Pecuária Brasil #37

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NOSSA CAPA O Nelore CADAN ilustra nossa capa, mostrando que os investimentos em melhoramento genético vêm apresentando excelentes resultados. Foto Gustavo Miguel


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APRESENTAÇÃO

CLÁUDIA MONTEIRO

Diretora Comercial

claudiapecuariabrasil@gmail.com

RAÇA

CARNE

LEITE

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O primeiro trimestre de 2021 mostrou que o agronegócio deve seguir firme este ano, com aumento das exportações de alimentos, nas vendas de sêmen, valorização dos animais de genética superior e safras de grãos recordes. Uma excelente notícia que traz otimismo para enfrentarmos tantas perdas humanas e financeiras em diversos setores causadas pela pandemia. Incorporando cada vez mais tecnologias, o agro tem aberto espaço no mercado nacional e mundial, como vamos mostrar nesta edição da revista Pecuária Brasil. Vários criatórios brasileiros têm alavancado seus negócios com a adoção de diversas ferramentas que estão garantindo o progresso genético de seus rebanhos. Uma dessas tecnologias é a Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF), que imprime grande impacto econômico e produtivo. Nosso entrevistado especial, o professor da USP, Pietro Baruselli, explica os ganhos gerados com a adoção da IATF. Apesar de o Brasil ainda inseminar um número reduzido de fêmeas em idade fértil, a técnica vem crescendo, tanto no corte quanto no leite, especialmente por melhorar os índices reprodutivos dos rebanhos. Também mostramos como criatórios renomados, como o Nelore CADAN, estão conseguindo produzir genética para elevar a eficiência da pecuária nacional. Com menos de três anos de seleção, o criatório se prepara para ofertar animais de sua marca ao mercado. A Lucente Agropecuária é outro criatório que acumula conquistas em 2021 e disponibilizará sua genética no tradicional e concorrido Leilão Noite dos Campeões. Para quem atua na pecuária leiteira, trazemos uma reportagem sobre um nicho de mercado que tem atraído selecionadores de raças puras: a produção de queijo artesanal. Esse é um segmento que ganhou força na pandemia e apresenta boa rentabilidade. Na parte de sanidade, você vai ficar por dentro do combate às verminoses com base em um controle estratégico. E saiba como blindar e preservar o patrimônio familiar no segmento agropecuário, tendo como opção a criação de uma holding rural. E conheça a história de vida da zootecnista Ana Virgínia Leal, gerente geral do CASS Nelore, que soube fazer dos desafios da vida profissional um aprendizado para tornar-se referência no setor. Acompanhe essas e outras novidades a seguir. Cuidem-se!


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SUMÁRIO

Criadores

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ExpoZebu em versão online PG. 36

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SEMPRE NA PECUÁRIA BRASIL 12 . PECUÁRIA EM REDE 14 . PECUÁRIA INDICA 18 . AGRO NO PRATO 20 . PORTEIRA ABERTA 24 . NOSSA CAPA

Aposta no cruzamento Zebu x Zebu PG. 52

30 . ENTREVISTA 35 . RAÇA 51 . CARNE 61 . LEITE 65 . ZONA RURAL 69 . GENTE 78 . SOCIAIS 80 . PONTO DE VISTA

Capa PG. 24

82 . OPINIÃO 88 . EM FOCO

O bom momento dos queijos PG. 62

Lugar de mulher é no agro PG. 76

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PECUÁRIA DE ONDE Municípios brasileiros que aparecem nessa edição

SANTA MARIA DA SERRA (SP) Nelore DACAR

SACRAMENTO (MG) Nelore CADAN DESTINOS INTERNACIONAIS Austrália Bolívia China Estados Unidos

Índia Japão México Uruguai

Alegrete (RS) Aparecida do Rio Doce (GO) Araçatuba (SP) Arapongas (PR) Avaré (SP) Barretos (SP) Bauru (SP) Bela Vista (MS) Belo Horizonte (MG) Birigui (SP) Bocaiúva (MG) Bom Jesus (PI) Botucatu (SP) Britânia (GO) Brotas (SP) Campinas (SP) Campo Grande (MS)

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Conceição das Alagoas (MG) Conceição de Macabu (RJ) Coromandel (MG) Cuiabá (MT) Curvelo (MG) Curitiba (PR) Dourado (MS) Fortaleza (CE) Franca (SP) Frutal (MG) Funilândia (MG) Goiânia (GO) Governador Valadares (MG) Gurupi (TO) Guará (SP) Ibitiúva (SP) Ilha Solteira (SP)

Itapetinga (BA) Itaquirai (MS) Ji-Paraná (RO) Lençóis Paulista (SP) Londrina (PR) Luís Eduardo Magalhães (BA) Maracaju (MS) Marília (SP) Maringá (PR) Medianeira (PR) Morrinhos (GO) Nova Crixás (GO) Passos (MG) Paulo de Faria (SP) Patos de Minas (MG) Piracicaba (SP) Pompéu (MG)

Porangatu (GO) Porto Murtinho (MS) Quirinópolis (GO) Ribeirão Preto (SP) Rio de Janeiro (RJ) Rio Pardo (RS) Rio Verde (GO) Sacramento (MG) Santa Maria da Serra (SP) São Gotardo (MG) São Paulo (SP) Soledade (RS) Terenos (MS) Três Passos (RS) Uberaba (MG) Uberlândia (MG) Vale do Paraíba (SP)


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PECUÁRIA EM REDE Use a hashtag #pecBR e apareça aqui!

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PECUÁRIA INDICA TRATAMENTO MASTITE

O QUE ESTOU LENDO

NELORE E OUTROS ZEBUÍNOS

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rata-se de um livro de pecuária de corte que pode ser considerado um manual para o pecuarista moderno que precisa entender profundamente do assunto para tomar decisões com sabedoria. É um livro de leitura agradável, textos fáceis de serem entendidos, tendo logo no início a biografia dos autores onde percebe-se que a vida do Dr. Fausto se mistura com a história da pecuária do Brasil na segunda metade do século passado até os dias atuais. Esta larga experiência somada a muito tempo de estudo estão descritos nos 8 capítulos que tratam desde a origem dos bovinos até a história recente dos bovinos no Brasil, ensina o leitor a fazer avaliação visual através de fotos ilustrativas, apresenta soluções de manejo de animais desde a escolha de reprodutores, o parto, criação de bezerros visando diminuir mortalidade e melhorar o bem estar animal e o último capítulo trata de comportamento e manejo de bovinos a partir dos ensinamentos da Prof. Temple Grandin com explicações sobre modificações em currais visando facilitar a lida com o gado no dia a dia. O melhoramento genético e métodos de seleção de bovinos é abordado de forma didática, além das descrições das raças Nelore, Gir, Guzerá Sindi, Indubrasil e Tapabuã. Foram descrito com detalhamento a linhagem de Nelore IZ de Sertãozinho e um breve histórico da fazenda onde se desenvolveu a linhagem, assim como as formações das linhagens Lemgruber, Karvadi e Golias. Nelore e outros zebuínos, avaliação visual, criação e manejo. Dr. Fausto Pereira Lima e sua filha Dra. Maria Lucia Pereira Lima, ambos formados pela Esalq - USP de Piracicaba. Editora FUNEP – 386 páginas R$ 115 através do site: https://livraria.funep.org.br/

Larissa Vieira Assessora de comunicação e editora da revista Pecuária Brasil 16

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O tratamento para as mastites deve ser fundamentado no tipo de microrganismo que está acometendo o animal e, para isso ocorrer, é necessário a realização de testes de cultura na fazenda. A sugestão da J.A Saúde Animal para o tratamento das mastites clínicas ambientais é o uso do intramamário Mastite Clínica VL, solução inovadora à base de Amoxicilina, Clavulanato de Potássio e Prednisolona, que alia alta eficácia antimicrobiana com ação anti-inflamatória local, garantindo maior conforto para o animal doente. Adicionalmente, é indicado a administração de um antimicrobiano sistêmico, já que em mastites agudas e superagudas, geralmente a permeabilidade local está comprometida. Nesses casos é necessário o uso de medicamentos sistêmicos de alta concentração e ação imediata, sendo o Gentopen, associação de Penicilina Potássica e Gentamicina, uma das melhores opções do mercado.

BRS PAIAGUÁS Para ajudar o pecuarista a identificar os sintomas relacionados à deficiência nutricional em plantas de capim BRS Paiaguás, a Embrapa Pecuária Sudeste disponibilizou uma publicação com orientações técnicas. Na publicação, disponível gratuitamente no site da unidade (www.embrapa.br/pecuaria-sudeste) os produtores poderão observar, em detalhes, pelas imagens as deficiências nas plantas em relação aos teores de nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio e magnésio. O BRS Paiaguás vem ganhando espaço na pecuária brasileira por apresentar elevada produção de sementes e boa produtividade de matéria seca, principalmente na estação seca do ano. Esse capim tem sido adotado, sobretudo, em sistemas de integração no período do outono/inverno.


NOVA PICAPE

Depois de lançar a Ranger Storm no ano passado, a linha agora está sendo ampliada com a versão Black, voltada ao uso urbano. Outra novidade é que a montadora passou a oferecer a conectividade FordPassTM Connect como item de série em 100% dos modelos. A Ford Ranger é a única picape média a oferecer duas opções de motores Diesel os Duratorq 2.2 e 3.2 e foi a primeira no Brasil a lançar a linha 2022. A linha também passou a oferecer uma versão XLS 4x2 de entrada e novos equipamentos.

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PECUÁRIA INDICA

CARLOS ALBERTO PEREIRA Jornalista, enófilo e tecnólogo em Hotelaria e Turismo mktcap@gmail.com

VINHOS

VINHOS E SEUS FORMATOS

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eber vinho no Brasil está cada vez mais fácil! Até pouco tempo, os preços eram proibitivos e a qualidade sempre questionada. Mas, no último ano, com o advento da pandemia e o dólar alto, o brasileiro começou a descobrir o vinho nacional e tem gostado! As vinícolas e os canais de distribuição tradicionais, como os empórios, supermercados, atacadistas e os chamados HORECA –Hotéis, Bares, Restaurantes e Catering (estes a bem da verdade, em baixa nestes tempos “bicudos”), estão cada vez mais agressivos e atentos aos novos consumidores, oferecendo milhares de opções de rótulos e formatos. Como exemplo, quero destacar alguns desses esforços que estão focados nas soluções de embalagens e equipamentos que acondicionam e vendem o vinho. Três deles prometem mudar o jeito de consumir e comprar vinhos! Bag In Box Trata-se de um vasilhame onde o vinho é envolvido em uma sacola de plástico ou papel aluminizado, com uma válvula hermética, que emerge de uma caixa protetora de papelão ondulado. É oferecido ao mercado em embalagens de três e de cinco litros. Depois de aberto, deve ser mantido em geladeira. Tem duração de 20 a 30 dias, sem comprometer a qualidade do precioso caldo. Já existem no mercado diversas opções de marcas com vinho de muito boa qualidade.

Vinho em Lata Uma boa opção para levar para praia, shows, churrasco ou em um encontro informal com amigos. É uma embalagem que faz com que o vinho se harmonize muito bem, sobretudo, com ocasiões descontraídas. As latinhas brasileiras têm chegado ao mercado em versões de 269 ml o equivalente a quase uma taça e meia. A pioneira é da marca Vivant, que já é sucesso de vendas. Esta quantidade em lata, é excelente para evitar aquela situação de abrir uma garrafa inteira de 750 ml, beber pouco e esquecer o resto na geladeira. Além de prática, tem uma tecnologia de revestimento interno, que não compromete o sabor do vinho. Depois, esta latinha tem uma pegada ecológica e sustentável forte. O alumínio, matéria-prima das latas, tem uma taxa de reciclagem de 98% no Brasil, o que gera uma boa renda a milhares de famílias que vivem da atividade de reciclagem.

Vending Machine O ponto alto desta tecnologia de vendas é a praticidade e a conveniência. No Brasil, o Vendig Machine tupiniquim está chegando pelas mãos da Evino, segundo maior e-commerce de vinhos do Brasil, em parceria com a empresa Adega Compartilhada. Nessas máquinas estarão disponibilizadas (por enquanto em São Paulo/capital) 24 rótulos diferentes, incluindo a linha de vinhos em lata Vibra. Com certeza em breve, veremos muitas destas máquinas em condomínios e loja de conveniências Brasil afora! 18

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FOTOS: GUSTAVO MIGUEL ABRIL/MAIO 2021 | #pecBR

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Soraia Baroni

AGRO NO PRATO

Chef de cozinha e empresária do ramo de Buffet e decoração de eventos @chefsoraiabaroni soraiabaroni@terra.com.br

RECEITAS

MAMINHA ASSADA NO FORNO

S

e tem uma coisa que todo mundo gosta, é de uma carne assada bem macia e suculenta, mas nem todo mundo sabe fazer em casa. A maminha assada é uma receita simples e perfeita para fazer e servir num almoço do dia a dia e até mesmo em uma data especial.

Ingredientes 1 peça inteira de maminha com gordura 2 copos de vinho tinto 4 cebolas grandes 1 cabeça de alho Sal Pimenta do reino 2 copos de óleo Modo de preparo

Bata no liquidificador as cebolas, o alho, o sal, a pimenta, o vinho tinto e 1 copo de óleo; Coloque essa mistura na maminha e deixe marinar por 12 horas; Em uma panela grande coloque a maminha e o caldo marinado para uma fervura de aproximadamente 40 minutos; Coloque a maminha em um tabuleiro e leve ao forno por mais 40 minutos, regando sempre com o molho, até dourar; Fatie e monte no prato conforme sua preferência. 20

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PORTEIRA ABERTA NOVA SEDE DO INDUBRASIL

A Associação Brasileira dos Criadores de Indubrasil conta com nova sede no Parque Fernando Costa, em Uberaba/MG. A obra foi realizada pela ABCZ e entregue simbolicamente pelo presidente da entidade, Rivaldo Machado Borges Júnior, ao presidente da ABCI, Roberto Fontes Goes no dia 3 de março. Goes ressaltou a importância da parceria e do apoio da ABCZ.

AVALIAÇÃO LINEAR GIROLANDO

Os técnicos da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando continuam realizando a coleta de dados para o Sistema de Avaliação Linear Girolando (SALG) em vários rebanhos do país. O SALG já vem sendo desenvolvido a alguns anos e a expectativa é de que os primeiros resultados desse trabalho sejam publicados em 2022, nos Sumários de Touros e de Vacas. Essas informações de alta confiabilidade coletadas pela Girolando serão usadas para as predições dos valores genéticos dos touros do teste de progênie. Essas predições serão úteis para que os criadores, dentro dos seus rebanhos, possam efetuar a seleção dos touros e das matrizes, almejando o melhoramento genético das características de importância econômica. A expectativa é de que ao final de 2021 o banco de dados da Associação tenha informações coletadas de cerca de 10.000 novas vacas.

