudo tentam resolver pelo grito. | novembro de 2010

Voto secreto e casamento são um convite ao adultério O deputado ALEXANDRE CURI sobre a eleição da nova mesa da Assembleia

“Só faço exame para mostrar que sei ler e escrever se a correção for feita pelo Lula” TIRIRICA, eleito deputado federal com mais de 1,2 milhão de votos e acusado de ser analfabeto e incapaz de exercer o mandato.

Foto: Divulgação

“Reuniões são inadiáveis quando não se quer decidir coisa alguma”


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Foto: Dico Kremer

Gente fina

Elegância discreta

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ão se iluda; atrás deste belo rosto, desta discreta elegância, há empresária que luta pelos seus produtos infatigavelmente em Inglês, Francês, Espanhol, Português. Que não teme a selva selvagem do mercado global. E que vai à China como outros voltam para casa ao final da tarde. Acolitada pela irmã Eliane, Elizabeth Hey transformou empresa familiar&provinciana numa international player. Sua Placrim não para de crescer. E aparecer. Na Oropa, França, Bahia. Suas placas conseguiram seduzir clientes tão exigentes quanto HSBC, Volvo, Bradesco, BB. Seletíssimo clube, sinônimo de alta qualidade. Carlos Alberto Pessôa

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GEntE fina

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doutora BEttina sansOn tem dado contribuições enormes para melhorar o visual humano de Curitiba. Dermatologista formada pela Universidade Federal do Paraná, ela pretendia seguir vida acadêmica. Construiu currículo invejável. Em 1993 recebeu o título de especialista em hanseníase. Em 1995, o de especialista em dermatologia. Fez mestrado em medicina interna na área de transplante de medula óssea. Pois bem, de repente, não mais que de repente, a trajetória da doutora Bettina mudou. O interesse pela Estética permitiu-lhe desenvolver uma clínica fantástica, que tornou-se referência nesta área.

a FantÁstica BEttina

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��e Mei�eles. Baiana. Jornalista de profissão.

Cineasta de talento e vocação. Daquelas morenas que ao falar e andar lembram certas personagens de Jorge Amado. Hoje dirige sua produtora de filmes “Em Cartaz Produções Audiovisuais”. Seu primeiro curta, “Venha ver o por do sol”, é de 2009. Sucesso. A estreia lotou a Cinemateca de Curitiba. O segundo é “Olho de Abutre”, baseado em conto de Edgar Allan Poe, que estreou em Curitiba e agora percorre o mundo em festivais.

O OlHO da Baiana B

Novidade. Os dois serão exibidos em escolas públicas de Curitiba como atividade extracurricular. Enquanto isso, June prepara o próximo trabalho. Um documentário sobre o prédio histórico da mais antiga metalúrgica de Curitiba, hoje transformado no Shopping Mueller.

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GEntE fina cUritiBa nas lEntEs dE dEirÓ

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a�l�s Dei�� chegou a Curitiba em 1985. Desde

então está ligado atavicamente à cidade. Os prêmios de Deiró e sua equipe são prêmios de Curitiba. A cidade e suas transformações estão registradas em suas lentes há 25 anos. Curitiba correu o mundo nas imagens de Deiró. São mais de 15 mil claquetes, documentários e comerciais produzidos. Uma das produtoras mais premiadas nacional e internacionalmente.

BanHO dE MOÇa

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s moças bonitas são as arquitetas Mayt� �e Cama��� e P�is�ila Gali�i�li. Responsáveis pelo mais interessante projeto da mostra Morar Mais por Menos deste ano, o Banho de Moça, que você vê na foto de Cadu Silvério. Maytê e Priscila conseguiram aliar originalidade, beleza e funcionalidade. O Banho de Moça é colorido e despojado. De linhas retas e sinuosas para criar um ambiente harmonioso, leve, descontraído, como deve ser para uma adolescente.

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GEntE fina

FUriOsO sOPrO

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ntensidade. Fúria e delicadeza. A música amplifica tudo. É assim raUl dE sOUZa. Inventou e desenhou o “souzabone”, variação do trombone, de quatro válvulas em vez das tradicionais três e afinado em dó.

Comemora 55 anos da carreira com uma turnê em cinco cidades brasileiras. Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. Com 76 anos e fôlego de quem toca trombone, Raul reinventa-se constantemente e mergulha na música. Nascido no subúrbio carioca Campo Grande e criado em Bangu, João José Pereira de Souza, foi batizado artisticamente por Ary Barroso no seu programa de calouros. Ganhou em 1957 o prêmio de melhor músico no Rio de Janeiro. Mas não veio a consagração, apenas dificuldades. Coisas do Brasil. Um ano depois ingressou na banda da Força Aérea Brasileira em Curitiba, por sobrevivência feroz, onde permaneceu até 1963. Pela arte tocava à noite nos bares de então. Depois, decolou para a Europa. Tocou com as lendas do jazz. Sarah Vaughan, Stanley Clark, Sonny Rollins, Freddie Hubbard, George Duke, Chick Corea, Jimmy Smith e outros. Participou de festivais internacionais de jazz em Montreux, Monterrey e no Brasil.

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eLeIÇÕeS

AnTOnIO veRA

Dilma, a vitória do Lulismo

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ilma Rousseff foi eleita a primeira presidente do Brasil com 56,05% dos votos válidos. Coadjuvante da própria candidatura, ela encarnou Lula para receber 55.752.092 votos de brasileiros que querem a continuidade do lulismo no poder. Contra 43,95%, ou 43.710.422 de votos dados ao seu adversário, o tucano José Serra. O que explica o sucesso eleitoral de Dilma Rousseff, uma tecnoburocrata com passagem pela militância na esquerda radical nos anos de chumbo, ex-prisioneira política, ex-empresária mal-sucedida, que nunca antes na história deste país disputou uma eleição? Fabricada por Lula, a candidata foi envernizada pelo marqueteiro João Santana e sua equipe de cerca de 180 pessoas. Operou-se então o milagre da transformação. A cara amarrada da tecnocrata de mostruário desapareceu. Dilma teve a fama de durona recoberta por densas camadas de marketing. O mais importante estaria por vir. Dilma mimetizou Lula no discurso e nos gestos e esse foi o ingrediente mais importante da fórmula que lhe deu sucesso. Prova disso é que no momento em que os marqueteiros tentaram reduzir a presença do presidente Lula na campanha para focar os holofotes na candidata foi um desastre. Sobreveio o segundo turno e Lula voltou ao primeiro plano. Nos comícios, a fórmula infalível. Primeiro, falavam os candidatos ao Senado. Depois, o postulante ao governo do Estado. Dilma foi sempre a penúltima da fila. Reservaram-se os epílogos para Lula. Sob atmosfera apoteótica, o padrinho ofuscava a afilhada. Pois, pois, Lula fez por Dilma mais do que fizera por si mesmo nas cinco campanhas em que correra o país como candidato. Nunca antes na história do país um presidente da República jogou-se tanto numa campanha como Lula. Virou cabo eleitoral com dois anos de antecedência. 18

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Primeiro Lula impôs Dilma ao partido. Arrancou-a do gabinete. Levou-a ao meio-fio. Exibiu-a em comícios disfarçados de eventos oficiais. Pai do povo, converteu-a em mãe. Na noite de domingo, Lula degustou o sucesso de sua criação: “Quando escolhi a Dilma, me chamavam de louco”, recordou. Afora o apoio decisivo do presidente, Dilma contou com um exército profissional para dar consistência à campanha em todo o país. Além das quase duas centenas de cabeças acomodadas na equipe de marketing, Dilma foi rodeada por outras cem pessoas. De secretários particulares a assessores de imprensa. De seguranças privados a uma trinca de agentes da Polícia Federal. De treinadora de mídia a fotógrafo. O cuidado, por extremado, estendeu-se dos sapatos aos fios de cabelo da candidata. A cabeleireira pessoal de Dilma, Rose Paz, cruzou o país como passageira invisível do Cessna Citation que serviu de meio de transporte à candidata. Na organização das viagens, o comitê importou o modelo da Presidência. Escalões avançados chegavam nas cidades antes de Dilma. Preparavam a logística dos deslocamentos, recolhiam dados e identificavam previamente os desconhecidos que cruzariam o caminho da candidata. Dilma dispôs de tudo isso e mais o que restou de militância voluntária do PT. Mas nada se igualou a Lula. Coube a ele a tarefa de se interpor entre a pupila e as encrencas. O cabo eleitoral comandou a infantaria. Defendeu Dilma dos ataques da oposição. Foi à TV para desarmar a armadilha aborto-religiosa. Segurou as rédeas do PMDB. No comitê de Dilma, a voz de Lula pingou dos lábios de Antonio Palocci, principal operador da candidatura oficial. As velhas disputas internas foram ao freezer. Palocci tocou de ouvido, como se diz, com os outros dois coordenadores do comitê: o presidente do PT, José Eduardo Dutra; e o deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP). No instante em que a eleição escorregou para o se-


gundo turno, Lula interveio diretamente. Foi a um par de reuniões. Reinjetou ânimo na campanha. Queixou-se de falta de emoção na propaganda. Impôs seu retorno ao vídeo. E ajustou a alça de mira, focando em FHC. Devagarzinho, Dilma recuperou os votos que lhe fugiam desde setembro. Em parte pelos ajustes de sua campanha, em parte pelos desajustes do antagonista, Dilma foi ao último debate, exibido pela Globo na antevéspera da eleição, com outra cara. Rose arrumara-lhe o penteado. Lula ajeitara os índices das pesquisas. Agora, confirmada a vitória, Dilma terá com que se preocupar. As divergências do PT serão descongeladas. Os apetites do PMDB aflorarão. Tonificados pelas urnas, partidos como o PSB exigirão nacos maiores de poder. Dilma descerá para o chão escorregadio do cotidiano administrativo de uma presidência sem Lula. Os desafios não são pequenos, como ela mesma indicou em seu primeiro discurso depois da eleição. Frio e sóbrio. Assim foi o primeiro pronunciamento de Dilma Rousseff como presidente eleita. Em 25 minutos disse o que pretende e assumiu compromissos com os valores da democracia. É bom anotá-los. “Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa, pela mais ampla liberdade religiosa e de culto, pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos, zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República”. De resto, reafirmou as promessas de campanha do tipo “ erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras”. Mais importantes foram as suas digressões sobre a economia. Soaram como anuncio de ajuste fiscal. “O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável”. E para deixar claro que esse é um objetivo inadiável, especificou os setores que não serão alcançados pelos cortes: “recusamos as visões de

ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos”. O PIB? “Buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso, zelaremos pela poupança pública”. Reformas? Só citou uma: a política. Ao final de uma campanha em que teve de se esquivar do Erenicegate e do Fiscogate, declarou: “Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo.” Por fim, deteve-se no principal responsável por ter virado presidente da República: “Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda...” A presidente eleita Dilma Rousseff planeja adotar no alvorecer de seu governo uma política fiscal marcada pela austeridade. No curto prazo, cogita elevar a meta de superávit primário do governo. Para 2011, algo em torno de 3,5% do PIB. No longo prazo, vai perseguir a redução do volume da dívida pública, hoje em 42% do PIB. Dilma deseja fechar sua gestão, em 2014, com uma dívida de 30% do PIB. A combinação dos dois objetivos é para produzir as condições que permitirão ao “novo” governo reduzir a taxa básica de juros e estimular investimentos em infraestrutura. Para obter o que deseja, Dilma terá necessariamente de reduzir os gastos correntes do governo. Algo que passa, por exemplo, pela contenção das despesas com o funcionalismo. Como se vê, não será um início fácil para Dilma Rousseff. Terá que encarar desafios que passam pela necessidade de desagradar setores do próprio PT e de um PMDB que vem com uma fome de anteontem. Resta saber se Dilma Rousseff terá a habilidade de Lula para driblar aliados famélicos e adversários que continuam na liça. É o que veremos a partir de agora. novembro de 2010 |

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luiz geraldo mazza  jornalista

POLÍTICA

A partilha adequada

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ncerrado o processo eleitoral e definida a geografia do poder no Brasil já se questiona se o Paraná manterá o nível de representação federal, no momento com dois ministérios, o do Planejamento e o de Desenvolvimento Social, ou se terá essa cota aumentada com a possível presença de Osmar Dias na pasta da Agricultura. De Munhoz da Rocha, nos anos cinquenta para cá, temos tido alguma presença, que se acentuou no ciclo neysta. Todavia nem sempre esse tipo de compensação foi suficiente para expressar o nível de contribuição do Estado em termos nacionais. Ao tempo das grandes obras hidrelétricas discutia-se se a perda de terras, das mais ricas do mundo, para a construção das represas era compensatória, e foi preciso um esforço interno muito grande para que recebêssemos os royalties de Itaipu. Na verdade, apesar desse efeito externo, que é a participação no Ministério, nunca tivemos por parte dos investimentos da União algo que sequer se aproximasse daquilo que, por exemplo, o Rio Grande do Sul, isso para referir-se ao Sul Maravilha, tem obtido, graças ao seu maior poder de fogo político.

Um aceno solidário Beto Richa saiu do pleito nacional como um dos grandes vencedores em escala superior mesmo a obtida por São Paulo, ninho dos cardeais 20

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Uma das grandes deficiências da campanha eleitoral, tanto a nacional como a regional, foi a de não ter havido debate aprofundado sobre nossas carências, nosso potencial e como leva-lo à propulsão.

do PSDB, e de saída acenou com o sentido da cooperação a presidente Dilma Rousseff argumentando que o papel de oposição deve ser cumprido no parlamento. Ele tem notórias dificuldades nas relações com a bancada senatorial, talvez as estabelecidas com Alvaro Dias, seu correligionário, sejam mais difíceis do que as que possa fixar com Gleisi Hoffmann e Roberto Requião, com quem se deu razoavelmente quando tais relações eram interessantes para os dois lados. É preciso, no entanto, baixar o tom das hostilidades com o governo atual de Orlando Pessuti em quem os áulicos de Beto Richa enxergam um pródigo a queimar os recursos do Tesouro e empenhado, em menos de dois meses, a comprometer, segundo os mais belicosos, os recursos públicos. Há confiança de que essa beligerância seja amainada pelas ações do grupo de transição e intervenção

também de outros agentes, como entidades empresariais e de sindicatos, no sentido de preservar os interesses maiores da população.

Uma agenda mínima Uma das grandes deficiências da campanha eleitoral, tanto a nacional como a regional, foi a de não ter havido debate aprofundado sobre nossas carências, nosso potencial e como levalo à propulsão. É de esperar-se que documentos, como os existentes na Federação das Indústrias e que examinaram propostas de médio e longo prazos, sirvam de respaldo a essa reflexão, e é o momento também de recuperar o prestígio de órgãos como o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, o Ipardes, há muito tempo colocado à margem, da mesma forma que se fez com o planejamento de um modo geral. Parece evidente que os problemas dominantes são os de infraestrutura como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias. O caso de Paranaguá é emblemático até hoje com sua dragagem retardada e pondo em risco a navegação. Urge mobilizar o que tivermos de massa crítica para esse esforço de aproximação e que deverá ter na figura do ministro Paulo Bernardo, possível Chefe da Casa Civil, um interlocutor de primeira ordem como conhecedor dos problemas estratégicos do Paraná.


