Ano XIII • N.º 46 • 22 de março a 21 de junho de 2014
3 euros
IVA incluído
Portfolio OUTRO FOLÊGO Reportagem RESERVA NATURAL DA SERRA DA MALCATA Recuperar TORDA-MERGULHEIRA Portfolio Another breath Report Serra da Malcata Nature Reserve Wildlife Rehabilitation Center Razorbill
PARQUES DE GAIA + AS PLANTAS E OS AMORES CAMONIANOS + BIBLIOTECA + O VOO DAS AVES + EDUCAÇÃO E CONSCIÊNCIA PÚBLICA + ASTRONOMIA
EDITORIAL 3
Nuno Gomes Oliveira
Diretor da revista “Parques e Vida Selvagem”
Variação da Biodiversidade Um estudo publicado na revista “Science” de 18 de abril passado, e muito citado na imprensa portuguesa, da autoria de cientistas das Universidades de St. Andrews (Escócia), Vermont e Maine (EUA) e Keio (Japão) conclui que existem tantos locais no planeta a perder espécies como a ganhar, havendo uma mudança na composição das comunidades.
A
valiando dados de 100 estudos de monitorização feitos ao longo de vários anos, em diferentes locais e biomas, concluíram, ainda, que "Em cada local, as espécies que encontrávamos há 30 anos são diferentes das atuais", como declarou à agência Lusa a Doutora Maria Dornelas da Universidade de St. Andrews, coordenadora do estudo. Conclusão a que, aqui no Parque Biológico de Gaia, já tínhamos chegado por via empírica. Ao longo dos últimos 30 anos diminuíram drasticamente as pequenas aves de alimentação basicamente insetívora (toutinegras, piscos-de-peito-ruivo, felosas...) e algumas desapareceram mesmo, como a Felosa-do-mato. Em contrapartida aumentaram algumas espécies mais omnívoras, como as tordeias ou as diversas espécies de chapins. Desapareceu a Rola-brava (criavam meia dúzia de casais no Parque Biológico) e apareceu, às centenas, a Rola-turca. Os migradores transarianos, visitantes de verão, como a Poupa e o Cuco, já por cá se não veem, como não se veem alguns visitantes vindos do Norte, no inverno, como o Galispo, a Galinhola ou o, antigamente abundante, Estorninhomalhado. Das aves de rapina, falta-nos hoje o Mochogalego, mas temos Milhafre-preto e Corujado-mato. Temos garças-reais e garçasboieiras, desde há alguns anos e, não raro
cegonhas a sobrevoarem ou pousarem no Parque Biológico. Realmente a biodiversidade, em absoluto, pouco diminui (80 espécies de aves até final dos anos 90 do séc. XX, 78 atualmente), mas a sua composição mudou por fatores locais, como a alteração do território do próprio Parque Biológico (hoje mais florestal), a diminuição da agricultura, a fragmentação do território ou o crescente uso de herbicidas; mas também por fatores longínquos, como a desertificação crescente ao sul do Sara que dificulta a migração das aves transarianas, as alterações climáticas e o uso intensivo de agro-químicos nos países do Norte da Europa. A caça, que é fortemente responsável pela diminuição, quase extinção, da Rolabrava, também pode ser responsável pelo
aumento de aves de rapina e outras espécies protegidas que os caçadores deixaram de abater.
POLINIZADORES E PESTICIDAS A diminuição das abelhas na Europa, estimada em 30% ao ano nos últimos 15 anos, é preocupante pois elas são responsáveis pela polinização de três quartos das colheitas agrícolas a nível mundial. Recentemente a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) divulgou um estudo que demonstra que 24% das espécies de abelhas e abelhões da Europa estão ameaçados. A polinização é a transferência do pólen das anteras de uma flor para o estigma de outra flor da mesma espécie
Mapa das Áreas de Risco de Desertificação apresentado na Conferência sobre Desertificação das Nações Unidas (1977)
Risco de desertificação Muito alto Alto Moderado
Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 3
4 EDITORIAL (polinização cruzada), ou para o seu próprio estigma (autopolinização); se bem sucedida, culmina na fecundação e na produção de sementes. As abelhas e outros insetos são o principal vetor de polinização de mais de 70% de todas as plantas que produzem sementes da Terra. Na produção de hortícolas como os tomates, os pimentos e outros vegetais e frutas dos cinco principais polinizadores europeus, três são abelhas. Um estudo publicado no n.º 11 da revista “Environmental Chemistry Letters” refere que a polinização por insetos selvagens e abelhas melhora a produtividade da soja em 18%. Isso equivale a um acréscimo de 331,6 kg de sementes por hectare, aumentando o valor da colheita mundial em € 12,74 milhares de milhões. Incentivar a polinização por insetos pode, portanto, reduzir a destruição de ecossistemas naturais, nomeadamente na Amazónia, para abrir campos para o cultivo da soja. Por todas estas razões, “A UE baniu ou restringiu recentemente o uso de certos pesticidas que são perigosos para abelhas”, afirmou Janez Potocnik, Comissário Europeu para o Ambiente. Com a nova legislação portuguesa (Lei n.º 26/2013), a partir de 1 de janeiro de 2014 só poderá haver utilização de pesticidas quando houver fundamentado prejuízo económico para agricultura, resultante de alguma praga ou doença. Esperemos, agora, que a União Europeia cumpra a promessa de retirar do mercado, em 2015, os herbicidas usados na “limpeza” das cidades, nomeadamente os glifosatos, que tão perigosos são para a biodiversidade e a saúde pública.
GRANDES BARRAGENS NÃO SÃO ECONOMICAMENTE VIÁVEIS Um estudo dos investigadores Atif Ansara, Bent Flyvbjergb, Alexander Budzierb e Daniel Lunnc recentemente publicado no n.º 69 da revista “Energy Policy” analisou 245 megabarragens, construídas em 65 países entre 1934 e 2007. Para um dos autores do estudo, Bent Flyvbjerg, professor de planeamento e gestão da Universidade de Oxford, no Reino Unido, há fortes evidências de que as grandes hidroelétricas não são
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economicamente sustentáveis. O estudo descobriu que em 90% dos casos ficaram mais caras do que o orçamento inicial. Em média, as obras atrasaramse cerca de dois anos e terminaram custando mais 96%. Separando apenas as hidroelétricas brasileiras, o aumento de custo é ainda maior: 101%. "Se esse valor fosse considerado no planeamento inicial, esses grande projetos seriam quase sempre considerados inviáveis economicamente", diz Flyvbjerg. Segundo o investigador "Só há dois tipos de projetos que fazem colapsar mais o orçamento do que grandes hidroelétricas: infraestruturas de tecnologia de informação e os Jogos Olímpicos." “Concluímos que, mesmo sem contabilizar os impactos negativos sobre a sociedade humana e o ambiente, os custos reais de construção de grandes barragens são muito altos para terem um retorno positivo", acrescenta Flyvbjerg.
NOTÍCIAS DO LINCE-IBÉRICO Em março surgiram notícias dando conta da intenção do Governo português de libertar 8 linces-ibéricos criados em cativeiro no âmbito do projeto "LIFE+ Iberlince", até final da primavera deste ano. Alguns colocaram essa intenção em causa, argumentando com a baixa densidade de coelho-bravo (a principal presa do Lince-ibérico) nas áreas de intervenção do projeto. O secretário de Estado do Ordenamento do Território, Miguel de Castro Neto, afirmou que no topo da lista de “desafios” está a dieta do Lince-ibérico, 90% coelho-bravo, espécie praticamente dizimada nas últimas décadas pela doença hemorrágica viral (DHV). Certo é que a primavera vai a meio e não houve mais notícias desta desejada reintrodução. Mas mesmo com reintrodução ainda iremos a tempo de salvar o Lince? Segundo os dados mais recentes, em Espanha, na Andaluzia, 40% dos linces reintroduzidos na natureza morreram, muitos por atropelamento, devido à fragmentação do território, um dos piores problemas para a biodiversidade, nomeadamente a de locomoção terrestre.
ARVOREDO DE INTERESSE PÚBLICO Antigamente, e até 5 de setembro de 2012, o arvoredo de interesse público,
nomeadamente exemplares de árvores notáveis, pelo seu porte ou raridade, podiam ser classificados ao abrigo do Decreto-lei n.º 28468, de 15 de fevereiro de 1938. Ora a Lei n.º 53/2012, de 5 de setembro, revogou esse Decreto-lei de 1938, prometendo substituí-lo por regulamentação a sair no prazo de 60 dias e que, como continua sem sair 2 anos depois, torna na prática ineficaz a proteção do arvoredo. Por isso, a Assembleia da República aprovou em 21 de março passado a Resolução n.º 30/2014 que recomenda ao Governo que proceda, com urgência, à regulamentação da referida Lei n.º 53/2012, de modo a que haja um eficaz regime jurídico da classificação de arvoredo de interesse público.
BOAS NOTÍCIAS PARA OS RIOS Ainda este verão entrará em funcionamento a grande ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) de Paço de Sousa que vai tratar as águas residuais de 65 mil habitantes, evitando, assim, a poluição do rio Sousa e, por ser afluente do Douro, diminuindo a poluição do rio Douro. A Simdouro – Saneamento do Grande Porto, SA tem a responsabilidade da recolha, tratamento e rejeição dos efluentes “em alta” dos municípios de Arouca, Baião, Castelo de Paiva, Cinfães, Paredes, Penafiel e Vila Nova de Gaia. Para isso elaborou um plano de investimentos no montante total de aproximadamente 59,5 milhões de euros, que está a ser executado desde 2010 e terminará em 2015, financiado pelo Programa Operacional Temático Valorização do Território (POVT) em cerca de 40,8 milhões de euros. Este investimento inclui a construção de 22 ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais), de cerca de 113 km de intercetores, de 15 km de condutas elevatórias e de 12 estações elevatórias. Está ainda prevista a reabilitação de 13 Estações de Tratamento já existentes. No final da realização destes investimentos prevê-se que o sistema cubra aproximadamente 519 mil habitantes, diminuindo a maior parte da carga poluente dos rios, recuperando a sua biodiversidade e permitindo voltar a ter praias fluviais com água de qualidade.
MÁS NOTÍCIAS PARA O PLANETA O IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, das Nações Unidas) advertiu em abril que, se não houver um
grande empenho à escala global para limitar o aquecimento da Planeta, daqui até final do século a temperatura da Terra vai subir 3,7 a 4,8 graus centígrados. Mesmo perante os fenómenos anormais e extremos que têm vindo a ocorrer, como secas, cheias e furacões, pouco foi feito e a admissão de GEE (Gases com Efeito de Estufa) subiu 2,2% entre 2000 e 2010, tendo como maiores contribuintes para este aumento os Estados Unidos e a China. Para travar este processo há que investir nas energias de “baixo carbono” e nas tecnologias de captura e armazenamento de CO2, para o que o aumento da área florestal do Mundo, incluindo as florestas de produção, pode dar um grande contributo. Ottmar Edenhofer, economista, professor da Universidade Técnica de Berlim e copresidente do grupo de mais de mil cientistas de todo o mundo que colaboraram no relatório do IPCC, adverte que o mundo tem uma década, no máximo duas, para evitar um cenário catastrófico Quase em simultâneo, o projeto EU ENHANCE (reforçar as parcerias de gestão de risco para
desastres naturais catastróficos na Europa), financiado pela União Europeia, anunciava um estudo que demonstra que inundações extremas e catastróficas na Europa, como as de 2013, atualmente ocorrem aproximadamente uma vez em cada 16 anos, mas esse período pode aumentar, até 2050, para uma vez em cada 10 anos. O estudo também sugere que as perdas económicas anuais médias causadas por inundações extremas podem chegar a valores quase cinco vezes superiores aos de 2013, que foram de € 12 mil milhões em toda a Europa. Em Portugal, acaba de ser apresentado o projeto CIRAC (Cartas de Inundações e de Risco em Cenários de Alterações Climáticas), um projeto da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), coordenado pelo Eng. Pedro Garrett e pelo Prof. Filipe Duarte Santos e financiado pela Associação Portuguesa de Seguradores (APS). A equipa de investigadores desenvolveu pela primeira vez em Portugal uma série de cartas de inundações e de risco em
CONCURSO NACIONAL DE FOTOGRAFIA DA NATUREZA
Acompanhe este Concurso no site do Parque Biológico de Gaia
PARQUES E VIDA SELVAGEM
www.parquebiologico.pt
Romão Machado
Área coberta pelo sistema de saneamento da Simdouro
cenários de alterações climáticas e analisou os índices de vulnerabilidade de várias regiões do país e detalhou os danos médios anuais causados por inundações em diversos cenários. Pelo grande número de cheias e inundações, foram avaliadas quatro zonas: Lisboa (Avenida da Liberdade, Almirante Reis e Baixa), Algés, Coimbra (Baixa e Coimbra Sul) e Porto/Gaia. Os cenários nem sempre são especialmente gravosos, mas o risco de inundação existe. Mais informações sobre o projeto CIRAC, nomeadamente cartas de risco, em: http://cirac.apseguradores.pt A equipa integrou o geofísico Professor Filipe Duarte Santos que, em 2/4/2005, quando ainda pouco se falava de alterações climáticas, proferiu uma palestra sobre o assunto no Parque Biológico de Gaia. Ora, em fevereiro passado, o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, convidou Filipe Duarte Santos, “um dos maiores especialistas mundiais em alterações climáticas”, e convidou bem, para coordenar a equipa que vai avaliar a estratégia de gestão da zona costeira nacional. Curiosamente divulgou isso aos jornalistas numa praia de Gaia, onde esteve a avaliar os efeitos do mau tempo. A intenção é que esta avaliação inspire “os novos planos de ordenamento da orla costeira, que entrarão em revisão em 2014/2015 e que vão definir os termos de referência para os novos Planos de Ação do Litoral”. Isto porque, alertou o ministro, “Portugal é um dos países com maiores vulnerabilidades às alterações climáticas”, tendo atualmente “25% da orla costeira sob erosão e 75% sob risco de perda de algum território”.
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2014 • 12.ª edição
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Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 5
6 CARTOON Por Ernesto Brochado
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6 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
OPINIÃO 7
Eduardo Vítor Rodrigues Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
Tempo de Camélias em flor Março de 2014
C
ristãos, taoístas, hindus, budistas, astecas, o que quer que sejam, a paixão humana pelas flores e pelo seu simbolismo é verdadeiramente universal e isso faz delas também um emblema ecuménico, católico no sentido etimológico da palavra, capaz de unir toda a humanidade em torno da sua beleza, da sua delicadeza, da energia fortificante que transmitem, da alegria que espalham por onde passam ou ficam. O poder simbólico das flores fez com que marcassem alguns momentos importantes da História universal, desde a Guerra das Rosas, a série de lutas dinásticas que ocorreram em Inglaterra no século XV e que opuseram a Rosa Branca à Rosa Vermelha, aos movimentos pacifistas dos anos 60 do século XX, onde foram um símbolo de paz e concórdia, passando, como não poderia deixar
de lembrar, pela nossa Revolução dos Cravos, a Revolução sempre por cumprir, onde a flor representou uma espécie de espiritualização da violência e simbolizou a possibilidade de realizar grandes transformações sociais de forma harmoniosa e sem recurso à irracionalidade que tantas vezes marca os pontos de viragem na História. A flor é, efectivamente, um belo modelo de desenvolvimento da manifestação, daquilo a que podemos chamar Arte espontânea, a Arte da Natureza, elaborada sem artifício mas, contudo, perfeita. Ela é um emblema do ciclo vegetal, uma síntese maravilhosa do ciclo vital e do seu carácter efémero mas eternamente reprodutível. Julgo não errar se disser que as flores que hoje aqui nos trazem, as Camélias, são também conhecidas por Rosas do Japão. Sendo a Rosa a flor mais amada do Ocidente, aquela que mais profundo significado simbólico atingiu no seio
João L. Teixeira
A flor é, desde a antiguidade, uma das manifestações da natureza que mais tem encantado diferentes civilizações humanas, que quase sem excepção lhe têm dedicado reflexões simbólicas de grande profundidade
do Cristianismo, chama-se Camélia a esta forma extraordinariamente bela de interpretação oriental da Rosa, esta magnífica e ecuménica flor que une Oriente e Ocidente e que, além do mais, tem esta interessante característica de vivificar no Inverno. Talvez seja até esta a sua mensagem mais significativa. Uma planta que atinge o seu esplendor na estação da noite e do gelo, simboliza a esperança e a tenacidade que todos devemos ter nos momentos mais difíceis, quando parece impossível a manifestação da beleza e da harmonia. Mas a Camélia ensinanos que é possível, mesmo quando as condições parecem contrárias a toda a manifestação vital, manter acesa a chama da Beleza e teimar num mundo que transmute em força a sabedoria desta flor. Nota: E xtracto do discurso de 2014-3-8 no Parque do Conde das Devesas.
Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 7
Na produção desta revista, ao utilizar um papel com 60% de fibras recicladas (Satimat Green) em vez de um papel não reciclado, o impacto ambiental foi reduzido em:
Primavera 2014
1762
kg de aterro
159
litros de água
1590
kg de CO2 (gases de efeito de estufa)
38170
kWh de energia
3804
kg de madeira
2863
km de viagem num automóvel europeu de consumo médio
FICHA TÉCNICA Revista “Parques e Vida Selvagem” Diretor Nuno Gomes Oliveira Editor Parque Biológico de Gaia Coordenador da Redação Jorge Gomes Fotografias Arquivo Fotográfico do Parque Biológico de Gaia Propriedade Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM Pessoa coletiva 504763202 Tiragem 10 000 exemplares ISSN 1645-2607 N.º Registo no I. C. S. 123937 Dep. Legal 170787/01 Administração e Redação Parque Biológico de Gaia Rua da Cunha • 4430-681 Avintes Portugal Telefone 227878120 E-mail: revista@parquebiologico.pt Internet http://www.parquebiologico.pt Conselho de Administração Serafim Silva Martins Presidente executivo
Tiago Filipe Costa Braga Vogal executivo
José Manuel Dias da Fonseca Vogal não executivo
www.facebook.com/parquesevidaselvagem
Capa: Alca torda, torda-mergulheira, no estuário do Douro, por António Brito Terra
8 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
42 38
77
28 SECÇÕES
16 OUTRO FÔLEGO
6 Cartoon
portfolio
10
A vegetação de folha caduca dá mais nas vistas, mas o certo é que quer esta quer a outra, a de folha permanente, assim que a primavera volta a respirar se renovam, fazem brotar novas folhas, mais flores, para que haja uma nova vaga de sementes.
Ver e falar
12 Fotonotícias 24 Quinteiro 28 Dunas
48 CENTRO DE RECUPERAÇÃO:
TORDA-MERGULHEIRA recuperar
Foi encontrada debilitada na Foz do Douro uma torda-mergulheira no passado dia 18 de março. Entregue pelo SEPNA ao cuidado do Centro de Recuperação do Parque Biológico de Gaia, com uma reabilitação favorável, ficou em condições de ser libertada num habitat adequado.
35
Voo das aves
37
Espaços verdes
48 Recuperar 53 Entrevista 70 Migrações
60 RESERVA NATURAL
72 Atualidade
reportagem
77 Crónica
DA SERRA DA MALCATA
A Reserva Natural da Serra da Malcata abrange uma área de 16348 hectares e estende-se pelos concelhos de Penamacor e Sabugal: em maio veste-se de carqueja e casa a cor amarela dessas flores às corolas lilases do rosmaninho. Com outra flora selvagem configura almofadas de biodiversidade na área protegida sob a égide do lince.
76 Biblioteca
82 Coletivismo
Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 9
10 VER E FALAR
A voz dos
leitores Assim que a revista de inverno saiu começam a chegar as mensagens de quem lê
Quem canta assim?
Invertebrado bizarro
Escreve também Rui Faria: «Numa das minhas últimas idas ao campo em Campo (Valongo) encontrei esta espécie de invertebrado bizarra, parece-me uma mistura de aracnídeo, percevejo e gafanhoto, numa zona de matagal com Ulex micranthus e urzes. A fauna selvagem portuguesa não pára de me surpreender!».
10 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
Revistas anteriores Os pedidos de leitores no sentido de conseguirem adquirir também revistas mais antigas continuam a chegar. Como entretanto já não há exemplares em armazém para atender a essas solicitações, a alternativa de reunir uma coleção completa recai na internet: basta ir ao site www.parquebiologico.pt, procurar Recursos e aí Revistas — todas as anteriores edições da revista «Parques e Vida Selvagem» estão ali disponíveis.
Rui Faria
Escreve através de correio eletrónico Carlos Miguel e anexa dois ficheiros de áudio: «Ontem ao entardecer estava em casa do meu pai na aldeia e ouvi um canto de um pássaro muito bonito que eu nunca tinha ouvido. Tentei ver se conseguia distinguir a ave mas já estava a ficar escuro. Perguntei ao meu pai e ele disse-me que tem ouvido este canto ao entardecer mas que nunca conseguiu ver o pássaro e também não sabe de que espécie se trata. Resolvi gravar o canto e, pensando que talvez soubessem de que pássaro se tratava, envio o registo. Na gravação dois melros também quiseram fazer uma exibição... mas é o canto que se assemelha a um assobio em vários tons». Bem, escutados os registos sonoros, lá estavam de facto os melros e outros passeriformes usuais. A vocalização mais “criativa”, se assim se pode chamar, lembrava um tordo-comum, espécie também habitual no Parque Biológico de Gaia em estado selvagem. Para tirar teimas, pediu-se opinião a alguns dos elementos do grupo de anilhagem científica que colabora com o Parque Biológico de Gaia há mais de sete anos, anilhando numa fasquia de duas vezes por mês. Confirmava-se. A vocalização era típica do final do inverno, início da primavera, quando reservam território para nidificação.
