ANO xxvI edição 104 JUN 2019
ANO XXVI - Junho 2019 - Nยบ 104
Tempio Maggiore A Grande Sinagoga de Roma
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Carta ao leitor Referindo-se a Yom Yerushalaim – dia que celebra a reunificação de Jerusalém, ocorrida durante a Guerra dos Seis Dias –, o Rabino Lord Jonathan Sacks escreveu que a cidade constitui “o coração pulsante da Fé Judaica”. No misticismo judaico, Jerusalém simboliza a própria Presença Divina. A mais sagrada de todas as cidades é o ponto onde o Infinito e o finito se encontram: onde o “filamento de prata” da influência Divina toca toda a obra da Criação. Quando um judeu reza, deve estar sempre voltado em direção à Jerusalém. Segundo a Cabalá, a razão para tal é que todas as preces “viajam” a Jerusalém, especificamente ao local onde se erguia o Templo Sagrado, e de lá ascendem aos Céus. Jerusalém é o coração pulsante tanto da fé quanto da pátria judaica. Na ausência de Jerusalém, a Terra de Israel seria como um corpo desprovido de alma. Não fosse pela Cidade Sagrada e o sonho de a ela retornar, o coração da fé judaica teria parado de bater há milênios. Para nós, judeus, Jerusalém sempre constituiu uma história de amor. O grande poeta espanhol, Yehuda HaLevy, intitulou-a de “a plenitude da beleza”, afirmando que todas as perfeições concebíveis nela se encontram. A prece do Rabi Shlomo Alkavetz, Lechá Dodi, cantada em todas as sinagogas do mundo para receber o Shabat, expressa nosso mais profundo anseio por Jerusalém. Essa canção de amor compara a Cidade Santa a uma noiva, ornada com finos adornos, à espera do regresso de seu amado - que não é outro senão o Povo Judeu. Quando um de nós chega a Jerusalém, deve sentir-se chegando em casa, a seu legítimo lar, à Pátria que há milênios anseia por seus filhos. Desde sua fundação pelo Rei David, como capital de seu reino, Jerusalém foi o lugar mais próximo do coração de qualquer judeu. Desde a queda do Templo Sagrado, a cidade foi conquistada inúmeras vezes, mas nação alguma, a não ser a Nação Judaica, fez dela a sua Capital. Há milênios, mencionamos Jerusalém várias vezes ao dia, em nossas orações, lembrando-a tanto nas ocasiões judaicas mais felizes como nas mais tristes.
Elie Wiesel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, disse certa vez que Jerusalém conecta as pessoas entre si de maneira misteriosa e inexplicável. “Quando um judeu visita Jerusalém pela primeira vez, não é a primeira vez”, afirmou, “é um regresso à casa”. Tendo vivenciado e testemunhado tanto o Holocausto quanto a reunificação de Jerusalém, ele descreve o dia em que Israel libertou a Cidade na Guerra dos Seis Dias: “Uma força elementar, bizarra, de repente tomou posse de todos os judeus – rabinos e comerciantes, meninos da yeshivá e kibutznikes, oficiais e crianças, céticos e artistas – todos tinham esquecido todo o restante. Todos eles queriam estar no Kotel Hamaaravi, beijar as pedras, proclamar orações ou lembranças. Todos eles sabiam que naquele dia histórico, naquela semana, o lugar de todo judeu era o Monte do Templo. Tive o privilégio de fazer essa caminhada com eles. Nunca corri com tal ímpeto. Eu raramente disse “Amém” com tanta dedicação quanto naquele momento em que os paraquedistas, em sua exaltação, rezavam a oração de Minchá. “Naquele momento, um judeu idoso – que a mim pareceu um personagem saído de um de meus romances - comentou comigo: ‘Você sabe por que e como derrotamos o inimigo e libertamos Jerusalém? Porque seis milhões de almas participaram da nossa batalha’. “Então realmente vi o que a olho nu não se vê: almas em chamas flutuando bem acima de nós, orando ao Criador para protegê-los e a todos nós...” Durante 2000 anos, nosso povo ansiou por voltar a Jerusalém. Oramos e choramos e sonhamos. Nunca uma nação chorou e sonhou tanto para que D’us atendesse seu pedido. As lágrimas derramadas e as orações recitadas ao longo de dois milênios não foram em vão. As orações foram atendidas e o sonho, realizado. E nossa geração tem o privilégio de estar vivendo esse sonho.
ÍNDICE
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03 carta ao leitor 06 JUDAÍSMO Tishá b’Av, dia de escuridão e luz
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ISRAEL Em Latrun, museu e memorial homenageiam combatentes
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15 de Av: o dia mais feliz do calendário judaico por TEV DJMAL
HISTÓRIA Ascensão e declínio dos sefarditas em Jerusalém POR NIMROD ETSION KOREN
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PERSONALIDADE Rafi Eitan, o lendário espião que prendeu Eichmann
destaque Ucrânia elege um presidente judeu por JAIME SPITZCOVSKy 4
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capa O Tempio Maggiore
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comunidades Judeus de Roma: Tempos antigos até o Reino da Itália
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personalidade Sydney Brenner, Prêmio Nobel de Medicina em 2002 por DR. MORTON A. SCHEINBERG
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SHOÁ Camp des Milles História e memória por REUVEN FAINGOLD
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israel Mar Morto ou Mar de Sal, maravilha da natureza
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cartas JUNHO 2019
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Tishá b’Av, dia de escuridão e luz Tishá b’Av, nono dia do mês judaico de Menachem Av, é o dia mais triste de nosso ano. Através da História, muitas tragédias de importância nacional caíram sobre nosso povo nessa data. O padrão dessas catástrofes é tão claro que é muito difícil descartá-lAS como coincidência.
O
que ocorreu para que o nono dia do mês de Av se tornasse o mais triste para o Povo Judeu? A porção Shelach da Torá, no livro Bamidbar (Números), relata a seguinte passagem: os judeus estão no deserto do Sinai, após vivenciar o milagroso Êxodo do Egito. Estão prontos para entrar na Terra Prometida. Mas, antes de o fazer, Moshé Rabenu – sem ter recebido ordem Divina para tal – envia uma missão de reconhecimento para ajudá-lo a formular uma prudente estratégia de batalha. Doze espiões – 12 líderes das Tribos de Israel – partem para a Terra Prometida. Retornam no 8o dia do mês de Av. Dez dos 12 declaram publicamente que a Terra Prometida é habitada por um povo poderoso – e, portanto, inconquistável. Ao cair daquela noite – que já era o dia 9 de Av – as notícias do relato dos espiões já espalhadas, o povo entra em pânico. Sucumbem à histeria coletiva. Ao anoitecer, em Tishá b’Av, o Povo de Israel chora e se lamenta. Apesar dos milagres e promessas Divinos, os Filhos de Israel acreditam na avaliação dos 10 espiões. Os judeus dizem preferir retornar à escravidão egípcia a tentar conquistar a Terra Prometida e serem dizimados. D’us fica profundamente descontente com essa demonstração
pública de descrença em Sua promessa e poder. E jura que a geração de judeus que deixara o Egito – e que chorara ao ouvir o relato dos 10 espiões – jamais entraria na Terra Prometida. Somente seus filhos teriam tal privilégio. Mas houve uma consequência adicional ao desespero coletivo ocorrido naquela noite de 9 de Av. O Midrash cita D’us como tendo assim se pronunciado: “Seu choro e lamento é sem motivo. Determinarei que esse dia seja para vocês um dia de choro e lamento, por todas as gerações vindouras”, já anunciando os futuros infortúnios que viriam a ocorrer nessa data – Tishá b’Av. O nono dia de Av – quando o Povo Judeu chorou desnecessariamente no deserto – tornou-se uma data marcada pela tragédia. Como profetizado pelo Midrash, nas gerações futuras os judeus haveriam de ter boas razões para chorar nessa data. Algumas das tragédias mais significativas na História Judaica, que moldaram o destino de nosso povo, ocorreram em Tishá b’Av. Uma dessas catástrofes ocorreu no ano de 422 A.E.C., quando, em 9 de Av, os exércitos de Nabucodonosor, imperador babilônico, destruíram o primeiro Templo de Jerusalém. Seus exércitos mataram 100.000 judeus e exilaram outros milhões mais. E ainda que 6
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Destruição de Jerusalém pelos romanos liderados por Tito, 70 E.C.. Óleo, por David Roberts
o segundo Templo Sagrado tivesse sido construído sete décadas depois, e inaugurado no ano de 349 A.E.C., não conseguiu ter a glória do primeiro. Como nos ensina o Talmud, os milagres que ocorriam diariamente no primeiro Templo não voltaram a ocorrer. Após a queda do primeiro Templo Sagrado e o exílio babilônico que se seguiu, a vida dos judeus, mesmo dos que retornaram à Terra de Israel, jamais voltou a ser a mesma. Como vemos na história de Chanucá que, mesmo quando ainda vivia em nossa Terra, ainda no tempo do Segundo Templo, nosso povo se viu frequentemente ocupado por estrangeiros, sem independência política e perseguido por sua religião. Foi também em Tishá b’Av, no ano de 70 E.C., que o segundo Templo de Jerusalém foi destruído. O Império Romano, comandado por Tito, o incendiou. E, segundo
o historiador Josephus, durante a Grande Revolta Judaica contra Roma (66-73 E.C.), morreram mais de um milhão de judeus. Excetuando-se o Holocausto, a fracassada Grande Revolta dos judeus contra Roma, simbolizada pela queda do Segundo Templo – em Tishá b’Av – foi o capítulo mais trágico e sangrento em toda a História Judaica. Mesmo após a derrota militar e a queda de seu Templo Sagrado, os judeus na Terra de Israel continuaram a lutar contra os ocupantes romanos. Acreditavam que seu líder militar, Shimon 7
bar Kochba, fosse o Mashiach, que venceria os opressores e anunciaria a construção do terceiro Templo. Mas tal esperança foi por terra no ano de 133 E.C., quando Bar Kochba e seus homens foram brutalmente derrotados pelos romanos, na batalha final em Betar. A data da derrota e do massacre que se seguiram foi exatamente Tishá b’Av. Os romanos destruíram a cidade, matando mais de meio milhão de civis judeus. E, para humilhar ainda mais o Povo Judeu, o governador romano na Terra de Israel, o tirano Turnus Rufus, um ano após a queda de Betar, decidiu lavrar a terra do JUNHO 2019
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Abóbada no interior do Arco de Tito. Gravura de Pietro Santi Bartoli (1635-1700), retrata o desfile triunfal do Imperador com os prisioneiros judeus e os tesouros do Templo de Jerusalém
Monte do Templo – nosso lugar mais sagrado. Isso também ocorreu no 9º dia de Av. E os romanos reconstruíram Jerusalém como uma cidade pagã – com o nome de Aelia Capitolina – proibindo o acesso dos judeus à mesma.
Tishá b’Av através dos tempos Tishá b’Av não foi apenas a data em que os dois Templos foram destruídos e nosso Povo exilado de sua Terra. Esse dia foi também quando os judeus foram expulsos de países que os haviam recebido e abrigado. Em 18 de julho de 1290 – 9 de Av – a Inglaterra expulsou os judeus de suas terras. Dois séculos mais tarde, a Idade de Ouro da Espanha chegou ao fim quando a Rainha Isabel de Castela e seu marido, Fernão de Aragão, ordenaram que os judeus fossem banidos de seus domínios. O édito de expulsão foi assinado em 31 de março de 1492, dando exatos quatro meses para que os judeus partissem. A data final para
a presença judaica naquelas terras foi Tishá b’Av. Outra grande tragédia que caiu sobre nosso povo – e sobre grande parte da humanidade – também ocorreu no dia 9 de Av do ano de 1914: a Alemanha declarou guerra à Rússia, lançando em ação a 1ª Guerra Mundial. Essa guerra
foi uma tragédia de proporções gigantescas – não apenas por ter causado um ônus sem precedentes em mortes e destruição, mas também por ter levado à 2ª Guerra Mundial. Como disse Winston Churchill, a 2ª Guerra Mundial foi mera continuação da 1ª. Pode-se, portanto, argumentar que a ascensão da Alemanha Nazista, a 2ª Guerra
Um judeu e sua família sendo mortos na fogueira por suposta profanação da hóstia. Paolo Uccello. 1465-1469
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Mundial – a mais devastadora de todos os tempos – e o Holocausto, capítulo mais duro na história de nosso povo – todas essas tragédias começaram, de fato, em Tishá b’Av do ano de 1914, com o irromper da 1ª Guerra Mundial. Mais assombroso, ainda, é que foi precisamente em Tishá b’Av – 2 de agosto de 1941 – que o comandante SS Heinrich Himmler, Imach Shemó VeZichró (que seu nome e sua lembrança sejam apagados), formalmente recebeu a aprovação do Partido Nazista para executar a “Solução Final para o Problema Judeu”. O genocídio sistemático de nosso povo, que levou ao extermínio de sete milhões de judeus, foi formalmente iniciado em 9 de Av. Não bastasse, foi em Tishá b’Av do ano seguinte, 23 de julho de 1942, que se iniciou a deportação em massa de judeus do Gueto de Varsóvia para o campo de morte de Treblinka. Vimos apenas algumas das pesadas tragédias, de importância coletiva, que se abateram sobre o Povo Judeu em Tishá b’Av. Houve outras, inclusive após a 2ª Guerra Mundial. É extremamente improvável que o padrão de eventos trágicos ocorridos em Tishá b’Av seja mera coincidência. E se, por um lado, é verdade que nós, judeus, vivenciamos catástrofes em outras datas de nosso calendário, é evidente que os dias mais significativos de tragédia nacional na história do Povo Judeu caíram em 9 de Av. A queda dos dois Templos de Jerusalém não significou apenas a destruição do lugar mais sagrado na Terra, mas resultou, também, na morte e exílio de milhões de judeus, na perda de independência nacional, e em 2.000 anos de uma Diáspora que foi, em sua quase totalidade, extremamente
cruel para nosso povo. A Inquisição Espanhola, que culminou com a expulsão dos judeus justamente em Tishá b’Av, foi indiscutivelmente a maior tragédia que se abateu sobre os Filhos de Israel desde a destruição do Segundo Templo. O sofrimento que causou ao Povo Judeu foi imensurável. Certamente não foi tão diabólica quanto o Holocausto, mas permanece sendo um dos capítulos mais trágicos da História Judaica. Já o Holocausto, foi o resultado e auge de uma série de eventos ocorridos ao longo dos séculos em Tishá b’Av. Podemos perguntar: quando realmente se iniciou o Holocausto? Só terá se iniciado naquele Tishá b’Av em que a
Alemanha Nazista aprovou a “Solução Final” – ou se iniciou anteriormente, naquele 9 de Av em que irrompeu a 1ª Guerra Mundial que, anos mais tarde, levaria à ascensão de Hitler e do Partido Nazista? Talvez o Holocausto tenha realmente se iniciado naquele 9 de Av em que o segundo Templo de Jerusalém foi destruído e os romanos, filhos de Esaú, expulsaram os Filhos de Israel, de sua Pátria sagrada. Não fosse o Templo destruído e nosso povo não tivesse sido exilado de nossa Terra, o Holocausto jamais teria ocorrido. Entendendo o que representa a data de Tishá b’Av - a magnitude e as consequências das tragédias
A expulsão dos Judeus de Espanha - Emilio Sala
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somos pó”. Se fôssemos perfeitos, não precisaríamos da Misericórdia Divina. E, se “O Eterno é bom para com todos ...” e “Sua compaixão se manifesta sobre todas as Suas Criações”, Sua infinita bondade e misericórdia certamente se estendem àqueles que erram e pecam. Como, então, explicar Tishá b’Av e todo o sofrimento ocorrido nesse dia, ao longo dos séculos?
ocorridas nessa data ao longo do tempo – podemos compreender por que razão é imperativo jejuar nesse dia e cumprir as demais restrições. Tishá b’Av é o único dia do ano judaico, excetuandose Yom Kipur, em que o jejum é à noite e de dia, ou seja, dura mais de 24 horas. São muitas as razões para jejuarmos nessa data. Uma delas é para invocar a misericórdia Divina. Ao jejuar e transcender temporariamente o âmbito físico de nossa existência, estamos aptos a influenciar os decretos Celestiais. Outro motivo para jejuarmos em 9 de Av é o fato de constituir um ato de solidariedade com o sofrimento judaico em gerações passadas.
Tishá b’Av: uma luz em meio à escuridão Além de ser o dia mais triste do calendário judaico, Tishá b’Av traz à tona várias questões teológicas. O Talmud, que nos ordena chorar e jejuar nesse dia, também nos ensina que tudo o que D’us faz é para o bem e que nenhum mal advém dos Céus. Rabi Akiva, o maior mestre do Talmud, dizia que “Tudo o que o Misericordioso faz é para o bem”. Em nossas orações diárias, recitamos três vezes o Salmo 145, que diz: “O Eterno é bom para com todos; Sua compaixão se manifesta sobre todas as Suas Criações”. No Salmo 91 lemos que D’us, de certa forma, sofre com nosso sofrimento: “Quando ele Me chamar (chamar a D’us), hei de lhe responder; Eu estarei com ele quando enfrentar atribulações...”. De forma similar, o profeta Isaías exclama: “Ante sua angústia, Ele se angustiava...” (63:9). Na oração da Amidá, recitada face a face com o Todo Poderoso, proclamamos, “Teu Nome é
O mercado, Gueto de Varsóvia
bondade”. Se D’us é a própria definição de bondade, como dizemos diariamente em nossas preces, se Ele é HaTov ve’HaMetiv – “Aquele que é bom e que faz o bem”, como explicar Tishá b’Av e todas as suas calamidades? Como explicar a queda dos dois Templos, a derrota em Betar, as expulsões, a fogueira da Inquisição e, sobretudo, o Holocausto? Admitimos que, ao longo da História, nosso povo cometeu erros, transgrediu e até se rebelou contra D’us. Não deveriam ter entrado em pânico, no deserto, ao ouvir o relato dos espiões. Não deveriam ter cometido os pecados, contra D’us nem contra seus irmãos, que levaram à queda dos dois Templos Sagrados de Jerusalém. Mas mesmo os “filhos de gigantes” (Salmo 29) – filhos de Avraham, Itzhak e Yaacov – são seres humanos, passíveis de erros e transgressões. Todos nós somos falíveis. Como repetimos na oração de Tachanun: “Pois Ele conhecia nossa natureza, Ele se lembrava que 10
Não há respostas fáceis e é arrogante e cruel que aqueles dentre nós que não passaram pelo inferno dos campos de morte nazistas entrem em especulações teológicas sobre o Holocausto. Mas como o Judaísmo nós força a ver bondade em todas as coisas e acontecimentos, devemos ao menos tentar encontrar alguma luz na escuridão do dia mais triste do ano. Talvez possamos encontrar uma bênção – ou mesmo um milagre – em meio à maldição de Tishá b’Av. Qual a benção oculta no dia 9 de Av? Um milagre – talvez o maior em toda a História Judaica: a sobrevivência de nosso povo, a despeito de todas as adversidades. O que o Povo Judeu aguentou e resistiu através dos milênios, nenhuma outra nação vivenciou. Mas sobrevivemos a tudo. Na verdade, foi mais do que sobreviver – florescemos. Nenhum povo, na face da Terra, realizou e conseguiu tanto quanto nós. Ensinamos ao mundo que o Eterno é Um, D’us Único. O Judaísmo é a base para todas as outras grandes religiões monoteístas do mundo. A Torá inspirou um número incontável de pessoas e influenciou toda a humanidade. No âmbito secular, representamos 0,2% de toda a população mundial e, no mínimo, 20% de todos os Prêmios Nobel. Apesar de todas as tragédias,
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a história do Povo de Israel é sinônimo de sucesso sobrenatural.
O sofrimento que causou ao Povo Judeu foi
Em Tishá b’Av, sentamos no chão como os enlutados, jejuamos e cumprimos as demais proibições desse dia. No entanto, jamais devemos esquecer que a maioria das nações antigas não pode sequer lamentar os difíceis eventos de sua história – pois deixaram de existir. Babilônios e romanos destruíram nossos Templos Sagrados e exilaram nosso povo, mas eles desapareceram. E nós continuamos aqui – mais fortes do que nunca. Am Israel Chai – o Povo de Israel está vivo, ao passo que nossos inimigos históricos apenas vivem nos livros de História e nos museus. Sobrevivemos a todos que tentaram aniquilarnos. Se perguntassem a alguém que testemunhou a destruição do segundo Templo de Jerusalém: “Daqui a 2.000 anos, qual desses dois povos, judeus ou romanos, ainda existirá? ”, esse alguém certamente teria respondido: “os romanos! ”. No entanto, o poderoso Império Romano caiu para nunca mais se erguer, destruído pelos bárbaros; e o Povo Judeu, ainda que não tivesse nem seu país nem seu exército, e sujeito à contínua perseguição – viveu para ter seu próprio Estado. O Coliseu continua de pé, mas os romanos da Antiguidade não vivem em Roma nem em outro lugar. Nosso Templo Sagrado ainda não voltou a existir, dele temos apenas seu Muro Ocidental. Mas os judeus voltaram à sua terra ancestral e a Jerusalém – coração espiritual do mundo inteiro – nossa Capital Eterna desde o tempo do Rei David.
quanto o Holocausto, mas permanece sendo um
O milagre oculto na data de Tishá b’Av é o fato de ser um testemunho de que nem a queda de dois Templos Sagrados nem um cruel exílio de dois mil anos, nem a
imensurável. Certamente não foi tão diabólico dos capítulos mais trágicos da História Judaica. Inquisição Espanhola e nem sequer o Holocausto, conseguiram vencer e exterminar o Povo Judeu. O dia 9 de Av é o mais triste do ano, mas também celebra a eternidade do Povo de Israel. Tishá b’Av é o mais misterioso dos dias. É o mais trágico em nosso calendário. E, ainda assim, estranhamente, é um dia em que não recitamos as súplicas de Tachanun – em que confessamos e suplicamos por nossos pecados, uma oração que é omitida apenas em dias festivos. Tishá b’Av foi a data na qual caíram os dois Templos Sagrados de Jerusalém, mas o Talmud também
nos ensina que essa é a data em que nascerá o Mashiach – que liderará a construção do Terceiro Templo, e, segundo alguns, o dia em que ocorrerá a Redenção Messiânica. Nossos Sábios nos dizem que quando o Mashiach vier, esse dia se converterá no mais feliz e auspicioso de todos. Nós, judeus, sofremos muitas tragédias ao longo de nossa história, mas também vivenciamos muitos tipos de milagres, de fato, inúmeros milagres. Celebramos alguns comendo e bebendo e nos alegrando, nos dias festivos. Mas há um milagre que comemoramos com luto e jejum em Tishá b’Av. Por ironia, podemos
Homens e mulheres chegam a Auschwitz-Birkenau, em maio de 1944
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dizer que esse tipo de milagre é o maior de todos. Os dias sagrados do Judaísmo celebram eventos extraordinários de nosso passado. Mas Tishá b’Av celebra um milagre que se repete a cada dia e que se vem repetindo há mais de 3.000 anos: a imortalidade do Povo de Israel. Mark Twain, o grande escritor americano, manifestou-se assim sobre nosso povo: “Os egípcios, babilônios e os persas surgiram, encheram o planeta de som e esplendor e, a seguir, desapareceram como um sonho e morreram; os gregos e os romanos os seguiram, fizeram grande estardalhaço e também desapareceram; outros povos surgiram e ergueram suas tochas no alto das nações por algum tempo, mas elas se extinguiram e eles agora permanecem no crepúsculo dos tempos, ou desapareceram.
Os judeus testemunharam e os venceram, e estão, hoje, onde sempre estiveram, sem sinais de decadência, sem as doenças do tempo, sem enfraquecerem seus membros, sem diminuírem suas energias, sem se escurecer sua mente alerta e vivaz. Todo o resto é mortal, exceto os judeus. Todas as outras forças se extinguem, mas eles permanecem. Qual o segredo de sua imortalidade?”. A imortalidade do Povo Judeu é a luz que se esconde na escuridão profunda de Tishá b’Av. Isso não explica todo o sofrimento, todas as mortes. Tampouco responde às muitas perguntas que o Holocausto nos obriga fazer. Mas até a chegada do Mashiach, que responderá a todas as nossas perguntas, talvez essa seja a única resposta. 12
Continuaremos a guardar o dia 9 de Av até que o Mashiach chegue e construa o terceiro e eterno Templo Sagrado de Jerusalém. Em 9 de Av, sentir-nos-emos enlutados, chorando e jejuando, e recordaremos todo o sofrimento de todas as gerações de judeus que nos precederam. Mas mesmo em Tishá b’Av, dia mais triste do ano judaico, sejamos agradecidos pelo privilégio de pertencer a um povo eterno, o povo a quem D’us escolheu para Si e a quem deu a Sua Torá – um povo que continuará a existir enquanto os Céus estiverem acima da Terra.