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capa

fábio campana

Acabou

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cabou. O ciclo marcado pela ciclo de toda a uma geração que tomou Requião significa hegemonia de Roberto Requião o poder na virada para a democracia e um atraso de de Mello e Silva na política que agora se retira sob vaias, sem luar e paranaense chegou ao fim. Ele ainda sem violão. Dessa turma fazem parte o pelo menos duas respira. O mandato de senador consenador Alvaro Dias, seu irmão Osmar décadas infames Dias, recém derrotado na disputa do goquistado com dificuldades lhe dá uma verno, e os áulicos que os acompanham. sobrevida como ator coadjuvante de pouca importância e nenhuma credibiA figura referencial de oposição à esta lidade entre os bípedes providos de neurônios nesta banda, Jaime Lerner, também saiu do jogo. Os tempos área do planeta. Com Requião, se encerra também o são outros e os atores principais agora são da geração de 22

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Beto Richa e Gleisi Hoffmann. O que a história guardará deste período de Requião que impôs ao governo do Paraná longo jejum de inteligência? Há controvérsias. Os humoristas lembram imediatamente de cenas de desequilíbrio emocional como aquela em que Requião mandou os agricultores enfiar suas faixas de protesto no rabo. Literalmente. Seu desrespeito pelas pessoas e pelas instituições revelou-se em incidente também gravado por uma câmara de televisão. Requião gostava de abordar mulheres intimidadas pela figura do governador para perguntar se elas traíam o marido, deixando-as em profundo constrangimento. Seria o suficiente para iniciar um estudo de grave desvio de personalidade. Aqui também há divergências. Os diagnósticos sobre a psicopatologia de Requião são muitos: Transtorno Obsessivo Compulsivo, Transtorno Bipolar, Hiperatividade Perversa, Esquizofrenia (vê opositores imaginários), Transtorno de Personalidade Borderline, Síndrome de Frare e mais uma dúzia de classificações. Tantas que o povo simplificou tudo com a expressão Maria Louca para definir Requião. E parece perfeito. Apelidos não lhe faltam. Do infame trocadilho Reiqueijão a Kadafi ou Duce, uma infinidade de ápodos lhe foram conferidos, mas nenhum conseguiu sintetizar tão bem todos os seus desvios de comportamento como o popular Maria Louca que se vê em inscrições nos muros e nas referências do povo ao falso caudilho.

Outra lembrança dos humoristas é a da gafe típica de quem vive a simular que tudo sabe para esconder a ignorância. Em ridicularia acentuada pelo exibicionismo, Requião mastigou um punhado de mamona diante do presidente Lula que o salvou da intoxicação fazendo-o cuspir o veneno. Cena definitiva sobre a estultícia captada pela televisão e divulgada no mundo. Por aí vai. Requião protagonizou tantas cenas de bufonaria que ao final já não merecia respeito. Tanto que ao deixar o governo foi esbofeteado em duas ocasiões. Bastou que a sua guarda pretoriana se distraísse para que o desafeto Rubens Bueno lhe desferisse um direto no queixo que o deixou grogue, em cena presenciada por uma centena de políticos que estavam no aeroporto de Campo Mourão à espera de Beto Richa. Não bastasse o primeiro soco na cara, repetiu-se a dose quando Requião foi agredido pelo diretor comercial do porto de Paranaguá, João Batista Lopes dos Santos, o João Feio, em um restaurante do Pontal do Paraná, no litoral do Estado. Em ato político com plateia de 600 mulheres, Requião ofendeu o sucessor Orlando Pessuti. João Feio tomou as dores de seu chefe e deu dois tapas na cara de Requião, que chamou a guarda para protegerlhe na fuga.

Epígono de Chávez Os cientistas políticos preferem avaliar o comportamento de chefete populista de novembro de 2010 |

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Requião. Lembram que o homem tem parecença tragi- irmãos deu cargos vistosos no primeiro escalão. Para cômica com Benito Mussolini e todos os líderes dessa justificar a nomeação incompatível de parentes em catadura que procuram o poder pela ligação direta com cargos que exigiam preparação intelectual ou técnica, as massas, sobrepondo-se às instituições políticas que Requião defendeu-os invariavelmente com a tese do notório saber. Assim, um psicanalista de curta formação procuram destruir ou lançar na vala das suspeições. Requião gosta de pensar que corresponde no Brasil transformou-se “no melhor administrador de portos do ao presidente Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da planeta”. Eduardo Requião assumiu a superintendência Bolívia, e seu orgulho foi ter ajudado a eleger o Bispo do porto que agora está sob intervenção do governo Lugo presidente do Paraguai. A companhia é perfeita. federal. Além dos descalabros que merecem investiRequião reforça seu discurso de esquerda com a fre- gação sigilosa da Polícia Federal, Eduardo Requião quente citação da Carta de Puebla para agradar setores quase levou o porto a fechar, por falta de dragagem e guiados pela Teologia da Libertação na Igreja Católica e outras incompetências. satisfazer a esquerda nativa que precisa de discursos para No momento, a curiosidade que Eduardo desperta acalmar a consciência e justificar a submissão em troca tem a ver com um rocambolesco caso policial que pode de cargos públicos. levá-lo para a cadeia, segundo alguns juristas nativos. Ao desmontar as Denunciou à polícia o roubo de R$ 350 mil e indicou a instâncias partidáladra, sua empregada doméstica. A empregada descobriu rias para assumir o comando pessoal da Mais grave foi o uso contínuo da mídia oficial horda, Requião abanpara desancar jornalistas, jornais, desafetos e donou também as referências naturais ameaçar promotores públicos e procuradores na escolha de quado Estado para submetê-los à sua vontade dros para preencher as principais funções de comando dentro e fora do governo. Como sói acontecer com os tiranetes o esconderijo desse dinheiro e muito mais no fundo da tradição latino-americana apoiou-se no nepotismo falso de um guarda-roupa. Só foi descoberta porque como única referência sobre a qualidade dos homens passou a gastar mais do que lhe permitiam as posses e que o seguiam. E o Paraná viu que Requião tinha o curto salário. Pois, pois, agora a polícia quer saber a uma extensa família, toda ela albergada na máquina origem de todo esse dinheiro. estatal, muitas vezes a ocupar cargos que exigiam O outro irmão de Requião, Maurício, o caçula, capacidade muito superior ao que os irmãos, primos, tem problemas parecidos para explicar aos juízes tios e tias puderam oferecer. e ao distinto público. Um dos escândalos que mais Isso explicaria em boa parte o desastre administra- repercutiram no Paraná foi a revelação, em 2007, da tivo de Requião. Em 12 anos, nenhuma obra significa- compra de milhares de televisores de cor laranja para tiva. Nenhum marco transformador. Nada, a não ser a serem instalados em todas as escolas do Paraná. O autolouvação permanente do caudilho que ocupou boa preço unitário por cada televisor foi muito superior parte de seu tempo à propaganda política. Para isso ao de aparelhos vendidos no comércio de Curitiba. não teve escrúpulos. Lançou mão dos instrumentos de Isso sem se levar em conta que em compras do Estacomunicação do Estado, ampliou-os e deu-se ao prazer do o preço do produto cai pela dispensa do ICMS e de usá-los para enxovalhar os desafetos e proporcionar porque é lógico que compras em grandes quantidades um espetáculo deprimente todas as terças feiras, em o comprador sempre recebe descontos e vantagens. seu talk-show chamado de escola de governo em que A oposição provou a falcatrua indo às compras. figurava como apresentador e principal entrevistado Adquiriu um televisor, pagou por ele, mostrou a diante de uma plateia submissa, cordata, instada a nota fiscal como prova do absurdo. É bom sublinhar bater palminhas sempre que o próprio Requião ou que a licitação foi feita por pregão eletrônico, no apagar das luzes de 2006 e que a empresa ganhadora seu contrarregra dava o sinal. Requião revelou-se um patriarca generoso. Nomeou foi também a que mais contribuiu para o fundo de mais de uma centena de parentes e para a mulher e os campanha de Requião. 24

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jornalista que lhe fez perguntas incômodas sobre ele e sua família em cargos públicos. Em Curitiba, tentou atingir uma repórter que conseguiu se esquivar da grosseria. Mais grave foi o uso contínuo da mídia oficial (rádio e TV educativas) para desancar jornalistas, jornais,

Devemos reconhecer que nesses anos todos Requião nos empanturrou de mentiras Hoje, Maurício Requião luta para se instalar numa das cadeiras do Tribunal de Contas, mal havida em manobra flagrada pelos adversários e que por isso mesmo é pendência judicial nos tribunais superiores de Brasília. O cargo seria a sua salvação, avaliam os advogados.

a cUlpa é da imprensa

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Diante de denúncias como essas que envolveram diretamente os seus irmãos, Requião desenvolveu uma forma de contestar e desviar o foco da discussão. Invariavelmente diz que tudo não passa de mentira da imprensa. Por que razão a imprensa mentiria sobre a honestidade dele e de sua família no poder? Ora, porque ele não estaria dando aos jornais e demais veículos de comunicação o dinheiro que seus antecessores deram. Aliás, Requião nunca responde sobre a denúncia. Sempre desloca a discussão para outro ponto e se põe a desmoralizar quem denuncia. Não é manobra nova nem original, mas o pior é que ainda funciona. Quando não consegue intimidar os jornalistas, Requião parte para a agressão. Em 2006, logo após as eleições, convocou uma grande coletiva de imprensa para insultar os próprios jornalistas, os donos de jornais e tudo o que tivesse a menor semelhança com o jornalismo. Estava irritadíssimo com o resultado da eleição que quase lhe rouba o cargo de governador. Venceu por diferença mínima de dez mil votos contra Osmar Dias, obscuro senador do interior e seu ex-secretário da agricultura. Muitas vezes sua agressividade vai além dos impropérios. Mais de uma vez agrediu jornalistas, em ocasiões, bom ressalvar, em que estava sob a forte proteção da guarda pessoal. Em Londrina, tentou arrancar o dedo de um

desafetos e ameaçar promotores públicos e procuradores do Estado para submetê-los à sua vontade. O pior de Roberto Requião, hoje senador eleito da base alugada, setor PMDB, guichê do Paraná, foi a frustração de um projeto modernizador que aproximaria o Paraná da contemporaneidade do mundo, segundo acreditavam os militantes libertários de sua geração. Perdeu-se a chance. Requião significa um atraso de pelo menos duas décadas infames, pois o Estado ainda terá de fazer esforços de recuperação, sem contar os prejuízos para a economia do Paraná, que perdeu investimentos decisivos por conta da resistência de Requião para aceitar capitais de fora. Ficaram as ruínas resultantes de uma administração desastrada. Hospitais sem equipamentos e sem pessoal. Escolas degradadas. Política educacional que devolveu o Paraná às cavernas. E o caixa vazio. Toda a propaganda sobre o equilíbrio financeiro do Estado não passava de balela. Na verdade, devemos reconhecer que nesses anos todos Requião nos empanturrou de mentiras. Com a desfaçatez típica dos populistas de periferia.

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LUIZ FERNANDO PEREIRA advogado

opinião

E foi assim que Osmar perdeu a eleição...

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m eleição majoritária o fator mais todos com o apoio do Pessuti, a mais semanas (Ibope – 09/09). Na última pesimportante é o cenário político. nova vítima de Requião. Uma aliança quisa divulgada, uma semana depois, Depois vem o candidato. Nunca do tamanho exato de suas contradições. a diferença já estava em cinco pontos tive dúvida. Postos estes dois elemenE Beto e Osmar foram para a (Datafolha – 16/09). E as sondagens intos, o espaço manipulável (no bom e no disputa! ternas, logo em seguida, apontavam um mau sentido) é tarefa para a televisão. O cenário local nitidamente favo- empate. Beto Richa acusou a queda e Desde o início do horário gratuito, no rável a Beto Richa logo se impôs. As passou aos ataques. A virada parecia formato legal e na linguagem que ado- pesquisas chegaram a mostrar uma di- certa. E por que, então, a prenunciada tou a partir da década de 80, a campa- ferença de dezesseis pontos em favor do virada não se confirmou? O cenário nha de rua tem importância rarefeita. tucano (Ibope – 26/08). Neste momento nacional, antes favorável, passou a soReuniões e comícios servem mesmo o cenário nacional começou a revelar prar contra Osmar Dias. Simples assim. Os escândalos da Receita, a Erenice para produzir imagens para a própria sua força. Lula e Dilma vieram ao Paratelevisão. O resto é visão mítica e ana- ná e declararam apoio a Osmar Dias. A – a estranha –, e, por último, a onda crônica de campanha eleitoral. Partidos coordenação de campanha e o programa cristã contra o aborto – tudo somado –, só prestam para somar tempo para a de televisão, comandado pela compe- jogaram Dilma para baixo. O resultado televisão. Até os jingles têm um valor tentíssima dupla Pinheiro&Sergio Reis, final deu-lhe apenas quatorze pontos na frente de Serra (chegou maior do que os partidos. a abrir uma diferença de 35 Prefeitos têm sua impor- A eleição se deu exatamente no tância apenas em pequenos pontos – tracking do IG de 07 momento da descida. Parafraseando municípios. E se estiverem de setembro). E o Paraná não James Carville: foi o cenário, estúpido! ficou de fora, é claro. De treze bem de popularidade. pontos de vantagem, Dilma No Paraná, é inegável que o cenário local ajudava Beto Richa. apostaram pesado na vinculação das terminou a eleição cinco pontos atrás Prefeito reeleito com quase oitenta por candidaturas de Dilma e Osmar. Mas do candidato do PSDB. O empate de cento dos votos, muito bem avaliado e não foi só isso. Antes da vinculação, Curitiba (Ibope – 10/09) transformouainda com o privilégio de ser “do inte- conseguiram revelar as virtudes de se em uma vantagem pró-Serra de imrior”, pois nascido em Londrina. Além Osmar Dias, resgatando a imagem de pressionantes dezoito pontos. E nesta disso, era o candidato da mudança, de um político preparado e maduro para mesma medida foi a queda de Dilma oposição aos oito anos de um governo governar. O cenário nacional começou em todas as grandes cidades do Paraná. esquizofrênico de Requião (que acabou a se impor ao local. Naquele momento Como era inevitável, a mudança ganhando a vaga no senado por ínfima Dilma abria 35 pontos de vantagem de cenário nacional conduziu para diferença, mas sofreu fragorosa derrota sobre Serra no Brasil (tracking do IG baixo Osmar Dias. Não muito, mas nos grandes centros). Do outro lado – 07/09). A petista liderava no Paraná o suficiente para que Beto Richa lee contra cenário estava Osmar Dias. com treze pontos de vantagem; até vasse a eleição com uma diferença Ótimo candidato e com uma grande em Curitiba Dilma empatou com Ser- de menos de dois pontos e meio para aliança, mas permeada por desarmo- ra (Ibope – 10/09). É preciso lembrar evitar o segundo turno. nias políticas incontornáveis. Na chapa que o próprio Lula nunca chegara a Resumo: Osmar Dias subiu e desao senado estava Requião; que havia vencer no Paraná. ceu com Dilma. E a eleição se deu brigado e reatado com Osmar; e Gleisi, Aí é que a diferença entre os can- exatamente no momento da descida. casada com o Ministro Paulo Bernar- didatos começou a cair. Despencou de Parafraseando James Carville: foi o do (também brigado com Requião). E dezesseis para nove pontos em duas cenário, estúpido!

