Revista Ideias 112

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R$ 10,00 nº 112 ano VI www.revistaideias.com.br

fev 2011

Política, Economia & Cultura do Paraná

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Eduardo Requião e Daniel Lúcio, ex-superintendentes da APPA, envolvidos no maior caso de corrupção de todos os tempos no Porto de Paranaguá

ESCÂNDALO no Porto

PERFIL Luiz Geraldo Mazza ENTREVISTA Marcello Richa REPORTAGEM Madrugada no Pronto-Socorro



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Editorial Fábio Campana

B

om seria convocar Georges Simenon

para desenrolar a história, embora a periferia parisiense e a fronteira franco-belga não tenham as mais pálidas semelhanças com o Paraná dos senhores que o governaram de 2002 a 2010. Quem sabe valeria a pena chamar Andrea Camillieri, dos romances policiais sicilianos. Algo é certo, os dois não dispensariam três figuras, os irmãos Requião: Roberto, Eduardo e Maurício. A investigação sobre a corrupção no porto de Paranaguá não surpreendeu ninguém. Na verdade, deu-se o que todos esperavam há anos. Desde o segundo governo de Moysés Lupion nenhum outro governador do Paraná, nem mesmo Haroldo Leon Peres que renunciou porque flagrado pedindo propina, foi tão desmoralizado quanto o da família Requião. A Polícia Federal decretou a prisão de oito figuras da administração do porto de Paranaguá na era Requião. Entre eles, o ex-superintendente fantoche de Eduardo Requião, Daniel Lúcio. Fez mais. Determinou busca e apreensão nas três residências de Eduardo Requião, uma em Curitiba, duas no Rio. Também visitou a residência do suplente de senador de Requião, o ex-secretário Luís Mussi. Na versão de Simenon ou de Camillieri, Daniel Lúcio seria a personagem patética, a graça do entrecho, o gaiato extemporâneo. Pois ele apenas cumpriu ordens de seu antecessor que deixou o cargo porque a lei que proíbe o nepotismo o enxotou para cima. Eduardo Requião tornou-se secretário especial do Paraná em Brasília, solução que só a desfaçatez de Roberto Requião seria capaz de adotar. De resto, ainda vivemos história brasileira típica: o preposto acabou na cela, enquanto o mandante curte a vida. Mas há esperanças de que desta vez a investigação ultrapasse os limites que Requião et caterva impuseram à polícia durante seus anos de poder.


nesta edição Perfil Luiz Geraldo Mazza............................. 14 Fábio Campana Entrevista com Marcello Richa...................20 Carlos Alberto Pessôa, Karen Fukushima, Fábio Campana Madrugada no Pronto-Socorro...................28 Carlos Simon

pág.

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Fruet larga na frente......................................39 Marianna Camargo Devassa no Porto de Paranaguá................. 40 Carlos Simon Curitiba na passarela da moda................... 46 Thais Kaniak Viagem à cinelândia curitibana.................... 50 Sarah Corazza Todos os sons do mundo................................ 58 Karen Fukushima

colunistas Você conhece a família Thimpor?................ 09 Solda A revolta dos Reis Magos .............................. 18 Jaime Lerner Monoglota......................................................... 19 Fábio Campana As nomeações políticas.................................. 25 Luiz Fernando Pereira O retorno à heráldica .................................... 26 Luiz Geraldo Mazza Caso de polícia.................................................35 Carlos Alberto Pessôa O original e o plágio........................................37 Rogerio Distefano

Gota de Chanel................................................ 45 Marianna Camargo Big Brother Cabeça......................................... 57 Izabel Campana Baalbek..............................................................62 Vicente Ferreira A ilha.................................................................. 63 Luiz Carlos Zanoni Um conto. Um sonho...................................... 66 Camilla Inojosa Isabela França.................................................. 68 Desaforo............................................................76 Claudia Wasilewski Humor............................................................... 78 Pryscila Vieira


índice 10

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seções Editorial ........................................................... 03 Curtas.................................................................06 Frases..................................................................08 Gente Fina.........................................................10 Câmara dos Vereadores.................................. 36 Ensaio Fotográfico.......................................... 52 Prateleira.......................................................... 64 Balacobaco....................................................... 72 Cartas/expediente.......................................... 77


CURTAS

stock.xchng.com

Acabada a farra, começa época das vacas magras Show de horrores

Bolsa-Família aqui A Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social, comandada pela primeira-dama Fernanda Foto: Rogério Machado Richa, anunciou que será lançado o programa Família Paranaense, semelhante ao Bolsa-Família.

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Passada a farra eleitoral e de final de mandato dos que saem, os governantes que entram são obrigados a apertar os cintos. Aqui, no Paraná, Beto Richa decretou moratória nos pagamentos do Estado por 90 dias que podem ser prorrogados até que a casa fique em ordem, o que não será fácil pelas primeiras amostras do desastre administrativo que herdou de Requião.

Foto: divulgação

Aposentadoria vitalícia

Estão dizendo que o ex-governador Orlando Pessuti tem vibrado com a informação de uma aposentadoria vitalícia concedida a um deputado do Mato Grosso, depois do mesmo ter assumido o governo do seu Estado por apenas dez dias. Isso abre um precedente para o seu pedido de aposentadoria, após nove meses no governo. Segundo Pessuti, a aposentadoria se justifica pelas “atribuições, responsabilidade e tarefas” de um ex-governador.

Catástrofe flickr.com

Impressionado com os indícios de descalabro administrativo que marcaram o final do governo de Orlando Pessuti, o governador Beto Richa ordenou a criação de uma força-tarefa para esmiuçar os últimos atos do governo do Estado. A força-tarefa, que conta com a participação da Procuradoria Geral do Estado, está descobrindo um show de horrores administrativos levados a cabo no apagar das luzes do governo Pessuti. São mais nomeações irregulares, concessões de aditivos a contratos, pagamentos de precatórios, anistia a servidores públicos e homologação de licitações feitas nos últimos dias do governo.

Em meio às chuvas que deixaram milhares de vítimas e desabrigados no Rio e São Paulo, mais de 30 projetos com medidas para minimizar os efeitos das enchentes estão parados no Congresso. A ONU classificou a catástrofe que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro, que superou 800 mortes, como um dos dez piores deslizamentos do mundo nos últimos 111 anos.


Foto: Joka Madruga

André para prefeito de Londrina O deputado federal André Vargas, secretário nacional de Comunicação do PT informou que pretende disputar a prefeitura de Londrina. O parlamentar petista condiciona a candidatura, no entanto, à construção de alianças com outros partidos. Pelo Twitter, Vargas disse que tomou a decisão depois de um café da manhã com o ex-prefeito Nedson Micheleti (PT).

Foto: Orlando Kissner - SECS Curitiba

Fiscalizando Dilma

O ex-governador de São Paulo e candidato a presidência, derrotado nas últimas eleições, José Serra (PSDB), disse que a única coisa que o governo de Dilma Rousseff (PT) fez até agora foi aumentar a taxa de juros. Mesmo alegando ser cedo para qualquer avaliação, o tucano fez críticas ao governo de Lula e disse que alguns setores, como o da vigilância sanitária foram praticamente “destruídos” nos últimos oito anos. As declarações foram dadas na sede da Pastoral da Criança, no bairro Pilarzinho em Curitiba durante visita de Serra, acompanhada do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB).

Cortes na saúde A Secretaria de Saúde tem dívida de R$ 55 milhões. É o primeiro levantamento da nova gestão. Pode ser maior, o que Foto: divulgação dá uma ideia do descalabro administrativo no período do PMDB no poder. Uma auditoria é pensada para levantar todas as operações feitas desde o início da era Requião. O secretário Michele Caputo Neto afirmou que terá de fazer cortes e ajustes nos próximos meses. O que significa tomar medidas impopulares e que afetam interesses estabelecidos. Mas não há outra saída, pois o que Caputo recebeu exige medidas drásticas e imediatas.

lahey13.wordpress.com

A Morgue

A Morgue teria de ser o último reduto de Requião e Delazari. Pois, pois, o IML do Paraná continua a funcionar como se estivesse no governo anterior. O Coronel da Reserva Porcides continua mandando e desmandando no Instituto. Troca funcionários de local de trabalho, ofende funcionários, em atitude completamente irregular. Enquanto isso, médicos, auxiliares e peritos estão à espera da nomeação do novo diretor.

Exoneração em massa Ora, pois, como a tigrada do antigo governo não desocupou os cargos em comissão, o governador Beto Richa se viu obrigado a exonerá-los em massa para poder nomear as pessoas que merecem a sua confiança. São cerca de 3,5 mil pessoas que estão nesta situação.

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FRASES

Ingressaremos com ações diretas de inconstitucionalidade em relação a cada uma das leis estaduais que estabeleceram este privilégio, que é realmente uma agressão à sociedade civil brasileira

Fora isso é fisiologismo e eu não sou agência do Sine. Sou governador

respondeu Beto Richa ao assédio por cargos e prebendas.

” “

afirmou o presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, que planeja entrar com três ações de inconstitucionalidade no STF contra a pensão vitalícia a ex-governadores, suas viúvas e dependentes.

Repito: Ouro puro não teme a chama da calúnia, da injúria e da difamação. Funde com o calor das agressões, se solidifica como metal singular. Requião no twitter, um dia depois da Polícia Federal ter expedido um mandado de busca e apreensão no apartamento do seu irmão e ex-superintendente da Appa, Eduardo Requião, envolvido nas irregularidades do Porto de Paranaguá.

Diga ai peemedebista, existe ainda na alma da base do nosso partido o velho PMDB de guerra? Ou está todo mundo tangido e marcado a ferro?

O que mais me preocupa é que a população não confia na polícia

Comandante da Polícia Militar do Paraná, coronel Marcos Teodoro Scheremeta.

Minha vida não começou nem terminou em 2010. Se for convidado para assumir um cargo importante, que eu possa contribuir, como fiz no Senado, tudo bem. Do contrário toco minha vida como um cidadão comum

disse irritado Roberto Requião no twitter

Alô senador Alvaro Dias, vossa excelência NÃO está autorizada a fazer caridade com o MEU dinheiro. Obrigado Recado do humorista Marcelo Tas, âncora do programa CQC da Band, enviado via twitter a Alvaro Dias, a respeito das doações que o senador pretende fazer com o dinheiro da aposentadoria como ex-governador do Paraná. 8

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afirmou Osmar Dias, inconformado com o fato de não ter sido chamado pelo governo Dilma.


SOLDA Humorista

Você conhece a família Thimpor? Rutildo Thimpor

Leonor Thimpor

Sempre foi um sujeito pacato, até o dia em que foi agredido por duas pizzas numa esquina escura de Milão. É a ovelha negra da família, principalmente quando está vestido de preto e pastando silenciosamente nos jardins de Tia Gertrudes. Na época da tosquia ele foge para Turim e só reaparece meses depois, sem dinheiro e com uma estranha cãibra na perna esquerda. Jamais confia em quem está em dificuldades e, como toda a família, desconfia até da própria sombra. Rutildo foi responsável pelo desaparecimento do primo Eustáquio, enviado misteriosamente para a Ásia como representante do time de bocha local.

Ninguém sabe quem é, embora frequentemente seja vista em companhia de Romão Thimpor, o peito de aço. Há indícios de que ela seja esposa de um Thimpor qualquer. Nas fotos da família ela está sempre lá no fundo, arrumando a alça do sutiã.

Yuri Thimpor de Souza O playboy da família. Causa furor na cidade quando resolve desfilar de biga, completamente embriagado. A fortuna dos Thimpor está nas mãos de Yuri, cujo anel está avaliado em mais de setecentos mil dólares. Nasceu na Rússia, tornou-se mau caráter em Portugal e é preso constantemente em Milão. Apaixonou-se pela filha do fabricante de linguiça calabresa aos 18 anos. Aos 19 desistiu do romance depois de receber três tiros no braço e uma carta ameaçadora dos Trintino, que afirmavam ter conhecimento de Yuri com a Máfia e com o açougueiro Tosco.

Toshiro Thimpor Proprietário de uma modesta pastelaria em Presidente Prudente, Toshiro tem duas paixões na vida: pastel de carne e pastel de palmito. A família desconfia que ele seja japonês. É treinador do time de beisebol da cidade, onde jogam todos os seus filhos. Não fuma, não bebe e não joga, mas é viciado em haraquiri.

Pepita Thimpor Fabricante de suspensórios, amante incansável, Pepita descobriu o significado moral das medidas anticoncepcionais ao ter um coito interrompido em 1962, em virtude de um forte temporal que caiu sobre Palermo que enclausurou seu parceiro de noitada dentro de um tonel de vinho.

Romão Thimpor Quarto zagueiro, Romão Thimpor, o peito de aço, o único membro da família com tendências futebolísticas. Está sempre correndo atrás da bola. Quando alcançar, não sabe o que vai fazer. Cumpriu pena de 5 anos por ter violentado uma travessa de maionese em praça pública.

Eustáquio Thimpor Desaparecido.

Genoveva de Pôncio Thimpor Administradora da boate “Los Thimpor”, Genoveva costuma receber os fregueses mordendo-lhes a orelha. Possui o mais belo par de seios da região e seus lábios carnudos e úmidos são motivos de pancadaria quando ela vai à feira. Genoveva foi quem introduziu o topless na família, apesar dos protestos e das vassouradas da Tia Gertrudes.

Carmem Thimpor Detesta polenta.


Foto: Daniel Sviech

gente FINA

Monica volta à cena

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as melhores escolhas de Beto Richa e Paulino Viapiana, Monica Rischbieter volta a dirigir o Teatro Guaíra, por onde passou e deixou boa marca de trabalho e talento. A tarefa não é de pouca monta. O teatro necessita uma reforma para voltar a ser uma casa em condições de oferecer grandes montagens teatrais, o que não vemos por aqui desde que a própria Monica deixou a sua direção. Monica é produtora cultural, diretora de cinema, foi secretária de Cultura e, mais que os títulos e os cargos que recebeu por mérito, é uma das intelectuais mais equipadas desta cidade que anda pobre de gente pensante.

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gente FINA

É luxo só

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Foto: Dico Kremer

om a licença de Ary Barroso, essa Jussara quando escreve é luxo só. Ora, pois, se há alguém nesta terra abençoada por Deus e chuvosa por natureza que pode dizer o que é bom à mesa de nossos restaurantes é Jussara Voss. Até, porque, ela tem as referências comparativas de quem viajou o mundo e provou o que de melhor ele pode oferecer. A partir de abril, Jussara estará na Ideias com sua elegância também no texto para sugerir a casa, o chef, o prato, o ambiente e tudo o que você pode esperar de melhor na gastronomia de Curitiba.

Aliás, Jussara Voss bem que merece uma publicação do gênero para mostrar, sem disfarces, o que realmente é bom e vale a pena degustar da obra dos chefs nativos.

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Foto: Ipardes

gente FINA Gilmar, o especialista Gilmar Mendes Lourenço está na presidência do Instituto

Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Publicou nove livros. Entre eles, destacam-se: Economia Paranaense em Tempos de Globalização e Economia Paranaense: Fatores de Mudança e Entraves ao Desenvolvimento, ambos pela editora Sinduscom. É um dos economistas mais consultados e respeitados pela mídia por sua capacidade em decifrar a linguagem complexa da economia em tema compreensível. Tarefa que cabe apenas aos especialistas.

Todo o jazz de Gebran

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Foto: Dico Kremer

er o mestre do piano Gebran Sabbag tocar é uma sorte e um privilégio. Seu jazz lembra Art Tatum, Erroll Garner e Oscar Peterson, para citar alguns.

Gebran participou de uma efervescente cena jazzística em Curitiba nas décadas de 50 e 60, com muitas casas do gênero: Boate Gracefull, Luigi’s, Jane 1, La Vie en Rose, Manhattan, Cadiz, Paris, Dakar, Marrocos, Oásis, Tropical, La Ronde. Fez trio com Waltel Branco e Dario Gaúcho na Rádio Clube Paranaense em 1951. Tocou em diversos lugares, com diversos músicos daqui e de fora que passavam temporadas em Curitiba. Por muito tempo, Gebran tocou no Ludus Tertius, com Guarany Nogueira, um dos percussionistas escolhidos a dedo por João Gilberto, e Norton Morozowicz. Gebran Sabbag é todo o jazz, é música. Imperdível. 12

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Foto: Dico Kremer

Vítola na TV Paulo Vítola é o novo diretor-

gente FINA

presidente da TV Educativa. Músico, compositor, poeta, cronista, jornalista e publicitário, Paulo Vítola é do ramo, comenta Beto Richa. Sua nomeação interrompe o longo período de administração do PMDB marcado por denúncias de desvios, irregularidades e corrupção.

Durante anos a TV Educativa teve uma programação que obedeceu aos ímpetos chavistas-bolivarianospopulistas-nacionaleiros-cafonassegunda classe do governo anterior. Agora, há promessa de luzes no ar. Foto: Ricardo Almeida

Aumenta o som

Promessa de luz

O jornalista Fernando Tupan foi programador e diretor artístico da Rádio Estação Primeira entre 85 e 91, e mudou o cenário da música paranaense. Trabalhou nos jornais Correio de Notícias, Gazeta do Povo, Folha de Londrina e Jornal do Estado. Editou o suplemento cultural Trendie. Escreveu para as revistas Bizz e Veja Curitiba. Tupan promete fazer barulho novamente no comando da Rádio Educativa, e isso não é apenas uma expressão. Quem ouviu a nova programação sabe do que se trata. Agora aumenta o som.

Roberta Storelli, que além de bonita

é do ramo, tem bom gosto, cultura e talento, foi convidada para cuidar da nova programação da TV Educativa. Alegrai-vos. Acabou o talk-show de Requião na escolinha das terças, a programação burro/sertaneja, os programas baixo nível de esportes. Volta à telinha oficial boa dose de cultura e inteligência. fevereiro de 2011 |

Foto: Franklin de Freitas

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PERFIL

Luiz Geraldo Mazza Fábio Campana

O Cara Esse é

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Foto: Lineu Filho


Foto: Lineu Filho

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ontei esta história no jornal comemorativo dos 80 anos do Luiz Geraldo Mazza neste mês de fevereiro sem carnaval. Vou repeti-la porque acredito que dá bem o retrato dessa figura que se tornou a referência mais importante do jornalismo nativo nas últimas décadas. Uma das lembranças mais nítidas que conservo da época em que cheguei a Curitiba, no início dos anos 60, é da figura do Mazza na Boca Maldita. Ele estava no centro de uma roda de mais de vinte marmanjos e dominava a cena. Debatia com todos e ao mesmo tempo os temas mais diversos, que iam da ignorância dos políticos nativos à corrida espacial. Da escalada da inflação ao desempenho de Rita Hayworth no papel de Gilda. E sustentava que a seleção brasileira de futebol de 1962, sem Pelé e envelhecida era muito inferior à de 1958. Eu estava em companhia do jornalista Raul Varassin, que apontou para o Mazza com admiração e usou uma expressão que voltou à moda recentemente: – Esse é o cara. Tímidos candidatos ao jornalismo, eu e o Varassin ficamos a observar a agilidade mental do Mazza. Ele parecia um jogador de xadrez a enfrentar vários adversários em partidas simultâneas. Sem deixar pergunta sem resposta e a gastar sem dó seu arsenal de insultos e provocações. Essa capacidade incomum somada ao texto que mesmo quando temperado com ingredientes ácidos da crítica

é muito saboroso, fez do Luiz Geraldo Mazza o jornalista mais importante nesta área chuvosa do planeta desde a fundação do Paraná em 1853. Antes não havia jornalismo. Hoje há pouco e o que há de importante continua a ser a opinião do Mazza, no rádio ou no jornal. Só essa constatação, indesmentível, justificaria uma bela biografia do Mazza. Ele nos deve as suas memórias que poderiam ser ditadas para uma especialista como a Mai Nascimento organizar. Bom assinalar que o Mazza nunca ganhou importância pelo veículo onde trabalha. Foi ele que deu importância aos veículos por onde passou. As pessoas querem ler e ouvir o Mazza, não importa a rádio ou o jornal em que ele atua. Avesso às pompas deste mundo e aos ritos de poder, Mazza sempre fala de um ponto de vista externo aos palácios e gabinetes oficiais. É o nosso ombudsman legítimo, justamente porque não quer ser parte de qualquer governo e tem sobre os poderosos um olhar permanente de desconfiança e cobrança. Disso não abre mão.

O cara sem desafiantes Décadas depois, neste ano da graça de 2011, o cara continua imbatível. Quando alguns de nós já demonstramos cansaço, ele permanece em forma. Todas as manhãs, os centros de poder e política monitoram as falas do fevereiro de 2011 |

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Mazza na rádio CBN, onde faz comentários ao lado de José Wille sobre tudo que estiver em pauta no mundo. Com humor, sarcasmo, inteligência e informação. Seu cenário de ator perdeu brilho e importância. Às vezes passo pela Boca e lá está o Mazza sozinho, sem interlocutores. A cidade cresceu em população, mas ficou mais pobre em inteligências. E a Boca já não recebe catedráticos e luminares como antigamente. Até, porque, eles são raros não só na Boca Maldita, mas na própria universidade. Na política, nem falar. A queda na qualidade de nossos parlamentares é perceptível e preocupante. Diante dessa gente, Mazza está para o debate de ideias como o Carne Frita estava para a sinuca. Ninguém mais se atreve a desafiá-lo. Aliás, há muito tempo ele inspira esses temores na caterva governista. Houve um ministro dos tempos do regime fardado que dava no pé quando lhe avisavam que o Mazza estava apontando na esquina. Ele se despedia rapidamente: – Até logo, senhores, mas eu só tenho medo de duas coisas na vida, camarão estragado e as críticas do Mazza. Pensando bem, o que mudou não foi o Mazza, foram os desafiantes, cada vez mais incultos e fracativos, enquanto ele fica mais ágil e mais equipado a cada dia que passa. Prova do respeito à sua capacidade é esse medo que políticos, literatos, juristas e assemelhados demonstram diante dele. Mesmo os despreparados sabem que nada está fora do alcance do Mazza. E mesmo que o tema não seja uma das suas tantas especialidades ele, demolirá o interlocutor com sua irritante capacidade para identificar e expor contradições e incoerências no raciocínio do desafiante. Sua retórica é implacável. Talvez por isso ninguém o convide para ancorar um programa de debates na televisão, o que deixaria mais rica e interessante a vida cultural desta província.