José Manuel Grosso-Silva, do CIBIO da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, esclarece: «O inseto da foto é um percevejo aquático da espécie Nepa cinerea Linnaeus, 1758 (ordem Hemiptera, família Nepidae). O nome vulgar inglês traduz-se como "escorpião de água" e de facto é isso que ele parece, um escorpião aquático, devido às patas anteriores preênseis, usadas para capturar as suas presas, e ao sifão respiratório, que usa para quebrar a película de tensão superficial da água e aceder ao oxigénio atmosférico. Pelo que percebi, o exemplar fotografado foi encontrado fora de água, o que é invulgar, mas a verdade é que quando estes insetos se deslocam entre os habitats em que vivem (charcos ou pequenos cursos de água), nem sempre o fazem voando. Para terminar uma informação em termos de ecologia e distribuição: esta espécie existe provavelmente em todo o país, mas como é um predador de emboscada, oculta-se no lodo ou entre os detritos e por isso passa facilmente despercebido».
Direitos reservados
Visita a Xinzo de Limia No passado dia 30 de abril, os alunos das turmas 7, 8, 9 do 3.º ano, turma 11 do do 4.º ano da EB1 de Ponte de Lima e a turma do 5.º 1 da EB23 de António Feijó partiram à aventura: descoberta da nascente do rio Lima e visita ao Parque Natural da Lagoa de Antelas, no âmbito do Projeto Rios. Uma turma do 3.º e 4.º ano do Centro Educativo das Lagoas também nos acompanhou nesta visita. Tratou-se de uma visita de estudo na sequência da obtenção do primeiro prémio no concurso levado a cabo durante a edição 2012 do “Abraço ao Rio Lima”, em que os alunos se deslocaram a Xinzo do Lima para participarem numa ação de troca de ideias e experiências com alunos daquela localidade, permitindo assim o alargamento de conhecimentos e partilha de experiências com outros jovens de nacionalidade diferente. A comitiva foi recebida na Casa da Cultura de
Aqu
Xinzo de Limia pelo Alcalde local, professores e alunos da localidade. Estiveram também presentes vereadores do Município de Ponte de Lima. A sessão de boas vindas terminou com a atuação do grupo de gaitas local e da encenação da "Lenda do Rio Lethes" pelos alunos do 5.º 1. Transportados por autocarros, num ambiente diferente do dia a dia, lá começaram os alunos a visita à nascente do rio Lima a 975 metros de altitude, no Monte Talariõ, próximo de Paradilhã, um lugar com pouco mais de 50 habitantes pertencente à província de Ourense. Aí, todos puderam ver o exato local onde o rio Lima aparece à superfície, o que constituíu o momento mais alto da jornada. No regresso, a comitiva passou ainda na Aldea Rural de Couso, onde lancharam e contactaram com uma aldeia reconstruída e
dedicada ao turismo, nas margens do nosso rio Lima. Ao longo desta visita os alunos estiveram em contacto com o meio ambiente, e a sua paisagem: inúmeros bosques de carvalhos, veigas, pequenas barragens e canais de rega que transformam o rio num estreito e sossegado fio de água. Próximo de Puente Linhares, o rio Lima encanta, o silêncio rural é reconfortante e constitui uma sensação de vida, na amplitude dos espaços, na liberdade do isolamento e na beleza da paisagem granítica. Terminada a jornada, a comitiva regressou a Ponte de Lima com a imagem real de que o rio Lima é um rio Ibérico, que nasce em Espanha e que entra em Portugal próximo do Lindoso a uma altitude de 275 metros, que desagua em Viana do Castelo, percorrendo 41km em Espanha e 67 km em Portugal. Esta atividade foi organizada pelo Município de Ponte de Lima, através da Área de Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro D`Arcos, com a colaboração de vários professores do primeiro e segundo ciclos. De realçar a forma hospitaleira e muito simpática como fomos recebidos, tanto pelas autoridades locais, como pelas escolas. É bom lutar pela defesa do meio ambiente! Por Jorge Silva
De segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00
Sábados, domingos e feriados das 10h00 às 18h00
Praia da Aguda • Vila Nova de Gaia Venha visitar-nos! Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 11
12 FOTONOTÍCIAS
Metamorfoses Os ritmos da primavera acentuam um dos fenómenos mais fantásticos da natureza: a capacidade que diversos seres encontram de se transformarem na forma e no modo de vida A maior parte das vezes limitamo-nos a pensar na metamorfose como um processo habitual dentro do ciclo de vida de libélulas e borboletas. Mas há muitos mais seres vivos que, de ovo a larva e de pupa a animal adulto, deitam a mão a este complexo sistema de vida. Referimo-nos a coleópteros, como os pirilampos e as cabras-louras, Lucanus cervus, a anfíbios como rãs e tritões, e até a crustáceos e peixes, como o linguado que passa na ementa dos restaurantes.
Anfíbios Os anfíbios resultarão, na evolução das espécies, de outros organismos aquáticos, como os peixes, que encontraram vantagens em emergir. Isso permitir-lhes-ia fugir de predadores aquáticos e explorar outras fontes de alimento. Extrair oxigénio do ar sem este estar dissolvido na água foi um problema que se foi resolvendo progressivamente. No caso da rã-de-fociinho-pontiagudo, os girinos obtêm oxigénio através de brânquias enquanto, mais adiante no desenvolvimento do seu organismo, desenvolvem pulmões, que lhes permitem respirar em ambiente emerso.
Ciclo de vida da borboleta pau-de-bétula, Phalera bucephala
Borboletas No princípio era o ovo. Ao eclodir surgiu a lagarta. Depois de várias fases e de muito crescimento, transformou-se em crisálida. Quando menos se esperava, metamorfoseou-se, nasceu uma borboleta. É assim com borboleta pau-de-bétula, Phalera bucephala, como com as demais borboletas, estejam elas ativas de dia ou de noite. Esta espécie de lepidóptero noturno é habitual no Parque Biológico de Gaia e as suas lagartas, gregárias, alimentam-se sobretudo de folhas de salgueiro e de carvalho-alvarinho.
12 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
Fotos Albano Soares
Ciclo de vida da rĂŁ-de-focinho-pontiagudo, Discoglossus galganoi
Fotos Jorge Gomes
Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 13
Albano Soares
Albano Soares
14 FOTONOTÍCIAS
1977
Trinta e sete anos depois da extinção da colónia de garças da Mata Nacional das Dunas de S. Jacinto (Aveiro), a mais setentrional da Península Ibérica e a única da metade Norte de Portugal, há este ano uma colónia instalada no Parque Biológico de Gaia, no exterior da grande instalação com garças.
14 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
Garças tribais
2014
Ao contrário do que possa parecer, nem fotógrafo nem ninho estão dentro do gaiolão das garças! Se se pusesse a interpretar a imagem na ótica da fotografia, poderia ter logo de início essa ideia. Na verdade, também há garças-boieiras dentro do gaiolão a nidificar, assim como gorazes e garça-branca-pequena. O registo fica aqui porque um pequeno bando de boieiras resolveu andar pelas redondezas e, ainda
Albano Soares
Albano Soares
Libelinhas Enquanto as borboletas – excluindo raríssimos casos – passam a vida fora de água, no caso das libélulas já não é assim. Estas, de ovo a larva, vivem dentro de água com uma dieta carnívora. Só quando o inseto adulto está pronto para passar à fase aérea, a larva finalizada trepa normalmente ao caule de uma planta aquática e lentamente rompe a forma antiga, passando a esticar as asas para voar. Na espécie ao lado, Anax imperator, pode observar alguns momentos fantásticos de metamorfose.
antes que a primavera marcasse o calendário, já havia ninhos com ovos a eclodir. Manhãzinha, à distância, sem perturbar, dia 20 de março Joaquim Peixoto fez o registo, em caça fotográfica inofensiva com todos os ditames da ética sobre o bem-estar animal. Gregárias, estas garças nidificam em colónias, por vezes com outras espécies parecidas. No caso, a poucos metros, também no exterior do gaiolão das que estão em cativeiro, há ninho de goraz, ali centrado decerto pelas mesmas razões... Um laivo tribal anima estas aves do grupo
dos ardeídeos que encontram vantagens em ficar juntas numa altura mais vulnerável, própria de quando há crias para cuidar. Entre predadores destes ninhos contam-se gaivotas, algumas aves de rapina, ginetas e até garças de maior porte, dependendo dos recursos disponíveis no habitat em causa. Nos últimos anos, esta espécie de garça de pequena dimensão tem-se expandido para norte. Na época primaveril engalanam-se com plumagem nupcial e desenvolvem uma cor amarelada na coroa, no alto da cabeça, e no uropígio, ou seja, no dorso. É que isto de namorar, quaisquer que sejam os seres vivos em causa, não pode ser deixado ao deus-dará...
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16 PORTFOLIO
Outro fôlego A vegetação de folha caduca dá mais nas vistas: mas o certo é que quer esta quer a outra, a de folha permanente, assim que a primavera volta a respirar se renovam, fazem brotar novas folhas, mais flores, para que haja uma nova vaga de sementes
Tudo tem o seu tempo. As flores que observa particularmente nesta época do ano não surgem por obra e graça. Resultam de demorados processos preparados pelo organismo de cada planta fase a fase, até que surgem à luz do dia e nos deslumbram todos os anos com uma variedade enorme de cores e formas. Não existem, contudo, apenas para nos deliciar o olhar. Dirigem-se especificamente a determinados grupos de insetos, com vista a dar continuidade a um negócio natural antigo. Com olhos diferentes dos nossos, cada corola solta um sinal capaz de ser visto à distância, a fim de que a sua localização seja rápida e eficaz. Ali chegado, o pequeno animal invertebrado beneficia de um pouco de néctar e favorece a planta em flor levando para outras flores o pólen de alguma forma colado ao corpo. Ganha a diversidade genética da espécie, que lhe permite adaptar-se às agruras do meio, venham elas de mudanças do clima, de moléstias ou de outras fontes. Alguns indivíduos por força disso revelarão maior resistência, a suficiente para se poderem reproduzir depois passar essa característica genética, reforçada, de geração em geração. Para nós, humanos, sobram estas ondas de floração sucessiva, com toda a atividade natural que se lhes constitui à volta. Através de uma rápida seleção de fotografias de concursos de fotografia da natureza Parques e Vida Selvagem de anos anteriores, fomos ao tema Flora e encontrámos estes olhares. O objetivo é que os junte aos seus próprios ângulos e, se considerar, pode também concorrer ao concurso deste ano, a 12.ª edição. Encontra o regulamento e a ficha de inscrição no site www.parquebiologico.pt, indo a Atividades e depois em Fotografia da natureza. Clic… clic, clic!
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Another breath
Deciduous vegetation is conspicuous all year round, but as soon as Spring returns the deciduous or the perennial leaf vegetation renews itself and sprout new leaves and flowers, so that new seeds are available. These photographs are the taken from the archives of several National Nature Photography Competitions of Parks and Wildlife.
ANDRÉ BOTO “Desabrochar”
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18 PORTFOLIO
JOANA VANESSA COSTA “Bombus”
INÊS LEONARDO “Arrábida”
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LUÍS DOMINGUES ROCHA “Bosque”
CARLA ISABEL RIBEIRO “Nenúfar”
RUI LEMOS “À espera”
RUI FILIPE EUSÉBIO “Dente-de-leão”
ULISSES LOPES “Estames”
Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 19
20 PORTFOLIO
JOÃO PETRONILHO “Em tons de rosa”
JOÃO PETRONILHO "Beleza pintalgada"
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JOSÉ LOUREIRO “Floresta”
GUILHERME LIMAS “Calocera viscosa”
GUILHERME LIMAS “Há vida nas sombras”
JOAQUIM AURÉLIO “Luz”
MANUEL ALMEIDA “Conchelos”
VALTER BÁRTOLO “De partida”
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22 CONTRA-RELÓGIO
Como uma larga faixa de população se interessa pela diversidade biológica, os parques e os aquários, os jardins zoológicos e botânicos, enfim, tudo o que se relaciona com atividades ligadas à natureza atrai muito público
Consciência pública e
educação A
verdade é que – apesar de estarmos em plena Década da Biodiversidade, pensada pelas Nações Unidas – excluindo o conhecimento sobre umas poucas espécies carismáticas, a maioria das pessoas não está consciente do papel vital que desempenha a diversidade biológica no fornecimento dos elementos essenciais à nossa sobrevivência e bem-estar. Esse desconhecimento traduz-se num menor
22 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
apoio da população no que toca a medidas e políticas tendentes a promover uma relação mais próxima da sustentabilidade entre os seres humanos e a diversidade biológica do planeta. O programa de trabalho sobre Comunicação, Educação e Consciência Pública (CEPA) ajuda a criar as ferramentas necessárias para responder a perguntas sobre biodiversidade e sustentabilidade. Além disso, promove uma maior consciência pública sobre o tema e implementa a sua aplicação a outros programas educativos em todo o mundo. O CEPA incentiva a colaboração com governos, sociedade civil e outros agentes com vista à elaboração de programas de consciencialização pública sobre a diversidade biológica e a sua contribuição para o bem-estar humano.
factos &números A maioria dos cidadãos da União • Europeia já ouviu falar de diversidade biológica, mas só 35% declararam conhecer também o significado do termo. Em 2009, um inquérito realizado no Reino • Unido a 1500 crianças entre cinco e 10 anos de idade e 1500 pais para medir o conhecimento da natureza que teriam revelou que 4 de cada dez crianças não sabiam distinguir uma abelha de uma vespa; quase 2/3 tinham dificuldade para distinguir um sapo de uma rã; 13% das crianças não sabia que aspeto tem uma tulipa e um em cada dez deles confundiu uma tulipa com uma margarida ou uma rosa; cerca de 70% dos pais mostraram preocupação com o baixo nível de conhecimento da natureza, a fauna e flora silvestre e o meio ambiente que os seus filhos revelam ter. A maioria do público associa a perda de • diversidade biológica a um problema que tem a ver principalmente com as espécies.
João L. Teixeira
Um terço dos inquiridos mostrou maior • sensibilidade perante dados alarmantes
Na Década das Nações Unidas para a Diversidade Biológica (2011–2020), o CEPA terá um papel destacado na criação de consciência entre todos os interessados diretos cujo comportamento afeta os ecossistemas do planeta. Em 22 de maio celebra-se o Dia Internacional da Biodiversidade, data na qual se organiza todos os anos temas alusivos e em que surgem mais oportunidades para que os países e a população reflitam sobre a biodiversidade. Nesse dia há lugar a campanhas que utilizam a internet e os meios de comunicação social para juntar adultos, crianças e jovens em torno de atividades conjuntas geradoras de consciência sobre biodiversidade.
Public awareness and Education Countdown
As many people are interested in Biodiversity, Parks, Aquariums, Zoos and Botanical Gardens, in short, all the activities related to Nature, attract a great deal of public interest. The truth is that, although we are in the middle of the “Biodiversity Decade,” as devised by the United Nations - apart from a few charismatic species, most people are not aware of the vital role that Biological Diversity plays in the provision of essential elements for our survival and well-being.
de espécies em perigo de extinção e destruição de ecossistemas. Inobstante, consideraram que os apelos que exortam os cidadãos a atuar e a fazer mais pela diversidade biológica são as medidas menos úteis (Barómetro da Diversidade Biológica, 2011). Muita gente está disposta a atuar para proteger a diversidade biológica, mas não sabe o que fazer. Continua a haver desflorestação a um • ritmo de perda anual de 6 milhões de hectares de bosque primário, algo que se presencia desde o ano 2000. consumo insustentável continua, já que • aOdemanda mundial de recursos supera em aproximadamente 20% a capacidade biológica da Terra. Nos últimos 50 anos a pesca excessiva • reduziu em 66% as populações de peixes de maior dimensão no Atlântico Norte.
Fonte www.cbd.int
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24 QUINTEIRO
Doenças dos
mirtilos Vaccinium spp.
Gisela Chicau DRAPN - Divisão de Apoio ao Setor Agroalimentar
2.ª Parte
No número anterior da revista abordamos as doenças radiculares identificadas na Divisão de Apoio ao Sector Agroalimentar (DASA) da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte no ano de 2013. Iremos agora tratar os fungos da parte aérea, isto é, fungos que infetam ramos, folhas, flores e frutos
Doenças da parte aérea As amostras analisadas são provenientes de pomares recém-instalados na região de Entre Douro e Minho, dos grupos “Northern Highbush” (cv. Duke, cv. Ozarkblue, cv. Drapper e cv. Darrow) e “Southern Highbush” (cv. Legacy e cv. Brighthwell).
Phomopsis sp.
A espécie identificada na cultura do mirtilo é Phomopsis vaccinii (forma perfeita Diaporthe vaccinii). O fungo mantém-se no pomar durante o inverno em restos de material vegetal resultantes da poda que aí tenham sido deixados. As infeções dão-se a partir do início do ciclo vegetativo, até à queda das folhas, desde que haja condições de temperatura e humidade favoráveis.
Sintomas O fungo penetra através dos botões florais ou de feridas, provocando a seca de raminhos e flores. Poderá também causar a podridão de frutos e cancros nos ramos. Os cancros nos ramos, de contorno circular e cor acinzentada poderão cobrir-se de picnídios (estruturas de frutificação do fungo), que em presença de humidade
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elevada, libertam os conídios (esporos do fungo). Dependendo da severidade da doença, a planta poderá apresentar alguns ramos secos ou morrer (plantas muito jovens).
diversas espécies arbustivas e arbóreas, como parasita ou saprófita. Tanto Pestalotiopsis spp. como Truncatella sp., fazem parte do conjunto de fungos das “Doenças do Lenho” da videira.
Meios de luta
Sintomas
Na instalação de pomares novos, utilizar plantas sãs, adquiridas em viveiros autorizados pelos Serviços Oficiais. Podar os ramos que apresentem cancros, queimando esse material. Evitar a aplicação excessiva de azoto. A fertilização deverá basear-se nos resultados das análises ao solo. Em ensaios realizados nos Estados Unidos, em New Jersey, Polashock e Kramer (2006) referem as cultivares ‘Northsky’ e Chippewa’ (half-highbush) e ‘Blomidon’, ‘Chignecto’ e ‘Cumberland’ (lowbush) como resistentes.
Seca de ramos e presença de cancros. Nas amostras analisadas na DASA, estes fungos foram isolados de plantas onde se isolou simultaneamente Phomopsis spp., o que está de acordo com Espinoza e Briceño (2008), que admitem a existência de um complexo de fungos a atuar em conjunto.
Pestalotiopsis spp. e Truncatella sp. No Chile, Espinoza e Briceño (2008), identificaram as espécies Pestalotiopsis clavispora, P. neglecta e Truncatella angustata associadas a plantas de mirtilo que apresentavam cancros nos ramos e seca de ramos. O género Pestalotiopsis está presente em
Meios de luta Estes fungos penetram por feridas, pelo que os cortes resultantes da poda poderão constituir porta de entrada. Sempre que possível a poda deverá ser feita com tempo seco. Mantêm-se as recomendações feitas anteriormente no que diz respeito à utilização de plantas sãs, podar ramos infetados, queimando esse material e seguir as recomendações das análises de solo para um programa racional de fertilizações.
Alternaria sp.
Na cultura do mirtilo foi assinalada a espécie Alternaria tenuissima. Os frutos podem ser infetados no pomar,
ocorrem na primavera, com humidade relativa elevada (>95%) e temperaturas amenas (15-20 ºC).
Sintomas
próximo da maturação, ou na câmara de conservação. Este fungo assume particular importância em pós-colheita. Na DASA o fungo foi identificado em folhas de plantas de viveiro, não causando prejuízos importantes.
Necrose das flores, sobre as quais poderá ser visível o micélio do fungo, de cor cinzenta-escura. As flores permanecem na planta, constituindo inóculo para infeção dos frutos e crescimentos jovens. Os raminhos infetados ficam enegrecidos e secam, podendo observar-se a esporulação do fungo. Os frutos ficam necrosados, com aspeto engelhado, cobrindo-se de micélio e esporos. Os sintomas poderão manifestar-se no campo, ou apenas em armazenamento, caso a infeção se mantenha latente.
Sintoma
Meios de luta
Nas folhas, necroses circulares ou de contorno irregular, com 1 a 5 mm, acastanhadas, com contorno definido, de cor castanha-avermelhada. Em pós-colheita, poderá observar-se uma podridão mole dos frutos, sobre os quais é visível o micélio do fungo, de cor cinzentaesverdeada.
A fertilização deverá basear-se nos resultados das análises ao solo, evitando a aplicação excessiva de azoto. Promover o arejamento da folhagem através da poda. Na rega, evitar molhar a folhagem. Evitar a sobrematuração dos frutos na colheita. Os frutos deverão ser armazenados em frio logo após a colheita.