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FÁBIO CAMPANA

Por favor, poupem as mães

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debate público entre Roberto Requião e Orlando Pessuti desceu às cloacas. O mínimo que um diz ao outro é ofensa à progenitora. Vocês sabem do que se trata. Aquele insulto costumeiramente usado entre inimigos que se esbofeteiam em horas tardias em bares sórdidos da periferia. O presidente Lula diria que nunca antes na história deste país e deste Paraná se viu um confronto entre governador e ex de tão baixo calão. Pois, pois, é tudo o que restou do longo período do PMDB no poder, além dos rombos no tesouro. Ou, melhor, é tudo que se pode esperar de um confronto de ideias entre Requião e qualquer outra pessoa que aceite o debate com este epígono de Mussolini. Irritado com as farpas, o governador Orlando Pessuti afirmou que seu antecessor e atual desafeto, Roberto Re28

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quião, precisa tomar os remédios. Referia-se, explicou, a remédios psiquiátricos necessários para manter o usuário em condições mínimas de saúde mental. Ora, pois, Orlando Pessuti foi vice governador de Requião durante oito anos. Antes disso, foi parceiro e servidor do homem durante duas décadas. Deve saber do que fala. Um médico consultado sobre a questão assegurou que os remédios psiquiátricos podem ser eficientes para devolver equilíbrio aos desatinados. Mas não curam desvios de caráter, fez questão de ressalvar. Ou seja, não será com remédios psiquiátricos que as pendengas dentro do PMDB nativo terão fim. Por muito tempo teremos que ouvir a troca de insultos entre Pessuti e Requião, exercício de desinteligência que não contribui para a crença de que os homens se diferenciam dos animais irracionais.


Neste fim de feira, Requião usa a tática de sempre. Faz de conta que nada tem a ver com os assaltos ao caixa e os desvios no governo. De réu natural passa à condição de ferrenho opositor. Faz isso com a maior desfaçatez, sempre confiante na ingenuidade e na pouca memória da maioria. Fez assim quando deixou o governo para Mário Pereira, Repete a dose contra Orlando Pessuti. É o fim de feira dos governos de Requião, Pessuti et caterva do PMDB. Requião disse a um deputado que não tem outro inimigo político no momento que não seja Orlando Pessuti, seu sucessor. Promete fazer revelações agora que terminou a eleição do segundo turno. Ou seja, novembro e dezembro serão meses de denúncias cabeludas contra Pessuti. Preparem o estômago. Agora, pasmem. Pessuti em vez de abrir a contabilidade e mostrar o que seu antecessor fez com a ajuda dos irmãos nos caixas das estatais se põe a disputar com Requião para ver quem sabe dizer impropérios mais baixos sobre o outro. Pobre das mãezinhas dos dois. Nem elas merecem tratamento tão vil. O resultado da eleição de outubro para o Senado mostrou que Requião já não merece a confiança irrestrita da maioria dos paranaenses. Chegou em segundo lugar, atrás de Gleisi Hoffmann, do PT, com as calças nas mãos, morrendo de medo da aproximação do tucano Gustavo Fruet e de olho na progressão de Ricardo Barros, do PP. Para quem acabara de deixar o governo depois de oito anos sua votação foi pífia. O que o salvou foram os votos dos grotões e dos fundões. Nas cidades mais importantes chegou em quarto lugar, inclusive em Curitiba, onde foi prefeito e que no inicio da sua carreira era sua principal base eleitoral. Requião é expulso do proscênio e terá de se contentar com o papel secundário nos bastidores da política nativa. De maus bofes, diante da ascensão de Beto Richa e da evidência de sua incompetência que quase leva o Estado á falência. Quem diz é Orlando Pessuti, que reagiu irritado às provocações de Requião. O governador Orlando Pessuti respondeu aos ataques de Requião, que insiste em dizer que Pessuti entregará o Estado quebrado ao governador eleito Beto Richa. Agastado, Pessuti abandonou o fair-play e responsabilizou Requião pelos problemas de caixa na administração estadual. “Se houve irresponsabilidade e exagero, foi lá atrás. Foi o Requião que prometeu e autorizou obras que não podiam ser feitas”, disse. Não seria necessário tanto empenho de Pessuti para provar as responsabilidades diretas de Requião na dificuldade financeira do Estado. E isso não é tudo. Requião e sua tropa ainda terão de explicar questões cabeludas, como

a compra de televisores laranja, a pré-falência da Paranáprevidência, as falcatruas detectadas no porto de Paranaguá, a farra das diárias na Fundepar. Isso tudo para citar apenas alguns dos escândalos que estouraram nas áreas da administração que estavam sob a gestão de seus irmãos, Eduardo e Maurício. Aliás, o nepotismo também é objeto de pesquisa de universitários que querem levantar a grande teia de parentes e contraparentes que Requião instalou em cargos públicos e que custaram milhões aos cofres públicos. Outro efeito colateral do nepotismo foi a decadência progressiva do PMDB, partido que na prática foi substituído pela família do governador. Com Requião no comando, o PMDB não conseguiu formar um quadro sequer capaz de disputar eleições majoritárias no Paraná. É a história da galinha sem voz. O partido é grande, dispõe de um penca graúda de prefeitos, vereadores e deputados mas não tem ninguém que consiga representá-los numa disputa de grande prefeitura ou do governo estadual. É a maldição para quem se submeteu com tanta sabujice ao líder populista e autoritário. Sob a sombra de Requião nada nasce. Nada se cria. Em vão ele tentou substituir inteligências que militavam no campo da esquerda pelos seus irmãos, especialmente o mais novo, Maurício, que jamais conseguiu ser nada a não ser secretário nomeado pelo irmão e pretendente a uma das cadeiras do Tribunal de Contas. Quem chegou mais longe nessa tentativa de herdar o poder de Requião foi o sobrinho João Arruda, que se elegeu deputado federal, mas este se beneficiou também do caixa do sogro, o misto de banqueiro, empreiteiro, cartola e coisas tais Joel Malucelli que gastou uma fortuna para eleger o genro. Os analistas não acreditam que João Arruda consiga ultrapassar esse limite e para repetir o feito terá que gastar nova fortuna dentro de quatro anos. É esperar para ver. O certo é que o grupo de Requião se encaminha para sair do jogo político principal. Fica o registro histórico de um fracasso incomparável em todos os campos. Requião foi administrador medíocre, político imitador de populistas latino-americanos, orador repetitivo, citador de frases feitas. Só superou todos os que o antecederam no nepotismo e na incrível capacidade para falar as maiores inverdades com a convicção de quem não mente jamais. novembro de 2010 |

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ROGERIO DISTEFANO advogado

opinião

Política e futebol

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omecei a me interessar pela polí- não assistir a nenhum jogo da última melhor no sistema parlamentarista. tica na idade e com a inspiração Copa do Mundo. Se não há mal que Sempre me fiei na crença de que o erradas: aos 12 anos assisti ao de- sempre dure, da indiferença ao esporte parlamentarismo seria inviável em sembarque de Ademar de Barros, então estou curado, para ser exato há exatos nossa República — quando fungovernador de São Paulo, no aeródromo três meses. Ainda não descobri a cau- cionou razoavelmente por sessenta de Mafra, Santa Catarina. (Aos que não sa, embora saiba o momento: o jogo do e sete anos de Império (confiram as conheceram ou não leram sobre Ade- Fluminense em que pontificavam os atas do Conselho de Estado no semar informo que historicamente ele atacantes Washington e Dário Conca. gundo reinado). O saber convencioé tido como o paradigma do político Nesta altura da vida o aprendizado é nal insiste que o parlamentarismo é corrupto e, o que é muito importan- mais rápido, dado o treinamento pro- instável, com suas crises sucessivas te nos dias de hoje, o apartamento de fissional no exercício da análise. Assim e constantes mudanças de gabinete e sua amante foi assaltado por um co- já sei que Washington não é grande as chamadas de novas eleições. Pode mando terrorista para arrecadar US$ 1 jogador, Conca sim, apesar de argenti- ser, mas Itália e Inglaterra estão aí milhão, ali estocados pelo para demonstrar o contrápolítico. Não impressiona? rio. E ninguém quer ver E seu eu disser que o líder que o presidencialismo O futebol me fez aceitar a evidência brasileiro eterniza situações do comando chamava-se do Império: o Brasil estaria melhor que não se corrigem, pois Dilma Rousseff — possível no sistema parlamentarista presidente eleita quando esta nossos escândalos mal derIdeias circular.) Nessa idade rubam ministros, que dirá os moleques normalmente ministérios, presidentes e estão ligados no futebol e iniciam o no — e, para meu dissabor, constatei governadores. Vejo no futebol braavanço sobre as meninas — sem o ím- que entre os dez melhores jogadores sileiro um regime parlamentar. No do Brasil quatro são argentinos. O fu- futebol recente, deste campeonato peto e a desenvoltura do futebol. Falo do futebol porque é o es- tebol, vocês percebem, expunge parte da série A. Por exemplo, a cada duas porte nacional, como poderia falar de do preconceito antiargentinos, desde rodadas cai um técnico. Porque os basquete ou vôlei, igualmente bem que joguem no Brasil. torcedores querem resultados. Se o O interesse pelo futebol tem cria- time vai mal, os torcedores invadem o votados nos ambientes de minha juventude. Mas nunca fui inconsciente do situações embaraçosas, como o ar vestiário, passam sermão nos atletas, da importância do esporte na formação divertido dos que me ouvem comen- xingatwittam os dirigentes. E os dirido jovem — lacuna de minha forma- tar os jogos, e com o filho fanático gentes? Ora, os dirigentes são como ção. O esporte desenvolve a camara- torcedor do Paraná Clube — de quem a rainha da Inglaterra e o presidente dagem, socializa e ensina a encarar a ludicamente me declaro torcedor — da Itália: ouvem, consultam as bases, derrota com menos sofrimento, sem que lê vertendo loas a Triguinho e procuram novos técnicos e fazem a esquecer o essencial do esporte, a dis- Enrico, a dupla infernal do Coriti- troca. Nosso futebol não é exatamente puta física, que cria segurança física ba. Mais grave: a contaminação da igual, mas nosso Brasil também não e até incute algum senso de coragem. política pelo futebol, naquilo que o é um presidencialismo de TocquevilNão bastasse estar longe da prática, futebol me leva a conjeturar sobre a le. No entanto, no estágio atual, não passei a vida rigorosamente ausente e estrutura política do Brasil. ouso dizer que o futebol brasileiro imperdoavelmente indiferente ao esO futebol me fez aceitar a evi- seja menos democrático que a política porte, a ponto de cometer o crime de dência do Império: o Brasil estaria brasileira. 30

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POLÍTICA

As dores da transição No dia 1º de janeiro a trupe do PMDB deixará o governo do Paraná e a contragosto o entregará a Beto Richa, tucano eleito em 3 de outubro para governar pelos próximos quatro anos. A equipe de transição criada por Richa concluirá o seu relatório sobre a situação do Estado até 15 de novembro. Com quantas decepções se faz uma transição? As expectativas do futuro governador não são boas. Por isso mesmo Richa estabeleceu esse prazo curtíssimo para a conclusão do diagnóstico. “Não podemos perder tempo. Vamos começar a trabalhar desde o primeiro momento e, para isso, precisamos ter em mãos, o quanto antes, esse diagnóstico”, diz Richa. Na verdade, Beto Richa quer ter uma visão completa do Estado antes de a Assembleia Legislativa começar a discutir o orçamento de 2011. O projeto foi encaminhado no início da semana passada aos deputados, e o relator do Orçamento do Estado para 2011, deputado Nereu Moura, do PMDB, foi logo avisando que há pouca margem para novos investimentos na previsão que beira os R$ 26 bilhões. A equipe de transição de Beto orienta os deputados aliados a barrar, em plenário, projetos que possam sobrecarregar o orçamento do próximo ano. Porém, a bancada de apoio a Beto Richa é absoluta minoria na Casa e, dificilmente, sem acordo, haverá possibilidades de emperrar os projetos.

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fábio campana


O líder do governo na Assembleia Legislativa, Caito Quintana, do PMDB, disse que há projetos que já têm previsão orçamentária e que não comprometerão as finanças futuras. É o caso da regulamentação da Defensoria Pública. “A mensagem apenas regulamenta uma situação. Foi uma proposta aprovada por unanimidade. Ao novo governo caberá decidir em que prazo executar a proposta. Não há uma imposição de tempo”, afirmou Quintana. Há outros projetos que o governo nem faz questão de votar este ano. Como a mensagem que cria a Secretaria da Mulher, que somente poderá ser preenchida pelo próximo governador. “Há projetos de suplementação de verbas em algumas áreas, que serão executados com recursos do orçamento em vigor”, citou o líder do governo. E há a gastança no fim de feira. Todos os dias chegam informações no bunker de Beto Richa sobre novos gatos absolutamente desnecessários, com a compra de computadores para a Sanepar e para a Celepar, como o pagamento de precatório, inclusive no porto de Paranaguá.

Fim de feira A preocupação é grande. As notícias correm e dão conta de que o fim de feira deste governo de Orlando Pessuti se faz com prodigalidades nos gastos públicos que podem deixar o governo entrante de Beto Richa em péssima situação. Por conta disso, o deputado Ney Leprevost está fazendo uma série de pedidos de infor-

mação sobre possíveis gastos deste fim de Governo. Esta semana foi aprovado em plenário seu questionamento sobre precatórios. Agora, Leprevost quer saber se procede a informação de que o Governo do Estado, através da Celepar, estaria iniciando o processo de compra de 40 milhões em equipamentos. Semana passada, Ney Leprevost protocolou este pedido de informações na Assembleia Legislativa. “Não é possível que o Governo que está terminando fique criando gastos que o novo Governo terá que pagar. Qualquer tentativa de sangria dos cofres públicos deve ser estancada imediatamente”, afirma Leprevost. Pois, pois, agora é esperar para ver como ficam as contas públicas depois que o PMDB deixar definitivamente o poder. Pelas preliminares, será um desastre. Aliás, sempre foi nesses oito anos que já vão longe. Os compromissos assumidos durante a campanha eleitoral pelo governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB), consumirão 9% do orçamento que o Estado deve ter em 2011. Com o orçamento estadual apertado para o início de seu mandato, Beto vai ter trabalho para incluir recursos para os novos investimentos, na casa dos R$ 2,34 bilhões. A equipe de transição do governador eleito aguarda até 15 de novembro para receber o diagnóstico da situação financeira do Estado. Até lá, pouco se fala sobre garantias dos investimentos. Os envolvidos na transição preferem esperar e ter informações concretas da situação atual. Mas é possível ter uma estimativa do que vai precisar ser investido a mais, pelo menos nos principais pontos levantados durante a campanha e que serão novidades no Estado.