Mazza, o memorioso Além de tudo, Mazza tem memória invejável. Confesso que ainda hoje, quando tenho dificuldade para lembrar algo ou de alguém, recorro a ele. É infalível. Sobre a história do Paraná, então, é um assombro. Discorre sobre fatos e personagens. Em detalhes. Da vida pública e da privada. Ninguém sabe mais que ele. Em nome das maiorias sem voz e mantidas na ignorância do que se passa nos gabinetes do poder, o acento de Mazza é de caráter radicalmente liberal e democrático, o que o levou a entreveros com o regime fardado. Hoje, Mazza desqualifica todas as promessas do nacional16

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Foto: Lineu Filho


Foto: arquivo pessoal L. G. Mazza Foto: SECS / Carlos Ruggi Foto: Lineu Filho

Foto: arquivo pessoal L. G. Mazza

-populismo que tomou conta do país. O populismo, aliás, é um de seus focos. Não De cima para baixo: perdoa o político que ascende pela misLuiz Geraldo Mazza com as filhas tificação das massas através do palanque Grace Maria e Liana Mara, em 1957. eletrônico ou do templo. Ao lado do jornalista Hugo Sant’ana. Sobre o jornalismo, ele costuma dizer Com a neta Fernanda, recebendo que o único pecado que um jornalista a capa acadêmica da Academia pode cometer é omitir a divulgação dos Paranaense de Letras. fatos ou divulgar como boas informações Com o ex-presidente da APL Túlio viciadas. Ele cobra, sistematicamente, dos Vargas, a poetisa Helena Kolody e jornalistas que por temor ou outra razão a também acadêmica e presidente omitem a verdade. E se insurge contra do Centro Paranaense Feminino de os donos da mídia que tentam limitar a Cultura, Chloris Casagrande Justen. sua ação. Essa sapiência toda não afetou a personalidade do Mazza como sói acontecer com gente do ramo. Soberba? Apenas a dose recomendável ao tratar gente do poder. Sou testemunha de sua generosidade intelectual. Cansei de vê-lo orientar focas e a lapidar o texto de principiantes. Volta e meia o Mazza chama a minha atenção para um jornalista novo e com talento a comprovar. Está sempre de olho nas mudanças rápidas que modificam o jornalismo e se submete, com estoicismo, às imposições da tecnologia. Mazza é um homem de hábitos simples. Somos sócios do clube de pessoas que não dirige automóvel. Seu hobby, além da polêmica e das novelas da televisão, é a pesca, que anda difícil porque os rios e o mar não estão para peixe, assim como a política não está para a inteligência. Há décadas ele mora no mesmo apartamento na avenida Paraná, sob a direção paciente de dona Lucy, sua mulher, e antes de uma luxação fazia a pé o trajeto entre a casa e o trabalho. Nos dias de chuva se dava ao luxo de tomar um ônibus. Terno? Gravata? Só se for indispensável. Para vestir a fatiota para receber a toga na Academia Paranaense de Letras foi uma guerra. Homenagem merecida da qual esquivou-se por muito tempo, até ser convencido de que as tertúlias seriam ótima oportunidade de abrir discussões sobre a cultura paranaense com os acadêmicos. A esta altura, Mazza se mostra mais aberto para algumas experiências que teria recusado em outros tempos. Só não lhe peçam para dobrar a espinha ou fazer concessões diante de um poderoso qualquer. É comprar briga feia. E brigar com o Mazza não é para amadores. Que o digam os governantes dos últimos 60 anos, de Moysés Lupion ao iniciante Beto Richa. Todos, sem exceção, tiveram o seu momento de desmistificação pela pena do Luiz Geraldo Mazza. Esse é o cara. fevereiro de 2011 |

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A revolta dos

JAIME LERNER Arquiteto

Reis Magos

A impressão que se tem é que cada habitante é um vendedor ambulante, que vende de tudo. As calçadas, canteiros centrais de avenidas se transformam em imensos bazares. Junto vêm os artistas que vendem artesanatos; muitos fazem performances. Estátuas vivas, mariachis, cantores solitários, cegos, amparados nos seus acordeões. Mas a polícia de vez em quando resolve endurecer o jogo, e não permite o acesso deles em certas horas. Foi aí que presenciei uma estranha rebelião de reis magos, que protestavam por não terem direito de representar no Paseo de La Reforma. No conflito dos reis magos com a polícia, uma cena extraordinária: vários papais noéis apoiando os reis magos. Fica estranho personagens de uma época se solidarizando com os de outra. É exatamente isso que falta hoje em dia. Cristo apoiando os que foram sacrificados na inquisição em nome dele. Moisés apoiando o movimento pela reforma agrária. Pasteur no alto falante apoiando a reforma na saúde de Obama. Thomas Jefferson no movimento pela reforma constitucional do Brasil. Como gostaria de ver Mandela prestar solidariedade aos escravos do Egito. Coisa parecida só em escola de samba. A solidariedade que atravessa séculos.

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Foto: Reis Magos. Mosaico da Basílica de Santo Apolinário, o Novo, Ravena (séc. V-VI)

A Cidade do México na época do natal transmite uma energia contagiante. Todos vão às ruas, na verdade, os mexicanos sempre estão nas ruas, barulhentos e expansivos.


FÁBIO CAMPANA Jornalista

S

Monoglota

ou monoglota. Além da língua nativa, sei espanhol o suficiente para ler e escrever sem tropeçar nos falsos cognatos e não cometer a ridicularia do portunhol. Mas o espanhol não conta. É obrigação. Língua próxima e, no meu caso, a primeira língua, a de casa. O português em meus primeiros anos foi a língua da vida pública, da burocracia, da autoridade, inclusive a paterna. O espanhol foi a língua do afeto no protegido universo materno. Em espanhol, vejam bem, não o portenho, mas o de Espanha, que nisso vai grande diferença, ouvi meu avô, Don Diego Vera, a ler para mim o “Martin Fierro” e o “Don Segundo Sombra”. Amo o espanhol como amo Cervantes, Antonio Machado, Borges, Octávio Paz e Alfonsina Stormi. O espanhol não conta porque é minha outra língua natural. Morro de inveja do Dico Kremer, que lê todos os textos na língua original. Proust em francês, enquanto eu tenho que me socorrer da boa tradução de Mário Quintana para trilhar o caminho de Swan. Nosso Kremer leu Faulkner em inglês. Lampedusa em italiano. Traduziu Joyce. Do japonês teve aulas que lhe permitem exibir habilidades com o pincel de nome estranho ao desenhar ideogramas que só ele e o Arnold Junginger traduzem. Se duvidar, Kremer dispensa o latim da vulgata e lê a Bíblia em aramaico. O Nêgo Pessôa fez o curso da Aliança Francesa. Aluno dedicado. Tem bom ouvido. Corrige. Ai de quem descuidar os meneios de língua que o francês exige e escorregar na pronúncia. Leva um pito e uma carraspana. Ao chuveiro, Pessôa repete os erres rascantes da Piaff a cantar Rien de rien. As namoradas adoram. Eu roo os cotovelos de pura inveja. Minha pequena vendeta é ver que todos se calam quando a Vânia Mercer entra na roda com seu francês irrepreensível e a Beth Hey com o seu inglês fluente. Imediatamente todos se convertem em monoglotas como eu. Calados. Ouvintes. Dificuldade. Preguiça. Indolência. Talvez uma boa dose de incapacidade. Tenho para o gasto, para não morrer de fome em terra estrangeira. Pensar que na juventude

um monge beneditino, o Philippe, francês professor de línguas, nos propôs um curso para que aprendêssemos o latim e todas as neolatinas ao mesmo tempo. Eu e o Nêgo Pessôa adiamos o início do curso tantas vezes que antes de iniciá-lo Philippe e os beneditinos foram enxotados para o nordeste e nós perdemos a oportunidade. Não sei se teríamos feito o curso, mas a expulsão dos beneditinos sempre me soa como ótima justificativa para as minhas precariedades linguísticas. Não consigo ir além do mínimo minimorum trivial em francês, italiano ou inglês. Leio com dificuldade. Nas minhas incursões peço ajuda ao dicionário e aos universitários, meus filhos, que ainda não ousaram perder a paciência. A outros não peço ajuda. Nós, monoglotas, odiamos o ar de superioridade que poliglotas costumam exibir diante de nossa ignorância. Tudo seria mais fácil se tivéssemos bons tradutores em todas as línguas. Confiáveis, ao menos. Houve melhores quando além de Quintana, mestres como Drummond, Bandeira e Millôr traduziam. Há alguns que hoje merecem respeito. É o caso da Josely Vianna Baptista, que traduz do espanhol. Do Rodrigo Garcia Lopes, do inglês. São das poucas exceções num rol imenso de maus tradutores que nos deixam na mão, entre outros esse cidadão chamado Fernando Py, que fez nova tradução de Proust em edição bonita, elegante, que vem dentro de uma caixa. A embalagem bonita esconde péssima versão em português, do que se deduz que o senhor Py pode até saber francês, mas não sabe bom português. Quando se trata de poesia, então, melhor não se exaurir em irritação e fazer o esforço da leitura apoiada nos dicionários e em outras traduções para fruir o texto. Pensando bem, a esta altura em que já vai longe “Nel mezzo del cammin di nostra vita”, melhor seria ter feito o curso do monge Philippe. Mas agora é tarde para a empreitada e nem sei onde anda o bom Philippe, o Jean Boulange, o Plácido e todos aqueles beneditinos franceses que a má sorte nos tirou do convívio nos anos de chumbo. fevereiro de 2011 |

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ENTREVISTA Fotos Dico Kremer

A 3ª geração 20

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arcello Richa é o representante da terceira geração da família na política do Paraná. Neto de José Richa, governador entre 1983 e 1986, filho do atual governador Beto Richa, ele tem na outra linha de ascendentes um avô que quase chegou ao cargo, na época em que Ney Braga era governador e soberano comandante da política no Paraná. Thomas Edson Vieira, pai de Fernanda Richa, mãe de Marcello, era esperança de Ney Braga para a renovação dos quadros da administração pública no estado. Marcello deu esta entrevista para Fábio Campana, Karen Fukushima e Carlos Alberto Pessôa, em seu gabinete na Secretaria Municipal de Esportes, primeiro cargo público que ocupa e primeiro passo de uma carreira que promete repetir a dos ancestrais ilustres.

Você acha que já cortou o cordão umbilical? Eu acho que é difícil cortar o cordão. Hoje eu tenho uma autonomia muito maior, claro, eu nunca senti com o meu pai este cordão umbilical no sentido da política. Ele nunca me restringiu liberdades. E se você entrar numa disputa política algum dia? Aí sim o cordão umbilical com ele (Beto Richa) será muito forte, porque o projeto político que eu for implantar, qualquer um, como é o do meu tio (Pepe Richa), como é o da minha mãe (Fernanda Richa), passa pelo consentimento do meu pai, porque todos nós temos a noção de que o projeto dele é maior. E é o nosso. E o teu sonho político? O meu sonho político é contribuir. Sou muito jovem para estas questões, mas eu acredito que tenho um ideal muito forte. Eu não tenho um lance de poder. Não sei nem mensurar isso, mas eu sinto que tenho um ideal muito forte porque eu vejo que a minha relação com a política é muito mais forte com o meu avô do que com meu pai, pela questão do ideal. Pela importância que teve o meu avô desde o início, as bandeiras que ele defendia,

a forma como ele saiu da política, porque estava desacreditado, sabia que as coisas que ele tinha vontade de fazer ele nunca conseguiria implantar. Então eu acho que esta é minha identificação, com este ideal, muito mais forte do que a perspectiva de poder que eu tenho hoje, com o meu pai, e com as possibilidades que me apresentam. O teu avô tinha um ideal, era parlamentarista, federalista, ele propunha a mudança do sistema com o voto distrital. Você tem essas ideias? Tenho. Muito forte. Inclusive o meu trabalho de monografia e conclusão de curso era esta forma de pensar a política. Levantando essas ideias e projetos do meu avô. Está certo que até era uma ideia de política meio clichê, se fazer um trabalho de conclusão de curso, uma monografia, mas no enredo algumas conclusões que eu acredito serem importantes no processo deste sistema que é o voto distrital, o parlamentarismo.

E este projeto? Chamaram você para a secretaria que é de esporte, juventude. O convite era para a Secretaria de Esporte e Lazer. O prefeito acrescentou a Juventude. Eu senti na conversa inicial com o prefeito que o objetivo principal era a questão da juventude. Ele abria aí um meio de comunicação, expandir o diálogo com os jovens, uma vez que a gente conhece toda a cidade. Eu caminhei em todos os bairros, conversei com os líderes comunitários, e tive uma identificação muito grande com as pessoas que fazem parte do nosso governo já há bastante tempo. Eu pretendo criar o Departamento da Juventude, dentro da Secretaria. Até agora a perspectiva de que a secretaria funcione a passos largos, tendo um convênio legal com a Secretaria do Estado e que alguém se disponha, com a mesma vontade e energia que nós temos, de correr por toda a cidade, de estar próximo dos bairros, próximo de onde acontece, de onde o esporte realmente transforma a vida das pessoas. Esta linha que vamos seguir, mas nem consegui ainda levantar direito todos os projetos que estão agendados, todas as previsões para 2011, enfim, o trabalho palpável mesmo nós estamos conseguindo nos familiarizar agora. Vou buscar uma mobilização não só da juventude, mas da população geral a participar mais de todos os programas, não só da Secretaria como de toda a Prefeitura. fevereiro de 2011 |

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E a tabelinha com a Secretaria de Educação? O maior parceiro nosso dentro da prefeitura é a Secretaria de Educação. Temos alguns projetos como o Comunidade Escola. Já tivemos uma primeira reunião, e temos ideias muito próximas. Vamos ampliar muito o Comunidade Escola, que abre as escolas nos finais de semana para a prática de esportes, convívio familiar, enfim é o social da secretaria de educação. É um programa impressionante e tem como complemento o Bola Cheia, que nos finais de semana vai até de madrugada. Sentimos que muitas das nossas atividades aqui acabavam competindo com as atividades de lá. Sentimos uma sincronia muito boa. Então esta parceria é muito boa, até pelo orçamento que a Secretaria de Educação tem. A ideia de início, a primeira reunião que tivemos, foi para levantar esta bandeira. E o esporte na escola? Aqui na secretaria sempre trabalhamos com este viés, de construção de cidadania. Abordamos muito os valores olímpicos, todo esse caráter da prática do esporte, isso nós vamos fortalecer muito dentro das escolas. É a construção de cidadãos participativos, com consciência de um retorno para a sociedade. É a ideia de um bom esportista, um bom cidadão, noções de disciplina. Mas é uma forma de trabalhar a questão do esporte dentro da escola, um retorno que pode passar. Como estão os orçamentos para desenvolver esses planos? Nós temos uma limitação de orçamento que dificulta muito um foco que passe por todos os esportes, para termos a criação de atletas de rendimento de ponta, então nós vamos ter que fazer um trabalho com parcerias públicoprivadas, com patrocinadores, o que acontece pouco hoje. Até para a captação de recursos federais, são poucos os que vêm para a Secretaria de Esportes. Queremos, no início, montar um leque de parceiros porque estamos sentindo a procura de pessoas que estão a fim de contribuir com projetos maravilhosos. Nestas poucas semanas foram dois projetos que nos apresentaram. Um deles de um centro de excelência de tênis, com tudo pronto, mas falta terreno, falta patrocínio. Nós vamos melhorar projetos que já temos, que atendem à comunidade, que têm uma 22

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procura fantástica, mas que de vez em quando não dão retorno aos atletas. Mas o mais importante de tudo é trazer os próprios exatletas e atletas que nós temos aqui de renome e que muitas vezes também não são tão valorizados. Essas são as pessoas que têm mais condições de apontar para nós os caminhos, as deficiências e tentar conosco organizar um time de verdade, para as Olimpíadas, para a Copa do Mundo. Enfim, eu acho que nós temos estas duas áreas para trabalhar na questão do esporte de rendimento. Parcerias, patrocinadores e a valorização dos atletas e ex-atletas que nós temos na comunidade de Curitiba e que são muitos. Temos dentro do corpo técnico da secretaria pessoas de renome nacional. Um dos conselheiros do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), o Adir, tem uma entrada no comitê olímpico impressionante. Uma coisa que a gente valoriza pouco. O próprio velódromo ali do Jardim Botânico também. O Adir é do velódromo. Ele é outra linha de referência que nós temos, participa, fica muito mais tempo fora de Curitiba pela exigência que ele tem do COB. Então é uma pessoa que nós temos que aproveitar. Nós temos uma história de construção de quadras que é recente. É melhor não lembrar e não trazer os envolvidos neste processo porque contamina tudo. Hoje nossas quadras acabam tendo muito mais problemas de manutenção do que requisições de novas. Quero focar também no que está deficiente e na parceria com os clubes, aproveitando agora também que vieram os técnicos da Fifa aqui pra cidade, para vistoriar os campos de treinamento, os estádios. Eu aproveitei participando dos dois dias de vistoria. Todos os clubes de Curitiba, o Atlético, Coxa, Paraná, Trieste estão à disposição. Você já viu o Centro Esportivo do Trieste? Eu fui conhecer agora e é um negócio surpreendente. É inacreditável, uma estrutura impressionante. Dentro das escolas nós temos que ter alunos com medalhas. Nisso nós vamos dar um foco também muito forte. Focar nos torneios que nós temos, agora vem as Olimpíadas,


Copa do Mundo. Pensamos em algo como Olimpíadas Metropolitanas, alguma coisa que mobilize mesmo. Aproveitar esta expectativa toda com a Copa do Mundo e fazer a população participar. Há muitos anos, em Irati, eram realizados os jogos sócio-culturais, uma mistura de esporte com poesia, com literatura, teatro, música. Talvez você possa fazer uma tabelinha com a Secretaria de Cultura, uma competição entre as escolas, junto com redação. Essa é outra luta importante que vou ter. O que pensei no esporte é trabalhar ele em parceria com educação, fundamental, cultura e saúde. São três coisas que não podem andar separadas. E ainda não senti que existe uma integração plena nisso tudo. Com a cultura não temos praticamente nada. Parceria mesmo, projeto, não existe. Vamos trabalhar o esporte nessas três áreas: saúde, educação e cultura integrados. Há uns 10 anos, uma professora estudava os problemas de aprendizagem nas escolas da periferia de Curitiba. As crianças que apresentavam alguma dificuldade logo eram tratadas como alguém com problemas de déficit de neurônios. Então foi proposto uma outra coisa, que é simples, muito fácil. Ficou evidente que a maioria das crianças que tinham problemas de aprendizagem, não eram crianças com problemas psicológicos clínicos, eram crianças ou com problemas de fome ou de visão. Deram óculos e foi aquela maravilha, “como o mundo é bonito”. Problemas de audição. Coisa simples que elimina anos de salas especiais, estudos especiais. Pensamos na criação de uma secretaria com a estrutura toda, que trabalhasse a juventude de uma forma horizontal, porque não adianta trabalhar jovem na política, e a educação como é que vai ficar? O esporte como é que fica? A ideia do jovem passa por todas as secretarias. Tive uma reunião muito boa com o Secretário de Assuntos dos Direitos das Pessoas com Deficiência. A intenção é criar um núcleo de referência. Já temos algumas atividades voltadas para isso, eles próprios incentivam a participação da­queles esportistas com de-

ficiência ali, então é um lugar que dá para trabalhar e é uma demanda da sociedade muito grande hoje. Uma das últimas coisas do meu pai como prefeito foi criar esta Secretaria Especial. Então é um trabalho que pretendemos dar um foco muito grande, até com as academias ao ar livre que estão voltadas para a acessibilidade e isso é uma coisa excelente. Estrutura americana. Você vê que a estrutura dos americanos é bem maior, é só pegar como exemplo o basquete. Ele está em todas as universidades. Basquete e futebol americano são os mais populares. Mas quando o cara chega à universidade, ele já saiu do ensino médio revelado. Conforme ele vai se graduando, lá o esporte vai caminhando junto, ele vai passando por etapas. Todos os trabalhos que nós tínhamos aqui na Secretaria, de acordo com os oito anos do Requião, eram feitos nas escolas municipais. Então o aluno passava todo o tempo participando dos programas da Secretaria. Quando ele ia para o Estado a política era totalmente diferente. De vez em quando não tinha nem ao menos o mesmo foco que a gente tinha aqui, até por questão das dificuldades da Paraná Esportes, então criavam lacunas e não dava progressão. Não existia uma progressão do aluno dentro do esporte. Daí o que acontece, abre hoje os festivais de férias que nós temos a participação de 600, 700 crianças e você vai acompanhando isso e no final não sobra gente, não participam, não há continuidade. Nós temos que participar também com o social. A parte da massificação é o social, essa formação de caráter, de cidadania com os cidadãos e tal, e o resto nós vamos fazer em parceria com os clubes, porque na verdade os clubes têm uma estrutura a oferecer que eu acho que nenhuma prefeitura nunca vai poder oferecer. Partindo deste vínculo, com as entidades privadas, vai ter um crescimento muito bom e a ideia é justamente esta. O trabalho do rendimento, da formação de atletas de ponta. fevereiro de 2011 |

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organizarmos a casa, darmos uma geral em todas essas questões na secretaria, temos que analisar a estrutura para, aí sim, traçar prioridades a curto, médio e longo prazo. Com o Governo Federal tem alguma coisa? E o Estadual? Com o Governo Federal não temos quase nada e com o Estadual muito menos. Então vou começar a rever tudo isso, desde recursos estaduais, federais, a questão de emendas de vereadores e de deputados. Levantar todo este material agora para o começo de 2011.