Necroses causadas pelo fungo Alternaria spp.
Necrose na zona do colo (isolados os fungos Alternaria spp. e Pestalotiopsis spp.)
Meios de luta Promover o arejamento da folhagem através da poda. Colher com tempo seco, evitando ferir os frutos. Os frutos deverão ser armazenados em frio logo após a colheita.
Bibliografia
Agrios, G. N. (2005) Plant Pathology (Fifth Edition). ELSEVIER Academic Press, USA.922 pp. Espinoza, J. G. & Briceño, E. X. (2008) Canker and Twig Dieback os Blueberry Caused by Pestalotiopsis spp. and Truncatella sp. in Chile. Plant Disease 92 (10):1407-1414. Horst, R. K. (2008) Westcott’s Plant Disease Handbook (Seventh
Botrytis sp.
A espécie Botrytis cinerea (forma perfeita Botryotinia fuckeliana) infeta flores, frutos e jovens rebentos de mirtilos. No inverno, o fungo mantém-se em restos de material vegetal no pomar. As infeções
Edition). Springer, New York. 1317 pp. Polashock, J. J. & Kramer, M. (2006) Resistance of Blueberry Cultivars to Botryosphaeria Stem Blight and Phomopsis Twig Blight. HortScience 41(6): 1457-1461. Smith, J. B., Magee, J. B. & Gupton, C. L. (1996) Susceptibility of Rabbiteye Blueberry Cultivars to Postharvest Diseases. Plant Disease 80(2): 215-218.
Manchas alaranjadas (isolado o fungo Alternaria spp.)
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26 QUINTEIRO
A
diversidade de espécies que deseja observar no seu jardim tem muito a ver com os hábitos de manutenção que lhe impõe. A moradia de alguns dos leitores pode ter sido construída junto de habitats que ainda conservem alguma da abundante biodiversidade que tiveram antigamente. Num dia primaveril quem sabe se não consegue observar pela manhã um lindo lagarto de cabeça azul e corpo verde a expor-se ao sol, ou se, quando vai a varrer as folhas do caminho, não vê uma rã castanha de face escura a saltar assim que se vê descoberta? Para ambos se sentirem atraídos pelo seu pequeno espaço verde, têm de dispor de abrigo e de alimento, o que pressupõe um certo leque de invertebrados que atrai também aves ao seu jardim. O que viabiliza reter estes pequenos animais em quantidade são as plantas compatíveis, em que se escondem e
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Cuidado com a
tesoura
João L. Teixeira
Com a humidade e o sol que abre espaço à primavera, há sempre uma sebe que se atira ao passeio: é preferível controlá-la quando a temperatura já tiver dado mobilidade suficiente aos animais exotérmicos que o seu jardim hospeda, isto se quiser continuar a ter o prazer de contar com eles nas suas observações da natureza...
Os chapins-azuis são uma das aves selvagens das redondezas que dão uso às caixas-ninho
encontram paparoca, normalmente nativas da região. Quer esta, a rã-ibérica, quer o outro, o lagarto-de-água, existem em todo o mundo apenas praticamente no Noroeste da Península Ibérica e apreciam tanques como os das aldeias do Norte, charcos e linhas de água. Têm em comum com muitos outros animais, concretamente os insetos, fazerem depender a sua temperatura corporal da temperatura ambiente: são por isso animais exotérmicos, chamados também de sangue-frio. Com o frio noturno poderão estar entorpecidos. Quentes, fogem rapidamente. Se um destes dias quiser conter um pouco mais as plantas que constituem a sebe que tem no seu jardim, se o executar na primeira parte da manhã cria as condições necessárias para matar acidentalmente muita desta fauna. Mais vale fazer isso, com cuidado, depois do sol elevar a temperatura ambiente, pois
Jorge Gomes
Rã-ibérica
Be careful with scissors
© Stefan Körber - Fotolia.com
João L. Teixeira
With the humidity and the sun that combine to make Spring, there is always the hedge that grows more than the garden owner wishes. However, it is preferable to trim it only when the temperature has given enough mobility to the cold-blooded animals that live in your garden.
Lagarto-de-água
Jorge Gomes
assim todos conseguirão fugir à fatídica foice. Outro fator importante neste sentido prende-se com a época dos ninhos que agora corre nos ritmos da vida selvagem. Carriças, toutinegras, verdilhões, melros e tordos, por exemplo, fazem ninho entre a folhagem. Se gosta de os ouvir e ver por ali, o ideal será evitar ao máximo fazer qualquer tipo de jardinagem invasiva. Por outro lado, nesta altura do ano, se já tem instalada uma caixa-ninho no jardim, pode ter tido a sorte de a ver ocupada por alguma das espécies de chapim ou até por um par de pardais. Quando as crias estão maiores, vêm espreitar à boca do ninho. Crescer obriga a comer mais. Os progenitores não resistem ao apelo e lá vão lagartas e minhocas, moscas e mosquitos em catadupa — o bom tempo não dura para sempre. Texto Jorge Gomes
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28 DUNAS
Cordão dunar Como o nome indica, os regeneradores dunares apoiam consideravelmente a proteção das dunas e acabam por ficar debaixo da areia
Q
uando passeia pelos passadiços do cordão de dunas de Vila Nova de Gaia já não levará em conta com certeza os percalços causados pelo mar no inverno passado. Em boa parte, os passadiços foram destruídos pelas ondas e a redistribuição das areias de praia teria sido bem mais drástica se não fosse o sistema de dunas. As plantas típicas destes espaços à beira-mar, com raízes enormes, agregam a areia, e agora ao ver tanta gente a fruir da linda paisagem, permanece um valor enorme – o litoral é encarado em primeira linha por quem o visita como um espaço de lazer. Neste espaço amplo, quem ali vai repõe energias perdidas no desgaste diário de uma profissão exigente, esticando o passo nalguma parte dos seus 14 quilómetros de extensão. Mas, facto incontornável, o lazer é só um dos aspetos associados a esta faixa costeira.
28 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
Regeneradores dunares e passadiços são hoje estruturas fundamentais para uma melhor relação entre o ser humano e estes habitats sob proteção de Diretiva Comunitária
João L. Teixeira
Pormenor do Parque de Dunas da Aguda
Parque de
Dunas da Aguda
E
João L. Teixeira
João L. Teixeira
João L. Teixeira
Ninho de borrelho-de-coleira-interrompida nas dunas
sta pequena reserva natural tem em vista explicar a necessidade de se proteger as dunas e a sua biodiversidade. A variedade de espécies selvagens que é própria dos habitats dunares não pode ser esquecida, até porque foram as características deste habitat que lhe atribuíram, segundo leis da Comunidade Europeia, estatuto de proteção, a partir da Diretiva Habitats. No Parque de Dunas da Aguda encontra um centro de interpretação alusivo a estes espaços de natureza e lazer, onde se explica a importância de proteger o litoral, partindo de pontos de vista diversos. Agora que dezenas de plantas das dunas abanam ao vento as suas flores, também os borrelhos-de-coleira-interrompida defendem neste habitat, casal a casal, os seus territórios de nidificação. Os ninhos são muito miméticos, quase não se distinguem no meio da areia e das plantas nativas das dunas, pelo que os passadiços sobrelevados são fundamentais quer para que estes não sejam pisados quer para que as plantas continuem a desempenhar uma função incansável: a de consolidar o sistema dunar, a primeira linha de proteção do litoral face às intempéries que se adivinham em cada inverno, ano após ano.
Borrelho-de-coleira-interrompida
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30 LITORAL
Zona de serviço da ala nascente
E
ste sistema permite a utilização alternada de um circuito aberto ou fechado, conforme a qualidade da água no mar no exterior é ou não aceitável. Por outras palavras, a água do mar pode estar poluída por muito tempo mas o Aquário continua funcionar. Aumentos da salinidade por evaporação são compensados com água doce. A água é captada esporadicamente em frente da ELA na zona intertidal, através de uma linha de tubagem dupla enterrada na praia, que termina num poço construído nas rochas, ao nível da maré baixa média. Esta água nova serve para encher e renovar periodicamente um ou dois dos quatro reservatórios instalados na cave da ELA. Após processamento por filtração mecânica-biológica ao longo de 24 a 48 horas, a água nova é integrada gradualmente no circuito fechado e bombeada para três tanques gravíticos no 1.º andar do edifício, a partir dos quais são abastecidos, por gravidade, os aquários, laboratórios, sala de cultivo, quarentena e auditório no R/C do edifício. A água dos aquários circula e é tratada em circuito fechado conforme já indicado, enquanto a água dos restantes setores não é reutilizada.
30 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
Zona de serviço da ala poente
Escumador e gerador de ozono
A circulação da água do mar
na Estação Litoral da
Aguda
Ao longo do seu funcionamento desde 1998, este sistema mostrou-se extremamente viável e nunca avariou até agora. O volume de água salgada na exposição atinge os 28 mil litros e o dos reservatórios e tanques gravíticos 43 mil litros. Os aquários funcionam em conjunto ou autonomamente, caso seja necessário isolá-los por razões biológicas ou terapêuticas. Uma vez separado, cada aquário dispõe do seu próprio equipamento de processamento de água, assegurado por filtros biológicos. Todos os aquários foram construídos
em poliéster reforçado com fibra de vidro. Possuem formas hexagonais a octogonais, cantos redondos e fundos inclinados, integram um sistema de filtração interno através de um fundo falso, e escoamentos de superfície. Os vidros silicatos monolíticos têm espessuras entre 18 e 32 mm, conforme o volume de água, altura de água (80 cm, igual em todos os aquários) e comprimento de cada tanque de exposição. No aquário de maior volume (6700 l), que representa um biótopo do mar da Aguda a 25 metros de profundidade, a movimentação da água e a filtração
Filtros biológicos
Mike Weber e José Pedro Oliveira Estação Litoral da Aguda
Esterilização de água salgada por raios UV
Na ELA, a água do mar do Aquário circula num circuito semi-fechado, que integra uma série de mecanismos para mantê-la em condições biologicamente aceitáveis para a manutenção dos organismos vivos e bem-estar animal: filtração mecânica, biológica e química; escumação com ozonização integrada; aerificação por ar comprimido de baixa pressão; esterilização por raios ultravioleta e refrigeração
mecânica-biológica são asseguradas por um filtro rápido de areia. O aquário mais comprido com cinco metros (4800 l), que mostra um habitat de laminárias a três metros de profundidade, está equipado com um sistema de contracorrentes, assegurado por um filtro rápido com ouriços plásticos (bioballs). Ambos os filtros são equipados com válvulas multívias para filtração, lavagem rápida (back-wash), circulação e esvaziamento. As tubagens de abastecimento da água do mar, água doce, ar a baixa pressão, e os cabos elétricos de corrente monofásica
e trifásica estão instalados em forma de anel, fixados no teto do corredor da zona de serviço que acompanha os aquários. Toda a tubagem é de material inerte (PVC) e oferece a máxima flexibilidade de manutenção, reparação, alteração e durabilidade. A iluminação dos aquários é assegurada por lâmpadas de vapor metálico de alta pressão (HQI) de 250 e 400 W, conforme as necessidades biológicas e área de superfície de cada tanque. O Aquário é apoiado por uma ampla zona de serviço que envolve três laboratórios, duas quarentenas, cozinha de alimentos
com congeladores, sala de cultivo, oficina, sala de compressor e gerador, para além de uma zona técnica exterior, que permite a execução de trabalhos de manutenção, reparação e conservação ao ar livre.
ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA Rua Alfredo Dias, Praia da Aguda 4410-475 Arcozelo Vila Nova de Gaia Tel.: 227 536 360 fax: 227 535 155 ela.aguda@mail.telepac.pt www.fundação-ela.pt
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32 DUNAS
João L. Teixeira
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João L. Teixeira
Estuário do Douro
viajantes rumo a norte
C
om especial incidência nas limícolas e na RNLED enquanto espaço importante de descanso, alimentação e abrigo para muitas aves migratórias, decorreu no passado fim de semana de 10 e 11 de maio um evento de natureza internacional intitulado Dia Mundial das Aves Migradoras (World Migratory Bird Day). Dando destaque à presença de aves em migração que realizam duas vezes por
A Reserva Natural Local do Estuário do Douro celebrou no fim de semana de 10 de maio o Dia Mundial das Aves Migradoras selvagens ano deslocações entre o Ártico e o continente africano, foram inúmeros os visitantes que junto da RNLED alargaram a sua compreensão sobre a importância das zonas húmidas na Década da Biodiversidade, lançada pelas Nações Unidas. Paulo Faria, técnico do Parque Biológico de Gaia especialmente ligado à RNLED, explicou que com esta iniciativa é «dada oportunidade
a quem estava interessado em fazer observações no interior da zona condicionada e também participar em simulações dos trabalhos de monitorização e de realização de censos de aves na RNLED e o rastreio de aves com anilhas de leitura à distância». Esta possibilidade concretizou-se através de grupos que se fizeram acompanhar por um técnico, tendo os participantes realizado a respetiva inscrição. O World Migratory Bird Day (WMBD) é uma iniciativa lançada pelo AEWA (African-Eurasian Migratory Waterbird Agreement) e o CMS (Convention on Migratory Species) sob a tutela do UNEP (United Nations Environment Programme). É de âmbito mundial e pretende promover a conservação das aves selvagens. A temática escolhida para 2014 está relacionada com turismo sustentável da natureza e a sua associação às aves migradoras.
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34 DUNAS PAR
João L. Teixeira
Abelharuco Dia 15 de maio, quinta-feira, um abelharuco passou pela Reserva Natural Local do Estuário do Douro...
34 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
Com esta nova espécie, a listagem de observações de aves selvagens da Reserva Natural Local do Estuário do Douro (RNLED) atinge um expressivo número: 222. Os abelharucos nesta região do país são aves raras. Este registo foi feito por Paulo Faria, técnico do Parque Biológico de Gaia, quando nesse dia realizava na RNLED um censo de outro tipo de ave, os borrelhos-decoleira-interrompida, e foi surpreendido por este facto invulgar. O abelharuco estaria de passagem. Espécie migradora, visita Portugal para nidificar. Chega em abril e parte em setembro. Os abelharucos são de fácil observação sobretudo no Algarve e no Alentejo. Na restante parte do ano vivem em África. É notório que se trata de uma das aves mais atraentes da avifauna europeia pelo colorido luxuriante.
BATER DE ASA 35
O voo das As palavras datadas de 22 de março são do departamento francês de Ecologia e Gestão da Biodiversidade do Centre de Recherches sur la Biologie des Populations d'Oiseaux, a entidade que organiza os dados provenientes da anilhagem de aves selvagens…
Centre de Recherch es des Popu lations d'O sur la Biologie iseaux (C RBPO)
Département
Ecologie et
Gestion de
PARQUE
Wikipedia
O
ofício vem de França mas está redigido em inglês. Traduzimos: «Estamos gratos por nos dar informações sobre essa ave anilhada. O objetivo da anilhagem científica de aves selvagens é o de obter dados sobre diversos aspetos da avifauna tais como por exemplo as suas migrações, dinâmica populacional, ecologia, reprodução, entre outros. Se voltar a encontrar uma ave anilhada envie-nos por favor os detalhes, com a anotação do código alfanumérico, o local e as circunstâncias de observação, a data, etc.». Tudo isto decorre de uma sessão de anilhagem científica que funcionou em 23 de outubro de 2012 na Alsácia, em França, e envolveu um tordo-comum, Turdus philomelos, que foi então capturado. Processado pelo grupo de anilhadores credenciados, colhidos e registados os dados biométricos, foi devolvido à liberdade e levou na pata a anilha JA616261. Em 16 de fevereiro do corrente ano, João Rodrigues, em Horta da Abóbora, Alagoa, Portalegre, apanhou-o do chão, apressando-se a passar a palavra ao Parque Biológico de Gaia, pois esta ave transportava consigo a dita anilha. Dado seguimento a essa informação, a
João L. Teixeira
aves
la Biodivers
BIOLOGICO
ité
entidade francesa não se fez rogada e esclareceu: o registo era efetivo e, por exemplo, a distância entre ambas as localidades – a de aplicação da anilha e o local de captura em Portugal – é de 1519.25 quilómetros.
DE GAIA
PORTUGAL
Paris, le
jeudi 23 janv ier 2014 Object : Rec apture/recove ry report Dear Miss , Mister We are mos t grateful to the details, you for you r report of please write a ringed bird information down your . You will find remarks and on various aspects of If you find the details return the bird an other ring whole form below. If you . The purp ed bird, plea life such as migratio place, find notice an erro ose of n, population ing circumst se send us r in anc the complet dynamic, eco ringing is to obtain - If the bird e details (all is dead, plea es, etc.) lgy, breeding the inscripti - If the bird se send us biology, ... on read on is alive and the ring unb the ring, date healthy, plea ended. , se let it go with its ring Sincerely you . rs The French
ringing sche
me
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lomelos
Sex unknow n after first cale ndar year 18/10/2013 / 08:00:00 LARCHANT / METROPOLI Seine-et-Marne / Île-d e-France / TAINE / FRA FRANCE Lat. : 48.2 NCE 840 [N48°17' 2.53"]; Lon SENECAL, g. : 2.5957 Didier [E2°35'44.61 "]
[U] [4] [] [FR27]
Sex unknow n Full growth 14/11/2013 Dois Porto, Terres Ved ras / Lisboa Lat. : 39.0 433 [N39°2'3 / PORTUG AL 5.99"]; Lon 1398.5 g. : -9.2281 [W9°13'41.0 27 Jours, soit 0"] 0 an(s), 0 mois, 27 jour 313 (s) freshly dea d, within abo ut a week shot Non Non PARQUE BIOLOGICO DE GAIA
The flight of birds
The main goal of ringing of wild birds is to obtain data regarding aspects of avifauna such as their migrations, population dynamics, ecology and reproduction cycles, among others. If you find a ringed bird kindly send us their details, with a note of the alphanumeric code, the location, the circumstances of observation and the date.
Outro caso foi o de um tordo da mesma espécie portador de outra anilha. Em 15 de novembro Luís Gomes escreve: «Bom dia. Serve o presente para comunicar que ontem, dia 14-11-2013, durante a jornada de caça, cobrei um tordo-comum anilhado. O local da captura foi no Casal Mornocos, freguesia de Dois Portos, concelho de Torres Vedras e distrito de Lisboa, Lat - 39º2'36.34''N, Lon 9º13'41.29''W. Na anilha está a seguinte informação: MUSEUMPARIS JA636479». Nuno Gomes Oliveira responde: «Acabamos de receber do Museu de Paris as informações sobre o tordo que capturou em Dois Portos, em 14/11/2013. Era um tordo nascido nesse ano de 2013 e anilhado em Larchant (França) em 10/10/2013; foi capturado 27 dias depois de anilhado, conforme ficha anexada. Esperamos poder contar, no futuro, com a sua colaboração para um melhor conhecimento das migrações das aves».
[12000]
[U] [2] [] [PO11]
[2] [10]
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João L. Teixeira
36 MUSEU
Centro Interpretativo do Património da Afurada
Afurada: núcleo malacológico O Centro Interpretativo do Património da Afurada (CIPA) vai dispor em breve de um Núcleo Malacológico. Dar-lhe-á corpo a coleção Marciano Azuaga, cidadão do século XIX que se interessou pela malacologia e que «reuniu ao longo de décadas um espólio considerável de objetos dos mais variados temas e das mais diversas proveniências», diz Francisco Saraiva, coordenador do CIPA. Propriedade «da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia desde 1904», a coleção «foi transferida para o Solar Condes de Resende, sendo aí estudada por inúmeros investigadores das mais diversas especialidades», merecendo destaque «o trabalho de inventariação de Álvaro Ramos», que dá «um passo fundamental para a compreensão deste núcleo». Note-se que «além da coleção malacológica, a coleção integra também um conjunto de outros organismos marinhos a integrar na exposição permanente que será desenvolvida», conclui o técnico. Enquanto espera por esta nova mostra, pode visitar o CIPA todos os dias entre as 10h00 e as 12h30 e entre as 13h30 e as 18h00.
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ESPAÇOS VERDES 37
João L. Teixeira
Parque Botânico do Castelo
Casa da Eira
A primavera no Parque Botânico do Castelo, em Crestuma, é um caudal inesperado de floração. Deve-se isso à recolonização de numerosas espécies nativas espontâneas que galgaram socalcos assim que as velhas leiras usadas para a agricultura deixaram de ser cultivadas, há já muito tempo. É curioso notar as espécies de plantas de índole mediterrânica que ali subsistem, mercê do microclima desta margem sul do rio Douro, que corre lá em baixo. As abróteas, do género Asphodelus, geram hastes de flores brancas ricas em néctar, especialmente apreciadas por vários grupos de insetos. No final do estio, outras parecidas haverá, dadas até a confusão com estas por parte dos visitantes, mas de família diferente, a cebola-albarrã, Urginea maritima. Além destas, muitas outras plantas cheias de flores observará no parque ao longo da sua visita.
