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CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 8
Sucessão e o futuro do zebu
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JOÃO MARCOS E ARNALDINHO
“Uma vida de muito aprendizado, respeito e admiração, pois tenho ao meu lado não só um pai, mas um amigo, companheiro, exemplo de homem que transmite todos os seus conhecimentos em genética zebuína e, principalmente, de vida com muita simplicidade e humildade. Cada vez mais posso afirmar que valorizo muito essa oportunidade de convivência no trabalho e no dia a dia com essa pessoa que é meu boi de guia, quem trilhou o caminho e me entregou de porteiras abertas” João Marcos Machado Borges, assim como o pai, é também médico-veterinário, pecuarista, jurado do CJRZ e assessor técnico pecuário junto com o pai na Ipê Ouro Assessoria Genética Animal Ltda.
Uma coisa que me chama atenção é a importância da sucessão para o futuro dos projetos pecuários. Infelizmente, já vi importantes seleções se acabando e, na maioria das vezes, a causa é a falta de uma sucessão planejada.
Quando vejo criatórios centenários fazendo liquidação, mesmo tendo um “gadão” selecionado por anos e anos de trabalho, fico preocupado. E quantos estão nessa situação atualmente? Se o criador sente que seu trabalho não vai ter continuidade, desanima. Meu pai sempre fez questão de integrar os filhos na gestão da propriedade. Todo ano, no mês de janeiro, meus pais saíam de férias, já que este é um mês que, tradicionalmente, corre tudo bem na fazenda e chove bastante.
Essa convivência frequente com o dia a dia da pecuária quando ainda criança ajuda a tomar gosto pela atividade. Sou um exemplo disso. Desde a minha infância, demonstrei grande aptidão e habilidade com a pecuária, afinal o zebu fazia parte de minha vida mesmo antes de eu nascer.
Sempre ao lado do meu pai, acompanhei a evolução da Marca R e os trabalhos de seleção das raças Gir e Nelore de origem indiana. Eu e Zé Rodolfo tínhamos 13 e 14 anos de idade e ficávamos tomando conta de tudo, mas meu pai, mesmo viajando, ligava para saber dos acontecidos e nos passar as orientações. Era também minha responsabilidade a parte de escrituração zootécnica, tarefa que só deixei de fazer quando eu fui para a faculdade. Nessas viagens que meu pai fazia com a minha mãe, sempre visitava os amigos criadores de Gir e de Nelore. Em um ano, ia para Goiás, no outro para Bahia, São Paulo e assim por diante, mas sempre visitando os amigos em suas propriedades.
Quando voltava dessas viagens, trazia muitas fotos que tinha feito nas fazendas visitadas e contava toda a experiência vivida nesses locais. Essas lembranças ficaram gravadas na minha memória.
Adotei esse sistema de criação com meus quatro filhos e, sempre que possível, levava-os para leilões, exposições em Uberaba e até eventos em outras cidades. Certa vez, fui ao leilão da Brumado e não levei nenhum deles, pois tinha ido com criadores da Bolívia, o senhor Osvaldo Monasterio e seu filho Ernesto e o Rafael Deheza.
Já na entrada do leilão seu Rubico foi nos receber e já me questionou onde estava a minha progênie. Mesmo eu justificando que tinha ido a trabalho, Sr. Rubico não aceitou e pediu que eu ligasse para a mãe deles, a Arlinda, para prepará-los para a viagem, pois estava enviando o motorista para buscá-los em Uberaba. Deixou claro que não me receberia na Brumado sem os meninos.
É a mesma coisa quando encontro com seu Cláudio Garcia (Totó), que já vai logo perguntando pela progênie. Integrar meus filhos no meu dia a dia na pecuária foi muito importante na sucessão, prova disso é a participação deles nas atividades da Ipê Ouro. Eles sempre tomaram conta dos leilões, cada um em uma área. E quando assumi a ABCZ deixei tudo por conta deles, que, mesmo vivendo em outras cidades, cuidaram e cuidam até hoje de tudo. A Maria Isabel lá do Rio de Janeiro, o Manuel Eduardo e a Ana Carolina em São Paulo e o João Marcos em Uberaba.
Precisamos contribuir na formação dos futuros pecuaristas, auxiliando esses jovens na tomada de decisões e na condução desse desafio, que é a sucessão no negócio da família. É preciso valorizar muito essa meninada nova que vem se destacando. Eles precisam continuar firmes para garantir o futuro da evolução ge-
BETO MENDES DA FAZENDA DO SABIÁ E ARNALDINHO
nética das raças zebuínas!
O termo sucessão tem me chamado muito a atenção, e a importância de uma boa sucessão para o futuro dos projetos pecuários que são tão sacrificantes e a gente tem visto importantes seleções se acabando e na maioria das vezes a sucessão é a causa desse fim de grandes projetos que a gente tem visto acontecer com muita tristeza, e isso me preocupa muito. Tanto que durante a nossa gestão chegamos a criar a ABCZ Jovem que atualmente é presidida pela jovem criadora Ana Eliza Ártico, ela que é médica veterinária e compartilha com o pai, Marcelo Ártico, o comando da Fazenda Terras da Ártico, onde é feita seleção de Tabapuã. Engajada, ela já integrava a diretoria da ABCZ Jovem desde a sua fundação. Ela vem fazendo um trabalho especial e de muita importância. Conseguimos reunir durante a nossa gestão na ExpoZebu uma quantidade significativa de jovens filhos de fazendeiros para debater temas relativos à sucessão.