VENDAS DE SÊMEN BRAHMAN

NELORE DO MT

A Associação dos Criadores de Nelore de Mato Grosso (ACNMT) tem um novo diretor executivo, o médico-veterinário André Luiz Zambrim Mendonça, que assume o cargo em um ano considerado estratégico pela entidade, em função do cenário econômico do país. A principal missão dele à frente do cargo é fortalecer a imagem da entidade. Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com mestrado em Reprodução Animal pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, quatro especializações também nesta área, Mendonça tem experiência como professor universitário. Além disso, é referência na atuação à frente de grandes propriedades mato-grossenses e em várias instituições do setor da pecuária. 22

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A raça Brahman registrou crescimento de quase 40% na comercialização de sêmen em 2020 quando comparado a 2019. A coleta de doses também cresceu, com elevação de cerca de 8,5%, chegando a 152.541 doses coletadas, segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial. O Brahman é a segunda raça de corte brasileira que mais exporta sêmen, atendendo mercados como Argentina, Bolívia, Equador, Guatemala, Panamá e Paraguai. De acordo com o presidente da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB), Paulo Scatolin, esse cenário tem levado a uma procura maior por touros da raça para compor as baterias das centrais de inseminação. A expectativa é de manter esse crescimento nas vendas de sêmen em 2021.


FUSÃO DE REVENDAS

Com expectativa de faturar em torno de R$250 milhões logo no primeiro ano de operação conjunta, dois grupos de revenda agrícola de Minas Gerais anunciaram fusão, o que colocará a rede entre as maiores do estado. O acordo integra a recém-lançada revenda Agromais, que atua no Triângulo Mineiro, com a revenda Cultura Agronegócios, com atuação no Alto Paranaíba há 15 anos. A nova marca das revendas recebeu o nome de “Cultura Agromais”. O negócio foi viabilizado com recursos do Fundo de Investimentos Agrohub, gerido pela Ceres Investimentos, empresa do setor financeiro. De acordo com com o CEO da nova empresa César de Oliveira, a Cultura Agromais inicia com cinco revendas, localizadas em Patrocínio, Patos de Minas, Coromandel, Uberaba e Conceição das Alagoas. Já está em andamento um plano de expansão de mais 6 revendas na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o que atenderá mais de 20 municípios mineiros.

RECORDE DO VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO

O Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária, que projeta a receita do setor primário (dentro da porteira), deve bater um novo recorde e chegar a R$ 1,192 trilhão em 2021, alta de 15,2% na comparação com o ano passado, segundo estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para a atividade agrícola, a previsão de faturamento para este ano é de R$ 798,69 bilhões, elevação de 19,3% na comparação com 2020, reflexo da safra de grãos e da alta dos preços das principais commodities no mercado internacional. Em relação à pecuária, a estimativa para 2021 é de alta de 7,6% frente a 2020 e o VBP deve superar R$ 394 bilhões. A carne bovina é o principal destaque, com previsão de crescimento de 14% no faturamento da cadeia (R$ 206,68 bilhões). O desempenho é resultado do aumento tanto de preços (11,7%) quanto da produção (2,4%).

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PORTEIRA ABERTA ALTERNATIVAS PARA DIETA BOVINA

Estudo realizado pela empresa especializada em nutrição animal Alltech mostrou que a proteína vegetal pode ser substituída por nitrogênio não proteico, permitindo aos produtores de leite e carne melhorarem o desempenho animal, diminuírem a pegada de carbono e aumentarem a rentabilidade. A tecnologia utilizada na pesquisa foi o Optigen, da Alltech. Os estudos dessa meta-análise confirmaram que a tecnologia é um substituto viável para fontes de proteína vegetal para rações de ruminantes, resultando em uma maior eficiência alimentar, rentabilidade e sustentabilidade ambiental para a produção de leite e carne

EFICIÊNCIA DAS FAZENDAS LEITEIRAS

Produtores de leite supereficientes estão alargando sua vantagem de produtividade em relação às fazendas geridas profissionalmente do Brasil. Segundo a 9ª edição do Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB-9), que avaliou 1.130 rebanhos leiteiros no país, os produtores que se colocam entre os 10% mais eficientes são melhores que a média dos produtores em todos os 12 indicadores-chave da publicação, sendo que em seis deles apresentam diferenças de eficiência superiores a 20%. Nas fazendas Top 10% do IILB, a taxa de prenhez (o número de vacas que emprenham em relação ao número de vacas aptas a emprenhar) é 47,0% maior. E nas fazendas Top 10%, vacas e bezerras morrem menos e iniciam seu período de lactação mais cedo. 24

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PARCERIA ORBIA E A AGRIFIRM

CFM INTENSIFICA USO DE TOUROS JOVENS

Cerca de 30% dos 35 melhores touros do Sumário Nelore CFM são filhos de reprodutores jovens da própria CFM. A empresa é líder no fornecimento de reprodutores Nelore no Brasil, já tendo produzido mais de 40 mil touros. A safra dos touros nascidos em 2019 será vendida esse ano a partir do Megaleilão Nelore CFM, em 5 de agosto. O programa de melhoramento genético da CFM avalia mais de uma dezena de características econômicas ligadas à fertilidade, precocidade, peso e qualidade de carcaça. Todos estes dados estão compilados no Índice CFM, que é revisto periodicamente.

PLATAFORMAS DIGITAIS

O uso de canais e plataformas digitais cresceu bastante e está cada vez mais presente na jornada de decisão dos agricultores de todas as regiões do país, é o que aponta a edição 2021 da pesquisa “A mente do agricultor brasileiro na era digital”, realizada pela McKinsey & Company. De acordo com o levantamento feito com cerca de 600 agricultores, a preferência por esses canais passou de 36% para 46% dos produtores, em 12 meses. O Farmbox, software de gestão de propriedades rurais, teve um aumento de 35% na sua base ativa de clientes em 2020. A plataforma compila dados e informações de campo como: estoques de insumos; mapas de infestação de pragas; frequência de monitoramento de cada talhão; agenda de aplicações; pluviometria; previsão de colheita e de custos de produção, de produtividade e rentabilidade total ou por talhão, entre outros, para o planejamento completo de cada safra.

A Orbia e a Agrifirm anunciam parceria para oferecer uma série de benefícios aos produtores rurais. Com o lançamento do Royal Club Agrifirm, os clientes passam a acumular pontos na compra de itens de nutrição animal que podem ser usados para resgatar produtos ou serviços disponíveis na plataforma. A holandesa Agrifirm é referência em tecnologia e inovação no setor de Nutrição Animal, e oferece produtos voltados para bovinos de leite e de corte, suínos e aves. A Orbia é atualmente o maior programa de fidelidade por coalizão do agronegócio e reúne parceiros em diversas áreas como defensivos agrícolas, nutrição e saúde animal, fertilizantes, cooperativas de crédito, aluguel de automóveis, varejo, entre outros.

SISBOV

A CNA assumiu a gestão completa do Sistema Brasileiro de Identificação de Bovinos e Bubalinos (SISBOV) e vai atuar com o apoio da Associação Brasileira das Empresas de Certificação por Auditoria e Rastreabilidade (ABCAR) e seus associados. O SISBOV é o instrumento oficial de identificação individual de bovinos e búfalos e foi criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como ferramenta de controle sanitário e fiscalização das propriedades rurais que desejam cumprir protocolos internacionais e exportar aos mercados mais exigentes, que remuneram melhor, como a União Europeia. Atualmente, a Certificação SISBOV permite que o pecuarista receba até R$ 4,00 a mais por arroba comercializada, valorizando os negócios em toda a cadeia produtiva e ganhando mais confiança dos consumidores nacionais e do exterior.

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CAPA

Nelore CADAN: uma genética nova para uma pecuária eficiente Com menos de três anos de seleção, o criatório se prepara para, em breve, ofertar animais de sua marca ao mercado.

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GUSTAVO MIGUEL

A

liar as mais modernas ferramentas de seleção às demandas atuais do mercado pecuário. É com esse foco que o criatório Nelore CADAN tem trabalhado para produzir animais cada vez mais eficientes em sistemas de produção a pasto, que é a realidade da maioria das propriedades brasileiras. “Escolhi o Nelore por conta da sua versatilidade, pois, de todas as raças que meu pai havia criado anteriormente, foi a que teve melhor desempenho e rentabilidade. Sua rusticidade e habilidade materna também me impressionaram”, conta o criador e médico oftalmologista José Dante Baboni Júnior. O Nelore CADAN conta com duas propriedades em Minas Gerais. A sede fica na fazenda Olhos D’Água, localizada no município de Sacramento, às margens do Rio Araguari e a apenas 85 km de Uberaba. Ela está em uma localidade de altitude que beneficia o bem-estar dos animais e coloca a toda prova a rusticidade da raça Nelore. Com clima temperado e úmido, a região tem uma pluviosidade média de 1630 mm por ano, um solo fértil e altitude de quase 1000 m, permitindo o desenvolvimento de atividades agrícolas e pecuárias com sucesso. “A seleção em uma condição climática como essa só favorece os investidores da genética CADAN, pois são animais totalmente adaptados a qualquer região e criados a pasto”, assegura o criador.

Dr. Dante Baboni Júnior com seu pai Dr. Dante

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CAPA

CHARLOTE CADAN Landau da Di Genio x Brilhante FIV TMata (Jeru FIV Brum)

VRJO A5585 Thor VR JO JHVM 9936 FIV Camparino x Paracelli da VRJO (Bitelo)

CFU 1216 MAQUINA CF RIO Thor VR JO x Brilhante FIV Tmata (Jeru FIV do Brum)

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Na sede do Nelore CADAN, estão concentrados os tourinhos e as matrizes. Já o gado de pista fica na unidade de Uberaba, a capital do Zebu. “Recentemente, com a inauguração das novas baias da Olhos D’ Água, deixaremos os animais até a desmama em Sacramento, onde passarão por uma seleção mais criteriosa antes de serem transferidos para Uberaba”, informa Dante. Como conhecedor da ciência e defensor do melhoramento genético, ele focou a seleção do Nelore CADAN em critérios de maior impacto econômico, mas também que garantem a preservação do padrão racial. “Buscamos animais com biótipos adequados ao nosso sistema de produção, e, para isso, selecionamos com base em princípios e em resultados das avaliações genéticas. Sabendo da importância de trabalhar com boas linhagens em um projeto como esse, fomos buscar descendentes das melhores famílias da raça. Temos em nosso plantel filhas diretas da Maréa IV, da Elegance II, da Parla FIV AJJ, da Flagra, da Beluga, da Hamina, dentre outros destaques”, diz o zootecnista e jurado oficial ABCZ, Cristiano Hueb, responsável e desenvolvedor do projeto pecuário do Nelore CADAN. O rebanho CADAN já conta com mais de 200 animais em menos de três anos de existência. Com forte pressão de seleção, os acasalamentos dirigidos levam em conta características como peso a desmama, habilidade maternal, padrão racial, dentre outras, visando à produção de touros, de animais de pista e a comercialização de prenhezes. O plantel é avaliado pelo PMGZ, programa de melhoramento genético da ABCZ. “Fomos muito bem recebidos na ABCZ na época, pelo então presidente Arnaldinho, que nos acolheu muito bem, apresentando toda a estrutura da entidade. Ele deu uma aula sobre a raça e foi fundamental para minhas escolhas atuais. Foram dois dias de muito aprendizado”, lembra o criador Dante. O criatório tem parceria com tradicionais selecionadores da raça, como José Olavo Borges Mendes, da VRJO e juntos formam o condomínio do Thor VRJO, animal jovem que vem apresentando uma produção de sêmen e filhos acima da média, já provando seu potencial no campo. “É um orgulho fazer parte deste condomínio. Thor VRJO é um touro ideal para quem busca animais modernos, de avaliação consistente e biótipo desejável”, assegura Hueb. Atualmente, o reprodutor é contratado pela Alta Genetics. Uma história escrita em família A história da família Baboni na pecuária começou em 1998, com o pai de Dante, o também doutor José Dante Baboni, que na época optou por um rebanho leiteiro. Posteriormente, introduziu outras raças, mas já com foco


na pecuária de corte. A pecuária de elite foi introduzida por Dante Júnior, que sempre acompanhou os leilões dos criatórios da Samello (do amigo Waguinho, de Franca/SP, onde mora atualmente) e Nelore CTJ (Cláudia Junqueira), que fica em sua cidade natal Guará/SP. O primeiro investimento em um animal PO ocorreu no Leilão Canaã, em 2018, com a aquisição de Galáctica FIV AL Canaã. A partir dali, com a orientação técnica de Cristiano Hueb, o projeto do Nelore CADAN ganhou força, sempre como grande entusiasta e fomentador dos padrões da raça, buscando o aprimoramento genético para a seleção dos animais. “Passamos a enxergar a fazenda com outros olhos, tornando-se um negócio para a família. A princípio, buscamos a genética das melhores doadoras do Brasil, em leilões ou nas inúmeras visitas que fizeram em fazendas referências na seleção da raça na atualidade. Adquirimos, assim, os animais que compõem o plantel Nelore CADAN, sempre com foco em modernidade e beleza racial. Acreditamos muito no trabalho desenvolvido pelo Cristiano e estamos satisfeitos com os resultados obtidos até o momento”, destaca Dante. Segundo ele, apesar de ser um criatório jovem, o Nelore CADAN já evoluiu bastante. O projeto inicial era atingir o patamar atual em cinco anos, mas foi possível alcançar em menos de três. “E muitas conquistas ainda virão. Agora é continuar aprimorando a nossa genética, pois não podemos estagnar. O objetivo é melhorar sempre”, declara o pecuarista.

Para o futuro, o objetivo é fazer um leilão anual de touros. “Já temos condições de fazer um remate próprio, mas preferimos esperar porque desejamos selecionar com bastante critério. Estamos bem focados em nossas reservas. Mas, nem sempre é possível esperar e, atendendo ao convite dos promotores do tradicional ELO DE RAÇA, estamos disponibilizando ao mercado, 50% das cotas da Charlote CADAN, uma novilha fantástica que representa bem o nosso trabalho. Filha de uma das nossas principais matrizes: Brilhante FIV Tmata (Jeru FIV do Brum x Rani FIV Java), ela é neta da

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CAPA

Cristiano Hueb e Dr. Dante Jr.

Dr. Dante Jr. com a esposa Carolina e os filhos Maria Helena e Heitor José

Equipe Nelore Cadan

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Membeca no Landau da Di Genio de 21/08/2019, certamente um dos grandes destaques deste grandioso evento da raça”, anuncia Cristiano Hueb. Construindo o futuro Assim como o amor pela medicina passou de geração em geração, Dante Baboni Júnior também espera que ocorra o mesmo com a pecuária. Sua mãe, doutora Zilda, também é oftalmologista, o pai é clínico geral e sua irmã Renata é fisioterapeuta/jornalista. Os pacientes dos seus pais sempre buscam se tratar com o Dante Júnior e, assim, ele espera que seja também com a próxima geração. “Aliando a medicina com a pecuária, foi uma forma que minha família encontrou de desenvolver uma atividade prazerosa e ter um ótimo investimento”, espera o criador. Desde criança, Dante, sempre que possível, passava momentos de lazer no campo, uma tradição que ele faz até hoje com seus filhos. “Como um apaixonado pelo Nelore, espero que esse sentimento que meu pai também carrega perdure com meus filhos Heitor José e Maria Helena”, diz Dante, que divide essa paixão também com a esposa e incentivadora Carolina.