BIBLIOGRAFIA
https://www.chabad.org/library/article_ cdo/aid/946703/jewish/What-Happenedon-the-Ninth-of-Av.htm
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15 de Av: o dia mais feliz do calendário judaico por tev djmal
Em 15 de Av, as moças solteiras de Jerusalém dançavam nos vinhedos cantando: “Jovens, levantem os olhos e busquem a quem escolher para si próprios”. E, como para nós não há ocasião mais feliz do que um casamento entre dois judeus sob uma chupá , o dia 15 de Av foi considerado o dia mais feliz do ano .
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nsina o Talmud que os dois dias mais felizes do ano são Yom Kipur e Tu b’Av – o dia 15 do mês judaico de Av. Pode-se entender por que razão Yom Kipur é considerado um dia de tanta alegria, já que é o mais auspicioso, no ano, para se alcançar o perdão Divino. Yom Kipur, o 10o dia do mês de Tishrei, também é dia de júbilo, pois foi quando Moshé entregou ao Povo Judeu o segundo conjunto de Tábuas com os Dez Mandamentos. Por essa razão, Yom Kipur é associado à entrega da Torá.
com alguém da família da tribo de seu pai, a fim de que… não passe a herança de uma tribo a outra tribo…”. Tais versículos nos indicam que a mulher que herdasse terras tribais de seu pai não tinha permissão de se casar fora de sua tribo. Essa proibição visava a evitar que terras herdadas por uma mulher fossem permanentemente transferidas à tribo do marido após a morte dela. Esse regulamento era vinculante à geração que entrou na Terra de Israel, conquistando-a e nela se assentando. Essa restrição que proibia o casamento entre membros de diferentes tribos foi anulada no dia 15 de Av, daí ser considerado motivo de celebração e alegria.
Mas, qual o significado do 15o dia do mês judaico de Menachem Av? Por que razão é considerado o dia mais feliz do ano? O Talmud nos dá sete razões para tal:
2ª- Nesse dia a tribo de Binyamin teve permissão de voltar a fazer parte da comunidade de Israel.
1ª - Esse foi o dia em que as 12 tribos de Israel tiveram permissão para se casar com pessoas das outras tribos.
Após o terrível episódio da concubina de Guivá ( Juízes, 19-20), os judeus juraram não permitir que suas filhas se casassem com membros da tribo de Binyamin, que havia sido excomungada devido a seu vergonhoso comportamento nesse incidente terrível. Em 15 de Av, ficou decidido que a intenção dos que fizeram o juramento era proibir apenas aquela geração, e não as futuras, de se casar com membros da tribo
Para assegurar uma divisão sistemática da Terra de Israel entre as 12 tribos, foram estipuladas restrições sobre o casamento entre membros de duas tribos diferentes. Determina a Torá em Números, 36:8-9: “E toda filha que receber uma herança… se casará 13
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5ª - Nesse dia os judeus de Betar, que haviam sido mortos, puderam ser enterrados.
de Binyamin. A readmissão dessa tribo na comunidade de Israel ocorreu durante o juizado de Otniel ben Kenaz, que governou o Povo Judeu nos anos 2533-2573 (12281188 a.E.C.) 3ª - Esse foi o dia em que expirou o trágico decreto de que a geração do Êxodo morreria no deserto do Sinai. Depois de os 12 homens enviados por Moshé para espionar a Terra de Israel retornarem de sua jornada de 40 dias e 10 deles terem desencorajado o povo de tentar entrar na Terra, D’us jurou, em Tisha b’Av – o 9o dia do mês de Av – que todos os homens de 20 a 60 anos de idade não entrariam na Terra Prometida: todos morreriam no deserto antes de atingirem 60 anos de vida. E ano após ano, cada um dos homens naquela faixa etária, cavava um túmulo, na véspera de Tishá b’Av, e se deitava, esperando o sono eterno. Na manhã seguinte, fazia-se um anúncio: “Que os vivos se separem dos mortos”. Todos os que haviam sobrevivido à noite, levantam-se e deixavam os túmulos. Esse cenário macabro ocorria ano após ano. No entanto, no 40o ano, ocorreu algo inesperado na manhã de Tishá b’Av: todos se levantaram de seus túmulos. O Povo Judeu acreditou que aquilo ocorrera por terem calculado mal a data. Mas, quando surgiu a Lua Cheia – fenômeno que ocorre no meio de um mês judaico-, ficou claro que já havia transcorrido o dia 9 de Av e que certamente expirara o trágico decreto. Assim sendo, o Povo Judeu celebrou o dia 15 de Av como um dia de festa.
4ª -Foi nesse dia que Hoshea ben Elah removeu as sentinelas estacionadas por Yaravam ben Navat nas estradas que levavam a Jerusalém. Depois da morte do Rei Salomão, a Terra de Israel foi dividida em dois reinos: Israel e Yehudá. Yaravam ben Navat, governante do Reino de Israel – que era povoado por todas as tribos, excetuando-se a de Yehudá e Binyamin -, colocou barreiras impedindo que os cidadãos de seu reino fizessem as três peregrinações anuais ao Templo Sagrado em Jerusalém, que era a capital do Reino de Yehudá. Essas barreiras foram removidas, por fim, 200 anos mais tarde, por Hoshea ben Elah, o último rei do Reino Norte de Israel, em 15 de Av do ano de 3187 (574 a.E.C.) 14
A cidade de Betar foi o último baluarte da revolta de Bar Kochba. Ao cair, em Tishá b’Av do ano de 3893 (133 E.C.), os romanos massacraram os sobreviventes da batalha com crueldade, nem sequer permitindo que os judeus enterrassem seus mortos. Seus corpos ficaram expostos durante todo o reinado do imperador romano Adriano, que proibiu seu sepultamento. Milagrosamente, seus corpos não se decompuseram. No ano de 3908 (148 E.C.), em 15 de Av, os judeus finalmente puderam enterrar seus mortos. Nesse dia nossos Sábios instituíram a quarta bênção do Birkat HaMazon (Bênção após as Refeições): “Aquele que é bom e faz o bem”. “Que é bom” celebra o milagre que os corpos dos judeus que tombaram em Betar não se decompusessem. “Que faz o bem” significa que, por fim, a Divina Providência permitiu que os corpos fossem enterrados. 6ª - Esse foi “o dia em que os machados foram quebrados”. Quando o Templo Sagrado de Jerusalém existia, a mitzvá de cortar as árvores para o Altar era concluída em 15 de Av. Essa ocasião era celebrada com festas e júbilo – como de costume ao se concluir uma empreitada sagrada – e incluía um cerimonial de quebra dos machados. 7ª- Nesse dia, as moças solteiras de Jerusalém saíam para dançar
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nos vinhedos e os rapazes que não tinham esposa, dirigiam-se até lá para escolher a sua pretendida. Em 15 de Av, essas moças dançavam nos vinhedos cantando: “Jovens, levantem os olhos e busquem a quem escolher para si próprios” (Talmud Bavli, Taanit 26a). Era, portanto, o dia mais adequado para o início dos relacionamentos que iriam resultar em casamentos. E como, para nós, não há ocasião mais feliz do que um casamento judaico, forma de perpetuar o Povo Judeu e o Judaísmo, o dia 15 de Av foi considerado o dia mais feliz do nosso calendário.
dos dias mais auspiciosos do ano judaico e, como ensinam nossos Sábios, em dias auspiciosos boas coisas tendem a acontecer. Sendo
assim, esse dia nos dá poder e condições de realizar coisas importantes e tomar boas decisões. No entanto, há uma razão mais profunda para o dia 15 de Av ser uma data extremamente significativa em nosso calendário. Como vimos acima, muitas tragédias históricas ocorridas em 9 de Av, Tishá b’Av, foram retificadas no dia 15. Por exemplo, D’us decretou que a geração do Êxodo morreria no deserto em Tisha b’Av, mas esse decreto foi anulado no dia 15 do mesmo mês. O que é muito impressionante sobre o dia 15 de Av é que ocorre menos de uma semana após o dia 9 – Tishá b’Av. Em menos de sete dias, o Povo Judeu vai de seu nadir, de seu ponto mais baixo, a seu ápice: de 9 de Av, dia mais triste do ano, ao dia 15, o mais alegre. Nisso temos uma
Essas razões mencionadas no Talmud para tanta alegria nesse dia Tu B’Av deixou de ser relevante, na prática. Contudo, a data permanece altamente significativa por ser um 15
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como sua capital? Impossível, pensam. Será um milagre se houver um Povo Judeu dentro de cinco anos, pensam, amargurados. O homem misterioso continua a falar. “O hebraico será o idioma desse Estado Judeu”, diz. “O Idioma Sagrado, Lashon ha-Kodesh, tornarse-á o idioma diário desse país. As crianças, nas ruas, falarão a língua dos profetas”...
Mapa da Terra Santa, Israel. Herdeiros de J.B.Homann. Mostra a região dividida nas 12 tribos de Israel
grande lição, que sustentou nosso povo ao longo de 2.000 anos de exílio, possibilitando-nos vencer todos os testes e tormentos pelos quais nós, judeus, passamos. O dia 15 de Av nos ensina a ter fé, pois a salvação está sempre perto de nós, ou seja, as maiores vitórias geralmente vêm após as maiores derrotas.
Um sonho chamado Israel Imaginemos o seguinte cenário fictício: em uma hora tardia, em 1943, um misterioso personagem entra no campo de extermínio nazista de Auschwitz. De alguma forma consegue entrar sem ser visto. Reúne todos os judeus daquele campo de morte. Não revela seu nome nem identidade, mas traz uma mensagem para eles, que ouvem atentamente suas palavras.
“Daqui a cinco anos, será fundado um Estado Judeu na Terra de Israel”, diz. “Esse Estado Judeu nascente terá que lutar por sua sobrevivência porque os países vizinhos tentarão erradicá-lo. Mas ele vencerá. Jamais perderá uma guerra. E em menos de 20 anos após sua fundação, vencerá vários países em apenas seis dias. E, nessa famosa Guerra dos Seis Dias, o Estado Judeu conquistará a Cidade Velha de Jerusalém, que se tornará sua capital. Durante 2.000 anos vimos ansiando e orando pelo retorno à Terra de Israel e pelo restabelecimento de Jerusalém como nossa Capital Eterna. E isso ocorrerá em menos de 25 anos”. Os judeus ouvem, incrédulos. Esse sonhador alucinado não sabe o que está ocorrendo conosco? Será que não sabe que estamos vivendo o capítulo mais escuro e sombrio em toda a História Judaica? Um Estado Judeu em Eretz Israel? Yerushalaim 16
“No entanto, não lhes mentirei”, diz. “A construção desse país requererá muito sacrifício. Os judeus terão de lutar em defesa de seu país. Muitos de seus filhos darão a vida em sacrifício. Terão que se esforçar para fazer do deserto um jardim florescente. Terão que trabalhar arduamente para construir seu país. Mas prometo a todos vocês: o Estado Judeu terá sucesso e prosperará. Milhões de judeus do mundo todo acorrerão para nele viver. Em apenas poucas décadas as forças armadas desse Estado Judeu se tornarão famosas por serem as melhores do mundo. Produzirão os melhores soldados, pilotos e espiões do mundo. E sete décadas após sua fundação, o Estado Judeu será um dos países mais avançados e respeitados do planeta”. O homem misterioso pausa. Retoma com um tom de voz entristecido. “Sinto tanto, mas a maioria de vocês não viverá para ver esse dia”, diz, num sussurro. “Mas eu lhes prometo: o Povo Judeu se erguerá das cinzas. E erguerá um país e um exército para garantir que o que hoje ocorre jamais volte a se repetir. Nunca mais os judeus viverão sem um país seu que os receba e sem um exército que os defenda. E também lhes prometo que jamais os esquecerão e jamais esquecerão seu sofrimento e sacrifício. Vocês terão
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O dia 15 de Av é o mais feliz de nosso calendário porque nos ensina a jamais perder a esperança ou desistir.
um santuário em seu coração e no de todas as gerações posteriores. Seu sofrimento não terá sido em vão”. Isso dito, desaparece. Os judeus de Auschwitz não sabem o que fazer com o que tinham ouvido. Quem era esse homem vindo do nada que lhes dissera coisas que não podiam sequer compreender? Não sabiam dizer. Eles estão atordoados com suas palavras: quanta fantasia, pensam. Quem dera.... Nem
O CASAMENTO, MORITZ OPPENHEIM, 1861
conseguem imaginar um país judeu na Terra Santa, com Jerusalém como capital, e o hebraico o seu idioma. Tudo o que conhecem é morte e sofrimento, fome e frio. Tudo o que veem a seu redor são judeus, homens e mulheres, velhos e novos, crianças e até bebês – todos presos, torturados, mortos. Perguntam-se se estão vendo o fim do Povo Judeu. Estão vivenciando o nadir, o ponto mais baixo da História Judaica. Nem mesmo Jó, personagem bíblico que simboliza o sofrimento, passou pelo que eles estão passando. Tiram aquele homem misterioso, alucinado, de sua cabeça; deve ser louco; provavelmente um judeu que busca nos sonhos uma forma de sobreviver aos horrores diários.... Uma visão arrebatadora, nada mais do que isso.
A Lição de 15 de Av A cena acima descrita é fruto da imaginação do autor deste artigo. Não há relatos de qualquer profeta ou mensageiro dos Céus que tenha visitado nosso povo nos campos de morte nazistas para confortá-los e lhes assegurar que o Povo Judeu tinha um futuro brilhante. Não podemos saber, ao certo, o que lhes passava pela cabeça enquanto viviam cercados de morte e sofrimento. Muitos deles provavelmente pensaram estar testemunhando e vivendo os dias finais do Povo Judeu. E, ainda que o movimento sionista tenha precedido a Shoá e seus líderes estivessem preparando os fundamentos de um Estado Judeu muitos anos antes do início da guerra, é difícil acreditar que os milhões de judeus assassinados pelos nazistas tivessem sonhado que, apenas algumas décadas mais tarde, o Povo Judeu estaria erguendo-se do abismo e concretizando o sonho de 2.000 anos, de retorno à Jerusalém. 17
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Quem poderia ter imaginado que, menos de três anos após o fim da 2ª Guerra Mundial, seria fundado um Estado Judeu soberano, na ancestral Terra de Israel? Quem poderia ter sonhado que apenas 20 anos após sua fundação, o Estado de Israel venceria uma guerra decisiva em meros seis dias, conquistando a Cidade Velha de Jerusalém, reconquistando o nosso Kotel ha-Maaravi, tornando-se uma moderna potência militar? Quem poderia ter sonhado que o hebraico, idioma de nossos profetas, que não era falado há milhares de anos, tornar-se-ia o idioma diário de milhões de judeus que vivem no Estado Judeu? Quem poderia ter previsto que 70 anos após sua fundação, Israel se tornaria uma potência tecnológica e militar, ajudando aqueles mesmos países que outrora nos perseguiam e massacravam? Se alguém tivesse feito essas previsões durante o Holocausto, esse alguém teria sido afastado como sonhador alucinado, doente mental. A criação do Estado Judeu poucos anos após o Holocausto e seu desenvolvimento desde então é certamente um grande milagre.
– barbaramente torturados e exterminados – e apenas alguns anos depois, ergue uma nação onde os milagres ocorrem em seu dia a dia. Em poucas décadas apenas, um povo perseguido e massacrado durante milhares de anos, ergue o exército mais bem treinado do planeta, exportando expertise militar e tecnológica para o restante do mundo.
A criação do Estado de Israel pouco tempo após a Shoá é um símbolo da relação entre Tishá b’Av – 9 de Av – e Tu b’Av – o dia 15: o dia mais triste do calendário judaico é seguido, quase de imediato, pelo dia mais feliz. O 15º dia de Av continua sendo uma data tão significativa porque nos ensina que, mesmo estando à beira do abismo, podemos estar prestes a ter uma vitória muito iminente. Nossa sorte pode mudar completamente num piscar de olhos. Um povo perde sete milhões de pessoas
Os povos que sofrem genocídio – ainda que em escala menor do que o Holocausto – geralmente não sobrevivem por muito tempo; rapidamente caem no esquecimento. Poder-se-ia ter imaginado que após o extermínio de sete milhões de judeus, entre os quais mais de um milhão e meio de crianças, nosso povo teria desistido de ser judeu. Qualquer outro povo teria aberto mão de sua identidade nacional. Mas não o Povo Judeu. E por quê? Como foi possível que nosso povo se erguesse do fundo do abismo para
alcançar as alturas a que chegamos desde a fundação do nosso Estado? As respostas são muitas. A Divina Providência, naturalmente: o eterno pacto de D’us com o Seu Povo Eleito. Mas também o fato de que durante 2.000 anos guardamos o luto em Tishá b’Av, não perdendo a esperança porque sabíamos que, em apenas poucos dias, chegaria o dia 15 de Av; pois,
CAÇAS T-15 DA FORÇA AÉREA DE ISRAEL SOBREVOAM O CAMPO DE MORTE DE AUSCHWITZ, SET. 2003.
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anos após ano, lembrávamo-nos de que o dia mais triste de todos prontamente seria seguido pelo mais feliz de todos. O dia 15 de Av é o mais feliz de nosso calendário porque nos ensina a jamais perder a esperança ou desistir. Faz-nos lembrar, repetidamente, que a salvação ocorre quando menos esperamos, ensinando-nos a ter esperança e a sonhar e esperar que nossos sonhos e esperanças se concretizarão, por mais difícil que sejam as circunstâncias em que nos encontremos.
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Durante a 2ª Guerra, mais de um milhão de judeus foram exterminados apenas em Auschwitz. Em 1944, os aviões dos Aliados sobrevoaram o campo de extermínio de AuschwitzBirkenau. Essas aeronaves podem ter sobrevoado os campos de morte e fotografado as ocorrências
que encontraram. Mas não bombardearam o campo nem fizeram nada para salvar nosso povo. Mas, em 4 de setembro de 2003, 59 anos mais tarde, jatos de caça sobrevoaram Auschwitz novamente. Dessa vez eram caças da Força Aérea de Israel realizando o voo da vitória. Em uma cerimônia no campo, a voz do comandante que liderava a esquadrilha, futuro comandante da F.A.I., o Major Brigadeiro Amir Eshel, fez-se ouvir: “Nós, pilotos da Força Aérea de Israel, nos céus do campo dos horrores, erguemo-nos das cinzas de milhões de vítimas. Levamos seu grito silencioso; saudamos sua bravura e lhes prometemos proteger o Povo Judeu e sua terra, Israel. Nossa Pátria, um lugar que eles não puderam conhecer”.
Interjeição, em iídiche, que significa “Basta, ó Céus!” 2 Nascido em 1772 e falecido em 1810.
“Guevalt1!!! Nunca percam a esperança! Não se desesperem!”, escreveu um grande mestre Chassídico, o Rabi Nachman
Há apenas uma geração, chegamos ao ponto mais trágico de nossa história, ao fundo do poço. E hoje, onde estamos? Nossa terra, Eretz Israel, está cada dia mais forte – militar, tecnológica, econômica e diplomaticamente – dandonos muito orgulho. Quem dera os milhões que pereceram no Holocausto tivessem podido ter, ainda que apenas de relance, uma visão do lindo país que é Israel e de seu povo belo, valente e brilhante.
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de Bretslav2. Essas palavras foram incluídas em uma canção e ouvidas nos guetos e campos de concentração durante o Holocausto, e inscritas em um prédio no Gueto de Varsóvia, sendo fonte de resistência e resiliência para inúmeras vítimas a caminho de sua morte. E é essa mensagem que o dia 15 de Av tem dado ao Povo Judeu ao longo dos milênios – a mensagem que inspirou o Povo de Israel a se erguer do abismo, a se reconstruir, a retornar à sua Pátria e Capital eternas e construir um país cuja luz brilha cada vez com mais intensidade.
BIBLIOGRAFIA
7 Joyous Events That Happened on the 15th of Av – Yanki Tauber.
https://www.chabad.org/library/article_ cdo/aid/717167/jewish/7-Joyous-EventsThat-Happened-on-the-15th-of-Av.htm
Talmud Bavli, Taanit – The Schottenstein Edition – Artscroll Mesorah
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Rafi Eitan, o lendário espião que prendeu Eichmann último dos gigantes da comunidade de inteligência de Israel, incansável na luta em prol do Povo Judeu, Rafi Eitan participou de centenas de operações para resguardar a segurança do Estado Judeu. Foi ele quem liderou a equipe de agentes do Mossad que, em maio de 1960, capturou Adolf Eichmann em Buenos Aires, e o levou a Israel para ser julgado. Eitan faleceu em março deste ano de 2019, aos 92 anos.
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aixo e atarracado, Eitan foi um dos pilares dos Serviços de Inteligência de Israel. Facilmente reconhecido por seus cabelos brancos e óculos de aros grandes, ele era uma lenda no país pelo fato de muitas vitórias da espionagem levarem sua assinatura. Como não se cansou de repetir, ao longo de sua vida, quando questionado sobre os aspectos morais de algumas de suas decisões, dizia que sua prioridade era a segurança de Israel e de seu povo. Em suas palavras, não queria mais que o sangue judeu fosse impunemente derramado.
papel importante no assassinato dos comandos palestinos que executaram o massacre dos atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, e no ataque “cirúrgico” ao reator nuclear iraquiano Osirak, em 1981. Líderes políticos israelenses e diretores dos Serviços de Inteligência do país lamentaram a morte do eterno chefe de operações do Serviço Secreto. Entre outros, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que afirmou: “Rafi faz parte da galeria de heróis dos serviços de Inteligência do Estado de Israel, que se dedicaram à segurança do país. Sua perspicácia e compromisso com o povo e Estado de Israel foram ímpares”. Netanyahu afirmou ainda que ele era “um amigo próximo da minha família”.
Em 2010, em uma entrevista ao jornal israelense Haaretz, ele disse: “Quando há uma guerra contra o terror, você é obrigado a conduzi-la sem pensar em princípios. Você simplesmente luta”. E ele lutou por Israel.
Yossi Cohen, atual diretor do Mossad, manifestou-se com as seguintes palavras: “Seu trabalho e suas ações ficarão gravadas em ouro nos Anais de nosso País. As fundações que Rafi colocou nos primeiros anos do Estado são protocolos ainda muito significativos nas atividades do Mossad …. A grande maioria de suas ações não podem vir a público, mas contribuíram significativamente para a segurança de Israel”.
No entanto, por razões de segurança nacional, a maioria das operações nas quais participou são mantidas em segredo, ainda hoje. Conhecemos apenas algumas. Apesar da captura de Eichmann ser a mais famosa, Eitan foi o cérebro pensante por trás de várias operações pouco conhecidas, mas não menos importantes para os interesses nacionais de Israel. Teve, inclusive, 20
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Rafi Eitan durante Cerimônia anual em memória do Holocausto no knesset, Maio de 2008
Os primeiros anos Rafi Eitan nasceu em 23 de novembro de 1926 no Kibutz Ein Harod, durante o Mandato Britânico, quando o kibutz ainda era um pequeno assentamento perto de Tel Aviv. Seus pais, Yehudit Volwelsky e Noach Hantman, sionistas russos, chegaram a Eretz Israel em 1923, com a Terceira Aliá. O casal teve quatro filhos. Em 1948, Rafi e um dos irmãos trocaram o sobrenome para Eitan. O pai, Noach, era agricultor e poeta; e a mãe, Yehudit, uma ativista social. Ambos falavam hebraico com os filhos, hábito cultivado antes ainda de chegar à então Palestina. “Entre si, eles falavam russo, que era a cultura dominante em nossa casa”. Rafi cresceu em Ramat Hasharon e cursou o Ensino Médio em uma escola agrícola, em Guivat Hashloshá. Foi sua mãe quem o levou, um dia, para assistir um filme
sobre Mata Hari, uma espiã na 1ª Guerra Mundial. Anos mais tarde, em uma entrevista, Rafi contou ter ficado muito impressionado e ter dito à sua mãe que essa seria a sua profissão - espião.