“Nossa expectativa é grande. Queremos contribuir na formação dos futuros pecuaristas, auxiliando esses jovens na tomada de decisões e na condução desse desafio que é a sucessão no negócio da família”, afirma a atual presidente da ABCZ Jovem, Ana Eliza Ártico.
Nessa atividade nossa é muito importante trazer a família para o dia a dia do negócio, não que as outras não sejam, mas a pecuária, principalmente, precisa envolver cada vez mais essa moçada.
Isso me faz lembrar quando trabalhava na Fazenda do Sabiá, fazendo assessoria e acasalamento para o seu Alberto Laborne Mendes (Betinho), isso lá nos anos 80. Era o Betinho e o Ronaldo Bonifácio (Boni) na lida. Quando estávamos lá trabalhando o Roberto Mendes, mais conhecido por todos nós como Beto, chegava com os amigos e só dava um “oi” e já saía na lancha com uma turma de amigos. Só víamos novamente a noite para o jantar.
Naquele tempo, ele ainda não se interessava pela atividade, mas felizmente essa realidade mudou. Hoje, ele conduz a Fazenda do Sabiá com toda a dedicação, dando continuidade ao trabalho de seleção iniciado por seu pai. O Beto inclusive mora na fazenda e se dedica integralmente ao projeto pecuário, desenvolvendo um trabalho glorioso.
Na Bolívia, acompanho de perto essa questão da sucessão. É interessante como todos participam dos eventos. Na ExpoCruz, famílias inteiras acompanham os julgamentos e, na hora de receber as premiações, todos participam: filhos, esposa e irmãos. Nos remates também estão sempre todos juntos, são eles que organizam todo o leilão. Quem já teve oportunidade de acompanhar sabe do que estou falando.
Lá, a sucessão é muito forte e isso nos serviu de inspiração para criarmos a ABCZ Jovem. Na Sausalito, com o
EM 2017 DURANTE MINHA GESTÃO FRENTE À ABCZ, RECEBI AS IRMÃS MARIA JULIA E MARIA CLARA DO TABAPUÃ DA GÊ 05, ELAS SE TORNARAM AS MAIS JOVENS SÓCIAS DA ENTIDADE, MAIS AO FUNDO A PRIMA DAS MENINAS MARIA EDUARDA.
Osvaldinho; na Chorobi e Parabanó, com o Fernando Roca; na Las Madres, com o Fábio; da Jenecheri, com o José Leonardo; na São Manuel, o Antônio Saavedra; na El Trébol e nos Moxos o trabalho é em família e os irmãos se unem em prol da pecuária.
Felizmente já começo ver muitos projetos pecuários brasileiros preocupados em fazer sucessores. Na Expoinel Mineira de 2020, estava julgando e pude observar mais detalhadamente que os criadores de bom êxito na exposição estão trazendo as novas gerações para o negócio. Estão confiantes na sucessão que vem por aí, como o Cássio Lucente (Lucente Agropecuária), cujo filho Vinicius assumiu o projeto.
A mesma coisa vem ocorrendo com o José Furtado (Nelore RFA), com o Bruno acompanhando os julgamentos o tempo todo. O mesmo com a Paula, do Nelore Mara Móveis, o Gustavo Ribeiro, da Ourofino, a Ciça, na Kalunga, o Murilo Gibertoni, o Romildo Machadinho, Aguinaldinho, do Paranã, junto com o Rodolfo. Estou vendo o trabalho bonito que essa turma vem fazendo.
Nas outras raças por exemplo no Tabapuã, o próprio presidente Sergio Germano vem fazendo um belo trabalho e no Tabapuã da Gê 05, as meninas Maria Julia e Maria Clara durante minha gestão em 2017 se filiaram na ABCZ, sendo até aquela data as mais jovens sócias da entidade.
Nas demais raças também temos inúmeros exemplos, tais como: o jovem João Ferreira, do Brahman Vitória; Jorge Sab Neto do Zeib Sab (Gir); Bruno Machado, da Fazenda Mutum (Gir Leiteiro), Marcão Carneiro, da Fazenda Palestina (Guzerá) e Helena Curi, do Sindi Porangaba e muitos outros.
Há ainda aquelas famílias que tinham deixado a seleção de zebu de lado, mas agora estão retomando. É o caso da família Bonfiglioli, que nos anos 1980 e início dos anos 1990, era muito forte na seleção do Nelore, participando de leilões VR e Brumado, que eram os principais remates da época. Eles compravam os principais animais, mas depois resolveram fazer liquidação do plantel. Depois de entrarem forte no Angus, agora estão voltando firmes de novo para o Nelore e já vêm obtendo ótimos resultados. Na Expoinel Minas 2020 saíram-se bem.
Assim como os Bonfiglioli, importantes criadores antigos estão voltando, como é o caso do Sebastião Cruvinel e os filhos Heuler e Regis. Isso sim é muito importante.
Então temos uma moçada chique aí, que tem chamado a atenção pelo belo trabalho desenvolvido. A sucessão na pecuária está indo bem e isso me deixa satisfeito.