Caixa baixa Beto Richa terá dificuldades para cumprir promessas de campanha, pelo menos no início do mandato. Segundo o relator Nereu Moura, será necessário o corte de gastos no início da nova administração. Moura explica que a arrecadação do Estado em 2010 tem sido menor do que o previsto. Além disso, uma série de novas despesas e aumento de gastos estão programados para o ano que vem, com impacto direto nas contas públicas. O relator lembra que só o aumento do repasse para o Tribunal de Justiça e o Ministério Público vai custar R$ 300 milhões a mais no ano que vem ao Estado. Outros

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R$ 600 milhões serão necessários para implementar os categoria, que tem cerca de 65 mil profissionais, é de R$ aumentos de salário de policiais, e mais R$ 169 milhões 2.000. Tendo-se esse valor como base, o salário passaria a para os fiscais da Receita Estadual. “Ele (Richa) vai ter R$ 2.520, um impacto de mais R$ 439 milhões anuais. que tomar medidas amargas no início. Corre o risco até Embora o futuro secretário estadual da Educação de chegar a maio e não ter como pagar o reajuste do e vice-governador eleito, Flávio Arns, ainda não tenha funcionalismo”, prevê o peemedebista, lembrando que o cálculo de quanto deve custar implantar a educação o governador prometeu, na campanha, contratar cinco integral em 500 escolas em municípios com menor IDH, mil novos policiais, e aumentar em 26% os salários dos dois exemplos podem servir de referência. A Secretaria professores estaduais. de Educação de Pernambuco tem, por escola, um custo O governador Orlando Pessuti procura minimizar de insumos (pessoal, alimentação, material de limpeza a crise. Ele jura que o seu governo vai chegar ao fim de e outros) de R$ 2,47 milhões, o que no Paraná daria dezembro sem pendências financeiras. “O governante um total de R$ 1,23 bilhão, sem contar equipamentos que entra terá a certeza e a segurança que vai receber o e mobiliários. Outro tucano, candidato ao governo pelo Paraná com as suas contas em ordem e os seus compro- Ceará, Marcos Cals, tinha proposta semelhante à de Beto e estimava R$ 250 milhões para 100 escolas. missos devidamente ajustados”, afirmou. Pessuti explicou que as arrecadações de 2009 e 2010 A contratação de 5 mil policiais, que deve ocorrer foram abaixo do previsto, atrasando o que havia sido de forma gradual, incrementa o orçamento em R$ 150 planejado em obras e reajustes milhões ao ano, somente com o salariais. “O último ano ficou salário inicial pago a esses profissobrecarregado. A situação é sionais. Com o recente reajuste Os compromissos aprovado à categoria, um policial apertada, mas vamos termiassumidos por Beto em início de carreira (soldado de nar o ano pagando os salários primeira classe) vai receber R$ e deixaremos também em dia Richa consumirão 9% do 2.289,57. Se o profissional tiver os nossos fornecedores e os orçamento que o Estado curso superior, o salário inicial empreiteiros que executam deve ter em 2011 sem adicional de tempo de servias obras”, disse. ço será de R$ 2.564,57. Contando Pessuti também responcom o 13º salário, o total fica em deu às recentes críticas do ex-governador Roberto Requião. O governador lembrou R$ 148.822.050, sem colocar na conta os recursos com os que foi companheiro político de Requião por 27 anos, quais se deve capacitar os profissionais. mas que, infelizmente, o ex-governador “tem histórico Uma mudança da gestão atual defendida por Beto Ride trair aliados”. cha é que o Estado passe a cumprir a lei e invista 12% do “Em 1985, o José Richa se licenciou para ajudá-lo a orçamento na saúde. Desde que a emenda 29 foi aprovada, ser eleito e, depois, foi apunhalado pelo Roberto Requião. o Paraná jamais destinou o mínimo de 12% dos recursos Em 1990, o Alvaro Dias permaneceu no governo para próprios para a área, justificando que gastos com saneamento eleger o Roberto Requião e, depois, teve nele um dos seus e programas sociais também entram na conta. Cálculos do principais adversários. Mário Pereira (vice de Requião) Ministério Público do Paraná mostram que todo ano falta nem sequer assumiu o governo em substituição a ele em investir cerca de R$ 400 milhões na saúde, montante que 94 e já se transformou em inimigo. Assim foi com todos Beto vai ter que incluir para cumprir o que prometeu. Para o sistema de resgate aéreo prometido por Beto, aqueles que o sucederam”, citou Pessuti. dois helicópteros devem ser comprados, ao custo de R$ 12 milhões, já equipados para o serviço. Fora o custo Exigências altas de manutenção e hora voo de R$ 3 milhões ao ano para Sem informações oficiais é difícil prever o impacto do que os helicópteros funcionem quando necessário, em reajuste de 26% aos professores prometido por Beto “como situações de urgência e emergência. Estão também preprimeiro ato de governo à categoria”, em discurso ao Sin- vistos 22 novos Centros de Especialidades Médicas, em dicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná áreas onde há mais filas para consultas, como cardio(APP-Sindicato). Segundo a APP-Sindicato, embora o salário logia, neurologia e oftalmologia. Em Minas Gerais, no inicial de um professor que ingressa na rede pública seja ano passado, um novo centro custou R$ 5 milhões. Se a de R$ 1.560 por 40 horas trabalhadas, o salário médio da base for semelhante no Paraná, são mais R$ 110 milhões. 34

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Rombo na Previdência

Outro problema detectado pela equipe técnica do Tribunal de Contas diz respeito à rubrica “contribuições com financiamento”, que corresponde à diferença entre o montante que o Estado do Paraná deveria repassar, em dinheiro, ao Fundo Previdenciário, e os valores efetivamente repassados. Em primeiro lugar, tal financiamento não tem autorização legal. De acordo com o relatório, tampouco existe ato administrativo que formalize o procedimento.

Uma das informações mais desesperadoras recebidas por Beto Richa consta do Relatório da 1ª Inspetoria de Contas. Ele aponta nada mais, nada menos, que um passivo de R$ 3,2 bilhões na Paranaprevidência. Estudo, elaborado pela 1ª Inspetoria de Controle Externo do Tribunal de Contas, recomenda ao governo estadual e à Paranaprevidência o cumprimento da norma relativa à amortização das contribuições financiadas; revisão do plano de custeio e elaboração de um plano de amortização Déficit técnico do passivo referente às contribuições com outros ativos. O Fundo Previdenciário dos servidores estaduais do A inadimplência do governo estadual implica Paraná necessita de medidas administrativas e financeiras em perdas na outra ponta: caso os repasses mensais que corrijam desequilíbrios e revertam passivo que, em tivessem sido integralmente realizados e os recursos aplicados a taxas equivalentes ao histórico de renta30 de junho último, chegou a R$ 3,204 bilhões. A orientação consta de relatório elaborado pela 1ª bilidade do Fundo – 310%, em média, entre janeiro Inspetoria de Controle Externo do Tribunal de Contas do de 2001 e junho de 2010 – as reservas para pagaEstado do Paraná (TCE-PR). mento de aposentadorias O documento será encamie pensões teriam acrésciDo passivo de R$ 3,204 bilhões, nhado à Paranaprevidência, mo de R$ 161,2 milhões. R$ 2,174 bilhões – ou 68% do total administradora do Fundo e A diferença, explicam os às equipes de transição do técnicos, “representa um – correspondem a “contribuições montante decorrente de atual e do futuro governo com outros ativos” aplicações não realizaestadual. das, constituindo, salvo Ao final do texto, são apontadas três recomendamelhor juízo, uma perda ções ao governo estadual e à Paranaprevidência: cumpri- para a Paranaprevidência”. mento da norma relativa à amortização das contribuições Ao final, o relatório do TCE constata que os recursos financiadas; revisão do plano de custeio e elaboração de do Fundo são insuficientes para cobrir os compromissos um plano de amortização do passivo referente às contri- do plano de custeio previdenciário. É o chamado “déficit buições com outros ativos. técnico”, que surge quando o ativo líquido – recursos Os estudos que deram origem ao relatório, assinado financeiros e imóveis menos despesas com benefícios – pelos servidores Augustinho Chezanoski, Francisco da é menor que a chamada “reserva matemática” – valor Rocha Santos, Marcelo Evandro Johnsson, Mário Vítor determinado por cálculo atuarial para a manutenção do dos Santos e Valter Luiz Demenech, tiveram a supervisão equilíbrio do Fundo. Pois em 2009, o déficit técnico atindo inspetor Agileu Carlos Bittencourt, titular da 1ª ICE, giu a marca dos R$ 772 milhões. sob o comando do conselheiro Nestor Baptista. Auditoria realizada nos números da ParanapreviDo passivo de R$ 3,204 bilhões, R$ 2,174 bilhões – dência, quando da elaboração do parecer prévio sobre as ou 68% do total – correspondem a “contribuições com contas do Poder Executivo estadual relativas ao ano de outros ativos”. O termo designa a diferença entre as con- 2009, já havia constatado problemas no Fundo Previdentribuições – estatais e funcionais – e o valor repassado ciário. De acordo com o conselheiro Fernando Augusto pelo governo, em dinheiro, à Paranaprevidência. Guimarães, relator das Contas do Governador – 2009 Entre maio de 1999 e abril de 2000, os repasses em e presidente interino do TCE, o relatório da 1ª ICE “é dinheiro não foram integralmente atendidos. A legisla- extremamente relevante”. Na reunião do Pleno do Tribunal, ocorrida no último ção permite que, havendo insuficiência de recursos em espécie, as transferências sejam feitas em outros ativos. dia 21, ele informou que, além da Paranaprevidência, cópias O governo do Estado, no entanto, realizou esta operação do documento serão remetidas aos gabinetes dos demais uma única vez, em maio de 2000, com o repasse dos conselheiros da Corte, à equipe que audita as contas do créditos referentes aos royalties de Itaipu. Executivo de 2010 e ao Ministério Público de Contas. novembro de 2010 |

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Por dentro da Câmara

vereadores

Acompanhe o trabalho dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba Copa 2014 Após debater com a so-

ciedade curitibana, os vereadores da capital aprovaram a transferência de potencial construtivo para as obras no Estádio Joaquim Américo e a isenção do ISS para a Fifa e seus parceiros institucionais durante a realização do evento. Com isso, a Câmara trabalha dentro do cronograma estabelecido pela Fifa para o sucesso do evento. Capão Raso A prefeitura de Curitiba

já iniciou as obras para construção de uma área de lazer na região do Parque Industrial, no Capão Raso. A proposta foi incluída no Orçamento deste ano, através de emenda aprovada na Câmara de Curitiba, no ano passado, de autoria do vereador Tico Kuzma (PSB). LOA 2011 Foram 433 sugestões co-

locadas nas urnas instaladas na Câmara de Curitiba e nas nove administrações regionais da cidade e internet para a Lei Orçamentária Anual (LOA). O maior número de propostas (235) vem do Bairro Novo, a maioria para melhorar o sistema viário e obras públicas com a construção de pontes de concreto e passarelas e a instalação de semáforos, por exemplo. Esporte Um grande complexo esporti-

vo e cultural será construído no Xaxim, a pedido do vereador João Cláudio Derosso,

presidente da Câmara Municipal. Será localizado na área da antiga Sociedade Operária Beneficente 5 de Julho e terá 15 mil metros quadrados de área. Santa Casa A inclusão de emenda

antibullying nas escolas das redes públicas e particulares de ensino de Curitiba. A proposta é do líder do prefeito, Mario Celso Cunha (PSB), e do quarto-secretário da Casa, Pedro Paulo (PT).

ao projeto da Lei Orçamentária Anual para 2011, em tramitação na Câmara de Curitiba, foi solicitada aos vereadores pela Santa Casa de Misericórdia. O objetivo é adquirir um aparelho de hemodinâmica, que traz benefícios à saúde do coração. O custo pode chegar a R$ 1,9 milhão.

Mandato Suplentes de vereadores

Segurança Os vereadores aprovaram

Ônibus O terminal do Capão da Imbuia

projeto de lei do vereador Dirceu Moreira (PSL), que prevê monitoramento por câmeras de vídeo nas áreas externas das agências e instituições financeiras. Em Curitiba, são cometidos cinco assaltos diários ao redor das agências bancárias.

é um dos equipamentos do transporte coletivo de Curitiba que registra maior movimento diário de passageiros. A vereadora Julieta Reis (DEM) questiona a URBS sobre a existência de projetos de reforma e ampliação do local.

Meio Ambiente A Câmara Municipal

Democracia A lei como instrumento regulador e organizador da sociedade, exercendo influência direta sobre a vida de cada cidadão. Esse foi o eixo do XVII Congresso de Servidores e Vereadores de Câmaras Municipais do Paraná. O evento é promovido pela Ascam-PR e tem o apoio da Câmara Municipal de Curitiba e da Associação Brasileira de Servidores de Câmaras Municipais (Abrascam).

aprovou o recolhimento de garrafões de 10 e 20 litros retornáveis de água mineral, após seu prazo de vida útil vencido, para descarte adequado. A iniciativa é do vereador João do Suco (PSDB). Ficará sob a responsabilidade das indústrias envasadoras dar destino final aos garrafões. Educação Os vereadores também aprovaram a criação de uma política

preparam volta à Câmara. Nely Almeida (PSDB), que assumirá a vaga da atual vereadora Mara Lima (PSDB), eleita deputada estadual com 56.516 votos. Paulo Salamuni (PV) vai substituir o vereador Roberto Aciolli (PV), eleito deputado estadual com 45.708 votos.

Câmara Municipal de Curitiba • www.cmc.pr.gov.br R. Barão do Rio Branco, s/nº — cep 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 fax: (41)3350-4737 36

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reportagem

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Foto: AndrĂŠ Rodrigues

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carlos Simon


GeNte Que Luta ideias explica por que Curitiba produz os maiores atletas de vale-tudo do mundo

M

Não é exagero nem bairrismo afirmar que Curitiba é o maior celeiro do planeta no MMA (sigla em inglês para Artes

Foto: Divulgação/UFC

uitos torcem o nariz e tacham de barbarismo. outros sequer consideram esporte. Mas cada vez menos curitibanos ignoram uma constatação: o valetudo, modalidade mais sanguinolenta e agressiva de luta, tornou-se uma das maiores referências da cidade mundo afora.

Anderson Silva: uma das estrelas criadas na terra das araucárias


Marciais Mistas, nova roupagem mais aprimorada do vale-tudo). Dos cinco atuais campeões do UFC, principal evento do MMA, organizado nos Estados Unidos, mas de âmbito mundial, dois cresceram e formaram-se lutadores na capital paranaense: Maurício ‘Shogun’ Rua (até 93 kg), curitibano, e Anderson Silva (até 84 kg), que nasceu em São Paulo mas vive aqui desde os 4 anos de idade. Também saiu deste chão um dos mais populares atletas da modalidade em todos os tempos, Wanderlei Silva, que segue na ativa. E uma das estrelas do circuito feminino, Cris “Cyborg” Santos. E o surgimento de grandes campeões, que até poderia ser casual, é de fato a desembocadura de uma estrutura criada contínua e gradualmente na cidade, que hoje atrai mestres e atletas de outros cantos. Além de dezenas de pequenas academias, Curitiba tem pelo menos 10 agremiações que tanto ensinam novatos como fomentam a luta de ponta. Pergunta natural a ser feita pelo leitor: por que a então pacata terra dos pinheirais atracou-se na porrada? A resposta é complexa, e parte necessariamente da origem da luta. O nome já indica que o MMA é a fusão de

várias artes marciais, como caratê, judô, boxe e wrestling (semelhante à luta olímpica). Mas o domínio de duas delas é absolutamente essencial para o atleta de alta performance: o jiu-jitsu e o muay thai (também conhecido como boxe tailandês ou chute boxe). O primeiro, oriundo do Japão, baseia-se no combate de solo e tem no Rio de Janeiro o maior polo do País. Já o muay thai curitibano é reconhecidamente o melhor do Brasil. O introdutor do muay thai em Curitiba, e também no Brasil, foi o carioca Nélio Borges de Souza, em meados dos anos 70. Quando um dos discípulos, Rudimar Fedrigo, resolveu fundar a própria academia, por volta de 1980, plantava-se a semente que espalharia o gênero pelo Paraná. Rudimar, que começou na modalidade para consolidar a recuperação de uma fratura exposta no fêmur, após ser atropelado aos 12 anos de idade, criou naquela época a Chute Boxe, na Avenida Visconde do Rio Branco. Três décadas depois, o time transformou-se numa espécie de grife do mundo da luta. A mais famosa academia do gênero do País tem cinco escolas em Curitiba, filiais em Santa Catarina e escritórios no Japão, Estados Unidos e Espanha.

