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As turbulências de 2023 no mercado pecuário

Os primeiros meses do ano trouxe ram desafios para os pecuaris tas, que já vinham trabalhando dentro de um cenário de incer tezas políticas e econômicas. O setor teve de lutar com mais um embargo da China, com a queda no poder de compra da população e o acirramento da concorrência com as demais carnes. Para o assessor técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Con federação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rafael Ribeiro, nosso entrevistado es pecial desta edição da revista Pecuária Brasil, o país deve continuar trabalhando para não depen der tanto de um único país, como vem ocorrendo. Ele também destaca que o produtor precisa investir em gestão e em ferramentas, como a trava de preço, para não sofrer com as oscilações do mercado. Ribeiro ainda explica como é a proposta do sistema de rastreabi lidade individual que vem sendo desenvolvido pela CNA e será apresentado ao Ministério da Agricultura e Pecuária ainda este ano.

Pecuária Brasil - Como avalia o primeiro trimestre de 2023 para a pecuária de corte?

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Rafael Ribeiro – Bastante tumultuado. Estamos vivendo mais um ano do ciclo de baixa na pecuária. Desde o ano passado, os preços do boi gordo e das outras categorias recuaram por conta da maior oferta causada pela retenção de fêmeas em 2020 e 2021. Ainda tivemos uma menor atratividade no sistema de cria por conta da queda no preço do bezerro, levando muitos produtores a descartarem matrizes. Se avaliarmos as escalas dos últimos meses, veremos que mais da metade delas foi composta por fêmeas. Para completar o cenário de 2023, em fevereiro houve o caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina (BSE), conhecido popularmente como mal da vaca louca, gerando a suspensão dos embarques de carnes para a China e outros países, o que só foi retomado em março. Toda essa conjuntura levou a um primeiro trimestre de pressão de baixa, causando queda nos preços e no volume embarcado.

Pecuária Brasil- Qual a expectativa agora que a China voltou a importar carne do Brasil?

Rafael Ribeiro – Em termos de expectativa, o cenário é positivo com os preços, no final de março, retomando os patamares de antes da suspensão, mas vale destacar que estamos falando de um ano de baixa para a pecuária. A exportação representa apenas 30% do mercado, ou seja, sozinha ela não mudará esse cenário atual da pe- cuária brasileira. Outros desafios são os custos elevados da alimentação, pois, apesar do cenário mais calmo de preços em 2023, vários itens continuam pesando bastante, dentre eles os farelos, milho, suplemento mineral, combustíveis e mão de obra. aumento das compras de carne por parte de outros países importantes, como os Estados Unidos, Indonésia e Ásia. São mercados que ainda compram pouco, mas têm potencial de crescimento, pois o consumo per capita de carne bovina tem crescido à medida que muitas dessas economias vão se fortalecendo. A China também foi crescendo aos poucos, ampliando as compras à medida que a carne caiu no gosto da população local e outras conjunturas de mercado ocorreram. O Brasil tem feito um bom trabalho no sentido de ampliar os mercados para a nossa carne.

Pecuária Brasil- Preocupa o fato de o Brasil ser tão dependente de um país no caso das exportações de carne?

Rafael Ribeiro – Certamente. Hoje, a China é o nosso principal cliente na compra de carne bovina, suína e frango. E quando ocorre um embargo como esse, o produtor é sempre o maior prejudicado. Dados do mercado em 2021, após um período maior de embargo que este atual, mostram que o produtor sofreu mais que outros elos da cadeia. Tivemos queda de preço de 16% para o pecuarista, de 5% no atacado e alta de quase 1% no varejo. Esses números mostram que devemos trabalhar para evitar essa concentração maior das vendas em um único país. Nos últimos tempos, tem tido um

Pecuária Brasil- E no caso do mercado interno, como deve ficar já que os números da economia em 2023 até agora não são bons?

Rafael Ribeiro – Neste momento de queda da renda da população, o fato de a carne bovina ser mais cara que suínos e frango, vimos uma procura maior pelas proteínas mais baratas, com aumento das vendas de frango, ovos e outros produtos mais baratos. Nos últimos anos, a carne bovina manteve o patamar de preço enquanto das demais tiveram baixa, o que fez com que perdesse competitividade. Para ter um crescimento do consumo interno, precisaríamos de uma retomada do crescimento da economia e não enxergo isso para 2023. As apostas de crescimento ficam por conta das exportações, mas não devem ultrapassar os 30% do total produzido.

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