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ENTREVISTA

PIETRO BARUSELLI

FERTILIDADE GERA MAIS RENTABILIDADE Tecnologias como a IATF favorecem os ganhos genéticos e eleva a rentabilidade na pecuária de corte e leite

DIVULGAÇÃO

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O uso de tecnologias, como a Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF), pode garantir a excelência do produto final, carne ou leite, a viabilidade econômica e a sustentabilidade da pecuária. Apesar de o Brasil ter destaque mundial no setor, fazendas que adotam tecnologias de reprodução ainda não são a maioria. Mas os números de vendas de sêmen e de protocolos de sincronização para emprego da IATF crescem a taxas interessantes nos últimos anos. Já existe muito produtor fazendo as contas e trabalhando para melhorar a fertilidade do rebanho, pois, além dos ganhos em rentabilidade, há consideráveis ganhos genéticos. Em entrevista à revista Pecuária Brasil, o professor do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, Pietro Baruselli, traduz em números o avanço que a IATF vem trazendo para a pecuária brasileira. Ele ainda destaca como isso pode ajudar a ter fêmeas prenhas cada vez mais cedo na estação de monta, a melhorar a sustentabilidade ambiental e econômica das fazendas e os cuidados para adoção da tecnologia.

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Pecuária Brasil- O mercado de IATF cresceu 30% em 2020. O que esse aumento representa na prática? Pietro Baruselli- Em 2020, foram comercializados 21.255.375 protocolos de sincronização para o emprego da IATF em bovinos. Com esse crescimento, foram incorporados no manejo reprodutivo das fazendas brasileiras mais 4,9 milhões de procedimentos apenas no ano passado, com impactos significativos na produção de bezerros de alto valor genético e na eficiência reprodutiva dos rebanhos de corte e de leite. Além disso, 89,8% das inseminações no Brasil em 2020 foram realizadas por IATF, demonstrando a consolidação dessa tecnologia no mercado de inseminação artificial. Na prática, isso significa mais rentabilidade para o produtor. Em uma estimativa de impacto econômico da IATF sobre a cadeia de produção de carne e leite que realizamos em 2018, os ganhos seriam de aproximadamente R$ 3,5 bilhões de valor ao ano quando comparada com a monta natural. Acreditamos que em 2021 os ganhos serão ainda superiores devido à maior utilização da IATF e ao aumento dos preços da carne e do leite pagos ao produtor. PB- O que os estudos têm apontado sobre o impacto da tecnologia reprodutiva em características de maior importância econômica, tais como peso a desmama, intervalo entre partos, idade ao primeiro parto, dentre outras, quando comparados grupos de progênies de IATF e de monta natural? Baruselli- A IATF não só promove o melhoramento genético, como melhora a eficiência reprodutiva. Devido a esse resultado, é uma tecnologia que aumenta consideravelmente o retorno econômico da pecuária. Estudos realizados pelo Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo comparando a monta natural com a IATF demonstra-

ram que cada R$ 1,00 investido na tecnologia de IATF gera R$ 4,50 de retorno para a cadeia de produção de carne e de leite no Brasil. Esses ganhos são relacionados ao aumento da produtividade, com mais bezerros produzidos por matriz e redução do intervalo entre partos e com maior ganho genético (nascimento de bezerros geneticamente superiores que produzem mais carne e leite), quando comparado ao sistema que utiliza a monta natural. PB- Na média geral, a eficiência reprodutiva no Brasil é baixa. Que evolução os rebanhos que utilizam a IATF têm apresentado nessa parte? Baruselli- A pecuária brasileira ainda apresenta índices reprodutivos que podem ser melhorados. Utilizando tecnologia é possível produzir mais bezerros por matriz por ano e reduzir a idade ao

primeiro parto. Se analisarmos os dados de pesquisa e compararmos os nascimentos de monta natural e de IATF em conjunto com repasse de touro, o volume de bezerros produzidos aumenta consideravelmente. Nos primeiros 30 dias de estação de nascimento, por exemplo, seriam 150% a mais de bezerros nos programas reprodutivos que utilizam a IATF. Ainda existem os ganhos indiretos. Quando a IATF é feita logo no início da estação de monta, a maioria das matrizes se tornam gestantes no primeiro mês do programa reprodutivo. Por monta natural, ocorre atraso na concepção com maior concentração das gestações no final da estação reprodutiva. E as vacas que emprenham no começo da estação de monta têm bezerros mais

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ENTREVISTA pesado, dando uma diferença em torno de 55kg quando comparado aos bezerros nascidos no final da estação. Quantificando essa informação, somente por mudar a época de nascimento o faturamento da venda de bezerros aumentaria cerca de 20%. Além disso, a novilha filha da vaca que emprenha logo no início da estação de monta tende a ter maior taxa de prenhez quando entra em reprodução. O criador pode também optar pela ressincronização para inseminar novamente a vaca que não se tornou gestante à primeira IATF. A ressincronização aumenta ainda mais a eficiência reprodutiva e genética dos rebanhos. Estudos mostram que a prenhez por ressincronização acaba sendo até mais econômica que com touro de repasse. PB- E quais os ganhos relacionados à sustentabilidade? Baruselli- Também são significativos. A taxa de produção de bezerros por matriz no país é de 60%. Se aumentarmos a eficiência reprodutiva para 80% seria possível obter o mesmo volume de bezerros utilizando 20 milhões de matrizes a menos. A quantidade de terra necessária cairia 44%, de uso de água em 34% e a emissão de carbono em 39%.

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Todas essas são demandas atuais do consumidor em todo o mundo. PB- Os estudos realizados com fêmeas superprecoces apontam que a redução da idade da primeira inseminação traz que benefícios para o rebanho? Baruselli- Hoje, no Brasil, a idade ao primeiro parto é próxima de quatro anos. Essa situação colabora para a baixa produtividade do sistema de cria. Essa elevada idade ao primeiro parto leva a propriedade de cria a ocupar 41% dos pastos só para a recria das novilhas. Com tecnologia é possível reduzir consideravelmente a idade ao primeiro parto com impactos positivos na produtividade do sistema. Na atualidade, existem vários estudos que mostram que é possível emprenhar uma novilha zebuína com 14 meses de idade, para que ela traga o primeiro bezerro aos dois anos de idade, como fazem Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, entre outros. Se o produtor diminuir para dois anos a idade a primeira cria, a necessidade

de terra para recria reduz para 21%, porque não terá mais no rebanho novilhas de dois e três anos ainda sendo recriadas e ocupando áreas de pastagens. Esse é um índice extremamente importante para melhorar a eficiência da produção por hectare da pecuária de corte. Após vários estudos realizados, hoje existe pacote tecnológico para isso. PB- Mas que cuidados tomar na aplicação da IATF nas fêmeas superprecoces? Baruselli- Esta é uma categoria que pode melhorar a rentabilidade da pecuária de corte, mas exige atenção redobrada para alcançar o resultado desejado. A nutrição precisa ser diferenciada tanto durante os primeiros serviços quanto no período pós-parto. Em decorrência da pouca idade, as novilhas super precoces apresentam maior dificuldade de ciclar (manifestar cio e ovulação). Nesse caso, a utilização de protocolos de sincronização para IATF adequados para esta categoria são recomendados. Estudos estão sendo realizados para o desenvolvimento de um disposi-


tivo intravaginal específico para as fêmeas superprecoces, levando em consideração o tamanho para evitar desconforto e as concentrações de progesterona para essa categoria. E reemprenhar a primípara superprecoce é outro desafio. Como vai parir ainda muito jovem, aos dois anos, deve receber nutrição diferenciada para continuar crescendo, produzindo leite para o bezerro e emprenhar novamente, senão o esforço que o produtor fez para ter fêmeas superprecoces na estação de monta fica perdido. PB- E em relação aos ganhos genéticos, quais os benefícios que a IATF traz em novilhas super precoces? Baruselli- A redução do intervalo entre gerações é um deles. Quanto menor a idade ao primeiro parto, maior é o ganho genético do rebanho. Ao se ter um intervalo de gerações acima dos 4 anos, que

ainda é a média no Brasil, para imprimirmos cinco quilos de genética [saltando de 180kg na primeira geração para 200kg na quinta geração] demoraríamos 20 anos. Se baixarmos esse intervalo de geração para dois anos, demoraríamos a metade do tempo, acelerando o melhoramento genético do rebanho. PB- Antes de mergulhar de cabeça em novas tecnologias, qual deve ser a lição de casa para o pecuarista? Baruselli- Antes de tudo é preciso ter uma estrutura adequada na propriedade, um bom manejo sanitário e nutricional, pois vários fatores influenciam no resultado da IATF. As interferências vão desde raça do touro, lote, categoria de parto, ano, escore corporal das fêmeas até capacitação da equipe. A organização operacional do processo precisa ser boa senão teremos resultados inconsistentes.

PB- Das tecnologias reprodutivas mais utilizadas na pecuária ultimamente, quais o senhor acredita que trouxe maior impacto tanto na difusão do melhoramento genético, quanto na facilidade de manejo e na parte econômica do sistema de produção? Baruselli-Todas as tecnologias têm uma contribuição importante para a evolução dos índices reprodutivos do rebanho brasileiro, mas levando em conta a aplicação em larga escala da IATF atualmente, essa seria uma inovação importante. Assim como a transferência de embrião, que permite um ganho genético muito superior a outras tecnologias, pois possibilita ao produtor trabalhar com touros e fêmeas de alto valor genético. O Brasil está entre os maiores produtores de embriões e é pioneiro na produção in vitro e na TETF (transferência de embriões em tempo fixo). Ao longo dos anos, a tecnologia passou a ser extremamente bem-sucedida, com os protocolos ficando cada vez mais viáveis em termos econômicos, além de mais eficientes. PB- Quais estudos na área de reprodução bovina estão em andamento na USP? Baruselli- Estamos trabalhando para aprimorar as tecnologias já existentes, como, por exemplo, a busca por novos fármacos capazes de melhorar os resultados da IATF. Além disso, estamos estudando o impacto que a melhoria do manejo traz para a eficiência dos programas que utilizam as biotecnologias da reprodução.

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PECUÁRIA 360

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SOLIDARIEDADE

PROVA DA ANORC

A 6ª Prova de Ganho em Peso em confinamento da ANORC (Associação Norteriograndense de Criadores), iniciada em fevereiro, segue até 24 de maio com a participação de várias raças. São sete garrotes Nelore de três criadores, 8 animais Guzerá de quatro criatórios e 21 Sindi de oito marcas que representam a genética de grandes plantéis potiguares. O coordenador técnico da prova, que é oficializada pela ABCZ, o Rodrigo Coutinho Madruga, explica que até a fase da terceira pesagem todos os animais impressionaram pelo desenvolvimento. Segundo ele, a prova está na reta final. As três raças demonstram um potencial produtivo muito interessante e comprovam o melhoramento genético que os criadores buscam para as raças zebuínas, algo que é essencial para sistemas produtivos eficientes, sustentáveis e econômicos.

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O Hospital Pequeno Príncipe está realizando uma campanha de Incentivos Fiscais para pessoas físicas, onde a população tem a possibilidade de destinar 3% do IR devido de 2020. O valor arrecada será utilizada para custear as despesas do hospital, que é referência nacional em atendimento pediátrico. Localizado em Curitiba/PR, o Pequeno Príncipe atende meninos e meninas de todo país. As doações podem ser feitas pelo site doepequenoprincipe.org.br.

EVENTO ONLINE MUNDIAL

A Conferência de Ideias Alltech ONE será realizada de 25 a 27 de maio. Evento online, terá várias salas temáticas: nutrição animal; tendências de mercado; digital; marketing; sustentabilidade. O participante ainda poderá escolher entre os segmentos da pecuária bovina, suína, aves, equinos, pet, aquicultura, agricultura, negócios, saúde e bem-estar. Serão apresentadas tendências do mercado, inovações disruptivas e oportunidades que podem impactar a cadeia global de abastecimento de alimentos e seus negócios. As inscrições podem ser feitas pelo site do evento (https:// one.alltech.com).


RAÇA

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SELEÇÃO . GENÉTICA . CRIAÇÃO . LEILÕES

Expozebu DIGITAL EFICIÊNCIA

DO ZEBU À PROVA ABRIL/MAIO 2021 | #pecBR

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EXPOZEBU EM VERSÃO ONLINE Por conta do agravamento da pandemia, a exposição deixa por mais um ano de ser realizada presencialmente, mas terá um formato via internet

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GUSTAVO MIGUEL

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ão foi desta vez que o calendário de grandes exposições voltou a ser aberto. A maior exposição de zebuínos do mundo, a ExpoZebu, não acontecerá de forma presencial, deixando as pistas vazias por mais um ano seguido. A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) optou por manter a data, de 29 de abril a 9 de maio, para realizar um evento online, com transmissão pelo canal da entidade no Youtube, sempre das 6h30 às 12h30. O presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Júnior, destaca que esse modelo foi sucesso na ExpoGenética 2020 e que será uma forma de levar a informação até os criadores. Na parte comercial, a expectativa é de manter a grande movimentação financeira que o evento sempre registrou. Estão agendados 23 leilões e quatro shopping de animais, de 29 de abril a 13 de maio. Em sua última edição presencial, em 2019, o faturamento total das vendas em leilões e shoppings foi de cerca de R$49 milhões. Para 2021, a expectativa é de bons negócios já que os eventos virtuais realizados no último ano apresentaram boas médias. Dois lançamentos serão realizados durante a ExpoZebu e têm como objetivo beneficiar a produção sustentável de carne e leite. Um deles é a campanha Carne

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de Zebu, cujos detalhes serão apresentados no dia 1 de maio. O outro lançamento é o projeto “Integra Zebu”, que tem como foco a recuperação de pastagens degradadas no país e será lançado no dia 2 de maio. Na parte internacional, haverá um programa especial para o público estrangeiro e uma rodada de negócios virtual, com foco na captação de clientes da América Latina, Oriente Médio e Sudeste Asiático. Ao longo do evento, serão realizadas várias rodadas de debates técnicos. Haverá painéis de temas relativos à nutrição animal, sanidade, melhoramento genético e produção com sustentabilidade, além de rodadas de conversas com criadores, entrevistas com grandes nomes da pecuária. Serão seis horas diárias de programação ao vivo. “O modelo virtual veio para ficar. Estamos aprimorando e investindo nas nossas plataformas”, afirmou Borges Júnior. A programação completa está disponível no site da ABCZ (www.abcz.org.br).