Foto: Valquir Aureliano

O time de lutadores da UDL: são dezenas de academias na capital paranaense 40

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Foto: André Rodrigues

“O fato de treinar em Curitiba, e principalmente na Chute O aparecimento do vale-tudo, em meados dos anos 90, Boxe, é muito valorizado no meio empresarial do MMA”, serviu para restringir aos ringues estas animosidades. A diz o lutador Maiquel Falcão, que há dois anos deixou disputa entre as modalidades ganhou regras fixas, formaliPelotas (RS) para integrar-se à equipe de Rudimar. Em 20 dade e profissionalização. “Foi no Brasil que o vale-tudo se de novembro, Falcão entra pela primeira vez no octógono popularizou. Aquela vontade de medir a eficácia das artes (ringue) do UFC, em Aumarciais foi canalizada burn Hills (EUA), para enpara o combate oficial”, frentar o norte-americano diz Rudimar, secretário Gerald Harris. “O UFC é o municipal de Esporte e sonho de qualquer atleta, Lazer de Curitiba desde e possivelmente eu não o 2009. atingiria se não treinasse No começo, a noviaqui”, acredita. dade era vista com desconfiança e quem migrava Luta ríspida, que ganhava a pecha de traipermite golpes com jodor de sua arte. Fase que elhos, pés e cotovelos, durou pouco. Com grano muay thai lentamente des craques e centenas ganhou novos adeptos de seguidores no muay em Curitiba a partir dos thai, além de um jiu-jitsu anos 80. Processo acelebem desenvolvido, falrado pelo aparecimento tava só um ícone para o de mestres reconhecivale-tudo curitibano desdos, como o próprio Rulanchar. Wanderlei Silva dimar e Fábio Noguchi preencheu esta lacuna (que também criaria sua com brilho intenso. Ouprópria equipe) e dos tra cria da Chute Boxe, primeiros destaques em ele colecionou vitórias no competições nacionais País, e depois no Exterior. e internacionais, como O estilo agressivo rendeuRafael Cordeiro e José lhe o apelido de “The Axe Landi, o Pelé. Murderer” (algo como O Ao mesmo tempo, o Assassino do Machado), e boxe tailandês ganhou a fama mundial multiplifama de rei entre os escou-se com as conquistas portes de combate. No do Pride, a partir de 1999, começo dos anos 90, no Japão – então o troféu Curitiba sediou diversos máximo do vale-tudo, que torneios amadores entre adeptos de diferentes arna época já atraía numetes marciais, com regras roso público. Wanderlei Vinícius Spartan (acima) e Maiquel Falcão: mais livres - quase semcriou sua própria grife da Chute Boxe para o mundo pre com vantagem para o de vestimentas esportimuay thai. Competições vas, vendeu bonecos em deste tipo, porém, aguminiatura no Oriente e çavam rivalidades e não raro descambavam para a mera transformou-se em estrela máxima do universo das lutas. pancadaria. Em 1993, num episódio bastante conhecido Hoje, aos 34 anos, ele mantém academia personalizada em na cidade, fãs de muay thai e da capoeira protagonizaram Las Vegas, sede do UFC, e prepara-se para voltar aos ringues briga generalizada durante evento no ginásio do Círculo em 2011, enquanto se recupera de lesão no joelho. Militar do Paraná. Conflitos noturnos na rua entre acaO efeito Wanderlei na base do esporte foi semelhante à Gugamania no tênis, quando o catarinense atingiu o demias inimigas também eram recorrentes. novembro de 2010 |

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Estouro indomável

topo do mundo. A diferença é que, no vale-tudo, Curitiba não só viu disparar o afluxo de novos praticantes, a partir da década de 2000, como seguiu fabricando atletas de alto nível. Para melhorar, os especialistas em muay thai sempre foram mais valorizados no mercado do MMA por lutarem em pé e darem mais vivacidade aos combates. “Comecei a lutar por causa do Wanderlei. Lia as revistas especializadas e me emocionava com esse sentimento de vencer só pela honra”, conta o curitibano Vinícius “Spartan” Queiroz, 27 anos, outro atleta da Chute Boxe, que estreou no UFC no último 16 de outubro, em Londres, com derrota para o inglês Rob Broughton. Contemporâneo de Wanderlei, Murilo Rua, o ‘Ninja’, obteve sucesso menos cintilante, mas também serviu de espelho a hordas de novatos. “Meus combates e os do Wanderlei no Pride já passavam na TV (por assinatura). As academias de Curitiba ganharam foco e encheram de alunos”, lembra Ninja. 42

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Foto: Valquir Aureliano

O

boxe produziu incontáveis lendas, foi retratado à exaustão pelo cinema, ganhou apelido de “Nobre Arte”. Um dos esportes mais apreciados do mundo até duas ou três décadas atrás atualmente perde espaço de forma incontrolável para uma espécie de filho mais ousado e insinuante chamado MMA. Em 2008, a prestigiada revista Forbes calculou em US$ 1 bilhão o valor da marca UFC. Hoje, o preço certamente é bem superior. Transmitido há alguns anos no Brasil pelos canais da Globosat, o MMA já migrou para o sistema pay-per-view, onde até então o futebol reinava sozinho – nos Estados Unidos, o UFC chega a vender perto de 1 milhão de pacotes com uma noitada de lutas. A RedeTV! também descobriu o filão e exibe combates nas noites de sábado. Já a Nobre Arte praticamente desapareceu da mídia em geral. Contribuiu bastante para a decadência do boxe a proliferação de entidades e associações mundiais independentes. Cada uma produz seus campeões, o que confunde o público. “Falta também um grande ídolo norte-americano. Para eles não interessa ver mexicanos ou porto-riquenhos lá em cima”, opina o lutador Murilo “Ninja” Rua. Para Ivan Canello, promotor de lutas de vale-tudo, o boxe já não é capaz de segurar o telespectador no

Para Ninja, falta de heróis norte-americanos minou o boxe

sofá. “Hoje o nível de entretenimento tem que ser muito alto. O MMA é mais excitante, há várias maneiras de acabar a luta”, defende. Assim, muitos fãs menos fervorosos do boxe migraram para o MMA. A começar pelo último superstar do pugilismo, Mike Tyson, figurinha carimbada nos eventos de vale-tudo, e Dana White, ex-boxeador que tornou-se o todo-poderoso do UFC. Nem tudo, porém, são flores. No Brasil, as federações de artes marciais têm pouquíssima expressão, e os patrocínios ainda são escassos, mesmo para os top de linha. Mas nada parece deter o entusiasmo dos adeptos. “Não tenho dúvida de que em cinco anos o MMA será o esporte número 1 do mundo”, arrisca Canello. Exagero? Parece que sim, mas é melhor não pagar pra ver. Assim, a última fornada de campeões do UFC chegou ao auge já iluminada por intensa cobertura da mídia. Irmão mais novo de Ninja, Shogun nocauteou em maio último o compatriota Lyoto Machida, até então invicto, e ganhou o título dos meio-pesados do UFC. E Anderson Silva, mesmo castigado durante maior parte do confronto, reagiu e finalizou o norte-americano Chael Sonnen, em agosto, mantendo assim o cinturão mundial dos médios que havia conquistado em abril. A vitória catapultou Anderson ao topo do ranking de melhor lutador do mundo entre todas as categorias, divulgado em setembro pelo site especializado norteamericano Sherdog.

Clubes da Luta As conquistas de Shogun e Anderson reforçam a chama do mercado local de lutas. Há cerca de 5 mil praticantes de jiu-jitsu, muay thai e MMA em Curitiba, entre amadores e


profissionais, homens e mulheres, crianças e adultos. O que acarreta em grande demanda por competições, na verdade autênticos festivais de luta. Somente no mês de outubro houve quatro na cidade, um deles só para garotas. E todos com elevado grau de organização, preocupação com segurança e ânimos serenos fora das cordas – cenário bem distante da falsa imagem de “Clubes da Luta” persistente no imaginário popular. “Curitiba tem um dos mercados mais aquecidos de competições amadoras e profissionais de MMA no Brasil. E todos sabem que para desenvolver um atleta de ponta é essencial aprender assim, competindo”, observa Ivan Canello, empresário de MMA e responsável pelo Gladiators FC 2, torneio com 12 lutas cujo ponto alto foi o desafio entre curitibanos e representantes do Norte e Nordeste. Por essas e outras, lutadores como Imerson Oliveira, 23 anos, são capazes de cruzar o País para bater o queixo em nosso clima subtropical. Faixa preta de jiu-jitsu, o amazonense deixou a tórrida Manaus há um ano para se aperfeiçoar em muay thai na academia de Murilo Ninja. Desde então mora numa república no Capão Raso e, para se manter, dá aulas e compete atrás de bolsas. “O inverno de Curitiba é bravo, mas aqui estão os melhores”, acredita. Portanto, não despreze nem maltrate aquele piá magricelo da sua vizinhança. Em curto prazo, e sem que você perceba, ele pode virar um novo produto da fábrica de gladiadores mais fecunda do planeta.

Glossário Assalto – Normalmente, as lutas profissionais de vale-tudo têm três assaltos (ou rounds) de cinco minutos. Cartel - Currículo do lutador. Finalizar – Imobilizar o adversário e concluir a luta no solo. Jiu-jitsu – Chamado de “arte suave”, é disputado basicamente no solo. Compõe a base do MMA, ao lado do muay thai. Mata-leão – Estrangulamento por trás, com o braço sobre o pescoço. MMA – Mixed Martial Arts, ou Artes Marciais Mistas, nome globalizado do vale-tudo. Muay Thai – Conhecido como Boxe tailandês, permite o uso de mãos, pés, joelhos e cotovelos. Nocaute - É declarado quando um dos lutadores é derrubado e não consegue se levantar até o fim da contagem de dez segundos. Nocaute técnico - Ocorre quando um lutador é derrubado três vezes no mesmo assalto, ou quando o árbitro determina o fim da luta por considerar que um dos lutadores não está mais em condições de disputar o combate. Octógono – Ringue com oito lados, típico do vale-tudo. Pride – Competição precursora do UFC e extinta em 2007, que tinha sede no Japão. Submission – Espécie de jiu-jitsu, sem uso de quimono.

Fotos: Divulgação

Wanderlei Silva e Maurício Shogun: o antigo e o novo ídolo do MMA local

Foto: André Rodrigues

Foto: Valquir Aureliano

O amazonense Imerson é um dos aprendizes da doutrina do pioneiro Rudimar

Strikeforce – Entidade de vale-tudo com sede nos Estados Unidos que promove o campeonato mundial entre mulheres. Trocação – Aplicação mútua de golpes entre os oponentes. UFC – Sigla da Ultimate Fighting Championship, principal competição de MMA do mundo. Vale-tudo – O nome engana, pois tem restrições que variam conforme a entidade organizadora do evento. Normalmente, é proibido golpear o adversário no pescoço, nuca e região genital, morder, cabecear, puxar o cabelo, colocar dedo nos olhos, nariz e boca, segurar as luvas, apoiar-se nas cordas do ringue. Wrestling – Semelhante à luta olímpica, é bastante popular nos Estados Unidos.

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Fotos: Valquir Aureliano

Estouro indomável

Socos, chutes e batom

N

ão é novidade que a era da fragilidade feminina acabou. Nem que elas invadiram sem cerimônia espaços antes exclusivamente masculinos. Mas observá-las mergulhando no muay thai e MMA com tamanha fúria ainda pode causar uma ponta de espanto. Nas academias de Curitiba, as mulheres respondem por 15% a 20% da clientela. A Thai Boxe é ainda mais cor-de-rosa: 200 garotas, ou um terço do total. Em 9 de outubro, a academia organizou o Golden Girls, primeiro evento 100% feminino do gênero realizado na cidade. No cardápio, 21 lutas amadoras e duas profissionais – uma de muay thai e outra de MMA. Força bruta sim, mas sem perder a delicadeza. “São todas vaidosas. E a grande maioria começa pra entrar em forma, depois toma gosto”, conta a proprietária Elaine Cristina Veiga, que herdou a agremiação do ex-marido, o mestre Osmar Dias, assassinado em novembro de 2008 ao reagir a um assalto no bairro Rebouças da cidade.

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O espelho das competidoras é Cris “Cyborg” Santos, 25 anos, curitibana que se desenvolveu e se tornou profissional, para variar, na Academia Chute Boxe. Nocauteadora implacável, ela é uma das chamarizes da Strikeforce, entidade promotora de torneios mundiais femininos, e hoje vive nos Estados Unidos com o marido, o também profissional Evangelista Santos. Elaine conta que fora do ringue as principais lutadoras são bastante calmas, tímidas até. Comportamento, aliás, também verificado entre os homens. O atleta típico do MMA fala baixo, é educado e bem articulado. Longe daquele estereótipo do brutamontes obcecado apenas em bater. “Os profissionais não fumam, não bebem nem saem na balada, senão não aguentam a carga de treinamentos”, retrata Cleiton Caetano da Silva, administrador da academia Universidade da Luta, de Murilo Ninja.


Os demais são submetidos a uma espécie de controle. Quem arranja confusão na rua é recriminado ou, em casos mais graves, expulso das equipes – afinal, deslizes fora dos ringues resultam na perda de clientes, especialmente mulheres ou aqueles bancados pelos pais. “Se ocorre algum episódio de violência gratuita, todos no meio ficam sabendo. Ninguém mais aceita esse tipo de atitude”, diz Rudimar Fedrigo, o mestre e dono de academia que virou secretário.

Foto: Divulgação

A supercampeã Cris Cyborg: modelo para as meninas que se “engalfinharam” no torneio Golden Girls

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fotografia

Fotos IVAN RODRIGUEZ

Lisboa 1988

Um olho que se move O olho aproxima-se da ocular e procura o enquadramento. O que está prestes a ser fotografado, o que se apresenta em frente da objetiva, na visão subjetiva do fotógrafo, guia a composição. Nesse momento a memória fotográfica do autor vai em busca, inconscientemente ou não, de uma referência. Referência essa que pode ser do que viu, do que já fotografou ou do que sonhou que viu ou fotografou: junções de imagens formando dípticos, trípticos, combinações. No fotógrafo a memória visual é fundamental: acrescenta, descarta, cita ou modifica. 46

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No presente caso, nas fotografias escolhidas e editadas pelo seu autor são dípticos, imagens que se complementam. Da Lisboa de 1988, da Berlin de 1989 até Florianópolis de 2006, Ivan monta um panorama humano que se autorreferencia. A abertura do obturador em rapidíssimo avo de segundo fixa um momento da existência compartilhado pelo fotógrafo e pelo que foi fotografado. E é a estética filtrada pela sensibilidade do autor que torna perene as imagens registradas. Ivan Rodriguez partindo do fotoclubismo – que junto com o cineclubismo já teve sua época áurea no Brasil –


Mértola 1999

formou-se em comunicação e dedicou-se à sua paixão que é a fotografia. De sua formatura em 1981 até hoje trabalhou em várias atividades fotográficas em Curitiba e em Lisboa para onde foi em 1988. Só ou junto de parceiros fotografou gente (books), fez coberturas fotográficas, editorial de moda para a revista Elle (Portugal) e, principalmente, trabalhou e trabalha para o mercado de fotos publicitárias. Ao lado desse trabalho profissional, sempre com altíssima qualidade, não descuidou do trabalho autoral. Desde a exposição “Visagens” – Novos Fotógrafos – na Sala Funarte

em Curitiba 1983, passando por São Paulo com “Cemitério de Máquinas” junto com Neni Glock no Centro Cultural de São Paulo 1985, “Foto Poesia” com Cristina Gebran no Museu Guido Viaro Curitiba 1987, três mostras em Lisboa: 1989, 1990 e 1992: “Fotos & Postais”, com Joaquim Paiva e Nino Rezende, “Fotografias” e “Nus Up Stairs” estas duas mostras individuais até sua última exposição em Curitiba, Ivan continua a mover o seu criativo olhar para o trabalho que é a sua profissão e para aquele que não está à venda. Dico Kremer novembro de 2010 |

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Braga 1992

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Curitiba 2003

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Florian贸polis 2006

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Berlim 1989

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ofício

Texto fábio campana Fotos dico kremer

Um homem incomum Dico Kremer concedeu-me a graça de conhecer um homem incomum. É desses raros espécimes que recusam os padrões desta época de consumo conspícuo e volúvel gosto das massas. Arnold Junginger. Personalidade fascinante que se refugia em outra noção de tempo e de valores para produzir sua arte. Não se fala com ele sobre o circunstancial. Não está nem aí para a conjuntura. Seus interesses são profundos e permanentes. Neste momento está a reler as Confissões de Santo Agostinho ao mesmo tempo em que faz exercícios de tradução de Goethe.