O nascimento de um guerreiro Ele tinha apenas 12 anos quando se filia à Haganá, o exército clandestino judaico na Terra de Israel, então sob Mandato Britânico, semente do futuro Exército de Israel, estabelecido em 1948 com a criação do Estado. Dessa época, ele guardou na memória o momento em que foi levado a uma plantação de laranjas, juntamente com outras crianças, onde jurou lealdade ao sionismo. Entrou na Haganá para defender os assentamentos judaicos contra os ataques árabes. E continuou defendendo e lutando por Israel durante toda a sua vida. Ao completar 18 anos, em 1944, passa 21
a integrar a unidade de elite da Haganá, o Palmach. Após a 2ª Guerra Mundial, participou de operações para a entrada “clandestina” de refugiados judeus no país, desafiando as autoridades britânicas. Em uma das ações explodiu a estação de radares que supervisionava o porto de Haifa. O equipamento era usado pelos ingleses para detectar os barcos que se aproximavam ilegalmente do porto. Para chegar até a estação sem ser visto, Eitan foi obrigado a rastejar através dos esgotos, o que lhe garantiu o apelido que o acompanharia pela vida toda, Rafi, Hamasriach (“Rafi, o fedorento”). Esse apelido o diferenciou de outro conhecido Rafael Eitan (Raful), que mais tarde seria Chefe do EstadoMaior de Israel. Em 1946, Rafi participou de uma operação do Palmach contra os templários, uma comunidade alemã protestante instalada na então Palestina, que era simpatizante JUNHO 2019
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do nazismo. O objetivo era “desencorajar” os membros do movimento, que se consideravam filiados ao Partido Nazista, de voltar para Israel. Dois desses templários foram mortos. Ao falar posteriormente sobre o episódio, Eitan contou: “Não sentimos culpa alguma; pelo contrário, sabíamos que tínhamos feito nossa obrigação, como filhos do Povo Judeu”. Ainda em 1946, no mês de junho, ele foi um dos participantes da operação “Noite das Pontes”. Também conhecida como Operação Markolet, a missão tinha como alvo a destruição de 11 pontes que ligavam a área do Mandato Britânico ao Líbano, Síria, Transjordânia e Egito, e assim interromper as rotas de transporte usadas pelas forças britânicas. Para proteger a operação e confundir os ingleses, cerca de 50 ações foram realizadas ao longo do país, em uma mesma noite. Apenas uma falhou e 14 combatentes do Palmach nela perderam a vida.
forçado a usar aparelho auditivo pelo resto da vida. Em 14 de maio de 1948, dia em que David Ben-Gurion declarou a criação do Estado de Israel, Eitan estava com uma unidade do Palmach no Norte do país, em uma área próxima ao vilarejo de Malkiya, lutando contra o exército libanês. “No meio da batalha, o operador de rádio me chamou para dizer que Yigal Alon, comandante do Palmach, estava transmitindo o discurso de Ben Gurion, proclamando a independência, em Tel Aviv. Eu lhe respondi: “Obrigado! ’, e voltei à luta... Estávamos ocupados demais para celebrar a grandeza daquele dia”... Durante a Guerra da Independência, lutou em várias batalhas decisivas. Como outros de sua geração, conquistou uma aura de herói. Mas, ferido no pé e com o problema da audição, Eitan comunicou a seus superiores que não tinha mais condições de lutar nos campos de
batalha. Encaminharam-no, então, à Unidade de Inteligência. Ao dar baixa no exército, ele entrou para o Shin Bet, Serviço de Segurança e Inteligência interna. Iniciava-se sua carreira de espião. Nesse ínterim, fez o curso de Economia na London School of Economics.
Nasce um Espião, com E maiúsculo Em 1951, Eitan é recrutado para a área de Inteligência por Isser Harel, outra lenda na Inteligência israelense, que chefiou o Mossad e o Shin Bet1. Eitan lembra que foi aceito após uma breve conversa com Harel. “Isser apontou para o terceiro andar de um edifício, em frente ao café onde estávamos, e simplesmente disse: ‘Quero você lá’; e eu respondi: ‘Sem problema’, e me levantei. Inspecionei o prédio e decidi escalar a calha. Na época, eu era magro e forte. Cheguei rapidamente à varanda e acenei para Harel. Quando desci, ele me disse que eu tinha sido aceito”.
No ano seguinte, 1947, juntamente com os outros membros do Palmach, Eitan libertou judeus presos no campo inglês de detenção em Atlit, perto de Haifa. No local os ingleses mantinham presos milhares de “imigrantes judeus ilegais”, a maioria sobreviventes do Holocausto. Ele foi encarregado de colocar minas ao longo da estrada para impedir que os britânicos chegassem ao campo após o início da operação. Durante a execução, uma das minas explodiu, danificando seu ouvido e resultando na perda de audição. Eitan foi Mossad é o serviço de Inteligência israelense fora do território do Estado de Israel. Shin Bet ou Shabak (iniciais de Serviço de Segurança), é o serviço de segurança interna do país.
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Eitan (à esquerda) durante seus dias no Palmach (Foto: Arquivo Palmach)
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Rapidamente seus superiores perceberam sua mente rápida e seus talentos operacionais, e ele foi indicado chefe da Unidade Central de Operações, uma unidade conjunta com o Mossad. Galgou por todas as posições do Shin Bet, antes de se juntar ao Mossad, onde se tornou chefe de operações. Serviu no Mossad até 1972. Durante esse período, participou pessoalmente, ou na qualidade de chefe de operações, em algumas de suas mais ousadas operações. Ao longo das décadas de 1950 e 1960, a unidade da qual fazia parte concentrou-se na contraespionagem, seguindo e interceptando diplomatas e espiões soviéticos, invadindo embaixadas e instalando equipamentos de escuta. Entre outras, por exemplo, suas atividades incluíam impedir a venda de equipamentos alemães ao Egito. Trabalhou, também, para a devolução de propriedades confiscadas aos judeus durante o Holocausto, além de estar envolvido no desenvolvimento israelense de armas nucleares e manter contatos clandestinos com países árabes. Em 1954, participou do sequestro, em Paris, de um oficial da Força Aérea de Israel acusado de espionar para o Egito. O oficial foi levado para Israel em um avião militar, mas a sedação foi por demasiado forte e ele acabou falecendo. Seu corpo foi lançado ao mar. O episódio foi mantido em sigilo durante décadas. Quando veio à tona e lhe perguntaram sobre o ocorrido, repetiu o que respondia sempre que questionavam seus atos: “Nada do que fiz no cumprimento de uma missão poderia ter-me incomodado, de maneira alguma”.
Rafi Eitan com sua esposa, Miriam, e seu filho, 1966
Não há dúvidas de que seu maior triunfo público foi ter liderado a equipe do Mossad responsável pela captura de Adolf Eichmann, um dos principais formuladores da “Solução Final”, em 1960, em Buenos Aires, e seu translado a Israel para ser julgado. Como veremos mais adiante, o sucesso na missão permitiu levar o carrasco nazista a julgamento, em abril do ano seguinte. Em 1964, Eitan assumiu o Departamento de Operações do Mossad na Europa. A Operação Dámocles foi executada sob seu comando. O objetivo era impedir o envolvimento de cientistas alemães em projetos bélicos no Egito, na época uma das grandes ameaças a Israel. Para isso, era necessário rastrear e, em seguida, liquidar os cientistas alemães que estavam construindo foguetes para Nasser, então presidente do Egito. No ano seguinte, como chefe do Mossad na Europa, envolveu-se em uma operação que localizou e entregou o agente da Inteligência do Marrocos, o líder oposicionista 23
Medhdi ben-Barka. Na época, cercado por inimigos liderados pelo Egito, Israel procurava criar vínculos secretos com regimes árabes moderados e pró-ocidentais. Entre eles, o Marrocos do rei Hassan II. Os Serviços de Inteligência marroquinos propuseram um acordo a Israel: ajudá-los a encontrar benBarka e o monarca permitiria ao Mossad espionar o Egito e países árabes inimigos a partir de solo marroquino. Em 1968, os serviços de Eitan foram necessários para mais uma missão complicada. A Inteligência israelense havia registrado uma empresa de fachada na Europa. Essa empresa tinha comprado 200 toneladas de urânio de uma empresa belga que estava desesperada para se livrar desse urânio. O material foi embarcado em um navio que Eitan e seu colega tinham comprado, usando o disfarce de empresários estrangeiros. Em alto-mar a carga foi transferida para outro navio e, depois, carregada em um porto israelense e enviada para abastecer o reator de Dimona. JUNHO 2019
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No mesmo ano, passando-se por um químico israelense ligado ao governo, Eitan visitou a fábrica da U.S. Nuclear Materials and Equipment Corporation (NUMEC), na cidade de Apollo, Pensilvânia, que reciclava urânio descartado para o Departamento de Energia dos Estados Unidos. A fábrica pertencia a Zalman Shapiro, judeu americano e sionista devotado que fazia doações ao serviço secreto israelense. Pouco depois da visita de Eitan, 90 quilos de urânio enriquecido, quantidade suficiente para a produção de seis bombas atômicas, desapareceram. Na época, levantou-se a suspeita de que Eitan estava envolvido no misterioso “desaparecimento” do urânio e que as 200 toneladas haviam sido desviadas para abastecer o programa nuclear israelense, mas nada foi provado e o caso nunca foi solucionado. Acredita-se, também, que, durante um tempo, ele tenha sido assessor secreto para contraterrorismo do MI6, a agência britânica de Inteligência, e, nessa qualidade, tenha ajudado os agentes do Mossad a localizar um agente do esquadrão de bombas do Exército Republicano Irlandês, em Gibraltar, que foi morto naquela época por forças especiais britânicas.
Eitan (centro) com a equipe do Mossad na caça ao nazista Josef Mengele
A captura de Eichmann Como vimos acima, nenhuma missão chamou tanta atenção quanto a captura de Adolf Eichmann, em que Eitan foi chefe de operações. “Pela primeira vez, os judeus puderam julgar seus assassinos”, disse Isser Harel, chefe do Mossad na época. Um dos nazistas mais procurados do mundo, Adolf Eichmann, oficial da SS e um dos participantes da Conferência de Wansee2, era um dos arquitetos mais graduados
da “Solução Final” de Hitler, responsável, entre outros, por elaborar o plano de deportações em massa dos judeus para os campos de extermínio. Em 1957, Felix Shinar, representante do governo de Israel nas negociações de reparações de guerra, foi secretamente informado pelo procurador-geral da província de Hesse, Fritz Bauer, judeu alemão, que Eichmann estava vivo, na Argentina. A informação que Shinar retransmitiu à Israel chegou até Isser Harel, do Mossad. Daí para frente seus agentes passam a investigar o
Em 1972, desapontado por não ter sido promovido a diretor do Mossad, renuncia ao cargo. A Conferência de Wannsee foi a reunião dos membros mais graduados do governo da Alemanha nazista e líderes das SS, realizada no subúrbio deWannsee, em Berlim, em 20 de janeiro de 1942. assunto em pauta era a “Solução Final da Questão Judaica” – o genocídio dos judeus europeus.
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A equipe operacional para capturar Eichmann em uma reunião com o primeiroministro Ben-Gurion, fevereiro de 1960
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caso. (V. “Os segredos da Captura de Eichmann”, Morashá Ed. 95, abril 2017) Descobriram que conferia a informação de que uma jovem alemã de Buenos Aires namorava um rapaz chamado Nicolas Eichmann, que vivia com sua família em um subúrbio da cidade. O pai do rapaz usava outro sobrenome, fazendose conhecer por Ricardo Klement. Durante dois anos, esse homem foi vigiado de perto, 24 horas por dia, 7 dias por semana, por uma equipe de 11 homens, até que o Mossad chegasse à conclusão de que Klement era realmente Eichmann. Assim, no dia 11 de maio de 1960, agentes israelenses liderados por Eitan capturam “Ricardo Klement” enquanto este caminhava até o ponto de ônibus que o levaria para casa. “Un momentito, señor”. Essa frase permitiu a Eitan capturar o nazista. Ao relembrar aquele dia, ele contava: “Eu apertei seu pescoço com tanta força que pude ver seus olhos saltando das órbitas. Um pouco mais de pressão e eu o teria matado. Comecei a procurar as cicatrizes que sabia que ele tinha, e as encontrei. E me dei conta – este é o homem. Em meu coração, cantei o hino dos partisans judeus durante
em si por encerrado. Na esteira do sequestro de Eichmann iria desenvolver-se um longo processo cuja finalidade era expor ao mundo e à nova geração de israelenses os pormenores do genocídio sistemático dos judeus da Europa executado pela Alemanha.
eichmann, em sua cela em jerusalém
o Holocausto: ‘Mir zainen do’, Estamos aqui !’”. Eichmann foi colocado em um carro e levado para uma casa segura, onde permaneceu durante sete dias, até finalmente admitir que era, de fato, Adolf Eichmann. Para tirá-lo do território argentino, disfarçaramno de tripulante da companhia aérea EL Al, forçando-o a tomar uísque para embebedá-lo. Foi, então, escoltado até o avião que já estava pronto para partir. A captura repercutiu rapidamente, sendo condenada pelas autoridades argentinas por violação à soberania nacional e à lei internacional. O fato de ter sido capturado um dos mais procurados criminosos de guerra nazistas não dava o assunto
Julgamento das experiências de Mengele com gêmeos, no yad vashem. a direita, rafi eitan e yehuda bauer
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Julgado, ele foi considerado culpado por crimes de guerra e crimes contra a Humanidade por ter organizado o extermínio de milhões de judeus. Foi enforcado em 1962. A captura de Eichmann e seu julgamento em Jerusalém foram fundamentais para a compreensão do Holocausto no mundo todo. Em seu livro Gideon’s Spies: The Secret History of the Mossad (1995), o escritor britânico e jornalista investigativo Gordon Thomas narrou o diálogo entre Eitan e Eichmann na câmara de execução, baseado em conversas com o israelense: “Eichmann me olhou e disse, ‘Chegará a sua hora de me seguir, judeu’. E eu lhe respondi: ‘Mas não hoje, Adolf, não hoje’. Eitan estava posicionado atrás da forca quando Eichmann foi executado. Em uma entrevista concedida em 2014 ao programa de televisão Uvda, Eitan disse que aquela operação tinha sido uma das mais simples que executou. Em uma entrevista posterior, ele revelou que, na época da captura, o Mossad já tinha conhecimento da presença na Argentina de outro nazista notório, Josef Mengele, responsável pelos terríveis experimentos médicos com os prisioneiros, em Auschwitz. Eitan impedira qualquer tentativa de irem em seu encalço por acreditar que isso colocaria em risco a captura de Eichmann. Mengele faleceu de morte natural, no interior de São Paulo, sem jamais ter sido capturado. JUNHO 2019
PERSONALIDADE
A vida após o Mossad Em 1976, quando Yitzhak Rabin torna-se primeiro-ministro, Ariel Sharon assume a pasta de Assuntos de Segurança. Amigos de longa data, Sharon, nomeia Eitan seu assistente. Dois anos depois, foi indicado assessor para Contraterrorismo do então primeiro-ministro Menachem Begin. Nessa função, desempenhou papel importante nas duas operações mencionados no início deste artigo: a caça e assassinato dos palestinos responsáveis pelo massacre dos atletas israelenses em Munique, em 1972, e o ataque “cirúrgico” de Israel ao reator nuclear iraquiano, em 1981. Em 1981 foi nomeado chefe do Escritório de Relações Científicas (em hebraico, Lekem – Ha-Lishká le-Kishrei Madá), uma Agência de Inteligência israelense para coletar inteligência científica e técnica no exterior, particularmente para o programa nuclear de Israel, e também recrutar espiões nos países ocidentais. Um caso diretamente ligado ao Lekem e a Eitan ocorreu em 1985 e envolveu o judeu americano Jonathan Pollard, analista de um centro de contra Inteligência naval dos EUA. Ele foi preso pelo FBI sob a acusação de ser espião de Israel. Ao ser detido, Pollard contou que fora recrutado por Eitan, a quem ele admirava, e confessou ter entregue milhares de documentos aos israelenses. O analista foi condenado à prisão perpétua e libertado após 30 anos, em 2015. Antes de ser preso, Pollard procurou asilo na Embaixada de Israel em Washington, mas foi impedido de entrar, por ordem direta de Eitan, temendo que o asilo provocasse sérias consequência no
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2. 1. com seu amigo, Sharon. 1987 2. com a chanceler alemã angela MERKEL e o primeiro-ministro EHUD OLMERT. 2007
relacionamento entre Israel e seu maior aliado, os Estados Unidos. Eitan sempre insistiu que suas ações tinham total apoio de seus superiores apesar de Shimon Peres, então primeiro-ministro de Israel, ter afirmado de que o Affair Pollard fora uma operação não-autorizada. Eitan não aceitou a acusação e repetiu que tinha agido sob ordens do governo, mas assumiu a responsabilidade pela operação e renunciou ao seu cargo.
aliado mais próximo, e desgastando seu relacionamento com os EUA. Atualmente, sabe-se que é uma prática comum, inclusive americana, espionar não apenas os inimigos, como também os amigos. Em 2013, Edward Snowden, revelou que os Estados Unidos haviam grampeado telefones de 35 líderes mundiais, inclusive de Angela Merkel, chanceler da Alemanha e aliada americana.
Com a prisão de Pollard, o Lekem foi fechado e Eitan passou a ser procurado pela Justiça americana. Nunca mais entrou nos Estados Unidos. O caso deixou Israel em uma situação constrangedora, pois o país foi surpreendido espionando seu
Anos mais tarde, Eitan, que sempre atestou a qualidade e relevância do material entregue por Pollard, diria que “o caso fora sua falha mais famosa”. Ainda durante uma entrevista concedida ao programa Uvda ele revelou que, apesar de não
na “marcha da vida” no campo de morte de auschwitz, com o rabino chefe ISRAEL Lau e eitan, então ministro da previdência
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se arrepender de suas ações, pois sempre agiu dentro da perspectiva de interesse nacional, pedia desculpas pessoais por seu papel no Caso Pollard. Mas, em 2018, quando lhe perguntaram se sentia remorsos por ter recrutado e coordenado o trabalho de Pollard, respondeu: “Não; por que deveria sentir? Eu trabalhava em uma área de alto risco. Algumas vezes você ganha; outras, você perde”. Com sua renúncia e afastado da comunidade de Inteligência israelense, com o apoio de Ariel Sharon, então ministro da Indústria, Eitan é nomeado diretor da empresa estatal Israel Chemicals, cargo que manteve até 1993. Supostamente aposentado, continuou a trabalhar assumindo a execução de grandes projetos agrícolas e de construção, em Cuba, à frente da empresa GBM Inc. Consulting & Trade Company. O sucesso foi tanto que em pouco tempo a empresa recebeu a Medalha por Trabalho Agrícola concedida pelo governo cubano. A comenda foi entregue pessoalmente por Fidel Castro durante a cerimônia de premiação. “Foi assim que conheci Fidel que, posteriormente, convidounos para outros encontros”. O líder cubano estava interessado no desenvolvimento da agricultura, mas queria, mesmo, era obter informações sobre o Oriente Médio. Eitan foi um dos mais próximos assessores de Sharon quando este se tornou primeiro-ministro e um dos que o convenceram da necessidade de remover assentamentos israelenses de Gaza. A retirada unilateral aconteceu no verão de 2005. Ele contou que, poucos meses depois, os dois chegaram a discutir um plano preliminar para deixar
com o primeiro ministro Netanyahu, na abertura de exposição sobre eichmann, no knesset, 2011
a Samaria, mantendo, no entanto, controle sobre o máximo possível de assentamentos israelenses na área. Quando Sharon sofreu o enfarte e Ehud Olmert assumiu em seu lugar, o plano foi deixado de lado. Em 2006, Eitan entrou formalmente para a política fundando o Partido Dor, de aposentados. Conquistou sete das 120 cadeiras da Knesset e foi, por um período curto, ministro da Previdência. Nas eleições de 2009, o Partido não conseguiu eleger nem um parlamentar e Eitan voltou às atividades privadas, afastando-se definitivamente da vida política. Nos últimos anos de sua vida dedicou-se à escultura, uma das paixões que sempre cultivou. Ao longo de 30 anos produziu mais de 100 obras. Sua vida inspirou livros e filmes. Ele próprio aparece no seriado HaMossad: Sipur Kisuy (Por dentro do Mossad, documentário Netflix), no qual, pela primeira vez desde sua criação, uma dezena de ex-agentes do Mossad contam, em primeira mão, detalhes de seu trabalho e 27
seus dilemas morais. Já a captura de Eichmann, esta foi retratada em Operação Final, de Chris Weitz, de 2018, e em O Homem que capturou Eichmann (1996) de William Graham. Eitan é também uma das inspirações do escritor Daniel Silva ao criar Ari Shamron, personagem de uma saga protagonizada por Gabriel Allon e que se baseia no mundo da espionagem israelense. Rafi Eitan morreu no Hospital Ichilov de Tel Aviv, em 23 de março de 2019, aos 92 anos, deixando a esposa, Miriam, três filhos e vários netos.
BIBLIOGRAFIA
www.jpost.com/Jerusalem-Report/The-spymasters-tale foreignpolicy.com/2019/03/31/remembering-israels-most-celebrated-spy-rafi-eitan-mossad-pollard-eichmann/ www.theguardian.com/world/2019/mar/25/ rafi-eitan-obituary www.nytimes.com/2019/03/23/obituaries/ rafi-eitan-dead.html www.independent.co.uk/news/world/middle-east/rafi-eitan-death-adolf-eichmann-israel-mossad-spy-tel-aviv-a8837256.html
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israel
em LATRUN, Museu e memorial homenageiam combatentes A cerca de 30 quilômetros de Jerusalém, em Latrun, no Vale de Ayalon, está situado o Yad La-Shiryon, Memorial e Museu para o Corpo de Blindados, de importância estratégica ao longo da história judaica.
o
museu foi construído no alto de uma colina estratégica nesse vale, onde durante o Mandato Britânico havia um posto policial inglês. A pedra fundamental do memorial, trazida do Sinai, foi colocada em 14 de dezembro de 1982 e, desde sua inauguração, em 1983, o Museu se tornou ponto de visitação de turistas israelenses e estrangeiros, de todas as idades.
permite que de lá se observe a estrada que leva a Jerusalém. Empresta, também, seu nome ao mosteiro ali localizado e a um antigo povoado árabe destruído durante a Guerra da Independência de Israel. Porém, mais importante de tudo, Latrun está no cruzamento de várias estradas importantes que levam a um lugar muito especial: Jerusalém, que foi palco de inúmeras batalhas ao longo da história do Povo Judeu e de Israel.
Yad La-Shiryon é uma combinação de memorial em homenagem aos soldados do Corpo de Blindados de Israel que tombaram nas várias guerras enfrentadas pelo país desde a luta pela Independência, em 1948, e de museu a céu aberto, constituindo um dos mais diferenciados museus de tanques, no mundo. As marcas de combates foram deixadas, intocadas, bem como algumas palavras escritas em árabe na carroceria dos veículos capturados em conflito.
Trata-se de lugar de importante significado histórico para os judeus, ao longo dos tempos. Lá se travou a mais dura batalha na Guerra de 1948, a Guerra da Independência, quando muitos soldados israelenses perderam a vida tentando tomar o local. Na Antiguidade, o Vale de Ayalon assistiu a Joshua Bin-Nun enfrentar seus inimigos e derrotar os reis amoritas; ao Rei David vencer os filisteus. O mesmo com Judá, o Macabeu, ao enfrentar o exército selêucida sírio na batalha próxima a Emmaus1. Em 1187, os Templários fortificaram o castelo e, daquela época, resta apenas a torre. Em 1890, foi erguido o Mosteiro dos Monges Silenciosos, ou Trapistas, que foi destruído pelos turcos otomanos e reconstruído em 1927.
O local não foi escolhido ao acaso. Latrun, situada em lugar estratégico numa saliência no topo da colina, Emmaus existiu como uma aldeia na antiga Palestina até 1967, localizada a uns 30 km a oeste de Jerusalém, no limite entre as montanhas da Judeia e o Vale de Ayalon.
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latrun
Após a revolta árabe em Eretz Israel, que durou de 1936 a 1939, os britânicos construíram a Fortaleza Tegart no alto da colina, para melhor observar e controlar a região. Os britânicos também construíram nas proximidades campos de prisioneiros onde mantiveram detidos judeus durante a luta pela independência. Durante a Guerra de 1948, as forças israelenses não conseguiram conquistar Latrun, apesar de várias tentativas. A área era considerada estratégica porque as forças britânicas e a Legião Jordaniana ali estacionadas controlavam a estrada para Jerusalém e mantinham o cerco à cidade, atacando do alto os veículos que vinham de Hulda. Em junho de 1948 os israelenses conseguiram finalmente construir um acesso, a Estrada de Burma, que não podia ser vista a partir
de Latrun, e, assim, permitiu o rompimento do cerco a Jerusalém. A área permaneceu terra-deninguém até 1967, quando, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou a Judeia e a Samaria, incluindo Latrun.
