Ano XIII • N.º 44 • 22 de setembro a 21 de dezembro de 2013
Portfolio IMAGENS DE MIL PALAVRAS Entrevista RIVAS MARTÍNEZ: O SR. FITOSSOCIOLOGIA
3 euros
IVA incluído
Portfolio Photography Contest Interview Mister Phytossociology Report A Reserve of Kings
Reportagem TAPADA DE MAFRA
SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS + PARQUES DE GAIA + MIGRAÇÕES CENTRO DE RECUPERAÇÃO + O MAIOR LAGO NATURAL FRANCÊS
2 PAR
EDITORIAL 3
Nuno Gomes Oliveira
Diretor da revista “Parques e Vida Selvagem”
2013 - o ano vai
mau para as árvores TEMPORAL DE 19/1/2013 Madrugada de 19 de janeiro de 2013 – Ventos superiores a 120 km/hora e chuvas fortes atingem Portugal, resultando em prejuízos múltiplos, de que destacamos a queda de milhares de árvores. Em Gaia, no espaço urbano, pagamos nessa madrugada muitos erros do passado: caíram essencialmente árvores que foram vítimas de corte de raízes na construção e reperfilamento de arruamentos, árvores que sofreram severas podas, árvores plantadas em locais desadequados e árvores cujas raízes foram vítimas de encharcamento devido ao excesso de rega ou à impermeabilização da envolvente e condução das águas pluviais para o solo. Há que repensar o lugar da árvore na cidade e, se a desejamos, temos de a respeitar.
20/1/2013 – Tília derrubada pelo vento em Vilar da Paraíso devido ao encharcamento das raízes por excesso de rega
ESCARAVELHO-DAS-PALMEIRAS (Rhynchophorus ferrugineus) Prosseguindo a saga destruidora iniciada no Algarve em 2007 e que se alargou à Região Norte em 2010, o Escaravelhodas-palmeiras (Rhynchophorus ferrugineus) continua a dizimar as palmeiras, particularmente a vulgar Palmeira-dascanárias (Phoenix canariensis). O Rhynchophorus ferrugineus é um coleóptero que tem a forma de um besouro de cor vermelha-alaranjada, com a cabeça caracterizada por um rostro em bico, medindo entre 1,5 e 4,5 cm de comprimento. Originário das zonas tropicais da Ásia e Oceânia, foi
Palmeira morta em Avintes por ação do Escaravelho-daspalmeiras (Rhynchophorus ferrugineus)
detetado na Europa em 1996 (Espanha) possivelmente introduzido através de palmeiras importadas do Egito, tendo posteriormente sido assinalada a sua presença em quase todos os países da bacia mediterrânica. A Direção Geral da Alimentação e Veterinária acaba de lançar um “Plano de Ação para o controlo de Rhynchophorus ferrugineus (Olivier)”, na sequência da União Europeia o ter considerado como de luta obrigatória e aprovado a Decisão da Comissão 2007/365/CE que estabelece as medidas para evitar a sua
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4 EDITORIAL
Ninfas de Tigre-do-plátano (Corythucha ciliata) nas folhas de um Plátano (Gaia, 20/9/2013)
introdução e propagação no território da Comunidade. Em Vila Nova de Gaia já tivemos de abater, desde 2010, muitas palmeiras, e muitas estão ainda à espera de abate urgente, uma operação que, além de complicada é cara. A continuar este flagelo, iremos perder palmeiras que enquadram lugares com valor histórico ou, tão simplesmente, as casas dos brasileiros de “torna-viagem”.
TIGRE-DO-PLÁTANO (Corythucha ciliata) O Tigre-do-plátano (Corythucha ciliata) é um inseto originário dos Estados Unidos e Canadá, que é praga dos Plátanos (Platanus sp.), embora esporadicamente também ataque outras espécies de árvores como Freixos e Tílias. Alimenta-se picando e sugando a face inferior das folhas, que vão perdendo a cor e acabam por cair. Em adulto tem 0,7 a 1,8 mm de comprimento e é branco. É vetor de transporte de doenças das árvores, como o Antracnose-do-plátano (o fungo Apiognomonia venata), que pode matar a árvore em poucos anos.
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Foi observado pela primeira vez na Europa em 1964, em Pádua (Itália), em 1975 em França e foi-se expandindo por muitos outros países, chegando à Rússia em 1997, à China e à Inglaterra em 2006. A primeira observação na Península Ibérica ocorreu em 1979, nos Plátanos do Parque da Devesa, em Girona (Espanha). Em Portugal foi registado pela primeira vez em 2007, no Porto, Rio Maior, Trofa e Vila do Conde pelo entomólogo José Manuel GrossoSilva. Em Vila Nova de Gaia o primeiro ataque maciço de Tigre-do-Plátano conhecido foi detetado em 2/9/2013, na Escola Primária do Sardão (Oliveira do Douro), num conjunto de 6 plátanos de grandes dimensões e sem podas há anos. Como aplicar inseticidas em meio urbano, ainda por cima numa escola em funcionamento, seria muito delicado, optouse por tentar controlar esta invasão de Tigredo-plátano com aplicação vertical de fortes jatos de água, que desalojam as ninfas que frequentemente morrem antes de reencontrar abrigo. Esta operação foi realizada em 4/9/2013 pelos Bombeiros Sapadores de Gaia, com aparente sucesso, aguardando-se a evolução em 2014, certos de que o inseto continuava presente em Gaia, em dezembro de 2013, abrigado sob a casca dos Plátanos.
COBRILHA-DOS-RAMOS (Coroebus florentinus) Em maio passado detetamos pela primeira vez em carvalhos (Quercus robur) do Parque Biológico uma nova praga, o inseto coleóptero designado Cobrilha-dos-ramos (Coroebus florentinus) cuja presença é indiciada por ramos finos (menos de 6 cm de diâmetro) mortos nas árvores (foto junta), cuja cor amarelada contrasta com
C obrilha-dos-ramos (Coroebus florentinus) (Parque Biológico, 27/5/2013)
Lothi - Fotolia.com
Gaio (Garrulus glandarius) carregando uma bolota que vai enterrar
o verde da restante folhagem e que, no limite, podem causar a morte das árvores. Ataca especialmente o Sobreiro (Quercus suber) e a Azinheira (Quercus ilex). As medidas de luta mais aconselhadas são o simples corte e queima dos ramos afetados.
UM OUTONO SEM BOLOTAS Em início de novembro deste ano começamos a reparar, da janela do nosso gabinete de trabalho, que havia uma quantidade excecional de Gaios (Garrulus glandarius) nas árvores em frente. Depois, reparamos que os carvalhos (Quercus robur) este ano não tinham bolotas nenhumas e, por outro lado, os sobreiros (Quercus suber) frutificaram com sucesso e tinham bolotas. Estava aqui a explicação para o número anormal de Gaios: é que em frente à nossa janela há vários sobreiros e os Gaios descobriram que era nestas árvores que tinham de se abastecer para o inverno. Num verdadeiro corrupio, Gaios e Esquilos iam e vinham dos sobreiros, colhendo bolotas e levando-as para as suas reservas “secretas” de inverno. Reparamos, também, que os carvalhos estavam atacados por um parasita, o
Galhas provocadas por Neuroterus quercusbaccarum, na página inferior de uma folha de carvalho (Quercus robur) (Parque Biológico, set. 2013)
Neuroterus quercusbaccarum, uma vespa que provoca a formação de galhas nas folhas dos carvalhos; parece, no entanto, que estas galhas não provocam grandes problemas às árvores e nada terão a ver com a falta de produção de bolota. Procuramos, então, uma explicação para a ausência de bolotas nos carvalhos (que nos 30 anos anteriores do Parque Biológico foram sempre abundantes) recorrendo à bibliografia disponível e a alguns colegas, e não obtivemos explicações definitivas. Apuramos que noutros locais se verificava, igualmente, a falta de bolotas: Mata de Albergaria, Cinfães, Penafiel, Beira Alta e que também houve pouca amêndoa, e outras fruteiras tiveram baixas produções; mas, ao contrário, houve muita castanha e, sabe-se, a floração do castanheiro (Castanea sativa) é mais tardia (maio-junho) que a do carvalho-alvarinho. Eventualmente uma primavera muito fria e com chuva dificultou a polinização durante os poucos dias em que a flor do carvalho pode ser fecundada. De facto, segundo o Instituto do Mar e da
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Atmosfera, a primavera deste ano foi assim caracterizada: Março: Este mês caracterizou-se por valores muito elevados da quantidade de precipitação e valores mais baixos que o normal da temperatura média do ar. Os valores das quantidades de precipitação foram cerca de 2.5 a 5 vezes superiores aos valores médios e, foram excedidos os valores máximos da quantidade de precipitação nos últimos 50 a 73 anos em alguns locais das regiões da Beira Interior, Estremadura, Ribatejo e Alentejo. Abril: O mês de abril de 2013 em Portugal Continental caracterizou-se por valores da temperatura média do ar acima do valor normal e valores da quantidade de precipitação inferiores ao normal. (...) Maio: Este mês de maio de 2013 em Portugal Continental caracterizou-se por valores da temperatura média do ar e da quantidade de precipitação inferiores ao normal. O valor médio da temperatura média foi o mais baixo dos últimos 20 anos e o da temperatura mínima do ar foi o valor mais baixo dos últimos 30 anos. Entre os dias 16 e 19 verificou-se uma descida acentuada da temperatura do ar e ocorreu queda de neve com intensidade nas regiões acima dos 1000/1200 metros. Ora sabendo-se que a época de polinização do carvalho-alvarinho (Q. robur) é em abril-maio e a do sobreiro (Q. suber) é mais curta e intensa, centrada em maio, podem, de facto, as condições climatológicas ser a explicação para a anormalidade da frutificação dos carvalhos e a normalidade da frutificação dos sobreiros.
O CLIMA ESTÁ A MUDAR! Embora ainda haja quem o negue, “Existe atualmente um consenso alargado quanto à inevitabilidade das alterações climáticas decorrente do aumento das emissões globais de gases com efeito de estufa. Todas as projeções realizadas pelo Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas (IPCC) apontam no sentido do aumento da temperatura terrestre e na alteração dos padrões climáticos. Os espaços florestais europeus serão afetados pelas alterações climáticas e a região mediterrânea, em particular a europa do sul, é considerada uma das regiões mais vulneráveis e onde
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drubig-photo - Fotolia.com
6 EDITORIAL
Ao contrário do que se passa entre nós, no Hyde Park, em Londres, tiram partido das folhas de outono
se esperam impactos mais significativos.” (Comissão Europeia, 2009; IPCC, 2007). No âmbito da Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, foi produzido um relatóro em janeiro deste ano (Adaptação das Florestas às Alterações Climáticas – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) onde, entre outros cenários, se prevê que “No caso dos carvalhos, é possível a redução da sua área de distribuição potencial, em particular no Norte interior e o aumento da produtividade no Norte Litoral, nas zonas de maior altitude e de bons solos. Como impactos secundários, e decorrente do possível aumento da mortalidade de árvores e criação de clareiras, surge a alteração da composição florística dos carvalhais, com aumento da proporção de espécies mais adaptadas a condições de secura.” E mais adiante, o relatório afirma que “As alterações climáticas poderão promover novas oportunidades para o estabelecimento de agentes bióticos nocivos (pragas, doenças, espécies exóticas invasoras), não só por favorecerem o desenvolvimento das suas populações, mas também por criarem, muitas vezes, pressões ambientais que tornam as árvores e os ecossistemas mais vulneráveis a determinados organismos.” Estamos, portanto, perante um grande desafio para garantir para o futuro os serviços ambientais prestados à humanidade pelas árvores e pela floresta. No caso das árvores urbanas, importa um melhor planeamento de plantação, uma escolha de espécies que tenha em conta as alterações climáticas em curso e um respeito maior pela sua implantação, nomeadamente
pelo seu sistema radicular; é fundamental acabar com as podas regulares, que permitem a instalação de pragas e doenças. Árvores que apresentem risco para pessoas e bens, ou em estado fitossanitário que coloque em risco outras árvores, devem ser inexoravelmente abatidas e, sempre que possível, substituídas por outras de espécie adequada. Nos espaços florestais de proteção e de produção devem-se diversificar as espécies, de modo a assegurar que uma eventual desadaptação climática, ou uma praga ou doença, não dizimem áreas significativas. A diversificação de espécies também ajuda a biodiversidade animal e, em particular as pequenas aves insetívoras, fundamentais para o controlo das pragas. Por outro lado, é preciso prosseguir a sensibilização das populações para o papel fundamental das árvores; o médico e escritor português João de Araújo Correia (18991985) escreveu em 1977 no seu livro “Pátria pequena”: “O homem comum não ama a árvore, porque lhe tapa a vista. Não ama a árvore, porque a não sabe ler. Ignora-a desde a raiz ao último rebento. Despreza-a porque não dá vinho. Trata-a mal como trata mal os animais que o amam e o ajudam a atamancar a vida.” Infelizmente, isto continua a ser verdade; no outono, quando a folha cai, também caem nos municípios e juntas de freguesia catadupas de pedidos para poda e abate de árvores, porque as folhas entopem caleiras (mal dimensionadas) e “sujam” passeios. Todos gostam da sombra das árvores no verão, mas muitos não toleram a fase outonal do ciclo.
OPINIÃO 7
Eduardo Vítor Rodrigues Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
Desafios de hoje É com enorme satisfação que escrevo este, que será o primeiro, artigo de opinião enquanto presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, para a revista “Parques e Vida Selvagem”. A preservação do meio ambiente, motivo/génese dos movimentos ecologistas e ambientalistas, é algo a que qualquer gestor público deve atender e entender
F
socialmente justa na definição das tarifas da empresa municipal Águas de Gaia/Parque Biológico. – Aumento da eficiência energética das atividades desenvolvidas na esfera de atuação da C. M. Gaia. – Valorização do território através do fomento de atividades regeneradoras e desenvolvimentistas alavancando pequenas iniciativas agrícolas geradoras de riqueza local. – Incremento da sustentabilidade da solução para a gestão de resíduos sólidos urbanos através da adesão à LIPOR. – Assegurar a preservação e proteção animal com a instalação de um Centro de Proteção Animal nas instalações do Parque Biológico. – Reforçar a ligação entre o Parque Biológico e a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.
João L. Teixeira
ace aos desafios com que nos confrontamos hoje e estando consciente do caminho percorrido até ao momento, desde que em 1983 e com dois hectares o Parque Biológico foi instalado, e aproveitando o momento para reconhecer que o trabalho desenvolvido é meritório, exige-se ao novo executivo municipal uma resposta efetiva e ajustada visando o reforço de uma visão articuladamente desenvolvimentista. Após o período de infra-estruturação do concelho, o tempo, da globalização dos mercados, da intensificação do uso dos recursos naturais, da intensificação das assimetrias regionais, da escassez de água potável, obriga o decisor público a pensar e agir integradamente nas três dimensões do tripé do desenvolvimento sustentável. A atuação em matéria ambiental, ao invés da abordagem tradicionalista preservacionista, deve hoje ser alicerçada no reforço da relação binomial homem & ambiente. Atuações holísticas, outrora entendidas como as necessárias para garantir a preservação ambiental, fauna e flora, deve hoje dar lugar a atitudes mais inclusivas e promotoras da intensificação do usufruto ativo e sobretudo sustentável do meio ambiente. Ao decisor político exige-se uma utilização racional dos recursos que tem ao seu dispor sem colocar em causa a sua utilização pelas gerações vindouras. Por fim e como compromisso público, a política ambiental do novo executivo, visando sedimentar este fator como elemento essencial no desenvolvimento do concelho, terá como linhas orientadoras os seguintes eixos de atuação: – Garantia da prossecução de uma abordagem
Parques e Vida Selvagem outono 2013 • 7
Na produção desta revista, ao utilizar um papel com 60% de fibras recicladas (Satimat Green) em vez de um papel não reciclado, o impacto ambiental foi reduzido em:
Outono 2013
1762
kg de aterro
159
litros de água
1590
kg de CO2 (gases de efeito de estufa)
38170
kWh de energia
3804
kg de madeira
2863
km de viagem num automóvel europeu de consumo médio
FICHA TÉCNICA Revista “Parques e Vida Selvagem” Diretor Nuno Gomes Oliveira Editor Parque Biológico de Gaia Coordenador da Redação Jorge Gomes Fotografias Arquivo Fotográfico do Parque Biológico de Gaia Propriedade Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM Pessoa coletiva 504763202 Tiragem 10 000 exemplares ISSN 1645-2607 N.º Registo no I. C. S. 123937 Dep. Legal 170787/01 Administração e Redação Parque Biológico de Gaia Rua da Cunha • 4430-681 Avintes Portugal Telefone 227878120 E-mail: revista@parquebiologico.pt Internet http://www.parquebiologico.pt Conselho de Administração José Miranda de Sousa Maciel Nuno Gomes Oliveira Serafim Silva Martins José António Bastos Cardoso
Ano XIII • N.º 44 • 22 de setembro a 21 de dezembro de 2013
3 euros
IVA incluído
www.facebook.com/parquesevidaselvagem Portfolio IMAGENS DE MIL PALAVRAS Entrevista RIVAS MARTÍNEZ: O SR. FITOSSOCIOLOGIA
Portfolio Photography Contest Interview Mister Phytossociology Report A Reserve of Kings
Reportagem TAPADA DE MAFRA
SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS + PARQUES DE GAIA + MIGRAÇÕES CENTRO DE RECUPERAÇÃO + O MAIOR LAGO NATURAL FRANCÊS
Capa: Esquilo-europeu fotografado no Parque Biológico de Gaia por João Luís Teixeira
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33 56
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28
SECÇÕES
18 IMAGENS
DE MIL PALAVRAS portfolio A exposição do concurso nacional de fotografia da natureza Parques e Vida Selvagem, lançado pelo Parque Biológico de Gaia, conta agora 11 anos de vida e abriu sábado, 2 de novembro, com a entrega dos prémios. Diante do excelente resultado desta iniciativa, no próximo ano poderá haver uma nova edição deste concurso.
10 Cartoon 11
Ver e falar
14 Fotonotícias 28 Quinteiro 32 Dunas
53 O SENHOR
39
FITOSSOCIOLOGIA
46 Recuperar
entrevista
50
Salvador Rivas Martínez é talvez o botânico mais consagrado em todo o mundo no que toca a esta disciplina científica que lida com a sociologia das plantas. Neste outono, por telefone, aceitou dar-nos uma entrevista.
60 TAPADA DE MAFRA reportagem Chão de reis e plebeus, a Tapada de Mafra é hoje uma reserva de biodiversidade. Cerca de dois séculos e meio depois de ter sido criada pelo rei D. João V ainda é possível encontrar nos seus bosques espécies que surpreendem, nomeadamente um morcego com estatuto de ameaça "Em Perigo" identificado no passado mês de setembro.
Espaços verdes
Voo das aves
68 Migrações 70
Retratos naturais
72 Atualidade 77 Crónica 82 Coletivismo
Parques e Vida Selvagem outono 2013 • 9
10 CARTOON Por Ernesto Brochado
CONHEÇA AS EDIÇÕES DO PARQUE
Desejo adquirir os seguintes títulos nas quantidades indicadas: Livro “Guia da Reserva Natural Local do Estuário do Douro”de vários autores ...........................................€3,00 Livro “José Bonifácio de Andrada e Silva: Um Ecologista no Séc. XVIII” de Nuno Gomes Oliveira............€7,50 Livro “Ecoturismo e Conservação da Natureza” de Nuno Gomes Oliveira ....................................................€7,50 Livro “Áreas de Importância Natural da Região do Porto” de Nuno Gomes Oliveira .................................€15,00 Livro “Manual da Confecção do Linho” de Domingos Quintas Moreira...........................................................€2,50 Livro “Arboricultura Moderna” de Alex L. Shigo ...........................................................................................€7,50 Livro “Conservação dos Sistemas Dunares” de vários autores .......................................................................€4,00 Livro “Cobras de Portugal” de Jorge Gomes .....................................................................................................€3,00 Livro “Uma Escola Sem Muros: Diário de Um Professor”, de Paulo Gandra..................................................€3,00 Livro “Parque Biológico de Gaia - 1983/2013”............................................................................................€23,00 Livro “Borboletas dos Parques de Gaia” de Jorge Gomes.............................................................................€10,00 Livro “Mauro e Emília”, cágados em perigo (Oferecido na compra de “Galvino e Galvão, a galinha-de-água e o galeirão” (em baixo)
Livro infantil “Galvino e Galvão, a Galinha-de-água e o Galeirão” de Manuel Mouta Faria .....................€7,50 Livro infantil “As Histórias de D. Lavandisca Alvéola” de Manuel Mouta Faria ..............................................€2,50 IVA incluído à taxa em vigor
NOME _______________________________________________________________________________________________________________________________________________ MORADA ___________________________________________________________________________________________________________________________________ CÓDIGO POSTAL ____________________________ - _____ TELEFONE ________________ JUNTO COMPROVATIVO DE TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA PARA O NIB 0033 0000 0026 0035 17605
SOLICITO P. F. QUE ME ENVIEM À COBRANÇA (PORTES DE CORREIO NÃO INCLUÍDOS)
Enviar este cupão preenchido em letra legível para: Parque Biológico de Gaia • Loja • Rua da Cunha • 4430-681 ou por e-mail para sandra@parquebiologico.pt
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Palavras dos
leitores A revista de verão saiu em 6 de setembro e os leitores escrevem...
Revistas anteriores
Rui Faria
Presidente da República de 9 de março de 1986 a 9 de março de 1996, Mário Soares escreve a Nuno Gomes Oliveira em 29 de novembro, respondendo à oferta do livro “Parque Biológico de Gaia - 1983/2013”: “Caro Amigo, venho agradecer-lhe a simpática oferta do exemplar do livro sobre os 30 anos de actividade do Parque Biológico de Gaia, que já tive a honra de visitar, na sua companhia. Quero, pois, felicitá-lo por esta iniciativa editorial, que assinala de maneira feliz o 30.º aniversário do Parque e nos recorda a história de um projecto de intervenção ambiental que se tornou um memorial do espaço rural e zona de lazer com funções didácticas. Aceite os cumprimentos cordiais do seu admirador Mário Soares”.