Abrótea em flor
João L. Teixeira
Parque da Ponte de Maria Pia Como o nome sugere, este espaço verde fica próximo da Ponte de Maria Pia, que une Vila Nova de Gaia à cidade do Porto. Quando por estes dias uma qualquer aragem primaveril passar por si, encontrará uma boa oportunidade de ali voltar. Ao dar o gosto ao pé, reparará que os parques são como o vinho do Porto, amadurecem com o passar do tempo. Este espaço verde é o mais recente da cidade, por isso ainda terá de aguardar mais uns anos até ver a sua vegetação arbórea mais encorpada. Enquanto isso não ocorre, sabe bem aproveitar o sol e passear nestes caminhos. Próximo da serra do Pilar, o espaço da antiga linha de caminho de ferro Porto/Lisboa, desativada com a construção de uma nova ponte ferroviária, ganhou uso distinto, porém, de notório interesse público.
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João L. Teixeira
Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Gaia, no passado dia 8 de março participou numa iniciativa no Parque do Conde das Devesas com vista a celebrar o Dia Internacional da Mulher. «As flores são um símbolo de paz e de concórdia. Estiveram presentes em vários momentos da história, como a Revolução dos Cravos, que infelizmente hoje está mais longe de estar cumprida do que noutros tempos: é triste ver um mundo onde as flores são cinicamente usadas para embelezarem mesas onde se assinam tratados de agressão, sejam eles físicos ou simbólicos, contra pessoas e modos de vida», disse Eduardo Vítor Rodrigues. A coleção de camélias do Parque das Devesas somou neste dia mais uma, que leva o nome camélia-tedínia, criada no século XIX pela família Sequeira Tedim.
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João L. Teixeira
Parque da Quinta do Conde das Devesas
Após a plantação deste exemplar de camélia, o evento encerrou com uma visita ao Parque da Quinta do Conde das Devesas
Nessa tarde de sábado, Jorge Garrido, engenheiro agrónomo e autor do livro «Camélias Portuguesas – História & Formosura», apresentou a sua obra que divulga detalhes da presença de camélias em Portugal através dos tempos. Afirmou que em Vila Nova de Gaia existe a camélia mais antiga da Europa, na Quinta do Paço do Campo Belo, em Santa Marinha. Sobre esta variedade, adiantou tratar-se de «uma camélia vermelha, muito simples, mas com uma grande simbologia: os especialistas dizem que foi trazida das Índias para Portugal há mais de 450 anos, na altura dos Descobrimentos». Após a plantação deste exemplar de camélia, o evento encerrou com uma visita ao Parque da Quinta do Conde das Devesas. O Parque agrega agora 128 exemplares.
Parque da Lavandeira As feiras de artesanato são uma das iniciativas extraordinárias que surgiram na primavera neste espaço verde de Oliveira do Douro. Entre abril e maio preencheram diversos fins-desemana. Em junho, decorrem nos fins-de-semana de 7 e 8, de 14 e 15 e de 21 e 22, entre as 10h00 e as 18h00. Neste parque, com entrada grátis, dispõe ainda de agradáveis percursos no meio do avoredo, permeados com aprazíveis áreas para merendar. Esperam por si variados jardins temáticos e outras atividades que vão sendo marcadas à medida do calendário mais próximo. Junto ao lago, elemento central do Parque da Lavandeira, há uma cafetaria, um local onde pode tomar um chá ou um café numa pausa dos passeios que ali fizer. O Parque da Lavandeira acolherá diversas iniciativas culturais ao longo do ano, concretamente feiras de artesanato
Agenda As mulheres do campo vêm à vila Aos sábados de manhã, venda de legumes sem pesticidas.
Yoga A orientação é da responsabilidade da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona a atividade em regime de voluntariado. Quartas e sextas-feiras às 9h45.
Tai Chi Às segundas e às quintas-feiras, aulas às 9h30. Entrada grátis. Participação nesta última atividade sujeita a marcação por e-mail: lavandeira@parquebiologico.pt
Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook, no site www.parquebiologico.pt (botão Parque da Lavandeira), ou telefonar para 227 878 138
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40 ESPAÇOS VERDES
Parque Biológico de Gaia
Percurso
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Mais conhecido pelo seu atraente percurso de descoberta da natureza, de quase 3 quilómetros de extensão, o Parque Biológico de Gaia acolhe uma mão-cheia de exposições temáticas, umas temporárias, outras permanentes. Além disso, o setor de educação ambiental disponibiliza um vasto catálogo de ateliers, merecendo destaque pela grande adesão por parte das famílias as Noites dos Pirilampos, que iniciam no final da primavera...
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42 ESPAÇOS VERDES Agenda
Noites dos
Pirilampos
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João L. Teixeira
Phosphaenus hemipterus (Goeze, 1777), inseto adulto
Luciola lusitanica (Charpentier, 1825), fêmea adulta João L. Teixeira
Que dão luz e são pequeninos é o que se conclui com facilidade quando se trata de os ver no campo, numa visita fortuita, regra geral de noite. Mas há espécies que são ativas de dia. É o caso do pirilampo Phosphaenus hemipterus na forma adulta do inseto e na forma larvar do género Lampyris, quando por vezes se encontram a atravessar o percurso de descoberta da natureza do Parque Biológico de Gaia.
João L. Teixeira
Algumas espécies já observadas no Parque
Henrique N. Alves
Nas noites de 6 e 7 de junho, de 9 a 14, de 16 a 21 e de 25 a 28 do mesmo mês, sob reserva, há outras luzes, estas de origem animal, que desafiam o brilho das constelações. Bioluminescentes, a meia dúzia de espécies de pirilampo que existem no parque rivalizam e ao cintilarem prendem a atenção de miúdos e graúdos. O self-service serve jantares (reserva obrigatória). Entre as 23h00 e as 23h30, também há observações astronómicas.
João L. Teixeira
Nas datas referidas nesta página é possível visitar de noite o Parque Biológico de Gaia: às 22h00, há observação de pirilampos
Lamprohiza paulinoi E. Olivier, 1884, fêmea adulta
Lamprohiza sp. - larva
A breve prazo decorrerão iniciativas dem no Parque Biológico de Gaia que po ser do seu interesse, é só escolher... Sábado no Parque
João L. Teixeira
tier, 1825), macho adulto Luciola lusitanica (Charpen
Dia 7 de junho o Parque prepara algumas atividades especiais para os seus visitantes. Com início às 11h00, há lugar ao atelier “Iniciação à astronomia”. Às 15h00 decorre a abertura da Exposição de Fotografia do Concurso Nacional de Fotografia Astronómica do Observatório do Parque Biológico; patente todos os dias até 30 de setembro no horário de abertura do Parque. Às 15h30 haverá uma visita guiada por técnicos do Parque e, simultaneamente, percurso ornitológico. Em 5 de julho, às 11h00, o atelier é preenchido com “Jogos de cores, cheiros e sabores” e depois do almoço a conversa do mês será sobre os Parques de Gaia. Nestes dias, à noite, às 22h00, há observações astronómicas, se as condições meteorológicas o permitirem. Em cada um destes sábados há uma nova Ave, uma nova Planta e um novo livro do Mês.
Anilhagem científica de aves selvagens
Larva de Lampyris iberica, Geisthardt, Figueira, Day & De Cock, 2008
Encontro Ibérico Vai decorrer no Parque Biológico de Gaia um Encontro Ibérico sobre Pirilampos/Encuentro Ibérico de luciérnagas, em 14 de junho do corrente ano. O certame tem a coordenação científica de Raphaël De Cock (Associate researcher at University of Antwerp - Evolutionairy Ecology group - Belgium) e de José Ramón Guzmán Álvarez (Department of Forestry, University of Córdoba, Spain, - Founder of “¿Has visto una luciérnaga?”, www.gusanosdeluz.es). Mais informações: www.parquebiologico.pt.
Nos primeiros e terceiros sábados de cada mês, das dez ao meio-dia, os visitantes do Parque podem assistir a esta atividade na Quinta do Chasco de passagem pelo percurso de descoberta da natureza, se não chover. Orientada por anilhadores credenciados, há uma dúzia de formandos que prosseguem no objetivo de aprenderem sempre mais nesta iniciativa útil para um melhor conhecimento da população de aves da região. O Parque Biológico de Gaia colabora com a Central Nacional de Anilhagem, coordenada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, num projeto europeu de
Estações de Esforço Constante, para monitorização das aves selvagens.
Oficinas de Verão Para crianças e jovens dos 6 aos 14 anos. Decorrem nas semanas de 30 junho a 4 julho, de 7 a 11, de 14 a 18 e 21 a 25 de julho, de 28 de julho a 3 de agosto, de 4 a 8, 11 a 15, 18 a 22 e de 25 a 29 de agosto. A entrada diária é às 9h00 e a saída às 18h00. Saiba mais no Gabinete de Atendimento do Parque.
Observação de aves selvagens Nos primeiros domingos de cada mês, das 10h00 às 12h00, leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias e binóculos à Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Com telescópio, estará um técnico do Parque para ajudar os presentes a identificar as aves do litoral a partir dos observatórios ali instalados.
Especial férias De 21 de julho até 5 de setembro, todos os dias úteis, pelas 15h00 há uma atividade diferente no Parque, incluída no preço da entrada, e sem necessidade de marcação.
Receba notícias por e-mail Para os leitores saberem das suas atividades a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma visita semanal a www.parquebiologico.pt A alternativa será receber os destaques, sempre que oportunos, por e-mail. Para isso, peça-os a newsletter@parquebiologico.pt
Mais informações Gabinete de Atendimento atendimento@parquebiologico.pt Telefone direto: 227 878 138 4430-861 Avintes - Portugal
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Jorge Gomes
44 ESPAÇOS VERDES
Dia Mundial da Floresta O Dia Mundial da Floresta comemorou-se este ano numa sexta-feira, 21 de março, o primeiro dia da primavera. Pensada para esse efeito, criou-se uma peça de teatro que leva o título “Floresta: Lar Doce Lar”. Nela, alguns dos habitantes típicos dos bosques lusitanos explicam às crianças em discurso direto os danos decorrentes dos incêndios, adiantando informação sobre como a natureza consegue regenerar, se se lhe der espaço para esse efeito. O texto original é de Jorge Gomes e a adaptação é de Manuel Franklim (Ilha Mágica). A cenografia é da responsabilidade de Rosário Matos (Astro Fingido). A peça, contemplada com duas sessões em 21 de março, foi reposta no mesmo auditório na noite de 4 de abril, altura em que foi complementada com uma tertúlia de poesia e observações de astronomia.
Briófitos ameaçados: Atlas e Livro Vermelho Em 22 de abril foi lançado na sala Vandelli do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, o “Atlas e Livro Vermelho dos Briófitos Ameaçados de Portugal”. A obra resulta do trabalho destes investigadores: Cecília Sérgio, César Augusto Garcia, Manuela Sim-Sim, Cristiana Vieira, Helena Hespanhol e Sarah Srow. A apresentação esteve a cargo de Jorge Capelo, do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.
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Biorama Cerca de 80 crianças encontraram no dia 21 de fevereiro o Dino no Biorama, exposição permanente do Parque Biológico de Gaia que reconstitui vários biomas - ou grandes comunidades ecológicas do nosso planeta -, tais como a savana, a floresta tropical e o ambiente mesozóico. Inês Flemming, educadora de infância, disse a este respeito que “o Sol dos Pequeninos ao longo do seu percurso tem como principal objetivo assentar o projeto pedagógico na fantasia e realidade das várias histórias de todos os tempos: criam-se cenários reais proporcionando assim momentos verdadeiramente mágicos onde crianças e adultos interagem com as personagens vivenciando a fantasia”. Sempre na frente “de todas as iniciativas que se prendem culturalmente aos projetos pedagógicos, o Sol dos Pequeninos apresenta as personagens dos Flintstones nos seus variados contextos, onde a fantasia e a realidade se confundem”. Sublinhou que o Parque Biológico se tornou o cenário ideal para “recriarmos um momento histórico – a vida dos dinossauros – onde o Dino, uma das figuras mais emblemáticas da história dos Flintstones, proporcionou uma aventura e uma aprendizagem enriquecedora”.
Percursos de descoberta Com vista a conhecer o vasto património natural português, o Parque Biológico de Gaia organiza diversos percursos de descoberta ao longo do ano. Com partida e chegada em autocarro a Avintes, o primeiro realizou-se num sábado, 18 de março, e centrou-se numa visita a um museu em Sangalhos e ao Buçaco. Seguiu-se um outro com destino ao Parque Natural do Alvão em 12 de abril. O último do ano, segundo a agenda, decorre em 17 de maio, sempre aos sábados, tendo por cenário o Parque Natural de Montesinho.
Homenagem a Nuno Gomes Oliveira
A Associação de Guardas e Vigilantes da Natureza homenageou Nuno Gomes Oliveira no XVII Encontro Nacional de Vigilantes da Natureza – XI Jornadas Técnicas, realizadas nos dias 4 e 5 de maio em Rio Maior. "A sua dedicação à defesa da natureza sempre se pautou pela coragem, persistência, saber e muito trabalho", afirmou-se, sublinhando que "ao longo dos anos temos acompanhado o fruto do seu trabalho, que tem tido reflexos na educação e sensibilização ambiental de muitos portugueses". Encontra o texto completo em http://apgvn. blogspot.pt/2014_05_01_archive.html
Jorge Gomes
Detetives do Parque
Buçaco
No passado dia 7 de fevereiro o Parque Biológico de Gaia participou na iniciativa Careers Fair, no CLIP - Colégio Luso Internacional do Porto, com a atividade Detetives no Parque, em representação do seu Centro de Recuperação de Fauna Selvagem. O balanço foi bastante positivo, tendo a atividade sido muito bem recebida com grande participação dos alunos. Por Jessica Castro
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46 ESPAÇOS VERDES Fauna
Novidades O Parque Biológico de Gaia celebrou 31 anos de existência, em 21 de março. Desde então, os visitantes podem observar os seus novos hóspedes: o tetraz ou galo-montês, Tetrao urogallus. Trata-se de um grande galináceo euroasiático cujo macho pode chegar a 90 centímetros, extinto em Portugal (serra de Gerês) há mais de cem anos. Ainda vive e nidifica no Norte da Península Ibérica, na cordilheira Cantábrica.
46 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
Outra novidade marcou o dia em 7 de março: tem a ver com o regresso de África, onde passou o inverno, do casal de milhafres-pretos, Milvus migrans, que desde há dois anos adotou uma das grandes árvores do rio Febros dentro do Parque para fazer ninho. Lembre-se que o ano passado este casal criou um descendente, pelo que este ano o êxito deve repetir-se. Embora seja uma ave comum em Portugal
Ectropis crepuscularia
Flora
Lunularia cruciata (L.) Lindb.
Hepática das meias-luas
João L. Teixeira
Sempre a sorrir Hepática talosa de cor verde-brilhante com talos bifurcados e margens onduladas. A superfície superior (dorsal) dos talos (gametófito) é reticulada, com poros simples e proeminentes e a superfície inferior (ventral) apresenta escamas hialinas semilunares. Em estado seco, o talo torna-se amarelado e as margens incurvam. A olho nu, distingue-se facilmente pela presença de Cristiana Vieira numerosos propágulos verdes em forma de disco que e Helena Hespanhol se encontram agrupados e protegidos por escamas CIBIO-InBIO (receptáculos propagulíferos) com forma semilunar que fazem lembrar pequenos “smiles”, daí o nome comum de “hepática das meias-luas”. Quando chove, as gotas de água caem nestas estruturas e transportam esses propágulos vegetativos que têm a capacidade de formar uma nova planta (que é um clone da que lhe deu origem) em novos locais. É uma espécie que raramente apresenta cápsulas, porém, quando as desenvolve, estas estruturas surgem em receptáculos que se elevam através de uma haste como que lembrando pequenos guarda-chuvas. As cápsulas dispõem-se em forma de uma cruz, surgindo de quatro invólucros tubulosos horizontais dispostos perpendicularmente, daí o nome científico “cruciata”. Atualmente, estão a realizar-se vários estudos que demonstram que esta hepática, tal como outras plantas, estabelece uma relação de simbiose com múltiplos grupos de fungos. Um dos benefícios que as briófitas parecem obter desta simbiose é o aumento do número de estruturas reprodutoras e da produção de gemas, enquanto o fungo recebe uma porção dos produtos da fotossíntese, como hidratos de carbono. Para além disso, esta hepática tem sido alvo de estudos que comprovam o seu potencial antibiótico face a diferentes microrganismos. Em Portugal, esta espécie é bastante comum sobre terra fresca, paredes e rochas húmidas. Encontra-se facilmente em jardins urbanos e estufas e é vulgarmente considerada como planta infestante das estufas de horticultura. No Parque Biológico de Gaia pode ser facilmente observada em muros húmidos.
durante a primavera/verão é pouco abundante nesta região. Pode ser observado com muita facilidade a sobrevoar o Parque Biológico. Apesar das numerosas borboletas noturnas observadas no Parque, ainda se vão registando espécies na lista de biodiversidade: foi o caso da Ectropis crepuscularia, da família dos Geometrídeos, que em 9 de abril deste ano estava a descansar durante o dia na parede do edifício do centro de acolhimento.
Cristiana Vieira
O tetraz, ou galo-montês, é o novo hóspede do Parque Biológico de Gaia: em primeiro plano o macho, ao fundo a fêmea
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48 ESPAÇOS VERDES o Centro de Recuperaçã
Torda-mergulheira Foi encontrada debilitada na Foz do Douro uma torda-mergulheira, Alca torda, no passado dia 18 de março
E
ntregue nesse dia por guardas do SEPNA ao cuidado do Centro de Recuperação do Parque Biológico de Gaia, verificou-se que a ave estava magra e as penas não revelavam a impermeabilidade própria de um animal saudável. Não admirava por isso que fugisse da água.
Sem a ajuda de penas hidrófobas entrava em hipotermia. Apresentava várias lacerações e uma perfuração nas membranas interdigitais. Decidiu-se pela colocação numa piscina no exterior e verificou-se que tinha apetite, pois alimentava-se com facilidade de peixe-rei e afins. Com uma recuperação favorável, ficou em condições de ser libertada num habitat adequado, concretamente na Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Dado o evidente interesse na colheita de informação em caso de recaptura, foi pedido ao grupo de anilhagem científica em serviço no Parque Biológico de Gaia que processasse esta torda-mergulheira e lhe aplicasse uma anilha, na verdade
uma espécie de bilhete de identidade ou de cartão de cidadão que permitirá reconhecê-la entre todas as outras da mesma espécie. Levou consigo a anilha n.º 67110. A devolução à vida selvagem em boas condições aconteceu na RNLED em 22 de abril. Estas aves pertencem ao património natural da fauna ibérica, embora não sejam conhecidas da maior parte das pessoas. Isso compreende-se porque passam praticamente a vida no mar e nidificam em escarpas do litoral, no Centro e no Norte da Europa, ocorrendo como invernante em Portugal. foto Ricardo Vieira
O comércio
ilegal O comércio ilegal de espécies protegidas foi considerado pelo Fundo Mundial para a Natureza como o quarto crime mais lucrativo do mundo, gerando anualmente 14 milhões de euros 48 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
Vanessa Soeiro
de ovos Desde 2003 o Parque Biológico de Gaia recebeu 132 ovos apreendidos pelas autoridades nos aeroportos ao abrigo da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção). Os ovos são transportados junto ao corpo (na zona abdominal), mantendo assim a temperatura necessária para
incubar e assegurar a vida dos embriões a eclodir no local de destino. O percurso dos ovos está identificado, sendo recolhidos na América Central e do Sul pela população local. Através de intermediários brasileiros, os ovos são entregues a “correios” que os transportam dissimulados à cintura para Portugal. Já em território nacional, são aguardados por recetores portugueses,
João L. Teixeira
João L. Teixeira
Nos primeiros dois meses as aves foram mantidas em ambiente controlado
terminando aqui a incubação e criação dos pintos. Estas aves são então legalizadas como crias de origem legal e comercializadas. Em setembro de 2011 o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas depositou ao cuidado do Centro de Recuperação de Fauna do Parque Biológico de Gaia (CRF-PBG) 57 ovos apreendidos no aeroporto de Lisboa.
