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CAPÍTULO 7

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CAPÍTULO 2

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CAPÍTULO 7

Novos caminhos

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Quando deixei o cargo de presidente da ABCZ, em 2020, passei a ficar mais tempo na fazenda, para retomar minhas atividades particulares, mas também por conta do agravamento da pandemia do Covid-19. Passei a trabalhar não só na gestão da Ipê Ouro, mas também da Fazenda Boa Vista, que é da minha mãe, dona Yeda, de 93 anos. Ajudo a cuidar dela e de seus interesses, juntamente com minhas irmãs. Além disso, tenho ajudado a Iara também na Fazenda Rio Borá. Na fazenda temos uma vida mais rústica e, consequentemente, mais saudável!

Nunca trabalhei tanto. Tem dia que eu chego da fazenda frouxo de tanto trabalhar. É que lá eu futrico em tudo, até das galinhas com pintinho eu dou notícia.

Sem falar nas consultorias pela internet. É impressionante a quantidade de mensagens que recebo e envio via whatsapp todos os dias de criadores do Brasil, Costa Rica, México, Bolívia e outros países. Trocamos fotos, vídeos e informações sobre o zebu.

Se vejo um touro bom, passo informação para os criadores amigos na mesma hora. Esses dias, vi um touro na Naviraí, o Uri de Naviraí, e passei a informação para o criador Gil Pereira, que logo me mandou mensagem afirmando que gostou do reprodutor e que já tinha feito o pedido de mil doses de sêmen. Esse trabalho é muito importante. cado é uma de minhas paixões profissionais. Por isso, em 1982, criei a Ipê Ouro Assessoria Genética Animal Ltda. Foi algo que aconteceu naturalmente pela grande demanda por meus serviços, sendo até hoje minha atividade principal.

Assim, tive a oportunidade de conviver mais com todas as raças zebuínas, pois antes da Ipê Ouro minha experiência maior era com a seleção de Gir.

Meu primeiro cliente na Ipê Ouro Assessoria foi o Nelson Frota, lá em Santa Inês, no Maranhão. Ele era criador da raça Guzerá e no início da seleção Nelore me chamou para assessorá-lo. Foi nessa ocasião que comecei a ter uma convivência maior com o Nelore. Logo em seguida fui trabalhar também com o Gastão Carvalho Filho, da Fazenda Boi Branco, no Pará.

IPÊ OURO ASSESSORIA

A seleção criteriosa das raças zebuínas desenvolvida por inúmeros criadores ao longo de toda a história do zebu no Brasil tem ajudado a promover o melhoramento genético do rebanho nacional. Atuar nesse mer-

ARNALDINHO E NELSON FROTA

Já o primeiro trabalho de assessoria, além das fronteiras brasileiras, foi com a Cabaña Sausalito, da Bolívia, em 1987.

Quando comecei a ter maior convivência com a raça Nelore percebi que não havia um sistema muito fechado de seleção, como era comum entre os criadores de Gir que usavam poucos touros de outras linhagens. No Nelore era diferente, com apenas duas linhagens menos utilizadas na pecuária seletiva: Lemgruber e IZ.

Ao conhecer melhor essas duas linhagens, percebi que elas eram importantes para evolução da raça Nelore. Os primeiros touros que utilizamos dessas linhagens foram o Vindouro do IZ, e o 4919 MN, da Fazenda Mundo Novo, esse posteriormente despertou interesse da Fazenda Quilombo, que acabou adquirindo o animal.

No início, tivemos certa dificuldade para indicar os touros dessas linhagens, pois tradicionalmente, naquela época, não eram de forma alguma utilizados em rebanhos PO. As indicações de uso desses touros pela Ipê Ouro Assessoria contribuíram para mudar a situação. Foi um marco importante a inserção dessas linhagens para refrescamento genético e evolução do Nelore. Hoje, levantamentos comprovam que mais de 90% dos touros que estão em coleta nas centrais tem genética Lemgruber, e muitos deles têm sangue IZ.

Lembro que meu primeiro contato com a linhagem Lemgruber foi através de um convite feito pela ACNB (Associação dos Criadores de Nelore do Brasil) para que, juntamente com o jurado e técnico Luiz Bonilha, ministrássemos uma aula prática na fazenda da família Penteado Cardoso. Naquela época, a Mundo Novo era sediada em Brotas/SP, há 250 quilômetros da capital paulista. Tradicionalmente, na primeira semana de dezembro, a ACNB realizava um dia de aula teórica na sede da entidade, em São Paulo, e um dia de aula prática em alguma fazenda associada nas proximidades.