E os times de vôlei de Curitiba? Curitiba não tem time de nada. O último time que teve aqui foi o Rexona. O Tarumã é competência do Estado. Já tive uma conversa neste sentido e existe o total interesse de levantar isso, mas ficou muito deficitário, passou tempo e daí já não está mais em acordo com as questões de acessibilidade. Curitiba também não tem um ginásio municipal, então como nós vamos fazer para trazer um time, para formar um time? Não temos nada a oferecer. São Paulo tem vários clubes, mas quem abriga os atletas é o Clube Pinheiros e patrocínio da Sky. Tendo o clube e tendo o patrocinador para isso, a gente não precisa fazer nada. E a Lei do Incentivo ao Esporte? A teoria da Lei de Incentivo ao Esporte é maravilhosa, ela abate 66% do IPTU, então se você for pensar imagina quantas pessoas não estão interessadas nisso. Aqui nós não temos esta gana de abater o IPTU, então temos que trabalhar a ideia de também dar uma reformulada. Nosso plano é de além de passar essa ideia da lei do incentivo, que ainda quero reformular, penso também em reativar aquela campanha do ótimo atleta. A empresa adotava o atleta, patrocinava, tinha retorno de mídia e tal e acabava estimulando a questão do rendimento. A Sanepar inclusive, a parceria que tinha com um time era um exemplo. Então essas coisas vão ajudar muito a fazer o que queremos. As parcerias são fundamentais. Nós precisamos de parceiros. Com a embaixada de Cuba eu já iniciei uma conversa para trazer a experiência deles para cá no esporte olímpico. É impressionante a experiência que eles têm. E existe a sinalização deles e o interesse de fazer um intercâmbio esportivo, trazer os profissionais deles para fazer um workshop. Essa é outra questão que temos a intenção de expandir, de fazer na cidade. Antes de tudo precisamos fazer esse planejamento. Depois que 24

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Tem dinheiro internacional? Vai garimpar, vai ver se existe? Isso. Vamos fazer isto. Vamos levantar tudo o que existe e que tem com o esporte. Até gente que tem uma tecnologia diferente e aplica. Tem tanta coisa que dá certo e o pessoal tem intenção em trazer, aproveitar o Brasil e ainda mais Curitiba, que é uma cidade referência no Brasil. As pessoas testam muitas coisas aqui para ver se vai dar certo. O curitibano é crítico demais. Tudo é testado com o curitibano para ver se vai ser aprovado no país. Então utilizar também esta imagem boa que Curitiba tem para trazer coisas e nisso a gente não vai ter dificuldade, porque tem muita gente a fim de investir. A relação com o governo estadual dá uma expectativa muito boa para nós, um fôlego muito bom. E os ginásios, as arenas de Curitiba? A intenção é fazer um ginásio completo, como a Arena. Tem também a questão da Pedreira (Paulo Leminski). Curitiba passou 2009 e 2010 fora do circuito de shows. A Arena contemplaria também a falta de espaço para shows, esta demanda cultural, esta lacuna que ficou todo este tempo. Este ginásio é algo que não vai atender só o esporte. Vamos seguir uma tendência mundial, de arenas, funcional. Vamos buscar algo nesta linha. Os esportes individuais acabaram no Brasil. Você vê a própria natação. Que estrutura que nós temos para oferecer para a população? Não tem mais competição nas escolas. Os professores de Educação Física não conseguem se inserir neste projeto. Como mudar? O que a gente percebeu é que eles sempre tentaram mudar isso politicamente. Eles sempre tiveram esta vontade que a gente tem, mas eles nunca conseguiram colocar na cabeça dos políticos, das lideranças, a necessidade que temos deste trabalho. O meu trabalho vai ser todo realizado em cima dos professores. Faremos uma reunião neste mês (fevereiro) tanto com a estrutura regional, os diretores regionais, chefes dos núcleos de esporte das regionais, mas principalmente os professores, os técnicos em Educação Física, de todos os esportes. E esse pessoal sempre soube as respostas, sempre tiveram a vontade de fazer e é o que estamos tentando fazer aqui. Vamos dar um foco grande nas Olimpíadas.


Luiz Fernando Pereira Advogado

As nomeações políticas

A

intervenção direta do Estado deve se reduzir ao mínimo indispensável. E disso me convenci por inúmeros argumentos. Sou um convertido. Mas se eu não tivesse nenhum outro argumento, me bastaria um só: dar uma conferida na forma de preenchimento dos cargos nas estatais brasileiras. Não falo dos cargos em comissão no executivo. Aí é covardia. A distribuição é pelo regime de cotas. Um “tanto” para cada deputado. Fala-se até mesmo em “consórcio de deputados”, quando o cargo comissionado tem mais “peso”. A coisa é feia. O critério é exclusivamente político. Tempos atrás ouvi o Cláudio Abramo (o ranzinza da Transparência Brasil, mas com um ótimo papel na República) dizendo que os cargos comissionados nos Estados Unidos são pouco mais de nove mil. França e Alemanha teriam quinhentos apenas; Inglaterra míseros trezentos. Confesso que não conferi os dados, mas se ele não errou por muito ouso assegurar que o PMDB teria grande dificuldade de sobrevivência nestes países. Aqui no Brasil temos quase 650 mil cargos comissionados (dados de 2009). O número é impressionante. Aumentamos o total de “nobres comissionados” em um terço nos últimos quatro anos pesquisados. E mais de 20% dos postos (vinte por cento) são ocupados por quem não tem nenhuma vinculação com o setor público. União, estados e município somam 130 mil nomeações eminentemente políticas, portanto. Se fosse possível promover uma perícia geral nesta turma toda, quantos seriam os rigorosamente úteis ao funcionamento do estado? Quais destas tarefas poderiam ser delegadas a um concursado? Quais são os comissionados que, coincidentemente, preenchem critérios meritocráticos? Estudo da Fundação Escola Nacional da Administração Pública concluiu que estes cargos são preenchidos de forma aleatória, arbitrária e clientelista.

E não precisamos de nenhum estudo para reconhecer a necessidade de se migrar do sistema de apadrinhamento para o sistema de mérito, com a entrada no serviço público pela porta legítima do concurso público. Agora nada escandaliza mais do que o preenchimento por critérios políticos dos cargos nas Estatais. Como se pode admitir que um Diretor de Furnas seja de indicação da cota de determinado partido ou deputado? Anestesiada pela repetição da lógica há décadas, nem mesmo a imprensa se ocupa do tema. É assim e está acabado, como se fosse natural. Alguém pode argumentar que o critério político está legitimado pela partilha de poder entre os partidos vencedores da disputa eleitoral. Ledo engano. A partilha deve se dar apenas em relação aos cargos políticos par excellence, se me permitem. Apenas em postos superiores e de supervisão – recomenda a ONU. É sempre notícia a acirrada disputa pela indicação política de cargos na Real Grandeza – fundo de pensão de Furnas. Aqui no Paraná, deputado estadual indicava até gerente do Banestado (finado, graças a Deus, banco estadual). Não trato aqui das razões “não republicanas” que pautam a maioria destas indicações. A questão é demasiadamente conhecida. Refiro-me apenas ao absurdo da indicação de um diretor de uma estatal (ou de um fundo de pensão, em exemplo ainda mais bizarro) pautar-se por critérios políticos – e não eminentemente técnicos, como acontece nas congêneres privadas destas estatais. Nada justifica este elevado grau de politização da administração pública brasileira. Se alguém tem alguma dúvida, convido o leitor a percorrer o currículo dos diretores das estatais brasileiras e paranaenses. Quais destes diretores seriam convidados se estas mesmas empresas fossem privadas? A resposta constrange, estou certo.

Nem mesmo a imprensa se ocupa do tema. É assim e está acabado, como se fosse natural

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luiz geraldo mazza Jornalista

O retorno à heráldica

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erminou o tempo das simbologias de ocasião, as logomarcas que tentavam personalizar os governos (Ney Braga com bonecos de mãos dadas cortados à tesoura, a esfera verde de Paulo Pimentel, os ramos ecológicos de Lerner na Prefeitura e também no Estado, a constelação do Cruzeiro do Sul como estava no dia da segunda posse de Requião no governo) e retornam os brasões e signos oficiais. Foi assim com Beto Richa primeiramente na Prefeitura e prossegue da mesma forma no governo estadual. Diz o governador que com isso se estanca o gasto de pintura na frota de veículos e em placas com a mudança das concepções de design. De qualquer forma vão ter que adaptar tudo à simbologia oficial. Só que ela está, há muito, em discussão, pois no governo Alvaro Dias (que tinha como símbolo a casinha de concreto) o seu secretário de Cultura, René Dotti, montou um grupo de trabalho do qual participava um especialista, Ernani Straube, e que propôs mudanças radicais alterando a postura do ave totem, trocando o homem da ceifa como lavrador pelo semeador e assim por diante. As mudanças produziram intenso debate e com reações coléricas dos que defendiam os desenhos originais.

pois o que se pretendia no conteúdo foi alcançado e de uma forma arrasadora, entusiasmante, tal o volume de obras que afinal identificavam essa mobilização unitária. Há quem diga que a solução paranaense teria sido decalcada da paulista que era uma colmeia, o sentido do trabalho unitário, e que deu aos paulistas com Carvalho Pinto também uma gestão de favos de mel. Pouco importa, o fato é que o símbolo teve uma razão prévia e justificativa posterior pelos feitos acumulados. Também a bola verde de Paulo Pimentel, um esforço vanguardista para fugir do figurativismo elementar, era centrado em teasers, um deles repetindo um apelo do Mussolini ‘’aqui se trabalha’’ e outro, com dimensão utópica, anunciando o anseio de o Paraná transformar-se em segundo Estado do Brasil, claro só perdendo pra São Paulo, terra do governador.

Seria apenas uma volta aos fundamentos originais do Paraná ou estaríamos diante de um corte final no personalismo embutido nos grafismos?

O conteúdo, a questão Os bonecos de mãos dadas cortados à tesoura de Ney Braga estavam ligados a uma ideia-força muito expressiva que ia além da confraternização, mas da ação comum, em cima de um objetivo - o de integrar o Paraná até por força de sua diversidade e da ausência de unidade física e cultural. Se eles foram ou não importantes não se discute, 26

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Culto à personalidade Por mais elaborado que seja, um discurso assentado na posição das estrelas na constelação do Cruzeiro do Sul no dia da posse é muito mais do que um caso de exasperada celebração de si mesmo, como se deu nesses dois últimos períodos de Roberto Requião. Tirando esse aspecto deplorável, a arte com que foi concebido é de altíssimo nível. Na verdade, o maior defeito desse aluvião de logomarcas está justamente em assinalar o traço digital do beneficiário e do exaltado. A exaltação desses exercícios semiológicos tem esse aspecto negativo e que mexe, a rigor, com uma censura constitucional que está inscrita no princípio da ‘’impessoalidade’’, ora transformado em norma com a Súmula Vinculante Número 13. É preciso, no entanto, depois de tanto abuso, dar


A decisão de retorno ao heráldico carece de desdobramentos doutrinários e teóricos. Precisamos de um processo permanente de desenvolvimento e afirmação e esse pode estar identificado na simbologia tradicional. Seria suficiente essa pertinência com signos e brasões para expressar um compromisso ou ele teria um limite interpretativo e que reclamaria uma superação e não um quadro de estagnação e de contemplativismo iconográfico? Quando bolaram para Paulo Pimentel o lance de ‘’segundo Estado da Federação’’ foi além do possível e descreveu um ‘’desejável’’ difícil de alcançar. É irônico constatar hoje que o Paraná em dados macroeconômicos e sociais nem chega a ser o segundo Estado do sul brasileiro, pois em alguns referenciais como escolaridade e expectativa de vida perdemos tanto de gaúchos quanto de catarinenses. Não precisamos de uma utopia como essa, mas de algo que motive, que una e arregimente como se deu em vários momentos da história paranaense. E isso se faz com um projeto, com a rotina necessária de pensar o Paraná. Quem faz isso no governo? Às vezes numa entidade como a Federação das Indústrias ou a da Agricultura há sinais dessa preocupação. Um corpo de doutrina, uma estratégia, é preciso fazer algo até em respeito a esse retorno à simbologia clássica.

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Uma revista de ideias. revistaideias.com.br

Falta a ideia-força

Leia para saber.

um fundamento a esse retorno à heráldica. Seria apenas uma volta aos fundamentos originais do Paraná, cujo hino é hoje cantado nas vésperas de jogos de futebol, ou estaríamos diante de um corte final no personalismo embutido nos grafismos? Só saberemos disso vendo o governo em ação. Na Prefeitura o que se cultuou durante a gestão Beto Richa foi o mesmo marketing que vem de Lerner e teve continuidade com Rafael Greca e Cassio Taniguchi, nada diverso daquilo que está fincado na forma de expor Curitiba e seus anseios.

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reportagem CARLOS SIMON Fotos テ》ila Alberti

8 horas no Camboja

Ideias penetrou nas entranhas do principal centro de atendimento de28emergテェncia do Sul do Brasil. | fevereiro de 2011


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o ano passado, 55 mil pessoas passaram pelos cuidados de médicos, enfermeiros e auxiliares do setor de trauma e emergência do Hospital Universitário Cajuru (HUC). São em média 150 atendimentos por dia – 80% deles pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Isso aqui é o Camboja”, diz o ortopedista Cyro Camargo, 33 anos de HUC, referindo-se, é claro, ao volume de pacientes. Mas o sanguinário ditador Pol Pot certamente não destinaria igual tratamento aos opositores que deixasse viver. A hotelaria não é o forte do HUC, como admite o diretor-geral Claudio Enrique Lubascher. De fato, se não chega a degradado, o ambiente interno do Pronto-Socorro do HUC é pouco inspirador para uma noite de repouso. Algumas paredes imploram por reboco e uma nova camada de tinta. O mobiliário é simples, e o uso corroeu os revestimentos das macas e os jalecos dos atendentes. Uma das cortinas que servem de divisória dos leitos da emergência parece ter retornado da guerra. Mas luxo não é a prioridade de quem é carregado pelo longo e sinistro corredor que liga o pátio à sala de emergências. E para salvar vidas, o Cajuru tem material técnico e humano superior à média de hospitais terciários (aptos a atender todo tipo de paciente) conveniados ao SUS. Nas 24 horas do dia há dois médicos emergencistas, um neurologista, um ortopedista e um cirurgião-geral presentes no plantão, sem contar os anestesistas, residentes e acadêmicos de cursos da área de saúde – sim, é um hospital-escola e como tal há estudantes que um dia precisarão aprender na prática, e menos mal que o façam acompanhados de profissionais. Se não há equipamentos de tecnologia ultramoderna, as aparelhagens essenciais como a de tomografia e o raio-X digital, disponíveis também ao público em geral, estão atualizadas o suficiente para não deixar um doente na mão. “Nem sempre a inovação tecnológica significa melhor resultado terapêutico”, diz Lubascher. Manter estrutura assim custa caro no Brasil. O diretor geral do HUC lamenta que para cada real investido em assistência hospitalar pelo SUS, apenas R$ 0,65 são reembolsados pelo governo federal. E o rombo se acentua no setor de trauma e emergência, que trata de pacientes mais fragilizados, sem histórico clínico conhecido pelos médicos e que demandam procedimentos complementares. Desde que foi criada, há 16 anos, a tabela do SUS foi reajustada em 55%. No mesmo período a inflação

superou os 500%. O recrutamento de bons médicos é tarefa complicada quando o reembolso em alguns casos não passa de R$ 6 por consulta. Além do “compromisso com a comunidade”, a que se refere o diretor-geral, há razões mais práticas para o hospital seguir conectado à saúde pública. O Cajuru integra a mesma holding da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e manter um hospital-escola deste porte é um chamariz e tanto para persuadir estudantes a pagarem mensalidades de R$ 3 mil no curso de Medicina. E para contrabalançar este déficit a companhia ergue um prédio ao lado do Cajuru. O Hospital Marcelino Champagnat tem inauguração prevista para outubro deste ano e atenderá apenas pacientes particulares, enquanto o HUC será exclusivamente dedicado ao SUS. Para conferir in loco o corre-corre quase insano de uma emergência desse porte, com demanda no limite da capacidade e dificuldades orçamentárias, a reportagem de Ideias mergulhou num plantão madrugada adentro. A direção autorizou que repórter e fotógrafo observassem as tensões do ponto de vista de pacientes e profissionais da saúde a partir do setor nevrálgico do prontosocorro do Cajuru, onde uma atitude tomada em segundos define vida ou morte, plena cura ou sequelas irreversíveis. A reportagem foi feita numa sexta-feira para sábado (14 para 15 de janeiro), dia da semana em que a quantidade de Dr. Cyro: 33 anos de plantão atendimentos tende a ser maior, principalmente pela ação do álcool. Não por acaso, todos os personagens involuntários desta reportagem são jovens adultos, com menos de 40 anos.

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Mundo da lua

O primeiro novo hóspede de nossa jornada mal sabia para onde vinha. William, 28 anos, bateu a cabeça na Rua das Carmelitas, esquina com Bley Zornig, no Boqueirão. O carro que ele ocupava foi atingido por outro e, desgovernado, acertou uma bicicleta. O ciclista e o motorista do outro veículo foram levados ao Hospital e Maternidade São José dos Pinhais. William chegou ao fevereiro de 2011 |

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Cajuru um tanto desorientado, um caso de Glasgow 14, adiantam os socorristas do Siate. A escala avalia o nível de consciência pós-trauma e vai de 3 (coma profundo) a 15 (normalidade). A enfermeira-chefe do plantão, Cristina Barros, e as duas auxiliares de enfermagem tratam de conectá-lo ao monitor multiparamétrico – equipamento que mede pressão arterial, frequência cardíaca e saturação de oxigênio (comprometimento dos pulmões). É procedimento padrão em todo paciente do setor. - Qual seu nome?, pergunta a Dra. Ivana Roseira, gerente da emergência. - William. - Quantos anos você tem? - 27. Não, 28. Ah, não sei... - Sabe que dia é hoje? - Hmmmm. Não sei. - Em que mês estamos? E em que ano? - Ah... Não lembro. A amnésia é bastante comum em acidentes assim. Como William abre e fecha os olhos espontaneamente e obedece aos comandos dos médicos, perdeu apenas um ponto na escala Glasgow por culpa da confusão mental. De resto, sofreu leves escoriações, conforme examinou o Dr. Matheus Macri, médico emergencista. Foi para a observação na ala dos pacientes menos graves, junto ao setor vermelho, o da emergência. Se o quadro piorasse, voltaria ao ponto por onde entrou e um especialista seria acionado. Mas tudo correu sem problemas e o rapaz medicado e liberado.

23:50

Tem que ralar

José Carlos da Silva, 23 anos, deixou um freguês sem pizza na noite de sexta. O motoboy faria a oitava entrega da jornada quando trombou numa Saveiro na rua Santiago, Jardim São Domingos, Colombo. A culpa, confessa, foi toda dele: cruzou a preferencial ao antever a escuridão na esquina, mas a Saveiro vinha só com as lanternas acesas. O motorista do carro escapou ileso. - O cliente vai entender, é conhecido da casa – graceja o motoqueiro, deitado na maca. A pizza, de toda forma, é o menor dos prejuízos. A Honda Titan 150 cilindradas de José Carlos não tinha seguro, como a grande maioria das motos, e vai pro ferro-velho porque o conserto do tanque amassado e do quadro entortado não compensa. Experiência de quem já caiu de moto “umas 17 vezes” e tem familia30

ridade com avarias no veículo, mas que só conhecera o pronto-socorro na adolescência, por uma queda de bicicleta cuja lembrança são alguns pinos de platina no cotovelo. O certo é que o financiamento da nova moto vai atrasar a construção da casa própria, que ele planejava terminar até o fim do ano, na mesma rua da pizzaria, em Colombo. Pra alcançar o sonho, José Carlos rala duro: trabalha diariamente como auxiliar de produção das 7h às 17h, e entrega pizza das 19h às 23h30. Menos mal que o pára-choque de todo moto-

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queiro, o próprio corpo, não estragou. Foram apenas uma pancada no joelho e outra sem gravidade na coluna, e depois das avaliações de praxe, o entregador recebeu alta.

00:45

Álcool e sangue

O consumo de álcool determina o ritmo dos plantões do HUC. Abel, 26 anos, engrossa a estatística de motoristas embriagados a se ferirem nas noites de sexta e sábado, as


mais agitadas no Pronto-Socorro. Ele bateu o carro que dirigia num caminhão, em Rio Branco do Sul, e fez um profundo corte em “L” do alto da testa ao supercílio. O sangue do ferimento empapou a camisa, o lençol da maca e respingou no chão da emergência. Não usava cinto de segurança e foi levado ao hospital por terceiros, correndo o risco de ter agravadas possíveis lesões neurológicas, cervicais ou fraturas. O nariz treinado do Dr. Edimar Toderke, cirurgião de plantão, fareja de longe o aroma etílico. - Bebi bem. Conhaque e cerveja – admite o paciente, na maca, os olhos arregalados de susto. Anestesiado, pelo trauma e pelo álcool, Abel nem

reage quando o Dr. Matheus literalmente põe o dedo na ferida aberta. Os sinais vitais estão em ordem, mas a pancada foi forte o suficiente para que ele fosse levado à sala da tomografia. O aparelho desvendará alguma possível lesão encefálica – até porque a avaliação neurológica tradicional muitas vezes é comprometida pela confusão característica da embriaguez. Pacientes como Abel, alcoolizados e com alguma lesão importante, ficam de 6 a 12 horas em observação. O Dr. Toderke conta que há feridos tão bêbados que o cheiro do álcool sobressai quando o abdômen é aberto numa cirurgia de emergência.

01:50

Quando outra instituição de saúde, o Siate ou o Samu comunicam que o estado do paciente a caminho é grave, há tempo de preparar o raio X, deixar instrumentos à mão e reforçar a equipe de apoio. Segundos podem fazer a diferença. Não é o caso. O homem de 35 anos chega consciente, ferido por um tiro que entrou logo abaixo do mamilo direito e saiu perto da axila do mesmo lado. Os pulmões expandem bem, o que é um bom sinal, mas o exame de raio-X foi necessário para comprovar a integridade do órgão. De fato a bala acertou somente músculos, ele recebeu alta no mesmo dia, após um período em observação. As duas mulheres que estavam com o homem não tiveram a mesma sorte. A diarista Sueli das Neves Marquiu, 53 anos, e a caixa de supermercado Viviane Terezinha de Souza Trindade, 22, levaram um tiro cada e morreram no local do crime. Ainda deitado na maca, o rapaz contou que os três iam a pé a um lugar chamado “Peixaria”. Eram pouco mais de 1h quando uma Parati branca e um Santana escuro estacionaram na rua Hipólito da Costa, Boqueirão. Os ocupantes dos carros trocaram algumas palavras entre si e saíram de arma em punho, anunciando um assalto. - Deixei o celular no chão e pedi calma. Até levantei as mãos – relatou o ferido. Mesmo assim, os criminosos atiraram pelo menos cinco vezes. O rapaz correu e escapou, enquanto os atiradores fugiam com os carros. Baleado, viu as mulheres mortas e foi socorrido por um taxista. O homem disse ter vindo uma semana antes de Cascavel, para trabalhar na manutenção da filial de uma rede de supermercados. No Oeste do Paraná tem um filho e a mulher, a quem pediria mais tarde para telefonar.