Rui Faria
Mensagem de Mário Soares: 30.º aniversário
Continuam a chegar pedidos de leitores no sentido de conseguirem adquirir revistas mais antigas. Como entretanto já não há exemplares em armazém para atender a essas solicitações, a alternativa de reunir uma coleção completa recai na internet: basta ir ao site www.parquebiologico.pt, procurar Recursos e aí Revistas — todas as anteriores edições da revista «Parques e Vida Selvagem» estão ali disponíveis.
Gostava de receber a revista Crustáceo terrestre? Rui Faria escreve: «O formato da revista está incrível e com muito melhor qualidade, os meus parabéns por isso. Há muito que queria mandar umas fotos de um crustáceo terrestre que vi no Parque Botânico do Castelo (Crestuma) em 16-4-2010; pois bem, então cá vão elas! Quando vi este invertebrado fiquei impressionado com o seu tamanho e cores! Mas continuo sem saber que espécie é nem a sua biologia». Identificação difícil, perguntou-se a José Manuel Grosso-Silva, entomólogo do CIBIO - UP, se podia ajudar: «Embora não tenha maneira de, atualmente, identificar esta espécie através de fotografia, posso dizer que não é um crustáceo, como o autor da foto pensou, mas sim um diplópode da ordem Glomerida. É um erro muito comum e compreensível».
«O meu nome é Dina Henriques e gostaria de receber a revista "Parques e Vida Selvagem". Também desejava obter mais informações sobre o que é necessário para esse efeito. Vivo no Funchal, e queria igualmente saber se a posso receber cá na Madeira. Tenho no formato digital algumas revistas, pois fui ao site e vi as edições anteriores. Há um número desta revista que tem um artigo que me interessa, e gostaria de a ter em papel». A resposta seguiu: «Agradecendo a sua mensagem, temos a dizer que poderá receber em casa pelo correio a revista PARQUES E VIDA SELVAGEM fazendo uma assinatura anual de 25 euros, que lhe dará direito ao chamado “Cartão do Parque Biológico” que funciona como um livre-trânsito para visitar o Parque Biológico de Gaia durante um ano as vezes que lhe apetecer fazê-lo. Como mora longe no seu caso não será grande coisa, mas para quem é da região faz jeito! A alternativa será comprar a revista, número a número na loja do Parque».
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12 VER E FALAR
O Parque Biológico de Gaia, com a dinamização de mais uma nova campanha, levou o Colégio Luso-Francês a aderir, neste ano letivo, ao projeto “Sequestro do Carbono”. De uma forma criativa e mais apelativa, “sequestro” foi a palavra utilizada para o subentendimento do “rapto” do carbono da atmosfera. A quantidade de carbono no Planeta é mais ou menos constante mas, em épocas distintas, pode estar acumulado em diferentes reservatórios, como as florestas e os oceanos. A capacidade das florestas de reterem e armazenarem o carbono durante décadas ou séculos torna-as centrais na discussão. De uma forma geral, o crescimento das árvores (produtores) baseia-se na utilização, entre outros elementos minerais, do dióxido de carbono (principal fonte de carbono na atmosfera) para a fotossíntese e, portanto, para o seu crescimento. De forma a obterem energia ao nível das células, as plantas, ao respirar, tal como os animais, libertam dióxido de carbono para a atmosfera. Há que referir que a absorção de dióxido de carbono pelas plantas, na realização da fotossíntese, ocorre a taxas muito variáveis e também dependendo das condições ambientais. Ou seja, o excesso de carbono poderá não ser absorvido pelos seres fotossintéticos como se pretende. Por conseguinte, a resolução do problema do aquecimento global, por aumento
12 • Parques e Vida Selvagem outono 2013
João L. Teixeira
Projeto Sequestro de Carbono
do efeito de estufa, está, pois, na redução das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, que ocorrem principalmente por queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão. Deste modo, o sequestro do carbono poderá contribuir para o abrandamento do aumento do efeito de estufa, porém não será suficiente para o resolver. Isto é, com a plantação de mais árvores, estas vão retirar dióxido de carbono da atmosfera na fotossíntese, mas, ao mesmo tempo, vão libertar este mesmo gás na respiração, não sendo, assim, uma solução para o problema em questão. De ter em atenção que, em média, apesar de grandes variações, um hectare de floresta bem desenvolvida retirará anualmente da atmosfera cerca de 200 toneladas de dióxido de carbono o que corresponde à poluição provocada por 20 carros pequenos. A destacar que existem dois tipos de sequestro de carbono: o biológico (em plantas, solos e na
vida dos oceanos) e o geológico (diretamente nas rochas ou debaixo da água). Os objetivos essenciais deste projeto reúnem-se em fazer com que os organismos produtores retirem mais carbono da atmosfera. Desta forma, para tal, é necessário haver mais produtores, já que estes são também a fonte do nosso oxigénio e portanto, da nossa sobrevivência. A fim de contribuir para os objetivos do Protocolo de Quioto (um compromisso de várias nações para redução das emissões de gases com efeito de estufa, a concluir em 2012) e para o Programa das Nações Unidas “Mil milhões de árvores para o planeta” (em que consiste este programa), pretende, até 2012 e com o prolongamento até ao presente ano, adquirir e florestar 23 hectares de terrenos adjacentes e anexá-los aos 35 hectares já existentes. “Para isso, conta com a colaboração de todos nós, responsáveis por neutralizar os efeitos das emissões de dióxido de carbono com a aquisição de
Leonor Castro e Catarina Carneiro 8.º ano turma C, Colégio Luso-Francês, ano letivo 2013/2014
Aqu
João L. Teixeira
floresta e garantia dada pelo Município de Gaia de a manter e conservar.” (http:// sequestrodocarbono.parquebiologico. pt/). Os interessados podem adquirir os metros quadrados de área florestal que desejarem, individual ou coletivamente, pelo preço de 50,00€/m2, o que corresponde a uma retirada da atmosfera de cerca de 4 kg de carbono por ano. Este valor inclui a aquisição do terreno, a sua florestação e a conservação pelo Parque Biológico de Gaia por tempo indeterminado. O Parque Biológico de Gaia comprometese a florestar a área adquirida com espécies folhosas e autóctones (carvalho, castanheiro, azinheira, entre outras). De mencionar que as verbas recolhidas só serão usadas para aquisição de terrenos e respetiva reflorestação. Até agora, com todo o apoio e ajudas, o projeto já adquiriu 1550 m2. Numa primeira iniciativa para angariar fundos para contribuir para o projeto, no CLF, foi organizada uma Feira da Alimentação dinamizada por alunos do 3.º ciclo e orientada por professores e coordenação. Com tal sucesso conseguido, amealharam-se cerca de 300 euros. Todavia, as iniciativas não param por aqui e os alunos já estão a semear ideias para as vendas de Natal! Para colaborar e participar neste projeto basta visitar a sua página, onde se pode ter conhecimento dos objetivos da campanha abordada e do seu desenvolvimento ao longo do tempo: http://sequestrodocarbono. parquebiologico.pt/.
Uma das conferências da sessão de abertura: apresentação do tema “30 anos do projeto Parque Biológico de Gaia”
Jornadas de Art’Ambiente A Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA) organizou entre 11 e 13 de outubro, em parceria com o Parque Biológico de Gaia, as III Jornadas de Art’Ambiente, que decorreram em Avintes. O tema central deste certame de índole nacional foi “Contributos para a Educação para a Sustentabilidade” e contou com o apoio institucional da Agência Portuguesa do Ambiente e da Comissão Nacional da UNESCO. O encontro teve em vista sobretudo os professores, os técnicos de educação ambiental, as ONG, as autarquias e os estudantes universitários. As atividades das jornadas foram explanadas de diversas formas de expressão
na área das artes visuais, da pintura, da escultura, da expressão dramática, da ciência e da paisagem. As metas principais consistiram em «tomar conhecimento e exercitar diferentes técnicas e recursos na área das expressões, recorrendo a materiais de baixo custo, naturais ou a partir de resíduos», bem como «promover metodologias educativas baseadas na participação, na aprendizagem social e na experimentação». Os numerosos participantes refletiram também «sobre as relações entre ambiente, cidadania, criatividade e sustentabilidade» e colaboraram «na formação de técnicos em Educação Ambiental para a Sustentabilidade, numa abordagem transversal».
De segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00
Sábados, domingos e feriados das 10h00 às 18h00
Praia da Aguda • Vila Nova de Gaia Venha visitar-nos!
Parques e Vida Selvagem outono 2013 • 13
14 FOTONOTÍCIAS
Luz
outonal Os dias mingaram, as noites aumentam: depois do amadurecimento dos frutos, é agora tempo de colher e armazenar – o período mais duro do ano aproxima-se...
Flores no preâmbulo do frio Jorge Gomes
Agora que as folhas caem, os raios de sol ignoram a copa das árvores no bosque e chegam ao solo. É tempo do açafrão-bravo e afins darem em dias breves sorrisos em forma de flor, para que os insetos que aumentam a sua fertilidade encontrem corolas sem hesitação: numa serra — mesmo que ali as árvores tenham ido — dos bolbos imersos na terra conseguirá ver sem alarido nas pétalas pequenas moscas, abelhas e borboletas. Parecem dizer: o trabalho nunca acaba!
Passado o estio tudo amadurece: o sol de outono chama as colheitas, um passo sazonal necessário que sugere a vinda do frio. Sementes, bagas e outros frutos jogam a última cartada e cativam os animais que deles se alimentam. Os que as têm dão às asas em busca de paragens tépidas mais a sul quando se aproximam dias gélidos. É o que fazem por exemplo muitas aves e insetos. Outros animais, independentemente da sua maior ou menor mobilidade, preferem procurar um canto abrigado e hibernar. Embora voem tão bem como um pássaro, morcegos em boas condições de saúde deslocam-se de noite no território e fazem o mesmo que os ouriços-cacheiros ou os texugos que optam por uma longa soneca assente num metabolismo em câmara lenta. Sem o luxo do chamado “sangue quente” muitos dos répteis e anfíbios da fauna ibérica também ficam letárgicos, porém, esta pausa é passível de ser interrompida na hora de sol mais forte, ao meio dia, aparecendo dificilmente longe do seu porto de abrigo, a toca. É vital não perturbar.
João L. Teixeira
Ficar ou partir?
O clima manda e o arvoredo pensa com os seus botões: hei de soltar as folhas ou ficar com elas? A resposta não é igual para toda a vegetação, mas o resultado determina a conduta correta. Nalgumas espécies o frio causa danos nas células e inviabiliza a folha. Noutras não causa embaraço — as adaptações do organismo vegetal surtem efeito. Umas e outras ao caírem no solo criam a manta-morta, um tapete de folhagem onde fungos e invertebrados têm ferramentas para lhes libertarem os nutrientes, que retornarão mais tarde às plantas do bosque. Também é esponja: guarda bem a água da chuva e alimenta fontes... Nesta época de permeio ficam frutos. Bolotas e castanhas, por exemplo, têm elevada procura. Desde os ratinhos do campo aos gaios, dos corços aos javalis, esses frutos do bosque criam reservas para enfrentarem os tempos difíceis que se avizinham. Com cor de terra ou de folha seca, muitas destas sementes de carvalho e de castanheiro ficam esquecidas e, meses mais tarde, acordam para que uma nova planta surja e possa aspirar a ser árvore anos depois: permita-o o lugar e o sol, e poderá chegar a viver alguns séculos...
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João L. Teixeira
Folhas caídas
Rodeados pela auréola do perigo, na dúvida é melhor não os comer colhidos no campo. Não é que não entrem na boca de qualquer comensal, mas muitos deles não permitem repetição pois podem ser mortais, como se vê ano a ano nas notícias. Deixando de lado a faceta alimentar, após períodos em que o clima humedece a terra, com variadas formas e cores os cogumelos começam a aparecer e dão gosto à vista. Parte minoritária de um organismo maior, escondido na escuridão do solo, surge o carpóforo ao ar livre para dispersar esporos — pelo ar, pela água, pelas moscas que neles pousam — em busca de um lugar propício às novas gerações de fungos das respetivas espécies. Fica-nos o condão de os olhar e de os compreender como seres vivos com funções bem definidas nos ecossistemas em que existem.
João L. Teixeira
Cogumelos: esporos ao vento
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16 FOTONOTÍCIAS
Voar sem
turbulência N
aquela noite estava só. Invulgar, mas fazia silêncio. A lâmpada suspensa iluminava o tecido branco e atraía insetos, em pleno percurso de descoberta da natureza do Parque Biológico de Gaia, na quinta do Bogas. A tarefa marcava o registo de imagem das espécies que ali viessem a pousar. Nem uma hora tinha passado quando, sem ruído, levanto a cabeça e vejo uma coruja-das-torres em voo, a dois metros de pousar no tecido. No instante breve deu para admirar a alvura impoluta da face inferior das asas. O silêncio do voo, porém, impressionou mais ainda. A ave noturna, ao ver o rosto humano, deu meia volta no ar, em fuga, e desapareceu na árvore mais próxima. A coruja vinha à paparoca dos insetos ali aparecidos, mas esse admirável voo silencioso tem que se lhe diga… Parece irrisório, algo assim como um devaneio da natureza, mas a verdade é que pelo menos as aves de rapina noturnas e as borboletas partilham a mesma solução. Dá para ver sem ampliar muito que as penas das rapaces noturnas ostentam pequenas “farpas” no respetivo rebordo. As aves de rapina diurnas, como águias e falcões, não ostentam esse cuidado, uma vez que apostam na velocidade, e não no silêncio do voo, quando têm de atingir as presas. Por sua vez, uma coruja que esteja apontada a um
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rato, uma destas noites, quererá deitar-lhe as garras antes que fuja. Para isso, resulta muito melhor trocar alguma velocidade por menor ruído de voo. Este pormenor técnico do rebordo das penas reduz a turbulência da deslocação e a ave consegue voar ainda mais silenciosamente. Bufos, corujas e mochos não prescindem deste dispositivo natural. As borboletas — voem de dia ou de noite — utilizam também idêntico rebordo na periferia das suas quatro asas e, em particular as que se deslocam de noite, conseguem assim reduzir a turbulência causada pelo seu bater de asas, reduzindo o êxito da caça dos talentosos morcegos e das não menos engenhosas rapinas noturnas.
Pormenor de uma rémige de coruja-das-torres, Tyto alba (Scopoli, 1769)
Jorge Gomes
Pormenor do rebordo de uma borboleta noturna da família dos geometrídeos, Chloroclystis v-ata (Haworth, 1809): envergadura entre 14 e 19 mm
Aplysia punctata
Vinagreiras-do-mar As vinagreiras-do-mar ou lebres-do-mar são moluscos opistobrânquios herbívoros que possuem uma pequena concha interna, coberta por um manto. O nome lebre-do-mar deve-se a dois rinóforos na cabeça, semelhantes às orelhas de uma lebre. O corpo é mole e o pé apresenta dois apêndices laterais, os parapódios, que se unem na região posterior e lhe permitem nadar. Os juvenis apresentam uma coloração avermelhada e os adultos têm uma coloração que varia desde o verde ao castanho, por vezes avermelhada ou negra-violeta. No máximo podem atingir 40 cm de comprimento e pesar até 2 kg mas, geralmente, são mais pequenas. Quando incomodadas, ejetam um líquido púrpura. São animais hermafroditas que no fim da primavera ou início do verão vêm à costa para desovar, formando por vezes aglomerados de vários indivíduos. Durante este período, facilmente arrojam nas praias, onde se contraem para minimizar a desidratação mas, expostos ao ar por muito tempo, acabam por morrer. As posturas de milhões de ovos brancos, cor-de-laranja ou cor-de-rosa, formam cordões enrolados e colados às rochas. Às vezes são arrancados pelas ondas e transportados até à praia, onde secam rapidamente durante a maré baixa. As duas espécies mais abundantes são Aplysia
Ovos de Aplysia sp
punctata de cor esverdeada, avermelhada ou castanha-escura com manchas claras, e Aplysia fasciata, semelhante mas maior e de cor castanha muito escura quase negra. Durante o mês de setembro foram avistados nas praias de Vila Nova de Gaia animais mortos, em certos sítios em maiores concentrações. É um fenómeno normal que se pode repetir, com mais ou menos intensidade, ao longo dos anos. Por Mike Weber Estação Litoral da Aguda
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PRÉMIO NA CATEGORIA OLHAR CRIATIVO «Movimento» de Gaspar de Jesus
Sábado, 2 de novembro, pelas 15h00, abriu com a entrega de prémios a exposição relativa ao concurso nacional de fotografia da natureza Parques e Vida Selvagem deste ano, na sua 11.ª edição. O público que ali afluiu teve ensejo de apreciar em primeira-mão 47 trabalhos expostos, acompanhados por um catálogo, todos eles distinguidos para este efeito pelo júri que, em 2013, foi constituído por João Nunes da Silva, J. Paulo Coutinho e Nuno Gomes Oliveira. Na próxima primavera, estando ainda em curso a Década da Biodiversidade preconizada pela Nações Unidas, é provável que este concurso seja retomado, na perspetiva de que só se pode realmente proteger aquilo que se conhece. Nada melhor que a fotografia para dar a conhecer a natureza nos seus ângulos mais discretos e difíceis de observar.
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Henrique N. Alves
Imagens de mil palavras
Albino Almeida, presidente da Assembleia Municipal gaiense, entrega o prémio Parques e Vida Selvagem a Vitor Manuel Ribeiro Sousa
PRÉMIO NA CATEGORIA PARQUES E VIDA SELVAGEM «A luz e o fungo» de Vítor Manuel Ribeiro Sousa
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20 PORTFOLIO
PRÉMIO NA CATEGORIA FAUNA VERTEBRADA «Momento perfeito» de Francisco José Romão Machado
«OLHOS NOS OLHOS» Jorge Casais
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«DIVA» Elsa Marques dos Santos
PRÉMIO NA CATEGORIA FAUNA INVERTEBRADA «Meditando» de Manuel Alberto Azevedo Gomes Novo
«BIGODES» Miguel Augusto Mesquita
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22 PORTFOLIO
PRÉMIO NA CATEGORIA PAISAGEM «Parque Ambiental Buçaquinho-Esmoriz/Cortegaça» de Magda Áurea Silva Moreira
«ROSMANINHO» Modesto Viegas
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PRÉMIO NA CATEGORIA FLORA, LÍQUENES E FUNGOS «Graal» de Elsa Marques dos Santos
«OLHARES» João Petronilho
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24 PORTFOLIO
PRÉMIO NA CATEGORIA JOVEM FOTÓGRAFO PARA JOVENS CONCORRENTES, ATÉ AOS 15 ANOS «Horácio: um olhar», de Eduardo Coelho Tavares
«CONTRALUZ» Francisco Bernardo
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PRÉMIO NA CATEGORIA PARQUE BIOLÓGICO DE GAIA – «Esquilo» de Luís Pinheiro Torres
«ATRÁS DA CORTINA» Hugo Amador
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26 CONTRA-RELÓGIO
Em plena Década da Biodiversidade, concebida pelas Nações Unidas, a importância da diversidade biológica compreende-se melhor através da constatação dos imensos serviços que os ecossistemas oferecem à humanidade
O
que é um ecossistema? Esta palavra aponta um conjunto de organismos vivos que interagem não só com o meio físico que os rodeia mas também com a química ambiental e com o meio social e biológico em que estão inseridos. Isto pressupõe que os organismos e o seu meio formem um todo, apesar de cada um deles ser de facto um ser individualizado. Este assunto ilustra a cumplicidade entre, por um lado, as interações das espécies entre si e com o ambiente físico, e por outro, o bemestar das pessoas, em matéria de riqueza, nutrição ou segurança. Publicada já há oito anos, a Avaliação dos Ecossistemas do Milénio sintetizou os serviços prestados pelos ecossistemas em quatro categorias. Existem os Serviços de Aprovisionamento — nestes casos os ecossistemas fornecem bens com benefício direto para as pessoas e amiúde com valor monetário. Serve de exemplo a exploração da madeira dos bosques, das plantas medicinais, dos peixes dos oceanos, rios e lagos. Percebe-se com facilidade que sem sustentabilidade e uma gestão inteligente, que tenha em conta o presente e o porvir, a fonte destes bens pode mirrar. Há também os Serviços Reguladores. Junta-se aqui um vasto leque de funções realizadas pelos ecossistemas, que são com frequência
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Serviços dos
ecossistemas de grande valor mas que geralmente não proporcionam um valor monetário elegível nos mercados convencionais. Incluem-se neste ponto a regulação do clima mediante o armazenamento de carbono e o controlo da precipitação local, a eliminação de contaminação através da filtragem do ar e da água, e até a proteção diante de desastres tais como os deslizamentos de terra e as tempestades costeiras. Os ecossistemas prestam inclusive Serviços Culturais. Estes não proporcionam benefícios
materiais diretos, mas contribuem com certeza para ampliar as necessidades e desejos da sociedade, logo, predispõem as pessoas para contribuírem a favor da conservação da natureza. Enquadra-se igualmente aqui o valor espiritual ligado aos ecossistemas concretos, como os bosques sagrados, e a beleza estética de paisagens que atraem os turistas. Há ainda os Serviços de Apoio, sem benefício direto para os cidadãos mas essenciais para o funcionamento dos ecossistemas e por isso
factos &números São os ecossistemas que produzem • oxigénio, purificam o ar e a água. a meteorologia extrema e • osModeram seus impactos; por exemplo, secas, inundações, etc. os efeitos gravosos decorrentes • dasMitigam alterações climáticas. Absorvem e armazenam dióxido de • carbono. dos bosques evita que • seA conservação emitam gases de efeito-estufa a que corresponde um valor de 3,7 biliões de dólares. Protegem os cursos de água e o litoral da • erosão. Regulam os organismos portadores de • enfermidades e disponibilizam substâncias para produtos farmacêuticos, bioquímicos e industriais.
João L. Teixeira
fonte de energia e de combustíveis • deSãobiomassa.
indiretamente responsáveis pelo suporte dos restantes serviços. Esta ideia engloba factos tão relevantes como a formação do solo e os processos de crescimento das plantas. A diversidade biológica, ou biodiversidade, não se considera como um serviço dos ecossistemas em si, mas como um prérequisito que se baseia em cada um deles. A união entre a diversidade e a capacidade de um ecossistema para prestar serviços é algo complexo e constitui um campo em que a ciência ainda tem muito para pesquisar. O que se sabe sem margem para dúvida é que a humanidade e todos os seres vivos em geral dependem do bom funcionamento destes dispositivos naturais oferecidos pelo planeta Terra. Fonte www.cbd.int
Reciclam resíduos e desintoxicam • prevenindo contaminação. mantêm e renovam a fertilidade • doGeram, solo (ciclo de nutrientes). Polinizam as culturas e as plantas, e • dispersam sementes.