História e lazer
“o homem, seu semelhante”, estátua no museu de blindados, latrun
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Considerado um dos mais heterogêneos museus de tanques do mundo, Yad Al-Shiryon mantém em exposição a céu aberto de mais de 160 tanques e outros veículos blindados que pertenceram às Forças de Defesa de Israel (FDI), e outros apreendidos durante os combates com inimigos ou comprados e doados por diferentes países. Destaques da mostra são os tanques da série Merkavá (desenvolvidos em Israel) e os tanques T-34, T-54, T-55, T-62. Os visitantes podem, também, ver de perto os famosos JUNHO 2019
israel
Três monumentos chamam a atenção: o Monumento às Forças Aliadas, uma escultura estilizada de um soldado carregando um companheiro ferido, e o muro com o nome dos 4.965 soldados do Corpo Blindado de Israel, mortos em combate em 1948 e nas demais guerras árabe-israelenses. O monumento aos aliados é composto por uma montanha de pedra no topo da qual estão os três principais tanques que faziam parte dos
tanques alemães Leopard e o único T-72 de Israel, além de muitos outros. Destaca-se, ainda, uma coleção de pontes móveis construídas pelas Forças de Defesa de Israel, que podem ser carregadas por tanques e erguidas durante combates. Outras peças dignas de nota são dois Panzers alemães da 2ª Guerra Mundial, um Panzer IV e um Stug III. Chamam a atenção, também, os carros de combate soviéticos, tradicionais fornecedores de armamento aos países árabes após a 2ª Guerra Mundial. O edifício principal do memorial é a chamada Fortaleza Tegart. Ali estão uma moderna biblioteca com
acervo totalmente computadorizado, uma sala com maquetes de tanques, bigas assírias e egípcias em tamanho real, esboços de Leonardo da Vinci, coleções de selos com imagens de tanques e outros veículos de guerra, além de uma sinagoga. As paredes externas do edifício são uma lembrança da época da Guerra da Independência, quando o local foi usado pela Legião Árabe e pelos ingleses. A torre da fortaleza foi transformada pelo artista israelense Danny Karavan, e leva o nome de Torre das Lágrimas. Seu interior foi revestido de ferro extraído de um tanque e as gotas de água que escorrem pelas paredes (simulando lágrimas) vêm de um reservatório subterrâneo. 30
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exércitos aliados nas diferentes frentes de combate: um Cromwell britânico, um Sherman americano e o T-34 soviético. Ao redor do monumento, as bandeiras dos 19 países e das organizações que participaram ativamente das lutas, entre as quais a bandeira da Brigada Judaica que fazia parte do exército britânico.
o veículo foi içado ao alto da torre originalmente usada como um reservatório de água. O veículo escolhido foi um M4 Sherman, um dos primeiros tanques usados pelas FDI. Como a torre fora projetada para suportar apenas 25 toneladas e o tanque pesava 34, o motor e as engrenagens de transmissão tiveram que ser retirados.
Os visitantes que passeiam pelo local, mais do que ver e subir em tanques e veículos de combate, têm a oportunidade de conhecer a história dos combatentes caídos através das exposições e material interativo no edifício principal do memorial. Conhecem seus nomes, seus rostos, seus sorrisos, suas patentes, suas unidades, seus atos e suas realizações, a soma de suas vidas e de suas histórias como indivíduos e como parte de um todo. Ali encontram uma exposição sobre a história e a herança dessas unidades, desde os primórdios do Estado de Israel até o presente, e o papel fundamental
Yad LaShiryon não é apenas um local de visitação turística, mas também uma oportunidade de se aprender um pouco mais sobre os desafios enfrentados por Israel, ao longo de sua história. Mais do que apenas conhecer um ponto turístico de Israel, os que lá vão desejam render suas homenagens aos combatentes que deram a vida pelo país.
que desempenharam em cada uma das vitórias israelenses. Naquele local vive o espírito das divisões de blindados, de seus comandantes e de seus soldados. Um dos pontos mais importantes de Yad La-Shiryon é um tanque instalado no topo de uma torre. Este é, também, o logotipo do Museu. Em 1979, por decisão do major general (Res.) Moshe Peled, 31
BIBLIOGRAFIA
www.yadlashiron.com www.tankmuseum.org www.zionism-Israel.com JUNHO 2019
HISTÓRIA
Ascensão e Declínio DOS sefarditaS em jerusalÉm POR NIMROD ETSION KOREN
Por mais de 400 anos, a comunidade judaica sefardita em Jerusalém permaneceu como uma pequena comunidade com poucos recursos e influência, relegados à periferia do império Otomano. Essa realidade mudou na virada dos séculos 19 e 20 quando a comunidade alcançou um status sem precedentes.
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comunidade judaica sefardita em Jerusalém, embora existisse continuamente desde o final do período mameluco, permaneceu como uma pequena comunidade, com poucos recursos e influência, mesmo sob ocupação otomana, nos séculos 16 e 17. Mesmo que o Império concentrasse em seu território a grande maioria dos exilados sefaradim, apenas alguns se estabeleceram em Jerusalém.
‘Comitê de Constantinopla’2. Porém, essa realidade começou a mudar no primeiro terço do século 19, e o clímax do processo no início do século 20, quando a comunidade prosperou e ganhou um status sem precedentes em sua história. Seus líderes eram os representantes mais importantes de toda a comunidade judaica de Jerusalém; seus iniciadores estavam envolvidos nos maiores projetos públicos na Palestina otomana; seus membros mais influentes estavam ligados por relações comerciais e bancárias com as maiores empresas europeias; seus intelectuais publicavam seus artigos nos jornais mais populares do Levante e seus agentes políticos desfrutavam de uma porta aberta com altos funcionários e administradores, em Jerusalém e em Istambul.
A maior parte deles escolheu as principais cidades dos Bálcãs, onde desfrutavam de hegemonia numérica e cultural, bem como de sua proximidade com o governo imperial. Em Jerusalém, por outro lado, eles viviam em um contexto judaico diversificado, ao lado dos mustárabes (judeus árabes)1, cuja situação agravou-se durante o século 18, com o empobrecimento de sua comunidade e seu resgate, ao custo da perda da autonomia, pelo
A Era das Possibilidades A mudança de tendência nessa situação deve ser vista, em primeiro lugar, contra o pano de fundo da melhoria do status de Jerusalém. Em contraste com a imagem que comumente é associada à mesma, como uma cidade congelada, mergulhada em tradições e dilacerada por disputas religiosas, novos estudos revelam que Jerusalém,
Pequeno grupo de judeus que nunca saiu de Israel durante toda a Diáspora. Viviam principalmente na aldeia de Peki’in, na Galileia Superior, entre árabes e drusos. 2 Um corpo econômico fundado em Istambul em 1726, principalmente para apoiar os judeus da cidade, levantando fundos vindos de judeus na Diáspora. Evoluiu para se tornar a diretoria executiva de assuntos judaicos, em Jerusalém. 1
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Jerusalém vista do norte, 1839. litografia; David Roberts (1796-1864)
no final do século 19, era uma cidade cosmopolita, diversificada em população, híbrida, sincretizada e multifacetada. Evidências disso podem ser vistas no grande número de consulados abertos, durante aquele século, ou A linha ferroviária do Hejaz foi uma linha de estrada de ferro que ligava Damasco a Medina, na região do Hejaz, atualmente parte da Arábia Saudita. Um dos seus ramais, a linha do vale de Jezreel, ligava a linha principal a Haifa, na costa do Mediterrâneo. 4 A mais antiga sociedade judaica em Eretz Israel, que lá existiu nas gerações anteriores à imigração sionista e continuou a existir até depois da 1ª Guerra Mundial. 5 Haskalá é o nome dado ao Iluminismo Judaico, movimento surgido dentro do Judaísmo na Alemanha do século 18. Adotava os valores iluministas, incentivando a integração com a sociedade europeia e a valorização da educação secular, aliada ao estudo da história judaica e do hebraico.
o enorme investimento em sua infraestrutura - uma rede viária abrangente, uma ferrovia - Jerusalém-Jaffa (1892) - que precedeu a famosa linha no Hejaz3 por 16 anos, e dezenas de locais religiosos e turísticos que foram restaurados e construídos em toda a cidade.
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portão de jaffa, jerusalém
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A comunidade sefardita hierosolimitana contribuiu decisivamente para essa mudança, que varreu a cidade. No entanto, assim como a imagem que ficou na cidade, seus moradores também sofreram com uma imagem negativa. Fazendo parte do Antigo Yishuv4, eles foram descritos pelos autores do movimento Haskalá5 como "não produtivos e tendo existência parasitária”. E, como judeus orientais, foram descritos por judeus ocidentais em cores sombrias, atribuindo-lhes ignorância, intolerância e casamento precoce. É interessante notar que foi precisamente aos olhos dos viajantes cristãos que a imagem dos homens e mulheres sefarditas tornou-se muito mais positiva, mais do que a dos asquenazitas. “As mulheres nos vestidos de seda são embelezadas com bordados de ouro. A maioria delas é bonita, de pele clara” (Henry Tristram, 1863). JUNHO 2019
HISTÓRIA
de sua comunidade, e seus membros foram os primeiros a enviar seus filhos às instituições educacionais ocidentais, abertas em Jerusalém.
A nova estação ferroviária de Jerusalém foi inaugurada em 1892. Biblioteca do Congresso: Coleção Matson
De qualquer maneira, aparentemente, a distância entre a descrição dos escritores da Haskalá sobre os sefarditas da cidade e a realidade era semelhante à distância entre sua residência e Jerusalém.
Ascensão ao status hegemônico A mudança no status da comunidade começou no início da Reforma Tanzimat6, com o reconhecimento exclusivo dos sefarditas como a única comunidade religiosa judaica oficial na então Palestina otomana. O rabino-chefe sefardita, o Rishon LeZion, recebeu um status especial (foi apelidado, em turco, de Chacham Bashi), e sua nomeação foi acompanhada de títulos de honra que tornaram a posição uma fonte de prestígio.
O período de reformas no Império Otomano, sob influência européia (18391876), que foi aberto por um decreto real que garantiu a vida e a dignidade de todos os cidadãos do sultão, sem levar em conta sua religião.
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Embora ele tenha recrutado investidores belgas, alemães e suíços, não conseguiu levantar a soma necessária para o trabalho e vendeu a franquia, em 1889, a uma empresa francesa.
O crescimento demográfico também teve impacto sobre o assunto, já que no século 19 a comunidade incluía não apenas o seu núcleo, que preservou os costumes sefarditas e a língua ladina, mas também aqueles que vinham de países islâmicos. Uma série de migrações durante o século, estabeleceram-se em Jerusalém (vindas da Pérsia, em 1816; da Argélia, Tunísia e Marrocos, nos anos 1830-40; da Geórgia, na década de 1860; do Iêmen, em 1881), propiciando a preservação de seu status de a maior comunidade no Yishuv.
Entre o Antigo Yishuv e o Novo A penetração europeia no Levante, como mencionado, afetou indiretamente os súditos sefarditas, através da modernização do governo otomano. Mas a influência ocorreu através de outro canal, mais direto, liderado pelos judeus ocidentais, que, após o Caso Damasco (1840), começaram a voltar seu olhar para o destino de seus irmãos no Leste. No entanto, ao contrário dos ashquenazim, que experimentaram a crise de modernização que dominava a ortodoxia europeia, a comunidade sefardita não se opôs à “regeneração” 34
Como aponta o historiador Israel Bar-Tal, da Universidade de Jerusalém, na comunidade sefardita não houve polarização tão acentuada entre o novo e o antigo. Os líderes da comunidade ficaram entre os dois mundos. Para eles, “novo” significava integração nos processos econômicos que levaram à modernização da Terra de Israel e à adaptação das influências europeias.
Empreendedorismo sefardita de Jerusalém Uma das melhores figuras para contar a história das conquistas do empreendedorismo sefardita é Joseph Navon (1858-1934). Joseph Klas, que escreveu extensivamente sobre ele, descreve seu caráter elegante, seu domínio de várias línguas e, especialmente, seu talento inato para promover projetos, o que lhe permitiu alcançar os mais altos cargos na sociedade. No início dos anos 1880, aos 20 e poucos anos, já comprou a ‘Weisberg’, a maior empresa comercial de Jerusalém, que se dedicava ao comércio com Paris, Viena e Zurique, e começou a funcionar como cônsul não oficial de Portugal. Mas sua conquista mais significativa está relacionada às negociações iniciadas em 1885 com a administração otomana, durante as quais recebeu uma concessão para construir e operar uma ferrovia de Jaffa a Jerusalém. A ferrovia de 87 km e suas 176 pontes foram solenemente inauguradas em 1892. Navon não conseguiu completar o projeto7, mas esteve no centro da celebração de inauguração. Por seu papel na
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construção, foi agraciado com o título de 'Bey', concedido pelo sultão. Esta primeira linha ferroviária construída no Levante, levou a uma mudança nos sistemas de comunicações e transporte na Terra de Israel. O cônsul britânico Dickson informou que: “A abertura da ferrovia será considerada um evento histórico de importância global”. Efetivamente, a ferrovia abriu novos horizontes - Jaffa estava agora a 3 horas de distância, em vez de 14, em um trem postal, o que a tornou uma cidade portuária de Jerusalém.
Conexões sociais entre comunidades Parece que a raiz do poder e influência da liderança da comunidade - rabínica, cultural e econômica - residia em sua vasta rede de conexões sociais e políticas. Primeiro, no contexto inter-étnico: o rabino Yaakov Elyashar (líder da comunidade, 1906-1893) estabeleceu relações amigáveis e cooperação com os líderes da comunidade asquenazita, chefiada pelo rabino Slant. Além disso, o rabino Elyashar também contribuiu para fortalecer os laços com a população árabe. Ele apoiou o estudo do árabe nas Yeshivot, argumentando que aprender a língua não prejudicava a fé, uma vez que gigantes da Torá, como Maimônides, escreviam livros em árabe. Na realidade, a comunidade urbana sefardita manteve uma
Moshavá (plural moshavot) é uma forma de assentamento rural em Israel. Em oposição aos assentamentos comunais, como o kibutz e o moshav, nas moshavot toda a terra e os bens são de propriedade privada. 9 Guerim, em hebraico, estrangeiros, forasteiros. 8
A entrada solene do Kaiser alemão Wilhelm II em Jerusalém, 1898. Biblioteca do Congresso
afinidade cultural e linguística com seus vizinhos árabes. Figuras como Esther Lazzari, intelectual sefardita nascida em Beirute e que se estabeleceu na Palestina otomana em 1898, estavam profundamente enraizadas na cultura literária árabe. Ela escrevia em Fusha, o árabe clássico. Quando criança, Esther conhecia o Alcorão de cor. Na idade adulta, suas matérias, que foram publicadas nos principais jornais do Império, foram elogiadas pelos maiores escritores árabes, como o filósofo Jamal al-Din al-Afghani.
Contribuição para o projeto de assentamento judaico No entanto, a conexão mais significativa estabelecida pela comunidade foi com dignitários muçulmanos e representantes do regime. Tanto através de canais oficiais, por meio do Chacham Bashi, como de canais privados, por figuras como Albert Antebi, o diretor da escola de Alliance Israélite Universelle em Jerusalém, nascido em Damasco, que se dizia ter “uma tremenda influência no governo turco na Terra de Israel” (Ha-Herut, 1942). As estreitas relações que ele e seus colegas sefarditas cultivaram com 35
efêndis árabes e altos funcionários otomanos em Jerusalém e Istambul tiveram um impacto não apenas sobre a comunidade sefardita, mas sobre a comunidade judaica como um todo. Yehiel Pines, que chegou a Eretz Israel em 1877 como representante do comitê “Mazkeret Moshe Montefiore” para ajudar a estabelecer as primeiras colônias, escreveu a seus gerentes na Europa, logo após chegar, que “Terras para vender são muitas, mas o processo para adquiri-las é complicado por suborno e destreza”. De fato, como a maioria dos primeiros imigrantes mantinha sua cidadania russa, e como não falavam a língua local nem conheciam os costumes, para lidar com os mistérios da burocracia imperial precisavam da ajuda dos sefarditas. Yosef Navon e seu tio, Haim Amzalak, um dos mais respeitados cidadãos de Jaffa, por exemplo, ajudaram a comprar terras em Rishon Letzion. Por seus trabalhos, os fazendeiros da moshavá8 agradeceram-lhes em uma carta pública no jornal Havatzelet: “Éramos Guerim9 quando chegávamos à Terra Santa, e não JUNHO 2019
HISTÓRIA
sabíamos como escolher um lugar e comprar terras, e somente com os esforços desses dignitários, Rabino Amzalak e o Sr. Yosef Navon, alcançamos nosso objetivo” (8 de junho de 1883). Antebi, por sua vez, assumiu a responsabilidade pelo primeiro assentamento judaico sefardita em Eretz Israel - Hartuv, perto de Jerusalém, fundado por imigrantes da Bulgária. Ele também manteve contato constante com Dizengoff, Ruppin e Levontin, altos funcionários do Yishuv, sobre as diferentes formas de compra de terras. Enquanto isso, acompanhava atentamente as mudanças da política antijudaica, em Istambul. (Na década de 1910, ele se dirigiu ao governador de Jerusalém e acusou Nashashibi e Khalidi, dois dignitários árabes, de promover o antissemitismo e pressionar contra a venda de terras aos judeus, e acabou levando a um acordo que transferiu aos judeus cerca de 5.000 dunams de terra perto de Latrun). O domínio da liderança sefardita no espaço imperial islâmico teve Shamash, plural shamashim – ajudante assalariado em uma sinagoga.
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um impacto adicional sobre o Sionismo, na Terra de Israel. Como resultado, muitas das declarações dos intelectuais árabes sobre os primeiros sionistas foram positivas e até impressionantes. No jornal egípcio Al-Muqattaf, o intelectual Rashid Rida afirmou que “os judeus que vieram para a Terra de Israel tiveram um bom desempenho”. O mesmo jornal também destacou a solidariedade judaica: “Devemos aprender com os laços corajosos que os unem, apesar de sua dispersão [...] e do modo como se ajudam mutuamente e ajudam seu povo”. AlManar, publicado no Cairo, publicou (1898) uma carta de Rohi AlKhaldi a Theodor Herzl, afirmando que seria “uma visão maravilhosa quando os judeus talentosos forem transformados de novo em uma nação independente [...] que pode servir à humanidade pobre, como no passado”.
Fim da hegemonia No entanto, esse período de prosperidade da comunidade em Jerusalém durou pouco tempo, e o declínio de seu status hegemônico
Um Sabil (fonte pública) monumental, inaugurado em setembro de 1900 perto do Portão de Jaffa. em 1917, foi destruído pelos britânicos
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foi ainda mais rápido do que sua ascensão. O começo desse processo está na arena inter-étnica. Como foi dito, a comunidade sefardita era a representante oficial exclusiva dos judeus de Eretz Israel, incluindo a comunidade ashquenazi. Mas quando os judeus asquenazitas descobriram que no lugar da proteção sefardita eles poderiam contar com o patrocínio consular europeu, começaram a se distanciar da subordinação aos sefarditas. Em 1856, foram libertados da Chevra Kadisha (sociedade funerária), e, em 1867, receberam permissão separada para o abate de animais. Mas isso não foi feito sem resistência. Os sefarditas alegaram que, por causa de sua primeira ocupação da Terra Santa, eles mereciam as mais altas honras e se recusavam, veementemente, a se separar. Como parte da disputa, a comunidade publicou uma proibição de comprar nos açougueiros asquenazitas, e os shamashim10 da comunidade até chicoteavam os compradores relutantes. Os sefarditas chegaram a se recusar a testemunhar que os asquenazim eram de fato judeus (somente com a ajuda de subornos o Conselho Muçulmano decidiu que seu abate era casher, ou seja, feito de acordo com a lei judaica, e seus líderes respiraram aliviados). Durante todo o período, os asquenazitas não receberam reconhecimento oficial, embora se tenham tornado maioria nos anos 1890. Porém, sua separação organizacional também teve impacto nas comunidades internas. Por muitos anos, a liderança da comunidade sefardita conseguiu impedir as divisões intra-étnicas, retendo, até mesmo, o controle sobre o dinheiro coletado em seus
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países de origem. Mas quando os imigrantes norte-africanos (Ma’aravim) perceberam que uma grande proporção dos fundos do Kolel11 sefardita tinha origem em seus países, a sensação de privação e amargura aumentou. Durante a controvérsia que se seguiu, foram presos o Meshulach12 e seu filho, mas em 1860 chegaram a um acordo. A comunidade georgiana foi a segunda a receber a semiautonomia, em 1863, e, nas décadas seguintes, após divergências ferozes, os persas e os iemenitas receberam aprovação semelhante (não antes de um noivo iemenita ser retirado de seu casamento, e, como relatado em Havatzelet, “foi colocado em detenção porque comprou uma ketubá13 no mercado [...] ao invés de ter uma da corte rabínica sefardita”). Em qualquer caso, as divisões internas de fato corroeram o status da comunidade, mas não levaram à sua separação total, já que cada estrutura permaneceu conectada à comunidade materna e ao Chacham Bashi - como o líder do Yishuv.
Crise de liderança No entanto, precisamente por causa da importância da posição e da própria pessoa do rabino Elyashar, a controvérsia surgida em sua morte,
Kolel, comunidade ou congregação de habitantes judeus em Eretz Israel que recebiam suporte financeiro dos fundos da Haluká, a coleta e distribuição organizada de fundos de caridade.
11
Emissário rabínico enviado para coletar fundos para caridade. Originalmente, significava coletar fundos para resgatar os primeiros judeus de Eretz Israel. Hoje usado para a pessoa que coleta fundos de caridade para qualquer instituição judaica.
12
Ketubá, o contrato de casamento judaico.
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1.1.
2. 1. O correio austríaco foi criado em 1870, em frente à cidadela do portão de Jafa. Biblioteca do Congresso, Coleção Matson. 2. Leilão de caridade para o benefício do Crescente Vermelho e para a assistência de vítimas de guerra, 1917. Albert Antebi, primeiro da direita. A Biblioteca do Congresso
em 1906, teve um significado mais dramático para o destino da comunidade. Pela primeira vez, dividiu a sua liderança. O grupo avançado liderado por Antebi, que buscava a mudança, apoiou o rabino Yaakov Meir. No entanto, seus adversários o acusavam de ser um “traidor do Reino”, em parte por sua proximidade com o movimento sionista, e, como prova, apresentavam uma cópia de sua assinatura com uma Estrela de David (um símbolo identificado com o Sionismo). As lutas se intensificaram e levaram à intervenção externa de Chacham Bashi de Istambul, que decidiu nomear apenas um substituto temporário e, com efeito, privou a comunidade e o Yishuv da capacidade de decidir diretamente sobre o mais prestigioso e importante oficial da Terra de Israel.
Oposição ao sionismo Outro fator importante que contribuiu para o declínio da hegemonia sefardita foi o confronto com várias personalidades do movimento sionista e seu direcionamento. No início do século 20, o movimento começou a ganhar força no Yishuv, e, aos olhos dos círculos sefarditas, isso solapou 37
a soberania otomana e colocou em risco sua comunidade. Sua abordagem, que alguns chamam de “Sionismo moderado”, também atribuiu grande importância ao lugar dos árabes na Terra de Israel. A comunidade estava ciente da agitação nacional que se havia intensificado entre eles, no início do século, e a reconhecia como um perigo para o projeto sionista. De fato, os sefarditas viam os árabes como parceiros na vida em Israel (em oposição à abordagem da liderança asquenazita, que os excluía da ideia de viverem juntos em Israel). Uma das figuras proeminentes que falou sobre a necessidade de se assimilarem com o povo do país foi o Dr. Nissim Malul, que deu origem a uma organização única chamada Maguen, que visava proteger o fortalecimento dos laços entre judeus e árabes. No documento fundador de 1914, outro membro da organização, Avraham Elmaliach, escreveu: “Nosso país também é deles, a pátria é comum”. No entanto, esta iniciativa foi duramente criticada por pessoas como Eliezer Ben-Yehuda, que afirmou que eles estavam “pregando um nacionalismo romântico judaicoespanhol que contribuiria para a JUNHO 2019
HISTÓRIA
às comunidades sefarditas e ao Chacham Bashi.
Cidadela de Jerusalém sem os muros, 1843. litografia, David Roberts (1796-1864)
assimilação dos judeus na sociedade árabe”. Antebi, que compartilhava desses temores e acreditava numa ideologia otomana que se opusesse às demandas nacionais, escreveu para o chefe da Alliance, em 8 de janeiro de 1900: “Você sabe que eu não sou sionista. Estou em Jerusalém e posso estimar a extensão do dano desta jornada [sionista], que está prejudicando o judaísmo [...] que incitou as autoridades otomanas contra nós e tornou a população muçulmana suspeita de todas as conquistas que alcançamos”. Juntamente com David Yellin, ele pediu a adoção da cidadania otomana. “Somente a livre Turquia BIBLIOGRAFIA
Lemire, Vincent, Jérusalem 1900: la ville sainte à l’âge des possibles, Armand Colin, 2013. Benbassa, Esther, and Rodrigue, Aron, Sephardi Jewry: a history of the JudeoSpanish community, 14th-20th centuries, Univ. of California Press, 2000. Bezalel, Yitzhak, ]Hebraico], Nasceram sionistas, os sefarditas na terra de Israel no reavivamento hebraico, Yad Ben-Zvi, Jerusalém, 2008.