Duplo homicídio

O telefone toca na sala de emergência: o CMUM (Centro Municipal de Urgências Médicas, antiga Unidade 24 horas) do Boqueirão avisa que trará um baleado.

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À reportagem de Ideias, solicitou apenas que não fosse identificado. Mas no dia seguinte os jornais já publicavam o nome dele em reportagens sobre o duplo assassinato. A história pouco verossímil também não convenceu os dois investigadores da Delegacia de Homicídios que foram ao HUC interrogar o ferido, meia hora mais tarde. Os policiais estranharam que ladrões comuns em dois carros pudessem abordar transeuntes aleatoriamente na rua, atirar para matar e fugir sem roubar nada. A hipótese de assalto foi descartada, mas o motivo do crime permanecia incerto. E quando o ferido trazido à emergência é um criminoso? Para provar que a recepção é igual, o veterano plantonista Cyro Camargo cita dois fatos: primeiro, lembra o caso de um médico do Cajuru que reconheceu o paciente como o homem que assaltara sua casa, tempos antes, e mesmo assim o salvou; depois, conta que um bordão foi criado internamente como resposta aos policiais que sugerem tratamento “menos eficiente” a um bandido ferido em confronto. - Se chegou aqui vivo, sai vivo.

02:15

Pé na jaca

Menos de 10% dos casos que entram na sala vermelha do HUC são clínicos. A jovem K., 23 anos, é um destes, mas não está doente: tomou um porre que a fez perder a consciência. Conhecidos a trouxeram de um barzinho no Batel e a largaram no hospital. Um aviso a quem pretende enfiar o pé na jaca: evite as melhores roupas, porque a equipe do pronto-socorro não terá pudores em destrinchá-las com tesouras comuns. Os movimentos na retirada de uma peça podem piorar uma lesão, e ninguém sabe o real estado de um paciente desacordado. O Dr. Matheus explica que não é um caso de coma alcoólico: a paciente reage com grunhidos à dor da pressão nas costelas, feita com o dedo mesmo. O teste seguinte seria apertar e torcer o mamilo. Não foi necessário, e K. só precisou de soro na veia para reidratar e Plasil para evitar novos vômitos. Teoricamente, a jovem alcoolizada não deveria estar num hospital especializado em casos de trauma ou de urgência médica. A estrutura do SUS foi planejada para que instituições como o Cajuru não prestassem o primeiro atendimento, mas servissem de retaguarda para unidades menores, como os CMUMs. Se o hospital se ocupa com casos menos graves, explicou mais tarde o diretor-geral Claudio Lubascher, corre o risco 32

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de tratar com menos eficiência quem realmente precisa de socorro urgente. No contrato com o Ministério da Saúde, o HUC é encarregado de atender mensalmente um número determinado de pacientes de emergência. Mas esta quantia invariavelmente é ultrapassada pela demanda, e é o hospital que custeia este excedente.

04:30

Humanos

Embora o plantão esteja calmo, o cansaço começa a bater. O ritmo das conversas diminui, assim como o burburinho na chegada do próximo paciente. J., 39 anos, não revelou aos atendentes do Siate, nem aos médicos, como cortou a cabeça. Parece ter sido uma garrafada. Os socorristas contam que outro homem caiu do segundo andar no mesmo endereço – a rua Desembargador Westphalen, Centro de Curitiba. Mas não há registro no Corpo de Bombeiros de um segundo atendimento por lá. O paciente emite grunhidos, chora na maca, insiste em tirar o colar cervical. Uma auxiliar de enfermagem repete, já sem paciência, que o equipamento preventivo a lesões na coluna fica onde está. O Dr. Matheus confere, pela ordem, se as vias aéreas estão obstruídas; se o pulmão ventila bem; as condições de circulação (pulso forte, batimentos cardíacos, sintomas de hemorragia); e o estado neurológico. Só depois cuida do ferimento em si. São normas internacionais do ATLS (sigla em inglês para Suporte Avançado de Vida no Trauma), programa de treinamento para médicos que padroniza o atendimento ao acidentado, com bases nas causas mais comuns de morte.


- Foi só um ferimento corto-contuso na cabeça, nada mais – diz o Dr. Matheus.

05:00

Vergonha na cara

A baladeira K. desperta lentamente. As auxiliares logo percebem. - Você sabe onde está? - Quase certeza que no pronto-socorro. - E lembra o que aconteceu ontem? - Nossa! Bebi um monte. Tequila, cerveja, vodca. Embalei. - Você deu trabalho, hein? - Não sei como vocês não têm raiva de quem chega num estado como o meu. Cabelos desgrenhados e voz meio sonolenta, a menina miúda conta que esteve num barzinho no bairro do Batel com colegas da faculdade particular de Ciências Contábeis. Encarou com serenidade a perda das roupas e só pediu aos atendentes que não chamassem os pais – temia a reação da mãe. Nisso entra na sala uma médica que ainda não havia aparecido na emergência. - O que você está sentindo? - Vergonha! Ela já está pronta pra voltar pra casa.

05:15

Onipresente

A cena é atípica para uma madrugada de sábado. O único paciente na sala da emergência é um jovem com cisticercose cerebral e epilepsia, em observação desde a noite anterior. Ele esteve agitado em alguns momentos, mas agora dorme. Os demais já não precisam de cuidados intensivos e estão agora na ala dos menos graves, ou foram liberados. Enfermeiras e atendentes se entretêm navegando em sites de relacionamento ou assistindo a vídeos na internet. O Dr. Matheus aproveita o silêncio para descansar num cômodo ao lado – afinal, logo mais, às 7h terá que ver um paciente recém-transplantado. Ele é o típico profissional da Medicina que se desdobra em vários para abraçar oportunidades na carreira e incrementar o orçamento. Além de emergencista, é cirurgião do aparelho digestivo. Nas manhãs de segunda a sexta, atende em consultório; às tardes, faz cirurgias em diferentes clínicas e hospitais, dentro da especialidade: pedra de vesícula, hérnia inguinal, hérnia de hiato, lesões hepáticas. Even-

tualmente, realiza transplantes de fígado ou pâncreas, ou é chamado para captar órgãos de doadores em outras cidades. Quarta-feira tem plantão das 19h às 7h na emergência do Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, e às sextas, no mesmo horário, é a vez do Cajuru. Pouco antes, ele mostrara pelo celular fotos de casos em que atuou, tiradas com o cuidado de não identificar

pacientes: pedaços de intestino e fígado extirpados por causa de tumores; uma fratura exposta na perna de um motoqueiro; o couro cabeludo arrancado de uma jovem num acidente em parque de diversões. A mais dramática era o rombo na lateral esquerda do tórax de outro motoqueiro, aberto pelo médico para massagear o coração manualmente – última e desesperada tentativa de salvar um acidentado com parada cardiorrespiratória. No caso, não houve sucesso. Imagens que chocariam mais se a dupla repórter-fotógrafo de Ideias não tivesse experiência em reportagem policial. Apesar da rotina massacrante, Matheus mantém bom humor e paciência que rendem elogios espontâneos da equipe em sua ausência. Mas o corpo tem limite, e as necessidades sociais também exigem um freio. - Vou sair do Cajuru, dois anos e meio já foram suficientes. Senão perco a esposa.

05:40

Convívio com a dor

De tanto ver, ou até ajudar a socorrer vítimas do álcool (quem procura o hospital diretamente cruza a porta que ele policia), o vigilante Paulo Soares dos Santos tomou um choque de consciência. Antes de entrar no Cajuru, há três anos, gostava de sair pra “tomar uns goles”.

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terna – há vítimas que perdem até três litros de sangue. Cleverson vai passar pelo raio X, e se constatada a fratura, o rapaz que trabalha com pintura de asfalto passará por um longo período de recuperação. Cleverson é mais um entre os cerca de 900 feridos por acidente de trânsito atendidos mensalmente no HUC. São em média 30 por dia.

- Hoje não bebo, graças a Deus. E quando saio volto mais cedo, de táxi. Aqui você vê que não somos nada. Este “não somos nada” se refere às vidas que se perdem de forma vã. Cabe ao médico a tarefa dolorosa de comunicar a morte à família. Antes, uma assistente social já orientou parentes ou amigos do paciente, frequentemente nervosos ou embriagados, sobre os procedimentos adotados. E se não há nada mais a ser feito pela equipe médica, conta Simone Santos, assistente social há 18 anos, ela já prepara a notícia, adiantando que as esperanças são mínimas. O HUC foi o primeiro hospital de Curitiba a manter serviço social durante 24 horas, desde 1995.

06:00

Carnificina sobre rodas

Dr. Matheus foi acordado para atender o paciente mais grave do plantão. Cleverson de Oliveira de Almeida, 23 anos, foi atropelado na calçada por um carro desgovernado, no Alto Maracanã, Colombo. Ele está consciente e não tem sangramentos aparentes, mas sua, treme e geme de dor. Na sala de espera do hospital, os irmãos Marcela e Paulo Augusto, primos do ferido, estão impacientes e revoltados. Eles contam que o motorista de um Golf deixou um posto de combustíveis na Estrada da Ribeira, ponto de encontro de jovens, fazendo manobras arriscadas. Num cavalo-de-pau, teria capotado, derrubado um poste e acertado Cleverson na calçada. - Estavam o Cleverson, a irmã, primos e amigos. Sorte só um ter sido atropelado –, diz a garota. Guiado pelas dores do paciente e pelo tato, o Dr. Matheus identifica uma provável fratura de bacia. É uma lesão grave que pode levar à morte por hemorragia in34

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06:30

Dando o sangue

Nossa missão está cumprida. A da equipe de socorro, na ativa desde as 19h, termina dali a 30 minutos, mas recomeça dois dias depois – com exceção dos médicos, que têm escala diferenciada. É uma turma que merece respeito: tomar decisões rápidas e acertadas tendo nas mãos o limiar entre a vida e a morte, dia após dia, e com as limitações impostas pela saúde pública brasileira, é tarefa para quem tem pleno domínio dos nervos. Talvez seja melhor nem lembrar que sobre a maca ou sob os tubos há uma história de vida. Para justificar esta devoção ao exercício de salvar vidas, um médico e uma enfermeira usaram a mesma expressão: “é nossa cachaça”. Com a vantagem que bebendo-a não se corre o risco de baixar involuntariamente num plantão de hospital.

Carlos Simon é repóter especial da Revista Ideias


CARLOS ALBERTO PESSÔA Jornalista

Caso de polícia

V

ocê certamente nunca ouviu falar de José Vicente da Silva Filho, das pessoas que mais conhece o nevrálgico problema da in segurança pública brasileira. Ouvi falar dele ao ler texto do economista Roberto Macedo no velho de guerra “Estadão”, conhecido como o “bravo matutino”: Macedo confessou ser Zé Vicente seu guru. Em tempo. José Vicente é coronel da reserva da PM de São Paulo. Mestre em Psicologia Social pela USP, é pesquisador de segurança pública no Instituto Fernand Braudel. Assessorou o governo FHC. Depois de conhecê-lo fiz minhas as palavras do Roberto Macedo; mais! Tive a petulância de indicar José Vicente para assessorar nas questões de segurança, claro, a primeira administração do Beto Richa à frente da Prefeitura de Curitiba. Sei; a segurança pública no Brasil cabe primordialmente às PMs, estaduais; o papel da prefeitura é pequeno, mas nem por isso irrelevante: basta que faça seu dever — limpar ruas, becos e quebradas, urbanizá-los; a bandidagem, como os vampiros, teme a luz e a limpeza. No texto mencionado, Roberto Macedo mostrava outro lado da guerra contra o crime, lado que normalmente não se leva em conta: a organização da polícia. É uma bagunça! E um grande atraso. Veja bem, estamos a falar de coisas simples como o organograma e o fluxograma internos. De coisas que qualquer aluno do primeiro ano de Administração de Empresas detectaria e poria nos eixos. Darei exemplos. Afrouxe o cinto, recline a cadeira, relaxe e, se possível, goze. Patrocinado pelo Banco Mundial, Zé Vicente participou de um programa de pesquisas sobre a criminalidade em Diadema, na grande São Paulo. A pesquisa analisou

567 inquéritos policiais de homicídios – com 618 vítimas. No total, a rapaziada produziu quase 20 mil folhas de documentos! Uma selva selvagem de inutilidades e da mais baixa burocracia, aquela da papelada e dos carimbos. Prisões mesmo que é bom, nada! Ou muito pouco! Quer ver? Dos 567 inquéritos apenas 38 foram esclarecidos... Pode? Isso significa 6,7% do total. Apenas. Ah! Não esqueça. Inquérito esclarecido não quer dizer que tenha havido prisão, condenação e cumprimento da pena; não. Há mais, muito mais. Por incompetência, corrupção pura e simples ou preguiça, a polícia deixou de esclarecer percentual bastante superior de homicídios. Pois em quase 50% dos casos vítima e agressor se conheciam! E em 75% dos casos a vítima estava acompanhada de outra pessoa! Que tal? Preciso acrescentar que boa parte dos homicídios teve testemunhas? O que não permitiu sequer saber o por quê dos crimes em mais de 70% dos casos! Não quero ser chato, mas qualquer comentário me parece totalmente ocioso. No entanto sou obrigado a repetir – tudo se passa em São Paulo, o mais rico e mais populoso estado (província) do Brasil.

Por incompetência, corrupção pura e simples ou preguiça, a polícia deixou de esclarecer homicídios

P.S.: Com todo o respeito: o governador Beto Richa deveria contratar informalmente o José Vicente como seu assessor para segurança dado os níveis fluminenses que a criminalidade atingiu em Curitiba e na região metropolitana. fevereiro de 2011 |

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POR DENTRO DA CÂMARA Acompanhe o trabalho dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba MESA EXECUTIVA O vereador João

IDOSOS A Câmara Municipal apro-

Claudio Derosso (PSDB) foi reconduzido ao cargo de presidente da Câmara Municipal de Curitiba, com o voto de 30 parlamentares. Sabino Picolo (DEM), será o primeiro vice-presidente e Tico Kuzma (PSB) o segundo. Celso Torquato (PSDB) continua como primeiro secretário, na companhia de Caíque Ferrante (PRP), Jairo Marcelino (PDT) e Noemia Rocha (PMDB), respectivamente, segundo, terceiro e quarto-secretários.

vou a criação da Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde de Curitiba, para administrar o novo Hospital Zilda Arns, destinado ao atendimento da população da terceira idade. Inauguração prevista para março de 2011.

ORÇAMENTO A Câmara Municipal

aprovou o orçamento da cidade para 2011. No próximo ano o prefeito Luciano Ducci contará com R$ 4,660 bilhões para administrar o município. Foram incluídas 593 emendas parlamentares. COPA 2014 O vereador Mario Celso

Cunha (PSB) foi indicado pelo governador eleito Beto Richa para assumir a Secretaria Especial para Assuntos da Copa 2014. Atualmente, ele preside a Comissão Especial da Câmara Municipal criada para acompanhar os assuntos relacionados ao Mundial.

TECNOLOGIA O vereador Omar Sabbag

Filho (PSDB) assumiu o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), dentro da equipe do governador Beto Richa. Sabbag é engenheiro, pesquisador e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). FUTEBOL Os vereadores Tico Kuzma

(PSB), Juliano Borghetti (PP) e Roberto Aciolli (PV) estão fazendo valer a atribuição constitucional do Legislativo sobre a aplicação da lei de identificação de torcedores nos estádios de futebol. Solicitam providências ao poder público. SAÚDE A Câmara de Curitiba aprovou

requerimento para a criação da Frente Parlamentar de Prevenção e Combate ao HIV. A iniciativa é de autoria de

diversos parlamentares e pretende a realização de um trabalho conjunto na luta contra a doença. SHOWS As Ruínas de São Francisco

foram palco do show A Pedreira é Nossa!, quando 11 bandas e cinco poetas que trabalharam com Paulo Leminski pediram adesões à campanha que pede a reabertura da Pedreira Paulo Leminski, fechada desde 2008. Iniciativa do vereador Jonny Stica (PT). CONTROLE

Arbitrariedades que possam conturbar a ordem no âmbito da Câmara de Curitiba, originadas em qualquer um dos segmentos do funcionalismo ou do quadro parlamentar serão, a partir de 2011, coibidas pela ação da Corregedoria da Casa.

INQUÉRITO O vereador Professor Galdino (PSDB) negou as acusações feitas contra ele por crime de racismo, utilização do gabinete para campanha eleitoral e afirmações caluniosas a respeito dos demais vereadores. O Conselho de Ética analisará o caso durante o recesso parlamentar.

Câmara Municipal de Curitiba • www.cmc.pr.gov.br R. Barão do Rio Branco, s/nº — cep 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 fax: (41)3350-4737

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Rogerio Distefano Advogado

O original e o plágio

N

osso novo governador entrou no panteão da besteira com a frase infeliz, de perdoar o pecador e punir o pecado. Surpreendeu a frase, não sua intenção, porque se alguém esperava que Beto Richa fizesse diferença jogou fora o voto. Votei nele com uma única esperança, que derrotasse o candidato de Roberto Requião. Sabia que BR imitaria RR ao nomear mulher e irmão para o governo. Afinal o Supremo Tribunal Federal, com o esperado realismo, entendeu que parentes podem ser nomeados para cargos políticos – numa afrontosa assimilação do eletivo com o político. Não esperava que BR fugisse do padrão comum aos políticos e deixasse um fiel companheiro como Ezequias Moreira sem sombra e sem água. Deu-lhe a sombra da sinecura e a água fresca da Sanepar. O novo governador não fez nada diferente do que fizeram Lula e Dilma antes dele, o primeiro incensando José Dirceu, ministro suspeito do Mensalão do PT, a segunda convidando para a posse e oferecendo cálido cumprimento a Erenice Guerra, sua sucessora no ministério e mãe dos filhos lobistas. Seria o caos se BR mantivesse mulher e irmão fora do governo, se alcançasse a noção de que os dois criam um polo de instabilidade no secretariado. Seria o fim do mundo se BR criasse um cordão de saneamento para não se manter contaminado pelos coliformes fantasmais de Ezequias Moreira. Tenho motivos para repudiar o que BR falou sobre o pecado. O primeiro deles é religioso. Falo disso porque transitei por duas religiões: católico até os onze anos por força do batismo, tradição em famílias de origem italiana; adventista do sétimo dia por puro entusiasmo com a vivência da fé que assisti entre os professores do internato; novamente católico, por opção consciente, dos doze aos dezesseis, e ateu desde então. Mas a noção do pecado não sai de dentro de mim, nunca sairá. E das religiões pelas quais transitei trouxe que o pecado é entidade ideal, o pecador é a coisa real. Portanto, pune-se o pecador, porque o pecado continua

em ideia e intenção. Variam as punições ao pecador, algumas, como no islamismo dos antepassados de BR, impõem a amputação das mãos dos ladrões. O cristianismo contenta-se com a penitência, que antecede o arrependimento. BR sequer nos disse que impôs penitência a Ezequias. Ou que Ezequias se arrependeu de pecar com a sogra fantasma. Esse motivo acaba tolerado pelo eleitor realista, BR é ele mais sua circunstância, que fazer? Ele foi candidato a governador, não a Tiradentes. Não veio para mudar, mas para substituir. Já o segundo motivo de minha insatisfação é grave, me leva a insuperável divergência com este governador que faz falta no primeiro minuto de jogo. Ao usar a imagem de pecador e pecado BR cometeu o maior dos pecados: assumiu o discurso de Roberto Requião. Sim, a imagem de perdoar o pecador e punir o pecado é típica, emblemática de RR, a quintessência de seu pensamento, a expressão de seu humor debochado, o exemplo clássico de seu cinismo. Acontece que RR pode usar tal imagem, tem história, personalidade, maldades, ofensas e destemperos em seu currículo que autorizam absolver premiando o pecador e punindo o pecado apenas na retórica. BR não tem currículo para plagiar RR. Teria que se dar pelo menos dois anos de governo para fingir um Requião de centro acadêmico. Beto não tem história como a de RR para afrontar o eleitorado com tamanha falta de pudor. Antes da frase infeliz foi um simpático e mudo deputado, um prefeito sorridente e protegido pela balbúrdia do Palácio Iguaçu. Quando assume, toma a faixa e o discurso de RR. Ora, se fosse para manter o discurso, a gente mantinha o original, ou cópia autenticada, não escolhia um plágio.

Se fosse para continuar com o discurso, a gente mantinha o original, não escolhia um plágio

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CIDADE Thais Kaniak

Obras beneficiam moradores de Tamandaré

Obras de revitalização – eixo estrutural da Grande Cachoeira

M

A população ganhará avenidas mais largas, bem sinalizadas e com mais segurança

ais de 25 milhões de reais foram investidos em obras revitalizadoras no município de Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba. Cerca de 65 mil usuários do transporte coletivo serão beneficiados com a revitalização. A viabilização das obras das principais vias utilizadas pelo transporte coletivo de Almirante Tamandaré é resultado de uma parceria da administração do prefeito do município Vilson Goinski e do Governo do Estado. As obras estão sendo realizadas ao longo da via e estão em fase de conclusão. São elas: drenagem e pavimentação; relocação e ampliação da iluminação pública; construção de galeria de águas pluviais; implantação de calçadas e ciclovias, além de sinalização horizontal e vertical. A faixa da rua passou de seis para 11 metros de largura. 38

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Av. José Milek Filho

Com a finalização destas ações, a população ganhará avenidas mais largas, bem sinalizadas e com mais segurança. As benfeitorias irão permitir maior rapidez nas viagens entre os terminais de ônibus – da sede do município, passando pela Grande Cachoeira, até a divisa com a capital do estado; além de uma interligação com o Terminal da Roça Grande, em Colombo. Os trechos que compreendem a revitalização são: • As Avenidas Domingos Scucato, Prefeito Antonio Jonhson e Francisco Kruger. Estas ruas ligam a sede de Almirante Tamandaré com Curitiba, até a Avenida Anita Garibaldi. • As Avenidas Professor Alberto Piekas, José Milek Filho, Nova Serrana e a Rua Padre Tadeu Diedzik. Elas fazem a ligação da Grande Cachoeira, em Almirante Tamandaré, com Colombo.