Na altura não sabíamos o que nos esperava, mas entre os ovos que eclodiram estavam papagaios (Amazona rhodocorytha), galinhas e um tucano. Durante os primeiros dois meses as pequenas aves foram mantidas em ambiente controlado (temperatura e humidade), sendo alimentadas com uma papa comercial a cada duas horas. Dos 18 a 20 gramas com que eclodiram, os
papagaios chegaram aos 400 gramas que correspondem em média ao seu peso de adulto e foram transferidos para o centro de reprodução, precisamente... para reproduzir. Dos 34 ovos eclodidos sobreviveram 17 aves que já terão atingido a maturidade sexual. A espécie em causa está classificada pela IUCN como “em perigo” e está incluída no anexo I da CITES, pelo que é intenção do Parque Biológico de Gaia participar na preservação desta espécie através da integração num programa europeu de reprodução em cativeiro. Não é esta com certeza a melhor solução para o destino destas aves; o ideal seria devolvê-los à natureza, mas até que do país de origem haja autorização para tal, sabemos que pode passar “uma vida” (vivem cerca de 40 anos em cativeiro). Vanessa Soeiro Médica Veterinária Responsável, Coord. Setor Veterinário e Zootécnico do Parque Biológico de Gaia
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50 ESPAÇOS VERDES
Anilhagem científica de
aves selvagens
A Estação de Esforço Constante em funcionamento no Parque Biológico de Gaia dá formação a voluntários qualquer que seja a sua profissão Este grupo de anilhadores está já há mais de sete anos em atividade contínua no Parque Biológico de Gaia. Encontrámos em 3 de maio Cristiana Marques, de 21 anos de idade e estudante universitária de biologia. Pusemo-nos à conversa. O que a atraiu para começar esta formação? Cristiana Marques – No início, a oportunidade em si de poder fazer trabalho de campo. Sempre fui muito ligada à natureza, desde pequena, e sempre senti que era esse o caminho a tomar. Depois descobri a área comportamental e apaixonei-me pela sua complexidade, mas parecia-me algo artificial tentar observar o comportamento das espécies em cativeiro. Trabalho de campo era a palavra-chave. Chegou o 3.º ano da faculdade e não sabia para onde me virar. Sabia o caminho mas não via nenhuma casa de partida. Não tinha contactos, participei em alguns workshops no campo, mas nada me aguçava o entusiasmo. Depois de participar nas primeiras sessões de anilhagem, os meus horizontes abriram-se, estava no sítio certo. Afinal não existiam apenas pardais, pombos e gaivotas, mas uma imensidão de espécies de aves para serem descobertas. E, graças ao grupo, em todas as sessões aprendo coisas novas, vejo coisas novas e não quero parar de o fazer. Carriça a caminho da mesa de anilhagem: as aves capturadas são objeto de colheita de dados e depois imediatamente libertadas
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Até hoje, qual a espécie de ave que mais lhe custou anilhar? Cristiana Marques – A dada altura, durante uma sessão de anilhagem, apareceu a oportunidade de anilhar uma ave de
rapina. Depressa percebi que não seria uma tarefa confortável, uma vez que teria um acréscimo de responsabilidade e atenção, ou não fossem as rapinas bem armadas com garras e bicos de impor respeito! Neste caso refiro-me a um peneireiro, Falco tinnunculus. Apesar de não ser muito grande e de estar calmíssimo, eu estava um pouco nervosa e, claro, a ave também o sentiu. Recomendava esta formação a outras pessoas? Cristiana Marques – Recomendo e tento partilhar com eles um pouco do meu percurso desde então. Anilhar trouxe-me muitos benefícios, até ao nível do stress do quotidiano. Mesmo que não tenham interesse em começar a formação por qualquer motivo, pelo menos a experiência recomendo a todos. Se gostam de estar em contacto com a natureza e forem curiosos, não se vão arrepender. Texto e foto Jorge Gomes
OBSERVATÓRIO 51
A Via
Láctea O Sol pertence a uma galáxia, a Via Láctea, uma coleção de cerca de 300 mil milhões de estrelas. As galáxias são as cidades do Universo, com enormes populações de estrelas. No Universo visível existem aproximadamente 100 mil milhões destas cidades. Entre elas existem grandes desertos de espaço sem matéria visível. Apesar de terem tantas estrelas, e de serem portanto muito luminosas, as galáxias estão em geral tão distantes entre si que, salvo raras exceções, são apenas observáveis através de telescópios e de preferência em locais sem poluição luminosa. Existem quatro tipos de galáxias com base na sua morfologia: irregulares, elípticas, lenticulares e espirais (Figura 1). A Via Láctea é uma galáxia espiral barrada. Tem a forma de um disco com braços espirais que constituem locais onde a formação de novas estrelas é mais vigorosa. Os braços espirais têm origem na região central mais volumosa e brilhante, com a forma aproximada de uma bola de râguebi, e prolongam-se até à periferia do disco. A região central contém a maior concentração de massa. Todas as estrelas da Via Láctea orbitam em torno
2
Espiral
Elíptica Lenticular
E0
E3
E7
S0
Eb
EBa EBa
Irregular Espiral Barrada Irr
1
Ec
Ea
EBc
do centro. O Sol, situado a cerca de 27 mil anos-luz do centro, demora cerca de 250 milhões anos a completar uma órbita; desde a sua formação, há 4.5 mil milhões de anos, completou 18 voltas à Via Láctea (Figura 2). Para além de estrelas, os braços espirais contêm: nuvens gigantes de hidrogénio molecular (a matéria-prima necessária à criação de novas gerações de estrelas), poeira interestelar (que absorve fortemente a luz visível e nos impede de observar zonas distantes da galáxia), nebulosas de emissão (gás fluorescente devido à radiação ultravioleta de
Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 51
www.miguelclaro.com/wp/?portfolio=milky-way-in-monte-falperras
52 OBSERVATÓRIO
commons.wikimedia.org/wiki/File:Milky_Way_Galaxy.jpg
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estrelas jovens e maciças), enxames de estrelas (grupos de estrelas unidas pela sua gravidade mútua), remanescentes de supernovas (restos de explosões de estrelas), nebulosas planetárias (restos de estrelas como o Sol), estrelas exóticas como anãs brancas, pulsares e buracos negros (fases finais da evolução das estrelas), anãs castanhas (estrelas falhadas que não conseguiram acender uma fornalha nuclear no seu interior), planetas, asteroídes, cometas, etc.. Enfim, uma diversidade enorme de residentes - típica de uma cidade cosmopolita. A Figura 3 mostra uma imagem da Via Láctea no céu noturno de verão. A poeira interestelar (filamentos negros) é evidente, bem como as nebulosas de emissão (manchas vermelho-rosa). Há imensas estrelas que parecem estar acima e abaixo do disco, mas trata-se de uma ilusão. Na realidade são estrelas na vizinhança do Sol e a sua posição aparente fora do disco deve-se apenas a um efeito de perspectiva devido à sua proximidade. A Via Láctea apresenta-se-nos como uma banda luminosa no céu noturno precisamente pelo facto do Sol se encontrar no disco, a 27 mil anos-luz do centro. Desta posição vemos a nossa galáxia de perfil. Durante o verão, o lado noturno da Terra está virado na direção do centro da galáxia, a sua região mais brilhante, pelo que esta é mais facilmente observada. A Figura 4 mostra o céu às 2h30m do dia 1 de junho. A Via Láctea é bem visível estendendo-se do horizonte sul, desde as constelações do Escorpião e Sagitário, até ao horizonte norte, na constelação da Cassiopeia. O círculo verde assinala a posição do centro da Via Láctea, na constelação do Sagitário. Esta configuração repete-se 2 horas mais cedo por cada mês que passa (e.g., 0h30m a 1 de julho, 10h30m a 1 de agosto, etc.). O nome Via Láctea tem origem no Latim via lactea que por sua vez é derivado do grego galaktikos kyklos, com o significado de “círculo de leite”. De facto, a palavra grega galaxias é um derivado de gála (leite), de significado “leitoso”. Esta associação entre a Via Láctea e o leite tem origem no mito helénico que explica a sua existência no céu. Héracles, filho ilegítimo de Zeus com uma mortal, foi amamentado por Hera, a legítima esposa do maior dos deuses gregos. Reza a lenda que Héracles se alimentava com tanta avidez que provocava dores nos seios de Hera. Esta afastava-o, por vezes, derramando leite que ficou assim eternizado no céu. A Figura 5 mostra uma representação desse momento “A Origem da Via Láctea”, pelo pintor holandês Peter Paul Rubens, obra no Museo del Prado em Madrid.
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O voo da
libélula
“As libélulas são animais preciosos na regulação dos ecossistemas e fazem parte das cadeias tróficas de muitos animais”, diz Ernestino Maravalhas, editor do guia de campo “As Libélulas de Portugal” – agora que a primavera vai de vento em popa, cada vez há mais espécies a voar e este livro é um auxiliar precioso para saber mais…
Jorge Gomes
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omo surgiu a ideia de fazer este guia de campo? Ernestino Maravalhas – O livro “As Libélulas de Portugal” pertence à coleção Pink Guides. Esta coleção de guias de campo é dedicada à fauna de Portugal e iniciou com o livro “As Borboletas de Portugal”. A aventura editorial iniciou em setembro de 1996 com o desafio de alguns amigos para escrever um guia sobre as borboletas de Portugal, tema a que me dedico desde 1977. Os mesmos vieram a fundar a Vento Norte – Associação de Defesa do Ambiente e Ocupação dos Tempos Livres, sendo o principal patrocinador do guia. O livro levou mais de seis anos a produzir e é o primeiro guia entomológico de cariz comercial publicado em Portugal (relativo à fauna de um grupo e de âmbito nacional). Este guia teve muito boa aceitação, nacional e internacional, o que incentivou a publicação de mais livros, preenchendo assim uma lacuna no panorama editorial nacional. Há uns sete anos conheci o Albano Soares, coautor do guia “As Libélulas de Portugal”, investigador que se dedica ao estudo e à fotografia das libélulas. Trata-se de uma área que eu já tinha abordado com o médico e amigo Serafim Aguiar na década de 1980, o qual foi pioneiro no estudo daqueles animais. O Serafim e o filho, Carlos Aguiar (atualmente professor no Instituto Politécnico
Ernestino Maravalhas
de Bragança), eram os únicos a estudar e a publicar artigos sobre as libélulas em Portugal. Num país em crise, pensa que ainda há lugar a este tipo de trabalhos? Ernestino Maravalhas – O baixo poder de compra dos portugueses tem implicações no universo potencial de compradores do guia. Por este motivo, o livro foi colocado a um preço de venda razoavelmente baixo, para que todos aqueles que gostam da Natureza possam adquiri-lo e conhecer melhor e identificar as libélulas de Portugal. O preço de capa tornou-se possível graças ao apoio que o livro teve, pois foi financiado por uma série de entidades e organismos, sem os quais não seria possível vendê-lo a preço razoável. O Museu de História Natural de Lisboa, as Câmaras Municipais de Vila Real e
de Vila Nova de Famalicão, as Águas do Mondego e a Moldamirco (empresa famalicense de moldes) foram os principais patrocinadores. Outros organismos, como o TAGIS, o Centro de Biologia Ambiental da Universidade de Lisboa e a Bio Eventos também contribuíram para a sua edição e divulgação junto do público-alvo. Felizmente, os portugueses aperceberamse, há algumas décadas, que o nosso país se situa na bacia mediterrânica, um “hotspot” de biodiversidade de nível mundial. As pessoas saem para o campo, são curiosas e procuram conhecer e identificar as espécies retratadas no guia. Por tudo isto, há um público disponível para comprar um livro que contém toda a informação de que necessita. Pode partilhar com os leitores alguma da repercussão de que se tenha apercebido desde que o guia foi lançado? Ernestino Maravalhas – Nas numerosas apresentações feitas pelo país (até agora no continente) o livro tem sido bem recebido junto do público. Os leitores sublinham o conteúdo claro, preciso e conciso, com fotografias de grande qualidade, com mapas de distribuição e com um nível de detalhe muito interessante. Há quem se interrogue como se consegue produzir um trabalho desta qualidade com escassos recursos. Com efeito, não houve qualquer patrocínio às numerosas expedições feitas por todo o
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país para fotografar os animais, os habitats e atualizar a cartografia. Foi a paixão pelos Odonata, e pela Natureza em geral, que levou os autores a suportar e a superar os diversos contratempos que foram surgindo ao longo dos seis anos que a obra levou a produzir. Internacionalmente o guia tem sido bem aceite e tem obtido críticas favoráveis por especialistas europeus da área que o reconhecem como um dos melhores. As libélulas não são insetos polinizadores, logo, não participam do leque de vantagens económicas que estes proporcionam à humanidade. No seu entender são depreciáveis face a esse facto? Ernestino Maravalhas – Bem pelo contrário. As libélulas são predadores muito ativos que consomem uma grande quantidade de animais, na sua maioria moscas e mosquitos, embora também se alimentem de borboletas e de outros insetos. As larvas são aquáticas e alimentam-se de larvas de mosquito e de outros animais que vivem nas massas de água, contribuindo para a regulação dos ecossistemas. Elas podem ser um precioso aliado no controlo de doenças tropicais que são disseminadas por mosquitos e outros insetos. No Algarve, onde o risco de contaminação é maior, deveria ser dada prioridade à conservação de massas de água com capacidade para a manutenção das dezenas de espécies de libélulas que ali existem. Seria uma forma de controlo natural, e graciosa, das populações dos ditos vetores. Parece que algumas massas de água terão sofrido contaminação química e, por isso, se encontram despovoadas de libélulas ou com populações reduzidas. Trata-se de um assunto sensível e complexo que carece de estudos de âmbito local ou regional, estendendo-se ao Alentejo, por estar próximo da zona afetada, pois existe risco para a saúde pública. Há quem diga que as libélulas e os animais selvagens em geral têm um menor interesse para o ser humano do que, por exemplo, espécies domésticas, como o porco e a galinha. Concorda? Ernestino Maravalhas – Todos temos lugar num espaço aparentemente imenso como o planeta Terra, mas que afinal é uma espécie de quintal gigante, em forma de esfera, onde todos procuramos coabitar.
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É certo que os animais domésticos são vitais para a espécie humana, cujo regime alimentar é omnívoro e possui uma forte componente carnívora. Como as libélulas não têm potencial como recurso alimentar, ou este é muito baixo, o seu interesse parece marginal. Em contraponto, são animais preciosos na regulação dos ecossistemas e fazem parte das cadeias tróficas de muitos animais, como peixes, anfíbios e mesmo outros insetos aquáticos. O mapa de distribuição de libélulas em Portugal está feito ou em construção ainda? Ernestino Maravalhas – A cartografia da biodiversidade nunca estará terminada. Explico: se conseguíssemos mover um “exército” de milhares de pessoas para cartografar as nossas libélulas ao longo de cinco anos, teríamos uma visão muito boa da distribuição e das eventuais movimentações dos animais naquele espaço e período de tempo. Contudo, findo esse prazo, ficaríamos sem saber para onde vão os animais quando as alterações climáticas e os impactes no território forem diferentes. Esta é uma das razões que nos leva a ir sempre para o campo e a angariar pessoas que possam, em cada canto de Portugal, controlar a presença de espécies mais sensíveis (como as protegidas) ou de invasoras. Esta pergunta permite aflorar um tema nuclear à sobrevivência da Humanidade: as libélulas são excelentes bioindicadores da qualidade dos ecossistemas aquáticos e, com menor relevo, dos ecossistemas terrestres que rodeiam as massas de água. A diminuição, ou mesmo a ausência, de libélulas numa dada região pode traduzir uma contaminação local ou regional. A agricultura moderna tem vivido muito à base de químicos que são agressivos para o ambiente e, consequentemente, para a espécie humana. Ao tentarmos conservar as libélulas e os lugares que habitam, contribuímos para a melhoria da nossa qualidade de vida. Finalizando a resposta digo que seria útil implementar uma rede de monitorização de libélulas em Portugal, com pessoas em todos os distritos, de forma a ir atualizando a informação e ajudar a preservar um território que dificilmente conseguiremos
The Dragonflies of Portugal
In Portugal, sixty-five species of Dragonflies have been recorded, seven of them from the islands of Macaronesia of which two are endemic to the area. Both larvae and adults are predators which hunt and consume large quantities of insects and other little animals. The larvae of the species present in Portugal are aquatic, so the establishment of dragonfly populations depends on the existence of adequate aquatic ecosystems. This Interview is connected with the Editor of a new guide for Portuguese dragonflies: Ernestino Maravalhas.
restaurar se atingir um determinado nível de degradação. Os leitores podem através das suas fotografias contribuir para um melhor conhecimento das populações ao longo do território? Ernestino Maravalhas – O advento da era digital facilitou a divulgação dos valores naturais nacionais. O alargamento da Internet às massas e o surgimento das redes sociais permitem a troca instantânea de informação. O guia “As Libélulas de Portugal” beneficiou de milhares de observações feitas por pessoas em todo o território nacional, muitas delas de forma aleatória ou esporádica, outras de forma direcionada, correspondendo a pedidos de ajuda dos autores. Sem o precioso contributo dessas pessoas que nos facultaram os dados, os mapas não estariam tão completos. Os autores do guia são oriundos do
Jorge Gomes
Gomphus simillimus, a mais recente das 15 espécies de libélula observadas no Parque Biológico até hoje
Grande Porto, o que dificulta o acesso a informações detalhadas de locais como o Algarve ou o Alentejo. Uma parte dessa informação foi recolhida pelo Nelson Fonseca, o Dinis Cortes e o Luís Louro (sem esquecer todos os outros) que residem nessas áreas e que, com algumas diretrizes, conseguiram contribuir para o conhecimento odonatológico de regiões que se encontravam menos amostradas. O apoio obtido estendeu-se a muitas outras regiões, com relevo para o Grande Porto, onde conseguimos informação através do apoio de numerosas pessoas, com destaque para o Ricardo Costa que tem feito um notável trabalho de campo ao nível da microdistribuição, sem retorno pecuniário, na falta de um projeto de cartografia das libélulas de Portugal. Estamos na Década da Biodiversidade. No espírito desta iniciativa das Nações Unidas há outros guias de campo para serem publicados?
Ernestino Maravalhas – É uma década de viragem e a prova disso é que tem havido uma crescente preocupação das organizações, das pessoas e da Imprensa em relação à premente necessidade de inventariar a diversidade biológica, de a estudarmos e, sobretudo, de lhe darmos um futuro. A este nível tem sido preponderante o papel do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza e de tantos outros. No âmbito local ou regional há organismos que abraçaram projetos de divulgação e conservação dos seus valores. Um dos exemplos de maior impacto é o projeto Seivacorgo – Proteger é Conhecer, da Câmara Municipal de Vila Real. Gostaria ainda de realçar o papel importantíssimo que a Radiotelevisão Portuguesa tem tido na divulgação da nossa biodiversidade, nomeadamente uma palavra de agradecimento ao jornalista de vida selvagem e amigo Luís Henrique Pereira pela divulgação da temática ambiental do nosso país. Não podia deixar de mencionar o Parque Biológico de Gaia (e a rede de Parques do concelho) pelo importante trabalho e iniciativa de divulgar a biodiversidade da região. Os parques criados com o objetivo de divulgar e conservar os valores naturais e a revista “Parques e Vida Selvagem” têm sido determinantes na captação do interesse pela região. E não só, pois sabemos que há quem venha de Lisboa e do Algarve para ver insetos no parque, como é o caso da borboleta Apaturapequena. No que toca à segunda parte da pergunta posso adiantar que a série Pink Guides, referida no início desta conversa, terá continuidade e nesta altura está a ser preparado um guia sobre as Borboletas Noturnas de Portugal, que irá tratar 1050 espécies. Este guia será complementado com mais dois guias que irão tratar a fauna de borboletas de Portugal com cerca de 2700 espécies. Em projeto encontra-se a publicação de guias de bolso, mais sintéticos e que facilitam a rápida consulta dos nossos valores zoológicos e sublinhar a necessidade da sua preservação para as gerações vindouras.
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Foz do Douro passeio geolรณgico
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Instalado ao longo da faixa litoral da cidade do Porto, este percurso geológico convida a observar afloramentos de vários tipos de rochas metamórficas, nomeadamente gnaisses, metassedimentos e anfibolitos de uma idade notável: contam mais de 570 milhões de anos, portanto, formaram-se em idades Pré-Câmbricas...
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stendendo-se por uma série de pequenas praias encaixadas entre o castelo do Queijo e o molhe de Felgueiras, este conjunto litológico integra rochas das mais antigas que afloram em Portugal e constitui o Complexo Metamórfico da Foz do Douro», diz Mónica Sousa, investigadora do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Nesta manhã de céu azul, a pedido de uma professora, vai expor alguns aspetos do Passeio Geológico da Foz do Douro, que criou há vários anos, a um grupo de alunos universitários. Não estamos longe do castelo do Queijo quando, diante dos rochedos expostos pela maré-baixa, explica que «estes afloramentos foram classificados em 2001 como Património Natural Municipal. No seu conjunto constituem um dos raros afloramentos da cidade, reunindo características únicas: diversidade de litologias, estruturas geológicas e aspetos geomorfológicos». Estamos junto de um dos vários painéis explicativos da geologia do local quando Mónica acrescenta: «Tendo em conta a idade das rochas metamórficas e dos granitos que as recortam, com cerca de 290 milhões de anos, pode imaginar-se que um pequeno salto de uma pedra para outra corresponde a um grande salto no tempo, que pode ser de pelo menos 300 milhões de anos». Há que andar um pouco na areia. A geóloga dirige-se a uma rocha específica com vista a evidenciar uma característica peculiar: «O gnaisse nasceu do granito. Ao longo do tempo as rochas transformam-se noutras através de vários processos» e como «motores principais dessas transformações temos a tectónica de placas e os agentes erosivos». Enquanto uma gaivota passa em voo tranquilo sobre a linha das ondas, a cientista refere-se a uma rocha de cor clara que para um leigo não seria mais que um vulgar rochedo, mas não é assim: «Este gnaisse ocelado corresponde a um granito com cerca de 607 milhões de anos — cadomiano — que intruiu formações mais antigas, aqui representadas pelos xistos». Adianta que «a formação destes granitos estará relacionada com uma colisão de placas litosféricas que provocou a formação de montanhas e a constituição de um grande continente, o Gondwana». Percebe-se que a geologia tem este condão.