Terminadas as aulas práticas, o gerente da fazenda nos chamou, pois queria nos mostrar dois touros já adultos que não tinham sido passados durante a apresentação dos animais. Eles estavam em um piquete e um deles me chamou muito atenção. Era o 1646 da MN, que já tinha sete anos. Por coincidência, dias antes estive com o Dr. Fausto Pereira Lima, que tinha acabado de assumir a direção da central Lagoa da Serra, em Sertãozinho/SP.

Aqui, abro um parêntese para destacar a grande figura que é esta grande personalidade da pecuária nacional. O Dr. Fausto é criador, membro do Colégio de Jurados e teve uma participação importante na formação dos rebanhos Carpa, IZ e Mundo Novo e na Lagoa da Serra. Ele também foi membro do Conselho Deliberativo Técnico da ABCZ em várias gestões. Além de sua experiência, é uma pessoa sensata, equilibrada, que muito influenciou na minha formação como criador e jurado. Tenho por ele muita admiração e fiquei muito feliz ao receber o recente livro escrito por ele e sua filha Maria Lúcia.

Agora, voltando ao 1646 da MN, Dr. Fausto havia me pedido para ajudá-lo na escolha de novos touros para integrar a bateria da central. Liguei para ele e contei sobre o 1646 que, a meu ver, seria interessante para a central e consequentemente para a raça Nelore, principalmente na conformação de carcaça. Dias depois, recebi uma ligação do Dr. Fausto contando que tinha ido com Maurício Lima à fazenda Mundo Novo e tinha

1646 DA MN

visto o reprodutor e que gostaram muito e o compraram para a central Lagoa da Serra.

Naquela época, o 1646 foi avaliado em U$$20 mil. Nas suas primeiras coletas, Dr. Fausto enviou 50 doses de sêmen para a Ipê Ouro. Entre as primeiras vacas inseminadas, estava a Bilaya R da R (filha de Lalpur da Zebulândia VR), que pariu a Opala Ipê Ouro, a mãe do Ranchi Ipê Ouro. Todos os quatorze primeiros produtos do 1646 eram de uma exuberância de carcaça e uma estrutura corporal, bem diferente dos outros animais daquela época.

Foi assim que começamos a usar o 1646, com resultados excelentes. Para se ter ideia, fiz um levantamento das edições da ExpoZebu 2017, 2018 e 2019 e constatei que todos os animais que participaram dessas edições tinham o sangue de 1646 da MN e do Ludy de Garça. Isso mostra a relevância de um touro para o melhoramento genético de uma raça, como foi também com o Karvadi na geração dele.

ASSESSORIA EM LEILÕES

No início da Ipê Ouro Assessoria, os leilões eram organizados pelo próprio criador, não tinham convidados. Era o pregão das marcas, como o da VR, da Brumado, da Nova Índia e assim por diante. Logo depois, essa realidade foi mudando e os eventos passaram a ter também a oferta de animais de criadores convidados. Nesse momento que entraram em cena as assessorias nas organizações dos leilões, visitando os criatórios convidados e selecionando os animais. A Ipê Ouro

ARNALDINHO DURANTE ASSESSORIA NO LEILÃO SAUSALITO RESERVA ESPECIAL 2015

ARNALDINHO COM BAVARESCO NO MOMENTO DA COMERCIALIZAÇÃO RECORDE DA PARLA FIV AJJ NO NOITE DOS CAMPEÕES 2021

Assessoria Genética Animal foi pioneira nesse tipo de trabalho.

Hoje em dia todos os leilões têm assessoria, e isso é muito importante porque garante a padronização e a qualidade dos animais ofertados. Na grande maioria das vezes, os assessores são parte do quadro do Colégio de Jurados da ABCZ. E, com a popularização dos leilões virtuais, o investidor sente mais segurança quanto à indicação de um assessor e sua avaliação do fenótipo do animal de forma detalhada. Adquirir animais com critérios de avaliação gera muito mais segurança na compra. E uma compra bem-feita é um cliente satisfeito que voltará a investir mais e mais!

Com o mercado sempre crescente, e a entrada de novos investidores na pecuária, as assessorias auxiliam a definir os acasalamentos e os rumos da seleção. A demanda é grande e a maioria dos assessores têm clientes em outros países, além do Brasil.

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