Shenhav Yehuda, ]Hebraico, O Sionismo e os Impérios, Instituto Van Leer, Jerusalém, 2015.
nos permitiu viver em nosso espírito como judeus”. O debate esquentou após à revolução dos ‘Jovens Turcos’, com exigências mais assertivas de soberania por parte dos líderes sionistas. Mas quanto mais evidente se tornava o projeto sionista, mais forte se tornava a resistência sefardita. Aos seus olhos, as exigências de soberania contradiziam a utopia supranacional da revolução. “Eu quero ser um representante judeu no parlamento otomano e não no templo hebraico de Moriah”, Antebi escreveu. Ele também fez um alerta: “Se o sionismo político continuar sendo um partido de protesto contra a perseguição de nossos irmãos, tudo bem, mas eu lutarei contra se tornar um partido no poder”. Porém, Antebi e seus colegas sefarditas pertencem aos perdedores da História, e não apenas porque, diferentemente do novo Yishuv, foram incapazes de se levantar durante a 1ª Guerra, mas principalmente porque o novo regime imperialista (o britânico) se aliou ao movimento rival - deu status oficial à Agência Judaica e seus líderes, em vez de 38
A combinação desses processos levou à perda gradual de status da comunidade. Suas instituições foram interrompidas, seus cofres diminuíram, a comunidade caiu em dívidas e suas instituições foram danificadas. Seus líderes também caíram do palco da História. O rabino Elyashar foi o último Chacham Bashi. Antebi foi traído por seus aliados turcos e exilado do país durante a guerra, e Navon e Amzalak desceram de sua posição ainda em anos anteriores, em parte devido ao fortalecimento das instituições concorrentes e à ascensão da comunidade ashquenazi. No entanto, o caso dos sefarditas de Jerusalém não era incomum. A era dos estados-nações exigia um preço mais alto dos sefarditas, em todo o Império. A transição de uma sociedade pluralista para uma sociedade monolítica, e de uma área geográfica sem fronteiras para os estados-nações, causou um golpe fatal em muitas comunidades. O modelo organizacional étnico otomano foi particularmente útil para preservar uma herança cultural única e ajudar os judeus sefarditas a preservarem sua identidade. No entanto, a influência da comunidade sobre a paisagem da cidade, seus bairros, e até mesmo sobre a cultura e os costumes de seus moradores, muçulmanos e judeus, é evidente até os dias de hoje.
O artigo é baseado em uma palestra dada na conferência multidisciplinar conjunta de programas de Mestrado em História, Estudos Culturais e Estudos sobre Democracia, em Israel.
Nimrod Etsion Koren é aluno de pós-graduação no Departamento de História, Filosofia e Estudos Judaicos na Universidade Aberta de Israel.
DESTAQUE
Ucrânia elege um presidente judeu POR JAIME SPITZCOVSKY
País com longeva história judaica marcada por eventos trágicos como genocídio e antissemitismo, a Ucrânia passou a ter, em 2019, presidente e primeiro-ministro judeus, após a eleição de Volodymyr Zelensky, em abril, para o principal cargo político, enquanto Volodymyr Groysman desempenha as funções de premiê desde 2016.
o
protagonismo dos dois líderes políticos entusiasma ativistas comunitários, ao apontar integração na sociedade ucraniana, mas contrasta com recente relatório ao destacar aumento em ações antissemitas na nação atualmente palco de uma guerra separatista e de prolongada crise com a vizinha Rússia.
Rússia, após séculos de envolvimento, e aproximando-o da União Europeia e dos Estados Unidos. A “perda geopolítica” da Ucrânia corresponde à principal derrota do presidente russo, Vladimir Putin, desde sua chegada ao poder, em 2000. O Kremlin aponta laços históricos, culturais e religiosos para manter a aliança, além de avaliar o território ucraniano como fundamental para sua estratégia de defesa, pois a Ucrânia, localizada entre a Rússia e o restante do continente europeu, significaria uma espécie de “zona tampão” contra eventuais invasões dirigidas a Moscou, na visão de políticos e militares russos.
Comediante sem experiência política, Zelensky, ao obter 73% dos votos, derrotou o presidente Petro Poroshenko, que buscava reeleição, e sua avassaladora vitória no segundo turno da disputa representou um protesto contra a tradicional elite partidária, acusada de ineficiência e corrupção. A economia, nos últimos anos, passou a depender de ajudas externas, como do Fundo Monetário Internacional.
Depois da chegada a Kiev de um governo pró-EUA e pró-União Europeia, Vladimir Putin respondeu com a anexação da península da Crimeia, território até então sob administração ucraniana, mas com maioria de habitantes de origem russa.
A Ucrânia obteve independência em 1991, com a desintegração da União Soviética. A partir de 2014, tornou-se epicentro de uma das principais crises do cenário internacional. Naquele ano, protestos concentrados na praça Maidan, na capital Kiev, derrubaram o presidente Viktor Yanukovich, aliado de Moscou. Chegaram ao poder forças responsáveis por reposicionar o país, geopoliticamente, afastando-o da
A estratégia da Rússia significou também apoio, ainda que não oficial, a separatistas que, no leste da Ucrânia, junto à fronteira russa, se rebelaram contra a aproximação do país em relação aos EUA e UE. A guerra entre rebeldes e exército ucraniano já matou cerca de 13 mil pessoas. 39
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DESTAQUE
A crise significa essencialmente o choque entre os interesses da Rússia e o nacionalismo ucraniano. O movimento anti-Moscou argumenta defender a democracia e a modernização do país, ao apostar numa aproximação com Europa e EUA. No entanto, o nacionalismo ucraniano nos últimos anos também representou homenagens a assassinos como Stepan Bandera e Yaroslav Stetsko, colaboradores dos nazistas e responsáveis por massacres de judeus durante a 2ª Guerra Mundial. Estátuas foram inauguradas e ruas batizadas para glorificar os nacionalistas que diziam “lutar pela pátria e combater o judaicobolchevismo”. Lviv, uma das cidades principais da Ucrânia e centro importante da vida judaica antes do Holocausto, testemunhou no ano passado uma marcha, sancionada por autoridades municipais, com uniformes de grupos nacionalistas que colaboraram com os nazistas. Em 2015, o Parlamento em Kiev aprovou lei “proibindo insultos a heróis nacionais”, o que incluiu criminosos de guerra. No ano passado, mais de 50 integrantes do Congresso norteamericano condenaram a legislação ucraniana responsável por glorificar colaboradores nazistas, como Bandera e Stestko. Documento assinado pelos parlamentares afirmou “ser particularmente preocupante que muito da glorificação do nazismo seja apoiada pelo governo”, em referência à administração de Petro Poroshenko, eleito em 2014 na esteira dos protestos da praça Maidan. Um relatório anual lançado em 2018 pelo governo israelense classificou
o discurso de ódio e combater o antissemitismo na Ucrânia”. O primeiro-ministro israelense, no entanto, precisa calibrar com cuidado as relações com Kiev, também em função de seus laços estreitos com Vladimir Putin.
Volodymyr Zelensky e esposa, Olena celebram a vitória
a ex-república soviética como principal foco de antissemitismo na Europa Oriental. O estudo registrou cerca de 130 ataques em 2017, o dobro do ano anterior e num patamar superior à soma de todos os incidentes registrados no território da desaparecida URSS. Os registros de ataques racistas, no entanto, não impediram que Volodymyr Groysman fosse eleito pelos deputados, em 2016, primeiroministro do país, com 257 votos a favor e 50 contra. Ex-prefeito da cidade de Vinnytsia, Groysman entrou para a História não apenas como o primeiro premiê judeu do país, mas também como o mais jovem: ao assumir o cargo, contabilizava 38 anos de idade. No ano seguinte à posse, o primeiro-ministro ucraniano desembarcou em Jerusalém e se reuniu com Binyamin Netanyahu. Em janeiro de 2019, os dois países assinaram um tratado de livre comércio, em cerimônia realizada na capital de Israel, com a presença do presidente ucraniano, que visitou o Yad Vashem e se reuniu com seu colega israelense, Reuven Rivlin. Netanyahu agradeceu a Poroshenko os “contínuos esforços para eliminar 40
O governo israelense apostou no aprofundamento das relações com o Kremlin devido à sua crescente influência no Oriente Médio, sobretudo após a intervenção russa na guerra da Síria, em 2015. Netanyahu conta com o diálogo com Putin para tentar limitar presença do Irã em território sírio. Quando da vitória de Zelensky, Netanyahu telefonou para congratulálo. Na posse, no entanto, o governo israelense foi representado pelo embaixador em Kiev, sem enviar um representante de alto escalão. A opção foi interpretada como busca de equilíbrio nas tensões entre a Ucrânia e a Rússia. Embora tenha derrotado Poroshenko, representante dos setores mais duros da política ucraniana em relação a Moscou, Zelensky ainda não sinalizou com clareza, no início de mandato, como vai lidar com o gigante vizinho. Alternou declarações nacionalistas com promessas de trazer paz ao leste do país, onde exército e separatistas próRússia se enfrentam há vários anos. Volodymyr Zelensky chegou à presidência surfando a onda de rejeição a políticos tradicionais. Nasceu em 1978 na cidade de Kryvyi Rih, formou-se em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Mergulhou no mundo artístico e se transformou em comediante. Em 2015, estrelou a série “O Servidor do Povo”, na qual interpretou um professor de história que, graças a seus
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POSSE DE VOLODYMIR ZELENSKY COMO PRESIDENTE NO PARLAMENTO UCRANIANO EM Kiev, 20 DE MAIO DE 2019
discursos anticorrupção, se torna presidente do país. Anos depois, a ficção praticamente se transformou em realidade. Em uma de suas primeiras medidas, Zelensky determinou a dissolução do Parlamento e eleições foram agendadas para julho. A intenção do novo presidente é conseguir uma bancada robusta para seu partido, que, atualmente, não conta com representação parlamentar. Volodymyr Groysman, primeiroministro durante a era Poroshenko, renunciou ao cargo após a dissolução do Parlamento, mas concordou em permanecer no posto até as eleições de julho, mantendo a Ucrânia como único país do mundo, excetuando Israel, a ter judeus no cargo de presidente e primeiro-ministro. Durante a campanha eleitoral, a origem de Zelensky não ocupou espaço no debate político. O próprio candidato, embora não
escondesse suas raízes, preferiu focar seus discursos na busca pela paz, no combate à corrupção e na recuperação econômica. “O fato de eu ser judeu é mais ou menos a 20ª questão entre as minhas características”, declarou ele, em meio à corrida presidencial. “A ausência de retórica antissemita durante a campanha é um milagre, um fato surpreendente que mostra quão longe a Ucrânia já foi”, afirmou Elan Carr, enviado especial do governo norte-americano para monitorar e combater o antissemitismo. Carr esteve, em maio, na capital ucraniana para participar do Jewish Forum, dedicado a debater rumos da vida judaica no país. E falar em judaísmo na Ucrânia significa retornar ao século 9, data dos primeiros registros de comunidades naquelas terras da Europa Oriental. Momentos de florescimento cultural e religioso 41
se entremearam com tragédias infelizmente muito frequentes, como no século 17, quando milhares de judeus foram assassinados por hordas cossacas comandadas por Bohdan Khmelnytsky. Em 1939, havia cerca de 1,5 milhão de judeus na Ucrânia. Atualmente, o país, com 45 milhões de habitantes, abriga uma comunidade que, segundo o demógrafo Sergio Della Pergola, contabiliza entre 56 mil e 140 mil integrantes. E, entre essa população comunitária, destaca-se atualmente o comediante transformado em presidente, Volodymyr Zelensky. “Durante toda a minha vida, tentei fazer de tudo para fazer os ucranianos rirem”, disse ele. “Nos próximos cinco anos, eu farei tudo, ucranianos, para que vocês não chorem”. Jaime Spitzcovsky foi editor internacional e correspondente da Folha de S. Paulo em Moscou e em Pequim
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O TEMPIO MAGgIORE inaugurado em 1904 e a principal sinagoga de Roma, O Tempio Maggiore, é uma das mais grandiosas da Europa. Também conhecido como a Grande Sinagoga de Roma, o imponente edifício localiza-se na área do antigo gueto. Possui uma cúpula quadrada, a única com esse formato na cidade, que cobre toda a construção e pode ser vista do outro lado do rio Tibre, que corre por sua face sul.
O
edifício é uma das muitas sinagogas majestosas erguidas pelos judeus na Europa pós-emancipação, testemunhando seus esforços para serem aceitos como cidadãos iguais pela sociedade maior, nos inúmeros países onde viviam.
Assim sendo, tão logo Roma passa a fazer parte do Reino os judeus da cidade são finalmente libertados. Eram os últimos da Europa a serem emancipados, sendo que em 1870 ainda viviam reclusos no gueto, um dos maiores símbolos da opressão cristã, e sujeitos a leis muito severas. Em 1893, Abraham Berliner, teólogo e historiador judeu alemão, mostra-se muito
Por sua imponência, mesmo numa cidade como Roma, famosa por seus esplendidos edifícios, o Tempio Maggiore se sobressai por seu eclético estilo arquitetônico, com elementos ao gosto assírio-babilônico, egípcio e greco-romano. Em 1901, foi colocada a pedra fundamental da sinagoga, 31 anos após a conquista da cidade pelo exército italiano. Em 1870, quando o Papa perdera o controle político e militar dos Estados Pontifícios, Roma havia sido incorporada ao Reino da Itália, tornando-se sua capital. O Reino havia sido estabelecido em 1861, com a unificação da península italiana, realizada pela Casa de Savóia. Consequentemente, o rei Vítor Emanuel da Sardenha é proclamado rei da nova nação. Na Itália unificada os judeus gozam de plenos direitos civis, em igualdade de situação com os demais habitantes.
“como é extraordinário e grandioso este lugar”, inscrição em hebraico
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desabamentos. Para os judeus, o local simbolizava sua humilhação. Líderes da comunidade judaica e da administração civil da cidade concordavam sobre a premente necessidade de destruir completamente o gueto e realizar obras de saneamento. As casas às margens do rio Tibre precisavam ser demolidas para terraplanar a área.
imagem do interior da grandiosa cúpula, em alumínio
esperançoso acerca do futuro dos judeus de Roma, que, a partir de então, faziam parte de “uma Itália unida e liberta, onde todos os cidadãos têm direitos iguais, sem distinção de fé religiosa, e (… ) onde os muros do gueto de Roma desmoronaram ao som das trombetas da liberdade”.
escondiam-se inúmeros problemas sociais e religiosos. Entre outros, o fato de não haver, há anos, um rabino-chefe para liderar a comunidade, nem organizações de assistência social. A área do gueto era suja e insalubre, com o perigo constante de alagamentos e
Tempio Maggiore
A emancipação dos judeus romanos seguiria o modelo clássico de nacionalização político-cultural que faz do judaísmo uma prática religiosa. No entanto, sua situação econômica e social era pior do que a das outras comunidades italianas. De acordo com o censo comunitário de 1868, havia 4.995 judeus em Roma, a maioria na miséria e trabalhando em modestíssimas atividades comerciais e artesanais. Depois de séculos de segregação e leis restritivas, eram poucas as famílias abastadas e a comunidade não possuía recursos para fazer frente às necessidades de sua congregação. Por trás das dificuldades financeiras, individuais e comunitárias,
O governo municipal planejava iniciar a demolição do gueto em 1873. Mas essa notícia causou angústia e desespero a muitos dos judeus que lá viviam. Era bem verdade que eram livres para se instalar em qualquer lugar da cidade, mas temiam abandonar suas esquálidas e insalubres habitações pois faltavam-lhes recursos para poder morar em outros locais. Líderes comunitários interviram no cronograma das demolições, pedindo tempo hábil para poderem ajudar as quase mil famílias a buscar novas acomodações e a conseguir verbas para a mudança.
No final do século 19, a demolição do antigo gueto estava em sua etapa final. A área fora dividida em quatro quarteirões, sendo um deles destinado à construção da grande sinagoga de Roma. A concorrência para o projeto de construção foi vencida pelo engenheiro Vincenzo Costa e o arquiteto Osvaldo Armanni.
rabino francesco grandi (1831-1890), líder religioso do tempio maggiore
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Na década de 1890 haviam sido realizadas obras às margens do rio, área do gueto sempre atingida pelas inundações periódicas do Tibre. Com isso, possibilitou-se a construção do edifício. As obras se iniciaram em junho de 1901, logo após a colocação da pedra fundamental.
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tenso silêncio, teve a presença do presidente da Itália, Sandro Pertini.
A construção levou três anos e, em julho de 1904, o Tempio Maggiore foi inaugurado. A visita do Rei Vittorio Emanuele III, na manhã de 2 de julho, e as cerimônias da consagração e inauguração da sinagoga, em 27 de julho, são dois momentos importantes na história da comunidade. Com essa sinagoga monumental, símbolo concreto da emancipação e liberdade, na área do antigo gueto, os judeus de Roma reafirmavam sua identidade judaica e iniciavam um novo período em sua história. Em setembro de 1943, após o Rei da Itália ter assinado um tratado de paz com os Aliados, os nazistas invadem o norte e o centro do país. À época viviam em Roma cerca de 12 mil judeus. O projeto nazista de exterminar a comunidade judaica começou com a requisição da sinagoga. Os alemães ocuparam Roma durante 9 meses, deportando 1.800 judeus da cidade. Desses, pouquíssimos sobreviveram. Mas, felizmente, 10 mil conseguiram escapar à deportação, escondendo-se pela cidade. As forças americanas libertam Roma em 4 de junho de 1944, tendo os judeus saído de seus esconderijos para participar da cerimônia de libertação, na principal sinagoga de Roma. Em 1982, a sinagoga é palco de um ataque terrorista, justamente em Shemini Atzeret, dia em que as crianças são abençoadas. Eram exatamente 11h55min do dia 9 de maio quando um grupo de seis pessoas armadas começou a disparar e lançar granadas de mão contra o público que, naquele momento saía do Tempio Maggiore. As imagens de crianças ensanguentadas exibidas pela TV e a mídia, comoveram todo o país, que se perguntava quais
Em 1986, o Papa João Paulo II visitou a sinagoga e foi recebido pelo Rabino Chefe Elio Toaff, em evento histórico que constituiu importante passo em direção ao diálogo entre Judaísmo e Catolicismo. O passo seguinte foi a visita do Papa Bento XVI ao Rabino Chefe Riccardo Shmuel Di Segni, em 2010.
A Arquitetura da sinagoga rabino chefe elio toaff e seu conselho rabínico recebem o papa joão paulo II, no tempio em 1986
“as verdadeiras responsabilidades” – materiais, políticas e morais – pelo atentado, sem precedentes, contra a Grande Sinagoga, deixando um morto e 34 feridos. A indignação geral em toda a Itália foi enorme. O enterro do pequeno Stefano Gaj Taché, diante de grande público, em
Na ausência de um estilo judaico único, os arquitetos incumbidos de projetar as diferentes sinagogas nos vários países ocidentais,, na fase pós-emancipação, criaram novas concepções arquitetônicas, adotando diferentes estilos e motivos decorativos. Ao explicar, em 1904, os estilos escolhidos (assírio-babilônico, egípcio e greco-romano), acima mencionados, Vincenzo Costa
livro de orações de nereo musante. que foi ferido no ataque terrorista ao tempio, em 1982. foi salvo por este livro, onde se veem os furos das balas
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1. 1. interior do aron hakodesh 2. púlpito da vitória e da paz em prata 2.
e Osvaldo Armanni disseram: “Queríamos que o novo Templo tivesse formas severas e simples, mas que não lhe faltasse uma moderada riqueza, em perfeita harmonia com os demais monumentos da nossa cidade”. Na fachada podem ser vistas as Tábuas da Lei e uma Menorá. A disposição interna é voltada para o lado oriental, ou seja, para Yerushalaim, como ocorre nas demais sinagogas do mundo. Em seu interior, tem-se um impacto extraordinário, graças aos vitrais coloridos e à ornamentação nas paredes, em cores brilhantes com motivos geométricos e florais, e à cúpula em alumínio translúcido.Nas paredes acima da
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Matroneo – Em arquitetura, nome dado à galeria superior onde sentam-se as mulheres. Daí o nome, derivado de ‘matrona’, senhora.
Tebá veem-se seis imensas Menorot, inseridas em medalhões, que são acesas durante os serviços religiosos. A liturgia segue o chamado Rito Italiano, em pronúncia própria. Acredita-se este seja mais parecido ao original usado no Templo Sagrado, em Jerusalém, quando de sua destruição em 70 E.C., e diferente dos ritos asquenazita e sefardita. A linha religiosa da sinagoga é ortodoxa, portanto as mulheres sentam-se separado dos homens, no andar superior, em vários matroneos1. O arranjo dos assentos masculinos e o posicionamento da Tebá (ou Bimá, para os ashquenazim) e do Aron haKodesh (Armário Sagrado) não são os tradicionais, mas são o tipo de disposição comum nas sinagogas do período de emancipação judaica. Alguns dos objetos e adornos das Cinque Scole2 – cinco sinagogas que, no gueto, tiveram que ser agrupadas em um único local, na praça – demolidas em 1908, estão hoje no 46
detalhe do belíssimo capitel das colunas da sinagoga
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Tempio Maggiore: os dois assentos de mármore na Bimá e as duas Arcas para os rolos da Torá, nas laterais, são um belíssimo trabalho em mármore policromático dos séculos 16 e 17. A decoração pictórica do interior ficou a cargo de dois famosos artistas, Domenico Bruschi, incumbido de idealizar os desenhos, e Annibale Brugnoli, responsável pela escolha das cores. Não há cenas figurativas em respeito à proibição bíblica. De acordo com os artistas, a escolha dos elementos decorativos reflete os ensinamentos ecléticos do Museu de Arte Industrial. As paredes lembram tapeçarias e, os tetos, céus estrelados. Os dourados aplicados às paredes são de tonalidades diferentes, dando a impressão de serem banhados pelos raios solares. A técnica utilizada na decoração das paredes permitiu que as cores vivas se mantivessem inalteradas ao longo do tempo.
A SINAGOGA ESPANHOLA O rito sefardi ou espanhol é praticado em Roma desde a chegada do grande número de judeus expulsos da Espanha, em 1492. Após a demolição das Scole Catalana e Castigliana, a liturgia foi agrupada e preservada conjuntamente em uma sinagoga, fundada em 19081910 em um edifício comunitário no Lungotevere Sanzio, hoje não existente. Em 1932, transferiu-se a Sinagoga Espanhola para a sua atual localização, no monumental Tempio Maggiore, e, em 1948, a sinagoga foi decorada com os móveis em mármore originalmente feitos para o complexo das Cinque Scole2, dando à essa casa de oração a magnificência e atmosfera íntima das sinagogas do velho gueto.
aron hakodesh da SCOLA SICILIANA
O interior da cúpula quadrada é dividido em sete partes coloridas, sendo decoradas, em sua base, por grandes palmas e cedros. A superfície inteira foi pintada sobre alumínio, uma técnica especial que torna a pintura mais brilhante, dando a impressão de transparência. O complexo também abriga os escritórios da Comunidade Judaica de Roma, o escritório do Rabinato, a mikvê (banho ritual), a Sinagoga Espanhola, o Arquivo Histórico Judaico e o Museu Judaico de Roma. 2
Cinque Scole – Durante séculos, em Roma, cada comunidade tinha o direito de ter sua própria sinagoga. Ao serem confinados ao gueto, os judeus se viram obrigados pelas novas leis papais a ter apenas uma sinagoga. Por isso agruparam as cinco existentes (o Templo, a Nova, a Castelhana, a Catalã e a Siciliana) em uma única.
tempio maggiore e sua cúpula quadrada
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personalidade
SYDNEY BRENNER, PRÊMIO NOBEL DE MEDICINA EM 2002 por DR. MORTON A. SCHEINBERG
Judeu sul-africano, filho de imigrantes do Leste Europeu, Brenner faleceu em abril de 2019 em Singapura, aos 92 anos de idade. Pioneiro na área da Biologia Molecular, é considerado um dos principais biólogos moleculares do século 20 e suas pesquisas levaram a conhecimentos cruciais sobre as doenças humanas.
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renner foi um agente importante na década de exponencial crescimento da Biologia Molecular (1953-1965). Nesse período, a descoberta da estrutura do DNA gerou os fundamentos para que fosse decifrado o genoma humano. Em sua autobiografia, Minha Vida na Ciência, publicada em 2001, o cientista escreveu: “Acredito que minha verdadeira aptidão seja iniciar projetos. O que eu gosto, mesmo, é de começar o jogo. E, depois que se inicia, começo a sentir que está ficando monótono.... Aí quero ir para outros projetos... Muitos pesquisadores foram além e fizeram importante trabalho científico, mas todos se recordam daqueles momentos maravilhosos em que nós e nossa ciência éramos jovens e nossa empolgação em perseguir novos desafios não tinha fim…”.