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Granito do Castelo do Queijo intrusivo nos metassedimentos
A viagem faz-se sobre as rochas mas, de súbito, a mente desloca-se num calendário de milhões de anos no caminho percorrido pela evolução do planeta Terra. A geóloga, em fase de doutoramento centrada neste sítio, diante da atenção dos estudantes completa: «O granito cadomiano e os xistos foram depois deformados conjuntamente durante a orogenica varisca ou hercínica. O granito deu origem assim ao gnaisse ocelado», a desenhar pequenas elipses. Além disso, «os minerais foram reorientados no mesmo sentido quer no gnaisse quer nos xistos». Enquanto o grupo de desloca de um sítio a outro, em direção a sul, ouve-se o coaxar das rãs. À beira-mar? Não se vê linha de água... pois, mas é água doce, assaz discreta, a chegar à praia, e ali andam anfíbios a namoricar. Indiferentes, mudas e antigas, as rochas em estudo têm o condão de ter sido magma e de ter arrefecido em profundidade na crusta terrestre. A erosão multimilenar rapou superfície sobre Praia dos Ingleses: brecha ígnea
superfície e elas ascenderam à luz do sol, atiradas à humidade das ondas. Mónica Sousa aguarda que os derradeiros elementos do grupo se acerquem e comenta num maciço rochoso entre a praia de Gondarém e a praia da Senhora da Luz: «Nestes afloramentos podem observar anfibolitos». A palavra para nós estranha dita com a maior naturalidade pelos geólogos, reporta-se, no caso, a um basalto surgido de um escoamento submarino de lava há cerca de mil milhões de anos que, depois, por força da tectónica de placas, em profundidade, metamorfizou: «O contacto do magma quente, a lava, com a água fria levou a um rápido arrefecimento», diz, e «é por isso que os minerais não tiveram tempo suficiente para crescer conferindo à rocha esta textura fina». Este enxerto complexo de rochas tão antigas que passa pelos nossos olhos por vezes ostenta dobras: «Os anfibolitos estão associados a xistos e a gnaisses (580 e 607 milhões de anos) estando o conjunto dobrado pelas fases da orogenia varisca». O sol brilha no céu azul. Não falta luz, mas perto das doze horas num dia quente começa a morder. Estamos algures entre a praia dos Ingleses e a da Senhora da Luz. Nas rochas que se dispõem na proximidade pode observar-se um conjunto variado — gnaisses biotíticos, gnaisses leucocratas, xistos e anfibolitos. À medida que mais se observa melhor se identifica algumas relações geométricas, sendo certo que, entre rochas, «a que corta é posterior à cortada». A geóloga salienta que «é também possível
Arcos de abrasão marinha
Praia de Gondarém: conjunto de anfibolitos, gnaisses e metassedimentos dobrados
Praia dos Ingleses: brecha ígnea gerada durante a intrusão de um granito varisco nas rochas mais antigas
observar diversas estruturas geológicas como falhas e filões, e interessantes aspetos de erosão marinha», nomeadamente «arcos de abrasão marinha e marmitas». Durante a maré-baixa observa-se uma brecha ígnea gerada durante a intrusão de um granito varisco nas rochas mais antigas. Se é certo que estas rochas estão ali a tempo inteiro, para conseguir usufruir de um passeio mais rico de observações, é sempre preferível um período de maré-baixa, pois as ondas poderão ocultar estes segredos extraídos diretamente da antiga história da Terra, quando outros mares e outros continentes configuravam a superfície do Globo, sempre azul se visto do Espaço. A apoiar a sua visita, encontra uma série de painéis com as explicações necessárias para uma melhor compreensão dos fenómenos até ao presente momento da história da Terra.
Mónica Sousa explica como se mede a foliação presente nas rochas
Texto Jorge Gomes Fotos João L. Teixeira
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Malcata
sob a égide do lince A Reserva Natural da Serra da Malcata abrange os concelhos de Penamacor e de Sabugal ao longo de uma área de 16348 hectares: em maio veste-se de carqueja em flor e liga a cor amarela às corolas arroxeadas do rosmaninho e das urzes – com outra flora selvagem são almofadas de biodiversidade na área protegida que evoca o lince-ibérico
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Malcata Nature Reserve
The Reserve is located on the border of Portugal with Spain, near the villages of Sabugal and Penamacor. Its altitude varies between 425 m and 1,078 m. The climate is ‘transitional’ between the climatic effects of the Atlantic, Continental and the Mediterranean. This results in vegetation rich in Holly Oak, Strawberry trees and Pyrenean Oak. The fauna is equally diverse. The Malcata has been much publicized recently in the media due to the continuing effort to protect its Lynx population, a feline considered to be in danger of extinction. This Reserve was created in 1981.
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A
sas estendidas, plana o tartaranhão a dois metros do matagal que veste a encosta. Leva a calmaria de quem deita o olho a alimento vivo. A cor acastanhada das penas não deixa dúvidas nesta época do ano sobre o sexo: é uma fêmea. De envergadura parecida com a da águiade-asa-redonda, esta ave de rapina terá chegado de África nesta primavera para fazer por ali ninho no solo. A poucos palmos do chão, entre caules e raízes, há um submundo assaz diferente. É o patamar dos pequenos mamíferos, répteis e anfíbios que vivem nestes meandros sombrios, onde o vento rasteiro, se se atrever, pede licença para entrar. Corços, javalis, lobos e outros animais de maior porte que ali passem não partilham tão apertado horizonte. A voz de Francisco Campos, vigilante da natureza ao serviço do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas que nos acompanha, lança outro assunto: «Trabalho na Reserva desde 1988!», diz com orgulho, enquanto o jipe calcorreia o piso de terra batida, de substrato xistoso. De quando em quando, a suspensão da viatura não consegue calar todas as agruras do piso, o que não é de admirar. Pelo caminho já vimos giestais de flor branca coroados por bosquetes de carvalho-negral que só agora, em altitude, deita folhas juvenis. «Esta é a parte Norte da Reserva Natural. Na parte Sul, mais mediterrânica, as giestas já são de flor amarela», anota. Aqui e ali o azul forte da erva-das-setesangrias em flor distingue-se no trilho: «Chamamos-lhes aqui chupa-meis. Tira-se a florinha, chupa-se, e aquilo é doce!». O relevo da serra condiz, «é bastante atraente – não são aqueles montes em bico, como no Gerês. Dizemos que a serra da Malcata é mais feminina, mais redondinha…», atira Francisco Campos com um sorriso malandro. O Alto da Machoca é o ponto mais elevado da serra, com 1078 metros de altitude, e constitui a zona de divisão das vertentes Norte e Sul. Na Reserva Natural há três grandes linhas de água, com acento pluralista: o rio Côa, que vai para o Douro, ali ao pé, a norte; o rio Bazágueda, que vai diretamente ao Tejo; e a ribeira da Meimoa que vai para o Zêzere. Está sol aberto e o pólen das flores
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Centro de Educação Ambiental da Sr.ª da Graça: Zerynthia rumina
selvagens esparge aromas no ar: «Por cá há alguma exploração de mel, de qualidade, mas podia haver mais…». Nalgumas áreas neva no inverno, quase todos os anos. Alterna com verões que costumam ser muito quentes. Nem por isso os rios secam completamente, à boa maneira mediterrânica. Ficam no leito dos rios poços cheios de água com peixe, enquanto não chega a chuva onde as lontras até nessa época conseguem alimento. Estes cursos de água são habitat do mexilhão-de-rio, Unio crassus, que nesta época está em plena reprodução. As suas larvas parasitam algumas espécies de peixe durante poucos anos, podendo ter uma vida adulta de cerca de meio século.
Nevoeiro «Vinha de lá para cá no estradão» de terra batida, lembra Francisco Campos. «Em 1989, no dia das eleições para o Parlamento Europeu, vi um lince a atravessar. Estava um dia de nevoeiro». À direita veem-se hoje pinheiros-negros, exóticos e altos, plantados para pasta de papel antes de 1981, ano em que por força de lei surge esta Reserva Natural. Nessa altura as árvores eram pequeninas:
«Isso fazia com que houvesse pasto para coelho-bravo», explica. «Lembro-me perfeitamente desse dia». Depois, «em 1991, capturou-se um lince um pouco mais a sul da reserva, uma fêmea». Mesmo assim, na verdade «não se pode dizer com rigor que agora não há lince na Malcata», diz. «Os animais selvagens não têm fronteiras». Se há habitat as espécies tendem a aparecer. Para leste, no lado espanhol da fronteira, está a serra da Gata, uma antiga e provável alusão ao lince. Furtivo, anda ali também o gato-bravo, outro felino ameaçado de extinção: «Nos anos 90 capturava-se com alguma facilidade» em
Os insetos polinizadores, como este abelhão, prestam serviço de elevada valia em matéria de produção de sementes férteis
Colmeias: as abelhas têm muita variedade de flores silvestres à sua disposição na Malcata para produzirem um mel de qualidade Libellula quadrimaculata
Endemismo ibérico: Lycaena bleusei
armadilhagem de mamíferos para estudos de fauna. O guia que ilustra esta visita explica que o lince não era um animal de montanha, «vivia antigamente nas planícies», o que ajudava a que se visse com mais facilidade. Com a instalação da agricultura em séculos anteriores, este raro felino refugiou-se onde o homem pressionava menos. Na verdade, «o lince sempre foi um animal esquivo, de difícil observação, não é por exemplo como o javali». Depois passou-se o inverso: disparou a emigração e houve o abandono dos campos dedicados à agricultura, fontes do pasto a favor dos coelhos-bravos de que se alimentavam os linces, ainda «antes das doenças surgirem». Resultado: «Agora passou-se a ter muita área de refúgio para o lince, mas poucas áreas de alimentação face à escassez de coelho-bravo». Rosto sério, Francisco assevera: «As populações de coelho-bravo nunca mais se puseram de pé depois das doenças». Refere-se à mixomatose, uma moléstia epidémica que não se conteve nas regras de laboratório e atingiu a natureza na década de 50. Como se não bastasse, passados 30
anos ataca a doença hemorrágica viral, mais grave. Hoje, «as zonas que antigamente tinham coelhos continuam a tê-los, embora em quantidade reduzida», conclui. «As reintroduções não resultaram muito bem», mas «temos alguns núcleos que estamos a tentar que se mantenham e aumentem sem intervir muito. Isto é complicado». É preferível, «em vez de chegar ao núcleo e intervir, melhorar a pastagem ao lado», completa. Para proteger e ajudar a que a população de coelho-bravo se consolide e aumente – condição essencial para restaurar a população do lince-ibérico – ao avançar para sul veem-se na paisagem mediterrânica pequenos altos entre o matagal em que domina a esteva, por fim em flor. Jara pringosa, chamam-lhes no país vizinho, nome aprimorado para uma planta designada por botânicos como Cistus ladanifer, própria de solos pobres, que não agrada nem a agricultores nem a pastores. Como ecos de uma época antiga, «nas aldeias ainda há pessoas que têm pele de lince». «Nos anos 70 apareciam alguns mortos nas
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64 REPORTAGEM 64 REPORTAGEM
Um dos locais emblemáticos na serra da Malcata é o miradouro dos sete concelhos: vê-se ao longe num alto a aldeia histórica de Monsanto
estradas», eventualmente estando em causa a intervenção de máquinas de grande porte no território, eles também se desorientavam e de noite eram atropelados numa ou noutra estrada.
Marca de lince Esta «é uma das maiores áreas do país que não tem qualquer população residente, está toda localizada na periferia da serra da Malcata», assinala Francisco Campos. «Dantes haveria umas 300 pessoas dentro da serra», que cultivavam as suas hortas e criavam maior variedade de habitats. Os planos de ordenamento das áreas protegidas criam restrições compreensíveis e as populações locais não apreciam o vínculo, mas com o turismo de natureza a emergir, tendem depois a utilizar o símbolo ex-líbris para configurar marcas registadas. Ao passar na aldeia da Malcata, há de saltar-lhe à vista a placa do café Lince, que apanhou o vínculo local. Marcada pela emigração, apesar de algum ruído arquitetónico, a aldeia retorma o bom gosto do traço típico das aldeias do xisto. Aqui, por cima das portas e janelas, em vez de barras de madeira como noutros sítios, usam-se traves de granito. A criação da Reserva «foi uma das
No site do ICNF encontra sugestões para os percursos
maiores lutas cívicas do país» – ela estava a ser destruída a um ritmo rápido com substituição da vegetação natural por pinheiros exóticos e eucaliptos. A Liga para a Proteção da Natureza lançou a célebre campanha Salvemos o Lince e a Serra da Malcata: «A área não foi criada com toda a dimensão que os biólogos
Ribeira da Meimoa
consideravam que seria necessária para viabilizar populações de lince». Nas vertentes viradas mais a sul aparecem medronheiros e azinheiras, sobreiros e rosmaninho, plantas do género Lavandula. Uma das aves mais coloridas da fauna ibérica é o abelharuco, que também já chegou à região para nidificar vindo de África. A caminho da Malcata viram-se meia dúzia, mas nesta Reserva Natural «ocorrem sobretudo quando há um incêndio – os insetos sobem, e eles aparecem numa algazarra enorme para se alimentarem deles».
Ilha atlântica Ao longo de Portugal há várias ilhas atlânticas. Existem em algumas zonas em direção a sul graças aos microclimas instalados e são reminiscências das glaciações de há uma dúzia de milhares de anos, quando as regiões Centro e Sul do país eram mais frias. Esses núcleos de diversidade da vida, justificam uma população de fauna inabitual por ali e naturalmente enquadrada mais para norte. É o caso dos endemismos peninsulares da rã-ibérica e do lagarto-de-água, Lacerta schreiberi, tendo este último, por exemplo, por volta de 2006 justificado atividade
66 REPORTAGEM
Mergulhão-de-crista a nidificar
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As práticas agrícolas tradicionais são úteis ao aumento da biodiversidade
no local de uma equipa de cientistas portugueses e estrangeiros. Este réptil de cabeça azulada e restante corpo verde existe, nessa zona, em apenas 20 quilómetros da fronteira de Portugal com Espanha. Não se vê senão uma parte do património que existe, e que cativa apreciar. Pelos caminhos, as azinheiras estão esfusiantes com flores a brotar em catadupa. A ribeira da Meimoa corre entre margens enriquecidas por amieiro e freixos. Na albufeira, próximo de Meimão, nesta época é fácil ver o mergulhão-de-crista a nidificar, situação que se repete ano após ano. Junta uma série de fragmentos de plantas em plena água a alguns metros da margem e é o suficiente para, com dedicação, criar a prole. A tímida cegonha-negra estará para fazer o mesmo em local mais elevado nas redondezas, assim como aves necrófagas, grifos e abutre-negro, na serra. Estas e algumas outras aves selvagens eram mais habituais no tempo em que as rotas da transumância deslocavam grandes
Amontoados de pedra e ramos aumentam o número de tocas, denominados marouços, para a reprodução do coelho-bravo num terreno xistoso
rebanhos de gado por vales e serras, de sul para norte nesta época e depois de norte para sul, quando o clima manda arrefecer a partir da altitude. Durante as deslocações, gado acidentado ou doente ficava para trás e os lobos faziam o seu papel, deixando restos para os abutres que, não predando, assim encontravam alimento para si e para as crias. Com vista a apoiar grifos e abutre-preto, a gestão da Reserva Natural da Serra da Malcata mantém um alimentador em
devidas condições sanitárias e vedado, ali colocando alimento. «Os grifos, fora da época de nidificação, formam bandos grandes», diz Francisco Campos. Numa visita rápida, ao chegarmos ao alimentador, já subiam no céu estas aves aproveitando colunas de ar quente. Pelo meio um ou outro corvo espreitava alguma oportunidade imprevista. Na memória de tempos idos, como em todas as zonas fronteiriças, há aventuras de contrabando. Com base numa agricultura de subsistência, um difícil jogo do gato e do rato decorria ali. Para o contrabandista, o que fazia não tinha ilegalidade; para o guarda-fiscal era ilegal, sim, sem dúvida possível. Apesar do risco iminente, os contrabandistas pulavam a cerca de muitas maneiras, com chuva, neve ou bom tempo, traçando rotas e rotinas de prudência, a rogar aos santos que afastassem a Guarda Fiscal dos seus passos. Com muito mais para ver, ao seu ritmo e na cadência das diversas estações do ano, esta Reserva Natural abre-lhe a porta a uma visita. Quem sabe se não acaba mesmo por reaparecer o lince, reintroduzido a partir do programa ibérico de reprodução ou até por processo espontâneo, e não lhe calha a si a sorte de o ver? Texto Jorge Gomes Foto João Luís Teixeira
Reserva Natural da Serra da Malcata Rua Dr. António Ribeiro Sanches, 60 Apartado 38 • 6090-587 Penamacor
Telefone (351) 277 394 467 rnsm@icnf.pt
www.icnf.pt
Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 67
68 EVENTO
Direitos Reservados
De olhos postos no céu “Três milhares de visitantes seguiram a recomendação de David Lindo”, observador de aves selvagens britânico e “um dos especialistas que integrou o programa da ObservaRia”, que decorreu de 12 a 13 de abril em Estarreja
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é agora, mais do que nunca, um destino de referência para o turismo de natureza e o nosso património é cada vez mais reconhecido a nível local, nacional e internacional. Prova disso foi a aceitação por parte do ICNF em coorganizar este evento em Estarreja e ainda o facto de conseguirmos reunir cá alguns dos melhores especialistas a nível mundial. Norberto Monteiro refere-se a Killian Mullarney, um dos melhores ilustradores do mundo e autor do mais completo guia de aves da Europa,
Direitos Reservados
D
urante este fim-de-semana, a observação de aves foi um dos motivos que atraiu entusiastas da área, mas as paisagens de natureza e a biodiversidade encontraramse com famílias e visitantes de todo o país. Estarreja é, atualmente, “lugar indissociável do turismo de natureza: 30 expositores, 14 palestras, 14 atividades de campo em torno da biodiversidade e da observação de aves com especialistas de renome”. A primeira ObservaRia termina com ”um balanço muito positivo. Sem qualquer dúvida que haverá uma 2.ª edição”, afirma Adolfo Vidal, vice-presidente da Câmara Municipal de Estarreja, que coorganizou o evento ao lado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). O património natural aliado à economia verde é uma aposta do Município que ganha cada vez mais força. Para Adolfo Vidal “o turismo da natureza e o birdwatching são apostas municipais para impulsionar cada vez mais, atraindo nichos de mercado”. Norberto Monteiro, colaborador da Câmara Municipal de Estarreja responsável atual pelo projeto BioRia, acredita que “Estarreja
René Pop, fotógrafo de aves de renome mundial, e David Lindo, um dos principais observadores de aves do Reino Unido especializado em percursos urbanos. Diamantino Sabina, presidente do Município de Estarreja, presidiu a cerimónia de abertura da ObservaRia, que contou com Sofia Castel-Branco, do Conselho Diretivo do ICNF, Pedro Machado, presidente da Entidade de Turismo do Centro de Portugal, Ribau Esteves, presidente da CI Região de Aveiro e Miguel de Castro Neto, secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza. “Quisemos apostar fortemente nesta ObservaRia. Queremos que este seja um certame que ganhe qualidade, e que continue, efetivamente, a ser um sucesso para futuro”, revela Diamantino Sabina. Estarreja é um destino privilegiado para a prática do birdwatching, atividade que ganha cada vez mais adeptos. A garça-vermelha e a águia-sapeira são algumas das espécies que têm preferência pelos campos do Baixo Vouga Lagunar. Norberto Monteiro explica que “estudos recentes indicam que em todo Mundo existem mais de 80 milhões de observadores de aves, provenientes sobretudo dos países escandinavos e do Norte da América. É um público que viaja durante todo o ano e consome muito mais que o turista de sol e mar. Por isso, motivos não faltam para continuar a apostar neste mercado e a criar cada vez mais e melhores condições para sermos visitados.”