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EFICIÊNCIA DO ZEBU À PROVA Programa da ABCZ avança para avaliar o uso da genética zebuína na produção de carne de qualidade e com sustentabilidade

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ARQUIVO, GUSTAVO MIGUEL, JADIR BISON

ela primeira vez, as raças Brahman, Guzerá, Sindi e Tabapuã vão participar do “Programa Carne de Qualidade – Produção de carne de qualidade com eficiência e sustentabilidade”, promovido pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Com o segmento de carnes de qualidade crescendo em ritmo acelerado, a entidade espera mostrar ao mercado que o zebu é uma opção sustentável para a produção desse tipo de produto. A prova teve sua primeira edição ano passado, com a participação apenas de animais da raça Nelore. O superintendente Técnico da ABCZ, Luiz Antonio Josahkian, esclarece que estão sendo aplicadas todas as recomendações técnicas

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necessárias para atingir a produção de carne com qualidade, viabilidade financeira e sustentabilidade, em termos ambientais. “A ABCZ é parte responsável pela produção de carne com qualidade e sustentabilidade, pois sabemos que a genética zebuína é a base de sustentação da pecuária de corte em vários países. Por isso, queremos identificar o custo de produção de uma arroba nesse tipo de sistema”, informa Josahkian. O projeto vai acompanhar o desempenho dos machos nas fases de recria, engorda e abate. De acordo com Josahkian, os resultados serão tratados individualmente por raça, sem nenhuma abordagem comparativa entre elas. Ao final de cada uma das três etapas serão gerados índices, que irão compor o índice final classificatório dos animais. Para todas as raças, a exigência para participação era de, no mínimo, 25 bezerros. Participam da prova apenas animais com RGN na categoria PO, idade entre seis e oito meses no início da prova, peso mínimo a desmama na média da raça (201 kg), classificação de DECA 2, no máximo, no PMGZ para peso ao sobreano e classificação mínima “Bom” no EPMURAS.

Como funciona o Programa Carne de Qualidade Os pastos da Fazenda Experimental Orestes Prata Tibery Júnior, em Uberaba/MG, já estão adubados e prontos para receber os bezerros doados, que desembarcam na “Terra do Zebu” de 12 de abril a 31 de maio de 2021. A pesagem inicial acontecerá no dia 10 de junho. A primeira etapa será a Prova de Ganho em Peso (PGP) a Pasto, cujo início será no dia 9 de junho de 2021 e a previsão de término é em 16 de março de 2022. Durante este período, os animais receberão sal mineral e suplementação nos períodos de escassez de forragem de forma a atender plenamente as exigências nutricionais desta fase. Entre os dados coletados estão: Ganho em Peso Diário, Ganho em Peso, Ganho Médio Diário. Além das pesagens, eles passarão por ultrassonografia de carcaça para área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS), espessura de gordura na picanha (P8) e marmoreio (MAR). A segunda etapa será o confinamento, quando será feita a mensuração do Consumo Alimentar Residual (CAR). Quando A estimativa da ABCZ é que essa fase termine em

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14 de julho de 2022. A terceira etapa será o abate técnico, quando serão mensurados: Peso de Carcaça Quente (PCQ); Espessura de Gordura Subcutânea- EGS; Rendimento de Abate – RA (PCQ/Peso Vivo); Gordura Intramuscular, mármore – MAR; Carne Aproveitável Total-CAT (AOL, EGS e PCQ); e, Maciez Instrumental – MI. O programa conta com a participação de pesquisadores de entidades de grande renome nacional, como Embrapa, Epamig, Fazu, UFV, Unicamp, Esalq/USP e UFMS, além da equipe técnica da ABCZ. Doação de bezerros Todos os animais participantes foram doados por criadores associados da ABCZ. Para as associações promocionais, esta é uma oportunidade de atestar a qualidade do zebu brasileiro na produção de carne. “Com este programa, o criador de Guzerá terá uma grande oportunidade de mostrar mais uma vez ao mercado que é uma excelente opção para a produção de carne de qualidade”, destaca o presidente da Associação dos Criadores de Guzerá do Brasil (ACGB), Marcos Carneiro. Para o criador Antônio Pitangui de Salvo, da Fa-

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zenda Canoas e Seleção Guzerá Agropecuária Ltda., que doou bezerros para a prova, esta será uma comprovação da qualidade dos zebuínos de uma maneira geral em produzir carne “verde”. “Trata-se de um projeto importantíssimo, pois a raça Guzerá tem este viés de poder produzir as duas coisas, carne e leite, mas produzindo muito bem os dois. Agora o Brasil se encontra numa posição de vanguarda no que diz respeito à produção e ao fornecimento de carne, não só para população brasileira, mas para o mundo. E a ABCZ, mais uma vez, com um projeto muito bem elaborado e neste momento tão importante do mercado, está provando a qualidade da carne brasileira. E a raça Guzerá não poderia ficar de fora dessa iniciativa”, diz Salvo. A raça Tabapuã também confirmou presença na prova. Os tabapuanistas aderiram ao projeto logo na primeira semana de inscrições abertas. “A adesão de criadores superou todas as expectativas. Tudo aconteceu muito rápido em relação ao número de inscritos”, informa o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Tabapuã (ABCT), Sergio Junqueira Germano. Na raça Sindi a adesão dos criadores também foi grande. Participam 19 criatórios de várias partes do Brasil, sendo que alguns doaram até quatro animais. “A raça Sindi, através da união e comprometimento dos seus criadores, se faz presente com 28 animais neste Programa Zebu Carne de Qualidade, reconhecendo o apoio da ABCZ e a importância de programas de melhoramento genético como este; para o contínuo e sólido crescimento da raça no Brasil”, assegura o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Sindi (ABCSindi), Orlando Procópio. Outra raça zebuína que tem mostrado bom desempenho na produção de carne é o Brahman. Na opinião do presidente da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB), Paulo Scatolin, ter dados técnicos confiáveis que atestam essa eficiência do zebu na pecuária de corte agregará ainda mais valor à genética zebuína. “O mercado consumidor está cada vez mais em busca de um alimento saudável e produzido de forma sustentável. O Brahman é uma raça que tem apresentado eficiência nas provas zootécnicas que participa e


nesse programa da ABCZ isso deve se confirmar novamente”, espera Scatolin. Primeiros resultados do Nelore Os resultados da primeira etapa, de uma série de três, do programa ‘Zebu: Carne de Qualidade’ com animais Nelore já foram divulgados pela ABCZ. A fase avaliou o desempenho do grupo formado por 103 garrotes PO, em uma prova de ganho de peso a pasto. A pesagem final da primeira etapa que marcou a 10ª avaliação de peso dos animais, aconteceu no dia 17 de março. As pesagens foram realizadas com intervalo de 28 dias desde o início da prova, somando também as pesagens de entrada e inicial. Sobre a média de ganho de peso, considerando a pesagem de entrada em 10 de junho, houve um ganho médio diário de 633 gramas. Os animais terminaram a prova com 537 dias de idade e peso médio de 424 quilos, e o peso ajustado para 550 dias de idade de 431 quilos. O pesquisador da Epamig, Leonardo Fernandes, que acompanhou diretamente o manejo e a nutrição dos animais, explica que os garrotes foram trabalhados em fases distintas. “Iniciamos a prova no período seco do ano em uma área de 20,3 hectares, em pastagens de capim Brachiaria brizantha cv. Paiaguás. A pastagem foi manejada em lotação rotacionada, com oferta de forragem de 6% do peso corporal. Todas as áreas foram formadas em ILP e ILPF. Além do capim, também fornecemos silagem de milho, na quantidade de 1% do peso corporal em matéria seca e suplemento proteico energético para complementar a proteína, energia, minerais e vitaminas, fornecendo 0,5% do peso corporal. Com esse planejamento, os animais tiveram um excelente ganho de peso durante o período seco do ano, e mantivemos 3,56 UA (unidade animal) por hectare. É um índice elevado porque estamos falando de um período de seca, considerado o pior momento do ano, e no Brasil, a média de taxa de lotação é por volta de 1 UA (unidade animal) por hectare”, explica Leonardo. Na fase das águas, retirou-se a silagem e os animais foram mantidos a pasto, em uma área de 6,4 UA por hectare, com suplementação proteico-energética de 0,4% do peso corporal. “Se somarmos o desempenho da seca com o desempenho das águas,

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obtivemos um ganho de peso diário de 633 gramas por animal e tivemos mais de 1.100 quilos de ganho de peso por hectare em nove meses de trabalho. Isso gera uma produção de 39 arrobas de carne bovina por hectare. Ainda não fechamos as análises de custo, mas teremos uma rentabilidade financeira por hectare muito alto, em função dos números que conseguimos no processo”, assegura o pesquisador da Epamig. Após a pesagem final, os participantes foram classificados considerando o regulamento adaptado das provas de ganho em peso oficializadas pela ABCZ: Escore de Avaliação Visual (tipo) pelo método EPMURAS, aplicando-se apenas EPM (AT), Peso Calculado aos 550 dias de idade (PC550), Ganho em Peso Diário (GPD), Ganho em Peso (GP), Ganho Médio Diário (GMD), Área de Olho de Lombo (AOL), Espessura de Gordura Subcutânea entre a 12ª e 13ª costela (EGS) e na picanha (P8). Em seguida, os animais

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foram separados em sete grupos, de acordo com o peso, e alojados em diferentes currais da Fazenda Experimental da ABCZ, para início da segunda fase do programa, que terá a duração de 120 dias. Ao final da fase de confinamento, todos os animais serão submetidos a um abate técnico, quando também serão avaliados. “Com o acompanhamento da evolução do peso e avaliação de ultrassonografia na prova de confinamento, definiremos a data do abate técnico. Os resultados obtidos no programa serão divulgados individualmente, assim como todos os resultados médios do lote”, explica o superintendente Técnico da ABCZ. Os resultados da primeira etapa superaram as expectativas. “Estamos muito satisfeitos com a eficiência dos animais no desempenho a pasto. Acreditamos na economicidade do zebu, na qualidade da carne e na sustentabilidade deste produto”, destaca Rivaldo Machado Borges Júnior, presidente da ABCZ.


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PRODUÇÃO . MERCADO . ARROBA

Zebu X Zebu ESTRATÉGIA TEM GARANTIDO MAIOR RENTABILIDADE ARROBA: MAIS COM MENOS ABRIL/MAIO 2021 | #pecBR

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Aposta no cruzamento

Zebu X Zebu Estratégia tem garantido maior rentabilidade para o pecuarista que utiliza a genética zebuína em cruzamentos para produção de carne ARQUIVO

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ão há dúvida de que o Nelore é base da pecuária de corte nacional, mas na hora de definir que outra raça utilizar no cruzamento com a vacada branca as opções são muitas. Apostar nas raças taurinas ou no cruzamento zebu X zebu? Os dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA) apontam que as principais raças utilizadas no país tiveram crescimento nas vendas de sêmen em 2020. Entre os zebuínos, o destaque é o próprio Nelore PO, com quase 6 milhões de doses comercializadas, seguido de Nelore CEIP, Nelore Mocho, Tabapuã, Brahman, Sindi e Guzerá. Apesar de serem da mesma espécie, Bos indicus, cada um desses zebuínos carrega diferenças genéticas que podem garantir bezerros mais pesados e padronizados, tanto para produção de F1 quanto no tricross. A estratégia de utilizar duas raças zebuínas para produzir animais tricross vêm permitindo à Fazenda Saudade, localizada no município Mar de Espanha, na Zona da Mata mineira, maior valorização no gancho. Por lá, a aposta é colocar Brahman em cima das F1 Nelore X Angus. O rebanho é composto por 3 mil matrizes e 6 mil cabeças no total. Dentro de um sistema de ciclo completo, a genética zebuína tem feito diferença especialmente nos produtos tricross. Há oito anos, o pecuarista Guilherme Lamas adquiriu os primeiros dois touros Red Brahman para testar o desempenho da raça. Na época, colocou os reprodutores para cobrir vacas mestiças do rebanho e os resultados já impressionaram. “Os bezerros do cruzamento com Brahman já demonstraram diferencial de ganho de peso em relação aos oriundos de outros cruzamentos. Fizemos acompanhamento e começamos a observar que a diferença de ganho de peso chegava a 25% na desmama, além da precocidade. A partir dali, investimentos mais na raça, focando em linhagens de Brahman que atendessem nossos objetivos”, conta Guilherme Lamas. Segundo ele, a genética Brahman tem per-

mitido atingir, ao final do ciclo em semiconfinamento, animais com 20 arrobas aos 20 meses. Hoje, ele utiliza tanto o Red Brahman quanto o Brahman. É feita uma IATF com sêmen da raça no rebanho, depois repasse com touro da raça. “O Brahman coloca muito peso e a F1 Angus é muito leiteira, permitindo obter uma média de peso a desmama de 8 arrobas, aos 7 meses. A docilidade do Brahman também faz a diferença, garantindo bezerros mais pesados. Quando o preço do bezerro está mais elevado, opto por vender a bezerrada e nem faço o ciclo completo”, diz o pecuarista. A raça Brahman é uma raça que foi desenvolvida com foco muito grande nas DEPs de crescimento. Além de peso à desmama, peso ao ano e sobreano, são animais de uma carcaça muito moderna também. E o cruzamento com o Nelore traz atributos de precocidade sexual, melhora a habilidade materna. Nelore x Guzerá- Na Fazenda Villa Canabrava, localizada no município de Bocaiúva/MG, faz tempo que a aposta é no Guzonel, resultado do cruzamento entre Nelore e Guzerá. O pecuarista Rodrigo Canabrava trabalha com Guzonel desde 1994. Em 2020, foram abatidos cerca de 900 machos Guzonel, com idade média de 21 meses, 56,08% de rendimento de carcaça e peso final com rendimento de 20,26@, todos aptos à exportação para União Europeia e a receber a bonificação Cota Hilton. Atualmente, o plantel é de aproximadamente 5.000 matrizes Guzonel F1 e Guzonel, utilizadas para fazer o chamado “Guzonel voltado”, que é a alternância de cruzamento entre touros Guzerá e Nelore. Elas entram na composição dos lotes de tricross, utilizando neste caso reprodutores Simental e Aberdeen Angus. “Nosso planejamento é chegar a 7.000 ma-

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CARNE trizes Guzonel F1 e Guzonel e, consequentemente, aumentar o número de animais tricross”, espera. O criador vem computando dados de desempenho dos animais Guzonel à desmama e relata que houve um incremento considerável no número de arrobas na última década. Em 2010, machos Guzonel desmamaram com 7,19@ e as fêmeas com 6,32@; os Guzonel F1 com 7,10@ e as fêmeas com 6,50@. Em 2020, houve ganho em todas as categorias, com os bezerros machos Guzonel foram desmamados com 7,63@ e as fêmeas com 6,94@; os Guzonel F1 machos atingiram 7,34@ e as fêmeas chegaram ao desmame com 6,68@. O choque de heterose do cruzamento Guzerá/Nelore proporciona maior capacidade de conversão de alimentos, padronização e melhoria na qualidade das carcaças, precocidade e redução no tempo para terminação e abate.