Sua vida Sydney nasceu na África do Sul, em 13 de janeiro de 1927, na pequena cidade de Germiston, próximo a Johanesburgo. Seus pais eram judeus vindos do Leste Europeu que se estabeleceram na África do Sul. O pai, Morris, era um judeu lituano que fugira em 1910 da Europa para não servir o exército do Czar; e sua mãe, Leah Blecher, era da Letônia, e chegou à África do Sul em 1922. Morris era sapateiro e a primeira casa da família era composta por alguns quartos nos fundos de sua oficina. Ele nunca aprendeu a ler ou escrever, mas além do inglês, iídiche e russo, aprendeu a falar afrikaans e zulu, idiomas locais. Desde seus primeiros anos, Sydney Brenner demostrou ter uma mente extraordinária, tendo aprendido a ler ainda muito pequeno. Quando uma cliente da sapataria, Miss Walkinshaw, soube que o menino Sydney conseguira aprender a ler com 4 anos, ajudado por um vizinho, ela persuadiu seu pai a deixá-lo frequentar o seu jardim de infância. O menino prodígio fez três anos de primário em apenas um ano e foi aceito na escola local, aos 6 anos, diretamente na 4a série, com uns dois anos menos que seus colegas. Após quatro anos na
Em 2002, ele foi laureado com o Prêmio Nobel de Medicina, em reconhecimento por suas descobertas no campo da “regulação genética do desenvolvimento de órgãos e da morte programada de células” – a morte celular programada, ou o mecanismo conhecido como apoptose. Dividiu o Prêmio com Robert Horvitz, do Massachusetts Institute of Technology, e John Sulston, do Instituto Sanger do Wellcome Trust, da Inglaterra. 48
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o Dr. Brenner, à esq., recebendo o prêmio nobel das mãos do rei Carl Gustaf em estocolmo, Dezembro de 2002
escola primária, foi encaminhado à Germiston High School onde foi matriculado em dezembro de 1941. Foi então que ele descobre a Biblioteca Pública da cidade, onde, em suas palavras, encontrou uma fonte de conhecimentos que ele poderia adquirir mediante a leitura. E assim criou o hábito de ler vorazmente. Passou a se interessar em Química e, pouco a pouco, juntou o número suficiente de tubos de ensaio para realizar experiências químicas usando pequenas quantidades de produtos comprados em uma empresa de suprimento de produtos farmacêuticos. Logo depois, formou-se em Bioquímica. Foi graças ao presente que recebeu de seu tio Harry – um microscópio – que ele conseguiu continuar com suas explorações pessoais. Em 1942, o jovem Brenner ganha da Prefeitura de Germiston uma
bolsa para estudar Medicina, e, aos 15 anos, é aceito na Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo. Ele morava na casa dos pais e diariamente ia de bicicleta até a estação ferroviária, onde deixava a bicicleta e, ao entardecer, retornava pelo mesmo meio. Sua família não tinha recursos financeiros e ele se sustentava com o que ganhava na sinagoga, onde era pago para completar diariamente o minyan – o quórum de 10 homens necessário para as orações judaicas diárias. Ao concluir o 6º ano do curso de Medicina, não tinha idade suficiente para se qualificar para a prática médica, e a Universidade lhe permitiu cursar um ano de Anatomia e Fisiologia. Para Brenner, aquilo era “a glória”! A prática da Medicina Clínica não o interessava, para ele a pesquisa era tudo. Em sua autobiografia, diz: “Tive uma 49
sydney Brenner, c 1960
carreira universitária brilhante, apesar de ter sido um aluno deplorável em algumas matérias” . A pesquisa o entusiasmava e ele logo percebeu que seu interesse maior era a Biologia Molecular – disciplina que na realidade não existia à época. Ao receber uma bolsa de estudos da Comissão para a Exposição Real, o diretor da JUNHO 2019
personalidade
o modelo da dupla hélice para a molécula de DNA e o estavam apresentando, Brenner segue imediatamente para Cambridge para analisá-lo.
A família Brenner, por volta de 1952. (esq. para dir. ) Maurice Finn, marido de Phyllis, a irmã de Sydney; Morris Brenner, o pai; Sydney, Leah Brenner, a mãe, Phyllis Finn, e Isaac,o irmão
Universidade de Witwatersrand, H. Raikes, que era químico formado em Oxford, aconselha-o a escrever para C.N. Hinshelwood, Professor de Química Física na Universidade de Oxford, que se interessava pelas aplicações dessa área na Biologia. Aquilo chegava muito perto do que ele desejava fazer. Em 1951, ganhou uma bolsa de estudos em Biologia dessa universidade para pesquisar a maneira pela qual os vírus atacavam as bactérias. Em dezembro de 1952 Sydney casase, em Londres, com May Colvitz Balkind, psicóloga educacional que também estudava para um doutorado em Psicologia, em Londres. Ela conseguiu transferência para Oxford e, até junho de 1954, o casal viveu num apartamento em Woodstock Road trabalhando em suas respectivas teses. Eles tiveram três filhos, Belina, Carla e Stefan. Era abril de 1953. Com 22 anos, ele ainda aluno da Universidade, quando vê, em Cambridge, pela primeira vez, o modelo de dupla hélice do DNA, construído por James Watson e Francis Crick. Até então, não se conhecia a estruturação
tridimensional do DNA - e nem como poderia ser sua configuração molecular. Quando soube que Crick e Watson haviam elaborado
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2.
1. Dr. Brenner, sentado, o 2º da dir. à esq., com outros premiados com o Lasker Award, em 1971 2. dr. brenner com James Watson, à esq.
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Aquilo foi o divisor de águas para ele que descreve o fato como tendo sido um dos dias mais felizes de sua vida. Ao ver o modelo percebeu tratar-se do segredo para a compreensão de todos os problemas na Biologia que ele julgara de difícil solução. Era o nascimento da Biologia Molecular. Francis Crick, impressionado com a aptidão científica do jovem Brenner, recruta-o para trabalhar em seu grupo, na Universidade de Cambridge. A partir de então – e pelos próximos 20 anos – divide com ele seu conceituado laboratório no Conselho de Pesquisa Médica em Biologia Celular. Entre suas descobertas, Brenner demonstrou que era possível alterar o mecanismo pelo qual um vírus ataca uma bactéria. Através de uma série de modificações conhecidas como mutações, demonstrou que era possível fazer com que o vírus perdesse e recuperasse a capacidade de produzir uma proteína, chamada de códon. Posteriormente, outros cientistas mostraram que a sequência de códons era responsável pela produção dos 20 aminoácidos. Coube à sequência de experimentos de Sydney Brenner indicar os códons que sinalizavam a inibição da produção de proteínas pelas células. Ele acreditava que a partir do DNA seria possível fazer com que esta informação chegasse a outros elementos da célula humana, permitindo, assim, que ocorresse a síntese de proteínas através de um elemento intermediário intracelular. Descrito em 1960, é hoje conhecido como RNA mensageiro (RNAm).
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Vida científica e seu vínculo com o Hospital Israelita Albert Einstein A partir de 1990, Brenner teve várias passagens por diversas instituições. Na Scripps Clinic, em San Diego, EUA, como professor visitante, monta o Instituto de Ciência Molecular, através de um projeto de pesquisa milionário dedicado ao projeto do genoma humano. De 1994 a 2000 escreveu uma coluna no Current Biology, com o título Loose Ends (Pontas soltas) e que depois teve o título mudado para False Starts (Tentativas frustradas). Recebeu múltiplas honrarias ao longo da vida, entre as quais o prestigioso Lasker Award em Medicina, no ano de 1971. Durante um período dividiu seu tempo entre Cambridge, na Inglaterra, e a Califórnia. Com a saúde debilitada, passou a residir em Singapura, onde criou e dirigiu o laboratório de Biologia Molecular Nacional. Não gostava dessa responsabilidade administrativa, sempre dizendo que “Você se torna mediador entre dois grupos impossíveis, os monstros, acima, e os idiotas, abaixo”... De 2009 até 2019, Brenner presidiu o Scientific Advisory Board (Comitê Consultivo Científico) do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, do qual também sou membro. Esteve conosco presencialmente em 2010 e 2014, quando fez apresentações para nossos colaboradores e corpo clínico, tendo tido, em ambas as oportunidades, sala cheia no auditório do Hospital. Desde então esteve envolvido com a estratégia de desenvolvimento de pesquisa da instituição, sendo um dos responsáveis por seu sucesso.
Em 2014 dando aulas no Hospital Israelita Albert Einstein em S.Paulo no evento “Primeiro Forum Medicina do Amanhã...”
Em 2014 em bate papo informal sobre estratégias de pesquisa, no Hospital Albert Einstein, com o diretor cientifico e superintendente do Instituto de Pesquisa do Hospital, Prof. Luis Rizzo
Presidia o Comitê Consultivo, que contava também com a presença de outro grande cientista, Robert Nussenblatt, recentemente falecido. Ainda hoje, esse importante Comitê conta com nomes como Allen Spiegel, Naphtali Savion, Patrice Debre, Antonio Coutinho e Erney Plesmann Camargo.
Em 2018, algumas de suas palestras foram adaptadas em um popular livro científico, Sydney Brenner’s 10on-10: The Chronicles of Evolution (Sydney Brenner desvenda tudo: Crônicas da Evolução, em tradução livre), publicado pela Wildtype Books.
Brenner foi reverenciado por sua criatividade nos experimentos e cativantes discussões científicas. Foi mestre reconhecido do minimalismo experimental e palestrante de altíssimo nível. 51
Brenner deixa três filhos e um enteado.
Morton a. Scheinberg é Clinico e Pesquisador na área de Reumatologia e Imunologia.
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MAR MORTO OU MAR DE SAL, MARAVILHA DA NATUREZA Considerado uma das sete maravilhas naturais do mundo e um dos principais atrativos turísticos de Israel, recebendo milhares de turistas por ano, a importância do Mar Morto, em hebraico,
Yam Hamelach, literalmente Mar de Sal, remonta à Antiguidade bíblica. Relatos na Torá, nas obras de Flávio Josefo e de outros, assim como as ruínas arqueológicas em seu entorno, revelam a importância da região desde tempos remotos.
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ercado pelas montanhas da Judeia, a oeste, e pelas montanhas de Moab, a leste; pelo Vale do Jordão e pelo Kineret, ao norte; pelo deserto do Neguev e pelo Mar Vermelho, ao sul, avista-se o Mar Morto. Localizado a 400 metros abaixo do nível do mar, possui a maior densidade salina - suas águas contêm 33% de sal -, quantidade 10 vezes superior à encontrada no Mar Mediterrâneo, e não permite nenhum tipo de vida entre suas águas. É justamente esta densidade que não permite que objetos ou pessoas afundem em suas águas.
História e relato bíblico Há mais de 4 mil anos, existiram um dia, ao sul do Mar Morto, as cidades de Sodoma e Gomorra, destruídas, de acordo com o relato bíblico, por D’us, por sua perversão e decadência moral. As referências bíblicas à Sodoma (Sdom, em hebraico) encontram-se, principalmente, no livro Gênesis e sua destruição é relatada nos capítulos 18-19. Mas, é também citada em Deuteronômio, no Livro de Jó e no Talmud, assim como por nossos profetas.
O nome Mar Morto somente surgiu após o advento do Cristianismo. Foi atribuído pelos monges cristãos, pelo espanto causado pela aparente ausência de qualquer forma de vida em suas águas.
De acordo com o texto bíblico, após ter ouvido o “clamor” das vítimas das iniquidades cometidas pelos habitantes de Sodoma e Gomorra, D’us determina a destruição dessas cidades. Nosso patriarca Abraão tenta intervir e D’us lhe promete que, se houvesse dez Justos, salvaria Sodoma. Mas na cidade não havia um Justo sequer e seu destino é selado. Apenas Lot, sobrinho de Abraão, e sua família, serão poupados, pois ele ainda guardava em si o espírito da hospitalidade que aprendera com nosso patriarca.
Na Antiguidade, foi também chamado de Hayam Hacadmoni, o Antigo Mar; Yamá shel Sdom, Mar de Sodoma; e, ainda, Yam Ha’aravá, Mar do vale do Aravá. Em suas obras, o já citado Flávio Josefo localiza o Mar Morto nas proximidades da antiga cidade bíblica de Sodoma, mas refere-se às suas águas por seu nome grego: Asfaltite.
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A beleza azul do Mar Morto e seus modernos hotéis
Os anjos enviados por D’us para destruir Sodoma ordenaram que Lot, juntamente com toda a sua família, deixasse a cidade imediatamente, alertando: “Sequer olhem para trás”. Assim que eles partem, D’us faz chover enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra. Não obedecendo às ordens dos anjos, a mulher de Lot se vira para olhar e é transformada em estátua de sal. De acordo com o Talmud, este sal chamase Melach Sedomit, sal sodômico. Josefo, em sua obra, afirma que durante a sua vida, o pilar de sal ainda podia ser visto. Betume - petróleo encontrado de forma natural, também chamado de asfalto, alcatrão ou lama, entre outros. Trata-se de uma mistura líquida de alta viscosidade e cor escura, facilmente inflamável, que pode tanto ocorrer na natureza como ser obtida artificialmente, em processo de destilação do petróleo.
Uma chuva de sal completa a catástrofe (Deut. 29:22). Na planície queimada por enxofre e sal, a terra tornara-se estéril, sendo que lá “nada podia ser plantado e nenhuma vida brotaria” (Deut. 29:22). Quando a
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Monumento na Jordânia marca o nível do mar, no Mar Morto, ponto mais baixo da Terra
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devastação se completou, surge um enorme lago de sal e betume, que se espalha a leste do deserto de Judá, e é conhecido em hebraico como Yam Hamelach, o mar de sal. A exploração econômica da região já se iniciara desde o tempo dos nabateus. Outros habitantes da região também descobriram o valor das matérias-primas naturais que subiam à superfície, principalmente glóbulos de betume ou asfalto1 que eram então recolhidos em cestos. Os nabateus vendiam betume aos egípcios, que o utilizavam para embalsamar seus mortos. Este comércio se estendeu até a era romana. Os romanos chamavam a região de “Palus Asphaltites” (Lago de Asfalto). Durante séculos o Mar Morto foi uma importante rota de comércio marítimo para navios que
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romana. Em 70 tornou-se refúgio de outro grupo de zelotas e suas famílias. Liderados por Eleazar Ben-Yair, eles haviam sobrevivido à destruição de Jerusalém e do Segundo Templo pelos exércitos romanos. Trancados em Massada, os judeus passaram a atacar os romanos e conseguiram fazer frente ao inimigo até que, em 73, o governador romano Flavius Silva marchou sobre Massada com a 10ª Legião. Quando os romanos conseguiram tomar a fortaleza, encontraram seus 960 habitantes mortos – os judeus tinham optado pelo suicídio à rendição.
a fortaleza de Massada
transportavam sal, asfalto e produtos agrícolas. São vários os portos em suas duas margens, incluindo-se os povoados de Ein Gedi, Khirbet Mazin (onde estão as ruínas da época dos hasmoneus), Numeira e Massada.
Templo em Jerusalém, construiu ou reconstruiu inúmeras fortalezas e palácios, sendo Massada a mais famosa. Massada foi erguida para ser uma fortaleza inexpugnável, pois em seu lado oriental a rocha desce, em queda absoluta, por 450 metros Na margem ocidental do Mar Morto, até o Mar Morto. A fortaleza estava Herodes, o Grande, que governou desde 66 E.C. nas mãos dos zelotas, a Judeia de 37 A.E.C. a 4 A.E.C., uma seita judaica que se opunha além de reconstruir o Segundo de forma acirrada à dominação
A imponente fortaleza de Massada, símbolo da resistência judaica
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Outro marco importante na região é a fortaleza de Macários, originalmente construída pelo rei hasmoneu Alexander Jannaeus, em meados do ano 90 A. E.C. Várias seitas de judeus estabeleceram-se no alto das margens do Mar Morto, sendo a mais conhecida a dos essênios de Qumran, a cerca de 2 km da margem noroeste do Mar
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Morto (atual Samaria). No final da década de 1940 e início de 1950, lá foram encontrados centenas de documentos e fragmentos de textos datados do período entre 150 A.E.C. e 70 da Era Comum que se tornaram conhecidos como os Pergaminhos do Mar Morto. A cidade de Ein Gedi, mencionada inúmeras vezes na oração de Minchá, era rica na produção de caquis que eram usados para fabricar as fragrâncias utilizadas no serviço do Templo Sagrado de Jerusalém, usando uma receita secreta. No século 19, o Rio Jordão e o Mar Morto foram explorados por várias expedições marítimas, tendo sido a primeira realizada em 1835 por Christopher Costigan, seguida pela de Thomas Howard Molyneux, em 1847, William Francis Lynch, em 1848, e John MacGregor, em 1869. Charles Leonard Irby e James Mangles viajaram ao longo das margens do Mar Morto em 1817 e 1818, mas não navegaram em suas águas.
A diversidade mineral da região e seu clima começaram a atrair cientistas e pesquisadores a partir de 1971.
Indústria e turismo A riqueza mineral das águas e areias, aliadas a seu clima – são cerca de 330 dias de sol por ano – fazem da região do Mar Morto um local
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atraente para turistas o ano inteiro, principalmente europeus, durante o inverno. É considerado atualmente um dos principais atrativos turísticos de Israel, recebendo milhares de visitantes por ano. Hotéis de lazer proliferam na área, explorando não apenas as opções do chamado “turismo-saúde”, mas também as belezas naturais do deserto da Judeia, ideais para passeios de buggies
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US$ 4 bilhões anuais pela venda de minerais extraídos do Mar Morto, principalmente potássio e bromo.
Mar ameaçado
e camelos, além de caminhadas em trilhas. Inicialmente construídos nas proximidades de Arad, os complexos hoteleiros – são mais de 20 hotéis de padrão internacional – concentramse atualmente na área denominada Ein Bokek. Além de muito sal, o Mar Morto possui também 21 tipos de minerais, entre os quais magnésio, cálcio e potássio – dos quais 12 não são encontrados em outras águas do mundo. A composição singular do mar já gerou inúmeros estudos científicos que comprovam que suas substâncias ativam o sistema circulatório, aliviam o reumatismo e atenuam a psoríase. Em seu redor, espalham-se montanhas de sal naturalmente esculpidas em forma de chaminés e cavernas. Entre estas, pode-se distinguir perfeitamente uma escultura em forma de cogumelo, que, segundo antigas tradições, seria a estátua da mulher de Lot. A lama negra, composta por minerais do mar, também possui efeitos benéficos cientificamente
comprovados para a saúde, que levaram ao desenvolvimento de uma próspera indústria cosmética cuja matéria-prima básica é extraída do mar e das areias. Para melhor conhecer seus segredos, foi fundado em 1992 o Centro de Pesquisa Médica do Mar Morto, que atua em parceria com hospitais e instituições acadêmicas de Israel. O potencial mineral do Mar Morto, considerado por especialistas um depósito natural de potássio e bromo, entre outros, levou ao desenvolvimento de uma indústria química altamente lucrativa. Desde a instalação da Palestinian Potash Company, em 1929, primeira fábrica na margem norte do Mar, muitas outras surgiram. Em 1952 foi fundada a The Dead Sea Works, então estatal e remanescente da empresa de 1929. Em 1995, essa empresa foi privatizada e pertence atualmente à Israel Chemicals. A região produz milhões de toneladas de potássio, milhares de toneladas de bromo, soda cáustica e metal de magnésio, além de cloreto de sódio. As indústrias geram cerca de 56
Mas o Mar Morto está desaparecendo, segundo especialistas, em decorrência das altas temperaturas (média de 30o durante o inverno e 40o no verão) e do baixo índice de umidade, tornando o ar extremamente seco, além das atividades extrativistas. Imagens áreas feitas recentemente comprovam a evaporação do mar. Para tentar reverter este processo, a margem sul está sendo alimentada por um canal construído e mantido pela The Dead Sea Works. Em uma conferência regional em 2009, especialistas e ambientalistas expressaram sua preocupação com a diminuição do nível da água, sugerindo até que as atividades ao redor do Mar Morto fossem reduzidas, incluindo a atividade agrícola. Em dezembro de 2013, Israel, Jordânia e Autoridade Palestina assinaram um acordo para implantar um aqueduto ligando o Mar Vermelho ao Mar Morto, com 180 km de comprimento e previsão de inauguração em cinco anos, o que acabou não acontecendo. Em janeiro deste ano (2019), porém, o Ministério de Cooperação Regional de Israel anunciou a disposição do país em retomar o projeto que levaria água do Mar Vermelho para uma central de dessalinização, no Porto de Áqaba, na Jordânia, onde será tratada e, então transportada para o Mar Morto por um aqueduto de 200 km ao Norte. O projeto está sendo novamente analisado pelas autoridades dos países envolvidos.
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MOEDAS DE 2 MIL ANOS DESCOBERTAS EM JERUSALÉM Durante escavação próxima à parede sul do Monte do Templo, foram descobertas moedas de bronze datadas da 1ª Revolta Judaica (66 – 70 EC).
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e acordo com o Departamento Nacional de Assuntos ligados à Natureza e Parques, de Israel, várias dezenas de moedas raras em bronze e numerosos fragmentos de utensílios de cerâmica, principalmente jarros e panelas oriundos do período da 1a Revolta Judaica, foram descobertos em novas escavações arqueológicas em Ophel, conduzidas pela Dra. Eilat Mazar do Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica de Jerusalém. Acredita-se que os objetos tenham sido abandonados por habitantes que ali se esconderam durante o cerco romano a Jerusalém. As moedas medem 1,5 cm de diâmetro e, segundo a arqueóloga, há significativa diferença segundo a época em que foram cunhadas. No início, quando os judeus tinham esperança de vitória em sua luta contra o domínio romano, as moedas eram cunhadas com a inscrição “Libertar Tzion”, em hebraico.
Já no quarto ano da revolta, os judeus expressavam sua aflição gravando os dizeres “Salvar Tzion”. Bem preservadas por terem pouco uso e abrigadas na caverna durante séculos, são decoradas com inúmeros símbolos judaicos, como as quatro espécies de plantas –Lulav, Hadás, Etrog e Aravá – associadas a Sucot; ou a palmeira que simbolizou a Tribo de Judá e também o cálice que era usado no Templo. A inscrição da moeda do “4º Ano”, com a gravação “Salvar Tzion “ é a que consta, hoje, nas moedas de 10 Shekalim do Estado de Israel.
Em 1967, um número semelhante de moedas do “4º Ano” (da Revolta Judaica) foi encontrado no Arco de Robinson, próximo ao Muro Oeste do Monte do Templo, em escavações realizadas logo após a Guerra dos Seis Dias pelo Professor Binyamin Mazar, avô da Dra. Eilat Mazar, em trabalho para o Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica. As escavações em Ophel forneceram um número incrível de achados, entre os quais um sinete real para lacre, do Rei Ezequias; uma barra chancelada com o nome de Isaías que pode ter pertencido ao Profeta Isaías; moedas de ouro do período bizantino; joias em ouro e prata; e um medalhão de ouro com icônico símbolo judaico. FONTES
Biblical Archeology, Patterns of Evidence e Key to David City, The Jerusalem Post, Israel 21c
França lança projeto para devolver obras de arte roubadas aos judeus, durante a 2ª Guerra e devolvê-las a seus familiares
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França criou uma força-tarefa para devolver aos seus legítimos donos e seus herdeiros os objetos de arte roubados de famílias judias na 2ª Guerra Mundial. Nas palavras do porta-voz do Ministério da Cultura, o projeto analisará os objetos que fazem parte das coleções dos museus franceses. Constam desse acervo cerca de 2.000 itens trazidos da Alemanha. No entanto, seus proprietários ainda precisam ser identificados.“É nossa obrigação com as vítimas dos saques”, afirmou o Ministro da Cultura francês, Franck Riester. “Trata-se de honrar a memória e a justiça”. 57
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Judeus de Roma: TEMPOS ANTIGOS ATÉ O Reino da Itália
é ininterrupta A história da comunidade judaica em Roma, a mais antiga do mundo ocidental, pois é a única cidade, em toda a Europa, de onde os judeus jamais foram expulsos. Com justificado orgulho, os judeus LOCAIS afirmam representar os “verdadeiros” romanos, pois lá estão há mais de dois mil anos, antes do Cristianismo e dos papas, e lá esperam continuar.
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ua história se desenrola na área do Trastevere, na margem ocidental do rio Tibre. Durante séculos lá viveram em relativa tranquilidade, sob domínio romano, amparados por um status jurídico que os protegia. Mas, após a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, quando passam a viver sob governo papal, perdem esse status de religião lícita e sua história torna-se sombria, passando a depender do tipo de relação que mantinham com a Santa Sé, que governa a cidade até 1870, quando Roma se torna a capital do Reino da Itália.
tradição, esses embaixadores eram acolhidos pelos judeus que lá viviam, em sua maioria comerciantes e escravos libertos. O número de judeus na cidade cresce a partir do século 1 A.E.C., à medida que Roma expande seus domínios. O general Pompeu, conquistou a Terra de Israel1 e Jerusalém, em 63 A.E.C., anexando seu território ao domínio romano, e para lá levou prisioneiros judeus como escravos. Muitos deles conseguiram sua liberdade graças à atuação da comunidade judaica local, optando por permanecer em Roma.