ELEIÇÃO 2012 marianna camargo

Fruet larga na frente

G

Foto: Divulgação

ustavo Fruet é o candidato tucano à prefeitura foi uma declaração do próprio governador, que não há de Curitiba. Seu maior obstáculo é interno, pois essa definição neste momento, não há necessariamente o candidato do PSB, Luciano Ducci, pretende a possibilidade de já ter este acordo e me dando total contar com o apoio do governador eleito Beto Richa, liberdade pra que eu possa também ter este diálogo PSDB. Mas Fruet tem os seus trunfos. Cresce a corrente com a cidade para a definição lá na frente. Parte-se que defende a tese de que a melhor solução em Curitiba do pressuposto que é possível buscar uma alternativa é ter dois candidatos da base política de Richa, como entendendo que no momento certo será possível uma aconteceu em São Paulo com José Serra. definição”, disse Fruet em entrevista Com dois candidatos, Richa teria à rádio Banda B. que declarar a neutralidade, pois não poderia se insurgir contra uma candiQueridinho datura de seu próprio partido. Na disputa eleitoral, Fruet sai com De acordo com levantamento do grande vantagem, mostram as pesquiParaná Pesquisas, Fruet teria a prefesas de opinião. A seu favor conta a rência da absoluta maioria dos curitibanos, obtendo larga vantagem sobre o sua condição de candidato à eleição outro candidato, Luciano Ducci, ainda para o Senado no ano passado, quaninexpressivo nas pesquisas de opinião. do fez grande votação em Curitiba. Daí a disputa pelo candidato mais forte, Seu adversário Luciano Ducci nunca o “queridinho” dos curitibanos. Uma passou por majoritária, nem mesmo ala do PMDB nativo quer Gustavo Fruet foi eleito prefeito de Curitiba. Ele era como candidato a prefeito pelo partido, vice e substituiu Beto Richa, que lhe com chances reais de vitória, porém vive deixou no cargo para ser candidato a um clima de rebelião interna. O sonho governador. Gustavo Fruet tem a preferência Fruet precisa ampliar sua penetraque mobiliza boa parte do PMDB, e que da maioria dos curitibanos ção nos bairros periféricos de Curitiba leva esses setores a lutar pela dissolução que um dia foi o reduto eleitoral de seu do Diretório de Curitiba, é justamente pai, Maurício. Ali, o socialista Ducci promover a volta ao partido de Fruet tem bom desempenho por conta do trabalho assistencial para permitir que dispute a prefeitura de Curitiba em que realizou como secretário municipal de Saúde. Mas 2012. Os peemedebistas rebelados acompanham com isso Fruet pretende superar com uma campanha intensa grande interesse a situação dentro do PSDB. Se esse proe um bom plano de comunicação que já estão em curso jeto prosperar, o PMDB de Curitiba terá, pela primeira vez desde 1988, um candidato próprio competitivo para para rivalizar com a atividade oficial do prefeito. disputar a prefeitura. Com Fruet candidato tudo seria muito diferente, analisam os peemedebistas rebeldes. Se Nada fechado o PMDB conseguir atrai-lo para suas fileiras, as eleições Para aqueles que já dão como certo o apoio de Richa de 2012 podem ficar empolgantes. a Ducci, Fruet diz que considera natural a proximidade Essas articulações políticas ainda são um esboço dos dos dois, mas que teve garantias do governador de que conchavos que teremos o ano que vem. Pela prévia, vem ainda não há nada fechado. “Estive perguntando, e aí por aí uma boa disputa. fevereiro de 2011 |

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CAPA Carlos simon

Devassa no Porto de Paranaguá

Q

uando o Brasil e o mundo descobriram que o Porto de Paranaguá transformara-se num entreposto de saque de cargas, cobrança de propinas, sevícia de licitações e outras ações criminosas, caiu não só o prestígio perante a comunidade portuária internacional de um dos principais esteios da economia paranaense. Todo o discurso megalomaníaco sobre o Porto, salvo da ruína funcional e das garras dos imperialistas e entreguistas na visão messiânica do senador eleito e ex-governador Roberto Requião, também afundou, tal e qual o navio chileno que há seis anos despejou sujeira aos borbotões na baía parnanguara antes de tocar o fundo do mar. Se antes pesava contra a administração portuária da era dos irmãos Requião a pecha da ineficiência, por conta de trapalhadas como a falta de dragagem do Canal da Galheta, a Operação Dallas, deflagrada em 19 de janeiro pela Polícia Federal, em parceria com a Receita Federal e sob acompanhamento do Ministério Público

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||fevereiro fevereirode de2011 2011

Federal, expôs agora uma intrincada rede de corrupção que teria como chefes de quadrilha justamente ex-cabeças do Porto. A investigação da PF começou em dezembro de 2009 para apurar denúncias de desvio de carga, mas foi muito além e detectou a prática deste e de vários outros crimes durante a antiga gestão do Porto: a fraude na licitação que determinou a compra da draga chinesa incumbida de desassorear a Galheta; o favorecimento à empresa Petroil para prestar serviços de limpeza de silos; e a fraude ligada à proposta de dispensa de licitação para a contratação de empresas ligadas ao ex-superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Daniel Lúcio Oliveira Souza, para execução de estudos ambientais. A Justiça Federal expediu 39 mandados de busca e apreensão, nove de prisão temporária (cinco dias), e um de

Foto: www.appa.pr.gov.br

Operações Dallas e Águas Turvas, realizadas pela Polícia Federal, trouxeram à tona 8 anos de corrupção do governo de Roberto Requião


constava o nome de Eduardo. Mas teve que engolir em seco quando o delegado-chefe da operação, Jorge Fayad Nazário, confirmou ter solicitado a prisão do irmão do ex-governador e também do ex-secretário especial do governo Luís Mussi (eleito suplente de senador de Roberto Requião), que só não foram autorizadas porque o juiz federal de Paranaguá Marcos Josegrei da Silva não viu indícios de formação de quadrilha contra ambos – único entre os crimes apurados que justificaria a prisão temporária. Roberto Requião chegou a momentos confessionais: “Não tenho dúvidas da ocorrência de corrupção no Porto, só não envolvam meu irmão indevidamente. Tudo deve ser apurado.” O ex-governador admitiu ainda que a nomeação de Daniel Lúcio para a superintendência da Appa “pode ter sido um erro” – erro, por sinal, cometido mesmo depois que setores do Porto o alertarem sobre o histórico desencorajador do antigo superintendente.

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prisão preventiva (até 30 dias), este contra Daniel Lúcio. Mas nem a exibição farta de provas e novas denúncias baixava a guarda da defesa do ex-governador. Através de sua ferramenta de comunicação predileta, o microblog Twitter, Roberto Requião vestiu-se de guardião da honra do mano Eduardo, antecessor de Daniel Lúcio na chefia da Appa e principal beneficiário da fraude da compra da draga, segundo relatório investigativo da PF. Afirmou que “não perdoava o pecado nem o pecador”, mas confiava no irmão. Escreveu que Eduardo denunciou desvio de soja no Porto; que já fizeram busca e apreensão na casa do irmão do Lula e depois pediram desculpas. Num arroubo de poesia, postou que “ouro puro não teme a chama da calunia (sic), da injuria (sic) e da difamação, vence o calor e se solidifica como metal singular”. Em outro momento, desafiou a “imprensa canalha” a publicar o comunicado da Justiça Federal que listava os dez presos da Operação Dallas, entre os quais não

fevereiro fevereiro de de 2011 2011 ||

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Foto: www.appa.pr.gov.br

portuária como todo o Efetivado na Appa em governo Requião. agosto de 2008, quando Eduardo foi obrigado a deiOs seis meses de xar o posto pela edição da interceptações gravadas súmula antinepotismo por com autorização judicial parte do Supremo Tribunal podem tornar-se a princiFederal, Daniel Lúcio teria pal fonte de provas da PF ação direta nas fraudes das na apuração deste crime, Eduardo Requião dirigiu por cinco anos e meio o Porto, e teve como licitações, segundo a PF. já que a propina não foi maior entusiasta o irmão e ex-chefe Roberto Requião efetivamente distribuída. Uma das empresas favoA Justiça Federal de Parecidas por contratos era a Ecoport, proprietária de uma mansão de três andares ranaguá barrou a compra da draga em agosto de 2010. no requintado balneário Atami, em Pontal do Paraná. Lá, a PF encontrou contas em nome de Daniel Lúcio e da Triste fim mulher, além de um enorme quadro na parede com a foto As suspeitas de práticas criminosas são a cereja amarda filha do casal. Mas Daniel Lúcio devia obrigações à gente maior. O ga do bolo dos cinco anos e meio de gestão de Eduardo, delegado Nazário já havia confirmado que US$ 5 milhões que teve o próprio irmão e ex-chefe como maior entusias(quase R$ 9 milhões) — ou 20% do valor de aquisição ta. É fato que houve melhorias no Porto de Paranaguá, da draga — seriam desviados e repassados a gerentes da como a revitalização da sede e a concretagem das vias de Appa “e outras pessoas influentes no Estado”. Com base acesso, que facilitou a chegada dos caminhões — embora em gravações telefônicas e trocas de e-mails, o relatório houvesse contestação pela aplicação de recursos do Porto do inquérito da PF, divulgado em reportagem da Gazeta num serviço municipal. Mas a administração do psicanado Povo, detalhou o esquema: Daniel Lúcio relata em lista perdeu-se em picuinhas que redundaram num saldo conversas que Eduardo Requião — citado pelo singelo final negativo, segundo especialistas na área. Entre elas, apelido de “Crocodilo” — ficaria com metade da propi- a recusa em embarcar soja transgênica, o que afastou na (US$ 2,5 milhões), e os outros 50% seriam divididos muitos compradores e atingiu produtores paranaen­ses; a teimosia em brigar com diferentes órgãos como o Ibadepois da licitação. Entre os supostos beneficiários estariam Luís Mussi ma — pelo impasse na definição de competências para e o ex-reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) licenciamento ambiental —, Conselho da Autoridade Carlos Augusto Moreira Júnior, que foi chefe de gabinete Portuária, Receita Federal e Capitania dos Portos; e por do ex-governador e candidato do PMDB à prefeitura fim a interminável novela do assoreamento do Canal da de Curitiba em 2008 — suspeitas que, se confirmadas, Galheta, problema que desde 2006 restringe a atracação aproximam muito de Requião esta rede de práticas de- de grandes embarcações com suas cargas completas, o lituosas. Também foi preso sob acusação de fazer parte que encarece o frete e afeta a competitividade do Porto. do esquema Agileu Carlos Bittencourt, o funcionário do Entre contratos embargados e licitações mal sucedidas, Tribunal de Contas do Paraná encarregado de fiscalizar a administração de Eduardo e também a de seu sucesa administração portuária. sor Daniel Lúcio foram incapazes de realizar a urgente A PF aponta ainda que parte destes R$ 5 milhões dragagem no acesso ao cais. também seria usada para alimentar o caixa 2 de campaTodas estas mancadas renderam a Eduardo diferentes nhas eleitorais. Como nenhum dos presos na operação multas aplicadas pelo Tribunal de Contas do Estado do Dallas é político, o curso das investigações é acompa- Paraná (TC-PR). Mas agora, os processos pelos quais o nhado com todo o interesse pelo grupo tucano ligado irmão de Requião responde deixam a área administrativa a Gustavo Fruet, o terceiro colocado na última eleição e migram para a criminal. No mesmo despacho em que para o Senado. O deputado estadual Douglas Fabrício negou a prisão temporária a Eduardo Requião e Luiz (PPS) chegou inclusive a sugerir a implantação de uma Mussi, o juiz Marcos Josegrei da Silva considerou que “há CPI para passar a limpo não apenas a administração ainda várias referências a irregularidades cometidas por 42

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Foto: divulgação

Estima-se que a quadriEduardo durante sua gestão como superintendente lha tenha desviado pelo do Porto, havendo menção menos dez mil toneladas a remessas ilegais de altas de grãos por ano. “Esta e somas em dinheiro feitas uma imensidão de outras por ele para contas bandenúncias foram levadas cárias no exterior, bem a dezenas de órgãos fecomo de que mantinha derais e à presidência da Daniel Lúcio relata em conversas que Eduardo Requião ficaria com em casa, sem comprovaRepública, mas os resulmetade da propina (US$ 2,5 milhões), e os outros 50% seriam ção de origem, o montante tados até então eram pídivididos depois da licitação de U$S 2 milhões — quase fios” aponta Luiz Antônio R$ 4 milhões”. Fayet, representante da Por e-mail, dois dos investigados na Operação Dallas Associação Brasileira do Comércio Exterior no Conselho também referem-se ao fato de Eduardo Requião guardar da Autoridade Portuária (CAP) do Porto de Paranaguá. dólares em apartamentos em Curitiba e Rio de Janeiro, Segundo ele, os prejuízos nestes oito anos da adminise um outro cita que o irmão do ex-governador mantém tração do Porto sob o governo Requião “são contados na uma conta bancária nos Estados Unidos. Tais suspeitas escala dos bilhões (de reais)”, e não apenas pelo desvio remetem à denúncia do suposto furto de 180 mil dólares de grãos. “Congestionamentos, elevação de tarifas, cargas no apartamento de Eduardo por parte de uma empre- do Paraguai que deixaram de vir para cá por litígio, tudo gada, em julho de 2010, episódio que levou a Justiça e isso custou muito caro ao Porto”, afirma.

Há várias irregularidades cometidas por Eduardo durante sua gestão no Porto, como menção a remessas ilegais de dinheiro para o exterior e de que mantinha em casa um montante de U$S 2 milhões o Ministério Público a intimá-lo a explicar a origem de um volume de dinheiro que seria bem maior. Até agora, nenhuma explicação foi dada. Para piorar, uma arma foi recolhida durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão no apartamento de Eduardo no bairro do Batel, em Curitiba — equipamento de uso meramente esportivo que seria do filho do ex-superintendente da Appa, apressou-se em defender o “advogado” Roberto Requião no Twitter.

Piratas do Porto Tão ou mais grave que os demais crimes era o esquema de desvio de cargas montado no Porto. Importadores desconfiaram da fraude e reclamavam da frequência do desfalque de até 2% da tonelagem total de grãos após embarque em Paranaguá. As investigações apuraram que o furto ocorria, principalmente, pela adulteração da balança de precisão do Porto ou diretamente na esteira que dá acesso aos porões dos navios, chamada Dallas.

A PF diz não haver indícios do envolvimento de Eduardo Requião ou Daniel Lúcio no desvio de grãos. Mas este fato criminoso evidencia falhas no sistema de controle do escoamento de safra, que começaram a ser corrigidas tão logo a turma de Requião deixou os gabinetes centrais de Paranaguá. Há cerca de três meses, a empresa MCA Sul foi contratada pelo Porto para desenvolver o projeto de modernização do corredor de exportação. A nova administração da Appa nomeada pelo governador Beto Richa deu continuidade ao processo. Apenas alguns dias antes da deflagração da Operação Dallas, foi anunciada uma série de medidas, entre elas a implantação de balanças de fluxo que tornarão o embarque de granéis mais seguro no Porto. Hoje, a pesagem é realizada apenas pelas empresas particulares, o que dá margem a fraudes, apesar da fiscalização da Receita Federal. Agora uma segunda balança confirmará o volume da carga imediatamente antes do acesso ao navio. A expectativa é que o novo sistema funcione dentro de um ano. fevereiro de 2011 |

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Foto: Denis Ferreira Netto

Tão logo as fraudes vieram à tona, o atual superintendente da Appa, Airton Vidal Maron, baixou uma portaria mandando auditar todos os contratos firmados em administrações anteriores e que estão sendo investigados na Operação Dallas. São ações necessárias para resgatar a credibilidade do Porto de Paranaguá, já arranhada antes mesmo da revelação da série de crimes. Mas, para Fayet, o escândalo cria um paradoxo

O ex-governador Roberto Requião minimizou os escândalos que aconteceram no Porto durante sua gestão como governador do Estado

que pode reverter positivamente à imagem do Porto. “Foi um alívio para a comunidade internacional. Quem viu um Porto exemplar tornar-se o lixo do sistema portuário brasileiro, agora vê seu renascimento. A atual administração do Estado já entrou na mesma linha da Polícia Federal e da Receita Federal: fazer uma faxina”, afirma o membro do CAP de Paranaguá. Ou seja, uma luz pode surgir do caos do Porto.

Últimas Soltos Dez pessoas foram presas na Operação Dallas. Destas, nove foram liberadas depois de uma semana, quando venceu o prazo da prisão preventiva. O ex-superintendente Daniel Lúcio permanece preso diante decisão da Justiça de prorrogar sua prisão por ser considerado o chefe da quadrilha e para que as investigações não sejam prejudicadas. Único preso Daniel Lúcio foi preso no dia 19 de janeiro no Rio de Janeiro e trazido dia 25 para Curitiba. Ele seguiu para o Centro de Triagem II, em Piraquara. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal em Curitiba, eles o interrogarão aqui. No Rio, ele se recusou a responder aos questionamentos da polícia. Com Daniel, segundo a PF, foram encontrados R$ 65 mil em dinheiro, escondidos dentro de um armário e uma duplicata no valor de R$ 800 mil, emitida por um terminal do Porto de Paranaguá. Segurança redobrada Após visitar Daniel Lúcio na penitenciária de Piraquara, o deputado estadual José Domingos Scarpelini enviou um ofício ao secretário de segurança, Reinaldo de Almeida Cezar, solicitando vigilância 44

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redobrada para o preso. Segundo Scarpelini, Daniel está bastante acuado e como o caso envolve “pessoas poderosas”, como o deputado define, é fundamental a segurança permanente para evitar qualquer risco à integridade física e moral do detido. Sem passaporte Scarpelini pediu, no dia 25 de janeiro, o recolhimento, devolução e cancelamento do passaporte diplomático de Eduardo Requião. Scarpelini alega que “o passaporte lhe permite ausentar-se do país legalmente, dificultando a apuração dos ilícitos penais adscritos”. PF nada apurou contra Agileu Bittencourt, do Tribunal de Contas De todas as prisões feitas pela Polícia Federal para apurar desvios e corrupção no Porto de Paranaguá, uma não tem explicação ou justificativa, diz o advogado criminalista Figueiredo Basto. É a de Agileu Carlos Bittencourt, funcionário do Tribunal de Contas do Paraná, responsável pela fiscalização de 15 secretarias e órgãos estaduais cujos orçamentos somaram R$ 14,8 bilhões em 2010. O presidente do Tribunal de Contas do Paraná, Fernando Guimarães, afirmou que o inspetor do TC, Agileu Bittencourt, não deverá ser afastado

de suas funções no cargo. De acordo com ele, não há elementos que comprovem o envolvimento de Bittencourt nos desvios no Porto de Paranaguá, investigados pela Polícia Federal. O inspetor solicitou férias. Guimarães também afirma que o relatório referente a abril de 2009 ficará a cargo de outro inspetor do Tribunal de Contas. Denúncia em 2007 Exonerado da Diretoria Técnica do Porto de Paranaguá pelo ex-governador Roberto Requião (PMDB) após denunciar irregularidades no terminal marítimo, o engenheiro Leopoldo Campos afirma que os esquemas desvendados pela Operação Dallas já ocorriam antes mesmo de Daniel Lúcio de Oliveira Souza assumir a superintendência do Porto, em 2008. Campos disse que muitos dos crimes cometidos foram denunciados por ele a Requião, à Polícia Federal e ao Ministério Público (MP) em 2007, durante a gestão de Eduardo Requião. Sem intervenção federal O governador do Paraná Beto Richa disse que a possibilidade da intervenção do Governo Federal no Porto de Paranaguá não deve acontecer. Atualizado no fechamento da revista, dia 27 de janeiro de 2011, às 16 horas.


Marianna Camargo Jornalista

Gota de Chanel

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azz, bep bop, Charleston, ritmos que dançavam juntos com a moda feita na década de 1920. A silhueta era lânguida, sem formas, sem curvas, vestidos soltos. Os tornozelos eram a sensação, o fetiche dos salões animados pelas jazz bands. Sobrancelhas e olhos negros, destacados na face pálida e lábios rubros. Nostálgico, envolvente, misterioso, perfumado, assim os anos 20 viveram. No Brasil, a Semana de Arte Moderna de 1922 reunia os intelectuais e desconstruia conceitos artísticos nas obras de Oswald e Mario de Andrade e na pintura de Tarsila do Amaral (para citar alguns) formando uma identidade cultural tipicamente brasileira. No mundo, o estilo art-déco predominava trazendo a arte construtivista, preocupada com a funcionalidade. A literatura se reinventava com Ulisses de James Joyce e os Contos da Era do Jazz de Scott Fitzgerald. Na arte, os surrealistas Joan Miró e Pablo Picasso revelavam outra estética, enquanto Dali sonhava as películas ácidas de Luis Buñuel. As fantásticas experiências dadaístas de Man Ray. O expressionismo alemão era uma onda de sentimentos avassaladores, imprimindo sua força na arte da gravura. O cinema soviético representado nos filmes de Sergei Eisenstein. Charles Chaplin com sua mudez realista contrapõe os filmes violentos de gângster americanos. No glamour hollywoodiano, os astros eram Rodolfo Valentino e Douglas Fairbanks. Era o começo do fim do mundo, com a máxima american way of life. Mas também foi a era das inovações tecnológicas. A eletricidade, a moderni-

zação das fábricas, do rádio e o início do cinema falado. A dançarina Josephine Baker ousava sempre em seus trajes e apresentações. As mulheres começaram a usar cabelos curtos, maquiagem. Os vestidos começavam a mostrar as pernas, ombros e braços. Livraram-se dos espartilhos. E frequentavam óperas. Nas cabeças os chapéus cloche, enterrados até os olhos, antes obrigatório, ficou restrito ao uso diurno no corte à la garçonne. A ideia era livrar-se dos conceitos, reinventar, experimentar, divertir-se, ser mais leve e prático, em todas as manifestações. Artísticas, políticas, culturais e sociais. E a moda vestia essa tendência. Coco Chanel surgiu com seu estilo único e inovador, clássico, confortável, símbolo de elegância até hoje. O indiscutível pretinho básico, os cortes retos e perfeitos, as pérolas, as correntes douradas, os blazers, o xadrez. E as calças compridas para as mulheres. Estilo eterno. Ah, Mademoiselle Chanel. Como pensar a moda sem ela, como pensar a moda sem ser fantasia e desejo e ao mesmo tempo sem ser realidade que ela acompanha e veste. A moda é sonho, e também realidade. O que mais pode ser assim na vida? Tão efêmera e fundamental que Marilyn Monroe ao responder o que vestia para dormir, respondeu: “uma gota de Chanel n° 5”. E isso basta. fevereiro de 2011 |

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moda THAIS KANIAK Fotos Eduardo Reinehr

Curitiba

na passarela da moda A capital paranaense conquista seu espaço no cenário com direito à medalha de ouro. E os profissionais do ramo aproveitam o bom momento para formar um polo que favoreça ainda mais o crescimento do setor

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izem que o clima frio é propício para as pessoas se vestirem de maneira mais elegante. Talvez seja por isso que Curitiba tem se revelado uma cidade tão charmosa em sua identidade visual dentro do mundo da moda. Mas não é apenas a influência climática que tem colocado a capital do estado sob os holofotes do universo fashion. Seria até uma injustiça creditar todos os méritos nas temperaturas baixas e no céu cinzento da cidade, características que por muitas vezes imitam o fog londrino. As honras da conquista do espaço neste mercado vão para os profissionais do setor de moda e vestuário. Eles têm corrido atrás de aperfeiçoamento e qualidade para investir em suas criações. E o resultado é o fortalecimento de Curitiba neste circuito. Para Marcelo Surek, 42 anos, presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem, uma prova disto é a consolidação

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do Paraná Business Collection* (box) e o investimento das empresas do ramo em moda, marca própria e valor agregado. “O movimento está grande. Curitiba está buscando mercado. E a melhor maneira de conquistar é com a marca própria”, afirma Surek. O interior do Paraná já era conhecido por ser um polo do setor vestuário. Algumas cidades são destaques neste segmento. Maringá e Cianorte são conhecidas como grandes produtoras de moda feminina e jeans. Apucarana é a capital nacional do boné. Imbituva ganhou espaço com seus tricôs; enquanto Terra Roxa com a moda bebê. Surek explica a principal diferença entre a capital e os municípios do Noroeste: “Cianorte e Maringá têm uma produção mais intensa e de pronta entrega no atacado. Enquanto Curitiba tem uma produção menor com o foco voltado para o varejo ou, então, para o atacado por meio de representantes comerciais”.