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Machos Guzonel do rebanho da Fazenda Villa Canabrava


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CARNE

Arroba:

Mais com menos ARQUIVO E GUSTAVO MIGUEL

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pecuária moderna tem exigido, além de maior potencial de produtividade, maior customização dos processos que envolvem os sistemas de produção. Com um cenário tão promissor para a pecuária de corte, não nos deixemos iludir, a arroba em alta como nunca se viu, porém, com insumos acompanhando aceleradamente. É um alerta! O real valor de um produto ao final de ciclo, seja o bezerro da cria, da matriz ao descarte ou do boi gordo ao abate, não vem somente do seu alto desempenho, mas, principalmente, do quanto custou para ser produzido. Com isso, importantes ferramentas de seleção têm sido promovidas com a finalidade de identificar os bovinos mais eficientes e que produzem com menor custo de produção. Uma delas vem das avaliações de eficiência alimentar. O objetivo é encontrar animais com Consumo Residual Alimentar (CAR) negativo e que contribuam para reduzir os custos com alimentação, lógico que, mantendo alta eficiência em desempenho para ganho de peso e rendimento de carcaça. O impacto que a eficiência alimentar tem dentro de um sistema de produção é enorme, ainda mais considerando que a alimentação do gado representa um custo total entre 70 e 90%. Animais que demandam menos alimento nas suas várias etapas proporcionam maior lucratividade no fechamento das contas, exatamente no item mais pesado da produção. O impacto é muito grande. Qualquer incremento justifica todo o investimento nas avaliações. Trata-se de uma característica que possui herdabilidade de moderada a alta. Isso significa que ela responde aos esforços de seleção, ocorrendo progresso genético de geração para geração. As provas normalmente têm duração entre 56 e 70 dias, em alguns casos com variações, teste nos sistemas de cocho Growsafe ou Intergado, sistemas que monitoram desde o consumo de alimento e de água individualizado diário, ganho de peso, número de vezes que foram ao cocho ou isenção à eles, um monitoramento on line, por sistemas vinculados à softawares que geram relatórios diários e ao final de cada prova. Paralelamente, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), pioneira junto às provas no Brasil, incorporaram DEPs dessa característica em seus sumários. Certamente, buscamos os animais com maior potencial

Rafael Mazão - Diretor Técnico Dstak Assessoria Pecuária

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CARNE genético de consumir menos alimento, desde que sejam muito eficientes para ganho de peso, pois é explícito para nós o quanto são “potencializadores” de maior retorno financeiro. Várias importantes instituições de pesquisas vêm analisando ano a ano inúmeros animais zebuínos de corte, Nelore em quase a totalidade dos experimentos, dentre elas a Embrapa, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a Fazu, em Uberaba. Os resultados de prova realizados na UFU, no final de 2020, com machos da raça Nelore com idade entre 10 e 12 meses, de um mesmo selecionador, e supervisionda pela Dra. Carina Ubirajara Faria, umas das grandes especialistas brasileira nesta seleção, nos permitiram chegar à alguns dados econômicos pertinentes para conclusões otimistas, como segue nas três tabelas à seguir.

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Nesta referida prova, os animais apresentaram ganho de peso médio diário (GMD) de 1,538kg, com ingestão de matéria seca (MS) média de 7,88kg/ dia, sendo a ingestão mínima de 5,97kg/ dia e a máxima de 9,22kg/ dia. A conversão alimentar média registrada foi de 5,2kg dieta/kg ganho de peso, enquanto a mínima ficou em 3,9kg dieta/kg ganho de peso e a máxima de 6,2kg dieta/ kg ganho de peso. O consumo alimentar residual (CAR) mínimo ficou em -1,327kg MS/dia e o máximo em 0,782kg MS/dia. Em sistemas de terminação intensivo, sabemos que o maior custo de produção vem da alimentação e dos animais menos eficientes. Com isso, buscamos potencializar através da seleção animais com maior eficiência alimentar e melhor capacidade de ganho de peso e rendimento de carcaça. Vejo claramente que a pecuária eficiente vem de duas vertentes, a fêmea mais produtiva é aquela que tem seu primeiro produto até 24 meses de idade, e sempre desmamando pesado anualmente uma cria, e o macho mais eficiente é aquele que tem menor custo por arroba de carne produzida ao ser abatido até dois anos, com desempenho mínimo para 21@ e 57% de rendimento de carcaça. Produzir mais arroba com menor custo é o caminho!

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LEITE

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NUTRIÇÃO . PRODUÇÃO . ORDENHA

Queijos

APOSTE NESTE SEGMENTO AUMENTO DA OFERTA DE LEITE E DERIVADOS ORGÂNICOS ABRIL/MAIO 2021 | #pecBR

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LEITE

O bom momento dos queijos

Criadores de raças leiteiras puras estão apostando neste segmento para diversificar e garantir maior rentabilidade a seus negócios

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ma tradição do agro brasileiro desde os tempos do Império tem ganhado cada vez mais a adesão de selecionadores de raças leiteiras por aliar a preservação da história local e o bom retorno financeiro. Na Fazenda Mata Serena, localizada no município de São Gonçalo do Rio Preto/MG, a produção de queijo artesanal divide espaço com a seleção das raças Gir Leiteiro e Girolando. Já são quatro gerações dedicadas à pecuária leiteira e, nos últimos anos, com a administração do negócio ficando a cargo do médico-ve-

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terinário Henrique Vieira da Rocha, a queijaria passou a ser encarada como um negócio promissor. “Quando meu pai passou a gestão do negócio para mim, o preço do leite estava baixo e o queijo tinha um valor de mercado melhor. Por conta disso, vi que era mais rentável utilizar o leite para fazer queijo. Como somos um criatório selecionador de genética, nossa produção de leite é pequena e optamos por utilizá-la na queijaria não só por conta da rentabilidade, mas por ser uma atividade que faz parte cultura da região”, conta o produtor mineiro. A Mata Serena fica em uma localidade tradicio-


nalmente queijeira, que é a região de Diamantina. Nessas terras mineiras, a atividade existe desde a época do Império, por volta do século 17, conforme comprovou um levantamento feito pela APRODIA (Associação de Produtores de Queijo da Região de Diamantina). Mas a valorização do queijo minas artesanal, não só de Diamantina, mas de outras áreas do estado, ganhou força nos últimos anos especialmente após as primeiras premiações conquistadas na França. Aliado a isso, em 2020, o consumo aumentou, com o queijo sendo o alimento lácteo mais consumido durante a pandemia, segundo pesquisa da Embrapa. Para atender as demandas atuais do mercado, Henrique Rocha criou dois tipos de produtos, e com rótulos diferentes. Um deles é à base de leite A2 de vacas Gir, que, por ser antialergênico, pode ser consumido por pessoas com intolerância ou alergia à lactose. O outro queijo é com leite de Girolando, raça que responde por 80% do leite produzido no Brasil. O criador também tem selecionado o rebanho Girolando para a beta-caseína A2A2 e, assim que tiver volume maior de leite A2 da raça, terá 100% de sua produção de queijo A2. “Na hora da seleção, ainda levamos em conta as características de gordura e proteína, muito importantes para a produção de queijo. Já na parte morfológica priorizamos bons úberes e o conjunto pernas e pés”, explica o criador. Todo o rebanho é manejado a pasto e tem registro genealógico, pois o foco maior da fazenda Mata Serena é a venda de animais melhoradores. Além de boa genética, que traz mais resultado na queijaria, a propriedade trabalha para alcançar a certificação nacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “Estamos em processo para obter o Selo Arte, o que nos permitirá comercializar queijo para todo o país”, assegura Henrique Rocha. No momento, em toda Minas Gerais, 40 queijarias estão registradas com Selo Arte, segundo dados da Emater-MG. Avanços nas pesquisas para ampliar o mercado O número de regiões mineiras reconhecidas e regulamentadas pelo governo estadual para a produção de queijo tem crescido no último ano. Com base em estudos desenvolvidos por pesquisadores de várias entidades, o governo tem modificado as regras de fabricação para im-

Criador e produtor de queijo Henrique Rocha

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LEITE pulsionar o segmento. Uma portaria publicada em abril deste ano alterou de 22 para 14 dias o período de maturação do Queijo Minas Artesanal da Canastra e da Serra do Salitre. Uma das contribuições para esse novo período de maturação tem como embasamento o projeto de Doutorado do professor da UniBH e da UNA de Bom Despacho, Felipe Machado de Sant’Anna, que foi desenvolvido no Departamento de Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal da Escola de Veterinária da UFMG, sob a orientação do professor Marcelo Resende de Souza. Alguns grupos de pesquisa como o da UFMG continuam as pesquisas envolvendo outras microrregiões produtoras de queijo minas artesanal, visando a caracterização do período de maturação assim como já foi estabelecido para as regiões de Serra do Salitre, Araxá e Canastra. “O estudo apontou que o período de maturação preconizado pela legislação (60 dias) é inviável sob o ponto de vista financeiro para o produtor. Além disso, o queijo minas artesanal não suporta longos períodos de maturação, sob o risco de sofrer alterações sensoriais drásticas, salvo conduto de queijos produzidos especialmente para períodos de cura prolongados, como o Canastra real, por exemplo”, esclarece o professor. Segundo Sant’Anna, as pesquisas sobre o queijo minas artesanal produzido em diversas regiões do estado vêm ocorrendo há muitos anos. No caso, do estudo da região de Serra do Salitre foram quatro anos de estudos. “Outro ponto importante de pesquisa está relacionado à caracterização dos fungos que crescem nas cascas do queijo, uma vez que essa característica tem forte apelo de mercado por ter um aspecto ‘gourmetizado’, sendo utilizado em vários restaurantes conceituados no Brasil e no mundo. É necessário identificar quais tipos de fungos estão presentes no produto, pois alguns deles podem trazer riscos à saúde pela produção de micotoxinas e a partir daí, realizar uma

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Professor da UniBH, Felipe Machado de Sant’Anna

orientação ao produtor para evitar a presença desses fungos indesejáveis na casca”, orienta Sant’Anna. Mercado de orgânicos Outro mercado promissor para a pecuária leiteira é o de leite orgânico. Um estudo prospectivo sobre a pecuária leiteira orgânica nacional conduzido pela Embrapa Gado de Leite comprovou que a produção orgânica ainda está abaixo do potencial do país. Segundo a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Fernanda Machado, o Brasil apresenta condições técnicas e ambientais para o aumento da oferta de leite e derivados orgânicos. Mas aspectos mercadológicos, relacionados a disponibilização de insumos, comercialização da produção, demanda por assistência técnica especializada, além questões burocráticas relacionadas à certificação podem limitar esta oferta”, diz Diniz. A Embrapa aprovou recentemente o projeto que viabiliza o “Observatório do Leite Orgânico” cujo objetivo é realizar o mapeamento e a caracterização dos sistemas de produção de leite orgânico no país, catalisando informações sobre esse modelo de produção, que ganha cada vez mais adeptos. “A ausência de dados a respeito da produção orgânica, nos diversos elos da cadeia, é o principal gargalo para o crescimento do setor no país”, diz Fábio Homero Diniz, analista da Embrapa Gado de Leite. Segundo ele, o Observatório irá reunir, em uma única plataforma, dados e informações sistematizadas sobre a cadeia agroalimentar do leite orgânico. A expectativa é realizar uma ampla caracterização e monitoramento territorial das fazendas de leite orgânico, com dados sobre o tamanho do rebanho, produtividade, ambiente e avaliação da eficiência dos sistemas. A plataforma também conterá dados sobre fornecedores de insumos como grãos e sementes orgânica e medicamentos.


#pecBR

ZONA RURAL GESTÃO . TECNOLOGIA . SUSTENTABILIDADE . MERCADO

Transição águas-seca MOMENTO DE ATENÇÃO

SANIDADE DESAFIOS SANITÁRIOS ABRIL/MAIO 2021 | #pecBR

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ZONA RURAL

Transição águas-seca: momento de atenção para a nutrição e sanidade do rebanho MARCUS REZENDE

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om um sistema predominantemente baseado na criação a pasto, a pecuária brasileira depende da produção de forrageiras para alimentação dos rebanhos. No entanto, é sabido que tanto a quantidade, quanto a qualidade das forragens varia de acordo com as estações do ano, com maior ou menor intensidade, dependendo da região do país. No período de águas há maior oferta de forragens, que além de abundantes são, de modo geral, mais tenras e com

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Marcus Rezende

Mariana Azenha

Médico-veterinário, Mestre em Ciência Animal Gerente de Trade Marketing na Sumitomo Chemical

Zootecnista, Doutora em Produção Animal Analista Técnico na Premix Nutrição Animal

Insta: @marcus.rezend LinkedIn: @marcusrezende

melhores valores nutricionais. Já na estação seca, as forragens têm uma queda abrupta na disponibilidade, valor nutricional e digestibilidade, exigindo do pecuarista uma rigorosa estratégia de suplementação para que os animais não percam em produtividade. Mas nem tudo são espinhos; entre uma estação e outra há um período que chamamos de “transição águas-seca” e que favorece a adaptação entre uma e outra estação do ano. Nesse período, que no centro-oeste, parte do norte e sudeste do Brasil envolve os meses de abril a junho, o produtor deve modular a adaptação da microbiota ruminal do seu rebanho para um novo momento, a estação seca. O suplemento usado nas águas deixou de ser ideal, o suplemento nutricional da seca ainda não é indicado. Esse é dilema desse período que envolve abril a maio exige uma dieta de transição bastante ajustada para fornecer aos animais os micronutrientes necessários para que os microrganismos do rúmem se adaptem gradativamente à forragem de mais difícil digestão e diferente teor nutricional característico da estação seca. Essa adaptação, negligenciada por muitos, pode ser a chave para manter os animais ganhando peso mesmo durante o período de estiagem. SANIDADE A estação seca não traz consigo somente desafios nutricionais, mas também desafios sanitários. Mas, como mais antigos já diziam: a saúde entra pela boca;mas algumas doenças também podem ter o mesmo acesso! E na época seca dois importantes riscos sanitários ganham destaque: botulismo e as verminoses. BOTULISMO O botulismo é resultado da ingestão da toxina botulínica. Essa toxina pré-formada pode estar presente na carcaça de animais deixadas nos pastos ou em cacimbas e açudes. Como na estação chuvosa esses reservatórios estão cheios; caso exista alguma carcaça liberando toxina botulínica, essa toxina estará diluída em um grande volume de água, não causando danos aos animais. No entanto, conforme a água vai secando, a toxina vai sendo concentrada até um nível que pode

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ZONA RURAL

se tornar letal os animais. Por isso a atenção para a vacinação contra botulismo já na “pré-seca”. A vacina não vai garantir 100% de proteção, nenhuma vacina garante; mas vai elevar os níveis de tolerância do animal à toxina botulínica, minimizando a letalidade caso o contato venha acontecer. Por se tratar de uma enfermidade dose-dependente, além da vacinação é também importante adotar medidas que minimizem o contato dos animais com a toxina botulínica, como a catação de carcaças deixadas nos pastos, limpeza das cacimbas e bebedouros. VERMINOSES A desverminação na entrada da seca tem dois objetivos: 1º eliminar os parasitos dos animais e permi-

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tir que eles entrem na estação mais hostil sem nada que os espoliem. 2º evitar a reinfestação da pastagem. Justamente por isso que esse é o momento ideal para lançar mão de endectocidas concentrados e/ou combinação de ativos que, se com longo período de ação, vão eliminar os parasitos contidos nos animais, bem como aqueles ingeridos no pastejo até o início da estação seca. Deve-se, no entanto, cuidar para os animais destinados ao abate nos próximos seis meses. Esses animais não podem receber produtos concentrados, sob o risco de não poderem ser abatidos graças ao residual dos produtos na carcaça. Para animais em engorda, há boas opções de produtos com residual dentro das especificações exigidas pelo MAPA.