A República (509 A.E.C – 27 A.E.C.) O livro Macabeus (1: 8) relata que, em 161 A.E.C., Judá, o Macabeu (Yehudá ha-Macabi) – líder da revolta dos judeus da Terra de Israel contra os selêucidas – enviou a Roma dois embaixadores, Jason ben Eleazar e Eupolemus ben Yochanan, para pedir “amizade e proteção” ao Senado Romano. A cidade já era importante centro comercial, para onde acorriam pessoas do mundo todo para estabelecer entrepostos comerciais. De acordo com a
Em 49 A.E.C., após derrotar Pompeu, Júlio César assume o poder em Roma, iniciando uma série de reformas sociais e políticas. Entre outras, outorga aos judeus a condição jurídica de religio licita – religião lícita, permitida. Isso representava certo grau de cidadania, acompanhada de direitos. Segundo o historiador romano Sventonius, quando César foi assassinado, os judeus foram os primeiros a lamentar sua morte, comparecendo em peso a seu funeral.
Entre 63 A.EC. e 6 E.C., foi um estado vassalo de Roma
Entre os direitos concedidos por Roma aos judeus, a partir do fim da República, podemos mencionar a
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permissão de erguer sinagogas, cemitérios, cobrar impostos e coletar fundos para o Templo em Jerusalém, bem como manter tribunais para julgar disputas entre os membros da comunidade. Estavam, também, isentos do serviço militar, de servir os deuses romanos e pagar tributos ao Estado romano, no ano sabático.
poeta lírico e satírico. Filo de Alexandria, historiador judeu do século 1 A.E.C., relata em sua obra que uma comunidade judaica numerosa e organizada vivia em Trastevere. Ainda de acordo com Josephus, 8 mil judeus romanos acompanharam uma delegação
De acordo com Flavius Josephus2, no século 1 A.E.C. viviam na cidade algumas dezenas de milhares de judeus. Eles são mencionados nas obras do estadista e orador romano, Cícero, e nas de Horácio,
Flavius Josephus foi um general judeu, cujo nome era Joseph Ben Matityahu. Capturado pelos romanos na revolta de 66 a 70, viveu muitos anos na corte dos imperadores Flavianos, para quem escreveu longas histórias sobre o povo judeu na Antiguidade.
da Judéia para se reunir com o imperador Augusto após a morte de Herodes, o Grande. Há fontes que afirmam que, na época, havia 11 sinagogas em Roma. Durante muito tempo, a comunidade judaica romana viveu em relativa paz, porém, o relacionamento entre Roma e os judeus que viviam em Eretz Israel era volátil, causando várias guerras judaico-romanas.
Os judeus de Roma e o Império O número de judeus em Roma cresceu ainda mais depois que Tito esmagou a 1ª Revolta Judaica, no ano de 70 E.C. A revolta na Judeia eclodira em 66 E.C. e o General Vespasiano havia sido encarregado de a debelar, mas, três anos mais tarde, quando é empossado imperador, delega a tarefa a seu filho, Tito.
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arco de tito
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Fiscus Judaicus, de dois dracmas por cabeça, destinado à reconstrução do templo de Júpiter, no Capitólio, em Roma.
Este em Tisha B’Av do ano 70, conquista Jerusalém, fazendo tombar o Templo Sagrado. Josephus, testemunha ocular do cerco e destruição de Jerusalém, relata em sua obra que grande maioria dos mortos – mais de um milhão – eram judeus: “Homens e mulheres, velhos e jovens, insurgentes e Cohanim, aqueles que lutaram e aqueles que imploraram pelo perdão, foram todos abatidos em uma carnificina indiscriminada.. Os legionários tiveram que abrir caminho pelas pilhas de mortos para completar seu trágico trabalho de extermínio”... Relata, também, que os romanos capturaram e escravizaram dezenas de milhares dos nossos, levando 97 mil para Roma como escravos. Muitos dos que foram resgatados pelos judeus romanos permaneceram na cidade. O historiador ainda descreve que, no desfile militar, em Roma, comemorando a vitória de Tito, podiam ser vistos milhares de escravos judeus acorrentados e várias peças do vasto tesouro que os romanos haviam pilhado do Templo. Uma riqueza tamanha, em suas palavras, que permitiu ao imperador Vespasiano financiar a construção do Coliseu! Vinte anos mais tarde, Roma quis imortalizar a vitória sobre a Judeia erguendo o Arco de Triunfo de Tito3. Um baixorelevo esculpido no arco retrata os escravos judeus levados para Roma e os tesouros do Templo, inclusive O Arco foi restaurado em 1824.
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a Menorá de ouro. Há uma recomendação no Talmud de que nenhum judeu deveria passar debaixo desse arco, pelo horror que representa. E, com efeito, os judeus de Roma sempre se recusaram a
A política romana acabou criando tensões em todo o Império, resultando em mais revoltas judaicas na Terra de Israel e na Diáspora. A última delas, a Revolta de Bar Kochba (132-135), ocorreu em Eretz Israel. Esmagada pelos romanos, custou a vida de milhares de judeus e outros tantos foram levados para Roma, como escravos. Como em
Um baixo-relevo esculpido no Arco de Triunfo de Tito retrata os escravos judeus levados para Roma e os tesouros do Templo, inclusive a Menorá de ouro. O Arco foi construído no século 1 E.C.
passar por baixo do Arco de Tito, até o dia 14 de maio de 1948, quando da proclamação do Estado de Israel.
outras ocasiões, os judeus de Roma procuraram resgatá-los, tendo muitos permanecido na cidade.
O Império Romano provou ser mais duro com os judeus derrotados do que com outros povos. Via de regra, Roma permitia aos povos derrotados reconstruir seus templos, mas, no caso do Templo de Jerusalém, proibiu tanto sua reconstrução quanto a coleta de fundos para essa finalidade. Ademais, foi instituído um imposto anual sobre toda população judaica do Império, o
No entanto, apesar das revoltas, durante o período do Império os judeus de Roma viveram longos anos de prosperidade e autonomia. A comunidade se tornou uma das mais importantes da Diáspora. Sábios famosos viveram em Roma, entre eles o Rabi Matteya ben Heresh, que viveu no 2º século e fundou uma Yeshivá e um tribunal rabínico que se tornaram famosos.
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Em suas sinagogas, desenvolveram o chamado rito italiano, que, na verdade, era o trazido da Terra de Israel. Ainda hoje é praticado na Itália. Durante o período imperial, havia na cidade no mínimo 12 sinagogas em funcionamento. Infelizmente, nenhuma permaneceu de pé. A situação dos judeus de Roma e de todo o Império Romano vai-se deteriorando enquanto se dissemina a afirmação do Cristianismo, até ser legalizado pelo Edito de Constantino, em 313, e o Concílio de Nicéia, em 325. Com o Edito de Teodósio, em 380, o Cristianismo torna-se religião oficial do Império Romano e, com o seu fortalecimento, a religião judaica passa de lícita para “reconhecida” e depois para “tolerada” – até ser completamente banida. Os ensinamentos cristãos pregam que os judeus devem ser tolerados por serem considerados testemunhas das raízes antigas do Cristianismo, além de objeto do proselitismo, mas devem ser isolados e sua influência, minimizada. As leis civis outorgadas por imperadores cristãos seriam, por sua vez, embasadas nessas concepções eclesiásticas. O Papado foi ganhando poder no final dos séculos 3 e 4 desta Era. No decorrer dos primórdios do Cristianismo, o Bispo de Roma, “o Papa”, como é chamado, ganhou grande relevância tanto religiosa como política, chegando a estabelecer Roma como centro do Poder de um clérigo, especialmente do Papa, também em questões seculares.
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Estados Pontifícios: territórios no centro da Península Itálica, que se mantiveram como um estado entre os anos 756 e 1870, sob a direta autoridade doVaticano.
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ruínas romanas no pórtico d’ottavia. ainda hoje, parte do gueto judaico
Cristianismo. Em 476, os bárbaros saqueiam Roma, marcando o fim do Império Romano do Ocidente. No período tumultuado que se seguiu, o Papa passa a ser a única autoridade, e a Igreja Católica se torna um poder temporal4. Até ser anexada ao Reino da Itália em 1870, Roma foi a capital do Estados Pontifícios5.
A Idade Média Na história europeia, a queda do Império Romano do Ocidente marca o início da Idade Média – período que se estende até o séc. 15. Daí em diante, a história dos judeus de Roma é a de suas relações com o papado, já que sua vida e fortuna dependiam do humor de cada pontífice. A eleição de um novo papa para os judeus era sempre uma incógnita. Podia implicar numa mudança de status para pior, da noite para o dia. Quando um novo pontífice era eleito, os judeus eram obrigados a encenar cerimônias humilhantes e, seus representantes, obrigados a ir ao encontro desse novo dignitário da Igreja com os rolos da Torá. O papa aceitava as Leis da Torá, mas condenava a interpretação judaica dessa mesma Lei. Ao longo dos 61
séculos, conforme a personalidade e política dos vários pontífices, os judeus de Roma se depararam com proteção ou desprezo, tolerância ou repressões e reclusões em todos os seus níveis. O Papa Gregório, o Grande (590-604), por exemplo, emitiu uma bula papal, afirmando que os judeus tinham direito a ter sua própria vida religiosa e deviam ser convertidos com persuasão, não pela força. Em suma, mesmo se a lei os considerava inferiores aos cristãos, eles foram autorizados a viver a sua própria vida religiosa. Precisamos ressaltar que ainda assim desfrutaram de melhores condições de vida do que os judeus do resto da Europa. Não eram atormentados por pogroms ou pela fúria assassina dos cruzados. Por volta do ano 1000 foram instituídas na Europa as guildas das artes e dos ofícios, das quais podiam ser membros apenas os cristãos. Aos judeus era permitido exercer uma profissão proibida aos cristãos: banqueiros. E os de Roma podem ser considerados os pioneiros dessa junho 2019
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atividade econômica, nova na época: os bancos de crédito. O fato de negociarem com dinheiro os tornou indispensáveis. Reis e autoridades eclesiásticas reconhecem sua utilidade e lhes oferecem proteção e direitos.
1160. Descreve uma comunidade de cerca de 200 famílias “muito respeitadas”, com uma ativa vida intelectual. Apesar de integrados na sociedade maior, tinham orgulho de sua identidade.
No século 11 viveram em Roma sábios e eruditos judeus famosos por seu conhecimento. Entre eles, Rabi Nathan ben Yehiel, um compilador de dicionários, autor da obra magna, o Aruch.
Em Roma, eruditos judeus dedicavam-se a inúmeras disciplinas como filosofia, exegese bíblica, astronomia, medicina e matemática. Mantinham estreitas ligações com outros centros culturais judaicos e muçulmanos, e exerciam importante papel na disseminação do conhecimento científico. Dominando vários idiomas, eram exímios tradutores e agiam como mediadores entre diferentes culturas, fato que os colocava em contato direto com a Santa Sé.
Uma descrição da comunidade judaica, na época, pode ser encontrada no Livro de Viagens (Sefer Massaót) de Benjamin de Tudela, judeu espanhol, comerciante de pedras preciosas, que, entre 1159 e 1172, viajou pelo Mediterrâneo. Tudela relata ter visitado Roma em Usa-se o termo Renascimento para identificar o período da história da Europa entre meados do século 14 e o fim do século 16.
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CASA MEDIEVAL NO TRASTEVERE, QUE DE ACORDO COM UMA TRADIÇAO LOCAL ERA A SINAGOGA DO RABI NATHAN BEN YECHIEL
Durante a Idade Média, os moradores das cidades, inclusive judeus, tinham o costume de se agrupar junto a pessoas das mesmas origens ou com ocupação semelhante. Em Roma, apesar de haver judeus espalhados por toda a cidade, a maioria ainda vivia na margem oposta do rio Tibre. Na época, sua principal ocupação era o comércio de tecidos. Alguns comerciantes judeus foram muito bem-sucedidos, como se vê pelo fato de alguns serem credores do Papa Clemente IV, num montante total de 12 mil florins, em 1266. Contudo, sua posição era continuamente ameaçada em virtude da pregação dos frades dominicanos e franciscanos, que percorriam a Península Itálica, incutindo entre as massas o ódio contra os judeus. O resultado é o crescimento do sentimento antijudaico, que associava os judeus ao mal e ao diabo, e que culminaria nos massacres do final do século 11 e ao longo do século 12. Um importante marco na história 62
do antissemitismo foi o 4º Concílio de Latrão iniciado em novembro de 1215, sob o comando do Papa Inocente III. O Concílio adotara a doutrina de que “fora da Igreja não há salvação” e impôs leis para o relacionamento judaico-cristão. Deixa muito claro, acima de tudo, a “necessidade” de isolá-los do convívio com os cristãos. Passa a ser-lhes proibido, entre outros, exercer cargos públicos, viver sob o mesmo teto que os cristãos e comer e beber em sua companhia. E têm, obrigatoriamente, que usar distintivos especiais de identificação em sua roupa. Em 1239, a Igreja dá mais um passo em sua campanha contra o judaísmo. Após um “julgamento” que considera o Talmud ofensivo ao Cristianismo, determina o seu confisco. Em 1310, o Senado Romano intervém a favor dos judeus, proibindo a população de ameaçá-los. Porém, haviam piorado as condições de vida dos judeus romanos. A cidade entrara em declínio devido à alteração da residência do papado de Roma para Avignon, na França, entre 1309 a 1377, e muitos judeus, especialmente os banqueiros, começam a deixar Roma para cidades no Norte da Itália.
O Renascimento Durante o Renascimento6, a comunidade judaica de Roma respirou aliviada e viveu um período de prosperidade e privilégios. Pontífices eleitos mantinham uma postura mais benevolente em relação aos judeus, como o Papa Martin V, que renovou a Bula Papal que protegia os judeus. Na verdade, o clero mantinha uma atitude dupla em relação ao judaísmo. Eles continuaram a denunciá-lo com as expressões mais fortes possíveis, sem
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que, no entanto, isso os impedisse de continuar favorecendo os judeus que faziam parte de suas relações. Muitos dos médicos pessoais de papas e do alto clero eram judeus, e estes recebiam uma série de privilégios, como a isenção de usar roupas que os identificassem – na época, uma capa vermelha – ou de pagar os impostos especiais cobrados a seu povo. Um exemplo disso foi a estreita ligação do médico Samuel Zarfati com o Papa Júlio II (15031513), o responsável por contratar Michelangelo para pintar a Capela Sistina. Como Zarfati lhe salvara a vida, recebe permissão do Papa para construir uma nova sinagoga. O sucessor de Júlio II, Papa Leão X (1513-1521), segundo filho de Lorenzo, il Magnifico, também manteve bom relacionamento com os judeus de Roma. Instituiu uma cátedra de Língua Hebraica na Universidade Sapienza, aprovou a fundação de uma editora judaica e autorizou a reimpressão do Talmud.
Chegam os judeus sefarditas A partir do final do século 15, com a chegada dos sefaradim cresce substancialmente o número de judeus na cidade. Em 1492, é promulgado um Edito pelos Reis Católicos espanhóis, Isabel e Fernão de Aragão, obrigando a maior comunidade judaica de toda a Diáspora a escolher entre a conversão ou o exílio. Milhares optam por abandonar terras espanholas e o Papa Capítulos de um documento, em italiano. Contrarreforma, ou Reforma Católica, é o nome dado ao movimento criado pela Igreja Católica a partir de 1545, e que, segundo alguns autores, teria sido uma resposta à Reforma Protestante (de 1517) iniciada por Lutero.
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cadeira de eliahu, especial para brit-milá. roma, 1860. museu judaico de roma
Alexandre VI permite que parte deles se instalem em Roma. A população judaica romana dobra em poucas décadas com judeus vindos não só da Espanha, mas também dos domínios da Coroa Espanhola no Sul da Itália e Sicília, e de Portugal. Em 1527 viviam em Roma 1.772 judeus, em meio a uma população de 50 mil. A integração entre os sefarditas e os judeus romanos foi um processo difícil. Os recém-chegados fundam suas próprias sinagogas, mantendo seus ritos e tradições. Nesse período, são construídas duas sinagogas espanholas, uma siciliana, uma francesa e outra alemã. Essa coexistência foi finalmente regulamentada em 1524, com os Capitoli7 escritos por Daniel ben 63
Isaac de Pisa. Esse documento criava uma congregação unificada, formada por 30 membros da comunidade judaica romana e outros 30 judeus de outras paragens. Dessa forma, eram unificados todos os judeus em um governo comunitário.
Voltam os tempos difíceis: a criação do Gueto A vida dos judeus de Roma se deteriora, drasticamente, após a eleição em 1534 do Papa Paulo III. Seu papado foi caracterizado por uma luta contra a Reforma Protestante iniciada por Lutero. Ele reativa o Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição Romana e, em 1545, convoca o Concílio de Trento. Iniciava-se a Contrarreforma8. junho 2019
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A Igreja endurece sua posição em relação aos judeus, aumentando a pressão para sua conversão. Cria um imposto a ser pago por todas as sinagogas dentro dos Estados Pontifícios, e ordena a queima do Talmud. Em 9 de setembro de 1553, Rosh Hashaná do ano judaico de 5314, centenas de volumes do Talmud são queimados em Campo dei Fiori, praça no centro de Roma. Alguns dias antes, no mesmo lugar, um monge franciscano convertido ao judaísmo, foi queimado na estaca. Em maio de 1555, foi eleito um novo papa. Para desalento dos judeus, o escolhido foi o cardeal Caraffa, que assumiu com o nome de Paulo IV. Caraffa, que até então ocupara o posto de Grande Inquisidor, fora responsável por transformar a moderada Inquisição italiana em um instrumento de terror.
que os judeus, que por sua própria culpa, foram condenados por D’us à escravidão eterna...”. Na bula, que permanece com força de lei até 1870, o Papa determinava a criação compulsória de um gueto em Roma e demais cidades dos Estados papais. Os judeus de Roma foram deslocados para uma área cercada por um muro, na margem esquerda do rio Tibre.
Para Paulo IV, o judaísmo representava uma ameaça à fé cristã. Dois meses após sua posse, emitiu uma bula papal, Cum Nimis Absurdum, que leva o nome de suas palavras iniciais: “Como é absurdo e tremendamente inconveniente
piazza delle cinque scole, roma, 1832. gravura com aquarela c. 1571
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A bula papal ainda os proibia de serem proprietários de terras, podendo apenas arrendá-las. Não podiam trabalhar em qualquer outro negócio a não ser a venda de roupas usadas e tecidos; empregar ou socializar com cristãos, nem trabalhar em público nos feriados cristãos. Médicos judeus não podiam atender pacientes cristãos. Eram obrigados a ouvir periodicamente sermões nas
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Igrejas e a usar sinais distintivos nas roupas. Podiam ter, apenas, uma sinagoga. Esta proibição foi contornada, incorporando sob um único teto, na chamada Cinque Scole, as cinco sinagogas das diferentes congregações: duas dos judeus romanos, Scola Tempio e Scola Nova; e três sefarditas: as Scole Catalana, Castilhana e Siciliana. Dentro das muralhas do gueto, surge um idioma próprio: o Giudaicoromanesco. As regras da bula papal foram rápida e severamente postas em prática. O que mais afetou a comunidade foram as medidas econômicas. A venda a preço irrisório de suas propriedades, bem como a proibição de atuar em qualquer outro negócio que não o já citado, empobrece a comunidade, despojando-a de seu poder econômico. A situação dos judeus romanos não muda muito até 1775, quando o Papa Pio VI emite o “Editto sopra gli Ebrei”, um édito sobre os judeus, que exacerba ainda mais as medidas persecutórias, adicionando outras. Uma das 24 cláusulas do documento rezava que quem passasse uma noite fora do gueto seria condenado à morte. Proibia o estudo do Talmud e os cortejos fúnebres. E a entrada nas igrejas, assim como era vedado aos cristãos entrar nas sinagogas. Houve alguns papas que se mostraram mais humanos, garantindo aos judeus romanos alguns direitos pontuais, como o de viajar a negócios por todos os Estados Pontifícios, sem ter que voltar ao gueto à noite. Mas, com o tempo, a situação econômico-social só foi-se deteriorando.
judeus romanos. Em 10 de fevereiro de 1798, tropas francesas entraram na cidade e, no dia 15 daquele mês, foi declarado o fim do poder temporal do papa Pio VI. No dia 20 o Papa foi forçado a deixar Roma e, no dia seguinte é proclamada a primeira República Romana. Os judeus voltam a ter plena cidadania e direitos iguais, podendo abandonar o gueto. Na Piazza delle Cinque Scole, os judeus erguem uma “árvore da liberdade”. Infelizmente, a liberdade trazida pelos franceses não duraria muito tempo.
A chegada dos franceses Os acontecimentos da Revolução Francesa e as conquistas napoleônicas, embora com anos de atraso e por tempo limitado, modificaram as condições de vida dos
Em 1814, após a derrota de Napoleão, o Papa Pio VII, até então prisioneiro dos franceses, regressa a Roma. Com isso, os judeus perdem as conquistas civis. São obrigados a voltar ao gueto e a ouvir sermão dos padres. E é reinstituído o tributo humilhante que os representantes da comunidade eram obrigados a prestar no primeiro sábado de Carnaval, no Capitólio: ajoelhados
Interior do Tempio Maggiore com as Menorot acesas
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interior da sinagoga romana. gravura com aquarela, c. 1566
perante os senadores, deviam suplicar a permissão de continuar vivendo em Roma. Com a eleição, em 1823, do Papa Leo XII, a situação ainda piora. Em 1826 volta a vigorar o “Editto sopra gli Ebrei”, de 1775, e recrudescem os batismos forçados. Esta situação durou até 1848, quando Pio IX é
eleito Papa. Este, num primeiro momento, demostra uma tendência liberal e manifesta inclusive a intenção de libertar os judeus do gueto. No entanto, os eventos que se seguiram mudam o curso dos acontecimentos.
o sequestro de edgardo mortara. óleo, Moritz D. Oppenheim, 1862
chave para o aron hakodesh. séc. 19; scola castigliana
Em 15 de novembro de 1848, os liberais romanos vão às ruas, pedindo por democracia e reformas. E, em 9 de fevereiro de 1849, Pio IX é deposto por uma revolução liberal que instituiu a Segunda República Romana de 1849. O papa deixa a cidade, disfarçado de padre, refugiando-se na fortaleza de Gaeta. Escassos cinco meses dura a experiência republicana em Roma. Em 3 de julho, por conveniência política, a França de Napoleão III restabelece o ordenamento pontifício. De volta ao poder, Pio IX perdera toda a simpatia pelas causas liberais. Intolerante e com tendências reacionárias, ele passa a repudiar a democracia e o Estado italiano, negando aos não católicos o direito à liberdade religiosa. Numa carta,
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William Gladstone, viajante inglês, descreve Roma como uma prisão: “Não há nenhuma liberdade, nem ao menos esperança de vida tranquila... Um estado de sítio permanente”.
judeus romanos eram extremamente lamentáveis “. Essa situação finalmente muda em 1870, quando a Itália é reunificada. Em 20 de setembro de 1870, um oficial judeu piemontês teve a honra de comandar a bateria de canhões que abriram uma brecha nas muralhas de Roma, na Porta Pia. O poder temporal do Papa chegara ao fim.
O Papa acreditava caber aos judeus romanos parte da responsabilidade pela instituição da República, e os torna alvo de represálias, submetendo-os a severas leis. São obrigados a voltar ao gueto e a usar distintivos nas roupas. Um historiador italiano descreve a política judaica de Pio IX como “falsa, arrogante e cruel”. Em 1858, o Papa se envolve no sequestro de uma criança judia de apenas 6 anos, Edgardo Mortara. Batizado secretamente por uma criada enquanto era ainda bebê, o menino é sequestrado pela polícia papal em Bolonha. Levado à força para a Casa do Catecismo, é instruído na fé católica. Pio IX adota-o. Apesar das súplicas dos pais e indignados protestos tanto por parte da comunidade internacional como da judaica, Edgardo Mortara cresce no Vaticano, tornando-se padre católico.