MEDALHA DE OURO Rita de Cássia Graf, 53 anos, é empresária do ramo do vestuário há quase duas décadas. Ela é dona da Dentro D’Água, uma confecção de moda praia, natação e fitness, em Curitiba. A empresa existe há 13 anos e tem 17 pontos de venda na capital paranaense, além da loja matriz que fica no mesmo endereço da fábrica. E uma filial será inaugurada neste mês dentro de uma academia de ginástica. A marca ganha espaço, não só no mercado local, mas também no nacional e internacional. A Dentro D’Água já exportou para países como Espanha, Irlanda, Itália, Portugal e Estados Unidos. Os jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro, em 2007, foram um reconhecimento do trabalho da empresária e de seus colaboradores. Além de terem sido uma vitrine e tanto. Os collants usados pelas meninas da ginástica rítmica foram fabricados na confecção de Cassinha, como a empresária é conhecida. Ela conta que recebeu da Confederação Brasileira de Ginástica o convite para fazer as peças. A empreendedora começou a confeccionar collant para sua filha Maria Esther, que fazia ginástica olímpica no colégio. Hoje, Maria Esther tem 30 anos e é médica infectologista, mas a sua passagem na ginástica da escola foi o gancho para que a emA empresária Rita de Cássia Graf, a Cassinha, presa de Cassinha entrasse neste mercado. Como descobriu seu negócio na moda praia, natação e fitness na época do evento a Confederação era sediada em Curitiba e o patrocinador oficial dos jogos não fabricava collants, surgiu a oportunidade para a empresária. As roupas que levaram a marca Wanderlei Silva. A meta de 2011 para Cassinha é estabilizar a Dende Cassinha no Pan estrelaram o primeiro lugar do tro D’Água como uma empresa de material esportivo pódio com medalha de ouro. “É um prazer, uma conquista ver que as pessoas de qualidade – principalmente de natação, que é a sua estão usando e gostando”, relata. Ela pontua como dife- bandeira principal. rencial da Dentro D’Água a tecnologia e a qualidade dos A empreendedora relata a necessidade de participar produtos. Cassinha conta com mão de obra, aviamento de cursos para aprimorar o conhecimento e fazer parte e maquinário especializados. de grupos para que empresários do setor troquem exE não foram apenas as meninas do ouro da ginástica periências. que usaram as roupas fabricadas em solo curitibano. De acordo com uma pesquisa da Rais Caged, em 2009 Lutadores de artes marciais também vestiram as peças tinham 504 estabelecimentos de confecção e artigos do de Cassinha. Ela conta que sua empresa produziu, vestuário e acessórios em Curitiba e Região Metropolitana. entre os anos de 2004 e 2007, os calções e camise- Até novembro do ano passado, estes estabelecimentos tas de lycra da marca Wand, do lutador de vale-tudo geraram 3.789 empregos.

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POLO de moda Cassinha faz parte de um grupo de 37 empresas que são associadas ao TecModa – Polo Tecnológico da Industria Têxtil e da Confecção de Curitiba e Região Metropolitana. Luciana Bechara, 44 anos, é a presidente do TecModa. Ela é empresária do ramo, dona da confecção de moda bebê e infantil Be Little. Ela explica que o polo é uma entidade sem fins lucrativos e tem como objetivo unir o segmento, além de promover e ajudar as empresas e todos os profissionais ligados à moda, como estilistas, fotógrafos e produtores. A associação existe, oficialmente, desde outubro de 2009. Antes disto, no início do ano de 2008, oito empresários já se reuniam para encontrar uma maneira de dar uma guinada no setor em Curitiba. Segundo Luciana, a inspiração para eles foi o Polo Tectex de Americana, no estado de São Paulo. Apesar de bem sucedida, a formação das APLs (Arranjo Produtivo Local) nos municípios do interior do Paraná não pôde ser seguida na capital. Para uma APL ser constituída, as atividades dos envolvidos devem ser da mesma cadeia. Como no grupo existente em Curitiba os exercícios não obedeciam este padrão, os empresários resolveram criar o polo. Luciana explica que o TecModa recebe suporte financeiro de sindicatos e o apoio do Sebrae com cursos, consultorias e espaço físico. Os associados pagam uma mensalidade a partir de 50 reais para sustentar o polo. Ela relata que o maior desafio é a Luciana é presidente do Polo de Moda que reúne 37 empresas do ramo em Curitiba e Região Metropolitana sobrevivência dos negócios nos primeiros quatro anos de vida e a falta de mão de obra especializada. “Temos dificuldade em encontrar costureiras. É uma profissão que exige três anos de experiência em conjunto, é uma delas. Assim como treinamentos no mínimo. E hoje as pessoas estão se formando em específicos para vendas no atacado e no varejo feitos estilismo, não se interessam mais em corte e costura”, pelo Sebrae e também uma visita à feira de maquinário afirma a presidente da associação. em Blumenau, em Santa Catarina. As pretensões para este ano são estruturar a profissio­ E não só as costureiras fazem falta no mercado. Outros profissionais do setor como modelistas, por exemplo, também nalização dos colaboradores do ramo, a realização de um estão escassos. Segundo Luciana, além da pouca mão de evento de varejo para mostrar a moda de Curitiba e a criaobra, existe o problema da ausência de especialização. “Em ção de um parque industrial na Região Metropolitana. Curitiba, não existe curso para pilotista, que é a costureira “Já temos prefeituras interessadas. Recebemos proposresponsável em fazer a peça piloto; nem para encarregado tas de Araucária, Campo Largo e São José dos Pinhais”, de fábrica, uma espécie de gerente de produção”, aponta. afirma Luciana. Outra pedida em 2011 é o incentivo Luciana pontua os principais objetivos do polo: unir fiscal para favorecer o crescimento do segmento. os empresários do segmento de moda e mobilizar entidades para que ajudem no fortalecimento do setor. Durante VISÃO este pouco mais de um ano de existência do TecModa, Juliano Yukihiro Kitani, 33 anos, é empresário do a empresária já lista as conquistas. Uma central de compras, que melhora as condições de ramo do vestuário há cinco anos, mas já faz 15 que está pagamento para as aquisi- dentro deste segmento. Kitani tem uma empresa de borções realizadas dados e serigrafia, a A1 Serigrafia – Kitani Prestadora de 48

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Serviços para Confecção. O negócio conta com uma equipe de desenvolvimento com 14 funcionários. São estilistas, designers e serígrafos. E este é o diferencial da A1. Além de oferecer serviços terceirizados para as confecções, desenvolve produto e imagem. Hoje a empresa tem mais de 40 clientes e 90% deles são de Curitiba. Kitani também é associado do TecModa. Ele faz parte do grupo desde quando foi fundado e tem uma visão otimista para o polo nos próximos anos. “É um belo empreendimento”, diz sem pestanejar. Ele lista os benefícios que a entidade traz aos empresários. “O resultado é de melhorias para as empresas. Por enquanto não é sinônimo de fechamento de novos contratos. Mas possibilita descontos para compras em conjunto e consultorias com preços especiais”, compartilha. Ele reafirma a constatação da presidente Luciana: a falta de mão de obra especializada é a principal dificuldade do setor na capital do estado. Kitani lamenta por nem todos os empresários do segmento fazerem questão de entrar no polo. “É relativamente estranho. Tem gente que não quer

O empresário Kitani presta serviço tercerizado e desenvolve produtos para confecções

fazer parte do grupo. Porém, os integrantes do TecModa são muito unidos”, finaliza.

Paraná Business Coll nse ection: o evento o ficial da moda paranae

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aulo Martins e Nereide Michel são os coordenadores do evento oficial da moda do Estado. Para Martins, o Paraná Business Collection surgiu com a proposta de dar visibilidade ao melhor da moda paranaense. O objetivo é destacá-la como uma opção de consumo para quem busca qualidade, estilo e design. “Depois de quatro edições podemos observar que a meta está sendo alcançada. O número de lojas que ofertam hoje o produto paranaense para os seus clientes aumentou”, analisa o coordenador. Já para os estilistas e marcas, o evento representa um incentivo para a expansão dos negócios. “Até mesmo estilistas que não participam se sentem motivados a investir na qualidade e produtividade da sua marca e abrir loja própria”, afirma Martins. Ele ainda declara que o momento é favorável para a movimentação dos negócios e que o Paraná Business Collection tem o seu papel nesta fase positiva da moda paranaense. Nereide reforça este crescimento do segmento em Curitiba e o impacto do evento na evolução da moda local: “Bastar dar uma circulada pela cidade e verificar quantas novas lojas voltadas ao produto paranaense inauguraram nos últimos meses”. Ela acredita que a moda do Estado tem todos os atrativos para orgulhar os conterrâneos ao vesti-la. “O design e o estilo se traduzem em uma identidade paranaense que é um diferencial no

calendário brasileiro de lançamentos para a temporada. Nossos estilistas já tinham estes diferenciais no processo criativo. Eles apenas precisavam de uma passarela para mostrar a sua assinatura nas coleções”, conta Nereide. A quinta edição do Paraná Business Collection será realizada entre os dias 14 e 19 de fevereiro e vai apresentar o lançamento das coleções do Inverno 2011 de oito marcas, três estilistas paranaenses e um convidado especial. Além dos desfiles, o evento contempla outras ações. O Show Room de Negócios que traz roupas e acessórios paranaenses e mobiliza compradores dos principais estados do País. O Ciclo de Atualização em Moda terá em sua programação oficina de criação, seminário, debates, encontro de coordenadores dos cursos de moda do Paraná e o Prêmio João Turin de Incentivo aos Novos Designers de Moda, que terá o tema “Minha Cidade Vira Moda”. Esta edição ainda terá uma novidade: um dia a mais na agenda do evento. Este dia será dedicado aos Novos Talentos da Moda Paranaense. Dez novos designers vão mostrar o seu trabalho para o mercado de confecção com a apresentação de mini-coleções. O Paraná Business Collection é uma realização da FIEP, Sebrae-PR e do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário, que inclui nove sindicatos da área da confecção. fevereiro de 2011 |

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ENTREVISTA Sarah Corazza

Viagem à Cinelândia curitibana

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Foto: divulgação

esgate de memórias. De quando o simples ato de XV de Novembro e estava em dúvida sobre o lugar correto ir ao cinema exigia um rito todo especial. Homens no antigo Cine Ópera. Recorri a um grupo de velhinhos engravatados e as mulheres com seus melhores que estavam ali engraxando sapatos. Naquele dia, mais vestidos percorriam o centro de Curitiba e esperavam o do que saber a localização exata do Ópera, saí com várias sinal do cinema tocar, avisando que o filme iria começar. histórias contadas por todos aqueles senhores, saudosos Para relembrar essa época, o frisson que os grandes de um tempo que ficou para trás, dos melhores filmes rolos de filmes criavam nas pessoas entre as décadas que ali haviam entrado em cartaz. Hoje, ir ao cinema é de 50 e 70, as jornalistas Luciana Cristo e Nívea um processo completamente diferente daquele ritual feito Miyakawa reuniram 20 senhores com todo o cuidado e toda a pomem uma pequena sala do Cine pa necessários. Naquele dia nasceu a ideia de resgatar todos aqueles Morgenau, inagurado em 1919. depoimentos, ainda que sem saber Nesta sala, eles relembraram exatamente como isso aconteceria e dos letreiros luminosos nas noites de estreias dos filmes e do fascínio que acabaria se transformando em que alguns sentiram quando viram um livro. A Nívea, que também pela primeira vez aquele mundo de adora cinema entrou no projeto cores, efeitos e sons. e nos dedicamos durante um ano para que déssemos a cara inicial do Essa viagem no tempo, cheia de relatos e fatos curiosos da época, projeto final 24 Quadros. estão reunidos no livro-reportagem 24 Quadros: uma viagem pela CiQuais as principais dificuldades nelândia curitibana. para levantar os dados? A obra descreve as caracterísDescobrimos que existe pouca coisa ticas da Cinelândia como o roteiro a respeito especificamente desses de um filme, onde os principais cinemas de rua. Há publicações sobre o modo de vida dos curitibanos personagens são as pessoas que no século XX, produção histórica vivenciaram este tempo, como o e fatos marcantes do período. Esse gerente e administrador de cinetipo de pesquisa foi bem importante mas, Zito Alves, o dono do Cine para contextualizarmos as histórias Morgenau, Jorge de Souza e o Nívea Miyakawa e Luciana Cristo que queríamos contar, mas não dentista e grande conhecedor de cinema, Harry Luhm. São deles as histórias e curiosi- existe muito sobre as salas de cinema. Então focamos nos dades da época que fazem do livro 24 quadros leitura depoimentos de pessoas que vivenciaram esse período obrigatória para os amantes do cinema e da história da e que constituem a parte mais forte e especial do livro. capital paranaense. Quais resultados vocês esperam alcançar com o livro? Confira a entrevista realizada com as autoras: Quisemos resgatar uma parte da história da cidade que estava se perdendo e que achamos importante para reconstituir Como surgiu a ideia do livro e sua temática? Ainda na faculdade, resolvi fazer um trabalho de fotografia os hábitos e costumes de Curitiba nas décadas passadas. sobre os antigos cinemas de rua de Curitiba, de comparar De uma pincelada rápida do início das salas de cinema de como era o espaço na década de 1950, por exemplo, com Curitiba, abordamos a “época de ouro”, cheia de glamour, recuperação de imagens antigas, e verificar o que esses das grandes salas da Boca Maldita e arredores, como os cinemas tinham se tornado. Na época, muitos eram igrejas saudosos Cine-Theatro Avenida (hoje HSBC) e Cine Ópera ou bingos já fechados, espaços deteriorados. Fui até a Rua (atualmente Lojas Pernambucanas). Também pesquisamos 50

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um pouco sobre os cinemas de bairro, do Cine Picolino ao Morgenau, com passagens para a transferência gradual de todas as salas de cinema para dentro dos shoppings da cidade. Uma das coisas mais interessantes que já podemos perceber nesse pouco tempo desde o lançamento do livro é o carinho das pessoas com essas antigas salas de cinema. Cada um traz uma história nova, diferente e pessoal, que também poderia integrar os relatos que contamos. Quais foram os principais personagens na cena da Cinelândia curitibana? Corre-se o risco aqui de se deixar de fora pessoas com histórias riquíssimas, porque eu realmente acredito que cada um que participou desse tempo e frequentou essas salas no centro de Curitiba é especial e contribuiu da sua maneira. Curitiba tem muitos “Totós” (personagem do filme Cinema Paradiso). Mas o ex-gerente e ex-projecionista Zito Alves, falecido há poucos anos, foi realmente uma pessoa querida dessa cena cinematrográfica curitibana. Ele passou toda a sua vida se esforçando de algum modo para melhorar os cinemas da cidade, sem contar sua contribuição para a distribuição de filmes no Paraná. A dedicação de Jorge de Souza, dono do cine Morgenau (hoje decadente, com programação estritamente pornográfica), também foi bastante especial. Pouca gente sabe, mas o Morgenau foi um dos primeiros cinemas de Curitiba, era uma sala respeitável, no bairro Cristo Rei, que seu Jorge começou a frequentar quando criança. Além do cinema, seu Jorge mantinha um cineclube, chamado Anníbal Requião, com reuniões mensais com pessoas que viveram esses momentos, para assistir a filmes de faroeste. Assistir a algumas dessas reuniões faz qualquer um voltar no tempo. Um personagem mais novo, que hoje tem salas de cinema nos shoppings de bairro de Curitiba, Milton Durski, conviveu muito com vários outros personagens da Cinelândia de Curitiba e batalha para manter vivos os seus sonhos. Porque gerenciar cinemas, mesmo hoje, fora desse circuito maior das grandes redes, é coisa para quem é realmente fascinado pela atividade, as dificuldades do setor podem ser desanimadoras.

e a segurança do shopping para ver filmes, é um processo normal. Mas o poder público pode investir mais do que faz para manter uma programação rica e diferenciada fora dos grandes complexos de cinemas. Das salas mantidas pela Fundação Cultural de Curitiba, todas fecharam nos últimos anos, com exceção da Cinemateca. É uma outra coisa, não dá lucro, não leva grandes multidões, mas é necessário manter uma programação alternativa, com filmes experimentais. Existe um projeto - que seria até 2012 - para que as salas do Ritz e do Luz voltem no complexo da Rua Riachuelo, fazendo parte da revitalização do local. Se isso realmente vai acontecer, é preciso esperar para ver. Além disso, não temos em Curitiba o interesse de grandes grupos privados em investir no setor de cinema de rua. O caso do Cine Plaza, na Praça Osório, é um exemplo disso. Nos últimos tempos de Plaza, que estava com muitas dívidas, houve até um movimento para que alguém ou algum grupo assumisse o negócio. Mesmo com a sinalização da prefeitura que poderia haver isenções fiscais para possíveis empreendedores, nenhum grupo se interessou. E mais um cinema de rua fechou. Em outras grandes cidades brasileiras temos bons cinemas fora dos shoppings, algo que por aqui parece que nem foi cogitado.

Hoje, ir ao cinema é um processo completamente diferente daquele ritual feito com todo o cuidado e toda a pompa

Quais as principais carências apresentadas por Curitiba nesta área? Os tempos mudaram, as pessoas preferem a comodidade

Quais aspectos mais marcantes vocês encontraram durante a pesquisa? A vontade e também a necessidade dos nossos personagens em contar as suas vivências com o cinema. Encontramos pessoas absolutamente viciadas em cinema, que não recebiam “recompensa” nenhuma por isso. São pessoas para os quais o hobby do cinema constitui praticamente toda a sua vida. A memória dessas pessoas também é de se impressionar. No começo até ficávamos meio desconfiadas quando alguém lembrava com todos os detalhes ao citar um acontecimento durante a estreia de um determinado filme, num determinado cinema, numa determinada hora. Quando íamos checar, tudo se confirmava. Quando algo é realmente importante na vida de alguém, isso não desaparece tão facilmente.

24 Quadros. Luciana Cristo e Nívea Miyakawa. Travessa dos Editores (dezembro de 2010). fevereiro de 2011 |

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FOTOGRAFIA Dico Kremer

Ora (direis) fotografar estrelas!