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GENTE

PECUARISTAS . ESPECIALISTAS . CRIADORES

Criadores

LUCENTE AGROPECUÁRIA ACUMULA CONQUISTAS PERFIL ANA VIRGINEA LEAL

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CRIADORES

Lucente Agropecuária acumula conquistas em

2021

ARQUIVO, BOY, GUSTAVO MIGUEL, JM MATOS E PITTY

O criatório disponibilizará sua genética no tradicional e concorrido Leilão Noite dos Campeões.

CAMPEÃ BEZERRA DA EXPOINEL NACIONAL 2020 E RESERVADA GRANDE CAMPEÃ DA EXPO ITUVERAVA 2020 AOS 11 MESES DE IDADE

BARÃO FIV LUC – PRI1489 - CAMPEÃO TOURO JOVEM DA EXPOINEL NACIONAL 2016

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omemorando seus 20 anos de seleção da raça Nelore, a Lucente Agropecuária encerrou o último Ranking Nacional ACNB com excelência. O criatório conquistou várias premiações, culminando com a classificação de Terceiro Melhor Criador, Expositor e Supremo da última Expoinel Nacional/2020. A série de vitórias continuou em competições ocorridas após a Nacional da raça, tais como as exposições de Ituverava, Uberlândia, Goiânia e, recentemente, em Uberaba. Na Expoinel Minas 2021, o touro Roque FIV Giber sagrou-se Grande Campeão, colocando o criatório entre as melhores marcas em pistas do país na atualidade. A Lucente Agropecuária é um dos anfitriões do “Noite dos Campeões”, um dos mais tradicionais e importantes remates da Raça Nelore! O leilão será realizado excepcionalmente esse ano no dia 22 de maio. A Lucente Agropecuária não está poupando esforços e ofertará grandes destaques tais como a PRI2575-Antonella FIV LUC, atual Campeã Novilha Menor da Expoinel Nacional/2020. Outro lote é a Abu Dhabi FIV LUC 2L, Bitelo DS x Godiva TE Top de Raça (Flagra), com um pedigree invejável é um dos lotes destaques do Noite, na oportunidade ela estará com 36 meses de idade, parida e prenhe do Bojuru Ipê Ouro, com previsão de parto para maio/2021. Ainda para o Noite dos Campeões a Lucente Agropecuária ofertará também a Melhor Bezerra da safra com alto potencial para pista. Os anfitriões se resguardaram na divulgação do quarto lote e este, promete figurar como um dos grandes destaques do leilão por sua consagrada carreira em pista. A qualidade dos lotes preparados para um dos mais renomados remates reflete um trabalho de seleção criterioso de duas décadas, sendo conduzido pelos irmãos Cássio e Eduardo Lucente. Nesse período, a Lucente Agropecuária soube acompanhar a evolução da raça Nelore e do setor pecuário. De uma pequena gleba no Tocantins, adquirida em 1993 pelo pai de Cássio e Eduardo, o saudoso senhor Francisco Lucente, onde desenvolvia pecuária comercial, o projeto foi ampliado, sendo atualmente ancorado em três pilares: genética, pista e produção de carne.


Os investimentos para formação de um plantel superior ocorreram para atender a demanda interna crescente da fazenda por touros melhoradores. Em 2000, decidiram comprar um lote de matrizes para produzir seus próprios reprodutores e, para isso, buscaram uma genética já consagrada no Brasil. As primeiras 100 fêmeas adquiridas foram oriundas da fazenda Brumado, negociadas por Eduardo diretamente com o saudoso pecuarista Rubico de Carvalho. Com os resultados alcançados nos primeiros anos de investimento, os irmãos Lucente passaram a comprar animais em tradicionais leilões da raça Nelore e a multiplicar essa genética adquirida, o que contribuiu para a atual consolidação da marca. Hoje, eles são promotores de importantes remates, como Noite dos Campões, dentre outros. A seleção Lucente figura no hall dos mais importantes projetos pecuários do país. A expansão do plantel levou a família a adquirir outras propriedades no Tocantins e em São Paulo. No estado tocantinense, em Gurupi, são duas grandes áreas de 25 mil hectares no total. Já no estado paulista, as unidades estão divididas nas cidades de Ibitiúva, Barretos, Colômbia e Paulo de Faria. Além da pecuária, eles também fornecem para usinas do estado. A lavoura conta com 2.500 hectares de cana de açúcar plantados. O rebanho elite está sediado em Ibitiúva. Já a produção e o plantel de matrizes, com cerca de 80 jovens e consagradas doadoras, ficam em Barretos. Em Paulo de Faria e no Tocantins é desenvolvida a pecuária extensiva, com aproximadamente 1500 matrizes PO para produção de touro PO e o gado comercial. O criatório tem seu rebanho avaliado pelo Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ). Nos últimos cinco anos, o projeto vem sendo direcionado para intensificar o trabalho de seleção das doadoras de marca própria, aproveitando assim todo potencial genético do rebanho da Lucente Agropecuária. Para isso, a meta atual é produzir 600 prenhezes/ano, por meio da FIV. Os resultados dessa seleção têm confirmado o sucesso nas exposições disputadas desde o início do projeto. Nos dois primeiros anos, conseguiram fazer a campeã Nacional, Ermida FIV LUC, que é filha do Kayak em matriz Sabiá. A fêmea foi comercializada no leilão Raça Forte, sendo adquirida pela Rima Agropecuária. A partir daí, outros destaques foram surgindo, como o Campeão Nacional, Barão FIV LUC, Mercedes FIV LUC, Domitila FIV LUC, Leide FIV LUC e Rubi FIV LUC. “O grande atributo desses últimos resultados é a dedicação. Com a liderança do Vinicius Lucente, que é filho do Cássio Lucente, e está focado fielmente ao projeto pecuário, reestruturamos toda a equipe e estamos com um time muito qualificado desde o escritório, com a Fabiana, ao Fernando, que é responsável pelo manejo do gado de pista, juntamente com sua equipe. Eu, com as minhas visitas mensais, venho trabalhando os acasalamentos e o planejamento comercial”, conta Ademir Jovanini, assessor pecuário que presta serviços para a Lucente Agropecuária.

ERMIDA FIV LUC – PRI2185 - CAMPEÃ BEZERRA JOVEM EXPOZEBU 2018

DOMITILA FIV LUC - PRI2391 - CAMPEÃ BEZERRA EXPOINEL 2019

ANTONELA FIV LUC – PRI2575 - CAMPEÃ NOVILHA MENOR EXPOINEL NACIONAL 2020

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CRIADORES Segundo ele, o trabalho vem permitindo a identificação de diversas doadoras dentro do próprio plantel. Uma delas é Domitila FIV LUC, que é uma matriz que vem se comprovando cada dia mais, super provada em fertilidade e que imprime qualidade nas progênies. Com a intensificação na produção da Domitila, o criatório começou a produzir grandes indivíduos de destaque em pista e recordistas de comercialização. Outro destaque no time de doadoras é a Unasta FIV de Garça, filha do Big Ben na Hasta TE, irmã da Hamina da MV, sendo uma das principais matrizes da Lucente Agropecuária. Entre suas filhas, destaque para a Mercedes FIV LUC, recorde de comercialização no leilão Noite dos Campeões/2019, e Leide FIV LUC, foi destaques na edição/2020. Também compõe o time das estrelas da seleção a doadora Fathina TE Port, ela também é uma sociedade com a família Gibertoni. Mãe de Grandes Campeãs Nacionais como a Lawa 3, Fathina Machadinho, Julieta Cartago, entre outras. Sempre apostando em inovações para alcançar o avanço genético do rebanho, a Lucente Agropecuária é pioneira no uso da clonagem. Em 2009, clonaram a Flor de Liz, que foi o primeiro grande destaque do criatório e conquistou o título de Grande Campeã no estado de Goiás. Ela é mãe do Grande Campeão Nacional, Flox TE da HP. “Tivemos a felicidade de sermos proprietários da Flor de Liz, matriz que nos rendeu bons frutos e um retorno financeiro em torno de R$4 milhões”, diz Vinicius Lucente. Apaixonado pelo Nelore, ele sempre acompanhou seu pai em todos os negócios da agropecuária desde o início. Antes de assumir o criatório, Vinicius atuou na administração da empresa metalúrgica CCM, que também pertence à família. Mais conquistas nas pistas

LEIDE FIV LUC – PRI2566 - RESERVADA CAMPEÃ NOVILHA MENOR EXPOINEL NACIONAL/2020

ELEGANCE FIV LUC – PRI2356 - CAMPEÃ FÊMEA JOVEM DA EXPOINEL NACIONAL 2020

ALGUMAS DOADORAS DA LUCENTE AGROPECUÁRIA

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ROQUE FIV GIBER – GIBE1360 - GRANDE CAMPEÃO NACIONAL 2020 E GRANDE CAMPEÃO EXPOINEL MG 2021

VINICIUS LUCENTE RECEBE A PREMIAÇÃO CONQUISTADA PELO GRANDE CAMPEÃO NACIONAL

FLÁVIO, FERNANDO, BETO MENDES (SABIÁ), VINÍCIUS LUCENTE E FERNANDO OLIVEIRA (CHÁCARA ZEBU) NO MOMENTO DA PREMIAÇÃO DA CAMPEÃ PROGÊNIE DE MÃE DURANTE A EXPO MINEIRA 2020, FORMADA PELOS FILHOS DA CASTANHOLA FIV SABIÁ

EQUIPE DA LUCENTE AGROPECUÁRIA

A cada ano, o número de conquistas da Lucente Agropecuária nas exposições vem crescendo. Em 2016, o criatório fez seu primeiro Campeão Nacional Touro Jovem na Expoinel, com o Barão FIV LUC. Na ExpoZebu 2018, levaram o título de Campeã Nacional Bezerra Jovem com a Ermida FIV LUC, que hoje é uma parceria da Lucente e Rima Agropecuária, em 2019, o primeiro Grande Campeonato Nacional com o Roque FIV Giber de Campeão Bezerro Nacional. Em 2020, após um ano, Roque sagrou-se Grande Campeão Nacional da Expoinel Nacional, além das conquistas na Nacional, ele foi também o Grande Campeão das exposições de Angra, Ituverava, Uberlândia e Goiânia. Ainda na Expoinel Nacional a Lucente Agropecuária conquistou as premiações de Campeã Novilha Menor, com a Antonela FIV LUC; Campeã Fêmea Jovem, com Elegance FIV LUC; Campeã Novilha Menor com a Greta FIV LUC; Reservada Campeã Novilha Menor com a Leide FIV LUC, Campeã Bezerra Jovem com a Tequila FIV LUC; Campeã Novilha Maior foi a Bonita FIV LUC; Campeão Bezerro Jovem com o Moscou FIV LUC; Campeã Fêmea Adulta com a Zara FIV LUC, e finalizando as premiações com o conjunto Campeão Progênie Jovem de pai com os filhos do Kayak. Já em Ituverava, fizeram a dobradinha no Gran-

de Campeonato com o Roque FIV Giber e a Reservada Grande Campeã com a Rubi FIV LUC, ela que acabara de completar 11 meses de idade, filha da Domitila FIV LUC. “Domitila é a paixão dos criadores, por ser crioula nascida e criada na Lucente Agropecuária. Por tudo que ela representa até ganhou um piquete especial logo na entrada da fazenda. Ela é a prova de que investir em genética de grandes matriarcas é extremamente necessário e importante. “Acreditamos ser esse o segredo do caminho mais curto para conquistar ótimos resultados”, assegura Ademir Jovanini. Domitila está hoje com 10 anos e é uma doadora muito fértil. Na última aspiração produziu 66 oócitos viáveis com 24 embriões transferidos. Projeto de ILP traz bons resultados A agricultura é mais um ramo do agro que os Lucentes incorporaram aos negócios. Há três anos deram início ao plantio de soja, trabalhando em sistema de Integração Lavoura e Pecuária no Tocantins. A cria de bezerros divide espaço com grãos, apresentando excelentes resultados. Tudo isso sem abrir mão da preservação das reservas florestais existentes nas propriedades. “Com tantas atividades paralelas, é essencial ter uma equipe de alto nível, alinhada e com foco nos resultados”, dizem os irmãos Lucente. No projeto extensivo realizado em Gurupi a marca se destaca como grande fornecedora de touros na região, ofeABRIL/MAIO 2021 | #pecBR

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CRIADORES

ROQUE FIV GIBER E RUBI FIV LUC 2L

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recendo ao mercado reprodutores com avaliação genética, biotipo ideal para produção de carne. Trata-se de um projeto completo que desenvolvem no local, indo desde a seleção de genética ao rebanho comercial, garantindo um abate dos animais aos 24 meses, com média de 20@. Com tantas vertentes no negócio, a família Lucente trabalha unida e com a participação de várias gerações. Os irmãos Rodrigo e Mariana, também filhos de Cássio, atuam nas empresas do grupo. Já a terceira geração, apesar de muito jovem, já sinaliza uma paixão pelo agro. Francisco, filho de Vinicius e Paula, de apenas 3 anos, é um apaixonado por animais, quer estar sempre na fazenda acompanhando seu pai na vistoria dos animais. A expectativa é de que o irmãozinho Bernardo também siga os mesmos passos, quando tiver mais idade. Pelo lado de Eduardo Lucente, que comanda o projeto do Tocantins mais de perto, os dois filhos Alexandre e Maria Eduarda também trabalham nas empresas do grupo Lucente ao lado pai. “O Nelore nos proporciona relacionamentos importantes. Hoje temos muitas amizades que a raça nos deu em todo

o Brasil. Para o 18° leilão virtual da Lucente Agropecuária que iremos realizar em 2021 faremos uma edição especial para comemorar os 20 anos da nossa seleção. Um trabalho desenvolvido em família, com muita dedicação e amor, e que merece ser celebrado”, finaliza Vinicius Lucente. Para as comemorações dos 20 anos, o criatório decidiu inovar sua marca, trazendo uma nova configuração que homenageia todos os membros da família, que vêm trabalhando unidos e incansavelmente pelo avanço do negócio. Dentro desse novo posicionamento da marca, o criatório adotou o nome Lucente Agropecuária.