Sua casa é um refúgio no centro de vários alqueires em Almirante Tamandaré. À entrada, um santuário que restou de uma igreja construída em 1889 em homenagem a São Izidro. Em sua sala, logo à entrada, um belo cravo que ele acaba de construir e que está afinar. A sala é ampla. Ao lado, um piano de cauda. No lado oposto um piano horizontal na parede em que está o

Seus instrumentos são inigualáveis. Talvez 13 outros luthiers em todo o mundo façam o mesmo móvel que esconde o bar e sua cota de vinhos. Imediatamente ele nos põe a provar um Malbec para aveludar a conversa e nos sintonizarmos em torno da última edição do Gatopardo de Lampedusa. 52

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Homem vário. De muito talento para gastá-lo em uma só atividade. Arnold é único em sua genialidade que expressa como luthier, músico, poliglota, gastrônomo, chefe de cozinha, hortelão, dendrófilo e escanção. Possivelmente algo mais que me escapa à memória. Ah, sim, filósofo. E leitor voraz da melhor literatura. Às vezes se permite um cinema. Confessa que sente

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falta do teatro e dos concertos que via na Europa. Bons tempos. Sua casa em Munique, Frankfurt ou Viena hospedava músicos do quilate de Nelson Freire. Arnold é tudo isso além de financista que durante muitos anos cedeu seus conhecimentos ao Banco do Brasil em postos na Alemanha e na Áustria. O banco ganhou muito com Arnold e ele foi retribuído em sua estada na Europa com a oportunidade de conhecer


os melhores músicos, os grandes instrumentistas e, e seus segredos. Por isso mesmo são disputados por instrumentistas. Daqui e principalmente os da Europa principalmente, os grandes luthiers. e Estados Unidos. Recentemente ele Voltou com uma carga preciofoi descoberto por músicos novos do sa de livros, plantas e projetos de Arnold é único em hemisfério norte. Arnold tem medo instrumentos de cordas, e um estode ser muito solicitado. Recusa peque de madeiras especiais que são sua genialidade didos. Resiste aos insistentes. Isso insubstituíveis na confecção dos que expressa só o torna ainda mais solicitado e instrumentos que ele vai produzincomo luthier, sinônimo de excelência. do sem pressa. Com a paciência de Arnold Junginger é pouco coquem retira milímetros da madeira músico, poliglota, nhecido nesta paróquia, como sói para conseguir melhorar os graves gastrônomo, acontecer com as pessoas de seu tade um violão ou de um alaúde. O chefe de cozinha, lento. Ele agradece. Prefere a paz das abesto, o pinho da Áustria, o ébano africano. Cada madeira para uma das relações seletivas. Para dividir sua hortelão, partes do instrumento. Refilados e música, seu latim, seus vinhos e seu dendrófilo pequeno paraíso terrestre, tem Emímoldados durante dias. Há violão lia, sua mulher, e a filha Patricia. Às feito por Arnold Junginger que lee escanção vezes os filhos distantes que aparecem vou mais de ano para ficar pronto. para degustar a gastronomia e fruir Seus instrumentos são inigualáveis. Talvez 13 outros luthiers em todo o mundo a poesia de Arnold, poeta sem sabê-lo, que esculpe façam o mesmo. Não igual. Cada qual tem sua manha instrumentos para deles tirar a música dos mestres. novembro de 2010 |

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ViCeNTe Ferreira professor e gastrólogo

“Langouste Thermidor” Este é um dos pratos preferidos do Nêgo Pessôa e da larissa Reichmann, revelam os seus amigos. Bom gosto. As receitas de l’ancienne cuisine que sobreviveram aos ataques modernistas estão aí há mais de século porque realmente são maravilhosas. Duas histórias disputam a origem deste prato sofisticadíssimo da culinária francesa. A versão da grande enciclopédia gastronômica Larousse a atribui ao chef Léopold Mourier, do Café de Paris, em 1897. Há controvérsia. Outra vertente credita a autoria ao Marie’s, restaurante parisiense que ficava no Boulevard Saint-Denis, próximo ao Teatro de Comédia Francesa, que o teria criado para homenagear a estreia, em 1894, da peça Thermidor, de Victorien Sardou. Basta de história, voltemos ao prato. Os franceses dizem que o molho faz a comida, o que há muito é um lugar-comum. Também é lugar-comum dizer que uma lagosta é uma lagosta. Mas quando o molho é Thermidor, a lagosta é outra coisa. 56

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Thermidor é prato ideal para o verão que se aproxima. A receita que segue é a clássica, como exigem Pessôa e Larissa. Começa-se escolhendo duas lagostas de um quilo cada. Depois:

•• 2 colheres de sobremesa de óleo vegetal •• 120 gramas de manteiga salgada •• ¼ de xícara de conhaque •• 1 ½ xícaras de cebola bem picadinha •• 3 colheres de sobremesa de farinha de trigo •• ½ xícara de vinho branco bem seco •• Sal, pimenta-do-reino •• 1 xícara de leite •• 1 colher de mostarda •• ½ xícara de queijo parmesão ralado

escureça. Adiciona-se o vinho e cozinha-se lentamente até que o vinho desapareça. Derretem-se três colheres de manteiga numa panela. Depois, fora do fogo, mistura-se com a farinha. Tempera-se então, com meia colher de chá de sal e uma boa pitada de pimenta. Depois, junta-se o leite e mexe-se sobre o fogo até que engrosse e comece a ferver. Então, adiciona-se a cebola que já cozinhou. Junta-se a mostarda, o queijo ralado e o creme de leite. Remove-se toda a carne da lagosta tendo o cuidado de não quebrar as cascas da cauda e da cabeça. Corta-se a carne e mistura-se com o molho. Colocam-se, então, as cascas da cauda e da cabeça sobre um prato de gratinar, quente, tendo o cuidado de colocar umas fatias de cenoura por baixo a fim de evitar o contato direto da casca com o prato. Enchem-se as cascas com a mistura da lagosta com o molho e joga-se sobre tudo miolo de pão, o que restar do queijo e manteiga derretida. Deixa-se um pouco no forno ate tostar. Enfeitase o prato com umas pequenas garras, colocando-se galhinhos de agrião em cada extremidade. Sirva e observe o que acontece com seus quatro convidados.

•• ¼ de xícara de creme leve •• Miolo de pão •• 1 molho de agrião

Mata-se a lagosta cortando-se da cabeça para a cauda. Depois, abre-se a cabeça para dela retirar os olhos. Tiram-se as veias intestinais. Removem-se o fígado e o coral que haja no estômago. Removem-se as pinças grandes e pequenas tendo o cuidado de não esmagá-las. Numa panela bem grande esquenta-se o óleo com o auxílio de uma colher de sobremesa de manteiga. Colocam-se, então, as lagostas na panela com a casca para baixo e as pinças para cima. Cobre-se a panela e deixa-se ferver durante três minutos. Depois, aquecese o conhaque e joga-se sobre a lagosta. Deixa-se ferver até que as lagostas fiquem vermelhas. Destampa-se e deixa-se esfriar. O caldo é colocado numa frigideira juntamente com 30 gramas de manteiga. Depois de aquecer um pouco, adiciona-se cebola e tempera-se com sal e pimenta-doreino. Cozinha-se a fogo lento sem deixar que a cebola

Larissa Reichmann

Nêgo Pessôa

“A lagosta Thermidor estará sempre bem acompanhada pelo champagne Don Pérignon. Foi dessa forma que a redescobri recentemente na companhia de amigos. Aliás, não se deve degustar nada disso a não ser em boa companhia, pois a Thermidor não tolera espíritos desagradáveis.”

“Fui apresentado à lagosta Thermidor em priscas eras pelo gourmet Carlos Nasser. Desde então é meu prato preferido na entrada do verão. Melhor seria em alto mar. A receita clássica, sem interferências dos modismos, é sempre a desejada. Sem receios de iminente felicidade. Por precaução, escolha quem vai à mesa.”

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LUIZ CARLOS ZANONI  jornalista apreciador de vinhos

abette emergiu dos vapores da cozinha do VinBistrô para colher os aplausos no salão. Esse é um ritual que a talentosa chef do Café Anglais, de Paris, cumpre desde fins do século XIX, quando, numa aldeia perdida nos confins da Dinamarca, preparou o jantar para sempre celebrado como a Festa de Babette. O cardápio servido converteu-se numa espécie de cult da alta gastronomia, cozinheiros de todas as épocas e lugares clamando pela inspiração da quituteira francesa para reproduzi-lo em cada detalhe. E sempre que invocada Babette os atende, assumindo diferentes identidades, conforme época e lugar. No caso do VinBistrô, trazia a barba por fazer, sotaque do interior paranaense e o nome Hermes Custódio no dolman. Babette, na verdade, nasceu da imaginação da escritora dinamarquesa Karen Blixen.

cozinheira a se refugiar num vilarejo do interior da Dinamarca, acolhida por duas irmãs solteironas, devotadas a obras religiosas. O clima é gélido, a vida rústica, penosa, mas, Babette se adapta, embora limitada, no uso de suas habilidades culinárias, ao preparo da sopa dos anciões do lugar. A oportunidade de dar vazão ao talento surge anos depois, com a notícia de que fora premiada na loteria de Paris. Aí, ao invés de utilizar o dinheiro para si, gasta-o na importação dos ingredientes com os quais proporciona aos amigos da aldeia a inesquecível experiência, um jantar ao estilo do Café Anglais, pratos e vinhos em fina sintonia. A festa começa pelo consomê, uma delicada sopa de tartaruga em sua clássica harmonização com um cálice de Amontillado, vinho espanhol de Jerez de La Frontera. Segue-se o Blinis

costumam satanizar a enogastronomia em tal nível, uns pela ideia de que todo prazer é pecaminoso, caminho certo para a danação eterna, outros por vê-la como símbolo da decadência burguesa. A Festa de Babette esconjura preconceitos, resgatando para a gastronomia a posição que lhe foi dada à época do Renascimento, a de uma verdadeira arte, ao lado da Foto: Dico Kremer

B

Cozinhando com Babette

O Chef, Hermes Custódio.

“A Festa de Babette esconjura preconceitos, resgatando para a gastronomia a posição que lhe foi dada à época do Renascimento, a de uma verdadeira arte,...” Festa de Babette foi um dos contos da coletânea por ela lançada em 1958 e imortalizado na versão para o cinema do diretor Gabriel Axel. Com um pé na cozinha e outro na revolução, Babette conciliava a função de chef do requintado restaurante parisiense com sua participação no movimento que, em 1871, instaurou na capital francesa o primeiro governo socialista da história. A Comuna de Paris teve vida curta, poucos meses, terminando de forma sangrenta com a retomada da cidade pelas tropas do governo conservador, o que obrigou a 58

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Demidoff (panqueca com creme azedo e caviar), ladeado pelo Champagne Veuve Clicquot Brut, safra 1860, ambos abrindo alas ao prato principal, as magníficas codornizes recheadas de foie gras e trufas, escoltadas por um celestial tinto da Borgonha, o Clos de Vougeot 1845. Depois a salada, os queijos, mais Clos de Vougeot, na sobremesa baba ao rum, frutas, café, e – ponto final – um cálice de Marc Fine Champagne, destilado de uvas viníferas que os franceses apreciam como digestivo. Radicais religiosos ou políticos

pintura, escultura ou arquitetura. Muito além da satisfação material, ela eleva e pacifica os mais endurecidos espíritos, colocando-os em estreita comunhão, como acontece ao fim do jantar, quando todos se dão as mãos e dançam, aquecidos e felizes. O evento no VinBistrô, organizado por IDEIAS, seguiu, nos pratos e taças, o roteiro de Babette, habilmente executado pelo chef Hermes Custódio. E a velha mágica como sempre se repetiu, desta vez tendo como cenário uma fria madrugada curitibana.


PRATeLeIRA

M�si�a

oUViR ninA

Li���s

CAMUs EM dosE dUPLA Para registrar a passagem dos 50 anos da morte de Camus, aqui estão duas publicações que celebram este aniversário. O dicionário, Le dictionnaire Albert Camus, foi escrito por uma equipe internacional e interdisciplinar de pesquisadores convidados a reunir tudo sobre Camus, o homem e de sua obra. O dicionário traz citações do escritor e as entradas se dão tanto pelos títulos de Camus, como por nomes próprios, noções de filosofia e literatura. La posterité du Soleil, livro, talvez portfólio acabado e publicado por René Char em 1965, agora lançado numa bela edição comemorativa pela Gallimard. Tendo Camus solicitado a Char o direito de publicar um de seus poemas numa revista, acabam marcando um encontro num Hotel em Avignon Depois seguem para Isle-Sur-Sorgue, a cidade do poeta, para definirem a parceria. Após alguns dias, Camus aluga por mais de três anos uma casa na região, cuja natureza evocava as paisagens da Argélia. René Char que ao trabalhar com Braque, dizia do chemin faisant, das parcerias que construíam, ele, Camus mais a fotógrafa Henriette Grindat, constroem uma bela obra, aqui numa edição maravilhosa. Durante um longo período Henriette fotografa as paisagens nas quais os três vivem e caminham. Apresenta as fotos a Camus que escolhe mais ou menos cinqüenta delas. Sobre estas imagens do imenso vale das montanhas do Luberon, no qual ele diz que ‘no futuro teriam audácia de morrer contente’, Camus escreve poemas em prosa, fragmentos poéticos. Para abrir e fechar a obra como uma joia preciosa, os textos de René Char, são como um envelope protetor como diz Véronique Petetin, na resenha da Revue ÉTVDES. Visitar as Prateleiras das revistas nos proporciona presentes e descobertas encantadoras como estas que compartilho com vocês.