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érgio Mendonça não perdeu o senso nem ficou pálido de espanto ao olhar a beleza do céu noturno. E fascinado por essa beleza decidiu registrá-la. Mas até atingir a excelência das imagens aqui mostradas percorreu com perseverança e paciência um longo caminho. Nascido no interior de São Paulo e criado em Porecatu, Paraná, chegou em Curitiba em 1975. Como a maioria dos apaixonados pela arte fotográfica, deixou de lado tudo aquilo que pudesse desviar-lhe do seu caminho e começou, em 1979, um curso de fotografia. Teve como principal professor um dos grandes fotógrafos brasileiros e aficionado pelo fotoclubismo: Helmuth Wagner. No começo da sua carreira fotografou um pouco de tudo: books, publicidade, reproduções técnicas, coberturas fotográficas, fotos industriais, fotografias panorâmicas. Paralelamente interessa-se por outro assunto, ou melhor, outro tema: a astrofoto, a fotografia do céu, dos astros – cometas, estrelas, planetas, o sol, a lua. Começou com algumas fotos em filme mas o advento da fotografia digital possibilitou-lhe sensíveis avanços no registro das imagens. Também começaram os desafios e Mendonça põe-se em campo para solucioná-los. O seu lado inventor brilha: constrói telescópios, motor para a cabeça do tripé para a câmera acompanhar o movimento de rotação da terra e algumas outras invenções. Adquiriu grande conhecimento de astronomia e astrofísica e desde 2001 embrenha-se em lugares longínquos onde a luminosidade da cidade não ofusca a visão noturna do céu. Para fazer este seu trabalho pessoal, criativo, enfrenta a chuva, a garoa, o frio, o calor, os insetos, os animais, as feras, a escuridão, a solidão. O resultado deste esforço enorme é a beleza das suas fotos, as quais registram um cenário sempre mutante do universo e instigam a nossa imaginação. Estão aí, nestas belas imagens, a noite, o céu noturno, a via láctea, as constelações, as estrelas, os planetas, os cometas, o silêncio dos espaços infinitos. Com estas fotografias Mendonça viu e ouviu a beleza dos astros. E fotografando-os, amou-os e os entendeu. 52

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Izabel Campana Cronista

Big Brother Cabeça

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em início mais uma edição do Big Brother. O programa de TV que tem como princípio o voyeurismo dos telespectadores. Esse interesse pela vida alheia é algo muito comum, não preciso dizer a você, caro leitor. Eu tenho, você tem. Mas a vida dos BBBs não me causa muito interesse, e não quero aqui cair no clichê de dizer que é por serem uns desmiolados. Alguns alegam que se o BBB reunisse gênios, estudiosos ou escritores lhes causaria maior simpatia. Não acredito. Até porque, como me disse um amigo, Maria da Conceição Tavares de biquíni também não atrai Ibope. Também não tenho maior fascínio pela intimidade de meus autores favoritos. Infelizmente, a febre do Big Brother é transmitida mais fácil do que a gripe suína. Os livros do tipo disse-me-disse se proliferam nas prateleiras das parcas e poucas livrarias que temos. Obras que não passam de boataria sobre a vida de personagens históricos estão virando best sellers. Não são mais do que um desfile de estereótipos direcionado a público preguiçoso e alcoviteiro. E não diferente é o mundo das letras. Vêm crescendo uma onda de análise literária banlieusard que leva mais em conta a vida íntima dos escritores do que o próprio texto. Parece que é moda avaliar a obra com base na biografia do autor. Pior. Numa biografia não autorizada, numa ideia caricatural da intimidade alheia. Cresce a

tendência a explicar a genialidade do escritor por um aspecto isolado de sua vida privada. A partir daí, as linhas explicativas derivam das questões freudianas de cada um. Há quem atribua à mãe a manifestação de um talento. Outros, preferem investigar a vida sexual do artista. Um terceiro pode ter fixação por sofrimentos de infância. Uma das linhas analíticas mais significativas dessa crítica literária é a produzida pelos hipocondríacos de plantão. Machado de Assis foi grande porque era epilético! Manuel Bandeira nada seria não fosse a tuberculose. Todo respeito aos enfermos, mas epiléticos e tísicos sem talento algum se proliferam nos hospitais para negar a teoria dos indiscretos da literatura. E como não falar daqueles que justificam o próprio vício ao dizer que Vinícius não escreveria nada sem a companhia do scotch? Se assim for, quero defender aqui que todos os grandes escritores foram glutões incuráveis, como já comprova o exemplo de Alexandre Dumas a meu favor. Não. Não quero saber se Shakespeare tinha tendências homossexuais ou se Camões era um beberrão, ou qualquer especulação mesquinha que queiram fazer sobre um autor. Bom é ler a obra. Gosto de saber sobre o escritor aquilo que me conta, através dos textos e não por algum tipo de fofoca literária. Maior do que essa vidinha de quem pegou quem, quem saiu com quem, é a literatura, que atravessa os tempos sem respeitar o limite preconceituoso dos paparazzi da intelectualidade. fevereiro de 2011 |

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MÚSICA Karen Fukushima

Todos os sons do

mundo A maior e mais antiga oficina de música da América Latina é paranaense

A

mais importante oficina de música da América Latina acontece há 29 anos em Curitiba, capital paranaense. O evento reúne professores do mundo inteiro e alunos vindos de todas as partes do Brasil. Hoje, os mesmos instrumentistas e cantores que participavam das oficinas como alunos nos idos de 1980/1990, voltam à cena na condição de professores durante o dia e dão show nas noites de concertos. E a Oficina de Música de Curitiba tende a crescer ainda mais. Durante a abertura, que aconteceu no Teatro Guaíra no dia 9 de janeiro, o ex-presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e atual Secretário de Cultura do Paraná, Paulino Viapiana, garantiu que “a partir de agora a oficina terá apoio irrestrito do governo federal” e firmou o compromisso de descentralizar a cultura no Paraná. “Vamos construir um modelo que permita levar a Oficina de Música a outros locais além da capital paranaense. Este ano demos o primeiro passo, levando apresentações ao litoral do estado”. Durante os anos em que foi presidente da FCC, Viapiana enfrentou dificuldades junto ao governo para realização do evento. Para a presidente da FCC, Maria Christina de Andrade Vieira, que assumiu o cargo há pouco tempo, é uma honra iniciar a gestão com acontecimento deste porte. “A cidade deve se orgulhar de manifestações artísticas como essa”. Na ocasião, a presidente aproveitou para lançar o selo co-

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memorativo da trigésima edição da Oficina que acontece em janeiro de 2012. A Oficina de Música de Curitiba é a maior e mais antiga promovida por um órgão público. Reúne certa de 1,5 mil estudantes de diversas áreas musicais e professores de vários continentes durante o mês de janeiro. Oferece mais de 100 cursos e é dividida em duas fases: a primeira de Música Erudita e Antiga e a segunda de Música Popular Brasileira (MPB). Realizada pela FCC, Instituto Curitiba de Arte e Cultura (ICAC) e patrocinada pela Petrobras, a Oficina trabalha, nos mais de 100 cursos, com as mais variadas vertentes da música, entre elas Orquestras Sinfônicas, Conjunto de Sopro, Grupos de Música de Câmara, Grupos de Chorinho, Música Instrumental Brasileira e Música Eletrônica, além das vozes que formam o Ópera Studio.

PARANAENSES NA OFICINA Com prestígio e reconhecimento em toda a América Latina, a oficina dá oportunidade para as mais variadas trocas de experiências, nacionais e internacionais. Na fase de Música Erudita e Antiga por exemplo, a Oficina terá grupos residentes, como a Orquestra do Algarve de Portugal e o Fry Street Quartet dos Estados Unidos. Mas os paranaenses não ficam de fora.


Foto: Fabio Kwasnieski

Foto: Luiz Cequinel

A cantora e professora de estro Júlio Medaglia, autor canto lírico Neyde Thomas, do livro biográfico “Neyde presença constante nas ediThomas vida e arte”, a desções da Oficina de Música de creve com carinho e humor Curitiba, nasceu em São Paulo, “muito além do seu talento porém escolheu Curitiba para inexplicável, a Neyde é alNeyde Thomas é homenageada com a publicação de livro viver com sua família desde guém que tem amor pelas biográfico e concerto com os principais nomes do canto lírico e pessoas que a rodeiam; amor 1990. No ano de 2007, reda música erudita nacional. pela vida”. cebeu a mais alta distinção Pioneiro no Brasil, o que o Legislativo pode proporcionar, o título de cidadã honorária de Curitiba, por Terra Sonora encanta pela riqueza de suas apresensua contribuição com a cidade. “Curitiba é a cidade que tações. Com base em extenso levantamento de temas escolhi para viver com minha família e trabalhar naquilo étnicos e tradicionais de várias partes do mundo, o grupo que mais me realiza: a música”. transcreve e rearranja as canções a serem interpretadas. Neyde Thomas estreou como Gilda na Ópera Rigoletto, Formado em 1994 por músicos da cena curitibana, marde Verdi, no Theatro Municipal de São Paulo. Residiu no ca presença na Oficina em quase todas as edições. Este ano exterior por vinte anos, desenvolvendo uma carreira subiu ao palco do Teatro SESC da Esquina sob a regência artística internacional após vencer o Concurso Interna- de Plínio Silva, acompanhamento de Liane Guariente, no cional Achille Peri, na cidade de Reggio Emilia (Itália). vocal; Carla Zago, no violino, Rogério Gulin, na viola caipiA cantora contracenou com grandes nomes como ra; Adriano Mottin, na Concertina, flautas doce, metalofoLuciano Pavarotti, Plácido Domingo, Cezare Siepi, Alfredo ne e percussão e Giampiero Pilatti, nas flautas transversais. Kraus e Montserrat Caballé e apresentou-se nos maiores Para começar, tambores da Nova Guiné. Em seguida canteatros e salas de concerto do mundo, com destaque ção norueguesa que relembra a época dos trovadores, para o Metropolitan Opera House (Nova York), Deutsche depois canções da Turquia, Chile, Espanha e Macedônia. Opera (Berlim Ocidental e Oriental), Teatro Angelicum Não é preciso explicar. O repertório é prova da mistura (Milão), Palais de Beaux Arts (Bruxelas), Palácio de La inusitada que o grupo apresenta. Música - Barcelona, Palácio del Congresso (Madri), Porém a riqueza, originalidade e qualidade não são Theatro Municipal de São Paulo e Teatro Municipal suficientes para mantê-los em destaque durante o ano. Plínio lamenta a falta de reconhecimento pelos curitibado Rio de Janeiro. O currículo invejável e extenso da grande dama do nos. “Curitiba carrega muito o marketing cultural, mas o canto lírico brasileiro não a fez perder a humildade. O ma- cenário real é bem difícil. É um ótimo lugar para morar,

No palco, o Terra Sonora interpretou melodias de várias partes do mundo que farão parte do sexto álbum do grupo.

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Foto: Divulgação

Foto: Marcos Campos

mas é uma cidade bem difícil de mostrar o trabalho. no Sebo”, “No TUC tem Choro” e a “Roda de Choro do Você tem que matar um leão por dia”. Conservatório de MPB”. Como clarinetista o músico já Em setembro de 2010, o Terra Sonora completou 16 soma mais de 50 participações em CDs paranaenses e anos e desde então tem se apresentado com seis músicos. nacionais e dividiu o palco com grandes nomes da música O número de cantores e instrumentistas varia de acordo brasileira como Altamiro Carrilho, Joel Nascimento, Chico com o repertório selecionado. As canções que apresen- Mello, Itiberê Zwarg, Proveta, Robeto Sion, Lea Freire, taram neste show são mais melódicas e intimistas. União Victor Santos, André Mehmari, entre outros. Nos palcos da Oficina, Sérgio apresentou-se com a Orde temas gravados nos outros cinco CDs com músicas inéditas. Estas canções serão registradas no sexto disco questra à Base de Sopro e com o grupo Mano a Mano Trio. Dos grupos mantidos pela Fundação Cultural de Curido grupo, que gravará ainda este ano graças à Lei de tiba, o Vocal Brasileirão Incentivo à Cultura. levanta a plateia sempre A Oficina, como que se apresenta. Criado citado anteriormente, em 1994 pelo maestro e está na 29º edição e poscompositor Marcos Leite sui duas fases: Erudita e (1953-2002), o grupo acuPopular. Mas o que poumula prêmios. Foi quatro cos sabem é que a oficina vezes vencedor do prêmio de MPB surgiu dez anos Saul Trumpet de Melhor depois da Erudita e Clássica. Não por menos. A Grupo Vocal do Paraná música popular brasileira (1997, 1998, 1999 e 2002). é riquíssima e a Oficina Há três anos sob a regência de Vicente Ribeiro, ficaria incompleta sem compositor e arranjador, contemplar as raízes tuo Brasileirão passou a piniquins. dedicar-se à montagem Dos 19 anos da Ofide shows homenageando cina de MPB, os últimos grupos vocais brasileiros, dez tiveram o músico como o Quarteto em Cy e instrumentista Sérgio o Boca Livre. Albach como diretor artístico, destaque no ceDurante a Oficina, o nário musical paranaenBrasileirão apresentou o Show Duetos, que fez suse desde a década de 80. cesso em 2010. As canções “Fiz a oficina de música selecionadas foram comnos anos 80, como aluno”, relembra Sérgio, que postas exclusivamente agora está do outro lado. para cantar a dois, explica Além da direção artística, o regente Vicente Ribeiro. o músico faz parte tamA linguagem musical enbém do quadro docente riquecida com elementos teatrais como iluminação, da Oficina. No alto: Apresentação do grupo Mano a Mano Trio, com Sérgio Albach, Glauco Sölter e Vina Lacerda. Acima: Brasileirão, grupo figurinos e cenografia, Versátil, o instrumantido pela Fundação Cultural de Curitiba, levantou o público com emociona o público. mentista é requisitado o espetáculo Duetos. O grupo hoje é compara a gravação de CDs, posto por Suzie Franco, participação em concertos, espetáculos musicais e teatrais, arranjos e composi- Renildes Chiquito e Cida Airam (sopranos), Fernanda ções. Assumiu em 2002 a direção artística da Orquestra Sabbagh, Beth Lopes e Carol Pacheco (contraltos), Bruno à Base de Sopro de Curitiba, grupo com o qual produ- Mazanek, Levi Brandão e Reginaldo Nascimento (tenores), ziu o CD “Mestre Waltel” e espetáculos que levaram ao André Dittrich, Marcos Appel e Freddy Branco (baixos). público a pesquisa e a valorização da música brasileira. Nos instrumentos, Beth Fadel (piano), Glauco Sölter (baixo), Como pesquisador do choro, criou os projetos “Choro Vicente Ribeiro (violão) e Endrigo Bettega (bateria). 60

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VICENTE FERREIRA Professor e Gastrólogo

Baalbek

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inho, pão e queijo vieram do deserto do outro lado do Mediterrâneo para quem tem origem europeia. Isso significa que na história da gastronomia todos passamos pelo Oriente Médio em alguma época de nosso passado. Cedo eu me familiarizei com a comida árabe. Meus pais acolheram os primeiros sírios e libaneses que escolheram nossa cidade para viver. Eles sempre foram gratos. E a maneira mais generosa da gratidão dos árabes é oferecer a sua comida. Lembro das minhas férias. Ao chegar à casa de meus pais, aquelas senhoras árabes corriam para me cumprimentar e para me agradar levavam iguarias maravilhosas. Eu me sentava à mesa e elas permaneciam ao redor, esperando que eu degustasse, apreciasse e me deliciasse com todos aqueles pratos. Hoje, mato a saudade dessa época quando visito um restaurante que oferece o melhor da cozinha árabe em Curitiba. Não costumo recomendar restaurantes, mas este vale a pena. O Baalbek tem uma cozinha fantástica. Sob a alta direção de Leila Mansur e seus filhos, Guilherme, o chef, e Leonardo, que nos recebe. Peço sempre o Mezzé, que é uma porção de cada um das dezenas de pratos do cardápio. E volto ao prazer de quem reencontra uma porção de alegria que experimentou no passado.

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Mezzé Pequenas porções de todos os pratos (por pessoa)

Porções Kibe cru Lábne (coalhada seca) Homus (pasta de grão-de-bico) Pasta de berinjela Tabule Berinjela árabe Sfiha de carne Kibe frito Kafta Abobrinha recheada Charuto de folha de parreira Arroz com lentilha Pão sírio

Sobremesa Sorvete de creme com bananas caramelizadas Sorvete de creme com amoras caramelizadas Sorvete de creme com brownie Sorvete de creme

Sob encomenda Costela de carneiro recheada Bucho de carneiro recheado Arroz marroquino Arroz árabe Arroz baalbek Peixe crocante Camarão crocante Peixe ao molho de tahine Mini berinjela recheada Chich Barak Sopa de lentilha Fatuch Kibe de peixe assado Kibe de peixe assado recheado com camarão Rachue Salada de pepino com coalhada Palmito ao molho de tahine Fate Arroz com aletria Charuto de repolho Fassule Carneiro assado Sfiha de verdura Sfiha de carne fechada Mini sfiha de carne Doces árabes (Maamoul – Aristelaus – Ataif)


LUIZ CARLOS ZANONI  Jornalista apreciador de vinhos

A ilha que ganhasse estrutura e condições de enfrentar mares turbulentos e porões escaldantes, os produtores o tornaram mais alcoólico e doce, adicionando aguardente vínica ao caldo, à moda do que já se fazia no Douro, com o Porto. Mas o que definiu o caráter único da bebida foi um lance do acaso. Alguns tonéis retornaram nas caravelas com uma bebida mais evoluída do que a da mesma safra não embarcada. Concluiu-se que o calor exercia um efeito positivo, apressando o envelhecimento e agregando complexidade e aromas especiais. Hoje, dois sistemas são usados na produção. O mais comum é o da estufagem: o vinho é mantido por até três meses em cubas de inox, à temperatura de 50° (as cubas são dotadas de serpentinas por onde circula água quente). Os melhores Madeiras, contudo, provém dos chamados canteiros, armazéns onde envelhecem em grandes tonéis de madeira, à temperatura ambiente, por períodos de até vinte anos. Predominam na ilha as variedades Malvasia, Sercial, Verdelho, Boal e Negra Mole. O Madeira é tradicionalmente doce. Tem cor alourada, âmbar, aromas de melaço, frutas secas, noz, café. Encorpado na boca, traz uma acidez alta, indispensável para equilibrar o conjunto. Acompanha sobremesas e queijos fortes e faz a parceria ideal com charutos. Mas há, também, os Madeiras com grau menor de doçura, e os secos, estes oriundos sobretudo da casta Sercial, ótimos para aperitivos. alvarovelho.net

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prestígio é desproporcional ao tamanho. Com suas cinco dezenas de quilômetros de comprimento por duas de largura, a Ilha da Madeira parece ainda menor quando vista do alto, um grão de terra em meio ao oceano sem fim. A fama não se deve às plantações de banana, ou aos preciosos trabalhos em bordado dos quais o povo tanto se orgulha, mas ao vinho que ali se produz e que há séculos leva o nome do lugar aos mais remotos países. Junto ao Porto e ao Jerez, o Madeira compõe a tríade dos grandes vinhos fortificados do mundo. A história é longa, recua ao tempo dos mares nunca dantes navegados. Descoberta em 1419 pelos portugueses, a ilha logo foi colonizada e se tornou, no período das grandes navegações, um ponto importante de reabastecimento dos navios nas rotas para o Brasil e a Índia. As primeiras mudas de parreiras foram mandadas por D. Henrique. Cultivá-las nunca foi fácil. A ilha brotou de erupções vulcânicas ocorridas há quatro milhões de anos. Uma cadeia montanhosa divide o território em duas partes, com o ponto mais alto a 1.862 metros. Vegetação exuberante, clima ameno, relevo dramático, com falésias vertiginosas elevando-se do Atlântico. Boa parte dos vinhedos foi implantada ao longo das encostas, em canteiros sustentados por muros de pedras. Vistos de longe, lembram degraus escalando os paredões. O vinho Madeira como o conhecemos, licoroso, começou a ser produzido em fins do século XVII. Para

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prateleira

Eu passarinho

Livros

Comunista de casaca

Saiu a biografia de Friedrich Engels, o parceiro e provedor de Karl Marx. Engels escreveu a quatro mãos com Marx livros considerados fundamentais para o movimento comunista. Seus nomes se tornaram indissociáveis na literatura marxista. O autor da biografia é Tristram Hunt, professor da Universidade de Londres e figura conhecida por seus programas de história na TV Britânica. Ele mostra um Engels magnata vitoriano de origem alemã que gostava de prostitutas, bebia ótimos vinhos e vivia a vida louca em suas escapadas a Paris. O livro é “Comunista de Casaca”, editado pela Record, nas livrarias por R$ 59,90. 64

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A poesia de Mário Quintana voltou às livrarias. O verso marcado por um humor jovem e com tons biográficos. A editora Globo repõe três livros nas prateleiras: A Rua dos Cataventos, Canções e Sapato Florido. São justamente os três primeiros livros de Quintana, que mostram um dado revelador de sua consciência poética, diz a pesquisadora Tania Franco Carvalhal, responsável pela organização.

Futebol explica o mundo O futebol é mais do que um esporte, ou mesmo um modo de vida: abrange questões complexas que ultrapassam o jogo. Os clubes frequentemente inspiram uma devoção mais intensa que as religiões. Quem diz é Franklin Foer, que para fazer esse livro-reportagem viajou o mundo do Irã à Bósnia e analisou o intercâmbio entre o futebol e a economia global. Da editora Jorge Zahar, 224 páginas.

Corpo re-construção O livro é resultado do trabalho de doutorado em Artes da londrinense Fernanda Magalhães. A artista, fotógrafa e professora universitária reúne na obra construções, desenhos, pinturas, fotos e textos que usou para desenvolver a sua tese. Assim fornece ao leitor uma leitura de intensidades, onde o dentro e fora não se diferenciam. A autora nos permite entrar na intimidade de um processo construído por fragmentos de memória, desejos e dúvidas em exercício ficcional e autobiográfico, despertando emoções e empatia e nos faz perceber que o segredo da artista é o de ser, um ser humano comum. Lançado em janeiro pela Travessa dos Editores.


Exposições Filme

Foto: Synval Stocchero. Coleção Synval Stocchero. Acervo: DPC/FCC

A história do crescimento de Curitiba pela lente de Stocchero Cento e vinte imagens fundamentais para compreender a expansão urbana de Curitiba a partir de meados da década de 50 do século passado. São fotos captadas por Synval Stocchero de 1940 até 2007, poucos meses antes de seu falecimento, que agora são reunidas numa exposição organizada pela diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural de Curitiba. O trabalho do Patrimônio Cultural começou em 2009 com os originais deixados pelo fotógrafo que foram disponibilizados por sua família. Integrado ao acervo da Fundação Cultural de Curitiba, a Coleção Synval Stocchero, hoje com­ posta por apro­ximadamente 400 imagens, enriquece o patrimônio formado por importantes coleções já preservadas. “Com ações como essa, a Fundação Cultural reafirma seu compromisso com a difusão do patrimônio cultural da cidade e traz à apreciação pública, material inédito de um legado que, certamente, promete ainda muitas descobertas”, afirma a pesquisadora Maria Luiza Baracho. Entrada franca, até 02/03/11, no Memorial de Curitiba.

Esquinas das ruas Ébano Pereira e XI de novembro na década de 1960.

Antes da Chuva

Charges e caricaturas da Curitiba do início do século XX

A exposição “Factos da actua­ lidade: Charges e caricaturas em Curitiba, 1900 – 1950” reúne 108 imagens distribuídas em dez painéis que mostram os diversos temas discutidos na sociedade curitibana do período, os quais refletem a mentalidade da época (anticlericalismo, modernidade, política, condição da mulher, problemas de infraestrutura urbana). Entrada franca, até 26/03/2011, no espaço cultural Casa Romario Martins.

Com direção de Milcho Manchevski, Antes da Chuva (Before the Rain – 1994) é uma produção da República da Macedônia, França, Inglaterra. São três histórias entrelaçadas em meio aos conflitos étnicosreligiosos entre os macedônios ortodoxos e mulçumanos albaneses. Palavras: Kiril, um jovem monge vive em um monastério medieval isolado nas montanhas. Sua rotina é quebrada com a chegada de Zanira, uma menina albanesa, que é perseguida por um grupo que a acusa de ter matado um parente. Kiril a esconde sem o conhecimento dos superiores e é expulso do monastério. Rostos: Anne é editora de uma agência de fotos, em Londres. Ela se vê dividida entre dois homens: Nick, seu fiel marido e Aleksander, fotógrafo de guerra. Mas um incidente em um restaurante muda tragicamente sua vida. Imagens: Aleksander é um premiado fotógrafo que decide voltar para seu país, a Macedônia. Idealista, ele viaja e reencontra seus parentes. Presencia a intolerância, uma guerra fraticida e cruza o caminho de Kiril e Zamira.

