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Jornalismo e transmidiação

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Por Ana Célia de Sá | Coluna Comunicação na Web

Estruturar a produção de conteúdo on-line de maneira múltipla, associativa e complementar tem sido uma tendência na atualidade, potencializando os recursos digitais e as relações humanas constituídas na rede, em harmonia com princípios de cooperação entre os partícipes. Um caminho interessante para a construção de produtos informativos mais completos, interativos e participativos é a transmidiação, por meio da qual várias plataformas midiáticas e seus respectivos textos contribuem distintamente para a formação do produto.

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Neste modelo, as mídias interagem para ampliar e aprofundar o conhecimento sobre uma história, envolvendo o público com diferentes graus de usufruto, a depender do interesse de cada pessoa. “Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor – a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida pela televisão, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões” (JENKINS, 2009, p. 138). Ainda segundo esse autor, a transmidiação cria diversos pontos de acesso para renovação da experiência, mas sem obrigar o consumidor a ingressar em cada um deles para compreender e envolver-se com o produto.

Inicialmente utilizada no entretenimento, a transmidiação chega ao jornalismo com ganhos para a qualificação informativa no ambiente participativo do ciberespaço. Fruto da cultura da convergência e da sociedade da informação, esta narrativa apoia-se na formatação de produtos cujos conteúdos são fragmentados e expandidos em diferentes plataformas midiáticas, mantendo uma relação entre eles, com fruições e mensagens diversas, de acordo com o caminho escolhido pelo público. Esta estruturação diferencia-se do crossmedia, em que um mesmo conteúdo é ajustado tecnicamente e distribuído em meios distintos.

O jornalismo transmídia articula diferentes meios, linguagens e narrativas complementares sobre uma temática principal. Renó e Flores (2018) sugerem o modelo do fluxograma algo-

rítmico circular rizomático como arquitetura do enunciado informativo especialmente para o gênero reportagem. O conjunto narrativo é composto por um texto base para contextualização e por outros fragmentos informativos relacionados e interligados cognitivamente pelo tema principal, com diferentes pontos de acesso para o público e formas de usufruto interativas, dinâmicas e personalizadas. Embora o produto possua um roteiro, a decisão sobre a navegabilidade fica a critério do usuário. Assim, é importante apresentar informações suficientes para que ele compreenda a narrativa mesmo sem acompanhá-la por inteiro.

A produção jornalística transmidiática também é caracterizada pelo uso de dispositivos de comunicação móveis, preferencialmente smartphones. Eles estão em sintonia com as ideias de mobilidade e instantaneidade, essenciais na comunicação contemporânea. No experimento desenvolvido por Renó e Flores (2018), todos os conteúdos (como textos escritos, fotos e vídeos) foram produzidos com aparelhos celulares de modo rápido, fácil e direto. Embora os equipamentos tenham limitações técnicas, eles possuem qualidade estética aceitável e trazem agilidade para o trabalho dos jornalistas, o que torna indispensável o uso deles nesta atividade.

Quanto à circulação do produto jornalístico transmídia na internet, as plataformas de redes sociais e a blogosfera são fundamentais, pois apresentam-se como espaços digitais de sociabilidade em que os usuários interagem com o conteúdo e passam-no adiante por meio de suas conexões pessoais, convidando seus contatos para a leitura. Desta forma, a quantidade de pessoas com acesso ao produto e o número de comentários sobre o assunto são ampliados, permitindo uma expansão coletiva do conteúdo (RENÓ; FLORES, 2018).

A experiência de Renó e Flores (2018) não define por completo o formato ou a linguagem do jornalismo transmídia. O quadro é evolutivo e segue os passos das mudanças culturais, técnicas e tecnológicas da sociedade, tendo como foco as vivências interativas e participativas entre produtor e público no ciberespaço. Esta premissa, na verdade, é válida para toda a produção jornalística na internet, desde a composição factual da notícia até as narrativas multi e transmidiáticas.

Em tempos de interatividade, participação, fluidez e liberdade na rede, o jornalismo atualiza ou mesmo reinventa seus modelos para manter o profissionalismo e a qualidade da notícia on-line, algo importante no enfrentamento da crescente indústria da desinformação, que põe em risco o entendimento sobre a verdade intersubjetiva baseada em fatos. A transmidiação encaixa-se no contexto atual e surge como uma narrativa digital ativa, cujo produto é dinâmico e mais aberto à ação personalizada do público.

REFERÊNCIAS:

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Tradução de Susana Alexandria. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009.

RENÓ, Denis; FLORES, Jesús. Periodismo Transmedia. Nueva edición actualizada. Aveiro: Ria Editorial, 2018. [e-book]. Disponível em: <https://adobeindd.com/view/publications/5dabf7da-b24e-48cf-b56f-cc7378b4b701/kemm/publication-web-resources/pdf/Periodismo_Transmedia.pdf>. Acesso em: 08 set. 2019.

Ana Célia de Sá é jornalista e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCOM-UFPE).

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