Nina Simone, a preferida de Paola De Orte que me ensinou a ouvi-la. Adorei “Ne me quites pás”. Provocou minhas angústias. Só um bárbaro não sentiria essa música que sobe das entranhas. Se não ouviu, ouça. Eunice Kathleen Waymon, Nina Simone (Tryon, 21 de fevereiro de 1933 — Carry-le-Rouet, 21 de abril de 2003). Pianista, cantora e compositora. O nome artístico foi adotado aos 20 anos, para que pudesse cantar Blues, a “música do diabo”, nos cabarés de Nova Iorque, escondida de seus pais, que eram pastores metodistas. “Nina” de pequena (“little one”) e “Simone” uma homenagem à atriz do cinema francês Simone Signoret. Fábio Campana

Vania Mercer, psicanalista novembro de 2010 |

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Li���s

o ÍConE KARAM Para homenagear tanto Manoel Carlos Karam quanto as pessoas apegadas a seus escritos, a Kafka Edições, com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, recoloca no circuito cultural, com novo tratamento gráfico, os três primeiros livros do autor: Fontes Murmurantes, Cebola e O Impostor no Baile de Máscaras. O primeiro publicado em 1985 pela Marco Zero, editora criada por outro escritor, o amazonense Márcio Souza. O segundo, vencedor do Prêmio Cruz e Sousa, 1995, e editado pelos organizadores da premiação. O terceiro, editado pela Artes & Ofícios, de Porto Alegre. O conjunto de obras é chamado de Trilogia de Alhures do Sul, localidade imaginária criada por Karam, que surge em vários momentos de seus livros. O fato de Karam não ter sido um autor amplamente divulgado para um círculo maior quando era vivo, não quer dizer que não tenha angariado um grupo de leitores reverentes e deixado suas profundas marcas para uma nova geração de escritores de fora — Marçal Aquino, Nelson de Oliveira, Joca Terron, etc, que inclusive assinam as orelhas dos livros — e também para uma nova geração paranaense que lê os textos do autor, sem contar os novos atores e diretores teatrais que montam peças com textos de Karam. Karam inegavelmente é um ícone que deu novos ares à literatura brasileira pós-ditadura, como afirma Marçal Aquino, ou como diz Joca Terron: Karam é o nosso herói. Ler este autor é um direito intelectual que todos possuímos, e foi com esse ideal que a Kafka reeditou essas três obras tão importantes dentro da nossa produção contemporânea. Paulo Sandrini 60

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Filmes

Foto: Henri Cartier Bresson

Quando éramos Reis

LER MALRAUX André Malraux é o primeiro escritor de sua geração que edificou de maneira eficaz o seu próprio mito. Quem diz é o seu biógrafo, o crítico Olivier Todd. Malraux foi um dos personagens mais representativos da cultura francesa no século XX. Em sua vida se confundem ficção e realidade. O escritor e o homem público, a propaganda do político e a realidade dos fatos históricos que viveu. Malraux sofria da Síndrome da Tourette, que provoca trejeitos e tiques e estavam sempre presentes nas suas entrevistas.

Nascido Georges-André Malraux, seu pai, Fernand, era agente de bolsa apaixonado pelos inventos e pela mecânica, que abandonou a família e se suicidou. André passou a infância acomodada em Bondy, subúrbio de classe média de Paris, em companhia de sua mãe Berthe, sua tia e sua avó. Não passou necessidades e teve educação privada. Nem por isso tinha boas lembranças. Nas primeiras linhas de suas Antimemórias ele diz que ao contrário de todos os escritores que conhecia e que amavam sua infância, ele odiava a sua.

Zaire. 1974. Muhammad Ali e George Foreman travaram histórica luta. O documentário de Leon Gast dá a Ali a atmosfera de Deus, tanto na sua arte como lutador, como na sua luta política. Narrativa rápida e certeira, em ritmo de crônica, contextualiza o cenário e as ideologias políticas, a convicção de Ali e o nocaute certo em Foreman, que antagoniza silenciosamente com Ali, como se fosse possível alguém como ele passar quase despercebido. Ali consegue a proeza. O filme tem ainda o ritmo de grandes músicos como James Brown e B. B. King que transferem precisão aos socos de Ali. Pontua magistralmente com as entrevistas de Norman Mailer, Spike Lee e o empresário Don King. Elegante, soberbo, ousado. Muhammad Ali dá o peso necessário às obsessões. Dance Ali, dance.

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izaBel CamPaNa

Samba de Brasília

D

esde que mudei para Brasília me deparo constantemente com o comentário. Ah é? Mas você tá gostando? Tou. Eu gosto de Brasília. Acreditem os crédulos. Quando, em 1962, Clarice Lispector escreveu sobre Brasília, a cidade era só paisagem. Era só Costa e Niemeyer. Clarice avisou que era urgente fosse superpovoada. Foi. Brasília não é mais a cidade fantasma que conheci aos 12 anos. E eu gostei de Brasília assim, morta e vazia. Acho que para gostar daqui tem que gostar um pouco da solidão. De andar na L4 como se fosse uma estrada para o nada. Seguir com os olhos a linha do Congresso Nacional em direção a um céu infinito de nuvens que parece mais fundo do que qualquer céu de qualquer cidade. Mas a cidade obedeceu a ordem de Clarice. Para gostar de Brasília, não basta mais esse lado antissocial. É preciso ser ambíguo no Distrito Federal. Povoada pelo nordeste, Brasília tem hoje um lado acolhedor demais. Se a impessoalidade do Eixão te cansar, entre em uma superquadra e vá à padaria. Você vai encontrar sorrisos e ineficiência. Ah, tão humana, a falha. Diferente de São Paulo, do Rio. Lá tudo é rápido e eficiente. A indecisão irrita o sudeste. Em Brasília não.

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Tudo é perdoado. Com um sorriso. Não é que eu goste de tudo aqui. Algumas coisas são tão irritantes quanto um convite para ir à praia. Ondas alaranjadas de cones pelas ruas, por exemplo. Mas Brasília é cheia de idiossincrasias adoráveis. Na capital federal você mora em uma cidade onde o carro é um passaporte para a liberdade. E para qualquer outro lugar se você não quiser trocar de ônibus na rodoviária do Plano Piloto. Ao mesmo tempo, a superquadra é uma cidade de interior. Tem até prefeitura. Aqui eu tenho um açougueiro fiel, o verdureiro que me indica o alface mais fresco, a padaria. Que só não é da esquina porque aqui não tem disso. Brasília tem também algo muito inglês que é a conversa sobre o clima. Em Curitiba esse papo não tem sentido. O tempo em Curitiba é previsível. É o caos anunciado. Em Brasília não. A espera pela chuva é algo que começa individual. O ar difícil. Aos poucos, com o avan-

Ilustrações: Oscar Niemeyer

ço da seca, o sentimento de aguardo é coletivo. Finalmente você está convencido de que a chuva é algo imaginário. Uma mentira que nunca aconteceu. Aí você recebe o anúncio. O anúncio de chuva começa devagar e vem das árvores. A primeira cigarra da primavera. De repente a sinfonia de seres pré-históricos toma conta da cidade. Estou dentro de uma grande panela de pressão. Shsh shsh shsh... Por estas bandas se ouve: “Se Brasília fosse bom, Niemeyer morava aqui”. Não é à toa que os cariocas odeiam a capital. Eles não entendem o humor de Brasília. É um humor sutil e próprio. Que ri de si mesma e não dos outros. Esse caldo de cultura cozido em um recipiente estéril. Moqueca fervida em Copo de Becker. Quando Clarice escreveu, disse que o samba ainda não podia nascer em Brasília. O samba nasceu, mas não era carioca. Nem paulista. É um samba assim, candango e saudoso do passado que Brasília não tem.


MARIANNA CAMARGO jornalista

Ilustração: John Tenniel, The Complete Illustrated Works of Lewis Carrol

Crônica

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Sejamos práticos, porém brilhantes

ano Menezes, ex-treinador do Corinthians e atual técnico da Seleção, disse, após a partida em que o Corinthians venceu o Cerro Porteño, time paraguaio. “Foi uma partida com características de dificuldade. Não fomos brilhantes, mas fomos práticos” – afirmou o comandante. Sermos brilhantes não é tão importante. Pelo menos em tempos pós-Garrincha e Pelé. Mas a vida não é tão somente isso. A frase passou despercebida. Mas é a síntese deste mundo globalizado, burocrático, homogêneo, corporativo. Do que seria o plausível, o possível, neste universo ralo de ideias, de pensamentos, das opiniões sem verve intoxicadas do terrível “bom senso”. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor de Tempos Líquidos, diz sobre a sociedade corporativista: “as pessoas não são excluídas porque são más, mas porque outros demonstram ser mais espertos na arte de passar por cima dos outros”.

Veja bem onde nos metemos. E passar por cima dos outros agora é uma arte? Tom Jobim disse que o Brasil não é para principiantes, talvez eu seja. Minha praticidade surgiu por uma questão de sobrevivência, naquela fase da vida em que somos apenas sonhos e de repente a vida te mostra a cara com todos os dentes. Aprendi isso cedo. Por um lado nos alivia de uma claustrofobia imaginária – porém necessária — mas por outro nos destrói em cada pequeno pensamento, em cada memória líquida, em cada pausa de retrato. E a bravura, a sensação de que somos sim, brilhantes, sai de cena, mas não desaparece. Continua nos seguindo com seus olhos obtusos. Depois que aprendemos a ser práticos, lembramos daquilo que fomos nós. E na luta entre agir e sonhar, sobrevivemos. Até que chega a hora em que tudo fica muito urgente, absoluto, preciso e absolutamente essencial. Sejamos todavia práticos, porém brilhantes. Pênalti. novembro de 2010 |

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CarloS alBerTo PeSSÔa jornalista

LIvRe PenSAR

Amílcar, O Grande

C

onheceu o JB posterior à metade dos 50? Que sobreviveu até há pouco? E que não conservou os velhos traços? Estou a me referir ao “Jornal do Brasil”, o jornal da Condessa. Que durante anos não passou de um jornal de classificados. Até que ela decidiu mudá-lo, reformá-lo. E ele transformou-se num padrão, num modelo de classe, elegância, bom gosto.

pais&mãe Como todas as crianças o JB teve vários pais. Mas uma só mãe — Amílcar de Castro. Que morreu aos 82 anos no interior de Minas, onde nasceu. O “JB” era um primor. Quando a gente esquecia a massa de textos e fotos, quando conseguia colocálos entre parênteses para observar a estrutura nua, pura e simples, a geometria de Mondrian vinha à memória. Com seu rigor, austera beleza, admirável economia.

oh! Madrugada dessas, a rodar bolsinha pelo rico dial da tevê, dei de cara na tevê Senado com imagens que me chamaram a atenção pela forma e pela cor: grandes esculturas de ferro, com formas geométricas simples, engenhosas. Me liguei; acompanhei tudo com crescente interesse, deleite. Era um documentário sobre a obra de quem? Do Amílcar de Castro. 64

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conFissão

dica

Amílcar confessou que não era pintor, mas gráfico e escultor. Nessa ordem acrescentaria não fosse a já proverbial modéstia e a louvável insegurança que caracteriza o locutor que vos fala diante das artes assim chamadas plásticas. Segundo ele, pintor é o cara que vê cor em tudo; ele vê a forma: daí... Além das marcantes, inconfundíveis esculturas, Amílcar brinca bem com a pintura. Tudo se passa assim.

Cara pálida, uma dica. Uma vez por mês, aos sábados, a “Folha” edita o ilegível caderno das Resenhas. Sabe de quem é o projeto gráfico? Acertou; do Amílcar. Peça os números atrasados. Divirta-se; deleite-se; eduque-se; civilize-se. Ora, não por isso; só abaixe um pouco a calcinha; isso, assim está bom, relaxe, relax and enjoy...

em ação Sobre extensa base impecavelmente branca, o craque distribui suas largas pinceladas de brilhante e negra tinta. (Pincelada é abusada licença, pois usa a velha, a pedestre brocha dos pintores de paredes.) O resultado é sempre geométrico. Ou para geométrico. Gosto muitíssimo. Felizmente, a coisa não acaba aí — quando já estaria de bom tamanho. Amílcar deixa a tinta secar, a poeira assentar e num belo dia — pan! — volta, acrescenta uma cor, só uma, não mais que uma cor. E num pequeno sítio da superfície. Pronto! O efeito é tremendo. Com exagero direi que se confunde com golpe abaixo da linha da cintura: a gente tem vontade de urrar e ajoelhar. Aleluia!

Foto: Divulgação

p.s.: Aos 82 anos Amílcar de Castro morreu no dia em que o Jaime Lerner inaugurou o magnífico “NovoMuseu”, magnífico projeto do magnífico Oscar. O “NovoMuseu” terá vida eterna; como a obra do Amílcar. Aleluia!

oUtro p.s.: O NOVOMUSEU, rebatizado OSCAR NIEMEYER, bem que poderia promover amostra das esculturas&quadros do Amílcar de Castro, além dos seus projetos gráficos. Suspeito que a galera amaria.



MERCADO Os curitibanos são o alvo do empreendimento Brava Beach Internacional, um mix de resort, condomínio e shopping em construção na Praia Brava, entre Balneário Camboriú e Itajaí. Os apartamentos, que custam entre R$ 1 mi e R$ 3 milhões, estão sendo apresentados nos pontos estratégicos da cidade. Uma maquete esteve exposta no Crystal Fashion, no Park Shopping Barigui e no Graciosa Country Club. Aliás, as piscinas do Graciosa foram palco de uma badalada paella oferecida especialmente aos sócios do clube para apresentar o empreendimento.

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no prelo A filósofa, escritora e empresária Maria Christina Vieira vai autografar, no início de 2011, seu 11o livro. Nas mãos do editor Quartim de Moraes, a obra ainda com título provisório, será lançada pela editora Global. Foi Quartim quem, em 1998, lançou pela Senac-SP o primeiro livro da autora, Herança, no qual Maria Christina contou história familiar e a perda do Banco Bamerindus, do qual foi diretora. Pois bem. Passados 12 anos, experimentos & explorações (sobre um câncer) é um relato ainda mais corajoso. Para seletos grupos, Maria Christina tem feito leituras de parte dos originais. Filosófica e elegantemente vai fundo na análise das sensações e da compreensão do câncer contra o qual luta há alguns anos.

foto: Carol Fornazzari

foto: divulgação

ISABELA FRANÇA


foto: Kraw Penas

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CORTESIA As mulheres vivem reclamando da falta de cortesia dos homens, repetindo não haver mais cavalheirismo. Não é verdade. Madrugada dessas, desmontando um evento, o singelo pedido de um garçom para levar para casa algumas flores dos arranjos que eram retirados do salão comprovou. “Sempre que tem flor eu levo algumas para agradar a mulher”, justificou acanhado. Foi motivo de elogios rasgados da ala feminina.

Uma diferença de 156 votos levou o advogado Joaquim Miró à presidência do Clube Curitibano, no último 17 de outubro. Com 1.283 votos, Miró derrotou a chapa de situação, Barão do Serro Azul, composta pelo grupo mais tradicional na gestão do clube e encabeçada pelo também advogado Domingos Caporrino. A oposição trouxe um ar de modernidade e apostou na juventude e no esporte. Porém, determinante foi a terceira colocada, formada por dissidentes da situação e liderada pelo executivo João Luiz Rego Barros, que somou 979 votos. A nova diretoria, que assume no dia 11 deste mês, terá Renato Ramalho na diretoria financeira, Gustavo Abagge como segundo vice-presidente, o comando de Joaquim Miró e José Baggio Pereira na primeira vice-presidência. novembro de 2010 |

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foto: Kraw Penas

foto: Nuno Papp

ISABELA FRANÇA

Quando eu estou aqui... Eles são modernos e talentosos, mas, quem diria, o repertório da dupla Roberto & Carlos – isso mesmo! – que lota os bares do chamado Upper Batel, é todo composto pelos hits do Rei Roberto Carlos. Para aqueles que torcem o nariz, vale lembrar que, não à toa, os moços encantam plateias das mais hostis. O segredo está no seguinte: além de bons músicos, a dupla soube elencar muito bem o que entra nos seus shows. Nada que tenha sido gravado depois de 1984, quando o Rei começa a resvalar no brega.

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CHEGARAM LÁ Os empresários Vicente Frare, Fernanda Ávila e Patrícia Papp, sócios na Pulp Ideias, acertaram a mão num segmento que conhecem como ninguém: o turismo. Nos últimos três anos, tempo de vida da empresa, o trio já esteve em mais de 30 países. Em 2010, a Pulp lançou quatro títulos no segmento de livros de turismo. O Guia Essencial de Curitiba, uma parceria do Restaurante Madalosso com o Instituto Municipal de Turismo apresenta a Curitiba dos curitibanos. Crianças a Bordo – Como viajar com seus filhos sem enlouquecer, de Patrícia Papp, traz o caminho das pedras para pais viajantes de primeira viagem. O M&Guia Selected assinado pela empresária Erika dos Mares é voltado a viajantes de alto padrão que buscam lugares exclusivos em Londres, Paris, Milão, Miami e Buenos Aires. Por fim, em Manual de Viagem, Vicente Frare traz informações preciosas para transformar qualquer viagem mais interessante e segura, com a experiência deste curitibano cosmopolita e poliglota que já trabalhou em hotéis, agências de turismo, numa companhia internacional e viajou o mundo, acumulando carimbos de mais de 70 países em seu passaporte, além de ter vivido em cidades como Dubai, Londres, Berlim, Barcelona e nas Ilhas Maldivas. Todas essas peregrinações, Vicente contou a Jô Soares, no Programa do Jô e o Brasil deverá ficar sabendo este mês.