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CAMILLA INOJOSA Cronista

Um conto. Um sonho Foto: flickr_all sizes

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ecebeu a notícia. Gritou. Pequenas manifestações agudas de felicidade. Estridente, mas feliz. Não conseguia se conter. Era provavelmente o dia mais feliz da sua vida. Enfim, publicava. Um conto, um sonho. Podia gritar, devia gritar, os outros deviam gritar, um grito geral, a maior manifestação estridente de todas as representações de felicidade. Um grito mundial em favor da sua publicação. A notícia fora dada pela amiga. A confirmação no site da revista. Pensou nos grandes escritores. Na angústia criadora, na demora da resposta dos editores. Começou a pensar em livros. Angustiou-se. Viu-se publicada, na tela. A angústia se foi. A felicidade lhe tomou. Era verdade. Seu conto, seu sonho. No dia seguinte recebeu um exemplar da revista. A publicação em mãos. Uma revista, um conto, um sonho. Único exemplar enviado pelo editor. Outros ainda viriam. Porém, amou, de pronto, aquele exemplar. Era a materialização de um sonho. Passou o resto do dia agarradinha

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a ele. Aquele cheirinho de papel impresso. Aquele cheirinho de sonho rea­ lizado. Pensou em mostrá-lo a todos, mas, não poderia permitir que mãos estranhas o tocassem. Era seu. Só seu. Largou-o apenas por um único instante. Precisava tomar banho. Ao sair do chuveiro, deparou-se com o marido, na cama, lendo-o. Admirou a cena por um instante. Mas gritou. Não os gritinhos estridentes de felicidade. Um grito grave. Uma grande manifestação de ódio. A revista, seu único exemplar, dobrado pelas mãos do marido ensandecido. Louco. Tomou o exemplar da mão dele. Cuidadosamente. Após, bradou em alto e bom som. Além dos gritos, manifestou o ódio através de palavras. Impublicáveis. Que insulto. Qualquer ser humano capaz sabe que nenhuma revista deve ser dobrada. Em especial, aquela revista... Capa e contracapa não devem se encontrar. Um erro que, ao marido, custou a cama. Dormiu no sofá, em companhia do cachorro. Ela, na cama, em companhia da revista.

Na manhã seguinte, juras de amor. Prometeu à revista a ela se dedicar, e impedir que qualquer pessoa a dobrasse. Acariciou-a. Ao cachorro que carinhosamente abanava o rabinho, deu bom dia. Ao marido, o olhar sinalizava que o dia seria difícil. Foi trabalhar em companhia da revista. Seria outro dia comum, se não fosse o conto, o sonho. Na volta para casa, em paz, desculpou o marido. Amaram-se. Feliz, deu um último olhar para a revista, o marido, o cachorro e agradeceu por tê-los. Adormeceu. Acordou com pequenos latidos do cachorro. Manifestações de carinho. Sonolenta, entendeu que ele queria brincar. Abriu os olhos, tranquila. Observou o marido que ainda dormia. Levantou-se. Na sala de jantar, o cachorro a esperava. Sentou para acariciá-lo e percebeu a revista. Dilacerada. Picada. Brincadeira de cachorro. Gritou. Um grito grave. Naquela tarde o marido chorou a morte do cachorro. Ela, a da revista.


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foto: divulgação

ISABELA FRANÇA

Criativa e genuína

foto: Alice Rodrigues

Do frequente contato com a cena artística e da necessidade de transcender suas esculturas efêmeras de plantas e flores, nasceu o viés artístico de Manu Daher para criar instalações cenográficas. Tudo muito impactante e original, como ela e seu trabalho mais conhecido do grande público. “Meus cenários são uma extensão do trabalho com materiais naturais, sempre muito orgânicos e conceituais, se estruturam a partir da concepção do espetáculo a ser realizado agregando valor estético à obra e, por vezes, sugerindo uma linguagem simbólica complementar ao conteúdo apresentado”, conta.

Passarela O espaço ocu-

pado na última década pelo Crystal Fashion, que teve sua última edição no ano passado, deverá ser preenchido por outras iniciativas. O LAB Moda Curitiba, criado pelo estilista Júnior Gabardo e pelo fotógrafo Daniel Sorrentino, deverá encerrar no final de abril, com uma Semana de Moda, no Museu Oscar Niemeyer. Serão quatro dias de desfiles com a apresentação de trabalhos criados ao longo do curso. Quase uma centena de jovens estilistas, produtores, maquiadores e fotógrafos de moda estão participando do projeto, iniciado em janeiro.

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Autodidata, fez poucos, porém, ótimos cursos de aperfeiçoamento e instrução cenográfica. Começou com o premiado catarinense Fernando Marés, no Curso Permanente de Teatro do Teatro Guaíra e, mais tarde, com José Carlos Serroni, arquiteto e cenógrafo paulista, membro do Centro de Pesquisa Teatral, com trabalhos para a TV Cultura, Globo e importantes montagens como Sonhos de uma Noite de Verão, Tristão e Isolda, Tartuffo, Ópera do Malandro, Os Saltimbancos e muitas outras. Manu já criou para o Grupo Fato; para os músicos Glauco Sölter, Carlos Careqa e Arrigo Barnabé; para as cantoras Clarissa Bruns e Rogéria Holts. Assinou o Especial Cantata de Natal do Teatro Positivo; Romeu e Julieta de Maurício Vogue e Nena Inoue, a turnê da Camerata Antiqua de Curitiba e a abertura da temporada da Camerata em 2010, com a atuação da atriz Letícia Sabatella. Neste janeiro, Manu Daher abriu a temporada 2011 da Camerata Antiqua, na Oficina de Música, com participação da musicista e compositora Marlui Miranda. O trabalho feito a partir de vasta pesquisa da cultura indígena rendeu rasgados elogios.


Jazz TOQUe De MIDas

foto: Naideron Jr.

Há quem garanta que o centro de convenções do Parque Barigüi irá se transformar no mais moderno espaço de eventos de Curitiba, pelas mãos do empresário curitibano Oriovisto Guimarães. O projeto, que parece concorrer sozinho na licitação prevista para meados de fevereiro, teria inspiração no ExpoUnimed, instalado no campus da Universidade Positivo. Uma passarela de vidro ligando as áreas de estacionamento ao centro de eventos estaria no projeto.

QUaNTO rIsO O atelier curitibano do criativo Gilberto Mendes está em ritmo de carnaval. De lá estão saindo esculturas gigantescas de pierrôs, colombinas e acrobatas, inspirados nos artistas do Cirque du Soleil, para ambientar o Praia Mole Park Hotel, no carnaval que encerra a temporada de verão da festejada The Week, a balada gay mais concorrida da América do Sul. Uma avant prémiere mais comportada do que será a festança momesca foi vista recentemente na Liqüe, na comemoração dos 20 anos da Bematech.

O empresário, que deixou a reitoria da universidade no ano passado e atualmente divide seu tempo entre Miami e Curitiba, estará na cidade no período para acompanhar de perto o processo de abertura das propostas.

cortesia Existe coisa melhor do que ganhar algumas amostras dos docinhos de uma festa? Pois bem, a novidade das festas infantis é a marmitalembrancinha. Em embalagens de alumínio, com etiquetas personalizadas, os convivas recebem ao sair uma seleção dos mais mais da mesa de doces. Todos amam!

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Corrida SP-Rio , O Desafio dos 600K

foto: Kraw Penas

foto:arquivo pessoal

ISABELA FRANÇA

foto: divulgação

MACHU PICCHU

chocolate Márcia Oliveira acaba de instalar a sua Satis Fudge em novo endereço. No quartier comercial mais elegante da Avenida 7 de Setembro, entre a Bazaar Fashion e a Mercearia Bresser, o atelier de fudges de receita australiana estreia neste fevereiro.

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A jornalista, publicitária e produtora de eventos Cris França, a advogada Rizza Hauer e o jornalista Rodrigo França fizeram um roteiro pra lá de agradável nesta virada de ano. O trio decidiu conhecer o Peru em alto estilo. Seguiram o roteiro de luxo entre os pontos turísticos e cidades mais visitadas do país. Cuzco, Machu Picchu, Lago Titicaca, Arequipa, Vale Del Colca, Nazca e Lima foram as paradas do grupo. O destaque, porém, ficou para os trens da Peru Rail, administrada pela Oriente Express, e os hotéis Monastério, em Cuzco; Tambo Del Inca, em Urubamba, no Vale Sagrado; e o exclusivíssimo Titilaka, com seus 18 quartos à beira do curioso lago, onde centenas de famílias vivem sobre as ilhas flutuantes de Uros. Quem pensa que o destino é só para mochileiros está redondamente enganado.

Flor de laranjeira A primogênita do casal Neuza e Carlos Madalosso, Giovana, à casa torna no mês de março. A publicitária, há anos vivendo em São Paulo, vai dizer sim nos jardins da casa onde cresceu, no final do mês de março. Os detalhes da festa estão por conta da dupla festeira Ilse Lambach e Dado Dantas.


zaRzueLa Com projeto gráfico e diagramação da designer Manoela Leão, que comanda a Gusto Editorial, foram lançados na última semana de janeiro, no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, na Espanha, três importantes trabalhos. O diretor do CEB, Gonzalo Dacal, e a professora Ascension Rivas Hernández, coordenadora da obra coletiva sobre Machado de Assis, destacaram o bom gosto do projeto gráfico e a qualidade da publicação, que tem coedição da Editora Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco, e apoio da Academia Brasileira de Letras (dois dos ensaios que compõem o livro são de membros da ABL). Inovação cultural, patrimônio e educação e a Revista Massangana são os outros dois títulos, também assinados pelo escritório curitibano, e que unem colaboradores de Espanha e Brasil, congregando a precisão e clareza dos clásssicos à inovação e ousadia da modernidade.

11

a

edição

O advogado curitibano eduardo Talamini chegou ao 11o número de seu esperado CD natalino Natal do Dudu, brinde de Noel distribuído aos amigos mais próximos, convidados anualmente para a confraternização de fim de ano que realiza em sua casa. Mas o CD concorre e ganha com folga de praticamente todos os lançamentos do mercado fonográfico convencional. Isso porque o bom gosto do produtor supera todas as expectativas. Nesta última edição, sua reconhecida preferência pelo jazz e pelo rock’n’roll deu espaço às canções latinoamericanas. Lançados pelo selo Pepa Records, os CDs têm layout próprio e todas as músicas devidamente compradas. fevereiro de 2011 |

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BALACOBACO

Maria Cristina Andrade Vieira

Música de todos os cantos

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Valéria Prochmann

No dia 9 de janeiro, o Guairão recebeu o Concerto e Cerimônia de Abertura da 29a Oficina de Música de Curitiba. Com o tema “Celebrando as Comunidades”, o concerto reuniu diversos músicos e mostrou a diversidade de culturas que fazem parte da história de Curitiba. Entre eles, Olga Kiun (Rússia), Quinteto de Sopros da Orquestra do Algarve (Portugal), Piotr Banasik (Polônia), Fernando Rocha (Brasil), Fry Street Quartet (EUA) e o Coro da Camerata Antiqua de Curitiba, com regência de Dario Sotelo. | fevereiro de 2011

Paulino Viapiana

Fotos: Kraw Penas

Coro da Camerata Antiqua e maestro Dario Sotelo

Glauco Sölter e Diviane Oliveira


22 de janeiro. Sábado de muito sol. Cerca de 2 mil convidados experimentaram a 2ª Paella Brava Beach Internacional. E conferiram o que será oferecido pelo empreendimento imobiliário, localizado na Praia Brava entre Balneário Camboriú e Itajaí. Clientes e corretores de imóveis foram recebidos pelos anfitriões Evandro Dal Molin, Tero Nunes, Francisco Graciola e Amadeu Russi e pelos atores Fernanda Paes Leme, Carlos Casagrande e Paulo Zulu.

Mariana Russi

Fotos: João de Souza e LU JP

Fotos: Kraw Penas

Paella Brava

Francisco Graciola e Joice Splenger

Paulo Zulu, Luciana Dal Molin, Fernanda Paes Leme, Joice Splenger e Carlos Casagrande

Vincente Donini, Francisco Graciola, Amaury Jr e Evandro Dal Molin

Simone Tanus Fregonese

Michelle Jamur

Toledo Jr e Karla Buzzi

e ira

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Foto: Márcio Nunes

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Ouro Fino na Globo

Administração por Sérgio Pereira Lobo

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No dia 14 de janeiro, o Conselho Federal de Administração (CFA) realizou a cerimônia de diplomação e posse dos Conselheiros eleitos. O Paraná será representado pelo administrador Sérgio Pereira Lobo que, na ocasião, presidiu a mesa da sessão eleitoral que elegeu o novo presidente e vice-presidente do CFA. A chapa “Administração em primeiro lugar”, composta pelos administradores Sebastião Luiz de Mello, do Mato Grosso do Sul (presidente), e Marcos Lael Alexandre, do Rio Grande do Norte (vice-presidente), foi a vencedora da eleição e vai assumir a gestão do CFA no biênio 2011-2012. | fevereiro de 2011

Fotos: divulgação

A Empresa Águas Ouro Fino participou do lançamento da nova novela da Rede Globo, Insensato Coração. A envasadora desenvolveu garrafas de água com a logomarca do folhetim que foram entregues para os convidados na saída do concorrido evento. A ação gerou ótimos Giberto Braga, autor da trama, e Paolla Dudyk comentários para a empresa. Valter Lemos e Sérgio Lobo

Sérgio Lobo, Ana Mônica, Lúcio Mariano e José Samuel

Valter Lemos, Sebastião Mello, Sérgio Lobo e Marcos Lael


O Mabu Royal & Premium Hotel realizou, no dia 6 de janeiro, cerimônia que marcou a transferência de posse do Conselho Consultivo de Turismo do Paraná e da Secretaria de Estado do Turismo. O empresário Faisal Saleh recebeu os cargos do ex-secretário Herculano Lisboa. O encontro, muito concorrido, contou com a presença de empresários da área de turismo e autoridades paranaenses.

Alberto Asseis e Faisal Saleh

Paulo Mac Donald Ghisi e Alberto Asseis

Paulo Mac Donald Ghisi, Alexandre Mohamad Mannah e Alberto Asseis Fotos: Naideron Jr.

Homenagem a Eduardo Rocha Virmond

A dupla Chitãozinho e Xororó com os produtores da festa, Ilse Lambach e Dado Dantas

O advogado e presidente da Academia Paranaense de Letras, Eduardo Rocha Virmond, foi homenageado com um jantar por seus 82 anos, no Graciosa Country Club. O aniversário foi no dia 13 de janeiro. O encontro reuniu personalidades do mundo jurídico, como o presidente da OAB-PR, José Lúcio Glomb, a presidente do Instituto dos Advogados do Paraná, Rogéria Dotti, Orlando Carbonar, Joaquim Munhoz de Mello e Cláudio Andrade, além de diversos integrantes do Instituto dos Advogados, do qual Rocha Virmond já foi presidente.

Débora Ling Cattani, Eduardo Rocha Virmond, Daniel Marques Virmond

Foto: Joel Rocha

Fotos: Diego Pisante

Foto: Márcio Nunes Fotos: divulgação

ca, el

Faisal no turismo

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CLAUDIA WASILEWSKI Cronista

esaforo Foto: Divulgação

F

azer um bom desaforo requer competência. Não pode ser feito de qualquer jeito. O melhor deles é aquele que demora pelo menos dois dias para ser entendido. Barraco e gritaria fazem parte de outra categoria. Este tipo só pratico no auge da TPM. Não vale a pena e só deve ser usado quando a situação é insustentável. Chama muito a atenção e ainda corro o risco de passar por maluca. Tem gente que não gosto, não alimento ódio, mas não quero que faça parte da minha vida. Nem pelo mínimo tempo de ouvir um cumprimento. Uso dois tipos de técnicas. Uma é “olhar através”. É bem fácil. Quando percebo que estou sendo observada, encaro a pessoa, de forma que pareça que estou pensativa, longe. A famosa cara de paisagem. Logo em seguida mexo os olhos rapidamente. Isto confunde e o desafeto fica em dúvida se deve se manifestar. É bem bacana. A segunda é quando não há escapatória e o sem noção vem em minha direção, não corro nem me viro. Falo calmamente: – Desculpe, mas não te conheço. Ou ainda: – Meus pais me ensinaram que não devo falar com estranhos. É um corte definitivo, não existe chance de prolongar a conversa. Por dentro grito, YES ME LIVREI!

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Quando era adolescente, fazia piada com o objetivo de irritar as pessoas. Agora não faço mais. Este tempo já passou, não tenho mais disposição. E o feitiço pode se virar contra mim. Mas quando provocada, mantenho minhas gracinhas. Preferencialmente bem dirigidas, para dar dor de estômago. Não se deve ameaçar ou chantagear, como contar um segredo. É muita baixaria. Denunciar sim e sempre, o que atinge o coletivo. Com isto eu concordo e, se possível, assinado com firma reconhecida. A não ser que coloque a vida em risco, só assim fazer de forma anônima. No mais, se é possível fazer justiça, que o justiceiro colha os louros. A minha mãe tem um desaforo pronto pós-morte. Organizou uma lista de pessoas impedidas de entrar no seu velório. Segundo ela, não serviram para ter a sua amizade durante a vida, muito menos irão compartilhar a sua ausência. São poucas pessoas, mas o babado será grande. E pasmem, tem recebido ofertas, gente interessada em ficar na porta, barrando os nominados. Leão de chácara em velório. O bom mesmo é viver feliz e em paz. Mas se o embate for inevitável, por favor, não perca a classe nunca. Coloquei as dicas ao lado no meu blog e já recebi retorno que algumas deram certo. Então boa sorte.

icas: 1 Só faça confusão bem arrumado e cheiroso. Uma pessoa esculhambada não é levada a sério.

2 Não cometa erros de português de espécie alguma. Falando ou escrevendo. 3 Não use gírias. 4 Mantenha a cabeça um pouco acima da linha do horizonte. 5 Enquanto a pessoa argumentar, mantenha um leve sorriso nos lábios.

6 Não interrompa o adversário. 7 Tente usar as palavras dele, com muito cinismo, para desqualificá-lo. 8 Não trema nunca. Feche bem as duas mãos, bem ao lado do corpo.

9 Use o tom de voz um pouco abaixo que o dele. Só assim você poderá se vitimizar. 10 Se ele for maior que você e quiser te bater nunca grite socorro. E sim FOGO! Atrai curiosos.


Cartas do Leitor Escreva para cartas@revistaideias.com.br

Uma rotina de medo e insegurança Fico muito grata pela matéria publicada nesta conceituada revista, que se refere à partida do meu filho Márcio Gustavo de Camargo e que está publicada na página 34 da revista, mas peço para que façam a correção dos seguintes: - Os policiais que tiraram a vida do meu filho eram policiais militares P2 (a paisana). - Esta tragédia aconteceu no dia 21 de novembro de 2008, há pouco mais de 2 anos, e não em 21/11/2007. Para acalmar a minha alma, participo do Grupo de Mães todas as terças-feiras na igreja do Balão com a Pastora Cristiane Yared e as segundas-feiras participo do Grupo Amigos Solidários pelo Luto na Universidade Federal do Paraná. Muito obrigada, Sueli do Rocio

Arte de rua além da arte Gostaria de parabenizá-los pela revista Ideias. As últimas edições foram espetaculares e cheias de reportagens boas de ler. Informações tanto quentes quanto de interesse da sociedade. Muito bom. Me interessou muito a matéria sobre a arte de rua, porque eu sou do segmento de arte da cidade, aprecio muito e acho que deveriam abrir muito mais espaço na mídia, como na impressa, para falar e mostrar a arte de rua em Curitiba. Graciele

Sons de um circo Se Jaime Lerner é bom para a revista Time indicá-lo entre os mais significativos líderes mundiais, deve ser melhor ainda para nós, paranaenses. Embora na última campanha eleitoral, os candidatos ao governo tivessem perdido a oportunidade de não passar o ridículo atestado de “barbaridade”, quando fizeram questão de desvincular-se de JL. Mas quem pode, em sã consciência, aqui no Paraná, dissociar a evolução de Curitiba e o crescimento industrial do Paraná de Jaime Lerner? Você acertou: a Ideias só ganha, e ganham seus leitores com as crônicas de Lerner, pensador e poeta, inquieto criador de que nos devemos orgulhar. Aroldo Murá G. Haygert

Crack Eu vivo em minha família o drama das drogas. O crack é o pior vício que já apareceu. Um flagelo de Deus, só não sei porque nós aqui de casa merecemos isso. O pior é que não existe tratamento eficaz e a família é quem sofre. Marilda Presta

Revista Publicação da Travessa dos Editores issn 1679-3501 Edição 112 – R$ 10,00 www.revistaideias.com.br e-mail: ideias@revistaideias.com.br Editor-CHEFE Fábio Campana CHEFE De Redação Marianna Camargo Redação Carlos Simon, Karen Fukushima, Larissa Reichmann Lobo, Marisol Vieira, Sarah Corazza, Thais Kaniak. COLUNISTAS Camilla Inojosa, Carlos Alberto Pessôa, Claudia Wasilewski, Izabel Campana, Jaime Lerner, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Vicente Ferreira. Colaboradores Átila Alberti, Eduardo Reinehr, Isabela França, Kraw Penas. Diretor de fotografia Dico Kremer tratamento de imagem Carmen Lucia Solheid Kremer fotos do porto de paranaguá www.appa.pr.gov.br capa Luigi Camargo Projeto gráfico e Diagramação Clarissa M. Menini, Katiane Cabral e Luigi Camargo DiretorA FINANCEIRA Clarissa M. Menini Conselho editorial Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana. Para anunciar comercial@revistaideias.com.br

Crack 2 Aqui no meu consutório trato viciados em todas as drogas. Realmente o crack é devastador e se transformou em problema de saúde pública. Parabéns pela reportagem. Dr. Anisio Vilela

Para assinar assinatura@revistaideias.com.br

Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570 cep 80520-250 / curitiba pr Tel.: [41] 3079 9997 www.travessadoseditores.com.br

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