Revista Morashá - ed 113

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JUDEUS NA MODA E NOS NEGÓCIOS DO RIO IMPERIAL Por Maria Luiza Tucci Carneiro

No próximo ano de 2022 iremos comemorar o bicentenário da proclamação da independência do Brasil, então colônia de Portugal, ocorrida em 7 de setembro de 1822. Este processo é distinto daquele vivenciado pelas demais colônias da América, porque aqui a Família Real Portuguesa ficou instalada de 1808 a 1820, dificultando a alteração do status político de colônia para nação independente. Nessa época, a rainha de Portugal era D. Maria, e D. João VI, o príncipe regente, a quem coube a decisão de trazer a família e a Corte portuguesa para a colônia.

C

om a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, seguida da abertura dos portos, assim como da assinatura do Tratado de Amizade e Paz com a Inglaterra, em 1810, centenas de imigrantes judeus começaram a ingressar no Brasil, contribuindo para diversificar as atividades econômicas, intelectuais e culturais até então atrofiadas pelo controle imposto pelo Império Colonial português.

D. João VI e os imperadores D. Pedro I e D. Pedro II – formou-se, na cidade do Rio de Janeiro, uma importante comunidade judaica dita “moderna”, que ampliou o círculo dos cristãos-novos também chamados de conversos, ali presentes desde os tempos coloniais. A população do Rio de Janeiro, no início do século 18, era de cerca de 20 mil habitantes, incluindo os escravos. E, ainda que seja difícil calcular a população de origem judaica, no Rio de Janeiro, à época, já que até então não existiam censos, essa presença não era insignificante.

Atualizados com as novidades europeias no campo da moda, das artes, da economia e das ciências, esses imigrantes judeus acarretaram importantes mudanças na vida econômica, social e política do país. A liberdade de religião garantida em um dos artigos desse tratado incentivou a vinda de cidadãos não-católicos, dentre os quais estavam os protestantes ingleses e os judeus franceses. O mesmo aconteceu após a assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, em 1826, que permitia a liberdade de consciência em matéria religiosa, direito de propriedade e isenção do serviço militar obrigatório, de empréstimo forçado e de requisições militares, além de garantir liberdade de residência e de comércio e navegação em todos os portos brasileiros. Entre 1808 e 1889 – longo período em que permaneceram no Brasil o príncipe Regente

Segundo pesquisas realizadas por Lina Gorenstein, cerca de 325 cristãos-novos foram presos no Rio de Janeiro entre 1703 e 1740, e enviados para Lisboa, onde foram julgados como hereges pela Inquisição. Com base nos processos inquisitoriais, essa historiadora descobriu que muitos cristãos-novos atuavam como comerciantes e, até mesmo, ocupavam cargos públicos, apesar das restrições contidas nos Estatutos de Pureza de Sangue impostos pela legislação e pela Igreja Católica portuguesa. Em sua maioria, eles se destacavam no mundo dos negócios como corretores e negociantes e, nas profissões liberais, como médicos, advogados, militares e, educadores. Vários deles frequentaram o círculo de estudantes brasileiros 62


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