Ecosystem services
The value of Biological diversity is best understood through the observation of the extraordinarily valuable services that ecosystems provide to humanity. The Millennium Ecosystem Assessment, published some eight years ago, summarized the ecosystem services in various categories.
Controlam as pragas e circunscrevem as • doenças das plantas cultivadas. Produzem alimentos (culturas e espécies • naturais, pesca e marisco, etc.). Proporcionam inspiração cultural, • intelectual, artística e espiritual. recreação; o ecoturismo • éPermitem a esfera do setor turístico que mais rapidamente cresce, com um aumento estimado de gasto global de 20% por ano (TIES 2006).
•
São fonte de cura para enfermidades.
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28 28 PAR QUINTEIRO
Os Avisos Agrícolas Uma das preocupações fundamentais dos agricultores é a proteção das suas culturas contra pragas e doenças que, duma forma regular, as afetam e causam perdas mais ou menos sensíveis
A
dificuldade da proteção está ligada muitas vezes ao desconhecimento do comportamento do parasita, seja ele um fungo, uma bactéria, um inseto, um ácaro ou um nemátode. Para o agricultor pode ser difícil, quando não impossível, determinar com rigor o período ou períodos em que uma intervenção fitossanitária será mais eficaz. Por outro lado, há também a preocupação crescente com os custos financeiros da proteção das culturas e com o seu impacto ambiental, conhecidos que são os efeitos secundários negativos de muitos pesticidas sobre o solo, as águas, as abelhas e outros insetos auxiliares, sobre os batráquios, as aves e os mamíferos, sobre o próprio Homem. A necessidade de proporcionar à Agricultura, em cada região, informação segura, de base científica e técnica, sobre a evolução das doenças e pragas em cada ano e em cada cultura abrangida, bem como a difusão de métodos de prevenção e tratamento, está na origem das Estações de Avisos, organismos
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criados e funcionando no âmbito do Ministério da Agricultura. Na área abrangida pela Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, que inclui as Regiões de Entre Douro e Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro, funcionam atualmente quatro Estações de Avisos. Além da Estação de Avisos de Entre Douro e Minho (que começou a emitir Avisos em 1978) e a que se refere especificamente o presente escrito, funcionam no âmbito da DRAP-Norte a Estação de Avisos do Douro (a primeira criada no país, em 1964 e que emite Avisos para a Vinha), a do Norte Transmontano e a da Terra Quente, de criação mais recente e que emitem Avisos para a Vinha, castanheiro e batateira, a primeira e para a oliveira, esta última. A Estação de Avisos de Entre Douro e Minho emite hoje Avisos e outras informações de caráter informativo e formativo, sobretudo para as culturas que atualmente asseguram a parte mais significativa do rendimento agrícola do Entre Douro e Minho em termos de produções vegetais (Quadro 1). Mas o que são os Avisos Agrícolas? Na prática, trata-se de um boletim, com edição simultânea em papel e eletrónica, que tem como objetivo fundamental transmitir ao agricultor informação adequada sobre a necessidade e oportunidade dos tratamentos a efetuar para combater os inimigos das culturas. O Aviso é um conselho imperativo, transmitido ao produtor agrícola, para que este possa decidir mais seguramente sobre o tratamento a efetuar contra um certo parasita de uma determinada cultura, num período de tempo bem definido. Passado esse período, o tratamento deixa de oferecer garantia de êxito. A conceção e elaboração de cada Aviso, ao longo do ano agrícola, tem em vista fatores económicos – como fazer melhor ao menor custo – e ambientais – como diminuir o
Edifício onde funciona atualmente a Estação de Avisos de Entre Douro e Minho
impacto negativo secundário, não desejado, de cada tratamento químico inevitável. Por outro lado, para a elaboração do conjunto de informações contidas em cada boletim dos Avisos, é necessário proceder à previsão do risco que representa em cada momento determinado inimigo de uma dada cultura. Ou seja, a palavra “Aviso” tem em si o sentido de antecipação: avisar para qualquer coisa que vai ou pode vir a acontecer. Esta previsão baseia-se, por um lado, no conhecimento adquirido e acumulado sobre a biologia das pragas e doenças – a partir do qual se criou, ao longo do último século, um conjunto de métodos específicos para a realização da previsão. Por outro lado, a previsão baseia-se na recolha sistemática de dados sobre o estado de desenvolvimento das plantas e dos seus parasitas, em períodos determinados e sobre as condições meteorológicas que influenciam e condicionam esse desenvolvimento. A previsão e a difusão do aconselhamento
Vinha plantada de acordo com os últimos conhecimentos técnicos nesta cultura
Pequena exploração agrícola do Entre Douro e Minho
que dela deriva através dos Avisos Agrícolas, está dependente de uma estrutura material que a suporta. Assim, a Estação de Avisos compreende uma estrutura central, onde se localizam equipamentos fundamentais como sejam instalações laboratoriais, equipamentos informáticos e outros indispensáveis ao funcionamento do todo, e uma rede de estações meteorológicas e de postos de observação biológica que abrange a região que a Estação de Avisos serve. As estações meteorológicas são automáticas e estão ligadas a um computador central, para onde transmitem diariamente os dados recolhidos. Os postos de observação biológica são assegurados por colaboradores voluntários, que ali fazem observações sobre o desenvolvimento das culturas e dos seus inimigos, de acordo com métodos e materiais fornecidos pela Estação de Avisos. Os resultados destas observações são transmitidos pelo correio de superfície, por correio eletrónico ou por
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30 QUINTEIRO PAR Cultura
Inimigos
Vinha
Míldio, oídio, podridão cinzenta, podridão negra, escoriose, esca, podridão radicular, flavescência dourada, traça-da-uva, cigarrinhas da flavescência dourada, cochonilha-algodão
Pomóideas (macieira, pereira, nespereira do Japão, marmeleiro)
Pedrado, cancro europeu, oídio, bichado, ácaros, afídeos, piolho de S. José, mosca do mediterrâneo, broca dos troncos e ramos, ratos
Citrinos (laranjeira, limoeiro, tangerineira)
Estação meteorológica automática
Míldio, gomose parasitária, vírus da tristeza, afídeos, cochonilhas, mosca do mediterrâneo
Actinídea (kiwis)
Esca, cancro bacteriano (PSA), Armillaria
Batateira
Míldio, sarna da batata, escaravelho, traça da batateira, áltica, alfinete, nemátodes
Prunóideas (ameixeira, cerejeira, damasqueiro, pessegueiro)
Lepra do pessegueiro, moniliose, crivado, doença do chumbo, cancro bacteriano, cancro de Fusiccocum, afídeos, mosca da cereja, mosca do mediterrâneo
Nogueira
Bacteriose, antracnose, bichado das nozes
Hortícolas
Potra da couve, caracóis e lesmas, lagarta da couve, mosca branca, traça do tomate
Oliveira
Olho-de-pavão, gafa, tuberculose da oliveira, cochonilhas, traça da oliveira, mosca da azeitona
Castanheiro
Doença da tinta, cancro do castanheiro
Um posto de observação biológica pode ser apenas uma armadilha para mosca do mediterrâneo
Sintomas da flavescência dourada, doença grave recentemente introduzida na região de Entre Douro e Minho, alvo de acompanhamento e aconselhamento através dos Avisos Agrícolasw
Quadro 1 - Culturas e principais inimigos (doenças e pragas) para os quais a Estação de Avisos de Entre Douro e Minho emite Avisos fitossanitários
sms. Por outro lado, os técnicos da Estação de Avisos deslocam-se regularmente a diversos locais de referência para observarem de forma mais abrangente a evolução das culturas e dos seus inimigos. Todos os dados recolhidos são periodicamente cruzados e analisados, tendo em conta as metodologias de previsão adotadas para cada cultura e inimigo. O trabalho de análise de dados é feito de forma mais continuada e apertada nos períodos que se sabe serem de maior risco de determinadas doenças e/ou pragas. Feita a análise e previsão da evolução, concluindo-se pela sua oportunidade, é redigida a circular (o Aviso). Esta circular não tem periodicidade certa, pois a sua emissão depende da evolução das culturas e dos seus inimigos e esta está condicionada, por sua vez, pelos fatores meteorológicos – temperatura, humidade relativa, chuvas, horas de frio.
Na redação do Aviso tem-se sempre em conta que a informação deve ser do mais elevado nível técnico, clara e compreensível. Além do texto que mais rigorosamente se pode designar como “Aviso”, a maioria das circulares integra informação exaustiva sobre pesticidas, medidas preventivas e de caráter cultural, biologia de algumas doenças e pragas, informação sistematizada sobre resistências de plantas a doenças e pragas, agricultura biológica, proteção integrada, textos formativos, desenhos e fotografias. Os Avisos são expedidos pelo correio em papel para os assinantes que ainda optam por essa variante. No entanto, é crescentemente utilizado o correio eletrónico e os Avisos são também publicados na internet em diversos portais da DRAPN e da DGAV, ficando assim acessíveis em tempo útil a um público hoje em dia muito alargado e diversificado. Pode contactar a Estação de Avisos de
Entre Douro e Minho através do endereço eletrónico avisos.edm@drapn.minagricultura.pt
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Por Carlos Coutinho DRAPN - Divisão de Apoio ao Setor Agroalimentar - Avisos Agrícolas de Entre Douro e Minho
Bibliografia Aboim-Inglez, Margarida et al (1978-85 e 1996-97), Relatórios de Actividades da Estação de Avisos de Entre Douro e Minho, Porto. Amaro, Pedro (2003). A protecção Integrada, Lisboa. Larguier, M et Mestres, R. (1991). Les Avertissements Agricoles. PHYTOMA, n.º horssérie, septembre, 1991, Paris. Roussel, C. (1971). Les avertissements agricoles, in Traité d’Ampélologie - Sciences et Techniques de la Vigne, s. l.d. de Jean Ribereau-Gayon et Emile Peynaud, Paris. Xavier da Cruz, R. (1974). Avertissements Agricoles au Portugal, PHYTOMA 254, Paris.
Ritmos de
Os chapins-reais não resistem a alimentadores de jardim com amendoim-verde João L. Teixeira
Esta é a melhor altura do ano para fazer uma revisão crítica ao seu jardim
outono
A
gora que o metabolismo das plantas abrandou, não havendo ninhos ocultos na folhagem e tendo os frutos das plantas sido dispersados pelos seres vivos que deles se alimentam, depara com a época de excelência para melhorar o seu jardim. Os critérios estéticos não precisam de ficar de lado quando deseja ter um quintal atrativo para a vida selvagem. As plantas nativas teceram laços ao longo do tempo com as aves e outros animais da região, pelo que a preferência dada a estas no seu jardim é meio caminho andado para poder observar esses convidados, que estão longe de se vestir só de penas. Mesmo assim, se focar mais nestas a atenção, há de reparar que num ambiente urbano se contam pelos dedos das mãos as espécies selvagens mais frequentes nos comedouros de jardim. Pardais, verdilhões, chapins diversos são as visitas mais habituais. No solo, graças às sementes que vão caindo, verá com alguma facilidade melros, tordos e tentilhões. Estes são os que reservam um largo espaço na ementa para os grãos. Outras aves há que não se inclinam grande coisa para esse alimento, mantendo-se fiéis a uma dieta carnívora que inclui pequenos invertebrados de largo espetro. É o caso das carriças. Pequenitas, sem o potente cantar que soltam na primavera, quase parecem não andar por aí. Mas andam. Piscos-de-peito-ruivo, uma série deles em invernada, são capazes de se passear pelos alimentadores de mesa, a ostentar dominância, sem petiscar grão por aí além, ao contrário dos gaios que, pelo tamanho, dão decerto mais nas vistas... e nem por isso andam com os olhos pisados. Para que se consiga aperceber de tudo isto
pela janela, tem de ser discreto, reduzir ruídos. Bem sabem estas aves selvagens que são demais os perigos desta vida para se poderem dar ao luxo de desatenções. Numa mata das redondezas, pode andar um gavião, acrobata de alta velocidade, que quando aparece para a colheita vital nem dá tempo a alguns de abrir as asas. Pior, e muito, é o gato, que com pezinhos
de lã deita as garras a tudo que mexe, mesmo que não coma. Guarda o hábito de ser contumaz. Tendo em conta as variáveis expostas, conseguirá otimizar desde já no seu jardim as observações de vida selvagem. Mãos à obra!
Texto Jorge Gomes
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32 DUNAS
Formação geológica conhecida por Tor - praia de Lavadores
Cordão dunar 32 • Parques e Vida Selvagem outono 2013
Com cerca de 14 quilómetros de litoral, Vila Nova de Gaia oferece-lhe uma atrativa paisagem
E
mbora o prato forte deste passeio sejam as dunas, em Lavadores há um afloramento granítico com geomorfismos muito interessantes. Aliás, está mapeado como geossítio de importância nacional. Foi objeto de caracterização, avaliação e classificação e destaca-se pelo seu valor científico, turístico, económico e didático, sendo muito utilizado por grupos de alunos de vários graus de ensino e na
Parque de Dunas da Aguda Nada melhor do que um parque onde as dunas fazem arribar dezenas de espécies de plantas nativas destes habitats protegidos para devolver à vida selvagem uma ave de rapina
João L. Teixeira
João L. Teixeira
Quando um destes dias visitar o litoral de Vila Nova de Gaia não se admire se vir este ou outro peneireiro a peneirar, de olho nas dunas
formação contínua de professores. Entre alguns dos geomorfismos mais evidentes destacam-se os blocos pedunculados, tor, marmitas litorais, caos de blocos, entre outros. Este afloramento granítico estende-se por vários quilómetros e termina em Caldas de S. Jorge, localidade de Santa Maria da Feira. Numa época em que se ouve falar de outros milhões, estes também aqui se aplicam, não em euros — estamos diante de rochas com cerca de 300 milhões anos!
A
espera do peneireiro valeu a pena: após uma explicação sobre o papel destes animais selvagens na natureza, ver esta rapace reabilitada pelo Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Biológico de Gaia abrir asas e voar despertou uma emoção especial. Terá sido isso que também sentiram professores e crianças da escola que ali se fez presente, às dez da manhã do passado dia 4 de outubro. Onde a flora dunar é mais consistente, abrigam-se musaranhos e afins, gafanhotos e outros insetos, também estes na ementa natural destes falconídeos. Quando o vento de outono sopra à face da duna, as sementes do lírio-das-praias e da perpétua-das-areias, do morrião e do cardo-marítimo, entre tantas outras espécies, entram em correria que é tempo agora de dispersar para em breve cada uma arriscar o seu lugar ao sol.
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34 LITORAL
O Museu das Pescas da Estação Litoral da Aguda A exposição do Museu das Pescas na ELA destaca os apetrechos e as artes tradicionais da pesca artesanal, usados ao longo do tempo e transmitidos de geração em geração, e as memórias das fainas e do quotidiano dos pescadores
Ala esquerda e direita do museu
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A
s peças expostas ganham ainda mais significado quando comparadas com os equipamentos e utensílios da pesca artesanal de outros países e de outras épocas, imortalizando o engenho de tecnologias ancestrais. Em todo o mundo, mesmo nos locais mais remotos, a necessidade de obter alimento conduziu o Homem a inventar e a construir aparelhos e artes de pesca semelhantes. Estas semelhanças estão visíveis numa coleção de peças únicas, reunidas em cinco continentes pelo autor, ao longo dos últimos 35 anos: anzóis, amostras e iscos artificiais feitos em madeira, madrepérola, chifre, marfim, carapaça e osso de tartaruga, osso de baleia, osso de animais terrestres e osso humano, ferro, aço, cobre, bronze, latão, prata e ouro; fisgas, flechas e arpões destinados à captura de moluscos, peixes e mamíferos marinhos; nassas, covos, armadilhas, rapetas e redes destinados à captura de crustáceos, moluscos e peixes; canas, carretos e outros equipamentos da pesca desportiva, maquetas de barcos de pesca, figuras de pescadores, conchas, corais e curiosidades marítimas. Na ala esquerda do Museu estão expostas as miniaturas de 27 barcos da frota da Aguda, réplicas de “caíques” dos fins da década de 80, mostrando os equipamentos de pesca mais representativos: a mugiganga para a captura do camarão e pilado; o palanque e trole para robalo e congro; o tresmalho e a rede de um pano para pescar junto à superfície, à deriva ou fundeado e fixo entre duas fateixas (âncoras) para peixes pelágicos e do fundo; o covo para navalheira, congro e polvo; a ganchorra para amêijoa; a cana com isco artificial para robalo; o bicheiro, a vara e sapata para polvo e congro. A pesca da sardinha, devido à sua importância em Portugal, está representada por várias traineiras equipadas com redes de cerco, e diversas conservas antigas. A pesca longínqua do bacalhau, também de grande significado, está representada por um dóri,
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equipado com trole e zagaia, feita em chumbo, com a marca característica da companhia de pesca. A pesca desportiva, praticada por muitos milhões de pessoas em todo o mundo, está presente através dos inúmeros utensílios e amostras coloridas de formas variadas. As nassas, penduradas no teto e expostas numa das vitrinas da ala central, são armadilhas de construção muito semelhantes, tipo funil, onde a presa entra, atraída por um isco ou para
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se esconder, e de onde depois não consegue sair. As peças exibidas vieram do Japão, de Angola e China, dos EUA, das Filipinas e de diversos países da Europa. Suspenso sobre as vitrinas da ala central, encontra-se a miniatura de uma campanha, o barco típico de Espinho, terra vizinha da praia da Aguda, equipado com a xávega, uma arte envolvente arrastante alada para terra, destinada à captura de “pequenos pelágicos” costeiros.
1Caiques da Aguda 2 Caça à baleia 3 Moliceiro 4 Pesca de bacalhau 5 Pesca de sardinha 6 Anzol composto 7 Pesca no Minho 8 Nassas asiáticas
Na penúltima vitrina da ala central, os instrumentos antigos de navegação e oceanografia estão rodeados por bocados de madeira de barcos naufragados há séculos e esculpidos pelo teredo. As carapaças exibidas de vários crustáceos são mudas recolhidas de animais mantidos no Aquário da ELA, as conchas marinhas vieram de Portugal e das ex-colónias, e os corais foram recolhidos pelo autor, na costa colombiana do Mar das Caraíbas, no início dos anos 70.
Também na ala direita do Museu, estão expostas peças únicas da caça artesanal à baleia, foca e morsa, em miniatura e tamanho original, feitos em madeira, osso e marfim, bem como algumas imitações em plástico. Dos territórios gelados do Ártico veio a miniatura de um “kajak”, feito em pele de foca e marfim. Deslocando-se neste tipo de embarcação e usando arpões como os originais expostos, os esquimós caçavam mamíferos marinhos para o seu sustento, tirando ossos e dentes de marfim para construir os mais diversos instrumentos de caça e pesca. As fisgas são utensílios de pesca muito eficazes. Montadas numa vara destinam-se à captura de enguias, congros, polvos e outros animais aquáticos, evidenciando a semelhança com o tridente, o símbolo mais antigo da pesca, associado ao deus grego do mar Poseidon. Suspenso à entrada, um mergulhador científico exibe o equipamento típico dos anos 70, e no 1.º andar do edifício encontra-se a exposição “Pesculturas”, uma coleção única de cenas moldadas em barro sobre as artes e utensílios da pesca artesanal portuguesa, criadas pelo autor. Colocada em frente do edifício, a bateira “ELA”, uma réplica do barco antigo da praia da Aguda, faz parte integrante do Museu, em memória da pesca artesanal local e da coragem dos Homens do mar da Aguda. Junto a esta embarcação encontra-se a escultura de uma mergulhadora em bronze, feita pelo autor, simbolizando o futuro da humanidade, que está no mar e nas mãos das mulheres. Por Mike Weber
ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA Rua Alfredo Dias, Praia da Aguda 4410-475 Arcozelo Vila Nova de Gaia Tel.: 227 536 360 fax: 227 535 155 ela.aguda@mail.telepac.pt www.fundação-ela.pt
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36 DUNAS
Estuário do Douro
Vão ocorrendo algumas espécies pouco vulgares para a região em que se insere esta área protegida: atentos, há fotógrafos da natureza que fazem prova disso, pelo que fica aqui o resumo...
Francisco Bernardo
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fácil de observar nos campos alentejanos. Segundo a lista das espécies do distrito do Porto, do site “Aves de Portugal”, só há um registo em Lavadores, de agosto de 1925, cujo exemplar estará num dos museus do Porto. Sem que tivesse sido a primeira ocorrência, mas é sempre interessante, foi fotografada uma garça-vermelha, Ardea purpurea, em 12 de agosto no juncal da Reserva Natural Local do Estuário do Douro. A ave petiscou até seguir viagem. Estas aves passam a primavera e o verão na Europa, nos pântanos, onde fazem ninho nos caniçais. Agora só querem África. Outro migrador, o pisco-de-peito-azul, viu-se na RNLED a partir de 31 de agosto. Em 3 de setembro Francisco Bernardo conseguiu a fotografia de uma ave muito discreta, um frango-de-água, Rallus aquaticus. Os melhores indicadores para saber da sua presença são as vocalizações, já que anda sempre escondidinho no meio dos juncos. Em 9 de setembro uma gaivota-de-sabine foi fotografada quer por Paulo Leite quer por Francisco Bernardo. Um guia de aves diz que esta espécie, Larus sabine, se reproduz no Ártico. Passa o inverno geralmente no alto-mar. Em migração (adultos primeiro, juvenis depois) podem ser desviados para a costa ocidental da Europa por fortes tempestades. Uma águia-pesqueira, Pandion haliaetus, andou aqui também às tainhas em 18 de setembro!