O saudoso patriarca da família Sr. Francisco Lucente no início das atividades no Tocantins em meados de 1993

Lucente Agropecuária unidade fazenda São Manoel em Gurupi (TO)

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GENTE

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Ana Virgínia Leal

Lugar de mulher é no agro

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DIVULGAÇÃO

uase 1 milhão de mulheres são responsáveis pela gestão de propriedades rurais no Brasil. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), houve um aumento de 21% no número de mulheres que ocupam cargos de decisão nas empresas do setor entre os anos de 2013 e 2017. Nas propriedades pecuárias, elas ainda são minoria nos mais diversos cargos, mas a realidade vem mudando. A zootecnista Ana Virgínia Leal ilustra bem essa realidade. Nascida na Terra do Zebu, Uberaba/MG, e sem qualquer tradição familiar no agro, ela decidiu que esse seria o caminho profissional que queria trilhar. Hoje, é gerente geral do CASS Nelore, importante criatório selecionador da raça que acumula várias premiações em exposições e está sediado na Fazenda Porto Velho, no município de Boa Esperança do Sul/SP. Um trabalho que exige versatilidade, aprimoramento constante e espírito de liderança. “A capacitação é essencial para o profissional que almeja sucesso no agronegócio, uma vez que todos os dias surgem novas tecnologias. Estou sempre estudando, fazendo novos cursos, participando de palestras e eventos voltados para agropecuária”. Formada na FAZU e cursando pós-graduação em Nutrição e Alimentação de Ruminantes, ela também é jurada Auxiliar das Raças Zebuínas e membro ativo do grupo Mulheres do Agro de Araraquara. Aprendeu desde cedo a não se intimidar pelo espaço restrito às mulheres. “Fui a única mulher negra a concluir o curso de zootecnia naquele ano, mas isso nunca me incomodou. Sempre me destaquei estudando muito e, com isso, consegui ser aceita no meio dos colegas. De alguma forma, eu teria que entrar naquela sociedade cheia de homens”, lembra Ana Virgínia. Antes de vencer os desafios na graduação, teve de defender sua vocação entre seus familiares. “Sou de família humilde, mas sempre estudei nas melho-

res escolas da cidade, pois minha família nunca mediu esforços para que isso fosse possível. Mas eles queriam que eu fosse médica, só que o amor pela pecuária falou mais alto. Com o tempo minha família aceitou minha verdadeira vocação”, afirma a zootecnista. Com passagem por outras propriedades agropecuárias pelo Brasil, Ana Virgínia encara com tranquilidade os desafios de atuar em um grande criatório de animais de elite, mostrando versatilidade. “Além da gestão dos funcionários e de realizar a parte administrativa, como compras e atendimento ao cliente, atuo na parte de escrituração zootécnica, formulação de dieta para os animais, acasalamentos, apartação, venda e pós venda de animais. Ainda faço a organização e o acompanhamento de lavoura de milho para silagem e a fenação”, conta Ana Virgínia. Com o setor em franco crescimento, ela acredita que 2021 será mais um ano favorável para o agro, mas ao mesmo tempo de cuidado com a equipe para que não sejam afetados pela pandemia. E a internet tem sido uma grande aliada da pecuária nesta atual conjuntura. “Temos nas nossas mãos um recurso fantástico que chega em qualquer lugar do mundo, que são as redes sociais. Assim, podemos mostrar nosso produto para os mais diversos países. Tem sido uma ferramenta muito efetiva, vale observar as vendas virtuais feitas no ano passado. Acredito que seja mais um ano de muitas oportunidades e sucesso”, assegura. Falando em futuro, mas valorizando as experiências do passado, Ana Virgínia espera que sua trajetória sirva para incentivar a participação de mais mulheres no agro. “Nunca tive medo de tentar, mesmo sabendo que às vezes poderia não dar certo. Como várias vezes não deram. Para as mulheres e negras que estão procurando seu espaço no agro, eu sempre digo que não desistam, sonhem sempre e mãos à obra. Sejam entusiasmadas, estudem muito sobre a área em que desejam atuar, procurem alguém para se inspirar e sejam sempre gratas a tudo que lhes acontecer, pois isso faz parte do crescimento”, finaliza.

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SOCIAL

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Ana Artico, Marcelo, Ana Cláudia e Gustavo

Cesar e João Gominha

Cláudia, Paulo e Paulinho

Dante, Carolina, Dante Júnior, Stella e José Carlos

Duda e Guilherme

Elton, Edmar, Robertinho, Maurilio e Alessandro

Fábio, Lucas, Boi e Pedro

Gabriel, Paulo e Camila

Gerusa, Maria Clara, João e Maria Júlia

Haile e João Marcos

Henrique, Ciça e Juliano

Jacinto e Marabá

João Bosco e Fabiano

Karina e Leonardo Santana

Leonardo e Kátia

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Leondidas e Emanuel

Marcelo, Ana Cláudia, Marcos e Marcelinho

Matheus, Júlio, Lucca e Kauã

Núcleo Guzerá Centro Sul

Persiani, Gustavo, Felipe e Paula

Piaza, Roberta, Wellerson, Rafael, Sérgio, Wesley, Fábio, Saul e Vitão

Renato, Adriano, Antônio e Rodolfo

Ricardo e Dindo

Rita, Gustavo, Celso, Ana Júlia e Guilherme

Rivaldo, Caio e Zezão

Rodolfo e Edgard

Rodrigo e Marcelo

Sergio, Guilherme e Júlio

Tavinho, Cristiano, Rafael e Marcelo

Marinho, Cadu, Bavaresco e Bruno

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PONTO DE VISTA

“Está provado que melhorar a produtividade agrícola é a melhor de todas as intervenções para reduzir a pobreza. Melhorar as outras atividades econômicas, também contribui, sim. Mas nada é tão eficiente quanto investir na agricultura”. Bill Gates, O bilionário, filantropo e fundador da Microsoft também foi considerado o maior proprietário de terras agrícolas dos EUA no começo do ano. 82

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“O único lugar aonde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”. Stubby Currence

“Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”. Provérbio Oriental

“Nossos esforços serão em vão se não lograrmos erradicar a fome no mundo na próxima década. Serão em vão, igualmente, se não tivermos êxito em disseminar as boas práticas produtivas aos pequenos produtores, aos agricultores familiares e àqueles mais vulneráveis, levando a sustentabilidade a cada propriedade agrícola do planeta”.

“Tenho muita honra de poder enxergar a agricultura e a agropecuária brasileira no Brasil com maior entusiasmo. Fizemos a grande revolução verde” Engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli, indicado ao Prêmio Nobel da Paz 2021

Tereza Cristina, ministra da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento

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OPINIÃO SANIDADE

Controle estratégico de verminoses evita prejuízos

Q

uem busca uma gestão eficiente na pecuária, precisa ficar atento à parte sanitária do rebanho. Os parasitas causam grandes perdas econômicas por conta da queda de produtividade, retardo nas idades de abate e reprodutiva, transmissão de doenças, alta morbidade, podendo ocasionar, até mesmo, a morte em alguns animais. Somadas as perdas potenciais da produção de gado de leite e de gado corte provocadas por parasitas, tem-se um valor estimado de US$ 13,96 bilhões por ano, sendo as verminoses gastrointestinais, os principais causadores destes prejuízos com US$ 7,11 bilhões, seguido dos parasitas externos: carrapato do boi com US$ 3,24 bilhões, mosca dos chifres com US$ 2,56 bilhões, bernes com US$ 0,38 bilhões, bicheiras e moscas dos estábulos com US$ 0,34 bilhões cada um. As tentativas de combate e controle dos parasitas são, na maioria das vezes, realizadas de forma incorreta, sendo fundamentadas no uso contínuo de produtos anti-helmínticos, com uso excessivo de aplicações por ano, aplicações em épocas erradas e uso desordenado de princípios ativos. Assim, tem-se um alto custo de produção, objetivos do controle não alcançados e, ainda, prejuízos mais sérios, como a seleção de organismos aptos a sobreviver ao efeito tóxico dos fármacos, a “famosa” resistência. Aliás, a resistência parasitária em bovinos demonstrada por parasitas internos e externos é atualmente, talvez, o maior entrave para a pecuária comercial nacional e em vários países de regiões e tropicais e subtropicais. Confirmando-se os altos valores destinados ao controle de parasitas, nos dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (SINDAN), verificou-se que a comercialização de antiparasitários foi responsável por uma expressiva parcela do mercado brasileiro de produtos veterinários, com aproximadamente R$ 1,72 bilhões. Ciclo evolutivo - Os estágios pré-parasitários dos nematódeos gastrintestinais no meio ambiente sofrem influência de uma série de fatores, sendo a temperatura e a precipitação pluviométrica, as principais.

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De modo sucinto, o ciclo biológico dos nematódeos gastrintestinais, pode ser assim descrito: As fêmeas adultas realizam a postura diária de ovos, que são conduzidos juntamente com as fezes ao meio ambiente. Em aproximadamente 24 horas, em condições favoráveis de temperatura e umidade relativa, ocorre o desenvolvimento de uma larva dentro do ovo, denominada larva de primeiro estádio (L1). Esta, por sua vez, eclode dos ovos e em seguida começa a se alimentar de bactérias presentes no bolo fecal. Em seguida, ocorre a primeira muda, transformando-se em larvas de segundo estágio (L2). Estas continuam se alimentando de bactérias do bolo fecal. Uma segunda muda dá origem a larvas de terceiro estádio (L3), que é a forma infectante e que pode sobreviver no ambiente por meses. Ao serem ingeridas pelo ruminante, as L3 evoluem e por meio de mais duas mudas atingem a maturidade sexual, reiniciando o ciclo biológico. COMO TRATAR A VERMINOSE Existem vários esquemas de tratamentos anti-helmínticos: - Curativo: tratamento apenas dos animais que apresentam sinais clínicos de verminose. Tem a desvantagem de permitir perdas produtivas significativas e não há controle efetivo da população parasitária. - Tático: realizado em períodos críticos tais como, período pré-parto, aquisição de novos animais e mudança de animais para novos piquetes, como por exemplo, aqueles que foram usados por Integração – Lavoura – Pecuária. - Seletivo: nem todos os animais do rebanho precisam ser tratados, somente os que apresentam maiores infestações que realmente podem prejudicá-los. A contagem de OPG (ovos por grama de fezes) pode ser um dos critérios a se usar como seleção de quais animais devem ser tratados. Este tipo de tratamento pode reduzir drasticamente a seleção para resistência. - Estratégico: é uma prática de caráter preventivo e baseia-se na epidemiologia das verminoses gastrintestinais. De um modo geral, a recomendação é que os tratamentos devam ser concentrados na época da seca do ano, quando a maioria da população parasitária está nos hospedeiros, havendo uma menor no ambiente.


Gustavo Máximo Martins Médico-veterinário da Matsuda Saúde Animal

Nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Acre, região centro-sul do Amazonas, Pará, Maranhão, grande parte do Piauí, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, a estação seca ocorre nos meses de junho, julho e agosto. Assim, deve-se fazer aplicação de medicamentos veterinários na entrada (maio), meio (julho) e saída (setembro) da seca. Estudos mais recentes demonstraram que o tratamento nos meses de maio, agosto e novembro proporciona uma melhor relação custo-benefício, em comparação aos tratamentos anteriores. Neste tipo de tratamento, pensando em animais de corte, o tratamento por categoria animal, deve ser assim adotado: - Bezerros antes da desmama: os bezerros de corte antes do desmame normalmente apresentam poucos problemas de verminose, pois o colostro fornece proteção e a ingestão de pastagem é progressiva a partir dos primeiros meses de vida. Entretanto, alguns fatores como a raça, taxa de lotação, condição nutricional, condições climáticas e pluviométricas podem tornar a verminose um problema grave nesta categoria, devendo ser examinada em cada propriedade. Pesquisas já demonstraram que bezerros que foram medicados entre 3 e 5 meses de idade, tiveram um acréscimo de até 11,7 kg / animal na desmama. - Desmama aos 24 meses: esta é a categoria mais sensível, exigindo maior atenção e tratamentos na entrada, meio e saída de seca, com medicamentos realmente eficazes. - Machos adultos: os touros de serviço podem ser tratados antes da estação de monta, pois, o estresse neste período pode resultar em queda no sistema de defesa e consequente aumento do parasitismo. No caso dos animais que vão para a terminação, vale a pena conversar com o veterinário que atende a propriedade para ver a real necessidade de se usar um medicamento e qual

deve ser usado, levando em conta principalmente, o período de carência, que não pode ser alto. - Fêmeas adultas: nesta categoria, os animais já desenvolveram resposta imune efetiva, o que lhes confere resistência. Mesmo assim, não devem ser desconsideradas, já que, mesmo apresentando pequenas cargas parasitárias, podem infestar a pastagem onde ficarão os bezerros. Uma aplicação um mês antes do período de parição, principalmente nas fêmeas primíparas, é recomendado. No caso de já existir o problema da resistência helmíntica, em maior ou menor grau, frente aos princípios ativos utilizados, medidas de combate e controle devem ser pensadas e colocadas em prática. Uma boa nutrição, cuidados com taxas de lotação, limpeza de cochos e bebedouros, pastejo alternado e simultâneo entre ovinos e bovinos devem ser também adotados para que se tenha um bom controle da verminose nos bovinos. Só assim, teremos uma melhor ação dos princípios ativos por mais tempo nas propriedades.