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Avifauna
do Estuário do Cávado Em vésperas de mais um recenseamento de cegonhas-brancas, os (ainda) poucos ninhos existentes nas bacias dos rios Cávado, Lima e Ave foram removidos dos postes de distribuição de energia com o aval da tutela da conservação da natureza e substituídos por dispositivos de dissuasão à reprodução da espécie Os censos mundiais de cegonha-branca (Ciconia ciconia) em curso determinaram a sua eleição para Ave do Ano 2014 da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Não obstante esta distinção, no último outono assistimos na região de entre Douro e Minho àquilo que a muitos pareceu um vil processo de extermínio de uma espécie muito acarinhada popularmente e operado pela fornecedora nacional de eletricidade. O legítimo propósito desta empresa em impedir a nidificação nos seus postes é, porém, facilmente explicável pela necessidade de precaver falhas na distribuição de energia às populações e evitar a morte das aves por eletrocussão. Em resposta a uma missiva que dirigi a quem compete autorizar estas ações, ainda ficou reforçada a intenção de manter as cegonhas afastadas dos apoios de rede, obrigando-as a nidificar no seu meio natural, como os
topos das árvores, ou até noutras estruturas artificiais mas mais adequadas. A expansão da cegonha-branca atualmente bem notada na Península Ibérica quase nos faz esquecer que ainda durante a segunda metade do século XX esteve ameaçada de desaparecer de vastas regiões da Europa e em particular de Portugal onde o seu declínio se verificou de um modo acentuado. Mesmo sem querer considerar que os esforços desenvolvidos ao abrigo daquele programa da distribuidora elétrica, implementado há já vários anos por todo o país, visem contrariar esta tendência favorável para a espécie, o certo é que não obtiveram os resultados esperados ou, no mínimo, têm tido uma eficácia questionável. Repetidamente, os casais recém-chegados ao Litoral Norte, e julgo que os do restante Jorge Araújo território também, demonstram uma grande da Silva fidelidade aos locais de origem, ocupando ecologista, observador de aves e divulgador os postes mais próximos sempre que lhes é da vida selvagem retirado o ninho do ano anterior. Além disto, a fecundidade que lhes é reconhecida pela sabedoria popular permitiu-lhes proliferar e tem-nas levado ano após ano a ocupar novos lugares. E foi assim, neste que é o seu ano, que as cegonhas chegaram ao concelho de Esposende para nidificar pela primeira vez. Aqui, junto à lagoa de Gemeses, na margem Norte do Cávado, encontraram a tranquilidade dos meios rurais e beneficiaram da presença de um aliado improvável e à partida indesejável, o lagostim-vermelho-da-louisiana. Ao integrar a sua dieta, esta praga exótica que se disseminava pelos nossos cursos de água sem qualquer opositor, acaba, por fim e de forma decisiva, a contribuir para a expansão de um controlador natural autóctone. Quanto aos técnicos da “elétrica”, dada a sucessão quase infinita de postes que encontramos nas nossas localidades, terão certamente um desafio hercúleo enquanto procurarem convencer estas aves a optar pelas árvores para instalarem os seus berços. Deste modo e sendo as cegonhas protagonistas de muitos dos nossos ditados populares, em jeito de apelo a uma necessária mudança de estratégia sugiro-lhes que “se não puderem vencê-las, juntem-se a elas”.
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70 MIGRAÇÕES
Andorinha-do-mar-comum Sterna hirundo (Linnaeus, 1758)
Migradora de longo
curso
U
ma ave que não carece de nenhum tipo de favor para integrar a seleção apertada dos grandes migradores é a andorinha-do-mar-comum. Entre o Sul de África e o Norte da Europa, há indivíduos desta espécie que percorrem distâncias incríveis no seu período de vida. Esta andorinha-do-mar tanto pode ser observada em alto-mar como no litoral, embora seja mais fácil vê-la na altura da migração primaveril, em maio e junho, e na outonal, em setembro e outubro. Os dados que partilhamos consigo nesta edição chegam através de David Santos, biólogo e membro do grupo de anilhagem científica em atividade no Parque Biológico de Gaia. Em março localizou informação de um anilhador nórdico, Mark Boorman: «Esta andorinha-do-mar, detentora da anilha AT055395, foi anilhada no ninho em Hirvensalo, Turku, na Finlândia, em 13 de julho de 1980», diz e adianta: «Foi avistada recentemente, em 9 de março de 2014, em Walvis Bay, Erondo, na Namíbia». David fez as contas: «Fez 34 vezes a viagem para sul e 33 vezes a viagem para norte. Trinta e três anos vezes 11920 km – distância entre os dois sítios – dá 798640 km», ou seja, «mais do dobro da distância da Terra à Lua: 384403 km. Sabendo que a migração não é propriamente em linha reta, podemos assumir que foi à Lua e voltou». Fantástico! Sendo o prato principal desta ave uma ementa variada de pequenos peixes, como é possível que em Portugal ainda haja alguém a dizer que peixe não puxa carroça? No que diz respeito a reprodução, preferem zonas isoladas do litoral para fazerem ninho em colónias entre abril e julho. Põem dois ou três ovos que defendem aguerridamente. Se houver presença humana as aves sentem-se perturbadas e podem simplesmente abandonar a postura.
Texto Jorge Gomes Foto Armando Mota
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Armando Mota
Começam a chegar do hemisfério Sul depois da primavera marcar o calendário: se for o caso, mesmo sem saber, já as terá visto num dia de praia, algures na fímbria do mar
The Common Tern Seabird - Sternidae Family Sterna hirundo (Linnaeus, 1758)
The Common Terns begin to arrive in the Southern Hemisphere in the Spring: perhaps even unknowingly, you may have already seen them on the beach at some time. This is one of the birds that do not need any assistance in order to integrate into the limited selection of highly migratory species.
Direitos Reservados
Finlândia Hirvensalo (6144N;2654E)
Namíbia Walvis Bay (2258S;1426E)
Mark Boorman
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72 ATUALIDADE
Descoberta nova espécie de dinossauro Esta nova espécie encontrada em território português é o maior dinossauro carnívoro do Jurássico e o maior predador terrestre descoberto na Europa, indica estudo de paleontólogos da FCT – Universidade Nova de Lisboa. O Torvosaurus gurneyi, um primo distante do Tyrannosaurus rex, estava no auge da cadeia alimentar no que é hoje solo da Península Ibérica há 150 milhões de anos. Material pertencente a este dinossauro foi descoberto 70 km a norte de Lisboa. Na altura ponderou-se poder ser um Torvosaurus tanneri, uma espécie da América do Norte. Primeiro foi encontrado um osso da perna, posteriormente, noutro local, um maxilar superior, dentes, e uma vértebra da cauda por um amador e doado ao Museu da Lourinhã. O dinossauro atingiria 10 metros de comprimento e o peso de quatro a cinco toneladas. "Este não é o maior dinossauro predador. O Tyrannosaurus, o Carcharodontosaurus e o Giganotosaurus do Cretácico eram maiores", disse Christophe Hendrickx da Universidade Nova de Lisboa, primeiro autor do estudo. "Com um crânio de 115 cm, o Torvosaurus gurneyi foi, porém, o maior carnívoro terrestre nesta época, o Jurássico, Com um crânio de 115 cm, o Torvosaurus gurneyi foi, ainda assim, o maior carnívoro terrestre nesta época, o Jurássico
Advogados contestam barragem
Dieta mediterrânica
Representam a “Plataforma Salvar o Tua” e o grupo leva o nome “Advogados pelo Tua”. São duas dezenas de juristas, um deles ex-bastonário e também outros cinco professores universitários, a subscreverem uma declaração contra a construção da barragem de Foz Tua, que foi apresentada na Fundação Luso-Americana. Este grupo junta dez argumentos no sentido da paragem dos trabalhos nesta barragem. Dizem que a construção é ilegal, viola o direito constitucional ao ambiente, não cumpre os objetivos, é cara e é um atentado cultural. No passado dia 2 de dezembro estes advogados intentaram no Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela uma ação judicial com vista a obter a suspensão das obras da barragem da foz do rio Tua. Será o primeiro caso no nosso país de "litigância estratégica", na qual uma quantidade expressiva de juristas dá rosto, em regime “pro bono”, a cidadãos e a organizações que têm em vista acautelar o interesse público, estendendo o gesto à proteção do património nacional. Encontra a declaração em www.advocatus.pt/actual/8936-advogados-estreiam-litiganciaestrategica-contra-barragem-de-foz-tua
A UNESCO classificou recentemente a dieta mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade. Oliveiras, citrinos e ervas aromáticas são, entre outras, algumas das prerrogativas desta culinária gerada pelo talento popular, pelo clima e pela biodiversidade que faz a interface entre a Europa e a África. Da decisão da UNESCO, tomada na 8.ª sessão do comité intergovernamental da organização, que decorreu em Baku, capital do Azerbaijão, constam estas palavras: «A dieta mediterrânica envolve uma série de competências, conhecimentos, rituais, símbolos e tradições ligados às colheitas, à safra, à pesca, à pecuária, à conservação, processamento, confeção e, em particular, à partilha e ao consumo dos alimentos. Comer em conjunto é a base da identidade cultural e da sobrevivência das comunidades por toda a bacia do Mediterrâneo. É um momento de convívio social e de comunicação, de afirmação e renovação da identidade de uma família, grupo ou comunidade».
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Sergey Krasovskiy – direitos reservados
Ria de Alvor O Tribunal Central Administrativo do Sul confirmou a condenação dos proprietários da Quinta da Rocha à reposição completa dos habitats que haviam destruído na ria de Alvor, e a abster-se de quaisquer intervenções nas zonas com espécies ou habitats protegidos. O processo transitou definitivamente em julgado. A empresa ficou obrigada a, num prazo de meio ano, submeter ao ICNF um plano para a reposição integral dos habitats destruídos. Este tipo de sentença, que embora prevista na lei, raramente é aplicada, é a única forma de inverter e combater a política do facto consumado.
e um predador ativo que caçava outros grandes dinossauros”, conforme sugerem “os dentes de 10 cm em forma de lâmina". O novo dinossauro é a segunda espécie de Torvosaurus a ser conhecida e é o equivalente europeu de Torvosaurus tanneri da América do Norte. Ambas as espécies foram descobertas em rochas da mesma idade geológica e viviam em ambientes semelhantes dominados por dinossauros. "A fauna do que é hoje Portugal foi extremamente diversificada no final do Jurássico", disse Octávio Mateus, da Universidade Nova de Lisboa, e co-autor do estudo. "Esta nova espécie de dinossauro carnívoro vem aumentar mais um pouco a diversidade de dinossauros de Portugal e mostra que estava em prática um mecanismo de especiação que ocorreu durante o Jurássico, quando o Atlântico já estava bem formado e a Europa era um arquipélago", adianta Mateus. O Torvosaurus gurneyi pertence ao grupo dos terópodes, um grupo de dinossauros bípedes que deram origem às aves. Embriões de dinossauros descritos recentemente de Portugal também são atribuídos às novas espécies de Torvosaurus. A descrição detalhada, em que a espécie recebe nome científico, foi publicada na revista “PLoS ONE”.
In memoriam Lício Correia 1942-2014 Faleceu recentemente o Professor Lício Correia que, durante quatro mandatos, até 1997, foi vereador da Câmara Municipal de Gaia, onde, entre outros, assumiu os Pelouros da Educação, do Turismo e do Ambiente, tendo tido papel de relevo no desenvolvimento e ampliação do Parque Biológico de Gaia e na criação da Estação Litoral da Aguda e do Parque de Dunas da Aguda. Pessoa de trato muito afável, Lício Correia era Pós-graduado em Estudos Superiores Especializados em Ciências do Desporto, e foi Secretário-geral da Secção Portuguesa da Sociedade Teosófica.
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74 PROJETO PAR Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confiarem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área de floresta em Vila Nova de Gaia com a garantia, dada pelo Município, de a manter e conservar e de haver em cada parcela a referência ao seu gesto em favor do Planeta
Para mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120 ou em carbono@parquebiologico.pt Parque Biológico de Gaia, Projeto Sequestro do Carbono 4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia
Sequestro de Carbono Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3 • Agrupamento Vertical de Escolas de Rio Tinto • Alice Branco e Manuel Silva • Alunos do 9.º ano (2012/13) da Escola Secundária do Castelo da Maia • Amigos do Zé d’Adélia • Amigos do Zé d’Adélia e Filhos • Ana Filipa Afonso Mira • Ana Luis Alves Sousa • Ana Luis e Pedro Miguel Teixeira Morais • Ana Miguel Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula Pires • Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos, Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e Cláudia Neves do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Ana Sofia Magalhães Rocha • Ana Teresa, José Pedro e Hugo Manuel Sousa • António Miguel da Silva Santos • Arnaldo José Reis Pinto Nunes • Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara Sofia e Duarte Carvalho Pereira • Bernadete Silveira • Carolina de Oliveira Figueiredo Martins • Carolina Sarobe Machado • Carolina Birch • Catarina Parente • Cipriano Manuel Rodrigues Fonseca de Castro • Colaboradores da Costa & Garcia • Cónego Dr. Francisco C. Zanger • Convidados do Casamento de Joana Pinto e Pedro Ramos • Cursos EFA Básicos (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves • Deolinda da Silva Fernandes Rodrigues • Departamento Administrativo Financeiro da Optimus Comunicações, SA DAF DAY 2010 • Departamento de Ciências Sociais e Humanas da Escola Secundária de Ermesinde • Departamento de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Dinah Ferreira • Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda e Delfim Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola Básica da Formigosa • Escola Dominical da Igreja Metodista do Mirante • Escola EB 2,3 de Valadares • Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos, Projecto Pegada Rodoviária Segura, Ambiente e Inovação • Escola EB 2,3 Escultor António Fernandes de Sá • Escola Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu Aprender a Viver de Forma Sustentável • Escola Secundária Augusto Gomes • Escola
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Secundária do Castelo da Maia • Família Carvalho Araújo • Família Lourenço • Fernando Ribeiro • Francisco Gonçalves Fernandes • Francisco Saraiva • Francisco Soares Magalhães • Graça Cardoso e Pedro Cardoso • Grupo ARES - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária dos Carvalhos • Grupo Ciência e Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves • Grupo de EMRC da Escola Básica D. Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura Paredes • Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso • Inês, Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes da Silva • Joana Garcia • João Guilherme Stüve • João Monteiro, Ricardo Tavares, Rita Mendes, Rita Moreno, e Sofia Teixeira, do 12.º A (2011/12) da Escola Secundária Augusto Gomes • Joaquim Pombal e Marisa Alves • Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís António Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso • José António Teixeira Gomes • José Carlos Correia Presas • José Carlos Loureiro • José da Rocha Alves • José, Fátima e Helena Martins • Lina Sousa, Lucília Sousa e Fernanda Gonçalves • Luana e Solange Cruz • Manuel Mesquita • Maria Adriana Macedo Pinhal • Maria Carlos de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta Lopes e Alexandre Oliveira Lopes • Maria de Araújo Correia de Morais Saraiva • Maria Guilhermina Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes da Costa e Manuel da Costa Dionísio • Maria Helena Santos Silva e Eduardo Silva • Maria Joaquina Moura de Oliveira • Maria Manuela Esteves Martins Alves • Maria Violante Paulinos Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da Rocha • Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal •
Marisa Soares e Pedro Rocha • Marta Pereira Lopes • Mateus de Oliveira Nunes Miranda Saraiva • Miguel Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel, Cláudia e André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão • Pedro Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos e Paula Sousa • Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Professores e Funcionários (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Protetores do Ambiente Professores e Alunos da Escola Básica de Canidelo • Regina Oliveira e Abel Oliveira • Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira • Sara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Serafim Armando Rodrigues de Oliveira • Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José Magalhães Rocha • Tiago Pereira Lopes • Turma A do 6.º ano (2010/11) do Colégio Ellen Key • Turma A do 8.º ano (2008/09) da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma A do 9.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma A do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 12.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma C do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma D do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma D do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E do 10.º ano (2008/09) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E do 12.º ano (2010/2011) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º ano (2010/11) - Curso Profissional Técnico de Gestão do Ambiente do Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA (2008/09) • Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A e C do 11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro •Turmas B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha
Colégio Luso-Francês
Posto de Abastecimento de Avintes
Para aderir a este projeto recorte o seguinte rectângulo e remeta para: Parque Biológico de Gaia • Projeto Sequestro do Carbono • 4430 - 681 Avintes • Vila Nova de Gaia O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono
Pretendo/Pretendemos aderir à Campanha Confie ao Parque Biológico de Gaia o Sequestro do Carbono apoiando a aquisição de
m2 de área florestal X € 50 =
Junto se envia cheque para pagamento
euros.
1 m2 = €50 - 4 kg/ano de CO2
Procedeu-se à transferência para o NIB 0033 0000 4536 7338 05305
Nome do Mecenas Recibo emitido à ordem de Endereço N.º de Identificação Fiscal
Telefone
O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo
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76 BIBLIOTECA
A Rota das
Especiarias Em tempos, o uso das especiarias, dos aromatizantes e dos perfumes foi tão importante que vale a pena conhecer esta publicação da Inapa de 1989, limitada a 2 mil exemplares, um das quais pode consultar na biblioteca do Parque Biológico de Gaia
A
publicação ilustra e narra de forma soberba a história destas “pedras preciosas” do mundo vegetal numa longa epopeia que percorre vários séculos. Antes da chegada das especiarias oriundas da Insulíndia como a pimenta, o cravo-da-índia e a noz-moscada, designavam-se frequentemente com o nome de aromatizantes, ou até simplesmente perfumes, substâncias que consideramos, nos nossos dias, especiarias. O gosto e o cheiro são tão velhos como a humanidade. Não se encontram homens pré-históricos inumados debaixo de camadas de flores? Os primeiros testemunhos escritos mostram-nos que o uso de especiarias e condimentos na cozinha já estava solidamente instalado no quarto milénio antes da nossa era. A mais antiga menção da utilização das especiarias remonta à epopeia de Gilgamesh, herói do dilúvio babilónico da Idade do Bronze. O comércio a longa distância ainda não é uma realidade e os homens continuam a elaborar, em áreas bem definidas, a
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vida em comunidade. Na futura rota das especiarias, em Mohenjo-Daro, na baixa planície do Indo no Paquistão, esse comércio já está em gestação, a cidade está flanqueada por um bairro onde os arqueólogos descobriram cais e docas de onde, impulsionadas por velas e remos, saíram mercadorias aromáticas. Aventuravam-se então pelas costas na direção sul, Ceilão e oeste, mar de Omam
e golfo Pérsico: o caminho marítimo das especiarias acabava de nascer. Vasco da Gama, bastante mais tarde (1497), “por mares nunca d`outrem navegados” haveria de trazer para Portugal e para as mãos do resiliente D. Manuel, com o apoio dos mercadores genoveses, a gestão temporária e global da distribuição de tão preciosas e valorizadas como o próprio ouro, mercadorias.
Por Filipe Vieira
A Rota das Especiarias © 1989 Edições Inapa, Lda De Paul e Bernard Corcellet; Jacques Brosse; Bernard Nantet; Michel-Claude Touchard; Nadine Beauthéac; Catherine Donzel e Maguelonne Toussaint Samat com um estudo introdutório de Luís Filipe Thomaz. Tradução de Maria João G. Raposo de Magalhães
CRÓNICA 77
Jorge Paiva Biólogo
Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra jaropa@bot.uc.pt
Luís Vaz de Camões teve uma vida muito atribulada e escassamente documentada. Por isso, o que se pode elaborar são, praticamente, meras conjeturas conseguidas de interpretações retiradas da sua obra poética
E
ra filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá e Macedo, mas pouco ou praticamente nada se sabe sobre a mãe. Não se conhece ao certo a localidade e dia do nascimento; apenas se sabe que foi em 1524. Também não se conhece com exatidão a data da morte. Sabe-se que faleceu na capital do país, em 1580, muito provavelmente a 10 de junho. O poeta viveu 13 anos em Coimbra (1531 a 1544), portanto dos sete aos 20 anos, onde, inicialmente, esteve ao cuidado do seu tio Bento Camões, prior do Convento de Santa Cruz e chanceler da Universidade, que o recomendou, em 1535, para aio (escudeiro) de Francisco de Noronha e Violante de Andrade, acabados de casar, ele com 30 anos e ela com 13 anos. Em 1540, quando Camões tinha 16 anos e Violante 18, Francisco de Noronha vai para França como embaixador, até
A vida, as plantas e os
amores camonianos 1544. Neste ano, o casal vai para Lisboa, tal como Camões. Em 1547 vai para Ceuta (desterrado?), regressando a Lisboa cego de um olho. Em 1550 vai para algures no Ribatejo, para um povoado junto às margens do Tejo. Regressa a Lisboa e, em 1552, é preso no dia do Corpo de Deus, indo para a prisão do Tronco. Em 1553 parte para Goa, em cumprimento da pena a que fora condenado, sendo novamente preso em Goa. Esteve em Macau e sofreu um naufrágio no estuário do rio Mekong. Em Dezembro de 1567, parte de Goa e, depois de uma estada na Ilha de Moçambique (1568-1570), chega a Cascais a 7 de abril de 1570. Em 1572 é editada, em Lisboa, a 1.ª edição d’Os Lusíadas, tendo sido censor o Padre Bartolomeu Ferreira e Inquisidor-geral o Cardeal D. Henrique.