Sisão
Filipe Vieira
P
or esta também ninguém esperava: uma pega-azul, Cyanopica cyanus, a dar à asa na Reserva Natural Local do Estuário do Douro! Francisco Bernardo, fotógrafo da natureza, estava lá e, em 19 de agosto, fez vários registos de imagem. A pega-azul é uma espécie com um pequeno núcleo populacional na Península Ibérica e outro na Ásia. Pensou-se que teria sido trazida como ave ornamental pelos navegadores portugueses e que tivesse escapado de cativeiro. Hoje sabe-se que esta pega no passado se distribuía da Península Ibérica à Ásia e a sua população foi dividida pelas glaciações do Quaternário, tendo ficado uma pequena população na Península Ibérica, como provam os fósseis de pega-azul com 44 mil anos descobertos no ano 2000 em Gibraltar. A espécie tem vindo a expandir-se em Portugal nas últimas décadas, embora circunscrita ao Sul e a algumas áreas de Trás-os-Montes, nomeadamente ao Parque Natural do Douro Internacional. Nesta região, que se saiba, é a primeira observação registada. Com ela, eleva-se o número de espécies observadas na RNLED para 217. Em 3 de agosto, um sisão, Tetrax tetrax, foi observado na Reserva Natural Local do Estuário do Douro por Paulo Faria e fotografado por Francisco Bernardo. Trata-se tanto quanto se sabe do primeiro registo fotográfico na RNLED e no distrito do Porto para esta espécie de ave, relativamente
João L. Teixeira
Há dias de sorte
Frango-de-água
M. Rego
Francisco Bernardo
Paulo Leite
Gaivota-de-sabine
Garça-vermelha
Fim de semana Europeu de Observação de Aves
Na manhã do passado dia 24 de setembro fui à Reserva Natural Local do Estuário do Douro para fotografar algumas das espécies que nesta época passam na área protegida, a caminho das suas zonas de estadia enquanto é inverno no hemisfério Norte. A altura da maré não era a melhor, mas dirigi-me para o observatório do sapal. Já lá estava o fotógrafo Bastos a ver se apanhava o guarda-rios nas estacas mais próximas, mas nada!... Desistiu e resolveu ir até ao pinhal a ver o que por lá andava. Decidi ficar no observatório e prestar atenção aos juncos e caniços a ver se deslumbrava algum passarito, como o pisco-de-peitoazul. De súbito, pelo canto do olho, apercebi-me de qualquer coisa que saltara ao meu lado direito, por cima dos juncos tombados, mas ao olhar já nada vi a não ser um ligeiro movimento sob as ervas; apontei a máquina para o local e fui seguindo, até que vi aparecer uma cabecita: era uma doninha! Como estava quieto e sem companhia, deixei-me estar a seguir os seus movimentos e aproveitando para fazer algumas fotos. A certa altura, ignorando a minha presença, a doninha resolveu pôr-se de pé por alguns segundos para melhor apreciar o terreno de caça e logo voltar a ocultar-se nas ervas. Mais uma vez verifiquei que é necessária muita calma, paciência e prática para conseguir algumas fotos da “Vida Selvagem”. Por António Santos Pereira
A doninha é um predador com papel útil na RNLED
Decorreu na RNLED no fim de semana de 5 e 6 de outubro mais uma celebração EuroBirdWatch promovida a nível internacional pela Bird Life. O título escolhido para esta atividade foi “Na mira dos pequenos-grandes viajantes”. Deu-se destaque à presença de aves migratórias e à importância da RNLED como espaço de descanso, alimentação e abrigo, que duas vezes por ano realizam deslocações entre o Ártico e o continente africano. O evento recebeu 333 visitantes que tiveram possibilidade de observar aves e ser informados do porquê da celebração anual, assim como de outras iniciativas realizadas pela RNLED/Parque Biológico. Em Portugal a coordenação esteve a cargo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, neste caso associada a nível local com o Parque Biológico de Gaia.
Parques e Vida Selvagem outono 2013 • 37
38 MUSEU
Centro Interpretativo do
Património da Afurada
Gaspar de Jesus
A um par de quilómetros da Reserva Natural Local do Estuário do Douro, este centro de interpretação agrega referências importantes a um acervo das tradições piscatórias concretizadas nos mais diversos suportes de informação Na visita ao centro, até 31 de novembro pode também observar a exposição de fotografia “Um olhar sobre a Afurada”, de Gaspar de Jesus
João L. Teixeira
O Centro Interpretativo do Património da Afurada espelha a identidade desta povoação nos seus aspetos culturais e naturais
38 • Parques e Vida Selvagem outono 2013
R
eflete, assim, este centro, a identidade desta povoação nos seus aspetos culturais e naturais. Se ainda não conhece, é de visita obrigatória. O projeto resulta de uma parceria entre a Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL) e o Parque Biológico de Gaia que traçou o objetivo de recuperar velhos armazéns de aprestos de pesca, transformando-os num equipamento com estas características, que pode agora visitar. A obra e os conteúdos museológicos foram co-financiados por fundos comunitários através do ON2 (QREN) e pela APDL.
ESPAÇOS VERDES 39
Parque das Devesas
joão L. Teixeira
O Parque do Conde das Devesas fica perto do Cais de Gaia, mais propriamente na Rua D. Leonor de Freitas, e abriu as portas este ano, em 10 de maio. Embora se veja neste espaço verde muita mais flora do que camélias, a abundância de espécies deste grupo encontradas quando da construção do parque sugeriu que fosse dedicado um setor específico a este grupo de plantas. Curiosamente, um estudo de Frederick Gustav Meyer (1959), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, indica que as camélias de Vila Nova de Gaia são os mais antigos exemplares até agora registados na Europa, plantados em 1550. Com as portas abertas para si todos os dias, das 10h00 às 18h00, pode chegar a este parque também através de GPS: 41º7’58.98”N/8º37’8.36”W
Parque da Ponte de Maria Pia Porto-Lisboa, terá proporcionado um vasto leque de vantagens à região. No decurso do tempo, em 1991, entrou em funcionamento a nova ponte de São João e a de
Maria Pia foi desativada. Agora, com uma qualquer brisa de outono, bem pode dar ali um gosto ao pé.
joão L. Teixeira
Este espaço verde abriu ao público em 1 de agosto do corrente ano e ofereceu à população um novo espaço verde a partir dos antigos estaleiros dos caminhos-de-ferro junto à ponte de Maria Pia, que se encontravam desativados há anos. Trata-se, porém, apenas da primeira fase, uma vez que se falou no projeto de iniciar em continuidade uma segunda, que irá ligar este parque à ponte de Maria Pia. Tornar-se-á viável, assim, desenvolver um percurso ciclo-pedonal que atravesse a ponte — depois de colocado um novo tabuleiro, já estudado pela REFER — e faça ligação à cidade do Porto. O túnel que ali havia foi selado a norte durante as obras, de maneira a que não sofra infiltrações e a não inviabilizar um eventual uso futuro. Na sua época, a ponte de Maria Pia foi uma obra de engenharia que deslumbrou portugueses e estrangeiros. Inaugurada a 4 de novembro de 1877, contou com a presença do rei D. Luís I e com a rainha D. Maria Pia, que lhe deu o nome. Esta ponte, exclusiva para a ligação ferroviária
Parques e Vida Selvagem outono 2013 • 39
Parque Botânico do Castelo
Jorge Gomes
40 ESPAÇOS VERDES
exposição arqueológica
Quem visitou o Parque Botânico do Castelo, em Crestuma, entre o fim da tarde de 10 de agosto e o dia 14 de setembro, teve oportunidade de observar uma exposição itinerante de índole arqueológica intitulada “Castelo de Crestuma, a arqueologia em busca da história”. Esta mostra pôde ser visitada até 14 de setembro entre as dez e as 19h00. Os objetos encontrados durante as escavações evidenciam uma fase de ocupação mais expressiva aparentemente centrada nos séculos V e VI, embora sejam abundantes os vestígios de outras épocas, nomeadamente da fase romana.
Maria de Fátima Teixeira
Ambiente no interior da exposição
A exposição ficou instalada mesmo à entrada do Parque Botânico
Parque da Lavandeira Além dos agradáveis percursos pedestres, dos acolhedores locais para merendar e dos seus jardins temáticos, este parque acolhe uma série de iniciativas que cativam com regularidade os seus frequentadores. É o que acontece com os exercícios de tai chi ou de yoga, e de uma data de outras atividades que vão acontecendo neste espaço verde, que outrora foi uma abandonada quinta da Lavandeira. Em Oliveira do Douro, no concelho de Vila Nova de Gaia, perto do centro da cidade, este é um dos parques de entrada gratuita mais visitados ano a ano. A espreitar o lago, há uma cafetaria que amplia,
40 • Parques e Vida Selvagem outono 2013
Escavações arqueológicas
Túmulo talhado na rocha atribuível aos séc. X-XI
Jorge Gomes
Decorreu na segunda quinzena de agosto a quarta campanha de escavações arqueológicas no Castelo de Crestuma, realizada pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, com o patrocínio das Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM. Os trabalhos foram coordenados por António Manuel Silva e Gonçalves Guimarães que dirigiram uma equipa de 18 pessoas, entre arqueólogos, estudantes e outros especialistas, tendo incidido em diversas áreas daquele sítio arqueológico. Para além de numerosos entalhes e “buracos de poste” abertos na rocha natural – um dos elementos mais característicos desta estação arqueológica – as escavações proporcionaram outras descobertas de muito interesse, nomeadamente diversos muros datáveis de entre os séculos IV a VI e uma sepultura escavada na rocha da plataforma aplanada do topo do Castelo, que remontará aos séculos X-XI. À semelhança das campanhas anteriores foram recolhidos milhares de objetos arqueológicos, com destaque para a cerâmica, com cronologia entre a Idade do Ferro (1.º milénio antes da nossa era) até à Idade Média. Os fragmentos de uma telha romana com uma inscrição dos séculos V-VI contam-se entre os achados mais curiosos. Foram também feitas recolhas
de amostras de terras para análise e datação de materiais orgânicos. Como trabalhos complementares foram iniciados o estudo geomorfológico e mineralógico do lugar, bem assim como ações de prospeção nas imediações, que revelaram uma necrópole medieval com sepulturas abertas na rocha, bem assim como de outras estruturas junto ao rio, provavelmente portuárias. Aproveitando uma maré viva, em setembro será feita uma nova sondagem para melhor caracterização do cais romano descoberto no ano transato em Favaios. Na mesma ocasião a arqueóloga subaquática Cândida Simplício, com a colaboração dos mergulhadores da Companhia dos Bombeiros Sapadores de Gaia, fará um reconhecimento do leito do rio que banha a zona ribeirinha do Castelo. Paralelamente aos trabalhos arqueológicos, esteve aberta ao público junto da entrada do Parque Botânico a exposição itinerante “Castelo de Crestuma: a Arqueologia em busca da História”, que irá percorrer diversos espaços de Vila Nova de Gaia. Os resultados desta campanha foram apresentados ao público num evento integrado nas Jornadas Europeias do Património, dia 21 de setembro pelas 15h00, no Solar Condes de Resende. Texto J. A. Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva
João L. Teixeira
Âncora
a quem ali se desloca, as várias vertentes de lazer próprias do parque. Não se esqueça que também o pode visitar através de computador, no modo Street view/ Google maps! Agora que o outono se passeia no calendário, à sombra do arvoredo, mesmo que seja adepto da eletrónica, continua é a apetecer mais, isso sim, pôr-se a caminho e apurar os seus sentidos ao passear pelo seu próprio pé no parque.
Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook, no site www.parquebiologico.pt (botão Parque da Lavandeira), enviar uma mensagem pelo e-mail lavandeira@parquebiologico.pt ou telefonar para 227 878 138.
Agenda As mulheres do campo vêm à vila Aos sábados de manhã, venda de legumes sem pesticidas.
Yoga A orientação é da responsabilidade da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona a atividade em regime de voluntariado. Quartas e sextasfeiras às 9h45.
Tai Chi Às segundas e às quintas-feiras, aulas às 9h30. Entrada grátis. Participação nesta última atividade sujeita a marcação por e-mail: lavandeira@parquebiologico.pt
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42 ESPAÇOS VERDES Agenda
Oficinas de
Inverno Esta iniciativa destina-se a crianças e jovens com idades compreendidas entre os seis e os 14 anos, e decorrem de 16 a 20 de dezembro, nos dias 23, 26, 27 e 30 do mesmo mês, e ainda nos dias 2 e 3 de janeiro do próximo ano. A entrada aponta as 9h00 e a saída as 17h30. Pode contactar o Parque para realizar uma pré-reserva: Gabinete de Atendimento - telefones 227878137/227878138, atendimento@parquebiologico.pt, neste horário: outubro/fevereiro, 9h00/18h00.
João L. Teixeira
No período das férias natalícias os mais novos gostam de se inscrever nestes dias cheios de atividades atrativas
A breve prazo decorrem no Parque Biológico de Gaia iniciativas que podem Sábado no Parque • Dia 4 de janeiro o Parque prepara algumas atividades especiais para os seus visitantes, com início às 11h00: atelier “Construção de ninhos e comedouros para aves selvagens”. Depois do almoço, às 14h30, há a conversa do mês intitulada “Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque”, seguindo-se pelas 15h00 a visita guiada por técnicos do Parque e, simultaneamente, percurso ornitológico. Em 1 de fevereiro, está marcada a saída do Parque Biológico em autocarro às 10h00 para observação de aves na Reserva Natural Local do Estuário do Douro, com regresso às 12h00. Às 15h00 há lugar à abertura da exposição coletiva de fotografia da natureza “Vida selvagem no estuário do Douro”, de Francisco Bernardo, Maria Rêgo e Paulo Leite. Prevê-se
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que no futuro se recrie esta mostra, com outros autores, dada a grande quantidade de fotógrafos da natureza que ali passam e conseguem bons registos. Pelas 15h30 dá-se início a uma visita guiada pelos técnicos do Parque e observação de anfíbios e macro-invertebrados aquáticos. Nestes dias, à noite, às 22h00 há observações astronómicas, se as condições meteorológicas o permitirem.
Anilhagem científica de aves selvagens • Nos primeiros e terceiros sábados de cada mês, das dez ao meio-dia, os visitantes do Parque podem assistir a esta atividade na Quinta do Chasco de passagem pelo percurso de descoberta da natureza, se não chover. Está em causa o bem-estar animal. Orientada por anilhadores credenciados, há uma dúzia de formandos que prosseguem no objetivo de aprenderem sempre mais nesta
iniciativa útil para um melhor conhecimento da população de aves da região.
Máscaras da natureza • Este programa de Carnaval contempla ateliers para crianças e jovens das escolas (sob marcação), de 24 a 28 fevereiro. Saiba mais no Gabinete de Atendimento do Parque.
Oficinas de Carnaval • Para crianças e jovens dos seis aos 14 anos, de 3 a 5 de março, com entrada às 9h00 e saída às 17h30.
Observação de aves selvagens • Nos primeiros domingos e nos segundos sábados de cada mês, das 10h00 às 12h00, leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias e binóculos à Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Com telescópio, estará um técnico do
Jorge Gomes
LIFE-Trachemys
Marta Frazão
Tanque de anfíbios Em 4 de setembro no Parque Biológico de Gaia os participantes no encontro dos Campos de Verão iniciaram as operações de restauro do tanque da quinta do Chasco, começando por o limpar. A época do ano será a que menos impacto tem na biodiversidade deste espaço aquático, pois é procurado pela rã-ibérica, por tritões-de-ventre-laranja, endémicos da Península Ibérica, e outros animais: «O que fizemos foi recolher plantas e invertebrados para dar novamente vida ao tanque depois de impermeabilizado pela equipa da manutenção. Será mais um charco com vida», disse Ana Malfalda, a engenheira zootécnica que monitorizou a iniciativa.
Começaram a nascer em 8 de agosto no Parque Biológico de Gaia os primeiros cágados-de-carapaçaestriada deste ano, ao abrigo do programa LIFE-Trachemys. Resultante de incubação artificial, eis um já a sair do ovo, sem pressa nenhuma. Este programa centra-se na conservação da biodiversidade, que tem em vista proteger as duas espécies nativas de cágado da fauna ibérica da introdução de espécies exóticas.
Exposições de fotografia
Fotografia: Prémios Quercus Jorge Gomes
Parque para ajudar os presentes a identificar as aves do litoral a partir dos observatórios ali instalados.
João L. Teixeira
ser do seu interesse...
Percurso de descoberta • Sábado, dia 15 de março, há um percurso no Buçaco, com saída e chegada em autocarro a partir do Parque Biológico de Gaia.
Receba notícias por e-mail Para os leitores saberem das suas atividades a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma visita semanal a www.parquebiologico.pt A alternativa será receber os destaques, sempre que oportunos, por e-mail. Para isso, peça-os a newsletter@parquebiologico.pt
Mais informações Gabinete de Atendimento atendimento@parquebiologico.pt Telefone direto: 227 878 138 4430-861 Avintes - Portugal
Em 21 de setembro o salão de fotografia da natureza do Parque Biológico de Gaia acolheu a exposição relativa ao concurso nacional de fotografia Quercus, com a entrega de prémios aos concorrentes distinguidos pelo júri. A mostra pôde ser visitada até 29 de outubro.
Em 17 de setembro, no espaço anexo à biblioteca, o Parque Biológico de Gaia acolheu duas exposições de fotografia: uma intitulava-se “Biodiversidade ameaçada na Europa”, projeto E. B. E., com trabalhos de diversos alunos de escolas da região que retratam diversas áreas protegidas europeias. A outra mostra levava o título “Pedras da Castanheira” e os trabalhos expostos têm a autoria de Adriana de Melo e Silva.
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44 ESPAÇOS VERDES Fauna
Gomphus graslinii
Espécie protegida
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Jorge Gomes
E
m 29 de abril à hora de almoço junto à ponte de madeira próxima do rio Febros, no Parque Biológico de Gaia, uma libélula saiu a voar, trôpega – diz o fotógrafo a entendidos: «Não sei se será um imaturo pois voava com algum descontrolo. É fácil de identificar»? A pergunta tinha sido colocada num grupo de Odonata. Em matéria de probabilidades, não seria Gomphus graslinii, uma espécie protegida, por isso deveria ser Gomphus simillimus. Na discussão, Albano Soares continuava a ver ali G. graslinii e disse: «Era mesmo uma malha, e era o mais cedo que tinha notícia para essa espécie». Este inseto é uma libélula da família Gomphidae. Pode ser encontrada em Portugal, em Espanha e na França. Os seus habitats naturais situamse em rios pouco poluídos e está ameaçada pela sucessiva perda de habitat. Das espécies que ocorrem em Portugal há quatro com estatuto de conservação. Uma delas, Coenagrion mercuriale, tem sido fotografada no Parque Biológico ao longo dos anos; Gomphus graslinii foi casualmente encontrada desta vez por uma objetiva indiscreta. Quando a hipótese de ser a espécie que realmentera é se afastava, um francês, Christophe Brochard, fez um recorte de pormenor da imagem desta libélula e com setinhas explicou todas as razões pelas quais não fazia sentido duvidar: ocorreu mesmo ali, o G. graslinii.
Flora
Hepática dos invólucros negros
Planta aromática e medicinal Targionia hypophylla L.
P
lantas verde-escuras em estado húmido, com talos longos, planos, simples ou bifurcados, com aspeto lustroso e algo coriáceo. A olho nu, é possível observar que a superfície dorsal é levemente reticulada, composta por pontos minúsculos que são pequenas aberturas, ligeiramente salientes, denominadas por poros e que permitem trocas gasosas. Com o auxílio de um microscópio é possível ainda observar que cada poro comunica com uma câmara aerífera onde existem células clorofilinas. A superfície ventral do talo é composta por escamas semilunares negro-violáceas que apresentam brilho metálico e estão dispostas do mesmo modo que as telhas de um telhado. Os órgãos reprodutores femininos são sésseis e globosos e encontram-se na extremidade da superfície ventral do talo, enquanto os órgãos reprodutores masculinos são sésseis e encontram-se na extremidade de raminhos ventrais. É uma espécie que produz frequentemente cápsulas. Cada cápsula está contida num invólucro negro, coriáceo, sub-hemisférico e com duas valvas, situado ventralmente nas extremidades dos talos. Quando estes invólucros negros estão presentes, esta espécie não é confundida com nenhum outro género, daí o seu nome comum. Em estado seco, o talo enrola-se fortemente, ocultando a superfície dorsal e deixando bem visíveis as escamas negras-violáceas e os invólucros negros que se
encontram na superfície ventral do talo – a planta toma então o aspeto de um estreito cordão negro-violáceo. Neste estado, o talo consegue resistir a períodos longos de secura e as valvas dos invólucros negros afastamse para a disseminação dos esporos, já soltos no seu interior pela abertura da respetiva cápsula. Espécie mediterrânica, cosmopolita na Península Ibérica, que pode ser facilmente observada em paredes, fendas de rochas e muros e que tolera habitats sazonalmente secos. No Parque Biológico é possível observar esta espécie em fendas de muros. Recentemente, num estudo etnobriológico realizado na Índia, foi possível confirmar o uso desta espécie por algumas tribos para tratar fundamentalmente doenças de pele, dada a semelhança da planta com a superfície de peles doentes. Porém, ainda estão a ser desenvolvidos estudos fitoquímicos para descobrir o princípio ativo desta espécie. Apesar de poder parecer estranho, até estas pequenas plantas podem ter um cheiro forte. É o caso desta espécie que pertence ao grupo das hepáticas fortemente aromáticas. Em material fresco, quando levemente comprimida, liberta um suave cheiro a óleo de cedro, porém, o aroma não persiste em material seco. Portanto, para detetar este aroma peculiar é mesmo necessário descer o nariz à planta. Boas provas sensoriais! Texto Helena Hespanhol e Cristiana Vieira (CIBIO-UP) Foto Cristiana Vieira (CIBIO-UP)
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João L. Teixeira
Pedro Almeida
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Um peneireiro regressa à vida selvagem na Escola Básica do Susão, em Valongo
Centro de recuperação Em 4 de outubro, Dia do Animal, houve uma série de devoluções à natureza de fauna que tinha dado entrada debilitada no centro de recuperação
A
Escola Básica do Susão, em Valongo, foi palco da libertação de peneireiros-comuns, pelas 10h30. Estas aves tinham sido reabilitadas pelo Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Biológico de Gaia e, encontrando-se agora em condições de sobreviver em liberdade, tornaram-se objeto de atenção de numerosas pessoas que ali afluíram, cerca de 400, entre alunos, professores e até pessoas que passavam na rua naquele momento: «Mais uma vez a emoção de uma libertação de um animal esteve ao rubro entre todos», afirma Alexandra Cruz, técnica do Parque que orientou o evento. Tudo isto foi precedido de uma explicação sobre a espécie, as ameaças
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à biodiversidade e o papel desempenhado por estes animais na saúde dos ecossistemas. Não foi caso único. Estas sessões de libertação de animais selvagens recuperados para uma vida em plena natureza envolveram outras cidades, sendo porém a maioria em Vila Nova de Gaia: Parque de Dunas, um peneireiro-comum, às 10h00; Parque da Quinta do Conde das Devesas: um peneireiro-comum, às 11h00; Parque Botânico do Castelo: um açor, às 14h30; Parque da Lavandeira: um peneireiro-comum, às 17h00; Parque Biológico de Gaia: uma coruja-do-mato, às 20h00. Gondomar também foi englobada: na Quinta do Passal foi lbertado um açor, às 10h30. Na Maia, no Parque de Avioso, dois
Libertação de um peneireiro no Parque da Lavandeira, em Vila Nova de Gaia
Recovery Centre of Wild Fauna
On 4th October, World Animal Day, there was a series of release and returns to nature of injured birds and fauna that had been received in the Park. Among them were species such as Common Kestrels, Red Kites, Goshawks, Common Buzzards, Owls and the Hedgehog.