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Carlos H. Freitas

OPINIÃO

Engenheiro agrônomo, Doutor em Produção Animal, especialista em Certificação de Carcaças pelo MAPA, pecuarista e membro da Federação Americana de Carnes Premium Contato: +55 11 94445-9118 E-mail: cfparticipacoes@gmail.com

REPRODUÇÃO

Produção de bezerros sob a técnica gemelar

E

m virtude dos abates constantes de fêmeas e do aumento significativo da demanda de carne premium criou-se uma lacuna na oferta de bezerros que, segundo estudos, está em desequilíbrio. Caso seja suspenso o abate de fêmeas somente em meados de 2025, poderia haver o equilíbrio entre oferta e demanda de bezerros na pecuária nacional. Produzir mais e com eficiência não é mais questão de necessidade, mas, sim, de sobrevivência em um mercado globalizado e competitivo. Movido pelo espírito desenvolvedor e uma vez que sou a terceira geração de pecuarista com visão de futuro, desenvolvemos a técnica de produção com foco no Gemelar, com o propósito de acelerar a oferta de bezerros em menor tempo, aumentando o desfrute do rebanho. Estudamos a viabilidade técnica da indução de partos gemelares em vacas multíparas (Guzonel) associando a Inseminação Artificial em Tempo Fixo e a Transferência de Embriões. O experimento foi realizado na Fazenda Santo Antônio, no município de Ji Paraná/RO, no período de março de 2010 a fevereiro de 2016. Foram utilizadas 90 vacas, sendo 10 doadoras de embriões (Angus) e 80 receptoras Guzonel. As vacas doadoras foram sincronizadas com a inserção de um implante intravaginal e quatro dias após foram superovulados com 250 UI de FSH. As vacas receptoras foram inseminadas (IATF) no mesmo dia das doadoras. Sete dias após a inseminação, os embriões coletados dos animais doadores foram inovulados nas 90 receptoras. A taxa de gestação foi de 75,50% (68/90), sendo que destes, 51,73% (35/68) foram de parto simples, 47,02% (32/68) foram de parto duplo e 3,35% foram de parto triplo (2/68). Não houve diferença significativa (P>0,05) na taxa de aborto, na taxa de natimorto, na taxa de retenção de placenta e na taxa de parto distócico nas fêmeas que pariram um, dois ou três bezerros. No entanto, a taxa de rejeição do bezerro pelas vacas foi maior em partos triplos e menor em partos duplos. O peso ao nascimento, peso aos três meses de idade, peso aos sete meses idade foram maiores nos animais oriundos de partos simples, comparado aos partos duplos. Quanto ao peso aos três meses de idade e o peso ao desmame (sete meses de idade), observamos que o peso dos animais na desmama oriundos de partos simples foram 32 kg mais pesados do que aqueles oriundos de parto duplo. Assim, podemos verificar que os bezerros de parto duplo

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foram 28 kg mais leves na desmama do que aqueles de parto simples, mesmo fornecendo uma suplementação alimentar (creep feeding) a partir dos 30 dias de idade até a desmama. Entretanto, devemos considerar que, apesar de um menor peso a desmama, o peso de bezerro (massa total) produzido é maior nos animais parindo dois bezerros do que aqueles parindo somente um único animal. Verificamos que o peso de bezerros (massa total) produzido de parto duplo foi 53,1%, 54,7% e 58,4% maior no nascimento, aos 60 dias e na desmama, respectivamente, quando comparado aos bezerros provenientes de parto simples. A indução de parto gemelar requer cuidados especiais: •Genética adaptada; •Manejo reprodutivo ajustado à inovação tecnológica; •Alimentação complementar e ajustada às condições especiais com uso de creep feeding; •Equipe comprometida com o resultado alcançado. DESEMPENHO DE BEZERROS ORIUNDOS DE PARTOS GEMELARES Ao estudar a viabilidade econômica da indução de gestações gemelares em bovinos, seja através da seleção de animais com dupla ovulação, ou da utilização da transferência de embriões, ou ainda da fertilização in vitro, não podemos estudar somente as taxas de gestações, aborto, distocias e retenção de placenta, mas também, o desempenho dos animais nascidos até, no mínimo, a fase da desmama. Sabemos que o aumento do número de fetos provoca uma redução no tamanho individualizado dos mesmos, embora proporcione um maior crescimento da massa fetal (somatório de vários fetos). A redução no tamanho individual de cada feto é consequência da competição por espaço e disponibilidade de nutrientes em fêmeas que portam vários fetos. Verificamos que o peso ao nascimento dos animais provenientes de partos gemelares foi menor do que aqueles provenientes de parto simples. Isso deve-se, principalmente, pelo menor tempo de permanência do feto no útero da mãe, visto que 75% do crescimento fetal se dá no terço final de gestação e que os animais ganhavam em média 0,488 kg a cada dia que permaneciam no útero materno. Assim, concluímos que a técnica da gestação gemelar acrescenta ganhos substanciais ao rebanho e, consequentemente, à receita aferida na pecuária comercial. Quando consideramos a utilização desta técnica na pecuária intensiva, os índices econômicos são melhores e mais atrativos.


Eduardo Muniz de Lima “Mineiro”

OPINIÃO

Médico-veterinário especialista em Produção de Ruminantes, MBA em Gestão Empresarial, MasterMind Aliança Agrotalento e diretor da Central de Receptoras Minerembryo diretoria@minerembryo.com.br

MERCADO

Em tempos de vacas gordas....

É

bíblico! Será que estamos vivendo o período tão almejado de vacas gordas? E melhor, será que estamos destinando bem a rentabilidade do gado, da soja, do milho destas últimas safras para um futuro a médio prazo talvez mais sombrio? Gostaria de fazer uma analogia, independentemente de sua crença caro leitor, de uma passagem bíblica de Gênesis 41, onde José do Egito desvenda o sonho do Faraó das 7 vacas magras que engoliam as 7 vacas gordas, como sendo o período de fartura que se segue ao de escassez. Pergunto: você está se preparando com a abundância de agora para os anos de vacas magras que podem vir pela frente? O valor da arroba nunca havia atingido nominalmente os R$320,00 na praça Noroeste de SP (cotação de 15/04/21), com previsão para algo em torno de R$330,00 a R$340,00 para outubro/21. Estamos falando do abate hoje de bezerros comprados de R$1.200 a R$1.500 há dois anos que agora estão sendo abatidos a R$5.760,00, com 18@. Nem tudo é maravilha. Temos muitos custos no meio do caminho, principalmente nos insumos, que nesses últimos 12 meses dispararam, tais como defensivos de pastagem, adubos, minerais etc. Mas é certo que estamos com margens na pecuária nunca antes vistas de maneira macro, tanto na cria, na recria, como na engorda a pasto. Na soja, valores de R$175,00/saca mostram a pujança desse mercado e seu aumento em áreas de pecuária nos últimos anos. Sua presença era pífia no nosso Centro-Oeste há 20 anos e hoje se coloca como o produto de maior exportação do nosso país e o maior balizador de preços de terra em todo território nacional.

O milho, com seus R$98,00/sc também não fica atrás e é sugado ao mercado chinês com nunca se viu em nossa história recente, principalmente com as mudanças no modelo de produção suína pós febre suína africana, e sem perspectiva de queda a curto prazo. Num mundo de PIB negativo em 2020 e que se prepara para crescimentos compensatórios em 2021 em torno de 3,7% no Brasil, 6,4% nos EUA e 8,4% na China, de acordo com Alexandre Mendonça de Barros, e projeções de preços firmes em nossas commodities nos próximos anos, o Brasil terá papel fundamental no abastecimento desses mercados ávidos por comprar mais, principalmente itens de alimentação, como a nossa carne vermelha, soja e milho, dentre outros muitos. Na crise da pandemia, como em tantas outras, o dinheiro simplesmente muda de mão. Há setores completamente desfigurados financeiramente com o isolamento social, portas fechadas, desempregos, mudanças de hábitos e costumes. Já o Agro nunca concentrou tanto o PIB do Brasil, único setor a se manter positivo em 2020, provando mais uma vez nossa vocação. Mas sem soberba e aprendendo com esses outros setores mais afetados pela crise, gostaria de provocar uma reflexão a você, caro leitor, que a história nos ensina sobre a necessidade de nos preparar nos períodos de vacas gordas. É importante termos uma reserva financeira e de patrimônio nestes momentos, poupar mais e melhor, pois na próxima crise do setor, nas vacas magras do Agro, isso lhe proporcionará oportunidades indescritíveis e acima de tudo, o Viver Bem! O que você fará hoje na expectativa da próxima crise? Ou melhor, da próxima oportunidade?

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Katiane Pereira Guerra

OPINIÃO

Bacharela em Direito pelo Centro Universitário do Triângulo. Pós-graduanda em Direito de Família e Sucessões pela Faculdade Legale. Membro Associado IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família. juridico@lexcontabil.net.br

JURÍDICO

Holding rural como planejamento sucessório: de que maneira blindar e preservar o patrimônio familiar no segmento agropecuário

A

o se falar ou, ao menos, ao se pensar em matéria de sucessão hereditária, vários sentimentos são aflorados no âmbito familiar. Sensação de perda, medo, incertezas quanto à divisão do patrimônio conquistado e, principalmente, a INCERTEZA da continuidade da atividade econômica desenvolvida. Isto acontece, em sua grande maioria, porque o binário sucessão x continuidade dos negócios é objeto de esquecimento por parte do produtor rural. Como já é sabido, a atividade rural é normalmente desenvolvida pelo produtor rural como pessoa física, concentrando todo o seu negócio e patrimônio adquirido em seu CPF. Assim, todos os seus bens são considerados bens particulares e, dessa forma, esses bens respondem por qualquer obrigação contraída pelo produtor rural, como também serão objetos de divisão em processo de inventário após a morte do patriarca. Dessa forma, por não haver uma cultura do planejamento sucessório, o que se tem visto é que, cerca de 95% das atividades desenvolvidas no campo agropecuário são extintas após a morte do fundador. Isto acontece, muitas das vezes, por causa de desentendimentos entre herdeiros, burocracia do processo de inventário, altas taxas e impostos, além do distanciamento e inaptidão de alguns familiares pela própria atividade desenvolvida na propriedade rural. Tendo em vista esse contexto, uma forma viável e eficiente para que o legado deixado pelo patriarca possa se perpetuar pelas gerações futuras é o planejamento sucessório com a constituição de uma Holding Rural. Mas, o que é uma Holding Rural e quais suas vantagens? O termo Holding vem do verbo inglês “to hold”, e se traduz por segurar, deter, sustentar, entre ideias afins. Segundo o autor Ricardo Pereira Rios, Holding é: “A sociedade que tem como atividade o controle acionário de outras empresas e a administração dos bens das empresas que controla, além do planejamento estratégico, financeiro e jurídico dos investimentos do grupo”. Neste aspecto, a Holding se subdivide em várias modalidades, sendo uma delas a Holding Rural. Trata-se da modalidade voltada para as famílias que desenvolvem atividade empresária no âmbito do agronegócio, com a constituição de uma empresa que detém o controle patrimonial

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de uma ou mais pessoas físicas de uma mesma família com bens e participações societárias em seus nomes. O que ocorre é a transferência da titularidade das fazendas (propriedades) do nome do patriarca para o nome da pessoa jurídica (Holding) que irá administrar o conjunto de bens, sempre pautada em acordos de vontade, com todas as decisões tomadas por meio de deliberações com envolvimento de todos os sócios. O patriarca faz a doação das quotas, com reserva de usufruto, proporcionalmente entre os herdeiros, inserindo cláusulas como incomunicabilidade, impenhorabilidade, inalienabilidade. Percebe-se, portanto, que a Holding Rural permite um planejamento sucessório eficiente e eficaz, de forma a evitar longos e desgastantes processos de inventários. Além disso, a Holding propicia a blindagem patrimonial com o objetivo de evitar que o patrimônio pessoal do sócio seja atingido por dívidas da empresa. Importante frisar que, com a Holding Rural, é possível um planejamento tributário e fiscal com menor oneração. A título de exemplo podemos citar PIS/PASEP e COFINS, que não são incidentes sobre a Holding. Referidos tributos somente serão recolhidos caso a Holding exerça atividade diferente de controle de ações, como por exemplo, atividade comercial. Outros exemplos são os valores a pagar a título de Imposto de Renda. Vejamos abaixo: • Na pessoa física do produtor rural, os rendimentos são tributados a uma alíquota de 27,5%; • Na Holding Rural será entre 11,33% ou no máximo 14,53%. Em resumo, podemos dizer que as vantagens da Holding Rural são, dentre outros: • Evitar conflitos na sucessão hereditária; • Redução dos ônus tributários; • Resguarda do patrimônio, tendo em vista que problemas de sucessão patrimonial são solucionados; • Maior eficiência e transparência na gestão empresarial; Como pode ser visto acima, a Holding Rural é instrumento eficaz na sucessão hereditária, blindagem patrimonial e economia tributária tão almejada pelo empresário rural. Além, disso, os herdeiros passam a serem reais sucessores, permitindo-se trilhar o caminho da continuidade das atividades econômicas iniciadas pelo patriarca, preservando-se, assim, o patrimônio familiar para as próximas gerações.


Luis Eduardo Mendonça de Almeida

OPINIÃO

Acadêmico de Zootecnia nas Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU Vice-Presidente da FAZUPEC Eficiência Animal

GENÉTICA

Como transformar planta em carne?

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á anos estudos vêm sendo realizados com o intuito de identificar metodologias efetivas para transformar planta (proteína vegetal) em carne. Apesar das inúmeras buscas e ensaios mais antigos, foi em 2012 que a ideia tomou força, quando um grupo de pesquisadores composto por colaboradores de 11 empresas do ramo alimentício com interesse na comercialização das chamadas carnes vegetais, coordenados pelo Dr. Florian Wild, uniram-se em um projeto na busca do produto perfeito, a ‘‘carne’’ obtida através do processamento de vegetais com textura, sabor e suculência de carne verdadeira. O projeto supracitado foi bastante reconhecido e, a partir disso, vários projetos semelhantes foram surgindo e lançados ao mercado. No Brasil, projetos semelhantes ganharam força nos últimos dois anos, especialmente com a comercialização de hamburgueres e com a adesão de algumas redes de fast food ao produto obtido através da mistura de água e proteína extraída de plantas ou grãos, com alguns outros ingredientes, levados a um equipamento que aquece sob pressão e o resfria de forma gradativa, semelhante ao processo de extrusão que realizamos na fabricação de alguns concentrados para a alimentação animais. São projetos de grande merecimento, o que só é reduzido pelo fato de os ruminantes fazerem esse processo de forma natural há milhares de anos. Os bovinos, por exemplo, que se acredita terem sido um dos primeiros animais domesticados, com registros históricos por volta de 5000 a.C., possuem a capacidade de aproveitar alimentos de origem vegetal para o crescimento e manutenção corporal, bem como para a conversão em músculo (carne) e/ ou leite.

Isso só é possível devido ao seu sistema digestório especial, com o estômago dividido em quatro cavidades. Esses animais possuem no rúmen uma microflora e microfauna únicas que funcionam como uma máquina acionada em tempo integral, com um mecanismo que possibilita o aproveitamento de alimentos fibrosos de origem vegetal. O ambiente ruminal talvez seja o de maior complexidade do mundo animal, um ambiente aquoso com capacidade variando entre 100 e 200 litros em animais adultos, pH entre 5 e 7, temperatura média entre 38° e 42° e uma população de microrganismos composta por fungos, protozoários e pelo menos 20 espécies de bactérias em uma proporção de 10¹² por ml de conteúdo ruminal. A degradação de parte da porção fibrosa do alimento no rúmen junto à fermentação de parte do conteúdo celular, produzem os Ácidos Graxos Voláteis (AGV’s) responsáveis por grande parte da energia disponível para os animais. A passagem por essa cavidade deixa os nutrientes não degradados disponíveis para a absorção no intestino grosso, como parte dos carboidratos, da proteína e a proteína microbiana, que é resultante da renovação da população de microrganismos no rúmen, o que somado aos AGV’s absorvidos são responsáveis pela deposição muscular. A complexidade do mecanismo ruminal vai muito além disso, contando com a constante variação da quantidade e das espécies de microrganismos, a depender do alimento fornecido, da mudança de temperatura, pH, entre outros fatores. Mas o fato curioso é que mesmo após mais de 7 mil anos da domesticação desses animais, seguimos buscando formas artificiais de reproduzir o que lhes foi atribuído pela natureza.

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EM FOCO

Foto: Rodolpho Assumpção Ortenblad

Um pão francês e o café para começar o dia. A mesa farta na hora do almoço. E, para fechar a semana, a carne macia para o churrasco. A gente acaba nem se dando conta, mas o agro nos acompanha durante 24 horas. Ourofino Agrociência

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