A executiva Gabrielle Zaniolo estreou seu novo cargo, como superintendente do Shopping Crystal Plaza, às vésperas da 23ª edição do principal evento realizado pelo shopping, o Crystal Fashion. Porém, na pasta trouxe uma missão pra lá de complicada. Decidir a continuidade ou não do evento. Nem ela, nem a assessoria do shopping querem falar sobre o assunto. Curitibana formada em Publicidade e Propaganda pela PUC-PR e pós-graduada em Marketing pela ESPM, Gabriele está no grupo BR Malls há três anos e antes de assumir a superintendência do Crystal, passou pelos shoppings Villa Lobos e Curitiba. Veio para o Crystal, com a aquisição de 40% do empreendimento pela BR Malls, com sede no Rio de Janeiro, que já administra o Shopping Curitiba e o Shopping Estação, em Curitiba, além de outros 20 shoppings em todo o Brasil.

foto: divulgação

DECISÃO DIFÍCIL

Agora é oficial O executivo carioca Bernardo Hees está passando a batuta da presidência da ALL para Paulo Luiz Araújo Basílio . Ainda este mês, se muda com a mulher, Janaína, e o filho, para Miami, na Flórida, Estados Unidos. Ele assume a presidência da rede Burger King, recentemente adquirida pelo fundo 3G pela modesta quantia de U$ 3,3 bi. Seu antecessor, Alexandre Behring, percorreu este caminho em 2004 – quando deixou a presidência da ALL para entrar no fundo 3G –, foi quem orquestrou a compra da rede de lanchonetes.

foto: Naideron jr.

Num almoço com investidores internacionais da ALL, na última semana de outubro, Hees anunciou oficialmente sua saída e a promoção de Basílio, Os shoppings da BR Malls - maior S.A. do setor com participação em 35 empreendimentos - podem não ser muito fashion. Já, Gabriele, além de bonita, é muito elegante.

que assim como ele, é economista e passou da diretoria financeira para a superintendência. Hees terá assento no conselho consultivo da ALL.

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BALACOBACO

Paella Brava Beach Em lindo dia de sol à beira das piscinas do Country Club, vips foram recebidos pelos globais Luciano Sza�ir e Grazi Massafera. Amaury Jr estava no evento comandado pelos sócios Evandro Dal Molin, Amadeu Russi, Tero Nunes e Francisco Graciola, que promoveram no dia 24 de outubro a 1ª Edição da Paella Brava Beach. O luxuoso megaempreendimento �ica na Praia Brava (SC). A festa teve assinatura da dupla Dado Dantas e Ilze Lambach. Duda Godoy, Kel Melchior e Amanda Vasques

Simone Greca

Tero Nunes e Francisco Graciola

Rita Coopers e Vânia Dalmaz

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João Cláudio Derosso, José Isaac Peres, Tito Zeglin e Celso Torquato

Fernanda Richa e Jacqueline Vieira

Jacqueline Vieira de Lemos

Beleza e talento Gente bonita e quase sempre de bom gosto na inauguração da expansão do ParkShopping Barigüi. Mais de mil convidados no evento. Os an�itriões foram José Isaac Peres e Jacqueline Vieira de Lemos. Ele presidente da Multiplan, ela superintendente do Shopping.

Linda festa, como todas as que Carla Maluf organiza. A atriz global Christine Fernandes foi mestre de cerimônias. A modelo e apresentadora Mariana Weickert e o fotógrafo J.R Duran estavam na área. Os convidados fruíram um pocket show da cantora Paula Toller acompanhada pela Orquestra de Câmara da PUC-PR, regida pelo maestro Paulo Torres.

Marcelo e Débora Cattani

O menu da festa e do jantar exclusivo oferecido aos convidados da Multiplan foi assinado pela chef Daniela Caldeira. Não é preciso dizer mais nada. novembro de 2010 |

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BALACOBACO

Vestir o verão Rita Cooper, Maria Inês Artigas e Andrea Rosseti receberam convidadas para coquetel. Foi no showroom da R.Cooper’s, Expression e Jorge Bischoff, montado na Expression Shopping Novo Batel. Amigas e clientes �iéis marcaram presença. Além de des�ile das tendências da próxima estação, das três marcas, com quatro modelos, teve música ao vivo. Voz e violão de Carlos Dóro. Foi muito agradável e as coleções estão lindas.

Modelo Josiane usa o vestido nude, uma das tendências da Expression, e joias da R. Cooper’s

Yara Maron, Florinda Andraus, Rita, Andrea e Conceição Bruinje Andrea Rosseti

Maria Inês, Eliana Molinari e Silvana Slaviero

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Maria Inês Borges da Silveira, Rita Cooper e Mirna Lopes


Beto Richa, Ester Proveller, Wilson do Rosário e Carlos Nasser

Fábio Campana e Beto Richa

Sandra e Luiz Henrique Bonaturra

Na rede

Dico Kremer e Nêgo Pessôa

A revista Ideias recebeu, no dia 19 de outubro, boa parte daqueles que fazem acontecer no Paraná. Foi o lançamento da Ideias digital. Um elegante e descontraído coquetel na Casa de Festas do Graciosa Country Club marcou o evento organizado por Larissa Reichmann Lobo.

Luiz Carlos Zanoni e Marcos Schlem

Nêgo Pessôa e Tony Garcia

A noite teve a animação dos músicos do Wandula e foi registrada por Amarildo Henning.

Beto Camargo, Deonílson Roldo, Luiz Fernando Pereira e Rubico Camargo

Beto Richa, Ricardo Barros, Cida Borghetti e Jaime Lerner

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cidade

Tamandaré, cidade pensada Da Redação

E

mbora óbvio, é raro ver o conceito legítimo de cidade pensada e planejada para as pessoas. Em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba, este conceito é realidade. Para isso, a administração do município tem executado inúmeras obras que beneficiam a qualidade de vida dos cidadãos. Como por exemplo o Centro da Juventude, um grande complexo de prédios públicos que atenderão a população da região da Grande Cachoeira. A área destinada é de 8 mil metros quadrados. O local terá área de lazer, piscina, teatro ao ar livre, quadras esportivas, pista de skate e um prédio com salas de informática, auditório, salas de estudo, entre outros espaços que atenderão jovens de 12 a 18 anos. Além disso, a Prefeitura pavimentou três ruas da Região de Areias: Bortolo Muraro, Otilia de Souza Ferrarini e Nilo Cropolato Matias, orçada no total de R$ 498 mil reais. Assim como a Rua Roberto Dreschler na qual está localizada a Escola Municipal Clair do Rocio Sandri e a Escola Estadual Professor Alberto Krause, no bairro Tanguá. Esta custou cerca de R$ 132 mil reais, ambas pagas com recursos próprios do município. Por meio do Plano Comunitário está sendo executada a pavimentação de outras vias. As obras, que iniciaram em agosto, estão orçadas em cerca de R$ 422 mil reais, também executadas com recursos próprios. 74

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Pavimentação da via Wadislau Bugalski

Saúde A Unidade de Saúde do Jardim Roma, está com suas obras de ampliação de mais 90 m2, em estágio avançado. Orçada no valor de R$ 106 mil reais, que serão pagos com recursos do FUNASA e com contrapartida do município, está em fase de acabamentos interno e externo e a previsão de entrega da obra à população é para o final do mês de novembro.

CREAS As obras de construção do Centro de Capacitação de Adolescentes — Programa de Medidas Sócio-Educativas de Almirante Tamandaré estão em fase de acabamentos interno e externo. Localizado na Rua João Cândido de Siqueira — funcionará ao lado do Centro de Atendimento Psicossocial Osmar Jopert. As novas instalações, com aproximadamente 88 m2, conta-

rão com salas de múltiplo uso, sala de informática e banheiros. O investimento total para a construção é de R$ 110 mil reais, com recursos do Fundo da Infância e Adolescência — FIA e uma pequena contrapartida da Prefeitura.

Iluminação A Prefeitura executou a iluminação completa da Rua Agrimensor Nicolau Walkir Neto localizada no Jardim Monterrey. A retificação do traçado e pavimentação da via, uma antiga reivindicação da comunidade, foi anteriormente executada pelo município em parceria com o Governo do Estado. A iluminação completou a obra. Assim, Almirante Tamandaré dá um ótimo exemplo de administração e preocupação com a melhoria de qualidade de vida de seus moradores, com transparência, eficiência e planejamento.



CLAUDIA WASILEWSKI  cronista

Crônica

Do Bolo de Chocolate ao Petit Gâteau

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mundo mudou, evoluiu. Nosso país não ficou para trás. A onda do politicamente correto nos deu um caldo. E temos que nos esforçar, para não parecermos atrasados. Todos os cuidados com piadas e expressões. Termos como meia da cor da pele e judiação, são hoje extremamente criticados, e eu concordo. Meia da cor da pele de quem? Se a resposta for dos brancos, realmente é absurda, não se refere à maioria da população. E judiação? Sinônimo de maldade. Existe outra corrente que defende que vem do horror nazista. De todo modo é melhor substituir a palavra, do que enfrentar a patrulha raivosa discursando e pré-julgando por horas a fio. O bolo Nega Maluca, sofre séria ameaça de ter seu nome substituído. Alguém já se imaginou entrando em uma confeitaria e pedindo: — Moça, eu quero uma fatia de afrodescendente que sofre de problemas emocionais. Acho que não, né? Perderia o encanto e a metade das calorias. Talvez por isso, hoje qualquer bolo de chocolate seja chamado de petit gâteau. Soterraram a receita francesa onde o chocolate sai derretido de dentro, envolvido em uma casquinha crocante. Qualquer massa de chocolate recheada passou ter este nome chiquérrimo. Mas com a minha 76

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idade, me dou o direito de comer e festejar a minha amiga de bons e grandes momentos a querida Nega Maluca. Por falar em idade, acompanhei a evolução do chá mate. Quando era criança o mate era servido em um cone de papel, dentro de um suporte metálico. A long time ago... Nunca entendi porque não usavam os copos. Na praia era só no cone. Um desespero. Tinha que beber rápido para não amolecer o papel. Esta aí uma evolução positiva, agora no copinho plástico, garrafas pets, sabores diversos e deliciosos. Energéticos no estilo mega, power. Só não aderi às latas, acho que perde o charme. Os salões de beleza são a prova de que as mulheres não estão mais tão adeptas ao sofrimento em nome da vaidade. Secadores de cabelo de pedestal. Quase um objeto de tortu-

ra medieval. As mulheres colocavam bóbis, tapa ouvidos, redinha na cabeça e entravam, isto mesmo, entravam no secador. Verdadeiros ETs. Além de totalmente surdas, o cabelo ia esquentando. Depois davam um tempo para o cabelo esfriar e poder retirar os bóbis. Como um choque térmico. Depois disso, quilos de laquê, que hoje se chamam spray. Quem tem tempo para isto tudo hoje em dia? Olha aí a evolução. E vale lembrar que os salões souberam driblar os planos econômicos como ninguém. A cada tabelamento de preços se mudavam os nomes. As mechas viraram reflexos e hoje são luzes. Quem sabe se aparecer um novo plano não se transformam em áureas. Fica a dica. No mundo, vasto mundo feminino, a bolsinha virou necessaire, o brilho para os lábios se transformou em gloss, e a purpurina em glitter. Não é fácil ser bonita, politicamente correta e antenada. Pouco tempo atrás eu dizia: — Fui a um churrasco, depois dei uma esticada e levantei cedo para resolver uns problemas. Credo! Deus me livre. Agora digo: — Fui no churras, depois para a balada e levantei cedo para resolver umas paradas. Cuidado. Qualquer deslize denuncia a idade. Fui...


Cartas do Leitor Escreva para cartas@revistaideias.com.br

Tıtãs da perıferıa (Edıção 107)

Lançamento do Sıte

A matéria de Carlos Simon sobre a Suburbana de Curitiba está brilhante. Sou torcedor do Combate Barreirinha e fã desse tipo de jornalismo (inteligente e criativo). Silvio Rauth Filho - jornalista

Cumprimento a Revista Ideias por mais esta iniciativa de comunicação. Sucesso! Gleisi Hoffmann

Gente Fına Adoramos a matéria, a repercussão foi bárbara! Muito obrigada por nos prestigiar e parabéns pela revista que está um SHOW! Sucesso sempre!!! Cristiane Mocellin

Ensaıo Fotográfıco – Flávıo Damm Prezado Fábio Campana, tenho em mãos um exemplar dessa magnífica fábrica de ideias, sob tua Editoração. Cabe agradecer pela minha presença levado – pelo velho amigo luso-brasileiro, nos conhecemos na Lusitânia de tanta saudade – as páginas de IDEIAS com minhas fotos. Belo texto, reflete a certeza de Dico Kremer no que representa a fotografia para nós, para quem faz e para quem, inteligentemente como você e equipe fazem tão bem. Obrigado pelo registro que passa ao meu acervo de reconhecimento ao meu trabalho começado há 65 anos. Fotografia continua sendo o ar que eu respiro. Obrigado e abraço do amigo, Flávio Damm

Recebi, com muita satisfação, o convite para participar do lançamento da Revista Ideias – versão eletrônica, promovido pela Travessa dos Editores, pelo que agradeço. Destaco a importância da quebra de paradigma e a proposta de vencer uma importante barreira na comunicação. Aprecio o investimento realizado na nova tecnologia para atender um público diferenciado, garantir a inovação que os tempos exigem e assim, possibilitar pesquisas e a busca permanente de outros instrumentos de verbalização dos saberes. Parabenizo a Editora pela conquista, desejando sucesso ao empreendimento. Permaneço sempre à disposição para os entrosamentos que se fizerem necessários. Senador Flávio Arns Caro Fábio, De longe acompanho o seu trabalho, de grande valia para o nosso estado, principalmente nas últimas batalhas eleitorais. Tenho certeza que a revista será mais uma valiosa contribuição para o nosso pobre ambiente de ideias. Abraço, Antonio Freitas Desejo uma noite de alegria e sucesso para toda equipe da Travessa. Abraço, Vania Mercer

REVISTA Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 109 – R$10,00 www.revistaideias.com.br e-mail: ideias@revistaideias.com.br 01 de novembro de 2010 EDITOR-CHEFE Fábio Campana CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo REDAÇÃO Antonio Vera, Carlos Simon, Karen Fukushima, Larissa Reichmann Lobo, Marisol Vieira, Paloma Barbieri COLUNISTAS Carlos Alberto Pessôa, Claudia Wasilewski, Isabela França, Izabel Campana, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Vicente Ferreira. COLABORAÇÃO Ivan Rodriguez, Kraw Penas. DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Clarissa M. Menini, Katiane Cabral e Luigi Camargo DIRETORA FINANCEIRA Clarissa M. Menini CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana. PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br

Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570 CEP 80520-250 / CURITIBA PR Tel.: [41] 3079 9997 www.travessadoseditores.com.br

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Se você acha que a nossa revista é para pessoas exigentes, sofisticadas e às vezes um pouco arrogantes, você tem razão.

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