Um peneireiro com pressa de voar, no Parque do Conde das Devesas, em Vila Nova de Gaia
Fernando Ferreira
João L. Teixeira
U ma coruja na iminência de abrir asas, no Parque de Avioso, na Maia
ouriços-cacheiros e uma coruja-do-mato, pelas 21h00, retomaram uma vida em liberdade. Também a Quinta da Conceição, em Matosinhos, foi o cenário da libertação de um peneireiro-comum, às 15h00. Na Casa da Natureza, no Parque do Rio UL em S. João da Madeira, um milhafrepreto abriu asas pelas 16h00. O Colégio de N.ª Sr.ª das Graças, em Braga, foi o ponto de partida de uma nova vida sem grades para águias-deasa-redonda, pelas 9h30. Na Figueira da Foz, no Colégio de Quiaios, um peneireiro-comum, pelas 11h00, regressou à liberdade com que nasceu. A assistência foi livre, exceto nas escolas.
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As sessões de anilhagem funcionam normalmente nos primeiros e terceiros sábados do mês, se não chover
Anilhagem científica de aves selvagens O grupo de anilhagem em serviço no Parque Biológico de Gaia contou sete anos de atividade contínua no passado dia 14 de outubro: dá corpo a uma Estação de Esforço Constante cujos dados integram a Central Europeia de Anilhagem
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«O melro, Turdus merula, com a anilha F15972 é a ave que se distingue entre as que controlámos ao longo destes sete anos que atingiu a maior longevidade», diz Ricardo Vieira, elemento do grupo de anilhadores em formação, responsável pela introdução de dados. Continua: «Anilhado em 21 de julho de 2007 por Rui Miguel Brito, verifica-se que foi controlada 2184 dias depois, no dia 13 julho de 2013, por David Santos». Há também «o pisco-de-peito-ruivo, Erithacus rubecula, portador da anilha A255048, capturado no dia 18 de outubro de 2010 e anilhado por João Rua, que foi posteriormente controlado 16 vezes por diversos anilhadores num período máximo de 945 dias, ou seja, a última recaptura ocorreu no dia 21 de maio de 2011 por Rui Andrade. Desde esse dia não temos mais informações deste pisco...».
Processamento de uma estrelinha
Meros pormenores, sem dúvida, mas, com mais tempo, decerto haverá muitos e mais importantes dados a extrair desta volumosa informação acumulada ao longo do tempo para fins de investigação. É preciso ter gosto pelo que se faz! O dia deste grupo de trabalho começa no breu, uma hora antes do alvorecer. Às escuras, com horas a dever à cama, nos primeiros e terceiros sábados de manhã de cada mês percorrem vários habitats florestais do Parque Biológico de Gaia e instalam as redes habituais para captura das aves selvagens, a fim de que estas possam ser transportadas até à mesa de anilhagem, na quinta do Chasco. Aí estes animais são examinados um a um. Anota-se então o peso e outros dados biométricos, aplica-se a anilha oficial com um código alfanumérico único e depois há que deixá-la voar de novo.
Libertação de um gaio anilhado
Esta Estação de Esforço Constante encontra-se ligada à Central Nacional de Anilhagem que articula os dados colhidos com a Central Europeia. Sob a batuta de dois anilhadores credenciados, António Cunha Pereira e Rui Miguel Brito, o grupo dá também formação a voluntários: «Temos nesta altura 11 formandos que têm estado com mais regularidade nas sessões, dos quais um já com a credencial de aprendiz», diz Pedro Andrade, um dos formandos mais antigos.
Texto Jorge Gomes Fotos Henrique N. Alves Verificação de gordura acumulada
Parques e Vida Selvagem outono 2013 • 49
João L. Teixeira
50 BATER DE ASA
Gaivota-de-asa-escura
das aves
A
anilha tinha sido aplicada em 15 de outubro de 2012 em Rijkevorsel, Antuérpia, na Bélgica. Três meses e cinco dias depois de anilhado deslocou-se para sul 1764 quilómetros. Esta informação foi fornecida pelo Instituto Real de Ciências Naturais da Bélgica, que sublinha a importância de ser contactado sempre que alguém consiga recuperar uma anilha. Uma gaivota-de-asa-escura, Larus fuscus, com anilha holandesa 5287884 (Arnhem VT), aplicada em 29 de junho de 1993, foi encontrada morta em 2 de novembro do mesmo ano numa das praias de Vila Nova de Gaia, a uma distância de 1505 quilómetros, segundo dados da central de anilhagem desse país. Em 6 de março deste ano uma gaivotade-patas-amarelas, Larus michahellis, com a anilha H31580, foi observada em deslocação por Hugo Oliveira, técnico do
50 • Parques e Vida Selvagem outono 2013
Parque Biológico, em Gaia. Esta ave tinha sido anilhada em Espanha em Isla de Izaro, Vizcaya em 3 de julho de 2012. Outro tordo-comum, Turdus philomelos, portador da anilha 20Z10761, foi abatido a tiro em 7 de fevereiro de 2010 em Arraiolos, Évora, na herdade do Sobral, segundo dados da Central Nacional de Anilhagem (ICNF). Esta ave tinha sido anilhada a 1588 quilómetros de distância, em 5 de agosto de 2008, no Luxemburgo, em Ethel. Um pássaro desta mesma espécie, mas portador da anilha 21Z82283, em Grijó de Parada, Bragança, teve o mesmo fim em 20 de dezembro de 2009. Segundo dados fornecidos pela Central Nacional de Anilhagem tinha sido anilhado em 7 de outubro de 2008 em Brecht, perto de Antuérpia (Anvers), na Bélgica. Com a anilha 22Z36953, em Pombal, Leiria, foi abatida em 21 de janeiro
de 2010 outra ave da mesma espécie. A anilha tinha sido aplicada, segundo dados cedidos pela central de anilhagem, em Ingooigem, na Flandres Ocidental, Bélgica. Se encontrar uma anilha, contacte a revista Parques e Vida Selvagem – tentar-se-á apurar os dados relativos à ave em causa, seguindose a publicação dos mesmos nestas páginas.
Tordo-comum
João L. Teixeira
O voo
Um tordo-comum com a anilha 23Z62664, de Bruxelas, foi abatido por Luís Carvalho em 20 de janeiro do corrente ano em Portugal, mais propriamente no Baixo Alentejo, em Moura
OBSERVATÓRIO 51
Breve
história dos cometas
A palavra cometa é uma latinização do grego komhmz (ter cabelo longo): de facto, a expressão utilizada na Grécia antiga para designar um cometa era asthr (aster) komhthz, literalmente “estrela com cabelo longo”
O
nome é uma alusão clara ao aspeto visual de um cometa brilhante no céu: uma zona central semelhante a uma estrela a partir da qual se estende uma cauda difusa e luminosa. Existe frequentemente uma confusão entre cometas e meteoros (mais conhecidos popularmente por “estrelas cadentes”) devido ao facto de os últimos terem também um rasto luminoso. Os meteoros são na realidade produzidos por pequenas partículas de poeira espacial intersetadas pela Terra que, quando entram na atmosfera terrestre, ficam incandescentes devido à fricção; normalmente são visíveis apenas por breves segundos podendo ocasionalmente ser bastante brilhantes. Um cometa brilhante, pelo contrário, é visível durante várias noites, movendo-se lentamente no céu relativamente às estrelas, e apresentando alterações de brilho e aspeto geral. Os cometas suscitaram a curiosidade de muitos estudiosos desde a Antiguidade. Uma das primeiras explicações conhecidas para a sua aparição foi apresentada pelo famoso filósofo grego Aristóteles. Este considerava os cometas como fenómenos atmosféricos, resultado da emanação de gases com origem na Terra que na sua ascensão através da atmosfera começavam a arder devido a faíscas produzidas pelo movimento das esferas celestes, situadas imediatamente acima. Outros pensadores não concordavam. O filósofo romano Séneca, por exemplo, acreditava que os cometas eram corpos celestes tal como os planetas. Infelizmente, a doutrina de Aristóteles sobre o mundo físico dominou o pensamento de uma forma quase dogmática até ao final da Idade Média. O renascimento trouxe uma maior abertura a novas ideias e o estabelecimento do método científico. Tycho Brahe, um excêntrico astrónomo dinamarquês, em colaboração com colegas, utilizou o método da paralaxe
Quando o cometa está a cerca de 5 unidades Astronómicas começa a formar-se uma cabeleira de gás em torno do núcleo
O núcleo aquece e começa a sublimar
A cerca de 1 UA forma-se a cauda, empurrada pelo vento solar e pela radiação
2UELWD WHUUHVW
UH
Radiação solar Vento solar
Particulas maiores não visíveis. Não são afetadas pela luz solar
Entre 3 e 4 UA o aquecimento do Sol diminui e começa a desaparecer a cauda e cabeleira
A cauda de poeiras é empurrada pela luz solar
A cauda de plasma é varrida para trás pelo vento solar
A cauda aponta no sentido oposto ao Sol
para estabelecer que o Grande Cometa de 1577, visível em novembro e dezembro desse ano, se encontrava a uma distância da Terra superior à da Lua. De um só golpe, a natureza celeste dos cometas ficou estabelecida. Quase um século depois, e usando a Teoria da Gravitação Universal recentemente desenvolvida por sir Isaac Newton, o astrónomo inglês Edmond Halley calculou pela primeira vez a órbita de um cometa, a do Grande Cometa de 1680, também designado Cometa de Kirch. Os cálculos de Halley sobre as órbitas de cometas passados levaram-no a concluir que alguns deles tinham órbitas semelhantes e poderiam aparecer periodicamente. Halley postulou que um desses cometas reapareceria em 1758, o que veio a confirmarse. O nome de Halley, falecido em 1742, foi desde então associado a este famoso cometa que teve a sua última aparição em 1986. A invenção do espetroscópio no início do
século XIX, por Joseph von Fraunhofer, permitiu analisar em detalhe a luz proveniente dos corpos celestes e determinar que são constituídos por elementos e moléculas comuns. Utilizando esta técnica, em meados do mesmo século, os astrónomos Giovanni Battista Donati, Angelo Secchi e William Huggins realizaram as primeiras observações espetroscópicas de cometas e revelaram que a sua composição se dividia entre gás (proveniente da sublimação de gelos) e poeiras muito finas. O gás, por ação da radiação ultravioleta do Sol, brilhava por fluorescência; as poeiras libertadas pelo cometa refletiam diretamente a luz do Sol. Apesar destes avanços, foi necessário esperar até à década de 50 do século XX para que o astrónomo americano Fred Whipple apresentasse um modelo adequado para um cometa, modelo esse que, com pequenas alterações,
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52 OBSERVATÓRIO
1P/Halley - 16 x 8 x 8 Km Vega 2, 1986
19P/Borrelly 8 x 4Km Deep Space 1, 2001
9P/Tempel 1 7.6 x 4.9 Km Deep Impact, 2005
103P/Hartley 2 2.2 x 0.5 Km Deep Impact, 2010
se mantém válido até hoje, tendo sido confirmado diretamente por missões espaciais que visitaram vários cometas. Whipple imaginou os cometas como corpos celestes com dimensões que variavam desde alguns metros até vários quilómetros, formados por vários tipos de gelos (de água, de amónia, de dióxido de carbono), misturados com rocha e poeiras (partículas de rocha muito finas, microscópicas). Este modelo é designado de “bola de neve suja” (dirty snow ball no original). Um tal corpo, a grande distância do Sol, estaria submetido a temperaturas muito baixas e teria muito pouca atividade, mantendo-se durante a maior parte do tempo num estado quiescente. Quando a sua órbita o fizesse aproximar do Sol, os gelos que o compõem começariam a sublimar lentamente, devido ao aumento da temperatura à sua superfície, e o gás libertado envolveria o núcleo do cometa formando uma nuvem aproximadamente esférica designada de “cabeleira”; parte destes átomos e moléculas, bombardeados pelas partículas carregadas eletricamente do “vento solar”, brilhariam por fluorescência e seriam empurrados na direção oposta ao Sol, formando o que se designa por “cauda de gás”. A sublimação dos gelos libertaria também as partículas de poeira aderentes. Estas partículas entrariam na órbita do Sol formando uma cauda longa que refletiria a
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81P/Wild 2 5.5 x 4.0 x 3.3 Km Stardust, 2004
luz solar e, dependendo do ângulo entre o Sol, a Terra e o cometa, poderia assumir formas muito diversas. Aproximadamente na mesma altura, o astrónomo holandês Jan Oort estudou o problema da origem dos cometas. Ao longo da sua órbita em torno do sol, os cometas só se tornam visíveis da Terra quando se aproximam do Sistema Solar interior; Oort queria saber onde passavam eles o resto do tempo. Para isso estudou as órbitas calculadas para centenas de cometas passados e descobriu que a maioria tinha órbitas extremamente alongadas, que os traziam brevemente até junto do Sol e os mantinham muito afastados a maior parte do tempo, na realidade muito para lá das órbitas dos planetas conhecidos. Oort calculou a quantidade de cometas que deveriam existir, a distância média a que se deviam encontrar e a sua distribuição no espaço; a sua estimativa foi de que o Sistema Solar deveria estar rodeado de uma “nuvem” gigante contendo biliões (milhões de milhões) de cometas, cuja distância se estenderia até cerca de um terço da distância até à estrela mais próxima do Sol – o sistema triplo da Alfa do Centauro. Sabe-se hoje que estes núcleos cometários são constituídos por material do disco protoplanetário que existiu em torno do Sol e a partir do qual se formaram os planetas. Os núcleos cometários que se formaram neste disco foram ejetados em todas as direções, por interações gravitacionais com os planetas gigantes, durante a infância do Sistema Solar, formando a (agora denominada) Nuvem de Oort.
Com o início da exploração espacial, no final da década de 50, e os avanços tecnológicos das décadas seguintes, tornou-se possível, já no final do século XX e início deste século, enviar sondas espaciais até cometas conhecidos cujas órbitas são menos alongadas e que por esse facto passam mais tempo nas proximidades do Sistema Solar interior. Estes cometas já fizeram parte da Nuvem de Oort mas, numa das suas passagens pelo Sistema Solar interior, tiveram as suas órbitas alteradas por influência dos planetas gigantes, em particular Júpiter. As imagens obtidas por sondas como a Giotto (ESA), a Vega (URSS), a Deep Impact (NASA), a Deep Space 1 (NASA) e a Stardust (NASA) mostram núcleos cometários com formas e tamanhos muito variados. Estudos da composição do gás e poeiras na sua vizinhança, bem como amostras obtidas por impacto de uma segunda sonda na superfície (no caso da missão Deep Impact), permitiram demonstrar que o modelo de Whipple estava, na generalidade, correto, e contribuíram para aprofundar o nosso conhecimento destes fósseis do tempo da infância do Sistema Solar. Um “Grande Cometa”, por definição um cometa tão brilhante que mesmo um observador casual do céu facilmente se apercebe da sua presença, é um espetáculo inesquecível, especialmente se visto de um local sem poluição luminosa. Muitos dos leitores lembrar-se-ão do Grande Cometa de 1997, o HaleBopp, que foi visível ao longo de vários meses com uma bela cauda. O Grande Cometa de 2007, o McNaught, passou quase despercebido aos observadores do hemisfério Norte, mas foi visível em pleno dia e proporcionou um espetáculo lindíssimo aos nossos colegas do hemisfério Sul. No momento em que escrevo aproxima-se rapidamente do Sol um outro cometa, designado de ISON, que poderá ser espetacular no final de novembro e início de dezembro, próximo do horizonte Sudeste, pouco antes do nascer do Sol. Atualmente as perspetivas são moderadamente animadoras mas é extremamente difícil prever o comportamento dos cometas pois este depende de muitas variáveis difíceis de quantificar. Resta esperar para ver o que o ISON nos vai oferecer. Por Luís Lopes
ENTREVISTA 53
Salvador Rivas Martínez
o senhor Fitossociologia
Em 2003, nas Canárias, Salvador Rivas Martínez conversa com um grupo de botânicos
Salvador Rivas Martínez é talvez o botânico mais consagrado em todo o mundo no que toca a esta disciplina científica que lida com a sociologia das plantas: neste outono, por telefone, aceitou dar-nos uma entrevista...
B
iólogo, farmacêutico, botânico, pteridólogo, micólogo, alpinista e principalmente professor. É autor e co-autor de mais de 400 nomes científicos de plantas, bem como pai da fitossociologia tal como a conhecemos hoje em dia. Cientista-prodígio, aos 21 anos de idade tinha já uma licenciatura, doutorou-se aos 22 e já era catedrático aos 29. Alpinista de coração, perdeu vários amigos nas montanhas mas continuou a escalar. Aplica-se-lhe sem dúvida a expressão “filho de peixe sabe nadar”: já o seu pai, Salvador Rivas Godoy foi um grande vulto da botânica, assim como seu avô Marcelo Rivas Mateo. Atualmente e há já mais de uma década, está empenhado, entre outros projetos, na classificação bioclimática da Terra.
Se tivesse de explicar ao homem da rua o que é a fitossociologia, o que diria? Rivas Martínez – Diria que é a ciência que
estuda o comportamento das plantas quando vivem em comunidade. Isso não é aleatório. Como qualquer planta possui uma informação genético-ecológica, quando vive em comunidade é capaz de dar mais informação do que quando vista isoladamente. A sua valia fundamental reside em trabalharse simultaneamente com muitas espécies. Como vê o futuro da ciência – sobreviverá à classificações automáticas, aos sistemas de informação geográfica, por exemplo? Rivas Martínez – Não nos podemos esquecer que o que procuramos todos é o significado, o comportamento e outras coisas mais como o significado bioclimático, territorial e ecológico das comunidades. As classificações automáticas não são mais do que uma ajuda para poder perceber melhor ou pelo menos entender, se for o caso de não haver muita informação sobre os elementos que a constituem. Newton terá dito que, se foi grande, foi só porque subiu aos ombros de gigantes
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– a que ombros subiu Salvador Rivas Martínez? Rivas Martínez – O primeiro a que subi foi o do estudo, que é um bom ombro. Depois tive a sorte de ter bons mestres (Reinhold Tüxen, J. Braun-Blanquet) e bons discípulos que tornaram possível contar não só com os elementos retirados da observação e do trabalho mas igualmente com o que resulta da união de esforços. Tive também a sorte de trabalhar com grandes botânicos, meus amigos, com quem aprendi muito. Quando jovem, o meu pai, Salvador Rivas Godoy, marcou-me muito e ensinou-me imenso… É verdade que sou professor e ensino, mas também sou um eterno aprendiz. Bom, e muitíssimo trabalho também, não? Rivas Martínez – Sim, o trabalho é a chave mas tem de se trabalhar com método e marcar objetivos que sejam viáveis, e ser constante. Como homem que conhece quase o planeta, como vê a Década da Biodiversidade que as Nações Unidas implementaram? Rivas Martínez – Sou bastante otimista. Creio que numa primeira fase vivemos da natureza e corremos o risco de consumir demasiado. Estamos perto da ruptura de recursos hoje nalguns setores. Mas com o tempo conhecemos melhor como surgem esses recursos, como os utilizar melhor, apercebemo-nos do dinamismo da vegetação, conhecemos melhor a própria biodiversidade e estamos mais capazes de, digamos, a explorar, a utilizar, e geri-la de forma adequada. Isso não quer dizer que os países mais sobrepopulacionados não tenham grandes dificuldades para manter tudo o que têm. Há 50 anos não encarava isto com tanta segurança como hoje o faço: não sou catastrofista. Aqui na Península Ibérica temos uma biodiversidade que ultrapassa mais de metade da que existe em toda a Europa. Deriva daí uma grande responsabilidade na sua conservação. Já a conhecemos bastante bem e somos capazes de aprender com os erros. O inimigo pode ser a conjuntura económica que não liberta dinheiro suficiente… mas é conjuntural e a biodiversidade estará assegurada, creio. Como pensa que o abandono do campo se irá relacionar com a biodiversidade? Rivas Martínez – Temos de aproveitar. Surge
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João L. Teixeira
54 ENTREVISTA
uma grande oportunidade de utilizar esses recursos. O clima agradável atrai o turismo que na vertente da natureza tem muito para oferecer. Há também o que sabemos ser bom nesta região, os vinhos, o azeite, a cortiça… Temos um grande aliado que é a vegetação, se não for toda destruída. Como normalmente isso não acontece ela recupera sem nos pedir muito esforço. Em Espanha, comparando saídas de campo de há 30 ou 50 anos, verifico hoje que os bosques estão muito melhor. Até os endemismos estão bem representados. Noutros países, como os EUA, os recursos ligados ao turismo de natureza valem muitos milhões e empregam milhares de pessoas. Como comenta os incêndios que passam nas notícias? Rivas Martínez – Os países mediterrânicos produzem muita biomassa, mas o que tem ocorrido é fogo mal intencionado. São delitos gravíssimos, que haverá que castigar.