Com a anexação da cidade ao Reino da Itália, os judeus romanos foram emancipados, tendo a partir de então os mesmos direitos que outros cidadãos. Eram os últimos a serem emancipados em toda a Europa... O Hechal do Tempio Maggiore
O caso Mortara teve repercussões internacionais. Inúteis protestos diplomáticos foram enviados ao Pontífice. Entre os emissários a Roma estava Sir Moses Montefiore. Em seu relatório sobre a “Missão Mortara” ao Conselho de Deputados dos Judeus Britânicos, Montefiore escreveu que “as condições dos
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BIBLIOGRAFIA
Di Castro, Daniela,Treasures of the Jewish Museum of Rome: Guide to the Museum and Its Collection, De Luca A., 2010 Adams, H C, The History of the Jews from the War with Rome to the Present Time,Wentworth Press Gianni Ascarelli, Daniela Di Castro, Bice Migliau, Mario Toscano, Il Tempio Maggiore di Roma nel centenario dell’inaugurazione della Sinagoga 1904-2004, Torino, 2004
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Camp des Milles HISTÓRIA E MEMÓRIA por REUVEN FAINGOLD
A visita ao novo Memorial do Holocausto, na França, o Camp des Milles (1939-1942), ainda ausente dos guias turísticos, induz à reflexão sobre racismo, genocídio e preservação da memória. O campo foi utilizado pelos nazistas durante o governo colaboracionista de Vichy para prender e de lá deportar judeus a Auschwitz e outros campos.
ou “Guerra de Araque”), em que não houve verdadeiros combates armados. Este primeiro período vai de 3 de setembro de 1939 - quando da declaração de guerra da Grã-Bretanha e França à Alemanha - até 10 de maio de 1940, data da invasão da Bélgica e Países Baixos pelas tropas do Terceiro Reich. No campo, esse período caracterizou-se por um forte aumento no número de militantes antifascistas, vindos da Alemanha como refugiados. Eram os primeiros sinais de resistência ao nazismo.
TOPOGRAFIA DO CAMPO O Camp des Milles, localizado a 10 minutos de Aix-en-Provence, nasceu em 1882, quando a família Rastoin, de empreendedores de Marselha, inaugura uma olearia para fabricação de tijolos. Por meio século, a produção de paralelepípedos esteve em seu auge, até finalmente declinar durante a crise econômica de 1937. A 2ª Guerra eclode em setembro de 1939 e o governo da República Francesa procura um local para segregar os inimigos do regime. Os 15 mil m2 da olearia eram uma excelente opção para a execução de sua política de deportação, humilhação e confinamento. A história de Camp des Milles pode ser dividida em três períodos:
A conquista da França pelo poderoso exército alemão, o Wehrmacht, a assinatura do armistício1 e o estabelecimento do Regime de Vichy inauguram o segundo período de Camp des Milles, entre 1940-1942. Durante este, o lugar se converteu em campo de trânsito e concentração de população “indesejada”. A maioria dos internados eram artistas, músicos, médicos que almejavam emigrar para os Estados Unidos, um lugar que brindava maiores possibilidades profissionais. Ao todo, estavam presas no campo 3.500 pessoas de 38 diferentes nacionalidades, amontoadas em condições deploráveis. Até julho de 1942, militantes são enviados ao campo por serem declarados dissidentes do regime alemão.
O primeiro foi a época do início da 2ª Guerra, chamado de “Drôle de Guerre (“Guerra de Mentira” De acordo com o armistício assinado por Hitler com a França, o país foi dividido em dois. Ao Nordeste, o território permaneceria sob ocupação alemã; ao sudoeste, com 2/5 do território francês, seria criada uma “Zona Livre”, tendo Vichy como capital e abrangendo duas grandes cidades, Lyon e Marselha.
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Camp des Milles - Memorial do Holocausto
O terceiro período transcorre durante o verão de 1942, trazendo consigo uma mudança significativa no percurso da 2ª Guerra. Os meses de agosto e setembro anunciavam o final da Era Vichy. Em novembro de 1942, a zona destinada a Vichy foi ocupada pelas forças do Eixo, levando à dissolução do exército francês e causando o afundamento da frota da França, acabando com qualquer sinal de independência. A partir de então, a Alemanha de Hitler supervisionaria todos os funcionários franceses, inclusive aqueles que trabalhavam em Camp des Milles. Assim sendo, a olearia de Milles foi transformada em um Campo, em alemão General francês que alcançou a distinção de Marechal da França. Grande colaborador do 3º Reich, atuou como chefe de Estado da França de Vichy de 1940 a 1944.
campo de deportação exclusivo para judeus. O lager2 era administrado por 30 militares, todos subordinados ao capitão Charles Goruchon. Em julho de 1942, o político e colaboracionista Pierre Laval (1883-1945), amigo do Marechal Pétain3, ordenou incluir casais com crianças menores de 16 anos nas deportações. Em 3 de agosto, com a ajuda de cinco comboios, o campo foi esvaziado.
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Memorial Camp des Milles - Porta interna
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Os trilhos do trem ficavam próximos do local e, do andar superior da olearia, era possível avistar a saída dos comboios rumo aos campos de extermínio. Sob o sol da Provence, ao som das cigarras, Pierre Laval não poupava ninguém, sequer as crianças. Houve deportados não judeus que ajudaram no resgate das crianças judias. Uma boa parte foi homenageada como “Justos entre as Nações” pelo Museu Yad Vashem, em Jerusalém, dentre eles: o padre Cyrille Argenti, Edmond e Nelly Bartoloni, Marie-Jeanne e Auguste Boyer, Marius Chalve, Georgette e André Donnier, o pastor Marc Donadille e sua esposa, Françoise Donadille, pastor Charles Guillon, Alice Manen e seu marido, pastor Henri Manen, pastor Joseph Marie Perrin, clérigo Fernand Singerlé e o pastor Gaston Vincent e seu filho Michel. JUNHO 2019
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uma lista alfabética ainda maior de crianças transportadas do território francês até Auschwitz e demais campos.
O sul da França tornou-se um grande refúgio para os judeus que tentam fugir para países neutros, legal ou ilegalmente. Estima-se que, no momento do armistício entre França e Alemanha, que dividiu a França em zonas, estivessem presos 50 mil judeus nos 30 campos de concentração no país, mas em decorrência de óbitos, libertações e emigração, esse número diminuiu consideravelmente até o final de 1941. Na zona de Vichy, as autoridades se mostraram relutantes em agir contra os judeus franceses, mas não contra refugiados judeus de outros países. Estima-se que 2/3 dos deportados fossem judeus de outras nacionalidades.
CRIANÇAS NO Camp des Milles Entre agosto e setembro 1942 foram deportadas milhares de crianças judias, a menor delas com
Ferdinand Springer, em Forcalquier, 1940.
apenas um ano de idade. A lista de nomes e sobrenomes das crianças de Camp des Milles (http://www. campdesmilles.org/histoire-d-uncamp.html) é resultado do incansável trabalho de Serge e Beate Klarsfeld, ele judeu romeno, ela alemã protestante, inteiramente dedicados à caça de nazistas. Na “Klarsfeld Foundation” é possível consultar
Memorial Camp des Milles - Corredor interno
O “Relatório de Inspeção de Dannecker”, publicado em julho de 1942, permite obter dados significativos sobre o Camp des Milles: “O campo é uma olearia solidamente construída. Lá as condições são piores que as de Drancy, nas proximidades de Paris. Objetos diversos em madeira são fabricados nos ateliês. O número de prisioneiros é de 1.306 judeus. Dentre eles, contabilizados 781 alemães, 290 austríacos, 92 poloneses, 16 tchecos e 13 russos. Os cidadãos germânicos, foram todos deportados em 25 de outubro de 1940 de Baden e Palatinado. A maioria tinha mais de 50 anos. Havia dois hotéis (Hôtel Bompard e Hôtel Terminus), vigiados por mulheres de Marselha, que também estavam subordinados ao Camp des Milles. Lá estavam 361 judeus; 321 deles são tidos como apátridas (158 ex-alemães), num total de 1.192 “judeus deportáveis”. Entre 14 de agosto e 9 de setembro 1942, seis comboios abarrotados seguiram rumo a Auschwitz transportando 5.991 judeus, dos quais 1.379 eram da região de Provence des Milles. Depoimentos de testemunhas durante a deportação dos judeus do Camp des Milles, (principalmente em novembro e dezembro de 1942), retratam uma situação de profunda tristeza e extrema penúria. O pastor francês Henri Manen (1900-1975) esteve presente no próprio campo e registrou a deportação efetuada em 2 de setembro de 1942:
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“Se existiu algo particularmente doloroso de ser testemunhado, foi o espetáculo das crianças. Por terem sido dadas instruções de última hora, todos foram obrigados a partir com seus pais. Durante a noite fria, chorando de fome, crianças pequenas (de 5-6 anos), tentavam carregar heroicamente sacolas na altura da cintura. Eles tremiam de frio por causa do orvalho noturno. Pais e mães jovens choravam silenciosamente, tomados pela impotência, diante do sofrimento de seus filhos. De imediato, escutou-se a ordem de partida, assim todos deixaram a plataforma para entrar no trem”. Em 4 de novembro de 1942, 217 internos do Camp des Milles são transferidos aos citados hotéis Bompard e Terminus, ambos nas proximidades de Marselha. No início de 1943, estes lugares também acolhiam judeus da região do Camp des Mees (Alpes Marítimos) e La Roquebrussane, dois pontos de deportação a poucos quilômetros de Marselha. Finalmente, em março de 1943, a Wehrmacht entra em Camp des Milles deportando as três dezenas de prisioneiros que lá ainda se encontravam.
Memorial Camp des Milles - Mural do refeitório
CAMPO DE ARTISTAS Em 1947, Camp des Milles recupera sua vocação industrial. O angustiante passado, enterrado durante a 2a Guerra Mundial, ressurge da poeira. No que era o refeitório dos guardas do campo, encontram-se pinturas feitas por prisioneiros artistas. A destruição da “sala de murais” mobilizou deportados e associações. Passaram por ali famosos pintores, designers, escritores, músicos, escultores, homens de teatro e cientistas judeus, como Max Ernst, Hans Bellmer, Robert Liebknecht,
Memorial Camp des Milles - Mural do refeitório
Leopold Mayer (Léo Maillet), Ferdinand Springer e Lion Feuchtwanger. Também lá esteve recluso o Prêmio Nobel de Medicina de 1922, Dr. Otto Fritz Meyerhof, e o futuro Nobel de 1950, Dr. Tadeusz Reichstein, incentivador do uso da cortisona como antiinflamatório na cura da artrite. Cerca de 350 obras de arte foram criadas em Camps des Milles. São centenas de decorações e grafites abandonados no lugar ao término da 2a Guerra. Max Ernst (1891-1976) foi um dos principais artistas do século 20. Nascido em 1891 em Bruhl, na Renânia, acompanhou os primeiros passos da pintura expressionista, criando junto com Johannes Theodor Baargeld (1892-1927) e Hans Peter Wilhem Arp (1886-1966) o grupo dadaísta de Colônia, Alemanha. Instalado em Paris desde 1922, Ernst será membro ativo do movimento surrealista, trabalhando com técnicas de colagem e adesivos. Internado em Camp des Milles e Saint Nicolas, foi salvo pelo jornalista americano Varian Fry. No verão de 1940, Fry
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organizou uma rede clandestina de fuga, em Marselha, conseguindo salvar das mãos nazistas renomadas personalidades como Marc Chagall, Hannah Arendt, Marcel Duchamp, Jacques Lipchitz, Wilfredo Lam e André Breton. Nos treze meses em que permaneceu nessa cidade, Fry resgatou algumas das mentes mais brilhantes do século 20 (MORASHÁ no 35, dezembro de 2001). Em julho de 1941, Max Ernst emigrou para os EUA, voltando a Paris somente em 1953. Naturalizado francês, o artista morou no sul da França até 1976, quando faleceu. O novelista e romancista judeu Lion Feuchtwanger nasceu em Munique, em 1884, e teve passagem meteórica pelo Camp des Milles. Pacifista e antimilitarista, enfrentou o nazismo com convicção. Seu famoso romance, O Judeu Süss (1925), foi adaptado ao cinema4, virando propaganda antissemita. Em janeiro de 1933, a casa de Feuchtwanger, em Berlim, foi saqueada; ele teve seus bens confiscados e sua titulação universitária e nacionalidade retiradas. Suas obras foram proibidas e queimadas em 10 de maio de 1933. Exiliado na França, em Sanary-sur-Mer, o novelista funda, com Bertolt Brecht e Willi Bredel, o jornal “Das Wort”, importante publicação antifascista dos escritores exilados da Alemanha. Em 1936, Feuchtwanger publicou O falso Nero, romance histórico que satiriza o nazismo. Um bufão, instigado por intrigas capitalistas, Em 5 de setembro de 1940, o filme de Veit Harlan foi lançado no Festival de Veneza. A trama descreve com ironia a figura de Joseph Süss Oppenheimer (1698-1738), destacado banqueiro judeu.
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Em maio de 1940, Feuchtwanger é levado ao Camp des Milles, mas é logo libertado, viajando aos EUA para ali radicar-se definitivamente. O diabo em França, escrito em 1942, é o único texto autobiográfico publicado. Morreu em Los Angeles, em dezembro de 1958.
Dr. Tadeusz Reichstein, prêmio nobel em 1950
O pintor judeu Hans Bellmer nasceu em Katowice, em 1902. Nos anos 1920, já instalado em Berlim, começa realmente a se interessar pelo judaísmo. Com 22 anos, trabalha em Paris como desenhista de publicidade. Em 1933 começa a despontar seu talento artístico na
Memorial Camp des Milles - Mural do refeitório
coloca-se à frente de um movimento popular, exercendo poder extremamente ditatorial. Logo é destituído, pois o povo se desencanta. Nunca antes se escrevera uma sátira tão mortal e certeira contra Hitler e seus comparsas. O texto, esclarecedor, desempenhou um papel significativo na luta contra o totalitarismo do Führer. 72
fabricação de bonecas, dividindo seu tempo entre Berlim e Paris, Itália e Tunísia. Entre 1936-1937, Hans Bellmer expõe nos EUA, França e Japão. Um ano depois, em 1938, deixa definitivamente a Alemanha para viver em Paris como artista. Na primavera de 1939, é deportado ao Camp des Milles, trabalhando,
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também, no campo do vilarejo de Forcalquier, sul da Provence, em companhia do gravurista Ferdinand Springer. Entre 1941-1944 mora em Castres e Toulouse, retornando a Paris onde ficaria até sua morte, em 1975. Robert Liebknecht nasceu em Berlim, em 1903. Era neto de Wilhelm Liebknecht (1826-1900), amigo de Karl Marx e fundador do Partido Social Democrata alemão. Seu pai, Karl Liebknecht (1871-1919) - colega da militante bolchevique Rosa Luxemburg - foi assassinado durante um motim comunista em Berlim. Após a morte do pai, Robert começa seus estudos de Belas Artes em Dresden, para depois instalar-se em Berlim. Em seus trabalhos, pintou cenas do cotidiano, retratos de desempregados, marginais e figuras de periferia. Em 1933, com a chegada do nazismo, Liebknecht deixa definitivamente a Alemanha, indo para Paris, onde se sustenta com traduções. Mas continua pintando. Em 1939, é enviado a Camp des Milles. Libertado o campo, ele retorna a Paris, desenvolvendo atividades artísticas até sua morte, em 1994. O artista judeu Ferdinand Springer nasceu em Berlim em 1907. Aos 20 anos viajou a Milão para estudar com Carlo Carrà (1881-1966), expoente do movimento futurista italiano. Depois iria a Paris para estagiar como aprendiz do pintor e gravurista Stanley Wiliam Hayter (1901-1988), fundador do legendário “Atelier 17”, na Cidade das Luzes. Em 1937, Springer faz uma exposição nos EUA. Voltando à França, fixa-se em Grasse, pequena cidade na Riviera Francesa. No outono de 1939, Springer desenhou em Antibes, Camp
Memorial Camp des Milles
des Milles e Forcalquier. Após a rendição da França a Alemanha de Hitler, por ser judeu, refugiou-se na Suíça, retornando à França em 1945. Morreu em Grasse, em 1998.
OUTRAS PERSONALIDADES O Dr. Otto Fritz Meyerhof nasceu em 1884, em Hannover, numa abastada família judaica. Aos quatro anos, sua família mudou-se para Berlim, onde ele passaria parte de sua infância e juventude. Lá ele começa a estudar medicina, dando
o nobel de medicina, Dr. Otto Fritz Meyerhof
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continuidade a seus estudos em Freiburgo, Estrasburgo e Heidelberg. Graduou-se em 1909, com uma tese intitulada “Contribuições à Teoria Psicológica da Doença Mental”. Em Heidelberg, conheceu a estudante de matemática, Hedwig Schallenberg, sua futura esposa, com quem teve uma filha e dois filhos. Em 1912, Meyerhof mudouse para a cidade de Kiel, onde é contratado pela Universidade local, tornando-se professor em 1918. Em 1922, com apenas 28 anos, é agraciado com o Prêmio Nobel de Medicina, junto com o fisiologista britânico Archibald Vivian Hill (1886-1977), por seu trabalho sobre metabolismo muscular e glicose. Sua tese demonstrava a relação existente entre o consumo de oxigênio e o metabolismo do ácido lático nos músculos. Em 1929, o Dr. Otto Fritz Meyerhof foi nomeado diretor do “Instituto Kaiser Wilhelm de Pesquisa Médica”, cargo que exerceu até 1938. Com a ascensão de Hitler, e como resultado das perseguições aos judeus em 1938, Meyerhof mudou-se a Paris. Em 1939 é JUNHO 2019
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deportado ao Camp des Milles. Finalmente, em 1940, emigra para os EUA, tornando-se “professor visitante” na Universidade da Pensilvânia, Filadélfia. O Dr. Meyerhof se interessou pela música, pela literatura e, particularmente, pelas artes, sempre incentivado pela esposa, Hedwig, que também foi artista plástica. Ele faleceu de um ataque cardíaco nos EUA, em 1951. O Dr. Tadeusz Reichstein (1897 - 1996) foi um químico judeu, filho de Isidor Richstein e Gastava Brockmann. A família emigrou da Polônia para a Suíça, em 1905. Entre 1916-1920, Tadeusz completou estudos de química no “Eidgenössische Technische Hochschule” (Instituto Superior Tecnológico), em Zurique. Agraciado em 1950 com o Nobel de Medicina, na área da Fisiologia, Reichstein dividiu o cobiçado prêmio com dois cientistas: o químico americano Edward Calvin Kendall e o médico americano Phillip Showalter Hench. O trabalho dos três cientistas versava sobre os hormônios do córtex adrenal, suas estruturas e efeitos biológicos. Reichstein chegou à marca impressionante de 635 publicações científicas, a última delas escrita aos 97 anos de idade, pouco antes de falecer, na Basileia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitas vezes a História é revivida pela arte como também pela ação determinada de um punhado de protagonistas. Passaram-se quase três décadas (1983-2012) até que, finalmente, em 10 de setembro de 2012, fosse inaugurada a Fundação e Memorial Camp des Milles, na
Memorial Camp des Milles - Vagão de trem
presença do então primeiro-ministro da França, Jean-Marc Ayrault. O presidente da Fundação, Alain Chouraqui, afirmou: “Este Memorial é essencial pela escolha radical que foi feita.... Desde o início, dissemos: este lugar deve ser útil. Não somos defensores da memória pela memória, da memória de reverência. Nós preferimos a memória de referência”. E continua: “Além da História, confiamos em outras ciências humanas, para poder dizer nunca mais”. A visita ao museu é organizada em três partes: histórica, memorial e reflexiva. Este último passo, que visa “dar significado universal” ao ocorrido, discute quatro grandes genocídios do século 20 (armênios, judeus, ciganos e tutsis), todos eles estudados através do filme “Três fases do racismo ao genocídio”. Visitar um lugar de sofrimento torna-se uma ferramenta universal contra preconceitos e estereótipos. Camp des Milles é hoje um museu histórico, que permite ingressarse nos meandros da 2ª Guerra, sentir o trágico inferno a que foram submetidos os judeus durante o Holocausto, e discutir temas vinculados à intolerância e ao preconceito. Sem dúvida alguma, 74
este local lúgubre nos propicia uma oportunidade única de repensar o ser humano. Termino com as palavras do Prêmio Nobel da Paz de 1986, o sobrevivente Elie Wiesel (19282016), registradas no próprio folder do Memorial: “Estou convencido de que Camp des Milles será um lugar importante, muito importante, para os próximos séculos”.
BIBLIOGRAFIA
Deroubaix, Christopher, Camp des Milles. L’antichambre de la mort devenue outil de réflexion. L´Humanité, 08 août 2013. Fontaine, André, Un camp de concentration à Aix-en-Provence? Le camp d’étrangers des Milles, 1939-1943, Cahors, Edisud 1989, 245 págs.
Grésillon, Boris- Lambert, Olivier – Mioche, Philippe, De la Terre et des hommes, La tuillerie des Milles d’Aix-en-Provence, Aix-en-Provence 2008 Site-Memorial du Camp des Milles. Musée d´histoire et des sciences de l´homme. Aix-en-Provence. Monument historique. www.campsdesmilles.org (site oficial do museu).
Varian Fry, O herói. MORASHA no 35, dezembro de 2001. Versão digital disponível em: http://www.morasha.com. br/holocausto/varian-fry-o-heroi.html. Prof. Reuven Faingold é historiador e educador; PHD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. é responsável pelos projetos educacionais do “Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto” de São Paulo.
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A capa da edição da revista Morashá de Abril de 2019, n° 103, é verdadeira obra de arte. A escolha da Iluminura – a Hagadá de Sarajevo, Barcelona, c. 1350, demonstra o quão valorosa é a pesquisa de seu Conselho Editorial. Os detalhes ressaltados pela qualidade gráfica enriquecem ainda mais a seleção do tema. Levi Cohen São Paulo – SP
O Suplemento Especial de Pessach da Morashá é de grande valia e os frequentadores da sinagoga ficaram agradecidos e empolgados com o mesmo. Possa Hashem abençoar vosso muito importante trabalho em prol da comunidade judaica de São Paulo. Rabino Yacov Gerenstadt Beit Chabad Brooklin São Paulo - SP
Excelente e altamente instrutiva a matéria sobre “O Seder - 15 passos em direção à liberdade interna”. Nesse Pessach, consegui entender e apreciar o porquê de cada passo do Seder. Ricardo Ottolenghi Por e-mail
O artigo “Em busca de justiça para os judeus dos países árabes” traz informações bastante precisas e totalmente desconhecidas do público em geral, podendo até ter um outro título: “O outro lado da moeda”, já que escutamos apenas reclamos de outras partes do conflito. Claudio Zimmermann Por e-mail
Incrível a história da “Kol Israel, a Voz da Amazônia” narrada por Sergio Simon. Além de nos contar uma parte da história do Povo Judeu, enaltece a importância dos órgãos de imprensa judaica, grandes catalisadores de nossas comunidades, cuja memória deve ser preservada. Flavia Melman Por e-mail
A matéria de Zevi Ghivelder sobre a criação da Chel Avir - a Força Aérea de Israel, me deixou muito impressionado. Em especial, por descobrir que tudo começou com a participação de voluntários do exterior e, que hoje, Medinat Israel conta com uma das mais modernas Forças Aéreas do mundo. Ricardo Goldenberg Lima - Peru
Dada a qualidade editorial e o conteúdo da revista Morashá / Morashá Suplemento, solicitamos, em doação, mais dois exemplares que serão disponibilizados aos nossos leitores na Sala de Atualidades da Hemeroteca da Biblioteca Mário de Andrade. Cleide Cristina Caldeira Biblioteca Mário de Andrade São Paulo – SP
Recebemos a Revista Morashá: ano XXVI, ed. 103, abr. 2019 – acompanhada de Suplemento “Seder de Pessach” enviados a esta Fundação, em cumprimento à legislação vigente de Depósito Legal. Agradecemos esta importante contribuição para a preservação e a guarda da Coleção “Memória Nacional”, composta pela produção intelectual do país Alessandra Moraes Chefe da Divisão de Depósito Legal C. de Processamento e Preservação Coord. de Serviços Bibliográficos – Div. de Depósito Legal Rio de Janeiro - RJ
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A doação das revistas Morashá encaminhadas para a Biblioteca Pública Municipal “Valter Borges de Salles” muito contribuirá para o enriquecimento de nosso acervo. Biblioteca Valter Borges de Salles Paulínia - SP
Minha mãe adorava receber a Morashá, e já fizemos muitos Pessach seguindo a revista. Agradeço por tantos anos de alegrias que trouxeram à nossa mãe! Debora Hazan Bogorotty Rio de Janeiro - RJ
Agradeço pelo recebimento das revistas e gostaria de elogiar o conteúdo, que é muito enriquecedor em todos os aspectos, além do histórico e religioso. Sueli Dicker São Paulo - SP
Agradecemos o envio da edição impressa da Morashá de nº 103 e ficamos muito felizes com a matéria sobre a Austrália. Brenda Pfeffer Perth - Austrália
Sou grato por ter o privilégio de receber esta preciosa revista, de qualidade ímpar e preparada com tanto esmero. Parabéns a vocês por essa obra de arte! Horácio Friedman Por e-mail
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