As plantas Violeta (Viola riviniana) espontânea nos campos do Mondego
Na época camoniana, as plantas mais conhecidas e citadas na literatura não eram tanto as plantas comestíveis ou ornamentais, mas mais as plantas medicinais. Os Lusíadas foram escritos, quase na totalidade, no Oriente e centrados nos Descobrimentos, por isso, têm como base plantas asiáticas, particularmente especiarias e medicinais; a lírica, como foi maioritariamente escrita em Portugal e centrada no amor e paixão, as plantas referidas são europeias, particularmente as flores destas. O poeta raramente cita as mesmas plantas na obra épica e na lírica, mas quando isso acontece, fá-lo com significados diferentes. Camões viveu a sua grande paixão durante os 13 anos que esteve em Coimbra (1531-1544), de onde partiu aos 20 anos. Por isso, a maioria das plantas referidas na lírica são plantas dos campos do Mondego. O mesmo acontece no episódio da “Ilha dos Amores” d’Os Lusíadas (Canto IX, 18-95; X, 1-143). Camões, conhecia, seguramente, não só obras gregas sobre plantas, particularmente o tratado “De materia medica” (64 d.C.) de Pediamos Dioscórides (40-90 d.C.), como também os “Coloquios dos simples, e drogas he cousas mediçinais da Índia…” (1563) de Garcia de Orta, por quem acalentava uma afetuosa amizade e admiração. Apesar de se saber isso, não é fácil determinar com exatidão todas as plantas referidas por Camões em toda a sua obra poética (épica e lírica), pois a maioria das
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vezes refere-as não só de forma poética, como também utilizando a sua admirável arte de derivar (ele próprio afirma que os seus versos são “derivações”) com extraordinários malabarismos linguísticos. A biblioteca do Convento de Santa Cruz, onde seu tio Bento Camões foi prior, era muito rica em obras da antiguidade clássica, que, muito provavelmente, o poeta consultou. Como Camões refere muitas plantas europeias citadas por autores gregos e poetas anteriores a ele, alguns autores (ex. Joaquim Vieira Natividade, 1970 e Augusta F. G. Ventura, 1930-1943) admitem que Camões refere essas plantas com o mesmo significado utilizado por esses poetas. Não consideramos Camões um “plagiador”. É natural que tenha utilizado algumas plantas já referidas por outros, particularmente as ornamentais, mas utilizou-as com significado bem diferente. O facto de Camões referir muitas plantas nunca citadas por poetas anteriores, particularmente n’Os Lusíadas, onde refere muitas espécies asiáticas, constitui o melhor testemunho que o grande poeta não copiou ninguém. É n’Os Lusíadas que o poeta mais plantas menciona (cerca de cinco dezenas), na maioria asiáticas e aromáticas. Na lírica refere muito menos espécies de plantas (cerca de três dezenas e meia), maioritariamente, europeias campestres e ornamentais. Para determinados poemas polémicos, por haver (ou ter havido) críticos literários que os consideram camonianos e outros não, as plantas citadas nessas obras poderão auxiliar na autoria de Camões ou não. É, por exemplo, o caso do “Vergel de Amor”. Nesta poesia, citam-se, por vezes, muitas plantas por estrofe, o que não é característico de Camões e mencionam-se muitas plantas que não encontramos citadas em toda a obra poética indubitavelmente camoniana, como, por exemplo, as boas-noites (Mirabilis jalapa L.), nativas do Peru e não conhecidas na Europa na época camoniana e o girassol (Helianthus annuus L.), também nativo do Continente Americano; assim como plantas dos montes, como as giestas (Cytisus spp.) e os rosmaninhos (Lavandula spp.).
Violante de Andrade, casada com Francisco de Noronha e que residiam em São Martinho do Bispo, povoação da margem esquerda do Mondego, fronteira a Coimbra. Não é, pois, de estranhar que muitas das plantas citadas na lírica ocorram, ainda hoje, nos campos do Mondego, por onde Camões, provavelmente, passeou quando esteve em Coimbra (1535-1544). Que Violante tivesse constituído uma paixão marcante na vida do poeta, parece presumível pelo teor de alguns do seus poemas, embora ele devesse ter tido o cuidado de evitar citar o nome dela. Também é de referir que na época em que Camões viveu (século XVI), os poetas referiam, por vezes, flores nos seus poemas amorosos, mas Camões não só o faz utilizando habilidades, transformando engenhosamente o termo viola em Violante, como também refere várias vezes Violante nos seus poemas amorosos. Há, pelo menos, dois sonetos onde Camões revela, claramente, o nome da sua apaixonada. Num deles, utiliza os seus referidos malabarismos linguísticos:
Os amores
Perguntas-me porquê? Porque aparece Em ti seu nome e sua cor mais pura; E estudar em teu rosto só procura Tudo quanto em beldade mais florece.
Como referimos, Camões foi aio daquela que foi a sua grande paixão (platónica?),
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Num jardim adornado de verdura, A que esmaltam por cima várias flores, Entrou um dia a Deusa dos amores, Co’a Deusa da caça e da espessura. Diana tomou logo ua rosa pura, Vénus um roxo lírio, dos melhores; Mas excediam muito às outras flores As violas na graça e fermosura. Perguntam a Cupido, que ali estava, Qual daquelas três flores tomaria, Por mais suave, pura e fermosa. Sorrindo-se, o Menino lhe tornava: – Todas fermosas são; mas eu queria Viol’antes que lírio, nem que rosa. Noutro soneto, escreve claramente o nome dela: A violeta mais bela que amanhece No vale, por esmalte da verdura, Com seu pálido lustre e fermosura, Por mais bela, Violante, te obedece.
Roseira-brava, Rosa villosa
Oh luminosa flor, oh Sol mais claro, Único roubador do meu sentido, Não permitas que Amor me seja avaro! Oh penetrante seta de Cupido, Que queres? Que te peça, por reparo, Ser, neste vale, Eneias desta Dido? Note-se que Camões, neste último verso refere nitidamente o vale do Mondego, quando diz “neste vale”. O nome de Violante também está bem expresso num poema publicado pela primeira vez em 1861 e que Juromenha classificou como Écloga XIV (Nas ribeiras do Tejo, a uma areia…) e que muitas edições modernas de obras de Luís de Camões (ex.: Costa Pimpão, 2005; Hernâni Cidade, 2005) omitem com o fundamento de descoberta tardia: No bosque a Violante vi um dia, Doce princípio destas doces dores; A flor caía nela e parecia Dizer caindo: aqui reinam amores! Humilde em tanta glória, ela se ria E errando iam sobre ela várias flores. Eu, que vencido fui dum error cego, Àquele honesto riso est’alma entrego.”
Assi como a bonina, que cortada Antes do tempo, foi cândida e bela, Sendo das mãos lascivas mal tratada Da menina que a trouxe na capela, O cheiro traz perdido e a cor murchada: Tal está morta, a pálida donzela, Secas do rosto as rosas, e perdida A branca e viva cor co’a doce vida. Nos campos que marginam o Mondego em São Martinho do Bispo, onde residia Violante, há, pelo menos, duas espécies de boninas (atualmente designamo-las por margaridas), Bellis perennis L. e Bellis sylvestris Cirillo e duas de roseiras, Rosa canina L. e Rosa sempervirens L. Há várias alusões na lírica a essa época apaixonante que o poeta viveu nos campos do Mondego, como, por exemplo, na canção da autobiografia poética:
Roseira-brava, Rosa sempervirens
Aliás, a primeira vez que Camões refere o nome desta sua grande paixão é num soneto escrito em galego e que talvez seja o mais antigo testemunho das iniciais tentativas literárias do poeta (Saraiva, 1982): A lá en Monte Rei, en Bal de Laça A Biolante bi, beira de um rio, Tão fermosa en berdá, que quedé frio De ber alma imortal en mortal maça! De um alto e lindo copo a seda laça A pastora sacaba, fio a fio. Quando lhe disse: Morro! Corta o fio! Bolbeu: Não cortarei! Seguro passa! – E como passarei, se eu acá quedo? Se passar, respondi, não bou seguro Que este corpo sem alma morra cedo! – Com a minha, que lebas, te asseguro Que não morras, Pastor! – Pastora hei medo, O quedar me parece mais seguro! Efetivamente, os tempos de Coimbra e essa paixão por Violante, parecem ter marcado profundamente a vida do poeta. A tal ponto, que em vários poemas ele refere saudosamente o Mondego e até n’Os Lusíadas, como no episódio de Inês de Castro (Canto III, 120):
Estavas, linda Inês, posta em sossego, De teus anos colhendo o doce fruto, Naquele engano da alma, ledo e cego, Que a Fortuna não deixa durar muito; Nos saudosos campos do Mondego, De teus fermosos olhos nunca enxuto, Aos montes ensinando e às ervinhas O nome que no peito escrito tinhas. Claro que era ele que tinha saudades dos campos do Mondego (estava na Ásia, quando escreveu “Os Lusíadas”) e não Inês de Castro, assassinada em 1355 (7 de janeiro). Reparar, também, que ele refere as “ervinhas” dos campos do Mondego, que ele cita em muitos poemas da lírica, pois devia conhecêlas, como, por exemplo as boninas (Bellis sp.) e as rosas das roseiras bravas (Rosa sp.), tal como na Redondilha “A uma mulher que se chamava Grácia de Morais”: Vêem-se rosas e boninas, Olhos, nesse vosso ver; Vêem-se mil armas arder No fogo dessas meninas. E que também as refere no episódio de Inês de Castro (Canto III, 134):
Vão as serenas águas Do Mondego descendo, Mansamente, que até ao mar não param; Por onde minhas mágoas, Pouco a pouco crescendo, Pera nunca acabar se começaram. Nesta florida terra Leda, fresca e serena, Ledo e contente para mim vivia, Em paz, com minha guerra, Contente com a pena Que de tão belos olhos procedia… Assim como no soneto em que refere o rio e a bela amada: Doces águas e claras do Mondego, Doce repouso de minha lembrança, Onde a comprida e pérfida esperança Longo tempo após si me trouxe cego; De vós me aparto; mas, porém, não nego Que inda a memória longa, que me alcança, Me não deixa de vós fazer mudança, Mas quanto mais me alongo, mais me achego. Bem pudera Fortuna este instrumento D’alma levar por terra nova e estranha, Oferecido ao mar remoto e vento; Mas alma, que de cá vos acompanha, Nas asas do ligeiro pensamento, Para vós, águas, voa, e em vós se banha.
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Outras flores de plantas que vegetam nos campos do Mondego, são frequentemente referidas por Camões nos seus poemas, como, por exemplo, lírios (Iris sp.), cravos (Dianthus sp.), jasmim (Jasminum sp.), jacintos [Hyacynthoides hispanica (Mill.) Rothm.], andorinhas (Chelidonium majus L.), abrolhos (Tribulus terrestres L.) e violetas (Viola sp.). Que a flora dos campos do Mondego fazia parte da observação quotidiana do poeta é também testemunhada pela referência nos seus poemas de árvores da floresta ripícola das margens do rio, como, por exemplo, salgueiros (Salix sp.), freixos (Fraxinus angustifolia Vahl), ulmeiros (Ulmus minor Mill.) e choupos ou álamos (Populus sp.), assim como as silvas (Rubus sp.) que orlam os nossos campos e floresta.
A Insula Divina
(Ilha dos Amores) É interessante que o poeta refere as plantas e flores dos campos do Mondego no episódio da Ilha dos Amores d’Os Lusíadas, quando, nesta obra ele normalmente refere, quase exclusivamente, plantas asiáticas. Alguns biógrafos tentaram localizar esta Ilha dos Amores, algures num dos arquipélagos do Oceano Índico (Ilha de Moçambique; Pedro de Mariz, 1613. Ilha do Ceilão; Manuel de Faria de Sousa, 1639. Ilha de Bombaim;
Narciso, Narcissus bulbocodium
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Luís da Cunha Gonçalves, 1947) e até na ilha de Santa Helena (João Vidago, 1976). Ora isso não pode ser, pois ele cita plantas europeias e particularmente aquelas que lhe lembravam os campos do Mondego, onde viveu a sua grande paixão. Senão vejamos:
Canto IX As árvores agrestes, que os outeiros Têm com frondente coma enobrecidos, Álamos são de Alcides, e os loureiros Do louro Deus amados e queridos; Mirtos de Citereia, co’os pinheiros De Cibele, por outro amor vencidos; Está apontando o agudo cipariso Para onde é posto o etéreo Paraíso. Nesta estância 57, cita os álamos (choupos) [Populus sp.; talvez o choupo-negro Populus nigra L., o mais comum nas margens do rio e não o choupo-branco (Populus alba L.), menos presente no campo], os loureiros (Laurus nobilis L.), os mirtos (murtas) (Myrtus communis L.), que são comuns, ainda hoje, nos campos do Mondego; o cipariso (cipreste) (Cupressus sempervirens L.) e o pinheiro de Cíbele (pinheiro de Alepo) (Pinus halepensis Mill.), árvores introduzidas talvez pelos romanos e comuns (ainda hoje) nos cemitérios e casas senhoriais da região. Uma das razões que levaram João Vidago a identificar a Ilha dos Amores com a Ilha de Santa Helena foi “em especial, a enumeração das espécies vegetais, flores e frutos, que nela abundavam”. Realmente, as naus faziam escala na Ilha de Santa Helena para se abastecerem de água, frutas e vegetais que os portugueses ali haviam introduzido e cultivavam. Mas isso não é razão suficiente para se considerar que terá sido nesta ilha que o poeta baseara a Ilha dos Amores, pois ele refere plantas e árvores europeias (álamos, loureiros, pinheiros, o cipreste, o cecém, as boninas, etc.) que não existiam, nem eram cultivadas, na Ilha de Santa Helena. Nas estâncias 61 e 62 deste episódio (Ilha dos Amores) refere as flores [violas (violetas) (Viola sp; talvez a Viola riviniana Rchb., comum nos campos do Mondego ou o cultivado amor-perfeito, Viola tricolor L.), lírio roxo (Iris sp.; talvez o híbrido cultivado desde os tempos romanos, Iris x germanica L. ou o espontâneo na região, Iris subbiflora Brot.), rosa (Rosa sp.), cecém (açucena) (Lilium candidum L.), manjerona (Origanum
Boninas, Bellis perennis
majorana L.), hiacintinas (jacintos) (provavelmente o jacinto cultivado, Hyacinthus orientalis L.; ou jacintodos-campos, Hyacinthoides hispanica (Mill.) Rothm.), boninas (margaridas) (Bellis sp., ocorrendo duas espécies nos campos do Mondego, Bellis sylvestris Cirillo e Bellis perennis L.], que também refere, como vimos, nos poemas líricos “amorosos” e que são flores de plantas comuns nos prados mondeguinos. Também cita o pomo, talvez referindo-se ao fruto da “perdição” de Adão, a maçã. Para julgar, difícil cousa fora, No Céu vendo e na terra as mesmas cores, Se dava às flores cor a bela Aurora, Ou se lhe dão a ela as belas flores. Pintando estava ali Zéfiro e Flora As violas da cor dos amadores, O lírio roxo, a fresca rosa bela, Qual reluze nas faces da donzela; A cândida cecém, das matutinas Lágrimas rociada, e a manjerona; Vêem-se as letras nas flores hiacintinas,
facto, existem muitas espécies de narcisos (Narcissus sp.) em Portugal, nomeadamente, nos campos do Baixo Mondego. É interessante notar que o poeta refere o pormenor de as flores destas plantas serem nutantes (“a cabeça a flor Cyfisia inclina”), como, na realidade, são na grande maioria das espécies de narcisos. Pois a tapeçaria bela e fina, Com que se cobre o rústico terreno, Faz ser a de Aqueménia menos dina; Mas o sombrio vale mais ameno. Ali a cabeça a flor cifísia inclina, Sôbolo tanque lucido e sereno; Florece o filho e neto de Ciniras, Por quem tú, Deusa páfia, inda suspiras.
Tão queridas do filho de Latona; Bem se enxerga nos pomos e boninas Que competia Clóris com Pomona. Pois, se as aves no ar cantando voam, Alegres animais o chão povoam. Na estância 58 são os frutos comuns, na altura, na região; as cerejas (Prunus avium (L.), as amoras (Morus nigra L.) e o pomo da Pérsia [pêssego; Prunus persica (L.) Batsch]: Os dons que dá Pomona, ali Natura Produze, diferente nos sabores, Sem ser necessidade de cultura, Que sem ela se dão muito melhores: As cerejas purpúreas na pintura, As moras, que o nome têm de amores, O pomo que da pátria Pérsia veio, Melhor tornado no terreno alheio. Na estância 59 volta a citar frutos dessa altura [romãs (Punica granatum L.), peras (Pyrus communis L.) e uvas (Vitis vinifera L.] e as vinhas de enforcado (as videiras são orientadas para treparem pelas árvores acima, afastando a ramada da
geada do solo, podendo, assim, dar uvas em cachos que ficam pendurados nos ramos das árvores, lembrando enforcados) que, atualmente, só se observam no Norte do país, mas que nessa altura devia ser a maneira usual de cultivarem a vinha. Aqui, o poeta diz que a vinha trepa pelos ulmeiros (árvores comuns nas margens do Mondego) (Ulmus minor Mill.), no Norte usam como árvores de suporte das vides, castanheiros, carvalhos, plátanos e até oliveiras (no Norte as oliveiras têm de ter porte arbóreo para a ramada estar longe da geada do solo e, assim, darem azeitona). Abre a romã, mostrando a rubicunda Cor, com que tu, rubi, teu preço perdes; Entre os braços do ulmeiro está a jucunda Vide, c’uns cachos roxos e outros verdes; E vós, se na vossa árvore fecunda, Peras piramidais, viver quiserdes, Entregai-vos ao dano que co’os bicos Em vós fazem os pássaros inicos. O poeta refere também os narcisos neste episódio (estância 60), pois, de
Das plantas mais interessantes referidas por Camões na Ilha dos Amores, são os citrinos, que são plantas aromáticas de origem asiática (portanto, o normal n’Os Lusíadas e já muito cultivados nessa altura na Europa Ocidental. Cita a laranjeira [Citrus sinensis (L.) Osbeck], a cidreira (Citrus medica L.) e o limão [Citrus limon (L.) Burm. f.]. Mas, como estamos na Ilha dos Amores, a referência “amorosa” tem de estar presente, quando diz que “A laranjeira tem no fruito lindo a cor que tinha Dafne nos cabelos” e “Os fermosos limões ali, cheirando, estão virgíneas tetas imitando.” (estância 56). Mil árvores estão ao céu subindo, Com pomos odoríferos e belos: A laranjeira tem no fruito lindo A cor que tinha Dafne nos cabelos; Encosta-se no chão, que está caindo A cidreira co’os pesos amarelos; Os fermosos limões ali, cheirando, Estão virgíneas tetas imitando. Da mesma maneira, com alusão “amorosa”, também cita o limão na lírica, nas Redondilhas (Voltas a mote e alheio): Verdes são os campos, De cor de limão; Assim são os olhos Do meu coração.
Luís Vaz de Camões, com as suas “derivações” poéticas foi, realmente, um malabarista linguístico!...
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82 COLETIVISMO
Biólogos por uma hora «Insetos em Ordem» é uma exposição sobre a diversidade de insetos europeus que propõe um jogo-de-pista acessível a todas as idades, desafiando os visitantes a serem «biólogos por uma hora». Esta exposição é uma produção do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Centro de Biologia Ambiental e Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal. A sua itinerância é promovida pelo programa O Mundo na Escola, que levará os insetos a dez cidades do país. Depois do Porto, Santarém, Viseu, Bragança, Tavira, Évora, Coimbra e Castelo Branco, os insetos voaram em 14 de abril até Viana do Castelo, onde ficarão até 29 de junho. Mais informações em: www.mundonaescola.pt
Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal Museu Nacional de História Natural Rua da Escola Politécnica, 58 1250-102 Lisboa Tel. + Fax: 213 965 388 info@tagis.org • www.tagis.org
Por Patrícia Garcia-Pereira
A observação de aves é uma atividade cada vez mais conhecida e com cada vez mais adeptos por todo o mundo. Portugal não é exceção e nos últimos anos têm vindo a crescer os eventos relacionados com o turismo de natureza. Este ano, em abril decorreu a ObservaRia em Estarreja. Apesar de ser apenas a primeira edição, o sucesso alcançado dita muito provavelmente a sua continuação e crescimento. O mês mais quente das feiras e eventos ligados ao também conhecido birdwatching é outubro. A península de Sagres, no concelho de Vila do Bispo, é um lugar de destaque para a avifauna nacional. Integrado no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, este local alberga espécies únicas na região e é palco de um fenómeno natural que, em Portugal, não encontra semelhante – a migração outonal, que abrange passeriformes,
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Vanessa Oliveira
Procure a feira de observação de aves mais perto de si
rapinas noturnas, aves marinhas e, de forma mais emblemática, as aves planadoras. Por ser um local especial, é sobre ele que recai a escolha para a organização do Festival de Observação de Aves de Sagres, que costuma decorrer, todos os anos, no primeiro fim de semana de outubro. É também em outubro que decorre a ObservaNatura, em Setúbal, uma feira dedicada à observação de aves, que já vai para a 6.ª edição em 2014. Nesta feira poderá participar em atividades de observação de aves, passear pela feira e sobretudo usufruir do espaço privilegiado, onde é realizada – a Herdade da Mourisca.
Fora de Portugal começam também a aumentar os eventos dedicados a esta atividade, que além de amiga do ambiente, é também uma importante dinamizadora do turismo local. Destacamos a Feira Internacional de Turismo Ornitológico, no Parque Nacional e Reserva da Biosfera de Monfragüe, que decorre em meados de fevereiro e a Birdfair no Reino Unido, mais precisamente em Rutland Water Nature Reserve, Egleton. Desde 2006, que a SPEA costuma estar presente nesta última, por considerar tratar-se de uma das mais importantes feiras no panorama mundial da observação de aves. Este ano estará presente com Turismo do Algarve e com o projeto LIFE Terras do Priolo, que tem a decorrer em São Miguel, nos Açores. Por Joana Domingues
Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves Avenida da Liberdade, n.º 105 - 2.º - esq. 1250 - 140 Lisboa Tel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39 spea@spea.pt • www.spea.pt
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