Depois do incêndio, podemos comparar o terreno a alguém que tem uma queimadura, não há que mexer muito nela. Os problemas existem e devem existir políticas e leis adequadas. Aquela ideia de que a conservação da natureza vai contra o desenvolvimento da sociedade é errada, passa-se antes o contrário. Antigamente ninguém valorizava o uso tradicional da terra e agora todos o valorizam. Não somos loucos e já demos provas disso ao mundo, não nos deixaremos enganar. Os problemas serão conjunturais. Como homem de ciência que projeto elege de forma especial dentro da sua atividade? Rivas Martínez – Continuo com muitos sonhos, apesar de já ter feito 78 anos. Levo uma vida preenchida com trabalho intelectual, desporto e hábitos saudáveis. Isso fez com que conseguisse chegar a uma idade avançada com capacidade de trabalho. Como me vejo assim, e com
Mister Phytosociology
Como qualquer planta possui "uma informação genético-ecológica,
Salvador Rivas Martinez is perhaps the most renowned Botanist in the world when it comes to this scientific discipline which deals with the sociology of plants. This autumn, he agreed to give this exclusive interview.
quando vive em comunidade é capaz de dar mais informação do que quando vista isoladamente
"
melhor saúde do que a que o meu pai teve, interesso-me muito pela bioclimatologia. Atualmente levo já muitos anos a trabalhar no continente americano, na Califórnia, e estou a ultimar o que será um resumo que, como tem imensa informação, será um calhamaço. Antes de morrer queria terminar a biogeografia do mundo: tenho um projeto com a Google que espero que se concretize para a bioclimatologia. O que me dá mais prazer atualmente é a bioclimatologia porque é aquilo que realmente mudou. Já não se discute se é boa ou má, simplesmente se utiliza, logo é útil, ponto final. São 60 anos de trabalho contínuo… O maior prazer vem da partilha e de ter trabalhado com um enorme número de pessoas, amigos, mestres e discípulos, alguns destes que depois se tornaram também meus mestres e outros que já desapareceram até… e a grande alegria vem quando temos um bocadinho para
falar entre um congresso ou seminário, num trabalho de campo ou viagem, e se tenho algum capital é esse, é esse gosto e apreço que valoriza a essência da universidade e se torna essencial para fazer avançar a ciência. A maior alegria foi a fitossociologia… Andou por todo o planeta… Rivas Martínez – Tenho amigos por todo o lado. Muitos em Portugal, desde a Rússia ao Japão, até aos índios do Hindustão. Uma cooperação desinteressada, amigável e científica – esta é a chave e a originalidade da ciência. É outra forma de ver o mundo. Há alguma história de campo que possa partilhar com os leitores? Rivas Martínez – Passei cerca de 20 mil noites fora de casa, muitas ligadas ao alpinismo. Passaram-se muitíssimos episódios. Sou analítico, não sei contar histórias. Dizia-se que a ciência estava nos livros e agora diz-se que está na internet. Não é verdade. A ciência é uma aventura pessoal que decorre no teu cérebro. E quanta mais
acumulares, bem ordenada e estratificada, melhor poderás conjeturar. Essa é a aventura de cada um. Quando desaparece um homem de ciência é um desperdício, porque milhares de horas de acumulação de informação, de experiências não ficam registadas – a vida é um luxo… e por muito longa que seja a nossa vida a aventura terminará; mas não se pode desesperar, alguém pegará no método, no caminho e continuará. Sou otimista. Como sou intelectual vejo do que disponho para poder trabalhar. Como sociedade não acertamos no momento, mas iremos acertar. Newton, já antes referido, terá dito que construímos poucas pontes e muitos muros: que muro e que ponte gostaria de construir? Rivas Martínez – Creio que a melhor ponte é a do humanismo. Aquele apelo a que dediquemos uma parte do nosso tempo e do nosso esforço aos outros. As pontes são os aviões que cruzam o céu e com eles esparge-se esperança para todos. O muro? Será o do diálogo, do amor para a compreensão do outro. Não sou grande crente, mas sou muito ético. A ética cristã é uma maravilha, está aí uma semente imponente. Enquanto pacifista, como vê o mundo global, com problemas que contagiam ambos os hemisférios? Rivas Martínez – O primeiro ponto é o de que temos de nos conhecer melhor. É verdade que não existem aviões para todos, mas temos de conhecer-nos melhor, sair… e ver os problemas, a dor, a alegria. Os problemas repartem-se, não digo de forma igual, mas estão por todo o mundo. Os sonhos são um lugar-comum. Repare que o sistema democrático é simpático porque permite-nos decidir, mas é escorregadio porque nos pode enganar. É importante ter mais cultura, mais conhecimentos – esse é o antídoto, não nos deixaremos equivocar. Tudo o que vive no planeta tem o direito de existir – e esta ideia já impregna uma parte importante da população, sendo isso importante para a conservação. Está associada à luta contra a incultura, contra a fome, que é bem melhor do que gastar dinheiro em armamento.
Texto Henrique N. Alves e Jorge Gomes
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56 REPORTAGEM
Lac-du-Bourget
o maior lago natural francês
O Lac-du-Bourget, na Sabóia, é o maior lago natural de França e ponto de paragem de inúmeras espécies, algumas delas raras, tais como o papa-ratos (Ardeola ralloides), o merganso-grande (Mergus merganser) ou o mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus)
56 • Parques e Vida Selvagem outono 2013
Manuel Bouron/Cen-Savoie
Vista do Lac-du-Bouget
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Manuel Bouron/Cen-Savoie
58 REPORTAGEM
Manuel Bouron/Cen-Savoie
Ervilha-do-pântano (Lathyrus palustris)
Papa-ratos (Ardeola ralloides)
Paisagem do Lac-du-Bourget observada a partir do observatório das garças
F
oi em fevereiro deste ano que visitei uma região francesa: Aix-les-Bains, situada próxima às fronteiras da Suíça e da Itália, para representar o Parque Biológico de Gaia numas jornadas técnicas sobre cágados. André Miquet e Frédéric Biamino, do CPNS – Conservatório do Património Natural da Sabóia, receberam com simpatia os participantes e no segundo dia organizaram uma visita a um local de paragem obrigatória – o Lac-du-Bowurget onde foram reintroduzidos desde o ano 2000 cágadosde-carapaça-estriada (Emys orbicularis) que chegaram a extinguir-se na região. Ia preparada para o frio e neve, pois a temperatura rondava os 4º C negativos. Mas a tranquilidade e a beleza do local foi uma grande surpresa. Se qualquer ser humano se enche de paz naquelas paragens, um observador de natureza apaixona-se. Nas encostas com solos pobres e forte exposição solar desenvolvem-se os prados secos. Considerados importantes refúgios de biodiversidade, acolhem entre outros a cobra-de-escapulário (Zamenis longissimus), o lagarto-verde (Lacerta bilineata), a águia-cobreira (Circaetus gallicus) e várias João L. Teixeira
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espécies de orquídeas como a erva-abelha (Ophrys apifera). Emblemática na região é a perdiz-das-neves (Lagopus mutus). Com uma enorme capacidade mimética apresenta três colorações de plumagem consoante a temperatura: branca de inverno, escura no verão e colorida entre estações. Depois de descoberta é de fácil observação, pois quando se sente ameaçada prefere ficar imóvel. As maiores populações existentes na Sabóia ocupam as montanhas de Beaufort e Vanoise. O CPNS – Conservatório do Património Natural da Sabóia é uma associação entre o Estado, associações de proteção da natureza e federações de caçadores e pescadores, nascida em 1991. O principal objetivo é conservar a biodiversidade principalmente de 60 espécies raras ou ameaçadas de fauna e flora, protegendo os seus habitats e os chamados corredores biológicos, que permitem a circulação dos animais entre áreas protegidas.
Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis)
Texto Ana Mafalda Alves Agradecimentos a Frédéric Biamino e André Miquet – CPNS
Ana Mafalda Alves
Bourget-du-Lac: the largest natural French lake
Ana Mafalda Alves
Ana Mafalda Alves
The Bourget-du-Lac, in Savoy, is the largest natural lake in France. It is the stopping-off point for many species, some of them extremely rare, such as the Squacco Heron, the LargeMerganser or Great Crested Grebe.
Instalação de aclimatação de cágados-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis): os juvenis de terceiro ano criados em cativeiro são libertados nesta instalação durante um ano para se adaptarem ao local, mas monitorizados e protegidos de predadores Merganso-grande (Mergus merganser) Manuel Bouron/Cen-Savoie
Observatório das garças
Conservatoire du Patrimoine Naturel de la Savoie Le Prieuré - BP 51 73372 Le Bourget-du-Lac Cedex 0479252032 info@patrimoine-naturel-savoie.org http://www.cen-savoie.org
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60 REPORTAGEM
Tapada Nacional de Mafra
uma reserva de reis
Dedicada ao lazer de monarcas entre os séculos XVIII e XX, a Tapada é hoje uma área protegida de interesse público: uma mão-cheia de espécies protegidas encontra ali habitat, como ocorre com a águia-debonelli — no início do outono, depois de nidificarem, estas rapaces dificilmente se veem e cedem lugar à brama dos veados... A brama do veado faz parte da história da floresta portuguesa autóctone
A
s copas de pinheiro-manso polvilham o horizonte na Tojeira quando a colina olha de cima o vale. Um bando de pombos-torcazes bate asas no céu azul rumo ao dormitório. Súbito, um ronco impõe-se na paisagem… prolonga-se, sobe pelas serranias. Nem precisa de entrelinhas para propagar dominância. Algures, as fêmeas avaliam sem arrufo uns e outros primeiro pelo ouvido, enquanto o veado ordena aos rivais que se afastem para outras bandas. A brama atira urros que se estendem num sobe e desce cadenciado, ora mais perto ora mais longe.
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É o que se escuta agora sem delonga: distante, outro veado brama… talvez menos autoritário. Não são brincadeira aquelas hastes que se impõem à distância, ramificadas, numa paisagem dominada agora pelas cores douradas do entardecer. Há dois machos que deambulam juntos, por momentos. Na brama, exibem-se lado a lado, num passo lento que não quer denunciar fraqueza. Percebe-se que o veado dominante carrega o rival, algo magnetizado, para que vá dali para fora. É o prelúdio do conflito, com vista a poupar energias e ferimentos resultantes do combate.
Fêmea de veado e cria
Aroeira, Pistacia lentiscus, espécie tipicamente mediterrânica
Cebola-albarrã, Urginea maritima, em flor
Quando o outono conta ainda poucos dias, a reserva está feita para o capricho do harém que há de arribar: não vale perdê-la! Segue connosco Ana Gago, bióloga ao serviço da Tapada: «Com o passar dos anos os veados vão tendo hastes maiores e normalmente as manadas só se juntam na época do acasalamento – fora dela não é tão fácil observá-los». Sendo a tapada uma área cercada por um muro de 21 km, com 833 hectares visitáveis, quer veados, quer gamos, quer javalis não têm aqui predadores naturais – sendo estes consumidores de plantas, a curto prazo esta linda floresta com inúmeras espécies tipicamente portuguesas teria um fim anunciado: o desaparecimento. Perdizes
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62 REPORTAGEM
Daria depois lugar à perda da terra criada a passo de caracol pelos bosques sobre milénios. «Todos os anos fazemos contagens», explica Ana Gago, «para sabermos quantos animais aqui vivem: a partir daí, segundo regras restritas, selecionamos o excesso para caça». Os critérios dessa escolha apontam «os animais que à partida seriam abatidos pelo seu predador natural, o lobo». Está iminente a queda da bolota. Na tapada as árvores que a soltam são o carvalho-cerquinho, o sobreiro e a azinheira.
Azerve: antiga estrutura para servir os caçadores
À luz da floresta
Nos percursos pedestres que se fazem na tapada de Mafra é fácil ver animais selvagens pelo caminho, especialmente os de maior porte, como gamos, javalis e veados. As áreas que encharcam com a chuva são marcadas pelos juncos e à medida que se palmilha o trilho nesta época há ainda muito trovisco em flor. O zambujeiro assoma à vista em várias partes do trilho. É na verdade uma oliveira brava: tem a folha mais esguia do que a espécie cultivada e o caroço do fruto ganha lugar à polpa, ao contrário da azeitona. Para quem é do Norte, esta árvore mediterrânica não se vê todos os dias. Passa-se o mesmo com a aroeira, que surge em touças generosas nalgumas partes do trilho, com bagas vermelhas a luzir ao sol. Diferente é a cebola-albarrã, também mediterrânica, que agora dispensa folhas e atira ao céu hastes revestidas de flores brancas. Os freixos aparecem aqui e ali, sem avareza. Já sem vestígios das suas flores estão os muitos pés de uma espécie de eufórbia que não vemos no Norte. Quem sabe se ali passasse na primavera as poderia ver? Para que tudo isto se torne observável também nestes caminhos, o equilíbrio entre vegetação e as populações de herbívoros obriga: «Vedaramse três grandes áreas dentro da tapada, para regeneração da folhagem e dos caules», diz Ana Gago.
A velha e a águia
Ao longe as copas de um bosquete de pinheiromanso criam uma geometria verde engraçada.
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Aqueduto
Antigo forno de cal
Ana Gago recorda o ninho da águia-de-bonelli, Hieraaetus fasciatus, com uma lenda local: «Conta-se que quando D. João V mandou construir a tapada de Mafra viu-se forçado a expropriar uma série de donos destes terrenos», revela a bióloga. «Reza a história que a zona em que está o pinhal da Chinquinha era de uma velha. Terão chegado junto dela os funcionários do rei para lhe darem um saco de ouro». Queriam que ela renunciasse à propriedade. O que terá ocorrido é que «a senhora retribuiu a proposta e propôs oferecer-lhes dois sacos de ouro» para que nada se alterasse. «Acabou por ser retirada à força e levaram-na
Os gamos bramam normalmente logo a seguir aos veados e «ambos perdem as hastes na primavera»
para uma localidade que hoje se chama A-daPerra, que significa velha teimosa». Certo fica que «é exatamente no dito pinhal que até hoje a águia-de-bonelli continua a nidificar, ano após ano…». Ana Sá, a bióloga que há mais tempo acompanha a tapada, regista os hábitos do casal destas águias de peito claro há um par de décadas: «Depois das crias crescerem, obrigam-nas a dispersar e regressam ambas
Hipparchia fidia
Rã-verde
De noite os javalis estarão mais ativos
por volta do final de outubro ou novembro, altura em que retomam a posse do ninho e o restauram». Tem sido assim há já «22 anos: normalmente criam apenas um indivíduo, mas em 1995 e em 2007 conseguiram dois». Os laços que a lenda estabelece entre a rapina e a velha ficarão decerto ao cuidado da imaginação de cada um, mas certo e sabido fica que, apesar da territorialidade desta ave,
haverá bufo-real a fazer ninho noutro local dentro da tapada, assim como o discreto açor, mestre de voo abaixo das copas do bosque.
A pegada dos reis
Embora possa percorrer os trilhos da tapada de bicicleta ou mesmo no comboio da casa, se também tem costela de Sherlock, preferirá avançar passo a passo: é a melhor maneira
de aumentar a capacidade de observação da paisagem e da sua biodiversidade. Existem também espaços museológicos a visitar, como é o caso dos museus da Tojeira e dos carros de tração animal. De onde em onde aparecem uns tanques antigos, de vertentes inclinadas, o que, cá para nós, é vital para que diversos pequenos animais selvagens não caiam ali e se afoguem. Não são só os pequenos mamíferos e aves, mas pode acontecer até a anfíbios que procurem água para se reproduzirem: não ficam assim sem caminho de volta depois da alegria da cópula. Numa altura em que duas rãs-verdes saltam
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64 PAR 64 REPORTAGEM
O rei D. Carlos no Salabredo, na Tapada Real de Mafra
para a água, diz Ana Gago com a dúvida que nasce do rigor: «Este tanque tem caráter histórico — conta-se que os infantes D. Pedro e D. Miguel terão aprendido a nadar aqui na tapada», porém «é uma história incompleta, pois não esclarece em qual dos tanques». «A nós», confessa a bióloga, «parece-nos que este seria o que reuniria mais condições para isso, a começar pelo seu tamanho e pelas escadinhas de acesso». No espaço da tapada há várias minas de água. Desde o início da construção houve engenho no seu aproveitamento através de canais discretos a passarem por pontos de concentração do precioso líquido. Além de serem bebedouros para os animais atraem, por exemplo, insetos e morcegos: «Alguns investigadores descobriram há pouco tempo, com redes aplicadas sobre este tanque, duas novas espécies de morcego para a tapada», sublinha Ana Gago, e acentua: «Estes tanques antigos servem de refúgio para inúmeros pequenos animais durante a época seca da ribeira de Safarujo que atravessa o vale da tapada». A diversidade de estruturas, mesmo entre quirópteros, pode cair de feição a uma certa biodiversidade, como explica por sua vez Ana Sá: «Em 11 de setembro deste ano outros investigadores descobriram outra nova espécie de morcego para a tapada de Mafra — o morcego-de-bechstein».
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Uma das árvores monumentais da tapada de Mafra é este sobreiro, estimado em 250 anos de vida
Compreensivelmente só veículos de serviço podem transitar dentro da tapada de Mafra
Mafra National Hunting Reserve: A Reserve of Kings
The Tapada Nacional de Mafra which was a reserved area for the leisure of monarchs between the eighteenth and twentieth centuries, is now a protected area; a refuge of biodiversity. A handful of protected species, such as the Bonelli's Eagle find a suitable habitat there where it frequently nests. At the beginning of autumn, these raptors which are seldom seen ive way to the roaring of the deer. Curiosamente, será a «terceira colónia conhecida em Portugal». No que toca à história, há na tapada de Mafra o que se pode considerar o esboço do aqueduto das Águas Livres de Lisboa, gizado pelo mesmo arquiteto: «Fez-se aqui previamente um aqueduto que ainda hoje transporta água para o Palácio Nacional de Mafra e a própria tapada militar», contígua à que visitamos,
«também ainda hoje é abastecida com a água proveniente de minas desta floresta».
Férias reais
A tapada faz-se por vontade do rei D. João V na sequência da construção do imponente convento vizinho, resultado de uma promessa feita sobre a possibilidade de descendência
dada pela rainha: «Com uma área de 1187 hectares, a tapada foi dividida em três partes separadas por dois muros construídos em 1828, estando atualmente a primeira, com 360 hectares, sob administração militar». Hoje a tapada é gerida por uma cooperativa composta por entidades como a Direção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo, a Câmara Municipal de Mafra, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, entre outras. Quem escolher pernoitar na tapada de Mafra vai deparar com instalações confortáveis que conciliam a atmosfera do século XIX e a tecnologia do nosso século. As espingardas decorativas de encher pela boca, os cornetins, as próprias cabeças de javali e de cervídeos conseguem transportar-nos no tempo, contudo sem o luxo de aparições novecentistas. A meio da noite ouvem-se, isso sim, ruídos do turno da noite, no caso a brama dos veados e eventualmente o canto de uma coruja ou de um mocho. Os texugos que existem na tapada também são notívagos, naturalmente, mas não deambulam próximo destas janelas, nem tão pouco o bufo-de-orelhas, que também já mereceu uma pesquisa nestes bosques na década de 1970. Já deveria ser assim quando no tempo dos reis ali se pernoitava. D. Carlos foi um dos
Touças de aroeira e uma paisagem a perder de vista
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66 REPORTAGEM
Os visitantes podem também optar por visitar a tapada de Mafra de comboio
monarcas do tempo da Tapada Real que mais a procurou, decerto pela sua tendência naturalista. Aliás, a decoração faz-se de fotografias dele e dos seus matilheiros, apeado do cavalo e com os cães de caça. Nos trilhos que se percorrem por puro prazer
de contactar com este tipo de natureza há vários azerves, as antigas estruturas em forma de meia lua erigida em pedra para os caçadores. Estes tinham as armas apontadas pelas frinchas e disparavam quando os veados e os javalis ali passavam batidos pelos matilheiros que seguiam os cães.
Era assim na Tapada Real de Mafra. Hoje, tem tudo o que é preciso para a visitar com a sua família.
Texto Jorge Gomes Fotos João L. Teixeira
Chalé do rei D. Carlos
Tapada Nacional de Mafra Portão do Codeçal, 2640-602 Mafra Horário 9.30 às 17.30 horas Coordenadas GPS 38º57'53 N e 009º18'09 W
+351 261817050 (dias úteis) +351 261814240 (fins-de-semana e feriados) geral@tapadademafra.pt
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BLOCO DE NOTAS 67
Avifauna do Estuário do Cávado Com a classificação das zonas de proteção especial para as aves, dos sítios de importância comunitária e das áreas protegidas que, já bem distribuídas, pontuam de verde todo o mapa nacional, poderá estar a ser criado o equívoco de que a sobrevivência das espécies ficará garantida meramente através da salvaguarda dos habitats naturais prioritários
Rouxinol-pequeno-dos-caniços
G
osto de comparar a migração das aves à expansão polinésia. Estes povos remotos colonizaram há muitos séculos o Pacífico partindo da Ásia até regiões tão longínquas como o arquipélago das Marquesas, no centro daquele imenso oceano, e até à ilha da Páscoa, muito mais próxima da costa americana. Para as atingir com os meios rudimentares de que dispunham, estes navegadores avançaram, geração após geração, utilizando as ilhas em que se fixavam como base para chegarem a outras mais além. Certamente encontraram territórios sem condições favoráveis para se estabelecerem, mas teria sido possível concretizar tão audaz odisseia, sem a existência destas ilhas que, quanto
mais não fosse, lhes serviam de refúgio em circunstâncias de viagem adversas e de alavanca para alcançarem as mais prósperas? Por norma, as nossas áreas naturais classificadas adquirem o estatuto de proteção pelo grau de ameaça ou pela singularidade dos valores paisagísticos, geológicos ou biológicos que encerram. Porém, independentemente da eficácia com que gerimos estes ecossistemas mais relevantes, a defesa do ambiente e das espécies ficará seguramente comprometida se continuarmos a desvalorizar habitats seminaturais como, por exemplo, as comunidades de vegetação ruderal dos terrenos incultos ou abandonados e das beiras de caminhos rurais ou florestais, entre outros.
O rouxinol-pequeno-dos-caniços (Acrocephalus scirpaceus) é das espécies com maior valor ecológico entre os passeriformes do Parque Natural do Litoral Norte, onde são escassos os locais com boas condições para se reproduzirem. Apesar disso, esta é uma ave regular no estuário do Cávado durante o período migratório pósnupcial. Procura em particular os densos aglomerados de funchos (Foeniculum vulgare) das áreas marginais desta zona húmida, também caracterizadas por altos silvados (Rubus ulmifolius), pelas linhas de sabugueiros (Sambucus nigra) e por tantas outras plantas consideradas indesejadas e desprezíveis. Para muitas aves, além de ótimos locais de nidificação, estas manchas de vegetação representam “ilhas” nos mares de exigências que marcam os seus longos percursos migratórios. É aqui que descansam e se abrigam das muitas ameaças e predadores, se acolhem e protegem dos rigores climáticos e, sobretudo, encontram alimento e energia sem a qual não seria possível prosseguirem aos seus destinos de invernada ou de reprodução. A projetada intervenção na zona ribeirinha de Fão e a anunciada criação do parque da cidade de Esposende, ambas em zonas de influência estuarina, irão promover a fruição dos altos valores ambientais que o Cávado nos pode oferecer. Serão também oportunidades para valorizarmos o nosso património natural, se soubermos evitar, tanto quanto possível, a remoção daquela vegetação, sob pena de afetarmos seriamente o equilíbrio ecológico e a biodiversidade e de fazermos desaparecer visitantes tão estimados como o referido rouxinolpequeno-dos-caniços ou ainda o rouxinol-comum (Luscinia megarhynchos), o cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra), a felosa-poliglota (Hippolais polyglotta) ou o papa-amoras (Sylvia communis).
Por Jorge Araújo da Silva www.verdes-ecos.blogspot.com
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68 MIGRAÇÕES
Caprimulgus europaeus Linnaeus, 1758
Noitibó-cinzento viajar para além do Sara Na fauna portuguesa contam-se dois noitibós: a espécie protagonista destas páginas prefere habitats a norte do rio Tejo, a outra é mediterrânica
O
noitibó-cinzento abre asas ao crepúsculo. Sob o véu da noite, meio metro de envergadura, bico curto e boca larga, acautelem-se borboletas, coleópteros e outros insetos voadores. Estes dão corpo à ementa de um dos animais de penas menos conhecidos do cidadão comum. Como outras fasquias de biodiversidade, estas aves discretas estão a ser objeto de estudo de equipas de cientistas, como ocorre com alguns dos que se encontram ao serviço do British Trust for Ornithology (BTO), uma conhecida instituição britânica. Ao divulgar uma primeira parte da pesquisa em curso, faz notar que estas aves costumam abandonar a Europa, onde vêm nidificar, rumo a África por altura de outubro e novembro. A recaptura de noitibós anilhados é escassa e não há dados do continente africano. No estio de 2011 investigadores da BTO aplicaram 19 geolocalizadores nestas aves no Sul de Inglaterra. Os dispositivos foram guardando a localização de cada ave ao longo de três períodos-chave: a migração de outono, a de inverno e a primaveril. A partir do momento em que cada ave é recapturada os geolocalizadores são recolhidos pelos investigadores e os dados podem ser descarregados e as suas deslocações mapeadas. Os cientistas recuperaram o primeiro destes geolocalizadores em maio de 2012. Tinha sido transportado por um macho adulto anilhado em junho de 2011 no Sul da Grã-Bretanha. Esta ave, depois de deixar Inglaterra deslocou-se aos poucos para sudeste na Europa, tendo as suas primeiras marcas de localização ficado na Líbia, mas já em outubro. Depois disso moveu-se rapidamente para sudeste rumo ao Sudão e, depois, eventualmente terá passado o inverno no Congo. Enquanto não se acumulam mais dados relativos a estas
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10 > 11 Maio 2 > 9 Maio
Fim de Abril
12 > 14 Outubro
16 > 18 Outubro
? Março > início de Abril
10 Fev > 3 Março
20 Out > 14 Novembro
19 Dez > 9 Fevereiro
migrações, resume-se no mapa ao lado esta fantástica viagem. O noitibó-cinzento tem uma vocalização que simula a sonoridade de algum inseto e apesar de ser considerado no «Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal» espécie Vulnerável, pode ser até habitual em certos sítios. Texto Jorge Gomes
Mais: www.bto.org/science/migration/tracking-studies/nightjars
João L. Teixeira Jorge Gomes
Um ninho feito no chão Ninguém andava à procura do ninho, mas a verdade é que durante umas obras em 2006 uma ave sem nome dado pelo operário tinha fugido a sete pés e deixou a descoberto os ovos. Registou-se a imagem e pela descrição não foi difícil perceber: tratava-se, no Parque Biológico de Gaia, em 23 de junho, de um discreto ninho de noitibó.
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70 RETRATOS NATURAIS
Vamos desenhar...
um folhado 2.
1.
3.
a.
b.
Folhado (Viburnum tinus ssp. subcordatum)
f. e.
j.
1. hábito 2. ramo 3. ramo florido (a - botão; b - flor/florescimento) 4. ramo frutificado (c-f: fases da maturação; f - fruto em corte longitudinal) 5. sementes (g-h) 6. folha (i - face inferior; j - face superior)
A ilustração botânica é um dos campos da ilustração científica que mais adeptos reúne em praticamente todo o mundo
O
facto de as plantas englobarem tantos e tão diversificados grupos de seres vivos, desde aqueles sem sistemas vasculares e de porte mais delicado, às maciças e vascularizadas árvores de tronco milenar, tem atraído a curiosidade do Homem desde tempos imemoriais, antes mesmo de as primeiras civilizações se terem constituído e prosperado — altura em que surge o conceito funcional de plantas domesticadas, ou jardim. De lá para cá, manteve-se esse afã por mais
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d. c.
6. f. i.
saber e descobrir e, ainda hoje, em pleno século XXI, se realizam missões científicas aos locais mais inóspitos, no intuito de encontrar aquela outra espécie enraizada que nunca ninguém viu, ou imaginava sequer que existia. Por outro lado, a multitude de formas, cores e soluções anatómicas de adaptação aos diferentes nichos ecológicos, das quais os frutos e as flores são expoentes, empola e maravilha todos os nossos sentidos, mas mais o da visão. A perspetiva redutora, que se manifesta nas crianças de tenra idade, de que todas as plantas são massas indistintas de folhas verdes (e assim se representam de forma tão esquemática e minimalista) ganha maturidade e diferenciação, à medida que o espírito inquisidor e o sentido da observação se consolidam. Curiosamente, muitos desses ilustradores especialistas em desenho botânico são do género feminino, algo que talvez é devido à particular emotividade que as plantas evocam e despertam na sensibilidade e no imaginário humano, mais do que provavelmente a outros
g.
h.
5.
motivos circunstanciais, geográficos ou sócioculturais. Contudo não podemos descurar também o facto de que regiões geográficas como aquelas que o Brasil engloba, onde se passa das savânicas extensões do típico cerrado, de ambientes mais secos, à húmida e cerrada floresta amazónica incite a que os ilustradores científicos brasileiros procurem uma especialização mais no domínio do verde, do que no da ilustração zoológica. Será como explorar o “quintal” (o bioma) logo ali ao lado, em que as espécies fixas ao substrato não o abandonam, permitindo estudos mais aturados, contemplativos e menos fugazes que os propiciados pelos animais. Ainda no campo das preferências, resulta também claro que as plantas com flor (angiospérmicas) dominam, em termos de representatividade figurativa (em número e até na expressão e qualidade artística), sobre aquelas outras estampas botânicas onde esse exuberante elemento florístico, por questões evolutivas, não existe de todo.
Ramo floral e frutos 1-4 p asso a passo, desde o desenho preliminar a grafite à arte-final, em ilustração digital (APS)
Neste artigo vamos debruçar-nos sobre a construção de uma estampa botânica, desde os primeiros momentos em que se adjudica até aqueles em que estando concluída esta pode ser utilizada em produtos que promovam a divulgação científica e até de caráter mais promocional. Como já referimos, em trabalhos de sistematização representativa com valor taxonómico (estampas ou pranchas botânicas), estas têm como objetivo maior permitir a diagnose e identificação da espécie. A planta é então figurada nos seus principais constituintes anatómicos, dispostos ao longo da composição de uma página, geralmente à escala (métrica ou relacional/proporcional). Este tipo de abordagem, que parece simples na apresentação e organização, é de facto uma imagem composta profundamente refletida e estrategicamente pensada, não só pelo ilustrador, como pelo próprio investigadortaxonomista (obviamente com diferentes níveis de intervenção). Por esse motivo, idealmente e tanto quanto possível, deve começar-se pelo estudo prévio da descrição da espécie, seguida da observação de espécimes in situ e em habitat natural (não intervencionado, direta ou indiretamente pelo Homem; por ex. evitar espécimes podados). Se possível, o ilustrador deve fazer-se acompanhar por um especialista botânico que o alertará para pequenos pormenores taxonomicamente importantes e que poderiam passar despercebidos ao olho não treinado, ou de quem não conhece a espécie em profundidade. Aqui o ilustrador deve munir-se não só de um bloco de notas e lápis de grafite (ou outros materiais riscadores, como lápis de cor), mas de uma boa máquina fotográfica, já que ambos lhe irão permitir obter/registar diferentes níveis de informação decorrente da observação e estudo local. O
ilustrador deve sistematizar as suas recolhas gráficas (desenho ou fotos) de acordo com cada um dos componentes da estampa botânica — o hábito; o ramo e a organização/ arquitetura foliar ao longo do caule, enquanto eixo; as folhas, nas suas duas vistas; as flores; os frutos; as sementes. Será desse cúmulo de informação, que assim se recolhe e trata posteriormente, que irão ser produzidos os desenhos preliminares, fase importantíssima que deve ser sempre pré-validada pelo botânico antes de se avançar para as artes finais. A aventura da ilustração do Folhado (Viburnum tinus ssp. subcordatum), uma planta arbustiva endémica dos Açores, começou com uma viagem de 4 dias à Ilha de São Miguel para obter referências visuais da espécie, na mais profunda floresta de laurissilva e também em terrenos sob tutela do Centro de Monitorização e Investigação das Furnas. Depois de se selecionar e organizar as referências visuais a utilizar na construção do modelo de cada
um dos elementos anatómicos da espécie, inicia-se o desenho preliminar, utilizando lápis de grafite (HB, H ou 2H) sobre papel vegetal (45 gm2). Todas as correções e modificações são feitas neste papel, até que o esboço final se assemelhe ao desenho mental que tinha sido idealizado. Após aprovação pelo investigador, este é depois importado, por digitalização (RGB, 600 dpi; 1:1), para um arquivo aberto em Adobe Photoshop, procede-se à limpeza do fundo, mantendo a textura do papel dentro da silhueta do desenho. Recorre-se a esta metodologia, quando se deseja que ao aplicar as camadas de tinta digital sobre o plano, a superfície pintada ganhe espessura e diversidade não-padronizada de textura. A cor é aplicada em camadas independentes e agrupadas em pastas seriadas (ex.: flores ex.: pasta com várias camadas para sépalas, pétalas, androceu, etc.). Cada elemento é artefinalizado em ficheiros digitais independentes, os quais só mais tarde serão agrupados na composição que ditará o aspeto final da estampa botânica, ditada segundo um design funcional, mais do que meramente estético. Numa fase posterior, algumas destas ilustrações foram convertidas em desenhos de linha e mancha a uma só cor (negro), tendo em vista o uso em material promocional (merchandising, como réguas, T-shirts, postais, sacos de papel, etc.), o que cabalmente demonstra a versatilidade das ilustrações científicas, que tanto informam, como deleitam quem nelas perde o olhar... Texto e ilustrações
Fernando Correia
Merchandising T-shirt sacos de papel
Biólogo e ilustrador científico Dep. Biologia, Universidade de Aveiro fjorgescorreia@sapo.pt
www.efecorreia-artstudio.com
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72 ATUALIDADE
População de polinizadores preocupa cientistas
João L. Teixeira
O recente declínio nas populações de insetos polinizadores, como a abelha Apis mellifera, e a crescente procura dos mesmos para as plantações dependentes de polinizadores constitui uma grande preocupação para os cientistas. Nos Estados Unidos decorreu um estudo que procurou uma relação entre a exposição aos pesticidas que estas plantações impõem aos polinizadores e os agentes patogénicos que atacam estes insetos. Na experiência colheram-se amostras de pólen a partir de insetos de diferentes plantações, com distâncias superiores a 3,2 km para assegurar que não estariam sob o efeito de químicos utilizados em plantações vizinhas. Descobriu-se que em pelo menos uma das amostras de pólen está presente uma dose superior à dose letal de pesticidas utilizados e que os fungicidas, normalmente considerados seguros para as abelhas, mostram uma certa relação com o aumento de infeções de Nosema ceranae. Os cientistas concluíram que são necessários mais estudos para descobrir alternativas mais seguras para os insetos polinizadores que ficam assim expostos nestas plantações.
As plantas purificam o ar: dispô-las numa parede já começa a ser visível também em Portugal
Investimento nas infraestruturas verdes
Fonte: Pettis JS, Lichtenberg EM, Andree M, Stitzinger J, Rose R, et al. (2013) Crop Pollination Exposes Honey Bees to Pesticides Which Alters Their Susceptibility to the Gut Pathogen Nosema ceranae. PLoS ONE 8(7): e70182. doi:10.1371/journal.pone.0070182
João L. Teixeira
Apis mellifera
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A Comissão Europeia adotou uma nova estratégia que pretende incentivar a criação de infraestruturas verdes. Com isto quer assegurar que a inclusão destes processos vai ser tida em conta no âmbito do ordenamento do território. Este tipo de infraestrutura tem em vista ser um instrumento que há de trazer simultaneamente benefícios a nível ecológico, económico e social, sendo um exemplo que abre alternativas à construção de infraestruturas para evitar cheias, potenciar a captação de água por parte das zonas húmidas, atingindo os mesmos objetivos. Muitas vezes agir assim sai até mais barato e proporciona mais resistência do que as alternativas ditas convencionais. Janez Potocnik, comissário do Ambiente, afirmou que a criação de infraestruturas verdes é um bom investimento a nível da natureza, economia e emprego. Esta estratégia advém da alteração drástica da
paisagem europeia que se verifica de dia para dia. O contínuo desenvolvimento urbano e tecnológico, bem como o uso exaustivo dos solos e a sua fragmentação, explicam a necessidade de procurar ajustes de sustentabilidade no fito de fazer com que estas alterações favoreçam a biodiversidade. Os objetivos iniciais desta estratégia passam pela promoção das infraestruturas verdes nos principais domínios de intervenção, pelo melhoramento da investigação e dos dados criando algumas facilidades no acesso ao financiamento para os projetos que contemplem estas infraestruturas. No futuro, até ao final de 2017, a Comissão pretende avaliar o progresso no desenvolvimento das infraestruturas e publicar um relatório sobre a informação recolhida, bem como conselhos para ações futuras. Para mais informações, visite: Ligação à Comunicação e resumo para o cidadão, http://ec.europa.eu/environment/nature/ ecosystems/index_en.htm Novo vídeo sobre as infraestruturas verdes: http://www.tvlink.org
Projeto Life+ Ecótono Foram capturados mexilhões-de-rio, Margaritifera margaritifera, reproduzidos pela primeira vez em cativeiro em Portugal no Posto Aquícola de Campelo (concelho de Figueiró dos Vinhos), no âmbito do projeto Life+ Ecótono, dinamizado pela Quercus com o co-financiamento do programa Life da União Europeia, da Agência Portuguesa do Ambiente e do Município de Castro Daire. O processo de reprodução desta espécie passa pela parasitação de um hospedeiro – como por exemplo a truta-de-rio, Salmo trutta. Durante a fase de larva e quando a metamorfose que tem lugar nos sete meses seguintes finda, soltam-se e caem no fundo do curso de água. Como preferem cursos de água pouco poluídos são um excelente indicador de qualidade e encontram-se ameaçados de extinção devido ao desaparecimento dos peixes hospedeiros, à construção de barragens e à poluição orgânica e alteração dos cursos de água devida à deposição de detritos nos leitos. Para mais informações sobre o projeto pode visitar o site www.ecotone.pt Por João Gomes
Uma nova espécie de mocho foi descrita este ano a partir de espécimes da ilha de Lombok na Indonésia. Curiosamente esta ave, Otus jolandae, foi descoberta por dois investigadores com uma diferença de poucos dias em setembro de 2003. O primeiro estudo desta espécie foi realizado por uma equipa de cientistas de várias nacionalidades e publicada no periódico "PLoS One". George Sangster, do departamento de Zoologia da Universidade de Estocolmo, na Suécia, descreve o primeiro encontro com esta rapina: "Estava em Lombok a gravar vocalizações dos noitibós locais. Na primeira noite ouvimos sons de uma rapina noturna com que não estava familiarizado." Como os mochos são territoriais, reproduziram a vocalização até que a ave se tornou observável. Os cientistas só se aperceberam que se tratava de uma nova espécie após a consulta de literatura taxonómica complementada por um exame mais detalhado às gravações.
Daniel Mietchen - Wikipedia
Nova espécie de rapina
A nova espécie de rapina: Otus jolandae
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74 PROJETO PAR Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confiarem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área de floresta em Vila Nova de Gaia com a garantia, dada pelo Município, de a manter e conservar e de haver em cada parcela a referência ao seu gesto em favor do Planeta
Para mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120 ou em carbono@parquebiologico.pt Parque Biológico de Gaia, Projeto Sequestro do Carbono 4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia
Sequestro de Carbono Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3 • Agrupamento Vertical de Escolas de Rio Tinto • Alice Branco e Manuel Silva • Alunos do 9.º ano (2012/13) da Escola Secundária do Castelo da Maia • Amigos do Zé d’Adélia • Amigos do Zé d’Adélia e Filhos • Ana Filipa Afonso Mira • Ana Luis Alves Sousa • Ana Luis e Pedro Miguel Teixeira Morais • Ana Miguel Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula Pires • Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos, Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e Cláudia Neves do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Ana Sofia Magalhães Rocha • Ana Teresa, José Pedro e Hugo Manuel Sousa • António Miguel da Silva Santos • Arnaldo José Reis Pinto Nunes • Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara Sofia e Duarte Carvalho Pereira • Bernadete Silveira • Carolina de Oliveira Figueiredo Martins • Carolina Sarobe Machado • Carolina Birch • Catarina Parente • Cipriano Manuel Rodrigues Fonseca de Castro • Colaboradores da Costa & Garcia • Cónego Dr. Francisco C. Zanger • Convidados do Casamento de Joana Pinto e Pedro Ramos • Cursos EFA Básicos (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves • Deolinda da Silva Fernandes Rodrigues • Departamento Administrativo Financeiro da Optimus Comunicações, SA DAF DAY 2010 • Departamento de Ciências Sociais e Humanas da Escola Secundária de Ermesinde • Departamento de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Dinah Ferreira • Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda e Delfim Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola Básica da Formigosa • Escola Dominical da Igreja Metodista do Mirante • Escola EB 2,3 de Valadares • Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos, Projecto Pegada Rodoviária Segura, Ambiente e Inovação • Escola EB 2,3 Escultor António Fernandes de Sá • Escola Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu Aprender a Viver de Forma Sustentável • Escola Secundária Augusto Gomes • Escola
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Secundária do Castelo da Maia • Família Carvalho Araújo • Família Lourenço • Fernando Ribeiro • Francisco Gonçalves Fernandes • Francisco Saraiva • Francisco Soares Magalhães • Graça Cardoso e Pedro Cardoso • Grupo ARES - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária dos Carvalhos • Grupo Ciência e Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves • Grupo de EMRC da Escola Básica D. Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura Paredes • Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso • Inês, Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes da Silva • Joana Garcia • João Guilherme Stüve • João Monteiro, Ricardo Tavares, Rita Mendes, Rita Moreno, e Sofia Teixeira, do 12.º A (2011/12) da Escola Secundária Augusto Gomes • Joaquim Pombal e Marisa Alves • Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís António Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso • José António Teixeira Gomes • José Carlos Correia Presas • José Carlos Loureiro • José da Rocha Alves • José, Fátima e Helena Martins • Lina Sousa, Lucília Sousa e Fernanda Gonçalves • Luana e Solange Cruz • Manuel Mesquita • Maria Adriana Macedo Pinhal • Maria Carlos de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta Lopes e Alexandre Oliveira Lopes • Maria de Araújo Correia de Morais Saraiva • Maria Guilhermina Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes da Costa e Manuel da Costa Dionísio • Maria Helena Santos Silva e Eduardo Silva • Maria Joaquina Moura de Oliveira • Maria Manuela Esteves Martins Alves • Maria Violante Paulinos Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da Rocha • Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal •
Marisa Soares e Pedro Rocha • Marta Pereira Lopes • Mateus de Oliveira Nunes Miranda Saraiva • Miguel Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel, Cláudia e André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão • Pedro Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos e Paula Sousa • Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Professores e Funcionários (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Protetores do Ambiente Professores e Alunos da Escola Básica de Canidelo • Regina Oliveira e Abel Oliveira • Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira • Sara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Serafim Armando Rodrigues de Oliveira • Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José Magalhães Rocha • Tiago Pereira Lopes • Turma A do 6.º ano (2010/11) do Colégio Ellen Key • Turma A do 8.º ano (2008/09) da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma A do 9.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma A do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 12.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma C do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma D do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma D do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E do 10.º ano (2008/09) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E do 12.º ano (2010/2011) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º ano (2010/11) - Curso Profissional Técnico de Gestão do Ambiente do Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA (2008/09) • Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A e C do 11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro •Turmas B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha
Colégio Luso-Francês
Posto de Abastecimento de Avintes
Para aderir a este projeto recorte o seguinte rectângulo e remeta para: Parque Biológico de Gaia • Projeto Sequestro do Carbono • 4430 - 681 Avintes • Vila Nova de Gaia O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono
Pretendo/Pretendemos aderir à Campanha Confie ao Parque Biológico de Gaia o Sequestro do Carbono apoiando a aquisição de
m2 de área florestal X € 50 =
Junto se envia cheque para pagamento
euros.
1 m2 = €50 - 4 kg/ano de CO2
Procedeu-se à transferência para o NIB 0033 0000 4536 7338 05305
Nome do Mecenas Recibo emitido à ordem de Endereço N.º de Identificação Fiscal
Telefone
O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo
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Reconhece-se hoje que a política florestal se tem preocupado quase exclusivamente com a expansão de monoculturas extensivas para abastecimento da indústria da pasta de papel, sem atender aos inerentes prejuízos sociais, ecológicos e paisagísticos
Em cima “A Árvore”, 1.ª edição, 1960; em baixo a reedição de 1999 com os textos iniciais e valorizado com outras matérias
A árvore A s funções da árvore, mata e sebe viva na paisagem, considerando tanto os espaços rurais e naturais como os espaços urbanos e industriais, são de garantir a presença de vida silvestre, promover a mais conveniente circulação da água e do ar, manter o equilíbrio dos ecossistemas, assegurar a fertilidade nos campos, na cidade dar escala e proporção aos volumes edificados… alguém consegue imaginar a cidade sem árvores? Além disso a árvore exprime os ritmos do tempo e o ciclo das estações, é um reconhecido símbolo da vida. Este livro de 1960, “A Árvore”, continua atual e conta com uma nova e enriquecida edição de 1999. No entanto destacamos esta edição de 60 para prestar homenagem aos pioneiros autores, Francisco Caldeira Cabral, que faleceu aos 84 anos em Coimbra, e a Gonçalo Ribeiro Telles, que conta hoje 91 anos e que na década de 80 criou as
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bases da política de ordenamento (REN e RAN). Este livro dos Prof. Caldeira Cabral e Ribeiro Telles mostra como vive uma árvore individualmente, e como cada tipo de meio – solo e clima influencia a sua natureza mas também destaca a preponderância das relações com os outros estratos vegetais, fauna e influência do Homem, dando indicação de quais as espécies que devemos cultivar no nosso país e referindo também alguns arbustos que fazem parte importante de algumas associações vegetais. Por fim uma referência às técnicas de viveiro, plantação e tratamentos culturais, especialmente podas. Ribeiro Telles frequentou o curso de engenheiro agrónomo no Instituto Superior de Agronomia (ISA), durante o qual tomou conhecimento do Curso Livre de Arquitetura Paisagista. Caldeira Cabral foi seu professor de Desenho Organográfico neste mesmo curso. Ribeiro Telles conclui ambos os cursos
em 1952. Francisco Caldeira Cabral formou-se em Arquitetura Paisagista em Berlim em 1939 e em 1940 inicia a atividade de docente no ISA e onde irá conhecer Ribeiro Telles. Foi entre 1951 e 1986 professor convidado em diversas universidades no estrangeiro e mais tarde em Portugal preside à Associação Internacional dos Arquitetos Paisagistas. Este e outros livros antigos fazem parte do fundo bibliográfico constituído no Parque Biológico de Gaia: consulte o catálogo completo de obras em www.parquebiologico.pt (Biblioteca).
A ÁRVORE, F. C. Cabral; G. R. Telles Ministério das Obras Públicas Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 1960 Por Filipe Vieira
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Jorge Paiva Biólogo
Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra jaropa@bot.uc.pt
Ecossistemas marinhos III
A relevância da flora do Litoral
Dos ecossistemas litorais, foram explanados em dois artigos anteriores, os terrestres (dunares e rupícolas) e os marinhos costeiros, com plantas emersas (sapais e mangais). Termina-se com os ecossistemas marinhos com plantas imersas (“pradarias” e “florestas” marinhas) ou flutuantes (plâncton). Não trataremos dos ecossistemas coralígenos, por serem praticamente irrelevantes no nosso país
Pradarias marinhas Como referimos na introdução do primeiro artigo sobre os ecossistemas litorais, as “pradarias marinhas” estão cobertas tanto de plantas vasculares, como de macroalgas, mas, atualmente, devido à poluição e à prática de técnicas ilegais de pesca, praticamente já não existem na nossa costa. A vida começou na água há 35 biliões de anos e as plantas e os animais, para sobreviverem no meio terrestre, evoluíram para seres vasculares que, através de um líquido (sangue arterial e venoso, nos animais; seiva elaborada e bruta, nas plantas) circulante por vasos (veias e artérias, nos animais; lenho e liber, nas plantas) não só para distribuírem por todas as células
ÁGUA LÍMPIDA luz a maiores profundidades
do corpo substâncias nutritivas e oxigénio, como também para expelirem as toxinas. Mais tarde, as plantas evoluíram para espermatófitas (plantas produtoras de sementes) e, finalmente, para plantas produtoras de flores e frutos (angiospérmicas). A semente é um embrião com substâncias de reserva (acumuladas ou não nas folhas embrionárias, os cotilédones) protegido por uma parede (testa). O embrião evoluiu de embriões com muitos cotilédones até apenas com um. As monocotiledóneas são, pois as plantas vasculares mais evoluídas. As marinhas imersas evoluíram de angiospérmicas terrestres por readaptação à vida aquática, há cerca de 100 milhões de anos. Assim, todas estas plantas vasculares marinhas (cerca de 60 espécies em todo o Globo Terrestre) são angiospérmicas e monocotiledóneas, todas
ÁGUA TURVA luz a menores profundidades
Esquema genérico da “floresta marinha” de kelp
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Colheita de marisco durante a maré baixa na pradaria marinha da Baía de Wimbe (Moçambique)
ervas vivazes, marinhas (halófitas), submersas, com um rizoma horizontal (raramente lenhoso), rastejante, ramificado, não muito profundo, com nós de onde despontam raízes e caules curtos com fascículos de folhas ou caules longos com folhas, sendo estas capiliformes, lineares ou alongadas (raramente laminares) e achatadas, arredondadas no ápice. As flores são nuas ou com perianto indiferenciado (tépalas), assim como os frutos são imersos e a polinização é hidrofílica. Têm uma grande relevância ecológica, principalmente nos ecossistemas costeiros tropicais e subtropicais de substrato sedimentar (lodoso ou arenoso), por vezes rochoso (frequentemente coralígeno). Estando Portugal em parte incluído na Região Mediterrânica, não é de estranhar que, dos géneros de monocotiledóneas marinhas que ocorrem no Mediterrâneo (Posidonia, Cymodocea, Zostera e, em águas salobras, Ruppia, Zannichellia e Potamogeton, ocorrendo ainda, introduzido, o género tropical Halophila), estejam assinaladas para as nossas costas algumas espécies destes géneros, pertencentes a seis famílias: Cymodoceaceae (uma espécie, Cymodocea nodosa, a grama-do-mar, no Algarve), Posidoniaceae (uma espécie, Posidonia oceanica, a algaza, considerada extinta em Portugal), Zosteraceae (duas espécies, Zostera marina, a fita-do-mar ou limode-fita, do Minho ao Algarve e Zostera noltii, da Beira Litoral ao Algarve) e em águas salobras Ruppiaceae (três espécies, Ruppia cirrhosa, o siro ou limo-mestre, da Beira Litoral ao Algarve; Ruppia drepanensis, no Algarve e Ruppia maritima, esta por toda a costa e a única das
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ervas marinhas assinalada para a Madeira e Açores), Zannichelliaceae (três espécies; duas de águas salobras do litoral alentejano e algarvio, Zannichellia obtusifolia, Zannichellia palustris e uma de água doce, Zannichellia peltata), e Potamogetonaceae, uma família de plantas predominantemente de água doce, mas o limo-mesto (Potamogeton pectinatus), disperso por todo o país, tolera valores altos de salinidade. Nas regiões tropicais, com águas mais quentes e luminosidade mais intensa e no Hemisfério Sul existe uma maior diversidade de espécies, até de outros géneros como Althenia, Lepilaena, Halodule, Syringodium, Thalassia, Thalassodendron, Phyllospadix e Amphibolis, um género unicamente dos mares australianos. Nestas “pradarias marinhas”, como não podia deixar de ser, ocorre, também, uma grande quantidade de plantas não vasculares, as algas castanhas, vermelhas e verdes. Seria fastidioso estar a enumerar aqui a enorme quantidade de géneros e espécies destas algas que ocorrem na nossa costa. Assim, das castanhas mencionamos Dictyopteris polypodiodes, por se poder observar durante todo o ano, a bonita Dictyota dichotoma, a Padina pavonica, que parece um cogumelo e o sargaço, Sargassum vulgare; das vermelhas, pouco comuns nestas “pradarias”, citamos Lithophyllum incrustans, em substratos rochosos e um bom “pasto” para ouriços; das verdes, as algas mais abundantes neste ecossistema, a alface-do-mar, Ulva lactuca e Ulva rigida, a Caulerpa prolifera, o comum Codium vermilara e a oportunista Cladophora albida.
Nas “pradarias marinhas” das outras regiões do Globo existem muitas outras espécies de algas, apesar de algumas delas terem áreas de distribuição extremamente vasta, como a cosmopolita alga verde, Gayralia oxysperma. Estas plantas (algas e vasculares), por serem fotossintéticas, são relevantes produtoras primárias e constituem a base das cadeias tróficas destas “pradarias marinhas”. Assim, observam-se miríades de pequenos seres vivos que se alimentam delas, assim como até algumas espécies de peixes herbívoros, como a salema (Sarpa salpa) e, como é expectável, outros animais que se alimentam destes “herbívoros”. São pois, ecossistemas de elevada biodiversidade e a sua preservação é extraordinariamente relevante para a riqueza piscícola de qualquer país com litoral marinho. Nos trópicos, até há duas espécies de mamíferos marinhos que se alimentam destas ervas, o manatim (Trichechus senegalensis), da África Ocidental e na África Oriental e costas do Pacífico, o dugongue (Dugong dugong).
Ouriço herbívoro (Diadema setosum) na pradaria marinha da Baia de Wimbe (Moçambique)
Kelp (Ecklonia maxima). Cape. Three Anchor Bay. 11.XI.2012
Duas estrelas-do-mar (Protoreaster linckii e Culcita schmidleiana) na pradaria marinha de Cuiba (Moçambique) Kelp (Ecklonia maxima) e ave (Threskiornis aethiopicus). Cape. Three Anchor Bay. 11.XI.2012
Pela elevada biodiversidade que têm estas pradarias, acontece o mesmo que nas savanas tropicais, onde se podem observar imensos animais (ex.: mamíferos no Serengeti africano e aves no Pantanal sul-americano), pois, na baixa-mar, podem ver-se miríades de pequenos animais como, por exemplo, pequenos peixes, polvos, caranguejos, ouriços, estrelas-do-mar, ofiurídeos, holutúrias, moluscos bivalves e muitos gastrópodes.
Florestas marinhas
As “florestas marinhas” de kelp são ecossistemas das rochas marinhas de baixa profundidade (até 100 m) das regiões temperadas e frias (6-14ºC.), predominantemente de macroalgas castanhas gigantes (kelp), como, por exemplo, as laminárias. São ecossistemas de que há registos desde o Mioceno (23-5 milhões de anos). Nas costas portuguesas ocorrem, por exemplo, a folha-de-maio ou chicote (Laminaria hyperborea),
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a Saccorhiza polyschides e a Saccharina latissima. Estas algas, assim como outras algas castanhas dos rochedos do nosso litoral marinho, como a bodelha (Fucus vesiculosus), o chorão-do-mar (Codium tomentosum), assim como algas vermelhas, como o botelhocomprido (Palmaria palmata), o gelídio (Gelidium corneum) e a botelha (Chondrus crispus) são constituintes do sargaço (argaço ou limos), um fertilizante que teve enorme relevância na agricultura do litoral minhoto. Estas “florestas marinhas”, com algumas algas de enormes dimensões, como certas espécies dos géneros Macrocystis e Nereocystis, com um nível de crescimento elevadíssimo (cerca de meio metro por dia), atingindo até 80100 m de comprimento, são ecossistemas produtores de enorme biomassa, servindo de alimento a uma vasta gama de invertebrados e vertebrados marinhos, componentes de uma cadeia trófica em cujo topo estão grandes mamíferos marinhos, como focas e morsas e até terrestres, como o caso das iguanas “marinhas” das Galápagos (Amblyrhynchus cristatus), que se alimentam fundamentalmente do “kelp-gigante” (Macrocystis pyrifera) e algas verdes (ex: Ulva flexuosa, Ulva lactuca, etc.); animais que impressionaram muito Charles Darwin, quando as viu, pela primeira vez, a 16 de setembro de 1835, na Ilha de S. Cristóvão. Estas algas castanhas de grandes dimensões são, também, um componente importante da alimentar de alguns países asiáticos, como o Japão e a China, onde até se cultivam em vastas “planícies” marinhas, particularmente a laminária Saccharina japonica. Atualmente também se cultivam extensivamente estas e outras algas para a produção dos designados biocombustíveis. Pela biomassa e quantidade das macroalgas destas “florestas marinhas”, acontece o mesmo que nas florestas tropicais, onde se podem observar árvores enormes, com 80-100 m de altura, constituindo a densidade da vegetação um óptimo refúgio para os herbívoros, escapando, assim, à ação predatória dos carnívoros (leões, leopardos, hienas, etc.); nas “florestas marinhas” há algas com 80-100 m de comprimento, servindo o emaranhado de algas como excelente refúgio para os herbívoros à caça promovida pelos predadores (tubarões, orcas, etc.).
Fitoplâncton
Finalmente, o plâncton, ecossistema constituído por micro-organismos flutuantes
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Caranguejo (Grapsus grapsus) e iguana marinha (Amblyrhynchus cristatus) herbívora (algas). Punta Espinosa, I. Fernandina (Galápagos)
ou imersos (até 100 m), consumidores (zooplâncton) e produtores de biomassa (fitoplâncton) é um ecossistema crucial das cadeias tróficas dos oceanos, pois aí se encontram os produtores primários, as microalgas, como Clorófitas (ex.: Dunaliella salina) e outras que, atualmente, não pertencem ao reino das plantas (Plantae), como, por exemplo, as diatomáceas e os dinoflagelados. A quantidade de microalgas do fitoplâncton marinho é tal que se calcula produzirem cerca de 35% da biomassa total elaborada por produtores primários (entre 145x109 e 18x109 toneladas de biomassa por ano), assim como é vital para a Biosfera o incomensurável volume de oxigénio libertado pelo fitoplâncton. Calcula-se que a quantidade de fitoplâncton que existe na superfície oceânica em dado momento (6,25x1025 microalgas) é tal que se colocássemos esses micro-seres (2 µm de diâmetro médio) em paralelepípedos de 30 x 7 x 7 cm, justapostos topo a topo, fazia-se um comprido tapete que cobriria a distância da Terra à Lua (386 mil km). E, mais, o índice de reprodução desses seres é tal que essa quantidade é reposta em 24 horas. Estes dados elucidam bem não só os números que indicámos de produção de biomassa, como também a sua importância nas cadeias alimentares marinhas. Apesar de se saber desta extraordinária importância do fitoplâncton marinho, que necessita da luz solar para produzir o enorme volume de biomassa e oxigénio indicados, estamos a cobri-lo de lixo sólido, como já referimos nesta revista (n.º 35 de 2011), tendo-se formado
já cinco ilhas enormes de lixo (80% de plástico), com mais de 3,5 milhões de toneladas e centenas de quilómetros cada uma (duas no Atlântico, uma a norte e outra a sul; duas no Pacífico, uma a norte e outra a sul; uma no Índico). Para não falar do Mediterrâneo, o mar mais poluído, no qual se estima existirem mais de 250 mil milhões de fragmentos de plástico flutuantes. Como o tema fundamental destes três artigos é a relevância da flora do litoral, deveríamos referir apenas algumas microalgas plânctónicas marinhas produtoras de biomassa incluídas no reino das plantas (Plantae), as Clorófitas, como, por exemplo, a já citada Dunaliella salina, uma alga verde comum no plâncton dos nossos estuários. Mas o fitoplâncton marinho é predominantemente constituído por diatomáceas e dinoflagelados, que são microalgas pertencentes ao reino Chromista. A composição específica de fitoplâncton ao longo da costa é dependente do afloramento costeiro. Nos estuários do Tejo e do Sado, a densidade de fitoplâncton atinge mais de mil microalgas por ml, constituindo as diatomáceas cerca de 73% do fitoplâncton, com predomínio de Guinardia striata, Dactyliosolen fragilissimus, Bacteriastrum hyalinum, Detonula pumila, Leptocilindrus minimus e várias espécies de Pseudonitzschia.
Jorge Gomes
LIVROS 81
Sessão de autógrafos: Albano Soares e Ernestino Maravalhas
Libélulas de Portugal
O
livro “As Libélulas de Portugal” foi apresentado na região do Porto sábado, dia 19 de outubro, no Parque Biológico de Gaia. Albano Soares e Ernestino Maravalhas são os autores da obra “As Libélulas de Portugal”, o primeiro guia de campo lusitano nesta área. Na apresentação estiveram também presentes o conhecido investigador francês, Christophe Brochard, e outros, como o investigador e professor Adolfo Cordero Rivera, da Universidade de Vigo. Serafim da Silva Aguiar, médico e naturalista amador, também
presente, mereceu referência especial sobre o seu trabalho pioneiro. A obra, bilingue (português/inglês), conta com mais de 300 páginas, mais de 600 fotografias, 68 mapas, estes com informações atualizadas sobre a distribuição de cada uma das 67 espécies de libélulas do património natural português. Esta ferramenta torna mais acessível o conhecimento desta ordem de insetos (Odonata) nos percursos de descoberta da natureza que fizer ao longo do ano.
Anabela Cláudia Alves
Freita: uma serra encantada
David Guimarães e João Petronilho transformam em livro a brisa da serra
O
trabalho fotográfico de João Petronilho e David Guimarães sobre a Freita tomou a forma de livro e leva o título “A Serra Encantada”. A apresentação da obra decorreu em 12 de outubro, ao final da tarde, na Biblioteca Municipal de Arouca. A AGA – Associação Geoparque Arouca foi a editora, apoiada pelo programa anual Livros com Energia, da Fundação EDP.
As imagens são um olhar singular que descerra a biodiversidade da região, com belas paisagens pontuadas por elementos de fauna e da flora. Quem já por ali passou ao folhear a obra poderá até voltar a sentir a brisa e os aromas da serra.
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Borboleta-azul-das-turfeiras
Miguel Peixoto
82 COLETIVISMO
O Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal é um dos parceiros do projeto “Proteger é Conhecer” liderado pela Câmara Municipal de Vila Real, financiado pelo Programa ON2 e o QREN, e que conta com a participação de outras entidades envolvidas na conservação da natureza do concelho, como o Parque Natural do Alvão, Associação Parques com Vida e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Uma das responsabilidades da associação Tagis é a definição e a implementação de medidas de gestão para a conservação da borboletaazul-das-turfeiras (Phengaris alcon) no Parque Natural do Alvão. Desde o início do projeto em 2010 que desenvolve trabalho de campo em conjunto com uma equipa de biólogos das Ideias Sustentáveis, para conhecer melhor o complexo Borboleta – Genciana – Formiga, privilegiando três vertentes: 1. a investigação com o estudo dos requisitos ecológicos da borboleta e dos seus dois hospedeiros - a planta (Gentiana pneumonanthe) e a formiga (Myrmica sp.); a caracterização do habitat das populações de P. alcon no Parque Natural do Alvão e a procura de novas populações; 2. o levantamento das práticas agrícolas tradicionais através de inquéritos aos proprietários; 3. a identificação e implementação de medidas de gestão no terreno que assegurem a sobrevivência do complexo e aumentem a área de distribuição da borboleta na Campeã e em Lamas de Olo, onde também se pretende criar as condições para a promoção das trocas de indivíduos entre as populações de diferentes lameiros. Por Eva Monteiro
Areas Phengaris Campo da bola Libânia Moinho Ponte romana Populações 2013 Step stone
Distribuição da borboleta-azul-das-turfeiras (Phengaris alcon) na aldeia de Lamas de Olo: a rosa os dois novos locais detetados em 2013 no âmbito deste trabalho
Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal Museu Nacional de História Natural Rua da Escola Politécnica, 58 • 1250-102 Lisboa Tel. + Fax: 213 965 388 info@tagis.org • www.tagis.org
Já ouviu falar do fura-bardos da Macaronésia? O fura-bardos Accipiter nisus granti é uma ave de rapina que habita em ambientes florestais mas que usualmente é observada em campos agrícolas e áreas abertas que utiliza para caçar. Considerado uma subespécie endémica do gavião (seu congénere continental), esta espécie apenas existe na ilha da Madeira e em cinco ilhas do arquipélago de Canárias (Gran Canaria, Tenerife, La Palma, La Gomera e El Hierro). Devido à sua escassez de distribuição e muito desconhecimento sobre a espécie, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) submeteu um projeto ao programa comunitário LIFE+, que visa a conservação do fura-bardos e do habitat Laurissilva na ilha da Madeira. O LIFE Fura-bardos, que teve início em julho de 2013 e decorrerá durante quatro anos, tem como principais objetivos a redução das populações de espécies de plantas exóticas de caráter invasor na floresta Laurissilva; a reflorestação de uma área de Laurissilva que ardeu em 2012 e aumento do conhecimento do fura-bardos nomeadamente a sua distribuição, áreas de nidificação, ecologia e tendência populacional. Além deste desconhecimento, nos últimos anos, o habitat da espécie tem sofrido diversas ameaças tais como destruição de áreas de Laurissilva por fogos florestais e ocupação por plantas exóticas de caráter invasor. Uma vez que o fura-bardos apresenta uma grande fidelidade ao
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território, construindo cada ano um novo ninho num local próximo do anterior, as recentes alterações verificadas no habitat tornam-se ainda mais problemáticas. Alimenta-se essencialmente de aves, podendo capturar desde aves pequenas tais como canários e melros até aves de médio porte como o pombo-da-rocha. Excecionalmente pode alimentar-se de morcegos, ratos e lagartixas. No âmbito deste projeto também está previsto promover uma forte campanha de sensibilização pois o sucesso das ações de conservação depende da colaboração e compromisso da população local e o fura-bardos continua a ser uma ave desconhecida para muitos madeirenses. Este projeto conta com a parceria de duas entidades públicas regionais, Direção Regional de Florestas e Conservação da Natureza e Serviço do Parque Natural da Madeira, e da SEO-Canárias, parceiro jillo Tru D. espanhol da Birdlife International. Por Ana Isabel Fagundes e Joana Domingues
Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves Avenida da Liberdade, n.º 105 - 2.º - esq. 1250 - 140 Lisboa Tel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39 spea@spea.pt • www.spea.pt
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Revista Parques e Vida Selvagem Parque Biológico de Gaia | Rua da Cunha | 4430-681 Avintes
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Centro de Congressos Hospedaria Self-service Parque de Auto-caravanas Audit贸rio e muita, muita Natureza!
a apenas 15 minutos do centro de Vila Nova de Gaia